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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL SARA DE OLIVEIRA MARQUES ESTUDO DE CASO: DURABILIDADE EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO NA ANTIGA SEDE ADMINISTRATIVA DO TRE-RN. NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

SARA DE OLIVEIRA MARQUES

ESTUDO DE CASO: DURABILIDADE EM ESTRUTURAS

DE CONCRETO ARMADO NA ANTIGA SEDE

ADMINISTRATIVA DO TRE-RN.

NATAL-RN

2016

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Sara de Oliveira Marques

Estudo de caso: Durabilidade em estruturas de concreto armado na antiga sede do TRE-RN.

Trabalho de Conclusão de Curso na

modalidade Monografia, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte dos requisitos necessários

para obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria das

Vitórias Almeida de Sá

Coorientador: Prof.ª MsC.ª Fernanda

Karolline de Medeiros

Natal-RN

2016

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Catalogação da Publicação na Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Zila Mamede /

Setor de Informação e Referência

Marques, Sara de Oliveira.

Estudo de caso: durabilidade em estruturas de concreto armado na antiga sede do TRE-RN / Sara de

Oliveira Marques. - 2016.

52 f. : il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia,

Departamento de Engenharia Civil. Natal, RN, 2016.

Orientadora: Profª. Drª. Maria das Vitórias Almeida de Sá.

Coorientadora: Profª. Ma. Fernanda Karolline de Medeiros.

1. Engenharia civil – Monografia. 2. Concreto armado – Monografia. 3. Estruturas de concreto –

Monografia. 4. Corrosão - Monografia. 5. Tribunal Regional Eleitoral (TRE) – Rio Grande do Norte -

Monografia. I. Sá, Maria das Vitórias Almeida de. II. Medeiros, Fernanda Karolline de. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 624

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Sara de Oliveira Marques

Estudo de caso: Durabilidade em estruturas de concreto armado na antiga sede do TRE-RN.

Trabalho de conclusão de curso na

modalidade Monografia, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte dos requisitos necessários

para obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Aprovado em 18 de Novembro de 2016.

___________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Maria das Vitórias Almeida de Sá – Orientador

___________________________________________________

Prof.ª MsC.ª Fernanda Karolline de Medeiros – Coorientador

___________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida– Examinador interno

___________________________________________________

Prof. Ítalo Vale Monte Júnior – Examinador externo

Natal-RN

2016

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DEDICATÓRIA

"Projetando uma ideia, transformando em

realidade, com esforço e dedicação constroem-se

pontes, casas e cidades”

(Samuel Urbano)

A meus Pais que sempre me ensinaram que o

conhecimento é o único bem que ninguém

pode me roubar e que acreditam que eu sou

capaz de conseguir tudo que eu desejar.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por seu meu guia e fiel amigo, aquele que me deu todas as forças e habilidades

para conquistar o impossível, consolo no momento em que se acha que tudo vai dar

errado e melhor orientador para fazer tudo dar certo;

A minha família, que torce por mim e se orgulha de todos os meus sucessos;

A meus pais, criadores da minha personalidade, meu caráter e persistência, mainha com

seu carinho e compreensão inigualável e painho com todo aprendizado e exemplo a

passar;

A meus irmãos que são companheiros e melhores ouvintes;

A meu parceiro de vida, acompanhante durante todos esses anos, meu ombro amigo,

obrigada pelo seu carinho, broncas e ouvidos, Sérgio Torres;

Às amigas de todas as horas e que tanto me salvaram em momentos de aperto: Aline,

Flávia, Bárbara e Letícia;

Aos colegas de faculdade e de trabalho, que estarão sempre guardados na lembrança;

A meus chefes, contribuintes da minha formação, com quem sempre pude contar: Eng.

Hudney, Seu Ivo e Seu Genival;

A meus mestres, educadores, meu muito obrigado pela paciência, conselhos, e

ensinamentos que levarei por toda minha vida;

Aos órgãos e empresas que me auxiliaram com dados, permissões, ensaios e materiais:

UFRN, IFRN, TRE-RN e Construtora IG Potiguar, nas pessoas de Sandro, Seu Ivo e

Engenheiro Ronald;

Á minha orientadora que transformou o meu medo e situação complicada em uma obra

concretizada, Dra. Maria das Vitórias sempre salvando;

À minha leal orientadora que me disse sim sem pestanejar, que me auxiliou em todo o

processo deste trabalho e foi além, me aconselhando para um futuro tão amedrontador,

me ouviu sempre e fez com que tudo isso pudesse dar certo, muito obrigada,

Fernandinha, espero te encontrar muito mais durante nossas vidas.

Sara de Oliveira Marques

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RESUMO

Estudo de caso: Durabilidade em estruturas de concreto armado na antiga sede do

TRE-RN.

Este trabalho visa apresentar um estudo sobre a durabilidade das estruturas de

concreto armado de um edifício antigo de um órgão público (Tribunal Regional

Eleitoral) no estado do Rio Grande do Norte, analisando as patologias presentes, com

enfoque na corrosão das armaduras, e o serviço de recuperação que ocorreu no presente

ano. A análise parte de inspeção visual e do projeto, ensaios in loco e em laboratório

atrelado ao estudo do histórico do prédio, no intuito de descobrir as possíveis causas,

avaliando, assim o procedimento de restauração das estruturas desde a escolha do

procedimento à sua execução e fiscalização.

Palavras-chave: Patologia, recuperação estrutural, concreto armado, corrosão,

durabilidade, TRE-RN

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ABSTRACT

Case Study: Durability of reinforced concrete structures in the former

headquarters of the TRE-RN

This research presents a study on the durability of the reinforced concrete structures on

an old public repartition building (the Regional Electoral Court), in the state of Rio

Grande do Norte, analyzing the existent pathologies mainly the steel’s corrosion as well

as the recovery service that occurred this year. There was analysis of the visual

inspection and projects, testing on site and laboratory, together with the study of the

building's history, in order to discover the possible causes to evaluating the recovery

process of the structures, from the choice of procedure to its implementation and

supervision.

Key-words: Pathology, structural recovery, reinforced concrete, corrosion, durability,

TRE-RN

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SUMÁRIO

1.Introdução ............................................................................................................................... ...1

1.1.Justificativa ............................................................................................................................. 2

1.2.Objetivos ................................................................................................................................. 2

1.2.1.Geral...............................................................................................................................2

1.2.2. Específicos .................................................................................................................... 3

1.3 Materiais e Métodos.................................................................................................................3

1.4.Estrutura da monografia...........................................................................................................5

2.Fundamentação teórica ............................................................................................................... 6

2.1.Retrospectiva histórica .......................................................................................................... 10

2.2.Corrosão de armaduras .......................................................................................................... 11

2.2.1.Processo químico ........................................................................................................ 12

2.2.2.Agentes causadores ..................................................................................................... 13

2.3.Carbonatação ......................................................................................................................... 14

2.3.1.Ensaio de profundidade de carbonatação ................................................................... 15

2.4.Ação dos íons cloretos............................................................................................................17

2.4.1.Ensaio de presença de cloretos no concreto ............................................................... 18

2.5.Reforço, reparo e recuperação de estruturas..........................................................................19

2.5.1. Recuperação de corrosão de armaduras.....................................................................21

3. O edifício sede do TRE-RN ................................................................................................ 23

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3.1.O projeto.................................................................................................................................24

3.2.A execução.............................................................................................................................25

3.3.Manutenções preventivas e uso da edificação.......................................................................27

3.4.Manutenções corretivas..........................................................................................................28

3.4.1.Ensaios realizados ................................................................................................... 29

3.4.2.Recomendações do laudo ........................................................................................ 31

4.Reparo nos brises de concreto .................................................................................................. 34

4.1.Materiais utilizados................................................................................................................34

4.2.Procedimento de execução.....................................................................................................36

5.Considerações finais ................................................................................................................. 42

5.1.Resultados e discussões..........................................................................................................42

5.1.1.Ensaio de profundidade de carbonatação ................................................................. 42

5.1.2.Ensaio de presença de cloretos ................................................................................. 43

5.1.3.Ensaio de resistência à compressão do concreto atual ............................................. 44

5.1.4.Ensaio de resistência a compressão da argamassa ................................................... 46

5.1.5.Diagnótico das patologias apresentadas na estrutura do edifício ............................. 47

5.1.6.Avaliação técnica do procedimento de reparo ocorrido nos brises ........................... 47

5.2.Conclusões ............................................................................................................................ 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................52

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Incidência de patologias em edificações no Brasil ....................................................... 7

Figura 2 - Origens de manifestações patológicas em edificações no Brasil .................................. 7

Figura 3 - Classe de agressividade ambiental ............................................................................... 8

Figura 4 - Fatores mínimos para garantir a qualidade do concreto ............................................... 9

Figura 5 - Espessuras de cobrimentos mínimas ............................................................................ 9

Figura 6 - Processo eletroquímico da pilha de corrosão ............................................................. 13

Figura 7 - Reações que causam a carbonatação .......................................................................... 14

Figura 8 - Grau de carbonatação em função da umidade relativa do ar ...................................... 15

Figura 9 - Influência da relação água/cimento e da cura na profundidade de carbonatação ....... 15

Figura 10 - Técnicas e materiais contra a corrosão de armaduras ............................................... 22

Figura 11 - Localização da sede administrativa do TRE-RN ...................................................... 23

Figura 12 - Armaduras do brise (longitudinal, estribos e de engastamento) ............................... 25

Figura 13 - Defeitos de concretagem em viga da entrada, concreto visualmente com pouca pasta

de cimento e agregados graúdos de grande dimensão ................................................................. 26

Figura 14 - Aços na rampa mureta da rampa de acesso do prédio. a) Bitola de 20mm no início

da rampa e b) Bitola de 5mm cerca de 5m distantes da foto anterior ......................................... 26

Figura 15 – Escoamento de água dos drenos de ar-condicionado sobre as vigas ....................... 27

Figura 16 -Parede do reservatório com armadura em estado de corrosão ................................... 28

Figura 17 - Viga com armadura corroída e concreto desagregado .............................................. 28

Figura 18 - Armadura de pilar exposta após corrosão ................................................................. 29

Figura 19 - Massa de areia não argamassada no pilar ................... Erro! Indicador não definido.

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Figura 20 - Teores de cloretos nos locais analisados .................................................................. 30

Figura 21 - Potencial de Corrosão dos locais analisados ............................................................ 31

Figura 22 - Superfície porosa do concreto .................................................................................. 31

Figura 23 - Diversos pontos de corrosão com desplacamento e redução de concreto de

cobrimento................................................................................................................................... 32

Figura 24 - Corrosão dos elementos brises da fachada ............................................................... 32

Figura 25 - Pedaço de concreto do brise que segregou e foi ao chãoErro! Indicador não

definido.

Figura 26 - Argamassa misturada para aplicação em balde e colher de pedreiro ....................... 35

Figura 27 - Informações sobre a argamassa fornecidas pelo fabricante ...................................... 36

Figura 28 - Procedimento de retirada do concreto segregado ou em segregação........................ 37

Figura 29 – Fissuras que permaneceram mesmo após o serviço de recuperação ........................ 38

Figura 30 - Viga passou por tratamento somente na parte de concreto que segregou, mesmo com

aparentes sinais de corrosão em trecho próximo ......................................................................... 38

Figura 31 - Defeito em brise que expõe a armadura não foi retirado o concreto para tratar o aço,

somente foi revestido com argamassa para retirar os poros ........................................................ 39

Figura 32 - Armaduras sãs a esquerda que substituíram as armaduras corroídas à direita ......... 39

Figura 33 - Processo de limpeza das barras corroídas ................................................................. 40

Figura 34 - Pintura das armaduras ............................................................................................... 40

Figura 35 - Procedimento de recomposição do elemento estrutural com argamassa polimérica 41

Figura 36 –a)Medida da espessura do brise com paquímetro; b) Face de concreto após reação

com indicador de Ph .................................................................................................................... 42

Figura 37 - Resultados do segundo ensaio .................................................................................. 43

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Figura 38 – a) Primeiro ensaio em 10/08/16 de presença de cloretos; b) Segundo ensaio em

16/08/16 de presença de cloretos ................................................................................................ 43

Figura 39 - Conra-prova feita na viga próximo aos brises .......................................................... 44

Figura 40 - Fotos do concreto de brises desagregando com o toque ........................................... 45

Figura 41 – a) Medidas das dimensões usando o paquímetro; b)Corpo de prova no momento da

ruptura no ensaio ......................................................................................................................... 45

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Teores de cloretos normativos ................................................................................... 18

Tabela 2 - Resultados do rompimento de corpos de prova do concreto dos brises ..................... 44

Tabela 3 - Resultados do ensaio de compressão das argamassas do grupo A ............................. 46

Tabela 4- Resultados do ensaio de compressão das argamassas do grupo B .............................. 46

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SIMBOLOGIA

SÍMBOLO SIGNIFICADO

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

A Área da seção transversal

a/c Relação água/cimento

AgNO3 Nitrato de Prata

ASTM C American Society for Testing and Materials

Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio

Ca2+ Íon de cálcio

CAA Classe de agressividade ambiental

CaCl2, Cloreto de cálcio

Cl- Íon cloreto

cm Centímetro

cm² Centímetro quadrado

CO2 Gás carbônico

CO32- Carbonato

CP Corpo de prova

CPV-4 Semi-pilha

C-S-H Silicato de cálcio hidratado

d Dimensão básica

DDP Diferença de potencial

e- Elétron

EN Norma espanhola

fck Resistência característica do material

Fe Ferro

H2O Água

ISO Organização internacional de Padronização

kg/cm² Kilograma por centímetro quadrado

kg/dm³ Kilograma por decímetro quadrado

kgf Kilograma força

m Metro

mm Milímetro

MPa Mega Pascal (106 Pascal)

NB Norma Brasileira

NBR Norma regulamentadora brasileira

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NP EN Norma Portuguesa

O2 Oxigênio

OH- Íon hidróxila

Ph Potencial Hidrogeniônico

RILEM CPC União internacional de laboratórios e experts em materiais de construção

rpm Rotações por minuto

TRE-RN Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNI Norma Italiana

V Volts

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1

CAPÍTULO I

1. Introdução

A durabilidade vem sendo cada vez mais estudada no ramo da construção

civil nos últimos anos, com a normatização mais ativa nesse ponto garantir a vida útil

das estruturas agora é objetivo imprescindível de qualquer projeto. Mas quando a

edificação teve seu projeto concebido sob as instruções anteriores a esse conceito a

dificuldade está em intervir na estrutura de forma a prolongar essa vida útil.

É comum identificar prédios antigos que apresentem manifestações de

diversas patologias dentre elas a mais preocupante é a corrosão das armaduras em

estruturas de concreto armado. Segundo a ABNT NBR 6118-2014 o risco e a evolução

da corrosão do aço dependem essencialmente da qualidade e da espessura do concreto

de cobrimento da armadura, dessa forma torna-se fácil entender o porquê de edifícios

construídos há mais de 20 anos apresentarem problemas com armaduras corroídas.

A espessura de cobrimento usual há 20 anos atrás era 10 à 20mm, valores

muito inferiores aos indicados por normas atuais – cerca de 30mm a depender da classe

de agressividade. Quanto às características do concreto observa-se resistências médias

de 15Mpa, que segundo Ho e Lewis (1987) estão intimamente ligados à altas relações

água/cimento as quais conferem grande porosidade e permeabilidade, ao concreto,

tornando-o susciptivel no surgimento de manifestações patologicas..

A fim de avaliar a durabilidade de um edifício sede TRE/RN propõe-se

neste trabalho realizar inspeções, ensaios e avaliações, estudando a presença de corrosão

das armaduras presentes principalmente em peças chamadas brises - que tem função de

proteção solar às janelas – identificando as origens e consequências, bem como

acompanhar a solução tomada pelo órgão como reparo, sua execução e os materiais

empregados.

Dessa forma, busca-se entender como o ambiente, o projeto, os materiais,

o processos contrutivos e o histórico de manutenções são cooperadores do surgimento

da patologia, além de apresentar uma visão técnica da proposta de reparo executada pelo

tribunal.

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2

1.1. Justificativa

O conceito de durabilidade nas edificações é relativamente novo com

relação à orientações normativas, começando a existir na versão de 2003 da NBR6118

que revolucionou a maneira de projetar e construir no Brasil. As estruturas de concreto

armado são normalmente construídas no intuito de deter-se uma grande vida útil, a fim

de evitar à reparos e recuperação, que representam custos adicionais, e por

consequência, transtornos, no que se refere a utilização de edificação. Quanto ao prédios

públicos em muitas situações, é importante ressaltar que muitos não possuem equipe

técnica para gerenciar a manutenção dos prédios, e os que a tem, muitas vezes são

funcionários mais antigos e sem conhecimentos dos fundamentos teóricos, fazendo com

que o conceito de durabilidade das edificações e cuidado com as manifestações

patológicas presentes não seja tratado com o devido valor.

Devido a esta situação é comum observar os edifícios sede de tribunais,

prefeituras e fóruns com diversas patologias, devido ao método construtivo empregado

na época de sua construção, bem como a falta de manutenções preventivas necessárias.

Quando as manifestações patológicas começam a dificultar ou até mesmo impedir a

funcionalidade do prédio, as manutenções corretivas e reparos aparecem, no entanto,

por falta de equipe técnica suficientemente treinada, nem sempre as soluções são as

mais econômicas e duradouras.

Com isso, apresenta-se o tema deste trabalho de conclusão de curso

(TCC), com o intuito de demonstrar uma situação comum nos edifícios publicos

brasileiros mais antigos, enfatizando a necessidade de capacitação e pesquisas dos

engenheiros responsáveis, no que diz respeito aos cuidados com a durabilidade das

construções, reparos em patologias e reforços em estruturas de concreto armado.

1.2. Objetivos

1.2.1. Geral

Identificar as manifestações patológicas presentes e avaliar a recuperação

estrutural em brises de concreto armado, os quais apresentam grande corrosão de

armaduras e segregação do concreto, na antiga sede do TRE-RN construída nos anos 80

– não havendo o registro de nenhuma manutenção nas peças - identificando a patologia,

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3

possíveis causas, nível de degradação e coerência da recuperação aplicada. Contribuir

para o conhecimento técnico da equipe do TRE/RN no que se refere as manifestações

patólogicos e procedimentos de reparo, contribuir para o prolongamento da vida útil das

estruturas do TRE.

1.2.2. Específicos

a) Vistoriar o edifício para identificação dos problemas patológicos encontrados

nas estruturas;

b) Realizar ensaios que indiquem o ataque por carbonatação e íons cloretos, bem

como os ensaios de resistência a compressão a fim de avaliar a qualidade do

concreto atual;

c) Diagnosticar as possíveis causas da patologia através de um estudo do projeto,

métodos construtivos da época, localização do prédio e manutenções

preventivas;

d) Ensaiar a argamassa utilizada no reparo quanto a resistência à compressão;

e) Analisar o método de recuperação aplicado no edifício, julgando-o ou não

procedente do ponto de vista técnico;

1.3. Materiais e Métodos

Os processos metodologicos usados para realização do TCC se deram

primordialmente por identificarem as manifestações patológicas e acompanhamento da

execução da recuperação estrutural requisitado pelo órgão. Observando os processos

como escolha e preparação da argamassa, identificação dos locais a serem reparados,

tratamento das barras em estado de corrosão, aderência do concreto velho com o novo

produto de reparo, avaliação do reparo, cuidados com danos à estrutura já fragilizada e

execução de cura e tratamento de fissuras.

Paralelo a isto, aconteceram os ensaios que buscam mensurar os ataques

ao concreto. Primeiramente relativos à carbonatação, seguindo a descrição da RILEM

CPC-18 (1984), foi aspergido uma solução de fenolftaleína à 1% em alcóol etílico na

parte interna de concreto, ou seja, a camada superficial deveria ser retirada com

ponteiros e marretas até que uma face interna fosse visualizada, então a solução foi

borrifada à face e as reações aconteceram, apresentando uma coloração vermelho-

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carmim no concreto ainda não carbonatado e ficando incolor no material que já sofreu o

ataque. Outro ataque que foi avaliado é o por íons cloretos, esse aconteceu pela aspersão

de solução de nitrato de prata, indicador químico de presença de cloreto (0,1 M

AgNO3), seguindo a norma UNI 7928 (1978), de forma análoga ao processo anterior as

cores apresentadas serão marrom/alaranjado para o concreto saudável e ocorrência de

precipitado branco no concreto com a patologia, como afirma Botelhoe Silva (2008).

Também foram realizados ensaios no laboratório de materiais do Núcleo

de Tecnologia da UFRN, para determinar resistência à compressão, do concreto

atualmente presente nos brises e da argamassa de reparo utilizada.

Para o primeiro foram rompidos 3 corpos de prova cúbicos de aresta de

aproximadamente 5cm, baseada na norma européia NP EN 12390-1 onde no item 4.1

está escrito: “a dimensão básica deverá ser escolhida para ter no mínimo três vezes e

meia a dimensão nominal do agregado do betão”. Como o concreto do brise é composto

de brita 0 (cascalhinho) tem dimensão máxima de 9,5mm resultanto em d=33,25mm no

mínimo. O rompimento destes corpos de prova seguem a ABNT NBR 5739-2010, e a

extração ocorreu de partes do concreto que segregaram, uma vez que a extração de

corpos de prova testemunho foi inviabilizada devido aos danos à estrutura já debilitada.

Já para a argamassa utilizada no reparo foram moldados 8 corpos de

prova cilíndricos, com 5cm de diâmetro e 10cm de altura, sendo 2 com argamassa que

estava sendo utilizada para recuperação no momento, denomidados A-1 e A-2 e 6 com

argamassa preparada somente para moldagem dos cp’s (B-1, B-2, B-3, B-4, B-5 e B-6),

seguindo a ABNT NBR7222-1994.

O diagnóstico da possível origem das manifestações patológicas

presentes, foi realizado através da união dos conhecimentos teóricos aplicados no

contexto do edifício. Para isso além dos ensaios foram analisados as pranchas dos

projetos estruturais, as evidências de construção como alguns aspectos presentes no

concreto – presença de defeitos de concretagem ou fissuras por retração devido à

ausência de cura, por exemplo – e os documentos técnicos ao longo da vida da

edificação como laudos, projetos de licitações e registros fotográficos.

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5

1.4. Estrutura da monografia

Para melhor entendimento e organização das análises realizadas no

presente trabalho, este foi divido em capítulos, são eles:

Capítulo I:introdução ao assunto do trabalho, explicando do que se trata

o tema, sua importância de estudo, objetivos a serem alcançados, bem como a forma de

estruturação do TCC.

Capítulo II: histórico de estudos sobre o tema, juntamente com uma

fundamentação teórica sobre o assunto, revisão bibliográfica sobre durabilidade,

corrosão das armaduras, ataques ao concreto do por meio de carbonatação e íons

cloreto, e sobre os ensaios realizados no trabalho, além de pesquisas sobre a os reparos

estruturais em casos semelhantes de patologias.

Capítulo III: caracterização da edificação quanto à métodos

construtivos, localização, agressividade, manutenções preventivas e corretivas.

Capítulo IV: explanação a respeito da execução do reparo estrutural

ocorrido nos brises, comentando os materiais utilizados e métodos aplicados.

Capítulo V: Resultados, discussões e conclusões.

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CAPÍTULO II

2. Fundamentação teórica

A durabilidade de uma estrutura é a capacidade de resistir à ação de

intempéries, ataque químico, abrasão, ou qualquer outro processo de deterioração

(METHA e MONTEIRO,2008). Já a vida útil segundo a ISO 13823:2008 é “o período

efetivo de tempo durante o qual uma estrutura ou qualquer de seus componentes

satisfazem os requisitos de desempenho do projeto, sem ações imprevistas de

manutenção ou reparo”. O concreto é um material amplamente utilizado no Brasil

devido a vantagens como preço, disponibilidade de materiais, pouca energia de

fabricação, resistência mecânica, mão-de-obra vasta, entre outras, é considerado durável

pois as estruturas em concreto armado chegam a possuir mais de 50 anos de vida útil,

porém sua durabilidade está intrínseca à qualidade da produção, podendo apresentar

diversos problemas prematuramente devido à má qualidade.

Definindo patologia como o baixo, ou o fim do desempenho da esturtura

em si, no que diz respeito à estabilidade, estética, servicibilidade e, principalmente,

durabilidade da mesma com relação às condições a que está submetida (RIPPER;

SOUZA, 1998) pode-se ligar a existência de patologias como a diminuição ou o fim da

vida útil em um edifício. A manifestação patológica advém de causas intrínsecas e

extrínsecas à edificação, as intrínsecas são inerentes à própria edificação podendo ser

falhas humanas durante a execução, ausência de manutenção, causas naturais químicas,

físicas e biológicas, ou próprias a estrutura porosa do concreto; enquanto as extrínsecas

são agentes externos que interferem na edificação como falhas de projeto ou utilização,

ações mecânicas, físicas, químicas e biológicas.

Carmona e Marega em 1988 realizaram estudos sobre patologias em

edificações identificando quais as maiores incidências, como na Figura 1, se mudança

de utilização, colapso, umidade, deslocamentos, corrosão, defeitos executivos ou

fissuras; e ainda as origens destas manifestações, como na Figura 2, separando-as em

erro de projeto, execução, utilização, materiais, fortuitas (acidentais), conservação ou

congênitos (ataque de sulfatos em reservatórios químicos em industrias, por exemplo).

As Figuras 1 e 2 ilustram ...

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7

Figura 1- Incidência de patologias em edificações no Brasil.

FONTE: Carmona e Marega, 1988.

Figura 2 - Origens de manifestações patológicas em edificações no Brasil.

FONTE: Carmona e Marega, 1988.

No item 7 da ABNT NBR 6118-2014 são apresentados alguns critérios

de projeto que visam a durabilidade dentre eles a drenagem da água em superfícies de

concreto, formas arquitetônicas e estruturais, detalhamento da armadura, controle da

fissuração, medidas especiais (como impermeabilização e proteção catódica), inspeção e

manutenção preventiva e qualidade do cobrimento do concreto. Destaca-se este último

como primordial, uma vez que o concreto de cobrimento é a principal proteção a

entrada de agentes agressores que possam atingir o aço – material mais sensível à

ataques químicos e principal causador de manifestações patológicas como corrosão e

fissuras.

A depender do tipo de ambiente que a estrutura de concreto está

submetida o risco de deterioração da estrutura é maior ou menor, devido à concentração

de agentes agressivos como gás carbônico e cloretos. Classifica-se cada ambiente em

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8

uma agressividade ambiental (CAA) apresentada na tabela 6.1 ABNT NBR6118:2014

disponível na Figura 3.

Figura 3 - Classe de agressividade ambiental

FONTE: ABNT, 2014.

Segundo a referida norma, a durabilidade das estruturas é altamente

dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do concreto do

cobrimento da armadura, e por isso, especifica essas características nas tabelas 7.1 e 7.2

apresentadas nas Figuras 4 e 5.

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9

Figura 4 - Fatores mínimos para garantir a qualidade do concreto

FONTE: ABNT, 2014.

Figura 5 - Espessuras de cobrimentos mínimas

FONTE: ABNT, 2014.

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10

Ademais a ABNT NBR6118-2014 preconiza o atendimento do cimento às

normas aplicáveis e o consumo mínimo de cimento por metro cúbico de concreto,

proíbe o uso de aditivos à base de cloreto (limitada pela ABNT NBR 12655-2006) .

No que se refere à durabilidade, a água no concreto é considerada um dos

principais agentes deletérios, desde o estado fresco do concreto onde é necessário o uso

de água na mistura, a sua dosagem correta é essencial, pois a água em excesso não é

usada para reagir com o cimento e formar os produtos de hidratação que conferem

resistência, mas é em sua grande parte evaporada formando poros no concreto, que

aumentam a sua permeabilidade. Não obstante a água pode atuar como agente lixiviador

causando patologias como eflorecência e também é composto essencial para a

carbonatação, reação álcalis-agregado e corrosão de armadura.

A deterioração do concreto é dividida em duas classes de causas: físicas e

químicas. As físicas subdivididas em mais 2 categorias sendo o desgaste superficial ou

perda de massa devido à abrasão, erosão e cavitação; e fissuração devido à gradientes

normais de temperatura e umidade, cristalização dos sais nos poros, carregamento

estrutural e exposição a temperaturas extremas, como congelamento ou fogo. Já as

químicas possuem 3 categorias a hidrólise dos componentes da pasta de cimento por

água mole; reação de troca catiônica entre flúidos agressivos e a pasta de cimento; e

reações químicas levando a formação de produtos expansivos, como no ataque por

sulfato, reação álcali-agregado e corrosão da armadura (METHA e MONTEIRO, 2008).

Mesmo havendo essa distinção das causas o mais comum é a ocorrência simultânea

como a erosão seguida de hidrólise por água mole.

2.1. Retrospeciva histórica

A norma brasileira ABNT NBR 6118-2014 pode ser considerada uma

grande referência para qualquer trabalho que trate da elaboração de projetos de

estruturas de concreto armado. Nas suas últimas revisões o documento vem

apresentando grandes mudanças, devido principalmente ao conceito de projeto ter

sofrido alteração. A era da tecnologia trouxe aos projetistas o conceito de

responsabilidade pela durabilidade e vida últil da estrutura que anteriormente não era

um objetivo a ser atingido e o maior rigor por padrões de qualidade com preceitos da

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11

ISO (International Organization for Standardization) levou a associação a adaptar a

normatização.

A primeira norma foi criada em 1940, chamada NB-1 é a pioneira da

associação brasileira de normas técnicas trazia pouca ou nenhuma recomendação que

visasse o cumprimento da vida útil, foi modificada nos anos de 1960, 1978, 2003 e mais

recentemente em 2014. Os 25 anos de lacuna que existiram entre a revisão de 78 e de

2003 foram os mais impactantes, pois nos anos 90 que as maiores mudanças ocorreram.

Devido a isso, toda a estrutura da norma mudou, começando pelo fato que a nova

revisão só contemplava a elaboração do projeto e não mais procedimentos de execução,

além disso, novos capítulos foram criados como durabilidade.

Desde o final dos anos 80 surgiram bibliografias tratando das patologias,

porém, o foco principal era na conFiguração de aparecimento e no tratamento. Como o

livro do Thomaz em 1988 tratando das tricas em edifícios, ou Souza e Ripper em 1998

com um livro específico em recuperação de estruturas de concreto.

É notório o aumento de pesquisas sobre a durabilidade nos anos 2000,

principalmente após a revisão da norma, e livros que buscavam entender os processos

patológicos a nível de microestrutura começaram a surgir, como os dos autores Metha e

Monteiro. Temas de artigos em congressos ficaram mais comuns, Isaia em parceria

com o Ibracon lança o livro tratando do concreto e comentando os processos de

degradação deste.

Além disso, com o enfoque na sustentabilidade surgiram os concretos

especiais com adições, e as pesquisas com esses materiais são atreladas, em sua maioria,

em análises de durabilidade e ataques patológicos, como as dissertações de Barroso em

2013 com adições de Metacaulim e de Medeiros em 2016 com adições de cinzas de

cana de açucar.

2.2. Corrosão de armaduras

A corrosão do metal é um processo químico, natural e inerente a barra de

aço utilizada no concreto armado. Quando trata-se de concreto armado, a interação dos

dois materiais é benéfica ao aço, evitando a corrosão através de dois mecânismos de

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proteção, fisicamente o concreto atua como barreira impedindo o contato do aço com o

exterior, e quimicamente o elevado Ph do concreto promove a formação de uma película

passivadora, fina camada de óxidos de ferro na superfície da barra, protegendo o aço

contra o início de corrosão (SANTOS, 2015).

A corrosão é entendida como um ataque da natureza preponderantemente

eletroquímica do aço que ocorre em meio aquoso, ocorre quando há a formação de uma

película de eletrólito devido à umidade do concreto (BOTELHO E SILVA, 2008).

Dessa forma, é mais fácil previnir que o fenômeno aconteça que tentar sanar o problema

ocorrido.

Segundo METHA E MONTEIRO (2008), à corrosão das armaduras é

atribuído o efeito combinado de mais que uma única causa. É uma das patologias mais

frequentes por ser processo inerente do material, mesmo quando adequadamente

executadas, e, causadora de ruína em edifícios, dada a importância do aço na absorção

de tensões de tração. Os danos à estrutura caminham de fissuração do concreto, perda de

aderência aço-concreto e diminuição da seção transversal da barra ou ainda sua ruptura.

2.2.1. Processo químico

A corrosão nada mais é que uma pilha eletroquímica, ocorre devido à

diferença de concentração de íons dissolvidos (diferença de potencial – DDP) como

álcalis do cimento ou cloretos livres. Para tanto supõe-se uma reação de oxidação e uma

de redução com circulação de íons por um eletrólito, gerando, então, na superfície do

metal duas zonas: o ânodo, produz oxidação do metal liberando elétrons; e o cátodo, que

recebem os elétrons reagindo para produzir a redução de alguma substância presente no

eletrólito (LAPA, 2008). Na Figura6 é apresentado o processo ilustrativos das seguintes

reações que ocorrem na pilha:

ÂNODO:

CÁTODO:

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13

Figura 6 - Processo eletroquímico da pilha de corrosão.

FONTE: METHA e MONTEIRO, 2008.

Dessa forma, faz-se necessária a presença de água e oxigênio para a

reação de corrosão. Além disso, são formados produtos (óxido de ferro – ferrugem) de

maiores volumes, o que gera a expansão (até 600% em relação ao metal original)

causadora da fissuração do concreto, o que torna o aço mais susceptível aos agentes

externos aumentando a velocidade das reações.

2.2.2. Agentes causadores da corrosão das armaduras

O processo anódico não ocorre sem que o filme de óxido de ferro

protetor seja removido em ambiente ácido – por exemplo, a carbonatação do concreto -

ou se torne permeável pela ação de íons cloretos. Uma vez iniciada a corrosão, através

da quebra da película passivadora, para o processo catódico são necessário oxigênio e

água, METHA e MONTEIRO (2008). Dessa forma, atribui-se a causa da corrosão os

mecanismos de carbonatação do concreto e ataque dos íons cloretos, sendo

indispensável a presença de CO2 ou Cl- para início do processo e água e oxigênio para

prolongação, como a entrada destes agentes se dá principalmente através dos poros, um

concreto permeável é a origem principal desta patologia.

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2.3. Carbonatação

Por definição a carbonatação é a reação que transforma íons alcalinos

como cátions de sódio, potássio e cálcio em sais de carbonatos desses elementos, pela

ação ácida do CO2 presente no ar (ISAIA, 2011). Segundo Vaghetti (2005) o hidróxido

de cálcio e o gás carbônico se dissolvem na solução aquosa dos poros do concreto

liberam Ca2+

e CO32-

que reagem formando o carbonato de cálcio conforme as equações

presentes na Figura 7.

FONTE: ADAPTADO DE SANTOS, 2015.

O produto desta reação, o carbonato, é maior em volume que o hidróxido

de cálcio consumido, diminuindo os poros e consequentemente, deixando a reação mais

lenta com o tempo, porém há um aumento da porosidade capilar (ISAIA, 2011).

Segundo Neville (1997), a carbonatação pode ocorrer mesmo em ambientes com baixa

concentração de CO2 na atmosfera (0,03% em volume – ambientes rurais) fazendo,

então, que a carbonatação seja um dos agentes iniciadores da corrosão mais importantes.

Destaca-se nas alterações físicas que esta reação ocasiona o aumento da

dureza superficial do concreto, como afima Isaia (2011), o que vem a camuflar os

ensaios de esclerometria utilizados em inspeções de estudos patológicos para correlação

com a resistência à compressão do concreto. Como principal consequência tem-se a

diminuição do Ph saindo da ordem de 12,5 devido primordialmente ao Ca(OH)2

consumido na reação, para cerca de 9,4, fator iniciadorda perda da camada de

passivação da armadura e sua corrosão (LAPA, 2008).

A ocorrência e velocidade da reação dependem das condições de

exposição (ambiente) e das caracterísicas do concreto. No tocante ao ambiente tem-se a

concentração de CO2 da atmosfera, a temperatura e principalmente a umidade relativa,

que possui valor ótimo entre 50-70%, como apresentado na Figura 8, já que os poros

Figura 7 - Reações que causam a carbonatação

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precisam está parcialmente saturados para garantir a difusão do íon carbonato e entrada

do gás carbônico (VENUAT e ALENXANDRE, 1969 APUD ROSENBERG ET AL,

1989).

Figura 8 - Grau de carbonatação em função da umidade relativa do ar

FONTE: VENUAT e ALEXANDRE, 1969 APUD ROSENBERG ET AL, 1989.

Quanto as características do concreto, destaca-se o sistema de poros do

concreto, uma vez que são necessários que os agentes estejam presentes nos poros do

concreto para que aconteçam as reações apresentadas a quantidade de poros e sua

ligação é de extrema importância. Os fatores que interferem no sistema de poros são a

relação água/cimento, o tipo do cimento, o teor do cimento, as adições minerais e a

cura. O aumento da relação água/cimento gera um aumento da permeabilidade e da

profundidade de carbonatação, devido a facilidade de difusão do CO2, conforme

apresentado na Figura 9(LAPA, 2008).

Figura 9 - Influência da relação água/cimento e da cura na profundidade de

carbonatação

FONTE: SALTA,1996 APUD PINA, 2009.

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O teor de cimento, o tipo do cimento e as adições minerais além de

influenciarem na formação dos poros tem papel primordial na composição da reserva

alcalina do concreto. O cimento é necessário para formação do hidróxido de cálcio

consumido na reação de carbonatação, portanto, maiores teores de hidróxido de cálcio

significam mais produtos para reação desacelerando a frente de carbonatação levando a

maiores tempos para atingir a armadura. No entanto, o cimento pode gerar retração e

fissuração da pasta, favorecendo a entrada de gás carbônico e acelerando a carbonatação

na peça (ISAIA, 2011).

A carbonatação não deteriora o concreto, porém é o agente despassivante

da armadura e causa o início da corrosão. Portanto, para fins de durabilidade é

necessário se conhecer a profundidade carbonatada do concreto, para identificar sua

proximidade com a armadura e assim impedir a despassivação.

Quanto aos reparos e proteção do concreto à reação de carbonatação vem

ocorrendo a implantação da EN 1504 (2009), norma européia que traz uma nova

abordagem. Com o conceito do princípio 7 a norma visa preservar e restaurar a

passividade da armadura, dentre os métodos tem-se o aumento do cobrimento com um

revestimento adicional antes de ocorrer a carbonatação (argamassa, tintas ou concreto),

a subistituição do concreto carbonatado (quando ainda não atingiu a armadura) e a

realcalinização do concreto (eletroquímica ou por difusão), esta última ainda

incoviniente, segundo Isaia (2011), por ser demorada e de difícil controle da correta

distribuição do material de revestimento.

2.3.1. Ensaio de profundidade de carbonatação

Segundo Isaia (2011) existem alguns procedimentos e técnicas para

avaliar a carbonatação, como análise do microscópico eletrônico de varredura, análise

termogravimétrica, difração de raio-X, análise petrográfica, espectroscopia de

infravermelho, densimetria por radiação gama e a aspersão de indicadores de Ph. Este

último normatizado pelada RILEM CPC-18 (1988), o ensaio para detectar a

profundidade que o concreto sofreu carbonatação é altamente difundido e utilizado em

laudos de perícias e avaliações.

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17

Em contato com a solução alcalina do concreto os indicadores

apresentam diferentes colorações para o concreto são e o carbonatado, é importante,

então conhecer o ponto de virada do indicador, para identificar a variação no Ph

prejudicial para a despassivação da armadura, no caso, cerca de 9 como já referenciado

anteriormente, dessa forma, o uso da fenolftaleína é normatizado e indicado.

2.4. Ação dos íons cloretos nas estruturas de concreto

Segundo Andrade (1993), a corrosão das armaduras devido aos íons

cloretos ocorre quando o conteúdo de íons em contato com o aço ultrapassa um valor

limite. Ou seja, o cloreto é também um agente iniciador de corrosão, despassivante da

armadura, porém, se difere da carbonatação uma vez que participa ativamente das

reações de corrosão como catalizador acelerando o processo, e ainda não é consumido

permanecendo próximo a armadura o que aumenta substancialmente a condutividade

elétrica do eletrólito, potencializando o processo (TESARI, 2001).

Os mecanismos de entrada do cloreto no concreto vão desde a própria

composição do concreto através da água ou agregados contaminados, ou aditivos como

aceleradores de pega com CaCl2, até mesmo adivindos do ambiente quando há contato

com água do mar, atmosfera marinha, poluentes industriais e produtos agressivos

(MEDEIROS, 2016). No entanto nem todos os cloretos presentes no concreto são

agentes despassivadores, segundo Crauss (2010), pode-se encontrar os cloretos

combinados quimicamente ao C-S-H ou aos cloroaluminatos de cálcio, sais de Friedel

(C3A.CaCl2.10H2O), adsorvidos nas paredes dos poros ou ainda livres em solução dos

poros do concreto, este último responsável pelo desencadeamento do processo

corrosivo.

Ambientes com CAA IV são ainda mais agressivos quando se trata de

ataque por íons cloretos, os respingos de maré gerão um ciclo de umidecimento

provocando uma sucção capilar, pois os poros estavam secos e por diferença de pressão

a água salgada adentra nos poros carreganto cloretos, quando a maté baixa o poro deixa

de está saturado, no entando o cloreto permanece e o ambiente fica propício ao ataque.

As condições de ocorrência da reação se assemelham à carbonatação,

poros parcialmente saturados e permeabilidade do concreto, portanto os fatores que

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influenciam as velocidade da carbonatação como teor de cimento, adições minerais e

relação água/cimento também alteram as reações com íons cloreto. Porém o resultado

do ataque por íons cloretos é mais agressivo por causarem uma corrosão do tipo pite,

puntiforme, ou seja, cavidade com elevada relação entre o comprimento e o diâmetro

(RIBEIRO, 2014).

É comum a ocorrência dos dois mecânimos patológicos em conjunto, a

carbonatação e o ataque por íons cloretos, e um potencializa o outro. Segundo Tuutti

(1982) o concreto possui uma certa quantidade de cloretos combinados e livres, e

mesmo que esta quantidade não for necessária para despassivar a armadura, após a

carbonatação parte dos cloretos combinados passa a condição de livres podendo quebrar

a película passivadora e assim iniciar a corrosão.

Uma polêmica em relação aos cloretos, segundo Bauer (2005), é a

concentração crítica de íons que provocam a despassivação. Os instrumentos

normativos internacionais fazem menção a porcentagem de cloretos em relação à massa

de cimento, conforme a tabela 1.

Tabela 1 - Teores de cloretos normativos

NORMA PARA CONCRETO TEOR DE Cl (%)

EH – 88 (Espanhola) 0,4

PR EM – 206 (Espanhola) 0,4

BS – 8110/85 (Inglesa) 0,2-0,4*

ACI – 318/83 (Norte americano) 0,15-0,3-1,0**

* O limite varia em função do tipo do cimento

** O limite varia em função da agressividade ambiental

FONTE: ADAPTADO DE CASCUDO,1997 APUD BOTELHO E SILVA, 2008.

2.4.1. Ensaio de presença de cloretos no concreto

Com o objetivo de identificar a presença de cloretos livres no concreto se

é utilizado o método clorimétrico. Tal procedimento consiste na aspersão de solução de

nitrato de prata em área superficial de concreto recém fraturado. Foi desenvolvido por

Collepardi et al., e posteriormente normatizado na Itália (BOTELHO E SILVA, 2008).

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É um método qualitativo, pois apenas informa a presença de cloretos por diferença de

coloração e não indica a quantidade de íons, no entanto, é de grande auxílio para um

teste inicial evitando de se realizar outros testes mais onerosos quantitativos.

2.5. Reforço, reparo e recuperação de estruturas de concreto

Uma vez detectada a patologia da estrutura de concreto armado,

conforme Souza e Ripper (1998), deve-se realizar uma inspeção detahada no intuito de

determinar as condições da estrutura avaliando as anomalias, encontrando as causas, as

ações a serem tomadas e assim os métodos a serem adotados na recuperação. Uma

metodologia genérica para inspeção de estruturas pode ser dividida em três partes

principais: levantamento de dados, análise e diagnótico (AMBROSIO, 2004).

Dentre as três etapas o levantamento de dados deve ser realizada com

critérios pré-estabelidos, pois a par dos dados corretos que se chega a uma boa análise e

diagnótico. Segundo Ambrosio (2004), deve ser dada a devida atenção para: a

classificação do agressividade do ambiente; observações visuais com medições de

elementos; estimativa das possíveis consequências a fim de tomada de medidas

preventivas como escoramentos ou interdição da estrutura; documentação fotográfica,

medições de deformações; avaliação dos agentes agressores como o cloreto e a

carbonatação; identificação e medidas de trincas e fissuras, avaliar o projeto; a

execução, o uso e manutenção da edificação; instrumentação e ensaios labotatoriais

necessários.

A análise dos dados é a etapa que conduz ao entendimento do

comportamento e do surgimento das patologias tomando-se o cuidado para o

encobrimento de problemas mais graves por sintomas mais simples ou ainda o

conhecimento que o conjunto de causas é mais comum que um problema singular, já a

última etapa, o diagnóstico é a conclusão da análise dos dados levantados, sendo

necessário, muitas vezes, voltar à primeira etapa para recolhimento de algum dado

pendente crucial para tomada de decisões, além disso, o diagnóstico depende de

diversos fatores como econômicos e de segurança, por exemplo, e um problema pode

apresentar diversas soluções que se encaixam ou não nestes fatores (AMBROSIO,

2004).

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20

Quando há uma análise precisa das causas e efeitos das patologias é

possível definir as técnicas adequadas, selecionar os materiais, equipamentos e mão-de-

obra necessários para a qualidade do serviço de recuperação. Quando é identificado

grande comprometimento das armaduras e das peças é provavél que a recuperação

esteja atrelada ao reforço estrutural, que demanda o engenheiro calculista para o serviço.

Ambrosio (2004) em sua monografia escreveu: “O projetista deve

esclarecer sobre as diversas hipóteses que porventura possam ocorrer, comparando

custos de execução e qualidade final (resultado do serviço)”. Acrescentando que a

segurança atingida e a previsão de custos com manutenções futuras devem ser

conhecidas do cliente para que este seja apto a optar pela execução do reparo, a não

intervenção ou a demolição e inativação do local.

2.5.1. Recuperação de corrosão de armaduras

Arivabene (2015) apresenta a corrosão como uma patologia decorrente

da exposição ao ambiente agressivo, utilização de materiais de má qualidade e

negligência nos processos de execução. E como já referenciado é necessário tratar a

causa do problema para a recuperação ser de quaidade.

Quando há a patologia é identificada inicialmente e a armadura ainda

possui as suas características preservadas, como seção transversal sem perdas e

integridade da barra, é possível realizar o reparo no concreto que a envolve, devolvendo

sua alcalinidade perdida no caso de carbonatação ou retirando os íons cloretos livres que

desencaderam o processo de corrosão. No entanto, quando é identificado

comprometimento da armadura é necessário substituir o aço para que a estrutura

mantenha sua capacidade de suporte.

“O tratamento da corrosão, tanto do aço como do concreto, implica em

remoção de concreto, com limpeza e, às vezes, com a substituição de

armaduras e com recomposição das partes removidas. Como a remoção do

concreto pode fragilizar a estrutura, prejudicando sua estabilidade, qualquer

tratamento somente poderá ser iniciado após uma inspeção e a existência de

um projeto com especificações.”

Lapa, 2008.

Segundo Lapa (2008), o tratamento pode ser divido em etapas, porém

algumas podem ou não ser executadas a depender do que o projeto explicita, são elas:

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definição da área a ser tratada;

remoção do concreto contaminado com cuidados para não

prejudicar ainda mais a armadura (uso de jato d’água ou

ferramentas manuais), deve-se deixar folga entre armadura e

concreto de no mínimo 2cm e ser prolongada até atingindo o

comprimento de ancoragem na barra ainda não corroída; limpeza

das barras corroídas com escova de aço;

avaliar a perda de seção transversal das barras para substituições

necessárias (perdas maiores que 10% são indicadas a

substituição);

pintura das barras com tinta anti-ferrugem;

recompor a seção da peça com concreto convencional ou

projetado e desempenado, cuidando do lançamento e

adensamento, como também a cura úmida de sete dias;

a resistência do novo concreto deve ser até 20% maior que o

existente.

Atualmente, existem novos materiais no mercado que podem substituir o

concreto para recomposição da peça. Arivane (2015) mostra o uso de materiais de

consistência plástica que vão de argamassas a concretos próprios para recuperação

fazendo a ressalva de não ser um elastômero e de resistência compatível de modo a

tornar o elemento estrutural monolítico novamente.

Além disso, após a recuperação é possível realizar a prevenção de novos

pontos de corrosão ocorrerem. Isaia (2011) aponta como métodos de proteção contra a

corrosão a proteção por barreira, a repassivação, a proteção catódica e por inibição;

algumas técnicas e materiais são apresentados na Figura 10.

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Figura 10 - Técnicas e materiais contra a corrosão de armaduras

Fonte: Figuereido e Meira (2011) apud Isaia (2011).

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23

CAPÍTULO III

3. O edifício sede do Tribunal Regional Eleitoral do RN

Localizado no centro de Natal-RN, a menos de 300m do Rio Potengi e 2

quilômetros do mar, apresentado na Figura 11(segundo caminho pelo google maps), a

sede do Tribunal tem o projeto datado em 1972 e foi inaugurado 8 anos depois. O

ambiente em que esta inserido possui alta agressividade quanto ao ataque de cloretos

devido à proximidade com o mar, bem como a alta insidência de ventos de altas

velcidades e baixo gabarito do prédio.

Figura 11 - Localização da sede administrativa do TRE-RN

FONTE: Google Maps, 2016.

Com três pavimentos o prédio foi projeto pelo Arquiteto João Maurício,

que optou pelo conceito Modernista, o Brutalismo, com as peças em concreto aparente,

o que acarreta em nenhuma proteção às intemperes, exceto a própria espessura de

cobrimento.Contruído antes da lei de licitação entrar em vigor – Lei n o 8.666 de 21 de

Junho de 1993 – não havia muitos critérios quanto a obrigatoriedade de acervo técnico

da empresa construtora, e também, poucos são os registros de materiais empregados e

controles de qualidade da época de obra.

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24

3.1. O projeto do Tribunal Regional Eleitoral do RN

O conceito arquitetônico escolhido opta por elementos estruturais em

concreto aparente e com grandes dimensões. Ainda regido pela norma NB1 1960, o

projeto estrutural foi concebido em 1972. O instrumento normativo previa

caracterização da resistência à compressão do concreto dada por σR (tensão mínima de

ruptura à compressão do concreto), determinada em 150kg/cm². Foi verificada seções

bem maiores que as necessárias quando comparadas ao dimensionamento atual. As

vigas, por exemplo, com vãos próximos aos 5m tem altura de 90cm, quando o pré-

dimensionamento pede 50cm, porém, quanto à durabilidade não há registros, tanto

quanto não há especificação de traço, de forma que se possa conhecer a relação água

cimento e informação que o cobrimento é de 1,5 cm.

Essas grandes dimensões peças de concreto são positiva para a

durabilidade e segurança da edificação, pois mesmo identificadas diversas patologias

não há prejuízo visível quanto à segurança do prédio– deslocamentos excessivos e

fissuras, por exemplo – muito devido ao baixo nível de tensões tanto no concreto, assim

como nas armaduras. Os pontos de corrosão que ocorrem nas armaduras retiram boa

parte da sua funcionalidade, tanto pela perda de aderência com o concreto e

impossibilidade de absorver as tensões quanto pela perda de seção transversal que

diminui a taxa de tensão que a armadura é capaz de absorver. No entanto, estas

armaduras não são prioritariamente essenciais para resistir as tensões, devido ao

superdimensionamento, logo as cargas se redistribuem para os pontos do elemento em

que a patologia ainda não se instalou.

Outro fato importante de destaque é que os brises em que ocorreu a

recuperação estudada neste trabalho não possuem projeto de detalhamento, não sendo

possível saber qual o diâmetro da armadura utilizada e nem como foram ligados ao

restante da estrutura. No momento da execução do reparo observou-se barras de 8mm

na longitudinal dos brises e estribos de 5mm, além de barras mais robustas (10mm) que

estruturalmente desempenham o papel de engastes nos elementos de apoio, como

mostra a Figura 12.

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25

Figura 12 - Armaduras do brise (longitudinal, estribos e de engastamento).

FONTE: Autor, 2016.

3.2. A execução da obra do Tribunal Regional Eleitoral do RN

Não existem registros da execução da obra do edifício sede do TRE-RN.

É sabido, a partir de relatos dos servidores, que esta iniciou-se por volta dos anos 1978 e

foi finalizada no ano de 1980 com a sua inauguração. Essa época é marcada por

ausência de leis e controles de qualidade nas construções de prédios públicos,

principalmente. Foi relatado que a obra foi executada por um construtor conhecido na

época e não por uma empresa especializada e com competências técnicas exigidas.

Observando a edificação é possível perceber um certa falta de cuidados

no tocante à padronização e qualidade conhecidas na construção civil atual. Locais de

elementos estruturais com defeitos de concretagem – comumente chamadas “bicheiras”

– são fáceis de se encontrar, como ilustra a Figura 13, concreto com aparência

segregável com pouca pasta de cimento e agregado graúdo de dimensão máxima

grande, além de terem sido detectadas armaduras de diferentes diâmentros na mesma

peça, sem motivo técnico detectado. (Na Figura 14 é possível observar um aço de

20mm “a)” e aço de 5mm separados a menos de 5m “b)” na mureta da rampa de acesso

ao edifício, aparentemente com a mesma função estrutural).

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26

Figura 13 –A) Defeitos de concretagem em viga da entrada, B) concreto

visualmente com pouca pasta de cimento e agregados graúdos de grande dimensão

(A) (B)

FONTE: Autor, 2016.

(A) (B)

FONTE: Autor, 2016.

Figura 14 - Aços na rampa mureta da rampa de acesso do prédio. A) Diâmetro de

20mm no início da rampa e B) Bitola de 5mm cerca de 5m distantes da foto (A)

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27

3.3. Manutenções preventivas e uso do Tribunal Regional

Eleitoral do RN

O tribunal regional eleitoral possui na sua sede administrativa um Setor

de Engenharia que é responsável pelas obras de manutenção e recuperações prediais. O

setor conta com um grupo de engenheiros e arquitetos. Estes identificam a necessidade

de manutenções, programando-as, abrindo licitações e fiscalizando as empresas

contratadas. No tocante as estruturas de concreto armado do edifício não existe um

plano de manutenções específico, sendo portanto realizadas manutenções mais

corretivas que preventivas quando são detectados defeitos.

O prédio é usado desde sua inauguração como sede administrativa do

TRE-RN, porém diversas mudanças ocorreram, sendo a principal delas a instalação de

ares-condicionados. Na época da construção não era comum o uso de condicionadores

de ar como objetos de refrigeração de ambiente, e por isso, o projeto original não

possuia estrutura para comportar as máquinas. Quando foi decidido instalar os ares-

condiocionados se fizeram sem determinar local para os drenos, e estes hoje despejam,

muitas vezes, a água sobre os elementos estruturais, como mostra a Figura 15. Esse fato

contribuir para a criação de um ambiente propícia à ocorrência de patologias como

carbonatação e corrosão de armaduras, que tem a água como condição necessária a

manifestação dos citados problemas.

Figura 15–Escoamento de água dos drenos de ar-condicionado sobre as vigas

F

O

N

T

E

:

A

A

Autor, 2016.

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28

3.4. Manutenções corretivas no Tribunal Regional Eleitoral do RN

Existe registro de apenas uma grande intervenção na estrutura de

concreto do TRE/RN. No ano 2000 a administração percebeu pontos de corrosão de

armaduras e fissuras no concreto preocupantes, destacando o reservatório superior e

alguns pilares e vigas. Diante disso foi requisitado um laudo técnico de empresa

reconhecida no mercado potiguar. Este apresentou inspeções, ensaios e comentários que

auxiliam o presente trabalho a inferir informações da execução da obra. É possível

observar nas Figuras 16, 17 e18 o estado da degradação na época desta intervenção.

Figura 16-Parede do reservatório com armadura em estado de corrosão

FONTE: Laudo Técnico, 2000.

Figura 17 - Viga com armadura corroída e concreto desagregado

(A) (B) (C)

FONTE: Laudo Técnico, 2000.

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29

Figura 18 –A) Armadura de pilar exposta após corrosão B) vista detalhada

(B) (A)

FONTE: Laudo Técnico, 2000.

3.4.1. Ensaios realizados pela empresa contratada

3.4.1.1.Resistência à compressão

A primeira característica estudada pelo laudo foi a resistência à

compressão do concreto, realizada a partir de extração de corpos de prova (CP’s)

testemunho cilíndricos de 5 mm de diâmetro analisados no Núcleo de Tecnologia da

UFRN. O projeto como já visto fixa uma resistência limite de σR=150 kg/cm², que

segundo Vieira Filho(2007), caso de não ser conhecido o coeficiente de variação deve-

se admitir

, e os resultados provinientes dos ensaios apresentaram valores

de 137,00 kg/cm², 108,13 kg/cm², 113,16 kg/cm² e 164,00 kg/cm², ou seja, sua maioria

inferior ao requisitado por projeto.

3.4.1.2.Porosidade do concreto

Outra análise realizada para o laudo foi da porosidade do concreto -

refenciada pela ABNT NBR9778-2005 da ABNT descumprindo o item das dimensões

da amostra – que para os 4 CP’s ensaiados observou-se valores inferiores à 10%

indicando boa qualidade do concreto, no entanto, o laudo explicita que os CP’s foram

retirados de áreas com bom aspecto de consistência, muito embora haveriam outras

regiões que possivelmente ultrapassariam o limite de norma, comprovados pelo possível

adensamento apresentado na Figura 18 (B) e explanado no texto do Laudo Técnico

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30

(2000): “Neste aspecto, é importante o registro da massa de areia não argamassada no

pilar P9, ocorrência esta característica de concreto com deficiência de mistura e

adensamento.”

3.4.1.3.Profundidade de Carbonatação

A respeito da frente de carbonatação foi diagnosticado com o indicador

de Ph (fenolftaleina) a existência de frente de carbonatação em todos os locais

estudados. Dessa forma, afirma o laudo, a confirmação da influência do gás carbônico

como agente redutor do Ph da massa de concreto, devido à localização da obra. É

possível, também, inferir que os níveis de porosidade e má qualidade do concreto, bem

como, a menor espessura de cobrimento são potencializadores da entrada de CO2 na

massa de concreto até atingir a camada de passivação da armadura.

3.4.1.4.Teor de Cloretos

O referido laudo cita que devido à localização da edificação em cidade

litorânea e ainda próximo ao mar e ao rio o ataque por íons cloreto tem alta

probabilidade de acontecer. Portanto, quantificar os cloretos presentes na massa de

concreto é essencial para mensurar a segurança da estrutura. Foi utilizado o Clor-Test

para medir o teor de cloretos e os resultados maiores que 0,4%, como ver-se na Figura

20, em relação a massa de cimento levam a constatação de incorporação de cloretos.

Figura 19 - Teores de cloretos nos locais analisados

FONTE: Laudo Técnico, 2000.

3.4.1.5.Potencial de corrosão

A determinação do potencial de corrosão é medida essencial para avaliar

em que estado se encontram as armaduras da estrutura. Para obtenção desta medida no

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31

laudo foi usada a Semipilha CPV-4 e foi constatada corrosão ativa, pois todos os valores

obtidos foram mais negativos que -0,350V, baseando-se na norma ASTM C – 876

(1991), conforme a Figura 21.

Figura 20 - Potencial de Corrosão dos locais analisados

FONTE: Laudo Técnico, 2000.

3.4.2. Recomendações do laudo

O documento apresenta como conclusão que o prédio possuia diversos

problemas devido à construção, como deficiência no recobrimento das armaduras e má

qualidade de adensamento, além de imperfeições e irregularidades no concreto aparente,

ver Figura 22. Quanto aos ensaios constatou-se a resistência a compressão inferior a

solicitada em projeto, presença de carbonatação no concreto, altos teores de cloretos nas

peças, além de corrosão ativa das armaduras, demonstrando a precária segurança das

peças estruturais, enfatizando o fato da maioria serem pilares que comprometem a

segurança do prédio como um todo.

Figura 21 - Superfície porosa do concreto

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32

FONTE: Autor, 2016.

Foi desenvolvido um projeto de recuperação e reforço estrutural em 3

pilares e 1 viga, julgados primordiais segundo o laudo técnico, e aplicação de camada de

revestimento protetor em todo o concreto aparente do edifício. Após dezesseis anos da

execução do laudo técnico e serviços de recuperação é possível ainda observar diversos

pontos com corrosão de armadura, como na Figura 23 e 24e a camada de revestimento

requerida não é visualiada, bem como ainda se encontra escoamento de água dos

condicionadores de ar sobre as peças estruturais, agravando as patologias, como já

comentada anteriormente.

Figura 22 - Diversos pontos de corrosão com desplacamento e redução de concreto

de cobrimento

(A) (B) (C)

FONTE: Autor, 2016.

Figura 23 - Corrosão dos elementos brises da fachada

FONTE: Autor, 2016.

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33

No ano de 2016 resolveu-se realizar outra manutenção nos brises

apresentados e em outros pontos de corrosão devido à queda de um pedaço do concreto

de cobrimento dos brises no momento em que uma estagiária passava.

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34

CAPÍTULO IV

4. Reparo nos brises de concreto

4.1. Materiais utilizados

Para a restauração dos elementos com manifestações patológicas

presentes foi usada uma argamassa industrializada, indicada para recuperação estrutural.

O material é da empresa WEBER SAINT-GOBAIN e é denominado Argamassa

polimérica para reparos estruturais, com o código weber.repS2 e ficha técnica

disponível no site da empresa. É um produto bicomponente, composto por cimento

portland, agregados finos selecionados, aditivos especiais e polímero acrílico, segundo a

ficha técnica.

A indicação de uso segundo o fabricante é para reparos superficiais ou

ainda reconstituição de elementos em concreto armado, caso estudado no TRE. Porém,

há restrição de espessura até 25mm, e no caso dos brises, 6,9 cm foram preenchidos

com a argamassa. Ressalva para até 80mm, mas com o uso de projeção úmida,

determinação não obedecida.

Destaca-se como vantagem, segundo fabricante, altas resistências

mecânicas, facilidade de aplicação, retração compensada (aumentando a durabilidade

por não formação de fissuras), pré-dosagem (evitando erros de execução), aderência

satisfatória e permeabilidade baixa mesmo sujeita à pressões de água. Todas as

vantagens são adquiridas quando as instruções do fornecedor são cumpridas, tais como:

“4.1. Preparo do substrato: O substrato deve-se apresentar íntegro, seco,

limpo, isento de óleos, desmoldantes, compostos de cura ou outros materiais

contaminantes, partículas soltas ou pó. Delimite as áreas de reparo com

disco diamantado e remova o concreto deteriorado até atingir o concreto

são. (...) Para ampliar a proteção de áreas adjacentes à região da

intervenção em estruturas atacadas por cloretos, recomenda-se a instalação

de pastilhas de proteção catódica galvânica da linha weber.guard

galvashield. Antes da aplicação de weber.rep S2, sature a superfície

preparada com água, evitando empoçamentos, deixando-a na condição de

“saturada e seca”.”

(Ficha técnica. Disponível em http://www.weber.com.br/reparos-reforcos-e-

protecao-de-concreto/produtos/reparos-em-vigas-e-pilares/weberrep-

s2.html, acesso em 13/09/2016 às 17:01.)

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35

Além disso, a mistura da argamassa segue orientação de ser adicionado

primeiramente, 75% do componente líquido, depois, o pó deve ser inserido aos poucos,

somente quando atingida a homogeineidade deve-se adicionar o restante do líquido.

Segundo a ficha técnica, as embalagens não devem ser fracionadas, deve-se usar

ferramente própria (weber.rep aplic mist) acoplado a uma furadeira de baixa rotação –

400 a 500 rpm – para realizar a mistura e executar cura úmida por, no mínimo, 3 dias,

além de não aplicar o produto sob insolação direta, fazendo uso de anteparos. No

entanto, o que observou-se foi a mistura com colher de pedreiro e sem preocupações de

ordem ao adicionar os componentes ou uso inteiro das embalagens (como mostra a

Figura 26), o funcionário afirma que mistura o pó e o líquido até apresentar consistência

boa e a quantidade que vai usar no momento, não houve cuidado com relação a

insolação que ocorre fortemente no local nem tampouco foi realizada a cura requisitada,

logo após a aplicação o jaú era descido e não se voltava ao local para curar a argamassa.

Figura 24 - Argamassa misturada para aplicação em balde e colher de pedreiro

(A) (B)

FONTE: Autor, 2016.

Segue na Figura 27 algumas informações dadas pelo fabricante.

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36

Figura 25 - Informações sobre a argamassa fornecidas pelo fabricante

FONTE: Ficha técnica. Disponível em http://www.weber.com.br/reparos-reforcos-e-

protecao-de-concreto/produtos/reparos-em-vigas-e-pilares/weberrep-s2.html, acesso

em 13/09/2016 às 17:01.

4.2. Procedimento de execução dos reparos nas brises de concreto

A execução foi baseada segundo as requisições do caderno de

especificações técnicas fornecido no projeto básico da licitação aberta, são estas:

“Avaliação das peças, seus apoios, fissuras, trincas, pontos de corrosão,

identificando a intensidade e extensão dos danos e problemas que apresente;

Remoção de concreto desagregado ou em processo de desagregação;

Retirada de armaduras corroídas e inertes – Reforço – caso ela apresente

mais de 20% de sua seção comprometida – o que deverá ser relatado,

obrigatoriamente, à FISCALIZAÇÃO;

Limpeza (com escovas de aço) e lixamento das armaduras;

Tratamento das patologias, utilizando argamassa polimérica de alto

desempenho;”

(Projeto básico de licitação do TRE-RN, 2015)

O serviço foi acompanhado e verificou-se como se procedeu cada etapa

destas. A primeira e segunda, a avaliação das peças e retirada do concreto segregado,

foram realizadas ao mesmo tempo uma vez que a avaliação foi realizada pelos próprios

operários no momento da execução do serviço, não foi entregue a eles nenhum mapa de

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localização de pontos a serem tratados. Quando se identificava uma fissura julgada de

corrosão pelo pedreiro era realizada uma percursão com marreta ou martelo com ajuda

de ponteiro quando necessário (conforme Figura 28), e o concreto que com isso

desagregava era considerado passível de reparo, sem nenhuma avaliação mais profunda

da extensão da corrosão. Esse procedimento além de sem embasamento técnico deu

margens para que algumas fissuras não fossem tratadas (como na Figura 29, 30 e 31) e

possibilidade de pontos internos de corrosão não pudessem ser tratados.

FONTE: Autor, 2016.

Figura 26 - Procedimento de retirada do concreto segregado ou em segregação

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38

Figura 27– Fissuras que permaneceram mesmo após o serviço de recuperação

FONTE: Autor, 2016.

Figura 28 - Viga passou por tratamento somente na parte de concreto que

segregou, mesmo com aparentes sinais de corrosão em trecho próximo

FONTE: Autor, 2016.

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39

Figura 29 - Defeito em brise que expõe a armadura não foi retirado o concreto

para tratar o aço, somente foi revestido com argamassa para retirar os poros

FONTE: Autor, 2016.

Quanto ao reforço das armaduras a identificação do comprometimento da

seção transversal também era de sentimento do funcionário, sem o projeto em mãos para

saber a real bitola que deveria está na peça reparada foi realizada a troca de algumas

armaduras, como as apresentadas na Figura 32.

Figura 30 - Armaduras sãs a esquerda que substituíram as armaduras corroídas à

direita

FONTE: Autor, 2016.

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40

Nas armaduras que apresentavam grau de corrosão sem grandes perdas

de seção apenas a limpeza (apresentada na Figura 33) era suficente, realizada com

escova de aço essa etapa visa limpar o substrato retirando o produto da corrosão – óxido

de ferro – no intuito de parar as reações químicas naquela barra.

FONTE: Autor, 2016.

O tratamento dado as armaduras após a limpeza é a pintura (Figura 34)

com uma massa sintética para metais conhecida como zarcão que visa proteger o aço de

um nova corrosão, porém há controversas quanto a perda de aderência aço-concreto.

Com isso, é possível iniciar a recomposição do elemento estrutural com a argamassa

polimérica utilizando formas e procedimentos análogos ao de concretagem,

demonstrados na Figura 35.

Figura 32 - Pintura das armaduras

F

ONTE:

Autor, 2016.

Figura 31 - Processo de limpeza das barras corroídas

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FONTE: Autor, 2016.

Figura 33 - Procedimento de recomposição do elemento estrutural com argamassa

polimérica

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42

CAPÍTULO V

5. Considerações finais

5.1. Resultados e discursões

5.1.1. Ensaio de profundidade de carbonatação

Foram realizados os ensaios de profundidade de carbonatação em dois

brises diferentes, o primeiro no dia 10 de Agosto de 2016, foi retirado um pedaço de

concreto com auxília de serra mármore em busca de determinar a profundidade de

carbonatação, no entanto, percebeu-se que toda a espessura de 6,9cm (Figura 36 a) do

brise já se apresentava carbonatada com apenas poucos pontos reagindo com o

indicador de Ph alcalino, como apresentado na Figura 36 b.

Figura 34– a) Medida da espessura do brise com paquímetro; b) Face de concreto

após reação com indicador de Ph

FONTE: Autor, 2016.

No dia 16 de Agosto foi feito outro teste em outro brise, desta vez

somente retirando a camada superficial de cobrimento, chegando à armadura, afim de

verificar se a carbonatação chegou a camada de passivação do aço. Resultados

semelhantes foram encontrados, apresentados na Figura 37, e assegura-se que os brises

se encontram em alto estado de carbonatação.

a) b)

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43

Figura 35 - Resultados do segundo ensaio

FONTE: Autor, 2016.

5.1.2. Ensaio de presença de cloretos

O ensaio de presença de Cloretos foi carbonatação, este ensaio apresenta

dificuldade de visualização, porém é possível enxergar o precipitado branco no segundo

ensaio e não há mudança de coloração pra marrom/alaranjado em nenhum caso, como

pode-se ver nas Figuras 38. Também foi realizado um contra-prova em uma viga

próximo aos brises com mais fácil visualização, que apresentou os mesmos resultados

(Figura 39), indicando a presença de cloretos livres no concreto dos brises e da viga de

contra-prova.

Figura 36–a) Primeiro ensaio em 10/08/16 de presença de cloretos; b) Segundo

ensaio em 16/08/16 de presença de cloretos

FONTE: Autor, 2016.

a) b)

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44

Figura 37 - Contra-prova feita na viga próximo aos brises

FONTE: Autor, 2016.

5.1.3. Ensaio de resistência à compressão do concreto dos

brises

Realizado no dia 01 de Setembro de 2016 iniciado às 8:33h, foram

submetidas ao ensaio três amostras como apresentado na metodologia, retiradas de

brises diferentes, uma mais a esquerda, um no centro e outro mais a direita da fachada.

As características e resultados do ensaio seguem na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultados do rompimento de corpos de prova do concreto dos brises

Corpo de prova Dimensões

(cmxcm) Área (cm²)

Carga de

ruptura (kgf)

Resistência

(Mpa)

CP1 4,39x4,3 18,88 5750 30,46

CP2 5,23x5,04 26,36 2900 11,00

CP3 5,25x5,25 27,56 3000 10,88

FONTE: Autor, 2016.

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45

O corpo de prova CP1 apresentou resistência muito acima do esperado e

pode ser desprezado para efeitos de avaliação, uma vez que o concreto de projeto não

passa dos 15MPa e visualmente o concreto do local apresenta características de má

qualidade como desagregação e pouca pasta de cimento, como mostra a Figura 40.

Imagens dos ensaios realizados são apresentadas nas Figuras 41 e 42.

FONTE: Autor, 2016.

Figura 39–a) Medidas das dimensões usando o paquímetro; b) Corpo de prova no

momento da ruptura no ensaio

FONTE: Autor, 2016.

Figura 38 - Fotos do concreto de brises desagregando com o toque

a) b)

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46

O resultado do CP1 pode ter sido mascarado por presença de agregados

graúdos no cp. Portanto, é possível afirmar que o concreto que compõe os brises tem

resistência à compressão de 10,94Mpa (média dos CP2 e CP3), considerada baixa do

ponto de vista dos requisitos de durabilidade normativos atuais, facilitando a

ocorrências de patologias como as encontradas nestes.

5.1.4. Ensaio de resistência a compressão da argamassa

O rompimento dos corpos de provas de argamassa foi realizado no dia

19 de setembro de 2016, aos 28 dias. Os corpos de prova apresentaram medidas de

4,7cm de diâmetro e 10,6cm de altura, resultando em uma área de seção transversal

A=17,34cm². Os resultados dos cp’s de argamassa moldados com o próprio material que

estava sendo utilizado pelos funcionários in loco foram denominados Grupo A, esses

apresentados na tabela 3. E os corpos de prova com mistura realizada em laboratório

somente para moldagem de corpos de prova denominados Grupo B na tabela 4.

Tabela 3 - Resultados do ensaio de compressão das argamassas do grupo A

Nº CP CARGA (Kgf) Resistência à compressão aos 28 dias

(MPa)

A1 4990 28,78

A2 3540 20,41

FONTE: Autor, 2016.

Tabela 4- Resultados do ensaio de compressão das argamassas do grupo B

Nº CP CARGA (Kgf) Resistência à compressão aos 28 dias

(MPa)

B1 2300 13,26

B2 5930 34,20

B3 6100 35,18

B4 4200 24,22

B5 5240 30,22

B6 6240 36,00

FONTE: Autor, 2016.

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Realizando a média das resitências obtidas tem-se 24,6MPa com desvio

padrão de 5,92 e coeficiente de variação de 24% para o grupo A. Para o grupo B tem-se

média de 32,21MPa com desvio padrão de 8,79 e coeficiente de variação de 27%. Esses

resultados foram abaixo da resistência que o fornecedor garante, muito mais para o

grupo que representa a argamassada realmente usada na execução (grupo A), no

entanto, a resistência ainda é satisfatória. A característica mais preocupante é quanto a

amostra varia, levando a crer que não há homogeneidade no preparo do material

podendo comprometer o desempenho da recuperação.

5.1.5. Diagnótico das patologias apresentadas na estrutura do

edifício

Devido à baixa qualidade comprovada do concreto de cobrimento de

proteção às armaduras, alta permeabilidade, baixas resistências e defeitos de

concretagem se instaurou os processos de carbonatação mesmo em ambiente com baixa

taxa de CO2 (cidade pouco urbanizada, longe de industrias e área bem arborizada), e

permitiu a entrada de cloretos da atmosfera agressiva (próximo o mar) no concreto.

Com isso a camada passivadora do aço foi destruída e inicou-se a corrosão

eletroquímica do aço, em ambiente favorável graças a alta permeabilidade a entrada de

oxigênio, altos potencias de corrosão segundo o laudo técnico (2000), além da umidade

relativa do ar próxima dos 70% e escoamento de água dos drenos de ar-condicionado.

A origem da corrosão das armaduras é atribuída a má qualidade do

concreto de cobrimento com causa principal a má execução e falta de controle de

qualidade da obra que a partir dos mecanismos conjuntos de carbonatação e ação por

cloretos geraram a corrosão das armaduras e segregação do concreto de cobrimento nos

brises de fachada e diversos outros pontos da estrutura no edifício.

5.1.6. Avaliação técnica do procedimento de reparo ocorrido

nos brises

Foi observado que para o serviço de reparação dos brises não houve o

cuidado de uma inspeção detalhada das patologias existentes como ocorreu no reforços

dos pilares e vigas em 2000. Sem o devido levantamento de dados não houve uma

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criteriosa análise para se chegar a um diagnóstico de identificação das causas e

procedimentos adequados a serem tomados.

O procedimento de recuperação realizado foi estabelecido pelo corpo

técnico do órgão, e é o adequado para problemas de corrosão de armaduras. No entanto,

dois incovinientes foram detectados, o primeiro quanto à perda de seção transversal a

qual se recomenda a substituição do aço. O Tribunal requisitou suplementação em casos

com perdas de seção maiores que 20% enquanto a referência teórica indica 10%; o

material utilizado para reconstrução da peça embora adequado para recuperações possui

resistência garantida pelo fabricante muito maior que 20% da resistência especificada

em projeto para os brises, contrariando as orientações referenciadas.

Além disso, durante a execução dos serviços foram negligenciados

alguns aspectos imprescindíveis como o correto preparo do material, o que acarretou no

não atendimento da resistência garantida pelo fabricante da argamassa. A definição dos

locais onde aconteceram os reparos não estavam especificadas em projeto, e o método

de escolha ficou a cargo do funcionário da empresa sem conhecimento técnico

comprovado. Ademais, mesmo ao término dos serviços pôde-se verificar manifestações

patológicas não reparados, como fissuras, que podem ser a porta de entrada para agravar

a situação da durabilidade do edifício e tornar o serviço de recuperação muito

dispendioso para o resultado apresentado.

Não foi verificado a existência de nenhum ensaio in loco ou em

laboratório, tanto para a identificação prévia à realização do serviço como para

comprovação da qualidade dos materiais empregados. Com isso, é possível afirmar que

o procedimento de recuperação dos brises em concreto não seguiu as recomendações

técnicas e fiscalizações necessárias para que fosse comprovada a adequação dos

procedimentos empregados, e ainda, a sua execução apresentou diversas falhas que

mesmo que a técnica fosse a adequada são potencializadores de má qualidade final do

serviço.

5.2. Conclusões

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte possui seu

edifício sede com menos de 40 anos de construção com a vida útil comprometida e

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presença de diversos problemas patológicos em suas estruturas de concreto,

apresentados desde o ano 2000 quando ocorreu a primeira intervenção para recuperação

de pilares e vigas já em altos processos de corrosão.

Com a inspeção realizada pela autora deste trabalho, corroborado com o

apresentado no laudo técnico em 2000, é possível afirmar a presença de dois agentes

agressivos, a carbonatação do concreto e o ataque por íons cloretos. Estes dois

processos deram início à corrosão detectada em diversos pontos dos elementos

estruturais.

Quanto à segurança do edifício como um todo é razoável afirmar que não

há riscos, uma vez que o projeto estrutural foi realizado com uma norma e um estilo

arquitetônico que resultaram em peças mais robustas que as necessárias para absorver as

cargas de um edifício térreo mais dois pavimentos. Especificamente, no caso dos brises

de concreto não há função estrutural, contudo, sua posição em elevada altura traz riscos

de queda de segregação de concreto em pedestres no nível térreo, daí a importância dos

reparos realizados.

O serviço de recuperação realizado apresentou diversas falhas, desde as

especificações das atitudes a serem tomadas à própria execução e fiscalização. Ao final

do processo foi notória a existência de patologias que poderiam ter sido reparadas com a

realização do procedimento correto, além dos possíveis futuros problemas gerados pela

negligência do serviço, como não ter feito a cura úmida gerando falhas que serão portas

de entrada para os agentes agressivos. Quando comparado ao procedimento ocorrido em

2000, fica o sentimento que por os brises não possuirem função estrutural não foram

tomados os devidos cuidados para a correta intervenção.

O concreto como um todo do edifício é considerado poroso e propenso a

patologias, tornando a vida útil do prédio curta e grande a possibilidade de custos com

manutenções para sua prorrogação.

Espera-se com este trabalho acrescentar a importância da durabilidade

nas estruturas e nos processos de recuperação em edifícios antigos. Especificamente ao

TRE-RN é deixada a oportunidade de realizar uma vistoria completa na estrutura do

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edifício sede tanto para a segurança de seus usuários como para a economia com os

serviços de recuperação futuros.

Foi comprovada a importância dos cuidados na construção de edifícios

para que estes se tornem duráveis, pois mesmo com um bom projeto, a execução falha

acarreta em problemas futuros de altíssimos custos.

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