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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO RENATO LOPES VIEIRA BIBLIOTECA ESCOLAR E CIDADANIA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO INFORMACIONAL NITERÓI 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

RENATO LOPES VIEIRA

BIBLIOTECA ESCOLAR E CIDADANIA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO INFORMACIONAL

NITERÓI

2016

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RENATO LOPES VIEIRA

BIBLIOTECA ESCOLAR E CIDADANIA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO INFORMACIONAL

Orientadora: Profª Dra. Elisabete Gonçalves de Souza

Niterói 2016

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

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Ficha Catalográfica

V657 Vieira, Renato Lopes

Biblioteca escolar e cidadania: um estudo na perspectiva do letramento

informacional / Renato Lopes Vieira. – 2016.

42 f.

Orientador: Elisabete Gonçalves de Souza.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biblioteconomia e

Documentação) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e

Comunicação Social, 2016.

Bibliografia: f 40-42.

1. Bibliografia. 2. Letramento Informacional. 3. Biblioteca Escolar . I.

Souza, Elisabete Gonçalves de. II. Universidade Federal Fluminense.

Instituto de Arte e Comunicação Social. III. Título.

CDD 025.32

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RENATO LOPES VIEIRA

BIBLIOTECA ESCOLAR E CIDADANIA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO INFORMACIONAL

Aprovado em ......./.........2016.

BANCA EXAMINADORA

Profª Dra. Elisabete Gonçalves de Souza – orientadora Universidade Federal Fluminense – UFF

Profª Dra. Rosimere Mendes Cabral Universidade Federal Fluminense – UFF

Profº Dr. Esther Luck Universidade Federal Fluminense – UFF

Niterói 2016

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Ciência da Informação da

Universidade Federal Fluminense como requisito

para obtenção do grau de Bacharel em

Biblioteconomia e Documentação.

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Dedico este trabalho às pessoas que de alguma forma me mostraram que o conhecimento liberta

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha companheira Amanda pelo apoio, por ter sido a minha

principal fonte de energia nos momentos de crise, por procurar sempre, à sua

maneira, me fazer voltar ao foco no término deste curso. A professora e orientadora

Elisabete Gonçalves de Souza pelo aprendizado e pela sua capacidade de me

passar confiança, de me mostrar que os obstáculos para a elaboração deste

trabalho não seriam tão difíceis ao ponto de eu não conseguir superá-los. Aos

professores com quem eu pude estar em sala de aula, pelo conhecimento. A

bibliotecária Sylvia Leonor, minha chefe na biblioteca do Colégio Salesiano da

Região Oceânica, pela paciência e compreensão durante o período em que este

trabalho esteve em elaboração. Ao amigo bibliotecário Jorge Gentil, por me orientar

durante o percurso na faculdade. Aos amigos Henrique Costa e André Dias por

terem plantado em mim a ideia de cursar uma universidade. A minha família, pelo

que, em essência, eu sou hoje.

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Na alma da criança está a essência da filosofia e da ciência.

(Renato Vieira)

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RESUMO

O presente trabalho aborda a necessidade de ampliação da função pedagógica do bibliotecário escolar, considerando a realidade da escola pública brasileira e os problemas políticos que esta instituição vem enfrentando nas últimas décadas. Ressalta a importância da participação do bibliotecário no processo de ensino e aprendizagem no ambiente escolar, a partir do trabalho colaborativo com a equipe pedagógica da escola. Reforça a ideia de que o bibliotecário é peça fundamental no fluxo da informação no processo de ensino-aprendizagem, ressaltando o seu papel de mediador da informação na construção do conhecimento no ambiente escolar. Este trabalho parte do pressuposto de que o processo de construção do conhecimento no aluno é uma dialética que depende de variáveis como a família, da influência do meio social onde vive, das políticas educacionais do governo e dos objetivos da escola. Destaca o poder de ação do bibliotecário diante desta realidade, salientando a importância da perspectiva sociológica da ação biblioteconômica na escola, ressaltando que o bibliotecário é, além de um profissional técnico, um agente de inclusão social e promotor da cidadania. Aponta o processo de letramento informacional, na perspectiva da competência informacional, como uma possibilidade de ampliação da função pedagógica do bibliotecário escolar, esclarecendo que esta perspectiva de ação possibilita a mudança subjetiva do aluno por meio da informação e do conhecimento, considerando ser este o primeiro grande passo para melhorias na sociedade. Palavras–chave: Biblioteca escolar. Educação básica. Letramento Informacional. Brasil.

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ABSTRACT

This paper addresses the need to expand the educational role of the school librarian, considering the reality of the Brazilian public school and political problems that the Commission has faced in recent decades. It emphasizes the importance of the participation of librarians in the processes of teaching and learning, as also their collaboration with school teaching staff; reinforces the idea that the librarian is a key part in the information flow in the teaching-learning process, highlighting its information mediating role in the construction of knowledge in the school environment. This paper assumes that the knowledge building process in student is a dialectic that depends on variables such as family, the influence of the social environment where they live, educational government and school objectives policies. Highlights the librarian action power before this reality, stressing the importance of sociological perspective of library science in school action, pointing out that the librarian is in addition to a technical professional, an agent of social inclusion and citizenship promoter. Points the process of information literacy from the perspective of information literacy as a possibility to expand the educational role of the school librarian, clarifying that this perspective of action enables the subjective change the student through information and knowledge, considering it to be the first big step improvements in society. Keywords: School library. Basic education. Informational literacy. Brazil.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

2 FUNÇÃO EDUCATIVA DA BIBLIOTECA ESCOLAR...........................................17

2.1 BIBLIOTECA ESCOLAR COMO LUGAR DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO....18

3. BIBLIOTECA ESCOLAR E LETRAMENTO INFORMACIONAL......................... 22

3.1 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL E LETRAMENTO INFORMACIONAL....... 24

3.2 LETRAMENTO, LEITURA E CIDADANIA............................................................31

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................38

REFERÊNCIAS ........................................................................................................40

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1 INTRODUÇÃO

A função do bibliotecário escolar na educação pública brasileira há muito vem

sendo discutida no meio acadêmico. Mas, apesar dos avanços dos estudos sobre o

assunto na área da biblioteconomia e ciência da informação, na prática poucas

mudanças ocorreram. É recorrente a reprodução da visão do bibliotecário escolar

como mero organizador e responsável pela guarda, tratamento e recuperação da

informação na biblioteca escolar. Isso aponta que ainda permanece uma postura de

passividade diante da complexidade que envolve o processo de ensino e

aprendizagem. Essa postura torna limitada a ação do bibliotecário, afastando sua

prática do caráter pedagógico, social e cultural que envolve o fazer biblioteconômico

no ambiente escolar.

O processo de ensino-aprendizagem mudou nestes últimos 20 anos, no que

diz respeito aos novos aparatos informacionais e os novos formatos de informação.

Mas, ainda hoje, há uma compreensão limitada acerca do que se entende por

Educação e uma visão também restrita acerca da função da biblioteca na escola e

na sociedade brasileira, tanto na perspectiva dos professores e de outros agentes de

educação quanto na do próprio bibliotecário. Consequência grave disso é a

desvalorização do profissional bibliotecário e a visão reducionista de seu papel

social e de sua função enquanto educador.

Este trabalho pretende levantar uma reflexão acerca da situação da biblioteca

escolar no Brasil, aspirando mudanças na perspectiva de ação do bibliotecário, por

entender que este deve ter uma contribuição mais efetiva na educação pública em

relação aos principais problemas sociais. A finalidade aqui é propor ao profissional

bibliotecário uma função que vá além da técnica de organização, é levantar a visão

do bibliotecário como agente de inclusão social e propiciador da cidadania, o que

consequentemente fará valer o papel social e educativo da biblioteca e do

bibliotecário no ambiente escolar no contexto atual.

Concordando com Cuervas e Simeão (2011, p.65), deve se considerar que

As bibliotecas constituem uma estrutura básica em desenvolvimento de uma sociedade igualitária e se impõem como instituição chave de uma sociedade democrática, ao garantir o exercício de um direito básico, o direito à informação. A biblioteca contribui à educação, à

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cultura, convertendo-se numa ferramenta indispensável para o aprendizado ao longo da vida e à inclusão social.

A reflexão acerca da situação da biblioteca escolar da rede pública no Brasil

requer, antes de tudo, considerar a maneira que os conceitos “Educação” e

“Educação Básica” são compreendidos pelo governo. Segundo a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, no seu Art.I,

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Sobre o conceito de Educação Básica, a LDBEN define, no seu Art. 22º, que

A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

As definições da LDBEN sobre Educação estão longe de expressar a

complexidade que envolve o ato de educar. De um modo geral, a dinâmica que

consiste a educação envolve diversas partes e, para que ela seja efetivada é

necessário que todas estas partes cumpram devidamente com as suas funções.

Esta dinâmica envolve a família, o Estado, a Instituição de Ensino, o Educador e o

Educando. Mas, infelizmente, este ideal está longe de ser atingido no Brasil.

No que diz respeito à presença da Biblioteca Escolar nas escolas de

educação básica brasileiras, observamos um avanço em 2010, quando foi

promulgada a Lei Nº 12.244, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas

instituições de ensino do País. Em seu Art. 1°, a Lei determina que “As instituições

de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com

bibliotecas, nos termos desta Lei”. No Art. 3o, determina que:

Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nos 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998. (grifos nossos).

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Se por um lado estas disposições apontam um avanço para a educação, por

outro, no que diz respeito ao lugar da biblioteca escolar, a realidade apontada é

outra. A Biblioteca Escolar ainda é desprezada neste processo, seja pela ausência

de biblioteca nas escolas públicas ou pela compreensão errônea acerca do conceito

de Biblioteca Escolar e do seu potencial transformador. E este problema, que é parte

da educação básica, reverbera na educação superior, o que implica na qualidade do

ensino público de um modo geral. Sobre este problema, Maroto (2009, p.64) afirma

que:

O descaso pela biblioteca e a sua subutilização evidenciam o desinteresse pela promoção da leitura, que começa na educação de base, onde o professor, a pretexto de cumprir o “programa curricular”, não utiliza os recursos disponíveis no seu acervo, transformando-se, ele e o livro didático, nas únicas fontes de conhecimento.

Em complemento, continua Maroto (2009, p.57), afirmando que:

As bibliotecas escolares, quando existem, constituem-se geralmente em verdadeiros “depósitos de livros”, em mero enfeite da escola, pois se encontram submetidas a um sistema de ensino onde as fontes de informação, na maioria das vezes, são o professor e o livro didático, dificultando e suprimindo assim o trabalho criativo, crítico e consciente, dentro e fora do espaço escolar.

Outro fator importante a ser considerado na análise dos problemas da

biblioteca escolar é a formação do profissional bibliotecário voltado para a educação

escolar no contexto do ensino público brasileiro. Apesar da evolução na produção

acadêmica sobre o assunto na área, ainda é precária a formação de profissionais

voltados para a atuação no ambiente escolar. Conforme a tradição, as instituições

responsáveis pela formação destes profissionais têm enfatizado as técnicas de

tratamento da informação, desprezando, em grande parte, o aspecto didático-

pedagógico e social do fazer biblioteconômico, conforme destaca Silva (1994, p.80),

afirmando que:

Seria o caso de proporcionar, por exemplo, uma formação com maior densidade filosófica, sociológica e histórica que fornecesse ao bibliotecário escolar subsídios para exercitar uma crítica profunda à estrutura e ao funcionamento do aparelho escolar brasileiro, bem como ao espaço que, historicamente, a biblioteca escolar nele tem (ou não tem) ocupado.

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Por outro lado, procede pensar também numa formação pedagógica que possibilite ao bibliotecário escolar uma tomada de consciência quanto ao caráter educativo da sua ação e, portanto, quanto à sua condição de educador.

É importante considerar que informação é insumo básico no processo de

ensino-aprendizagem no ambiente escolar e que, neste processo, a biblioteca

escolar é instrumento indispensável no fluxo da informação para a construção do

conhecimento. Além disso, o bibliotecário, na qualidade de educador, é um sujeito

indispensável no aparelho escolar, como mediador da informação e agente de

cidadania. Por esse motivo, a biblioteca jamais poderá estar dissociada do sistema

educativo.

Considerando a Biblioteca Escolar parte integrante do sistema educativo, é

controverso pensar o seu pleno funcionamento no contexto no qual está inserida no

Brasil atualmente: estrutura precária (quando existem) sem bibliotecários,

desarticulada do projeto pedagógico da escola.

Essa situação já havia sido observada por Waldeck Carneiro da Silva (1994)

no livro “Miséria da Biblioteca Escolar” em que o autor traçou um panorama da

biblioteca escolar brasileira fazendo duras críticas ao silêncio consentido dos

profissionais da educação e o descaso do Estado sobre o tema. Mais de 20 anos se

passaram e pouco se fez para superarmos o problema. Mas a discussão não pode

cessar.

Pesquisas sobre o cotidiano escolar mostram que a Biblioteca Escolar é

instrumento indispensável no processo de ensino e aprendizagem, evidenciando a

impossibilidade do pleno desenvolvimento das funções básicas do professor, bem

como da escola, sem ela. Seu funcionamento deficiente irá refletir de forma negativa

no processo de construção do conhecimento, ficando assim o educando restrito às

informações trazidas pelos professores e estes sem ter um acervo para o uso de

fontes que os ajude a rever os aspectos teóricos e didáticos de suas disciplinas e do

seu cotidiano em sala de aula.

Como mencionado anteriormente, questões levantadas por Silva (1994)

apontam que muitas bibliotecas das escolas públicas brasileiras ainda continuam em

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condições de miséria, o que mostra que o descaso dos agentes envolvidos e dos

órgãos competentes continua a ser um problema.

Para investigar a temática partimos das seguintes questões de estudo.

- Como possibilitar o desempenho efetivo da biblioteca escolar diante da

realidade da escola pública brasileira, e de que forma ações voltadas para o

letramento informacional podem auxiliar nesse processo?

- De que forma o bibliotecário deve atuar para fazer da biblioteca um espaço

de produção de conhecimento e cidadania?

O presente trabalho se justifica, pois, irá tratar do tema Biblioteca Escolar sob

a ótica do desenvolvimento da competência informacional do usuário por meio do

letramento informacional como possibilidade de ampliação da função pedagógica do

bibliotecário a favor da construção do conhecimento no ambiente escolar, com a

finalidade de evidenciar a importância da biblioteca escolar para a Educação. Como

todo estudo cientifico, este tem a intenção de trazer subsídios para que as políticas

públicas de incentivo à implantação de bibliotecas nas escolas torne-se de fato uma

realidade de modo que tudo que está disposto na Lei da Biblioteca Escolar

(12.244/2010) se efetive de fato e não se torne “letra morta”.

Os objetivos desta pesquisa são:

- Evidenciar a importância da biblioteca escolar nos processos de formação

cultural e cidadã do educando.

- Demonstrar a importância do bibliotecário como mediador das demandas

informacionais de professores e alunos durante o processo de ensino e

aprendizagem;

- Apontar a perspectiva do letramento informacional como possibilidade de

ampliação da função pedagógica do bibliotecário.

Para atingir os objetivos acima tivemos como principais referenciais teóricos

os estudos de Waldeck Carneiro da Silva (1999), que contribuiu com o seu olhar

crítico acerca do problema da ausência da biblioteca no ambiente escolar no ensino

público brasileiro, ressaltando a importância desta instituição para uma educação

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transformadora em termos sociais, e os estudos de Bernadete Santos Campello

(2003; 2009), uma das principais referências sobre nos debates sobre letramento

informacional no Brasil, através do qual levanta a possibilidade de ampliação da

função pedagógica do bibliotecário escolar com a aplicação deste conceito no seu

dia a dia de trabalho. Estes dois autores sustentam a ideia central deste trabalho,

que é a ideia do Letramento Informacional em face do problema da desvalorização

da biblioteca escolar no ensino público brasileiro, como uma possibilidade de

reversão desta situação e sua transformação em lugar de informação, aprendizagem

e produção de novos conhecimentos. Os demais autores aqui citados

complementaram essa discussão dando-nos fundamentos que ajudaram a

contextualizar esse debate.

Em termos metodológicos, trata-se de pesquisa qualitativa do tipo exploratória

pautada em revisão de literatura. Conforme Gil (2008) o objetivo de uma pesquisa

exploratória é familiarizar-se com um assunto ainda pouco explorado, sendo seu

principal caminho investigativo a pesquisa bibliográfica. Foi nessa direção que

construímos essa pesquisa e elaboramos as questões e procuramos respondê-las

tendo como categorias de análise a centralidade da biblioteca escolar, sua função

social, informativa, educativa e cidadã.

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2 FUNÇÃO EDUCATIVA DA BIBLIOTECA ESCOLAR

Em termos gerais, a função da biblioteca escolar é contribuir para a

concretização dos objetivos educacionais da escola. Para tanto, a biblioteca, por

intermédio do bibliotecário, deve cumprir com a sua função educativa. Consideramos

que a função educativa da biblioteca escolar é pôr em prática o conjunto de

medidas/atividades biblioteconômicas que sejam contributivas no trabalho escolar.

De acordo com Caldin (2003/2004, p.156), as funções educativas da

biblioteca escolar são; o fomento da leitura; o fomento da pesquisa; o

desenvolvimento da criatividade; a educação para o lazer; a informação e orientação

para a vida.

A biblioteca escolar, vista como uma unidade de informação, é um meio que

possibilita o relacionamento dos seus usuários com a informação necessária para o

complemento das suas necessidades do dia a dia, seja na escola ou no meio social

em que vive, para que este possa desenvolver a sua bagagem informacional e

aplicá-las adequadamente. Para que isso se torne possível, é muito importante que

o bibliotecário desempenhe sua função de mediador, procurando conhecer o seu

público; que no trabalho de desenvolvimento das coleções, utilize uma linguagem

familiar na descrição dos assuntos e, principalmente, propicie a organização do

acervo baseando-se nesses aspectos. Além disso, o trabalho do bibliotecário deverá

estar em consonância com o do professor, conforme salienta Macedo (2005, p.174):

Ao professor e também ao bibliotecário caberá aproveitar todos os momentos para conduzir o aprendiz a praticar leitura nos diversos aspectos, cuidando do despertar das capacidades básicas e dos sentidos reais e figurados, do apurar a sensibilidade e a imaginação, para “ler a vida” ao seu derredor, para entender o social e o cultural.

A IFLA/UNESCO (2005) estabelece que, no cumprimento de sua missão, “a

biblioteca escolar proporciona informação e ideias fundamentais para sermos bem

sucedidos na sociedade atual, baseada na informação e no conhecimento” E

acrescenta: cabe à biblioteca escolar “desenvolver nos estudantes competências

para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, permitindo-lhes

tornarem-se cidadãos responsáveis”.

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Segundo Perucci (1999 p.80-81), a finalidade da Biblioteca Escolar é:

[...] Contribuir ativamente com a educação colocando à disposição dos professores, alunos e demais interessados, o material necessário para o enriquecimento do programa escolar, habilitando-os a utilizar os livros e desenvolver a capacidade de pesquisar, além de sustentar os programas de ensino.

Assim, podemos depreender que a sua função pedagógica é atender as

demandas informacionais do educador e do educando, bem como de sua

comunidade, seja no desenvolvimento do ensino e da pesquisa, como nos

processos de aprendizagens visando a construção do conhecimento em um

ambiente em que a cultura escolar se aproxime das questões de cidadania.

Para este fim, o bibliotecário deve desenvolver um trabalho conjunto com a

equipe pedagógica, com a finalidade de contribuir para a conquista dos interesses

da escola, fornecendo informação e desenvolvendo atividades conjuntas buscando

sempre o aumento qualitativo do uso do espaço da biblioteca.

Para que tais funções sejam postas em prática cabe ao bibliotecário

desempenhar cotidianamente e de maneira adequada o seu papel de profissional

mediador da informação, propiciando o fluxo ideal da informação entre a biblioteca e

a sua comunidade/público. No entanto, além da organização do acervo que permita

uma recuperação eficiente da informação, cabe ao profissional bibliotecário investir

também na capacitação dos usuários para o uso adequado da informação, por meio

do processo de letramento informacional dos educandos – processo que será

discutido adiante - para que com autonomia possam desenvolver seus

conhecimentos.

2.1 BILBIOTECA ESCOLAR COMO LUGAR DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO

A Lei 12.244 de 24 de maio de 2010, no seu Art. 2°, define a Biblioteca

Escolar como “[...] coleção de livros, materiais videográficos e documentos

registrados em qualquer suporte destinados à consulta, pesquisa, estudo ou leitura”.

Se por um lado o Art. 1° representa uma evolução do governo diante das

necessidades informacionais da educação, por outro lado, o Art. 2° deixa bastante a

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desejar. A conceituação de Biblioteca Escolar considerada na elaboração da Lei é

ainda insuficiente para dar conta das demandas da Educação pública. Trata-se de

uma conceituação relativa, aberta a diversas interpretações e de fundamentos

precários. Revela a incompetência dos órgãos governamentais para tratar a questão

da Biblioteca Escolar no Brasil. Esta conceituação se aplica aos “depósitos de livros”

criticados por Waldeck Carneiro da Silva (1994).

Biblioteca Escolar é um conceito que deve definir um espaço de exercício

efetivo das funções biblioteconômicas, pelo provimento das demandas

informacionais em colaboração didático-pedagógica com o processo de ensino-

aprendizagem; pelo pleno desenvolvimento das funções do professor ou agentes

envolvidos no processo educativo, pelo desenvolvimento do hábito da leitura e

pesquisa no aluno, em prol da Educação, servindo como fonte de informação e

cultura para os seus usuários na produção do conhecimento e formação para o

convívio social.

A função social da biblioteca escolar é contribuir no processo educacional

atendendo as demandas informacionais dos seus usuários, sobretudo alunos e

professores, na construção do conhecimento. Conforme Hillesheim e Fachin (1999,

p.66), considera-se aqui que a biblioteca

[...] é uma instituição do sistema social que organiza materiais bibliográficos, audiovisuais e outros meios e os coloca à disposição de uma comunidade educacional. Constitui parte integral do sistema educativo e participa de seus objetivos, metas e fins. É um instrumento de desenvolvimento do currículo e permite o fomento da leitura e a formação de uma atividade científica: constitui um elemento que forma o indivíduo para a aprendizagem permanente, estimula a criatividade, a comunicação, facilita a recreação, apoia os docentes em sua capacitação e lhes oferece a informação necessária para a tomada de decisões em aula.

Neste contexto, sua finalidade é contribuir para a expansão da visão de

mundo dos seus usuários, servindo como fonte de informação e cultura, oferecendo-

os um ambiente favorável ao desenvolvimento da consciência crítica individual, do

hábito da leitura e da prática da pesquisa. Sobre isso, Silva (1994, p.71)

complementa afirmando que:

Não podemos deixar de assinalar o papel da biblioteca escolar na formação de personalidades críticas, criativas e dinâmicas. Com a

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diversidade de informações que a biblioteca escolar pode oferecer – se dignamente instalada -, os estudantes poderão tomar conhecimento de ideias diferentes ou mesmo divergentes daquelas transmitidas pelo professor, o que lhes poderá provocar inquietações e questionamentos, elementos indispensáveis ao desenvolvimento de uma educação escolar emancipatória, ainda que insuficientes para livrar totalmente os alunos das influências do discurso dominante na escola. Inquietos e questionadores, tais alunos poderão tornar-se cidadãos críticos e participativos, o que se constitui em requisito fundamental para a tarefa de transformação da sociedade brasileira e, de modo geral, de qualquer sociedade.

Nesta esfera, a função do bibliotecário é mediar o acesso à Informação, visto

que Informação é insumo básico para a produção do conhecimento, fornecendo as

instruções necessárias aos seus usuários para que possam realizar com autonomia

a busca da informação; usar com autoridade os materiais e ferramentas

disponibilizadas pela biblioteca.

É pensando nessa direção que Campello (2009) apresenta o conceito de

letramento informacional, que traz ao profissional bibliotecário uma nova perspectiva

para atuação diante dos seus usuários na busca da informação. Esta maneira de

atuar permite não só que o bibliotecário esteja mediando o acesso à informação.

Permite também que este esteja fornecendo instrução necessária ao

desenvolvimento das habilidades de pesquisa do usuário no meio digital, no uso das

fontes e outros recursos disponibilizados pela biblioteca. Este trabalho exige uma

atuação cooperativa entre o profissional bibliotecário e outros profissionais da

informação, em especial profissionais em Tecnologia da informação ou Informática.

É extremamente importante que o bibliotecário escolar tenha consciência de

que é, acima de tudo, educador, que deverá sempre atuar em prol do aluno pela

Educação, participando efetivamente em cooperação com toda a equipe

pedagógica, conforme destacam Moraes; Valadares; Amorim (2013, p.58- 59) ao

discorrem sobre a função educativa do bibliotecário escolar:

Sua função educativa deverá se efetivar, portanto, em um processo de cooperação com a equipe pedagógica, agindo, tal profissional, como um catalisador que deflagra as ações de relacionamento com cada professor, devendo, por tal razão, procurar criar na escola uma cultura de colaboração: exercendo, em seu trabalho colaborativo, a coordenação ao estabelecer horários e desenvolver ações nos encontros pontuais com as turmas; cooperando com a equipe ao separar e sugerir material para pesquisas a serem realizadas pelos alunos (tendo sido o tema previamente informado pelo professor);

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auxiliando os alunos na busca e no uso de fontes de informação no sentido de que estes respondam às questões da pesquisa e desenvolvam as atividades propostas; e buscando participar de encontros com a equipe pedagógica com o intuito de favorecer o trabalho colaborativo.

Ainda sobre a função do bibliotecário na qualidade de educador, seguindo o

raciocínio de (STUMPF, 1987, apud HILLESHEIM E FACHIN, 1999, p.71),

[...] o bibliotecário é elemento chave, dinamizador de todo o processo. Dependerá sempre de seus valores e crenças o resultado das ações efetuadas dentro da biblioteca. Assim, se ele considerar a educação num sentido amplo e não restrito somente ao ensino, mas a formação de hábitos e atitudes próprias no aluno, ele se integrará a ação docente de forma mais efetiva e abrangente.

O potencial criativo e instigador da biblioteca escolar deve ser reconhecido,

sendo considerada pela equipe pedagógica e pelos professores como ferramenta

indispensável no processo educativo, como complemento do currículo escolar, além

de servir como fonte de informação para aprimorar seu conhecimento, auxiliando-os

a exercerem plenamente suas funções, como afirma Fragoso (2002, p. 124):

Longe de constituir mero depósito de livros, a biblioteca escolar é um centro ativo de aprendizagem. Nunca deve ser vista como mero apêndice das unidades escolares, mas como núcleo ligado ao pedagógico [...]. Integrada à comunidade escolar, a biblioteca proporcionará a seu publico leitor uma convivência harmoniosa com o mundo das ideias e da informação.

Ribeiro (1994, p. 61) contribui afirmando que:

A biblioteca possibilita acesso à literatura e as informações para dar respostas e suscitar perguntas aos educandos, configurando uma instituição cuja tarefa centra-se na formação não só do educando como também de apoio informacional ao pessoal docente. Para atender essas premissas a biblioteca precisa ser entendida como um 'espaço democrático' onde interajam alunos, professores e informação. Esse espaço democrático pode estar circunscrito a duas funções: a função educativa e a formação cultural do indivíduo.

No contexto atual, diante dos problemas estruturais acerca da gestão da

Educação Básica pública no Brasil, faz-se necessário que o professor e o

profissional bibliotecário, na qualidade de educadores, estejam refletindo o fazer

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educativo em suas respectivas funções, pelo sucesso da Biblioteca Escolar e,

sobretudo, da Educação, como salienta Maroto (2009, p.88), quando diz que:

A reavaliação da prática educativa dos professores e dos bibliotecários, e a redefinição do papel social da biblioteca no contexto educacional brasileiro constituem-se nos objetivos principais para que a escola conquiste o seu espaço na vida da comunidade e junto com ela possa assumir o projeto da biblioteca escolar, criando, assim, as condições concretas para a democratização do ensino e da leitura, e para a organização e preservação da memória e dos bens culturais produzidos pela sociedade.

Para uma participação mais efetiva da biblioteca na educação e para que esta

seja considerada ferramenta indispensável no ambiente escolar é fundamental que o

bibliotecário seja capaz de reconhecer esta qualidade e, através de atividades

conjuntas com a equipe pedagógica, esteja constantemente apresentando o

potencial deste ambiente, promovendo reuniões e treinamentos relacionados ao uso

deste espaço.

Em síntese: nesta parte inicial, foram levantados alguns pressupostos para o

que aqui se julga necessário ao funcionamento ideal da biblioteca no ambiente

escolar no contexto atual. A proposta deste capítulo foi aguçar a visão do leitor para

a necessidade do empenho no aprofundamento dos estudos acerca da função social

e educativa da biblioteca escolar, na perspectiva da sociedade da informação.

No próximo capítulo, será discutido o conceito de letramento informacional

como motor de inclusão social e cidadania. Para tanto, serão abordados os

conceitos de competência informacional, como perspectiva para o letramento

informacional, além dos conceitos letramento, alfabetização, leitura e informação.

3 BIBLIOTECA ESCOLAR E LETRAMENTO INFORMACIONAL

Nos dois últimos séculos as demandas informacionais deram origem a um

novo panorama de ação educativa. E esta realidade, inevitavelmente, abrange o

fazer biblioteconômico, quando consideramos o bibliotecário agente educador, no

desenvolvimento da sua função educativa e de mediação da informação. Em vista

desta nova realidade, as funções biblioteconômicas, sobretudo no que diz respeito à

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educação básica, tornam-se cada vez mais complexas por conta da necessidade

que este profissional passa a ter de acompanhar o surgimento cada vez mais

constante de novas tecnologias de informação. Como consequência, o bibliotecário

se vê diante do desafio de dar conta das novas formas de ensino e aprendizagem,

bem como da multiplicação das formas que a informação vem tomando ao longo do

tempo. Este novo panorama tornou urgente a necessidade de uma abordagem

interdisciplinar do fazer biblioteconômico.

O conceito de letramento informacional surge como possibilidade de uma

atuação biblioteconômica mais efetiva diante da realidade proporcionada pelos

avanços das tecnologias de comunicação e informação e seus impactos na

organização da informação e na disponibilização dos conhecimentos historicamente

acumulados.

Segundo Campello (2009, p.12),

o termo letramento informacional (information literacy) foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos, na década de 1970, para caracterizar competências necessárias ao uso das fontes eletrônicas de informação, que começavam a ser produzidas na época.

Porém, conforme aponta Gasgue (2012, p.28):

os estudos produzidos no Brasil sobre o tema iniciam-se apenas a partir de 2000. O termo foi mencionado, primeiramente, por Sônia Caregnato, que o traduziu como alfabetização informacional, optando posteriormente por habilidades informacionais como seu equivalente em língua portuguesa.

A noção do letramento informacional representa uma possibilidade de

ampliação da função pedagógica da biblioteca escolar, uma vez que, por meio da

ideia de letramento informacional, o bibliotecário estará possibilitado a desempenhar

o seu papel de educador numa perspectiva inovadora.

O conceito letramento informacional está constituído no universo da

Sociedade da Informação e tem como paradigma o construtivismo, noção que

considera que o conhecimento do aluno/usuário é produto da sua maneira de ler e

interpretar o mundo, com base nas suas experiências e a partir de fontes de

informações diversas. Neste sentido, a função do bibliotecário, por meio do processo

de letramento, é mediar o processo de busca da informação, preparando o ambiente

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e fornecendo instrução suficiente para o desenvolvimento da competência

informacional nos seus usuários.

No próximo item, delineamos o conceito de letramento informacional na

perspectiva da competência informacional; esta vista como um novo horizonte a ser

explorado pelo bibliotecário de modo a tornar explícita sua importância como

coeducador, como aquele que organiza as fontes que auxiliam educando e

educadores no processo de ensino e aprendizagem, ampliando suas possibilidades

de conhecer e produzir novos conhecimentos.

3.1 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL E LETRAMENTO INFORMACIONAL

O contexto informacional no qual está inserida a biblioteca escolar nos dias de

hoje sugere uma visão mais ampla da atuação do bibliotecário do ponto de vista do

seu público em relação à informação. Os anos que seguiram a metade do século

passado foram marcados pelo aumento significativo do volume de informação em

decorrência do desenvolvimento tecnológico ocorrido durante o período pós-guerra.

Ampliou-se o universo informacional, surgiram novos meios de disseminação da

informação, novos formatos, e com isso observamos o surgimento de um novo leque

de perspectivas de atuação do profissional bibliotecário. Uma dessas perspectivas

que empreendemos tratar aqui é a do letramento informacional no contexto escolar.

O termo letramento informacional, tradução do inglês information litteracy,

segundo Campello (2003, p.28) foi “usado inicialmente nos Estados Unidos para

designar habilidades ligadas ao uso da informação eletrônica”. A abordagem

biblioteconômica, como aponta Campello (2003, p. 30), surge na década de 1980, a

partir das novas diretrizes da AASL (American Association of School Librarians), sob

o nome de Information Power: Guidelines for School Libraries, Media Programs, que

procurava

[...] definir com mais clareza a função pedagógica do bibliotecário, advogando a parceria entre professores, dirigente escolar e bibliotecária no planejamento do programa da biblioteca, de acordo com as necessidades específicas da escola. Uma das funções do bibliotecário seria a de professor, encarregado de ensinar não apenas as habilidades que vinha tradicionalmente ensinando (localizar e recuperar informação), mas também envolvido no desenvolvimento de habilidades de pensar criticamente, ler, ouvir e ver, enfim, ensinando a aprender a aprender. (CAMPELLO, 2003, p.30).

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No contexto da chamada “sociedade da informação”, o conceito de

information litteracy assume caráter mais abrangente, passando a definir um

conjunto ideal de habilidades de escrita, leitura, seleção, processamento e aplicação

da informação no processo de produção do conhecimento.

Kuhlthau (1999 apud CAMPELLO, 2003, p.32-33) afirma:

O desafio para a escola da sociedade da informação é educar as crianças para viver e aprender em ambiente rico em informação. Os professores não podem fazer isso sozinhos. O bibliotecário desempenha papel fundamental no enfrentamento desse desafio.

Desde que se considerou pela primeira vez o termo information litteracy aqui

no Brasil, diversas foram suas traduções, conforme aponta Gasque (2010, p.83),

quando afirma que:

No Brasil, foram publicados vários artigos e pesquisas, a partir de 2000, que utilizaram expressões como ‘information litteracy’, ‘letramento informacional’, ‘alfabetização informacional’, “habilidade informacional’ e ‘competência informacional’ para se referir, em geral, a mesma ideia ou grupo de ideias.

Gasque (2010) ressalta a importância da reflexão acerca da terminologia a

ser usada para se referir ao processo de capacitação informacional fundamentado

no conceito de information litteracy, argumentando que

A despeito de reconhecer que os termos ‘competências’, ‘habilidades’, letramento, ‘literacia’ e ‘alfabetização’ pertencem a categoria de ideias similares, precisam ser bem definidos para que reflitam com exatidão determinada ação, evento ou processo (GASQUE, 2010, p.84).

Assim, no que diz respeito à information litteracy, sua definição é variável de

acordo com a perspectiva e com o enfoque de ação, bem como com o contexto

social ao qual se está referindo. A partir da leitura que aqui se faz da realidade

brasileira e para o que se pretende com este trabalho, o termo ‘letramento

informacional’ se apresenta adequado por se aproximar da ideia de ‘letramento’ que

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recentemente passou a ser trabalhada na área da educação. Adiante estaremos

aprofundando neste assunto.

Desta maneira, a ideia de competência informacional se apresenta ao

bibliotecário como pressuposto para uma abordagem pedagógica inovadora do seu

público. Nesta perspectiva, o fazer biblioteconômico se dá em torno de uma

proposta educativa, sendo o letramento informacional o processo por meio do qual

se desenvolve no usuário as habilidades de uso da informação.

Na perspectiva do bibliotecário como profissional da informação no universo

da competência informacional, é fundamental considerar o conceito de informação

no seu sentido mais amplo, tendo em vista a dificuldade de conceituação do termo

Informação diante do universo interdisciplinar do conhecimento. Mas, para o que

aqui se pretende, Capurro e Hjorland (2007, p.187-188) contribuem com a visão que

considera que:

Informação é qualquer coisa que é de importância na resposta a uma questão. Qualquer coisa pode ser informação. Na prática, contudo, informação deve ser definida em relação às necessidades dos grupos-alvo servidos pelos especialistas em informação, não de modo universal e individualista, mas, em vez disso, de modo coletivo ou particular. Informação é o que pode responder questões importantes relacionadas às atividades do grupo-alvo. A geração, coleta, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação e transformação da informação deve, portanto, ser baseada em visões/teorias sobre os problemas, questões e objetivos que a informação deverá satisfazer.

Campello (2009, p.32) destaca Jesse Shera como pioneiro no estudo do

processo de comunicação por meio da biblioteca, levantando a importância do

estudo do conceito de informação, considerando sua relatividade e definindo

informação como tudo aquilo que poderá ser interpretado pelo agente cognitivo.

Na perspectiva da competência informacional, o usuário letrado é aquele que

está capacitado a obter e trabalhar com a informação nas suas mais variadas formas

e, com isso, produzir conhecimento.

A ideia do letramento informacional se desenvolveu a partir das pesquisas na

área de biblioteconomia e ciência da informação sobre estudo de usuários, que

tiveram por finalidade a compreensão dos processos cognitivos da aprendizagem

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baseadas na busca e no uso da informação. Estes estudos forneceram as bases

teóricas para a prática do letramento informacional.

Em 1998 a American Association of School Librarians e a Assossiation for

Educational Communications and Technology elaboraram juntas o Information

Power, documento destinado aos alunos do ensino básico que define os parâmetros

de letramento informacional. Conforme aponta Campello (2009, p.21-22),

o Inforrmation Power define nove normas ou parâmetros de letramento informacional, divididas em três segmentos: (1) competência informacional; (2) aprendizagem independente; (3) e responsabilidade social. O primeiro segmento enfatiza as habilidades de acessar, avaliar e usar informação; o segundo diz respeito à capacidade de buscar e usar informação de maneira independente, e o terceiro explora o uso social da informação, abordando a atitude ética com relação à informação e ao compartilhamento de práticas informacionais.

Segundo Campelo (2009, p.23-24) as nove normas ou padrões da Information

Power se subdividem a partir dos três segmentos apresentados acima, e podem ser

compreendidos da seguinte forma;

PADRÕES DE COMPETÊNCIA INFORMACIONAL

1- Acessa informação de forma eficiente e efetiva

1.1- Reconhece a necessidade de informação

1.2- Percebe que informação apropriada e abrangente é a

base para a tomada inteligente de decisões

1.3- Formula perguntas baseadas nas necessidades de

informação

1.4- Identifica uma variedade de fontes potenciais de

informação

1.5- Desenvolve e usa estratégias de localização de

informação bem sucedidas

2- Avalia informação de forma crítica e competente

2.1- Determina exatidão, relevância e abrangência

2.2- Distingue fato, ponto de vista e opinião.

2.3- Identifica informação imprecisa, inexata e capciosa

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2.4- Seleciona informação apropriada para o problema ou

pergunta propostos

3- Usa informação corretamente e produtivamente

3.1- Organiza informação para aplicação prática

3.2- Integra nova informação ao conhecimento próprio

3.3- Aplica informação ao pensamento crítico e à resolução de

problemas

3.4- Produzem e transmitem informação e ideias em formatos

apropriados

PADRÕES DE APRENDIZAGEM INDEPENDENTE

4- Procura informação relacionada a assuntos de interesse

pessoal

4.1- Busca informação relacionada às várias dimensões de

bem-estar pessoal, tais como interesses profissionais,

envolvimento comunitário, questões de saúde, atividades de

recreação

4.2-Projeta, desenvolve e avalia produtos e soluções de

informação relacionadas a interesses pessoais

5-Aprecia literatura e outras expressões criativas da informação

5.1- É um aprendiz competente e auto-motivado

5.2- Deduz sentido de informação apresentada de modo

criativo e em diferentes formatos

5.3- Desenvolve produtos criativos em diferentes formatos

6-Empenha-se pela excelência na busca de informação e na

geração de conhecimento

6.1- Avalia a qualidade dos processos e produtos da busca

pessoal pela informação

6.2- Delineia estratégias para revisar, melhorar e atualizar o

serviço ou o conhecimento gerado individualmente

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PADRÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

7- Reconhece a importância da informação para uma sociedade

democrática

7.1- Busca informação de diversas fontes, contextos,

disciplinas, culturas

7.2-Respeita o princípio de acesso equitativo à informação

8- Apresenta conduta ética com respeito à informação e às

tecnologias de informação

8.1- Respeita os princípios de liberdade intelectual

8.2- Respeita os direitos de propriedade intelectual

8.3- Utiliza as tecnologias da informação de forma responsável

9-Participa efetivamente em grupos de procura e geração de

informação

9.1- Compartilha conhecimento e informação com os outros

9.2- Respeita as ideias e experiências alheias e reconhece

suas contribuições

9.3- Colabora com os outros na identificação de problemas de

informação e na obtenção de suas soluções, seja

pessoalmente ou através das tecnologias

9.4- Colabora com os outros no projeto, desenvolvimento e

avaliação de produtos e soluções de informação, seja

pessoalmente ou através das tecnologias

Campello (2009, p.35-36) aponta a vertente de estudos de Christina Doyle,

que procura “[...] compreender e identificar as características de um indivíduo

competente no uso da informação”. Segundo Campelo (2009, p.35), em estudo

realizado no âmbito do National Forum on Information Literay, Doyle chegou à

conclusão de que um indivíduo competente em informação é capaz de

1- Reconhecer a necessidade de informação;

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2- Reconhecer que informações acuradas e completas

são a base para a tomada de decisões inteligentes;

3- Formular questões baseadas na necessidade de

informação;

4- Identificar fontes de informação potenciais;

5- Desenvolver estratégias de busca adequadas;

6- Acessar fontes de informação inclusive eletrônicas;

7- Avaliar informações;

8- Organizar informações para aplicações práticas;

9- Integrar novas informações ao corpo de

conhecimentos existentes;

10- Usar informações para pensar criticamente e para

solucionar problemas (CAMPELO, 2009, p.36).

Os resultados de Doyle e os nove padrões apresentados por Campelo, bem

como suas subdivisões, fornecem fundamentos para a elaboração de uma visão

prática acerca do processo de Letramento Informacional, bem como uma

compreensão aprofundada sobre o que se entende por competência informacional.

Partindo desta perspectiva, o horizonte de atuação biblioteconômica no ambiente

escolar é ampliado, suscitando o trabalho colaborativo e interdisciplinar. Partindo

destes pressupostos, o bibliotecário deve desempenhar sua função pedagógica de

modo a pensar o desenvolvimento destes atributos nos seus usuários. É importante

considerar que os resultados aqui apontados servem como parâmetros, o que não

significa que novos atributos não possam ser considerados.

O envolvimento do bibliotecário no processo de pesquisa é fundamental,

considerando que o papel mediador deste profissional é o que vai propiciar o fluxo

ideal da informação entre a biblioteca e o usuário. Para esta função, é necessário

que o bibliotecário esteja em permanente aprimoramento dos seus conhecimentos

sobre o uso de fontes de informação, sejam eles físicos ou digitais, e de aparatos

tecnológicos de informação.

Aqui a função pedagógica do bibliotecário na perspectiva da competência

informacional é tratada em termos ideais. É relevante considerar que a realidade do

bibliotecário escolar no ensino público brasileiro coloca uma série de desafios ao seu

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desempenho na prática do que aqui se entende por letramento informacional.

Portanto, é importante pensar os parâmetros de competência informacional e a

prática do letramento informacional como um ideal a ser conquistado com uma

postura ativa do profissional bibliotecário no ambiente escolar, o que evidenciará a

importância deste profissional no âmbito educacional.

No entanto, cabe ressaltar que o letramento informacional é o ponto de

partida para o empoderamento do educando. Munido de informações ele estende

seu conhecimentos para outras dimensões da vida social. Lendo e compreendendo

o mundo que o cerca ele terá condições de lutar pelos seus direitos como cidadão.

No item seguinte abordaremos esse aspecto.

.

3.2 LETRAMENTO, LEITURA E CIDADANIA

O termo letramento é basicamente a tradução literal do inglês literacy letra

do latim littera, e o sufixo mento, que denota o resultado de uma ação (como por

exemplo, em ferimento, resultado da ação de ferir). “[...] Letramento é, pois, o

resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou a condição

que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se

apropriado da escrita” (SOARES, 2009, p.18).

Concordando ainda com Soares (2009, p.17–18),

Litteracy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Em outras palavras: do ponto de vista individual, o aprender a ler e escrever – alfabetizar-se, deixar de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita – tem consequências sobre o indivíduo, e altera seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos; do ponto de vista social, a introdução da escrita em um grupo social até então ágrafo tem sobre esse grupo efeitos de natureza social, cultural, política, econômica, linguística. O “estado” ou a “condição” que o indivíduo ou o grupo social passam a ter, sob o impacto

dessas mudanças, é que é designado por litteracy.

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Desta forma, Soares salienta a diferenciação entre os conceitos alfabetização

e letramento. Partindo deste ponto de vista, alfabetização se refere ao processo por

meio do qual o aluno estará sendo preparado para a apropriação técnica da palavra

– ler e escrever -. Letramento se refere basicamente à prática social da leitura e da

escrita, bem como das consequências disso numa sociedade. A biblioteca escolar é

um dos lugares onde a prática social da leitura, quando estimulada, provoca no leitor

ações intertextuais, levando-o a superar o papel de simples ouvinte, tornando-se

também um narrador.

Assim, o conceito de letramento assume um caráter revolucionário, aspira

transformação. Carrega em si mais que a capacidade técnica de ler e escrever. Na

perspectiva do letramento, a apropriação do código escrito – alfabetização - pelo

indivíduo, por meio da leitura e da escrita, é ponto de partida fundamental para o

desenvolvimento das suas capacidades de leitura e interpretação do mundo, da

construção de um olhar reflexivo acerca da sua situação no contexto social.

Letramento descreve a consequência de um projeto educacional que possibilita ao

indivíduo, a partir da sua bagagem cultural, um posicionamento mais ativo no meio

social, político e econômico do seu tempo.

Vale salientar que, apesar de significarem ações distintas, alfabetização e

letramento não são conceitos excludentes, são processos complementares. “Na

verdade, essas práticas não devem ser confundidas, tampouco contrapostas, à

medida que se integram a um mesmo processo” (GASQUE, 2010, p.85).

Sobre a diferenciação entre os conceitos de alfabetização e letramento,

Gasque (2010, p.85) contribui considerando que:

A alfabetização vincula-se ao domínio básico do código da língua, abrangendo conhecimentos e destrezas variados, como a memorização das convenções existentes entre letras/sons, a comparações entre palavras e significados, o conhecimento do funcionamento do alfabeto, o domínio do traçado das letras e a aprendizagem de instrumentos específicos como lápis, canetas, papéis, cadernos e computador. O letramento, por sua vez, envolve o conceito de alfabetização, transcendendo a decodificação para situações em que há o uso efetivo da língua nas práticas de interação em um contexto específico. (Grifos nossos)

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É importante salientar o papel da leitura no processo de letramento

informacional, pois é por meio da leitura que o indivíduo constrói suas bases

conceituais, organiza suas ideias e se torna capaz de uma comunicação mais fluida.

Aspecto importante tendo em vista a quantidade cada vez maior de informação

proveniente e a crescente variedade de fontes disponíveis em diferentes suportes:

impressos, imagéticos, digitais, etc.

Leitura não deve consistir em mera decifração do código escrito, propriamente

dito. A capacidade de ler está relacionada à capacidade de síntese, que é um

processo mental subjetivo que se desenvolve com o exercício e acúmulo de leitura,

com a capacidade de o indivíduo construir sentido e relacionar o conteúdo lido com

a sua realidade social e cultural, e, assim, elaborar a sua própria visão acerca do

que foi lido. Discorrendo sobre a importância da leitura, no que diz respeito à palavra

escrita, Martins (2006, p.19) afirma que

[...] se trata de um signo arbitrário, não disponível na natureza, criado como instrumento de comunicação, registro das relações humanas, das ações e aspirações dos homens; transformado com frequência em instrumento de poder pelos dominadores, mas que pode também vir a liberação dos dominados.

Desta forma, o indivíduo alfabetizado para a leitura mecânica, irrefletida,

estará propício a mais um, e talvez a mais importante, entre os diversos modos de

dominação existentes na sociedade. A palavra ou o texto escrito é carregado de

ideologias interessadas, elaboradas como verdades absolutas. A leitura crítica é um

meio pelo qual o indivíduo se torna capaz de agir pela conquista do seu espaço na

sociedade, saindo da posição de passividade e libertando-se da dominação, pois

como Ressalta Paulo Freire (1989, p. 9) “[...] a compreensão do texto a ser

alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o

contexto”.

Outra consideração relevante feita por Martins (2006, p.33), que

necessariamente cabe à perspectiva biblioteconomica na educação, é acerca da

necessidade de ampliação do conceito de texto, evidenciando a complexidade que

envolve o ato de ler partindo da avaliação da subjetividade do leitor. Ele aponta que

no ato da leitura, durante a dialética entre o indivíduo e o texto escrito, o leitor trás

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uma bagagem de leitura de textos nas suas mais variadas formas, como pode ser

verificado no seguinte trecho:

A leitura vai, portanto, além do texto (seja ele qual for) e começa antes do contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero decodificador ou receptor passivo. E o contexto geral em que ele atua, as pessoas com quem convive passam a ter influencia apreciável em seu desempenho na leitura. Isso porque o dar sentido a um texto implica sempre levar em conta a situação desse texto e de seu leitor. E a noção de texto aqui também tem que é ampliada, não mais fica restrita ao que está escrito, mas abre-se para englobar diferentes linguagens. Considerando as colocações acima, a leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento.

Uma das tarefas principais do bibliotecário é favorecer este processo,

procurando conhecer o universo do seu usuário, mediando informação adequada,

apresentando a variedade de fontes e formatos de informação disponíveis,

desenvolvendo atividades conjuntas com a equipe pedagógica, participando da

elaboração de programas de aula e propondo bibliografias.

A prática da leitura e da escrita na perspectiva do Letramento Informacional

deve ser pensada a partir do pressuposto de que, nos dias de hoje, saber encontrar

a informação, ler e entender o que está escrito e fazer com autonomia sua própria

síntese (interpretação) são condições fundamentais para a cidadania. Como

considera Dudziak (2007, p.97):

Em seu nível superior, a competência informacional mais que a soma de atributos é um processo que conduz à inclusão social através da adequada mobilização de conteúdos inter-relacionados tais como conhecimento, habilidades e atitudes, direcionados à atuação cidadã, assim como o aprendizado permanente. É importante que o bibliotecário reflita sobre os desafios apresentados à frente: a necessidade de construir uma sociedade inclusiva, que priorize a justiça, a equidade e o acesso democrático à ciência e à tecnologia, com responsabilidade social e ambiental. Para tanto, é necessário preparar as pessoas para que sejam autônomas. Do aumento da autonomia dos indivíduos vem a emancipação. Em primeiro lugar, é necessário adquirir consciência da realidade. O próximo passo é desenvolver uma consciência crítica.

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É importante considerar que “Cidadania não é uma definição estanque, mas

um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço”

(PINSKY, 2003, p.1).

No campo da biblioteconomia muito se fala acerca do papel do bibliotecário

na formação de cidadãos. Mas, o que significa ser cidadão? Pouco se discute

acerca do conceito de Cidadania na área, o que torna este um conceito vazio, fato

que torna difícil também a elaboração de propostas biblioteconômicas para o que se

pretende. Há de se considerar que definir este conceito não é tarefa fácil, conforme

aponta Gorczevsky e Martin (2011, p.22),

Modernamente, mesmo os estudiosos da área encontram dificuldades em atribuir-lhe um conceito. Embora reconhecendo o fenômeno como resultado de um processo histórico, há uma tendência à simplificação que discorre sobre os direitos do cidadão, desconsiderando o contexto social a que se está referindo.

A tendência a simplificação do conceito de cidadania, a qual se refere

Gorczevsky e Martin (2011, p.22), tem origem no

Discurso naturalista formulado no contexto das lutas libertárias e reivindicatórias da classe burguesa emergente que almejava um novo status firmou-se com a concepção de Marshall que, em 1949, com base na realidade de sua época, em especial no conflito aberto entre o capitalismo e o marxismo, elaborou a primeira teoria sociológica de cidadania, estabelecendo como direitos dos cidadãos os direitos civis, cooptados ainda no século XVIII; os políticos adquiridos no século XIX; e os sociais, conquistados no século XX.

No geral, a opinião de estudiosos da área de que ser cidadão é ter direitos e

deveres a serem cumpridos na sociedade é unânime. Mas não devemos restringir o

conceito de cidadão como o indivíduo dotado de direitos e deveres a serem

cumpridos. Isso não é suficiente para que mudanças sociais relevantes ocorram,

pois o que é direito pode ser oferecido como “doação” numa perspectiva

assistencialista no âmbito das politicas públicas. Esta visão limitada se presta à

manutenção do status quo social, propiciando a dominação ideológica da classe

dominante sobre a classe dominada. E isso se reflete também na educação. De

acordo com a ideia de Frade (2002, apud SILVA; JAMBEIRO; LIMA; BRANDÃO,

2005, p.30), é importante considerar que,

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o conceito de cidadania é mutável desde os primórdios da sociedade organizada. Porém, nas últimas décadas, essa variação se acelerou em ritmos alucinantes, adequando-se às novas exigências do mundo contemporâneo. A intensificação e ampliação da globalização da política, da economia, da quebra de fronteiras na disseminação de culturas, a explosão e mercantilização da informação condicionaram o exercício da cidadania plena ao alcance de novos patamares de riqueza, educação e acesso a serviços e produtos.

Ainda de acordo com Frade (2002, p.13 apud SILVA; JAMBEIRO; LIMA;

BRANDÃO, 2005, p.30-31), no contexto atual, para a solução do dilema

democrático,

[...] um novo modelo de cidadania deve ir além da esfera da informação, incorporando a capacidade de interpretação da realidade e construção de sentido por parte dos indivíduos. O que importa na formação dos cidadãos, sob essa perspectiva, é que sejam capazes de ser construtores de significados.

Na perspectiva do educador que idealiza uma sociedade menos desigual, é

necessário considerar que cidadania é a condição do cidadão que, usufruindo de

seus direitos e no cumprimento de seus deveres sociais, desempenha suas

capacidades de participação social na reivindicação de direitos e no próprio

aprimoramento da ideia de Cidadania considerado pelo governo vigente. É preciso

entender que ser cidadão é estar provido da capacidade de refletir sua situação

social, entender o contexto ao qual se encontra inserido, participar ativamente da

construção e do destino da sociedade por meio do voto, da reivindicação social e da

participação política.

No contexto da biblioteconomia, o bibliotecário, no desempenho do seu papel

pedagógico, deve favorecer este processo de formação de cidadãos competentes

em informação, pondo em prática o letramento informacional no seu dia a dia de

trabalho com foco na transformação subjetiva dos seus usuários, na formação do

cidadão engajado na dinâmica social, aspirador de melhorias, em prol de uma

sociedade onde o ideal de democracia esteja sempre em discussão.

.Sobre isso, Covre (2005, p.64) contribui enfatizando que:

[...] a “revolução” por uma sociedade melhor passa pela revolução nas subjetividades das pessoas. Um dos níveis dessa revolução está na possibilidade de o homem contemporâneo romper cotidianamente com as trevas da alienação (e uma delas seria o consumismo no sentido amplo). Isso se daria, a todo instante, nas relações diárias,

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criando relações que eliminem o homem “marcado” historicamente e apontem, dentro desse homem, o ser universal que possui. Trata-se de pensar, sentir e agir no sentido de que a democracia se constrói a todo instante, nas relações sociais de que fazemos parte.

Nesse processo a biblioteca é instrumento potencial e sua ação se inicia no

campo educacional com a viabilização das bibliotecas escolares como verdadeiros

espaços de informação e conhecimento; com a superação das condições de miséria

sob as quais continuam submetidas em grande parte as escolas públicas brasileiras.

No Brasil, na década de 80, a Constituição da República de 1988 simbolizou

um avanço social e uma evolução do conceito de cidadania tirando do âmbito restrito

do Estado e aproximando da sociedade civil. Esta evolução foi fruto de movimentos

sociais que a partir do processo de redemocratização conquistaram espaços de

maior presença na condução do destino de nosso país. No entanto, esse quadro

vem mudando, e desde o final da década de 1990 percebe-se uma retração dos

movimentos sociais e um avanço das ONGs. Uma nova forma de organização da

sociedade civil, cujo estatuto jurídico a aproxima mais do Estado, através de

parcerias e a afasta dos debates envolvendo o cidadão comum, que não se vê

representado por estas organizações. No âmbito da educação pública a retração dos

movimentos sociais significou o fim de grupos como “O Grupo de Mães” que

participavam de forma efetiva das discussões sobre as questões pedagógicas. Hoje

são poucas as escolas que mantém ativo grupos como esses. Hoje a relação

família-escola se dá de forma burocrática e se resume à participação nas reuniões

escolares. Sob esse aspecto, a biblioteca escolar pode protagonizar de forma afetiva

a reaproximação da família com a escola, promovendo ações culturais que se

estendam para além de seus muros, que envolvam pais, familiares e a comunidade

que está em seu entorno.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou ampliar a compreensão de que, no contexto em que

se encontra inserida a biblioteca escolar do ensino público brasileiro hoje, é

fundamental a presença de um bibliotecário sensível às causas sociais, capacitado a

refletir a sua atuação profissional diante da situação social do seu público alvo,

sobretudo a situação do aluno, visto que, no geral, os alunos da rede pública de

educação são provenientes das classes mais pobres e, por isso, carecem de uma

atenção especial, no que diz respeito à educação.

No decorrer da pesquisa para a elaboração deste trabalho foi possível

concluir que, para a consolidação do caráter educativo do bibliotecário no contexto

escolar brasileiro, a perspectiva sociológica deve permear a prática

biblioteconômica, servindo como norte para o trabalho didático-pedagógico. Este

pressuposto possibilita que, no desempenho da função educativa, a partir dos

pressupostos do Letramento informacional, o bibliotecário, em um trabalho conjunto

com a equipe pedagógica, passe a ser também agente de transformação e inclusão

social, uma vez que, no desempenho da sua função educativa, sua finalidade é

contribuir para o desenvolvimento das capacidades de síntese e crítica, o que

proporcionará maior autonomia dos seus educandos diante do mundo que o cerca,

formando-os agentes na dialética social.

Conclui-se aqui que o potencial transformador do conhecimento, diante do

contexto político e econômico que se insere o Brasil como país de “terceiro mundo”,

talvez seja a arma mais eficaz que o indivíduo proveniente das classes subalternas

possa fazer uso para a conquista do seu espaço na sociedade. Esta pesquisa

evidenciou a visão de que é papel do bibliotecário escolar, a partir de uma efetiva

participação colaborativa no processo de ensino-aprendizagem, o de munir os seus

usuários para que estes adquiram autonomia diante dos desafios que apresenta a

vida na sociedade da informação.

Foi possível consolidar a ideia de que a abordagem biblioteconômica

possibilitada pela ideia do Letramento Informacional, na perspectiva da Competência

informacional, veio ampliar as possibilidades de ação do bibliotecário na educação

pela construção de um país menos desigual, onde indivíduos provenientes das

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camadas mais pobres da sociedade estejam, na medida do possível, cada vez mais

capacitados a concorrer, em termos ideológicos e práticos, de uma maneira menos

desleal no mundo que hoje se apresenta. Aqui se levanta a necessidade de o

bibliotecário-educador se prestar ao empoderamento do seu usuário para a luta por

uma sociedade mais justa, por meio de uma participação consciente no jogo social,

o que lhe conferirá caráter de cidadão de acordo com o que aqui se considera

Cidadania.

Esta pesquisa reforçou a ideia de que Cidadania é, sobretudo, protagonismo

na participação social, e que esta condição implica conhecimento. Romper com as

amarras da alienação só se torna possível por meio de informação e conhecimento.

Se não há informação e conhecimento suficientes às demandas do indivíduo, não é

possível pensar o seu protagonismo na participação social. Assim, pode-se

considerar que não há cidadania sem protagonismo na participação social. Este

ponto de vista levanta a importância da biblioteca escolar como fonte de

conhecimento e do bibliotecário como promotor de inclusão social e cidadania.

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