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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: UMA PRERROGATIVA À VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DO SABUGI RN ALCIDA DO NASCIMENTO FERNANDES NATAL-RN 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O FUNDEB, fundo de natureza contábil, destinado a financiar a educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: UMA PRERROGATIVA À

VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DO

SABUGI – RN

ALCIDA DO NASCIMENTO FERNANDES

NATAL-RN

2016

ALCIDA DO NASCIMENTO FERNANDES

ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: UMA PRERROGATIVA À

VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DO

SABUGI – RN

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Dra. Kilza Fernanda Moreira de Viveiros.

NATAL-RN

2016

ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: UMA PRERROGATIVA À

VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DO

SABUGI – RN

Por

ALCIDA DO NASCIMENTO FERNANDES

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Dra. Kilza Fernanda Moreira de Viveiros – Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Dr. Flávio Boleiz Junior – Examinador(a)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Dr. Gilmar Barbosa Guedes – Examinador(a)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: PRERROGATIVA À

VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DO

SABUGI – RN

Alcida do Nascimento Fernandes Pedagogia EaD, UFRN

[email protected]

RESUMO

Este artigo objetiva realizar análise documental de normativas atuais, pertinente à prerrogativa de valorização do magistério, promovendo reflexão sobre a importância da atualização dos planos de carreira. Aborda demandas educacionais da atualidade, englobando diferentes políticas públicas que incidem sobre a oferta de uma educação com qualidade, com ênfase na questão da valorização do magistério. Mais especificamente, trata do Plano de Cargos Carreira e Salários do Magistério Público Municipal de São João do Sabugi–RN, revelando imperativa necessidade de alinhamento deste, com as legislações pertinentes em vigor. A metodologia aplicada foi centrada em pesquisas bibliográficas e entrevista. O aporte teórico enfoca publicações de BRASIL, CNE, SÃO JOÃO DO SABUGI-RN, como também, LIBÂNEO (1990 e 2003), NASCIMENTO (2005), OLIVEIRA (2006), SANTOS (2011).

Palavras-chave: Políticas Públicas, Valorização do Magistério, Plano de Carreira.

INTRODUÇÃO

Considerando que o propósito da educação brasileira é o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho, faz-se necessário primar pela oferta de uma

educação com qualidade. Isso demanda uma reflexão tanto sobre a

responsabilidade direta com os educandos, quanto com as condições de

trabalho vivenciadas cotidianamente nas instituições de ensino. As demandas

educacionais atuais exigem a implementação de políticas públicas que

ponderem a vertente da democratização. A participação da sociedade nas

deliberações das políticas educacionais está cada vez mais acentuada, e a

escola absorve um perfil dialético e assume novas funcionalidades na esfera

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global. Os profissionais do magistério devem se apropriar dos mecanismos de

valorização profissional, sejam eles leis, espaços de discussão, mobilização e

reivindicação, a fim de lutar por melhorias trabalhistas e consequentes

mudanças positivas nos resultados apresentados pela educação nacional.

Neste contexto, a reestruturação dos planos de carreira do magistério –

alinhados as leis educacionais vigentes – aparece como uma preocupação

tanto do Estado, quanto da classe profissional.

DEMANDAS DA EDUCAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO

Atualmente, discutir sobre Estado Democrático de Direito tornou-se um

diálogo comum em todo o Brasil. Tal conceito é uma herança de pensadores

gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles que, séculos antes de Cristo, já

buscavam uma estrutura organizacional de sociedade que primasse pelo

interesse comum. A Constituição da República Federativa do Brasil, legalmente

instituída em 1988, assumiu status “Constituição Cidadã” pela ênfase dada à

garantia dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a igualdade e a justiça,

entre outros. Nos dias atuais, o efetivo exercício do Estado de Direito vincula-

se ao desenvolvimento da sociedade, colocando-se como mecanismo de

aperfeiçoamento da vontade dos cidadãos, representado pela legislação que

rege nosso país. Mas, tudo que hoje se apresenta estabelecido conta com um

longo processo histórico de construção, como a contemporânea preocupação

acerca da valorização do magistério – tema centrado no campo da Educação,

que por sua vez, viu emergir das ideias do filósofo Platão as sementes

pedagógicas de um sistema educacional integrado a dimensão ética e política.

A consolidação da Lei nº 9.394/96, que instituiu as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDB, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais

de solidariedade humana, conferiu ao cenário da educação escolar brasileira

um percurso de gradativas e intensas modificações estruturais sob a ótica da

democratização e do reconhecimento da diversidade na universalização da

educação. A partir de então, novas ações passaram a ser criadas e

desenvolvidas na perspectiva de garantir o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

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trabalho, imbuindo demandas aos campos da formação e da valorização do

magistério. Neste contexto, a educação escolar vê-se diante de uma nova

funcionalidade:

“A função social da escola na sociedade contemporânea tem sido um tema recorrente nos debates sobre educação em todo o mundo. Vive-se um período de profundas e vertiginosas transformações sociais, culturais e tecnológicas que têm contribuído para redefinições do papel da escola no atual contexto de economia globalizada.” (NASCIMENTO, 2005).

Dentre as demandas da educação no mundo globalizado, a luta pela

universalização do ensino busca a garantia de acesso, permanência e oferta

com qualidade. Faz-se necessária a instituição de políticas públicas voltadas

para a gestão do financiamento da educação, a valorização dos profissionais

dos profissionais da educação, e atenção especial à carreira do magistério.

Vinculado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE) – autarquia jurídica criada na década

de 1960 para tratar de assuntos ligados ao financiamento da educação –

constitui-se hoje numa instituição de referência na Educação Brasileira,

responsável pela execução de políticas educacionais que visam alcançar a

melhoria e garantir uma educação de qualidade a todos, em especial a

educação básica da rede pública. Suas definições, resultado de deliberações

do conselho interno, evidenciam-se traços de uma postura voltada para a

gestão democrática.

“A perspectiva da gestão democrática pressupõe a participação efetiva de seus usuários, contribuindo para que a escola funcione a contento, através da adesão aos propósitos educativos a que ela deve visar, resultando em ações efetivas que impliquem na melhoria da qualidade do ensino ministrado.” (OLIVEIRA, 2006).

O FUNDEB E A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

O FNDE gerencia diversos Programas e Sistema de apoio,

financiamento e acompanhamento da educação, todos acessíveis por meio do

endereço eletrônico <http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-

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apresentacao>. A perspectiva de democratização da educação pública

caminha sobre o viés da maior participação da comunidade. No âmbito do

financiamento da educação a Lei nº 11.494/07, que regulamenta o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação (FUNDEB) define, em seu artigo 24, um perfil de

transparência na gestão:

“O acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos dos Fundos serão exercidos, junto aos respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por conselhos instituídos especificamente para esse fim”.

O FUNDEB, fundo de natureza contábil, destinado a financiar a

educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e

educação de jovens e adultos), tem vigência prevista em lei até 2020. A

distribuição dos seus recursos é realizada com base no número de alunos da

educação básica pública, de acordo com dados do censo escolar do ano

anterior, e fiscalizada pelo Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB (CACS FUNDEB) – que tem como função principal acompanhar e

controlar a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos, no âmbito

das esferas municipal, estadual e federal. Este colegiado deve ter ação

independente, pois não é uma unidade administrativa do governo. Na

perspectiva da gestão democrática, representa a atuação da sociedade (em

diferentes segmentos: professores, diretores, pais, alunos, servidores, conselho

tutelar e conselho municipal de educação) que pode apontar falhas ou

irregularidades eventualmente cometidas, para que as autoridades

constituídas, no uso de suas prerrogativas legais, adotem as providências que

cada caso venha a exigir. No trato específico da valorização do magistério, a

Lei nº 11.494/07 estabelece:

Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na rede pública. Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se:

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I - remuneração: o total de pagamentos devidos aos profissionais do magistério da educação, em decorrência do efetivo exercício em cargo, emprego ou função, integrantes da estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito Federal ou Município, conforme o caso, inclusive os encargos sociais incidentes; II - profissionais do magistério da educação: docentes, profissionais que oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência: direção ou administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional e coordenação pedagógica;

O monitoramento da aplicação dos recursos do FUNDEB na vertente da

gestão democrática participativa, compartilhada pela sociedade civil e pelo

governo, constitui fator imprescindível para o avanço na qualidade da

educação. Contudo, as demandas da educação pública solicitam a

implementação de muitas outras políticas públicas.

PISO NACIONAL DO MAGISTÉRIO

A Lei do Piso (lei federal nº 11.738/08), que institui o piso salarial

profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação

básica, foi criada para garantir o que dispõe o inciso VIII, do artigo 206, da

Constituição Federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006), o

qual define que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios

[...] – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação

escolar pública, nos termos de lei federal”. Na atenção a prerrogativa de

valorização dos profissionais do magistério, o mesmo artigo da Constituição

Federal define no inciso V: “valorização dos profissionais da educação escolar,

garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente

por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas” (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). Torna-se claramente

perceptível, na redação desses incisos, que o governo parte da legislação para

lançar políticas públicas educacionais e que, consequentemente, os

profissionais da educação devem em contrapartida, qualificar-se para atender

às demandas atuais.

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A organização e a estruturação da carreira profissional do magistério

estão ancoradas na base de formação – inicial e continuada – o que tem

aferido identidade profissional dentro da carreira referenciada por um aparato

legal que estabelece as diretrizes norteadoras dos processos formativos e de

ocupação de cargos e funções. Para atuar com competência o profissional da

educação deve saber utilizar as informações a que tem acesso, e aplicar os

conhecimentos adquiridos em sua formação e a partir deles, construir novos

saberes de acordo com a situação contextualizada em que está inserido. Os

saberes da formação e da profissão são componentes importantes da

organização dos elementos estruturadores do trabalho em educação,

considerando os seus diferentes níveis de ensino e aprendizagem escolar. A

identidade do profissional do magistério é continuamente construída pelo

conjunto de saberes e fazeres presentes na sua formação e na profissão.

“Art. 3º A formação inicial e a formação continuada destinam-se, respectivamente, à preparação e ao desenvolvimento de profissionais para funções de magistério na educação básica em suas etapas – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio – e modalidades – educação de jovens e adultos, educação especial, educação profissional e técnica de nível médio, educação escolar indígena, educação do campo, educação escolar quilombola e educação a distância – a partir de compreensão ampla e contextualizada de educação e educação escolar, visando assegurar a produção e difusão de conhecimentos de determinada área e a participação na elaboração e implementação do projeto político-pedagógico da instituição, na perspectiva de garantir, com qualidade, os 4 direitos e objetivos de aprendizagem e o seu desenvolvimento, a gestão democrática e a avaliação institucional.” (CNE, RESOLUÇÃO Nº 2/2015).

A valorização da carreira do magistério necessita estar respaldada em

uma estrutura organizacional bem definida, tal qual a disposta nos planos de

carreira, como referencia a Lei do Piso:

Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão implantar Planos de Carreira e remuneração dos profissionais da educação básica, de modo a assegurar: I - a remuneração condigna dos profissionais na educação básica da rede pública; II - integração entre o trabalho individual e a proposta pedagógica da escola; III - a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Parágrafo único. Os Planos de Carreira deverão contemplar capacitação profissional especialmente voltada à formação continuada com vistas na melhoria da

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qualidade do ensino. Art. 41. O poder público deverá fixar, em lei específica, até 31 de agosto de 2007, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. (Lei Federal nº 11.738/08).

OS PLANOS DE EDUCAÇÃO

A discussão sobre a estruturação dos planos de carreira do magistério é

constante abordagem tanto no âmbito governamental, quanto nos movimentos

classistas. No Brasil, é fato comum ocorrerem frequentes alterações em leis e

outras normativas, mas, no presente momento, as referências básicas provêm

da Resolução nº 5/2010, do Conselho Nacional de Educação (CNE), que fixa

as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos

Funcionários da Educação Básica Pública, além de outras legislações

pertinentes, como o que dispõe a LDB em seu artigo 67: “Os sistemas de

ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-

lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério

público”. Neste contexto, a Lei nº 13.005/14, que institui o Plano Nacional de

Educação (PNE) 2014/2024, que determina diretrizes, metas e estratégias para

a política educacional, estabelece em sua meta 18:

“assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de Carreira para os (as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal.” (PNE, 2014).

Considerando que os entes federados deverão elaborar ou adequar, em

suas próprias esferas, seus correspondentes planos de educação em

consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas no PNE

2014/2024, no prazo de 01 (um) ano contado, da publicação da lei, e que

caberá aos gestores a adoção das medidas governamentais necessárias ao

alcance das metas previstas, justapõe-se a realização do presente estudo:

Atualização do Plano de Carreira: uma prerrogativa à valorização do

Magistério Público Municipal de São João do Sabugi – RN.

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A Lei nº 13.005/2014 (PNE) traz importantes instrumentos para viabilizar

as ações conjuntas em regime de colaboração e o monitoramento de execução

do PNE. Recomenda atenção na elaboração e harmonização dos planos de

educação decenais dos estados e municípios, indicando a necessidade de

garantir a articulação do sistema nacional de educação frente à organização

federativa do Estado brasileiro. Na busca pela efetivação das diretrizes, metas

e estratégias estabelecidas, o MEC mantém um portal online de orientação e

avaliação – acessível por meio do endereço eletrônico <http://pne.mec.gov.br>

– com a finalidade de apoiar os diferentes entes federativos no desafio de

alinhar os planos dos estados e municípios ao PNE.

O monitoramento contínuo e as avaliações periódicas da execução dos

planos de educação são ações a serem realizadas na próxima década. Estão

previstas entre as diretrizes do PNE: “VI − promoção do princípio da gestão

democrática da educação pública;” e “IX − valorização dos(as) profissionais da

educação;” mais uma vez reforçando a importância dada na atualidade, a

participação ativa da sociedade no processo de construção de uma educação

de qualidade.

O Plano Municipal de Educação (PME) de São João do Sabugi – RN

para o decênio 2015/2025 foi aprovado pela Lei n° 694, publicada no Diário

Oficial dos Municípios do Estado do Rio Grande do Norte no dia 01 de julho de

2015. Seu processo de construção teve a participação da sociedade, por meio

da realização de fóruns e conferências de discussão específica. Em sua

redação é perceptível a busca pela consonância com o PNE, inclusive

assumindo a íntegra das diretrizes. A temática da valorização do magistério

aparece mais enfaticamente apreciada em algumas metas: 14 – apoio a pós-

graduação stricto sensu; 15 – formação específica de nível superior na área em

que atua; 16 – formação continuada; 17 – equiparação dos rendimentos

médios aos dos demais profissionais com escolaridade equivalente; 18 –

assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, adequação do plano de carreira para

os(as) profissionais da educação básica municipal; 19 – efetivação da gestão

democrática da educação municipal. Na linha de estudo sobre plano de carreira

do magistério, cabe a este artigo explorar com minúcia a meta 18 do PME:

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META 18 (PME): Assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, adequação do plano de carreira para os(as) profissionais da educação básica municipal ,tomando como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da constituição federal e

demais legislações pertinentes. (Lei 694/15).

As estratégias estipuladas para a efetivação da meta 18 do PME

buscam: estruturar a rede pública municipal de educação de modo a garantir

que cargos de provimento efetivo em docência sejam ocupados por

professores com qualificação adequada para o exercício de suas funções;

estabelecer critérios para avaliação do estágio probatório e concurso público,

com vistas aos descritores de Prova Nacional do MEC; prever, no plano de

carreira do magistério, licenças remuneradas e incentivos para qualificação

profissional, inclusive em nível de pós-graduação stricto sensu; participar do

censo dos profissionais da educação básica do MEC; aprovar Lei especifica

estabelecendo reformulação do Plano de Carreira dos profissionais da

educação básica municipal com vistas a ter prioridade no repasse de

transferências federais voluntárias na área de educação.

Todos os pontos enfocados até aqui são fundamentais para respaldar a

análise do Plano de Carreira do Magistério Público Municipal de São João do

Sabugi – RN, numa prerrogativa de valorização profissional. A discussão local

está coerente com a pauta educacional nacional, e prima pela garantia de

preceitos legalmente constituídos em favor da qualidade da educação pública.

PLANOS DE CARREIRA DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL

Para fazer um breve resgate sobre a história dos planos de carreia do

magistério público municipal de São João do Sabugi - RN, registra-se neste

trabalho as contribuições da professora entrevistada Djanira Araújo de

Medeiros. Pedagoga e Especialista em Gestão Escolar e Planejamento, a

professora presta serviços à educação pública da cidade, há trinta anos na

rede municipal e há 28 anos na rede estadual. No decurso da sua carreira

atuou nas funções de docência, supervisão escolar e coordenação pedagógica,

e foi sempre militante em defesa das causas educacionais e do avanço na

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oferta de uma educação de qualidade. Sua trajetória confere credibilidade no

relato de informações pertinentes aos diferentes contextos educacionais, da

década de 1980 até os dias atuais.

Na década de 1980 não havia nenhuma lei específica que tratasse dos

assuntos do magistério. As condições de trabalho e a remuneração dos

professores eram desastrosas, uma verdadeira situação de fome e miséria. No

início dos anos 90 foi criada uma lei municipal que regulamentava as

categorias profissionais do magistério e orientava os padrões da folha de

pagamento dos professores, porém ainda não tinha a perspectiva de

reconhecimento da carreira, não era um plano.

Em 1998 houve o primeiro concurso público municipal e também foi

criado o primeiro Plano da Carreira e Remuneração do Magistério Público

Municipal, em atendimento às determinações do extinto FUNDEF – Lei Federal

nº 9.424/96, que dispunha sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério:

Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de modo a assegurar: I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental público, em efetivo exercício no magistério; II - o estímulo ao trabalho em sala de aula; III - a melhoria da qualidade do ensino. § 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão contemplar investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a integrar quadro em extinção, de duração de cinco anos. § 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção da habilitação necessária ao exercício das atividades docentes. § 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para ingresso no quadro permanente da carreira conforme os novos planos de carreira e remuneração.

O processo de instauração desse primeiro plano se deu por imposição.

Na época, um funcionário público da educação (com vínculos no Município de

Caicó e do Estado do RN) realizou um profundo estudo de diversas leis

educacionais em vigor na época, e produziu um plano de que contemplava a

estruturação da carreira do magistério e da remuneração. Tal documento

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assumiu status de “plano modelo”, sendo implantado em várias cidades do

Seridó. Em São João do Sabugi - RN, a categoria do magistério foi reunida

para assistir a apresentação do “plano modelo”, que já chegou pronto e

acabado. Naquele momento, a maioria dos professores (alguns sem formação

docente adequada e sem uma visão crítica bem desenvolvida) acatou a

proposta na íntegra. Alguns professores mais esclarecidos fizeram algumas

indagações, porém sem êxito para realizar alterações. Na sequência, a

proposta de plano de carreira foi entregue ao Poder Executivo, que

encaminhou para o Legislativo promulgá-lo Lei Municipal nº 350 de 29 de junho

de 1998.

Muitas das disposições deste plano ficaram apenas no papel, não

configurando ganho trabalhista coerente ao descrito na lei. Exemplo foram

falhas: na promoção horizontal da carreira – que após o estágio probatório

deveriam alternar em períodos de 2 anos, por critérios de titulação

(merecimento) e tempo de serviço (antiguidade de classe); e no pagamento de

gratificações individuais, por titulação de carga horária (em cursos de

aperfeiçoamento, especialização ou atualização. Isso que acarretou para muito

servidores uma defasagem de anos na evolução dentro da carreira.

Passados dez anos de vigência desse plano, o país encontra-se num

momento de abertura para discussões na vertente da gestão democrática. A

criação de novas leis educacionais e a nova conjuntura do quadro de

profissionais do magistério (apresentando relevante avanço no grau de

conhecimentos adquiridos por meio da formação inicial e continuada, e

ampliado pelo ingresso de 14 novos professores concursados) resultaram na

mobilização da classe para construção de uma nova proposta, sob uma visão

mais crítica. Durante aquele ano, as discussões sobre as leis que regiam a

educação se intensificaram, em especial no trato do que dispunha as recentes

Leis do FUNDEB e do Piso:

“Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão implantar Planos de Carreira e remuneração dos profissionais da educação básica, [...] Art. 41. O poder público deverá fixar, em lei específica, até 31 de agosto de 2007, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica.” (Lei Federal nº 11.494/07).

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“Art. 5o O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009 [...] Art. 6o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar ou adequar seus Planos de Carreira e Remuneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009, tendo em vista o cumprimento do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, conforme disposto no parágrafo único do art. 206 da Constituição Federal.” (Lei Federal nº 11.738/08).

O magistério municipal se mobilizou para construir a minuta de

reformulação da Lei 350/98. De início a participação dos efetivos foi intensa,

mas, o debate se alongou por alguns meses, e com isso, a

participação/dedicação nas reuniões diminuía gradualmente. Foi então formada

uma comissão com representações dos diferentes segmentos da educação

(Educação Infantil, Anos Inicias do Ensino Fundamental, Anos Finais do Ensino

Fundamental, Coordenação Pedagógica, e Secretaria de Educação). Muitos

documentos correlatos foram estudados, como as leis vigentes sobre

educação, e planos de outras cidades e do Estado do RN.

A nova proposta fez relevantes mudanças estruturais à carreira do

magistério municipal, dentre elas:

Implantou as determinações da lei do Piso;

Fixou a jornada de trabalho semanal em 40h para toda a classe;

Reordenou a progressão vertical em cinco níveis, distintos, graduais

e subsequentes, mediante apresentação de título de qualificação

profissional – conforme nível de escolaridade na área em que atua;

Estabeleceu valores de 40%, 50%, 70% e 90% de diferença

(respectivamente) entre os cinco níveis da carreira;

Reordenou a progressão horizontal em dez classes (de “A” a “J”),

sob o critério de interstício de três anos de uma classe para outra, e

com acréscimo de 5% sobre o salário base, quando da mudança de

classe;

Conservou as gratificações individuais por merecimento – titulação

de carga horária (em curso de formação ou aperfeiçoamento,

distintos dos apresentados para avanço na progressão vertical);

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Conservou as gratificações por exercício de funções de apoio

pedagógico;

Atualizou o enquadramento de todos os profissionais na carreira;

Determinou a criação de comissão permanente para gestão do

plano.

A nova proposta foi entregue ao poder executivo, que encaminhou para

o legislativo, e este a aprovou como a Lei Municipal nº 553, de 23 de dezembro

de 2008. O trabalho de construção foi intenso, porém foi amador do ponto de

vista jurídico. A aspiração por melhorar consideravelmente a remuneração do

magistério local, promoveriam alguns entraves para o exercício financeiro a

partir de 2010, como por exemplo, o esbarro na lei de responsabilidade fiscal. A

jornada de trabalho de 40h fazia jus à integralidade da remuneração prevista

pelo Piso, mas, semanais prejudicava a quem tinha dois vínculos e descumpria

o edital do último concurso, que determinava o ingresso na carreira com

jornada de 30h semanais.

A nova estrutura da carreira delegava meios de avanço contínuo a todos

da classe, mas, alguns fatores mostravam-se determinantes para impossibilitar

o cumprimento do plano nos anos seguintes, como os novos percentuais para

remuneração, somados a atualização no enquadramento dentro da carreira e

algumas disposições da lei do Piso:

Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Art. 3o. II – a partir de 1o de janeiro de 2009, acréscimo de 2/3 (dois terços) da diferença entre o valor referido no art. 2o desta Lei, atualizado na forma do art. 5o desta Lei, e o vencimento inicial da Carreira vigente; III – a integralização do valor de que trata o art. 2o desta Lei, atualizado na forma do art. 5o desta Lei, dar-se-á a partir de 1o de janeiro de 2010, com o acréscimo da diferença remanescente. Art. 5o O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.

16

Para que se possa fazer uma ponderação, a remuneração inicial da

carreira, para os profissionais habilitados em nível médio em dezembro de

2008 era de R$ 410,96 (quatrocentos e dez reais e noventa e seis centavos), e

passaria a R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) em janeiro de 2010,

representando um aumento em torno de 130 % dentro do prazo de 14 meses.

Esse percentual sobrecarregaria consideravelmente a folha de pagamento dos

efetivos da educação básica quando agregado à vantagens como: quinquênios,

1/3 de férias, 13º salário, gratificações por titulação (carga horária), por

exercício de função de suporte pedagógico, por tempo de serviço na carreira;

e/ou elevação grau de habilitação/escolaridade. Uma das alegações do poder

executivo para a inviabilidade de cumprimento financeiro da lei 553/08, era o

desequilíbrio entre os repasses do governo federal por meio do FUNDEB e o

valor da folha de pagamento da classe do magistério, o que demandaria uma

complementação, por parte do município, para além das possibilidades de

investimento do FPM (Fundo de Participação do Município). Para casos assim,

a lei do Piso prevê que a União deve prover complementação de recursos

mediante condições dispostas no artigo 4º, § 1º: “O ente federativo deverá

justificar sua necessidade e incapacidade, enviando ao Ministério da Educação

solicitação fundamentada, acompanhada de planilha de custos comprovando a

necessidade da complementação de que trata o caput deste artigo”. Contudo, a

disparidade entre a folha de pagamento e a equiparação de fatores como a

relação aluno-professor descaracterizam os tais critérios para complementação

financeira.

Posta a situação, e contando com a assessoria jurídica da prefeitura

municipal, a classe iniciou os trabalhos para uma nova reformulação no plano,

o que resultou na vigente Lei 579, de 15 de dezembro de 2009. Desta vez, as

proposições foram menos ousadas e mais centradas na realidade financeira do

município. A maioria das disposições foi mantida, apresentando-se como

mudanças mais relevantes:

Definição de critérios para a extinção do primeiro nível da carreira,

que comporta profissionais com Formação em Nível Médio

(Magistério);

17

Implantação jornada de trabalho semanal de 30h ou integral de 40h

(apenas com dedicação exclusiva);

Fixação dos valores de 15%, 20%, 30% e 40% de diferença

(respectivamente) entre os cinco níveis da carreira;

Extinção das gratificações individuais, por titulação de carga horária

(em curso de formação ou aperfeiçoamento, distintos dos

apresentados para avanço na progressão vertical);

Extinção da gratificação de 25% por exercício da função de suporte

pedagógico;

Atualização do enquadramento de todos os profissionais na carreira.

A maioria dos profissionais do magistério consentiu a supressão de

vantagens das supracitadas e a mudança da carga horária de 40h para 30h

semanais, sob a garantia de cumprimento efetivo das determinações da nova

proposta (em especial, as financeiras) sem prejuízos à remuneração. Assim, a

nova minuta foi encaminhada para se tornar lei. Apesar das reduções aceitas

pela classe, o poder executivo ainda reduziu de 5% para 3% o valor da

promoção horizontal – nas classes de “A” a “J” a cada três anos e por fatores

de avaliação de desempenho. Esta redução foi enfaticamente repudiada,

resultando numa emenda legislativa que retomou o percentual de 5%.

A Professora Djanira Araújo de Medeiros, fazendo uma reflexão sobre a

atual conjuntura do Brasil e a realidade vivenciada pelos profissionais do

magistério, afirma que o momento é de intensa angustia com a perspectiva da

quebra irresponsável de direitos adquiridos, por parte dos nossos

representantes políticos. Medo! É o quê representa os cidadãos, que não

podem aceitar de braços cruzados tais imposições – retrocesso.

ATUALIZAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA: UMA PRERROGATIVA À

VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

A estrutura e a execução do plano de carreira vigente há sete anos, Lei

579/09, apresentam defasagens que incidem diretamente sobre a

(des)valorização da classe. A análise sobre tais defasagens revela a

18

necessidade de uma atualização que atenda a prerrogativa de valorização do

magistério público municipal, e que esteja alinhada as leis pertinentes em vigor.

Ocorrem defasagens no avanço dos profissionais dentro da carreira. Um

dos fatores que mais contribui para isso é a inexistência da Comissão

Permanente de Gestão do Plano de Carreira do Magistério Público Municipal,

que embora tenha sido prevista na própria lei, nunca foi efetivada. A função

desta comissão seria acompanhar a implantação e aplicação dos dispositivos

do plano e de outras legislações que disciplinem aspectos referentes ao

magistério municipal. A composição da comissão deve ser paritária (entre

representantes da secretaria de educação e dos profissionais atuantes nas

instituições de ensino) e, acompanhar o cumprimento e/ou indicar ações

fundamentadas na lei, numa perspectiva democrática.

Dentre as funções da Comissão estaria o dever de regulamentar a

avaliação de desempenho dos profissionais do magistério, o que contribuiria

para reverter a defasagem no enquadramento horizontal na carreira.

Art. 15 - A promoção de uma classe para outra subsequente dar-se-á por avaliação que considerará os fatores de desempenho, a serem disciplinados em regulamento proposto pela Comissão de Gestão deste Plano. Art. 16 - Na avaliação

de desempenho serão considerados o cumprimento dos deveres, a eficiência no exercício do cargo, o permanente aperfeiçoamento e atualização, cujos indicadores e critérios serão estabelecidos em regulamento específico proposto pela Comissão de Gestão deste Plano. (Lei 579/09).

Sem a devida regulamentação critérios de avaliação de desempenho, a

gestão municipal condiciona as promoções horizontais ao tempo de serviço,

mediante apresentação de requerimento da parte interessada – sempre que se

fecha o interstício de três anos em cada letra, tendo como data inicial de

referência, a data de admissão (ingresso) na carreira. O quadro atual do

magistério municipal é composto por cinquenta e sete profissionais, e nem

sempre as promoções horizontais são concedidas em tempo coerente com o

interstício de três anos estabelecido na lei do plano, vezes por protelamento da

gestão, vezes pela falta de apresentação de requerimento do servidor.

19

FONTE: Lei nº 579/09 e Portal da Transparência da Prefeitura de São João do Sabugi - RN.

A atualização do enquadramento horizontal aponta uma perda mensal

no salário base em torno de R$ 84,00 no avanço entre as letras B e C do nível

NEMAG (Magistério), e de até R$ 400,00 no avanço entre as letras G e J do

nível N2 (Especialização). Os valores aumentam consideravelmente quando

contabilizados outros ganhos que incidem sobre o salário base, como os

quinquênios. Uma projeção de avanço entre o enquadramento horizontal real e

o enquadramento devido revela um alto índice de defasagem.

FONTE: Lei nº 579/09 e Portal da Transparência da Prefeitura de São João do Sabugi - RN.

20

Mais um fato que acentua tais defasagens é o impasse na interpretação

do tempo de serviço correspondente a letra A. O artigo 9º da lei do plano

dispõe que a carreira do magistério é estruturada em: “III - 10 (dez) classes em

cada nível, designadas por letras de “A” a "J”, cumprido o interstício mínimo

de três anos entre as classes da carreira”. Já o Anexo II da mesma lei

apresenta a seguinte referência sobre as letras: A – de 0 até 3 anos; B – de 4 a

6 anos; C – de 7 a 9 anos; etc. Após anos aplicando o critério de interstício

mínimo de 3 anos em cada letra, a gestão municipal passou a interpretar que à

letra A corresponde o tempo de 3 anos e 364 dias, só podendo haver avanço

para a letra B, a partir do início do 4º ano de exercício na carreira. Em

decorrência disto, a gestão passou a aplicar o protelamento de 01 ano para

concessão de promoções de todos os profissionais do magistério.

Desmandos na concessão das promoções horizontais também são

identificáveis a partir da análise da folha de pagamento citada como referência

para este trabalho. Diferentes profissionais, com o mesmo grau de

qualificação/formação, ingressados na carreira no mesmo dia, estão

enquadrados em letras diferentes, evidenciado que foram aplicados critérios de

concessão de promoção distintos do estabelecidos na lei do plano.

Agregado aos fatores apontados até aqui, coloca-se como empecilho ao

avanço na carreira do magistério, o decreto municipal nº 6.365, de 25 de abril

de 2016, de que dispõe sobre medidas de contenção de despesas no âmbito

do Poder Executivo e da outras providências:

Artigo 1° - Ficam estabelecido medidas temporárias de

contenção de gastos no âmbito do Poder Executivo, abrangendo a administração direta. Artigo 2° - Fica suspensa a prática dos seguintes atos: VI – Concessão de licença prêmio e para tratar de interesse particular, quando houver necessidade de substituição do requerente. VII – Promoção e progressão funcional linear ou vertical. VIII – A inclusão na folha de pagamento do mês de diferença salariais relativas a meses anteriores. Artigo 7º - Este Decreto entra em vigor na

data de sua publicação, produzindo efeitos até o fim do exercício orçamentário e financeiro de 2016.

A estipulação de tal decreto se justapõe frente à crise vivenciada pelo

Brasil, e também pela situação da intensa seca que enfrenta a região nordeste.

21

Contudo, apresenta definições contraproducentes à perspectiva de

reestruturação da lei do plano, como a que o valida até o fim exercício

orçamentário e financeiro de 2016. Anteriormente a este decreto, outros

também foram publicados, como o Decreto 6.355/15 de teor similar. Cabe

então, a percepção de que a gestão municipal lança, com relativa frequência,

mecanismos que barram as iniciativas cabíveis com a reformulação do plano

do magistério. Sendo assim, faz-se necessário que uma nova proposta seja

elaborada e encaminhada para apreciação do legislativo dentro de um tempo

hábil para que se torne lei ainda em 2016, e de forma que seus efeitos

financeiros sejam planejados para o início do exercício financeiro de 2017. Do

contrário, outros mecanismos legais poderão surgir para barrar a efetivação.

A aplicação legítima dos 2/3 de horas-aula e 1/3 de hora-atividade não

encerra a questão da subdivisão da jornada de trabalho de 30 horas semanais.

Há uma indefinição conceitual no trato das 20 horas-aula das disciplinas

específicas dos anos finais ensino fundamental: elas correspondem à 20

unidades de aula, ou correspondem à 1200 minutos a serem subdivididos em

unidades de aula com 50 minutos que contabilizam 24 aulas? Uma resposta

para esta questão pode alterar profundamente a organização desta esfera do

ensino fundamental, visto que a lei determina que as disciplinas devam ser

ministradas por profissionais devidamente qualificados na área em que atuam.

Ainda sobre a jornada de trabalho incide o fato das perdas que os

profissionais ingressados na carreira com 40 horas semanais (antes de 2008)

sofreram em decorrência da diminuição da jornada para 30 horas. Caso este

direito tivesse sido mantido, tais profissionais estariam recebendo remuneração

com base na integralidade da lei do Piso. A perda é de 25% do valor total da

remuneração mensal, e já constitui processo judicial em andamento há anos.

O plano prevê a existência de um quadro de pessoal suplementar, a ser

composto pelos profissionais do magistério efetivos que não cumpriram, em

tempo hábil, a exigência legal de qualificação profissional compatível com o

sistema de classificação de profissionais na carreira do magistério; e pelos

profissionais do magistério não efetivos (devidamente qualificados, na forma

desta lei) que, por excepcional necessidade do ensino público municipal,

venham a desempenhar, temporariamente, função em cargos de provimento

22

efetivo. É uma determinação completamente suprimível, visto que atualmente,

os profissionais não efetivos devem ser aproveitados via processo seletivo

disciplinado por edital, e que a qualificação dos 57 profissionais efetivos na

carreira do magistério municipal atende em 100% o que determina a LDB:

Art. 62 – A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal.

Hoje, os profissionais do magistério com formação em nível médio na

modalidade normal estão enquadrados no Nível Especial Magistério NE – MAG

– em extinção, pois, a partir da vigência Lei 579/09, fica vedado o ingresso na

carreira do magistério público municipal com a titulação especificada para este

nível. Este nível ainda comporta oito professores, dos quais cinco estes estão

cursando graduação de Licenciatura em Pedagogia.

FONTE: Portal da Transparência da Prefeitura de São João do Sabugi - RN.

Outros fatores que merecem atenção no ato da reestruturação da Lei

579/2009 em alinhamento com as demais legislações pertinentes são: a

implantação de meios para reconhecimento e incentivo à qualificação e a

formação continuada; a busca do equilíbrio no quantitativo da relação

23

professor-alunos; e a previsão de efetivação da gestão democrática nas

instituições de ensino municipal.

A gestão democrática é entendida como a participação efetiva dos vários segmentos da comunidade escolar, pais, professores, estudantes e funcionários na organização, na construção e na avaliação dos projetos pedagógicos, na administração dos recursos da escola, enfim, nos processos decisórios da escola. (OLIVEIRA, 2006).

A democratização da educação infere ao Estado demandas de

diferentes grupos sociais, incorporando suas contradições e interesses. O

espaço escolar torna-se elemento fundamental para a concretização de

políticas públicas e de articulação dialética, propondo ações mediadoras pelas

quais o Estado administra conflitos buscando um equilíbrio formal, do qual

resulta uma educação de qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atualização do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do

Magistério Público Municipal de São João do Sabugi – RN, diante de tudo que

foi tratado neste trabalho, coloca-se como demanda urgente e que constitui

uma prerrogativa de valorização profissional. A lei vigente, 579/09, apresenta

incoerências gritantes, necessita alinhar-se com as políticas públicas e demais

legislações pertinentes em vigor. A categoria tem que se mobilizar na luta pelos

seus direitos legalmente constituídos, mas, que em muitas situações estão

sendo negligenciados. A efetivação das possibilidades de avanço na carreira

do magistério incide nas melhorias das condições de trabalho, e

consequentemente na qualidade da educação ofertada.

24

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.

______ Decreto-lei nº 872, de 15 de setembro de 1969, que complementa disposições da Lei número 5.537, de 21 de novembro de 1968, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0872.htm>. Acesso: 10/04/2016.

______ Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

______ Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasi leiras/constituicao1988.html>. Acesso: 10/03/2016.

______ Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9424.htm>. Acesso: 10/04/2016.

______ Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; altera a Lei no 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de 1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá outras providências.. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm>. Acesso: 10/04/2016.

______ Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Edições Câmara, 2014.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CEB nº 9/2009, que estabelece Revisão da Resolução CNE/CEB nº 3/97, que fixa Diretrizes para os Novos Planos de Carreira e de Remuneração para o Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Publicação: Diário Oficial da União, Brasília, 29 de maio de 2009, Seção 1, Pág. 41.

______ Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, que Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. ) Publicação: Diário Oficial da União, Brasília, 2 de julho de 2015 – Seção 1 – pp. 8-12.

______ Resolução CNE/CEB Nº 5, de 3 de agosto de 2010, que Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Funcionários da Educação Básica pública. Publicação: Diário Oficial da União, Brasília, 4 de agosto de 2010, Seção 1, p. 15.

25

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO: entenda o FUNDEB. Disponível em: <http://forumeja.org.br/to/node/72>. Acesso: 18/04/2016.

LIBÂNEO, J C; OLIVEIRA, J.F. de; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.

NASCIMENTO, André L. B. Gestão da Escola Pública Brasileira: desafios contemporâneos. FACED, Bahia, nº 9, p. 157-170, 2005.

OLIVEIRA, Dalila Andrade. A gestão democrática da educação no contexto da reforma do estado. IN: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.) Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2006. p. 91-112.

PISO E CARREIRA ANDAM JUNTOS PARA VALORIZAR OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA. Disponível em: <http://cnte.org.br/images/stories/2015/cartilha_piso_e_carreira_final_web.pdf>. Acesso em: 10/03/2016.

SANTOS, Adairson Alves dos. O Estado Democrático de Direito. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10143&revista_caderno=9>. Acesso: 11/04/2016.

SÃO JOÃO DO SABUGI-RN. Decreto nº 6.365, de 25 de abril de 2016, que dispõe sobre medidas de contenção de despesas no âmbito do Poder Executivo e da outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 2016. ______ Decreto nº 6.355, de 25 de Setembro de 2015, que estabelece medidas de contenção de despesas e de ajuste fiscal, e dá outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 2015.

______ Lei nº 350, de 29 de junho de 1998. Instituição o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do Magistério Público Municipal, e dá outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 1998.

______ Lei nº 553, de 02 de dezembro de 2008, que dispões sobre a alteração da Lei 350/98 e dispõe sobre a instituição do Plano de Cargos, Carreira e Salários do Magistério Público Municipal da Educação Básica de São João do Sabugi - RN, e dá outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 1998.

______ Lei nº 579, de 15 de dezembro de 2009, que altera a Lei Municipal nº 553/2008 e dispõe sobre a instituição do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do Magistério Público Municipal de São João do Sabugi - RN, e dá outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 2009.

______ Lei N° 694, de 01 de julho de 2015, que aprova o Plano Municipal de Educação – PME para o decênio 2015-2025 e dá outras providências. São João do Sabugi: Câmara Legislativa, 2009.

______ PORTAL DA TRANSPARÊNCIA: folha de pagamento do mês de abril de 2016. Disponível em: <http://saojoaodosabugi.rn.gov.br/folha-de-pagamento-abril2016/>. Acesso: 16/05/2016.

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APÊNDICE

ENTREVISTA

1. Por qual aparato legal eram regidos os profissionais do magistério

público de São João do Sabugi - RN, antes da criação do primeiro plano

de carreira?

2. Qual foi a principal demanda para a criação do primeiro plano de carreira

do magistério público municipal?

3. Como se deu o processo de construção deste plano no município?

4. Qual foi a participação/atuação dos profissionais do magistério neste

processo?

5. Depois de construído/redigido, como se deu seu processo de

regulamentação?

6. Qual foi a principal demanda para reformulação do plano, que resultou

na criação da Lei nº 553/2008 – segundo Plano de Carreira do

Magistério Público Municipal?

7. Como você analisa a atual conjuntura da educação?

8. Autoriza ser identificada como colaboradora nesta produção científica?

DADOS DA ENTREVISTADA

Nome completo:

Qualificação profissional:

Campos de atuação profissional:

Tempo de serviço prestado na educação: