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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL JOANA MARESSA PAIVA FELIPE “DIREITO CONQUISTADO NÃO SE VENDE, SE DEFENDE”: os desafios da política de saúde e as particularidades do trabalho de Assistentes Sociais no Hospital Universitário Onofre Lopes NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

JOANA MARESSA PAIVA FELIPE

“DIREITO CONQUISTADO NÃO SE VENDE, SE DEFENDE”: os desafios da política

de saúde e as particularidades do trabalho de Assistentes Sociais no Hospital Universitário

Onofre Lopes

NATAL/RN

2016

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JOANA MARESSA PAIVA FELIPE

“DIREITO CONQUISTADO NÃO SE VENDE, SE DEFENDE”: os desafios da política

de saúde e as particularidades do trabalho de Assistentes Sociais no Hospital Universitário

Onofre Lopes

Monografia apresentada ao curso de Serviço Social

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para obtenção do título de bacharel

em Serviço Social.

Orientadora: Profa.

Dra. Ilena Felipe Barros

NATAL/RN

2016

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Dedico este trabalho com muito amor, aos

meus pais, Francisca e Marcos Aurélio, que

permitiram a realização dessa conquista, como

também, as minhas irmãs, Marília e Marina

que estiveram sempre comigo.

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AGRADECIMENTOS

Confesso que fiquei muito ansiosa para externar gratidão através desse texto, e,

certamente não conseguirei descrever todos os meus sinceros agradecimentos às tantas

pessoas que fizeram destes quatro anos de graduação um período de constante aprendizado.

Hoje, me sinto extremamente feliz em saber que esse ciclo foi repleto de carinho,

crescimento, lutas, perseverança, saudades e muito amor.

Agradeço a Deus por permitir essa vivência e pelo seu cuidado comigo todos os dias,

sem Ele nada teria sido possível, o Senhor fez coisas extraordinárias para mim! Sou

eternamente grata ao meu Deus.

Agradeço aos meus pais, Francisca e Marcos Aurélio, que se doaram e sempre fizeram

mais do que precisei. Agradeço o cuidado, as orações, as permissões, o carinho e o grande

amor. Sem eles nada disso teria sido possível, muito obrigada por tudo, amo vocês!

As minhas irmãs, Marília e Marina, que muitas vezes sentiram minha falta, mas que,

sempre estiveram comigo, mesmo que a distância. Peço desculpa pela ausência, essa

conquista também é de vocês, minhas lindas!

A toda minha família, que direta ou indiretamente, me apoiou e ajudou nestes anos de

graduação. Aqui faço menção a minha Tia Rubiana Paiva e meus primos Rafael e Renata, no

qual compartilhamos o apartamento, foi uma época muito boa, que sinto saudades, obrigada

por me receberem tão bem!

As meninas que dividem apartamento comigo, o meu muito obrigado pela paciência.

Licinha, minha amiga da quinta série, que tem me suportado desde 2012, obrigado pela

convivência fofa! Você é um amor! À Marília, minha irmã, que veio morar conosco em 2015,

somando em todos os sentidos, obrigado por ter vindo!

Agradeço ainda as Phynas, que são belíssimas amigas que encontrei na turma de

Serviço Social 2012.2, cada uma com seu jeito de ser, foram fundamentais nesses anos. Como

esquecer a nossa rotina na UFRN, as idas a biblioteca, ao R.U., o circular lotado, o cansaço da

rotina bolsa/estágio/universidade, as brincadeiras, enfim, o maravilhoso sentimento de

encontrar pessoas especiais para dividir algo tão especial, com certeza vocês ficarão

guardadas em meu coração. Amo cada uma!

A todos/as que fizeram e fazem parte da Incubadora de Economia Solidária –

INICIES/UFRN, coordenada pela Profa. Dr

a. Rosângela Alves, pelos ricos conhecimentos

compartilhados. Esse projeto de extensão me propicia sair da Universidade com muito mais

qualidade e conhecimentos. Sem dúvidas, a INICIES permitiu para além de conhecimentos

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acadêmicos, uma partilha de saberes, união e solidariedade, que jamais irei esquecer. Para

onde quer que eu vá, sempre lembrarei dos ensinamentos tão maravilhosos que a extensão me

propiciou. Agradeço a cada um/uma que tiverem de modo particular, sua clara contribuição

neste processo. Seguiremos juntas/os!

Agradeço aos docentes do curso de Serviço Social da UFRN e outros tantos que

encontrei nas pesquisas e extensões, por contribuírem com minha formação profissional.

Aos servidores/as e trabalhadores/as desta Universidade, que sempre muito bem

receptivos me ajudaram a me encontrar nesse Campus tão enorme! Vocês são show!

Sou grata a minha orientadora, linda e maravilhosa, uma inspiração para mim! Minha

flor, Ilena Felipe Barros, “branquinha”, que desde o meu primeiro dia de aula em 2012 esteve

orientando tão bem! Sou muito grata e feliz por Deus ter nos dado essa oportunidade de se

encontrar neste curso e nesta Universidade. Meu carinho por você é fato, obrigado por ter

aceitado me orientar nesta monografia, mesmo não entendendo muito sobre a temática da

saúde, por ter tido paciência e carinho em todas as orientações. Você é uma referência da qual

me orgulho muito! Te amo!

Agradeço a uma amiga muito especial que esse curso me presenteou, Roberttha

Figueiredo, dividimos muitas coisas juntas, que não dar pra citar tudo aqui, mas foram

momentos de angústias, alegrias, incertezas e muita felicidade, crescemos bastante juntas!

Obrigada por tudo, amiga! Foi maravilhoso dividir o estágio com você lá no Hospital

Universitário Onofre Lopes, espero que possamos nos encontrar muito ainda. And dreams of

PARADISE, sempre!

A Marcella Medeiros e Laura Tauanny, meus amorzinhos! Que desde o início do curso

estiveram comigo, não consigo descrever tudo que vivemos nestes anos, só sei dizer que foi

LINDO!

Agradeço ainda a todas as profissionais do Serviço Social do Hospital Universitário

Onofre Lopes, local na qual através do meu estágio curricular pude apreender mais sobre a

política de saúde e a prática profissional de Assistentes Sociais. Meu muito obrigado também

as profissionais que aceitaram participar da pesquisa deste trabalho, espero que contribua para

a categoria.

Queria ainda agradecer a Professora Ângela e a Assistente Social Virgínia por terem

aceitado e se disponibilizado participar da banca examinadora deste trabalho. Obrigado pela

contribuição!

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A turma Serviço Social 2012.2, sentirei saudades de todas/os, o meu muito obrigado

pelas parcerias, pela troca de saberes e pelo crescimento. Cada uma/um com seu jeito de ser

conseguiu marcar estes anos.

Enfim, neste ciclo que se encerra o sentimento é de gratidão e felicidade!

“E o fim é belo incerto, depende de como você vê

O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só.”

(O Teatro Mágico - Fernando Anitelli)

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“Ai daqueles que pararem com sua capacidade

de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e

denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar

de vez em quando o amanhã pelo profundo

engajamento com o hoje, com o aqui e o agora,

se atrelarem a um passado de exploração e de

rotina.”

(Paulo Freire)

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RESUMO

O presente trabalho busca apreender a política de saúde brasileira, em especial, no contexto

neoliberal que se instala no Brasil nos anos 1990. A partir desse contexto, analisamos as

particularidades do trabalho de Assistentes Sociais inseridos nos serviços de saúde, situando

essa análise no cenário do Hospital Universitário Onofre Lopes. O direito universal à saúde,

conquistado pelas lutas populares e instituído através da Constituição Federal de 1988, tem

sofrido impasses para sua efetivação. O Sistema Único de Saúde (SUS) é perpassado por

diversos desafios, e na conjuntura atual do capitalismo financeiro, estes desafios têm se

tornado ainda mais complexos. É nesse cenário que Assistentes Sociais têm sido provocados a

proporem alternativas em seu cotidiano profissional que propiciem a efetivação dos direitos

sociais. A metodologia utilizada foi baseada na pesquisa qualitativa, e a coleta de dados

realizou-se através de entrevistas semi-estruturadas com Assistentes Sociais no Hospital

Universitário Onofre Lopes. Com isso, foi possível apreender as particularidades da inserção

do Serviço Social no HUOL, entendendo os atuais desafios, a exemplo da Empresa Brasileira

de Serviços Hospitalares – EBSERH. A análise dos dados baseou-se no método crítico

dialético buscando apreender a totalidade do fenômeno em questão. Os resultados mostram

que nos marcos da financeirização do capital, o projeto de saúde articulado ao mercado tem

ganhado ainda mais espaço, requerendo de Assistentes Sociais uma intervenção profissional

de luta e resistência.

Palavras-chave: Política de Saúde; Neoliberalismo; Serviço Social; Direito a Saúde.

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ABSTRACT

This present paper deliberate about the Brazilian’s health’s policy, specially in the

neoliberal’s aspects that settles in Brazil since 1990’s. From this thought we have analyzed

the particularities from the Social Worker’s work insert in the health service, this analyses

was situated in the Hospital Universitário Onofre Lopes’s context. The universal right to

health, conquered in the popular struggles, established by the Federal Constitution from 1988,

has been through deadlocks to be made affective. The Brazilian National Health System

(SUS) is permeated by several challenges, and in the current situation of the finance

capitalism, this challenges have become even more complex. It is in this scenario that the

Social Workers has been caused to propound alternatives in they daily work that propitiate the

social rights effectuation. The methodology was based on qualitative research and the data

collection was carried out through semi-structured interviews with social workers at the

University Hospital Onofre Lopes. Thus, it was possible to understand the particularities of

the insertion of Social Work in HUOL, understanding the current challenges, as the example

of the Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. Data analysis was based on

the critical method dialectical seeking to seize the entire phenomenon. The results show that

in the financialization of capital's landmarks, the health project articulated the market has

gained even more space, requiring social workers to a professional intervention of struggle

and resistance.

KeyWords: Health Policy; Neoliberalism; Social Service; Health Rights

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Assistentes Sociais em defesa da nossa saúde 17

Figura 02 A gente quer saúde pública com qualidade 23

Figura 03 O Serviço Social grita: saúde pública é direito do povo brasileiro 63

Figura 04 A Frente Nacional Contra a Privatização adverte: a privatização faz mal a

saúde 95

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Índice de Desenvolvimento Humano dos Estados Brasileiros 37

Tabela 02 Especialidades médicas existentes no HUOL 79

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Participação do Ministério da Saúde no Orçamento da União (1961-1980) 47

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABRASCO – Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

CAPs – Caixas de Aposentadoria e Pensões

CAPS – Centros de Apoio Psicossocial

CDI – Centro de Diagnóstico por Imagem

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos da Saúde

CF – Constituição Federal

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CLT – Consolidação das Leis de Trabalho (Regime Celetista)

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DSEIs – Distritos Sanitários Especiais Indígenas

EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

ELA – Ambulatório Multidisciplinar de Doenças do Neurônio Motor Esclerose Lateral

Amiotrófica

ESF – Estratégia Saúde da Família

FHC– Fernando Henrique Cardoso

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

FMI– Fundo Monetário Internacional

HIV– Vírus da Imunodeficiência Humana

HUOL – Hospital Universitário Onofre Lopes

HUs – Hospitais Universitários

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IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

LAC – Laboratório de Análises Clínicas

MARE – Ministério da Administração e da Reforma do Estado

MEC – Ministério da Educação

MP – Medida Provisória

NASF – Núcleos de Apoio a Saúde da Família

NEF – Núcleo de Estudos Do Fígado

ONU – Organização das Nações Unidas

OPEP– Organização dos Países Exportadores de Petróleo

OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

OSs – Organizações Sociais

PCCS – Planos de Cargos, Carreiras e Salários

PDRE – Plano Diretor da Reforma do Estado

PIB – Produto Interno Bruto

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNI – Programa Nacional de Imunizações

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPC – Poder de Paridade de Compra

PROVAB – Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção Básica

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RAPS – Redes de Atenção Psicossocial

REHUF – Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais

RJU – Regime Jurídico Único

RN – Rio Grande do Norte

RNB – Renda Nacional Bruta

SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatístico

SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SCODE – Serviço de Cirurgia da Obesidade e Doenças Relacionadas

SNT – Sistema Nacional de Transplantes

SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

UASCA – Unidade de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UPA – Unidades de Pronto Atendimento

UTAD – Unidade de Tratamento de Alcoolismo e Outras Dependências

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 17

2. A POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA EM TEMPOS NEOLIBERAIS ........ 23

2.1 Capitalismo Contemporâneo e Neoliberalismo: o máximo para o capital e o

mínimo para a classe trabalhadora......................................................................... 24

2.2 O Percurso da Saúde Brasileira.............................................................................. 39

2.3 Desafios da Efetivação do SUS Sob a Égide do Capital Financeiro..................... 50

2.3.1 A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)...................... 59

3. O TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE: AS

PARTICULARIDADES DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES

..................................................................................................................................... 63

3.1 Primeiras Intervenções do Serviço Social na Área da Saúde ............................... 64

3.2 O Serviço Social na Saúde na Contemporaneidade .............................................. 71

3.3 O Hospital Universitário Onofre Lopes e sua Estrutura de Funcionamento.......... 77

3.4 O Cotidiano Profissional de Assistentes Sociais no HUOL ..................................81

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 95

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 99

APÊNDICES............................................................................................................. 105

Apêndice A ............................................................................................................... 105

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1. INTRODUÇÃO

Figura 01. Disponível em: http://www.cress-mg.org.br/Imprimir/341921b9-d0bf-4e65-831e-

c620ee19702e. Acesso em 12 de Junho de 2016.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico busca apreender a política de saúde brasileira com

destaque para os desafios impostos no capitalismo contemporâneo, e, a partir desta reflexão, é

abordado o trabalho de assistentes sociais inseridos no contexto do Hospital Universitário

Onofre Lopes (HUOL).

A escolha do tema origina-se da vivência do Estágio Curricular Obrigatório no curso

de Serviço Social que foi realizado no HUOL, durante dois semestres (2015.1 e 2015.2), que

despertou a curiosidade em compreender mais a política de saúde brasileira, como também, a

prática profissional dos assistentes sociais.

O objetivo deste trabalho é compreender os atuais desafios colocados aos Assistentes

Sociais inseridos no HUOL, particularmente no contexto após a adesão a Empresa Brasileira

de Serviços Hospitalares – EBSERH.

A partir disso, é necessário conhecer a conjuntura neoliberal que se instala no país

mais precisamente nos anos 1990, o contexto de criação e efetivação do Sistema Único de

Saúde, seus avanços e limites, e o caráter da intervenção do Serviço Social na área de saúde

na atualidade, com isso, compreender os desafios atuais da profissão para a concretização do

seu Projeto Ético-Político.

Vivemos dias difíceis para a implementação da política de saúde brasileira pensada a

partir da Constituição Federal de 1988. A saúde como direito de todos e dever do Estado,

conquistada na árdua luta do povo, tem sofrido impactos dos ajustes neoliberais, que, dia após

dia, tem permitido regressão dos direitos sociais.

Pensar os desafios que a política de saúde brasileira tem enfrentado é notar um cenário

amplo, com correlações de forças diversas, nos quais, profissionais de saúde são desafiados

diariamente a agir na perspectiva de afirmar o direito à saúde.

A Constituição de 1988 foi fundamental para a democratização do acesso igualitário e

universal a saúde, criando um novo modelo de assistência. As mudanças ocorridas a partir do

processo constituinte foi fruto de reivindicação popular e das lutas pautadas pelos

movimentos sociais, em especial, o movimento da Reforma Sanitária, que deu bases à

construção do Sistema Único de Saúde (SUS).

O capitalismo contemporâneo tem usado como tendência geral a redução de direitos,

sob o argumento da crise fiscal do Estado, que segundo Pereira (1993) seria uma incapacidade

do Estado em atender as demandas cada vez maiores dos vários setores da economia.

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Sendo assim, as políticas sociais brasileiras, como afirma Behring e Boschetti (2011)

tem sido profundamente ligadas à política econômica e seguiu os caminhos da privatização,

focalização, seletividade e descentralização.

Nisso, apesar das inovações propostas na Constituição Federal de 1988 o Estado tem

se submetido cada vez mais aos interesses econômicos e políticos do que aos interesses

sociais, penalizando assim a classe trabalhadora.

Mesmo com alguns avanços, há uma persistência da desigualdade social no Brasil. A

concentração de renda ainda é um fator que tem permanecido. Conforme pesquisa realizada

em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os 40% mais pobres da

população brasileira eram responsáveis por 13,3% da renda total do país, enquanto os 10%

mais ricos tinham 41,9%.

Dessa forma, as desigualdades sociais, econômicas e políticas têm sido observadas de

perto no contexto brasileiro, a questão social tem se expressado nas suas mais variadas

formas. As particularidades brasileiras, sua formação histórica e suas dificuldades, têm pesado

fortemente no processo de proteção social, que nos remete a lembrança de que os direitos

conquistados não podem ser perdidos.

Os serviços de saúde brasileiros nem sempre tiveram a intervenção estatal, as

primeiras assistências médicas eram de caráter filantrópico. A assistência à saúde geralmente

era prestada pelas Santas Casas de Misericórdia. Com o passar do tempo, mas precisamente

no início do século XX, é que a questão de saúde aparece como questão a ser tratada pelo

Estado.

A política de saúde brasileira formulada no período de 1930 a 1964 era organizada em

dois subsetores: o de saúde pública e o de medicina previdenciária. O subsetor de saúde

pública se centralizará na criação de condições sanitárias mínimas para as populações urbanas

e muito restritamente para as do campo. (BRAVO, 2009, p.91).

Logo, a história da saúde brasileira foi pautada em uma cobertura não universal, de

caráter mínimo, excluindo grande parte da população.

A saúde enquanto direito universal, começa a ser pautada na década de 1980, pelo

movimento de reforma sanitária e foi na 8a

Conferência Nacional de Saúde, realizada em

1986, que se debateram propostas como a universalização do acesso à saúde, a concepção de

saúde como direito social e dever do Estado e sua reestruturação através de um sistema único.

Então, temos a partir da Constituição Federal de 1988, alguns avanços, como a criação

do SUS, e o acesso universal à saúde. Hoje, a efetivação destes avanços tem sido verdadeiros

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desafios, haja vista a conjuntura neoliberal que implica diretamente no retrocesso das políticas

sociais.

É nesse contexto que Assistentes Sociais são chamados a inserir sua prática na

intenção de efetivar e ampliar os direitos sociais.

É diante dessas indagações que surge esse trabalho, numa perspectiva de compreender

um pouco mais da conjuntura na qual a política de saúde está inserida atualmente e que

particularidades permeiam o âmbito profissional de assistentes sociais inseridos em

determinado serviço de saúde.

Para isso, a metodologia utilizada baseou-se na pesquisa qualitativa, sendo importante

a pesquisa bibliográfica, como também a pesquisa de campo, que se realizou através de

entrevistas semi estruturadas e aplicação de questionários.

Segundo Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um

lado a resolução de um problema pode ser obtido através dela, por outro, tanto a pesquisa de

laboratório como a de campo exigem, como premissa, o levantamento de estudo da questão

que se propõe a analisar e solucionar, sendo assim, a pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser

considerada também o primeiro passo de toda pesquisa científica.

Dessa forma, para se aproximar teoricamente do tema, que permitisse um amplo

conhecimento utilizamos como autores principais: Barroco e Terra (2012); Behring (2003);

Behring e Boschetti (2011); Bravo (2013); Cislaghi (2011); Guerra (2009); Iamamoto (2001);

Matos (2013); Netto e Braz (2010); Vasconcelos (2009); Sodré (2013). Além destes autores

utilizei a Constituição Federal de 1988, que respalda juridicamente o direito à saúde; os

Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, publicado pelo Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS) em 2010; a Carta de Serviços ao Cidadão do HUOL, além

de diversos materiais produzidos pelo Ministério da Saúde, a exemplo, o roteiro cronológico

da saúde pública brasileira.

Além do mais, na pesquisa de campo utilizei o questionário que estava composto por

questões previamente preparadas e apresentadas por escrito as entrevistadas. Para a

construção do questionário foi preciso refletir sobre os objetivos da pesquisa, se de fato, as

perguntas elaboradas responderiam aos objetivos estabelecidos.

De acordo com Labes (1998) a elaboração de um questionário requer algumas etapas,

a saber: análise dos objetivos e do problema de pesquisa, criação do questionário

propriamente dito, testagem e pré-testagem - verificar se as questões são coerentes com o

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projeto e se funcionariam como coleta de dados, distribuição e aplicação, tabulação dos dados

alcançados e análise e interpretação de dados.

As questões do questionário, segundo Gil (1999), podem vir em três tipos básicos:

questões fechadas, questões abertas e questões relacionadas. No nosso caso, foram utilizadas

questões fechadas e abertas. As fechadas são aquelas em que se apresentam alternativas de

respostas ao entrevistado, que escolhe a opção de resposta. Já as abertas são que aquelas em

que a pergunta é feita e o entrevistado responde da forma como preferir, sem sugestão de

resposta no enunciado, esse tipo de pergunta demanda uma tabulação mais complexa dos

dados e exige um pouco mais de tempo do participante.

A fim de utilizar os questionários através de uma comunicação verbal entre os

participantes e o pesquisador, utilizei de entrevista semi-estruturadas que, segundo Laville e

Dionne (1999), é uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista,

mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimentos, podendo, desta

forma, ter liberdade de intervenção.

A partir disso, as reflexões e análises foram feitas de acordo com o método crítico

dialético, que pensa a realidade não como algo dado ou estabilizado, mas uma realidade em

processo, em movimento.

O método de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência,

visa alcançar a essência do objeto, ou seja, para Marx e para todos os pensadores dialéticos, a

distinção entre aparência e essência é fundamental, não cabe ao pesquisador somente “olhar”

ou “mirar” o seu objeto. (NETTO, 2011, p. 22).

É assim que esse trabalho toma forma e se expressa em dois capítulos. O primeiro de

forma mais geral aborda sobre a política de saúde no neoliberalismo e se desenvolve em três

itens e um sub-item. O primeiro item discorre sobre a atual configuração capitalista, o

neoliberalismo e seus rebatimentos nas políticas sociais e no agravamento da questão social;

já o segundo item, retrata o percurso da saúde brasileira, desde os antecedentes a ação estatal

até o processo constituinte de 1988; e o terceiro item, fala sobre os avanços posterior a

Constituição Federal de 1988 e os atuais desafios que o Sistema Único de Saúde tem

enfrentado, nisso, elaboramos um sub item, no qual se aborda a Empresa Brasileira de

Serviços Hospitalares (EBSERH), considerada neste trabalho, resultado das políticas

neoliberais que se instalam no Brasil a partir da década de 1990.

Já no segundo capítulo, de forma mais ampla tratamos sobre o trabalho de Assistentes

Sociais na política de saúde. No decorrer do capítulo os itens se estruturam da seguinte

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maneira: primeiro, é retratado o caráter das primeiras intervenções de Assistentes Sociais na

saúde, e em seguida, situamos a atuação do Serviço Social na saúde na contemporaneidade.

Posterior a isso, no mesmo capítulo, particularizamos o lócus da pesquisa que é o

Hospital Universitário Onofre Lopes e depois falamos sobre o cotidiano profissional das

Assistentes Sociais inseridas no HUOL. Neste item, é que sistematizamos as entrevistas

realizadas, que totalizaram cinco entrevistas, com três profissionais advindas do concurso

realizado pela EBSERH e outras duas concursadas há mais tempo pela UFRN.

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2. A POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA EM TEMPOS NEOLIBERAIS

Figura 02. Disponível em:

http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=/editor/../arquivos/cfessmanifesta20

11_ccon.saude-SITE.pdf. Acesso em 12 de Junho de 2016.

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2. A POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA EM TEMPOS NEOLIBERAIS

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação.”

(Art. 196, Constituição Federal de 1988)

2.1 - Capitalismo Contemporâneo e Neoliberalismo: o máximo para o capital e o mínimo

para a classe trabalhadora

No cenário atual do capitalismo, que se inicia nos anos setenta do século XX e

continua a ter no centro o protagonismo dos monopólios, constitui a terceira fase do estágio

imperialista, mais especificamente a fase da mundialização do capital financeiro.

A crise na transição da década de sessenta à de setenta, pôs fim ao chamado “anos

dourados” 1 e levou o capital monopolista a dar um conjunto de respostas que transformou a

cena mundial, foram transformações econômicas, sociais, políticas e culturais que ainda

acontecem em um ritmo extremamente acelerado.

Conforme Netto e Braz (2010) o capitalismo monopolista entra nos anos sessenta

mostrando crescimento econômico e taxas de lucros compensadoras, nos países capitalistas

centrais. Apesar das enormes desigualdades sociais, prometia-se aos trabalhadores a

possibilidade de um consumo de massa, cujo símbolo maior era o automóvel; nos países

periféricos, projetos industrializantes apareciam como a via para superar o

subdesenvolvimento. Nos centros, chegou-se a apregoar a “integração da classe operária”; nas

periferias, o “desenvolvimentismo” era a receita para curar os males do atraso econômico-

social.

Porém, a partir desses anos, a onda expansiva se esgotou. O crescimento econômico

reduziu e as taxas de lucro começaram a declinar. Entre 1971 e 1973, dois fatos demonstram

este declínio: o colapso do ordenamento financeiro mundial, com a decisão norte-americana

de desvincular o dólar do ouro, e o choque do petróleo, com a alta dos preços determinada

1 Segundo Netto e Braz (2010) os “anos dourados” expressam a longa onda de expansão econômica, no qual, o

crescimento econômico e taxas de lucro mantiveram-se ascendentes entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a

segunda metade dos anos sessenta.

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pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo/OPEP. (NETTO e BRAZ, 2010, p.

213).

Além disso, não foi somente a redução do ritmo de crescimento e a queda das taxas de

lucro. Ao longo dos anos sessenta e no início dos anos setenta, o peso do movimento sindical

aumentou significativamente nos países centrais, demandando não somente melhorias

salariais, mas contestando a organização da produção nos moldes taylorista-fordista, junto

com os movimentos de categorias específicas, lançando na cena outros sujeitos políticos,

dessa forma, apareciam em cena o movimento estudantil, a mobilização dos negros norte-

americanos em defesa de direitos civis, e o movimento feminista, que se tornava mais visível.

(NETTO e BRAZ, 2010, p. 213-214).

O fim da longa onda expansiva é decretado em 1974-1975, no qual se registra uma

recessão generalizada, que envolve simultaneamente todas as grandes potências imperialistas,

a partir daí e até os dias atuais, as crises voltam a ser dominantes, tornando-se episódicas as

retomadas.

Com isso, o capital monopolista formulou e implementou o conjunto de respostas

que, hoje, trinta anos depois, não alteraram o perfil da longa onda recessiva. O crescimento

permanece reduzido e as crises se amiudaram, porém, as taxas de lucro foram restauradas.

Netto e Braz (2010) sintetizam tais respostas como uma estratégia articulada em um tripé: a

reestruturação produtiva, a financeirização e a ideologia neoliberal.

Como vimos, no plano da economia e no plano político, a conjuntura do final dos anos

sessenta e início dos anos setenta, não era nada favorável ao capital monopolista, que se

encontrava na defensiva. Constatava-se uma desaceleração do crescimento, assim como uma

rápida queda das taxas de lucro, e aumentavam os custos das garantias conquistadas pelo

trabalho, mediante o reconhecimento dos direitos sociais. O capital monopolista instaura

estratégias políticas para reverter à conjuntura que lhe é francamente negativa, o primeiro

passo é o ataque ao movimento sindical através de medidas legais restritivas, que reduzem o

poder de intervenção do movimento sindical. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 215).

O esgotamento da modalidade de acumulação denominada rígida, o taylorismo-

fordismo, abre espaço para a introdução que vai caracterizar a terceira fase do estágio

imperialista, a acumulação flexível.

A acumulação flexível [...] se apoia na flexibilidade dos processos de

trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.

Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos,

novas maneiras de fortalecimento de serviços financeiros, novos mercados e,

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sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica

e organizacional. (NETTO e BRAZ, 2010 apud HARVEY, 1993, p. 140).

É à base dessa flexibilidade que a reestruturação produtiva2 efetiva-se. Por

conseguinte, a produção rígida é substituída por um tipo diferenciado de produção, que, da

mesma forma anterior mantém a característica de se realizar em grande escala, porém, ela

destina-se agora a mercados específicos, buscando atender variabilidades culturais e

regionais, voltando-se para as peculiaridades de nichos particulares de consumo.

Segundo Netto e Braz (2010) o capital, neste momento, lança-se de um movimento de

desconcentração industrial, promovendo a desterritorialização da produção, ou seja, unidades

produtivas são deslocadas para novos espaços territoriais, onde a exploração da força de

trabalho pode ser mais intensa (seja pelo seu baixo preço, seja pela ausência de legislação

protetora do trabalho e de tradições de luta sindical). Além disso, é essencial ao processo de

reestruturação produtiva, uma intensa incorporação à produção de tecnologias resultantes de

avanços técnico-científicos, o que determina um desenvolvimento das forças produtivas que

reduz enormemente a demanda de trabalho vivo.

Dessa maneira, o contexto da reestruturação produtiva traz implicações imediatas para

a classe trabalhadora, através das características deste regime de acumulação. Uma primeira

implicação refere-se ao trabalhador coletivo, que, a cada dia, tornam-se mais amplas e

complexas as operações e atividades intelectuais requeridas para a produção material. Uma

segunda implicação se refere à capacidade do trabalhador de participar de atividades

múltiplas, com isso, a força de trabalho deve ser qualificada e polivalente. E uma terceira

implicação, relaciona-se a gestão dessa força de trabalho, diferente do modelo taylorista-

fordista, o controle da força de trabalho pelo capital neste momento, apela a “participação”, ao

“envolvimento”, utilizando de “equipes de trabalho”. Assim sendo, o capital empenha-se em

quebrar a consciência de classe dos trabalhadores, mistificando as relações sociais e

2 Conforme Alves (2007), no século XX, a reestruturação produtiva do capital foi marcada pelas inovações

fordistas-tayloristas. Foi um longo processo de mutações sócio-organizacionais e tecnológicas que alteraram a

morfologia da produção de mercadorias em vários setores da indústria e dos serviços. Fordismo e taylorismo

foram as principais ideologias orgânicas da produção capitalista no século XX, tornando-se “modelos

produtivos” do processo de racionalização do trabalho capitalista no século passado. A introdução dos novos

“modelos produtivos” foi lenta, desigual e combinada, percorrendo maior parte do século XX. Ela atingiu de

forma diferenciada países e regiões, setores e empresas da indústria de serviços. O que surge hoje, com o novo

complexo da reestruturação produtiva, o toyotismo, é tão somente mais um elemento compositivo do longo

processo de racionalização da produção capitalista e da manipulação do trabalho vivo que teve origem com o

fordismo-taylorismo.

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produtivas, na qual o trabalhador não é visto mais como “empregado” ou “operário”, mas,

como “colaboradores”, etc. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 216-217).

Todas as estratégias criadas e efetivadas pelo capital têm o objetivo comum de reverter

à queda da taxa de lucro e criar novas condições para a exploração da força de trabalho.

Compreende-se neste modo, que os ônus de todas elas recaiam fortemente sobre os

trabalhadores, desde a redução salarial à precarização do emprego. Considerando, pois:

[...] sob o capitalismo contemporâneo, o mercado de trabalho foi

substantivamente alterado: com a reestruturação produtiva, nas grandes

empresas o conjunto de trabalhadores qualificados e polivalentes que

mencionamos há pouco e que dispõe de garantias e direitos constitui um

pequeno núcleo; o grosso dos outros trabalhadores, conformando uma

espécie de anel em torno desse pequeno núcleo, muitas vezes está vinculado

a outras empresas (mediante a terceirização de atividades e serviços) e

submetido a condições de trabalho muito diferentes das oferecidas àquele

núcleo – alta rotatividade, salários baixos, garantias diminuídas ou

inexistentes, etc. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 219).

À vista disso, considera-se que neste período do capitalismo contemporâneo, o

desemprego maciço torna-se um fenômeno permanente, como afirma Netto e Braz (2010), se,

nos estágios anteriores, o desemprego oscilava entre taxas aceitáveis e taxas muito altas, agora

todas as indicações asseguram que a crescente enormidade do exército industrial de reserva

torna-se irreversível.

Em meio a estas particularidades, apreende-se, pois, que uma das características mais

marcantes do capitalismo contemporâneo é a potencialização da questão social, que continua

sendo naturalizada, mas, acrescida da criminalização do pauperismo e dos pobres.

Desse modo, a precarização e a informalização das relações de trabalho trouxeram de

volta formas de exploração que pareciam próprias do passado (aumento das jornadas, trabalho

infantil, salário diferenciado para homens e mulheres, trabalho semi-escravo ou escravo) e, ao

final do século XX, a classe trabalhadora não padece apenas na periferia, mas também nos

países centrais a lei geral da acumulação capitalista3 (NETTO e BRAZ, 2010, p. 220-221).

Nessa conjuntura, o capitalismo contemporâneo toma rumo e assume novos domínios,

até então ainda não conquistados, concentrando ainda mais o poder nas mãos do grande

capital. Nas áreas onde o comando do capital já existia, registra-se sua expansão, como é o

3 Segundo Netto e Braz (2010), desde a constituição de uma base urbano-industrial da sociedade capitalista, o

que se tem de resultado da acumulação é, simultaneamente, um enorme crescimento da riqueza social e um

igualmente enorme crescimento da pobreza. Referem-se ao conceito da lei geral da acumulação capitalista em

Marx.

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caso da indústria cultural, que vai abarcar os campos das telecomunicações, do

entretenimento, do turismo, do lazer e dos esportes, verifica-se ainda, a ascensão do capital na

prestação de serviços educacionais e médico-hospitalares, porém, o avanço mais impactante

ocorreu no âmbito das atividades financeiras, caracterizando-se como o processo de

financeirização que trataremos mais adiante.

Logo, controlados pelo grande capital, todos os serviços passam a obedecer a uma

lógica industrial, sendo que, esta lógica transcorre agora todos os setores da vida social, ou

seja, é nesses novos domínios em que ingressa que a expansão do capital tem o seu alcance

mais extraordinário.

Como já foi aqui citado, o monopólio capitalista adentra em todos os aspectos, sejam

eles sociais, econômicos, políticos e culturais, com isso, “a concentração de poder econômico

conduziu e está conduzindo a uma enorme concentração de poder político.” (NETTO e

BRAZ, 2010, p. 224).

Tomando conhecimento disso, é importante frisar o caráter antidemocrático do

capitalismo, em especial, do capitalismo monopolista, que, ao mesmo tempo em que

desqualificam a política, ladeando as instâncias representativas (parlamentos, assembleias

legislativas), realizam a sua política, tomando decisões estratégicas que afetam

cotidianamente a vida de bilhões de pessoas.

Esta política conduzida pelo grande capital passa a partir dos anos setenta do século

XX, a agir também através de instituições, agências e entidades de caráter supranacional,

como é o caso do Fundo Monetário Internacional – FMI, o Banco Mundial e organismos

vinculados à Organização das Nações Unidas - ONU.

O grande capital vem, portanto, utilizando-se diretamente das ações destes órgãos para

implementar as estratégias que lhes são convenientes. Tais instituições, já citadas à cima, tem

forte poder de pressão sobre os Estados capitalistas mais fracos, que permitem impor desde a

orientação macroeconômica, comumente direcionada aos chamados “ajustes estruturais”, até

providências e medidas de menor abrangência.

Isto posto, entende-se que as estratégias do capital destrói as regulamentações que lhe

foram conferidas como resultado das lutas do movimento operário e das camadas

trabalhadoras. O processo de desmontagem dos vários tipos de Welfare State4 é um exemplo

4 O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês: Welfare State é um sistema

econômico baseado na livre-empresa, mas com acentuada participação do Estado na promoção de benefícios

sociais. Seu objetivo é proporcionar ao conjunto dos cidadãos padrões de vida mínimos, desenvolver a produção

de bens e serviços sociais, controlar o ciclo econômico e ajustar o total da produção, considerando os custos e as

rendas sociais. Não se trata de uma economia estatizada; enquanto as empresas particulares ficam responsáveis

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dessa estratégia nos dias de hoje, no qual prioriza a supressão dos direitos sociais

historicamente conquistados (apresentados como privilégios aos trabalhadores). (NETTO e

BRAZ, 2010, p. 225-226)

Em escala mundial, a tática do grande capital tende a romper com todas as barreiras

sociopolíticas, e não somente com aquelas que dizem respeito às suas relações com o

trabalho. Para isso, foi preciso legitimar a divulgação maciça do conjunto ideológico que se

difundiu sob a designação de neoliberalismo.

Essa ideologia legitima precisamente o projeto do capital monopolista de

romper com as restrições sociopolíticas que limitam a sua liberdade de

movimento. [...] o Estado foi demonizado pelos neoliberais e apresentado

como um trambolho anacrônico que deveria ser reformado – e, pela primeira

vez na história do capitalismo, a palavra reforma perdeu o sentido tradicional

de conjunto de mudanças para ampliar direitos; a partir dos anos oitenta do

século XX, sob o rótulo de reforma(s) o que vem sendo conduzido pelo

grande capital é um gigantesco processo de contra-reforma(s), destinado à

supressão ou redução de direitos e garantias sociais. (NETTO e BRAZ,

2010, p. 227).

Sabe-se, portanto, que a economia capitalista não se sustenta sem a intervenção estatal,

por isso, o grande capital continua demandando essa intervenção. Fica claro, então, que o

objetivo real do capital monopolista não é a diminuição do Estado, mas a diminuição das

funções estatais fundamentais à concretização dos direitos sociais. O que denota ao conceito

de Estado mínimo, mínimo para o trabalho e máximo para o capital.

É preciso entender ainda, como se dar na concretude essa ofensiva do capital que

começa tendo como alvo a regulamentação das relações de trabalho, na chamada

pelo incremento e realização da produção, cabe ao Estado a aplicação de uma progressiva política fiscal, de

modo a possibilitar a execução de programas de moradia, saúde, educação, Previdência social, seguro-

desemprego e, acima de tudo, garantir uma política de pleno emprego. O Estado do bem-estar corresponde

fundamentalmente às diretrizes estatais aplicadas nos países desenvolvidos por governos social-democratas. Nos

Estados Unidos, certos aspectos do Estado do bem estar desenvolveram-se particularmente no período de

vigência do New Deal. Segundo Paul Sweezy, economista norte-americano, alguns rudimentos do Estado do

bem-estar foram aplicados no governo de Bismarck (1815-1898), no Império Germânico. No campo teórico, o

ponto de partida da formulação dos contornos do Estado do bem-estar tem seus fundamentos na obra de A.C.

Pigou, Economics of Welfare (Economia do Bem-estar), 1920. Posteriormente, sua natureza foi rigorosamente

analisada e defendida pelo economista inglês John Strachey e pelo sueco Gunnar Myrdal. Para Myrdal, trata-se

de uma economia organicamente estruturada pela ação do poder público. Essa intervenção ocorre no plano dos

poderes central, estadual e municipal. Ao mesmo tempo, o controle público sobre a economia é limitado pelo

controle que a sociedade civil tem sobre o Estado. Embora Myrdal tenha como ponto de referência para a sua

análise as social-democracias escandinavas, ele afirma que o Estado do bem-estar é ainda um objetivo futuro.

Será, segundo ele, uma sociedade na qual se torne possível a realização dos princípios de fraternidade, liberdade

e igualdade, prometidos pela Revolução Francesa. Mesmo discordando de Karl Marx, o ensaísta sueco diz que o

Estado do bem-estar, no futuro, corresponderá ao “reino da felicidade”, sonhado pelo autor de O Capital.

(SANDRONI, 1999, p. 220-221).

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flexibilização, e avança no sentido de reduzir, mutilar e privatizar os sistemas de seguridade

social, o grande capital fixou reformas que retiraram do controle estatal empresas e serviços,

através do processo de privatização da coisa pública, mediante o qual o Estado entrega ao

capital, para exploração privada e lucrativa, complexos industriais inteiros e serviços de

primeira importância. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 228).

Uma das mais importantes transformações que o capitalismo na sua fase imperialista

vem passando, se refere ao processo designado como financeirização do capital, sendo

propiciado pelos recursos informacionais, que garantem comunicações instantâneas entre

agentes econômicos situados nos mais distantes lugares do planeta, tal processo tem suporte

na gigantesca concentração do sistema bancário e financeiro.

É no marco da financeirização do capitalismo que se tornam inteligíveis as questões da

dívida externa de muitos países periféricos e também as propostas de ajuste de suas

economias, através das reformas recomendadas e monitoradas por agencias internacionais,

notadamente o Fundo Monetário Internacional, que representam justamente os interesses da

oligarquia das finanças. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 234).

O capitalismo contemporâneo, portanto, alterou consideravelmente o mundo em que

vivemos. São transformações no âmbito das cidades, nas relações de trabalho e também na

vida privada dos indivíduos.

Todas estas transformações promovidas pelo capitalismo contemporâneo resultam em

alterações no proletariado, no conjunto dos assalariados, na estrutura de classes, nos sistemas

de poder, enfim, na totalidade social que é constituída pela sociedade burguesa. Sem dúvidas,

a ofensiva dada pelo capital sobre o trabalho, significou e significa uma regressão social

inimaginável há alguns anos.

A ofensiva do capital, no processo da sua mundialização, não resultou

apenas na criação do maior contingente histórico de desempregados,

subempregados e empregados precarizados e na exponenciação da ‘questão

social’; nem o anverso do ‘pós-fordismo’ é somente a restauração de normas

de exploração de homens e mulheres que o próprio capitalismo parecia ter

superado. Igualmente, não resultou só na criação do mito da ‘sociedade do

consumo’ nem numa retórica segundo a qual o cidadão consumidor deve ser

o centro da atenção das empresas – resultou ainda na realidade das empresas

que se valem, através da publicidade, de todos os recursos possíveis para

enganar e manipular consumidores, ocultando o fato de planejarem a

obsolescência das suas mercadorias. (NETTO e BRAZ, 2010 apud HAUG,

1997).

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Fazendo menção ao que já foi elucidado até agora, a crise capitalista que se

desenvolveu ao longo da década de 1970, alterou profundamente as formas de produção e de

gestão do trabalho diante das exigências do mercado mundial comandado pelo capital

financeiro, disso, surgiu densas alterações nas relações entre o Estado e a sociedade. Com

isso, novas mediações históricas reconfiguram a questão social na cena brasileira frente à

conjuntura de mundialização do capital.

A lógica do regime de acumulação capitalista tende a provocar crises que se projetam

gerando recessões em todo o mundo. Nessa direção, o crescimento e a concentração desigual

de renda e o aumento da pobreza, são inerentes, na medida em que a lógica desse sistema se

acentua.

As mudanças econômicas, sociais e políticas acontecidas no Brasil a partir da segunda

metade da década de 1980, proporcionaram um contexto de várias transformações na

trajetória histórica brasileira.

De acordo com Behring (2003), a partir dos anos 1990, o Brasil adentrou em um

período marcado por uma nova ofensiva burguesa, mais uma vez adaptando-se às requisições

do capitalismo mundial. É um momento histórico com caraterísticas do pós-1964, mas,

certamente, configura-se como uma contrarreforma social e moral, na perspectiva de

recompor a hegemonia burguesa no país.

O processo de reforma do Estado ou contrarreforma significa a maneira na qual o

Estado desviou-se de suas funções básicas, ampliando sua presença no setor produtivo. Dessa

forma, deixando de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social para se

tornar o promotor e regulador, transferindo suas responsabilidades para o setor privado.

Conforme Behring e Boschetti (2011), ao longo dos anos 1990, propagou-se na mídia

falada e escrita e nos meios políticos e intelectuais brasileiros uma avassaladora campanha em

torno de reformas. Tais reformas eram orientadas para o mercado, num contexto em que os

problemas no âmbito do Estado brasileiro eram apontados como causas centrais da profunda

crise econômica e social vivida pelo país desde o início dos anos 1980. Reformando-se o

Estado, com ênfase especial nas privatizações e na previdência social, e acima de tudo,

desprezando as conquistas de 1988 no campo da seguridade social, estaria aberto o caminho

para o novo projeto de modernidade. O principal documento orientador dessa projeção foi o

Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE/MARE, 1995) com as formulações de Bresser

Pereira que estava à frente do Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE).

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As reformas instaladas promoveram mudanças objetivas nas condições de vida da

classe trabalhadora, mas sempre contidas e limitadas diante das possibilidades, e sempre sob

controle das classes dominantes. Os avanços promovidos através da Constituição de 1988, de

natureza reformista, foram possíveis numa conjuntura bastante particular, em um contexto de

reabertura democrática após uma ditadura de 20 anos.

O centro da reforma foi o ajuste fiscal, o reformismo neoliberal traz em si uma forte

incongruência entre o discurso da chamada reforma e a política econômica, argumentava-se

que o problema estaria localizado no Estado, e por isso seria necessário reformá-lo para novas

requisições, corrigindo distorções e reduzindo custos. (BEHRING e BOSCHETTI, 2011, p.

152).

Nesse contexto, a mídia usava de estratégias para facilitar uma verdadeira campanha

que legitimava as privatizações, entre os argumentos que as justificavam as estavam: atrair

capitais, reduzindo a dívida interna; obter preços mais baixos para os consumidores; melhorar

a qualidade dos serviços; e atingir a eficiência econômica das empresas, que estariam sendo

ineficiente nas mãos do Estado.

Nesse sentido, o que chama atenção na questão da privatização brasileira é que houve

entrega de parcela significativa do patrimônio público ao capital estrangeiro, bem como a não

obrigatoriedade das empresas privatizadas de comprarem insumos no Brasil, o que levou ao

desmonte de parcela do parque industrial nacional e a uma enorme remessa de dinheiro para o

exterior, ao desemprego e ao desequilíbrio da balança comercial. (BEHRING e BOSCHETTI,

2011, p. 153).

Ainda conforme Behring e Boschetti (2011) outro destaque no processo de reforma

do Estado brasileiro foi o Programa de Publicização que se caracterizava na criação de

agências executivas e das organizações sociais, bem como da regulamentação do terceiro

setor para a execução de políticas públicas. Junto a isso, somava-se o serviço voluntário, que

desprofissionalizava a intervenção na área social, remetendo-as ao mundo da solidariedade, da

realização do bem comum pelos indivíduos, através de um trabalho voluntário não

remunerado.

Além do mais, a separação entre formulação e execução das políticas, a

desresponsabilização pela política social, acompanhada do desprezo pelo padrão

constitucional da seguridade social, fortaleceram os ajustes neoliberais nas políticas sociais,

fortalecimento este que até hoje temos em forma de privatização, focalização ou seletividade

e descentralização.

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A tendência geral tem sido a de restrição e redução de direitos, sob o argumento da

crise fiscal do Estado. As políticas sociais têm sido cada vez mais compensatórias e pontuais,

direcionada aos pobres mais pobres, prevalecendo como afirma Behring e Boschetti (2011), o

trinômio do ideário neoliberal para as políticas sociais: a privatização, a focalização e a

descentralização. Sendo que, a descentralização é estabelecida não como partilhamento de

poder entre esferas públicas, mas como mera transferência de responsabilidades para entes da

federação ou para instituições privadas e novas modalidades jurídico-institucionais correlatas,

componente fundamental no processo de reforma.

Logo, os princípios estabelecidos na Constituição de 1988 para a Seguridade Social,

da universalidade, da uniformidade e equivalência, da seletividade e distributividade, da

irredutibilidade, da diversidade e do caráter democrático e descentralizado, deveriam provocar

mudanças profundas na saúde, na previdência e na assistência social, porém, não foi o que

aconteceu com a implementação das políticas na década de 1990, sendo assim, continuaram

sendo ações fragmentadas, desarticuladas e pulverizadas.

Conforme Behring e Boschetti (2011), a trajetória das políticas sociais brasileiras,

profundamente conectadas à política econômica monetarista e de duro ajuste fiscal, enveredou

pelos caminhos da privatização para os que podem pagar, da focalização/seletividade e

políticas pobres para os pobres, e da descentralização, vista como desconcentração e

desresponsabilização do Estado, apesar das inovações de 1988. Com isso, a escolha da

política econômica, associada ao perfil da política social, teve impactos danosos na sociedade

brasileira, acentuando as expressões objetivas da questão social.

Pensar a questão social no Brasil contemporâneo remete-nos a lembrança as profundas

alterações já referidas, produzidas pelo capital financeiro, que alterou significativamente as

relações entre Estado e sociedade. Nesse contexto de mundialização do capital, desencadeado

na década de 1970, a questão social assume novas configurações determinadas pelas

mediações históricas construídas.

É natural do capitalismo, a lógica do crescimento que redunda em maior concentração

de renda e aumento da pobreza, na qual, ampliam-se as desigualdades territorialmente, as

distâncias entre as rendas de trabalho e do capital e entre os rendimentos dos trabalhadores

qualificados e não qualificados, agravando consideravelmente a questão social e elevando os

índices de desemprego.

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Todas as mudanças já citadas acima, orientadas pela ótica neoliberal, tem sido

traduzidas nas políticas de ajuste recomendadas pelo Consenso de Washington.5 Fala-se na

necessidade de reduzir a ação do Estado para o atendimento das necessidades das grandes

maiorias mediante o corte dos gastos sociais, em prol da chamada crise fiscal do Estado. As

consequências disso é um amplo processo de privatização da coisa pública, o Estado fica cada

vez mais submetido aos interesses econômicos e políticos do grande capital, atendendo os

compromissos com as dívidas internas e externas.

Diante disso, estes processos não atingem somente a economia e a política, mas,

afetam as formas de sociabilidade. Atingem as formas culturais, a subjetividade, as

identidades coletivas, erodindo projetos e utopias. A debilidade das redes de sociabilidade em

sua subordinação às leis mercantis estimula atitudes e condutas centradas no indivíduo

isolado, em que cada um é livre para assumir riscos, opções e responsabilidades por seus atos

em uma sociedade de desiguais. (IAMAMOTO, 2010, p. 144).

Com isso, crescem os níveis de exploração e as desigualdades, assim como, no seu

avesso, as insatisfações e resistências presentes nas lutas cotidianas da classe trabalhadora.

A mundialização do capital também produz, de forma ampliada, a questão social em

nível mundial e não apenas nos países mais pobres, com maiores desigualdades e disparidades

econômicas. Espalha em todos os lados, até mesmo nos recantos mais sagrados do

capitalismo mundial, sob formas particulares e distintas, toda ordem de desigualdades.

Refletir a questão social na América Latina demanda compreender as particularidades

histórico-culturais das relações sociais na região, em suas dimensões econômicas, políticas,

culturais e religiosas, além de considerar a concentração de renda e poder e na pobreza das

5 Conjunto de trabalhos e resultado de reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados

Unidos realizadas em Washington D.C. no início dos anos 90. Dessas reuniões surgiram recomendações dos

países desenvolvidos para que os demais, especialmente aqueles em desenvolvimento, adotassem políticas de

abertura de seus mercados e o “Estado Mínimo”, isto é, um Estado com um mínimo de atribuições (privatizando

as atividades produtivas) e, portanto, com um mínimo de despesas como forma de solucionar os problemas

relacionados com a crise fiscal: inflação intensa, déficits em conta corrente no balanço de pagamentos,

crescimento econômico insuficiente e distorções na distribuição da renda funcional e regional. O resultado mais

importante dessas políticas (pelo menos no que se refere à América Latina) tem sido o êxito no combate à

inflação nos países em que, durante os anos 80 e mesmo no início dos anos 90, ela atingia níveis intoleráveis.

Além disso, o livre funcionamento dos mercados, com a eliminação de regulamentações e intervenções

governamentais, também tem sido uma das molas-mestras dessas recomendações. Embora os países que

seguiram tal receituário tenham sido bem-sucedidos no combate à inflação, no plano social as consequências

foram desalentadoras: um misto de desemprego, recessão e baixos salários, conjugado com um crescimento

econômico insuficiente, revela a outra face dessa moeda. Na medida em que alguns países, como a China, por

exemplo, têm combinado inflação baixa com crescimento econômico acelerado, sem ter seguido a cartilha do

Consenso de Washington, alguns autores vêm criticando, ultimamente, a rigidez dessas políticas e tentando

encontrar alternativas de tal forma a combinar um vigoroso combate à inflação com o progresso econômico e

social dos países em desenvolvimento. Esta última tendência vem sendo denominada Pós-Consenso de

Washington. (SANDRONI, 1999, p. 123).

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grandes maiorias. Exige conferir visibilidade aos sujeitos que constroem as histórias

nacionais: indígenas, negros, trabalhadores urbanos e rurais, mulheres, entre outros segmentos

que se diferenciam e arquitetam esse cenário. A questão social no contexto latino americano:

[...] se põe, nos espaços e no tempo, diferentemente da realidade europeia, na

instituição da nacionalidade, da esfera estatal, da cidadania, da implantação

do capitalismo. Em consequência, deverá ser entendida e datada de modo

distinto. (IAMAMOTO, 2010 apud WANDERLEY, 2000, p. 61).

Sendo assim, identificam-se semelhanças e diferenças na implementação das políticas

de ajuste estrutural na América Latina. As políticas neoliberais, como programas de governo,

não ocorreu simultaneamente, nem seguiu a mesma trajetória, a experiência pioneira foi no

Chile, em 1970, no México, na segunda metade de 1980, e no Brasil, nos anos 1990.

A inserção das políticas neoliberais afetou a participação do Estado na prestação direta

de serviços sociais e no seu financiamento por meio de impostos diretos e indiretos, com

distintos graus de progressividade. A política social, submetida aos ditames da política

econômica, é redimensionada ante as tendências de privatização, de corte nos gastos públicos

para programas sociais, focalizados no atendimento à pobreza e descentralizados na sua

aplicação. Os impactos da redução dos gastos sociais e a sua consequente deterioração dos

serviços sociais públicos dependeram fortemente das relações entre o Estado e a sociedade,

das desigualdades e das políticas sociais anteriormente existentes ao programa de “contra-

reformas”. (IAMAMOTO, 2010, p. 147).

Após os programas de ajustes neoliberais, não houve uma melhor distribuição de

renda, nem melhorias nos serviços públicos, acontece que, se acentuaram ainda mais as

expressões da questão social. Desta forma, o retrocesso no emprego, a distribuição regressiva

de renda e alargamento da pobreza, as desigualdades socioeconômicas, de gênero e de

territórios urbanos e rurais, são exemplos desse agravo de radicalização da questão social.

A lógica da política social tem sido a da privatização seletiva dos serviços sociais,

adotando-se a forma de compra de serviços privados com recursos do fundo público, em

outras palavras, o objetivo é cobrar os serviços sociais, transformando-os em mercadorias,

sendo assim, o ideário neoliberal subordina os direitos sociais à logica orçamentária e a

política social à política econômica.

São as definições orçamentárias que se tornam parâmetros para a implementação dos

direitos sociais implicados na seguridade, justificando as prioridades governamentais. O gasto

social é tido como uma das principais causas da crise fiscal do Estado, a proposta então é

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diminuir gastos, reduzir atendimentos, restringir meios financeiros, materiais e humanos para

os projetos.

É importante salientar, que, a questão social é indissociável da sociabilidade

capitalista, e particularmente, das formas assumidas na expansão monopolista do capital. A

gênese da questão social na sociedade burguesa deriva do caráter coletivo da produção em

contraponto à apropriação privada de seus frutos.

Assim sendo, a questão social condensa o conjunto das desigualdades e lutas sociais,

produzidas e reproduzidas no movimento contraditório das relações sociais, alcançando

plenitude de suas expressões e matizes em tempo de capital fetiche. As configurações

assumidas pela questão social integram tanto determinantes históricos objetivos que

condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto dimensões subjetivas, fruto da ação dos

sujeitos na construção da história. (IAMAMOTO, 2010, p.156).

Considerando a questão social como expressão das desigualdades inerentes ao

processo de acumulação e dos efeitos que produz sobre a classe trabalhadora, a questão social

não é um fenômeno recente, ela é:

[...] uma “velha questão social” inscrita na própria natureza das relações

sociais capitalistas, mas que, na contemporaneidade, se re-produz sob novas

mediações históricas e, ao mesmo tempo assume inéditas expressões

espraiadas em todas as dimensões da vida em sociedade. [...] (IAMAMOTO,

2010, p. 161).

Dessa forma, não se pode cair no conceito de pulverização e fragmentação da questão

social, atribuindo unilateralmente aos indivíduos e suas famílias a responsabilidade pelos

problemas vividos. É necessário o resgate do complexo de causalidades que determina as

origens da questão social, iminente ao modo de produção capitalista, considerando suas

particularidades históricas e suas expressões específicas.

Trata-se, hoje, como traz bem Iamamoto (2010), de uma renovação da “velha questão

social” inscrita na própria natureza das relações sociais capitalistas, sob outras roupagens e

novas condições sócio históricas na sociedade contemporânea, aprofundando suas

contradições e assumindo novas expressões na atualidade, sem portanto, eliminar a base que

constitui essas novas expressões, a exploração dos trabalhadores mediante a apropriação

privada dos bens produzidos.

Sendo a questão social inerente ao modo de produção capitalista, as desigualdades

sociais, econômicas e políticas podem ser observadas de perto no contexto brasileiro.

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De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2015, o Brasil atualmente

ocupa o 75o

no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH global. Esse índice

analisa a qualidade de vida através de três critérios: 1- uma vida longa e saudável (saúde) é

medida pela expectativa de vida; 2- o acesso ao conhecimento (educação) é medido por: a)

média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos

durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e b) a expectativa de anos de escolaridade para

crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que

uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões

prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante

a vida da criança; 3- e o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB)

per capita expressa em poder de paridade de compra (PPC) constante, em dólar, tendo 2005

como ano de referência.

Tabela 1. Índice de Desenvolvimento Humano nos Estados Brasileiros

RANKING IDHM 2010 UNIDADE DA

FEDERAÇÃO

IDHM 2010

1o

Distrito Federal 0,824

2o

São Paulo 0,783

3o

Santa Catarina 0,774

4o

Rio de Janeiro 0,761

5o

Paraná 0,749

6o

Rio Grande do Sul 0,746

7o

Espírito Santo 0,740

8o

Goiás 0,735

9o

Minas Gerais 0,731

10o

Mato Grosso do Sul 0,729

11o

Mato Grosso 0,725

12o

Amapá 0,708

13o

Roraima 0,707

14o

Tocantins 0,699

15o

Rondônia 0,690

16o

Rio Grande do Norte 0,684

17o

Ceará 0,682

18o

Amazonas 0,674

19o

Pernambuco 0,673

20o

Sergipe 0,665

21o

Acre 0,663

22o

Bahia 0,660

23o

Paraíba 0,658

24o

Piauí 0,646

25o

Pará 0,646

26o

Maranhão 0,639

27o

Alagoas 0,631

Fonte: PNUD, 2010.

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Nosso país é considerado um país de alto desenvolvimento humano já que o IDH

brasileiro é pontuado em 0,755, a escala vaia de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de um

maior será o desenvolvimento humano naquele local.

Sabe-se, porém, que no Brasil, a pobreza tem sido parte constitutiva da história do

país. Não se pode esquecer o peso das tradições oligárquicas e autoritárias, no qual os direitos

sociais são colocados como privilégios à classe trabalhadora. Há ainda, muita desigualdade

socioeconômica e regional, que impede o melhor desenvolvimento humano. Tais fatos se

comprovam atrás dos dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) em 2010. (Tabela 1).

São os estados da região Norte e Nordeste que possuem os menores índices de

desenvolvimento humano, e os do Centro-Sul que tem os melhores resultados, tudo isto, fruto

de uma eliminável desigualdade própria da trajetória brasileira, que continua com os altos

níveis de concentração de renda, de terra e das riquezas socialmente produzidas.

Pensando nisso, Yasbek (2012), conceitua a pobreza para além da renda. A pobreza se

constitui como uma das manifestações da questão social e é expressão direta das relações

vigentes na sociabilidade de desenvolvimento capitalista, extremamente desigual, em que

convivem acumulação e miséria. É, portanto, para além das privações materiais, uma

categoria multidimensional, que envolve a carência de direitos, de oportunidades, de

informações, de possibilidades e de esperança.

Os impactos destrutivos pautados pelo capitalismo contemporâneo favorecem em

deixar marcas sobre a população empobrecida: o trabalho precário e sem direitos, o

desemprego, a debilidade da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, o desconforto da

moradia precária e insalubre, a alimentação insuficiente, a fome, a desnutrição, entre outros,

que distanciam a classe operária ainda mais de uma condição de vida digna.

Pensando nisso, não se pode tomar a pobreza como fenômeno natural, antes de tudo,

convém situar a pobreza como categoria histórica e socialmente construída, própria do

sistema do grande capital.

Para situar ainda os níveis de concentração de renda na sociedade brasileira, é

necessário citar o Índice de Gini que é utilizado para medir a desigualdade de renda entre os

países, seu coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo do zero, menor é a

desigualdade de renda em um país, e quanto mais próximo de um, maior a concentração de

renda. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice de gini

recuou de 0,495 em 2013, para 0,490 em 2014. Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional

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por Amostra de Domicílios), uma das pesquisas mais completas sobre os lares brasileiros e foi

realizada em setembro de 2014.

Além destes dados, outro aspecto que chama bastante atenção é sobre os rendimentos.

O rendimento dos 10% mais pobre é de R$ 256 na média mensal, o que significa avanço, pois

em nenhuma outra chegou perto disso, no outro extremo da pirâmide, temos a renda dos 10%

mais ricos que foi de R$ 7.154. Apesar dos avanços, a diferença de renda é fator alarmante

que acentua ainda mais as desigualdades no Brasil.

Dessa forma, compreende-se como as peculiaridades da sociedade brasileira, sua

formação histórica e suas dificuldades pesam fortemente no processo de proteção social, o

acesso aos bens e serviços sociais caracteriza-se por desigual, heterogêneo e fragmentado.

A experiência colonial e a escravidão prolongada colocam, historicamente, para os

trabalhadores, a responsabilidade por sua própria sobrevivência, fato este, que remete a uma

incompreensão dos direitos sociais garantidos através de árduas lutas travadas.

As expressões da questão social não se resumem a pobreza e a concentração de renda,

ela vai além das desigualdades sociais e econômicas, perpassam a individualidade e

coletividade dos indivíduos, o gênero, as etnias, as religiões, os territórios, as famílias,

aprofundando e levando a extremas desigualdades, próprias de um sistema no qual o lucro é o

bem maior.

2.2 - O Percurso da Saúde Brasileira

A trajetória da Política de Saúde brasileira perpassa nuances, desde aos antecedentes

da ação estatal, até ao que hoje assistimos no contexto neoliberal de regressão de direitos,

contudo, a saúde se constitui como direito de todos e dever do Estado a partir da Carta

Constituinte promulgada em 1988.

O Brasil, do século XVIII, ainda como colônia era uma sociedade rural, voltada para

exportação (agrícola e de minerais), tinha como característica no setor de saúde a

predominância de doenças e pestilências, entre elas a varíola e a febre amarela, a organização

dos serviços de saúde eram precários e localizados na sua maioria no Rio de Janeiro, o

exercício da pratica médica era baseada em conhecimentos tradicionais e não científicos.

(BRAVO, 2013, p. 111 apud SINGER, 1978).

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Com isso, a assistência médica nesse período era pautada nas formas de filantropia ou

na prática liberal. As metrópoles promoveram a criação das Santas Casas de Misericórdia, que

atendiam a população pobre. Tais casas eram de caráter religioso, sem finalidade lucrativa.

Ainda no século XVIII, aumentou o número de alunos brasileiros no curso médico da

Universidade de Coimbra, como também o interesse pelo estudo dos bens terapêuticos de

nossa flora. Vários médicos portugueses vieram para o Brasil exercer a atividade profissional

e de pesquisa. No Brasil, nesse período, ainda não existia educação superior.

Vai ser no século XIX que vão ocorrer algumas modificações no âmbito da medicina,

relacionadas com a situação geral da sociedade, inaugurando duas de suas características:

penetração na sociedade brasileira e apoio científico indispensável ao exercício do poder do

Estado. (BRAVO, 2013, p. 112).

Na segunda metade do século XIX, acontece profundas alterações políticas e

econômicas. A partir de 1850, um iniciante capitalismo dá seus primeiros passos no país, a

incorporação das primeiras companhias e sociedades com ritmo acelerado assinalava o início

de um processo de capitalização que, ainda restrito, representou ponto de partida para uma

nova fase. Nessa mesma época, são instaladas as primeiras manufaturas e o comércio começa

a se expandir.

Além disso, observa-se, nesse período, que a organização social e econômica

resultante da parceria do trabalho escravo com o colonato foi decorrente da transformação da

economia cafeeira, sob hegemonia do Estado de São Paulo. A mão de obra necessária para

atender ao mercado foi avigorada pela imigração, que teve peso ponderável na formação da

classe trabalhadora do nosso país.

Conforme Bravo (2013), a situação de saúde apresentava-se como péssima, com

mortalidade elevada e presença de diversas doenças, destacando-se a hepatite, lepra, bouba6,

febre amarela e escorbuto7. A mortalidade por tuberculose, febre amarela, malária e varíola

era extremamente elevada na segunda metade do século XIX. As condições de saneamento

eram lastimáveis, pois embora o abastecimento de água existisse na capital desde o século

XVII, não havia sistema de esgoto.

6 Moléstia da pele, eruptiva, contagiosa, inoculável, de evolução crônica, causada por espiroqueta. Disponível

em: http://www.xn--dicionriomdico-0gb6k.com/bouba.html. Acesso em 05 de junho de 2016.

7 Estado mórbido devido à carência de ácido ascórbico (vitamina C) no regime alimentar, caracterizado por

debilidade, anemia, hemorragia na mucosa gengival, etc. Disponível em: http://www.xn--dicionriomdico-

0gb6k.com/escorbuto.html. Acesso em 05 de junho de 2016

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Em relação à saúde pública, foram estabelecidas normas para vigilância do exercício

profissional e realização de campanhas limitadas. Na metade inicial do século XIX,

começaram a aparecer às primeiras associações conjuntas, que tinham como objetivo ações

assistenciais: serviços médico-farmacêuticos, auxílio em caso de enfermidade, invalidez,

velhice e funerais.

Na transição do século XIX ao século XX, dão início os movimentos operários, pois o

quadro de exploração podia ser interiorizado coletivamente. Embora o núcleo estrutural da

economia fosse no campo, o conflito social concentrou-se no setor de serviços, porém, a

massa urbana, detinha de poucas condições para alterar a correlação de forças vigente entre as

classes. A Proclamação da República representou nesse contexto, um marco de referência

para a organização da classe trabalhadora.

Entre o final do século XIX e início do século XX, vai ocorrer na saúde a importação e

desenvolvimento de novas técnicas de combate às doenças, conforme as descobertas recentes

na bacteriologia, que são incorporadas às atividades médico-sanitárias. Este período é

favorável ao desenvolvimento da tecnologia médico-sanitária e às descobertas no terreno da

patologia tropical.

Neste cenário, sobre a situação de saúde, houve diminuição do índice de algumas

doenças como a tuberculose e a febre amarela, e a malária foi controlada. Como referência

aos serviços de saúde, instalou-se uma dualidade administrativa, com órgãos federais e

estaduais, sem clara definição de atribuições e áreas de atuação; esta dualidade demonstrou

sua ineficácia na epidemia de peste que assolou o país. (BRAVO, 2013, p. 117).

Em 1902, Rodrigues Alves, representando uma coligação conservadora, toma posse na

Presidência da República e inicia um vasto programa de obras públicas de remodelação e

saneamento no Rio de Janeiro, pois as várias doenças epidêmicas e endêmicas que assolavam

o país fazia com o que os navios estrangeiros se recusassem a aportarem no Brasil,

ocasionando graves prejuízos financeiros.

Entende-se, portanto, que as medidas de saúde reduziam-se em soluções imediatistas

para os sutis problemas, como o comprometimento do processo de acumulação na

cafeicultura, ou as tentativas de respostas aos quadros calamitosos de epidemia, que

ameaçavam a população em geral e provocavam pressões políticas. Entre tais medidas,

destacam-se as campanhas contra a febre amarela, peste bubônica e varíola, a notificação de

doenças, a vacinação obrigatória e a vigilância epidemiológica.

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O período que compreende de 1910 a 1920, é caracterizado por grandes mudanças, há

um vasto crescimento econômico a partir de 1910, que é acompanhado da deterioração das

condições de vida da população, com redução de emprego, elevação dos preços dos gêneros

de primeira necessidade, e como consequência disso, o aumento das taxas de mortalidade por

tuberculose e a da mortalidade infantil.

Entretanto, em 1917 há um crescimento do movimento operário, ocorrendo várias

greves e o surgimento das Ligas Operárias em São Paulo, tudo isso, em decorrência da

insatisfação popular face ao agravamento das condições de vida.

A década de 1920 é analisada como de questionamento da sociedade brasileira, pois

estavam em crise o padrão agroexportador, a política das oligarquias e o Estado que as

expressava. O Estado brasileiro foi compelido a romper com o liberalismo, o movimento

operário, ator importante na cena política do período, questionava o seu não intervencionismo,

começando a surgir também no Congresso alguns parlamentares sensíveis à “questão social”.

(BRAVO, 2013, p. 121).

A “questão social”, considerada como “caso de polícia” e tratada no interior

dos aparelhos repressivos do Estado, ganha nova dimensão e passa a receber

um cuidado diverso. Os governantes e as elites percebem que a mera

repressão se torna insuficiente para enfrentar os problemas colocados pelas

classes trabalhadoras. Tornava-se necessário responder às demandas

“aceitáveis” da movimentação operária, as que não ameaçassem à

dominação da oligarquia. Há nesta posição uma divergência com a burguesia

industrial nascente, que questionava a intervenção estatal. (BRAVO, 2013,

p. 121).

Assim sendo, compreende-se que, anterior à ação estatal, a assistência médica era

pautada na filantropia e na prática liberal, portanto, muito restrita aos trabalhadores urbanos e

praticamente inexistentes entre os trabalhadores rurais. No século XIX surgem algumas

iniciativas no campo da saúde pública, como é o caso da vigilância do exercício profissional e

a realização de campanhas limitadas, e vai ser no final do século XIX e início do século XX

que aparece às primeiras reivindicações do movimento operário e iniciativas de organização

do setor de saúde, que serão aprofundadas a partir de 1930.

A saúde vai emergir como questão social no Brasil no início do século XX, período no

qual a economia capitalista exportadora cafeeira reflete avanços na emergência do trabalho

assalariado. Na década de 1920, há tentativas de extensão dos serviços públicos de saúde por

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todo o país, a Reforma Carlos Chagas de 19238, tenta ampliar o atendimento à saúde por parte

do poder central.

Nesse mesmo período, as questões de higiene e saúde do trabalhador dão fôlego ao

surgimento do sistema previdenciário brasileiro, no qual ocorre a criação das Caixas de

Aposentadoria e Pensões (CAPs) em 1923, conhecida como a Lei Elói Chaves9. As CAPs

eram financiadas pela União, pelas empresas empregadoras e pelos empregados, eram

organizadas por empresas, de modo que, só os grandes estabelecimentos tinham condições de

mantê-las. Além disso, somente os trabalhadores urbanos do complexo exportador

conseguiram organizar as Caixas em suas empresas antes de 1930.

Porém, os benefícios previdenciários, só foram conseguidos neste período, pelos

trabalhadores das grandes empresas e pelas Caixas de Aposentadoria e Pensões dos

ferroviários, estivadores e os marítimos. Com isso, a maior parte da classe assalariada estava

excluída, precisando recorrer, para assistência médica, à precariedade dos serviços

filantrópicos e públicos, aos profissionais liberais ou às formas de medicina popular.

As questões de saúde colocadas na década de 1920 precisavam transformar-se em

questão política, passível da intervenção estatal, a aceleração da urbanização e a ampliação da

massa trabalhadora em precárias condições de higiene, saúde e habitação colocava como

desafio a intervenção do Estado, que assume as questões sociais de forma orgânica e

sistemática.

De acordo com Bravo (2009), as alterações ocorridas na sociedade brasileira a partir

da década de 1930 têm como indicadores mais visíveis o processo de industrialização, a

redefinição do papel do Estado, o surgimento das políticas sociais, além de outras respostas às

reivindicações dos trabalhadores.

Desta forma, a conjuntura de 1930, com suas características econômicas e políticas,

possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às questões sociais

em geral e as de saúde, em particular, que já eram colocadas desde a década de 1920,

precisavam ser enfrentadas de maneira mais elaborada.

8 Segundo a Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, a Reforma de Carlos Chagas ampliou as atividades de

cooperação com estados, por meio da Diretoria de Saneamento e Profilaxia Rural (Decreto nº 15.003, de

15/9/1921). Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/site/museu-da-funasa/cronologia-historica-da-saude-

publica/>. Acesso em: 05 de abril de 2016.

9 A Lei Eloy Chaves, publicada em 24 de janeiro de 1923, consolidou a base do sistema previdenciário

brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias.

Após a promulgação desta lei, outras empresas foram beneficiadas e seus empregados também passaram a ser

segurados da Previdência Social. (Disponível em: http://mps.jusbrasil.com.br/noticias/2063032/87-anos-lei-eloy-

chaves-e-a-base-da-previdencia-social-brasileira. Acesso em: 05 de abril de 2016).

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Necessitavam transformar-se em questão política, com a intervenção estatal

e a criação de novos aparelhos que contemplassem, de algum modo, os

assalariados urbanos, que se caracterizavam como atores importantes no

cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica da acumulação.

Este processo, sob o domínio do capital industrial, teve como características

principais a aceleração da urbanização e a ampliação da massa trabalhadora,

em precárias condições de higiene, saúde e habitação. (BRAVO, 2013, p.

127).

Entre as políticas sociais elaboradas nesta época, ressalta-se a legislação trabalhista,

que promoveu a garantia de alguns direitos básicos da classe trabalhadora, como lei de férias,

proteção a menores, jornada de trabalho, repouso remunerado, trabalho feminino. A

intervenção do Estado, neste momento, via políticas sociais, visava à desmobilização e à

despolitização da classe operária, com um discurso integrador e paternalista, ocultando a luta

de classes. A preocupação era de extinguir a violência na solução dos conflitos, zelando pela

ordem pública. (BRAVO, 2013, p. 127-128).

Na década de 1930, define-se, no campo das políticas sociais, uma política de saúde de

caráter nacional, organizada em dois subsetores: o de saúde pública e o de medicina

previdenciária, no qual, o subsetor de saúde pública vai ser predominante até meados de 1960

e se centralizará na criação de condições sanitárias mínimas para as populações urbanas e,

restritamente, para as do campo. O subsetor de medicina previdenciária só irá superar o de

saúde pública a partir de 1966.

As principais alternativas adotadas para a saúde pública, no período de 1930-1940,

foram: as ênfases nas campanhas sanitárias, com seu aspecto de vigilância, combate; a

coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco poder político e econômico,

pelo Departamento Nacional de Saúde; a interiorização das ações para as áreas de endemias

rurais, em decorrência dos fluxos migratórios de mão de obra para as cidades; a criação de

serviços de combate às endemias e a reorganização do Departamento Nacional de Saúde, em

1941, que agrupou vários serviços de combate às endemias e assumiu o controle de formação

de técnicos em saúde publica.

Ademais, é importante destacar, que as políticas de saúde pública e medicina

previdenciária, nos países centrais, iniciaram-se no século XVIII e tiveram seu apogeu em

meados do século XIX e início do século XX. Mas, no Brasil, isto só ocorre efetivamente a

partir do início do século XX e, mais intensamente, nos anos 1920 e 1930.

Nos anos 1930, a medicina previdenciária surge com os Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPs) que tenta dar uma cobertura mais ampla ao maior número de categorias de

assalariados urbanos, desta forma, o acesso ainda continua muito restrito a quem tem um

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vínculo assalariado e participa do processo emergente de urbanização. Os primeiros IAPs

criados foram: Marítimos (1933), Bancários (1934), Industriários (1936), Servidores do

Estado (1938), Empregados em Transportes e Cargas (1938) e Comerciários (1940). É

importante frisar que os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) tinham estrutura e

funcionamento diferente das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs)10

.

A legislação deste período procura definir a diferença entre previdência e assistência

social, que antes não havia. A política de saúde que se estrutura desde 1930, vai se

consolidando no período de 1945-1950, período em que a situação de saúde da população não

consegue eliminar o quadro de doenças infecciosas e parasitárias e as elevadas taxas de

morbidade e mortalidade infantil, e ainda a mortalidade geral.

De acordo com Bravo (2013), o Estado, a partir de 1945 e, especialmente, de 1950,

assumiu traços próximos aos do denominado Estado de “Bem-Estar Social”, aumentando os

gastos estatais na área social. Isso tudo tem relação com o surgimento de novas forças sociais

na vida nacional. O contingente de trabalhadores cresceu com o processo de industrialização,

havendo uma considerável camada formada pelo proletariado industrial, empregados

subalternos dos serviços públicos, operários de pequenas oficinas e do setor terciário.

A partir dos anos 1950, com o reaparelhamento do Estado, a saúde pública vai se

ampliando através da extensão relativa do atendimento e pela sofisticação da estrutura do

aparelho estatal. Em 1953 é criado o Ministério da Saúde, que anteriormente era parte do

órgão ministerial encarregado da Educação.

O modelo e estrutura que orientaram a Política de Saúde neste período estavam

pautados na concepção que dominou a década de 1940, segundo uma visão equivocada da

realidade, considerava que a solução do problema da doença resolveria automaticamente a

pobreza. Na metade dos anos 1950, a ideologia “desenvolvimentista” colocou a questão em

outra perspectiva, avaliando que o desenvolvimento econômico traria, necessariamente, um

melhor nível de saúde da população. Apesar de o debate ter se ampliado, o sistema sanitário

sofreu poucas alterações, pois esta ideologia tinha por suposto a valorização da política

econômica, em detrimento da política social. (BRAVO, 2013, p. 146-147).

10

Os IAPs tinham estrutura e funcionamento diferente das CAPs. Os Institutos foram constituídos como

autarquias, com maior controle do Estado, ao contrário das Caixas, que eram sociedades civis com estrutura

autônomas em face do Estado. Com os IAPs os fundos passaram a organizar-se por “categoria profissional” e

não por empresas, de modo que os trabalhadores das pequenas empresas, que antes eram excluídos dos

benefícios, passassem a consegui-los. Os benefícios dentro da mesma categoria foram igualados em todo o

território nacional, além disso, as contribuições do Estado para o financiamento dos Institutos tornaram-se

apenas formais, pois a Previdência deveria ser autofinanciável com o aumento das contribuições dos empregados

e empregadores. (BRAVO, 2013, p. 134)

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Desta maneira, a ascensão do discurso desenvolvimentista na saúde, na década de

1960, no contexto do projeto desenvolvimentista nacional, consegue uma dominância na

conjuntura 1963-1964, mas, diante dos impasses, suas propostas de predomínio da ação

sanitarista e preventiva, em face da perspectiva assistencial, não foram colocadas em pratica

pelo Estado, o que predominou foram as práticas sanitaristas campanhistas, herdadas da

década de 1950.

Nesse contexto, a estrutura de atendimento hospitalar de natureza privada, com fins

lucrativos, vai se delineando e apontando na direção da formação de empresas médicas,

processo que se iniciou nos anos 1950, ligado aos interesses capitalistas e pressionavam o

financiamento através do Estado, defendendo claramente o processo de privatização.

Mesmo assim, apesar das pressões, a compra dos serviços médicos aparece como

minoritárias e pouco expressivas no quadro geral da prestação de assistência médica pelos

Institutos, quadro este que vai ser completamente diferente no regime militar que se instala no

país após 1964.

O período da ditadura militar representou para a sociedade brasileira a consolidação de

uma tendência de desenvolvimento econômico-social e político que modelava um novo país.

Com isso, os grandes problemas estruturais não foram sanados, mas aprofundados,

constituindo-se mais complexos e com uma ampla dimensão.

De acordo com Bravo (2009) a intervenção do Estado na “questão social” durante o

período de 1964/1974, vai ser de caráter repressão-assistência, sendo a política assistencial

ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o

poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade

para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação do capital.

O primeiro efeito do golpe militar sobre a saúde foi a redução de verbas destinas à

saúde pública, aumentadas na primeira metade da década de 1960, tais verbas decresceram até

o final da ditadura, como se observa no quadro a seguir:

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Quadro 1. Participação do Ministério da Saúde no Orçamento da União (1961-1980)

PARTICIPAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE NO ORÇAMENTO DA UNIÃO

(1961-1980)

Ano % do orçamento para o M.S Ano % do orçamento para o M.S

1961 4,57 1971 1,41

1962 4,31 1972 1,19

1963 4,10 1973 1,03

1964 6,65 1974 0,94

1965 2,99 1975 1,13

1966 4,21 1976 1,58

1967 3,44 1977 1,80

1968 2,21 1978 1,81

1969 2,58 1979 1,82

1970 1,11 1980 1,38

Fonte: FILHO, 2011.

As dificuldades que perpassavam as antigas caixas e institutos de aposentadoria e

pensões, fez com o governo unificassem todos os órgãos previdenciários que funcionavam

desde 1930, criando então o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que significou

um esforço de desmobilização das forças políticas estimuladas no período populista, na era

Vargas. O Estado então se tornou o único coordenador dos serviços de assistência médica,

aposentadorias e pensões destinadas às famílias dos trabalhadores, apoiavam as atividades

privadas, firmando convênios com a maioria dos hospitais instalados no país, utilizando o

setor privado para atender a massa trabalhadora.

Compreende-se, pois, que o modelo adotado no período ditatorial foi um modelo de

privilegiamento do produtor privado, caracterizado também pela predominância da

participação da Previdência Social através de ações curativas, e enfrentava permanentes

tensões entre a ampliação de serviços, a disponibilidade de recursos financeiros, os interesses

advindos das conexões burocráticas entre os setores estatal e empresarial médico e a

emergência do movimento sanitário.

Nesta mesma época é importante destacar que, a entrada de grandes capitais

estrangeiros, deixou claro que o investimento na área de serviços médico-hospitalares

privados poderia ser um negócio extremamente lucrativo, sendo assim, as classes médias, em

especial, encontraram nas companhias de seguro-saúde o caminho de acesso ao atendimento

rápido e eficiente, em troca, pagavam mensalidades que estavam fora do alcance de grande

parte da classe trabalhadora assalariada.

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Prosseguindo a trajetória histórica da política de saúde, nos anos 1980 vivenciamos o

processo de abertura democrática, superando o regime militar de 1964, ao mesmo passo em

que, acontece uma profunda e prolongada crise econômica que persiste até os dias atuais,

porém, é nessa mesma época que o movimento da Reforma Sanitária se constrói desenvolve,

além do mais, é no processo constituinte que estabelece o tripé da seguridade social, na qual a

saúde passa a ser direitos de todos e dever do Estado.

Os novos ares da abertura política proporcionam espaço propicio a imersão dos

movimentos sociais, é nessa cena que os moradores da periferia e dos grandes centros urbanos

começam a lutar pela melhoria de suas condições de vida, segundo Filho (2011) é com a

assessoria dos padres e médicos sanitaristas que se criam os Conselhos Populares de Saúde,

encarregados de obter melhor saneamento básico e a criação de hospitais e centros de saúde

nas áreas mais carentes.

Além do mais, cientes do péssimo estado de saúde da população, os profissionais do

setor se organizam na defesa da profissão e dos direitos dos pacientes, disso, resultou ainda no

final dos anos 1970, o surgimento da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva (ABRASCO) e do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES). É a partir destas

organizações, que se desenvolve o chamado Movimento da Reforma Sanitária, que, ao

incentivar as discussões, buscou encontrar respostas para os dilemas da política de saúde

nacional.

Desse Movimento Sanitarista, foi elaborado um documento intitulado “Pelo direito

universal à saúde” que destaca a necessidade de o Estado se comprometer definitivamente

com a assistência à saúde da população, é nesse texto que se afirma que o acesso à assistência

médico-sanitária é direito do cidadão e dever do Estado. Essa discussão repercutiu nos

trabalhos da Assembleia Constituinte, e a Constituição promulgada em 1988 incluiu a maior

parte das propostas das organizações populares e de especialistas na área da saúde.

A saúde, então, nesse momento, conta com a participação de novos sujeitos sociais na

discussão das condições de vida da população brasileira e das propostas governamentais,

contribuindo para um amplo debate na sociedade civil, deixando então de ser um assunto de

interesse apenas dos técnicos, assumindo a dimensão política, vinculada ao processo

democrático.

As principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram a

universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever

do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema

Unificado de Saúde, visando um profundo reordenamento setorial com um

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novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do

processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento

efetivo e a democratização do poder local através de novos mecanismos de

gestão – os Conselhos de Saúde. (BRAVO, 2009, p. 96)

A 8a

Conferência Nacional de Saúde, realizada em março de 1986, tornou-se um

marco, pois, introduziu o debate da saúde e sociedade. A questão da Saúde ultrapassou a

análise setorial, redimensionando o assunto a sociedade como um todo, propondo não só a

criação de um Sistema Único, mas a Reforma Sanitária. Conseguinte, o processo constituinte

e a promulgação da Constituição de 1988 introduziram avanços que buscaram corrigir as

históricas injustiças sociais, que restringiu vários direitos, haja vista a tradição de privatizar a

coisa pública pelas classes dominantes.

Considerando os aspectos da Constituição de 1988, podemos citar como avanços: o

direito universal à saúde e o dever do Estado, acabando com discriminações existentes entre

segurado/não segurado, rural/urbano; as ações e serviços de saúde passaram a ser

considerados de relevância pública, cabendo ao poder público sua regulamentação,

fiscalização e controle; a criação de um Sistema Único de Saúde, integrando todos os serviços

públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e de atendimento integral,

com participação da comunidade; a participação do setor privado no sistema de saúde de

forma complementar, preferencialmente entidades filantrópicas, o contrato com entidades

privadas prestadora de serviços devem acontecer mediante contrato de direito público.

(BRAVO, 2009, p. 97-98).

Dessa maneira, essas mudanças visaram o fortalecimento do setor público e a

universalização do atendimento, além de reduzir o papel do setor privado na prestação de

serviços de saúde, promovendo a descentralização política e administrativa do processo

decisório da política de saúde, fundando em 1987, o Sistema Unificado e Descentralizado de

Saúde (SUDS) e depois, em 1988 o SUS (Sistema Único de Saúde). O SUS representava um

passo mais avançado na reformulação administrativa do setor de saúde.

As medidas propostas e defendidas no texto constitucional de 1988 foram defendidas

durante vários anos pelo movimento sanitário, embora não tenha sido possível atender todas

as demandas, principalmente, quando elas se confrontavam com os interesses empresariais ou

de setores do governo.

Com isso, a politização da saúde foi uma das primeiras metas a serem implantadas

com o objetivo de aprofundar o nível da consciência sanitária. As mudanças ocasionadas

através da estrutura constitucional apontaram para o fortalecimento do setor público e

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universalização do atendimento, como também a redução do papel do setor privado na

prestação de serviços de saúde, a descentralização política e administrativa dos processos

decisórios da política de saúde e a execução dos serviços em nível local.

É nessa mesma época que são gestada as ideias ampliadas de saúde, sedimentando

algumas demandas, no qual privilegia a prevenção e a saúde pública, a gestão democrática

dos serviços e a prática multiprofissional.

Sendo assim, no final da década de 1980, em um clima de incertezas em relação à

implementação do Projeto da Reforma Sanitária, considera-se a construção democrática,

através da mobilização política, uma das principais estratégias para que a Reforma Sanitária

se efetive de fato.

2.3 - Desafios da Efetivação do SUS Sob a Égide do Capital Financeiro

No percurso histórico da saúde brasileira, entre o final da década de 1980 e início da

década 1990, três fatos são bastante relevantes para a saúde no Brasil. Primeiro, foi a

promulgação da Constituição de 1988 que determinou ser dever do Estado garantir saúde a

toda população. Segundo, foi a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). E terceiro, foi a

aprovação pelo Congresso Nacional da Lei Orgânica da Saúde, a lei 8.080 de 1990, que

dispõe sobre o funcionamento do SUS.

No período de 1991 a 1994, Fernando Collor de Melo implementa a política

neoliberal, que adversas às propostas da democracia social, entram em cena os ajustes

macroeconômicos e com eles o redirecionamento do papel do Estado. Embora nos discursos

as limitações de gastos públicos devessem ser efetivadas com a privatização de empresas

estatais, na prática, a redução de gastos atingiu a todos os setores do governo, inclusive o da

saúde. (MOURÃO, 2009, p. 357).

A opção neoliberal que se tornou hegemônica no Brasil, no governo Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002), e continuou no governo Lula da Silva (2003-2006), resultou

em políticas de redução do Estado, nas privatizações e no novo papel desempenhado pelo

mercado como provedor das necessidades de saúde, e ainda hoje, culminam em dificuldades

para a implantação efetiva do Sistema Único de Saúde.

Nessa conjuntura, apesar dos avanços propriamente estabelecidos no texto

constitucional de 1988, instala-se um forte ataque por parte do grande capital, que perdura até

os dias atuais.

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A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido responsável pela

redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural,

precarização do trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da

saúde e educação. (BRAVO, 2009, p.100).

A Constituição de 1988 deu as bases legais para um sistema de saúde público e

universal para os brasileiros, contudo, a conjuntura política de implementação do SUS nos

anos 1990 e 2000 foi permeada por reformas estruturais na Seguridade Social pela lógica

neoliberal.

As contrarreformas que se iniciam na década de 1990, e se intensificam no governo

FHC, colocam em cena a desresponsabilização do Estado perante as questões sociais, as

sucessivas privatizações estatais, o discurso de reponsabilidade social, o estímulo à

reestruturação produtiva do capital.

No decorrer dos anos, as propostas neoliberais seguem fortemente, com isso, no

governo Lula da Silva, apesar da expectativa em fortalecimento do projeto da Reforma

Sanitária, consolida-se no geral, o projeto de saúde articulado ao mercado e ao grande capital.

Bravo (2009) ressalta que como aspecto de inovação no governo Lula ocorre o retorno

da concepção de Reforma Sanitária, a escolha de profissionais comprometidos com a Reforma

Sanitária para ocupar o segundo escalão do Ministério, a convocação extraordinária da 12a

Conferência Nacional de Saúde, além da escolha de representantes da Central Única dos

Trabalhadores (CUT) para assumir a secretaria executiva do Conselho Nacional de Saúde.

Como aspecto de continuidade da política de saúde dos anos 1990, destaca-se a ênfase

na focalização, na precarização, na terceirização dos recursos humanos, no desfinanciamento

e a falta de vontade política para viabilizar a concepção de Seguridade Social.

Analisamos também, o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, que segundo

Medeiros (2011), no início do governo, algumas ações merecem preocupações como cortes

orçamentários, restrição de investimentos, medidas de caráter privatista como a abertura do

capital da Infraero, a privatização de aeroportos e a nova rodada de leilões do petróleo do Pré-

Sal.

Sendo assim, as posições assumidas, apontam um governo mais privatista e

comprometido com a manutenção do atual modelo econômico, fazendo com o que, nos

primeiros meses de governo, existisse uma crescente insatisfação de grupos sociais.

Nos seus primeiros discursos, a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) é

apontada pela Presidenta Dilma Rousseff como uma das grandes prioridades do seu governo,

além disso, destaca que vai estabelecer parcerias com o setor privado na área da saúde,

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assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS, esta afirmação é

preocupante com relação à defesa do SUS que queremos construído nos anos 1980.

É inegável que a maior conquista do SUS foi quanto ao direito legal de acesso

universal e igualitário às ações e serviços de saúde em todos os níveis de complexidade.

Muitos aspectos desse acesso estão por se concretizar, e hoje, mesmo em meio aos ajustes

macroeconômicos, que resultaram nas políticas de redução do Estado e nas privatizações, há

que se reconhecer que o SUS em meios aos tantos desafios, vem superando alguns entraves

através dos programas e projetos vínculos ao Ministério da Saúde.

Destacamos aqui a evolução das equipes do Programa Saúde da Família, com a

criação dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família – NASF; do Programa Nacional de

Imunizações; do Sistema Nacional de Transplantes, sendo o segundo país do mundo em

número de transplantes; do Programa de Controle de HIV/AIDS, reconhecido

internacionalmente pelo seu progresso no atendimento às Doenças Sexualmente

Transmissíveis/AIDS, além do PROVAB (Programa de Valorização dos Profissionais na

Atenção Básica), do programa Farmácia Popular, das Academias de Saúde, do programa Mais

Médicos, das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), do Serviço de Atendimento Móvel de

Urgência (SAMU), da Política Nacional de Humanização, da Política Nacional de Atenção

Integral à Saúde da Mulher e também, da criação das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS).

O Programa Saúde da Família, hoje Estratégia de Saúde da Família (ESF) vem se

expandindo e tem como objetivo atuar na manutenção da saúde e na prevenção de doenças,

alterando, assim, o modelo de saúde centrado em hospitais. Criado em 1993, o programa já

atende 103 milhões de pessoas, e hoje, conta com o apoio dos Núcleos de Apoio a Saúde da

Família (NASF) que se constitui enquanto estratégia inovadora que tem por objetivo apoiar,

ampliar, aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na Atenção Básica/Saúde da Família.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é referencia mundial, pois o Brasil como

um dos países mais populosos e de território mais extenso no mundo, tem nos últimos 30

anos, eliminadas ou mantidas sob controle as doenças preveníeis por meio da vacinação. De

acordo com o Ministério da Saúde (2003), as estratégias diversas, campanhas, varreduras,

rotina e bloqueios erradicaram a febre amarela urbana em 1942, a varíola em 1973 e a

poliomielite em 1989, controlaram o sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da

tuberculose, a difteria, o tétano acidental, a coqueluche. Mais recentemente, implementaram

medidas para o controle das infecções pelo Haemophilus influenzae tipo b, da rubéola e da

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síndrome da rubéola congênita, da hepatite B, da influenza e suas complicações nos idosos,

também das infecções pneumocócicas.

O Sistema Nacional de Transplantes – SNT foi criado pelo Decreto Nº 2.268 de 30 de

junho de 1997, como entidade responsável pelo controle e monitoramento do processo doação

de órgãos e tecidos e transplantes realizados no país, com o objetivo de desenvolver o

processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do corpo humano para

fins terapêuticos. A atuação do SNT tem-se concentrado, sobretudo, na redução do tempo de

espera dos pacientes na lista de transplantes e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes

que hoje aguardam pelo procedimento. O Brasil tem hoje o maior sistema público de

transplantes do mundo, no qual cerca de 95% dos procedimentos e cirurgias são feitos com

recursos públicos. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência integral ao paciente

transplantado. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

É importante também situar que o Programa de Controle de HIV/AIDS em relatório

divulgado pela ONU, destaca que o Brasil foi o primeiro país a oferecer combinação do

tratamento para HIV, sendo referência mundial no controle da AIDS.

Além disso, o PROVAB (Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção

Básica) leva mais médicos para mais perto da população. Amplia a assistência principalmente

aos usuários do SUS que ainda têm dificuldades para acessar serviços e profissionais de

saúde. Com isso, as desigualdades regionais relacionadas à presença e permanência de

profissionais de saúde são reduzidas.

Concomitante a isso, tem-se ainda o Programa Mais Médicos que faz parte de um

amplo pacto de melhorias no atendimento aos usuários do SUS. Com a convocação de

profissionais para atuar na Atenção Básica de municípios com maior vulnerabilidade social e

DSEIs11

, o Governo Federal garante mais saúde para o brasileiro.

Além do mais, o programa Farmácia Popular, estratégia do Plano Brasil sem

Miséria12

, se desenvolve no sentindo de ampliar o acesso da população a medicamentos

11

O Ministério da Saúde (2002) define o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) como um modelo de

organização de serviços - orientado para um espaço etno-cultural dinâmico, geográfico, populacional e

administrativo bem delimitado -, que contempla um conjunto de atividades técnicas, visando medidas

racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde, promovendo a reordenação da rede de saúde e das práticas

sanitárias e desenvolvendo atividades administrativo-gerenciais necessárias à prestação da assistência, com

controle social.

12 Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social – MDS, o Plano Brasil sem Miséria foi criado para superar

a extrema pobreza no país, sempre tendo em vista que a pobreza não se resume a uma questão de renda.

Segurança alimentar e nutricional, educação, saúde, acesso à água e energia elétrica, moradia, qualificação

profissional e melhora da inserção no mundo do trabalho são algumas das dimensões em que a pobreza se

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essenciais, vendidos a preços mais baixos que os praticados no mercado. São medicamentos

contra diabetes e hipertensão, entre outros.

Tem-se também, o surgimento das Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h que

são estruturas de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas

de urgência hospitalares, onde em conjunto com estas compõe uma rede organizada de

Atenção às Urgências. Além do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, que

presta socorro à população em casos de urgência, o socorro é feito após chamada para o

telefone 192, a ligação é gratuita.

A Academia de Saúde, lançado em abril de 2011, estimula a criação de espaços

públicos adequados para a prática de atividade física e de lazer. O objetivo do programa é

contribuir para a promoção da saúde da população.

Além do mais, temos a Política Nacional de Humanização que existe desde 2003 para

efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a

saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e

usuários.

Os programas voltados a Saúde da Mulher, segundo o Ministério da Saúde, tem

incorporado o ideário feminista para a atenção à saúde integral, inclusive responsabilizando o

estado brasileiro com os aspectos da saúde reprodutiva. Desta forma, as ações prioritárias têm

sido definidas a partir das necessidades da população feminina, o que significou uma ruptura

com o modelo de atenção materno-infantil até então desenvolvido, propiciando um grande

avanço para todas as mulheres brasileiras.

Para finalizar esse breve histórico sobre alguns dos avanços da saúde pública brasileira

nos últimos anos, destacamos a criação das Redes de Atenção Psicossocial - RAPS,

importante estratégia no âmbito da saúde mental, que implementa pontos de atenção à saúde

para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de

crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Tem como objetivos

gerais a ampliação do acesso à atenção psicossocial da população em geral, a promoção de

vínculos das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de

crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção e a garantia da articulação

e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado

por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

manifesta. Entre essas ações, está a criação e implementação das Farmácias Populares. Disponível em:

http://mds.gov.br/assuntos/brasil-sem-miseria/o-que-e. Acesso em: 12 de abril de 2016.

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Apesar dos intensos avanços, há muitos desafios a serem superados. Porém, é inegável

que a criação do Sistema Único de Saúde foi o um dos maiores movimentos de inclusão social

no Brasil, representando a afirmação política de compromisso do Estado para com os direitos

dos seus cidadãos.

É importante destacar, que estes são alguns dos programas desenvolvidos atualmente

pelo Ministério da Saúde, não se restringindo somente a eles. Sabe-se também que, a

efetivação destes programas e projetos perpassa todo o cenário de financeirização do capital,

o que se coloca como desafios a concretização integral do Sistema Único de Saúde.

São muitos os desafios enfrentados atualmente pelo SUS. A complexidade do SUS, as

dificuldades locorregionais, a fragmentação das políticas e programas de saúde, a qualificação

da gestão e do controle social, a organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de

ações e serviços de saúde têm se constituído em desafios permanentes na consolidação do

Sistema Único de Saúde. (SOUZA E COSTA, 2010 p. 513).

Iniciativas como o Pacto pela Saúde13

, a Regionalização solidária e cooperativa, a

Política Nacional de Humanização, entre outras, constituem-se em ações que buscam a

superação dos principais entraves do sistema.

Conforme Bravo (2009) algumas questões comprometeram a possibilidade de avanço

do SUS como política social, podendo destacar: o desrespeito ao princípio da equidade na

alocação dos recursos públicos pela não unificação dos orçamentos federais, estaduais e

municipais; afastamento do princípio da integralidade, sendo assim, indissolubilidade entre

prevenção e ação curativa, havendo prioridade para a assistência médico-hospitalar em

detrimento das ações de promoção e proteção da saúde.

Nisso, dois projetos convivem em tensão: o projeto da reforma sanitária, construído na

década de 1980 e contemplado na Constituição de 1988, e o projeto voltado ao mercado ou

privatista, que vem se tornando hegemônico a partir da segunda metade da década de 1990,

colocando hoje maiores desafios sob a égide do capital financeiro.

Hoje, o projeto de saúde articulado ao mercado, tem ganhado cada vez mais espaço. A

proposta da política de saúde construída nos anos 1980 tem sido descontruída, a saúde vai

ficando vinculada ao mercado, enfatizando-se as parcerias com a sociedade civil e com os

13

O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão

(União, Estados e Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão,

visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Ao mesmo tempo, o

Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da

população e na busca da equidade social. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/webpacto/index.htm.

Acesso em: 15 de abril de 2016.

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novos modelos de gestão, incluindo a dos hospitais universitários federais, tudo isto, resultado

do processo de contra reforma do Estado.

A necessidade de mudança na gestão dos hospitais universitários está amplamente

relacionado ao processo de contrarreforma, que foi implementado em maior ou menor grau

em quase todos os países do mundo. O Estado tem reduzido o financiamento público de

políticas sociais para os trabalhadores, minimizando o campo dos direitos sociais, assim, abre-

se espaço para todas as esferas da vida social, que passam a ser novos espaços de valorização

para o capital, como é o caso da saúde.

Com isso, as políticas sociais passam a ser direcionadas para a população mais

pauperizada, sendo políticas pontuais, caritativas e assistencialistas. No Brasil, as políticas

inscritas na Constituição de 1988, estão sendo substituídas por políticas marcadas pela

focalização/seletividade, descentralização e privatização. É nesse contexto, que vem se

discutindo a reestruturação dos hospitais universitários.

Como resultado deste processo de contrarreforma do Estado e efetivação da política

neoliberal, acontece a ampliação dos modelos de gestão que privatizam a saúde como é o caso

das Organizações Sociais (OSs), das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIPs) e das Fundações Estatais de Direito Privado. (BRAVO E MENEZES, 2011, p.23).

Dessa maneira, na medida em que o Estado abdica de ser o executor dos serviços

públicos, deixa aberto a iniciativa privada como fornecedora deste serviço, mediante o repasse

de recursos, de equipamentos e instalações públicas. Trata-se da tendência em curso do fundo

público ser colocado a serviço do financiamento da reprodução do capital. O setor privado,

não satisfeito apenas com o livre mercado, tenta, por dentro do Estado, se apropriar dos

recursos disponibilizados à política de saúde. (CORREIA, 2012, p.3).

Os novos modelos de gestão têm sido apresentados como a resolução dos problemas

atuais do SUS. Limitam-se tudo a má gestão, apresentando, como única saída, a terceirização

dos serviços de saúde, em nome de uma suposta modernização, autonomia e flexibilização,

que traria uma maior eficiência aos serviços de saúde prestados.

Com relação ao modelo de gestão para a saúde, Bravo e Menezes (2011) afirma que é

através da Medida Provisória (MP) 520, em 31/12/2010, que autoriza o Poder Executivo de

criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), ou seja, uma empresa pública

de direito privado, ligada ao Ministério da Educação para reestruturar os Hospitais

Universitários (HUs) federais. Cabe destacar que a MP apontava para a possibilidade da nova

empresa pública administrar quaisquer unidades hospitalares no âmbito do SUS.

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Segundo Cislaghi (2011), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, como prevê

a proposta de Fundações Estatal de Direito Privado, poderá contratar funcionários por CLT e

por contrato temporário de até dois anos, acabando com a estabilidade e implementando a

lógica da rotatividade, típica do setor privado, comprometendo a continuidade e qualidade do

atendimento. Está previsto também a criação da previdência privada para os seus

funcionários.

Contudo, a administração direta ainda é a melhor forma de gestão da saúde púbica.

Alguns ajustes devem ser feitos com vista à melhoria do SUS, tais como: o investimento para

a formação/profissionalização do gestor, que deve ser servidor público concursado; viabilizar

a garantia da transparência da gestão e do controle social dos gastos; a eliminação do limite da

Lei de Responsabilidade Fiscal para despesa com pessoal na saúde; a implementação de uma

política de valorização do trabalhador da saúde que considere a admissão dos trabalhadores

por concurso público, a isonomia salarial, a estabilidade do trabalho, os Planos de Cargos,

Carreiras e Salários (PCCS) e a qualificação profissional, entre outros. (CORREIA, 2012, p.

4).

Com este quadro de explícitos avanços neoliberais, a 14a

Conferência de Saúde,

realizada no final de 2011, posiciona-se de forma questionadora e crítica em relação ao

processo de privatização dos serviços públicos na saúde através dos denominados novos

modelos de gestão, como é o caso da EBSERH. Além do mais, a Frente Nacional contra a

Privatização da Saúde amplia suas ações em 2011 com diversos atos e manifestações a favor

do SUS público, estatal e de qualidade.

Isso tudo reflete que a construção e consolidação dos princípios da Reforma Sanitária,

construídos na década de 1980, permanecem como desafios atuais na agenda contemporânea

de lutas em defesa do direito a saúde pública, gratuita e de qualidade.

A lógica neoliberal fez com o que os ideais preconizados no movimento da Reforma

Sanitária fossem tomados pelos interesses do capital financeiro, e hoje, o SUS, desafia-se dia

após dia, em torna-se um sistema universal, igualitário, público e de direito de todos e dever

do Estado.

Behring e Boschetti (2011) refletem que os direitos mantidos pela Seguridade Social

se orientam, sobretudo, pela seletividade e privatização, em detrimento da universalidade e

estatização. A saúde pública padece da falta de recursos, o que se evidencia nas longas filas,

na demora em prestação dos atendimentos, na alta de medicamentos e na redução de leitos.

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Tudo isso pode ser agravado pela condição do orçamento público destinado às políticas

sociais, que, historicamente é submetido à política econômica.

Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), sobre o financiamento da saúde

pública brasileira, a Constituição Federal de 1988 determina que as três esferas de governo –

federal, estadual e municipal – financiem o Sistema Único de Saúde (SUS), gerando receita

necessária para custear as despesas com ações e serviços públicos de saúde. Os percentuais de

investimento financeiro dos municípios, estados e União no SUS são definidos atualmente

pela Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, resultante da sanção presidencial da

Emenda Constitucional 29. Por esta lei, municípios e Distrito Federal devem aplicar

anualmente, no mínimo, 15% da arrecadação dos impostos em ações e serviços públicos de

saúde cabendo aos estados 12%. No caso da União, o montante aplicado deve corresponder ao

valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação

do Produto Interno Bruto (PIB) do ano antecedente ao da lei orçamentária anual.

Planejar este financiamento, promovendo arrecadação e repasse necessários de forma a

garantir a universalidade e integralidade do sistema, tem se mostrado, no entanto, uma

questão bem delicada. As restrições orçamentárias para o setor – sobretudo a falta de recursos

nos municípios – e a necessidade premente de superá-las fazem com que as discussões sobre o

financiamento ocupem constantemente a agenda dos movimentos sociais e políticos que

atuam em defesa do SUS.

No entanto, diversas instituições organizadas, defendem que a União destine pelo

menos 10% das receitas correntes brutas para a saúde pública brasileira, além do mais, hoje,

pauta-se neste debate a relação entre o público e o privado, já que recursos públicos acabam

sendo repassados para o setor privado, como já citamos anteriormente.

Diante da conjuntura brasileira atual, de regressão de direitos e cortes orçamentários

nas políticas sociais, a lei no

13.242, de 30 de dezembro de 2015, de Diretrizes Orçamentárias

da União de 2016, impõe uma perda estimada de 10 bilhões de reais para custeio da saúde

pública brasileira, dessa forma, é preocupante o atual quadro de financiamento da saúde

pública, principalmente no contexto de emergência sanitária que vivemos.

Consequentemente ao que foi abordado, compreendemos que a política de saúde que

idealizou o SUS de maneira universal tem sido descontruída. Mesmo após as conquistas

alcançadas na Constituição, a opção pelo projeto neoliberal tem visado cada vez mais para o

capital financeiro e menos para o social. Com isso, o mercado tem se interessado pela saúde

pública, constituindo na saúde um espaço de lucratividade.

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Sendo assim, através da visão mercadológica, a saúde não é vista como espaço de

direito universal à população, mas, como mais uma área com potencial para o capital. E

assim, a terceirização dos serviços públicos de saúde ao mercado privado tem flexibilizado os

direitos sociais e restringindo a tão sonhada saúde universal e gratuita.

À vista disso, constitui-se como desafio atual, a mobilização em torno da viabilização

do Projeto de Reforma Sanitária, sendo uma das estratégias de defesa da saúde. É preciso

relembrar o processo de democratização brasileira e abertura política, que também deu base à

construção do SUS, fruto de mobilizações populares, e reafirmar que não é aceito nenhum

direitos a menos. O SUS é conquista do povo brasileiro, é direito e dever ser público, gratuito

e de qualidade.

2.3.1 - A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços

Hospitalares (EBSERH) é uma empresa pública de direito privado, criada pela Lei Federal nº

12.550, de 15 de dezembro de 2011, com estatuto social aprovado pelo Decreto nº 7.661, de

28 de dezembro de 2011.

A EBSERH tem por finalidade a prestação de serviços gratuitos de assistência médico-

hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim como a

prestação às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres de serviços de

apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no

campo da saúde pública, observada, nos termos do art. 207 da Constituição Federal, a

autonomia universitária.

As atividades de prestação de serviços de assistência à saúde estão inseridas integral e

exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). No desenvolvimento de suas

atividades de assistência à saúde, a EBSERH observará as diretrizes e políticas estabelecidas

pelo Ministério da Saúde.

De acordo com o Ministério da Educação, são competências da EBSERH: Administrar

unidades hospitalares, bem como prestar serviços de assistência médico-hospitalar,

ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, integralmente

disponibilizados ao Sistema Único de Saúde; Prestar, às instituições federais de ensino

superior e a outras instituições públicas congêneres, serviços de apoio ao ensino e à pesquisa e

à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde publica, em

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consonância com as diretrizes do Poder Executivo; Apoiar a execução de planos de ensino e

pesquisa de instituições federais de ensino superior e de outras instituições públicas

congêneres, cuja vinculação com o campo da saúde pública ou com outros aspectos da sua

atividade torne necessária essa cooperação, em especial na implementação de residência

médica ou multiprofissional e em área profissional da saúde, nas especialidades e regiões

estratégicas para o SUS; Prestar serviços de apoio à geração do conhecimento em pesquisas

básicas, clínicas e aplicadas nos hospitais universitários federais e a outras instituições

públicas congêneres; Prestar serviços de apoio ao processo de gestão dos hospitais

universitários e federais e a outras instituições públicas congêneres, com a implementação de

sistema de gestão único com geração de indicadores quantitativos e qualitativos para o

estabelecimento de metas.

A criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) integra um

conjunto de ações empreendidas pelo Governo Federal no sentido de recuperar os hospitais

vinculados às universidades federais. Desde 2010, por meio do Programa Nacional de

Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF), criado pelo decreto nº 7.082,

foram adotadas medidas que contemplam a reestruturação física e tecnológica das unidades,

com a modernização do parque tecnológico; a revisão do financiamento da rede, com

aumento progressivo do orçamento destinado às instituições; a melhoria dos processos de

gestão; a recuperação do quadro de recursos humanos dos hospitais e o aprimoramento das

atividades hospitalares vinculadas ao ensino, pesquisa e extensão, bem como à assistência à

saúde.

A EBSERH é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Educação e passa a ser

o órgão do MEC responsável pela gestão do Programa de Reestruturação e que, por meio de

contrato firmado com as universidades federais que assim optarem, atuará no sentido de

modernizar a gestão dos hospitais universitários federais, preservando e reforçando o papel

estratégico desempenhado por essas unidades de centros de formação de profissionais na área

da saúde e de prestação de assistência à saúde da população integralmente no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS).

Isso significa ampliar a lógica do mercado na gestão dos serviços do Sistema Único de

Saúde e resulta em mudanças na manutenção do SUS universal tão sonhado pela Reforma

Sanitária brasileira, além de afetar diretamente a garantia do ensino, da pesquisa e da extensão

aos graduandos e pós-graduandos das universidades públicas brasileiras.

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Nesse debate, compreende-se aqui, que a necessidade de mudanças na gestão dos

hospitais universitários está amplamente relacionada ao processo de contrarreformas do

Estado, que tem reduzido o financiamento de políticas sociais para os trabalhadores e abrindo

espaço para a mercantilização de todas as esferas da vida social. Dessa forma, as políticas

sociais têm sido direcionadas as populações mais pauperizadas, sendo pontuais, caritativas e

totalmente assistencialistas.

Segundo Cislaghi (2011) a primeira implicação da centralização da gestão de saúde

em uma empresa pública é sua retirada do capítulo da ordem social na Constituição, passando

a ser regulada pelos critérios da ordem econômica. Com isso, mesmo sendo uma empresa

pública, se gere pela finalidade do lucro e não do próprio direito social universal.

Além das possibilidades de lucros, a EBSERH como sociedade anônima, abre

caminho para a privatização definitiva da saúde, pela vida da financeirização. Além do mais,

não se resume a lógica privatizante o retrocesso trazido à saúde brasileira pela EBSERH, a

centralização da gestão da saúde em uma empresa e suas subsidiárias desmonta a

descentralização preconizada pela Constituição de 1988. Retrocede também o controle social

que passa a ser exercido na EBSERH por Conselho Consultivo, ao invés dos conselhos

deliberativos do SUS. (CISLAGHI, 2011, p. 61).

Para que aconteça a efetivação de tais retrocessos é necessário reduzir as resistências

de trabalhadores do SUS e das universidades, sendo assim, no novo modelo de gestão

implantado, os trabalhadores passam a ser contratados pela CLT, não necessariamente por

contratos definitivos, pois a EBSERH poderá celebrar contratos temporários de emprego, tudo

isso, favorecendo a precarização, a rotatividade e a insegurança no emprego, ficando ainda

mais fácil, o avanço da privatização.

No caso dos Hospitais Universitários, acaba-se a gestão pública das universidades e

abrem-se possibilidades do setor privado usar essas instituições para ensino e pesquisa, o que

favorece as universidades privadas na competição pelos alunos, já que a diferença na

qualidade de formação da força de trabalho para a saúde entre o ensino público e o privado, é

a existência dos HUs.

A lógica definida pelo REHUF e a lógica privada de gestão, materializada na

EBSERH, deriva dos pressupostos da Reforma do Estado, na qual defende que as atividades

não exclusivas do Estado tais como: educação, saúde, previdência, meio ambiente, etc., seja

pelo argumento econômico ou ético, devem ser subsidiadas pelo Estado, mas não

necessariamente desenvolvida pelo poder público ou pelas instituições públicas. Diante disso,

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Os elementos da proposição de contrarreforma administrativa seriam a

flexibilização dos direitos dos trabalhadores do serviço público; a

transferência da execução de políticas sociais para instituições de direito

privado, incluindo a transferência de patrimônio público; a possibilidade de

captação de recursos por parte das instituições a partir da mercantilização

dos serviços públicos e da financeirização dos recursos públicos; e a relação

púbico-privada a partir dos denominados contratos de gestão. (MARCH,

2012, p. 64).

Com isso, o argumento que sustenta essas propostas é a ideia da autonomia do

mercado e não do Estado como provedor do bem-estar e da democracia. Segundo Cislaghi

(2011), junto à ideia de autonomia acompanha a de flexibilização, materializando-se na

flexibilização de contratos e direitos trabalhistas, no fim de licitações e prestações de contas,

na flexibilização dos currículos na formação dos profissionais de acordo com os interesses do

mercado e o fim da pesquisa pública. Portanto, autonomia e flexibilização constam na

justificativa da criação da EBSERH.

Outro ponto que merece atenção é o fator da qualidade, que na verdade, se expressa na

produtividade medida na quantidade. Os critérios passam a ser quanto se produz, em quanto

tempo e em qual custo.

Os avanços neoliberais, portanto, permitem em particular aos Hospitais Universitários,

e a saúde pública em geral, o beneficiamento da iniciativa privada e a obtenção do lucro. Os

problemas enfrentados pela saúde pública brasileira não serão resolvidos com as alternativas

neoliberais quem tem surgido, como as empresas públicas de direitos privados.

A solução para os problemas dos HUs passa necessariamente pelo

financiamento público, negado pelos governos neoliberais que direcionam os

recursos do fundo público para o mercado financeiro, e pela ampliação da

participação da população nos espaços de controle social, podendo, dessa

forma, avançar na solução dos problemas de gestão a seu favor, e de acordo

com os princípios do SUS, e não a favor do mercado, como propõe o

governo com suas soluções privatizantes. (CISLAGHI, 2011, p. 62).

Nisso, entende-se que através da redução do financiamento público, o Estado tem

reduzido os direitos sociais arduamente conquistados. A adesão aos pressupostos neoliberais

tem culminado na redução dos direitos da classe trabalhadora. O SUS sonhado pelo

movimento da Reforma Sanitária, gratuito, estatal e universal, tem sido alvo da

contrarreforma do Estado que tem em seu contexto a adesão da privatização, da focalização e

da descentralização.

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3. O TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE: AS

PARTICULARIDADES DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES

Figura 03. Disponível em:

http://www.cfess.org.br/js/library/pdfjs/web/viewer.html?pdf=/arquivos/2015-CfessManifesta-

15ConfSaude-Site.pdf. Acesso em 12 de Junho de 2016.

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3. O TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE: AS

PARTICULARIDADES DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES

"O momento que vivemos é um momento pleno de desafios.

Mais do que nunca é preciso ter coragem, é preciso ter

esperanças para enfrentar o presente. É preciso resistir e

sonhar. É necessário alimentar os sonhos e concretizá-los dia-

a-dia no horizonte de novos tempos mais humanos, mais justos,

mais solidários.”

(Marilda Villela Iamamoto)

3.1 Primeiras intervenções do Serviço Social na área de Saúde

O Serviço Social tem na gênese da profissão o caráter caritativo e assistencialista, não

vai ser diferente nas práticas profissionais no âmbito da saúde. Situaremos de início, a análise

feita por Bravo (2013) sobre o surgimento do Serviço Social nos Estados Unidos.

O Serviço Social na Saúde desenvolveu-se nos Estados Unidos no início do século

XX, a complexidade da atenção à saúde e a expansão dos hospitais levou a necessidade de

outros profissionais além dos médicos. Além disso, houve a sofisticação dos procedimentos

de registros e administração. Com isso, surgem também, a Enfermagem e a Nutrição.

As principais ações desenvolvidas por assistente sociais nos hospitais, naquela época,

eram: visitas aos enfermos após alta, para verificar os efeitos do tratamento médico e dar

instruções à família sobre dietas e formas de administrar as prescrições médicas; verificação

das influências das condições de vida, sociais e econômicas, através de contatos com paciente

e família e repasse dos dados coletado ao médico; explicação da natureza da enfermidade e

orientação sobre as precauções e obtenção de ajuda financeira para o paciente, quando havia

necessidade. (BRAVO, 2013, p. 92 apud FRIENDLANDER, 1969). Pensando nisso, a ação

profissional pautava-se em ajuda aos médicos, que assim, não precisam familiarizar-se com as

condições de vida dos pacientes.

Constitui-se, pois, um profissional que, na maioria das vezes, é o primeiro agente que

o usuário encontra nos serviços de saúde, o objetivo da sua ação era reduzir a tensão dos

usuários e evitar críticas ao atendimento realizado. Era encarregado de mostrar a função

humanitária, benfeitora da instituição de saúde. Com isso, a atuação pautava-se na ação

dominadora, contraditoriamente, aos princípios hoje defendidos pela profissão, através do

Código de Ética profissional e do Projeto Ético-Político.

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No período pós Primeira Guerra Mundial, o Serviço Social inicia seu processo de

elaboração teórica a fim de responder as exigências do momento. As formulações na profissão

recebem influências teóricas das Ciências Sociais e da Psicologia, centralizando os estudos na

sistematização dos métodos, adoção do método científico de perspectiva positivista e

funcionalista, com ênfase terapêutica e de ajustamento e adaptação do indivíduo à sociedade.

No final dos anos 1920, em vez de priorizar os problemas econômicos e sociais do

usuário, a profissão enfatiza seus problemas psicológicos e emocionais. A influência das

teorias psiquiátricas no Serviço Social se expressa pela exigência de que o profissional precisa

obter fatos mais detalhados para compreender a personalidade, os motivos e necessidades

emocionais do usuário. Com isso, a função desempenhada pelo profissional caracterizou-se

pela linha curativa. (BRAVO, 2013, p. 94).

O Serviço Social começou a adquirir um caráter pragmático, procurando

atingir as “causas” dos problemas de saúde através de uma ação prática

orientada para os interesses subjetivos do indivíduo. (BRAVO, 2013, p. 94).

No período de 1930, é sistematizado o Serviço Social de Grupo, surgindo às primeiras

fundamentações do trabalho com comunidades. Nisso, a sociedade era concebida de forma

consensual, só havendo condições para ajustes e reformas. Na área da saúde, esta atividade

aparece como educação para a saúde das gestantes, mães, pacientes e família, reduzindo-se a

informações, distribuição de noções de higiene, determinando normas e regras para a vida da

população. A saúde é vista como ausência de doença e enfatizada no aspecto individual.

Ainda neste período, domina na profissão a forma autoritária de intervenção

profissional, baseando-se em pressupostos que o sistema social é bom, e o de saúde, também e

que seria necessário corrigir as disfunções sociais, as patologias e controlar as doenças, para

que a sociedade continue a funcionar adequadamente.

Compreende-se uma atuação voltada aos interesses do Estado, da repressão e do

ajustamento dos indivíduos, em um sentindo de mascarar a raiz dos problemas, e controlar

aquilo que era tido como anormal.

Na América Latina, o Serviço Social surge em 1920, com fortes influências europeias.

A saúde é o primeiro setor que conta com a presença do assistente social. Vai ser a própria

categoria médica que contribui para a criação das primeiras escolas de Serviço Social, ao

perceberem que poderiam contar com um profissional que os auxiliassem em suas tarefas,

realizando controle do tratamento médico, administração de normas de higiene aos pacientes,

visitas domiciliares entre outros. (BRAVO, 2013, p. 97).

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Vai ser com o Estado de Bem-Estar implantando em alguns países, sobretudo nos mais

desenvolvidos, que o Serviço Social passa a efetivar a sua atuação nas instituições públicas e

estatais. A profissão amplia sua área de atuação para assumir a execução de políticas sociais

emanadas pelo Estado.

As alterações ocorridas em nível estrutural e conjuntural, a partir de 1945, altera a

ação profissional, enfatizando o método, postulando que a eficácia do profissional estaria na

abordagem metodológica. Há nesse período, um grande crescimento de instituições de

prestação de serviços sociais e assistenciais geridas ou subsidiadas pelo Estado, o que

viabiliza a expansão do mercado de trabalho para o profissional. (BRAVO, 2013, p. 98).

Na área da saúde, incorporam-se novas técnicas, especialmente investigativas, para

dar conta das implicações sociais, econômicas e emocionais da doença. Dentre as novas

técnicas utilizadas, destacam-se a investigação social, a ampliação do enfoque individual com

a adoção da abordagem grupal com pacientes e família e o trabalho em equipe.

Deste modo, o Serviço Social, nos Estados Unidos e na Europa sedimenta suas ações

através da operacionalização, execução e difusão das normas institucionais. Como demandas

para o assistente social na saúde, destacam-se: a preparação do doente para matrícula na

instituição, internação, alta ou transferência. Tais atividades, orientam-se para agilizar os

atendimentos, garantir rotatividade dos usuários nos serviços e propiciar ganhos na

produtividade do trabalho.

Outra atividade bastante comum ao assistente social da saúde, na época, é a concessão

de auxílios materiais, entre esses auxílios, sublinha-se a distribuição de medicamentos, de

alimentos e a concessão de órteses e próteses, etc., tudo isso, realizado através da seleção

socioeconômica. Estes auxílios são repassados para os trabalhadores como se fossem

benefícios, concessões e não na perspectiva de um direito social. Além do mais, tais

benefícios atendendo as necessidades concretas da população, é a forma utilizada pelo Estado

de disfarçar a dívida social com a classe trabalhadora.

Já na década de 1960, o Serviço Social, assume a postura desenvolvimentista, e

fundamenta sua prática em alguns conceitos básicos, podendo-se destacar a participação e a

socialização. A perspectiva que influencia a profissão nessa época é a estrutural funcional.

Com isso, apesar da participação de assistentes sociais em programas de

desenvolvimento de comunidade, o engajamento dos mesmos em projetos de saúde

comunitária foi reduzido em comparação aos absorvidos na prática clínica. A ação

profissional continua no interior dos hospitais, como suporte da medicina clínica, com poucos

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profissionais atuando em saúde coletiva. Além do mais, o profissional continua priorizando as

ações curativas, centralizadas na doença e não na saúde e suas determinações sociais.

Ainda nesse período, com o advento da comunidade terapêutica nas instituições

psiquiátricas, o assistente social passa a realizar treinamentos com pessoal auxiliar e

desenvolver grupos com familiares e pacientes a fim de integrá-los à instituição e, na

sequência, integrá-los à comunidade. (BRAVO, 2013, p. 104).

A fundamentação hegemônica que o Serviço Social adotou até a década de 1960, parte

da visão consensual de sociedade, que acredita no equilíbrio entre as partes constitutivas da

sociedade e a dicotomia entre ciência e técnica. Nos países capitalistas avançados, a partir de

1970, o Serviço Social aprofunda a perspectiva ajustadora consolidada anteriormente, porém,

com a introdução de procedimentos mais sofisticados, haja vista a ação profissional na

política social e nos programas de Bem-Estar Social.

As contradições gestadas no capitalismo, enquanto sistema que produz e reproduz as

desigualdades sociais, levou ao reconhecimento e insatisfação de grupos de assistentes

sociais, que tentaram romper com a prática profissional que historicamente tem contribuído

para reiterar esta situação. Essa questão se acentuou na década de 1970, quando assistentes

sociais começaram a esboçar movimentos em busca de uma alternativa metodológica

comprometida com a transformação dessas sociedades.

Na América Latina esboça-se o Movimento de Reconceituação, que:

Significou uma ruptura qualitativa, em termos de intencionalidade de ação e

fundamentos teóricos, rechaçando a perspectiva de ajustamento social e

incorporando a de transformação social, defendendo o Serviço Social

comprometido com a libertação do homem oprimido. (BRAVO, 2013, p.

107).

A perspectiva do Movimento de Reconceituação visava, no contexto particular da

saúde, à modificação da correlação de forças no interior das instituições de saúde, de forma

que, a sua estrutura vinculasse aos interesses da classe trabalhadora. Logo, a atuação

profissional com a população usuária das instituições de saúde, buscaria desencadear um

processo de reflexão das questões de saúde trazidas por esta, procurando a identificação dos

determinantes estruturais e conjunturais da situação, visando o engajamento da população nos

processos organizativos da sociedade civil e a participação em movimentos, compreendendo

que os problemas de saúde das populações não são de natureza individual, mas, gerados

coletivamente.

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A PARTICULARIDADE DAS PRIMEIRAS INTERVENÇÕES DO SERVIÇO

SOCIAL NO BRASIL

Na particularidade brasileira, sabe-se que é na conjuntura de 1930, que a questão

social assume nova qualificação, necessitando ser enfrentada politicamente pelo Estado. O

processo histórico-econômico permite que o Serviço Social se constitua como resposta

estratégica das classes dominantes.

O Serviço Social, ao surgir no Brasil, ligado à ação social da Igreja, fazia

parte de sua estratégia de reação e reagrupamento de forças, visando

reconquistar antigas prerrogativas com a constituição de poderosa

organização de massa. (BRAVO, 2013, p. 153).

De acordo com BRAVO (2013), no início de sua atuação profissional, os assistentes

sociais brasileiras tiveram duas demandas marcantes: uma originada da ação social católica e

outra partindo de determinadas instituições estatais que surgiram no período de 1930-1945.

As primeiras escolas de Serviço Social foram criadas nas cidades de São Paulo e Rio de

Janeiro, sendo a primeira, fundada em 1936, em São Paulo, por iniciativa da Igreja.

Os relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstram que sua atuação era doutrinária e eminentemente assistencial.

(IAMAMOTO e CARVALHO, 2011, p. 200).

O Serviço Social atuou inicialmente na assistência aos grupos ditos “marginalizados”

do mercado de trabalho. As principais áreas de ação dos profissionais, em seu início, foram

asilos, albergues, orfanatos e dispensários. A área de saúde abriu-se em seguida, mas de forma

principiante ainda.

As ações iniciais dos assistentes sociais na área de Saúde, chamada de Serviço Social

Médico, foi primeiramente ligada à puericultura e à profilaxia de doenças transmissíveis e

hereditárias. As funções exercidas eram: triagem socioeconômica, elaboração de fichas

informativas sobre o usuário para ajudar o médico, distribuição de auxílios financeiros para a

ida do usuário à instituição médica, conciliação do tratamento com os deveres profissionais do

usuário mediante entendimentos com o empregador, cuidado com relação aos fatores

emocionais e psicológicos do tratamento, adequação do usuário à instituição com a obtenção

de sua confiança. (IAMAMOTO e CARVALHO, 2011, p. 208).

Sendo assim, o discurso e a prática do Serviço Social na Saúde eram da educação do

povo, da instrução da família, a fiscalização sanitária, pautando-se na noção do proletariado

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como tendo um baixo nível cultural, além disso, a ação educativa estava relacionada ao

ajustamento do usuário às relações sociais vigentes, ou seja, a adesão da classe trabalhadora à

ordem social que produzia e reproduzia as desigualdades sociais.

Os assistentes sociais atuaram nas sequelas das situações de saúde das classes

trabalhadoras com a visão de mundo produzida por frações das classes dominantes, visando à

reprodução das relações sociais. O significado do controle ideológico da sociedade burguesa,

sancionada pela Igreja, era assumida pelos profissionais, que buscavam na sua intervenção o

consenso social. (BRAVO, 2013, p. 157).

Nas escolas de Serviço Social que surgiram vinculadas à saúde, tinham nos seus

currículos, matérias ligadas às áreas sanitárias e higienistas, tais como: Higiene, Puericultura,

Medicina de Urgência, Higiene Mental e Educação Familiar. A ênfase em padrões e normas

morais era a fim de viabilizar a aceitação das mudanças decorrentes da industrialização e

urbanização, que vinham acontecendo no cenário político-social pós 1930.

No período de 1945 a 1964, o Serviço Social amplia seu campo de ação profissional,

em decorrência da nova fase capitalista no Brasil, conectadas as mudanças que advinham do

panorama internacional pós Segunda Guerra Mundial. A questão social precisava ser

enfrentada de forma mais efetiva pelo Estado, com o apoio do empresariado, o que

determinou a criação das instituições assistenciais na época.

Por conseguinte, os assistentes sociais passaram a ser recrutados por estas instituições

estatais para realizar funções relativas à harmonização do conflito capital-trabalho, visando ao

ajustamento psicossocial do trabalhador, favorecendo a manutenção das relações sociais

vigentes. É nessa inserção que o Serviço Social se legitima e se institucionaliza no Estado.

Constata-se, ainda, que na década de 1950, houve uma maior sensibilização para

incorporar os métodos e técnicas do Serviço Social na burocracia do Estado e em 1960, a

profissão que se encontrava em livre expansão, tem iniciativas referentes ao Desenvolvimento

de Comunidade. Logo, o Serviço Social deveria aperfeiçoar-se elevando seu padrão técnico e

científico para atender às necessidades frente às mudanças na sociedade brasileira.

O Serviço Social na Saúde, que ainda nesta época utilizava-se do termo “Serviço

Social Médico” definiu como objetivos da ação profissional relacionar a doença aos aspectos

emocionais, psicológicos e sociais. A intervenção era considerada um trabalho de orientação

de natureza educativa, visando o desenvolvimento de potencialidades do usuário.

O debate da categoria de assistentes sociais, nesta época, colocava a importância da

ação de assistentes sociais nas diferentes áreas da comunidade, atuando mais diretamente no

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campo da saúde pública, junto com outros profissionais, para atender tanto a problemas de

proteção, prevenção e recuperação da saúde, como aos de bem-estar social. Porém, este

aspecto, não foi enfatizado, priorizando-se ainda a ação curativa.

O Serviço Social na Saúde sedimentou, neste período, sua ação profissional,

que se caracterizou por ações burocráticas, educativas, práticas de pesquisa e

classificação socioeconômica. (BRAVO, 2013, p. 165).

Compreendemos, pois, que o Serviço Social no Brasil, desde sua gênese até os anos

1970, tem uma forte influência conservadora sem questionar o modelo burguês de

desenvolvimento. A adoção de teorias positivistas e psicologizantes acabavam reforçando a

ordem societária vigente.

A inserção do Assistente Social nos serviços de saúde se deu através do modelo

médico clínico, sendo assim, o profissional do Serviço Social foi identificado como aquele

que contribua para o aperfeiçoamento do trabalho médico. Contudo, estamos falando de uma

época específica, quando o serviço de saúde estava sendo construído no país e o campo de

conhecimento das outras áreas também se pautava nos pressupostos positivistas. (MATOS,

2013, p. 57).

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social, que emerge no Brasil e na

América Latina nos anos 1960, como aqui já foi citado, se desenvolveu de forma diversificada

em cada país, devido a vários fatores, entre eles, a conjuntura política dos golpes militares

vivenciados nos anos 1960-1970.

Na particularidade brasileira, é a partir dos anos 1970 que o Serviço Social começa a

encarar as polêmicas internas a profissão. O processo de renovação do Serviço Social

brasileiro se deu de forma paralela ao movimento da reforma sanitária.

Com isso, até os anos 1980 a profissão encontrava-se desarticulada da discussão

coletiva progressista na área de saúde, representada pelo movimento de reforma sanitária, que

reunia profissionais da saúde e militantes com vistas a alterar o modelo médico-assistencial

privatista.

Segundo Matos (2013), é a partir dos anos 1990 que os assistentes sociais começam a

incorporar os princípios da reforma sanitária, que se constituem, na sua maioria, dos

princípios do SUS.

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3.2 O Serviço Social na Área de Saúde na Contemporaneidade

Para situar o Serviço Social na saúde na contemporaneidade, faz-se necessário

relembrar a trajetória política e social que vem delineando-se desde os anos 1980. Esta década

caracterizou-se como um período de grande mobilização política, e também, de

aprofundamento da crise econômica.

Nisso, há um movimento significativo na saúde coletiva, que também ocorre no

Serviço Social, de ampliação do debate teórico e incorporação de algumas temáticas como o

Estado e as políticas sociais fundamentadas no marxismo. (BRAVO e MATOS, 2009, p. 203).

Nessa conjuntura, o Serviço Social brasileiro recebe influências dos processos de crise

do Estado, do movimento de ruptura com a política de saúde vigente, como também, da

construção de uma reforma sanitária brasileira. Por outro lado, internamente, a profissão passa

por um processo de negação do Serviço Social Tradicional, havendo uma disputa pelos novos

rumos a serem dados pela profissão.

Dessa forma, a partir dos anos 1980, identifica-se o período de início da maturidade

profissional e da tendência atualmente hegemônica na categoria de Serviço Social, a intenção

de ruptura.

De acordo com Bravo e Matos (2009), se o Serviço Social cresceu na busca de uma

fundamentação e consolidação teórica, poucas mudanças consegue apresentar na intervenção,

para isso, na atualidade, se faz necessário relembrar as lacunas deixadas na década de 1980,

sendo a intervenção, uma delas. Com isso, a intervenção profissional deve ser uma prioridade,

já que poucas alterações trouxeram da vertente de intenção de ruptura para o cotidiano dos

serviços, isso, rebate na atuação do Serviço Social na saúde, maior campo de trabalho.

Diante destas lacunas deixadas na década de 1980, observa-se ainda, alguns avanços,

como: a postura crítica dos trabalhos em saúde apresentados nos Congressos Brasileiros de

Assistentes Sociais de 1985 e 1989, a proposta de intervenção formulada pela Associação

Brasileira de Ensino de Serviço Social, entre outros.

Mesmo assim, tais avanços são considerados insuficientes já que o Serviço Social na

área da saúde chega aos anos 1990, como já foi citado anteriormente, desarticulado do

Movimento da Reforma Sanitária, e também, com uma incipiente alteração da prática

institucional.

O período dos anos 1990 é de implantação do projeto neoliberal no país, do qual o

governo de Fernando Collor de Mello foi o primeiro a tentar implementá-lo. Esse projeto se

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consolida nos anos posteriores, e é um projeto que se confronta com o projeto profissional

desenvolvido pelo Serviço Social, como também com o projeto de Reforma Sanitária.

Nessa conjuntura, o projeto de reforma sanitária é questionado e consolida-se na

segunda metade dos anos 1990, o projeto de saúde articulado ao mercado, colocando, mais do

que nunca, vários desafios que ainda estão postos na atualidade.

A política macroeconômica dos governos anteriores tem sido mantida, o que ocasiona

a continuação da fragmentação das políticas sociais, como também, da sua subordinação à

lógica econômica. Os dois projetos existentes na saúde, ainda estão em disputa: o projeto da

reforma sanitária e o projeto privatista.

Na particularidade do trabalho de assistentes sociais na saúde, o eixo central se coloca

na busca criativa e incessante da incorporação dos conhecimentos e das novas requisições à

profissão, articulando os princípios do projeto da reforma sanitária e os princípios do projeto

ético-político do Serviço Social. Vai ser sempre na referência destes dois projetos, que o

profissional irá, de fato, dar respostas qualificadas as necessidades apresentadas pelos

usuários. (BRAVO e MATOS, 2009, p. 213).

A ação profissional deve se sustentar no conhecimento da realidade e dos sujeitos para

os quais são destinadas, contendo os fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos

construídos pela profissão em determinado momento histórico.

O projeto ético-político da profissão, construído nos últimos trinta anos,

pauta-se na perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de

sua fundamentação. Alguns conceitos são fundamentais para a ação dos

assistentes sociais na saúde como a concepção de saúde, a integralidade, a

intersetorialidade, a participação social e a interdisciplinaridade. (CFESS,

2010, p. 37, grifos meus).

No cenário atual, ainda persistimos como grande bandeira a implementação do projeto

da Reforma Sanitária, uma vez que esse projeto tem relação direta com o projeto profissional

dos assistentes sociais, dessa forma, identificar os impasses para a efetivação desses dois

projetos, se constitui hoje, como uma preocupação central.

Sendo assim, cabe ao Serviço Social, uma ação inteiramente articulada com outros

segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde, de forma que,

consiga propor estratégias que busquem reforçar ou criar experiências que efetivem o direito

social à saúde.

As atribuições e competências de Assistentes Sociais tanto nos serviços de saúde,

quanto em outro espaço sócio ocupacional, devem ser orientadas e norteadas por direitos e

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deveres presentes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão,

sendo observadas e respeitadas pelos profissionais e pelas instituições empregadoras.

O perfil do assistente social para atuar nas diversas políticas sociais deve afastar-se das

abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, as quais reforçam as práticas

conservadoras que tratam as situações sociais como problemas pessoais que devem ser

resolvidos individualmente. (CFESS, 2010, p. 32).

Além do mais, é necessário conhecer e reconhecer a questão social como objeto de

intervenção profissional, que demanda aos profissionais do Serviço Social a atuação pautada

em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação das determinações sociais,

econômicas e culturais das desigualdades sociais.

A intervenção baseada nessa perspectiva teórico-política pressupõe uma leitura crítica

da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de vida dos usuários, que

significa o reconhecimento e fortalecimento dos espaços de luta e organização dos

trabalhadores em defesa de seus direitos e a formulação coletiva, em conjunto com os

trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas para modificação da realidade, na luta

incessante pela garantia e ampliação dos direitos conquistados.

Dessa maneira, com base na Lei de Regulamentação da profissão, algumas

competências gerais são fundamentais à compreensão do contexto sócio histórico em que se

situa a intervenção, tais como: a apreensão crítica dos processos sociais de produção e

reprodução das relações sociais numa perspectiva de totalidade, a análise do movimento

histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do

capitalismo no país e as particularidades regionais, a compreensão do significado social da

profissão e seu desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e nacional,

desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade e a identificação das demandas

presentes na sociedade, visando formular respostas profissionais para o enfrentamento da

questão social. (CFESS, 2010, p. 33).

A área de saúde é um campo privilegiado para a atuação do assistente social, que, com

a direção adotada pela categoria profissional nos últimos anos e com a ação conjunta de

outros profissionais e movimentos sociais que compartilham dos princípios defendidos pelo

projeto ético-político, contribuem para o fortalecimento da classe trabalhadora enquanto

sujeito de direitos.

Conforme os Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais na Saúde (2010) o

assistente social atua no atendimento aos trabalhadores, seja individual ou em grupo, na

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pesquisa, no assessoramento e na mobilização dos trabalhadores, compondo muitas das vezes,

equipes multiprofissionais, além disso, difundem suas intervenções em quatro grandes eixos:

atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social; investigação,

planejamento e gestão; assessoria, qualificação e formação profissional.

O atendimento direto aos usuários realiza-se nos diversos espaços de atuação

profissional na saúde, desde a atenção básica até os serviços de média e alta complexidade,

ganhando materialidade estrutura das redes de serviços brasileira, a partir das unidades de

Estratégia de Saúde da Família, dos postos e centros de saúde, policlínicas, institutos,

maternidades, Centros de Apoio Psicossocial (CAPs), hospitais gerais, de emergência e

especializados, incluindo os universitários. (CFESS, 2010, p. 39).

As ações que predominam no âmbito do atendimento direto ao usuário são as ações

socioassistenciais, as ações de articulação interdisciplinar e as ações socioeducativas. Tais

ações devem integrar o processo coletivo do trabalho em saúde, sendo complementares e

indissociáveis, ou seja, não devem ocorrer de forma isolada.

As intervenções de mobilização, participação e controle social devem envolver um

conjunto de ações voltadas para a mobilização e participação social de usuários, familiares,

trabalhadores de saúde e movimentos sociais em espaços democráticos de controle social,

como os conselhos, as conferências, os fóruns de saúde e de outras políticas públicas,

favorecendo as lutas em defesa da garantia do direito à saúde.

As atividades desenvolvidas nesse eixo devem contribuir na organização da população

e dos usuários enquanto sujeitos políticos, que possam inscrever suas reivindicações na

agenda pública da saúde.

O eixo de investigação, planejamento e gestão se refere às ações que tem como

perspectiva o fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir, em

equipe e intersetorialmente, propostas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos

usuários e trabalhadores de saúde. O processo de descentralização das políticas sociais vem

requisitando aos profissionais de Serviço Social a atuação nos níveis de planejamento, gestão

e coordenação de equipes, programas e projetos, tal atuação deve ser embasada pela

realização de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e as demandas da

classe trabalhadora.

Já as ações de assessoria, qualificação e formação profissional visam ao

aprimoramento profissional, tendo como objetivo a melhoria da qualidade dos serviços

prestados aos usuários. As ações desse eixo envolve a educação permanente dos trabalhadores

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de saúde, da gestão, dos conselheiros de saúde e representantes comunitários, bem como a

formação de estudantes e residentes. As atividades de formação profissional abrangem a

criação de campo de estágio, supervisão de estagiários, bem como a criação e/ou participação

nos programas de residência multiprofissional e/ou uniprofissional e a preceptoria de

residentes. (CFESS, 2010, p. 62).

Além disso, as ações de assessoria compreendem as intervenções que o profissional

com conhecimento da área que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção

de alterá-la.

É importante ressaltar que os quatro eixos de atuação explicitados acima, envolvem

um conjunto de ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais, ressaltando a

capacidade propositiva dos profissionais, com ênfase na investigação da realidade, nas ações

socioeducativas, nas demandas reais e potenciais, na participação social, na ampliação da

atuação profissional, mediando à ação direta com os usuários com as atividades de

planejamento, gestão, mobilização e participação social, bem como as ações voltadas para a

assessoria, formação e educação permanente.

De acordo com os Parâmetros que balizam a atuação de Assistentes Sociais na área de

Saúde, as ações devem ser orientadas pelos fundamentos teórico-metodológicos, ético-

políticos e procedimentos técnico-operativos, tendo por referência o projeto profissional do

Serviço Social construído nos últimos 30 anos, articulado com a emancipação dos sujeitos

sociais.

A conjuntura na qual os Assistentes Sociais estão inseridos cotidianamente, não

favorece o acesso e a implementação dos direitos sociais e propõe uma rotina profissional de

constantes desafios, de modo que, somente através de uma direção crítica, é que se firmam os

direitos dos usuários.

Vivemos um cenário em que se acentua ainda mais a regressão dos direitos. O SUS,

patrimônio do povo brasileiro, fruto de um longo processo de lutas da classe trabalhadora, é

uma conquista do povo e para o povo, pois anterior a Constituição de 1988, a saúde era

privilégio somente dos trabalhadores/as com carteira assinada, posterior à promulgação da

carta constitucional, temos um sistema de cobertura universal, que, a cada dia, vem sofrendo

estratégias de minimização, através dos cortes orçamentários e das iniciativas privadas que

adentram no sistema público de saúde.

Assistentes Sociais inseridos nos campos de saúde, como em qualquer outro campo

profissional, precisa desvelar as particularidades do seu lócus de atuação, pois, é fundamental

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compreender os determinantes da política de saúde e seus rebatimentos no trabalho

desenvolvido na instituição e na vida dos usuários.

O Serviço Social como profissão inscrita no país há 80 anos, que teve em suas

primeiras intervenções o caráter assistencialista, hoje, precisa mais do que nunca, romper com

as práticas conservadoras, que por vezes, ainda são presentes da profissão.

Há que, historicamente, buscarmos romper – através do trabalho e das

relações sociais -, com as formas capitalistas de pensar e agir para

empreender ações que, além de possibilitar acesso a bens e serviços, resulte

num processo educativo; resulte num bem e não num produto a ser

consumido. Uma ação consistente, que exige capacidade de antecipar, de

projetar; capacidade que não está dada, mas é algo a construir, a alcançar.

(VASCONCELOS, 2009, p. 243).

Trata-se, pois, de buscar alternativas, frente ao contexto de aprofundamento da

proposta neoliberal no Brasil. Os assistentes sociais e demais profissionais precisam projetar

uma prática destinando-se um exercício consciente e de qualidade na direção dos interesses

dos diferentes segmentos da classe trabalhadora.

Na particularidade dos profissionais do Serviço Social essa prática deve está de acordo

com o horizonte que se propõe o projeto profissional e com os princípios estabelecidos no

Código de Ética dos Assistentes Sociais, no qual destacamos os seguintes: a defesa

intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; o posicionamento

em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e

serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; a

articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos

princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores, e o compromisso com a

qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na

perspectiva da competência profissional.

Cabe ao Serviço Social – numa ação necessariamente articulada com

outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único

de Saúde (SUS) - formular estratégias que busquem reforçar ou criar

experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à

saúde, atentando que o trabalho do assistente social na saúde que

queira ter como norte o projeto ético-político profissional tem que,

necessariamente, estar articulado ao projeto da reforma sanitária.

(BRAVO e MATOS, 2011, p. 213).

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Dessa forma, mais do que nunca, os assistentes sociais estão desafiados a encarar a

defesa da democracia, das políticas públicas e pautar uma intervenção que faça frente ao

projeto neoliberal, já que este reduz os direitos e as conquistas do povo brasileiro. Não se

pode ficar acuado frente às dificuldades que se apresentam na cena cotidiana e nem

desconsiderar que há um leque de pequenas, mas não menos importantes, atividades e

alternativas a serem desenvolvidas pelos profissionais do Serviço Social.

3.3 Hospital Universitário Onofre Lopes e sua Estrutura de Funcionamento

O Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) está situado na Avenida Nilo

Peçanha, nº 620, Petrópolis, Natal/RN. É uma instituição que faz parte da Universidade do

Rio Grande do Norte (UFRN), sendo administrado atualmente pela Empresa Brasileira de

Serviços Hospitalares (EBSERH).

Está inserido como referência de média e alta complexidade em diversas áreas para

todo o estado, além de ser uma unidade referenciada para as urgências cardiológicas do SUS.

O HUOL foi inaugurado em 12 de setembro de 1909, pelo então governador Alberto

Maranhão, com o nome de Hospital de Caridade Juvino Barreto, em reverência ao

proprietário da única fábrica de tecelagem que havia em Natal naquela época e que contribuiu

financeiramente para a existência do hospital. Foi instalado em uma antiga casa de veraneio,

funcionando inicialmente com 18 leitos, sob a direção do médico Januário Cicco, que,

sozinho, administrava e prestava assistência aos doentes.

Em outubro de 1935, o Hospital muda de nome, passando a ser Hospital Miguel

Couto, em homenagem ao influente médico e pesquisador na área da saúde pública. Em 05 de

fevereiro de 1955, é criada a Faculdade de Medicina, tornando-se o Hospital o campo das

práticas para todos os cursos da área de saúde.

Assim, em 1960, com a federalização da Universidade e a incorporação da Faculdade

de Medicina, o Hospital assume a personalidade de Hospital-Escola, integrando-se à UFRN,

passando a denominar-se Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Com a sua federalização, ficou assegurada a sua manutenção através do Ministério da

Educação, nas funções de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Até novembro de 1984 manteve essa denominação, quando então passou a ser

chamado de Hospital Universitário Onofre Lopes, nome que permanece até os dias atuais, em

homenagem ao criador e primeiro reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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No contexto da UFRN, até o ano de 2013 o HUOL caracterizava-se como uma das

Unidades Suplementares dessa UFRN, porém, a partir desse ano, com a adesão à Empresa

Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), criada por meio da Lei 12.550, a gestão do

HUOL passou a ser feita por essa empresa. Dessa forma, em 29 de agosto de 2013, após

contrato firmado entre a UFRN e a EBSERH, a administração do hospital passou a ser feita

pela EBSERH.

A criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) integra um

conjunto de ações empreendidas pelo Governo Federal no sentido de recuperar os hospitais

vinculados às universidades federais.

Desde 2010, por meio do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais

Universitários Federais (REHUF), criado pelo Decreto nº 7.082, foram adotadas medidas que

contemplam a reestruturação física e tecnológica das unidades, com a modernização do

parque tecnológico; a revisão do financiamento da rede, com aumento progressivo do

orçamento destinado às instituições; a melhoria dos processos de gestão; a recuperação do

quadro de recursos humanos dos hospitais e o aprimoramento das atividades hospitalares

vinculadas ao ensino, pesquisa e extensão, bem como à assistência à saúde.

A EBSERH é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Educação e passa a ser

o órgão do MEC responsável pela gestão do Programa de Reestruturação e que, por meio de

contrato firmado com as universidades federais que assim optarem, atuará no sentido de

modernizar a gestão dos hospitais universitários federais, preservando e reforçando o papel

estratégico desempenhado por essas unidades de centros de formação de profissionais na área

da saúde e de prestação de assistência à saúde da população integralmente no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS).

O HUOL integra o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme estabelece a Lei

Orgânica da Saúde (Lei no 8080/90), na qualidade de hospital de referência, sem prejuízo dos

objetivos fundamentais da UFRN.

Tem como Missão: Promover de forma integrada o ensino, a pesquisa, a extensão e a

assistência, no âmbito das ciências da saúde e correlatas, com qualidade, ética e

sustentabilidade e como Visão: Ser reconhecido como hospital universitário de referência,

identificado pela excelência, sentido humanitário e relevância social.

Para ser atendido (a) no HUOL, primeiramente deve-se procurar a Unidade de Saúde

mais próximo da residência, consultar um Clínico e se este considerar que a pessoa deve ser

encaminhada para alguma especialidade do HUOL, ele preenche a ficha de referência e a

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própria unidade de saúde é que providencia a marcação da consulta, pois o HUOL faz o

atendimento, mas este deve ser agendado pelas Unidades de Saúde. A seguir, apresenta-se um

quadro com todas as especialidades médicas existentes no hospital:

Tabela 02: Especialidades médicas existentes no HUOL

ESPECIALIDADE LOCAL DE

ATENDIMENTO

ESPECIALIDADE LOCAL DE

ATENDIMENTO

Cancerologia Clínica Térreo Mastologia 1º andar

Cardiologia 2º sub-solo Medicina Intervencionista 1º andar

Cardiologia Pediátrica Amb. de Pediatria Nefrologia Térreo

Cirurgia Buco-maxilo-facial 1º andar Nefrologia Pediátrica Amb. de Pediatria

Cirurgia Bariátrica 1º andar Neurocirurgia 1º andar

Cirurgia de Cabeça e Pescoço 1º andar Neurologia Térreo

Cirurgia Cardíaca 2º sub-solo Neuropediatria Amb. de Pediatria

Cirurgia Geral 1º andar Oftalmologia 1º andar

Cirurgia Geral Pediátrica Amb. de Pediatria Ortopedia Térreo

Cirurgia Oncológica 1º andar Ortopedia Pediátrica Térreo

Cirurgia Plástica 1º andar Otorrinolaringologia 1º andar

Cirurgia Torácica 1º andar Pediatria Geral 1º andar

Cirurgia Vascular 1º andar Pneumologia 1º sub-solo

Clínica Geral Térreo e 1º sub-solo Pneumologia Pediátrica Amb. de Pediatria

Dermatologia 1º sub-solo Proctologia 1º andar

Endocrinologia Térreo Psiquiatria 1º sub-solo

Endocrinologia Pediátrica Amb. de Pediatria Psiquiatria Pediátrica Amb. de Pediatria

Gastroenterologia 1º sub-solo Reumatologia Térreo

Gastroenterologia Pediátrica Amb. de Pediatria Reumatologia Pediátrica Amb. de Pediatria

Geriatria Térreo e 1º sub-solo Sexologia Térreo

Hematologia Térreo Urologia 1º andar

Infectologia Pediátrica Amb. de Pediatria

Fonte: Carta de Serviços ao Cidadão, HUOL, 2015.

Quando se trata de retorno, este pode ser agendado no Serviço de Arquivo Médico e

Estatístico - SAME/HUOL, desde que seja em um período de até trinta dias após a realização

da consulta. Essas orientações são válidas tanto para as pessoas que residem em Natal quanto

para as que moram em outros municípios do Rio Grande do Norte pactuados com o município

de Natal, pois o HUOL é uma unidade de referência para diversas especialidades médicas

para todo o estado.

Além dessas especialidades médicas, o HUOL dispõe de outras Unidades e Serviços,

que dão suporte ao atendimento ambulatorial e hospitalar, são elas: o Serviço de Arquivo

Médico e Estatístico – SAME; Serviço de Internação; Serviço de Apoio Diagnóstico por

Imagem e Métodos Gráficos; Laboratório de Análises Clínicas – LAC; Laboratório de

Anatomia Patológica; Unidade de Dispensação Farmacêutica; Unidade Transfusional;

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Unidade de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente – UASCA; Unidade de

Hematologia e Oncologia; Unidade de Tratamento de Alcoolismo e Outras Dependências –

UTAD; Unidade De Transplante; Serviço De Oftalmologia; Serviço de Cirurgia da Obesidade

e Doenças Relacionadas - SCODE (Cirurgia Bariátrica); Núcleo de Estudos Do Fígado –

NEF; Ambulatório Multidisciplinar de Doenças do Neurônio Motor Esclerose Lateral

Amiotrófica – ELA; Unidade de Atenção Psicossocial e Ouvidoria.

A Unidade de Atenção Psicossocial, coordenada pelo Dr. João Paulo Maia de Oliveira,

é responsável pelo acompanhamento psicossocial de pacientes que se encontram internados

ou fazem acompanhamento ambulatorial no HUOL. Essa Unidade multiprofissional é

composta pela Psiquiatria, Psicologia, Fisioterapia e Serviço Social.

O Serviço Social atende aos usuários internos e externos (pacientes, familiares e

acompanhantes) de forma individual e/ou grupal, prestando serviços de âmbito social,

mediando relações institucionais em defesa do acesso igualitário e universal aos serviços de

saúde e da efetivação dos direitos sociais dos usuários.

O Serviço Social se objetiva em atender aos usuários que demandam seus serviços,

defendendo a efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos direitos sociais, no sentido

de contribuir para a prevenção, recuperação e promoção das condições da saúde desses

usuários. Funciona diariamente, das 07h00min às 19h00min.

O Serviço Social está presente no HUOL há mais de 50 anos, tendo surgido a partir de

1959, quando ainda era denominado Hospital Miguel Couto. A equipe do Serviço Social é

composta por várias Assistentes Sociais que se dividem em setores de cuidado, além do grupo

de Residentes em Serviço Social do Programa de Residência Multiprofissional.

O Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do HUOL constitui

um curso de Pós-graduação lato sensu, caracterizado por treinamento em serviço, orientado

pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). No Hospital Universitário

Onofre Lopes (HUOL) o programa contempla, atualmente, duas (2) áreas de concentração:

Atenção em Terapia Intensiva Adulto e Atenção à Saúde da Criança, nas quais integram sete

(7) profissões da área de saúde: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia,

Psicologia e Serviço Social.

Os profissionais do Serviço Social se dividem nas enfermarias e na gestão de alguns

programas existentes no hospital. O cenário atual é de adaptação às mudanças que vem

ocorrendo desde a adesão a EBSERH.

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Em relação a sua infraestrutura, o HUOL possui uma área física de 31.569,45 m², e

dispõe de 242 leitos de internação, sendo 19 de UTI. Além disso, são 84 consultórios

ambulatoriais, 12 salas de cirurgias, sendo 7 no Centro Cirúrgico, 2 na oftalmologia e 3 na

Pequena Cirurgia. Existem 2 auditórios e o Centro de Diagnóstico por Imagem – CDI, um

prédio de 4 andares que reúne todos os serviços de imagem e de métodos gráficos, equipado

de avançada tecnologia, como ressonância magnética 1.5 TESLA; tomógrafo

computadorizado helicoidal; hemodinâmica digital; ultrassonografia color e dopler;

ecocardiógrafos color e dopler; videocolonoscópios digestivos; broncoscópios;

eletrocardiógrafos; eletroencefalógrafos; esteira ergométrica; etc.

3.4 O Cotidiano Profissional de Assistentes Sociais no Hospital Universitário Onofre

Lopes

Neste trabalho já caracterizamos todo o processo histórico da política de saúde

brasileira, e sabemos, que foi a partir da Constituição de 1988 que no âmbito da Seguridade

Social, a saúde, é colocada como direito de todos e dever do Estado, como retrata o artigo 196

da CF.

Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988).

Sabemos ainda, que o Serviço Social se insere no Brasil há cerca de 80 anos, sendo

que, nos últimos trinta anos, tem adotado uma perspectiva crítica de atuação, voltados aos

interesses da classe trabalhadora, visando à superação da ordem capitalista.

Com bem traz Iamamoto (2000), um dos maiores desafios que o Assistente Social vive

no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de

trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, sendo um profissional proposito e

não meramente executivo. A realidade no qual assistentes sociais estão inseridos propõe uma

gama de desafios que exige deste profissional o caráter propositivo e investigativo,

mergulhando para além da superfície das relações sociais.

Neste item pretende-se abordar o cotidiano profissional do/as assistentes sociais que

compõem a Divisão do Serviço Social no Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL. A

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análise foi feita através da realização de entrevistas semi-estruturadas14

, na qual se pode

avaliar questões que envolvem o dia a dia do Serviço Social na instituição, as dificuldades,

desafios e mudanças que o hospital vem atravessando após a adesão da Empresa Brasileira de

Serviços Hospitalares – EBSERH.

A pesquisa no Serviço Social é um processo fundamental na formação profissional.

Além de desenvolver a capacidade investigativa do assistente social, torna-se uma forma de

apreender as múltiplas dimensões da questão social e como elas se concretizam nas demandas

apresentadas pelos usuários.

Conforme Guerra (2009),

[...] a atitude investigativa e a pesquisa como parte constitutiva do exercício

do assistente social, vislumbram-se os requisitos para o desenvolvimento da

pesquisa científica, e, finalmente, o papel da investigação da realidade na

formulação do projeto de intervenção e da intervenção propriamente dita.

(GUERRA, 2009, p.703).

Com isso, tendo por referência a dimensão investigativa e através das entrevistas

realizadas, foi possível obter um levantamento de dados sobre o fazer profissional de

assistentes sociais inseridos no contexto do HUOL. Para a coleta de dados foi utilizada a

pesquisa qualitativa, que na definição de Laville e Dionne (1999), não se trata apenas de

analisar de forma restrita os dados, mas amplia a sua forma de análise, pois nas Ciências

Sociais os números se transformam em qualidade de vivência de relações humanas.

Como já foi mencionado neste trabalho, o Serviço Social está presente no HUOL há

mais de 50 anos, hoje, conta com um grupo de assistentes sociais advindas de concursos

realizados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e outro grupo advindo

recentemente do concurso realizado pela EBSERH. Além destas profissionais existe o grupo

de residentes da Residência Multiprofissional em Saúde, da qual o Serviço Social faz parte.

Foram realizadas cinco entrevistas, nas quais, três foram com profissionais advindas

do concurso recente da EBSERH, e duas que está há mais tempo na instituição, e são

vinculadas a UFRN.

A análise dos dados buscou apreender questões como: a participação destes

profissionais em cursos/especializações/palestras, os principais instrumentais utilizados pelas

assistentes sociais, as maiores dificuldades enfrentadas no cotidiano do trabalho, os desafios

14

A entrevista semi-estruturada, segundo Laville e Dionne (1999, p.188) é uma série de perguntas abertas, feitas

verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimentos.

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para a efetivação do Sistema Único de Saúde, quais mudanças perpassam o contexto

profissional pós-adesão a EBSERH, os principais limites e desafios na instituição e ainda,

questões sobre a materialização do Projeto Ético-Político.

Segundo Netto (2011), o objetivo do pesquisador,

[...] indo além da aparência fenomênica, imediata e empírica – por onde

necessariamente se inicia o conhecimento, sendo essa aparência um nível da

realidade e, portanto, algo importante e não descartável -, é apreender a

essência (ou seja: a estrutura e dinâmica) do objeto. Numa palavra: o método

de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa

alcançar a essência do objeto. (NETTO, 2011, p. 22).

Dessa maneira, a análise dos dados das entrevistas realizadas, pretende suscitar neste

item, o debate sobre o cotidiano de trabalho das assistentes sociais inseridas no HUOL, como

também entender como está este cotidiano após a adesão da EBSERH, em 2013.

Antes da realização das entrevistas, as profissionais responderam um questionário

socioeconômico que teve por objetivo traçar o perfil das assistentes sociais, os resultados

foram os seguintes: predominam-se assistentes sociais do sexo feminino (das entrevistadas

todas são mulheres), de cor parda, a idade varia entre 20 e 51 anos ou mais, com diferentes

regimes de trabalho (umas por CLT, e outras RJU), algumas só trabalham há um ano na

instituição e vieram do concurso recente realizado pela EBSERH e outras já está há mais

tempo; algumas possuem mais de um vínculo empregatício e boa parte tem renda familiar

acima de cinco salários mínimos, além disso, todas as entrevistadas utilizam como meio de

transporte o carro e cursou o ensino superior todo em universidade pública, a maioria tem

especialização concluída. No que refere à moradia, algumas possuem moradia própria e

outras moradia alugada, de fato que, das cinco entrevistadas, três tem filhos, e duas não. Com

isso, temos um pouco do perfil das profissionais inseridas no hospital.

Após esse breve questionário, a entrevista segue sobre a educação permanente destas

profissionais. Abordamos sobre os cursos/especializações/eventos da categoria profissional e

da área de saúde, a maioria diz participar frequentemente, quando é possível, pois o vínculo

com o hospital, às vezes, dificulta a saída para a participação nos eventos de formação e

capacitação.

De acordo com o CFESS (2012), o contexto sócio histórico exige a reflexão e

aprofundamento acerca da intervenção na realidade. A educação permanente é uma

necessidade em todas as profissões e áreas de conhecimento, pois, no contexto atual, a

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dinâmica e complexa realidade em transformação produz aceleradamente questões que

precisam ser desveladas e analisadas.

Com isso, os profissionais do Serviço Social, mesmo em meio a tantas dificuldades

encontradas no seu fazer profissional, devem procurar estratégias de se atualizar e aprofundar

os conhecimentos, haja vista, a realidade dinâmica na qual vivemos.

A Política de Educação Permanente fortalece um dos princípios do nosso Código de

Ética profissional, no que corresponde ao “compromisso com a qualidade dos serviços

prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva de competência

profissional”.

Assim, a educação permanente

se constitui em um importante instrumento para a construção e qualificação

de ações cotidianas no exercício da profissão e na sua capacidade de

organização política. Dessa forma, é necessário reconhecê-la também como

instrumento fundamental de luta política e ideológica. (CFESS, 2012, p. 15-

16).

A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS tem como

função primordial a defesa da formação profissional de qualidade para os/as assistentes

sociais. É importante ressaltar, ainda, que a Política de Educação Permanente proposta pelo

conjunto CFESS-CRESS em 2012, torna-se estratégica no plano da qualificação continuada

dos/as profissionais, num contexto que exige cotidianamente do Serviço Social a capacidade

de decifrar, processar e intervir numa realidade complexa.

Em continuação as entrevistas, foram perguntadas sobre os principais instrumentais

utilizado no cotidiano profissional e o mais citados foram: entrevistas sociais, orientações e

encaminhamentos, além disso, foram citados: atendimentos individuais e grupais, o livro de

ocorrência, articulação setorial e intersetorial, visita às enfermarias, contatos telefônicos,

acompanhamento social, contato direto com famílias e usuários e contato com instituições

(prefeituras, secretarias, redes institucionais, etc.).

Pensar a instrumentalidade no Serviço Social parece ser algo referente somente ao uso

daqueles instrumentos necessários ao fazer profissional, através dos quais os assistentes

sociais podem efetivamente objetivar suas finalidades em ações profissionais, contudo, a

instrumentalidade no exercício profissional se refere para além de um conjunto de

instrumentos e técnicas, a capacidade ou propriedade constitutiva da profissão que é

construída e reconstruída no processo sócio histórico.

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A instrumentalidade no Serviço Social é uma capacidade que a profissão vai

adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais

objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio dessa capacidade,

adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam,

alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num

determinado nível da realidade social: no nível cotidiano. (GUERRA, 2000, p. 2).

Logo, a instrumentalidade é uma categoria constitutiva do trabalho social, além de ser

uma condição de reconhecimento da profissão, reconhecimento este, no sentido que é através

dos instrumentais que a profissão concretiza a sua prática. Com isso, esta prática pode ser

direcionada ou não a garantia dos direitos sociais do usuário.

A entrevista social, por exemplo, se constitui o momento de acolhimento do usuário e

da família, é um espaço de fala e escuta. Essa atividade é importante, pois, é através do

levantamento de dados relacionados à condição de vida dos usuários e de sua rede social que

possibilita a construção de subsídios para que a equipe multiprofissional visualize os limites e

possibilidades do processo saúde/doença.

Assistentes Sociais dão instrumentalidade as suas ações na medida em que alteram o

cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção.

Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condições

existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das

intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste

modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho

social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho.

(GUERRA, 2000, p. 2).

Dessa forma, é pelo conjunto de práticas dos assistentes sociais que a profissão de

Serviço Social é reconhecida ou não, valorizada ou não, respeitada ou não, conquistando sua

autonomia e espaços ou não. (VASCONCELOS, 2009, p. 245).

No contexto do trabalho de Assistentes Sociais na saúde, segundo Vasconcelos (2009)

independente do tipo da unidade de saúde e das diferenças dos usuários e das demandas

dirigidas ao Serviço Social, os assistentes sociais vêm seguindo uma lógica de organização do

seu trabalho e estratégias de ação. O Serviço Social como um todo, se organiza em plantão ou

plantão e programas, e individualmente, os assistentes sociais, podem se organizar

desenvolvendo ações no plantão, nos programas e nos projetos da instituição.

As demandas do Plantão são atendidas individualmente através de: orientações

diversas, encaminhamentos, esclarecimentos, informações, providências, apoio,

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aconselhamento, entre outras, tais atividades são apontadas pela quase totalidade de

assistentes sociais. (VASCONCELOS, 2009, p. 247).

Geralmente, os usuários chegam ao plantão do Serviço Social através da procura

espontânea, dos encaminhamentos internos e/ou externos. A prática profissional realizada nos

plantões reduz-se geralmente a uma prática burocrática, não assistencial, pois prioriza

resposta as demandas por informação e orientação pontuais e não por recursos materiais, de

capacitação e organização.

Dessa forma, coloca-se como desafio uma ação profissional que rompa com o

conservadorismo preponderante no domínio da prática. É partindo das referências ético-

políticas e teórico-metodológicas, e colocando-as como referências concretas para ação

profissional, que se criam condições de um exercício profissional consciente, crítico, criativo

e politizante, que só pode ser empreendido na relação de unidade entre teoria e prática.

Com isso, é importante que os profissionais do Serviço Social utilizem-se da

instrumentalidade que aproxima teoria e prática,

a distância entre a prática profissional e os conteúdos teóricos da realidade

da ação profissional, resultante da falta de leitura crítica do movimento da

realidade, revela um desperdício de oportunidades por parte dos assistentes

sociais e demais profissionais de saúde diante das possibilidades de prática a

serem captadas na realidade em que realizam suas ações, quando se objetiva

redirecionar as políticas públicas na direção dos interesses dos usuários.

(VASCONCELOS, 2009, p. 254).

Mediante o prosseguimento das entrevistas, o próximo assunto abordado se refere às

maiores dificuldades enfrentas no trabalho profissional. Foi citada por todas as entrevistadas a

questão das condições de infraestrutura da divisão do Serviço Social não favorecer o sigilo

profissional.

A Divisão do Serviço Social compreende um espaço físico que degrada o atendimento

ao usuário. A estrutura é composta por uma sala de reuniões, uma sala de atividades coletivas,

e duas salas para atendimento individualizado, que muitas vezes não pode ser fechadas devido

à ausência de ar condicionado e/ou janelas, além disso, tem uma copa e um banheiro.

É com uma infraestrutura que não favorece o sigilo profissional que estas profissionais

realizam as entrevistas sociais, orientações e demais procedimentos, colocando-se, pois, mais

um desafio na rotina de assistentes sociais do HUOL.

O sigilo profissional não é apenas aquilo que é confiado ao profissional pelo usuário, é

parte da ética profissional a preservação do usuário e de todas as informações que lhe digam

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respeito, mesmo que elas não lhe tenham sido reveladas diretamente. (BARROCO e TERRA,

2012, p.91).

Dessa forma, foi dito pelas profissionais que faltava um espaço que garantisse um

atendimento que permitisse o sigilo profissional, pois as atuais salas de atendimento, não

garantiam a privacidade dos usuários.

As condições degradantes do setor de Serviço Social, para além do atendimento ao

usuário, também se torna um espaço precário para as profissionais. Foi citado nas entrevistas

o fato da falta de cadeiras e mesas apropriadas, que geram piores condições de trabalho e

interfere na saúde do trabalhador. Sendo assim, conclui-se que mesmo o local de atuação

sendo reconhecido como um hospital de referência, com boa estrutura física, o setor de

Serviço Social ainda não possui uma infraestrutura adequada que favoreça as condições de

trabalho e o atendimento aos usuários.

Outra dificuldade citada refere-se ao diferentes regimes de trabalho. Após a entrada de

novos profissionais advindos do concurso realizado pela EBSERH, passaram a vigorar dois

regimes diferentes de trabalho, algumas profissionais pelo regime estatutário (Regime

Jurídico Único - RJU) e outras pelo regime celetista (CLT).

Nisso, as dificuldades de elaboração de escalas de trabalho se acentuaram, uma vez

que, há dois regimes de trabalho diferentes para a mesma categoria. Ou seja, enquanto um

regime considera um feriado, outro, pode não considerar, por exemplo. Isso tudo reflete no

cotidiano profissional, na elaboração das escalas e também nas condições de trabalho.

O regime estatutário é definido por um conjunto de regras que regulam a relação

funcional entre o servidor e o Estado. Ele submete-se ao Regime Jurídico Único dos

Servidores Públicos Federais (lei 8.112/90). As condições de prestação de serviço estão,

portanto, traçadas na lei.15

Já o regime celetista é regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A

relação jurídica entre o Estado e o servidor trabalhista no regime celetista é de natureza

contratual, ou seja, é celebrado um contrato de trabalho. Esse regime trabalhista é adotado

geralmente por sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações de Direito

Privado instituídas pelo Poder Público, como o caso da EBSERH.

Assim, podemos compreender como diferentes de trabalho podem influenciar no

trabalho profissional de uma categoria. As condições atuais retratadas pelas profissionais

15

Fonte: http://www.tudosobreconcursos.com/informacoes-gerais/estatutario-ou-celetista-qual-o-melhor. Acesso

em 23 de maio de 2016

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entrevistadas revelam que esse quesito torna-se uma das dificuldades no seu cotidiano

profissional.

Outra dificuldade enfrentada é a falta de conhecimento e reconhecimento das

atribuições do Serviço Social por parte de outras categorias que compõe as equipes de saúde.

Essa dificuldade é colocada como um desafio no fazer profissional dos assistentes sociais.

Como bem relatou uma das entrevistadas:

ditam o que fazer como fazer e porque fazer, esperando uma atuação

conforme o entendimento deles (os outros profissionais de saúde).

(ENTREVISTADA).

.

Nesse sentido, cabe aqui discutir sobre o trabalho de articulação com as equipes de

saúde. Tal trabalho deve ser refletido e as atribuições do profissional de Serviço Social

precisam ficar especificadas e divulgadas para os demais profissionais.

Conforme Iamamoto (2002) é nas diferentes especializações que permitem atribuir

unidade à equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando as diferenças. Cada

profissional em decorrência de sua própria formação tem competências e habilidades distintas

para desempenhar as suas ações.

O assistente social, ao participar de trabalho em equipe de saúde, dispõe de

ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde

do usuário e uma competência também distinta para o encaminhamento das

ações, que o diferencia do médico, do enfermeiro, do nutricionista e dos

demais trabalhadores que atuam na saúde. (CFESS, 2010, p. 44).

Conforme os Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde

(2010) a equipe de saúde e/ou os empregadores, frente às condições de trabalho ou também

pela falta de conhecimento das competências dos assistentes sociais, têm historicamente

requisitado aos profissionais diversas ações que não são atribuições dos mesmos, como:

marcação de consultas e exames, solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta,

identificação de vagas em outras unidades nas situações de necessidade de transferência

hospitalar, convocação do responsável para informar sobre alta e óbito, comunicação de

óbitos, entre outros.

Sendo assim, aquelas ações que possuem um caráter eminentemente técnico-

administrativo, como também aquelas que demandam uma formação técnica específica (de

outras profissões da saúde), não são atribuições dos assistentes sociais.

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Com isso, o assistente social, muita das vezes, tem tido dificuldades de compreensão

por parte da equipe de saúde das suas atribuições e competências face à dinâmica de trabalho

imposta nas unidades de saúde determinadas pelas pressões com relação à demanda e à

fragmentação do trabalho ainda existente. (CFESS, 2010, p. 45).

A atuação do assistente social frente a esse procedimento é de orientação,

esclarecimento e reflexão junto ao usuário e a equipe de saúde.

Em continuação as entrevista, foi perguntado sobre os desafios para a efetivação dos

princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)16

.

O SUS, por ser um sistema único, deve ter a mesma doutrina e a mesma forma de

organização em todo o país. Mas, é preciso compreender bem essa ideia de unicidade, já que,

vivemos em um país de vasta diversidade cultural, econômica e social.

Por isso, o que é definido como único na Constituição é um conjunto de elementos

doutrinários e de organização do sistema, que inclui os princípios da universalização, da

equidade, da integralidade, da descentralização e da participação popular. Estes elementos

devem se relacionar com as peculiaridades e determinações locais.

No contexto na qual estão inseridas, as profissionais entrevistadas colocam como um

dos principais desafios à efetivação do SUS, a falta de visão do princípio da integralidade,

fato em que os profissionais estão focados apenas no aspecto da doença do indivíduo e

potencialmente as demandas sociais ficam a cargo do Serviço Social.

Como exemplo disso, nota-se que, há nos serviços de saúde, em geral, um costume de

se identificar os usuários com alta médica, mas com alguma dificuldade de sua autonomia na

sociedade capitalista em que vivemos (crianças, adolescentes e idosos sem acompanhantes,

usuários com nenhuma ou baixa renda, pacientes psiquiátricos, população de rua, etc.), como

alvos exclusivos de intervenção dos assistentes sociais, uma vez que a responsabilidade para a

solução dessas questões é identificada como sendo apenas do profissional de Serviço Social.

(MATOS, 2013, p. 65).

Fica claro então, que é colocado para o assistente social a resolução de problemas que

são próprios do sistema capitalista e a crença que é possível resolver tais problemas

estruturais por meio de políticas sociais.

Fato é, que em um país como o nosso de histórica e imensa desigualdade social, as

políticas sociais tornam-se fundamentais. Os avanços trazidos pela Constituição de 1988,

16

Baseado nos preceitos constitucionais a construção do SUS se norteia pelos seguintes princípios doutrinários:

universalidade, equidade, integralidade, descentralização, regionalização e hierarquização, e participação dos

cidadãos. Fonte: http://www.pbh.gov.br/smsa/bibliografia/abc_do_sus_doutrinas_e_principios.pdf.

Acesso em 23 de maio de 2016.

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como o direito universal à saúde, revelam a importância destas políticas. Não se pode,

portanto, acreditar que as políticas sociais, exclusivamente, poderão acabar com as

desigualdades próprias do sistema capitalista. Tais desigualdades só podem ser superadas com

o fim deste sistema.

Nisso, é interessante que o princípio de integralidade seja posto em prática. É preciso

reconhecer que cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade, e que, as

ações de promoção, proteção e reabilitação da saúde, também não podem ser desintegradas,

assim como as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade,

devem configurar um sistema capaz de prestar assistência integral.

A formação dos profissionais de saúde é uma das atividades que precisam ser

continuamente revistas, minimizando situações em que o profissional não tenha perfil para o

trabalho coletivo, integrado, interdisciplinar, entre outros princípios, necessários ao SUS que

queremos construir. (SOUZA e COSTA, 2010, p. 514).

Outra dificuldade para a concretização do SUS diz respeito ao entendimento dos

profissionais da saúde quanto à organização do sistema, isto nos remete ao processo de

educação permanente17

destes profissionais, que devem conciliar a prática profissional aos

processos teóricos de capacitação/atualização.

Para a consolidação do SUS, muitos desafios há de serem superados. O Sistema Único

de Saúde, como responsável por ações de promoção, prevenção e recuperação, apresenta

propostas completas para um sistema de saúde nacional.

A complexidade do SUS, as dificuldades locorregionais, a fragmentação das

políticas e programas de saúde, a qualificação da gestão e do controle social,

a organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços

de saúde têm se constituído em desafios permanentes na consolidação do

Sistema Único de Saúde. (SOUZA e COSTA, 2010, p. 513).

A partir disso, compreende-se, pois, que a maior conquista do SUS, de fato, foi quanto

ao direito legal de acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde em todos os

níveis de complexidade. O SUS já vem superando grandes entraves. É preciso lembrar que no

cenário atual, as políticas de redução do Estado, as privatizações, a inserção das empresas

17

De acordo com Ceccim e Ferla, a educação permanente em saúde precisa ser entendida, ao mesmo tempo,

como uma prática de ensino-aprendizagem e como uma política de educação na saúde. Ela se parece com muitas

vertentes brasileiras da educação popular em saúde e compartilha muitos de seus conceitos, mas enquanto a

educação popular tem em vista a cidadania, a educação permanente tem em vista o trabalho. Fonte:

http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html. Acesso em 23 de maio de 2016

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privadas no que é público, tem sido peças fundamentais para as dificuldades que vem se

apresentando.

Nesse sentido, no cenário do HUOL, após a adesão da Empresa Brasileira de Serviços

Hospitalares – EBSERH foi perguntando quais as mudanças que perpassavam o cotidiano

profissional.

Um primeiro ponto que já foi destacado aqui é sobre os diferentes regimes de trabalho,

algumas profissionais com regime estatutário (RJU) e outras celetistas (CLT). Talvez essa

seja uma das principais mudanças que vem afetando a categoria profissional, no sentido da

organização interna do trabalho (escalas, plantões, feriados), como também dos direitos

trabalhistas que são diferentes.

Outra mudança se refere ao modelo de atendimento do hospital que agora se dá por

linhas de cuidado18

. A entrevistada relata que não está desvalorizando as linhas de cuidado,

mas as formas como estão sendo organizadas e as intenções, que separam e desagregam as

categorias profissionais.

Entre as principais mudanças ainda destaca-se o aumento do número de recursos

humanos, advindas do concurso realizado pela EBSERH. A entrada de novos profissionais

diminuiu a sobrecarga do trabalho e também uma maior e melhor cobertura nos setores do

hospital, foi um aspecto positivo, porém o que dificulta são os diferentes regimes de trabalho.

Fato é que este concurso poderia ter sido realizado pela antiga gestão do hospital, que era da

UFRN.

Conforme Sodré (2013) foi através da “crise” instalada nos hospitais universitários

que abriu precedentes para a aproximação voraz da privatização das áreas sociais de

responsabilidade do Estado. A saúde e a educação pública têm perdido espaço para o mercado

privado, diante de um discurso de ineficiência estatal, e tem se subordinado a ditames

mercadológicos, na qual a universalidade do direito (garantidos por lei, como a saúde) é

substituída pela compra e venda de serviços.

Foi colocada como “salvação” dos Hospitais Universitários, desde a época de

Fernando Henrique Cardoso, a criação de fundações estatais de direito privado, como

unidades gestoras dos HUs. Tal proposta foi rejeita pelas entidades que se articulam em

defesa do projeto histórico do SUS e expressas na 13a

e 14a Conferência Nacional de Saúde

18

De acordo com o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerias, linhas de cuidado podem ser

definidas como a imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais seguros e garantidos ao usuário, no

sentido de atender às suas necessidades de saúde. São planos de cuidados estruturados e multidisciplinares

destinados a apoiar a implantação de diretrizes clínicas e protocolos. Fonte: http://www.ebserh.gov.br/web/hc-

ufmg/gestao-por-processos-linhas-de-cuidado. Acesso em 24 de maio de 2016.

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(2007 e 2011), a rejeição por essa via de solução. Porém, na conjuntura neoliberal, a proposta

permaneceu latente e aos poucos foi adentrando nos hospitais universitários que aderiram à

empresa.

Hoje, na conjuntura do HUOL, após quase três anos de adesão a EBSERH, há

divergências de aceitação ou não da empresa. As entrevistadas desta pesquisa, em sua

totalidade, acredita que não era necessária a adesão. Foi bastante positivo a vinda das novas

profissionais pelo concurso realizado pela EBSERH, mas, no geral, a empresa não tem sido a

solução para os problemas que os HUs têm enfrentado.

Posterior a isso, foi levantado pergunta sobre os principais limites e desafios de

assistentes sociais no HUOL. Entre as repostas destaca como um dos principais limites, a falta

da garantia do sigilo profissional com os usuários, devido às condições de infraestrutura que

não favorece como já foi mencionado anteriormente.

Como desafios, foi citada a questão de garantir um atendimento com qualidade, com

vistas a ampliar os direitos dos usuários; o trabalho na visão de totalidade e integralidade e

também, o reconhecimento da profissão e de suas atribuições.

A fim de ampliar os direitos sociais, o profissional precisa dar uma direção a sua

intervenção, isso significa que deve usar de referenciais teórico-metodológicas e ético-

políticas e comprometer-se com a garantia dos direitos civis, sociais e políticos dos segmentos

populares, com a preocupação de análise dos serviços tendo em vista os direitos sociais,

especialmente, o direito à saúde. (VASCONCELOS, 2009, p. 244).

É necessário que os profissionais do Serviço Social, na sua atuação, incorporem as leis

e aparatos jurídicos que respaldam sua intervenção, materializando-a na concretização dos

direitos sociais.

Conforme a ABEPSS (2003) um assistente social crítico e propositivo exige um

determinado perfil: profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e

implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de políticas sociais públicas,

empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais, dotado de formação

intelectual e cultural generalista e crítica, com capacidade de inserção criativa e propositiva,

no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho.

Sobre a materialização do Projeto Ético-Político, a grande maioria citou que

materializava através da defesa e na orientação dos direitos sociais, principalmente nos

direitos à saúde. Foi mencionado ainda, que materializava através dos instrumentais

(orientações, encaminhamentos, entre outros) necessários para executar a ação profissional.

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O projeto profissional do Serviço Social é fruto das conquistas históricas desde o final

da década de 1970, ou seja, a partir do Congresso da “Virada”, em 1979. Consolidou-se nas

décadas de 1980 e 1990, e uma de suas características é pensar a profissão no contexto

histórico, garantindo a análise da sua particularidade e da sua relação com outros sujeitos

sociais e profissionais, na busca, sob determinadas condições sócio econômicas, de

estabelecer alianças e parcerias, na defesa de valores e princípios comprometidos com a

emancipação humana.

É evidente que vivemos em uma conjuntura desfavorável aos projetos societários que

fazem frente ao capitalismo.

Quanto ao futuro do nosso Projeto Ético-Político, são os sujeitos

profissionais que precisam se dedicar a construir as condições sócio

históricas para implementá-lo e, ao mesmo tempo, enfrentar as condições

sócio históricas da sua implementação. (GUERRA, 2010, p. 11).

Pensar o projeto profissional do Serviço Social é pensar na direção que se dá a

intervenção profissional. Matos (2013) reflete sobre os assistentes sociais inseridos no

contexto de saúde, que precisam manejar de conhecimentos específicos da política de saúde,

da saúde pública e sobre as legislações da área, etc.

Estes conhecimentos não são neutros. Em cada área, existem conhecimentos

diferentes, que se originam a partir de teorias e políticas diversas. Na saúde não é diferente. O

projeto de reforma sanitária tem sua origem na negação da política de saúde historicamente

tratada no país e agravada na ditadura militar e tem como bandeira a constituição de um

serviço público estatal, com acesso universal.

Mesmo que distintos – o Projeto Ético-Político do Serviço Social é de uma corporação

profissional e o da reforma sanitária um projeto de política social que se materializa também

em um serviço – ambos os projetos têm uma clara concepção de mundo e de homem, com

uma nítida vinculação a um projeto societário não capitalista, apontando para o socialismo.

(MATOS, 2013, p. 102).

Os dois projetos tem pontos em comum: defesa dos direitos inalienáveis do homem,

defesa do público, do Estado laico e democrático, dentre outros. Contudo, é notório que em

meio à conjuntura neoliberal, estes dois projetos sofrem ataques para sua efetivação.

Refletir na efetivação de tais projetos supõe uma análise macro societária, conjuntural

e de observação dos limites e das possibilidades presentes no cotidiano profissional.

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Certo é que o Projeto Ético-Político está em disputa, seja na direção em que vai ser

dada, seja para o seu combate. Como bem afirma Matos (2013), muitos assistentes sociais

estão trabalhando conscientemente para o fortalecimento deste projeto, outros buscam ignorá-

lo, e, certamente, uma parcela expressiva está fazendo uma verbalização abstrata da defesa do

Projeto Ético-Político profissional. O autor ainda fala que mesmo que todos/as assistentes

sociais internalizem os valores do Projeto Ético-Político do Serviço Social, não significa que

com isso conseguiríamos implementar com êxito esse projeto. Para isso, seriam necessários

outros fatores, como a conjuntura favorável de aliança entre esse projeto profissional e o

projeto societário. Contudo, a internalização dos valores deste projeto profissional por parte

dos assistentes sociais, sem dúvida, já seria um grande avanço.

Pensar em tudo que foi abordado neste item, nos leva a acreditar que os desafios são

bastante complexos, mas existem possibilidades. Consideremos, pois, o contexto no qual

vivemos época de capital financeiro que atinge profundamente as políticas sociais, inclusive a

política de saúde, defendendo a sua redução e precarização. Mais do que nunca, hoje, coloca-

se como desafio a profissão, a defesa de tudo que já foi construído.

Decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social,

hoje, é de fundamental importância para o serviço social em uma dupla

perspectiva para que se possa tanto apreender as várias expressões que

assumem, na atualidade, as desigualdades sociais – sua produção e

reprodução ampliada – quanto projetar e forjar formas de resistência e de

defesa da vida. (IAMAMOTO, 2001, p. 28).

Os profissionais de Serviço Social ao conviver em seu cotidiano com os mais variados

desafios precisam utilizar-se de sua capacidade investigativa, de forma que, possam propor

intervenções que favoreça os usuários de seus serviços, na perspectiva de realização dos

direitos sociais.

Em tempos como estes, é preciso coragem e resistência na defesa dos direitos

historicamente conquistados. Precisamos avançar e não retroceder.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 04. Disponível em: http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1152. Acesso em 12

de Junho de 2016

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto atual da saúde pública brasileira tem trazido sérias preocupações em

relação ao direito universal à saúde garantido através da Constituição Federal de 1988. A

conjuntura econômica, política e social que se desenvolveu no Brasil a partir dos anos 1990 é

fruto do projeto neoliberal, e apesar da Constituição propor alguns avanços para a saúde, o

grande capital tem se articulado e prevalecido em cena, realizando grandes retrocessos no que

diz respeito ao direito à saúde pública, gratuita e de qualidade.

O texto constitucional de 1988, após pressão popular, atende algumas reivindicações

do movimento de reforma sanitária, como: o direito universal a saúde, acabando com a

diferença entre segurado e não segurado; a construção de um Sistema Único de Saúde (SUS);

a participação do setor privado no SUS de forma complementar e ainda o fato dos serviços de

saúde passar a ser considerados de relevância pública, entre outros avanços.

Porém, com a entrada do projeto neoliberal na década de 1990, tais avanços foram de

certa forma, comprometidos. A reforma do Estado, muito bem denominada por alguns

autores como uma contra-reforma, tinha ênfase especial nas privatizações e na previdência

social, e, acima de tudo, desprezando as conquistas de 1988 no campo da seguridade social.

(BEHRING e BOSCHETTI, 2011, p. 148).

Os retrocessos advindos da década de 1990 entram nos anos 2000 com forte pressão e

os ditames neoliberais até hoje tem norteado vários campos dos direitos sociais, inclusive da

saúde.

É fato que o contexto atual não é propício aos avanços sociais, com isso, a efetivação

das políticas sociais tem sido um desafio bastante complexo.

O SUS enquanto patrimônio do povo brasileiro deve ser defendido pelos profissionais

de saúde e por toda a população, pois, a garantia e concretude dos direitos sociais dependem

muita das vezes da pressão popular e do comprometimento dos trabalhadores de saúde com os

princípios do SUS.

Os trabalhadores de saúde, incluindo os Assistentes Sociais, são chamados a estarem

na linha de frente em defesa de um SUS público, estatal e de qualidade.

Hoje, com a entrada das empresas públicas de direito privado, como o caso da

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), a situação tem se agravado. A

privatização tem se dado por dentro do SUS, no momento em que o patrimônio do povo tem

sido gerido por empresas que visam o lucro e não o bem-estar de seus usuários.

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O projeto de saúde articulado ao mercado tem ganhado espaço, as concepções

individualistas e fragmentadas tem se sobreposto a concepção coletiva da universalidade do

direito.

Hoje, mais do que nunca, é preciso defender o sistema de saúde que temos e sua

melhoria. Vivemos um cenário no qual se questiona pelo poder público a manutenção da

universalidade do SUS. É preciso reconhecer que este sistema tem contribuído para a

preservação da saúde da população brasileira, fato que se concretiza na extensa rede de

serviços e dos mais amplos programas de vacinação e anti-HIV do mundo.

Os avanços e as extensões dos serviços da saúde pública brasileira mostram a

capacidade que o SUS tem em promover com qualidade serviços que atendam toda a

população brasileira. Nisso, é fundamental que os estados e municípios cumpram com suas

responsabilidades na construção deste sistema descentralizado, fazendo com que os

programas e projetos possam ser de fato efetivados.

Assistentes Sociais inseridos na política de saúde contam com diversos desafios, entre

eles, o de construir caminhos que possam levar a efetivação dos direitos sociais. Para isso, é

importante a apropriação de uma perspectiva teórico-metodológica que contenha princípios

fundamentais como a democracia, a equidade e a justiça social, tomando como projeto

profissional aquele vinculado ao processo de construção de uma nova sociabilidade, sem

dominação e exploração de classe.

A intervenção profissional de Assistentes Sociais na saúde deve ser embasada

teoricamente no Código de Ética profissional, na Lei que regulamenta a profissão, nos

Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, e ainda, nas legislações

jurídicas que envolvem o cotidiano profissional, promovendo estratégias para a consolidação

de uma prática voltada aos interesses da classe trabalhadora.

O Hospital Universitário Onofre Lopes, lócus de pesquisa deste trabalho, é importante

referência nos serviços de saúde no estado do Rio Grande do Norte, com a sua recente adesão

a EBSERH, tem multiplicado os desafios aos profissionais do Serviço Social desta instituição.

A adesão a EBSERH representa uma ameaça à autonomia universitária, na qual, o

capital adentra o ensino, a pesquisa e a extensão destes hospitais-escola, como o HUOL.

Além disso, a EBSERH prejudica também os usuários dos serviços de saúde. A falta

de insumos, medicamentos, material, alimentação que já era uma grande problemática, não

tem se resolvido com a entrada da empresa, mas tem se agravado e piorado. Tal fato tem

acontecido em diversos hospitais universitários que aderiram à empresa.

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Em relação à categoria profissional, com a EBSERH desaparece a Divisão do Serviço

Social e fica a Divisão Psicossocial, na qual se perde a autonomia profissional e enfraquece a

categoria de Assistentes Sociais.

Outro aspecto importante foi à entrada de novos profissionais pela EBSERH. A

chegada de novos recursos humanos é de fato necessária e urgente, porém, estes novos

profissionais tem vínculos mais flexíveis, o que significa uma perda para estes trabalhadores,

a luta é para que eles também tenham direitos trabalhistas mais amplos e seguros.

Em meio a esse leque de desafios, tanto no âmbito mais geral do Sistema Único de

Saúde, quanto nas particularidades de Assistentes Sociais inseridos no HUOL, compreende-se

que é necessário construir alternativas de luta e resistência.

Bravo (2016), em recente palestra no II Seminário Nacional Crise do Capital e Fundo

Público: implicações para o trabalho, os direitos e a política social19

, destaca algumas

alternativas a estes desafios, como por exemplo: o fortalecimento da Frente Nacional contra a

Privatização, que vem desde 2010 em torno da luta de um SUS 100% público, estatal e de

qualidade; fortalecimento dos fóruns estaduais e municipais que compõe a frente e que se

articulam nesta luta, como também os movimentos sociais em defesa da Reforma Sanitária.

O Assistente Social deve estar articulado aos movimentos sociais pautando esse debate

e discutindo as possibilidades existentes em meio a esta conjuntura tão desfavorável. O

Projeto Ético-Político profissional é de suma importância e deve ser eixo central na atuação

de assistentes sociais, pois, através de uma atuação crítica, construímos as bases para uma

nova sociabilidade.

É preciso sempre querer mais, ousar e sonhar nos processos de luta e resistência.

19

O evento ocorreu de 01 à 02/06 de 2016 no campus da UFRN em Natal/RN.

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APÊNDICES

Apêndice A

Questionário para pesquisa dos (as) Assistentes Sociais do Hospital Universitário Onofre

Lopes – HUOL

1. Qual o seu sexo?

( ) Feminino. ( ) Masculino.

2. Qual sua idade?

( ) Entre 20 e 30 anos ( ) Entre 31 e 40 anos

( ) Entre 41 e 50 anos ( ) 51 anos ou mais

3. Como você se considera:

( ) Branco(a). ( ) Pardo(a).

( ) Negro(a). ( ) Amarelo(a). ( ) Indígena.

4. Estado civil:

Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado( ) União Estável ( ) Viúvo/a ( )

5. Quantidade de filhos:

Nenhum ( ) 1 filho ( ) 2 filhos ( )

3 a 4 filhos ( ) Acima de 4 filhos ( )

6. Qual seu regime de trabalho?

Você tem carteira assinada? ( ) Sim Não ( )

Outro _________________________________________________

7. Quantos vínculos empregatícios possuem:

( ) Somente 1 ( ) 2 ( ) 3 ou mais

8. Renda familiar:

3 salários ( ) 5 salários ( ) Acima de 5 salários ( )

9. Moradia:

Própria ( ) Alugada ( ) Cedida ( )

Bairro:__________________________________________

10. Qual o meio de transporte que utiliza para se deslocar?

( ) Ônibus ( ) Carro

( ) Moto ( ) Outro_________________________________

11. Qual a sua composição familiar?

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( ) Duas pessoas ( ) Três

( ) Quatro ( ) Acima de quatro ( ) Moro sozinho(a)

12. Onde você estudou o 3º grau (graduação)?

( ) Universidade pública ( ) Universidade privada

( ) Parte na universidade pública e parte na universidade privada

13. Você possui alguma pós-graduação?

( ) Especialização em andamento ( ) Especialização concluída

( ) Mestrado em andamento ( ) Mestrado concluído

( ) Doutorado em andamento ( ) Doutorado concluído

14. Nos últimos cinco anos, quais os cursos de especialização/atualização que você

participou? Você costuma ir a congressos, minicursos, palestras?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

15. Enfermaria (unidade) de referência:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

16. Já trabalhou como Assistente Social em outra área diferente da saúde? Se sim, qual a

maior dificuldade enfrentada?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

17. Há quanto tempo trabalha no HUOL?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

18. Quais os principais instrumentais que você utiliza no cotidiano profissional?

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19. Cite as maiores dificuldades enfrentadas em seu trabalho:

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20. Que desafios você colocaria em relação à efetivação dos princípios do Sistema Único de

Saúde?

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___________________________________________________________________________

21. Após a adesão da EBSERH, que mudanças perpassam o cotidiano profissional?

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22. O que você acha da adesão do HUOL a EBSERH?

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23. Quais os principais limites e desafios de assistente sociais nesta instituição?

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24. Como você consegue materializar o Projeto Ético-Político no seu dia a dia profissional?

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