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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO GRADUAÇÃO EM DIREITO A INFLUÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL SOBRE AS PERSPECTIVAS DE VIDA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DIANA FERREIRA DA SILVA NATAL/RN 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · III. Título. RN/BS/CCSA ... ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO USADO NA PESQUISA PADRÃO ... INTRODUÇÃO Este trabalho tem como campo de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO GRADUAÇÃO EM DIREITO A INFLUÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL SOBRE AS PERSPECTIVAS DE VIDA

DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

DIANA FERREIRA DA SILVA

NATAL/RN

2014

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DIANA FERREIRA DA SILVA

A INFLUÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL SOBRE AS PERSPECTIVAS DE VIDA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. José Diniz de Moraes

NATAL/RN

2014

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Silva, Diana Ferreira da.

A influência do trabalho infantil sobre as perspectivas de vida da criança e do adolescente/ Diana Ferreira da Silva - Natal, RN, 2014.

57 f. Orientador: Prof. Dr. José Diniz de Moraes. Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Curso de Graduação em Direito. 1. Trabalho infantil - Monografia. 2. Direitos humanos – Monografia. 3.

Exploração – Trabalho infantil - Monografia. I. Moraes, José Diniz de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 342.7

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DEDICO ESTA MONOGRAFIA

À minha família, por estar sempre presente,

especialmente aos meus pais Maria de Fátima

e José Antônio pelo cuidado com o qual me

educaram, ao meu esposo, Wellington Souza,

pelo amor, apoio, e cuidado, ao meu filho,

Luís Felipe, que o seu futuro seja melhor que

nos meus sonhos; a você meu pequeno, dedico

toda essa conquista.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, primeiramente, pelo dom da vida e pelo acolhimento nos momentos difíceis. Ele sabe como o caminho foi árduo, mas em Sua companhia tudo é possível.

À minha família, pelo aconchego do lar e pelo respeito nos momentos de ausência. Especialmente aos meus pais, exemplo de humildade, bondade, honestidade e amor. Agradeço por todo o cuidado e amor com o qual me educaram; às minhas irmãs, Dejânia, Dijania, e Esmerina, que muito mais que irmãs são grandes amigas; ao meu esposo, Wellington, por sempre estar ao meu lado, por ter me incentivado neste caminho. Muito grata “meu bem”, por todo seu amor e cuidado; ao meu filho, Luís Felipe, por me mostrar o amor verdadeiro, me fazer mais humana e tornar a minha vida mais doce e feliz. Aos meus companheiros de sala, por fazerem parte desta história de forma tão especial, sentirei imensas saudades. Aos meus amigos, pelo apoio e amizade e por me fazerem entender que só é possível perceber o sentido da vida quando temos amigos. Agradeço especialmente à Izadora Mayara e Isaac Morel pelas dicas valiosas que me ajudaram a redirecionar este trabalho; à Marina Duarte, Jéssica Moreira e Angélica Almeida, pela amizade e apoio durante todo o curso; ao meu amigo Márcio José, irmão que a vida me deu, por ter se feito presente na hora certa; a Marcus Mendonça, por sua preciosa colaboração; à Nébya Jordana, pela amizade há tanto; Aos meus grandes amigos da “antiga” Escola Municipal Manoel Vicente de Paiva, pelos laços de respeito e amizade que nem o tempo nem a distância foram capazes de desfazer. Agradeço especialmente à minha grande amiga Vivian Janaína pela amizade, respeito, pelo incentivo e por todo o carinho verdadeiro que sempre demonstrou; a minha amiga Cláudia Gonçalves sempre tão compreensiva e de um coração e generosidade imensos; à Núbia Maia, por toda a paciência e ajuda incondicional. Aos alunos do GESTO-UFRN, pela partilha de idéias sobre trabalho infantil que tanto contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa. Agradeço especialmente à Andressa Câmara e Fernanda Ramalho, pelas ideias e estudos compartilhados. Ao Professor Zéu Palmeira por ter feito parte desta jornada, por todos os seus conselhos e ideias preciosas; ao Professor José Diniz, por ter me acolhido, me orientado e por ter sido tão compreensivo, tão humano; aos professores examinadores, Samuel Gabbay e Symone Melo, pela disponibilidade e considerações valiosas sobre este trabalho. A todas as crianças que contribuíram para o desenvolvimento central deste trabalho. Desejo que os seus sonhos sejam maiores, melhores e possíveis. Muito obrigado a você que está lendo essa mensagem, e que embora não tenha sido nominalmente citado, de alguma forma faz parte da minha vida.

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“Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças”.

(Eduardo Galeano)

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RESUMO

O objetivo deste estudo é investigar a relação entre o exercício do labor infantil e as consequências deste em diversos aspectos da vida da criança e do adolescente, como o psicológico, físico, social, educacional e especialmente a influência sobre suas perspectivas de vida. É um estudo que se justifica pela grande relevância do tema na sociedade, tendo em vista o grande contingente de crianças e adolescentes que trabalham no Brasil e no mundo. Para a realização desta pesquisa, buscou-se num primeiro momento compreender o tema do ponto de vista teórico a partir de uma revisão bibliográfica para determinar como o trabalho infantil se desenvolveu historicamente no mundo e no Brasil. Avaliou-se ainda como ocorreram historicamente a construção e evolução das medidas legislativas que têm o condão de combater e prevenir o trabalho infantil. Num segundo momento, foi realizada uma pesquisa de campo, por meio de entrevistas feitas a 38 crianças e adolescentes entre 6 e 16 anos de idade, permitindo a realização de análises qualitativas e quantitativas dos dados extraídos. Tais análises possibilitaram a constatação do envolvimento de um grande número de crianças e adolescente com trabalho infantil e apesar de todo o prejuízo que o trabalho infantil pode lhes causar, constatou-se contudo que crianças e adolescentes envolvidas em trabalho infantil ainda são capazes de ter perspectivas de vida e desejo de um futuro melhor, embora a exploração da mão de obra infantojuvenil normalmente inviabilize sua concretização. É neste contexto que torna-se imperativo efetivar o princípio da proteção integral, insculpido no art. 227 da Constituição Federal, e de responsabilidade da família, da sociedade e do Estado e verifica-se que a escola se apresenta como um meio absolutamente viável para a efetivação deste preceito legal. Palavras-chave: Trabalho infantil. Efetivação do princípio da proteção integral. Consequências do trabalho infantil. Bairro Passagem de Areia.

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ABSTRACT

The objective of the present study is to investigate the relationship between the exercise of child labor and its consequences in various aspects of children and adolescents' lifes, such as: psychological, physical, social, educational and especially the influence on their life perspectives. It is a study that is justified by the great importance of the issue in society, considering the large number of children and adolescents working in Brazil and worldwide. For this research, it was sought to initially understand the issue from a theoretical perspective, based on a literature review to determine how the child labor was historically developed in the world and in Brazil. It was also evaluated as historically occurred the construction and development of legislative measures that have the power to combat and prevent child labor. Secondly, a field survey was conducted through interviews with 38 children and adolescents aged from 6 to 16 years of age, allowing the execution of qualitative and quantitative analysis on the extracted data. These analyzes enabled the observation of the involvement of a large number of children and adolescents with child labor, and despite all the damage that child labor can cause them, it was verified, however, that children and adolescents involved in child labor are still able to have perspectives of life and desire for a better future, although the exploitation of children's labor normally prevents its achievement. In this context, it is imperative accomplish the principle of full protection, inserted in article 227 of the Brazilian Federal Constitution, and onus for family, society and government; and it is apparent that the school represents an absolutely viable path for accomplishment of that legal provision. Keywords: Child labor. Effectuation of the full protection principle . Consequences of child labor. Passagem de Areia Neighborhood.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

2. TRABALHO INFANTIL .................................................................................................... 15

2.1 CONCEITO ....................................................................................................................... 15 2.2 HISTÓRICO DO TRABALHO INFANTIL NO MUNDO .............................................. 18 2.3 O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL ........................................................................ 23 2.4 FORMAS ACEITÁVEIS E FORMAS INACEITÁVEIS DO TRABALHO INFANTIL ......................................................................................................................... 25 2.5 RAZÕES QUE FUNDAMENTAM A CONDENAÇÃO AO TRABALHO INFANTIL ......................................................................................................................... 26 2.6 FATORES QUE INCENTIVAM O TRABALHO INFANTIL ........................................ 28 3. MEDIDAS NECESSÁRIAS AO COMBATE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL ........................................................................................................................... 34

3.1 RELATO HISTÓRICO LEGISLATIVO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO SOBRE TRABALHO INFANTIL .................................................................................... 34 4. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ....................................................................................... 43

4.1 ANÁLISE QUANTITATIVA ........................................................................................... 44 4.2 ANÁLISE QUALITATIVA .............................................................................................. 45 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 50

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 53

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO USADO NA PESQUISA PADRÃO ..................................... 57

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como campo de estudo o Direito Constitucional do Trabalho e sua

delimitação temática se volta à análise reflexiva da influência do trabalho infantil sobre as

perspectivas da criança e do adolescente.

A concepção desta pesquisa se deu a partir de estudos, debates e seminários promovidos

pelo Grupo de Estudos Seguridade Social e Trabalho – GESTO, grupo formado por alunos e

professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que tem como objetivo

promover estudos e pesquisas sobre direitos sociais trabalhistas, previdenciários, sanitários e

assistenciais. Portanto, um dos desafios do grupo foi desenvolver estudos a respeito do labor

infantil, a fim de conscientizar: alunos, professores e o público em geral, para voltar os seus

olhos para este mal que afeta a a sociedade e assim desenvolvem uma postura responsável

pela proteção e garantia dos direitos constitucionais das crianças e dos adolescentes.

A justificativa de realizar um estudo sobre este tema se dá pela necessidade de combate

ao trabalho infantil, pois emerge hoje uma preocupação global com relação à exploração da

força laboral infantojuvenil e, movidos pelo mesmo intuito, inúmeros países se reúnem

constantemente com vistas a não medir esforços para combatê-lo efetivamente.

Apesar de uma grande luta contra o trabalho Infantil, no mundo ainda existe um grande

contingente de crianças e adolescentes que trabalham e o Brasil possui uma parcela

significativa desses jovens em tal situação. Acredita-se que ainda há muito que ser feito, pois

não há dúvidas de que os números sejam ainda maiores do que os disponíveis nas pesquisas,

já que não é possível levar em consideração as crianças e adolescentes que desempenham

trabalho doméstico, em razão desse trabalho ser desempenhado de forma invisível, tornando-

se um problema difícil de ser combatido, sendo poucas as denúncias ao Ministério Público do

Trabalho, pois, muitas vezes as crianças que trabalham em serviços domésticos, ou são

exploradas pelos próprios pais ou tem o apoio desses e, pela inviolabilidade domiciliar

prevista na constituição brasileira, Art. 5º, inciso XI, somente com autorização judicial, o

Ministério Público do Trabalho poderia adentrar em algum lar com fins de fiscalização.

Também não se incluem nesse número as centenas de crianças que estão submetidas a

algumas das piores formas de trabalho infantil, como a prostituição ou o tráfico de drogas.

A importância de prevenir e erradicar o trabalho infantil não diz respeito apenas a uma

questão governamental, pois toda sociedade é responsável por fiscalizar e combater esse mal.

Todos são responsáveis por proteger as crianças e adolescentes, por incentivar o aprendizado,

a escolaridade na idade certa, o desenvolvimento de suas potencialidades, pois o futuro de

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todos é o resultado do investimento que se faz hoje e se não há investimento, não haverá

desenvolvimento e o adulto de amanhã não passará de uma sombra do que ele foi na sua

infância, não terá referência, não terá qualificação para um emprego melhor, para uma vida

melhor.

Este trabalho visa trazer contribuições acadêmicas e sociais, visto que há uma

necessidade de estudos que demonstrem as consequências do labor desenvolvido por crianças

e adolescentes no que diz respeito a suas perspectivas de vida. Há uma urgência em

conscientizar os adultos e crianças do prejuízo incalculável que o trabalho precoce causa ao

ser humano. Ele usurpa a fase mais preciosa de suas vidas, a infância que seguida pela

adolescência são as fases que devem ser dedicadas ao desenvolvimento de suas habilidades,

para que no futuro não haja exclusão ou marginalização por falta de qualificação, por não

terem competência suficiente para poderem explorar o seu melhor e serem felizes ocupando o

lugar que desejarem na sociedade.

É exatamente por essa razão que se faz necessária a aplicação imediata do Princípio da

Proteção Integral, que tem seus mandamentos bem claros na redação do artigo 227 da

Constituição Federal, deixando bem claro, que é dever de todos, especialmente do Estado, da

família e da sociedade, garantir todos os direitos necessários para que todas as crianças

tenham uma vida digna e um desenvolvimento saudável, para que toda criança seja protegida

e tenha seus direitos garantidos de forma absoluta e inquestionável, pois, a infância é a fase

para se brincar, para frequentar a escola, para descoberta de habilidades e para se fazer

projeções para o seu futuro. Não se deve esquecer que as crianças precisam ser vistas como

sujeitos de direitos, direitos que devem ser garantidos e respeitados por todos.

A metodologia deste trabalho será a abordagem dedutiva, pois haverá inicialmente um

estudo científico da história do trabalho infantil e suas consequências, bem como do

arcabouço jurídico que se desenvolveu com fins de combatê-lo para se formular conclusões a

partir da observação de casos particulares de crianças e adolescentes que têm ou tiveram essa

triste experiência.

A investigação se subdividirá em duas etapas. Num primeiro momento será apresentada

toda uma fundamentação teórica e jurídica a respeito do tema a ser trabalhado. O segundo

momento da investigação será de pesquisa de campo, quando serão feitas algumas entrevistas

a alguns alunos de uma determinada escola pública, com o intuito de conhecer a realidade do

universo de um grupo de crianças e adolescentes, se investigar a incidência do exercício

laboral por eles e suas perspectivas de vida. Com isso, pretende-se investigar se há uma

relação entre a realidade da criança e do adolescente hoje e suas perspectivas para o futuro.

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Assim, caberá questionar se o Princípio da Proteção Integral, incutido na Constituição

Federal por meio do artigo 227 e reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente, está

sendo violado, dando-nos a grande oportunidade para refletir sobre o que pode ser feito para

reforçar sua eficácia.

Desse modo, os objetivos específicos que fundamentam esta investigação são: a)

elaborar uma descrição histórica sobre o trabalho infantil no mundo e no Brasil, conhecer as

formas aceitáveis e inaceitáveis de trabalho do menor, bem como as razões que fundamentam

a condenação ao trabalho infantil e os fatores que o incentivam a fim de entender a realidade

atual para se ter pressupostos que possam nortear a análise das pesquisas. b) conhecer um

pouco da realidade de cada criança entrevistada, com o intuito de investigar se ela está

envolvida com algum tipo de atividade considerada trabalho infantil e de que forma esta

atividade influência o seu dia a dia e suas perspectivas para o futuro.

Para atingir o objetivo proposto foram entrevistadas 38 crianças e adolescentes na faixa

etária entre 6 e 16 anos, que estão cursando o 4º ou o 5º ano do primeiro segmento do Ensino

Fundamental. Tais entrevistas tentaram investigar e entender o impacto que o trabalho infantil

causa nas perspectivas de vida das crianças e adolescentes que desempenham ou já

desempenharam alguma atividade proibida em decorrência da sua condição física de criança,

bem como os fatores que contribuem para que as crianças em geral ingressem precocemente

no mundo do trabalho e analisar toda essa realidade verificando a aplicabilidade e eficácia do

Princípio da Proteção Integral.

A monografia está estruturada em 5 capítulos, a partir dos quais se pode ter um suporte

teórico e legal para compreender a realidade das crianças entrevistadas, bem como a

influência da sua realidade em suas perspectivas para o futuro.

O segundo capítulo trará um histórico do trabalho infantil no mundo, investigando sua

incidência desde os tempos mais remotos, desde quando as crianças participavam de

atividades desenvolvidas no âmbito da cultura familiar até a maciça cruel e impiedosa

exploração durante a Revolução Industrial. Nesse capítulo também será conhecido um pouco

do histórico do trabalho infantil no Brasil desde a escravidão, quando as crianças eram

tratadas como objetos ou mercadorias e não passavam de escravas obrigadas a trabalhar tão

logo pudessem. Serão elucidadas também as formas aceitáveis e inaceitáveis do trabalho

infantil elencadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a fim de se conhecer o

que se caracteriza ou não trabalho infantil. Por fim, ainda no segundo capítulo serão descritas

as principais razões que fundamentam a condenação ao trabalho infantil buscando em suas

raízes históricas os fatores que incentivam essa mazela social.

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O terceiro capítulo abordará algumas medidas necessárias ao combate à exploração do

trabalho infantil, quando se fará um relato histórico legislativo das normas de proteção sobre

trabalho infantil no mundo e no Brasil para se refletir sobre sua aplicação e eficácia.

O quarto capítulo será o da análise das entrevistas, quando inicialmente serão

apresentados os métodos utilizados e também serão analisadas suas informações de forma

quantitativa e qualitativa sob as perspectivas dos objetivos específicos deste trabalho.

O capítulo intitulado considerações finais abordará as conclusões a que se chegou a

partir dos dados obtidos nesta pesquisa, bem como se cogitará as possibilidades de

conscientizar tanto a população quanto as crianças a respeito do mal que o trabalho infantil

pode causar para suas vidas.

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2. TRABALHO INFANTIL

2.1 CONCEITO

De acordo com Medeiros Neto e Marques (2013), trabalho infantil, hodiernamente,

compreende a realização de atividades por crianças e adolescentes com idade inferior a 16

(dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos na forma da

lei. São atividades com ou sem finalidade de lucro visando prover o sustento próprio ou da

família. Essa definição se coaduna com a da Constituição Federal, art. 7, inciso XIII, in

verbis:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

Assim, como exceção à regra, o menor de 16 e maior de 14 anos poderá trabalhar, no

entanto na condição de aprendiz, e para isso, deverá estar amparado por regras determinadas

pela legislação. Já a partir de 16 anos ele poderá trabalhar, inclusive de carteira assinada,

entretanto, a lei veda algumas alguns tipos de atividades por considerar que até os 18 anos de

idade uma pessoa ainda não está apta a desenvolver atividades consideradas perigosas,

insalubres ou em horário noturno.

Segundo o Juiz do Trabalho, Dr. Zéu Palmeira Sobrinho (2010, p. 23):

O trabalho infantil é toda prestação de serviço por parte de pessoas que, em razão das condições socioambientais e fisiológicas que antecedem ou que são simultâneas ao estágio da puberdade, são potencialmente vulneráveis aos riscos sociais que resultam em danos à saúde e integridade física, moral e psicossocial.

Essa definição também compartilha da ideia de que existem certas atividades que são

nocivas ao amplo desenvolvimento do ser humano se desenvolvidas antes ou durante a

puberdade. Pois, muitas atividades estão além das forças físicas da criança e do adolescente e

elas podem estar sujeitas a acidentes ou a contrair alguma doença. Elas também podem sofrer

opressão e serem humilhadas e essa situação causa baixa autoestima, sem contar que o tempo

envolvido com atividades que não são para sua idade lhes tira a oportunidade de conviver

socialmente com outras pessoas e assim, de desenvolver-se plena e saudável.

O professor e procurador do trabalho Xisto Tiago de Medeiros Neto e o procurador do

trabalho Rafael Dias Marques (2013, p. 07), definem também trabalho infantil como “a

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realização, por crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos, tanto de atividades que

visem à obtenção de ganho para prover o sustento próprio e/ou da família, como também o

labor que não tenha natureza remunerada”.

Essa definição, no entanto, não menciona a possibilidade de trabalho pelo menor de 16

e maior de 14 anos de idade na condição de aprendiz, como permitida legalmente, certamente

porque o intuito da função de aprendiz não seja visar ganho para o sustento próprio ou da sua

família e nem tão pouco o aprendiz desempenhará suas atividades sem perceber qualquer

remuneração. Pois, segundo a legislação que ampara o menor aprendiz, Lei Federal 1.097 de

19 de dezembro de 2000, em seu art. 428, §2º, ao menor aprendiz, salvo condição mais

favorável, será garantido o salário-mínimo hora.

O Guia Prático da Convenção N.º182 de 2088, mostra que quando a atividade

desempenhada pela criança ou adolescente causar danos ao seu desenvolvimento mental

físico, social ou moral e que também possa comprometer sua frequência à escola, esta

atividade será considerada trabalho infantil.

De acordo com o guia citado acima, em formas mais extremas, o trabalho infantil

submete as crianças a condições análogas a de escravo, separando-as de suas famílias e

expondo-as a perigos, doenças graves. E essa certamente é a pior face da exploração do

trabalho do menor, pois além de expô-las aos riscos típicos de trabalhos que não são

compatíveis com a sua idade e condições físicas, priva-as de sua liberdade, quando a

escravidão é uma prática não tolerada há muito tempo na sociedade.

Oliva (2006) considera que, apesar de a legislação trabalhista brasileira determinar 16

anos de idade como a faixa etária mínima para o trabalho, exceto na condição de aprendiz aos

14 anos, e a palavra infantil no senso comum estar relacionada à criança, que de acordo com

Ferreira (2006), é fase que compreende o período que vai do nascimento até a puberdade. No

entendimento jurídico-trabalhista o termo infantil não pode sofrer essa restrição, desse modo,

Oliva (2006, p. 86) entende que é a atividade tida como essencialmente proibida

desempenhada por crianças ou adolescente menores de 16 anos que deve ser considerada

trabalho infantil, exceto na condição de aprendiz a partir de 14 anos de idade.

É bastante interessante a colocação que Oliva (2006, p. 87) faz a respeito da distinção

entre trabalho infantil e trabalho do adolescente. Para o referido autor, trabalho do adolescente

é aquele trabalho desempenhado pelo maior de 16 e menor de 18, assim como “o labor

desenvolvido na condição de aprendiz” e é importante destacar que adolescentes maiores de

16 anos que estão desenvolvendo trabalhos perigosos, insalubres ou penosos, estão dentro do

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conceito de trabalho do adolescente, porém estão em situação irregular, o que deve, assim

como o trabalho infantil, ser igualmente combatido e erradicado.

Também pode ser caracterizada exploração de trabalho infantil aquela desempenhada no

âmbito familiar, quando as atividades desempenhadas pela criança e adolescentes

prejudicarem ou suprimirem o seu tempo para desenvolver de forma saudável suas

habilidades físicas, intelectuais e morais. Destaque-se que Oliveira (2012)1 considera que a

distribuição de tarefas em família é educativa e recomendável e prepara as crianças e os

adolescentes para a vida, fortalecendo o sentimento de solidariedade e responsabilidade com o

ambiente em que se vive.

Apesar de o pensamento e a opinião de Oliveira considerarem saudáveis as tarefas

domésticas divididas de forma solidária e de acordo com a idade de cada membro da família,

há situações em que se pode entender que atividades desenvolvidas no âmbito familiar podem

ser consideradas exploração do trabalho infantil, pois muitas vezes a criança ou o adolescente

se responsabiliza por tarefas que vão além de suas capacidades, como por exemplo, tomar

conta de um irmão pequeno para que os pais possam trabalhar, ou ser responsável diariamente

pelas tarefas domésticas, e sabe-se que o trabalho doméstico é terminantemente proibido antes

dos 18 anos de idade, por ser uma das piores formas de trabalho infantil2, no entanto, se há

uma divisão solidária de tarefas em que, por exemplo, a criança é responsável por arrumar seu

próprio quarto ou cuidar de suas coisas, essas atividades, ao contrário, a ajudarão a ter noção

do conceito de cuidado, responsabilidade e organização de forma adequada e essa experiência

fará uma diferença muito positiva para a sua formação como um todo, essas serão qualidades

que se refletirão em sua vida social e profissional.

Destarte, mesmo sendo muito difícil uma definição de trabalho infantil que seja comum

a todos os países, pode-se levar em consideração a definição de trabalho infantil feita pelo

Guia Prático da Convenção nº. 182 que o sintetiza da seguinte forma: trabalho infantil diz

respeito àquelas atividades que quando desempenhadas pelas crianças, comprometem o

desenvolvimento físico e mental, e prejudicam a evolução de suas potencialidades e ferem sua

dignidade (OIT, 2008).

Infelizmente, apesar de, pelo menos no Brasil, criança alguma poder trabalhar em

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Documento on-line não paginado. 2 O Decreto nº 6.481 que reuniu lista com as Piores Formas de Trabalho Infantil elencou o serviço doméstico como uma das piores

formas de trabalho infantil. Assim este decreto, que já está em vigor, modifica a faixa etária permitida para o trabalho doméstico, que antes poderia ser a partir dos 16 anos, como os outros trabalhos, e proíbe atualmente o trabalho doméstico antes dos 18 anos de idade. Isto porque aquele que realiza este tipo de atividades pode estar exposto a riscos que comprometam sua segurança como por exemplo: grandes jornadas de trabalho, intendo esforço físico, abuso moral ou sexual, movimentos repetitivos, que podem comprometer seu desenvolvimento físico, moral e social. BRASIL. Decreto Federal nº 6.481, de 12 de junho de 2008.

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qualquer atividade antes dos 14 anos, muitas delas trabalham, algumas por vontade própria,

outras não. Cada vez mais cedo, crianças pobres, principalmente, são pressionadas a trabalhar

diariamente como um adulto e isso se dá muitas vezes ou pela necessidade de ajudar

financeiramente sua família ou para que elas mesmas tenham algum dinheiro para gastar,

satisfazer suas próprias necessidades de consumo, mas essa inserção no mercado de trabalho

de forma ilegal não é mais do que uma antecipação da vida adulta. Assim, crianças se tornam

adultos em miniatura, sem tempo para brincar, para estudar e se qualificar para um futuro

melhor.

2.2 HISTÓRICO DO TRABALHO INFANTIL NO MUNDO

Para uma melhor compreensão de um determinado assunto faz-se necessário conhecer o

percurso histórico pelo qual os acontecimentos se deram para ser possível situar-se dentro do

contexto atual do problema. Desse modo, inicialmente, delimitaremo-nos a entender a

evolução histórica da exploração do trabalho infantil no mundo e sua construção legislativa,

desde os primórdios, de onde se tem alguns primeiros registros históricos da exploração da

força laboral infantojuvenil para posteriormente conhecermos como essa realidade se dá no

Brasil.

Segundo Oliva (2006, p. 29), “é quase certo que o emprego de crianças e jovens no

trabalho existe desde que o mundo é mundo”, isso porque seria inevitável as crianças não

desenvolverem alguma atividade junto a sua entidade familiar e também pelo fato de haver

pouca ou quase nenhuma legislação que protegesse as crianças e adolescentes da exploração

para o trabalho. Abordando o tema, Grunspun (2000) relata que, apesar de as crianças sempre

trabalharem sem se distinguir dos adultos junto com sua família ou no âmbito da tribo em que

viviam, o trabalho desempenhado por elas estava adequadamente conforme sua idade e

capacidades, é por essa razão que se define o início da história do trabalho infantil no século

XVIII quando elas então começaram a trabalhar independentemente do trabalho dos adultos.

Há passagens no Código de Hamurábi que normatizam o trabalho infantil e, segundo

alguns historiadores como Vianna (2005), esse seria o primeiro diploma legislativo no qual se

encontram medidas relacionadas ao trabalho do menor. Tratava-se de normatização voltada às

obrigações daquele, que tomando um menor como filho adotivo, teria, portanto, a obrigação

de ensinar-lhes seu ofício. No entanto, como bem leciona Adalberto Martins (2002), essa

normatização muito mais se caracteriza como uma evidência da existência do trabalho infantil

naquela época do que uma regra de proteção ao menor.

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Isso porque não se tratavam de normas que protegessem o menor da exploração do

trabalho, mas normas que regulavam a relação entre “empregador e empregado” limitando-as

apenas ao ofício que desempenhava, sendo muito diferente das condições de aprendizagem

atuais, quando se leva em consideração muito mais que o ofício, mas a aprendizagem sem

prejuízo do desempenho escolar do aprendiz.

José César de Oliveira (1997, apud OLIVA, 2006), observa que nas fases arqueológicas,

não se há resquícios comprovados da existência de trabalho infantil, o que nos leva a crer que

as crianças e adolescentes apenas auxiliavam em serviços mais simples, como a colheita de

frutos, sendo o serviço mais pesado destinado à responsabilidade dos homens adultos. Para

Silva (2009, p. 33), isso certamente se deve ao fato de não haver divisão de classes, “mas sim

de divisões de tarefas para fins de subsistência do grupo”. No entanto, posteriormente com a

aparente divisão de classes em: nobres, burgueses e escravos, por exemplo, é que se percebe

que as crianças das famílias pobres e filhos de escravos foram incluídos prematuramente na

atividade laboral. Do ponto de vista histórico e cultural, Bittencourt (2012)3 afirma que “a

exploração do trabalho infantil ao longo da história esteve intimamente ligada à posição

social, famílias pobres adotavam-no por concepções religiosas, ou pelo caráter disciplinador e

educador da formação humana”. Assim, ocupar-se com alguma atividade era de grande

relevância para a formação moral do indivíduo, pois pelo que se percebe através do trabalho

pode-se descobrir e aprimorar valores que poderiam ser corrompidos pela falta dele. O que é

interessante é que esse era um pensamento destinado apenas às crianças das famílias pobres,

enquanto as crianças de famílias ricas teriam toda sua infância para o lazer, para o ócio ou

simplesmente para se dedicarem aos estudos, ou às artes, algo que os pequenos trabalhadores

jamais poderiam desfrutar.

Sobre o surgimento da escravidão, Oliva (2006) traz a seguinte informação:

Na antiguidade remota, travados os combates, integrantes de grupos ou tribos subjugados eram mortos. (…) Depois, convenceu-se o homem de que, em vez de exterminar os inimigos era mais vantajoso mantê-los cativos, utilizando sua força de trabalho. Nascia a escravidão.

Desse modo, os povos vencidos em uma batalha tornavam-se escravos e condenavam

assim seus descendentes a essa condição, pois os próprios romanos já afirmavam: “os

escravos nascem ou são feitos” (FERRARI, 2002 apud OLIVA, p. 35).

Ainda segundo Moraes e Silva (citado acima), exceto os filhos de escravos e das

famílias nobres, as crianças aprendiam com os pais, numa espécie de sistema familiar, onde os !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3 Documento on-line não paginado.

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ensinamentos eram passados hereditariamente e “os filhos não eram considerados sujeitos de

direitos, mas servos da autoridade paterna”.

Assim, tanto na Grécia quanto em Roma, os filhos de escravos, mesmo sendo crianças

ou adolescentes, eram obrigados a trabalhar para os seus senhores, o que demonstra que a

escravidão afetava diretamente a vida das crianças e dos adolescentes e favorecia a exploração

da força física infantojuvenil (OLIVA, 2006). Portanto, ser filho de escravo, por exemplo, era

condição suficiente para ser escravo também e logo tão cedo pudesse estaria desempenhado

atividades laborais para seus senhores.

Como bem aponta Alves de Paula4 a consciência da infância enquanto fase inadequada

para o trabalho é recente, pois antes de se ter ideia de que a criança é um ser em formação

com fases específicas de desenvolvimento emocional e físicas, ela era considerada como

mini-adultos.

No período medieval, é visível a presença de crianças e adolescentes no labor diário,

pois era por meio das obrigações como vassalos que uma família estava presa à terra e todos

se obrigavam a trabalhar na propriedade do seu senhor. Oliva (2006, p. 36-37) observa que é

possível inferir que:

Dada a humilhante condição a que eram submetidos os servos e seus familiares, além de natural exploração da sua força de trabalho de forma gratuita, não tinham aqueles perspectiva outra que a de herdar, dos pais, o próprio servilismo, perpetuando o regime existente. Trabalhavam tanto quanto os adultos, estando, igualmente, sob o jugo dos donos da terra.

À medida que a vida no campo cedia espaço para a movimentação urbana, com o

reascensão do comércio, surgiram as corporações, associações de trabalhadores de mesma

categoria que se reuniam para defenderem os seus interesses e com o surgimento das

corporações, os filhos dos trabalhadores livres trabalhavam como aprendizes para mais tarde

seguir a mesma profissão dos pais.

As corporações eram compostas pelos seus donos, os mestres, pelos companheiros,

trabalhadores comuns e pelos aprendizes. Esses últimos normalmente ingressavam nessa

condição por volta dos 12 anos de idade e deveriam ter uma conduta bem rígida, como por

exemplo: “(…) assiduidade no trabalho e ser obediente a seu mestre, que por sua vez, tinha o

dever de ensinar-lhe o ofício, respondendo por sua educação moral, podendo impor-lhe

castigos corporais” (OLIVA, 2006, p. 37-38). Registra-se ainda, segundo Vianna (2005), que

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!4 Documento on-line não paginado.

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o menor poderia trabalhar durante anos sem receber nenhum pagamento por isso, podendo até

pagar em troca do aprendizado.

Ainda há relatos de que muitas vezes levava-se mais de uma década para que se pudesse

aprender um determinado ofício e só era possível exercê-lo através de uma corporação e que

levaria mais tempo ainda para que um aprendiz pudesse se tornar um mestre. Cabe lembrar

que, apesar de poder ascender na profissão, de aprendiz a companheiro, e posteriormente a

mestre, houve uma determinada época que essa empreitada era quase impossível, já que o

ofício de mestre passou a ser uma condição hereditária e permeada pelo nepotismo.

Por essas informações pode-se concluir que se um adolescente iniciava a aprender uma

profissão aos 12 anos de idade, seria oprimido pelo seu mestre, estaria submetido a uma longa

jornada de trabalho e não sendo filho de um dono de uma corporação, seu futuro estava

predestinadamente comprometido. Uma triste realidade, já que sua juventude era quase

totalmente preenchida pelas pesadas obrigações do seu ofício.

Na era Vitoriana, no século XVIII, segundo Haim Grunspun (2000), as crianças eram

recrutadas para subirem no topo das chaminés e desobstruir a saída da fumaça das casas dos

ricos e maior que o medo da escuridão e da altura afunilada das chaminés, era o medo que

tinha do capataz que as esperavam embaixo se não fizessem o trabalho bem feito. Eram

crianças com menos de 8 anos de idade dentro de uma chaminé limpando a sujeira deixada

pela fumaça, eram péssimas as condições, perigosas e insalubres.

A partir de 1767 é que começaram surgir os primeiros protestos por reformas que

tinham a intenção de modificar essa situação, mas somente em 1875 quando um limpador de

chaminés precisava de licença para trabalhar é que o abuso começou a diminuir, pois antes

disso, mesmo com a edição de diversos atos regulamentando a idade mínima para tal serviço,

ainda assim as crianças eram exploradas. Essa triste realidade só teve fim quase 200 anos

depois, quando surgiram novas tecnologias que faziam o trabalho pelos pequenos limpadores

de chaminés.

Foi com a revolução industrial que o trabalho infantil teve maior incidência, não se

levava em consideração a condição física dos menores, e apesar de seu trabalho ser

denominado pela doutrina de “meias-forças”, como bem lembra Cesarino Júnior (1953 apud

OLIVA, 2006) as crianças e adolescentes desempenhavam as mesmas atividades de uma

adulto e não havia diferença alguma nas jornadas laborais.

Esse é o momento da história de maior exploração da força infantojuvenil que crescia de

forma alarmante. Segundo Liberati e Dias (2006), era uma realidade que gerava um círculo

vicioso, pois como recebiam salários miseráveis não poderiam em razão de necessidade de

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sobrevivência, dispensar o trabalho de seus filhos, mesmo sendo crianças muito pequenas.

Muitas vezes com 3 ou 4 anos de idade. Dessa forma, perdendo a infância e órfãs de

qualificação, essas mesmas crianças não teriam condições de exercer uma profissão melhor e

permanecendo na mesma situação dos seus pais, também precisariam empurrar os seus filhos

para o mundo do trabalho e historicamente os fatos se repetiam.

As crianças e adolescentes tornaram-se nessa época, verdadeiros objetos, podendo

inclusive serem vendidos e traficados, uma verdadeira fonte de exploração, como bem lembra

Nascimento (1998 apud OLIVA, 2006).

Campos (2012) também lembra que as crianças eram comercializadas sem nenhuma

piedade, “muitas vezes cedidas em blocos com destino a fábrica onde deveriam ficar fechadas

durante longos anos de sua vida”. Há registros históricos de que a partir do quarto ano de vida

uma criança já poderia trabalhar espantosamente mais de 12 horas diárias, com pouco tempo

para alimentação e descanso.

A grande disseminação da exploração da mão de obra infantil nesse período se deu em

razão dos baixos salários pagos aos operários, pela escassa mão de obra adulta e pela ganância

dos donos das indústrias, que não se contentando apenas em pagar um preço mínimo pela

matéria prima, via na captação de “meias-forças” uma ótima oportunidade para lucrar cada

vez mais. Oliva (2006, p. 41) descreve de maneira muito triste essa realidade com as seguintes

palavras:

(…) as máquinas substituíam a manufatura com a vantagem econômica de poderem ser operadas por qualquer pessoa, até mesmo crianças, sem que houvesse alteração final na qualidade do produto. E sem preceitos morais, éticos e jurídicos que os impedissem, os empregadores exploravam barbaramente a mão de obra infantil (…), com consequências drásticas para a saúde dos pequenos trabalhadores.

Toda essa exploração se deu em razão do desemprego em massa, pois a inserção das

máquinas na produção fez substituir e baratear a força laboral humana e desse modo, as

famílias pobres necessitavam incluir o máximo possível dos seus membros no trabalho para

garantir pelo menos o mínimo possível para sua sobrevivência.

Para o professor e juiz do trabalho, Palmeira Sobrinho (2010, p. 21) “a coação

econômica que afeta a família é algo absorvido pelo menor (…). Tal pressão acarreta para o

trabalhador infantil a necessidade de manter-se integrado ao mercado de trabalho a qualquer

custo, mesmo em situação prejudicial a sua saúde”. Dessa forma, de um lado temos, como diz

o professor Palmeira Sobrinho, “a necessidade-pressão de o capitalismo inovar na forma de

apropriação do capital”, de outro existem as famílias necessitadas e qualquer um torna-se

objeto útil e necessário na busca pelo lucro.

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Para Mantoux (1999), as crianças eram as preferidas por diversas razões, além de

custarem pouco, eram dóceis e obedientes, características que não se encontram com

facilidade nos adultos. Por essa razão é que o trabalho infantil foi explorado, pois se elas

trabalhavam como adultos, faziam o que um adulto poderia fazer e ainda assim eram muito

mais fáceis de ser manipuladas. Era essa a razão mais cruel para se buscar, incentivar e fazer

uso intensivo da mão de obra infantil.

É estarrecedor, mas segundo Oliva (2006), de acordo com uma pesquisa feita em uma

comuna francesa, apenas 27% dos filhos dos trabalhadores sobreviviam até os 10 anos de

idade, isso porque o tipo de trabalho e as condições a que as crianças estavam submetidas

estavam além da sua força física, eram jornadas de dezesseis a dezessete horas de trabalho,

submetidas a uma dura disciplina, sendo mal alimentadas, submetidas a castigos físicos,

dormindo na própria fábrica o que facilitava a promiscuidade nos dormitórios que muitas

vezes eram incentivadas pelos próprios patrões.

Como se denota, foi durante a era do desenvolvimento das grandes indústrias que se deu

de forma mais cruel e intensa a exploração do trabalho infantojuvenil. Sem dúvidas, há que se

concordar com Gruspun (2000) quanto aos resultados sociais malignos dessa exploração

como: empobrecimento ainda maior das famílias e uma grande massa de crianças doentes,

mutiladas e aleijadas. Um prejuízo incalculável e irreparável.

2.3 O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

O Brasil, segundo Oliva (2006), não vivenciou todos os episódios relacionados à

exploração da mão de obra infantil acima relatados, até porque não teve tempo histórico

suficiente para isso, no entanto, a escravidão fomentada pelos europeus com a ocupação das

terras brasileiras a partir de 1530 afetou violentamente a vida das crianças e adolescentes que

por aqui habitavam, os filhos dos índios, e vieram habitar, os filhos dos negros africanos. As

crianças eram aproveitadas para o trabalho assim que pudessem, muitas vezes aos 4 anos de

idade, os filhos de escravos tinham um preço bem inferior ao do escravo adulto, embora

trabalhassem com a mesma intensidade.

Ana Dourado e Cida Fernandez (1999 apud LIBERATI; DIAS, 2006) apontam que um

escravo saudável de 14 anos era uma mercadoria cara, pois tinha força e juventude para o

trabalho pesado, já as meninas, além de desempenharem atividades domésticas ou

trabalharem na lavoura, elas também eram alvo de desejos sexual dos seus donos. Como se

vê, uma realidade muito dura, em que as crianças e adolescentes escravas, assim como seus

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pais, eram controladas constantemente pelos seus patrões, fosse na senzala ou na cidade, no

caso dos escravos urbanos.

Mesmo após a Lei do Ventre Livre de 1871, que determinava que os filhos de escravos

nascidos desde então não seriam escravos, ainda assim, as crianças estavam submetidas a

serem exploradas pelos senhores de seus pais, pois de acordo com essa lei, a criança viveria

com a mãe até os oito anos de idade, e durante esses anos o dono de seus pais proveriam suas

necessidades, a partir de então seria decidido se até os 21 anos a criança trabalharia para pagar

os seus gastos ou se elas seriam entregues ao governo para que este restituísse as despesas

tidas pelo senhor de sua mãe. No entanto, mesmo sendo entregue ao governo, a criança era

cedida a instituições autorizadas para que prestassem serviços de forma gratuita até

completarem 21 anos de idade.

Como se vê, mesmo com sua liberdade legalmente decretada, as crianças filhas de

escravos não escapavam do seu destino de pequenos trabalhadores e, da mesma forma que

antes, não viviam sua infância e, se na juventude não havia qualificação, os filhos de escravos,

mesmo livres, estavam condenados a não progredir em razão de na prática, sua escravidão ter

persistido até os 21 anos de idade, como bem lembra Oliva (2006).

Mesmo após a abolição total da escravidão em 1888 pela lei Áurea, não houve melhora

na condição de vida dos escravos, nem dos adultos, muito menos das crianças, pois eles não

ganharam mais que sua liberdade, todos os escravos libertos não tinham sequer profissão ou

terras para trabalharem. Associado a isso estava a crise econômica pela qual o país estava

passando, que gerou uma grande massa de desempregados e marginalizados e, inclusive filhos

de brancos desempregados, perambulavam pelas ruas sem alguma ocupação.

O fato de muitas crianças perambularem pelas ruas incomodava a alta sociedade e a

grande ideia era a de que o trabalho lhes daria alguma utilidade e que a rotina rígida do labor

era melhor do que o ócio (DOURADO; FERNANDEZ, 1999 apud LIBERATI; DIAS, 2006).

A sociedade no final do século XIX se preocupava muito mais com a criminalidade infantil e

assim procurava solução para o problema do menor abandonado por meio de sua ocupação

com o trabalho.

Infelizmente, a abolição da escravidão não foi suficiente para extirpar da realidade

brasileira a exploração da mão de obra infantojuvenil. Segundo Oliva (2006) crianças pobres

eram treinadas para trabalhar em fazendas e casas grandes e devido à crise econômica e ao

aumento do desemprego, o trabalho do menor era estimulado, pois era visto como uma forma

de prevenir a delinquência infantojuvenil.

Além dessa multidão de desempregados que surgiu com a abolição da escravidão e com

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a grande massa de desempregados na mesma época, da qual faziam parte crianças e adultos

vulneráveis, a exploração em razão de necessidade de sobrevivência, o país passou por um

novo acontecimento que agravou ainda mais a crise e propiciou ainda mais a um cenário de

exploração. Trata-se da chegada do imigrante europeu que veio substituir a mão de obra

escrava que, segundo Grunspun (2000), aquela mão de obra tinha experiência com as fábricas

da Europa e por essa razão foi absorvida pela indústria no Brasil sem distinção entre adultos e

crianças.

Assim como em outros países, pouco a pouco surgiram normas que visavam garantir

proteção à criança e ao adolescente da exploração de sua força de trabalho, no entanto, ainda

hoje se tem notícias de pessoas que são reduzidas à condição análoga de escravo, inclusive

crianças e adolescentes. Como complementa Barros e Fagundes (2013)5:

O trabalho infantil enraizou-se na sociedade brasileira de maneira gradativa, de modo que perdurou por muitos anos, aceitando de diferentes formas a exploração da mão de obra infantil no país, excetuando apenas a norma regulamentadora, que execrava esta prática, obtida com a promulgação da Consolidação das leis do Trabalho em 1943.

Ainda no Brasil, há notícia da existência das corporações de ofícios, embora diferentes

dos moldes das que existiram durante a Idade Média. Segundo Moraes (apud, Oliva, 1971),

essas ordenações eram entre outras coisas responsáveis pela aprendizagem de ofícios, e

deveriam “preparar em tempo razoável, os aprendizes que lhes forem confiados – e isso por

meio de escritura particular. Também aos mestres se dá a obrigação de mandar ensinar a ler e

a escrever”. Cabe lembrar que o referido autor ainda aponta que esses menores estariam

obrigados à prestação de serviços gratuitos, sob pena de indenização. De toda sorte, a

Constituição Política do Império de 1824, previu a abolição dessas corporações de ofício e

desde então as poucas corporações que haviam no país foram extintas.

2.4 FORMAS ACEITÁVEIS E FORMAS INACEITÁVEIS DO TRABALHO

INFANTIL

A Organização Internacional do Trabalho – OIT (2008, p. 16) distingue quais são as

formas aceitáveis e inaceitáveis de trabalho desenvolvido pela criança ou adolescente,

definindo-as da seguinte forma: “(...) abrange as atividades que privam as crianças da sua

infância, da oportunidade de desenvolverem suas potencialidades e dignidades, e que

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!5 Documento on-line não paginado.

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prejudicam seu desenvolvimento físico e mental”.

De acordo com o Guia Prático da Convenção nº. 182, “A participação de crianças ou

adolescentes em trabalhos que não comprometam a sua educação é geralmente considerada

uma experiência positiva” (OIT, 2008, p. 15), como por exemplo, as tarefas domésticas no

seio familiar, a ajuda nos negócios da família, em períodos fora do horário escolar, de férias,

etc. Inclusive o Guia deixa bem claro que esta experiência pode contribuir com sua formação,

com o bem-estar da sua família e pode ser útil para o seu futuro.

Nesse diapasão, há uma diferenciação doutrinária entre trabalho infantil (child work) da

força laboral infantil (child labor). Esse último termo diz respeito ao trabalho que não seria

permitido à criança e ao adolescente em razão de ser prejudicial ao seu desenvolvimento, no

caso child work seria aquela atividade socialmente permitida por ser considerada positiva e

segundo Palmeira Sobrinho (2012), essa atividade teria a intenção educativa embasada em

critérios institucionais relativos à autorização legal e supervisão responsável.

2.5 RAZÕES QUE FUNDAMENTAM A CONDENAÇÃO AO TRABALHO INFANTIL

O trabalho desempenhado pela criança pode lhes trazer prejuízos irreversíveis, o pior

deles é a usurpação de uma das fases mais importantes para o desenvolvimento do ser

humano, que é a infância. É nessa fase que a criança aprende a se conhecer, a sonhar, a

relacionar-se com as pessoas, são os seus primeiros anos da vida escolar que é a base para

uma formação intelectual ampla e satisfatória. É na infância que ela se apropria de

conhecimentos que lhes serão úteis para a vida adulta e sua falta compromete seu processo de

formação, o seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social. Assim aduz Oliveira

(1994): a formação educacional deficiente atrelada à pobreza é uma das principais causas da

utilização da mão de obra infantil em detrimento do labor dos adultos. Pois, pouca ou

nenhuma qualificação educacional não proporciona oportunidades de bons empregos com

bons salários e diante dessa realidade não conseguem ter remuneração o suficiente para

sustentar toda a família, necessitando assim que todos os seus membros de alguma forma

contribuam com sua força de trabalho, inclusive as crianças. Muitas delas saem de casa para

ganhar algum dinheiro, outras, no entanto, assumem toda a responsabilidade de casa e até

mesmo cuidam dos irmãos menores para que o pai e a mãe possam trabalhar. E essa

sobrecarga de responsabilidade também pode ser considerada trabalho infantil.

O Ministério do Trabalho, empenhado na missão de combater o trabalho infantil,

elaborou uma cartilha (MEDEIROS NETO; MARQUES, 2013, p. 15-16), destinada a

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informar tudo sobre o trabalho infantil. Fundamentada em informações de ordem científica,

essa cartilha elencou dez razões que fundamentam a condenação do trabalho infantil e pelas

quais as crianças não devem trabalhar. Conheça-as:

1- Crianças ainda não têm seus ossos e músculos completamente desenvolvidos. Correm maior risco de sofrer deformações dos ossos, cansaço muscular e prejuízos ao crescimento e ao desenvolvimento, dependendo do ambiente e condições de trabalho a que forem submetidas. 2- A ventilação pulmonar (entrada e saída de ar dos pulmões) é reduzida; por isso, crianças têm maior frequência respiratória, o que provoca maior absorção de substâncias tóxicas e maior desgaste do que nos adultos, podendo, inclusive, levar à morte. 3- Crianças têm maior frequência cardíaca que os adultos para o mesmo esforço (o coração bate mais rápido para bombear o sangue para o corpo) e, por isso, ficam mais cansadas do que eles, ainda que exercendo a mesma atividade. 4 - A exposição das crianças às pressões do mundo do trabalho pode provocar diversos sintomas, como por exemplo, dores de cabeça, insônias, tonteiras, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização, taquicardia e, consequentemente, baixo rendimento escolar. Isso ocorre mais facilmente nas crianças porque o seu sistema nervoso não está totalmente desenvolvido. Além disso, essas pressões podem causar diversos problemas psicológicos, tais como medo, tristeza e insegurança. 5- Crianças têm fígado, baço, rins, estômago e intestinos em desenvolvimento, o que provoca maior contaminação pela absorção de substâncias tóxicas. 6- O corpo das crianças produz mais calor que o dos adultos quando submetidos a trabalhos pesados, o que pode causar, dentre outras coisas, desidratação e maior cansaço. 7- Crianças têm a pele menos desenvolvida, sendo mais vulneráveis que os adultos aos efeitos dos agentes físicos, mecânicos, químicos e biológicos. 8- Crianças possuem visão periférica menor que a do adulto, tendo menos percepção do que acontece ao seu redor. Além disso, os instrumentos de trabalho e os equipamentos de proteção não foram feitos para o tamanho de uma criança. Por tudo isso, ficam mais sujeitas a sofrer acidentes de trabalho. 9- Crianças têm maior sensibilidade aos ruídos que os adultos, o que pode provocar perdas auditivas mais intensas e rápidas. 10 - O trabalho infantil provoca uma tríplice exclusão: na infância, quando perde a oportunidade de brincar, estudar e aprender; na idade adulta, quando perde oportunidades de trabalho por falta de qualificação profissional; na velhice, pela consequente falta de condições dignas de sobrevivência.

Essas são razões de ordem fisiológica, pois se deve ainda levar em consideração os

prejuízos de ordem moral e psíquica, que segundo o documento acima mencionado, ocorre

porque em quase todos os casos as crianças e adolescentes estão sujeitas a ambiente e rotinas

de labores em condições e peculiaridades que comprometem e prejudicam sua formação.

Nascimento (2004) aponta o trabalho infantil como causador de diversos problemas de

saúde, de exclusão educacional, perda da própria vida e muitas vezes tornando a criança e o

adolescente vítimas de abusos morais e sexuais. Deveras, pois as crianças se expõem a muitos

riscos, seu corpo ainda não está totalmente formado e as ferramentas de trabalho são

ergonomicamente fabricadas para serem utilizadas por um adulto, assim, elas as manuseando

tornam-se muito mais vulneráveis a sofrer acidentes. Essas já seriam razões suficientes para

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coibir a prática da exploração de mão de obra infantil, no entanto ainda há que se destacar que

uma criança se cansa com muito mais facilidade que um adulto e esse cansaço tira o seu

interesse pelos estudos e muitas vezes ao deixar a escola, elas acabam passando mais tempo

trabalhando e no trabalho elas não tem tempo de pensar de forma crítica sobre a vida e

tornam-se cada vez mais fáceis de serem assediadas e oprimidas.

Para Medeiros Neto e Marques (2013), quanto mais prematura a inserção no mercado

de trabalho, menor será a renda do indivíduo na idade adulta, pois estando ocupadas são

privadas de instrução e de qualificação adequadas, mantendo-se sempre no ciclo de exclusão

do exigente mercado formal de trabalho.

Deve-se destacar que o mercado de trabalho está cada vez mais concorrente, as pessoas

precisam estar cada vez mais preparadas devendo, como bem coloca a juíza Borges de Freitas

(2014), possuir conhecimentos básicos de diversas áreas, como línguas, matemática,

informática, ciências biológicas e sociais para ingressar no mercado de trabalho em funções

minimamente qualificadas.

Deve-se alertar também que a manutenção de crianças em atividades que deveriam ser

desenvolvidas por adultos também é umas das causas do desemprego estrutural, pois muitas

vezes elas assumem os postos de muitos adultos por terem um labor remunerado muito abaixo

do que se pagaria em condições contratuais regulares. Essa situação favorece e possibilita a

intensificação da informalidade e da fraude.

2.6 FATORES QUE INCENTIVAM O TRABALHO INFANTIL

Apesar de existir todo um esforço desempenhado em âmbito local e internacional para

erradicar o trabalho infantil, existem sérios entraves que dificultam esta luta. Para Grunspun

(2000) as causas do trabalho infantil são múltiplas e é necessário conhecê-las para que se

possam desvendar as possibilidades de soluções para sua erradicação. Entre as principais

causas para o trabalho infantil podem-se considerar: a pobreza, privação educacional, fator

cultural, fator econômico, passividade das crianças, globalização e a ignorância.

Para o autor acima citado, a pobreza e a miséria são, em parte, resultados das

desigualdades econômicas entre países, regiões ou pessoas, e essas são as causas que mais

viabilizam o trabalho infantil, visto que muitas crianças precisam trabalhar para se sustentar e

sustentar sua família.

Para Palmeira Sobrinho (2010) a prática do trabalho infantil evidencia por um lado a

passividade desses pequenos, já que as crianças são mais fáceis de serem manipuladas, em

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razão de sua docilidade e imaturidade. Por outro lado, Sobrinho considera que o risco social a

que estão submetidas, a miséria extrema e o abandono material é uma realidade que revela o

trabalho infantil pela necessidade de sobrevivência. Segundo Grunspun (2000), o fato de as

crianças não conseguirem se organizar para reclamarem sua condição é uma causa para o

abuso no trabalho infantil, ainda mais quando os pais não dão chance de escolha e muitas

vezes por irem mal nos estudos as consideram como inaptas para a escola e a opção de

trabalho, qualquer que seja, surge como uma solução mais fácil para o problema.

Com relação à privação educacional, Grunspun (2000) reporta que a educação que é

oferecida em muitos países em desenvolvimento muitas vezes é inadequada, não

profissionaliza nem prepara para ocupações rentáveis. Muitas vezes os pais introduzem as

crianças no trabalho já porque o tempo que elas passam na escola não os ajuda a suprirem a

necessidade imediata de sobrevivência. Por outro lado, as crianças que passam pouco tempo

na escola estão mais sujeitas a exploração, pois principalmente nos países onde não há

educação em tempo integral, as crianças ficam pouco mais de 3 ou 4 horas na escola, seus

pais não recebem assistência do governo e precisam da sua ajuda para ajudar no sustento da

família.

Segundo Borges de Freitas (2014), além de expor a criança a riscos desnecessários, o

trabalho infantil impede sua qualificação básica, indispensável ao rompimento do ciclo de

pobreza do qual ela está inserida, pois, de acordo com essa juíza, a educação é sem dúvidas o

principal e mais duradouro fator de mobilidade social. Assim a escola em tempo integral se

faz necessária, pois além de permitir que os pais tenham acesso ao mercado de trabalho

enquanto as crianças estão em um ambiente institucional seguro recebendo uma instrução

completa, exercitando suas habilidades cognitivas, artísticas e desportivas, seria essencial

ofertar aos adolescentes bolsas de estudos remuneradas, já que os ganhos habituais dos pais

não tem sido suficiente para afastá-los do trabalho precoce.

Sobre o fator cultural, Kátia Magalhães Arruda (2013), Ministra do Tribunal Superior

do Trabalho, discorrendo sobre o tema, menciona que 90% das pessoas que foram resgatadas

do trabalho análogo à condição de escravo, são originárias do trabalho infantil, de modo que a

afirmação de que “trabalhar cedo forma o cidadão não é verdade”, para a ministra, o cidadão

explorado na infância torna-se precário na vida adulta e essa é uma realidade de exploração e

pobreza.

Ao analisar relatos históricos percebe-se que esse pensamento de que o trabalho na

infância transmite valores tidos como corretos não é recente, segundo Liberati e Dias (2006),

as crianças pobres da Europa do séc. XVIII e XIX que andavam sujas e mal vestidas

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causavam desonra à sociedade e diante disso previa-se a possibilidade de reprimir males como

a preguiça e a ociosidade por intermédio do trabalho em atividades remuneradas ou não e essa

postura facilitou ainda mais o aumento da exploração de mão de obra infantil.

Segundo Gruspun (2000), em contraposição a essa visão, de que a criança ociosa pela

rua é um mal à sociedade e estão sujeitas a criminalidade, na mesma época, filósofos como

Jean-Jacques Rousseau salientavam que a bondade e a inocência das crianças deveriam ser

preservadas para que elas pudessem ser adultos melhores e para isso precisavam de leis de

proteção e cuidados especiais, no entanto, deu-se pouca importância a esse tipo de

pensamento, até porque o que importava era o lucro do dono das fabricas e o trabalho infantil

e de mulheres era a força de sustentação das grandes indústrias.

Até pessoas esclarecidas e instruídas defendiam que o trabalho deveria ser iniciado o

quanto antes. Um médico chamado Hannot (apud ORIS DE OLIVEIRA, 1994) sustentava

esse pensamento com afirmações do tipo: “Essa criança habituar-se-á a alimentar-se de ar

pobre em oxigênio: as posições incômodas, que se é forçado a manter nesse gênero de

trabalho, tornar-se-lhe-ão familiares”.

“A cultura local diz que criança deve sempre trabalhar para não virar marginal. A

população pensa assim, os vereadores pensam assim, pessoas da prefeitura, comerciantes, até

o padre acha normal criança trabalhar”, diz Marinalva Cardoso Dantas (2013), auditora fiscal

do trabalho e coordenadora do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil do Rio

Grande do Norte6. Segundo a auditora7, a maioria dos presidiários, inclusive dos adolescentes

que estão cumprindo medidas socioeducativas, trabalharam na infância, o que nos faz concluir

que de maneira alguma o trabalho infantil, nestes casos contribuiu para prevenir a

marginalidade (DANTAS, 2012).

O fator cultural, em detrimento de toda legislação existente, sempre teve um peso

enorme na perpetuação do trabalho. Liberati e Dias (2006) apontam que a sociedade muitas

vezes coloca o estudo em segundo plano e isso enaltece o trabalho precoce e desqualificado.

Como prova de que sua afirmação está correta, Liberati e Dias citam uma matéria divulgada

pela folha de São Paulo de 1998 na qual ficou comprovada a falta de interesse pela educação

por inúmeras crianças que acreditam que os estudos são uma atividade inoportuna porque com

o trabalho eles podem ter dinheiro para gastar e frequentando a escola, não.

Infelizmente, essa é uma triste realidade e muitas crianças que não ousam fazer grandes

projetos, pois elas se limitam às perspectivas de seu mundo, sonham de forma rasteira e !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!6 Documento on-line não paginado. 7 Documento on-line não paginado.

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muitas vezes não enxergam mais do que a profissão dos seus pais, mesmo sendo pedreiro,

doméstica ou catador de lixo. Não que essas profissões não sejam dignas, mas muitas crianças

têm habilidades subutilizadas e isso é uma perda imensa para o desenvolvimento de um país,

que acaba perdendo talentos incríveis por não investir em educação de qualidade que

possibilite o desenvolvimento das potencialidades de suas crianças e adolescentes.

Para Palmeira Sobrinho (2010, p. 39), o problema da exploração da mão de obra infantil

não está apenas nos fatores de ordem cultural, mas na questão econômica que desafia e

ameaça o modo de produção capitalista.

Muitas vezes a sociedade acredita que o menor trabalhador de hoje, será o bom cidadão

de amanhã, como se o trabalho pudesse dignificar o ser humano e ensinar os princípios e os

valores da vida.

Em seu artigo Trabalho Infantil e Educação: Avanços Necessários, a juíza do Trabalho

do TRT da 3ª Região, Graça Maria Borges de Freitas, titular da Vara do Trabalho de Ouro

Preto, faz uma afirmação que condiz com a realidade de exploração do trabalho infantil.

Segundo a juíza, o mito de que o trabalho “enobrece” ou é essencial à “formação” da criança,

na maioria das vezes, é utilizado para justificar a exploração infantil, sendo dirigido apenas às

crianças de famílias pobres, o que revela o seu conteúdo classista” (p. 1-2)8.

Ao contrário dessa ideia falaciosa de que antes trabalhando do que estar “solto” na rua,

deve-se levar em consideração que crianças e adolescentes estão em fase de escolarização e os

seus compromissos devem ser com suas tarefas escolares, com o lazer, com o esporte, com

atividades que contribuam para o desenvolvimento de suas habilidades, para a formação de

sua personalidade, do seu caráter. É com este tipo de tarefa que elas devem gastar o seu tempo

as suas energias.

O coordenador do Projeto de Fiscalização do Trabalho Infantil da Superintendência

Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul, Roberto Padilha diz que “O que mais

ouvimos é que se a criança não trabalhar vai cair nas drogas. Ou seja: as únicas opções para as

crianças são o trabalho ou as drogas. Para mim, essa é uma crença perversa”. Desse modo,

fica muito difícil combater o trabalho infantil, ainda mais quando a família é o empregador

(2013)9.

Para Palmeira Sobrinho (2010, p. 39):

Os fatores de ordem cultural não criam nem suprimem por si as relações de exploração do trabalho do menor. (…) Todavia o problema da exploração do

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!8 Documento on-line não datado. 9 Documento on-line não paginado.

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trabalho infantil envolve em sua base uma questão econômica que coloca em xeque o modo de produção capitalista.

O fator econômico é um dos principais determinantes do abuso ao trabalho infantil, pois

de fato, envolvidos por esta economia capitalista, cada vez mais os jovens são facilmente

seduzidos pelos estímulos ao consumo e desse modo sentem-se pressionados a mais cedo

venderem sua força de trabalho para satisfazerem suas necessidades de consumo.

Para Alice Monteiro de Barros, uma das principais causas da exploração de que são

vítimas os menores, desde a primeira infância, tem sido a dificuldade econômica, nas mais

variadas épocas da humanidade.

De outro modo, a criança pode ser pressionada pela própria família ou pelos seus

responsáveis a colaborarem para prover o seu sustento e de seus familiares e nesse caso

Acioli (2010) considera que é necessário reconhecer o que de fato motiva ou obriga a criança

a se comprometer em ganhar dinheiro ou mesmo ter grandes responsabilidades com tarefas

inadequadas para a sua idade, pois essas atividades podem apenas justificar a relação que a

criança tem entre trabalho e sobrevivência. Para essa autora, “em todas essas situações, as

crianças estão afastadas de atividades que promovem o desenvolvimento de suas

potencialidades intelectuais, estéticas, criativas, físicas, e por fim, de valores humanos” que

não educam, mas desgastam (ACIOLI, 2010, p. 89).

Ademais, como bem coloca Liberati e Dias (2006), são vários os fatores determinantes

que levam a criança e o adolescente iniciarem precocemente no mundo do trabalho, são

fatores históricos, culturais e se perpetuam como costume de um povo, no entanto, não resta

dúvida de que a exploração do trabalho infantil tem como fonte principal as desigualdades

sociais.

O processo de globalização também contribui e muito para o aumento da exploração de

mão de obra infantil, pois a concorrência internacional faz com que grandes empresas

empreguem crianças, pois sendo uma mão de obra ilegal, os baixos salários pagos pela sua

força de trabalho contribuem para baixar o preço dos produtos e enfrentar a concorrência

(GRUNSPUN, 2000).

Essa realidade se agrava ainda mais em países em que as crianças não são obrigadas a ir

para escola, pois elas acabam se prendendo a uma determinada tarefa e se especializando em

atividades que interessam a própria empresa.

A ignorância social também é um dos fatores que influenciam a prática do trabalho

infantil, segundo Grunspun (2000), as pessoas ainda têm a ideia de que o trabalho infantil

pode ser útil para a criança e para a sociedade, elas ainda fazem confusão com relação à idade

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que elas consideram a ideal para que o trabalho seja exercido, mesmo que a lei a determine,

muitos ainda a ignoram e até as pessoas que se preocupam com o problema não têm ideia do

que podem fazer para resolvê-lo.

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3. MEDIDAS NECESSÁRIAS AO COMBATE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL

Para Grunspun (2000), medida na terminologia jurídica é o vocábulo usado no sentido

de prevenção, em defesa de um direito, para que se cumpram determinações legais, para que

se cumpra ou se proteja um direito alheio. O Brasil é um país em desenvolvimento que possui

muitas leis de proteção à criança e aos adolescentes, no entanto essas leis nem sempre são

efetivas, muitas vezes a sociedade, a família, ou o governo desrespeitam essas leis. A prova

disso é que ainda existem milhões de crianças e adolescentes desempenhando atividades que

são incompatíveis com a sua idade, com as suas condições físicas e sofrendo ainda mais

opressão por parte de quem a explora.

Se milhões de crianças e adolescentes ainda são explorados no Brasil e no mundo é

porque muitos acham natural ou porque isso as convém, outros se aproveitam da sua

docilidade e fragilidade e muitas autoridades fingem não ver. Assim, não basta que existam

leis, essas leis precisam ser aplicadas e cumpridas continuamente.

3.1 RELATO HISTÓRICO LEGISLATIVO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO SOBRE

TRABALHO INFANTIL

Foi no período do desenvolvimento das indústrias que houve um intenso

aproveitamento e incentivo do trabalho de crianças e adolescentes. Crianças trabalhavam

desde o raiar do dia e nem mais o pôr do sol demarcava o fim de sua jornada. Era uma

exploração além de suas forças físicas e não havia lei alguma que garantisse seus direitos, que

as protegessem das longas jornadas, de 14 a 16 horas, sem contar com a hora do almoço, não

havia leis que lhes garantissem um descanso semanal, férias ou as livrassem das agressões que

sofriam dentro do próprio ambiente de trabalho. Sequer havia leis que delimitassem uma

idade mínima para começar a trabalhar. Pode-se confirmar esta situação pelas palavras de

Teixeira (1995) que assevera que no inverno, o dia de trabalho durava em média 14 horas,

porém nos dias mais quentes a jornada podia estender-se por 16 ou 17 horas. Era uma jornada

exaustiva que muitas vezes também era cumprida por crianças de até 6 anos de idade.

Essa situação de exploração incentivou os primeiros movimentos de inquietação

pública, como bem lembra Liberati e Dias (2006), fazendo surgir muitos pensamentos e

manifestações que visavam à regulamentação do trabalho infantil e até filósofos no final do

século XVIII e início do século XIX divulgaram em suas obras o seu descontentamento com o

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sistema político e econômico vigente na época.

Assim, em virtude da exploração, das péssimas condições de trabalho e dos maus tratos

que as crianças e os adolescentes sofriam, algumas leis foram aprovadas com o fim de

regulamentar, inicialmente, as jornadas de trabalho. Em 1802, na Inglaterra, surgiu a Moral

and Health Act, do ministro Robert Peel, uma lei que veio regular a jornada de trabalho dos

menores. Para Oliva (2006), essa lei é tida como a primeira lei verdadeiramente tutelar e

demarcou o início efetivo do Direito do Trabalho no mundo e, apesar de a referida lei ter

reduzido a jornada diária dos menores para 12 horas ela parece não ter sido obedecida, não

funcionando na prática.

Uma outra lei muito importante com relação à proteção do menor foi criada em 1878,

que elevou a idade mínima de 5 para 10 anos. Segundo Perez (2008), nesse mesmo ano, a

Inglaterra consolidou toda legislação industrial e entre outras regulamentações, os industriais

foram obrigados a manter escolas de ensino fundamental para os trabalhadores. Um grande

avanço legislativo com relação aos direitos básicos dos menores, essa regulamentação

demonstra o quanto a educação deve ser valorizada. Note-se que em período anterior não

havia leis que protegessem nem o trabalhador comum quanto mais o trabalhador menor, assim

é que muitos autores, como Sergio Pinto Martins (2009) consideram que o Direito do

Trabalho surge com a Revolução Industrial.

Porém, todo esse processo de regulamentação do direito do trabalho e de aprovação de

leis de proteção ao trabalhador infantojuvenil evoluiu de forma lenta e gradativa. Deveras,

pois como bem coloca Bobbio (2004), os direitos da pessoa humana, por mais fundamentais

que sejam, não nascem todos de uma vez, são resultados de lutas em defesa de liberdades

contra velhos poderes e nesse caso trata-se do poder que muitas vezes parece ser o mais

absoluto de todos: o dinheiro, a frenética busca pelo lucro.

As políticas de proteção à criança e ao adolescente não abrangiam todas as atividades

laborais por eles desenvolvidas. Segundo Liberati e Dias (2006) o movimento de combate à

exploração do trabalho infantil acompanhou todo o século XIX e manifestou-se através das

chamadas Leis de Fábrica (Factory Acts) que surgiram para, entre outras coisas, combater as

excessivas jornadas de trabalho.

Posteriormente, também na Inglaterra, outras leis foram aprovadas também no sentido

de limitar a jornada de trabalho dos menores e determinar a idade permitida ao trabalho

infantil. Felizmente, segundo Oris de Oliveira (1994), a partir de 1970 na Inglaterra, houve

uma redução na exploração do trabalho infantil e através da publicação do Ato de Educação

Elementar as crianças foram obrigadas a frequentar a escola. Para Hun Grunspun (2000),

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houve uma preocupação com relação à educação das crianças na Inglaterra e houve inclusive

oferta de escola em tempo integral que até então era privilégio dos ricos, nesta época, os pais

que não levavam as crianças para a escola iam para a cadeia. Note-se que em consequência

dessa lei a jornada laboral já seria reduzida automaticamente, visto que as crianças

obrigatoriamente teriam de cumprir seu horário na escola podendo ser a partir de agora em

tempo integral. Agora as crianças teriam uma nova oportunidade, não estariam limitadas ou

condenadas a triste realidade da exploração.

Já em outros países houve uma maior resistência à edição de leis que tivessem o condão

de proteger a criança e o adolescente. Na França, por exemplo, o grande entrave para

aprovação dessas leis de proteção, segundo Oliveira (1994), seria o reflexo prejudicial que a

redução na jornada de trabalho e a substituição da mão de obra infantil pela mão de obra

adulta causariam aos preços dos produtos afetando, inclusive, a concorrência internacional, já

que aquela mão de obra tinha um custo muito inferior a essa. Um pensamento egoísta e cruel,

sem escrúpulos, que destruía o futuro de muitas crianças visando apenas ao lucro e ao

enriquecimento de uma minoria.

Posteriormente, em diversos países foram aprovadas várias leis de proteção ao menor,

inicialmente relacionadas à idade mínima e à jornada máxima para o trabalho. Oliva (2006, p.

50) nos leva a crer que não foi mera compaixão dos legisladores, mas pela certeza de que “a

eficiência industrial inglesa provinha exatamente da proteção que se dava aos trabalhadores

daquele país”. Sendo compaixão ou não, a verdade é que essas duas regulamentações

significaram um grande avanço na história legislativa de proteção ao menor.

No restante do mundo sucederam-se lentamente a aprovação de leis que, de certa forma,

traziam garantias mínimas à criança e ao adolescente, e muitas dessas leis foram

desonrosamente vetadas sob alegações desprezíveis, como no caso italiano, em que dois

projetos de leis que tinham o poder normativo de reprimir o tráfico de crianças foi rejeitado

sob a alegação de que seria uma inaceitável intromissão do Estado na família (Paolla Olivelli,

2000 apud MINHARRO, 2003). Percebe-se que quando se quer há argumentos para tudo

principalmente com relação à exploração do trabalho infantil que muito beneficiava quem

dele se satisfazia.

Segundo Grunspun (2000), os Estados Unidos seguiram o modelo inglês no que diz

respeito às leis de proteção às crianças no trabalho e, embora muitas leis que visavam

combater o trabalho infantil tenham sido editadas, muitas delas foram infrutíferas, pois eram

continuamente denunciadas como abuso ao direito dos pais. No entanto, o trabalho infantil foi

sendo eliminado aos poucos e muitas leis sobre educação foram aprovadas.

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Cabe aqui importante referência à Constituição Federal do México de 1917, que dispôs

pela primeira vez no mundo sobre direito do trabalho, destaque-se nessa constituição a

vedação de trabalho ao menor de 12 anos e o limite de 6 horas de jornada de trabalho para os

menores de 16 anos.

Um dos marcos mais importantes na luta contra a exploração do trabalho foi o

surgimento da Organização Internacional do trabalho – OIT – em 1919, instituição que, para

Oliva (2006) é um dos fatores mais importantes de transformação e solidificação do Direito

do Trabalho no mundo, com ações voltadas para a dignificação do ser humano pelo trabalho.

Assim, desde a sua criação, a OIT editou diversas normas com vistas a erradicar o

trabalho infantil (SUSSEKIND, 2003 apud OLIVA, 2006), como por exemplo, diversas

convenções que tratam sobre a idade mínima para determinadas atividades, trabalho noturno

na indústria e o benefício de seguro enfermidade para os trabalhadores da indústria, inclusive

com extensão para os aprendizes, o benefício de seguro invalidez para os menores na

agricultura, o seguro por morte aos menores nas indústrias, férias remuneradas aos

trabalhadores menores entre muitos outros.

No Brasil, segundo Liberati e Dias (2006), os direitos visando à proteção das crianças,

em face da exploração do trabalho infantil, foram garantidos, porém de forma lenta, e apesar

de muitas leis que concediam direitos aos menores de 18 anos terem sido aprovadas, elas

nunca foram cumpridas, e isso se deu segundo esses autores, em decorrência de toda

conjuntura ideológica estabelecida como o preceito de que o trabalho é o principal vetor de

formação do ser humano e uma espécie de instrumento de combate das mazelas sociais.

Segundo Campos (2012), foi criado o decreto nº 1.313/1891 com o intuito de regular o

trabalho do menor nas fábricas do Rio de Janeiro, que na época era a capital do Brasil. Esse

decreto proibia qualquer atividade aos menores de doze anos, exceto como aprendiz a partir

dos 8 anos de idade, bem como limitou a jornada de trabalho e as atividades insalubres e

perigosas. No entanto, esse decreto nunca funcionou na realidade, pois, como bem lembra

Deodato Maia (1997, apud MARTINS, 2002) muitas leis só existiam no papel com o intuito

de apresentar o país como nação apta a fazer parte da democracia que despontava à época.

A Constituição Federal do Brasil de 1934, bem como as outras que se seguiram,

trouxeram dispositivos que regulamentavam a idade mínima para o trabalho e entre outros

benefícios. A constituição brasileira de 1937 instituiu a educação, o ensino primário

obrigatório e gratuito, ensino profissionalizante para os menos favorecidos. No entanto, ainda

houve alguns retrocessos, como a redução do salário mínimo para o adolescente.

A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, que reuniu de forma sistematizada toda a

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legislação trabalhista espaça vigente à sua época (1943) e que muitas vezes é colocada pela

mídia como uma conquista pelo trabalhador, na verdade, segundo Perez (2008), não se trata

de uma conquista, tampouco de uma concessão gratuita do então presidente Getúlio Vargas

que a sancionou. De fato, a CLT, apenas sacramentou o controle total do Estado para com o

movimento sindical, sufocando com sutileza e habilidade o seu potencial reivindicador.

Apesar de em 1959 a Assembleia Geral da ONU ter proclamado a Declaração Universal

dos Direitos das Crianças, que enumera direitos específicos da criança, levando sua especial

condição de imaturidade física e mental, o Brasil demorou um pouco para incorporar essas

orientações como prioridades.

Atualmente o Brasil tem uma legislação muito robusta voltada à proteção da criança e

do adolescente. A começar pela Constituição Federal de 1988 que consagrou através de uma

emenda popular o princípio da proteção integral em seu artigo 227 que dispõe que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O Princípio da Proteção Integral se contrapõe a antiga Doutrina da Situação Irregular.

Esta tratava da questão menorista através do Código de Menores de 1979. Para o promotor de

Justiça Luiz Antônio Miguel Ferreira e a Oficial de Promotoria do Ministério Público de São

Paulo Cristina Teranise Doi, na Doutrina da Situação Irregular os menores eram sujeitos de

direitos e merecem a consideração judicial quando se encontravam em uma determinada

situação, caracterizada e definida por lei como “irregular”10. Essa lei era o Código de

Menores, elaborado para disciplinar o menor de 18 anos que estivesse delinquindo. Para

Miguel Ferreira e Teranise Doi “havia uma discriminação legal quanto à situação do menor,

aquele que se encontrava em situação irregular; os demais, não eram sujeitos ao tratamento

legal”. Já a Doutrina da Proteção Integral representa “um avanço em termos de proteção aos

direitos fundamentais, posto que calcada na Declaração Universal dos Direitos do Homem de

1948, tem ainda como referência documentos internacionais, como Declaração Universal dos

Direitos da Criança”.11

Sobre essa nova corrente, Donizeti Liberati (2006, p. 15) aponta que essa Doutrina se

baseia:

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!10 Documento on-line não datado e não paginado. 11 Documento on-line não datado e não paginado.

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(…) nos direitos próprios e especiais das crianças e adolescentes, que, na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral (TJSP, AC 19.688-0, Rel. Lair Loureiro). É integral, primeiro, porque assim diz a CF em seu art. 227, quando determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de qualquer tipo; segundo, porque se contrapõe à teoria do “Direito tutelar do menor”, adotada pelo Código de Menores revogado (Lei 6.697/79), que considerava as crianças e os adolescentes como objetos de medidas judiciais, quando evidenciada a situação irregular, disciplinada no art. 2º da antiga lei.

Ainda calcada na Doutrina da Proteção Integral, a Constituição também proíbe em seu

artigo 7º o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 (dezoito) e de qualquer

trabalho a menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze

anos, como já foi mencionado anteriormente. Esse dispositivo recebeu redação final

consagrando essas proibições e garantias a partir da emenda constitucional nº 20 que, como

afirma Süssekind (2005), surgiu num momento de delinquência juvenil e apesar de haver a

crença de que o trabalho do menor amenizasse essa situação seria uma opção capaz de

comprometer o equilíbrio da previdência.

Tanto é que Grunspun (2000) é enfático ao afirmar que a elevação da idade mínima para

o trabalho de 14 para 16 anos foi para adequar a idade da aposentadoria às novas regras da

Reforma da Previdência, pois se um menor começasse a trabalhar aos 14 anos, se aposentaria

aos 49 e ficaria assim fora das novas determinações previdenciárias. Isso causou diversas

críticas, pois já havia menores que tinham contratos de trabalho desde os 14 anos e ainda não

havia completado os 16, sem contar que existiam inúmeros programas governamentais que se

desenvolviam voltados ao menor trabalhador a partir dos 14 anos, que era a idade permitida

antes da emenda número 20 que modificou o artigo 7º da atual constituição como explicitado

acima.

A Constituição vigente também proíbe em seu artigo 7º o trabalho noturno, perigoso ou

insalubre a menores de 18 (dezoito) e de qualquer trabalho a menores de 16 (dezesseis) anos,

salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos, como já foi mencionado

anteriormente.

Para Segadas Vianna (2005), o legislador, ao inserir esses dispositivos no texto

constitucional de 1988 demonstra reconhecer a necessidade de preservar valores que são

imprescindíveis para a formação do cidadão, como: o convívio familiar, a convivência com

outras crianças que contribui para moldar o desenvolvimento físico, psíquico, moral e social

do menor, a oportunidade de se ter educação básica e o convívio com a comunidade para

regulares imoderações próprias de cada idade, entre outras coisas mais.

Portanto, é aí onde está a importância de que haja leis severas que proíbam o trabalho

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do menor, principalmente porque as submetem a atividades que não são próprias para sua

idade, expõe-as a riscos de acidentes e subtrai de sua vida a fase mais importante para a

formação do cidadão do futuro.

No entanto, mesmo com a Constituição Federal de 1988 e que deu guarida ao princípio

da proteção integral, segundo Campos (2012), ainda assim, a sociedade demonstrava que

havia necessidade de uma proteção maior à criança e ao adolescente e foi a partir dessa

preocupação que foi criado e promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que

mais uma vez consagra o princípio da proteção integral regulando o direito à

profissionalização e à proteção no trabalho.

O Decreto nº 6.481 assinado em 12 de junho de 2008 aprovou, em nível federal, uma

Lista com as Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), definidas pela Convenção 182 da

Organização Internacional do trabalho, OIT, que desenvolve o Programa Internacional para a

Erradicação do Trabalho Infantil.

O Brasil assumiu até 2020 o compromisso de acabar com qualquer exploração de mão

de obra infantil começando com as piores formas de trabalho que constam nesse decreto

6.481, que lista quase uma centena de atividades proibidas para pessoas com idade inferior a

18 (dezoito) anos. Segundo Sabrina Duran (2013), nesta lista consta uma relação de:

89 atividades, com suas descrições e consequências para a saúde de crianças e adolescentes que as desempenham. Há ainda outros quatro itens convencionados anteriormente pela OIT e que se referem à exploração sexual, trabalho escravo, trabalhos moralmente degradantes e uso da mão de obra infantil em atividades ilícitas, como o tráfico de entorpecentes. A Lista TIP foi elaborada durante quase três anos por membros da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti), coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)12.

E de acordo com Luiz Henrique Lopes, chefe da Divisão de Fiscalização do Trabalho

Infantil do MTE, o Brasil tem até 2016 o compromisso de acabar com as piores formas de

trabalho infantil. Esse compromisso foi ratificado quando magistrados e procuradores do

trabalho se reuniram em Brasília em outubro de 2013 na III Conferência Global sobre

Trabalho Infantil.

Nota-se que, legalmente, as crianças e adolescentes estão muito bem amparados. O

Brasil já se posicionou contrário a toda e qualquer forma de exploração de mão de obra

infantil e muitos programas já foram desenvolvidos com vistas a prevenir e erradicar essa

exploração. Resta saber se na prática esses programas estão dando conta das expectativas e se

o compromisso firmado mundialmente de se erradicar o trabalho infantil será alcançado até

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!12 Documento on-line não paginado.

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2020, como é a meta da OIT.

Para o Diretor-Geral da OIT, Juan Somavia, o progresso foi desigual e não foi

suficientemente rápido ou exaustivo para alcançar os objetivos que foram estabelecidos e que

se faz necessários novos esforços e em uma escala maior, pois a campanha contra o trabalho

infantil deve ser revitalizada intensificando a ação e acelerando o seu ritmo.

A Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989, consagrou a Doutrina da

Proteção integral e, segundo Oliva (2006, p. 89), essa Convenção se tornou o principal

documento internacional dos Direitos da Criança. O Brasil foi um dos signatários dessa

Convenção, o que já era esperado, pois, como relatado anteriormente, o ordenamento jurídico

brasileiro se antecipou à referida Convenção adotando a Doutrina da Proteção Integral quando

promulgou a Carta Magna em 1988. Para Liberati e Dias (2006), a Carta Magna de 1988, veio

resgatar diversos princípios e valores fundamentais que á época de eram indispensáveis à

formação humana.

Cabe lembrar também que entre os princípios fundamentais a Constituição Federal de

1988 também elencou o trabalho e a dignidade da pessoa humana como alguns de seus

fundamentos, in verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; (...) IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Desse modo pode-se inferir, conforme aduz Campos (2012), que as conquistas de

muitos direitos de defesa da criança e do adolescente foram uma consequência dos novos

conceitos influenciados pela ótica da dignidade da pessoa humana acima mencionada e assim,

essas crianças passaram a ser vistas como seres em desenvolvimento que necessitam de

especial atenção na promoção dos seus direitos e de que seja estabelecido que a garantia

desses direitos seja dever de todo o grupo social, do estado e da família.

Para Grunspun (2000) para se ter eficácia, essas leis sobre trabalho infantil precisam

estar coerentes com as leis sobre educação e o Brasil possui leis avançadas sobre trabalho

infantil se comparado a outros países em desenvolvimento. Isso quer dizer que estamos

próximos dos anseios universais para erradicar o trabalho infantil.

Infelizmente apesar de se perceber grandes avanços jurídicos em termos de proteção ao

menor de 18 anos bem como a adoção de inúmeras políticas públicas que tem como fim

afastar o menor da exploração pelo trabalho, aproximando-o de uma formação educacional

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mais completa e dentro da faixa etária ideal, para Liberati e Dias (2006) até hoje o Brasil

enfrenta muitas barreiras para fazer valer o cumprimento efetivo das normas vigentes.

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4. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Feitas as considerações a respeito do conteúdo teórico que fundamentam e justificam a

necessidade desta pesquisa, cabe agora analisar as entrevistas realizadas na Escola Municipal

Manoel Vicente de Paiva localizada no bairro Passagem de Areia, no município de

Parnamirim no estado do Rio Grande do Norte. Trata-se na verdade de um estudo por

amostra, onde foram entrevistados 38 alunos que estavam na faixa etária entre 6 a 16 anos.

A realização desta parte do trabalho foi possibilitada por meio do contato com o gestor

da escola, que se deu por meio de uma conversa entre ele e o pesquisador que fez a exposição

do seu trabalho e a contribuição que esse teria para o seu estudo acadêmico e para a

sociedade.

A escolha da escola campo de pesquisa esteve relacionada com suas características

socioculturais, pois a mesma instituição fica localizada em Passagem de Areia, um bairro

extremamente pobre e conhecido pelos altos índices de violência e envolvimento de crianças e

adolescentes com o tráfico de drogas e prostituição, duas das piores formas de trabalho

infantil definidas pela OIT. Essa foi uma das motivações para a pesquisa, pois Passagem de

Areia carece de atenção do governo local e da sociedade para que sejam adotadas políticas

públicas que viabilizem a aplicação efetiva do princípio da proteção integral em caráter de

urgência.

Na prática, as informações de crianças envolvidas com o tráfico e a prostituição não

puderam ser comprovadas, pelo menos não foi possível com os alunos entrevistados, já que

são práticas moralmente condenadas pela sociedade e certamente nenhuma criança iria

confirmá-las.

A pesquisa utilizou o método de abordagem dedutivo, em que se partiu de premissas

maiores fundamentadas em leis e postulados universais para se chegar a uma conclusão

particular (GIL, 2008). Nesse caso, partiu-se da análise histórica sobre o assunto, a evolução

legislativa a respeito do trabalho infantil e as consequências desse para o infante para agora

analisar as respostas fornecidas pelas crianças e adolescentes, identificar os fenômenos

estudados, compará-los e chegar a uma determinada conclusão sobre o tema investigado.

As entrevistas foram organizadas de forma semiestruturada em que se partiu de um

número de questões previamente definidas, realizadas individualmente, mas com um tom de

informalidade de modo que permitisse que as crianças se sentissem mais à vontade e não as

respondessem tão objetivamente, possibilitando uma observação mais qualitativa do

pesquisador, que procurou se envolver com a pesquisa, tornando-se parte do processo de

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conhecimento, tentando atribuir sentidos aos fenômenos que foram sendo compreendidos

(CHIZZOTTI, 1991).

Serão apresentadas algumas falas de algumas das crianças consideradas de grande

relevância e interesse, porém elas serão identificadas com nomes fictícios para preservar sua

identidade e integridade, não só por se tratar de menores, mas para não expô-las.

Antes de iniciar a entrevista foram passadas algumas informações para as crianças, a

fim de criar um clima de informalidade para que elas pudessem ficar bem à vontade e as

respostas pudessem fluir com naturalidade.

4.1 ANÁLISE QUANTITATIVA

As entrevistas foram feitas entre o segundo semestre de 2013 e 2014. Foram

previamente elaboradas 17 questões, em linguagem simples, já que os sujeitos entrevistados

eram crianças que ainda não têm um vocabulário tão amplo. Doze das dezessete questões

tinham o intuito de conhecer sua realidade familiar, condição financeira, preferências e

ocupações fora da escola, para poder prepará-la para que ela pudesse nos esboçar com clareza

as projeções que ela tinha para o seu futuro e com essas informações ter-se a possibilidade de

inferir se as suas perspectivas de vida tinham a ver com a sua realidade e, no caso das crianças

que desempenhavam alguma atividade considerada como trabalho infantil, analisar o impacto

que essa ocupação causava no olhar que ela teria do seu próprio futuro.

Ao analisar as respostas fornecidas pelos alunos pode-se constatar que 28 dos 38

entrevistados têm ou já tiveram experiência com o trabalho infantil. Uma constatação

preocupante, pois esse número corresponde a 73,6% dos entrevistados.

Verifica-se também que o número de meninos que trabalham é bem maior do que de

meninas, 18 meninos para 10 meninas numa faixa etária entre 9 e 16 anos.

Desses alunos que trabalham, 26 não estão cursando a série adequada de acordo com a

idade escolar definida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Federal, nº 11.274 de 6

de fevereiro de 2006. Pois, de acordo com essa lei, a idade que corresponde ao período do

Ensino Fundamental, que vai do 1º ao 9º ano, é de 6 a 14 anos, sendo um ano para cada idade.

E constata-se que apenas 2 alunos estão regularmente cursando a série de acordo com a idade.

Que são os que têm 9 anos e estão matriculados no 4º ano. No entanto, essa correspondência

também se dá entre os alunos que disseram nunca ter tido uma experiência com o trabalho

infantil, dos 10 entrevistados nessa situação, apenas 1 está cursando o ano regular para sua

idade.

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Interessante foi perceber que dos 28 alunos que trabalham ou já trabalharam alguma

vez, apenas 2 deles declaram não gostar de estudar, porém desse mesmo universo de

pequenos trabalhadores, apenas 10 declararam saber ler e escrever. Ou seja, além de 92%

deles não estarem na idade/série regular, 65% não sabem ler ou escrever. Já no caso dos

alunos que não trabalham, todos declararam gostar de estudar e apenas 3 não sabem ler e

escrever.

É importante destacar que, segundo o senso demográfico de 2010, feito pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, enquanto a média de brasileira é de 3,3 pessoas

por família13, a média de pessoas por família no caso das crianças que trabalham é de 3,5.

Pelo menos 14 dessas 28 crianças que trabalham moram em uma residência com um número

de pessoas muito acima da média e algumas convivem na mesma casa com até 9 pessoas. Já

no caso dos grupos das crianças que não trabalham, o número de pessoas por residência está

em 3,0, um pouco abaixo da média.

Pelo menos 3 das 28 crianças entrevistadas que trabalham não demonstraram interesse

em mudar de atividade, apenas uma criança disse que queria trabalhar, mas ainda não sabia

com o que. As demais crianças, tantos as que estão ou já estiveram em situação de trabalho

infantil, como as que nunca tiveram esse tipo de experiência disseram que queriam ser médico

(a), veterinário, servir ao exército, à aeronáutica, ser professor(a), cantor(a), ator/atriz, jogador

de futebol, bombeiro, advogado(a), enfim, uma diversidade de profissões.

4.2 ANÁLISE QUALITATIVA

Ao fazer a análise quantitativa dos dados percebe-se que há uma grande incidência de

crianças que têm ou já tiveram alguma experiência com o trabalho infantil. Coincidência ou

não, esse fato pode estar relacionado com a realidade socioeconômica do local. Como dito

inicialmente, Passagem de Areia é um bairro muito carente e os dados demonstram que as

famílias são bastante numerosas e as ocupações profissionais dos responsáveis por essas

famílias não os remuneram suficiente para que as necessidades de todos os seus membros

sejam supridas. Isso se comprova nos comentários de algumas crianças entrevistadas que

mencionaram que trabalham para ajudar aos pais ou para ter algum dinheiro para gastar.

Uma justificativa muito triste, pois como se percebe, essas crianças estão assumindo

uma responsabilidade que não é delas e desse modo tentam vender suas forças físicas em

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!13 Documento on-line não paginado.

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troca de algum dinheiro. O que elas não se dão conta é que estão vendendo muito mais que

força de trabalho, elas estão vendendo a sua infância, o tempo que elas têm para se dedicarem

ao desenvolvimento de suas potencialidades para que no futuro estejam preparadas para

assumirem o papel que desejarem na sociedade.

Um outro ponto destacado é o fato de haver nesse pequeno universo um número maior

de meninos trabalhando do que de meninas, Esse é um dado que se coaduna com a realidade

de exploração de menores no Brasil e no mundo, pois o trabalho infantil vitima mais meninos

do que meninas de uma forma geral e segundo matéria divulgada pelo R7 Notícias em 12 de

junho de 2013 “dois em cada três brasileiros com idade entre 5 e 17 anos ocupados no Brasil

são homens. São 2,4 milhões de meninos (66,5%) e 1,2 milhão de meninas (33,5%) do sexo

feminino”14.

Como se pôde perceber, o percentual de crianças que não sabem ler ou escrever é muito

mais acentuado no grupo de crianças que trabalham do que no grupo das que não trabalham,

de modo que se torna evidente uma das principais consequências do trabalho precoce: a

criança que trabalha, como dito anteriormente, perde o tempo necessário para estudar e

aprender. Quando elas trabalham e estudam sentem-se cansadas e desestimuladas a raciocinar

e isso torna muito lento o processo de ensino e aprendizagem.

Um dado que também tem correspondência com o fato de muitas crianças e

adolescentes necessitarem precocemente vender sua força de trabalho diz respeito ao número

de pessoas que vivem na mesma residência, esse fato se comprova através de muitas

declarações feitas pelas crianças entrevistadas que disseram que trabalham para ajudar aos

pais.

O momento mais interessante da pesquisa se mostra ao constatar-se, que apesar de todas

as adversidades, do cansaço, da falta de oportunidades para desenvolver ou melhorar suas

potencialidades as crianças continuam tendo perspectivas de vida, muitas sonham exercer

uma profissão que modificaria completamente a sua realidade, no entanto elas não têm a

menor ideia da dimensão do prejuízo que o trabalho precoce pode causar, elas não visualizam

que diante da sua realidade, o desejo de ser médico(a), veterinário, servir ao exército, à

aeronáutica, ser professor(a), cantor(a), ator/atriz, jogador de futebol, bombeiro, advogado(a),

etc. terá pouca probabilidade de se concretizar, pois para o exercício de muitas profissões são

necessários anos de estudos e dedicação e se durante o período de maior importância para a

vida escolar de um indivíduo ele encontra dificuldades para se apropriar de habilidades

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!14 Documento on-line não paginado.

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elementares como ler e escrever, que dirá ter condições para enfrentar uma longa jornada de

estudos para exercer um ofício como a medicina ou a advocacia.

Muitas crianças já estão cursando o ano de estudo irregular, o mais comum nesses casos

é, infelizmente, o abandono dos estudos e a dedicação total ao trabalho. Porque elas se tornam

adultas e os adultos adquirem mais compromissos, financeiros principalmente.

Pode-se visualizar que diversos foram os fatores que influenciaram as crianças que se

encontram em situação de exploração de mão de obra infantil, no entanto, o destaque maior é

dos fatores econômico e cultural.

Pode-se constatar a influência do fator cultural na resposta da “Ana” quando

questionada sobre o que ela achava das crianças que trabalham: “Acho que é bom porque é

melhor que ficar na rua brigando, bagunçando”. Como se vê a resposta da “Ana” retrata

exatamente a mentalidade daquela sociedade arcaica do século XVI, que defendia que o

trabalho era a melhor ocupação para aquelas crianças que perambulavam pelas ruas, pois

estariam sujeitas a marginalidade, estariam mais predispostas a delinquir, como se para essas

só restasse ou o mundo do crime ou o trabalho.

A influência do fator econômico fica evidente em diversas respostas. Principalmente ao

revelarem o seu maior sonho quando indagadas com esta questão. Alguns respondiam que seu

maior sonho era: “Ter uma moto”, outros disseram que seria “Ganhar um vídeo-game”, “Ter

uma bicicleta”. “Ser rica(o)”.

O fator econômico também é perceptível quando elas foram questionadas sobre o que

elas pensavam a respeito das crianças que trabalham, algumas apresentaram as seguintes

respostas: “Eu acho legal, pois ajuda a família”. “Bom, porque ajuda a ganhar dinheiro”.

A ignorância sobre o prejuízo aos quais as crianças estão expostas ao desempenharem

uma atividade típica de um adulto também prevaleceu ao responderem a seguinte pergunta: O

que você pensa a respeito das crianças que trabalham? Algumas simplesmente responderam:

“Nada”.“Não sei”. “Legal, bonito”. “Meio bom e meio ruim”. “É um gesto muito bonito, é

lindo!”. A partir dessas respostas percebe-se que há pouco ou nenhum esclarecimento sobre

as implicações do trabalho infantil para a vida de uma criança.

Percebe-se que elas não têm noção do mal que a prática do trabalho diário inadequado

para uma criança ou adolescente pode causar à sua integridade física, moral, psíquica e o

quanto essa realidade limita e impossibilita a realização do sonho de um futuro melhor.

Pode-se perceber que a maioria das crianças, embora tenha ideia da profissão que

querem exercer no futuro, diante das dificuldades que elas enfrentam diariamente, não se

vislumbram possibilidades de realização desse objetivo. Pois, como dito anteriormente,

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muitas das profissões que elas apontaram requerem anos de estudos e dedicação e tendo o seu

tempo e energias sugadas pelo trabalho, será pouco provável que esse objetivo seja alcançado.

Outro ponto interessante é que a maioria dos meninos respondeu que queria ser policial.

Percebe-se que essa resposta corresponde à realidade na qual eles estão inseridos, pode-se

concluir que essa ideia se deve à figura de respeito que o policial impõe e a constante

presença deles no dia-a-dia dessas crianças devido a alta incidência de criminalidade no

bairro.

Quando indagadas sobre qual seria o seu maior sonho, algumas crianças responderam

que seria um trabalho quando adulto para poder ajudar aos seus pais, e quando eles dizem

ajudar aos pais, eles se referem a ajudar a prover o mínimo necessário à sua família, como

alimentação e vestuário, porque presenciam diariamente o lamento das dificuldades do dia-a-

dia.

Normalmente tratam-se de famílias muito numerosas e realmente é muito difícil que os

responsáveis consigam prover as necessidades de todos. Essas crianças absorvem uma

responsabilidade que não é sua, pois a regra é que os pais ajudem os filhos, que possibilite

que eles cresçam num ambiente tranquilo. São os pais que devem promover a educação e

abrir possibilidades para que as crianças conheçam suas potencialidades e as desenvolva e

isso se dá através da educação escolar e do lazer, principalmente.

Uma matéria veiculada pelo Promenino da Fundação Telefônica15 descreve de maneira

muito precisa os efeitos do trabalho infantil nas relações sócio-afetivas das crianças e

adolescentes lembrando bem que é na escola que as crianças têm contato com outras da

mesma idade, que conhecem as artes, educação física, as ciências. É através do

relacionamento socioafetivo que se dá com os colegas na escola que elas se desenvolvem de

maneira sadia. No entanto, quando a criança trabalha ela perde o tempo que teria para brincar,

ela assume responsabilidades muito além da idade adequada. Desse modo seus assuntos e

preferências passam a ser semelhantes aos dos adultos. Assim, é muito comum que meninos e

meninas que trabalham tenham mais facilidades de se relacionar com adultos do que pessoas

da sua idade.

Nota-se que a ocupação com o trabalho e o cansaço diário, usurpa das crianças as

possibilidades de um futuro melhor, sua realidade é difícil, pesada, o cansaço as desestimulam

e os estudos passam a ser um fardo, porque elas ficam com o corpo e a mente exaustos para

raciocinar, para ler, para sonhar.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!15 Documento on-line não datado e não paginado.

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Felizmente as crianças as quais foram entrevistadas podem frequentar a escola e o

trabalho parece ser mais uma alternativa para se ter dinheiro para satisfação de consumo

próprio. No entanto, não se pode esquecer daquelas crianças que já abandonaram os estudos

por terem de trabalhar longas jornadas que as impossibilitam de ir até a escola porque apenas

um horário no trabalho não é suficiente ou porque já perderam ou nunca tiveram a esperança

de melhorar de vida por meio dos estudos, porque ficaram fora da faixa etária, não

aprenderam a ler na idade certa e quanto mais adultas, mais dificuldades encontraram para

essa tarefa.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal ponto destacado neste trabalho foi a influência do trabalho infantil sobre as

perspectivas de vida das crianças e adolescentes. O que se percebe é que muitas crianças,

principalmente da classe mais pobre, ingressam no mercado de trabalho cada vez mais e essa

triste realidade compromete sua infância e adolescência.

Constata-se por fim que, apesar de o trabalho infantil retirar das crianças o tempo

necessário aos estudos, ao lazer, a sua formação moral, ao desenvolvimento físico saudável,

ele não foi capaz de influenciar negativamente as perspectivas de vida da criança e do

adolescente.

As crianças ainda sonham em exercer uma profissão que modifique a sua realidade de

sofrimento, no entanto, enquanto a sociedade não unir forças, enquanto não houver uma

conscientização de que o trabalho infantil causa um prejuízo incalculável às crianças e

adolescentes, haverá nesses casos uma possível imutabilidade socioeconômica.

Não adianta apenas falar sobre as consequências do trabalho infantil para a vida das

crianças que por ele são exploradas, é necessário enxergar além do problema e propor

alternativas que sejam eficazes em combatê-lo.

Ao concluir este trabalho, percebe-se que a escola pode ser a porta principal para

desestimulá-lo. A começar por aquelas crianças que muitas vezes realizam alguma atividade

apenas em troca de dinheiro, porque necessitam satisfazer suas necessidades de consumo e os

seus pais não ganham dinheiro suficiente para isso.

Ao observar as respostas da maioria dos alunos se faz necessário desenvolver um

trabalho de conscientização com toda comunidade escolar que é composta por todos que

fazem parte da escola e da comunidade em geral.

É extrema importância que a escola apresente para suas crianças e adolescentes os

riscos e os malefícios oferecidos pelo trabalho precoce. Até porque se percebe pelas respostas

dos alunos sobre o que elas pensam a respeito do trabalho infantil que muitas delas são

indiferentes, isso porque não conhecem os prejuízos que o trabalho precoce pode causar as

suas vidas.

Desse modo, a qualidade da educação deve melhorar para que a escola esteja preparada

para lidar também com a família dos seus alunos, principalmente as famílias de classe baixa,

pois é das famílias mais pobres que normalmente surgem os pequenos trabalhadores.

Cabe lembrar também que existem muitas crianças que sequer frequentam a escola

porque o trabalho que ela desenvolve toma todo o seu tempo disponível e muitas vezes para

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essas crianças, estudar torna-se apenas um sonho, uma vontade que poderia mudar sua vida.

Não se pode também esquecer para as crianças que trabalham e estudam, o cansaço

causado pelo labor infantil é um dos principais fatores que causam evasão escolar, a criança

perde o interesse pelos estudos que acabam se tornando um fardo em sua vida.

Percebe-se que o trabalho infantil não só rouba as energias que as crianças deveriam

aplicar em seus estudos como as impede de brincar, atividade essencial para um

desenvolvimento saudável. Sendo assim, muitas crianças perdem sua infância e

comprometem o seu futuro, pois não têm a oportunidade de se qualificarem para uma

profissão melhor.

O que está faltando é a família, o Estado e a sociedade cumprirem o seu papel, pois

como apresentado ao longo do trabalho, o Brasil possui muitos instrumentos legislativos que

visam combater essa prática e escola possui todos os meios necessários para conscientizar

suas crianças e envolver a família em um trabalho que as possibilite enxergar os prejuízos

causados pelo trabalho infantil e os benefícios que uma infância vivida de forma saudável

pode trazer.

É necessário ensinar as crianças a saberem esperar para construir um presente voltado

para o futuro, fazê-las acreditar nas suas potencialidades, denunciar toda e qualquer forma de

exploração de trabalho infantil para que muitas crianças possam ser libertadas para a vida e

poderem desfrutar do melhor dela.

Deve-se levar a conhecimento de todos os mandamentos do Princípio da Proteção

Integral insculpidos no art. 227 da Constituição Federal, que são inquestionáveis e absolutos e

de aplicação imediata. Assim não se deve esperar apenas do Judiciário, é dever de todos

assegurar a criança que ela cresça protegida, segura, livre de qualquer tipo de violência, é

direito seu ter direito à educação, esporte, lazer, uma boa alimentação, profissionalização,

cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, é direito seu

relacionar-se com outras crianças da mesma idade. Elas devem estar a salvo de qualquer

discriminação, exploração, crueldade e opressão e só por intermédio da conscientização é

possível efetivar o princípio da proteção integral.

Não basta apenas ter um forte aparato jurídico que não consegue funcionar na prática, é

necessário também que a mídia dê mais ênfase ao tema, que seja um instrumento de

informação no sentido de combater o mal da exploração da mão de obra infantil. É de suma

importância escancarar os índices alarmantes de crianças que neste exato momento estão

perdendo preciosos instantes da sua infância e essa perda é irreversível, não é apenas perda de

tempo, é perda de sonhos, de um futuro melhor, de uma vida melhor. É imprescindível que se

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propaguem incansavelmente a importância da proteção às crianças e aos adolescentes, pois o

futuro deles é o futuro da nação. E se não há zelo, cuidados, investimentos, não se pode

esperar que no futuro a realidade do Brasil seja diferente.

É preciso combater e prevenir, e o sucesso dessa empreitada só será possível quando se

formar uma consciência coletiva do mal que o trabalho infantil pode causar e os benefícios

que se pode ter evitando-o.

Não adianta apenas querer obrigar as famílias a cortarem a ajuda necessária que pode

vir do labor de algum menor, não adianta apenas investigar e tentar punir aquele que se utiliza

dessa prática, é também extremamente necessário que a idade mínima para o trabalho seja

respeitada e o contrato de aprendizagem também, pois muitos empresários utilizam do menor

aprendiz para fazer uso de mão de obra barata e além de tudo isso, é primordial conscientizar

toda a sociedade de que a exploração deste tipo de mão de obra viola um importante direito

fundamental, viola a dignidade das crianças e o seu direito de ter uma infância.

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ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO USADO NA PESQUISA PADRÃO

1. Qual o seu nome? 2. Qual a sua idade?

3. Qual ano você estuda?

4. Você gosta de estudar?

5. Você sabe ler?

6. Com quem você mora?

7. Você tem irmãos? Quantos?

8. Seus pais (responsáveis) trabalham?

9. Seus irmãos trabalham?

10. E você, o que faz quando não está na escola?

a) Ajuda sua família? b) O que faz?

11. Você gosta de brincar?

12. Você faz alguma coisa para ajudar sua família a ganhar dinheiro?

a) O quê? b) Quando?

12. Você já trabalhou ou ajudou alguém no trabalho?

a) Em que? b) Quando?

13. O que você acha das crianças que trabalham?

14. O que você quer fazer quando você for adulto?

15. Qual o seu maior sonho?