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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO
GRACILLANA MALÚ DE MACEDO MEDEIROS
A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS DO ECA :
análise a partir da realidade do Centro Avançado de Saúde Escolar do Município de
Parnamirim / RN
NATAL/RN
2015
GRACILLANA MALÚ DE MACEDO MEDEIROS
A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS DO ECA :
análise a partir da realidade do Centro Avançado de Saúde Escolar do Município de
Parnamirim / RN
Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção
do título de bacharel em Serviço Social pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte –
UFRN.
Orientadora: Profª. Dr.ª Eliana Andrade da Silva
NATAL/RN
2015
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Medeiros, Gracillana Malú de Macedo.
A instrumentalidade do serviço social e os direitos do ECA : análise a partir da
realidade do Centro Avançado de Saúde Escolar do Município de Parnamirim / RN /
Gracillana Malú de Macedo Medeiros. - Natal, RN, 2015.
109 f.
Orientadora: Profa. Dra. Eliana Andrade da Silva.
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social.
1. Serviço Social - Monografia. 2. Instrumentalidade - Serviço social - Monografia.
3. Direitos sociais - ECA - Monografia. I. Silva, Eliana Andrade da. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 364:342.7
Aprovada em: 08/12/2015
Dedico esse trabalho, primeiramente a Deus, a
minha família, meus pais, meu irmão, minha
sobrinha, minhas tias Ana, Evania e Iraci, meus
primos e primas entre os quais de modo singular
posso destacar a linda flor Maria Luisa. Estendo
também esta dedicatória a outras pessoas
maravilhosas que Deus colocou em meu caminho
onde posso mencionar a minha querida
orientadora Eliana Andrade que me guiou nesse
trabalho em meio as adversidades que a vida nos
impõe.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus por tudo em minha vida, incluindo claro, a
conclusão desse curso, pois sem Ele, não sou nada, e nada teria conseguido. Ele é meu
sustento, minha força, minha luz, meu guia, meu consolo, meu abrigo, meu refúgio, minha
paz. Agradeço pelo dom da vida de todos nós, e pela graça de estar vivenciando um momento
de bênção e alegria como esse.
Em segundo lugar, agradeço a minha família, aos meus pais, meu irmão, minha
sobrinha, minhas tias, em especial minhas tias Ana, Evânia e Iraci, meus primos e primas
entre os quais de modo singular posso destacar a linda flor, princesa e anjo Maria Luisa.
Agradeço também a todas as pessoas que fizeram parte da minha vida acadêmica,
incluindo professores(as), colegas, etc. Em especial a minha orientadora Eliana Andrade da
Silva, pelas orientações que me guiaram nesse caminho atribulado que é o TCC e as minhas
colegas Ana Cristina, Bruna Barreto, Elidaiane e Maria Aparecida pela linda amizade que
tecemos. Agradeço também por todas as pessoas que participaram da minha experiência de
estágio, em especial, as assistentes sociais, dentre as quais posso destacar Daliana Dantas,
minha supervisora de campo.
Além disso, agradeço aos diversos anjos que me auxiliaram em momentos difíceis,
pessoas que me apoiaram em minha vida pessoal, na construção do meu “eu” e da minha
história, pessoas que marcaram a minha existência e contribuíram ao dar significado a mesma,
as quais por serem muitas, não vou mencionar, mas que estão guardadinhas em meu coração,
onde posso salientar a minha tia Evânia que me apoiou de modo ímpar.
Obrigada a todos! Um grande abraço!
RESUMO
A partir da experiência de estágio no Centro Avançado de Saúde Escolar nasceu a idéia, a
qual constitui-se como objetivo principal do presente trabalho de conclusão de curso, de
analisar a instrumentalidade do Serviço Social no CASE na perspectiva da efetivação dos
direitos sociais das crianças e adolescentes contidos no ECA(Estatuto da Criança e do
Adolescente) . Com esse propósito, este estudo tem como objetivos específicos estudar qual a
concepção de instrumentalidade que as assistentes sociais detém e pesquisar o modo como
percebem a dimensão ética e política no cotidiano do seu trabalho. A fim de alcançar os
objetivos almejados foram utilizadas fontes de pesquisa de origem bibliográfica ( artigos,
revistas, livros, sites, monografias referentes ao tema citado), documental ( instrumentos
utilizados no CASE : entrevista social, termo de compromisso, notificação, etc.) e de campo (
observação, questionários, conversas com as assistentes sociais da instituição). A partir da
articulação dos dados colhidos nessas fontes de pesquisa, deu-se a produção do trabalho
vigente. Neste estudo, verificou-se que há uma necessidade em se aprofundar os estudos e
debates relacionados ao tema da instrumentalidade do Serviço Social, na perspectiva da
materialização dos direitos sociais e que as profissionais do CASE compreendem que a
dimensão ética e política encontra-se claramente na atuação profissional das mesmas, quando
estas comprometem-se política e eticamente com o projeto ético-político da profissão, lutando
pela legitimação dos direitos dessas famílias, contribuindo na construção de uma sociedade
mais justa e igualitária. Dessa forma, conclui-se que a relação entre a instrumentalidade do
Serviço Social e os direitos da criança e do adolescente prescritos no ECA é basilar, tendo-se
em vista que por meio dela, os(as) assistentes sociais materializam os direitos instituídos no
referido documento.
Palavras-chave: Instrumentalidade, Serviço Social, Direitos, ECA.
ABSTRACT
This course conclusion work aims This paper deals with the instrumentality of Social Work in
CASE with a view to attaining social rights of children and adolescents contained in the ECA
(Statute of Children and Adolescents). For this purpose, this study has the following
objectives which the study design instrumentality that holds social workers and search the
way they perceive the ethical and political dimension of their work in daily life. In order to
achieve the desired objectives were used bibliographic source research sources (articles,
magazines, books, websites, papers relating to the said theme), documentary (instruments
used in CASE: social interview, term sheet, reporting, etc.) and field (observation,
questionnaires, conversations with the social workers of the institution). From the articulation
of the data collected in these research sources, there was the production of the current work.
In this study, it was found that there is a need to deepen the studies and discussions related to
the topic of the instrumentality of Social Work from the perspective of materialization of
social rights and the CASE professionals understand that the ethical and political dimension is
clearly the professional performance of the same when they commit themselves politically
and ethically with the ethical-political project of the profession, struggling for legitimacy of
the rights of these families, contributing to building a more just and egalitarian society. Thus,
it is concluded that the relationship between the instrumentality of Social Work and the rights
of children and adolescents prescribed in ECA is fundamental, having in mind that through it,
the (as) Social Workers materialize the duties imposed on that document.
Keywords: Instrumentality, Social Services, rights, ECA.
LISTA DE SIGLAS
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
ABMP - Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores da Infância e Juventude
CAICs - Centros de Apoio Integral à Criança e ao Adolescente
CASE – Centro Avançado de Saúde Escolar
CEAS - Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo
CEDHEC - Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CRAS – Centro Referência em Assistência Social
DDA – Déficit de Atenção
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FUNABEM - Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
IAP -Importância do Afeto Paterno
LBA- Legião Brasileira de Assistência
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
ONGS – Organizações não Governamentais
PRONAICA - Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
SDH/PR - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1-
Gênero e pacientes com Déficit de Atenção.............................................
15
Grágico 2- Faixa etária dos pacientes do CASE .......................................................... 15
Gráfico 3- Renda das famílias atendidas no CASE....................................................... 16
Gráfico4- Escolaridade dos pais das crianças (pacientes) do CASE.........................
16
Gráfico 5- Queixas mais frequentes por parte dos pais e das escolas em relaçã aos
sintomas das crianças .............................................................................
17
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................
11
2 A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL NA
CONTEMPORANEIDADE...................................................................................................
14
2.1 PERFIL DOS PACIENTES DO CASE.................................................................................... 14
2.2 FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DA PROFISSÃO E AMPLIAÇÃO DO
DEBATE DA
INSTRUMENTALIDADE.......................................................................................................
17
2.3 A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS SOCIAIS NA
ATUALIDADE........................................................................................................................
46
3 A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL NA PERSPECTIVA DA
EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO
ÂMBITO DO CASE................................................................................................................
55
3.1 A INSTRUMENTALIDADE NO CASE COMO MEIO PROMOTOR DOS DIREITOS
DAS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES....................................................................................................................
55
3.2 RESULTADOS DA PESQUISA VERSUS CONDIÇÕES DE TRABALHO E
INSTRUMENTALIDADE.......................................................................................................
74
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................
83
5
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 87
6 APÊNDICES.............................................................................................................................
92
7 ANEXOS.................................................................................................................................. 97
ANEXO A: ENTREVISTA SOCIAL..................................................................................... 97
ANEXO B: FICHA DE ANAMNESE.....................................................................................
100
ANEXO C: FICHA DE EVOLUÇÃO....................................................................................
103
ANEXO D: TEMO DE RESPONSABILIDADE...................................................................
104
ANEXO E: TERMO DE COMPARECIMENTO................................................................. 105
ANEXO F: ENCAMINHAMENTO....................................................................................... 106
ANEXO G: DECLARAÇÃO DE ABANO POR FALTA..................................................... 107
ANEXO H: TERMO DE NOTIFICAÇÃO............................................................................ 108
ANEXO I: TERMO DE DESLIGAMENTO......................................................................... 109
11
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho trata da instrumentalidade do Serviço Social no CASE(Centro Avançado
de Saúde Escolar) na perspectiva de efetivação dos direitos sociais das crianças e adolescentes
contidos no ECA(Estatuto da Criança e do Adolescente) na esfera do trabalho sócio-educativo
desenvolvido pelo CASE localizado no município de Parnamirim/ RN.
Essa discussão se insere no conjunto das inquietações do Serviço Social no que
concernem as constantes demandas por aperfeiçoamentos dos instrumentos e técnicas, dos
saberes teóricos e interventivos, enfim das capacidades elucidadas por Iamamoto (2004) as
quais o assistente social deve deter: as competências ético-política, a teórico-metodológica e a
técnico operativa. Essa análise está interligada ao exercício profissional que abrange a questão
da instrumentalidade a qual envolve todas as etapas do trabalho profissional como um todo,
desde o planejamento a intervenção perpassando o monitoramento.
A Instrumentalidade do Serviço Social foi construída historicamente e, se constitui
como uma capacidade peculiar da profissão (GUERRA, 2000), devendo ser estudada e
aprimorada de modo que possam corresponder as respostas necessárias às expressões da
questão social. Por meio dessa capacidade, o assistente social pode alargar as possibilidades
de resposta às expressões da questão social. Isso é fundamental, nos dias atuais, tendo-se em
vista as contradições cada vez mais profundas e evidentes na contemporaneidade advindas das
contradições e desigualdades promovidas pela má distribuição de riquezas na sociedade
capitalista. Para isso, os (as) assistentes sociais precisam investigar constantemente a literatura
clássica e a mais recente também, sabendo conectá-las de modo a munir-se de estratagemas
que decifrem os enigmas cotidianos oriundos das manifestações decorrentes das injustiças
sociais. Sendo assim, vê-se a importância de se produzir um conteúdo que vise ao
aprimoramento dos conhecimentos acerca do instrumental do Serviço Social na perspectiva da
promoção dos direitos sociais das crianças e adolescentes.
Com esse propósito, este trabalho tem como objetivos específicos estudar qual a
concepção de instrumentalidade que as assistentes sociais detêm e pesquisar o modo como
percebem a dimensão ética e política no cotidiano do seu trabalho. Já como objetivo principal
este estudo busca compreender a relação entre a Instrumentalidade do Serviço Social e a
materialização dos direitos sociais das crianças e adolescentes presentes no ECA.
A fim de alcançar os objetivos almejados foram utilizadas fontes de pesquisa de
origem bibliográfica (artigos, revistas, livros, sites, monografias referentes ao tema citado),
12
documental (instrumentos utilizados no CASE: entrevista social, termo de compromisso,
notificação, etc.) e de campo (observação, questionários e conversas com as três assistentes
sociais da instituição). Os questionários foram entregues as assistentes sociais da instituição
que ao total são três. A partir da articulação dos dados colhidos nessas fontes de pesquisa,
deu-se a produção do trabalho vigente.
Sob esse prisma, este estudo está dividido em dois capítulos onde o primeiro é
constituído por três subitens e o segundo por dois subitens. O primeiro capítulo intitulado “A
Instrumentalidade do Serviço Social na Contemporaneidade” está embasado no subitem
“Perfil dos pacientes do CASE”, no subitem “Fundamentos sócio-históricos da profissão e
ampliação do debate da instrumentalidade” e no subitem “A Instrumentalidade do Serviço
Social e os direitos sociais na atualidade”. Este capítulo trata do perfil dos pacientes do
CASE, da história da origem da profissão, suas demandas e o debate da instrumentalidade
dentro da profissão a fim de se compreender a importância do estudo da instrumentalidade da
profissão para a categoria e suas respostas profissionais. O segundo capítulo denominado “A
instrumentalidade do Serviço Social na perspectiva da efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes no âmbito do CASE” está alicerçado no subitem “A instrumentalidade do
Serviço Social na perspectiva da efetivação dos direitos das crianças e adolescentes” e no
subitem “Resultados da Pesquisa versus condições de trabalho e instrumentalidade”. O
mencionado capítulo tem como finalidade analisar a instrumentalidade do Serviço Social
como meio de materialização dos direitos das crianças e adolescentes presentes no ECA. Por
fim, as Considerações Finais correspondem a análise crítica do que pode ser compreendido e
contemplado no presente estudo.
Esta pesquisa tem como principal contribuição, o fato de ser mais um conhecimento a
ser adicionado aos já existentes na profissão do Serviço Social. Vale lembrar que os estudos
referentes a esse tema ainda são escassos e recentes, e que uma pesquisa que alia o
conhecimento teórico ao prático, ela articula de modo fundamental as competências técnico-
operativas, ético-políticas e teóricas da profissão, desenvolvendo de forma bastante
significativa o conhecimento adquirido nos muros da Universidade, juntamente a experiência
de estágio e aos estudos promovidos na presente análise.
A principal motivação ao fazer esse trabalho foià busca pela compreensão do
significado da instrumentalidade da profissão como meio de concretizar as intencionalidades
em efetivas respostas as expressões da questão social, em especial na perspectiva dos direitos
das crianças e adolescentes no âmbito do CASE. E essa pesquisa motivou-se a partir da minha
experiência de estágio no mencionado local. Tendo-se em vista que a referida instituição
13
trabalha sob a perspectiva de concretizar direitos presentes no ECA, atendendo a diversas
necessidades das mesma, a fim de promover o pleno desenvolvimento e progresso escolar das
crianças/adolescentes pacientes da instituição.
14
2 A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE
Para se compreender, a instrumentalidade do Serviço Social na perspectiva da
materialização dos direitos das crianças e adolescentes, faz-se necessário discorrer sobre os
fundamentos sócio-históricos da profissão e a ampliação do debate da instrumentalidade
dentro da categoria profissional do Serviço Social. Com esse intuito, o subitem 2.1 analisa o
perfil dos pacientes do CASE, e o 2.2 disserta sobre a história da profissão e o debate da
instrumentalidade na mesma.
2.1 PERFIL DOS PACIENTES DO CASE
É bom lembrar que, este trabalho, busca justamente refletir sobre a instrumentalidade
no contexto do CASE como forma de materialização dos direitos das crianças e adolescentes
previstos no ECA. Para isso, faz-se interessante esclarecer as atribuições do CASE e discorrer
ao menos brevemente sobre quem são as famílias e as crianças atendidas no CASE, em outras
palavras, caracterizar os usuários dos serviços da instituição. O CASE é uma instituição que
atende a crianças com déficit de aprendizagem que estudam em escolas do município de
Parnamirim, sejam estas públicas ou privadas. É formado por uma equipe interdisciplinar,
onde constam profissionais da área do Serviço Social, psicologia, fonoaudiologia, nutrição,
entre outros. Em relação ao perfil das crianças atendidas no CASE, a faixa etária das crianças
atendidas na instituição é dos 6 aos 12 anos de idade. A maior parte das crianças são do
gênero masculino como mostra o gráfico.
Porém, isso não quer dizer que necessariamente haja mais crianças do sexo masculino
do que as do sexo feminino portadoras do déficit de atenção/aprendizagem vistoque até por
uma questão de cultura a mulher geralmente é educada de modo a se comportar de forma mais
contida. Com isso as mulheres em muitos casos não são diagnosticadas como detentoras de
déficit de atenção na aprendizagem. (SILVA, p. 39, 2003)
15
Fonte: Prontuários do CASE/2014.
A faixa etária dessas crianças em tratamento varia como evidencia o gráfico abaixo,
sendo visível uma porcentagem bem aproximada entre aquelas que se encontram na faixa dos
6-10 anos de idade.
Fonte: Prontuários do CASE/2014.
A renda das famílias foi calculada tendo como referência o salário mínimo atual,
R$724,00 concernente ao ano de 2014. Verificou-se que quase 60% das famílias recebem
mais de um salário mínimo e 6% não tem renda, trabalham de forma informal, fazendo bicos
para ganhar algum dinheiro. Esses dados evidenciam a realidade econômica dos usuários do
CASE e suas famílias, dessa forma a questão social apresenta-se apresentando que os recursos
escassos podem possibilitar o surgimento do déficit de aprendizagem e também limitar a vida
do individuo portador do diagnostico citado, pois, a família de baixa renda tem menos
65%
35%
Gênero
mas
fem
36%
46%
18%
Faixa etária
6 - 7 anos
8-10 anos
11-12 anos
16
possibilidades para fornecer um tratamento clínico especializado à criança de forma plena e
integral.
Fonte: Prontuários do CASE/2014.
Em relação a escolaridades dos pais, foi perceptível que maior parte possui apenas o
ensino fundamental incompleto, esse é um fator significativo ao se ver a instrução do pais que
se torna relevante como influência na vida dos filhos. Desse modo, a partir do momento que
os pais (não têm um nível de instrução) apresentam um baixo nível de escolaridade,
conseqüentemente muitas vezes não constroem hábitos de estudo nas crianças. (informação
coletada em entrevista com a Assistente Social do CASE).
Fonte: Prontuários do CASE/2014.
“O DDA (Déficit de Atenção) é caracterizado por três principais sintomas: distração,
impulsividade e hiperatividade” [...] “O sinal que pode diferenciar uma criança DDA de outra
que não seja é a intensidade, a frequência e a constância daquelas três principais
59%
35%
6%
Renda
mais de 01 salário mínino
menos de 01 salário mínimo
sem renda
6%
40%
18%
18%
5%
7% 6%
Escolaridade dos pais fundamental completo
fundamental incompleto
medio completo
medio incompleto
superior completo
superior incompleto
sem escolaridade
17
características.” (Silva, p. 53, 2003). Entre as reclamações mais comuns das crianças por parte
das escolas e dos pais, são relativas a dificuldade de atenção e concentração, sendo esses os
maiores fatores que as levam a não ter um bom desempenho no âmbito escolar.
Fonte: Prontuários do CASE/2014.
2.2 FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DA PROFISSÃO E AMPLIAÇÃO DO
DEBATE DA INSTRUMENTALIDADE
O surgimento da questão social está relacionado à mudança do trabalho escravo para a
venda da força de trabalho. Dessa forma, o sistema de produção passa a ser o capitalista, com
um mercado dirigido pelo capital, onde os protagonistas são o capitalista, detentor dos meios
de produção e o proletariado, proprietário e vendedor da sua força de trabalho como modo de
sobrevivência.
Conseqüentemente à intensa exploração que permeia a relação entre o capital e o
trabalho, o trabalhador passa a lutar por melhores condições de vida, sendo essencial a
atuação do Estado para mediar esta situação. Conforme o capitalismo se enraíza, a questão
social se prolifera, exigindo um posicionamento por parte de setores dominante, como o
Estado e a igreja católica.
Tendo-se em vista que a questão social, é reflexo e parte integrante de um modo de
produção que traduz-se em refrações ideológicas, econômicas, sociais e culturais que
perpassam a vida dos indivíduos, esta deve ser estudada e analisada dentro do seio da
sociedade contemporânea e histórica.
30%
11%
18%
14%
19%
3% 1% 4%
Queixas mais frequentes
dificuldade de atençãoe concentração
dificuldades na fala
dificuldades de leitura
difculdades naaprendizagem
18
Como mencionado anteriormente a questão social ela se expressa de diversas formas
não apenas no plano econômico, mas também em outros aspectos que se dão por exemplo nos
conflitos que abrangem o poder e que geram fatores como violência, pobreza, preconceitos, e
outras várias formas de exclusão social (IAMAMOTO, 2007). Dessa forma, a questão social
pode ser definida como produto e expressão das contradições que permeiam o capital e o
trabalho.
Contudo, não há consenso, até o presente momento, entre os profissionais da área de
Serviço Social, no que se refere aos fundamentos da questão social. A análise da sociedade, a
partir da categoria da questão social, ela se dá principalmente, no destaque as diferenças entre
trabalhadores e capitalistas, em vistas das suas condições e perspectivas de vida, entre outros
fatores. É compreender a origem dessas desigualdades, o que elas acarretam e os meios de
superá-las (MACHADO, 2015).
Assim, o Serviço Social surge, como requisição do setor dominante da sociedade
capitalista, a fim de promover um controle através da reprodução material e ideológica de sua
visão de mundo, mediando os conflitos de interesses entre as classes sociais(SOUSA, 2008,
p.120), derivados do desequilíbrio na distribuição dos recursos materiais produzidos
socialmente a apropriados de forma privada.Dessa forma, o Serviço Social aparece como
resposta das classes dominantes à questão social (SANTOS; TELES; BEZERRA, 2013).
Datas significativas para o Brasil, que acarretarão alterações em todas as esferas da
sociedade brasileira, são o ano de 1929, em que houve a crise comercial em âmbito
internacional, a crise na bolsa de valores de Nova York que também interfere no Brasil, e o
movimento de 1930. Esses episódios produzem oscilações na configuração política e
econômica. O Brasil, antes exportador de café e açúcar, passa a investir na industrialização do
país, objetivando substituir as importações.
Assim sendo, o modo de acumulação capitalista altera-se de agro-exportador para o
industrial. As condições de vida da classe trabalhadora eram péssimas. Baixos salários,
lamentáveis ambientes de trabalho, alto desemprego, etc.
Ante todo esse contexto, a classe operária organiza-se na luta por melhores condições
de vida. Daí, originam-se por exemplo, as Ligas Operárias que geram Sindicatos e Sociedades
de Resistência e até mesmo Congressos e Confederações Operárias, assim como também uma
imprensa operária.
Contudo, essas organizações só serão reconhecidas pelo proletariado, sendo
intensamente combatidas e perseguidas. Gradativamente, a classe trabalhadora através
desmobilizações, greves e manifestações vai alcançando alguns avanços. Entre estes, pode-se
19
destacar o Conselho Nacional do Trabalho, criado em 1925, e as leis de proteção trabalhistas
aprovadas em 1926.
A burguesia só legitima os Sindicatos, na ditadura de Getúlio Vargas, e mesmo assim,
em meio a constantes conflitos.
Assim, a institucionalização da profissão emerge como consequência dos interesses e
demandas das classes sociais que se opõem no sistema de produção capitalista.
Dessa forma, o Serviço Social nasce como uma profissão prioritariamente
interventiva, com atribuições executivas e terminais. A elaboração e o planejamento das
políticas sociais executadas pelos assistentes sociais eram encarregadas a outros profissionais
e gestores governamentais (SOUSA, 2008, p.120).
Inicialmente, os instrumentos técnico-operativos do Serviço Social brasileiro são
construídos a partir da inclusão de instrumentos inerentes ás clássicas formas de assistência,
aliados à doutrina católica (TRINDADE, 2001).
E isto ocorre, naquele momento, ante o pensamento racional e moralizante
disseminado pelas ciências sociais. Esta reflexão – tão valorizada pelo sistema capitalista-
coloca a razão técnica no campo do conhecimento e da intervenção na perspectiva das
relações sociais. Dessa forma, o tecnicismo atinge as múltiplas práticas da assistência.
Vale ressaltar, que antes da criação da primeira escola brasileira de Serviço Social, em
1936, os integrantes do Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), já realizam
trabalhos junto às famílias da classe operária. Como pode-se ver na encíclica Quadragésimo
Anno (1930), a qual articula aspectos doutrinários com destaque para pontos técnicos na ação
social, como por exemplo aulas de trabalhos manuais como tricô e palestras educativas.Para
isso, utilizavam-se procedimentos como : reuniões, contatos individuais, inquéritos sociais e
visitas domiciliares.
Então, a partir do exposto, vê-se que desde sua origem, nas práticas do Serviço Social
são utilizados procedimentos técnicos. Os serviços de assistência consistiam em investigações
sobre a vida das famílias operárias, através da visita domiciliar e de inquéritos sociais
(entrevistas com as famílias e pessoas próximas). Também fazia-se uso de trabalhos
educativos, voltados à orientações à aspectos morais, de higiene e referentes a administração
da renda familiar. Trata-se de orientações que recaem prioritariamente na doutrina religiosa,
baseada na finalidade de reformar o homem e sua família. Nas empresas, eram usados
instrumentais de abordagem individual, e realização de reuniões, palestras e outros
instrumentos educativos. Conclui-se assim, que as ações desenvolvidas pelos assistentes
20
sociais no começo da profissão, não são muito diferentes das clássicas formas de assistência e
de caridade.
No entanto, neste período, as iniciativas filantrópicas davam-se num contexto diferente
daquele do século XIX. Agora, o modo de intervenção é ideológico, pois encontra-se inserido
em um novo contexto de correlações de força, principalmente devido ao grande aumento das
organizações proletárias. Para controlar as consequências do aprofundamento das
contradições produzidas nessa nova conjuntura social e política, a intervenção nas expressões
da questão social requere práticas mais eficazes do que as iniciativas beneficentes. É preciso,
que a assistência direcione a adequação do proletariado a ideologia burguesa que solidifique a
classe dominante, no Brasil.
A filantropia não é mais suficiente para responder às demandas impostos pelas no
panorama da questão social brasileira nas décadas de 1930 e 1940. Com isso, o Estado passa a
necessitar de uma intervenção técnica mais organizada e planejada desenvolvida nos serviços
sociais.
Os procedimentos são agora orientados pela doutrina da igreja, por concepções da
Sociologia e da Psicologia e pela racionalização do Estado.
As influências psicologizantes da sociologia norte-americana ocorrem no período de
extensão do pensamento norte-americano. Essa difusão da psicologização acaba por reforçar a
consolidação da ordem monopólica, quando põe sobre os sujeitos a responsabilidade por seu
destino.
Consequentemente há o predomínio da perspectiva individualista na resolução das
expressões da questão social, onde o Serviço Social de Casos surge como principal
abordagem profissional no começo da institucionalização do Serviço Social brasileiro.
Sob os moldes da Psicologia e da Psicanálise, o Serviço Social de grupos começa a ser
usado como meio de solucionar dilemas pessoais referentes a socialização. Desse modo, o
trabalho grupal passa a se inserido como meio de fortalecer os indivíduos através do
autodesenvolvimento e do enquadramento às normas e valores sociais vigentes.
Na década de 1940 esses trabalhos são pertinentes às práticas de Organização da
Comunidade, porém, por volta de 1950, passam a se desenvolver na esfera do
Desenvolvimento de Comunidade.
A atuação do Serviço Social a partir do desenvolvimento de comunidade modifica-se
na medida que extrapola os atendimentos individuais e grupais direcionados a temas
moralistas e higienicistas e passa a voltar-se a uma abordagem mais coletiva buscando-se uma
relação harmônica entre a Sociedade e o Estado.
21
Nas ações de desenvolvimento de comunidade, os assistentes sociais passam a
relacionar-se mais com outras categorias profissionais por meio de equipes compostas por
diversos profissionais bem como a participação de diversas instituições sociais num mesmo
projeto. Essa relação entre as diversas profissões transpassa os instrumentos e técnicas que
permeiam o desenvolvimento de comunidade. Importante frisar que esses instrumentos e
técnicas não são utilizados somente pelo Serviço Social. As equipes utilizam instrumentos e
técnicas decorrentes da Pesquisa Social, da Dinâmica de Grupo, da Comunicação Social, da
Psicologia Social e da Educação entre os quais estão a documentação, a observação, o diálogo
e a entrevista, a reunião e a palestra. Isso se traduz no aumento das abordagens profissionais
dos assistentes sociais,ou seja, os assistentes sociais não se limitam mais apenas às
abordagens individuais.
Na década de 1970, o Serviço Social no Brasil solidifica um projeto profissional
conformado as novas demandas impostas pela modernização conservadora do Estado: O
Serviço Social torna-se moderno e laico. Nessa época, os assistentes sociais desenvolviam
atividades de planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação de programas sociais,
além de atividades executivas terminais. Dessa forma, novos instrumentais interventivos
passam a constituir-se como o cotidiano profissional, requerendo o comando do artesanal
técnico mais refinado.
As atribuições dos assistentes sociais são ampliadas nas instituições que atendiam as
manifestações das questões sociais. A demanda é por profissionais que coordenam a
burocracia estatal, a administração e que usem a pesquisa social e o planejamento como
principais instrumentos de sua prática. Até, aquele momento, não havia o costume por parte
dos assistentes sociais de trabalharem com planejamento e administração como principais
instrumentos de sua prática.
Por meio do estudo das produções da década de 1970, observa-se que o projeto
profissional modernizador reconhece os limites do Serviço Social tradicional, contudo,
almejam uma renovação profissional enquadrada as propostas desenvolvimentistas dos
governos ditatoriais. Os profissionais da época,buscaram superar os tradicionais métodos de
Caso, Grupo e Comunidade, contudo, só conseguiram imprimir um revestimento teórico-
técnico mais refinado. Dessa forma, torna-se relevante no projeto de modernização, a procura
pela “cientificidade” do Serviço Social. Com tal finalidade, os profissionais incorporam uma
série de referências e acabam por gerar um ecletismo teórico-filosófico. Assim, o
conservadorismo permanece presente no plano ideológico no qual caminha o Serviço Social.
22
. Ao final dos anos 1970, a hegemonia do projeto profissional modernizador passa a ser
refutada por diferentes segmentos profissionais. E a vertente fenomenológica passa a ser
utilizada. Esta propõe que o assistente social capacite o cliente a promover a sua
transformação. Assim, o exercício profissional limita-se a uma prática psicossocial.
Gradativamente, novos pontos de vista teórico-metodológicos foram sendo
contemplados, após a sociedade brasileira passar por profundas transformações decorrentes da
luta pela redemocratização do Brasil durante o período ditatorial. Houve então, por volta das
décadas de 70 e 80, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. (SILVA, 2013, p.
271). Esse movimento traz consigo uma nova definição do objeto profissional do Serviço
Social, que antes era o homem em si, onde deveria ser trabalhada a sua incapacidade
individual por meio da intervenção profissional. O Serviço Social passa a ver que o homem,
encontra-se inserido em um contexto histórico, social, político, econômico, etc. Assim, a
questão social e suas diversas expressões, provenientes das contradições advindas da
apropriação desigual da riqueza socialmente produzida no modo capitalista de produção,
torna-se o objeto central de atuação do Serviço Social (MACHADO,1999).
Assim, o Serviço Social volta-se mais aos segmentos subalternos da sociedade,
aproximando-se mais dos movimentos sindicais e das organizações populares.
Nas novas propostas do Serviço Social, os problemas sociais são inseridos no contexto
capitalista e não mais como dificuldades individuais a serem superadas. Diante disso, as
abordagens profissionais passam a direcionar-se a mobilização política e social em torno da
reivindicação de direitos. Assim, o manejo do instrumental técnico-operativo segue novos
rumos.
O que se percebe é o predomínio de instrumentais que reforcem práticas coletivas as
quais desenvolvam discussões e debates sobre a conjuntura como: assembleias, grupos de
trabalho, etc. O planejamento e a programação de atividades surgem agora com o diferencial
de se efetivarem com a participação da população. Estes instrumentos, que já eram utilizados
nos anos 60 e 70 são retomados agora sob o prisma da promoção da consciência de classe,
estimulando ações que busquem a garantia dos direitos sociais.
Outro aspecto interessante é o uso de instrumentos investigativos, que passam a ser
usados não apenas para avaliar a realidade do cliente, mas também como meio de promoção
de um conhecimento crítico, almejando a transformação da realidade.
Na transição para a segunda metade dos anos 1980, os profissionais esforçam-se mais
por romper com o as práticas do Serviço Social tradicional. Na teoria, analisam as fontes
originais marxistas, objetivando explorar as diversas formas de uso no entendimento das
23
questões postas ao Serviço Social. Os estudos de Serviço Social passam a ser mais
consistentes e melhor fundamentados teoricamente. Assim, as interações com diversas áreas
do saber, na Universidade, permitem uma relação mais qualificada com a teoria marxista.
Os anos de 1990 representam o período de maior acúmulo de produções acerca da
instrumentalidade. Nesses estudos foram empreendidos esforços no intuito de desvendar o
papel dos instrumentos e técnicas do Serviço Social (COSTA, 2015).
A partir deste período, buscou-se repensar os caminhos para superar aspectos
paliativos, burocratizados e fragmentados na atuação profissional.
Percebe-se que o debate que houve na década de 1980 colaborou na edificação de uma
análise crítica da sociedade e da profissão dela constituinte. Os questionamentos daquele
período representaram um avanço relevante nas discussões referentes à história, a teoria e ao
método no Serviço Social. Os desmembramentos dessas análises redimensionaram as
discussões referentes a relação entre o conhecimento e o exercício profissional, e sua esfera
política, ao mesmo tempo proporcionaram progressos no estudo das políticas sociais e dos
movimentos sociais e seu vínculo com a profissão.
A polêmica entre os aspectos teórico-metodológicos, as estratégias, as técnicas e
procedimentos do exercício profissional repercutiram na reflexão relacionada as técnicas e
instrumentos da profissão. Com base neste discurso, o domínio da técnica e dos instrumentos
possuídos de modo desarticulado no fazer profissional no percurso da profissão, vai deixando
espaço a relação com a base teórico-metodológica que deve possibilitar a reflexão e
intervenção crítica, nos ambientes sóciocupacionais em que a profissão transpassa e se
concretiza.
Analisa-se assim que o debate dos anos de 1980 possibilita uma análise dos
instrumentos técnico operativos na profissão ante novos alicerces teórico-metodológicos, mas
ainda sem estudos delimitados na questão, e alcança a década de 1990, principalmente por
aqueles que lideram estudos e resoluções a categoria profissional, em que o sentimento de
legitimidade profissional dos assistentes sociais era avaliado veementemente.
Era habitual se colocar como razões dessas dificuldades experimentadas pela profissão
a aversão a análise dos instrumentos e técnicas vivenciados no processo de renovação envolto
nos anos 1980. Simultaneamente esse ponto estava sempre relacionado a compreensão de que
a adesão da teoria imbuída de criticidade não era satisfatória para corresponder as
particularidades da abordagem analítica dos instrumentos técnicos e operativos que
encontram-se vigentes no exercício profissional do assistente social.
24
Em meio a década de 1990, parte dos autores passaram a considerar como ponto de
análise a instrumentalidade da profissão, ou mesmo dos dilemas que permeiam os
instrumentos e as técnicas utilizadas pelo Serviço Social. Os estudos de Hélder Sarmento,
Rosa Prédes Trindade, Sandra Campagnolli e Yolanda Guerra, foram consideráveis no
progresso do debate da instrumentalidade.
A seguir, serão destacadas, algumas das principais contribuições desses autores.
Hélder Sarmento incomodou-se com a deficiência no acervo técnico-operativo do Serviço
Social, e portanto, com o conhecimento referente as técnicas e instrumentos.
Questionou o espaço dos instrumentos no período da Reconceituação e após esta,
analisando a institucionalização do Serviço Social no Brasil, frisando as concepções
operativas específicas de cada fase, inclusive a vertente crítica.
Além disso, criticou os direcionamentos dos reconceituadores à temática, contestando
ter existido um esquecimento da análise da prática e dos instrumentos e técnicas naquele
momento. Contudo, para o autor, os profissionais refutaram a metodologia do Serviço Social
tradicional sem o discernimento do que estavam negando ou pondo no lugar.
O movimento de Reconceituação direcionou os profissionais a serem constantemente
críticos. Porém, conforme Sarmento, não sistematizaram um debate em torno da temática,
terminando por abandonar a discussão.
A partir do apoderamento da teoria marxiana, surgiram questões como a práxis, o
processo de trabalho e as técnicas, com aspectos da prática como trabalho humano, que tem
como particularidade colocar objetividade em suas atividades.
Com isso, retomou um ponto central que é a práxis do indivíduo, que é social e
histórico, colocando que esta põe como modelo de atividades a teoria e a prática, entrando no
debate sobre a dicotomia entre essas instâncias. Dessa forma, a teoria e prática são autônomas,
porém a prática seria a base real, e a finalidade.
Evidencia-se nos estudos do autor, o seu empenho na apreensão dos pontos condutores
do exercício profissional, fornecendo orientações importantes relativas a questões
direcionadas a relação teoria e prática, permeando assim a esfera dos instrumentos e das
técnicas discutidos pelo Serviço Social.
Mesmo, obtendo em seus estudos a conclusão da imprescindibilidade de se estudar a
prática inserida no prisma da totalidade, não alcançou sucesso em suas finalidades, deixando a
continuidade dessa reflexão aos autores posteriores.
25
Já, Rosa Predes Trindade (1999), buscou entender o significado do instrumental
técnico-operativo no exercício profissional do Serviço Social combinando aspectos teórico-
metodológicos e os dilemas prático-políticos do Serviço Social.
O eixo da sua análise convergiu aos diversos projetos profissionais elaborados na
história da profissão e sua atuação nos espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social, na ótica
das políticas sociais.
A autora concluiu que o reconhecimento da profissão ante à sociedade e aos desafios
impostos a esta, não decorrem somente do aprofundamento teórico-metodológico mas
também de uma capacidade de análise da conjuntura das relações capitalistas e das
particularidades inerentes ao cotidiano do exercício profissional.
Contestando o pensamento de que a teoria crítica não abarcaria as requisições práticas
da profissão, afirma que o teor crítico amplia a compreensão do instrumental técnico-
operativo para outras esferas que vão além do mero tecnicismo.
Trindade inclui no debate o estudo sobre os projetos profissionais, evidenciando que
os instrumentos repetem-se no decorrer dos tempos, sendo mais importante o significado que
eles vão tomando em cada momento histórico e as posições teleológicas dos profissionais.
Já, Sandra Campagnolli (1993), delimita as fases históricas importantes vividas pela
profissão no Brasil. Ela utiliza em sua pesquisa, referências à obra de Paulo Netto, como
também o uso de documentos relevantes a categoria, referentes aos instrumentos e técnicas da
profissão. A autora também evidencia a finalidade do instrumental técnico à classe burguesa,
sem, contudo, aprofundar a questão (COSTA, 2015).
Campagnolli mostra a compreensão do instrumental técnico da categoria profissional,
por meio do acervo teórico produzido pela categoria após o Movimento de Reconceituação,
principalmente entre o os últimos anos da década de 1960 e a década de 1990.
Os autores mencionados, Sarmento, Trindade e Campagnolli, apresentam importantes
contribuições ao debate da instrumentalidade do Serviço Social. Porém, Iolanda Guerra em
seus estudos, confere uma substancialidade a análise da instrumentalidade. Assim como
outros autores, a literata retomou a referência que vinha sendo elaborada pela profissão desde
a década de 1980 em seu processo de renovação. Porém, aprofundou como nenhum outro
autor , a discussão da instrumentalidade, a partir do entendimento das especificidades da
origem do Serviço Social na divisão sócio-técnica do trabalho, o que auxiliou na compreensão
do funcionalidade sócio-histórica da profissão na sociedade do capital.
26
Conceitua-se como a renovação do Serviço Social, os resultados das discussões
efetuadas pelos profissionais do Serviço Social na década de 1960 e que amadureceram nos
anos 1980, desenvolvendo os presentes conhecimentos a respeito da profissão.
Assim, a competência intelectual do assistente social passou a ser valorizada em seus
encargos profissionais resultando no aumento das suas atividades para além da intervenção
microssocial.
Isso posto, o Serviço Social vem se concretizando como profissão que se insere de
forma refletida na realidade social. Com este intuito, a sistematização da teoria e da prática é
fundamental. Guerra requalifica através da sua análise o espaço que a instrumentalidade
ocupa dentro da constituição da profissão.
A autora disserta, que a instrumentalidade é uma propriedade indispensável a
reprodução da espécie humana, tendo-se em vista que é na relação homem-natureza que o ser
humano satisfaz as suas necessidades materiais e espirituais, em outras palavras, por meio do
trabalho.Na ótica de Marx e Lukács, o trabalho humano tem como propriedade a teleologia,
ou seja a capacidade de planejar o seu trabalho na busca da realização de suas finalidades.
Em outras palavras, é no processo de trabalho que o homem concretiza a
instrumentalidade, ou seja, a conversão de coisas em meios, para a consecução das suas
atividades
Para que o trabalho do Serviço Social concretize-se é necessário que o profissional
detenha uma projeção teleológica, ou seja, que ele saiba a que objetivos deseja alcançar, para
só assim estabelecer alternativas possíveis na formulação de respostas para estes(BRAGHINI;
DONIZETI; VERONEZE, 2013).
A instrumentalidade, ela sofre rebatimentos dos elementos históricos, econômicos e
sociais que envolvem a conjuntura capitalista e se refrata nas demandas do Serviço Social.
Dessa forma, é através dela que o Serviço Social fornece respostas e legitima a profissão.
Guerra, afirma que, a instrumentalidade concerne a um conjunto de competências, que
permite um certo manejo no uso da forma mais eficaz de seus instrumentos profissionais.
Segundo Guerra (2000), a instrumentalidade refere-se a “uma determinada capacidade ou
propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico”
adquirida “no interior das relações sociais, no confronto entre as condições objetivas e
subjetivas do exercício profissional.” (GUERRA, 2000, p.2).
Ao se analisar as respostas das assistentes sociais nos questionários relacionadas ao
conhecimento que as mesmas detém sobre a instrumentalidade do Serviço Social percebe-se
que há uma defasagem a respeito desse conceito pelas assistentes sociais do Case na medida
27
em que, das três entrevistadas, uma não respondeu, o que supõe-se que não compreende a
questão, uma delas respondeu “ Os instrumentos concretizam nossa prática fazendo deles
indispensáveis métodos para intervirmos e atuarmos interdisciplinarmente numa equipe
multidisciplinar”. Como se o conceito de instrumentalidade no serviço social, tratar-se tão
somente de instrumentos. Esse conceito é refutado por alguns autores, que afirmam tratar-se
de um retrocesso ao pensamento conservador tradicional da profissão. Onde a profissão era
vista como meramente interventiva e executora terminal das políticas sociais. Outra
respondeu “As condições são boas, mesmo com recursos limitados e com déficit na rede sócio
assistencial, o Serviço Social desenvolve um trabalho eficiente ao que a instituição se propõe
e com condições favoráveis de atuação.” Por meio da ausência de uma das respostas e da falta
de correspondência das respostas de duas das assistentes sociais do CASE com o conceito
definido pela consagrada autora Iolanda Guerra, vê-se que não há um pleno embasamento
dessa questão por parte das assistentes sociais da referida instituição. E isto pode dever-se a
vários fatores como o fato de que essa discussão é ainda nova entre os autores do Serviço
Social.
É através desta capacidade particular constituinte do assistente social que este
concretiza suas intencionalidades em respostas as demandas da profissão. Assim, os
assistentes sociais por meio da sua instrumentalidade alteram as circunstâncias objetivas e
subjetivas e as relações interpessoais e sociais que perpassam o dia a dia deste profissional.
A Instrumentalidade do Serviço Social como já exposto, ela foi construída
historicamente. Sua concepção se dá de forma constante e contínua para que de fato possa
responder as velhas e novas demandas que vão surgindo. Nos dias atuais, o assistente social
deve ter a capacidade de saber adaptar os instrumentos já consagrados às demandas
cotidianas, como também, saber elaborar novos instrumentos caso necessário (SOUSA,
2008). A instrumentalidade do Serviço Social que se constitui como uma capacidade peculiar
da profissão (GUERRA, 2000) deve ser estudada e aprimorada de modo que possam
corresponder as respostas necessárias as vertentes da questão social.
No livro “A Instrumentalidade do Serviço Social” cuja autoria pertence à Yolanda
Guerra, a autora explana sobre questões referentes à Instrumentalidade do Serviço Social.
Aqui, será feita uma breve análise relacionada a alguns pontos que a escritora aborda sobre o
tema mencionado.
Nessa obra Guerra (1995) explica o debate dos instrumentos e técnicas para a atuação
profissional, que na compreensão da autora é aludida a instrumentalidade. Assim, além de
delimitar o que o Serviço Social faz, como faz, é necessário entender as finalidades, o lugar e
28
o momento do fazer e refletir sobre as decorrências que no grau “mediato” as ações
profissionais geram.
No plano do “mediato” compreende-se que as demandas profissionais requerem uma
razão que possibilite agir sobre os desafios, limites e intimidações das situações objetivas nas
quais a intervenção profissional se efetiva; que permita a articulação dos dados obtidos na
intervenção profissional, revertendo-os em conhecimento a respeito da população atendida,
servindo também como base para projetos sem que, o assistente social tenha que se utilizar
dos ideais conservadores ou reformistas (GUERRA, 1995).
Guerra (1995) afirma, que as colocações as quais ela discute, são o produto entre
outras coisas, de uma análise intelectual e madura a respeito da profissão, e da busca em
entender a origem e o desenvolvimento da instrumentalidade do Serviço Social.
A mesma atesta que o Serviço Social não contém apenas um padrão de racionalidade.
As racionalidades que convivem de forma contraditória e histórica na profissão expressam as
relações entre os sujeitos da ação profissional, e por outro viés, os aportes ético-políticos e
teóricos sobre os quais essas relações baseiam-se. Assim, essas relações históricas e
transitórias articulam as dimensões da profissão.
A autora também explana que as demandas postas aos profissionais do Serviço Social,
possibilitam aos tentar promover o entendimento dos dilemas impostos a profissão, a
produção de novas mediações que permitam a transição da teoria à prática .
A escritora afirma que existem diversas racionalidades no Serviço Social que
predominam em maior ou menor proporção de acordo com o período histórico da profissão. E
questiona porque a intervenção profissional vem se refletindo em ações pragmáticas,
repetitivas e imediatas que acabam por balizar a racionalidade capitalista.
A fim de compreender esta questão, a autora analisa de que modo a racionalidade
formal-abstrata prevalece na profissão no período de Renovação do Serviço Social.
Com o intuito de esclarecer essa discussão, a erudita esclarece alguns pontos,
referentes ao tema, entre os quais serão explanados alguns a seguir. O primeiro ponto disserta
que o Serviço Social articula ações instrumentais como requisitos da sua participação na
divisão social e técnica do trabalho no contexto capitalista. Essa esfera instrumental,
possibilita a transição da teoria à prática e possui uma funcionalidade na sociedade burguesa.
Outro ponto o qual a autora enaltece é de que a mediação desenvolvida pela
instrumentalidade do Serviço Social não se reduz ao acervo técnico-instrumental, mas
englobam padrões de racionalidade que compreendem teorias e métodos pelos quais os
profissionais captam os movimentos da realidade.
29
Guerra (1995) também sustenta que o exercício profissional do assistente social é dado
pela sua instrumentalidade. E afirma que por esses motivos a instrumentalidade do Serviço
Social não foi plenamente debatida pela categoria profissional.
A autora afirma que existe o pensamento formalizador que acredita que o controle dos
instrumentos e técnicas resulta em ações competentes técnica e politicamente e, o
posicionamento que nega instrumentos e técnicas por relacioná-los padrão da lógica formal.
A autora esclarece que para se depreender a questão da instrumentalidade do Serviço
Social faz-se necessário investigar a influência do modelo da racionalidade formal no Serviço
Social e seus reflexos na intervenção profissional dos assistentes sociais, na fase da
Renovação do Serviço Social. Assim objetiva compreender como o caráter instrumental da
ação profissional passou a ser alterado substantivamente.
No mesmo livro, a autora continua explicita os “Fundamentos e pressupostos do
racionalismo formal-abstrato”. Onde disserta sobre as considerações de Émile Durkheim
(1858-1917), importante autor positivista, o qual almejava alcançar uma explicação da
totalidade da sociedade.Para Durkheim, a sociedade é concebida como um organismo, um
todo constituído por órgãos, onde cada órgão desempenha a sua função de forma
independente.
Essa forma de pensar a Sociologia nega as individualidades, a interferência teleológica
dos sujeitos e a história. Portando, esse modo de pensar colide com outras ciências como a
Psicologia, a História e a Filosofia.
No pensamento durkheimiano os aspecto que afetam a economia não interferem nas
relações político-jurídicas, sociais ou culturais.
Para Durkheim, o reestabelecimento dos efeitos exercidos pela moral agora não
respalda-se mais na religião, mas nas instituições, por meio da promoção da normatização das
relações sociais.
Assim, as bases da Sociologia, foram aplicadas como alicerces justificadores e
legitimadores da sociabilidade capitalista. Dessa forma, como Guerra(1995, p.65) mesmo
esclarece, esse pensamento permite “determinada maneira de interpretação e validação da
ordem burguesa e um conjunto de procedimentos instrumentais e manipulatóriospara atuar
sobre ela” .
Sendo assim, a instrumentalidade do Serviço Social, pela sua essência contraditória,
tanto “conserva e reproduz aspectos do modo de ser capitalista quanto os nega e os supera”
(GUERRA, 1995, p.159).
30
A autora também analisa em um ponto do seu livro que há uma inclinação na profissão
em se conferir aos instrumentos e técnicas, um espaço superior em relação aos demais
elementos concernentes a o exercício profissional.
A concepção positivista ela reduz as inúmeras determinações dos fatos a dimensão
técnica, baseada no pensamento ideal abstrato, oriundo da racionalidade formal. O trabalho
humano ao portar dimensões políticas e éticas, ao serem reduzidas a esfera instrumental,
negligencia o caráter ontológico das relações sociais.
Yolanda Guerra organizou juntamente com as pesquisadoras Claúdia Mônica dos
Santos; Sheila Backx a 2ª edição do livro “A dimensão Técnico-operativa no Serviço Social:
desafios contemporâneos”. Como o próprio Título do livro explicita, ele comenta sobre alguns
elementos que permeiam a atmosfera técnico-operativa do Serviço Social. Alguns pontos
dentre eles, serão destacados e comentados a seguir.
Um princípio consolidado refere-se ao exercício profissional como parte de um todo,
constituído por três esferas: a teórica-metodológica, a ético-política e a técnico-operativa, que
formam uma unidade, apesar de suas especificidades. A dimensão técnico-operativa, é a que
da visibilidade a profissão, é o reflexo do movimento das três dimensões (SANTOS et al.,
2013).
Estudar o instrumental técnico-operativo envolve a discussão de todo o trabalho
profissional como resultado de uma totalidade de condições objetivas e subjetivas do trabalho,
que permeiam valores, etc.
Há um consenso de que a dimensão técnico-operativa não pode ser restrita aos
instrumentos e técnicas. Pois ela aciona as outras dimensões, a teórico-metodológica e a ético-
política. O profissional utiliza-se da dimensão teórico metodológica na medida que analisa o
movimento da realidade, e por meio da dimensão ético-política ele pondera as prioridades e
planeja as ações em função de suas finalidades e valores.
A dimensão técnico-operativa, ela transpassa os instrumentos e técnicas, englobando
ações, procedimentos, estratégias, instrumentos, técnicas, ética, cultura profissional e
institucional entre outros fatores. Portanto, reduzir esta dimensão ao instrumental técnico-
operativo é conformá-lo a racionalidade burguesa.
Para se prolongar esta discussão existe a necessidade de se delimitar com maior
exatidão os componentes integrantes da dimensão técnico-operativa. Neste viés, torna-se
interessante estudar a relação entre as ações profissionais – procedimentos –instrumentos. As
ações profissionais se refletiriam no exercício profissional e dentre elas pode-se citar as de
orientar, encaminhar, avaliar, estudar, planejar entre outras previstas como competências e
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atribuições na Lei de Regulamentação da profissão, direcionadas pelas competências teórico-
metodológicas e ético-políticas da profissão.
Ao desenvolver as ações, o profissional utiliza os instrumentos. Os procedimentos são
as atividades que o assistente social executa, mobilizando os instrumentos .O cotidiano,
entendido como o lugar em que se concretiza a intervenção,nos possibilita refletir em como as
demandas aparecem à instituição: imediatizadas, fragmentadas e heterogêneas. Se a percepção
do profissional não transpor essa forma, não analisar as determinações e suas conexões, isso
pode resultar no uso do instrumental técnico-operativo de modo conservador.
É preciso compreender o espaço onde a profissão se realiza, como as demandas
surgem ao serviço, e como a política social se efetua na organização. A partir disto, vê-se a
necessidade de se compreender as mediações necessárias para que a resposta profissional
promova ações conscientes, críticas e competentes.
A dimensão técnico-operativa efetiva tanto as finalidades como a orientação social das
ações pré-estabelecidas pelos profissionais. É por meio, da utilização responsável e crítica dos
instrumentos, que estes articulam as demais dimensões da profissão, e refletem-se nas
respostas dadas.
Os instrumentos e técnicas enquanto partícipes da dimensão técnico-operativa estão
relacionados a uma base teórica e uma orientação ético-política, caracterizando-se como
meios para o desenvolvimento dos procedimentos na atuação profissional. Faz-se relevante
frisar também, que a atuação profissional implica aspectos teórico-metodológicos, ético-
políticos e técnico-operativos. E o instrumental-técnico de modo algum, é mais ou menos
significativo do que as outras dimensões. Considerando o exposto alguns instrumentos serão
agora comentados.
As assistentes sociais ao serem perguntadas nos questionários sobre “Que
instrumentos técnico-operativos balizam o seu exercício profissional no CASE?” citaram
alguns instrumentos técnico-operativos, como pode-se observar a seguir :
Entrevista social, acompanhamento familiar, visitas domiciliares e institucionais, rodas de conversas, relatórios e encaminhamentos, etc...
(Assistente Social do Centro Avançado de Saúde Escolar – CASE. Dados
obtidos em aplicação de questionário 1).
Entrevista social, reunião com grupos, visitas domiciliares, orientação social,
emissão de relatórios sociais. (Assistente Social do Centro Avançado de
Saúde Escolar – CASE. Dados obtidos em aplicação de questionário 2).
Entrevista social, visitas (domiciliares e institucionais), encaminhamentos,
rodas de conversas, palestras.(Assistente Social do Centro Avançado de Saúde Escolar – CASE. Dados obtidos em aplicação de questionário 3).
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Dando continuidade ao exposto no livro organizado pelas autoras Claúdia M. dos
Santos, Sheila Backx e Yolanda Guerra, serão analisados alguns instrumentos abordados pela
mencionada obra.
O primeiro é a observação, que possibilita a compreensão do mundo, com o objetivo
de transpor a fragmentação, e buscar a reconstrução da totalidade.
Já em relação ao relacionamento, existe a polêmica em considerá-lo como um
instrumento. Este tem uma intencionalidade e nele se baseia o exercício profissional. A partir
dele se torna oportuno ou não o estabelecimento de relações democráticas, de dependência ou
autonomia.
A abordagem, assim como o relacionamento, também foi questionada se seria ou não
um instrumento. Ela é vislumbrada como um meio de comunicação entre a população e os
diferentes espaços.
A entrevista, porém, é vista como um instrumento, utilizada para se entender mais
aprofundadamente questões referentes aos usuários como seus questionamentos, queixas,
manifestações buscando atingir determinadas finalidades. Dessa forma, esse instrumento
estimula outras ações profissionais e outros procedimentos.
Em relação ao grupo e a reunião, ainda não existe consenso em relação ao modo de
compreendê-los no exercício profissional. Há o hábito de se visualizar a reunião como
instrumento e o grupo como “prática” – sendo concebida como um procedimento coletivo.
Sendo afirmado que o grupo concerne um conjunto de atividades, e a reunião seria um dos
instrumentos do grupo. A reunião é vista como instrumento porque coletiviza os interesses em
jogo, sendo usado para evidenciar e para se lidar com as relações de poder. Já o trabalho com
grupos é visto como uma estratégia, onde podem ser utilizadas diferentes técnicas,
instrumentos que serão norteados pelo profissional segundo suas finalidades, seu referencial
teórico, as demandas da instituição e as necessidades do usuário.
A idéia de informação é mais utilizada do que o termo documentação por abranger
tanto a linguagem verbal, não verbal e escrita, assegurando-se assim um compartilhamento de
conhecimentos. Essa denominação é mais pertinente por não se restringir somente ao fato de
documentar e registrar. Não há consenso entre os autores se a informação é tida como
instrumento.
Já a visita domiciliar é consensualmente reconhecida como instrumento e a discussão
que a envolve trata do cuidado que deve-se ter no seu uso. Adverte-se que seja utilizada como
33
meio de defesa dos direitos, e com muita cautela, pois através desta, adentra-se no espaço
privado das pessoas. Portanto a mesma deve ser bem justificada e contextualizada.
O encaminhamento é compreendido por muitos como uma ação e não como um
instrumento. Tal compreensão se dá, pelo fato de que este mobiliza uma série de
instrumentos. Ele engloba um conjunto de atribuições profissionais e põe o usuário na rede de
serviços.
A atuação profissional do assistente social, ao estar inserido em determinações
históricas, estruturais e conjunturais da sociedade burguesa embasa-se em um todo de diversas
dimensões que interagem entre si. E essas determinações permeiam a instrumentalidade do
Serviço Social.
Apesar da constatação de que as dimensões se complementam e se articulam entre si,
estando intrinsecamente interligadas, mas a dimensão técnico-operativa é a que dá
visibilidade a profissão.
Ao Serviço Social cabe dar respostas às questões que lhes são colocadas, para isso,
utiliza-se de alicerces teórico-metodológicos, saberes interventivos, habilidades técnico-
profissionais, procedimentos teórico-metodológicos e de um direcionamento ético e
estratégico. É o seu papel na divisão social e técnica do trabalho da sociedade burguesa.
A mesma ainda explicita que ao se limitar a fórmulas historicamente consagradas à
intervenção na realidade, o assistente social anula as oportunidades de renovação da profissão.
Sua participação na divisão sócio-técnica do trabalho como profissão substancialmente
interventiva encobre o significado social e histórico da profissão na ordem capitalista, que se
consiste como uma estratégia de controle das relações sociais, como também sua
especificidade em lidar com as conseqüências geradas pela exploração do trabalho pelo
capital.
Assim, percebe-se a negligência em relação à instrumentalidade, a racionalidade da
técnica, as estratégias de origem técnica e política. Ao não avaliar adequadamente o espaço do
instrumental técnico-operativo no âmbito do projeto ético-político, corre-se o risco de o
assistente social não corresponder às demandas que lhes são apresentadas por falta de
respaldo dos meios e mediações a serem utilizadas par tal.
Por isso, a necessidade do profissional mobilizar uma racionalidade que possibilite
desenvolver uma instrumentalidade baseada na razão dialética, que construa novas
competências, propiciando repostas novas e qualificadas em substituição as velhas respostas
instrumentais, comprometendo-se com valores de uma sociedade emancipada.
34
E mais, ainda que individualmente, o acompanhamento social dos usuários, através
das instituições em que eles são atendidos, seria bastante eficiente na medida em que se
mobilizassem serviços os quais os cidadãos tem direito, utilizando-se de relatórios e pareceres
a fim de que as informações circulem entre os setores. Dessa forma, os assistentes sociais
atuam não apenas com o atendimento na instituição, mas também com o incentivo a
movimentação da rede de serviços e com a municipalização dos serviços.
A gestão é imprescindível na responsabilidade de desenvolver o funcionamento e a
articulação das comunicações e entre os setores de serviços sociais em rede. Contudo, os
serviços são realizados pelos profissionais e em seu campo de intervenção estão vários
artifícios que podem incitar o diálogo entre equipes e serviços, respaldados nas políticas
sociais e na reivindicação das populações em relação ao atendimento dos serviços.
O registro de dados tem se instituído como uma requisição institucional, para
levantamentos estatísticos e para o registro do rendimento do serviço. Essa demanda é
conveniente às rotinas e às obrigações institucionais, porém quando esse registro institucional
é o único ou a justificativa basilar para o uso da documentação pelos profissionais, convém
uma análise técnica e ética.
Em relação aos registros usados pelos assistentes sociais nas ações de âmbito
individual, percebe-se que existe a carência de uma ampliação da qualificação desses
registros, como a ficha social, o relatório, o parecer social e os livros de ocorrência. Muitas
vezes, essa documentação limita-se a um cadastro com a identificação do usuário com
finalidades tão somente burocráticas, e ainda são encontradas nomenclaturas como anamnese
social.
Atualmente, as condições para o exercício profissional obstaculizam a concretização
de pesquisas e análises por meio desses registros, fortalecendo as práticas ausentes em
planejamento e avaliação sistemática. Além disso, os profissionais enfrentam os desafios para
assegurar o direito e o dever ao sigilo profissional, segundo estabelece o Código de Ética, pois
não dispõem de espaços físicos e condições apropriadas para a guarda de documentação.
Destaca-se, ainda, a inclinação para um registro profissional que responde somente as
demandas institucionais, limitando-se aos dados quantitativos, e pouco usufruindo das
possibilidades para uma melhor qualificação da atuação profissional.
A documentação usada pelo assistente social pode ser classificada como
documentação técnica e documentação burocrático-administrativa/documentação oficial. Na
primeira encontram-se os documentos inerentes a atuação profissional do assistente social :
ficha social, evolução ou acompanhamento social, formulários de entrevista, registros de
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visitas domiciliares, mapas de acompanhamento ou atendimento, relatórios, livros de
ocorrência ou de registro de atividades do Serviço Social. Essa documentação é de completa
responsabilidade do assistente social, sendo função dele a delimitação da forma e do conteúdo
da mesma e concerne à instituição fornecer as condições para materializar a documentação,
que deve ser mantida no espaço físico da instituição, preservando-se o sigilo profissional.
Parte das documentações técnicas, são compartilhadas pela equipe, dentre as quais pode-se
citar : as fichas de acompanhamento, os prontuários, os relatórios, os mapas e os
murais(SANTOS et al., 2013).
A documentação burocrático-administrativa caracteriza-se por : cadastros de usuários,
fichas de admissão dos usuários, mapas estatísticos, relatórios administrativos, documentação
oficial. Essa concerne a: ofícios, comunicados, cartas, memorandos, atas, convites, pareceres
administrativos, declarações para usuários e para instituições. Esta documentação oficial ela e
movimentada pelos profissionais, mas requere que as equipes disponham de apoio
administrativo para isso, tendo em vista que esta ausência tem gerado um demasiado trabalho
com o preenchimento de documentação, o que acaba por deixar a finalidade da atuação de
parte dos profissionais, burocratizada, devido principalmente a precariedade da estrutura
material e pessoal das instituições.
O Serviço Social envolve processos de trabalho, ou seja, ele articula a categoria
trabalho a três pontos que estão associados. O primeiro, é a dimensão teórica que explica o
homem como sujeito histórico; o segundo, em relação a esfera ética e política refere-se ao
homem como ser moral; e o terceiro, a questão da prática, disserta sobre o homem como
criador, produtor e reprodutor das suas necessidades e demandas. Ante o exposto, são
consolidadas, as competências teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa do
Serviço Social.
O trabalho e o modo de pensar sobre ele estão permeados pelo contexto histórico em
que os indivíduos estão inseridos, resultando em dimensões que se articulam no espaço das
relações entre trabalho e sociedade de modo geral, mas também, na singularidade do exercício
profissional. Algumas das dimensões que podem ser indicadas estão a dimensão concreta(
que trata-se da tecnologia utilizada na realização do trabalho), a dimensão gerencial ( alude-se
a forma pela qual o trabalho é desenvolvido conforme as funções de planejar, organizar,
dirigir e controlar), a dimensão socioeconômica ( trata da associação entre a maneira de
exercer o trabalho e as estruturas sociais,econômicas e políticas da sociedade, dimensão
ideológica (explica a articulação das demais dimensões em meio as relações de poder), e a
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dimensão simbólica ( engloba elementos subjetivos das relações sociais, culturais,
profissionais, etc).
O Serviço Social está inserido no trabalho coletivo, ou seja, o seu exercício
profissional afeta as condições materiais e sociais daqueles que trabalham. Contudo, o
assistente social não usufrui de todos os meios para a realização do seu trabalho, sejam
financeiros, técnicos e humanos, pois demanda recursos, programas e projetos.
O debate dos instrumentos e técnicas em Serviço Social, somente é possível através de
um amplo conhecimento da realidade social, a partir de um forte embasamento teórico. Nessa
perspectiva, o trabalho é categoria central no dia a dia do homem, pois é por meio dele que o
homem cria, transforma e dá significado ao mundo, ainda que na sociedade do capital ele seja
um trabalho alienado.
A teoria por si só, não é uma forma de práxis, pois lida com representações e
conceitos, jamais a realidade. Contudo ela é fundamental, pois é através dela que há a
elaboração de objetivos e conhecimentos, seu objeto são as ações ou percepções (subjetivas) e
a produção de conceitos e representações.
Os motivos que intervém no processo de trabalho não se limitam a adequar a atividade
a uma finalidade, mas às circunstâncias materiais do trabalho representadas pelo objeto do
trabalho e pelos meios ou instrumentos que resultam na transformação.
O conhecimento sozinho não delimita os procedimentos específicos para o
direcionamento da intervenção profissional e o inverso é recíproco.
Com isso, pode-se afirmar que não há como haver um debate metodológico sem um
estudo teórico, portanto, teórico-metodológico. O prisma teórico-metodológico refere-se a
maneira como se dão a leitura, a interpretação, e as relações sociais na sociedade presente
(SANTOS et al., 2013).
Interessante mencionar que ambas as assistentes sociais do CASE, possuem
especialização em “Saúde da Família”. Uma delas possui cursos de extensão e
aperfeiçoamento. Dentre as participantes dos questionários uma participou em eventos
científicos com apresentação de trabalhos, outra participou de eventos científicos sem
apresentação de trabalhos e outra não participou de nenhuma dessas atividades. Isso
demonstra por um lado a preocupação das mesmas em especializar-se numa área pertinente ao
contexto profissional ao quais as mesmas estão inseridas. Por outro, o fato de uma delas não
ter participado de nenhum evento científico pode ter ocorrido devido a fatores condizentes a
conjuntura atual como a precarização das relações de trabalho, onde pode perceber-se isso por
exemplo no fato de que o ingresso de duas delas se deu através de indicação e uma delas
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afirma ter um vínculo “efetivo”. Contudo, a informação quefoi obtida por meio de diálogo
com as mesmas foi de que o contrato da instituição é temporário, portanto o vínculo das
mesmas se dão de forma precarizada.
Interessante destacar que o trabalho humano ao modificar a natureza visando os seus
objetivos é de suma importância para a efetivação da práxis. Neste prisma, vale explicar a
diferença entre a técnica e a tecnologia.
A técnica constitui-se como conhecimento prático, desenvolvida pelo homem para
realizar as suas finalidades. Já, a tecnologia é um conhecimento científico embasado em
objetos materiais.
Dessa forma, a técnica ultrapassa os modelos e formas pré-definidas de agir e se
comportar diante das circunstâncias. A técnica é compreendida como um desdobramento da
racionalidade, onde há uma participação da consciência, pois esta elabora finalidades e
constrói conhecimentos. Importante ressaltar que a técnica está inserida e é atingida por um
contexto histórico, social, econômico e cultural.
São nestas complexas relações que os instrumentos potencializam as intencionalidades
teórico-políticas do profissional para a concretização da ação e, as técnicas, orientam as ações
e concretiza suas intencionalidades. A partir do exposto, vê-se que os instrumentos e técnicas
são mediações por meio dos quais o assistente social materializa seus objetivos.
A racionalidade é outro conceito que envolve a instrumentalidade, e se reflete nas
relações econômicas, sociais e jurídicas. É um conceito que trata do modo pelo qual essas
relações ocorrem. E esta concepção atinge a instrumentalidade do Serviço Social.
Nesse prisma, o fazer racional que considera os fins é um planejamento que segue um
padrão de prática instrumental que se utiliza de meios e definição de alternativas. A
racionalidade instrumental-operatória tem sua origem na necessidade de controle dos homens
sobre a natureza buscando a sua sobrevivência. Na sociedade capitalista, a racionalidade
técnico-científica está na forma de controle social.
Assim, os sistemas informacionais, os procedimentos técnicos aprioristicamente
demandados pelas políticas sociais, os procedimentos formais, instrumentos e técnicas,
formulários, questionários, sistemas, cadastros e diversas formas de registro não são eximidos
de racionalidade.
Em outras palavras, o instrumental técnico-operativo do assistente social envolve uma
relação dialética entre a objetividade do mesmo e a subjetividade do profissional que o
direciona.
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A direção das políticas sociais, especialmente na atualidade, é a de portar um tipo de
instrumental que detém a peculiaridade de exercer certo controle sobre os indivíduos a quem
são oferecidos esses serviços.
Assim, torna-se evidente o risco a que a profissão está submetida de se reduzir a uma
Tecnologia Social, pois, muitas vezes, ela é definida como um conjunto de técnicas para
resolver os dilemas do cotidiano.
A naturalização da racionalidade burguesa na profissão e a falta de um questionamento
das suas bases conservadoras não têm possibilitado que as intervenções profissionais se
diferenciem das ações de origem empírica, imediata e instrumental.
Nesta linha, há uma predominância em demandas técnico-operativas e ao instrumental
técnico, em substituição a uma instrumentalidade crítica, eficiente e compromissada.
Sarmento(1994) traz como contribuição ao tema da instrumentalidade no Serviço
Social, algumas discussões. Como por exemplo, a questão da dimensão teleológica que é
parte constituinte do trabalho do Serviço Social. Ele esclarece que para a efetivação das
finalidades do assistente social em seu trabalho sã necessários, além do conhecimento, os
instrumentos de trabalho.
Ele também trata das técnicas e as define como uma habilidade produtiva, como um
“fazer eficaz” (p.226) e para isso necessita-se de um conhecimento fundamentado. Explicita
também que, atualmente, a técnica tem sido desligada do ato da criação, revestindo-se de uma
neutralidade (SARMENTO, 1994).
O autor esclarece que o significado da técnica e de como ela concretiza-se na
sociedade contemporânea, deve ser contextualizado nas relações sociais e políticas que
permeiam essa mesma sociedade.
O mesmo explana que a evolução da técnica na sociedade atual, tem sido desprendida
da conjuntura social e política a qual esta, está inserida. Assim desenvolve-se uma
instrumentalidade totalmente neutra, imparcial. Dessa forma, a racionalidade tecnológica
controla e coíbe a sociedade, seus anseios, suas necessidades, atitudes e ideologias, sendo
também uma racionalidade política.
O estudo dos instrumentos e técnicas, está inserido na esfera da prática profissional
que deve se das a partir de um qualificado alicerce teórico.