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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIAMESTRADO EM GEOGRAFIA
DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DAPOPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL
THIAGO TITO DE ARAÚJO
NATAL RN2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MESTRADO EM GEOGRAFIA
DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL
THIAGO TITO DE ARAÚJO
NATAL-RN 2008
THIAGO TITO DE ARAÚJO
DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Orientador: Flávio Henrique M. de Araújo Freire
NATAL-RN 2008
Catalogação da Publicação na Fonte UFRN
Araújo, Thiago Tito de. Distribuição socioespacial dos fatores dinâmicos da população na Região Metropolitana de Natal / Thiago Tito de Araújo. - Natal, RN, 2008. 156 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique M. de Araújo Freire
Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia.
1. Região Metropolitana de Natal – Dissertação. 2. Tipologia Socioespacial - Dissertação. 3. Dinâmicas demográficas– Dissertação. 4. Geografia I. Freire, Flávio Henrique M. de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/CCHLA CDU 911 A663d
DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL
THIAGO TITO DE ARAÚJO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de mestre no Curso de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Membros da Banca Examinadora:
_______________________________________________________Professor Dr. Flávio Henrique M. de Araújo Freire (UFRN)
Presidente da Banca
______________________________________________________Professor Dr. Ademir Araújo da Costa (UFRN)
Examinador
______________________________________________________Professor Dr. Weber Soares (UFMG)
Examinador
______________________________________________________Professora Dra. Maria do Livramento Miranda Clementino (UFRN)
Suplente
Natal, _______de _____________de 2008.
A Deus, ao santuário da Virgem dos Pobres.Aos meus familiares e aos meus companheiros de todas as horas.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, gostaríamos de agradecer a Deus, a Senhora Sant’Ana,
padroeira de todos os caicoenses e ao Santuário da Virgem dos Pobres
(Maceió – AL), onde uma prece foi feita, ouvida e atendida.
Agradeço a meu pai, Sebastião Tito de Araújo, meu grande ídolo e
incentivador. A minha mãe, Faustina Araújo, por suas cobranças necessárias e
por sua preocupação infinita. A minha irmã, Thaísia Kássia de Araújo, por
sempre me dá ouvidos, aos meus lamentos e alegrias, nas intermináveis
madrugadas. E ao meu irmão, Francisco de Assis Araújo e seus filhos, pela
imensurável acolhida em Natal.
Agradeço ao senhor professor Renato de Medeiros Rocha, grande
amigo e incentivador acadêmico, por abrir meus olhos para importância da pós-
graduação.
Agradeço também, ao meu orientador e amigo, Flávio Henrique M. de
Araújo Freire, por sua paciência, compreensão e, principalmente, por seu
companheirismo. E a professora Maria do Livramento M. Clementino, por
acreditar e investir no meu crescimento acadêmico.
“A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós”.
Marcel Proust
RESUMO
A Região Metropolitana de Natal, como as demais regiões metropolitanas
brasileiras, foi marcada pela intensa e acelerada urbanização do país ocorrida
somente na segunda metade do século XX, coincidindo com o processo de
consolidação da indústria do país, resultando em sérios problemas sociais
urbanos, como o aumento das favelas, a falta de infra-estrutura e o aumento da
violência presente nos centros urbanos. Ao adentramos a realidade da Região
Metropolitana, aferimos os impactos da reestruturação produtiva, no contexto
da globalização, analisando de que forma os aspectos socioeconômicos
influenciam os fatores dinâmicos da população, cuja configuração mostrou-se
contraditória de acordo com a classe social ocupada. Nesse sentido,
estudamos a configuração demográfica da Região Metropolitana de Natal,
analisando sua distribuição espacial e suas diferenças sociodemográficas a luz
da construção de uma tipologia socioespacial, que recorta o espaço
metropolitano em áreas homogêneas.
Palavras-Chave: Região Metropolitana de Natal, Tipologia Socioespacial,
Dinâmica Demográfica.
ABSTRACT
The Metropolitan Region of Natal, like other metropolitan regions in Brazil, was
marked by intense and rapid urbanization of the country occurred only in the
second half of the twentieth century, coinciding with the process of consolidation
of the industry in the country, resulting in serious urban social problems, such
as the increase in slums, lack of infrastructure and this increase in violence in
urban centers. When enters the reality of the metropolitan region, assessing the
impacts of restructuring productive in the context of globalization, analyzing how
the socio-economic factors influencing the dynamic of the population, whose
configuration was shown to be contradictory according to social class busy.
Accordingly, we studied the demographic configuration of the Metropolitan
Region of Natal, analyzing their spatial distribution and their socio-demographic
differences in light of building a type socio-space, which cuts the metropolitan
space in homogeneous areas.
Key-Words: Metropolitan Region of Natal, Type Socio-space, Demographic
Dynamics.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
1 Capim Macio .............................................................................................................. 47
2 Petrópoles................................................................................................................... 48
3 Tirol.............................................................................................................................. 48
4 Candelária .................................................................................................................. 48
5 Ponta Negra ............................................................................................................... 50
6 Lagoa Nova ................................................................................................................ 50
7 Nova descoberta ........................................................................................................ 50
8 Barro Vermelho........................................................................................................... 51
9 Lagoa Seca................................................................................................................. 52
10 Alecrim....................................................................................................................... 52
11 Neópolis..................................................................................................................... 52
12 Pitimbú....................................................................................................................... 53
13 Paranamirim – Centro............................................................................................... 53
14 Potengi...................................................................................................................... 54
15 Barrio Nordeste......................................................................................................... 54
16 Quintas...................................................................................................................... 55
17 Dix Sexpt Rosado...................................................................................................... 55
18 Nazaré....................................................................................................................... 55
19 Cidade da Esperança................................................................................................ 56
20 Santos Reis............................................................................................................... 57
21 Praia do Meio............................................................................................................ 57
22 Areia Preta................................................................................................................. 57
23 Mãe Luiza.................................................................................................................. 58
24 Cidade Alta................................................................................................................ 58
25 Ribeira....................................................................................................................... 58
26 Rocas........................................................................................................................ 59
27 Agreg Parque Industrial............................................................................................. 59
28 Parnamirim C.L.B.I.................................................................................................... 59
29 Parnamirim –Pirangi.................................................................................................. 60
30 Macaíba – Zona Urbana............................................................................................ 61
31 Agreg. Distrito S. Gonçalo do Amarante................................................................... 61
32 Salinas....................................................................................................................... 62
33 Igapó.......................................................................................................................... 62
34 N. Senhora da Apresentação.................................................................................... 62
35 Lagoa Azul................................................................................................................. 63
36 Pajuçara.................................................................................................................... 63
37 Redinha..................................................................................................................... 63
38 Bom Pastor.................................................................................................... 64
39 Felipe Camarão............................................................................................. 64
40 Guarapes....................................................................................................... 64
41 Planalto......................................................................................................... 65
42 Parnamirim –Distrito Industrial....................................................................... 65
43 Parnamirim Área Comercial.......................................................................... 65
44 Ceará-Mirim................................................................................................... 66
45 Nízia Floresta................................................................................................ 67
46 S. José do Mipimbú...................................................................................... 67
47 Monte Alegre................................................................................................ 68
48 Extremoz...................................................................................................... 68
49 Distrito de S. Gonçalo.................................................................................... 68
50 Ceará-Mirim................................................................................................... 70
51 Macaíba........................................................................................................ 70
GRÁFICO:
1 Taxa de Fecundidade Total. do Brasil, 1940 a 2000...........................................79
LISTA DE TABELAS
1 Nordeste: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000...................................... 81
2 RM/NATAL: Percentual da população rural por município - 1991 / 2000....... 83
3 RM/NATAL: Taxa de Urbanização - 1991 / 2000............................................ 84
4 RM/NATAL: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000.................................. 86
5 RM/NATAL: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 1991/2000...... 88
6 Nordeste: Esperança de Vida ao Nascer - 1991 / 2000.................................. 100
7 Nordeste: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000............................. 101
8 Nordeste: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000........................ 102
9 Nordeste:Índice de Desenvolvimento Humano - 1991 / 2000........................ 104
10 Esperança de Vida ao Nascer – RM de Natal – 1991 / 2000.......................... 105
11 RM/NATAL: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000......................... 107
12 RM/NATAL: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000.................... 108
13 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o NE c/ origem, por
Regiões de Destino - Período 1986/1991........................................................... 118
14 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o Nordeste c/ origem, por
Regiões de Destino – Período 1995 – 2000........................................................ 119
15 Entradas, saídas e saldos migratórios, de migrantes de data fixa s/ a região
Nordeste – Períodos 1986 – 1991 e 1995 – 2000 ................................... 121
16 Rio Grande do Norte: Migrantes de Data fixa s/ o local de origem – 2000 .... 123
17 RM/NATAL: População Residente de Anos e Mais e Imigrantes de Data
Fixa – 2000 ......................................................................................................... 126
18 População Residente de 5 Anos e Mais e Imigrantes de Data Fixa segundo
a sua origem – Região Metropolitana de Natal – 2000 ....................................... 128
19 RM/NATAL: População residente de 15 Anos e mais que trabalha ou
estuda e pessoas que realizaram movimento pendular – 2000 .......................... 130
20 RM/NATAL: Imigrantes de Data Fixa tendo como origem Natal – 2000 ........ 131
LISTA DE MAPAS
1 Áreas de Expansão Demográfica – RM de Natal – 2000 .................................... 43
2 Tipologia Socioespacial – RM de Natal – 2000 ................................................. 46
3 Taxa de Fecundidade Total segundo as tipologias socioespaciais da Região Metropolitana de Natal – 2000 ............................................................................... 93
4 Probabilidade de morte até 5 anos segundo as tipologias socioespaciais da Região Metropolitana de Natal – 2000..................................................................... 111
5 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município do Rio Grande do Norte, exceto da Região Metropolitana - Região Metropolitana de Natal – 2000............................................................................................................. 135
6 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município de fora do Rio Grande do Norte e de outros países - Região Metropolitana de Natal – 2000 ...................................................................................................................... 136
7 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem a Região Metropolitana de Natal - Região Metropolitana de Natal – 2000........................................................................................................................... 137
8 Percentual de pessoa que realizam movimento pendular em direção ao Pólo Metropolitano - Região Metropolitana de Natal – 2000............................................ 140
LISTA DE SIGLAS
AED’S - Áreas de Expansão Demográfica
AREAP - Áreas de Ponderação da Amostra
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEC - Instituto de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IDH - M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social
IPEA - Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada
MME -Ministério de Minas e Energia
NAPP- Núcleo Avançado de Políticas Públicas
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RN – Rio Grande do Norte
RM – Região Metropolitana
SEMURB – Secretaria Municipal de meio ambiente Urbanismo
SPSS - Software Statistics Program Sciences Social
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 16
1 - Contexto histórico, teórico e metodológico ............................................ 23
1. 1 - Organização espacial de uma tipologia socioespacial ........................ 37
1. 2 – Descrição da distribuição territorial dos tipos socioespaciais........... 47
2 - relação das tipologias socioespaciais com a dinâmica demográfica.... 73
2.1 Tipologias Socioespaciais e a Fecundidade................................ 73
2.2 Tipologias Socioespaciais e a Mortalidade................................... 94
112 2.3 Tipologias Socioespaciais e a Mobilidade ...................................
Considerações Finais .................................................................................................... 141
Bibliografia ..................................................................................................................... 149
Anexo............................................................................................................................. 156
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 16Metropolitana de Natal
INTRODUÇÃO
Na década de 1970, o elevado crescimento da economia brasileira,
ocorrido de forma espacialmente concentrado, fez “explodir” as metrópoles
nacionais e ensejou a metropolização de outros importantes centros urbanos.
As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei, aprovada no
Congresso Nacional (1973), que as definiu como um conjunto de municípios
contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com
serviços públicos e infra-estrutura comum, que deveriam ser reconhecidas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Contudo, foi a partir da Constituição Federal de 1988, que a instituição
das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, por meio
de lei complementar, passaram a ser da responsabilidade do próprio Estado,
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para compor a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum.
Quanto ao processo de formação da Região Metropolitana de Natal,
segundo documento formulado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada
(IPEA) de 2002, o processo de transbordamento de Natal com municípios
vizinhos tornou-se evidente e, por duas vezes o Governo do Estado tentou
institucionalizar uma região metropolitana e implementar um projeto de
desenvolvimento integrado, entre os municípios de Natal, Parnamirim,
Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz, sem, contudo, obter sucesso
em sua implementação.
16
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 17Metropolitana de Natal
Novas tentativas foram realizadas em 1977, com o Plano de
Desenvolvimento Regional e Urbano da Grande Natal, elaborado pelo
urbanista Luiz Forte Neto, juntamente com Instituto de Desenvolvimento
Econômico do Rio Grande do Norte (IDEC); e em 1988, com Plano de
Estruturação do Aglomerado Urbano de Natal, elaborado pelo escritório Jaime
Lerner de planejamento urbano em conjunto com o IDEC.
De fato, só com o agravamento dos problemas comuns aos municípios
que compõem a Região Metropolitana, é que o governo do estado promulgou
em 04 de janeiro de 1994, a Lei Complementar n° 119/94, que institui a
regionalização do estado, prevendo, dentre outras, a criação da Região
Metropolitana de Natal.
Dessa forma, em 1997 ocorreu o processo de formalização político-
administrativa da Região Metropolitana de Natal, que teve sua criação
regulamentada pela Lei Complementar n°152, baseada nos argumentos de
“expansão urbana acelerada, demanda por serviços e necessidade de
investimentos em parceria” (LEI COMPELTENTAR Nº 152; Art. 1). Neste
primeiro momento, seis municípios passaram a compor a Região
Metropolitana: Natal, configurando-se como município pólo, Parnamirim, São
Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará - Mirim e Extremoz. Contudo, a partir
da Lei Complementar n° 221 de 2002 é que a Região Metropolitana de Natal
passou a ter em sua configuração, a presença de mais dois municípios,
incorporando São José de Mipibú e Nísia Floresta. Recentemente a partir da
Lei n° 315 de 2005 houve a incorporação a Região Metropolitana o município
de Monte Alegre.
17
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 18Metropolitana de Natal
Como se percebe tanto a Região Metropolitana de Natal, como as
demais regiões metropolitanas brasileiras, foram marcadas pela intensa e
acelerada urbanização do país, ocorrida somente na segunda metade do
século XX, coincidindo com o processo de consolidação da indústria do país.
De fato, tal realidade resultou em sérios problemas sociais e urbanos, como o
aumento das favelas, a falta de infra-estrutura e o aumento da violência
presente nos centros urbanos.
Sendo assim, ao adentrar a realidade da Região Metropolitana de Natal,
tem-se como objetivo principal, analisar de que forma os aspectos
socioeconômicos influenciam os fatores dinâmicos da população, cuja
configuração pode ser contraditória de acordo com a classe social ocupada.
Estudos realizados sobre o tema indicam que o processo de mudanças
associado à globalização da economia e à reestruturação produtiva tende a
intensificar diferenciações e desigualdades sociodemográficas nas cidades,
contudo surge a indagação de como esse processo de diferenciação espacial
está configurado na Região Metropolitana de Natal e se há realmente uma co-
relação entre o tipo de área ocupada e seu perfil demográfico.
Segundo Corrêa (1990), a cidade tem-se constituído, ao longo da
história, no principal local das lutas sociais. A organização espacial acaba
sendo apresentada de forma desigual, caracterizada por uma complexa divisão
técnica e social do espaço, associada a uma enorme diferença nas condições
de vida dos diversos grupos sociais da cidade.
Corrêa (1990) defende que:
A grande cidade capitalista é o lugar privilegiado de ocorrência de uma série de processos sociais, entre os quais a
18
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 19Metropolitana de Natal
acumulação de capital e a reprodução social básica. Estes processos criam funções e formas espaciais, ou seja, criam atividades e suas materializações, cuja distribuição espacial constitui a própria organização espacial da população. (CORRÊA, 1990; p. 61).
Os impactos gerados pela globalização sobre as grandes e médias
cidades têm evidenciado na produção do espaço o aumento da segregação
residencial. Observa-se, nas grandes e médias cidades brasileiras a
disseminação do acesso desigual a serviços e equipamentos que configuram o
bem-estar da população, ampliando as diferenças socioocupacionais e
demográficas existentes no espaço urbano.
Segundo Corrêa (1989), o espaço urbano da cidade capitalista se
apresenta como o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. De
acordo com os usos da terra torna-se possível definir distintas áreas
residenciais, em termos de forma e conteúdo social.
A cidade encontra-se fortemente dividida em áreas residenciais
segregadas, as quais representam papel ponderável no processo de
reprodução das relações sociais, refletindo a complexa estrutura social de
classes, ou seja, o espaço da cidade além de ser reflexo da sociedade, torna-
se também condicionante dessa sociedade.
A tendência de distribuição da população no espaço, em grupos sociais
homogêneos, e a desigualdade socioespacial da organização territorial da
Região Metropolitana, ensejaram a justificativa deste trabalho. Nesse sentido,
para que seja possível estudar a configuração demográfica da Região
Metropolitana de Natal, tornou-se necessário analisar a distribuição espacial da
população e seus diferenciais sociodemográficos através da construção de
19
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 20Metropolitana de Natal
uma tipologia socioespacial1, a qual recorta o espaço metropolitano em áreas
homogêneas.
Segundo Damiani (2004), na análise geográfica da população, a
demografia, além de contribuir nos procedimentos de quantificação dos dados
brutos de população, definiu material estatístico de cunho mais qualitativo, que
teria auxiliado a geografia na caracterização econômica, e no esclarecimento
de tensões decorrentes das questões econômicas, no interior de marcos
espaciais específicos.
O emprego de índices como o de fecundidade, de mortalidade e as
diversas análises sobre os fluxos migratórios, conferiram à demografia notável
rigor científico. Sua aplicação poderá possibilitar a análise em quantidade e
qualidade da dinâmica populacional da Região Metropolitana de Natal, além de
determinar alguns dos componentes que estão na estrutura de suas condições
socioeconômicas.
Para tanto, do ponto de vista demográfico, aborda-se a população da
Região Metropolitana de Natal, segundo dois critérios principais. Primeiro,
através de uma abordagem histórica, tentando com isso, perceber a evolução
dos fenômenos demográficos ao longo do tempo. Segundo, consiste na
abordagem analítica e socioeconômica, que seja capaz de oferecer
esclarecimentos a dispor da evolução demográfica da Região Metropolitana e
sua influência sofrida, principalmente, por fatores históricos e socioeconômicos.
1A construção da tipologia socioespacial foi desenvolvida no âmbito do projeto de pesquisa, “O Mapa Social da Região Metropolitana de Natal: Desigualdade Social e Governança Urbana, apoiado pela UFRN/FAPERN/CNPq – Pronex, que tem sua metodologia, no que condiz a construção das categorias socioocupacionais e as tipologias socioespacial, creditada a pesquisa desenvolvida em conjunto pela Rede Metrópoles, capitaneada pelo IPPUR/UFRJ, que agrega vários núcleos de Estudos Metropolitanos em todo o Brasil, inclusive no Rio Grande do Norte. Metodologia essa, elaborada em colaboração com Edmond Preteceille do CSU – Centre National de la Recherche Scientifique e Luciana Corrêa do Lago do IPPUR/UFRJ.
20
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 21Metropolitana de Natal
Também se faz necessário um “passeio” sobre o conceito de região,
com previsão cuidadosa de não se encontrar limitado ao conceito de
regionalização, feita durante o contexto da Nova Geografia, onde
fundamentado no positivismo lógico, define a região como “um conjunto de
lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que
existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares”
(CORRÊA, 1990; p. 32), se opondo àquelas associadas aos paradigmas do
determinismo ambiental e do possibilismo.
A proposta desse trabalho é utilizar esse conceito e o estudo da
organização espacial da população no espaço metropolitano, como facilitador
do desenvolvimento da análise, supondo o diferente acesso ao espaço
metropolitano por meio da população, busca-se através das análises
“ultrapassar” as técnicas estatísticas, usadas para formação das áreas
homogêneas, enquanto tipo socioespacial.
Empregar o estudo de organização espacial, atrelado ao de segregação
residencial, é alimentar as análises através da tendência de agrupamento no
espaço de grupos sociais homogêneos, também resultado da desigualdade
socioespacial, expressando-se na organização do território da cidade.
Segundo afirmação de Corrêa (1989), a segregação residencial, pode
ser vista como um meio de reprodução social, e nesse sentido o espaço social
age como um elemento condicionador sobre a sociedade.
Portanto, para a construção de uma tipologia socioespacial, partiu-se de
três variáveis: ocupação, instrução e renda, com o fim de identificar a
distribuição da população segundo sua classe social, o que permitirá inferir
21
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 22Metropolitana de Natal
sobre os diferenciais demográficos presentes na Região Metropolitana de
Natal.
Uma vez que, por meio da análise demográfica, medida através de
componentes da variação e mudança populacional como natalidade
(fecundidade), mortalidade e mobilidade, pode-se inferir se a estrutura
socioespacial influencia ou não a condição de vida da população. Nota-se que
apesar desses componentes poderem ser traduzidos em fórmulas, codificados
em quantidade, é necessário situá-los no interior de sua relação com outros
fenômenos sociais que podem explicá-los dado as suas causas determinantes
ou condicionantes sociais.
Busca-se particularmente, analisar de que forma os aspectos
socioeconômicos afetam nos fatores dinâmicos da população, cuja
configuração pode apresentar diferenciações de acordo com a classe social
ocupada. Em outras palavras, é objetivo desse trabalho analisar à luz de uma
tipologia socioespacial o desigual acesso perante diferentes níveis de classes
sociais, dada à segregação residencial, sua relação nos determinantes do
dinamismo demográfico como a fecundidade, mortalidade e a mobilidade.
22
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 23Metropolitana de Natal
1 CONTEXTO HISTÓRICO, TEÓRICO E METODOLÓGICO
Localizada no litoral oriental do Rio Grande do Norte, a Região
Metropolitana de Natal ocupa uma área de pouco mais de 2.500 km2, a qual
representa cerca de 5% do território estadual. Entretanto, segundo o censo
demográfico de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Região Metropolitana concentra cerca de 39,5% da
população do Estado, representando perto de 1 milhão de pessoas residindo
nessa área.
Esses números chamam mais atenção, quando visualizamos que
Natal, capital do estado e cidade pólo da Região Metropolitana, segundo o
Censo Demográfico de 2000, representa sozinha, cerca de 25% da população
do Estado e aproximadamente 65% da população da Região Metropolitana, ou
seja, em torno de 712 mil habitantes.
Contudo, o interesse em conhecer e atuar sobre a Região
Metropolitana de Natal, não se restringe ao fato dela concentrar uma parcela
crescente da população do Rio Grande do Norte, mas também, por ser o lugar
onde os investimentos de capital são os maiores do Estado, além de
representar também, um conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre
si e congregar populações em diferentes níveis de desenvolvimento em relação
às características sociodemográficas.
É importante lembrar, que o conceito de região metropolitana foi
introduzido no Brasil, apenas a partir da década de 1970, compartilhando da
idéia de que uma região metropolitana “é um aglomerado urbano composto por
23
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 24Metropolitana de Natal
vários municípios autônomos, mas integrados física e funcionalmente,
formando uma mancha urbana praticamente continua” (BRAGA & CARVALHO,
2004; p, 18).
Braga e Carvalho (2004) defendem que, inicialmente, o conceito de
metrópole está ligado a etimologia da palavra, que em grego significa cidade-
mãe e estava associado com o de cidades-satélite. Assim como as cidades,
atualmente o conceito abriga várias configurações espaciais bastante distintas,
mas talvez a essência esteja ligada à primazia de uma cidade em relação às
outras, geralmente conurbadas ou como no caso da Região Metropolitana de
Natal, sofrendo um transbordamento proveniente da cidade pólo. Nessa
perspectiva, os problemas da metrópole devem ser pensados e solucionados
através de uma política integrada, de maneira democrática, tanto em termos
sociais, como econômicos, isto é, embasada numa justa distribuição dos bônus
e ônus do processo de desenvolvimento2.
De fato, segundo Santos (1998), o conceito de metropolização
corresponde à macro-urbanização e, apenas as aglomerações urbanas com
mais de um milhão de habitantes deveriam merecer tal denominação.
Entretanto, até a Constituição de 1988, as Regiões Metropolitanas
eram criadas através do Governo Federal. Só a partir de então, os próprios
estados puderam criar suas regiões metropolitanas seguindo normas próprias.
2 Cabe ressaltar, que de acordo com Braga e Carvalho (2004), o processo de integração física e funcional de várias cidades é chamado de conurbação, ou seja, haveria um crescimento recíproco das cidades ao ponto da mancha urbana apresentasse praticamente contínua. Entretanto, o que podemos perceber ao analisarmos a realidade demonstrada pela Região Metropolitana de Natal, é que ela possui uma cidade Pólo (Natal), que exerce forte influência econômica, especialmente a seus municípios vizinhos (limítrofes), causando um transbordamento de suas atividades econômicas em suas direções.
24
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 25Metropolitana de Natal
De acordo com Miranda (1999), no caso da região metropolitana norte-
rio-grandense, os primeiros estudos sobre o desenvolvimento urbano e regional
da região datam de 1977 quando, o então governador do estado, solicitou ao
escritório de arquitetura Luiz Forte Netto, de Santa Catarina, pareceres sobre a
expansão urbana de Natal, voltada, especialmente à conurbação com os
municípios adjacentes.
Segundo Aquino (2006), O plano desenvolvido pelo referido escritório,
elaborou sete hipóteses para estruturação da organização espacial da Região
Metropolitana de Natal. Dessa forma o governo, em face das conclusões,
implantou um distrito industrial na Zona Norte de Natal. Contudo, enfatiza a
autora, o crescimento urbano foi desordenado e, onze anos depois, o Governo
do Estado convidou o Escritório Jaime Lerner para apresentar novas propostas
de ajuste ao crescimento.
Aquino (2006) ainda ressalta que essas duas ações promovidas pelo
Governo do Estado do Rio Grande do Norte, não impossibilitaram o
desordenado e acelerado processo de transbordamento de Natal para os
municípios vizinhos e seus conseqüentes problemas.
Muito embora o conceito de região metropolitana vá além da mera
definição legal, a formação da Região Metropolitana de Natal foi legalmente
construída a partir de janeiro de 1994, tendo uma última inclusão de município
em dezembro de 2005, contando com a participação de Natal, Parnamirim, São
Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará - Mirim, Extremoz, Nísia Floresta, São
José do Mipibú e por fim, Monte Alegre.
25
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 26Metropolitana de Natal
No entanto, independentemente do processo de formação da Região
Metropolitana de Natal, percebe-se que o crescente processo de urbanização3
verificado na região trouxe em seu contexto, um visível processo de
segregação espacial, a qual é notória a alocação da população segundo,
principalmente, sua condição socioeconômica.
Segundo Préteceille (2004), o conceito de segregação espacial surge,
primeiramente, através das idéias difundidas pela Escola de Chicago de R.
Park e Burgess (1925), geralmente, considerada como tendo constituído o
nascimento da sociologia urbana enquanto disciplina científica. Esses autores
salientam que através de uma consulta rápida à literatura sociológica é
possível perceber que a maioria dos trabalhos publicados sobre segregação
trata das diferenças étnico-sociais ou socioeconômicas como questões amplas
na diferenciação dos espaços urbanos.
Corrêa (1989) acrescenta que o conceito de segregação espacial,
surgido através da Escola de Chicago, é definido como sendo uma
concentração de tipos de população dentro de um dado território. O autor
salienta ainda, que o conceito de “áreas sociais”, definido por Shevky e Bell
(apud Corrêa, 1989), como sendo áreas marcadas pela tendência a
uniformidade da população, é baseada em termos de três conjuntos de
características: status socioeconômico (renda, status ocupacional, instrução
etc.), característica escolhida para construção dos tipos socioespaciais nesse
3 Consideramos nesse trabalho o conceito demográfico de urbanização adotado por Davis (1977, apud Braga e Carvalho, 2004), que é o aumento do percentual da população urbana em relação à total. Assim sendo, pode-se dizer que uma sociedade está se urbanizando na medida em que o crescimento da população urbana é maior do que a população rural. Outra acepção do termo urbanização, apontada pelos autores, e também adotadas por arquitetos e urbanistas, é o da implantação de equipamentos e benfeitorias urbanas no espaço. Portanto, construir escolas, pavimentar ruas e implantar rede de esgoto é urbanizar o espaço.
26
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 27Metropolitana de Natal
trabalho; urbanização (mulheres na força de trabalho, fase do ciclo de vida,
isto é, solteiros, casais jovens com filhos pequenos etc.) e etnia.
Segundo Corrêa, a uniformidade de tais características origina áreas
sociais, isto é, bairros homogêneos, segregados, como por exemplo, bairros
populares com modestas residências, de empregados do setor terciário
residindo em edifícios de apartamentos, de diretores de empresa em suas
residências suntuosas etc.4
Préteceille (2004) ressalta, que no caso brasileiro, a maioria dos
trabalhos sobre segregação diz respeito, sobretudo às diferenças
socioeconômicas e pouco sobre as diferenças étnico-raciais. Isso significa dizer
que a segregação é sobretudo analisada nos estudos sobre as cidades
brasileiras pela focalização sobre as categorias mais pobres de um lado, e os
mais ricos do outro, mas raramente, sem que a localização residencial das
categorias intermediárias seja considerada de modo sistemático.
Entretanto, de acordo com a opinião exposta por Ribeiro (2000), o
termo segregação espacial trata-se de uma categoria de análise que contém
sempre duas dimensões: (i) conceitual, relacionada com os princípios teóricos
adotados para explicar a organização socioterritorial; (ii) prática, relacionada
com as concepções normativas da sociedade fundadas em princípios de
igualdade.
O autor identifica o conceito de segregação espacial, através de duas
concepções: a primeira concebe a segregação como diferença de localização
de um grupo em relação aos outros grupos. Esta se trataria de uma concepção
4 Trechos adaptados do livro de CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano. São Paulo, 1989. O autor também sugere consultar os trabalhos de Mackenzie, Shevky e Bell, em Coletânea organizada por THEODORSON, G. A.
27
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 28Metropolitana de Natal
clássica, cujo fundamento é a explicação ecológica da sociedade,
estabelecendo a contraposição de distância social à idéia de mistura, considera
como a forma de organização social.
A segunda concepção apresentada por Ribeiro (2000), “a segregação
designa as desigualdades sociais expressas como organização do território da
cidade” (RIBEIRO, 2000; p. 18). O espaço urbano contém um conjunto de
recursos importantes à reprodução das categorias sociais, na forma de bens
materiais simbólicos, mas a sua distribuição reflete as chances desiguais de
acesso.
Ainda segundo Ribeiro (2000), duas abordagens teóricas
fundamentaram essa concepção, uma de inspiração marxista, a qual explica a
segregação como decorrência das desigualdades de classes da sociedade;
enquanto a outra abordagem, de inspiração weberiana, que explica a
segregação como o resultado das desigualdades da distribuição desigual do
prestígio, da honra social e do poder.
No entanto, as duas abordagens convergem em um sentido, a
segregação é a espacialização da estratificação da sociedade e, conseqüência,
sendo compreendida como decorrência de lógicas coletivas cujo fundamento
são as relações sociais. De acordo com Ribeiro (2000), o princípio normativo
que organiza essa concepção é:
... o da justiça distributiva, já que a disposição dos grupos sociais no território e a distribuição dos equipamentos e serviços na cidade geram uma desigualdade de bem-estar social, em razão das lutas entre as categorias pela apropriação dos recursos materializados na cidade (RIBEIRO, 2000; p. 19).
28
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 29Metropolitana de Natal
Acrescenta também que, a aplicação da concepção de espaço social de
Pierre Bourdieu (2001), à análise da estrutura urbana permite unificar estas
duas concepções de segregação. Com efeito, a ocupação do espaço da cidade
resulta dos princípios de estruturação do espaço social.
Cada princípio representa uma forma de hierarquia do poder:
econômico, social e simbólico. A noção de distância social “coagulada” das
distâncias físicas é entendida como manifestação dos poderes das classes
sociais em se apropriarem da cidade como recursos.
Ribeiro (2000) sugere que a segregação residencial é produto de lógicas
individuais, isto é, efeito de suas escolhas, já que essa forma de organização
ideal estabelece que a distância espacial expressa a existência de distâncias
sociais entre os grupos existentes na sociedade. De tal forma que, estimularia
os indivíduos a se agruparem dado a sua afinidade, seja ela, racial, étnica ou
por posição e de certa forma através desse agrupamento, conseguirem se
resguardarem dos “efeitos fragmentadores da personalidade, gerados pelas
aglomerações e da vida na cidade” (RIBEIRO, 2000; p. 21).
Para tanto, esclarece o autor, a ocupação do espaço urbano ocorrida de
forma desigual acarreta uma forma de segregação da população,
estabelecendo uma tendência da estruturação do espaço ligada à
concentração de pessoas por camadas sociais. Sendo assim, este trabalho se
utiliza, do conceito de organização espacial pautado na segregação espacial,
como a melhor forma de traduzir territorialmente a estrutura social da Região
Metropolitana de Natal, possibilitando assim, a analise demográfica baseada no
acesso desigual do solo urbano pelas diferentes camadas da população.
29
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 30Metropolitana de Natal
Como se pode perceber através da opinião exposta por Corrêa (1990),
na ampla possibilidade de aparecimento dos propósitos de organização
espacial, há dois enfoques que não se excluem mutuamente. O primeiro
considera as áreas simples, ou então complexas; o segundo enfoque visa às
áreas homogêneas, ou então funcionais.
A preferência por utilizar os enfoques de áreas complexas e
homogêneas, parte do preceito de levar em conta muitos critérios ou variáveis,
usualmente, reduzidas através de uma técnica estatística mais sofisticada, a
análise por correspondência, além de se utilizar previamente uma análise
fatorial; dessa forma, se faz referência à unidade agregada de áreas, descrita
pela invariabilidade (estatisticamente considerada).
Compartilhando do argumento de Corrêa (1990; p. 39) que “na nova
geografia não existe, como na hartshorniana, um método regional, e sim
estudos nos quais as regiões formam classificações especiais”; o uso do
conceito de organização espacial desenvolvido nesse trabalho, busca a
identificação de padrões espaciais segundo a construção de uma tipologia
socioespacial. Proporcionando à organização espacial da Região Metropolitana
de Natal o poder de adquirir, junto à sua existência como entidade concreta, o
sentido de padrão espacial, “as classes de área da nova geografia podem
acabar constituindo-se em um exercício acadêmico sofisticado” (CORRÊA,
1990; p. 40).
Pode-se observar que a configuração do espaço urbano da região
metropolitana, dentro do contexto capitalista, resulta do conjunto de diferentes
usos da terra. A organização espacial da metrópole irá depender em grande
30
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 31Metropolitana de Natal
parte, de uma série de fatores que contribuem para a distribuição desigual da
população, recursos e investimentos no espaço metropolitano.
Fazendo uso da citação de Ianni, exposta no livro Região e Geografia de
Lencione (2003), podemos perceber que:
... a globalização não apaga nem as desigualdades nem as contradições que constituem uma parte importante do tecido da vida social nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve umas e outras, recriando-se em outros níveis, com novos ingredientes. As mesmas condições que alimentam a interdependência e a integração alimentam as desigualdades e contradições, em âmbito tribal, regional, nacional, continental e global (IANNI, 1993 apud LENCIONE, 2003; p. 73).
Lecione (2003) ainda afirma que as diferenças emergem e se
contrapõem ao processo de globalização, mesmo ela tendendo a anulá-las. Daí
a análise regional que voltada para as particularidades pode revelar aspectos
da realidade que seriam mais difíceis de serem percebidos e analisados se
considerados apenas do ponto de vista global. A noção de região passa a
exercer papel importante na análise espacial, contudo, segundo a autora, a
idéia de região nos moldes clássicos não mais se sustenta nos tempos atuais.
Milton Santos (1996), em sua obra a Natureza do Espaço: Técnica e
Tempo – Razão e Emoção critica a posição pós-moderna, a qual defende o fim
do referencial teórico território, com base no conceito de não-lugar, alegando
que há insuficiência no próprio conceito de região, devido ao processo de
globalização. Lencione (2003) acrescenta, que essa visão exposta por Milton
Santos, procura mostrar que o processo de globalização é também um
processo de fragmentação, significando assim, além de globalização,
regionalização e individualização.
31
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 32Metropolitana de Natal
A perspectiva defendida no trabalho Lencione (2003) corrobora com a
opinião de que a escala regional, como escala intermediária (facilitadora) de
análise, como mediação entre o singular e o universal, pode permitir revelar a
espacialidade particular dos processos sociais globais. Sendo assim, padrões
de organização espacial da população, identificados através de uma tipologia
socioespacial, oferece subsídios suficientes para analisar a relação
socioeconômica sobre a dinâmica demográfica apresentada pela Região
Metropolitana de Natal.
Para tanto, a construção da tipologia socioespacial, realizada neste
trabalho, partindo da variável central - ocupação - fazendo uso de filtros de
renda e instrução, configura-se como uma Proxy, uma aproximação, de como
visualizar a estrutura social, usualmente aqui chamada de categorias
socioocupacionais.
De fato, em áreas onde se apresenta alto índice de desenvolvimento
socioeconômico, ocorre à presença tanto no tocante a quantidade, quanto
qualidade da maior parte dos serviços de infra-estrutura urbana seja ele, de
telefonia, educação, saneamento básico, dentre outros. Restando as áreas
onde estão instaladas as populações pobres, uma presença de serviços de
infra-estrutura numa qualidade inferior. Fatores como esses, acabam
incentivando o aumento da segregação residencial.
Com isso, o espaço urbano se torna reflexo da sua sociedade, tendo no
espaço da cidade capitalista, fortemente dividido em áreas segregadas à
representação da complexa estrutura social em classes. Corrêa (1989) aponta
de forma esclarecedora o peso que o acesso da população ao espaço urbano
tem sobre a reprodução das relações sociais:
32
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 33Metropolitana de Natal
As áreas segregadas representam papel ponderável no processo de reprodução das relações de produção no bojo do qual se reproduzem às diversas classes sociais e suas frações: os bairros são locais de reprodução dos diversos grupos sociais (CORRÊA, 1989; p. 65).
Corroborando com a argumentação do presente trabalho, Ribeiro (2000)
defende que “a globalização ao difundir ideais liberais pelo mundo, gerou
mudanças dos modelos e paradigmas regulatórios que até então
fundamentavam as políticas urbanas” (RIBEIRO, 2000; p. 22). As reformas
institucionais proporcionadas pelo Estado, na direção da liberação do mercado
de terras e de moradias, tiveram como conseqüência a especulação imobiliária,
que se transformou em variável principal para distribuição da população no
território da cidade. Projetando no espaço urbano, de forma mais acentuada as
desigualdades socioeconômicas da organização do espaço.
De fato, pode-se aferir que em sociedades capitalistas, onde o mercado
é o mecanismo central da ordem social e os valores igualitários são a base da
cultura compartilhada pelos seus integrantes, é que o termo segregação é
pertinente como instrumento capaz de enunciar problemas de ordem social.
Sendo assim, buscou-se comprovar a hipótese de que a divisão
socioeconômica da metrópole pode expressar não apenas a espacialização da
diferenciação social, traduzida territorialmente através da segregação espacial,
como também, expressar sua forte relação nos fatores da dinâmica
demográfica.
De acordo com os apontamentos de Próspero Silva (2002/03), o termo
demografia aparece pela primeira vez no livro de Achille Guillard, em 1855,
intitulado Elements de statistique humaine ou démografie comparée
33
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 34Metropolitana de Natal
(Elementos de estatística humana ou demografia comparada). Segundo o
autor, Guillard considerava que Demografia “em sentido amplo, abrange a
história natural e social da espécie humana; em sentido restrito, abrange o
conhecimento matemático das populações, dos seus movimentos gerais, do
seu estado físico, intelectual e mental” (GUILLARD, 1855 apud SILVA, 2002; p.
12).
No entanto, alguns autores defendem que os estudos propriamente
demográficos são bem anteriores a essa data. Considera-se como a primeira
análise demográfica, no sentido moderno da palavra, a que o público londrino
presenciou, no ano de 1662, por John Graunt sob o título de Natural ant
Political Observations Made upon the Bills of Mortality (Observações naturais e
políticas feitas sobre os registros de Mortalidade).
A demografia é a ciência que tem por objetivo o estudo das populações
humanas versando sobre o volume, composição, o desenvolvimento das
mesmas, bem como suas características gerais consideradas principalmente
do ponto de vista quantitativo. Tradicionalmente, a demografia é uma das mais
quantitativas dentre as ciências sociais, fazendo amplo uso da estatística.
Contudo, devemos salientar que de maneira geral observa-se uma crescente
tomada de consciência, por parte dos demógrafos atuais, acerca da
importância dos aspectos qualitativos para a própria problemática demográfica.
A análise demográfica, segundo Damiani (2004), é apresentada na
geografia como auxiliar da geografia da população, na sua configuração como
primeira aproximação. Além disso, possibilitar análise mais complexa e
especializada da sociedade pelos outros ramos da geografia. Dessa forma, a
Geografia da População se apresenta como a ciência que estuda os aspectos
34
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 35Metropolitana de Natal
espaciais da fixação populacional distribuída no espaço urbano,
compartilhando com a Demografia o interesse comum pela distribuição
territorial da população.
Damiani (2004) defende que:
Na análise geográfica da população, a demografia, além de contribuir nos procedimentos de quantificação dos dados brutos de população, definiu material estatístico de cunho mais qualitativo que teria auxiliado a geografia na caracterização econômica, e no esclarecimento de tensões decorrentes das questões econômicas no interior de marcos específicos (DAMIANI, 2004; p. 57).
Para o trabalho aqui pretendido, a Demografia surge como veículo
necessário para o estudo do tamanho, da distribuição territorial e da
composição da população, das mudanças e de seus componentes, como a
fecundidade, a mortalidade e a mobilidade.
Na opinião de Zelinsky (1974), para que a geografia da população possa
proporcionar um tratamento mais abrangente na análise das características da
população de cada região habitada no espaço, é necessário que se faça mão
de uma inferência intrínseca dos atributos universais da população, dos
princípios sistemáticos que governam sua composição, condições
socioeconômicas, comportamento e mudanças tratadas através da
Demografia.
Sendo assim, na mesma direção da perspectiva exposta por Suzana
Pasternak (2004), de que a segregação urbana representa uma tendência de
agrupamento no espaço de grupos sociais homogêneos, e é resultado de uma
desigualdade socioespacial, expressando-se na organização do território da
cidade. Corrêa afirma que “as áreas sociais que emergem da segregação estão
35
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 36Metropolitana de Natal
dispostas espacialmente segundo certa lógica, e não de modo aleatório”
(CORRÊA, 1989; p. 66). Dessa forma, influencia sobremaneira a separação
espacial das diferentes classes sociais fragmentadas, podendo ser identificado
padrões espaciais – áreas homogêneas construídas a partir de tipos sócio-
espaciais. Tais padrões configuram-se como ferramenta útil à análise da
dinâmica demográfica apresentada pela Região Metropolitana de Natal.
Portanto, partindo desse pressuposto de que o conceito de organização
espacial da população está ligado à noção fundamental de diferenciação,
aceitando a idéia de que o espaço urbano é constituído por áreas diferentes
entre si, buscou-se dividir o espaço metropolitano, através da construção de
uma tipologia socioespacial, que possibilitasse inferir sobre os diferenciais
demográficos da Região Metropolitana de Natal. Dessa forma, a análise
pretendida busca entender como os aspectos socioeconômicos, traduzidos no
espaço através de uma tipologia socioespacial, se relacionam com os fatores
dinâmicos da população, cuja configuração pode apresentar diferenciações de
acordo com a classe social ocupada.
Em outras palavras, o que se almeja é analisar a estrutura demográfica
da população residente na Região Metropolitana de Natal à luz de uma
tipologia socioespacial, que foi construída a partir de três variáveis: ocupação,
instrução e renda. Sendo possível identificar a distribuição da população
segundo sua classe social e sua relação nos determinantes do dinamismo
demográfico, como a fecundidade, mortalidade e a mobilidade.
36
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 37Metropolitana de Natal
1. 1 Organização espacial de uma tipologia socioespacial
Como vimos anteriormente, o conceito de organização espacial da
população está intimamente relacionado à noção fundamental de
diferenciação, estimulada em grande parte, por diversos fatores
socioeconômicos, que contribuem para a distribuição desigual da população
perante o espaço metropolitano.
Para tanto, surge a preocupação deste trabalho em estabelecer a melhor
forma de tradução territorial dos padrões de ocupação da população perante
espaço metropolitano, se fazendo necessário uma breve explicação
metodológica sobre o processo de construção das tipologias socioespaciais,
que utilizamos como proxy, dessa ocupação.
Segundo Ribeiro (2000) há três aspectos fundamentais a serem
observados para construção da Tipologia Socioespacial:
a) Escolha da unidade social de análise;
b) Escolha das variáveis pelas quais a distribuição das pessoas no
espaço será discutida;
c) E a escolha da unidade espacial de análise a partir da qual esta
descrição será efetuada.
Sendo assim, opção por utilizar os dados do Censo Demográfico de
2000, por pessoas, como unidade social de nossa análise, parte do
pressuposto de que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
levanta informações demográficas e socioeconômicas para o conjunto da
população. De fato, considera-se que as pessoas, na grande maioria, vivem em
famílias e as escolhas de localização residencial expressam os recursos
37
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 38Metropolitana de Natal
mobilizados e alocados no interior deste universo familiar, servirá
adequadamente para expressar a forma que a segregação espacial está
socialmente distribuída no espaço metropolitano.
Seguindo a lógica proposta por Ribeiro (2000), o próximo passo para a
construção de uma tipologia socioespacial parte da formação de um sistema de
hierarquização social das ocupações que nos servisse de proxy da Estrutura
Social5.
O autor justifica que a opção pela utilização da variável ocupação, deve-
se ao fato dela permitir testar as possíveis relações entre transformações
econômicas e mudanças socioespaciais. Essa variável nos permite também,
uma melhor aproximação descrita da estrutura de classes e o seu papel na
estratificação socioespacial.
O autor também acrescenta que, a ocupação apresenta características
de “variável-síntese” de múltiplos processos sociais cujo conhecimento é
fundamental na análise da estruturação da cidade tais como modelo de
consumo, estilo de vida etc.
A necessidade de se trabalhar com certo número limitado de variáveis a
partir das quais possibilitasse descrever os indivíduos em suas diferenças e
semelhanças, proposta por Ribeiro (2000), origina-se da preocupação de que o
pesquisador não “mergulhe” de forma confusa num mundo de informações que
ele não possa ordenar.
O uso de vinte e quatro categorias socioocupacionais, descritas a seguir,
partindo do agrupamento de mais de quatrocentas ocupações do Censo
5 Segundo o autor devemos tomar como referência os trabalhos desenvolvidos por Tabard (1993), Chenu e Tabard (1993) e Wright (1964), sobre as categorias socioocupacionais, construídas a partir da combinação de variáveis de renda, de ocupação e de grau de instrução.
38
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 39Metropolitana de Natal
Demográfico de 2000, utilizando filtros de renda e grau de instrução, desponta
como importante “arma” de explicação da estruturação do espaço social da
cidade; a partir da identificação de padrões de localização residencial da
população.
Categorias Socioocupacionais (Cat’s)
– Grandes Empregadores
– Dirigentes do Setor Público
– Dirigentes do Setor Privado
– Profissionais Autônomos de Nível Superior
– Profissionais Empregados de Nível Superior
– Profissionais Estatutários de Nível Superior
– Professores de Nível Superior
– Pequenos Empregadores
– Ocupações de Escritório
– Ocupações de Supervisão
– Ocupações Técnicas
– Ocupações Médias da Saúde e Educação
– Ocupações da Segurança Pública, Justiça e Correios
– Ocupações Artísticas e Similares
– Trabalhadores da Indústria Moderna
– Trabalhadores da Indústria Tradicional
– Trabalhadores dos Serviços Auxiliares
39
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 40Metropolitana de Natal
– Trabalhadores da Construção Civil
– Trabalhadores do Comércio
– Prestadores de Serviços Especializados
– Prestadores de Serviços Não-Especializados
– Trabalhadores Domésticos
– Ambulantes e Catadores
– Agricultores
A escolha da unidade espacial de análise depende da desagregação do
território da cidade, em áreas a partir das quais possibilitasse o estudo da
variação da distribuição da população no território da metrópole, capturando a
maior diferenciação social do espaço.
É necessário que a desagregação seja suficientemente fina para que ela
não imponha sua própria lógica, mas, ao contrário, deixe transparecer “todas
as continuidades, as rupturas e as linhas de forças segundo as quais se
organiza o espaço social da cidade” (GRAFMEYER; 1999. 100 apud RIBEIRO;
2000; p. 20).
Contudo, a grande dificuldade de identificação dessas áreas é o fato de
elas já estarem organizadas geograficamente segundo critérios de
regionalização estabelecidos pelo IBGE.
Há pelo menos dois tipos de espacialização com um nível de
desagregação satisfatória disponibilizadas pelo IBGE, as informações
sociodemográficas estão distribuídas na escala dos setores censitários e das
Áreas de Ponderação da Amostra (AREAP).
40
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 41Metropolitana de Natal
Segundo o IBGE (2000), o setor censitário é definido como a unidade de
coleta na qual mora cerca de mil pessoas e cuja extensão permite ser
percorrida pelo recenseador; enquanto as áreas de ponderação definem-se
como sendo uma unidade geográfica, formada por um agrupamento
mutuamente exclusivo de setores censitários, para aplicação dos
procedimentos de calibração das estimativas com as informações conhecidas
para a população como um todo. Nesse sentido, a área de ponderação é a
unidade espacial mínima onde a amostra do Censo Demográfico de 2000 é
representativa6.
A dificuldade de trabalhar com o nível de desagregação provinda dos
setores censitários se deve ao fato de que a região metropolitana apresenta um
grande número de setores (mais de novecentos setores), esse alto nível de
desagregação acaba representando um problema quanto a sua
representatividade estatística, dado ao seu pequeno tamanho demográfico.
Devemos complementar também, que o IBGE não disponibiliza os dados da
amostra por setor censitário.
De acordo com Ribeiro (2000) a utilização de medidas sintéticas, tais
como os índices de dissimilaridade e de segregação são fortemente
influenciados pelas diferenças demográficas entre as áreas. O autor explica
ainda que:
O tamanho demográfico também favorece para mais ou para menos o resultado da análise em termos de maior ou menor diferenciação social dos espaços. Por último o tamanho demográfico também tem implicações na confiabilidade estatística dos dados (RIBEIRO, 2000, p. 20).
6 Cabe ressaltar que, o questionário aplicado pelo Censo Demográfico de 2000 do IBGE, com quesitos socioeconômicos e demográficos, é aplicado numa amostra de 10% dos domicílios e não de forma censitária.
41
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 42Metropolitana de Natal
Portanto, a unidade territorial tomada como base para construção da
Tipologia Socioespacial foram às áreas de ponderação, usualmente chamadas,
nesse trabalho, de áreas de expansão demográfica (AED’s).
A utilização das áreas de expansão demográfica justifica-se por
reproduzirem a área mínima, fornecida pelo IBGE através dos dados do Censo
Demográfico de 2000, capaz de possibilitar a análise da variação da
distribuição da população, também largamente utilizada como fonte de dados
para o desenvolvimento da pesquisa. O instituto reforça que:
O tamanho dessas áreas, em termos de número de domicílios e de população, não pode ser muito reduzido, sob pena de perda de precisão de suas estimativas. As áreas de ponderação foram definidas considerando essa condição e, também, os níveis geográficos mais detalhados da base operacional, como forma de atender a demandas por informações em níveis geográficos menores que os municípios (IBGE, 2000, p. 63).
De acordo com as informações do Censo Demográfico de 2000, a
Região Metropolitana de Natal encontra-se subdividida perante trinta e seis
áreas de expansão demográfica (AED), mostrada a seguir, pelo Mapa 1.
42
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 43Metropolitana de Natal
Mapa 1 Áreas de Expansão Demográfica – RM de Natal – 2000
43
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 44Metropolitana de Natal
Tendo em mãos as trinta e seis áreas de expansão demográfica e as
vinte e quatro categorias socioocupacionais, realizamos, inicialmente, uma
análise fatorial para agrupar as vinte e quatro categorias socioocupacionais
encontradas inicialmente e listadas anteriormente, em oito fatores,
denominados: Superior; Médio Superior; Médio; Médio Inferior; Popular
Operário; Popular; Popular Agrícola; e Agrícola.
Depois foi realizado uma análise de correspondência – a qual
representa uma técnica multivariada que possibilita estudar a relação existente
entre várias categorias de variáveis em estudo – para relacionar esses fatores
com as trinta e seis áreas de expansão demográfica da Região Metropolitana
de Natal. Com essa análise foi possível caracterizar cada área de expansão
demográfica segundo as condições socioocupacionais de sua população
residente (Mapa 2)7.
Segundo Ribeiro (2000), o mapa construído a partir da tipologia
representa a geografia da divisão social do espaço metropolitano. Sendo
assim, atendendo os nossos anseios, é possível identificar os princípios pelos
quais, o espaço social da Região Metropolitana de Natal se divide, sintetizando
em oito áreas-tipo que retratam a hierarquia socioespacial da metrópole,
visualizada no Mapa 2 mostrado a seguir.
A partir da análise do Mapa 2 a Tabela 1/A (anexo) – a qual detalha a
distribuição de cada categoria socioocupacional perante cada tipo
socioespacial, partiu-se para breve análise sobre a distribuição espacial dos
tipos socioespaciais na Região Metropolitana de Natal, identificando a
7 Ribeiro (2000) sugere para descrição das técnicas multivariadas utilizadas, ver Sanders (1989) e Fenelon (1981).
44
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 45Metropolitana de Natal
participação das categorias socioocupacionais mais representativas em cada
um dos tipos.
45
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 46Metropolitana de Natal
Mapa 2Tipologia Socioespacial – RM de Natal – 2000
46
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 47Metropolitana de Natal
1. 2 – Descrição da distribuição territorial dos tipos socioespaciais
Os espaços superiores, no qual representa as áreas do Parque das
Dunas, Capim Macio, Petrópolis, Tirol e Candelária, são caracterizados por
concentrarem significativamente a “Elite Dirigente”. Cerca de 54% dos grandes
empregadores estão localizados nessas Áreas de Expansão Demográfica
(AED’s), havendo também a participação dos dirigentes do setor público, 35%,
e dirigentes do setor privado, 30%. Pode-se visualizar algumas dessas áreas
nas Figuras mostradas abaixo (Figuras 1, 2, 3 e 4).
Tipologia Socioespacial Superior
Figura 1: Capim Macio Fonte: Acervo Semurb, 2006.
47
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 48Metropolitana de Natal
Figura 2: Petrópolis Fonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 3: Tirol Fonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 4: Candelária Fonte: Acervo Semurb, 2006.
48
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 49Metropolitana de Natal
Outra categoria que apresenta forte peso na ocupação desses espaços
são as responsáveis pela “Elite Intelectual”, as quais concentram cerca de 36%
dos profissionais autônomos de Nível Superior, 37% dos profissionais
empregados de nível superior, 42% dos profissionais estatutários de nível
superior e 30% dos professores de nível superior.
As categorias socioocupacionais referentes às ocupações médias,
também apresentam uma sensível participação nos espaços do tipo superior,
porém numa proporção inferior, variando entre 10% e 21% .
Analisando preliminarmente a distribuição espacial desse tipo, ressalta-
se a sua concentração em áreas já tradicionalmente habitadas por uma classe
social mais abastada, ou seja, parte da elite natalense.
Os espaços Médio-Superiores têm sua participação nas categorias
socioocupacionais bem semelhantes aos espaços superiores, no entanto, com
maior grau de mistura no que condiz a uma colaboração mais significativa, no
que se refere à participação das categorias das “ocupações médias”, como
também uma menor participação das categorias pertencentes a “Elite
Dirigente” e “Intelectual”.
As áreas de expansão demográfica, onde este tipo está concentrado,
são as áreas de Ponta Negra, Lagoa nova e Nova Descoberta (Figura 5, 6 e 7).
49
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 50Metropolitana de Natal
Tipologia Socioespacial Médio-Superior
Figura 5: Ponta NegraFonte: Acervo Setur-RN, 2006.
Figura 6: Lagoa Nova Fonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 7: Nova Descoberta Fonte: Acervo Semurb, 2006.
50
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 51Metropolitana de Natal
O caso de Ponta Negra em especial, chama a atenção pela sua não
participação entre os espaços do tipo Superior.
A hipótese levantada é que no interior dessa AED, ocorra a presença de
áreas que são caracterizadas por apresentarem uma considerável colaboração
das “Ocupações Médias”, como o “Conjunto de Ponta Negra”, como também
uma sensível participação da categoria dos “Trabalhadores do Terciário Não-
Especializado”, concentrado em parcela significativa da população que compõe
a “Vila de Ponta Negra”.
No que se refere aos espaços médios à participação da “Elite Dirigente”
e “Intelectual”, se comparada com os demais tipos descritos anteriormente,
apresentam-se em uma proporção inferior, configurando um grau de mistura
superior a elas, justificado em parte pela colaboração das “Ocupações Médias”
e dos “Trabalhadores do Terciário Especializado”. Esse tipo está distribuído
dentre as áreas de Barro Vermelho, Lagoa Seca, Alecrim; Neópolis; Pitimbú; e
Parnamirim – Centro – Br 101 (área onde estão localizados os bairros como
Cidade Verde e Nova Parnamirim) (Figuras 8, 9, 10, 11, 12 e 13).
Tipologia Socioespacial Médio
Figura 8: Barro Vermelho Fonte: Acervo Semurb, 2006.
51
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 52Metropolitana de Natal
Figura 9: Lagoa Seca Fonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 10: Alecrim
Fonte: Acervo Semurb, 2006.
.
Figura 11: Neópolis Fonte: Acervo Semurb, 2006.
52
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 53Metropolitana de Natal
Figura 12: PitimbúFonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 13: Parnamirim Centro – BR 101Fonte: Acervo Semurb, 2006.
Os espaços Médio-Inferiores despontam como o tipo de transição entre
as duas pontas da estrutura socioespacial da Região Metropolitana de Natal,
se configurando como tipo com alto nível de mistura perante as categorias
socioocupacionais, tendo em sua formação tanto a participação das
“Ocupações Médias” quanto à colaboração das categorias mais populares
como, “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”.
53
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 54Metropolitana de Natal
Esse tipo encontra-se distribuído nas áreas do, Potengi, Bairro Nordeste-
Quintas, Dix-sept-Rosado – Nazaré e a área referente à Cidade da Esperança.
(Figuras 14, 15, 16, 17, 18 e 19).
Tipologia Socioespacial Médio-Inferiores
Figura 14: PotengiFonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 15: Bairro Nordeste Fonte: Acervo Semurb, 2006.
54
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 55Metropolitana de Natal
Figura 16: QuintasFonte: Acervo Semurb, 2006.
Figura 17: Dix-Sept Rosado Fonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 18: Bairro de Nazaré Fonte: Acervo Semurb, 2006
55
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 56Metropolitana de Natal
Figura 19: Cidade da Esperança Fonte: Acervo Semurb, 2006
Essas AED’s são caracterizadas por apresentarem categorias como as
“Ocupações Médias”, destacando-se as participações nas ocupações artísticas
e similares (14%), ocupações de escritório (cerca de 17%), ocupações médias
de saúde e educação (aproximadamente 16%); “Trabalhadores do Terciário
Especializado”; e “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”.
Os espaços Popular-Operários encontram-se distribuídos dentre as
AED’s de, Santos Reis – Praia do Meio- Areia Preta – Mãe Luíza, Cidade Alta –
Ribeira – Rocas, Parnamirim – Centro Antigo – Aeroporto – Catre e Parnamirim
– Centro – CLBI – Pium – Pirangi. Nas figuras que se seguem, pode-se
visualizar algumas áreas que compõe a tipologia socioespacial Popular-
operário (Figuras de 20 a 29).
56
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 57Metropolitana de Natal
Tipologia Socioespacial Popular-Operário
Figura 20: Santos ReisFonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 21: Praia do MeioFonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 22: Areia PretaFonte: Acervo Semurb, 2006
57
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 58Metropolitana de Natal
Figura 23: Mãe LuizaFonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 24: Cidade AltaFonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 25: Ribeira
Fonte: Acervo Semurb, 2006
58
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 59Metropolitana de Natal
Figura 26: RocasFonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 27: Aeroporto de Parnamirim
Fonte: Acervo Semurb, 2006
Figura 28: Parnamirim - CLBIFonte: Acervo Semurb, 2006
59
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 60Metropolitana de Natal
Figura 29: Parnamirim - Pirangi Fonte: Acervo Semurb, 2006
Essas AED’s são caracterizadas por apresentarem considerável
participação das categorias dos “Trabalhadores do Terciário Especializado”,
sofrendo sensível tendência as categorias socioocupacionais dos
“Trabalhadores do Secundário”, onde se destacam a participação dos
Operários dos serviços auxiliares, cerca de 16%, e dos operários da construção
civil (aproximadamente 15%).
Verifica-se também, a colaboração de categorias socioocupacionais
como, a dos “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”, dado a
colaboração de cerca de 14% dos Trabalhadores Domésticos e 16% dos
ambulantes e catadores.
Nos espaços populares, cai fortemente a participação das categorias
médias e superiores, passando a ter maior significância à participação dos
“Trabalhadores do Terciário Especializado”, “Trabalhadores do Terciário Não-
Especializados” - só o peso sobre a categoria dos Ambulantes e Catadores, por
exemplo, é de cerca de 17%. Também é preciso ressaltar a considerável
participação desse tipo sobre os “Trabalhadores do Setor Secundário”,
60
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 61Metropolitana de Natal
responsável por abarcar uma parcela de quase 23% dos trabalhadores da
indústria moderna em torno de 22% de trabalhadores da indústria tradicional.
As AED’s que compõem esse tipo são: a Parte urbana de Macaíba, os
Agregados de Distrito de São Gonçalo do Amarante, Salinas – Igapó, Nossa
Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara – Redinha, Bom Pastor,
Felipe Camarão, Cidade Nova – Guarapes – Planalto, Parnamirim – Centro –
Distrito Industrial, Parnamirim – Centro – Área Comercial e a Parte Urbana de
Ceará - Mirim (Figuras de 30 a 45 ).
Tipologia Socioespacial Popular
Figura 30: Macaíba – Zona UrbanaFonte: Observatório das Metrópoles, 2006
Figura 31: Agreg. Distrito S. Gonçalo do Amarante Fonte: Acervo Samurb, 2006
61
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 62Metropolitana de Natal
Figura 32: SalinasFonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 33: IgapóFonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 34: Nosso Senhora da ApresentaçãoFonte: Acervo Samurb, 2006
62
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 63Metropolitana de Natal
Figura 35: Lagoa AzulFonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 36: PajuçaraFonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 37: RedinhaFonte: Acervo Samurb, 2006
63
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 64Metropolitana de Natal
Figura 38: Bom PastorFonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 39: Felipe Camarão Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 40: Guarapes Fonte: Acervo Samurb, 2006
64
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 65Metropolitana de Natal
Figura 41: Planalto Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 42: Parnamirim Distrito Industrial
Fonte:
Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 43: Parnamirim Área Comercial Observatório das Metrópoles, 2006
65
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 66Metropolitana de Natal
Figura 44: Ceará Mirim – Zona Ur ana bFonte: Acervo Samurb, 2006
As AED’s que compõem o tipo Popular-Agrícola são caracterizadas por
serem áreas que apesar de terem um considerável peso da categoria Agrícola
em sua composição, se destaca por sua participação em torno das ocupações
mais populares, concentrando consideravelmente as suas ocupações na
categoria dos Trabalhadores do Terciário Não-Especializado, possibilitando
com que essas AED’s se diferenciem de uma tipologia eminentemente
agrícola.
As AED’s que fazem parte desse tipo são Nísia Floresta, São José do
Mipibu, Monte Alegre, Extremoz e o Distrito de São Gonçalo do Amarante
(Figuras 45, 46, 47, 48 e 49).
Deve-se ressaltar, que dado os critérios estabelecidos pelo IBGE, o nível
de desagregação acaba unindo os setores urbanos e rurais em uma só AED,
propiciando de certa forma o “mascaramento” dos dados. Sendo possível à
desagregação das informações, separando os dados para os setores rurais e
posteriormente para os setores urbanos, será verificado que as áreas
responsáveis pelas zonas rurais de Nísia Floresta, São José do Mipibu, Monte
66
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 67Metropolitana de Natal
Alegre e Extremoz passariam a compor o tipo Agrícola, devido o forte peso que
essa ocupação detém nessas áreas.
Tipologia Socioespacial Popular-Agrícola
Figura 45: Nísia Floresta Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 46: São José do Minpibú Fonte: Observatório das Metrópoles, 2006
67
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 68Metropolitana de Natal
Figura 47: Monte Alegre Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 48: Extremoz Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 49: Distrito de São Gonçalo do Amarante Fonte: Acervo Samurb, 2006
68
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 69Metropolitana de Natal
Outra inferência necessária cabe ao caso do município de São Gonçalo
do Amarante. Pode-se causar algum estranhamento quanto à concentração de
categorias socioocupacionais mais populares na AED de agregados de distrito
de São Gonçalo do Amarante, já que ela segundo lei municipal representa a
zona rural de São Gonçalo, contudo vale a pena ressaltar a particularidade
desta AED. Apesar de apresentar-se visualmente urbanizada, esta AED é
considerada no âmbito da lei municipal como zona rural do município, e como,
o IBGE baseia-se na lei municipal para distinguir o que é área urbana e o que é
área rural, resulta que esta AED, mesmo apesar de apresentar-se coma uma
área urbanizada é catalogada pelo censo demográfico como rural.
Acaba ocorrendo uma inversão de papéis dado ao atraso da lei
municipal de São Gonçalo do Amarante, o Distrito de São Gonçalo do
Amarante, onde está localizada a sede municipal, acaba tendo uma
participação da ocupação agrícola superior aos Agregados de Distrito (área
esta mais influenciada por ocupações mais populares, como os “Trabalhadores
do Terciário Não-Especializado”).
Em fim, fechando a tipologia socioespacial da Região Metropolitana de
Natal, o tipo Agrícola é caracterizado pela forte representatividade da categoria
agrícola nas AED’s da Parte Rural de Ceará - Mirim e Parte Rural de Macaíba
(Figura 50 e 51).
69
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 70Metropolitana de Natal
Tipologia Socioespacial Agrícola
Figura 50: Ceará- Mirim (Zona Rural) Fonte: Acervo Samurb, 2006
Figura 51: Macaíba Fonte: Acervo Samurb, 2006
A participação desse tipo socioespacial na categoria agrícola chega a
aproximadamente 59%, enquanto as ocupações médias e superiores
apresentam representatividade insignificante nesse tipo.
Através da análise das figuras vistas anteriormente, podemos abordar a
princípio, a construção do espaço geográfico dado à ação dos indivíduos,
grupos sociais e, de forma geral, da sociedade que ali residem. Para tanto,
percebe-se na paisagem, demonstrada por essas figuras, a expressão do
70
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 71Metropolitana de Natal
espaço vivido, nos servindo de referências para a organização de nossas
análises.
Particularmente, a tipologia superior demonstra uma generalizada
verticalização de suas residências, ao verificar a paisagem exposta por essa
tipologia, vê-se a grande concentração de prédios e condomínios nessas
regiões. Diversamente do que demonstrado pelas tipologias onde há maior
representação das classes mais populares.
A percepção que se tem é que há um gradual declínio da estrutura física
das residências, havendo certo distanciamento perante a estrutura das
residências, de acordo como decrescem as tipologias socioespaciais.
Um fato interessante é a convivência do velho e do novo, o urbano e o
rural na Região Metropolitana de Natal. É a modernidade demonstrada pela
tipologia superior, em seus condomínios de luxo localizados em Petrópolis,
Candelária e Capim Macio, se contrapondo ao Centro Antigo da cidade de
Natal, que prevalece a tipologia popular-operário, onde se vê, em sua maioria,
Igrejas Antigas e prédios bicentenários.
Destaca-se também a total urbanização demonstrada pelo município de
Natal em oposição à considerável participação agrícola nos municípios como,
Nísia Floresta, São José do Mipibu, Monte Alegre, Extremoz, Ceará - Mirim e
Macaíba.
Graças à paisagem podem-se reconhecer os elementos sociais,
culturais e naturais e a interação existente entre elas e também compreender
como ela está em permanente processo de transformação e como contém
múltiplos espaços e tempos. Buscando assim estabelecer relações entre as
paisagens verificadas, dentre os distintos tipos socioespaciais, para que os
71
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 72Metropolitana de Natal
elementos de comparação possam ser utilizados na busca de semelhanças e
diferenças.
72
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 73Metropolitana de Natal
2 RELAÇÃO DAS TIPOLOGIAS SOCIOESPACIAIS COM A DINÂMICADEMOGRÁFICA
2.1 – Tipologias Socioespaciais e a Fecundidade
A taxa de fecundidade é considerada, por diversos autores, como sendo
o principal indicador da dinâmica demográfica. E ao expressar a condição
reprodutiva média da mulher em determinado espaço geográfico, serve para
subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação das políticas
públicas, já que os níveis apresentados por essas taxas estão intimamente
ligados ao processo de urbanização, aliado a outros fatores como a melhoria
do nível educacional, utilização de métodos contraceptivos e a participação da
mulher no mercado de trabalho.
Dessa forma, diante do processo de urbanização e da crescente
concentração da população nas grandes cidades brasileiras, onde as
desigualdades sociais se expressam visivelmente no espaço urbano, o país
tem apresentado, especialmente, nas últimas décadas, uma rápida redução
nas suas taxas de fecundidade8, mesmo não possuindo um programa de
planejamento familiar gerenciado pelo governo.
Contudo, para que a fecundidade chegasse aos índices atuais, foi
preciso que o Brasil atravessasse um fenômeno conhecido como transição
8 Tradicionalmente, o nível de fecundidade é medido e analisado através da Taxa de Fecundidade Total (TFT) que indica o número de filhos, em média, que cada mulher irá ter até o término de seu período reprodutivo, mantido constante o regime de fecundidade atual. Para construção da Taxa de Fecundidade Total utilizamos um procedimento que considera coortes hipotéticas de mulheres, segundo a tipologia socioespacial e calculamos as taxas utilizando o método P/F de Brass (BRASS, 1975) para todos os grupos.
73
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 74Metropolitana de Natal
demográfica. Termo utilizado para se referir ao processo de redução das taxas
de mortalidade e fecundidade.
De acordo com Alves (2004), a transição demográfica e em especial, da
fecundidade, é um fenômeno relativamente novo na história da humanidade. O
autor acrescenta que:
A transição da fecundidade é um fenômeno social da maior importância, pois além de afetar a dinâmica do crescimento demográfico, afeta a estrutura etária da população, com grandes conseqüências sobre o relacionamento entre as gerações e os diversos grupos de idade. As mudanças da estrutura etária transcendem os aspectos demográficos, afetando as políticas de educação, saúde, emprego e previdência, tendo profundo efeito sobre o processo de planejamento socioeconômico do país e sobre as políticas públicas (ALVES, 2004; p. 22)
Uma das primeiras tentativas teóricas construídas para explicar a
redução das taxas de mortalidade e fecundidade, foi a abordagem descrita por
Thompson, em 1929, que sintetizava o fenômeno da transição demográfica em
três etapas principais (THOMPSON, 1929 apud ALVES; 2002), a saber:
A primeira, na qual a taxa de mortalidade cai e a taxa de natalidade
permanece elevada, proporcionando com isso um rápido crescimento
populacional. A redução da mortalidade se daria em função de conquistas
associadas ao progresso técnico, tais como melhoria dos sistemas de
saneamento (especialmente nas cidades) e o combate a doenças
transmissíveis.
No caso brasileiro, essa etapa coincide com o início do processo de
urbanização do país, que se deu nos primeiros 40 anos do século XX, quando
a taxa bruta de mortalidade caiu de 27,8 para 24,8 por mil (uma queda de
aproximadamente 10%). Nesse momento, o país apresentava taxas de
74
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 75Metropolitana de Natal
crescimento populacional bem acima daquelas observadas entre os países
desenvolvidos, já que suas taxas de natalidade não acompanharam a queda
apresentada pelas taxas de mortalidade.
Com isso, segundo Carvalho & Brito (2005), duas questões a respeito do
rápido crescimento populacional foram apresentadas ao contexto brasileiro. A
primeira questão vista com certo otimismo, acreditava que esse rápido
acréscimo populacional beneficiaria o crescimento da economia, devido à
possibilidade da oferta ilimitada de mão-de-obra, em um contexto de crescente
urbanização. Entretanto, a segunda questão, batia de frente com essa visão
tão otimista, pois ela se referia aos problemas sociais decorrentes da falta de
infra-estrutura urbana, visto o demasiado crescimento populacional.
Portanto, o otimismo a respeito do crescimento demográfico, acaba
sendo aos poucos substituído pela constatação da real falta de infra-estrutura
dos grandes centros urbanos na absorção do aumento de sua população,
como também, o crescente fluxo migratório direcionado as cidades. Grande
parte da população que se dirigiam as cidades eram pessoas de pouca
instrução, que fugiam da frágil realidade econômica do campo, buscando nas
cidades melhores condições de vida para sua família.
Conseqüentemente, poucos conseguiram obter sucesso nessa
empreitada, a grande maioria teve acesso a condições precárias de trabalho e
moradia, residindo em áreas periféricas, desprovidas de infra-estrutura de
saneamento básico, escolas, dentre outros. Desta maneira, apesar dos
avanços em saúde pública e da redução da mortalidade, conseguidos pelo
Brasil nas primeiras décadas do século XX, o país, na faixa de sua população
75
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 76Metropolitana de Natal
mais carente, experimentou altos regimes de mortalidade e de fecundidade até
meados desse século.
De acordo com Carvalho & Brito (2005) o esperado na época, era que
as populações, nessa nova sociedade urbana, que despontava nas primeiras
décadas do século XX, à semelhança do que havia acontecido nos países
desenvolvidos, experimentassem um generalizado declínio nos seus níveis de
fecundidade e, conseqüentemente, uma sensível redução em seu crescimento
populacional.
No entanto, foi somente a partir da segunda metade do século XX, mais
precisamente no início da década de 1960, que o Brasil junto a alguns países
em desenvolvimento começou a despontar para segunda etapa do processo de
transição demográfica, ou seja, o início da queda da natalidade9, tendo como
conseqüência a redução do ritmo de crescimento da população.
Com a queda da fecundidade, contrabalançando com a redução da
mortalidade, a taxa de crescimento populacional teve uma rápida redução. As
taxas de natalidade no país apesar de serem mantidas praticamente estáveis
até 1960, com uma queda de menos de 6%, começaram a apresentar uma
redução significativa após essa década, quando o número de nascidos vivos
estava em 43,3 por mil chegando a atingir 21,8 por mil no ano de 1998, o que
representou uma queda de 50%.
Segundo Camarano & Beltrão (1995), essa queda fez com que a
população brasileira não atingisse no ano de 2000, os duzentos milhões de
habitantes esperados pelas projeções realizadas nos anos 70 e que a sua
9 A natalidade refere-se a relação entre nascimentos vivos e a população total, num certo período e numa determinada região.
76
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 77Metropolitana de Natal
composição por idade já apresentasse mudanças significativas no sentido de
um envelhecimento.
Embora, deva-se ressaltar que, apesar do país está caminhando em
direção a menores índices em sua fecundidade, esse processo não se dá de
forma generalizada em todo território, não ocorrendo da mesma forma para
todos os segmentos sociais e regiões. Nas regiões Norte e Nordeste, por
exemplo, ainda persistiam altos níveis de fecundidade nessa década, apesar
das regiões sul e sudeste já apresentarem queda nos seus níveis de
fecundidade desde a década de 1960.
Apesar do Nordeste, ser considerado por alguns autores, como a região
brasileira que experimentou a maior queda da fecundidade em termos de
números de filhos, especialmente, na segunda metade do século XX, foi
somente após os anos 70 que a região passou a desfrutar de uma maior
redução de seus níveis de fecundidade, de tal maneira que uma mulher
obtivera em média, aproximadamente quatro filhos a menos que na década
anterior.
Da mesma maneira, Camarano & Beltrão (1995) defendem que, dada à
magnitude da queda da fecundidade durante esse período, acredita-se que ela
tenha ocorrido de forma mais intensa nas famílias de renda mais baixa, pois as
famílias com renda mais alta já apresentavam níveis reduzidos de fecundidade
desde o final dos anos 60.
Nesse momento, o alto número de filhos não era mais justificado. A
iminente realidade das famílias, que não mais residiam no campo, não exigia
uma grande quantidade de filhos, antes necessários para suprir a demanda de
mão-de-obra na atividade agrícola.
77
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 78Metropolitana de Natal
Sendo assim, o planejamento familiar acabou sendo induzido às famílias
de renda mais baixa, ou seja, ter mais filhos deixou de ser interessante na atual
conjuntura urbana. Uma alta natalidade passou a ser sinônimo de mais
despesas, dados aos elevados custos com educação, saúde, moradia e
alimentação.
Dando continuidade a descrição originada por Thompson em 1929,
chega-se a terceira etapa da transição demográfica, onde ocorre a co-
existência de baixas taxas de mortalidade e natalidade, resultando assim no
lento crescimento demográfico.
Fatores positivos e negativos são verificados nessa última etapa da
transição demográfica. Por um lado, um efeito positivo e inquestionável ocorre
devido à redução da mortalidade infantil e ao aumento da esperança de vida ao
nascer, preservando assim, a futura força de trabalho. Por outro lado, a
redução da natalidade provocará uma mudança na estrutura etária da
população e, conseqüentemente, uma maior participação de idosos na mesma,
aumentando assim, a sobrecarga no sistema previdenciário nacional.
E como podemos verificar no gráfico 1, mostrado a seguir, formulado
através de dados providos dos censos demográficos de 1940 a 2000, do IBGE,
o Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, sinaliza para uma
estabilização de seus níveis de fecundidade. Pode-se visualizar também, com
maior clareza, o regime de fecundidade brasileiro indo em direção aos níveis
de reposição10, ao longo dessas décadas.
10 O nível de reposição da fecundidade é o nível de fecundidade no qual uma coorte de mulheres tem o número de filhos suficientes para “repor” a população. Uma vez alcançado p nível de reposição, os nascimentos gradualmente atingem o equilíbrio com as mortes e na ausência de migração e emigração, uma população finalmente parará de crescer e se tornará estacionária.
78
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 79Metropolitana de Natal
Gráfico 1Taxa de Fecundidade Total do Brasil, 1940 a 2000.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1940 a 2000.
Neste período, apesar da redução tanto dos níveis de fecundidade
quanto dos níveis de mortalidade tenham alcançado todas as regiões do país,
áreas urbanas e rurais e grupos sociais, esse movimento de redução não se
implementou com a mesma intensidade em todos esses espaços e segmentos,
como também na mesma época e intervalo de tempo.
A região Nordeste, segundo Wong (2000), relativamente à média do
Brasil, teve, no geral, um processo reprodutivo diferenciado. Segundo a autora,
a região apresentou uma evolução da fecundidade, relativamente paralela à do
país, valendo a pena mencionar duas diferenças.
79
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 80Metropolitana de Natal
Em primeiro lugar, esta região teve, durante muito tempo, uma taxa
superior a um ou até quase dois filhos em relação à média do Brasil; se
considerada a região Sudeste, a qual iniciou seu processo de transição da
fecundidade desde a década de 1960, havendo momentos, em que a distância
de nível da fecundidade esteve próxima de três filhos.
Em segundo lugar, na medida em que o país sinalizava uma
estabilização em termos de níveis de fecundidade, a região apresentava uma
defasagem nos seus níveis de fecundidade de aproximadamente uma década,
principalmente, quando se comparada à região Sudeste.
Wong (2000) ainda afirma que, ao finalizar os anos 90 a região Nordeste
estaria apresentando níveis decididamente menores e com menor variação
entre as Unidades Federativas, com uma taxa de fecundidade total média
máxima aproximada de três filhos por mulher, contrastando com níveis, em
média, acima de seis ao iniciar os anos 80.
E, como se pode verificar através da Tabela 1, a Taxa de Fecundidade
Total da região Nordeste, para os anos de 1991 e 2000, apenas os estados de
Alagoas e Maranhão apresentam taxas de fecundidade acima de quatro em
1991 e acima de três em 2000, os demais estados nordestinos confirmam a
afirmação exposta por Wong (2000), sendo que para o ano de 2000, passa a
se estabelecer uma tendência de aproximação das taxas de fecundidade,
apresentada por alguns estados nordestinos, ao nível de reposição da
população.
Tabela 1
80
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 81Metropolitana de Natal
Nordeste: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000Estado 1991 2000
Alagoas 4,12 3,14Bahia 3,66 2,50Ceará 3,72 2,84Maranhão 4,74 3,20Paraíba 3,78 2,54Pernambuco 3,31 2,48Piauí 3,83 2,67Rio Grande do Norte 3,41 2,54Sergipe 3,64 2,74Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Como podemos observar através da Tabela 1, os níveis de fecundidade,
verificados para o estado do Rio Grande do Norte, acompanham os padrões de
fecundidade dos demais estados nordestinos, obtendo em 2000, uma taxa de
fecundidade total bem próxima ao nível de reposição da população (2,54).
Quanto ao seu processo de transição demográfica, confundi-se com a maioria
dos estados da região Nordeste.
De acordo com Oliveira (1991), a taxa de fecundidade do Rio Grande do
Norte se manteve estável até a década de 1970, quando se deu início um
maior declínio de seus níveis. Segundo o autor, em 1950 o Estado apresentava
uma alta taxa de fecundidade de 9,04, mantendo-se estável durante as
décadas de 1960 e 1970, quando apresentou taxas de fecundidade de 8,86 e
8,83 respectivamente, contudo a partir da década de 1980, o Estado alcança
uma incrível queda nos seus níveis de fecundidade, passando a ser verificado
uma fecundidade de 5,82 filhos por mulher em seu período reprodutivo.
Continuamente, ao analisar a Tabela 1, podemos aferir que a tendência
de declínio das taxa de fecundidade do Rio Grande do Norte continua entre os
anos de 1991 e 2000, quando verificamos taxas de 3,41 e 2,54
81
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 82Metropolitana de Natal
respectivamente. Portanto, podemos analisar que a transição da fecundidade
apresentada pelo Estado do Rio Grande do Norte, encontra-se em estágio
avançado, aproximando cada vez mais do nível de reposição da população.
Sabe-se que no Rio Grande do Norte, assim como no Brasil, variáveis
como educação, ocupação e renda estão negativamente correlacionadas com
o nível de fecundidade e, apesar da tendência de convergência entre os grupos
socioeconômicos, os níveis de fecundidade ainda mantêm um considerável
diferencial entre as mulheres pertencentes às classes sociais mais pobres em
relação as mais abastadas. Conseqüentemente, seu impacto é diferenciado
entre os vários subgrupos populacionais persistindo, ainda, diferenciais
significativos nos níveis dessa variável.
Sendo assim, isso reforça a tese de que grupos sociais mais abastados,
dado a maior oportunidade de acesso a melhores condições de saúde,
educação, infra-estrutura, dentre outros, conseguem apresentar índices
menores de fecundidade e mortalidade em relação aos grupos sociais mais
pobres.
E ao se deparar com a Região Metropolitana de Natal, observa-se que
sua transição demográfica, em especial, da fecundidade, acompanha a
tendência de declínio apresentada pelo Estado, verificando assim, índices de
fecundidade, em seus municípios em geral, aproximando-se ao nível de
reposição da população. Contudo, a Região Metropolitana apresenta uma
realidade ligeiramente distinta de pelo menos grande parte das maiores regiões
metropolitanas brasileiras, especialmente, no tocante ao grau de urbanização
de sua população.
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Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 83Metropolitana de Natal
Como se pode verificar na tabela 2, que mostra o percentual da
população rural dos municípios que compõe a Região Metropolitana de Natal
entre os anos de 1991 e 2000, apesar de ostentar o status de região
metropolitana, ela apresenta em sua composição uma participação marcante
da população residindo na zona rural.
Tabela 2 RM/NATAL: Percentual da população rural por município - 1991 / 2000
Município 1991 (%) 2000 (%)
Ceará - Mirim 50,1 50,6Extremoz 45,3 31,4Macaíba 33,2 34,3Monte Alegre 70,4 60,0Natal 0,1 0,0Nísia Floresta 56,8 54,6Parnamirim 22,7 12,5São Gonçalo do Amarante 81,9 85,9São José de Mipibu 54,3 55,3
Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Mesmo Natal, cidade pólo, concentrando mais da metade dos habitantes
da Região Metropolitana, obtém 100% de sua população residindo na zona
urbana em 2000, pode-se comprovar que boa parte dos municípios que
compõem a Região Metropolitana de Natal, apresentavam uma sensível
participação de sua população residindo na zona rural, nos anos de 1991 e
2000.
Alguns municípios como Ceará - Mirim Monte Alegre, Nísia Floresta, São
Gonçalo do Amarante e São José do Mipibu chegam a apresentar uma taxa de
83
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 84Metropolitana de Natal
urbanização11 (Tabela 3), abaixo dos 50%, isso significa uma maior
participação da zona rural como residência de sua população.
Como foi citado anteriormente, que devido aos critérios estabelecidos
pelo IBGE, que se baseia na lei municipal para distinguir o que é área urbana e
o que é área rural, a baixa taxa de urbanização apresentada pelo município de
São Gonçalo do Amarante deve-se em parte ao atraso de sua lei, que
considera o agregado de distrito, área visualmente urbanizada, como sendo
zona rural, o que acaba reduzindo a taxa de urbanização do município (Tabela
3).
Tabela 3 RM/NATAL: Taxa de Urbanização - 1991 / 2000 Município 1991 2000
Ceará - Mirim 49,9 49,4Extremoz 54,7 68,6Macaíba 66,8 65,7Monte Alegre 29,6 40,0Natal 99,9 100,0Nísia Floresta 43,2 45,4Parnamirim 77,3 87,5São Gonçalo do Amarante 18,1 14,1São José de Mipibu 45,7 44,7Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Sendo assim, encontramos dois paradigmas com relação aos índices de
fecundidade demonstrados pela Região Metropolitana. O primeiro destaca-se
por ser a contraposição da realidade urbana em relação à rural.
É de conhecimento científico que a zona rural desfruta de índices de
fecundidade superiores ao apresentado pela zona urbana. Mesmo que esse
11 Percentual da população urbana em relação à população total.
84
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 85Metropolitana de Natal
distanciamento venha diminuindo ao longo dos tempos, ele ainda persiste na
realidade da Região Metropolitana de Natal.
Se fizermos uma breve comparação entre os municípios que
apresentam uma menor taxa de urbanização e os municípios que apresentam
uma maior taxa de fecundidade total (Tabela 4), pode-se verificar uma estreita
relação entre essas duas taxas. Conseqüentemente, uma clara coincidência é
apresentada, os municípios que apresentam uma menor taxa de urbanização
são os mesmos que manifestam as maiores taxas de fecundidade total.
Sendo assim, os municípios de Natal e Parnamirim, caracterizados pelas
crescentes taxas de urbanização, são responsáveis por expressarem as
menores taxas de fecundidade perante a Região Metropolitana. Salientando a
cidade de Natal, que em 2000 manifesta seus índices de fecundidade abaixo
do nível de reposição.
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Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 86Metropolitana de Natal
Tabela 4 RM/NATAL: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000
Município 1991 2000
Ceará - Mirim 4,09 3,58Extremoz 3,88 3,53Macaíba 3,75 2,89Monte Alegre 4,74 3,55Natal 2,44 1,99Nísia Floresta 4,16 2,87Parnamirim 2,87 2,49São Gonçalo do Amarante 3,73 3,23São José de Mipibu 4,08 3,31Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
O segundo paradigma encontrado foi a desigualdade socioeconômica
intra-urbana. A cidade de Natal, principalmente, apresenta diversos bairros os
quais compartilham de uma realidade bastante peculiar no tocante a posição
socioeconômica de seus habitantes.
Fazendo uso de uma análise ainda em escala municipal, pode-se
verificar através do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH)12,
observado na tabela 5, a qual expressa que dentre os municípios que
compõem a Região Metropolitana, a cidade de Natal desponta com o melhor
índice de desenvolvimento humano, tanto para o ano de 1991 quanto para
2000.
12 Criado no início da década de 1990 para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo conselheiro especial Mahbub ul Haq, com o objetivo de avaliar o bem estar da população, combinando três componentes básicos do desenvolvimento humano: longevidade; educação e renda.
A metodologia de cálculo do IDH envolve a transformação destas três dimensões em índices de longevidade, educação e renda, que variam entre 0 (pior) e 1 (melhor), e a combinação destes índices em um indicador síntese. Quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior será o nível de desenvolvimento humano do país ou região.
86
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 87Metropolitana de Natal
Como elucida Grzybowski (2003), o grande mérito do Índice de
Desenvolvimento Humano é medir os ganhos de qualidade de vida que as
economias estão gerando, pois indicadores como maior longevidade, redução
da mortalidade infantil e do analfabetismo e maior escolaridade, dependem de
mudanças estruturais sustentáveis na sociedade. E que bens coletivos, como
saneamento e saúde pública, têm efeitos mais duradouros sobre a qualidade
da vida dos habitantes de um país do que o crescimento acelerado do Produto
Interno Bruto13 e das exportações (GRZYBOWSKI, 2003 apud SOUZA & MAIA,
2004).
Deve-se ressaltar que somente o município de Natal apresentou sua
taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição para o ano de 2000.
Contrapondo a essa realidade, o município de Monte Alegre, o qual em
1991 apresentou a maior taxa de fecundidade total perante os municípios da
região metropolitana e que em 2000 obteve uma taxa de fecundidade somente
inferior ao município de Ceará - Mirim, foi o município que expressou o menor
índice de desenvolvimento humano da Grande Natal.
13 O Produto Interno Bruto (PIB) exprime o valor da produção (bens e serviços), realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, num determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, o PIBsintetiza o resultado final da atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do PIB nacional.
87
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 88Metropolitana de Natal
Tabela 05 RM/NATAL: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 1991 / 2000
Município 1991 2000
Ceará - Mirim 0,547 0,646Extremoz 0,575 0,694Macaíba 0,544 0,665Monte Alegre 0,512 0,645Natal 0,733 0,788Nísia Floresta 0,564 0,666Parnamirim 0,640 0,760São Gonçalo do Amarante 0,582 0,695São José de Mipibu 0,543 0,671
Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Por meio do Censo Demográfico de 2000, embora os níveis de
fecundidade não se apresentem uniformes nos vários segmentos
socioeconômicos, podemos observar uma relativa aproximação das taxas de
fecundidade total aos níveis de reposição da população.
Essa tendência mostra que os regimes de fecundidade, em unidade
metropolitana, se aproximam do término de sua transição na fecundidade e que
há, nas áreas mais desenvolvidas da Região Metropolitana de Natal, uma
estreita relação entre as classes sociais mais elevadas com os níveis de
fecundidades mais baixos.
De acordo com a análise feita por Carvalho & Brito (2005), a população
feminina mais pobre tem sido vítima da desinformação sobre as possibilidades
de regulação da sua fecundidade e, mais ainda, da dificuldade de acesso aos
quase sempre deficientes serviços públicos de saúde.
Ao Observar o Mapa 3 abaixo, o qual representa a Taxa de Fecundidade
Total na Região Metropolitana de Natal, segundo as tipologias socioespaciais
88
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 89Metropolitana de Natal
para o ano de 2000, inferimos que os tipos responsáveis pelas classes Médias
à Superior são os que apresentam as menores taxas de fecundidade (variando
entre 1,25 a 1,91 filhos), destacando-se por estarem abaixo do nível de
reposição.
É interessante ressaltar que as áreas onde prevalecem o tipo Médio à
Superior são áreas que apresentam as melhores condições socioeconômicas,
dentre elas uma maior renda e educação.
Nesses segmentos podemos destacar a participação dos bairros mais
nobres da cidade de Natal como, Capim Macio, Petrópolis e Candelária. Essas
áreas são caracterizadas por ostentarem as melhores condições
socioeconômicas da Região Metropolitana de Natal, prevalecendo as
ocupações de maior remuneração.
Fazendo uma análise do aspecto socioocupacional, há uma significativa
representatividade da elite dirigente e intelectual da Região Metropolitana
residindo nessas áreas, ressalta-se também, a excelente oferta de infra-
estrutura apresentada nessas regiões.
Para se ter idéia, segundo dados do Censo Demográfico de 2000, cerca
de mais de 95% da forma de abastecimento de água desses bairros eram
distribuídos pela rede geral.
No que se refere às classes sociais mais populares, apesar de obterem
uma taxa de fecundidade acima das classes Média e Superior, encontram-se
em uma situação de transição, onde o tipo Popular Operário, por exemplo,
detém uma taxa próxima aos níveis de reposição (1,92 a 2,51 filhos).
No entanto, existem diferenças nos níveis de fecundidade quando se
comparado as AED’s onde prevalecem as Ocupações Rurais. Como pode ser
89
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 90Metropolitana de Natal
verificado através do mapa, sete dos nove municípios componentes da Região
Metropolitana, destacam-se pelo predomínio dessa ocupação.
Dada a íntima relação entre as Ocupações Rurais com as altas taxas de
fecundidade - no caso da Região Metropolitana obtendo taxas que variam entre
2,52 chegando até a 3,61 filhos por mulher em seu período reprodutivo - o
Mapa 3 mostra que apesar do generalizado baixo nível de fecundidade, ainda
persistem diferenciais significativos quando relacionados a AED’s de diferentes
condições socioespaciais.
Os efeitos que as variáveis ocupação, renda e educação, sintetizadas
através da tipologia socioespacial, têm na determinação dos níveis
diferenciados de fecundidade ficam claros ao se observar as taxas de
fecundidade total para Região Metropolitana. No entanto, podemos nos
defrontar com uma interessante particularidade nos padrões de fecundidade
apresentada na Região Metropolitana de Natal, onde são verificadas nas AED's
de Barro Vermelho – Lagoa Seca – Alecrim, Pitimbú e Parnamirim – Centro –
BR 101 representadas pela tipologia socioespacial média, onde curiosamente
apesar de não se obter a representatividade dos tipos de ocupação, renda e
instrução mais elevados são as áreas que vislumbraram os menores índices de
fecundidade da Região Metropolitana de Natal.
Aquino (2006) nos traz um breve esclarecimento de porque a AED de
Parnamirim – Centro – BR 101, onde estão localizados a Cidade Verde e Nova
Parnamirim, especialmente analisados em seu trabalho, são responsáveis por
apresentar as menores taxas de fecundidade da Região Metropolitana de
Natal. A autora defende a hipótese de que há uma influência direta dos
imigrantes nessas taxas, comprovando a tese de que grande parte desses
90
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 91Metropolitana de Natal
imigrantes de Parnamirim, e principalmente Nova Parnamirim, são oriundos da
classe média de Natal.
Contudo, o que chama mais atenção ao verificarmos o Mapa 3, é que
mesmo tendo apresentado baixos níveis de fecundidade para maioria da
população, na Região Metropolitana de Natal ainda persistem segmentos
populacionais onde a fecundidade está nos patamares altos apresentados para
região.
O considerável distanciamento entre os níveis de fecundidade
apresentados pelos tipos superiores em relação aos tipos popular-agrícola e
agrícola, mostra que as condições socioeconômicas e os locais de residência
estão intimamente ligados ao regime de fecundidade.
O que podemos perceber, é que a transição da fecundidade nos tipos
que desfrutam de uma melhor condição socioeconômica, como os espaços
superiores e médio-superiores, estão completando seu ciclo de queda de altas
para baixas taxas de fecundidade.
A realidade demonstrada pela Região Metropolitana como um todo, é
que a Região Metropolitana de Natal continua se encaminhando para taxas de
fecundidade total próximas do nível de reposição populacional, mesmo que
ainda mostre diferenciais internos bastantes significativos nas taxas de
fecundidade.
Segundo Berquó & Cavenaghi (2004), a experiência de outros países
mostra que a fecundidade pode oscilar em níveis baixos, mas dificilmente
voltará aos padrões altos anteriores.
91
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 92Metropolitana de Natal
Este fato levaria a modificações na estrutura etária da população,
causando, em um primeiro momento, conseqüências demográficas, como uma
diminuição na taxa de dependência demográfica14.
No entanto, Berquó & Cavenaghi (2004), salientam que a médio e longo
prazo, os baixos níveis de fecundidade levariam a um preocupante
envelhecimento da população e conseqüentemente, ao aumento da referida
taxa de dependência.
Diante dessa nova realidade demográfica, a qual teria sérias
conseqüências sociais e econômicas, urge a necessidade de que o poder
público passe a formular melhores políticas ligado às áreas de educação,
saúde, previdência, dentre outros.
Embora deva-se ressaltar, que as políticas públicas destinadas à
melhoria das condições de vida da população, não devem ser pautadas
somente pelo nível de fecundidade da população, mas também pelo
atendimento das necessidades dos grupos sociais mais carentes.
Ter um número reduzido de filhos, não significa dizer que isso é
sinônimo de desenvolvimento, apesar dessa idéia ser bastante difundida entre
a população. Entretanto, o que podemos constatar para Região Metropolitana
de Natal, é que ela demonstra em suas taxas de fecundidade, uma íntima
relação com as tipologias socioespaciais, se configurando inversamente
proporcionais, ou seja, quanto maior a tipologia alcançada, ou condição
socioeconômica, menor será a taxa de fecundidade verificada e vice-versa.
14 Proporção de idosos e jovens em relação à população em idade ativa, de 15 a 64 anos, chamados de adultos.
92
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 93Metropolitana de Natal
Mapa 3 Taxa de Fecundidade Total segundo as tipologias socioespaciais da
Região Metropolitana de Natal – 2000
93
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 94Metropolitana de Natal
2.2 – Tipologias Socioespaciais e a Mortalidade
As taxas de mortalidade geral e infantil são um dos indicadores
utilizados que refletem e, portanto, podem ser usados como Proxy para
mensuração da qualidade de vida e saúde da população. E como aponta Alves
(2002), a humanidade, desde seus primórdios, sempre travou uma luta
exacerbada pela sobrevivência, obtendo na redução de suas taxas de
mortalidade a maior conquista social da história.
Para tanto, desde o final do século XVIII, os níveis de mortalidades vem
decrescendo nos países mais desenvolvidos, devido à estreita relação com a
industrialização desses países.
Mesmo tendo as cidades industriais, péssimas condições de moradia e
saúde, a mortalidade começou a cair na Europa e na América do Norte
também durante o século XIX, na medida em que progredia a elevação da
produtividade do trabalho decorrente dos avanços da Primeira Revolução
Industrial.
Como esclarece Alves (2002), a literatura mostra que o início da
transição da mortalidade começou no final do século XVIII nas regiões mais
adiantadas economicamente e avançou lentamente durante o século seguinte.
Somente após a Segunda Revolução Industrial é que as taxas de mortalidade
iniciaram uma forte trajetória de queda, obtendo os maiores ganhos na sua
redução, inquestionavelmente, no século XX.
Segundo o referido autor, existem duas escolas principais para explicar
a transição da mortalidade. Uma enfatiza a melhoria do padrão de vida da
população e a contribuição positiva do desenvolvimento econômico. A outra
94
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 95Metropolitana de Natal
enfatiza as contribuições da inovação médica, dos programas de saúde
pública, do acesso ao saneamento básico e da melhoria da higiene pessoal.
Importante destacar que nenhuma dessas escolas refuta
categoricamente a outra. De acordo com o mesmo autor, aquela que enfoca o
papel do desenvolvimento econômico, reconhece a contribuição dos avanços
médicos no declínio da mortalidade, principalmente após atingir certo limiar do
nível de renda.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a escola que enfoca o papel da
inovação médica reconhece que as variáveis socioeconômicas e de
expectativa de vida estão diretamente relacionadas, porém com certa
defasagem entre elas.
No entanto, Alves (2002) admite que independentemente da escola de
pensamento, existe um consenso que a transição da mortalidade é um
fenômeno geral e que veio para ficar, embora que ainda persistam muitas
desigualdades regionais e divergências sobre a possibilidade de eliminação
dos diferenciais existentes no mundo.
Na visão de Gwatkin (1980), o declínio da mortalidade no terceiro mundo
foi mais rápido do que o ocorrido na Europa. A queda da mortalidade, com
aumentos significativos dos níveis de sobrevivência aconteceu, para a grande
maioria dos países da América Latina, principalmente após a Segunda Guerra.
Sendo assim, muitos países alcançaram incrementos nos níveis de
sobrevivência até três vezes mais rápidas do que os experimentados por
países da Europa Ocidental no contexto da transição da mortalidade.
O Brasil não foge a essa tendência, seu processo de transição da
mortalidade de altos para baixos níveis e o conseqüente aumento da
95
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 96Metropolitana de Natal
esperança de vida ao nascer, passam a ser mais notadamente após a
Segunda Guerra Mundial.
O avanço alcançado pela saúde pública pós década de 1930 e,
principalmente, após a década de 1940, forneceu “combustível” necessário
para o início da solução dos problemas da alta mortalidade no país, sem
depender, necessariamente, do desenvolvimento econômico e melhoria dos
padrões de vida que acompanharam a transição demográfica nos países
desenvolvidos.
Foi justamente nos anos 30, a partir da “Era Vargas15” que ocorreram
grandes transformações, na estrutura econômica e social do país. Surgiram
nessa década, as primeiras leis regulamentando as relações entre trabalho e
capital, além da previdência social beneficiando, principalmente, os segmentos
sociais específicos da população urbana em processo de aceleração de
crescimento, em vista da intensificação dos movimentos migratórios de origem
rural.
Entretanto, podemos perceber que apesar do rápido desenvolvimento
econômico experimentado na época, ele não se deu de forma homogênea
perante todas as regiões brasileiras. De tal forma, que aumentou o
distanciamento socioeconômico diante essas regiões.
No Brasil, em particular, o modelo de desenvolvimento que vem
vigorando ao longo dos anos, tem sido altamente excludente e concentrador de
renda, dos recursos e serviços, em determinadas regiões e estratos sociais. Ou
15 A Era Vargas começa com a Revolução de 30 e termina com a deposição de Getúlio Vargas em 1945. É marcada pelo aumento gradual da intervenção do Estado na economia e na organização da sociedade e também pelo crescente autoritarismo e centralização do poder.
96
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 97Metropolitana de Natal
seja, o crescimento econômico observado no país, deu-se à custa de
desigualdades sociais e regionais e altos índices de exclusão social e pobreza.
Gwatkin (1980) e Palloni (1981) enfatizam que devido à concentração
dos recursos em determinadas áreas e grupos sociais específicos, foi e
continua sendo obstáculo a que se consigam maiores avanços na redução dos
níveis de mortalidade, especialmente a infantil, não só no Brasil, como na
maioria dos países do terceiro mundo.
Entretanto, apesar dos ganhos na redução da mortalidade não serem
uniformes perante os diversos grupos sociais, por ainda persistirem
significativas desigualdades socioeconômicas, segundo Wilson (2001), tem
existido uma tendência à convergência entre os padrões demográficos dos
diversos países e regiões, mesmo que ainda exista diferencial significativo de
mortalidade e fecundidade.
Conseqüentemente, esse processo de desigualdade socioeconômica
afetou diretamente na evolução e distribuição da mortalidade no Brasil, de tal
forma, como o ocorrido com as taxas de fecundidade, os níveis de mortalidade
geral e infantil, se expressaram de forma distinta perante as regiões e os vários
estratos sociais da população.
A região Nordeste, por exemplo, apesar de apresentar apenas
diminuições sutis na sua taxa de mortalidade durante as primeiras décadas do
século XX, final da década de 1940, iniciou o declínio nas suas taxas de
mortalidade, particularmente a mortalidade infantil, mesmo que num ritmo ainda
inferior que os verificados pelas regiões sul e sudeste.
Segundo o estudo sobre a Evolução e Perspectivas da Mortalidade
Infantil no Brasil (1999) feito pelo IBGE, ao visualizar as tendências da
97
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 98Metropolitana de Natal
mortalidade, particularmente a infantil, para as regiões brasileiras, poderemos
verificar que as diferenças não eram muito acentuadas no passado, agravando-
se os diferenciais à medida que se evolui ao longo do tempo.
Conforme elucidam Gwatkin (1980) e Palloni (1981), isso se deve em
parte, a distribuição desigual de renda, o acesso diferenciado aos recursos de
saúde, saneamento, educação e outros componentes do padrão de vida da
população.
Sendo assim, segundo o estudo, pode-se verificar que a diferença de
mortalidade infantil entre as regiões Nordeste e o Sul e Sudeste que era de
60% em 1930, passa para 83% em 1965. Apesar de que durante os anos de 65
e 70, a mortalidade infantil declinou proporcionalmente com menos intensidade,
em todas as regiões brasileiras.
Ainda que a região Nordeste expressasse as menores taxas de declínio
médio anual de seus índices de mortalidade infantil durante o período de 1940
a 1955, durante os anos de 1955 a 1965, essa região obteve aumento
significativo na velocidade de queda de suas taxas de mortalidade infantil.
Segundo o estudo realizado pelo IBGE (1999), o Nordeste praticamente
duplicou sua taxa de declínio da mortalidade infantil nesse período, passando
de um declínio anual médio de 0,6% para 1,0%.
Contudo, devemos ressaltar que no mesmo período, a região Sudeste,
também apresentou reduções nas variações de suas taxas de queda,
passando de 2,4% para 1,2%. Apesar de ser verificado uma redução no ritmo
de queda da mortalidade infantil na região, ela ainda mantém-se superior a
apresentada pelo Nordeste.
98
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 99Metropolitana de Natal
De acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2000),
atualmente, os maiores níveis de mortalidade, tanto urbano quanto rural, se
concentram ainda na região Nordeste.
Baseando-se no estudo sobre a Evolução e Perspectivas da Mortalidade
Infantil no Brasil, feito pelo Departamento de População e Indicadores Sociais
do IBGE em 1999, pode-se constatar, que apesar de todo um conjunto de
medidas e ações, haja vista os incentivos à região Nordeste, patrocinadas
pelos vários governos, no sentido de minimizar as desigualdades regionais e
sociais no país, essa é uma região em que os contingentes significativos de
sua população são marginalizados não tendo acesso pleno nem à renda
mínima necessária à sua sobrevivência ou a determinados serviços públicos,
da área de infra-estrutura, de saneamento e de saúde.
A velocidade de queda da taxa de mortalidade verificada no Nordeste,
mesmo tendo se apresentado “vagarosa” ao longo do século, obteve maiores
ganhos na última década do século XX, no entanto, continuou a expressar
níveis de mortalidade bem acima da média nacional.
Segundo Sousa & Maia (2004), durante a década de 1990 as taxas de
mortalidade, em particular a infantil, na região Nordeste reduziram-se em cerca
de 30%, e os estados que obtiveram maior redução foram os Estados do Rio
Grande do Norte, da Bahia, do Ceará e Alagoas, respectivamente.
O Estado do Rio Grande do Norte, quando comparado aos demais
estados da região Nordeste, encontra-se em situação privilegiada.
99
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 100Metropolitana de Natal
De acordo com a Tabela 6, abaixo, a qual expressa a esperança de vida
ao nascer16 para os estados do Nordeste nos anos de 1991 e 2000, podemos
verificar que o Rio Grande do Norte apresenta sua expectativa de vida acima
da média da região, obtendo um ganho significativo perante os anos de 1991 a
2000. O Estado no ano de 1991 era apenas o quarto colocado no ranking de
expectativa de vida da região, passando no ano de 2000 para terceira posição.
Tabela 6 Nordeste: Esperança de Vida ao Nascer - 1991 / 2000
Estado 1991 2000
Alagoas 58,10 63,79Bahia 59,94 64,53Ceará 61,76 67,77Maranhão 58,04 61,74Paraíba 58,88 63,16Pernambuco 62,04 67,32Piauí 60,71 64,15Rio Grande do Norte 60,48 66,98Sergipe 59,83 64,06Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Se fizermos uma rápida análise a respeito da mortalidade até um ano de
idade17, apresentada pelos estados do Nordeste para os anos de 1991 e 2000
(Tabela 7), poderemos verificar que apesar de em 1991 o Estado apresentar
um alto índice de mortalidade sendo superado por Estados como, Pernambuco,
Ceará, Piauí e Sergipe.
No entanto, para o ano de 2000, o Rio Grande do Norte ganha uma
sensível melhora perante a incidência de mortalidade até um ano de idade,
16 A esperança de vida ao nascer representa o número médio de anos que se espera venha a viver uma pessoa logo ao nascer, sujeita às condições de sobrevivência definidas pelo coeficiente de mortalidade por idade, estimados para um determinado ano.
17 A mortalidade até um ano de idade representa o número de crianças que não irão sobreviver ao primeiro anos de vida em cada mil crianças nascidas vivas.
100
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 101Metropolitana de Natal
passando a ser o segundo Estado com melhores índices nesse indicador no
Nordeste, sendo superado somente pelo estado do Ceará.
Tabela 07 Nordeste: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000
Estado 1991 2000
Alagoas 74,50 48,96Bahia 70,87 46,49Ceará 63,13 41,43Maranhão 81,97 55,38Paraíba 74,47 51,49Pernambuco 62,55 47,31Piauí 64,73 47,27Rio Grande do Norte 67,93 43,27Sergipe 65,76 48,52Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Isso significa dizer que a cada mil crianças nascidas vivas no ano de
2000 no Estado do Rio Grande do Norte, 43,27 delas não irão atingir a seu
primeiro ano de vida. Infelizmente apesar dos ganhos obtidos pelo Estado,
essa mortalidade ainda se apresenta alta quando se comparada aos países
mais desenvolvidos ou até mesmo os índices verificados nas regiões sul e
sudeste do país.
No tocante a mortalidade até cinco anos de idade18 no Nordeste (1991/
2000), verificados na Tabela 8, mostrada abaixo, o estado do Rio Grande do
Norte, segue a tendência demonstrada para a mortalidade até um ano de idade
nos referidos anos.
Em 1991, o Rio Grande do Norte encontrava-se entre os Estados de
maior probabilidade de morte até os cinco anos de idade da região Nordeste,
18 A mortalidade até cinco anos de idade representa a probabilidade de morrer entre o nascimento e a idade exata de cinco anos, por mil crianças nascidas vivas.
101
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 102Metropolitana de Natal
apresentando uma mortalidade de 103,98 mortes para cada mil crianças
nascidas vivas, sendo superado apenas pelos Estados de Alagoas, Paraíba e
Maranhão, que apresentaram uma incidência de morte de 113,84; 113,61; e
106,43 para cada mil crianças nascidas vivas respectivamente.
Entretanto em 2000, ocorre uma mudança significativa desse quadro de
alta mortalidade, o Estado passa de uma incidência de morte de 103,98
verificada em 1991, para 67,71 em 2000.
Tabela 8 Nordeste: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000
Estado 1991 2000
Alagoas 113,84 62,05Bahia 90,74 70,19Ceará 97,06 64,97Maranhão 106,43 85,70Paraíba 113,61 77,72Pernambuco 95,47 54,60Piauí 99,81 73,53Rio Grande do Norte 103,98 67,71Sergipe 85,11 72,66Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Contudo, o Rio Grande do Norte quando comparado aos outros Estados
que compõe a região Nordeste, ainda se localiza numa posição bastante
inferior, ocupando apenas a quarta posição no ranking da região.
E mesmo apesar da significativa queda da incidência da mortalidade
perante os nascidos vivos até a idade exata de cinco anos, verificado no Rio
Grande do Norte, no decorrer da década o Estado foi ultrapassado por
Alagoas, Estado esse que apresentava a maior mortalidade até cinco anos no
ano de 1991.
102
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 103Metropolitana de Natal
Em compensação, o Rio Grande do Norte conseguiu superar Estados
como, Bahia, Sergipe e Piauí, que como podemos visualizar na Tabela 8,
apresentam em 2000 uma mortalidade até cinco anos de idade de 70,19;
72,66; e 73,53, respectivamente.
Quando se analisam os índices de mortalidade apresentados
anteriormente pelos estados da região Nordeste a luz do índice de
desenvolvimento humano (Tabela 9), pode-se perceber que os estados da
referida região, apresentam uma sensível relação dos seus níveis de
mortalidade com índice de desenvolvimento humano.
Deve-se ressalta, que o quesito longevidade compõe esse índice.
valores como o demonstrado pela esperança de vida ao nascer contribui
razoavelmente para avaliar as condições sociais, de saúde e de salubridade de
uma determinada localidade, não só por considerar as taxa de mortalidade das
diferentes faixas etárias daquela localidade, mas também, por contemplarem
todas as causas de morte, tanto as ocorridas em função de doenças quanto as
provocada por causas externas (violências e acidentes).
É interessante verificar que apesar do Estado do Rio Grande do Norte
apresentar dados regulares a respeito de suas taxas de mortalidade, ele se
manteve entre os estados com melhores índices de desenvolvimento humano.
Acredita-se que isso se deve em parte, aos valores alcançados pelo
Estado, através de seus indicadores de renda e educação, que também são
responsáveis pela composição desse índice.
103
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 104Metropolitana de Natal
Tabela 9 Nordeste: Índice de Desenvolvimento Humano - 1991 / 2000
Estado 1991 2000
Alagoas 0,548 0,649Bahia 0,590 0,688Ceará 0,593 0,700Maranhão 0,543 0,636Paraíba 0,561 0,661Pernambuco 0,620 0,705Piauí 0,566 0,656Rio Grande do Norte 0,604 0,705Sergipe 0,597 0,682
Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
No tocante a Região Metropolitana de Natal pode-se verificar que há um
generalizado decréscimo nos índices de mortalidade em escala municipal.
Como pode-se visualizar na Tabela 10, esperança de vida ao nascer nos
municípios da Região Metropolitana de Natal (1991 / 2000), fica demonstrado
que apesar da cidade de Natal despontar em 1991 como o município de melhor
expectativa de vida da Região Metropolitana, em 2000 é ultrapassada
surpreendentemente pelo município de Monte Alegre, o qual apresentou uma
expectativa de vida de 70,59 anos.
104
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 105Metropolitana de Natal
Tabela 10 Esperança de Vida ao Nascer – RM de Natal – 1991 / 2000
Município 1991 2000
Ceará - Mirim 59,06 65,32Extremoz 60,47 67,67Macaíba 59,06 66,62Monte Alegre 61,61 70,59Natal 66,59 68,78Nísia Floresta 58,73 65,44Parnamirim 60,56 68,27São Gonçalo do Amarante 60,78 69,11São José de Mipibu 59,06 68,59Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
De acordo com o censo demográfico de 2000, o município de Monte
Alegre é responsável por uma população de cerca de 18.874 habitantes, sendo
que aproximadamente 60% dessa população reside na zona rural.
A cidade, segundo dados providos do Diagnóstico do Município de
Monte Alegre, realizado pelo Ministério de Minas e Energia, em setembro de
2005, dispõe de dois hospitais com vinte e quatro leitos e seis unidades
ambulatoriais.
Na área educacional o município possui trinta e quatro estabelecimentos
de ensino, contudo apresenta cerca de 64% da sua população alfabetizada.
O município dispõe de 4.339 domicílios permanentes, sendo que
aproximadamente 60% desses domicílios tem seu abastecimento de água
através da rede geral, 18% através de poços ou nascentes e cerca de 22%
abastecidos por outras fontes. Vale salientar, que o município de Monte Alegre,
possui apenas 5% de seus domicílios ligados a rede geral de esgoto.
Monte Alegre tem como suas principais atividades econômicas a
agropecuária, o extrativismo e o comércio, obtendo assim, o 55° lugar no
105
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 106Metropolitana de Natal
ranking de desenvolvimento do Estado, sendo responsável por um índice de
desenvolvimento humano em 2000 de apenas 0,645.
O que mais chama a atenção no município de Monte Alegre é
justamente a constatação do mesmo não apresentar dados satisfatórios quanto
a seu desenvolvimento socioeconômico.
Contudo, sabemos que quanto ao atendimento de saúde, não só Monte
Alegre, mas como grande parte dos municípios localizados próximos a cidade
de Natal, utilizam da oferta de saúde oferecida pela capital para atender sua
população. Sendo assim, todos os dias, uma considerável massa populacional
se desloca a cidade de Natal, em busca de melhores atendimentos de saúde.
Ao verificarmos a mortalidade até um ano de idade nos municípios que
compõe a Região Metropolitana de Natal, para os anos de 1991 e 2000 (Tabela
11), podemos constatar que, a cidade Monte Alegre já obtinha em 1991 o
segundo melhor índice de mortalidade, sendo superado apenas pela capital.
Contudo em 2000, Monte Alegre passa ser o município de incidência de
mortalidade mais baixa da Região Metropolitana, alcançando uma mortalidade
até um ano de idade de 30,48 para cada mil crianças nascidas vivas.
106
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 107Metropolitana de Natal
Tabela 11 RM/NATAL: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000
Município 1991 2000
Ceará - Mirim 72,5 48,86Extremoz 65,73 40,16Macaíba 72,5 43,96Monte Alegre 60,57 30,48Natal 43,49 36,53Nísia Floresta 74,14 48,41Parnamirim 65,31 38,1São Gonçalo do Amarante 64,34 35,26São José de Mipibu 72,5 36,99Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
A mesma análise pode ser feita quando se infere a mortalidade até cinco
anos de idade nos municípios da Região Metropolitana para o mesmo intervalo
de tempo, expressada através da Tabela 12.
Analogamente a mortalidade até um ano de idade, o município de Monte
Alegre, deteve em 1991 a segunda posição quanto à incidência de mortalidade
até cinco anos, chegando a alcançar em 2000 a primeira posição, sendo
verificada uma mortalidade de 48,15 para cada mil crianças nascidas vivas.
Os resultados obtidos pelo município de Monte Alegre, demonstram que
a redução dos níveis de mortalidade, não depende única e exclusivamente do
desenvolvimento econômico de determinada localidade. Mesmo que
normalmente os ganhos, na redução da mortalidade estejam ligados a ganhos
de qualidade de vida da população, como a redução da taxa de fecundidade,
aumento no nível de escolaridade da mulher, acesso à água segura e
saneamento básico, e a serviços de saúde, além de ganhos na renda per
capita e redução da concentração de renda.
107
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 108Metropolitana de Natal
Ao analisar a dinâmica demográfica, demonstrada pela Região
Metropolitana de Natal, faz-se necessário também realizar o levantamento de
dados (espacialmente desagregados), para que seja possível fornecer
informações capazes de traduzir com maior autenticidade as características
demográficas, avaliadas a luz das condições socioeconômicas da população
residente.
Tabela 12 RM/NATAL: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000
Município 1991 2000
Ceará - Mirim 111,2 76,33Extremoz 101,22 63,07Macaíba 111,2 68,88Monte Alegre 93,54 48,15Natal 67,84 57,49Nísia Floresta 113,61 75,64Parnamirim 100,6 59,9São Gonçalo do Amarante 99,15 55,53São José de Mipibu 111,2 58,2Fonte: Atlas de desenvolvimento Humano, 1991 e 2000.
Para tanto, observando o Mapa 4, mostrado a seguir, podemos através
da análise intra-urbana, perceber a diversidade que a probabilidade de morte
segundo as tipologias socioespaciais representam na Região Metropolitana de
Natal para o ano de 2000.
Como foi visto na taxa de fecundidade total, as áreas que apresentaram
a menor probabilidade de morte foram os tipos médios à superior.
Como constatamos anteriormente, encontra-se nessas áreas a maior
proporção da elite dirigente e Intelectual da Região Metropolitana de Natal,
sendo responsáveis por abrigarem grandes empregadores, dirigentes do setor
108
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 109Metropolitana de Natal
público e privado, profissionais, tanto autônomos quanto empregados ou
estatutários, de nível superior e os professores de nível superior.
É inquestionável que os fatores socioeconômicos tiveram papel
significativo para o baixo índice de probabilidade de morte apresentado nessas
áreas. Contudo, uma ressalta deve ser feita a probabilidade de morte
apresentada pelo tipo médio superior.
Esperava-se que o índice de mortalidade expressado por esse tipo,
tivesse maior proximidade à probabilidade de morte demonstrada pelo tipo
superior, no entanto, ele obteve seus índices próximos aos apresentados pela
tipologia médio inferior.
Uma hipótese analítica seria que isso se deveria a considerável
influência socioeconômica que a Vila de Ponta Negra exerce sobre a Área de
Expansão Demográfica (AED) de Ponta Negra, fazendo com que a sua
probabilidade de morte tenha uma ligeira alta.
Contrastando com a realidade demonstrada pelos tipos superiores, as
tipologias que apresentaram a maior probabilidade de morte, foram a Popular e
a agrícola.
Como se pode constatar nesses tipos, a falta de investimentos na área
de saneamento, educação e serviços de saúde, acaba tendo estreita relação
com o alto índice de probabilidade de morte apresentado pela tipologia.
Estranhamente, foi verificada na tipologia Popular-Agrícola, uma menor
probabilidade de morte da que foi apresentada pelos tipos Popular e Agrícola.
Deve-se lembrar, que quatro das cinco Áreas de Expansão Demográfica
que formam essa tipologia, são caracterizadas por expandirem a área total de
109
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 110Metropolitana de Natal
cada município, ou seja, a probabilidade de morte acaba sendo reflexo tanto da
realidade urbana quanto rural.
Sendo assim, a probabilidade aferida para o tipo Popular-Agrícola,
também recebe influência direta, das probabilidades de morte averiguadas
pelos núcleos urbanos dos municípios Monte Alegre, São José do Mipibu, Nísia
Floresta e Extremoz.
De acordo com as Tabelas 11 e 12 mostradas anteriormente, apesar da
alta mortalidade expressada pelo município de Nísia Floresta, os demais
municípios apresentam incidência de mortalidade abaixo do que foi
demonstrado pelos municípios de Macaíba e Ceará - Mirim, onde prevalecem
os Tipos Popular (zona urbana) e Agrícola (zona rural).
Do ponto de vista das condições de vida dos distintos estratos sociais da
Região Metropolitana de Natal, pode-se constatar que de acordo com a
tipologia apresentada, elas serão acompanhadas por uma série de problemas
nessas áreas.
Problemas como, deterioração dos níveis de qualidade de vida de
segmentos significativos de grupos sociais aí residentes, como as áreas onde
prevalecem as ocupações agrícolas e populares, desemprego, formação de
favelas, delinqüência e, principalmente, saturação dos serviços públicos.
Sendo assim, a cidade estaria reproduzindo situações específicas de
condições de vida em que os segmentos sociais mais ricos teriam todas as
vantagens, pois estariam em condição de pagar pela concentração de serviços
que estava se produzindo naquele momento histórico, daí, o fato de serem o
melhor espaço para se viver, especialmente, para estes estrados sociais.
110
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 111Metropolitana de Natal
Mapa 4 Probabilidade de morte até 5 anos segundo as tipologias socioespaciais
da Região Metropolitana de Natal – 2000
111
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 112Metropolitana de Natal
2.3 – Tipologias Sócio espaciais e a Mobilidade
Segundo Valim (1996), o sentido de migração está em trocar de região,
país, estado ou até mesmo de domicílio. É algo que já acontece há muito
tempo atrás, desde o começo da história da humanidade. Migrar acaba por
fazer parte do direito de ir e vir, presente na constituição.
De acordo com a autora, a questão da migração envolve muita polêmica,
que gira em torno das condições em que ocorrem esses processos migratórios:
se de um modo livre, que assim está se exercendo esse direito ou se de modo
obrigatório, que tende a realizar interesses políticos e econômicos desumanos,
visando sempre o capital, sendo algumas vezes nacional e outras estrangeiras,
marcando cada vez mais esse enorme abismo que existe entre o mundo da
riqueza e o mundo da pobreza.
A migração junto com a mortalidade e a fecundidade define a dinâmica
da população de uma sociedade. “A migração, relacionada às condições
históricas das mudanças socioeconômicas, constitui um dos mecanismos, que
dentro desta dinâmica, podem influenciar a redistribuição espacial e
crescimento da sociedade” (BOCCUCCI & WONG, 1998; p. 118).
Com esse trabalho se pretende ter uma noção mais aprofundada da
mobilidade espacial expressada pela dinâmica urbana da Região Metropolitana
de Natal. Não perdendo de vista, a configuração dessa mobilidade a luz das
tipologias socioespaciais.
Também é imprescindível, antes de adentrar sobre a mobilidade na
Região Metropolitana de Natal, conhecer como se deu o processo migratório
112
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 113Metropolitana de Natal
no Brasil e especialmente na região Nordeste, região essa, responsável pela
grande maioria dos fluxos migratórios observados no país.
A história recente da migração brasileira se destaca pela sua variada e
complexa diversificação de seus deslocamentos populacionais propiciados,
principalmente, pelos efeitos advindos do processo de urbanização do país,
que intensificou os deslocamentos populacionais das regiões mais pobres do
país em direção aos grandes centros urbanos, principalmente da região
Sudeste.
Antes da atual intensificação das migrações urbano-urbano, a qual vem
gerando novas configurações no fenômeno migratório, o processo migratório
que obteve grande influência na organização do espaço urbano brasileiro foram
os fluxos migratórios provenientes do meio rural.
No Brasil, o êxodo rural, não é uma novidade vislumbrada apenas nas
ultimas décadas do século XX, entretanto, ela passa a ser sentida com maior
intensidade a partir das décadas de 1950 e 1960 estimuladas pela política
desenvolvida durante o governo de Juscelino Kubitschek.
Com uma maior abertura da economia para o capital internacional,
verificada nesse período, diversas multinacionais19, destacando-se,
principalmente, montadoras de veículos, construíram grandes fábricas em
cidades localizadas principalmente no Sudeste do país, região onde havia
ocorrido grande investimento para o desenvolvimento de seu parque industrial.
O resultado disso foi o crescente fluxo migratório, ocorrido principalmente da
região Nordeste para o Sudeste do país.
19 Uma multinacional é uma empresa que está presente em mais de um país, ou seja, que opera ou fabrica em vários países diferentes.
113
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 114Metropolitana de Natal
Dentre os principais motivos que estimularam o fluxo de grande
quantidade de habitantes que saíram da zona rural para as grandes cidades,
praticando assim o êxodo rural, esteve a busca por empregos com boa
remuneração, a crescente mecanização da produção rural, como também, a
busca por uma melhor qualidade de ensino e necessidade de infra-estrutura e
serviços, como, de saúde, transporte, dentre outros oferecidos pelo meio
urbano.
Contudo, a lição retirada pelo Brasil com o êxodo rural, foi o crescente e
desordenado crescimento das suas grandes cidades, o qual ocorreu com
aumento significativo de população nos bairros da periferia dessas cidades,
estimulando o crescimento das favelas e da violência urbana.
Na maioria das vezes, as cidades não estavam preparadas para receber
tão crescente fluxo migratório, não oferecendo condições sociais satisfatórias a
esses imigrantes. A infra-estrutura e o emprego não foram suficientes e muitos
migrantes, que não tinham qualificação profissional necessária, foram
obrigados a partirem para o mercado informal e passaram a residir em
habitações sem boas condições, como as favelas e os cortiços.
Desde a metade do século passado, que os principais fluxos migratórios
são feitos pelos nordestinos que se dirigem para o Sudeste, Centro-Oeste e
Norte do país. Seus migrantes fugiam da seca e do elevado desemprego
verificado na região, almejando encontrar nessas regiões melhores condições
de vida e trabalho. Esse processo não se manteve isolado somente nas
décadas de 1950 e 1960, estendendo-se com força durante as décadas de
1970 e 1980.
114
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 115Metropolitana de Natal
Muito embora, segundo esclarecem Oliveira & Simões (2004), os anos
80 representaram para o Brasil o fim de um padrão de acumulação de
migrantes, principalmente no centro-sul do país, que foi iniciado a partir da
década de 1950, que teve como principal conseqüência a constituição da
matriz industrial do país.
Como elucidam os autores, dois fatores principais estimularam essa
mudança. O primeiro fator foi a mudança de foco das políticas de
desenvolvimento regional e a intensificação das políticas neoliberais, que a
partir de meados da década de 1980, levaram a uma nova organização das
atividades produtivas, tendo os governos estaduais e municipais agindo em
conjunto com os interesses das grandes corporações transnacionais.
O segundo fator para o rompimento da configuração apresentada pelas
migrações no Brasil, estava em inteira consonância com o primeiro.
Estimuladas principalmente, pela participação do Estado brasileiro nas
questões de planejamento territorial, como o desenvolvimento da política de
incentivo fiscal, as grandes corporações produtivas, acabou por “romper os
limites territoriais dos Estados-Nação em favor de lugares e posições
privilegiados” (BECKER, 1990; p.52 apud OLIVEIRA & SIMÕES, 2004; p. 27),
para o desenvolvimento de suas atividades econômicas.
De acordo com os autores, esses dois fatores acabaram influenciando
fortemente a nova configuração dos deslocamentos populacionais,
ocasionando mudanças expressivas observadas tanto nos fluxos migratórios
quanto em suas características.
Os grandes centros urbanos, localizados principalmente na região
Sudeste do país, deixaram de ser o foco central do fluxo migratório brasileiro. A
115
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 116Metropolitana de Natal
partir da década de 1990, os novos movimentos populacionais acabam se
direcionando para as áreas litorâneas dos estados ou às cidades médias. Os
autores defendem que esse fenômeno se daria devido, principalmente, à
intensificação de investimentos por parte das empresas que fogem das
“deseconomias de aglomeração” características dos grandes centros urbanos.
Devemos ressaltar que o alto índice de desemprego e violência urbana,
apresentados pelas grandes cidades, também são fatores importantes para a
mudança do fluxo migratório do país. Também, não podemos perder de vista,
movimentos migratórios que já se tornaram tradicionais, como a migração de
retorno20 e o processo de consolidação da expansão das fronteiras agrícolas,
localizadas principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste do país.
Para se ter uma melhor idéia da intensidade dos movimentos
populacionais ocorridos no país, segundo o IBGE, somente no período de
1995/2000, os deslocamentos populacionais totalizavam mais de cinco milhões
de pessoas, sendo cerca de 65% desse total, compostos por deslocamentos
ocorridos entre as regiões brasileiras e 35% no interior dessas regiões.
Deve-se ressaltar que o motivo da saída do indivíduo é, em sua maioria,
de ordem econômica, ou seja, ele sai em busca de melhores oportunidades de
emprego e da expectativa de incremento da renda. O seu retorno se dá por
algum erro de avaliação do lugar de destino, fazendo com que ele tenha uma
frustração das suas expectativas quanto ao emprego e renda, ou pode fazer
parte ainda de um plano ótimo de residência ao longo da sua vida. Nesta última
hipótese, o migrante acumula riqueza no tempo da sua estada fora e planeja
20 Por migração de retorno, entende-se, como a pessoa que deixa o seu estado natal, reside algum tempo em outro estado e depois regressa ao seu lugar de nascimento.
116
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 117Metropolitana de Natal
retornar na sua velhice para vivenciá-la junto aos seus familiares (BORJAS e
BRASTBERG, 1996, NEWBOLD e BELL, 2001).
O Censo Demográfico de 2000, realizado pelo IBGE, abordou três
aspectos da migração: o lugar de nascimento, o lugar de residência anterior
segundo o tempo ininterrupto de residência atual e o lugar de residência
anterior há exatamente cinco anos antes da data de referência da pesquisa (01
de agosto de 1995), conhecidos como migrantes de data fixa.
Segundo Albuquerque (2001) a vantagem principal da informação
oferecida pelos migrantes de data fixa, é que o período de tempo é explicito, ou
seja, pergunta-se onde o indivíduo residia há cinco anos antes da data de
referência da pesquisa. Logo, todas as pessoas que possuem cinco anos ou
mais na data citada anteriormente responderam ao quesito.
Sendo assim, explica o autor, como os movimentos migratórios realizam-
se continuamente no tempo, a mensuração dos fluxos, se torna bem mais
acessível quando o lugar de residência anterior do indivíduo se refere a um
período de tempo específico. Para tanto, ao se comparar o lugar de residência
em uma data fixa anterior, cinco anos, com o lugar de residência atual, isto é,
na data do Censo, obtêm-se um forte indicador do fluxo migratório.
Albuquerque (2001) ainda esclarece que, um indivíduo que cinco anos
antes da data de referência do Censo possuía um local de residência diferente
do atual é considerado migrante. É um emigrante em relação ao local de
origem e imigrante em relação ao de destino, e o período de tempo que
caracteriza o movimento está perfeitamente definido.
Com isso, pode-se verificar na Tabela 13 apresentada abaixo, cerca de
aproximadamente 1,4 milhões de nordestinos residiam em outras regiões no
117
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 118Metropolitana de Natal
período de 1986 – 1991, esse número representa cerca de 3,2% da população
nordestina da época, que era de 42.497.540 habitantes. Tendo o Sudeste
despontado como a região que mais recebeu imigrantes nordestinos durante
esse período, sendo responsável por um valor expressivo de 67,74 % do
destino procurado por esses imigrantes.
Tabela 13 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o Nordestecomo origem, por Regiões de Destino - Período 1986/1991
Região de Destino N° %
Norte 216.979 16,02Sudeste 917.482 67,74Sul 21.562 1,59Centro-Oeste 198.418 14,65Total 1.354.441 100,00
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991.
No entanto, para o período de 1995 a 2000, demonstrado pela Tabela 14
visualizada abaixo, o número de nordestinos que tinham outra região do país
como local de residência passa a ser de 1.411.420 indivíduos (cerca de
aproximadamente 3,0% da população nordestina da época, que era de
47.741.711), apresentando um acréscimo de cerca de 4,2% do período
analisado anteriormente. O Sudeste, continuou a ser a região mais procurada
pelos imigrantes nordestinos, representando cerca de 68,69% do destino
buscado por eles.
Apesar da pequena diferença entre o total de movimentos migratórios
verificado nesses dois períodos, algumas mudanças significativas, podem ser
observas no direcionamento desses fluxos, por exemplo, apesar da entrada de
nordestinos na região Norte ter diminuído nesses dois períodos, cerca de
118
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 119Metropolitana de Natal
quase 16%, a região Sudeste continuou forte no tocante ao recebimento de
imigrantes oriundos do Nordeste, sendo responsável por um acréscimo de
cerca de 6%.
Dentre as demais regiões do país, o Nordeste foi durante muito tempo,
principalmente, na segunda metade do século XX, caracterizado por ser uma
região de forte repulsão populacional. Conforme foi visto anteriormente, fatores
como, a estagnação econômica apresentada por essa região, uma melhor
oferta de emprego em outras regiões do país, em especial a Sudeste,
estimularam consideravelmente a ocorrência desse fluxo.
Tabela 14 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o Nordestecomo origem, por Regiões de Destino – Período 1995 – 2000
Região de Destino N° %
Norte 182.709 12,95Sudeste 969.435 68,69Sul 31.029 2,20Centro-Oeste 228.247 16,17Total 1411420 100,00
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
Como se pode visualizar nas Tabelas 13 e 14, a região Nordeste
reafirma-se como sendo uma área de repulsão populacional, contudo muitos
autores defendem que a velocidade da perda populacional vem diminuindo
continuamente no tempo. A saída de população no primeiro qüinqüênio
observado através da Tabela 13 foi de 1.354.441 contra 1.411.420 pessoas
apresentadas no segundo qüinqüênio (Tabela 14) com um aumento de
aproximadamente de 4,2%.
119
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 120Metropolitana de Natal
Entretanto, segundo demonstra o Censo Demográfico de 2000, a região
Sudeste vem apresentando nos últimos qüinqüênios uma sensível
desaceleração no ritmo de entradas de migrantes, concomitantemente, as
saídas de pessoas que tiveram como origem essa região, vem apresentando
um aumento continuado desde o início da década de 1990, sendo que uma
parte expressiva desse fluxo é constituída provavelmente de migração de
retorno.
Isso se deve em parte, às crises econômicas e uma considerável
saturação dos mercados de várias grandes cidades brasileiras, como também,
o grande aumento da criminalidade apresentada por esses grandes centros
urbanos, que acabam por estimular a migração de retorno, sendo ressentida,
principalmente, pela região Sudeste, região essa, que historicamente
desenvolvia um forte poder de atração populacional perante as outras regiões.
Como um todo, de acordo com o Censo Demográfico de 2000
demonstrado através da Tabela 15, pode-se verificar que as Unidades da
Federação que compõem a região Nordeste, com exceção do Maranhão,
Alagoas e Sergipe diminuíram suas perdas populacionais.
Segundo o IBGE (2000), esse comportamento se dá devido a
combinação de alguns fatores, tais como um aumento no número de entradas
e diminuição (ou manutenção) no volumes de saídas (Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte e Paraíba), diminuição do fluxo de entradas inferior ao das saídas
(Pernambuco) e, por último, ao aumento efetivo de entradas superior ao de
saídas (Bahia).
Os únicos casos de reversão no saldo migratório, que pode-se visualizar
claramente na Tabela 15, foram os apresentados pelos estados de Sergipe e
120
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 121Metropolitana de Natal
Rio Grande do Norte. Onde Sergipe passa de um saldo positivo, no qüinqüênio
de 1986-1991 de 13.765 indivíduos a um saldo negativo de 4.817 no
qüinqüênio posterior (1995-2000). Segundo o IBGE (2000), este fato foi devido
a uma diminuição de 7% no número de entradas e a um aumento de 35% nas
saídas (Tabela 15).
Tabela 15 Entradas, saídas e saldos migratórios, de migrantes de data fixa segundo
a região Nordeste – Períodos 1986 – 1991 e 1995 – 2000 Entradas Saídas Saldo Migratório
Estado 1986 – 1991
1995 – 2000
1986 – 1991
1995 – 2000
1986 – 1991
1995 – 2000
Alagoas 60.881 55.966 112.632 127.948 -51.751 -71.982Bahia 186.614 250.571 469.091 518.036 -282.477 -267.465Ceará 121.652 162.925 245.164 186.710 -123.512 -23.785Maranhão 103.448 100.816 237.927 274.469 -134.479 -173.653Paraíba 88.902 102.005 174.058 163.485 -85.156 -61.480Pernambuco 171.678 164.871 317.232 280.290 -145.554 -115.419Piauí 72.950 88.740 139.447 140.815 -66.497 -52.075Rio Grande do Norte 75.570 77.916 76.444 71.287 -874 6.629Sergipe 55.978 52.111 42.213 56.928 13.765 -4.817Total 937.673 1.055.921 1.814.208 1.819.968 -876.535 -764.047Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
Enquanto o Rio Grande do Norte apresenta uma das grandes
particularidades apresentadas pela Tabela 15, que foi a mudança de um saldo
negativo de 874 (1986-1991), para um saldo migratório positivo de 6.629
indivíduos, verificado para o Estado, especialmente no período referente a
1995 – 2000. O Estado também foi o único, dentre os demais estados
nordestinos, que apresentou um saldo migratório positivo nesse período, ou
seja, foi verificada uma maior entrada do que saída de migrantes nessa
unidade da federação.
121
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 122Metropolitana de Natal
Um estudo desenvolvido por Pinheiro (1988), inferiu que o Rio Grande
do Norte foi o único estado nordestino que apresentou nas décadas de 1960 e
1970, saldo líquido migratório positivo, mesmo havendo uma diminuição da
imigração quando se comparado os períodos de 1960/70 e 1970/80. E mesmo
apresentando saldo migratório negativo durante o período de 1986 a 1991, os
estudos demonstram que o Estado apresenta crescente prevalência de
entradas de migrantes sobre suas saídas.
De acordo com o Censo Demográfico de 2000 (Tabela 16), podemos
constatar que o Estado do Rio Grande do Norte apresentava em sua população
total (2.777.509 habitantes), uma participação de cerca 251.045 pessoas de
cinco anos ou mais que, residiam fora de seu município de residência em 2000.
Desse total de migrantes, aproximadamente 171.421 pessoas eram
imigrantes internos, ou seja, que em 1995 estavam fora de seu município de
residência em 2000, mas, no entanto, continuavam na mesma Unidade da
Federação. Quanto aos imigrantes de data fixa provenientes de outra Unidade
da Federação o Estado era responsável por um total de cerca de 78.955
indivíduos.
No tocante aos imigrantes providos de país estrangeiro, segundo o
Censo Demográfico de 2000, o Estado do Rio Grande do Norte era
responsável por cerca de 669 pessoas, donde a grande maioria se
direcionaram à Região Metropolitana de Natal, representando um número de
aproximadamente 536 migrantes.
122
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 123Metropolitana de Natal
Tabela 16 Rio Grande do Norte: Migrantes de Data fixa segundo
o local de origem -2000
Migrantes 2000
Imigrantes Internos (RN) 171.421 Imigrantes nacionais (Fora do RN) 78.955Imigrantes internacionais 669Total 251.045
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
Segundo Patarra (2004), o principal destino buscado pelos emigrantes
norte-rio-grandenses, foram os Estados da Paraíba (86.707 pessoas), São
Paulo (13.300 pessoas), Rio de Janeiro (12.875 pessoas), Ceará (28.314
pessoas), Pernambuco (18.527 pessoas) e Bahia (4.258 pessoas).
Historicamente, sabe-se que o fluxo migratório tem seguido, por regra, o
sentido de um deslocamento da população dos espaços rurais indo na direção
aos grandes espaços urbanos. Conforme afirma Arivaldo Santos (2006), essa
tendência no fluxo migratório se mantém até mesmo nos anos 90, apesar de
ser verificada a crescente dificuldade de se conseguir emprego ou até mesmo
uma melhor condição de vida nos espaços urbanos.
No entanto, Patarra (2004) afirma que há um consenso entre os
especialistas sobre a constatação de que, a partir dos anos 80, ocorreram
acentuadas transformações nos volumes, fluxos e características dos
movimentos migratórios. A autora acrescenta ainda que, atualmente, há certa
predominância de migrações de curta distância e intra-regionais, ocorrendo
também, uma maior incidência de migrações de retorno.
Como se pode verificar anteriormente, após uma sensível derrocada dos
movimentos populacionais para os grandes centros urbanos do país, deu-se
123
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 124Metropolitana de Natal
principalmente a partir da década de 1990, uma nova configuração dos fluxos
migratórios, que passam a ser direcionados as regiões litorâneas e em direção
as cidades de porte médio.
Internamente, o Rio Grande do Norte, não foge a essa tendência,
seguindo o padrão migratório verificado nos demais estados nordestinos.
Devido à concentração de suas economias no litoral do Estado, especialmente
em Natal e sua Região Metropolitana, resultante de um crescente investimento
nesses espaços, provocaram o fluxo migratório das pequenas cidades para
essas áreas.
Como já reforçava Arivaldo Santos (2006):
o circuito migratório é em geral uma resposta aos problemas diretos da vida cotidiana nas condições de integração da economia, isso consiste em afirmar que, o fluxo migratório acompanha de perto a dinâmica do mercado de trabalho, o qual tem fundamental importância na fixação ou transferência da força de trabalho de uma região para outra (SANTOS, 2006; p. 56).
Sendo assim, a forte concentração socioeconômica, exercida
principalmente por Natal e sua Região Metropolitana, trouxe como uma de suas
conseqüências o crescente fluxo migratório, especialmente do interior do
Estado. Como já demonstrava Itamar de Sousa (1976), a respeito da migração
norte-rio-grandense, a migração para Natal, não se dá pelo simples fato de ela
ser a capital do Estado, mas principalmente, por ser sede dos grandes
organismos públicos e privados, destacando-se também, por ser uma cidade
litorânea e apresentar melhores condições de sobrevivência socioeconômica.
Segundo Silva (2001), o contexto das migrações na capital potiguar,
passa a ganhar maior ênfase, a partir da Segunda Guerra Mundial, devido à
124
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 125Metropolitana de Natal
chegada de aproximadamente 10.000 soldados norte-americanos,
acompanhados de um considerável contingente de soldados brasileiros.
Além disso, o autor salienta outro fator para o crescente fluxo migratório
direcionado ao litoral norte-rio-grandense, como a redução das taxas de
produtividade das principais atividades agrícolas como o algodão,
principalmente desenvolvida no interior do Estado e a cana-de-açúcar no litoral,
seguido da desvalorização monetária dos preços desses produtos (em meados
das décadas de 1950, e de 1960).
Conseqüentemente, salienta Silva (2001), especialmente na década de
1970 que, Natal recebe fortes investimentos na área habitacional, tendo em
vista o fluxo migratório que demandava por moradia. Sendo assim, esse
crescimento urbano, relacionado ao desenvolvimento econômico, intensifica-se
agravando os problemas da cidade.
Na sua reflexão sobre a cidade de Natal, Silva (2001), também constata
que a grande maioria dos imigrantes que chegavam a Natal na década de 1970
eram proveniente das próprias microrregiões norte-rio-grandenses, sendo as
de Natal, do Seridó, do Agreste Potiguar, e por fim, da Salineira Norte-rio-
grandense e da Serra Verde, as que apresentavam maior representatividade
no número de imigrantes, e só então seguidas por imigrantes provenientes de
outras Unidades da Federação.
No entanto, o autor defende que diferentemente do ocorrido em muitos
estados nordestinos, pelo menos até a década de 1980, a cidade de Natal
manteve-se estável quanto a sua proporção na população urbana do Estado. A
partir dessa década a capital norte-rio-grandense passa sentir uma nova
configuração no seu regime migratório.
125
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 126Metropolitana de Natal
A nova tendência apresentada, principalmente durante as últimas
décadas, é de que os fluxos migratórios sejam direcionados para as cidades
médias e litorâneas, e como Silva (2001), mesmo defende, este fato se dá
devido ao fato dessas cidades apresentarem suporte de infra-estrutura e
serviços, bem como concentração de capital e da ampliação dos seus setores
produtivos.
Para o ano de 2000, o Censo Demográfico, já demonstrava a forte
influência da Região Metropolitana de Natal sobre a quantidade dos fluxos
migratórios exercidos dentro do Estado do Rio Grande do Norte. Segundo a
Tabela 17 mostrada a seguir, mais da metade dos imigrantes de data fixa21,
cerca de 135.075 pessoas, eram direcionados para essa área. Onde deve-se
destacar a alta proporção de imigrantes de data fixa nos municípios de
Parnamirim (34,9) e São Gonçalo do Amarante (20,2).
Tabela 17 RM/NATAL: População Residente de Anos e Mais e Imigrantes
de Data Fixa - 2000 Pessoas residentes
Município 5 Anos e Mais de Idade
Imigrantes de data fixa
Proporção de imigrantes de
data fixaCeará - Mirim 55.035 3.840 7,0Extremoz 17.198 2.872 16,7Macaíba 48.941 6.364 13,0Monte Alegre 17.014 1.524 9,0Natal 648.300 62.418 9,6Nísia Floresta 16.731 2.790 16,7Parnamirim 111.320 38.855 34,9São Gonçalo do Amarante 61.126 12.358 20,2São José de Mipibu 30.737 4.054 13,2Total 1.006.402 135.075 13,4
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
21 Refere-se ao número de imigrantes de 5 anos e mais de idade, que realizou migração no período 1995-2000.
126
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 127Metropolitana de Natal
Ao detalhar-se a origem dos imigrantes de data fixa, através da Tabela
18 mostrada a seguir, pode-se verificar que tanto o município de Parnamirim
quanto o município de São Gonçalo do Amarante, apresentam em sua
configuração uma maior representatividade de imigrantes provenientes da
própria Região Metropolitana, ou seja, dentro dos 38.855 imigrantes de data
fixa apresentados por Parnamirim, cerca de 20.594 são provenientes da própria
Região Metropolitana de Natal, enquanto que dos 12.358 imigrantes de data
fixa vislumbrados para São Gonçalo do Amarante, 7.882 deles têm como local
de origem outros municípios da Região Metropolitana de Natal.
Deve-se ressaltar que esse número de imigrantes intra-metropolitano
representa para Parnamirim e São Gonçalo do Amarante um percentual de
53% e 63%, respectivamente. Outros municípios como, Extremoz e Monte
Alegre, apesar de não apresentarem uma proporção de imigrantes de data fixa
em relação a sua população de cinco anos e mais, tão expressiva quando se
comparado a Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, obtiveram uma
proporção de imigrantes intra-metropolitano também bastante significativa,
sendo responsável por um percentual de 58% e 52%, respectivamente.
Cabe ressaltar, que o município de Natal, apesar de apresentar uma
pequena proporção de imigrantes de data fixa em sua população de cinco anos
e mais (Tabela 17), é o município que apresenta o maior valor absoluto de
imigrantes de data fixa, 62.418 imigrantes (Tabela 18), e quando comparado a
origem desses imigrantes, se difere dos outros municípios da Região
Metropolitana, principalmente por terem como origem outros municípios do
Estado, cerca de 27.195 imigrantes, e interestaduais ou outros países, com
aproximadamente 30.745 imigrantes.
127
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 128Metropolitana de Natal
Tabela 18 População Residente de 5 Anos e Mais e Imigrantes de Data Fixa segundo
a sua origem – Região Metropolitana de Natal – 2000 Imigrantes de data fixa por origem¹
IntraestadualMunicípio Interestadual ou outros países Outros
municípiosIntra-
metropolitanoTotal
Ceará - Mirim 768 1.752 1.320 3.840Extremoz 686 528 1.658 2.872Macaíba 1.074 2.881 2.409 6.364Monte Alegre 238 497 789 1.524Natal 30.745 27.195 4.478 62.418Nísia Floresta 821 760 1.209 2.790Parnamirim 8.544 9.717 20.594 38.855São Gonçalo do Amarante 1.392 3.084 7.882 12.358São José de Mipibu 1.135 1.514 1.406 4.054Total 45.402 47.928 41.745 135.075
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
Pode-se comprovar então que apesar de uma pequena inversão da
origem dos fluxos migratórios direcionados à Natal, que como foi visto
anteriormente através da reflexão exposta por Silva (2001), que constatou que
a grande maioria dos imigrantes que chegavam a capital, principalmente a
partir da década de 1970, era proveniente do interior do Rio Grande do Norte,
para que só então houvesse uma maior representatividade dos imigrantes
provenientes de outras Unidades da Federação, o município ainda sustenta
como principal fonte de origem, os imigrantes intra-estaduais, seguidos de
perto pelos imigrantes interestaduais ou outros países.
Outra importante vertente dos fluxos de população direcionados a cidade
de Natal, é o movimento pendular, ou seja, o movimento de pessoas que
estudam ou trabalham na capital, mas que residem em outro município. É
importante analisá-lo, pois ele demonstra a forte centralidade exercida por
Natal na Região Metropolitana.
128
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 129Metropolitana de Natal
Segundo Moura, Branco & Firkowski (2005), as informações sobre os
deslocamentos domicílio-trabalho/estudo constituem “importante referencial
para a análise dos processos de metropolização e expansão urbana”, e que
centralidades exercidas, como a verificada na cidade de Natal, tornam-se
nítidas e permitem a identificação de processos seletivos de uso e apropriação
do espaço, com a segmentação dos locais de moradia e de trabalho. Com isso,
através dos movimentos pendulares, exercidos por esses municípios, acaba
nos dando uma vasta compreensão da dinâmica metropolitana natalense.
É importante enfatizar, que diferentemente da migração, que envolve
mudança de residência, os movimentos pendulares caracterizam-se por serem
deslocamentos entre o município de residência e outros municípios, com
finalidade específica, que o Censo Demográfico de 2000 convencionou como
trabalhar e estudar.
Sendo assim, como pode-se analisar na Tabela 19, que expressa o
movimento pendular para fora do município de residência e principalmente os
que se dirigem ao pólo metropolitano, podemos aferir a centralidade que Natal
exerce especialmente em municípios como, Parnamirim, São Gonçalo do
Amarante e Extremoz, municípios esses, onde apresentam uma considerável
parcela de sua população trabalhando e estudando em outro município fora do
local de residência, e que principalmente grande parte deles se dirigindo ao
pólo.
129
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 130Metropolitana de Natal
Tabela 19 RM/NATAL: População residente de 15 Anos e mais que trabalha ou
estuda e pessoas que realizaram movimento pendular - 2000 Número de pessoas de 15 anos e mais de idade
Que trabalham ou estudamMunicípio
Total ( A )Total ( B )
fora do município de
residência ( C )
dirigindo-seao pólo
metropolitano ( D )
C / B (em %)
D / C (em %)
Ceará - Mirim 40.288 21.865 3.188 2.475 14,6 77,6Extremoz 12.717 7.066 1.847 1.569 26,1 84,9Macaíba 36.461 20.803 4.681 3.406 22,5 72,8Monte Alegre 12.181 6.022 821 547 13,6 66,6Natal 510.990 329.923 7.488 0 2,3 0,0Nísia Floresta 12.338 7.203 1.207 553 16,8 45,8Parnamirim 84.972 54.518 20.656 19.050 37,9 92,2S. G. do Amarante 45.443 26.883 9.559 8.521 35,6 89,1São J. de Mipibu 22.606 12.897 1.498 923 11,6 61,6Total 777.996 487.178 50.945 37.043 10,5 72,7
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
O que também se pode verificar através da Tabela 19, é que grande
parte do movimento pendular exercido pelos municípios que compõe a Região
Metropolitana de Natal são direcionados ao pólo. Para se ter idéia da
importância desse fluxo, apenas o município de Nísia Floresta apresentou um
percentual abaixo dos 50%, mesmo assim, demonstrou um fluxo considerável
de pessoas que trabalham e estudam na capital, representando cerca de
45,8% de pessoas.
Isso também vem reforçar a grande centralidade que Natal exerce diante
dos outros municípios da Região Metropolitana, especialmente Parnamirim e
São Gonçalo do Amarante. Mesmo observando a origem dos imigrantes de
data fixa, pode-se perceber que em torno da metade dos imigrantes de data
fixa localizados nesses municípios são provenientes de Natal (Tabela 20).
Tabela 20
130
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 131Metropolitana de Natal
RM/NATAL: Imigrantes de Data Fixa tendo como origem Natal - 2000
Município Migrantes de Data Fixa
OrigemNatal
Proporção de imigrantes de
NatalCeará - Mirim 3840 995 25,9Extremoz 2872 1532 53,3Macaíba 6364 1701 26,7Monte Alegre 1524 435 28,5Natal 62418 0 0,0Nísia Floresta 2790 647 23,2Parnamirim 38855 18694 48,1São Gonçalo do Amarante 12358 6666 53,9São José do Mipibu 4054 706 17,4Total 135075 31376 23,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.
Ao adentra-se a realidade intra-urbana da Região Metropolitana, pode-
se perceber com mais clareza o comportamento desses fluxos migratórios,
como também, o tipo socioespacial predominante, em que essa população se
instala.
Sendo assim, como pode-se visualizar nos Mapas 5 e 6 - que mostram
respectivamente, os imigrantes de data fixa segundo a sua origem, tanto os
que têm como origem outros municípios do Rio Grande do Norte (exceto os
que compõe a Região Metropolitana), quanto os que têm como origem outros
municípios de fora do Estado, pode-se analisar o acesso desigual da
população ás áreas metropolitanas – um desigual acesso ao espaço
metropolitano de acordo com a origem apresentada pelo imigrante.
O que pode-se verificar analisando os mapas, é que os imigrantes de
data fixa que têm como origem outros municípios do Rio Grande do Norte, e
que não fazem parte da Região Metropolitana de Natal (Mapa 5)
diferentemente dos imigrantes interestaduais e de outros países (Mapa 6),
131
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 132Metropolitana de Natal
costumam ocupar principalmente as áreas periféricas de Natal, como grande
parte das AED's que compõe a Zona Norte e Oeste da capital.
Deve-se relembrar que essas áreas são caracterizadas principalmente
pela maior representatividade das ocupações populares, onde a participação
das categorias Médias e Superiores são bastante reduzidas, apresentando
uma maior representatividade de Trabalhadores do Setor Terciário, tanto o
Especializado quanto o Não-especializado, destacando-se também, a sensível
participação das categorias de Ambulantes e Catadores, como as dos
Trabalhadores do Setor Secundário e da Indústria Moderna e Tradicional.
Pode-se constatar, que os imigrantes intra-estaduais, excetuando
aqueles que integram a Região Metropolitana de Natal, ao se direcionarem à
Região Metropolitana, objetivando em sua maioria, melhores condições
socioeconômicas, tem acesso as áreas consideradas mais humildes, sem boa
infra-estrutura urbana, onde o valor do aluguel/imóvel são mais baixos,
possibilitando assim, uma menor dificuldade para a sua ocupação.
Por outro lado, os imigrantes de data fixa interestaduais e de outros
países (Mapa 6), ocuparam as áreas, em sua maioria, localizadas na Zona
Leste e Sul de Natal, como os bairros de Petrópolis, Barro Vermelho, Lagoa
Seca, Alecrim, Lagoa Nova, Parque das Dunas – Capim Macio, Ponta Negra,
Neópolis, Pitimbu e Candelária, onde a representatividade das ocupações
Médias e Superiores são bastante significativas.
Essas áreas são caracterizadas por apresentarem um considerável
aparato de equipamentos e serviços necessários para o bom funcionamento
das atividades exigidas pelo meio urbano, podendo esses equipamentos e
serviços ser vistos sob os aspectos socioeconômicos, como educação,
132
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 133Metropolitana de Natal
moradia, saúde e o bom desempenho na comercialização de bens e serviços e
desenvolvimento das atividades político-administrativas. Não é por acaso, que
essas áreas são fortemente marcadas por uma alta especulação imobiliária,
tendo como conseqüência um alto valor dos imóveis.
Outra realidade demonstrada pelos fluxos migratórios observados na
Região Metropolitana de Natal e apontada através do Mapa 7, o qual trata da
proporção de imigrantes de data fixa intra-metropolitanos, ou seja, os
imigrantes provenientes da própria Região Metropolitana, vem reforçar o que
foi dito nos parágrafos anteriores, que há uma forte ocupação dessa
população, principalmente nos municípios que estão localizados em torno da
capital, como Extremoz, São Gonçalo do Amarante e Parnamirim.
O que pode-se perceber, é que os imigrantes localizados nesses
município, em sua maior parte tiveram como origem o município de Natal,
possibilitando inferir que esse fenômeno pode ser proporcionado, pelo menos
por duas causas principais.
A primeira seria ocasionada devido ao alto valor/aluguel do imóvel e a
crescente especulação imobiliária apresentada pela cidade pólo, fazendo com
que a população procurasse por áreas mais periféricas, onde o valor/aluguel do
imóvel, não fosse tão alto quanto o apresentado por Natal ou que pelo menos,
que áreas periféricas ainda não tivessem sido alcançadas pela crescente
especulação imobiliária.
A segunda causa para formação desse fenômeno migratório, seria dada
através da formação de novos núcleos familiares, que ao sofrerem influência,
também, do valor/aluguel localizado na capital, estariam se direcionando para
os municípios limítrofes à Natal.
133
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 134Metropolitana de Natal
Sendo assim, parece coerente a instalação desses imigrantes
relativamente próximo ao município de Natal. Levando-se em consideração a
real condição socioeconômica desses imigrantes, a qual impossibilita, em sua
maioria, residirem próximo ao local onde exercem sua atividade profissional ou
educacional, restando assim vir a praticar o movimento pendular, ou seja, o
deslocamento diário da população, que parte de seu local de residência ao
trabalho ou escola e vice-versa, conforme se demonstrou anteriormente.
134
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 135Metropolitana de Natal
Mapa 5 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município do
Rio Grande do Norte, exceto da Região Metropolitana - Região Metropolitana de Natal – 2000
135
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 136Metropolitana de Natal
Mapa 6 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município de fora do Rio Grande do Norte e de outros países - Região Metropolitana de
Natal – 2000
136
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 137Metropolitana de Natal
Mapa 7 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem a Região Metropolitana
de Natal - Região Metropolitana de Natal – 2000
137
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 138Metropolitana de Natal
O Mapa 8 apresentado adiante, que trata da proporção de pessoas de
15 anos e mais de idade que realizam movimento pendular em direção ao pólo
metropolitano, comprova a forte centralidade socioeconômica que a cidade de
Natal exerce na Região Metropolitana, principalmente, aos municípios que
estão localizados em torno dela, como Extremoz, São Gonçalo do Amarante e
Parnamirim.
Conforme ressalta Bassand & Brulhaart (1980), a mobilidade espacial
tem um sentido mais amplo que o da migração, englobando tanto os
deslocamentos de longa distância, referentes às migrações, quanto os de curta
distância, referentes à mobilidade residencial. O que define é a mudança de
uma localização no espaço: o lugar de residência.
Sendo assim, o que pode-se perceber através do Mapa 8, que
especialmente nos municípios citados anteriormente a um intenso movimento
para Natal, revelando uma proporção na casa dos 80% do total de pessoas que
realizam movimento pendular e como foi visto anteriormente, pode causar
algum estranhamento a AED representada pelo Agregado de Distrito de São
Gonçalo do Amarante, expressar um número tão alto de pessoas que saem de
sua residência para trabalhar e estudar no município pólo, então, cabe mais
uma vez esclarecer que essa área apesar de apresentar-se visualmente
urbanizada ainda é considerada pela lei municipal como zona rural, com isso
não é por acaso que a população localizada nessa área sofra uma maior
representatividade das ocupações populares em detrimento da então esperada
ocupação rural.
Por tudo, pode-se aferir alguns pontos principais sobre a mobilidade da
população no espaço metropolitano de Natal, tendo sempre como pano de
138
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 139Metropolitana de Natal
fundo as tipologias socioespaciais, dentre eles o acesso distinto da população
perante o espaço metropolitano, dado em grande parte pelo forte valor/aluguel
do imóvel que acaba “empurrando” a população mais desfavorecida
socioeconomicamente para áreas mais periféricas, onde o valor/aluguel do
imóvel não é tão alto, como também podemos perceber a forte centralidade da
capital, especialmente, sobre os municípios limítrofes, onde a força do
movimento pendular exercido por eles só vem a comprovar essa afirmação.
139
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 140Metropolitana de Natal
Mapa 8 Percentual de pessoa que realizam movimento pendular em direção ao
Pólo Metropolitano - Região Metropolitana de Natal – 2000
140
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 141Metropolitana de Natal
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta desse estudo em discutir as relações entre a dinâmica
demográfica – considerando os níveis mortalidade, fecundidade e mobilidade
expressadas na Região Metropolitana de Natal – e o seu status
socioeconômico, partiu do pressuposto da já constatada interdependência
entre a real condição social e econômica da sociedade e sua influência direta
nos padrões de mortalidade, fecundidade e mobilidade de seus habitantes.
Para tanto, esse trabalho se propôs destacar a tendência de
agrupamento da população perante a influência socioeconômica, ressaltando a
contribuição de se utilizar uma tipologia socioespacial, construída a partir de
três variáveis: ocupação, renda e instrução, que pudesse expressar no território
metropolitano uma melhor aproximação da organização espacial da população
na Região Metropolitana.
Para isso, fez-se mão do contexto da segregação residencial,
objetivando identificar possíveis padrões de organização espacial, a fim de
utilizá-lo, principalmente, como meio facilitador de análise, sem, no entanto
resumir-se a simples etapa estatística da construção das tipologias
socioespaciais. Dessa forma, o estudo pode possibilitar a inferência sobre a
distribuição da população no espaço da Região Metropolitana de Natal, a qual
se encontra fragmentada perante classes sociais.
Deve-se ressaltar que como sugere Suzana Pasternak (2004), este
trabalho considerou o conceito de segregação residencial, como uma tendência
de agrupamento no espaço de grupos sociais homogêneos, também resultado
141
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 142Metropolitana de Natal
de uma desigualdade socioespacial, capaz de traduzir territorialmente a
estrutura sociodemográfica apresentada na Região Metropolitana de Natal.
Sendo assim, partindo do fundamento da organização espacial da
população, que está diretamente ligado à noção fundamental de diferenciação
e, aceitando a idéia de que o espaço da metrópole é constituído por áreas
diferentes entre si, buscou-se a organização do espaço metropolitano, através
de uma tipologia socioespacial, que proporcione inferir os diferenciais
demográficos da Região Metropolitana.
Foi possível verificar então, a influência direta, que as variáveis
ocupação, renda e educação, utilizadas para construção das tipologias
socioespaciais, exercem na construção dos diferentes e atuais níveis de
fecundidade, mortalidade e mobilidade na Região Metropolitana de Natal,
especialmente, quando distribuídos perante distintas classes sociais.
Também pode ser proposto nesse trabalho uma breve e necessária
discussão sobre o conceito de região, tecendo assim, algumas considerações
sobre o conceito e sua contribuição para o trabalho empreendido. Sempre
partindo do pressuposto do acesso desigual da população ao espaço da
Região Metropolitana, levando em consideração diferentes níveis de classe
social.
Contudo, não se pode desvincular a atual configuração da dinâmica
demográfica apresentada pela Região Metropolitana de Natal, sem no entanto
levar em consideração o contexto mundial, nacional e nordestino, como
também a realidade oferecida pelo Estado do Rio Grande do Norte.
142
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 143Metropolitana de Natal
E, como se percebe, através das análises realizadas nos capítulos
anteriores, há uma generalizada tendência de queda tantos das taxas de
fecundidade quanto dos índices de mortalidade perante a população em geral.
O que se verificou nas análises, é que apesar da desigualdade,
especialmente socioeconômica apresentada pela população perante esses
diversos contextos, seja devido a melhores condições de saúde ou de acesso a
informação, existe uma sensível tendência de redução dos índices de
mortalidade e fecundidade da população.
Mesmo que tenha sido constatado para Região Metropolitana de Natal,
um generalizado baixo índice de fecundidade, aproximando-se especialmente
do término de sua transição demográfica, verifica-se ainda, diferenciais
significativos perante as distintas classes sociais.
Sendo assim, pode-se vislumbrar a desigual realidade na dinâmica da
fecundidade apresentada pelas classes sociais médias e superiores,
representadas principalmente pelas AED's localizadas na Zona Norte de
Parnamirim e Zona Sul de Natal. De fato, em relação às classes mais
populares e, mais especificamente, as classes sociais onde há uma maior
representatividade das ocupações agrícolas, representadas respectivamente,
em sua maioria, por AED's localizadas na Zona Norte e Oeste de Natal e as
Zonas Rurais de Macaíba e Ceará - Mirim, foi verificado um considerável
distanciamento de áreas onde os níveis de fecundidade já se encontram abaixo
do nível de reposição; em contraposição às áreas onde a transição da
fecundidade ainda é uma realidade distante a ser desfrutada.
Perante essa realidade, o estudo empreendido defrontou-se com
particularidades, como a expressada nos padrões de fecundidade das AED's
143
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 144Metropolitana de Natal
de Barro Vermelho – Lagoa Seca – Alecrim, Pitimbú e Parnamirim – Centro –
BR 101, representas pela tipologia socioespacial média as quais apresentaram
os menores índices de fecundidade da Região Metropolitana de Natal.
O esperado era uma estreita e inversa relação entre o status
socioeconômico e seus níveis de fecundidade, ou seja, intuitivamente quanto
maior a classe social verificada na população menor seria sua taxa de
fecundidade. Conseqüentemente, o tipo médio apresentaria uma taxa de
fecundidade ligeiramente superior aos tipos médio-superiores e superiores, o
que não foi verificado para Região Metropolitana de Natal.
Isso só vem a reforçar a tese de que apesar do acesso diferenciado da
população perante o espaço metropolitano e de sua forte influência nos índices
demográficos, dado a sua condição socioeconômica, não está ocorrendo
suficientemente uma barreira a aproximação ao termino da transição da
fecundidade, apresentando taxas cada vez mais próximas dos níveis de
reposição da população, demonstrando com isso, um maior acesso da
população as informações de saúde e contracepção.
Quanto à dinâmica da mortalidade apresentada pela Região
Metropolitana de Natal, verificou-se também, para as taxas de fecundidade, um
generalizado decréscimo em seus valores. Entretanto, devem-se ressaltar
algumas particularidades que reforçam a idéia de que os indicadores
socioeconômicos, mesmo apesar da sua forte influência, por si só não são
determinantes da dinâmica demográfica. E como visto anteriormente, os
índices de mortalidade estão inseridos em um contexto, não só global, mas
também, local, histórico e socialmente construído.
144
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 145Metropolitana de Natal
Sendo assim, particularidades como a verificada para o município de
Monte Alegre, onde apesar de não apresentar dados satisfatórios quanto ao
seu desenvolvimento socioeconômico, desponta no ano de 2000, como o
município da Região Metropolitana com maior esperança de vida ao nascer
(70,59 anos), fazendo assim, parte das análises feitas para mortalidade
vislumbrada para Região Metropolitana de Natal.
Essa realidade demonstrada pelo município de Monte Alegre, mostra
também, que o dado de mortalidade, muitas vezes pode ser “mascarado” pela
dinâmica metropolitana. Onde se sabe que, quanto ao atendimento de saúde,
não só Monte Alegre, como grande parte dos municípios localizados próximos
a Natal, buscam na capital do Estado, utilizar da oferta de equipamentos de
saúde oferecidos pela cidade.
É inquestionável que os fatores socioeconômicos tiveram um papel
significativo, tanto para os baixos índices de fecundidade quanto de
mortalidade, não é por acaso, que os tipos socioespaciais que apresentaram os
mais baixos índices de fecundidade e mortalidade foram os níveis médio e
superior, onde há uma maior representatividade das categorias
socioocupacionais da elite dirigente e intelectual da Região Metropolitana,
contrapondo-se as áreas onde há uma maior representatividade das
ocupações populares e agrícolas, que conseqüentemente foram observados
índices de fecundidade e mortalidade mais altos.
Além disso, há forte influência dos fatores socioeconômicos na
mobilidade da população, principalmente, na distribuição e acesso do imigrante
ao espaço metropolitano. Como se pode perceber, através da realidade
demonstrada pela Região Metropolitana de Natal, os fluxos migratórios, são
145
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 146Metropolitana de Natal
estreitamente influenciados pela dinâmica do mercado de trabalho, o qual, já
reforçava Ariovaldo Santos (2006), tem fundamental importância na fixação ou
transferência da força de trabalho de uma região para outra.
Verificou-se ainda, no detalhamento da origem dos imigrantes da Região
Metropolitana, o surgimento de pelo menos dois perfis de acesso de imigrantes
ao espaço metropolitano, onde os imigrantes que têm como origem outros
municípios do Rio Grande do Norte, que não fazem parte da Região
Metropolitana de Natal, costumam ocupar as áreas periféricas da capital, como
grande parte das AED's que compõem a Zona Norte e Oeste da cidade. Os
imigrantes de origem interestaduais e de outros países estão situados,
principalmente nas zonas leste e sul de Natal.
A grande diferença entre esses dois perfis é justamente sua organização
no espaço e a sua categoria socioocupacional, onde os imigrantes intra-
estaduais têm acesso às áreas consideradas mais humildes e sem boa infra-
estrutura urbana, onde ocorre uma maior representatividade das ocupações
populares, contrapondo-se aos imigrantes de origem interestadual e de outros
países, que em grande parte, ocupam as áreas mais nobres da capital Natal,
onde a categoria socioocupacional preponderante são as da tipologia superior.
Pode-se constatar que o desigual acesso ao espaço metropolitano se dá
devido às condições socioeconômicas desses imigrantes, e em parte a
especulação imobiliária verificada, principalmente, em Natal. Áreas onde há
uma maior representatividade da tipologia superior são fortemente
caracterizadas pelo alto valor/aluguel de seus imóveis, tendo como
conseqüência o acesso de uma parcela da população de alto status
socioeconômico.
146
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 147Metropolitana de Natal
Contraponde-se a essa realidade, os bairros periféricos de Natal e os
municípios em torno da capital, especialmente, Parnamirim, São Gonçalo do
Amarante e Extremoz, acabam se transformando em áreas de atração aos
imigrantes de menor condição socioeconômica, devido, principalmente, a maior
facilidade de acesso ao imóvel.
Com isso, infere-se que os principais causadores desses dois perfis de
imigrantes são o alto valor/aluguel do imóvel e a crescente especulação
imobiliária apresenta pela cidade pólo, que acaba direcionando os imigrantes
de menor condição socioeconômica para áreas mais periféricas, como a
formação de novos núcleos familiares, que também, ao sofrerem influência do
valor/aluguel do imóvel ofertado pela capital, estaria se direcionando para os
municípios limítrofes à Natal.
Não é por acaso, que foi constatado que dentre os imigrantes residentes
nesses municípios, em sua maior parte, teve como origem/nascimento o
município pólo. O que nos parece coerente, quando se é levado em
consideração a real condição socioeconômica desses imigrantes, a qual
impossibilita residirem próximo ao local de trabalho/estudo.
Sendo assim, considera-se o movimento pendular como um ótimo
termômetro para aferir a forte influência/centralidade que Natal exerce,
especialmente, nesses municípios limítrofes, onde acaba revelando uma alta
proporção de trabalhadores/estudantes, sempre acima de 80%, indo em
direção à Natal. De fato, esses deslocamentos para o trabalho/estudo
assumem importância crescente, integrando o pólo metropolitano, que é o
principal centro da produção.
147
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 148Metropolitana de Natal
Por tudo isso, as novas tendências demográficas apresentadas pela
Região Metropolitana de Natal – baixa fecundidade, aumento da expectativa de
vida, conseqüência da diminuição da mortalidade, e a atual configuração dos
fluxos migratórios – que se afirmaram ao longo dos últimos anos, demonstram
que, ao analisar a dinâmica demográfica na Região Metropolitana de Natal, as
realidades urbanas são bastante diversas. Sendo assim, admiti-se que as
condições de vida presentes nos tipos socioespaciais mais periféricos, onde a
realidade vivida pela população alocada em tipos socioespaciais mais pobres,
ressentida de uma melhor qualidade de vida, seja ela, produzida pela falta de
saneamento, emprego, educação ou deterioração das condições de saúde,
poderão revelar realidades demográficas distintas daqueles encontrados em
tipos socioespaciais mais abastados e bem-servidos.
148
Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 149Metropolitana de Natal
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