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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ARIANE GAIOLA DE OLIVEIRA SANCHES PROPOSIÇÃO DE UM GUIA PARA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NA INDÚSTRIA TÊXTIL SÃO PAULO 2016

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE CENTRO DE … · universidade nove de julho – uninove centro de pÓs-graduaÇÃo programa de mestrado em engenharia de produÇÃo ariane gaiola

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  • UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE CENTRO DE PS-GRADUAO

    PROGRAMA DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ARIANE GAIOLA DE OLIVEIRA SANCHES

    PROPOSIO DE UM GUIA PARA TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA NA INDSTRIA TXTIL

    SO PAULO 2016

  • ARIANE GAIOLA DE OLIVEIRA SANCHES

    PROPOSIO DE UM GUIA PARA TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA NA INDSTRIA TXTIL

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Nove de Julho UNINOVE, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Engenharia de Produo.

    Prof. Wagner Cezar Lucato, Dr. - Orientador

    SO PAULO 2016

  • Sanches, Ariane Gaiola de Oliveira.

    Proposio de um guia para transferncia de tecnologia na

    indstria txtil./ Ariane Gaiola de Oliveira Sanches. 2016.

    113 f.

    Dissertao (mestrado) Universidade Nove de Julho -

    UNINOVE, So Paulo, 2016.

    Orientador (a): Prof. Dr. Wagner Cezar Lucato.

    1. Transferncia de tecnologia. 2. Indstria txtil. 3. Mquinas txteis.

    I. Lucato, Wagner Cezar. II. Titulo

    CDU 658.5

  • AGRADECIMENTOS

    Meus agradecimentos Universidade Nove de Julho UNINOVE e

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES, pelas

    bolsas de estudo que proporcionaram o meu ingresso e a concluso deste curso.

    Agradeo ao meu orientador pela pacincia, pelo conhecimento transmitido e

    por me guiar na construo deste trabalho, que proporcionou esta conquista

    profissional e pessoal.

    Aos membros da banca pelo tempo que dedicaram para contribuir na

    melhoria do meu trabalho. Aos professores pelo conhecimento que adquiri em cada

    disciplina e pelo suporte na elaborao de artigos cientficos. Agradeo tambm aos

    meus colegas de turma pelo incentivo coletivo para superar as dificuldades ao longo

    deste percurso.

    E finalmente, agradeo a minha famlia pelo apoio e ajuda durante o perodo

    em que me dediquei aos estudos.

  • RESUMO

    A indstria txtil tem um papel importante para a economia do pas e para que este

    setor se torne mais competitivo, a transferncia de tecnologia essencial, em

    especial a de mquinas txteis que representam um volume de investimentos maior.

    O objetivo deste estudo propor um guia que possa ser utilizado pela indstria txtil

    brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia. Para se atingir

    este objetivo uma pesquisa com abordagem qualitativa e quantitativa foi realizada

    em que o respondente avaliou a adoo de prticas em uma escala Likert de 0 a 4.

    O tipo de pesquisa foi exploratria para se compreender em maior profundidade

    como ocorrem os procedimentos de transferncia de tecnologia (TT) e sua aplicao

    na indstria txtil. A tcnica de coleta de dados foi por meio do envio de

    questionrios para avaliao da adoo das etapas para 187 empresas relacionadas

    em uma amostra atravs do mtodo Survey. A anlise dos resultados permitiu

    identificar que possvel propor um conjunto de 12 etapas como um guia de

    transferncia de tecnologia. Notou-se que existe uma diferena entre os nveis de

    adoo das prticas para empresas localizadas em diferentes regies e com

    diferentes nveis de profundidade de produo, porm no h indcios de diferenas

    no nvel de adoo das prticas em empresas com diferentes portes. As

    descobertas deste estudo podem ser utilizadas pelas indstrias e seus gestores

    como uma orientao em futuros processos de modernizao ou ampliao de

    forma que todas as etapas identificadas no guia proposto sejam consideradas

    relevantes na aplicao prtica.

    Palavras-chave: Transferncia de tecnologia. Indstria Txtil. Mquinas Txteis.

  • ABSTRACT

    The Brazilian textile industry plays an important role in the countrys economy and in

    order to become more competitive, technology transfer investments are of great

    importance, especially in textile machinery which represents a greater amount. This

    works purpose is to present a guide which could be used by the Brazilian textile

    industry for its technology transfer procedures. In order to achieve this goal, this

    research project using a qualitative and quantitative approach was conducted, to

    which the respondent evaluated the adoption level of each practice by a Likert scale

    range from 0 to 4. It was an exploratory research project to deeply understand how

    technology transfer (TT) procedures happen and its application in textile industry.

    The data collection technique was through questionnaires to evaluate the steps

    adoption and sent to 187 companies selected as a sample through a survey method.

    The result analysis identified a set of 12 steps as a guide for technology transfer

    processes. It was noted a difference between the adoption level for companies

    located in different country areas and with different production amplitude, on the

    other hand different company size did not influence the adoption level of the steps.

    The findings can be used by companies and their management as a guideline for

    future modernization or expansion processes so that the stages identified in the

    proposed guide can be considered relevant in practice.

    Keywords: Technology transfer. Textile industry. Textile machinery.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Fluxograma da pesquisa .......................................................................... 24

    Figura 2 A cadeia txtil e de confeces do Brasil com a indicao da rea de

    interesse da pesquisa realizada (rea limitada pela linha tracejada) ........................ 35

    Figura 3 Exemplo de questo includa no questionrio .......................................... 41

    Figura 4 Fluxograma de processo de fiao .......................................................... 46

    Figura 5 Fluxograma do processo de tecelagem ................................................... 48

    Figura 6 Fluxograma do processo de malharia ...................................................... 49

    Figura 7 - Fluxograma genrico do processo de beneficiamento / acabamento de

    tecidos planos e malhas ............................................................................................ 51

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Produo da cadeia txtil brasileira em USD .......................................... 13

    Grfico 2 Balana comercial de artigos txteis ....................................................... 14

    Grfico 3 Populao brasileira ............................................................................... 15

    Grfico 4 PIB per capita brasileiro em USD ........................................................... 15

    Grfico 5 Investimentos em maquinrio no setor txtil ........................................... 17

    Grfico 6 Artigos por ano de publicao ................................................................ 32

    Grfico 7 Metodologia: abordagem ........................................................................ 32

    Grfico 8 Metodologia: tcnica de coleta de dados ................................................ 33

    Grfico 9 Metodologia: mtodo de pesquisa .......................................................... 33

    Grfico 10 Adoo de prticas pelas empresas pesquisadas ................................ 81

    Grfico 11 Adoo de prticas por porte de empresa ............................................ 83

    Grfico 12 Adoo de prticas por regio da empresa .......................................... 85

    Grfico 13 Adoo de prticas por profundidade de fabricao ............................. 87

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Questes que orientaram a pesquisa bibliomtrica e bibliogrfica ......... 27

    Quadro 2 Artigos .................................................................................................... 34

    Quadro 3 Classificao do porte empresas txteis ................................................ 38

    Quadro 4 Os 3 nveis de profundidade de fabricao ............................................ 39

    Quadro 5 Relao entre as afirmaes do questionrio e as etapas do processo de

    TT .............................................................................................................................. 41

    Quadro 6 Principais modelos de transferncia de tecnologia................................. 54

    Quadro 7 Proposta de conjunto de etapas para transferncia de tecnologia na

    indstria txtil com base na reviso da literatura ....................................................... 75

    Quadro 8 Etapas dos modelos de transferncia de tecnologia .............................. 76

    Quadro 9 Sumrio do teste de hipteses ............................................................... 89

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Nmero de artigos da pesquisa bibliomtrica .......................................... 28

    Tabela 2 Definio de artigos para reviso sistemtica ......................................... 29

    Tabela 3 Artigos por peridico ................................................................................ 30

    Tabela 4 Artigos por autores .................................................................................. 31

    Tabela 5 O nmero de empresas e o investimento da cadeia ............................... 36

    Tabela 6 Mdias das respostas obtidas para o questionrio ................................. 78

    Tabela 7 Teste ANOVA fator nico para etapas .................................................... 82

    Tabela 8 Teste ANOVA fator nico para porte das empresas................................ 84

    Tabela 9 Teste ANOVA fator nico para regio da empresa ................................. 86

    Tabela 10 Comparaes mltiplas com DHS de Tukey para Regies ................... 86

    Tabela 11 Teste ANOVA fator nico para profundidade de produo ................... 88

    Tabela 12 Comparaes mltiplas com DHS de Tukey para Profundidade de

    Fabricao................................................................................................................. 88

  • LISTA DE SIGLAS

    ABDI Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    ABIT Associao Brasileira da Indstria Txtil e de Confeco

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    EPP Empresa de Pequeno Porte

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IEMI Instituto e Estudos de Marketing Industrial

    ME Microempresa

    PMEs Pequenas e Mdias Empresas

    ROI Retorno sobre Investimento

    SciELO Scientific Electronic Library Online

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SECEX Secretaria de Comrcio Exterior

    TT Transferncia de Tecnologia

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 13

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA ..................................................................... 16

    1.2 DELIMITAO DO TEMA .................................................................................. 19

    1.3 O PROBLEMA ..................................................................................................... 19

    1.4 HIPTESES DE RESOLUO DO PROBLEMA ............................................... 20

    1.5 OBJETIVOS GERAL E ESPECFICOS ............................................................... 22

    1.6 JUSTIFICATIVA DA RELEVANCIA DA PESQUISA ........................................... 22

    1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 23

    2 METODOLOGIA .................................................................................................... 24

    2.1 A SELEO DO MTODO DE PESQUISA ........................................................ 24

    2.2 ANLISE BIBLIOMTRICA E SISTEMTICA .................................................... 25

    2.2.1 Reviso bibliomtrica sobre transferncia de tecnologia, indstria txtil e

    mquinas txteis ....................................................................................................... 26

    2.3 A CADEIA TXTIL BRASILEIRA E A DELIMITAO DA PESQUISA ............... 35

    2.4 AS VARIVEIS ESTUDADAS ............................................................................. 37

    2.4.1 A medida do porte das empresas ..................................................................... 37

    2.4.2 A medida da profundidade de fabricao ......................................................... 38

    2.5 A SELEO DA AMOSTRA ............................................................................... 39

    2.6 O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................................... 40

    3 REVISO DA LITERATURA ................................................................................. 44

    3.1 CONCEITOS PRELIMINARES ........................................................................... 44

    3.1.1 Indstria txtil ................................................................................................... 44

    3.1.2 Transferncia de tecnologia ............................................................................. 52

    3.2 REVISO SISTEMTICA SOBRE MODELOS DE TRANSFERNCIA DE

    TECNOLOGIA ........................................................................................................... 54

    4 APRESENTAO DOS RESULTADOS ............................................................... 77

    4.1 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS .................................................. 77

    5 CONCLUSES ...................................................................................................... 91

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 94

    APNDICES ........................................................................................................... 100

    APNDICE A PESQUISA SOBRE PROCESSOS DE TRANSFERNCIA DE

    TECNOLOGIA NA INDSTRA TXTIL BRASILEIRA ............................................ 100

  • APNDICE B COMPARAES MLTIPLAS COM DHS DE TUKEY PARA

    ETAPAS DE TT ....................................................................................................... 109

  • 13

    1 INTRODUO

    A indstria txtil no Brasil desempenha um papel relevante para a economia

    do pas tanto na gerao de empregos quanto no valor da produo industrial.

    Dados divulgados pelo IEMI (2015) revelam que em 2014 o setor foi responsvel

    pela ocupao de 1,5 milhes de postos de trabalho ou 16,9% do total de empregos

    do setor industrial enquanto que, em valores monetrios, respondeu pela

    comercializao de USD 53,4 bilhes correspondentes a 5,6% da indstria de

    transformao (excluindo-se construo civil e extrao mineral) que representou

    2,5% do PIB brasileiro de 2014. Soma-se a isto o fato de que desde 1990, aps a

    abertura de mercado, as indstrias foram se modernizando e investindo em novas

    tecnologias a fim de se tornarem mais competitivas internacionalmente. O Grfico 1

    mostra a produo total de txteis e confeccionados do pas no perodo de 2010 a

    2014.

    Grfico 1 Produo da cadeia txtil brasileira em USD

    Fonte: Adaptado de IEMI (2015)

    Esta produo nacional destinada em grande parte ao mercado interno e

    um percentual menor para exportao. Mesmo exportando parte da produo, os

    resultados da balana comercial mostram um crescimento contnuo da entrada de

  • 14

    produtos importados, conforme mostrado no Grfico 2. Segundo Vieira Junior et al.

    (2014), a indstria txtil brasileira encontra forte competio com importados de

    baixo custo da China e de outros pases do extremo oriente, e que para manter sua

    competitividade no mercado local, estas empresas esto adotando a diferenciao

    de produtos, que propiciada pelo uso de novas tecnologias.

    Grfico 2 Balana comercial de artigos txteis

    Fonte: Adaptado de SECEX (2015)

    Os dados apresentados demonstram que a indstria nacional vem perdendo

    competitividade diante dos produtos importados, ou ainda que a produo interna

    insuficiente para suprir o mercado.

    De acordo com divulgao do World Bank (2015), a populao brasileira

    cresceu nos ltimos anos conforme se pode observar no Grfico 3. Sabe-se tambm

    que o PIB per capta cresceu como indicado no Grfico 4. Estes dados mostram, at

    o ano de 2013, um poder de compra cada vez maior da populao ao mesmo tempo

    em que a populao cresceu. Portanto de se esperar que o consumo de produtos

    txteis seja cada vez maior, at que a curva populacional torne-se descendente.

    O consumo de produtos txteis cresceu 27,3% de 2004 at 2014 segundo

    dados do IEMI (2015). O consumo anual (Kg) por habitante passou de 10,5 em 2004

    para 13,3 em 2014. Em contrapartida, o total fabricado de txteis no Brasil foi de

    10,8 Kg/habitante, o que significa que a produo interna no teve competitividade

    para suprir o consumo.

  • 15

    Grfico 3 Populao brasileira

    Fonte: Adaptado de World Bank (2015)

    Grfico 4 PIB per capita brasileiro em USD

    Fonte: Adaptado de World Bank (2015)

  • 16

    Isto demonstra o potencial que a indstria txtil brasileira tem para expandir

    seus negcios, contudo preciso que ela torne-se cada vez mais eficiente no

    processo fabril a fim de ser competitiva com o produto importado alm de estar

    atenta aos novos requisitos do consumidor. A indstria txtil pode melhorar a sua

    competitividade atravs da transferncia de tecnologia.

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA

    De acordo com estudos de prospeco setorial para 2023, o pas encontrava-

    se em 2008 com tecnologia que o situava em estgio intermedirio de

    competitividade conforme o mapa estratgico do setor txtil e de confeco, e que

    precisava identificar as tecnologias-chave e as linhas de pesquisa estratgicas para

    se desenvolver e chegar a 2023 caracterizado com um setor intensivo em tecnologia

    e em ligaes estratgicas (ABDI, 2010). Para se alcanar este objetivo, o estudo

    apresentou rotas estratgicas em que entre as macroaes constavam o

    investimento em tecnologias para aumento da eficincia de processos de

    desenvolvimento de produtos, a unio de cursos de graduao e ps-graduao

    para soluo de problemas empresariais, a implementao de modelos de

    desenvolvimento de novos produtos e de inovaes e a desonerao de

    investimentos em modernizao tecnolgica para as reas estratgicas das

    empresas.

    Para que a indstria txtil torne-se cada vez mais intensiva em tecnologia, os

    investimentos em projetos de transferncia de tecnologia so necessrios para se

    alcanar a viso almejada pela Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Os

    investimentos em maquinrio no setor txtil apesar de apresentarem queda no ano

    de 2014 com relao a 2013 de 4,9%, cresceram nos anos de 2011, 2012 e 2013

    em relao a 2010 (IEMI, 2015). O Grfico 5 mostra a evoluo dos investimentos

    em maquinrio na indstria txtil e dimensiona a participao das indstrias de

    fiao, tecelagem, malharia e beneficiamento no setor.

    Mesmo com o crescimento dos investimentos em projetos de transferncia de

    tecnologia, e com a importncia do setor para a economia, poucos artigos cientficos

    tratam desta temtica. Um estudo de Vieira Junior et al. (2014) forneceu um guia

    para as indstrias txteis brasileiras otimizarem os processos de transferncia de

  • 17

    tecnologia. O guia indicava um modelo de transferncia de tecnologia adaptado de

    Jagoda e Ramanathan que consistia de seis etapas e uma verificao para cada

    etapa. A pesquisa foi realizada em quatro empresas, sendo trs tecelagens e uma

    malharia e que, portanto no pode ter seus resultados generalizados por ser um

    estudo de mltiplos casos. Entretanto, esta uma oportunidade para este trabalho.

    Segundo Prochnik (2003) apesar dos investimentos significativos que j foram

    feitos, a indstria txtil brasileira ainda precisa de uma atualizao tecnolgica mais

    agressiva para se tornar internacionalmente competitiva e se manter no mercado.

    Grfico 5 Investimentos em maquinrio no setor txtil

    Fonte: Adaptado de IEMI (2015)

    Outro estudo conduzido por Braga Jr., Pio e Antunes (2009) descreve e

    caracteriza a TT na indstria txtil brasileira atravs da apresentao de um

    processo comum que pode ser observado nas indstrias e que consiste de cinco

    etapas: busca, verificao, compra, difuso e assistncia tcnica. Ele ainda aponta

    processos externos que a empresa poderia se beneficiar como treinamento,

    pesquisa, cooperao e organizao, que no fizeram parte do processo

    apresentado. O trabalho foi um estudo de caso, e seus resultados tampouco podem

    ser generalizados, os apontamentos sugeridos pelo autor tambm so uma

    oportunidade para verificar se as empresas brasileiras os utilizam plenamente.

    Dada a importncia do setor para a economia e a escassez de estudos sobre os

    processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil brasileira, esta pesquisa

  • 18

    tem o objetivo de propor um guia que possa ser utilizado pela indstria txtil

    brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia.

    As indstrias pesquisadas investiram em 2014 o equivalente a 901,2 milhes

    de dlares em tecnologia, que corresponde a 49% de todo investimento realizado no

    setor txtil. Considerando apenas maquinrio o investimento foi de 705,3 milhes de

    dlares, correspondentes a 72% do total investido por toda a indstria txtil (IEMI,

    2015). Este percentual significativo e desta forma um processo de transferncia de

    tecnologia com embasamento cientfico pode contribuir positivamente para a

    organizao das indstrias que pretendem transferir tecnologia futuramente.

  • 19

    1.2 DELIMITAO DO TEMA

    O estudo de Vieira Junior et al. (2014) relata que as indstrias txteis no

    Brasil so dependentes dos processos de transferncia de tecnologia para melhorar

    sua competitividade, seja pela diminuio dos custos ou pela possibilidade de incluir

    novos produtos em sua linha de produo. ABDI (2010) acrescenta que um dos

    passos para se alcanar a viso para o setor txtil em 2023 o investimento em

    novas tecnologias. Braga Jr., Pio e Antunes (2009) caracterizam o processo de

    transferncia de tecnologia no setor como spin-on, ou seja, so tecnologias

    desenvolvidas para fins comerciais que sero vendidas para outras empresas, e o

    processo passivo, dominado por fornecedores. Uma vez que a transferncia de

    maquinrio a principal fonte para se transferir tecnologia na indstria txtil

    brasileira, este estudo foca apenas na transferncia de maquinrio adquirido de

    fornecedores que desenvolveram determinada tecnologia.

    Outro aspecto a se considerar que a cadeia txtil bastante extensa desde

    o fornecimento de fibras txteis at a confeco de artigos de vesturio, cama, mesa

    e banho, e outros. Como indicado no Grfico 5, os maiores investimentos em

    maquinrio nos ltimos cinco anos foram nas indstrias de fiao, tecelagem,

    malharia e beneficiamento, por esta razo, o presente estudo ser direcionado a

    estas indstrias da cadeia txtil.

    1.3 O PROBLEMA

    Como j exposto, pouco se estudou sobre a transferncia de tecnologia na

    indstria txtil brasileira. Foram encontrados apenas dois artigos na literatura que

    traziam modelos descritivos de transferncia de tecnologia voltados para a indstria

    txtil e que apresentavam alguns conjuntos de etapas, como o de Braga Jr., Pio e

    Antunes (2009) e o de Vieira Junior et al. (2014) com pesquisas feitas atravs de

    estudos de caso e verificao prtica restrita a poucas empresas.

    Entretanto, dada a importncia do setor para a economia e os constantes

    investimentos da indstria em tecnologia, uma pesquisa mais profunda e ampla

    sobre o tema uma lacuna de pesquisa para ser investigada. Existe ainda uma

  • 20

    ausncia de um guia para transferncia de tecnologia no brasil que analise o porte a

    profundidade e a regio em que a empresa se encontra.

    Para compreender em maior profundidade as etapas envolvidas em um

    processo de transferncia de tecnologia e sua aplicao pela indstria, este estudo

    visa responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como efetivar um processo de

    transferncia de tecnologia que possa ser usado de maneira efetiva pela indstria

    txtil brasileira? Esse processo seria o mesmo para todas as empresas deste setor?

    Esse processo depende do porte da empresa? Ele tem caractersticas regionais?

    Ele depende da profundidade de fabricao da empresa?

    1.4 HIPTESES DE RESOLUO DO PROBLEMA

    Algumas hipteses so consideradas como provveis respostas questo de

    pesquisa, estas hipteses so identificadas aps o estabelecimento de um conjunto

    de etapas comuns a quatro ou mais autores na literatura cientfica e que pode ser

    considerado como um guia de TT para a indstria txtil brasileira. A utilizao das

    prticas citadas por quatro ou mais autores se d devido importncia da incluso

    da etapa de planejamento do processo, que foi citada apenas 4 vezes, pois segundo

    Castro e Schulze (1995) esta etapa fundamental para aquisio da tecnologia

    porque determina quando e o tipo de tecnologia a ser adquirido.

    A literatura sobre transferncia de tecnologia utilizada neste trabalho

    apresenta 25 etapas. Visto o grande nmero de prticas apresentadas, pretende-se

    descobrir se aquelas que foram mais citadas pelos autores so de fato utilizadas na

    prtica da indstria txtil. Vieira Junior et al. (2014) em seu estudo de mltiplos

    casos sobre a indstria txtil brasileira, verificou que o modelo de TT de Jagoda e

    Ramanathan poderia ser utilizado neste setor, porm notou que algumas das

    indicaes do trabalho anterior no eram aplicveis. Pretende-se verificar com base

    neste achado, se as etapas mais citadas na literatura so ou no aplicveis pelas

    indstrias, e com base na literatura anterior a hiptese para este questionamento :

    Hiptese 1: O nvel de adoo de cada uma das prticas pela indstria txtil

    brasileira no pode ser considerado o mesmo.

  • 21

    Abbasnejad et al. (2011) em sua pesquisa sobre os fatores que influenciavam

    a colaborao tecnolgica entre universidade e indstria no Ir, concluiu que

    dependendo do porte da empresa, a interao tecnolgica cooperativa era maior ou

    menor. Este questionamento sobre a influncia do porte da empresa na

    transferncia de tecnologia algo que pretende-se identificar com este trabalho, e ,

    com base no exposto, a hiptese que se assume :

    Hiptese 2: O nvel de adoo das prticas pela indstria txtil brasileira difere

    conforme o porte da empresa.

    Padilla-Perz (2008) comparou a transferncia de tecnologia entre duas

    regies distintas no Mxico para a indstria de eletrnicos e constatou que os

    resultados de implantao no so homogneos. Pretende-se, portanto identificar se

    estes resultados tambm se aplicam para a indstria txtil, e com base na literatura,

    assume-se como hiptese para este questionamento:

    Hiptese 3: O nvel de adoo das prticas pela indstria txtil brasileira

    depende da regio em que ela se encontra.

    Este trabalho ir identificar as diferentes camadas de produo da cadeia

    txtil, com empresas verticalizadas, aquelas que apresentam pelo menos dois

    processos fabris e as que fornecem apenas um processo da cadeia e compar-las

    quanto a TT. Um estudo de Mollgaard e Lorentzen (2004), na Dinamarca, constata

    que a competncia tecnolgica difusa para a cadeia automotiva especialmente

    entre as extremidades da cadeia, portanto para identificar esta caracterstica para a

    indstria txtil formulou-se a quarta hiptese:

    Hiptese 4: O nvel de adoo das prticas de transferncia de tecnologia pela

    indstria txtil brasileira difere conforme sua profundidade de fabricao.

    Estas hipteses sero testadas no decorrer do estudo a fim de provar ou no

    a sua veracidade.

  • 22

    1.5 OBJETIVOS GERAL E ESPECFICOS

    A pesquisa ter o objetivo geral de propor um guia que possa ser utilizado

    pela indstria txtil brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia.

    Tambm so objetivos especficos:

    Realizar uma reviso bibliomtrica e sistemtica para identificar os modelos

    existentes pertinentes e esta pesquisa;

    A definio do escopo de verificao dos modelos de transferncia de tecnologia

    existentes na literatura e sua delimitao para o estudo, identificando modelos ou

    procedimentos existentes e formando um conjunto de etapas comuns maioria;

    A elaborao e validao de um instrumento de pesquisa que possa verificar a

    efetividade das etapas encontradas na literatura atravs de uma pesquisa survey

    com empresas do setor;

    A definio do mtodo de anlise das respostas que possa atender as

    verificaes das hipteses e proposies levantadas, e;

    Proposio de um procedimento baseado em um conjunto de etapas de

    transferncia de tecnologia que possa ser considerado para as indstrias txteis

    brasileiras.

    Testar as hipteses propostas no presente trabalho.

    1.6 JUSTIFICATIVA DA RELEVANCIA DA PESQUISA

    Pretende-se atravs deste estudo agregar conhecimento para um dos

    principais setores industriais do pas, possibilitando uma anlise aprofundada dos

    processos que envolvem a transferncia de tecnologia dessas empresas, para

    identificar o nvel de adoo das etapas estabelecidas. Este estudo poder se tornar

    uma ferramenta adicional no processo de modernizao ou ampliao de

    maquinrio para as indstrias txteis na projeo de investimentos futuros em

    tecnologia.

    Para a Engenharia de Produo e para os gestores das indstrias, o estudo

    fornecer como guia das etapas que compem um processo completo de

  • 23

    transferncia de tecnologia, visando um aproveitamento maior dos recursos

    transferidos, focando no apenas no maquinrio, mas tambm nos requisitos de

    treinamento, absoro e melhoria da tecnologia transferida.

    Para os trabalhadores desta indstria, o estudo poder trazer frutos medida

    que eles utilizarem as etapas como um guia, dedicando importncia ao treinamento

    e absoro, tornando os funcionrios especialistas e que possam tirar o mximo de

    proveito dos recursos oferecidos pelo maquinrio transferido.

    1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO

    Para desenvolvimento da pesquisa, o presente trabalho est dividido em

    cinco sees, sendo a primeira j apresentada que consistiu de uma introduo

    sobre o estudo a ser desenvolvido, contextualizando e delimitando o tema de

    transferncia de tecnologia na indstria txtil, seguido da apresentao do problema

    de pesquisa com as possveis hipteses e proposies para resoluo, e

    apresentando os objetivos geral e especficos da pesquisa, incluindo a relevncia do

    estudo para o setor industrial em questo.

    A seo 2 expe a metodologia de pesquisa utilizada e seu processo de

    seleo, a anlise bibliomtrica, a reviso bibliomtrica sobre transferncia de

    tecnologia, indstria txtil e mquinas txteis, a delimitao da pesquisa, as

    variveis estudadas como a medida do porte da empresa e a profundidade de

    fabricao, o instrumento de coleta de dados e a seleo da amostra.

    A seo 3 apresenta uma reviso da literatura sobre a indstria txtil no

    mbito deste trabalho, os diferentes aspectos e abordagens da TT nacional e

    internacional, para equipamentos e para indstria, com uma reviso sistemtica

    sobre os modelos de transferncia de tecnologia que foram consideradas para

    chegar ao conjunto de etapas proposto.

    A seo 4 apresenta os resultados, avaliando e discutindo as implicaes

    identificadas em resposta a questo de pesquisa e confirmando ou rejeitando as

    hipteses e proposies levantadas.

    Por fim, na seo 5 so apresentadas as concluses em funo dos

    resultados obtidos.

  • 24

    2 METODOLOGIA

    Neste captulo se descreve o mtodo de pesquisa utilizado para a realizao

    desta dissertao, bem como a tcnica de coleta de dados empregada. Ainda, se

    apresenta como se caracterizam as variveis empregadas no presente trabalho, e a

    anlise bibliomtrica realizada para se alcanar o modelo proposto.

    As etapas utilizadas nesta pesquisa esto indicadas no fluxograma indicado

    na Figura1.

    Figura 1 Fluxograma da pesquisa

    2.1 A SELEO DO MTODO DE PESQUISA

    Dentre os vrios mtodos de pesquisa usualmente empregados na

    Engenharia de Produo (CAUCHICK MIGUEL, 2012) este estudo apoia-se no

    Escolha do tema

    Definio das perguntas que orientaram a pesquisa

    Definio das palavras-chave

    Reviso bibliomtrica

    Reviso sistemtica

    Proposio das etapas para pesquisa

    Confeco de questionrio para Survey

    Identificao das empresas e contatos para recebimento do Survey

    Tratamento das respostas obtidas

    Resultados da Pesquisa

    Concluso da Pesquisa

  • 25

    desenvolvimento da pesquisa tipo survey exploratria, para a qual Forza (2002)

    considera questes como qual o nvel, quanto e no necessita de controle sobre

    eventos comportamentais, focando em acontecimentos contemporneos. Ainda, a

    survey a alternativa escolhida por numerosos estudos cientficos nos quais o

    objetivo que se deseja alcanar o de determinar o que est ocorrendo na

    sociedade no momento presente (ROBSON, 1993).

    Adicionalmente, segundo Kumar (2011), quando se ambiciona realizar uma

    pesquisa futura mais detalhada recorre-se a uma pesquisa de campo do tipo survey

    exploratria para ganhar mais conhecimento sobre um tema especfico. Alm disso,

    conforme Forza (2002), esse mtodo de pesquisa abrange a coleta de dados ou

    informaes por meio de entrevistas ou questionrios como instrumento de obteno

    de informaes de indivduos sobre eles mesmos ou sobre as organizaes s quais

    pertenam. Para Nakano (2012, p.66), a survey um mtodo de pesquisa emprica

    que faz uso de instrumento de coleta de dados nico (em geral um questionrio)

    aplicado a amostras de grande tamanho com uso de tcnicas de amostragem e

    anlise e inferncia estatstica [...].

    Observa-se, dessa forma, que esse mtodo de pesquisa pareceu ser o mais

    adequado para o estudo que aqui se desenvolveu, pois pretendeu-se investigar as

    etapas para propor um guia que pudesse ser utilizado pela indstria txtil brasileira

    em seus procedimentos de transferncia de tecnologia empregadas em um grande

    nmero de empresas do setor txtil brasileiro, selecionadas aleatoriamente, com

    informaes obtidas por meio do uso de questionrio e com a decorrente anlise dos

    dados elaborada com o extensivo uso de tcnicas estatsticas.

    2.2 ANLISE BIBLIOMTRICA E SISTEMTICA

    Para a determinao das lacunas de pesquisa e para o estabelecimento do

    guia proposto por este trabalho (conjunto das prticas de transferncia de tecnologia

    mais usuais citadas pela literatura) foi utilizada a anlise sistemtica de contedo,

    que so investigaes que procuram resumir averiguaes preliminares por meio de

    uma estratgia cientfica que restringem as variaes e o erro aleatrio (BARDIN,

    1997). Contudo, deve-se estabelecer critrios explcitos e reprodutveis nas

    escolhas de artigos para esse tipo de reviso. Para tal necessrio efetivar uma

  • 26

    pesquisa ampla dos artigos potenciais. Pritchard (1969), Pao (1989), Bardin (1997) e

    Barrios et al. (2008) afirmaram que a anlise de contedo pode ser de dois tipos:

    quantitativa e qualitativa. Asseguraram, ainda, que a anlise quantitativa ilustra a

    frequncia das caractersticas comuns que se reproduzem em determinado texto.

    Por outro lado, a anlise de contedo qualitativa aquela que examina a existncia

    de determinado atributo do contedo total ou de um determinado fragmento do texto

    analisado.

    As anlises sistemticas tm como caracterstica distintiva a integrao das

    informaes de um conglomerado de estudos feitos isoladamente sobre um tpico,

    que podem levar a resultados favorveis ou conflitantes. Ainda, podem revelar

    assuntos que necessitem de maiores anlises, contribuindo para selecionar temas

    relevantes para o desenvolvimento de estudos futuros (BARDIN, 1997; BARRIOS et

    al., 2008). Dessa forma, para estruturar o Captulo 3 Reviso da Literatura

    recorreu-se a um estudo bibliomtrico sobre o tema central objeto desta dissertao,

    acompanhado da respectiva anlise sistemtica de contedo. Com isso foi possvel

    identificar as lacunas de pesquisa que sustentam a presente investigao, bem

    como estabelecer o conjunto de prticas de transferncia de tecnologia

    mencionadas na literatura (modelo terico deste trabalho).

    2.2.1 Reviso bibliomtrica sobre transferncia de tecnologia, indstria txtil e

    mquinas txteis

    Algumas perguntas foram formuladas no incio da pesquisa para direcionar a

    construo do conjunto de palavras-chave da pesquisa bibliogrfica, e esclarecer o

    conhecimento que se pretendia adquirir como resultado desta pesquisa. Atravs das

    respostas a essas perguntas, foi possvel estabelecer as lacunas presentes no tema

    de estudo.

    As perguntas esto relacionadas no Quadro 1 e visam entender os processos,

    modelos e prticas de transferncia de tecnologia no setor.

    Visando responder essas perguntas, e a fim de identificar a literatura sobre os

    modelos existentes de transferncia de tecnologia utilizados na Engenharia de

    Produo, e em especial na indstria txtil para equipamentos e maquinrios, fez-se

    uma varredura nas bases de dados Scielo, Ebsco, Proquest, Capes, Science Direct

  • 27

    e Emerald com os conjuntos de palavras-chave apresentados a seguir, que

    estivessem presentes no ttulo, resumo ou palavras-chave dos artigos.

    Quadro 1 Questes que orientaram a pesquisa bibliomtrica e bibliogrfica

    Item Questo

    1 Quais os principais modelos de transferncia de tecnologia?

    2 Existem modelos especficos de transferncia de tecnologia para a indstria txtil?

    3 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia?

    4 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia no Brasil?

    5 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil?

    6 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil brasileira?

    7 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia txtil no Brasil?

    8 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia txtil?

    9 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia no Brasil?

    10 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia?

    Conjunto de palavras-chave:

    technology transfermodelequipment

    technology transfermodelmachine

    technology transferframeworkequipment

    technology transferframeworkmachine

    technology transfertextile

    technology transferpracticesequipment

    technology transferpracticesmachine

    transfer of technologymodel

    transfer of technologytextile

    transfer of technologypractices

    transferncia de tecnologiatxtil

    transferncia de tecnologiaprticas

    A pesquisa resultou em 251 artigos, sendo que a maioria deles foi obtida

    atravs da base de dados Proquest enquanto a apenas trs artigos foram

    encontrados na Capes. Uma relao de artigos por base de dados apresentada na

    Tabela 1.

  • 28

    Tabela 1 Nmero de artigos da pesquisa bibliomtrica

    Palavras-chave Scielo Ebsco Proquest Capes Science

    Direct

    Emerald

    technology

    transfermodelequipment

    0 1 17 0 7 1

    technology

    transfermodelmachine

    0 0 3 0 6 0

    technology

    transferframeworkequipment

    0 0 6 0 2 3

    technology

    transferframeworkmachine

    0 0 3 0 2 1

    technology transfertextile 1 0 24 1 5 1

    technology

    transferpracticesequipment

    0 0 5 0 5 0

    technology

    transferpracticesmachine

    0 0 2 0 4 0

    transfer of technologymodel 3 7 48 0 32 2

    transfer of technologytextile 0 0 0 0 0 0

    transfer of technologypractices 1 1 20 0 24 1

    transferncia de

    tecnologiamodelos

    4 1 0 1 0 1

    transferncia de tecnologiatxtil 1 0 0 1 1 0

    transferncia de

    tecnologiaprticas

    2 0 0 0 0 0

    SUB-TOTAL 12 10 128 3 88 10

    TOTAL GERAL 251

    Aps esta varredura inicial os 251 artigos foram colocados em uma planilha e

    identificados segundo a palavra-chave, base de dados, e nome do artigo. Desta

    forma foi possvel agrupar os artigos por ordem alfabtica de nome, para eliminar

    aqueles que eram repetidos, e tambm identificar em qual base de dados seria

    possvel baix-los. Como resultado desta anlise, 41 artigos foram eliminados, pois

    eram repetidos. Restaram 210 artigos pra serem avaliados.

    O prximo critrio para identificar a relevncia do artigo, foi eliminar aqueles

    cujo tema no estava relacionado Engenharia de Produo, por exemplo, artigos

    relacionados agricultura ou medicina foram excludos desta anlise. Muitos destes

    artigos puderam ser identificados pelo prprio ttulo, porm para outros foi

    necessrio avaliar o resumo ou abstract a fim de verificar se o assunto estava

    relacionado rea de conhecimento. Esta verificao permitiu identificar que 59 do

    total de 210 artigos pertenciam a outras cincias. Restaram 151 artigos para serem

    avaliados.

  • 29

    Na sequncia, fez-se uma busca por artigos que apresentassem modelos de

    transferncia de tecnologia para possibilitar uma futura comparao. Nesta fase,

    todos os artigos foram verificados por completo buscando encontrar algum modelo

    apresentado ou proposto pelo autor. Ao final, observou-se que 113 artigos dos 151

    verificados no estavam de acordo com o critrio, e foram, portanto eliminados.

    Restaram 38 artigos para avaliao.

    Todos estes artigos, exceto um, foram lidos para identificar se estavam no

    escopo do trabalho, ou seja, se os modelos propostos pelos autores eram

    descritivos, se representavam a transferncia de tecnologia entre empresas, se

    abordavam as etapas da transferncia de tecnologia e no apenas aspectos

    econmicos / financeiros. Nesta anlise, foram encontrados 5 artigos que

    relacionavam os processos de transferncia entre universidades e empresas, 2 entre

    unidades ou departamentos da mesma empresa, 7 eram modelos matemticos, 2

    relacionavam apenas aspectos financeiros, 2 tratavam-se de modelagem-simulao,

    1 dos artigos no apresentava um modelo, apenas explicava como foi o processo de

    transferncia de tecnologia para a Finlndia, e 1 artigo no foi encontrado, porm

    verificou-se pelo resumo que o assunto principal envolvia as dificuldades

    encontradas por empresas multinacionais para transferir tecnologia para outros

    pases, e no de um modelo de transferncia de tecnologia. Ao final, dos 38 artigos

    lidos, 20 foram eliminados. Restaram 18 artigos que fazem parte do escopo deste

    trabalho, conforme apresentado na Tabela 2.

    Tabela 2 Definio de artigos para reviso sistemtica

    Total

    Artigos

    Repetidos Outras

    cincias

    Sem

    modelos

    No

    Escopo

    Total

    Final

    251 41 151 113 20 18

    Destes artigos apenas 2 pertenciam ao mesmo peridico, todos os outros

    eram de peridicos diferentes, conforme Tabela 3.

  • 30

    Tabela 3 Artigos por peridico

    Peridico Quantidade de

    Artigos

    Energy Policy 1

    FGV-EAESP/ RAE Eletrnica 1

    IEEE Transactions on Engineering Management 1

    International Journal of Innovation and Technology

    Management

    1

    International Journal of Natural and Engineering Sciences 1

    International Journal of Operations & Production

    Management

    1

    Journal of Manufacturing Technology Management 2

    Journal of Science and Technology Policy in China 1

    Journal of Technology Management & Innovation 1

    Procedia Social and Behavioral Sciences 1

    Produo 1

    Research Policy 2 1

    Technological Forecasting and Social Change 1

    Technology and Disability 1

    Technovation 1

    The Journal of High Technology Management Research 1

    The Journal of Technology Studies 1

    TOTAL 18

    Como a transferncia de tecnologia comum a vrios campos de pesquisa,

    era esperado que diversos peridicos tratassem desta temtica. Notou-se tambm

    esta tendncia pela quantidade de diferentes autores que foram relevantes para a

    pesquisa conforme mostrado na Tabela 4. Nenhum dos autores publicou outros

    artigos sobre a mesma abordagem temtica apresentada neste estudo.

    Os anos de publicao das pesquisas tambm so variados, sendo a primeira

    publicada em 1973 e a mais recente de 2013. O ano que teve o maior nmero de

    publicaes relevantes para a pesquisa foi 2009 com 4 artigos. A relao da

    quantidade de artigos por ano de publicao apresentada no Grfico 6.

  • 31

    Tabela 4 Artigos por autores

    Peridico Quantidade de Artigos

    AMATO NETO, J. 1

    ANTUNES, A. 1

    ASGHARI, M. 1

    BENNETT, D. 1

    BOMMER, M. R. W. 1

    BRAGA JR, E. 1

    CASTRO, J. O. 1

    CHAN, L. 1

    CHOI, H. J. 1

    CORMICAN, K. 1

    DAIM, T. U. 1

    DOUDS, C. F. 1

    FENGQI, Z. 1

    FRISHAMMAR, J. 1

    HAMZEI, A. 1

    HONGYU, Z. 1

    JAGODA, K. 1

    JANARO, R. E. 1

    JOSHI, B. 1

    KHLER, B. A. 1

    LAGER, T. 1

    LANE, J. P. 1

    LEVIN, M. 1

    LUCATO, W. C. 1

    LUPER, D. C. 1

    MENKE, C. 1

    OCONNOR, M. 1

    OLIVIERA, S. A. 1

    PIO, M. 1

    RAKHSHANIKIA, M. A. 1

    RUBENSTEIN, A. H. 1

    SCHEFFER, R. 1

    SCHULZE, W. S. 1

    SEGATTO, A. P. 1

    VAIDYA, K. 1

    VAN BERKEL, R. 1

    VANALLE, R. M. 1

    VASCONCELLOS, R. R. 1

    VIEIRA JUNIOR, M. 1

    WILLIAMS, R. O. 1

    WORRELL, E. 1

    TOTAL 41

  • 32

    Quanto metodologia, pode-se observar que a maioria de abordagem

    qualitativa (Grfico 7), todas as pesquisas so do tipo exploratria, a tcnica de

    coleta de dados mais utilizada a pesquisa bibliogrfica seguida de entrevistas

    (Grfico 8), e o mtodo o estudo de caso (Grfico 9).

    Grfico 6 Artigos por ano de publicao

    Grfico 7 Metodologia: abordagem

  • 33

    Grfico 8 Metodologia: tcnica de coleta de dados

    Grfico 9 Metodologia: mtodo de pesquisa

  • 34

    Uma relao dos artigos que foram utilizados para anlise sistemtica

    apresentada no Quadro 2, todos eles foram analisados, e apenas um deles no

    apresentou um modelo de transferncia de tecnologia que pudesse ser descrito em

    etapas, porm ele foi considerado para fins de definies.

    Quadro 2 Artigos

    Item Nome do Artigo

    1 A behavioral study of international technology transfer between the United States and West Germany

    2 A manufacturing strategy model for international technology transfer

    3 Decision support model in technology transfer for technology receiver

    4 Effective management of international technology transfer projects: insights from the Brazilian textile industry

    5 Equipment supplier/user collaboration in the process industries. In search of enhanced operating performance

    6 Fatores crticos na transferncia de tecnologia no setor especial: estudo de caso de programas de parceria das agncias espaciais do Brasil (AEB) e dos EUA (NASA)

    7 International transfer of technology system

    8 O processo de transferncia de tecnologia na indstria txtil

    9 Technology transfer as a learning and developmental process: an analysis of Norwegian programmes on technology transfer

    10 Technology transfer for product life cycle extension: a model for successful implementation

    11 Technology transfer in China: literature review and policy implications

    12 Technology transfer in oil industry, significance and challenges

    13 Technology transfer issues and a new technology transfer model

    14 Technology transfer of energy efficient technologies in industry: a review of trends and policy issues

    15 The need to knowledge model: an operational framework for knowledge translation and technology transfer

    16 The transfer of technology to less developed countries: a model from the perspective of the technology recipient

    17 Transferncia de tecnologia e conhecimento sob a lente estruturacionista: uma integrao temtica / Technology and knowledge transfer under the structurationist lens: a thematic integration

    18 Valuing transferred machine tool technology. Relating value to product attributes and preferences of acquirers

    Com base nos dados apresentados nesta reviso bibliomtrica, e visando

    conhecer os modelos existentes de transferncia de tecnologia, a seo 3.2 ir

    abordar a teoria encontrada, bem como as etapas do processo de transferncia

    descritas na literatura, e analisar diferenas e similaridades entre elas.

    A prxima seo trs a delimitao utilizada para este pesquisa.

  • 35

    2.3 A CADEIA TXTIL BRASILEIRA E A DELIMITAO DA PESQUISA

    A cadeia txtil e de confeces do Brasil obteve em 2014 um faturamento de

    cerca de US$ 126 bilhes, tendo produzido mais de 2 milhes de toneladas de

    txteis e mais de 1,8 toneladas de confeccionados, empregando 1,5 milho de

    trabalhadores. Torna-se assim o quarto maior parque produtivo de confeces e o

    quinto produtor txtil do mundo. No entanto, h algumas dcadas o setor txtil

    brasileiro vem enfrentando uma forte concorrncia de produtos de baixo custo

    oriundos principalmente do Extremo Oriente, como mostra o saldo da balana

    comercial do setor: em 2014 foram exportados US$ 2,5 bilhes de produtos txteis

    contra uma importao no mesmo perodo de US$ 7,1 bilhes, gerando um dficit na

    balana de US$ 4,6 bilhes (ABIT, 2015).

    Em complementao, Costa e Rocha (2009) detalharam a composio da

    cadeia txtil e de confeces do Brasil dividindo-a em dois segmentos: a) o txtil

    propriamente dito que compreende as fiaes, tecelagens, malharias e empresas de

    beneficiamento e b) o de confeces incluindo vesturio, meias e acessrios, linha

    lar e artigos tcnicos / industriais. A Figura 2 ilustra a estrutura sumarizada dessa

    cadeia.

    Figura 2 A cadeia txtil e de confeces do Brasil com a indicao da rea de

    interesse da pesquisa realizada (rea limitada pela linha tracejada)

    Fibras

    Naturais

    Fiao

    Malharia

    Aviamentos

    Tecelagem

    Beneficia

    mentoConfeco Vesturio

    Cama Mesa

    Banho

    Artigos

    Tcnicos

    Varejo

    Fsico

    Exportao

    Varejo

    Catlogo

    Vendas

    Online

    Consumidor

    Final

    Fibras

    Sintticas

    Fonte: Adaptado de IEMI (2015)

    Ainda de acordo com Costa e Rocha (2009), nos ltimos anos a

    predominncia de investimentos na cadeia txtil vem se concentrando na aquisio

    de mquinas importadas, uma vez que praticamente no h mais produo nacional

  • 36

    de mquinas txteis. Os mesmos autores ainda destacam que em anos recentes os

    maiores investimentos em mquinas importadas foram para filatrios, teares e

    mquinas de costura. Desse total, 22% foram para mquinas no segmento de

    fiao, 22% para tecelagem, 10% para malharia, 10% para beneficiamento, 24%

    para confeco e 10% para artigos tcnicos, como mostra a Tabela 5.

    Tabela 5 O nmero de empresas e o investimento da cadeia

    No de

    Empresas

    % Invest

    em

    Equip.

    Fiaes 417 22%

    Tecelagens 596 22%

    Malharias 2.511 10%

    Beneficiamento 949 10%

    Txtil 4.473 64%

    Vesturios 20.070 24%

    Meias e Acessrios 1.043 1%

    Linha Lar 1.199 1%

    Artigos Tcnicos 964 10%

    Confeces 23.276 36%

    Fonte: Adaptado de Costa e Rocha (2009).

    Como se observa, embora envolvendo um nmero de empresas bem menor,

    o setor txtil da cadeia responsvel por 64% dos investimentos na aquisio de

    equipamentos, sendo estes exatamente aqueles nos quais a transferncia de

    tecnologia se d com a maior intensidade (LAGER; FRISHAMMAR, 2010). Por essa

    razo a pesquisa aqui relatada focou a sua ateno sobre as empresas de fiao,

    tecelagem, malharia e beneficiamento uma vez que aqui que eventuais

    aperfeioamentos nos processos de transferncia de tecnologia (TT) podem

    contribuir mais fortemente com a construo de vantagens competitivas para a

    cadeia txtil como um todo. Na Figura 2 destaca-se a regio da cadeia que foi objeto

    da pesquisa que se realizou.

  • 37

    2.4 AS VARIVEIS ESTUDADAS

    Para aplicar de maneira adequada o mtodo selecionado e alcanar os

    objetivos propostos neste trabalho necessria a definio de alguns conceitos e

    variveis utilizados. So eles: a medida do porte das empresas txteis e o nvel de

    profundidade de fabricao.

    2.4.1 A medida do porte das empresas

    No Brasil, h diversos critrios sendo utilizados para medir o porte das

    empresas. Dentre esses, os mais frequentemente usados so o proposto pelo

    Estatuto da Pequena e Mdia Empresa (PMEs), o definido pelo BNDES e o utilizado

    pelo IBGE e SEBRAE, como se detalha a seguir.

    H dois critrios mais frequentemente empregados para a definio do porte

    das empresas: o faturamento anual e o nmero de empregados. Considerando a

    facilidade de acesso s informaes necessrias para a pesquisa quando da

    obteno dos dados para realizar a correta qualificao das empresas consideradas,

    muito mais fcil se saber corretamente o nmero de empregados do que o

    faturamento anual. Com efeito, esta ltima informao muito mais sensvel e difcil

    de ser corretamente obtida do que o nmero de empregados. Por essa razo, para a

    classificao do porte empresas txteis consideradas na presente pesquisa foi

    adotado como critrio o nmero de empregados, de acordo com o estabelecido pelo

    IBGE (2013) e SEBRAE (2014) e descritos no Quadro 3.

    No entanto, h ainda que se fazer uma considerao adicional. Nos casos em

    que as empresas pesquisadas dispunham de vrias unidades industriais

    independentes, o seu porte considerou o nmero total de empregados da empresa

    inteira e no o da unidade industrial em que a pesquisa foi feita. Explica-se: de se

    pressupor que as prticas de transferncia de tecnologia sejam mais elaboradas nas

    grandes empresas do que nas pequenas e mdias (pressuposto que seria

    confirmado ou rejeitado com a realizao da pesquisa de campo). Assim, a

    investigao feita em uma unidade industrial de pequeno porte pertencente a uma

    grande empresa ir refletir as prticas de TT da corporao e que, em princpio, no

  • 38

    seriam necessariamente as mesmas de uma pequena empresa representada pela

    unidade industrial na qual a pesquisa foi realizada.

    Quadro 3 Classificao do porte empresas txteis

    Porte N de Empregados

    Microempresa At 19 empregados

    Pequena De 20 a 99 empregados

    Mdia De 100 a 499 empregados

    Grande Mais de 500 empregados

    Fonte: IBGE (2013) e SEBRAE (2014)

    2.4.2 A medida da profundidade de fabricao

    Como demonstrado no item 2.3, a cadeia produtiva txtil relativamente

    complexa e composta de diversas etapas inter-relacionadas. Em cada uma dessas

    fases as atividades realizadas vo adicionando valor aos produtos medida que

    caminham ao longo da cadeia txtil de valor. Em linha com essa considerao, este

    trabalho chamar de profundidade de fabricao a cada uma das fases do

    processo de produo nas quais o valor adicionado aos produtos. Ela representa,

    assim, o nmero de nveis de fabricao utilizado na produo de determinado bem

    (NEBL, 2002).

    Por outro lado, como existe uma grande variedade de estratgias de

    produo, de terceirizao, tecnologias e de tamanho das empresas txteis que

    fazem parte desta pesquisa, estabeleceu-se como nvel mximo de profundidade de

    fabricao aquele que pode ser observado nas empresas txteis que realizam

    simultaneamente trabalhos de fiao, tecelagem (incluindo malharia) e acabamento.

    Dessa forma, a profundidade de fabricao pode ser diferente dependendo da

    quantidade de processos internos que determinada empresa realiza.

    Por isso, para a definio da medida da profundidade de fabricao das

    empresas txteis consideradas nesta dissertao se decidiu propor trs nveis

    bsicos conforme ilustra o Quadro 4. Com isso estabeleceu-se uma escala variando

    de 1 a 3, na qual para cada processo adicional que a empresa realizava era

    atribudo um nvel a mais na profundidade de fabricao. Por exemplo, para uma

    empresa que realizava apenas a fiao, ou a tecelagem ou o beneficiamento foi

  • 39

    atribudo o nvel 1 de profundidade. Para a empresa que possua em sua unidade

    fabril a fiao e a tecelagem, ou a tecelagem e beneficiamento se considerou o nvel

    2 de profundidade. E assim sucessivamente, conforme Quadro 4.

    Quadro 4 Os 3 nveis de profundidade de fabricao

    Processos internos Profundidade de fabricao

    Fiao Tecelagem Beneficiamento

    1

    Fiao + Tecelagem Tecelagem + Beneficiamento Fiao + Beneficiamento

    2

    Fiao + Tecelagem + Beneficiamento 3

    2.5 A SELEO DA AMOSTRA

    Conforme se deduz do que j foi apresentado neste trabalho, o universo

    populacional considerado neste estudo composto por todas as empresas txteis

    do Brasil envolvidas nos processos de fiao, tecelagem e beneficiamento.

    Como quadro populacional, consideraram-se as empresas de fiao,

    tecelagem e beneficiamento associadas ABIT e listadas na publicao Brasil Txtil

    Relatrio Setorial da Indstria Txtil Brasileira 2015 (IEMI, 2015). Foram assim

    identificadas 54 empresas de fiao, 113 tecelagens e malharias e 20 empresas de

    beneficiamento, todas elas distribudas pelo territrio nacional, totalizando assim 187

    empresas que formaram o quadro populacional.

    Para formar a amostra a ser pesquisada, decidiu-se enviar o instrumento de

    coleta de dados a todas elas. Para isso, identificou-se em cada empresa a pessoa

    responsvel pelos processos de aquisio de equipamentos (transferncia de

    tecnologia) e a esse contato foi enviada uma solicitao de colaborao para

    responder pesquisa proposta por este trabalho.

    Do total de instrumentos de coleta de dados enviados, foram recebidos 42

    formulrios preenchidos, dos quais 1 foi descartado por no estar corretamente

    preenchidos ou apresentarem inconsistncias evidentes nas respostas fornecidas.

    Assim, restaram 41 instrumentos de coleta de dados adequadamente completados,

  • 40

    representando um percentual de devoluo de 21,93% em relao ao quadro

    populacional da amostra selecionada.

    2.6 O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

    Forza (2002) afirmou que podem ser utilizadas diversas tcnicas de coleta de

    dados em uma survey. Dentre elas o autor destacou como as mais frequentemente

    utilizadas os questionrios e as entrevistas. No entanto, como a entrevista

    pressupe um contato pessoal entre o pesquisador e o respondente, sua utilizao

    considerando uma amostra composta por 187 empresas distribudas em nvel

    nacional torna a sua utilizao no vivel em face das restries de tempo e

    limitaes de recursos associadas a uma dissertao de mestrado. Por essa razo,

    decidiu-se pela utilizao do questionrio como instrumento de coleta de dados para

    a pesquisa considerada neste trabalho.

    O questionrio um instrumento utilizado na coleta de dados formado por um

    conjunto de perguntas logicamente ordenadas que devem ser respondidas sem a

    presena do pesquisador. Em geral o questionrio enviado por meios eletrnicos

    pelo pesquisador ao informante, que o devolve aps t-lo devidamente preenchido

    (MARCONI; LAKATOS, 2010).

    Como o objetivo da pesquisa foi o de verificar no campo o grau de adoo

    das prticas de TT sugeridas pela literatura, elaborou-se um questionrio composto

    por 8 questes bsicas que procuravam avaliar como as 13 etapas do processo de

    transferncia de tecnologia que estavam sendo consideradas pelas empresas

    pesquisadas. Para avaliar essas questes eram feitas afirmaes para as quais se

    pedia que o respondente manifestasse a sua concordncia ou discordncia

    utilizando uma escala Likert de 5 pontos, conforme ilustra a Figura 3.

  • 41

    Figura 3 Exemplo de questo includa no questionrio

    Item

    2.1 A empresa j conhecia as necessidades de mercado, portanto no foi

    necessrio realizar uma pesquisa de mercado para definir objetivos.0 1 2 3 4

    2.2 As necessidades da empresa com relao reduo de custos e

    ganhos de margem foram consideradas para estabelecer os objetivos.0 1 2 3 4

    2.3 A utilizao de recursos como energia eltrica, matria-prima, mo

    de obra, so desconsiderados na definio dos objetivos.0 1 2 3 4

    2.4 A capacidade de investimento da empresa definiu as prioridades,

    porm no influenciou os objetivos.0 1 2 3 4

    2.0 Como foram estabelecidos os objetivos pretendidos pela empresa com o ltimo processo de

    transferncia de tecnologia? Adote a escala a seguir para expressar sua opinio:

    Discordo totalmente [0] [1] [2] [3] [4] Concordo totalmente

    As 8 questes propostas envolveram um total de 36 afirmaes assim

    distribudas: questes 1, 2, 3, 7 e 8 com 4 afirmaes cada, questo 4 com 6

    afirmaes e questes 5 e 6 com 5 afirmaes cada. A associao entre as

    afirmaes e as etapas sugeridas para o processo de TT acha-se mostrado no

    Quadro 5. A ntegra do questionrio aplicado encontra-se no Apndice A. Para a

    tabulao das respostas associou-se afirmao mais favorvel 4 pontos e menos

    favorvel 0 ponto. Evidentemente as alternativas entre esses dois extremos

    receberam 3, 2 ou 1 pontos.

    Quadro 5 Relao entre as afirmaes do questionrio e as etapas do processo de

    TT

    Etapa Afirmaes

    1. Planejamento 1.1 1.2 1.3 1.4 2. Objetivo 2.1 2.2 2.3 2.4 3. Pesquisa 3.1 3.2 4. Confirmao 3.3 3.4 5. Negociao 4.1 4.2 4.3 4.4 6. Aprovao 4.5 4.6 7. Interao 5.1 5.2 8. Adaptao 5.3 5.4 5.5 9. Implementao 6.1 6.2 10. Absoro 6.3 6.4 6.5 11. Auditoria 7.1 7.2 7.3 7.4 12. Utilizao 8.1 8.2 13. Otimizao 8.3 8.4

  • 42

    De acordo com as recomendaes de Forza (2002) e Markoni e Lakatos

    (2010) os questionrios aps inicialmente montados foram submetidos a um pr-

    teste para se identificar possveis falhas, ambiguidade ou linguagem inacessvel, ou

    ainda perguntas que pudessem causar desconforto ao entrevistado. Para isso foram

    escolhidas 7 empresas txteis atuantes no segmento de fiao e os questionrios

    foram respondidos pelos responsveis pelos processo de TT da empresa.

    O que se pode notar no pr-teste foi que, da forma como as perguntas foram

    enunciadas no questionrio original, o respondente acabava percebendo que as

    afirmaes segundo a escala Likert possuam uma melhor caracterizao da

    resposta caso elas fossem associadas alternativa concordo plenamente. Detalha-

    se: todas as afirmaes no questionrio eram originalmente enunciadas no sentido

    de confirmar a adoo de uma melhor prtica, como, por exemplo, no item 6.1:

    Todas as preparaes/adaptaes ficaram prontas conforme planejado, portanto a

    implementao ocorreu assim que a tecnologia chegou na fbrica. Assim, notou-se

    no pr-teste uma ntida tendncia dos respondentes em padronizar as suas

    respostas em torno dos nveis 3 ou 4, o que evidentemente introduziria uma

    distoro, at involuntria, nas repostas fornecidas.

    Para eliminar esse bias, o questionrio foi revisado e algumas das afirmaes

    foram aleatoriamente invertidas utilizando-se para isso a funo

    =ALEATORIOENTRE(1;36) do Microsoft Excel. Assim, a afirmao 6.1, uma das

    selecionadas para inverso passou a ter a seguinte redao: Algumas das

    preparaes/adaptaes no ficaram prontas conforme planejado, portanto a

    implementao no ocorreu assim que a tecnologia chegou na fbrica. Verifica-se

    que, aps a inverso, a resposta mais favorvel passou a ser discordo totalmente.

    Evidentemente, procedeu-se a uma adequao na escala Likert utilizada, pois nas

    perguntas invertidas deveria se associar 4 pontos escolha discordo totalmente

    (mais favorvel) e 0 ponto concordo totalmente (menos favorvel).

    Alm disso, havia uma dificuldade dos respondentes de identificar a

    alternativa apenas em um clique, j que o formulrio estava em arquivo do Word,

    desta forma, para facilitar a resposta o questionrio foi reformulado utilizando-se o

    Google Docs e questes irrelevantes para esta pesquisa, como origem do capital,

    clientes, fornecedores e produtos foram eliminadas da verso final do questionrio.

  • 43

    O questionrio revisado foi submetido s empresas com as questes

    formuladas a partir das definies das etapas descritas na prxima seo de reviso

    da literatura.

  • 44

    3 REVISO DA LITERATURA

    Nesta seo sero abordados os temas que envolvem o presente trabalho,

    inicia-se com a explicao dos conceitos preliminares, seguido da reviso

    sistemtica que foi feita para identificar as lacunas da pesquisa.

    3.1 CONCEITOS PRELIMINARES

    Apresenta-se nesta seo uma explicao da indstria txtil e seus processos

    produtivos no mbito desta pesquisa, bem como a conceituao da transferncia de

    tecnologia.

    3.1.1 Indstria txtil

    Segundo Pereira (2010) a indstria txtil integra diversos setores produtivos

    que vo desde a fabricao de fibras sintticas, artificiais ou naturais, at a indstria

    de confeces, passando pela fiao, tecelagem, malharia, estamparia e

    beneficiamento ou acabamento. Cada processo destes pode ser independente na

    cadeia produtiva, ou seja, uma empresa pode produzir apenas uma ou duas etapas

    desconectadas, isto torna os elos da cadeia fortes, j que uma empresa torna-se

    fornecedora do processo seguinte, e assim por diante (SERRA, 2001). Pela

    extenso da cadeia, e pelo volume de investimentos, optou-se nesta pesquisa por

    direcionar os estudos para os setores de fiao, tecelagem, malharia e acabamento.

    A seguir apresenta-se uma descrio dos processos produtivos destas

    indstrias que so tema deste trabalho:

    Indstria de Fiao

    De acordo com as estatsticas do IEMI (2015) o total de fiaes do no Brasil

    era de 416 empresas em 2014, a maioria localizada nas regies sudeste (181),

    nordeste (103) e sul (88). Elas foram responsveis pela gerao de mais de 72 mil

    empregos e produziram mais de 1,2 milho de toneladas de fios, sendo a maioria de

    fios de algodo (mais de 1 milho de toneladas), seguido de polister (119 mil

  • 45

    toneladas) e sisal (20 mil toneladas). O processo de obteno de fios pode variar

    entre fios open-end, por jato de ar ou por sistema convencional (incluindo os

    compactados e penteados), sendo o ltimo o de maior volume com mais de 700 mil

    toneladas/ano. A titulagem desses fios, ou seja, a relao entre o peso pelo

    comprimento deles, pulverizada pela produo de fios grossos, mdios e finos com

    uma vantagem quantitativa para os mdios e finos. Esta indstria foi responsvel

    pelo faturamento de 5,5 bilhes de dlares em 2014. De modo geral, a idade do

    maquinrio instalado de 13,2 anos, porm considerando-se apenas os filatrios

    anel, que so os responsveis pela produo da maioria dos fios produzidos no

    pas, a idade mdia sobe para 16,1 anos. Os investimentos em tecnologia atravs

    de maquinrio, instalaes e treinamentos foi de 331 milhes de dlares em 2014,

    sendo 264,8 milhes apenas em maquinrio para modernizao ou ampliao.

    Os processos de fiao podem variar, conforme indicado na Figura 4. Os fios

    podem ser obtidos a partir de processo convencional, open-end ou a ar (MALUF;

    KOLBE, 2003). Os processos de obteno dos fios influenciam nas caractersticas e

    aplicaes para eles. Em comum, todos os processos tm uma linha de abertura

    composta de abridores e batedores para limpeza e abertura das fibras que chegam

    compactadas em fardos. Desta linha de abertura, as fibras so encaminhadas para

    as cardas onde feita mais uma limpeza, as fibras so inicialmente paralelizadas e

    saem em forma de fita em latas, estas latas so ento encaminhadas para os

    passadores, onde vrias fitas so dubladas e sofrem uma estiragem buscando maior

    uniformidade e paralelismo entre as fibras (PEREIRA, 2010).

    Segundo Maluf e Kolbe (2003) apesar desses processos serem comuns a

    todas as tcnicas de obteno de fios, o nvel de limpeza e paralelismo exigido por

    cada processo varia em funo da qualidade que se quer obter no produto final. De

    um modo geral, fios para o processo convencional, principalmente penteado e

    compactado, exigem fibras mais longas, so mais finos, com um aspecto de

    pilosidade menor; fios open-end utilizam fibras menores, as fibras tem nvel menor

    de orientao e paralelismo e tem toque mais spero. Os fios a ar tem um aspecto

    mais paralelo em relao aos open-end, porm toque spero. Ele muito utilizado

    para a fiao de viscose, e ainda pouco aplicado em fiao de algodo.

  • 46

    Figura 4 Fluxograma de processo de fiao

    Fonte: Adaptado de Pereira (2010)

    A partir do passador, se o processo for convencional, as latas com fitas de

    passador so encaminhadas para reunideira (se for fio penteado) onde algumas fitas

    so dubladas para garantir mais uniformidade e formam uma manta de penteagem.

    Ainda, se o processo for penteado, estas mantas so encaminhadas para a

    penteadeira que faz uma limpeza e garante maior paralelismo entre as fibras. Elas

    saem da penteadeira em formato de fita e novamente so encaminhadas para uma

    segunda passagem no passador que desta vez tambm ir contar com um auto-

    regulador para garantir regularidade da massa da fita. Caso o processo

    convencional no seja penteado, da primeira passagem as latas formadas so

    encaminhadas diretamente para segunda passagem. Aps a segunda passagem as

  • 47

    fitas formadas nas latas seguem para a maaroqueira, onde haver dublagem,

    estiragem e toro dessas fitas para formar um pavio. Este pavio segue para o

    filatrio, onde ser novamente estirado e torcido formando o fio. Caso o processo

    seja compactado, isto ser feito atravs de um filatrio especial para este fim. Os

    fios saem do filatrio em espulas, e so repassados na conicaleira para embalagens

    comerciais (PEREIRA, 2010).

    Para o processo de obteno de fios open-end, da primeira passagem, os fios

    seguem para uma segunda passagem e para o filatrio open-end que ir estirar e

    torcer as fitas para formar um fio, deste filatrio os fios j saem em embalagens

    comerciais. Similar a este processo o de obteno de fios por jato de ar,

    diferenciando-se apenas o tipo do filatrio que ser com rotor a ar para garantir o

    paralelismo, e toro das fitas na formao dos fios (MALUF; KOLBE, 2003).

    As empresas de fiao que produzem fios a partir de qualquer um dos

    processos apresentados, ou em mais de um desses processos foram consideradas

    para a pesquisa.

    Indstria de Tecelagem

    As empresas de tecelagem so mais numerosas, totalizando 558 em 2014

    conforme estatsticas do IEMI (2015). Elas esto localizadas em maior parte na

    regio sudeste (348), regio sul (137) e nordeste (57). Geram mais de 102 mil

    empregos e produzem 1,3 milho de toneladas de tecido por ano, sendo a maioria

    de algodo (752 mil toneladas), seguidos de polister (310 mil toneladas) e

    polipropileno (202 mil toneladas). Esta indstria faturou mais de 10 bilhes de

    dlares em 2014. A idade mdia do maquinrio de 13 anos, porm considerando-

    se apenas os principais teares com maior produo no pas (pina e jato de ar) a

    idade mdia cai para 10 anos. Os investimentos totais com tecnologia por

    instalaes, treinamento e maquinrio foi de 140 milhes de dlares em 2014, sendo

    92,5 milhes em maquinrio.

    O processo para obteno de tecidos planos comum a todos os tipos de

    tecidos, podendo ser alterado na preparao para tecelagem que pode variar em

    funo da fibra que se usa. Fibras sintticas no precisam de processo de

    engomagem, por exemplo, mas estas variaes tambm dependem do produto final

    que se quer produzir. Um fluxograma de processo mostrado na Figura 5.

  • 48

    Figura 5 Fluxograma do processo de tecelagem

    Fonte: Adaptado de Sanches, Oliveira Neto e Lucato (2014)

    Na preparao para a tecelagem os fios so separados conforme a sua

    utilizao e destinados para urdume, trama ou giro ingls (quando aplicvel). Os fios

    para urdume so direcionados para urdio que consiste na troca de embalagens,

    retirando os fios dos conicais ou rocas e os posicionando tensionados paralelamente

    em um rolo de urdume. Para isso a empresa utiliza urdeiras diretas ou seccionais.

    Na sequncia os fios passam para a engomadeira ou pela mquina de ndigo, onde

    sero engomados e tingidos se for o caso. Este processo cria uma pelcula que os

    protege das tenses e atritos aos quais sero submetidos na etapa de tecimento.

    Pode-se eliminar esta etapa quando se trabalha com fios sintticos / artificiais no

    urdume. Em seguida feita a remeteo que consiste na passagem dos fios de

    urdume pelas lamelas, malhas e pente (SANCHES; OLIVEIRA NETO; LUCATO,

    2014).

    Segundo Bastian e Rocco (2009), a tecelagem tem processos distintos. Os

    tecidos podem ser formados utilizando-se os teares com sistema de insero de

    trama por jato de ar, a gua, por projtil, por pinas ou ainda por lanadeiras. Isto

    depende da aplicao e do tipo de fibra com a qual se trabalha e da tecnologia

    disponvel. No processo de tecelagem, os fios de urdume, trama e ourela / giro

    ingls (quando aplicvel) sero entrelaados para formar o tecido (MALUF; KOLBE,

    2003).

    Prep. para

    Tecelagem

    Fios de

    Urdume

    Fios de

    Trama

    Urdio

    Fios de

    Ourela / Giro

    Engomar /

    ndigo

    Formao

    Carretis

    Tecelagem

    Acabamento

    e Reviso

    Embalagem

    e Expedio

    Remeteo

  • 49

    Para Sanches, Oliveira Neto e Lucato (2014), aps a tecelagem, o tecido

    segue para o beneficiamento ou acabamento, para ser desengomado, e ganhar

    caractersticas de toque, brilho e estabilidade dimensional. Na sequncia sero

    revisados, embalados, e seguem para expedio.

    As indstrias produtoras de tecidos planos tambm foram consideradas na

    presente pesquisa, incluindo todo maquinrio por ela utilizado nos seus processos

    de fabricao industrial, conforme descrito acima.

    Indstria de Malhas

    Alm da produo de tecidos planos, pode-se produzir tecidos em malha

    circular ou de urdume, que so utilizados para outras aplicaes como artigos

    esportivos, rendas, moletons, etc. e exigem caractersticas de fios diferente daquelas

    exigidas na tecelagem plana para fabricao.

    So 695 malharias na Brasil (IEMI, 2015), das quais 358 esto localizadas na

    regio sul, 262 na regio sudeste e 55 no nordeste. Elas empregaram 58.124

    pessoas em 2014 e produziram 503 mil toneladas de tecidos que correspondem a 5

    bilhes de dlares de faturamento. As mquinas instaladas tem idade mdia de 8

    anos, sendo que os de malharia circular que correspondem a maior produo de

    malhas, tem idade mdia de 9 anos. Os investimentos feitos em 2014 neste

    segmento foram de 105 milhes de dlares, sendo 71 milhes apenas em

    maquinrio para renovao ou ampliao do parque fabril.

    O processo para obteno de malhas est destacado na Figura 6. Os fios

    vindos do processo de fiao so posicionados nas gaiolas dos teares circulares, ou

    bobinados em rolos no urdimento onde tambm so engomados para ter mais

    resistncia e diminuir atrito no tecimento para os teares de malharia de urdume, e

    so tricotados formando os tecidos de malha ou de malha de urdume. Aps este

    processo eles seguem para acabamento, reviso embalagem e expedio (MALUF;

    KOLBE, 2003).

    Figura 6 Fluxograma do processo de malharia

  • 50

    Fonte: Adaptado de Pereira (2010)

    Indstrias produtoras de malhas que tenham transferido tecnologia em

    qualquer de seus processos produtivos, tambm foram englobadas neste estudo.

    Indstria de Beneficiamento / Acabamento

    Aps os tecidos prontos, tanto de malha quanto os tecidos planos seguem

    para o processo de acabamento ou beneficiamento, cujo objetivo principal agregar

    valor fornecendo propriedades adicionais como maciez, estabilidade dimensional,

    colorao, ou qualquer outra caracterstica que se queira obter para a aplicao nas

    confeces. Os processos de beneficiamento podem ser variados, no havendo um

    fluxograma fixo para eles, pois dependendo da caracterstica que se queira agregar,

    um conjunto de processos ser definido, que ser diferente caso a caracterstica

    final seja outra (MALUF; KOLBE, 2003).

    As indstrias de beneficiamento no Brasil somaram 1.288 em 2014 (IEMI,

    2015), a maioria delas localizadas na regio sul (599), sudeste (500) e nordeste

    (134). Elas foram responsveis pela gerao de 43.093 postos de trabalho.

    Processaram 296 mil toneladas de fios, sendo a maioria de algodo (244 mil

    toneladas), seguido de polister (26 mil toneladas) e acrlico (11 mil toneladas). Alm

    dos fios, processaram 929 mil toneladas de tecidos planos, sendo 592 mil toneladas

    de algodo, 286 mil toneladas de polister e 21 mil toneladas de polipropileno.

    Tambm beneficiaram 467 mil toneladas de malhas, sendo 228 mil toneladas de

    algodo, 123 mil toneladas de polister e 65 mil toneladas de poliamida. Estas

    indstrias investiram 324 milhes de dlares em 2014 em tecnologia, sendo 276

    milhes em maquinrio.

    Fios

    Tear Malharia

    Circular

    Urdio

    Tear Malharia

    de Urdume

    Acabamento

    e Reviso

    Embalagem

    e Expedio

  • 51

    Figura 7 - Fluxograma genrico do processo de beneficiamento / acabamento de

    tecidos planos e malhas

    Fonte: Adaptado de Pereira (2010)

    De modo geral, fios beneficiados seguem para o processo de tingimento,

    onde sero tingidos e amaciados. Malhas e tecidos planos podem passar por vrios

    processos conforme as caractersticas que se deseja obter, um fluxograma genrico

    do processo est destacado na Figura 7. Primeiramente a malha ou tecido passa por

    um processo de limpeza das impurezas que pode ser feito com purga, mercerizao,

    alvejamento, demineralizao e/ou desengomagem, seguido do processo de

    tingimento para agregar cor ao tecido (se esta caracterstica for desejada). O

    processo seguinte pode ser a ramagem que tem objetivo de dar estabilidade

    dimensional e secar os tecidos vindos do processo anterior. Outras aplicaes

    tambm podem ser feitas na rama. Caso o tecido seja estampado, este processo ir

    ocorrer na sequncia. Acabamentos finais com objetivo de melhorar o brilho e toque

    do tecido so feitos antes da reviso, embalagem e expedio. Estes acabamentos

    englobam calandragem, feltragem, chamuscagem entre outros (PEREIRA, 2010).

    A indstria de beneficiamento / acabamento foi pesquisada para se obter

    informaes dos processos de transferncia de tecnologia envolvendo qualquer um

    dos equipamentos utilizados em sua linha produtiva.

    Tecidos Planos / Malhas

    Limpeza

    (purga / desmineralizao / alvejamento / mercerizao / desengomagem)

    Ramagem

    Estamparia

    Tingimento

    Reviso / Embalagem / Expedio

    Acabamentos finais (calandragem / felpagem / chamuscagem / acabamentos especiais)

  • 52

    3.1.2 Transferncia de tecnologia

    Transferncia de tecnologia, segundo Joshi (1977) uma atividade

    econmica planejada relacionada com o fluxo de tecnologia de um pas para outro.

    Levin (1993) amplia este conceito englobando dois aspectos: para o fornecedor est

    relacionado entrega do produto e transferncia do conhecimento, e para o

    recebedor um processo que envolve a aquisio de produtos e conhecimento

    necessrio para operar determinado equipamento. Hamzei (2011) acrescenta que

    existe uma cadeia interligada de aes diretas que utilizam componentes de

    tecnologia para treinamento, absoro, desenvolvimento e uso econmico em um

    local que no o original onde a tecnologia foi criada, ressaltando que se trata de

    um processo bastante difcil e complexo.

    Entretanto, segundo Levin (1993) e Choi (2009) a tecnologia considerada

    um produto social, que requer o acesso ao conhecimento scio cultural trazido com

    ela. Deve-se, portanto considerar a movimentao de mquinas, ferramentas e

    equipamentos acompanhada da transferncia de habilidades culturais, ou seja, o

    sucesso da transferncia de novas tecnologias depende do processo de mudana

    scio tcnicas. Alm disso, Oliveira e Segatto (2009) ressaltam que a transferncia

    de tecnologia busca alcanar uma vantagem competitiva superior para a sociedade

    e as empresas, mas a tecnologia no pode ser vista apenas em relao fabricao

    de produtos, operacionalizao de tarefas e procedimentos. importante considerar

    o mbito do conhecimento, que est vinculado s crenas, pessoas, valores e dados

    e que pode ser disseminado atravs das relaes humanas. A transferncia de

    tecnologia deve considerar a aplicao e o uso no local de destino, enfocando que

    conhecimento e tecnologia andam lado a lado. Neste aspecto, as prticas sociais

    so vistas como um condutor de conhecimentos, ou seja, deve-se considerar o lado

    tcnico e social humano.

    Choi (2009) ainda destaca que em pases de terceiro mundo, muitas vezes,

    os recebedores da tecnologia tornam-se dependentes dos fornecedores de forma

    contnua, at mesmo para definio de aquisio de matria-prima e componentes,

    o que torna os fornecedores muito influentes em pases recebedores de tecnologia.

    Este aspecto verificado na pesquisa Braga Jr., Pio e Antunes (2009) para a

    indstria txtil brasileira, que descreve os processos de transferncia de tecnologia

    no setor como dominado e coordenado pelos fornecedores, que desempenham um

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    papel ativo no processo. Este fenmeno pode ser explicado pelo estudo de Vieira

    Junior et al. (2014) que mostra que as indstrias txteis no Brasil so dependentes

    dos processos de transferncia de tecnologia para melhorar sua competitividade,

    seja pela diminuio dos custos ou pela possibilidade de incluir novos produtos em

    sua linha de produo. Porm, ainda segundo Choi (2009) para se evitar esta

    situao, deve-se priorizar o treinamento e capacitao para permitir que o

    recebedor consiga desenvolver inovao a partir da tecnologia recebida. Para ele, o

    sucesso da transferncia est na possibilidade de gerar inovao. Portanto preciso

    capacitar, assimilar, adaptar, e modificar a tecnologia recebida atravs de educao

    e treinamento.

    A indstria txtil brasileira ainda pode ser considerada como um setor em

    desenvolvimento. Ela est se transformando de intensiva em mo de obra para

    intensiva em capital como resultado da crescente substituio de equipamentos e

    automao de sistemas, segundo Braga Jr., Pio e Antunes (2009). No Brasil, esta

    indstria tem enfrentado a competio de artigos importados de pases como a

    China, Paquisto, entre outros, e segundo Lucato et al. (2015) uma estratgia

    adotada por essas empresas como forma de defesa da indstria nacional a

    diferenciao de seus produtos, desenvolvendo novos produtos com maior

    qualidade e menor custo atravs da utilizao de tecnologias de ltima gerao dos

    equipamentos fabricados mundialmente. Isto se d atravs da transferncia de

    tecnologia dos pases fabricantes de equipamentos txteis para as empresas

    brasileiras.

    Com o intuito de compreender melhor os mtodos utilizados pela indstria

    txtil brasileira nos processos de transferncia de tecnologia, a prxima etapa da

    pesquisa consistiu de uma reviso sistemtica, que ser apresentada na seo

    seguinte.

  • 54

    3.2 REVISO SISTEMTICA SOBRE MODELOS DE TRANSFERNCIA DE

    TECNOLOGIA

    Com exceo do artigo International transfer of technology system todos os

    demais apresentavam pelo menos um modelo para transferncia de tecnologia. O

    artigo Technology transfer in China: literature review and policy implications

    apresentou quatro modelos relacionados com a reviso da literatura anterior. Todos

    os demais artigos apresentaram um modelo cada. Totalizando, foram encontrados

    vinte modelos de transferncia de tecnologia na literatura estudada.

    Quadro 6 Principais modelos de transferncia de tecnologia

    Item Modelo Autor Ano

    1 Modelo de etapas preliminares do processo de transferncia de tecnologia

    Khler, Rubenstein e Douds

    1973

    2 Modelo estratgico de manufatura para transferncia internacional de tecnologia

    Bommer, Janaro e Luper

    1991

    3 Estgios contnuos do processo de transferncia de tecnologia

    Hamzei 2011

    4 Modelo adaptado de Jagoda e Ramanathan para transferncia de tecnologia nas indstrias

    Vieira Junior et al. 2014

    5 Modelo conceitual de colaborao sobre o ciclo de vida operacional de um equipamento

    Lager e Frishammar 2010

    6 Modelo conceitual de transferncia de tecnologia entre atores sociais no setor espacial

    Vasconcellos e Amato Neto

    2012

    7 Processo genrico para transferncia de tecnologia no setor txtil