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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA TIAGO ANANIAS GONÇALO TERRITÓRIO E PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (CAICÓ/RN) CAICÓ (RN) 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Renato que sempre me aconselhou sobre a vida, ao Vitor Hugo pela pessoa simples que ele é, Sandra Kelly sem palavras para falar,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

TIAGO ANANIAS GONÇALO

TERRITÓRIO E PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE:

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE

SAÚDE (CAICÓ/RN)

CAICÓ (RN)

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

TIAGO ANANIAS GONÇALO

TERRITÓRIO E PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE:

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE

SAÚDE (CAICÓ/RN)

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de

Geografia do CERES/UFRN, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de

Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Lucas Pereira de Melo

CAICÓ (RN)

2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó –

CERES Caicó

Gonçalo, Tiago Ananias.

Território e processo de trabalho em saúde: representações

sociais de agentes comunitários de saúde (Caicó/RN) / Tiago

Ananias Gonçalo. - Caicó: UFRN, 2016. 81f.: il.

Orientador: Dr. Lucas Pereira de Melo.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ensino Superior do Seridó - Campus Caicó. Departamento de Geografia.

Curso de Geografia.

Monografia - Bacharelado em Geografia.

1. Geografia da Saúde. 2. Território. 3. Territorialização. 4.

Agentes Comunitários de Saúde. 5. Processo de Trabalho em Saúde. I. Melo, Lucas Pereira de.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 911.3:614

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À minha mãe, Maria da Luz e à minha irmã, Luana.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos primeiramente são para Deus, pois até aqui tem me sustentado e

não só por isso, mas porque o grande EU SOU é único. Prosseguindo aos meus familiares em

especial Maria da Luz de Almeida, Luana Andrea de Almeida e meu pai postiço Dezinho,

meu cachorro Davinci, estes minha estrutura e base. As pessoas que Deus usou e que não

posso esquecer como Dona Francisca de Elói que me incentivou e acreditou no meu potencial,

Matheus Ítalo, o qual não mediu esforços abrindo suas portas para não ficar sem lugar para

ficar. A Graça que muitas vezes não tinha suprimentos no apartamento, mas ela sempre

ajudava dando um pouco, pois mesmo tendo estas dificuldades não deixava de ajudar o

próximo, em seu restaurante Sant’Ana, que não é bajulando, mas é ótimo o comer neste

ressinto. A Roberto Rocha uma pessoa amiga e confiável que eu pude contar em um dos meus

piores momentos, mas também melhores. A Amiguinha que sempre ajudou com suas palavras

de motivação e também de dificuldade. A Willamy por ser um cara bom mesmo dando uma

de mal. Aos meus colegas de turma em especial Jaedson meu amigo que passamos muitas

coisas, mas me ajudou nesta minha longa caminhada. A Lucivan pela sua sinceridade e

amizade, Fabio, Samara, Halyson, Thaís por ser compressível, ao irmão Paulo e Jardel por

serem pessoas amigas e exemplares para minha caminhada. Em relação aos meus primos que

sempre me defenderam e compreenderam meu jeito de ser. A meus primos amigos Alcilene,

Messias, Hosana, Jéssica e Marli, meus amigos primos. Dos professores cito professor

Renato que sempre me aconselhou sobre a vida, ao Vitor Hugo pela pessoa simples que ele é,

Sandra Kelly sem palavras para falar, um amor de pessoa, Lucas Melo que em minha pouca

vivência percebi uma pessoa meiga e bondosa. Dos funcionários da Multicampi e UFRN, em

especial Flávio um amigo novo que realmente posso contar, na URN em especial Sr. Zé que

não mediu esforços ao me ajudar em suas caronas ao meio dia em ponto, pois precisava ir ao

laboratório e o mesmo sempre parava sua carroça de burro para me levar. Dos laboratórios em

especial Diego Emanuel, George, Luana, que todos me ajudaram. Fora da instituição o

motaxista Sr. Zé sem palavras, porque se todos tivessem a sabedoria deste homem o mundo

sereia muito melhor. A Mãe de Matheus por ser generosa e acolhedora. A Anairam por me

ensinar muito sobre a vida. É importante ressaltar sobre cada pessoa que não foi citada que

apareceu e desapareceu em minha trajetória de vida tiveram um papel importante na minha

vida, pois não esqueci. Por fim, peço desculpas e perdão pelos que não citei.

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RESUMO

A partir das contribuições teóricas e metodológicas do campo da Geografia, o conceito de

território ganhou novos contornos conceituais e operacionais no Sistema Único de Saúde

(SUS). No contexto do SUS, o conceito de território implicou (e implica) em novas

conformações da atenção à saúde e da gestão do processo de trabalho em saúde, notadamente

na Atenção Primária à Saúde (APS). Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo

compreender a representação social de território dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS)

das equipes de saúde da família I e II da Unidade Básica de Saúde Paraíba, em Caicó (RN),

atentando para as implicações dessa representação no processo de trabalho das referidas

equipes. Trata-se de pesquisa qualitativa, cuja população constou dos 16 ACS das Equipes de

Saúde da Família I e II da UBS Paraíba. A coleta dos dados ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2016. As informações foram registradas em áudio, transcritas na íntegra e

analisadas através da técnica de codificação temática. Emergiram duas categorias da análise

do material empírico: Em pedaços: representação do conceito de território do/no SUS dos

ACS; e O controle do território: a importância do território no processo de trabalho no

cotidiano do ACS. Pode-se concluir que tanto o conceito de território como os impactos desta

representação de território são um cumulativo de problemas processuais que decorrem no

tempo-espaço, destes profissionais vivos ao mesmo tempo cidadãos. As soluções aos

problemas gerados pelos poderes existentes no território podem ser solucionadas, segundo os

ACS, com planejamento adequado, como: dividir os territórios por quarteirões fazendo uma

simulação, melhorar a acessibilidade de contato com o ACS em relação de hierarquia na

equipe, ter grupos de ajuda para os ACS desabafarem e se reabilitar de suas aflições no

trabalho, não congestionar o sistema de saúde, fazer um novo remapeamento coerente que não

fique fragmentado, repensar sobre a divisão de equipes, humanizar mais para a população ser

bem atendida, fazer capacitação de urgência para melhor eficácia e compreensão tanto da

profissão como do uso da territorialização dos territórios, aumenta mais funcionários da

saúde.

Palavras-chave: Geografia da Saúde. Território. Territorialização. Agentes Comunitários de

Saúde. Processo de Trabalho em Saúde.

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ABSTRACT

From the theoretical and methodological contributions of the field of Geography, the concept

of territory gained new conceptual and operational contours in the Unified Health System

(SUS). In the context of SUS, the concept of territory implied (and implies) new

conformations of health care and management of the health work process, notably Primary

Health Care (PHC). In this sense, the present study aimed to understand the social

representation of the territory of the Community Health Workers (CHW) of health teams of

families I and II of the Paraíba Basic Health Unit in Caicó (RN), considering the implications

of this Representation in the work process of those teams. This is a qualitative research whose

population consisted of the 16 CHW of the Family Health Teams I and II of UBS Paraíba.

The data were collected in September and October 2016. The information was recorded in

audio, transcribed in full and analyzed using the thematic coding technique. Two categories

emerged from the analysis of the empirical material: In pieces: representation of the concept

of territory of the / in the SUS of the CHW; And Territorial control: the importance of the

territory in the work process in the daily life of the CHW. It can be concluded that both the

concept of territory and the impacts of this representation of territory are a cumulative of

procedural problems that occur in time-space, of these living professionals at the same time

citizens. The solutions to the problems generated by the existing powers in the territory can be

solved, according to the CHW, with adequate planning, such as: divide the territories by

blocks making a simulation, improve the accessibility of contact with the CHW in relation of

hierarchy in the team, To help CHWs vent and rehabilitate their work afflictions, not to

congest the health system, to make a new coherent remapping that is not fragmented, to

rethink the division of teams, to humanize more for the population to be well served, to

provide training of urgency for better effectiveness and understanding of both the profession

and the use of the territorialization of territories, increases more health officials.

Keywords: Geography of health. Territory. Territorialization. Community Health Workers.

Health work process.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01:Representação gráfica dos conceitos de territórios contínuos e descontínuos.16

Figura 02: Bairro Paraíba e respectiva divisa com outros bairros de Caicó/RN... ......... 30

Figura03: Registro referencial cotidiano, do território do Bairro Paraíba. ..................... 32

Figura04: Registro referencial fixo, a academia, do território da UBS Bairro Paraíba. . 33

Figura 05: Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Paraíba, Caicó/RN. .................. 34

Figura 06: Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Paraíba, Caicó/RN, seus instrumentos

que caracterizam usuários e profissionais. ..................................................................... 34

Figura 07: Territorialização realizada pelos ACS e a constituição da territorialidade do

território SUS. ................................................................................................................. 45

Figura 08: Territórios do Bairro Paraíba, Caicó/RN. ..................................................... 47

Figura 09: Territórios do Bairro Paraíba, Caicó/RN. ..................................................... 48

Figura 10: Divisão criada pelas equipes de Saúde familiar I e II da UBS pertencente ao Bairro

Paraíba/Caicó . ................................................................................................................ 63

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01: Localização do Município de Caicó/RN. ....................................................... 31

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LISTA DE SIGLAS

ACS-(Agente Comunitário de Saúde)

APS-(Atenção Primária de Saúde)

CEP-(Comitê de Ética em Pesquisa)

ESF-(Equipes de Saúde da família)

ESF-(Estratégia Saúde da Família)

MS-(Ministério da Saúde)

OMS-(Organização Mundial da Saúde)

ONG-(Organização Não-Governamental)

PACS -(Programa de Agentes Comunitários de Saúde)

PNAB – (Política Nacional de Atenção Básica)

PNACS- (Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde)

PSF-(Programa de Saúde Familiar)

SESP- (Serviço Especial de Saúde Pública)

SMS- (Secretaria Municipal de Saúde)

SUS- (Sistema Único de Saúde)

UBS- (Unidade Básica de Saúde)

UGI- (Congresso da União Geográfica Internacional)

UNICEF- (Fundo das Nações Unidas para a Infância e do Ministério)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 12

2.1 O CAMPO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE.............................................................12

2.2 O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA.............................................14

2.3 O CONCEITO DE TERRITÓRIO NO SUS ............................................................ 18

2.4 PROGRAMA DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE..............................23

2.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL..................................................................................25

3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 29

3.1 ABORDAGEM E TIPOLOGIA DA PESQUISA.....................................................29

3.2 DESCRIÇÃO DO AMBIENTE DE ESTUDO.........................................................29

3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA...................................................................................35

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ........................................................ 35

3.5 PERÍODOS E INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS...........................35

3.6 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS............................................36

3.7 ANÁLISE DE RISCOS E BENEFÍCIOS................................................................36

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................37

4.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS ACS.........................................................37

4.2. EM PEDAÇOS: REPRESENTAÇÃO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO DO/NO SUS

DOS ACS........................................................................................................................38

4.3 O CONTROLE DO TERRITÓRIO: A IMPORTÂNCIA DO TERRITÓRIO NO

PROCESSO DE TRABALHO NO COTIDIANO DO ACS..........................................49

5 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 65

6 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 67

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1 INTRODUÇÃO

A ciência Geografia tem o objetivo de estudar o espaço geográfico no qual o homem

realiza seus sistemas de ações e sistemas de objeto. Para compreender esta problemática é

necessário entender a dinâmica geoterritorial de cada lugar, pois a partir delas se podem

evidenciar as origens das representações que os homens atribuem às suas ações.

A Geografia da Saúde é um subcampo da Geografia que surgiu no século XX através de

uma releitura da então chamada Geografia Médica. No contexto brasileiro, a Geografia da

Saúde tem interface com o campo da Saúde Coletiva, mais especificamente a área de Ciências

Sociais e Humanas em Saúde. Sendo assim, a Geografia da Saúde busca compreender não

somente a doença enquanto fenômeno patológico e suas relações com o meio físico, mas,

sobretudo os determinantes sociais do processo saúde-doença que colaboram para as situações

de vida e de saúde de pessoas que vivem num dado espaço-território.

Na Geografia da Saúde, a concepção de saúde difere daquela oferecida pela Organização

Mundial de Saúde (OMS) com seu significado de estado de bem-estar completo e perfeito

(SEGRE, 1994). Portanto, parte-se da compreensão do processo saúde-doença como um

continuum produzido socialmente, tendo as realidades situacionais múltiplas do lugar como

elementos determinantes da qualidade de vida de uma coletividade.

No Brasil, as discussões produzidas no campo da Geografia da Saúde têm se tornado cada

vez mais relevantes, sobretudo após 1988, com a criação do SUS e os desdobramentos

políticos e programáticos no sentido de reorientar o modelo de atenção à saúde vigente no

país. Nesse cenário, o conceito de território passou a nortear a organização do sistema de

saúde, sobretudo com a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, hoje

denominado Estratégia Saúde da Família (ESF). Nesta situação, o conceito de território é

determinante, ou seja, importante para prevenção e promoção da saúde, pois sua compreensão

permite compreender os múltiplos determinantes do processo saúde-doença e, a partir disso,

planejar as ações de saúde voltadas a otimizar as situações vivenciadas.

Diante disso, o objetivo deste estudo foi compreender a representação social de território

dos Agentes Comunitário de Saúde (ACS), categoria profissional integrante das Equipes de

Saúde da Família. Os específicos foram desvendar as representações sociais dos ACS sobre o

conceito de território no SUS e conhecer as implicações dessa representação no processo de

trabalho das referidas equipes de saúde da família.

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Nesta situação, partiu-se das seguintes questões norteadoras para explicar ou

compreender tais ações nesse espaço geográfico: como os ACS das equipes de saúde da

família I e II no Bairro Paraíba em Caicó/RN compreendem o conceito de território no

Sistema Único de Saúde (SUS)? E em que medida essa compreensão de território implica no

processo de trabalho das referidas equipes de saúde da família?

Cumpre destacar que o presente estudo tem pretensão de contribuir na produção de

conhecimento próprio dos campos da Geografia, da saúde e da Saúde Coletiva. Logo, a

proposta de pesquisa em tela se justifica do ponto de vista científico, uma vez que na literatura

especializada brasileira há uma produção ainda incipiente sobre os impactos da representação

social de território de ACS e seus impactos no processo de trabalho em saúde (SANTOS,

2010; PEREHOUSKEI, BENADUCE, 2007; JAYME, 2013; FARIA, BERTOLOZZI, 2009).

No que tange à sua relevância social, este estudo poderá contribuir com os processos de

transformação do processo de trabalho em curso em algumas Unidades Básicas de Saúde do

município de Caicó, disparados por docentes e discentes da Escola Multicampi de Ciências

Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMCM/UFRN). Tais processos

visam, em última instância, qualificar a atenção à saúde prestada à população do município, o

que, consequentemente, poderá impactar positivamente na qualidade de vida e nas condições

de saúde dessas pessoas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O CAMPO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE

Esta pesquisa se insere no campo da Geografia da Saúde, subcampo da Geografia. A

Geografia da Saúde nasceu da perspectiva das ciências naturais e sociais, em princípios

amadurecidos sem se esquecer do passado de múltiplas modificações que transformam o

espaço de ações e objetos, propondo uma releitura construtiva do espaço de ordens naturais,

humanas e territoriais (PEREHOUSKEI, BENADUCE, 2007; SANTOS, 2006).

Os primeiros estudos na geografia da saúde começaram no contexto da geografia

médica. Dentre esses estudos, a primeira obra publicada voltada a este campo foi de

Hipócrates, na Grécia Antiga, em 480 a. C., denominada dos ares, das águas e dos lugares

(LACAZ, 1972). Ou seja, podemos situar os primórdios da geografia da saúde no mesmo

contexto histórico em que emerge a história da medicina.

Segundo Jayme (2013), as pesquisas na área da geografia da saúde posteriores

continuaram com um olhar voltado ao meio físico e natural, até que, no século XVIII e início

do século XIX, passaram a sofrer as influências de naturalistas como Alexander Von

Humboldt e Charles Darwin e seus estudos. O primeiro procurava explicar na interação da

natureza física (clima, relevo, hidrografia entre outros) a evolução da sociedade, pois esta

somente poderia evoluir se obtivesse as condições ambientais favoráveis, o que gerou a ideia

de causas e efeitos e a criação da Teoria da Causalidade, já o segundo propusera sobre os

princípios da seleção natural, em que a espécie mais forte ou mais adaptada dominaria as mais

fracas, ou seja, poderia controlar o meio natural (ANDRADE, 1987).

Esta situação, no entanto, mudaria a partir da metade do século XIX até meados do

século XX, quando tiveram início as discussões que propuseram a modificação da

denominação do subcampo de geografia médica para geografia da saúde. Isto era verificado

por causa das análises realizadas sobre o homem e suas relações no espaço geográfico,

ademais suas ações implicando nos processos socioculturais e econômicos que promoviam

uma nova concepção de estudos de égide da multicausalidade (JAYME, 2013).

Dentre essas pesquisas, pode-se citar, no século XIX, a de John Snow, o qual analisou

as relações do homem no espaço como fator de distribuição da cólera no bairro Soho, em

Londres. Snow estudou não só o meio físico influenciava nos problemas de saúde, mas

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também ações do homem (SANTOS, 2010; JAYME, 2013). Outro pesquisador que merece

destaque é o geografo Max Sorre que, em meados do século XX, colocou em evidência na

geografia médica a necessidade de se abordar a multicausalidade incluindo, também, a

perspectiva da Teoria do Possibilismo, de Vidal de La Blache. Tal teoria estabelecia que “[...]

o meio exercia alguma influência sobre o homem, mas que este, dependendo das condições

técnicas e de capital de que dispunha, poderia exercer influência sobre o meio” (ANDRADE,

1987, p.70).

No século XX, os amadurecimentos científicos levaram à mudança terminológica de

geografia médica para geografia da saúde, por esta última denominação abranger a qualidade

de vida, a educação, a moradia, o saneamento básico, a infraestrutura em saúde e outros

elementos com as condições de saúde das populações (JUNQUEIRA, 2009). Porém, a

mudança de nomenclatura ocorreu em 1982, durante o Congresso da União Geográfica

Internacional (UGI) onde se instituiu, definitivamente, a mudança do termo Geografia Médica

para Geografia da Saúde (PEREHOUSKEI, BENADUCE, 2007).

Isto se deu devido à compreensão do homem como um influenciador no meio e não

somente como hospedeiro de doenças, pelas evidências dos estudos voltados a corrente da

criticidade ou radicalismo entre os autores podemos citar W. Bunge que buscou transpor as

realidades do lugar ou compromisso com “status quo, com a sociedade de classe”

(ANDRADE, 1992, p. 126, grifo do autor), porém este autor se enquadrava no grupo dos mais

radicais, pois não aceitava em si a corrente tradicional e quantitativa.

Todavia, dentro dessa corrente tinham autores que buscavam compreender e entender

de uma forma dialética e relacional sobre as correntes faladas, nisto tendo as influências dos

sociólogos Max e Engels (ANDRADE, 1992).

Dentre os autores podemos destacar Milton Santos, que influenciou na construção do

objeto de estudo da Geografia e “permitiu mudar o foco de atenção, que antes era centrado na

doença, para os determinantes sociais das condições de saúde” (FARIA, BORTOLOZZI,

2009, p. 39). Diversos autores têm estudado doenças e condições, como: malária (VIEIRA,

2011), cólera (BEZERRA, 2012), dengue (NUNES, 2015), leishmaniose (PEITER, 2005),

tuberculose associada ao HIV/AIDS (BARCELLOS, 2005) e inúmeros casos de homicídios e

acidentes de trânsito relacionados às questões de violência urbana e aos processos de

urbanização e industrialização do espaço geográfico (SANTOS, 2006).

Tais acontecimentos fomentaram o desenvolvimento de estudos geográficos sobre

diversas temáticas, dentre elas: as questões de saúde coletiva, as categorias espaço e território,

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as ações no espaço-saúde, a causalidade de doenças (FARIA, BORTOLOZZI, 2009;

SANTOS, 2010).

No Brasil, particularmente, os estudos em geografia da saúde estão centrados no

panorama de planejamento dos serviços de saúde (PEREHOUSKEI, 2005), no conceito de

território no SUS (GOLDIN et al, 2008). É sobre esta temática que o presente projeto de

pesquisa irá se debruçar, como veremos a seguir.

2.2 O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA

A palavra território em seu sentido etimológico, segundo os dicionários Aurélio e

Houaiss, significa:

[Do lat. Territoriu] S.M 1. Extensão considerável de terra; torrão. 2. Área de um

país, ou estado, ou província, ou cidade, etc. 3. Nos E.U.A., região que não constitui

Estado e é administrada pela União. 4. Jur. Base geográfica do Estado, sobre a qual

exerce ele a sua soberania, e que abrange o solo, rios, lagos, mares interiores, águas

adjacentes, golfos, baías e portos. 5. Jur. A parte juridicamente atribuída a cada

Estado sobre os rios, lagos e mares contíguos, e bem assim o espaço aéreo que

corresponde ao território, até a altura determinada pelas necessidades da polícia e

segurança do país, devendo-se, ainda, considerar como parte do território os navios

de guerra, onde quer que se encontrem, e os navios mercantes em alto-mar ou em

águas nacionais (FERREIRA, 2010, p.2031-2).

(séc. XIV cf. FichIVPM) 1 grande extensão de terra 2 área de município, distrito,

estado, país etc. 3 área de uma jurisdição 4 a própria jurisdição 5 no Brasil e E.U.A.,

região que, não constituindo um estado, é administrada pela União 6 JUR extensão

ou base geográfica do Estado, sobre a qual ele exerce a sua soberania e que

compreende todo o solo ocupado pela nação, inclusive ilhas que lhe pertencem, rios,

lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías, portos e tb. A faixa do mar

exterior que lhe banha as costas e que constitui suas águas territoriais, além do

espaço aéreo correspondente ao próprio território 7 ECO área que um animal ou

grupo de animais ocupa, e que é defendida, parte contra a invasão de outros

indivíduos da mesma espécie ETIM lat. Territorum, li ‘grande área ou extensão de

terra delimitada, parte da terra ou de uma terra sob jurisdição de terra delimitada,

parte da terra ou de uma terra sob jurisdição’; ver terr-; f. hist. Sxiv terrentorio,

1721 territôrio, a 1748 tarrentorio, 1813 terratório SIN/VAR ver sinonímia de terra

(HOUAISS, 2001, 2706).

Nessas decifrações, mesmo trazendo o termo de território a uma concepção de senso

comum de substrato social, obedece a lógica de poder de algo ou alguém que tem influência

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15

sobre o conjunto como todo ou conjunto como o todo, assim se diluindo as relações de

poderes sociais de conflitos. Portanto, entende-se que desde os primórdios, o território era

delimitado pelas suas feições físicas e usado para determinados fins, dentre eles proteção e

manutenção da raça. À medida que o homem foi se aperfeiçoando em suas técnicas, o espaço-

território começou a constituir novos valores de interesses (SANTOS, 2006).

Essa concepção de interesses é identificada principalmente no recorte da Segunda

Guerra Mundial, no século XX, tanto nas ciências naturais como nas sociais que conceberam

o conceito de território num sentido determinista.

Conforme Haesbert (2002), o geógrafo Frederico Ratzel contribuiu para a importância

da relação sociedade-de-espaço que desenvolveu a concepção de espaço vital, no qual uma

sociedade mais forte dominava a mais fraca “o que seria justificado, sobretudo, pela

necessidade de território, de seus recursos, para a sua sobrevivência biológica”

(HAESBAERT, 2002, p. 118). Tais ideias, segundo Andrade (1987), foram bastante

utilizadas, por exemplo, por Hitler para a expansão do território alemão durante a Segunda

Guerra Mundial.

Entretanto, Souza (2000) diz que Ratzel não tratava, em seus estudos, o território

como indissociável, mas como sinônimo de território de Estado. Na realidade, para Ratzel, o

território era o solo (boden). Ainda segundo Souza (2000), os territórios, antes de tudo, são

relações sociais que constituem redes de interação e força de grupos dentro e externamente.

Logo,

O papel do espaço, hoje indissociável em suas perspectivas “natural” e “social”,

pode ser interpretado tanto como “rugosidades” ou “constrangimentos”, que

redirecionam os processos sociais e econômicos, quanto como referenciais inseridos

na vida cotidiana e que perpassam nossas identidades coletivas (HAESBERT, 2002,

p. 81).

Nessa perspectiva, o território é condicionado por algo ou alguém que constitui ações

desenvolvendo territórios contínuos e descontínuos.

Portanto, "temos que cada território descontínuo é na realidade, uma rede a articular

dois ou mais territórios contínuos" (SOUZA, 2000, p. 94, grifos do autor), pois os territórios

descontínuos são propriamente construídos pela presença de problemas ou tensionamentos

diversos que surgem dentro dos territórios contínuos. Os territórios contínuos, por sua vez,

são constituídos por processos históricos, envolvendo fatores políticos, culturais, econômicos,

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sociais, religiosos e etc., que perpetuam uma reinvenção do território tornando transterritório

pela realidade imposta hoje.

Para ilustrar esses conceitos, pode-se utilizar como exemplo os territórios no contexto

da Estratégia Saúde da Família, a partir da representação gráfica abaixo (Figura 01):

Figura 01: Representação gráfica dos conceitos de territórios contínuos e descontínuos.

Fonte: Acervo do autor.

Conforme se observa na figura acima, o espaço delimitado pela linha azul corresponde

ao território político-administrativo da cidade que se caracteriza como um território contínuo,

uma vez que possui processos históricos, políticos, culturais, econômicos, sociais, religiosos e

etc. já constituídos. Em seu interior, a linha vermelha delimita o território do SUS,

representado pela ESF, que, por seu turno, pode ser denominado território descontínuo,

porque, inicialmente, este território é estranho para a população. Porém, no decorrer do

processo de territorialização, torna-se contínuo, na medida em que passa a ser usado e vivido

pelos usuários do SUS. Por fim, a linha verde que simboliza o ACS, sinaliza as diversas

influências que este profissional da saúde recebe tanto do território da cidade como do

território do SUS. Logo, ao atuar no território do SUS o ACS produz uma reterritorialização

ao engendrar outros arranjos e relações do espaço vivido, primeiramente havendo a

descontinuidade (produção de novos territórios dentro do território pré-definido pelo SUS) e

depois a continuidade (quando desenvolve tecnicamente aquilo que se espera do seu trabalho,

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mas, agora, num território ressignificação), sem deixar as referências de territorialização que

vivencia.

Haesbert (2002, p. 83) observa que “embora sem negar que toda espacialidade esteja

impregnada, em diferentes níveis, de uma carga simbólica ou disciplinar, alguns espaços

parecem assumir primordialmente um destes ‘conteúdos’”. Consequentemente, pode-se dizer

que o território é uma possível criação do conteúdo político do mundo moderno, por ter sido

desenvolvido por interesses da burguesia. Isto pode ser verificado nas obras de Claude

Raffeestin que evidencia o território, domínio e substrato do social:

De acordo com a nossa perspectiva, a territorialidade-adquire um valor bem

particular, pois reflete a multidimensionalidade do "vivido" territorial pelos

membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral. [...] Os atores, sem se

darem conta disso, se automodificam também. O poder é inevitável e, de modo

algum, inocente. Enfim, é impossível manter uma relação que não seja marcada por

ele. (RAFFESTIN, 1993, p.158-9).

Muito embora, segundo Souza (2000), Raffestin em seu trabalho reduzisse o espaço ao

natural e o conceito de território equiparado a espaço social esse contribuiu para um melhor

entendimento sobre a perspectiva social e outras áreas envolvendo as ações do homem.

Nessas compreensões, em contrapartida Santos (2006) desempenhou o caminho e,

pode-se dizer, a lógica, os sentidos e substratos, conforme este, apesar do território possuir

significados e representações sociais de cunho político-administrativo de um Estado que

exerce poder, não é o condutor dessas territorializações, mas um aspecto que elabora as

reproduções dos agentes sociais. Nessa perspectiva, entende-se por território:

A extensão apropriada e usada. Mas o sentido da palavra terriorialidade como

sinônimo de pertencer àquilo que nos pertence... esse sentimento de exclusividade e

limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de Estado. Assim, essa

ideia de territorialidade se estende aos próprios animais, como sinônimo de área de

vivência e de reprodução. Mas a territorialidade humana pressupõe também a

preocupação com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos, é

privilégios do homem (SANTOS, 2006, p. 19, grifos do autor).

O território, portanto, é na realidade um referencial de interações múltiplas que criam

e recriam delimitações devido às ações de forças que constroem seu substrato, mas que essas

referências ou aspectos sejam de identidade, economia, política, meio natural, social. Logo

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essas referências ou aspectos podem causar certa representação de dominância na construção

do território, porém sendo passível de descontinuidade (SOUZA, 2000; HAESBERT, 2002).

Depois desta conceituação e definição será examinado o significado de território no SUS.

2.3 O CONCEITO DE TERRITÓRIO NO SUS

O uso e a importância do termo território no SUS é aplicado conforme suas diretrizes e

princípios que foram construídas em consequência da Conferência de Alma Alta; do

movimento da Reforma Sanitarista; do processo de redemocratização do país; da 8ª

Conferência Nacional de Saúde. Este conceito se tornou imprescindível a partir da criação do

PACS, em 1991, e da ESF (antes PSF), em 1994, com o intuito de reorganizar o SUS sobre a

ótica de regionalização para maior eficácia na prevenção e promoção da saúde. Porém, estas

situações se desenvolveram entre os anos 1970 a 1990, como veremos abaixo.

Nos anos 1970, sobre o signo da medicina preventiva, a medicina comunitária

desenvolveu nas faculdades ideologias sobre a lógica de modelo da Atenção Primária à Saúde

(APS), as quais traziam a concepção de integração, prevenção, universalização, sobre uma

organização em uma região para melhor compreensão e atendimento da população adscrita

(MOSORI, 2007).

Essas ideias foram difundidas para diversos países, principalmente nos países de

pouco aparato tecnológico, o que possibilitou o surgimento de programas relacionados ao

modelo como o fortalecimento nas estratégias de ações dos governos, nos conteúdos

socioeconômicos. Segundo Mosori (2007), é nessa situação que o modelo de APS alcança

relevância na agenda das políticas de saúde.

Com os resultados das experiências nos países que aderiram ao modelo, provocou-se a

trigésima reunião anual realizada pela a Assembleia Mundial de Saúde, para debater sobre

esta nova proposta, posteriormente gerando, em 1978, a conferência realizada em Alma Ata,

no Cazaquistão, onde foram apresentados os princípios da APS (integração, universalização,

primeiro contato, coordenação e continuidade em um território delimitado). Na Declaração de

Alma Ata foi proposta a seguinte definição de APS:

Os cuidados primários em saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em

tecnologia e métodos práticos, cientificamente comprovados e socialmente

aceitáveis, tornando universalmente acessíveis a indivíduos e famílias na

comunidade mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o

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país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, um espírito de

autoconfiança e autodeterminação. É parte integral do sistema de saúde do país, do

qual é função central, sendo o enfoque principal do desenvolvimento social e

econômico global da comunidade. É o primeiro nível de contato dos indivíduos, da

família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando a atenção à

saúde o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham,

construindo o primeiro elemento de um processo de atenção continuada à saúde

(OMS apud STARFIELD, 2002, p. 30-1).

Nesse panorama de propostas de modelos tecno-assistenciais, condicionou-se uma das

principais motivações para desenvolvimento do movimento de Reforma Sanitária Brasileira,

pois esta terá o intuito de implantar um sistema de saúde universal, ou seja, o modelo de APS

(MOSORI, 2007). Isto motivara a importância de “ [...] uma reflexão sobre o funcionamento

dos serviços e, com isso, de sua base territorial, levando a um maior interesse sobre os

critérios de delimitação de territórios para saúde” (BARCCELOS, 2008, p. 37).

Esse movimento teve início nos meados da década de 70, sendo influenciada pela

reforma sanitária italiana, o qual constitui um grupo restrito de pensadores. Entre os principais

integrantes, identificavam Hésio Cordeiro, Sérgio Arouca, Eleutério Rodrigues e Amélia

Cohn, todos da área da saúde, os quais reivindicavam substituir o sistema de seguro social

para um sistema de saúde democrático com a possibilidade de executar sistema público de

atendimento universal, como antes falado (RODRIGUES, 2011; SILVIA, 2004).

Com isso, as ideias propostas pela Reforma Sanitária Brasileira tinham como metas:

[...] saúde ampliada, relacionada às condições gerais de vida como moradia,

saneamento, alimentação, condições de trabalho, educação e lazer. A saúde, nesse

sentido, é definida como um ‘direito do cidadão’ e, consequentemente, um ‘dever do

estado’ (SILVIA, 2004, p. 55).

Tais ideias referenciavam-se nas doutrinas do modelo de APS para um sistema de

saúde público no Brasil.

Os anos 1980, consequentemente, foram marcados pelo processo de redemocratização

política do Brasil, pois o mesmo encontrava-se sobre uma política de ditadura militar e

também se verificava, nessa década, uma explosão demográfica, demostrando um número

expressivo de atendimento nos hospitais e agravamentos de problemas sociais como

saneamento básico, desemprego, saúde entre outros, que irá efervescer ainda mais a política

nos movimentos sociais (SANTOS, 2006). Entre eles, o movimento da Reforma Sanitária que

consegue em suas reivindicações a garantia da saúde como “um direito do cidadão e um dever

do Estado, na Constituição Brasileira de 1988” (MOSORI, 2007, p. 80).

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Todavia, essa situação é constituída especificadamente em 1986, na VIII Conferência

Nacional de Saúde, na qual foi delineada a elaboração do projeto da Reforma Sanitária

Brasileira que, grosso modo, “empenhou-se em revisar as questões teórico-políticas e

recuperar princípios e diretrizes do movimento pela democratização da saúde” (PAIM, 2008,

p. 99). Ou seja, tais ideias deste documento se projetaram na Constituição Federal de 1988,

concebendo a saúde como um direito de todos.

Essa elaboração do projeto foi feita com a participação da sociedade, destacando-se

por ser a primeira conferência a ter a participação da população nos finais da ditadura militar

(RODRIGUES, 2011).

Nesse documento continha os princípios de descentralização, integralidade,

participação popular, regionalização e hierarquização numa área adscrita, os quais somente

foram absorvidos pela Constituição Federal com o término da ditadura militar em 1988, onde

foram construídos os direitos de saúde do cidadão e instituído o novo modelo de assistência, a

APS e o SUS, pela Lei Orgânica da Saúde e de várias normas e portarias emitidas pelo

Ministério da Saúde (MOSORI, 2007).

Na Constituição Federal podem-se identificar essas diretrizes e princípios do SUS, na

Seção II da Saúde nos artigos 196 e 198:

Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e

ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação.

Art. 198 As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e

hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as

seguintes diretrizes:

I - Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade (BRASIL, 2006, p.7).

Compreende-se que essas diretrizes e princípios se diluem no termo território como

objeto norteador de estratégias na promoção da saúde e prevenção de doenças, num sentido

em que a integralidade e os demais princípios, somente se concretizam em uma

regionalização, com isto:

Levando a um maior interesse sobre critérios de delimitação de territórios para

saúde. É nessa ótica gerencial que se invoca o conceito de território, concebendo,

assim, como área político-administrativa, com maior ênfase na repartição do espaço

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do que nos processos que aí se desenvolvem. A operacionalização do conceito de

território é o principal objetivo dessa retomada. (BARCELLOS, 2008, p. 37).

Rodrigues (2011) observa que essas regionalizações ou territorializações são

organizadas pelo SUS por dois quesitos: demográfico e epidemiológico, do espaço vivido,

baseados na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº. 8.080/90). O primeiro quesito distingue-se por ser

uma intervenção sanitária eficiente e por entender os problemas que afetam estas populações

sendo uma população específica, já o epidemiológico seriam as doenças que afetam esta

população.

Nos ano 90, especificamente em 1991 nasce o PACS que vem expor ainda mais a

importância de se trabalhar sobre a lógica de ações no SUS sobre construção de território.

Esse programa surgiu do SESP (Serviço Especial de Saúde Pública) e dos programas

de extensão de cobertura, os quais embasaram e determinaram o surgimento das diretrizes,

com a meta de reduzir a mortalidade e promover ações de atenção à saúde nos territórios ou

regiões de maior fragilidade (LACAZ, 1972; MOSORI, 2007).

A importância dessas ações promovidas pelos ACS, outrora chamados de visitadores

sanitários (BARROS et al, 2010), veio representar, para Ministério da Saúde e Secretárias de

Saúde, uma nova tática territorial de promoção da saúde e de surgimento do elo entre as

equipes de saúde e a comunidade adscrita, o que condicionou em experiências nas áreas de

atuação do programa, dados estatísticos positivos nas condições de saúde da população.

Isto provocou, nestes resultados, a mudança de PNACS para PACS, em 1992, pois na

visão do Unicef - (Fundo das Nações Unidas para a Infância e do Ministério) identificava-se

uma nova dinâmica de ação e extensão de promoção numa lógica territorial (MOSORI, 2007).

Assim sendo, pode-se dizer que conforme Barcellos (2006, p.37) “[...] a base territorial

é um dos princípios organizativo-assistenciais mais importantes do Sistema de saúde”. A

comprovação disso foi o surgimento do PSF (Programa de Saúde Familiar) na década de 90,

exatamente em 1994, com adesão do PACS, que em suas diretrizes operacionais ressalva:

[...] na vigilância da saúde parte da territorialização do trabalho em saúde, isto é, da

localização sócio-político-geográfica do processo saúde-doença que permite a

compreensão dos problemas de saúde em seu contexto territorial e o planejamento

mais adequado das intervenções necessárias, desde a definição de prioridades ao

estabelecimento das ações mais adequadas. Não é à toa que um trabalho prévio ou

concomitante instalação das equipes de Saúde da Família em uma região consiste no

mapeamento das áreas e microáreas de atuação e na sua distribuição pelas equipes.

Em seguida, estas realizações, o cadastramento das famílias e o levantamento das

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principais informações socioeconômicas e sanitárias da região adscrita. (MOSORI,

2007, p. 90).

É relevante ressaltar que, atualmente, não se chama mais de PSF, mas de Estratégia

Saúde da Família (ESF), alterado pelo Ministério da Saúde em 1996 porque “o conceito de

programa estava vinculado a uma ideia de verticalidade e transitoriedade, passando a utilizar a

denominação de Estratégia de Saúde da Família por considerá-la a estratégia escolhida para a

reorientação da atenção à saúde no país” (MOSORI, 2007, p.90).

Portanto, o termo território no SUS, para Castro et al. (2010, p. 47), em sua

conceituação “passa de quadro estático, em que a vida ocorre, para espaço em que um

conjunto de saberes, poderes, necessidades, desejos, valores, interesses e discursos se

organizam e se reorganizam de maneira específica”. Isto pode se caracterizar por um território

de processos e redes em que são exercidas as ações de poderes de territorialidade do SUS

sobre a população do lugar, causando as redes de territórios dos já existentes.

Para Borges; Taveira (2012), o conceito de território no SUS é definido como um

espaço limitado político-administrativamente ou produzido por um grupo social que exerce

um poder ou influência sobre a área, identificando aspectos referenciais como histórico,

ambiental, político, simbólico, entre outros em que é defina e exercida as ações do SUS ou,

simplificando, é compreendido como território-processo “onde a sociedade se estrutura e

reproduz a vida, organiza a cultura, vive a história” (MOSORI, 2007, p. 32).

Nessa situação, o território-processo, também chamado de região de saúde,

“promoverá a integração dos serviços ora fracionados, em rede, unindo os municípios de

forma sistêmica com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde sem perder

o princípio constitucional da descentralização” (SANTOS, 2015, p. 440).

Nisto, para haver os princípios constitucionais e a descentralização o SUS organiza em

suas territorializações no âmbito estadual e municipal. O primeiro verifica-se em quatro

categorias: Região de saúde, Microrregião, Metrópole ou cidade-polo e Módulo assistencial

(BORGES; TAVEIRA, 2012).

Enquanto nos municípios se “(...) gerou a necessidade de se limitar cada sistema de

saúde com base no território e na população” (BORGES, TAVEIRA, 2012, p. 242), com

identificando quatro categorias de território: o Distrital, dado pelo poder político-

administrativo; território-Área, formada pelo conjunto das microáreas determinadas pelos

ACS e SMS - (Secretária Municipal de Saúde); Microárea: pela homogeneidade

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socioeconômica e epidemiológica; e Moradia: lugar residencial para atendimento de uma

família.

Portanto, conforme Borges e Taveira (2012) que a territorialização e territorialidade do

SUS é importante para melhores serviços e atendimentos à população, muito embora também

se perceba que o território Área e Microárea, unidade operacional do ACS, seja um território

de múltiplas transformações, o que implica na realidade do número de pessoas para estes

agirem, pois “todos os dias o mundo está inventando uma novidade, cada dia somos

ignorantes do que são e do que valem as coisas novas” (SANTOS, 2006, p. 151). Em seguida,

será falado especificamente do PACS onde se pode compreender mais um pouco das origens

desse espaço.

2.4 PROGRAMA DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

O PACS é um programa governamental que nasceu em 1991, mas suas premissas de

assistência de ações na saúde podem ser observadas no período, no qual se denominava de

PNACS - (Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde), o que expressou a

minimização das situações de doenças nas áreas de maior fragilidade no Brasil. Isto graças às

ações em territórios delimitados ou adscritos, detalhe realizado pelos ACS, que foram

primordiais para estratagemas na promoção de saúde no espaço geográfico condicionado a

absolvição na Estratégia Saúde Familiar “visando à reorganização das práticas de atenção à

saúde” (FRAGA, 2011, p. 6).

Essas iniciativas de ações pelo programa ocorreram entre os anos de 1987 e 1990, as

quais foram desenvolvidas ações de infraestrutura e assistência de atenção primária à saúde

pelo PNACS, nas regiões de maior fragilidade no país, no caso o Nordeste e Norte (LACAZ,

1972). Porém,

Neste mesmo contexto de ampliação da cobertura das áreas de saúde, pode-se

considerar, de certa forma, que essas políticas tiveram alguma continuidade em

diversas iniciativas de âmbito regional ou local, e que se traduziram em programas,

utilizando a mesma estratégia de recrutamento de trabalhadores residentes no

próprio grupo social (MOSORI, 2007, p. 157).

Consequentemente, as experiências positivas, motivaram para o Unicef, o Ministério

e secretárias da saúde expandirem esse programa por todo Brasil. Segundo Mosori (2007), em

consequência disso e por sua relevância nas operabilidades no território brasileiro, isso

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evidenciou e provocou uma nova realidade de ações políticas do SUS, no qual encaixou-se

nos propósitos da APS levando consequentemente na modificação do nome de PNACS, em

1992, para PACS.

Por meio desse programa, o Ministério da Saúde não somente fixou, mas amplificou

a relevância do ACS, tendo em vista suas ações na territorialização do SUS representou uma

“[...] ordenação da formação dos trabalhadores do setor, com base em metodologias mais

reflexivas, voltadas ao aprendizado no próprio exercício profissional” (BARROS et al, 2010,

p. 79) e, ademais, garantiu legitimidade da função dos ACS, isto em 1992.

Todavia, essa legitimação ocorreu, segundo Barros et al. (2010), por causa das

seguintes situações:

1999 – Decreto Nº 3.189, 04/10/1999 e parecer legal Nº 16, 05/10/1999: o

primeiro para fixar diretrizes de capacitação de trabalho do ACS, e segundo para a

Educação Profissional de Nível Técnico, conforme a Lei de Diretrizes e Bases

(LDB) de 1996;

2002- Lei 10.507, 10/07/ 2002 legaliza a profissão do ACS;

2006- revogação da lei de 2002 para ajustes e uma nova regulamentação em

atividades promulgada pela Lei Nº 11.350.

Nessa lei 11.350 no Art. 3. ° e 6. ° mostram as ações e objetos com uso da

territorialidade e territorialização dos ACS:

Art. 3.º O Agente Comunitário de Saúde tem como atribuição o exercício de

atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, mediante ações

domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas em

conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do gestor municipal,

distrital, estadual ou federal.

Parágrafo único. São consideradas atividades do Agente Comunitário de Saúde, na

sua área de atuação:

I - a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sociocultural da

comunidade;

III - o registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde,

de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde;

IV - o estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a

área da saúde.

Art. 6.º O Agente Comunitário de Saúde deverá preencher os seguintes requisitos

para o exercício da atividade:

I - Residir na área da comunidade em que atuar desde a data da publicação do edital

do processo seletivo público;

II - Haver concluído, com aproveitamento, curso introdutório de formação inicial e

continuada; § 1.º Não se aplica a exigência a que se refere o inciso III aos que, na data de

publicação desta Lei, estejam exercendo atividades próprias de Agente Comunitário

de Saúde.

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§2.º compete ao ente federativo responsável pela execução dos programas a

definição da área geográfica a que se refere o inciso I, observados os parâmetros

estabelecidos pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2016, p. 1 e 2).

O § 2.º se refere ao enfermeiro da ESF (a) “[...] pois este deve planejar, gerenciar,

coordenar as áreas desenvolvidas pelos ACS, segundo a Portaria n° 648 de 28 março de 2006,

assim como sua supervisão, coordenação e realização das atividades de educação permanente

desse profissional” (MOSORI, 2007, p. 97) como assistência integral, consulta, solicitação e

prescrições em seus limites legislativo.

Para isto ACS integram nas equipes de saúde como ponto chave entre a comunidade e

a UBS para facilitar uma maior compreensão do espaço-território como compartilhar

informações importantes para as ESF proporcionando uma maior eficácia e melhoria no

âmbito saúde e sociedade (BARROS et al., 2010).

Nisso, através do ESF existem três tipos de território de relações de poder:

Território de escuta (na fase de coleta de informações para se atingir a equidade);

um território administrativo (quando são definidas articulações com outros

territórios para garantir o acesso a equipamentos e instituições que permitem uma

disponibilidade de recursos mais complexos ou complementares); e um território de

realizações (quando é materializada a prestação de serviços no espaço vivido)

(PEREIRA e BARCELLOS, 2006, p. 56).

Por fim, percebe-se que o PACS contribuiu e ainda desenvolvi e reduz os problemas

sociais de saúde e educação com ações focadas nas populações mais pobres. Com sua adesão

ao ESF possibilitou uma nova estratégia para a compreensão e entendimento das

representações sociais das comunidades inseridas no território adscritos, estas de múltiplas

criações e recriações territoriais. Agora depois deste entendimento iremos compreender o

conceito de representação social.

2.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

As representações sociais são saberes que se referem às pluralidades existentes no

saber, mas sendo especialmente direcionada aos conhecimentos que se produzem e

reproduzem no lugar, onde são identificados movimentos, animações, ou seja, o espaço vivido

(SANTOS, 2006; REIS, BELLINE, 2011).

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As premissas desse conhecimento podem ser observadas em Kant, filósofo iluminista

que em suas reflexões, estabeleceu os princípios que determinaram limites ao conhecimento

humano. Assim, desses princípios podem ser verificados três:

(...) o científico, o moral e o estético. O conhecimento científico limita-se ao

fenômeno, que resulta da imposição de categorias subjetivas de percepção e de

entendimento ao mundo externo. Nesta esfera, mediante a razão pura, o

conhecimento quantifica e estabelece relações matemáticas entre fatos e coisas. Os

conhecimentos moral e estético vão além do fenômeno e se dirigem ao noumeno, à

coisa em si, por meio de uma disciplina pessoal e prática – do ponto de vista moral e

estético – que procura superar o particular e alcançar o universal. Assim, o

fenômeno se qualifica em uma perspectiva que pressupõe um sentido de totalidade e

universalidade (QUEIROZ, 2000, p. 28, grifo do autor).

Todavia, essa concepção positivista se enrijeceu principalmente no mundo burguês,

pois segundo Queiroz (2000), torna-se opressora com a ascensão desta classe social

consequentemente, a globalização iniciada no século XVII e as novas visões de vida cultural,

simbólica, social por ela provocadas.

Nesse período pré-modernista os estudos voltados aos sentidos humanos, como sua

percepção, a intuição e a emoção eram considerados secundários diante do conhecimento

científico da época. Tal posição secundária era explicada por se reconhecer que “diante dele

[do conhecimento científico], os saberes do senso comum e do cotidiano, ou seja, as

representações sociais passaram a ser consideradas, meios precários e ilusórios de

conhecimento, que só podem conduzir ao erro” (QUEIROZ, 2000, p. 29).

Nesse panorama, o primeiro a fundamentar sobre a Teoria de representações sociais

foi Durkheim, sociólogo, na idade moderna, outrora chamada de representações coletivas, que

em sua obra clássica apresenta As Formas Elementares de Vida Religiosa (1957). Mostrava

em suas concepções que a realidade era para ser encarada partindo da premissa da observação,

em que homem absorvia, expressava e simbolizava desenvolvendo os fatos sociais,

consequentemente adquirindo uma experiência já imposta, nisto consequentemente acreditava

“[...] não existem representações falsas, todas respondem às necessidades da existência

humana de diferentes formas e em condições dadas” (MINAYO, 2008, p. 221).

Assim, para Durkheim, a representação se dava sobre a determinação dos princípios da

organização em vida social, nisto procurando explicar tais ideologias:

[...] nas manifestações religiosas e nos sistemas totêmicos protocientíficos mais

simples e primitivos, os princípios elementares da lógica social. Estabeleceu, em

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suma, que o ser humano percebe, sente e pensa o mundo em que vive com base em

princípios organizacionais provenientes de uma realidade que lhe é externa e

independente, ou seja, a realidade social que antecede, coage e se impõe ao

indivíduo. (QUEIROZ, 2000, p. 30)

Essas ideias foram tão expressivas que vieram contribuir nas áreas de Sociologia,

Antropologia e Psicologia Social modernas, colaborando para que nesta linha de raciocínio o

pesquisador Serge Moscovici (1976), na área da psicologia social, se inspirasse e criasse à

obra a representação social da psicanálise colocando em pauta a ideia de contexto social

ligado ao senso comum da vida cotidiana, conforme a sua conceituação de representação

social identificou-se “(...) mais maleável e operacional, mais dinâmico e multidisciplinar”

(QUEIROZ, 2000, p. 27).

Já nos estudos da representação social por Max Weber vieram propor uma concepção

de representação social mais ampla adquirindo ideias de possibilidade sobre a perspectiva de

visão de mundo “[...] todas as representações sociais são visões sobre a realidade, marcadas

pelas contradições devido ao lugar que os diferentes atores ocupam no modo de produção”

(MINAYO, 2008, p. 233).

Nisso, entende-se que o pensamento de representação social não se limita na

sociedade como único determinante, mas na pluralidade existente no espaço geográfico, o

qual o homem é um ator de ações e modelador de seu próprio meio, porém sendo passível

segundo a concepção de Max Weber de ser influenciado pelo meio que vive, como exemplo o

território.

Se bem que, todo contexto social é passivelmente relativo dado por uma relação

social, nisso, pode-se afirmar que na concepção de relatividade na representação social

proposta por Malinowsky evidenciou uma situação determinista que pesou muito na

Antropologia em sua obra “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, com a conceituação do

etnocentrismo que se embasou nos fatos conjeturais, fixados em fundamentos e “valores

comprometidos com a tendência de avaliar o ‘outro’ de um ponto de vista impregnado com

princípios e valores pertencentes ao mundo do observador” (QUEIROZ, 2000, p. 38). Estas

ideias traziam no período da idade moderna, contradição que pregava do positivismo.

Essa contradição pode ser explicada pela seguinte passagem:

A pretensão de entender o ‘outro’, em seus próprios termos, coincide com a

necessidade de promover metodologias que pudessem controlar tanto os valores

como as categorias intelectuais provenientes do mundo do investigador. Esse

controle, por sua vez, é análogo à disciplina necessária para se atingir o noumeno

kantiano, ou a essência de um fenômeno através da redução eidética ou

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fenomenológica de Husserl. Captar a relatividade do fenômeno, que se volta tanto

para a sociedade estudada, como para o próprio mundo do investigador, tornou-se o

pilar mestre da antropologia moderna (QUEIROZ, 2000, p. 38-9).

Nesse cenário, acaba causando pela moderna antropologia cultural e social um aspecto

social mais complexo e dúctil, assentada em suportes estruturais heterogênicos entre si, ou

seja, “deixa de ser um mero reflexo da estrutura social mais ampla e apresenta, em relação a

esta, uma autonomia relativa” (QUEIROZ, 2000, p. 41). Assim, pode-se compreender que

essa relatividade apresenta quando, a representação social do homem em seu comportamento

moral supera-se os costumes e tradições do seu espaço-território:

[...] o indivíduo - como conjunto dotado de consciência e vontade - deve superar esta

condição de suporte ou efeito passivo de uma estrutura social para integrar-se livre e

conscientemente na comunidade e desenvolvem [...] sua responsabilidade pessoal e,

com isso, a sua própria natureza moral (VÃZQUEZ, 1984, p. 59).

Isso se configura que as representações sociais não podem ser estudadas no

desenvolvimento de técnicas de pesquisa qualitativa, sem considerar devidamente nesse

contexto (QUEIROZ, 2000).

Portanto, compreende-se que atualmente a representação social segundo Queiroz

(2000) é um tipo de conhecimento socialmente dialético, inserido no senso comum e no

espaço vivido, que permite ao indivíduo, no contexto social ter visões de mundo múltiplas,

ocasionando possibilidades e orientando-se nas ações e objetos do homem em suas estratégias

que constroem e reconstroem para sua vivência no meio social do espaço cotidiano ou “o

espaço seria o conjunto do trabalho morto (formas geográficas) e do trabalho vivo (o contexto

social)” (SANTOS, 1988, p. 26).

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3 METODOLOGIA

3.1 ABORDAGEM E TIPOLOGIA DA PESQUISA

Trata-se de pesquisa qualitativa em sua abordagem metodológica. Quanto aos

objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva que segundo Gil (2008 p. 27-9),

[...] exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar

conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou

hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...] descritivas salientam-se aquelas

que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por

idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, nível de renda, estado de saúde

física e mental etc. Outras pesquisas deste tipo são as que se propõem estudar o nível

de atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade, as condições de habitação

de seus habitantes, o índice de criminalidade que aí se registra etc. São incluídas

neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e

crenças de uma população.

Nisto são pesquisas que atuam na prática e se complementam, sendo preocupadas com

o presente social do homem, tendo em vista o futuro pretérito dependerá das produções

reproduções desenvolvidas ou praticadas no presente.

3.2 DESCRIÇÃO DO AMBIENTE DE ESTUDO

O cenário do estudo foi a Unidade Básica de Saúde Santa Costa, localizada no Bairro

Paraíba (Figura 02), o qual faz divisa os Bairros: Centro, Penedo, Soledade e João XXIII. Este

Bairro pertencente à zona Sul do munícipio de Caicó-RN (Mapa-01) que, por sua vez,

encontra-se na microrregião do Ocidente Seridó, na Mesorregião Central do estado no RN do

nordeste brasileiro (IBGE, 2016).

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Figura 02: Bairro Paraíba e respectiva divisa com outros bairros de Caicó/RN

1.

Fonte: Elaborado pelo autor.

1 Lei Nº 3.420 de 25 de Março de 1993

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Mapa 01: Localização do Município de Caicó/RN.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme as informações colhidas com ACS, a unidade pública antigamente era um

centro clínico chamado popularmente, e ainda chamam, de “Chiqueiro do Doutor”, pois

outrora se reunião neste prédio segundo os ACS o reduto ou grupo de Vivaldo Silvino da

Costa, representante político e médico, ou mais conhecido por Papa jerimum, por ter comido

jerimum, oferecido de uma mulher, assim pedindo a este para consultar seu filho doente, em

favor disso a jovem ofereceu o que tinha em sua casa o jerimum, nisto pegando o apelido.

Esta situação é ocasionada, segundo Clark (1991) por situações que a população acha

marcantes e acabam se tornando marcos local, consequentemente tornado um ponto de

localização para as pessoas daquele território ou fora deste ainda trazendo uma perspectiva

histórica, cultural e ambiental que podemos chamar até de registros referenciais, tendo em

vista esses conteúdos exibem representações de uma identidade territorial do espaço

geográfico.

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Figura 03: Registro referencial cotidiano, do território do Bairro Paraíba.

Fonte: Acervo do autor.

Na figura-3 é perceptível o registro referencial dos limites territoriais do Bairro

Paraíba como sua tipicidade do cotidiano em que envolve o cidadão no seu dia a dia,

suas crenças e lazer ou objetos fixos marcadores como a praça, igreja, colégio

observado na figura. Já a figura 4 está voltada ao registro referencial do território do

SUS, no qual geralmente as pessoas e os profissionais de saúde criam pontos de

localização para ir a UBS Paraíba, neste caso sendo a placa da academia, na qual os

usuários e profissionais usam para se localizar na rua onde se encontra a UBS Paraíba

ou objeto fixo do território do SUS.

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Figura 04: Registro referencial fixo, a academia, do território da UBS Bairro Paraíba.

Fonte: Acervo do autor.

Diante desta configuração de registro referencial foi se concretizando e

impulsionando-as e transforma o então “Chiqueiro do Doutor” em 30 de junho de 1995 num

posto público de saúde. Atualmente chama-se Unidade Básica de Saúde Santa Costa. Isso foi

possível pelo convênio entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Caicó/RN. Segundo

Morais (1998, p. 107) é um dos bairros mais estruturados em relação aos serviços de saúde,

pois,

A área de saúde é contemplada pela existência do Escritório Técnico de Apoio aos

Municípios, IV ETAM [hoje IVª Unidade Regional de Saúde Pública – URSAP],

órgãos de atuação regional ligado à Secretária de Saúde do Governo do Estado,

Centro Clínico Chiqueiro do Doutor [municipal], Fundação Hospitalar Dr. Carlindo

Dantas-Hospital do Seridó (...) e clinicas médicas particulares.

Meu primeiro contato com o campo da pesquisa, a UBS, foi junto com os alunos de

medicina da EMCM/UFRN. Não imagina que seria aquele prédio mesmo, pois parecia uma

casa comum como pode-se observar na figura-05.

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Figura 05: Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Paraíba, Caicó/RN.

Foto: Acervo do autor.

Todavia minha concepção começou a mudar (ver figura 06) com os instrumentos

como a placa também outros dentro deste fixo e mais o fluxo de pessoas e objetos não

artificias (profissionais que representam o SUS).

Figura 06: Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Paraíba, Caicó/RN, seus instrumentos que caracterizam

usuários e profissionais.

Foto: Acervo do autor.

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3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população constou dos 16 ACS das Equipes de Saúde da Família I e II da UBS

Paraíba. A amostra foi de tipo intencional, utilizando a técnica (snow ball) “bola de neve” de

Bailey (1994), na qual o entrevistado indica o seguinte até que seja atingida a saturação dos

dados, também por indicação das pessoas que trabalham no mesmo espaço ou convivem com

aquelas. Dessa forma, o tamanho da amostra foi construído em campo, na medida em que aos

entrevistados indicavam outro, mas também os profissionais e população que davam as

informações sobre os entrevistados e designavam.

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos para coleta de dados ACS de ambos os sexos, com idade a partir dos

18 anos, que trabalham há pelo menos 01 ano na UBS. Todavia houve um caso específico de

um ACS que tinha por tempo de serviço somente cinco meses, ao qual foi cabível entrevistar,

tendo em vista que o mesmo cooperou para entendimento do vínculo entre população e ACS.

Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) e o Termo de

Autorização para Gravação de Voz (Apêndice B).

Por outro lado, os critérios de exclusão foram: 1) não atender a todos os critérios de

inclusão; 2) desistir por vontade própria no decorrer da coleta de dados para a pesquisa; 3)

estar ausente nos dias de coleta de dados por motivos pessoais ou trabalhistas.

3.5 PERÍODOS E INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS

O período de coleta dos dados se deu nos meses de setembro e outubro de 2016. As

entrevistas foram realizadas na própria UBS. Nesse panorama, foram feitas entrevistas

semiestruturadas utilizando um roteiro (Apêndice C) e realizado o preenchimento de

questionário socioeconômico (Apêndice D). As entrevistas foram registradas em áudio e,

posteriormente, transcritas na íntegra.

Além desses dados, foram realizadas pesquisas documentais de dados e informações

geográficas e levantamentos bibliográficos. Os dados secundários serão obtidos no IBGE, na

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Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), Agência dos Correios de Caicó-

RN, na Secretaria de Infraestrutura e Tributação da Prefeitura de Caicó/RN e na Câmara dos

Vereadores do município.

Para produzir os gráficos foi usado o Excel (2013) e o programa do Windows 10. Por

fim, imagens de satélites, extraídas do Google Earth® para localização da área que foram

trabalhados sistematicamente para construções de mapas pelo software ArcGIS 10.3

Acadêmico da UFRN-CERES.

3.6 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

As entrevistas foram analisadas por meio da técnica de codificação temática (FLICK,

2009) e compreendeu: 1) descrição breve de cada entrevista; 2) aprofundaram-se as análises

tendo como base o tema da pesquisa, os objetivos e os pressupostos teóricos; 3) identificação

das unidades de sentido, por meio do agrupamento dos códigos comuns e dos incomuns. Ou

seja, nessa etapa fez-se a primeira fase da interpretação, emergindo as unidades de

significados; e 4) passagens do texto foram analisadas, observando-se mais detalhes.

Analisado todo o corpus, produziu-se uma tabela na qual se definiram os núcleos de

significados. Por fim, tendo como base os núcleos de significados gerados, foram construídas

as categorias temáticas.

3.7 ANÁLISE DE RISCOS E BENEFÍCIOS

Os riscos decorrentes desta pesquisa foram mínimos, não houve constrangimento do

entrevistado no momento de responder a alguma pergunta do roteiro de entrevista ou do

questionário socioeconômico. Mas se houvesse constrangimento por parte do entrevistado, o

mesmo não seria obrigado a responder a pergunta e o pesquisador informará tal fato, passando

imediatamente para outro ponto do roteiro ou questionário e, se fosse o caso, interromper a

entrevista. Dessa maneira, o participante tinha a possibilidade de se retirar da pesquisa em

qualquer fase da coleta de dados. Além disso, não há desconfortos e nem riscos previsíveis

para os sujeitos da pesquisa e nem para o pesquisador.

Em relação aos benefícios, estes se converterão não somente a população, mas a

cidade em si que podem tomar medidas de saúde mais eficazes para população sobre

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estratégias de compreensão e entendimento no território, assim como os próprios profissionais

participantes da pesquisa; da área; para os pesquisadores encarregados e para o acadêmico em

Geografia Bacharelado que terá a oportunidade de vivenciar na prática uma experiência de

pesquisa científica, lapidando seus conhecimentos teóricos, utilizando conteúdos e

metodologias no decorrer da pesquisa.

Por fim, foram observados os princípios éticos preconizados pela Resolução nº

466/2012 que dispõe sobre a pesquisa envolvendo seres humanos e pela Resolução nº

510/2016 que regula as pesquisas em Ciências Sociais e Humanas que envolvam seres

humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências

da Saúde do Trairi/UFRN de acordo com o Parecer nº 1.756.180/2016. Dessa forma, os

direitos, interesses e sentimentos dos informantes foram protegidos; os objetivos da

investigação foram comunicados aos informantes; a privacidade e o anonimato dos

participantes foram mantidos (os nomes utilizados aqui são fictícios); evitou-se explorar os

informantes para obter vantagens pessoais, bem como prejudicar o andamento de suas

atividades profissionais; foi colocado à disposição dos informantes os dados e as análises do

material empírico.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS ACS

Na composição do perfil dos ACS observou-se que 69% foram do sexo feminino, a

idade média foi de 37 anos, 50% autorreferiram-se brancos e 37,5% brancos. No tocante à

religião, 81% autodenominaram-se católicos. Apesar do número de casados (25%), a maioria

é casada e vive com o cônjuge (69%). Do total de participantes, 50% referem ter curso

superior completo (04) ou incompleto (04). No que tange à renda familiar, 68,7% recebem de

1 a 2 salários mínimos por mês. Já com relação ao local de moradia dos ACS, 75% residem

no próprio bairro Paraíba. Com relação ao tempo de trabalho como a ACS naquela UBS, a

média foi de 10 anos.

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4.2. EM PEDAÇOS: REPRESENTAÇÃO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO DO/NO SUS

DOS ACS

Esta categoria será apresentada sobre a compreensão dos ACS no conceito território

no sistema SUS, em que trazem em suas ações de territorializações e interpretações,

influências sofridas neste espaço geográfico de poderes, pois “[...] os significados do território

conforme se altera a compreensão das relações de poder” (SAQUET, 2013, p. 33).

Segundo as entrevistas realizadas com os ACS compreendem em premissa o território

do SUS como, uma determinada área de abrangência, na qual exercem suas ações e destas

facilitam a comunicação da equipe de saúde com a comunidade criando o elo. Nisto os

próprios dizem que o território é organizado pela Secretária Municipal de Saúde-SMS, que

por sua vez estabelecem poderes que desenvolvem territórios, segundo os objetos fixos, estas

representações do sistema SUS, no caso as UBS que permitem criar uma malha territorial de

abrangência conforme os critérios de número de famílias, risco e infraestrutura

socioeconômica. Vejamos segundo as falas a seguir:

“Eu fiquei com [Rua] A e uma parte da [Rua] B pra completar o número de famílias

que as diretrizes, no caso o SUS, delimita por cada agente. Então quando uma rua

não tem aquela quantidade de pessoas é obrigatório você complementar com

outras”. (João)

“O território é uma delimitação que é organizada a partir da Secretaria de Saúde,

onde é delimitado aquele território. É diferente de rua, que você às vezes pode ter

uma que faz parte do Centro, como é o meu caso”. (Ariana)

“Eu acredito que seja a parte territorial em que cada agente de saúde atua e onde a

unidade de saúde está inserida dentro do município, dentro daquele bairro”.

(Valter)

“No caso de Caicó, o território seria dividido por bairro, né? Esses bairros são

desmembrados em microáreas e cada agente é responsável por uma microárea.

Essa microárea pode ser uma rua, uma avenida ou mais de uma; pode ser beco,

travessa, vila... Depende da extensão da quantidade de pessoas e de famílias. A área

é o bairro”. (Aldo)

Nisto, se particularmente observarmos os trechos das falas de Valter quando ele diz:

“onde a unidade de saúde está inserida dentro do município, dentro daquele bairro” e de

Aldo “Essa microárea pode ser uma rua, uma avenida ou mais de uma; pode ser beco,

travessa, vila...” citam o conceito de território do SUS, o qual é representado pelo Território-

Área e Território-microárea.

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Segundo Guimarães (1942); Vãzquez (1984); Santos (1988) e Goldin et al, (2008) estes

territórios são de caráter, artificias ou sociais diferentemente do território fisiográfico ou de

natureza física (geológica, climática, orográfico, botânico) pois são transformados pelo

homem, órgãos, empresas, por princípios de interesses próprios, que consequentemente

projeta suas intenções ou seja ideias, desejos, propósitos para executarem ações de poderes,

havendo controle relativo do espaço-território, assim desenvolvendo aspectos ou conteúdos de

caráter político-administrativo, socioeconômico entre outros.

Assim, nesses territórios, o órgão público federativo MS (Ministério da Saúde Federal)

em conjunto com SMS constrói a partir de seus sistemas, o território do SUS, o qual é

consolidado pelos seus objetos fixos as UBS, que se obtém do aparato representativo,

instrumental e tecnológico-informacional, os objetos-fluxos que representam os meios

mediáticos e transportes móveis de saúde, por exemplo, os carros móveis de equipes de saúde

que promovem ações em zonas de difícil acesso e por fim os objetos não artificias, as equipes

de saúde, destaque os ACS, o qual concretizara pelas suas territorializações e

reterritorializações de operações, os limites de serviços, atendimento, promoção, vigilância na

saúde, nisto sendo realizados conforme o contexto do lugar em seus conteúdos culturais,

socioeconômico daquele espaço-território (COSTA; CARVALHO 2012; SANTOS, 20062).

Diante disto, tais critérios sobre o território do SUS requerem formações de processo e

transformações relativas que cabe a uma terminologia de território-funciocanal-relativo

(Território + Função + Canal + Relativo), pois os objetos fixos desenvolvem funções

representativas como fluxos e os canais3 objetos não artificias, operalizam os serviços do SUS

para consolidar e limitar o território do SUS e por fim relacional, pois, dependera

principalmente do ACS para consolidação da territorialização e territorialidade do SUS, tendo

em vista poder criar territórios sem cobertura do SUS. Com isto, podemos correlacionar aos

territórios invisíveis, muito embora sejam resultados da ausência de cobertura ou processo de

territórialização dos ACS, cabendo-se os próprios de conceituar a territórios descobertos, pois

segundo a ACS Renata se enquadra nas situações: “entrou uma quantidade boa de agente,

mas mesmo assim ficaram áreas descobertas”.

É importante destacar que o conceito território-processo a priori “espaço de vida

pulsante, em permanente movimento, o conhecimento deste território é um trabalho que

nunca cessa e que deve fazer parte da rotina de uma Unidade Básica de Saúde”

(PEREHOUSKEI, BENADUCE, 2007, p. 41), estar mais relacionado ao processo de ações,

2 Teoria Miltoniana de sistema de ações e sistema de objetos, constituindo os fixos e fluxos.

3 Referente a ter ideia de alternância a ser artificial e ser natural

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do cotidiano da equipe de saúde e ACS no processo de trabalho, sendo assim mais

direcionado ao conceito de território no SUS e território-rede segundo Perehouskei e

Benaduce (2007) relacionado às relações de comunicação informais e formais como artificias

que causam diversos tipos de rede como de fluxo de tecnologias, saúde, educação, vigilância

entre ás áreas de abrangências de uma forma integral, já no caso do termo território-

funciocanal-relativo é ambíguo, pois atende a territorialização quanto à territorialidade, via de

regra próximo do segundo.

Diante disso, território-funciocanal-relativo de território-área e microárea, para

Perehouskei (2005); Gondim et al, (2008); Tolentino; Andrade (2008); Perehouskei;

Benaduce (2011); Rodrigues (2011); Borges; Taveira (2012); são territórios que partem da

lógica de processo de municipalização, tomando por base o NIS (Número de Identificação

Social), a demografia e epidemiológico, melhor opacidade4. Nisto o primeiro é tomado com

critérios quantitativos familiares cadastrais que para Tolentino; Andrade (2008) apresentando

com 600 a 1.000 com limite de 4.500, enquanto Borges e Taveira (2012) 2.400 a 4.000 com

aproximadamente 3.000 indivíduos, já Gondim et al (2008) afirma que seja de 1.000 a 4.500,

o que pode-se fazer na média destes habitantes de 1.000 a 4.500, entretanto dependera do

lugar para cobrir a quantidade de habitantes ou famílias e conforme observado por ACS Yara

a população:

“que cada dia vai crescendo. Há 6 a 10 anos atrás, creio, a Paraíba era de um jeito,

hoje já é completamente diferente, então casas vão surgindo, famílias vão

aparecendo, crianças vão nascendo entendeu! E aquelas famílias que eram três,

hoje são cinco, seis, é uma cadeia que vai subindo.”

Outro critério é levar em consideração as barreiras do espaço usado5 como naturais

segundo ACS Ane e Larissa “geralmente faço as minhas visitas pela manhã, porque a parte

da tarde é muito quente” (Ane); “eu gosto de ser agente só não gosto muito do sol” (Larissa)

e artificias do social consoante a ACS Renata pode ser como exemplo “a travessa Pedro

Velho é uma próximo a Celso Dantas uma ruazinha que não é calçada”, assim para tornar

possível a acessibilidade e os fluxos de transporte e população, o que implica também na UBS

4 São espaços que não agregam muito aparato tecnológico e informacional, com menos investimentos capitalista,

marginalizadas, pobres, sem saneamento básico (SANTOS, 2006). 5 Definido pelas situações múltiplas ocorrida no espaço-território, onde são (re)produzidas objetos e redes de

tecnologia e informações, sendo assim por ações e reações do homem ou pelo próprio objeto invertendo sobre a

lógica de interesses e intenções (SANTOS, 2006).

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(BORGES; TAVEIRA, 2012; PEREHOUSKEI; BENADUCE, 2011). Por fim, o último

critério segundo Goldin et al (2008) e Borges; Taveira (2012) são os limites em relação à

abrangência, geralmente não são contíguos ou sem medida, podem ser por metros,

quilômetros, hectares, ruas [falado pelo ACS Aldo], condicionados pelas territorializações

das equipes de saúde e principalmente dos ACS, pois esse território-área é formado pelas

microáreas, que atuam os ACS para adequar-se aos princípios ou diretrizes do SUS.

O outro território citado são as microáreas dos ACS, também construído pelas

questões de homogeneidade socioeconômica e sanitária; em seu critério demográfico familiar

ou populacional conforme Goldin et al, (2008) em torno de 150 famílias ou 750 pessoas; já

para Borges; Tavera (2012); Fonseca (2007) 150 famílias ou 750 habitantes no máximo,

enquanto para Tolentino e Andrade (2008) aproximadamente 150 famílias, no entanto

Perehouskei; Benaduce (2011) afirmam ser 100 para cada ACS ou 750 habitantes. Nisto

pode-se concluir que para cada agente de saúde fica 150 famílias ou 750 pessoas/habitantes

no máximo.

Esse território-microárea é marcado ou construído conforme o ACS Valter “na minha

área que atuo; na minha microárea de abrangência, tenho desenvolvido um trabalho

importante durante esses 10 anos” as operatividades de vigilância sanitária sobre a

territorialização para formar os território-microárea que determina a malha territorial da área

de abrangência também o elo/vínculo entre a comunidade e a UBS e estreitando os laços e nós

com a comunidade, estas linguagens figuras que se diferem transpondo um significado de

repulsão e atração (BORGES, TAVERAS, 2012, PICCININI, SILVA, 2014).

Todavia, diante disso segundo Goldin et al, (2008) os territórios área e microárea em

seus limites ou demarcações e habitantes é indeterminado. Nisto podendo ser até

considerados as unidades básicas de saúde em sua extensão, no caso das efetivações ainda de

territorializações, já na situação dos usuários alude à quantidade de população, porém não das

famílias que vivem num determinado recorte espacial, sob o compromisso da unidade básica

de saúde.

Nesta situação, teórico-metodológica da conceituação do território do SUS

consequentemente influência na representação de território do SUS para ACS, que acaba

causando confusão em sua representação de território do SUS. Isto fica evidente com João,

pois mesmo o próprio dizendo “delimita por número de famílias e de pessoas por cada

agente” um dos critérios do território SUS, neste caso do número de famílias ou pessoas que

deve ser revisto como os limites segundo Goldin et al, (2008), o próprio volta na concepção

afirmando que não sabe, assim como outros agentes de saúde:

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“Na verdade eu não sei responde não, o território do SUS no nosso bairro é todo

bairro Paraíba?”. (João)

“Sei não”. (Ana)

“O território eu entendo como uma delimitação, porque muita gente confunde

território com rua, por exemplo”. (Ariana)

“É um território do bairro Paraíba, por exemplo, naquele território pra nós agente

comunitário de saúde são divididos em áreas, ai em cada um ocupa aquela área pra

tentar fazer o trabalho juntamente com a equipe, não sei se é bem isso, mas eu que

entendo [risos]”. (Clévia)

Em desrespeito no conceito de território no SUS não é diferente verificando o mesmo

problema, no caso deste em sua ressalva as alterações textuais conforme Brasil (2006) e Brasil

(2007) para adaptações perante a complexidade hoje exibida no território e consequentemente

pelas estratégias de saúde que são desenvolvidas pelas equipes de saúde e principal artifício

de adesão os ACS em sua inclusão, na dinâmica contextual das ações. Nisto se observa:

[...] e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde

de maior frequência e relevância em seu território, observando critérios de risco,

vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade

de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. É desenvolvida com o mais alto grau

de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato

preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação da

Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da

acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção,

da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A

atenção básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural,

buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2012, p. 19).

Traduzindo nas palavras de Fonseca (2007, p. 22) a concepção de território no SUS é

proposta por processo histórico-social que constrói a “produção do conhecimento que se

relaciona intensamente com o ‘agir em saúde’ e articula tanto com as bases teóricas quanto

com os recursos políticos, técnicos que perpassam o processo de trabalho na Estratégia Saúde

da Família”.

Diante dessas situações, os agentes de saúde ressaltam a importância da capacitação

como prioridade para compreenderem além dos conceitos de território, como seu papel, suas

ações, o processo de trabalho:

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“Na realidade eu não entendo, pois não recebi assim uma capacitação de tudo!

Como é? E o que é agente de saúde? O papel em si dele? O que ele vai fazer? Como

é?”. (Ane)

“Não tive capacitação, o que aprendi foi pelos meus colegas e li num guia e junto

com as famílias [não sabe bem o papel]”. (Madalena)

Segundo Nascimento; Correa (2008) as capacitações disponibilizadas pelo SMS

(Secretária Municipal de Saúde) contribuem para que os ACS entendam às diretrizes do SUS,

assim orientando suas operatividades e conceituações de território do/no SUS. Nisto conforme

os próprios em sua análise sobre os ACS em relação à capacitação, o qual foi sorteado 49

ACS dos cinco Distritos de Saúde do Município de Campinas/SP, mostrou, que como a

capacitação colaborou e possibilitou para ACS: reordenar suas ações trabalhadas na

territórialização, na operatividades de vigilância no território, como seu papel, suas práticas,

suas influências sobre o território, relações com a comunidade e equipes, e deduzindo a

compressão conceitual do território do SUS como objeto não artificial, a qual os Órgãos

públicos de saúde, no caso Ministério da Saúde e SMS no contexto território-funciocanal-

relativo usam os ACS como canal e aparelho para territorializar, promover, atender, vincular

ou mediar, para assim consolidar o território do SUS havendo a territorialidade e no conceito

no SUS na lógica território-processo:

(...) um espaço privilegiado de interação, de diálogo, de reflexão, de tessitura do

conhecimento, do ainda não sei, mas busco, do exercício da dúvida e da investigação

como possibilidade de apropriação e de compreensão da realidade, de respeito e

trabalho com as diferentes culturas, cultivando valores solidários e movimentos

emancipatórios, onde os agentes comunitários de saúde se assumem como sujeitos

transformadores (NASCIMENTO e CORREA, 2008, p. 1311).

Nestes múltiplos problemas, os ACS da UBS Paraíba acabam segundo Piccinini e

Silva (2014) inferindo o território tanto do/no SUS ao “natural” observado na pesquisa destas,

ou seja, para Minayo (2008) a uma representação de senso comum, que podemos pegar a fala

da ACS Ariana explica esse senso comum “Eu sei que todo trabalho que envolve com pessoas

é muito complicado”. Assim é notória tal visão:

“Rapaz o território, acredito, que nacional é tudo né, zona rural, entre zona rural e

zona urbana, entra comunidade quilombola, tudo, indígena, acho que abrange tudo,

todo território nacional”. (João)

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“rapaz eu vou dizer uma coisa, pelo meu entendimento, eu acho que a parte

geográfica do município. Seria isso?”. (Valter)

“Eu, trabalho na R. A parte que vai a base (Exercito) aqui do Paraíba, que a gente

faz divisa com Centro/ Paraíba, ali no hospital Seridó, eu faço de baixo do hospital

S. subindo como que vai pra central do cidadão, não chega ali na central, sobe pra

lá já é Penedo, pronto. Ai do hospital descendo já é Centro”. (Renata)

“Tem uma parte no J. M., na qual esta rua não seja do Paraíba. Eu visitei casa a

casa, mas vi o IPTU da casa da Rua Joel da Macena e todos os endereços que olhei

ou era Penedo ou Centro só que a Paraíba cobre e no meu entenimento não era pra

cobri-la, sendo agente de saúde de uma rua que no endereço tá Penedo- Centro

[Bairros de Caicó]”. (Ane)

Todavia, a compreensão dos ACS do território vai mais além desta inferência, se

formos levar em consideração de que o território é a soma de relações desiguais de poder

envolvendo interesses e intenções de controle daquele espaço-território, em tempos

condensados, em outros, completamente desagregados, invisíveis, ou mesmo extintos, que

dependera das (re)ações para se compreender o que se ocorre no espaço geográfico, pois a

priori existem multirealidades que podem influenciar nesse espaço-território (HAESBAERT,

2002, PEREHOUSKEI, 2005).

Nisto, consequentemente as multirealidades no território, os ACS em suas

conceituações produz e reproduz por suas ações de territorializações, representações, naqueles

espaços, sobre a égide de relações de poder desigual bem observado na fala da ACS Ariana,

assim constituindo conforme estes pedaços ver também figura 07:

“Já tive um caso que ganhei um pedaço, ou melhor, uma sobra para mim. Observei

que quando entrei aqui os agentes de saúde, os antigos, estavam envolvidos em

uma polêmica relacionada ao repameamento e mais se acham os donos das áreas,

no fim eu escutava assim: eu não! A minha área não dou não! A minha área não!

Eles se sentem os donos daqueles pedaços de rua”. (Ariana)

“Tem pedaços de ruas, não são ruas completas tipo: fica esmiuçada, fica difícil

para gente”. (Madalena)

“Assim, os problemas estão nisto, uma parte dos ACS ficaram aqui na rua do posto

e outra parte lá na esquina, ou seja, em um lugar só, ai eu acho que ficou ruim né?

Porque quem tá aqui ir subir pra lá longe ou vindo de lá pra cá, ficou ruim”. (Sara)

“Como assim? Não, não foi a gente que escolheu a área na época que entrei, eu já

peguei de um menino que tinha saído. Então não fui eu que escolhi, já

existia”.(Vanda)

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Figura 07: Territorialização realizada pelos ACS e a constituição da territorialidade do território SUS.

Foto: Acervo do autor.

Diante disto, conforme a pesquisa de Piccinini; Silva (2014), os ACS acabam diluindo

o conceito de território no/do SUS conforme seus processos de ações de trabalho:

(...) ao se verem diante de situações de extremo sofrimento, os agentes têm de

construir estratégias para lidar com os afetos produzidos: “É um exercício”. Como

indica esse agente comunitário, a construção de limites dessa posição crítica diante

da implicação com o território não é algo ‘natural’.

Nisto, conforme as entrevistas se confirmam nessa perspectiva do território no/do SUS

a suas representações de território:

“Território do SUS é minha área onde nós trabalhamos”. (João)

“O agente de saúde trabalha na área da saúde tá! é mais essa parte entendeu?”.

(Ane)

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“Eu não tô entendendo não? Sim a minha área!”. (Sara)

Assim, segundo Saquet (2013, p. 144):

[...] um território pode não ter paisagem, ou seja, representação. Esta acontece na

mente. A contemplação é transformada, pela linguagem (escrita, gráfica, pintura,

música, matemática) em paisagem, que significa a interpretação do indivíduo e

depende do lugar em que vive e do momento em que ele vive.

Vale destacar a imagem da população sobre a profissão dos ACS do UBS/Paraíba,

Caicó, aos quais os ACS observaram em suas vivências não compreenderem ou não veem

como profissionais, desta forma como objetos não artificiais no território do SUS, nisto

exaltando novamente a capacitação, outro fato é a própria identidade do lugar, trazendo a

ideia da fragilidade da não identificação dos ACS e População:

“Tem gente também que não entende o trabalho, não sabe como é o trabalho do

agente de saúde gente que pedi para verificar pressão e isso não é trabalho da

gente, curativo, nós não somos habilitados pra isso”. (Ariana)

“Meu colega Valter também me ajudou muito, me mostrou o modo correto como

trabalhar, porque não houve capacitação”. (Aldo)

“Orienta né? Eu acho que a parte da: orientação acompanha a gestante, hipertenso,

diabético, criança, tuberculose, hanseníase tudo isso”. (Vanda)

“Não tive capacitação, o que aprendi foi pelos meus colegas e li num guia é junto

com as famílias”. (Madalena)

“as pessoas não entendem realmente como é essa divisão”. (Clevia)

Em relação à existência identidade de limite “concreto” segundo Souza (1989, p. 150):

Os limites do bairro podem ser imprecisos, podem variar um pouco de pessoa para

pessoa. Mas se essa variação for muito grande, dificilmente estar-se-á perante um

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bairro, porque dificilmente haverá um suporte para uma identidade razoavelmente

compartilhada, ou um legado simbólico suficientemente expressivo.

Para tanto, se percebe na figura 8 e 9 a complexidade da situação indenitária do

Bairro, tendo em vista o território do SUS ou UBS representado pela cor verde não

corresponde ao território constituído pela Lei pela cor vermelha, baseado no plano diretor, que

é outro problema não resolvido, pois não condiz com a realidade do Bairro Paraíba e também

o próprio limite da lei não cobre conforme indicado pelo próprio Centro Administrativo da

prefeitura de Caicó/RN, pois este considera a Vilagran ou vila civil do Paraíba acionado pela

cor azul.

Figura 08: Territórios do Bairro Paraíba, Caicó/RN.

Fonte: Acervo do autor.

Tomando por base do Território coberto pela UBS compreende-se a existência de duas

partes não cobertas por este representado pelas cores vermelhas e azuis, observando assim a

real extensão do Bairro representado pela cor amarela (figura 09). É importante destacar que

existem áreas do território da UBS não cobertas pelos ACS.

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Figura 09: Territórios do Bairro Paraíba, Caicó/RN.

Fonte: Acervo do autor.

Portanto, mesmo os ACS não compreendendo o conceito de território no SUS e do

SUS aplicando-se também em suas diferenciações, tendem a conceituar sobre a lógica de

território no SUS, quadro de território-processo, onde suas experiências, viver e vivenciações

traduzem em seu processo de trabalho desenvolvido no cotidiano animado e indissociável,

melhor, em constante movimento envolvido aos saberes apreendidos e aprendidos deste

território, assim um trabalho que nunca cessa e que deve fazer parte da Unidade Básica de

Saúde. Nisto não se atribuem em si, a objetos não artificias do SUS, mas como atores sociais

que territorializam e são independentes das suas ações nas suas microáreas ou território-

funciocanal-relativo (PEREHOUSKEI, 2005, SANTOS, 2006) Segundo ACS Sara “o agente

de saúde é livre, não há ninguém fiscalizando”.

Ademais, é de extrema urgência fazer estudos sobre o entendimento do território para

melhor entendimento do sistema SUS e seus objetivos, além da compreensão mais fluída das

conceituações, porque pelo que foi analisado há diversos fatores que influenciam os ACS na

representação do conceito de território do/no SUS, destacando a literatura do SUS indúctil de

compreensão, outro ponto é falta de análise no contexto de objetos fixos e objetos não

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artificias da sistematização do SUS podendo influenciar no território-rede e território-

processo, assim conceituando estes a território-funciocanal-relativo. Nisto foi necessária à

criação de uma terminologia território-funciocanal-relativo para análise e compreensão, pois

há problemas conceituais, territoriais da área além do plano diretor, e as distorções do

território ademais conforme observado nas entrevistas sobre os ACS que citam nestas duas

concepções. Foi desenvolvido tal terminologia para condicionar a fluidez, contribuição e

urgência na concepção de território na área da saúde e geografia da saúde. Com isso pode-se

identificar na temática grosso modo citado pelos ACS a distinção como não distinção em si,

mas representando ao seu processo de trabalho de território do/no SUS no sistema SUS,

trazida na discussão.

4.3 O CONTROLE DO TERRITÓRIO: A IMPORTÂNCIA DO TERRITÓRIO NO

PROCESSO DE TRABALHO NO COTIDIANO DO ACS

Nesta categoria será discutida a importância do território nos processos de trabalho do

ACS, o qual implica em melhores operatividades das ESF, promoção, acessibilidade, ações

nos sub-territórios, ações de neutralizações de doenças como grupos de riscos ou vulneráveis,

melhor planejamento e gestão, mas verificando a identidade deste para melhor agilidade e

compreensão, porque o território é (re)territorializado, desterritorializado, desreterritorializado

nas múltiplas escalas, do mais tímido como uma calçada, uma rua por exemplo, dentro de

escalas temporais cronológicas e históricas causadas por conflitos de interesses de poder;

podendo ter um caráter perpétuo, mas periódico, alternado ou mesmo reciclável, assim

representando visões sobre a realidade, atingido pelas controvérsias impostas do lugar que os

diferentes atores fazem seus interesses e intenções no território, todavia o território o nosso

lar (TUAN, 1983; SOUZA, 1989, SOUZA, 2000, MINAYO, 2008, PEREHOUSKEI;

BENADUCE, 2011).

Para os ACS o território é de extrema valia, pois é no seu território em que se

desenvolve a aproximação entre a ESF com a comunidade, onde processam seus trabalhos,

sabe onde é sua microárea e sua “definida sua população”, identificar as situações de cada

pessoa e suas necessidades, territorializa e reterritorializa para melhor diálogo ou adaptação

dos subterritórios existentes neste lugar para possível, promoção, atendimento e redução de

problemas existente em seu território (re)criado. Assim segundo os ACS:

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“É necessária, porque se tem 16 ACS, ele é grande [o bairro] e ele precisa de ACS

então deve realmente existir essa divisão por microáreas pra cada agente de saúde

fazer seu trabalho. É impossível cada agente de saúde, por exemplo, eu tenho em

torno de 400 pessoas, o atendimento do agente de saúde na família é individual,

principalmente individual, o agente de saúde tem que atender individualmente cada

paciente, porque cada pessoa é cada pessoa, cada avenida é cada avenida, então

você tem que fazer o acompanhamento individual”. (Valter)

“É necessário. Todo mundo ter seu lugar de trabalhar, sua rua de trabalhar”.

(Luna)

“É necessário, porque eu devo saber onde é meu território, pra me trabalhar ali,

como vou saber se eu não vou saber né! Você tem que conhecer aquelas pessoas

que tá ai”. (Vanda)

Segundo Nascimento; Correa (2008) Brasil (2012), Piccinini; Silva (2014), Guanaes-

Lorenzi; Pinheiro (2016), Maciazeki-Gomes et al, (2016) o território em sua relevância

garanti as diretrizes e princípios do SUS como aproximação das equipes de saúde nas ações

de estratégias de cuidado, nas particularidades do lugar como hábitos que podem favorecer a

reduções de doenças como aumento destas. Nas pesquisas destes apresentaram que o ACS

contribui no processo de trabalho em equipe, na intermediação das esquipes de saúde na

compreensão das particularidades do território, onde trabalha e faz sua vigilância sanitária,

possibilita, em promover a saúde para todos pelas territorializações, haja vista todos os ACS

são responsáveis pela sua área, que implica na organização, gestão, planejamento e estratégias

de ações de saúde-educação mais eficazes, além de desenvolver atenção integral.

Colabora para compreender o estado emocional e comportamental do ACS,

expressando suas situações vivenciadas no seu lugar de labutação também reflexo do seu

processo de trabalho na identificação dos problemas dos usuários, vínculo entre a comunidade

e UBS, mas desgastes emocionais e codependência segundo falas dos ACS da UBS Paraíba

em controvérsias de alegrias e aflições:

“É importante o território, pois esse vínculo, eu sempre gosto de tocar nesta parte

que: às vezes eu saiu de casa estressado com alguma coisa e a partir da hora que eu

entro na residência esqueço totalmente do aborrecimento que tive. O pessoal é

como se fosse uma terapia até! Todavia existem mais aflições com certas situações

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dos usuários. Às vezes a gente tenta fazer um trabalho, mas de certa forma fica com

as mãos atadas, pois não depende só da gente, depende de uma equipe e muitas

vezes da gestão”. (João)

“Assim, fico triste quando tem casos na minha área que eu não posso solucionar,

assim de primeira mão, tem que ser decorrente ao tempo certo! Eu fico muito triste

porque tem muitas pessoas que realmente precisam e não saem exames, precisando

no momento e mais não tem condições financeiras de arcar com o particular. Para

você ver faleceu uma paciente minha já faz sete dias, amanhã que sai a ressonância

e ela precisava demais, foi tarde, pois faleceu e não conseguiu. Esses exames pelo

SUS, trás um sentimento que entristece. Outro problema que eu acho desumano,

errado e injusto, porque quando há mapeamento, a gente tem que pegar mais áreas,

porque, eu tenho a minha área muito pequena e tem casas trancadas, muitas casas

fechadas, sempre eu tenho que pegar mais quantidade de casa, eu sempre procuro

pegar a casa mais próxima em relação a minha área, para que eu não tenha que

dar a volta pra outra rua entendeu!”. (Yara)

“Esse pedaço aqui! Tipo aquelas casas que dão mais trabalho!”.(Ariana)

“Minhas aflições são quando agente quer algo pra resolver o problema de saúde

daquela pessoa ou daquela população”. (Valter)

“Na ‘A’ bem curtinha, mas tenho quase a mesma quantidade de idosos ou tenho

mais idosos do que na Francisco. Vixe essa é mais longa e têm hipertensos e

diabéticos, é recheado nesta rua só não tem muita gestante. Ai eu tenho uma parte

só do quarteirão do ‘B’ com C. Esta rua que tenho, já até tratei de um tuberculoso e

já estou com outro, tô também de um é um bebê com infecção de tipo de tuberculose

é também o mesmo tratamento cinco são meses para tratar”. (Larissa)

“Tem casa que a gente vai que tem tanto problema [e a população] descarrega tudo

em cima da gente, pra gente resolver! Mas têm outros que não aceitam a visita, não

gostam: “não, venha outra hora”!” “Não posso te atender agora!” “Não, estou de

saída!””. (Ana)

Costa et al, (2013), Mota; Barroso; Pereira (2014), Dosea; Nunes (2013) e Piccinini;

Silva (2014) em suas pesquisas evidenciaram, pelo fato dos ACS trabalharem no território e

residir neste, a população deduz que os próprios estão a disposição 24 horas, todos os dias, no

caso os usuários, na realidade conforme apresentado pelos autores, o ACS é o primeiro a

ouvir as adversidades dos mesmo, porque é indeterminado o processo de trabalho para esses

profissionais no território, consequentemente não havendo tempo para descansar, causando

desgaste emocional opressivo, ou seja, sem tempo para si. Nisto pode-se observar claramente,

segundo o relato de dois ACS o de Joel que diz “Porque nem telefone a gente não escapa das

pessoas de nossas áreas, ligam pra tentar resolver um problema” e Clévia “Eles pegam o

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telefone do agente sabem o endereço, qualquer coisa a gente se torna como se fosse um

membro da família deles” provocando ou desenvolvendo um processo continuado de

território-rede até na vida banal dos ACS como atores sociais.

Segundo Mota; Dosea; Nunes (2014) na pesquisa realizada no município de

Aracajú/SE com os ACS deste lugar que, as consequências de saúde mais presentes nestes

profissionais são corporais, psicológicos, tendo exposição ao estresse, com 57,2% grau de alta

demanda psicológica e alto controle no trabalho, já 10,8% dos ACS apresentaram

moderadamente a doença chamada à Síndrome de Burnout por consequências dos processos

de desgaste psicológicos e corporais. Em comparação a pesquisa de Barroso; Guerra (2013)

na cidade de Caetanópolis/MG apresentaram nível médio da Síndrome de Burnout com 58,3%

e qualidade de vida 94,5% considerada péssima.

Esta doença é causada pelo acúmulo ou tensão alta de estresses emocionais repetitivos

identificadas no território que trabalha, além dos circunvizinhos e externos, mas geralmente

estando relacionada a ocupações assistenciais, a qual tem em sua característica principal

contato direto com usuário do serviço, no caso dos ACS essa tendência é maior, haja vista

pelo seu território, pois é um dos requisitos que a lei 11.350 enaltece para desenvolver o

vínculo, identificar e focalizar as populações de risco, o que se torna complicado sobre o ACS

(BARROSO; GUERRA, 2013, MOTA, DOSEA; NUNES 2014). Uma das características que

demostram o surgimento dessa doença é a indisposição no trabalho como algo traumático e

mutilador, frustação, mudanças de humor refletido na equipe de saúde, família, população e

colegas de trabalho sendo perceptível neste relato do ACS “Então eu já trabalhei de forma de

forma mais entusiástica, mas hoje em dia, como falamos anteriormente, estou um pouco

desanimado” (Aldo), além disto, realização na profissão, na qual o indivíduo apresenta

insatisfação com o trabalho, exibindo deixar o trabalho no caso de Ariana que fala: “Assim

sinceramente eu tô nesse serviço, mas tentando passar em outro concurso, porque eu não me

identifico muito” (BARROSO; GUERRA, 2013 MASCARENHAS, PRADO; FERNANDES

2013, ALMEIDA; BAPTISTA; SILVA, 2016).

Consequentemente, no trabalho Almeida; Baptista; Silva (2016) em Caraguatatuba/SP

observa uma soma de cargas de desgastes, sendo 140, sendo mais frequentes a mecânicas6 77

(55%) seguidas das biológicas7 23 (16%), fisiológicas

8 20 (14%), psíquicas

9 15 (11%),

6 Fratura instantânea de continuidade do corpo por via de ataques ou defesa de animais, acidentes domésticos e

trânsito, agentes perfurantes intencionadamente ou não entre outros. 7 Contato com pacientes, animais, alimento, água e instrumentos na sua microárea de trabalho ou derredores da

microárea contaminados ou com potencial de doenças infecciosas e parasitárias.

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físicas10

4 (2%) e químicas11

1 (1%), vale destacar que nas pesquisas de Mota; Dosea; Nunes

(2014), Barroso; Guerra (2013) e Mascarenhas; Prado; Fernandes (2013) as causas de

problemas de saúde para com ACS no território estavam mais relacionadas ao psicológico a

priori e físicos. No caso dos ACS desta pesquisa se confirma sendo mais relacionado ao

território pelas questões psicológicas e físicas, muito embora seja mais uma soma de

problemas segundo a teoria Edward L. Thorndike efeito “borboleta”, causando no fim

diversos problemas de saúde no ápice mais grave a esquizofrenia, por via do seu território

processo que trabalha. Nisto atualmente sendo uma situação de extrema urgência na saúde

pública para ação rápida, pois pode refletir no trabalhador como no seu trabalho de serviços

na saúde (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001; BARROSO; GUERRA, 2013;

MASCARENHAS; PRADO; FERNANDES, 2013; ALMEIDA; BAPTISTA, SILVA, 2016).

Um dos fatos apresentados por Mota, Dosea e Nunes (2014) é que as pessoas mais

jovens sofrem dessas complicações pela falta de experiência na profissão e frustração ao

perceber que aquela profissão não atinge os seus propósitos de vida. Em contrapartida

Mascarenhas, Prado e Fernandes (2013) afirmam que quanto maior for à idade do ACS assim

será sua vulnerabilidade para esses problemas como exemplo a musculoesquelética, pois

observara no ACS a baixa mobilidade corporal para as atividades do dia a dia no campo e

indisposição.

Nisto, percebe-se um equívoco de Mota; Dosea; Nunes (2014) ao afirmarem que os

ACS mais jovens sofrem mais transtornos, pois na medida em que o homem vai

envelhecendo, sua disposição e visão de trabalho mudam, muito embora isto dependa das

particularidades, como no caso dos trabalhadores rurais que veem o trabalho como algo da sua

vida cotidiana que faz bem. Assim é “visível” que com a idade o desgaste é maior,

principalmente para os ACS que lidam com vários territórios, tornando cansativo segundo

ACS Aldo “trabalhei de forma entusiástica”, mas sendo relativo, pois dependera do conteúdo

que existe no território para haver o desgaste, novamente podemos citar o ACS Aldo que

8 Caminhar a distâncias longas naturalmente “à pé” ou tecnicamente (bicicleta), carrega volume de materiais do

trabalho também não sendo do labor; posições inadequadas e repetitivas (anotações frequentes, frear a bicicleta

repetidas vezes e adoção de outras posições desconfortáveis; falta de descanso para atingir a meta ou sair dela

por trabalhar fora do expediente; trazendo a falta de autocuidado como alimentação inadequada, desidratação

entre outros. 9 Em constância com o trabalho na atenção do fornecimento de dados da população, orientações, tempo de

deslocamento entre uma residência e outra, agressão psíquica, trabalham predominantemente feminino, contato

múltiplas realidades e problemas biopsicossociais da comunidade. 10

Exposição à radiação solar, temperatura, pressão, evaporação causando desidratação, doenças como câncer,

estresse, entre outros problemas. 11

Poluição do ar, por poeira na via pública não ser pavimentada, fumaças dos veículos, indústria, queimadas,

entre outros.

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afirma que “sou bem recebido e isso é importante também, você ser bem recebido né! Você se

sente bem ao realizar a função, agora você trocar de um lugar que você é indesejado, eu não

desejo isso pra ninguém”.

Outro fato segundo Mota; Dosea; Nunes (2014) que colocam em pauta é justificativa

de os ACS não terem segundo sua pesquisa a ausência de transtornos psicológicos e

comportamentais pela satisfação do salário também por outro vinculo empregatício

proporcionando menos pressão emocional, reduzindo, nisto os impactos psicológicos, tendo

em vista os ACS se sentem mais satisfeitos com maior renda e emprego por proporcionar

novos territórios de relações sociais. Entretanto, para Galavote et al, (2013) não existe em si

um fundamentação concreta pela qual os ACS se sintam felizes pelo o salário que ganham ao

realizar diversas atividades no território, que implica no excesso das suas ações no espaço-

território, também na desvalorização dentro da equipe, observada, sobre hierarquização como

exemplo do médico “[...] sua imagem salvadora e filantrópica que a corporação médica tenta

projetar de si e de seu poder, sua história está carregada de fracassos que evidenciam sua

impotência ante a morte” (MYNAIO, 2008, p. 248); do conhecimento e ações do ACS,

segundo Mascarenhas, Prado e Fernandes (2013) não desprezando a renda porque, muito

embora o salário seja pouco, constitui como instrumento para suprir as necessidades básicas,

além do lazer, informação e tecnologia, todavia não expressa em si o conforto estável que

outras áreas profissionais ostentam, sendo perceptível na fala da ACS da UBS/Paraíba Ane, a

qual repete a apalavra tudo para expressar, significar e representar a profissão do ACS o não

reconhecimento ou valorização. Então esta diz: “porque o ACS é responsável por tudo! Tudo!

Tudo! [repetições de ênfases]”. Conforme Minayo (2008) a repetição pode expressar a

importância de algo ou alguém que tem um grande significado também da sua ambiguidade e

da (re)negação. Ademais, outro emprego possibilita a redução dos transtornos psicológicos

segundo Mota, Dosea e Nunes (2014), mas segundo Galavote et al, (2013) impossibilita do

ACS realizar corretamente o trabalho tão complexo, na realidade torna-se mais um desgaste

somático, o que fica evidente na fala de Joel:

“é fazendo o jogo de cintura, porque chega uma hora que você não tem mais

condições de dar cobertura a tanta gente como é meu caso, porque além de eu ser

agente de saúde, sou conselheiro de saúde, faço parte de dois sindicatos de direção,

responde na realidade por três ofícios dentro de um”.

Nisto, sendo consoantemente relativo a exercer dois cargos, embora acabe não

conseguindo conciliar o tempo e aplicando serviço bem sucedido, assim demostrando uma

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questão de necessidade e de ter um conforto de vida mais estável segundo a fala de João que

transpõe que com o tempo se identificou com a profissão “Na verdade foi mais na procura de

ganhar mais um pouco, mas ao entrar me identifiquei bastante na profissão, no entanto a

princípio era uma questão de salario mínimo”. Isto, ademais sendo verificado nos resultados

sociodemográfico dos ACS desta pesquisa com maioria de 2 a 5 salários mínimos,

considerada classe baixa ou mais ainda, em relação ao emprego pela busca de outro, podendo

ser explicado pelo contexto territorial, o qual o ACS incapaz de superar seus problemas

buscando suprir em outros afazeres ou trabalho, nisto se alto alienando para não se sentir mais

mal, todavia evidenciado a priori um quadro mais crítico levando-o a decisões extremas.

Assim, embora a Política Nacional de Saúde Mental preconize práticas focadas no eixo

territorial, há incipiência delas; ou ocorre descontinuidade das iniciativas/ações registradas

nesse âmbito Paiva et al, (2016).

É importante destacar que em relação ao sexo masculino e feminino na profissão, a

presença feminina foi majoritária, nos trabalhos de Barroso e Guerra (2013), Mota; Dosea;

Nunes (2014) Almeida, Baptista; Silva (2016) também obteve o mesmo resultado com 69%

(10), consequentemente segundo Mascarenhas; Prado; Fernandes (2013) são mais acometidas

desses problemas pelos fatores hormonais atingindo diretamente na estrutura psicológica e

biológica da mulher outra situação ao realizar suas ações de serviços no território-

funciocanal-relacional do SUS, em que ela pode estar exposta a violências diversas como

assédio moral e sexual, sendo assim mais vulnerável de ser violentada.

Diante dessas situações, conforme Santos (2006) o comportamento do homem sobre as

influências do lugar podem controlá-lo, mas dependendo sempre dele, no entanto esta

relatividade está nas percepções segundo Blake (2001), pois se as portas da percepção fossem

desniveladas tudo apresentaria ao homem como é infinito, porém, na realidade, a percepção

sempre é comprometida por expectativas, por experiências, vivências e até o viver. Com isto

acaba-se tornando aquele território que ele trabalha em conteúdos ou subterritórios, que

obedecem à lógica do controle e do controlado, ou melhor: “(...) experiência muitas vezes

assustadora do desconhecido e do inesperado levam o indivíduo a recriar laços de identidade e

enraizamento, fortalecendo grupo e/ou delimitando novos territórios” (HAESBAERT, 2002,

p. 92).

Assim nessa concepção, os ACS sobre esses poderes existentes no território acabam

sendo influenciados em seu processo de trabalho, tendo em vista estes profissionais devem se

adaptar a esses subterritórios. Nisto é identificando dentre o território dos ACS vários

territórios, porém que representam para os ACS significativos em seu processo de trabalho

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como gestão, população, necessidade, exclusão entre outros. Vejamos os mais enfatizados por

eles:

a) Área de risco: onde há uma forte incidência de diabéticos, hipertensos,

crianças, tuberculosos, vulnerabilidades socioeconômicas que por fim são

cadastrados para maior operatividades e atendimento do SUS, a que ACS

chamam de área de risco ou vulneráveis:

“(...) visitas diárias nas residências, priorizando o atendimento do grupo que chama de

vulneráveis [risco] que é: hipertenso, diabéticos, gestantes, crianças de zero a dois anos,

enfermos, acamados, idosos”. (João)

“diabetes que são do grupo de risco, doenças graves que a gente acompanha e crianças o peso

destas”. (Ariana)

b) Área intermediária: Segundo Santos (2006) coincide com a realidade de hoje

imposta, a globalização, em que convivem pessoas de classes divergentes no

mesmo espaço-território, assim com culturas diferentes, tecnologia diferente,

mas com problemas convergentes, no caso hipertenso que a cada dia aumenta o

número de acometidos incluindo jovens e crianças (BRASIL, 2006). Conforme

o ACS Teles:

“É uma área boa de trabalhar. Não é uma ‘área polo’. Também não é pobre,

porque no [bairro] Paraíba se encontra áreas mais pobres. É uma área boa de

trabalhar. Agora o que encontro na minha e em quase todas [as áreas] é uma grande

quantidade de hipertensos”.

c) Área Polo: concentração de pessoas com poder aquisitivo maior, sendo

desenvolvidas por status, menos interação com outros grupos sociais; não

havendo vivência ou cotidiano, identificando a presença individualismo, de

uma imagem vendida do perfeito sendo na realidade constituída de vazios que

podem gerar problemas psicológicos. É importante destacar que o Estado pode

ser responsável para agravar mais esta situação, pois segundo Souza (2005, p.

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83) “em matéria de infraestrutura e no favorecimento dos moradores da elite

(principalmente em um país como o Brasil)” podendo aumentar os

preconceitos e/ou ódios na população como o racial direta e indiretamente:

“Se for prestar atenção a Paraíba 1 é uma área mais de elite [desdenha] ali mais

próximo do cemitério e perto dos colégios” (Larissa)

“Não é uma ‘área polo’”. (Teles)

d) Área Pobre: são territórios de baixo poder aquisitivo, carentes de investimento

público, saúde, educação causados pela segregação residencial, típicos de

cidades urbanas, tendo assim expressões características espaciais como favela,

áreas de obsolescência, periferias pobres, potencial no aparecimento de

doenças relacionadas ao meio, envolvendo a degradação ambiental, no caso, as

construções de habitações em áreas contaminadas ou risco de

desmoronamento, isto pela falta de medidas públicas (SOUZA, 2005).

Segundo Minayo (2006) é tipo de violência na saúde consequente à falta ou

ação de proteção do ser humano podendo se dar por estereótipo, por exemplo,

em que todo pobre é violento, criminoso entre outros rótulos, físico por não ter

uma infraestrutura que traga acessibilidade à população, sexual por não ter

acesso à educação sexual na saúde, negligência do Estado e abandono ou

privações de cuidados.

“Vai ver que a área 2 é mais carente, não é que na 1 não tenha, tem também na 2 a elite

[desdenha novamente] Se for ver na Paraíba 2 tem mais gestante do que na Paraíba 1 ou não,

eu não sei, pois nem olho os dados que está lá fora, claro que tem bastante, só eu agora no

momento tenho 5 gestantes [ênfase]”. (Larissa)

e) Territórios descontínuos: segundo Souza (2000) tem uma característica

flutuante que ao mesmo tempo pode desaparecer ou se tornar permanente. No

caso dos ACS podem ser observados em relação à população, no aumento

desta e complementação de sua população conforme Programa de Saúde da

Família (PSF) também pelo narcotráfico:

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“sempre eu tenho que pegar mais quantidade de casa, eu sempre procuro pegar casas próximo

a minha área pra que eu tenha que dar a volta pra outra rua entendeu! Sempre me preocupo

em pega áreas próximas. Porque a população cada dia vai crescendo”. (Yara)

“Quando eu sei que a pessoa é hipertensa, diabética, gestante ou criança menor de 2 anos eu

faço a cobertura, pois a população não tem culpa da má gestão da atual administração”.

(Joel)

“Na minha tem pessoas que usam droga lá no fundo, de noite é perceptível”. (Larissa)

f) Território cotidiano: território que não se observa pelo ver, ou seja, “pouca

notoriedade visual” (TUAN, 1983, p. 183), mas sim pelo olhar emocional, da

mente, pelas suas vivências, experiências que refletem ao apego do lugar, onde

há interações de grupos, é antes disso um espaço de vivências de todos:

empresas, ONG (Organização Não-Governamental), pessoas, instituições, mas

acima disto tem identidade, em que as pessoas se verem e se emocionam

também neste território saberia agir conforme a realidade do lugar com as

intervenções (SOUZA, 2000, Santos, 2001).

“Pois eles [a população] sempre ficaram jogando um contra o outro; “porque

fulano não passa”?” “porque fulano não faz isso?”, “porque sicrano disse isso?”,

“porque sicrano disse aquilo?” Sabe! Até as próprias orientações; “quando o

agente age melhor do que outro! E ai complica porque eles mesmos ficam criando

picuinha, até diria isso. Esta palavra é muito profunda mais é isso mesmo, eles

ficam criando, aquela situação constrangedora pra eles mesmos como pra gente.

Olhe foi fulano que disse assim! Porque meu remédio toma em tal hora! Mas ele

disse que eu não era para tomar nessa hora porque tinha que tomar com água! Que

eu tinha meia hora pra tomar! Porque sabe que ficam criando aquele conflito e é

muito complicado para todos”. (Clévia)

“Aconteceu que uma colega minha estava na central do trabalhador (cidadão), pois

estávamos a resolver problemas, ai tinha uma pessoa que falou assim: os agentes de

saúde não trabalham, ganham com a cara ah! Porém tinha uma pessoa lá, [risos]

que disse: é o que? Você tá dizendo o que!? Diga ai de novo! Acho interessante

porque, eles tomaram a frente né! Pra defender a gente e isso fica muito

interessante, porque a gente sabe o quanto as pessoas gostam do nosso trabalho,

defendem”. (Clévia)

g) Território no SUS: difere do território cotidiano, pois não parte em si da

identidade do lugar, mas do cotidiano resinificado pelo poder da intuição

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governamental, representada pelo objeto fixo a UBS e os objetos-fluxos

fazendo a desterritorizando e o ACS (objeto não artificial) reterritorializando,

criando assim, um novo território para surgimento do território processo. Nisto

territorialização do ACS apresenta a técnica de escuta (colheita dos dados), fala

(interpretação das informações colhidas) operada (para equipe/população)

(FRAGA, 2013 COSTA e CARVALHO, 2012) para ocorrer além do elo,

vínculo, o território-funciocanal-relativo. Vejamos as falas:

“[situação-1] Porque tipo: antigamente A passava muito tempo de férias, essas

coisas de licença, às vezes ele não ia. Nisso o povo acaba criticando, pois passa

muito tempo sem ir à residência, mas temos direito a licença e férias. Agora quando

vai pra um patamar que não depende de nós, ficamos de mão atada, porque a gente

chega a casa (membro): vamos fazer um preventivo que é importante, por isso! Isso!

Isso! E aquilo! Demora muito tempo pra chegar! Tá demorando de três, quatro

cinco meses, ai a pessoa já tem aquela rejeição. Porque aqui todo dia são as

mesmas pessoas que vem pra o médico praticamente tipo; de dez fichas cinco são

figurinha repetida e 5 novatos. [situação-2] Assim, a nossa equipe não só trabalha

dentro da UBS, mas também fora dela, exemplo disso sãos as várias ações que vai

diretamente com a comunidade: grupo de hipertenso, diabético agora no abrigo.

Então assim a nossa equipe está bem empenhada na parte "de ações coletivas"

[expressou forte] porque antigamente era mais o atendimento individual, mas agora

com os residentes está melhor. O ministério e o governo preconiza isso que tenha

estes grupos”. (Larissa)

“Sou o mais vulnerável a sofrer críticas, pois eu fico na rua da unidade, se eu não

trabalhar o pessoal reclama, mas se eu trabalhar bem começam a elogiar, nisto

meus olhos começam a caninga [movimentos gestuais de choro]”. (Aldo)

“Dr. Elísio, por exemplo, gosta muito de conversar com a gente e ele diz: sempre

estou indo a secretaria de saúde e sempre converso lá com secretário e pergunto a

secretária, como é que vocês estão vendo o bairro Paraíba? Tem alguma denúncia?

Tem reclamações? O que esta acontecendo aqui? Vocês têm essas informações?

Como é que tá? Quero ver porque lá a gente vê uma coisa! Uma realidade! Muitas

vezes aqui acontecem coisas que a gente não sabe lá! Mas eu quero saber da minha

equipe como é que tá! E ele disse que graças a Deus são muitas boas informações,

pois é uma das unidades menos problemáticas”. (Clévia)

h) Territórios referências: são lembranças que ascendem ou permanecem nos

territórios caracterizando por ser material e imaterial, em “que não se habita,

mas que se habitou” (SAQUET, 2013, p. 150):

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“Quando entrei na UBS foi dada esta área pra mim. Antes ficava com outro agente,

mas ultrapassava o número de famílias dele”. (Teles)

“Eu nunca trabalhei numa rua que não fosse dividida, aliais nunca não, volto

atrás, trabalhei, mas para mim foi interessante, pois tinha um colégio que dividia

(pontos de referencias geográficos como redução de conflito). Sabe, não ficava tão

junto com outro agente, por ter os colégios e oficinas, que por sua vez dividi e fica

um pouco afastada um dos outros (áreas dos agentes de saúde). Mas fiquei com esta

área pouco tempo, depois soltei passando 3 agentes de saúde por lá. Todavia tô com

ela novamente, peguei ela todinha, porém tive que liberar outra rua pra outro

colega”. (Clévia)

“Eu acho assim, minha divisão não tenho que me queixar, porque gosto da minha

área de trabalho. Quando eu cheguei (trabalhar na UBS Paraíba) já peguei uma

área que tinha passado umas pessoas, porque estas conseguiram passar em outro

concurso e eu assumir a área” (Yara)

“eu já peguei de um menino que tinha saído”. (Vanda)

i) Território do SUS: é território em si concretizado pelas operações da equipe de

saúde e em particular dos ACS consolidado pela territorialidade ora estratégia,

assim identificando os objetos fixos (UBS), objetos-fluxos (meios artificias) e

objetos não artificias (ACS e ESF) na área de abrangência que é constituída

pelas microáreas (Território-funciocanal-relativo).

“Não, eu acredito que seja isso, a parte territorial em cada agente de saúde também

onde a unidade abrange dentro do município, dentro daquele bairro”. (Valter)

j) Áreas descoberta: São territórios os quais os agentes de saúde não realizam

ações, porém fazendo parte do território de abrangência da UBS, conforme

Faria (2013, p. 134):

O território determina o limite de atuação do serviço e a população sob sua

responsabilidade. Sem isso a atenção primária não pode cumprir seu papel de porta

de entrada para o SUS, pois o território definido indica a porta, ou seja, o serviço e a

população a passar por ela.

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Diante disto é um caso a ser estudo em relação a estes territórios descobertos. Assim

segundo os ACS:

“Nisso entrou uma quantidade boa de agente, mas mesmo assim ficaram áreas

descobertas”. (Renata)

“Quando eu sei que a pessoa é hipertensa, diabética, gestante ou criança menor de

2 anos eu faço a cobertura”. (Joel)

k) Territórios redes: criado pelo meio mediático e meio-técnico-científico-

informacional, assim desenvolvido ações de saúde direta e indiretamente.

“Ele promove a saúde através da informação, coleta de dados. A gente traz os

dados pra unidade e esses dados são levantados pra promover uma campanha, pode

ser de: incentivo, para aquela demanda. Então o trabalho de agente de saúde ele é

conformativo, ele é mais informação, entendeu!”. (Ariana)

“Muita coisa, a gente é muita coisa trabalhar com as famílias, visitas, comunidade,

é a visita por dia, tem as visitas compartilhadas que é com os profissionais, o

enfermeiro, o agente, técnico de enfermagem promovendo a saúde na comunidade”.

(Luna)

“[situação-1] hoje em dia as pessoas estão ativas para lutar por seus direitos como

cidadão, pois qualquer coisa que fira seus direitos coloca na mídia, eles

[população] são muito atualizados. Então no momento em que você não tá fazendo

aquele trabalho que agradem eles mesmos [a população], falam! Vão para rádio,

vão para o face [Facebook] [situação-2] Eles pegam o telefone do agente sabem o

endereço”. (Clévia)

Por esses subterritórios, compreendem-se que cada território tem particularidades, os

quais são exercidos poderes que os definem como dois territórios dicotômicos (pobre e rico)

citados pelos os ACS, no caso destes territórios desenvolveu pelo advento da divisão de

equipes, a qual dividiu o “Bairro Paraíba” (ideia mais de localização, tendo em vista passar

dos limites do bairro) território 1 e 2 que acentuo os conflitos entre a população, entre ACS,

população e ESF, também provocou a evidência de áreas mais pobres e outras mais ricas

consequentemente também prejudicou o processo de trabalho de serviços na saúde no lugar:

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“Não tem tanto fundamento digamos assim essa divisão, porque o espaço aqui fica

pequeno, as pessoas não entendem realmente como é essa divisão, sendo justo

ficarem assim, pois tem certo fundamento. Porque se é tudo em um ambiente só. Se

fosse para dividir em duas equipes então tivesse duas unidades, tivessem porque

daria um suporte maior entendeu? Mais salas teriam equipamentos, profissionais,

de acordo com a necessidade de cada uma das equipes. Nisto fica muito difícil

trabalhar dividido, complicado, até pra gente mesmo. Por exemplo, se for fazer uma

palestra tem que dividir. Uma equipe tem que fazer em um dia e outra equipe fazer

em outro dia pelo que se observou no outubro rosa”. (Clévia)

“Antigamente a unidade era uma e agora ficou dividida entre duas unidades e ficou

complicado, porque uma rua faz parte de uma equipe e a outra faz parte da outra.

Eu acho que deveria organizar, mas também é muito difícil você fazer um

remapeamento, pois é necessário equilibrar, porque ocorre que fulano tem tantos e

eu tenho menos. Nisto, a população fica a se perguntar assim: porque equipe tal tem

isso? Porque equipe tal não tem isso? Às vezes não é a mesma coisa, é uma

dinâmica diferente e isso já gera conflito”. (Ariana)

Nisto, verifica-se que as Equipes de saúde I II nesta UBS não trabalham em conjunto

ademais revelando a falta de cooperação com ACS no território, refletindo-se no

planejamento, pois fazem sem entender as realidades múltiplas do lugar, que somente o ACS

conhece em seu processo de simulações de territorialização e reterritorializando. Assim, as

“equipes na ESF trabalham a partir de diferentes dinâmicas, revelando a inexistência de

responsabilidade coletiva, o que leva à descontinuidade e à desarticulação das ações

desenvolvidas no território” (CORDEIRO; SOARES, 2015, p. 3585) também Faria observa

(2013, p. 132) “PNAB exige que todos os profissionais da equipe de saúde participem do

processo de territorialização, pois deve haver, desde o início, compartilhamento, participação”

(ver figura 10).

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Figura 10: Divisão criada pelas equipes de Saúde familiar I e II da UBS pertencente ao Bairro Paraíba/Caicó.

Fonte: Acervo do autor

Todavia, é importante não traduzir estes relatos a determinismos, pois há vários fatores

que colaboram e prejudicam no processo de trabalho tanto da equipe de saúde como do ACS,

exemplificando isto e já citado, os fracassos e frustações que podem constatar no trabalho de

Cordeiro e Soares (2015) que os agentes remetem a vários impactos:

[...] é comum que se sintam fracassados e frustrados, principalmente quando não

conseguem encaminhar os problemas detectados no território (por exemplo,

marcação de consulta com especialista), assumindo sozinhos a responsabilidade da

instituição e do Estado, como identificado em outro trabalho

Nisto, também sendo detectado nos ACS da UBS/Paraíba-Caicó em relação ao sistema

SUS “(...) infelizmente a sua representação na sociedade brasileira condiz a um sistema que,

por estar particularmente voltado ao atendimento dos pobres (embora pretenda universalizar),

produz um serviço emperrado (...) (MYNAIO, 2008, p.247)”.

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“No SUS infelizmente o sistema não saem os exames, é complicado. Para você ver

faleceu uma paciente minha já faz sete dias, amanhã que sai a ressonância e ela

precisava demais, foi tarde, pois faleceu e não conseguiu. Esses exames pelo SUS,

trás um sentimento que entristece”. (Yara)

Segundo Chomsky (2013); SANTOS (2001) uma representação induzida pelos meios

mediáticos, que são controladas pelos meios privativos ou empresas multinacionais do

sistema capitalista, produzindo e reproduzindo alienações na população e conduzindo-os a

ideia de sistema público falho, ademais tornando uma população acomodada e controlada,

aculturada, em consequência disto ocorrendo uma pobreza estrutural como sucateamentos do

sistema público dos lugares, principalmente nos setores de educação, saúde e segurança,

pilares de um país.

Por fim, o território pode controlar, mas ser controlado dependendo dos interesses que

são representados por intenções, via de regra de poderes que fazem o ACS da UBS Paraíba

territorializar, reterritorializar sobre os territórios e outros territórios podem desterritorializar e

desreterritorializar para criar um conteúdo dominante, que no fim o profissional de saúde

tenta se adaptar a estas metamorfoses. Nisto é importante compreender o território, pois,

podem dar resolutividade aos problemas de saúde na população e trazendo maior eficácia na

promoção, acessibilidade, neutralizações de doenças como grupos de riscos ou vulneráveis,

melhor planejamento, gestão e agilidade nas operações de serviços. Para concluir, segundo o

ACS João o território é o segredo para um melhor trabalho de ações na saúde:

“Agora que a gente tem um problema de ficar com pedaços de ruas, eu acho que de

certa forma prejudica o trabalho”. (João)

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5 CONCLUSÃO

Pelo que foi analisado tanto o conceito de território como os impactos desta

representação de território são um cumulativo de problemas processuais que decorrem no

tempo-espaço, destes profissionais.

Diante disto, seus impactos são mais relacionados à influência do território, pois “cada

vez mais, múltiplas formas de apropriação e dominação na dinâmica territorial. É possível

dominar sem estar presente". (SAQUET, 2013, p. 169), ou seja, expondo até existência de

transterritórios influenciando no território processo dos ACS, observado nos territórios

descontínuos. Todavia dependendo dos ACS que reterritorializa para desenvolver seus

interesses e intenções naquele território, nisto se alto beneficiando e prejudicando as ações de

saúde no território da UBS Paraíba.

Outro fato é o plano direito da cidade que não é condizente aos bairros e aos territórios

que a população e os ACS se identificam, com isto pode resolver problemas que causam

transtornos não somente de saúde, mas de educação, resgate cultural, unificação entre outros

benefícios.

Além disso, são também necessárias medidas de revisão em relação aos limites

populacionais como conceituação de território no sistema SUS, consequentemente para

reorganizar o espaço de saúde e consequentemente ordenamento para melhor compreensão e

uso de serviços.

Em relação ao território do “bairro” Paraíba/Caicó pode-se citar algumas soluções de

curto, a médio e longo prazo que podem melhorar ou mesmo solucionar alguns problemas

existente no território. Estas soluções são segundo os ACS, as quais acreditam trazer

mudanças no processo de trabalho e eficácia.

Assim, segundo as sugestões dos ACS são: fazer simulação de uma nova divisão de

microáreas por quarteirões ou outras divisões que não desgastem eles mesmos ou sature as

ações e relações com a população, quebrar paradigmas de representação de hierarquização na

equipe, formação de grupo de apoio para os ACS se reabilitarem de seus traumas e aflições no

trabalho, não congestionar o sistema de saúde, fazer um novo remapeamento coerente que não

fique fragmentado, repensar sobre a divisão de equipes, humanizar para a população ser bem

atendida, capacitação em urgência para melhor eficácia e compreensão tanto da profissão

como do uso da territorialização dos territórios, aumenta mais funcionários da saúde; pois a

demanda cada dia aumenta de população, assim diminuindo uma aglomeração na UBS, fazer

planejamentos em conjunto, reordenar os territórios para melhor compreensão da população,

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equipe e ACS, demanda mais efetivas de materiais de uso clínico, realizar mobilizações

educativas e sociais para redução de problemas de saúde como dengue, diabetes, hanseníase,

violências entre outras, compromisso com trabalho, ética e compromisso da SMS de

Caicó/RN em relação aos exames e materiais para melhor empenho da saúde que são direitos

sociais que são neutralizados ou favorecidos para alguns; deduzindo má fé da gestão em agir

sobre a saúde do usuário e unidade, utilizar meios de comunicações para execução de

informações de saúde e até de situações que prejudique a saúde do lugar.

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APÊNDICE

Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: O território da/na saúde: representações sociais e

impactos no processo de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde, que tem como pesquisador responsável o

Prof. Dr. Lucas Pereira de Melo.

Esta pesquisa pretende compreender a representação social de território dos Agente Comunitário de

Saúde das equipes de saúde da família I e II da Unidade Básica de Saúde Paraíba, em Caicó (RN), atentando

para as implicações dessa representação no processo de trabalho das referidas equipes.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é a necessidade de desenvolver pesquisas sobre

representações sociais e impactos no processo de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde, atentando para as

implicações dessa representação no processo de trabalho das referidas equipes de saúde da família no Bairro

Paraíba/Caicó (RN).

Caso você decida participar, você deverá ser entrevistado individualmente. Essas entrevistas serão

agendadas em horário e locais de sua preferência. A entrevista será registrada em áudio. Os dados serão

coletados por membros da equipe da pesquisa que, no decorrer do trabalho de campo, você será apresentado a

eles. Além disso, a equipe de pesquisa participará de algumas atividades na unidade básica de saúde,

principalmente aquelas que envolvam a participação dos agentes comunitários de saúde, fazendo observações

das atividades desenvolvidas. Essa observação não alterará o andamento das atividades dos profissionais.

Durante a realização das observações e entrevistas individuais a previsão de riscos é mínima, podendo

haver constrangimento do entrevistado no momento de responder a alguma pergunta do roteiro de entrevista ou

do questionário socioeconômico. Pode acontecer um desconforto ou constrangimento ao responder as perguntas

feitas pelo pesquisador que será minimizado pela sua recusa em responder e o pesquisador entenderá sua posição

e passará para a pergunta seguinte. Caso isso ocorra, você poderá deixar de participar da pesquisa sem nenhuma

restrição. Você terá como benefício a produção de informações que possibilitará a compreensão da forma como

você entende o território no SUS e quais seus impactos no seu processo de trabalho.

Em caso de algum problema que você possa ter, relacionado com a pesquisa, você terá direito a

assistência gratuita que será prestada pela equipe de pesquisadores por meio de conversas e orientações.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para Lucas Pereira de Melo

(84) 99229-6469.

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa,

sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em congressos ou

publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local seguro e por um

período de cinco anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo pesquisador e

reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA), telefone 3291-2411.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o pesquisador

responsável Lucas Pereira de Melo.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão coletados nessa

pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de

todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa O território da/na saúde: representações sociais e

impactos no processo de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde, e autorizo a divulgação das informações

por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Caicó ____ de _______________________ de ___________.

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_____________________________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa

____________________________________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

Impressão datiloscópica do

participante

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Apêndice B – Termo de Autorização para Gravação de Voz

Eu, ____________________________________________________________, depois

de entender que os riscos decorrentes da participação na pesquisa são mínimos

(constrangimento em responder a perguntas do questionário socioeconômico ou do roteiro da

entrevista), bem como os benefícios que a pesquisa intitulada O território da/na saúde:

representações sociais e impactos no processo de trabalho de Agentes Comunitários de

Saúde poderá trazer e, entender especialmente os métodos que serão usados para a coleta de

dados, assim como, estar ciente da necessidade da gravação de minha entrevista,

AUTORIZO, por meio deste termo, os pesquisadores Lucas Pereira de Melo e Tiago Ananias

Gonçalo a realizar a gravação de minha entrevista sem custos financeiros a nenhuma parte.

Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso dos pesquisadores

acima citados em garantir-me os seguintes direitos:

1. Poderei ler a transcrição de minha gravação;

2. Os dados coletados serão usados exclusivamente para gerar informações para a

pesquisa aqui relatada e outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,

congressos e jornais;

3. Minha identificação não será revelada em nenhuma das vias de publicação das

informações geradas;

4. Qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita

mediante minha autorização;

5. Os dados coletados serão guardados por 05 anos, sob a responsabilidade do(a)

pesquisador(a) coordenador(a) da pesquisa Lucas Pereira de Melo, e após esse período, serão

destruídos e,

6. Serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento

e/ou solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

Caicó-RN, _______ de ____________________ de 2016.

_________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_________________________________

Assinatura e carimbo do pesquisador responsável pela pesquisa

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Apêndice C - Roteiro da entrevista

1 – Quando você começou a trabalhar como ACS?

2 – O que lhe motivou a trabalhar como ACS?

3 – Qual o papel do ACS na equipe de saúde da família?

4 – Como é o seu trabalho como ACS no dia a dia? (o que ele realmente faz?)

5 – Agora vamos falar sobre território. O que você entende sobre território no SUS?

6 – Qual a área do território que você trabalha?

7 – O que você acha da divisão do território da UBS Paraíba entre os ACS?

8 – Você acha essa divisão do território necessária? Por quê?

9 – Quais os pontos fortes e as limitações de se trabalhar como ACS tendo como base a

divisão do território?

10 – A forma como você trabalha no território interfere no processo de trabalho da equipe de

saúde como um todo?

11 – Como você avalia a atuação da equipe de saúde no território (não apenas dentro da

UBS)?

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Apêndice D – Questionário socioeconômico

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO

Participante nº Equipe: I II

Data da entrevista: ______/______/______

Entrevistador: ________________________________________________________________

VOCÊ E SUA FAMÍLIA

1. Qual o seu sexo?

(A) Feminino.

(B) Masculino.

2. Qual a sua idade? _______________________

3. Em que cidade o(a) senhor(a) nasceu?

(A) Caicó. (pule para a questão 06)

(B) Outra cidade:

________________________________________________________________________

4. Se nasceu em outra cidade, há quanto tempo mora em Caicó?

_________________________________________________________________________________

5. O(a) senhor(a) gostaria de retornar para sua cidade de origem?

(A) Sim.

(B) Não.

(C) Não sabe.

6. Como o(a) senhor(a) se considera?

(A) Branco(a).

(B) Pardo(a).

(C) Preto(a).

(D) Amarelo(a).

(E) Indígena.

7. Qual a sua religião?

(A) Católica.

(B) Protestante ou Evangélica.

(C) Espírita.

(D) Umbanda ou Candomblé.

(E) Outra. Qual? _________________________________________________________________

(F) Sem religião.

8. Qual seu estado civil?

(A) Solteiro(a).

(B) Casado(a)/ mora com um(a) companheiro(a).

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(C) Separado(a)/ divorciado(a)/ desquitado(a).

(D) União estável civil (hetero ou homoafetiva).

(E) Viúvo(a).

9. Onde e como o(a) senhor(a) mora atualmente?

(A) Em casa ou apartamento, com minha família.

(B) Em casa ou apartamento, sozinho(a).

(C) Em quarto ou cômodo alugado, sozinho(a).

(D) Em habitação coletiva: instituição de longa permanência, com amigos.

(E) Outra situação.

Quem mora com o(a) senhor(a)?

Marcar uma resposta para cada item.

Sim Não

10. Mora sozinho(a) (A) (B)

11. Pai e/ou mãe (A) (B)

12. Esposo(a)/ companheiro(a) (A) (B)

13. Filhos(as) (A) (B)

14. Irmãos(ãs) (A) (B)

15. Outros parentes, amigos(as) ou colegas (A) (B)

16. Outra situação (A) (B)

17. Quantas pessoas moram em sua casa?

Contando com seus pais, irmãos ou outras pessoas que moram em uma mesma casa.

(A) Duas pessoas.

(B) Três.

(C) Quatro.

(D) Cinco.

(E) Seis ou mais.

(F) Mora sozinho(a).

18. Quantos filhos(as) o(a) senhor(a) tem?

(A) Um(a).

(B) Dois.

(C) Três.

(D) Quatro ou mais.

(E) Não tem filhos(as).

19. Até quando o(a) senhor(a) estudou?

(A) Não estudou.

(B) Da 1ª à 4ª série do ensino fundamental (primário).

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(C) Da 5ª à 8ª série do ensino fundamental (admissão, ginásio, supletivo do 1º grau).

(D) Ensino médio incompleto.

(E) Ensino médio completo (colegial, técnico, normal ou magistério, científico, supletivo do 2º grau).

(F) Ensino superior incompleto.

(G) Ensino superior completo.

(H) Pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado).

(I) Não sabe.

20. Somando a sua renda com a renda das outras pessoas que moram com o(a) senhor(a),

quanto é, aproximadamente, a renda familiar?

Considerar a renda de todos os que moram na casa.

(A) Até 1 salário mínimo (até R$ 880,00 inclusive).

(B) De 1 a 2 salários mínimos (de R$ 880,00 até R$ 1.760,00 inclusive).

(C) De 2 a 5 salários mínimos (de R$ 1.760,00 até R$ 4.400,00 inclusive).

(D) De 5 a 10 salários mínimos (de R$ 4.400,00 até R$ 8.800,00 inclusive).

(E) Mais de 10 salários mínimos (mais de R$ 8.800,00)

(F) Nenhuma renda.

Quais e quantos dos itens abaixo há em sua casa?

Marcar uma resposta para cada item.

1 2 3 ou

mais

Não

tem

21. TV (A) (B) (C) (D)

22. Videocassete e/ou DVD (A) (B) (C) (D)

23. Rádio (A) (B) (C) (D)

24. Microcomputador (A) (B) (C) (D)

25. Automóvel (carro e/ou moto) (A) (B) (C) (D)

26. Máquina de lavar roupa (A) (B) (C) (D)

27. Geladeira (A) (B) (C) (D)

28. Telefone fixo (A) (B) (C) (D)

29. Telefone celular (A) (B) (C) (D)

30. Acesso à internet (A) (B) (C) (D)

31. TV por assinatura (A) (B) (C) (D)

Como e onde é a casa do(a) senhor(a)?

Sim Não

32. Própria (A) (B)

33. É em rua calçada ou asfaltada (A) (B)

34. Tem água corrente na torneira (A) (B)

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35. Tem eletricidade (A) (B)

36. É situada em área de ocupação (A) (B)

37. As paredes são de tijolo/alvenaria (A) (B)

38. O piso é de cimento ou cerâmica (A) (B)

39. O teto é de laje ou telha (A) (B)

40. Tem fossa com tampa (A) (B)

41. Tem coleta pública e regular do lixo (A) (B)

42. Em que bairro você mora? ____________________________________________________

43. Há quanto tempo trabalha como ACS? (em meses ou anos) _________________________

44. Há quanto tempo trabalha como ACS na UBS Paraíba? (em meses ou anos) ___________

45. Além de trabalhar como ACS, você exerce outra atividade remunerada? ( ) Sim ( ) Não

46. Se sim, qual? _______________________________________________________________

Muito obrigado pela sua participação!

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ANEXO

Lei do território da Paraíba