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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA MARILENE DO SOCORRO COELHO VILELA EVASÃO ESCOLAR NA EJA: Um estudo sobre as dificuldades vivenciadas por Jovens e Adultos para a efetivação do processo ensino aprendizagem GURUPÁ – PARÁ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

MARIA IVONE BARBOSA MARILENE DO SOCORRO COELHO VILELA

EVASÃO ESCOLAR NA EJA: Um estudo sobre as dificuldades vivenciadas por Jovens e Adultos para a efetivação do processo ensino aprendizagem

GURUPÁ – PARÁ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

MARIA IVONE BARBOSA MARILENE DO SOCORRO COELHO VILELA

EVASÃO ESCOLAR NA EJA: Um estudo sobre as dificuldades vivenciadas por Jovens e Adultos para a efetivação do processo ensino aprendizagem

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Pedagogia do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR, promovido pela Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, como requisito para obtenção do Grau de Licenciado Pleno em Pedagogia. Orientadora: Prof.ª Msc. Vanessa Alcântara Cardoso

GURUPÁ – PARÁ 2015

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MARIA IVONE BARBOSA

Barbosa, Maria Ivone

Evasão escolar na EJA: um estudo sobre as dificuldades vivenciadas

por jovens e adultos para a efetivação do processo ensino

aprendizagem / Maria Ivone Barbosa, Marilene do Socorro Coelho

Vilela. – Gurupá, PA, 2015.

49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em

Pedagogia) – Plano Nacional de Formação de Professores, Universidade Federal Rural da Amazônia, 2015.

Orientadora: Vanessa Alcântara Cardoso

1.Evasão 2.Educação 3.Jovens e Adultos I.Vilela, Marilene do

Socorro Coelho II.Cardoso, Vanessa Alcântara, orient. III.Título

CDD – 373

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MARILENE DO SOCORRO COELHO VILELA

EVASÃO ESCOLAR NA EJA: Um estudo sobre as dificuldades vivenciadas por Jovens e Adultos para a efetivação do processo ensino aprendizagem

NOTA ATRIBUÍDA

___________________________________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Prof.ª Msc. Vanessa Alcântara Cardoso

Prof.º Orientador

_________________________________

Prof.º 1º Avaliador: Prof.º Dr.º Raykleison Igos dos Reis Moraes

_________________________________

Prof.º 2º Avaliador: Prof.ª Mas. Ana Claudia Machado

Data: ____ / ____ / 2015

GURUPÁ – PARÁ 2015

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Dedico este trabalho a minha mãe, que é uma mulher guerreira e sempre deu-me força,

coragem e perseverança para enfrentar as barreiras e ensinou-me o valor do respeito, ao meu

esposo, que sempre incentivou-me a não desistir e enfrentar os obstáculos de cabeça erguida,

ao meu filho, pelos momentos concedidos que não pude estar em sua companhia por estar em

busca da conquista deste curso, aos meus irmãos, pelos momentos que eles foram úteis de

alguma forma e ao meu pai (em memória) que contribuiu com a minha educação e sempre

será lembrado com amor em meu coração.

Maria Ivone Barbosa.

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Em primeiro lugar a Deus, que me deu saúde, força para prosseguir nessa caminhada e tornar

possível a conclusão do curso, aos meus pais, que sempre me apoiarão nas minhas mais

simples e difíceis decisões, ao meu esposo, que sempre me proporcionou momentos de alegria

e companheirismo, aos meus filhos, que são a joia mais rara e importante de minha vida, aos

meus irmãos pelo apoio incondicional que me deram durante esse curso, a minha avó, que é

centenária no seio da família e a pessoa mais sabia que conheço, a amiga Sueli, mulher

guerreira que sabe lutar por aquilo que acredita e principalmente, àquelas pessoas que direto

ou indiretamente, me apoiaram e acreditaram no meu potencial, me passando energias

positivas.

Marilene do Socorro Coelho Vilela

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pai celestial, pelo dom da vida e por ter

proporcionando-me saúde, e depositando-me fé, coragem e segurança, e que sempre nos dá

força para que possamos realizar os nossos objetivos;

Agradeço com todo carinho a minha mãe Darci Barbosa, que sempre esteve ao meu

lado dando-me força, coragem e incentivando-me a enfrentar as dificuldades e desafios, além

de contribuir com a minha educação;

Ao meu esposo Gerson Brilhante, por estar sempre apoiando-me e incentivando-me a

conquistar o meu objetivo e não desistir;

Ao meu filho Gérnison Mayan, que é o bem mais precioso da minha vida pelo tempo e

horas que passei ausente de sua companhia, pela compreensão que você teve comigo;

Aos meus irmãos Antônio e Valdeci, pelos momentos que precisei deles, e sempre

estiveram disponíveis sem nunca dizer não a mim;

Aos amigos e amigas que de alguma forma contribuíram direto ou indiretamente com

a minha formação, em especial a Tereza Lima e a Socorro Aragão;

Aos professores que durante o percurso do curso contribuíram com os conhecimentos

sem medir esforço de chegar até o município e, especialmente a UFRA pela oportunidade;

A minha colega de TAC Marilene, pela parceria que estivemos juntas e compreensão

pelas vezes que fui impaciente;

A minha orientadora Vanessa Alcântara Cardoso e a professora Rosenilde Fonseca

Santos, que ajudaram a nos orientar e compartilharam os conhecimentos úteis para a

realização desta vitoriosa conquista;

Enfim, quero agradecer a todos aqueles e aquelas que de alguma forma contribuíram

para tamanha alegria, que é esta conquista e sem dúvida sei que irá ser útil em minha pratica

profissional como educadora.

Maria Ivone Barbosa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter, sido fiel em tudo e em todos os momentos da

minha vida, fazendo-me chegar até aqui, tornando possível este momento;

A minha querida mãe Maria Francisca e ao meu adorável pai Alípio Damasceno, que

sempre me ensinaram o caminho da verdade e sempre seguir de cabeça erguida mediante os

obstáculos;

Ao meu esposo Rogério, companheiro de todas as horas, principalmente deste

momento de curso;

Aos meus filhos Mayck, Natalice, Nayara e Paulo Henrique e que compreenderam a

necessidade de minhas ausências durante essa jornada de estudo;

Aos meus irmãos Nelson, Katia, Mara, Junior, Claudia, Darlison e Arlon pelo apoio e

união que sempre tivemos uns com os outros;

A colega de TAC Ivone pela convivência amiga e pela compressão nos momentos em

que precisei ausentar-me;

Ao colega Gerson, que, com a habilidade em manusear o notebook foi muito

importante no momento que senti dificuldade;

Aos nossos estimados colegas de curso pela ajuda e amizade durante o curso, aos

professores do curso pelos conhecimentos compartilhados;

Aos meus professores e orientadores do PARFOR, que me ajudaram adquirir

conhecimento e me orientaram nessa jornada de curso;

Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a

realização desse trabalho.

Marilene do Socorro Coelho Vilela.

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Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou a educadora. O nosso é um trabalho com gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-se melhorando, mas porque gente, capaz de negar os valores, de distorcer-se, de recuar, de transgredir.

Freire, 1996, p. 162-163.

RESUMO

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Este estudo trata da evasão de alunos na modalidade da educação de jovens e adultos. Objetiva compreender alguns fatores intra e extra escolares que originam tal abandono escolar e identificar alternativas para lhe evitar. A investigação parte do problema levantado, em que sendo a educação direito do aluno e dever do Estado, conforme assegura a Constituição Federal de 1988, por que a evasão não é contida pelas instituições públicas de ensino? O estudo segue a pesquisa do tipo bibliográfica, realiza o registro disponível da literatura de autores preocupados em analisar processos de evasão, especialmente na modalidade da EJA. Foram usados livros e artigos acadêmicos dos quais foram realizadas leituras dos autores preocupados com a temática. E de onde foi possível sustentar a hipótese da necessidade de encontrar uma proposta motivadora, situada nas disciplinas integradas, aproveitando a bagagem de conhecimento de cada aluno, pois ele precisa se encontrar nos conteúdos propostos para que cada disciplina possa ser introduzida em sua necessidade diária e contribua com sua prática social, sendo este o papel da escola. Palavras – Chave: Evasão; Educação; Jovens e Adultos.

ABSTRACT

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

This study addresses the dropout students in the form of education for young people and adults. Aims to understand some factors that cause such dropout and identify alternatives for you to avoid. The investigation of the problem raised, in which education is the student's right and duty of the state, as guaranteed by the Federal Constitution of 1988, for evasion that is not contained by public education? The study follows research literature type, keeps records available literature of authors that analyze evasion processes, especially in the form of adult education. We used books and scholarly articles of which were performed readings of authors concerned with the subject. And where could support the hypothesis of the need to find a proposal motivating , situated in the disciplines integrated , leveraging the baggage of knowledge of each student , as it needs to meet the proposed content for each discipline can be introduced into your daily requirement and contribute to their social practice , which is the role of the school . Key – Words: Evasion; Education; Young and Adults.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 11

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2. REVISÃO DA LITERATURA............................................................................. 14

2.1. ASPECTOS LEGAIS DE ACESSO À EJA............................................................ 14

2.2. CONCEPÇÃO DA EJA.......................................................................................... 15

2.2.1. Parâmetros Marcantes.......................................................................................... 15

2.2.2. Breve histórico da Educação no Brasil................................................................ 22

2.2.3. Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos............................................ 27

2.3. IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA............... 32

2.3.1 Evasão Escolar na EJA e o Perfil dos Alunos..................................................... 34

2.3.2. Alternativas Pedagógicas Contra a Evasão na EJA........................................... 38

3. METODOLOGIA.................................................................................................. 41

4. RESULTADO E DISCUSSÃO............................................................................ 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 47

INTRODUÇÃO

Este estudo caracterizado por uma pesquisa de cunho bibliográfico e de abordagem

analítica e descritiva surge da necessidade de refletir a problemática da evasão escolar na

Educação de Jovens e Adultos – EJA, uma vez que, esta modalidade de ensino, emerge como

um desafio aos profissionais da educação, no sentido de promover práticas pedagógicas que

favoreçam o acesso e permanência exitosa de alunos que tenham deixado de frequentar a

escola regularmente na idade própria e nesta oportunidade de retorno a escola, representam,

egressos do mundo do trabalho. Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, a EJA é aqui

percebida como um todo, ou seja, nos níveis Fundamental e Médio da Educação Básica.

Diante desse contexto da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos- EJA, o

estudo que se propõem apresentar na temática da pesquisa bibliográfica, tem como objetivo

geral, analisar os fatores intra e extra escolares que concorrem para a evasão escolar na EJA;

E como objetivos específicos, refletir quanto as possibilidades de garantia de acesso e

permanência exitosa dos alunos da EJA na escola; Discutir alternativas de minimização da

evasão na EJA, tendo como referência a pesquisa bibliográfica adotada.

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A questão central a ser revisada atualmente através da pesquisa bibliográfica, refere-

se a identificar quais os fatores predominantes intra e extra escolares, interferem para à evasão

na EJA? E qual seja, poder saber que há saídas na escola que valorize a modalidade de ensino

como necessária ao processo de ensino aprendizagem de alunos que ficaram fora da faixa

etária regular na aprendizagem e podem permanecer até o final do curso.

O estudo se justifica e torna-se relevante, na medida em que discute a importância da

EJA, uma vez que essa modalidade de ensino paulatinamente vem sendo reconhecida e

ganhando maior visibilidade na grade curricular das redes públicas de ensino pois, é de grande

valia, à reintegração dos alunos na sociedade quando esses se encontram dentro da escola, na

ótica de superar a evasão.

A evasão escolar em qualquer nível de ensino, é um desafio para os profissionais da

educação e uma chaga no nosso sistema de ensino, pois, de acordo com o Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira – INEP (2009), alguns números da evasão no Brasil

mostram que a todo ano milhares de crianças e adolescentes deixam as salas de aulas pelos

mais diversos motivos. Na avaliação INEP, a evasão escolar é concretizada quando o aluno

deixa de freqüentar as aulas no decorrer do ano letivo. É neste contexto que está inserida a

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Educação de Jovens e Adultos – EJA, para atender a esse público tão diverso e

de interesses distintos.

O INEP ainda aponta que alguns fatores geradores da evasão na EJA, estão

ligados aos problemas socioeconômicos dos alunos, falta de qualificação dos

profissionais e metodologias pedagógicas inadequadas, no caso do ensino fundamental,

a cada 100 alunos que se matriculam na 1ª série do Ensino Fundamental, apenas 5 deles

conseguem concluir o curso. Dessa forma, partindo do pressuposto da problemática em

questão, faz-se a seguinte pergunta: Uma proposta pedagógica inovadora e motivadora

contribui no sentido de combater a evasão na EJA? De que forma?

Contudo, pressupõe-se apresentar tal hipótese, qual seja, poder saber que é

possível encontrar uma proposta pedagógica inovadora e motivadora, cujas disciplinas

sejam desenvolvidas de modo integrado e não separados, aproveitando a bagagem de

conhecimento de cada aluno, trazida das suas experiências, pois ele precisa se encontrar

nos conteúdos propostos para que cada disciplina possa ser introduzida em sua vida

diária e contribua em sua prática social.

Assim, entendemos aqui, que a evasão escolar é pratica de desistência dos

alunos ou abandono ao longo do ano letivo que pode ser evitada, sendo mais grave o

problema quando se refere à EJA, sendo ao aluno, especialmente na primeira etapa

desta modalidade, garantido seu direito de freqüentar a escola, e dever do Estado, assim

garanti-lo, embora o problema da evasão não seja de hoje. Patto (1996, p.67) afirma que

“a evasão é fenômeno muito antigo, e persiste desde a década de 1930, sendo uma das

mais graves conseqüências da falta de uma política educacional eficiente no país”. No

processo histórico, a escola se esquiva em seu papel de ensinar, de nunca ser

responsável pela evasão e sim, fatores externos. O que não concordamos e precisamos

expor comentários sobre esse tópico.

A evasão escolar na EJA no Brasil é motivo de muitas discussões no âmbito

educacional que precisa de uma atenção especial, a mesma não se trata de um problema

isolado de algumas escolas, mas sim de ordem nacional, que vem crescendo cada vez

mais, principalmente nas escolas públicas cujos alunos, em grande medida são de baixa

renda econômica.

Outra situação a verificar, é que o maior índice de abandono escolar está

relacionado às questões dos alunos precisarem trabalhar para ajudar na composição da

renda familiar, conforme queremos analisar, pois, o aluno, parece não ter a escola como

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ocupação principal, o trabalho parece ser seu principal ponto de apoio, no sentido de

colaborar com a renda da família que está no centro de sua responsabilidade social.

No que se refere à abordagem sobre as práticas pedagógicas que não são

adequadas à realidade dos alunos da EJA, precisamos conhecer uma proposta inovadora

e motivadora onde as disciplinas sejam integradas e não separadas, aproveitando essa

bagagem de conhecimento de cada aluno, pois ele precisa se encontrar socialmente

entre os objetivos de cada conteúdo propostos no trabalho letivo para que cada

disciplina, a ser introduzida em sua vida diária e contribua em sua prática social, assim

quem sabe motivar o aluno freqüentar a escola.

Assim, de acordo com Freire (1996, p. 30), há que existir interação pedagógica,

“por que não se deveria estabelecer certa intimidade entre ação dos saberes curriculares

fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos”.

Ora, sendo a educação direito social dos alunos, dever das instituições públicas

promoverem o ensino e mantê-los na escola, por que esta forma de abandono, não está

sendo contida? Discutir essas questões coloca-se como importante compromisso de

análise neste trabalho.

Tais questões levantadas motivam elaboramos uma principal hipótese no sentido

de combater a evasão na EJA, qual seja: Encontrar uma proposta pedagógica inovadora

e motivadora cujas disciplinas sejam desenvolvidas de modo integrado e não separados,

aproveitando a bagagem de conhecimento de cada aluno, trazida das suas experiências,

pois ele precisa se encontrar nos conteúdos propostos para que cada disciplina possa ser

introduzida em sua vida diária e contribua em sua prática social.

A referida hipótese está relacionada a um principal fator gerador da evasão que

está ligado à falta de políticas educacionais, em o aluno é levado a trabalhar para ajudar

sua família. Tal como este, há outros fatores que originam a situação da evasão escolar

que estão relacionados não apenas à escola, mas também, em certo contexto, a falta de

políticas públicas comprometidas direcionadas à educação no Brasil, que possa atrair o

aluno freqüentar a escola na fase da adolescência, principalmente. Tentaremos

compreender e identificar o papel da escola na relação com a família e o emprego

atrativo ao aluno na EJA.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. ASPECTOS LEGAIS DO ACESSO À EJA

Ora, se educação é direito público assegurado a todos, através de ações

desenvolvidas pelo Estado e família em favor do adolescente, mas, muitos desses jovens

menor de 18 anos, não conseguem ingressar em alguma etapa do ensino, o quando,

assim o fazem correm enorme risco de perderem esta oportunidade de acesso e por

motivos de ordem social e de carência pessoal econômica podem até abandonar os seus

estudos.

Conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, no seu art. 205. A

educação é:

Art. 205 – A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Corroborando-se a esta norma, a referida Carta Magna, preleciona em seu art.

227, que:

Art. 227 – a família, a sociedade e do Estado assegurem à criança, ao adolescente ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, (...)

De acordo com as preocupações do Ministério da Educação – MEC (2009) a

evasão escolar na EJA, é motivo de muitas discussões no âmbito da educação nacional

quanto à aplicação da legislação constitucional vigente que precisa de uma maior

atenção do poder público em especial os relacionados às redes públicas de ensino de

verificar formas de proteção do aluno em fase de abandono no processo ensino

aprendizagem, respeitando os princípios e regras constitucionais.

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Pelo que se refere o MEC (2009), a questão da vigência da legislação que

deveria proteger o aluno em processo de abandono, não se trata de um problema isolado

de algumas escolas, mas, de ordem nacional que vem crescendo cada vez mais,

principalmente, nas escolas públicas cujos alunos são de baixa renda. O maior índice de

abandono escolar está relacionado às questões dos que precisam trabalhar para ajudar na

renda familiar, pois o educando não tem a escola como algo principal para ele, e sim a

atração pelo apelo dos interesses do mercado na promessa de trabalho na forma de

emprego, muitas vezes, este em regime precário. Isto é o centro do problema quanto à

evasão da EJA, conforme queremos compreender.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9394/96 reforça

no seu art. 2º que, educação é dever da família e do Estado, inspirado nos princípios de

liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

A lei da educação nacional complementa ainda que a escola junto com a família

tem por obrigação garantir o direito do educando, sua permanência e seu pleno sucesso

profissional. Contudo, verificamos que pouco acontece o que estabelece a lei, ou seja,

na prática isso não acontece, percebemos que muitos alunos estão fora da rede de

ensino, e os que estão inclusos desistem por vários fatores, assim contribuindo para essa

estatística alarmante da evasão, principalmente se o mesmo for da EJA.

2.2. CONCEPÇÃO DA EJA

2.2.1. Parâmetros Marcantes

A educação de jovens e adultos é uma modalidade específica da educação básica

que se propõe a atender a um público ao qual foi negado o direito à educação durante a

infância e adolescência seja pela oferta irregular de vagas, seja pelas inadequações do

sistema de ensino ou pelas condições socioeconômicas desfavoráveis à sociedade.

O conceito da EJA muitas vezes, confunde-se com de ensino noturno. Trata-se

de uma associação equivocada uma vez que não se define pelo turno em que é

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

oferecida, mas muito mais pelas características e especificidades dos sujeitos aos quais

ela se destina.

Várias iniciativas de educação de adultos em escolas ou outros espaços têm

demonstrado a necessidade de ofertar essa modalidade para além do noturno de forma a

permitir a inclusão daqueles que só podem estudar durante o dia.

Para que se considere a EJA enquanto uma modalidade educativa inscrita no

campo do direito, faz-se necessário superar uma concepção dita compensatória cujas

principais fundamentos são a de recuperação de um tempo de escolaridade perdido no

passado e a ideia que o tempo apropriado para o aprendizado é a infância e a

adolescência. Nesta perspectiva, é preciso buscar uma concepção mais ampla das

dimensões tempo/espaço de aprendizagem, na qual educadores e educandos

estabeleçam uma relação mais dinâmica com o entorno social e com as suas questões,

considerando que a juventude e a vida adulta são também tempos de aprendizagens.

Os artigos, 1º e 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –

LDB/1996 fundamentam essa concepção enfatizando a educação como direito que se

afirma independente do limite de idade. Senão vejamos:

Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Para que possamos estabelecer com clareza a parcela da população a ser

atendida pela modalidade EJA, é fundamental refletir sobre o seu público, suas

características e especificidades. Tal reflexão dos artigos servirá de base para a

elaboração de processos pedagógicos específicos para esse público.

E por se tratar em especial à EJA como modalidade, porém, foi criado

artigos dentro da legislação e, reconhecida como direito garantido e obrigatório,

especialmente para jovens e adultos, que não se encontravam inclusos na rede de

ensino, que por algum problema não estudaram ou foram interrompido seus estudos na

infância ou adolescência na idade apropriada, e isso fez com que a EJA ganhasse maior

visibilidade de acesso dos aspectos legais nas etapas do ensino Fundamental e Médio,

assim como, de dar continuidade em outros cursos e programas de educação.

A reconfiguração da modalidade EJA, está garantida em marcos legais e

operacionais, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, sancionada

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

em 20 de dezembro de 1996, sob a Lei n° 9.394/96, ela ganha um novo olhar e

entendimento como modalidade da educação básica, que é evidenciada nos arts. 37º e

38º, sobre a garantia do direito e obrigatoriedade gratuita do Ensino Fundamental e

Médio.

De acordo com os documentos instituídos pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação – LDB, é garantido por lei o direito obrigatório e gratuito à Educação de

jovens e adultos, nos quais ressaltam nos arts. 37° e 38° que:

Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente os jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediantes cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. ART. 38 – Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudo em caráter regular. § 1º os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: l. no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; ll. no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediantes exames. (APOSTILA DA DISCIPLINA: ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, 2014)

Nesta concepção, a Lei de Diretrizes Nacionais para a Educação de jovens e

adultos, preconizam o resgate do direito à educação aos sujeitos, que não frequentaram

a escola na idade apropriada, ou aqueles que estudaram mais em algum momento

tiveram que interromper o estudo. A educação atualmente, é o ponto chave para o

exercício da cidadania como condição plena da participação na sociedade, assim como,

uma grande aliada contra a desigualdade e a exclusão social para a vida dos sujeitos que

pretendem ter uma formação e ingressar no mercado de trabalho, além, de ser uma

forma de busca pelo conhecimento e diversidades, como também, o respeito às

diferenças culturais, e entre outros, uma vez que, os mesmos são construtores de

conhecimentos e aprendizagens.

A EJA refere-se não apenas a uma questão etária, mas sobretudo de

especificidade cultural, ou seja, embora defina-se um recorte cronológico, os jovens e

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adultos aos quais dirigem-se as ações educativas deste campo educacional, não são

quaisquer jovens e adultos, mas uma determinada parcela da população.

Segundo Oliveira (1999, p.10):

O adulto, para a EJA, não é o estudante universitário, o profissional qualificado que frequenta cursos de formação continuada ou de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos em áreas como artes, línguas estrangeiras ou música. E o jovem, relativamente recentemente incorporado ao território da antiga educação de adultos, não é aquele com uma história de escolaridade regular, o vestibulando ou o aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento pessoal. Não é também o adolescente no sentido naturalizado de pertinência a uma etapa biopsicológica da vida.

O público da EJA, homens, mulheres, trabalhadores/as empregados/as e

desempregados/as ou em busca do primeiro emprego, filhos, pais e mães; moradores

urbanos de periferias, favelas e vilas.

São esses sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas

socioeconômicas e educacionais, privados do acesso à cultura letrada e aos bens

culturais e sociais, comprometendo uma participação mais ativa no mundo do trabalho,

da política e da cultura.

Para Oliveira (1999), vivem no mundo urbano, industrializado, burocratizado e

escolarizado, em geral trabalhando em ocupações não qualificadas. Trazem a marca da

exclusão social, mas são sujeitos do tempo presente e do tempo futuro, formados pelas

memórias que os constituem enquanto seres temporais. São, ainda, excluídos do sistema

de ensino, e apresentam em geral um tempo maior de escolaridade devido a repetências

acumuladas e interrupções na vida escolar.

Muitos dos que procuram a EJA nunca foram à escola ou dela tiveram que se

afastar, quando crianças, em função da entrada precoce no mercado de trabalho, ou

mesmo por falta de escolas.

Jovens e adultos que retornaram à escola o fazem guiados pelo desejo de

melhorar de vida ou por exigências ligadas ao mundo do trabalho. São sujeitos de

direitos, trabalhadores que participam concretamente da garantia de sobrevivência do

grupo familiar ao qual pertencem.

Considerar a heterogeneidade desse público, quais seus interesses, suas

identidades, suas preocupações, necessidades, expectativas em relação à escola, suas

habilidades, enfim, suas vivências se tornam de suma importância para a construção de

uma proposta pedagógica que considere suas especificidades.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

É fundamental perceber quem é esse sujeito com o qual lidamos para que os

conteúdos a serem trabalhados façam sentido, tenham significado, sejam elementos

concretos na sua formação, instrumentalizando-o para uma intervenção significativa na

realidade. Para tanto é necessário evidenciarmos referencial teórico para a EJA.

Num retorno até finais dos anos 50, no Brasil, a alfabetização de adultos não

dispunha de um referencial teórico próprio, sendo nesta concepção, utilizados, os

mesmos procedimentos e recursos metodológicos com as crianças e não com jovens e

adultos.

Conforme analisamos na visão de Moura (2001, p. 26), neste quadro histórico

que forma a concepção da EJA:

As iniciativas e ações que ocorrem neste período passam a margem das reflexões e decisões a cerca de um referencial teórico para a área [...] essas hipóteses podem ser confirmadas através do comportamento de alguns educadores que durante muito tempo reagiram à idéia de mudar a forma de ensino para criança adaptando-os através de recursos didáticos a jovens e adultos.

Nesta visão da autora, foi muito difícil para os educadores, na época, que

trabalhavam com jovens e adultos, seguirem a linha metodológica orientadora, pois tudo

o que foi produzido na época foi recolhido pelo período vivido no regime de ditadura

militar.

Diante do quadro de amarras, ideológica, educacional e cultural, imposto pelo

regime militar no Brasil, aumentou o grau de desigualdade social em todas as regiões do

país. Para amenizar a situação começaram a ser criadas escolas técnicas que preparavam

para mão-de-obra barata, contudo essas dispunham de pouca preocupação com a

formação intelectual em outras áreas do conhecimento, pouca estruturação de base de

acordo com as necessidades do mercado de trabalho, mas somente com a preocupação

de aumentar a produtividade econômica e não com a formação educacional dos alunos,

este último ponto estava no projeto das diretrizes da educação neste período.

Dessa forma, de acordo com o pensamento de Moura (2001), passaram a existir

poucas escolas no sentido da formação conceitual, com currículos elaborados e

definidos, mas dentro de um sistema tradicional totalmente “conteudista”, na qual o

aluno era um mero acumulador dos conhecimentos científicos repassados pelos mestres.

A preparação era com os conteúdos e as formas metodológicas absolutas sem

significação para o alunado, e mesmo assim eram privilégios de poucos a compartilhar

destes saberes. Logo, é neste quadro educacional que estão situados os ensinamentos

dos jovens e adultos.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Mediante este quadro de dificuldades no processo da evolução da escola pública

brasileira, gerou ao longo da sua história sérios problemas no desempenho do aluno,

atrasando todo o processo escolar e dificultando sua progressão, provocando uma

distorção de série, e excluindo mais o jovem que se sentiu incapaz de aprender ou

dominar os conteúdos estabelecidos pelas escolas públicas brasileiras.

Surge neste quadro, então a necessidade das escolas assumirem seu verdadeiro

papel na formação integral do indivíduo, trabalhando uma proposta curricular voltada

para as necessidades de seus educandos, com conteúdos de relevância suprindo as

dificuldades de todos os que estão inseridos no processo do aprender, sendo nesse

sentido que a escola aos poucos vem tentando mudar este quadro de atraso político

educacional.

Portanto, o processo do ensino com competência e responsabilidade, o professor

deve estar preparado para as mudanças, pois a escola está dentro do sistema dialético

sempre se renovando de acordo com as necessidades dos alunos, como mostra Candau

(1994, p.26) “o educador, nunca estará definitivo e pronto, pois sua preparação, sua

prática continua meditando através das teorias e confrontando entre si”.

Na visão desta autora, a competência e inovação da escola, dependerão da sua

responsabilidade que motivará e caminhará para as transformações realizadas pela

reflexão constante sobre a sua prática, propondo aos educandos conhecimentos

inerentes aos diversos contextos escolares e extra escolares, encontrar meios que

facilitem sua aprendizagem e o desenvolvimento educacional.

Se o sistema regular de ensino passou por várias transformações, não tem sido

diferente o ensino para jovens e adultos.

Segundo a mesma autora citada, qualquer proposta teórica metodológica em

educação, assim como em qualquer área, implica uma concepção de homem, de

sociedade e de educação, tendo referência o aporte das ciências como a Psicologia, a

Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a Biologia, a História.

Além desses construtores teóricos, a proposta precisa estar iluminada pela

prática, com base nos grandes teóricos e defensores da alfabetização para jovens e

adultos, tendo sempre por trás uma experiência prática, testada, voltada aos propósitos

de mudança das classes menos favorecidas, principalmente aos trabalhadores. Sendo

demarcado o seu campo de estudo, e situá-lo, definindo o para quê, para quem e como, a

fim de que se possa expressar, descrever e estudar o seu objetivo de estudo.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

A partir destas ideias mais democráticas, surge as do educador, defensor da

educação para jovens e adultos, Paulo Freire que abre novos caminhos e desafios ao

mundo através de sua proposta a partir da segunda metade dos anos de 1950 em meio às

formas tecnicistas da educação oferecidas pelo Estado brasileiro.

O sistema de educação e alfabetização de forma instrumental mecânica, e

tecnicista foi até a década de 1980, quando, a partir daí terminado e período da ditadura

militar (1984), começou a surgir através da reflexão e da utilização dos resultados

prestados à educação por Freire que desenvolveu um grande trabalho educacional em

vários estados e municípios.

Freire propôs trabalho com jovens e adultos a partir do contexto social e

individual da realidade de cada aluno, juntando as ideias significativas dos mesmos,

através dos objetos de trabalho para se chegar aos códigos lingüísticos, pois para o

aluno/educando aprender falar ou dominar sua língua, deveria era associar a linguagem

oral a complexidade dos códigos escritos, em seu meio social e político.

Conforme a concepção de Freire (1997, p. 81), o qual afirma que “aprender a ler,

a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o

seu contexto, não numa manipulação dinâmica que vincula linguagem a realidade”.

Observamos que diante desta visão política e inovadora de Freire (1997) surge

no país novos programas para a alfabetização de jovens e adultos, mas não vem

respondendo o esperado pelos governantes, fugindo da política inovadora de Freire e de

outros teóricos que contribuíram para a formação dos jovens e adultos vindo responder

em outras propostas, deixando a cada dia o ensino para jovens e adultos sem

credibilidade, tornando-se desinteressante para os que buscam recuperar o tempo

escolar perdido. Há nesta crítica certo grupo de profissionais da educação que não se

prepararam ao programa de educação diferente como é o da EJA.

Há, como reflete o citado educador, falta da consciência política e moral dos

alfabetizadores, que não possuem o senso de visão que a escola é o local de progressão

e evolução para a vida profissional, daquele estudante e trabalhador sofrido e excluído

da sociedade na qual ele mesmo tenha tentado incluir-se.

Pode-se perceber, partindo das discussões de Freire (1997) que nos dias atuais as

conseqüências da evasão escolar têm sido drásticas seus resultados, apesar de surgir

atualmente, novas políticas de incentivo em vários campos de alfabetização para jovens

e adultos, qualificação profissional na área de alfabetizar nos vários níveis do ensino,

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

assistência e acompanhamento às instituições escolares, auxílio às famílias carentes,

materiais didáticos, mas mesmo assim não se tem obtido resultados positivos.

A cada dia, nas escolas, os alunos apresentam uma conduta inadequada, isso

pode ser atribuído à desestruturação familiar, ao uso de drogas, a prostituição e os

conteúdos, para a maioria, não possuem nenhuma significação.

Segundo os ensinamentos de Arroyo (1997, p. 23) “a maioria das causas a

evasão escolar, tem a responsabilidade de atribuir à desestruturação familiar, e o

professor e o aluno não têm responsabilidade para aprender, tornando-se um jogo de

empurra”.

Sabemos que no mundo contemporâneo, a escola em sua atualidade, necessita

estar apta para conduzir e formar os sujeitos que frequentam o ensino da EJA, que são

resultados e frutos de uma desigualdade social injusta, assim como, é necessário

também ter professores preparados e com qualificação profissional de total

responsabilidade, e que demonstrem dinamismo, além de ser criativo, dinâmico e

transformador, buscando sempre inovações para desenvolver sua aula e conteúdo, e

modificar o ambiente escolar de sua sala de aula, tornando-a em um âmbito de

estimulação e atrativo para os educandos.

Como mostra Menegolla (1989, p.28) “o professor necessita selecionar os

conteúdos que não sejam portadores de ideologias destruidoras de individualidades ou

que venham atender a interesses opostos aos indivíduos”.

De acordo com o ponto de vista de Menegolla (1989) a seleção de conteúdos é

de alto valor pedagógico, que deve estar direcionados aos interesses sociais, culturais e

históricos do aluno, para que as aulas sejam significativas e atraentes, que sirva para o

despertar ideológico, conduzindo para o meio social como cidadão crítico, questionador

e formador de opiniões.

No entanto, as evasões escolares diante das análises e de vários fatores sociais,

culturais, históricos e econômicos, estão incluídas nestas causas e conseqüências.

Como também a escola possui sua parcela de culpa juntamente com o apoio

pedagógico e professores que não procuram ser mais criativo nas suas aulas, pois

sabemos que vivemos em um mundo globalizado e a sociedade extra-escolar está à

frente do desenvolvimento através das ofertas sociais.

Enquanto a escola se mantém atrasada sem nenhuma condição inovadora para

competir com o mundo social fora da escola, torna-se difícil se reverter este quadro da

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

evasão escolar, a não ser que o corpo escolar procure novas metodologias através da

criatividade humana, didática e pedagógica.

2.2.2. Breve Histórico da Educação no Brasil

No Brasil, a educação de jovens e adultos vem marcada pela reprodução dos

conceitos das elites que, ao longo dos séculos dominam o país. Destacamos que no

período colonial, havia uma estrutura no trabalho de catequização realizado pelos

jesuítas que incluía, além da difusão do evangelho e o ensinamento dos ofícios básicos

ao funcionamento da economia colonial, destinado aos índios e negros, outra destinada

aos filhos dos proprietários.

Considerando que as elites econômicas da época, é quem detinham os

privilégios, pouco ou quase nada, foi realizado quanto à educação de jovens e adultos,

no Brasil colônia.

Com o advento da Constituição de 1824, sob forte influência européia, firma-se

a garantia de “instrução primária para todos os cidadãos”. Porém, como os conceitos de

cidadania eram restritos aos donos do poder econômico continuava, grande parcela da

população, os escravos, as mulheres, os pobres, dentre outros, alijados do processo.

No período Vargas, 1930 pode-se dizer, o Estado brasileiro posiciona-se

contrariamente ao federalismo de oligarquias regionais e passa a reafirmar-se como uma

Nação e, com isso, o papel central do Estado manifesta-se de maneira inequívoca.

Diante disso, há conseqüências nos aspectos educacionais, cujos pontos básicos

destas, são a criação de um Plano Nacional de Educação, fixado, coordenado e

fiscalizado pelo governo federal, que determina de forma clara as competências de cada

uma das esferas de governo Federal, Estadual e Municipal (HADDAD, DI PIERRO,

2000).

Na visão de Miguel Arroyo (2001) a educação de adultos, de forma sistemática e

contínua, só ocorreria na década de 40 deste século. Em decorrência do processo de

industrialização, a década de 30 foi um período de grandes transformações no Brasil em

que foi possível evidenciar-se uma grande concentração populacional em centros

urbanos: o aumento considerável da oferta do ensino básico gratuito a diversos

segmentos da sociedade.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

O governo federal impulsionando a educação elementar e traçando diretrizes

educacionais para todo o país, determinando as responsabilidades dos Estados e

Municípios.

É neste contexto, segundo Arroyo que a educação básica de jovem e adultos

começa garantir seu lugar na história da educação brasileira, o ensino elementar

estende-se para os adultos, principalmente nos anos 40. Em 1945, com o fim da ditadura

de Vargas, era urgente integrar os povos em busca de paz e democracia.

Segundo pesquisa divulgada pela Universidade Federal de Minas Gerais, a

Educação de Jovens e Adultos – EJA tem uma longa história no Brasil. Desde os

tempos do Brasil Colônia e do Império registram-se experiências voltadas a este campo

educativo.

Todavia, tais iniciativas foram raras e pouco significativas no que se refere ao

número de educandos envolvidos. É somente nos anos 1940 que começa a se delinear

de forma mais sistemática uma política pública do Estado brasileiro direcionada às

grandes massas de jovens e adultos.

A partir deste momento, a educação de jovens e adultos começa a ser tratada

como campo específico, diferenciado da educação elementar comum, ganhando espaço

e presença no pensamento pedagógico e na política educacional brasileira.

Conforme Arroyo (2001, p. 10)

A EJA tem uma história muito tensa, pois é atravessada por interesses diversos e nem sempre consensuais. Os olhares conflituosos sobre a condição social, política e cultural dos sujeitos aos quais se destina esta oferta educativa têm condicionado as diferentes concepções de educação que lhes é oferecida. O espaço reservado a sua educação no conjunto das políticas oficiais se confunde com o lugar social destinado aos setores populares em nossa sociedade, sobretudo quando os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos, excluídos.

Em contraposição a esta história oficial, o lugar social, político e cultural

pretendido pelos excluídos como sujeitos coletivos na diversidade dos movimentos

sociais que os constituem inspirou e vem inspirando práticas e concepções avançadas e

criativas que também fazem parte da memória da EJA. É nessa arena de lutas e embates

que o campo pedagógico da EJA vem se desenvolvendo, sendo marcado por avanços e

retrocessos, rupturas e continuidades.

Esse autor ainda nos convida a voltar nosso olhar para as experiências de

educação popular que marcaram o final dos 50 e início dos anos 60 e incorporá-las às

políticas de EJA atuais.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

A herança legada pelas experiências de educação de jovens e adultos inspiradas

no movimento de educação popular não é apenas digna de ser lembrada e incorporada,

quando pensamos em políticas e projetos de EJA, mas continua tão atual quanto nas

origens de sua história, nas décadas de 50 e 60, porque a condição social e humana dos

jovens e adultos que inspiraram essas experiências e concepções também continua atual

[...] em tempos de exclusão, miséria, desemprego, luta pela terra, pelo teto, pelo

trabalho, pela vida. Tão atuais que não perderam sua radicalidade, porque a realidade

vivida pelos jovens e adultos populares continua radicalmente excludente.

Essa afirmação de Arroyo, estimulou e fortaleceu o desejo de dar visibilidade à

presença da educação popular na configuração da EJA, por meio da memória e da

experiência daqueles que viveram e testemunharam esses momentos. Para isso, foram

entrevistados educadores nascidos em diferentes lugares do Brasil, entre as décadas de

30 e de 40.

A maioria desses educadores, durante sua juventude, nos anos 1960, participou

de movimentos que em sua constituição eram radicalmente diversos das iniciativas

anteriores de educação de adultos. Tais experiências foram curtas, mas densas no que se

refere aos aspectos culturais, educativos e políticos. Havia um compromisso político

explícito assumido com os grupos oprimidos e uma orientação direcionada às

transformações das estruturas sociais.

Essas iniciativas ocorridas foram interrompidas com a ditadura militar.

Entretanto, após essa intervenção – tomando-se por base trajetórias singulares, esses

educadores continuaram desenvolvendo atividades relacionadas à educação popular,

constituindo sua identidade profissional com base nesse campo educativo.

A EJA em uma das suas vertentes tem estreita relação com programas de

alfabetização. Em 1964, o PNA - Programa Nacional de Alfabetização de Adultos, foi o

último dos programas desse ciclo popular, cujo planejamento incorporou largamente as

orientações de Freire, organizado pelo Ministério da Educação. Pois, o Golpe militar de

1964, provocou uma ruptura política nos movimentos de educação e cultura populares,

essa e outras experiências acabaram por desaparecer ou desestruturar-se sob a violenta

repressão dos governos do ciclo militar iniciado naquele mesmo ano (HADDAD, 2000;

DI PIERRO, 2000; RIBEIRO 2001; VIEIRA 2004).

De acordo com Vieira (2004), os trabalhos relativos à educação de adultos

ficaram paralisados até 1966, quando foi instituída na via oficial a Cruzada ABC – Ação

Básica Cristã que buscou ocupar os espaços deixados pelos movimentos populares,

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

anteriores ao golpe militar. Dado às críticas recebidas dos técnicos do MEC,

relativamente ao seu caráter assistencialista, material inadequado à realidade do

educando, ao corte nos recursos financeiros, nos anos 70 a 71, o programa foi

gradativamente extinto, coincidindo com a criação do MOBRAL – Movimento

Brasileiro de Alfabetização.

O MOBRAL foi criado em dezembro de 1967, mas que, a partir de 1969, foi

organizado pelo governo militar como programa de proporções nacionais, voltado a

oferecer alfabetização a amplas parcelas dos adultos analfabetos nas mais variadas

localidades do país. Constitui-se, nos anos 70, no grande projeto de impacto dos

governos militares. O fim deste governo e a retomada do processo de democratização do

país, são expressos nos movimentos da Anistia, das Diretas Já, dentre outros, o que leva

os movimentos envolvidos com a educação a uma nova postura diante das diretrizes

educacionais no país. O MOBRAL é extinto em 1985, e substituído pela Fundação

Educar, o que marca uma ruptura com os governos autoritários.

Nesse contexto de redemocratização, é que percebe-se um alargamento nas

práticas pedagógicas da Educação de Jovens e Adultos e as experiências populares

desenvolvidas na clandestinidade, retomam sua posição de participantes do processo

passando a influenciar programas públicos e comunitários de alfabetização de adultos

(HADDAD, DI PIERRO, 2000).

O Brasil dos anos 80 foi colorido com a conquista da anistia, das eleições

diretas, da abertura política, enfim, com a conquista da democracia. No campo da

Educação de Jovens e Adultos – EJA, o período foi marcado pelo deslocamento de uma

visão compensatória, para uma visão da educação como direito, resultado de um

processo que se constrói ao longo da vida. Essa concepção é confirmada pela inserção

de artigos na Constituição Federal, que seguem na direção de tal aspiração, vide, por

exemplo, artigos 205 e 208 da Carta Magna.

No período mais recente, os sistemas estaduais e municipais de ensino que

oferecem turmas de Educação de Jovens e Adultos terão de se adequar a novas regras.

As diretrizes para a etapa que acelera os estudos – e substituiu o antigo supletivo –

foram elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação – CNE em abril e homologadas

pelo ministro da Educação, Fernando Haddad em 2009. As normas estão publicadas no

Diário Oficial da União desta sexta-feira. Conselho Nacional de Educação define idade

mínima para entrada na EJA.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

A EJA também precisa de estrutura e material diferenciado. Uma das principais

mudanças, que rendeu anos de polêmicas, é a idade mínima para a entrada na

modalidade de ensino. Ficou definido que os estudantes terão de ter 15 anos completos

para se matricularem no primeiro segmento (ensino fundamental) e de 18 anos para o

segundo segmento (ensino médio). Mesmo os alunos emancipados civilmente só

poderão realizar os exames de conclusão após atingir os 18 anos.

A Resolução nº 3/2010 da Câmara de Educação Básica do CNE define que a

carga horária mínima para quem estuda as séries iniciais do ensino fundamental na

modalidade EJA será determinada pelos sistemas de ensino. Nas finais, de 1,6 mil

horas. Para o ensino médio, a duração mínima será de 1,2 mil horas.

No caso da oferta integrada de ensino médio e técnico, a carga de 1,2 mil horas

para a formação média é exigida, além das aulas necessárias para a formação específica.

A resolução determina ainda que os professores terão de realizar chamada dos alunos

que cursam a etapa equivalente ao ensino fundamental; incentivar a aprendizagem com

outros programas de aceleração se preciso; e incentivar a oferta de turmas de EJA nos

turnos diurno e noturno.

A Câmara do CNE da Resolução n° 3/2010, definiu também que os sistemas de

ensino serão responsáveis pelas provas de certificação das etapas, mas podem solicitar

apoio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira –

INEP, quando necessário. Se preferirem, podem até fazer parcerias entre governos

estaduais para elaborar as provas.

No caso da EJA oferecida a distância, a resolução define que somente alunos da

etapa final do ensino fundamental e do ensino médio podem optar por aprender nos

ambientes virtuais. Os pólos para devem ter infra-estrutura tecnológica e material,

garantindo acesso a bibliotecas, livros didáticos e de literatura, acesso a rádio, televisão

e internet.

O documento com normas completas pode ser conferido aqui. Os cursos

autorizados a funcionar antes dessa resolução têm um ano para adequar os projetos

político-pedagógicos às novas regras.

O presente histórico da EJA anunciado, ajuda contabilizar avanços na grade

curricular e propõe-lhe formas mais democráticas e qualidade na sua execução nas redes

de ensino público nestes dias atuais, contudo não responde tantos números de evasão

desta importante modalidade de ensino, e se pergunta, quem é este aluno que está

abandonando a escola?

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

2.2.3. Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos

A história da Educação de Jovens e Adultos – EJA apresenta muitas variações e

controvérsias ao longo do tempo, demonstrando estar estreitamente ligada às

transformações sociais, econômicas e políticas que caracterizaram os diferentes

momentos históricos da sociedade brasileira.

Inicialmente a alfabetização de adultos para os colonizadores, tinha como

objetivo instrumentalizar a população, ensinando-a a ler e a escrever. Essa concepção

foi adotada para que os colonos pudessem ler o catecismo e seguir as ordens e

instruções da corte, os índios pudessem ser catequizados e, mais tarde, para que os

trabalhadores conseguissem cumprir as tarefas exigidas pelo Estado.

A expulsão dos Jesuítas, ocorrida no século XVIII, desorganizou o ensino até

então estabelecido. Novas iniciativas sobre ações dirigidas à educação de adultos

somente ocorreram durante a época do Império.

Desde a Revolução de 1930, as mudanças políticas e econômicas permitiram o

início da consolidação de um sistema público de educação elementar no país.

A Constituição de 1934 estabeleceu a criação de um Plano Nacional de

Educação, que indicava pela primeira vez a educação de adultos como dever do Estado,

incluindo em suas normas a oferta do ensino primário integral, gratuito e de freqüência

obrigatória, extensiva para adultos.

A década de 40 foi marcada por algumas iniciativas políticas e pedagógicas que

ampliaram a educação de jovens e adultos: a criação e a regulamentação do Fundo

Nacional do Ensino Primário – FNEP; a criação do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas – INEP; o surgimento das primeiras obras dedicadas ao ensino supletivo; o

lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA, e outros.

Este conjunto de iniciativas permitiu que a educação de adultos se firmasse

como uma questão nacional. Ao mesmo tempo, os movimentos internacionais e

organizações como a UNESCO, exerceram influência positiva, reconhecendo os

trabalhos que vinham sendo realizados no Brasil e estimulando a criação de programas

nacionais de educação de adultos analfabetos.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Em 1946, com a instalação do Estado Nacional Desenvolvimentista, houve um

deslocamento do projeto político do Brasil, passando do modelo agrícola e rural para

um modelo industrial e urbano, que gerou a necessidade de mão-de-obra qualificada e

alfabetizada.

Em 1947, o MEC promoveu a Campanha de Educação de Adolescentes e

Adultos – CEAA. A campanha possuía duas estratégias: os planos de ação extensiva

(alfabetização de grande parte da população) e os planos de ação em profundidade

(capacitação profissional e atuação junto à comunidade). O objetivo não era apenas

alfabetizar, mas aprofundar o trabalho educativo. Essa campanha – denominada CEAA

– atuou no meio rural e no meio urbano, possuindo objetivos diversos, mas diretrizes

comuns.

No meio urbano visava à preparação de mão-de-obra alfabetizada para atender

às necessidades do contexto urbano-industrial. Na zona rural, visava fixar o homem no

campo, além de integrar os imigrantes e seus descendentes nos Estados do Sul.

Apesar de, no fundo, ter o objetivo de aumentar a base eleitoral (o analfabeto

não tinha direito ao voto) e elevar a produtividade da população, a CEAA contribuiu

para a redução dos índices de analfabetismo no Brasil.

Ainda em 1947, realizou-se o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos. E

em 1949 foi realizado mais um evento de extrema importância para a educação de

adultos: o Seminário Interamericano de Educação de Adultos.

Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural – CNER,

inicialmente ligada a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA. A

CNER caracterizou-se, no período de 1952 a 1956, como uma das instituições

promotoras do processo de desenvolvimento de comunidades no meio rural brasileiro.

Contava com um corpo de profissionais de áreas diversas como agronomia, veterinária,

medicina, economia doméstica e assistência social, entre outras, que realizavam

trabalho de desenvolvimento comunitário junto às populações da zona rural.

Ainda nos anos 50, foi realizada a Campanha Nacional de Erradicação do

Analfabetismo – CNEA, que marcou uma nova etapa nas discussões sobre a educação

de adultos. Seus organizadores compreendiam que a simples ação alfabetizadora era

insuficiente, devendo dar prioridade à educação de crianças e jovens, aos quais a

educação ainda poderia significar alteração em suas condições de vida. A CNEA, em

1961, passou por dificuldades financeiras, diminuindo suas atividades. Em 1963 foi

extinta, juntamente com as outras campanhas até então existentes.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Em 1958, foi realizado o segundo Congresso Nacional de Educação de Adultos,

objetivando avaliar as ações realizadas na área e visando propor soluções adequadas

para a questão. Foram feitas críticas à precariedade dos prédios escolares, à inadequação

do material didático e à qualificação do professor. A delegação de Pernambuco, da qual

Paulo Freire fazia parte, propôs uma educação baseada no diálogo, que considerasse as

características socioculturais das classes populares, estimulando sua participação

consciente na realidade social. Nesse congresso se discutiu, também, a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional e, em decorrência, foi elaborada em 1962 o Plano

Nacional de Educação, sendo extintas as campanhas nacionais de educação de adultos

em 1963.

Na década de 60, com o Estado associado à Igreja Católica, novo impulso foi

dado às campanhas de alfabetização de adultos. No entanto, em 1964, com o golpe

militar, todos os movimentos de alfabetização que se vinculavam à ideia de

fortalecimento de uma cultura popular foram reprimidos. O Movimento de Educação de

Bases – MEB sobreviveu por estar ligado ao MEC e à igreja Católica. Todavia, devido

às pressões e à escassez de recursos financeiros, grande parte do sistema encerrou suas

atividades em 1966.

A década de 70, ainda sob a ditadura militar, marca o início das ações do

Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, que era um projeto para se

erradicar o analfabetismo em apenas dez anos. Após esse período, quando já deveria ter

sido cumprida essa meta, o Censo divulgado pelo IBGE registrou 25,5% de pessoas

analfabetas na população de 15 anos ou mais. O programa passou por diversas

alterações em seus objetivos, ampliando sua área de atuação para campos como a

educação comunitária e a educação de crianças.

O ensino supletivo, implantado em 1971, foi um marco importante na história da

educação de jovens e adultos do Brasil.

Durante o período militar, a educação de adultos adquiriu pela primeira vez na

sua história um estatuto legal, sendo organizada em capítulo exclusivo da Lei nº

5.692/71, intitulado Ensino Supletivo. O artigo 24 desta legislação estabelecia com

função do supletivo suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a

tenham conseguido ou concluído na idade própria.

Foram criados os Centros de Estudos Supletivos – CES em todo o País, com a

proposta de ser um modelo de educação do futuro, atendendo às necessidades de uma

sociedade em processo de modernização. O objetivo era escolarizar um grande número

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

de pessoas, mediante um baixo custo operacional, satisfazendo às necessidades de um

mercado de trabalho competitivo, com exigência de escolarização cada vez maior.

O sistema não requeria freqüência obrigatória, e a avaliação era feita em dois

módulos: uma interna ao final dos módulos e outra externa feita pelos sistemas

educacionais. Contudo, a metodologia adotada gerou alguns problemas: o fato de os

cursos não exigirem freqüência faz com que os índices de evasão sejam elevados, o

atendimento individual impede a socialização do aluno com os demais colegas, a busca

por uma formação rápida a fim de ingressar no mercado de trabalho, restringe o aluno à

busca apenas do diploma sem conscientização da necessidade do aprendizado.

Na visão de Haddad (1991) os Centros de Estudos Supletivos – CES não

atingiram seus objetivos verdadeiros, pois, não receberam o apoio político nem os

recursos financeiros suficientes para sua plena realização. Além disso, seus objetivos

estavam voltados para os interesses das empresas privadas de educação.

No início da década de 80, a sociedade brasileira viveu importantes

transformações sócio-políticas com o fim dos governos militares e a retomada do

processo de democratização, basta lembrar da campanha nacional a favor das eleições

diretas. Em 1985, o MOBRAL foi extinto, sendo substituído pela Fundação EDUCAR.

O contexto da redemocratização possibilitou a ampliação das atividades da EJA.

Estudantes, educadores e políticos organizaram-se em defesa da escola pública e

gratuita para todos. A nova Constituição de 1988 trouxe importantes avanços para a

EJA: o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, passou a ser garantia constitucional

também para os que a ele não tiveram acesso na idade apropriada.

Contudo, a partir dos anos 90, a EJA começou a perder espaço nas ações

governamentais. Em março de 1990, com o início do governo Collor, a Fundação

EDUCAR foi extinta e todos os seus funcionários colocados em disponibilidade. Em

nome do enxugamento da máquina administrativa, a União foi se afastando das

atividades da EJA e transferindo a responsabilidade para os Estados e Municípios.

No entanto, ainda com as crises governamentais nos anos 90, surge uma

proposta de alfabetização para jovens e adultos, incumbido pelo movimento popular nas

lutas pela educação da sociedade, sendo um Projeto com a perspectiva de dar suporte a

alfabetização denominado por Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos-

MOVA. O projeto deu início em 1990 na cidade de São Paulo durante, porém,

expandiu-se em todo território brasileiro, assim, contribuindo com outro programa de

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

educação para a alfabetização da sociedade ao ensino noturno e outros, tendo Paulo

Freire como idealizador desse projeto.

Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de jovens e adultos

seria uma prioridade do novo governo federal. Para isso, foi criada a Secretaria

Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, cuja meta era erradicar o

analfabetismo durante o mandato de quatro anos do governo Lula. Para cumprir essa

meta foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC contribuirá

com os órgãos públicos estaduais e municipais, instituições de ensino superior e

organizações sem fins lucrativos que desenvolvam ações de alfabetização.

No Programa Brasil Alfabetizado, a assistência é direcionada ao

desenvolvimento de projetos com as seguintes ações: Alfabetização de jovens e adultos

e formação de alfabetizadores.

É necessário que o alfabetizador, antes de iniciar as atividades de ensino,

conheça o grupo com o qual irá trabalhar. Esse conhecimento prévio pode ser pelo

cadastro dos alunos e pelo diagnóstico inicial que deve servir de base para o

planejamento das atividades. A intenção é tornar o processo de alfabetização

participativo e democrático. A formação de alfabetizadores compreende a formação

inicial e a formação continuada.

O Programa está em andamento, por isso não é possível, ainda, afirmar se o

objetivo pretendido foi alcançado.

É preciso que haja continuidade das ações governamentais. O Programa Brasil

Alfabetizado foi criado para ter duração de quatro anos, enquanto durar a gestão do

governo Lula. Contudo, nada impede que o próximo Presidente dê continuidade a esse

programa. Os resultados seriam muito melhores se houvesse seguimento nos programas

já implantados, pois evitaria perda de tempo e de dinheiro na criação de novos

programas, como vem acontecendo ao longo dos anos: muda o presidente, mudam os

programas.

Deve haver, também, a ligação do programa de alfabetização com outros

programas governamentais ou não, como é o caso do bem sucedido programa

Alfabetização Solidária. Que é hoje indiscutivelmente um programa de relevância

quando o assunto é alfabetização de jovens e adultos. Sua abrangência educacional

transcende as fronteiras Brasileiras e já é destaque e modelo de Educação em vários

países.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Dentre esses programas sucedidos, surgiu também o PROJOVEM, criado com o

objetivo de favorecer e oportunizar a inclusão de jovens, assim como, adultos que

abandonaram a escola, sendo um programa de escolaridade em nível fundamental na

modalidade da educação de jovens e adultos –EJA, com a integração à qualificação

profissional e social.

O programa PROJOVEM se desenvolveu no Brasil desde 2005, expandindo em

várias regiões brasileiras, tanto na zona urbana como na área rural como política de

inclusão para jovens a partir de 15 anos acima, distanciados da escolarização e da

exclusão formal do mercado de trabalho, marcado pelo preconceito e descriminação.

Diante do panorama de analfabetismo, é de grande valia a implantação do

programa PROJOVEM, abrindo novas possibilidades para a qualificação profissional

do mercado de trabalho, promovendo a inserção e reintegração de jovens ao processo

educacional à escola técnica, assim como, o desenvolvimento humano.

O programa PROJOVEM é dividido em quatro modalidades de desenvolvimento

nas quais são: PROJOVEM Adolescente- serviço socioeducativo; PROJOVEM Urbano;

PROJOVEM Trabalhador; PROJOVEM Campo- Saberes da Terra, pois sua existência e

execução estar em vigor até os dias atuais dentro das políticas públicas de atendimento

para a educação de Jovens e Adultos- EJA.

Assim, entendemos que a Educação de Jovens e Adultos, deve ser tratada

juntamente com outras políticas públicas e não isoladamente, porque na medida que

esses mecanismos acontecerem os resultados serão melhores para a educação na EJA, e

o impulso será melhor na grade curricular das redes públicas de ensino para a EJA.

Mesmo reconhecendo a disposição do governo em estabelecer uma política

ampla para EJA, especialistas apontam a desarticulação entre as ações de alfabetização

e de EJA, questionando o tempo destinado à alfabetização e à questão da formação do

educador.

A prioridade concedida ao programa recoloca a educação de jovens e adultos no

debate da agenda das políticas públicas, reafirmando, portanto, o direito constitucional

ao ensino fundamental, independente da idade. Todavia, o direito à educação não se

reduz à alfabetização.

A experiência acumulada pela história da EJA nos permite reafirmar que

intervenções breves e pontuais não garantem um domínio suficiente da leitura e da

escrita. Além da necessária continuidade no ensino básico, é preciso articular as

políticas de EJA a outras políticas. Afinal, o mito de que a alfabetização por si só

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

promove o desenvolvimento social e pessoal há muito foi desfeito. Isolado, o processo

de alfabetização não gera emprego, renda e saúde.

Apesar de não estar havendo continuidade dos programas ao longo dos tempos, a

Educação de Jovens e Adultos está sempre sendo buscada, com o objetivo de realmente

permitir o acesso de todos à educação, independentemente da idade.

2.3. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA

Analisar a importância da Educação de Jovens e Adultos – EJA, enquanto

modalidade de ensino na Educação Básica implica perceber sua relevância para o

processo de transformação social, assim como, das dificuldades que sua implantação

implica, como política permanente num país profundamente desigual como o Brasil.

A EJA comparece no contexto das políticas sociais de melhoria da qualidade de

vida, orientada pelos princípios da equidade e democracia, que visam à inserção de

milhares de pessoas numa sociedade de direitos. Por conseguinte, a importância da EJA

vincula-se a compreensão do significado das políticas de inclusão social que

caracterizam o Estado Contemporâneo Brasileiro.

A luta pelo direito a educação de jovens e adultos com igualdade,

perpassa muito além do acesso a escolarização das políticas sociais, e especialmente,

que sejam vistas e constituídas para os sujeitos de conhecimentos na sociedade que se

destaca no mundo da cultura, do trabalho e nos diversos espaços de convívios sociais. É

importante perpetuar que a EJA, é voltado para o processo de desenvolvimento e

habilidade da vida cidadã, uma vez que, os mesmos são também construtores de

conhecimentos, saberes, valores, ideias, teorias e práticas culturais.

Equivale, portanto, compreender e buscar formas de superação para as

discriminações de classe, de gênero, de raça e também de idade, decorrentes de um

modelo econômico, social e político individualista e segregador, que constitui o perfil

da sociedade brasileira desde a época do Brasil Colônia.

Neste contexto a EJA emerge como uma estratégia de organização presente nas

rotinas de sobrevivência da população menos privilegiada da sociedade brasileira,

caracterizada principalmente em sua maioria pela resistência a as inúmeras

discriminações sociais, especialmente daquelas decorrentes de sua condição econômica.

A sobrevivência no meio urbano ou no rural não se faz só pela separação por

idades, mas pelas ações interativas de diversas idades na busca dessa sobrevivência, o

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

que é altamente rico como experiência. Esta diversidade cultural constitui por assim

dizer, a mais significativa e importante característica da EJA na Educação Básica

Brasileira.

Por conta disso a educação de modo geral e especialmente na EJA é uma

questão que vem sendo discutida, ainda que não com a intensidade necessária ao que se

refere as suas características e necessidades pedagógicas enquanto modalidade de

ensino.

A questão metodológica, por exemplo, assume relativa importância nesta

discussão, pois entende-se que, os alunos da EJA não só necessitam de um tratamento

educativo diferenciado, como, pelas suas características enquanto juventude e

maturidade, demandam modelos alternativos de aprendizagem voltadas especialmente

para suas reais necessidades e expectativas. Como por exemplo, a inserção no mundo do

trabalho. Basta dizer que, a maioria da clientela discente que constitui a EJA, são em

sua maioria egressos do mundo do trabalho seja de natureza formal ou informal.

As relações de produção, neste sentido, tornam-se indicadores para a

implementação da proposta pedagógica da EJA. Nas turmas que as constitui, se

mesclam diferentes idades e interesses. É preciso compreender a dinâmica dessas

heterogeneidades, fator importante para a efetiva dimensão política dessa educação de

jovens e adultos.

Como instituição social, a escola, sob o ponto de vista legal e institucional, está

organizada em séries, por idade e por determinações de currículo, constituído de

conteúdos de aprendizagem de natureza conceitual, procedimental e atitudinal,

conforme prescreve os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNS.

Muito mais como forma de controle e de aumento de produtividade, do que em

razão de fundamento do processo de ensino - aprendizagem ou da construção de formas

solidárias de viver a vida, a EJA representa uma alternativa de melhoria das condições

de vida social, econômica e intelectual de grande parte da população carente de nossa

sociedade.

Por conseguinte, é preciso não esquecer que EJA não coaduna-se com os

espaços burocratizados da escola formal e tradicional, necessitando de uma identidade

pedagógica e curricular próprias. Muitas vezes, essa é a razão alegada para as escolas

não aceitarem o desafio educativo de implementação da EJA, enquanto proposta

pedagógica de consolidação de interesses e expectativas de uma maioria desprivilegiada

de nossa sociedade.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Uma das inquietações presentes na construção da proposta pedagógica da EJA,

enquanto política pública tem sido a necessidade de responder a um grande vácuo

existente nas propostas curriculares, no que tange ao distanciamento entre essas e o

mundo do trabalho. Os desafios da relação entre a educação e o mundo do trabalho na

EJA são particularmente complexos.

Uma questão que preocupa é o reducionismo dessa relação à perspectiva de

emprego. Daí a relevância e o significado de sua importância.

2.3.1. Evasão Escolar na EJA e o Perfil dos Alunos

As mudanças no mundo trabalho, diante da tendência atual das reformas

educacionais nas últimas décadas, em países como no Brasil, a administração da

educação torna-se um de seus pilares de transformação. Quando falamos,

especificamente da EJA, onde exista a participação de educadores e alunos, pensamos

em algo sonhado, porém, ainda não exercitado como deveria ser um engajamento mais

qualitativo ao desempenho das pedagogias que ajudem a conhecer melhor alunos para

com isto, se insistir na sua permanência na escola. Sendo assim, quem é este aluno que

se evade da escola?

Segundo Saviani, a educação é um processo tipicamente humano que possui

uma especificidade humana de formar cidadãos por meio de conteúdos “não materiais”

que são ideias, teorias, valores, conteúdos estes que influirão decisivamente, e conforme

avaliamos na vida de cada aluno.

O que diz o professor Saviani (1991, p. 19):

Para sobreviver, o homem necessita extrair da natureza ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência. Ao fazer isso ele inicia o processo de transformação da natureza, criando um mundo humano, o mundo da cultura.

Segundo Saviani (1991) é possível perceber que as características de alunos que

se evadem da EJA, são aqueles que estão maravilhados com algumas, mas interessantes

formas oferecidas pelo mundo do trabalho de onde este aluno precisa garantir muitas

vezes seu “pão de cada dia”, seu sustento e de sua família, muitas vezes.

Desta forma, o aluno, aliado aos interesses do mundo do trabalho, é preciso

vermos garantias da sua subsistência material, mas preocupado com a conseqüente

produção em escalas cada vez maiores e complexas de bens materiais, fruto de trabalho

exercido pelos que neste atuam. E dentro dessa compreensão, é necessário façamos

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

saber que de acordo com os educadores, o resultado do que a falta do ensino da EJA é a

oportunidade de se fazer com que alguns cidadãos possam ser vistos pela sua pobreza e

logo em seguida pela garantia da sua permanência na escola. Fora desta instituição de

ensino, este aluno estará submetido mais ainda ao aumento de formas de violência,

problemas que também estão relacionados à educação na sua real desistência e na

medida que as estatísticas apontam maior índice de evasão.

A EJA convive com um índice significativo de evasão, pois segundo o INEP

(2007), a Educação de Jovens e Adultos (EJA), era frequentada em 2007, ou

anteriormente, por cerca de 10,9 milhões de pessoas, o que correspondia a 7,7% da

população com 15 anos ou mais de idade.

10,9

7,7%

10,9 milhões de pessoas

Que conrresponde7,7%

da população

Entretanto, das cerca de 8 milhões de pessoas que passaram pela EJA antes de

2007, 42,7% não concluíram o curso, sendo que o principal motivo apontado para o

abandono foi a incompatibilidade do horário das aulas com o de trabalho ou de procurar

trabalho (27,9%), seguido pela falta de interesse em fazer o curso (15,6%).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

42,7%

27,9%15,6%

42,7% não concluíram o

curso(incompatibilidade

do horário das aula com o

de trabalho ou procurar

trabalho (27,9%)

15,6% não estudaram por

falta de interesse em

fazer o curso.

A partir desses dados da estatística acima, há interessante debate entre autores

sobre as responsabilidades do fracasso do aluno característico da evasão. Em oposição

aos defensores dos fatores externos como determinantes do fracasso escolar das

crianças, autores como Bourdieu (1998), Cunha (1997), Fukui (1983) e outros, apontam

a escola como responsável pelo sucesso ou fracasso dos alunos das escolas públicas,

tomando como base explicações que variam desde o seu caráter reprodutor até o papel e

a prática pedagógica do professor.

Diferentemente dos autores que apontam o jovem e a família como responsáveis

pelo fracasso escolar.

Fukui (1983, p. 34) ressalta a responsabilidade da escola afirmando que:

O fenômeno da evasão, longe está de ser fruto de características individuais dos alunos e suas famílias. Ao contrário, reflete a forma como a escola recebe e exerce ação sobre os membros destes diferentes segmentos da sociedade (FUKUI, 1983, p. 34).

A discussão vai diante da posição acima tomada, no caso da posição de Cunha

(1997, p. 29), a responsabilização do jovem pelo seu fracasso na escola tem como base

o pensamento educacional da doutrina liberal a qual fornece argumentos que legitimam

e sancionam essa sociedade de classe, e também tenta fazer com que as pessoas

acreditem que o único responsável pelo sucesso ou fracasso social de cada um é o

próprio aluno e não a organização social.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Quanto ao fato de ser a escola das classes trabalhadoras que vem fracassando,

para Bourdieu, isso se dá em virtude de que a escola que aí temos serve de instrumento

de dominação, reprodução e manutenção dos interesses da classe burguesa.

Para Bourdieu (1998, p. 56),

A escola não leva em consideração o capital cultural de cada aluno, e que os professores partem da hipótese de que existe, entre o educando e o ensinado, uma comunidade lingüística e de cultura, uma cumplicidade prévia nos valores, o que só ocorre quando o sistema escolar está lidando com seus próprios herdeiros.

Estes teóricos mostraram através de seus estudos, que as expectativas, em geral,

podem influenciar os fatos da vida cotidiana, e que geralmente, os alunos em especial,

parecem ter a tendência a se comportar de acordo com o que se espera delas frente aos

desafios que a educação oferece a cada aluno.

Como se podemos ver, a literatura existente sobre o fracasso escolar, como está

posta a evasão, aponta que, se por um lado, há aspectos externos à escola que interferem

na vida escolar do aluno, há por outro, aspectos internos da escola que também

interferem no processo sócio educacional do jovem, e quer direta ou indiretamente,

acabam excluindo-o da escola, seja por fator de busca de emprego ou outro de tamanha

intensidade social, relativo ao mundo do trabalho.

2.3.2. Alternativas Pedagógicas Contra a Evasão na EJA

Identificamos em autores como Padilha (2001, p. 30), que a EJA para fins de

combate às formas de evasão, deve contar com o ato de planejar suas ações, sempre

num processo de reflexão na tomada de decisões sobre como recolocar os conteúdos a

serem desenvolvidas, visando realizar atividade em prazos determinados e etapas

definidas, a partir dos resultados das avaliações constantes das atividades em exercício.

Segundo este autor no dia-a-dia, sempre podemos enfrenta situações que

necessitam de planejamento, mas nem sempre as atividades diárias são delineadas em

etapas concretas da ação, uma vez que já pertencem ao contexto de nossa rotina.

Entretanto, para a realização de atividades que não estão inseridas no cotidiano, são

usados os processos racionais para alcançar o que se deseja.

As ideias que envolvem o planejamento são amplamente discutidas nos dias

atuais, mas um dos complicadores para o exercício da prática de planejar parece ser a

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

compreensão de conceitos e o uso adequado dos mesmos. Como aponta Gandin (1994,

p. 45) é impossível enumerar todos tipos e níveis de planejamento necessários à

atividade humana. Sobretudo porque, sendo a pessoa humana condenada, por sua

racionalidade, a realizar algum tipo de planejamento, está sempre ensaiando processos

de transformar suas ideias em realidade.

Planejar é uma atividade para combater a evasão na EJA está dentro da proposta

pedagógica que podemos avaliar como sendo possível eliminar abandonos. Podemos

listar características básicas, como evitar a improvisação, prever novas formas de

atividades, estabelecer caminhos que possam nortear mais apropriadamente a execução

da ação educativa.

Diante de apresentação das estatísticas que oferecem caminhos para se combater

a evasão e o debate entre os autores para identificar os problemas sociais no contexto da

política educacional, questionamos qual a dificuldade encontrada pelos alunos da EJA

na primeira em desistir de seus estudos?

É necessário sugerir a realização de algumas práticas pedagógicas que sejam

adequadas à realidade dos alunos, precisamos observar uma proposta inovadora e

motivadora onde as disciplinas sejam integradas e não separadas, aproveitando essa

bagagem de conhecimento de cada aluno, pois ele precisa se encontrar nos conteúdos

propostos para que cada disciplina possa se introduzida em sua vida diária e contribua

em sua prática social.

Utilizar linguagens alternativas, como a música, o cordel e o teatro, facilita o

aprendizado, principalmente de alunos mais velhos, que geralmente têm mais

proximidade com a cultura popular. Neste caso, há vasto número de temas que podem

ser sugeridos aos alunos, vejamos alguns que identificamos entre a literatura consultada:

Autoestima; Ética; Respeito aos Colegas; Respeito /Professor/Aluno; Preconceito;

Relaxamento.

Estimular os alunos a proporem temas de seus interesses a fim de que possam ter

uma aula sobre estes, geralmente segundo pesquisa encontrada, é comum verificar a

escolha pelos seguintes assuntos: Autoestima; Motivação Sexual;

Sexualidade/Higiene/DST (doenças sexualmente transmissíveis); Relacionamento

Familiar/Separação; Dependência Química/Prevenção; Ruído Noturno;

Relacionamento/Pais e Filhos; Relacionamento Aluno/ Professor; Ética na política;

Mercado de Trabalho / Comunicação.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

O objetivo, é de se trabalhar esses temas na sala de aula de diversas formas no

campo pedagógico e de estimular o esforço de cada aluno, motivando sua permanência

na escola.

Uma outra medida de caráter pedagógico é promover atividades visando

fortalecer a importância do estudo, promover trocas entre o grupo onde a experiência de

vida seja valorizada. Incentivar a formação de vínculos, entre o grupo para motivar a

participação nas atividades. Desenvolver ações próximas do cotidiano do grupo.

Também, poder orientar os alunos, individualmente, quando se fizer necessário.

Podendo realizar sondagem com os alunos com necessidades educativas especiais,

fornecendo-lhes pareceres técnicos por profissionais especialistas nesta área.

Promover a participação das ações realizadas pela escola, nos conselhos

escolares e grêmios, eleição para diretor e na parte do entretenimento programar ações

de cunho cultural.

As estratégias a se organizarem: os temas serão desenvolvidos através de

palestras, utilizando como recursos; dinâmicas de grupo, textos científicos para

reflexão, vivências, músicas, teatro. A duração dos encontros será de 1h e 30min,

apenas. As orientações individuais aos alunos deverão ser realizadas em um local onde a

privacidade seja respeitada. Para tanto é necessário a formação de equipes responsáveis,

contando com a presença de alunos e dos coordenadores pedagógicos da escola.

Recursos físicos: deve ser utilizada uma sala com cadeiras, aparelhos de data show,

retroprojetor, transparências, lápis, canetas, papel, revistas e TV.

Há outras experiências que chamaram a atenção dos alunos da EJA, com

projetos de música, cultura e literatura. Um deles é o tempo de artes literárias que

promovem uma competição saudável na escola ao estimular a produção de textos (prosa

e poesia) por meio de rodas e saraus literários.

Também é possível realizar festivais para incentivar a produção musical e

trabalhos de temática afro-brasileira e indígena. A culinária desses povos, por exemplo,

pode ser explorada nas aulas de matemática, ao falar das quantidades de ingredientes

utilizados em cada prato.

Outra maneira de praticar ações pedagógicas no combate à evasão da EJA, aos

autores propõem formas de avaliação que deveria ser um fator de orientação do

processo de ensino e aprendizagem, nos cursos da educação de jovens e adultos, como

na regular, se tornou mais um ponto que contribui para inflamar a evasão e a repetência,

para excluir ou para servir como critério para progredir no curso como salienta

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Perrenoud, (1999, p.10), avaliar é cedo ou tarde ? criar hierarquia de excelência, em

função das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção no início do

secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada

no mercado de trabalho e, freqüentemente, a contratação prever o acompanhamento e a

avaliação da própria ação.

Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar

formas e normas de excelência, definir um aluno modelo, aplicado e dócil para uns,

imaginativo e autônomo para outros. Como, dentro dessa problemática, sonhar com um

consenso sobre a forma ou o conteúdo dos exames ou da avaliação contínua praticada

em aula.

A avaliação deve ser utilizada pelo professor como um instrumento à sua

disposição para orientar o processo de ensino e aprendizagem, a identificar os pontos

fracos do processo e não como instrumento preponderante e amedrontador. O aluno

também se beneficia do instrumento avaliativo quando este é um dispositivo usado de

forma inteligente e pedagógica.

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa pertence à abordagem qualitativa, segundo Severino (2007, p.119)

é que se refere ao “estudo preocupado com as questões de ordem do conhecimento

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

amplo no trato da sua elaboração, de natureza social” que neste caso da evasão na EJA,

tenta identificar elementos de caráter social e estratégias de aprendizagem de combate

ao abandono da escola.

O Tipo de pesquisa é a bibliográfica, conforme se refere o mesmo autor é “um

estudo em cima da visão das referências teóricas que mencionamos ao estudo,

sistematizando o tema na discussão. A estes são oferecidas questões diversas” como o

de analisar a situação dos alunos evadidos e o conseqüente problema à aprendizagem na

escola.

A pesquisa bibliográfica, se constitui analítica e descritiva, conforme definição

nesta pesquisa é importante para aperfeiçoamento de ideias e opiniões sobre a situação

da EJA, pois ela fornecerá todas as informações necessárias para os assuntos elencados

sobre fatores da evasão, conforme estamos propondo compreender. É uma pesquisa

exploratória no sentido de buscar momentos da realidade, combinada com a procura por

fontes bibliográfica.

Portanto, a abordagem qualitativa de um tipo de pesquisa dá-se por se realizar

leituras diferentes sobre este tipo de situação social que envolve a EJA, ou seja,

descreve de maneira minuciosa o que diferentes autores pensam sobre este tema

educacional e suas implicações na aprendizagem na 1ª etapa do ensino médio, onde o

aluno já está na fase de busca de trabalho ou emprego, e é menor de 18 anos de idade,

no geral para auxiliar a renda familiar dos seus entes queridos.

Por ser tratar de pesquisa bibliográfica, foi realizado um levantamento teórico

dos principais autores que discutem a temática da EJA, textos da internet que foram na

direção da implicação da aprendizagem dos alunos da etapa em questão, onde as fontes

consultadas foram os livros, e o material disponível no meio eletrônico, textos, artigos

que tratem sobre a temática colocada na sigla EJA.

Após o levantamento bibliográfico, os dados foram analisados conforme a

situação de alunos que sofrem a evasão e conseqüente problema na aprendizagem na

escola. O tratamento de dados foi registrado, analisados classificados e interpretados, e

bem retomados na análise no ponto posterior dos resultados e discussão, conforme

faremos a partir de apresentarmos o referencial teórico da pesquisa sobre a evasão na

EJA.

4. RESULTADO E DISCUSSÃO

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Percebemos que o contexto escolar do aluno da EJA destaca-se por vários

fatores que contribuem para a sua evasão da escola, tais que os conflitos familiares, a

questão dos alunos terem que trabalhar para ajudarem na renda familiar. A jornada de

trabalho diária que provem de cansaço, e outro fator que contribui muito é o ingresso na

criminalidade e no tráfico de drogas, se tornando pontos fortes que levam a evasão.

As práticas pedagógicas também contribuem, pois, podem destacar a falta de

uma proposta em que as disciplinas fossem integradas, já que no cotidiano estas não

estão separadas e devemos levar em consideração do adulto, por apresentar um conjunto

de saberes que produz na sua prática social, onde o educando precisa se identificar com

os conteúdos propostos pelos professores.

Freire (2006, p. 52), defende que ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção. Nesta declaração

do autor, conseguimos observar que os profissionais da educação ou o simplesmente

educador, como assim os denomina, precisa proporcionar possibilidades para que os

alunos possam produzir e construir a partir do seu próprio conhecimento o que ajudaria

em grande medida as ações para diminuir a evasão na EJA.

A falta de políticas públicas, é outro fator de grande importância que também

vem a somar na questão da desistência desse alunado, a falta de investimento é o

principal foco que essa modalidade de ensino reclama e que é de grande relevância na

reintegração dessas pessoas no âmbito escolar e na sociedade, se estas políticas fossem

aplicadas com êxito na forma legal do dever do Estado brasileiro como é o direito deste

aluno permanecer na escola, conforme nos traduziu a C.F/88 e a LDB/96.

A partir das ideias observadas, percebemos uma crítica dos autores à ausência de

um planejamento bem mais aprofundado do calendário escolar das instituições de

ensino, e de como esta sendo vista realmente a realidade desses alunos trabalhadores

que procuram através da escola uma qualificação aos seus estudos para melhorar sua

realidade e enfrentar seu cotidiano.

Será que eles perguntam se a escola está realmente cumprindo seu papel de dar

uma educação de qualidade para todos?

Ora, criticamos, mas que tipo de educação é essa que exclui o aluno trabalhador

que necessita trabalhar para sobreviver e estudar para adquirir um pouco mais de

dignidade no mundo tão desigual em que eles sobrevivem a cada dia? Os autores

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

consultados, como Saviani (1991) faz a mesma crítica e coloca grande parte dessa culpa

nos mecanismos do mundo do trabalho.

Nesta ótica, este autor que representa esta crítica, diz que mudanças no mundo

do trabalho, diante da tendência atual das reformas educacionais nas últimas décadas,

em países como no Brasil, a administração da educação torna-se um de seus pilares de

transformação.

Concordamos com o autor quando nos posicionam, especificamente no caso da

EJA, onde existe a participação de educadores e alunos, que sonham com uma educação

de qualidade e sonhada com liberdade. Porém, ainda não está exercitado como deveria

ter um engajamento mais qualitativo no desempenho das pedagogias que ajudem os

educadores conhecerem melhor seus alunos para com isto, se insistir na sua

permanência na escola.

Nas suas referências, Saviani (1991) entende que educação é um processo

tipicamente humano que possui uma especificidade humana de formar cidadãos por

meio de conteúdos inteligentes.

Para sobreviver, o homem, neste caso o aluno em formação, necessita extrair da

natureza ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência. Ao fazer isso ele inicia

o processo de transformação da natureza, criando um mundo humano, o mundo da

cultura, como concordam outros autores consultados.

Tomamos posição de que devemos fazer urgentemente, algo para mudar essa

situação quanto ao combate a evasão na EJA, não podemos ficar acomodados com essa

constante forma de afastar o aluno da escola na sua fase de estudo que a cada ano letivo

se repete. Devemos procurar mudanças, uma adaptação brusca no ensino de

modalidades, deve ser feita para priorizar a aprendizagem desses alunos e seu

desenvolvimento intelectual enquanto seres pensantes e construtores de opiniões.

Conseguimos observar sobre a necessidade do desenvolvimento de propostas

pedagógicas voltadas especificamente ao ensino da EJA, valorizando as experiências do

aluno e levando-o ao aprendizado anteriormente adquirido, é necessário investimento

em qualificação profissional.

Concordamos com os autores sobre a necessidade da Integração curricular das

atividades pedagógicas, como propomos neste trabalho de pesquisa. Identificamos que

vários autores assim também se posicionaram. É importante a integração entre os

conteúdos apresentados nas diferentes matérias do ensino da EJA, facilitando uma

maior compreensão de todos os alunos.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

Outro ponto que percebemos, a necessidade de realizar projetos que envolvam a

interdisciplinaridade dos conteúdos e caracterização do público nos diferentes contextos

do ensino, principalmente no processo de combate à evasão, o que se fazem necessárias

a observação e a trajetória de alunos que já trabalham, a fim de que estes não deixem a

escola, podendo aproveitar as experiências, conhecimentos e nível de qualificação

profissional do aluno e aproveitando-os em beneficio das atividades letivas.

Há importantes mecanismos de apoio pedagógicos como suportes para serem

utilizados em espaços e de formas alternativas durante o curso, visando suprir as

necessidades diversas do aluno. Desta forma podemos encontrar entre as alternativas

escolares para o aluno do ensino médio da EJA, formas de conteúdos que realmente

estejam dentro de sua realidade, motivando e criando possibilidades de crescimentos

destes.

E tendo como principal motivador o mercado de trabalho no processo de evasão,

o aluno do ensino médio da EJA, visa um aprendizado que seja significativo para ele.

Encontramos sugestões, entre os autores, como a de integração de aplicação de

disciplina, conforme é um objeto colocado neste estudo. Este pensamento torna o papel

do professor da EJA cada vez mais importante nesta modalidade, pois este deve ter a

consciência da jornada de trabalho enfrentada pelos alunos e orientá-los sobre o

resultado que poderá ser obtido frente ao sacrifício hoje exercido.

Compreendemos que o maior motivador para o retorno aos estudos também é o

mercado de trabalho, porém, também é este que lhes penaliza em alguns momentos

impedindo estes de dar continuidade na busca pelo conhecimento.

Observamos que as peculiaridades dos alunos do ensino na EJA, requer realizar

uma adequação aos interesses deste público, visando uma efetiva busca pelo

crescimento e desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal que a escola pode lhe

oferecer, sendo este também papel das instituições e dos Estado, conforme conseguimos

identificar nas posições dos autores.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA IVONE BARBOSA …

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto foi possível rever alguns aspectos da educação de jovens e

adultos, tais como o histórico da EJA e sua evolução, a formação do professor e suas

práticas de ensino, além de constatar que a EJA é uma educação possível. Ao longo dos

anos, o avanço da tecnologia e da economia tem feito com que as pessoas sintam

necessidade de retornar à sala de aula para aprimorar seus conhecimentos ou conseguir

um diploma atestando uma escolarização mais elevada.

Considerando a trajetória da EJA no Brasil, este tem sido pautado por

campanhas ou movimentos desenvolvidos, a partir da administração federal, com

envolvimento de organizações da sociedade civil, visando à realização de propostas

ambiciosas de eliminação do analfabetismo e formação de mão-de-obra, em curtos

espaços de tempo.

Nos dias de hoje o ensino na sua modalidade não regular visa não somente à

capacitação do aluno para o mercado de trabalho, é também necessário que a escola

desenvolva no aluno suas capacidades, em função de novos saberes que se produzem e

que demande um novo tipo de profissional, e que o educando obtenha uma formação

indispensável para o exercício da cidadania.

A acomodação dos alunos, é um outro fator que colabora para o estado de

mesmice, ora tão criticado por autores, pois alguns educadores acostumaram-se com a

“cartilha” como sendo o único meio de aquisição da leitura e escrita na formação do

processo ensino aprendizagem.

A partir dessas posições assumidas na pesquisa sobre a evasão na EJA, temos

em vista também algumas avaliações no sentido de recomendar que sejam feitos cursos

regulares de capacitação para os profissionais atuantes nas classes da EJA, para que os

mesmos possam refletir sobre sua prática e criar estratégias para modificar essa prática

descontextualizada, o investimento por parte das instituições mantenedoras do ensino,

subsidiando materiais didáticos para que nos processos de educação possam ser criados

ambientes estimuladores do processo da aquisição do conhecimento; a parceria dos

familiares e da própria instituição de ensino, em dar credibilidade à atuação dos alunos

especialmente os que já trabalham, no sentido de não cobrar que as aulas sejam

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utilizadas e preenchida em um tempo mínimo fixado e, por fim, poder contar com a

disposição, boa vontade e entusiasmo dos professores em assumir esse compromisso de

mudança.

Precisamos ver na prática essas mudanças propostas pelos autores para que esse

espírito de transformação contagie e motive os alunos das classes da EJA, para que os

mesmos também lutem para ser partícipes de uma prática educativa coerente com a

realidade cultural por eles vivenciada.

É oportuno lembrar que muitos podem e devem contribuir para o

desenvolvimento do ensino da EJA, evitando a evasão, pois, governantes devem

implantar políticas integradas para a EJA, as escolas devem elaborar um planejamento

adequado para seus próprios alunos e não seguir modelos prontos, os professores devem

estar sempre atualizando seus conhecimentos e métodos de ensino, os alunos devem

sentir orgulho da EJA e valorizar a oportunidade que estão tendo de estudar e ampliar

seus conhecimentos.

A sociedade cabe contribuir com a EJA, não discriminando essa modalidade de

ensino nem seus alunos, e por fim, as pessoas em geral que conhecerem um adolescente

ou adulto querendo antecipar seus estudos, deve falar da importância da educação e

incentivá-los a procurar uma escola de EJA, e nesta continuar permanentemente.

Finalmente consideramos que devemos continuar esse estudo em pesquisa mais

aprofundada na EJA. Procuramos verificar quais seriam as possíveis e mais viáveis

alternativas de intervenção pedagógica que a escola enquanto uma instituição deve zelar

por objetivos educacionais comuns capaz de definir entre suas metas manter o aluno na

escola, ainda que este trabalhe.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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