Upload
others
View
4
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
JOSÉ SIMIÃO SEVERO
CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL
AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO
NATAL-RN
2017
JOSÉ SIMIÃO SEVERO
CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL
AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO
Artigo expandido apresentado ao Programa de
Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Música.
Área de concentração: Processos e Dimensões
da Produção Artística.
Orientador: Prof. Dr. Ezequias Oliveira Lira.
NATAL-RN
2017
JOSÉ SIMIÃO SEVERO
CARACTERÍSTICAS DO CHORO E DO JAZZ EM TRÊS OBRAS DE ANÍBAL
AUGUSTO SARDINHA, O GAROTO
Artigo expandido apresentado ao Programa de
Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Música.
Área de concentração: Processos e Dimensões
da Produção Artística.
Aprovado em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________
PROF. DR. EZEQUIAS OLIVEIRA LIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
ORIENTADOR
_________________________________________________________
PROF. DR. AGOSTINHO JORGE DE LIMA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
MEMBRO DA BANCA
_________________________________________________________
PROF. DR. LUCIANO CHAGAS LIMA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ (UNESPAR)
MEMBRO DA BANCA
AGRADECIMENTOS
Ao Deus do universo.
Aos meus pais, que sempre demonstraram como se luta para alcançar os objetivos
almejados.
A minha esposa, Joyce, e a meu filho, Josué, de 6 anos, pela força e compreensão de
sempre.
Ao meu orientador, Prof1. Dr
2. Ezequias Oliveira Lira, por acolher minhas ideias e
pelas maravilhosas contribuições para este Trabalho.
Ao Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima, pela generosa atenção e contribuição como
membro da banca da defesa final.
Ao Prof. Dr. Cleber Campos, pelas relevantes contribuições como membro da banca
de qualificação.
Ao Prof. Dr. Luciano Chagas Lima, por aceitar fazer parte da defesa final.
Ao maestro Joca Costa, por ter me direcionado e apresentado à música através da
guitarra elétrica.
Ao inesquecível Manoca Barreto (in memoriam), por, desde muito tempo, torcer e ter
dado muita força para que eu seguisse nessa carreira.
A Heliana Pinheiro (minha estimável Profª3. de Inglês), pelas conversas iniciais para o
desenvolvimento do projeto deste Trabalho.
1Professor (Prof.).
2Doutor (Dr.).
3Professora (Profª.).
RESUMO
O presente Trabalho discorre sobre as características do choro e do jazz nas obras
Lamentos do Morro, Duas Contas e Benny Goodman no Choro, do compositor Aníbal
Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955). O objetivo principal foi buscar características dos
aspectos rítmicos, harmônicos, de articulação e interpretativos das obras citadas. Apresenta
também uma síntese sobre Garoto e o violão brasileiro bem como ressalta as influências
deixadas por ele a partir de sua particularidade interpretativa e composicional no contexto do
violão instrumental brasileiro. O aporte teórico baseia-se em entrevistas, estudos das Obras e
referenciais teóricos, tais como: Antônio; Pereira (1982), Delneri (2009), Junqueira (2010),
Mello (2012), Albanese (2013) e Mello; Gomide; Teixeira (2017). Os resultados confirmam a
aproximação da obra de Garoto com o choro e o jazz, destacando-se a influência dos aspectos
rítmicos e harmônicos. Conclui-se que as informações apresentadas corroboram o
entendimento da obra do compositor bem como para sua interpretação.
Palavras-chave: Garoto. Violão brasileiro. Choro. Jazz.
ABSTRACT
The present work deals with the characteristis of choro and jazz in the works
Lamentos do Morro, Duas Contas and Benny Goodman no Choro by Aníbal Augusto
Sardinha, Garoto (The Boy 1915-1955). The main objective was to search the rhythmic,
harmonic, accentuation and interpretative characteristics of these works. We also present a
brief discussion about Garoto and the Brazilian guitar, as well as the influences left from his
interpretive and compositional particularity in the context of the Brazilian guitar. The
theoretical contribution is based on interviews, studies of the works, as well as theoretical
references such as: Antônio; Pereira (1982), Delneri (2009), Junqueira (2010), Mello (2012),
Albanese (2013) and Mello; Gomide; Teixeira (2017). The results confirm the approximation
of the work of Garoto with choro and jazz styles, specially the influence of the rhythmic and
harmonic aspects. We conclude that the information presented corroborates the understanding
of the composer's work and its interpretation.
Keywords: Garoto. Brazilian Guitar. Choro. Jazz.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Violão percussivo.............................................................................................. 19
Figura 2 – Compassos 1-3 da obra Lamentos do Morro de Garoto................................. 20
Figura 3 – Compassos 12-14 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 20
Figura 4 – Melodia cifrada de Aquarela do Brasil, compassos iniciais........................... 21
Figura 5 – Compassos 35-41 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 21
Figura 6 – Antecipação no samba...................................................................................... 21
Figura 7 – Compassos 41-44 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 22
Figura 8 – Compassos 18-20 da obra Lamentos do Morro de Garoto............................. 22
Figura 9 – Compassos 7-8 da obra Brejeiro de João Pernambucano................................ 23
Figura 10 – Compassos 7-8 da obra Eronel de Thelonious Monk.................................... 23
Figura 11 – Compasso 12 da obra Lamentos do Morro de Garoto.................................. 23
Figura 12 – Compassos 55-57 da obra Lamentos do Morro de Garoto........................... 24
Figura 13 – Acentuação na obra Lamentos do Morro de Garoto..................................... 25
Figura 14 – Compassos 1-9 da introdução da obra Lamentos do Morro de Garoto........ 25
Figura 15 – Compassos 30-32 da obra Lamentos do Morro de Garoto........................... 26
Figura 16 – Seção A, compassos 1-8 da obra Slipped Disc de Benny Goodman.............. 27
Figura 17 – Seção A, compassos 1-10 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto... 28
Figura 18 – Seção B, compassos 10-27 da obra Slipped Disc de Benny Goodman........... 28
Figura 19 – Seção B, compassos 11-27 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto. 29
Figura 20 – Seção C, compassos 28-43 da obra Slipped Disc de Benny Goodman.......... 29
Figura 21 – Seção C, compassos 30-37 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto. 30
Figura 22 – Compasso 29 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 31
Figura 23 – Compasso 39 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 31
Figura 24 – Compasso 2 da obra Duas Contas de Garoto (empréstimo modal)............... 32
Figura 25 – Compasso 37 da obra Duas Contas de Garoto (empréstimo modal)............. 32
Figura 26 – Compasso 37 da obra Duas Contas de Garoto (dominante substituto)......... 32
Figura 27 – Condução clássica do choro (células rítmicas)............................................... 33
Figura 28 – Condução do baixo violão de 7 cordas no choro............................................ 33
Figura 29 – Compassos 1-3 da introdução da obra Duas Contas de Garoto..................... 33
Figura 30 – Padrão básico ritmo choro............................................................................... 34
Figura 31 – Compasso 7 da obra Duas Contas de Garoto................................................. 34
Figura 32 – Acentuação no compasso 7 da obra Duas Contas de Garoto......................... 34
Figura 33 – Compasso 56 da obra Duas Contas de Garoto............................................... 35
Figura 34 – Compassos 1-12 da obra O Barquinho de Roberto Menescal e Ronaldo
Bôscoli............................................................................................................
38
Figura 35 – Compassos 5-8 da obra Duas Contas de Garoto............................................ 38
Figura 36 – Letra da obra Duas Contas de Garoto............................................................ 39
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CD – Compact Disc
Dim. Dom. – Diminuto Dominante
Dr. – Doutor
EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
EUA – Estados Unidos da América
MPB – Música Popular Brasileira
NED – Holanda
PB – Paraíba
PPGMUS – Programa de Pós-Graduação em Música
Prof. – Professor
RJ – Rio de Janeiro
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 10
2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................. 12
3 GAROTO, O CHORO E O JAZZ............................................................................ 15
4 CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS......................................................... 17
4.1 Lamentos do Morro.................................................................................................... 17
4.2 Benny Goodman no Choro........................................................................................ 26
4.3 Duas Contas................................................................................................................. 30
5 LEGADO DE GAROTO PARA O VIOLÃO BRASILEIRO................................. 35
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 40
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 42
APÊNDICE A – LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO
DE PARTITURA).......................................................................................................
46
APÊNDICE B – DUAS CONTAS DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE
PARTITURA)..............................................................................................................
48
ANEXO A – PARTITURA DA OBRA BENNY GOODMAN NO CHORO DE
GAROTO.....................................................................................................................
50
ANEXO B – PARTITURA DA OBRA DUAS CONTAS DE GAROTO................ 52
ANEXO C – PARTITURA DA OBRA LAMENTOS DO MORRO DE
GAROTO.....................................................................................................................
54
ANEXO D – PARTITURA DA OBRA BREJEIRO DE JOÃO
PERNAMBUCANO....................................................................................................
58
ANEXO E – PARTITURA DA OBRA SLIPPED DISC DE BENNY
GOODMAN.................................................................................................................
60
ANEXO F – PARTITURA DA OBRA O BARQUINHO DE ROBERTO
MENESCAL E RONALDO BÔSCOLI....................................................................
62
ANEXO G – ENTREVISTA COM JORGE MELLO (VIA E-MAIL)................... 63
ANEXO H – ENTREVISTA COM CARLOS LYRA (VIA E-MAIL).................... 65
10
1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, existe uma grande diversidade de compositores e arranjadores
violonistas que demonstram, em suas obras, aspectos voltados para a música brasileira. Essas
composições, oriundas da tradição do compositor violonista, conferem ao violão uma nova
proporção em seu desenvolvimento idiomático, mais focado em aspectos técnico-
interpretativos e estilísticos, como, por exemplo, as obras de Marco Pereira (1950-) e Paulo
Bellinati (1950-). Nesse sentido, a interpretação está vinculada ao entendimento dos aspectos
pertinentes às origens das raízes de uma determinada vertente musical. Mediante esse fato, o
presente trabalho teve como ponto inicial a busca do entendimento e envolvimento de Aníbal
Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955), com os gêneros Choro e o Jazz norte-americano.
O interesse por essa pesquisa surgiu da vivência e identificação do autor deste
Trabalho com a música popular brasileira, em especial para violão solo, no que tange a
aspectos rítmicos, harmônicos e interpretativos. A influência do choro e do jazz em 3 obras
para violão de Garoto remete a uma interpretação direcionada aos aspectos pertinentes a esses
gêneros. A obra de Garoto confere, ao violão solo brasileiro, aspectos peculiares, abrangendo
releituras no que se refere a arranjos e improvisação e, ainda, remetendo à abertura no sentido
de interpretação vinculada aos critérios relacionados aos gêneros os quais foram compostas.
Contudo, para uma consolidação precisa, faz-se necessário buscar respostas para algumas
indagações que surgiram ao longo desta Pesquisa, tais como:
a) Quais aspectos relacionados ao choro e ao jazz poderiam ter exercido influência em
suas composições? E qual sua relação com a interpretação de sua obra?
b) Como definir, então, suas composições atreladas a essas influências? Ou seja,
seriam obras com características populares ou concerto?
c) Sabendo que o compositor inovou em aspectos relacionados às práticas
interpretativas do violão de sua época, quais inovações deixou para o violão solo brasileiro
através da mediação entre o choro e o jazz?
Nessa perspectiva, todos esses questionamentos direcionaram esta Pesquisa para a
busca de possíveis respostas que tratassem do caráter inovador das suas composições e,
consequentemente, recorressem a uma interpretação direcionada aos aspectos peculiares no
que tange à música brasileira para violão solo de concerto. Assim, sendo a obra de Garoto
uma influência para os instrumentistas e compositores brasileiros até os dias de hoje, sentiu-se
a necessidade de pesquisar e refletir sobre suas principais influências e contribuições para o
violão brasileiro.
11
Dessa forma, através da pesquisa do repertório do compositor para violão solo, partiu-
se para a escolha das obras. Delimitou-se, então, o objeto de estudo em 3 composições, quais
sejam: Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C), Duas Contas (GAROTO,
c1991a) (ANEXO B) e Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A). A
escolha das 3 obras aconteceu, inicialmente, pela busca em todas as composições de
elementos comuns entre o choro e o jazz, referentes a parâmetros de ritmo, harmonia,
articulação e improvisação, objetivando selecionar uma significativa amostragem de obras
que se caracterizassem como importantes para o cenário do violão e da música brasileira.
Foram realizadas, ainda, comparações entre as obras do compositor e outras de
compositores importantes da época. Essas comparações foram relevantes para o
desdobramento deste Trabalho bem como a pesquisa dos gêneros musicais aqui relacionados
também fez parte do desenvolvimento inicial.
Nesse ínterim, para uma melhor compreensão, o referido trabalho está dividido em 6
capítulos os quais iniciam-se com uma Introdução, seguido de uma Revisão de literatura; na
sequência, tem-se o capítulo 3 que aborda Garoto, o choro e o jazz através de uma breve
discussão, contextualizando o compositor nos referidos gêneros e discorrendo sobre as
influências que ele obteve em sua composição através do diálogo cultural musical, no qual,
naturalmente, o compositor transitou.
O quarto capítulo trata das características interpretativas nas obras Duas Contas
(GAROTO, c1991a) (ANEXO B), Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C) e
Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A), por meio de comparações
rítmicas e harmônicas que demonstram relação entre si bem como discussões breves
concernentes a contribuições que as composições trouxeram para o violão e a música
brasileira. Discorre, ainda, sobre a interpretação feita pelo compositor das Obras
mencionadas, como também, informações referentes a aspectos da articulação, staccato e
improvisação os quais norteiam uma interpretação calcada nas bases do violão brasileiro.
O quinto capítulo tece considerações acerca do legado deixado pelo compositor
através das influências que as mediações do choro e do jazz desencadearam para o violão e a
música brasileira.
Por fim, no sexto e último capítulo, encontra-se as considerações finais deste Trabalho
as quais discorrem sobre o entendimento e interpretação das Obras de Garoto bem como a
importância da pesquisa para a performance do violão brasileiro.
12
2 REVISÃO DA LITERATURA
No que diz respeito ao material bibliográfico, foram realizados um levantamento e um
estudo de textos que atendessem a questões relacionadas ao compositor e violonista Garoto. A
partir dessa pesquisa, destacaram-se os seguintes trabalhos: Antônio; Pereira (1982), Delneri
(2009), Junqueira (2010), Mello (2012), Albanese (2013) e Mello; Gomide; Teixeira (2017).
Antônio; Pereira (1982), com o livro intitulado Garoto: sinal dos tempos, são 2 dos
mais importantes autores na literatura sobre o compositor, discorrendo, em seus textos, acerca
de detalhes que vão desde o seu nascimento até a sua morte, o que engloba toda a sua
trajetória na vida e na música e inclui o seu percurso nos vários instrumentos, como violão,
tenor, bandolim, dentre outros, a gravação de seu primeiro disco assim como a sua discografia
e musicografia. Os autores relatam, ainda, experiências do compositor nos Estados Unidos da
América (EUA) como músico acompanhante de Carmen Miranda (1909-1955), marcadas por
vivências com músicos de jazz bem como sua participação no advento da Bossa Nova e sua
relação com compositores brasileiros, como, por exemplo, Radamés Gnattali (1906-1988).
Antônio; Pereira (1982, p. 16) relatam que: “Garoto inicia sua carreira artística no ano de
1927, e que nesta mesma época [...] começam a surgir nomes que promovem modificações
expressivas em nossa música popular, inaugurando sua fase de ouro”. Com essas afirmações,
Antônio; Pereira (1982) direcionam o seu foco para as contribuições do compositor nas
transformações da música brasileira popular. O período que passou nos EUA marcou a sua
carreira e “Garoto voltou de malas cheias. Junto com seu inseparável violão, [...] algumas
canções americanas e muitas histórias” (ANTÔNIO; PEREIRA, 1982, p. 35). Nesse contexto,
acredita-se que a música norte-americana, no que se refere ao jazz, foi uma influência
considerável no desdobramento de sua particularidade musical. Por sua vez, “pertencera à
geração de inovadores geniais, que prepararam o caminho com suas bossas novas, para o salto
maior, que a geração seguinte se incumbiu de consolidar na Bossa-Nova” (ANTÔNIO;
PEREIRA, 1982, p. 49). Acredita-se que a obra de Antônio; Pereira (1982) seja uma das mais
completas sobre o compositor visto que destaca, desde o início, suas vivências e
aprendizados.
Já o livro Gente humilde: vida e música de Garoto, de Mello (2012), apresenta a
biografia contada pelo próprio Garoto, comprovada a partir de fatos registrados em seu diário
pessoal. Mello (2012) aborda, de forma temática e menos cronológica, assuntos pessoais e
profissionais, discorrendo a respeito de apresentações solo e da sua experiência como
13
instrumentista de Carmen Miranda e do Bando da Lua4. Dessa maneira, a convivência do
compositor com músicos da vertente popular direciona a sua obra para uma tendência
específica. Mello (2012) também aborda a experiência de Garoto na rádio da época, suas
buscas e renovação, seus últimos trabalhos realizados e sua musicografia e discografia, que
explicitam detalhes, como, por exemplo, álbuns, manuscritos e partituras com suas
respectivas parcerias e gravadoras de sua obra.
O livro intítulado Garoto: o gênio das cordas, de Albanese (2013), é composto por
depoimentos contados por amigos músicos de Garoto, os quais mencionam as vivências do
compositor com amigos e músicos. O livro dispõe também de partituras e uma gravação em
Compact Disc (CD) com obras do compositor. Para Albanese (2013, p. 15), Garoto nasce em
um momento em que “[...] músicos cultivavam o gênero popular das serestas ao chorinho,
sambas e marchinhas carnavalescas [...]”. Some-se a isto, Mello; Gomide; Teixeira (2017, p.
13) ao afirmarem que: “Garoto integrou os conjuntos Jazz Band Universal (do seu irmão
Batista) [...]”. Desse modo, corrobora-se com Antônio; Pereira (1982), Mello (2012) e
Albanese (2013) no sentido que o compositor esteve imerso aos gêneros Choro e Jazz e que,
de fato, é demostrado em sua composição.
Mello; Gomide; Teixeira (2017) com o livro Choros de Garoto, apresentam breves
depoimentos dos quais se encontra a fala do violonista Paulo Bellinati sobre Garoto, trata
também de assuntos pertinentes a carreira profissional do compositor. No livro, Mello (2017a)
dedica um breve capítulo intitulado Garoto no choro. Também se encontra 67 composições
em partituras cifradas com muitas inéditas, comentários sobre cada uma delas e ainda a
musicografia completa do compositor.
Junqueira (2010), em sua dissertação de Mestrado intitulada A obra de Garoto para
violão: o resultado de um processo de mediação cultural tem como foco principal
demonstrar resultados de um processo de mediação cultural através de diferentes atividades
musicais exercidas por Garoto em sua vida profissional e em sua trajetória artística em
universos culturais distintos. São também abordadas as interpretações e significações
conferidas à música popular na cultura brasileira e a importância do compositor para a Bossa
Nova sobre aspectos da harmonia e melodia. Nesse sentido, “[...] Garoto também esteve
fortemente ligado à efervescência cultural que deu início à Bossa Nova no Rio de Janeiro5,
fazendo parte do núcleo de artistas que de fato deram origem ao movimento” (JUNQUEIRA,
4Grupo criado em 1931 considerado o pioneiro em arranjos vocais homofônicos de melodias populares (SILVA;
BORÉM, 2005). 5Rio de Janeiro (RJ).
14
2010, p. 130), podendo-se mencionar, por exemplo, a amizade concreta com compositores
como Radamés Gnattali.
Segundo Junqueira (2010, p. 20), “[...] constata-se um estreitamento das diferenças
entre popular e erudito”. Quanto às composições, é citada a Sonatina (Concertino) for guitar
and piano (GNATTALI, 1952) que Radamés Gnattali fez para Garoto, identificando, nela,
trechos que fazem referência a trechos melódicos das obras de Garoto. Junqueira (2010) faz
detalhamento da obra O relógio da vovó (GAROTO; CHIQUINHO; LEMOS, 2017), a qual é
considerada uma influência para a Bossa Nova, devido a um trecho da melodia idêntico a
outro da obra Desafinado (Tom Jobim) (JOBIM; MENDONÇA, 1990, v. 1). Assim, apresenta
uma discussão referente à semelhança entre as duas obras para comprovar a existência de
motivos melódicos que antecederam o gênero mencionado.
Para Junqueira (2010, p. 49), “O intérprete de Garoto é, antes de tudo, um ouvinte de
suas gravações e, por isso, só conhece o original daquela obra como um exemplar carregado
de intenções interpretativas trazidos pela execução (também original) do autor”. Nessa
perspectiva, a escrita da partitura e a gravação como meio de registro e como forma de ouvir a
interpretação original do compositor podem ser um obstáculo no sentido de o intérprete se
limitar e se fechar para outras interpretações. “Assim, o músico que se propõe a decodificar e
re-interpretar uma obra representada por uma gravação, pode interferir na obra em uma
medida maior ou menor como intérprete, dependendo da postura que adotar em relação à sua
referência” (JUNQUEIRA, 2010, p. 51). Por esse viés, a interpretação pode ser pessoal, de
acordo com a receptividade da obra e com o envolvimento prático cultural do intérprete.
Sendo assim, o próprio Junqueira (2010, p. 71) concorda que: “[...] a identificação da origem
dessas peças, os contextos aos quais estão vinculadas, colabora para uma interpretação
consciente e autônoma da obra de Garoto para violão”.
Delneri (2009), em seu trabalho de dissertação de Mestrado intitulado O violão de
Garoto: a escrita e o estilo violonístico de Aníbal Augusto Sardinha evidencia uma análise
de sua obra para o violão solo direcionada principalmente aos tipos de choro, tais como: choro
moderno, choros enigmáticos e choros típicos. Menciona também valsas e canções, samba e
prelúdio, ressaltando a importância da música de Garoto para o violão brasileiro e para a
música popular, mediante o estudo dos processos composicionais seguidos pelo compositor.
Nessa direção, Delneri (2009, p. 22) aponta que: “Garoto, na sua inquietude de músico em
busca do novo, sempre soube mesclar com naturalidade o conhecimento musical culto,
erudito, com a prática espontânea da música popular”. O trabalho expõe análises de
progressões harmônicas, explicitando aspectos que o compositor adota no contexto de sua
15
obra. Delneri (2009) faz um levantamento de elementos a fim de definir uma linguagem de
procedimentos estabelecidos na obra do compositor.
Vale-se, também, da literatura que, de alguma forma, apresenta relação com o violão e
o choro, por exemplo, o livro intitulado Violão e identidade nacional, de Taborda (2011), o
qual menciona a história do violão no Brasil com foco no RJ assim como seus pioneiros. O
trabalho também discorre sobre a tradição europeia, os primeiros concertistas, os mestres de
violão do RJ, o violão no choro, o universo das culturas como também violonistas e
compositores diversos que exercem influência até os dias de hoje, tais como: Villa-Lobos
(1887-1959), Fernado Sor (1778-1839), Dilermando Reis (1916-1977) e João Pernambuco
(1883-1947). Taborda (2011) menciona ainda a importância dada por violonistas às
composições de Garoto, afirmando que sua obra é parte do repertório do violão brasileiro.
Diniz (2003), em seu livro Almanaque do choro: a história do chorinho, o que
ouvir, o que ler, onde curtir, além de discorrer sobre as origens do choro e compositores
importantes do gênero, como, por exemplo, o pioneiro Joaquim Callado (1848-1880),
Pixinguinha (1897- 1973), Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Ernesto Nazareth (1863-1934) e
Jacob do Bandolim (1918 -1969), refere-se a Garoto como uma das figuras fundamentais para
a nova geração de músicos violonistas e preconização do estilo brasileiro. Também traz
importantes considerações acerca da influência do lundu e da polca no choro assim como seu
trajeto inicial.
3 GAROTO, O CHORO E O JAZZ
Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955), foi um múltiplo instrumentista de
cordas dedilhadas que, desde cedo, iniciou o domínio destes instrumentos: bandolim, guitarra
havaiana, violão tenor e violão de 6 cordas. Passou a se dedicar cada vez mais, principalmente
após conhecer o maestro Radamés Gnattali, compositor com quem trabalhou o qual lhes
dedicou arranjos e obras, dentre elas, a Sonatina (Concertino) for guitar and piano
(GNATTALI, 1952).
Naturalmente, ao tratar da obra para violão solo de Garoto, em grande ou pequena
proporção, estamos também mergulhando, mesmo que em partes, em aspectos do violão
brasileiro. Desse modo, a característica empregada em sua obra direciona para vivências que o
compositor obteve no choro e jazz norte-americano.
No choro, a maioria dos instrumentistas não lia partitura, conforme afirma Diniz
(2003). Geralmente, o único que o fazia era o flautista, com seu papel importante de
16
incentivar o gosto pelo choro dos músicos que o acompanhavam de ouvido (DINIZ, 2003).
Nessa perspectiva, a improvisação também é uma característica do gênero, no qual Garoto
demonstra domínio. Sobre a improvisação no choro, Bastos; Piedade (2006, p. 933)
discorrem:
[...] no choro o solista improvisador toca a melodia com liberdade para
interpretá-la, floreá-la, variá-la, mantendo seus traços temáticos sempre
claros. Pode-se dizer que o solista, assim como o acompanhamento de base,
especialmente as linhas de baixo, estão improvisando (variando) durante a
música inteira. Atualmente, temos notado choros com improvisos em seções
do tipo chorus, ou seja, o foco no improviso de um músico solista sobre a
base harmônico-polifônica do tema. Este tipo de improviso com chorus é
provavelmente uma influência do jazz no choro.
Diante do exposto, a característica empregada nas obras de Garoto, mencionadas neste
Trabalho, se encaixam efetivamente nesse contexto, expressando, em seus aspectos,
resultados de experiências vivenciadas pelo compositor. Segundo Antônio; Pereira (1982, p.
71, grifo do autor), na obra de Garoto, “Mistura-se o popular brasileiro, o choro, com
elementos „estranhos‟, o jazz, os acordes „modernos‟, a música erudita”. Sendo assim, não
existe o moderno sem o passado, uma vez que violonistas e compositores pertencentes ao
início do processo histórico do violão solo brasileiro estudaram ou tiveram influências de
métodos do violão de conservatório, a exemplo de Marco Pereira e Raphael Rabello (1962-
1995).
A característica empregada nas obras de Garoto tem relação com o gênero Choro, as
quais expressam através dos aspectos da rítmica, acentuação e da interpretação, experiências
vivenciadas pelo compositor. A vivência com músicos jazzísticos também foi uma escola para
Garoto. Nessa direção, Antônio; Pereira (1982) ponderam que, possivelmente, tenha se
encontrado e tocado com Charlie Christian e outros músicos como Kenny Clarke, Thelonious
Monk, Dizzy Gillespie, todos eles com a concepção jazzística e que se encontravam,
informalmente, nas madrugadas para simplesmente tocar. Desse modo, a ousadia de empregar
notas de tensão aos acordes foi um marco de Garoto, que, na época, surgiu como uma nova
sonoridade no violão brasileiro.
Segundo Melo (2010, p. 1), “O jazz, sem dúvida, tornou-se, no decorrer dos anos de
sua evolução, um movimento musical, assim por se dizer, dos mais importantes na história da
música ocidental no século XX. Sua influência é notória na cultura musical de muitos países,
inclusive no Brasil”. Eis, então, uma das justificativas de mencionar o gênero como uma fonte
17
na qual Garoto esteve imerso. Diante desse contexto, faz-se necessário enfatizar que
demonstrar influência não significa o abandono de suas próprias raízes (PIEDADE, 2005).
Efetivamente, acredita-se que a liberdade de adicionar as tensões aos acordes, por
exemplo, 9ª (9), 9ª menor (b9), 13ª (13), 13ª menor (b13), dentre outras, é, corriqueiramente,
utilizada no jazz norte-americano. Neste sentido, o contato de Garoto com músicos do gênero
mencionado assim como sua convivencia com Radamés Gnattali pode ter exercido essa
influência. Quanto ao choro, a relação rítmica e as resoluções de acordes diminutos se fazem
presentes no gênero. A improvisação também faz parte dos gêneros mencionados, mesmo
tendo, cada um, suas concepções.
4 CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS
Este capítulo abordará as características interpretativas que Garoto emprega nas obras
Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B), Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b)
(ANEXO C) e Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A)
contextualizando aspectos como ritmo, harmonia, articulação e improvisação, relacionando-os
ao choro e ao jazz.
Para Cazes (1998, p. 50), “Do pioneirismo de Sátiro e Quincas ao virtuosismo
exacerbado de Raphael Rabello, Marco Pereira e, mais recentemente, Yamandú Costa, muita
água rolou debaixo dessa ponte”. Nesse contexto, Garoto faz parte dessa vertente e, com uma
característica própria, enfatiza, fortemente, aspectos que podemos encontrar no choro e no
jazz.
Tendo observado a gravação original do Garoto, sua obra contempla uma forma
peculiar em sua interpretação, estando, dessa maneira, relacionada a aspectos da articulação e
staccato demonstrados pelo próprio compositor, sendo assim um direcionamento para o
intérprete do repertório do violão brasileiro. Desse modo, tendo em vista a relação da obra de
Garoto com aspectos do choro e do jazz, preconiza-se também a mediação que o intérprete
pode exercer a partir de sua própria vivência musical com aspectos pertinentes à vertente do
compositor, assim, sugestões interpretativas do autor deste Trabalho também serão abordadas.
4.1 Lamentos do Morro
Trata-se de uma das obras de Garoto mais tocadas por intérpretes do violão brasileiro,
cada instrumentista com sua maneira particular. A obra demanda um domínio técnico e
18
expressivo para sua interpretação. Na introdução da obra Lamentos do Morro (GAROTO,
c1991b) (ANEXO C), Garoto faz reverência a grupos de percussão de samba, o autêntico
samba de carnaval oriundo das favelas do morro do RJ. Sobre a relevância da obra, Borges
(2008, p. 65) discorre:
„Lamentos no [sic] Morro‟é uma peça inovadora dentro da música
instrumental popular brasileira, principalmente pelas inovações de ordem
técnica violonística e harmônica. A peça inicia-se com a utilização tenaz da
nota Ré (quarta corda solta do violão), através do polegar da mão direita que
toca em sentido para baixo, sem alternância, tal como Garoto tocava. Esse
toque característico gera um baixo pedal, no qual o tema inicial se
desenvolve com pequenos acordes [...], guarnecendo uma sensação de
instabilidade harmônica.
As origens musicais de Garoto assim como sua intenção na obra Lamentos do Morro
(GAROTO, c1991b) (ANEXO C), dão-nos abertura para consolidar um caminho
interpretativo voltado para a ênfase percussiva na referida composição. A respeito desse
aspecto, destaca-se a rítmica e o arranjo, os quais considera-se ter relação com sua obra.
Dessa maneira, enfatiza-se aqui, a ligação entre a intenção do compositor em relação a ênfase
ao samba de carnaval autêntico da favela do morro do RJ, o qual faz menção na introdução da
obra em questão. Portanto, o ato de transformar e executar através de seu próprio
entendimento e vivência está relacionado aos aspectos empíricos do instrumentista. Nesse
sentido, considera-se a música popular aquela que tem seus aspectos oriundos das
transformações musicais culturais, conforme discorrem Alves; Garcia (2016, p. 37):
A música popular envolve um conjunto de diálogos de diferentes territórios.
Essas diferenças geram fenômenos que podem ser interpretados sob várias
perspectivas, como a sociológica, a filosófica, a cultural, a religiosa, a
política, dentre outras. Essa música de caráter popular vem se transformando
a cada performance, dando origem a novos movimentos musicais.
Seguindo esses norteamentos e levando em consideração a abertura que a vertente
composicional direciona, evidencia-se, neste texto, a versão da obra sugerida pelo autor deste
Trabalho. Neste sentido, Mello (2017b)6 afirma que: “para os que pretendem tocar essa
música, é fundamental reproduzir os efeitos percussivos da introdução” (ANEXO G). Nessa
direção, o exemplo seguinte demonstra a divisão básica do ritmo do samba de carnaval,
extraída pelo autor deste Trabalho mediante escuta da percussão de escola de samba (samba
6Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.
19
carnavalesco), ritmo executado durante o carnaval:
Figura 1 – Violão percussivo7
Fonte: O autor (2017).
O ritmo mencionado acima8 é executado na 12ª casa do violão, com a corda 5 do
violão sobre a 6 e a 3 sobre a 4. Pode-se observar acentuação na 2ª figura (colcheia), na 10ª
(semicolcheia), na 13ª (colcheia) e na 16ª (colcheia), algo comun na interpretação de Garoto.
O ritmo foi colocado como arranjo pelo autor deste Trabalho em substituição da introdução
original da Obra. Logo, a ideia não é retratar uma cópia fiel do samba de carnaval, mas
relacionar, basicamente, com a intenção que o compositor teve em relação a introdução da
referida Obra. A Foto 1 mostra a imagem do resultado visual para a execução referenciando a
escola de samba de carnaval no violão.
Foto 1 – Preparo das cordas para enfatizar escola de samba no violão
Fonte: O autor (2017).
Em relação ao uso do polegar direito, na Figura 2, podemos constatar 3 compassos
iniciais da introdução, os quais são tocados apenas com o referido dedo.
7Cf. Simião (2018).
8Baseado na execução do violonista João do Pinho (ESCOLA..., 2012).
20
Figura 2 – Compassos 1-3 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).
Contextualizando, Garoto inicia seus estudos musicais em 1933 com o professor Atílio
Bernadini, o qual afirma, mais tarde, que: “Garoto era aluno rebelde, seguia os conselhos que
entendia, usava o polegar como palheta, mas transbordava talento e força criadora”
(BERNARDINI, 1967 apud ANTÔNIO; PEREIRA, 1982, p. 70). Mediante esse fato,
certamente, Garoto emprega essa técnica em Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b)
(ANEXO C), na qual enfatiza o polegar no referido trecho executando continuamente para
baixo, embora, tenha sido comparada a técnica de palhetada, faz-se necessário mencionar
que a comparação de ambas está, literalmente, relacionada ao resultado sonoro, e não a
maneira de alternância das mesmas, algo que confirma, ainda mais, a peculiaridade de Garoto.
Desse modo, o compositor empregou uma técnica que, até então, não era comum entre os
violonistas brasileiros. Na atualidade, alguns intérpretes utilizam, na execução do referido
trecho da Obra, os dedos polegar e indicador, mas o violonista e compositor Paulo Bellinati
usa apenas o polegar de forma continua somente para baixo, seguindo a mesma maneira que
Garoto. Desse modo, há exigência maior quanto ao relaxamento da mão direita para que se
alcance a exatidão da referida execução, especialmente, quando executado em andamento
rápido. Certamente, esta última, evita as pequenas pausas e mudanças de timbre, embora,
dependendo do andamento a ser executado, essa percepção se torne quase imperceptível para
alguns. Esse aspecto aparece em outros trechos da Obra, por exemplo, pode-se observar na
Figura 3, a nota Ré como nota pedal.
Figura 3 – Compassos 12-14 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).
Sendo a obra Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C) uma
homenagem a Ary Barroso (1903-1964), pode-se observar, a partir do compasso 36, algumas
21
notas da melodia que relacionam com a composição Aquarela do Brasil (BANDO DA LUA
BOYS, 2006). Desse modo, podemos constatar uma variação do tema de Ary Barroso, o qual
Garoto evidencia, inicialmente, através das notas Ré e Mi, as quais identificam a palavra
Brasil... em anacruse do compasso 36 da Figura 5.
Figura 4 – Melodia cifrada de Aquarela do Brasil, compassos iniciais9
Fonte: O autor (2017).
Figura 5 – Compassos 35-41 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 19).
Garoto também demostra, na referida Obra, o aspecto da antecipação, sendo esta uma
característica do jazz assim como no samba tradicional.
Figura 6 – Antecipação no samba
Fonte: O autor (2017).
9Melodia extraída de BANDO DA LUA BOYS (2006).
22
Figura 7 – Compassos 41-44 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 19-20).
Sobre o aspecto harmônico, nota-se o uso de acordes diminutos como substituto de
dominantes, como uma característica do choro que transparece em trechos de Lamentos do
Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C). Na Figura 8, verifica-se o acorde Ré diminuto (D°)
resolvendo em Dó menor com 7ª (Cm7)10
.
Figura 8 – Compassos 18-20 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18-19).
Dentre as inúmeras obras observadas de compositores do choro com essa característica
de diminutos, por exemplo, obras de Pixinguinha (1897-1973) e de João Pernambuco (1883-
1947), encontra-se a mesma resolução na composição Brejeiro (PERNAMBUCO, c1978)
(ANEXO D), choro de João Pernambuco, na qual pode-se notar o acorde de Sol diminuto
(G°) com resolução em Ré menor (Dm)11
caracterizando Diminuto Dominante (Dim. Dom.),
o que significa que a resolução mencionada é algo corriqueiro no choro e que Garoto utiliza
também em sua Obra.
10
Tipo de encadeamento caracterizado na harmonia funcional como Dim. Dom., levando em consideração que as
notas do acorde de Ré diminuto (D°) são as mesmas do acorde de Si diminuto (B°) ou ainda pode ser visto
como sétimo (VII°) da escala menor harmônica. 11
Resolução Dim. Dom., considerando que as notas do acorde Sol Diminuto (G°) são as mesmas do Dó sustenido
diminuto (C#°).
23
Figura 9 – Compassos 7-8 da obra Brejeiro
de João Pernambuco
Fonte: Pernambuco (c1978, p. 1).
Para exemplificar o aspecto da harmonia na composição de Garoto, toma-se, como
exemplo, a obra Eronel (MONK, 1992), do compositor jazzista Thelonious Monk (1917-
1982), na qual é exposto o mesmo tipo de acorde utilizado por Garoto. Assim, no 2º acorde da
referida Obra, pode-se observar o acorde Ré maior com 7ª menor e 13ª menor (D7(b13)) com
a nota Si bemol como nota de tensão.
Figura 10 – Compassos 7-8 da obra Eronel de Thelonious Monk
Fonte: Monk (1992, p. 24).
Esse tipo de acorde é bastante utilizado por Garoto, por exemplo, no compasso 12 da
obra Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C), demonstrado na Figura 11:
Figura 11 – Compasso 12 da obra Lamentos
do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 18).
Por outro lado, Garoto usa em Lamentos do Morro (GAROTO, c1991b) (ANEXO C)
empréstimos dos quintos graus dos tons próximos (Dominantes secundários) assim como
acordes dominantes que substitui outros dominantes (Dominante substituto – Sub V). No
24
trecho abaixo, precisamente nos compassos 55 e 57 da composição, levando em consideração
a tonalidade da Obra (Sol maior), identifica-se o acorde de Fá com 7ª (F7 = SubV/VI) =
Dominante substituto de Si com 7ª (B7 = V7/VI), no compasso 56 temos Lá com 7ª e 9ª
(A7(9)) = 5 do 5 (V/V).
Figura 12 – Compassos 55-57 da obra Lamentos do
Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 20).
Acredita-se, portanto, que esse tipo de acorde deixa uma gama de abertura para
possibilidades de rearmonização e, consequentemente, de arranjo. Pode-se substituir tais
dominantes por outros de outros tons, gerando assim, possibilidades de novas escalas e
resultando em uma interpretação voltada para a mediação do intérprete, desprendendo de uma
padronização e transversalizando com a liberdade do choro e do jazz. A obra de Garoto é
tocada por violonistas de vertentes erudita e popular, assim como faz parte de programas de
cursos de violão popular, a exemplo da Escola de Música da Universidade do Rio Grande do
Norte (EMUFRN). Desse modo, é imprescindível que sua interpretação não se torne
desvinculada de suas origens.
Na obra Lamentos do Morro12
(GAROTO, c1991b) (ANEXO C), o compositor
utiliza dinâmica forte e fraco em vários momentos. A acentuação também faz parte da
interpretação, sendo evidente no tempo fraco em alguns momentos da Obra. Na coda final,
pode-se observar esse aspecto na transcrição de Paulo Bellinati, cabendo enfatizar que, com
exceção deste e do final da introdução (compassos 10-11), em toda a referida transcrição, não
há ênfase de articulação ou qualquer outro sinal de dinâmica.
12
Cf. Garoto (2012).
25
Figura 13 – Acentuação na obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (c1991b, v. 1, p. 21).
A acentuação que o compositor emprega em sua composição evidencia característica
do choro como também de composições na verte popular. Na Figura 14 pode-se constatar o
tal aspecto na transcrição feita pelo autor deste Trabalho, é oportuno lembrar que foi feito
adequação na tonalidade por motivos da gravação original estar em rotação fora dos padrões
da atualidade, pois, o compositor utiliza corda solta em Lamentos do Morro (GAROTO,
2017b) (APÊNDICE A). Neste sentido, alinha-se o tom de todas as transcrições, aqui
mencionadas, aos tons existentes transcritos por Paulo Bellinati.
Figura 14 – Compassos 1- 9 da introdução da obra Lamentos do Morro13
de Garoto
Fonte: Garoto (2017b, p. 1)14
.
Um outro ponto a ser considerado na composição Lamentos do Morro (GAROTO,
13
Cf. Garoto (2012). 14
Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho.
26
2017b) (APÊNDICE A) é o staccato, como mostra a Figura 15:
Figura 15 – Compassos 30-32 da obra Lamentos do Morro de Garoto
Fonte: Garoto (2017b, p. 2)15
.
4.2 Benny Goodman no Choro
Em boa parte da obra de Garoto, é possível identificar elementos harmônicos e
rítmicos oriundos do choro e do jazz. A obra Benny Goodman no Choro16
(GAROTO,
2017a) (ANEXO A), composta com base no tema de Slipped Disc17
(GOODMAN, [19--?], v.
II) (ANEXO E) do compositor e clarinetista norte-americano Benny Goodmann18
(1909-
1986), é um exemplo da influência que o compositor teve do jazz e tem sua estrutura baseada
em um tema fixo de 8 compassos, seguido de partes improvisatórias. Embora em tonalidade
diferente, Garoto, por sua vez, repete o tema principal. O emprego de instrumentos de sopros
na composição de Garoto demonstrados na gravação remete aos aspectos jazzísticos no que se
refere ao acompanhamento dos instrumentos de sopro (metais) e improvisação.
De acordo com Henrique Gomide19
, a transcrição da obra em questão foi feita a partir
da gravação original de Garoto. Nessa perspectiva, em relação à forma que ambas são
tocadas, temos, na versão do Benny Goodman:
Seção A (tema);
Seção B com improviso;
Seção A (tema);
Secão C com improviso;
15
Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho. 16
Cf. Garoto (1952). 17
Cf. Goodman ([1971?]). 18
Um dos grandes jazzistas da era do swing. 19
“[...] pianista, compositor, arranjador, com Graduação em música pela [Universidade de São Paulo] (USP) e
Mestrado no Real Conservatório de Haia, Holanda [NED] [...]” (MELLO, 2017a, p. 27).
27
Seção A (tema);
Seção C com improvisos e diversos choros seguidos de Coda.
Na versão de Garoto, a forma segue o mesmo padrão, conforme pode-se observar:
Seção A (tema);
Seção B com melodia a qual Garoto executa criando, de forma consciente, soando
mais como segunda parte do choro do que como um improviso;
Seção A (tema);
Seção C com improvisos;
Seção A (tema) seguido de Coda inspirada na original.
Na Figura 16 é possível observar o tema original da Seção A do compositor Benny
Goodman:
Figura 16 – Seção A, compassos 1-8 da obra Slipped Disc de Benny Goodman
Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326).
28
Figura 17 – Seção A, compassos 1-10 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto
Fonte: Garoto (2017a, p. 1).
Figura 18 – Seção B, compassos 10-27 da obra Slipped Disc de Benny Goodman
Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326).
A partir do compasso 18 da Figura 18, o compositor retorna a Seção A com
modificações em alguns acordes e na melodia ao final da Seção. Em Benny Goodman no
Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A), Garoto também retorna para a Seção A modificando
seu final, como se fosse improviso, conforme a Figura 19.
29
Figura 19 – Seção B, compassos 11-27 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto
Fonte: Garoto (2017a, p. 1).
Pode-se perceber que o compositor utiliza notas do arpejo dos acordes com algumas
notas de tensão, por exemplo, o compasso 11 (primeiro do exemplo), com a nota Fá sustenido
caracterizando uma 9ª, o compasso 13 Mi bemol enarmônico de Ré sustenido que,
sonoramente, é uma 7ª maior.
Figura 20 – Seção C, compassos 28-43 da obra Slipped Disc de Benny Goodman
Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 327).
30
Figura 21 – Seção C, compassos 30-37 da obra Benny Goodman no Choro de Garoto
Fonte: Garoto (2017a, p. 1).
Em relação à transcrição do trecho acima, trata-se de algo aproximado da gravação
original. Pode-se comprovar que, nas duas obras, acontece a maioria dos improvisos na Seção
C. Mediante esse fato, acredita-se que a referida Obra de Garoto sofreu forte influência do
jazz norte-americano.
Para Delneri (2009, p. 18), “A prática do improviso e o conhecimento teórico e técnico
da música clássica puderam determinar os recursos composicionais utilizados por Garoto
[...]”. Contudo, não significa, necessariamente, as concepções de ideias e frases musicais do
jazz norte-americano, embora este tenha exercido influência em sua obra. Portanto, a
interpretação na obra Benny Goodman no Choro (GAROTO, 2017a) (ANEXO A) direciona
para os aspectos da improvisação, algo típico no choro. Garoto viveu em uma época na qual o
jazz foi vivido com intensidade, influenciando muitos, que, de certo modo, se abriam para tal
inovação rítmica, harmônica e melódica.
4.3 Duas Contas
Na composição Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) pode-se comprovar a
predominância das tensões na obra inteira, sendo, por vezes, utilizados acordes com 7ª, 9ª e
11ª aumentada e, em alguns trechos, apenas a 7ª menor adicionada ao acorde.
31
Figura 22 – Compasso 29 da obra
Duas Contas de Garoto
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).
A obra Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) é tida como um dos marcos
para a Bossa Nova tendo sido gravada por inúmeros intérpretes. Nessa direção, Junqueira
(2010, p. 39) corrobora:
[...] gravada e lançada em 1953 no memorável disco do Trio Surdina, sendo
a única canção deste disco. A partir de então, a canção é gravada não
somente por artistas de destaque no cenário da [Música Popular Brasileira]
(MPB) ou ligados ao movimento da Bossa Nova, mas também por aqueles
oriundos de outras tradições e práticas musicais.
Não é a intenção, aqui, adentrar no assunto da Bossa Nova por completo, mas
mencionar a relevância da Obra no cenário brasileiro contextualizando de acordo com o
propósito deste Trabalho. Por esse viés, sendo a harmonia da referida Obra um dos marcos
para o gênero citado, entende-se as notas dos acordes composta por Garoto como um
movimento de vozes que vai se ajustando até chegar onde o compositor deseja. Na
composição Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) não é diferente; na Figura 23, há,
no segundo tempo, o acorde de Si sus (Bsus), no qual a nota Dó sustenido se descola para o
Dó dobrado sustenido, em seguida para Ré sustenido, culminando na nota Sol sustenido. Eis,
portanto, um ponto característico do compositor em sua obra para violão solo, o qual se repete
em vários momentos na composição.
Figura 23 – Compasso 39 da obra Duas
Contas de Garoto
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).
32
Garoto agrega, em suas composições, a melodia junto ao acorde, o que pode, em
alguns aspectos, se assemelhar ao que se chama de chord melody. De acordo com Mongiovi
(2013, p. 37), é oportuno afirmar que:
[...] esta prática não se restringe apenas aos guitarristas, mas a todos os
músicos de jazz que utilizam instrumentos musicais com possibilidades
harmônicas. [...] esta técnica não só é utilizada por músicos de jazz, mas em
geral por compositores e arranjadores de diversos gêneros de música
popular.
Some-se a isto, o uso de empréstimo modal bem como dominante substituto fica
evidente na referida Obra, como se pode observar nas Figuras 24, 25 e 26:
Figura 24 – Compasso 2 da obra Duas
Contas de Garoto (empréstimo modal)
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).
Figura 25 – Compasso 37 da obra
Duas Contas de Garoto (empréstimo
modal)
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).
Figura 26 – Compasso 37 da obra Duas
Contas de Garoto (dominante substituto)
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 10).
33
Por outro lado, nota-se na referida Obra característica do rítmo que transcorre também
no gênero Choro. Nas Figuras 27 e 28, direciona-se a comparação da rítmica extraída de um
clássico do choro – Carinhoso (AMARAL, 2011), de Pixinguinha (1897-1973), em que a
condução básica mencionada tem sua rítmica executada pelo pandeiro.
Figura 27 – Condução clássica do choro
(células rítmicas)
Fonte: O autor (2017).
Por vezes, o violão de 7 cordas executa a seguinte rítmica juntamente com o grave do
pandeiro:
Figura 28 – Condução do baixo
violão de 7 cordas no choro
Fonte: O autor (2017).
Nessa direção, observa-se os 3 primeiros compassos da obra Duas Contas (GAROTO,
c1991a) (ANEXO B), a qual demonstra a mesma rítmica no baixo, deixando transparecer, na
voz superior, a mesma divisão denominada de choro-canção.
Figura 29 – Compassos 1-3 da introdução da obra Duas Contas de Garoto
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).
Embora Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) seja uma obra em ritmo
samba-canção, as células rítmicas do choro se encontram, intrinsecamente, em seu contexto,
como evidenciam as Figuras 30 e 31 comparadas a seguir:
34
Figura 30 – Padrão básico ritmo choro
Fonte: Faria (2012, p. 86).
Figura 31 – Compasso 7 da obra Duas
Contas de Garoto
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).
A acentuação é um outro ponto a ser destacado na interpretação de Garoto. Ao se
observar a gravação original das 3 Obras do compositor, constata-se que a articulação é
demonstrada como um recurso interpretativo e que é, corriqueiramente, interpretada no choro
e no jazz. Na obra Duas Contas20
(GAROTO, 2017c) (APÊNDICE B), o compositor acentua
o acorde, que aparece no primeiro tempo em colcheia pontuada, esse aspecto aparece em
vários momentos da Obra.
Figura 32 – Acentuação no compasso
7 da obra Duas Contas de Garoto
Fonte: Garoto (2017c, p. 1)21
.
Ainda se pode observar, na gravação original do compositor, o abafamento de notas.
Nesse sentido, os aspectos interpretativos do compositor determinam uma característica
própria vinculada aos gêneros mencionados.
20
Cf. Garoto (2014). 21
Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho.
35
Figura 33 – Compasso 56 da obra
Duas Contas de Garoto
Fonte: Garoto (2017c, p. 2)22
.
5 LEGADO DE GAROTO PARA O VIOLÃO BRASILEIRO
De acordo com Taborda (2011), através de transcrições e edições feitas,
primeiramente, por Geraldo Ribeiro (1939) e, posteriormente, pelo violonista Paulo Bellinati,
a obra do Garoto “[...] definitivamente passa a integrar o repertório de quase todo violonista
brasileiro” (TABORDA, 2011, p. 138). Dessa forma, com estilo peculiar, deu uma
contribuição fundamental para o enriquecimento e desenvolvimento do repertório brasileiro
para violão solo (TABORDA, 2011), uma vez que sua obra está inserida no contexto popular
e preconiza peculiarmente uma característica própria que direciona a uma maneira específica
na execução do violão tido como brasileiro. Para Mello (2017a, p. 25) “Garoto é considerado,
com muita justiça, um modernizador da música brasileira. Um precursor de novas e modernas
harmonias, um renovador da música instrumental”. Garoto, sobretudo, demonstra através de
suas composições e interpretação técnica, o início de uma vertente do violão solo brasileiro.
Desse modo, este último está relacionado aos aspectos próprios que surgem entre culturas
diversas as quais o compositor fez parte, resultando na formação do novo e na concepção de
um segmento de repertório a ser executado, de forma coerente, através da técnica específica
do instrumento. Mediante este fato, considera-se a técnica associada aos métodos europeus de
tradição do violão de conservatório.
Violonistas como Marco Pereira, Paulo Bellinati e Carlos Lyra (1939-) são violonistas
compositores e arranjadores que impregnaram, em suas obras, elementos referentes ao estilo
brasileiro, o que, de acordo com a Pesquisa em questão, obteve, inicialmente, um
desdobramento considerável com Garoto. Sobre o termo estilo, Sève (2016)23
esclarece:
Um estilo musical, para definir-se como tal, parece obedecer a um conjunto
22
Partitura composta por Garoto, contudo, editada pelo autor deste Trabalho. 23
Documento online não paginado.
36
de regras que o caracteriza, porém o compositor ou instrumentista pode
manipular diferentemente tais regras a partir de seu gosto, sua escolha,
criando, assim, seu próprio estilo. [...] Existem, por exemplo, os estilos
musicais de Mozart, de Beethoven, de Haydn, pertencentes ao chamado
estilo clássico. Para identificarmos o estilo de uma obra, devemos nela
identificar padrões (melódicos, harmônicos, formais) que nela se repetem. E,
então, relacioná-los dentro de um determinado universo estilístico, que pode
pertencer a uma região geográfica, uma época, um determinado grupo de
compositores etc.
Lyra (2017)24
, ex-aluno de Garoto, em entrevista via e-mail, comenta sobre a
importância do músico da seguinte maneira: “Eu tive toda a influência dele, na maneira de
tocar e, através de mim, ele acabou influenciando” (ANEXO H). No que tange à influência de
Garoto para a Bossa Nova, Lyra (2017, grifos do autor) 25 ressalta:
Reloginho da vovó [Garoto; Chiquinho; Lemos (2017)] era a música que eu
e Menescal tocávamos o tempo todo. Duas Contas [Garoto (c1991a)
(ANEXO B)] a que ensinava na academia. Essas músicas influenciaram na
minha forma de compor e a minha forma de compor é bem distinta dos
outros compositores da Bossa Nova. Eu diria mais próxima da do Tom
[Antônio Carlos Jobim]. Talvez, em nossas composições a influência do
Garoto tenha sido forte (ANEXO H).
Portanto, ao relacionar os seguimentos dos violonistas citados, evidentemente,
direciona-se para os aspectos harmônicos empregados em suas composições, arranjos e
interpretações. A esse respeito, Diniz (2003, p. 38) explicita que: “Garoto desenvolveu uma
sonoridade brasileiríssima, influenciando com suas harmonizações as gerações subsequentes
[...]”. Nesse contexto, evidências comprovam a relevância da contribuição de Garoto para o
violão solo e, de certo modo, para a música brasileira assim como autonomia em uma
execução voltada para aspectos interpretativos convincentes e perpetuados como uma escola
do violão brasileiro. Sobre este último conceito, Mello (2012, p. 13) afirma que: "Tamanha é a
excelência de nossos violonistas que o termo virou a denominação de uma escola. E não é
exagero dizer que nessa história Garoto foi um dos marcos fundamentais". Portanto, o termo
aqui se refere a uma escola não oficial o qual direciona a uma linhagem de violonistas
compositores.
Pode-se ressaltar a relevância da contribuição que Garoto deixou para o violão
brasileiro em vários aspectos, por exemplo, o emprego de uma técnica rebuscada e elementos
24
Informação fornecida por Carlos Lyra, cantor e compositor brasileiro, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de junho de 2017. 25
Informação fornecida por Carlos Lyra, cantor e compositor brasileiro, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de junho de 2017.
37
harmônicos inovadores. Lamentos do Morro (samba) (GAROTO, c1991b) (ANEXO C)
evidencia, ao menos para a época, inovação em relação à execução com o polegar da mão
direita. Nessa direção, Antônio; Pereira (1982, p. 67) afirmam que: “[...] o erudito foi uma
lição que Garoto jamais esqueceu, combinando-o de diversas maneiras na composição do
nosso popular”. Tais combinações estão, efetivamente, interligadas ao emprego técnico
interpretativo que o compositor expõe na execução ao violão.
Sobre o gênero Bossa Nova, acredita-se na contribuição de Garoto através de sua
influência, tendo em vista que antecipa, através da obra Duas Contas (GAROTO, c1991a)
(ANEXO B), aspectos harmonicos encontrados no gênero, embora, concorde-se com
Albanese (2013, p. 11) quando afirma que: "[...] mais do que precursor da bossa nova, Garoto
foi fundador de uma linhagem que tem sua marca inconfundível". Contudo, compreende-se
que, tais afirmações ainda precisam abranger um tanto quanto músicos e o público, uma vez
que, músicos, intérpretes e pesquisadores o apontam como quem abriu os caminhos para o
gênero mencionado. As pesquisas bibliográficas bem como as entrevistas, de fato, mostram
que a participação de Garoto, como um dos precursores da Bossa Nova, se deu, efetivamente,
também através da harmonia empregada no violão na obra Duas Contas (GAROTO, c1991a)
(ANEXO B). Segundo Mello (2017b)26
, a referida composição “[...] foi gravada e tocada por
muitos bossanovistas, como Sílvia Telles, Luiz Eça, Johnny Alf, entre outros. Sua harmonia
sofisticada e os versos brancos remetem ao clima intimista, típico daquele movimento”
(ANEXO G). Tais acordes são encontrados, facilmente, em composições bossanovistas, por
exemplo, na composição O Barquinho (MENESCAL; BÔSCOLI, 1990, v. 1) (ANEXO F)
dos compositores Roberto Menescal (1937-) e Ronaldo Bôscoli (1928-1994), constata-se o
mesmo padrão de progressão harmônica. Tem-se, portanto, II V/III (dois cinco do três), II
V/II (dois cinco do dois) e II V (dois cinco) do tom da composição, sendo constatado o uso de
dominantes secundários e substituição de dominantes. Cabe enfatizar que a progressão II V
(dois cinco) é típica também no jazz.
26
Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.
38
Figura 34 – Compassos 1-12 da obra O Barquinho de Roberto Menescal e
Ronaldo Bôscoli
Fonte: Menescal; Bôscoli (1990, v. 1, p. 108).
Figura 35 – Compassos 5-8 da obra Duas Contas de Garoto
Fonte: Garoto (c1991a, v. 1, p. 9).
Sobre os versos brancos que Mello (2017b)27
menciona, trata-se dos versos que não
apresentam rimas os quais também podem ser chamados de versos soltos (ANEXO G). A
seguir, pode-se observar a letra da obra Duas Contas (GAROTO, [19--?]) composta por
Garoto.
27
Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.
39
Figura 36 – Letra da obra Duas Contas de Garoto
Teus olhos
São duas contas pequeninas
Qual duas pedras preciosas
Que brilham mais que o luar
São eles
Guias do meu caminho escuro
Cheio de desilusão
E dor
Quisera que eles soubessem
O que representam pra mim
Fazendo
Que eu prossiga feliz
Ai, amor
A luz dos teus olhos
Fonte: Garoto ([19--?])28
.
Para Mello (2012), Garoto foi um dos pilares relevantes do gênero. Assim, pode-se
considerar a obra Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) como uma contribuição
para a música brasileira no que se refere ao gênero Bossa Nova. Nessa direção, Mello
(2017b)29 aponta:
É que a música „Duas Contas‟ [Garoto (c1991a) (ANEXO B)] já trazia a
modernidade que era muito prezada por aquele movimento [...].
Modernidade nos versos que não rimavam (versos brancos) e modernidade
na harmonia. Em sua versão original, a tonalidade é em Mi maior, mas a
melodia tem início no 3º grau de seu campo harmônico (G#m7(9)), o que era
uma grande novidade naquela época! [(ANEXO G)].
28
Documento online não paginado. 29
Informação fornecida por Jorge Mello, prof. pesquisador de Garoto, através de entrevista via e-mail ao autor
deste Trabalho, em 14 de julho de 2017.
40
Nesse sentido, Duas Contas (GAROTO, c1991a) (ANEXO B) demonstra sofisticação
e ousadia harmônica para a época, sendo ainda, nos dias atuais, considerada um marco do
compositor que se perpetua dentre a música brasileira.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O violão brasileiro, no que se refere à obra de Garoto, é parte do repertório de muitos
violonistas, tais como: Paulo Bellinati, Yamandú Costa, Marco Pereira, dentre outros, seja na
vertente erudita, seja na popular. Nessa perspectiva, é relevante que sua interpretação esteja
vinculada a norteamentos pertinentes às suas origens, no sentido de envolver os aspectos
mencionados neste Trabalho. Os caminhos percorridos foram decisivos para se chegar às
devidas conclusões. Esta Pesquisa remete à reflexão que direciona para a realidade do
violonista de concerto brasileiro, de modo a buscar entendimentos para uma interpretação
relacionada as características do violão brasileiro.
Através de suas composições e interpretações, Garoto revela o início de uma nova
vertente do violão solo brasileiro, na qual também fazem parte João Pernambuco (1883-
1947), Dilermando Reis (1916-1977), Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba (PB)
(1926-2008), dentre outros. Com base nesse entendimento, pode-se considerar Garoto um
violonista de participação relevante no cenário. Suas obras, em especial as mencionadas neste
Trabalho, apresentam-se de forma a dar margens para mediações que cada intérprete
disponibiliza em face de sua vivência particular com o choro e o jazz.
Procurou-se delinear o tema deste Trabalho com questões que oferecessem suporte
para o fim prático do intérprete. Nesse contexto, norteou-se propostas para a interpretação do
performer. As devidas comparações e leitura de partitura das obras bem como a escuta de
gravações originais do compositor, foram fatores primordiais para se chegar a uma conclusão
referente aos seus aspectos interpretativos, inovação e contribuição.
Acredita-se que a nova proposta de música, em forma de jazz moderno, foi uma das
vertentes nas composições de Garoto, as quais evidenciam progressões harmônicas e
adicionamento de tensões aos acordes, encontrados, facilmente, no gênero mencionado.
Garoto intensificou o uso dessas harmonias em sua época. Nessa perspectiva, compreendeu-se
que o estilo musical denominado, atualmente, de violão brasileiro teve a mistura da música de
concerto regional no que se refere ao choro e do jazz norte-americano. Desse modo,
relacionou-se aos aspectos próprios que surgem das transformações, resultando na formação
do novo e na concepção de um segmento de repertório a ser executado de maneira coerente,
41
por meio da técnica peculiar do violão.
Conforme pôde-se verificar, independentemente de sua obra ter sido composta em
gênero Choro, está relacionada, a este, através de aspectos rítmicos, articulação, forma,
melodia e harmonia (resoluções de acordes diminutos). Sobre o jazz, constatou-se que o
compositor deu sua contribuição para o violão brasileiro no que diz respeito ao adicionamento
de tensões aos acordes, nesse sentido, soma-se à particularidade de Garoto a competência de
introduzir recursos inovadores, evidenciando-os de forma idiomática e musical. Tais aspectos
estão relacionados à obra do compositor, influenciando em sua maneira peculiar de interpretá-
las.
Assim, pôde-se definir sua composição como uma obra, efetivamente, brasileira,
levando em consideração que tudo é transformado. A inovação que ele trouxe pode ser
verificada, principalmente, através da elaboração do ritmo e da harmonia, sendo, esta última,
um dos pontos mais relevantes.
Apesar de as partituras observadas não serem, originalmente, feitas por Garoto, pôde-
se perceber que algumas características remetem a aspectos (estilo) do choro e ao jazz, em
face da maneira como o compositor as interpreta, tendo em vista que ele teve contato com
manifestações jazzísticas e também do choro, gêneros esses que estão vinculados em seus
aspectos harmônicos, melódicos, rítmicos e interpretativos na vertente popular. Sob esse
enfoque, acredita-se que a presente Pesquisa está em consonância com princípios relevantes
no que concerne ao estudo da performance além de estar alicerçada na contribuição do
compositor para o violão e a música brasileira.
Conpreendeu-se, portanto, que seu envolvimento com o choro e o jazz contribuiu para
a consolidação de sua obra, resultando, de certo modo, em uma maneira de interpretar
vinculada aos aspectos pertinentes aos 2 gêneros citados. Nessa perspectiva, pretendeu-se, por
meio deste Trabalho, contribuir no âmbito acadêmico para o intérprete do violão de concerto
brasileiro, como também para a pesquisa da música instrumental em um sentido mais amplo.
42
REFERÊNCIAS
ALBANESE, Mário. Garoto: o gênio das cordas. São Paulo, SP: SESI-SP, 2013.
ALVES, Cléber José Bernardes; GARCIA, Maurício Freire. O hibridismo entre o samba e o
jazz: aspectos interpretativos na música Aos pés da cruz, pelo Paulo Moura Quarteto. In:
BORÉM, Fausto; CASTRO, Luciana Monteiro de (Org.). Diálogos musicais da pós: práticas
de perfomance n. 1. Belo Horizonte: UFMG, 2016. p. 33-52. Disponível em:<http://www.
musica.ufmg.br/selominasdesom/?wpfb_dl=81>. Acesso em: 15 out. 2017.
AMARAL, Raíssa. Pixinguinha (Documentário completo). 2011. 1 vídeo do YouTube.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9GORmbtsKC0>. Acesso em: 20 abr.
2017.
ANTÔNIO, Irati; PEREIRA, Regina. Garoto: sinal dos tempos. Rio de Janeiro, RJ: Funarte,
1982.
BANDO DA LUA BOYS. Brazil. 2006. 1 vídeo no You Tube. Disponível em:<https://www.
youtube.com/watch?v=utUWlUt1uS0>. Acesso em: 6 maio 2017.
BASTOS, Marina Beraldo; PIEDADE, Acácio Tadeu de Camargo. O desenvolvimento
histórico da “música instrumental”, o jazz brasileiro. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA (ANPPOM), 16., 2006,
Brasilia, DF. Anais... Brasília, DF: UnB, 2006. p. 931-936. Disponível em: <http://antigo.
anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/POSTERES/09_Pos_
Etno/09POS_ Etno_02-223.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2017.
BELLINATI, Paulo. The guitar works of Garoto. San Francisco, CA: GSP, 1991. v. 1.
BORGES, Luís Fabiano Farias. Trajetória estilística do choro: o idiomatismo do violão de
sete cordas, da consolidação a Raphael Rabello. 2008. 177 f. Dissertação (Mestrado em
Música) – Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, 2008. Disponível em: <http://
repositorio. unb.br/bitstream/10482/4070/1/2009_LuisFabianoFariasBorges.pdf>. Acesso em:
21 fev. 2017.
CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. São Paulo, SP: Editora 34, 1998.
DELNERI, Celso Tenório. O violão de garoto: a escrita e o estilo violonístico de Annibal
Augusto Sardinha. 2009. 117 f. Dissertação (Mestrado em Artes) – Escola de Comunicações e
Artes, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, 2009. Disponível em: <http://
www.teses. usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-26102010-165400/pt-br.php>. Acesso em:
20 mar. 2017.
DINIZ, André. Almanaque do choro: a história do chorinho, o que ouvir, o que ler, o que
curtir. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2003.
ESCOLA de samba no violão (Zé do Cedro e João do Pinho).mpg. 2012. 1 vídeo no You
Tube. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=xZ5R32xi3z0>. Acesso em: 2 nov.
2017.
43
FARIA, Nelson. O livro do violão brasileiro: samba, bossa nova, choro e outros estilos. São
Paulo, SP: Irmãos Vitale, 2012.
GAROTO. Duas Contas. Intérprete: Maria Bethânia. [19--?]. Não paginado. Disponível em:
<https://www.vagalume.com.br/maria-bethania/duas-contas.html>. Acesso em: 30 ago. 2017.
______. Benny Goodman no Choro. 1952. 1 áudio/vídeo do YouTube. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=zPmXF7T0pc8>. Acesso em: 20 out. 2017.
______. Duas Contas. Transcrição: Paulo Bellinati. In: BELLINATI, Paulo (Ed.). The guitar
works of Garoto. San Francisco, CA: Guitar Solo, c1991a. p. 9-10. 1 partitura. Violão. (The
great guitarists of Brazil, v. 1).
______. Lamentos do Morro. Transcrição: Paulo Bellinati. In: BELLINATI, Paulo (Ed.). The
guitar works of Garoto. San Francisco, CA: Guitar Solo, c1991b. p. 18-21. 1 partitura.
Violão. (The great guitarists of Brazil, v. 1).
______. ______. 2012. 1 áudio/vídeo do YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=UB4BoTE8AmE>. Acesso em: 21 out. 2017.
______. Duas Contas. 2014. 1 áudio/vídeo do YouTube. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=WwbrF9cPops>. Acesso em: 2 nov. 2017.
______. Benny Goodman no Choro. 2017a. 1 partitura (2 p.). Partitura comprada a Henrique
Gomide e recebida por <[email protected]> em 26 jul. 2017. Documento não
publicado.
______. Lamentos do Morro. Editado por José Simião Severo. Natal, RN, 2017b. 1 partitura
(1 p.). Violão. Documento não publicado.
______. Duas Contas. Editado por José Simião Severo. Natal, RN, 2017c. 1 partitura (2 p.).
Violão. Documento não publicado.
______.; CHIQUINHO; LEMOS, Fafá. O relógio da vovó. In: MELLO, Jorge; GOMIDE,
Henrique; TEIXEIRA, Domingos (Org.). Choros de Garoto. São Paulo, SP: SESC-SP, 2017.
p. 124-125. 1 partitura (2 p).
GNATTALI, Radamés. Sonatina (Concertino) for guitar and piano. Sherman Oaks, CA:
Brazilliance Music Pub., 1952.
GOODMAN, Benny. Slipped Disc. In: THE REAL book: all new. [19--?]. v. II. p. 326-327.
1 partitura (2 p.).
______. ______. [1971?]. 1 vídeo do YouTube Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=Yx1bgXLQQ6k>. Acesso em: 2 out. 2017.
JOBIM, Tom; MENDONÇA, Newton. Desafinado Off Key. Letra em inglês: Gene Lees. In:
CHEDIAK, Almir (Ed.). Tom Jobim: songbook. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Lumiar, 1990. v.
1. p. 39-41. 1 partitura (3 p.).
44
JUNQUEIRA, Humberto. A obra de Garoto para violão: o resultado de um processo de
mediação cultural. 2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Performance Musical) – Escola de
Música, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, 2010.
Disponível em:<http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/AAGS-
8CRFKU/ disserta__o_garoto.pdf?sequence=1>. Acesso em: 30 jun. 2017.
LYRA, Carlos. Aníbal Augusto Sardinha (Garoto). [mensagem pessoal]. Mensagem
recebida por <[email protected]> em 14 jun. 2017. Documento não publicado.
MELO, Cleisson de Castro. A influência do jazz: a swing era na música orquestral de
concerto brasileira no período de 1935 a 1965. 2010. 200 f. Dissertação (Mestrado em
Música) – Escola de Música, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, 2010.
Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/6460/1/Cleisson%20Melo%20-
%20Influencia %20do%20Jazz%20-%20Swing%20Era%20na%20Musica%20
Orquestral%20-%20WEB. pdf>. Acesso em: 23 mar. 2017.
MELLO, Jorge. Gente humilde: vida e música de Garoto. São Paulo, SP: SESC-SP, 2012.
______. Garoto no choro. In: MELLO, Jorge; GOMIDE, Henrique; TEIXEIRA, Domingos
(Org.). Choros de Garoto. São Paulo, SP: SESC-SP, 2017a. p. 25-30.
______. Aníbal Augusto Sardinha, Garoto (Entrevista). [mensagem pessoal]. Mensagem
recebida por <[email protected]> em 14 jul. 2017b. Documento não publicado.
MELLO, Jorge; GOMIDE, Henrique; TEIXEIRA, Domingos (Org.). Choros de Garoto. São
Paulo, SP: SESC-SP, 2017.
MENESCAL, Roberto; BÔSCOLI, Ronaldo. O barquinho. In: CHEDIAK, Almir (Ed.).
Bossa Nova: songbook. Rio de Janeiro, RJ: Lumiar, 1990. v. 1. p. 108. 1 partitura (1 p).
MONGIOVI, Angelo Guimarães. Chord-melody: investigação e arranjos para guitarra. 2013.
119 f. Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade de Aveiro, Portugal, POR, 2013.
Disponível em: <http://ria.ua.pt/bitstream/10773/11393/1/7778.pdf>. Acesso em: 21 mar.
2017.
MONK, Thelonius. Eronel. In: THELONIOUS Monk‟s compositions. 1992. p. 24. 1 partitura
(1 p.). Disponível em:<http://www.elaulademusica.com/partituras/Thelonious%20Monks
%20-%20Composiciones/ Thelonious%20Monks%20Compositions.pdf>. Acesso em: 4 jul.
2017.
PERNAMBUCO, João. Brejeiro. Revised by Turíbio Santos. c1978. 1 partitura (2 p.). Violão.
Disponível em: <https://www.cifraclub.com.br/joao-pernambuco/brejeiro/partituras/>. Acesso
em: 2 nov. 2017.
PIEDADE, Acácio Tadeu de Camargo. Jazz, música brasileira e fricção de musicalidades.
In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
EM MÚSICA (ANPPOM), 15., 2005, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro, RJ: UFRJ,
2005. p. 1064-1071. Disponível em: <http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_
anppom_2005/sessao18/acacio_piedade.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2017.
45
SÈVE, Mário. Choro: gênero ou estilo?. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL
DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO EM MÚSICA (ANPPOM), 26., 2016, Belo
Horizonte, MG. Anais... Belo Horizonte, MG: UFMG, 2016. Não paginado. Disponível em:
<http://www. anppom.com.br/congressos/index.php/26anppom/bh2016/paper/view/
4001/1440>. Acesso em: 30 abr. 2017.
SILVA, Flávio Mateus da; BORÉM, Fausto. Marcos Leite e seus arranjos vocais para o grupo
vocal Garganta Profunda: aspectos históricos e estilísticos. In: CONGRESSO DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
(ANPPOM), 15., 2005, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 2005. p. 295-
300. Disponível em: <http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2005/
sessao5/flaviomateus_faustoborem.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2017.
SIMIÃO, Dedé. Violão percussivo samba. 2018. 1 vídeo no You tube. Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=OlPiOHwETPE>. Acesso em: 30 jan. 2018.
TABORDA, Marcia. Violão e identidade nacional. Rio de Janeiro, RJ: Civilização
Brasileira, 2011.
46
APÊNDICE A – LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE
PARTITURA)
47
Fonte: Garoto (2017b, p. 1-2).
48
APÊNDICE B – DUAS CONTAS DE GAROTO (TRANSCRIÇÃO DE PARTITURA)
49
Fonte: Garoto (2017c, p. 1-2).
50
ANEXO A – PARTITURA DA OBRA BENNY GOODMAN NO CHORO DE GAROTO
51
Fonte: Garoto (2017a, p. 1-2).
52
ANEXO B – PARTITURA DA OBRA DUAS CONTAS DE GAROTO
53
Fonte: Garoto (c1991a, p. 9-10).
54
ANEXO C – PARTITURA DA OBRA LAMENTOS DO MORRO DE GAROTO
55
56
57
Fonte: Garoto (c1991b, p. 18-21).
58
ANEXO D – PARTITURA DA OBRA BREJEIRO DE JOÃO PERNAMBUCO
59
Fonte: Pernambuco (c1978, p. 1-2).
60
ANEXO E – PARTITURA DA OBRA SLIPPED DISC DE BENNY GOODMAN
61
Fonte: Goodman ([19--?], v. II, p. 326-327).
62
ANEXO F – PARTITURA DA OBRA O BARQUINHO DE ROBERTO MENESCAL E
RONALDO BÔSCOLI
Fonte: Menescal; Bôscoli (1990, v. 1, p. 108).
63
ANEXO G – ENTREVISTA COM JORGE MELLO (VIA E-MAIL)
64
65
ANEXO H – ENTREVISTA COM CARLOS LYRA (VIA E-MAIL)
66
67