Upload
haphuc
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Elmir Henrique Silva Andrade
CONSTRUÇÃO DE VALORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Natal/RN 2017
ELMIR HENRIQUE SILVA ANDRADE
CONSTRUÇÃO DE VALORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Central, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Educação Física, sob a orientação da Profª. Drª. Priscilla Pinto Costa da Silva.
Natal/RN 2017
Andrade, Elmir Henrique Silva. Construção de valores na educação física escolar: uma revisãosistemática / Elmir Henrique Silva Andrade. - 2017. 30f.: il.
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) -Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciênciasda Saúde, Departamento de Educação Física. Orientadora: Priscilla Pinto Costa da Silva.
1. Educação Física Escolar - TCC. 2. Construção de Valores -TCC. 3. Base Nacional Comum Curricular - TCC. I. Silva,Priscilla Pinto Costa da. II. Título.
RN/UF/BS-CCS CDU 796:37
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
ELMIR HENRIQUE SILVA ANDRADE
CONSTRUÇÃO DE VALORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Central, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Educação Física, sob a orientação da Profª. Drª. Priscilla Pinto Costa da Silva.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________ Profª. Drª. Priscilla Pinto Costa da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Presidente da Comissão Examinadora
_______________________________________ Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Surdi
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador Interno
_______________________________________ Prof. Me. Rafael de Gois Tinôco
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador Interno
Aprovado em ____/____/________
Natal/RN 2017
DEDICATÓRIA À Maria de Lourdes Silva (in memoriam),
minha avó, que mesmo não tendo sido
professora, mostrou-me a importância da
esperança, elemento essencial na arte de
educar.
AGRADECIMENTOS
Ainda que um elemento pré-textual de um Trabalho de Conclusão de Curso não
seja suficiente para expressar toda a gratidão às pessoas que contribuíram com as
minhas conquistas dos últimos quatro anos, eu não poderia deixar de registrar, de
maneira formal, o quão especiais elas são em minha vida. Desse modo, as minhas
gratulações são:
À Maria Aparecida e a Francisco Elme, meus pais. Agradeço-os não somente
pela vida, mas por um motivo ainda mais relevante: o dom de saber viver. Agradeço
por toda a dedicação que tiveram no sentido de me proporcionar as oportunidades
para ser uma pessoa melhor. Certamente a primeira grande sorte da minha vida foi
ser filho deles.
À Maria José, minha avó, pelos cafunés, abraços, confiança e por acreditar nos
meus sonhos. Com ela pude aprender o que é o amor verdadeiro.
À Elna Cristina, minha tia, minha segunda mãe. Abdicou de várias coisas
simplesmente para ver os sobrinhos felizes. Espero que um dia eu seja capaz de
retribuir pelo menos uma parte do que ela fez.
À Elisandra Inara e à Helena Mirela, minhas irmãs de sangue e de coração.
Sem elas, a vida não teria a menor graça. Foram, sem dúvidas, os maiores presentes
que meus pais me deram.
À Bruna Guimarães, minha irmã de coração. Eu não teria chegado tão longe
sem ela. Nos momentos em que nem eu mesmo acreditei em mim, foi ela quem me
apoiou e não me deixou cair. Cada objetivo que conquisto tem, indubitavelmente, uma
enorme contribuição dela.
À Elma Regina, minha tia. Foi a primeira pessoa da família a me pegar no colo,
antes mesmo da minha mãe. Agradeço por ser um dos meus referenciais, um exemplo
de empenho a ser seguido. Agradeço pelas conversas excelentes nos momentos em
que estamos juntos. Tais momentos são poucos, mas são inesquecíveis.
À Marcia Ferreira e à Sâmia Ferreira, minha tia e minha prima,
respectivamente. Agradeço pelas boas risadas dadas e pelas ótimas conversas no
final de tarde, regadas a leite com Toddy e alguns pães assados na manteiga, que me
fazem muita falta.
A Francisco Gilberto, meu avô. Agradeço pela disponibilidade e vontade de
ajudar sempre que preciso.
A Wesclen Lima, meu amigo. E já se vão quase oito anos de amizade e diversas
situações inusitadas em nossas vidas. Meu parceiro de aventuras automobilísticas
(viagem, pneus furados, pane seca, etc.). Agradeço por poder contar com ele em
todos os momentos.
À Júlia Robert. Agradeço pelas tardes no DE, pelos almoços no intervalo do
trabalho, pelas conversas antes do cursinho, pelos encontros incomuns nas paradas
de ônibus. Agradeço por cada conselho que me fez crescer e superar minhas
barreiras. Agradeço pela pessoa maravilhosa que ela é.
A Pablo Antônio, grande (literalmente) amigo e treinador. Agradeço pelas
conversas filosóficas e interessantíssimas. Uma pessoa boa com o coração puro, que
não mede esforços para ajudar os outros. Um exemplo ao qual procuro seguir.
A Diego Henrique. Pouquíssimas pessoas têm a sorte de ter seu ídolo esportivo
como um dos seus melhores amigos. Tenho tal sorte e agradeço a Diego por ser um
amigo disponível para todas as situações.
A Paulo Vitor. Ainda que os desígnios da vida tenham nos afastado, seria
injusto não agradecer a ele, afinal, durante muito tempo, foi meu melhor amigo, meu
irmão. Dividimos nossa “sofrência” por conta das desilusões amorosas; viramos
diversas noites acordados jogando videogame; compartilhamos o par de fones de
ouvido na volta para casa, após a aula; fomos parceiros inseparáveis das peladas.
A Albher Jhordão, meu parceiro do surf. Agradeço pelos momentos engraçados
e pelas conversas reflexivas nas cadeiras dos ônibus.
Aos integrantes da minha banda favorita, o Rosa de Saron. Sei que eles nunca
lerão essa homenagem, mas não poderia deixar de fazê-la, afinal, são uma banda
católica que consegue tocar o coração de um ateu com um jeito único e especial de
falar sobre o amor e sobre a vida.
À Maryana Pryscilla e à Ana Charline. Agradeço pelos conselhos, pela torcida
e pelo enorme carinho.
Aos meus amigos e minhas amigas do IFRN – Campus São Gonçalo do
Amarante, os quais tive o grande prazer de treinar para a disputa dos Jogos Intercampi
de 2017. O aprendizado que tive com eles supera enormemente o âmbito esportivo.
A Ailton Leal, Airton Afonso, Christoph Kalil, Daniel Henrique, Josewagner e
Roberto Nunes, grandes amigos que a Educação Física me deu. Não há resenha boa
sem esses caras.
A Félix Guedes, Paulo César e Charles Alexandre, outros membros da
Resenha do Contêiner. Os dois primeiros, meus parceiros inseparáveis nas pistas de
atletismo. O terceiro é o cara mais engraçado que alguém pode conhecer.
Aos professores Aguinaldo Surdi, Antônio de Pádua, Francisco Emílio, Jônatas
Barros, José Figueiredo, Mackson Luiz, Márcio Romeu, Patrick Ramon, Rafael de
Gois, Raimundo Nonato e Raphael Lacerda, os quais tiveram grande importância, de
um jeito ou de outro, no meu processo formativo dentro da UFRN.
À Priscilla Pinto, minha orientadora. Agradeço pela paciência no trabalho de
guiar-me na confecção deste trabalho. É uma mulher com bastante sabedoria e um
jeito meigo de menina.
E, como o ditado diz, por último, mas não menos importante, à Thalia Rafaelly,
o maior presente que a UFRN me deu. Agradeço pela cumplicidade, pelos momentos
de alegria, pelas situações difíceis que enfrentamos juntos e por tudo o que
compartilhamos em pouco mais de um ano. Agradeço por formar comigo, o melhor
casal que existe.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi revisar na literatura a construção de valores nas aulas de Educação Física. Realizou-se a revisão a partir das seguintes bases de dados eletrônicas: LILACS, Scopus e SciELO. As palavras-chave e descritores utilizados foram: “educação física”, “valores sociais”, “construção de valores” e “moral”, de modo que 08 artigos foram escolhidos para compor este estudo. Estabeleceu-se duas categorias analíticas provenientes dos contextos evidenciados nos estudos. A primeira categoria abrange cinco artigos e foi denominada construção de valores a partir de intervenções previamente planejadas. Já na segunda categoria, que recebeu o nome buscando a construção de valores na Educação Física escolar, estão presentes os três artigos restantes. Os resultados encontrados nos artigos presentes nessa revisão sistemática demonstram que a Educação Física é um componente curricular propício para o desenvolvimento da construção de valores. Nota-se que o tema vem sendo abordado pelas pesquisas de várias maneiras, com metodologias diversificadas. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física Escolar; Construção de Valores; Base Nacional Comum Curricular.
ABSTRACT
The aim of this work was to review in the literature the construction of values in Physical Education classes. The review was carried out from the following electronic databases: LILACS, Scopus e SciELO. The keywords and descriptors used were: "educação física", "valores sociais", "construção de valores" and "moral”, so that 08 articles were chosen to compose this study. Two analytical categories were established from the contexts evidenced in the studies. The first category comprises five articles and was denominated the construction of values based on previously planned interlocutions. In the second category, which received the name seeking the construction of values in the School Physical Education, the three remaining articles are present. The results show that Physical Education is a curricular component conducive to the development of values. It is noted that the topic has been approached by the researches in several ways, with diversified methodologies. KEYWORDS: School Physical Education; Construction of Values; Base Nacional Comum Curricular.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Estudos que investigaram a construção de valores na Educação Física
escolar ....................................................................................................................... 18
Quadro 2 – Valores trabalhados nos estudos da primeira categoria ......................... 23
LISTA DE SIGLAS
BNCC – Base Nacional Comum Curricular ............................................................... 13
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais.............................................................. 20
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
1.1 PROBLEMÁTICA ............................................................................................. 14
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 15
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 15
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................... 15
1.3.2 Objetivos específicos .............................................................................. 16
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 16
2.1 TIPO DE PESQUISA ....................................................................................... 16
2.2 BASES DE DADOS ......................................................................................... 16
2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO .......................... 16
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 17
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28
13
1 INTRODUÇÃO
A Educação Física escolar no Brasil proporciona ao indivíduo estímulos à sua
Cultura de Movimento, além da compreensão desta. Esse termo começou a ser
difundido por Elenor Kunz em sua abordagem crítico-emancipatória em meados dos
anos 1990 e pode ser compreendido como as atividades relacionadas ao movimento
humano, seja no âmbito esportivo ou não, pertencentes ao mundo do se movimentar
e as produções ou criações do ser humano a partir desse meio, com base em seu
comportamento e conduta (KUNZ, 2004).
Segundo Daolio (2004), a Cultura de Movimento se apropria de uma concepção
dialógica para considerar a relação entre o ser humano e o mundo e, desse modo,
compreende a Educação Física como prática social, já que esta deve emergir do
movimento vivido pelo estudante, proveniente de sua cultura, de modo a ampliar e
transformar seus significados.
Em vista disso, Mendes e Nóbrega (2009, p. 2) ainda acrescentam que a cultura
de movimento se refere às relações entre as “formas de se movimentar e a
compreensão de corpo de uma determinada sociedade, comunidade, de uma cultura”.
Essa percepção emerge após uma série de mudanças ocorridas no último
século (SIMÕES et al., 2015). A partir da concepção de Cultura de Movimento,
compreende-se que o desenvolvimento humano ocorre de maneira holística,
enfraquecendo a antiga dicotomia corpo/mente, de modo que uma ação gera reflexos
em todas as áreas que integram um sujeito e, a partir de um ponto de vista
fenomenológico, o ser humano sempre é presença corporal (DAOLIO, 2004).
Com base nessa perspectiva, a Educação Física é posta na terceira versão da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na área de linguagens. Por meio da
linguagem, segundo o próprio documento, “o homem se constitui sujeito social [...] e
por ela e com ela interage consigo mesmo e com os outros” (BRASIL, 2017, p. 59). A
BNCC coloca ainda, que a Educação Física pode ser dividida em oito dimensões de
conhecimento, dentre os quais está a construção de valores.
Segundo Torres, Schwartz e Nascimento (2016, p 341), os valores são os
“critérios que as pessoas usam para avaliar suas ações, outras pessoas e eventos”.
Dessa maneira, os valores são dos mais variados tipos: éticos, morais, políticos,
estéticos, vitais, ecológicos, econômicos, religiosos e espirituais (PEDRO, 2014).
14
A construção de valores consiste em proporcionar ao indivíduo um pleno
exercício da cidadania dentro de uma perspectiva holística, já que, segundo Spíndola
e Mousinho (2010, p. 140), é possível “observar que os valores, ao mesmo tempo que
estão relacionados intimamente à formação do indivíduo, também são eleitos e
emergentes da cultura e/ou da sociedade a que cada indivíduo pertence”. Isso
corrobora com Menin (2002, p. 93), quando a autora diz que os valores, vislumbrados
a partir de certos pontos de vista, “são determinados por culturas particulares e em
função de certos momentos históricos, variando, portanto, de acordo com cada
sociedade e período de sua existência”. Desse modo, “algo considerado um dia como
correto e justo poderia ser, em outra época, considerado errado ou injusto” (MENIN,
2002, p. 93).
No que tange à Educação Física, a terceira versão da BNCC explica que a
construção de valores:
Vincula-se aos conhecimentos originados em discussões e vivências no contexto da tematização das práticas corporais, que possibilitam a aprendizagem de valores e normas voltadas [...] ao respeito às diferenças e no combate aos preconceitos de qualquer natureza (BRASIL, 2017, p. 179).
Ainda de acordo com o documento, “essa dimensão está diretamente
associada ao ato intencional de ensino e de aprendizagem e, portanto, demanda
intervenção pedagógica orientada para tal fim” (BRASIL, 2017, p. 179). Dessa
maneira, é possível identificar a responsabilidade que o professor de Educação Física
tem no trabalho com valores, devendo essa dimensão estar inserida já no
planejamento das aulas.
1.1 PROBLEMÁTICA
A escola deve intentar bons resultados na construção de valores que
contribuirão com uma formação da identidade dos estudantes e no desenvolvimento
moral destes (WELCHEN; OLIVEIRA, 2013). Apesar disso, é constatado que o
trabalho escolar com os valores ocorre sem o vigor necessário, de maneira superficial
(PEREIRA, 2010). A fim de identificar se o trato com valores está presente na
Educação Física escolar e como ele ocorre, formulou-se a seguinte questão de
15
estudo: como a construção de valores vem sendo tratada nas pesquisas em Educação
Física escolar?
1.2 JUSTIFICATIVA
Justifica a escolha desse tema a preocupação que o autor tem de, após a sua
formação, não ser apenas um promotor de tecnicismo e congruente com os
pensamentos errôneos que colocam que a educação ética e moral se dá apenas no
seio familiar. A escola também tem um papel fundamental e deve ser um local no qual
o sujeito poderá se perceber dentro de sua realidade e, em seguida, transformá-la,
caso queira. O professor tem a responsabilidade de ser um mediador nesse processo,
levando os estudantes a perceberem que a vida é coletiva.
É fato que os profissionais da área de educação têm que estar se capacitando
constantemente. A cada dia, as mudanças que ocorrem na sociedade resultam em
novas formas de encará-la e o professor deve estar pronto para lidar da melhor forma
possível com tudo isso. Nesse sentido, foi criada a BNCC e, dentro dela, a dimensão
acerca da construção de valores foi estabelecida como uma das vertentes da
Educação Física escolar.
Na sociedade hodierna, na qual as pessoas agem cada vez mais de modo
egocêntrico, a discussão dentro da escola acerca dos valores humanos é essencial
para promover aos alunos uma responsabilidade social. A Educação Física escolar
tem um grande diferencial em relação às outras disciplinas porque seus conteúdos
permitem a vivência de situações que propiciam reflexões, o que a transforma em um
ambiente muito favorável a inserção do diálogo sobre a construção de valores.
É necessário verificar como isso vem sendo trabalhado nas pesquisas dentro
das escolas e averiguar se as estratégias estão alcançando seus objetivos para que,
no futuro, novas interlocuções sejam elaboradas.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
Revisar na literatura a construção de valores nas aulas de Educação Física.
16
1.3.2 Objetivos Específicos
Sistematizar as pesquisas em Educação Física escolar que tratam da
construção de valores.
Identificar os valores elencados nos resultados das pesquisas.
Discutir como a construção de valores vem sendo apresentadas nas aulas de
Educação Física escolar, a partir da revisão na literatura.
2 METODOLOGIA
2.1 TIPO DE PESQUISA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, visto que esse tipo de
pesquisa pode “auxiliar na atualização e construção de novas diretrizes para atuação
profissional” (GOMES; CAMINHA, 2014, p. 297). Segundo Sampaio e Mancini (2007,
p. 84), os "métodos sistemáticos são usados para evitar viés e possibilitar uma análise
mais objetiva dos resultados, facilitando uma síntese conclusiva".
2.2 BASES DE DADOS
A busca por artigos que compuseram a pesquisa foi realizada por meio das
seguintes bases de dados eletrônicas: LILACS, Scopus e SciELO. As palavras-chave
e descritores utilizados foram: “educação física”, “valores sociais”, “construção de
valores” e “moral”, fazendo uso dos termos operantes lógicos and e or para combiná-
las.
2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Para fazer parte desta revisão, o artigo deveria ser original, ter sido publicado
entre 2007 e 2017, estar com o seu texto completo disponível e ser originário do Brasil.
Já os artigos em formato de revisão sistemática da literatura, os ensaios, as
monografias, as dissertações, as teses e as duplicatas foram excluídas da pesquisa.
17
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira etapa da pesquisa se desenvolveu a busca nas bases de dados
eletrônicas e obteve como resultado o total de 816 artigos. Procedeu-se com a seleção
tendo como base os títulos dos estudos e os critérios de inclusão e critérios de
exclusão, eliminando-se duplicatas, ensaios e revisões, restando 08 artigos. O
refinamento foi finalizado com a leitura dos resumos e, dessa forma, 05 artigos foram
escolhidos. Após a seleção, necessitou-se realizar uma nova busca pelos nomes dos
autores dos artigos selecionados antes da última etapa do refinamento, de modo a
localizar outros trabalhos que estivessem dentro dos critérios de inclusão, para que
os achados não fossem escassos para o desenvolvimento da revisão. Assim sendo,
o número final de artigos para compor este estudo foi 08.
Os artigos que foram selecionados nesta revisão sistemática estão
apresentados no Quadro 1. Tal quadro também detalha as pesquisas quanto aos
objetivos, metodologia e principais resultados. Todos os textos foram publicados até
2015.
Nota-se que os participantes dos trabalhos foram tanto professores quanto
alunos. Isso demonstra a importância da relação entre esses dois atores sociais no
sistema pedagógico, sendo a aprendizagem do aluno como o foco do processo
educacional ideal (SANTOS, 2001) e o professor como ser responsável por estimular
competências e habilidades, tendo grande importância na formação do aluno/cidadão
(SILVA, 2014).
Quanto à classificação (Qualis - Capes1) dos periódicos nos quais os artigos
foram encontrados, não houve muita divergência, estando todas as revistas avaliadas
entre B1 e B3, de acordo com a classificação de periódicos do quadriênio 2013-2016.
Quadro 1 – Estudos que investigaram a construção de valores na Educação Física escolar.
1 O sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) procura avaliar periódicos científicos. A classificação é realizada por área de avaliação e é dada em estratos, que se dividem em oito níveis: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 E C.
Autor (Ano)
Objetivos Periódico (Qualis)
Metodologia Resultados
Impolcetto e Darido (2007)
Verificar de que maneira o princípio da ética pode ser tratado
Motriz (B1)
Pesquisa-ação; 05 professores
;
As reuniões contribuíram para que os professores refletissem sobre a ética como conteúdo a
18
nas aulas de Educação Física Escolar, por meio de seus componentes (diálogo, respeito, justiça e solidariedade) empregando o conteúdo jogos.
Questionário inicial, encontros coletivos e entrevista semiestruturada.
ser desenvolvido intencionalmente nas aulas.
Sena e Lima (2009)
Investigar o jogo como precursor na socialização de valores, no contexto escolar.
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (B1)
Metodologia de intervenção; 10 crianças; Diagnóstico do desenvolvimento individual.
Houve uma sensível diminuição na incidência de agressões físicas e verbais; notou-se um maior uso do diálogo, frente à necessidade da resolução de conflitos gerados nas situações lúdicas; percebeu-se um maior respeito às decisões coletivas; e observou-se que foram reduzidas as atitudes de discriminação e exclusão.
Leitão et al. (2011)
Verificar se os jogos e atividades propostas, com base na concepção construtivista de aprendizagem, podem contribuir na construção da autonomia e melhoria das relações interpessoais das crianças estudadas.
Revista Brasileira de Ciência e Movimento (B2)
Pesquisa-ação; 21 crianças; Avaliação por meio de ficha individual contendo categorias relacionadas aos valores e conceitos atribuídos a cada categoria.
As novas práticas pedagógicas vivenciadas sinalizaram progressos e evoluções educacionais positivas na autonomia e nas relações interpessoais.
Cruz e Freire (2014)
Analisar o envolvimento dos alunos em projeto que utiliza os jogos cooperativos como estratégia para estimular a internalização de atitudes cooperativas.
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (B3)
Estudo descritivo com abordagem qualitativa; 30 crianças; Observação e diário de campo.
Ao final do período da aplicação do projeto foi possível observar que os alunos se envolveram nas atividades realizadas, entenderam o conceito de cooperação e sua importância dentro da escola e em sua vida social.
Molina, Freire e Miranda (2015)
Analisar a aplicação de uma proposta pedagógica para estimular a autonomia nas aulas de Educação Física e identificar a perspectiva de uma professora e de seus
Pensar a Prática (B2)
Estudo de caso; 01 professora e 56 estudantes; Observação participante, questionário e entrevista.
A proposta aplicada estimulou a reflexão, a compreensão crítica e a competência dialógica dos estudantes.
19
Analisou-se e interpretou-se os artigos escolhidos a partir do objetivo desta
revisão e, logo após, estabeleceu-se duas categorias analíticas provenientes dos
contextos evidenciados nos estudos.
A primeira categoria abrange cinco artigos, os quais buscaram verificar a
construção de valores a partir de intervenções previamente planejadas. Eles são:
Impolcetto e Darido (2007), Sena e Lima (2009), Leitão et al. (2011), Cruz e Freire
(2014) e Molina, Freire e Miranda (2015). Neste grupo, os textos projetaram suas
metodologias de modo a intervir em aulas do ensino básico ou no modo como os
professores trabalhavam a construção de valores nas turmas em que lecionavam.
Na segunda categoria estão presentes os três artigos restantes: Freire et al.
(2010), Santos e Matthiesen (2012) e Caetano (2014). Eles estiveram buscando a
construção de valores na Educação Física escolar, partindo da análise do discurso de
professores chegando até a observação de aulas.
estudantes sobre a proposta aplicada.
Freire et al. (2010)
Identificar os conteúdos atitudinais selecionados pelos professores e analisar as características dos conteúdos identificados.
Revista da Educação Física/UEM (B1)
Pesquisa qualitativa; 03 professores; Observação.
A partir das observações foi possível verificar que os professores selecionam inúmeras normas, atitudes e valores para ensinar em suas aulas e que esses conteúdos podem ser classificados em três categorias: reguladores do comportamento dos alunos, relacionados à convivência humana e específicos da Educação Física
Santos e Matthiesen (2012)
Investigar como os professores de Educação Física compreendem o papel deste componente curricular no trabalho de orientação sexual nos anos finais do Ensino Fundamental.
Revista da Educação Física/UEM (B1)
Pesquisa qualitativa e descritiva; 05 professores; Entrevista semiestruturada.
A Educação Física congrega elementos importantes ligados à sexualidade, sobretudo ao trabalhar diretamente “com o corpo” e “no corpo”, por meio de seus conteúdos.
Caetano (2014)
Investigar o jogo em aulas de Educação Física de 5° ano e sua relação com o desenvolvimento moral dos alunos.
Pensar a Prática (B2)
Estudo qualitativo; 03 professores; Diário de campo.
Mesmo o jogo sendo tratado nas aulas, as oportunidades oferecidas ao desenvolvimento moral dos alunos foram pouco aproveitadas.
20
A construção de valores a partir de intervenções previamente planejadas
Nesta categoria, quatro dos cinco artigos, Impolcetto e Darido (2007), Sena e
Lima (2009), Leitão et al. (2011) e Cruz e Freire (2014), com a exceção do trabalho
de Molina, Freire e Miranda (2015), compartilham, além da característica que os
puseram aqui, algo peculiar: utilizaram como objeto das intervenções o conteúdo
jogos. Trazendo para a realidade desta revisão sistemática, isso é equivalente à
unidade temática brincadeiras e jogos da BNCC (BRASIL, 2017). Tal unidade temática
pode ser encarada como uma ferramenta que consegue facilitar discussões acerca
da construção de valores. Isso pode ser constatado quando Brasil (2017, p. 172)
apresenta que:
A unidade temática Brincadeiras e jogos explora aquelas atividades voluntárias exercidas dentro de determinados limites de tempo e espaço, caracterizadas pela criação e alteração de regras, pela obediência de cada participante ao que foi combinado coletivamente, bem como pela apreciação do ato de brincar em si.
O estudo de Impolcetto e Darido (2007) se referencia nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), nos quais constam os temas transversais (BRASIL,
1998). No artigo dessas autoras, a construção de valores é trabalhada por meio do
tema transversal ética. Cinco professores de Educação Física responderam a um
questionário inicial e participaram de oito encontros semanais, nos quais havia leitura
de textos, debates, discussões e relatos de experiência. Ao final, cada professor
respondeu a uma entrevista semiestruturada que tinha o objetivo de compreender as
possíveis contribuições dos encontros. As autoras concluíram que tudo o que foi
discutido nos encontros permitiu aos professores vislumbrar várias possibilidades no
trato das questões éticas em aulas de Educação Física. A inserção intencional de tais
questões deu-se em vários tipos de jogos, como exemplificado pelos professores.
Dois dos jogos mencionados foram o “pique-bandeira” e o “base quatro”.
Nota-se que o resultado da pesquisa está em congruência com Perini et al.
(2015) que concluíram que é possível integrar o ensino da ética à prática pedagógica
de Educação Física, pois esta disciplina pode promover a vivência de algumas
situações que permitem intervenções, por parte do professor, fundamentadas em
valores éticos e virtudes.
21
A pesquisa de Sena e Lima (2009) dividiu-se em três etapas: diagnóstica;
intervenção 1; intervenção 2. A duração total foi de dez meses. Realizou-se
sondagens individuais ao final de cada etapa no intuito de compará-las no desfecho
do estudo. Investigou-se, como valores, o respeito mútuo, a cooperação, a
solidariedade e a perseverança. As “práticas foram planejadas, organizadas,
sistematizadas e eleitas a partir de propostas, sugestões e preferências da maior parte
dos protagonistas (professor e alunos) daquela realidade” (SENA; LIMA, 2009, p.
251).
Os resultados indicaram progresso, por parte dos estudantes, nas atitudes
relacionadas aos valores estudados na pesquisa. Constata-se, que o jogo cumpriu
sua função global, “possibilitando ao aluno conhecimentos que ampliam a consciência
de si e do mundo social” (SILVA et al., 2012, p. 145).
O estudo de Leitão et al. (2011) se propôs a adotar uma abordagem
construtivista por meio de uma pesquisa-ação. O trabalho desenvolveu-se em quatro
períodos distintos, com duração de um mês por período e com uma avaliação
individual ao final de cada um. Os valores tratados na pesquisa foram a autonomia e
alguns ligados às relações interpessoais, como respeito mútuo, companheirismo e
solidariedade. Os participantes, estudantes do ensino fundamental – anos iniciais,
tiveram a oportunidade de construir e modificar regras de jogos com ou sem a
utilização de materiais e vivenciar jogos que requeriam a resolução de problemas em
grupo.
Os resultados apontaram que houve progressos e evoluções na presença dos
valores estudados no comportamento dos alunos, sugerindo que o modelo
pedagógico adotado é adequado para este fim.
Molina (2010) indica que, quando se educa para a autonomia, é necessário
preocupar-se com processo e contexto. Desse modo, a construção de regras é
favorecida por levar a um processo de criação, reflexão e organização destas.
A construção de valores esteve presente na pesquisa de Cruz e Freire (2014)
por meio do valor cooperação. Planejou-se uma intervenção pedagógica que
compreendia dez aulas, desenvolvidas recorrendo-se aos jogos cooperativos e a partir
de seis objetivos: conhecer os jogos cooperativos; compreender as diferenças e
semelhanças entre os jogos cooperativos e os jogos competitivos; vivenciar jogos
competitivos e cooperativos; perceber como os colegas se envolvem em cada tipo de
22
jogo; perceber seu próprio envolvimento em cada tipo de jogo; e refletir sobre a
cooperação nos jogos e na sociedade.
As autoras concluíram que as crianças estiveram envolvidas com o projeto,
sendo participativas nas atividades desenvolvidas e tendo reflexões acerca da
relevância da cooperação dentro das aulas, dos jogos e em suas vidas. Desse modo,
os jogos cooperativos demonstram-se como uma possibilidade nos trabalhos com a
dimensão atitudinal dos conteúdos, de modo a não adotar modelos autoritários.
Os resultados do estudo reforçam o que é afirmado por Lovisolo, Borges e
Muniz (2013, p. 137), ao apontarem os jogos cooperativos como “uma possibilidade
de mudança a favor de um aprendizado cooperativo e solidário”.
A autonomia também esteve presente no artigo desenvolvido por Molina, Freire
e Miranda (2015). Uma das autoras do trabalho era, também, a professora das turmas
abordadas neste. Desse modo, construiu-se um projeto pedagógico que objetivou o
estímulo da autonomia dos estudantes de tais turmas.
Observou-se 17 aulas de duas classes distintas da professora. Inicialmente, foi
feita a confecção de um painel no qual estariam estabelecidas as regras que deveriam
ser seguidas por todos os membros de cada turma. Em seguida, construiu-se o Farol
da Educação Física, que foi colocado lateralmente à quadra e possuía espaços com
três cores diferentes: a verde, na qual os estudantes tinham a oportunidade de felicitar
seus colegas, a professora ou as aulas; a amarela, em que os mesmos poderiam
sugerir mudanças em atividades ou condutas; e a vermelha, em que seriam colocadas
as críticas. Prosseguindo, no decorrer das aulas a professora estimulou o diálogo
acerca de regras e valores, que era iniciado, principalmente, nos momentos
conflituosos entre os estudantes.
As autoras concluíram que “a metodologia de ensino adotada permitiu que os
estudantes exercitassem a tomada de decisão, o diálogo e a compreensão crítica,
elementos essências da autonomia” (MOLINA; FREIRE; MIRANDA, 2015, p. 670).
O quadro 02 indica os valores que foram trabalhados nos estudos dessa
categoria e a frequência com que estiveram presentes.
Quadro 2 – Valores trabalhados nos estudos da primeira categoria
Valor Frequência
Respeito Mútuo 02 estudos (SENA; LIMA, 2009; LEITÃO et
al., 2011)
Solidariedade 02 estudos (SENA; LIMA, 2009; LEITÃO et
al., 2011)
23
Cooperação 02 estudos (SENA; LIMA, 2009; CRUZ;
FREIRE, 2014)
Autonomia 02 estudos (LEITÃO et al., 2011; MOLINA;
FREIRE; MIRANDA, 2015)
Ética 01 estudo (IMPOLCETTO; DARIDO, 2007)
Perseverança 01 estudo (SENA; LIMA, 2009)
Companheirismo 01 estudo (LEITÃO et al., 2011)
Observa-se que tanto Sena e Lima (2009) quanto Leitão et al. (2011)
trabalharam com os valores respeito mútuo e solidariedade. Segundo Pastro (2015,
p. 11), deve-se usar os jogos para desenvolver a construção de tais valores porque:
É jogando que se aprende o valor do grupo como força integradora pelo sentido [...] da colaboração consciente e espontânea, contribuindo assim na formação de um cidadão crítico e transformador do ambiente (sociedade) em que vive.
A cooperação esteve presente em dois artigos dessa categoria. Sua relevância
social é demonstrada por Correia (2006 p. 159), quando o mesmo diz que esse valor
inserido na Educação Física resulta em “aumento da colaboração, da solidariedade,
da amizade e do respeito entre” os estudantes.
A autonomia foi outro valor encontrado em mais de uma pesquisa analisada
nessa categoria. “Ela está atrelada à conquista do exercício pleno da cidadania”
(BOAVENTURA, 2007, p. 1). Desse modo, a importância de se trabalhar essa questão
dentro das aulas de Educação Física é vista, por exemplo, quando Boaventura (2007,
p. 2) diz que:
Por meio desta disciplina, o professor pode exercer uma prática pedagógica que tente superar tais problemas, realizando então a construção da autonomia dos alunos, quando, por exemplo, permite-lhes resolver problemas, encorajando-os a refletir, discutir e tomar decisões.
Por fim, uma análise dessa primeira categoria indica que intervenções podem
ser planejadas com a inserção de diversos valores, o que é de grande importância
para o desenvolvimento humano pleno dos estudantes e demonstra a necessidade da
dimensão do conhecimento construção de valores no planejamento das aulas de
Educação Física.
Buscando a construção de valores na Educação Física escolar
24
Nesta categoria são expostos três artigos: Freire et al. (2010), Santos e
Matthiesen (2012) e Caetano (2014). Dois deles, Freire et al. (2010) e Caetano (2014),
apresentam a observação como ferramenta metodológica. Segundo Belei et al. (2008)
essa técnica pode auxiliar numa visualização minuciosa por parte do pesquisador, de
modo que, durante a sua realização, registra-se dados visíveis que são de interesse
da pesquisa. Entretanto, é necessário haver preparação e planejamento correto por
parte do pesquisador, no sentido de controlar a observação e torná-la um instrumento
fidedigno (BELEI et al., 2008).
Os valores foram observados por Freire et al. (2010) por meio da dimensão
atitudinal do conteúdo, a qual, segundo Rodrigues e Darido (2008, p. 59), “abrange
valores, atitudes e normas, e sua aprendizagem varia desde disposições intuitivas até
atitudes reflexivas, fruto de uma clara consciência dos princípios que a regem”.
Utilizou-se a observação como instrumento de coleta e a técnica de análise de
conteúdo para interpretar os dados coletados.
Foram observadas 50 aulas de três professores diferentes (15 aulas do primeiro
professor, 15 aulas do segundo e 20 do terceiro), escolhidos de maneira proposital
por apresentarem intencionalidade no ensino de valores, a fim de identificar quais
eram os conteúdos atitudinais selecionados pelos estes. Tais conteúdos foram
divididos em normas, atitudes e valores. No que tange aos valores, foco desta revisão,
encontrou-se que a igualdade, a cooperação, a responsabilidade, o respeito e a
consciência crítica foram conteúdos atitudinais relacionados à convivência humana
comuns aos três professores.
Os autores concluíram que os professores selecionaram variadas atitudes,
normas e valores para serem trabalhados nas aulas. Além de por meio dos valores
trabalhados costumeiramente, a dimensão atitudinal do conteúdo pode aparecer
através de uma infinidade de outros conteúdos, mesmo de maneira inconsciente,
corroborando com os achados de Rodrigues e Darido (2008).
Os valores também foram tratados a partir de um tema transversal dos PCNs,
a orientação sexual, na pesquisa de Santos e Matthiesen (2012). A entrevista
semiestruturada elaborada pelos autores perguntava aos professores de Educação
Física se eles trabalhavam com a orientação sexual em suas aulas, se eles já tinham
se deparado com situações ligadas à sexualidade durante as aulas e qual o papel da
Educação Física na orientação sexual na escola. Registrou-se, descreveu-se,
analisou-se e interpretou-se os discursos dos participantes. Os resultados foram
25
divididos em duas categorias. Na primeira foram colocadas as “manifestações da
sexualidade nas aulas de Educação Física” e, na segunda, verificou-se a “Educação
Física no trabalho de orientação sexual na escola”.
O estudo constatou que os professores entrevistados acreditam que a escola é
um importante local para se desenvolver a orientação sexual e que a Educação Física
assume uma posição relevante ao mediar ações pedagógicas referentes à orientação
sexual na escola como um todo.
Saito e Leal (2000, p. 44) colocam que o papel da orientação sexual na escola
é “no resgate do indivíduo enquanto sujeito de suas ações, o que favorece o
desenvolvimento da cidadania, do respeito, do compromisso, do autocuidado e do
cuidado com o outro”. Desse modo, os resultados da pesquisa convergem com os
objetivos da construção de valores na Educação Física.
No estudo de Caetano (2014) foram observadas seis aulas de três professoras,
sendo duas de cada. Tais observações foram registradas em um diário de campo e
analisadas posteriormente. A construção de valores foi tratada por meio do exame do
desenvolvimento da moralidade dos alunos através do jogo.
A autora constatou que as professoras davam pouca abertura aos alunos e
impunham o que deveria ser feito nos jogos. Além disso, verificou-se que os jogos
ofereceram diversas oportunidades para o desenvolvimento moral dos alunos, mas
não houve aproveitamento. Isso pôde ser notado em inúmeras situações que
necessitavam de um momento de reflexão, quando as professoras não mediaram e
nem auxiliaram os alunos nos conflitos. Deve-se levar em conta que “a escola precisa
oportunizar aos alunos a vivência de valores desabrochados nas relações de
convivência, o que significa desenvolver projetos em prol da educação moral”
(OLIVEIRA; CAMINHA; FREITAS, 2010, p. 267).
Os valores foram tratados nos textos dessa categoria de modos distintos, o que
a difere da primeira categoria e, desse modo, impossibilita a verificação da frequência
de ocorrência de cada valor. Apenas o estudo de Freire et al. (2010) apresentou
alguns dos valores tratados na categoria anterior: a cooperação e o respeito. A
presença desses dois valores em ambas as categorias reforça a importância deles
dentro da Educação Física. Entretanto, o fato de se encontrar valores diferentes nos
dois outros textos não pode ser encarado de maneira negativa, muito pelo contrário.
Observa-se que a Educação Física é um campo que permite discussões acerca dos
mais variados valores, o que é importantíssimo para o “exercício da cidadania em prol
26
de uma sociedade democrática” (BRASIL, 2017, p. 179), estando em congruência com
os objetivos da dimensão de conhecimento construção de valores.
27
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados nos artigos presentes nessa revisão sistemática
demonstram que a Educação Física é um componente curricular propício para o
desenvolvimento da construção de valores.
Buscando responder à problemática do estudo, nota-se que o tema vem sendo
abordado de várias maneiras, com metodologias diversificadas: desde trabalhos
observacionais, com foco de análise no professor, objetivando, em geral, identificar os
valores em suas aulas; chegando até às metodologias que olham para o estudante,
apontando os indícios da construção de valores em seu comportamento durante as
aulas.
Já no sentido de verificar se os objetivos foram alcançados, constata-se que a
literatura acerca da construção de valores na Educação Física escolar foi revisada no
estudo, de modo que as pesquisas foram sistematizadas, foi possível identificar os
valores tratados nelas e pôde-se discutir como a construção de valores vem sendo
apresentada.
Autonomia, companheirismo, consciência crítica, cooperação, ética, igualdade,
orientação sexual, perseverança, respeito mútuo, responsabilidade e solidariedade
são apenas alguns exemplos que devem estar presentes, de maneira intencional, no
planejamento das aulas de um professor de Educação Física. Isso proporcionará aos
estudantes reflexões acerca de uma vida cidadã, estimulando-os à busca por uma
sociedade cada vez mais democrática e, consequentemente, com menos injustiças.
Apesar de as aulas de Educação Física demonstrarem-se pertinentes para o
desenvolvimento da construção de valores, é necessário olhar com bastante atenção
e preocupação para os resultados de Caetano (2014). Essa autora retratou o que pode
ser a grande realidade da Educação Física escolar no Brasil. É necessário identificar
os motivos pelos quais os professores deixam de desenvolver a discussão sobre os
valores em suas aulas e procurar dar uma solução aos problemas existentes. No
momento em que a escola deixa de se preocupar com a formação cidadã dos seus
estudantes, deixa de cumprir o seu papel social.
28
REFERÊNCIAS
BOAVENTURA, Eduardo. EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A AUTONOMIA: CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS. 2007. 143 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências da Motricidade, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2007. BELEI, Renata Aparecida et al. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação, Pelotas, n. 30, p.187-199, jun. 2008. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2017. CAETANO, Alessandra. O JOGO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO MORAL. Pensar a Prática, Goiânia, v. 17, n. 3, p.783-799, set. 2014. CORREIA, Marcos Miranda. JOGOS COOPERATIVOS: PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, v. 27, n. 2, p.149-164 jul. 2008. CRUZ, Zípora de Almeida e Costa; FREIRE, Elisabete dos Santos. JOGOS COOPERATIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍ SICA: ENVOLVIMENTO DOS ALUNOS. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 13, p.109-123, ago. 2014. DAOLIO, Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 2004. FREIRE, Elisabete dos Santos et al. A dimensão atitudinal nas aulas de Educação Física: conteúdos selecionados pelos professores. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 21, n. 2, p.223-235, 17 jun. 2010. GOMES, Isabelle Sena; CAMINHA, Iraquitan de Oliveira. GUIA PARA ESTUDOS DE REVISÃO SISTEMÁTICA: UMA OPÇÃO METODOLÓGICA PARA AS CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO. Movimento, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p.395-411, mar. 2014. IMPOLCETTO, Fernanda Moreto; DARIDO, Suraya Cristina. Ética como tema transversal: possibilidades de aplicação nas aulas de Educação Física Escolar. Motriz, Rio Claro, v. 13, n. 1, p.14-23, mar. 2007. KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. 6. ed. Ijuí: Unijuí, 2004. LEITÃO, Marcelo Crepaldi et al. IMPLICAÇÕES SOCIAIS E AUTONOMIA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA DO MOVIMENTO. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 19, n. 3, p.76-85, set. 2011.
29
LOVISOLO, Hugo Rodolfo; BORGES, Carlos Nazareno Ferreira; MUNIZ, Igor Barbarioli. Competição e cooperação: na procura do equilíbrio. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Porto Alegre, v. 35, n. 1, p.129-143, mar. 2013. MENDES, Maria Isabel Brandão de Souza; NÓBREGA, Terezinha Petrúcia da. CULTURA DE MOVIMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DA RELAÇÃO ENTRE CORPO, NATUREZA E CULTURA. Pensar a Prática, Goiânia, v. 12, n. 2, p.1-10, ago. 2009. MENIN, Maria Suzana de Stefano. Valores na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 1, p.91-100, jun. 2002. MOLINA, Flaviana Fellegger. Educação em valores nas aulas de Educação Física: análise de projeto para a cidadania e autonomia dos educandos. 2010. 151 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação Física, Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2010. MOLINA, Flaviana Fellegger; FREIRE, Elisabete dos Santos; MIRANDA, Maria Luiza de Jesus. A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA. Pensar a Prática, Goiânia, v. 18, n. 3, p.662-674, set. 2015. OLIVEIRA, Glycia Melo de; CAMINHA, Iraquitan de Oliveira; FREITAS, Clara Maria Silvestre Monteiro de. Relações de convivência e princípios de justiça: a educação moral na escola. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Perdizes, v. 14, n. 2, p.261-270, dez. 2010. PASTRO, Juliana. INFLUÊNCIA DOS JOGOS COLETIVOS NO DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES SOCIAIS: RESPEITO MÚTUO E SOLIDARIEDADE. Revista de Educação do IDEAU, Getúlio Vargas, v. 10, n. 21, jul. 2015. PEDRO, Ana Paula. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de um conceito comum. Kriterion: Revista de Filosofia, Belo Horizonte, v. 55, n. 130, p.483-498, dez. 2014. PEREIRA, Nainde Sacramento Leal. ENSINO DE VALORES NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI. 2010. 39 f. Monografia (Especialização) - Curso de Gestão Educacional, Faculdade Adventista de Educação do Nordeste, Cachoeira, 2010. PERINI, Talita Adão et al. O ENSINO DA ÉTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR. Association For Moral Education Conference Proceedings, Santos, v. 41, nov. 2015. RODRIGUES, Heitor de Andrade; DARIDO, Suraya Cristina. AS TRÊS DIMENSÕES DOS CONTEÚDOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UMA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM MESTRADO: UM ESTUDO DE CASO. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 19, n. 1, p.51-64, 9 jul. 2008.
30
SAITO, Maria Ignez; LEAL, Marta Miranda. Educação sexual na escola. Pediatria, São Paulo, v. 22, n. 1, p.44-48, 2000. SAMPAIO, Rosana Ferreira; MANCINI, Marisa Cotta. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 1, p.83-89, fev. 2007. SANTOS, Ivan Luis; MATTHIESEN, Sara Quenzer. Orientação sexual e Educação Física: sobre a prática pedagógica do professor na escola. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 23, n. 2, p.205-215, 28 jul. 2012. SANTOS, Sandra Carvalho dos. O processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno: aplicação dos "sete princípios para a boa prática na educação de ensino superior". Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, n. 01, p.69-75, mar. 2001. SENA, Silvio; LIMA, José Milton de. O jogo como precursor de valores no contexto escolar. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 23, n. 3, p.247-262, set. 2009. SILVA, Glycia Melo de Oliveira et al. O jogo na escola: uma análise da intenção pedagógica de professores de educação física. Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 10, n. 2, p.145-164, ago. 2012. SILVA, Mariana Siqueira. Um Pensar Sobre a Ética nas Relações Docente e Aluno no Ensino Superior. Estação Científica, Juiz de Fora, n. 11, jun. 2014. SIMÕES, Eleonora et al. Educação física escolar: um diálogo com sua história, desafios e possibilidades. Revista Didática Sistêmica, Rio Grande, Edição Especial, p.219-233, 2015. SPÍNDOLA, Márcia; MOUSINHO, Silvia Helena. A CONSTRUÇÃO DOS VALORES NO AMBIENTE ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO. EAD em Foco, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.137-158, abr. 2010. TORRES, Cláudio Vaz; SCHWARTZ, Shalom; NASCIMENTO, Thiago Gomes. A Teoria de Valores Refinada: associações com comportamento e evidências de validade discriminante e preditiva. Psicologia USP, São Paulo, v. 27, n. 2, p.341-356, ago. 2016. WELCHEN, Dirce; OLIVEIRA, Marineiva Moro Campos de. A FORMAÇÃO DE VALORES NO AMBIENTE ESCOLAR. Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 4, n. 1, p.19-30, jun. 2013.