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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE CENTRO DE PS-GRADUAO
PROGRAMA DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUO
ARIANE GAIOLA DE OLIVEIRA SANCHES
PROPOSIO DE UM GUIA PARA TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA NA INDSTRIA TXTIL
SO PAULO 2016
ARIANE GAIOLA DE OLIVEIRA SANCHES
PROPOSIO DE UM GUIA PARA TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA NA INDSTRIA TXTIL
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Nove de Julho UNINOVE, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Engenharia de Produo.
Prof. Wagner Cezar Lucato, Dr. - Orientador
SO PAULO 2016
Sanches, Ariane Gaiola de Oliveira.
Proposio de um guia para transferncia de tecnologia na
indstria txtil./ Ariane Gaiola de Oliveira Sanches. 2016.
113 f.
Dissertao (mestrado) Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, So Paulo, 2016.
Orientador (a): Prof. Dr. Wagner Cezar Lucato.
1. Transferncia de tecnologia. 2. Indstria txtil. 3. Mquinas txteis.
I. Lucato, Wagner Cezar. II. Titulo
CDU 658.5
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos Universidade Nove de Julho UNINOVE e
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES, pelas
bolsas de estudo que proporcionaram o meu ingresso e a concluso deste curso.
Agradeo ao meu orientador pela pacincia, pelo conhecimento transmitido e
por me guiar na construo deste trabalho, que proporcionou esta conquista
profissional e pessoal.
Aos membros da banca pelo tempo que dedicaram para contribuir na
melhoria do meu trabalho. Aos professores pelo conhecimento que adquiri em cada
disciplina e pelo suporte na elaborao de artigos cientficos. Agradeo tambm aos
meus colegas de turma pelo incentivo coletivo para superar as dificuldades ao longo
deste percurso.
E finalmente, agradeo a minha famlia pelo apoio e ajuda durante o perodo
em que me dediquei aos estudos.
RESUMO
A indstria txtil tem um papel importante para a economia do pas e para que este
setor se torne mais competitivo, a transferncia de tecnologia essencial, em
especial a de mquinas txteis que representam um volume de investimentos maior.
O objetivo deste estudo propor um guia que possa ser utilizado pela indstria txtil
brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia. Para se atingir
este objetivo uma pesquisa com abordagem qualitativa e quantitativa foi realizada
em que o respondente avaliou a adoo de prticas em uma escala Likert de 0 a 4.
O tipo de pesquisa foi exploratria para se compreender em maior profundidade
como ocorrem os procedimentos de transferncia de tecnologia (TT) e sua aplicao
na indstria txtil. A tcnica de coleta de dados foi por meio do envio de
questionrios para avaliao da adoo das etapas para 187 empresas relacionadas
em uma amostra atravs do mtodo Survey. A anlise dos resultados permitiu
identificar que possvel propor um conjunto de 12 etapas como um guia de
transferncia de tecnologia. Notou-se que existe uma diferena entre os nveis de
adoo das prticas para empresas localizadas em diferentes regies e com
diferentes nveis de profundidade de produo, porm no h indcios de diferenas
no nvel de adoo das prticas em empresas com diferentes portes. As
descobertas deste estudo podem ser utilizadas pelas indstrias e seus gestores
como uma orientao em futuros processos de modernizao ou ampliao de
forma que todas as etapas identificadas no guia proposto sejam consideradas
relevantes na aplicao prtica.
Palavras-chave: Transferncia de tecnologia. Indstria Txtil. Mquinas Txteis.
ABSTRACT
The Brazilian textile industry plays an important role in the countrys economy and in
order to become more competitive, technology transfer investments are of great
importance, especially in textile machinery which represents a greater amount. This
works purpose is to present a guide which could be used by the Brazilian textile
industry for its technology transfer procedures. In order to achieve this goal, this
research project using a qualitative and quantitative approach was conducted, to
which the respondent evaluated the adoption level of each practice by a Likert scale
range from 0 to 4. It was an exploratory research project to deeply understand how
technology transfer (TT) procedures happen and its application in textile industry.
The data collection technique was through questionnaires to evaluate the steps
adoption and sent to 187 companies selected as a sample through a survey method.
The result analysis identified a set of 12 steps as a guide for technology transfer
processes. It was noted a difference between the adoption level for companies
located in different country areas and with different production amplitude, on the
other hand different company size did not influence the adoption level of the steps.
The findings can be used by companies and their management as a guideline for
future modernization or expansion processes so that the stages identified in the
proposed guide can be considered relevant in practice.
Keywords: Technology transfer. Textile industry. Textile machinery.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Fluxograma da pesquisa .......................................................................... 24
Figura 2 A cadeia txtil e de confeces do Brasil com a indicao da rea de
interesse da pesquisa realizada (rea limitada pela linha tracejada) ........................ 35
Figura 3 Exemplo de questo includa no questionrio .......................................... 41
Figura 4 Fluxograma de processo de fiao .......................................................... 46
Figura 5 Fluxograma do processo de tecelagem ................................................... 48
Figura 6 Fluxograma do processo de malharia ...................................................... 49
Figura 7 - Fluxograma genrico do processo de beneficiamento / acabamento de
tecidos planos e malhas ............................................................................................ 51
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Produo da cadeia txtil brasileira em USD .......................................... 13
Grfico 2 Balana comercial de artigos txteis ....................................................... 14
Grfico 3 Populao brasileira ............................................................................... 15
Grfico 4 PIB per capita brasileiro em USD ........................................................... 15
Grfico 5 Investimentos em maquinrio no setor txtil ........................................... 17
Grfico 6 Artigos por ano de publicao ................................................................ 32
Grfico 7 Metodologia: abordagem ........................................................................ 32
Grfico 8 Metodologia: tcnica de coleta de dados ................................................ 33
Grfico 9 Metodologia: mtodo de pesquisa .......................................................... 33
Grfico 10 Adoo de prticas pelas empresas pesquisadas ................................ 81
Grfico 11 Adoo de prticas por porte de empresa ............................................ 83
Grfico 12 Adoo de prticas por regio da empresa .......................................... 85
Grfico 13 Adoo de prticas por profundidade de fabricao ............................. 87
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Questes que orientaram a pesquisa bibliomtrica e bibliogrfica ......... 27
Quadro 2 Artigos .................................................................................................... 34
Quadro 3 Classificao do porte empresas txteis ................................................ 38
Quadro 4 Os 3 nveis de profundidade de fabricao ............................................ 39
Quadro 5 Relao entre as afirmaes do questionrio e as etapas do processo de
TT .............................................................................................................................. 41
Quadro 6 Principais modelos de transferncia de tecnologia................................. 54
Quadro 7 Proposta de conjunto de etapas para transferncia de tecnologia na
indstria txtil com base na reviso da literatura ....................................................... 75
Quadro 8 Etapas dos modelos de transferncia de tecnologia .............................. 76
Quadro 9 Sumrio do teste de hipteses ............................................................... 89
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Nmero de artigos da pesquisa bibliomtrica .......................................... 28
Tabela 2 Definio de artigos para reviso sistemtica ......................................... 29
Tabela 3 Artigos por peridico ................................................................................ 30
Tabela 4 Artigos por autores .................................................................................. 31
Tabela 5 O nmero de empresas e o investimento da cadeia ............................... 36
Tabela 6 Mdias das respostas obtidas para o questionrio ................................. 78
Tabela 7 Teste ANOVA fator nico para etapas .................................................... 82
Tabela 8 Teste ANOVA fator nico para porte das empresas................................ 84
Tabela 9 Teste ANOVA fator nico para regio da empresa ................................. 86
Tabela 10 Comparaes mltiplas com DHS de Tukey para Regies ................... 86
Tabela 11 Teste ANOVA fator nico para profundidade de produo ................... 88
Tabela 12 Comparaes mltiplas com DHS de Tukey para Profundidade de
Fabricao................................................................................................................. 88
LISTA DE SIGLAS
ABDI Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial
ABIT Associao Brasileira da Indstria Txtil e de Confeco
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
EPP Empresa de Pequeno Porte
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IEMI Instituto e Estudos de Marketing Industrial
ME Microempresa
PMEs Pequenas e Mdias Empresas
ROI Retorno sobre Investimento
SciELO Scientific Electronic Library Online
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas
SECEX Secretaria de Comrcio Exterior
TT Transferncia de Tecnologia
SUMRIO
1 INTRODUO ....................................................................................................... 13
1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA ..................................................................... 16
1.2 DELIMITAO DO TEMA .................................................................................. 19
1.3 O PROBLEMA ..................................................................................................... 19
1.4 HIPTESES DE RESOLUO DO PROBLEMA ............................................... 20
1.5 OBJETIVOS GERAL E ESPECFICOS ............................................................... 22
1.6 JUSTIFICATIVA DA RELEVANCIA DA PESQUISA ........................................... 22
1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 23
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 24
2.1 A SELEO DO MTODO DE PESQUISA ........................................................ 24
2.2 ANLISE BIBLIOMTRICA E SISTEMTICA .................................................... 25
2.2.1 Reviso bibliomtrica sobre transferncia de tecnologia, indstria txtil e
mquinas txteis ....................................................................................................... 26
2.3 A CADEIA TXTIL BRASILEIRA E A DELIMITAO DA PESQUISA ............... 35
2.4 AS VARIVEIS ESTUDADAS ............................................................................. 37
2.4.1 A medida do porte das empresas ..................................................................... 37
2.4.2 A medida da profundidade de fabricao ......................................................... 38
2.5 A SELEO DA AMOSTRA ............................................................................... 39
2.6 O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................................... 40
3 REVISO DA LITERATURA ................................................................................. 44
3.1 CONCEITOS PRELIMINARES ........................................................................... 44
3.1.1 Indstria txtil ................................................................................................... 44
3.1.2 Transferncia de tecnologia ............................................................................. 52
3.2 REVISO SISTEMTICA SOBRE MODELOS DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA ........................................................................................................... 54
4 APRESENTAO DOS RESULTADOS ............................................................... 77
4.1 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS .................................................. 77
5 CONCLUSES ...................................................................................................... 91
REFERNCIAS ......................................................................................................... 94
APNDICES ........................................................................................................... 100
APNDICE A PESQUISA SOBRE PROCESSOS DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA NA INDSTRA TXTIL BRASILEIRA ............................................ 100
APNDICE B COMPARAES MLTIPLAS COM DHS DE TUKEY PARA
ETAPAS DE TT ....................................................................................................... 109
13
1 INTRODUO
A indstria txtil no Brasil desempenha um papel relevante para a economia
do pas tanto na gerao de empregos quanto no valor da produo industrial.
Dados divulgados pelo IEMI (2015) revelam que em 2014 o setor foi responsvel
pela ocupao de 1,5 milhes de postos de trabalho ou 16,9% do total de empregos
do setor industrial enquanto que, em valores monetrios, respondeu pela
comercializao de USD 53,4 bilhes correspondentes a 5,6% da indstria de
transformao (excluindo-se construo civil e extrao mineral) que representou
2,5% do PIB brasileiro de 2014. Soma-se a isto o fato de que desde 1990, aps a
abertura de mercado, as indstrias foram se modernizando e investindo em novas
tecnologias a fim de se tornarem mais competitivas internacionalmente. O Grfico 1
mostra a produo total de txteis e confeccionados do pas no perodo de 2010 a
2014.
Grfico 1 Produo da cadeia txtil brasileira em USD
Fonte: Adaptado de IEMI (2015)
Esta produo nacional destinada em grande parte ao mercado interno e
um percentual menor para exportao. Mesmo exportando parte da produo, os
resultados da balana comercial mostram um crescimento contnuo da entrada de
14
produtos importados, conforme mostrado no Grfico 2. Segundo Vieira Junior et al.
(2014), a indstria txtil brasileira encontra forte competio com importados de
baixo custo da China e de outros pases do extremo oriente, e que para manter sua
competitividade no mercado local, estas empresas esto adotando a diferenciao
de produtos, que propiciada pelo uso de novas tecnologias.
Grfico 2 Balana comercial de artigos txteis
Fonte: Adaptado de SECEX (2015)
Os dados apresentados demonstram que a indstria nacional vem perdendo
competitividade diante dos produtos importados, ou ainda que a produo interna
insuficiente para suprir o mercado.
De acordo com divulgao do World Bank (2015), a populao brasileira
cresceu nos ltimos anos conforme se pode observar no Grfico 3. Sabe-se tambm
que o PIB per capta cresceu como indicado no Grfico 4. Estes dados mostram, at
o ano de 2013, um poder de compra cada vez maior da populao ao mesmo tempo
em que a populao cresceu. Portanto de se esperar que o consumo de produtos
txteis seja cada vez maior, at que a curva populacional torne-se descendente.
O consumo de produtos txteis cresceu 27,3% de 2004 at 2014 segundo
dados do IEMI (2015). O consumo anual (Kg) por habitante passou de 10,5 em 2004
para 13,3 em 2014. Em contrapartida, o total fabricado de txteis no Brasil foi de
10,8 Kg/habitante, o que significa que a produo interna no teve competitividade
para suprir o consumo.
15
Grfico 3 Populao brasileira
Fonte: Adaptado de World Bank (2015)
Grfico 4 PIB per capita brasileiro em USD
Fonte: Adaptado de World Bank (2015)
16
Isto demonstra o potencial que a indstria txtil brasileira tem para expandir
seus negcios, contudo preciso que ela torne-se cada vez mais eficiente no
processo fabril a fim de ser competitiva com o produto importado alm de estar
atenta aos novos requisitos do consumidor. A indstria txtil pode melhorar a sua
competitividade atravs da transferncia de tecnologia.
1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA
De acordo com estudos de prospeco setorial para 2023, o pas encontrava-
se em 2008 com tecnologia que o situava em estgio intermedirio de
competitividade conforme o mapa estratgico do setor txtil e de confeco, e que
precisava identificar as tecnologias-chave e as linhas de pesquisa estratgicas para
se desenvolver e chegar a 2023 caracterizado com um setor intensivo em tecnologia
e em ligaes estratgicas (ABDI, 2010). Para se alcanar este objetivo, o estudo
apresentou rotas estratgicas em que entre as macroaes constavam o
investimento em tecnologias para aumento da eficincia de processos de
desenvolvimento de produtos, a unio de cursos de graduao e ps-graduao
para soluo de problemas empresariais, a implementao de modelos de
desenvolvimento de novos produtos e de inovaes e a desonerao de
investimentos em modernizao tecnolgica para as reas estratgicas das
empresas.
Para que a indstria txtil torne-se cada vez mais intensiva em tecnologia, os
investimentos em projetos de transferncia de tecnologia so necessrios para se
alcanar a viso almejada pela Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Os
investimentos em maquinrio no setor txtil apesar de apresentarem queda no ano
de 2014 com relao a 2013 de 4,9%, cresceram nos anos de 2011, 2012 e 2013
em relao a 2010 (IEMI, 2015). O Grfico 5 mostra a evoluo dos investimentos
em maquinrio na indstria txtil e dimensiona a participao das indstrias de
fiao, tecelagem, malharia e beneficiamento no setor.
Mesmo com o crescimento dos investimentos em projetos de transferncia de
tecnologia, e com a importncia do setor para a economia, poucos artigos cientficos
tratam desta temtica. Um estudo de Vieira Junior et al. (2014) forneceu um guia
para as indstrias txteis brasileiras otimizarem os processos de transferncia de
17
tecnologia. O guia indicava um modelo de transferncia de tecnologia adaptado de
Jagoda e Ramanathan que consistia de seis etapas e uma verificao para cada
etapa. A pesquisa foi realizada em quatro empresas, sendo trs tecelagens e uma
malharia e que, portanto no pode ter seus resultados generalizados por ser um
estudo de mltiplos casos. Entretanto, esta uma oportunidade para este trabalho.
Segundo Prochnik (2003) apesar dos investimentos significativos que j foram
feitos, a indstria txtil brasileira ainda precisa de uma atualizao tecnolgica mais
agressiva para se tornar internacionalmente competitiva e se manter no mercado.
Grfico 5 Investimentos em maquinrio no setor txtil
Fonte: Adaptado de IEMI (2015)
Outro estudo conduzido por Braga Jr., Pio e Antunes (2009) descreve e
caracteriza a TT na indstria txtil brasileira atravs da apresentao de um
processo comum que pode ser observado nas indstrias e que consiste de cinco
etapas: busca, verificao, compra, difuso e assistncia tcnica. Ele ainda aponta
processos externos que a empresa poderia se beneficiar como treinamento,
pesquisa, cooperao e organizao, que no fizeram parte do processo
apresentado. O trabalho foi um estudo de caso, e seus resultados tampouco podem
ser generalizados, os apontamentos sugeridos pelo autor tambm so uma
oportunidade para verificar se as empresas brasileiras os utilizam plenamente.
Dada a importncia do setor para a economia e a escassez de estudos sobre os
processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil brasileira, esta pesquisa
18
tem o objetivo de propor um guia que possa ser utilizado pela indstria txtil
brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia.
As indstrias pesquisadas investiram em 2014 o equivalente a 901,2 milhes
de dlares em tecnologia, que corresponde a 49% de todo investimento realizado no
setor txtil. Considerando apenas maquinrio o investimento foi de 705,3 milhes de
dlares, correspondentes a 72% do total investido por toda a indstria txtil (IEMI,
2015). Este percentual significativo e desta forma um processo de transferncia de
tecnologia com embasamento cientfico pode contribuir positivamente para a
organizao das indstrias que pretendem transferir tecnologia futuramente.
19
1.2 DELIMITAO DO TEMA
O estudo de Vieira Junior et al. (2014) relata que as indstrias txteis no
Brasil so dependentes dos processos de transferncia de tecnologia para melhorar
sua competitividade, seja pela diminuio dos custos ou pela possibilidade de incluir
novos produtos em sua linha de produo. ABDI (2010) acrescenta que um dos
passos para se alcanar a viso para o setor txtil em 2023 o investimento em
novas tecnologias. Braga Jr., Pio e Antunes (2009) caracterizam o processo de
transferncia de tecnologia no setor como spin-on, ou seja, so tecnologias
desenvolvidas para fins comerciais que sero vendidas para outras empresas, e o
processo passivo, dominado por fornecedores. Uma vez que a transferncia de
maquinrio a principal fonte para se transferir tecnologia na indstria txtil
brasileira, este estudo foca apenas na transferncia de maquinrio adquirido de
fornecedores que desenvolveram determinada tecnologia.
Outro aspecto a se considerar que a cadeia txtil bastante extensa desde
o fornecimento de fibras txteis at a confeco de artigos de vesturio, cama, mesa
e banho, e outros. Como indicado no Grfico 5, os maiores investimentos em
maquinrio nos ltimos cinco anos foram nas indstrias de fiao, tecelagem,
malharia e beneficiamento, por esta razo, o presente estudo ser direcionado a
estas indstrias da cadeia txtil.
1.3 O PROBLEMA
Como j exposto, pouco se estudou sobre a transferncia de tecnologia na
indstria txtil brasileira. Foram encontrados apenas dois artigos na literatura que
traziam modelos descritivos de transferncia de tecnologia voltados para a indstria
txtil e que apresentavam alguns conjuntos de etapas, como o de Braga Jr., Pio e
Antunes (2009) e o de Vieira Junior et al. (2014) com pesquisas feitas atravs de
estudos de caso e verificao prtica restrita a poucas empresas.
Entretanto, dada a importncia do setor para a economia e os constantes
investimentos da indstria em tecnologia, uma pesquisa mais profunda e ampla
sobre o tema uma lacuna de pesquisa para ser investigada. Existe ainda uma
20
ausncia de um guia para transferncia de tecnologia no brasil que analise o porte a
profundidade e a regio em que a empresa se encontra.
Para compreender em maior profundidade as etapas envolvidas em um
processo de transferncia de tecnologia e sua aplicao pela indstria, este estudo
visa responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como efetivar um processo de
transferncia de tecnologia que possa ser usado de maneira efetiva pela indstria
txtil brasileira? Esse processo seria o mesmo para todas as empresas deste setor?
Esse processo depende do porte da empresa? Ele tem caractersticas regionais?
Ele depende da profundidade de fabricao da empresa?
1.4 HIPTESES DE RESOLUO DO PROBLEMA
Algumas hipteses so consideradas como provveis respostas questo de
pesquisa, estas hipteses so identificadas aps o estabelecimento de um conjunto
de etapas comuns a quatro ou mais autores na literatura cientfica e que pode ser
considerado como um guia de TT para a indstria txtil brasileira. A utilizao das
prticas citadas por quatro ou mais autores se d devido importncia da incluso
da etapa de planejamento do processo, que foi citada apenas 4 vezes, pois segundo
Castro e Schulze (1995) esta etapa fundamental para aquisio da tecnologia
porque determina quando e o tipo de tecnologia a ser adquirido.
A literatura sobre transferncia de tecnologia utilizada neste trabalho
apresenta 25 etapas. Visto o grande nmero de prticas apresentadas, pretende-se
descobrir se aquelas que foram mais citadas pelos autores so de fato utilizadas na
prtica da indstria txtil. Vieira Junior et al. (2014) em seu estudo de mltiplos
casos sobre a indstria txtil brasileira, verificou que o modelo de TT de Jagoda e
Ramanathan poderia ser utilizado neste setor, porm notou que algumas das
indicaes do trabalho anterior no eram aplicveis. Pretende-se verificar com base
neste achado, se as etapas mais citadas na literatura so ou no aplicveis pelas
indstrias, e com base na literatura anterior a hiptese para este questionamento :
Hiptese 1: O nvel de adoo de cada uma das prticas pela indstria txtil
brasileira no pode ser considerado o mesmo.
21
Abbasnejad et al. (2011) em sua pesquisa sobre os fatores que influenciavam
a colaborao tecnolgica entre universidade e indstria no Ir, concluiu que
dependendo do porte da empresa, a interao tecnolgica cooperativa era maior ou
menor. Este questionamento sobre a influncia do porte da empresa na
transferncia de tecnologia algo que pretende-se identificar com este trabalho, e ,
com base no exposto, a hiptese que se assume :
Hiptese 2: O nvel de adoo das prticas pela indstria txtil brasileira difere
conforme o porte da empresa.
Padilla-Perz (2008) comparou a transferncia de tecnologia entre duas
regies distintas no Mxico para a indstria de eletrnicos e constatou que os
resultados de implantao no so homogneos. Pretende-se, portanto identificar se
estes resultados tambm se aplicam para a indstria txtil, e com base na literatura,
assume-se como hiptese para este questionamento:
Hiptese 3: O nvel de adoo das prticas pela indstria txtil brasileira
depende da regio em que ela se encontra.
Este trabalho ir identificar as diferentes camadas de produo da cadeia
txtil, com empresas verticalizadas, aquelas que apresentam pelo menos dois
processos fabris e as que fornecem apenas um processo da cadeia e compar-las
quanto a TT. Um estudo de Mollgaard e Lorentzen (2004), na Dinamarca, constata
que a competncia tecnolgica difusa para a cadeia automotiva especialmente
entre as extremidades da cadeia, portanto para identificar esta caracterstica para a
indstria txtil formulou-se a quarta hiptese:
Hiptese 4: O nvel de adoo das prticas de transferncia de tecnologia pela
indstria txtil brasileira difere conforme sua profundidade de fabricao.
Estas hipteses sero testadas no decorrer do estudo a fim de provar ou no
a sua veracidade.
22
1.5 OBJETIVOS GERAL E ESPECFICOS
A pesquisa ter o objetivo geral de propor um guia que possa ser utilizado
pela indstria txtil brasileira em seus procedimentos de transferncia de tecnologia.
Tambm so objetivos especficos:
Realizar uma reviso bibliomtrica e sistemtica para identificar os modelos
existentes pertinentes e esta pesquisa;
A definio do escopo de verificao dos modelos de transferncia de tecnologia
existentes na literatura e sua delimitao para o estudo, identificando modelos ou
procedimentos existentes e formando um conjunto de etapas comuns maioria;
A elaborao e validao de um instrumento de pesquisa que possa verificar a
efetividade das etapas encontradas na literatura atravs de uma pesquisa survey
com empresas do setor;
A definio do mtodo de anlise das respostas que possa atender as
verificaes das hipteses e proposies levantadas, e;
Proposio de um procedimento baseado em um conjunto de etapas de
transferncia de tecnologia que possa ser considerado para as indstrias txteis
brasileiras.
Testar as hipteses propostas no presente trabalho.
1.6 JUSTIFICATIVA DA RELEVANCIA DA PESQUISA
Pretende-se atravs deste estudo agregar conhecimento para um dos
principais setores industriais do pas, possibilitando uma anlise aprofundada dos
processos que envolvem a transferncia de tecnologia dessas empresas, para
identificar o nvel de adoo das etapas estabelecidas. Este estudo poder se tornar
uma ferramenta adicional no processo de modernizao ou ampliao de
maquinrio para as indstrias txteis na projeo de investimentos futuros em
tecnologia.
Para a Engenharia de Produo e para os gestores das indstrias, o estudo
fornecer como guia das etapas que compem um processo completo de
23
transferncia de tecnologia, visando um aproveitamento maior dos recursos
transferidos, focando no apenas no maquinrio, mas tambm nos requisitos de
treinamento, absoro e melhoria da tecnologia transferida.
Para os trabalhadores desta indstria, o estudo poder trazer frutos medida
que eles utilizarem as etapas como um guia, dedicando importncia ao treinamento
e absoro, tornando os funcionrios especialistas e que possam tirar o mximo de
proveito dos recursos oferecidos pelo maquinrio transferido.
1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO
Para desenvolvimento da pesquisa, o presente trabalho est dividido em
cinco sees, sendo a primeira j apresentada que consistiu de uma introduo
sobre o estudo a ser desenvolvido, contextualizando e delimitando o tema de
transferncia de tecnologia na indstria txtil, seguido da apresentao do problema
de pesquisa com as possveis hipteses e proposies para resoluo, e
apresentando os objetivos geral e especficos da pesquisa, incluindo a relevncia do
estudo para o setor industrial em questo.
A seo 2 expe a metodologia de pesquisa utilizada e seu processo de
seleo, a anlise bibliomtrica, a reviso bibliomtrica sobre transferncia de
tecnologia, indstria txtil e mquinas txteis, a delimitao da pesquisa, as
variveis estudadas como a medida do porte da empresa e a profundidade de
fabricao, o instrumento de coleta de dados e a seleo da amostra.
A seo 3 apresenta uma reviso da literatura sobre a indstria txtil no
mbito deste trabalho, os diferentes aspectos e abordagens da TT nacional e
internacional, para equipamentos e para indstria, com uma reviso sistemtica
sobre os modelos de transferncia de tecnologia que foram consideradas para
chegar ao conjunto de etapas proposto.
A seo 4 apresenta os resultados, avaliando e discutindo as implicaes
identificadas em resposta a questo de pesquisa e confirmando ou rejeitando as
hipteses e proposies levantadas.
Por fim, na seo 5 so apresentadas as concluses em funo dos
resultados obtidos.
24
2 METODOLOGIA
Neste captulo se descreve o mtodo de pesquisa utilizado para a realizao
desta dissertao, bem como a tcnica de coleta de dados empregada. Ainda, se
apresenta como se caracterizam as variveis empregadas no presente trabalho, e a
anlise bibliomtrica realizada para se alcanar o modelo proposto.
As etapas utilizadas nesta pesquisa esto indicadas no fluxograma indicado
na Figura1.
Figura 1 Fluxograma da pesquisa
2.1 A SELEO DO MTODO DE PESQUISA
Dentre os vrios mtodos de pesquisa usualmente empregados na
Engenharia de Produo (CAUCHICK MIGUEL, 2012) este estudo apoia-se no
Escolha do tema
Definio das perguntas que orientaram a pesquisa
Definio das palavras-chave
Reviso bibliomtrica
Reviso sistemtica
Proposio das etapas para pesquisa
Confeco de questionrio para Survey
Identificao das empresas e contatos para recebimento do Survey
Tratamento das respostas obtidas
Resultados da Pesquisa
Concluso da Pesquisa
25
desenvolvimento da pesquisa tipo survey exploratria, para a qual Forza (2002)
considera questes como qual o nvel, quanto e no necessita de controle sobre
eventos comportamentais, focando em acontecimentos contemporneos. Ainda, a
survey a alternativa escolhida por numerosos estudos cientficos nos quais o
objetivo que se deseja alcanar o de determinar o que est ocorrendo na
sociedade no momento presente (ROBSON, 1993).
Adicionalmente, segundo Kumar (2011), quando se ambiciona realizar uma
pesquisa futura mais detalhada recorre-se a uma pesquisa de campo do tipo survey
exploratria para ganhar mais conhecimento sobre um tema especfico. Alm disso,
conforme Forza (2002), esse mtodo de pesquisa abrange a coleta de dados ou
informaes por meio de entrevistas ou questionrios como instrumento de obteno
de informaes de indivduos sobre eles mesmos ou sobre as organizaes s quais
pertenam. Para Nakano (2012, p.66), a survey um mtodo de pesquisa emprica
que faz uso de instrumento de coleta de dados nico (em geral um questionrio)
aplicado a amostras de grande tamanho com uso de tcnicas de amostragem e
anlise e inferncia estatstica [...].
Observa-se, dessa forma, que esse mtodo de pesquisa pareceu ser o mais
adequado para o estudo que aqui se desenvolveu, pois pretendeu-se investigar as
etapas para propor um guia que pudesse ser utilizado pela indstria txtil brasileira
em seus procedimentos de transferncia de tecnologia empregadas em um grande
nmero de empresas do setor txtil brasileiro, selecionadas aleatoriamente, com
informaes obtidas por meio do uso de questionrio e com a decorrente anlise dos
dados elaborada com o extensivo uso de tcnicas estatsticas.
2.2 ANLISE BIBLIOMTRICA E SISTEMTICA
Para a determinao das lacunas de pesquisa e para o estabelecimento do
guia proposto por este trabalho (conjunto das prticas de transferncia de tecnologia
mais usuais citadas pela literatura) foi utilizada a anlise sistemtica de contedo,
que so investigaes que procuram resumir averiguaes preliminares por meio de
uma estratgia cientfica que restringem as variaes e o erro aleatrio (BARDIN,
1997). Contudo, deve-se estabelecer critrios explcitos e reprodutveis nas
escolhas de artigos para esse tipo de reviso. Para tal necessrio efetivar uma
26
pesquisa ampla dos artigos potenciais. Pritchard (1969), Pao (1989), Bardin (1997) e
Barrios et al. (2008) afirmaram que a anlise de contedo pode ser de dois tipos:
quantitativa e qualitativa. Asseguraram, ainda, que a anlise quantitativa ilustra a
frequncia das caractersticas comuns que se reproduzem em determinado texto.
Por outro lado, a anlise de contedo qualitativa aquela que examina a existncia
de determinado atributo do contedo total ou de um determinado fragmento do texto
analisado.
As anlises sistemticas tm como caracterstica distintiva a integrao das
informaes de um conglomerado de estudos feitos isoladamente sobre um tpico,
que podem levar a resultados favorveis ou conflitantes. Ainda, podem revelar
assuntos que necessitem de maiores anlises, contribuindo para selecionar temas
relevantes para o desenvolvimento de estudos futuros (BARDIN, 1997; BARRIOS et
al., 2008). Dessa forma, para estruturar o Captulo 3 Reviso da Literatura
recorreu-se a um estudo bibliomtrico sobre o tema central objeto desta dissertao,
acompanhado da respectiva anlise sistemtica de contedo. Com isso foi possvel
identificar as lacunas de pesquisa que sustentam a presente investigao, bem
como estabelecer o conjunto de prticas de transferncia de tecnologia
mencionadas na literatura (modelo terico deste trabalho).
2.2.1 Reviso bibliomtrica sobre transferncia de tecnologia, indstria txtil e
mquinas txteis
Algumas perguntas foram formuladas no incio da pesquisa para direcionar a
construo do conjunto de palavras-chave da pesquisa bibliogrfica, e esclarecer o
conhecimento que se pretendia adquirir como resultado desta pesquisa. Atravs das
respostas a essas perguntas, foi possvel estabelecer as lacunas presentes no tema
de estudo.
As perguntas esto relacionadas no Quadro 1 e visam entender os processos,
modelos e prticas de transferncia de tecnologia no setor.
Visando responder essas perguntas, e a fim de identificar a literatura sobre os
modelos existentes de transferncia de tecnologia utilizados na Engenharia de
Produo, e em especial na indstria txtil para equipamentos e maquinrios, fez-se
uma varredura nas bases de dados Scielo, Ebsco, Proquest, Capes, Science Direct
27
e Emerald com os conjuntos de palavras-chave apresentados a seguir, que
estivessem presentes no ttulo, resumo ou palavras-chave dos artigos.
Quadro 1 Questes que orientaram a pesquisa bibliomtrica e bibliogrfica
Item Questo
1 Quais os principais modelos de transferncia de tecnologia?
2 Existem modelos especficos de transferncia de tecnologia para a indstria txtil?
3 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia?
4 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia no Brasil?
5 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil?
6 Como se desenvolvem os processos de transferncia de tecnologia na indstria txtil brasileira?
7 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia txtil no Brasil?
8 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia txtil?
9 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia no Brasil?
10 Quais as prticas usuais de transferncia de tecnologia?
Conjunto de palavras-chave:
technology transfermodelequipment
technology transfermodelmachine
technology transferframeworkequipment
technology transferframeworkmachine
technology transfertextile
technology transferpracticesequipment
technology transferpracticesmachine
transfer of technologymodel
transfer of technologytextile
transfer of technologypractices
transferncia de tecnologiatxtil
transferncia de tecnologiaprticas
A pesquisa resultou em 251 artigos, sendo que a maioria deles foi obtida
atravs da base de dados Proquest enquanto a apenas trs artigos foram
encontrados na Capes. Uma relao de artigos por base de dados apresentada na
Tabela 1.
28
Tabela 1 Nmero de artigos da pesquisa bibliomtrica
Palavras-chave Scielo Ebsco Proquest Capes Science
Direct
Emerald
technology
transfermodelequipment
0 1 17 0 7 1
technology
transfermodelmachine
0 0 3 0 6 0
technology
transferframeworkequipment
0 0 6 0 2 3
technology
transferframeworkmachine
0 0 3 0 2 1
technology transfertextile 1 0 24 1 5 1
technology
transferpracticesequipment
0 0 5 0 5 0
technology
transferpracticesmachine
0 0 2 0 4 0
transfer of technologymodel 3 7 48 0 32 2
transfer of technologytextile 0 0 0 0 0 0
transfer of technologypractices 1 1 20 0 24 1
transferncia de
tecnologiamodelos
4 1 0 1 0 1
transferncia de tecnologiatxtil 1 0 0 1 1 0
transferncia de
tecnologiaprticas
2 0 0 0 0 0
SUB-TOTAL 12 10 128 3 88 10
TOTAL GERAL 251
Aps esta varredura inicial os 251 artigos foram colocados em uma planilha e
identificados segundo a palavra-chave, base de dados, e nome do artigo. Desta
forma foi possvel agrupar os artigos por ordem alfabtica de nome, para eliminar
aqueles que eram repetidos, e tambm identificar em qual base de dados seria
possvel baix-los. Como resultado desta anlise, 41 artigos foram eliminados, pois
eram repetidos. Restaram 210 artigos pra serem avaliados.
O prximo critrio para identificar a relevncia do artigo, foi eliminar aqueles
cujo tema no estava relacionado Engenharia de Produo, por exemplo, artigos
relacionados agricultura ou medicina foram excludos desta anlise. Muitos destes
artigos puderam ser identificados pelo prprio ttulo, porm para outros foi
necessrio avaliar o resumo ou abstract a fim de verificar se o assunto estava
relacionado rea de conhecimento. Esta verificao permitiu identificar que 59 do
total de 210 artigos pertenciam a outras cincias. Restaram 151 artigos para serem
avaliados.
29
Na sequncia, fez-se uma busca por artigos que apresentassem modelos de
transferncia de tecnologia para possibilitar uma futura comparao. Nesta fase,
todos os artigos foram verificados por completo buscando encontrar algum modelo
apresentado ou proposto pelo autor. Ao final, observou-se que 113 artigos dos 151
verificados no estavam de acordo com o critrio, e foram, portanto eliminados.
Restaram 38 artigos para avaliao.
Todos estes artigos, exceto um, foram lidos para identificar se estavam no
escopo do trabalho, ou seja, se os modelos propostos pelos autores eram
descritivos, se representavam a transferncia de tecnologia entre empresas, se
abordavam as etapas da transferncia de tecnologia e no apenas aspectos
econmicos / financeiros. Nesta anlise, foram encontrados 5 artigos que
relacionavam os processos de transferncia entre universidades e empresas, 2 entre
unidades ou departamentos da mesma empresa, 7 eram modelos matemticos, 2
relacionavam apenas aspectos financeiros, 2 tratavam-se de modelagem-simulao,
1 dos artigos no apresentava um modelo, apenas explicava como foi o processo de
transferncia de tecnologia para a Finlndia, e 1 artigo no foi encontrado, porm
verificou-se pelo resumo que o assunto principal envolvia as dificuldades
encontradas por empresas multinacionais para transferir tecnologia para outros
pases, e no de um modelo de transferncia de tecnologia. Ao final, dos 38 artigos
lidos, 20 foram eliminados. Restaram 18 artigos que fazem parte do escopo deste
trabalho, conforme apresentado na Tabela 2.
Tabela 2 Definio de artigos para reviso sistemtica
Total
Artigos
Repetidos Outras
cincias
Sem
modelos
No
Escopo
Total
Final
251 41 151 113 20 18
Destes artigos apenas 2 pertenciam ao mesmo peridico, todos os outros
eram de peridicos diferentes, conforme Tabela 3.
30
Tabela 3 Artigos por peridico
Peridico Quantidade de
Artigos
Energy Policy 1
FGV-EAESP/ RAE Eletrnica 1
IEEE Transactions on Engineering Management 1
International Journal of Innovation and Technology
Management
1
International Journal of Natural and Engineering Sciences 1
International Journal of Operations & Production
Management
1
Journal of Manufacturing Technology Management 2
Journal of Science and Technology Policy in China 1
Journal of Technology Management & Innovation 1
Procedia Social and Behavioral Sciences 1
Produo 1
Research Policy 2 1
Technological Forecasting and Social Change 1
Technology and Disability 1
Technovation 1
The Journal of High Technology Management Research 1
The Journal of Technology Studies 1
TOTAL 18
Como a transferncia de tecnologia comum a vrios campos de pesquisa,
era esperado que diversos peridicos tratassem desta temtica. Notou-se tambm
esta tendncia pela quantidade de diferentes autores que foram relevantes para a
pesquisa conforme mostrado na Tabela 4. Nenhum dos autores publicou outros
artigos sobre a mesma abordagem temtica apresentada neste estudo.
Os anos de publicao das pesquisas tambm so variados, sendo a primeira
publicada em 1973 e a mais recente de 2013. O ano que teve o maior nmero de
publicaes relevantes para a pesquisa foi 2009 com 4 artigos. A relao da
quantidade de artigos por ano de publicao apresentada no Grfico 6.
31
Tabela 4 Artigos por autores
Peridico Quantidade de Artigos
AMATO NETO, J. 1
ANTUNES, A. 1
ASGHARI, M. 1
BENNETT, D. 1
BOMMER, M. R. W. 1
BRAGA JR, E. 1
CASTRO, J. O. 1
CHAN, L. 1
CHOI, H. J. 1
CORMICAN, K. 1
DAIM, T. U. 1
DOUDS, C. F. 1
FENGQI, Z. 1
FRISHAMMAR, J. 1
HAMZEI, A. 1
HONGYU, Z. 1
JAGODA, K. 1
JANARO, R. E. 1
JOSHI, B. 1
KHLER, B. A. 1
LAGER, T. 1
LANE, J. P. 1
LEVIN, M. 1
LUCATO, W. C. 1
LUPER, D. C. 1
MENKE, C. 1
OCONNOR, M. 1
OLIVIERA, S. A. 1
PIO, M. 1
RAKHSHANIKIA, M. A. 1
RUBENSTEIN, A. H. 1
SCHEFFER, R. 1
SCHULZE, W. S. 1
SEGATTO, A. P. 1
VAIDYA, K. 1
VAN BERKEL, R. 1
VANALLE, R. M. 1
VASCONCELLOS, R. R. 1
VIEIRA JUNIOR, M. 1
WILLIAMS, R. O. 1
WORRELL, E. 1
TOTAL 41
32
Quanto metodologia, pode-se observar que a maioria de abordagem
qualitativa (Grfico 7), todas as pesquisas so do tipo exploratria, a tcnica de
coleta de dados mais utilizada a pesquisa bibliogrfica seguida de entrevistas
(Grfico 8), e o mtodo o estudo de caso (Grfico 9).
Grfico 6 Artigos por ano de publicao
Grfico 7 Metodologia: abordagem
33
Grfico 8 Metodologia: tcnica de coleta de dados
Grfico 9 Metodologia: mtodo de pesquisa
34
Uma relao dos artigos que foram utilizados para anlise sistemtica
apresentada no Quadro 2, todos eles foram analisados, e apenas um deles no
apresentou um modelo de transferncia de tecnologia que pudesse ser descrito em
etapas, porm ele foi considerado para fins de definies.
Quadro 2 Artigos
Item Nome do Artigo
1 A behavioral study of international technology transfer between the United States and West Germany
2 A manufacturing strategy model for international technology transfer
3 Decision support model in technology transfer for technology receiver
4 Effective management of international technology transfer projects: insights from the Brazilian textile industry
5 Equipment supplier/user collaboration in the process industries. In search of enhanced operating performance
6 Fatores crticos na transferncia de tecnologia no setor especial: estudo de caso de programas de parceria das agncias espaciais do Brasil (AEB) e dos EUA (NASA)
7 International transfer of technology system
8 O processo de transferncia de tecnologia na indstria txtil
9 Technology transfer as a learning and developmental process: an analysis of Norwegian programmes on technology transfer
10 Technology transfer for product life cycle extension: a model for successful implementation
11 Technology transfer in China: literature review and policy implications
12 Technology transfer in oil industry, significance and challenges
13 Technology transfer issues and a new technology transfer model
14 Technology transfer of energy efficient technologies in industry: a review of trends and policy issues
15 The need to knowledge model: an operational framework for knowledge translation and technology transfer
16 The transfer of technology to less developed countries: a model from the perspective of the technology recipient
17 Transferncia de tecnologia e conhecimento sob a lente estruturacionista: uma integrao temtica / Technology and knowledge transfer under the structurationist lens: a thematic integration
18 Valuing transferred machine tool technology. Relating value to product attributes and preferences of acquirers
Com base nos dados apresentados nesta reviso bibliomtrica, e visando
conhecer os modelos existentes de transferncia de tecnologia, a seo 3.2 ir
abordar a teoria encontrada, bem como as etapas do processo de transferncia
descritas na literatura, e analisar diferenas e similaridades entre elas.
A prxima seo trs a delimitao utilizada para este pesquisa.
35
2.3 A CADEIA TXTIL BRASILEIRA E A DELIMITAO DA PESQUISA
A cadeia txtil e de confeces do Brasil obteve em 2014 um faturamento de
cerca de US$ 126 bilhes, tendo produzido mais de 2 milhes de toneladas de
txteis e mais de 1,8 toneladas de confeccionados, empregando 1,5 milho de
trabalhadores. Torna-se assim o quarto maior parque produtivo de confeces e o
quinto produtor txtil do mundo. No entanto, h algumas dcadas o setor txtil
brasileiro vem enfrentando uma forte concorrncia de produtos de baixo custo
oriundos principalmente do Extremo Oriente, como mostra o saldo da balana
comercial do setor: em 2014 foram exportados US$ 2,5 bilhes de produtos txteis
contra uma importao no mesmo perodo de US$ 7,1 bilhes, gerando um dficit na
balana de US$ 4,6 bilhes (ABIT, 2015).
Em complementao, Costa e Rocha (2009) detalharam a composio da
cadeia txtil e de confeces do Brasil dividindo-a em dois segmentos: a) o txtil
propriamente dito que compreende as fiaes, tecelagens, malharias e empresas de
beneficiamento e b) o de confeces incluindo vesturio, meias e acessrios, linha
lar e artigos tcnicos / industriais. A Figura 2 ilustra a estrutura sumarizada dessa
cadeia.
Figura 2 A cadeia txtil e de confeces do Brasil com a indicao da rea de
interesse da pesquisa realizada (rea limitada pela linha tracejada)
Fibras
Naturais
Fiao
Malharia
Aviamentos
Tecelagem
Beneficia
mentoConfeco Vesturio
Cama Mesa
Banho
Artigos
Tcnicos
Varejo
Fsico
Exportao
Varejo
Catlogo
Vendas
Online
Consumidor
Final
Fibras
Sintticas
Fonte: Adaptado de IEMI (2015)
Ainda de acordo com Costa e Rocha (2009), nos ltimos anos a
predominncia de investimentos na cadeia txtil vem se concentrando na aquisio
de mquinas importadas, uma vez que praticamente no h mais produo nacional
36
de mquinas txteis. Os mesmos autores ainda destacam que em anos recentes os
maiores investimentos em mquinas importadas foram para filatrios, teares e
mquinas de costura. Desse total, 22% foram para mquinas no segmento de
fiao, 22% para tecelagem, 10% para malharia, 10% para beneficiamento, 24%
para confeco e 10% para artigos tcnicos, como mostra a Tabela 5.
Tabela 5 O nmero de empresas e o investimento da cadeia
No de
Empresas
% Invest
em
Equip.
Fiaes 417 22%
Tecelagens 596 22%
Malharias 2.511 10%
Beneficiamento 949 10%
Txtil 4.473 64%
Vesturios 20.070 24%
Meias e Acessrios 1.043 1%
Linha Lar 1.199 1%
Artigos Tcnicos 964 10%
Confeces 23.276 36%
Fonte: Adaptado de Costa e Rocha (2009).
Como se observa, embora envolvendo um nmero de empresas bem menor,
o setor txtil da cadeia responsvel por 64% dos investimentos na aquisio de
equipamentos, sendo estes exatamente aqueles nos quais a transferncia de
tecnologia se d com a maior intensidade (LAGER; FRISHAMMAR, 2010). Por essa
razo a pesquisa aqui relatada focou a sua ateno sobre as empresas de fiao,
tecelagem, malharia e beneficiamento uma vez que aqui que eventuais
aperfeioamentos nos processos de transferncia de tecnologia (TT) podem
contribuir mais fortemente com a construo de vantagens competitivas para a
cadeia txtil como um todo. Na Figura 2 destaca-se a regio da cadeia que foi objeto
da pesquisa que se realizou.
37
2.4 AS VARIVEIS ESTUDADAS
Para aplicar de maneira adequada o mtodo selecionado e alcanar os
objetivos propostos neste trabalho necessria a definio de alguns conceitos e
variveis utilizados. So eles: a medida do porte das empresas txteis e o nvel de
profundidade de fabricao.
2.4.1 A medida do porte das empresas
No Brasil, h diversos critrios sendo utilizados para medir o porte das
empresas. Dentre esses, os mais frequentemente usados so o proposto pelo
Estatuto da Pequena e Mdia Empresa (PMEs), o definido pelo BNDES e o utilizado
pelo IBGE e SEBRAE, como se detalha a seguir.
H dois critrios mais frequentemente empregados para a definio do porte
das empresas: o faturamento anual e o nmero de empregados. Considerando a
facilidade de acesso s informaes necessrias para a pesquisa quando da
obteno dos dados para realizar a correta qualificao das empresas consideradas,
muito mais fcil se saber corretamente o nmero de empregados do que o
faturamento anual. Com efeito, esta ltima informao muito mais sensvel e difcil
de ser corretamente obtida do que o nmero de empregados. Por essa razo, para a
classificao do porte empresas txteis consideradas na presente pesquisa foi
adotado como critrio o nmero de empregados, de acordo com o estabelecido pelo
IBGE (2013) e SEBRAE (2014) e descritos no Quadro 3.
No entanto, h ainda que se fazer uma considerao adicional. Nos casos em
que as empresas pesquisadas dispunham de vrias unidades industriais
independentes, o seu porte considerou o nmero total de empregados da empresa
inteira e no o da unidade industrial em que a pesquisa foi feita. Explica-se: de se
pressupor que as prticas de transferncia de tecnologia sejam mais elaboradas nas
grandes empresas do que nas pequenas e mdias (pressuposto que seria
confirmado ou rejeitado com a realizao da pesquisa de campo). Assim, a
investigao feita em uma unidade industrial de pequeno porte pertencente a uma
grande empresa ir refletir as prticas de TT da corporao e que, em princpio, no
38
seriam necessariamente as mesmas de uma pequena empresa representada pela
unidade industrial na qual a pesquisa foi realizada.
Quadro 3 Classificao do porte empresas txteis
Porte N de Empregados
Microempresa At 19 empregados
Pequena De 20 a 99 empregados
Mdia De 100 a 499 empregados
Grande Mais de 500 empregados
Fonte: IBGE (2013) e SEBRAE (2014)
2.4.2 A medida da profundidade de fabricao
Como demonstrado no item 2.3, a cadeia produtiva txtil relativamente
complexa e composta de diversas etapas inter-relacionadas. Em cada uma dessas
fases as atividades realizadas vo adicionando valor aos produtos medida que
caminham ao longo da cadeia txtil de valor. Em linha com essa considerao, este
trabalho chamar de profundidade de fabricao a cada uma das fases do
processo de produo nas quais o valor adicionado aos produtos. Ela representa,
assim, o nmero de nveis de fabricao utilizado na produo de determinado bem
(NEBL, 2002).
Por outro lado, como existe uma grande variedade de estratgias de
produo, de terceirizao, tecnologias e de tamanho das empresas txteis que
fazem parte desta pesquisa, estabeleceu-se como nvel mximo de profundidade de
fabricao aquele que pode ser observado nas empresas txteis que realizam
simultaneamente trabalhos de fiao, tecelagem (incluindo malharia) e acabamento.
Dessa forma, a profundidade de fabricao pode ser diferente dependendo da
quantidade de processos internos que determinada empresa realiza.
Por isso, para a definio da medida da profundidade de fabricao das
empresas txteis consideradas nesta dissertao se decidiu propor trs nveis
bsicos conforme ilustra o Quadro 4. Com isso estabeleceu-se uma escala variando
de 1 a 3, na qual para cada processo adicional que a empresa realizava era
atribudo um nvel a mais na profundidade de fabricao. Por exemplo, para uma
empresa que realizava apenas a fiao, ou a tecelagem ou o beneficiamento foi
39
atribudo o nvel 1 de profundidade. Para a empresa que possua em sua unidade
fabril a fiao e a tecelagem, ou a tecelagem e beneficiamento se considerou o nvel
2 de profundidade. E assim sucessivamente, conforme Quadro 4.
Quadro 4 Os 3 nveis de profundidade de fabricao
Processos internos Profundidade de fabricao
Fiao Tecelagem Beneficiamento
1
Fiao + Tecelagem Tecelagem + Beneficiamento Fiao + Beneficiamento
2
Fiao + Tecelagem + Beneficiamento 3
2.5 A SELEO DA AMOSTRA
Conforme se deduz do que j foi apresentado neste trabalho, o universo
populacional considerado neste estudo composto por todas as empresas txteis
do Brasil envolvidas nos processos de fiao, tecelagem e beneficiamento.
Como quadro populacional, consideraram-se as empresas de fiao,
tecelagem e beneficiamento associadas ABIT e listadas na publicao Brasil Txtil
Relatrio Setorial da Indstria Txtil Brasileira 2015 (IEMI, 2015). Foram assim
identificadas 54 empresas de fiao, 113 tecelagens e malharias e 20 empresas de
beneficiamento, todas elas distribudas pelo territrio nacional, totalizando assim 187
empresas que formaram o quadro populacional.
Para formar a amostra a ser pesquisada, decidiu-se enviar o instrumento de
coleta de dados a todas elas. Para isso, identificou-se em cada empresa a pessoa
responsvel pelos processos de aquisio de equipamentos (transferncia de
tecnologia) e a esse contato foi enviada uma solicitao de colaborao para
responder pesquisa proposta por este trabalho.
Do total de instrumentos de coleta de dados enviados, foram recebidos 42
formulrios preenchidos, dos quais 1 foi descartado por no estar corretamente
preenchidos ou apresentarem inconsistncias evidentes nas respostas fornecidas.
Assim, restaram 41 instrumentos de coleta de dados adequadamente completados,
40
representando um percentual de devoluo de 21,93% em relao ao quadro
populacional da amostra selecionada.
2.6 O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Forza (2002) afirmou que podem ser utilizadas diversas tcnicas de coleta de
dados em uma survey. Dentre elas o autor destacou como as mais frequentemente
utilizadas os questionrios e as entrevistas. No entanto, como a entrevista
pressupe um contato pessoal entre o pesquisador e o respondente, sua utilizao
considerando uma amostra composta por 187 empresas distribudas em nvel
nacional torna a sua utilizao no vivel em face das restries de tempo e
limitaes de recursos associadas a uma dissertao de mestrado. Por essa razo,
decidiu-se pela utilizao do questionrio como instrumento de coleta de dados para
a pesquisa considerada neste trabalho.
O questionrio um instrumento utilizado na coleta de dados formado por um
conjunto de perguntas logicamente ordenadas que devem ser respondidas sem a
presena do pesquisador. Em geral o questionrio enviado por meios eletrnicos
pelo pesquisador ao informante, que o devolve aps t-lo devidamente preenchido
(MARCONI; LAKATOS, 2010).
Como o objetivo da pesquisa foi o de verificar no campo o grau de adoo
das prticas de TT sugeridas pela literatura, elaborou-se um questionrio composto
por 8 questes bsicas que procuravam avaliar como as 13 etapas do processo de
transferncia de tecnologia que estavam sendo consideradas pelas empresas
pesquisadas. Para avaliar essas questes eram feitas afirmaes para as quais se
pedia que o respondente manifestasse a sua concordncia ou discordncia
utilizando uma escala Likert de 5 pontos, conforme ilustra a Figura 3.
41
Figura 3 Exemplo de questo includa no questionrio
Item
2.1 A empresa j conhecia as necessidades de mercado, portanto no foi
necessrio realizar uma pesquisa de mercado para definir objetivos.0 1 2 3 4
2.2 As necessidades da empresa com relao reduo de custos e
ganhos de margem foram consideradas para estabelecer os objetivos.0 1 2 3 4
2.3 A utilizao de recursos como energia eltrica, matria-prima, mo
de obra, so desconsiderados na definio dos objetivos.0 1 2 3 4
2.4 A capacidade de investimento da empresa definiu as prioridades,
porm no influenciou os objetivos.0 1 2 3 4
2.0 Como foram estabelecidos os objetivos pretendidos pela empresa com o ltimo processo de
transferncia de tecnologia? Adote a escala a seguir para expressar sua opinio:
Discordo totalmente [0] [1] [2] [3] [4] Concordo totalmente
As 8 questes propostas envolveram um total de 36 afirmaes assim
distribudas: questes 1, 2, 3, 7 e 8 com 4 afirmaes cada, questo 4 com 6
afirmaes e questes 5 e 6 com 5 afirmaes cada. A associao entre as
afirmaes e as etapas sugeridas para o processo de TT acha-se mostrado no
Quadro 5. A ntegra do questionrio aplicado encontra-se no Apndice A. Para a
tabulao das respostas associou-se afirmao mais favorvel 4 pontos e menos
favorvel 0 ponto. Evidentemente as alternativas entre esses dois extremos
receberam 3, 2 ou 1 pontos.
Quadro 5 Relao entre as afirmaes do questionrio e as etapas do processo de
TT
Etapa Afirmaes
1. Planejamento 1.1 1.2 1.3 1.4 2. Objetivo 2.1 2.2 2.3 2.4 3. Pesquisa 3.1 3.2 4. Confirmao 3.3 3.4 5. Negociao 4.1 4.2 4.3 4.4 6. Aprovao 4.5 4.6 7. Interao 5.1 5.2 8. Adaptao 5.3 5.4 5.5 9. Implementao 6.1 6.2 10. Absoro 6.3 6.4 6.5 11. Auditoria 7.1 7.2 7.3 7.4 12. Utilizao 8.1 8.2 13. Otimizao 8.3 8.4
42
De acordo com as recomendaes de Forza (2002) e Markoni e Lakatos
(2010) os questionrios aps inicialmente montados foram submetidos a um pr-
teste para se identificar possveis falhas, ambiguidade ou linguagem inacessvel, ou
ainda perguntas que pudessem causar desconforto ao entrevistado. Para isso foram
escolhidas 7 empresas txteis atuantes no segmento de fiao e os questionrios
foram respondidos pelos responsveis pelos processo de TT da empresa.
O que se pode notar no pr-teste foi que, da forma como as perguntas foram
enunciadas no questionrio original, o respondente acabava percebendo que as
afirmaes segundo a escala Likert possuam uma melhor caracterizao da
resposta caso elas fossem associadas alternativa concordo plenamente. Detalha-
se: todas as afirmaes no questionrio eram originalmente enunciadas no sentido
de confirmar a adoo de uma melhor prtica, como, por exemplo, no item 6.1:
Todas as preparaes/adaptaes ficaram prontas conforme planejado, portanto a
implementao ocorreu assim que a tecnologia chegou na fbrica. Assim, notou-se
no pr-teste uma ntida tendncia dos respondentes em padronizar as suas
respostas em torno dos nveis 3 ou 4, o que evidentemente introduziria uma
distoro, at involuntria, nas repostas fornecidas.
Para eliminar esse bias, o questionrio foi revisado e algumas das afirmaes
foram aleatoriamente invertidas utilizando-se para isso a funo
=ALEATORIOENTRE(1;36) do Microsoft Excel. Assim, a afirmao 6.1, uma das
selecionadas para inverso passou a ter a seguinte redao: Algumas das
preparaes/adaptaes no ficaram prontas conforme planejado, portanto a
implementao no ocorreu assim que a tecnologia chegou na fbrica. Verifica-se
que, aps a inverso, a resposta mais favorvel passou a ser discordo totalmente.
Evidentemente, procedeu-se a uma adequao na escala Likert utilizada, pois nas
perguntas invertidas deveria se associar 4 pontos escolha discordo totalmente
(mais favorvel) e 0 ponto concordo totalmente (menos favorvel).
Alm disso, havia uma dificuldade dos respondentes de identificar a
alternativa apenas em um clique, j que o formulrio estava em arquivo do Word,
desta forma, para facilitar a resposta o questionrio foi reformulado utilizando-se o
Google Docs e questes irrelevantes para esta pesquisa, como origem do capital,
clientes, fornecedores e produtos foram eliminadas da verso final do questionrio.
43
O questionrio revisado foi submetido s empresas com as questes
formuladas a partir das definies das etapas descritas na prxima seo de reviso
da literatura.
44
3 REVISO DA LITERATURA
Nesta seo sero abordados os temas que envolvem o presente trabalho,
inicia-se com a explicao dos conceitos preliminares, seguido da reviso
sistemtica que foi feita para identificar as lacunas da pesquisa.
3.1 CONCEITOS PRELIMINARES
Apresenta-se nesta seo uma explicao da indstria txtil e seus processos
produtivos no mbito desta pesquisa, bem como a conceituao da transferncia de
tecnologia.
3.1.1 Indstria txtil
Segundo Pereira (2010) a indstria txtil integra diversos setores produtivos
que vo desde a fabricao de fibras sintticas, artificiais ou naturais, at a indstria
de confeces, passando pela fiao, tecelagem, malharia, estamparia e
beneficiamento ou acabamento. Cada processo destes pode ser independente na
cadeia produtiva, ou seja, uma empresa pode produzir apenas uma ou duas etapas
desconectadas, isto torna os elos da cadeia fortes, j que uma empresa torna-se
fornecedora do processo seguinte, e assim por diante (SERRA, 2001). Pela
extenso da cadeia, e pelo volume de investimentos, optou-se nesta pesquisa por
direcionar os estudos para os setores de fiao, tecelagem, malharia e acabamento.
A seguir apresenta-se uma descrio dos processos produtivos destas
indstrias que so tema deste trabalho:
Indstria de Fiao
De acordo com as estatsticas do IEMI (2015) o total de fiaes do no Brasil
era de 416 empresas em 2014, a maioria localizada nas regies sudeste (181),
nordeste (103) e sul (88). Elas foram responsveis pela gerao de mais de 72 mil
empregos e produziram mais de 1,2 milho de toneladas de fios, sendo a maioria de
fios de algodo (mais de 1 milho de toneladas), seguido de polister (119 mil
45
toneladas) e sisal (20 mil toneladas). O processo de obteno de fios pode variar
entre fios open-end, por jato de ar ou por sistema convencional (incluindo os
compactados e penteados), sendo o ltimo o de maior volume com mais de 700 mil
toneladas/ano. A titulagem desses fios, ou seja, a relao entre o peso pelo
comprimento deles, pulverizada pela produo de fios grossos, mdios e finos com
uma vantagem quantitativa para os mdios e finos. Esta indstria foi responsvel
pelo faturamento de 5,5 bilhes de dlares em 2014. De modo geral, a idade do
maquinrio instalado de 13,2 anos, porm considerando-se apenas os filatrios
anel, que so os responsveis pela produo da maioria dos fios produzidos no
pas, a idade mdia sobe para 16,1 anos. Os investimentos em tecnologia atravs
de maquinrio, instalaes e treinamentos foi de 331 milhes de dlares em 2014,
sendo 264,8 milhes apenas em maquinrio para modernizao ou ampliao.
Os processos de fiao podem variar, conforme indicado na Figura 4. Os fios
podem ser obtidos a partir de processo convencional, open-end ou a ar (MALUF;
KOLBE, 2003). Os processos de obteno dos fios influenciam nas caractersticas e
aplicaes para eles. Em comum, todos os processos tm uma linha de abertura
composta de abridores e batedores para limpeza e abertura das fibras que chegam
compactadas em fardos. Desta linha de abertura, as fibras so encaminhadas para
as cardas onde feita mais uma limpeza, as fibras so inicialmente paralelizadas e
saem em forma de fita em latas, estas latas so ento encaminhadas para os
passadores, onde vrias fitas so dubladas e sofrem uma estiragem buscando maior
uniformidade e paralelismo entre as fibras (PEREIRA, 2010).
Segundo Maluf e Kolbe (2003) apesar desses processos serem comuns a
todas as tcnicas de obteno de fios, o nvel de limpeza e paralelismo exigido por
cada processo varia em funo da qualidade que se quer obter no produto final. De
um modo geral, fios para o processo convencional, principalmente penteado e
compactado, exigem fibras mais longas, so mais finos, com um aspecto de
pilosidade menor; fios open-end utilizam fibras menores, as fibras tem nvel menor
de orientao e paralelismo e tem toque mais spero. Os fios a ar tem um aspecto
mais paralelo em relao aos open-end, porm toque spero. Ele muito utilizado
para a fiao de viscose, e ainda pouco aplicado em fiao de algodo.
46
Figura 4 Fluxograma de processo de fiao
Fonte: Adaptado de Pereira (2010)
A partir do passador, se o processo for convencional, as latas com fitas de
passador so encaminhadas para reunideira (se for fio penteado) onde algumas fitas
so dubladas para garantir mais uniformidade e formam uma manta de penteagem.
Ainda, se o processo for penteado, estas mantas so encaminhadas para a
penteadeira que faz uma limpeza e garante maior paralelismo entre as fibras. Elas
saem da penteadeira em formato de fita e novamente so encaminhadas para uma
segunda passagem no passador que desta vez tambm ir contar com um auto-
regulador para garantir regularidade da massa da fita. Caso o processo
convencional no seja penteado, da primeira passagem as latas formadas so
encaminhadas diretamente para segunda passagem. Aps a segunda passagem as
47
fitas formadas nas latas seguem para a maaroqueira, onde haver dublagem,
estiragem e toro dessas fitas para formar um pavio. Este pavio segue para o
filatrio, onde ser novamente estirado e torcido formando o fio. Caso o processo
seja compactado, isto ser feito atravs de um filatrio especial para este fim. Os
fios saem do filatrio em espulas, e so repassados na conicaleira para embalagens
comerciais (PEREIRA, 2010).
Para o processo de obteno de fios open-end, da primeira passagem, os fios
seguem para uma segunda passagem e para o filatrio open-end que ir estirar e
torcer as fitas para formar um fio, deste filatrio os fios j saem em embalagens
comerciais. Similar a este processo o de obteno de fios por jato de ar,
diferenciando-se apenas o tipo do filatrio que ser com rotor a ar para garantir o
paralelismo, e toro das fitas na formao dos fios (MALUF; KOLBE, 2003).
As empresas de fiao que produzem fios a partir de qualquer um dos
processos apresentados, ou em mais de um desses processos foram consideradas
para a pesquisa.
Indstria de Tecelagem
As empresas de tecelagem so mais numerosas, totalizando 558 em 2014
conforme estatsticas do IEMI (2015). Elas esto localizadas em maior parte na
regio sudeste (348), regio sul (137) e nordeste (57). Geram mais de 102 mil
empregos e produzem 1,3 milho de toneladas de tecido por ano, sendo a maioria
de algodo (752 mil toneladas), seguidos de polister (310 mil toneladas) e
polipropileno (202 mil toneladas). Esta indstria faturou mais de 10 bilhes de
dlares em 2014. A idade mdia do maquinrio de 13 anos, porm considerando-
se apenas os principais teares com maior produo no pas (pina e jato de ar) a
idade mdia cai para 10 anos. Os investimentos totais com tecnologia por
instalaes, treinamento e maquinrio foi de 140 milhes de dlares em 2014, sendo
92,5 milhes em maquinrio.
O processo para obteno de tecidos planos comum a todos os tipos de
tecidos, podendo ser alterado na preparao para tecelagem que pode variar em
funo da fibra que se usa. Fibras sintticas no precisam de processo de
engomagem, por exemplo, mas estas variaes tambm dependem do produto final
que se quer produzir. Um fluxograma de processo mostrado na Figura 5.
48
Figura 5 Fluxograma do processo de tecelagem
Fonte: Adaptado de Sanches, Oliveira Neto e Lucato (2014)
Na preparao para a tecelagem os fios so separados conforme a sua
utilizao e destinados para urdume, trama ou giro ingls (quando aplicvel). Os fios
para urdume so direcionados para urdio que consiste na troca de embalagens,
retirando os fios dos conicais ou rocas e os posicionando tensionados paralelamente
em um rolo de urdume. Para isso a empresa utiliza urdeiras diretas ou seccionais.
Na sequncia os fios passam para a engomadeira ou pela mquina de ndigo, onde
sero engomados e tingidos se for o caso. Este processo cria uma pelcula que os
protege das tenses e atritos aos quais sero submetidos na etapa de tecimento.
Pode-se eliminar esta etapa quando se trabalha com fios sintticos / artificiais no
urdume. Em seguida feita a remeteo que consiste na passagem dos fios de
urdume pelas lamelas, malhas e pente (SANCHES; OLIVEIRA NETO; LUCATO,
2014).
Segundo Bastian e Rocco (2009), a tecelagem tem processos distintos. Os
tecidos podem ser formados utilizando-se os teares com sistema de insero de
trama por jato de ar, a gua, por projtil, por pinas ou ainda por lanadeiras. Isto
depende da aplicao e do tipo de fibra com a qual se trabalha e da tecnologia
disponvel. No processo de tecelagem, os fios de urdume, trama e ourela / giro
ingls (quando aplicvel) sero entrelaados para formar o tecido (MALUF; KOLBE,
2003).
Prep. para
Tecelagem
Fios de
Urdume
Fios de
Trama
Urdio
Fios de
Ourela / Giro
Engomar /
ndigo
Formao
Carretis
Tecelagem
Acabamento
e Reviso
Embalagem
e Expedio
Remeteo
49
Para Sanches, Oliveira Neto e Lucato (2014), aps a tecelagem, o tecido
segue para o beneficiamento ou acabamento, para ser desengomado, e ganhar
caractersticas de toque, brilho e estabilidade dimensional. Na sequncia sero
revisados, embalados, e seguem para expedio.
As indstrias produtoras de tecidos planos tambm foram consideradas na
presente pesquisa, incluindo todo maquinrio por ela utilizado nos seus processos
de fabricao industrial, conforme descrito acima.
Indstria de Malhas
Alm da produo de tecidos planos, pode-se produzir tecidos em malha
circular ou de urdume, que so utilizados para outras aplicaes como artigos
esportivos, rendas, moletons, etc. e exigem caractersticas de fios diferente daquelas
exigidas na tecelagem plana para fabricao.
So 695 malharias na Brasil (IEMI, 2015), das quais 358 esto localizadas na
regio sul, 262 na regio sudeste e 55 no nordeste. Elas empregaram 58.124
pessoas em 2014 e produziram 503 mil toneladas de tecidos que correspondem a 5
bilhes de dlares de faturamento. As mquinas instaladas tem idade mdia de 8
anos, sendo que os de malharia circular que correspondem a maior produo de
malhas, tem idade mdia de 9 anos. Os investimentos feitos em 2014 neste
segmento foram de 105 milhes de dlares, sendo 71 milhes apenas em
maquinrio para renovao ou ampliao do parque fabril.
O processo para obteno de malhas est destacado na Figura 6. Os fios
vindos do processo de fiao so posicionados nas gaiolas dos teares circulares, ou
bobinados em rolos no urdimento onde tambm so engomados para ter mais
resistncia e diminuir atrito no tecimento para os teares de malharia de urdume, e
so tricotados formando os tecidos de malha ou de malha de urdume. Aps este
processo eles seguem para acabamento, reviso embalagem e expedio (MALUF;
KOLBE, 2003).
Figura 6 Fluxograma do processo de malharia
50
Fonte: Adaptado de Pereira (2010)
Indstrias produtoras de malhas que tenham transferido tecnologia em
qualquer de seus processos produtivos, tambm foram englobadas neste estudo.
Indstria de Beneficiamento / Acabamento
Aps os tecidos prontos, tanto de malha quanto os tecidos planos seguem
para o processo de acabamento ou beneficiamento, cujo objetivo principal agregar
valor fornecendo propriedades adicionais como maciez, estabilidade dimensional,
colorao, ou qualquer outra caracterstica que se queira obter para a aplicao nas
confeces. Os processos de beneficiamento podem ser variados, no havendo um
fluxograma fixo para eles, pois dependendo da caracterstica que se queira agregar,
um conjunto de processos ser definido, que ser diferente caso a caracterstica
final seja outra (MALUF; KOLBE, 2003).
As indstrias de beneficiamento no Brasil somaram 1.288 em 2014 (IEMI,
2015), a maioria delas localizadas na regio sul (599), sudeste (500) e nordeste
(134). Elas foram responsveis pela gerao de 43.093 postos de trabalho.
Processaram 296 mil toneladas de fios, sendo a maioria de algodo (244 mil
toneladas), seguido de polister (26 mil toneladas) e acrlico (11 mil toneladas). Alm
dos fios, processaram 929 mil toneladas de tecidos planos, sendo 592 mil toneladas
de algodo, 286 mil toneladas de polister e 21 mil toneladas de polipropileno.
Tambm beneficiaram 467 mil toneladas de malhas, sendo 228 mil toneladas de
algodo, 123 mil toneladas de polister e 65 mil toneladas de poliamida. Estas
indstrias investiram 324 milhes de dlares em 2014 em tecnologia, sendo 276
milhes em maquinrio.
Fios
Tear Malharia
Circular
Urdio
Tear Malharia
de Urdume
Acabamento
e Reviso
Embalagem
e Expedio
51
Figura 7 - Fluxograma genrico do processo de beneficiamento / acabamento de
tecidos planos e malhas
Fonte: Adaptado de Pereira (2010)
De modo geral, fios beneficiados seguem para o processo de tingimento,
onde sero tingidos e amaciados. Malhas e tecidos planos podem passar por vrios
processos conforme as caractersticas que se deseja obter, um fluxograma genrico
do processo est destacado na Figura 7. Primeiramente a malha ou tecido passa por
um processo de limpeza das impurezas que pode ser feito com purga, mercerizao,
alvejamento, demineralizao e/ou desengomagem, seguido do processo de
tingimento para agregar cor ao tecido (se esta caracterstica for desejada). O
processo seguinte pode ser a ramagem que tem objetivo de dar estabilidade
dimensional e secar os tecidos vindos do processo anterior. Outras aplicaes
tambm podem ser feitas na rama. Caso o tecido seja estampado, este processo ir
ocorrer na sequncia. Acabamentos finais com objetivo de melhorar o brilho e toque
do tecido so feitos antes da reviso, embalagem e expedio. Estes acabamentos
englobam calandragem, feltragem, chamuscagem entre outros (PEREIRA, 2010).
A indstria de beneficiamento / acabamento foi pesquisada para se obter
informaes dos processos de transferncia de tecnologia envolvendo qualquer um
dos equipamentos utilizados em sua linha produtiva.
Tecidos Planos / Malhas
Limpeza
(purga / desmineralizao / alvejamento / mercerizao / desengomagem)
Ramagem
Estamparia
Tingimento
Reviso / Embalagem / Expedio
Acabamentos finais (calandragem / felpagem / chamuscagem / acabamentos especiais)
52
3.1.2 Transferncia de tecnologia
Transferncia de tecnologia, segundo Joshi (1977) uma atividade
econmica planejada relacionada com o fluxo de tecnologia de um pas para outro.
Levin (1993) amplia este conceito englobando dois aspectos: para o fornecedor est
relacionado entrega do produto e transferncia do conhecimento, e para o
recebedor um processo que envolve a aquisio de produtos e conhecimento
necessrio para operar determinado equipamento. Hamzei (2011) acrescenta que
existe uma cadeia interligada de aes diretas que utilizam componentes de
tecnologia para treinamento, absoro, desenvolvimento e uso econmico em um
local que no o original onde a tecnologia foi criada, ressaltando que se trata de
um processo bastante difcil e complexo.
Entretanto, segundo Levin (1993) e Choi (2009) a tecnologia considerada
um produto social, que requer o acesso ao conhecimento scio cultural trazido com
ela. Deve-se, portanto considerar a movimentao de mquinas, ferramentas e
equipamentos acompanhada da transferncia de habilidades culturais, ou seja, o
sucesso da transferncia de novas tecnologias depende do processo de mudana
scio tcnicas. Alm disso, Oliveira e Segatto (2009) ressaltam que a transferncia
de tecnologia busca alcanar uma vantagem competitiva superior para a sociedade
e as empresas, mas a tecnologia no pode ser vista apenas em relao fabricao
de produtos, operacionalizao de tarefas e procedimentos. importante considerar
o mbito do conhecimento, que est vinculado s crenas, pessoas, valores e dados
e que pode ser disseminado atravs das relaes humanas. A transferncia de
tecnologia deve considerar a aplicao e o uso no local de destino, enfocando que
conhecimento e tecnologia andam lado a lado. Neste aspecto, as prticas sociais
so vistas como um condutor de conhecimentos, ou seja, deve-se considerar o lado
tcnico e social humano.
Choi (2009) ainda destaca que em pases de terceiro mundo, muitas vezes,
os recebedores da tecnologia tornam-se dependentes dos fornecedores de forma
contnua, at mesmo para definio de aquisio de matria-prima e componentes,
o que torna os fornecedores muito influentes em pases recebedores de tecnologia.
Este aspecto verificado na pesquisa Braga Jr., Pio e Antunes (2009) para a
indstria txtil brasileira, que descreve os processos de transferncia de tecnologia
no setor como dominado e coordenado pelos fornecedores, que desempenham um
53
papel ativo no processo. Este fenmeno pode ser explicado pelo estudo de Vieira
Junior et al. (2014) que mostra que as indstrias txteis no Brasil so dependentes
dos processos de transferncia de tecnologia para melhorar sua competitividade,
seja pela diminuio dos custos ou pela possibilidade de incluir novos produtos em
sua linha de produo. Porm, ainda segundo Choi (2009) para se evitar esta
situao, deve-se priorizar o treinamento e capacitao para permitir que o
recebedor consiga desenvolver inovao a partir da tecnologia recebida. Para ele, o
sucesso da transferncia est na possibilidade de gerar inovao. Portanto preciso
capacitar, assimilar, adaptar, e modificar a tecnologia recebida atravs de educao
e treinamento.
A indstria txtil brasileira ainda pode ser considerada como um setor em
desenvolvimento. Ela est se transformando de intensiva em mo de obra para
intensiva em capital como resultado da crescente substituio de equipamentos e
automao de sistemas, segundo Braga Jr., Pio e Antunes (2009). No Brasil, esta
indstria tem enfrentado a competio de artigos importados de pases como a
China, Paquisto, entre outros, e segundo Lucato et al. (2015) uma estratgia
adotada por essas empresas como forma de defesa da indstria nacional a
diferenciao de seus produtos, desenvolvendo novos produtos com maior
qualidade e menor custo atravs da utilizao de tecnologias de ltima gerao dos
equipamentos fabricados mundialmente. Isto se d atravs da transferncia de
tecnologia dos pases fabricantes de equipamentos txteis para as empresas
brasileiras.
Com o intuito de compreender melhor os mtodos utilizados pela indstria
txtil brasileira nos processos de transferncia de tecnologia, a prxima etapa da
pesquisa consistiu de uma reviso sistemtica, que ser apresentada na seo
seguinte.
54
3.2 REVISO SISTEMTICA SOBRE MODELOS DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA
Com exceo do artigo International transfer of technology system todos os
demais apresentavam pelo menos um modelo para transferncia de tecnologia. O
artigo Technology transfer in China: literature review and policy implications
apresentou quatro modelos relacionados com a reviso da literatura anterior. Todos
os demais artigos apresentaram um modelo cada. Totalizando, foram encontrados
vinte modelos de transferncia de tecnologia na literatura estudada.
Quadro 6 Principais modelos de transferncia de tecnologia
Item Modelo Autor Ano
1 Modelo de etapas preliminares do processo de transferncia de tecnologia
Khler, Rubenstein e Douds
1973
2 Modelo estratgico de manufatura para transferncia internacional de tecnologia
Bommer, Janaro e Luper
1991
3 Estgios contnuos do processo de transferncia de tecnologia
Hamzei 2011
4 Modelo adaptado de Jagoda e Ramanathan para transferncia de tecnologia nas indstrias
Vieira Junior et al. 2014
5 Modelo conceitual de colaborao sobre o ciclo de vida operacional de um equipamento
Lager e Frishammar 2010
6 Modelo conceitual de transferncia de tecnologia entre atores sociais no setor espacial
Vasconcellos e Amato Neto
2012
7 Processo genrico para transferncia de tecnologia no setor txtil