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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde WILLIAM MACHADO DE OLIVEIRA O Perfil Profissional de Egressos do Curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo (2013-2015): avanços e fragilidades na formação de psicólogos. São Bernardo do Campo, 2018.

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULOtede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1821/2... · (2013-2015): avanÇos e fragilidades na formaÇÃo de psicÓlogos foi apresentada e aprovada

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  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

    COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

    Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde

    WILLIAM MACHADO DE OLIVEIRA

    O Perfil Profissional de Egressos do Curso de Psicologia da

    Universidade Metodista de São Paulo (2013-2015): avanços e

    fragilidades na formação de psicólogos.

    São Bernardo do Campo, 2018.

  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

    COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

    Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde

    WILLIAM MACHADO DE OLIVEIRA

    O Perfil Profissional de Egressos do Curso de Psicologia da

    Universidade Metodista de São Paulo (2013-2015): avanços e

    fragilidades na formação de psicólogos.

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, em cumprimento às exigências para a obtenção de grau de Mestre.

    Orientadora: Profa. Dra. Lucieneida Dováo

    Praun

    Co-orientador: Prof. Dr. Magno Oliveira

    Macambira

    São Bernardo do Campo, 2018.

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Ol4p

    Oliveira, William Machado de

    O perfil profissional de egressos do Curso de Psicologia da

    Universidade Metodista de São Paulo (2013-2015): avanços e

    fragilidades na formação de psicólogos / William Machado de

    Oliveira. 2018.

    103 f.

    Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Escola de

    Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São

    Paulo, São Bernardo do Campo, 2018.

    Orientação de: Lucieneida Dováo Praun.

    Co-orientação de: Magno Oliveira Macambira.

    1. Psicólogo - Competências 2. Egressos em psicologia

    3. Psicologia 4. Psicologia – Formação profissional I. Título

    CDD 157.9

  • TERMO DE APROVAÇÃO

    A dissertação de mestrado sob o título O PERFIL PROFISSIONAL DE EGRESSOS DO

    CURSO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

    (2013-2015): AVANÇOS E FRAGILIDADES NA FORMAÇÃO DE PSICÓLOGOS

    foi apresentada e aprovada em 24 de julho de 2018, perante banca examinadora composta

    por Prof. Dr. Magno Oliveira Macambira (Presidente/UMESP), Profa. Dra. Maria do

    Carmo Fernandes Martins (Titular/UMESP) e Profa. Dra. Ana Paula Grillo Rodrigues

    (Titular/UESC).

    __________________________________________

    Prof/a. Dr/a. Prof. Dr. Magno Oliveira Macambira

    Co Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora

    ___________________________________________

    Prof/a. Dr/a. Maria do Carmo Fernandes Martins

    Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação

    Programa: PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

    Área de Concentração: PSICOLOGIA DA SAÚDE

    Linha de Pesquisa: TRABALHO, ORGANIZAÇÕES E SAÚDE

  • DEDICATÓRIA

    Esta dissertação é dedicada de maneira especial para aquele que sempre sonhava

    em ver seus filhos estudando e bem de vida, que de uma maneira simples e temperamental

    mostrou que o peso da caneta era mais leve do que a da enxada. Aquele que não mediu

    esforços para evitar faltar comida à mesa e dedicava seu tempo numa bela moda de viola,

    regado pelo som da sanfona e de seu violão, meu pai, Adir Paulo de Oliveira (In

    Memoriam).

    Dedico também, aquele que pode ver o que me tornaria, mesmo antes que eu

    pudesse enxergar, que acreditou no meu potencial e abriu as portas através de seu projeto

    de vida para que eu pudesse transformar a minha. Se há um gesto concreto entre milhares,

    de que o Centro Universitário Eniac cumpre sua missão, minha dissertação é prova disto,

    minha eterna gratidão à Ruy Guérios (Mantenedor do Colégio e Centro Universitário

    Eniac).

  • AGRADECIMENTOS

    A minha eterna namorada, esposa e razão das minhas alegrias e conquistas, Juliana

    Machado de Oliveira, presente que ganhei de Deus para seguirmos esta minha jornada na

    vida. Obrigado por me compreender, nos momentos em que abri mão de estarmos juntos

    para dedicar-me aos estudos, a você minha vida, meu eterno amor.

    Claro que nada do que eu fiz, seria possível sem que pessoas contribuíssem de

    maneira amiga e qualitativa para que a minha caminhada fosse mais leve e humana, e

    estes são os casos de: Robson Aparecido Gouveia, Marcelo Aparecido Gouveia, Nelson

    Afonso da Silva Júnior, Neice Roberta Bezerra Jorge Gouveia, Glaucia Cristina de

    Oliveira Macedo. Agradeço a vocês meus amigos, por me estenderem a mão nos

    momentos em que mais precisei de apoio.

    Dedico também, à todos os colaboradores da Universidade Metodista que direta

    ou indiretamente contribuíram para que o meu mestrado acontecesse, sintam-se

    homenageados através destes que dedicaram com competência seus esforços para me

    ajudar: Rosângela de Souza Garcia (Bibliotecária), Nátali Susan Iamazaki (Auxiliar de

    Biblioteca), Marlene do Nascimento Farias Santos (Auxiliar de Biblioteca), Isabel

    Cristina da Costa Sousa (Auxiliar de Biblioteca), Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins

    (Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde), Elisângela

    Aparecida de Castro Souza (Assistente de Coordenação), Dra. Lucieneida Dováo Praun

    (Professora e Orientadora) e Dr. Magno Oliveira Macambira ( Professor e Orientador). A todos

    vocês, meu carinho e minha eterna gratidão.

    À Deus, meu refúgio e minha fortaleza, muito obrigado por me sustentar na fé e

    nos momentos difíceis, a ele a glória, o poder e o louvor, pois tudo que prometestes

    cumpristes, e sei que este é só o começo de muitas vitórias que ainda estão por vir.

  • EPÍGRAFE

    O que não se sabe ao certo,

    entretanto, é por quanto tempo o ódio social

    alimentado pela exclusão e violência

    cotidiana ficará contido. As periferias das

    grandes cidades estão ao ponto da explosão.

    Luci Praun

  • RESUMO

    O dia a dia do mercado de trabalho apresenta ao profissional Psicólogo, e

    principalmente ao recém-formado, situações complexas que o levam a confrontar os

    conhecimentos, as competências e habilidades desenvolvidas durante o curso de

    graduação com as requeridas no exercício profissional. Além disso, a qualidade da

    formação tem por objetivo, conforme legislação vigente, contribuir para o

    desenvolvimento estrutural, social e econômico do país. Com base neste contexto o

    objetivo deste estudo verificou por meio de pesquisa de campo de tipo exploratória, o

    perfil profissional de egressos do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São

    Paulo. Diante da percepção dos egressos do período entre 2013 a 2015, verificou-se a

    correlação entre formação profissional oferecida, ao longo da graduação com base no

    Programa Pedagógico do Curso de Psicologia (PPC/2008) e a repercussão deste na

    inserção do profissional no mercado de trabalho. A coleta dos dados foi realizada por

    meio de convite via e-mail à 311 egressos e operacionalizado via plataforma virtual

    (Google Forms), dos quais, obteve-se 31 respostas válidas. A escolha dos entrevistados,

    considerando a amostra estabelecida, obedeceu ao critério de amostragem por

    acessibilidade e os dados foram analisados a partir de estratégias de análise de natureza

    quantitativa. O instrumento de pesquisa foi construído para este estudo e formado por

    questões que visavam caracterizar os participantes, investigar sua percepção sobre sua

    formação acadêmica e sua inserção profissional e levantar suas percepções quanto à

    importância e ao domínio de competências profissionais. As respostas foram analisadas

    por estatísticas descritivas e de tendência central. Os resultados sinalizaram um domínio

    positivo de competências e habilidades profissionais de viés clinico, porém competências

    e habilidades relativas aos processos psicológicos grupais e organizacionais apresentam

    fragilidades e necessidade de serem potencializadas. Apesar de o curso oferecer ao

    egresso a possibilidade de atuar em outras áreas da Psicologia, conclui-se que em sua

    totalidade, os egressos participantes do estudo são predominantemente jovens de 20 a 30

    anos, de gênero feminino, que andam na contramão da valorização monetária por gênero

    ganhando mais que os homens na maioria das faixas de remuneração e atuam direta e

    indiretamente na área clínica. Apesar de a pesquisa apresentar pontos que merecem

    reflexão na estruturação da formação do curso, cerca de 87,1% dos egressos apontam que

    o curso atendeu suas expectativas.

    Palavras-chave: Competências do Psicólogo, Egressos em Psicologia, Psicologia,

    Formação em Psicologia.

  • ABSTRACT

    The day by day on labor market presents to Professional Psychologist and also to

    just-graduated, some complex situations that lead them to confront their knowledge,

    competencies and abilities developed during the Graduation one related to professional

    practice. Besides that, the quality of graduation aims to, according to current legislation,

    to contribute to development structure, social and economic of the country. Based on this

    context the objective of this study, by means of exploratory field research the professional

    profile of graduates by Psychology course from Universidade Metodista do Estado de São

    Paulo. Due to graduates’ perceptions of the period 2013 to 2015, check the correlation

    between training offered, along the graduation, based to Programa Pedagógico do Curso

    de Psicologia (PCC/2008) and its impact on the insertion of this group in the labor market.

    The data collection was carried out by means of invitation via email to 31 graduates and

    made operational via Google Forms. Of which, 31 valid answers were obtained. The

    choice of respondents, considering the sample established, followed to the discretion of

    sampling accessibility and data were analyzed from strategies analysis quantitative. The

    research instrument was built for this study and was made up of questions that aimed to

    characterize the participants, to investigate their perception about their academic

    formation and their professional insertion, besides raising their perceptions regarding the

    importance and the domain of professional competences. Analyzes were performed of

    Central tendency. The result signaled domain positive skills and professional biased

    clinical, however skills and abilities related to group psychology process organizational

    present weaknesses and need to be potentiated. Despite the course offer the egress the

    possibility to deal in other psychology areas, concluded that in its entirety the graduates

    are predominantly young 20 to 30 years gender female, walking in the against the

    valuation monetary by genre gaining more than men most of the tracks remuneration and

    work directly and indirectly in the clinic. Although the research presents some points in

    which some deep reflection is needed in graduated composition course, about 87,1% of

    the graduates point that the course has responded to the expectations.

    Key-Words: Psychologist's skills, Graduates in Psychology, Psychology, Graduation in

    Psychology.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA DO

    PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA NO BRASIL,

    PROPOSTO POR PEREIRA & PEREIRA NETO, 2003. ............................................. 18

    FIGURA 2- DIAGRAMA – SÍNTESE DA MINUTA DE DIRETRIZES

    CURRICULARES PARA OS CURSOS DE PSICOLOGIA. ....................................... 53

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1- COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO CURSO DE PSICOLOGIA ........ 51

    TABELA 2 - EGRESSOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UMESP, POR

    SEMESTRE, POR SEXO (2013-2015) ........................................................................... 58

    TABELA 3 - AMOSTRAGEM POR COTAS (GÊNERO / FAIXA ETÁRIA) ............. 59

    TABELA 4 - DESCRIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES POR ÊNFASE

    .........................................................................................................................................61

    TABELA 5 - DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE ESTUDANTES

    RESPONDENTES POR SEXO, SEGUNDO GRUPO ETÁRIO, A MÉDIA E O

    DESVIO PADRÃO ......................................................................................................... 64

    TABELA 6 - DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE EGRESSOS, POR

    SEXO, SEGUNDO A FAIXA DE RENDA MENSAL FAMILIAR .............................. 64

    TABELA 7- IMPORTÂNCIA E DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO EM ANÁLISE DO

    CONTEXTO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL .............................................................. 67

    TABELA 8 - IMPORTÂNCIA E DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO EM PROCESSOS

    PSICOLÓGICOS GRUPAIS E ORGANIZACIONAIS ................................................. 72

    TABELA 9 - IMPORTÂNCIA E DOMÍNIO DE CONHECIMENTO E

    HABILIDADES DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA .................................................. 78

    TABELA 10 – OPINIÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O CURSO DE

    GRADUAÇÃO QUE REALIZOU EM PSICOLOGIA E SUA INSERÇÃO

    PROFISSIONAL ............................................................................................................. 79

    TABELA 11 – DISPOSIÇÃO DOS DADOS DAS HIPÓTESES ................................. 83

  • 12

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13

    2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 15

    3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 15

    3.1 Uma área de formação com procura crescente .................................................................. 17

    3.2 Habilidades e Competências na formação do Psicólogo ................................................... 18

    4. A PSICOLOGIA NO BRASIL: TRAJETÓRIAS ....................................................... 21

    5. CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA NO BRASIL: DIFERENTES FASES ........... 21

    5.1 O período pré-profissional (1833-1890) ............................................................................ 24

    5.2 A fase da Profissionalização (1890 – 1906/1975) ............................................................. 25

    5.3 O período “profissional” (a partir de 1975) e o curso de Psicologia da Metodista ............ 34

    6. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DAS

    MUDANÇAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA ........................................................... 45

    7. O FIM DO CURRÍCULO MÍNIMO E A DESCRIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS E

    HABILIDADES DO PSICÓLOGO ................................................................................ 46

    8. DIRETRIZES CURRICULARES E COMPETÊNCIAS DO PSICÓLOGO .............. 55

    9. MÉTODO .................................................................................................................... 66

    9.1 Procedimento de coleta e análise dos dados ...................................................................... 68

    9.2 Questionário aplicado ........................................................................................................ 69

    10. RESULTADOS ......................................................................................................... 70

    11. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 80

    12. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 84

    13. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 86

    14. APÊNDICE ............................................................................................................... 94

    14.1 Apêndice A – Questionário da Pesquisa ......................................................................... 94

    15. ANEXOS ................................................................................................................... 105

    15.1 Anexo A – Aprovação do Comitê de Ética ..................................................................... 105

    15.2 Anexo B - Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................ 106

  • 13

    1. Introdução

    O cotidiano apresenta aos egressos dos cursos de graduação situações complexas.

    Finalizado o curso, quando inserido no mercado de trabalho, vê-se diante do confronto entre

    habilidades e competências desenvolvidas durante a formação acadêmica e aquelas

    requeridas no exercício profissional. Tal vivência permite-lhe avaliar a adequação da

    proposta pedagógica do curso realizado e resgatar aspectos intervenientes desse processo

    (Dyrce, 2008). Observar que avaliar constantemente os cursos de ensino superior também

    tem sido uma forte preocupação do Ministério da Educação que, em 2004, instituiu o

    Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Sinaes (Lei nº 10.861, de 14 de

    abril de 2004), passando a avaliar os cursos de graduação, o desempenho acadêmico dos

    estudantes, bem como a qualidade da formação oferecida em âmbito nacional.

    Os resultados destas avaliações, conforme a mesma legislação, impactam

    diretamente nos cursos de graduação em Psicologia, pois servem de referencial básico para

    os processos de regulação e supervisão da educação superior, bem como para autorização,

    reconhecimento e renovação de reconhecimento destes cursos. Além disso, a qualidade da

    formação tem por objetivo, conforme Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –

    LDB (Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), contribuir para o desenvolvimento

    estrutural, social e econômico do país.

    Diante disto, o Sinaes, por meio do seu manual avaliativo, em sua nona dimensão,

    faz referência à política de atendimento a estudantes e egressos. O sistema apresenta como

    núcleo básico e comum a inserção profissional dos egressos e a participação destes na vida

    da instituição, além de orientar para que seja observado se existem dados e indicadores para

    avaliar esta dimensão, como pesquisas ou estudos sobre os egressos ou empregadores dos

    mesmos.

    Silva (2010) relata que há pesquisas nacionais sobre formação do profissional de

    psicologia no nível de graduação, porém são escassas as informações sobre as estratégias

    de qualificação e requalificação utilizadas pelo psicólogo brasileiro após inserção no

    mercado de trabalho. Tal situação aponta para a importância de se resgatar e sistematizar as

    diferentes dimensões que envolvem o processo de formação do psicólogo buscando

    compreender, a partir do egresso dos cursos de Psicologia de uma instituição específica,

    quais como as habilidades e competências desenvolvidas ao longo da graduação vêm

    contribuindo no exercício da profissão.

    Busca-se com a pesquisa ora proposta, frente ao exposto, esclarecer as seguintes

    questões: a) como essas concepções e diretrizes se encontram presentes na formação

    proposta pelo curso de Psicologia da UMESP; b) quais competências os egressos do curso

  • 14

    de Psicologia da Metodista entre 2013 e 2015 avaliam ter um domínio satisfatório.

    Buscando responder essas questões, a investigação proposta foi desenvolvida por

    meio de pesquisa bibliográfica. Esta buscou resgatar o processo de constituição da área no

    Brasil, identificando os princípios e diretrizes norteadores da formação do profissional de

    Psicologia em diferentes contextos históricos. Uma segunda etapa da pesquisa de campo

    será realizada com a aplicação de questionário, constituído por questões estruturadas, junto

    a uma amostra de 17 egressos do curso de Psicologia da UMESP entre os anos de 2013 e

    2015.

    A escolha do curso de Psicologia da UMESP justifica-se por ter sido esta Instituição

    de Ensino Superior (IES) a terceira a ofertar o curso no estado de São Paulo, já que até a

    década de 1970 havia apenas dois cursos na área no estado de São Paulo: o da Universidade

    de São Paulo (USP), estabelecido desde 1938, e o da Pontifícia Universidade Católica

    (PUC), em funcionamento desde 1946, ambos de referência e modelo para a implantação

    da graduação na Universidade Metodista de São Paulo (Prado, 2016).

    Nesse marco, vale salientar que a construção de um curso com mais de 45 anos de

    existência, como é o caso do da UMESP, percorre parte significativa da história no

    desenvolvimento da psicologia no país. Seu corpo docente e discente, ao longo desta

    trajetória, fez-se presente em movimentos, congressos, encontros, reuniões em conselhos,

    dialogando e participando de discussões fundamentais sobre a constituição da área, sua

    profissionalização, assim como sobre as diretrizes nacionais da educação desde sua criação

    (Chippari, 2016). Ainda de acordo com a autora, a história do curso da Universidade

    Metodista de São Paulo se entrelaça ao contexto social e regional em um momento em que

    a psicologia já estava estabelecida e reconhecida enquanto profissão, através da Lei nº 4.119,

    de 27 de agosto de 1962. Mas seu reconhecimento pouco mais de uma década depois, por

    meio da Lei nº 74.259, de 08 de julho de 1974, o coloca como parte importante do processo

    de formação de psicólogos no estado de São Paulo.

  • 15

    2. Objetivos

    A pesquisa proposta para o curso de Psicologia da Universidade Metodista de São

    Paulo, tem como principal objetivo verificar, a partir da percepção dos egressos, a relação

    entre formação profissional oferecida, ao longo da graduação, a estudantes egressos do

    curso entre 2013 e 2015, e sua repercussão na inserção deste grupo no mercado de trabalho.

    Como desdobramento deste objetivo geral, assumimos como objetivos específicos:

    a) Identificar quais competências os egressos do curso de Psicologia da

    Universidade Metodista entre 2013 e 2015 avaliam ter um domínio satisfatório.

    b) Identificar a satisfação dos egressos frente às competências adquiridas no urso

    de Psicologia;

    c) Verificar se as ênfases descritas no plano pedagógico do curso contribuíram para

    o desenvolvimento das competências e habilidades dos egressos durante o

    período de formação;

    d) Verificar se as ênfases de formação propostas pelo plano pedagógico se

    concretizam nas atividades profissionais dos graduados;

    e) Identificar como os egressos percebem a contribuição do curso para sua inserção

    (ou não) no mercado de trabalho e atuação profissional.

    3. Fundamentação Teórica

    Desde o reconhecimento da Psicologia como profissão em 1962 (Lei 4119/1962), a

    profissão do psicólogo vem experimentando um contínuo crescimento quando se considera

    o número de profissionais inscritos inicialmente no Ministério de Educação e,

    posteriormente, nos Conselhos Regionais e no Federal de Psicologia, instituído em 1974

    (Bastos et al 2010).

    De acordo com Bastos et al. (2010), este crescimento do número de registros

    profissionais se dá em função do ritmo ainda acelerado do aumento do número de cursos de

    graduação na área. Entretanto, apesar deste crescimento na oferta, Abbad e Mourão (2010)

    nos alertam para a precariedade na formação e as nem sempre disponíveis oportunidades de

    qualificação em psicologia no Brasil, visto que os cursos de graduação não atendem às

    demandas de formação profissional em relação às competências instituídas pelas diretrizes

    curriculares. Tal constatação pode ser observada, em parte, quando analisamos os resultados

    da avaliação do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE).

    Em 2016, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia existiam 280.962 mil

  • 16

    Psicólogos em todo o Brasil, dos quais o estado de São Paulo participava com 88.557 mil

    registrados em conselhos regionais, correspondendo a uma parcela de 32% de profissionais

    de todo o país.

    Apesar da haver indícios do uso da Psicologia como estudos psicológicos em meados

    de 1800, Pessoti (1988), Yamamoto et al (2010) relatam que ao longo desses 50 anos de

    profissão regulamentada, muito se estudou e se debateu sobre a situação da Psicologia no

    Brasil, bem como sobre as características da profissão, as responsabilidades e inserção do

    profissional da área. Segundo Pacheco (2006), em 1975, a formação profissional em

    psicologia começa a ser posta em questão, através da divulgação de trabalhos de iniciativa

    tanto individual quanto institucional.

    Mesmo com o grande destaque da Psicologia, na década de 1970, por sua formação

    acadêmica voltada para a atividade clínica, o que auxiliou na consolidação de seus conselhos

    representativos e no início da produção de artigos científicos na área, Abbad e Mourão

    (2010) relatam que na década de 1990 o psicólogo começou a sentir e a perceber a variedade

    de domínios e áreas de atuação que a profissão proporcionava. Essa percepção desenvolveu-

    se, conforme os autores, apoiada pelas significativas mudanças econômicas, políticas e

    sociais ocorridas na sociedade moderna, que contribuíram para o desenvolvimento de novas

    técnicas de gestão, impulsionadas pela reestruturação produtiva e seus impactos nas relações

    de trabalho traduzidas, entre outras formas, na crescente presença do trabalho temporário e

    terceirizado, assim como do crescente desemprego estrutural e na baixa qualificação da

    força de trabalho. Essas mudanças, tal como sustentam os autores, também incidiram na

    busca destes trabalhadores por qualificação contínua e pelo aprendizado de novas

    competências, a partir de então exigidas pelo mercado de trabalho. Assim também pensam

    Bastos et al. (2010), que entendem que, em um mundo cambiante, os profissionais são

    constantemente estimulados ou até obrigados a desenvolver novas competências em seu

    trabalho.

    De acordo com Abbad e Mourão (2010), este novo cenário acabou impactando

    diretamente no desenvolvimento das práticas do profissional de Psicologia, visto que se

    tornou também necessária sua capacitação para o aprimoramento de competências para o

    exercício de intervir e propor melhorias como agente de transformação social, fazendo com

    que o relacionamento ativo do aprendiz na construção do seu próprio perfil profissional e

    seu contato frequente com outras pessoas acabe sendo a tônica da sua formação. Segundo

    os autores,

    Entre as mais importantes e salientes transformações estavam

    aquelas que modificavam concepções do psicólogo sobre o

    fenômeno psicológico, as fontes de conhecimentos que embasavam

    a prática profissional, as formas de inserção do profissional no

    mercado de trabalho, o tipo de clientela atendida e o foco de

  • 17

    intervenção. (Abbad e Mourão, 2010, p. 381).

    No mesmo sentido caminham tanto as Diretrizes Curriculares Nacionais, que

    fundamentam o ensino superior no país como o Parecer do Conselho Nacional de Educação

    (CNE) de nº 0072/2002, que determina que os cursos em psicologia contemplem de maneira

    ampla a formação do psicólogo, respeitando as múltiplas concepções teóricas e

    metodológicas, bem como suas práticas e áreas de atuação, apresentando três perfis para a

    formação na área: o bacharelado em Psicologia, a licenciatura em Psicologia e a formação

    do Psicólogo.

    3.1 Uma área de formação com procura crescente

    De acordo com dados do Sindicato das Mantenedoras de São Paulo, nas últimas

    décadas o curso de Psicologia no Brasil apresentou um crescimento na sua procura na ordem

    de 130%. Observou-se ainda um aumento de 35% no número de concluintes em todo país.

    Os dados apurados pela entidade apontam ainda que 76% dos egressos dos últimos anos são

    de rede privada de ensino. Até 2014, os cursos de psicologia foram responsáveis pela oferta

    de 207.070 mil matrículas, que se desdobraram em 80.715 mil ingressantes nas faculdades

    ou universidades. Tomando por referência o mesmo ano, 20.663 mil alunos conseguiram

    concluir o curso.

    Este crescimento também é percebido e examinado por Bastos et al. (2010), que

    aponta para três grandes características que refletem e revelam permanências e mudanças,

    ao longo dos últimos 20 anos, na profissão. Entre essas características percebe-se o aumento

    da participação dos homens sem alteração do predomínio das mulheres, a melhor

    distribuição da profissão no espaço nacional, e o interesse pela área por parte da população

    de adultos jovens que, em 2009, tinha em média de 36,7 anos.

    O Sindicato das Mantenedoras do Estado de São Paulo indica também que em 2014

    a região do ABCD, onde localiza-se a UMESP, registrou 3.058 matriculas em cursos da

    área, o que significou um aumento na procura de 42% ao longo da última década. Porém,

    tal como os dados apresentados em âmbito nacional, dos 1.398 ingressaram nos cursos,

    somente 178 conseguiram concluir, demonstrando uma queda no número de concluintes de

    70% em comparação ao observado na última década.

    De acordo com os dados fornecidos pela UMESP e correlacionando-os aos da

    região, a universidade foi responsável por preparar para inserção no mercado de trabalho,

    em 2014, 101 profissionais, correspondendo a 57% dos egressos graduados na área em 2014

    na região do ABC.

  • 18

    3.2 Habilidades e Competências na formação do Psicólogo

    De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Psicologia – PPC (2008) da

    Universidade Metodista de São Paulo, os egressos do curso que são objeto desta pesquisa

    foram formados através de duas ênfases: Psicologia da Saúde e Comunitária e Psicologia

    Organizacional e do Trabalho. A escolha dessas ênfases foi determinada com base na

    inserção regional, entendendo-se que a formação deve ser ampla e abrangente.

    Ainda de acordo com o PPC (2008), as duas ênfases oferecidas pela instituição

    possuem objetivos alinhados com as Diretrizes Curriculares Nacionais e se estruturam a

    partir dos seguintes objetivos: a) capacitar o aluno para atuar nas organizações/instituições

    considerando a necessidade de promover o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar do

    trabalhador, de maneira individual e/ou grupal, a partir da pluralidade da ciência

    psicológica; b) capacitar o aluno para diagnosticar e intervir em uma perspectiva preventiva

    e educativa; c) promover mudanças a partir da compreensão das relações entre indivíduo-

    trabalho-organização e do reconhecimento da dinâmica da interação entre saúde-qualidade-

    produtividade; d) identificar os desafios contemporâneos presentes no contexto do trabalho;

    e) capacitar o aluno para atuar em instituições e na comunidade visando promover a saúde

    integral, o desenvolvimento e o bem-estar tanto das pessoas envolvidas quanto dos

    dispositivos institucional/comunitário, a partir da pluralidade da ciência psicológica; f)

    capacitar o aluno para diagnosticar e traçar estratégias de intervenção nas instituições e

    comunidades a partir das perspectivas da prevenção, da educação e do

    tratamento/reabilitação; g) capacitar o aluno para analisar as variáveis psicossociais e os

    componentes emocionais e cognitivos presentes em indivíduos, instituições e comunidades,

    e, h) capacitar o aluno para que possa prover mudanças a partir da compreensão da interação

    entre os elementos sociais, econômicos, culturais e políticos, além de elementos

    psicológicos.

    Para um melhor entendimento e aprimoramento da construção dos conhecimentos,

    habilidades e competências do curso de psicologia, as diretrizes curriculares determinam

    eixos que estruturam ao longo do processo de formação a explicitação de seus pressupostos

    e fundamentos, procedimentos, interfaces e práticas, quais sejam: fundamentos

    epistemológicos e históricos; fundamentos teórico-metodológicos; procedimentos para

    investigação científica e prática profissional; Fenômenos e processos psicológicos;

    Interfaces com campos afins do conhecimento e Práticas profissionais para atuação em

    diferentes contextos (CNE, 0062/2004).

    De acordo com Abbad e Mourão (2010) as competências dos psicólogos, após

    análise das Diretrizes Curriculares, podem ser agrupadas em cinco categorias de conteúdo:

    1. análise do contexto e do campo de atuação; 2. intervenção; 3. investigação científica; 4.

  • 19

    avaliação e 5. atuação inter e multiprofissional.

    Para garantir a formação e capacitação do conhecimento no campo da psicologia e

    constituir a identidade do curso, o Conselho Nacional de Educação determina a criação de

    um núcleo comum baseado no conjunto de competências básicas que aferem desempenhos

    e atuações iniciais do formando de psicologia, permitindo assim o domínio de

    conhecimentos psicológicos e a capacidade de utilizá-los em diferentes contextos que

    exijam investigação, análise, avaliação, prevenção e intervenção dos processos psicológicos

    (CNE, 0062/2004).

    Segundo o PPC (2008), as competências propostas pelo curso de Psicologia

    oferecido pela UMESP possuem características parecidas com aquelas propostas pelas

    Diretrizes Curriculares Nacionais e estão dispostas da seguinte maneira: a) elaborar projetos

    e desenvolver estratégias para possíveis intervenções nas situações e relação do

    trabalho/institucional comunitárias, considerando o contexto regional; b) elaborar e redigir

    relatórios de natureza científica ou técnica; c) analisar, descrever e interpretar

    comportamentos dos indivíduos e grupos a fim de facilitar o acesso aos estados subjetivos

    dos mesmos escuta e observação psicológicas; d) analisar e interpretar a rede discursiva e

    os laços sociais presentes no contexto institucional/comunitário; e) realizar entrevistas em

    diferentes contextos e finalidades; f) conduzir e mediar diferentes tipos de reuniões; g)

    identificar as necessidades individuais e grupais de natureza psicológica no contexto do

    trabalho e institucional/comunitário; h) utilizar diferentes métodos e técnicas de intervenção

    com indivíduos e grupos; i) atuar em equipes inter e multidisciplinares; j) coordenar e

    manejar processos grupais, considerando as diferenças individuais e culturais de seus

    membros; k) coordenar, elaborar e acompanhar projetos de intervenção envolvendo

    indivíduos e/ou grupos no contexto do trabalho; l) atuar de forma compatível com as normas

    éticas que pautam o exercício profissional do psicólogo.

    Ainda de acordo com o PPC do curso de Psicologia da UMESP (2008), espera-se

    que tais competências possam formar egressos que sejam envolvidos na promoção da saúde

    e prevenção de doenças de natureza psicológica em indivíduos, grupos e/ou organizações.

    De acordo com Abbad e Mourão (2010), estas competências reportam-se a

    desempenhos e atuação do graduado em Psicologia garantindo um domínio básico ao

    profissional e a capacidade de utilizá-los em diferentes contextos. Assim também indicam

    Zabala e Arnau (2010), que afirmam que o conceito de competência surge de posições

    basicamente funcionais, ou seja, com relação ao papel que devem cumprir para que as ações

    humanas sejam o mais eficiente possível.

    Neste mesmo sentido e visando garantir o nível dos conteúdos programáticos, a

    qualidade do ensino, as habilidades e competências aprendidas durante esse processo de

  • 20

    formação, o Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (INEP), em cumprimento à Lei nº

    10.861, de 14 de Abril de 2004, busca aferir, a cada três anos, de acordo com calendário a

    avaliação do Ensino Superior, a qualidade do ensino oferecido pelas instituições por meio

    do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE).

    Abbad e Mourão (2010) nos alertam para os resultados obtidos nas últimas

    avaliações do exame do ensino superior, que apontam baixa qualidade do ensino,

    ressaltando que as competências relacionadas às investigações científicas demandam uma

    maior requalificação, além de possuir defasagem de competências em organizações e em

    processos grupais.

    Assim também alertam Zabala e Arnau (2010), indicando que a formação inicial e

    permanente da maioria das profissões centrou-se e se reduziu à aprendizagem de alguns

    conhecimentos, ignorando as habilidades para o desenvolvimento da profissão, fomentando

    o caráter dissociado entre a teoria e a prática, onde os alunos memorizam os assuntos,

    desenvolvendo conhecimento adquiridos em uma prova e não para poder aplicá-los. Neste

    sentido, a continuidade da formação se faz necessária e auxilia no desenvolvimento e

    aprimoramento de práticas e competências que até então não foram desenvolvidas no

    período de graduação.

    Segundo Heloani et al (2010), atualmente a Psicologia tem sido uma das profissões

    que conciliam a atividade autônoma e assalariada. No entanto, a maioria dos profissionais

    da área é assalariada. Tal situação é gerada em função da diversidade de setores nos quais o

    Psicólogo atua, a maioria inserida no serviço público, acompanhada, em seguida, pela

    inserção no setor privado e, em menor proporção, no terceiro setor.

    Concomitantemente, Bastos e Guedes (2010) ressaltam a importância da psicologia

    se tornar objeto de estudo e pesquisa científica constante, oferecendo assim dados que

    promovam reflexões não só para avaliar o cumprimento dos compromissos sociais, mas,

    sobretudo, para apontar problemas, desafios e limites que possam impulsionar os seus

    processos de mudança. Os autores destacam que a ausência dessa investigação sistemática

    afeta os insumos para avaliar e rever a formação que está sendo oferecida aos profissionais,

    exigência fundamental de toda atuação responsável.

    A trajetória para a psicologia conquistar o status que possuí, consolidou-se através

    do tempo por fases significantes e estruturantes que deram a psicologia base para a

    construção de sua identidade. Estes aspectos foram distribuídos em fases importantes,

    como: O período pré-profissional (1833-1890), A fase da profissionalização (1890 –

    1906/1975), O período “profissional” (a partir de 1975) e em especial nesta última fase a

    importante participação da Universidade Metodista de São Paulo no processo de

    estruturação da Psicologia em São Paulo. A demonstração histórica da Psicologia no Brasil

  • 21

    e seu desbravamento é tema de pesquisa de diversos autores, dentre eles Bastos e Guedes

    (2010); Costa (2010); Lisboa e Barbosa (2009); Massimi (1990); Pereira e Pereira e Neto

    (2003); Pessoti (1988) e Yamamoto (2010) que contribuem no processo de resgate histórico

    e suas trajetórias iluminando e orientando os desafios da solidificação da profissão

    percorrida até o presente momento e que serão retratados através das trajetórias no decorrer

    do próximos capítulos da dissertação.

    4. A Psicologia no Brasil: trajetórias

    O traço distintivo desta primeira parte da pesquisa é mostrar o percurso histórico da

    formação e institucionalização da psicologia no Brasil e como este processo se entrelaça

    com a formação do profissional da área, em base a pesquisa bibliográfica.

    Busca-se nesse momento, a apresentação das diferentes fases que marcam a

    constituição da área no Brasil, para posteriormente localizar o debate sobre habilidades e

    competências do profissional de psicologia no contexto das exigências da atual legislação,

    assim como nas diretrizes que embasam a matriz curricular do curso de Psicologia da

    UMESP.

    5. Constituição da psicologia no Brasil: diferentes fases

    A formação do Psicólogo no Brasil é tratada há mais de 100 anos como um tema

    importante por diversos autores (Bastos & Guedes, 2010; Costa, 2010; Yamamoto, 2010;

    Lisboa & Barbosa, 2009; Pereira & Pereira e Neto, 2003; Massimi, 1990; Pessoti, 1988).

    Em comum, os autores ressaltam a trajetória da profissão partindo da premissa de que para

    se entender o contexto presente e traçar o futuro há que se refletir criticamente e

    construtivamente sobre o processo histórico de ensino, assumindo compromisso com a

    qualidade da formação tanto básica como específica dos psicólogos brasileiros.

    Dentre os principais relatos sobre a estruturação da psicologia no Brasil, Pessoti

    (1988) destaca-se por ser um dos pioneiros neste assunto. Sua abordagem sobre o tema

    retrata o contexto histórico da psicologia através de uma divisão em quatro períodos

    marcados pela ausência ou presença de instituições ligadas a Psicologia. Segundo o autor,

    foi a partir da independência política do Brasil, em 1822, que o país começa a se aproveitar

    dos múltiplos modos culturais e científicos, passando a vivenciar a criação de instituições

    de ensino para a promoção do desenvolvimento local. Nasce, nesse contexto, em 1833, as

    Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, ambas voltadas a atender as

    necessidades básicas e intelectuais da elite daquele período.

  • 22

    Com o advento das Faculdades de Medicina e o início das escolas de magistério,

    surge a construção de um saber psicológico. Esta fase, por sua vez, pode ser circunscrita,

    conforme o autor, em dois períodos: o “Pré-institucional”, que se estende até 1833, marcado

    pela influência do empirismo e relativismo religioso nos saberes psicológicos, e o

    “Institucional”, em curso entre 1833 e 1934, marcado pelos critérios epistemológicos e

    científicos (Pessoti, 1988 p.20-21). Em seguida, mais dois períodos são citados pelo autor,

    o “Universitário”, que foi de 1934 a 1962, marcado pelo início do ensino superior da

    Psicologia na “Universidade de São Paulo - USP” e na Pontífice Universidade Católica –

    PUC e, por último, o período que ficou conhecido como “Profissional”, momento que tem

    como marco a regulação da profissão, em 27 de agosto de 1962.

    Autores como Pereira e Pereira Neto (2003) relatam que esta periodização proposta

    por Pessotti (1988), estabeleceu marcos para a trajetória de desenvolvimento da Psicologia

    no país que foi de fundamental importância para a compreensão e organização da profissão.

    No entanto, mesmo sem considerar os critérios de Pessoti (1988) inadequados, os autores

    trazem uma nova proposta refinada e contemporânea para a já conhecida periodização,

    visando incrementar as reflexões sobre a história da profissão de Psicólogo(a) no país,

    apoiadas pelas referências teóricas das “Sociologia das Profissões”, por se tratar de uma

    especialidade da sociologia geral que explora o processo de profissionalização que

    especifica uma série de características ou atributos considerados inerentes e comuns a todas

    as profissões (Cardoso, 2005).

    Pereira e Pereira Neto (2003) consideram que a periodização proposta por Pessotti

    (1988) deixa uma lacuna, já que não apresenta, segundo os autores, um referencial teórico

    expressivo voltado diretamente à profissão de Psicólogo. Para os autores, há, na trajetória

    proposta por Pessotti (1988) uma carência de discussões científicas acerca da profissão.

    Desta maneira, os períodos são apresentados e estruturados cronologicamente, salientando

    datas que marcam a criação de instituições ligadas ou não a Psicologia, a partir de uma

    trajetória embasada em textos coloniais que discorrem explicitamente sobre política,

    teologia, medicina, pedagogia e moral. Diante desse quadro, visando ampliar a perspectiva

    proposta por Pessoti (1988), e amparados por referencias teóricas da Sociologia das

    Profissões, Pereira e Pereira Neto (2003) apresentam uma proposta contemporânea, visando

    incrementar as reflexões sobre a história dessa profissão, incluído escritos de autores como:

    Marina Massimi, Lourenço Filho, Antônio Gomes Penna que trazem textos com

    fundamento científico e atual, propondo assim, uma classificação da divisão do

    desenvolvimento e estruturação da Psicologia em três períodos, a saber: pré-profissional

    (1833-1890), profissionalização (1890/1906-1975) e profissional (pós 1975).

  • 18

    Figura 1. Contextualização histórica e contemporânea do processo de profissionalização da Psicologia no Brasil, proposto por Pereira & Pereira Neto (2003).

  • 24

    5.1 O período pré-profissional (1833-1890)

    Pereira e Pereira Neto (2003) articulam de maneira sutil os dois primeiros períodos

    propostos por Pessoti (1988) -“Pré-Institucional”, até 1833, e “Institucional”, que se inicia

    em 1833 e se estende até 1934em um só período “pré-profissional”, visando descrever o

    momento histórico que antecede a profissionalização da Psicologia no país. Para Pessoti

    (1988), sobre o período denominado de “pré-Institucional” versam os escritos feitos pelos

    missionários da nova terra descoberta até a criação das Faculdades de Medicina no país.

    Estes escritos, segundo o autor, eram individuais, sem compromisso com a construção ou

    difusão de um saber psicológico, em sua total idade influenciados pela ideologia dos

    modelos dominantes europeus, solidificados em um moralismo cristão com cunhos

    civilizatórios, transcritos de uma pedagogia racionalista com um naturalismo de matriz

    empirista, coroado pelo organicismo e pela ênfase na influência do ambiente. Já o período

    Institucional teve como marco a construção das Faculdades de Medicina da Bahia e do

    Rio de Janeiro em 1833 e foi até 1890, que passa a partir deste momento a utilizar o uso

    dos termos próprios de estudo no campo emocional contribuindo assim na construção do

    conhecimento de um Saber Psicológico.

    Após a criação das Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro em 1833,

    Pessotti (1988) relata que este novo período Institucional acabou produzindo médicos

    com vínculos enraizados nas questões étnicas, afetivas ou culturais com a população,

    visto que estes profissionais passaram a utilizar seu conhecimento empírico para a

    construção científica específica do saber que ficou conhecido a partir de 1890 como

    Psicologia, através da Reforma de Benjamin Constant que tinha segundo Freitas (2015)

    o intuito de substituir o currículo acadêmico pelo currículo enciclopédico, ou seja, um

    currículo prático, característico das ideias positivistas. Esta aproximação da Medicina

    para a Psicologia trouxe contribuições intelectuais, estudos sistemáticos, proporcionando

    assim uma escrita culta e acadêmica, colaborando para a construção de manuais, tratados

    com propósitos práticos e principalmente uma grande diversidade de estudos para os

    campos psicológicos.

    Para Pereira e Pereira Neto (2003), estes eram sinais de novos tempos para a

    Psicologia, pois nas faculdades os médicos apresentavam um grande interesse na

    construção de conteúdos psicológicos, visto que na Faculdade de Medicina da Bahia o

    enfoque dos conteúdos produzidos era voltado para os aspectos sociais, forense e de

  • 25

    higiene mental, enquanto que na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a produção

    dos saberes psicológicos cresciam ligados à neurologia e neuropsiquiatria.

    Neste ponto, Pereira e Pereira Neto (2003) utilizam-se dos escritos de Pessoti

    (1988) para apresentar sua argumentação englobando os dois períodos propostos,

    reforçando o que passam a denominar de período “Pré-profissional”, compreendido entre

    os anos que sucedem 1833 até 1890, justamente por ser constituído por um momento em

    que não havia uma psicologia propriamente dita, dotada de sistematização teórica e

    terminologia própria, carente de um campo de conhecimento específico, sem sequer

    possuir uma prática reconhecida no país. O campo da psicologia estava no início de suas

    reais propostas. O que havia então eram apenas pessoas interessadas nas questões

    psicológicas, não havendo no século XIX, todavia a profissão de Psicólogo(a) no Brasil.

    São essas as considerações que levam o autor a delimitar esse período como “Pré-

    Profissional”.

    Esse pensamento também é compartilhado por Waeny e Azevedo (2009), pois,

    segundo os autores, com a Reforma de Benjamin Constant, de 1890, a tendência

    humanista na educação foi deixada de lado, apoiada pelo decreto de Lei nº 981 de 1890

    (Brasil, 1980), sendo substituída por uma tendência cientificista, passando a ganhar uma

    identidade e ser conhecida como tal. A reforma de Benjamin Constant era composta de

    21 decretos com foco em métodos e conteúdos de cunho liberal e elitista, versavam sobre

    a educação e estabelecimentos mantidos pelo governo federal na capital federal,

    ressalvando o ensino superior que tinha instituições de ensino em outras cidades e capitais

    do país (Delaneze, 2007).

    5.2 A fase da Profissionalização (1890 – 1906/1975)

    Pessoti (1988), Massimi (1993) e Pereira e Pereira Neto (2003) concordam que os

    três momentos mais importantes que marcam o início estruturação profissional da

    Psicologia se dá justamente no período criado pela Reforma de Benjamin Constant, em

    1890, em conjunto com a inauguração do Laboratório Experimental na Educação –

    Pedagogium, em 1906, e a regulamentação da profissão em 1962.

    Entretanto, Pereira e Pereira Neto (2003) complementam que para se tornar um

    tipo de atividade além de específica, especializada, era necessário que a Psicologia

  • 26

    detivesse um conhecimento delimitado, complexo e institucionalizado. A área de

    conhecimento necessitava organizar seus interesses em associações que padronizassem a

    conduta dos pares, realizando uma autorregulação que deveria se efetivar por meio da

    fiscalização, apoiada em dispositivos formais, entre os quais se destacam os códigos de

    ética. Dessa forma, os autores propõem como referência para demarcar o fim do período

    de profissionalização a criação do código de ética de 1975, que regulamenta a praticada

    profissão.

    Com o início dos anos de 1890 a Psicologia começa a se aproximar da educação

    impulsionada pela reforma de Benjamin Constant, que inclui a Psicologia nas matrizes

    curriculares, fazendo-se importante para o desenvolvimento da profissão e contribuindo

    assim, para o início da institucionalização da Psicologia no Brasil (Pereira & Pereira Neto,

    2003). Assim também entendem Waeny e Azevedo (2009), no qual reforçam que neste

    momento nasce a primeira formalização do ensino da Psicologia, onde na disciplina de

    Filosofia, que antes contemplava e discutia temas psicológicos, passa a se chamar

    “Psicologia e Lógica”, e a disciplina de Pedagogia acabou sendo reorganizada como

    “Pedagogia e Psicologia”.

    Logo em seguida, mais precisamente em 1892, em São

    Paulo, a Psicologia assume forma de disciplina específica,

    apoiada pelo surgimento das escolas normais que tinham

    como objetivo formar um corpo docente competente e

    adequado às necessidades do sistema educacional brasileiro,

    encontrando fundamentação na Psicologia experimental que

    acabava de surgir (Massami, 1993). Essa transformação no

    ensino, assim como a constituição das escolas normais, foi

    amparada em São Paulo pelo decreto nº27, de 12 de março

    de 1890, que, especifica que “sem professores bem

    preparados, praticamente instruídos nos modernos processos

    pedagógicos e com cabedal científico adequado às

    necessidades da vida atual, o ensino não pode ser

    regenerador e eficaz”. Até então, a “Psychologia” era

    conhecida, desde 1833, pelas Faculdades de Medicina, como

    um objeto de estudo das áreas de conhecimento como:

    Filosofia, Direito, Medicina, Pedagogia e Teologia Moral,

    sendo ensinada pela Faculdade de Direito de São Paulo como

    uma “Ciência do Homem” fundamentada na fisiologia ou

    “Física da Natureza Humana” tornando-se uma disciplina

    curricular obrigatória no país em 1928 (Lisboa & Barbosa,

    2009).Pode-se dizer que as articulações entre Psicologia e

    Educação foi essencial para a autonomização da psicologia

    no Brasil, de tal maneira que se pode dizer que a Educação

    foi o terreno fértil no qual a Psicologia se desenvolveu. Essa

    relação permaneceu forte nos anos subsequentes, podendo-

  • 27

    se dizer que foi no campo da Educação que a Psicologia mais

    efetivamente encontrou as bases para seu desenvolvimento

    e, ao mesmo tempo, que foi na Psicologia que mais o campo

    da Educação fundamentou suas teorias e práticas (Antunes,

    2002, p.193).

    A partir deste momento, a Psicologia passa a disseminar os seus

    conhecimentos para a população com a inserção da Psicologia como disciplina,

    viabilizada pela reforma de Benjamin Constant, em 1890, assim como com o

    surgimento da Psicologia Experimental.

    Estes mesmos pensamentos se encontram nos escritos de Antunes

    (1991), os quais relatam que a criação do Laboratório Experimental, só foi

    possível através do decreto nº 980, de 1890 (Brasil, 1890), proposto pelo

    advogado e diplomata Rui Barbosa. O laboratório ficou conhecido como um

    centro de produção de conhecimentos e estímulos para as realizações

    educacionais. Manteve-se em funcionamento até 1897 como um museu

    pedagógico. Ainda segundo o autor, logo em seguida, e com intuito de ser um

    “Centro de Cultura Superior aberto ao público”, por intermédio de Medeiros

    de Albuquerque, nascem 1906 o Laboratório de Psicologia Pedagógica,

    “Pedagogium”, projetado pelo psicólogo e advogado Alfred Binet idealizador

    do teste de quociente de inteligência ou QI em Paris, coordenado pelo médico

    e psicólogo Manoel Bonfim, acompanhando assim as tendências europeias da

    psicologia. O Laboratório, conforme Niskier (2011), foi extinto em 1919 pelo

    decreto municipal nº 1360, do Rio de Janeiro, por não atingir de acordo com

    Antunes (1991) as finalidades previstas na reforma de Benjamin Constant,

    entre as quais transformar o ensino em formador de alunos para os cursos

    superiores e não apenas reparador.

    Pessoti (1988) complementa retratando a importância que o

    Laboratório teve na disseminação do conhecimento científico, pois com a

    realização de pesquisas passou a contribuir com artigos que foram publicados

    na revista Educação e Pediatria, bem como no auxílio de trabalhos que

    culminaram na construção do livro de Manuel Bonfim intitulado “Noções de

    Psicologia”, editado em 1917 e em 1922, e no estudo do médico e Psiquiatra

    Plínio Olinto, “Fadiga Intelectual de Escolares”, de 1934.

    É parte desse processo, tal como já apontado anteriormente, conforme

  • 28

    destaca Massimi (1990), o quanto a pedagogia começa a encontrar fundamento

    científico na psicologia experimental, que acabara de surgir. Este será o

    caminho, conforme o autor, pelo qual a disciplina de psicologia conquista, em

    1893, sua obrigatoriedade na Escola Normal de São Paulo estendendo-se, em

    1928, para todo país.

    Segundo Pereira e Pereira Neto (2003), em paralelo, a medicina

    deixava cada vez mais claro seu interesse na institucionalização da psicologia,

    fato este que se consolida em 1923, após a criação de um laboratório

    experimental dentro da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, no Rio

    de Janeiro, que ficou conhecido como Hospital Nacional de Psicopatas.

    Centofanti (1982) relata que o laboratório experimental estava naquele

    momento sob a direção do médico polonês Waclaw Radeki que o transforma,

    em 1931, no Instituto de Psicologia. Esta situação é oficializada em 1932, pelo

    Ministério da Educação e Saúde Pública, que reconhece o Instituto como

    centro coordenador de estudos de psicologia geral e aplicada, com objetivos

    que abarcavam desde a realização de pesquisas científicas, aplicações práticas,

    à formação de psicologistas profissionais, mediante cursos teóricos e práticos,

    e com estágio obrigatório em seus laboratórios, através do decreto nº 21.173

    (Brasil, 1932).

    Conforme Penna (1992), este laboratório contribuía no auxílio das

    atividades médicas, atendimentos sociais, estruturação de um núcleo de

    pesquisa e um centro de formação de psicólogos, onde eram realizadas práticas

    que em seguida se tornaram práticas do psicólogo, como a testagem e a

    psicoterapia.

    Logo após, na Escola Normal de São Paulo, sem a necessidade de

    decreto governamental, nasce o segundo laboratório de Psicologia

    Experimental, administrado pelo médico, pedagogista e livre docente da

    Universidade Moderna em São Paulo Ugo Pizzoli, que passa a realizar

    pesquisas experimentais sobre o raciocínio infantil, grafismo, memória,

    cinética, tipos intelectuais e associação de ideias. Mas é sob a direção de

    Lourenço Filho, com auxílio de Noemi Silveira, que os estudos do

    desenvolvimento mental, inquéritos sobre jogos, influência de leituras e de

    cinema, aprendizagem e maturidade para aprendizagem da leitura e da escrita

    se tornam referências descritivas para o estudo do teste ABC, em 1927

  • 29

    (Pessotti, 1988).

    De acordo com Guimarães (1928), neste período a psicologia passa a

    contar com médicos que resolvem dedicar-se a profissão de psicólogo, a

    exemplo de Nilton Campos, que se dedica à área após participar de curso

    ministrado por Radeki na Universidade do Rio de Janeiro, em 1925,

    posteriormente, junto com Radeki, Campos publicaria suas “Pesquisas

    Experimentais da Influência do Material Mnemônico Esquecido Sobre a

    Associação Livre”, nos Trabalhos de Psychologia em 1928, que eram na

    verdade, separatas dos “Anaes da Colônia de Psychopatas” (Centofanti, 1982).

    Neste ínterim a Psicologia começava a se expandir no país, através das

    fundamentações científicas que Radeki havia estruturado para facilitar o

    aprendizado, o que acabou colaborando para mostrar que seu trabalho parecia

    estar na direção certa, pois seus fundamentos acabaram atraindo a equipe

    médica das Forças Armadas que indicou um grupo de militares para fazer o

    curso de Psicologia no Laboratório, dos quais designou três médicos a ficarem

    para aprender a desenvolver pesquisas psicológicas para o recrutamento de

    aviadores, dentre eles o capitão Ubirajara da Rocha e os tenentes Arauld Bretas

    e Alberto Moore (Centofanti, 1982).

    Esta aproximação com a área médica do Exército foi extremamente

    relevante para a profissionalização da Psicologia no país, pois fez com que a

    concepção teórica da Psicologia de Radekiana amadurecesse e concluísse entre

    1928 e 1929, durante o curso de Psicologia ministrado na Escola de Aplicação

    do Serviço de Saúde do Exército, a publicação de 17 fascículos divididos em

    cinco capítulos intitulados “Resumo do Curso de Psychologia”. Estes escritos

    incluíam de maneira criteriosa e clara os cinco elementos centrais e

    fundamentais do sistema de aprendizagem, estabelecendo sua primeira

    estruturação no ensino que ficaram conhecidas como: “A psicologia da vida

    intelectual, A Psicologia da Vida Afetiva, A Psicologia da Vida Ativa,

    Problemas da Psicologia individual e Coletiva e Psicotécnica conhecida como

    a prática dos conhecimentos aplicados” (Centofanti, 1982. p. 15).

    Este curso deixou um legado importante para o desenvolvimento

    posterior da Psicologia daquele período, com destaque para Ubirajara da

    Rocha que produziu dois trabalhos que tratavam do estudo da atenção nos

  • 30

    aviadores que fora publicado em 1929, além das produções dos tenentes

    Arauld Bretas e Alberto Moore, cumprindo assim a finalidade do laboratório

    (Centofanti, 1982).

    Centofanti (1982) também relembra que o plano de ensino proposto por

    Radeki foi o primeiro de domínio público sobre a formação em Psicologia no

    Brasil, o qual acabou não sendo concretizado visto o fechamento do Instituto

    em menos de um ano de atividade, em 24 de outubro de 1932, pelo decreto de

    Lei nº 21.999 (Brasil, 1932), com motivos não muito claros na justificativa da

    lei. Porém, o autor traz a perspectiva de três possíveis interpretações que

    poderia justificar o fechamento do Instituto, dentre elas, uma forte pressão de

    setores influentes da Psiquiatra sobre alguns ministros para impedir a

    profissionalização da Psicologia no Brasil; a influência de grupos católicos

    ligados à Psicologia pressionando o alto escalão do governo Vargas solicitando

    a queda de Radeki, bem como o fechamento do Instituto; e a de que o

    orçamento do instituto daria apenas para mantê-lo durante sete meses em que

    ficou aberto, visto que ele havia sido criado para se auto sustentar. Ainda de

    acordo com o autor, o Instituto voltou às suas atividades em 1937,

    incorporadas à Universidade do Brasil, valendo-se de alguns dispositivos da

    Lei nº 452, de maio de 1937 (Brasil, 1937).

    Penna (1992) relembra de maneira importante que Radeki não era

    Psicólogo e sim um estudioso da Psicologia, o que teria contribuído para

    ressaltar de maneira sutil que o trabalho do Psicólogo(a) não era o de ensinar

    médicos a tratar dos doentes, visto que suas bases de conhecimento eram

    advindas da produção científica estruturadas dos seus conhecimentos no

    campo da Psicologia, evitando assim, que o Psicólogo não se tornasse uma

    figura ameaçadora aos olhos dos médicos, e sim, um profissional que atua de

    forma complementar e articulada ao que conhecemos hoje de processo

    Psicoterapêutico. Para Pereira e Pereira Neto (2003) esta experiência foi à

    parte significativa do processo de profissionalização da psicologia, visto que a

    partir daí ficou estabelecido qual era o campo de atuação das práticas da área,

    e que, diga-se de passagem, são utilizadas até hoje.

    É também na década de 1930 que a psicologia consegue sua inserção

  • 31

    no ensino superior passando a configurar como uma disciplina obrigatória

    conhecida como “Psicologia Geral” nos cursos de Filosofia, Ciências,

    Pedagogia e em matrizes curriculares dos cursos de licenciatura. Foi mais

    precisamente em 1934 com a criação da Universidade de São Paulo, que

    naquele momento transformou a antiga escola normal “Instituto de Educação

    Caetano de Campos” em “Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP”

    com o intuito de incorporar o Laboratório Educacional à “Cátedra de

    Psicologia Educacional”, o que mostra que a Psicologia começou a ganhar

    relevância na formação de outros profissionais (Lisboa & Barbosa, 2003).

    Neste mesmo momento a psicologia começa a se desvincular das

    aplicações médicas, iniciando seu desenvolvimento autônomo, passo este

    importante para sua valorização (Pessotti, 1988). Além disso, a área passa a

    ganhar força fora do estado de São Paulo, começando a se desenvolver também

    em Universidades como a do Brasil, no Rio de Janeiro, a Católica e a Federal

    de Minas Gerais, e a Federal do Rio Grande do Sul (Lisboa & Barbosa, 2003).

    Logo no final da década de 30, mais precisamente no ano de 1939, a

    psicologia no Rio de Janeiro passa a se fortalecer ganhando duas cátedras

    importantes, fato este que só foi possível após a retomada e incorporação do

    Laboratório do Engenho de Psicopatas pela Universidade do Brasil no Rio de

    Janeiro, em 1937, e que ficaram conhecidas como Cátedra da Psicologia Geral

    tanto no departamento de Filosofia, Psicologia Educacional, como no

    departamento de Pedagogia e Psicologia Aplicada da Escola Nacional de

    Educação Física e Desportos (Penna, 1992).

    Para Pereira e Pereira Neto (2003), a década de 1930 contribuiu sem

    dúvidas para a solidificação acadêmica da psicologia, repercutindo na década

    de 40 através da institucionalização da formação do Psicólogo Brasileiro,

    conforme Decreto-Lei nº 9.092 de 26 de Março de 1946 (Brasil, 1946), que

    determinava que para obter o diploma de licenciado, os alunos do quarto ano

    receberiam formação didática, teórica e prática, no ginásio de aplicação, e

    seriam obrigados a fazer um curso de psicologia aplicada à educação, deixando

    claro ainda que os que não estivessem dentro destas exigências receberiam

    apenas o diploma de bacharel. Desta maneira, o psicólogo habilitado deveria

  • 32

    frequentar os três primeiros anos de filosofia, biologia, fisiologia, antropologia

    ou estatística e, em seguida, especializar-se em psicologia, para poder enfim

    iniciar o exercício das atividades de psicólogo.

    Assim sendo, a psicologia já era uma ciência presente na vida das

    pessoas e o movimento para o estabelecimento e regulamentação da profissão

    começou a aparecer através da proposta de anteprojeto de Lei nº 3.825, de

    1958. Tal fato culminou no pedido do Conselho Nacional de Educação de

    sugestões relativas para regulamentação da psicologia às entidades da área

    acerca da profissão de Psicologistas, mas infelizmente a proposta não veio ser

    aprovada pelo MEC, pois estava em jogo naquele momento uma disputa

    coorporativa pela exclusividade da atividade clínica, disputa esta que separava

    médicos e psicólogos (Esch & Vilela, 2001).

    Apesar da tentativa frustrada de regulamentação da profissão, a

    psicologia continuava a desenvolver força na esfera acadêmica, passando neste

    mesmo período a ganhar seu primeiro curso autônomo, tanto no Rio de Janeiro

    pela Universidade Católica em 1953, quanto, posteriormente, em São Paulo,

    pela Universidade de São Paulo, em 1958. Este último regulamentado pela Lei

    nº 3.862, de 28 de maio de 1957, que determinava a criação do curso de

    Psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (Penna, 1992).

    Para Lisboa e Barbosa (2009), a presença marcante da Psicologia nas

    outras profissões e agora sua independência acadêmica culminaram para que

    na década de 1960 fosse estabelecida a regulamentação da prática e do ensino

    da Psicologia no Brasil, fato este que foi amplamente amparado pela tão

    conhecida Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, e pelo Parecer nº 403/62 que

    fixava o currículo mínimo e a duração dos cursos de Psicologia passando a

    abranger três níveis de seguimentos determinando um período para a formação

    e o segmento, que são conhecidas até hoje como: bacharel (Pesquisador,

    4anos), licenciatura (Professor, 4 anos) e formação do Psicólogo (5 anos).

    Pessoti (1988) afirma que esta crescente inserção da Psicologia no ensino

    superior a partir de 1934 até 1962 ficou conhecida como período universitário.

    Dentre as principais motivações que levaram a regulamentação da

    profissão, está a instalação do processo de industrialização, que acabou

  • 33

    provocando uma sistematização na economia e na organização social do país,

    exigindo assim, uma reorganização do contexto urbano, de maneira que,

    passasse a proporcionar práticas de produção que fortalecessem a economia e

    promovessem um autocontrole das ações sociais, assim sendo as práticas

    científicas da psicologia proporcionava a avaliação das pessoas de acordo com

    suas peculiaridades e contribuía para a mediação das relações entre elas (Luzio

    & Ribeiro, 2006).

    Outro ponto que chama a atenção é que este processo regulatório tornou

    oportuna a abertura da era do programa de Stricto Sensu para a Psicologia,

    proporcionando assim o início da sua primeira turma de mestrado em 1966 e

    de doutorado em 1974 legitimando academicamente a profissão a lutar pelo

    domínio de segmentos importantes do mercado de trabalho (Biaggio &

    Grinder 1992).

    Agora com a regulamentação da profissão e a institucionalização de um

    currículo mínimo, a Psicologia acaba vivendo seu melhor momento entre os

    anos 1960 a 1979 conforme afirma Bernardes (2004), pois se vê diante de um

    enorme crescimento proporcionado pela grande abertura de cursos de

    Psicologia nas redes de ensino privados, fruto da reforma universitária

    proposta pela Lei nº 5.540 (1968), de 28 de novembro de 1968, com o objetivo

    de conter a “Crise Universitária” que ficou conhecida no início da década de

    60 por não proporcionar vagas para alunos que saiam do ensino médio e que

    foi proposta pelos militares que haviam se instalado no governo e visava fixar

    normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação

    com a escola média.

    Segundo Pereira e Pereira Neto (2003), este crescimento exponencial

    levantou à questão da importância da demarcação do campo de atuação e a

    necessidade de se obter o cadastro dos profissionais que já existiam ou que

    trabalhassem com as vertentes psicológicas, o que veio acontecer com o

    Decreto nº 53.464, de 21 de janeiro de 1964, que regulamenta a Lei nº 4.119,

    de 27 de agosto de 1962, definindo assim a função do recém-profissional, a

    saber:

    Art. 4º - São funções do psicólogo: 1) Utilizar métodos e

  • 34

    técnicas psicológicas com o objetivo de: a) diagnóstico

    psicológico; b) orientação e seleção profissional; c)

    orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de

    ajustamento. 2) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e

    estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de

    economia mista e particulares. 3) Ensinar as cadeiras ou

    disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino,

    observadas as demais exigências da legislação em vigor. 4)

    Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos

    e práticos de Psicologia. 5) Assessorar, tecnicamente,

    órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos,

    paraestatais, de economia mista e particulares. 6) Realizar

    perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia

    (Brasil, 1964).

    A lei impactou diretamente a vida das pessoas que vinham atuando no

    campo da psicologia, fato este, comprovado por Prado (2016), ao relatar que

    ao lecionar Psicologia Geral na então antiga Faculdade de Ciências Humanas

    e hoje Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo, além de ser

    licenciado em Filosofia, fazia pouco tempo que tinha feito bacharelado em

    Psicologia e, mesmo antes da regulamentação, já trabalhava como Psicólogo

    na área de Relações Industriais, em Seleção de Pessoas. Vale, no entanto,

    destacar que a nova legislação garantiu a ele a continuidade de exercer sua

    profissão como professor, mas não lhe garantiu o registro como Psicólogo

    visto que para recebê-lo o profissional deveria ter no mínimo cinco anos de

    exercício nesta função.

    5.3 O período “profissional” (a partir de 1975) e o curso de Psicologia da

    Metodista

    Como Decreto nº 53.464, de 21 de janeiro de 1964 a representatividade

    e atuação do trabalho do psicólogo em outros campos foram regulamentadas.

    A psicologia passou a estar presente na clínica, na escola, no trabalho, na área

    acadêmica e jurídica, o que acabou gerando conflitos e disputas com outras

    atividades profissionais.

    Pereira e Pereira Neto (2003) orientam que mesmo com a

    regulamentação da profissão e com o cadastro dos profissionais era preciso

    organizar-se como profissionais. Os autores relembram que este movimento

  • 35

    começou a se estabelecer no I Encontro Nacional de Psicologia, realizado em

    1971, no qual estavam representantes de todas as Associações de Psicologia

    para discutirem a importância da criação dos Conselhos de Psicologia. Os

    resultados deste encontro culminaram na Lei federal nº 5.766, de dezembro de

    1971 que determinou a criação dos Conselhos Federais e Regionais com o

    objetivo de orientar, disciplinar e fiscalizar os princípios da ética e o exercício

    da profissão. Ainda segundo os autores, com essa diretriz regulamentada,

    nasce em 1975 o código de ética que permeia as práticas profissionais do

    psicólogo até hoje, vindo ser fixada, em 1977, pelo segundo conselho eleito,

    tendo como premissa orientar e fiscalizar a profissão.

    Além disso, com a criação do Conselho profissional, iniciou-se a

    intervenção social da profissão, que colaborou no norteamento da maneira

    como os profissionais formados iam ocupando o mercado de trabalho, a

    clínica, de maneira que, ao mesmo tempo em que o Código de Ética

    normatizava a conduta, oferecia garantia e valorização das práticas

    profissionais, estabelecia um padrão de conduta profissional a ser observado

    (Furtado, 2012).

    Ainda no início da década de 1970 a psicologia no Brasil passa a

    apresentar um forte crescimento no número de formados, apoiado pela

    crescente e proliferada oferta do ensino privado (Pereira & Pereira Neto,

    2003). Rocha Jr. (1996) alerta que o crescimento da rede privada de ensino

    superior não se concentrava apenas na capital, mas se expandiu inclusive para

    o interior do estado, por meio de cursos que em sua maioria, continuam em

    funcionamento até hoje.

    Neste período e aproveitando a grande tradição da já conhecida

    Faculdade de Teologia da Igreja Metodista em São Bernardo do Campo,

    consolidada desde 1938,e o advento da demanda vinda da população, nasce

    em 01 de julho de 1971,através do Instituto Metodista de Ensino Superior, na

    então Faculdade de Ciências Humanas e Letras, o curso de Psicologia da atual

    Universidade Metodista do Estado de São Paulo. A autorização de

    funcionamento do curso foi emitida por meio do Decreto nº 68.793, de 22 de

    junho de 1971 (Brasil, 1971), sendo o curso reconhecido posteriormente pela

  • 36

    Lei nº 74.259, de 08 de julho de 1974 (Brasil, 1974).

    O curso de Psicologia da Universidade Metodista surge exatamente no

    período assinalado por Pereira e Pereira Neto (2016) como profissional (após

    1975). Sua trajetória histórica servirá para elucidar as implicações que o

    processo de formação proporcionou durante o período em que a psicologia

    vive a regulação da profissão, a criação de um currículo mínimo e a criação do

    conselho profissional, condições essas que, segundo os autores, demonstram a

    organização da profissão, sofrendo apenas as alterações socioeconômicas e

    disputas interprofissionais.

    Implantado sob o auxílio do professor convidado e reconhecido pela

    sua atuação na indústria, Péricles de Oliveira Prado Filho1, o curso nasce com

    a premissa de contribuir com a formação de profissionais “Humanistas” e

    cidadãos críticos (Prado Filho, 2016). Ainda de acordo com o autor, o Instituto

    Metodista do Ensino Superior, por meio da antiga Faculdade de Ciências

    Humanas e Letras, teve uma contribuição histórica no desenvolvimento e na

    expansão da psicologia no estado de São Paulo, pois até então, existiam apenas

    três cursos de Psicologia em São Paulo, entre eles o da Universidade de São

    Paulo – USP e os dois da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –

    PUC, um deles em funcionamento na Faculdade São Bento e outro no Sedes

    Sapientiae, que já havia formado alunos Psicólogos e serviram de modelo para

    a implantação do curso implantado por Prado Filho junto ao Instituto

    Metodista de Ensino Superior.

    Chaves (1992) alerta que o forte crescimento da oferta de cursos de

    Psicologia naquele período produzia de maneira negativa, escolas com baixa

    qualidade de ensino ou controle, ofertando assim uma formação insatisfatória

    durante o primeiro período da década de 1970. Tal fato, também se apresenta

    nos escritos de Prado Filho (2016) no qual relata que a principal crítica sofrida

    nos primeiros anos do curso de psicologia oferecido pela Metodista, feita pelos

    1 Psicólogo, Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e licenciado em Filosofia. Professor titular de psicologia social na Universidade Metodista de

    São Paulo. Foi o primeiro coordenador do curso de psicologia e ocupou cargo de diretor, logo

    após a consolidação do curso, sua atuação profissional compreende os anos de 1974 a 1997

    (Prado, 2016).

  • 37

    professores e alunos, se relaciona a falta de uma formação mais objetiva e

    diretiva no desempenho prático e profissional do psicólogo, visto que sua

    matriz curricular contemplava entre as disciplinas aquelas mais teóricas,

    deixando a prática apenas no último período letivo. Ainda de acordo com o

    autor, a crítica teve impacto positivo, pois impulsionou a Diretoria Geral para

    uma proposta de melhoria do curso, o que acabou acontecendo após Péricles

    de Oliveira Prado Filho assumir a coordenação do Departamento de

    Psicologia, em 1974, momento em que redirecionou e ampliou, com ajuda dos

    docentes, o currículo do curso, oferecendo aos alunos daquele período a

    possibilidade de aplicar seus conhecimentos através de monitorias, auxílio ao

    professor em sala de aula, sem o prejuízo de se construir uma sólida formação

    humanista, valorizando atividades cada vez mais práticas, deixando assim o

    currículo do curso amplamente estruturado também na formação profissional

    do Psicólogo.

    Em paralelo a essa situação, a elevada oferta proporcionada pelas

    instituições de ensino daquele período também se apoiava na crescente procura

    da classe média e alta, por serviços psicológicos, visto que a psicanálise e a

    psicologia passavam a fazer parte do cotidiano da sociedade através das

    revistas, jornais e programas de TV (Pereira & Pereira Neto, 2003).Assim

    sendo, para os autores, a Psicologia passa a partir de 1975 pelo dilema de

    qualquer começo de profissão ao se estabelecer no mercado: a crescente

    procura pelo curso e a da necessidade de garantir seu poder, prestígio,

    reconhecimento e autoridade em sua área de atuação, situação também relatada

    por Bock (2010, p. 249- 250).

    É nos anos 70 que muitos cursos vão surgir. São Paulo passa

    a ter um grande número de cursos que colocam no mercado

    um número enorme de profissionais. Sou o nº 2.771 no

    Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP– 06),

    inscrita em 1977. Como esse Conselho tinha, à época, mais

    de 60% dos psicólogos inscritos no País, significa que não

    éramos mais de 5 mil (aproveito para salientar que estamos

    em meados dos anos 70, imagine em 1962, quando a Lei foi

    promulgada!).

    Segundo Prado (2016), o curso de Psicologia da Faculdade de Ciências

    Humanas da Metodista foi responsável pela graduação da primeira turma da

  • 38

    região do ABC Paulista. Tratava-se de um grupo heterogêneo, que possuía

    alunos recém-chegados do colegial, senhores e senhoras idosas, alunos de

    outras regiões de São Paulo, além de uma grande quantidade de alunos de

    Santos, visto que nesta cidade não havia nenhum curso superior naquele

    período. Eram também, conforme o autor, atraídos pelo nome da instituição,

    “Metodista”, em virtude do respeito conquistado pelo já tradicional curso de

    Teologia.

    Já na década de 1980 tanto Bastos (2002) quanto Rocha Jr. (1996),

    relatam que era um momento de certa calmaria e passividade, com ajustes

    individuais de currículos sem muito tangenciamento regional ou nacional,

    além de profissionais preocupados na produção de dados e informações sobre

    o que acontecia na profissão e no processo de formação, o momento era,

    segundo os autores, de fazer um diagnóstico acerca da profissão. Essas ações

    foram acompanhadas de encontros e semanas de psicologia, que convidavam

    os alunos e psicólogos a refletirem também sobre a construção da sua

    identidade e seu campo de atuação, o que contribuiu e muito para a expansão

    e entrada do psicólogo na saúde mental e comunitária, apoiados pela

    necessidade de estágio dos alunos e dos anseios de movimentos sanitaristas

    que caminhavam a passos largos (Bock, 2010).

    Pensar nos caminhos que o psicólogo havia tomado levou o Conselho

    Federal de Psicologia– CFP a fazer um diagnóstico de como se encontrava a

    psicologia no país. Esses esforços culminaram na produção do livro intitulado

    “Quem é o Psicólogo Brasileiro?” com objetivo de proporcionar um primeiro

    diagnóstico da profissão e da formação (Bernardes, 2004).

    O diagnóstico ressalta que entre 1985 a 1987 a profissão era composta

    por 85% de mulheres, os psicólogos eram mal remunerados e que em parte

    exerciam sua profissão em período parcial, trabalhando em paralelo a outras

    atividades para complementar sua renda mensal. Os dados também revelaram

    que os profissionais eram em sua maioria jovens, com73 a 90% deles na faixa

    dos 20 a 30 anos. Estavam também concentrados nos centros urbanos, locais

    estes onde se encontram os cursos de formação e uma maior proximidade com

    o mercado de trabalho (Pereira& Pereira Neto, 2003). Ainda de acordo com os

  • 39

    autores, a perda de autoridade e valorização profissional era evidente, visto

    que os profissionais necessitavam de renda complementar e não conseguiam

    manter-se apenas com o exercício das atividades da clínica.

    Apesar do momento que a psicologia passava, voltada à reconstrução

    de sua identidade, a década de 1980 presenciou um salto exponencial no

    número de profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia,

    passando de 5 mil membros na década de 1970 para 30 mil profissionais no

    início da década de 1980. O crescimento, sem dúvida, foi favorecido pela forte

    expansão dos cursos de psicologia em todo território nacional, principalmente

    no sudeste e, posteriormente, de forma mais lenta, por todo o país (Bock,

    2010). Após a pesquisa de 1987, realizada pelo CFP, o número de psicólogos

    no país já ultrapassava a marca de 58 mil profissionais inscritos no final da

    década de 80 (Rosas & Xavier, 1988).

    Desta maneira, a década de 1990, diferente da década anterior, foi

    marcada pela intensa necessidade de se discutir uma maneira de administrar e

    coordenar a psicologia no Brasil, além de repensar o modelo de formação. Por

    parte da classe de psicólogos notava-se, conforme Rocha Jr. (1996), o desejo

    de uma redefinição do papel e funções do psicólogo no mercado profissional,

    tanto nas instituições públicas quanto nas privadas. Esse desejo mobilizou no

    início da década de 1990 a organização do “I Encontro de Coordenadores de

    Curso de Formação de Psicólogos”, garantindo um importante documento

    sobre a formação profissional do psicólogo brasileiro que ficou conhecido

    como “Carta de Serra Negra”. Este documento apresentava sete princípios

    norteadores de formação e dez sugestões de operacionalização destes

    princípios elaboradas após encontro promovido pelo Conselho Fede