194
Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de Humanidades e Direito Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas entre os processos urbanos e migratórios na Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina Daniel Santana Camuçatto São Bernardo do Campo, Agosto de 2014

Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

Universidade Metodista de São Paulo

Faculdade de Humanidades e Direito

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas entre os processos urbanos e migratórios na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina

Daniel Santana Camuçatto

São Bernardo do Campo, Agosto de 2014

Page 2: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

Universidade Metodista de São Paulo

Faculdade de Humanidades e Direito

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas entre os processos urbanos e migratórios na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina

Dissertação de mestrado apresentado em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião para a obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera.

São Bernardo do Campo, agosto de 2014

Page 3: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

FICHA CATALOGRÁFICA

C159r

Camuçatto, Daniel Santana Religião e periferia urbana: as dinâmicas entre os processos urbanos e migratórios na Igreja Mundial do Poder de Deus / Daniel Santana Camuçatto -- São Bernardo do Campo, 2014. 191p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo Bibliografia Orientação de: Dario Paulo Barrera Rivera

1. Igreja e problemas sociais 2. Igreja Mundial do Poder de Deus - Fluxo migratórios 3.Identidade (Religião) 4. Redes sociais 5. Periferia – São Paulo (Vila Alpina) - Urbanização I. Título

CDD 261.8

Page 4: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

A dissertação de mestrado sob o título de “Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

entre os processos urbanos e migratórios na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina”, elaborada por Daniel Santana Camuçatto foi apresentada e aprovada

em 18 de setembro de 2014, perante a banca examinadora composta por Dario Paulo

Barrera Rivera (Presidente/UMESP), Nicanor Lopes (Titular/UMESP), Ricardo

Bitun (Titular/Mackenzie)

Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador/ Programa Pós-graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura

Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Socioculturais

Page 5: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

DEDICATÓRIA

A Josiene e Débora Camuçatto, amor da vida, poesia plena,

inspiração continua.

Page 6: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientifico e Tecnológico (CNPq) cujo apoio financeiro possibilitou esta pesquisa,

incentivando o avanço nos estudos em ciência da religião.

A Universidade Metodista de São Paulo que me acolheu desde a formação em

bacharel em teologia.

Ao professor, já aposentado, Geoval Jacinto da Silva, que acolheu, incentivou e

orientou nos estágios inicias da pesquisa.

Ao meu orientador Prof. Dr. Paulo Barrera Rivera, pela paciência e carinho na

orientação, respeitando, motivando e desafiando a um olhar mais profundo perante a

realidade social.

Ao programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, bem como seu quadro

docente, que empenham-se em aperfeiçoar os alunos e mantê-los sempre atualizados

com olhares críticos na sociedade.

Aos grupos de pesquisa REPAL, MIRE, GETEP e Religião e Educação, por

sempre trazerem visões novas nos mais variados assuntos.

Aos colegas Flavia Medeiros, Igor Marques, Elton Alves e Rodrigo Follis,

porque rir é bom e faz parte.

A Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, que abriram as portas para a

pesquisa, no qual sentirei saudades.

A Igreja Metodista em Belém pelo apoio, orações, conversas e

companheirismos.

A Minha Família Josiene, esposa amada, companheira para todas as horas, a

Débora, inspiração e transpiração, alegria e amor indescritível.

A minha sogra Luci, que dedicou meses da sua vida em me ajudar na conclusão

da pesquisa, no qual sou imensamente grato, pelo afeto.

Aos meus pais Silas e Lucilene, sustento, carinho e fundação das minhas ideias e

ideais. A Gabriela, minha irmã, sempre presente, motivos de alegria e orgulho.

A Deus, que guiou meus passos (inclusive os acadêmicos) para prosseguir

explorando o mundo criado por Ele e trabalhando para que sua vontade prevaleça, paz,

justiça e bem.

Page 7: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de Gigantes (Isaac

Newton)

Page 8: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

Resumo

Esta dissertação estuda as dinâmicas entre religião, urbanização, migração e periferia

urbana na Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina. O processo de urbanização

brasileiro inicia na década de 1930 e transforma profundamente a sociedade brasileira,

especialmente a região sudeste do país. A urbanização incentivou importantes

fenômenos sociais como: os fluxos migratórios, alta densidade demográfica e

especulação imobiliária que ao colidiram nas grandes metrópoles criaram polos de

segregação, exclusão e anomia social. O estudo análise em quais aspectos a Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina exerce papel de emancipadora da população

migrante, reconstruindo identidades fragmentas pelos constantes fluxos migratórios e a

adaptação a inadequação das novas culturas. São estudados os indicadores sociais da

Igreja Mundial do Poder de Deus, a partir do campo estatístico, vinculando e

comparando os dados obtidos com as estatísticas realizadas pelo Censo 2010 da cidade,

do distrito e do bairro. A partir de uma observação densa é levantado aspectos

etnográficos dos cultos da igreja a fim de estabelecer uma análise das práticas da igreja,

mensagem e identidade religiosa de seus participantes. Por fim é elaborada, a partir de

aplicação de questionários, realização de entrevistas e densa observação de campo

aspectos etnográficos dos adeptos da igreja, e verificação da existência de redes sociais

abarcadas na igreja, associativismo religiosos e o acumulo do capital simbólico, visando

a emancipação e reestruturação do sujeito migrante.

Palavras Chave: Igreja Mundial do Poder de Deus; identidade religiosa; fluxos

migratórios; redes sociais; urbanização; periferia urbana.

Page 9: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

ABTRACT

This dissertation studies the dynamics between religion, urbanization, migration and

urban sprawl in the Igreja Mundial do Poder de Deus in Vila Alpina, a neighborhood in

the city of São Paulo. The Brazilian urbanization process that began in the 1930s

profoundly changed society, especially in the southeastern region of the country.

Urbanization encouraged another important Brazilian phenomenon, migration flows,

which collided to create in large cities centers of segregation, exclusion and social

anomie. The present study analyzes which aspects of the Igreja Mundial do Poder de

Deus em Vila Alpina exerts an emancipatory role on the migrant population,

reconstructing identities that were fragmented by constant migration and adaptation to

new, and often, inadequate cultures. The social indicators of the Igreja Mundial do

Poder de Deus are studied, obtained from the statistical field, and are also linked and

compared to the data with the statistics collected by the city, district and neighborhood

Censo 2010. From this dense analysis, ethnographic aspects of church services are

observed in order to provide an study on the practices of the church, its message, as well

as to describe the religious identity of its participants. Lastly, questionnaires, interviews,

and field observation of dense ethnographic aspects of the supporters of the church are

investigated to verify the existence of sociais networks embraced by the church,

religious associations and the accumulation of symbolic capital, aimed at emancipation

and restructuring of the migrant subject.

Keywords: Igreja Mundial do Poder de Deus; religious identity; migration; social

network; urbanization; urban periphery.

Page 10: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

Sumário Créditos dos Gráficos, Tabelas e Fotos. ........................................................................... 4

Lista de Abreviaturas e Siglas .......................................................................................... 7

Introdução ......................................................................................................................... 8

Capitulo 1: Urbanização, Migração e Periferias Urbanas: a situação do migrante

marginalizado no Brasil. ................................................................................................. 15

1.1. As Relações Dinâmicas entres os processos de Urbanização e Migração. ......... 15

1.1.1. Organização Interna: a cidade desordenada, aspectos de segregação e

exclusão nas metrópoles. ............................................................................................ 19

1.1.2. Espraiamento Urbano: tensões entre migração, especulação imobiliária e

urbanidade. ................................................................................................................. 21

1.2. A urbanização em São Paulo ............................................................................... 26

1.2.1. A periferia Paulista ....................................................................................... 28

1.2.2. O Migrante na Periferia Paulista .................................................................. 33

1.3. Os Primórdios da Zona Leste de São Paulo, João Ramalho e os Jesuítas. .......... 36

1.4. Considerações ...................................................................................................... 45

Capítulo 2: Urbanização e Migração no Distrito de Vila Prudente ................................ 47

2.1. Migração e identidade ...................................................................................... 48

2.1.1. Migração e Identidade Religiosa. ................................................................. 51

2.2. A Relação entre Processos de Mobilidade Humana e Redes Sociais. ................. 52

2.2.1. Redes Sociais e Associativismo em São Paulo ............................................ 54

2.3. A Família Pedroso ............................................................................................... 57

2.3.1. Os Irmãos Falchi, e a construção do bairro. ............................................. 59

2.3.2. Crescimento Urbano no Século XX ......................................................... 62

Page 11: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

2

2.4. Vila Prudente e a Religião. .............................................................................. 71

2.5. Considerações. ..................................................................................................... 78

Capitulo 3:Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina: estudo de caso .............. 80

3. Igreja Mundial do Poder de Deus. Da gênese do movimento ao fenômeno de

tempos recentes............................................................................................................... 80

3.1. A cura divina na Igreja Mundial do Poder de Deus. ........................................ 85

3.2. Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina: aspectos históricos. ......... 92

3.3. Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina Indicadores Sociais. ......... 93

3.3.1. Faixa etária ............................................................................................... 94

3.3.2. A distribuição por Cor .............................................................................. 95

3.3.3. Escolaridade.............................................................................................. 96

3.3.4. Rendimento ............................................................................................... 98

3.3.5. Sobre a Migração .................................................................................... 100

3.3.6. Domicílios alugados e próprios .............................................................. 103

3.4. Análise dos indicadores sociais ..................................................................... 105

3.5. Perfil Religioso dos membros da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila

Alpina ....................................................................................................................... 107

3.5.1. Permanência na igreja e estado de pertença. .......................................... 107

3.5.2. Frequência nas reuniões.......................................................................... 108

3.5.3. Origem Religiosa .................................................................................... 110

3.6. Análise do perfil religioso .............................................................................. 111

3.7. O culto da IMPD em Vila Alpina: espaços, Usos e Costumes ...................... 112

3.7.1. O espaço Cúltico ..................................................................................... 113

3.7.2. Novo Templo, Antigos Elementos. ........................................................ 117

3.8. Etnografia da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina. ................. 118

3.9. Meu Negócio é com Deus. ............................................................................. 123

3.9.1. O Pastor do Amor ................................................................................... 126

3.10. Considerações. ............................................................................................... 128

Page 12: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

3

Capítulo 4:A Dinâmica do Poder Simbólico na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina ................................................................................................................... 129

4.1. Análise do culto ............................................................................................. 129

4.1.1. O poder pela palavra. ................................................................................. 138

4.2. Redes Sociais e o Corpo de Obreiros na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina. .................................................................................................................. 149

4.2.1. Capital Social .......................................................................................... 154

4.3. Considerações. ................................................................................................... 156

Considerações finais ..................................................................................................... 158

Referências Bibliográficas ............................................................................................ 163

Anexos .......................................................................................................................... 177

Roteiro Para observação dos cultos .......................................................................... 177

Roteiro da Entrevista. ............................................................................................... 177

Questionário aplicado na igreja. ............................................................................... 178

Local e data da realização das entrevistas e aplicação dos relatórios. .......................... 184

Aplicação do Questionário ........................................................................................... 185

Page 13: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

4

Créditos dos Gráficos, Tabelas e Fotos.

O gráfico 1: Elaborado pelo DIEST/IPEA, Fonte: MS/SVSDASIS – Sistema de

Informação Sobre Mortalidade, Período 1996 a 2010.

O gráfico 3: Elaborado pela Subprefeitura de Vila Prudente, baixando da internet pelo

programa Spark Browser, Fonte: IBGE, Censo 2010.

Os gráficos de 2, 4-16, são de minha autoria, Fonte: Censo demográfico 2010,

Microdados do Censo 2010, Publicados pelo IBGE, elaborados com o programa Excel

365, versão 2013.

As Tabelas 1 a 13, são de minha autoria, Fonte: Censo demográfico 2010, Microdados

do Censo 2010, Publicados pelo IBGE, elaborados com o programa Excel 365, versão

2013.

Figuras

Figura 1: Baixado da internet pelo programa Google Maps.

Figura 2: Baixado da internet pelo programa Google Maps.

Figura 3: Baixado da internet pelo programa Spark Browser. Fonte: FILHO, Mario

Ronco. O Bairro Vila Prudente, Um Gigante Paulista, sua história e sua gente.

Prefeitura de São Paulo, 1990.

Fotos

Foto 1: Baixado da internet pelo programa Google Maps.

Foto 2: Minha autoria. Arquivo pessoal.

Page 14: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

5

Lista de Tabelas

Tabela 1:Brasil, população total e urbana, grau de urbanização e incremento médio

anual da população urbana ............................................................................................. 16

Tabela 2:Brasil e Grandes Regiões – População Residente segundo os Censos

Demográficos 1940/2010 ............................................................................................... 18

Tabela 3:Pessoas não naturais da Unidade da Federação de residência e pessoas naturais

da unidade da federação que residem em outra, segundo as Unidades da Federação –

2010. ............................................................................................................................... 25

Tabela 4:Crescimento demográfico absoluto e taxa geométrica anual por tipo de

componente – Região metropolitana de São Paulo- 1940 a 2010 .................................. 34

Tabela 5:Populações por sexo, percentual e total, segundo condição de naturalidade-

região Metropolitana de São Paulo-2010 ....................................................................... 35

Tabela 6:Vila Prudente – Capão da Invernada, Capão, Embiriva, Embahú ................... 40

Tabela 7:Vila Prudente (Tapera ou Mato das Simbarivas) – atual favela V Prudente e

parque da Mooca. ........................................................................................................... 41

Tabela 8:Vila Zelina – Baixos do Zimbaúba .................................................................. 41

Tabela 9:Domicílios segundo Tipo de Ocupação: Distrito de Vila Prudente – 2010 .... 67

Tabela 10:Domicílios segundo Tipologias Residenciais: Distrito Municipal de Vila

Prudente -2010 ................................................................................................................ 67

Tabela 11:Estabelecimento educacionais em Vila Prudente – 2010 .............................. 69

Tabela 12:População de 10 anos ou mais de idade, por nível de instrução em Vila

Prudente – 2010. ............................................................................................................. 70

Tabela 13:Empregados por Escolaridade, segundo os Distritos Administrativos – Vila

Prudente .......................................................................................................................... 70

Lista de Gráficos

Gráfico 1:Padrão de vitimização dos Jovens em Relaçao a escolaridade ...................... 32

Gráfico 2:Pirâmide Etária dos Membros da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila

Apina .............................................................................................................................. 94

Gráfico 3: Pirêmide Etária do Bairro de Vila Alpina ..................................................... 94

Gráfico 4:Distribuição Percentual por Cor ou Etnia os Grupos Religiosos – Brasil-2010

........................................................................................................................................ 96

Gráfico 5:Percentual de Pessoas de 15 ou mais de idade por nivel de instrução ........... 97

Page 15: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

6

Gráfico 6:População de 15 anos ou mais por nivel de instrução – Vila Prudente .......... 98

Gráfico 7: Rendimento Domiciliar – Pessoas com 10 anos ou mais .............................. 99

Gráfico 8:População residente Migrante em Vila Alpina ............................................ 100

Gráfico 9:População Migrante e de Origem Migratoria ............................................... 101

Gráfico 10:População em (%) com tempo initerrupto de residencia............................ 101

Gráfico 11:Porcentagem de Membros da IMPD em Vila Alpina Nascido em Outras UFs

...................................................................................................................................... 102

Gráfico 12: Domicilios Próprios e Alugados pelo Número de Amostra frequente na

IMPD em Vila Alpina .................................................................................................. 103

Gráfico 13: Domicílios por número de cômodos por família ....................................... 104

Gráfico 14: Tempo de Permanência (em anos) dos Fiéis da IMPDVA ....................... 107 Gráfico 15: Número de fiéis que Frenquantam a IMPDVA ........................................ 109 Gráfico 16: Frequência de Fiéis da IMPDVA em Transito Religioso ......................... 109 Gráfico 17: Origem Religiosa dos Fiéis da IMPDVA ................................................. 111

Figuras

Figura 1:Planta do Bairro de Vila Prudente em 1980-dividido segundo os loteamentos

os irmãos Falchi. ............................................................................................................. 59

Figura 2:Pedra de Mármore tamanho 0,89 cm x 0,57 cm fixada na praça Irmãos Falchi

em homenagem à Prudente de Moraes em 21 de Dezembro de 1989 ............................ 61

Figura 3:Orfanato de Vila Prudente 1897....................................................................... 74

Lista de Fotos.

Foto 1:Antigo Templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina .............. 114

Foto 2:Novo Templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina ................ 114

Page 16: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

7

Lista de Abreviaturas e Siglas ABC Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano.

AMA Assistência Médica Ambulatorial

AMOVIZA Associação de Moradores e Comerciantes do Bairro de Vila

Zelina.

APEOESP Sindicato de professores do ensino oficial do Estado de São

Paulo.

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

COHAB-SP Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo.

CRAVI Centro de referência e apoio a vítima.

CUT Central Única dos Trabalhadores.

FASFIL Fundação Privada e Associações Sem Fins Lucrativos.

IMPD Igreja Mundial do Poder de Deus

IMPDVA Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina.

IURD Igreja Universal do Reino de Deus.

LEMAD Laboratório de ensino e material didático.

LIT Levantamento de informações territoriais.

MDF Movimento de Defesa do Favelado.

MST Movimento do Sem Terra.

ONG Organização Não Governamental.

PIB Produto Interno Bruto.

RMSP Região Metropolitana de São Paulo.

SAB Sociedade Amigos do Bairro.

SECOVI-SP Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e

administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo.

SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática.

UBS Unidade Básica de Saúde.

UF Unidade Federativa.

ZL Zona Leste.

Page 17: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

8

Introdução

Este estudo tem como objeto a Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina,

nosso foco está na observação das dinâmicas entre a igreja em questão e espaços de

segregação, visando, principalmente os adeptos da igreja em situação de vulnerabilidade

social.

A Igreja Mundial do Poder de Deus localizada em Vila Alpina, bairro de São

Paulo é marcada por processos migratórios complexos, desde a presença dos italianos,

passando pelos refugiados de guerra provenientes do leste europeu até fluxos

migratórios inter-regionais.

A mobilidade humana influenciou o bairro de Vila Alpina, a disparidade nas

moradias do operariado e a classe burguesa, as linhas de ônibus que conscientemente

escolhem passar naquela rua em detrimento de outra, a presença ou a ausência de

iluminação pública em algumas ruas, a organização das escolas privadas e públicas que

privilegiam determinadas pessoas, são somente reflexo das estruturas segregatórias e

excludentes que os processos de migração e a urbanização caótica causaram no bairro,

no distrito e na cidade ao longo dos anos.

Em espaços onde a escassez de muitos confronta-se com a abundância de poucos

a religião pode assumir um papel essencial, sendo, ou reprodutora das lógicas

dominantes, ou emancipadora delas, ajudando a amenizar a distância social entre os

sujeitos urbanos. Dessa maneira a religião em ambientes de alta vulnerabilidade social

funciona como redes de ajuda mútua, onde a pessoa carente de recursos busca aparo

comunitário.

É a instituição religiosa responsável pela regulação do crer e da tradição, esses

dois aspectos somados estabelece e reestabelece o equilíbrio sempre ínfimo entre

comunitário, ético e emocional, para isso a instituição religiosa articula as identidades

de seus adeptos impondo normas e práticas que regulam o cotidiano, ou seja, a

identidade religiosa, assume contornos não somente em ambientes eclesiais e privados,

mas garante um mínimo de obediência civil e cidadã.

Page 18: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

9

A partir de uma pesquisa quantitativa na região metropolitana de São Paulo,

constatou que 70% das pessoas entre as mais pobres participavam de associação

religiosas (LAVALLE,2001). Das associações religiosas a maioria encontrava-se

vinculadas as igrejas evangélicas. A densa rede que abriga os templos evangélicos

assume o papel de estruturas de oportunidades, onde os fiéis encontram-se para trocar

informações diversas que os ajudem frente a anomia social no qual vivem.

Isso ocorre por ser a migração um elemento ambíguo, ao mesmo tempo que o

indivíduo em mobilidade humana busca novos espaços, que por muitos motivos em seu

habitat não existe mais, por outro incorre de, na procura por novos espaços o

acolhimento social seja restritivo na vida do migrante.

Destarte o migrante relaciona-se com sentimentos contraditórios, o passado,

muitas vezes longínquo e idealizado, em muitos casos até utópicos, e o presente

conflituoso, volátil e fugidio. A não representação na nova cultura, ou a representação

de forma vexatória e burlesca, gera nos sujeitos em mobilidade urbana o sentimento de

não pertença a aquela cultura, aquele espaço, aquela cidade, o indivíduo, alheio a

cultura, sem uma representação identitária acaba sendo excluído socialmente.

Não é somente na possibilidade do mau acolhimento, mas da própria estrutura

citadina, principalmente em São Paulo, o acelerado crescimento urbano atropelou a

chance de uma urbanização organizada e projetada, dessa forma, as políticas públicas

geraram mais incentivos as industriais, aos polos comerciais, e a estrutura para sua

locomoção massiva, do que uma preocupação integral em envolver urbanisticamente

toda a cidade.

A falta de planejamento suscitou grandes distancias entre as classes de operários,

burgueses e afins, enquanto os primeiros padeciam com parcos recursos residenciais,

morando em cortiços, periferias e favelas, os outros gozavam de plenos recursos

citadinos. Portanto os migrantes ao estabelecerem ao sudeste do país encontravam uma

realidade bem distante do que era esperado, em muitos casos pessoas em mobilidade

humana acabavam em cortiços e favelas espalhadas pela cidade.

Assim a situação do migrante torna-se quase insustentável, se por um lado o

sentimento de inadequação se faz presente, por outro a falta de recursos, moradias,

lazer, trabalho, são escassos e precários. Com um quadro tão alarmante a religião torna-

se uma opção, das poucas, que sujeitos migrantes possuem.

No largo espectro da vivencia e reconstrução identitária que o processo de

migração necessariamente implica, a dimensão religiosa concatena a sociabilidade

Page 19: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

10

indispensável ao convívio social, o acolhimento espiritual e sentimental de uma

comunidade, a dimensão das trocas simbólicas, matérias e de informação que somente

uma rede de ajuda mútua é capaz de oferecer.

Assim a religião periférica é produtora de interação social, na religião os laços

familiares, o sentimento de pertença, o acesso a uma cultura comunitária não

excludente, transformam o fenômeno religioso em um insubstituível estabilizador

social, construindo identidades e comunidades humanizadas dentro de periferias e

esquemas urbanos desumanos. A religião, nesse caso, não é apenas uma abstração da

realidade social, mas um grito dos excluídos e segregados buscando o bem viver.

Ao contrário de outras entidades religiosas como os católicos e kardecistas, onde

as redes sociais são estruturadas em programas filantrópicos, as redes evangélicas

associam-se pelas relações de confiança e trocas de utensílios, informações,

recomendações de trabalho etc. além disso, a lógica de “ajudar o irmão da fé em

primeiro lugar” é essencial para uma aproximação maior dos membros das comunidades

evangélicas.

Assim o foco no estudo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina é

pesquisar as relações entre periferia, migração e religião, compreendendo em quais

aspectos as redes sociais associativas estabelecem-se como elemento fundamental para

o bem viver metropolitano, onde a escassez de recursos, políticas e direitos sociais se

faz ausente.

A Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, reside no bairro desde

2004, tem em média de 50 pessoas em seus cultos semanais, enquanto aos domingos, há

em seu templo uma frequência de 200 pessoas. A igreja segue o modelo de outras

igrejas evangélicas encontradas no país, com três cultos diários, ela não dispõe de um

templo próprio, assim, nesses dez anos a igreja mudou quatro vezes de lugar buscando

espaços que comporte o número de fiéis e caiba no orçamento comunitário.

O limite desse estudo encontra-se na observação e análise da Igreja Mundial do

Poder em Vila Alpina, bem como na apreciação da relação entre religião e periferia,

compreendendo em quais aspectos da Igreja Mundial do Poder de Deus é produtora de

identidades, facilitando a coesão social dos seus membros, em especial, pessoas com

altos índices de vulnerabilidade social, aferir se a existência de pessoas em mobilidade

humana garante aos adeptos recursos simbólicos e matérias necessários para uma

melhora em sua condição de vida e se houver a existência de redes sociais, em que

Page 20: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

11

sentido elas corroboram para uma construção e reconstrução da identidade do migrante,

que possibilite a obtenção e o acumulo de capital social.

É objetivo geral da pesquisa analisar o papel exercido pela Igreja Mundial do

Poder de Deus em contexto periférico, intentando compreender se há alguma relevância

na interação entre religião e indivíduos em contextos periféricos que possibilite uma

identidade religiosa entre seus membros.

Dessa maneira podemos elaborar que os objetivos específicos é a identificação

de aspectos associativos de redes sociais religiosas que cooperam para a formação

comunitária da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, bem como sua coesão

social diante dos desafios empregados pelo cotidiano entre os moradores de áreas

periféricas, excluídos e segregados.

Levantar o perfil socioeconômico dos fiéis da Igreja Mundial do Poder de Deus

em Vila Alpina, visando conhecer as características dos sequazes da instituição

religiosa, bem como pesquisar o perfil religioso dos sujeitos da igreja, afim de entender

qual a população que congrega naquele espaço.

Identificar se o espaço cúltico, tanto em sua liturgia, quanto em sua mensagem

comtempla o cotidiano especifico dos adeptos da igreja, permitindo uma construção ou

reformulação de identidades religiosas que permitam o sentimento de pertença

comunitária, aderência dos sistemas de valores da igreja e a formulação de uma

comunidade coesa dentro de uma realidade fragmentada inserida em um contexto de

privação de direitos de cidadania.

Constatar se há presença de migrantes entre os prosélitos da Igreja Mundial do

Poder de Deus em Vila Alpina, estabelecendo em qual nível a relação entre

religiosidade, comunidade religiosa, e indivíduos em mobilidade humana apresenta-se

como aparadora das dificuldades encontradas por eles em ambientes migratórios,

restaurando e resinificando a identidade do sujeito, gerando um sentimento de pertença

no seio de uma comunidade religiosa e das redes sociais que ali se formam.

Em seguida apresentarei a metodologia usada na pesquisa elencando os

principais aspectos e descrevendo as partes que constituíram cada etapa do estudo.

Considero a metodologia usada como explorativa, uma vez que analiso os dados obtidos

no último Censo (2010) realizado pelo IBGE, com dados etnográficos levantados na

pesquisa de campo, dessa forma os dados estatísticos na presente pesquisa são

relacionados entre a Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, aos dados

Page 21: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

12

levantados pelo IBGE em escala, Brasil, Estado de São Paulo, cidade de São Paulo,

Zona Leste paulista, Distrito de Vila Prudente e Vila Alpina.

O perfil social do local, tanto do bairro quanto do distrito foram compilados

mediante aos Microdados estatísticos disponibilizado pelo IBGE através do site do

Censo de 20101, nesses Microdados, as tabelas e gráficos contemplam as Áreas de

Ponderação da região, assim os dados quantitativos levantados são completados por

dados qualitativos coletados em entrevistas e conversas informais.

As entrevistas foram todas realizadas nas dependências da igreja, ao total foram

doze entrevistados, em sua maioria homens e mulheres participantes do corpo de

obreiros da igreja, elas oito delas ocorreu antes do culto noturno, duas delas foram

realizadas após os cultos noturnos, uma depois do culto vespertino dominical e uma ao

sábado depois da reunião com os obreiros.

Houve também a aplicação de questionários nos membros da igreja, ao todo

vinte e uma pessoas responderam aos questionários que foram distribuídos em cinco

dias distintos de cultos em horários distintos, afim de contemplar o maior número de

adeptos da igreja, os questionários eram entregues seguindo os seguintes critérios,

homens e mulheres maiores de quinze anos, quem tinham ao menos três meses de

frequência na igreja.

Concomitantemente as entrevistas e aplicação dos questionários, foi observado

etnograficamente trinta e seis cultos realizados na Igreja Mundial do Poder de Deus em

Vila Alpina, seis cultos matutinos, oito cultos vespertinos, quatorze cultos noturnos,

dois cultos sabáticos e seis cultos dominicais.

A observação dos cultos ocorreu com a permissão do pastor local, depois de um

mês visitando a igreja e conversando com o mesmo e com os obreiros sobre a finalidade

acadêmica da pesquisa. O acesso a igreja foi-me oferecido por uma amiga que é

voluntaria do corpo de obreiros da igreja em questão, facilitando meu acesso ao pastor

local e aos adeptos da igreja, o agendamento de entrevistas com os membros e obreiros

da igreja também foi facilitado, infelizmente o acesso ao corpo pastoral não ocorreu de

forma esperada, sendo impossibilitado em pleno trabalho da pesquisa de campo, com

um acidente automotivo do pastor que sucedeu em seu falecimento.

O estudo etnográfico dos cultos deu-se através da elaboração de um roteiro de

pesquisa e observação dos cultos, dessa forma, o roteiro consistia na anotação

1 IBGE, Censo 2010. Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em 23 de Julho de 2013.

Page 22: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

13

sistemática de cada bloco do culto, que foram divididos em quatro momentos distintos,

músicas e orações, testemunhos e relatos de cura, pregação, ofertório e produtos

religiosos. Para cada momento as anotações eram feitas com a hora de início e termino,

conteúdo exposto, quem estava à frente comandado cada momento em questão, as

músicas cantadas e seus conteúdos, além dos conteúdos das mensagens e dos

testemunhos.

Além dos aspectos litúrgicos, horários e conteúdo dos cultos, o roteiro

comtemplava a anotações referentes a gênero, cor, etnia, número de pessoas

participantes, faixa etária de cada participante dos cultos, roupas que estavam vestindo,

tanto dos pastores, obreiros como dos membros, gestos feitos por eles durante os cultos,

quais eram os lugares preferidos da maioria ao sentarem, número de obreiros por culto e

algumas considerações feitas na observação de campo.

As anotações eram feitas em um caderno e logo após o culto passadas para um

gravador, a seguir, no mesmo dia, os dados eram transcritos no qual incidiria para uma

planilha ao final de cada semana de pesquisa de campo. Com isso os dados obtidos

foram o suficiente para elaborar uma análise abrangente dos cultos da igreja

Com os dados quantitativos obtidos, a analise etnográficas e as entrevistas em

mãos considerei suficiente para a elaboração das tabelas e gráficos a fim de comparar

com a análise obtida em campo, tentando averiguar se o apresentado nos gráficos e

tabelas acareavam nas observações feitas em campo. Com as todas essas informações

disponíveis concentrei-me na elaboração da dissertação, utilizando os referenciais

teóricos anteriormente já pesquisados e a bibliografia já consultada.

A dissertação é dividida em quatro capítulos, sua divisão dá-se da seguinte

maneira: o primeiro capitulo elabora os conceitos necessários para uma análise mais

aprofundada das dinâmicas e processos entre a urbanização, migração e periferia

urbana, esses conceitos permitiram revisar a história urbana recente do país com

enfoque no estado e na cidade de São Paulo, bem como identificar em que sentido o

processo de urbanização acelerada e os fluxos migratórios contribuíram para a produção

de áreas periféricas e exclusão social.

O segundo capítulo apresenta e problematiza os conceitos da identidade do

migrante, relacionando-os com os processos de urbanização e os fluxos migratórios

presentes no bairro. É no secundo capítulo que expomos o distrito de Vila Prudente de

maneira mais completa possível.

Page 23: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

14

O terceiro capítulo consiste na explanação da história da Igreja Mundial do

Poder de Deus, de seu líder apóstolo Valdemiro Santiago, as mensagens mais comuns

utilizadas por ela, em seguida abordamos os aspectos da Igreja Mundial do Poder de

Deus em Vila Alpina, tantos os aspectos históricos quanto os indicadores sociais e

etnográficos provenientes das entrevistas, questionários e observações dos cultos.

Finalmente o quarto capítulo analisa sistematicamente o culto da IMPDVA, bem

como os atores sociais e sua dinâmica nos cultos, compreendo como as relações entre os

atores sociais da igreja contribuem para um desenvolvimento do capital social dos

participantes da comunidade religiosa, assim como a explanação das dinâmicas

simbólicas presentes nos cultos, e as possíveis relações advindas dessas práticas entre o

pastor local e os membros da igreja.

Page 24: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

15

Capitulo 1: Urbanização, Migração e Periferias Urbanas: a situação do migrante marginalizado no Brasil.

O primeiro capitulo tem como finalidade analisar os fenômenos de migração e

urbanização em território brasileiro compreendendo em como essa dinâmica resulta nas

periferias urbanas e em processos de exclusão social e segregação humana.

Em um primeiro momento será discutido em que medida uma acelerada

urbanização vivenciada pelo país a partir da década de 1930 resulta em grandes fluxos

migratórios para o sul e sudeste do Brasil.

Em um segundo momento, analisaremos a urbanização paulista compreendendo

em que aspecto o fenômeno massivo migratório contribui para o espraiamento da

cidade, como também para a criação de bolsões de pobreza e exclusão social,

principalmente enfrentados pelos migrantes recém chegados a capital paulista.

Em seguida será apresentado conceitos que guiarão este estudo, portanto, a

realidade social será analisada a partir de conceitos sociológicos e antropológicos

relacionais, compreendendo o mundo social como processos de relações fluidas entre

indivíduos, Estado e Instituições, capazes de moldar as dinâmicas sociais e sedimentar

as ações dos atores em contexto urbano.

Explanaremos na parte final do capitulo aspectos históricos sobre a Zona Leste

paulista, bem como os processos que marcaram seu curso transformando a região em

uma das mais importantes da capital. A importância da compressão histórica Zona Leste

acontece pela influência advinda desses processos que ecoam até os dias presentes, em

bairros como Vila Alpina.

1.1. As Relações Dinâmicas entres os processos de Urbanização e Migração.

O processo de urbanização acontece em meio a transição de um sistema agrícola

para um industrial, as profundas transformações causadas pela mudança rural/urbano

criam desafios nos mais variados setores promovendo grandes alterações nas estruturas

sociais. Ao longo do tempo o entendimento da dualidade entre rural e urbano vem

Page 25: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

16

perdendo força, a urbanização, agora, não é entendida, apenas como contraponto da vida

rural, mas apresenta aspectos próprios. O espaço urbanizado não é um aspecto imediato

das relações sociais de produção, nem a urbanização deveria ser entendida, somente,

como processo de disseminação do urbano, que amplia-se em escala global, ao

contrário, a urbanização deveria ser entendida como expressão das relações sociais ao

mesmo tempo que incidiria sobre elas (LEFEBVRE, 1972)

A urbanização está além dos limites citadinos, ela seria, na verdade, uma

condensação dos processos sociais e espaciais que permitiria ao capitalismo sua

manutenção e crescimento. O espaço não tem em si um papel transformador, mas

interativo nas relações sociais.

As práticas espaciais regulam a vida – não a criam. O espaço não tem poder em si mesmo, nem o espaço enquanto tal determina as contradições espaciais. Estas são contradições da sociedade – contradições entre uma coisa e outra no interior da sociedade. (LEFEBVRE, 1974:105)

Dessa forma, tanto o rural quanto o urbano são qualidades das relações sociais e,

por isso, o local rural/urbano não deve ser um espaço delimitado, mas sua delimitação

deve existir na análise cuidadosa das relações sociais empregadas nesse espaço. De

modo geral, no Brasil, embora exista experiências citadinas antes do século XIX, é

apenas no século XX que a urbanização adquiri as caraterísticas que conhecemos hoje.

O processo de urbanização brasileira desenvolve-se de maneira acelerada

quando comparado a outros países. O CENSO de 1970 registrava pela primeira vez o

aumento da população urbana frente a rural. A população urbana passou de 19 milhões

para 138 milhões, com uma taxa de crescimento anual de 4,1% ao ano, assim a média

de crescimento populacional é de 2.378.291 habitantes, aumentando a população urbana

em 7,3 vezes em meio século, como mostra a tabela 1.

Tabela 1:Brasil, população total e urbana, grau de urbanização e incremento médio anual da população urbana

Período Total Urbana Grau de urbanização

Incremento

1940 41.236.315 12.880.182 31,24 - 1950 51.944.397 18.782.891 36,16 590.271 1960 69.930.293 31.214.700 44,64 1.243.028 1970 93.139.037 52.084.984 55,92 2.087.028 1980 119.502.716 80.436.419 67,31 2.835.144 1991 146.825.475 110.990.990 75,59 2.777.688

Page 26: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

17

2000 169.544.443 137.697.439 81,22 2,967,383 2010 190.755.799 160.925.792 84,36 2,322,835

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940,1950,1960,1970,1980,1991,2000,2010.

Obviamente a população não é o único fator determinante para o crescimento

urbano, mas ao estudarmos os aglomerados populacionais através de suas características

eles apresentam-se como elemento dotado de autonomia e indicador válido para

compreensão e análise do desenvolvimento urbano nacional.

A composição da população desempenha um papel muito concreto em cada fase de sua evolução, assim como de sua distribuição. Na América Latina, temos de analisar o papel da presença comum de estrangeiros e nativos, dos “crioulos” e dos índios, na população, assim como as formas do seu crescimento: natural ou vegetativo, migratório ou social. (MILTON, 1982:20)

Um dos aspectos de maior influência na composição da urbanização é a

migração. Em todas as épocas existiu contingentes populacionais migratórios, a

população em mobilidade espacial são de extrema importância para o desenvolvimento

da história humana, contudo, a migração não é um fenômeno isolado, nem existe um

automatismo campo-cidade, em muitos casos a migração para centros urbanos pode ser

direta ou indiretamente forçada, quase compulsória, alheia a vontade dos migrantes.

Com efeito se, de um lado, as migrações enriqueceram os povos reforçando lhes mutualmente a solidariedade, de outro, podem ter caráter acentuadamente compulsório, obrigando grandes contingentes populacionais a deslocamentos forçados e penosos [...] neste caso, as migrações aprofundam, não um reciproco desenvolvimento dos povos, mas o abismo entre o mundo da riqueza e da pobreza; ou seja, os homens se deslocam contra a própria vontade, têm seu nível de vida empobrecidos e deteriorado. (CNBB, 1987:74)

A migração brasileira2 transita por ciclos migratórios, esses fenômenos são

associados, em muitos casos ao desenvolvimento econômico nacional, na década de

1930 a migração brasileira acentua-se, com o aumento dos incentivos industriais,

principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, a falta de políticas públicas para o

pequeno e médio agricultor, e os incentivos fiscais para as industriais, geraram grande

demanda migratória nos centros urbanos.

O êxodo rural para áreas urbanas transforma a vida citadina, que cresce

desordenadamente, a incapacidade de absorção do contingente populacional, a falta de

2 Sobre a questão do processo migratório abordaremos mais adiante.

Page 27: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

18

políticas públicas eficazes e o não planejamento urbano, geram na malha metropolitana

uma alta segregação social.

Em 1960 a população urbana era de 45% dos habitantes brasileiros, em 1970,

56% dos recenseados pelo Censo já habitavam em cidades metropolitanas, em 2010, são

160 milhões de pessoas vivendo na urbanidade, ou seja, 84,33% das pessoas

recenseadas no país segundo demostra a tabela 1. O rápido crescimento é, em grande

medida, movido pelas migrações interestaduais, a principal responsável pelo aumento

desse contingente populacional.

A irregularidade não está somente na aglomeração da malha urbana, mas

também na localização e distribuição da densidade demográfica que acentua-se mais no

sudeste do país como demostra a tabela 2:

Tabela 2:Brasil e Grandes Regiões – População Residente segundo os Censos Demográficos 1940/2010

Brasil Grandes Regiões

População Residente

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Brasil 41.165.

289 51.941.

767 70.070.

457 93.139.

037 119.002.

706 146.825.

475 169..799.

170 190.732.

694 Norte 1.467.9

40 1.834.1

85 2.561.7

82 3.603.8

60 6.619.15

2 10.030.5

56 12.900.7

04 15.865.6

78 Nordeste

14.426.185

17.992.094

22.181.880

28.111.927

34.812.356

42.497.540

47.741.711

53.078.137

Sudeste 18.304.317

22.594.386

30.630.728

39.853.498

51.735.125

62.740.401

72.412.411

80.353.724

Sul 5.722.018

7.835.418

11.753.075

16.496.493

19.031.162

22.129.377

25.107.616

27.384.815

Centro-oeste

1.244.829

1.730.684

2.942.992

5.073.259

6.805.911

9.427.601

11.636.728

14.050.340

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940,1950,1960,1970,1980,1990,2000,2010

A distribuição heterogênea da densidade demográfica e o aumento do

aglomerado urbano no sudeste do Brasil passa pelas políticas públicas que beneficiam

maciços investimentos industriais, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, o

sudeste do país tem uma grande constância migratória, estados mais urbanizados, mais

industrializados, com técnicas agrícolas mais avançadas, demanda por mão de obra, seja

especializada ou não, são vistos pelos migrantes como “terra de oportunidades”, uma

espécie de “terra prometida”, no qual emanava, emprego, casa e estabilidade social.

Page 28: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

19

Não resta dúvida de que a integração da população em sistemas mais produtivos, tanto urbanos como rurais, comanda a orientação e provavelmente o volume dos deslocamentos. E é nesse sentido que as migrações inter-regionais assumem especial relevância [...] É que elas representam o polo extremo de um processo através do qual a população das áreas menos favorecidas do país busca beneficiar-se do desenvolvimento econômico, transferindo-se para as regiões mais ricas onde se concentram as oportunidades de melhoria de vida. (DURHAN, 1973:34)

Com o aumento do aglomerado populacional as metrópoles crescem

desordenadamente, segundo Milton Santos, somente nos anos de 1970-1980 o sudeste

do país absorveu 11,61% do incremento demográfico (1996:76), embora atualmente o

sudeste vem experimentando saldos migratórios cada vez menores, ainda é a região

onde a mobilidade foi mais intensa, segundo o Censo 2010 os estados com maior saldo

de migração são: São Paulo (255.796), Goiás(207.827), Santa Catarina(172.453).

Com a concentração de grande contingente populacional nas metrópoles do país,

outros elementos somam-se as características urbanas complexas, segregação, miséria,

pobreza, violência, elementos que as regiões metropolitanas, agora inchadas com altos

índices populacionais, sem um planejamento urbano adequado, sem políticas públicas

assertivas, precisam relacionar-se com novos modelos citadinos.

1.1.1. Organização Interna: a cidade desordenada, aspectos de segregação e

exclusão nas metrópoles.

Do ponto de vista político e ideológico, o desenvolvimento físico-social das

metrópoles depende de um “otimismo exagerado”, ou seja, fabricado e estetizado, para

promover a consciência auto regulatória da tolerância, do respeito pela diferença e das

assimetrias do poder. (DEAR, 2000:144)

Essa modalidade de urbanização depende de estratégias de desenvolvimento que

buscam no mundo empresarial o modelo para sua operacionalização. Dessa forma as

metrópoles passam a ser territórios de ocultamento de lógicas assimétricas de poder,

confundido público/privado e mascarando distúrbios sociais.

A formação de espaços urbanos funcionais e eficientes como indústrias, polos

tecnológicos, centos comerciais, condomínios fechados, entre outros, gera grandes

custos a maioria da população, tornando a metrópole um ambiente onde anula-se a

coletividade em prol da eficiência financeira. Obviamente o espaço de produção precisa

Page 29: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

20

ser estabelecido e garantido dentro da metrópole, porém a busca por alternativas menos

excludentes e segregativas, precisam ser afiançados no convivo urbano.

A racionalização da metrópole acontece entre o final do século XIX e o começo

do século XX, pretendia-se promover o seu melhoramento físico-espacial para a

acomodação do seu potencial produtivo. Assim o nascimento da mentalidade do

planejamento urbano surge com a urbanização capitalista unificadora, que veicula a

utopia da emancipação humana pela racionalidade técnica.

A concepção da cidade funcionalista era a salvação de suas mazelas pela

naturalização de modelos universalistas, que pretendida controlar e gerenciar os

antagonismos citadinos pala racionalidade3.

Essa prática prova que há muito os modelos urbanos de metrópole unificada

deixaram de ser o conceito diretor da administração urbana nacional. Assim, tanto o

padrão de cidades industriais do hemisfério norte, quanto o de cidades planejadas, como

Brasília, não dão mais conta da pluralidade e complexidade urbana recente (LIMA,

2005). A globalização, o neoliberalismo, e as novas dinâmicas sociais, marcam uma

cidade-metrópole definida pela superposição espacial, imagens e realidade complexas

no mesmo emaranhado de redes urbanas.

Com diferenças de grau de intensidade, as cidades brasileiras apresentam

problemas similares. Problemas com transporte, seja público ou privado, especulação

imobiliária e fundiária, violência, precariedade da infraestrutura como: saúde, educação,

saneamento básico, periferização da população.

O crescimento urbano é sistêmico e retroalimentado pelos problemas citadinos.

Como Milton Santos afirma: As cidades são grandes porque há especulação e vice-

versa; há especulação porque há vazios e vice-versa; porque há vazios as cidades são

grandes. (SANTOS, 1996:96).

O modelo rodoviário urbano é um dos fatores de crescimento disperso, tornando

assim o espraiamento da cidade mais recorrente; havendo especulação há criação

mercantil da escassez, e o problema da moradia agudasse, assim como o déficit de

residências, que entram no comercio da especulação imobiliária, somando todos esses

elementos, o resultado dá-se na condução de periferização, havendo periferização a

malha urbana cresce, e vice-versa, dessa forma a o deslocamento populacional para

3 LIMA, Zeuler. Enclaves globais em São Paulo: Urbanização sem urbanismo? Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.059/471, acessado em 25 de fevereiro de 14.

Page 30: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

21

áreas periféricas é um efeito cíclico causado por inúmeros fatores que giram entorno do

eixo urbano.

A organização interna de nossas cidades, grandes, pequenas e médias, revela um problema estrutural, cuja análise sistêmica permite verificar como todos os fatores mutuamente se causam perpetuando a problemática. (SANTOS, 1996:97)

O problema, nesse caso, está na condução organizacional e a falta de

planejamento urbano, sem esses aspectos essenciais a alta migração para o sudeste do

país, o aumento da força de trabalho e a falta de estrutura gera um superávit

populacional, ou seja, quanto menos investimento e mais contingente populacional, a

metrópole acaba segregando, excluindo e conduzindo os migrantes as periferias

urbanas.

1.1.2. Espraiamento Urbano: tensões entre migração, especulação imobiliária e urbanidade.

É a partir da década de 70 que os problemas urbanos passam a ganhar destaque

social, e configuram-se como problemática central na agenda nacional, principalmente

pela noção de desenvolvimento do país. Durante o século XX o destaque está somente

nos problemas habitacionais, principalmente as habitações das pessoas com maiores

indicadores de vulnerabilidades sociais.

Dessa forma a expansão das cidades com uma intensa abertura de loteamentos

suburbanos é vista como uma solução habitacional, sendo inclusive valorizada pelo

poder público (BONDUKI, 1998:14).

O migrante recém chegado as grandes cidades, em sua maioria, sem emprego

formal e mão de obra especializada, encontra-se com a especulação imobiliária, que aos

poucos leva-os as camadas mais pobres da população a bolsões periféricos, em sua

maioria, loteamentos clandestinos, sem ajuda do estado e qualquer infraestrutura.

Assim a obtenção de casa própria na periferia é a formula encontrada pelo

trabalhador para subsistir em uma situação onde o salário encontra-se abaixo do custo

de produção da força de trabalho. (BONDUKI & ROLNIK, 1979:128)

A obtenção da moradia, vem pela compra de lotes e autoconstrução, ou seja, a

construção da casa é feita pelo próprio morador nas horas livres, realizadas em etapas

espaçadas, dependendo do tempo e do dinheiro obtido pelo trabalhador.

Page 31: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

22

A vantagem desse tipo de construção é a obtenção de um bem de consumo

próprio, com um custo relativamente barato. A casa como mercadoria é um bem

essencial, pois não tem seu custo reduzido com o passar do tempo, nem seu valor

mercadológico é defasado, a casa torna-se um patrimônio que pode ser vendido ou

alugado.

Outra forma de renda comumente encontrada é o aluguel informal, pela

defasagem de locação imobiliária e os altos preços para aluguel, cada vez mais a

locação informal cresce, principalmente na periferia, cômodos nos fundos e quartos

sobressalentes são alugados visando uma renda extra familiar.

A medida que o espaço vai se solidificando e adquirindo infraestrutura, há

também um aumento do custo de vida, com a elevação do custo de vida os moradores

iniciais do loteamento vendem suas residências a fim de procurar bairros mais afastados

da cidade com custos de vida compatíveis com sua renda familiar, há também aquelas

famílias que não conseguem mais arcar com as parcelas do terreno, e buscam na venda

deste, a única alternativa para o não endividamento.

A consequência desse processo é, pessoas com um poder aquisitivo mais

elevado habitando nos antigos loteamentos de classes mais baixas da população, com o

passar do tempo, esse processo altera as características na composição social do bairro,

à medida que estes loteamentos são mais integrados a malha urbana com mais

infraestrutura, as famílias com menos capacidades aquisitivas vão sendo conduzidas a

áreas mais distantes das cidades.

Assim se configura uma cidade ocupada diferencialmente pelas classes que se apropriam de parcelas do território de acordo com o nível de renda a que têm acesso. Uma cidade, enfim segregada. (BONDUKI & ROLNIK, 1979:147)

Podemos definir a periferia como segregação espacial, que diferentemente da

noção geográfica, que caracteriza a periferia como áreas distantes dos centros urbanos,

ou mesmo de uma sociologia que conceitua a periferia em locais onde a força do

trabalho se reproduz em péssimas condições de habitação, sem levar em consideração

os processos urbanos. A periferia urbana está relacionada a vinculação da ocupação do

território urbano à estratificação social, dessa forma, existem inúmeras periferias para

Page 32: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

23

onde a população carente se desloca, no sentido gradiente da renda diferencial4, ou seja

o deslocamento acontece de uma periferia carente para outra, reproduzindo seu espaço

para reproduzir sua força de trabalho.

Essa definição, embora não seja única, vai de encontro ao conceito atual de

periferia urbana, que não está somente na distribuição dos espaços marginais nas

metrópoles, mas acontece em espaços de segregação, onde, de maneira substancial,

condomínios fechados concorrem com espaços periféricos, criando uma complexidade

ainda maior nos espaços urbanos.

O conceito de “periferia urbana” é complexo e relacional. Complexo porque sua explicação exige diversos fatores, não apenas econômicos, mas, sociais e culturais. Relacional porque a periferia só se explica em oposição ou como contraparte dos centros urbanos privilegiados. Do sentido amplo do conceito “periferia” destacamos a pobreza, como destituição dos meios de sobrevivência física e a insuficiência de renda e de trabalho. Também a inexistência de infraestrutura física nos locais de moradia. (RIVERA, 2012:20-21)

Para Maricato periferia caracteriza-se como:

Espaço da residência da classe trabalhadora ou das camadas populares, espaço que se estende por vastas áreas ocupadas por pequenas casas em pequenos lotes, longe dos centros de comércios ou negócios sem equipamentos ou infraestrutura urbanos, onde o comércio e os serviços particulares também são insignificantes enquanto forma de uso de solo. [...] são bairros que se assemelham a canteiros de obras, e mantêm essas características por muitos anos, não raramente por mais de vinte anos, até chegar os primeiros elementos de infraestrutura (1979:82-87)

Já para Singer:

Uma área onde ainda não chegaram os serviços urbanos, por isso tem estrutura urbana precária, e nela se instala a população que não pode pagar para ter acesso à uma propriedade em melhores localizações (1979:33)

Mesmo que o conceito de Singer, hoje esteja defasado em relação aos conceitos

mais contemporâneos, ele nos mostra fatores essenciais que contribuem com o aumento

da segregação nas malhas urbanas. Para compreendermos esse aspecto precisamos

entender a terra como propriedade privada e fonte de renda do sistema capitalista.

4 Segundo os autores renda diferencial é o componente da renda fundiária que se baseia nas diferenças entre as condições físicas e localização dos terrenos e nos diferencias dos investimentos sobre eles, ou no seu entorno, dessa forma esse componente soma-se a renda absoluta no qual é, propriamente, a remuneração pela existência da propriedade privada (BONDUKI & ROLNIK, p. 147, 1979)

Page 33: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

24

O espaço urbano é condição necessária para a realização de atividades e não um

meio de produção, ou seja, a terra na urbanidade entra no custo que absorve parte do

lucro. Na cidade há uma disputa pela ocupação da terra gerando valorização da mesma,

assim sendo, o mercado imobiliário assume um capital especulativo, pois sua

valorização não está na produção do solo, mas na monopolização do acesso as

condições necessárias para a atividade capitalista.

A localização da propriedade é essencial para essa especulação e possível

valorização, definindo vantagens locacionais determinantes para cada atividade

capitalista. Para a indústria é necessário ter acesso a matéria prima e ao mercado

consumidor, seu valor precisa ser compatível com os lucros obtidos na produção. Já

para fins habitacionais o valor implícito está nos serviços urbanos relacionados ao

prestigio social da área em relação a renda da população habitante, e assim por diante.

A formação de áreas periféricas está relacionada a áreas que por alguma razão,

os direitos de propriedade não vigoram: áreas de propriedade pública, terrenos em

inventario, glebas, mantidas vazias com fins especulativos, etc. (SINGER, 1979:33)

assim forma-se espaços periféricos de aglomerados subnormais, formando as invasões,

favelas, mocambos, bairros e prédios deteriorados enquanto não há novos investimentos

nos imóveis desvalorizados, há também cortiços, que são alugados pelos moradores

igualmente em condições precárias de habitação.

Embora os fluxos migratórios no país encontrar-se diminuindo

progressivamente, as taxas ainda se mantêm elevadas. Segundo dados do IBGE nos

últimos dados censitários de 2010, as grandes regiões têm um acúmulo de 17,8 milhões

de pessoas residindo fora de seu lugar natal. A maioria composta de nordestinos, com

9,5 milhões de indivíduos, correspondendo há 53,6% do total dos residentes não

naturais nessas regiões.5

O sudeste do país foi a principal região a absorver esse fluxo, ali habitavam

66,6% da população nordestina que vivam fora do Nordeste, também observou-se que

600 mil pessoas que nasceram fora dos limites territoriais brasileiros procuraram a

região sudeste como lugar de habitação6.

Conforme indica a tabela 3 cerca de 26,3 milhões de pessoas eram migrantes,

resultado histórico das migrações interestaduais brasileiras nas últimas décadas. 5 IBGE, Censo Demográfico 2010. Sem paginação. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Nupcialidade_Fecundidade_Migracao/censo_nup_fec_mig.pdf. Acesso em: 2 de fevereiro de 2014. 6 Ibidem

Page 34: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

25

Podemos verificar que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás

acumularam os maiores contingentes migratórios. Outros estados como: Minas Gerais,

Bahia, São Paulo, Paraná, contribuíram para maior volume populacional residindo em

outra Unidade Federativa.

Tabela 3:Pessoas não naturais da Unidade da Federação de residência e pessoas naturais da Unidade da Federação que residem em outra, segundo as Unidades da Federação – 2010.

Unidades da federação

Pessoas não naturais da Unidade da Federação de

residência

Pessoas naturais da Unidade da

Federação que residem em outra

Diferença

Rondônia 668 309 135 328 532 981 Acre 72 843 70 606 2 237 Amazonas 333 950 180 856 153 094 Roraima 167 770 23 322 144 448 Pará 1 112 348 715 308 397 040 Amapá 207 556 36 176 171 380 Tocantins 427 966 267 852 160114 Maranhão 484 116 1 537 034 (-) 1 052 918 Piauí 262 592 956 470 (-) 693 878 Ceará 385 112 1 491 976 (-)1 106 864 Rio Grande do Norte 265 628 445 172 (-) 179 544 Paraíba 292 134 1 179 592 (-) 887 458 Pernambuco 561 411 1 954 939 (-) 1 393 528 Alagoas 233 774 787 539 (-) 553 765 Sergipe 222 890 364 416 (-) 141 526 Bahia 838 815 3 069 213 (-) 2 230 398 Minas Gerais 1 339 230 3 582 579 (-) 2 243 349 Espirito Santo 648 520 497 785 150 735 Rio de Janeiro 2 147 186 866 220 1 280 966 São Paulo 7 994 351 2 243 906 5 572 147 Paraná 1 670 599 2 243 906 (-) 573 307 Santa Catarina 1 078 204 636 168 442 036 Rio Grande do Sul 347 036 1 066 500 (-) 719 464 Mato Grosso do Sul 609 435 362 175 283 260 Mato Grosso 1 121 084 291 639 829 445 Goiás 1 610 830 712 629 898 201 Distrito Federal 1 175 247 417 332 757 915 Total 26 278 936 26 278 936 - Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

A grande maioria dos migrantes ao ingressar nas grandes metrópoles deparam-se

com os baixos salários, especulação imobiliária, custo de vida elevado etc. o que faz,

normalmente, o migrante encontra-se em agrupamentos subnormais expostos as

Page 35: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

26

intempéries citadinas, mas o que a princípio seria provisório, torna-se permanente,

sedimenta o migrante a grandes áreas de aglomerados subnormais, ou mesmo a um

deslocamento rumo a áreas cada vez mais periféricas.

1.2. A urbanização em São Paulo

No contexto da urbanização brasileira, marcada por grandes deslocamentos

populacionais, pela organização e reorganização espacial e transformações nos

processos de divisão do trabalho e especulação imobiliária, o sudeste do país, em

especial São Paulo, o fenômeno foi mais agudo.

A partir de 1930, após a Grande Depressão, a economia paulista consolidou-se

com proeminência no cenário nacional. Ao contrário das demais regiões, São Paulo

contou com elementos fundamentais para sua expansão diversificada e concentradora:

avançadas relações capitalistas de produção, amplo mercado interno, e uma avançada

agricultura. (BÓGUS, 1992:30)

É importante ressaltar que a capital paulista como centro integrador regional se

deu a medida em que as relações capitalistas de produção se estenderam e

diversificaram, intensificando a divisão do trabalho e o crescimento do pequeno

comerciário, da classe média profissional e dos primeiros núcleos de operários.

Até os anos 30, São Paulo era uma cidade pouco segregada, embora com padrões de segregação bastante marcados. Nesse sentido, havia uma discriminação das áreas habitadas por operários em relação à localização dos serviços e da infraestrutura urbana. Eram áreas de várzea, próximas às fábricas, onde havia as piores condições de serviços e transporte. (BÓGUS, 1992:30-31)

Na década de 20 a indústria paulista passa por grandes processos de expansão,

iniciado na 1° Guerra Mundial, com o aumento e diversificação do polo industrial,

intervenções públicas passaram a ser constantes no setor, as políticas protecionistas do

governo, juntamente com o acumulo de estoque, aliando a bons preços e capitais em

novas lavouras, fariam parte da grande crise financeira mundial de 1929.

Houve também grande expansão das redes de transportes coletivos,

principalmente com o surgimento do ônibus em 1924, que permitiu acesso a novos

loteamentos que gradativamente foram ocupadas, já em 1926 circulavam na cidade

Page 36: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

27

cerca de 200 ônibus, ainda existia um constante aumento de automóveis particulares e

caminhões, que aos poucos impunham transformações nos sistemas rodoviários.

(BÓRGUS, 1992:36)

Tentando acompanhar as crescentes mudanças, ainda na década de 20, surgiram

dois planos para a reforma do sistema viário, o projeto de lei da Light (1927) e o plano

de Avenidas de Prestes Maia (1930), os dois planos tinham visões diferentes, quase

antagônicas sobre a forma com que a cidade deveria expandir.

A prefeitura optou pelo Plano de Avenidas, que propunha grandes mudanças na

áreas centrais, desapropriação e abdicação do bonde e linhas ferroviárias, esse plano

estava em sintonia com a política de expansão rodoviária vigente no país.

Importantes rodovias foram abertas nesse período como Anchieta, Anhanguera e

Presidente Dutra (1940), que permitiam um fácil escoamento de mercadoria e sua rápida

circulação, essas rodovias abriram novas áreas industriais, que não precisavam mais

estar presente somente na capital, mas buscam nos bairros satélites melhores condições,

como é o caso da indústria automobilística em São Bernardo do Campo.

Se as aberturas de novas rodovias firmavam o compromisso com os setores

industriais, por outro lado, houve uma preocupação com as questões das moradias,

como o estabelecimento do salário mínimo para o trabalhador, apontando a moradia

como item de maior peso na renda familiar e políticas públicas que tentavam amenizar

as exclusões existentes.

Nesse período houve reivindicações, nos meios trabalhistas, para que o estado

subsidia-se aos trabalhadores habitação, principalmente aqueles de baixa renda. Foi

somente em 1937 que as primeiras carteiras prediais do Instituto de Previdência,

primeira ação efetiva do Estado no setor da habitação popular, mas mesmo assim, essa

política pública demostrou ineficácia para atender a alta demanda existente.

A intervenção do estado no setor habitacional, embora muito restrita acabou por elevar o novel de aspiração dos trabalhadores em ralação à propriedade da casa. Tal fato, aliado às possibilidades de acesso a novas áreas da cidade [...], ao rebaixamento salarial, à especulação imobiliária e à expansão industrial, produziu a conjugação de fatores que, combinados, conduziram ao surgimento de um novo padrão de estruturas urbanas (e de segregação), assentando nos elementos periférico e casa própria autoconstruída. (BÓGUS, 1992:33)

Page 37: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

28

Com desenvolvimento da cidade, a especulação imobiliária exagerada, que aos

poucos conduzia pessoas de baixa renda aos loteamentos mais afastados, a

industrialização junto as ferrovias tornado as habitações dos operários junto as estações

externas à cidade, vai ampliando as delimitações citadinas em um processo cada vez

maior de crescimento urbano.

No processo de loteamentos os especuladores imobiliários deixaram de vender

grandes áreas centrais e começaram a investir nos loteamentos para trabalhadores, que

geralmente eram mais afastados dos centros urbanos, bem como de parcos recursos

estruturais, tornando assim o crescimento urbano paulista um emaranhado de teias

urbanas espaçadas e sem lógica para um desenvolvimento urbano planejado.

As décadas de 40 e 50 foram marcadas pela expansão da cidade em direção ao

que podemos denominar de primeira periferia ou periferia próxima (BÓGUS, 1992:34),

essa época foi ocupada as áreas mais distantes, porém ainda nos limites do município de

São Paulo com exceções feitas para Guarulhos, São Bernardo do Campo, São Caetano

do Sul e Santo André, no qual já absorviam aglomerados populacionais graças as

indústrias que se instalaram nos municípios.

O deslocamento para áreas mais periféricas da cidade, atingiu principalmente as

pessoas com maior vulnerabilidade social, que, em grande medida, representavam

famílias em mobilidade espacial, de primeira e segunda geração, pois ao chegarem nos

grandes centros metropolitanos encontravam-se com um mercado imobiliário

inflacionado, baixos salários, custo de vida elevado e um ambiente cultural distinto do

vivenciados em sua terra natal.

1.2.1. A periferia Paulista

O fenômeno da “aglomeração subnormal”, ocorreu devido a diversos fatores,

entre eles a expansão industrial e sua descentralização, a intensa migração e a

especulação imobiliária, garantiram a criação de periferias na cidade. Dessa forma, a

história da construção dos espaços em São Paulo está vinculada ao processo de

diferenciação das áreas habitáveis e sua integração distinta na divisão do trabalho,

entretanto, deve-se o processo de ocupação do solo urbano, sob a égide das regras

capitalistas, a heterogeneidade uma das mais marcantes características da metrópole

paulista.

Page 38: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

29

Segundo dados do IBGE a população paulista em 2010 era de 11.253,503

milhões de pessoas, sendo a densidade demográfica de 7.398,3 hab./km2. Existe hoje na

cidade de São Paulo 2.715.067 milhões de pessoas que residem em domicílios ocupados

em aglomerados subnormais, distribuídos em 2.087 mil lugares por toda a cidade.

Mesmo com valores relativamente elevados a população favelada de São Paulo é

uma das menos populosas, o México possui um número muito maior, 45% de sua

população habitam em aglomerados subnormais, em Lima, Peru quase metade da

população mora em barriadas. (Davis. 2006)

No cenário nacional, metrópoles como Belém (PA), Salvador (BA) e Recife

(PE) apresentam uma população periférica muito mais expressiva, respectivamente

52,5%, 25,7% e 22,4% da população residem em aglomerações subnormais, como

aponta o estudo feito pelo IBGE em 2010.

Indiferente da metrópole estudada os processos característicos de segregação e

favelização permanecem essencialmente os mesmos. Em São Paulo, embora existam

registros de favelas desde a década de 1940, foi somente nas décadas de 1950 e 1960

que as aglomerações apresentaram um aumento substancial.

De fato, desde cedo, além das vilas operarias construídas pelas empresas, foi grande a quantidade de cortiços que proliferaram nos bairros operários da época, Brás, Belém, Barra Funda e em zonas mais centrais tais como Santa Cecilia. Não se tratava apenas de moradias deterioradas que passaram a ser alugadas aos trabalhadores que em grande número afluíram para a cidade. Eram, sobretudo, casas construídas com a finalidade especifica de alojar em pequenos cubículos os operários, cujos alugueis uma vez somados propiciavam retornos ponderáveis aos empreendedores imobiliários dos períodos iniciais da industrialização. (KOWARICK, 1993:83)

Com o passar do tempo, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, a

classe trabalhadora passou a habitar em casas precárias, situadas nas periferias citadinas.

Com a especulação cada vez maior do setor imobiliário, o incremento de grandes

contingentes populacionais, como é o caso dos fluxos migratórios, e pouca força de

trabalho disponíveis, a autoconstrução da residência era a forma mais viável de

obtenção de moradia.

Os assim chamados problemas habitacionais, entre os quais a própria favela, devem ser entendidos no âmbito de processos sócios-econômicos e políticos abrangentes, que determinam a produção do espaço de uma cidade e refletem sobre a terra urbana a segregação que caracteriza a excludente dinâmica das classes sociais. (Ibidem)

Page 39: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

30

Na cidade de São Paulo a terra é fonte de volumosos e rentáveis negócios,

mesmo com projetos governamentais de incentivos de créditos para pessoas de baixa

renda, como Minha Casa Minha Vida, Casa Paulista, entre outros, podemos notar que a

especulação imobiliária aumentou substancialmente o preço dos mesmos, uma vez que

mercado comportou acréscimos também na obtenção de créditos.

O investimento e a fácil obtenção de crédito superaram a rentabilidade de todos

os outros investimentos financeiros de 2008 a 2013 o setor mobiliário rendeu cinco

vezes acima da inflação, deixando o valor médio dos imóveis paulistas 195% mais caros

segundo o Fipe/Zap.

Esses processos marcam nitidamente a segregação da produção do espaço

urbano em São Paulo, se por um lado cria periferia cada vez mais afastadas dos centros

de empregos, gerando um crescimento desordenado, criando padrões de sedimentação

habitacional descontinuado, impedindo o beneficiamento coletivo, principalmente com

meios de consumo e infraestrutura urbana. De outro a associação entre vazios urbanos,

especulações imobiliárias e serviços públicos tem fundamental importância no preço da

terra que é aumentado dependendo de sua localidade e dos serviços em seu entorno.

Numa metrópole em que a produção de espaço se faz sem a existência de uma sociedade civil vigorosa na defesa dos interesses básicos da maioria dos seus habitantes, as transformações urbanas só podem se realizar como um rolo compressor que esmaga todos aqueles que não têm recursos para conquistar os benefícios injetados na cidade. (Ibidem:84)

Com as melhorias feitas por diversos governos, como por exemplo as linhas

metroviárias, ao mesmo tempo que beneficiam uma grande parcela da população, gera

especulação imobiliária, encarecendo alugueis e vendas de apartamentos e casas, milhares de

pessoas que veem-se obrigadas a ceder o espaço, por não ter mais como sustentar o novo custo

de vida do local, colocando-as cada vez mais para áreas distantes da cidade.

Na luta pela sobrevivência na metrópole as favelas ainda são consideradas fontes de

economia às famílias mais vulneráveis socialmente, isso porque há um controle financeiro

maior nas casas autoconstruídas, principalmente em terrenos ocupados, evitando assim entrarem

no mercado de aluguel, muitas vezes inflacionado pela baixa demanda de imóveis.

Outra fonte variável de economia é a localização das aglomerações subnormais,

dependendo da localização, se perto de centros empregatícios, a economia com transporte ganha

Page 40: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

31

importância dentro da cesta de consumo das famílias trabalhadoras, podendo ser fator de

economia ou de gasto excessivo.

Mesmo as áreas periféricas significando uma solução barata e rápida de moradia para

seus habitantes, elas ainda são loteamentos precários, localizado, em muitos casos, em áreas de

litigio leitos de rios e córregos, terrenos e construções temporariamente desabitados, mesmo

assim, o número de saneamento básico em áreas de aglomerações subnormais tem, em São

Paulo, um índice bastante elevado se comparado ao resto do país.

Segundo dados censitários de 2010 o abastecimento de água em áreas de aglomerados

subnormais chegam a 68,4% das residências, e 94,7% das residências regulares, o norte do país

possui as menores taxas, aglomerados subnormais em Amapá, Roraima e Tocantins não chegam

a atingir 8% de adequação dos domicílios com abastecimento de água7.

Esse número inverte-se quando pensamos na distribuição de energia elétrica, em São

Paulo apenas 65,9% das residências em aglomerados subnormais são abastecidas por elas, o

mais baixo da região sudeste, tanto no Rio de Janeiro quando em Minas Gerais os valores são

bem maiores 71% e 75,4% respectivamente8.

Embora os problemas com o saneamento básico nas periferias paulistas sejam menores

que no resto do país, ainda existem outros fatores que contribuem para o estado de

vulnerabilidade social, as periferias urbanas precisam lidar com outras questões que carecem de

atenção popular, problemas como violência, pouco acesso à cultura e lazer, etc.

Segundo pesquisas realizadas pelo CRAVI em quatro bairros periféricos entre a Zonal

Sul e Norte da capital revela que a maior parte dos homicídios ocorre perto da residência das

vítimas, 47,5% na rua, 20,4% no hospital, 9,4% na própria casa e 7,4% em bares. Das 391

famílias entrevistadas 10,9% relataram ter sofrido mais de um homicídio na família9.

Segundo o mapa da violência (2010) o número de vítimas brancas caiu de 18.852 para

14.308, o que representa uma queda de 24,1%, ao contrário, entre os negros o número de mortes

por homicídio aumentou 12,2% de 26.915 para 30,19310.

O problema da violência não está somente na população periférica negra, mas também

nos jovens, principalmente os negros, habitantes desses lugares, embora o Mapa da Violência

2013: Mortes Matadas por Armas de Fogo, apontem um decréscimo no número de mortes em

São Paulo, ainda assim em 2010, 3.845 homicídios foram causados por arma de fogo, a cada

100 mil habitantes entre 15 e 29 anos, desse número 16,6% por armas de fogo, sendo que o total 7 Censo 2010. Acesso a informação. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/agsn2/. Acesso em 18 de maio de 2014 8 Ibidem. 9LOMBARDI, Renato. Quem são as Vítimas de Homicídios na Periferia. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd181103f.htm. Acessado em: 25 de maio de 2014. 10 WAISELFISZ, Júlio Jacob. Mapa da Violência 2010: Anatomia do homicídio no Brasil. Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2010/MapaViolencia2010.pdf. Acessado em: 25 de maio de 2014

Page 41: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

32

de mortes violentas foi de 63,3%, incluindo mortes violentas, homicídio, homicídio por arma de

fogo, suicídio, acidente de transporte.

A vitimização dos jovens constitui grave problema econômico, além da perca de

estimativa de vida ao nascer, cerca dois anos e sete meses para os homens, e quatro meses para

as mulheres, ainda indica que o custo de “bem estar” é de 79 bilhões anualmente, o que

equivaleria a 1,5% do PIB do país, ainda afirmam que em cada estado o custo da vida pode

corresponder a 6% do PIB estadual, como é o caso de alagoas. (MOURA, 2013)

Os jovens de cor parda são as maiores vítimas de homicídios, de mortes violentas com causa determinada e de acidentes fatais [...]. A parcela de mortes indeterminadas trata-se na verdade, de homicídios não classificados como tais, isto implica dizer que [...] as vítimas de homicídios, de mortes indeterminadas e de acidentes, possuem baixa escolaridade, tipicamente de 4 a 7 anos de estudo11.

O gráfico abaixo relaciona escolaridade e causas de morte juvenil, podemos

notar que os maiores índices de homicídio estão em indivíduos que possuem de quatro a

sete anos de estudo. A violência perpetrada entre jovens, pardos e negros de baixa

escolaridade é um fenômeno que tem influenciado diretamente a vivência nas periferias

paulistas, uma vez que expõe a população, e principalmente o jovem e adolescente, a

um ambiente de alta vulnerabilidade social.

Gráfico 1

As mazelas periféricas paulistas não acabam aqui, há diferenças claras também

na distribuição de renda e de trabalho entre os moradores de áreas regulares e áreas 11 MOURA, Daniel Cerqueira Rodrigo. Custo da Juventude Perdida no Brasil. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130712_custo_da_juventude_perdida_no_brasil.pdf. Acessado em 26 de maio de 2014.

Page 42: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

33

irregulares. Segundo dados do SIDRA, o rendimento médio de pessoas em aglomerados

subnormais é de R$ 817,58, enquanto em áreas citadinas a média foi de 2.547,24, uma

diferença de 67,9% de renda média. Pessoas que frequentavam ou frequentam escolas

também são diminutas nas favelas paulistas somente 11,43%, enquanto em áreas

residenciais nominais 88,54 frequentam ou frequentam escolas.

Sem nenhuma dúvida a moradia reflete todo um complexo processo de

segregação e exclusão, a cidade olha a favela como uma calamidade pública, uma

doença patológica que precisa ser exterminada, segregando, assim, todos os moradores,

que são vistos como marginais, malandros, prostitutas e as mais variadas formas de

preconceitos, de tal modo criam políticas públicas de repressão e opressão, forçando o

favelado a sair de sua residência, essas famílias, outrora expulsas ou removidas são

obrigadas a migrar para lugares ainda mais periféricos.

A favela seria um estágio temporário no percurso do migrante, uma espécie de período de poupança forçada que lhe permitiria trocar o barraco por uma habitação de melhores condições. Nessa concepção, a favela seria uma espécie de trampolim pelo qual os recém chegados a cidade, após certo tempo, penetram em patamares caracterizados pelo usufruto de níveis de consumo superiores, inclusive com uma moradia com padrões mais elevados de habitabilidade. (KOWARICK, 1993:94)

Obviamente o migrante que ingressa nas grandes metrópoles, em sua maioria,

acabam em situações de vulnerabilidade social, e muitos procuram residência nas

periferias da cidade, mas não podemos deixar de considerar que a favelização não é algo

passageiro, ou seja, embora o sentimento seja de uma habitação por um curto período de

tempo, muitos sedimentam-se nas periferias, pois nada indica que períodos de tempo na

favela gera algum acréscimo econômico ou capital que indicam um movimento

ascensional para benefícios socioeconômicos.

1.2.2. O Migrante na Periferia Paulista

Uma das grandes características da cidade de São Paulo é seu alto contingente

migratório, principalmente entre 1960 a 1980. Na década de 80 o migrante representava

51,6% da população paulista. A migração acontecia em municípios de base industrial e

cidades dormitórios próximos a São Paulo, sendo que alguns deles tinham altas taxas de

migração, que chegavam até 75% de sua população, como é o caso de Carapicuíba,

Page 43: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

34

Embu, Francisco Morato, Jandira, Taboão da Serra e Rio Grande da Serra. (BÓGUS,

1992:38)

Como demostra a tabela 4, embora São Paulo tenha experimentado um grande

contingente populacional, hoje ela não é mais o grande polo de atração migratória,

considerando que até mesmo cidades interioranas do estado tem um índice mais

elevando do que a capital. Ainda assim São Paulo é um dos estados e cidade mais

importantes do país concentrando escritórios de empresas internacionais e nacionais,

centros empresarias e o gerando 443.600 Bilhões de PIB ao ano (IBGE 2010).

Tabela 4:Crescimento demográfico absoluto e taxa geométrica anual por tipo de

componente – Região metropolitana de São Paulo- 1940 a 2010 Período Crescimento Taxa Geométrica anual de Crescimento da

População (%) Total Vegetativo % Migratório % Total Vegetativo Migratório

1940-1950 1.094.741 293.437 26,8 801.304 73,2 5,53 1,48 4,05

1950-1960 2.076.290 840.583 40,5 1.235.707 59,5 5,83 2,38 3,47

1960-1970 3.400.834 1.369.950 40,3 2.030.884 59,7 5,56 2,24 3,32

1970-1980 4.448.815 2.153.238 48,4 2.295.577 51,6 4,46 2,16 2,30

1980-1990 2.856.216 3.130.908 109,6 -274.692 -9,6 1,88 2,06 -0,18

1990-2000 2.431.771 2.212.180 91 219.591 9 1,64 1,49 0,15

2000-2010 1.805.272 2.104.952 116,6 -299.680 -16,6 0,97 1,13 -0,16

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940 a 2010; Fundação SEADE, 1993, 1998, 2011.

Pelos processos históricos de industrialização, êxodo rural e etc. a constituição

da população em São Paulo é marcada por um número significativo de migrantes como

demostra a tabela a seguir. Observa-se que os não naturais em São Paulo representam

39% do total da população residente, desse número 1,28 milhões de migrantes habitam

Page 44: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

35

comunidades empobrecidas, ou seja 34% da população de aglomerados subnormais são

migrantes interestaduais, segundo o LIT com base no Censo 2010.

Tabela 5:Populações por sexo, percentual e total, segundo condição de naturalidade- região Metropolitana de São Paulo-2010 Condição de naturalidade (nasceu nesse

município?) Sexo Total %

Masculino % Feminino %

Sim 5.309.762 27 5.525.148 28 11.878.925 55

Sim, mas morou em outro lugar município ou país estrangeiro

421.249 2 502.831 3 1.142.973 6

Não 3.702.594 19 4.222.391 21 7662.077 39

Total 9.433.602 48 10.250.370 52 19.683.975 100

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010.

O crescimento populacional, o espraiamento urbano, a especulação imobiliária

transforma a vida urbana em uma luta pela sobrevivência, neste caso, a vivencia

metropolitana é marcada por altos contrastes entre aqueles que usufruem do direito de

ser cidadão na metrópole, e aqueles no qual o mesmo direito é negado.

A precariedade das condições de vida, por si só, já torna temerário classificar o favelado como um cidadão urbano, mas não é somente sob esse aspecto que a cidadania, entendida como um rol mínimo e imprescindível de direitos, está ausente. (KOWARICK, 1993:91)

Se para o morador urbano existe alternativas de reivindicar melhorias públicas

para seus bairros, os moradores favelados são alienados de seus direitos como cidadão

urbano. Dessa forma, em princípio, se o cidadão urbano não tem pleno gozo das

infraestruturas citadinas, ele, ao menos, pode avoca-las para si.

Page 45: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

36

Mesmo com altos índices de urbanização a cidade paulista ainda é extremamente

defasada no fornecimento de benefícios urbanos mínimos a população em aglomerados

subnormais.

O fato de ser favelado tem desqualificado o indivíduo da condição de habitante urbano, pois retira-lhe a possibilidade de exercício de uma defesa que se processa em torno da questão da moradia. Ocupante de terra alheia, o favelado passa a ser definido por sua situação de ilegalidade, e sobre ele desaba o império draconiano dos direitos fundamentais da sociedade, centrados na propriedade privada. (KOWARICK, 1993:93)

No imaginário popular o morador da favela pode ser removido de sua moradia

pela ilegalidade de sua situação, revoga-se seu direito de cidadão pela prerrogativa da

posse de terra, dessa forma anula-se os direitos de cidadãos urbanos de uma quantidade

significativa da população em São Paulo. Dessa forma a política governamental visando

a desaceleração do crescimento das favelas permitem ao proprietário privado autonomia

absoluta para desagregar o morador de sua residência.

O morador favelado e habitante de áreas ilegais adquirem uma consciência da

eventualidade sempre presente de serem obrigados a abandonar os aglomerados. Com o

quadro formado, os moradores procuram polos agregadores para resistir à pressão

social, imposta pela máquina capitalista, um desses polos de resistência é o

associativismo e as redes sociais.

No processo de migração, muitas vezes forçado pelas circunstâncias, a luta pela

sobrevivência nas metrópoles acaba, em muitos casos, conduzindo o migrante para

espaços periféricas e de favelização. Nessas áreas o migrante vê seus direitos

deliberadamente anulados e sua força de trabalho reduzida, além disso, as parcas

estruturas públicas, a dificuldade de anexar novas formas culturais, o sentimento de

retorno a sua terra natal e a instabilidade, sempre presente, de sua situação, fazem do

migrante que vem para capital paulista um cidadão com altas taxas de vulnerabilidade

social, que busca o convívio mútuo e no associativismo para amenizar as intempéries da

vida.

1.3. Os Primórdios da Zona Leste de São Paulo, João Ramalho e os

Jesuítas.

Page 46: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

37

Em 1549 chega ao Brasil, mais precisamente na Bahia o governador geral Tomé

de Sousa acompanhado do padre Manuel da Nobrega, lá o padre enfrenta inúmeros

problemas, existia uma relação conflituosa com os pajés locais que apregoavam a

disseminação de doenças e mortes entre os índios trazida pelos missionários

portugueses, para os pajés as doenças eram causadas não somente pelo contado dos

indígenas com os lusitanos, mas também pela adesão ao cristianismo e o batismo

indígena. A missão católica enfrenta duras resistência e evasão massiva na missão

indígena.

Além disso Nobrega também enfrentou e condenou práticas de antropofagismo,

poligamia, venda de índios como escravos, os problemas não eram somente dos

conflitos com os indígenas, mas das relações com os capitas-gerais, que exerciam poder

na ausência dos donatários, muitos deles, inclusive, nunca visitaram nenhuma de suas

terras no Brasil, para o padre era dever do donatários cuidar de seu quinhão de terra

pessoalmente.

Nobrega relata ao rei D. João III sua insatisfação com seus patrícios, para ele as

casas estavam cheias de “pecados mortais”, cheias de adultérios, fornicações, incestos,

enganos, ódio, roubos e outros pecados. Com a crescente insatisfação do padre Nobrega

e prevendo um conflito mais sério por parte dos residentes na Bahia, Tomé de Sousa,

governador geral, convida o padre para uma inspeção às capitanias ao sul da colônia, e o

padre aceita a missão de bom grado.

Ao chegar Tomé de Sousa e o padre Nobrega decidem subir a serra, ali encontra

um povoado, espaço já anteriormente organizado pelo padre nunes, dessa forma o

governador decide elevar Santo André da Borda do Campo a vila. E nomeou João

Ramalho alcaide-mor e capitão-mor do campo mesmo com as relações tensas entre

Ramalho e os jesuítas.

Foram muitas vezes tensas as relações entre João Ramalho e os padres. As divergências começavam pelo modo de vida do patriarca, dado a ter muitas mulheres e andar livre e solto como um índio, e terminavam pelas atividades, digamos assim, profissionais, de Ramalho, que não eram outras senão o apresamento de índio e sua exploração ou venda, como cativos. (TOLEDO, 2012:81)

A intencionalidade da nomeação de João Ramalho a um posto militar de alta

importância é cooptar a ajuda do patriarca para a proteção dessas terras, afinal ou Tomé

de Sousa contaria com a ajuda de Ramalho, ou não contaria com ninguém mais. Dessa

Page 47: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

38

forma Ramalho passou a ser responsável pela segurança do local e pelo cumprimento

das ordens emitidos peça coroa.

Mesmo com a pouca simpatia do padres jesuítas João Ramalho ajuda o padre

Nobrega a subir e fixar-se no planalto, há ponto de transferir o colégio da vila São

Vicente, fundado pelo padre Nunes; Nobrega enxergava com maus olhos a “população

branca” do local, para ele só era possível fazer o evangelho longe da degradação moral

de seus patrícios, os “brancos” eram má influência e por isso tomou a decisão de

transferir o colégio para outro espaço, longe das figuras danosas, a fim de construir uma

comunidade “verdadeiramente cristã”.

Em outubro, escrevia ao rei D. João III que num determinado local do Planalto, situado a dez léguas pouco mais ou menos do mar, e dias de uma povoação de João Ramalho – Santo André, da qual o patriarca era alcaide – ia ajuntando-se todos os que Nosso Senhor que trazer à sua Igreja [...] Dessa maneira, segundo Nobrega, numa frase famosa “uma fermosa povoação”. Era o embrião daquela que viria a ser São Paulo. (Ibidem:93)

Outro personagem importante dessa história é José de Anchieta, ele chega na

vila de São Vicente na véspera de natal de 1553, encontra-se com Nobrega que estava

no afã de sua nova empreitada no planalto, com ajuda dos índios os padres jesuítas

constroem, uma casa rustica com paredes de barro, pau e telhado de palha, existia

somente um cômodo, multiuso, que abrigará a escola, cozinha, enfermaria, dormitório,

refeitório e despensa, existiam cerca de 13 jesuítas habitando o local.

Em 25 de Janeiro de 1554 é celebrado a missa de inauguração da missão jesuíta

no planalto, bem como assinalava o começo das atividades do colégio, a dedicação à

São Paulo foi feita no dia 25 de Janeiro, considerado o dia de sua conversão.

Posteriormente esse momento ficou marcado na história como o nascimento da cidade

São Paulo.

Na verdade, o momento é mais solene para a posteridade do que para quem o viveu de corpo presente. Que aconteceu, naquele dia? Uma missa, numa casa paupérrima, plantada no meio de uma aldeia de índios. Quase nada, nem foi a primeira missa no Planalto. O padre Leonardo Nunes, desde quatro anos antes, vinha visitando a região. Nobrega desde o ano anterior. Como é praxe, entre os padres, os dois não deixavam de celebrar missas, estivessem onde estivessem. Era inauguração de um colégio, mas outros colégios já haviam sido inaugurados no Brasil. A rigor nem novo este era, mas continuação de um de ali perto, em São Vicente. (Ibidem:100)

Page 48: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

39

A criação do colégio no centro da vila indígena foi chamada de Piratininga e

estava em franco crescimento, contando com a benção e a proteção de Tibiriçá, cacique

influente e poderoso da região, sogro de João Ramalho. Mesmo assim em apenas dois

anos Piratininga sofreu com guerras, invasões e esvaziamento dos indígenas que se

mudaram para o local. Influenciado por outros caciques da região que diziam que os

índios batizados serviriam como escravos e os que não fossem seriam mortos, a maioria

dos índios não permaneceu na região.

Em 1560 chega a São Vicente o terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá,

para uma inspeção na região, Mem de Sá atendendo aos pedidos feitos muda a vila de

Santo André para outro local, uma colina conhecida como Anhangabaú, para lá foram

removidas as casas, a câmara e o pelourinho, símbolo de autonomia da vila, o nome

Santo André deixaria de existir para agregar-se a São Paulo de Piratininga.

Aos poucos a influência dos jesuítas no local é menor, com a transferência da

vila de Santo André, São Paulo de Piratininga deixa se der povoação e eleva-se a vila, é

agora um centro português, o destaque na defesa na vila não está mais em Tibiriçá, que

não a defende mais de dentro, mas de fora com índios arregimentados de outras vilas.

Cabe a João Ramalho a defesa da vila, o domínio da vila é agora de Ramalho e não mais

de Nobrega ou Anchieta.

O colégio jesuíta é desmontado e transferido novamente para São Vicente,

voltará somente no final do ano com outra função, de escola indígena para escola dos

filhos dos portugueses. Os padres que permaneceram na vila também alteraram sua

função, passam, agora a ser párocos, vigários etc. não exercendo mais a função de

catequizadores indígenas.

Embora João Ramalho acumulasse cargos entorno de si, ele nunca teve a

intenção de morar, nem em Santo André da Borda do Campo, nem em São Paulo de

Piratininga, permanecendo em sua sesmaria, doação de Martin Afonso pelos serviços a

ele prestado. Mesmo de posse da sesmaria, a terra dada não tinha o objetivo de cultivo,

mas de povoamento, dessa forma os limites delas não eram especificamente escritos,

geralmente obtinha-se apenas uma simples cópia em pequena escala do foral.

As maiores extensões de terras de João Ramalho estão, hoje, localizadas em

grande parte da Zona Leste de São Paulo, bairros como Vila Prudente, Vila Zelina, Vila

Ema, Parque da Mooca, Vila Alpina, Sapopemba, são todas terras onde Ramalho, suas

mulheres, e sua prole residiam.

Page 49: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

40

Contudo, as terras ainda eram para povoamento sem intenção de cultivo o que,

após a morte de João Ramalho em 1580, causa a seus descendentes alguns

contratempos. Além do não reconhecimento da grande extensão de terra deixada por

Ramalho e a falta de cultivo da mesma, a doação de uma sesmaria a aldeia de São

Miguel de Ururaí que invadia uma parte da sesmaria de João Ramalho causa grande

conflito entre eles. (DELI, 2005:35)

Uma parte da sesmaria de Ramalho é dividida. Ela é cedida para o padre

Matheus Nunes de Siqueira em 1650, com o objetivo de cultivo da terra, manutenção e

ampliação da capela da Nossa senhora da Penha de França, construída em cima de uma

lenda local, o que mais tarde originaria o bairro Penha.

A sesmaria de João Ramalho tinha como finalidade a povoação e portanto não representavam uma coisa individual [...] tanto que Mathias Oliveira que era neto de João Ramalho, em Janeiro de 1609 pediu ao tenente Gaspar Coqueiro, que lhe concedesse as terras que tinha cercado com os valos, dados por seu avô João Ramalho e mais ainda um capão com mais 200 braças de campo ao redor para fazer um quintal. A petição foi deferida e ele recebeu o que pediu nas mesmas condições de sesmaria comum. (FILHO, 1990:18)

Mesmo que a sesmaria de João Ramalho não fosse um título de domínio

privado, no qual seus descendentes tivessem total usufruto, ou mesmo que

posteriormente uma grande parte de suas terras fossem fragmentadas para cultivo, ainda

assim, os descendentes de Ramalho continuaram de posse dos terrenos aludidos e

passaram a constituir a sesmaria que foi doada em 1601 a eles por Roque Barreto, então

tenente do capitão Governador Lope de Souza à Francisco Ramalho e Antônio Macedo

Neto, respectivamente filho e neto de João Ramalho.

Com o tempo a sesmaria fragmenta-se e sofre gradativos processos de grilagem,

dessa forma, a propriedades das terras passam por inúmeros donos ao longo dos anos,

como mostra a tabela abaixo, essa situação ira permanecer até 1829 com a aquisição de

uma grande quantidade terra por João Pedroso12.

Tabela 6:Vila Prudente – Capão da Invernada, Capão, Embiriva, Embahú Proprietários Ano de aquisição Capitão Jose Gonçalves Coelho 1750 Capitão Joaquim Gonçalves de Oliveira 1810 Ten. Cel. Jose Maria de Mello 1830

12 Em 1829 João Pedroso adquiri uma boa quantidade de terra, que posteriormente se tornaria a região da Vila Prudente, abordaremos melhor esse assunto no 2° capitulo desta dissertação.

Page 50: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

41

Felício Antônio Mariano Fagundes 1837 João Pedroso 1848 Martinha Maria Pedroso 1874 Maria do Carmo Cyparisa Rodrigues 1880 Irmãos Falchi 1890 Dados: Revistas Históricas – Vila Prudente sua História.

Tabela 7:Vila Prudente (Tapera ou Mato das Simbarivas) – atual favela V Prudente e parque da Mooca.

Proprietários Ano de aquisição Capitão José Rodrigues da Silva 1801 Felício Mariano Fagundes 1846 Francisco Antônio Mariano Fagundes 1856 Martinha Maria Pedroso 1874 Benedicto Antonio 1878 Antonio Dafré 1893 Dados: Revistas Históricas – Vila Prudente sua História.

Tabela 8:Vila Zelina – Baixos do Zimbaúba

Proprietários Ano de aquisição Tem. Col. Francisco de Salles 1804 Ephigenia Maria do Glycerio 1823 João Pedroso 1836 Martinha Maria Pedroso 1858 Benedita Maria da Silva 1870 José Antônio Borba 1889 Dados: Revistas Históricas – Vila Prudente sua História.

O caminho indígena pré-cabraliana, onde hoje é conhecido como Tatuapé e

Penha, exercia um papel importante ligando a Vila de São Paulo à sede do aldeamento

de São Miguel, essas rotas com pousadas ao longo do caminho, primeiro para quem ia

em direção a Mogi das Cruzes, aos aldeamentos e ao Vale do Paraíba, depois às Minas

Gerais dos Guataguazes, facilitavam o comercio entre elas. (DELI, 2005:89)

Com o passar dos anos e a implantação da rota São Paulo – Rio de Janeiro, o

caminho do Ururaí, embora continua-se a ser utilizado, aos poucos perde importância

devido ao paralelismo com a nova rota. O caminho que passa pelo outeiro da Penha

começa a destacar-se como local de pouso para os viajantes, concomitantemente a

Penha enfrenta intensa peregrinação religiosa ao pequeno templo local, que colabora

para a formação e consolidação de um núcleo ao redor da capela Nossa Senhora da

Penha. O núcleo formado ganha tamanha importância que em 1796 é elevado à

categoria de freguesia, acentuando ainda mais sua função religiosa. (Ibidem:91)

Page 51: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

42

Podemos então perceber que a importância da zona leste de São Paulo,

conhecida como bacia do Aricanduva estava calcada em três aspectos, a ligação entre

São Paulo e o litoral (porto) que ficava em Santos, as rotas entre São Paulo e o Vale do

Paraíba, as peregrinações religiosas para a freguesia da Penha. As vias de circulação que

existiam na bacia do Aricanduva permitiram um aglomerado entorno dela gerando

organizações e ocupações espaciais diversificadas.

Hoje a região é a mais populosa da capital chegando a 4 milhões de habitantes

espalhadas em uma área de 326,8 km2, 40% da população paulistana reside em uma área

que corresponde a 21% do território paulistano, segundo dados do Censo 2010

divulgado pelo IBGE.

Atualmente a prefeitura de São Paulo dividiu a Zona Leste entre um e dois, e

ainda sudeste leste, elas são divididas em sudeste leste: Mooca, Aricanduva, Vila

Prudente e Ipiranga; Zona Leste 1: Penha, Ermelino Matarazzo, Itaquera e São Mateus;

Leste 2: Itaim Paulista, Guaianazes, São Miguel Paulista e Cidade Tiradentes.

A Zona Leste de São Paulo foi ocupada por uma constelação de núcleos que se

espalhavam ao longo do caminho que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro. Dessa forma

as autoconstruções e os loteamentos clandestinos na ZL sempre foram vistas como uma

área de trabalhadores braçais, pessoas de baixa renda que exerciam sua força de trabalho

nas indústrias paulistanas.

Acompanhando o crescimento populacional da Zona Leste, vê-se a necessidade

de construção de uma via, assim cria-se a Radial Leste. Com as avenidas Celso Garcia e

Rangel Pestana congestionadas a implantação da Radial Leste torna-se essencial, ao

longo de seu trajeto ela recebe vários nomes, Avenida Alcântara Machado, Viaduto

Pires do Rio, Rua Mello Freire, Avenida Conde de Frotin, Avenida Antonio Estevam de

Carvalho, Avenida Doutor Luís Aires, Avenida José Pinheiro Borges. Todas elas

formas a ligação do centro da cidade a região leste de São Paulo, realizada em parcelas,

com seu projeto aprovado em 1945 pelo, então prefeito Prestes Maia, porém a obra de

início aconteceu somente em agosto de 1957, com retomada e ampliação das obras em

1966 e 196713.

Já em 1970 a linha de metrô, é implementada na região, conhecida como linha

vermelha, que vai das estações Corinthians-Itaquera até Palmeiras-Barra Funda.

13 SACONI, Rose. Como era São Paulo sem a Radial Leste. Estadão. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,como-era-sao-paulo-sem-a-radial-leste,9129,0.htm. Acesso em: 14 de maio de 2014.

Page 52: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

43

Essa estruturação em torno de um forte eixo na direção Leste-Oeste, que liga o centro à periferia próxima e distante, reflete a história da exclusão territorial que teve lugar a cidade de São Paulo e que encontra paralelos em todas as grandes cidades brasileiras. (ROLNIK & FRÚGOLL, 2001:45)

A exclusão na Zona Leste, como já discutido anteriormente, acontece não

somente pela valorização imobiliária dos bairros paulistas empurrando as famílias de

baixa renda para as bordas das cidades e espaços de segregação, mas também através

das políticas públicas que priorizaram a concentração de investimentos no chamado

centro expandido protegendo-o através de complexo regulatório urbanístico,

resguardando o patrimônio imobiliário das camadas da população com rendas mais

elevadas, em detrimento as áreas periféricas, onde priorizava-se investimentos em

sistemas viários e de transporte, que basicamente, funcionavam para mover a população

trabalhadora para o centro empregatício.

O crescimento periférico na Zona Leste de São Paulo, até meados de 1970

abarcou boa parcela da classe trabalhadora que via somente a possibilidade de

aquisições de terrenos distantes e relativamente baratos, de modo geral, essas novas

habitações eram desprovidas de infraestrutura básica, onde os próprios morados

utilizavam-se da autoconstrução para, assim, garantir um lugar no chão paulista.

Segundo Bonduki sobre o mesmo período analisa:

Durante os anos 70 este quadro se altera, revelando um crescimento de opções não baseados na casa própria, ao mesmo tempo em que se acentuou o pauperismo em consequência do arrocho salarial. Crescem os núcleos de favelas, entre 1970 e 80 o número de favelados cresce 45% ao ano, índice quase dez vezes superior taxa de incremento populacional na região metropolitana de São Paulo. Neste período ocorre também uma elevação do número de moradores em cortiços e casas precárias de aluguel na periferia. (1987:36)

A política habitacional adotada também não consegue atender as necessidades

da demanda cada vez maior da população, dessa forma começa a atuação da COHAB –

SP (Companhia Metropolitana de habitação de São Paulo) construindo grandes

conjuntos habitacionais em áreas da zona leste.

As construções dos conjuntos habitacionais feitas pela COHAB-SP eram quase

que exclusivamente atendidas na região leste e a procura excedia em muito a oferta, a

Page 53: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

44

ponto de existirem 300.000 mil inscritos sem previsão para serem atendidos

(BONDUKI, 1987:55)

O discurso das autoridades da COHAB-SP aponta a Zona Leste como área mais propicia de São Paulo, à construção de grandes conjuntos habitacionais. Além de enormes terrenos disponíveis como região pobre e pouco desenvolvida fez parte do escopo da administração Olavo Setúbal (1975 -1978) o desenvolvimento dessa região. Um componente de fixação desse desenvolvimento seria justamente a parte da implantação de soluções habitacionais. Essa administração municipal inicia francamente o caminho para a construção de grandes conjuntos habitacionais em São Paulo especialmente na Zona Leste (DAMIANI, 1993:31)

Recentemente a região da ZL de São Paulo, assim como toda a cidade, passa por

um processo econômico diferenciado, com as novas dinâmicas, há uma verticalização

dos bairros da ZL, com a supervalorização imobiliária subsidiada pelas políticas

públicas governamentais e a facilidade de obtenção de credito, bairros como Tatuapé,

Mooca, Belém, Braz, Penha, Vila Formosa, Vila Prudente e Anália Franco. Torna-se

reduto residência de classes de renda média e alta. Por outro lado ainda há pouco

impacto em áreas de mais segregação como Lajeado, Guaianazes, Itaim Paulista, Cidade

Tiradentes, etc.

São Paulo passa por uma transição econômica, embora ainda existam muitas

indústrias na cidade e com isso massivos investimentos por parte delas, é notável que a

cidade paulistana sofreu com a desindustrialização, dessa forma, São Paulo passa de

uma cidade basicamente industrial para a metrópole de serviços terceirizados,

comércios e negócios financeiros.

De toda a forma, a nova economia que surge produz efeitos contraditórios sobre o espaço da cidade: por um lado, vai sendo esvaziada a fissura interna que caracteriza a cidade industrial, que traçava uma barreira fabril entre a periferia precária a Norte-oeste-Leste-Sudeste e a cidade rica e equipada a Sudeste. A medida que as indústrias saem da cidade, os bairros onde elas se localizam podem ser repovoados para usos residenciais, comerciais e de lazer. (Ibidem: 48)

Outro aspecto que merece destaque no cenário contemporâneo da Zona Leste é o

efervescente cenário religioso abarcado nela, a avenida Celso Garcia é um exemplo

concreto disso. Quem passa pela avenida consegue identificar inúmeras igrejas, seja das

novas igrejas “neopentecostais”, ou mesmo igrejas mais tradicionais no bairro.

Pode-se dizer que a história da Avenida Celso Garcia começa ainda no tempo do

Brasil colônia, com as romarias que seguiam para a capela da Penha, em 1667, nesse

Page 54: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

45

tempo era conhecida como Estrada da Penha e Caminho do José do Brás.14 O nome

Celso Garcia foi colocado em homenagem ao homem que dedicou-se a causa operaria,

defendendo o direito do operariado no bairro.

O caminho que era conhecido pelas suas romarias, hoje, abriga inúmeras igrejas

e mega-templos, como é o caso do Templo de Salomão, construído pela IURD. A

Celso Garcia conta também com outros templos de credos diferentes, eles estão a menos

de 400 metros um do outro, competindo pela atenção dos sequazes que utilizam a via.

Com tantas igrejas e religiões a Avenida Celso Garcia, torna-se um exemplo da

pluralidade religiosa encontrada em toda a extensão da ZL.

É nesse contexto que está nosso objeto de estudo, um bairro de convivência

multi-classes onde se disputa espaço com condomínio de alto luxo, casas da classe

média e favelas, onde reside a camada de maior vulnerabilidade social, nesse sentido a

região traz um mosaico rico e interessante para o estudo sobre a influência da religião

nas periferias urbanas, mostrando ao mesmo tempo as disputas entre as classes, as redes

sociais e os associativismos abarcados nela.

1.4. Considerações

Nossa intenção nesse capitulo foi explanar sobre o processo de urbanização

brasileiro, observamos que a rápida urbanização, especialmente no sudeste do país,

incentivado pelo momento econômico favorável e desenvolvimento industrial

favorecido pelo governo, trouxe ao sudeste uma demanda grande por mão de obra. Essa

demanda é suprida pelos fluxos migratórios e êxodo rural que chegam a RMSP e Rio de

Janeiro.

Os migrantes a procura de emprego e moradia encontram uma São Paulo

desestruturada para receber um enorme contingente populacional, assim com a

especulação imobiliária, os subempregos, sem força de trabalho necessário para uma

qualificação melhor no trabalho, o migrante vai deslocando-se progressivamente para

áreas periféricas, onde não existe estruturas urbanas que encarecem a terra, e baixa

especulação imobiliária. Infelizmente nessas áreas sem estruturas urbanas, o estado

também não se faz presente existindo índices de violência altos, como assassinatos,

roubos etc. 14 LEMAD – Laboratório de Ensino e Material Didático: História de São Paulo: Av. Celso Garcia. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/node/260. Acesso em 21 de maio de 2014.

Page 55: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

46

Dessa forma os sujeitos em mobilidade espacial apresentam índices elevados de

vulnerabilidade social, uma vez que, a violência, a moradia precária, as parcas estruturas

urbanas em que é submetido, a força de trabalho reduzida e o preconceito social

garantem a perpetuação da exclusão desses indivíduos, que sem forças para resistir as

dinâmicas da cidade sucumbem perante os contingentes urbanos.

Em seguida abordamos pontos históricos e contemporâneos da Zona Leste

paulista, que foi marcada por processos de grilagem, espoliação, exclusão, disputas de

terras, fenômenos religiosos, e, recentemente verticalização e transição de zona

industrial para espaços de terceiro setor15.

A análise das estruturas citadinas em São Paulo é essencial para a compreensão

dos aspectos no distrito de Vila Prudente, uma vez que a região, ainda hoje, evidencia

aspectos dos fluxos migratórios, tanto interestaduais quanto internacionais, assim como

convive em meio a estados de precariedade urbana e espaços urbanos privilegiados. Em

seguida o foco da pesquisa se ateará a urbanização e migração no distrito de vila

prudente, e, como esse fenômeno adquiri relevância dentro do bairro e, principalmente

influencia as dinâmicas religiosas nesse contexto.

15 É uma terminologia sociológica que indica todas as iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil.

Page 56: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

47

Capítulo 2: Urbanização e Migração no Distrito de Vila Prudente

Neste capitulo continuaremos analisando as relações entre urbanização,

migração e religião, mas, agora de uma maneira mais especifica, uma vez que nosso

foco está no distrito de Vila Prudente. Como veremos nesse capítulo a região de Vila

Prudente possuiu um longo histórico de processos migratórios, começando com a

imigração Italiana, passando pelas imigrações do leste europeu e por último dos

processos migratórios inter-regionais.

Assim nossa análise começa examinando a história da construção da Vila

Prudente, expondo aspectos importantes sobre a vila, que a princípio, era quase

exclusivamente um reduto da comunidade imigrante italiana, aos poucos abre-se

espaços para novos imigrantes como pessoas do leste europeu que chegam no distrito

fugindo da Primeira Guerra Mundial.

A segunda parte do capitulo é a análise da urbanização do distrito e

posteriormente sua verticalização, entendendo que como já citado no capítulo anterior,

quanto maior o investimento público em benefícios para o indivíduo, mais há

especulação imobiliária e aumento do custo de vida da família, o que consequentemente

conduz famílias com baixo capital econômico e social para lugares mais distantes e com

menos infraestrutura.

Por fim, destacaremos as relações entre o distrito/bairro e a religiosidade, em um

primeiro momento elencamos as igrejas com maior destaque no bairro e, se possível,

Page 57: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

48

uma breve explicação de sua história, em seguida discutiremos o papel da religião como

agregador das pessoas em mobilidade espacial e a sua função de gerir e estabelecer

coesão a pessoas em transitividade, construindo ou reconstruindo uma identidade capaz

ganhar a subjetividade do migrante a fim de transformar seu habitus.

Ao final do capítulo nosso objetivo é oferecer um panóptico sobre o distrito e o

bairro, a fim de compreender as ações dos membros da Igreja Mundial do Poder de

Deus, entendendo que as ações dos fiéis da igreja, bem como as ações da própria igrejas

estão relacionadas ao contexto social presente no bairro e no cotidiano dos adeptos da

IMPDVA.

2.1. Migração e identidade

O processo de “tornar-se humano” somente é possível via cultura, essa cultura16

é transmissível e modificável, ou seja, o indivíduo é submergido em uma cosmovisão

simbólica, cheia de significações e representações. Assim a visão de mundo de um

indivíduo, a moral, os comportamentos sociais e a própria expressão corporal são

produtos de herança cultural, tanto do convívio familiar quanto da vivencia em

sociedade. Geertz (1989)

Sendo assim a cultura é subjetiva, ou seja, não é sempre manifesta

conscientemente pelo indivíduo ou pelo grupo social, mas pode ser moldada por eles,

construída e reconstruída na relação com os grupos sociais no qual interagem.

A cultura é ação, interação, comunicação. O indivíduo não é somente produto da cultura, mas também a constrói, a recria, em função das problemáticas e das estratégias diversificadas e num contexto marcado pela diversidade e pela pluralidade. (RAMOS, 2001:165)

A cultura não é uma instância estática da vida humana, mas uma obra em

constante mudança e adequação, Berger & Luckman (1999) afirmam que o ser humano

é produto e produtor da sociedade na medida em que a sua ação produz uma ordem

16 Stuart Hall define cultura como toda a ação social e práticas sociais que expressam ou comunicam um significado. In: Media and cultural regulation ,1997.

Page 58: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

49

institucionalizada, uma certa forma de agir que é interiorizada no processo de

socialização. Nesse processo as imagens, ações, símbolos e sentidos são subjetivados

tornando-se uma parte de nossa cultura.

Destarte a realidade quotidiana tem dois aspectos que se completam, uma

realidade objetiva e interpretada por cada ator social, e um mundo subjetivo com origem

nos pensamentos e simbolismos dotados de sentido. Nesse aspecto a identidade é,

também, uma construção social, são representações, através da cultura, sobre o modus

operandi daqueles indivíduos sociais. (HALL, 2005: 57)

As identidades são representações construídas através da cultura, são elementos

subjetivados através das relações sociais entre os indivíduos, assim a identidade é

produzida através de sistemas discursivos, dialógicos, imagens e símbolos que

corroboram para a subjetivação da identidade social.

As pessoas em mobilidade urbana têm sua identidade permeadas de contradição,

uma vez que elas trabalham com sistemas de valores e símbolos diferentes dos

apreendidos em sua terra natal. Dessa forma a origem passa a ser um lugar mítico, uma

vez que é impossível de ser resgatada plenamente, nem encontrará mais a realidade que

deixou a tempos atrás, além disso o lugar de destino nunca acolherá, ou mesmo, o

satisfará inteiramente. A identidade do migrante fica fragmentada, esta é exatamente a

experiência de diáspora, longe o suficiente para experimentar o sentido de exilio e

perda, perto o suficiente para entender o enigma de uma ‘chegada’ sempre adiada.

(HALL, 2006:393)

A vivencia cotidiana em um ambiente de múltiplos pertencimentos forma uma

base cultural hibrida, compartilhada a partir de inúmeros referenciais. Esses ambientes

fronteiriços podem ser encontrados principalmente em ambientes eclesiais. Assim ter

uma identidade seria pertencer a um país, a uma cidade ou um bairro, uma entidade que

seja compartilhada por todos aqueles que ocupam o mesmo espaço, de forma a

tornarem-se idênticos. É também compartilhar os mesmo símbolos e objetos, rituais e

costumes, e aqueles que não compartilham tais coisas, são outros, os diferentes.

(COLFEIRAI, 2010:08)

Quando analisamos os indivíduos migrantes em 2° geração percebemos que essa

relação é ainda mais conflituosa, pois o próprio processo de construção de sua

identidade é problemático, uma vez que ela é estabelecida em cima de duas culturas, no

qual muitas vezes não se aceitam mutuamente, embora dividam o mesmo espaço.

Page 59: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

50

Dessa forma a pressão sobre o migrante de 2° geração é enorme, uma vez que o

grupo dominante, muitas vezes, desqualifica e desvaloriza culturas diferentes,

construindo imagens caricatas e exóticas dessa cultura, pressionando o indivíduo a

aculturar-se, na mesma medida sofre pressão de seu grupo de origem para que se

mantenha fiel à cultura de suas raízes.

A construção da cultura em migrantes de 2° geração, principalmente em idade

infantil ou adolescente é especialmente cruel, onde o indivíduo é mais fragilizado

emocionalmente, principalmente por passar pelo processo de aceitação do grupo, que

nesse caso possui a cultura dominante, o que ocorre, normalmente, é a estigmatização

do migrante de 2° geração, que cresce enquanto se constrói em uma cultura que lhe é

hostil, ou seja, encontra-se no “limbo” identitário, uma vez que não se apropria

plenamente da cultura materna e nem reconhece a nova cultura como sendo

integralmente participante dela.

Estranhos – não são os prussianos na Prússia, mas sim os prussianos na Bavária (...) estranhos não são os turcos na Turquia, mas sim os turcos em Berlim – Kreuzberg. Estranhos são os turcos alemães, filhos de turcos, nascidos e crescidos na Alemanha, onde também foram à escola (...), mas que viajam com o passaporte turco e se sentem como turistas em sua “pátria” (terra natal), na Turquia. (Beck, 1996:320)

Nesse contexto a identidade estabelece-se em contraste com o que é semelhante

e diferente de seu sistema de valores e crenças, a socialização primaria (fundamentos

culturais na infância) e a socialização secundaria (viver em sociedade) são dois

elementos importantes na elaboração e identificação daquilo que é semelhante e díspar

na cultura vivenciada, em processos migratórios a identidade estabelece-se como

memória mitológica de descendência e histórica.

Nenhum indivíduo é pleno em sua identidade, todos sofrem de rupturas

anexando ou substituindo sistemas de valores, crenças, mitos, cosmovisões, dependendo

do local em que se encontra, ou mesmo das pessoas presentes naquele momento. Mas

no caso dos sujeitos em mobilidade humana, a identidade passa a ser nevrálgico, uma

vez que, o indivíduo precisa assumir modelos dispares ao seus, e em muitos casos, uma

identidade coagida pelos contingentes da migração forçada, em busca de melhores

formas de vida.

Page 60: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

51

2.1.1. Migração e Identidade Religiosa.

Entre as religiões e migrações populacionais existem laços históricos e

simbólicos. Não são poucos os fundadores de tradições religiosas que passaram, de

alguma forma, por processos migratórios, exemplo disso é o êxodo de Moises, a fuga de

Jesus para o Egito, Égira para Maomé. Com o passar do tempo, o processo de

mobilidade humana, nas tradições religiosas acabam ganhando conotações simbólicas

interpretativas, não é incomum a migração em ambientes religiosos serem interpretados

como caminho, passagem, processo de morte para a vida, escravidão para libertação etc.

Além do processo histórico-simbólico, a migração possibilitou um maior alcance

da mensagem de muitas tradições religiosas, principalmente o cristianismo,

recentemente com a intensificação de processos de mobilidade humana internacional

proliferou-se diversas manifestações religiosas ao redor do globo terrestre.

Dessa maneira as tradições religiosas usufruíram do deslocamento humano para

aumentar a fluidez de suas fronteiras religiosas, Berger expõe que: a conversão é

sempre possível, mas é mais provável em contextos migratórios, pois aumenta com o

grau de instabilidade ou descontinuidade da estrutura de plausibilidade em questão.

(1985:59-60)

Contudo, as religiões não somente interferem na religiosidade do migrante, mas

ela também articula mudanças na sua estrutura por influência migratória, Pace (2009),

sociólogo da religião, assevera que as religiões são sistemas dinâmicos que se

modificam constantemente em comunicação com o ambiente social, a religião interage

na sociedade buscando gerenciar a pluralidade urbana e a imprevisibilidade dos

ambientes externos em que se desenvolvem.

As religiões são como grandes compassos: partem de um ponto gerador e depois, à medida que se abrem em círculos cada vez mais amplos, aceitam os caminhos sempre novos dos ambientes que se alternam (cultura, populações, línguas distintas). (PACE 2009:12)

Podemos assim considerar que a religião não é um sistema totalmente estável e

rígido, mas, em algum grau, é dinâmico em sua interação com o ambiente, nesse caso, o

processo religioso é uma estratificação de crenças, rituais e símbolos, que, no decorrer

dos anos, foram estruturando-se mediante a processos de fronteiras fluidas para

responder as demandas da atualidade em contato com o ambiente externo.

Page 61: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

52

Em ambientes migratórios a dinâmica religiosa é produtora de sentidos

metafísicos que encarnam no objetivismo cotidiano, em muitos casos, as religiões em

processos migratórios produzem experiências simbólicas que reconfiguraram e adequam

o fenômeno de mobilidade humana no escopo dos planos divinos. Eximindo, pelo

menos em parte, a culpa associada ao abandono da família, parentes, amigos e o alivio

da frustação do não pertencimento de uma realidade utópica.

A capacidade de dilatar suas fronteiras simbólicas permite aos sistemas

religiosos auxiliar os indivíduos em mobilidade humana na reinterpretação de suas

próprias biografias, além de integrar-se aos aspectos culturais do lugar de destino, por

sua vez, o migrante interagem com a religião modificando-a e atualizando suas

estruturas e simbolismo a novas demandas e desafios sociais presentes no cotidiano.

2.2. A Relação entre Processos de Mobilidade Humana e Redes Sociais.

As pessoas em mobilidade espacial estão fadadas a viverem em uma situação

que as expõe cotidianamente a duas logicas distintas, assim elas são obrigadas a fazer

malabarismos com dois sistemas de valores. (BOURDIEU & SAYAD, 1964). Desde os

primeiros contatos com uma nova cultura, principalmente a metropolitana, elas têm a

sensação de viver no interregno de dois universos diferentes, aqueles nas quais são

originárias, cujas normas habituais já não gerenciam mais as situações cotidianas atuais,

e as novas normas no qual devem aprender a relacionar-se socialmente no espaço que se

encontram.

Dessa maneira, a identidade do migrante encontra-se em ambivalência,

enquanto, de maneira consciente, permanecem ligado a sua cultura natal,

inconscientemente apropriam-se de uma nova cultura, mesmo que no princípio haja

certa rejeição aos novos hábitos adquiridos. Nesse sentido quanto mais o migrante

permanecer no local, mais a cultura, de forma osmótica, fará parte de seu cotidiano, o

ritmo diário, a noção de tempo e de espaço serão reformuladas em contraste com cultura

natal.

Uma das formas mais encontradas nos grupos migratórios para se referir ao

lugar de residência é o conceito de comunidade, que diferentemente da convivência

Page 62: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

53

social, é um laço de ordem afetiva, emocional que comporta aspectos de solidariedade

mecânica. Todos os grupos em mobilidade espacial, quaisquer que sejam, apresentam

tendências à reconstrução desse tipo de laço, tentando, dessa maneira, manter sua

coesão social. (BRITO,2010)

A tentativa de preservar uma maneira comum a todos, tendo a mesma visão de

mundo, passa pela criação de diversas redes de ajuda mútua, esse espaço caracteriza-se

pela noção de semelhança, relações frequentes interindividuais, estratégia de proteção

contra as contingências citadinas, são as causas mais frequentes para a criação de redes

sociais.

As redes sociais ajudam o indivíduo a manter-se estável, principalmente em

situações de transitividade, onde, rotineiramente existe a privação de laços familiares

amistosos e relações profissionais, onde há perda de identidade e de status. As redes

sociais contribuem para a preservação da sociabilidade e manutenção das identidades

dos migrantes, os laços entre indivíduos que encontra-se em mobilidade humana é uma

fonte de escape para a solidão das cidades.

Uma rede consiste em:

Um conjunto de atores ou nós (pessoas, objetos ou eventos) ligados por um tipo específico de relação. Os diferentes tipos de relação correspondem a redes diferentes – ainda que o conjunto de atores seja o mesmo. A rede, porém, não é consequência, apenas, das relações que de fato existem entre outros atores; ela é também o resultado da ausência de relações, da falta de laços diretos entre dois atores [...]do buraco estrutural. (SOARES. 2002: 13)

Em contraste com as relações sociais urbanas que apresentam atributos

diferentes das organizações das redes sociais, elas adquirem forma e conteúdo. O

conteúdo é dado pela natureza do laço (parentesco, amizade, troca de bens simbólicos,

materiais e afetivas); e a forma compreende dois aspectos específicos, a intensidade dos

relacionamentos entre atores, a frequência e o grau de reciprocidade dedicado a esses

relacionamentos.

Uma rede migratória não se confunde como redes pessoais. Essas redes precedem a migração e são adaptadas a um fim especifico: a ação de migrar. Quando suas singularidades dependem da natureza dos contextos sociais que ela articula, uma rede migratória é, também, um tipo especifico de rede social que agrega redes sociais

Page 63: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

54

existentes e enseja a criação de outras: portanto consiste de uma rede de redes sociais.17

As redes sociais são imprescindíveis para se estudar os fenômenos migratórios,

elas são canais essenciais de informação, e determinam a conquista de emprego,

moradias etc. Portanto as informações tornam-se um trunfo para os migrantes, que,

inseridos em uma rede podem usufruir desse recurso que gera certo poder aos seus

detentores.

São as redes de relações sociais que formam parte, e que constroem e que estruturam as oportunidades. É nesse sentido que certas oportunidades estão socialmente determinadas (...) A análise da composição das redes e de suas formas se torna o ponto central porque nos parece a chave explicativa. Em efeito, são esses elementos que abrem e fecham o acesso às oportunidades (RAMELLA, 1995:21)

Podemos considerar que as redes sociais são teias urbanas que integram

migrantes e não-migrantes a complexidade dos papeis sociais e relações interpessoais,

através de experiências cotidianas. Nessa perspectiva as redes sociais estão na base de

uma conexão entre os territórios, tanto os de origem, quanto os de destino. A produção

dessas redes está vinculada a um processo histórico de migração, onde a

territorialização é a base para o surgimento de grupos de solidariedade mútua, capazes

de criar identificação, informação, representações conflituosas, cooperações,

redefinições e um pouco de alento aos migrantes e não-migrantes que vivem na

urbanidade de forma desconexa.

2.2.1. Redes Sociais e Associativismo em São Paulo

É quase um consenso que a formação do indivíduo está atrelada em categorias

relacionais que amalgama sua persona e constrói sua biografia, seja em decisões

voluntarias, aspectos herdados ou mesmo em influências determinadas por lugares,

regiões, religião e pessoas.

A vida na cidade de São Paulo é, muitas vezes, determinada pelas dimensões

excessivas da metrópole, características como migração, cosmopolitismo, mercado de

trabalho, são em suma, categorias extremamente atomizadas e impessoais, dessa forma, 17 SOARES & RODRIGUES, Weber, Roberto Nascimento. Redes Sociais e conexões prováveis entre migrações internas e emigração internacional de brasileiros. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, Vol 19, julho/setembro de 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392005000300006&script=sci_arttext. Acesso em: 11/06/2013.

Page 64: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

55

forças vinculativas como linhagem, sexo, religião, família, etc. ganham nas cidades

metropolitanas lugares secundários.

Entretanto, em lugares de exclusão social e segregação as dinâmicas das forças

vinculativas tendem a aumentar mostrando mudanças nos relacionamentos sociais e

acumulo no capital social

Dessa forma, ainda que sob o acúmulo de fatores que incidem na pobreza, o potencial de solidariedade inerente às diversas dimensões do capital social pode ser atualizado de forma eficiente pela interação de uma série de circunstancias. Nesse sentido, a favela constitui um "microcosmo" à feição para examinar em camadas de baixa renda os efeitos de inclusão social atribuíveis a participação em associações em face da tendência de exclusão oriundas do mercado de trabalho. (LAVELLE & CASTELLO, 2004:79)

A importância das redes sociais e do associativismo estão ligados a uma nova

forma em mutação nas sociedades contemporâneas. (CASTELLS, 1999:497), ou seja a

compreensão de uma complexa vida social passa pelo estudo sistemático das redes

sociais e do associativismo como demostra Martins em “as redes sociais, o sistema de

dadivas e o paradoxo sociológico”.

As redes podem envolver os mais variados setores, elas são fontes cruciais para

a transformação e dominação da sociedade. Para Castells as redes possibilitam os fluxos

do capital através da inter-relação permitido a sociedade global uma maior fluidez na

dinâmica socioeconômica. (1999:497)

A relevância das redes sociais está na capacidade de produção de benefícios para

seus membros, seja eles matérias ou simbólicos, desse modo as dinâmicas das relações

sociais modelam as estruturas de oportunidades dos indivíduos à medida que o capital

social é vinculado entre os relacionamentos interpessoais.

O associativismo e as redes sociais formadas em seu contorno tem, em princípio,

a capacidade de amenizar os problemas sociais das pessoas que vivem em situação de

vulnerabilidade social, além da produção de alternativas para a sobrevivência nas

grandes metrópoles, que, em muitos casos, principalmente de migrantes e aglomerados

subnormais excluem, segregam e monopolizam os espaços urbanos.

São Paulo é um grande campo para práticas associativas e desenvolvimento de

redes sociais, a cidade abriga um número considerável de projeto em áreas diversas,

desde Sociedade Amigos do Bairro (SAB’s), entidades de cunho religioso da mais

Page 65: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

56

diversas, com um número enorme de obras sociais, além de ONG’s, com atuação

nacional movimentos como MST (Movimento do Sem Terra), CUT (Central Única dos

Trabalhadores), sindicatos como APEOESP (Sindicato de Professores do Ensino oficial

do Estado de São Paulo) etc.

Segundo pesquisa realizada por Marques em “Pobreza, sociabilidade e tipos de

redes sociais em São Paulo e Salvador”18, constatou-se que as práticas associativas

paulistas tendem a ser baixas, apenas 12% dos entrevistados declararam vinculo a

alguma ação associativa.

Dessa porcentagem 20% declaram-se evangélicas e 63% afirmaram ser

católicas, 12% do público entrevistado afirmou não ter religião. Outro dado importante

é a presença de migrantes 70% da amostra são migrantes interestaduais, sendo que em

sua maioria (72%) chegaram a São Paulo a mais de 10 anos.

Em suma, as redes de indivíduos pobres tendem a ser menores, menos variadas em termos de sociabilidade, mais locais e mais baseadas em vizinhança do que as redes dos indivíduos de classe média. No entanto, elas apresentam características semelhantes em São Paulo e Salvador, com exceção do maior localismo e da maior atividade relacional em Salvador e das redes um pouco maiores e mais variadas em São Paulo. Essas diferenças podem ser causadas pela menor oferta de vínculos devido ao maior localismo, levando a redes menores, porém mais densamente conectadas. (MARQUES, 2013:05)

Segundos dados da FASFIL19 existem no Brasil 290.692 associações sem fins

lucrativos, delas 44% estão na região sudeste do país, sendo que 28% tem cunho

religioso 82.853 entidades.

O predomínio de associativismos religiosos no Brasil não é novidade, já em

1975, autores como Michel Coniff estudavam o fenômeno. O motivo do predomínio de

associativismos religiosos está focando na obtenção de elementos espirituais e matérias,

para o autor o indivíduo que a ela se associa busca o benefício de sua comunidade

(56%), transformando a religião em instrumento para tal fim. (AVRITZER, 2005:20) O

autor continua, declarando que a maioria das participações em associativismos

18 MARQUEZ, Eduardo. Pobreza, sociabilidade e tipos de redes sociais em São Paulo e Salvador. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/upload/aaa/273-Marques_VisioniLA_8_2013.pdf. Acesso em: 1 de abril de 2014. 19 Mapeamento das Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011164912102012492305590017.pdf acessado em: 2 de Abril de 2014.

Page 66: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

57

religiosos são experiências coletivas voltadas para ação social, e não para acumulação

de bens espirituais individuais.

É possível, portanto, apontar as seguintes características no associativismo paulistano: ele é predominantemente religioso, ainda que nossos dados permitam apontar importantes diversificações no padrão e associativo, expresso principalmente no chamado associativismo popular. (AVRITZER, 2004:20)

Tanto o associativismo religioso, quanto as redes sociais provenientes delas

geram impacto na vida das pessoas em vulnerabilidade social. Normalmente as pessoas

buscam relacionar-se com seus pares, ou seja, manter contato com indivíduos com

características sociais e atributos similares (MARQUES, 2007:36). Dessa forma,

indivíduos que conseguem estabelecer contatos entre círculos sociais diferentes,

normalmente adquirem mais capacidade de mobilidade social.

A relevância das redes sociais e o associativismo religioso está anexo a fatores

identitários, principalmente para pessoas em vulnerabilidade social. Em uma cidade que

lhes nega cidadania, o associativismo e as redes sociais servem como estruturas

auxiliares na aquisição da luta pela cidadania, sobrevivência metropolitana, ajuda

mutua, aquisição de bens simbólicos e matérias, além de estruturas de oportunidades e a

possibilidade de ascensão social.

Em seguida analisaremos a história da origem do distrito de Vila Prudente,

focando nos fluxos migratórios existentes na região e sua adequação dentro do contexto

de mobilidade espacial, dessa forma, podemos adiantar que a existência de migrantes na

região foi essencial para a formação do distrito e do bairro, assim como a formação dos

núcleos urbanos que ainda hoje fazem parte do local.

2.3. A Família Pedroso

O capitão José Gonsalves Coelho proprietário das grandes terras que pertenciam

a João Ramalho, resolve em 1829, vender parte de suas propriedades a um negociante

ligado ao império português, dessa forma João Pedroso adquire as terras para cultivo de

frutas e gado, a área adquirida por ele corresponde hoje a Vila Ema, Vila Diva, Vila

Page 67: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

58

Guarani, Vila Zelina, Vila Bela, Jardim independência, Vila Alpina, Parque São Lucas,

Parque Santa Madalena, Fazenda da Juta, Vila Industrial e Jardim Guairaca20.

Após a sua morte as terras foram dividas e administradas pelos seus herdeiros,

Antônio Pedroso, filho de João Pedroso, adquire como herança as terras de capão da

Invernada, que hoje está alocada em Vila Prudente, as outras partes do terreno de João

Pedroso foram vendidas por seus filhos e herdeiros ao longo dos anos.

Em 04 de junho de 1871 Antônio Pedroso falece deixando as terras para

Martinha Maria Soares, sua esposa, e seus 6 filhos. Com o falecimento de Antônio

Pedroso, Martinha Pedroso começa a ter dificuldades para administração das terras, a

grilagem, a criação de gado, o plantio, criação dos filhos etc. é uma tarefa

demasiadamente exaustiva, por isso resolve vender as terras.

Suas raízes como negociante, sua inteligência e habilidade que adquiriu do pai no comércio de madeira, ela colocou em ação em suas terras. Com a morte de seus pais em Santa Izabel, estes lhe deixaram uma herança de quinze alqueires da fazenda de madeiras e muitos carros de boi para o transporte das mesmas, os seus irmãos que lá conviviam e muitas condições de levar avante o seu intento comercial. Martinha Maria não recuou e começou a negociar suas madeiras de Santa Izabel para os industriais em São Paulo, pois o progresso era crescente e a madeira era de importância vital nas construções, principalmente na cidade que crescia vertiginosamente. (FILHO, 1990:29)

Com o dinheiro que recebia pela venda de madeira Martinha Maria negociava

novas terras, não muito distantes das suas propriedades, dessa forma Maria adquire

extensas quantidades de terras, entre elas as de seu esposo, do seu sogro João Pedroso,

de sua sogra e de seus pais, todas por herança, além daquelas que ela havia adquirido.

Nos anos entre 1870 e 1885 Martinha Maria era proprietária de mais da metade

das terras que hoje estão alocadas em Vila Prudente, Mooca, Agua Rasa e Belenzinho.

Em 12 de Julho de 1885 Martinha Maria vende parte de suas terras para Maria do

Carmo Cypariza Rodrigues, por novecentos mil réis localizada no que futuramente seria

Vila Prudente.

Martinha Maria morre aos 102 anos, no dia 28 de janeiro de 1920, deixando

filho, netos e bisnetos Maria Martinha Pedroso Leite poderia ser aqui apelidada de

‘Eva’ deste paraíso vila prudentino, pois dela, nasceram os frutos para o progresso de

hoje. (Ibidem.)

20 Ver Tabelas 6 e 8.

Page 68: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

59

2.3.1. Os Irmãos Falchi, e a construção do bairro.

O bairro de Vila Prudente tem seu início com a compra de terras efetuadas pelos

irmãos Falchi em 1890. Os irmãos Bernardino, Pamphilio e Emigdio Falchi, são de

grande importância para a construção do bairro, provenientes da Itália, resolvem montar

uma confeitaria em São Paulo, negocio esse, que teve um rápido desenvolvimento,

dessa forma os irmãos Falchi procuravam um espaço fora do centro comercial da cidade

que abrigasse uma fábrica que atendesse as novas demandas de seu produto.

Foi quando visitando vários lugares, encontraram uma colina, ainda inexplorada, inculta, cheia de grandes arvoredos, rodeada por vários pequenos sítios e que distavam dois quilômetros das colinas do Ypiranga, o que sem dúvida era um lugar muito aprazível e de localização excepcional para p empreendimento que desejam realizar e expandir. (FILHO, 1990:33)

A terra pertencia a Maria do Carmo Ciparyza Rodrigues, que aceitou vender a

terra por vinte contos de réis. Os irmãos Falchi lotearam grande parte do terreno para os

funcionários construírem suas casas, na ausência de serviços públicos de transporte

naquela região.

O projeto desse loteamento foi entregue ao amigo do Emigdio Falchi, Antônio

Prudente de Moraes, primo do Dr. Pudente José de Moraes Barros que nessa época já

era um político de muito prestigio. Conforme a indústria dos irmãos Falchi toma forma,

paralelamente os loteamentos e construções das casas operarias eram construídas como

demostra a figura abaixo, e isso, só foi possível, muito pela estrada de ferro Ypiranga,

como o processo de construção poderia demorar mais que o planejado, puxaram trilhos

para que o vagão pudesse chegar mais perto da fábrica, dessa forma, os operários iriam

trabalhar com mais rapidez na construção do empreendimento.

Figura 1:Planta do Bairro de Vila Prudente em 1980-dividido segundo os loteamentos os irmãos Falchi.

Page 69: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

60

Fonte: Google imagens.

Os irmãos Falchi optavam na contratação de imigrantes italianos em suas

fábricas, assim, Houve nessa época um aumento significativo de imigração formando

grandes comunidades de imigrantes italianos, vindo de várias partes para trabalhar na

fábrica a troco de um salário digno e uma terra para construir sua casa.

Com o crescimento da comunidade de imigrantes, da fábrica de chocolates e a

necessidade cada vez maior da construção de mais casas para os operários, os irmãos

Falchi viram uma oportunidade de investimento, construíram na região uma fábrica de

alvenaria, cuja finalidade era vender tijolos e telhas aos operários da fábrica com

desconto na folha de pagamento.

Em 1891 numa área de 1.200.000 m2 a população era de 400 famílias. A administração de todos os negócios ficava divididos para Pamphilio, que cuidava das construções nos arredores da fábrica; Bernardino cuidava da parte de produção industrial da fábrica de doces e Emigdio da parte da política na sociedade. Emigdio fazia muitas viagens pelo país todo, incrementando o seu comércio de doces e dando apoio incomensurável aos italianos recém chegados ao Brasil. (ibidem: 34)

Graças a sua participação efetiva na sociedade paulista Emegdio Falchi, foi

eleito diretor na associação comercial de São Paulo, vice presidente da comissão de

construção do hospital italiano Humberto I e eleito tesoureiro da Sociedade Italiana de

Page 70: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

61

Beneficência. Também recebeu diversas homenagens como comendas, ilustre cidadão

brasileiro, Cavalheiro da Coroa Italiana, uma delas em especial, foi entregue pelo

próprio Dr. Prudente de Moraes, os irmãos Falchi, que já nutriam admiração pelo

presidente do país, decidem homenageá-lo colocaram o nome da vila de Prudente de

Moraes e mandaram esculpir em uma pedra de mármore no dia e ano que receberam

visita tão ilustre.

Figura 2:Pedra de Mármore tamanho 0,89 cm x 0,57 cm fixada na praça Irmãos Falchi em homenagem à Prudente de Moraes em 21 de Dezembro de 1989

Fonte: Google Mapas.

Para fins históricos a data oficial de fundação de Vila Prudente é 4 de Outubro

de 1890, com a compra do terreno pelos irmãos Falchi. Pela proximidade da família

Falchi com a família Prudente de Moraes, foi colocado o nome Vila Prudente de Moraes

em homenagem ao Dr. Prudente de Moraes, então presidente do Brasil. Como muitos

outros bairros da cidade paulista Vila Prudente cresce incentivado pela imigração, a

princípio e em maior número a italiana, porém, mais tarde a região se beneficiaria pela

imigração de outros países e pela industrialização crescente no país.

Os irmãos Falchi ficaram conhecidos pelo seu tino empreendedor, no qual

transformou um campo de pastos e colheitas em uma vila industrial, primeiramente com

a fábrica de Chocolate e Confeitos, e depois a expansão para outras áreas, além da

formação de loteamentos para os trabalhadores das fábricas.

A famosa indústria de chocolate dos irmãos Falchi, foi aos poucos abrindo

caminho para outros empreendedores instalarem-se na região como: fabrica de sabão,

um pequeno mercado que vendia utensílios domésticos, fabrica de fumo e pente de

Page 71: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

62

osso, uma olaria, dos irmãos Saccoman, que compraram dos irmos Falchi a fábrica de

alvenaria e tantos outras indústrias e comércios que transformaram a região.

2.3.2. Crescimento Urbano no Século XX

Após a construção da Vila Prudente pelos irmãos Falchi, a região ingressa no

século XX com uma rápida expansão, principalmente entre as décadas de 30 e 50, nos

primórdios do século, o bonde chega como novidade em Vila Prudente, no dia 19 de

julho de 1912 é inaugurada a rota do Bonde 32 que saía do centro de São Paulo e

percorria 16 km para chegar a Vila Prudente.

Dessa forma os moradores do bairro testemunharam grandes melhorias, com a

Light abastecendo a região com luz elétrica, o surgimento de encanamento de esgoto, as

primeiras linhas telefônicas, oficialização dos correios, etc.

A explosão populacional experimentada pela região de Vila Prudente está

relacionada não só as melhorias significativas na região, mas também a continuação do

processo de migração, principalmente com a Segunda Guerra Mundial ameaçando

países do continente europeu, como é o caso dos italianos.

A comunidade estrangeira, e de um modo especifico a italiana, crescia e escolhia

o bairro, muito pelo preconceito dos brasileiros, que os consideravam ladrões de

emprego e invasores de terra21. Dessa forma os imigrantes buscavam lugares perto de

seus patrícios, onde a rivalidade era menor e as ofertas de emprego e moradia eram

melhores.

Em 1934 duas grandes empresas começam seus trabalhos no bairro, Matheus

Bei Construtora e Parque da Mooca Construções, ambas construíam e vendiam casas na

região o que tornou a especulação imobiliária mais acirrada, nesse processo era comum

a grilagem de terras e golpes em pessoas analfabetas.

As vendas proliferaram tanto em pouco tempo nada mais havia para ser vendido. Houve também em outros locais do bairro verdadeiros problemas, por vendedores desautorizados e pessoas sem escrúpulos que arrebanhavam os terrenos dos próprios donos e assim conseguiam assinaturas, recibos, documentos e toda a sorte de papeis falsos criando uma calamidade nesse setor. Muitas

21 MEDEIROS, Marcos Vinicius Gomes. O Crescimento Urbano e Industrial do Bairro da Vila Prudente Através dos Clubes Desportivos locais. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/Marcos%20jun%202010%20Trabalho%20V.%20Prudente%20final.pdf acessado em: 18 de abril de 2014.

Page 72: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

63

mortes pudemos constatar durante esses anos devido as brigas de terras. (FILHO,1990: 87)

De todas as fabricas construídas em Vila Prudente as que mais se destacaram

nessa época eram a Tecelagem Vania e as indústrias de louça Zappi. A tecelagem Vania

comprou o prédio de outra tecelagem que estava falindo, assim com uma forte

propaganda no rádio e uma estratégia comercial diferenciada conquistou os moradores

da região e de outras localidades de São Paulo, que faziam filas nas madrugadas para

poder adquirir seus produtos.

Outra empresa que merece destaque é a indústria de Louças Zappi. Jose Zappi

um conceituado ceramista italiano vem ao brasil para conhecer e estudar novas formas

industriais, a pedido do cônsul brasileiro em Milão é designado para manter a primeira

fábrica de louças no Brasil, que localizava-se em São Paulo, fundada no Bairro da Água

Branca, com a administração de Zappi a fábrica de louças cresce e se expande rumo ao

interior de São Paulo.

Zappi decide montar sua própria fábrica de louças e escolhe o bairro de Vila

Prudente para tal, assim começa-se a produção de jogo de mesa para café, azulejos,

artigos sanitários, objetos de adorno, suas obras eram reconhecidas mundialmente,

ganhando prêmios em exposições e posteriormente importando seus produtos.

José Zappi doou ao Círculo Operário de Vila Prudente, uma área de dois mil

metros quadrados, cuja finalidade era construir uma sede e escolas profissionalizante

para os operários, contribuindo diretamente para a formação de novos profissionais e

aumento da demanda da força de trabalho.

Uma terceira indústria que merece algum destaque é a Papaiz, inaugurada em

Vila Prudente por Luigi Papaiz, italiano nascido em Bologna, vem ao Brasil fugindo a

Segunda Guerra Mundial, em busca de melhores condições de trabalho. Aqui ele inicia

a fabricação e o fornecimento de fechaduras para industrias de moveis, posteriormente

investe na fabricação de cadeados e fechaduras residenciais, hoje a fábrica está alocada

em Diadema.

Os italianos não foram os únicos a imigrar para o bairro e seus arredores, Vila

Prudente também recebia ucranianos, lituanos, húngaros, russos etc. a geração de

imigrantes que chega no final dos anos 40 são chamados de ‘Russos Brancos’ são

técnicos e comerciantes, não investem, a exemplo dos italianos, em empreendedorismo,

mas ajudam a fortalecer o comercio, por isso se concentram mais nos grandes centros

urbanos.

Page 73: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

64

A distribuição das nacionalidades pelos bairros de São Paulo, primeiro quanto as empresas empregadoras e depois quanto ao local de residência, auxilia na compreensão das aglutinações. De uma forma ou de outra, as regiões Centro, Oeste, Leste, Sul apresentam as maiores concentrações no que se refere às empresas, [...] nesse processo merece destaque a tendência à industrialização que incorpora regiões suburbanas. (SALLES, 2013:190)

A importância da participação de imigrantes de diversas nacionalidades na

cidade de São Paulo está relacionada a ocupação do espaço urbano e a evolução da mão

de obra qualificada, especialmente na formação dos bairros industriais. Embora seja

aceita a ideia que na cidade de São Paulo, não há um bairro com uma formação étnica,

como é o caso da cidade de New York, Salles orienta que:

Talvez a não visibilidade desse grupo de nacionalidades na cidade de São Paulo e no interior se deva exatamente ao fato de que se tratam de grupos menos expressivos numericamente. A localização desses imigrantes na cidade de São Paulo evidencia aglomerações que nos ajudam a entender as aproximações a determinados grupos, como os de mesma nacionalidade ou religiosas. (2013:183)

Com o aumento da população, expansão industrial e a acelerada urbanização, as

primeiras favelas paulistas começam a constituir-se. Na década de 1940 em pesquisas

feitas pela Divisão de Estatísticas e Documentação da Prefeitura de São Paulo

enumeram informações sobre as favelas de São Paulo, sendo elas: Mooca (Favela do

Oratório), Lapa (na rua Guaicurus), Ibirapuera, Barra funda (Favela Ordem e Progresso)

e Vila Prudente. Em 1957 na capital paulista estimava-se um total de 141 núcleos, com

8.488 barracos.

Foi na favela de Vila Prudente, na década de 1970 que surge o Movimento de

Defesa do Favelado (MDF), o movimento origina-se nas reuniões da Legião de Maria,

grupos religiosos que rezavam de casa em casa na Favela da Vila Prudente. Com a

influência da Teologia da Libertação no final da década de 70 as reuniões passaram a

discutir política, além das orações.

A opção preferencial pelos pobres professada pelos novos padres e irmãs, agora também moradores das periferias urbanas, encontravam um solo propicio para se desenvolver. Além dos pobres serem muitos, os vínculos entre a religiosidade e a celebração do trabalho e do progresso, presente nesta narrativa, casavam-se perfeitamente com a utopia privada das famílias que chegavam as periferias. (FELTRAN, 2007:89)

Nesse contexto a ação religiosa foi uma tentativa de organização popular para

melhorias concretas do bairro, e mais especificamente, da favela que ali estava inserida.

Page 74: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

65

Assim grupos de jovens, estudantes e moradores passaram a auxiliar os religiosos em

ações comunitárias, sendo a primazia a alfabetização de adultos seguindo o método de

Paulo Freire.

No começo dos anos 80 as notícias de greves que estouravam no ABC, onde

alguns moradores trabalhavam chegaram as reuniões religiosas, o que trouxe discussões

sobre o sindicalismo, também falava-se sobre a criação de um partido político de

trabalhadores.

Além dos sindicalistas do ABC, como Lula. Muitos dos personagens que voltavam do exilio político também se empenharam na criação do partido em São Paulo, como Paulo Freire, que passou a frequentar assiduamente as reuniões da ‘comunidade’ da Vila Prudente. (Ibidem: 90)

Com a conscientização política os moradores favelados passaram a frequentar

espaços de luta social, passeatas, sindicatos e manifestações eram corriqueiros na vida

deles, dessa forma, sem nenhuma organização previa ou formalizada, eles passaram a

identificar-se como MDF.

O MDF foi conhecido pela sua luta em levar água canalizada, esgoto, luz e lutas

por taxas mínimas de água e luz, para moradores em contexto periférico. O movimento

dos favelados mobilizados construía poder político e, portanto: as mazelas sociais das

maiorias deixavam de ser figuradas como fracasso pessoal ou familiar e passavam a

ser vistas como injustiça social. (Ibidem:94)

Enquanto o MDF lutava pelas melhorias nas favelas, em especial a de Vila

Prudente, o bairro sofria processos de verticalização, acompanhando a urbanização

paulista nas décadas de 60 e 70 onde os edifícios eram símbolos de modernização,

progresso e êxito econômico.

Edifícios altos e verticalização não são consequências naturais da urbanização, mas opções possíveis de configuração no largo espectro das soluções urbanas. A verticalização constituiu um dos traços característicos da urbanização brasileira22.

A verticalização do bairro só foi possível pelo período econômico vigente no

país, o chamado Milagre Econômico. A situação econômica desfavorável do início da

década de 60 é superado com ajuda dos investimentos internacionais, a procura por

22 SILVA, Luís Octávio. A Constituição da Bases para a Verticalização na Cidade de São Paulo. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.080/280. Acesso em 21 de abril de 2014.

Page 75: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

66

investimentos externos, e a busca de países desenvolvidos por matérias primas, mão de

obra barata e novos mercados em países periféricos.

Esse novo momento da economia brasileira permitiu o aumento da demanda

interna por bens de consumo, devido a maior concentração de renda, crescimento de

credito ao consumidor, expansão do setor de construção civil, aumento das exportações

etc.

Dessa forma a verticalização do distrito de Vila Prudente torna-se um fenômeno

relevante para as novas dinâmicas urbanas implementadas partir de 67. Embora o

existiu um esgotamento do Milagre Econômico e uma certa paralização da

verticalização do distrito o fenômeno nunca de desfez por completo, em 2000 o número

de apartamentos no distrito era de 23.508 mil, em 2010 esse número sobe para 28.777

mil apartamentos.

Como no período anterior os bairros que mais se verticalizaram entre 1968 e 1972 foram Pinheiros, Cerqueira Cesar e Santa Cecilia. Durante este novo período, surge um novo bairro vertical, o Itaim, que alcança números similares à verticalização nos centros da cidade de São Paulo. Além do Itaim, surge mais 5 bairros com relevante crescimento vertical, destaca-se Indianópolis (atualmente denominado como Moema). Os outros bairros que surgem na lista são; Penha, Vila Madalena, Sumaré e Vila Prudente. (GAGLIOTTI, 2012: 18)

O aumento da verticalização em áreas mais periféricas da cidade deve-se

também a criação de novas centralidades urbanas, o zoneamento mais permissivo do

centro se deslocou para a avenida paulista, e com isso, o aumento dos preços fundiários

aliado as ofertas e demandas deslocou o centro para novas áreas como a Faria Lima,

Berrini, Marginal Pinheiros entre outras.

Segundo o SECOVI-SP, em seu levantamento anual a Vila Prudente foi o bairro

campeão de lançamentos imobiliários em 2013 com cerca de 2.297 unidades lançadas23.

Atualmente os investimentos imobiliários no bairro são elevados, muito pelos

constantes investimentos em infraestrutura, o que estimula a especulação imobiliária e a

segregação espacial, criando espaços distintos de pobreza e riqueza em convivência

mútua.

Atualmente o distrito de Vila Prudente é o 49° mais populoso da cidade de São

Paulo com a população de 531.113 mil habitantes, com uma taxa de crescimento de

23 CORREIA, Vanessa. Vila prudente teve o maior número de lançamentos em 2013. Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/02/1410819-vila-prudente-teve-o-maior-numero-de-lancamentos-imobiliarios-em-2013.shtml. Acesso em: 28 de abril de 2014.

Page 76: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

67

0,14% anual, a taxa demográfica é 159,49 pop/ha24, uma das regiões mais densas da

cidade de São Paulo, superando por exemplo Vila Mariana, São Miguel, Santo Amaro,

Penha etc., ficando apenas atrás dos distritos da Campo Limpo e Sé, respectivamente

165,42 e 164,54 pop/ha.

Tabela 9:Domicílios Segundo Tipo de Ocupação: Distrito de Vila Prudente – 2010 Bairros Total de

Domicílios Domicílios Particulares Permanente

Ocupado

Domicílio Particular

Improvisado Ocupado

Domicílio Coletivo com

Morador

São Lucas 45.960 45.788 11 161

Sapopemba 84.805 84.700 16 89

Vila Prudente 35.527 34.708 0 819

Total 166.292 165.196 27 1.069 Fonte: IBGE Censo 2010, Infocidade

Tabela 10:Domicílios Segundo Tipologias Residenciais: Distrito Municipal de Vila

Prudente -2010 Bairros Total de

Domicílios Casa Casa de Vila

ou Condomínio

Apartamento Habitação em Casa de

Cômodos, Cortiços ou

Aglomerados subnormais

São Lucas 45.788 36.645 350 8.530 263

Sapopemba 84.700 71.332 1.168 11.948 251

Vila Prudente

34.708 25.012 528 8.298 870

Total 165.196 132.989 2.046 28.777 1.385 Fonte: Infocidade, IBGE, * Total de Domicílios: Base universo do Censo 2010. Dado levantado apenas para os domicílios particulares permanentes. As tabelas 9 e 10 acima, demostram a ocupação e as tipologias do distrito de

Vila Prudente, embora tradicionalmente fosse um refúgio operariado e de imigrantes, o

24 Infocidade, Prefeitura da cidade de São Paulo, baseado nos dados censitários de 2010. “População Recenseada, Taxa de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Município de São Paulo, Subprefeituras e Distritos Municipais, 1980, 1991,2000,2010. Disponível em: http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_recenseadataxas_de_crescimento_1980_701.html. Acesso em 1 de maio de 2014.

Page 77: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

68

que podemos constatar que atualmente o perfil, tanto do bairro quanto do distrito, tem

se alterado, em grande medida pelos investimentos públicos e privados no local, quer

seja pela construção de metrôs e monotrilhos, quer seja por grandes inaugurações de

shoppings center e condomínios fechados, as melhorias tem atraído cada vez mais

classes médias e altas para o local.

Vila Prudente tem sofrido um processo de modificação histórica, antigamente o

bairro que era quase que exclusivamente de trabalhadores e imigrantes, tem se

reformulado em uma grande área de serviços terciários, assim fenômenos como a

verticalização e a especulação imobiliária são, na verdade, um processo dinâmico de

reorganização espacial no qual toda a cidade de São Paulo tem experimentado.

Atualmente faz parte da infraestrutura de Vila Prudente a Linha 2 – Verde do

metrô de São Paulo, Terminal Vila Prudente, além do Monotrilho que passará na região

e será inaugurado em breve, a última estimativa de inauguração seria no final do mês de

março de 2014. Além do transporte há também o centro comercial Central Plaza

Shopping, inaugurado em setembro de 1999 e conta com 240 lojas, um crematório Dr.

Jayme Augusto Lopes, implementado em 1974, sendo um dos maiores da América

Latina e pioneiro em seu tempo.

O distrito é bem atendido quando instituições de saúde, ele contém uma UBS,

três AMAs, três CAPS, um hospital público e dois particulares.

Ainda reside na região o Parque Ecológico Professora Lydia Natalízio Diogo, o

parque ecológico de Vila Prudente, situado nos limites dos bairros de Vila Zelina, Vila

Alpina, Vila Ema, Jardim Independência e Jardim Avelino. O perfil industrial do

distrito bem como o uso lúdico do córrego já ocorria em 1969. Contudo, somente com a

desindustrialização das de áreas da várzea do córrego foi cedido, pela futura instalação

do cemitério de Vila Alpina um espaço para a construção de um parque para o distrito.

Dessa forma em 27 de dezembro de 2004 a realizou-se a inauguração do parque, cerca

de mil e quinhentas pessoas utilizam-se diariamente do parque, desse número 80% são

moradores de áreas próximas25.

Ainda hoje existem cerca de 500 indústrias instaladas no distrito, mas esse

número tem diminuído gradativamente, muitos dos lotes que pertenciam as indústrias

25 HONÓRIO, Rosely Marchetti. Contribuição da Historia Oral. Disponível em: http://each.uspnet.usp.br/gephom/encontroregional2011/Anais_IX_ERSHO.pdf#page=176. Acessado em 1 de maio de 2014.

Page 78: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

69

tem servido como cortiços, loteamentos clandestinos ou na construção de prédios e

condomínios fechados.

As zonas industriais em 1972 eram cerca de 1000 há, em contraposição aos 513 das atuais. As restantes ainda se concentram ao longo da linha férrea e se localizam nos distritos da Mooca, Ipiranga e de Vila Prudente. Avaliou-se que para as áreas que tiveram seu zoneamento alterado em zona mista a realização do levantamento do uso e ocupação atual alimentaria, com dados primários, o entendimento das dinâmicas de transformação e da reprodução urbana. Pode-se antecipar que esta alteração estimulou a atuação do setor privado que realizou nos lotes de ex industrias a substituição rápida das edificações, propondo um produto residencial de médio alto padrão que não dialoga com o entorno, sendo a ocupação do lote condomínio fechado vertical.26

As indústrias estão cada vez mais deixando espaços, não somente para mordias,

mas também para estabelecimentos comerciais, são cerca de 758 atividades comerciais

no distrito, 635 espaços para o terceiro setor de serviços, e 56 empresas de construção

civil.

Tabela 11:Estabelecimento educacionais em Vila Prudente – 2010 Instituições de Ensino Publicas Privadas

Creches 8 7

Educação Infantil 5 18

Ensino Fundamental 16 12

Ensino Médio 7 10

Universidade/ Faculdade 0 1

Fonte: São Paulo Bairros – estáticas de Vila Prudente, Dados censitários 2010

Na Vila Prudente também há um significativo número de instituições de ensino

infantil, fundamental e médio, faltando uma representatividade maior de cursos

superiores através da faculdades e universidades. Mesmo com a verticalização do

bairro, e a mudança de um espaço do operariado para um a bairro de serviços, as

populações residentes que concluiu um curso universitário é ainda baixo, como

demostra a tabela abaixo:

26 GARRAFOLI, Fábio Takayama, VITALE, Letizia. Áreas industriais em obsolescência: Potencialidade para reconversão urbana ou mera mercadoria imobiliária? Disponível em: http://www.ppgau.ufba.br/urbicentros/2012/ST229.pdf. Acesso em 1 de maio de 2014.

Page 79: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

70

Tabela 12:População de 10 anos ou mais de idade, por nível de instrução em Vila Prudente – 2010.

São Lucas Sapopemba Vila Prudente Sem Instrução e

fundamental incompleto

43.135 111.931 31.695

Fundamental Completo e Médio

Incompleto

25.352 53.581 16.071

Médio Completo e Superior

Incompleto

38.735 64.499 27.108

Superior Completo 17.201 11.683 17.362 Não determinado 1.086 2.865 1.307

Total 125.509 244.560 93.543 Fonte: Infocidade, IBGE Censo 2010.

O nível de escolaridade interfere de maneira significativa na aquisição de

emprego e na renda familiar a tabela a seguir demostra a o emprego por escolaridade no

distrito.

Tabela 13:Empregados por Escolaridade, Segundo os Distritos Administrativos – Vila Prudente

Vila Prudente

N° %

Ensino Fundamental Incompleto

5.295 16,89

Ensino Fundamental Completo 6.322 20,17

Ensino Médio incompleto 2.882 9,20

Ensino Médio Completo 12.653 40,37

Ensino Superior Incompleto 1.024 3,27

Ensino Superior Completo 3.165 10,10

Total 31.341 100

Fonte: Observatório do Mercado de Trabalho, Relações Anuais de Informação Sociais.

Page 80: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

71

Tantos os indicadores educacionais relativamente baixos para o distrito de Vila

Prudente não refletem no rendimento familiar, segundo o Observatório Cidade Nossa

São Paulo, o rendimento médio dos moradores Vila Prudente/Sapopemba em 2012 era

de 1.922,76, rendimento esse superior a muitos distritos da capital, superando Ipiranga,

Casa Verde/Cachoerinha, Freguesia/Brasilândia, Pirituba etc. Ficando, inclusive, maior

que o rendimento médio da cidade de São Paulo, que em 2012 era de 1.839,98.

Desde 2008 o distrito de Vila Prudente conta com a AMOVIZA, eles são

responsáveis pela organização de grandes eventos na região, principalmente a festas

típicas de cultura do leste–europeu, além disso, organizam junto a órgãos públicos

benefícios para o bairro de Vila Zelina e seus entornos.

Atualmente a AMOVIZA é a grande responsável pela discussão da tematização

do bairro em Vila Zelina, a ideia é barrar a pujante verticalização e tematizar o bairro e

adjacentes com construções que beneficiariam a cultura, culinária, festas, religião entre

outras coisas dos imigrantes do Leste Europeu.

2.4. Vila Prudente e a Religião.

Outra faceta importante para uma análise mais completa do distrito de Vila

Prudente é a integração entre imigração e religião. Como já citado, pelos incentivos dos

irmãos Falchi os antigos descampados da Vila Prudente, usada para cultivo de

hortifrútis, bovinos e suínos, transforma-se em um bairro fabril –operário com grande

penetração de imigrantes italianos.

Historicamente o imigrante em um país desconhecido, sem domínio da língua

oficial, ou mesmo, sem amigos e familiares ou coisas habituais, procura em redes

sociais, um grupo que partilhe do mesmo sentimento, sonhos, projetos, um grupo no

qual o imigrante possa identificar-se.

A religião é uma derivação dos modelos sociais, ou seja, a própria sociedade em

forma de símbolos, assim as religiões são representações coletivas que exprimem, em

formas simbólicas, realidades coletivas (DURKHEIM, 2008: 13).

As religiões trazidas pelos imigrantes formaram alguns bolsões que, pelo menos a princípio, eram numericamente insignificantes. Com o tempo, porém, estes bolsões cresceram, deram origens às

Page 81: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

72

novas religiões e participaram do processo de transição de uma sociedade hegemonicamente católica para uma sociedade pluralista do ponto de vista religioso (DECOL, 2001)

Os imigrantes que utilizam a cosmovisão religiosa, não raramente atribuem os

desafios da imigração como simbolismo religioso para sua trajetória, comumente o

imigrante estigmatizado como clandestino, invasor etc, encontra em comunidades

religiosas acolhida e identificação, assim a religião funciona como instituição para apoio

e emancipação.

Com a fábrica de chocolate dos irmãos Falchi e os grandes incentivos por parte

deles em empregar e disponibilizar moradias aos italianos, não é de se espantar que, o

“gueto’ italiano construindo no bairro de Vila Prudente, Mooca, Braz entre outros,

trouxe embarcada o catolicismo. A Igreja Católica sendo pioneira no bairro, possibilitou

um enorme trabalho social e espiritual com seus moradores, influenciando nas lutas

sociais, na promoção humana, assistência social.

Com o passar dos anos e a heterogeneidade dos imigrantes na região o

catolicismo deixou de ser uma religião exclusiva, abriu-se espaço para novas formas

religiosas ligado a diversidade dos grupos ali representados. As novas religiões em Vila

Prudente serviram como agente agregador, identificador e emancipador dos novos

grupos presentes na região.

Na história da Vila Prudente podemos identificar inúmeras influências

religiosas, a ligação entre o distrito e práticas religiosas acontece pelos próprios

fundadores. No ano de 1893 os irmãos Falchi constroem uma capela em homenagem a

Santo Emídio, protetor dos terremotos, enchentes e chuva, no qual Emigdio Falchi era

devoto.

Além do terreno, que depois seria construída a Igreja Matriz, e o aporte

financeiro promovido pelos irmãos Falchi, o próprio Emigdio encomendou e trouxe

uma estátua de tamanho real do Santo protetor Emídio. Nessa nova paroquia foram

enviados quatro religiosos, entre eles o Padre Damião Kleverkamp, como primeiro

pároco em 31/12/1939. (Filho, 1990:125)

A capela construída, com o passar do tempo ficou pequena para as atividades

realizadas, sendo necessária a criação de um espaço maior para as atividades religiosas,

com o espaço vago o Padre Damião conhecendo o problema do operariado no bairro,

resolveu fundar uma entidade afim de ajuda-los, surge o Círculo Operário Cristão de

Vila Prudente, em 02 de junho de 1940. (Ibidem:127)

Page 82: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

73

O Círculo Operário Cristão de Vila Prudente contava com atendimento médico-

ambulatorial, cursos de formação profissional, lazer e entretenimento, em Julho de 1940

o Padra Damião implantou uma escola nos fundos da casa paroquial, integrando mais

um serviço em benefício dos operários e suas famílias.

O Círculo Operário ligado as ações da Igreja Católica era uma mensagem

poderosa na luta em favor do operariado brasileiro, vinculando-se também as ações e

discursos dos sindicatos, que resistiam para conseguir melhores condições de trabalho e

aumento salarial, em Vila Prudente a criação do Círculo Operário trouxe, além dos

incentivos estruturais como médicos, escolas, cursos e lazer, ações efetivas na luta

contra a exploração do trabalho.

Em 30 de abril de 1965 a entidade mudou o nome de denominação para Círculo

de Trabalhadores Cristãos, a resolução da mudança de nome foi requerida tanto pela

confederação brasileira como a federação paulista do Estado de São Paulo. O governo

militar nessa época não permitia que entidades tivessem nomes aparentemente

subversivos para a época, pois tanto sindicalistas como operariado eram considerados

subversivos, grupos organizados contra as ações governamentais do regime.

Mesmo com a imposição da mudança de nome as ações do, agora, Círculo de

Trabalhadores Cristãos, conseguiram manter a essência política que o originou, com as

assistências médicas, espaços de lazer e cursos profissionalizantes, além do apoio as

ações favoráveis ao operariado.

Outro projeto social/religioso envolvendo a Igreja Católica foi a construção do

orfanato Cristóvão Colombo pelo padre José Marchetti, o orfanato ficava no bairro do

Ipiranga, tinha como função cuidas das crianças órfãs, principalmente filhos de

imigrantes, negros, crianças abandonadas e recolhidas pelas autoridades por baderna e

“vagabundagem”.

Nesse mesmo sentido, imbuído pelas ideias do projeto de reforma da igreja e para outros, ideologia ultramontana, Marchetti empenhou-se na consolidação do orfanato do Ipiranga e planejou a construção do segundo orfanato em Vila Prudente27.

27 OLIVEIRA, Lúcia Helena de Medeiros; LOMBARDI, José Claudinei. Instituições Educativas - Projeto Scalabriano no Brasil. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe_2008/pdf/644.pdf. Acesso em 6 de maio de 2014.

Page 83: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

74

Figura 3:Orfanato de Vila Prudente 1897

Fonte: FILHO, Mario Ronco. O Bairro Vila Prudente, Um Gigante Paulista, sua história e sua gente. Prefeitura de São Paulo, 1990

O orfanato construído em Vila Prudente no ano de 1904 era direcionado as

mulheres, a instituição católica alfabetizava as meninas, bem como as ensinava

trabalhos manuais e prendas domesticas, normalmente elas eram dirigidas a casas de

famílias para casarem.

Embora os imigrantes italianos tenham sido os primeiros a residirem no distrito

de Vila Prudente, outros imigrantes, fugitivos de guerras encontraram no distrito um

lugar para recomeçar a vida.

No final do século XIX a cidade de São Paulo recebe ucranianos, poloneses,

russos, húngaros, lituanos e outras populações do centro-leste europeu. Os lituanos em

Vila Zelina, situado no distrito de Vila Prudente formam a segunda maior comunidade

lituana do mundo, perdendo apenas para a cidade de Chicago nos EUA, tendo chegado

até 1930 com cerca de 20.000 lituanos em São Paulo, sendo boa parte deles moradores

de Vila Zelina28.

28 RAPCHAN, Eliane Sebeika. Lituano e seus descendentes, reflexões sobre a identidade nacional numa comunidade de imigrantes. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao10/materia01/texto01.pdf, acesso em: 7 de maio de 2014.

Page 84: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

75

A igreja São José de Vila Zelina, foi fundada em 1936, pelo padre Benediktas

Sungintas, que veio ao Brasil em 1931 para acompanhar a comunidade lituana. No

mesmo ano o padre Sungintas organiza a comunidade lituana para a construção da

igreja lituana no bairro, em um terreno cedido por Claudio Soares Monteiro Filho, dessa

forma a inauguração da igreja de São José aconteceu no ano de 1936. Até hoje existe

uma missa especial feita em lituano todo domingo as 11hs00, foi ao redor da igreja que

o bairro começou a crescer e se desenvolver.

A igreja teve um papel crucial no período da Segunda Guerra Mundial servindo

como ponto de encontro para os imigrantes conseguirem informações sobre seus

familiares e seu país invadido pela antiga União Soviética.

Além da comunidade lituana, os russos construíram sua própria comunidade

religiosa a Igreja Batista Russa da Mooca, a princípio situada no bairro da Mooca, em

um salão pequeno com a capacidade para 20 pessoas apenas.

Com o crescimento da igreja decidem mudar para um local com maior

capacidade, a igreja, agora, em Vila Bela, ainda estava em franco crescimento, com o

espaço cada vez mais apertado decidem mudarem para outro local, em 1946 adquirem

um terreno em Vila Prudente, os próprios membros assumem a construção do templo,

que é inaugurado em 26 de julho de 1953. Na inauguração, além do novo espaço

decidem alterar o nome da igreja que passa a chamar Igreja Batista Boas Novas.

O primeiro dirigente da missão paulista da ucrânia foi o padre brasiliano29

Nicolau Ivaniu, veio para São Paulo em 21 de janeiro de 1954, a princípio o padre

Nicolau realizava as celebrações na cidade de São Caetano do Sul, em uma Igreja

Latina conhecida como Matriz Velha.

A pedido da comunidade o padre Nicolau adquiri um terreno especifico para as

celebrações das missas, dessa forma com o apoio da comunidade ucraniana em maio de

1954 inicia a construção da Igreja Imaculada Conceição. Somente em 1960 a paroquia é

inaugurada por Dom José Martenetz.

Outra importante igreja no distrito de Vila Prudente é a Igreja Ortodoxa Russa,

sua inauguração foi no ano de 1931 com o nome de Igreja da Santíssima Trindade,

inicialmente a comunidade russa não frequentava a igreja, a igreja residia em um lugar

de difícil acesso para a o grupo, somente com a abertura do mosteiro, que

29 A ordem Brasiliana de São Josafat é uma congregação religiosa pertencente à Igreja Católica do Rito Oriental Bizantino.

Page 85: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

76

posteriormente foi transferido para o Canada, a comunidade passou a integrar-se de

maneira satisfatória.

Inicialmente com uma frequência baixa, a Igreja ortodoxa russa foi importante

para a comunidade pois ela preservou todo o conjunto de tradições culturais sufocadas

pela Revolução socialista de 1917, ou seja, língua, calendário, folclore, entre outros

elementos culturais de um povo que foi forçado a migrar. Dessa forma, na ausência de

outras instituições associativas, tais como clubes, agremiações e centros culturais,

delegou-se as igrejas russas o papel da manutenção da identidade desse povo.

(LOIACONO, 2005:128)

A comunidade russa conta com outra igreja de mesma tradição, a Igreja

Assembleia de Deus Russa no Brasil, fundada em 1936, umas das famílias fundadoras e

a mais conhecida é Minczuk, seu mais ilustre membro Roberto Minczuk é regente

associado da filarmônica de New York, passando também pelas filarmônicas de

Londres, na Inglaterra, Toronto no Canadá e a Osesp (Orquestra Filarmônica de São

Paulo)30.

As igrejas de cunho étnico no distrito, principalmente no bairro de Vila Zelina

serviram como agregador para os imigrantes que se estabeleceram no bairro a partir da

Primeira Guerra Mundial e da Revolução Bolchevique de 1917, uma segunda onda de

imigração no distrito acontece na década de 1920, a variedade das igrejas representa, as

várias culturas migratórias presentes no distrito, como russas, ucranianas, lituanas e

tantas outras provenientes do Leste-europeu.

O sentido de comunidade é, por norma, um dos atributos das minorias religiosas. A comunidade – em especial se tem um espaço físico para o encontro - possui a virtualidade de reforçar a posição do grupo dentro do campo religioso e de o projetar na sociedade. A comunidade de crentes é um recurso que potência a visibilidade pública da minoria religiosa na sociedade em que se insere e principalmente, a reprodução de sua identidade. (Vilaça, 2008:32)

A imigração, ao longo do tempo requer um processo adaptativo, dessa forma a

construção de identidades sociais está vinculada tanto ao reconhecimento dos seus

pares, quanto as novas adaptações e rearranjos em uma sociedade essencialmente

heterogênea.

30QUENTAL, Paula. Batuta Brasileira: o paulistano Roberto Minczuk, regente assistente da Filarmônica de Nova York, é escolhido o mais brilhante jovem artista nos EUA. Isto é Gente. Disponível em: http://www.terra.com.br/istoegente/41/reportagem/rep_roberto.htm, acesso em: 26 de Março de 2014.

Page 86: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

77

Embora o predomínio religioso do distrito ainda seja católico, outras religiões

têm constante presença, como Candomblé, Umbanda e Espiritismo, essa última,

fundada em 1964, pela Guiomar de Oliveira Albanesi e presidente do Centro Espirita

Perseverança. O centro espírita possui e mantêm diversas obras sociais, entre elas o

Clube de Mães Lírio do Vale, dedicado a oferecer cursos profissionalizantes.

Em 1972 é criado pela instituição espirita o Serviço Social Perseverança com

foco no trabalho com crianças e adolescentes, segundo o site do Serviço Social

Perseverança, são atendidas 2 mil crianças, com práticas de esporte, reforço escolar,

artes e creches para crianças de 0 a 5 anos, sem custo nenhum para as famílias

cadastradas.

Atualmente as comunidades religiosas com vinculação imigratória precisaram

adaptar-se a novos tempos, somente algumas igrejas ainda mantêm uma parte de suas

celebrações na língua original, uma vez que muitos dos filhos e netos dos imigrantes do

leste-europeu não falam a língua pátria.

Além disso a competição no campo religioso ficou mais acirrada, gradualmente

muitas igrejas migraram para o bairro, Metodistas, Presbiterianos, Batistas, Igreja

Universal do Reino de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Comunidade da Graça,

Igreja Mundial do Poder de Deus, e tantas outras fazem frente as igrejas mais

tradicionais da região, transformando as relações religiosas e influenciando o campo

religioso existente no distrito.

As mudanças do campo religioso experimentados em Vila Prudente não difere

em nada das experiências contidas em São Paulo ou em território nacional. As relações

entre religião e sujeito, são, predominantemente, guiadas pelas prioridades do indivíduo,

ou seja, o papel da religião é na construção de uma identidade pessoal, que não

necessariamente passa por uma constituição da identidade comunitária religiosa, nesse

sentido há uma privatização da identidade do sujeito.

Nas sociedades tradicionais, era a sociedade ou a “cultura” que determinava a identidade do indivíduo. No mundo moderno, pluralista, é o indivíduo que pode e de algum modo deve escolher a sua identidade, determinar quem ele é. Dessa forma, é claro que as opções religiosas serão marcadas pelo subjetivismo, o que poderá inclusive aumentar (como de fato aumentaram) as chamadas “adesões parciais”: o indivíduo aceita uma parte dos dogmas e da disciplina da religião institucionalizada, mas discorda e rejeita outra parte (ANTONIAZZI, 1998:13)

Page 87: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

78

As mudanças no campo religioso em Vila Prudente, são reflexo da

contemporaneidade, ou seja, as identidades imigratórias, não estão mais associadas aos

antigos modelos das igrejas tradicionais, a adesão dos novos sequazes depende da

construção subjetiva da identidade pessoal dos adeptos que, não necessariamente, está

relacionado com outros participantes da mesma comunidade.

Se as igrejas de cunho imigratório tinham a função de mantenedoras das práticas

culturais e identitária, as novas igrejas adaptam-se as transformações do tempo presente,

tanto na inovação de práticas religiosas, quanto na rápida resposta as mudanças sociais.

Dessa forma o domínio religioso das novas igrejas não está na enunciação tradicional

religiosa, mas no carisma do líder, ou seja, na capacidade de comunicar-se com os

sequazes da comunidade.

As novas igrejas dinamizam as relações entre migração, cosmovisão e

sociedade, assumindo que as características do distrito têm se alterado ao longo das

décadas, essa “nova cara” da região altera as relações religiosas, abrindo espaço para

igrejas e religiões que antes não tinham lugar no distrito.

Novas igrejas como a Mundial do Poder Deus, com a expansão cada vez mais

latente das novas tecnologias das informações, e a aceleração dos conteúdos midiáticos,

a IMPD nasce em um ambiente midiatizado, dinâmico e plural em sua estrutura.

Nativamente a linguagem utilizada pela IMPD comunica de maneira mais abrangente e

dinâmica com o novo perfil de fiéis existentes no bairro, que não mais tem uma

condição identitária a preservar como dos primeiros imigrantes, mas estabelece-se por

meios de novas formas subjetivas de identidade e construção do ser.

Assim podemos dizer que a IMPD é um espelho social das constantes

transformações sofridas em Vila Prudente ao longo dos anos, ela representa a novidade

inserida no bairro com a verticalização, novos migrantes, nova distribuição de renda e

ascensão do poder de compra da classe c brasileira, além de uma era onde a lógica

midiática tem dominado em todos os aspectos sociais.

2.5. Considerações.

A função desse capítulo foi problematizar o processo de identidade e sua

reconstrução em indivíduos em mobilidade espacial, entendendo como aspectos

Page 88: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

79

essenciais os relacionamentos comunitários, que em geral, são encontrados pelos

migrantes nas instituições religiosas.

Passamos então a analisar aspectos históricos do distrito de Vila Prudente, no

qual desde sua formação possui forte ligação com os fluxos migratórios, nos fenômenos

dinâmicos desses fluxos o bairro contém números elevados de comércios, festas,

especiarias e igrejas voltadas, quase que exclusivamente ao uso de migrantes da região.

Com o crescimento o distrito, sua urbanização e inclusão na metrópole, uma

série de benefícios foram realizados no bairro, principalmente em transporte, com isso,

tanto a especulação imobiliária quanto o custo de vida aumentaram, dessa maneira,

aspectos como a verticalização do distrito, a segregação e as dicotomias entre áreas

urbanizadas e periferias urbanas passaram a conviver juntos.

Em novos tempos as antigas igreja já não garantem recursos simbólicos

satisfatórios, nem para os migrantes em situações delicadas por causa do crescimento da

região, nem para os migrantes de segunda geração, que possui sua identidade

fragmentada, e nem para os sujeitos que vivem em altos índices de vulnerabilidade

social, dessa forma, as novas igrejas presentes no distrito estabelecem sistemas

simbólicos e cosmovisões muito mais condicionadas aos novos tempos do que as igreja

migratórias em passado recente.

Nesse prospecto o capítulo situa-nos do ambiente encontrado entorno da

IMPDVA, esse capítulo demostra que o discurso da igreja torna-se forte a medida que

se relaciona com pessoas migrantes e indivíduos com alta vulnerabilidade social.

Evidenciando que o projeto urbano no distrito e o fluxo migratório presente no mesmo é

reflexo da urbanização paulista, onde há incentivos a industrias, obras para melhorias de

deslocamento urbano, especulação e verticalização imobiliária, mas ainda, poucos

investimentos nas classes menos favorecidas socialmente.

Nesse sentido o próximo capitulo denota de que forma a mensagem, os vínculos,

as redes sociais existentes na IMPDVA modelam seus adeptos, ainda no capitulo vamos

levantar os dados e os indicadores sociais obtidos durante as pesquisas de campo,

entrevistas e aplicação dos questionários.

Page 89: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

80

Capitulo 3:Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina: estudo de

caso

Este capítulo estrutura-se da seguinte forma: em um primeiro momento, expõe o

a gênese da Igreja Mundial do Poder de Deus articulando entre seu discurso, teologias e

mensagens no campo religioso brasileiro, em seguida abordaremos o início da Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, e apresentaremos os indicadores sociais da

igreja relacionando-os com os dados obtido do Censo 2010 e os Microdados censitários

da região. Assim a construção dos gráficos apresentados nessa parte é híbrida, incluindo

os dados obtidos na pesquisa de campo, nos questionários aplicados e os dados

censitários de 2010.

Outro aspecto que precisa ser esclarecido todas as entrevistas, questionário e

observações de campo, só puderam ser feitos mediante ao compromisso de assegurar o

sigilo identitário do indivíduo, portanto não usaremos nomes, apenas pseudônimos para

identificar os sujeitos.

3. Igreja Mundial do Poder de Deus. Da gênese do movimento ao

fenômeno de tempos recentes.

Nascido em 2 de novembro de 1963 em Cisneiros, distrito de Palmas, Minas

Gerais, Valdemiro Santiago cresceu na zona rural da cidade. Aos 12 anos de idade

Valdemiro acompanha a doença de sua mãe que acaba falecendo, naquela época seu pai

e seus dezessete irmãos e irmãs ficaram perdidos, situação que culmina na tentativa de

suicídio de Santiago31.

31 Entrevista Apóstolo Valdemiro Santiago. Luciana by Night. São Paulo: Rede TV, 15 de abril de 2014. Programa de Televisão.

Page 90: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

81

Aos quatorze anos Valdemiro muda-se para Juiz de Fora com um dos seus

irmãos mais velhos, logo, envolve-se com drogas, roubos e passa a morar na rua32. Aos

dezesseis anos de idade, em um dos templos da Igreja Universal do Reino de Deus,

acontece sua primeira experiência religiosa.

Na Igreja Universal do Reino de Deus Valdemiro Santiago percorre um longo

caminho, um ano após sua conversão, aos dezessete anos Santiago realiza sua primeira

cura divina. Em uma visita a um hospital ora por uma jovem, que estava em uma

cadeira de rodas, segundo Santiago após a oração a jovem levanta da cadeira de rodas

para espanto de Valdemiro, dos familiares e dos próprios médicos.

O futuro apóstolo, na IURD tem uma trajetória proeminente ocupando vários

cargos ao longo dos dezoito anos em que permaneceu na igreja, passando por cargos de

obreiro, pastor, líder regional entre tantos outros até ser consagrado bispo e

posteriormente pertencendo ao conselho de bispos do Edir Macedo, um seleto grupo

que desfruta da confiança do chefe da IURD.

As relações entre IURD e Santiago teriam fim, logo após sua experiência de

naufrágio, o grande marco em sua vida, história que seria usada por ele para credibilizar

sua imagem messiânica de uma pessoa escolhida e vocacionada por Deus, é através da

história do “Grande Livramento” que o Valdemiro Santiago morre como bispo iurdiano

e renasce como apóstolo de Igreja Mundial do Poder de Deus.

Em 1996 realizando um trabalho missionário em Moçambique Valdemiro e

alguns pastores saem para pescar, segundo Valdemiro o barco no qual estavam foi

sabotado, estando o grupo já a quilômetros da costa de Moçambique o barco naufragou,

ele deu os únicos 3 coletes salva-vidas para seus colegas, e saiu nadando a procura de

ajuda, com cerca de 153 quilos, nada por cerca de 8 horas, entre tubarões e barracudas,

que não o atacaram pela provisão de Deus, quando todas as suas forças já tinham se

esgotado exausto clama por socorro e Deus responde enviando anjos em seu auxilio,

que o levam a praia resgatando milagrosamente do mar.

Após a experiência em Moçambique decide voltar ao Brasil e recomeçar sua

vida, sem espaço na IURD, decide romper com a igreja em abril de 1998. Pouco tempo

depois Valdemiro Santiago funda a Igreja Mundial do Poder de Deus, dia 8 de março de

32 REGINA, Silvia. Apóstolo Valdemiro Santiago – De menino pobre a apóstolo de Deus. [Documentário]. Produção: Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo. 2011, DVD/NTSC, 2hs40. Color. Son.

Page 91: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

82

1998, na cidade de Sorocaba em São Paulo, com sua esposa Franciléia, suas duas filhas

e um pequeno grupo de membros, cerca de dezesseis pessoas.

Inicialmente a divulgação era feita através de panfletos, testemunhos pessoais e

anúncios sobre os horários de cultos nas ruas. Porém somente no ano de 2008 a IMPD

ganha relevância no cenário religioso brasileiro, dia 1 de agosto de 2008 Valdemiro

Santiago aluga 22 horas de programação na Rede 21, ocupando o espaço com

transmissões ao vivo dos cultos em sua igreja.

A primeira transmissão realizada pela igreja, 10 de agosto de 2008 foi em sua

sede no Brás conhecida como o Templo de Milagres que fica na rua Carneiro Leão 439.

Ao contrário de sua rival, a IMPD não investiu em uma programação variada, ao

contrário o espaço alugado era dedicado quase exclusivamente a transmissão dos cultos,

a imagem do apóstolo era divulgada a exaustão, dificilmente a figura de outros pastores

apareciam na programação, exceto de alguns poucos de sua confiança, entre eles, o

bispo Josivaldo Batista, homem que consagrou Valdemiro a apóstolo e braço direito do

líder da IMPD.

Com o apoio de Ronaldo Didini que já atuou como pastor da IURD e

conselheiro direto de R.R Soares, Apóstolo Valdemiro investe em uma serie de centros

televisivos pelo país, em 2009 inaugura a Cidade Mundial, na cidade de Guarulhos,

complexo de estúdios de televisão de 400 m2, onde possui diversos cenários para

gravações, painéis com o logotipo da igreja e uma réplica de uma montanha.

Em pouco tempo o apóstolo Valdemiro expande seus programas para outros

estados brasileiros, transmitindo em sinal aberto e fechado, a IMPD ainda conta com

rádios, revistas, jornais, blogs, páginas do Facebook, sites e tantas outras formas

midiáticas de divulgação de sua imagem.

Com a exposição permanente da imagem de Valdomiro Santiago, a IMPD ganha

novos adeptos e notoriedade no cenário religioso nacional, competindo diretamente com

a Igreja Universal do Reino de Deus. A disputa pelo campo religioso entre as igrejas é

acompanhada através dos veículos midiáticos.

Em seus programas de televisão, Bispo Waldemiro tem insistido na tese de que muitos desejam “fechar as portas” da igreja, segundo ele, homens que se dizem “de Deus” têm perseguido a igreja, mas ele não é covarde, reafirmando sua disposição de continuar na briga por “um lugar ao sol”. Bispo Waldemiro insiste dizendo que “se por acaso tirarem a sua igreja, ele irá para as praças, se o prenderem, ele pregará nas prisões, ninguém o fará parar”. (BITUN, 2007: 49-50)

Page 92: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

83

Claramente Valdemiro faz referência a disputa por fiéis entre IURD e IMPD, a

“guerra” acirra-se cada vez mais, se por um lado Valdemiro acusa a IURD de

perseguição, por outro, a IURD acusa o apóstolo de falta de fé e caráter. Não é raro ver

em seus programas entrevistas com ditas “entidades demoníacas” que afirmam controlar

e dominar o Apóstolo da IMPD33.

De fato a disputa entre as duas igrejas e a necessidade de mais investimentos

para manter-se no mercado religioso, tornou a venda de artigos religiosos e campanhas

para arrecadação lugar corriqueiro nas Igreja Mundiais. Meias, martelos, tijolos, fronha,

palmilhas, chaves, tijolinhos, colher de pedreiro e tantos outros utensílios contribuíram

com a expansão de Valdemiro Santiago.

A IMPD em franco crescimento, em 2012, já tinha inaugurado 3.200 templos34,

é atingida por dois grandes golpes, a reportagem da Record intitulada “O Apóstolo

Milionário” faz graves acusações a Valdemiro Santiago. Na reportagem veiculada no

programa Domingo Espetacular foram apresentados documentos de compras de duas

fazendas no Mato Grosso, em nome da Igreja Mundial do Poder de Deus, arrendadas

pela empresa W.S Music Ltda., de propriedade de Valdemiro e sua esposa, o valor da

compra era de 49 milhões de reais.

A reportagem explicou que quando uma propriedade é arrendada o movimento

financeiro, assim como seu lucro, fica a cargo de seu arrendador, que no caso é a família

Santiago. A reportagem calcula que Valdemiro lucra aproximadamente 6,5 milhões com

as fazendas. Na matéria, ainda foram mostrados supostos bens do apóstolo, entre eles

estavam, carros de luxo, helicópteros, aviões, mansões etc.35

Valdemiro não demorou para responder as acusações feitas a ele e sua família,

alegou que era inocente de todas as acusações, e todos os bens patrimoniais mostrado na

reportagem eram da igreja e a serviço somente dela, ainda assim acusou a Rede Record

de receber 800 milhões anualmente da IURD, contra “apenas” 50 milhões da IMPD,

também convidou o jornalista Marcelo Rezende a visitar um dos templos da IMPD,

segundo o apóstolo o jornalista estaria precisando de oração, uma vez que não se

estabelece em nenhuma emissora.

33O chamado. Absurdo: Edir Macedo entrevista demônio que acusa Valdemiro Santiago e a Igreja Mundial. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NbWXLgEEFJk. Acesso em: 5 de junho de 2014. 34 Segundo publicação no site oficial da Igreja Mundial do Poder de Deus. Disponível em: http://www.impd.org.br/portal/index.php?link=institucional. Acesso em: 26 de Maio de 2012 35 O Apóstolo Milionário. Domingo Espetacular. São Paulo: Rede Record. 18/03/2012. Programa Televisivo.

Page 93: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

84

Mesmo com as respostas a IMPD sentiu um golpe forte, que foi procedido de

outros, como o fechamento de inúmeros templos por falta de pagamento. Em Janeiro de

2013 o Ministério Público paulista inicia uma investigação por suposto crime de

lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, com problemas financeiros a IMPD corta vários

canais televisivos e desiste das Cidades Mundiais de São Paulo e Paraná, que fecharam

por decreto de órgãos públicos pela inadequação as leis estaduais36.

Além das “perseguições públicas” o apóstolo precisou lidar com o desvio de

verba de sua própria igreja, segundo a revista “Isto É”, cerca de trinta milhões de reais

são desviados pelos pastores todo o mês, um esquema que envolve até mesmo o seu

braço direito bipo Josivaldo Batista, responsável pela administração financeira de IMPD

e amigo pessoal do apóstolo. O bispo foi afastado de seu cargo e transferido para a filial

da igreja em Portugal.

Em 21 de outubro de 2013 a Rede 21 rompe o contrato com a IMPD alegando

falta de pagamento das 22 horas alugadas por eles, em 8 de novembro a Rede 21 para de

exibir as programações da TV Mundial para exibir programações do mesmo grupo

Terra Viva. No fim de 2013 os dividendos da IMPD eram enormes, dados do Serasa

apontavam a existência de 378 protestos contra a igreja, em uma dívida total de R$

9.478,900, 195 pendencias financeiras, no valor de R$ 127.109,00; ainda existia 20

cheques sem fundos e 13 sustados nos últimos meses.37

A inadimplência da IMPD com as programações da Rede Bandeirantes, geram

atritos com a família Saad, dona da rede, tornando inviável o processo de compra da

Rede 21, ou mesmo qualquer outra negociação desse tipo. Ainda segundo a matéria da

“Isto É Independente”, a Igreja Mundial do Poder de Deus pede uma indenização de

200 milhões, alegando rompimento unilateral de contrato, afirmando que uma clausula

possibilitava honrar o compromisso em até 45 dias após da data de vencimento38.

Enquanto o apóstolo Valdemiro lutava contra rachas na igreja, desvios de dinheiro,

inadimplência, a IURD aluga o espaço da Rede 21, dando a impressão que, pelo menos

nessa batalha, o bispo Macedo sagrou-se vencedor.

36 CARDOSO, Rodrigo. A Espera de Um Milagre. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/331588_A+ESPERA+DE+UM+MILAGRE, acesso em 5 de junho de 2014. 37 CARDOSO, Rodrigo. Uma Igreja com Contas Bloqueadas. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/350111_UMA+IGREJA+COM+CONTAS+BLOQUEADAS+, acesso em: 5 de junho de 2014. 38 Ibidem.

Page 94: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

85

Atualmente a Igreja Mundial transmite seus cultos na TVZ filiada a Top Tv com

sinal somente digital no canal 55.1, emissora nova inaugurada em 04/06/2013, mas as

transmissões realizadas pela Mundial Tv, hoje são menos expressivas do que no

passado, somente duas horas e meia de programação diária. Para tentar superar a crise,

Valdemiro Santiago constantemente apresenta-se em programas dedicados a classe C,

público alvo da Igreja, ele já apareceu no programa de seu antigo desafeto Ratinho,

Luciana Gimenez, Silvio Santos, entre outros.

3.1. A cura divina na Igreja Mundial do Poder de Deus. Afim de compreendermos melhor todo o prospecto da IMPD é necessário

discutir suas crenças e teologias, a intenção do tópico é apropriar-se do discurso da

IMPD para comparamos em qual grau existe a reprodução do mesmo na igreja local em

estudo, se há alguma modificação e adequação da mensagem, ou se ele é reproduzido de

maneira integral.

Sendo impossível abordar todas as doutrinas e teologias empregadas nos cultos

da igreja, optamos por escolher as doutrinas e práticas mais recorrentes nos programas e

mensagens do apóstolo, dessa forma observando a teologia da cura divina dentro do

escopo do discurso da IMPD. A cura preconizada pela IMPD acontece em um ambiente mágico, os sequazes

ali presentes, inseridos na cosmovisão encantada do mundo, acreditam na ideia de duas

forças antagônicas que disputam a alma humana, explicam o mundo através da

dominação dos deuses e entendem que o apóstolo tem poder para dominar tais forças.

Aliais é possível que o próprio título apostólico remeta a construção mítica

entorno do sujeito Valdemiro Santiago, não é à toa que, assim como todos os heróis

mitológicos, Valdemiro possui um chamado especial por Deus, dificuldade em aceitar

esse chamado, um mito fundador, o naufrágio, um nêmeses bispo Edir Macedo e IURD,

além de sofrer, segundo ele, constante perseguição, mas tudo em prol de sua missão

Santigo não desiste afirmando que o povo precisa dele.

A prática de cura é antiga e faz parte do imaginário social, todos os povos e

civilizações tinham pessoas especializadas e separadas para curar, e normalmente elas

representavam forças sacralizadas, espíritos, homens e mulher que poderiam manifestar

o divino.

Page 95: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

86

A cura divina não é algo novo nem na magia, nem na religião, muito menos no cristianismo. O próprio Cristo, em vários relatos bíblicos demostrou seu poder de cura por onde que andasse. Curou paralíticos, cegos, surdos, mudos e toda a sorte de doenças características em seu tempo. (BITUN, 2010:128)

O movimento pentecostal surge como uma nova interpretação da cura divina,

essa interpretação distancia-se tanto dos católicos como dos protestantes históricos e

inaugura um novo modelo de igreja.

Paul Freston propõe uma tipologia baseada em três ondas no desenvolvimento

do pentecostalismo, essa tipologia ajuda-nos no entendimento esse desenvolvimento ao

longo dos anos. (1996)

A primeira onda do movimento pentecostal é de 1910 a 1950, as principais

representantes desse período são: Congregação Cristã do Brasil e a Assembleia de Deus,

para Mariano suas principais características são: “anticatolicismo, pela ênfase no dom

de línguas e por radical sectarismo e asceticismo de rejeição do mundo” (MARIANO,

2004). Embora a ênfase dessas igrejas constituísse na ação do Espirito Santo nenhuma

delas ainda realizava curas divinas, foi apenas na segunda onda que a prática passa a ser

exercida e difundida.

A segunda onda, também chamada de pentecostalismo da cura divina, inicia nos

anos de 1950 e começo da década de 1960 com as igrejas: Igreja do Evangelho

Quadrangular, Igreja Evangélica Brasil para Cristo e Igreja Pentecostal Deus é Amor.

Os quarentas anos que separam o início destas duas ondas –primeira e segunda – justificam o corte histórico-institucional proposta para distingui-las. Quanto à teologia, entretanto, as duas primeiras ondas pentecostais apresentam diferenças apenas nas ênfases que cada qual confere a um ou outro dom do Espirito Santo. A primeira enfatiza o dom de línguas, a segunda, o de cura. (MARIANO, 1999:31)

Outra diferença entre igrejas da segunda onda e da primeira onda são os meios

evangelísticos, igrejas de segunda onda usam constantemente o rádio, cruzadas

missionarias, teatros e estádios para evangelização, além disso o espirito apolítico delas

é deixado de lado, ao contrário, as igrejas de segunda onda promovem política e

discursam que “crente vota em crente”.

A terceira onda é marcada no final de 1970, mas ganha força somente na década

de 80 com o surgimento das igrejas denominadas de neopentecostais, elas possuem uma

forte ênfase na teologia da prosperidade, a IURD é um ícone desse novo movimento,

Page 96: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

87

embora alguns autores a consideram como pentecostalismo tardio como é o caso de

Campos:

Em todos os modelos construídos, a Igreja Universal do Reino de Deus, como parece ser obvio para todos, é classificada como uma igreja “neopentecostal”. Preferimos considerá-la também como um pentecostalismo tardio, cuja especificidade está justamente em adequar a sua mensagem às necessidades e desejos de um determinado público. Trata-se de uma igreja que atua dentro de um quadro de pluralismo religioso, cuja estratégia é localizar nichos de pessoas insatisfeitas, provocando nelas estímulos diferenciados a fim de atrai-las para novas experiências religiosas. (CAMPOS, 1997:52)

Outras igrejas da terceira onda são: Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja

Renascer em Cristo, Comunidade Paz e Vida, Igreja Sara Nossa Terra, entre outras. As

igrejas de terceira onda, seguindo o exemplo das igrejas de segunda onda, concentraram

seus investimentos em compras e alugueis de horários televisivos, o grande apelo a

teologia da prosperidade e o crescimento do mercado “gospel”, com produtos voltados

inteiramente para os fiéis.

A mídia, o mercado e o entretenimento – indicam que o gospel não se restringe a um movimento musical; ele tem sim, na música um elemento forte, articulador, mas é muito mais do que isso. O que ocorreu nos anos 90 no Brasil foi uma explosão do gospel como um movimento cultural religioso, de um modo de ser evangélico, com efeitos na pratica religiosa combinadas em contextos socioculturais os mais variados, o que torna possível uma unanimidade evangélica não-planejada sem precedentes na história do protestantismo no Brasil. Essas vivencias são expressas por meio da música, do consumo e do entretenimento. (CUNHA, 2007:231)

A IMPD mescla aspectos de igrejas da segunda e terceira onda, o que o autor

Ricardo Bitun chamou de “Remasterização”, a IMPD apresenta a cura divina aliada a

uma forte teologia da prosperidade, o que possibilita uma convergência entre esses dois

aspectos, por isso a necessidade de esboçar algumas palavras sobre tais teologias.

Já é aceito que não há possibilidade de definir uma teologia para o movimento

pentecostal e neopentecostal, o mais aceito é a existência de pentecostalismos e

neopentecostalismos, cada qual com suas especificidades, a cura divina surge como uma

inovação nascida nos Estados Unidos da América e influencia os movimentos

pentecostais.

Page 97: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

88

O grande pregador desse movimento é Kenneth Hagin, nasceu em McKinney,

Texas. Tornou-se pastor da Igreja Assembleia de Deus americana, igreja que se desligou

para seguir um ministério independente. É autor de 52 livros, entre eles o mais celebre

“O Nome de Jesus” que tem influenciado muitos líderes religiosos como: Missionário

R.R Soares, Apostola Valnice Milhomens, Apóstolo Rene Terra Nova, Pastor André

Valadão, etc.

Ela foi trazia em solo pátrio por meio de pregadores, livros e cursos que eles realizam aqui ou até mesmo por líderes neopentecostais que, indo aos Estados Unidos em busca de direitos autorais em feiras e congressos, tomam conhecimento da literatura e do impacto que eles estão causando por lá e trazem exemplares para o Brasil. (BITUN, 2010:135)

O movimento da Cura Divina credita a doença, a pobreza, os males humanos nas

ações demoníacas, cujo foco é tirar todo o potencial humano que Deus estabeleceu. Por

esse pensamento, constantemente a cura divina está ligada a práticas de exorcismo.

Coloque a mão no seu coração e faça silencio [...] a presença de Deus é forte em nosso meio, e as doenças e demônios estão sendo sufocados pelo poder de Deus. Onde tiver um espirito mau, você vai ouvir o seu grito de derrota. Espirito de morte, de câncer, suicídio, depressão, espirito de miséria, separação, destruição, dê seu grito de derrota demônio! (ALMEIDA, 2010:08)

Essa alocução do próprio Valdemiro em um culto da IMPD demonstra a ligação

entre cura e exorcismo, associa-se doenças a obras demoníacas. As igrejas

neopentecostais, nesse caso a IMPD usam formas maniqueístas e atribuem o corpo

humano como território dessa luta, não é à toa que Kenneth Heign diz:

Deus quer que vivamos o período integral da nossa vida, aqui em baixo, sem enfermidades e sem doenças [...] não é da vontade de Deus que fiquemos doentes [...] não disse que o diabo não me atacou. Mas antes de findar o dia, já estou curado. Quando o diabo me ataca, digo-lhe: “satanás, estas enfermidades foram carregadas no corpo de Jesus. Você não tem o direito de trazer a imagem delas para cá a fim de me assustar. Agora pegue as suas coisas, ponha-as na mala e sai daqui”. (1985:222-225)

Edir Macedo afirma em seu livro: “Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou

demônios” que todo o mal proveniente desse mundo é originário do diabo. O pregador,

nesse sentido trabalha como mediador do sagrado, é ele que conhece as palavras certas

Page 98: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

89

para a ministração da cura, é ele que tem o poder de manifestar o sagrado expulsando o

mal do fiel.

Não é difícil imaginar por que a teologia da cura divina, atrelada ao problema do mal, é um dos meios de crescimento mais utilizados pelos pregadores neopentecostais, em particular a Igreja Mundial do Poder de Deus. Estamos em um país onde o atendimento público é precário, o “bom atendimento médico” é quase inacessível por grande parte da população e as políticas públicas de saúde são fundamentadas em um modelo excludente. Essas situações ainda são agravadas por diversas violações às leis ambientais, poluição, falta de saneamento básico, altíssimas taxas de doentes mentais, neuroses, psicopatias e sociopatias de uma população submetida a um estado de miséria, violência, além de diversos distúrbios sociais. (BITUN, 2010:135)

Muito por influência da Igreja Universal do Reino de Deus, os relatos de curas

na IMPD sempre vêm acompanhados de fotos, documentos, laudos médicos do antes e

depois, que comprovaria a veracidade do poder da cura realizada na igreja. A cura na

IMPD é muito mais que uma dadiva divina, mas também simboliza salvação, doenças

que são consideradas incuráveis pela medicina como: câncer, leucemia, paralisia, entre

outras, na igreja de Valdemiro encontram seu final, constantemente há relatos de

pessoas “desenganadas” pela medicina, declaradas mortas pelos médicos, que ao

ouvirem ou tocarem em algum objeto consagrado da Igreja Mundial do Poder de Deus,

são milagrosamente curadas.

A cura pregada pelo apóstolo Valdemiro, não vem somente através de

exorcismo e orações, mas de símbolos “ungidos” como a fronha dos sonhos, que

garante uma noite de descanso ao fiel, martelo da justiça, capaz de dar “causa ganha” a

qualquer julgamento na justiça, toalhinha embebida no suor de Valdemiro Santiago, que

possui poderes curativos, além desses existem rosas, tijolos, chaves, cajados e inúmeras

outras formas de objetos, que fetichizados contribuem para a ambientação da cura.

O cristão deve, portanto, colocar sua fé em ação e se tornar um sócio de Deus. Isso é feito quando o adorador se compromete a “devolver” aquilo que é de Deus, ou seja, o dizimo. Deus, em contrapartida, garantirá as bênçãos da cura e o sucesso no empreendimento. (CAMPOS, 1997:368)

Valdemiro Santiago garante que a cura não acontece somente pela fé do sequaz,

mas também através da sua própria fé. Não é incomum ouvi-lo dizer “se não tem fé para

ser curado, venha pela minha”, essa atitude reforça ainda mais o carisma dele com os

adeptos que buscam e depositam no apóstolo Valdemiro e na Igreja Mundial do Poder a

esperança para a cura de suas mazelas.

Page 99: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

90

Nas práticas de cura utilizada por muitas igrejas o paralelo entre magia e religião

se estabelece quase que inevitavelmente, obviamente não queremos aqui identificar, ou

estabelecer que a prática de cura no xamanismo39 e no neopentecostalismo sejam iguais,

entendemos que religiões diferentes produzem conceitos e práticas de curas diferentes,

mas é inegável que o neopentecostalismo possui seus próprios ritos mágicos.

No neopentecostalismo as fronteiras entre religião e magia são fluidas:

Neopentecostalismo, ao integrar largamente o uso de símbolos aos seus rituais, e ao enfatizar interpenetrações e influências reciprocas entre campos e esferas de uma lógica mais formalista havia demarcado como espaços separados, torna também fluidas as fronteiras da magia e religião40

No neopentecostalismo o ato de cura é associado ao exorcismo de demônios,

esse poder geralmente é coligado ao pastor, bispo, apóstolo, obreiro, missionário etc.

Eles são elementos centrais é através deles que todo o processo de cura se inicia,

podemos dizer que: esse mago não é uma pessoa qualquer, mas aquele que possui um

determinado poder e que através de técnicas especificas controla forças ocultas

direcionando-os a fins específicos como, por exemplo curar doenças. (GUERREIRO,

2003:13)

Podemos observar isso nos relatos dos fiéis que são curados nas igrejas da

IMPD, a cura é sempre atribuída ao apóstolo Valdemiro Santiago ou um dos bispos e

pastores da IMPD, em um programa da Igreja Mundial do Poder de Deus uma mulher

afirma: é só a unção do apóstolo que pôde curar minha irmã41, segundo o relato sua

irmã foi curada de câncer e HIV pela IMPD.

A eficácia das práticas magicas na IMPD só é funcional à medida que os adeptos

da igreja assumem a crença na qual o apóstolo Santiago possui força o suficiente para

realizar tal ato. Levi-Strauss afirma que a crença na magia acontece em três aspectos, a

crença do feiticeiro na eficácia de suas técnicas, a crença do doente que o feiticeiro é

39 Xamanismo é um conjunto de crenças ancestrais que engloba práticas de magia e evocações para estabelecer contato com o mundo espiritual. O xamanismo é um fenômeno religioso que confere ao xamã a capacidade de entrar no mundo espiritual, assim, ele adquiri a habilidade de curar doenças, afastar o mal, predizer o futuro, etc. 40ORO, Aro Pedro. Neopentecostalismo: dinheiro e magia. In. ILHA- Revista de antropologia, v.3, n°1, novembro. 2001,p.71-85. Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/14957/15665. Acesso em 22 de julho de 2013.p.83. 41 Cura de Câncer e HIV. 2009.IMPD Mundial. Visto em 22 de julho de 2013. Proveniente da World Wide Web. http://www.youtube.com/watch?v=U6-PpLcPCcM.

Page 100: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

91

capaz de cura-lo e a crença coletiva no poder do feiticeiro (1985:194). Assim de forma

análoga, as curas procedentes da IMPD acontecem pela crença do apóstolo Valdemiro

em suas técnicas, a crença dos prosélitos que vão até seus templos e cultos, e a crença

dos fiéis da igreja na magia/fé empregada por Valdemiro Santigo na vida daqueles em

que ele toca.

A cura não acontece somente pelos ritos mágicos da IMPD, mas pela

legitimação na pessoa de Valdemiro Santiago, tanto o fiel, quanto a comunidade

precisam estabelecer um contrato com o apóstolo, esse contrato coletivo sanciona e

legitima as ações mágicas de Santiago, esse por sua vez franqueia o poder creditado

para seus obreiros, pastores e bispos. Os sequazes que procuram a Igreja Mundial do

Poder de Deus já vão condicionados e esperando que aconteçam curas, milagres e

manifestações do poder divino pelo apóstolo Valdemiro, e consequentemente estão

propensos a pagar, doar, ofertar e dizimar em busca dos milagres oferecidos pela igreja.

Nesse sentido nos lembramos das reflexões de Max Weber: a religião se

caracteriza pela submissão e serviços prestados à divindade, enquanto a magia é uma

coerção de Deus (1991:294), essa coerção é encontrada nas práticas do apóstolo

Valdemiro, seja no sopro na cabeça dos fiéis, na oração com imposição de mãos, na

consagração de óleo e águas “oradas” ou em inúmeros objetos veiculados pela IMPD.

Tudo contribui magicamente para a coerção da vontade divina em prol de benefícios

para os adeptos, ao mesmo tempo em que garante ao apóstolo capital simbólico e

legitimidade no campo religioso.

As relações entre magia e religião são às vezes muito mais continuidades e

complementariedades do que de exclusão. A visibilidade do mágico e a tensão existente

entre ambos os polos sejam mais perceptíveis porque o seu público alvo é formado de

pessoas em situações limites. Tais indivíduos experimentam as incertezas da vida

urbana, isso tudo cria oportunidade para o emprego de rituais que reduzem as incertezas

e restauram nos indivíduos a crença de que o mundo pode deixar de ser não-

manipulável e arbitrário. (CAMPOS, 1997:42)

A magia é elemento presente e recorrente na IMPD, Santiago usa do imaginário

simbólico e social para construir sua imagem de “homem divino” por meio de ritos de

cura e objetos que garantam ao fiel à continuidade da magia apresentada na igreja para

seu cotidiano, assim não existe um rompimento entre religião, magia e cura, o que

existe é uma amálgama desses elementos em favor do domínio do campo religioso

brasileiro.

Page 101: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

92

3.2. Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina: aspectos

históricos.

Em nossa pesquisa podemos perceber a inexistência de registros sobre a Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina. A igreja em estudo não possui nenhuma

Ata, documento de reuniões, assembleias, nada que possua uma memória institucional

que remontem ao passado recente da igreja. Nesse caso a pesquisa se apoiou nas

declarações de membros mais antigos da igreja, que ajudaram parcamente, a remontar

aspectos da constituição da história da igreja.

Segundo o obreiro 142, que está a dez anos congregando na igreja, desde 2004, a

igreja é fruto da necessidade de expansão. Segundo ele, quando chegou na igreja está

era autônoma e respondia somente a igreja sede, localizada em São Caetano do Sul,

mas, que antes disso, existia somente um pastor que administrava tanto a Igreja Mundial

do Poder de Deus em Vila Alpina, quanto em Vila Prudente.

O obreiro ainda relata que a igreja, como não tem um templo próprio, já passou

por muitos lugares, segundo ele, nesses dez anos a igreja já havia mudado 4 vezes de

lugar, principalmente em busca de alugueis mais baratos. As mudanças de espaços,

embora, sempre bem planejadas, pensando no acesso dos fiéis, sempre perto de pontos

de ônibus, lugares centrais e de fácil acesso, gera dificuldade em um trabalho continuo.

Eu não gosto de mudança, isso atrapalha muito, dá a impressão que sempre que mudamos de igreja o trabalho começa do zero, eu acho que o pastor devia comprar um terreno e ficar lá, mas as coisas não dependem dele né, daí a gente fica assim igual cigano. (Obreiro 1)

Nesse tempo de igreja o obreiro 1, e nenhum entrevistado, soube precisar

quantos pastores já passaram pelos púlpitos da igreja, mas todos afirmaram que o pastor

MN foi o primeiro que ficou anos à frente da igreja. Foi através do obreiro 1 que

soubemos a razão da vinda do pastor local e a baixa frequência de pessoas, segundo ele:

Antes do pastor (MN) tinha outro pastor na igreja, estava aqui a um ano, mais ou menos, mas ele saiu porque foi acusado de desvio de dinheiro, ele pegava os carnes do apóstolo (ofertas e dízimos dedicados ao pagamento do programa televisivo) e colocava a conta dele, tirava dinheiro do caixa da igreja e tudo mais. O bispo veio aqui e conversou com ele e tirou ele da igreja, alguns obreiros espalharam isso para a igreja e muita gente saiu. (Obreiro 1)

42 Entrevista realizada dia 15/04/2013, nas dependências da IMPDVA as 18:20.

Page 102: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

93

O pastor MN assume a igreja com o objetivo de apaziguar a situação e

reestruturar a igreja que estava prestes a fechar, o obreiro comenta que o pastor MN

pegou uma igreja administrativamente difícil, devendo muito dinheiro de aluguel, água,

luz, com poucas pessoas e menos ainda dizimistas.

Com essa situação a igreja sede decide formar uma parceria com eles, arcando

com as despesas do aluguel, pagando as contas essenciais como luz e água, mas

anualmente essa ajuda iria diminuir, a ideia é que a igreja conseguisse de reerguer, com

a ajuda do pastor em pouco tempo.

Dessa forma a Igreja Mundial do Poder de Deus passa por uma reestruturação,

comandada pelo pastor MN, que tem como objetivo entregar essa igreja revitalizada,

além disso, é preciso fidelizar novos adeptos, que não possuem o ranço das pessoas que

saíram, enquanto estimula-se as pessoas que ficaram a permanecer na igreja, ganhando

sua confiança.

3.3. Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina Indicadores

Sociais.

O distrito de Vila Prudente abarca uma serie de bairros: Jardim Avelino, Parque

Vila Prudente, Quinta da Paineira, Sítio da Figueira, Vila Alpina, Vila Bela, Vila

Califórnia, Vila Lúcia, Vila Prudente, Vila Zelina. Como bairro Vila Alpina não se

diferencia muito de suas coirmãs, as características herdadas do distrito, ou até mesmo

da cidade, Vila Alpina sofre do retrato das desigualdades, visivelmente, podemos

perceber casas e condomínios de alto padrão cercados por residências de autoconstrução

e loteamentos clandestinos.

Nos próximos parágrafos analisaremos os indicadores socioeconômicos obtidos

na pesquisa de campo, através das entrevistas e questionários, aspectos como:

escolaridade, idade, etnia, local de nascimento, renda familiar e moradia. É nosso

objetivo ainda explanar sobre o perfil religioso dos adeptos da IMPD em Vila Alpina,

que analisaremos mais afrente.

Page 103: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

94

3.3.1. Faixa etária Gráfico 2

Gráfico 3: Pirâmide etária – Vila Alpina

Fonte: IBGE: Censo 2010, Subprefeitura de Vila Prudente.

3%

15%

12%

6%

3%

6%

9%

12%

15%

18%

20% 15% 10% 5% 0 0 0 0 0

0 a 9 Anos

10 a 19 Anos

20 a 29 Anos

30 a 39 Anos

40 a 49 Anos

50 a 59 Anos

60 a 69 Anos

70 a 79 Anos

Mais de 80 Anos

Pirâmide Etária dos Membros da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

Page 104: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

95

Ao comparamos a pirâmide etária de Vila Prudente com a IMPDVA podemos notar que

a igreja tem maior número de indivíduos adultos em relação ao bairro. As crianças e os

jovens possuem muito mais densidade do que na igreja, onde quase não existe jovens e

a ausência de um grupo considerável de crianças.

Embora não se tenha entrevistado nenhuma criança na pesquisa, e com isso, elas

não apareceram durante a confecção do gráfico, podemos salientar que, durante as

pesquisas de campo, não se notou a presença significativa de crianças e jovens, durante

os cultos e reuniões, a média da frequência de jovens e crianças está em 5 por culto,

número ainda muito baixo se comparado a outras religiões e igrejas.

Ainda assim existe um adensamento de mulheres na igreja acima de 40 anos,

enquanto os homens se sobressaem como grupo característico acima dos 30 anos, ou

seja, dez anos a menos que o grupo das mulheres. Como já é característico em muitas

igrejas, a proporção entre mulheres e homens não é balanceada, existindo mais

mulheres, quase o dobro delas, frente aos homens. Característica essa, que na pirâmide

demográfica do bairro não é destacada, principalmente porque tanto, homens como

mulheres estão em proporções equivalentes.

A pirâmide etária nos traz um indicativo importante, pois expressa quem são as

pessoas que frequentam a IMPDVA, o público majoritário da igreja é constituído de

mulheres em meia idade, algumas mulheres idosas, poucas jovens e crianças, do lado

masculino o público de maior composição está entre os 30 e 49 anos, igualmente com

poucos jovens, adolescentes e crianças.

3.3.2. A distribuição por Cor

Comparando as médias nacionais étnicas, a IMPD em Vila Alpina tem um

número significativo de pessoas que se declaram pardas 51%, como demostra a tabela

abaixo. Ao contrário do que popularmente se considera, os pardos não se localizam

entre os grupos de brancos e negros, geralmente, nos indicadores socioeconômicos, os

pardos encontram-se um pouco acima dos negros, mas muito distantes dos brancos.

(BRANDÃO, 2004:16)

Page 105: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

96

Gráfico 4

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Pesquisa de Campo.

Ainda sobre essa questão Oracy Nogueira relata que questões étnicas no brasil

estão mais vinculadas com a cor da pele do que propriamente com a origem de sua

ascendência. Segundo essa interpretação, a concepção brasileira da cor da pele definiria

socialmente o indivíduo, e serviria de base para preconceitos e discriminações. Segundo

Schwartzman: Isto permitiria que as pessoas “passassem” com mais facilidade de uma

categoria racial a outra e, ao mesmo tempo, reduziria a coesão e identidade interna

dos grupos étnicos ou raciais. (1999:84).

Embora Schwartzman afirme que a passagem de “categoria” possa servir como

fator inibidor da coesão social, o alto índice de pardos na IMPD em Vila Alpina,

demonstra sinais diferentes, talvez a identidade com a cor de pele do apóstolo

Valdemiro Santiago, ou mesmo com a presença do pastor carinhosamente apelidado de

MN, tenha incentivado uma coesão identitária diferente de outros grupos religiosos.

Portanto a igreja mostrar uma quantidade significativa de pardos, que

apresentam-se nos indicadores sociais mais próximos dos pretos, desse modo, os

pardos, de maneira geral, expõem uma taxa de vulnerabilidade social maior em relação

ao grupo branco.

3.3.3. Escolaridade

0

10

20

30

40

50

60

Branca Preta Parda

Distribuição Percentual por Cor ou Etnia, Segundo os Grupos Religiosos - Brasil - 2010

Catolica Evangelica de Missão Evangelica Pentecostal IMPD em Vila Alpina

Page 106: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

97

Ao analisar o nível de escolaridade da IMPD em Vila Alpina notamos que está

bem abaixo das médias do bairro, mesmo assim o nível de escolaridade da igreja é

superior à média nacional de igrejas evangélicas de tradição pentecostal. A escolaridade

paterna e materna nos membros da IMPD também se destacou pelo baixo índice de

escolaridade, somente 29% tinham completado o ensino fundamental.

Para Bourdieu os recursos culturais familiares possuem preponderância sobre os

econômicos na definição do desempenho e dos percursos escolares (1998:89), dessa

forma o capital social adquirido, os bens culturais objetivados, os valores e disposições

com relação a cultura, somam-se na aquisição, ou não, de uma cultura escolar, que, por

sua vez, influência nos índices de vulnerabilidade social.

Embora os indicadores de escolaridade apresentam-se como uma significativa

evolução em relação aos pais, ainda é baixa a adesão escolar por parte da maioria das

pessoas pesquisadas na IMPD em Vila Alpina, o número obtido no campo da pesquisa

apresenta-se no gráfico abaixo.

Gráfico 5

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Pesquisa de Campo

6,8

3,6

6,2

1,8

6,7

6,4

39,8

30,7

42,3

15

39,2

38,4

18,3

19,7

21,3

14,7

20,2

32,5

25,1

33,4

25,5

36,5

25,2

17,3

9,3

12,1

4,1

31,5

8,2

5,4

0,5

0,6

0,7

0,5

0,5

0

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Católicos

Evangelicos de Missão

Evegelicos Pentecostais

Espiritas

Sem Religião

IMPD Vila Prudente

Percentual de pessoas de 15 Anos ou mais de idade por nivel de intrução (%)

Não Determinado Superior Completo

Médio Completo e Superior Incompleto Fundamental Completo e médio incompleto

Fundamental Incompleto Sem Instrução

Page 107: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

98

O nível de instrução da igreja, mesmo sendo melhor que a média nacional entre

das igrejas de origem pentecostal, ou mesmo, maior que a escolaridade paterna ainda

está aquém das perspectivas do bairro como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 6

Fonte: Infocidade, Censo demográfico 2010

Em quanto a média do distrito para pessoas que concluíram o ensino

fundamental está em 20% de sua população, somente na IMPD em Vila Alpina esse

número sobe para 32,5%. O número de escolaridade também é baixo nos índices do

ensino superior, enquanto a porcentagem do distrito é de 10,10 % completaram o ensino

superior, somente 5, 4% das pessoas da igreja completaram o ensino superior.

3.3.4. Rendimento

O indicador social de rendimento é influenciado pelos anos de estudo, não é

surpresa que o rendimento de cada família tende a ser menor quanto menor for a média

de tempo estudado pela família. A IMPDVA tem rendimento domiciliar entre 1 e 3

salários mínimos compatível com a média de anos de estudo familiares.

Mesmo em um lugar central no bairro, fácil localização e transporte, de maneira

geral, é uma igreja empobrecida, sem uma arrecadação expressiva, com dificuldades

para quitações de despesas básicas como: água, luz, telefone e aluguel. Nessa

perspectiva os pastores muitas vezes apelam para contribuições mais constantes e

17%

20%

9%

41%

3% 10%

População de 15 anos ou mais por nivel de instrução - Vila Prudente

Fundamental Incompleto

Fundamental completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior incompleto

Superior Completo

Page 108: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

99

ofertas mais opulentas, não é raro ouvir dos pastores e obreiros que a igreja sede,

localizada em São Caetano, arcou com as despesas, existe uma grande pressão, da parte

do bispo e pastor, para que a igreja desenvolva-se para ser autossustentável, as ameaças

de fechamento do templo ou mesmo um lugar menor e mais longe são permanentes nos

cultos.

Como demostra o quadro abaixo o rendimento dos adeptos da IMDPVA é bem

inferior se comparado a outras religiões, como os adeptos do espiritismo, também é

inferior aos evangélicos de origem pentecostal, evangélicos de missão e da média do

próprio bairro. Dessa forma o grupo de IMPDVA tem seu poder de compra reduzido em

relação aos outros grupos, o que garante, um quadro a ser formado de pessoas em alta

vulnerabilidade social.

Gráfico 7

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Rendimento Domiciliar - Pessoas com 10 anos ou mais (%)

Catolicos Evangelicos de Missão Evangel. De Origem Pentecostal

Espirita Sem Religião Distrito de Vila Prudente

IMPD em Vila Prudente

Page 109: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

100

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010, Fundação SEADE, Pesquisa de Campo.

3.3.5. Sobre a Migração

A questão da migração foi medida sobre dois aspectos, a origem de nascimento

dos pais e local de nascimento do entrevistado, portanto consideramos migrantes nessa

pesquisa, as pessoas dos dois grupos, ou seja, tanto aquelas que nasceram na UF, mas

seus pais não, quanto aquelas que efetivamente não nasceram na UF, mas em um

determinado momento mudaram-se para São Paulo.

Segundo os dados do censo 2010 existem hoje no bairro 46.940 mil pessoas,

dessas 46.530 mil são homens e mulheres nascido no país, portanto, 6.901,00 mil

pessoas não nasceram na cidade de São Paulo, ou seja apenas 14,8% da população

residente em Vila Alpina são pessoas em mobilidade migratórias.

Quando analisamos o contexto dos membros da IMPDVA notamos que esse

número é o dobro do apresentado no bairro, 30,3% dos membros da igreja não nasceram

na cidade, o número pode ser maior quando comparamos com o lugar de nascimento

paterno e materno 57,5% das pessoas tem em sua origem outras localidades como

mostra o gráfico.

Gráfico 8

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010, Pesquisa de Campo

85,2

14,8

POPULAÇÃO RESIDENTE MIGRANTE EM VILA ALPINA

População Residente em Vila Alpina Migrantes Residentes em Vila Alpina

Page 110: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

101

Gráfico 9

Outro indicativo importante pesquisado é o tempo de residencia de cada

participante, que permite ao pesquisador estabelcer um parametro de assentamento ao

migrante, bem como, relacionar o nivel de vulnerabilidade e compreender as redes

sociais presentes entre eles.

O grafico abaixo demonstra os anos de residencia em comparação com os

migrantes em Vila Prudente.

Gráfico 10

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010, Pesquisa de Campo

53%

16%

31%

População Migrante e de origem Migratória

IMPD Vila Alpina

Migrantes em IMPD

De origem migratoria

3,40%

2,80%

5,63%

5,20%

82%

10%

0

30%

40%

20%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 120,00%

Menos de 1 ano

De 1 a 2 Anos

De 3 a 5 Anos

de 6 a 9 Anos

Mais de 10 Anos

População em (%) com tempo ininterrupto de residencia

Migrantes em Vila Alpina Migrantes em IMPD

Page 111: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

102

Embora a grande maioria da população residente em vila Alpina esteja morando

no bairro a mais de 10 anos, não podemos considerar que o maior índice entre os

membros da IMPDVA de 6 a 9 anos seja exatamente baixo, mas a relação entre

residência e tempo de moradia pode gerar estigmatização pelos moradores mais antigos,

aqueles indivíduos que não faziam parte do grupo, simplesmente são excluídos.

(NORBERT e SCOTSON, 200:66) a grande maioria dos membros pesquisados

declarou não morar no bairro de Vila Alpina, somente 39% dos entrevistados moram no

bairro, sendo que 61% deles afirmam morarem nos bairros satélites, como Vila Zelina,

Jardim Avelino, Sitio da Figueira, Vila Lucia, Vila Califórnia.

A pesquisa também aferiu a origem dos migrantes da IMPD tanto de sua UF

natal, a seguir demostramos o resultado colhido:

Gráfico 11

O resultado encontrado entre os membros da IMPDVA demonstra um elevado

índice de pessoas provenientes do UF do Espirito Santo, isso pode ser explicado pela

rede familiar encontrada na igreja, onde o contato familiar, bem como a facilidade já

encontrada de alguns recursos facilita a escolha do destino do migrante, pois, já

encontra no destino uma estrutura já formada, mesmo que ela seja parca.

Page 112: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

103

A população pesquisada na IMPD de Vila Alpina é um exemplo do que os

estudos censitários e PNAD tem demostrado ao longo dos anos, um arrefecimento das

migrações inter-regionais e um assentamento dos migrantes, podemos sinalizar que a

população estudada da IMPD é migrante, em sua maioria já estabelecidos, nos bairros

com domicílios próprios ou alugados a bastante tempo, em muitos casos em processo de

autoconstrução. A seguir demostraremos os números obtidos da residência dos

pesquisados.

3.3.6. Domicílios alugados e próprios.

Ainda que a casa própria seja maioria no total de domicílios no País, o ritmo de

crescimento no número de casas ou apartamentos alugados teve um destaque no cenário

nacional nos últimos anos, segundo informado pelo IBGE, em um universo estimado de

58,5 milhões de unidades domiciliares, foram registrados 43,136 milhões de domicílios

próprios, o que representa cerca de 73,6% do total. Os números de domicílios próprios

representam um aumento de apenas 0,6% em relação ao ano anterior, no caso dos

domicílios alugados, o número chegou a 9,952 milhões somente no ano passado, o que

representa 17% do total e 4,3% a mais que o registrado anteriormente.

Seguindo a tendência, o grupo pesquisado da IMPD em Vila Alpina, conforme

os dados coletados representam 51,5% residem em casa aluga, os membros da igreja

dividem-se dessa maneira:

Gráfico 12

48% 52%

Domicilios Próprios e Alugados pelo Número de Amostra frequente na

IMPD em Vila Alpina (%)

Residentes em DomicíliosPróprios

Residentes em DomicíliosAlugados

Page 113: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

104

Para fins metodológicos consideramos cômodos domiciliares, todas as divisas de

espaços construídos no limite espacial da habitação do pesquisado, isso inclui, quartos,

salas, cozinhas, banheiros e todo espaço que o indivíduo utilize em sua residência. Na

pesquisa de campo notamos que havia muita confusão em diferenciar os cômodos, por

isso optamos por um questionário que abrangesse todas as divisas residenciais

mencionadas pelo pesquisado.

Os estudos contemporâneos frequentemente associam as características da

moradia à saúde dos seus moradores, a literatura nacional apresenta uma boa quantidade

de bibliografia a esse respeito (VALLADARES & MEDEIROS, 2003), além disso,

destacam-se trabalhos que associam moradia e políticas públicas habitacionais ao

escopo da vulnerabilidade social e a exclusão do migrante e pobre, sendo uma prática

histórica da formação de zonas urbanas, como já discutimos no 1° e 2° capítulo dessa

dissertação.

Nessa ótica os dados obtidos na pesquisa de campo apresentam-se conforme o

gráfico abaixo:

Gráfico 13

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010, Pesquisa de Campo

Os gráficos supracitados não demostram uma disparidade em relação a

população de Vila Alpina, ainda é importante notar que a maiorias das pessoas

entrevistadas consideram adequada sua situação domiciliar, cerca de 74% dos

0,94%

4,60%

16,89%

22%

20,73%

14,09%

8,56%

12,19%

0,00%

3%

15,15%

30,30%

24,40%

12,12%

15,15%

0,00%

D O M I C Í L I O S C O M 1 C Ô M O D O

D O M I C Í L I O S C O M 2 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 3 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 4 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 5 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 6 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 7 C Ô M O D O S

D O M I C Í L I O S C O M 8 C Ô M O D O S O U M A I S

DOMICÍLIOS POR NÚMERO DE CÔMODOS POR FAMÍLIA (%)

Vila Alpina IMPD em Vila Alpina

Page 114: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

105

entrevistados responderam positivamente a sua situação residencial, a considerando

adequada para sua condição, 83% respondeu que não consideram uma mudança de

domicilio nos próximos anos.

Mesmo com esses números altos de satisfação residencial, é possível detectar

um elevado número de famílias que vivem em privação intradomiciliar, segundo os

critérios comumente utilizados na construção de índices de necessidades habitacionais,

considera-se domicílios superlotados aqueles que possuem três ou mais moradores por

dormitório (RICCI, 1973).

Ao total de dormitórios são acrescentados dois outros cômodos de apoio, que serviriam como cozinha e sala. Nota-se, entretanto, que as questões sobre idade e composições familiares não nucleares não são captados. Entende-se que a saída precoce da casa dos pais, no caso Holandês, justificaria o pressuposto de um dormitório para cada dois filhos e também a abordagem da idade dos membros da família nuclear. Mas, no Brasil, em consequência da frequente coabitação familiar e da postergação da saída da casa dos pais, será necessário considerar um maior número de dormitórios para as famílias grandes, bem como a análise da idade dos membros. 43

Dessa forma, mesmo levando em consideração acréscimos de mais cômodos na

contagem final dos membros da IMPD, cerce de 39% dos entrevistados moram em situação de

privação domiciliar, ou seja, sua residência possui mais de 3 pessoas por cômodo. A pesquisa

realizada não acusou nenhuma falta de infraestrutura na residência dos pesquisados, as

infraestruturas de agua, luz, esgoto, pavimento encontram em plena ordem de todas as

residenciais pesquisadas.

3.4. Análise dos indicadores sociais

Consensualmente a noção de vulnerabilidade socioeconômica vem sendo utilizada por

diversos autores como sinônimo de risco social, fragilização, exclusão, entre outros. De fato a

noção de vulnerabilidade resulta no não atendimento às necessidades de sobrevivência dos

indivíduos, principalmente no que diz respeito a precariedade habitacional, seja em virtude das

condições socioeconômicas, perda dos vínculos sociais ou na negação da aquisição dos direitos

sociais.

43 GIVISIEZ, OLIVEIRA. Gustavo Henrique, Elzira Lucia. Privacidade Intradomiciliar: um estudo sobre as necessidades de ampliações em residências. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982013000100010. Acesso em 10 de junho de 2014.

Page 115: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

106

Sarah Escorel afirma que a vulnerabilidade social é uma possibilidade de transição da

condição de pobre para indigente, (1999:17), nesse caso a vulnerabilidade social pode ser

entendida como mobilidade social descendente, onde o indivíduo, em geral, desloca-se para a

condições mais extremas da vida humana.

Kowarick se refere a vulnerabilidade social como “vulnerabilidade civil”, demostrando

a existência de condições decorrentes da perda ou da ausência de direitos na sociedade (2002),

segundo ele, os indivíduos vivenciam a vulnerabilidade, pois, não teriam alcançado direitos

sociais básicos. A vulnerabilidade, dessa forma, não pode ser considerada como uma exclusão

social de fato, mas um processo complexo de fragilidades que ao longo dos anos, gera exclusões

sociais.

Os indicadores sociais obtidos através dos questionários respondidos pelos fiéis da

IMPD em Vila Alpina demostram a existência de processos de vulnerabilidade civil, a baixa

renda familiar, a migração interestadual, a pouca instrução educacional e a densidade domiciliar

corroboram para um quadro de fragilidade social.

Desses processos da vulnerabilidade o que carece de mais atenção é a questão salarial,

sem um rendimento familiar adequado muitos membros da IMPD passam por dificuldades

financeiras, muitos deles caminham até suas casas para evitar gastar em condução, soma-se a

isso a pressão feita pelo pastor para alcançar as metas estabelecidas como o pagamento do

aluguel, que constantemente atrasa.

Embora os membros saibam de sua fragilidade financeira não existe qualquer comoção

entre eles para ajuda mutua, quadros de serviço, dicas de onde trabalhar, comuns em muitas

igrejas, na IMPD em Vila Alpina são inexistentes, apenas há algumas poucas cestas básicas

destinadas aqueles que são obreiros, mas de forma geral isso não é oferecido a todos, fica a

critério e disposição do pastor.

Nos parece que não existe laços fortes o suficiente para que haja uma construção social

que mobilize o grupo a reivindicar seus direitos, ou mesmo na organização de qualquer projeto

que estimule o aumento do estudo e do rendimento familiar. Quando perguntados sobre o baixo

rendimento, muitos deles repetiram o discurso do pastor, atribuindo a questão salarial a

condições metafisicas, obediências a ritos pré-definidos pela igreja, testemunhos inspiradores e

vontade divina.

Por outro lado a IMPD funciona como coesão social, os fiéis da IMPD em Vila Alpina

identificam-se com o apóstolo, para eles Valdemiro Santiago é um homem que venceu na vida,

identificação é estabelecida pela construção imagética do líder da IMPD. Com o seu chapéu, sua

fala crua, seu jeito “roceiro”, além da sua história no campo mineiro, muitos dos migrantes

reconhecem nele um par, uma pessoa que assim como eles, lutou para vencer os obstáculos

paulistas. Dessa forma Valdemiro é ungido, não somente pelos milagres, curas e historias

maravilhosas, mas pelo fato de ter vencido a metrópole, ter conquistado seu espaço, e, de certa

Page 116: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

107

forma, assim como Cristo em meio a tempestade, colocado ordem ao caos urbano, no qual o

migrante é jogado todos os dias.

3.5. Perfil Religioso dos membros da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

Ainda nos debruçamos sobre os dados obtidos na pesquisa de campo, mas agora com

um enfoque especifico na análise do perfil religioso dos membros da IMPDVA. Esses dados são

importantes para uma melhor analise de quem é fiel da igreja, e sua trajetória religiosa. Com os

dados obtidos esperamos compreender melhor o funcionamento dos símbolos e signos religioso,

além de como eles interagem com os fiéis.

Consideramos então que o perfil sociológico amalgamado com a perfil religioso nos

dará noção, ou menos captação da tendência de quem são os fiéis, para com isso uma elucidação

prática cúlticas vivenciadas no ambiente eclesial.

3.5.1. Permanência na igreja e estado de pertença. A tabela a seguir indica o tempo de permanência do fiel na IMPDVA, em uma

perspectiva de transito religioso, saber a permanência desse fiel a igreja constitui-se em um

indício importante para o sentimento de pertença vivenciado pela comunidade.

Gráfico 14

Os resultados demostram a existência de um grande grupo que está a pouco tempo

participando das atividades na igreja, a pesquisa apontou que esse grupo é formado por pessoas

58%

15,15%

21,21%

6,06%

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

DE 0 A 3 ANOS

DE 4 A 6 ANOS

DE 7 A 9 ANOS

10 ANOS

Tempo de Permanência (em anos) dos Fiéis da IMPDVA

Page 117: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

108

membros da igreja, enquanto o grupo com a segunda maior presença de pessoas é formado,

exclusivamente por obreiros e obreiras da igreja.

Podemos notar que quanto maior os anos dedicados a IMPDVA mais denso é o

sentimento de pertença, sendo maior também o nível de comprometimento com a igreja, ou seja,

é bem provável que o grupo maior tenha um baixo nível de associativismo e pertença religiosa,

diferentemente do segundo grupo, maior, no qual todos participam, de alguma forma, para a

manutenção e conservação da IMPDVA.

Por isso é importante considerar não somente o tempo de permanência dos fiéis da

IMPDVA, mas também sua frequência nos cultos e reuniões semanais, para dessa forma,

considerar a existência de pessoas em mobilidade religiosa.

3.5.2. Frequência nas reuniões

Uma das muitas heranças deixadas pela IURD para a igreja do Valdemiro tem sido sua

forma organizacional dos cultos, igualmente os cultos na IMPDVA são realizados três vezes ao

dia, as 08hs00, as 15hs00 e as 19hs00, exceto aos sábados e domingos que possuem um horário

diferenciado.

Com a quantidade ofertada de cultos e reuniões religiosas os adeptos da IMPDVA não

ficam sem horários disponíveis, esse aspecto muda a dinâmica eclesial, uma vez que não existe

um horário, ou dia da semana especifico para o culto. O poder clerical em determinar os

horários e dias de cultos em favor de sua demanda, passa, agora, pela mão dos leigos, são eles

que determinam os horários que irão frequentar, adaptando sua rotina aos horários estabelecidos

de culto.

Page 118: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

109

Gráfico 15

Assim como o gráfico anterior podemos dividir os frequentadores da Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina em dois grupos, o primeiro, a maioria

54,54% formado por pessoas que frequentam a igreja, mas não necessariamente

possuem um maior vínculo religioso com a vida eclesial, o segundo grupo, aqueles e

aquelas que frequentam a igreja 3 vezes na semana e somam-se em 31% são

constituídos, basicamente de obreiros/as da igreja, com uma responsabilidade maior e,

inclusive, trabalhando voluntariamente em favor do culto.

Gráfico 16

3% 6%

27%

27%

31%

3%

3%

Número (%) de fiéis que Frenquantam a IMPDVA

1 Vez por Mês

2 Vezes por Mês

1 Vez na Semana

2 Vezes na Semana

3 Vezes na Semana

4 a 5 Vezes na Semana

Todos os Dias

36,00%

30,00%

21,00%

3,00%

10,00%

NÃO FREQUENTA OUTRAS IGREJAS OU RELIGIÕES

FREQUENTA REGULARMENTE OUTRAS IGREJAS OU RELIGIÕES

FREQUENTA ESPORADICAMENTE OUTRAS IGREJAS OU RELIGIÕES

VISITA OUTRAS IGREJAS OU RELIGIÕES REGULARMENTE

VISITA OUTRAS IGREJAS OU RELIGIÕES ESPORADICAMENTE

Frequência de Fiéis da IMPDVA em Transito Religioso

Page 119: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

110

O maior grupo é de pessoas quem não frequentam nenhuma outra igreja além da

IMPDVA, notamos que a maioria dele é constituído de homens e mulheres que fazem

parte do corpo de obreiros da igreja, porém ainda existe um grupo que declara que visita

outras igrejas, tanto esporadicamente, quanto regularmente. Demostrando assim que o

quadro de membros da IMPDVA é bem rotativo.

Essa rotatividade pode estar relacionada a muitos fatores, desde as mudanças do

quadro pastoral, a mudanças de local da própria igreja, a vulnerabilidade no qual o

membro é submetido (embora na pesquisa do perfil sociológico demostre que não é esse

o caso), mudança de casa, bairro e cidade, enfim, uma série de fatores que corroboram

para um aumento da mobilidade religiosa da igreja.

Essa mobilidade religiosa influência diretamente a dinâmica da igreja, uma vez

que seus líderes são forçados a trabalhar variados aspectos e víeis religiosos, a

desqualificação de outras igrejas e religiões por parte pastoral é um indicio de um

campo religioso em constante disputa pelo cooptação do sentimento de pertença e

subjetividade do fiel que adentra no templo.

As igrejas ou religiões que aparecem frequentemente como visitadas pelos

membros são: Assembleia de Deus (34%), Igreja Universal do Reino de Deus (22%)

Igreja Internacional da Graça (22%), Igreja Pentecostal Deus é Amor (12%),

Comunidade Paz e Vida (10%).

3.5.3. Origem Religiosa

Outro ponto importante para uma maior compreensão dos membros da

IMPDVA é sua origem religiosa, ou seja, qual a religião ou igreja de origem desse fiel,

infelizmente não há tempo hábil para estabelecermos um itinerário religioso de cada

fiel, permitindo uma análise mais precisa da história desse individuo, mas nos

questionários apresentados pudemos notar que, em alguns casos, existe um longo trajeto

religioso antes de chegar na IMPDVA.

Dessa forma pudermos constar que a origem religiosa do IMPDVA provém das

seguintes igrejas ou religiões:

Page 120: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

111

Gráfico 17

Através do gráfico podemos perceber que a maioria dos membros da IMPDVA proveem

de uma cultura religiosa, mais precisamente, de uma cultura evangélica ou gospel, entretanto

existe outro grupo que proveem de outras religiões ou, ainda não possuía anteriormente nenhum

vínculo religioso, criando um grupo heterogêneo dentro da igreja.

O mosaico religioso encontrado na igreja assume grupos distintos, o grupo que está em

mobilidade religiosa encontrado na IMPDVA tem sua pertença já absorvida pela cultura gospel,

ou seja, o sentimento de pertença dessas pessoas é muito mais através da cultura que permeia o

cenário religioso brasileiro do que um vínculo associativo a uma só igreja, o que garante sua

transitividade por várias denominações ou mesmo religiões.

Quase que o oposto, as pessoas que proveem de origens não cristãs ou do catolicismo

nominal, aderem à igreja e seus sistemas de valores de maneira muito mais aguda, dando

primazia a IMPDVA ou mesmo exclusividade, pode-se contatar que a maioria das pessoas que

possuem vínculos religiosos mais densos, como é o caso dos obreiros e obreiras (66%) não

possuem uma origem religiosa vinculada as principais igrejas pentecostais.

3.6. Análise do perfil religioso

Podemos destacar que o perfil religioso da IMPDVA é multifacetado, contudo,

destacamos, o que nos parece, a existência de três grupos que predominantes, o primeiro, e

maior, é constituído de pessoas que frequentam a igreja a pouco tempo, e portanto ainda não

possuem um sentimento de pertença em relação a igreja, foi verificado que esse grupo possui

uma longa trajetória na cultura gospel, frequentando várias denominações ao longo dos anos.

21%

18%

15%

9%

12%

9%

3%

11%

IGREJA CATOLICA APOSTÓLICA ROMANA

IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS

IGREJA SÃO JOSÉ DE VILA ZELINA (IGREJA …

IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS

ESPIRITISMO

ESOTERISMO

SEM VÍNCULO RELIGIOSO DE ORIGEM

Origem Religiosa dos Fiéis da IMPDVA

Page 121: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

112

Dessa forma, esse grupo tem a tendência de transitar entre as instituições religiosas44, não se

apoiando exclusivamente em uma denominação especifica, ou mesmo em uma única religião.

O segundo grupo, bem menor que o primeiro, é formado de pessoas, em sua maioria,

que não possuem uma experiência religiosa anterior, ou seja, sua conversão se deu através dos

cultos na IMPDVA, convite de um dos membros, ou mesmo de algum culto televisionado do

apóstolo Valdemiro, assim sua pertença religiosa está mais associada aos valores, éticas e moral

empregado pela igreja, mesmo assim, encontramos algumas pessoas que declaram visitar outras

denominações que estão mais próximas de sua residência.

O terceiro grupo encontrado na igreja é formado estritamente por obreiros e obreiras,

eles são o grupo que possui maior vínculo com a igreja, doando seu tempo, com maior número

de frequência na igreja, dispostos a despenderem de maior quantidade de dinheiro, com maior

tempo de permanência entre todos os grupos, é com esse grupo que o pastor tem mais abertura e

influência, mas esse tipo de atitude não tem, necessariamente paralelo com ser obreiro ou não,

na pesquisa de campo notamos que pessoas que apresentam esse comportamento tendem a ser

convidadas pelo pastor para torna-se obreiro/a da igreja.

Entendemos que não existe um perfil único de fiel na igreja, capaz de abarcar

um modelo arquétipo, dessa forma, a intenção é compreender como, e, de que forma, os

modelos cúlticos estabelecem um sentimento de pertença e geram uma identidade

religiosa em relação aos outros grupos, ou modelos religiosos.

3.7. O culto da IMPD em Vila Alpina: espaços, Usos e Costumes

A seguir analisaremos um culto típico na IMPD, considerando ser típico, uma descrição

construída a partir de vários elementos que aconteceram ao longo de diversas visitas a igreja45.

Segundo Weber o uso do conceito de tipo ideal é:

A sociologia constrói [...] conceitos de tipos e procura regras gerais dos acontecimentos [...] A sociologia deve delinear tipos “puros” (“ideias”) dessas configurações, os quais mostram em si a unidade consequente de uma adequação de sentido mais plena possível, mas que, precisamente, por isso, talvez sejam tão pouco frequentes

44 Infelizmente por absoluta falta de tempo e espaço nessa pesquisa, não nos ateremos ao transito

religioso encontrado entre os frequentadores da igreja, por isso, uma maior explicitação ou análise do

porquê da existência de um transito religioso tão intenso dentro da igreja, será apresentado em pesquisas

futuras, apenas nos ateremos em apontar a presença desse grupo.

45 No total foram trinte e seis cultos acompanhados em um total de 6 meses acompanhando a comunidade em vários cultos e reuniões distintas.

Page 122: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

113

na realidade quanto uma reação física calculada sob o pressuposto de um espaço totalmente vazio. (1991:12)

Na IMPD os cultos ocorrem em vários horários ao longo do dia, normalmente as

8hs00, as 15hs00 e as 19hs30, seu público possa variar ao longo dos períodos do dia e

dias da semana, eles, basicamente seguem uma mesma ordem e um mesmo tom, sendo

direcionado para o mesmo “público alvo”. Dessa forma uma “tipologia ideal” parece

plausível de ser feita, uma vez que as estruturas dos cultos não diferenciam, apenas

mudam de acordo com o tema proposto para aquele dia ou mesmo aquele culto

especifico.

3.7.1. O espaço Cúltico

Em nossa pesquisa de campo frequentamos dois templos diferentes da Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina, o primeiro encontrava-se na rua Costa

Barros, n° 63, uma das ruas principais do bairro, por onde passa diversas pessoas ao dia.

Já seu novo templo está localizado na mesma rua, mas em local diferente, no número

296 ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus.

Page 123: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

114

Foto 1:Antigo Templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

Antigo Templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina. Foto tirada do Google Maps. Abril

de 2013

Foto 2:Novo Templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

Camuçatto, Daniel. Arquivo pessoal, 2014

Primeiro lugar analisarei o antigo templo, e posteriormente discorrerei sobre o

novo templo, acrescentando elementos que mudaram pela vinda desse novo templo.

A IMPD em Vila Alpina é parecida arquitetonicamente com as diversas Igrejas

Mundiais do Poder de Deus espalhadas pelo país, basicamente tem um formato

Page 124: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

115

retangular, com o púlpito no fundo da igreja, suas portas são de aço e não tem qualquer

tipo de pintura e identificação. A identificação fica por conta de adesivos colados na

porta de vidro que dá para a igreja, ou para os banners com a imagem do apóstolo

Valdemiro.

Ao entrar na igreja pode-se perceber uma velha pintura azul e branco precisando

de retoques, com o branco já amarelando, essas cores já são características da IMPD

simulando, no coletivo social, o habitat de Deus. Nota-se também a existência de

espaços sem reboco, ou mesmo no cimento puro, o chão da igreja, também não está em

boas condições, focos de umidade, lâmpadas queimadas dão um tom de um lugar mau

cuidado, a pergunta que se segue é se a igreja não tem condições de fazer a manutenção

regular do templo, ou se é apenas uma má organização por parte da liderança local.

Observa-se também que a igreja possui duas alas de cadeiras de plástico com

forros personalizados da IMPD em Vila Alpina, novamente os tons azuis e brancos se

repetem, o número de cadeiras é de trezentas pessoas, embora nenhuma vez em minhas

visitas tenha visto o espaço lotado com as trezentas pessoas.

Não havia nenhum tipo de janelas nas paredes, para circulação de ar eram

usados ventiladores brancos, eles estavam instalados nas paredes três de cada lado,

como eles eram de uso doméstico com um volume maior de pessoas os ventiladores não

conseguiam, de forma bem-sucedida, fazer o ar circular. Ainda na parte da frente da

igreja, ao lado do púlpito, ficava uma porta, ali as pessoas não tinham acesso, era a

cozinha, existia geladeira, fogão armário, uma pequena despensa, era destinado ao uso

do pastor, sua família os obreiros. Na parte do fundo ficavam os banheiros, separados

entre mulheres e homens, eram grandes com duas divisórias de vaso sanitário, dois

mictórios, e duas pias, papel para enxugar a mãos e avisos para não sujar o banheiro

pois era pecado, havia um aviso para usar somente duas folhas para secar a mão porque

a igreja estava cortando custos e quem pagava por tudo aquilo era os dízimos e ofertas

dos irmãos da igreja.

No púlpito, dois metros acima do nível do chão, existe um painel mostrando uma

imagem com águas e arvores, em seu centro uma grande mesa com um vidro cheio de

azeite, algumas flores num vaso, e um pano branco sobre a mesa. Na frente do púlpito

as pessoas colocam fotos de parentes, casas, roupas próprias ou de outras pessoas, com

a finalidades do pastor e dos obreiros orarem sobre esses objetos. Perto do púlpito na

parte de baixo, existia uma mesa com CDs, DVDs, livros e outros objetos que são

Page 125: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

116

entregues aos visitantes pela primeira vez, ou ofertados mediante a uma quantia de

oferta para ajudar no pagamento do aluguel.

Não existe qualquer recurso de músicas como instrumentos, todas as músicas

tocadas durante as reuniões são reproduzidas em um computador ligado nas caixas de

som da igreja ao lado do altar, o pastor tem a função de conduzir as músicas e escolhe-

las para tocarem no culto, sem qualquer auxilio de Datashow ou retroprojetor,

comumente usados nas igrejas, as músicas são escolhidas durante o culto, o pastor

simplesmente seleciona as músicas em uma lista do computador.

A baixo podemos perceber um simples esquema da estrutura da igreja:

É interessante notar que o templo da IMPD em Vila Alpina é unidirecional, logo

sua utilização está vinculada somente ao ato cúltico, não existe nenhuma outra ocasião

em que a igreja é utilizada, festas, casamentos, palestras, cursos, reuniões, não são nem

sequer mencionados, essas interações sociais não existem na vida eclesial da IMPDVA.

Sem a utilização do espaço da igreja para outros fins o senso comunitário tende a

enfraquecer-se, em geral o enfoque dado nos cultos é sempre sobre espiritualidade e

vida privada, poucas vezes a noção de igreja e comunidade foi mencionado, também

não há nenhum ambiente que possibilite um convívio mais íntimo, ou que estimule o

Page 126: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

117

diálogo, entre os membros da IMPD, é natural as pessoas que frequentam a igreja

saírem ao final do culto sem nenhum tipo de interação intrapessoal.

Mesmo que não haja uma interação entre os sequazes, a classe obreira da

IMPDVA goza do privilégio de acesso a lugares como copa e cozinha, lá eles podem

comer e ter um momento para conversar, além disso, ainda contam com um espaço de

cursos direcionados para eles e ficam após os cultos para arrumar o templo e ouvir a

orientação do pastor para os próximos cultos, em geral, eles são mais próximos e

convivem mais uns com os outros.

3.7.2. Novo Templo, Antigos Elementos.

Com os constantes atrasos e o aumento do aluguel, ficou inviável a permanência

da igreja no mesmo local, o pastor MN, em conversa informal, revelou-me que essa era

uma orientação do bispo, eles precisavam sair do espaço até fevereiro de 2014. A

mudança aconteceu antes que o previsto, janeiro de 2014, o templo muda para a mesma

rua Costa Barros, no mesmo lugar, mas agora no n°296, ao lado da Igreja Universal do

Reino de Deus. Onde, antigamente funcionava uma loja de acessórios.

Em termos de espaço é notável que a novo templo é menor, herdando diversos

elementos da antiga igreja como, as cadeiras, o púlpito, o altar, o painel, os

equipamentos de som, etc. a diferença está no cuidado do espaço, agora as paredes

apresentam tintura nova, nenhum tipo de mofo ou ponto descascando, não há

desbotamentos visíveis, além do aspecto interno, foi trabalhado a fachada da igreja,

trocando as portas de vidro por novas, banners com a imagem do apóstolo Valdemiro e

placas e faixas na igreja.

Ao analisar o novo espaço, não existe novidade em sua essência, apenas

mudanças estéticas, a igreja é ainda usada somente para finalidades cúlticas, não há

nenhum espaço de socialização entre a membresia, em suma, o novo local é muito

parecido com o anterior, só não é exatamente igual devido ao tamanho reduzido e a

disposição dos banheiros que agora ficam na frente, no lado direito do púlpito.

Se não houve mudanças significativas em relação ao uso espacial, ao menos

pudermos corroborar com a tese que apresenta-nos o espaço como uma construção

social (ABUMANSSUR, 2004:70), a percepção do espaço como ambiente diferenciado,

ou exclusivo para cultos, por parte da membresia, ou mesmo sem o apoio da liderança

Page 127: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

118

religiosa é um habito adquirido, subjetivado, no qual mantêm-se uma relação de

reverencia, santificando o espaço e a quem nele domina.

3.8. Etnografia da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina.

A fim de demostrar o que é um culto típico da IMPDVA considero ser a sexta-

feira a reunião ideal para isso, embora os cultos aos domingos de manhã tenham uma

maior quantidade de pessoas, é na sexta feira que a maioria dos membros frequentes da

igreja se reúnem, em relação as demais reuniões da semana é o culto com maior apelo,

tanto sobre as práticas espirituais de curas e milagres, carro chefe das Igrejas Mundiais,

quanto nas práticas de consumo de quinquilharias religiosas.

Em um dia normal chego na IMPDVA as 19hs00, trinta minutos antes do culto

dar início, a igreja, embora não possua um estacionamento, muitas pessoas estacionam

seus carros dentro do templo, entre as cadeiras e o banheiro, há espaço para 10 carros, e

um lugar especial para o carro pastoral. Mesmo de carro, e com lugares a disposição,

percebi que os membros que tinham veículos não estacionavam seus carros na igreja,

apenas alguns obreiros e membros que possuíam motos, que ocupam bem menos

espaço.

Ao entrar na igreja sou recebido por um obreiro que me dá as boas-vindas,

pergunta como tenho passado e me dá uma toalhinha com as inscrições da igreja e um

copo de água, esse objeto pode variar dependendo do dia, ou mesmo da temática do

culto, houve momentos em que recebi um pedaço de peixe frito, algemas feitas de

cartolina, pão, e muitos outros objetos dependendo da dinâmica do culto.

Ainda com meia hora para começar o culto quase não há pessoas na igreja, em

minha primeira contagem existiam dez pessoas, contanto com a presença dos obreiros.

Normalmente as pessoas que chegam a igreja tem uma das três reações, oram em voz

baixa ou em silencio, conversam, principalmente se estão acompanhadas, leem a bíblia,

muito embora essa atitude seja mais rara de se ver, pois a maioria não carrega a bíblia.

Os obreiros circulam entre os bancos conversando com as pessoas, é comum ver

pessoas chegarem mais cedo para pedir oração para os obreiros/as, ou mesmo colocar

fotografias, peças de roupas, chaves de casas e carros, carteiras de trabalho, no púlpito,

as orações feira pelos obreiros/as são rápidas, não duram mais que um minuto, e é

Page 128: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

119

sempre por algo especifico, mesmo quando os membros pedem orações pela vida delas,

os obreiros/as pedem para que eles especifiquem o pedido.

Aos poucos as pessoas vão chegando na igreja, muitas mulheres, algumas

acompanhadas de crianças, poucos homens, e quase nenhum jovem, suas vestimentas

são simples, calça jeans e camiseta, algumas mulheres usam saias, alguns homens as

vezes vão de camisa, mas em geral a roupa padrão é jeans e camiseta, nenhuma roupa é

chamativa, todos procuram estar com roupas neutras sem nenhuma marca de grife ou

algo do tipo.

Aos obreiros/as é reservado uniformes, calça preta ou azul escuro, camisa branca

ou azul, gravata vermelha para os homens e lenço vermelho para as mulheres e sapato

preto, obreiros/as que vem diretamente do trabalho, vestem-se rápido, na maioria das

vezes não conversam com ninguém sem o uniforme, muitos já comparecem as reuniões

com o uniforme, ao serem questionados sobre o uso dos uniformes eles responderam

que “ é motivo de orgulho”, a maioria possui mais que dois conjuntos de uniformes em

suas palavras “o uniforme é o reconhecimento que somos obreiros, sem ele somos

pessoas comuns”(obreira 8).

As 19hs28 o pastor aparece da cozinha e começa a conversar com as pessoas, ele

faz brincadeiras, conta piadas e provoca um clima de descontração. As 19hs28 o pastor

coloca uma música instrumental baixa e as pessoas começam a ficar em silencio,

algumas baixam a cabeça, aquelas que estavam orando de joelhos sentam nas cadeiras e

os obreiros/as que circulavam entre as pessoas posicionam-se no corredor ou na frente

perto do púlpito.

O culto tem início as 19hs40 minutos, com cerca de 35 pessoas, até o final do

culto esse número sobe para 42 em média, o pastor vai até a mesa do notebook muda a

música, mas ainda é instrumental, e com a voz empostada começa a orar, o conteúdo da

oração é sua petição e abnegação diante de Deus, de não ser merecedor de estar ali, faz

referência ao seu “passado pecador” e insiste não ser digno de conduzir o culto, mas

reconhece que ele está ali somente pela graça e misericórdia de Deus, e que se Deus

levantou-o para ser pastor e o “tirou do lamaçal de lama” que Deus podia usá-lo

poderosamente para realizar milagres.

Em meio as orações pastorais o grupo fecha os olhos, pessoas gritam “amém”

outros “gloria a Deus e “misericórdia”, pela sugestão pastoral há um clima de contrição,

algumas pessoas choram, outras balbuciam frases, mas ninguém fica aquém ao clamor e

oração feita pelo pastor.

Page 129: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

120

Logo após a oração o pastor MN diz “eu tenho um leão dentro de mim, e hoje

quero passar esse leão o rei da natureza para vocês, vocês confiam em mim? Acreditam

no meu ministério? Acreditam que sou um verdadeiro servo de Deus?” Para todas as

perguntas feitas pelo pastor MN as pessoas diziam “amém”, com uma resposta de

confirmação e apoio, ele pede para que as pessoas formem uma fila para que pudesse

abraça-los, enquanto um dos obreiros coloca uma música sobre força e confiança, as

pessoas formam um fila e vão ao encontro do pastor, ele as abraça e unge suas cabeças.

Após abraçar a última pessoa da fila o pastor diz “vamos louvar” e coloca uma

música de autoria do compositor e cantor Regis Danese “faz um milagre em mim”, em

seguida o pastor coloca uma música do grupo Trazendo a Arca que se chama “Marca da

Promessa”, o pastor escolhe uma terceira música, agora da pastora Ludmila Ferber

“Sonhos de Deus”.

É interessante notar que todas as músicas fazem referência a curas e milagres, o

pastor acompanha a música cantando junto, e muitas vezes, usa palavras ou frases de

efeito da canção antecipando e dando destaque a frase, contribuindo para que as pessoas

cantem com mais animo, é bastante comum o pastor MN pedir para as pessoas

realizarem ações no intervalo das canções, seja repedir uma frase, que pode ser da

música ou não, mas sempre é uma frase de efeito, ou algum gesto, como bater palmas

para Jesus, levantar a mão bem alto, etc.

Os fiéis da igreja geralmente fecham os olhos, levantam as mãos para cima,

batem palmas e repetem todas as ações pedidas pelo pastor, mesmo aquelas pessoas

com uma clara dificuldade de ficar em pé por longos períodos permanece em pé durante

as músicas. Diferente dos fiéis da igreja, os obreiros/as permanecem de olhos abertos

durante todas as músicas, eles também circulam pela igreja, entre as cadeiras e oram

aleatoriamente pelas pessoas, colocando a mão em suas cabeças, costas, ombros, olhos,

boca, etc. existe, ao que parece uma orientação de cada obreiro/as somente orar com

pessoas do mesmo sexo. Ao contrário dos fiéis os obreiros sabem as músicas de cor e

cantam em voz alta, mesmo aquelas canções que o pastor toca pela primeira vez nos

cultos, demostrando que há um preparo dos obreiros/as sobre as músicas tocadas.

Com o termino da música o pastor MN começa a orar, mas agora pedindo a

Deus que expulse toda a enfermidade e “sorte de doenças”, ele pede para que cada

pessoa coloque uma das mãos no lugar enfermo, e as pessoas que não tem enfermidade

coloque uma das mãos no coração, com a outra pede para que levantemos “bem alto” o

Page 130: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

121

copinho com água que recebemos na entrada46. O pastor MN volta a orar, mas dessa vez

o enfoque está no copinho com água, ele pede para Deus ungir, abençoar, consagrar

esse copo com água, e mais uma vez faz menção de exortação de demônios e curas pela

fé dele e dos fiéis, pede também pelas famílias das pessoas que estão presentes e

intercede pelas fotografias, chaves de casas e carros e peças de roupas que estão sobre o

altar. Para finalizar a oração o pastor e todas as pessoas colocam suas mãos na cabeça e

repetem “sai” três vezes, movimentando com as mãos para traz da cabeça, o ritual

termina em uníssono “sai e não volte nunca mais”.

A rotina normal do culto estabelece que o pastor comece a pregar, mas também

pode ocorrer um testemunho de algum membro ou obreiro/a, ao contrário do esperado, a

IMPDVA não dedica muito tempo para os testemunhos, como acontece com a igreja

sede e nos programas televisivos do líder Valdemiro, dessa maneira os testemunhos são

esporádicos tendo mais espaço nas reuniões vespertinas.

É interessante notar que, embora o “carro chefe” da IMPD seja os testemunhos

públicos de curas e milagres, na igreja em Vila Alpina, esse tipo de narrativa é bem

pequeno, somente em dois cultos foi possível observar testemunhos de pessoas que

declararam curas milagrosas. Na maioria das vezes, os cultos que o pastor convida a

testemunhar, os relatos de cura são de: dores de cabeça, dores nas costas e pernas,

mudanças de empregos, cirurgias bem sucedidas, ou seja, testemunhos quase

corriqueiros em ambientes eclesiais.

O pastor MN abre a bíblia e pede para as pessoas abrirem no texto de Isaias

43.1-14, enquanto isso reconto o número de pessoas no local, dessa vez há 8

obreiros/as, 4 crianças, 17 homens e 22 mulheres, apenas duas adolescentes com cerca

de 14 a 16 anos. No total de 53 pessoas.

A maioria das pessoas não trazem a bíblia, os obreiros/as distribuem algumas

para que os fiéis possam acompanhar o pastor na leitura bíblica, o pastor lê de forma

pausada e emposta a voz, em determinados momentos ele para a leitura, e interage com

as pessoas “vocês estão entendo do texto?”, repete a pergunta três vezes durante a

leitura.

Após a leitura o pastor começa a ler novamente versículo por versículo e

vaguear pelas palavras, percebe-se que não existe um roteiro programado sobre a 46 Esse ritual dependendo do dia da semana, da temática do culto, ou mesmo daquilo que é entregue na entrada pode variar, mas o comum é usar os itens recebidos após três cânticos, o pesquisador já presenciou algumas variações do mesmo rito como: peixe frito, mel, sal, corrente de papel, etc. embora diferentes todos representavam a libertação do mal, a cura sobrenatural e a prosperidade financeira.

Page 131: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

122

pregação, nem tampouco um estudo mais aprofundado do texto, para preencher as

lacunas o pastor conta histórias de vida dele e do apóstolo Valdemiro, a mensagem em

si tem vários tons, começa com foco em animo, sobre como Deus não permitirá nada

toca-lo pois você é filho Dele, passa por âmbitos familiares como o cuidado com o

marido, arrumar a casa e cuidar das crianças, fala-se das boas práticas que a pessoa

cristã precisa ter no trabalho.

Em determinado momento da mensagem, o pastor pergunta quem é migrante,

muitas pessoas levantaram a mão, a maioria, ele diz ser filho de migrante e portanto

migrante também, ele então bate o pé no chão e diz “quem construiu São Paulo fomos

nós, São Paulo é nossa, Deus quer que tomemos posse de todas as coisas, inclusive de

São Paulo”, os presentes respondem amém, batem palma e vibram, indicando sua

aprovação e concordância com a pregação pastoral.

Com a mensagem concluída o pastor pergunta “posso pedir seu dizimo?”, nesse

momento os obreiros começam a bater palmas e excitar a congregação fazer o mesmo, o

pastor MN fala sobre como tem sido difícil pagar o aluguel de vinte e dois mil reais,

afirma que muitas pessoas tem lutado contra ele e contra a igreja, mas “em nome de

Jesus vamos vencer”, o pastor segue dizendo que com sua vinda a igreja, ela tem

economizado em água, luz e telefone, mas isso não basta, por isso a necessidade da

contribuição dos fiéis.

Ainda sobre os dízimos o pastor alega que eles precisam ajudar o programa do

apóstolo, mas que em primeiro lugar vem os carnes da própria igreja, chega a citar o

texto bíblico “primeiros os da família da fé”. O pastor continua, apresentando uma

toalha de rosto com a mão dele e de sua esposa pintada (lembra muito as toalhas que as

crianças de 1° serie fazem para suas mães), ele afirma que como servo de Deus sua mão

simboliza a mão de Deus, bem diferente da oração feita por ele no começo do culto,

sendo assim quando as pessoas limparem suas mãos, seu rosto, sua casa “estarão

invocando a benção de Deus na sua casa”, ele oferece as toalhas “gratuitamente”, mas

pede para aqueles/as que pegarem contribuíram com um valor mínimo de trinta reais,

em pouco tempo todas as toalhas se esgotam.

O pastor MN pede para que as pessoas segurem suas ofertas e dízimos na mão,

ou mesmo aqueles/as pessoas que não trouxeram nada ergam as mãos para cima, os

obreiros ficam perfilados na frente com as sacolinhas, envelopes de dízimos, cds, dvds,

e diversos outros produtos, apenas dois obreiros ficam na porta, o pastor chama uma

Page 132: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

123

obreira para orar sobre os dízimos e ofertas, ao final da oração as pessoas formam uma

fila para entregarem seus dízimos enquanto o pastor coloca uma música para tocar.

Quanto todos já estão sentados o pastor MN troca a música pela mesma do

começo do culto, mas dessa vez mais baixo ainda. Ele se despede e diz “digam tchau

para o pastor” as pessoas fazem o gesto de despedida balançando as mãos, mais uma

vez ele entrega o microfone para um obreiro para fazer a oração final, enquanto as

pessoas fecham seus olhos para a oração, o pastor sai da igreja rumo a cozinha/copa, ao

final da oração o obreiro se despede das pessoas e diz “até amanhã, a reunião será ainda

mais abençoada”.

São 21hs15 minutos quanto a oração acaba, os fiéis saem apresados, muitas

moram longe e apresam-se para pegar o ônibus em um ponto em frente à igreja, os

obreiros não conversam com ninguém, nem entre si, começam logo a arrumar as

cadeiras e recolher algumas coisas, algumas pessoas que querem falar com o pastor MN

vão a frente e esperam, outras caminhão até a esposa do pastor que está vendendo panos

de prato, bijuterias e peças de roupas intimas, ao sair da cozinha o pastor brinca com as

pessoas que estão comprando da sua esposa, ele diz “pode comprar na fé que já é

ungindo por mim”, vira-se para as pessoas que estão esperando por ele e começa a

conversar, geralmente são conversas rápidas e orações mais rápidas ainda, se ele

percebe que vai demorar pede para marcar um horário de atendimento com um dos

obreiros.

Terminado os atendimentos pastorais os obreiros/as já tinham fechado a igreja e

arrumado o templo, ele se reúne com o grupo e instrui para as reuniões de sábado e

domingo, instrui também sobre como proceder com uma obreira que “está dando

trabalho”, embora todos soubessem do que se tratava ele não tornou o assunto explicito.

Uma das obreiras traz um caderno de anotações com pedido de orações, outro obreiro

pega as roupas e fotos deixadas no púlpito e formam uma roda, colocam os objetos no

centro e oram, todos, em voz alta, sobre os pedidos, após isso o pastor MN despede-se

de cada um, entra no carro com sua esposa e vai embora, muitos seguem o pastor e fica

apenas uma pessoa para terminar de fechar a igreja e ver se está tudo apagado, desligado

e fechado.

3.9. Meu Negócio é com Deus.

Page 133: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

124

Não pudermos levantar mais dados sobre o pastor MN, isso porque o mesmo,

juntamente com sua esposa, faleceu no início do ano causado por um acidente

automobilístico47, dessa forma, embora tenha marcado várias vezes entrevistas com o

pastor, infelizmente ele nunca teve um espaço na agenda. O texto apresentado a seguir é

uma compilação de conversas informais com o pastor MN, observação de campo e

perguntas aos obreiros mais próximos dele. A notícia de sua morte, foi divulgada

principalmente através do Facebook da IMPD em nota oficial, algumas emissoras de

televisão e jornais na época também emitiram uma nota como o diário do vale.

Até onde pudermos averiguar o pastor MN transitou por muitas denominações

antes de chegar a ser pastor na IMPD, em sua trajetória estão a Igreja Assembleia de

Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus. Quando pastoreava a IURD, segundo ele já

insatisfeito com a igreja, um amigo que trabalhava diretamente com o apóstolo

Valdemiro convidou-o para pastorear uma igreja.

A primeira igreja que foi nomeado foi uma pequena igreja que estava

começando na serra do estado do Rio de Janeiro, segundo o pastor MN, seu ministério

nessa igreja floresceu e, em pouco tempo a igreja estava cheia, com isso foi realocado

em uma igreja maior, agora, uma IMPD em São João do Meriti, ainda no estado do Rio

de Janeiro.

Sua nomeação para a IMPDVA foi inesperada, ele afirma que não queria vir

para São Paulo e que pegou a igreja em péssimas condições, mas revelou que o bispo

regional conversou com ele e disse que precisava dele nesta igreja para levanta-la, assim

ele aceitou o desafio.

Nos cultos o pastor MN estava sempre muito bem vestido, trajando terno, sapato

e gravata, todas de ótima qualidade, as vezes até incondizente aos seus apelos pelas

questões financeiras da igreja. Não era raro ver o pastor com abotoaduras, coletes,

47Um dos acidentes foi no início de sábado, no quilometro 329, próximo ao distrito de Engenheiro Passos. Duas das vítimas fatais estavam no Vectra, placa DYC-1730 (Santo Andrés), que era conduzido pelo pastor “MN”, de 42 anos. Ele morreu na hora, junto com sua mulher, “Florzinha”, de 36 anos. Segundo parentes, o casal morava em Jundiaí (SP). Agentes da PRF apuraram que o pastor seguia sentido São Paulo quando teria perdido a direção do Vectra, atravessando o canteiro central e batido de frente na ambulância, placa KZT-7699, que prestava serviços a prefeitura de Resende. O motorista da ambulância, “A.V” da Costa, de 49 anos, também morreu no local. O corpo de foi liberado para sepultamento. No veículo estavam ainda Valdinei Augusto da Silva, de 31 anos, e o irmão dele, Sebastião Luiz da Silva, de 46 anos. Os policiais, porém, não souberam informar qual dos dois era o paciente que estava sendo transportados. Eles foram socorridos com ferimentos e levados ao Hospital de Emergência de Resende. (Diário do Vale, 2014)

Page 134: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

125

relógios ostentosos e anéis brilhantes, em um contraste grande entre aquilo que o pastor

vestia e as roupas simples dos fiéis da igreja. Quando perguntado o porquê das roupas a

resposta do pastor foi categórica: “as pessoas precisam saber que seu pastor é próspero e

essa prosperidade vem de Deus”, esse tipo de pensamento parece não ser tão verdade

quando comparado a sua esposa, mais conhecida como “missionaria Florzinha”, ela, ao

contrário do marido, vestia-se de forma muito mais simples, normalmente, nos cultos

diurnos e vespertinos acompanha as roupas padrões das pessoas da igreja, uma blusa ou

camiseta e calça jeans, somente nos cultos noturnos, ou aos domingos pela manhã havia

uma produção, no sentido de maquiagem, cabelo e roupas, mas ainda assim fica muito

aquém se comparada ao seu marido.

Na condução dos cultos o pastor MN procurava imitar o apóstolo Valdemiro, em

vários aspectos: a voz embargada e chorosa, a voz rouca, simulava muito bem

características do líder maior da igreja, além disso, era comum ver o pastor com uma

toalhinha passando em seu rosto, mesmo que ele quase não suasse.

Suas mensagens também se aproximavam daquilo que o apóstolo fazia nos

programas televisivos, uma mensagem simples, fazendo associações com o cotidiano,

assim como Valdemiro Santiago, durante as mensagens interagia muito com a igreja,

perguntando e afirmando “verdades bíblicas” ou “leis espirituais” como um processo de

repetição ou esperava que os fiéis completassem a frase e ditos populares expressados

por ele. O pastor alega que essa dinâmica é essencial no sermão “assim as pessoas

entendem melhor a pregação e saem daqui com a palavra na cabeça”. O processo de

repetição não está somente presente na mensagem, mas em todos os momentos do culto,

desde oração a palavras de efeito o pastor MN pede para que as pessoas repitam, as

vezes mais de uma vez as frases de efeito utilizadas por ele.

Em sua mensagem as referências sobre seu passado são comuns, geralmente

sempre cita a IURD em algum momento do culto, a referência, nesse caso é “a igreja da

pombinha”, é comum também ouvir sobre suas histórias antes da conversão,

normalmente contando alguma vantagem, sobre quantas pessoas ele já bateu na rua

lutando capoeira, quantas garrafas de cerveja ele conseguia beber, quanto ganhava em

seu emprego anterior ou mesmo com quantas mulheres já se relacionou, em todas as

narrativas ele termina dizendo “misericórdia Senhor, ainda bem que agora sou seu” ou

ainda “graças a Deus que eu me livrei disso tudo”.

Ainda em seus sermões há sempre uma forte afirmação de etnia, em uma de suas

mensagens ele diz: “quem disse que Jesus não era negro, igual nesses quadros ai que

Page 135: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

126

vemos um Jesus branquinho e olho azul, ele passou muito tempo no sol, era preto igual

eu, igual o apóstolo”, em outro culto afirma “quem trabalhou nessa vida foi os negros,

meus avós e bisavós, eles construíram isso aqui, os negros construíram o brasil e o

mundo, as pessoas tem preconceito, acham que aqueles que vem de fora não trabalham,

mas é essas pessoas que trabalham mais to errado? Não to não”.

Durante os cultos uma constante era a frase: “meu negócio é com Deus”, a

frequência com que o pastor usa essa frase é tão grande que podemos considera-la um

jargão. A expressão idiomática é usada principalmente para reafirmar uma ideia ou uma

independência de atitudes em relação as pessoas, ou modelos sociais já estabelecido

socialmente, mas que aos olhos pastorais não estão em conformidade com a palavra de

Deus, quando perguntado sobre a origem da frase o pastor respondeu “não sei, acho que

sempre falei ela, não é nada novo, nada demais, é somente algo que digo para expressar

minha fé em Deus”.

Ainda que o pastor MN diga que não é algo intencional, ou mesmo não

represente “nada demais”, a frase é marcante para os obreiros e fiéis da igreja, que a

repetem entre eles, em alguns momentos, e identificam a frase com a pessoa do pastor.

O pastor MN abre muito espaço para a participação dos obreiros, eles oram no

culto pelas ofertas e intercedem pelas pessoas da comunidade, em alguns casos podem

até mesmo pregar, caso esse do obreiro 1048, que pregava constantemente na igreja em

Vila Alpina. Talvez pelo tempo que o pastor MN ficou na igreja, cerca de quatro anos,

tempo incomum para a permanência de pastores na igreja, dessa forma percebe-se que

as relações de confiança, cumplicidade e afeto entre o pastor e os obreiros tenha

aumentado.

3.9.1. O Pastor do Amor

Como dissemos a pouco, infelizmente não acompanhamos a transição entre o

pastor MN e o pastor PL, porém podemos elencar algumas diferenças claras de atitudes

em relação a eles.

É importante ressaltar que em nenhum momento o pastor PL permitiu prosseguir

com a pesquisa, orientando que devíamos conversar com o bispo regional, do qual

nunca obtivemos resposta, o pastor PL recusou-se a ceder uma entrevista, ou mesmo 48 Todos da IMPDVA chamavam NL de pastor, somente com a vinda de outro pastor para a igreja, esclareceu-se que na verdade NL era um obreiro, e não tinha nenhum privilégio em relação aos outros.

Page 136: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

127

que continuasse acompanhando os cultos de forma sistemática, não permitindo qualquer

tipo de anotação49.

Mesmo com alguma dificuldade pudermos notar que sua condução pastoral é

bem diferente, embora vestia-se bem, não chega a ser como o pastor anterior,

normalmente usa camisa e calça social, sapato e gravata, sem terno, mesmo em cultos

considerados mais formais, ele também não usa nenhum acessório, relógios,

abotoaduras, anéis, nada chamativo ou que provoque alguma ostentação.

O pastor PL é caucasiano, aparenta ser mais novo que o pastor MN, e,

diferentemente do antigo pastor, ele é nascido e criado em São Paulo. Além da diferença

estética, o pastor PL não dá espaço nenhum para os obreiros/as, é o pastor que faz as

orações do culto, há somente uma exceção, para sua esposa, que intercala com ele a

condução dos cultos e sermões.

Outro elemento diferente é o jargão, o pastor PL não possuiu nenhuma frase de

efeito própria que o identifique, mas ao longo de todo o culto pede para que as pessoas

coloquem a mão no coração, sua insistência nesse gesto é tão comum que as pessoas em

pouco tempo já se acostumaram, algumas pessoas já colocam as duas mãos sobre o

peito assim que começa uma música ou oração.

Em sua mensagem é comum ouvi-lo dizer “eu amo essa igreja, eu amo esse

bairro”, palavras de tão repetidas lhe rendeu o apelido de pastor do amor entre os

obreiros50. Ao final do culto ele se despede das pessoas, mas permanece na frente para

quem quiser aconselhamento pastoral, em todos os cultos na despedida canta-se

“espirito enche minha vida” e após isso a impetração da benção, algo que até então não

tinha presenciado em uma Igreja Mundial.

Embora existam todas essas diferenças, em geral, há mais semelhanças do que

rupturas, os modelos esquemáticos dos cultos, o enfoque em curas e milagres, a

utilização de objetos fetichizados para obtenção de dinheiro, a pressão institucional para

que os membros sejam dizimistas e contribuintes regulares, além de ameaças de

fechamento da igreja são ações de praxe entre os dois pastores.

Dessa forma, embora o pastor MN tenha alterado alguma coisa nos cultos da

IMPDVA, foram alteração pequenas, porém com bastante significado, principalmente

49 Sempre que começava o culto um obreiro “sentava” ao meu lado. Claramente essa era uma instrução pastoral, uma vez que os obreiros durante os cultos tinham por responsabilidade ficarem em pé e ajudarem o pastor em tudo. 50 Em conversa com um dos obreiros ele me revelou esse apelido, creio que não seja algo carinhoso, mas em tom de chacota.

Page 137: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

128

entre os obreiros/as, cabe observar se de fato essas alterações nas mensagens e a

abertura para a participação dos obreiros mais ativa vai influenciar posteriormente nas

ações deles diante de um novo pastor.

3.10. Considerações.

A IMPDVA situa-se em um ambiente marcado pelas diferenças sociais, nesse

aspecto, embora exista um mosaico de adeptos na igreja, a maioria de seus membros são

pessoas em vulnerabilidade social. Aspectos como migração, renda familiar,

escolaridade, moradia, são mais baixos entre os sujeitos da igreja, do que no próprio

bairro em que estão inseridos, dessa forma, podemos estabelecer que, existe uma

tendência entre os membros da IMPDVA, são eles em sua maioria, mulheres,

migrantes, adultas, pardas, com baixa escolaridade, com baixa renda ou nenhuma,

residindo a mais de cinco anos no local.

Podemos também considerar uma tendência o perfil religioso, pessoas que em

sua maioria já frequentaram outras instituições religiosas, provenientes do catolicismo,

hoje frequentam três vezes por semana as reuniões na IMPD, estão vinculadas a igreja a

mais de três anos e frequentam esporadicamente outras igrejas.

Os dados obtidos dos questionários e entrevistas nos mostraram que aspectos

migratórios dentro dos cultos da IMPDVA tem um grande peso, seja pela identificação

do carisma pastoral, que se assume migrante, ou pelas mensagens impactantes do pastor

MN que articula entre as dificuldades do cotidiano do migrante e as soluções

metafisicas que são inseridas nesse contexto, com a finalidade de melhorar a autoestima

e promover o bem estar dos fiéis. Dito isto no capítulo a seguir vamos nos concentrar na

análise dos cultos e atores sociais encontrados na igreja.

Page 138: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

129

Capítulo 4:A Dinâmica do Poder Simbólico na Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

O capítulo pondera sobre os atores sociais presentes no culto da IMPDVA, o

foco é analisar a participação, articulação e práticas dos diversos segmentos encontrados

na igreja, entendendo como as dinâmicas atribuídas a esses agentes contribuem para o

incremento das redes de ajuda mútua, do capital social e do desenvolvimento humano a

elas relacionadas.

Em seguida abordaremos a questão da formação e reformulação da identidade

religiosa, principalmente migratória, afim de compreender como os sistemas

simbólicos, valorativos incidem na vida dos membros da IMPDVA, cooptando o

sentimento de pertença do fiel.

4.1. Análise do culto

Estruturalmente a IMPDVA apresenta-se em três classes distintas, os fiéis, os

obreiros/as, e o pastor. Os fiéis são aqueles/as que assistem os cultos de maneira

passiva, a pesquisa de campo revelou que há um grande número de pessoas em transito

religioso, como mostrou o gráfico 15, é rotineiro ouvir reclamações sobre as pessoas

que não se fidelizam com a igreja.

É interessante notar que há um grupo de fiéis que transitam entre as igrejas

Mundiais, ou seja, de tempos em tempos frequentam uma IMPD diferente, na pesquisa

foram encontradas pessoas que declararam frequentar mais de uma IMPD por semana.

Se existe um grupo grande em transito religioso na igreja, há também fieis que formam

um núcleo permanente (CAMPOS, 1997:193).

Page 139: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

130

Neste núcleo permanente todas as pessoas pesquisadas responderam que estão

satisfeitas com os cultos, mensagens e atividades da IMPDVA, e em sua maioria

participam da igreja a mais de 4 anos, mesmo assim, quando perguntados sobre as

relações com os demais membros da igreja 87% responderam não possuir nenhum tipo

de vínculo sendo sua relação exclusivamente por meio da denominação.

A coesão vivenciada pelo núcleo permanente da IMPDVA não está relacionada

a uma experiência comunitária, mas na identificação com os líderes da igreja. Foi

perguntado a eles em quais aspectos identificavam-se com os líderes da IMPD, tanto

pastor local, quanto o apóstolo, 72% das pessoas declaram identificar-se com a trajetória

de vida, todas as pessoas que assinalaram essa questão fazem parte de migrantes

interestaduais, 66% afirmaram que identificam-se com mensagem do apóstolo

Valdemiro e do pastor MN por ser facilmente assimilada, e 53% afirmaram que o

principal motivo é a identificação da cor da pele.

Pelo menos em relação aos membros da IMPDVA apresenta um modelo de

igreja personalista, que expressa-se em muito no carisma pastoral, fugindo da

concepção quase universalmente aceita de igrejas franqueadas, isto parece ser relevante,

uma vez que o “sucesso” da igreja depende muito mais da ação pastoral de ganhar a

subjetividade dos fiéis do que propriamente apenas uma imagem midiatizada do

apóstolo Valdemiro Santiago.

A fidelização dos sequazes independe de um senso comunitário, ou mesmo de

atividades lúdicas, mas da identificação e reconhecimento da ação do pastor, que de

certa forma, passa a exercer a alcunha de um mágico e feiticeiro, ou mesmo como

Campos afirmou um pastor-ator, pessoas que se colocam no limite entre o sagrado e

profano.

O pastor-ator, por meio de suas palavras e gestos, procura integrar todos os presentes no processo de exteriorização-interiorização coletiva da fé. Como tal, ele é um personagem limítrofe, que se desloca entre as fronteiras do sagrado-profano e detém, por isso mesmo, as técnicas de bem conduzir a todos nesse processo de êxtase. (1997:94)

O caminho mais comum encontrado entre os membros da IMPDVA é o

conhecimento da igreja através dos programas televisivos, eles passam um tempo

acompanhando os programas televisivos, ao verem relatos de curas e milagres, ou

mesmo impactadas pela mensagem do apóstolo Santiago procuram uma Igreja Mundial

próxima a casa, o trabalho, ou mesmo no caminho entre ambos. Alguns dias depois,

Page 140: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

131

após estarem familiarizados com a igreja são convidados a se batizarem. Não existe

qualquer voto, ou regras, em sua maioria, as condutas de um membro da igreja são

passadas nos sermões pastorais de forma osmótica, ou na convivência com o corpo de

obreiros/as da igreja.

Como não existe um livro de regras claras e objetivas, ou um conjunto de

normas, os membros a igreja, já acostumados ao mundo evangélico assumem a moral e

a ética que foram aprendidas em outras ocasiões, enquanto as pessoas que são

provenientes de outras religiões ou mesmo é recém convertido assume o critério de

tentativa e erro, sendo “educados” ou “elucidados” durante as pregações pastorais,

conversas com os obreiros e orientações em atendimento pastorais depois ou antes dos

cultos.

A segunda classe facilmente distinguível e presente em todas as reuniões da

igreja são os obreiros. Eles têm a função de garantir o bom funcionamento do culto e

auxiliar o pastor em tudo que ele precisa, além disso, são eles que preparam as

dinâmicas dos cultos limpam o templo aos sábados, e se reúnem para avaliação semanal

, in loco, presenciamos obreiras fritarem peixes para serem comidos durante os cultos,

enfeitarem a igreja, dobraram barcos de papel e várias outras atividades usadas nos

cultos, na maioria das vezes a esposa do pastor, missionaria florzinha acompanhava as

atividades coordenando os obreiros/as.

Os obreiros da Igreja Mundial do Poder de Deus assumem outras funções, ajudando na distribuição de envelopes de ofertas, Jornais da igreja, distribuição de panfletos, cuidando da manutenção e da ordem do templo ao longo de toda a reunião. Chegam aos cultos com certa antecedência, a fim de se prepararem para a reunião, orando, lendo a Bíblia, sempre alerta para qualquer eventualidade, podendo dar conselhos e expulsar demônios dependendo da ocasião. Os obreiros não são remunerados, todo o seu trabalho é voluntario, a não ser nos casos especiais. (BITUN, 2007:68)

A primeira vista o grupo de obreiros/as parecem ser homogêneos, sem divisões

internas, isso porque não existe um livro de regras ou cargos delimitados entre eles,

entretanto para o bom andamento do corpo é necessária uma certa divisão interna,

mesmo que velada. Existem pelo menos três funções principais, os obreiros que cuidam

da segurança e manutenção, normalmente homens, os obreiros/as que fazem trabalhos

manuais para usar nos cultos e enfeitar a igreja, normalmente mulheres, e um grupo

mais misto que acompanhas as pessoas da comunidade em dificuldade e agenda visitas

para oração.

Page 141: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

132

Para cada grupo mencionado existe uma pessoa de referência, que faz as vezes

do coordenador, muito embora esse cargo não exista formalmente, da mesma forma o

secretario pastoral, ele é responsável pela agenda do pastor e tudo passa por ele, alguém

escolhido pelo próprio pastor para isso, mas que detém o prestigio dos outros obreiros,

que o procuram regularmente para esclarecer dúvidas.

Outra função do corpo de obreiros/as da IMPDVA é o acompanhamento do

grupo de fiéis da igreja, normalmente são eles que visitam os membros e atualizam o

pastor de qualquer situação não rotineira, ou que exija atenção pastoral principalmente

sobre insatisfação com a igreja ou brigas internas entre os membros.

Durante os cultos eles se dividem, o padrão é sempre dois obreiros na porta, são

eles que recepcionam as pessoas e entregam o que será usado no dia, óleo, flor, água

etc. eles também são responsáveis por encaminhar a pessoa a sentar-se quando

necessário, existe alguns cultos que um obreiro e uma obreira revezam, mas na porta da

igreja precisa, necessariamente ficar um homem, a justificativa para isso é a segurança :

as vezes entram pessoas bêbadas, drogadas, nós precisamos ficar de olho, a presença

de um homem ajuda a inibir (Obreiro 4).

Aqueles obreiros/as que não são escalados para a porta ficam no corredor na

parte da frente, nota-se que sempre tentam dividir em números iguais, se estão em oito,

quatro em cada corredor, intercalados entre homens e mulheres, quando perguntados o

porquê dessa disposição respondem “Não sei porque fazemos assim, costume eu acho”

(obreira 10).

Os obreiros que estão nos corredores têm a função de ajudar na boa condução do

culto, são eles que batem palmas primeiro, que cantam as músicas em voz alta quando

ninguém conhece, eles também dançam, levantam as mãos, fecham os olhos, repetem

prontamente todas as palavras que o pastor pede.

Segundo um dos obreiros entrevistados: nós fazemos isso para animar o povo,

as vezes as pessoas vêm do trabalho desanimadas, cansadas e precisam de um animo

para participar do culto, elas olham para nós e ficam mais animadas (Obreiro 1). As

atitudes dos obreiros/as nos cultos não são espontâneas, na verdade eles são instruídos a

agirem de maneira mais animada possível, também são instruídos a serem acolhedoras

com os visitantes reservando um tempo para conversar com eles, saberem de onde vem

e etc.

Desta forma os obreiros/as representam parte da constituição do ambiente

cúltico/cênico.

Page 142: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

133

Na magia e na religião, para a captura ou contato com o sagrado, há rituais, espaços e objetos próprios, assim como meios apropriados para unir atores e plateia[...] se a religião começa com a delimitação do espaço, o culto acontece num cenário material, onde entre objetos demarcadores, os atores executam ações especificas. (CAMPOS, 1997:74)

Nesse caso as ações especificas dos obreiros/as captam a atenção dos fiéis da

igreja, em um primeiro momento, é deles o maná necessário para contagiar a igreja.

Em culturas da Oceania, os objetos têm mana quando possuem uma qualidade ou um estado diferenciado dos demais, cujas características são expressas pelas palavras “poder espiritual”, “força sobrenatural”, “influencia não-física”. Os melanésios acreditavam que tais objetos eram dotados de um “fluido vago e impessoal”, o que lhes garantia a capacidade de gerar impressões favoráveis no decorrer de um rito mágico ou religioso. (Ibidem:75)

A racionalidade entre o objeto que possui mana e os obreiros/as da IMPDVA

nos parece funcionar com a mesma lógica, são eles que garantem as impressões

favoráveis no decorrer do culto, assim como são eles que legitimam a qualidade do

líder, garantindo a transmissão do poder mágico.

Essa impressão parece contagiar a igreja, uma vez que em muitos testemunhos

são citadas as orações dos obreiros/as da igreja: Graças a Deus e a oração da obreira

que minha filha voltou para a casa depois de 3 meses na rua, ela orou e pelo poder da

fé dela na mesma noite minha filha voltou para a casa, glória a Deus. (Fiel da igreja,

em 11/10/2013)

A orientação para os obreiros não se restringe nas interações e dinâmicas dos

cultos, há um cuidado sobre as vestimentas dos mesmos na igreja, eles são proibidos de

realizarem qualquer ação durante os cultos sem que estejam com as vestimentas

apropriadas, os obreiros/as que não estão com os uniformes assistem o culto e de

nenhuma maneira podem ajudar em sua condução. Há casos que o pastor pede para a

pessoa não participar do culto por estar mal trajada, ou sem alguma peça do uniforme

A imagem pessoal de cada obreiro/a passa por uma sofisticação que tenta

acompanhar a imagem pastoral, para os homens os cabelos bem aparados e barba feita

são essenciais, enquanto para as mulheres o conselho é batom ou rímel, unhas sempre

feitas e de preferência cabelos presos.

Quando questionados sobre as práticas das vestimentas eles respondem: as

roupas são importantes, não podemos vir na casa de Deus de qualquer maneira,

entenda que, nós somos exemplos, estar bem arrumado é testemunho daquilo que Deus

Page 143: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

134

pode e faz em nossa vida, como o pastor fala: a primeira impressão é a que fica.

(Obreiro 4)

Ao contrário dos fiéis da igreja os obreiros possuem mais integração entre eles, a

sua coesão não está somente na identificação pastoral, mas no ativismo da igreja,

gerando assim espaços integradores que possibilitam trocas de informações, dessa

forma, os obreiros/as na IMPDVA funcionam como uma rede social. Assunto que

abordaremos mais adiante.

Na pirâmide social construída na IMPDVA podemos dizer que o cargo pastoral

está no topo, é ele que aglutina todas as funções essenciais para o andamento da igreja,

seja na função de administrador dos recursos financeiros e patrimoniais, ou mesmo na

gestão de pessoas. Na igreja local é o pastor que detém o poder e autonomia para quase

tudo, permitindo a ele uma grande gama de possibilidades de trabalho dentro da igreja.

É dever do pastor recolher os dízimos e ofertas, assim como administra-los, e

encaminha-los para a sede. Também fica a cargo pastoral a realização dos cultos e

reuniões, bem como a fidelização dos membros na igreja. Regularmente o pastor

participa de reuniões com o bispo regional para informar as especificidades da igreja,

nessa reunião é passado os temas para o próximo mês e as metas a serem atingidas pelas

igrejas locais da IMPD.

Embora o destaque do poder administrativo seja relevante, é na dominação

simbólica a maior ênfase do ministério pastoral na IMPDVA. Segundo Pierre Bourdieu

os sistemas simbólicos como instrumentos de conhecimento e de comunicação, só

podem exercer um poder estruturante porque são estruturados (1998:09). Os símbolos

permitem o consenso de sentidos do mundo social, contribuindo para reprodução da

ordem comunitária.

Enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de

conhecimento os sistemas simbólicos cumprem sua função política, a legitimação,

dominação e imposição para assegurar a subserviência de outras classes sociais ao seu

domínio, o que Bourdieu chama de violência simbólica, ou segundo as palavras de Max

Weber domesticação dos dominados.

Desse modo, existe uma luta simbólica de classes que intentam impor as

definições do mundo social mais condizentes com seus interesses. Quando essa luta

passa para o âmbito religioso, ou mesmo ideológico devemos entender que sua

produção e resultado em dois aspectos, muitas das vezes distintos entre si, as

características não somente são pelos interesses das classes concorrente na

Page 144: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

135

monopolização dos sistemas simbólicos, mas também o exercício de interesses

específicos daqueles que o produzem, bem como as especificidades do campo de

produção simbólico.

O poder simbólico como poder de construir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou transformar a visão de mundo e, desse modo, a ação sobre o mundo [...] poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa que o poder simbólico não reside nos sistemas simbólicos em forma de uma illocutionary force, mas que se define numa relação determinada – e por meio dessa – entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos. (Bourdieu, 1998:14)

Os símbolos somente exercem poder à medida que a crença nos sistemas

simbólicos é legitimada socialmente, dessa forma o poder simbólico é um poder

subordinado ao capital simbólico adquirido individual ou coletivamente.

O poder simbólico do pastor da IMPDVA vem por meio da dominação

carismática. Para Weber dominação é a probabilidade de encontrar obediência para

ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas (Weber,

1991:139). Entretanto o conceito de dominação não significa total subserviências aos

desejos dos dominantes, em cada caso a dominação/autoridade, pode basear-se nos mais

variados motivos para a subordinação, seja ela, habito inconsciente ou consciência

deliberativa, ou seja, interesse utilitários e vantajosos, ou mesmo relação de obediência.

Embora não exista uma dominação arquetípica pura, a dominação do pastor na

IMPDVA se aproxima muito da dominação carismática. Para Weber a dominação

carismática é proveniente de uma virtude especial, no qual o devoto atribui ao

dominador, seja por algum feito único, como é o caso dos heróis e guerreiros ou de

dotes sobrenaturais, caso dos profetas, sacerdotes, magos etc.

Assim como a dominação carismática, é função do pastor local escolher seu

quadro administrativo, ou seja, seus obreiros/as, aquelas pessoas que vão dedicar-se ao

trabalho eclesial. Nesse quadro administrativo o pastor preza pela dedicação dos

obreiros/as dispensada a ele, normalmente um dos sinais de preferência pastoral em

detrimento a outros obreiros/as é a escolha de um grupo limitado para acompanha-lo ao

monte, vigílias ou mesmo em algumas reuniões da igreja.

Page 145: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

136

Mesmo a dominação carismática denotando um relacionamento íntimo com o

líder carismático, podemos presenciar que o pastor da Igreja Mundial é extremamente

impessoal com os fiéis da igreja, não existe qualquer relação de proximidade, na

maioria das vezes o pastor não sabe o nome das pessoas presentes. A princípio a

resposta lógica dessa situação é o grande fluxo de transito religioso, mas nem as pessoas

do núcleo permanente gozam da presença pastoral.

O apelo da dominação carismática é estabelecido em primeiro lugar através da

construção imagética-carismática do apóstolo Valdemiro Santiago, motivo original das

pessoas congregarem na IMPD, em segundo da institucionalização desse carisma

fraqueando para bispos e pastores através de práticas ritualísticas, gestos análogos aos

do apóstolo Valdemiro, estilo de pregação simples e de fácil memorização.

Obviamente existe um carisma proprietário do pastor local da IMPDVA,

entretanto, este sempre parte do carisma “original”, contudo, ao contrário do carisma de

Santiago que pauta pelas manifestações de curas e milagres em detrimento das

mensagens bíblicas, o pastor MN, vai em um caminho oposto, nos cultos não há a

ênfase das transmissões televisivas em cura e milagres, mas há uma homilética muito

persuasiva, nela o pastor constrói, ou ao menos contribui para uma consciência

comunitária, explorando alguns assuntos em comum.

É comum ouvir em seus sermões aspectos como luta contra o racismo,

dificuldade de adaptação em São Paulo entre outras tantas. No culto de 15 de outubro de

2013 em sua mensagem diz: é fácil morar em São Paulo? Eu digo que não, quando

mudei do Rio (de Janeiro) para cá estranhei muito, as pessoas daqui são fechadas, mas

Deus nos leva onde Ele quer e não onde queremos (pastor MN, 17/082013)

Ainda em outro culto diz: uma vez me perguntaram se eu não me importo de me

chamarem de negão, disse que não, ou sou mesmo, se você olhar para mim você vai ver

o que um branco? Um japonês? Sou preto ué não tenho problema com isso, sabe

porquê? Meu negócio é com Deus. (MN, 22.07.2013)

Podemos também elencar outro extrato de suas mensagens:

Graças a Deus hoje eu moro bem, tenho um carro, uma casa, mas quando cheguei em São Paulo, só Jesus na causa, agente já morou em cada barraco né florzinha? (Virando para a esposa) ela está de prova perguntem para ela, Deus faz a obra meu irmão a pessoa precisa é trabalhar se esforçar que Deus faz a parte Dele isso é que é fé. (MN, 13.09.2013)

Page 146: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

137

Ao contar histórias de sua vida, dialogando com a rotina dos membros da

IMPDVA, mesmo com atitudes impessoais, as pessoas sentem que o conhecem bem,

uma vez que ele “transparece” quem é no púlpito, dessa maneira, o pastor MN ao

mesmo tempo que ganha a subjetividade desses indivíduos, também adquire

legitimidade como, ao exemplo de Valdemiro Santiago, “alguém que venceu na vida, o

migrante pobre que deu certo” etc.

Os enfoques de tais narrativas sobre intimidades, banalidades e vida cotidiana do indivíduo parecem enquadra-lo na mesma perspectiva dos personagens dos folhetins. São, principalmente, ‘produtos’ da subjetividade da celebridade – como casamento gravidez, a briga, a moral, a personalidade, a paquera, o estilo de vida, as festas, etc. – que vão construindo, ‘capitulo a capitulo’, o seu mito, sua lenda. (PIMENTEL, 2005:195)

Assim a dominação do pastor da IMPDVA está interligada em vários níveis, em

primeiro lugar, dominação por meio da hierarquização, ele é quem administra os bens

da igreja, com autonomia para vetar ou aprovar algumas ações, também é o pastor

responsável pelos pagamentos e movimentações financeiras da igreja.

A dominação do pastor passa a ser mais que simplesmente ação administrativa,

uma vez que é ele quem dá sentido aos diversos símbolos e bens da igreja,

empoderando-os com força espiritual metafisica, para Campos:

Um objeto não possui valor em si mesmo, mas tão somente quando representa e contribui para localizar e dar status ao homem, num determinado espaço social, isto é pelo seu valor de uso. O indivíduo não deseja ardentemente o objeto em si, mas tão somente o bem inatingível do qual se acredita ser ele portador. (1997:78)

Em outras palavras o pastor MN é envolto de dominação simbólica pelo poder

imanente de fetichizar os objetos, através de rituais mágicos. Esse poder é estabelecido

por outro agente apóstolo Valdemiro Santiago, que possui o carisma original, ou seja, o

carisma que levou grande parte, se não todos, os membros da IMPDVA a participaram

das reuniões. Para fidelizar a clientela/fiéis na igreja o pastor precisa manter um carisma

próprio, que acarrete, ao adepto, identificação com seu líder, ao mesmo tempo que

legitime sua autoridade no ambiente local, dessa forma expressões idiomáticas como

“meu negócio é com Deus” e narrativas que o apontam como minoria, mas que “venceu

na vida” ajuda a estabelecer um diálogo, criar subjetividade e construir um senso de

comunidade negra, pobre e migrante, entorno do seu líder carismático.

Page 147: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

138

4.1.1. O poder pela palavra.

A perspectiva desse tópico é extrair da experiência de culto discursos e

mensagens de si mesma, um autorretrato religioso que tem como função promover a

adesão da membresia ao ciclo de vida eclesial, ou mesmo, gerar uma consciência

identitária capaz de uma coesão social.

Segundo Riesebrodt o culto como propaganda religiosa é:

Um sentido de esforço de motivar pessoas a uma conversão no sentido amplo da palavra... no caso destes textos se trata de uma auto-representação ... as perguntas centrais são, portanto: o que é representado como motivo da nova orientação religiosa? Quais resultados as religiões reclamam para si nestes discursos de conversão? E quais promessas elas fazem para o caso da conversão? Apelos a conversão ou testemunhos de uma vida transformada podem-se dirigir a membros da própria comunidade religiosa, para orienta-la no sentido de um seguimento mais rigoroso dos compromissos religiosos. Eles podem ter a intenção de convencer não-pertencentes à membresia (apud FOERSTER, 2007:211)

A priori o culto possui dois elementos básicos, a manutenção da membresia, ou

do núcleo permanente e a construção de um sentimento de pertença comunitária às

aquelas e aqueles que estão em transito religioso, ou não participam do núcleo

permanente. Dessa forma a propaganda cúltica é simultaneamente cooptação e

manutenção de subjetividade.

Embora o culto seja uma importante ferramenta de propagação da mensagem na

IMPD, é na mídia televisiva que sua mensagem ganha força. A maioria dos visitantes,

entram na igreja motivados pelos cultos televisionados do apóstolo Valdemiro, e

esperam que o culto local, possa entregar a mesma experiência midiática vivenciada por

eles, espera-se que a IMPDVA seja uma extensão dos cultos televisionados, por isso

existem cartazes e panfletos com a imagem de Santiago, pinturas dos templos

padronizadas, referencias e citações diretas sobre as ações de Valdemiro durante os

cultos, tudo isso denota uma preocupação de identificação direta da igreja com os cultos

ministrados pelo apóstolo, mesmo que ali não tenha um enfoque tão grande nos

testemunhos de curas e milagres.

Ao entrar no templo o visitante logo identifica-se com a imagem do Valdemiro e

as cores azuis e brancas da igreja tentando estabelecer um simulacro do céu no

Page 148: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

139

inconsciente religioso cristão, sacralizando o espaço cúltico. A sacralização espacial não

é algo novo, ao contrário, ela expressa-se desde a formação societária humana, quando

os seres humanos separam o espaço em profano e sagrado.

Há, portanto, um espaço sagrado, e por consequência, “forte”, significativo, e há outros espaços não-sagrados, e por consequência sem estrutura nem consistência, em suma, amorfos... Experiência de uma oposição entre o espaço sagrado - o único que é real, que existe realmente – e todo o resto, a extensão informe, que o cerca (ELIADE, 1992:20)

As pessoas falam em tom baixo, oram e curvam a cabeça antes do culto

começar, essa preparação, momentos antes do culto, indica uma passagem da vida e

tempo profano, para um tempo sagrado, assim a igreja coloca-se no limiar dicotômico

entre a representação do sagrado em um mundo profano.

O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e religioso. O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira que distinguem e opõem-se dois mundos – e o lugar paradoxal onde esses dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo profano para o mundo sagrado. (Ibidem:29)

A igreja transcende o espaço profano, lá as comunicações com Deus são

possíveis, nesse lugar as hierofanias são perceptíveis e aceitáveis, ou seja, uma rotura do

tempo e do espaço profano, para um tempo e espaço sacralizado.

A importância simbólica do espaço (em suas diferentes “modalidades” de céu-e-terra, de pluridimensionalidade, de imensidão etc.) é expressa de uma maneira particular nos ritos, já que eles desenvolvem-se no âmbito físico, considerado sagrado. O lugar sagrado é um espaço “recortado” dentro do grande espaço cósmico ou telúrico. (CROATTO, 2001:53)

A música inicial também ajuda no processo de reflexão, momento antes do

início do culto o pastor coloca uma música calma, instrumental com o objetivo de

incentivar a oração e obter um estado de tranquilidade. Nos cultos a música é um

instrumento quase onipresente, ela serve como construção do ambiente, como é o caso

dos dízimos e ofertas, onde a música é mais alegre motivando um estado de euforia nas

pessoas, em outros ela se torna a atração principal, principalmente durante o momento

de louvor e orações com músicas mais lentas incitando um estado de contrição e

contemplação.

Centrada na ênfase intimista de Deus, que faz da adoração por meio da música um modo de vida, a cultura gospel passa a

Page 149: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

140

representar uma forma mais eficiente de avivamento religioso. Essa renovação deve refletir-se na vida pessoal. Com a busca do alcance das bênçãos materiais na vida coletiva, com as formas de culto marcada pela liberação das emoções, com expressão corporal e menor rigor litúrgico. (CUNHA, 2007:185)

As mensagens das músicas tocadas na igreja baseiam-se em uma tríade, vitória,

cura e prosperidade. Dos temas apresentados há sempre uma interpelação entre o pastor

e a comunidade, a mensagem não é muito diferente das encontradas em outras

denominações evangélicas, de fato, a cultura gospel (CUNHA,2007) torna as

mensagens evangélicas homogêneas.

Nos momentos de louvor as ações corporais são libertas, bem diferente da

herança puritana dos grupos evangélicos protestantes, há na IMPDVA uma liberdade do

uso corporal, na verdade, boa parte do culto a linguagem é muito mais corporal que oral.

Contraditoriamente, os evangélicos chegaram ao final do século XX desejando e

desenvolvendo processos do novo modo de ser em construção – a cultura gospel – a

valorização do corpo. (CUNHA, 2007:179)

Como tendência nos tempos contemporâneos marcado pela busca hedonista, o

corpo passou a ter um espaço central dentro da sociedade influenciando diretamente o

culto evangélico. A questão corporal do culto não está somente na liberdade para mexe-

lo, dançar, levantar as mãos, rodopiar etc. Mas como fonte de disputa simbólica.

Influenciado pelo movimento da cura divina, a IMPDVA estabelece que a

doença é culpa de ações demoníacas, por isso exige-se um ritual de exorcismo.

Coloque a mão no seu coração e faça silencio [...] a presença de Deus é forte em nosso meio, e as doenças e demônios estão sendo sufocados pelo poder de Deus. Onde tiver um espirito mau, você vai ouvir o seu grito de derrota. Espirito de morte, de câncer, suicídio, depressão, espirito de miséria, separação, destruição, dê seu grito de derrota demônio! (ALMEIDA, 2010:08)

Para a IMPD e seus fiéis o corpo é território de luta entre duas forças opostas,

dessa forma o pastor é um agente capaz de controlar tais forças por meio do exorcismo,

um paladino divino, que impede, ou extingue ações contrarias ao povo de Deus, essa

luta pode ter haver com desemprego, doença, qualquer dificuldade financeira, falta de

fé, desentendimento com a família etc.

Por isso sempre durante os momentos de louvor o pastor ora expulsando o mal

da vida dos fiéis e seus familiares, depois do ritual ter terminado as pessoas jogam suas

Page 150: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

141

mãos três vezes para traz e dizem “sai, sai, sai e não volte nunca mais” simbolizando

que através do exorcismo pastoral toda a força maligna contraria foi embora.

A metáfora da luta permeia todo o ritual: a cura marca a vitória do bem sobre o mal. Assim, ao invés de constitui-se exclusivamente em assunto privado – busca de melhoria pessoal neste mundo – faz parte do projeto coletivo do culto – construção de um subuniverso de ordem em meio ao caos circundante. (RABELO, 1993:58)

Aqui existe uma diferença clara dos momentos de cura na IMPD ou na Igreja

Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina e a IURD. Na IURD os momentos de

exorcismos são demorados, os pastores e obreiros entrevistam o dito “demônio”, na

IMPD Valdemiro Santiago chama as pessoas a testemunhar aquilo que Deus (ele) fez na

vida das pessoas, enquanto as ações iurdianas demostram a força do pastor em controlar

forças metafisicas, o culto do apóstolo Santiago legitima sua imagem de taumaturgo, a

mensagem é clara, mais que um exorcista ele trabalha de maneira integral na saúde de

seus adeptos.

Já na IMPDVA esse momento é rápido comparado a outros momentos do culto,

em média gasta-se apenas 15 minutos em oração e exorcismos, a fim de comparação o

tempo reservado aos dizimo na igreja chegam a ser o dobro do tempo gasto com os

exorcismos e curas.

Ainda sobre a ação do corpo, o pastor tem grande importância, afinal, suas

palavras incitam as pessoas a fecharem os olhos, levantarem as mãos e coloca-las em

cima de suas cabeças ou no peito perto do coração, para Mauss isso é uma técnica

corporal, ou seja:

Um ato tradicional eficaz (e vejam que, nisto, não difere do ato mágico, religioso, simbólico). É preciso que seja tradicional e eficaz. É nisso que o homem se distingue sobretudo dos animais: pela transmissão de suas técnicas e muito provavelmente por sua transmissão oral. (1988:217)

As técnicas corporais são tradicionais porque são transmitidas pela educação, de

maneira repetitiva, e eficaz porque responde a um efeito prático, mesmo assim a

performance de uma técnica corporal está longe de ser apenas uma reprodução entre

emissor e receptor, pois a cada nova reprodução nova significação pode ser atribuída a

mesma.

Exemplo disso é o pastor bater com o pé três vezes no chão com veemência afim

de demostrar que “estão pisando na cabeça da serpente”, e no culto da semana seguinte

repetir o mesmo gesto alegando que “São Paulo é nosso, nós o construímos”, uma clara

Page 151: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

142

referência ao processo de migração inter-regional, para eles os migrantes, maioria na

igreja, deveriam “tomar posse” da cidade de São Paulo.

Nesse sentido a dança, as orações, as ações corpóreas são resultado de um

processo de inscrição histórico-cultural da sociedade sobre o corpo humano. Nisso os

obreiros/as são os que mais assumem culturalmente as expressões corporais dirigidas

pelo pastor, entendendo que já compartilham da mesma cultura e estão inseridos no

mesmo contexto histórico.

Se Mauss alegava a importância do corpo no rito mágico, Turner define o ser

humano como um animal auto performático (1988:81). Para o autor o ser humano é

capaz sentir experiências dramáticas de profunda reflexividade, na qual os agentes

envolvidos transmitem suas emoções e avaliam o significado de suas identidades

sociais.

Via de regra as experiências performáticas produzem situações de reflexividade

nos quais os atores sociais relativizam a estrutura social criando, temporariamente e

parcialmente, realidade alternativa preenchida pelas experiências de limites. Para Turner

os dramas sociais são, em suma, construções de identidades, ou adequações de suas

identidades para a realidade que se faz presente.

Nas performances os grupos refletem sobre eles mesmos e a sociedade da qual são parte, podendo nesse momento, serem agentes ativos de mudança social. Será junto aos rituais que as performances se mostram mais eficazes... na medida que expressão uma sequência complexa de símbolos. Em outras palavras... o rito não é conceituado como uma mera repetição de atos em sequência, mas como um ato performático com poder de transformar o indivíduo e a sociedade. (ROCHA, 2008, p 11)

De certa forma, a formação corporal da IMPD e seus usos tem centralidade

dentro do culto, uma vez que eles são canais para ações metafisicas, curas e bênçãos

divinas, campo de batalha espiritual, todos ritos performáticos capazes de estabelecer

identidades comunitárias e pessoais, assim sendo, as expressões corpóreas são mais do

que um simples ato de repetição, ou êxtase religioso, é, em geral, uma legitimação

comunitária, onde, somente as pessoas que culturalmente estão inseridas naquele

contexto são capazes de compreender e apreender a mensagem implícita.

Outra parte essencial do culto é a retorica, que nesse caso assume quase como

exclusividade pastoral, é somente o pastor, com algumas poucas exceções, que possuem

o poder ou a permissão para subir no púlpito da IMPD, como anteriormente citado o

Page 152: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

143

pastor MN ganha destaque nesse quesito, não só porque é dele o protagonismo da

retórica, mas porque o faz muito bem, principalmente em uma igreja que não é

conhecida por pastores exímios na arte da homilia.

A priori o objetivo de toda a retorica é o convencimento do indivíduo através de

signos e símbolos, ou mesmo argumentos lógicos, a retorica religiosa, usada pelo pastor

da Vila Alpina, não difere em seus objetivos do culto supracitado, ele quer criar um

estado de pertença a pessoa que por alguma razão ainda não fidelizaram sua

participação nos cultos, assim como precisa manter o fiel do núcleo permanente

interessado em sua mensagem, e consequentemente nas reuniões da igreja.

Pelo seu envolvimento anterior com a IURD sua mensagem anexa formas

retoricas encontradas nos templos iurdianos. Dessa forma, as mensagens do pastor MN

são quase hibridas, tendo modelos irudianos como forte influência retorica e novos

modelos homiléticos exigidos pela liderança da IMPD.

A retorica iurdiana é baseada na construção de representações simbólicas, que

ao concorrer no mercado religioso e ganhar a preferência do público precisa,

necessariamente de uma oratória capaz de desqualificar outros agentes e instituições

religiosas, assim como extrapolar em simbolismo de guerra.

Por esses e outros motivos, a retórica iurdiana apresenta como credenciais de sua legitimidade, exemplos de milagres e prodígios, palavras de ordem, slogans e narrações, devidamente arranjadas na forma de “histórias de vida” ou de “testemunhos de fé”, largamente apresentados em seus meios de comunicação de massa. (CAMPOS, 1997: 301)

Nesse aspecto o pastor MN cumpre a risca a cartilha iurdiana, em suas

mensagens é comum ele desqualificar outras igrejas, incluindo a própria IURD, outras

como Assembleia de Deus, Evangelho Quadrangular e Batista, são consideradas, por

ele, igrejas sem o Espirito Santo, enquanto exalta o líder Valdemiro Santiago.

Vou contar para vocês porque eu mudei de igreja, eu percebi que essas igrejas eram falsas, não tinham o Espirito Santo. Quando eu me converti queria ir para uma igreja, era terça-feira, procurei a Batista, que era a igreja que eu conhecia e sabe o que encontrei? A igreja fechada, é por isso que na Mundial nos nunca fechamos nossa igreja, vocês podem vir em qualquer horaria a igreja sempre estará aberta para vocês. (Pastor MN, 15.05.2013)

Em outro momento alega:

Quando eu era pastor da igreja da pombinha (referência a Igreja Universal do Poder de Deus) os pastores só pensavam em dinheiro,

Page 153: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

144

não importava as pessoas da igreja, se eles estavam testemunhando no mundo, se a pessoa contribui era o que importava, aquilo não é uma igreja é um comércio. Diferente do apóstolo Valdemiro, esse sim é homem de Deus, alguém já chegou perto do apóstolo? (Levantando as mãos, algumas pessoas o acompanham e levantam também as mãos), então agente a te sente algo especial não é verdade? (Buscando confirmação das pessoas que levantaram as mãos) é disso que estou falando, o apóstolo tem intimidade com Deus, por isso ele é uma pessoa diferente, ele quer ajudar as pessoas, não há ganancia em seu coração. (Pastor MN, 30.08.2013)

A desqualificação de outros agentes religiosos é principalmente voltada a IURD,

em determinados momentos faz graves acusações contra a igreja rival:

Quando uma pessoa é boa no que faz, ou de alguma forma ela se destaca, as pessoas ficam com inveja, vou dar um exemplo, não sei se vocês sabem, mas a igreja da pombinha contratou um matador para matar o apóstolo, daí quando ele chegou no carro do apóstolo, apontou a arma. (Risos), vocês conhecem o apóstolo ele tem um gênio difícil, o apóstolo olhou a arma apontada para ele e disse: “e ai vai atirar ou não, porque estou atrasado para uma vigília”, ... no fim o matador entrou no carro junto com o apóstolo e foram os dois para a vigília e ele se converteu. (Pastor MN, 29.10.2013)

O discurso pastoral tem um claro objetivo, a exaltação e a legitimação da IMPD

como sendo diferenciada, ou mesmo escolhida por Deus em detrimento de outras

igrejas, e como recurso para isso é o que Campos chama de inventio, argumentos

utilizados para comover os receptores e conquistar sua subjetividade. Dessa forma, a

coleta de exemplo do cotidiano, tirado principalmente da rotina do seu auditório sai do

nível concreto para o abstrato, podendo, assim, ser mais manipulável nas mãos do

pastor, além de uma identificação clara com o ouvinte, a história e exemplo pastoral

passam a envolver a audiência que aos poucos assume a história, o exemplo e o

testemunho pastoral como próprio.

Obviamente a Igreja é apresentada como responsável pelo desencadeamento daquela ação e por ter criado condições para a inibição das forças contrárias ao processo de transformação. Por isso, é fundamental “colocar a fé em ação” e isso acontece graças a um forte choque retórico. O pastor é o “homem de Deus” encarregado de seduzir o público, despertar esperanças de uma vida melhor, enquanto vai afastando tudo que obstaculariza o progresso do fiel no novo caminho de fé. (CAMPOS, 1997: 306-307)

O pastor MN avoca para si o papel de sedutor, constantemente durante os cultos

ele estimula a esperança, sonhos e desejos nas pessoas.

Page 154: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

145

Deus é quem determina sua vitória, e não a situação em que você vive, as pessoas tem a mania de se fazer de coitadas, ó como eu sofro, olha onde eu moro, que salario miserável eu ganho, pois hoje é o dia da mudança, eu declaro em sua vida que Deus tem algo para você esta noite, será tremendo, só peço que você acredite, quando eu entrei na Igreja Mundial pela primeira vez eu não acredita, daí o bispo fez uma oração e as coisa começaram a melhor, hoje eu vou orar por você e as portas do céu vão se abrir na sua vida.(pastor MN, 5.5.2013)

As elocuções do Pastor MN tornam-se poderosas a medida que usa exemplos

bíblicos como afirmação do seu ponto de vista, construindo, ou ao menos,

identificando-se com a comunidade em volta. Existe uma constante em sua retórica, o

uso de personagens bíblicos em situação migratória. Temas como o povo de Israel no

Deserto51, o chamado de Abrão52, além de outros temas que falam sobre a

transitoriedade como Rute, Isaque, Neemias, etc.

Em discursos sem narrador explicito, em que os acontecimentos são apresentados objetivamente, como se desenvolvessem por si mesmo. Nesses discursos, constrói-se, com efeito, um único lugar de observação em que enunciador e enunciatário se encontra sincretizados, trata-se da figura de um observador, entendido como agenciador dos pontos de vista que regulam os modos pelos quais o enunciado pode ser apreendido, e os pontos de vista são, as perspectivas que exploram a orientação discursiva para fazer face à imperfeição constitutiva de toda a percepção (FONTANILLE, apud SARAIVA & LEITE, 2011:6)

Em outros termos o recurso do qual o enunciador, no caso pastor MN, lança mão

para manipular o enunciatário, ou construir coesão comunitária, difundindo um ponto de

vista generalizante ou particularizante, omitindo sua opinião pessoal e, segundo ele,

atentando-se somente a narrativa bíblica, extraindo do texto “somente o que Deus quer

falar para igreja”.

Para esclarecermos em que medida a retórica do pastor MN produz construção

de identidade e coesão comunitária na IMPDVA, precisamos refletir sobre o que é

identidade, segundo Landowski (2002) ao falar de construção identitária, ela precisa,

simultaneamente produzi um sentido, sem esses elementos a experiência de alteridade

fica comprometida.

Condenado, aparentemente, a só poder constituir-se pela diferença, o sujeito tem necessidade de um ele – dos “outros” (eles) – para chegar à existência semiótica, e isso por duas razões. Com efeito, o que dá forma à minha própria identidade, não é só a maneira pela

51 O tema foi usado quatro vezes por ele nos dias 18/07/2013, 10/08/2013, 27/08/2013, 05/11/2013 52 Texto em Genesis 12 foi usado três vezes pelo pastor nos dias 26/05/2013, 14/06/2013, 10/10/2013

Page 155: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

146

qual, reflexivamente, eu me defino (ou tento me definir) em relação à imagem que outrem me envia de mim mesmo; é também a maneira pela qual, transitivamente, objetivo a alteridade do outro atribuindo um conteúdo especifico à diferença que me separa dele. Assim, quer a encaremos no plano da vivencia individual ou ... da consciência coletiva, a emergência do sentimento de identidade parece passar necessariamente pela intermediação de uma alteridade a ser construída. (LANDOWSKI, 2002:4)

Se a constituição do sujeito ou mesmo comunitária está em dicotomia entre

identidade e alteridade dissociados entre si, e do qual todos dependem, o discurso

religioso torna-se vigoroso pois ao mesmo tempo que define um inimigo em comum,

“ações da carne” e estabelece regras objetivas, “ações do espirito”, cria-se uma

identidade religiosa, um modus operandi em todos aqueles/as que são subjetivados pelo

discurso religioso.

Ainda em Landowski, as dinâmicas identitárias estabelecem uma tensão sempre

instável envolvendo quatro elementos, conjunção, disjunção, admissão e segregação

(2002:52). Os quatro elementos são processos dinâmicos em que os atores sociais

definem-se mutuamente de maneira dinâmica.

Esses processos dinâmicos, são definidos, em muito pelo enunciado discursivo,

que nesse caso, é promovido pelo pastor, é através de sua retorica que se obtém a

capacidade de estabelecer qual o processo mais apropriado para cada situação. Dessa

forma, o processo de construção identitária assumido quase que plenamente pelos fieis

da IMPDVA, e mais intensamente pelas pessoas participantes do núcleo permanente e o

corpo de obreiros/as da igreja.

Podemos considerar que na dinâmica da construção da identidade, o

enunciador/pastor se faz conhecido através do enunciado de suas digressões criando um

simulacro entre emissor e receptor, a força de sua mensagem é na desqualificação de

outros segmentos religiosos enquanto exalta as qualidades imanente da igreja, criando,

dessa forma, enunciados que expressão as situações particulares dos membros da

comunidade, tornando o concreto em abstrato, podendo, dessa forma, manipula-lo ao

seu bel prazer, nesse sentido o pastor MN é um hábil sedutor capaz de geral sentido aos

fiéis, coesão social e produção de identidades religiosas.

Objetivamente o receptor não é apenas um sujeito impassível aos apelos

pastorais, mas reage aos estímulos do emissor, nesse caso, é essencial ganhar a

subjetividade dessa audiência, fato atenuado pelo programa de televisão, pois antes

mesmo da pessoa encaminhar-se para um dos templos da IMPD já identificou-se, em

Page 156: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

147

alguma medida com a mensagem, com os testemunhos e narrativas de milagres

proferidas pelo apóstolo Valdemiro Santiago.

Por isso a retorica do pastor MN, já parte de um ambiente comum, não há uma

preocupação de explicar as minucias dos simbolismos evangélicos, nem ao menos uma

pregação convercionista, sua mensagem é cooptação desse público para fidelizar na vida

eclesial, entendendo, de ante mão, que as pessoas que entram nos templos Mundiais, já

são evangélicos, ou pelo menos possuem similaridade com a cultura dos símbolos e

ritos gospel.

Para pessoas não familiarizadas com a cultura gospel as mensagens do pastor

MN não têm o apelo necessário para a cooptação de subjetividade, mas em uma

comunidade migrante, empobrecida, com poucos recursos educacionais e em situação

de alta vulnerabilidade social, é um oásis no deserto metropolitano, a identificação de

um líder carismático, legitimado pela comunidade e manipulador do sagrado, que

entende as lutas cotidianas da comunidade, e as usa em favor de uma cosmovisão

sedutora, é fortemente aceita entre os fiéis, que veem no pastor alguém capaz de ajuda-

los na dura jornada de transitoriedade da vida migratória.

Assim como outras igrejas na contemporaneidade a IMPDVA também oferece

aos seus fiéis produtos religiosos. Esse espaço é inserido no final do culto,

concomitantemente com pedidos de ofertas e dízimos, é quase um fechamento de

círculo, os fiéis entram na igreja e adoram ao Senhor, pedem e são curados das suas

mazelas, escutam a mensagem divina, as vezes em forma de oraculo, com instruções

práticas para o cotidiano, e por último, contribuem ou pagam pelos “serviços

prestados”, pagando eles levam para casa “suvenires” que representam e simbolizam a

ação de Deus naquele dia.

Leonildo Campos ao discutir os produtos dentro do ambiente da Igreja Universal

do Reino de Deus afirma:

Essa grande linha de “produtos” liga práticas mágicas e comuns na religiosidade popular a “produtos” típicos da pós-modernidade, que enfatiza o bem-estar psicológicos e social dos indivíduos. A diferença está na habilidade da propaganda em combinar o “velho” com o “novo”, permitindo a construção de pontos de ligação da magia e religião, do pentecostalismo com as antigas formas de religiosidade cristã ou não-cristã. (1997:224-225)

O modelo da IMPD é bem parecido com o modelo iurdiano, uma vez que ambos

assimilam o pensamento mágico popular para criar produtos que atinjam a necessidade

de sua clientela/fieis. Embora na IMPD exista uma gama de produtos fetichizados para

Page 157: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

148

os mais variados fins, na IMPDVA os produtos parecem ser mais direcionados para a

cura e bem estar pessoal.

Produtos voltados a prosperidade como a chave que representa a abertura das

portas da prosperidade ou o martelo da justiça que visa a “quebra” de qualquer

problema que o fiel esteja passando, não são ao menos mencionados na igreja, mesmo

que no programa televisivo estes objetos estejam em franca campanha.

Isso denota uma certa autonomia entre as IMPD que alinham seus produtos

conforme a necessidade da clientela naquele momento. Autonomia essa, que permite

criar produtos próprios, exemplo disso é a toalhinha com as mãos do pastor MN e

missionaria Florzinha pintadas nela, segundo o pastor, com uma oferta de cinquenta

reais as pessoas poderiam levar a toalhinha “orada” para a casa, que tem por função,

curar os fiéis, trazer paz a casa e afastar qualquer presença demoníaca.

A toalhinha com a mão do pastor e de sua esposa é para o fiel que contribui a

extensão da igreja, ou nesse caso do pastor, em sua casa, o pensamento mágico mais

uma vez se faz presente, pois a toalhinha não é mais um simples objeto, entretanto, um

talismã. Enquanto o amuleto é considerado um objeto de propriedade mágicas, o talismã

é um objeto consagrado magicamente pela pessoa que o cria. Assim o amuleto é usado

de forma geral, enquanto o talismã tem uma finalidade especifica (GONZALEZ,

WIPPLER, 2001:10)

Não é somente a toalhinha que serve como talismã, mas uma boa parcela dos

produtos comercializados pela igreja, coluna gregas pintada a mão pelos obreiros,

chaveiros com a foto do apóstolo Valdemiro, são alguns dos exemplos. A função dos

produtos religiosos está na imanência do poder pastoral frente ao desejo e necessidade

do fiel de consumir as benesses dessa ação.

Além do discurso mágico-simbólico utilizado pelo pastor na venda de produtos

religiosos, existe uma coerção para que os membros contribuam regularmente com a

igreja, segundo o pastor MN, a igreja tem arrecadado menos que deveria, e por isso,

precisa da ajuda da igreja sede, que fica em São Caetano, segundo ele a igreja sede quer

fechar as portas do templo de Vila Alpina, uma vez que o investimento não tem dado

resultado.

É interessante ressaltar que, diferentemente de sua dissenção a IMPDVA não

atribui os dízimos e ofertas ao aspecto religioso, em relação a isso eles são pragmáticos,

dízimos e ofertas é para manutenção da igreja. Nessa atitude existe uma crítica aos

modelos de outras igrejas, principalmente as IURD, quase diariamente o pastor repete

Page 158: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

149

em suas falas: eu não negocio com dízimos e ofertas, o que gera um dissenso quando o

próprio pastor fetichiza um objeto e o sacraliza.

Quando todos terminam de ofertar ou pegar os produtos comercializados pela

igreja, o culto termina, o que dá a ideia de pagamento por um serviço prestado, ao

perguntar aos obreiros porque o momento de ofertório fica no final do culto obtive a

seguinte resposta:

O pastor diz que é no final do culto onde as pessoas já estão curadas, já receberam o alimento espiritual, elas ficam mais dispostas a contribuir para a igreja, as vezes as pessoas vêm aqui desanimadas, não querem nada com nada, depois do culto quando já está mais animada e aliviada ela nota a diferença e contribui com alegria. (Obreira 6)

O comércio na IMPDVA é muito mais que um objeto mágico-simbólico, ou

seja, o consumo dos fiéis acontece no próprio culto, a dimensão comercial, nesse caso,

não é focada em um modelo simples de escambo, mas uma prestação de serviço, aos

moldes de “pague quanto acha que vale”, as pessoas contribuem a medida em que saem

satisfeitas, emocionadas, aliviadas e curadas, quanto maior a sensação de bem estar

maior será a contribuição financeira da parte dos fiéis.

Se a mensagem cúltica surte algum resultado na membresia é a instauração de

um sentimento indenitário entre os fiéis, principalmente aqueles e aquelas que tem sua

subjetividade cooptadas pela retorica pastoral. Ele atua como um sedutor criando um

simulacro, tirando exemplos concretos enfrentado pelas pessoas, que em sua maioria

são pobres, pardos e migrantes, para áreas subjetivas podendo controla-las e sublima-

las. Dessa forma, não existe um nível único de comunicação entre o receptor e emissor,

tanto os elementos mágicos, as retoricas pastorais, as músicas e as expressões corporais

são elementos comunicacionais que visam, por meio de cooptação da identidade,

estabelecer estados de pertença eclesial.

4.2. Redes Sociais e o Corpo de Obreiros na Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina.

O termo rede social é aplicado a um padrão articulado de conexões nas relações

sociais de indivíduos, grupos e outras coletividades. (FOERSTER, 2009:69). As

relações apresentadas em uma rede social podem, e de certa forma devem, ter diversas

Page 159: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

150

implicações e formas variadas de interdependências, seja, pessoais, econômicas,

políticas, religiosas etc. fazem parte do cimento das redes sociais.

Nas redes sociais há uma grande valorização dos elos informais e das relações,

em detrimento das estruturas hierárquicas. (MARTELETO, 2001:72), os estudos

sistemáticos das redes sociais evidenciam um dado importante sobre a organização e

divisão dos relacionamentos humanos em sociedade, assim, mesmo tendo seu

nascedouro em ambientes informais de relacionamentos, os efeitos das redes sociais são

percebidos em diversos setores sociais pelas interações entre Estado, sociedade,

empresas, instituições religiosas, entre outros.

Podemos então nos apropriar das palavras de Degenne e Forse quando

explicitam que:

A análise de redes não constitui um fim em si mesma. Ela é o meio para realizar uma análise estrutural cujo objetivo é mostrar em que a forma de rede é explicativa dos fenômenos analisados. O objetivo é demostrar que a análise de uma díade (interação entre duas pessoas) só tem sentido em relação ao conjunto das outras díades da rede. Porque a sua posição estrutural tem necessariamente um efeito sobre sua forma, seu conteúdo e sua função. Portanto, a função de uma relação depende da posição estrutural dos elos, e o mesmo ocorre com o status e o papel de um ator. Uma rede não se reduz a uma simples soma de relações, e sua forma exerce uma influência sobre cada relação. (Apud MARTELETO, 2001:72)

As interconexões entre os indivíduos são o que as mantém coesas, segundo

Junqueira: as redes sociais só se sustentam se tiverem um objetivo em comum e se estes

objetivos forem suficientemente intensos para que os atores continuem a investir

energia na trama reticular (2006). Os estudos das redes sociais focam na relação entre os

atores baseando-se no pressuposto que os relacionamentos são constitutivos da natureza

humana e, por isso, são elementos definidores de identidade dos atores sociais.

A IMPDVA é uma comunidade religiosa, portanto pode ser identificada como

uma rede social, mesmo assim seus relacionamentos interpessoais não têm força

necessária para causar coesão social. Em grande medida isso acontece pela falta de

investimento da liderança em ambientes menos formais que vão além dos cultos e

reuniões da igreja, outra razão a ser considerada é a própria cultura contemporânea que

relega a religião a puramente entretenimento, onde não há um estado de pertença ou

uma responsabilidade com a instituição denominacional.

Contudo, na pirâmide da IMPDVA existe uma rede social que vai na contramão

das experiências dos seus membros, o corpo de obreiros/as da IMPDVA relaciona-se de

Page 160: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

151

forma orgânica, além disso, apresentam-se com objetivos em comum e sentimento de

pertença e responsabilidade frente a IMPDVA.

Seguimos estabelecendo que tipo de relacionamento interpessoal existe entre os

obreiros/as. Granovetter divide os laços sociais existentes em dois tipos, laços fortes,

onde os indivíduos despendem mais tempo, intensidade emocional e trocas simbólicas.

Ou laços fracos, onde o investimento é menor ou nulo. (1973)

As relações fracas que ampliam os limites da rede, isso porque quando os

indivíduos possuem relações fortes, é provável que haja uma superposição em suas

relações deixando a rede limitada. Por sua vez as relações fracas que ampliam os limites

da rede, conectando indivíduos e grupos que aparentemente não possuem ligação entre

si. Dessa forma, a existência de laços francos é fundamental para que a rede possa

atingir mais pessoas sem que haja perda de confiança.

Consideramos o grupo de obreiros/as da IMPDVA uma rede social de vínculos

fracos, embora muitos deles cheguem a conviver quase diariamente, a maioria não

desenvolve um relacionamento forte, isso porque o ativismo religioso dita as intenções

de cada indivíduo da rede, eles convivem e se relacionam mutuamente mais consideram

isso somente no campo religioso e não fora dele.

Quando perguntados sobre o nível de interação social e relacionamentos entre si,

os obreiros respondem:

Nós nos encontramos somente na igreja, não há uma amizade maior, mas também não dá muito tempo, “mó” correria no dia-a-dia com trabalho e família. Agente vem para a igreja e até conversa da vida, mas só isso. (Obreiro 6)

Quando eu chego na igreja converso com todo mundo, conto do meu dia, peço oração para o pastor, acho que a gente precisa se unir mais, as vezes a gente não visita os outro porque não comunicamos entre si. (Obreira 10)

Acho que poderíamos ser mais unidos, agente como liderança da igreja precisa dar o exemplo, mas a vida é muito corrida né, as vezes quando acaba o culto eu quero somente ir embora pra casa e descansar, acho que isso atrapalha um pouco o convívio (Obreiro 1)

Os laços fracos do corpo de obreiros permitem a inserção de novos obreiros pelo

pastor local, mas isso não garante uma extensão ou ampliação da rede social, em

primeiro lugar porque o comum é o obreiro/a ser escolhido pela assiduidade nos cultos e

reuniões da igreja, o que garante que ele ou ela já faziam parte do grupo permanente de

membros antes de ser vinculado aos obreiros/as da igreja. Em segundo é a disposição

Page 161: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

152

desse novo indivíduo em apresentar novos vínculos sociais que não estão associados

ainda a igreja, sendo que a maioria dos obreiros entendem seu trabalho como vocação

pessoal e com isso garante uma baixa adesão de seus familiares e vizinhos na igreja.

Para isso elaboramos duas questões: por que eles/elas aceitaram o cargo de

obreiros/as? E quantas pessoas de sua casa frequentam a igreja?

Não é um trabalho ou cargo, ser obreiro é um chamado de Deus, como o pastor diz, não é qualquer um que pode trabalhar na obra, tem muita gente que entra e desiste logo, todos os obreiros são vocacionados para isso. (Obreiro 7)

Meus filhos não participam muito, mas eles vão em outras igrejas estão está tudo bem, Deus é o mesmo não é mesmo? Eles fazem a parte deles e eu a minha. (Obreiro 7)

Ser obreiro é vocação, não é fácil a gente tem que fazer um monte de coisa, arrumar a igreja, chegar mais cedo, é uma doação, mas vale a pena, só de estar na casa do Senhor ajudando no culto é um privilégio (Obreira 9)

Eu oro muito para que meu marido e minha filha frequentem a igreja, eles não gostam muito, principalmente meu marido que diz que eu fico mais tempo na igreja do que com ele, mas eu preciso servir a Jesus se ele está me chamando, Jesus precisa estar em primeiro lugar em nossas vidas. (Obreira 9)

Eu não sou obrigado a estar aqui, ninguém é obrigado, ser obreiro não é um cargo é serviço, igual àquela vez que Jesus lavou os pés dos discípulos, ele serviu e todos os crentes deveriam ser assim, o pastor fala que na verdade o correto é que todos deveriam ser obreiros, mas infelizmente muita gente não tem maturidade para isso. (Obreiro 5)

Só minha esposa frequenta a igreja, ela também é obreira, mas meus filhos não frequentam igreja nenhuma, eu acho que cada um deve escolher o quer para sua vida, eu espero que eles decidam seguir a mim e a mãe deles, mas... bom Jesus sabe, se não vem por amor as vezes vem pela dor. (Obreiro 5)

O ativismo religioso encontrado nos obreiros/as da igreja tem como função,

quase exclusiva o cuidado com a igreja e sua manutenção impedindo um convívio

comunitário mais intenso e uma ação proselitista mais ativa. A rede de obreiros

apresenta uma densa dinâmica de relacionamentos, mas ao mesmo tempo limitam-se ao

espaço eclesial, uma vez que seu objetivo é a priori a sustentação do espaço sacro.

Embora a rede social em destaque não estruture seus relacionamentos em

vínculos diretamente migratórios, uma grande parcela de seus indivíduos vem de

ambientes de transitividade, 47% dos obreiros/as da igreja são migrantes ou de origem

migratória. Esse elemento é essencial para a compreensão das relações interpessoais,

Page 162: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

153

apesar do intuito da rede não ser uma ajuda mutua em relação aos indivíduos em

mobilidade espacial, 72% dos obreiros/as declararam já ter ajudado parentes e pessoas

da igreja, indicando trabalho, casas para alugar, terrenos a venda, ou algum programa

governamental como o Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.

Existe na vida da rede social uma relação de reciprocidade, estruturado sobre

normais sociais de confiança mutua, nessa relação as pessoas trocam informações sobre

trabalho, consumo, moradia, enfim tudo que contribua em algum modo para a melhora

ou a facilidade da vida. Dessa forma mesmo a rede social em questão tendo limites

geográficos estabelecidos e ações determinadas, as relações entre os atores, em

situações especificas, de ajuda, cuidado, proteção a rede dos obreiros/as tem a

plasticidade necessária para se reestruturar em favor dos seus pares.

A relação de reciprocidade funciona como um sistema de trocas, portanto na

reciprocidade sempre existe três momentos que seguem em um mesmo ato: dar, receber

e retribuir, nessa troca não existe nada de simplista, mas carrega a potencialidade da

sociabilidade humana, assim a solidariedade, a integração social e as obrigações mutuas,

estruturas de sociedade simples. (MAUSS, 1974:185)

Para Randomsky:

A reciprocidade pode sedimentar as relações sociais, pois vincula os sujeitos por meio de condutas (isto é, das obrigações morais e da liberdade do agir reciproco) e da carga simbólica que contém o dar e o retribuir (2007:255)

Se a noção de reciprocidade geralmente é entendida como conservação dos laços

sociais por um contíguo de sujeitos, as redes seriam a materialização das interações

empreendidas coletivamente. Dessa forma, a rede formada pelos obreiros/as da

IMPDVA nasce não de uma imposição estrutural ou hierárquica, nem ao menos de uma

vocação religiosa, mas ela é espontânea, formada por similaridades, que, aos poucos

moldam o ethos do sujeito e estabelece seu vínculo cultural, simbólico e indenitário.

A identidade atribuída a rede social acontece não pela forma de alteridade já

supracitada, usada principalmente na desqualificação do outro, mas na similaridade de

suas condições humanas, ou seja, a experiência do corpo de obreiros/as da igreja

acontece de duas formas distintas; em primeiro lugar pela retorica pastoral, que

desqualifica as experiências religiosas fora do âmbito da IMPD; em segundo pelas

similaridades sociais entre seus membros.

Page 163: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

154

As experiências relacionais entre os obreiros/as da IMPDVA geram um

sentimento de pertença bem mais sólido do que encontrado em outros grupos da igreja,

isso porque os atores sociais partilham de solidariedades, reciprocidade e similaridades.

Essa rede social espontânea abarca múltiplas experiências culturais, mas que dentro do

âmbito simbólico-magico-religioso promovido dento da IMPDVA transforma-se

homogêneos, assim sendo, a cultura religiosa subjetivada pelos obreiros/as da igreja

resulta em construção ou reconstrução de uma identidade pessoal e comunitária,

transformando migrantes, marginalizados, segregados e excluídos em atores sociais

relevantes, ao menos para a manutenção dos espaços sacros e os relacionamentos

presentes dentro dele.

4.2.1. Capital Social

Intimamente ligado ao conceito de redes sociais o capital social indica a força do

indivíduo dentro da rede social, bem como a influência de um grupo social. Marteleto

evidencia que a literatura econômica reconhece a existência de diferentes formas de

capital, que em comum tem a possibilidade de serem acumulados. (2004:45) outra

característica do capital é a ideia que ele pode ser transacionado e valorado, fazendo

com que o mercado determine seu preço e disponibilidade.

O capital social é uma das formas de capital, mas diferentemente de outros

modelos de capital, ele não deprecia com seu uso, é um produto coletivamente

produzido resultado das interações sociais e seus benefícios não podem ser mensurados

previamente.

O capital social gera externalidades, mas sua análise deve transcender esse ponto, isto é, o capital social entendido como um conjunto de redes e normas, permitindo a redução dos riscos decorrentes das relações entre desconhecidos, e consequentemente, dos custos das transações. (Ibidem:45)

Em decorrência disso a mensuração do capital social é problemática, embora

possa ser associada ao desenvolvimento ela não é evidente, principalmente do ponto de

vista das pesquisas econômicas, isso porque a sua não alienação nas redes sociais

configura muitas vezes em um adensamento da rede, ou seja, conceitos como confiança,

comunidade, bem estar, reciprocidade, são difíceis de serem calculadas, quantificadas e

qualificadas.

Page 164: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

155

Pois há um acordo entre os estudiosos do tema, segundo o qual não basta identificar o número de componentes das redes (ligações e nós), mas sim apreender a sua importância para a comunidade. Trata-se de um desafio para os pesquisadores e, principalmente, para aqueles interessados em usar o capital social para promover o desenvolvimento. (Ibidem)

Uma das maiores dificuldades apresentadas quando analisamos o capital social é

que o verdadeiro detentor do capital não é um indivíduo em si, mas a comunidade ao

seu redor. Dessa maneira, é a comunidade que exerce a autonomia para tomar decisões

e, por isso, precisa ser tratada como um bloco heterogêneo, o que nem sempre acontece

na prática.

Além da dificuldade em mensurar o capital social, armadilhas como atribuir ao

capital social a matéria de extirpador dos males excludentes e segregados, precisa ser

considerado, uma vez que a própria rede social em algum grau exclui determinados

indivíduos ou grupos, portanto cabe aqui destacar que nem toda a forma de capital

social é positiva, podendo ocorrer situações desestimuladoras e restritivas quanto a

liberdade pessoal.

Para Bourdieu a reprodução da desigualdade inerente ao capital social é uma

resultante das inter-relações dos atores sociais.

O conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e inter-reconhecimento, ou em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (...) mas também, são unidos por ligações permanentes e uteis. (NOGUEIRA, CATANI, 2008:67)

O capital social é atribuição das ligações permanentes e úteis entre os agentes de

um campo, dessa forma o volume do capital social atribuído a um indivíduo ou rede

depende da extensão das relações que o grupo ou o ator pode mobilizar, existe, portanto

dois elementos em questão, a própria relação social que dá aos indivíduos acesso a

recursos na posse dos membros do grupo, e a quantidade e qualidade desses recursos.

Ao analisarmos o capital social presente na rede social dos obreiros/as da

IMPDVA notamos que, por si só, não existe uma chance de mobilização de recursos.

Em grande medida esse aspecto se dá pelo objetivo da rede, que é exclusivamente

voltada as ações eclesiais. Nem mesmo em aspectos simbólicos o grupo de obreiros/as

não possuem os louros das ações diante da comunidade, neste caso todo capital

Page 165: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

156

simbólico da IMPDVA tende a ficar restrito ao ambiente pastoral, e esse, por sua vez,

abarca para si qualquer tentativa de divisão do capital simbólico.

Podemos notar também que existe uma barreira a ser transposta pelos novos

obreiros que querem entrar na rede social, embora o grupo não arbitre sobre as escolhas

de novos obreiros e obreiras, o grupo decide com quem compartilhar ou não diversas

informações, por isso é comum reclamações de “panelinhas” na igreja ou a desistência

de pessoas que não se adequam as especificações do grupo, mesmo que ela tenha sido

escolhida pelo pastor.

Os conflitos existentes nos obreiros/as da igreja limam a rede de ampliar suas

conexões relacionais, dessa forma a rede social limita seu capital em um número restrito

de indivíduos cujo a relação é permanente e útil. Existe na rede de obreiros/as um certo

protecionismo limitando, além do alcance da rede um maior acumulo de capital social.

Por esses aspectos encontrados nas visitas em campo, podemos identificar que o

desenvolvimento da rede e seus atores é comprometido, pois inviabiliza novos

relacionamentos, e com isso, a rede fica escassa de novas frentes de capital social.

O desenvolvimento, dessa forma, não pode ser medido no acumulo desse capital

social, mas no acesso as oportunidades exercidas pelos obreiros. Nesse sentido ao serem

perguntados se conseguiram algum benefício ao entrarem para o corpo de obreiros/as da

igreja 52% responderam que conseguiram informação para empregos, 36% declararam

que conseguiram casas para alugar, 38% indicações de escola para os filhos.

A rede social exercida pelos obreiros/as da IMPDVA não acumula um capital

social amplo, nem existe uma gama variada de atores sociais que conectam outras redes

a ela, contudo o desenvolvimento da rede pode ser percebido, mesmo com o baixo

capital social presente, através de trocas de informações pertinentes a realidade dos

obreiros/as igreja, o que diante da realidade da maioria dos membros da IMPDVA pode

ser considerado um avanço significativo.

4.3. Considerações.

O capítulo explanou sobre a dinâmica encontrada nos cultos da IMPVA, nesse

sentido a pesquisa encontrou uma igreja multifacetada, no qual possui muitas formas de

comunicação, entre elas, e talvez a principal, os discursos simbólicos adotados pelo

Page 166: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

157

pastor, que gera coesão social e identificação com sua figura, mas tende a tornar-se

extremamente personalista, uma vez que se coloca como figura central dos sistemas

simbólicos, identitárias e relacionais exercidos pela igreja.

O segundo ponto abordado no capítulo é não intencionalidade da rede social, embora

não exista uma rede social que perpassa por todos os indivíduos da igreja, ao menos,

podemos considerar a existência de uma rede social funcional entre o corpo de

obreiros/as, obviamente, por ser restritiva na quantidade de pessoas e no local onde ela é

exercida a rede configura-se de muitas limitações, mas ainda assim, a ajuda mútua

empregada pelos participantes dessa rede é beneficiada com trocas de informações

importantes entre eles, onde já representou resultados entre seus membros,

principalmente em relação a oportunidades de emprego e escolas para os filhos.

Dessa maneira, em seguida apresentaremos as considerações finais, entendo que

as relações entre religião, migração e periferia urbana, ao menos na IMPDVA acontece

em momentos distintos, o primeiro momento, mais contundente, é na obtenção de

capital simbólico proporcionado pelo pastor MN, onde procura criar nos adeptos da

igreja, sentimentos de pertença, adoção dos sistemas de valores preconizados pela

IMPD e a cosmovisão da igreja, afim de garantir uma reconfiguração identitária do fiel

migrante, que garanta ao pastor, a fidelização dele nas atividades da igreja, bem como

nos dízimos e ofertas.

O segundo momento, bem mais restritivo do que o primeiro acontece na rede

social de ajuda mútua empregada pelos obreiros/as da igreja, para os agentes que já se

fidelizaram com a igreja e associaram-se a ela, é possível ser ajudado pelas pessoas

desse grupo, que embora seja limitada em conteúdo, garante um mínimo de informação

que auxiliam pessoas em vulnerabilidade social, como é o caso dos fiéis da IMPD.

Page 167: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

158

Considerações finais

O foco nessa parte do estudo é relacionar as análises feitas ao longo da pesquisa

aos objetivos propostos no projeto. A urbanização, em especial a paulista, acorreu de

maneira mais intensa a partir de 1940, transformou plenamente as relações entre rural e

urbano, assim com o crescimento do técnico/industrial, as fabricas ganham subsídios

governamentais dispares em relação aos encontrados em outros setores sociais.

A “corrida pelo ouro” urbano e a escassez de investimentos em setores rurais,

motivaram o êxodo rural e fluxos migratórios nas regiões industriais do país, que

localizavam-se no sudeste, em especial São Paulo e Rio de Janeiro. O rápido

crescimento urbano, os grandes fluxos migratórios e a falta de um planejamento público

Page 168: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

159

adequado geraram espaços de segregação, principalmente em famílias migrantes,

tornando-os marginalizados.

Os reflexos da relação urbanização e migração podem ser medidos até nos dias

atuais. O distrito de Vila Prudente é uma das muitas expressões dessa dinâmica. Como

vimos na pesquisa esse distrito é fruto da compra dos irmãos Falchi, que constituíram

uma fábrica e lotearam seu terreno para seus operários. Assim Vila Prudente foi

construída, urbanizada e dívida. Ao longo dos anos sua história foi aglutinando fluxos

migratórios, assim, o distrito constitui-se de elementos ambíguos, se a verticalização

estabeleceu investimentos na região, por outro lado em alguns pontos transformou-se

em verdadeiros guetos, excluídos das vantagens advindas do metrô, monotrilho,

terminal de ônibus, participantes dos aumento do custo de vida na região, os migrantes

se viram forçados a mudarem para bairros mais periféricos, onde o custo de vida era

menor, mas em compensação sem os atrativos do bairro anterior.

O distrito de Vila Prudente é um pequeno holograma da realidade paulista,

assim, estudando uma parte, podemos compreender melhor o todo, a periferia não está

apenas relacionada a lugares distantes da metrópole, mas em espaços onde acontecem

exclusão e segregação da população. Nesse aspecto o distrito de Vila Prudente demostra

a existência de grandes guetos periféricos, espaços dicotômicos marcados pela

modernização e verticalização de prédios públicos e residências, mas que também

convivem com ruas sem asfalto, esgoto, iluminação pública e mecanismos básicos para

a vida na metrópole.

Podemos considerar que as interações da Igreja Mundial do Poder de Deus entre

pessoas inseridas em contextos periféricos, pode variar bastante, isso porque, a

IMPDVA não é uma extensão direta dos cultos da sua sede, não há uma preocupação de

transformar a igreja em franchising, obviamente alguns elementos precisam ser iguais,

para criar a identificação da igreja com aos cultos do apóstolo Valdemiro Santiago,

entretanto o pastor local possui autonomia o suficiente para adequar a mensagem, os

bens religiosos e os cultos a realidade em que a igreja está inserida.

Embora a mensagem religiosa e os produtos simbólicos-fetichistas sejam

inseridos no contexto dos adeptos da igreja, ainda assim, não existe qualquer

preocupação em oferecer ao fiel projetos e atividades que possa auxilia-lo na obtenção

de uma melhor condição de vida, não há encaminhamentos para cursos especializantes,

indicações de estudos, nada que contribua para a diminuição dos índices de

vulnerabilidade social. A relevância encontrada na interação entre IMDPVA e os

Page 169: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

160

migrantes, acontece somente no âmbito do discurso religioso, ela não se concretiza em

ações assistenciais ou apoio institucional para que haja uma diminuição e amenização

de condições precária, segregadoras e excludentes de seus sequazes.

A formação da identidade religiosa na igreja se concretiza somente em parte, em

um campo religioso marcado pela transitividade plurirreligiosa, a dimensão do discurso

não é suficiente para cooptar a subjetividade dos indivíduos que perpassam a igreja,

exatamente por isso, a IMPDVA enfrenta problemas de grande rotatividade em seus

cultos, não há atividades que incluam ou estimulem novos fieis a relacionamentos

comunitários garantindo um sentimento de pertença aos mesmos.

Os fieis encontrados ali são, em sua maioria, já participantes de uma cultura

gospel multifacetada, a experiência religiosa deles não garante um apelo comunitário ou

adesão ao sistema de valores da igreja, mas a busca pelas benesses prometidas pelo

apóstolo Valdemiro Santiago nos programas televisivos. Considero que o alto nível de

transito religioso encontrado na IMPDVA carece um estudo mais aprofundado, que

focalize essa perspectiva entre os membros da igreja.

Se as homilias inflamadas não são um ponto de conversão entre os participantes

dos cultos da Igreja Mundial, a identificação com o pastor local e o próprio apóstolo

Valdemiro Santiago se faz presente, os “causos” contados pelo pastor sobre como

chegou em São Paulo, torna sua figura simpática as pessoas migrantes da região. Não é

à toa que, a igreja possui um índice alto de homens e mulheres em mobilidade espacial.

Ou seja, muito mais do que mero discurso e ações assistencialistas a relevância da igreja

não está explicitamente nos cultos, mas na centralização da figura pastoral como

integrante e consciente das dificuldades dos deslocamentos humanos, assim, nos parece

que o cuidado que o pastor tem com sua imagem, aliado ao discursos de conquista e

prosperidade e o capital simbólico empregado pelo pastor, abstrai a realidade concreta

da experiência migratória para o campo metafisico, nesse sentido o pastor funcionaria

como elo entre aquele que domina as forças caóticas da urbanidade, o campeão dos

povos migrantes, um Moises, que abre os mares citadinos para que seu povo passe

tranquilamente pelos oceanos urbanos, um divisor de aguas entre o passado idealizado,

o presente sofrido e um futuro incerto.

Entretanto, mesmo com o protagonismo pastoral, a rede social que se constrói

não apresenta interferência eclesial. Ao contrário, sem a existência de espaços de

convivência, sem o conceito de igreja como comunidade de fé e sem nenhum apoio

pastoral ou institucional para que haja qualquer tipo de interação entre os fiéis, a rede

Page 170: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

161

social abarcada na IMPDVA formula-se de maneira gradual e espontânea, nos espaços

que lhe é propicio ao seu crescimento.

A rede de ajuda mútua acontece de maneira limitada, entre o corpo de

obreiros/as da igreja, e ela somente é possível pelo associativismo religioso praticado

entre eles, assim como o tempo de dedicação a igreja é alto, o convívio passa a ser

elevado, dessa forma as relações entre o grupo de obreiros, são maiores e mais intensos

que o grupo de membros ativos e os indivíduos em rotatividade religiosa. Nesse formato

as redes sociais dentro da IMPDVA, são de exclusividade do corpo de obreiros/as, são

eles que usufruem da rede de contatos e das estruturas de oportunidades, e

consequentemente, são eles que detém maior acumulo de capital social.

Mesmo os obreiros/as da IMPDVA beneficiando-se das estruturas de

oportunidades, a exclusividade da rede social torna-se um obstáculo, pois, ao mesmo

tempo que fortalece os laços sociais, limita-os a somente algumas fontes de informação,

contato, conhecimento etc. Ainda que haja limites visíveis a rede social dos obreiros/as,

eles mantem-se em vantagem contra aqueles e aquelas que não usufruem das mesmas

estruturas de oportunidades, dos relacionamentos interpessoais, do sentimento de

pertença e das dinâmicas provenientes deles.

A pesquisa aponta que a vinculação do migrante em instituições religiosas

garante, ao menos em parte, uma (re)configuração de sua estrutura natal, desse modo, o

associativismo religioso e as redes sociais provenientes dela, exercem papel

fundamental, se na urbanização a metrópole ganha contornos impessoais, excludentes e

massacrantes, a dimensão religiosa avaliza a permanência do crer, o sentimento de

pertença e a construção de uma identidade coesa criando lações fraternais entre os

membros da rede social.

A idiossincrasia da IMPDVA frente a essa realidade torna-se visível quando

analisamos o comportamento dos obreiros da igreja local, se por um lado a igreja

consegue gerar uma identificação pelo carisma pastoral, por outro somente aqueles que

realmente se envolvem com os trabalhos da igreja, podem gozar dos benefícios dela. O

sentimento de pertença do migrante, bem como a reformulação de sua identidade

acontece em dois níveis, o primeiro por intermédio pastoral, o segundo, muito mais

denso e restrito, através do relacionamento e inserção no grupo de obreiros/as da igreja.

A dinâmica entre as relações da IMPDVA com pessoas em contexto periférico e

mobilidade humana denota que, em sua maioria, os frequentadores obtêm recursos

simbólicos-mágicos para sustentar-se ante as vicissitudes da urbanidade, porém, elas

Page 171: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

162

ocorrem somente no âmbito discursivo-narrativo. Apesar de não estar claramente

perceptível, essa relação poderia ser melhor explorada, se existisse um aporte nos

relacionamentos interpessoais e um anseio de articulação enquanto comunidade de fé.

Na IMPDVA, os relacionamentos que garantem estruturas de oportunidades, laços

sociais sólidos e redes sociais agregativas ainda é experiência para um grupo seleto.

Ainda referente a pesquisa há alguns elementos que não puderam ser

aprofundados, mas que ao certo podem ser alvos de estudos e pesquisas em futuras

oportunidades. Tem-nos chamado atenção em que medida o transito religioso prejudica

as ações da IMPD, visto que na igreja local, esse fenômeno é motivo de tensão entre o

corpo pastoral, os obreiros e os membros. Embora exista uma gama de estudos nessa

área, considero ser interessante uma pesquisa mais aprofundada. Uma hipótese plausível

é que a Igreja Mundial do Poder e Deus tem sido beneficiada pelo processo de transito

religioso. Talvez, o incomodo gerado pelo fenômeno do transito na igreja local seja um

indicio que a IMPD tenha caminhado a passos largos para uma institucionalização e

burocratização de suas estruturas, ou mesmo, tenha perdido a força e sentido um

arrefecimento de sua expansão eclesial.

Outro elemento encontrado na pesquisa, que certamente merece ser estudo é o

número significativo de igrejas migrantes, como: Assembleia de Deus Russa, Igreja São

José de Vila Zelina, da comunidade Lituânia, Igreja Batista Russa, Igreja Ortodoxa

Russa, encontradas no distrito, um estudo que viabilize uma compressão maior de quem

são, levante sua etnografia e relacione os fluxos migratórios do bairro com as histórias

das igrejas com certeza traria boas contribuições acadêmicas.

Page 172: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

163

Referências Bibliográficas ALMEIDA, José Tadeu. A Mão de Deus está Aqui: apontamentos sobre a Igreja Mundial do Poder de Deus frente ao pentecostalismo brasileiro contemporâneo. Comunicações. UNICAMP. 2010. ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. ___________________. O Sagrado e as religiões no limiar do Terceiro Milênio. In: LIMAN, C. (Org.) A Sedução do Sagrado. O fenômeno religioso na virada do Milênio. Petrópolis: Vozes. 1998. AVRITZER, Leonardo (Org). A participação em São Paulo. São Paulo: Unesp, 2004. BARRERA RIVERA, Dario Paulo (Org.). Evangélicos e periferia urbana em São Paulo e Rio de Janeiro estudos de sociologia e antropologia urbanas. Curitiba: CRV, 2012. BECK, Ulrich. Wie aus Nachbarn Juden werden. In: 1996. MARCHI, Katia. A Construção e Reconstrução de Identidades no Contexto Migratório: a narrativa de dirigentes imigrantes na cidade de Pomerode. Dissertação (Mestrado). Curso de Administração de Empresas. Centro de Ciências Sociais. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2006. BERGER, Peter. O dossel sagrado. Elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo. Paulus. 1985 _______________; LUCKMANN, Thomas. A construção Social da Realidade. Editora Vozes. Petrópolis, 1999. BITUN, Ricardo. Continuidade nas Cissiparidades: Neopentecostalismo Brasileiro. História e Sociedade. Ciências da Religião vol.08. N°02. Ano: 2010. _________________. Igreja Mundial do Poder de Deus: Rupturas e Continuidades no Campo Religioso Neopentecostal. 2007. Tese (Doutorado). Ciências Sociais. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). São Paulo. BOHM, David. O universo que dobra e desdobra. In: Wilber, K., Pribram, k., Capra, F. et alli (Orgs.) O paradigma holográfico e outros paradoxos. São Paulo: Cultrix, 1994.

Page 173: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

164

BONDUKI, Nabil, ROLNIK, Raquel. Periferia da Grande São Paulo. Reprodução do Espaço como expediente de reprodução da força de trabalho. In. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. Editora Alfa-ômega, 1982. ______________________________. Ocupação do Espaço e Reprodução da Força de Trabalho. São Paulo, FAU-USP, Fundação para a Pesquisa Ambiental, 1979. BONDUKI, Nabil. Habitação popular: contribuição para o estudo da evolução urbana de São Paulo. In: Valladares, Licia (org). Repensando a Habitação no Brasil. Rio de Janeiro: Iuperj/Zahar Editores, 1982. _______________. Origens da habitação social no Brasil: Arquitetura moderna, Lei do Inquilinato e difusão da casa própria. Estação Liberdade, 1998. Bourdueu Pierre. & Sayad, Abdelmalek. Le déracinement. Paris: Minuit.1964 BOURDIEU, Pierre. A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: Organização e marketing de um empreendimento. Petrópolis: Vozes, 1997. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CENTRO DE ESTUDOS MIGRATORIOS. Migração no Brasil: o peregrinar de um povo sem terra. São Paulo: Paulinas.1986. CNBB. MIGRAÇÕES no Brasil: um desafio à pastoral. São Paulo: Paulinas, 1987. (Estudos da CNBB; v. 54). CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução a fenomenologia da religião. Tradução de Carlos Mario Vasquez Gutierrez. São Paulo: Paulinas, 2001. CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X: Mysterium, 2007. DAMIANI, Amélia Luísa. A Cidade (des)ordenada: concepção e cotidiano do Conjunto Habitacional Itaquera 1. Tese (Doutorado) – Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.

Page 174: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

165

DEAR, Michael. The Postmodern Urban Condition. Malden MA / Oxford UK, Blackwell, 2000. DECOL, René. Imigração internacional e mudança religiosa no Brasil. Comunicação apresentada na Conferência Geral sobre População, Salvador. 2001. DESROCHE, Henri. Dicionário de Messianismos e Milenarismos. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 2000. DURHAN, Eunice R. A caminho da cidade: a vida rural e a migração para São Paulo. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. (Debates). DURKHEIM, Emile. A educação moral. Tradução de Raquel Weiss. Petrópolis: Vozes, 2008. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Tradução de Rogerio Fernandes. Lisboa: Livros do Brasil, s.d.p. (Coleção Vida e cultura). 1992. Escorel, Sarah. Vidas ao Leu: trajetórias da exclusão social. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999. FARJADO, Maxwell Pinheiro. Pentecostais, Migração e Redes Religiosas na Periferia de São Paulo: um estudo do bairro de Perus. 2011. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. FOERSTER, Norbert Hans Christoph. A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social no ABC paulista: aspectos de sua tradição e transmissão religiosa - a instituição e os sujeitos. 2009. Tese (Doutorado). Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. FÓRUM SOCIAL DAS MIGRAÇÕES. Travessias na desordem global: Fórum Social das Migrações. Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM. São Paulo: Paulinas, 2005. GAGLIOTTI, Guilherme. A Verticalização em São Paulo, de 1980 a 2011: concentração e dispersão. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Mackenzie, São Paulo, 2012.

Page 175: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

166

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan. In: a desumanização do outro: algumas contribuições para essa Problemática a partir dos processos de exclusão e estranhamento. 1989. Gonzalez-Wippler, Migene. O Livro Completo dos Amuletos e Talismãs. [S.l.: s.n.], 2001. GRANOVETTER, Mark. The strength of weak ties. American Journal of Sociology. v. 78, n° 6, 1973. GUERREIRO, Silas. A magia existe? São Paulo: Paulus, 2003. (Questões fundamentais do ser humano; v. 2) HAGIN, Kenneth Erwin. O nome de Jesus. Rio de Janeiro: Graça ditorial,1985. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 10.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2006. HARVEY, David. Spaces of capital. Towards a critical Geography. New York: Routledge, 2001. JACOB, Cesar Romero et al. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Loyola, 2003 KOWARICK, Lucio. A espoliação urbana. Prefácio de Fernando Henrique Cardoso. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. KOWARICK, Lucio. Viver em risco: sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil. São Paulo: Editora 34, 2009. LAVALLE, Adrián Gurza. Espaços e Vida Públicos: reflexões teóricas e sobre o pensamento brasileiro. 2001.Tese (Doutorado) em Ciências Políticas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH. Universidade de São Paulo, São Paulo. LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Perspectiva, 2002. LEFEBVRE, Henry. A cidade do capital. Tradução Maria Helena Rauta Ramos e Marilene Jamur. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. ____________(1991) [1974]: The Production of Space. Oxford (R.U.) e Cambridge (EUA):Blackwell.

Page 176: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

167

________________. A Revolução Urbana. Tradução de Sergio Martins. Belo Horizonte. Ed. UFMG. 1999. ________________. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. _________________. Espace et Politique. Paris: Éditions Anthropos, 1972. _________________. O direito à cidade; tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2000. ________________O pensamento marxista e a cidade. Lisboa: Editora Ulisseia, 1972. LÉVI-STRAUSS, Claude. O feiticeiro e sua magia. (Publicado originalmente em 1949) In: Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.2.ed. 1985. MARCHI, Katia. A Construção e Reconstrução de Identidades no Contexto Migratório: a narrativa de dirigentes imigrantes na cidade de Pomerode. Dissertação (Mestrado). Curso de Administração de Empresas. Centro de Ciências Sociais. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2006. MARIANO, Ricardo. A Expansão Pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal. Estudo Avançados. 2004, v.18, n°52. ___________________. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo brasileiro. São Paulo: Loyola, 1999. MARICATO, Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo: Alfa-Ômega, 1979. MARTELETO, Regina Maria. Rede e Capital Social: o enfoque da informação para o desenvolvimento local. Ciências da Informação, Brasília, v.33, n° 3, 2004. MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 1988. [1950] MENDONCA, Antonio Gouvêa; CAMPOS, Leonildo Silveira (Org.). Protestantes, pentecostais e ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. 2. ed. São Bernardo do Campo: UMESP, 2008. MORIN, Edgar. Os desafios da complexidade. In: MORIN, Edgard. A religião dos saberes. O desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. NAVARRO, Pablo. A metáfora do “holograma social”. In CASTRO, Gustavo, CARVALHO, Edgard de Assis, ALMEIDA, Maria da Conceição (Orgs.). Ensaios de complexidade. Porto Alegre: Sulina, 2002,

Page 177: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

168

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Refazendo Antigas e Urdindo Novas Tramas: Trajetórias do Sagrado. Religião e Sociedade. Rio de Janeiro, v.18, n. 2, dez. 1997. NOGUEIRA, Maria Alice. CATANI. Afrânio Mendes (Orgs). Escritos de educação. Petrópolis, Vozes, 1998. Nogueira, Oracy. Preconceito Racial de Marca e Preconceito Racial de Origem: sugestão de um quadro de referência para a interpelação do material sobre relações raciais. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP. V.19. 2006, . NORBERT, Elias & SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os Outsiders. Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade, Rio de Janeiro. Zahar, 2000. OLIVEIRA, Valdemiro Santiago de. Os Pensamentos de Deus. São Paulo, Editora E-la Print Ltda. 2005. ORO, Ari Pedro; CORTEN, André; DOZON, Jean-Pierre (Org.). Igreja Universal do Reino de Deus: os novos conquistadores da fé. São Paulo: Paulinas, 2003. PACE, Enzo. Narrar Deus: a religião come meio de comunicação. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 24, n. 70, 2009. PIERUCCI, Antônio Flávio. A Magia. Coleção Folha Explica. PubliFolha: São Paulo, 2001. PIMENTEL, Marcia Cristina. A Construção da Celebridade Midiática. Revista: Contemporânea. N 4, 2005. 194-202. RABELO, Miriam Cristina. Religião, Ritual e Cura. Editora Fiocruz. Rio de Janeiro, 1993. RADOMSKY, Guilherme Francisco Waterloo. Reciprocidade, redes sociais e desenvolvimento rural. In: SCHNEIDER, Sergio (Org.). A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: Ed. da Universidade (UFRGS), 2006, p. 104-133. RAMELLA, Franco. Por un uso fuerte del concepto de red en los estudios migratorios. In: BJERG, Maria e OTERO, Hernán. Inmigracíon y redes sociales en la Argentina moderna. Tandil: CELMA- IEHS, 1995. BOGUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (Org.). A Luta pela cidade em São Paulo. São Paulo: Cortez, 1992

Page 178: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

169

RAMOS, Natália. Comunicação, cultura e interculturalidade: para uma comunicação Intercultural. Revista Portuguesa de Pedagogia, Ano 35, nº 2, 2001. RICCI, Rudá. Observations on significance and use of the indices of crowing. In: UNITED NATIONS. Housing requirements and demand current methods of assessment and problems of estimation. Geneva: United Nation, 1973. ROCHA, Gilmar. Marcel Mauss e o Significado do Corpo nas Religiões Brasileiras. In: X simpósio de História das Religiões. 2008, Assis (SP). SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. (Estudos urbanos; v. 5) _______________. A urbanização desigual: a especificidade do fenômeno urbano em países subdesenvolvidos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1982. _______________. A urbanização desigual: a especificidade do fenômeno urbano em países subdesenvolvidos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1982. _____________. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. SANTOS, Regina Bega. Migração no Brasil. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1998. Schwartzman, Simon. Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: uma introdução ao mundo contemporâneo. São Paulo, Augurium Editora, 2004. SINGER, Paul. Uso do solo urbano na economia capitalista. In MARICATO, E. (org.) - A produção capitalista da casa (e a cidade) no Brasil industrial, São Paulo: Alfa-Ômega. 1979. SOARES, Weber. Da metáfora à substância: redes sociais, redes migratórias e migração nacional e internacional em Valadares e Ipatinga. 2002. Tese (Doutorado) Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão: uma história de São Paulo das origens a 1900. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. VALADARES, Jorge de Campos. Qualidade do Espaço e Habitação Humana. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n° 1, 2000. VALLADARES, Lícia do Prado(Org.) Repensando a Habitação no Brasil. Zahar, Rio de Janeiro, 1983.

Page 179: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

170

____________________________, MEDEIROS, Lídia. Pensando as Favelas do Rio de Janeiro, 1906-2000: uma bibliografia analítica. Rio de Janeiro, Relume Dumará. FAERJ, Urbandata. 2003. VALIM, Ana. Migrações: da perda da terra a exclusão social. Coordenação de Wanderley Loconte. 8.ed. São Paulo: Atual, 2001. VASCONCELOS, José Romeu de. CÂNDIDO JÚNIOR, José Oswaldo. O problema habitacional no Brasil: déficit, financiamento e perspectivas. Rio de Janeiro: Ipea, abril de 1996 (Texto para discussão, n. 410) VILAÇA, Helena. Imigração, Etnicidade e Religião: o papel das comunidades religiosas na integração dos imigrantes da Europa de Leste. Observatório da Imigração, Lisboa, estudos OI. 2008. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de Regis Barbosa, Karen Elsabe Barbosa. 3. ed. Brasília: UnB, 1991. ZANINI, André. Messianismo e Neopentecostalismo: Uma análise da Práxis religiosa de Valdemiro Santiago na Igreja Mundial do Poder de Deus. Dissertação de Mestrado (Mestrado) em Ciências da Religião. Universidade Presbiteriana Mackenzie-São Paulo. 2009. Documentos Eletrônicos.

ALMEIDA, José Tadeu. A Mão de Deus está Aqui: apontamentos sobre a Igreja Mundial do Poder de Deus frente ao pentecostalismo brasileiro contemporâneo. Disponível em: www.ichs.ufop.br/ner/imagens/stories/Jos-_Tadeu_de_Almeida.pdf. Acesso em: 13 de Novembro de 2012. ALMEIDA, Ronaldo. Religião na Metrópole Paulista. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 19, n° 56. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v19n56/a02v1956.pdf. Acesso em: 18 de Junho de 2014. ASSUNÇÃO, Rudy. Albino de. O Reencantamento do mundo? Interpelando os intérpretes do desencantamento do mundo. In: Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 3, n. 9, janeiro/2011. Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html. Acesso em 26 de julho de 2013.

Page 180: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

171

BRITO, Ângela Xavier. Habitus de migrante: um conceito que visa captar o cotidiano dos atores em mobilidade espacial. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010269922010000300002&script=sci_arttext. Acesso em: 4 de fevereiro de 2014. CARDOSO, Rodrigo. A Espera de Um Milagre. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/331588_A+ESPERA+DE+UM+MILAGRE, acesso em 5 de junho de 2014 COLFEIRAI, Sandro Adalberto. Imigração e Identidade Cultural: a representação de uma identidade Preferência no Interior de Rondônia, Imigração e Identidade Cultural. Unisinos, 2010. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/colferai-sandro-imigracao-e-identidade-cultural.pdf. Acesso em: 5 de Abril de 2014 CORREIA, Vanessa. Vila prudente teve o maior número de lançamentos em 2013. Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/02/1410819-vila-prudente-teve-o-maior-numero-de-lancamentos-imobiliarios-em-2013.shtml. Acesso em: 28 de abril de 2014. Déli, Fernando Rodrigues. O povoamento e a Circulação no Vale do Aricanduva, da Colonização ao Início da Urbanização: momentos da fragmentação do espaço numa porção da Zona Leste paulistana. GEOUSP-Espaço e Tempo, São Paulo, n°18, 2005. Disponível em http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp18/Artigo6_FernandoD%C3%A9li.pdf. Acesso em: 2 de Abril de 2014. FELTRAN, Gabriel de Santins. Vinte anos Depois: a construção democrática brasileira vista da periferia de São Paulo. Lua Nova. 2007. N°72. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01024452007000300004&script=sci_arttext. Acesso em: 15 de Março de 2014. FILHO, Mario Ronco. O Bairro de Vila Prudente de Morais Um Gigante Paulistano: sua história e sua gente. Disponível em: http://vilaprudentesuahistoria.com.br/images/pdf/revista.pdf. Acesso em: 25 de Janeiro de 2014.

Page 181: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

172

GARRAFOLI, Fábio Takayama, VITALE, Letizia. Áreas industriais em obsolescência: Potencialidade para reconversão urbana ou mera mercadoria imobiliária? Disponível em: http://www.ppgau.ufba.br/urbicentros/2012/ST229.pdf. Acesso em 1 de maio de 2014. GIVISIEZ, OLIVEIRA. Gustavo Henrique, Elzira Lucia. Privacidade Intradomiciliar: um estudo sobre as necessidades de ampliações em residências. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982013000100010. Acesso em 10 de junho de 2014. HONÓRIO, Rosely Marchetti. Contribuição da Historia Oral. Disponível em: http://each.uspnet.usp.br/gephom/encontroregional2011/Anais_IX_ERSHO.pdf#page=176. Acessado em 1 de maio de 2014. IBGE, Censo Demográfico 2010. Sem paginação. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Nupcialidade_Fecundidade_Migracao/censo_nup_fec_mig.pdf. Acesso em: 2 de fevereiro de 2014. Infocidade, Prefeitura da cidade de São Paulo, baseado nos dados censitários de 2010. População Recenseada, Taxa de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Município de São Paulo, Subprefeituras e Distritos Municipais, 1980, 1991,2000,2010. Disponível em: http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_recenseadataxas_de_crescimento_1980_701.html. Acesso em 1 de maio de 2014. LAVALLE, Adrían Gurza; CASTELLO, Graziela. As Benesses desse Mundo: Associativismo religioso e inclusão socioeconômica. Novos estudos, n° 68. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dcp/assets/docs/Adrian/2004NovosEstudosBenessesDesseMundo.pdf. Acesso em: 28 de dezembro de 2005. LEMAD – Laboratório de Ensino e Material Didático. História de São Paulo: Av. Celso Garcia. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/node/260. Acesso em 21 de maio de 2014. LIMA, Zeuler. Enclaves Globais em São Paulo: urbanização sem urbanismo? Arquitextos, São Paulo, v. 05, n° 059.02. Vitruvius, abr. 2005 Disponível em:

Page 182: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

173

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.059/471. Acesso em 2 de fevereiro de 2014 LOIACONO, Mauricio. A Igreja Ortodoxa no Brasil. Revista USP. São Paulo, n° 67, Set/nov. 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13459/15277. Acesso em: 08 de Maio de 2014. LOMBARDI, Renato. Quem são as Vítimas de Homicídios na Periferia. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd181103f.htm. Acessado em: 25 de maio de 2014. Mapeamento das Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011164912102012492305590017.pdf acessado em: 2 de Abril de 2014. MARQUEZ, Eduardo. Pobreza, sociabilidade e tipos de redes sociais em São Paulo e Salvador. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/upload/aaa/273-Marques_VisioniLA_8_2013.pdf. Acesso em: 1 de abril de 2014. MARTELETO, Regina Maria. Análise de Redes Sociais – aplicação nos estudos de transferência da Informação. Ciências da Informação. Brasília, v.30, n°1, Jan/Apr. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0100-19652001000100009&script=sci_arttext. Acesso em: 26 de Maio de 2014. MARTINS, Paulo Henrique. As Redes Sociais, O Sistema de Dádiva e o Paradoxo Sociológico. Caderno CRH, V. 17, n° 40, 2004. Disponível em: http://www.cadernocrh.ufba.br/viewarticle.php?id=3. Acesso em: 7 de Março de 2013. MEDEIROS, Marcos Vínicos Gomes. O Crescimento Urbano e Industrial do Bairro da Vila Prudente Através dos Clubes Desportivos locais. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/Marcos%20jun%202010%20Trabalho%20V.%20Prudente%20final.pdf acessado em: 18 de abril de 2014. MOURA, Daniel Cerqueira Rodrigo. Custo da Juventude Perdida no Brasil. Disponível em:

Page 183: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

174

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130712_custo_da_juventude_perdida_no_brasil.pdf. Acessado em 26 de maio de 2014. OLIVEIRA, Lúcia Helena de Medeiros; LOMBARDI, José Claudinei. Instituições Educativas Projeto Scalabriano no Brasil. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe_2008/pdf/644.pdf. Acesso em 6 de maio de 2014. ORO, Aro Pedro. Neopentecostalismo: dinheiro e magia. In. ILHA- Revista de antropologia, v.3, n°1, novembro. 2001, p.71-85. Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/14957/15665. Acesso em 22 de julho de 2013. PASTERNAK, Suzana. Espaço e População nas Favelas em São Paulo. Google Docs. Disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:1MrSOtc4NiQJ:www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/GT_MA_ST21_Pasternak_texto.pdf+favelas+em+S%C3%A3o+Paulo&hl=ptr&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESie2F_HqmyhFG1Baf-DXAKOcqV392fUpJ0FEwjVihl24zyXMFsI_J_4cZwsnhfixEQftiHr49iy53bkb0-8Ci12Y8vTLLQNcwoRAkKGaJbu8bc_CCbisgujHIADHUDwJkaQ&sig=AHIEtbRsT2UDwtwyLNupCbum04slwUgXGA. Acesso em: 16 de outubro de 2013. PIERUCCI, Antonio Flavio. Religião. Folha de S.Paulo. 31 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs3112200019.htm. Acessado em: 26 de julho de 2013. PINTO, Áureo Magno Gaspar, JUNQUEIRA, Luciano Antonio Prates. A Análise de Redes Sociais como Ferramenta de Diagnóstico das Relações de Poder. Egesta – Revista Eletrônica em Gestão – Universidade Católica de Santos, v.4, n° 1, Jan/Mar. 2008. Disponível em: http://www.unisantos.br/mestrado/gestao/egesta/artigos/138.pdf. Acesso em: 19 Janeiro de 2013. QUENTAL, Paula. Batuta Brasileira: o paulistano Roberto Minczuk, regente assistente da Filarmônica de Nova York, é escolhido o mais brilhante jovem artista nos EUA. Isto é Gente. Disponível em: http://www.terra.com.br/istoegente/41/reportagem/rep_roberto.htm, acesso em: 26 de Março de 2014.

Page 184: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

175

RAPCHAN, Eliane Sebeika. Lituano e seus descendentes, reflexões sobre a identidade nacional numa comunidade de imigrantes. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao10/materia01/texto01.pdf, acesso em: 7 de maio de 2014. ROLNIK, Raquel, FRÚGOLI, Heitor. Reestruturação Urbana da Metrópole Paulista: A Zona Leste como território de rupturas e permanências. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/viewFile/9268/6874. Acesso em: 16 de Fevereiro de 2014. SACONI, Rose. Como era São Paulo sem a Radial Leste. Estadão. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,como-era-sao-paulo-sem-a-radial-leste,9129,0.htm. Acesso em: 14 de maio de 2014. SALES, Maria do Rosário Rolfsen. Et.al. Imigrantes Internacionais no Pós-Segunda Guerra Mundial. Unicamp: Observatório das Migrações em São Paulo, São Paulo. V. 11. 2013. Disponível em: http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/livros/colecaosp/VOLUME_11.pdf. Acesso em: 6 de Dezembro de 2013. SARAIVA, José Américo Bezerra, LEITE, Ricardo Lopes. Efeitos Metafóricos e Graus de presença da Enunciação no Enunciado. Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/4654/4542. Acesso em: 15 de Abril de 2013. Secovi. Balanço do Mercado Imobiliário: Acumulado Janeiro a Setembro de 2013. Disponível em: http://www.secovi.com.br/files/Arquivos/af-balanco-2013.pdf. Acesso em: 02 de Fevereiro de 2014. SILVA, Luís Octávio. A Constituição da Bases para a Verticalização na Cidade de São Paulo. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.080/280. Acesso em 21 de abril de 2014. SOARES & RODRIGUES, Weber, Roberto Nascimento. Redes Sociais e conexões prováveis entre migrações internas e emigração internacional de brasileiros. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, V. 19, julho/setembro de 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392005000300006&script=sci_arttext. Acesso em: 11 de Junho 2013.

Page 185: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

176

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2010: Anatomia dos homicídios no Brasil. Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2010/MapaViolencia2010.pdf. Acessado em: 25 de maio de 2014 Jornais e Revistas

Diário do Vale, 2014. Quatro Pessoas Morrem em Acidente na Via Dutra. 11 de Janeiro. CARDOSO, Rodrigo. Uma Igreja com Contas Bloqueadas. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/350111_UMA+IGREJA+COM+CONTAS+BLOQUEADAS+, acesso em: 5 de junho de 2014. Surgiu.com. Conheça os segredos do apóstolo milionário Valdemiro Santiago. Disponível em: http://surgiu.com.br/noticia/28393/conheca-os-segredos-do-apóstolo-milionario-valdemiro-santiago.html. Acessado em: 24 de julho de 2013. REGINA, Silvia. Apóstolo Valdemiro Santiago – De menino pobre a apóstolo de Deus. [Documentário]. Produção: Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo. 2011, DVD/NTSC, 2hs40. Color. Son. Vídeos da Internet Cura de Câncer e HIV. 2009.IMPD Mundial. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=U6-PpLcPCcM. Acesso em 22 de Julho de 2013. O chamado. Absurdo: Edir Macedo entrevista demônio que acusa Valdemiro Santiago e a Igreja Mundial. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NbWXLgEEFJk. Acesso em: 5 de junho de 2014. Programas televisivos Entrevista Apóstolo Valdemiro Santiago. Luciana by Night. São Paulo: Rede TV, 15 de abril de 2014. Programa de Televisão.

Page 186: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

177

O Apóstolo Milionário. Domingo Espetacular. São Paulo: Rede Record. 18/03/2012. Programa Televisivo. Documentário

REGINA, Silvia. Apóstolo Valdemiro Santiago – De menino pobre a apóstolo de Deus. [Documentário]. Produção: Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo. 2011, DVD/NTSC, 2hs40. Color. Son.

Anexos

Roteiro Para observação dos cultos Musica Silenciosa Abertura Oração Música 1 Música 2 Música 3 Oração/Intercessão/Exorcismo Testemunhos Mensagem Pastoral Oração Dízimos/Ofertas Oração Musica Final Despedida Número de pessoas presentes Número de pessoas por gênero Número de Pessoa por faixa etária Vestimenta do pastor e membros Número de obreiros Posturas corporais Ocupação do espaço físico Houve curas e milagres? Referências ao bairro de Vila Alpina Referências aos migrantes

Roteiro da Entrevista.

Page 187: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

178

1. A respeito do(a) entrevistado (a)

a. Quanto tempo está na IMPD?

b. Como conheceu a igreja?

c. Quantas pessoas da sua família participam da igreja?

d. Se converteu em São Paulo?

e. Frequência da participação?

f. Função na igreja?

g. Como é seu relacionamento com o Pastor?

h. O que pensa sobre ele?

i. A quanto tempo é obreiro(a)?

j. Por que aceitou ser obreiro(a)

k. Como se relaciona com outros obreiros?

l. Visitas outras igrejas?

m. Quais e quantas vezes?

n. A igreja já te benefício em alguma coisa?

o. Em que?

p. Qual é o seu nível de satisfação com a igreja e o pastor?

q. Porque?

r. Além da igreja possui outra atividade?

s. Quais?

2. Dados sobre o entrevistado.

Idade Estado civil Quantas pessoas moram na casa Quantos cômodos tem em casa Quantos filhos e seus gêneros Posição na Família Escolaridade Profissão Renda Familiar em salário mínimo Migrante? Se for, de onde? Quando migrou Se não, filho (a) de Migrante? Religião dos familiares?

Questionário aplicado na igreja.

Page 188: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

179

Perfil Socioeconômico e Religioso da Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina

Perfil Sociológico

1. Dados pessoais

a. Sexo do/a respondente

Masculino ()

Feminino ()

b. Estado Civil

Casado/a ()

Solteiro ()

Divorciado ()

Amigado ()

c. Faixa etária

18- 20 anos 21- 30 anos 31- 40 anos 41- 50 anos 51 – 60 anos + de 60 anos

d. Você se considera?

Branco Preto Pardo Indígena Outros

e. Qual o local de seu nascimento? Município e Estado

__________________________________________________________

f. Qual o local de nascimento de seus pais? Município e Estado

Pai________________________________________________________

Mae_______________________________________________________

Page 189: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

180

Cônjuge____________________________________________________

g. Profissão: __________________________________________________

Profissão do cônjuge _________________________________________

h. Renda familiar:

Menos de 1 salário mínimo De 1 a 3 salários mínimos De 4 a 6 salários mínimos De 7 a 9 salários mínimos De 10 a mais salários mínimos

i. Você mora em:

Casa Própria ()

Casa Alugada ()

De favor ()

j. Quantos cômodos?

De 1 a 2 De 3 a 4 De 5 a 6 De 7 a 8 Mais de 9

k. Quanto tempo você mora lá? ___________________________________

l. Em que bairro? ______________________________________________

m. Quantas pessoas residem com você? _____________________________

n. Escolaridade:

1° grau incompleto ()

1° grau completo ()

2° grau incompleto ()

2° grau completo ()

Page 190: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

181

Superior incompleto ()

Superior completo ()

Pós-graduado ()

No caso de superior ou pós-graduação: Qual curso?

__________________________________________________________

o. Escolaridade do pai:

1° grau incompleto ()

1° grau completo ()

2° grau incompleto ()

2° grau completo ()

Superior incompleto ()

Superior completo ()

Pós-graduado ()

No caso de superior ou pós-graduação: Qual curso?

__________________________________________________________

p. Escolaridade da mãe:

1° grau incompleto ()

1° grau completo ()

2° grau incompleto ()

2° grau completo ()

Superior incompleto ()

Superior completo ()

Pós-graduado ()

No caso de superior ou pós-graduação: Qual curso?

__________________________________________________________

q. Escolaridade do cônjuge:

1° grau incompleto ()

1° grau completo ()

1° grau completo ()

2° grau incompleto ()

2° grau completo ()

Page 191: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

182

Superior incompleto ()

Superior completo ()

Pós-graduado ()

No caso de superior ou pós-graduação: Qual curso?

__________________________________________________________

2. Perfil Religioso

a. Porque frequenta a Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

b. A quanto tempo frequenta a igreja?

De 0 a 3 anos De 4 a 6 anos De 7 a 9 anos Mais de 10 anos

c. Com que frequência vai a Igreja Mundial?

Todos os dias 4 a 5 vezes na semana 3 vezes na semana 2 vezes na semana 1 vez na semana 2 vezes por mês 1 vez por mês Esporadicamente

d. Quantos pessoas de sua casa frequentam a igreja?

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

e. Em quais atividades costuma participar na igreja?

Culto Grupo de oração Escola dominical

Page 192: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

183

Festas/ eventos Atividades assistenciais Atividades culturais (teatro, música) Evangelismo

Outros_____________________________________________________

f. Já frequentou outra igreja ou religião?

Sim () Não ()

Quais?

__________________________________________________________

_________________________________________________________

g. Porque mudou para a Igreja Mundial do Poder de Deus em Vila Alpina?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

h. Quais atividades (fora da igreja) costuma participar?

Partido político Assoc. cultural/ esportiva Sindicato/assoc. de classe Grupos de 3° idade Associação de bairro Trabalho voluntario/

assistencial

Assoc. amigos/ comunitária Conselhos de saúde, educ.etc. Associação profissional Org. não governamental Assoc. de luta/moradia Outro (especificar) Assoc. acadêmica Não participa

Outros: ___________________________________________________

i. Há quanto tempo participa dessas atividades?

De 0 a 3 anos De 4 a 6 anos De 7 a 9 anos De 10 a 12 anos 13 a 15 anos Mais de 15 anos

j. Ocupa algum cargo?

Page 193: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

184

Sim () Não ()

Qual?

______________________________________________________

k. Qual a importância a Igreja Mundial do Poder de Deus tem em sua vida?

É o mais importante ()

É muito importante ()

É importante ()

É importante mais não muito ()

l. Qual o benefício que a Igreja Mundial do Poder de Deus lhe traz?

Muito Regular Pouco Nada Realização espiritual Conhecimento sobre a Bíblia Harmonia/ equilíbrio pessoal Valores morais e éticos Vivencia em comunidade/ fazer amigos

Relacionamento com pessoas de outras comunidades/ espaços sociais

Auxilio em problemas familiares/conjugal

Auxilio em questões profissionais Auxilio em questões materiais Poder ajudar outras pessoas Outros (especifique)

Outros: ____________________________________________________

Local e data da realização das entrevistas e aplicação dos relatórios. Todas as entrevistas e aplicação de questionários foram na Igreja Mundial do

Poder de Deus em Vila Alpina, Rua Costas Barros, n°63, Vila Alpina.

Entrevistado Dia Horário Obreiro 1 15/04/2013 18hs30

Page 194: Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de ...tede.metodista.br › jspui › bitstream › tede › 322 › 1 › DanielSantana.pdf · Religião e Periferia Urbana: as dinâmicas

185

Obreira 2 22/05/2013 21hs00 Obreira 3 31/05/2013 17hs20 Obreiro 4 04/06/2013 21hs30 Obreira5 22/06/2013 11hs30 Obreiro 6 08/08/2013 15hs45 Obreira 7 19/08/2013 18hs30 Obreira 8 21/08/2013 18hs30 Obreiro 9 11/10/2013 18hs30 Obreiro 10 23/10/2013 21hs20 Obreira 11 22/11/2013 11hs20 Obreira 12 08/12/2013 11hs30

Aplicação do Questionário Dia Culto 21/08/2013 Culto Matutino 16/10/2013 Culto Noturno 23/10/2013 Culto Vespertino 09/11/2013 Culto sabático 15/12/2013 Culto Dominical