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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO UMESP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO ORLANDO CESAR ZAMBELLI O LÚDICO NA EDUCAÇÃO: A RUPTURA DA LUDICIDADE NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SÃO BERNARDO DO CAMPO SP 2014

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

ORLANDO CESAR ZAMBELLI

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO:

A RUPTURA DA LUDICIDADE NOS PRIMEIROS ANOS

DO ENSINO FUNDAMENTAL

SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP

2014

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ORLANDO CESAR ZAMBELLI

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO: A RUPTURA DA LUDICIDADE

NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada ao programa de Pós – Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação, sob orientação da Profª Drª Zeila de Brito Fabri Demartini. Linha de Pesquisa: Formação de

Educadores

SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP

2014

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A dissertação de mestrado sob o título: O LÚDICO NA EDUCAÇÃO: A RUPTURA DA LUDICIDADE NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

elaborada por ORLANDO CESAR ZAMBELLI foi apresentada e aprovada em

27 de Março de 2014, perante banca examinadora composta por:

Profª. Drª. Zeila de Brito Fabri Demartini (Presidente/UMESP),

Prof. Dr. Roger Marchesini de Quadros Souza (Titular/UMESP) e

Profª. Drª. Arlete Assumpção Monteiro (Titular/PUC).

__________________________________________ Profª. Drª. Zeila de Brito Fabri Demartini Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora __________________________________________ Profª. Drª. Roseli Fischmann Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação Programa: Pós-Graduação em Educação Área de Concentração: Educação Linha de Pesquisa: Formação de Educadores

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por dar-me forças e saúde para seguir o caminho da luz

mesmo nos momentos mais difíceis.

À minha orientadora, Profª Drª Zeila de Brito Fabri Demartini,

pela orientação dedicada e equilibrada durante todo tempo do curso.

Ao colegiado do programa de Pós Graduação em Educação da

Universidade Metodista pelos conhecimentos transmitidos.

À minha família, por entender e apoiar em todos os momentos

de dificuldade e falta de tempo para lhes dar atenção.

À minha irmã Genimari Zambelli pela importante ajuda,

sugestões e revisão.

Aos professores que participaram da pesquisa de campo, pela

disponibilidade e compreensão.

À CAPES, pela bolsa de estudo concedida durante todo o curso.

Aos colegas, pela agradável convivência.

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RESUMO

A presente dissertação de Mestrado teve como foco analisar a

suposta ruptura da ludicidade nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

O objetivo é refletir sobre as atividades lúdicas como ferramenta

pedagógica e sua colaboração para o aprendizado nesta fase escolar

considerando a transição da criança da educação infantil para o ensino

fundamental e suas particularidades distintas.

A pesquisa de cunho qualitativo compreende um trabalho

bibliográfico com base em renomados autores sobre a temática, documentos

oficiais e entrevistas com professores atuantes nessas séries e especialista no

tema.

A análise dos dados coletados possibilitou considerações mais

precisas sobre o uso da ludicidade como ferramenta pedagógica nos primeiros

anos do ensino fundamental, além de trazer elementos para compreensão de

sua importância nesse universo.

Palavras chave: ludicidade, ensino fundamental, brincar, ensino aprendizagem

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ABSTRACT

This Master's thesis is focused on analyzing the possible rupture of playfulness

in the early years of elementary school.

The aim is to reflect on the play activities as a pedagogical tool and their

collaboration for learning in this school phase considering the child's transition

from early childhood education to the elementary school and its distinct

peculiarities.

The qualitative research comprises a literature work based on renowned

authors on the subject, official documents and interviews with teachers working

in these series, and expert in the field.

The analysis of collected data allowed more precise considerations on the use

of playfulness as a pedagogical tool in the early years of elementary school, as

well as provide elements for understanding of its importance in this universe.

Keywords: playfulness, elementary school, playing, teaching and learning

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SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................11

Capítulo 1 – O lúdico e a educação

1.1 – A perspectiva histórica do lúdico..............................................................16

1.2 – A ludicidade e a criança...........................................................................20

1.2.1 – O desenvolvimento da criança por meio das atividades lúdicas.....22

1.3 – O lúdico na escola....................................................................................26

1.3.1 – Brincar para aprender, aprender brincando ou aprender

sem brincar.......................................................................................27

Capítulo 2 – Legislação, Educação Brasileira e o Lúdico

2.1 – Estudo da legislação da educação brasileira sobre o lúdico....................30

2.2 - A ruptura do lúdico entre a ed. Infantil e ensino fundamental..................33

Capítulo 3 – O percurso da pesquisa

3.1 – A base inicial............................................................................................38

3.2 - Procedimentos metodológicos..................................................................39

3.3 – A escolha dos entrevistados....................................................................39

3.3.1 – Informação – Contexto político-social de formação dos

entrevistados....................................................................................39

3.4 – Estruturação das entrevistas....................................................................40

3.4.1 – Entrevistas e observação..................................................................42

Capítulo 4 – Contraponto Legislação, Espaços Escolares, Conteúdo

4.1 – O ponto de partida....................................................................................45

4.2 – Procedimentos de análise........................................................................45

4.3 – Análises comparativas.............................................................................46

4.3.1 – Perfil e Formação para o lúdico........................................................46

4.3.2 – Pontos e contrapontos entre legislação, o conteúdo

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pedagógico, espaço físico da escola e a ludicidade na prática pedagógica......................................................................48

4.3.3 – Considerações dos entrevistados a respeito das suas concepções de criança, escola e professor.....................................51

4.4 – Considerações finais................................................................................56

Referências bibliográficas..............................................................................59

Anexos

Anexo I – Entrevista com a Profª. Drª. Marta Regina Paulo da Silva..........63

Anexo II – Entrevistas com os professores..................................................68

Professor A........................................................................................................68

Professor B........................................................................................................69

Professor C........................................................................................................73

Professor D........................................................................................................74

Professor E........................................................................................................75

Professor F........................................................................................................75

Professor G........................................................................................................77

Professor H........................................................................................................79

Professor I.........................................................................................................80

Anexo III - Roteiro de entrevista.....................................................................82

Anexo IV - Atividades realizadas pelos professores...................................83

Atividade 1.........................................................................................................83

Atividade 2.........................................................................................................84

Atividade 3.........................................................................................................87

Atividade 4.........................................................................................................88

Atividade 5.........................................................................................................89

Atividade 6.........................................................................................................90

Atividade 7.........................................................................................................91

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Quadros

Quadro 1 – Nomenclatura e divisão do ensino fundamental de 9 anos..........31

Tabelas

TABELA 1 – Caracterização dos professores entrevistados............................46

TABELA 2 – Comparação do conteúdo pedagógico, os espaços escolares e a ludicidade na prática pedagógica..........................48

TABELA 3 – Concepção de criança, escola e professor..................................51

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“O jogo lúdico é o mais alto grau do

desenvolvimento da criança entre 6 e 9 anos,

pois é a manifestação livre e espontânea do

interior exigido pelo próprio interior.”

Fröebel

“Brincar com a criança não é perder tempo,

é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem

escola, mais triste ainda é vê-los sentados,

tolhidos e enfileirados em uma sala de aula

sem ar, com atividades mecanizadas,

exercícios estéreis, sem valor para a

formação de homens críticos e

transformadores de uma sociedade.”

Carlos Drummond de Andrade

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INTRODUÇÃO

A pesquisa que apresento, investiga a ruptura do lúdico na

passagem da educação infantil para o ensino fundamental, por meio das

concepções de professores das séries iniciais do ensino fundamental.

O interesse pela temática surgiu a partir de experiências

pessoais e profissionais adquiridas ao longo de meus 20 anos de atuação, em

diversos segmentos do Lazer, da Recreação e da Educação, porém, a força

motriz maior foi presenciar minha filha Íris, hoje com 9 anos, enfrentar essa

passagem da educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental de

forma não prazerosa, por vezes bastante impactante, uma vez que ela tinha

muito gosto pela escola e ao ingressar no primeiro ano do ensino fundamental

isso mudou bastante. Dizia ela: -“É chato ir pra escola, não pode brincar, não

pode conversar, não tem dia de levar brinquedo... é só lição, lição... minha mão

fica doendo... é chato”.

Minha carreira profissional iniciou-se em 1991 como monitor de

programas de lazer e recreação no segmento turístico-hoteleiro, em programas

especializados de lazer em parques temáticos, locais de áreas naturais,

excursões, festas, empresas e meios de hospedagem.

No decorrer dos anos trabalhando nessa área de lazer e

recreação, pude perceber que eu estava desenvolvendo minhas funções com

conceitos não muito sólidos no que diz respeito ao desenvolvimento físico,

motor e cognitivo das crianças com as quais eu trabalhava.

Continuei a atuar na área do lazer e recreação, porém procurei

me aperfeiçoar fazendo um curso de graduação. Optei por pedagogia nas

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Faculdades Integradas Senador Fláquer. Durante o curso, percebia minha

pratica profissional mais direcionada à educação e não ao brincar por brincar.

Eu propunha atividades embasadas no desenvolvimento da criança de acordo

com sua faixa etária. Surgia ali, em meados de 1998/1999 um recreador

educador, e ou, educador recreador.

Algum tempo depois, como coordenador de lazer de

um resort de significativa referência na área, no interior de São Paulo, além das

responsabilidades pelos programas oferecidos e gestão da equipe, eu tinha a

função de treinar e capacitar novos profissionais. Com isso comecei a ser

chamado para ministrar cursos, proferir palestras, dar workshops sobre lazer,

recreação, músicas e brincadeiras cantadas e atividades lúdicas diversas.

Após formado no curso de pedagogia no ano de 2003, ingressei

no curso latu sensu em Lazer e Animação Sociocultural do SENAC SP

buscando me aperfeiçoar. Durante o curso, as disciplinas me apresentaram

novos horizontes sobre o lazer e a ludicidade. Recordo-me do Profº. Dr. Luiz

Octávio de Lima Camargo provocando os alunos à repensar a temática do

Lazer e as áreas de atuação, apresentando as diversas concepções, pelo olhar

de diferentes autores o que despertou em mim o desejo de tornar-me professor

do ensino superior e socializar o conhecimento prático acumulado e toda teoria

adquirida.

Após muitos cursos livres ministrados sobre ludicidade e

recreação, no ano de 2007, entrei como professor da disciplina de recreação

no Curso de Educação Física na Universidade Nove de Julho – UNINOVE.

Percebia que os alunos se encantavam com os conteúdos transmitidos e

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traziam histórias de resultados positivos com o uso do lúdico em suas

atividades.

Já em 2010, ingressei como docente da disciplina educação e

ludicidade, entre outras, no Curso de Pedagogia da Universidade Ibirapuera. Ali

percebi a carência das alunas em conhecimentos e habilidades para trabalhar

com a ludicidade, jogos e brincadeiras e no decorrer das aulas elas traziam

devolutivas, pois a maioria já trabalhava com a educação, que suas crianças

adoravam as atividades que eu havia ensinado que suas coordenadoras

pediam para que elas ensinassem às outras professoras, pais relatando que

seus filhos cantavam, falavam sobre o que tinham aprendido em brincadeiras

que a professora fez na escola.

Com base nestas experiências, fui amadurecendo a ideia de

cursar o mestrado e quando me deparei com as observações de minha filha Íris

sobre não brincar mais no primeiro ano do ensino fundamental, que a escola se

tornara ‘chata’, percebi a importância de realizar um estudo propondo verificar

se há essa ruptura do lúdico na transição entre a educação infantil e os

primeiros anos do ensino fundamental.

Minha experiência mostra que a criança dos primeiros anos do

ensino fundamental fixa a aprendizagem sem material escrito ou atividades

sistematizadas. Durante as brincadeiras e jogos desenvolvidos para

determinado tema, a criança assimila questões escritas, matemáticas,

soluciona problemas, consegue dialogar com os colegas na tomada decisões,

se localiza, e consequentemente acumula uma gama de conteúdo, muitas

vezes impossível de ser aprendido durante as atividades meramente escritas

ou explanadas durante uma aula.

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Historicamente, a passagem da criança da Educação Infantil

para o Ensino Fundamental acontece de forma retesada devido ao modo

distinto nas práticas de ensino, desde a disposição dos utensílios e móveis

escolares até a postura e prática pedagógica dos professores. Enquanto a

educação infantil trabalha as questões lúdicas na construção do conhecimento

e o respeito à criança, o ensino fundamental foca principalmente atividades

sistematizadas de cálculo, alfabetização e letramento.

Nessa perspectiva, busquei entender qual o motivo que leva a

maioria dos professores das séries iniciais do ensino fundamental a lançar mão

de atividades maçantes e cópias da lousa e da apostila, apesar de, algumas

vezes, utilizar material lúdico pedagógico. Porque a brincadeira e a ludicidade

ficam realmente em segundo plano ou para o horário de relaxamento como os

intervalos ou aula de educação física ou ainda, para as excursões em que os

alunos se divertem com os jogos e músicas propostas por monitores que

acompanham as crianças durante o passeio.

Para refletir sobre essas questões busquei, por meio de

pesquisas bibliográficas, entender a importância do brincar através da história e

principalmente, como o Brasil dispõe nos documentos oficiais a ludicidade nos

primeiros anos do ensino fundamental. Para complementar o estudo, a

pesquisa de campo foi realizada através de entrevistas com professores que

estão atuando no ensino fundamental em escolas municipais da cidade de

Santo André.

O trabalho segue estruturado da seguinte forma: no capítulo 1

trago o lúdico através dos tempos e de que forma ocorre no Brasil baseado em

pesquisas de autores consagrados que defendem em seus estudos a

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ludicidade na aprendizagem; no capítulo 2 faço um estudo da legislação

educacional brasileira e analise sobre a ruptura do lúdico entre a educação

infantil e o ensino fundamental; no capitulo 3 apresento a pesquisa de campo

com a metodologia e procedimentos, análise comparativa dos dados apurados

nas entrevistas; no capítulo 4 faço uma análise considerando o contexto

político-social, formação, história e concepções dos entrevistados buscando

entender à importância do lúdico nos primeiros anos do ensino fundamental.

Finalmente as considerações finais em que buscarei demonstrar a tendência

seguida pelos professores que participaram da pesquisa de campo.

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CAPÍTULO 1

O LÚDICO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DA EDUCAÇÃO

1.1 A perspectiva histórica do lúdico

O jogo lúdico pode concorrer para o sucesso

da educação à medida que se opõe ao trabalho que está

presente no âmbito escolar. Para poder trabalhar, já dizia

Aristóteles, precisamos relaxar, reconstituir nossas forças.

O jogo lúdico, notadamente sob suas formas motoras, é

um dos meios para isso.Também, captar o interesse da

criança para o jogo significa colocá-lo a serviço da

educação, pois a criança aprende brincando.

Gilles Brougère (2003, p. 201)

A brincadeira infantil faz parte da história da humanidade desde

a Antiguidade, marcando épocas conforme a concepção que a sociedade tem

de criança, de educação e de brincadeira.

O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer

"jogo”. Caso se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se

referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. Almeida

(2006), afirma que o lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de

psicofisiologia do comportamento humano. De modo que a definição deixou de

ser o simples sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica

extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo.

Segundo Brougère (1998), o modo como a brincadeira infantil é

tratada depende da concepção filosófica de cada período, oscilando a visão de

brincadeira, ora como recreação, ora como distração, ora como centro da

educação da criança pequena e ora como espaço cultural, de inovação, de

criação, de aprendizagem e desenvolvimento infantil.

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Entende-se então, que ao longo da história a brincadeira está

presente na vida da criança de maneira diferente, conforme a época: restrita à

vida intrafamiliar; estendendo-se à vida cultural de toda uma sociedade; ou

integrando a vida escolar como elemento de aprendizagem e desenvolvimento

infantil. Segundo Brougère (1998), as crianças da Antiguidade, por exemplo,

participavam dos mesmos jogos, divertimentos, festas e brincadeiras dos

adultos de modo recíproco dividindo os mesmos brinquedos inclusive. Jogos e

brincadeiras que hoje são reservados geralmente, às crianças.

Kishimoto (1994) relata-nos o aparecimento do jogo educativo

no século XVI, sendo que os primeiros jogos tenham surgido na Roma e Grécia

antigas. Platão defende a importância do aprender brincando em contraposição

à utilização da violência e da repressão. Para Aristóteles o jogo possibilita a

educação de crianças pequenas preparando-as para a vida futura, através de

brincadeiras que imitem ocupações adultas e atividades sérias. Com o advento

do Cristianismo, decresce o interesse pelo jogo, considerado delituoso em

função da educação disciplinadora e moralizante.

Durante a Idade Média, permanece a concepção do jogo como algo que não era sério, como futilidade, por sua associação ao jogo de azar. Até esse período, a brincadeira era considerada sem importância, em oposição à seriedade. O jogo era visto como recreação, como distração, relaxamento após as atividades que exigem esforço físico, em função da imagem desvalorizada de criança, pois o brincar originava-se da própria criança, de seu comportamento espontâneo. (BRUGÈRE, 1998 p.44)

É no Renascimento que o jogo é incorporado ao cotidiano

escolar devido ao surgimento de novas concepções de aprendizagem. A

brincadeira, nessa época, é vista “... como conduta livre que favorece o

desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo...” (KISHIMOTO, 1999,

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p.28), tornando-se um recurso importante à aprendizagem dos conteúdos

escolares.

Kishimoto (1994) afirma que a partir do Renascimento, ocorre

uma expansão contínua dos jogos didáticos ou educativos como os jogos de

corpo, de cartas, de leitura, de tabuleiro, de trilha, de seleção além dos jogos

tradicionais, dando ênfase ao jogo educativo que compreende a importância

dos jogos de exercício para a formação do ser humano, utilizando-os como

recurso auxiliar de ensino.

Conforme Brougère (1998), antes da revolução romântica, três

concepções estabeleciam as relações entre a brincadeira e a educação: o uso

do brincar como mera recreação, como recurso para favorecer o ensino de

conteúdos escolares e como recurso para ajustar o ensino às necessidades

infantis. Tais concepções estavam relacionadas com a percepção de criança

que começou a constituir-se no Renascimento e que se fixou no Romantismo:

a criança dotada de valor positivo que se expressa por meio da brincadeira.

Friedrich Fröebel, segundo Brugère (1998), foi o primeiro a

sistematizar o ensino pré- escolar, reconhecendo o valor do jogo no processo

de desenvolvimento cerebral e na formação do caráter. Ele foi o precursor de

uma pedagogia infantil ativa e lúdica, concebendo os jardins de infância, cujo

programa principal baseava-se na brincadeira livre, imaginativa e nos jogos

orientados. Fröebel criou os dons, brinquedos simbólicos que permitiriam às

crianças vivenciar um processo de autoinstrução e desenvolvimento autônomo,

tendo o adulto como o auxiliar e mediador das atividades.

De acordo com Kishimoto (1994), há uma expansão dos jogos

educacionais no século XIX devido ao aumento de instituições do ensino

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infantil e pela discussão entre o jogo e a educação. Há um investimento em

brinquedos educativos como jogos científicos, mecânicos, jogos magnéticos,

puzzles, bazar alfabético, poliglota, assim como uma preocupação com a

qualidade, com as normas de segurança e orientações sobre a adequação

destes às diversas faixas etárias. O jogo educativo tornou-se um recurso de

ensino para o educador e instrumento recreativo para a criança que só deseja

brincar.

As ideias de Fröebel dominaram até o advento do pragmatismo, quando Dewey concebe em sua obra The School and Society ( "A Escola e a Sociedade", 1899) a aprendizagem infantil de modo espontâneo por meio do jogo livre, nas diversas situações do cotidiano. Paralelamente, Montessori divulga sua obra The Montessori Method (1912) enfocando a importância de materiais pedagógicos explorados livremente, enquanto Decroly, no 1º Congresso Internacional de 1921, explana a noção de jogos educativos usados na sua escola “L’École de l’Hermitage”. Jean Piaget lança seus primeiros escritos sobre a psicogênese a partir de 1921 e em 1932 lança “jugement moral chez l’enfant” que trata principalmente do jogo de regras nas condutas lúdicas da criança (BROUGÈRE, 2003 p. 66-84)

Diversos autores, aqui já citados, referem-se ao jogo como

facilitador do desenvolvimento. No entanto, utilizam princípios epistemológicos

diferentes, dependendo da concepção de desenvolvimento humano que cada

um defende. Estudiosos da linha científica biológica como Sigmund Freud

(médico neurologista criador da psicanálise no início do séc XX) por exemplo,

consideram o jogo de origem biológica. Outros que defendem a linha social

como Lev Vygotsky (Advogado e pensador russo do início do séc XX),

entendem o jogo como de origem social. Alguns como Jean Piaget

(epistemologista e psicólogo do início do século XX) e Henri Wallon (Filósofo,

médico e psicólogo do início do séc XX) defendem que o conteúdo dos jogos

varia segundo o meio físico e social da criança.

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Essas teorias, além de outras, têm marcado as discussões

em torno do jogo infantil durante o século XX, e atualmente, nos estudos

recentemente publicados na obra da psicóloga espanhola especialista na

evolução humana Goraigordobil (2003), “o jogo contribui no desenvolvimento

integral da criança e focaliza a atividade lúdica como recurso pedagógico

indispensável”.

Diversos autores vêm se dedicando à reflexão sobre as relações

entre infância e contemporaneidade, denunciando, entre outros aspectos:

(...) a diminuição dos espaços internos e externos, a maximização do isolamento dos sujeitos em detrimento das relações comunitárias e familiares; a não veiculação de brincadeiras coletivas; a erotização precoce pela mídia cada vez mais globalizada; e a consequente exposição a todo tipo de informação e a cultura do consumismo mediando as relações entre os sujeitos. (ARRIBAS, 2004 p. 67).

Sendo assim, a atual realidade infantil não contempla jogos e

brincadeiras que envolvam relações diretas entre as crianças fora do contexto

escolar. Contudo, os esforços de vários estudiosos nos faz refletir sobre a

formação do professor em relação ao resgate da ludicidade nos primeiros anos

do ensino fundamental.

Com essa breve síntese histórica, é possível perceber a

existência de estreitas relações entre a brincadeira infantil, o processo de

aprendizagem e o desenvolvimento da criança.

1.2 A ludicidade e a criança

Segundo Vygotsky ( 1984), não podemos compreender a criança

fora de suas relações com a sociedade em que vive e desvinculada de suas

interações com os sujeitos e com a cultura do grupo social no qual está

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inserida. Tais relações constituem sua subjetividade, isto é, sua forma de

sentir, pensar e agir sobre o mundo.

Florestan Fernandes (1979), referindo-se à forma que se

constituem as culturas infantis e suas relações sociais, afirma:

...há entre crianças (até 7 ou 8 anos entre os meninos e até mais entre as meninas) cujo os motivos são aspectos da vida do indivíduo adulto, tais como “fazer comidinhas”, “brincar de casinha”, etc. (...) nos brinquedos, a criança não imita seu pai ou sua mãe. Pai e mãe são entes gerais, representam uma função social. As crianças abstraem das pessoas A, B ou C para falar pai e mãe de modo genérico, desempenhando nos folguedos as suas funções. (FERNANDES, 1979 P.387)

É importante ressaltar ainda que, conforme Florestan Fernandes (1979),

“(...)podemos estudar a educação das crianças como um processo de seus próprios grupos através de atualizações da cultura infantil (...)”. Interessando ao autor os elementos “(...) padronizados pelo grupo social, correspondendo aos usos e costumes das pessoas adultas”, demonstrando assim uma antecipação à vida do adulto. (FERNANDES, 1979 p. 387-9)

Congruente ao sentido dos pensamentos, é notável a descrição

sobre educação, cultura e infância abordada na obra “As trocinhas do Bom

Retiro” 1979, apesar do enfoque estar direcionado às culturas infantis, há um

material imenso relatado sobre as brincadeiras e brinquedos utilizados pelas

crianças que viviam nesse bairro naquela época. No entanto, nos cursos de

formação atuais, não é citado, quiçá faz parte das referências básicas dos

cursos formadores de professores que atuarão nos primeiros anos do ensino

fundamental ou na educação infantil.

Não devemos imaginar que seja possível a existência de um

modelo único, adequado a todas as crianças e realidades, pois isso será

contrário a tudo o que sabemos sobre as diferenças que constituem as culturas

na sociedade. Podemos e devemos, entretanto, pensar em alguns eixos

orientadores da construção de práticas pedagógicas, segundo os Referenciais

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Curriculares Nacionais para Educação Infantil (1999), que priorizam e garantem

às crianças a possibilidade de construírem seus conhecimentos de forma lúdica

desenvolvendo a crítica, a criatividade e a consciência espontaneamente e

não acirradamente.

No Ensino Fundamental, conforme os Parâmetros Curriculares

Nacionais (1999), a ludicidade fica implícita nas atividades extraclasse,

integradas ao currículo (por meio de excursões e visitas de estudo do meio),

manifestações artístico-culturais diversas, pesquisas e grupos de estudo,

participação em eventos sociocomunitários, utilização dos laboratórios de

ciências em atividades que busquem o conhecimento e estimulem o interesse e

a pesquisa científica, entre outras ações desenvolvidas pela unidade escolar

desde que contextualizadas ao currículo.

1.2.1 O desenvolvimento da criança por meio de atividades lúdicas

Diante das questões colocadas até aqui, dois grandes eixos

devem ser considerados: a brincadeira e a mediação.

A brincadeira, que está presente desde o início do

desenvolvimento da criança como atividade cultural e que deve ser incorporada

ao currículo, dando margem a imaginação e a reinvenção da realidade durante

o processo de ensino-aprendizagem. A mediação, que está no papel mediador

do professor e na ideia da construção do conhecimento em rede como

orientadora do planejamento pedagógico.

Tais eixos já são muito bem explorados na Educação Infantil, no

entanto, no Ensino Fundamental a brincadeira fica a parte, como se não

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pertencesse ao currículo ou como se a criança está ali apenas para adquirir o

pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo além de compreender o meio

ambiente natural, político, tecnológico, artístico e a formação de atitudes e

valores que constam na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 93/94 (1996).

De acordo com Vygotsky (1989), o início da vida da criança é

determinado pela sua ação sobre o mundo, pelo contexto de percepções e

pelos objetos nele contidos. Entretanto, ao iniciarem os jogos de faz de conta, a

criança entra no processo de imaginação, que lhe permite desligar-se das

limitações impostas pelo ambiente imediato. A criança é agora capaz de

modificar o significado dos objetos, transformando uma coisa em outra. Assim,

o campo de significado se impõe sobre o campo perceptual aumentando a

flexibilidade do uso dos objetos atribuindo-lhes novos significados pelo

processo imaginativo.

Para as crianças, um simples montinho de areia com um graveto

espetado no topo pode transformar-se em um bolo de morango com vela acesa

e imagina a festa inteira e todos os complementos a partir de um punhado de

pedrinhas distribuídos aqui e acolá representando lanchinhos e docinhos, uma

toalha de banho transforma-os em heróis de capa e que voam pelo espaço

afora salvando o mundo dos vilões. Ao criar suas histórias de faz de conta,

combina elementos tirados da sua experiência real com a fantasia produzindo

algo novo. Essa capacidade de compor e combinar o antigo com o novo é a

base da atividade criadora do homem.

A constituição do processo do brincar está contida no que a

criança conhece e vivencia, pois é a partir dessa experiência que a criança

reelabora situações de sua vida cotidiana, criando novas realidades,

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desempenhando papéis que vivencia (criança), papéis que ainda não pode

desempenhar (mãe, pai, motorista, professora, etc.), papéis que aspira ser

(cantora, bombeiro etc.) e papéis marginalizados ( homem do saco, bêbado,

etc.). É dessa forma, segundo Vygotsky (1984), que a criança toma consciência

de si e do mundo, construindo significados sobre a realidade.

Na atividade criadora, imaginação e realidade constituem uma

nova e única simbologia, possibilitando a expansão e a transformação da

experiência sensível do homem na sua relação com o mundo. Conforme

Vygotsky (1989), quanto mais ricas forem as experiências que as crianças

vivenciam, mais possibilidades têm de desenvolver a imaginação e a

criatividade em suas atividades, especialmente através de suas brincadeiras.

E, quanto mais possibilidades tiverem de desenvolver sua imaginação até os

10 ou 11 anos, mais criativas serão nas suas ações/interações com a realidade

e consequentemente na vida adulta.

Embora o jogo de faz de conta possa ser caracterizado pela

dimensão imaginária, é preciso, segundo Vygotsky (1984), argumentar que ao

lado do desprendimento possibilitado pela imaginação, encontra-se a

subordinação às regras impostas pela realidade.

A brincadeira com regras também tem importante valor no

desenvolvimento da criança. De acordo com Brougère (2003), as regras

delimitam um campo de ação a ser seguido, com base no qual as crianças

regulam seu comportamento. Além das regras implícitas nos jogos de faz de

conta, é importante que a criança aprenda a brincar com regras explícitas.

Nesse sentido, temos as brincadeiras de roda, a amarelinha, os jogos com

bola, jogos de circuito, os diferentes piques, os jogos de linguagem (adivinhas,

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trava-línguas, parlendas), os jogos tradicionais como rodar pião, bola de gude,

saltar elástico, empinar pipa, os jogos de tabuleiro como dama, xadrez, dominó,

loto, trilha e muitos outros jogos construídos nas diferentes culturas ou

modificados/criados a partir dos já conhecidos, inclusive mediados pelo

professor, que contribuem para o desenvolvimento e treinamento para a vida

futura amadurecendo as diversas funções a serem utilizadas nas soluções dos

problemas ou na agilidade para exercer determinada função ou ainda, na

socialização com o outro.

A mediação, segundo Vygotsky (1989), deve ser feita observando

o brincar das crianças respeitando o conhecimento de mundo que ela aplica

nas brincadeiras. O educador deve, durante sua observação, compartilhar

deste brincar fornecendo tudo que for necessário (materiais apropriados, por

exemplo) e auxiliar quando for quando solicitado. No entanto, para haver uma

boa intervenção, o educador deve conhecer o jogo da criança, do que e como

brincam, a cultura que está inserida além de seus jogos simbólicos.

Muitas vezes, o educador é convidado a participar da brincadeira e a desempenhar um papel. Essa participação deve ser orientada pela observação e pela escuta cuidadosa das crianças e de como decidem o desenrolar da situação imaginária. É preciso que o educador não imponha seus desejos e vontades, do contrário ele poderá destruir a brincadeira das crianças. Através do respeito às decisões e escolhas das crianças, o educador poderá ser um participante (não um orientador) que busca enriquecer a brincadeira trazendo novas indicações e relações que poderão ser estabelecidas. (VYGOTSKY,1989 p.81).

Segundo Helm (2005), a construção do conhecimento deve

acontecer de forma lúdica, dentro desta perspectiva, deve encontrar-se

vinculada a projetos curriculares que tenham, como tema gerador ou

aglutinador, acontecimentos sociais que as crianças estejam vivenciando no

momento, ou eventos culturais que estejam previstos na programação da

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escola (como a visita a exposições, excursões de estudo do meio, entre outras)

ou que sejam decididos e planejados pelas crianças e/ou pelos professores.

1.3 O lúdico na escola

As práticas de Educação Infantil estão calcadas na visão do

brincar e encaram a brincadeira como atividade recreativa formadora que

permite que as crianças, além de relaxar e liberar energias, construam o

conhecimento de forma significativa. No Ensino Fundamental dos primeiros

anos, temos uma diminuição, e muitas vezes, o impedimento do brincar no

espaço escolar, pois é considerado frívolo na situação de aprendizagem. As

oportunidades de brincar limitam-se à hora do recreio e, quando possível, nos

momentos de chegada e de saída da instituição. Outra tendência, talvez a mais

comum, é a utilização da brincadeira como instrumento didático. O brincar,

nessa perspectiva, é concebido como preparação para a escolaridade futura,

através da sua transformação em exercícios e treinamentos. Garcia (2001),

afirma que o educador usa a brincadeira para ensinar noções e habilidades

como cores, formas, partes do corpo, numerais, entre outras durante a

educação infantil. E nos primeiros anos do ensino fundamental a brincadeira é

usada como forma de sedução e treinamento para a aprendizagem.

Alguns jogos são observados apenas durante os recreios do

Ensino Fundamental dos primeiros anos a título de relaxamento e sem a

mediação do professor. Não são usados como forma de aprendizagem lúdica

como uma atividade curricular histórico cultural, por exemplo, que agrega

habilidades fundamentais para a construção do indivíduo, ao invés disso os

alunos apenas passam o tempo durante o recreio como forma de diversão e

estreitamento de relações.

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1.3.1 Brincar para aprender, aprender brincando ou aprender sem brincar.

Conforme documento da Secretaria de Educação do Distrito

Federal (2008), não se pode deixar de considerar que é durante os primeiros

anos de escolarização que o aluno tem a oportunidade de vivenciar

experiências significativas de aprendizagem. O aluno adquire experiências e

amplia sua estrutura mental e emocional, apropria-se de maneiras novas de

pensar e agrega valor ao seu estilo de resolver problemas e compartilhar a

afetividade. Além disso, aprende a utilizar estratégias metacognitivas e

desenvolve habilidades cada vez mais refinadas ao longo do percurso escolar.

Winnicott (1975), afirma que é nessa fase que o aluno se prepara para exercer

sua autonomia em direção a tarefas sociais e afetivas que o conduzirão à

juventude bem-sucedida e à vida adulta de sucesso.

Durante o percurso no Ensino Fundamental, o aluno tem a

oportunidade de conhecer a si e ao outro em espaços de socialização próprios

dessa fase de desenvolvimento, de fazer escolhas, fortalecer sua autoestima e

sua subjetividade, além de manifestar seus desejos e de alcançá-los através da

conquista própria do conhecimento adquirido. Vygotsky (1989), afirma que “o

que o aluno constrói e de que forma é feita essa construção, durante os

primeiros anos de escolarização formal (6 a 9 anos de idade), será a expressão

de seu talento, de sua criatividade e de sua capacidade de realização na vida.”

Neves (2006), afirma que o lúdico está presente em todas as

fases da vida humana agregando valores específicos para o conhecimento. A

criança e mesmo o jovem mantém uma resistência à escola e ao ensino,

porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa, assim o ensinar

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ludicamente transforma a aprendizagem divertida e consequentemente mais

significativa.

Segundo Piaget (1997), o desenvolvimento da criança

acontece através do lúdico. Ela precisa brincar para crescer, precisa do jogo

como forma de equilibração com o mundo.

De acordo com Nunes (2004), a ludicidade é uma atividade que

tem valor educacional intrínseco, mas além desse valor, utilizada como recurso

pedagógico, pode contribuir para expansão da aprendizagem fazendo com que

o aluno acomode e assimile o conteúdo de forma prazerosa e com facilidade.

Segundo Teixeira 1995 (apud NUNES, 2004), os educadores devem recorrer

às atividades lúdicas como recurso de ensino-aprendizagem pelas seguintes

razões:

• correspondem a um impulso natural da criança, pois o ser humano

apresenta uma tendência lúdica;

• são consideradas prazerosas, devido a sua capacidade de absorver o

indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo que

canaliza as energias no sentido de um esforço total para atingir seu

objetivo;

• Por ser uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as

funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o

pensamento.

Portanto, Nunes (2004) afirma que o jogo como recurso

pedagógico provoca aprendizagem significativa, estimula a construção de

conhecimentos novos e principalmente desenvolve a capacidade cognitiva e

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apreciativa específica facilitando a conexão entre fenômenos sociais, culturais

e educativos.

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CAPÍTULO 2

LEGISLAÇÃO, EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O LÚDICO

2.1 Estudo da legislação da educação brasileira sobre o lúdico

“O momento atual da educação brasileira e, sobretudo do Ensino Fundamental, remete às grandes transformações sociais e tecnológicas, o que ocasiona mudanças na prática educativa, em virtude da necessidade de se oferecer aos alunos uma formação compatível com as demandas do mundo moderno, valorizando habilidades, competências pessoais, conhecimentos e valores para além da aquisição de quantidade de informações. Esse paradigma fortalece a autonomia do aluno e favorece o desenvolvimento de uma postura empreendedora que dará conta das exigências do mundo globalizado.” (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DF, 2008 P.38)

A LDB, em seu Art. 32, com a redação dada pela Lei nº.

11.274/2006, afirma que o Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9

anos, gratuito na instituição educacional pública, iniciando-se aos 6 anos de

idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV O fortalecimento dos vínculos da família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

O entendimento das questões relativas ao acesso à instituição

educacional, ao fluxo institucional e à qualidade de ensino ganha relevância

quando se enfoca o Ensino Fundamental, considerando que a legislação

determina que a oferta dessa etapa de ensino, pelo Estado, é obrigatória.

O Ministério da Educação ao propor o Ensino Fundamental de 9

anos sugere a nomenclatura de organização e divisão dessa etapa de ensino,

conforme quadro a seguir:

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Quadro 1 – Nomenclatura e divisão do ensino fundamental de 9 anos

ENSINO FUNDAMENTAL

ANOS INICIAIS ANOS FINAIS 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

Bloco Inicial de Alfabetização

Fonte: elaborado pelo autor

Os três primeiros anos do Ensino Fundamental de 9 Anos

integram o Bloco Inicial de Alfabetização, de forma que correspondem,

respectivamente, à Etapa I, à Etapa II e à Etapa III do referido bloco. Com

duração mínima de nove anos, em regime de bloco para o período da

alfabetização (do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental de 9 Anos – Etapas I, II

e III do Bloco Inicial de Alfabetização), pretende-se que essa etapa de ensino

possibilite ao aluno ampliar sua capacidade de aprender, tendo em vista a

aquisição de conhecimentos, competências e habilidades, e a formação de

atitudes e valores.

O Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) além de promover a

progressão continuada do processo de ensino aprendizagem, possibilita a

criança permanecer por mais tempo na escola para desenvolver as

competências que precisa construir. Para que isso aconteça, é necessário

adotar estratégias que favoreçam o alcance de tais objetivos, pois somente a

implantação do BIA não garante a qualidade do processo de alfabetização.

O objetivo principal do BIA é reestruturar o Ensino Fundamental

de 9 Anos, visando garantir à criança, a partir dos 6 anos de idade, a aquisição

da alfabetização/letramento na perspectiva da ludicidade e do seu

desenvolvimento global.

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Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para

Educação Básica propõe:

“[...] a escola pode contribuir para que as crianças construam identidades plurais, menos fechadas em círculos restritos de referência e para a formação de sujeitos mais compreensivos e solidários. Do ponto de vista da abordagem, reafirma-se a importância do lúdico na vida escolar, não se restringindo sua presença apenas à Arte e à Educação Física. Hoje se sabe que no processo de aprendizagem a área cognitiva está inseparavelmente ligada à afetiva e à emocional. Pode-se dizer que tanto o prazer como a fantasia e o desejo estão imbricados em tudo o que fazemos.” DCNEB -MEC,2013 p.116) “ grifo meu”

Partindo da abordagem de que o aluno é o principal personagem

de sua aprendizagem, deve ser estimulado ao questionamento, expor suas

ideias e opiniões, enunciar conceitos e descobertas, sanar dúvidas, fazer

associações e escolhas, pesquisar, concluir, entre outras atitudes positivas,

para construir o conhecimento desenvolvendo o pensamento crítico e o

fortalecimento da autonomia e da solidariedade.

Segundo o documento Ensino Fundamental de nove anos – orientações

gerais, afirma ainda que:

“[...] com base em pesquisas e experiências práticas, construiu-se uma representação envolvendo algumas das características das crianças de seis anos que as distinguem de outras faixas etárias, sobretudo pela imaginação, a curiosidade, o movimento e o desejo de aprender aliados à sua forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar [...]”. (MEC, 2004 p.19)

Cabe ao professor encontrar estratégias para oferecer atividades lúdicas

para desenrolar a alfabetização de forma prazerosa para o aluno.

Ainda no documento do Ensino Fundamental de nove anos –

orientações gerais, os jogos com regras devem estar presentes durante o

processo de alfabetização. Para isso, os educadores necessitam estar cientes:

“[...] nessa faixa etária a criança já apresenta grandes possibilidades de simbolizar e conhecer o mundo, estruturando seu pensamento e fazendo uso de múltiplas linguagens. Esse desenvolvimento possibilita elas participar de jogos que envolvem regras e se apropriar de conhecimentos, valores e práticas sociais construídos na cultura [...]”. (MEC, 2004 p.19)

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Portanto, o educador deve buscar práticas pedagógicas bem

estruturadas que motivem os alunos a alfabetizarem-se conhecendo a função

da escrita e apropriem-se dela significativamente e não apenas de forma

mecânica.

O documento do Ensino Fundamental de nove anos – orientações

gerais, aponta ainda as questões sobre o espaço físico e sua importância para

acolher alunos de seis anos:

[...] as escolas que irão incluir a criança de seis anos no ensino fundamental, para recebê-las, precisa reorganizar a sua estrutura, as formas de gestão, os ambientes, os espaços, os tempos, os materiais, os conteúdos, as metodologias, os objetivos, o planejamento e a avaliação, de sorte que as crianças se sintam inseridas e acolhidas num ambiente prazeroso e propício para a aprendizagem. É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o ensino fundamental ocorra da forma mais natural possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos negativos no seu processo de escolarização. (MEC, 2004 p.22)

Diante de tais apontamentos, conclui-se que para atender os alunos de

seis anos com educação de qualidade é necessário modificar currículo,

estrutura e também proporcionar formação continuada aos educadores a fim de

entender o que é infância, como a criança se desenvolve e o motivo de incluir o

brincar no processo de ensino-aprendizagem.

2.2 A ruptura do lúdico entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental

O capítulo nove do documento das Diretrizes Curriculares Nacionais do

Ensino Básico sugere:

È desejável que as escolas estabeleçam um Ciclo de Alfabetização, no interior do qual não haja repetência, garantindo a todos os alunos o domínio da leitura e da escrita, instrumentos indispensáveis para o acesso a diferentes formas de conhecimento. (DCNEB MEC, 2013 p.26) “grifo meu”

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Como vemos, apesar de contemplar o brincar nos primeiros anos do ensino

fundamental, priorizam o conteúdo, principalmente a alfabetização/letramento,

vista como elemento primordial para essa faixa etária.

No entanto, estudos recentes a respeito da transição do aluno

da educação infantil para o ensino fundamental realizado por Elaine Gesibel

Teixeira Goes (2012) revelam que não deve haver uma ruptura entre uma fase

da educação e outra, essa transição não deve ocorrer de qualquer maneira.

Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais:

Outro desafio com que se depara o Ensino Fundamental diz respeito à sua articulação com a educação infantil e com o ensino médio, assim como é necessária uma integração maior entre os seus anos iniciais e finais. A falta de articulação entre as diferentes etapas da educação básica tem se constituído em barreiras que dificultam o percurso escolar dos alunos. Para a superação desses problemas é preciso que o ensino fundamental se fortaleça, passando a incorporar tanto algumas práticas que integram historicamente a educação infantil, como trazendo para o seu interior preocupações compartilhadas por grande parte dos professores do ensino médio, como a necessidade de sistematizar conhecimentos, de proporcionar oportunidades para a formação de conceitos e a preocupação com o desenvolvimento do raciocínio abstrato, dentre outras. (DCNEB, 2013 p.26)

Ainda considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais, é demonstrado

um dos motivos que levam à ruptura do lúdico em detrimento da sistematização

dos conteúdos causando uma transição conturbada:

Para evitar que as crianças de seis anos se tornem reféns prematuros da cultura da repetência e que a continuidade dos processos educativos não seja indevidamente interrompida, levando à baixa autoestima do aluno e, sobretudo, para assegurar a todas as crianças uma educação de qualidade, estas diretrizes recomendam fortemente que os sistemas de ensino adotem nas suas redes de escolas a organização dos três primeiros anos do Ensino Fundamental – abrangendo crianças de seis, sete e oito anos de idade - como sendo o Ciclo da Infância, destinado à alfabetização. (DCNEB, 2013 p.28) “grifo meu”

Conforme Saviani (2008) em Goes (2012 p. 46), “ a função da

escola é transmitir o saber sistematizado, é mais do que ensinar os conteúdos

elementares, é ensinar o homem a refletir”. Goes (2012) afirma que, o processo

de transição da educação infantil para o ensino fundamental de 9 anos deve

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respeitar e atender suas especificidades garantindo todas as condições para

que isso ocorra. Afirma ainda que:

[...] é preciso entender que as características das crianças de cinco e seis anos são diferentes de crianças de sete anos, por isso não é possível fazer apenas pequenas adequações nesse novo ensino fundamental de nove anos, são necessárias mudanças significativas. [...] As crianças de cinco e seis anos estão em uma fase na qual o brincar é importante para que as funções superiores se desenvolvam. Não se pode deixar que as crianças, ao chegarem ao ensino fundamental, percam esses momentos de brincar. Na educação infantil as crianças brincam e aprendem, pois brincadeira é aprendizado, então o ensino fundamental de nove anos deve estar repleto desses momentos de brincadeiras. (GOES, 2012 p.37)

Pensando em um primeiro ano do ensino fundamental de

qualidade, Kramer, Nunes e Corsino (2011) em Goes (2012 p.38) fazem

importantes pontuações sobre essas questões:

[...] é prioridade que instituições de educação infantil e ensino fundamental incluam no currículo estratégias de transição entre as duas etapas da educação básica que contribuam para assegurar que na educação infantil se produzam nas crianças o desejo de aprender, a confiança nas próprias possibilidades de se desenvolver de modo saudável, prazeroso, competente e que, no ensino fundamental, crianças e adultos (professores e gestores) leiam e escrevam. Ambas as etapas e estratégias de transição devem favorecer a aquisição/construção de conhecimento e a criação e imaginação de crianças e adultos. (KRAMER,NUNES E CORSINO, 2011 p.80)

Conforme as autoras em Goes, a educação infantil e ensino

fundamental, devem construir um currículo que considere as questões relativas

à transição de uma etapa para outra da educação, visto que este processo

influencia na aprendizagem das crianças.

Segundo Arelaro, Jacomini e Klein (2011) em Goes (2012 p. 41),

a última etapa da educação infantil deveria ser preparatória para o ensino

fundamental objetivando principalmente: “[...] “Habituar” as crianças a sentar-se

em carteiras e mesinhas, ter familiaridade com brinquedos pedagógicos com

letras e números, ter disciplina, concentração e organização, enfim, preparar-se

“culturalmente” para o início do trabalho alfabetizador [...]” (ARELARO;

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JACOMINI; KLEIN, 2011, p. 38). Portanto, esta etapa de ensino é de suma

importância no processo de ensino aprendizagem das crianças.

Conforme Pansini e Marin (2011) em Goes (2012 p.42), é

necessário que os professores se qualifiquem para receber, entender e

respeitar as especificidades da nova criança do ensino fundamental pois:

Com a entrada da criança aos 6 anos de idade na escola obrigatória, os professores precisam estar preparados para se relacionar com elas considerando a ludicidade, a brincadeira e o jogo como aspectos a serem privilegiados. Caso contrário, as medidas que visem superar os entraves no fluxo dos sistemas de ensino se restringirão a intervenções legais e normativas, provocando polêmicas e conflitos entre gestores, professores e responsáveis pelos órgãos centrais (PANSINI; MARIN, 2011, p. 93). “grifo meu”

Congruente ao sentido dos pensamentos, o brincar deve fazer

parte do processo de aprendizagem também no Ensino Fundamental, por isso

os professores, dos primeiros anos, devem considerar a questão.

No contexto,

[...] levando em conta os novos conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento das crianças [...] devemos deixar contaminar o ensino fundamental com atividades que julgamos típicas da educação infantil [...]. Falo das atividades de expressão como desenho, a pintura, a brincadeira de faz de conta, jogos com regras, a moldagem, a construção, a dança, a poesia e a própria fala, bases necessárias para a aquisição da escrita. [...] sem exercitar a expressão como um todo, o escrever fica cada vez mais mecânico [...] (MELLO, 2005 p. 30-31)

Como vemos, os primeiros anos do ensino fundamental

precisam das atividades lúdicas para se desenvolver, pois contribuem para a

formação da identidade, da inteligência e da personalidade da criança.

Goes (2012) afirma em seu estudo que além dos aspectos

curriculares, devem-se repensar os aspectos concretos, como o espaço físico

das salas de aulas, carteiras, armários, materiais lúdicos, pátio para

socialização, entre outros. É fundamental que os espaços físicos que acolherão

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as crianças, sejam organizados de maneira que tenham espaços suficientes

para realizar todas as atividades necessárias ao seu desenvolvimento,

respeitando seu tamanho, suas dificuldades e necessidades.

No entanto na prática, segundo estudos aqui demonstrados, os

primeiros anos do Ensino Fundamental prioriza a alfabetização de forma

sistematizada e em espaços inapropriados para essa faixa etária e ainda

deixando o lúdico para momentos soltos como recreios, entrada e saída,

apesar das muitas pontuações nos documentos nacionais sobre essa ruptura e

formas de inserir o brincar e de preparar o espaço físico.

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CAPÍTULO 3

O PERCURSO DA PESQUISA

3.1 A base inicial

Durante o percurso do estudo busquei nortear as abordagens

qualitativas através de evidências teóricas e empíricas nas quais se destacam

as entrevistas orais, mesmo não sendo um procedimento comum na

metodologia qualitativa, é, segundo Neves (2006), uma técnica que expande o

universo de questões fechadas buscando respostas mais profundas e com

intervenções mínimas do entrevistador durante o questionamento, a fim de

obter o máximo do contexto sócio cultural da trajetória de vida pessoal e

profissional dos entrevistados. Ainda como pesquisa empírica pude contar com

observação da prática pedagógica de alguns professores.

3.2 Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa aborda de que forma acontece a ludicidade

nos primeiros anos do ensino fundamental. Para realizar o trabalho utilizei

pesquisa bibliográfica a estudos de autores consagrados trazendo preciosas

contribuições para determinar o objeto de pesquisa que trata da dificuldade que

os professores têm de aplicar atividades lúdicas nos primeiros anos do ensino

fundamental. Para a pesquisa de campo utilizei uma abordagem qualitativa,

pois foram utilizadas entrevistas orais dirigidas buscando contemplar o

problema através de interpretação e entendimento do questionamento sobre o

objeto desta pesquisa, sem uma coleta de dados previamente estruturada. As

entrevistas foram feitas com professores dos primeiros anos do ensino

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fundamental de escolas municipais de Santo André. Além das entrevistas,

foram realizadas observações da aula de quatro dos nove professores para

melhor entender de que forma é trabalhado o lúdico ou a ludicidade na prática

de ensino.

3.3 A escolha dos entrevistados

[...] é impossível obter informação de todos os indivíduos ou elementos que formam parte do grupo que se deseja estudar, seja porque o número de elementos é demasiadamente grande, os custos são muito elevados ou ainda porque o tempo pode atuar como agente de distorção. (RICHARDSON, 1999 p.157)

Busquei selecionar professores obedecendo alguns critérios

necessários para contemplar o objetivo da pesquisa. Tais critérios são:

Ser pedagogo;

Estar na rede municipal de ensino de Santo André no regime estatutário;

Dar aula nos primeiros anos do Ensino Fundamental;

Ter disponibilidade para realizar a pesquisa.

Foram escolhidos nove professores do ensino fundamental dos

primeiros anos. Todos seguem os critérios determinados estabelecendo

amostra adequada aos objetos de investigação.

3.3.1 Informação – Contexto político-social de formação dos entrevistados

Por motivos éticos, não colocarei o nome dos professores.

Profª A – 38 anos, Licenciada em Matemática e em Pedagogia. Professora

atuante há 19 anos.

Profª B – 49 anos, formada no Magistério e em Pedagogia, Pós- graduada em

Psicopedagogia. É professora atuante há 31 anos.

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Profª C – 35 anos, formada no Magistério e em Pedagogia, Pós- graduada em

Psicopedagogia e em Educação Especial. Professora atuante há 17 anos.

Profª D – 45 anos, graduada em Pedagogia e Pós-graduada em

Psicopedagogia. Professora atuante há 10 anos.

Profª E – 53 anos, formada no Magistério, em Pedagogia e Letras. Professora

atuante há 18 anos.

Profª F - 51 anos, formada no Magistério e em Pedagogia. Professora atuante

há 12 anos.

Pfrofª G – 26 anos, graduada em Pedagogia. Atua há menos de um ano

Profº H – 50 anos, Licenciado em Música e graduado em Pedagogia. Professor

atuante há 25 anos.

Profª I - 56 anos, graduada em Educação Física e Pedagogia. É professora

atuante há 34 anos.

3.4 Estruturação das entrevistas

As entrevistas foram divididas em dois blocos. O primeiro com

as questões principais e o segundo, a fim de aprofundar a colocação dos

entrevistados (caso haja necessidade), foi elaborado com questões

complementares. Os dois blocos são compostos de cinco questões sendo que

o segundo, por ser complementar, é composto por cinco grupos de perguntas.

No bloco introdutório, as questões têm o objetivo de verificar se

o professor entrevistado utiliza ou não o lúdico na sua prática de ensino e sua

trajetória de vida buscando analisar se estes professores desfrutaram de

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brincadeiras na sua infância e se na sua formação houve disciplinas que

contemplassem o lúdico. As questões são as seguintes:

a. Descreva sua infância, como você brincava e com quem?

b. Qual sua formação e há quantos anos você dá aula no ensino

fundamental?

c. Qual sua concepção de criança, escola e professor?

d. Você considera importante a ludicidade na sua prática pedagógica?

e. Como é disposta sua sala de aula e quais espaços da unidade escolar

você utiliza para aplicar atividades lúdicas?

O segundo bloco, apresenta questões que são feitas somente se

o entrevistado for sucinto em suas respostas e não contemple o necessário

para a análise do objeto de pesquisa. Estão divididas em cinco grupos

seguindo a disposição do primeiro bloco:

a. Morava em casa ou apartamento?/ Brincava na rua, com quem e de

quê? Tinha irmãs(os), mais velhos ou mais novos? / Algum adulto

participava das brincadeiras?

b. Em que ano se formou? Quando você estudou, teve alguma disciplina

que contemplava o lúdico?

c. Como você vê a criança atualmente? O que você acha da escola, ela

atende as especificidades da criança desta faixa etária? Você como

professor busca atender o aluno em suas necessidades naturais desta

idade?

d. De que forma você utiliza o lúdico na sua prática? Dê exemplo de

atividades lúdicas que você aplica. Posso observar como isso acontece

durante sua aula?

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e. Quais espaços a unidade escolar oferece para aplicar atividades

lúdicas? Em que momentos você utiliza esses espaços?

3.4.1 Entrevistas e observações

As entrevistas foram marcadas com antecedência e todas

realizadas na unidade escolar, sendo todas as escolas da rede publica, uma

hora antes do horário de entrada dos professores para a sala de aula.

Ocorreram de forma individual e oral seguindo um roteiro de perguntas –

citadas anteriormente - as quais eram respondidas de maneira informal e

descontraidamente. A maioria dos professores não teve dificuldade em

formular as respostas e quando, em algum momento, havia dúvidas

questionavam-me imediatamente a fim de saná-las. Duraram, em média, cerca

de trinta minutos. Durante as entrevistas, os professores relataram que

utilizavam a ludicidade dentro da sala de aula, o que me provocou curiosidade.

A fim de entender como era aplicada a ludicidade nessa prática, pedi para

observar a aula dos professores. Somente quatro dos entrevistados me

permitiram observar a aula.

Cada observação durou o período completo de uma aula do

início ao fim, passando inclusive pelo intervalo (que eles chamam de recreio).

O início das aulas se dá as 13h, o primeiro intervalo acontece das 14h30 às

14h50, o segundo intervalo é das 16h às 16h10 e a saída é às 18h. É

importante ressaltar que cada observação foi realizada em dias diferentes e

com professores de duas escolas diferentes, sendo três professores de uma

escola de periferia e um de uma escola central do município de Santo André.

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As observações completas estão descritas no anexo como observação da aula

dos professores B, E, H e I. No entanto, farei aqui um apanhado geral. Os

quatro professores observados iniciam a aula com chamada, lembretes,

correção da lição de casa e escrita e leitura do cabeçalho. Em seguida, dão

início à matéria propriamente dita com aplicação de uma atividade – lúdica –

para fixar ou iniciar um conteúdo específico. Aqui cabe um aparte: nas quatro

observações, os professores aplicaram uma atividade de língua portuguesa no

início da aula sendo que três eram atividades de fixação e um era de

introdução de conteúdo. As atividades eram: Bingo de palavras (mostra a

palavra e no bingo tem a figura ou vice-versa); Boquinha e lápis (exemplo

anexo); caça palavras (encontrar palavras iniciadas com a letra da vez,

exemplo anexo). O professor que iniciava o conteúdo aplicou um texto onde

havia desenhos da palavra (iniciada pela letra do novo conteúdo –“R” - anexo)

e a criança deveria escrever a palavra num traço abaixo do desenho. A palavra

era escolhida numa lista ao lado do texto.

Hora do primeiro recreio. Após a atividade do início da aula, os

alunos dirigem-se para o intervalo que é destinado para o almoço e depois,

conforme as crianças vão terminando a refeição, sentam-se no pátio

obedecendo a fila pré-estabelecida para esperar todos terminarem, escovam

os dentes, ainda obedecendo a fila, e retornam para a sala de aula. No

segundo período, os professores aplicaram outra atividade de fixação dos

conteúdos aplicados anteriormente utilizando o caderno de classe – duas

turmas, de língua portuguesa e outras duas turmas, de matemática.

Segundo recreio, as crianças descem para tomar o café.

Acontece exatamente da mesma forma: as crianças tomam café e conforme

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vão terminando, sentam-se em fila para esperar todos terminarem e retornam

em fila para a sala de aula. O terceiro período diferenciou um pouco, pois cada

professor utilizou este período para aplicar atividades diversificadas: o

professor I levou os alunos para a sala de informática onde foram realizados

jogos de alfabetização determinados pelo monitor de informática (decidido

juntamente com o professor antecipadamente); o professor H aplicou uma

atividade de música sobre a primavera (música – “O Canto de um Povo de um

Lugar” Caetano Veloso – tocada e cantada por ele) as crianças ouviram,

depois, no caderno de desenho, copiaram “23 de setembro – Dia da Primavera”

na linha imaginária abaixo copiaram o nome da música e durante a segunda e

terceira vez que ouviram a música os alunos desenharam o que esta música

representava para eles. O restante da aula foi destinada para pintura do

desenho, cópia da lição de casa para o dia seguinte e preparo para a saída; o

professor E aplicou uma atividade de recorte e colagem sobre raiz, caule,

folhas, flor e frutos – todos separados com seus respectivos nomes para

colorir, recortar e colar no caderno de desenho (o professor explicou na lousa

com desenhos e exemplos, pediu que as crianças falassem exemplos próprios

e depois aplicou a atividade); O professor B utilizou o terceiro período para

contar uma história sobre uma menina que se chamava Rita que era magrela e

gritava muito (tirada do livro “Rita não grita” de Flávia Muniz), para deixar como

gancho para atividade do dia seguinte. Após as atividades prepararam-se para

a saída guardando todo o material, limpando e arrumando a sala “para deixar

limpo para a próxima turma” – fala dos professores.

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45

CAPÍTULO 4

CONTRAPONTO LEGISLAÇÃO, ESPAÇOS ESCOLARES, CONTEÚDO

4.1 O ponto de partida

O objetivo deste estudo é verificar se há ou não a ruptura do lúdico nos

primeiros anos do ensino fundamental; ainda, de que forma acontece a

aprendizagem dessa faixa etária dentro da sala de aula, e como o professor

encara o brincar da criança para a aprendizagem.

Durante toda a pesquisa de campo foi possível perceber os principais

pontos que determinam as respostas para os questionamentos realizados

nesta pesquisa.

4.2 Procedimentos de análise

As análises foram feitas através de tabelas contrapondo às leis e

autores já citados anteriormente nesse estudo. As tabelas estão separadas da

seguinte forma: Tabela 1 apresenta o perfil de cada participante da pesquisa de

campo demonstrando a geração a que pertence, brincadeiras de infância sua

formação e tempo de atuação na sala de aula; a Tabela 2 configura a

disposição física do espaço escolar e de que forma é utilizada a brincadeira

durante a aula; a Tabela 3 trata das concepções que cada professor tem de

criança, escola e professor; se ele trabalha a ludicidade e se as brincadeiras

da infância influenciam ou não na prática pedagógica.

Cada tabela traz comentários baseados nos estudos realizados

pontuando se há ou não a ruptura do lúdico nos primeiros anos do ensino

fundamental.

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4.3 Análises comparativas

Ao iniciar a análise das tabelas é importante ressaltar que todo o

material aqui analisado encontra-se nas entrevistas transcritas na íntegra no

anexo.

4.3.1 – Perfil e Formação para o lúdico

TABELA 1 – Caracterização dos professores entrevistados

Profº

Idade

Formação

Formação para o lúdico

Tempo de atuação

Brincadeiras de infância

A

38

Licenciada em Matemática e em Pedagogia

Não teve formação

para o lúdico

19

anos

Pega-pega, queimada, esconde-esconde, clubinho, boneca, fazer roupinhas.

B*

49

Magistério e Pedagogia, Pós- graduada em Psicopedagogia

Teve formação para

o lúdico no magistério e na pós-graduação

31 anos

Jogos com bola, brincadeiras de roda, passa-passa três vezes, mão na mula, balança caixão , bicicleta, carrinho de rolimã, patins, pipa, charadas, trava línguas, descobrir palavras dentro da música, acrósticos orais, entre outras...

C

35

Magistério, Pedagogia, Pós- graduada em Psicopedagogia e Educação Especial

Teve formação para o lúdico no

magistério e na pós-graduação

17

anos

Motoca, bola,casinha e bonecas. Utilizava utensílios da cozinha para brincar.

D

45

Pedagogia e Pós-graduada em Psicopedagogia

Teve formação para

o lúdico na pós-graduação

10

Anos

Diversas brincadeiras com bola e brincadeiras de grupo com os amigos da rua.

E*

53

Magistério, Pedagogia e Letras

Teve formação para o lúdico no magistério

18

Anos

Brincadeiras de roda, esconde-esconde, músicas, escolinha, cores, letras...

F

51

Magistério e Pedagogia

Teve formação para

o lúdico no magistério

12

Anos

Escritório, escolinha, casinha, cartas, jogos com bola, tabuleiro, pega-pega, esconde-esconde, rouba bandeira, mãe da rua, polícia e ladrão, entre outras...

G

26

Pedagogia

Teve uma disciplina

para formação lúdica

3

meses

Play graund, bonecas e vídeo- game.

H*

50

Licenciado em Música e Pedagogia

Não teve formação para o lúdico em

nenhuma das graduações

25

anos

Esconde-esconde, balança caixão, forte apache, autorama, bicicleta, mãe da rua, bastão e brincadeiras de músicas.

I*

56

Educação Física e Pedagogia

Teve formação para o lúdico na

Educação física

34

anos

Casinha, bonecas, cantigas de roda, bicicleta, pipa, jogos com bola, entre outras...

*Professores que participaram da observação Fonte: elaborada pelo autor

De acordo com a tabela, verifica-se que somente dois professores não

tiveram nenhuma formação para o lúdico. Ainda, quatro professores possuem

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magistério, três possuem pós-graduação em psicopedagogia e um em

educação física. Tais cursos possuem disciplina específica para o lúdico. No

magistério devido a especialização em pré-escola (atual educação infantil), na

psicopedagogia para aplicar terapia lúdica no consultório e na Educação física

tem a disciplina de recreação. Dois professores possuem graduação

diferenciada Matemática e Música.

A média da faixa etária dos professores é de 45 anos o que demonstra

brincadeiras parecidas realizadas na infância, com exceção de uma que é bem

mais nova e que já pertence à outra geração de brincadeiras.

Os relatos mostram que a maioria morou em casa e que brincava com

amigos ou parentes na rua ou tinha quintal espaçoso para brincar, também que

as brincadeiras trouxeram aprendizagem significativa no tocante à experiência

para a vida futura.

Conforme Brougère (2003), as mais diversas brincadeiras realizadas

durante a infância delimitam um campo de ação a ser seguido com base no

qual regulam seu comportamento. Diante dessa afirmação, podemos perceber

que os professores da amostragem confirmam os estudos de Brougère

inclusive no relato dos tipos de brincadeiras que desfrutaram nas suas

infâncias e o quanto contribuíram para seu desenvolvimento.

È necessário apontar que a professora G, que brincou de videogame e

boneca na sua infância e que morou em apartamento durante toda sua vida,

descreve as brincadeiras aprendidas durante seu curso de Pedagogia, como

deslumbrantes e divertidas, mas que não saberia fazer sem o monitoramento

de outrem junto aos alunos.

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4.3.2 Pontos e contrapontos entre legislação, o conteúdo pedagógico,

espaço físico da escola e a ludicidade.

A tabela a seguir irá apresentar as propostas referenciadas nas

Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental dos primeiros anos e

de que forma os professores entrevistados relatam que acontece nas suas

unidades escolares e na sua prática pedagógica. Pensando ainda, no objeto da

pesquisa que busca entender se há ou não a ruptura do lúdico nos primeiros

anos do ensino fundamental, a tabela seguinte poderá esclarecer alguns

pontos importantes para esta discussão:

TABELA 2 – Comparação do conteúdo pedagógico, os espaços escolares e a

ludicidade na prática pedagógica

Legislação/ Professores

Conteúdo Pedagógico Espaço Físico da Unidade Escolar

Ludicidade na Pratica Pedagógica

Documento Oficial: Diretrizes Curriculares

Nacionais do Ens. Fundamental 1ºAnos

[...]desenvolver a capacidade de representação,indispensável para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreensão da realidade que a cerca.(MEC,2013p.110)

A escola deve adotar formas de trabalho que proporcionem maior mobilidade às crianças na sala de aula, explorar com elas mais intensamente as diversas linguagens artísticas, utilizando espaços como quadra, parque, horta, entre outros. (MEC,2013 p.120).

Na perspectiva da continuidade do processo educativo proporcionada pelo alargamento da Educação Básica, o Ensino Fundamental terá muito a ganhar se absorver da Educação Infantil a necessidade de recuperar o caráter lúdico da aprendizagem, particularmente entre as crianças de 6(seis) a 10 (dez) anos que frequentam as suas classes, tornando as aulas menos repetitivas, mais prazerosas e desafiadoras e levando à participação ativa dos alunos. (MEC,2013p.120)

A

Alfabetização utilizando letras, textos com atividades específicas e sequencias numéricas e atividades com número

A sala possui mesas redondas com quatro cadeiras e uma sala multiuso que também é utilizada como biblioteca. A unidade não possui espaços para atividades lúdicas

A aprendizagem deve acontecer de forma natural, assim procuro utilizar a ludicidade em minha prática pedagógica

B

De acordo com o projeto anual da escola, os primeiros anos devem priorizar a alfabetização/letramento e a matemática. Porém priorizo o aprendizado através da solução das situações problemas utilizando o questionamento e a mediação.

As unidades não estão preparadas para receber as crianças dos primeiros anos do ensino fundamental, pois as carteiras são individuais, os espaços como quadra e pátio são utilizados para atividades específicas, não há material lúdico, não contempla a ludicidade.

A minha prática pedagógica está calcada na ludicidade em todos os momentos através de trava-línguas, parlendas, charadas, jogos com regras, brincadeiras variadas, respeitando a política da unidade escolar.

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C

Enfatiza a alfabetização, o letramento e o cálculo conforme projeto político pedagógico além da sustentabilidade que é o projeto anual da escola.

A sala é composta por carteiras individuais que eu disponho em duplas e as vezes em grupo, lousa e armários. Há um laboratório de informática e biblioteca. A quadra é utilizada apenas pelo professor de educação física. Falta muito para atender as crianças dessa faixa etária

Utilizo muitas brincadeiras com letras, números e cores,jogos,músicas que falam do cotidiano das crianças, entre outras atividades lúdicas para fixar a aprendizagem.

D

O conteúdo está estipulado no planejamento anual, mas basicamente trata da alfabetização, letramento e matemática. Em ciências tratamos da reciclagem e da alimentação saudável

A sala tem carteiras individuais dispostas em filas, laboratório de informática e biblioteca.

Utilizo atividades como bingo, caça palavras, textos, alguns jogos.

E

Determinado pela unidade escolar através do projeto político pedagógico anual, que consiste para os primeiros anos alfabetização e letramento, além de matemática e projetos desenvolvidos pela classe com minha observação e direcionamento.

Carteiras individuais que coloco em círculo para trabalhar melhor as rodas de conversa, cantinho da leitura na própria sala e laboratório de informática.

Utilizo a ludicidade em todos os momentos da prática pedagógica através de bingos de letras e números, alfabeto móvel, cruzadinhas, parlendas, joguinhos variados e questionando a criança para dar oportunidade dela desenvolver suas habilidades

F

Basicamente alfabetização 1 e matemática especificados no planejamento anual. Esta turma é a mais nova de todos os primeiros anos o que dificulta atingir o conteúdo plenamente.

A sala de aula está disposta em três colunas de carteira duplas para facilitar a socialização. Como espaços complementares temos o laboratório de informática e a biblioteca.

Procuro aplicar atividades lúdicas variadas, utilizando pouco o caderno e mais a folha de sulfite, os jogos com regras e as brincadeiras fica por conta da professora de educação física na quadra.

G

O conteúdo está praticamente voltado para o término do livro do alfabeto, pois minha turma trocou muito de professora e quando assumi, estavam muito atrasados. Também tem o caderno de números que ainda está no 6 e não tem todas as cores, formas e as quantidade

A sala tem a disposição antiga, fileiras e colunas de carteiras individuais Voltadas para a lousa e para a mesa da professora. Tem biblioteca, laboratório de informática e quadra, cada espaço com seus professores específicos e respeitando o calendário semanal.

A ludicidade faz com que os alunos aprendam melhor, no entanto , para poder cumprir os conteúdos propostos até o fim do ano, estou dando preferência para a alfabetização utilizando atividades variadas como bingo, cruzadinhas, caça-palavras, enigmas, entre outros.

H

Alfabetização/letramento e matemática compõem o currículo escolar, no entanto cada professor desenvolve seu projeto/classe respeitando o interesse de cada turma. No meu caso o projeto é de músicas antigas, para envolver os pais nas pesquisas de casa.

Apesar dos tempos estarem mudados, as salas são compostas por carteiras individuais dispostas em colunas, voltadas para a lousa. Podemos contar com laboratório de informática e biblioteca

A ludicidade faz parte da minha prática pedagógica, de forma constante, utilizo músicas para o aprendizagem tanto de alfabetização quanto de matemática, jogos com regras, diversas pesquisas e questionamentos. Utilizo as atividades lúdicas em diversos momentos, na educação física, na sala de aula e no pátio de acordo com o conteúdo e o projeto.

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I

O conteúdo está disposto no projeto anual da escola e contempla a alfabetização e a matemática além do projeto/classe que é diferenciado para cada professor, pois respeita a necessidade e interesse dos alunos.

A disposição da sala de aula segue o padrão antigo de fileiras e colunas de carteiras individuais voltadas para a lousa. As vezes disponho em círculo. Podemos contar com a quadra, o pátio, além do laboratório de informática e da biblioteca

Utilizo o lúdico como jogos, brincadeiras das mais variadas na sala e nos espaços da escola como quadra, gramado, pátio, além da brinquedoteca. Também aplico charadas, parlendas, músicas, cantigas, textos variados, entre outras.

Fonte: elaborada pelo autor

Ao analisar os conteúdos pré-determinados nos projetos-políticos-

pedagógicos relatados pelos professores dá-se prioridade à alfabetização e

letramento além dos conteúdos simples de matemática. Alguns professores

trabalham com projetos/classe a fim de contextualizar melhor o aprendizado.

Conforme o documento oficial das Diretrizes do Currículo Nacional para

o Ensino Fundamental (2013) deve-se dar maior importância à leitura e aos

conceitos matemáticos básicos para a inserção da criança ao meio que a

cerca. Nesse sentido, o Ensino Fundamental dos primeiros anos enfatizam a

alfabetização, a leitura e a matemática, porém cabe ao professor tornar essa

aprendizagem prazerosa e significativa.

Com relação ao espaço escolar e seu preparo para receber as crianças

de 6 a 9 anos, fica claro no documento oficial que cada unidade escolar deve

tornar o espaço físico da escola atraente e que ofereça mobilidade de

expressão para que o aluno possa movimentar-se livremente, pois essas

crianças necessitam de espaços lúdicos para desenvolverem suas

potencialidades. No entanto, ao analisar as respostas dos professores, nota-se

que a realidade é um pouco diferente, pois não contém os espaços lúdicos e

preparados para receber essa faixa etária nas escolas, conforme descrito no

documento oficial (MEC, 2013). Ao contrário, as escolas apresentam modelos

de sala de aula, com carteiras individuais, sem espaços livres para mobilidade

e ainda somente algumas oferecem laboratório de informática e quadra que só

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pode ser utilizada pelo monitor de informática e professor de educação física

respectivamente.

De acordo com a pesquisa, verificamos que a ludicidade é aplicada, na

maioria das vezes, na sala de aula através de atividades como as atividades 1,

2, 3, 4 e 5 do Anexo III. Dessa forma, percebemos que aquilo que os

professores chamam de lúdico são atividades de fixação. Segundo Silva

(2013), há diferença entre o brincar que é uma atividade própria da criança e a

ludicidade que busca o prazer, o divertimento, mas de forma dirigida, com

objetivo. Assim, utilizar o lúdico na alfabetização, não significa brincar, pois

aprender matemática, por exemplo, não é brincadeira, mas pode ser lúdico

através de um jogo confeccionado pelos alunos (ex.: jogo “Tapão” explicado

pelo prof. B no anexo II), ou contar histórias, entre outras. Portanto, ter

disciplina durante o processo de alfabetização, de acordo com Silva, é natural,

pois é uma fase que exige muito da criança, porém usar estratégias que

possam ser mais lúdicas no ensino da leitura, escrita e matemática pode obter

melhores resultados junto aos alfabetizandos.

4.3.3 Considerações dos entrevistados a respeito das suas concepções. TABELA 3 – Concepção de criança, escola e professor

Professor Concepção de criança Concepção de escola Concepção de professor

A

Ser humano com potencial para absorver tudo ao seu redor

Espaço de convivência, socialização e Aprendizado.

É o mediador do processo ensino/ aprendizagem

B

Um ser com emoções e sentimentos,conhecimen-tos e vivências e em constante transformação. Seu desenvolvimento está diretamente ligado ao convívio do dia a dia, e ao meio em que vive

É o espaço adequado com estrutura favorável para a formação integral dos conhecimentos formais e socioculturais, necessários para a continuidade do aprendizado.

Professor é o mediador entre a autonomia e o conhecimento da criança pois ele media dando direcionamento e facilitando a aquisição de conhecimento da criança

C

Criança é um ser humano em desenvolvimento com direitos e deveres.

Escola é um lugar para adquirir conhecimento cientifico e interagir com seus pares.

Professor é um mediador entre a criança e o conhecimento

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52

D

Criança: um ser humano que embora alguns não aceitam, tem tantos deveres a cumprir, quanto direitos a serem respeitados.

Escola: espaço que acolhe, educa e ensina.

Professor: um colaborador no processo da aprendizagem. Ensina e também aprende com os educandos.

E

Criança e um ser em formação constante, necessita de afeto e apoio sempre.

A escola e lugar para a promoção do desenvolvimento. O ensinar e aprender.

Professor e mediador do conhecimento, amigo, companheiro.

F

Criança é um ser ávido por conhecimento, curioso pelo mundo e pelas coisas que o cercam. Que tentará saciar esta curiosidade interagindo com o objeto de conhecimento e com o outro e nesta interação construíra seu conhecimento.

Escola é um local privilegiado para o aprendizado para além do senso comum, pois lá há intencionalidade e sistematização dos conhecimentos.

Professor é um profissional capacitado para mediar e facilitar estas interações. Utilizando metodologia e didática apropriadas contribui para a construção dos conhecimentos de seus alunos.

G

Entendo a criança é como um ser pronto pra receber tudo, mas que também tem suas preferências. E que a bagagem que traz de casa ou outra instituição educacional, é que os diferencia uns dos outros.

A escola é o espaço adequado para a transformação da criança em seres capazes e suficientes para exercer seus direitos e aprender os conteúdos que irão lhe proporcionar a clara educação.

O professor é o mediador desse processo de transformação do cidadão.

H

Criança é um ser em constante transformação cuja formação é influenciada e vinculada pela cultura do local onde habita, cultura e hábitos familiares e pelo círculo social que faz nas ruas e durante a permanência na escola.

Ambiente de aquisição de linguagens: oral, escrita, lógica e científica, do desenvolvimento da sociabilidade, enriquecimento do universo cultural, aquisição de valores humanos.

Facilitador para a construção da autonomia - o que desperta, interage, ensina a construir rotinas e hábitos, o que trabalha junto com a família para um crescimento e desenvolvimento do educando através de saberes e fazeres.

I

Criança é um ser lindo, amoroso, carinhoso que nos faz refletir. Sincero, inocente, mas que reproduz tudo o que vê em casa e é estragado pelos pais.

A escola e um lugar que reforça a educação que a criança recebe em casa, além do ensino básico e vivência social.

Professor e pessoa que ama ensinar! Pois não basta ser só pedagógico, tem que ter o 'dom' para fazer com que uma matéria aparentemente difícil, seja transformada em uma ação cheia de encanto e prazer.

Fonte: elaborada pelo autor

Mello (2007), afirma que a concepção que os educadores têm em

relação à criança influencia diretamente no desenvolvimento infantil, pois é a

partir da concepção que o professor tem de criança que é planejada as

atividades a serem propostas para a classe. Conforme Mello (2007),

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aperfeiçoar os métodos educativos a fim de garantir o desenvolvimento e a

aprendizagem da criança é mais importante que o seu ingresso escolar aos

seis anos sem preparo, por parte da escola, para recebê-los.

Segundo o Enfoque Histórico-Cultural, o processo de desenvolvimento é

impulsionado por fatores biológicos e culturais, desempenhando papel

importante na construção do conhecimento da criança.

Vygotsky (2006) afirma que devemos entender a relação entre

aprendizagem e desenvolvimento no geral para depois, averiguar as

características dessa inter-relação, no ambiente escolar. É claro que esta

aprendizagem deve estar de acordo com o nível de desenvolvimento da

criança.

Nesse sentido há que se colocar que segundo Vygotsky (1984), há dois

níveis de desenvolvimento. Um determinado como desenvolvimento real ou

efetivo, ou seja aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha sem ajuda de

ninguém. Outro nível, é o de desenvolvimento potencial, tarefas que a criança

não é capaz de realizar sozinha, mas realiza com o auxílio de adultos ou

crianças mais maduras , com a atividade da imitação. Assim,

A diferença substancial no caso da criança é que esta pode imitar um grande número de ações – senão um número ilimitado – que supera os limites da sua capacidade atual. Com o auxílio da imitação na atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode fazer muito mais do que com a sua capacidade de compreensão de modo independente. (VYGOTSKY,1989, p.112).

Portanto, a interação de pessoas mais experientes na realização das

tarefas é o que faz a mediação cultural ou interação da criança com o mundo

externo. Assim, o ambiente mediado pelo educador estabelece uma relação

ativa entre o ambiente e a criança, isto é: “O que a criança pode fazer hoje com

auxílio dos adultos poderá fazê-lo amanhã por si só” (VYGOTSKY, 1989, p.

113).

Dessa forma, não é possível encarar a mediação linearmente, como

uma simples interação entre o indivíduo e o educador. A prática pedagógica

tradicional, centrada no professor, não garante que o conhecimento pode ser

socialmente facilitado.

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Assim, o

[...] ensino representa, então, o meio através do qual desenvolvimento avança; em outras palavras, os conteúdos socialmente elaborados do conhecimento humano e as estratégias cognitivas necessárias para sua internalização são evocados nos aprendizes segundo seus níveis reais de desenvolvimento. Vygotsky critica a intervenção educacional que se arrasta atrás dos processos psicológicos desenvolvidos ao invés de focalizar as capacidades e funções emergentes. (VYGOTSKY ,1991, p.148).

Diante dessa afirmação, o papel e a importância da escola no processo

educativo, é de suma importância pois é nesse espaço que a criança irá

desenvolver-se de forma significativa ativando sua criatividade ou de forma

tradicional reprimindo suas vontades e esplendores. Dessa forma, não

podemos perder de vista os propósitos educativos tanto da escola quanto do

professor e, principalmente, quem é o indivíduo que se educa e aquilo que,

mediado pelo professor, dentro do espaço escolar, ele possa vir a ser.

Segundo Vygotsky (1989), a aprendizagem pode tornar-se mais

produtiva desde que se respeite o período adequado para cada tipo de

aprendizagem. Não é possível ensinar qualquer coisa a qualquer idade, visto

que são necessárias propriedades, funções e espaços imprescindíveis para o

aprendizado em cada faixa etária.

A alfabetização tornou-se o objetivo central das atividades educacionais

nos primeiros anos do Ensino Fundamental. O ingresso das crianças aos seis

anos intensificou esse processo. A maioria das escolas, atualmente, tem

ensinado a escrita como um ato mecânico e artificial, impossibilitando a

expressão da criatividade infantil e o entendimento da alfabetização como

instrumento cultural, que tem sua função social. É indispensável considerar o

brincar e o lúdico, no contexto educacional considerando o tempo da infância

que a criança se encontra nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

“[...] Eu diria que ela (escola) é muito chata. A escola tem uma coisa

muito interessante que é a possibilidade do encontro. Pensar na escola

como local de encontro. Miguel Arroio fala que a escola é o encontro

pedagógico entre o adulto e a criança. Um espaço de dialogo, de

respeito..., mas, infelizmente na maioria das escolas o que a gente vê é

o autoritarismo, completamente anti dialógica e que silencia a criança.

A criança não tem voz dentro do espaço da escola. Então eu penso

que ela poderia ser um espaço muito interessante de instigar a

curiosidade das crianças e a escola tem toda essa possibilidade de

instigar a criança a conhecer as coisas, mas ela faz isso de uma forma

tão chata. Está tudo dado a priori, você tem que responder só aquilo

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que a professora quer, na hora que a professora quer, não tem

dialogo.” (SILVA, 2013) “grifo meu”

Tendo em vista as necessidades e interesses da criança dessa faixa

etária, implica também, na adequação da formação inicial dos educadores e na

reorganização de sua prática pedagógica. A articulação entre teoria e a prática

pedagógica é necessária para que o professor possa compreender e

dimensionar melhor seu próprio trabalho.

Analisando as concepções sobre criança, escola e professor, aqui

descritas pelos docentes, percebe-se alguns equívocos que consequentemente

refletem-se na prática pedagógica e principalmente no aprendizado do aluno.

Quando o professor acredita que a criança é uma esponja que absorve tudo o

que vê, ou um ser inocente e doce que imita o adulto e que é estragado pelos

pais, ou que simplesmente é um indivíduo que tem direitos e deveres, tende a

desenvolver um trabalho tradicional em que os alunos ouvem aquilo que é

explanado pelo professor ou praticam a ludicidade que é dirigida por ele. Ainda

aplica atividades simples de fixação e as crianças devem estar sempre em

silêncio.

Apesar da maioria dos entrevistados encararem a escola como um

espaço de aquisição de conhecimento e de transformação além do convívio

social, a aplicabilidade destes conceitos fica em segundo plano, pois segundo

os professores, a utilização do espaço escolar de forma lúdica muitas vezes

esbarra na política gestacional impedindo tal uso.

Dessa forma, a concepção sobre o professor, fica direcionada a um

idealismo fictício, pois a prática mostra uma escola, um professor e um aluno

tradicional e conteudista com pouquíssimos momentos lúdicos e divertidos e

com muitas atividades de fixação para pintar e escrever.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reformas educacionais brasileiras vêm reconhecendo a infância e

proporcionando cada vez mais atender as necessidades e interesses das

crianças. A contextualização da concepção de criança em cada momento

histórico é fundamental para a compreensão dos cuidados e atenção voltados

aos pequenos. Entretanto, esse cenário foi construído após progressivas

contribuições trazidas por conquistas sociais, tais como a Constituição de 1988,

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e o Estatuto da Criança e

do Adolescente.

A mais recente política pública para a infância escolar é a ampliação do

Ensino Fundamental para nove anos, a partir da implantação da lei (nº

11.274/2006), que torna obrigatório o ingresso de crianças de seis anos no

Ensino Fundamental. Essas mudanças implicam numa readequação na

estrutura física das escolas, na organização e planejamento da prática

pedagógica, na formação dos educadores.

Entretanto, tais modificações quase não aconteceram e também não

garantiram uma educação de qualidade que priorizasse o desenvolvimento

infantil, ao invés disso o que houve foi uma simples transposição dos

conteúdos tradicionais da primeira série para as crianças de seis anos, hoje no

primeiro ano do Ensino Fundamental.

Os próprios documentos da lei (Ensino Fundamental de Nove Anos -

Orientações Gerais, 1º Relatório e 3º Relatório) reforçam a importância da

alfabetização nessa faixa etária.

Minha dissertação vem, através de amostragem, demonstrar que a

ruptura do lúdico na transição da educação infantil para o Ensino Fundamental

acontece devido às diversas muralhas que o professor tem que derrubar a

começar por si próprio mudando suas concepções.

Considero fundamentais as observações concedidas em entrevista pela

especialista em educação infantil Marta R. P. da Silva (2013), a respeito de

como mudar a atual situação dos primeiros anos do Ensino Fundamental:

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“Penso que se a gente não mexer com as concepções de criança, de

educação e repensar o currículo, não conseguiremos mexer na

estrutura. A equipe docente deve acreditar naquilo novo e fazer. Para

resolver, penso que seja através da formação continuada. Repensar

currículo, e alinhar com as formas de avaliação, interna e externa da

escola (saresp, provinha Brasil, enen...)” (SILVA, 2013)

Ainda, há que se falar dos espaços físicos destinados às atividades

lúdicas, que não é utilizado e muito menos preparado para receber essa faixa

etária de 6 a 9 anos. Não por falta de especificação na Lei Nacional, mas por

falta de estrutura física das unidades escolares.

Mais uma vez cabe aqui referenciar Marta R.P. da Silva (2013) no que

concerne a ludicidade:

“[..].a escola de ensino fundamental como ela está organizada hoje, ela

não respeita as especificidades das crianças. Não respeita o espaço da

criança de brincar. A criança chega da educação infantil e não tem

mais parque, não tem mais brincadeira..., não respeitam suas

especificidades, não respeitam as múltiplas linguagens, artes por

exemplo. Às vezes tem professores que fazem coisas interessantes e

fazem acontecer. Mas infelizmente, no geral, o ensino fundamental não

contempla e não é significativo.” (SILVA, 2013)

Assim sendo, as atividades lúdicas que vimos nas salas de aula não

passam de atividades de fixação maçantes e pouco significativas. O lúdico

continua em segundo plano ficando por conta de atividades extra classe/escola

como excursões, festas e atividades culturais (ir ao teatro, por exemplo).

Portanto, apesar de a maioria dos professores afirmarem que a

ludicidade é importantíssima para o desenvolvimento desta faixa etária, ainda

esbarram em uma prática tradicional e ortodoxa que parte da gestão e inclui os

docentes e funcionários, além de espaços físicos nada estimuladores para as

crianças.

Assim, considerando as necessidades e interesses da criança, destaco

que assegurar a antecipação da escolaridade implica, também, na adequação

da formação inicial dos educadores e na reorganização de sua futura prática

pedagógica. A articulação entre conhecimento, teoria e a prática pedagógica é

necessária para que o professor possa dimensionar melhor seu próprio

trabalho.

Quanto ao universo lúdico, os estudos realizados mostraram que são de

suma importância para o desenvolvimento da criança, pois é no ato do brincar

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que a criança entra em contato com a realidade externa, estabelecendo

vínculos e interagindo com o mundo além da família.

Cabe ressaltar que a ludicidade na prática pedagógica, conforme

algumas entrevistas aqui relatadas, depende muito do conhecimento e da

criatividade do educador para transpor os obstáculos. Para tanto, conforme

material aqui coletado, os professores que na sua infância tiveram a

oportunidade de brincar ou que ludicamente participaram de atividades

dirigidas, têm maior facilidade de aplicar o lúdico nas suas práticas

pedagógicas, diferentemente daqueles que não tiveram. Estes necessitam

aprender primeiro, em cursos específicos ou mesmo com os alunos, para

depois tentar aplicar atividades lúdicas na sua prática cotidiana. Espera-se que

se transforme em um professor “brincante”.

Como realizar tal tarefa? O que pode ser pensado quanto a formação

inicial e a continuada do professor? Como o professor pode se re-transformar

em um ser brincante? Como o professor pode também “transgredir” na pratica

pedagógica? Como as crianças pensariam esse novo professor?

Retomando Marta R.P. da Silva (2013):

“[...] A ludicidade esta presente porque as crianças transgridem. Por

mais que o professor cerceie, controle, elas dão um jeito de fugir. As

crianças não são serem passivos. Pensar que propositadamente cuja

dimensão da ludicidade esteja muito presente, eu tenho duvida, acho

que isso não é uma preocupação do ensino fundamental. A

preocupação é técnica, de se ensinar um determinado conteúdo, sem

muito discutir com as crianças, investigar com elas, é muito

conteudista. Na educação infantil ainda existe a preocupação, até pela

faixa etária, de proporcionar a ludicidade.”

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Entrevista:

SILVA, Marta R. P. da. Entrevista com a Profª. Drª. Marta Regina Paulo da Silva – Umesp realizada em 16/12/2013 na cidade de São Bernardo do Campo especialmente para a presente dissertação. São Bernardo do Campo – São Paulo, 2013. Transcrita no Anexo I desta obra.

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ANEXOS

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ANEXO I - Entrevista com a Profª. Drª. Marta Regina Paulo da Silva –

Umesp realizada em 16/12/2013 na cidade de São Bernardo do Campo -

SP especialmente para a presente dissertação.

Na sua infância como você via a situação do brincar

“Eu sempre morei em casa, sempre casa com quintal e muitos irmãos, somos

em 14 irmãos. O que não faltava era irmão, embora as faixas etárias eram bem

diferentes. Meus pais eram de família humilde e não tínhamos tantos

brinquedos, muito menos brinquedos industrializados, mas a gente improvisava

com materiais que encontrávamos. Morava num lugar, que na época era um

grande espaço aberto que hoje é o parque Chico Mendes em São Caetano do

sul que a gente chamava de barreirão e a gente ia pra lá, ficava jogando

mamona um no outro corria, brincava com argila... eu tive esse privilegio na

infância de ter quintal, de ter uma rua que a gente podia brincar e esses

terrenos que são encantadores para as crianças.”

Você brincava do que? Tinha toda essa coisa do jogar mamona, correr... mas

tinha alguma coisa que vocês tinham que brincar?

“Tinha a coisa de brincar com as vizinhas e tinha que brincar de casinha

porque era coisa de menina. Essa questão do gênero é uma questão que pega

na infância e para minha família isso era forte, então brincar de casinha era ...,

sobretudo em casa, era brincar de casinha, mas eu lembro de cenas de eu

brincando com carrinho ao redor do jardim. Tem uma coisa que me marcou

muito que meus irmãos jogavam taco na rua e eu não podia jogar taco porque

eu era menina e eu desejava jogar taco! Eu ficava sentada no muro da minha

casa olhando meus irmãos jogarem taco, morrendo de vontade de jogar taco,

mas, não podia jogar taco. Depois de grande não adiantava jogar taco, porque

era lá que eu queria jogar taco. Tinha essa coisa de brincar muito de casinha,

era o que mais se esperava, mas eu transgredia um pouco e as vezes pegava

os carrinhos e quando a gente is pra esses terrenos a gente estava livre do

adulto, o adulto não estava ali perto ai você corre, menino, menina, jogar

mamona, se esconder, enfim, de outras brincadeiras que não tendo o olhar do

adulto você fica mais livre.”

Essas brincadeiras todas eram criadas pelas próprias crianças?

“Sim, pelas próprias crianças. A gente improvisava... e não me lembro de

momentos de não deixar brincar ... era muito tranquilo. Essa coisa mais

transgressora da menina brincando era mais nesses espaços longe do olhar

dos adultos. Perto do adulto era casinha, boneca e esses eram os brinquedos

que a família dava pois eram os brinquedos ditos de menina.”

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Qual sua idade?

“47 anos’

Você se formou em que curso?

“Sou formada em psicologia e pedagogia, fiz mestrado em educação na

Metodista e o doutorado na Unicamp. A pedagogia eu terminei ano passado

(2012) eu fiz junto com o doutorado.”

Com o foco na pedagogia, você teve disciplina que abordava ludicidade,

brincadeira, jogos...?

“Teve um tema sobre culturas infantis que discutia sobre as concepções e

acabava discutindo sobre as brincadeiras e um tema sobre as brincadeiras

mesmo – brincadeiras e jogos na educação infantil, alguma coisa por aí.”

Teórico? Pratico?

“Ah.. teórico”.

Você já deu aula para criança?

“Não, só no ensino superior”

Qual sua concepção de criança? Como você imagina ou como você vê a

concepção de criança? O que seria criança?

“Pra mim, a criança é um ser sócio histórico, quer dizer, ela constrói a própria

historia, ela produz cultura, ela não só reproduz a cultura que nós adultos

disponibilizamos pra ela, mas também produzem cultura. Criança é um ser

ativo, inventivo, participativo, curioso... que também faz birra, que também fica

brava, que por vezes é traquina..., enfim, é um ser humano com todas essas

qualidades e a gente adulto, muitas vezes não considera. A criança tem uma

razão muito própria, uma lógica muito própria, um jeito próprio e que nós

adultos não conseguimos acompanhar a lógica deles.”

Essa “birra” você considera como uma linguagem da criança de lutar pelo que

ela quer?

“As crianças são seres humanos, pois ou você vê as crianças como a ausência

total, ser imaturo, dependente do adulto ou você vai por outro extremo de achar

que as crianças são lindas e maravilhosas. Para mim as crianças são o que

são. Claro que em uma situação que você priva ela de algo que ela quer, ela

vai reagir a isso, como nós adultos, mas vai reagir com as armas que ela tem

que são as suas linguagens. A birra, a traquinagem é um jeito de ela defender

o que quer.”

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Qual a sua concepção de escola?

“Como eu gostaria ou como ela é? Como ela é então. Eu diria que ela é muito

chata. A escola tem uma coisa muito interessante que é a possibilidade do

encontro. Pensar na escola como local de encontro. Miguel Arroio fala que a

escola é o encontro pedagógico entre o adulto e a criança. Um espaço de

dialogo, de respeito..., mas, infelizmente na maioria das escolas o que a gente

vê é o autoritarismo, completamente anti dialógica e que silencia a criança. A

criança não tem voz dentro do espaço da escola. Então eu penso que ela

poderia ser um espaço muito interessante de instigar a curiosidade das

crianças e a escola tem toda essa possibilidade de instigar a criança a

conhecer as coisas, mas ela faz isso de uma forma tão chata. Está tudo dado a

priori, você tem que responder só aquilo que a professora quer, na hora que a

professora quer, não tem dialogo.”

Qual sua concepção de professor?

“Eu gosto de um conceito que Paulo Freire criou que é o “DoDiscente” que é

você pensar que o professor é esse ser que aprende também enquanto ensina.

Que o professor tem conteúdo, tem algo a dialogar com as crianças e que pode

ser essa pessoa que vai, de fato, instigar a curiosidade das crianças. Eu como

professor ensino algo e aprendo algo a partir da lógica delas, as crianças. Deve

ser dialógico e ter autoridade, mas pensar que ele não é e não pode ser

autoritário.”

Você, em suas aulas na graduação, acredita e sugere que seus alunos, futuros

professores utilizem o brincar e a ludicidade nas suas aulas?

“Eu faço uma distinção entre o brincar e a ludicidade. A ludicidade está mais

em uma dimensão humana que busca o prazer, o divertimento e pensar que o

brincar é uma atividade própria, humana. Eu distingo porque toda brincadeira

tem que ser lúdica, mas nem toda atividade lúdica é brincadeira. O professor

montar um mercado com produtos e simular seu funcionamento de compra e

venda para ensinar matemática não é brincadeira, mas pode ser lúdica. A

brincadeira tem iniciativa da própria criança, sem objetivo pedagógico em si,

uma intencionalidade pedagógica. Na alfabetização, que é um processo

exigente, deve ter disciplina, usar estratégias que possam ser mais lúdicas é

algo que eu defendo como contar histórias, que é uma atividade lúdica.”

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Você acredita que a educação formal nos primeiros anos do Ensino

Fundamental contempla verdadeiramente a infância e a aprendizagem de

forma significativa?

“Pergunta difícil. Eu penso que a escola de ensino fundamental como ela está

organizada hoje, ela não respeita as especificidades das crianças. Não respeita

o espaço da criança de brincar. A criança chega da educação infantil e não tem

mais parque, não tem mais brincadeira..., não respeitam suas especificidades,

não respeitam as múltiplas linguagens, artes por exemplo. Às vezes tem

professores que fazem coisas interessantes e fazem acontecer. Mas

infelizmente, no geral, o ensino fundamental não contempla e não é

significativo.”

Quais intervenções você faria na educação nacional para melhorar a

aprendizagem das crianças da faixa etária de 6 a 9 anos?

“Penso que se a gente não mexer com as concepções de criança, de educação

e repensar o currículo, não conseguiremos mexer na estrutura. A equipe

docente deve acreditar naquilo novo e fazer. Para resolver, penso que seja

através da formação continuada. Repensar currículo, e alinhar com as formas

de avaliação, interna e externa da escola (saresp, provinha Brasil, enen...)”

Atualmente, você vê crianças brincando das brincadeiras que você brincou na

sua infância?

“Algumas brincadeiras se mantém, pega-pega, esconde-esconde ainda

existem, mas muitas se perdem.”

Em seu projeto, você ensina brincadeiras mais antigas, folclóricas, livres, de

rua? Se sim, qual o objetivo disso?

“Um dos objetivos do projeto é preservar o patrimônio. Algumas merecem ser

guardadas, alem disso, é interessante ampliar o repertorio de brincadeiras das

crianças, elas tem direito a conhecer essas brincadeiras. Não temos

perspectivas desenvolvimentista, a brincadeira desenvolve por consequência.

E auxiliar os alunos de graduação a adquirir e ampliar seu repertorio. O espaço

de brincadeira é rico em criação, as crianças produzem muito enquanto

brincam. A cada passar do tempo, menos brincadeiras são feitas com as

crianças, mesmo na educação infantil, são mais atividades em papel,

sentados..., cada vez o tempo da criança brincar é roubado.”

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Você acredita que a brincadeira pode fazer a criança ter um aprendizado

significativo? O que a criança pode aprender durante uma brincadeira?

“Ela vai aprender como brincar primeiramente. Ela vai aprender varias coisas,

terão que negociar, terão que tomar decisões, criar ou obedecer regras,

contato com valores diversos como gênero, questões étnico-raciais vem para a

brincadeira e elas vão pensar sobre isso tudo e agir. Lidar e conviver com o

outro, lidar com objetos e suas características, os papeis sociais e relação com

o cotidiano e a troca de informações em relação ao conhecimento e sua

bagagem cultural. E a se divertir, o que é muito importante.”

O lúdico na escola: existe ou não existe?

“Primeiro vamos separar o lúdico da brincadeira. A ludicidade esta presente

porque as crianças transgridem. Por mais que o professor cerceie, controle,

elas dão um jeito de fugir. As crianças não são serem passivos. Pensar que

propositadamente cuja dimensão da ludicidade esteja muito presente, eu tenho

duvida, acho que isso não é uma preocupação do ensino fundamental. A

preocupação é técnica, de se ensinar um determinado conteúdo, sem muito

discutir com as crianças, investigar com elas, é muito conteudista. Na

educação infantil ainda existe a preocupação, até pela faixa etária, de

proporcionar a ludicidade.”

Brincar para aprender, aprender brincando ou aprender sem brincar?

“Primeiro que as crianças quando estão brincando, elas aprendem. Você pode

propor algumas atividades e brincadeiras que as crianças vão aprender.

Aprender sem brincar também é possível, mas talvez a criança vá gostar mais

se for de forma prazerosa, lúdica. Acho que quando brincamos aprendemos, é

possível brincar para aprender e é possível aprender sem brincar. O que seria

bacana é que em todas elas a ludicidade estivesse presente.”

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ANEXO II – Entrevistas com os professores Professor A

Minha infância foi muito boa, sempre morei em casas. Primeiro

juntamente com meus avos e tios paternos e depois só com meus pais e irmão

que é quatro anos mais novo. Brincávamos bastante na rua. Queimada, pega-

pega, esconde-esconde, clubinho e também de boneca. Eu gostava muito de

fazer roupinhas para minhas bonecas. Sempre brinquei com vizinhos e amigos

da escola. Acredito que um pouco do que sou hoje é reflexo dessas

brincadeiras e integração com outras crianças.

Tenho 38 anos, fiz pedagogia em 2007, pois já tenho licenciatura em

matemática, tinha uma disciplina sobre ludicidade, mas era só teoria.

Já leciono há 19 anos. Sempre trabalhei em escolas do estado e nesse

ano ingressei na prefeitura de Santo Andre, sou estatutária.

Eu vejo a criança como um ser humano com potencial para absorver

tudo ao seu redor, são as famosas ‘esponjinhas’.

A escola é um espaço de convivência, socialização e aprendizado.

O professor é o mediador do processo de ensino/aprendizagem.

Também é amigo, pai, mãe e tudo mais que o seu aluno precisar.

Eu já lecionei de 5ª a 8ª serie e ensino médio. Atualmente leciono para

crianças de 4 anos e EJA de ensino fundamental II.

Para alfabetizar, uso letras móveis e brincadeiras que estimulem a

coordenação motora, bem como o raciocínio lógico-matemático, através de

sequencias numéricas e atividades com números.

Na sala, tenho mesas circulares com 4 cadeiras cada uma. Temos uma

sala multiuso que também funciona como biblioteca.

Acredito que a aprendizagem deva acontecer de forma mais natural do

que formal para contemplar a ludicidade da infância.

Eu introduziria na educação atividades de musicalização, atividades

físicas e outras extracurriculares de acordo com o interesse das crianças.

Ainda vejo brincarem de brincadeiras antigas, mas não com a mesma

frequência. Hoje o apelo maior são os brinquedos e jogos eletrônicos.

Eu já ensinei brincadeiras. Brincamos de batata quente, dança da

cadeira, o que estimula a socialização, a coordenação motora, à atenção, o

espírito da participação sem a necessidade de ganhar sempre.

Com certeza é brincando que ela aprende importantes lições para a vida

toda.

Acredito que os questionamentos levam a reflexão do aluno.

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Professor B Sou natural da cidade de Santo André, mas tive minha infância na

cidade de Mauá, em casa térrea com quintal grande e cheio de árvores frutíferas. Na vizinhança, muitos terrenos vazios e espaços para brincar, em frente da minha casa havia uma rua sem saída com um grande campo de futebol. Estudei inicialmente em colégio público, mas administrado por freiras, todas as crianças da vila estudavam na mesma escola, nos conhecíamos e brincávamos também fora do período escolar. Tendo um irmão e uma irmã, mais novos com idades, respectivamente um ano menos cada um, nossas brincadeiras sempre contemplavam a todos. Posso dizer que conheci e brinquei de quase tudo, por exemplo; mão na mula, beijo, abraço e aperto de mão, morto-vivo, balança, fubeca, bicicleta, elástico, patins, boneca e casinha também, mas essas normalmente em casa e com minha irmã, mas passamos muito da nossa infância na rua e no campo onde jogava bola, queimada, futebol, vôlei, basquete. A presença dos nossos pais, também fez uma enorme diferença no nosso brincar. Meu pai nos levava muito para soltar pipa, antes nos ajudava a fazê-las e de vários modelos (pipa comum, maranhão, peixinho, arraia, com rabo de corrente ou rabiola, com ou sem barbatanas), frequentávamos parques de praças e também os itinerantes com brinquedos elétricos, sempre pudemos andar a cavalo, nadar em praias, rios, piscinas, pescar, caçar rã. Ele sempre organizava as brincadeiras quando tinha festa na vila, com as crianças da redondeza em forma de gincanas, o mestre mandou, quente ou frio, brincadeira da cadeira, corrida do saco, carrinho de sorvete, entre tantas outras. Já minha mãe era mais de brincar com palavras, adivinhações, continue a frase, charadas, jogo de rimas, que música tem “palavra sugerida” o que é, o que é, mas também cantava e brincava de roda, todas as cantigas de ciranda e suas formas de dançar, lencinho de mão, passa anel, passa, passa três vezes e ainda era constante jogar petecas e pular corda. Além de tantas brincadeiras ainda ficou marcada a forte influência musical que ambos nos proporcionaram, meu pai era músico, participava de bandas marciais e tinha uma pequena orquestra de bailes. Minha mãe uma grande admiradora de todo tipo de canções. Essas brincadeiras todas sempre com meus irmãos, frequentemente com as crianças da vila, poucas vezes com primos em reuniões familiares. Tenho certeza que muito da minha formação foi influenciada por essa gama de experiências que vivi na infância, todo o respeito em seguir regras, esperar a vez com paciência sem brigar ou reclamar, entender as limitações de cada situação e diferenciar pequenos detalhes entre a capacidade de cada um, atenção, concentração, não ter medo dos desafios. Todas essas coisas eu trouxe comigo desde a tenra idade.

Tenho 49 anos completos, me formei primeiramente no magistério,

antigo colegial normal. Uma disciplina específica que marcou para o meu fazer pedagógico foi sobre jogos, brinquedos e brincadeiras, aplicada então, de forma sistematizada e muito bem explorada, pois mesmo tendo me especializado depois, ainda trabalho baseada naqueles conteúdos tão significativos. Como já mencionei, me graduei em Pedagogia, formação que me proporcionou o aprendizado teórico de tudo o que eu já utilizava na pratica. Posteriormente concluí Pós-graduação em Psicopedagogia, fase em que agreguei conhecimento específico sobre o desenvolvimento infantil que é

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adquirido através do brincar, compreendendo que a ludicidade é natural do ser humano e muito mais intensa na infância.

Sou professora desde o ano de 1982, hoje em regime estatutário. Ingressei na educação infantil, e a maior parte desses anos em escolas municipais de Mauá e Santo André. Depois de me formar em pedagogia, lecionei em todas as séries do ensino fundamental e por esse motivo, entendi que cada faixa etária apresenta suas peculiaridades e que mesmo numa mesma faixa, as turmas se diferenciam, principalmente conforme o lugar onde vivem, mas também em situações comportamentais, e nesse sentido, as práticas de ensino que apresentam melhores resultados e que se mostram mais significativas, provam que a educação não se dá por completo quando não é construída da forma mais adequada. E nessa perspectiva da prática pedagógica, eu acredito que aplicar o lúdico é o método mais eficiente no processo de aprendizagem para os primeiros anos do Ensino Fundamental. Na Educação Infantil o lúdico já faz parte do ensino aprendizagem.

Criança é um ser com emoções e sentimentos, conhecimentos e vivencias e em constante transformação. Seu desenvolvimento está diretamente ligado ao convívio do dia a dia, meio em que vive, condições socioeconômicas e nas interferências que recebe de outras crianças, adolescentes e adultos. Possui suas convicções e principalmente, tem senso crítico de acordo com as fases de seu desenvolvimento, mas devido à imaturidade de argumentação, é frequentemente ignorada pelo adulto que considera saber o que é importante e ponto.

A escola é o espaço adequado com estrutura favorável para a formação integral dos conhecimentos formais e socioculturais, necessários para a continuidade do aprendizado. Aqui em Santo André, a unidade em que estou lotada não propicia a ludicidade, pois tenho muita dificuldade em aplicar atividades lúdicas por falta de espaço, falta de entendimento com a professora de educação física, com a gestão atual, e tantos outros motivos.

Professor é o mediador entre a autonomia e o conhecimento da criança pois ele media dando direcionamento e facilitando a aquisição de conhecimento da criança através de questionamentos para que a criança tenha curiosidade em ampliar seus saberes e coragem de superar suas limitações conquistando cada vez mais autonomia da sua aprendizagem.

Trabalhei em todos os anos do ensino fundamental e meus alunos têm em geral de 6 a 9 anos. Utilizo, dependendo do ano que estou lotada, atividades de fixação tiradas do todo e trabalhadas multidisciplinarmente, porque o fato de sermos polivalentes nos primeiros anos, nos facilita desenvolver projetos que envolvem todas as áreas do conhecimento isso inclui também brincadeiras, jogos com regras, construção de jogos com o tema da vez, tudo de forma lúdica e, por ser ensino formal busco dirigir as brincadeiras direcionando para aquilo que quero desenvolver no momento por exemplo, a agilidade e a atenção no jogo Tapão:

Jogo de 10 cartas confeccionado pelos alunos que contém desenhos representando número e numerais do 1 ao 10 e que ao juntar as cartas de 4 crianças formam um jogo de 40 cartas contendo 4 cartas de cada numeral – ao jogar embaralham as cartas, cada um pega dez cartas sem ver e com os desenhos voltados para a palma de uma das mãos vai tirando uma a uma e um aluno por vez contando sempre do 1 ao dez jogando a carta na mesa, cada vez que coincide o numeral falado com o que é virado na hora todos têm que bater a mão que está vazia um por cima do

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outro e a mão daquele que ficar por cima de todos, leva todas as cartas da mesa. Vence quem eliminar todas as cartas da mão primeiro.

Esse jogo também é usado para relacionar número e numeral, a necessidade de trabalhar em equipe no sentido de respeitar as regras, esperar a vez, o saber ganhar ou perder, manter o equilíbrio durante o jogo para não bater forte na mão do colega, entre outros objetivos dependendo daquilo que desejo observar ou desenvolver.

Na escola as salas de aula são exatamente como no tempo que eu estudei. As carteiras de frente para a lousa, enfileiradas, são carteiras com cadeiras individuais e para mais de 30 crianças por sala, a quantidade varia por turma, no meu caso 32 carteiras, janelas na lateral, armários fechados e a mesa do professor à frente, uma típica sala de aula tradicional. No entanto eu procuro adaptar minhas aulas de acordo com o que está em pauta no projeto – não é por acaso que a minha turma é considerada a mais bagunceira da unidade escolar – os espaços físicos como quadra e pátio são específicos para aula de educação física e merenda respectivamente, também tem a informática e a biblioteca que possuem horário específico no calendário semanal.Portanto, como você vê, é quase impossível contemplar a atividade lúdica de forma plena nas unidades escolares, pelo menos aqui em Santo André. Eu tenho que comprar briga com as colegas e com a gestão pelo fato de eu não seguir roteiros inflexíveis, por meus alunos fazerem muito barulho durante a aula, entre outras questões que não cabe agora. Eu sugeriria que houvesse um entendimento nacional em todos os sentidos para ficar claro que ser criança implica em fazer barulho, rir, chorar, gritar, correr, falar a vontade, em fim que todos os adultos aprendessem que os sentimentos e expressões da criança são maiores (pois ainda não sabem controla-los) e consequentemente são exagerados e só poderão desenvolver-se por completo a partir do momento que eles possam expressar-se do jeito deles até aprenderem a controlar suas emoções e é só brincando, dividindo e se relacionando que eles aprendem isso. Hoje em dia não se vê as crianças brincando nem no recreio, que em meu tempo era o momento de relaxamento. A desculpa, pelo menos nesta unidade escolar é que eles não podem brincar para não correr o risco de se machucar – realmente é de se pensar: quantas crianças a gente vê hoje em dia com pé ou perna ou braço quebrado e engessado? Pois é, quase não se vê e quando vê, a criança se machucou no período que estava em casa. No meu tempo era natural a ambulância vir buscar criança de pé ou braço quebrado durante o recreio – Sabe, acho que na ânsia de proteger a criança em todos os sentidos, podamos todas suas expressões naturais da idade e isso, com certeza vai influenciar na vida futura delas.

Em geral não brincam das mesmas brincadeiras, pois hoje as crianças já estão mais voltadas á tecnologia, muito mais para os jogos e games eletrônicos muito mais ligados a TV, programas e produtos de consumo, vasta oferta de brinquedos. Além disso, os tempos atuais não permitem que as crianças brinquem na rua, a maioria mora em apartamentos pequenos com pouco espaço físico, não há praças e quando há, quem leva?. As famílias trabalham mais que antes, as mães necessitam deixar seus filhos em escolas, creches ou aos cuidados de outrem. Eu procuro ensinar as brincadeiras da minha infância mas não apenas para que as crianças se divirtam ou apenas para passar o tempo, sempre tenho o objetivo de desenvolver as habilidades como lateralidade, percepção, agilidade, socialização, além de respeito como passar

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a vez e esperar a vez, solucionar problemas, incentivar que questionem e mudem regras caso seja melhor, com o intuito de transformar brincadeiras de exclusão em brincadeiras que incluam por exemplo a brincadeira da cadeira, onde normalmente se tira uma cadeira por vez e exclui-se quem não conseguiu sentar, mudamos para manter inclusos todos os alunos, retira-se a cadeira, mas todos permanecem na brincadeira e eles vão sentando uns sobre os outros até restar apenas uma cadeira e todos sentam-se nela e é claro que caem no chão rindo muito, não há perdedor. Outro exemplo de jogo que eu aplico é a queimada. Na regra tradicional quem é queimado é excluído, na nova regra, cada campo é dividido em frente e fundo. Iniciam todos nos campos de fundo de cada lado, ao ser queimado, o aluno passa pra frente e defende os outros pra que não sejam queimados também, estes ao invés de saírem do jogo, passam a ajudar os companheiros ou atrapalhar os adversários, continuando na brincadeira até o final que pode ser definido por tempo ou quantidade de participantes restante de um dos lados. Regras a serem definidas por eles depois de questionados em várias possibilidades. Outra atividade relevante é Incentivá-los a pensar numa letra de música e adequá-la, tomando como no exemplo, a canção infantil “atirei o pau no gato” que passou a ser “não atirei o pau no gato”. Pensar e repensar nas atitudes que as letras incitam e quais deveriam incentivar. Os objetivos sempre podem ser concretos ou abstratos, mas aproveitados significativamente para um aprendizado global e relevante e que elucide os direitos e deveres do aluno como cidadão.

Uma situação atual que dificulta a aplicação dessas atividades é que na unidade escolar que trabalho, todos os espaços como pátio, quadra, são utilizados com tempo restrito, as crianças não desfrutam dos intervalos com liberdade, sempre acompanhadas e de passagem pelas áreas onde seria possível desenvolver essas atividades de jogos e brincadeiras que citei como inclusivas, além disso, a Educação física é aplicada por profissional da área, sem nossa interferência e percebo que a intenção é contemplar apenas a atividade corporal. Se não fosse assim poderia desenvolver as brincadeiras para que, se divertindo sem discriminações, eles pudessem se aproximar dos interesses comuns e do relacionamento interpessoal mais estreito, que os incentive a trabalhar em conjunto na construção ampliação de seus conhecimentos.

Como professora inclusa em um sistema de ensino, procuro mesclar minha prática pedagógica ora usando a ludicidade – jogos, músicas, brincadeiras, confecção de brinquedos, parlendas, trava-línguas, charadas, entre outros - questionando a aprendizagem da criança, sugerindo como a criança pode chegar lá, ora aplicando atividades somente de fixação para cumprir o currículo, ora explanando o conteúdo sem deixar de direcionar e instigar os alunos na busca das soluções para as situações-problema, tornando-os curiosos o suficiente para se dedicarem às pesquisas e bastante satisfeitos em descobrir as respostas, procurando tornar esse aprendizado muito mais significativo.

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Professor C

Durante minha infância, eu morava em casa e tinha como minha melhor amiga

minha irmã mais nova que eu 4 anos. Não tínhamos muitos brinquedos, mas

nos divertíamos no quintal mesmo, nossos brinquedos eram: uma motoca,

bola, uma casinha e algumas bonecas. Usávamos utensílios da cozinha da

mamãe para brincarmos de casinha também. Brincávamos muito e aprendi a

dividir, imaginar etc.

Tenho 35 anos, fiz magistério, pedagogia e duas pós-graduações, uma em

psicopedagogia e outra em educação especial. Em pedagogia, me formei em

2001. No magistério eu tive ludicidade sim, bastante, mas na pedagogia não.

Leciono desde os 15 anos, comecei como auxiliar em educação infantil em

escola particular. Trabalhei no estado como eventual, na casa de uma

adolescente com deficiência, dando aulas particulares e enfim estou

atualmente com dois cargos na prefeitura de Santo André como estatutário, na

educação infantil.

Criança é um ser humano em desenvolvimento com direitos e deveres.

Escola é um lugar para adquirir conhecimento cientifico e interagir com seus

pares.

Professor é um mediador entre a criança e o conhecimento

Já lecionei em todas as series, mas minha experiência maior é na educação

infantil.

Não tenho a pretensão de alfabetizar meus alunos, eles ainda tem 5 anos, mas

coloco-os sempre em contato com a escrita, o nome, escrevo a rotina com eles

na lousa e convido-os a refletir sobre a escrita; letra que começa, que termina

etc. Faço muitos jogos e brincadeiras durante as aulas. São musicas que falam

dos bichos, das partes do corpo, brincadeiras com letras, números e cores.

Na sala de aula os alunos sentam em dupla e em alguns momentos em grupo.

Há apenas um laboratório de informática, uma brinquedoteca e os alunos não

tem acesso a biblioteca.

Não acredito que o ensino fundamental contemple a infância com um bom

aprendizado, acho que falta muito ainda para contemplar esses aspectos.

Eu investiria nos salários dos professores e os proibiria de trabalharem dois

períodos (2 turmas), disponibilizaria de dinheiro para compra de materiais nas

escolas, e organizaria um currículo básico nacional obrigatório. Priorizaria a

educação acima de tudo.

Vejo algumas crianças brincando sim, de pega-pega, esconde-esconde. São os

alunos mais carentes que tem essa cultura.

Já ensinei brincadeiras do meu tempo de criança sim, é rotina ensinar essas

brincadeiras. O objetivo é resgatar e dar continuidade a essa cultura popular.

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Acredito sim que as brincadeiras trazem um aprendizado significativo. Eles

aprendem de tudo! Desde aspectos sociais até conhecimentos científicos,

dependendo da brincadeira e do objetivo.

Quando penso em alfabetização, tanto questiono o aluno, quanto explano o

alfabeto. Penso que as duas são importantes e se completam.

Professor D

Morava num pequeno vilarejo no interior de Minas Gerais. Éramos em seis

irmãos, sendo eu a mais velha. A casa onde morávamos possuía um bom lugar

para brincar, pois tínhamos poucos brinquedos. Geralmente brincávamos com

as crianças da redondeza. Eram brincadeiras de roda, esconde-esconde,

musicas etc. Por meio das brincadeiras aprendi muito cedo as letras, os

números, as cores e ao entrar no pré-primário já estava alfabetizada. Brincando

de escolinha comecei a ler aos 5 anos.

53 anos, fiz magistério, pedagogia e letras. No magistério houve algumas

coisas de jogos, brincadeiras e bastante arte, pedagogia e letras não.

18 anos na rede municipal de Santo Andre como estatutária.

Criança: um ser humano que embora alguns não aceitam, tem tantos deveres a

cumprir, quanto ditos a serem respeitados.

Escola: espaço que acolhe, educa e ensina.

Professor: um colaborador no processo da aprendizagem. Ensina e também

aprende com os educandos.

Trabalhei em educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Sempre

tive alunos nessa idade, até hoje.

Alfabetizo por meio da leitura diária utilizando também jogos como bingo de

letras, palavras e números. Atividades em duplas e intervindo conforme a

necessidade do aluno.

As carteiras são dispostas em filas, porém costumo agrupá-las de acordo com

as atividades propostas - duplas, trios...

Acho que sim, porque a criança aprende com a educação formal.

Deveria haver mais investimento nos professores, disponibilidade de matérias

de qualidade e espaços diversos para o desenvolvimento do trabalho dos

educadores.

Ver as crianças brincando? Raramente, tudo é muito diferente.

Ensinei muitas brincadeiras sim, objetivando a interação, o respeito, a

autonomia etc.

Dependendo da intervenção do professor e dos objetivos das brincadeiras ela

aprende a localizar-se no espaço, desenvolver a autonomia, respeita regras e

combinados, contar, ler e escrever, interpretar e resolver situações do seu

cotidiano.

Alfabetizo sempre questionando, realizando intervenções pontuais.

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Professor E

Morava em casa, tinha três irmãos mais velhos, brincávamos de vôlei,

queimada, gostávamos muito de brincar de bola, tinha vários amigos, as

crianças da rua, vizinhos, alguns mais novos, outros mais velhos.

45 anos, cursei pedagogia e psicopedagogia. Me formei em 2004, não tive

nada de ludicidade.

Trabalho há dez anos. Trabalhei no estado, na prefeitura de São Bernardo e

atualmente sou estatutária em Santo André.

Criança e um ser em formação constante, necessita de afeto e apoio sempre.

A escola e lugar para a promoção do desenvolvimento. O ensinar e aprender.

Professor e mediador do conhecimento, amigo, companheiro.

1o, 2o e 3o anos idade 6,7 e 8 anos de idade.

alfabeto móvel, parlendas, crachás, listas de nomes, cruzadinhas, bingo de

letras e números etc.

carteiras em circulo, rodas de conversas ou atividades, sala de informática,

cantinho de leitura na própria sala de aula para leitura individual e coletiva.

Sim, acredito que a educação formal contempla a infância e aprendizagem

significativa.

Fim da aprovação automática

Não vejo alunos brincando com brincadeiras tradicionais.

Sim, ensinei brincadeiras, amarelinha entre outros. Fizemos um projeto:

resgate de brincadeiras antigas. Iniciamos com uma pesquisa com os pais e

avós dos alunos. O produto final foi a confecção de materiais para as

brincadeiras.

Sim, a criança aprende vários conceitos como: interação, socialização, regras

etc.

Alfabetizo questionando, dando oportunidade para que possa se expressar,

investigando-o para que possa desenvolver suas habilidades.

Professor F

Sempre morei em casa com grandes quintais onde as brincadeiras

aconteciam. Brincávamos eu, minha irmã mais velha e meu irmão mais novo.

Estas eram as mais variadas: escritório, casinha, escolinha, jogos de cartas,

com bolas, de tabuleiro, quebra-cabeça, adoletas e outras. Frequentemente,

meus primos vinham a nossa casa e, então as brincadeiras ficavam mais

animadas e podiam incluir outras como: pega-pega, esconde-esconde, pic-

bandeira, mãe da rua, polícia e ladrão.

Tenho 51 anos, fiz magistério e pedagogia, me formando em 1985, não tive nada

de ludicidade na pedagogia, mas no magistério sim.

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Lecionei durante 3 anos. Tive que me afastar só retornado 11 anos depois.

Lecionei mais 9 anos e de 2009 até agora estou em sala de 1º e 2º ano, ou seja

estou na área de educação há 16 anos. Destes,

lecionei em escola municipal e particular (SESI). Atualmente estou em escola

municipal em Santo André como estatutária.

Criança é um ser ávido por conhecimento, curioso pelo mundo e pelas coisas

que o cercam. Que tentará saciar esta curiosidade interagindo com o objeto

de conhecimento e com o outro e nesta interação construíra seu conhecimento.

Professor é um profissional capacitado para mediar e facilitar estas interações.

Utilizando metodologia e didática apropriadas contribui para a construção dos

conhecimentos de seus alunos.

Escola é um local privilegiado para o aprendizado para além do senso comum, pois

lá há intencionalidade e sistematização dos conhecimento.

Já lecionei para crianças de 3 a 7 anos, ou seja, educação infantil e

primeiros anos do ensino fundamental.

No trabalho de alfabetização utilizo textos de memória (cantigas e parlendas)

e a partir deste fazemos atividades de : leitura de ajuste, encontrar palavras no

texto, ordenar o texto que estará em tiras recortadas, lista de palavras do texto,

reescrita do texto. Quanto ao jogo, gosto muito de bingo (de letra, palavras,

números, tabuada, adição), jogo da forca, boliche, fecha caixa. As brincadeiras

eram em geral no momento do parque e na aula de educação física, pois uma

era dada pelo professor da área e a outra por mim. Eram brincadeira como:

corre cotia, coelhinho sai da toca, estafetas, com bolas e outras,

As mesas são agrupadas em duplas e dispostas em colunas. No entanto, as

professoras alteram esta disposição segundo a necessidade da atividade

planejada. Em minha escola temos a biblioteca e o laboratório de informática

como espaços complementares de alfabetização.

Contempla em parte, pois as crianças entram no processo educativo formal que

acaba sendo rígido, com muito trabalho e não muita diversão. A aprendizagem

acaba sendo mecânica.

Acredito que se houvesse uma redução no número de alunos por sala,

principalmente nos primeiros anos (alfabetização) facilitaria o processo de

alfabetização, pois a haveria uma qualificação nas intervenções do professor.

Sim, vejo-os brincando de esconde-esconde, pega-pega, polícia e ladrão,

jogos de carta e bola.

Sim. Nas brincadeiras em si, trabalho mais os conteúdos atitudinais

(esperar a vez, respeito a regras e combinados, respeitar as diferenças),

questões corporais: equilíbrio, conhecimento do próprio corpo, coordenação

motora; atenção e concentração, e também ampliar o repertório de

brincadeiras. Depois, posso utilizar a brincadeira realizada em outras áreas

como, por exemplo, em Língua Portuguesa: escrevendo a lista das brincadeiras

aprendidas ou os materiais utilizados ou produção do texto instrucional. As

brincadeiras no parque, em geral, eram para diversão e relaxamento.

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Sem dúvida, e como já disse anteriormente, com as brincadeiras as

crianças ampliam o repertório de brincadeiras, desenvolvem conteúdos atitudinais,

corporais, desenvolvem atenção e concentração.

Para alfabetizar-se é preciso conhecer o alfabeto, então trabalho tanto as

questões do alfabeto (conhecer o traçado, o nome das letras, a sequencia

alfabética) quanto com questionamentos sobre o sistema de escrita, pois é

necessário que o aluno, diante do objeto de conhecimento, coloque em jogo

todos os seus saberes (boas situações de aprendizagem) e que interaja com o

outro ( dupla produtiva) e que esta situação seja mediada pelo professor (boas

intervenções).

Professor G

Eu sempre morei em apartamentos no Centro de São Bernardo do

Campo, tenho apenas um irmão 10 anos mais velho, por esse motivo não

desfrutei de sua companhia para brincar. Minhas brincadeiras sempre foram

com brinquedos que ganhava da família. Assisti muita TV, muito vídeo game,

esse às vezes com meu irmão que me ajudava passar as fases, poucas vezes

brincava no play ground, sempre no balanço. Eu tinha sim duas amigas que

moravam no mesmo prédio e tinham a mesma idade que eu, mas ambas

estudavam no período da manhã e eu a tarde, por esse motivo brincávamos

juntas apenas nos finais de semana que tínhamos livres, nessas vezes a

variedade nas brincadeiras era maior, pega- pega, pique esconde e o meu

preferido, desfile de moda com as roupas que trazíamos de casa, sapatos e

acessórios das mães. Até me dá saudade lembrar. Nas minhas brincadeiras

não tinha muito que aprender, mas como também, sempre gostei muito de

quadrinhos e revistas, creio que isso facilitou meu aprendizado na escrita. Já

com minhas amigas, aprendi ter respeito pelas coisas alheias, tínhamos que

tomar cuidado pra não estragar nada e respeitar quando uma achava que não

queria emprestar ou deixar usar algo. Eu gostava tanto de estar com elas que

nunca ultrapassava os limites impostos por cada uma.

Hoje estou com 26 anos e ingressei na carreira de professora

recentemente, mais precisamente este ano no município de Santo André, tenho

pouca experiência na área, pois me formei em 2011. Fiz pedagogia, mas

estudei a distância num polo da Universidade de Curitiba, onde a presença só

era exigida uma vez por semana e as aulas eram transmitidas

simultaneamente. Houve ludicidade sim, um modulo todo. Minha experiência é

mais por ter trabalhado de auxiliar em educação infantil em escola particular

onde acabei também fazendo meus estágios. Ali minha atividade teve maior

relevância, eu atuava juntamente com a professora da turma, mas fazia de tudo

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um pouco. No meu cargo atual tomei posse depois das férias estou com uma

classe de segundo ano do Ensino Fundamental em regime Estatutário.

Entendo a criança como um ser pronto pra receber tudo, mas que

também tem suas preferências. E que a bagagem que traz de casa ou outra

instituição educacional, é que os diferencia uns dos outros. Nesta mesma linha

de entendimento, considero a escola o espaço adequado para a transformação

da criança em seres capazes e suficientes para exercer seus direitos e

aprender os conteúdos que irão lhe proporcionar a clara educação, enquanto o

professor é o mediador desse processo de transformação do cidadão.

Não tenho experiência nesse ano série e estou encontrando grande

dificuldade pra desenvolver as atividades, ainda estou seguindo o

planejamento das professoras com mais experiência e que já sistematizaram

as formas de desenvolver as atividades. Às vezes tento brincar com as

crianças para vivenciar primeiro e entender depois como uma professora faz

com os alunos dela, mas na minha turma não funciona como o planejado.

Imagino que quando eu tiver mais experiência, eles aproveitem melhor, pois a

brincadeira deixa a atividade mais significativa pra eles. Quando eles entendem

a forma correta de brincar, também entendem melhor os conteúdos e nessa

ordem de ensinar também torna o fato de “ter que ir á escola” mais agradável.

Outra coisa é isso, a disposição das carteiras na sala. Ficam sempre no

formato antigo de escola todas as carteiras posicionadas em forma de filas e

colunas viradas pra lousa, isso parece bom, mas pra nós professores, pois isso

deixa o ambiente mais silencioso. Mas eu acredito que ainda não seria hora,

pois 70% dos meus alunos até o início do segundo semestre ainda não sabiam

ler, no maximo reconhecem as letras que formam seus nomes, por isso eu não

creio que essas crianças sejam melhor atendidas com a educação totalmente

formal. Eu penso realmente que o ensino nessa faixa etária de 6 aos 9 anos,

ainda precisa ser lúdico pra que eles tenham um interesse maior por desvendar

os mistérios do conhecimento.

Vejo sim muitas crianças brincarem sozinhas e com seus brinquedos

individuais, também percebo que as crianças de agora reconhecem muito

rapidamente os conteúdos vistos na TV, inclusive novelas e propagandas, o

que demonstra o tempo que dispensam assistindo TV. Na nossa escola houve

um resgate de brincadeiras antigas e algumas crianças se lembram de ter

brincado de coisas que minha mãe conta ter brincado muito no tempo dela,

como por exemplo, mãe da rua, pular corda, balança caixão. Eu acabei

deixando que eles retomassem as brincadeiras que aprenderam no ano

passado, no intuito de aprender também, ampliar meu repertório de

brincadeiras, mas principalmente para que eles se relacionem sem tanta

disputa, afinal os jogos coletivos seguem regras e isso melhora muito o senso

de limites, direitos e deveres de cada um. Essas atividades podem melhorar

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muito o relacionamento interpessoal, a concentração da criança para outras

situações de aprendizado, e ainda o desenvolvimento do respeito mútuo.

Eu tenho ensinado a partir de conversas, questionando e seguindo a

partir do conhecimento que eles já trazem, mas não dispenso a forma

explanativa de apresentar alguns conteúdos.

Professor H

Nasci no bairro do Ipiranga em SP, morava em uma casa térrea, em uma vila

de casas de propriedade da minha avó. Toda a família morava na mesma Vila.

Brincava de esconde-esconde, balança caixão, forte Apache, autorama,

bicicleta, manda-rua, bastão. Nunca fui chegado ao Futebol, gostava mesmo é

de ouvir Música. Brincava com meus primos que moravam na mesma vila, meu

irmão quase não brincava, pois era 7 anos mais velho que eu. O principal das

brincadeiras foi me levar ao Universo da Música, que se tornou minha

profissão.

Tenho 50 anos - fiz Bacharelado e Licenciatura em Música 1987 e pedagogia

em 2002. Na pedagogia houve algo de ludicidade, brincadeiras em pratica de

ensino, mas foi superficial.

Dou aulas a 25 anos. Já trabalhei na rede particular. Atuo em escola da rede

municipal de Santo André eu sou estatutário.

Criança é um ser em constante transformação cuja formação é influenciada e

vinculada pela cultura do local onde habita, cultura e hábitos familiares e pelo

círculo social que faz nas ruas e durante a permanência na escola.

Ambiente de aquisição de linguagens: oral, escrita, lógica e científica, do

desenvolvimento da sociabilidade, enriquecimento do universo cultural,

aquisição de valores humanos e espaço de lazer.

Facilitador para a construção da autonomia - o que desperta, interage, ensina a

construir rotinas e hábitos, o que trabalha junto com a família para um

crescimento e desenvolvimento do educando através de saberes e fazeres.

Trabalhei com crianças entre 6 e 9 anos em aulas regulares e de Musicalização

Infantil, maravilhosa experiência. A felicidade, o sorriso da descoberta do fazer

musical, do aprender, do saber como e por que.

Utilizo muitos jogos e brincadeiras com a finalidade de tornar as aulas mais

agradáveis e as crianças gostam muito e retém o conhecimento de forma fácil

e duradoura. Trabalho com musicas e danças para ensinar matemática onde

em algumas partes da musica eles formas grupos com uma quantidade

especifica de integrantes e por vezes eles deverão fazer isso resolvendo

mentalmente operações de soma e subtração. Faço um jogo de batalha naval

de palavras e nomes, e outros jogos e brincadeiras adaptados para o cotidiano

escolar, que sempre posso trabalhar conteúdo resultante de tais atividades.

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Como coordenador busco que minhas professoras trabalhem nessa mesma

linha e auxilio em como elas podem trabalhar conteúdo e brincadeiras e jogos

fazendo treinamentos e trazendo novas ideias e praticas que acompanhem o

currículo. As atividades lúdicas são utilizadas em diversos momentos, na sala

de aula, na educação física e no pátio da escola de acordo com o conteúdo ou

com o projeto, fazemos uma multidisciplinaridade e troca de conhecimentos

entre as professoras, as disciplinas.

Por se tratar de salas numerosas, são fileiras.

Educação formal contemplar infância e aprendizado significativo?... Acredito

que sim, pois é possível contemplar estas duas premissas de forma

equilibrada. O problema está na formação de alguns educadores no que diz

respeito às instituições que querem quantidade de alunos para lucrar e ao

próprio individuo que quer apenas um diploma.

Melhoria na formação de professores.

Raramente vejo crianças brincar do que eu brincava. O tempo, as cidades, o

meio ambiente urbano, a sociedade, a tecnologia... Está tudo diferente. A

criançada tem outros interesses.

As atividades de Musicalização Infantil, por si só, já trabalham ludicidade e com

objetos específicos não só de aquisição da linguagem específica , mas também

com o objetivo de contribuir no processo de alfabetização, do raciocínio lógico,

ampliação do universo cultural e da corporeidade.

Com certeza. Atualmente ministro Formações de Educadores junto à

Secretarias de Educação e Esportes, onde os professores são carentes de

atividades lúdicas e brincadeiras com objetivos educacionais. Os resultados

são surpreendentes. Tenho lindas historias de professores que se

descabelavam para fazer seu trabalho sem bons resultados e hoje fazem com

tranquilidade, se aproximaram mais das crianças e elas aprendem mais e

melhor.

Busco as duas coisas, o questionamento para saber dos interesses e

dificuldades e a exposição para suprir as necessidades e corrigir erros.

Professor I Morava em casa, eu era a filha do meio de três irmãos, brincava muito de

casinha, bonecas, cantigas de roda, andava de bicicleta, soltava pipa... Sempre

com minha irmã e vizinhos da rua.

Tenho 56 anos, sou formada em pedagogia 1990 e educação física 1981. Tive

recreação na educação física, na pedagogia não teve.

Sou professora ha 34 anos. Estágios e eventual em escolas estaduais, aulas

de educação física em escolas particulares e atualmente sou estatutária em

Santo André.

Criança é um ser lindo, amoroso, carinhoso que nos faz refletir. Sincero,

inocente, mas que reproduz tudo que vê em casa e é estragado pelos pais.

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A escola e um lugar que reforça a educação que a criança recebe em casa,

além, é lógico, do ensino básico e vivência social.

Professor e pessoa que ama ensinar! Pois não basta ser só pedagógico, tem

que ter o 'dom' para fazer com que uma matéria aparentemente difícil, seja

transformada em uma ação cheia de encanto e prazer.

Trabalhei na educação infantil, 1, 2, 3, 4* e 5º ano, já tive muitos alunos nessa

idade, inclusive hoje em dia.

A melhor maneira pra alfabetizar é a lúdica, com jogos, brincadeiras que

utilizem o espaço da sala de aula e da escola. Fazer grupos de alunos

trabalhando diversas potencialidades.

Hoje uso as carteiras em circulo, mas utilizei por muito tempo fileiras, porque

era um padrão.

Na verdade não acredito muito na educação formal respeitar a infância, porque

a criança não se diverte na sala. Aula, tudo é imposto ela até aprende, mas não

retém esses conhecimentos pois não adquiriu de forma eficaz, foi empurrado

nele.

Melhorar a educação nacional? Não sei se em algumas situações já não

acontece, mas a multidisciplinaridade, desde que os professores estejam

predispostos a trabalhar com ela e boa vontade de enfrentar novos desafios.

Não vejo brincadeiras tradicionais, as brincadeiras são bem diferentes, mais

violentas e mais jogos eletrônicos. Já ensinei brincadeiras do meu tempo.

Proponho e faço-os entender que é possível nos divertir com brincadeiras mais

agradáveis, inteligentes e que podem ajudar a aprender bastante coisa.

Acredito na brincadeira como forma de educar, os objetivos podem ser os mais

diversos, que com certeza serão alcançados com muito mais prazer, acredito

que é mais gostoso, mais prazeroso explanar assuntos diversos e sobre o

alfabeto como musicas, jogos e brincadeiras. *1, 2, 3, 4 - nível que o aluno se encontra, referente as idades 2, 3, 4 e 5 anos

respectivamente.

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ANEXO III - ROTEIRO DE ENTREVISTA:

1. Descreva sua infância contemplando os seguintes detalhes: morava em

casa ou apartamento, tinha irmãos(mais velhos ou mais novos), brincava,

de quê brincava(citar brinquedos e tipos de brincadeiras), com quem e

onde brincava, o que aprendeu com as brincadeiras.

2. Qual sua idade, sua formação (fez magistério ou pedagogia, ou os dois)?

Em que ano se formou? Durante o curso, houve disciplina ou treinamento

sobre ludicidade?

3. Há quantos anos você dá aula? Em que tipo de instituições já trabalhou

(particular/municipal/estadual/federal)? Atualmente está vinculada em

que regime (CLT ou Estatutário)

4. Qual sua concepção de criança?

5. Qual sua concepção de escola?

6. Qual sua concepção de professor?

7. Quais séries você já deu aula? Seus alunos tinham ou tem entre 6 e 9

anos de idade?

8. Descreva de que forma você alfabetiza seus alunos. Utiliza atividades de

fixação, exemplo (inclua uma atividade de escrita ou de matemática ao

questionário), jogos (descreva um), brincadeiras (em que momentos?

Quais?).

9. Como é disposta a sala de aula para alfabetização na sua unidade

escolar?

10. Você acredita que a educação formal nos primeiros anos do Ensino

Fundamental contempla verdadeiramente a infância e a aprendizagem de

forma significativa?

11. Quais intervenções você faria na educação nacional para melhorar a

aprendizagem das crianças da faixa etária de 6 a 9 anos?

12. Atualmente, você vê os alunos brincando das brincadeiras que você

brincou na sua infância?

13. Você já ensinou aos seus alunos alguma brincadeira que você brincava

quando tinha a idade deles? Se já ensinou, quais objetivos você queria

atingir? Ou era apenas para diversão e relaxamento?

14. Você acredita que a brincadeira pode fazer a criança ter um aprendizado

significativo? O que a criança pode aprender durante uma brincadeira?

15. Você enquanto professor alfabetiza questionando o aluno, ou explanando

algum assunto sobre o alfabeto (por exemplo)?

Questões extras realizadas apenas a especialista Profª. Drª. Marta Regina

Paulo da Silva.

16. O lúdico na escola: existe ou não existe?

17. Brincar para aprender, aprender brincando ou aprender sem brincar?

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ANEXO IV – Atividades realizadas pelos professores

ATIVIDADE 1

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ATIVIDADE 2a

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ATIVIDADE 2b

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ATIVIDADE 2c

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ATIVIDADE 3

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ATIVIDADE 4

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ATIVIDADE 5

Música: “O Canto de Um Povo de Um Lugar” - Caetano Veloso

Vamos cantar juntos a música “Canto de um povo” de Caetano

Veloso, depois participe da brincadeira: Quando o professor parar

de cantar, circule a palavra que ele falou por último. Não esqueça

de completar a música escrevendo o nome da figura ao lado.

Todo dia o ___ levanta

E a gente canta

Ao ___ de todo dia.

Fim da tarde a terra cora

E a gente chora

Porque finda a tarde.

Chega a noite a ___ mansa

E a gente dança

Venerando a noite.

Madrugada o céu de ______s

e a gente dorme sonhando com o dia.

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ATIVIDADE 6

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ATIVIDADE 7

Contação da história do livro:

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FICHA CATALOGRÁFICA

Z14l Zambelli, Orlando Cesar

O lúdico na educação: a ruptura da ludicidade nos

primeiros anos do ensino fundamental / Orlando Cesar

Zambelli. 2014.

92 p.

Dissertação (mestrado em Educação) --Faculdade de

Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São

Paulo, São Bernardo do Campo, 2014.

Orientação: Zeila de Brito Fabri Demartini.

1. Atividades lúdicas (Educação) 2. Ensino fundamental

3. Brincar 4. Ensino - Aprendizagem I. Título.

CDD 371.39