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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA Mirian Alvim Fernandes A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA BASÍLICA DE BOM JESUS DE IGUAPE Santos 2010

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE HISTÓRIA

Mirian Alvim Fernandes

A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA BASÍLICA DE BOM JESUS DE IGUAPE

Santos 2010

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE HISTÓRIA

Mirian Alvim Fernandes

A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA BASÍLICA DE BOM JESUS DE IGUAPE

Santos 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação e Ciências Humanas – UNIMES, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura em História, sob a orientação do Professor Mestre Maurício Nunes Lobo.

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Dedico o presente trabalho, primeiramente ao meu tio Mauro Trindade

Alvim, por ter me concedido a oportunidade da minha formação

acadêmica e a minha mãe pelo incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus.

Aos meus pais e irmãos.

As minhas queridas e amadas filhas pela compreensão da minha ausência nestes anos de estudos.

Ao meu ilustre orientador e coordenador do curso Maurício Nunes Lobo, pela paciência e atenção a mim concedida, ao qual declino imenso grau de admiração e respeito.

A todos os professores que direta ou indiretamente participaram da minha formação acadêmica.

Aos amigos de curso pela agradável convivência.

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“Um país sem História, não é só um país sem passado, é um país sem futuro.”

Rui Barbosa

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Resumo

A monografia consiste em retratar os pontos mais importantes da história de

Iguape, focando na Basílica de Bom Jesus de Iguape e nos conceitos básicos sobre

patrimônio cultural e preservação. Posteriormente, há uma convergência dos

conceitos e dos fatos históricos apresentados como justificativa para a necessidade

da preservação da basílica, abordando, também, aspectos inerentes ao ato de

preservar que é tão necessária a humanidade.

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Sumário

Introdução 8

Capítulo 1- História de Iguape 9

Capítulo 1.1 – História da Basílica 15

Capítulo 2- Patrimônio cultural e tombamento 19

Capítulo 3 – A importância da Basílica como patrimônio 24

Considerações Finais 28

Referências Bibliográficas 29

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Índice de imagens

Figura 1 30

Figura 2 31

Figura 3 32

Figura 4 33

Figura 5 34

Figura 6 35

Figura 7 36

Figura 8 37

Figura 9 38

Figura 10 39

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INTRODUÇÃO

A cidade de Iguape, além das belezas naturais, possui atrativos culturais,

históricos e religiosos. Fundada em 1538, compreende o maior centro histórico e

arquitetônico preservado do Estado de São Paulo. Com 64 imóveis em estilo colonial

português, entre eles, casarões e igrejas.

A presente monografia tem o intuito de evidenciar a importância de preservar

o patrimônio cultural por ser um bem único. Como tal, a sua preservação é primordial

para a manutenção da nossa própria identidade. Todo nosso patrimônio cultural

representa um tesouro de que nos devemos orgulhar e cujo valor é de difícil cálculo,

tal é a sua riqueza.

Através de pesquisas bibliográficas e apoiadas principalmente na obra do

historiador iguapense Roberto Fortes, essa monografia resgata a memória

valorizando o patrimônio dos munícipes.

Portanto, esse trabalho resulta da reflexão sobre o ontem e o hoje do

patrimônio histórico da Basílica do Bom Jesus de Iguape, sendo este um patrimônio

referencial da cidade.

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Capitulo 1

A História de Iguape

A história de Iguape é repleta de características e eventos comuns em toda a

história do Brasil, principalmente do Litoral.

Como na maioria do território brasileiro, a então cidade de Iguape tem

registros de povoamento antes da chegada dos europeus, pautados em pesquisas

que comprovam sinais da existência desses povos, existindo hoje por volta de 10

sítios arqueológicos, datados de milhares de anos. (PEREIRA, 2005)

Um grande recurso para essa e outras pesquisas são os sambaquis e os

resquícios de objetos ósseos, líticas e cerâmicas remanescentes das antigas

civilizações. Segundo Pereira (2005, p. 13) “A palavra sambaqui vem do tupi tamba,

significando concha, e Ki, monte, ou seja, monte de conchas”. Os sambaquis são a

principal evidência da presença desse homem pré-colonização, e representam além

dos hábitos alimentares dos povos, ostras, mariscos, etc., um elemento para que

possa implicar costumes, como o enterro dos mortos, utensílios, artefatos, etc.

(PEREIRA, 2005)

Com o processo das grandes Navegações e a empolgação com o

descobrimento do Brasil, os colonizadores portugueses pioneiros estabeleceram

postos de fortificação e aldeamento nas regiões costeiras, visando facilitar a

exploração dessas áreas, repletas de animais e índios, porém de madeiras nobres e

pedras e metais preciosos. Segundo Carlos Alberto Pereira Júnior:

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Durante os primeiros anos do século XVI, os portugueses limitaram - se a

fazer algumas viagens de reconhecimento pela costa mar, alarmados

com as notícias de estrangeiros se estabelecendo em povoados e

aldeamentos isolados e com as abordagens de embarcações piratas,

decidiram enviar ao Brasil uma esquadra chefiada por Martim Afonso de

Souza e fixar bases mais eficientes. (2005 p. 15)

Em 1531, pouco antes de fundar oficialmente o povoado de São Vicente,

Martim Afonso de Souza esteve na região de Cananéia, onde ancorou seus navios

na Ilha do Bom Abrigo e colocou um marco de pedra em Itauruça. Nessa visita

Martim Afonso foi recebido, além de por castelhanos e mestiços, por um importante

personagem na história de Iguape, o Bacharel em Cananéia, que havia estabelecido

um povoado conhecido como Maratayama, “terra do mar”. (PEREIRA, 2005)

O Bacharel apesar de ser uma figura importante foi também muito enigmático,

a ponto de seu verdadeiro nome ser desconhecido. “O primeiro núcleo de povoação

teve início em Icapara (i- caa- para nome indígena que significa água grande, no

caso, o mar), e o Bacharel foi o fundador do local, tendo sido auxiliado por índios

das redondezas e por alguns desterrados.” (PEREIRA, 2005, p. 18)

Há especulações da presença de espanhóis nesse núcleo de povoamento,

contudo registros só há da presença do castelhano Rui Garcia de Mosquera, que

junto com outros espanhóis ajudou Iguape a não sucumbir aos ataques das naus de

piratas e corsários. Especula-se ainda que esse povoado entrou em guerra com o de

São Vicente, resultando em mortes e na expulsão em 1535 de icaparenses e

espanhóis para Santa Catarina e depois para a atual Argentina (PEREIRA, 2005).

No período de 1551-1552 a economia na região de Iguape voltou-se para a

extração do ouro. Por volta de 1614, em decorrência dos inúmeros ataques

marítimos dos piratas e corsários, o povo da então vila de Icapara se mudou. Com a

falta de água potável nesse período a mudança foi concretizada, a data é presumida

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com base na da fundação da antiga igreja, por volta de 1614, a então Vila de Nossa

Senhora das Neves de Iguape situava-se primeiramente em um local chamado

Enseada, posteriormente para o local onde hoje se encontra o centro da cidade, as

margens do Mar Pequeno. E então, houve as construções da igreja dedicada à

padroeira, a Casa da Câmara e Cadeia e como será comentado a seguir, a Casa da

Fundição do Ouro (PEREIRA, 2005).

Nesse período, mais precisamente em 1630, a Coroa portuguesa criou a

Casa da Oficina Real da Fundição de ouro, com o intuito de sistematizar a

mineração e a lavagem do metal e prevenir o contrabando, além de garantir o seu

quinto. Segundo Fortes (2000, apud SILVA, 2007) “[...] considerada por alguns

historiadores como a primeira casa do gênero no Brasil. Era dirigida pelo brasileiro

Manoel dos Reis, que ocupava o cargo de Almotacel (inspetor de pesos e medidas)”

Em 1647 dois índios encontram a tão famosa imagem do Senhor Bom Jesus

de Iguape, na praia do Una. Hoje é uma imagem que rende diversas réplicas e

inspira romarias e festa na cidade, sendo a festa a segunda maior do Estado de São

Paulo. (FORTES, 2000 apud SILVA, 2007)

Apesar da boa fase do ouro, a mais importante fase econômica da cidade foi

a do arroz. Ela começa a existir com bases sólidas em fins do século XVIII e atinge

seu apogeu na primeira metade do século XIX. A Praça da Basílica e as cercanias

possuem hoje grandes casarões de pedra e cal que enriquecem sua importância e

embelezam a paisagem, nessa fase a maioria deles foi criado devido à grandeza

econômica do arroz. Essa fase foi tão importante que em 1841 o então imperador D.

Pedro II concedeu a Antonio da Silva Prado o titulo nobre de Barão de Iguape, em

prol de seu trabalho na agricultura, que junto com os outros agricultores alcançou

tanto êxito que em 1911 o arroz de Iguape foi premiado na cidade de Turim, Itália.

(FORTES, 2000 apud SILVA, 2007)

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A boa fase concedida pelo comércio do arroz sofreu uma grande decadência

advinda de diversos eventos que assolaram a cidade. Inicialmente pela problemática

dos preços altos de transporte do arroz, que fazia o trajeto do Porto do Ribeira, onde

existia um porto fluvial até o Porto Grande, no Mar Pequeno na sede da Vila, em

carroças que percorriam 3 quilômetros. Com a ideia de cortar custos vereadores e

agricultores se uniram em um projeto de criação de uma vala que ligasse os dois

portos. Existiram dois grupos que lutavam pela construção dessa vala em lugares

diferentes, um queria ao Norte, alegando que o solo era mais consistente por ser

perto do morro e o outro ao Sul, pela facilidade oferecida pelo solo arenoso.

Infelizmente o grupo vencedor foi o que sugeria a construção ao Sul, o que trouxe

consequências catastróficas. (FORTES, 2000 apud SILVA, 2007)

Durante 25 anos, escravos e trabalhadores assalariados escavaram a

vala, que passou a ser utilizada a partir de 1852, dando passagem a

pequenas canoas. O que era para ser um benefício transformou-se num

pesadelo. A pequena vala de alguns metros, que podia ser pulada em

alguns pontos, transformou-se num imenso braço de rio de mais de 200

metros de largura. Suas margens começaram a desbarrancar de maneira

vertiginosa; ruas inteiras e casas foram tragadas pela impetuosidade das

águas. (FORTES, 2000 apud SILVA, 2007)

Esse foi o início da decadência da cidade, que foi intensificado pelo mal

planejamento do setor do arroz em conjunto com a intensificação da concorrência de

outras cidades do estado, e a falta de entendimento entre os políticos e agricultores,

que além de refletir nesse setor econômico criou uma bipolaridade de grupos

políticos conservadores que, desde 1831, dominara a cidade. (FORTES, 2000 apud

SILVA, 2007)

Passado-se alguns anos, houve a questão da mudança do nome da cidade

que resultou no que conhecemos hoje.

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Seria criado pela Lei nº 17, de 3 de abril de 1849, com o nome de Bom

Jesus da Ribeira. Só que o povo iguapense não gostou dessa mudança

[...] Assim, no ano seguinte, atendendo aos protestos de todos, o

Governo Provincial, através da Lei nº 3, de 3 de maio de 1850, mudou o

nome da cidade para Bom Jesus de Iguape, que a tradição simplificou, a

partir de então, para Iguape. (Fortes, 2000, apud SILVA, 2007)

Nessa época houve também a concessão da Comarca, na qual Roberto

Fortes (2000, apud SILVA, 2007) também faz menção em seu livro.

A Comarca foi criada pela Lei nº 16, de 20 de março de 1858. Essa lei

criou também as comarcas de Bananal, Piracicaba e Paraibuna. A

Comarca de Iguape foi a 13ª criada no Estado de S. Paulo, tendo sido

confirmada pela Lei nº 61, de 20 de abril de 1866. Antes de possuir a

sua, Iguape pertenceu a diversas outras comarcas: São Paulo (1700 a

1723), Paranaguá (1723 a 1833), Santos (1833 a 1852), Itapetininga

(1852 a 1854) e Santos (1854 a 1858).

Logo após a assinatura da Lei Áurea, em 1888, o Brasil inteiro via nascer uma

onda de imigração europeia, principalmente para suprir os negros como mão de

obra. Em Iguape houve principalmente imigração japonesa, posterior a europeia,

que ocorreu no início do século XX. Em Iguape criou-se o povoado de Jipovura, o

primeiro no Brasil, que tem a característica marcante da construção de casas que

mesclam as técnicas de taipa com o acabamento japonês. Para os japoneses foi

um difícil recomeço de vida, marcado pela tentativa de se reerguer apoiando-se no

cultivo de arroz, farinha de mandioca e alambique. Contudo em 1913 as

autoridades brasileiras reconheceram a importância dos japoneses e resolveu

ajudá-los a se desenvolverem, então surge a ideia de fundar uma colônia

específica para receber levas de imigrantes, que seria administrada pelos próprios

imigrantes. Surge assim a colônia Katsura, fundada em 9 de novembro de 1913,

tendo em seu nome uma homenagem a um ministro japonês (PEREIRA, 2005).

No fim da Segunda Guerra Mundial a colônia japonesa entrou em decadência,

gerando a mudança das famílias para outros lugares como São Paulo, Mogi das

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Cruzes, o próprio centro de Iguape, entre outros. Segundo Pereira os motivos da

decadência foram:

A concentração das glebas de terra nas mãos de poucos proprietários; a

queda no cultivo e na produção de arroz; as dificuldades de comunicação

e transporte; a crise no comércio em geral; a procura por centros mais

desenvolvidos para que pudessem oferecer um futuro melhor aos seus

filhos, o assoreamento do porto, que dificultava o embarque e

desembarque de passageiros e cargas nos vapores, e lanchas da linha

de navegação. (PEREIRA, 2005, p.47)

A partir de todos esses eventos brevemente narrados podemos inferir o

quanto são importantes às lições que a história nos ensina, principalmente a regra

básica da vida: que o mundo gira e que de um momento de grandeza a uma

desgraça só o tempo separa, e que saber recolher os cacos e recomeçar é o que

mantêm tudo de pé. Iguape soube como veremos mais adiante, abarcar grande

parte das dificuldades enfrentadas no decorrer de sua história e transformar isso em

um espelho para o futuro, colhendo uma cultura rica e bem preservada que retrata

épocas de altos e baixos e que hoje é motivo de grandeza para a cidade que a

usufrui principalmente no setor turístico.

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Capítulo 1.1

História da Igreja Matriz

A primitiva Igreja Matriz de Iguape, dedicada a santa padroeira de cidade

Nossa Senhora das Neves de Iguape, teve sua construção iniciada junto com a

mudança da vila do Morrete do Bacharel para sua atual posição. Sua construção foi

finalizada entre 1635 e 1637. Localizando – se desde o início onde é hoje o Jardim

da Praça da Basílica, teve a frente construída voltada para o nascente. (FORTES,

2006)

Segundo Roberto Fortes a igreja poderia ser descrita desta forma:

Tinha o estilo simples das igrejas coloniais, de pedra e cal, com 38

metros de comprimento por 18m de largura, uma pequena torre com

sinos, do lado direito, e paredões laterais de escora. A sua frente estava

o cruzeiro, uma coluna encimada por uma cruz de pedra, esculpida em

Portugal. A imagem do Bom Jesus foi colocada à direita do altar-mor,

onde estava Nossa Senhora das Neves. (FORTES, 2006, p. 27)

A igreja serviu ao povo durante dois séculos. No início guardava as sepulturas

dos paroquianos, inicialmente apenas aos membros da Irmandade do Santíssimo

Sacramento, muitos anos depois houve a concessão de três sepulturas para a

Irmandade do Rosário, o que representou um grande avanço do prestígio dessa

irmandade que era formada por mulatos, negros livres ou escravos. (FORTES, 2006)

No ano de 1819 já era notado o desgaste que o tempo causara na igreja. Em

uma anotação o padre João Chrisóstomo de Oliveira Salgado Bueno alertou acerca

do perigo de ruína do prédio, contudo ela foi sendo escorada precariamente até

1858, quando a nova Matriz já estava organizada para receber as cerimônias

litúrgicas. No dia 18 de setembro de 1858 o governo mandou demolir a igreja em

ruínas, para então construir um gradil de ferro que circunda hoje o jardim montado.

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Os materiais remanescentes da demolição foram aproveitados para a construção da

capela de São Miguel, localizada no Cemitério Municipal, e o cruzeiro de pedra

encontra-se atualmente na orla do Mar pequeno (FORTES, 2006).

Segundo Fortes (2006, p.29) “É bem provável que as primeiras providências

para a construção da nova Matriz tenham sido tomadas em 1787”. A obra foi

grandiosa desde sua elaboração, sua planta veio do Rio de Janeiro encomendada

de engenheiros de lá, que elaboraram uma estrutura monumental para a Igreja

(FORTES, 2006).

Na época houve muitas reclamações acerca do tempo de construção, sobre

sua demora, porém sabe-se que mesmo hoje em dia o trabalho seria demorado,

porque o transporte dos imensos cubos de granito que foram arranjados para

compor a obra é uma tarefa árdua até para a tecnologia que provavelmente iriam

dispor atualmente. O processo de construção foi determinado pelo capitão geral D.

Bernardo José Maria de Lorena e Silveira, ele sugeriu que o trabalho fosse feito por

grupos de 20 pessoas com a ajuda dos soldados que estivesses no local. O trabalho

gerou muito entusiasmo e foi administrado pelo padre santista Diogo Rodrigues da

Silva, gerando um movimento de ajuda após as missas, no qual homens notáveis, o

povo e o vigário carregavam os blocos de granito deixados pelas canoas nas praias,

pois eram retirados da parte marítima do morro. Dessa forma foi possível concluir os

alicerces da igreja, porém o entusiasmo não foi o suficiente quando faltaram verbas,

então a obra estacionou. (FORTES, 2006)

O problema das verbas foi abordado pelos vereadores em conversa com Dr.

Antonio de Carvalho Fontes Henrique Pereira, porém foram tomadas medidas

inúteis de tentativa de criação de impostos sobre o arroz e a aguardente, que nunca

saíram do papel principalmente pela participação dos próprios vereadores na

agricultura e pela má fase do setor na época. Porém um comentário feito no livro

tombo da Matriz foi incisivo e útil para o prosseguimento da obra, o comentário

afirmava que os fiéis não abriam mão de seus interesses e ganhos pessoais em prol

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dos públicos, que se referia a Igreja. Esse comentário impulsionou a obra e em

agosto de 1822 as obras retornaram e as paredes laterais foram construídas no

mesmo ano. (FORTES, 2006)

Contudo o orgulho ferido que fez os moradores impulsionarem a obra não se

estendeu por muito tempo, a obra parou novamente em 1825 por motivos

administrativos retornando apenas em 1838 sob a administração do PE. João

Batista Ferreira que morreu pouco tempo depois. Quando foi inaugurada a

Irmandade do Senhor do Bom Jesus, em 1842, o PE. José Alves Carneiro

,procurador da ordem, teve grande dedicação à obra e conseguiu o feito de levantar

as paredes ao ponto de possibilitar o madeiramento. A continuidade da obra foi

passada para o comendador Luís Álvares da Silva, em 1850, que era sucessor do

PE. José Alves Carneiro que morreu durante a epidemia de febre amarela.

(FORTES, 2006)

Apesar da estrutura não estar com acabamento necessário, segundo Fortes

(2006, p.31) “A nova Matriz foi benzida em 27 de julho e oficialmente inaugurada no

dia 8 de agosto, pelas mãos do PE. Antônio Carneiro da Silva Braga, quando

recebeu as imagens do velho tempo” (FORTES, 2006)

Como já citado acima o acabamento da Igreja não tinha sido realizado, e mais

uma vez passaram – se longos anos de espera até que o povo pudesse ver alguma

melhoria na Igreja.

Os sinos da torre do lado do mar foram colocados em 1871. A torre só foi

terminada em 1876. O douramento do retábulo e nicho do Bom Jesus,

bem como dos castiçais e vasos foram feito em 1872, por artesãos

vindos especialmente do Rio de Janeiro. Em 1879, foi colocado o relógio

da torre. As obras prosseguiram com a pintura externa, em 1920,

substituição do assoalho de madeira por azulejo, em 1925, e, finalmente,

em 1926, o pintor Ernesto Thomazini, auxiliado pelo irmão João

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Thomazini, pintou os belos afrescos da abóbada, o que tornou a Matriz

do Bom Jesus uma das mais belas igrejas do Estado. (FORTES, 2006,

p.34)

Em 1956 a Igreja Matriz teve talvez o maior acontecimento de sua história. Na

comemoração de cem anos após a benção a Matriz de Iguape foi elevada a

categoria de maior título litúrgico possível: o de basílica. O padre responsável pelo

feito foi o então bispo de Santos, D. Idílio José Soares que testemunhou a grande

solenidade de sagração que perdurou por quase toda a manhã, mais precisamente

das 07h00min às 12h00min horas. O título basílica é uma palavra derivada do grego

que significa “Casa do Rei Divino”, e na Antiguidade Clássica dizia respeito as

localizações de tribunais e diversas outras repartições públicas. Esses espaços de

tanta importância para a civilização grega foram, posteriormente, utilizados pelos

cristãos depois que o Cristianismo saiu da posição de religião clandestina, por isso e

por se tratarem de espaços belos, amplos e importantes surgiu o termo basílica

designando o título de importância dada a algumas igrejas matrizes e santuários.

(FORTES, 2006, p.34)

Em seu acervo encontram-se imagens de santos, entre elas, a de Nossa

Senhora das Neves (padroeira de Iguape) e do Senhor Bom Jesus de Iguape, ainda

no seu interior, destacam-se belíssimas pinturas e um afresco da transfiguração de

Jesus na Bíblia, pintura renascentista que causa a impressão de realidade, Ernesto

Thomazini foi o autor das pinturas internas da Basílica, foi um pintor paulista de

talento reconhecido em seu tempo que nesse trabalho teve a ajuda de seu irmão,

também pintor de talento, João Thomazini. A Basílica guarda também a sala dos

milagres, onde se encontra objetos fruto de milagres. (FORTES, 2006)

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Capítulo 2

Patrimônio Cultural e Tombamento

A noção de patrimônio cultural atualmente tem suas primeiras considerações

datadas das décadas finais do séc. XVIII no contexto da Europa pós Revolução

Francesa (Pelegrini, 2009). Porém segundo Sandra Pelegrini “Desde a Antiguidade,

alguns objetos e obras de arte vem sendo preservados mediante ensejos de cunho

político, cultural ou religioso” (2009, p.19).

Com todas as manifestações violentas da Revolução Francesa houve

destruição de imóveis, obras de arte e monumentos, que suscitou a elevação dos

bens da nobreza e do clero, grandes alvos da Revolução Francesa, ao status de

propriedades públicas. O processo que levou essa decisão teve motivações

nacionalistas e financeiras, devido ao alto preço das obras, móveis, imóveis e

monumentos. Porém independente das motivações a decisão foi uma medida crucial

para a ampliação das “formas de tratamento dos bens dotados de valor histórico e

cultural, orientadas por políticas preservacionistas e legislações específicas para a

restauração e reabilitação do patrimônio” (PELEGRINI, 2009, p.19).

Já no século XIX, mais precisamente em 1830, o Estado francês cria a

Inspetoria dos Monumentos Históricos, cujo objetivo era o simples recenseamento

do patrimônio francês. Nesse período muitas outras nações europeias organizaram

órgãos públicos e privados com a atuação voltada para a conservação (PELEGRINI,

2009).

Em 1913 a França, mais uma vez pioneira, promulga em 31 de dezembro a

legislação que consuma a salvaguarda oficial dos patrimônios recenseados. O

instrumento legal que exercia a proteção dos patrimônios era o classement, que foi

adotado posteriormente por alguns países ocidentais (PELEGRINI, 2009).

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Por vota de 1930 figuras importantes diversas áreas do conhecimento, como

arquitetura, história e política, juntaram-se em prol das questões do tratamento dos

patrimônios históricos, artísticos e paisagísticos no contexto de grande crescimento

urbano, que gerava, e gera diversos impasses (PELEGRINI, 2009)

Dessa maneira, os congressistas passaram a sugerir recomendações por

meio de documentos denominados “Cartas patrimoniais”, cujo objetivo

fundamentava-se na proposição de diretrizes capazes de resolver os

principais problemas das grandes décadas de 1930 e 1940, sem

compreender os monumentos ou edificações arquitetônicas consideradas

portadoras de excepcionais valores artísticos ou históricos. (PELEGRINI,

2009, p.20)

Em contrapartida a todo esse incentivo à preservação houve o maior conflito

armado que o mundo conheceu: A Segunda Guerra Mundial. No ambiente de

extremo terror as relações internacionais são dissipadas e o grande poder de

destruição bélico compromete grandemente a onda de preservação dos patrimônios.

Nessa época foi criada a UNESCO, que passou a tomar conta do patrimônio cultural

em diversas partes do globo terrestre (PELEGRINI, 2009).

Os esforços voltam-se então para uma educação para a preservação,

proposta a partir de documentos como a Carta de Atenas (1931), a Declaração de

Amsterdã (1975) e talvez o mais importante documento do gênero, a “Carta

internacional para a salvaguarda das cidades históricas”, formulada em 1987 pelo

ICOMOS (PELEGRINI, 2009).

Em um panorama mais atual insere-se a ideia de patrimônio cultural imaterial,

que começaram a ter expressão nas discussões dos países ocidentais a partir de

1989, com a recomendação da salvaguarda da cultura tradicional e popular,

aprovado pela Conferencia Geral da UNESCO. Um documento mais atual que trata

do assunto é a carta Patrimonial chamada Convenção para a salvaguarda do

patrimônio cultural imaterial que “aprovada pela UNESCO, propôs o reconhecimento

do patrimônio cultural imaterial como praticas, representações, expressões,

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conhecimentos e técnicas, com os respectivos instrumentos, objetos, artefatos e

lugares que lhes eram associados” (PELEGRINI, 2009, p.22)

Por se tratar de um conceito novo ainda não foi bem assimilado e articulado

em pesquisas e documentos. Contudo já são realizados alguns esforços em relação

ao assunto, como a Carta de Fortaleza, que prevê uma abordagem global do

patrimônio cultural. Tais ações são necessárias para a atenção ao patrimônio

cultural que:

Tomados como “legado vivo” que recebemos do passado, vivemos no

presente e transmitimos as gerações futuras, reúnem referenciais

identitários, memórias e histórias – suportes preciosos para a formação

do cidadão. As memórias e referencias do passado fundamentam, por

um lado, a coesão entre os indivíduos que compartilham afetos,

sensibilidade, tradições históricas. E, por outro, evidenciam diferenças

culturais que podem favorecer a aceitação da diversidade como valor

essencial para o convívio em sociedade. (PELEGRINI, 2009, p.23)

Visto esse panorama é importante abordar alguns conceitos. Os patrimônios

culturais podem ser divididos em dois grupos: os bens tangíveis e os intangíveis.

Segundo Pelegrini os bens tangíveis podem ser “Ideais, costumes, crenças, tradição

oral, danças, rituais, saberes, etc. (PELEGRINI, 2009, p.28)

Os bens tangíveis se subdividem ainda em bens moveis e bens imóveis.

Segundo Pelegrini, bens móveis podem ser “objetos de arte, objetos litúrgicos, livros

e documentos, fosseis, coleções arqueológicas, acervos musicológicos,

documentais e arquivísticos”, e bens imóveis podem ser “monumentos, núcleos

urbanos e edifícios, templos, bens individuais, sítios arqueológicos, sítios

paisagísticos.” (PELEGRINI, 2009, p.28).

No Brasil existe o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, que foi fundado no dia 1 de janeiro de 1937 e segue esses conceitos

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supracitados. O IPHAN age no intuito de preservar e difundir o patrimônio cultural

brasileiro, pautado em algumas leis, como as abaixo:

Decreto-Lei n°25/1937 cria o instituto de tombamento dos bens materiais;

Lei de Arqueologia n°3.924/1961 é destinada à salvaguarda de sítios arqueológicos;

Constituição Federal de 1988 (em especial, os artigos 215 e 216) incorpora a ampliação do conceito de patrimônio cultural;

Decreto-Lei n°3.551/2000 define o estatuto da figura jurídica d registro de bens culturais de natureza imaterial;

Decreto Lei n°5.040/2004 cria o Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan (DPI), que incorporou o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em funcionamento desde 1958. (PELEGRINI, 2009, p.29)

Um conceito muito importante para a função desenvolvida pelo Iphan é o de

tombamento. Tombamento é uma medida tomada, no caso do Brasil principalmente

pelo Iphan, em escala municipal, estadual, nacional ou mundial, que tem a função de

registrar todos os bens, tangíveis, intangíveis e suas vertentes, que tem importância

histórica, artística e/ou ambiental para preservá-los através de uma legislação

especifica visando preservar as diversas manifestações da humanidade, guardando

referenciais e marcas e marcos da vida em sociedade como se apresentava em

determinada época. (SECRETARIA DE ESTADO E CULTURA)

É importante ressaltar que a cidade de Iguape com toda sua história, sua

arquitetura colonial com casas em taipa francesa e de pilão, suas ruas de

paralelepípedos que presenciaram anos da história do Brasil e permanecem até os

dias atuais, suas ruas estreitas, enfim, todo esse cenário rico de informações

históricas, tem todo o perfil para enquadrar-se nas leis de preservação, pelo

tombamento. (MATOS, 2010)

Felizmente em 3 de dezembro de 2009, quando completava 471 anos de

fundação, o centro histórico da cidade foi tombado pelo Iphan como patrimônio

nacional. A medida é extremamente justificável visto todo o trajeto histórico e toda a

riqueza de bens tangíveis presentes. O fato faz parte de uma aliança entre o

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município e o Iphan, que gerou em 2009 a criação da Casa do Patrimônio de Iguape,

que almeja uma extensão maior dos trabalhos de preservação por todo o Vale do

Ribeira. (IPHAN, 2009)

Em 2010 o processo de valorização do patrimônio de Iguape desencadeou

ótimas medidas para a continuidade do trabalho, como observa-se nessa citação de

Teresinha Matos:

Em 3 de dezembro de 2009, o município recebeu o título de patrimônio

nacional e agora avança mais uma etapa. Em 1º de julho assinou com o

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável

pelo reconhecimento dos bens históricos e culturais do País, um acordo

que inclui Iguape no PAC Cidades Históricas. [...]O Iphan tombou o

núcleo urbano da cidade. A partir de então, são considerados patrimônios

culturais o centro histórico da Iguape, o antigo sistema portuário fluvial e

marítimo, incluindo o Canal do Valo Grande e o Morro da Espia, além de

áreas da zona rural que rememoram a imigração japonesa no

Brasil.(MATOS, 2010)

A partir daí algumas medidas necessárias devem, e estão sendo tomadas,

para a preservação do patrimônio cultural de Iguape. A essencial medida que está

sendo tomada é a de capacitação de professores da rede pública para conscientizar

os alunos da importância e da riqueza que eles detêm em sua cidade. As medidas

político-econômicas também devem ser tratadas cautelosamente agora com a

entrada de verbas em função do título, como nota-se na citação do secretário Carlos

Alberto Pereira Junior "Agora Iguape parte para mais uma etapa no processo de

recuperação do seu patrimônio cultural e ambiental. Serão 26 ações e investimentos

da ordem de R$ 8 milhões, recursos oriundos dos governos estadual e federal.”

(PEREIRA, 2009, apud MATOS, 2010)

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Capítulo 3

A Importância da Basílica como Patrimônio

A importância da igreja como patrimônio está diretamente ligada à cultura, a

importância histórica e à classe social. Ela é considerada um patrimônio cultural e

sendo todo patrimônio cultural um bem único, como tal, a sua preservação figura-se

primordial para a manutenção da própria identidade de um povo.

Olhar para os fatos históricos como um espelho que reflete o nosso tempo. É

uma boa maneira de deduzir o porquê tanta importância da Basílica de Iguape, já

que foi construída apesar de tantas dificuldades. Passou pela decadência duradoura

da primeira Igreja que parecia que nunca ia ser solucionada, pelas dificuldades

financeiras que pararam a construção da nova Igreja, pela população ajudando em

diversos aspectos de sua construção, como recursos e mão de obra, e a vital ajuda

dos diversos padres, que inspiraram o povo a cooperar e doaram muito de seu

tempo para que se erguesse esse templo de tanta importância para a população,

que hoje retribui com uma forte tradição católica que mantêm viva a memória das

pessoas que ajudaram a conceber os belos momentos de festa e celebração da

tradição, que giram em torno da igreja e conta com a participação de fiéis de

diversos lugares do Brasil.

A festa em Louvor ao Bom Jesus e a Nossa Senhora das Neves, considerada

a segunda maior festa religiosa do estado de São Paulo, acontece todos os anos de

28 de julho a 6 de agosto, com missas, novenas, procissões, shows e a feira, onde

são concentradas centenas de barracas com diversos artigos, que vão de vestiário e

gastronomia à artesanato.

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Um panorama histórico breve da festa é o suficiente para qualificá-la e

entender porque ela dá tão certo, ressaltando assim a extrema importância da

preservação da Basílica, notando-se os diversos visitantes ilustres.

“[...] temos o pedido de licença que, no dia 11.06.1935, o procurador do

Conselho de São Paulo, Domingos Coelho Barradas, requereu ao

ouvidor geral para que pudesse visitar o Bom Jesus, no que deveria ser

substituído pelo seu antecessor, Mateus de Siqueira Mendonça[...]No

ano de 1805, Martim Francisco Ribeiro de Andrade, em seu Diário de

Uma viagem Mineralógica Pela Província de São Paulo, referindo-se à

imagem do Bom Jesus, escreveu ser ela “muito milagrosa no geral

entender da plebe, para cuja festa concorre imensidade de povo da

Capitania e de fora[...]” (FORTES, 2006, p.36)

Um dos mais ilustres visitantes de Iguape, que também se encantou com a

Romaria, foi o escritor nascido na Argélia e Nobel de literatura Albert Camus. Vale a

pena citar as descrições desse escritor tão peculiar, considerado o “profeta do

absurdo”, sobre a procissão em Iguape. Logo quando se inicia ele a descreve

“penitentes negros, depois brancos, com roupas clericais, depois, as crianças-anjos:

em seguida uma espécie de filhos de Maria” (CAMUS, 1949, apud TRIBUNA DE

IGUAPE, 2010, p.14). Sobre a multidão Albert Camus proferiu as seguintes palavras

“agrupamento mais estranho que se possa encontrar [...] numa massa oscilante e

colorida, estrelada às vezes pelos círios, acima dos quais explodem

incansavelmente os fogos, passando também neste mundo intemporal” (idem), e

quando passa por ele e seus acompanhantes, o escritor Oswald de Andrade e seu

filho, o homem com ar de assírio ele disse “parece crispado de cansaço e treme nas

pernas” (idem). Apesar da descrição acredita-se que Camus tinha a ideia de que o

homem fosse terminar a procissão, quando foi à Santa Casa Camus escreveu “Ao

Hospital ‘Feliz Lembrança’ que traz tão bem o seu nome, com a homenagem

calorosa a este Brasil que aboliu a pena de morte e a esta Iguape onde a gente

compreende esse gesto” (idem).

Um fato interessante da visita do escritor Argel é talvez o maior dos motivos

pelo qual sua visita é um grande motivo para que se trate cada vez com mais

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esmero o importante patrimônio cultural, o conto “A pedra que cresce” inserido no

livro “O Exílio e o reino” e que é a única obra do autor que tem como cenário o Brasil

e nasceu a partir de uma crença da população iguapense. (CAMUS, 1949, apud

TRIBUNA DE IGUAPE, 2010, p.14)

Outro exemplo de devoção dos fiéis é o Desafio Ciclístico em Louvor ao Bom

Jesus, que já é realizado desde o ano de 2001, (Santos x Iguape) o percurso tem

230 km, tendo como o idealizador dessa peregrinação o senhor Nilton Trudes, que

com esse Desafio agregou a doação de alimentos para o município, que são

entregues à Pastoral da Criança, onde centenas de famílias são beneficiadas.

A preservação tem importância fundamental para o desenvolvimento cultural

de um povo, é a forma de preservar sua história. Os bens culturais guardam

informações, significados, registros da história humana, refletem crenças, costumes,

condições sociais, econômicas e políticas de um grupo em determinada época. E a

Basílica do Bom Jesus de Iguape tem essa história representada, é um templo

católico em estilo barroco, construído em pedra, argamassa e óleo de baleia, por

escravos, entre os séculos XVIII e XIX.

Todo processo de salvaguarda de um patrimônio já é por si só um feito que

celebra a democracia e o respeito às diferenças, principalmente por dar voz e

reconhecimento a feitos, artísticos ou não, que não foram reconhecidos na época

pelo contexto discriminatório e pelo cotidiano que tornava o que hoje são relíquias,

elementos usuais do dia-a-dia. Exemplo disso são as inúmeras construções

erguidas por escravos e o mais que merecido reconhecimento, mesmo que

geralmente generalizado, e as reflexões essenciais que somos levados quando nos

deparamos com bens que refletem comportamentos diferentes dos nossos, como

encararmos, por exemplo, o racismo depois que se conhece todo o trabalho árduo

dos negros, depois que se conhece toda a beleza e desenvoltura da capoeira, após

a constatação dos traços da cultura oriental diluída em nossos costumes mais

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banais e nas construções e técnicas presentes em nossa terra, como em Iguape, por

exemplo, etc.

Logo, o direito à memória e ao acautelamento do patrimônio cultural de

distintos grupos que convivem num mesmo país (estado ou região)

constituem exercícios de cidadania importantes para fundamentar as

bases das transformações sociais necessárias para a coletividade. Além

disso, o reconhecimento de identidades plurais (sejam elas de gênero,

religião ou etnia) pressupõe a coexistência entre características culturais

distintas que no seu conjunto contribuem para a conformação de

afinidades mais amplas como é o caso das identidades nacionais.

(PELEGRINI, 2009, p.24).

Com isso a cidade de Iguape oferece um cardápio de interesse turístico, o

que mantém a tradição, fé e impulsionando a sustentabilidade dos caiçaras.

O artigo sétimo da Declaração Universal da Unesco a respeito da

diversidade cultural, datada de 2005, dispõe que “toda criação tem suas

origens nas tradições culturais” e se desenvolve “plenamente” por meio

do diálogo entre culturas. Essa carta argumenta que os bens culturais,

em todas as suas formas devem ser preservados, valorizados e

transmitidos as gerações futuras “como registro da experiência e das

aspirações humanas”. (PELEGRINI, 2009, p.24)

Nada melhor então para finalizar uma justificativa do que saber que ela é em

prol dos direitos humanos, que é um avanço estético, político e principalmente

necessário ao nosso sustento intelectual e social.

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Considerações Finais

Nota-se ao fim de uma explanação histórica, principalmente sobre

preservação, a importância da difusão desses saberes como meio de preservar a

memória, pelo conhecimento armazenado e repassado, e os bens em si, apoiando -

se no mote de quem ama cuida.

Sabe-se que algo quando gera dificuldade sempre vale mais a pena. A

dificuldade de finalizar esse trabalho exemplifica o gosto que se desenvolveu pela

questão da preservação desse patrimônio riquíssimo e as dificuldades enfrentadas

no percurso histórico de Iguape, que fazem com que seja motivo de agradecimento

para podermos desfrutar de tão ricos bens, em tão agradável extensão e condição

de preservação.

Leva-nos, então, a uma ação básica que não é novidade nos assuntos de

preservação, a educação para a preservação. Tal processo deve ocorrer em escolas

e em espaços fora, e esse trabalho assume então um papel de, no mínimo,

divulgação de informações que devem incentivar ações de preservação em

quaisquer que sejam as oportunidades, nas ações coletivas, expondo tais ideias, e

nas individuais, contribuindo com incentivos e repensando as ações diárias que

interajam com tais patrimônios.

Por fim, vale ressaltar aspectos interessantes que são quase subentendidos

no processo de preservação – o movimento de refletir sobre um passado que explica

nosso presente, a celebração de povos e pessoas que não foram reconhecidas por

feitos bárbaros em épocas em que a sociedade não aguçava os olhos para isso e o

passo democrático que é integrar no grupo de riquezas inestimáveis produções de

qualquer povo, etnia, religião, gênero, etc.

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Referências Bibliográficas

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2010.

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Fortes, Roberto in Silva, Julio. Nossa História. Disponível em:

http://diariodeiguape.com/istoria/nossa-historia/. Data de acesso: 15 de nov. de 2010.

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nacional. Publicação: 03 de dez. de 2009. Disponível em:

http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=14879&sigla=Noticia&retorno

=detalheNoticia. Data de acesso: 21 de nov. de 2010

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2010. Disponível em: http://www.dcomercio.com.br/materia.aspx?id=47791&canal=2. Data de

acesso: 20 de nov. de 2010.

Pelegrini, Sandra C. A. patrimônio cultural: consciência e preservação. São Paulo:

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Pereira, Carlos Alberto Junior (organizador). Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom

Jesus, Bonita por Natureza. São Paulo: Noovha América, 2005, 128 p.

Paraná (Estado). Secretaria de Cultura. Tombamento: conceitos. Disponível em:

http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4. Acesso

em 23 de nov. de 2010

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Imagens

Figura 1.

Marco Representativo da Fundação de Iguape.

Icapara início de Nossa Civilização.

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Figura 2.

Nossa Senhora das Neves.

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Figura 3.

O aparecimento da imagem do Bom Jesus de Iguape em 1647.

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Figura 4.

A construção da Basílica do Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora das Neves,

iniciada em 1780.

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Figura 5

Imagem do Bom Jesus na Basílica.

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Figura 6.

A Basílica atualmente (2010).

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Figura 7.

Parte interna da Basílica.

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Figura 8.

Fiéis em frente à Basílica.

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Figura 9.

Procissão com a imagem do Bom Jesus.

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Figura 10.

Chegada dos fiéis no Desafio Ciclístico Santos-Iguape (2010), em frente à Basílica.