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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL – UNIDERP ESTER ROSANE RIEGER VEGETAÇÃO URBANA: A PERCEPÇÃO DO CIDADÃO E AS POSSIBILIDADES DA CONSTRUÇÃO DE UMA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CASO NAVIRAI-MS CAMPO GRANDE - MS 2005

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO

E DA REGIÃO DO PANTANAL – UNIDERP

ESTER ROSANE RIEGER

VEGETAÇÃO URBANA: A PERCEPÇÃO DO CIDADÃO E AS

POSSIBILIDADES DA CONSTRUÇÃO DE UMA CONSCIÊNCIA

ECOLÓGICA ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CASO

NAVIRAI-MS

CAMPO GRANDE - MS

2005

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VEGETAÇÃO URBANA: A PERCEPÇÃO DO CIDADÃO E AS

POSSIBILIDADES DA CONSTRUÇÃO DE UMA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CASO NAVIRAI-MS

CAMPO GRANDE - MS

2005

ESTER ROSANE RIEGER

DISSERTAÇÃO apresentada ao Programa de Pós-Graduação em nível de Mestrado Acadêmico em MeioAmbiente e Desenvolvimento Regional da Universidadepara o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal,como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestreem Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.

Comitê de Orientação:

Profa. Dra. Lúcia Elvira Alicia Raffo de Mascaro PhDProf. Dr. Sílvio FáveroProfa. Dra. Vera Lúcia Ramos Bononi

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FOLHA A APROVAÇÃO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERP

Rieger, Ester Rosane.

Vegetação urbana: a percepção do cidadão e as possibilidades da

construção de uma consciência ecológica através da educação ambiental - Caso

Naviraí – MS / Ester Rosane Rieger. -- Campo Grande, 2005.

144 f. : il. color.

Dissertação (mestrado) - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da

Região do Pantanal, 2005.

“Orientação: Profª. Dra. Lúcia Elvira Alicia Raffo de Mascaró ”.

1. Vegetação urbana - Naviraí - Mato Grosso do Sul 2. Percepção

ambiental 3. Educação ambiental I. Título.

R554v

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AGRADECIMENTOS

Quando se chega ao final de uma jornada como a de um mestrado,descobre-se que há situações na vida e há coisas para as quais palavrasnão são vetores complexos o suficiente que as expliquem ou expressem –elas ficam em forma de intenção e pensamento e talvez nunca possam serexteriorizadas. Então tudo o que se pode dizer, simplesmente, é Obrigado!De mãos com a alegria estão também lembranças duras, algumastristezas, decepções, também mágoas, que calcinaram a alma durante otrajeto, mas, até mesmo isso, no final, merece um rememorarcontemplativo porque, na história da vida, são situações que forjam calosnos pés de quem anda, possibilitando ir além. Neste momento, quando sefecha este capítulo, voltam à memória muitas gentes, muitos minutos,coisas perdidas no passado, dúvidas, certezas, palavras ditas e ouvidas,gestos, coisas feitas e desfeitas, coisas não-feitas; tanta gente e tantacoisa que fez parte. Um mestrado não é algo suspenso na trajetória, nahistória, mas é um evento de construção ao longo de anos, todos os anos,quando se foi se construindo, almejando, sonhando, querendo,ambicionando e andando. Ponto de chegada e partida. Um feito para serefletir.

Meus professores: Dr. Valdir Antonio Taddei (In Memorium), Dr. Ademir KleberMorbeck de Oliveira, Dr. Cleber José Rodrigues Alho, Dra. EmikoKawakami Resende, Dr. Gilberto Luiz Alves, Dr. Jose Sabino, Dra. LuciaElvira Alicia Raffo de Mascaro, Dra. Regina Sueiro de Figueiredo, Dra.Roza Maria Schunke, Dr. Silvio Fávero, Dr. Sílvio Jacks dos Anjos Garnés,Dra. Vera Lucia Ramos Bononi.

Profa. Dra. Lúcia Elvira Alicia Raffo de Mascaró porque seu aceite como minhaorientadora foi o primeiro de tudo, quando acreditou em mim; fez adiferença em minha vida e espero poder eternizar seu gesto repetindo-o aoutrem, um dia, quem sabe. Minha profunda admiração pela grandepessoa que és e porque orientas admitindo a singularidade.

Dra. Vera Bononi; Dr. Sílvio Fávero; Dra. Roza Schunke; Dr. Ademir KleberMorbeck de Oliveira – com Dra. Lúcia, ora no papel de orientadores, ora no de analisadores, quando diziam “Não gosto disso” ou “Gosto disso”,“Errado”, “Certo”, “Sim”, “Não” – como agora não lhes dizer que essetrabalho, na verdade, é seu?

Dr. Maurício Quarezemim, Superintendente do EN da CAIXA em Campo Grande,MS, cujo apoio foi uma das alavancas que possibilitou fazer da intençãorealização, sem o quê todo um contexto bem maior não teria sido favorável.É honroso para qualquer um de nós, de qualquer agência deste EN, estarsob o comando de um homem tão visionário e capaz.

Dr. Amílcar Carneiro Júnior, Promotor de Meio Ambiente em Naviraí-MS, queapoiou desde sempre a intenção de ingressar num mestrado de MeioAmbiente e Desenvolvimento Regional.

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Martha Fehlauer Laeurmann, cuja presença constante significou apoio, estímulo e amizade durante essa construção; apontou soluções em momentosdifíceis. E através de você, minha homenagem à tua mãe Laura e teu paiEdvino, meus tios, que sempre foram referenciais importantes em minhavida.

Colegas de curso cuja companhia foi escola: Alice Sueiro Figueiredo(Administradora), Anelise Flausino Godoy (Artista plástica), AnselmoManarelli Neto (Fisioterapeuta), Celso Fabício Correia de Souza(Economista), Cristiano Cupertino de Miranda (Jornalista), Evandro deOliveira (Arquiteto), Fabíola Machado (Administradora), Felipe MoreiraSales (Engenheiro de Produção), Iana Aparecida Dalla Vale Oliveira(Bióloga), José Gehilson da Silva (Educação Física), Jose Marcos daFonseca (Arquiteto), Kalil Kamis (Administrador), Marco de BarrosCostacurta (Biólogo), Marcos André Madrid da Silva (Administrador),Marcos Rezende Morandi (Jornalista), Mireilly Marques Resende(Fisioterapeuta) Rodrigo Pereira Abdo (Psiquiatra), Saulo Monteiro deSouza (Advogado).

Controllers administrativas que tomaram conta das questões burocráticas denossa vida acadêmica: Eva Teixeira dos Santos, Ana Cristina Albuquerque,Kelly Vilanova, Kátia Melchides, Cássia Regina Peixoto Terron, WalkíriaFerreira da Silva, Débora Trindade. Em especial: Eva, Kátia e Cássia, pelaamizade e solicitude constante.

Profa. Ana Paula Tribesse Patrício Dargel MSc, doutoranda em Lingüística-USP,pela revisão do texto. E por sua amizade.

Jose Aparecido Zeferino da Silva, Paulo Silas de Castro, João Maria de Faria, JairLanutti Meira e José Barbosa – minhas chefias na Caixa, Agência deNaviraí,MS, que sempre me apoiaram viabilizando esse binômio trabalho xestudo.

Paulo Airton Pientka, Ismael Reghin, Marcelo Kawasaki, Maria Helena BeluqueTouro, Samya Correa da Silva, Francisca Maria de Sena e Josinete deSantana Vasconcelos, por sua ajuda nas tarefas de campo para estapesquisa.

À minha família, amigos e companheiros de trabalho de quem me ausentei tantasvezes: um pouco dessa conquista fica com vocês e um pouco de cada umvai comigo. Fecho essa página deixando com vocês uma parte de minhavida.

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Dedico:

A DEUS, a quem tenho como criador e doador do Oikos à

Humanidade...

A Dra. Lúcia Elvira Alicia Raffo de Mascaró...

A Martha Fehlauer Lauermann...

E a quem amo.

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................... viiABSTRACT................................................................................................... viii

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 1

1.1 Os objetivos da pesquisa ............................................................................ 71.1.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 81.1.2 Objetivos Específicos............................................................................... 8

2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 10

2.1 Urboecossistema ...................................................................................... 102.2 Alterações no clima dos sítios urbanos: conseqüência e causa de criseurbana............................................................................................................. 122.3 Vegetação urbana e sua importância........................................................ 182.4 Apontamentos e questionamentos filosóficos sobre a relação Homem-Natureza, a percepção e a educação ambiental. ............................................ 232.5 Educação e consciência ecológica ........................................................... 282.6 Percepção ambiental, educação e Psicologia........................................... 312.7 A cidade de Naviraí-MS ............................................................................ 352.7.1 Localização fitogeográfica da área de Naviraí-MS ............................. 39

3 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 41

3.1 OBJETO DE ESTUDO................................................................................ 413.2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS............................................................ 413.2.1.Pesquisa de campo................................................................................ 413.2.1.1 Levantamento e registro fotográfico de imagens ................................ 413.2.1.2 Entrevistas com os cidadãos............................................................... 423.2.1.2.1 Amostra............................................................................................ 423.2.1.2.2 Os estratos: perfis estabelecidos para a pesquisa........................... 423.2.1.2.3 O questionário e os procedimentos para sua aplicação................... 44

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 45

4.1 Os cidadãos e a vegetação: as perguntas e os resultados da pesquisa emNaviraí-MS ...................................................................................................... 454.1.1 Percebendo e reconhecendo as árvores da cidade de Naviraí-MS ....... 474.1.2 A percepção do cidadão naviraiense sobre o valor da vegetação e seuscuidados.......................................................................................................... 574.1.3 Os cidadãos, sua escolaridade e o seu aprendizado ambiental. ........... 604.1.4 Atitudes ambientais em Naviraí-MS ....................................................... 664.2 Situação da vegetação na cidade de Naviraí-MS: o povo e as árvores .... 684.3 Naviraí-MS e sua vegetação: uma amostra através de imagens. ............. 794.4 Cidadão, poder público e vegetação: uma relação nem sempre ideal...... 944.5 Sistema florestal urbano: planos de arborização ...................................... 994.6 Percepção ambiental: psicologia do urbano ........................................... 101

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4.6.1 A construção da subjetividade contemporânea em relação ao ambiente:percepção e educação.................................................................................. 1054.6.2 Transpondo um vácuo: da subjetividade para objetividade pró-ambiente,a consciência ecológica em ação. ................................................................ 1094.6.3 Educação ambiental e objetividade: desfragmentar e integrar através datransdiciplinaridade e da intradisciplinaridade............................................... 1124.7 Vegetação urbana e o urbano e a poética .............................................. 113

CONCLUSÃO E SUGESTÕES.................................................................. 115Sugestões para melhorias ............................................................................ 116

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................. 122

ANEXOS ............................................................................................................ 130

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RESUMO

Esta pesquisa foi construída sobre a intenção de conhecer a percepção e a relação dos cidadãos de Naviraí-MS com a sua vegetação urbana e propor que ocaminho para a construção de uma consciência ecológica é um programa deeducação ambiental. Os resultados do trabalho foram alcançados através depesquisa de campo; trazem o perfil dos cidadãos e sua forma de perceber avegetação, o perfil da cidade através de fotografias e a análise do urbano e davegetação, que visam inserir o leitor no contexto onde se movem os cidadãosobjeto do estudo. Uma pesquisa piloto incluiu 64 pessoas e outra estratificadaapresentou dois grupos de 15 pessoas, cada, sendo o primeiro representativo dosbairros de periferia e, o segundo, dos cidadãos formadores de opinião, indivíduosque atuam em atividades notadamente relevantes na sociedade. Concluiu-se queas pessoas não têm a vegetação como figura sob o fundo da cidade, e que outroseventos e fatores são mais importantes, e que os formadores de opinião, comgrau de escolaridade mais elevada, apresentam uma conscientização maior, masnão mais atuante, e isso concorre para se descuidar e danificar a arborização, oua não se importar com o que lhe acontece. Também se viu que, quando levadas àreflexão, as pessoas mostram um desejo de obter uma nova visão sobre o temae, os cidadãos concordam e expressam que a educação é o instrumento paraisso, já que a construção de uma consciência ecológica – fruto final dosprocessos mentais e psicológicos de cada cidadão singularmente – passa pelainteriorização de coisas apreendidas.

PALAVRAS-CHAVE: 1. Vegetação urbana - Naviraí - Mato Grosso do Sul 2.

Percepção ambiental 3. Educação ambiental.

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ABSTRACT

This research was construct about an intent to meet perception andrelationship of Navirai’s citizens with your urban vegetation and proposeenvironmental education how way to construct an ecological conscience. Theresults of this study be arrived with a camp research; take out citizens’ profile andtheir perception form about urban vegetation; and also city’s profile throughpictures and an analysis of town and their vegetation, that can make aim to insertreader into context where move citizens that are this study object. A pilot researchincluded 64 peoples and a stratify research included two groups of 15 peoplesever. First group representation periphery ward and second group representationpeoples there are opinion formers, peoples that works in notable activities ofsociety. The research authorize to conclude they don’t have vegetation how afigure under town background, and others events and urbane factors are moreimportant, and opinion formers, with a more large scholarship, have a more goodconscience, but this don’t be a prove of true that they are more operate, and sothis concur for neglect and damage vegetation, or to not matter with what canhappen to it. And when in reflection people indicate a desire for have a new viewabout question and express that education is an instrument for this. The constructof ecological conscience – final fact of mental and psychological process ofeveryone – reaches out of inside of apprehended things viability withenvironmental education.

KEY WORD: 1. Urban vegetation - Naviraí - Mato Grosso do Sul 2.

Environmental perception 3. Environmental education.

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A flor e a náusea

(Carlos Drummond de Andrade)

...Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço no tráfego.

Uma flor ainda desbotada.

Ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

Garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.

Suas pétalas não se abrem.

Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde

E lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(Extraído de A Rosa do Povo – publicado em 1945).

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1 INTRODUÇÃO

Sentiu nas narinas o cheiro da humanidade, exalado pelos poros dos edifícios apinhados,pelas ruas febricitantes, atapetadas de lixo e sem a sombra de uma árvore.

Então, o homem lembrou que há anos atrás tinha sentido o perfume de uma flor.

(Waldemar Valle Martins in SILVA, C., Ecologia e Sociedade, 1978)

Enquanto a ciência alcança distâncias antes inimagináveis dentro do

Sistema Solar, trazendo para diante dos olhos das pessoas por meio da

tecnologia das sondas espaciais, aqueles pequenos robôs de exploração espacial

– os rovers – imagens antes inatingíveis, talvez pelo reconhecimento da vastidão

do universo, agora através de uma experiência e percepção pessoais, as

comunidades mundiais acordam para a verdade de que o planeta Terra é “a sua

casa”, coisa sempre tão bem definida pela palavra Oikos. O mundo é lugar. A rua,

o bairro, a cidade, é lugar. Lugar começa naquele em que se está, no qual se

move, vive/sobrevive, um conceito que vai se abrindo, ampliando, alcançando um

círculo cada vez maior, até extrapolar para o próprio Sistema Solar e o Universo.

Tudo é espaço a se considerar.

Nos cuidados ao Planeta (ou falta deles), quando se pensa em Ecologia,

um primeiro momento é dedicado à idéia de Natureza e as Ciências Exatas se

tornam referenciais ambientais. O início de um novo pensar reporta a um segundo

momento quando os ambientes construídos começam a ser considerados, a partir

de uma consciência de que o Homem integra o Oikos com tudo que lhe é

pertinente: nem mais e nem menos que os temas sobre os quais se debruçam a

Biologia, a Geografia, a Botânica, a Geologia e todas essas ciências que lidam

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com as maravilhas naturais do planeta. Entender a humanidade como ente

ecológico contribuiu para que as Ciências Sociais e Humanas passassem a

integrar o universo de ciências ambientais; tal compreensão traz para esse mundo

a Administração, a Arquitetura e Urbanismo, a Medicina, a Antropologia, a

Sociologia a Psicologia e todas as ciências que lidam com eventos humanos no

planeta, sejam na esfera singular (o homem indivíduo), na comunitária (o homem

social), na temporal (o homem que na história elabora cultura), ou na esfera de

transformações (o homem construtor e produtor). Um ecologista, antes de

entender a natureza, tem que entender o próprio homem, já que as questões

ecológico-ambientais existem por que existe o homem, e não porque existe a

natureza; ela, de per si, não carece da atenção humana, já que ela existe sem o

homem, mas o homem não existe sem ela. A natureza vive o desenrolar natural

de sua existência e, cataclismas, por exemplo, para ela, são eventos normais e

inerentes aos processos desencadeados pelo seu pulsar ao longo do tempo,

portanto inquestionáveis sob o ponto de vista natural. Já o antropismo cria a

questão ambiental e porque é evento humano, insere o Homem como foco de

atenção.

Nesse contexto de concepções mais amplas, o urbano se insurge e surge

como lugar ecológico, contracenando com florestas, biodiversidade, sítios

geográficos, águas, subsolo e atmosfera. O urbano passa a ser visto como

ecossistema e, mais que isso, quando as florestas aparecem no imaginário das

pessoas como solução também para a devastação da atmosfera (a mesma que o

Protocolo de Quioto quer sustar), a vegetação do urbano deixa de ser

simplesmente decorativa para se transformar em proteção para o humano que se

abriga nesses ambientes que ele constrói como nicho e proteção contra aquele

ambiente natural hostil, onde dificilmente conseguiu viver tranqüilamente, sem

sobressaltos.

Notar a arborização urbana dessa forma é uma percepção que só é

possível após todo um processo de reflexão, não antes disso. Sem essa reflexão,

enquanto se adentra no urbano, e quando se separa a arborização como figura

centro das atenções, parece que as pessoas lhe percebem apenas o valor

estético e de sombreamento local. Uma árvore pode parecer bonita ou pode

atrapalhar o visual local e produzir ou não boa sombra para o usuário do lugar.

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Isso, entre outros motivos, estabelece o seu destino: ela fica onde está ou é

cortada. No entanto, pela reflexão, uma nova consciência ditará que a vegetação

é mais do que beleza ou proteção solar fortuita: é um fator fundamental para a

qualidade de vida na cidade e por isso, exceto no caso de ser fonte de ameaça,

ela deve ser mantida. Ao se projetar arborização, não se estará apenas criando

soluções paisagísticas para bairros ricos, ou incrementando a vista de edifícios

nobres, ou embelezando o centro da cidade, se a problemática da vegetação no

urbano é muito mais ampla, atingindo a saúde humana e a preservação tanto do

ecossistema urbano como a do entorno no qual a cidade está inserida, que

sofrem o impacto da existência de seres humanos com comportamentos muitas

vezes ambientalmente inconseqüentes, e desorganizados, nesses meios urbanos.

A história dessa pesquisa se iniciou num momento remoto quando, ao

transitar pelo urbano, essa pesquisadora deparou-se com uma dessas cenas

ambientalmente inconseqüentes: homens cortando uma árvore urbana, no caso

um flamboyant, na sua plenitude arbórea. Uma pergunta surgiu: ‘Por quê?’ ‘ Por

que as pessoas cortam árvores?’

Inquire-se sobre qual o tipo de compreensão das coisas que leva uma

pessoa a destruir os elementos da natureza dentro de uma cidade que, por si só,

é um ambiente que reclama por reconstrução do natural. As pessoas agem

movidas por suas crenças pessoais e então se pergunta qual será o tipo de

crença, ou a falta de qual crença poderá levar a gestos de destruição, e, nesse

caso, destruição da vegetação urbana. Ainda, se questiona sobre qual será a

representação social da vegetação para uma sociedade que não coíbe o corte de

árvores na área urbana e que convenção social permite que um cidadão peça a

outro que derrube uma árvore e esse concorde com o ato. Pode ser a convenção

de “propriedade”. Quando um promotor de meio ambiente não pode coibir o corte

de árvores dentro dos quintais, há uma crença subjacente que lhe impõe tal falta

de opção e pode ser a de que as árvores do lugar pertencem ao cidadão tido

como proprietário daquele chão. Qual o senso de propriedade que o ser humano

tem sobre o meio: o de poder para destruir ou o de dever para manter? Moscovici

(apud Bonnes e Secchiaroli, 1995) pontua que a compreensão dos lugares, com

atenção particular às ‘convenções sociais, normas e valores’ são parte da cultura

das pessoas.

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Neste trabalho de pesquisa abordou-se também proprietários de terra e por

duas vezes o tema vegetação urbana reportou ao assunto ‘reservas legais na

fazenda’, quando o cidadão expressou certa impaciência com o fato de que ficou

mato para o governo. Não se compreende que a manutenção de reservas, ou a

coibição de uso total, de exploração total das terras, visa à proteção do meio, e

não a doação de mato/madeira para o governo. É porque a sociedade, na forma

de governo, precisa impor como legal uma reserva que deveria ser natural, numa

ação consciente de quem prevê a necessidade de prover.

Cumprindo as exigências para a finalização do Mestrado em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional da UNIDERP – Universidade para o

Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, essa pesquisa pretendeu,

antes de tudo, servir de apoio para a sociedade local, trazendo elementos que

possam sensibilizar as pessoas para notar assuntos ambientais, principalmente

os da temática da arborização, de forma mais reativa. Os procedimentos para a

realização deste trabalho envolveram a coleta de informações através de uma

pesquisa bibliográfica, e a elaboração de novas informações através da pesquisa

de campo, quando a vegetação foi observada in loco, fotografias foram feitas e

cidadãos foram entrevistados. O desejo foi apresentar um trabalho que expresse

a realidade local, que capture um pouco de história e registre a cidade na sua

conjuntura e dinâmica arbórea atual, que falasse do povo, do cidadão, e levasse à

reflexão. Por outro, o viés do desenvolvimento regional faz pensar que

desenvolver é crescer não somente economicamente, mas, antes, como

sociedade e cultura, o que enquadra os cuidados ao ambiente urbano, e para

esse estudo os cuidados à arborização como premissas básicas ao crescimento

singular e social.

Neste estudo também se apresentou o entrelaçamento dos temas

correlatos, viabilizando uma visão maior do assunto a fim de melhor fixar sua

importância e, para tanto, a pesquisa bibliográfica (leituras e fichamento de

pensamentos, idéias e propostas relevantes ao estudo), considerando o objeto

central dessa pesquisa (percepção/relação do cidadão versus vegetação urbana),

e considerando cada um em particular (o cidadão, a vegetação, o próprio urbano

e a relação entre todos) forneceu um arcabouço teórico relativamente amplo em

torno desses fatores, ao buscar-se subsídio em vários desdobramentos:

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vegetação urbana, temas urbanos, processos sociais urbanos, cultura, psicologia,

percepção ambiental, psicologia ambiental, mídia e comunicação, crises

socioambientais e comportamento ambiental, educação ambiental e suas

práticas, ecologia, Estado/sociedade e política, cidadania e cidadão. Nomes como

Carvalho, Cavalcanti, Conti, Cohen, Del Claro, Farah, Fleury, Fearnside,

Goldblatt, Grün, Guerra e Cunha, Heimstra e Mcfarling, Holling e Clark, Lago, Leff,

Macedo, Mascaró e Mascaró, entre outros, foram pontos de apoio para a

construção dessa pesquisa, concomitantemente à Agenda 21 – Brasileira e de

Campo Grande – o Protocolo de Quioto, e leis municipais como a “Lei Verde” de

Campo Grande e as “Normas para Arborização de Porto Alegre”, entre outros.

Traçados os limites da pesquisa, (estabelecidos, inclusive, após leitura de

alguns destes autores), o levantamento bibliográfico orientou no sentido de

compreender, analisar e concluir sobre os resultados do levantamento de campo.

Deu bases também para as propostas finais apresentadas, corroborando com o

fim último de qualquer pesquisa científica: melhorias para a sociedade, e, nesse

caso específico, para o ambiente e para o indivíduo naviraienses. Essas

melhorias podem vir: 1) por meio das informações sobre a percepção das

pessoas e, conseqüentemente, de um alerta para o caso de essa se apresentar

como vetor de dano ambiental; 2) de idéias, sugestões e de uma proposta para

um programa de educação ambiental relacionado às necessidades apresentadas,

e 3) da apresentação de opiniões e sugestões populares que venham a ser úteis

para o setor público na tarefa de planejar e implementar a arborização da cidade.

Talvez a maior colaboração que se pode dar é o autoconhecimento para as

pessoas quanto à sua forma de perceber e agir sobre a vegetação da cidade.

Antes de iniciar a organização do plano de pesquisa, uma breve incursão

exploratória entre os habitantes da cidade, motivada pela curiosidade apenas,

realizada em meados de junho de 2004, deu uma visão sobre o que se poderia

encontrar. Essa atividade serviu de ponto de partida para a elaboração da

proposta que se transformou no trabalho final. Naquela oportunidade, cerca de 60

pessoas, todas trabalhadoras nos estabelecimentos comerciais da Avenida

Weimar Gonçalves Torres, a mais importante da cidade (maior movimento e

comércio), apontaram para algumas evidências: a maioria - 67,4% - não sabia

nomes de árvores da rua onde trabalham (muitos - 46% - nem o da sua preferida);

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77,7% não apontaram a ausência de vegetação num dado bairro (Jardim Paraíso)

como primeira opção para a solicitação “aponte um problema do bairro”, e se

supôs que a vegetação não era, para essas pessoas, um dos itens mais

relevantes num bairro, e 80% não souberam dizer se havia vegetação nos altos

da Av. Dourados e nem qual era.

No mês de outubro de 2004 foi feito o teste piloto com a intenção de

buscar objetivamente informação e testar as possibilidades do questionário, suas

restrições e desvios. Dessa vez deslocou-se o universo de entrevistados para

vários pontos do centro comercial da área central da cidade, tabulando dados

fornecidos por 64 de 70 pessoas que foram consultadas. Esse teste piloto

confirmou a possibilidade de comparar o público em grupos específicos,

considerando que as pessoas diferem entre si a partir de formação, vivência,

estrato social e outras condições de vida, porque a primeira incursão exploratória

sinalizou e a amostragem piloto sustentou a existência de nuances e diferenças

entre as respostas dadas. Ainda, reportando ao conselho de Heimstra e

MacFarling (1978), de que a heterogeneidade dos cidadãos de uma cidade leva à

necessidade de se “tomar o cuidado de apontar as características das pessoas

em estudo”, compreendeu-se a necessidade de buscar conhecer perfis

diferenciados. As possibilidades eram várias, mas optou-se pela amostra

estratificada envolvendo dois perfis: cidadãos moradores de bairros, cuja

escolaridade geralmente é menor, e cidadãos cujas atividades indicam um grau

escolar maior, porque surgiu a intenção de verificar se o grau de escolaridade e

as variações no grau de conhecimentos em geral poderiam ser vetores de

diferenciação e, até onde pessoas tidas como mais cultas têm, na prática, atitudes

mais positivas ou pró-ativas em relação à vegetação.

Os trabalhos de campo iniciaram em agosto de 2004, encerrando em

fevereiro de 2005, com o fechamento dos resultados alcançados nas entrevistas e

no trabalho de levantamento fotográfico da vegetação no verão. As fotografias

tiradas do alto do edifício Ilha Grande (nome dado à construção em homenagem

ao Parque Nacional de Ilha Grande, várzeas do Rio Ivinhema, no qual a área de

Naviraí-MS está localizada), foram acompanhadas por Paulo Airton Pientka,

especialista em Gestão Ambiental, e por Ismael Reghin e Marcelo Kawasaky,

ambos administradores proprietários de terras dedicadas ao cultivo de soja.

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Outras fotografias de lugares foram tiradas pela autora durante as entrevistas às

pessoas em seus lares. Parte das entrevistas foi acompanhada por Maria Helena

Beluque e Sâmya Correia da Silva, ambas estudantes do ensino médio, e

estagiárias na Caixa, e por Francisca Maria de Sena e Josinete de Santana

Vasconcelos, moradoras dos bairros Harry Amorim Costa e Sucupira,

respectivamente.

Considerando ser importante saber sobre a cidade, nicho onde o objeto do

estudo se abriga, age e interage, apresentou-se, no segundo capítulo,

informações bibliográficas sobre Naviraí-MS para dar a conhecer e saber sobre a

comunidade, e, num segundo momento, no quarto capítulo, apresentou-se

imagens coletadas a campo, através de fotografias, e a análise do contexto

cidade-vegetação, juntamente com os resultados sobre os cidadãos e sua

percepção sobre essa vegetação.

1.1 Os objetivos da pesquisa

O desenvolvimento dessa pesquisa resultou da intenção de investigar a

relação entre os habitantes de uma cidade (Naviraí-MS) e a vegetação que está

em seus espaços urbanos, porque, considerando a importância da vegetação, é

visível que os cuidados que ela exige não lhe são dispensados, vendo-se árvores

descuidadas e os espaços vazios de onde elas foram retiradas.

Considerando que arborização vem sendo reconhecida como fator de

proteção ecológica essencial também aos meios urbanos tropicais e subtropicais

úmidos, e é preciso encontrar maneiras para implantar ou melhorar trabalhos de

plantio e preservação, e isso depende das pessoas, levantou-se a hipótese de

que (1) o cidadão naviraiense não tem uma consciência ecológica plena e atuante

principalmente por falta de conhecimentos, e (2) a existência da consciência

ecológica é fator fundamental para o sucesso em um programa de arborização

urbana e qualidade de vida para a cidade, já que esse sucesso está intimamente

ligado ao pensar das pessoas, pois o que elas pensam é o seu norte para ações

de cuidado ou de destruição e descaso para com as árvores e plantas em geral e

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(3) a educação ambiental é o caminho para a construção dessa consciência

através da informação pelo despertar sensorial e perceptivo das pessoas.

1.1.1 Objetivo Geral

Como a intenção foi investigar a relação entre os habitantes de uma cidade

(Naviraí-MS) e a vegetação que está em seus espaços urbanos, o objetivo geral

desse trabalho foi estudar a percepção dos cidadãos naviraienses sobre a

vegetação e encaminhar a compreensão de que o caminho para aprimora-la é

implementar um trabalho de educação ambiental, visando a construção uma

consciência ecológica cidadã – fruto final dos processos mentais e psicológicos

de cada cidadão singularmente.

1.1.2 Objetivos Específicos

Para alcançar o objetivo geral, estabelecendo relações entre o pensar e o

agir dos cidadãos relativamente a esse elemento urbano, a vegetação, foi

construído um diagnóstico através dos seguintes objetivos específicos que foram

assim definidos:

a) Verificar se há verdadeiramente relação entre perfil dos habitantes de

Naviraí e percepção de ambiente, observando o grau de escolaridade;

b) Descobrir se as pessoas sabem ou não identificar árvores dando seu nome

popular;

c) Averiguar se as pessoas sabem a importância/utilidade real da vegetação

(além de sombra e beleza, que são comumentemente considerados) e se as

pessoas aprenderam sobre meio ambiente em casa, ou não;

d) Saber quem se sente pessoalmente responsável pela vegetação;

e) Ter noção do que incomoda nas árvores e o que agrada ou desagrada nas

árvores;

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f) Mostrar a vegetação urbana na cidade de Navirai-MS, sem pretensões de

fornecer estudos completos sobre a mesma, mas apenas para que se

conhecesse o contexto sobre o qual se dá a percepção que se quis estudar,

através de fotos: (1) imagens de épocas diferentes para mostrar a evolução

da vegetação ao longo da história da cidade e (2) imagens de duas estações

distintas do ano (auge de inverno e início de verão) para dar uma idéia da

diferença da vegetação nessas fases do ano e qual o impacto de seu estado

no momento sobre tais locais.

g) Construir propostas de atividades e programas de envolvimento da

população que estimulem e levem a ações positivas por parte do cidadão

para com as árvores da vegetação urbana da cidade de Naviraí-MS.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Urboecossistema

Ao definir ‘sistema’, Reichle et al. (1980)1 dizem que “um sistema é um

complexo de subsistemas que interagem e que persistem através do tempo

devido à interação de seus componentes. O sistema possui uma organização

definida, continuidade temporal e propriedades funcionais que podem ser

consideradas distintas do sistema mais que seus componentes”. A biosfera

terrestre é composta por vários ecossistemas que formam, de modo geral, o

ambiente no qual os seres interagem. Os grandes biomas são compostos por

subsistemas; estes, por sua vez, distinguem-se em sistemas menores e, dentro

dos menores os tipos se sucedem de acordo com suas características

particulares. E, nesses ainda menores, encontramos o ecossistema urbano,

referencial ambiental desta discussão.

Geralmente a mídia tem levado o cidadão a entender o ambiente como

sinônimo de fauna e flora. Para o tema ecologia, o agroecossistema e o

urboecossistema são desconsiderados no imaginário popular. Ao refletir sobre o

que escreve Lima-e-Silva (1999), que “ambiente é um conjunto de fatores

naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele

interage, influenciando e sendo influenciado por ele”, se faz necessário

reestruturar o imaginário ambiental popular para que nele existam o campo e a

cidade. A cidade especificamente, talvez a menos cotada quando se fala em

1 No original: “Un sistema es un complejo de subsistemas que interactúan y que persiste a travésdel tiempo debido a la interacción de sus componentes. El sistema posee una organizacióndefinible, continuidad temporal y propiedades funcionales que pueden considerar-se distintivas delsistema más que sus componentes”. P. 38

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ecologia, e nela está o cidadão urbano, assume vital importância com todos os

aspectos ambientais que lhe são pertinentes porque eles interferem diretamente

na vida das pessoas, devendo assumir espaço no centro das atenções das

ciências e da sociedade em geral, incluído aí o cidadão comum.

As cidades brasileiras e seus problemas e a amplitude de sua

administração geofísica passaram a ter contemplação formal na Constituição de

1988, momento em que as questões urbanas são consideradas passíveis de

atenção especial por parte dos legisladores. A Constituição de 1988 é, conforme

Ribeiro e Santos Jr. (1994), “um marco do período da redemocratização e da

consolidação da agenda da reforma social no Brasil. A proposta de reforma

urbana, juntamente com a sanitária, é um dos mais importantes projetos que

consegue influenciar decisivamente a reconstrução institucional do país”. Ora,

considere-se dentro desse contexto de reforma urbana2 não somente os aspectos

econômicos e sociais em si, mas também os que se referem à reforma ou

construção da paisagem verde, ou do agregado verde, que pode devolver a

saúde perdida pelas cidades. Ou ainda, considerando que, conforme Mendonça

(2000), o que concorre para os riscos ambientais no urbano está diretamente

ligado às atividades humanas e que a degradação pode atingir condições de

irreversibilidade, deixando claro que determinados ambientes podem não ter

condições de resistir a essas atividades, a reforma urbana pode e deve

contemplar a construção de soluções para os vários problemas ambientais cujos

reflexos já existem em nossas paisagens urbanas – problemas que se

transformarão em dificuldades maiores e sem possibilidades de retorno num

futuro bem próximo, dado que o agente causador, o homem, não é afastado para

que fique a cuidados da natureza a tarefa de (re)formar o ambiente, como ocorre

em áreas desabitadas, onde a vegetação se recompõe com o tempo porque a

ação antrópica foi descontinuada. Santos (1998) escreve que “o homem se afasta

2 Ribeiro e Santos Jr (1994) diz que “o projeto de reforma urbana tem como objetivo central ainstituição de um novo padrão de política pública fundado nas seguintes orientações: a) instituiçãoda gestão democrática da cidade; b) fortalecimento da regulação pública do uso solo urbano coma introdução de novos instrumentos de política fundiária que garantam o funcionamento domercado de terras condizente com os princípios da função social da propriedade imobiliária e dajusta distribuição dos custos e benefícios da urbanização; e, c) inversão de prioridades no tocanteà política de investimentos urbanos que favoreça às necessidades coletivas de consumo dascamadas populares, submetidas a uma situação d extrema desigualdade social em razão daespoliação urbana”. Percebe-se que a reforma só contemplaria aspectos de posse e político-sociais.

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das relações totalizantes com o seu território e se torna fator geológico,

geomorfológico e climático”, quando o problema maior advém do fato de que os

cataclismas naturais são um incidente, um momento, enquanto a ação antrópica

tem efeitos continuados. E ainda, que sem o homem, isto é, antes da História, a

natureza era una. Compreender isso deve levar à reflexão a respeito da força do

impacto antrópico sobre o sistema ambiental, qualquer que este seja.

Enquanto discorrem sobre a questão cidades, crise e violência, Ribeiro e

Santos Jr. (1994) também afirmam que a proposta da reforma urbana é

“transformada em possibilidade histórica no momento em que a capacidade de

planejar do Estado encontra-se debilitada e diminui o ímpeto dos movimentos

sociais urbanos” e que “a partir da hipótese de que a violência, incluído aí o crime

organizado, não decorre da crise institucional, mas se constitui em nova forma de

sociabilidade urbana (...) não podemos deixar de considerar no enfrentamento da

questão urbana os valores culturais, as regras de subordinação e gratificação

dessa nova sociabilidade”. Se eventos como a violência não tem a ver com a crise

institucional, mas se constituem numa nova forma de sociabilidade urbana,

também as ações relativas ao assunto vegetação urbana podem ser vistos como

integrantes dessa sociabilidade, dado que estão diretamente ligadas à

interferência humana e essa, por sua vez, também está alicerçada no pensar das

pessoas e em sua visão cultural. Assim, entende-se que a existência da

vegetação, sua preservação ou não, depende da sociedade, pois os eventos

urbanos são responsabilidade do Estado e também da população, fazendo-se

importante conhecer mais sobre as pessoas, seu pensar e suas crenças para, a

partir desse conhecimento, implementar soluções e incrementar sua forma e força

com novos conceitos e mais informações.

2.2 Alterações no clima dos sítios urbanos: conseqüência e causa de crise urbana

Desde os primórdios da vida humana na Terra o homem vive em

comunidade. Das cavernas ele passou para os lugares abertos, mas construiu

cidades como novo sistema de proteção. Enquanto eram poucos os homens, e os

espaços eram grandes, a sua existência não se fazia sentir de forma agressiva

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que viesse a causar danos extensos, já que a capacidade de restauração da

natureza superava a capacidade humana de impactar o meio.

No entanto, o processo de urbanização se acelerou com o advento da

indústria, quando as urbes desenvolveram atrativas capazes de buscar do campo

o homem, e quando o campo, pela mecanização, declinou de seus habitantes

remetendo-os para a cidade ao tornar obsoleta sua mão-de-obra e a sua própria

cultura. O homem é um ser gregário e a quantidade de seres humanos no planeta

cresceu nos últimos séculos. Somando estas duas verdades, que o homem se

agrega, e que o número de homens é grande, explica-se o tamanho das

concentrações urbanas, e justifica-se a força de impacto que elas, através do alto

grau de industrialização (necessário para atender a demanda das populações)

têm sobre o sítio em que se situam, e sobre suas adjacências. Guerra e Cunha

(2001) mencionam um aumento da industrialização no mundo em 20 vezes no

século XX, com um consumo de combustíveis fósseis em 30 vezes mais do que

em 1900 (e a maior parte a partir de 1950). Gorz3 escrevia em 1973 que, das

metrópoles às periferias, o mundo capitalista veria notícias de reviravoltas e crises

transformarem-se em realidade muito pior nas décadas que seguiriam. Goldblatt

(1996) ao discutir os conceitos de Giddens, dá expressão de que “o ambiente

criado do urbanismo moderno é o resultado do capitalismo e do industrialismo”.

Do industrialismo não se pode fugir porque através dele se atende necessidades

humanas, e se o industrialismo vive sob a égide do capitalismo ou não, é outra

questão. No entanto, quando a AGENDA 21 (Objetivo 10) estabelece que “a

sustentabilidade das cidades tem que ser situada na conjuntura e dentro das

opções de desenvolvimento nacional” o que se pode acreditar é que a

sustentabilidade urbana passa pela sustentabilidade rural. A virada do século,

conforme Cavagnari (2004), viu transpor de um extremo a outro o percentual de

habitantes campo-cidade: em 1940 tinha-se 70% dos brasileiros no campo; nos

anos 90, a cidade é que passou a comportar esse número. Para fazer retroceder

esse processo, é necessário o “desenvolvimento sustentável do Brasil rural” que

promoverá o alívio das cidades, assegurando uma densificação demográfica mais

3 Do original “Dans ses métropoles, aussi bienque su sa périphérie, le monde capitalisteabordenune nouvelle période de bouleversement et de crises qui iront vraisembblablement ens’aamplifiant durant les décennies à venir ». p. 148

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equilibrada, quando as pessoas não se concentrariam de forma tão intensa nos

hábitats urbanos.

“Urbanização é o processo de conversão do meio físico natural para o

assentamento humano, acompanhado de drásticas e irreversíveis mudanças do

uso do solo, gerando uma nova configuração da superfície aerodinâmica e das

propriedades radiativas, da umidade e da qualidade do ar” (Oke apud Guerra e

Cunha, 2001). A urbanização, como a praticamos, é o processo que dá origem à

necessidade de incluir na Agenda 21 um capítulo voltado à sustentabilidade das

cidades. “Urbano” é civilizado, cortês, polido, afável, conforme rezam os

dicionários; urbanizar é civilizar e tal. Mas urbano também é relativo à urbe (do

latim), ou cidade. Parece que tudo começa nesse vocábulo – urbe/cidade – e daí

se derivam os outros significados. Mas as duas conotações se distanciam porque

nossas cidades pouco parecem ter de afabilidade, cordialidade e civilidade. Não

há disso na fala da socióloga Pfeil apud Silva (1978): “A estas cidades informes,

com seus subúrbios intermináveis, formados sem qualquer planejamento, faltam

condições para um vivo relacionamento comunitário, falta a ordenação em torno

de um centro: daí a sensação de vazio e tédio (...)” Pelo contrário, para Silva

(ibid.) há a “desistoricização das relações entre natureza e sociedade” quando a

sustentabilidade, também do urbano, segue o modelo da estrutura conceitual

cartesiana-newtoniana, e as culturas urbanas se dissolvem na busca da mega-

urbe já que, como diz Silva (ibid.) “toda cidade quer ser grande”, e, complica Grün

(1996), “o processo civilizatório (e a urbanização desorganizada é sua expressão

mais contundente)4, é um processo permanente de fuga, distanciamento e

esquecimento da natureza; os seres humanos têm medo de voltar à barbárie, à

sua condição original; a natureza, de certa forma, representa o horror, a barbárie,

o primitivo, a superstição que o tipicamente moderno deseja eliminar a todo

custo.” Enquanto bárbaro, o homem sobrevivia diretamente na natureza; a história

da civilização humana está ligada à urbe, ao ato de urbanizar. E agora, enquanto

civilizado, na urbe, não some a barbárie. Ora, a educação é que torna civilizado. E

o que temos, no processo de urbanização é o caos (social, cultural, ambiental e

da saúde, e.g.). Educação, principalmente a que devolve conceitos ambientais,

será o elo desaparecido no processo. Retomando o conceito de ambiente criado

4 O aparte é nosso.

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do urbanismo moderno, de Golblatt (1996), é nesta ‘nova configuração’ que se faz

sentir a crise urbana tida por Heimstra e MacFarling (1978) como “algumas

características de ambientes urbanos que têm efeito negativo sobre a maioria dos

habitantes das cidades”.

Entre os elementos5 que compõe a crise urbana estão alguns diretamente

relacionados à inexistência de vegetação na cidade, podendo-se pensar em

temas que vão desde as águas urbanas até a saúde de crianças e velhos

atingidos por partículas de poluentes alergênicos e, principalmente, nas

alterações climáticas que são peculiares aos centros urbanos. Ayoade (1998) cita

Critchfield dizendo que “a saúde humana, a energia e o conforto são mais

afetados pelo clima do que por qualquer outro elemento do meio ambiente”. Sorre

(apud Mendonça, 2000), esclarece que alta radiação/luminosidade produz

esgotamento nervoso, perturbações mentais, irritação, a síndrome físico-psíquica

‘insolação’ (sunstroke) e euforia. E que a baixa radiação/luminosidade leva a

deficiências orgânicas, raquitismo, depressão e debilidade mental. Também que o

vento, dada certa intensidade, e a eletricidade atmosférica, levam à morbidez,

cansaço, abatimento, debilidade do tônus nervoso, depressão, hipersensibilidade,

irritabilidade, desidratação, dessecação do aparelho tegumentar, excitação

nervosa, alucinações, delírio, palpitações, dispnéia, dores de cabeça e nevralgia,

ficando claro o quanto o ser humano precisa da vegetação urbana.

As cidades levam à crise mais que o seu entorno: o planeta sofre por

causa delas. Conforme Corson (1993) um estudo feito pela American Association

for the Advancement of Science, em 1988, previu que uma suposta duplicação de

CO2 elevará a temperatura média global em até 5°C (9°F) até 2050. Na prática,

isso significa: disfunções climáticas, maior número de dias mais quentes ou mais

frios em dadas regiões do planeta, aumento ou diminuição da precipitação pluvial,

solos mais secos, disfunções na quantidade de neve, derretimento acelerado das

calotas polares, redução da produção de alimentos, elevação dos mares e

5 “O assunto é tão extenso, abrangente e profundo, afetando-nos de tantas formas diferentes, queveio a englobar todas as coisas, para todas as pessoas (...) interesses governamentais,econômicos, sociais, psicológicos, tecnológicos, morais e filosóficos (...) relações humanas,cumprimento da lei, habitação, sanidade, serviços de saúde, distribuição de renda, educação (...)ambiente físico: congestionamento, poluição, destruição dos recursos naturais, a falta crítica dehabitação adequada, falha na preservação do espaço aberto, os crescentes problemas deabastecimento de água esgotos, tratamento de lixo (...) pobreza, mudanças de valores consumode álcool e drogas, enfraquecimento das instituições principais – família e educação”. (Naftalin,1970 apud Heimstra e MacFarling, 1978)

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redução de áreas litorâneas habitáveis, aumento de ciclones e furacões,

biodiversidade ameaçada e destruída, alterações na predominância de espécies

vegetais e animais quando se favorece umas e se destroem outras. Ora, quem

produz a maior parte dos gases que geram o efeito estufa, responsável por toda

essa catástrofe são as cidades, os ecossistemas urbanos. Se as massas

florestais atenuam de dia o CO2 que produzem à noite, a arborização nas cidades

pode atenuar parte do CO2 por elas produzido através das atividades humanas.

Administra-se, assim, um dos fatores causadores de crise tanto global quanto

urbana.

Clima urbano é, conforme Mascaró (1996), “um sistema que abrange o

clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”. Há que considerar,

segundo a autora, “a topografia do sítio, o modelo de morfologia urbana, a ordem

de grandeza entre o porte do sítio e o porte da cidade, o processo de

metropolização e as alterações provocadas pela implantação urbana”. E o clima

urbano é, por assim dizer, o termômetro imediato que faz sentir o quão intensa é

a antropia num local. E está inserido num clima maior que, continua ela, se

entende como “macroclima”. A partir desse tem-se o “mesoclima que é o clima

que a cidade, somadas suas características construídas às topográficas, passa a

ter, e, por fim, o microclima que se manifesta nos recintos urbanos (espaços

abertos ou cercados por edificações; ou em meio à vegetação, parques, jardins e

pátios, de uso público ou privado, relativamente protegidos do vento que é o vetor

macroclimático que pode fazer desaparecer o microclima)” que é diretamente

relacionado “ao comportamento da arquitetura que o forma e ao bom

funcionamento de suas janelas” (ibid.).

As atividades urbanas (indústrias, trânsito intenso, concentração de

edificações, equipamentos e pessoas) mostram, primeiramente no ar, na

atmosfera, as suas conseqüências nocivas. Conforme Guerra e Cunha (2001),

vários pesquisadores - (Atkinson, 1975; Tabony, 1980; Sellers, 1986; Landsberg,

1981; Changnon, 1969; Jauregui, 1991) dão conta de que valores de insolação,

albedo6, umidade relativa, nebulosidade e velocidade do vento são menores na

6 Albedo: a razão entre a quantidade de luz refletida por um objeto e a quantidade de luz incidente;uma medida da refletividade ou da luminosidade intrínseca de um objeto (uma superfície brancaou perfeitamente refletora teria um albedo de 1,0; uma superfície preta perfeitamente absorvente

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cidade que no campo, e a temperatura e precipitação são maiores, e, a formação

da ilha de calor vem a ser o fenômeno mais característico das cidades. Como

causa dessa ilha de calor as pesquisas acima citadas por Guerra e Cunha (2001),

(Chandler, 1962; Bryson e Ross, 1972; Oke, 1978 e 1981; Henderson-Sellers e

Robinson, 1989; Jauregui, 1991; Imamura- Bornstein e Bornstein, 1992; e

Brandão, 1992), apontam para a capacidade que as cidades têm de estocar calor

solar durante o dia, emitir radiação noturna, e porque produzem calor (motores

domésticos, automotores e processos industriais), há redução no fluxo do calor

latente com aumento do calor sensível por falta de superfícies líquidas e há falta

de áreas verdes, de vegetação, o que resulta em redução de umidade e menor

evaporação. Essas modificações climáticas, “afetam seriamente a qualidade de

vida do urbanita e justificam um estudo detalhado das mudanças ambientais

introduzidas pelo homem, (...), e por conta daquelas, a cidade do final do século

XX configura-se cada vez mais afastada da ordem e da beleza, identificando-se

com o caos” (Monteiro apud Guerra e Cunha, 2001).

Durante a maior parte do tempo da História, o homem adaptou-se às

intempéries e às condições topográficas de seu mundo. Ayoade (1998) diz que “o

clima influencia o homem de diversas maneiras, e o homem influencia o clima

através de suas várias atividades”. (Pode-se dizer que o homem pensa que faz o

que quer, mas, em verdade, ainda hoje ele faz o que os ventos lhe ordenam). O

clima dita estilo de moradia, vestuário, manejo agrícola, escolha de vegetação, e

tanto mais. Apesar disso, completa Ayoade (ibid.), “o homem, ainda que em

escala local, já se adapta ao clima através da tecnologia e pode fazer outras

opções que não aquelas impostas pela natureza” (planta em estufas, dispensa o

suéter num dia de frio, degusta gelados num calor de 40°C, e.g.). E, através de

processos inadequados, ele também cria condições para tornar insuportável o

sítio onde decide organizar-se socialmente para resolver suas necessidades

sociais: ele altera as condições climáticas na cidade.

Ao instalar o urbano, o homem pode modificar tão radicalmente a área que

é difícil imaginar ou lembrar a natureza original do local, a menos que se tenha

conhecido pessoalmente o lugar como era antes, ou pelo registro de fotos.

teria um albedo de 0,0). Definição encontrada no endereço:http://www.if.ufrj.br/teaching/astron/help.htm.

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Alterações como as mencionadas por Mascaró (1996) como “obras realizadas

para a implantação urbana: remoção de morros como o do Catete no Rio de

Janeiro e aterros à orla marítima, como em Florianópolis e Salvador (e,

acrescentamos, o aterro do Flamengo no Rio), desmatamento, ocupação de

encostas ou a implementação de sistemas hidroelétricos, como no caso da

represa Billings em São Paulo, que acrescentou um sistema lacustre artificial”.

É, como diz Silva (1978), “que a cidade parece funcionar como um Midas

ao inverso, destruindo as coisas em que toca”. E entre os elementos alterados

está o agregado vegetal do lugar. Trocar a vegetação por asfalto, ferro e cimento,

ou pelo vazio como é em muitos espaços urbanos, hoje se comprova uma

escolha ruim, ainda que necessário construir. A erradicação da vegetação nativa

costuma ser tão extrema que, na maioria dos espaços urbanos, não se encontram

quaisquer vestígios da vegetação original. E ao reconhecer que a vegetação

exótica não se mostra adequada aos locais, fazem-se necessários extensos

estudos e buscas para resgatar a vegetação primitiva e descobrir quais eram as

espécies que ali existiam, numa tentativa de realocar o natural ao lugar a fim de

maximizar o efeito positivo do verde no tal sítio.

2.3 Vegetação urbana e sua importância

As paisagens do planeta, com exceção dos grandes desertos e massas

d’água, primavam pela exuberância do verde da vegetação de todos os tipos.

Hoje se dividem os tipos de paisagens em naturais e em construídas/modificadas.

Existe a vegetação das matas, campos, cerrados e todos os tipos de formações, e

entre outros, existem o agroecossistema e a vegetação urbana7 que caracterizam

a interferência antrópica no ambiente.

A vegetação urbana, conforme Landgraf et al. (2004), é de grande

importância na melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos, e teve um

peculiar desenvolvimento na metade do Século XIX, na Europa, quando, no

7O que torna uma vegetação urbana é ela estar inserida em recintos urbanos. Quase sempre é uma vegetação

construída, e às vezes não: note-se, como exemplo, a mata ciliar do Rio dos Sinos dentro do campus daUNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), São Leopoldo, RS – como visto in loco – é natural,tem cheiro e frescor de mato nativo, mas por estar em área urbana pode-se afirmar que é um recorte de mataurbana.

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contexto da Revolução Industrial, o pensamento positivista valorizou-a nos

logradouros públicos em função de melhorias na qualidade do ar e

embelezamento da urbe, tendência essa que o Século XX, com a expansão e o

adensamento urbano desenfreados, desacelerou. Santos (2004) acrescenta outro

motivo para a diminuição do valor à vegetação: “a substituição dos conceitos de

cidades-jardins pelos conceitos arquitetônicos modernos de origens norte-

americanas que valorizavam a praticidade, a objetividade e o aproveitamento de

toda a área disponível para construções”, o que, pode-se afirmar, ainda hoje é

evidente na construção de aeroportos e shoppings, por exemplo, pois, o que mais

justificaria as frentes desses aglomerados serem vazios tão desprovidos de verde,

tão escaldantes e impróprios para estacionar veículos.

A vegetação urbana quase sempre é uma vegetação carente de cuidados e

atenção porque se encontra num meio extremamente agressivo e poluído, na

maior parte dos casos, e ainda é um elemento de quem se espera ajuda para

reduzir os tais impactos pelos quais ela própria é atingida. Segundo Corson

(1993) o mesmo ozônio que nas altas camadas da atmosfera age como filtro para

os raios ultravioleta (UV) do sol, no nível do solo é um destruidor capaz de

esfarelar a borracha de pneus e, pior, afetar raízes, tronco e folhas das árvores.

Por outro, Odum (1980), expõe que interferências na regularidade das entradas

de energia num sistema ocasionam mudanças no desenvolvimento da

diversidade local, causando sua degradação. O que dizer quando um sistema é

totalmente alterado de forma a mudar completamente os subsídios de energia?

Ora, as cidades são assim: necessitando urgentemente da vegetação, como

estão, são impróprias para ela.

Gomes (1998), ao justificar o Plano Para Arborização das Vias Públicas de

Porto Alegre, escreve: “A arborização urbana é essencial para dar as melhores

condições de vida à população. É ela que faz a melhor integração na cidade das

realizações humanas (edificações) com o meio ambiente (...)”. Milano (1995)

afirma que a vegetação através das suas funções ecológicas, econômicas e

sociais pode desempenhar importante papel na melhoria de vida das populações

e, Johnston (apud Milano, 1995) diz que “a capacidade única das árvores em

controlar muitos dos efeitos adversos do meio urbano, contribuindo para uma

significativa melhoria na qualidade de vida, determina a existência de uma

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crescente necessidade de áreas verdes urbanas a serem manejadas como um

recurso de múltiplo uso em prol da comunidade”.

Estudos do clima urbano de Natal-RN realizados por Araújo e outros (1999)

prestam conta de que os pontos favoráveis da cidade, em termos bioclimáticos,

são aqueles com vegetação abundante, sendo a área leste naquela cidade,

receptora de toda a ventilação oriunda do oceano, com a maior quantidade de

vegetação por habitante (em função do parque das Dunas), onde “as correntes de

ar, atravessando a área de vegetação, são amenizadas, um importante corredor

de ventos para a cidade”. Gomes (1998), por sua vez, conclui que a vegetação

deve ser “altamente considerada na ordem das prioridades por ocasião do

planejamento urbano” e aponta fatores que justificam a preocupação do poder

público com a vegetação urbana: fatores químicos, físicos e ecológicos,

paisagísticos e psicológicos. O texto de Mascaró e Mascaró (2002) dá uma visão

ainda mais explícita e vai mostrando uma série de significativos detalhes que

dificilmente são conscientemente percebidos pelo cidadão enquanto transita pelo

meio urbano, que sejam:

- “árvores plantadas isoladas tem potencial para amenizar o desconforto do

microclima urbano;

- as árvores de grande porte dominam o mais caótico cenário de uma rua,

criando uma paisagem coerente onde os edifícios fracassam;

- árvores dispostas muito próximas “como se fosse uma colunata”,

proporcionam aos usuários forte sentimento de proteção8 perante o trânsito de

veículos;

- agrupamentos arbóreos podem ter várias funções: barreiras ambientais,

definidores do espaço ou um acontecimento espacial;

- maciços heterogêneos podem provocar o efeito de barreiras de vento e

também permitir a passagem da brisa fresca no verão, junto com a necessária

sombra que o calor solicita;

- a diversidade de espécies de vegetais também proporciona diferentes

valores de transmitância luminosa e alguma variação de temperatura e umidade

relativa do ar;

8 O grifo é da autora deste trabalho.

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- alterações durante as estações do ano (cores) mudam física e

psicologicamente o espaço;

- maciços heterogêneos (diversos formatos de copas e alturas, isto é,

diferentes tipos de árvores) favorecem a diversidade, ajudando a manter a

avifauna local;

- maciços homogêneos (árvores de um tipo só) têm o efeito de barreira, isso

é, o vento não passa através do maciço, o sombreamento é uniforme (...) e a

temperatura e umidade relativa do ar são constantes sob ele;

- (...) a rua-corredor oferece uma atmosfera grata ao motorista enquanto

permite criar sendeiros para pedestres e ciclistas afastados do trânsito, formando

recintos urbanos que lembram um parque; amenizando os ruídos dos veículos e a

poluição ambiental;

- a vegetação minimiza a altura de edificações e ela organiza locais

aconchegantes nos grandes espaços”.

Entre os fatores assim apontados – sombreamento, modificação de

intensidade e direção de ventos, freqüência de chuvas, limpeza do ar, e a

filtragem de ruído, por exemplo – para cidades ainda caracterizadas pelo

escoamento de esgoto via fossas sépticas – e em Naviraí-MS, não é diferente –

Mascaró e Mascaró (2002) apresentam um motivo extra para a existência das

árvores: sua utilização em bacias de evapotranspiração (com o Chorão - Salix

babilônica - mencionado como uma espécie adequada para isso), quando a

árvore esgota aquele excesso de águas das fossas, lançando-o na atmosfera

através da transpiração das folhas. Isso também coopera na formação das

chuvas. O reflorestamento no urbano pode compensar um pouco as dificuldades

trazidas à natureza pelo desaparecimento das matas originais dali, já que os

vegetais, ao trazer águas subterrâneas à superfície, são responsáveis pela

formação de grande parte das chuvas locais.

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Figura 1: O uso de fossas sépticas é um sistema danoso para as águas do lençol freático.No entanto é solução para muitas cidades de Mato Grosso do Sul, onde osaneamento através das tubulações de esgoto ainda não é comum. Na imagem,localização de uma fossa e a tampa de concreto que a recobre.

Conti (1991) chama as árvores de “bombas d’água” dada sua capacidade

de extrair águas do subsolo e lançá-las à atmosfera via evapotranspiração. Por

sua vez, Ryszkowski (1980), baseado em pesquisas de Rauner (1972), concluiu

que um ecossistema de bosque intercepta mais energia e água do ambiente, mas

os utiliza menos economicamente que uma estepe ou um campo de cultivo:

intercepta 56% da radiação fotossinteticamente ativa, transpirando 67 % da

umidade precipitada sobre sua área, contra 44% e 25% da vegetação herbácea e

do campo cultivado, respectivamente. As pessoas dizem e a ciência comprova

que onde tem mato chove mais. De acordo com Fearnside (1997), na floresta

amazônica, há quatro evidências independentes que conduzem a essa

conclusão: a) balanços de água e de energia derivados de mapas de temperatura

e umidade média indicam que 56% das precipitações decorrem da

evapotranspiração, b) cálculos de fluxos de água precipitável e de vapor de água

numa seção transversal de Belém a Manaus indicam a contribuição de 48% via

floresta, c) razões entre isótopos de oxigênio em amostras no vapor d’água

indicam que até 50% é reciclado através da floresta e, por fim, d) que o próprio

Rio Amazonas evidencia, através de seu volume de água, que apenas uns 46%

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da água da bacia é drenada através de seu sistema, sendo que a parte restante é

devolvida à atmosfera pela biomassa verde da Amazônia.

As áreas urbanas podem formar aglomerados arbóreos. A vegetação

urbana também colabora no processo de evapotranspiração, dado que é

elemento arbóreo dotado de todas as características morfológicas e funcionais

que qualquer árvore de floresta. Diante disto, os meios urbanos devem ser

vegetados buscando-se um retorno ao equilíbrio perdido, considerando, também,

que, em se tratando de meio urbano especificamente, a presença de árvores

favorece a percolação, evitando o que Ab’Saber (1998) expõe como impacto

associado às águas: “Via de regra, quanto mais cresce o organismo urbano –

tamponando e hermetizando os solos outrora livres para a infiltração, mais rápido

se torna o escoamento superficial, maior o volume das águas nos rios e riachos e

mais catastróficas e imediatas as interferências das inundações sobre a

funcionalidade do mundo urbano”. A AGENDA 21, num único momento em que

contempla algo que remete à vegetação urbana, estabelece a adoção de medidas

de incentivo à redução da impermeabilização do solo das cidades que agrava os

efeitos das enchentes nas áreas urbanas por meio de medidas ou compensatórias

ou punitivas (redução ou aumento de IPTU em função da manutenção ou não de

áreas remanescentes permeáveis na edificação do imóvel).

2.4 Apontamentos e questionamentos filosóficos sobre a relação Homem-

Natureza, a percepção e a educação ambiental.

As considerações sobre a amplitude da ação antrópica sobre meio

ambiente não se limitam e nem mesmo iniciam com a questão ‘vegetação

urbana’. A problemática da relação homem-natureza tem origem no ato de

sobrevivência do homem com sacrifício da natureza. Por outro lado, há um

reconhecimento de que é necessário limitar o sacrifício sob pena de

autodestruição.

Para Foladori9 (2001) é através do trabalho que o homem modifica a

natureza numa relação dialética em que de um lado o homem modifica o meio e

9 No original: (...) por eso, al lado de formas de organización social y de técnicas que permitieronaumento de la productividad de trabajo social y en la utilización de un espacio físico cada vez más

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de outro precisa se adaptar a esse meio modificado: “por isso, ao lado de formas

de organização social e técnicas que permitiram aumento da produtividade do

trabalho social e da utilização de espaços cada vez mais amplos, foram criadas

formas de organização social e técnicas para conseguir que a natureza

modificada mantivesse o equilíbrio necessário para oferecer recursos

imprescindíveis à sobrevivência”. A História, o autor escreve, oferece muitos

exemplos de mitos e ritos para regulação da relação com a natureza. Na Índia,

mostra Leff (2001), não se cortam as árvores de Fícus religiosa nem se matam

cobras e nem se permite a pesca em tanques sagrados, por força de ritos e

instituições religiosas.

Ruatta10 (1996), por sua vez, concebe o afã pelo lucro como princípio de

toda a problemática exploratória do ambiente. Diz ele que o ‘lucrocentrismo’ é

intrinsecamente antiecológico e sua erradicação é complexa tanto do ponto tático-

estratégico como conceitual e filosófico. E ele acrescenta que “a centralização do

lucro nas atividades humanas é uma extensão do Eu e da Razão que assistem

principalmente o homem burguês moderno e que se expressam num discurso que

se autopromove como paradigma excludente da racionalidade e do

antropológico”. Isso, ele trata, é a “cosmovisão do homem ocidental”. Aí está o

que se poderá chamar de ‘inconsciência ecológica’. Não se trata de promover

destruição intencional, mas destruição-conseqüência. As pessoas não querem

realmente destruir, mas destroem fazendo o que fazem e vivendo como vivem:

não intencionam acabar com a arborização, mas o fazem por descuidar e agredir

através de seu estilo de urbanização, por exemplo. Os cidadãos empresários

desconhecem práticas de sustentabilidade economicamente viável para a

vegetação urbana; não existe, em seu imaginário, possibilidade de lucro final com

a aplicação de cuidados à vegetação. Seu ideal de marketing visual, por exemplo,

se imprime em fachadas abertas e não em fachadas protegidas pelas árvores, e

isso é cultural. Não ocorre prestar apoio e criar o simbólico da adoção de árvores

amplio, fueron creadas formas de organización social y técnicas para conseguir que la naturalezamodificada mantuviese el equilibrio necesario para ofrecer los recursos imprescindibles a la sobrevivencia (...). p. 110 No original: (...) El “lucrocentrismo”es intrínsecamente antiecológico y su erradicaciones hartocompleja, tanto desde lo táctico-estratégico como desde lo conceptual o filosófico. El lucro comocentro de la actividad humana es una extensión de ka centralidad del Yo y de la Razón queasisten principalmente al hombre burgués moderno y que se expresa en un discurso en el que seautopromueve como paradigma excluyente de la racionalidade y de lo antropológico. (...) p.64

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pela proteção ostensiva das árvores de rua, com uso de protetores, nome da

empresa na placa, e dispêndio financeiro com a criação de um programa de

‘empresa cidadã arborizadora’.

Se o Eu e a Razão são, em princípio, expressos em tais paradigmas, e se

se trata de uma cosmovisão, são estes os principais atores a se regenerarem na

busca do mundo equilibrado: fala-se, assim, do ser individual, o homem e seu

caráter e personalidade, cidadãos de todo tipo. Intrinsecamente singulares

(incluídos aí os portadores de poder público ou privado) são elementos forjados a

partir da percepção de mundo de cada um. A psicologia procura compreender e

explicar, e, a educação ambiental aplica-se a conceitos reformadores, porque se

fala em seres humanos aptos a experiências cognitivas e ao aprendizado. Ora, a

criação de formas para reestruturar as relações homem-natureza, quando de

natureza social ou econômica, infere o reconhecimento de erros e

permissividades. E isso, supõe necessidade de mudanças de comportamento. Se

isso é possível em nível de produção econômica, também deve ser em nível de

criação e construção de espaços; portanto, pode-se alterar a relação cidadão-

vegetação urbana. O que se busca é a transição da inconsciência para a

consciência ecológica: “resultado de esforços combinados, desde os efetuados

por lideranças científicas nos diversos campos da investigação até aos setores

técnicos de aplicação de conhecimentos, aos quadros de decisão política e ao

contexto social, indiscriminadamente” (Lago, 1996). Isso inclui, inclusive, o

operário morador do Jardim Paraíso em Naviraí-MS e os seus filhos.

Foladori11 (2001) diz que “existe uma correspondência entre o nível de

diferenciação interna da sociedade humana, e o comportamento em relação à

natureza. Está claro que, uma vez formada uma determinada ideologia sobre a

natureza, ela se reproduz, ultrapassando as restrições históricas da sociedade

que lhe deram fundamento. As religiões orientais são um exemplo dessa

harmonia e equilíbrio da sociedade em relação à natureza”. O que se precisa é a

11 e (...) existe una correspondencia entre el nivel de diferenciación interna de la sociedad humanay el comportamiento en relación con la naturaleza. Esta claro que, una vez formada unadeterminada ideología sobre la naturaleza, ella se reproduce, ultrapasando las restriccioneshistóricas de la sociedad que le dieron fundamento. Las religiones orientales son un ejemplo deesa armonía y equilibrio de la sociedad en relación a la naturaleza(...).

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inicialização da formação de uma ideologia sobre a natureza. É a quebra de

culturas anteriores e a reconstrução da relação com o meio.

Segundo Lefebvre (apud Macedo, 2002) “a cidade é a projeção da

sociedade sobre um local”. Isso significa que as diferenças entre os locais ficam

por conta das diferenças entre os grupos. Se existem essas diferenças no que se

refere às relações com o meio, com a arborização também deve haver. Para

Mascaró (2002), Porto Alegre-RS, cidade já tida como a mais arborizada no

Brasil, viu-se ameaçada por perda progressiva da cobertura vegetal em função da

construção, fato que, segundo a autora, não é um problema local, mas mundial.

Certamente essas alterações nascem em mudanças na cultura do povo, a qual

vai modificando na medida em que as gerações se sucedem e certas coisas são

deixadas de lado.

Cultura, para Macedo (2002), “consiste num conjunto global de modos de

fazer, ser, interagir, e representar que, produzidos socialmente, envolvem

simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo qual a vida social se

desenvolve”. A cultura soma as individualidades fabricadas em seu seio. E, se

não houver interferências, se reproduz indefinidamente em novos indivíduos. Mas

as interferências acontecem, sendo produzidas pelos próprios indivíduos em seu

ir-e-vir no contexto social; e é por isso que se pode pensar em alterações culturais

no que diz respeito à forma de perceber a arborização e de lidar com a vegetação

na cidade. Um novo pensar, um novo agir.

Retomando Foladori (2001) e a dicotomia “exploração” e “preservação”

pode-se estabelecer uma ligação com Leff (2001) quando este distingue que “para

a economia, a natureza e a vida humana são apenas fatores de produção, objetos

e força de trabalho” (exploração) e que “a ética ambiental reivindica os valores do

humanismo – a integridade humana, o sentido da vida, a solidariedade social, o

reencantamento da vida a e erotização do mundo” (preservação). Leff (ibid.)

também diz que, “dada a racionalização dos sentidos da existência com o cálculo

econômico se reconhece hoje a necessidade de propor uma economia mais

nobre, que não tenha medo de discutir o espírito e a consciência, o propósito

moral e o significado da vida”. Outra vez a proposta é a mudança de

comportamento, e essa, entende-se, existe a partir da reconstrução do

pensamento. Se exploração, preservação e novas propostas estão inseridas num

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mesmo contexto, a questão não será a inserção de novas verdades, mas o

aproveitamento, o reconhecimento e o equacionamento de verdades latentes, que

estão dentro da sociedade. Subjugadas, talvez, mas estão aí. Para Leff (ibid.) “as

construções teóricas do saber ambiental não se contrastam, confirmam ou

refutam com a realidade existente e na objetividade do real, mas na

potencialidade12 de suas produções históricas sustentadas em processos

materiais e no sentido das ações sociais que mobilizam a construção de uma

nova racionalidade”.

A questão é reformular a realidade. Isso implica em escolhas e, dado o viés

capitalista da sociedade, implica também no choque entre concepções e

ideologias pessoais e de exploração ego-lucrativa, não significando, entretanto, o

retorno a conceitos caducos que já provaram que, em si mesmos, não são

soluções, quando o mundo se dividia em alas entendidas como esquerda e direita

onde cada uma se expressava através de linhas ideológicas contrastantes.

Ecologicamente supõe-se que, enquanto o capitalismo erguia a bandeira da

produção e da manutenção da humanidade (realidade nua e crua da

sobrevivência e o sacrifício da natureza em função do homem), o marxismo

acenava com o romantismo da manutenção e intocabilidade da natureza (o

sonho, a utopia e, o sacrifício do homem em função da natureza) enquanto

combatia o capital em defesa da terra e do trabalho, da justiça e igualdade

sociais. O que se precisa é estabelecer o ‘ecótono filosófico’ entre tais extremos,

uma zona de bom-senso, ou de senso comum, onde se harmonizam as

diferenças em nome da longevidade da sobrevivência da humanidade, o que

significa manter as condições da natureza já que é dela que ele vive. É o que o

desenvolvimento sustentável propõe.

O saber ambiental sintetiza uma ética ambiental que subleva as

tendências pessoais e singulares, estabelecendo o pensamento comum quando

cada ser humano detém poder e direito ao usufruto do patrimônio ecológico

natural tido como bem da humanidade (o que, em si, hoje, ainda é utópico).

12 O grifo é nosso.

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2.5 Educação e consciência ecológica

Munford (apud Farah, 2001) classificou as cidades em eópoles, metrópoles,

megalópoles, tiranópoles e necrópoles, sendo a eópoles a cidade ideal pela

harmonia e humanidade. E, segundo Farah (2001) para buscar essa cidade ideal

e restabelecer aquele direito natural e inalienável do homem, o Poder Público –

que aqui se entenderá como ‘sociedade’13 – deve investir na formação da

consciência popular e na prevenção através da educação. Para essa hoje se

concebe educação ‘ambiental’ socializadora do saber ambiental, e, este, por sua

vez, o totalizador dos conhecimentos científicos, éticos, tecnológicos e culturais

da natureza e do homem em suas inter-relações, e não aquele conhecer

conservacionista e cartesiano.

Para Cruz (apud Vela e Amaral, 2002) a “educação ambiental é o único

caminho capaz de desenvolver no ser humano a importância e o valor da

preservação ambiental” e segundo Lindner (apud Vela e Amaral, 2002) ela é “uma

visão holística, com característica multidimensional, que inclui a intuição, os

sentimentos e as emoções relacionados com experiências e vivências das

pessoas. Destacam-se nessa concepção, os aspectos subjetivos e que sugerem

mudanças e transformações importantes para o momento atual”. E, dentre o que

Vela e Amaral (ibid.) trazem em sua obra, talvez o mais marcante é o que diz Lob,

ao falar dobre a educação ambiental na República Federal Alemã: “É uma lição de

sobrevivência em face da crise da nossa sociedade industrial. A sua meta é a

cultura e a radical mudança nas atitudes populares em relação à proteção do

meio ambiente. Trabalha através da educação pré-escolar, escolar, educação de

adultos; criação e formação da opinião pública, relação com a mídia”. Essa fala é

muito importante quando o que se quer é pensar em educação ambiental para a

formação de uma consciência ecológica, pois se pensa desde a criança até o

adulto, transpondo-se os portões da escola para o mundo da mídia que cerca o

social e o doméstico, enfim, o todo da vida do cidadão e extrapola para o que

Augé (1999) chama de “não-lugar”, sejam, os espaços de todos.

13 Aparte da autora.

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O Final Report International Working Meeting and Environmental

Education in The School Curriculum – Carson City, Nevada-EUA (1970), conforme

Schmieder (UNESCO. 1977)14 dá como certo que “a educação relativa à ambiente

é um processo que consiste em admitir certos valores e clarificar certos conceitos

a fim de suscitar as aptidões e as atitudes indispensáveis a uma compreensão e

uma apreciação das relações recíprocas que podem existir entre o homem, sua

cultura e seu meio biofísico”. E, mais, ao reportar-se à Carta de Belgrado,

relacionando os objetivos15 da educação ambiental como a discute, dá a tomada

de consciência16, como ‘número um’ do processo, ou seja, o objetivo primeiro da

educação seria ‘levar os indivíduos e os grupos constituídos a tomar consciência

do ambiente global e seus problemas e a se manter sensíveis’. Educar

ambientalmente significa socializar o saber ambiental.

Para Souza (2000) o saber ambiental extrapola as ciências ambientais,

desconhecendo a fragmentação do conhecimento – as ‘especializações’, que,

para Ruatta17 (1996), são manifestação da progressiva ‘desrealização em que as

ciências vêm caindo’ (antropologia ecológica; ecologia urbana; saúde, psicologia,

economia e engenharia ambientais, e.g.); coisa que Reigota (1999) expõe quando

diz que “à ecologia chegaram adeptos famosos nas suas áreas, porém sem

conhecer e desconsiderando os avanços específicos conquistados pela práxis

ecologista, causando uma superposição de novidades, originando grupos muito

diversos entre si” – antes, o saber ambiental transcende para além do campo de

articulação das ciências, envolvendo-as, e à ética, aos conhecimentos práticos e

aos saberes tradicionais, o que, pode-se dizer, abre espaço para a filosofia, para

o empirismo cotidiano e para a cultura popular, também. O saber ambiental, para

Leff (2001) “se constitui através de processos políticos, culturais e sociais, que

obstaculizam ou promovem18 a realização de suas potencialidades para

transformar as relações sociedade-natureza”. Pode-se falar concretamente em

14 No original: (..) L’éducation relative à l’environnement est le processus qui consiste à admettrecertaines valeurs et à clarifier certains concepts aux fins de susciter des aptitudes et des attitudesindispensables à une compréhension et à une appréciation des relations réciproques qui peuventexister entre l’homme, sa culture et son milieu biophysique.(..) p.2815 No original: (...)1. La prise de conscience. Amener les individus et les groupes constitués àprendre conscience de l’enrinonement global et des problémes connexes et à s’y montrersensibles. (...) p. 3116 O grifo é nosso.17 No original: (...) dijimos que la creciente abstracción y especialización de las ciencias constituíanmanifestaciones de la progresiva desrealización en que las ciencias han ido cayendo(...) p. 6918 O grifo é nosso.

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educação ambiental tanto como um processo constituidor de saber (enquanto

parte da cultura de um povo), como o meio, a ferramenta, que sociabiliza o saber

ambiental.

Macedo (2002) coloca que é importante compreender como o Estado se

propõe a conduzir o processo educativo, utilizando-o como mecanismo de

veiculação de formas culturais a serviço das classes dominantes (é como ele

obstaculiza as transformações) e ao mesmo tempo cumpre localizar as brechas

que o processo educacional pode apresentar como veículo de formação de uma

consciência crítica do mundo e de ação visando a transformação social (é onde

pode ocorrer a promoção de novas relações com a natureza). Essa dualidade

precisa dar espaço à unidade que se centrará na utilização da educação

ambiental como meio de “subverter o logocentrismo, a desconstrução do círculo

fechado das ciências e da racionalidade homogeinezante e unidimensional da

modernidade” (Leff, 2001).

Quando se fala em educação, primeiramente se pensa em ‘escola’, em

ensino formal, escolaridade. Talvez porque é na escola que a informação e o

saber se materializam de forma sistemática. E assim de fato é. Se educação está

relacionada à escolaridade pura e simples, já por aí se pode de novo afirmar que

educação é fator chave de formação da consciência ecológica. Rapoport (1990)

num estudo sobre a influência da interação ambiente e homem, relacionando

percepção, interpretação e ambiente na construção de verdades pessoais que

transcendem para a construção (são impregnadas ao meio), explica que o meio é

indicador das condições sociais e econômicas da população da área. Também

mostra as evidentes diferenças entre uma “rua de maravilhosas casas centenárias

sombreadas pelo verde das árvores” e uma área classificada como de periférica,

de passagem, e evidencia, nessa última, a não existência de árvores em primeiro

plano (entre outras diferenças), o que leva a pensar que (1) as condições sócio-

econômicas transcendem para o ambiente; (2) essas condições ditam a forma de

perceber e viver o mundo, (3) essa, por sua vez, se estabelece através de

elementos internos e externos e, (4) a educação, fator externo ao homem,

contribui para a forma de perceber o ambiente e o impacta, e às condições sócio-

econômicas, transmutando-as.

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Uma pesquisa19 realizada em 1996 por Echegaray, Krischke e Toso, de

acordo com Krischke (2000) prova que o grau de escolaridade interfere nos

valores das pessoas: aqueles com alto grau de escolaridade revelaram-se mais

pós-materialistas do que os de menor escolaridade (e como pós-materialistas se

entendeu os cidadãos que valorizaram “aumentar a participação da população

nas decisões” e “liberdade de expressão” em detrimento de “manter a ordem” e

“combater a inflação”, valores considerados materialistas). Ora, o que se teve na

pesquisa em questão, foi a visualização de valores superiores (e os ecológicos o

são) contrapostos a valores básicos (de segurança e sobrevivência). Se os

pesquisados com menor grau de escolaridade, também em Curitiba, se mostram

menos propensos a valores superiores, a educação e nem tanto o contexto

urbano (a cidade de Curitiba) é o vetor de diferenciação. O homem tem

ascendência sobre o ambiente antes que o contrário, e se assim não fosse,

Goubert (2001) não poderia falar em uma “Paris desperta – saneada, limpa,

embelezada” depois de Lévy (1869 apud Goubert ibid.) retratar nela uma cidade

“estagnada, cheia de vapores mefíticos e nauseabundos, legado envenenado de

antepassados ditos descuidados”. É pela educação que se pode soerguer uma

consciência ecológica capaz (também em Naviraí-MS) de promover mudanças

comportamentais que signifiquem uma nova relação cidadão-vegetação urbana.

2.6 Percepção ambiental, educação e Psicologia

Segundo Lindner (apud Vela e Amaral, 2002) a educação ambiental é “uma

visão holística, com característica multidimensional, que inclui a intuição, os

sentimentos e as emoções relacionados com experiências e vivências das

pessoas. Destacam-se nessa concepção os aspectos subjetivos e que sugerem

mudanças e transformações importantes para o momento atual”. Considerar

intuição, sentimentos, emoções e subjetividade humanas, e considerar a

necessidade de coesão transdiciplinar da educação ambiental, justifica estender

esse estudo ao campo da Psicologia. E, ainda, considerando que esse estudo

19 Pesquisa sobre o Brasil, dentro da abordagem proposta por Inglehart, com São Paulo, Rio, BeloHorizonte e Salvador numa primeira amostra, representativas de Brasil, e Curitiba numa segunda,contrapondo os resultados para comparar uma cidade tida como um contexto de sociabilizaçãocom segurança econômico-material superior à média nacional (Curitiba) às outras pesquisadas.

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envolve os seres humanos em suas relações com o seu meio, e que se pretendeu

explorar a percepção das pessoas com relação a um certo elemento ambiental, se

faz necessário estabelecer caminhos de reflexão junto à ciência da Psicologia. E

porque a relação é homem e ambiente, isso reporta à Psicologia Ambiental, uma

linha que, de acordo com Pinheiro (2001) é área recente, e ainda não muito

definida no Brasil, não existindo ainda muitas realizações que a tornem um ramo

como os outros dentro da Psicologia.

Existe um fator que se conhece como Comunicação Não-Verbal, que está

ligado às variáveis espaciais presentes na interação das pessoas com seu

entorno sociofísico imediato, um dos temas da Psicologia Ambiental. Por tal,

acrescenta Pinheiro (2001), “ela se faz importante para os cursos de graduação

em Arquitetura e Urbanismo, arte que cuida dos homens e suas construções”. As

problemáticas humano-ambientais têm sido estudadas por outras áreas da

Psicologia, não sendo prerrogativa da Psicologia Ambiental ou Ecologia Social,

como também é conhecida. No entanto, esse tipo de trabalho poderá se

caracterizar como próprio da Psicologia Ambiental na medida em que possibilita

sedimentar as bases para o conhecimento através de congressos e trabalhos de

pesquisa (que sejam teses, dissertações e outros escritos) consolidando-se como

uma área de estudos com vida própria. A presença da Psicologia no campo

ambiental evidencia, com certeza, a interdisciplinaridade da ciência ambiental; e

vem ao encontro da necessidade de transformar em figura a interação humano-

ambiente sob o fundo da valorização da vida.

Estudar as relações homem-ambiente, bem expõe Wiesenfeld (2001),

implica em coerência com a diversidade temática que se evidencia nas

investigações que se fazem, as quais, segundo a autora, contemplam:

a) Contextos: de educação, de trabalho, de ambiente urbano, de

residência/arte de morar (ambiente doméstico), e de saúde;

b) Atores: crianças, idosos, adultos, homens, mulheres; e pacientes; e

empregados; e moradores (condições ligadas ao contexto);

c) Problemas ambientais: aglomeração humana e seus implicantes;

estresse, deterioração ambiental, poluição, sub-moradia, doenças e danos à

saúde, marginalidade e segregação social;

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d) Processos psicológicos: percepção ambiental, cognição, avaliação

ambiental, representações do entorno, expressão da poética humana;

e) Tipos de intervenção ambiental: campanhas de educação ambiental,

promoção de atitudes pró-ambientais, programas de educação continuada,

inserção do viés ambiental em cursos de graduação diretamente ligados às

atividade impactantes (agrárias, de produção, de extração, de construção civil, de

saúde, entre outros).

A autora indica um entrelaçamento entre tais elementos, sinalizando a

interdependência que há entre eles. E propõe como ‘intervenção ambiental’ toda

uma série de fatores que seriam a força motriz de mudanças na inter-relação

entre eles, quais sejam, tantos quantos se expressem como o que para essa

pesquisa se entende por ‘educação ambiental’. Considerações ambientais para o

ecossistema urbano não se referem apenas à vegetação, mas a todos os

elementos que se encontram nesse meio. Suas águas, o ar, os ventos, seus tipos

arquitetônicos com todas as suas implicações, os espaços abertos, as

rugosidades que existem, e principalmente fragilidades ambientais que todos os

elementos apresentam. Todo ecossistema urbano tem suas fragilidades. As

considerações dessa pesquisa prendem-se ao elemento vegetal do urbano; a

percepção das pessoas sobre a vegetação foi o interesse para a construção das

propostas finais desse trabalho.

Importa refletir sobre a explanação de Abbagnano (1999) em seu Dicionário

de Filosofia sobre “percepção”. Escreve ele que podemos distinguir três

significados: 1) um significado generalíssimo, segundo o qual esse termo designa

qualquer atividade cognoscitiva em geral; 2) um significado mais restrito segundo

o qual designa o ato ou a função cognoscitiva à qual se apresenta um objeto real,

e 3) um significado específico ou técnico segundo o qual esse termo designa uma

operação determinada do homem em suas relações com o ambiente. No primeiro

significado, percepção não se distingue de pensamento. No segundo, é o

conhecimento empírico, imediato, certo e exaustivo do objeto real. No terceiro

significado é a interpretação dos estímulos. Só no âmbito desse último significado

podemos entender o que a Psicologia hoje discute como “problema da

percepção”. Essas características podem ser recapituladas da seguinte maneira:

(1º) “a percepção não é o conhecimento exaustivo e total do objeto, e sim uma

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interpretação provisória e incompleta, fundamentada em indícios ou sinalizações”;

(2º) “a percepção não implica nenhuma garantia de validade, nenhuma certeza;

mantém-se na esfera do provável”; (3º) “como qualquer conhecimento provável,

para ser validada, a percepção precisa ser submetida à prova, sendo confirmada

ou rejeitada”, e, (4º) “a percepção não é um conhecimento perfeito e imutável,

mas possui a característica da corrigibilidade.”

Entre outras correntes, a Psicologia da Gestalt faz-se importante quando o

assunto é percepção ambiental, e essa inclui a percepção ambiental no sentido de

ambiente ecológico, pois esse é o grande meio onde se inserem os ambientes

pessoais. A palavra Gestalt pode “referir-se tanto a objetos como às formas

características dos objetos. Ex.: um triângulo e sua triangularidade” (Schultz e

Schultz, 2000). É dizer o objeto como ele é e dizer o que sua forma transmite. O

que é um triângulo? E o que é sua triangularidade? A percepção “não pode ser

explicada simplesmente como uma reunião de elementos sensoriais nem como a

mera soma das partes” (Idem, ibid.). A percepção é uma totalidade, uma Gestalt,

e toda tentativa de analisa-la ou de reduzi-la a elementos provoca a sua

destruição. “Começar com elementos é começar pelo lado errado; porque os

elementos são produtos da reflexão e da abstração remotamente derivados da

experiência imediata que são chamados a explicar. A psicologia da Gestalt tenta

voltar à percepção ingênua, à experiência imediata e insiste que não encontra aí a

montagem de elementos, mas todos unificados; não massas de sensações, mas

árvores, nuvens e o céu. E ela convida a todos a verificar essa asserção com o

simples ato de abrir os olhos e olhar para o mundo ao redor em seu modo

cotidiano comum”. (Heidbreder, 1993).

As árvores da cidade dificilmente passam do segundo andar dos edifícios.

Em função disso as construções, aparentemente, dominam. Isso porque o

cidadão aprendeu que cidades são uma composição de edifícios e pouco tem a

ver com árvores. Arranha-céus são as figuras e o verde é pano de fundo nem

sempre percebido. Essa sensação também é tanto mais forte quanto menos um

cidadão transita a pé. O transeunte cotidiano, no entanto, ainda que não

conscientemente, quando faz das avenidas e ruas extensão de seu pátio ou de

seu hall, sente na vegetação uma aliada de seu conforto uma vez que transita sob

copas capazes de atenuar o impacto do sol e do calor. Por outro lado, conforme

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Mascaró (2002) as árvores “dão caráter aos diferentes recintos urbanos pelo seu

porte, forma de agrupamento, flores e perfumes assim como pela relação que têm

com a massa edificada, convertendo as calçadas e os jardins em teatro de

relações sociais inéditas: aleatórias, anônimas, cosmopolitas, e, o que é mais

importante, definem a ambiência urbana, fornecendo a sombra imprescindível

para sua habitabilidade no verão”.

2.7 A cidade de Naviraí-MS

Observando a fotografia aérea de Naviraí-MS percebe-se que a cidade

toma a forma de um enorme asterisco desenhado no meio da pastagem que a

cerca. Partindo de uma praça circular, as avenidas irradiam-se como sinal de

adição riscado sobre o de multiplicação. Talvez também se possa, observando o

todo da formação de ruas interavenidas, pensar numa gigantesca teia de aranha.

Figura 2: Naviraí-MS (2003). Foto painel que mostra a confluência da Praça Pref.Euclides Antonio Fabris com as grandes avenidas: Weimar Gonçalves Torres,Dourados, Campo Grande, Caarapó, Amambai, Ponta Porã, Iguatemi, AméliaFukuda. A praça é um marco na cidade.

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A cidade foi projetada e está ainda incompleta com sua forma peculiar

porque não cresceu de maneira uniforme, havendo falhas em alguns pontos onde

uma avenida não se completou e ruas ainda não foram abertas e organizadas. No

entanto, observando o crescimento do meio urbano nos últimos sete anos (de

1997 até os dias atuais, em 2005), percebe-se o cuidado em seguir o desenho

original.

A cidade possui apenas dois prédios altos, o maior com 12 andares,

prevalecendo, portanto, a expansão física horizontal. Nos últimos meses (anos

2003 e 2004) houve tendência para a construção de prédios comerciais de dois a

três pisos. Por outro lado, vem havendo uma gradativa e constante substituição

de prédios antigos por novos, na região central da cidade, modificando-lhe

completamente o visual com o uso de vitrinas e fachadas modernas e coloridas

em substituição às paredes retas e portas metálicas de baixar que caracterizaram

as casas comerciais da cidade até meados da década de 90. Naviraí-MS

apresenta expansão e aquecimento da construção civil. Este último qüinqüênio

também foi marcado pelo surgimento de quatro grandes assentamentos

populares: quatro de iniciativa privada (Jardim Oásis, Residencial Sol Nascente,

Residencial Jardim Ipê, Jardim Beija-Blor) e outro, o Jardim Paraíso, de iniciativa

da administração municipal pela doação condicional de lotes. Índices da Caixa

Econômica Federal indicam que a cidade apresenta um dos maiores patamares

de financiamento habitacional via sistema bancário no estado de Mato Grosso do

Sul nos últimos quatro anos (informação cedida pela Agência Naviraí-MS).

O início da cidade não se deu na praça central – a rua da qual os

moradores mais falam é a rua Alagoas que foi, antigamente, o marco da cidade,

no auge da atividade das serrarias – mas é a praça o ponto referencial da cidade.

Até setembro de 2004 chamava-se Praça Senador Felinto Muller; hoje, no

entanto, leva o nome do Prefeito Euclides Antonio Fabris, falecido no final de seu

mandato (2000-2004).

A cidade de Navirai-MS prima pelos grandes espaços. As propriedades

urbanas (lotes20) são grandes se comparadas à maioria das cidades brasileiras: a

20 Quem chega em Naviraí-MS descobre um vocábulo peculiar: as pessoas costumam chamar olote, ou o terreno, de “data”.

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medida padrão de lotes nas áreas tidas como nobres é de 15m x 45m ou 15m x

30m, e nos bairros populares varia para 12m x 20m. As ruas, conforme

informação obtida junto à secretaria municipal de obras, têm como padrão uma

largura de cinco metros e todos os passeios/calçadas precisam ter três metros de

largura. Também as casas precisam ser construídas num recuo de quatro metros

da calçada. Ora, isso dá um vão de quatorze metros entre a fachada das casas.

E, ainda que isso promova a boa circulação do ar, também aumenta a área

exposta ao sol quente da região e, conseqüentemente, indica necessidade de

vegetação boa de sombra. Esse espaçamento, certamente, também permite um

bom planejamento para o plantio da vegetação. Gomes (1998), nas Normas para

Arborização Pública de Porto Alegre, recomenda canteiros de 1,20m x 2,50m,

com a árvore a 0,70m do meio fio.

Figura 3 - Visão dos prédios à av. Dourados, em julho de 1999. Vê-se a praça e adescontinuidade da Av. Caarapó na qual se observa a mancha verde onde, nadécada de 80, abriu-se o famoso "buracão", resultado da erosão causada pelaságuas pluviais e águas dos córregos e nascentes que existem no local.Posteriormente recuperada essa área continua assim até os dias atuais, ainda quehaja intenção de dar continuidade à avenida, quando na verdade se poderiatransformar o lugar em um parque urbano.

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Para Navirai-MS, essa proposta é bastante adequada, já que as calçadas

têm três metros de largura entre testada de lote e meio-fio Essa medida

estabelecida em lei orgânica do município, acarreta possibilidade de multa para o

cidadão que a desrespeita. Dado que o sistema é radial, muitas das propriedades

nas avenidas apresentam-se em ângulo inclinado e as construções comerciais, e

as de moradia em geral também, são enviesadas, arquitetonicamente em forma

losangular, num estilo de construção onde o fundo do prédio sempre é mais

estreito que sua frente. O mapa (cedido por Top-Com Engenharia, de Naviraí-MS)

inserido no final do trabalho, nos anexos, dá idéia da totalidade da cidade e de

como são os quarteirões e lotes.

A cidade de Naviraí-MS (SEPLAN-MS, 1999) foi fundada em 1952, por

Ariosto Riva e outros companheiros, através da colonizadora Vera Cruz Mato

Grosso Ltda. Os primeiros colonos foram: Moryoshi Fukuda, Modesto Morel,

Antônio Augusto dos Santos e Antônio Torres. Denominou-se povoado Vera Cruz,

o qual era alcançado apenas por via fluvial, através do rio Amambai. Somente em

1955, o povoado passou a ser atingido por uma precária estrada que o ligava a

Dourados. Foi elevada a distrito pela Lei N.º 1.195, de 25 de dezembro de 1958 e

o município pela Lei N.º 1.944, de 11 de novembro 1963. Comemora-se no dia 11

de novembro sua emancipação política. A cidade dista 342 km da capital, Campo

Grande, tendo uma área total de 3.165,2 km2, representando 0,89% do Estado.

O município faz parte da Região da Grande Dourados e está na Micro-

Região Geográfica de Iguatemi. Sua sede está a uma altitude de 362 m acima do

nível do mar. Suas coordenadas geográficas: Latitude 23°04’00”, e Longitude

54°20’00”. Faz divisa ao Norte com a cidade de Jateí, a Leste com Iguatemi, a

Oeste com Juti e ao Sul com o Estado do Paraná. A economia baseia-se na

pecuária extensiva, na agroindústria (do boi, da mandioca e na sucroalcooleira)

abrindo hoje espaço maior para a agricultura.

O Censo de 2000 (IBGE, 2003) apontou uma população de 36.662

habitantes, sendo 18.351 homens e 18.311 mulheres, com cerca de 89% dos

cidadãos residentes na área urbana. Essa concentração na urbe se explica pelo

fato de que na zona rural predomina a pecuária, uma atividade que não concentra

um índice alto de mão-de-obra, tornando-a, portanto, menos habitada. Também

se sabe que 20% dos habitantes têm menos de10 anos, 21% tem até 19 anos,

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18% está entre 20 e 29 anos, 34% entre 40 e 59 anos, e apenas 7% de 60 anos

para cima. A taxa de alfabetização entre os cidadãos de 10 anos para cima está

em torno de 87%.

Com uma densidade demográfica de 11,58 hab/km2, Naviraí-MS apresenta

uma taxa de crescimento anual de 2,00. Nesse censo a cidade apresenta cerca

de 9.886 domicílios com 88% atendidos com água tratada pela SANESUL, 98%

em condições de esgotamento sanitário (a grande maioria através de fossas

sépticas, com apenas a parte central da cidade atendida pelo sistema de

tubulação para esgoto), e 86% estão atendidas pela coleta de lixo municipal.

Naviraí-MS conta com uma frota de veículos de 8.413 unidades

destacando-se 4.092 automóveis. A poluição causada por essa frota somada à

poluição sazonal produzida pela queima da cana-de-açúcar da usina local, mais

as queimas localizadas de lixo, promovidas pelos cidadãos (costume que

diminuiu, mas ainda se observa quase que diariamente. ao se andar pelo

ambiente urbano), e toda a emissão de gases promovida pelas atividades

domésticas e de produção, justificam um cuidado maior à vegetação urbana. Não

se dirá que Naviraí-MS é uma cidade poluída, ainda que apresente muitas

fragilidades urbanas, mas é possível que tal cuidado manterá sob equilíbrio o

impacto que o recinto urbano causa ao entorno, pelo menos o atmosférico

(melhoras no seqüestro de carbono e evapotranspiração) e o relativo às águas de

superfície.

2.7.1 Localização fitogeográfica da área de Naviraí-MS

O Bioma da Mata Atlântica é a morada natural de Navirai-MS já que a área

de Naviraí-MS está inserida na ecorregião conhecida como “Florestas do Interior

do Paraná/Paranaíba”, na linha limite à do Cerrado, e essa ecorregião, por sua

vez, é parte daquele bioma que, em sua concepção mais ampla e genérica,

constitui um dos mais importantes biomas ou conjunto de ecossistemas do Brasil

desempenhando um papel muito significativo no cenário conservacionista

nacional e internacional.

A ecorregião “Florestas do Interior do Paraná/Paranaíba” é abarcada pela

Floresta Estacional Semidecidual. Este tipo florestal caracteriza-se por

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comunidades onde 20 a 50 % dos indivíduos do estrato arbóreo superior perdem

as folhas na estação desfavorável, o que ocorre porque a sua área de ocorrência

é a de um clima de duas estações definidas, uma chuvosa e outra seca (nordeste,

centro-oeste e parte do sudeste), ou de acentuada variação térmica (sul). Isso faz

com que ocorra de maneira descontínua praticamente em todos os estados das

regiões nordeste, sudeste e sul do país, e em parte no centro-oeste, chegando até

a bacia do rio Uruguai, o Paraguai e a Argentina (VELOSO et al., 1991).

A Floresta Estacional Semidecidual (VELOSO et al., 1991) apresenta

quatro formações, estabelecidas a partir da relação entre latitude e altitude de sua

área de ocorrência (admitindo duas ou três combinações destes fatores para uma

mesma subformação), bem como sua ocorrência em planícies aluviais, (IBGE

1992). Dentre elas, a Floresta Estacional Semidecidual Submontana que ocorre

freqüentemente nas encostas interioranas das Serras da Mantiqueira e dos

Órgãos, nos planaltos centrais capeados pelos arenitos Botucatu, Bauru e Caiuá

dos períodos geológicos, Jurássico e Cretáceo. Distribui-se desde o Espírito

Santo e sul da Bahia até o Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e sudoeste do

Paraná, sendo a que abrange o sul do Mato Grosso do Sul, onde se encontra o

município de Naviraí-MS.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 OBJETO DE ESTUDO

O objeto central deste estudo é a percepção ambiental dos cidadãos sobre

a vegetação urbana, em Naviraí-MS, uma cidade localizada ao sul do estado de

Mato Grosso do Sul, na região da Grande Dourados. A arborização, as atitudes

das pessoas e a própria cidade serviram como elementos de apoio para a

construção dos resultados desse trabalho de pesquisa.

3.2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

O desenvolvimento da pesquisa se deu através de procedimentos de

levantamento de dados em campo, junto à população da cidade, e pela

observação in loco dos lugares e das árvores e através de fotografias.

3.2.1.Pesquisa de campo

3.2.1.1 Levantamento e registro fotográfico de imagens

Imagens de aerofotografia e fotografias comuns foram utilizadas, de mais

de uma época para observar a evolução da massa verde urbana em épocas

diferentes, tomada a praça central como um dos pontos principais, e bairros que

caracterizassem a problemática da ausência da vegetação e áreas bem

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arborizadas. Algumas fotografias foram cedidas por Heatclif Hoering, da Prefeitura

Municipal, e conselheiro fiscal da organização não-governamental Grupo de

Estudos para a Biodiversidade – GEBIO – de Naviraí-MS, e outras foram feitas

durante a pesquisa, nas datas de 30 de agosto de 2004, entre 11h00min e

13h50min, a uma temperatura de 29°C, aferida com termômetro comum, e em

janeiro de 2005, à temperatura de até 39°C. Também foram tiradas fotos

panorâmicas do alto do Prédio Ilha Grande, de 10 andares, abarcando

extremidades da cidade para ver a diferença bairros/centro e ruas/interiores de

quintais.

3.2.1.2 Entrevistas com os cidadãos

3.2.1.2.1 Amostra

No universo de uma população de aproximadamente 37.000 habitantes, os

entrevistados totalizaram 94 pessoas, de uma amostra de 110 que foram

solicitados a participar, entre jovens e adultos, considerando cidadãos

entrevistados na rua ou em casa. Destes 110 cidadãos convidados a participar da

pesquisa, 16 pessoas, ou 14,5%, declinaram do convite e não quiseram tomar

parte do trabalho. E a escolha por um número em torno de 100 pessoas se deu

por indicação do “Roteiro para a elaboração de uma pesquisa de opinião”

divulgado pela UFBA - Universidade Federal da Bahia - que considera o número

adequado para este tipo de pesquisa.

Os quadros de resultados apresentam quatro blocos de dados: foram

considerados 64 cidadãos da amostra piloto, 15 cidadãos de bairros de periferia e

15 cidadãos tidos como formadores de opinião, mais a somatória de todos que

totaliza as 94 pessoas que responderam à pesquisa.

Quanto à pesquisa estratificada, os dois grupos de 15 cidadãos, o que

distinguiu os dois tipos foi, primeiramente, o grau de escolaridade; esse diferencial

fez supor outras diferenças tais como conhecimentos específicos e atitudes para

com o ambiente.

3.2.1.2.2 Os estratos: perfis estabelecidos para a pesquisa

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As distinções entre perfis que se pretendeu, dadas algumas características,

são como aparecem nos quadros 1 e 2:

Quadro 1: Amostra para o teste piloto e estratégia

CARACTERÍSTICA A SERCONSIDERADA

ESTRATÉGIA

Amostra Piloto: população em geral.

Sem distinguir perfil: 70 cidadãosescolhidos de forma aleatória.Compuseram um grupo genérico servindode parâmetro inicial para testar aspossibilidades de entrevista. Tambémderam origem a um agrupamento deinformações gerais sobre o assuntopesquisado. O ponto físico escolhido foi ocomplexo do comércio da região centralda cidade..

Quadro 2: Amostra estratificada e estratégia

CARACTERÍSTICA A SERCONSIDERADA

ESTRATÉGIA

GRUPO 01

ESTRATO BAIRRO DE DESTINO.

Cidadãos residentes nos bairros declasse operária, onde vivemprincipalmente os trabalhadores daindústria em geral. Considera-seque essas pessoas tem baixaescolaridade, vivem de formasimples, sua capacidade deracionalizar é restrita já que seugrau de informação é pequeno edependente da televisão.

Optou-se pelos seguintes bairros:Harry Amorim Costa, Jardim Ipê,Jardim Paraíso, Sucupira e SolNascente, todos bairros periféricos.

Em geral as pessoas tendem a buscarcomo destino de moradia o bairro como qual se identificam. Sua identidadeestá ligada ao seu modo de ser;dentro dessas características geraisque aproximam ou afastam aspessoas, pode-se encontrar diferentespercepções relativamente àvegetação.

GRUPO 02

FORMADORES DE OPINIÃO

Promotoria e autoridadesEmpresariado. Profissionaisliberais.Professores. Representantesda mídia.

Esse estrato trouxe informações sobreas tendências das pessoas ligadas aopoder de decisão na cidade. Sãopessoas socialmente em evidência,tidas como cultas e, por conseguinte, devisão mais ampla, devendo estar entreos fomentadores da consciênciaecológica e do conhecimento,“disseminadores de informações”.

A estratificação pretendeu buscar informações que pudessem mostrar

como é a percepção dos cidadãos de diferentes graus de escolaridade, já que a

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consideração é a de que educação faz diferença e deverá ser o instrumento de

estabelecer consciência ecológica.

3.2.1.2.3 O questionário e os procedimentos para sua aplicação

O questionário foi composto por questões fechadas e questões abertas,

objetivando o maior número de informações a fim de se ter um horizonte o mais

amplo possível para trabalhar as conclusões.

Os entrevistados foram esclarecidos sobre a finalidade da entrevista e da

pesquisa, foram orientados a responder livremente, usando, inclusive, a resposta

“não sei”, ou deixando de responder o que não desejassem responder.

As entrevistas foram feitas da seguinte forma:

• As pessoas foram visitadas em suas residências, ou no local de trabalho,

sem aviso prévio, dando-se abertura para a recusa em participar e se entrevistou

transeuntes na rua. Para as visitas nos lares, teve-se atenção ao vestuário: a

opção foi jeans e tênis. Essa preocupação existiu em função da simplicidade das

pessoas, para não induzir à rejeição da nossa presença ou à prestação de

informações distorcidas.

• Fez-se um uma cópia do questionário e todos entrevistados foram

plotados num único espelho coletor, já organizado no formulário, o mesmo que

aparece na apresentação dos resultados e sua discussão. Essa estratégia

permitiu fazer o trabalho de uma vez só deixando transparente e ágil a fonte de

dados. Utilizou-se uma prancheta simples para apor o papel durante as

entrevistas e permitiu-se que as pessoas vissem como estavam sendo marcadas

as suas respostas.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e os olhos dos meus olhos se abriram”.(Cummings)

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos quemoram na caixa de brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões é preciso ter ascrianças por nossas mestras. (...) “A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as

coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras sãoengraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”. (Rubens Alves)

4.1 Os cidadãos e a vegetação: as perguntas e os resultados da pesquisa em

Naviraí-MS

A população de Naviraí-MS é em grande maioria migrada de outras partes

do país. Conforme depoimento da tabeliã do cartório de registros civis o primeiro

registro de nascimento data de outubro de 1957. Isso significa que dificilmente

haverá muitos cidadãos nativos com mais de 50 anos. Durante as entrevistas,

solicitou-se aos entrevistados que dissessem cidade e estado de origem: entre

todos, apenas 14% eram nativos. Isso significa que não se pode esperar uma

cultura local já que não houve tempo, ainda, para a formalização de uma: tem-se

uma comunidade heterogênea. No dia 02 de março de 2005, o último nascimento,

ou registro de nascimento em cartório teve o número 35.433.

Quadros, tabelas e figuras inseridos no texto trazem os resultados e

imagens. Algumas vezes a representação é quantitativa pura e simples. Noutras,

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é qualitativa, e nem sempre simples de analisar. As conclusões a que se chegou

para este trabalho partem também de notações pessoais, e, portanto, quando

qualitativas são questionáveis, abrindo-se espaço para que o leitor observe,

analise, e julgue por si mesmo os resultados, concordando, discordando,

construindo seu próprio parecer. Há nuances nesse tipo de pesquisa social que

se infere pela observação no momento dos trabalhos de coleta de dados e

informações. Portanto, algumas vezes foi importante que a interferência da

observação ressaltasse e por ela se construísse um parecer.

A transcrição das falas é quase literal, quando se tentou deixar registrado o

modo de falar das pessoas, peculiar à cidade, que mistura muitos jeitos

diferentes, dado que a população é vinda de muitas partes do Brasil. Os dados

foram apresentados por estrato: (1) os cidadãos dos bairros, notadamente

pessoas humildes, que moram em áreas periféricas, cujas residências, como se

vê nas fotos dos bairros (veja-se as figuras 39, 40, 41, 42, 46), são simples,

muitas vezes nem acabadas e (2) dos assim tidos como formadores de opinião.

Esses últimos normalmente são pessoas moradoras do centro da cidade ou de

bairros onde é visível um estilo de vida melhor. Esse grupo incluiu autoridades

civis e uma eclesiástica, professores, profissionais liberais, empresários e um

bancário em cargo de chefia. O contraste mais expressivo entre os dois grupos é

o grau de escolaridade e a vivência social. Por fim, no quadro também estão os

resultados da pesquisa piloto, cuja busca de indivíduos foi aleatória, mas se

concentrou no centro da cidade, principalmente entre as casas de comércio,

envolvendo comerciários e proprietários. De modo geral, esses são cidadãos

(principalmente os empregados) com ensino médio, já que, normalmente, ter esse

grau de escolaridade é pré-requisito para o ingresso nos empregos desse tipo, na

cidade. Por isso, talvez, os resultados desse grupo muitas vezes se parecem mais

com os do estrato “formadores de opinião” e menos com o dos cidadãos dos

bairros.

Por questões didáticas os percentuais sofreram arredondamento. O estrato

“cidadãos de bairros” foi referido como grupo 1 e o estrato “formadores de

opinião” como grupo 2, seguindo a ordem com que aparecem na tabela de dados.

Na medida em que as reflexões avançam, o texto foi entremeado com os quadros

e tabelas que trazem os dados a fim de que possam ser observados e analisados.

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47

Alguns aspectos são trazidos em forma de gráficos para melhor visualizar

diferenças ou semelhanças entre os eventos. Os locais mencionados no trabalho

podem ser visualizados no mapa da cidade que está no capítulo “Anexos”.

4.1.1 Percebendo e reconhecendo as árvores da cidade de Naviraí-MS

Através da tabela 1 se apresenta uma visão geral dos resultados

alcançados para as perguntas com que se buscou saber sobre o reconhecimento

e a percepção da existência das árvores, entre os cidadãos de Naviraí-MS.

Tabela 1: Reconhecimento de espécies e percepção da existência das árvores: entre oscidadãos entrevistados que têm árvores, quantos as conhecem e, enquantotranseuntes, quantos percebem as árvores pelas quais passam ao transitar nasruas da cidade de Naviraí-MS.

EVENTOS Cidadãosdos bairros

15

Formadores de

Opinião15

PESQUISA.PILOTO

64

TOTALGERAL

94

04 09 41 54Soube dize

26% 60% 64% 57%

09 02 09 20Não soubedizer

60% 13% 14% 21%

Quaisárvores hádentro de

seu quintal?

Não tem 02 04 14 20

13% 26% 21% 21%

01 07 30 38Soube dizer

6% 46% 46% 40%

06 04 14 24Não soubedizer

40% 2% 21% 25%

08 04 20 32

Quaisárvores há

em suafrente?21

Não tem

53% 26% 31% 34%

21 Frente: calçada, passeio à frente da casa.

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48

05 10 37 52Soubemencionar o

nome 33% 66% 57% 55%

07 04 18 29Não soubemencionar o

nome 46% 26% 28% 30%

03 01 09 13

Qual é a suaárvore

preferida?

SR

20% 6% 14% 14%

04 09 22 34Respondeu

26% 60% 34% 37%

11 06 42 59

Qual é a árvoreque você

percebe quemais existe nas

ruas dacidade?

Respondeu“Não sei o

nome.” 73% 40% 65% 62%

04 08 19 31Sim (acerto)

26% 53% 29% 32%

05 03 12 20Não (erro)

33% 20% 18% 21%

06 04 27 37

Há palmeiras napraça do centro?

Não sei

40% 26% 42% 39%

01 08 09 18Palmeiras(acerto) 6% 53% 14% 19%

02 00 12 14Outras(erro) 13% ZERO 18% 15%

09 07 43 59Não sei

60% 67% 62%

03 00 11 14

Qual é o tipode vegetaçãoque há na AvBataguassu e no final da Av.Dourados?

Não conhece aavenida 20% ZERO 17% 15%

06 08SIM

40% 53%

09 06

Ao andarpelas ruas,você reparanas árvores? NÃO

60% 40%

Nãoconstou.

04 04 19 27RespondeuCorreto

26% 26% 29% 28%

02 00 22 24Respondeuerrado

13% ZERO 34% 25%

09 11 23 33

Qual é a cordas flores das

árvores daPraça

EuclidesFabris e da Weimar?

Respondeu“Não lembro.”

60% 73% 35% 35%

01 05 08 14E que árvores

são essas?

RespondeuCorreto

6% 33% 12% 15%

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49

03 03 17 23Respondeuerrado

20% 20% 26% 24%

11 07 39 57Respondeu“Não sei”

73% 46% 60% 60%

(Tabela 1. Cont.)

Além de buscar saber se as pessoas sabem ou não nome de árvores um

dos intentos foi descobrir se lhes prestam atenção enquanto transitam pelo

urbano. Iniciando pelo que há de mais próximo às pessoas, ou seja, seu quintal e

a frente de sua casa, percebe-se que o reconhecimento de árvores, o saber dizer

um nome, é diametralmente oposto entre os grupos. De fato, os cidadãos dos

bairros são os que menos sabem. Durante as entrevistas, não foi raro perceber

que ficavam espantados com as perguntas sobre nomes de árvores e sobre sua

árvore preferida. Um cidadão disse: “Nunca parei para pensar que tem isso de

gostar de uma árvore”; por outro lado, observe-se a questão a respeito das

atitudes sobre o que sentem e fazem ao ver o corte de uma árvore, e se vê que

os cidadãos dos bairros são reativos em sua opção: na mesma medida em que

expressam sentimentos, eles o fazem através de vocábulos de ação (verbos):

Ameaço. Brigo. Quero saber porquê. Me ofendo. Denuncio. Diferentemente, o

grupo 2 expressou sentimentos apenas. A tabela 2 mostra as respostas.

Tabela 2- Sentimentos e atitudes expressos, diante da visão de uma árvore sendocortada, por munícipes de Navirai, Mato Grosso do Sul, 2004.

Quando vêcortarem umaárvore, o quevocê sente e qual a suareação?

Grupo 01Dá dó.

Ameaço.

Brigo.

Quero saber porquê.

Me ofendo.

Denuncio.

Desconforto.

Grupo 02Sensação de perda.

Dá pena.Denuncio.Desolação.

Dor no coração.

03 00Sem resposta

20% ZERO

Pesquisa Piloto

Não constou.

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50

Partindo para referências mais longe, para fora do bairro, as questões

voltaram-se para a vegetação da praça e de lugares comuns, do conhecimento da

maioria. Da mesma forma, não se pode afirmar que a população repara nas

árvores ao andar na rua, a não ser que há alguma singularidade nas mesmas

(estão florescendo, por exemplo, ou ocasionando estrago e sujeira). As palmeiras

da Avenida Bataguassu são melhor percebidas pelo grupo 2 pois aquela é a

avenida de acesso aos seus bairros (Jardim União, Nova Era, Centro) e as

pessoas do grupo 1 conhecem a área mas não costumam estar ali

freqüentemente. Da mesma maneira, metade do grupo 2 afirmou não conhecer os

bairros Jardim Paraíso e Jardim Ipê muito bem. Apesar de passar por suas

imediações ao viajar para fora da cidade (já que é por aquele acesso que mais se

sai da cidade) também estes cidadãos não tomaram a falta de vegetação como

de maior relevância para definir algo sobre estes bairros; falaram em falta de

asfalto e em poeira, da mesma forma que os próprios cidadãos dos bairros.

Supõe-se que se considera problema a ausência de asfalto, mas a ausência de

vegetação, não; ou a colocam em segundo plano. No entanto, os cidadãos que

levaram em consideração a ausência da vegetação, em sua fala deixaram

evidente que sabem que os problemas com os ventos e poeira podem ser

amenizados pelas árvores já que elas eliminam os descampados e arrefecem o

impacto do movimento do ar.

Ao reportar à pesquisa exploratória feita em junho de 2004, pessoas

trabalhadoras no comércio da Avenida Weimar Gonçalves Torres (a mais

importante da cidade) foram perguntadas sobre o nome popular das espécies que

há nos canteiros centrais dessa avenida, viu-se que a maioria não soube

responder; muitos, nem o nome da sua árvore preferida sabiam: “A árvore que eu

mais gosto é uma que tem as folhas meio brilhantes, mas eu não sei o nome!” – é

uma das respostas, para se ter uma noção de como as pessoas conseguiram se

expressar para responder. E essa pergunta, em termos gerais, como mostra a

figura 4, não teve grandes alterações, na plotagem geral, somatório das respostas

tanto da pesquisa piloto como dos estratos.

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51

Figura 4: Percentual de cidadãos de Naviraí, MS que souberam responder a pergunta“Qual é a árvore preferida” mencionando seu nome popular.

Parece que a diferença positiva da pesquisa em relação àquela pesquisa

exploratória de junho/2004 está num detalhe fortuito que mostra como,

possivelmente, algo faz com que a vegetação assome o imaginário e a percepção

do cidadão: parte das entrevistas (a pesquisa piloto) foi feita em outubro,

justamente na temporada de florescência do ipê. Entre os que souberam dizer o

nome de sua árvore preferida, 48% de 64 entrevistados, referiram o ipê. Pode-se

pensar que pela beleza da árvore florida ela se tornou figura contra fundo,

chamando a atenção e tomando espaço no consciente do transeunte. Talvez,

para sempre, essas pessoas vão mencionar o ipê como sua árvore preferida, a

partir do momento em que, perguntadas, ela assomou sua lembrança e passou a

ser um objeto concreto em suas mentes.

A figura 5 informa sobre o reconhecimento ou não de árvores de quintal e

de frente de casa:

Sabiam o nome55,3%

Desconheciam o nome30,9%

Sem Resposta13,8%

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52

Figura 5: Identificação das árvores das frentes e dos quintais por número de pessoas daamostra que soube referir os tipos de árvores que existem no entorno de sua casadizendo o nome popular das mesmas.

É notável que os quintais têm muitas árvores, e esse estado de coisas se

percebeu do alto do edifício Ilha Grande em agosto/2004 por ocasião das

tomadas fotográficas (por exemplo, a figura 7); e quase que a totalidade são

frutíferas. E, mais importante para essa pesquisa: o nome das árvores frutíferas,

até mesmo quando exóticas em geral as pessoas conhecem. Cerca de 40% não

sabe nome das árvores de frente (que não costumam ser frutíferas, sendo, pelo

contrário, como se observou in loco, as comuns em todas as ruas da cidade, tais

como sibipiruna e ipê). Somente 22% não sabem o nome das que há no quintal

de casa, e que, seguindo a tendência, muito provavelmente serão frutíferas. Ao

responder pelas árvores de seus quintais, foi possível fazer a contagem das

espécies, e, embora não fosse a intenção, e esse dado não consta em tabela, a

título de informação apresenta-se um gráfico (figura 6), com a quantidade total de

árvores contabilizadas e a sua distinção em frutíferas e ornamentais.

InexistemDesconhecemIdentificaram

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53

Figura 6 - Tipos relatados: frutíferas e ornamentais, tanto nas frentes como nos quintaisdas casas, em número de árvores mencionadas nominalmente pelosentrevistados.

Temos 94 residências consideradas na pesquisa (sempre apenas uma

pessoa em cada casa ou local foi considerada para a entrevista) e nos quintais de

54 delas estão 90% das árvores contabilizadas; e essas, raras exceções, são

frutíferas.

Na imagem da cidade (Figura 7), recorte de uma área como visto do alto do

edifício Ilha Grande, se vê contraste entre ruas e quintais. Ela mostra que há

calçadas expostas ao sol na medida em que as árvores não existem às frentes

das residências. E os interiores se apresentam arborizados na maioria delas.

Total contabilizado: 790

698

161264

Quintais Frentes0

100

200

300

400

500

600

700

800 GrupoFrutas

Ornamentais

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54

Figura 7 - (Agosto/2004) Quintais verdes e frentes vazias. Uma imagem comum nacidade de Naviraí-MS. As grandes avenidas são as de maior índice dearborização e, mesmo essas, têm pontos de corte (ausência da árvore).

No caso dos entrevistados, quando a frente não tinha árvores, perguntados

sobre o desaparecimento das árvores da calçada da frente de casa (ou do

estabelecimento), principalmente os que moram de aluguel afirmaram que já não

havia árvores ali ao tornarem-se seus moradores; aqueles que tiraram as árvores,

nos grupos pesquisados, apresentaram os seguintes motivos:

Tabela 3: Motivos que levam ao corte de árvores urbanas em Naviraí-MS

Local Motivo

Residências Sujeira de folhas, flores, frutos e sementes; quebra de calçadase muros; invasão (raízes) de tubulação de esgoto; proximidadeexagerada do telhado e paredes; entupimento de calhas.

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Casas de comércio;Empresas; clínica;Igrejas; pátio deprédios da prefeitura;hospital.

Atrapalhavam a leitura do letreiro e fachada da loja;“estragavam” o visual do prédio; destoavam da arquitetura;atrapalhava estacionamento de veículos; para troca de tipo deárvore.

Quando se trata de optar entre o corte de uma árvore ou sua preservação, a

figura 8 mostra as tendências:

Figura 8: As opções feitas pelos entrevistados entre cortar uma árvore ou consertar odano causado por ela, convivendo com o problema. O quadro apresenta o númerode respostas dadas em cada grupo, para cada alternativa sugerida pela pesquisae a incidência de respostas do tipo “Não sei”.

A idéia de cortar uma árvore parece que não incomoda o cidadão

naviraiense. Para os componentes do grupo dois (9 pessoas ou 60%) predomina

a idéia de consertar a calçada e conviver com o problema de raízes que as

danificam, mas cerca de 50% do total geral dos entrevistados (47 pessoas) foram

taxativos: cortar a árvore quando ela quebra a calçada. E se mais 10 pessoas não

souberam o que responder tem-se 39% ecologicamente corretos em sua

resposta: consertar o dano e conviver com o impasse. Pode-se, efetivamente,

encontrar exemplos de tentativas de preservação na cidade: pessoas que alinham

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e cortam as raízes expostas (coisa que, enfim, também não é adequada),

refazendo o cimento e dando, de alguma forma, uma solução para a manutenção

da árvore no local. Também se encontrou ocorrência de muros desviados,

adaptados à existência de uma árvore, tendo essa sido mantida. Entre os que

optaram pelo corte da árvore pelo menos 12 pessoas mencionaram que se

cortará a árvore danificadora e se plantará outra – uma tentativa de amenizar a

drasticidade do gesto; na verdade, estava em questão não um novo plantio, mas

a existência da árvore atual e, essa, para a maioria, deve ser sacrificada.

Chamaram a atenção duas respostas: 1) cortar “pela raiz” (radical e definitivo) e

2) cortar “pois destrói um bem da sociedade” (parece que a árvore não é).

Ao analisar as respostas dadas sobre responsabilidade com relação à

vegetação urbana, parece que, ainda que não disponham da vegetação para

cuida-la, há aqueles cidadãos que se sentem no direito de dispor dela decidindo

pelo seu abate/corte. Na pesquisa, entre os que optam por cortar, a maioria

observou-se que está entre os que alegam que a responsabilidade pela

vegetação é da prefeitura e “da população” (figura 9).

É quase consenso que a responsabilidade sobre o estado da vegetação é

social (sociedade, povo, população, ‘todos’). Mas percebe-se que, enquanto os

cidadãos disseram “sociedade, povo, população”, nem sempre se incluíam

pessoalmente aí. Destes, 58%, quando perguntados sobre “quem é a sociedade,

povo, população”, foram evasivos, concordando que são os “outros”, isto é, não

interiorizam o dever de cuidar da vegetação, ou não se consideram pessoalmente

responsáveis, o que se pode considerar uma problemática de cidadania. Nota-se

que compreendem que a população deve ter cuidados ambientais, mas não

tomam para si próprios essa responsabilidade, apropriando-se dela. O mesmo

ocorreu para os que responderam “de todos”.

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Figura 9 - A quem os cidadãos de Naviraí-MS atribuem a responsabilidade sobre avegetação urbana de sua cidade.

Somando o índice ‘de todos’ ao índice das pessoas que responderam ‘não

sei’, o número é preocupante: mostra que as árvores da cidade não são de

ninguém, como a maioria dos bens públicos, e por isso não há quem zele por elas

se o órgão municipal não o fizer. E 36,5% das pessoas pensam que a prefeitura é

que deve cuidar da arborização. Somente 17,5% das pessoas pensam que tem

responsabilidade de zelar pelas árvores da cidade.

4.1.2 A percepção do cidadão naviraiense sobre o valor da vegetação e seus

cuidados

Quando solicitadas a dar sua opinião sobre o valor das árvores, para quê

elas servem, as pessoas ficaram livres para responder sobre a serventia que

vêem na vegetação da cidade dando mais de uma resposta. Dessas, agrupe-se

‘sombra, alimento e oxigênio’ e têm-se 65% das respostas para esses itens (figura

10).

NOSSA/MINHA17,7%

PREFEITURA MUNICIPAL36,5%

DE TODOS9,4%

POVO/SOCIEDADE22,9%

NAO SEI11,5%

QUEM SE INTERESSAR2,1%

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Figura 10: O que dizem os cidadãos de Naviraí-MS sobre para quê serve (qual autilidade) a vegetação na cidade, justificando-se seu cuidado e conservação.

Pode-se supor que as pessoas lembraram aquelas características que

tradicionalmente se ensinam nas classes iniciais da vida escolar. Se no ensino

formal das escolas tivesse havido maior ênfase em outros aspectos, estes

também talvez teriam sido mais lembrados.

Na menção de pontos positivos (o bom e agradável) que se vê na

vegetação urbana, os mais lembrados também foram ‘ar, sombra e frutos’

Lembrar de sombra e frutos faz parte da percepção das pessoas que se expressa

no costume de dar preferência para as árvores frutíferas. Para pontos negativos,

mencionam os danos causados à fiação, a muros e calçadas, apontam a sujeira

causada pelas folhas/flores que caem sazonalmente e falam da vegetação

danificada (referindo o homem como agente agressor e ele sendo um problema).

A tabela 4 mostra as respostas que predominaram.

Sem Resposta3,0%

Ar puro13,1%

Aguas1,0%

beleza14,1%

Preservar o ambiente15,2%

Sombra36,4%

Proteger de vendavais1,0%

Fruto/alimento16,2%

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59

Tabela 4: O que as pessoas consideram bom e agradável e o que consideram ruim edesagradável na vegetação da cidade de Naviraí-MS.

BOM

Grupo 1

Beleza.

Frutos.

Oxigênio.

Proteção.

Flores.

Sombra.

Grupo 2

Beleza.

Frutas.

Ar.

Proteção.

Diversificação

Amostra Piloto

Beleza.

Frutos.

Oxigênio.

Proteção.

Flores.

Quantidade.

RUIM

Descuidada.

Sujeira.

Não tem.

Ausência.

Desorganização.

Acidentes.

Sujeira.

Vandalismo.

Não tem.

Sujeira.

Quebra a calçada.

Tem pouca.

São muito iguais.

Grupo 1 Grupo 2 AmostraPiloto

Total Geral

04 01 08 13

Aponte algoque considera

bom e algoque considera

ruim navegetação

urbana:

NÃOSEI.

26% 6% 12% 14%

Pode-se notar que a percepção sobre o que é bom na vegetação é mais ou

menos a mesma para todas as pessoas. Um dos itens considerados ruins, de

acordo com alguns cidadãos, é o fato de haver pouca diversidade de árvores. Isso

é fato percebido ao andar pelas ruas da cidade: não há essa diversidade. E pode-

se ver que, nas raras ruas dos bairros novos que se viram arborizadas, a

tendência ainda é a mesma. Como defende um trabalhador do horto municipal: ‘a

sibipiruna é a que cresce mais ligeiro!’ Essa tendência implica na necessidade de

maiores pesquisas sobre espécies adequadas para Naviraí-MS, uma cidade

inserida no ecótono da biosfera da Mata Atlântica com o Cerrado, seja, Mata

Atlântica do Interior.

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60

4.1.3 Os cidadãos, sua escolaridade e o seu aprendizado ambiental.

Dadas as constantes mudanças na nomenclatura e classificação de

escolaridade, e considerando que, por isso, as pessoas nem sempre sabem dize-

la (por exemplo: ‘Sei lá, hoje é como se fosse 5ª, mas no nosso tempo era mais

que isso’.), se classificou o grau de escolaridade dos entrevistados conforme

descrito na Tabela 5:

Tabela 5: Escolaridade dos cidadãos entrevistados em Naviraí-MS

GRUPO 1 GRUPO 2 PESQUISA

PILOTO

TOTAL

GERAL

1 a 4 anos escolares 14 0 3 17

5 a 8 anos escolares 0 1 8 9

Ensino médio 0 1 45 46

Terceiro grau 1 13 8 22

Perguntadas sobre qual o primeiro e mais importante meio de aprendizado

ambiental, de um modo geral as pessoas optaram pela escola e televisão como

fontes adequadas de aprendizado. Um cidadão de bairro respondeu: ‘Acho que é

a televisão porque a televisão é o único jeito que a gente que é pobre tem de

aprender alguma coisa’. O grupo 2, no entanto, divide-se entre ‘casa’ e ‘escola’,

desprezando a televisão. Quatro cidadãos (grupo 2) fizeram menção à

necessidade de que ‘as escolas formem adultos responsáveis que ensinem seus

próprios filhos’. Um cidadão respondeu ‘em casa’ mas acabou por afirmar que ‘a

escola tem que melhorar o ensino ambiental porque é ali que se formam os

futuros pais’ – essa fala mostra que sua opinião, na prática, é pelo ensino formal.

Há uma compreensão, no grupo 2, de que a casa é o primeiro nicho de educação

ambiental porque a postura pessoal diante do ambiente é sentida como um valor

humano e cultural, e isso, a princípio, é visto como fruto da educação no lar. No

entanto, rupturas sociais e culturais no papel da família, têm deixado a mesma

sem poder de formação: os pais não têm mais o papel de educadores primeiros.

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61

Espera-se que a escola redima essa seqüela e, ao mesmo tempo, forme novos

pais para exercer novamente tal função. A grande maioria dos entrevistados não

teve nos pais um começo de educação ambiental; e os que disseram que seus

pais lhes ensinaram algo, sempre mencionaram que ou o pai, ou a mãe, gostava

de plantar, de lidar com plantas ou com animais. Essas pessoas se reportavam às

lembranças de infância, normalmente em lugares rurais. De fato, não houve

informação em casa, e as pessoas percebem atividades domésticas com plantas

e animais como sendo ‘ecológicas’, não se reportando também, nesse pensar, ao

ambiente mais amplo.

Quando responderam sobre ‘o que é meio ambiente’, os cidadãos do grupo

1 têm respostas simples, imprecisas, e o grupo 2, os formadores de opinião,

apresentam frases mais complexas em seu conteúdo, dando a perceber que

possuem uma noção de que o ambiente inclui mais que plantas e animais,

contudo, apenas um cidadão considera o ambiente urbano como assunto

relevante, e um pensa que cidades também são parte do ambiente. E ninguém

mencionou vegetação urbana como assunto ambiental mais importante, ainda

que toda a conversa da entrevista era sobre esse tema. Essa observação é valida

também para a questão da opinião sobre os bairros Jardim Paraíso, Jardim Ipê e

Nova Era, quando apesar de se estar falando em vegetação urbana, a grande

maioria imediatamente lembrava que naqueles bairros não há asfalto, tendo

havido, principalmente no grupo 2, referências aos aspectos sociais do bairro. O

não referir à ausência de vegetação mostra que o tema, como elemento ambiental

e ecológico, realmente não tem peso no imaginário das pessoas, nem mesmo

como simples elemento componente da paisagem.

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62

Tabela 6: Vertentes do conhecimento ambiental e o significados de ambiente paracidadãos de Naviraí-MS

EVENTOS Cidadãos

dos bairros

15

Formado

res de

Opinião

15

PESQUISA.

PILOTO

64

TOTAL

GERAL

94

02 08 12 22Em casa

13% 53% 18% 23%

06 07 19 29Na escola

40% 46% 29% 30%

07 00 33 40

Meio

ambiente é

um assunto

que se

aprende Pela televisão

46% ZERO 51% 42%

04 07 09 20Sim

26% 46% 14% 22%

11 08 55 74

Seus pais

falam/falava

m em

assuntos

ambientais?

Não

73% 53% 85% 78%

(Cidadãos dos bairros).

Sei lá. É tudo.Lugar.Fatos que nos leva à vida.Contexto onde a gente

vive.Tudo coisa de Deus.É o mundo com árvore para não virar

deserto.

Sem resposta (8).

(Formadores de opinião)

Um conjunto de fatores (água, ar...). A preservação da vida em si.

Saúde de tudo. É o lugar. É a qualidade para as gerações futuras.

Relação entre o mundo e as pessoas. Espaço onde sobrevivo.

Natureza e uma série de coisas.

O que você

entende por

ambiente?

Como você o

define?

(Respostas

mais

freqüentes):

(Pesquisa Piloto)

O lugar. O mundo todo. As plantas e essas coisas da natureza. Acho

que a cidade também entra aí. Tem essas coisas que ensinam na Tv

sobre a Floresta Amazônica.

Não sei. (09)

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63

EVENTOS Cidadãosdos bairros

15

Formadores de

Opinião

15

PESQUISA.PILOTO

64

TOTALGERAL

9406 04Florestas.

40% 26%

01 02Águas.

6% 13%

00 01Cidades.

ZERO 6%

03 04Ar. Poluição.

20% 26%

05 04

Que tema

ambiental

considera mais

importante?

Animais.

33% 26%

Não

constou.

(Tab 6. Cont.)

Observe-se também, na tabela 7, o desconhecimento de termos comuns a

eventos ecológicos. Naturalmente há expressões que são próprias de

especialistas, mas nada impede que o cidadão comum aprenda sobre eles e as

crianças na escola, desde cedo, se familiarizem com o que eles significam.

Quando respondem sobre a influência da vegetação na quantidade de água na

atmosfera (evapotranspiração) e sobre conhecimentos a respeito de temas como

seqüestro de carbono, percolação e ilha de calor, o índice de pessoas que sabem

o que esses termos significam é muito pequeno.

Florestas e animais são os elementos que mais facilmente afloram à mente

dos cidadãos quando o assunto é ambiente. Cidades, no imaginário da população

entrevistada, não é elemento considerado ambiental ou que remete à ecologia.

Possivelmente é um paradigma a ser mudado.

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Tabela 7 - Conhecimento de termos relativos a eventos ambientais entre os cidadãospesquisados em Naviraí-MS

EVENTOS Cidadãosdos bairros

15

Formadores de

Opinião15

PESQUISA.PILOTO

64

TOTALGERAL

94

Você sabe o que é...

15 15 62 92Seqüestro de carbono? 100% 100% 96% 94%

14 11 63 88Evapotranspiração? 93% 73% 98% 94%

15 15 64 94Percolação?

100% 100% 100% 100%

15 15 61 91Ilha de calor?

100% 100% 85% 96%

07 00 38 45Vegetaçãonativa? 46% ZERO 59% 47%

09 00 61 70Vegetaçãoexótica?

Responderam

“Não sei”.

ZERO 95% 74%

01 06 06 13Sim.

6% 40% 9% 14%

01 00 27 28Não.

6% ZERO 42% 29%

08 09 31 48

Você temconhecimento

s sobreambiente?

Um pouco.

53% 60% 48% 51%

Apenas duas pessoas deram resposta correta ao que é

“evapotranspiração” (e uma delas disse que seus pais são ambos biólogos e

professores); 96,8% não sabem o que é evapotranspiração e qual sua

importância.

Uma preocupação básica durante os trabalhos de entrevista foi o de abrir

espaço para perguntas. Isso ocasionou uma oportunidade ímpar de prestar

esclarecimentos e levar conhecimento às pessoas: e elas sempre perguntaram.

Após responder às perguntas que a tabela 7 mostra, sempre quiseram saber seu

significado. Vale notar também que em quase todas as casas as crianças

assistiram a entrevista e muitas vezes elas também tinham perguntas.

Imaginando-se como não tendo conhecimentos sobre ambiente, ou tendo um

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pouco, houve demonstração de uma vontade por parte dos entrevistados de

aprender mais.

E as sugestões que são apresentadas para esclarecer melhor o povo sobre

assuntos ambientais, aparecem na tabela 8. Um comentário a registrar foi o de

uma cidadã que pensa que se poderia fazer ajuntamentos de população como

nos comícios e apresentar palestras e gente falando sobre meio ambiente. No seu

imaginário uma situação, um evento como de um comício, seria muito

interessante – bastante provavelmente ela reconhece os efeitos de um comício e

pensa que um ‘comício ambiental’ poderia ter os mesmos resultados sobre ‘a

cabeça das pessoas’. A questão é se o poder público e os políticos fariam isso e

assumiriam os custos de um evento assim, se voltado para a educação ambiental.

A menção à necessidade de leis que protejam as árvores também foi um

item relevante. Reconhece-se que leis ajudam a obrigar as pessoas a agir direito

para com as árvores da cidade. Por outro lado, houve menção ao fato de que a

própria prefeitura não se importa em impedir que cortem as árvores. Isso pode

indicar que o fato de deter poder não implica em maior critério para com as

escolhas tidas como ecológicas ou ambientais. Em não havendo regras padrão

para a ação, rege a vontade singular do cidadão enquanto apenas cidadão,

descaracterizando de sua figura de elemento público.

Tabela 8: Sugestões apresentadas pelos entrevistados em Naviraí-MS sobre o que fazerpara ensinar meio ambiente e melhorar a arborização na cidade

(Cidadãos dos Bairros).Mais ensino pra gente saber. Que as escolas

chamassem as pessoas. Fazer como os comícios. Fazercampanha (04). Falar no rádio. Mais palestra (02). Não

sei (03).(Formadores de opinião).

Campanhas (05). Promover o assunto. Incentivos para o melhor jardim das casas. Cursos nas escolas (02).

Educação (02).Não sei (04)

O que gostaria que sefizesse para esclarecermais as pessoas sobre

ambiente

(Pesquisa Piloto).Fazer campanhas. Ensinar nas escolas. Fazer um

programa no rádio onde as pessoas fazem perguntas.Fazer cartazes. (out-doors)

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Cidadãos dos Bairros:

Mais leis.Mais gente trabalhando.

Mais educação.Plantar mais.

As pessoas cuidar.Não sei (06)

Formadores de Opinião:

Leis. Cumprir leis.Cuidados.

Campanhas para plantio.Projeto de arborização adequado.

Maior peso do assunto nas escolas.Educar nas escolas para ter pais que eduquem amanhã.

Conscientização via comunicação de massa.Não sei: (00)

O que vê como necessáriopara melhorar a situação da

vegetação urbana?(Respostas mais

freqüentes).

Pesquisa Piloto:

Mudar o tipo de plantas.Cuidar mais.

Ter mais gente trabalhando.Ensinar as pessoas.

Colocar leis para não cortarNão sei (11)..

Última pergunta:Ao terminar essa nossa

conversa, você sente umnovo interesse pela

vegetação da cidade?

Todos os entrevistados responderam: “sim”.

(Tab.8 – Cont.)

4.1.4 Atitudes ambientais em Naviraí-MS

Há um reconhecimento por parte dos cidadãos entrevistados de que pouco

se faz pelo ambiente urbano e pela vegetação. Entre os que disseram que têm

atitudes pró-ambiente, cinco pessoas mencionaram que “separam o lixo em casa”

e um disse que “não deixo cortar árvores”. E se perguntadas porque não fazem

nada, as pessoas responderam “Não sei o que devo/posso fazer.”

Por outro, uma cidadã (anote-se que se trata da cidadã, no estrato

“Cidadãos de bairros”, que tem o ensino superior – ver tabela 5) relatou que pediu

à prefeitura que dispusesse tambores no bairro para a coleta seletiva de lixo, e

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prontificou-se de ela mesma cuidar disso indo de casa em casa para ajudar as

pessoas a separar, mas obteve como resposta que não era possível porque “é

muito caro”.

Tabela 9: Atitudes pró-ambiente demonstradas pelos naviraienses.

EVENTOS Cidadãosdos bairros

15

Formadores de

Opinião15

PESQUISA.PILOTO

64

TOTALGERAL

9402 08Nada

13% 53%

11 03Não Sei.

73% 20%

02 04

No dia-a-dia,o que você

faz parapreservar oambiente da cidade ou a vegetação? Teve alguma

resposta.13% 26%

Nãoconstou.

06 05 17 29O próprio.40% 33% 26% 30%

09 10 26 45

Quem tomaconta dasárvores de

seu quintal? Outra pessoa.

60% 66% 40% 47%

05 14Gramado.33% 93%

Motivos. Frescor. Frescor.

10 01Calçada.66% 6%

Sua escolha:calçar seuquintal ouplantar umgramado?

Motivos. Limpeza Menostrabalho.

Nãoconstou.

Em Naviraí-MS não há a cultura de cuidar pessoalmente de jardins e

quintais. Pelos relatos, as pessoas costumam contratar terceiros que fazem corte

de grama, podas e limpezas. Isso, enfim, garante emprego para alguns, mas é

uma cultura que afasta as pessoas da terra, das plantas, da natureza urbana. Os

jardineiros ensacam a grama cortada e galhos e folhas, que vão para o lixão. Os

cidadãos não têm o conhecimento e o hábito de produzir húmus no quintal e nem

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a prefeitura tem, que fosse no horto, um local para aproveitar os resíduos das

limpezas de quintais. Toda a matéria orgânica é perdida, e, considerando que

Naviraí-MS está numa área de verão chuvoso, justamente a época do

crescimento das plantas e gramados, pode-se imaginar que a produção desse

material não é pequena.

4.2 Situação da vegetação na cidade de Naviraí-MS: o povo e as árvores

Pode-se estabelecer um recorte no tempo e tornar estático um momento

qualquer na vida da cidade e perguntar: “Como se chegou a isso?” “Por que as

coisas são assim?” “Por quê essa vegetação?” “Por quê a arborização é/está

assim?” A história da cidade e de seu povo trazem respostas para isso. O centro

da cidade, de Naviraí-MS é mais antigo (década de 50, nos arrabaldes da rua

Alagoas, conforme depoimento de moradores da época) e as periferias são

relativamente jovens (entre 10 e 6 anos). E isso reflete na vegetação já que as

áreas antigas já possuem árvores adultas e, os bairros novos, ou não possuem ou

ela ainda é incipiente. Um pouco de história dos últimos anos se registra nas fotos

que mostram as mudanças gradativas que o tempo trouxe para a vista dos

lugares.

Tome-se como referência a praça central da cidade: não dá para saber

muito bem se dali a cidade verte ou se para ali ela conflui. A verdade é que todos

os caminhos da cidade dão na praça. Um cidadão recente na cidade, como há

depoimentos (e experiência pessoal desta pesquisadora), pode sentir-se confuso

com o traçado da cidade porque em cada circunferência surgem ruas no sentido

transversal, algumas longas e outras tão curtas que mal iniciaram já se lhes vê o

final; e há as ruas circulares que acompanham o desenho da praça. É uma

experiência marcante aprender as ruas de Naviraí-MS.

E a praça é um marco também pelo seu jardim e por suas árvores. A

atenção especial que recebe por ser assim faz com que a vegetação local seja a

expressão da filosofia da gestão municipal: nela se percebe o cuidado ou o

descaso do poder público; se a praça está bem, é provável que outras partes da

cidade estão sob atenção, e, o contrário também vale: se a praça não está sendo

observada, menos ainda a arborização das ruas e avenidas. A seqüência de fotos

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quer mostrar, primeiramente, a praça desde seu início e a evolução do verde em

seu interior. O desenho da cidade e a praça foram projetados por Ariosto Riva,

para a colonizadora Vera Cruz.

Sendo a Praça Prefeito Euclides Fabris o ponto central da cidade, ali, em

seu entorno, acontecem eventos populares. Ela é enfeitada festivamente para as

grandes festas: Natal, Páscoa, festas juninas. Nela acontecem os shows que

atraem a população e, dado que comícios são eventos que disputam espaços, ela

é um dos pontos mais requisitados para esses acontecimentos. Está cercada

pelos principais prédios que, em tempos idos, representavam o centro da vida

sócio-política da sociedade: bancos, paço municipal, fórum e igreja matriz.

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70

Figura 11 - O começo – a praça e a vegetação incipiente nos idos de 1970 O desenhooriginal da praça, seus bancos e a distribuição das árvores, foi mantido, Apenas ocoreto não existe mais.

Figura 12- Imagem em Julho/1995, durante os preparos para a festa junina comunitária..

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Figura 13 – (1999). As árvores do espaço da praça, o início do ajardinamento e, nacalçada, as marcas onde o cimento fechou o lugar onde outrora existiram árvoresde rua que foram cortadas.

Figura 14 - Janeiro/2005, l6h40min). Na praça, o sol e a sombra: à sombra, gente e umbom momento de urbanidade; ao sol, ninguém.

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Figura 15: Av. Weimar G Torres, confluência com a praça: caducifólias a 36°C; imagemregistrada em 30/08/2004 às 13h10min. Nas laterais, sibipirunas; no canteirocentral, ipês-rosa.

Figura 16: Imagem do mesmo local: apogeu das caducifólias. Os ipês fechando parceriacom as sibipirunas numa época em que sua exuberância verde é bem vinda -verão, dia 03/01/2005, às l6h22min, temperatura de 38°C

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Figura 17: (2004) A praça e a cidade. Ao longe se vê pastagens onde outrora foi áreaflorestal, até mais ou menos a década de 50. Um paradoxo: a área urbanarevegeta o que foi transformado em área de formação de pastagem, na medidaem que avança por ela.

A vegetação urbana naviraiense é, em maciça maioria, composta de

árvores adultas plantadas há pelo menos 30 anos. As espécies nessas condições

que mais se encontra são a sibipiruna (Caesolpinia peltophorodes), o flamboyant

(Poinciana regia), o ipê-roxo (Tabepuia pulcherrima) e mangueiras. Também se

encontram fícus (Fícus natalienis), mas mais escassos, pois a maioria foi cortada

em função de danos causados pelas raízes. Observe-se que, com exceção das

mangueiras, as outras árvores são caducifólias e não indicadas para uma cidade

cuja temperatura tende a ser elevada por quase dez meses no ano.

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Figura 18 – (Agosto/2004) Av. Amélia Fukuda (vista da praça). Flagrante de erroestratégico no plantio das árvores - no ‘lado rede’ a copa frondosa da sibipirunasendo sacrificada em função da fiação, e no espaço livre ao centro, uma palmeira.

Ao andar pela cidade, pode-se ver as falhas no plantio já que, em muitas

ruas as carreiras são intermitentes, quando muitas árvores desapareceram. E,

dado que as árvores são já adultas, as que são plantadas no lado da rua que tem

redes de infra-estrutura (“lado rede”, como se fala na cidade) estão disformes em

função das podas feitas para proteger a fiação. Não existem cabos ecológicos

para minimizar as podas. Os podadores (a serviço da ENERSUL (Empresa de

Energia Elétrica de Mato Grosso do Sul), podam as copas em cunha mantendo

livres os fios entre as duas partes de copa. Essa é a solução imediatista, de curto

prazo, que se prevê. Supõe-se que a adoção de soluções que dêem primazia à

vegetação seja de alto custo. Não é a intenção desta pesquisa discutir sobre

medidas relativas à fiação elétrica, mas esta é uma questão que exige diálogo e

pesquisas, o que implica na participação também dos cidadãos envolvidos nessas

atividades, além da empresa fornecedora de energia e dos governantes.

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Figura 19: Na Av. Weimar G Torres: ponto (A) - árvoressacrificadas para proteger a fiação elétrica. É como seresistissem, mas seu destino, possivelmente, é o cortefinal.

Figura 20: ponto (B) - um quarteirão adiante, a árvore (ou o podador?)venceu a poda de proteção à fiação. Prova de que é possível omanejo cuidadoso para evitar danos irreparáveis e a perda daestética.

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Figura 21: Os podadores a serviço da ENERSUL com caminhões e serras elétricas delongo alcance, liberando os cabos de tensão elétrica. Esta fotografia foi feita em05/02/2005 quando os trabalhos dessa pesquisa estavam encerrando. O encontroda cena foi casual e exigiu busca tempestiva de uma máquina fotográfica, cedidapor Sandro Luis Almeida Dobins, geógrafo, que se encontrava próximo ao local.

Ainda que o procedimento dessa poda é visto como solução para a

convivência entre árvores e fiação elétrica, considerando-se a beleza estética de

uma copa intacta, certamente mutila-se a árvore, além de eliminar sua função de

sombreamento e abrir portas para a entrada de agentes fitossanitários. Há um

paradoxo aqui: na mesma medida em que a ação da poda é impactadora do

ambiente, pois afeta diretamente as condições estéticas e sanitárias do meio, a

própria árvore é impactante na medida em que afeta a segurança e o bem-estar

da população pelo risco à fiação – isso está explícito pelo interpretar do Art. 1.° da

Resolução CONAMA N° 001 DE 23.01.86 EIA/RIMA. Muito certamente o que

faltou foi um planejamento e uma projeção futura da arborização.

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Figura 22: Centro, rotatória da Av. Weimar G Torres (2004). Duas opções de marketingpara as casas comerciais: ou a pujança eco-ambiental e o conforto do verde ou aexposição da fachada. E o cidadão transeunte: qual teria sido sua escolha se lhetivessem perguntado – a fachada ou a árvore?

Naviraí-MS também não é, ainda, uma cidade de flores. Há bem pouco

tempo há preocupação com ajardinamento urbano e se está plantando canteiros

de flores. Não faz muito que o horto florestal cumpre seu papel. As residências,

na grande maioria não têm espécies florais menores. As casas que apresentam

jardins, quase sempre têm apenas gramados em suas frentes, no passeio público,

e não há calçadas. Essa característica pode ser influenciada pelo clima local que

não é muito adequado para o cultivo de jardins na forma como as pessoas

conheciam em seus lugares de origem, e também pode ser uma herança cultural

trazida pelos migrantes paulistas, inclusive o costume de construir muros altos, já

que seus hábitos ligavam-se a espaços mais exíguos. Considerando as áreas

nobres da cidade de Navirai-MS, é possível enumerar as casas que não possuem

grades ou muros fechados na frente, tão raras elas são, diferentemente do que se

observa in loco em muitas cidades das regiões do sul, onde as divisas de quintais

muitas vezes se confundem pela falta de marcos sinalizadores (cerca, muro ou

outro).

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Figura 23: Rua Itália. Passeios públicos ecológicos, espaço para a percolação da água nosolo. A combinação do gramado com o calçamento é ambientalmente correta,mas para o transeunte, se não for planejada com cuidado, pode ser umtranstorno. Ao andar pela cidade se vê que muitos moradores fazem do passeiouma extensão de seu quintal e não zelam pelo conforto do pedestre que, emalguns casos, sente dificuldade para andar pelas calçadas ecológicas,principalmente aquelas feitas com lajes maiores, sem se adequar ao passo daspessoas22.

Outra ocupação, ainda que não urbana, que se relaciona diretamente ao

pensar das pessoas sobre vegetação, é a cultura da carvoaria (conclusão a que

essa pesquisadora chegou após conviver por dois anos com a atividade

22 No mesmo flagrante a combinação de vários oitis, duas palmeiras (Archontophenixcunninghamiana), três pés de chorão (silex babilônica), um jacarandá (jacaranda amimosaefolia),um exemplar de pata-de-vaca (bauhinia candicans), jovens, e uma árvore de santa-bárbara, oucinamomo (Melia azedarach). Duas frentes não possuem árvores, e as calçadas são fechadas.Anote-se que todas as construções dessa rua iniciaram a partir de 1998, com exceção daresidência onde está a árvore adulta de cinamomo.

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carvoeira). Ainda que não se utilizem árvores “domésticas”23 queimam-se árvores,

ou o que restou delas. Esse ato tem algo de simbólico e certamente é

interiorizado pelas pessoas que passam para sua crença íntima uma verdade

indigesta para qualquer ecólogo ou amante da natureza: árvores são matéria-

prima para carvão. Aqueles troncos calcinados não suscitam compaixão ou

respeito, ou preocupação: apenas a possibilidade de lucro. Navirai-MS é cercada

por pastagens que guardam esses restos das matas. Não é uma questão de

coibir a fabricação de carvão, já que se trata de restos, mas de usar aquela

realidade também como fonte de história e informação, mostrando como ela é e

quais as suas origens e as suas conseqüências.

4.3 Naviraí-MS e sua vegetação: uma amostra através de imagens.

Conhecer uma cidade impõe transitar por ela. Não sendo possível

pessoalmente, as fotografias ajudam a ver como ela é, e mostram algumas de

suas peculiaridades. Há imagens que mostram a ausência de arborização; outras,

contudo, mostram a exuberância de árvores já formadas. Por outro lado, as

construções e as formas que uma sociedade cria e faz aparecer, exteriorizam seu

pensar e sua cultura. Assim, essas imagens também deixam entrever o viés

ecológico da comunidade naviraiense como um todo.

23 Por árvores “domésticas” quer-se apontar para as exóticas (não nativas), as de reflorestamento,já que, guardadas as dimensões, assim como tem-se animais selvagens e/ou nativos e osdomésticos, assim também pode-se ter para a vegetação. Uns são protegidos e outros sãosacrificáveis às exigências e necessidades humanas.

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Figura 24: Avenida Bataguassu (2002). Em primeiro plano, o Bairro Harry Amorim Costa,última área urbana na saída para Ivinhema, MS.

Figura 25: Cidade que brota no pasto e os contrastes da arborização. Da parte recentepara a mais antiga: o Jardim Ipê, cujas ruas todas têm nome de árvores, o bairroBoa Vista já apresentando arborização jovem, e o início do centro da cidade, maisintensamente arborizado. (Agosto/2004)

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Figura 26: A usina e o rio. Rodovia Naviraí-Itaquirai, km 10. Um paradoxo sócio-ambiental: trabalho e emprego frente ao impacto para o ecossistema. Mata ciliar:ausente. Entorno: sem cuidados. A urbe, próxima o suficiente para sofrer com aemanação dos odores característicos de uma usina sucroalcooleira.

Figura 27: Indústria de amido de mandioca. Uso das águas. Mata ciliar ausente. Áreaerodida. A reflexão maior que se faz não é sobre a situação como está, mas sobreo quanto poderia estar cuidada e preservada, agregando construção, produção eambiente. Nada justifica o descuido e a indiferença ao local utilizado.

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Figura 28: Frigorífico e seu entorno. Reflorestamento com eucalipto. Espaços inutilizadose vazios.

Figura 29: Trevo do Boi (2003). Vindo do sul (Paraná), subindo para o ‘Nortão’, viaDourados-MS: “Bem vindo a Naviraí-MS”.

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Figura 30

Figuras 30 e 31: (2003)Trevo dos Tucanos à Av. Bataguassu, saída para Ivinhema-MS eTrevo das Araras, Rod. Naviraí-Dourados-MS Esculturas gigantes que lembramum mundo que não existe mais. Um apelo ecológico à memória? ou exploraçãoda imagem de uma fauna que desaparece, extinta pela destruição da flora?

Figura 31

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Figura 32 – (2003) Trevo das Araras. Acesso à cidade via Jd. Paraíso. Uma vista dosistema “paisagem limpa e aplainada”. Área por excelência para um futuro projetode arborização. Araras sem floresta: um visual ecológico de contrastes para oviajante que chega, vai ou passa.

Figura 33 - Jardim Paraíso: (2000). Bairro popular: a mesmice de um lugar para assentarhumanos urbanos. Nem o verde para amenizar a despersonalização e a negaçãoda singularidade.

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Figura 34: (Agosto/2004) A cidade e o Jardim Paraíso ao fundo e à esquerda. Periferia.

Figura 35: Jardim Paraíso: Agosto/2004 A desolação do não-verde. Crianças indo para aescola sob temperatura de quase 30°C, desconsiderados os efeitos do caloremanado pelo asfalto.

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Figura 36 - (1996) Primórdios do Jardim Paraíso: a ausência da vegetação marca,juntamente com as ruas de solo exposto, uma vida de ventanias e pó quecastigam os moradores do lugar. Hoje, anos depois, não mudou muita coisa.

Figura 37 – (02/01/2005) Jardim Paraíso: a avenida de areia onde o asfalto não chegou e vegetação não existe. Um lugar próprio para erosão urbana, um evento geradorde custos e danos à população.

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Uma das características dos centros urbanos é o seu crescimento

aleatório, conseqüência da facilidade com que as pessoas se instalam em locais

ermos, ou nos arrabaldes das cidades, onde parece que a área não tem

proprietário, em busca de um lugar para viver e guardar sua família. E o resultado

disso é o que se vê na imagem da figura 38: desumanização/desurbanização de

lugares de se viver. Um dos objetivos do projeto de reforma urbana é justamente

o ‘fortalecimento da regulação do uso do solo urbano’ e ‘inversão de prioridades

no tocante à política de investimentos urbanos que favoreçam as necessidades

de consumo das camadas populares, submetidas a uma situação de extrema

desigualdade social em razão da espoliação urbana’ (Ribeiro e Santos Jr., 1994).

Se a sociedade priorizar a realização desse projeto, e aliar essa concepção a uma

reforma ambiental com ênfase ecológica, isto é, entre outros valorar a

arborização, cenas como esta desaparecem.

Figura 38: Erosão urbana, uma cena antiga que não desapareceu ainda na cidade.Em função do solo arenoso, é ainda mais importante projetar a arborizaçãobuscando também a contenção desses danos. Essa imagem não existeapenas em bairros de periferia. Ruas próximas do centro apresentam cenasassim após as chuvas mais fortes.

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Figura 39 Figura 40 : Jardim Ipê, onde as ruas de areia têm nomes de árvores, as que umdia existiram na floresta que deu lugar e estes ermos das pastagens que oratransforma-se em urbano. As pessoas vão ocupando seus espaços. O Jardim Ipêcontrasta com o Jardim Paraíso na forma como surge: as pessoas vãoconstruindo suas casas como podem, e é comum chegar aí no sábado eencontrar a família inteira envolvida com trabalhos de construção.

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Figura 41: Área do Jardim Paraíso com tempo de construção suficiente para já seapresentar arborizada. No muro, a frase: “Vende-se esta casa”.

Figura 42: Onde a cidade acaba, a visão da pastagem ao longe, encoberta pela nuvemde poeira que o vento ergue no bairro desarborizado.

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Figura 43: Metade de uma copa, é tudo oque sobrou do ipê-amarelo queresiste à fiação. Parece que aárvore se submete, mas sem deixarde cumprir seu papel, sob aproteção de quem acredita quemeia árvore ainda é melhor do quenenhuma.

Figura 44: Muda de pau-brasil (CaesolpiniaEchinata), na praça, em memória àhistória, monumento vivo que remeteà possibilidade de fazer história detodas as espécies que são história dolugar. O cercado protege e chama àatenção.

Figura 45: A praça e o passeio: ambiência eagradabilidade para quem passa àsombra das árvores.

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Figura 46: Quando o Jardim Paraíso ainda não existia, e era chamado Morro dosMacacos, já morava gente aí; e os mais antigos, ao perceber a desolação do nãoverde da parte nova, acordaram para a necessidade de ter árvores. Esse é odepoimento de moradores dessa esquina.

Figura 47 (03/01/2005) Flagrante da passagem do vigilante sanitário. Prédio da Caixa erestaurante Don Viero, defronte à praça. O ipê-rosa é patrimônio salvo pelapromotoria ao não dar permissão de corte. Hoje, quando na plenitude de suaflorescência ou do verde da copa, é referência para a construção.

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Figura 48: O “Ponto dos Chapas” à sombra dos ipês-rosa, na Weimar G. Torres. Não forauma caducifólia, não seria necessário o telhado, já que em dias de chuva eles nãotrabalham. Estes homens mantêm seus veículos de frete (os caminhões àesquerda) a postos para quem precisar. Esse lugar, e esta atividade, é herança dacultura nordestina no lugar e existe desde sempre.

Figura 49: Vista panorâmica da Av. Dourados onde se vê a ruptura da vegetação.

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Figura 50: Início da Av. Dourados, na convergência com a praça. Sibipirunas e ipês,ambas do tipo caducifólias, com queda de folhas em épocas diferentes: a primeirade março a setembro, a segunda de agosto a novembro.

Figura 51: Altos da Av Dourados (08/2004), onde a arborização traz as palmeiras. Aofundo o Edifício Ilha Grande, seguido do Edifício União.

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4.4 Cidadão, poder público e vegetação: uma relação nem sempre ideal.

Há que se relembrar e distinguir, primeiramente, a existência de duas

frentes de arborização urbana: uma que é a promovida pelos moradores em seus

pátios, e essa vegetação existe por determinados tipos de finalidade ligados aos

desejos e vontade dos proprietários dos quintais; outra que é aquela promovida

pelo poder público enquanto responsável pelas ruas, passeios e avenidas, na

medida em que planta árvores de rua, e volta-se para objetivos de bem comum ou

públicos. Num primeiro momento, é importante refletir sobre o que motiva esses

cultivos: o morador deseja o quê? E o administrador de urbanismo e paisagismo,

o que pretende? Ainda que distintos em suas pretensões compreendem que é

importante plantar árvores. Isso, como se concluiu pela pesquisa, não significa

que conheçam, necessariamente, por quê, e para quê a vegetação deve ser

conservada.

Quando Waldman (2002) critica o “afogamento, pelas barragens, de

milhares de hectares de paisagens representativas e a destruição de relações

econômico-sociais mantidas pelas populações tradicionais com os seus espaços

ambientais” pode-se imaginar, visualizando aquele povo expulso, o quanto

pessoas são parte de um lugar e o lugar é parte das pessoas. Essa ligação íntima

que há entre um povo e sua cidade, ou suas terras e colônias, e a forma como os

lugares ficam e a forma que tomam, faz pensar no quanto um e outro – pessoas e

lugar – interdependem. Os costumes das pessoas interferem nos seus locais de

vivência, e vice-versa. E o que elas pensam sobre as árvores, também interferirá

na sua relação com as mesmas.

Sibipirunas, dizem as pessoas, ‘são árvores muito desagradáveis porque

sujam as frentes e os quintais’. Naviraí-MS é uma cidade de quintais calçados ou

de pátios de areia, chão batido. Existe a cultura do pátio limpo, onde o chão é

exaustivamente varrido e as folhas e materiais são amontoados e queimados,

uma prática ainda comum em muitas casas. O povo ‘mais esclarecido’ age

diferente: ensaca as folhas em sacos plásticos para lixo que são entregues para o

caminhão levar. Raras são as pessoas que as utilizam para formação de húmus

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no quintal24. Um depoimento marcante dessa pesquisa foi o de uma professora da

rede de ensino estadual que disse o seguinte: “Você me acredita que há uns anos

atrás eu tinha pavor de árvore? Aquela sujeirada toda no quintal, eu não

agüentava aquilo. Consegue imaginar que fui capaz de cortar duas árvores do

meu quintal? Aqui, ó, bem em frente da varanda. E agora está esse inferno de

calorão. Lá na frente eu cortei a outra. Como é que eu podia ter uma cabeça

dessas? Pois é, é que no nosso tempo não tinha essas coisas na escola, não

ensinavam a gente sobre meio ambiente, arborização e essas coisas. Hoje tem

aquela ‘arvinha’ aí na frente e eu cuido dela todos os dias; fosse antigamente, já

tinha mandado cortar no talo.” (E a tal arvorezinha é um cipreste).

A forma como as pessoas se relacionam com a arborização deixa suas

marcas de interferência nos lugares. A facilidade com que se cortam árvores (e

isso é evidente em Naviraí-MS) torna-se um fator de risco para a vegetação.

Deve-se mudar esse pensamento destrutivo dos moradores de Naviraí-MS, para

que maus costumes não tragam prejuízos irreparáveis no futuro já que as

pessoas cortam árvores adultas, em toda sua magnitude, eliminando da

paisagem, em minutos, um vegetal que era, na verdade, um patrimônio público.

De acordo com depoimentos ouvidos durante as entrevistas, é de se afirmar que

a região de Naviraí-MS nasceu dentro da cultura madeireira, quando, em sua

formação nos idos das décadas de 60 e 70, chegaram a existir mais de cinqüenta

madeireiras na cidade. Isso pode ser um fator que influencia no desrespeito à vida

da vegetação. Um cidadão que acompanhava a entrevista numa das residências,

quando a pergunta foi a respeito de nomes de árvores, interrompeu para dizer

que “ninguém melhor que peão de mato pra saber nome de árvore. Eles

conhecem todas. São acostumados a saber nome de madeira, mas dó eles não

têm”.

Cortar árvores na cidade é uma prática que exige, via de regra, liberação

do poder público. E possível que as árvores cortadas na cidade, tenham ido ao

chão sob a conivência do mesmo, já que, conforme ouvido em quatro entrevistas

diferentes, a gerência de meio-ambiente da prefeitura autorizou o corte de árvores

da rua cuja lembrança aflorou à mente dos cidadãos entrevistados. No Jardim

24 Essas informações provém de um trabalho anterior, realizado em junho de 2004, por estapesquisadora, quando estudou a situação do lixo urbano reciclável na cidade de Naviraí-MS, eincluiu questões relativas à vegetação urbana no questionário aplicado.

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Paraíso uma moradora lamentou ‘suas’ árvores que a prefeitura arrancou para

plantar ‘aquelas ali’ – referindo-se às oitis ali plantadas. Essa mulher não sabia o

nome de ‘suas’ árvores, mas expressou sentimento de perda e tristeza por elas,

lamentando seu desaparecimento. O poder público emana do povo e a ele se

volta. Seu olhar deve primar pelo zelo. Enquanto detentores desse poder, os

representantes que ocupam cargos deveriam exercê-lo no sentido de proteger a

vegetação, uma vez que ela é parte do ordenamento urbano e do patrimônio da

cidade. Há vezes em que, dentro de regras consideradas de bom-senso, se

permite o corte de uma árvore porque, aparentemente, ela causa transtornos e

custo para o morador: então se dá o aval de corte. E, conforme depoimento de

uma autoridade judicial, o que acontece muitas vezes é que o resíduo do tronco e

as raízes permanecem no local sem que se efetive sua retirada definitiva e o

conserto do dano alegado. Então, se o tronco fica, e a calçada continua quebrada,

o que perturbava era a árvore em si, e não o calçamento danificado. Santos, C.

(2002) enquanto fala sobre crimes ambientais e responsabilidade por danos

ambientais, deixa claro alguns elementos importantes para organizar esse

pensamento quando escreve que “(...) o meio ambiente cultural visa à tutela da

personalidade e, suas manifestações, sendo que o Estado avoca para si o dever

de garantir a todos o exercício de direitos culturais. Não obstante, solicita a

colaboração da comunidade na preservação do patrimônio cultural, dado que se

trata de bem comum do povo (arts. 225 e 226 da Constituição Federal). O bem

que compõe o chamado patrimônio cultural traduz a história de um povo, a sua

formação, cultura e, portanto, os próprios elementos identificadores da sua

cidadania (que é princípio fundamental da República)”. Em outras palavras, o

patrimônio possui duas acepções: o patrimônio natural e o cultural. De acordo

com Ferreira (apud Santos,C. 2002) o primeiro relaciona-se com “os elementos

que condicionam a vida num grupo biológico, compreendendo as espécies

animais e vegetais e seu equilíbrio, bem como os elementos naturais (água, ar,

solo) essenciais à criação e manutenção dos seres vivos. O segundo qualifica a

interação entre o meio ambiente natural e os espaços construídos ou modificados

pelo homem, no decorrer da história Dessa forma, a presente seção (seção IV –

Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Culturais no Código

Florestal). apresenta como objetos jurídicos prevalentes o ordenamento urbano e

o patrimônio cultural”

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Ainda que essa discussão não faça parte do objetivo central desse

trabalho, talvez seja importante refletir sobre uma evidência que aparece no texto

da autora (Santos, C., 2002) quando fala do cuidado ao patrimônio cultural: o

Estado evoca para si (...) e não obstante, solicita a colaboração da comunidade

na preservação do patrimônio cultural. Notadamente existem aí duas

personagens completamente distintas, uma ativa e outra passiva: Estado e

comunidade. Essa não-unidade entre elementos pode ser um dos entraves para o

sucesso das atitudes sociais. Há que se pensar na unidade porque Estado e

comunidade interdependem. Não há nada que o Estado possa fazer se as

pessoas não colaboram. Sua tarefa, nessa distinção, se avoca para si o tal

cuidado, será unicamente de penalizar e sancionar na medida em que puder

enquadrar um ato como ilegal, sob a aquiescência da própria comunidade, uma

vez que a decisão deveria ser a expressão da vontade dessa última.

Na cidade, enquanto uma árvore tomba, a promotoria deve agir se ela

achar que a autorização não obedece a lei ou prejudica a cidade, podendo

processar os agentes do governo, se o poder executivo municipal interferiu com

liberação para o feito. Se a licença não foi dada, também o cidadão será

penalizado. O art.62 do Código Florestal, no âmbito nacional, toma como crime

destruição, a inutilização ou deterioração de (I) bem especialmente protegido por

lei, ato administrativo ou decisão judicial. Uma solução imediata para o

salvamento da vegetação urbana – porque ela é um bem cultural

indiscutivelmente – será o seu tombamento, ou a previsão em lei municipal de

que será crime agir contra ela. Essa decisão terá que ser tomada em nível de

comunidade uma vez que dela deve emanar aquilo que se tem por bem tornar

regra de vida comunitária (e que se expressa em forma de leis). O Estado, em

nenhuma de suas instâncias, pode tomar essa decisão, e penalizar e castigar

infratores, e esperar que a comunidade simplesmente a tudo acate. Essa postura

leva à ineficácia porque as pessoas não colaboram por simples imposição, mas

quando participam da criação de regras e leis há mais cooperação e elas sabem

que estarão a agir contra si mesmas se agirem contra a lei.

Da forma como o texto conceituou patrimônio natural e cultural, a

vegetação urbana poderá ser inclusa em ambos porque árvores são vegetais,

seres vivos e carentes de poder existir em condições de equilíbrio, e elas também

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são patrimônio cultural porque fazem parte da “interação entre o meio ambiente

natural e os espaços construídos ou modificados pelo homem no decorrer da

história”. Motivo duplo, portanto, para incluir sua existência na forma de lei da

comunidade.

Protegida na forma de lei, a decisão de cortar ou não, modificar ou alterar,

não poderá ser tomada isoladamente por ninguém. Qualquer decisão terá que ser

discutida pela comunidade. Isso tornará um infrator da vontade social urbana

tanto o cidadão que age por conta própria como o cidadão que age por conta de

ocupar cargo de autoridade, que seja o cidadão da prefeitura no exercício de

poder, cuja atitude se poderá enquadrar, também no âmbito municipal/urbano,

como já reza o Art.67 do Código Florestal sobre ‘conceder o funcionário público

licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para

as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do

Poder Público: Pena – detenção, de um a três anos, e multa’ – na instância

federal.

A “Lei Verde” (Lei nº 3.201 de 31/10/1995) de Campo Grande-MS em seu

Art.1º reza que “(...) considera-se como bens de interesse comum a todos os

munícipes, as árvores, os parques, os bosques, as praças e os jardins públicos

existentes na área urbana deste Município, bem como as mudas de árvores

plantadas em vias ou logradouros públicos”, colocando sob penalidade quem

concorrer para mutilação ou qualquer ato que importe em morte da árvore.

Essa discussão leva a considerar sobre os ensinos de Santos (2004)

enquanto escreve o “Meio Ambiente Urbano”, inserido no seu trabalho ‘Programa

Ambiental: A última Arca de Noé’. Analisando o tema arborização urbana,

expressa o autor que se faz distinção entre área verde e arborização ao longo das

vias públicas, excluindo-se a segunda da primeira. Discute a necessidade de

compreender que ambas são parte de um contexto ambiental. Que as áreas

verdes são impostas por força da legislação e uso e parcelamento do solo (Lei

6766/79) que obriga os loteamentos a prever uma área verde (no art. 22), aquela

que, diferentemente dos arruamentos, tem objetivo primeiro o lazer e o bem-estar

da população. Soma-se a massa verde contínua à área verde e tem-se a massa

verde urbana, incluído aí, segundo o autor (Santos, ibid.) inclusive a vegetação

dos quintais porque essas áreas verdes particulares também estão sob

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fiscalização do Poder Público (ou deveriam estar). É de se entender também que,

se o art. 22 da tal lei impõe a constituição e integração ao domínio público as

áreas verdes impostas aos loteamentos, e ainda as vias de comunicação, praças

e espaços livres que lhe são adjacentes e úteis, e que o art. 66 do Código Civil

expressa sobre acessórios terem que acompanhar o principal, e, sendo tais

elementos acessórios das áreas verdes, então todos são de domínio público,

fazendo-se bem comum, sob responsabilidade direta da gestão municipal, que

nada é senão a representação da população. Assim, essa consciência sobre

público e privado, e sobre responsabilidade com relação à vegetação deve ser

trabalhada e a responsabilidade pessoal de cada cidadão tida como uma verdade

geral, de todos os integrantes do meio comunitário urbano.

Para Farah (2001) o ordenamento jurídico brasileiro sobre o tema

ambiental é minguado: trata-o apenas o Código Civil. O Direito Positivo brasileiro

pertinente às questões ecológicas, segundo o autor, se “compõe de normas

fragmentárias, estaduais e municipais, sem unicidade harmônica que lhe fortaleça

a impositividade”. Se assim é em âmbito geral, pode-se concluir que, em se

tratando da vegetação urbana, isso não é diferente. Provavelmente a criação de

leis, que atendam às aspirações tanto da população quanto dos responsáveis

oficiais pela vegetação, é um instrumento de valia para a proteção das árvores da

cidade, reforçando pela imposição de sanções os cuidados que alguns cidadãos

podem não ter por convicção. Esse entendimento está implícito em várias

propostas de proteção ambiental, notadamente a AGENDA 21 quando sugere a

“adoção de medidas compensatórias, redução de imposto predial em função da

área permeável remanescente, ou punitivas, cobrança por impermeabilização

proporcional à área permeabilizada pelo imóvel”, nas “Ações e Recomendações”

de seu Objetivo 9, “Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente

e a saúde” (e.g.).

4.5 Sistema florestal urbano: planos de arborização

Segundo Corson, (1993), “se barrássemos o desflorestamento e

incentivássemos o replantio de árvores, reduziríamos a quantidade de CO2 no

mundo” (e toda a problemática do clima que advém do efeito estufa). Os

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cientistas, segundo esse autor, avaliam que é necessária uma área adicional de

florestas do tamanho da Austrália para absorver a atual liberação de CO2.

Pergunta-se, sob essa reflexão, se somadas todas as áreas inutilizadas de todas

as cidades do mundo, teríamos uma Austrália de verde urbano, caso essas áreas

fossem plantadas.

A arborização urbana necessita cientificidade de trato; não apenas

incursões temáticas superficiais com vistas a embelezamento, mas estudos

profundos e transdisciplinares. Nesse sentido, ao contrário do urboecossistema

que é meramente suporte de atividades, nicho onde as organizações se instalam,

sendo elas, em si, as formadoras de lucro e não o entorno, os agroecossistemas,

dado que são formadores de lucro na sua própria essência através da produção,

têm merecido maior atenção por parte de seus gestores e usuários. As grandes

ciências da terra desenvolvem propostas e pesquisas extensas visando recuperar

áreas degradadas, também nem sempre impulsionadas cem por cento pelo viés

ecológico, mas bem mais pelo econômico (e talvez aí reside o segredo da sua

performance). Conforme Engel (1999), “no contexto de busca de soluções para os

problemas do manejo do agroecossistema, visando a melhor produção e

sustentabilidade, surgem os sistemas agroflorestais onde o sistema agropecuário

passa a apresentar um componente arbóreo ou lenhoso com um papel

fundamental na sua estrutura e função (otimização do uso da terra). Surge a

agrossilvicultura voltada para o estudo desses sistemas”. Da mesma forma,

quando se trata do urboecossistema, pode-se pensar em falar em uma

urbossilvicultura, quando estudiosos de todas as áreas afins se debruçariam

especificamente sobre a temática ‘arborização urbana’ com vistas a

perenebilidade das plantas e ao planejamento da construção integrada à

vegetação. Para isso não é suficiente ditar leis que rezem a obrigatoriedade de

plantar três árvores no passeio, e.g. É preciso estabelecer estudo de espécies,

modus operandi, gestão, capacitação de gente, conscientização popular, tratando

cada assentamento urbano, as cidades, como ‘sistema urboflorestal’ – sistema

florestal urbano – como ciência para a gestão e planejamento da arborização. Os

primeiros movimentos para isso aparecem isolados em cursos universitários que

incluem disciplinas voltadas aos temas urbanos, e em cidades cujo governo

apresenta preocupação, notadamente advinda de uma percepção pessoal sobre a

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arborização, quando cria hortos e equipes de gente para o trato do agregado

vegetal no urbano.

Se o cimento e o tijolo ocupassem apenas os espaços minimamente

necessários, e em cada centímetro excedente existisse um vegetal, as cidades

pareceriam jardins públicos, livres de problemas que causam prejuízos

econômicos, sociais, de saúde e psico-emocionais às pessoas atingidas,

moradoras ou transeuntes no local. Isso também traria de volta o foco “cidades-

jardins”, conceito criado no final do século XIX por Ebenezer Howard (apud

Santos, A. 2004) para definir as “cidades que valorizam em extremo a vegetação

e as áreas verdes, utilizando o potencial paisagístico da natureza como fator de

embelezamento e qualidade ambiental”, e, acrescenta Santos, A. (ibid.), tal feito

ocasionaria, ainda, a valorização econômica do local.

4.6 Percepção ambiental: psicologia do urbano

Segundo Santos, N. et.al., 2001 (apud Landgraf et al., 2004) a “valorização

das árvores urbanas será tanto maior quanto mais reconhecida sua importância

enfatizando que o desafio futuro de quem trabalha com as árvores nas cidades

reside na busca constante do conhecimento que leve à compreensão de todas as

implicações relativas à presença da árvore no ecossistema urbano e em como

avaliar seus benefícios”. E essa verdade é o que norteou os rumos dessa

pesquisa o tempo todo: buscar refletir sobre educação como fonte de mudanças

na postura das pessoas frente à vegetação urbana, através da construção de uma

consciência ecológica atuante.

Partindo das premissas das relações socioambientais propostas por

Wiesenfeld (2001), considerando que qualquer estímulo à razão humana implica

em processos internos de abstração e reflexão, e que esses se dão via processo

psicológico, pode-se propor esse como o pano de fundo de toda uma interrelação

entre homem e ambiente. O psicológico humano processa as propostas de um

programa de educação ambiental e abstrai e aplica singularmente suas verdades.

Por isso a Psicologia Ambiental é uma ciência que deve desenvolver-se.

Diferentemente de Wiesenfeld (ibid.) podemos propor a educação

ambiental como pano de fundo para essas relações, o processo psicológico como

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ferramenta humana de processamento interno e, a intervenção ambiental, que ora

a autora trata como educação ambiental (campanhas de educação ambiental,

promoção de atitudes pró-ambientais, programas de educação continuada,

inserção do viés ambiental em cursos de graduação diretamente ligados às

atividades impactantes - agrárias, de produção, de extração, de construção civil,

de saúde, entre outros), deveria ser vista como resultado final disso tudo,

entendida como o conjunto de atitudes construtivas intervindo no ambiente, ou

seja, a objetividade das ações, o que resultaria num quadro como segue:

Quadro 1– Relações socioambientais: homem e ambiente

As pessoas, dentro de suas vivências, seu contexto e hábitat, tanto sofrem

a ação do meio como agem sobre ele, sem poder se estabelecer causa-efeitos

nesse processo (quem ou o quê inicia e/ou termina a seqüência). O que se pode

perceber é que o processo psicológico permeia todo o contexto, as ações, as

reações, as causas, os efeitos, as conseqüências, e intervenções, tudo o que

ocorre no ambiente, sendo ele mesmo efeito do meio. Daí se pode deduzir o

PROCESSO PSICOLÓGICO

CONTEXTOSSOCIOAMBIENTAIS

ATORES

PROBLEMÁTICASOCIOAMBIENTAL

INTERVENÇÃO

AMBIENTAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL (PROPOSTAS E PROGRAMAS DESOCIALIZAÇÃO DO SABER AMBIENTAL)

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quanto é difícil tentar simplificar essas coisas. Compreender o cidadão frente à

vegetação da cidade é uma atividade intrinsecamente ligada a esses conceitos. E

a relação entre contexto, atores, problemas ambientais, processos psicológicos e

tipos de intervenção no meio explica a necessidade de buscar amparo na

Psicologia ambiental para compreender e concluir sobre as relações

socioambientais homem e ambiente. Buscar o ser humano enquanto transeunte

do urbano, é considerar as possibilidades sensoriais das pessoas enquanto

transitam pela cidade. Com relação a isso, pode-se propor que o cidadão tem dois

momentos enquanto cidadão urbano:

• um que se caracteriza pelo homem que passa e percebe ou não o

mundo construído e seus elementos,

• outro que é o cidadão enquanto perceptivo, isto é, que percebe, e sobre

suas sensações analisa ou não, reflete ou não, e, enfim, age/reage ou não.

Se o cidadão passa e não percebe, é necessário que passe a perceber. Se

o cidadão percebe e não analisa, não reflete, não age ou reage ao que percebe, é

importante que passe a faze-lo. E se ele produz análise, reflexão, ação e/ou

reação, é importante que essas se conduzam bem, de forma positiva para o

ambiente e que resultem em construção, reconstrução e conservação,

filosoficamente, se formos mais fundo ainda, em desconstrução e até destruição –

pelo menos de antigos conceitos ou percepções. A busca disso tudo se faz

através da educação ambiental programada sobre as necessidades pessoais dos

indivíduos – essas que se pode vislumbrar através da pesquisa – buscando

completar suas lacunas e dirimir o que se pode considerar falhas na visão pessoal

na medida em que, como ela é, resulta em atitudes destrutivas para com a

vegetação da cidade e o meio ambiente de modo amplo.

E, tratando-se de percepção, pode-se questionar o que vem a ser

“vegetação” para as pessoas, e o que é “vegetação urbana”. Pode ser meramente

plantas e árvores da cidade e pode ser a sua transcendência para “urbanidade”

no urbano e a desconstrução do ferro/cimento, quando são percebidas como

elementos que tornam o urbano afável, civilizado, agradável. Está se falando das

formas e significados, do que passa pelos sentidos e do que se processa no

interior e se usa como suporte de reação: a pessoa vê, abstrai, constrói e age de

acordo com sua construção pessoal (percepção).

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Os psicólogos gestaltistas ” (Schultz e Schultz, 2000) acreditam que “há

mais coisas na percepção do que vêem os nossos olhos; que a nossa percepção

vai além dos elementos sensoriais, dos dados físicos básicos fornecidos pelos

órgãos dos sentidos”. Isso supõe que existem coisas subjacentes, isso é, sob a

camada dos cinco sentidos, e que estariam ligadas às emoções, à alma, ao

pensamento. Ora, o cidadão transeunte vê formas, sente cheiros, ouve sons, toca

objetos, sente-os sob os pés, percebe temperatura e umidade do ar, e percebe,

assim, a cidade como elemento físico, sólido e palpável. E ele também sente

emoções: apego ou não aos lugares, repulsa ou atração aos eventos agressores,

compaixão ou indiferença ante os estragos, admiração ou não pelo belo, ira ou

prazer ante a depredação, ternura ou tristeza pelo que desperta lembranças,

entre tantas outras. Essas emoções se alimentam do que se abstrai através da

percepção sensorial, e constroem uma forma pessoal de perceber as coisas. Por

isso as pessoas não vêem de modo igual porque não sentem de modo igual, e

não sentem de modo igual porque cada uma tem sua singularidade. E nesse

momento, ainda que originada em valores sociais, pode-se dizer que a construção

interior de cada um dita a forma como percebe o ambiente. A percepção

ambiental é extremamente subjetiva, construída sobre fatores pessoais, o que,

enfim, dificulta uma pesquisa com características meramente quantitativas,

indicando a necessidade de que seja qualitativa. Isso leva a conclusões que

podem ser relativas, isto é, discutíveis sob o ponto de vista científico.

Por outro lado, se a absorção do meio, sua digestão e construção de

imagens, depende de fatores pessoais, na medida em que as pessoas

apresentam lacunas ou falhas de percepção, ou percepção indesejada, e, por

conseguinte apresentam lacunas de ação positiva para com o ambiente, há

problemas na formação da percepção. Isso caracteriza e reforça a necessidade

de intervir de alguma forma nessas origens (o mundo interior de cada um)

intervindo-se nas fontes (o meio social) através de conscientização e atuação

coletivas, quando se estabelece parceria entre o singular e o plural, numa troca:

um universo interfere no outro, já que o indivíduo compõe o coletivo e o coletivo

absorve o indivíduo, somando, tecendo o social, multiplicando os saberes e as

experiências, e construindo a consciência da multidão. É necessário também

restabelecer rumos e novas possibilidades pessoais, criadas coletivamente. Aí

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entra o papel da educação, nesse caso reforçado o viés ambiental. Não que se

proponha induzir as pessoas a um tipo de comportamento, mas, sim, oferecer um

novo panorama de propostas, de possibilidades, quando se passa a ver e

perceber o meio de uma maneira diferente. É como sensibilizar as pessoas

acordando-as para as formas, texturas, sons, cores e sensações de um ambiente

visto com outros olhos, e buscar, através disso, uma nova postura ambiental.

Nietsche (apud Alves, 2004) disse que “a primeira tarefa da educação é ensinar a

ver”.

4.6.1 A construção da subjetividade contemporânea em relação ao ambiente:

percepção e educação

A construção da subjetividade contemporânea em relação ao ambiente

passa, com certeza, por todos os movimentos ecológicos que o mundo viu desde

que o assunto virou moda. Passa pelas conferências, desde a de Estocolmo até a

Rio+10. Passa pelos discursos, desde o “conformista ao conservacionista e new

age, ao científico e econômico, ao radical e ao catastrófico” (Reigota, 1999). Isso

tudo concorre para a composição de elementos que vêm a construir o subjetivo

dos cidadãos. No entanto, mudanças relativas ao posicionamento das pessoas

quanto às questões ambientais em geral passam, com certeza, mais pela

educação no sentido de educação ambiental, que se atinge pelas escolas, pelos

meios de comunicação e pelas práticas públicas.

Para Reigota (2002) “a educação ambiental é uma proposta que altera

profundamente a educação como a conhecemos”. Para esse autor não se trata

apenas de transmitir conhecimentos sobre ecologia ou visar utilização racional

dos recursos naturais, mas basicamente a participação dos cidadãos nas

discussões e decisões sobre a questão ambiental. Isso significa, no que diz

respeito à vegetação urbana, que as pessoas discutam a questão e cheguem ao

consenso sobre o que pode e o que não pode se fazer. Reigota (ibid.) acrescenta:

“Considero que a educação ambiental deve procurar estabelecer uma ‘nova

aliança’ entre a humanidade e a natureza”. Dado que hoje os conceitos se

ampliaram e ecologia também engloba ética nas relações econômicas, políticas e

sociais, ainda que discuta esses conceitos de maneira mais ampla, essa mesma

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razão ou relação deve existir entre a população e suas árvores, e retorna-se aos

conceitos primeiros de ecologia falando das plantas em geral, e, nessa pesquisa,

na vegetação que o ser humano insere em suas cidades.

Vale relembrar, a primeira incursão exploratória (junho, 2004) entre os

cidadãos de Naviraí-MS, e as primeiras tentativas de abstrair as suas sensações

com relação ao seu urbano, as quais sugeriram que a vegetação urbana não é

percebida, de modo geral, de forma consciente. Ao se perguntar aleatoriamente

na rua pelo nome da árvore preferida, e pela existência ou não de árvores nos

altos da Av. Dourados, as pessoas sinalizaram uma não-consciência aparente do

elemento verde dentro da construção: de 60 indivíduos, 46 % não souberam o

nome da sua árvore preferida, embora soubessem dizer como ela é, 80% não

sabiam se havia ou não alguma árvore no final da referida avenida. Quase 50%

têm consciência de sua árvore preferida, conseguem descrevê-la, mas não

nomeá-la. Diante disso, será que poderia dizer, neste caso, de uma não

consciência aparente do elemento verde? Quando solicitadas e mencionar

alguma coisa sobre o bairro Jardim Paraíso, ouviu-se muito sobre infraestrutura e

habitantes, mas apenas 13 cidadãos mencionaram a ausência completa de

vegetação naquele lugar. Anote-se que ambos os lugares (a avenida e o bairro)

são pontos de referência na cidade e todos, indistintamente, disseram conhece-

los.

Guatari (2004), enquanto critica a “produção de subjetividade social”,

aquela que massifica e hegemoniza comportamentos; escreve que “a cultura de

massa produz indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo

sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão(...)”. A

educação, ainda que libertária, prende; liberta da inconformidade, da ignorância

que desajusta, mas aprisiona ao padrão. A educação, num sentido amplo,

também não deixa de ser massificante, quando tem por objetivo alinhar as

pessoas e seus comportamentos dentro de um padrão considerado aceitável, ou

útil, ou não nocivo, para a sociedade como um todo. Enquanto instituição, ela visa

adequação do ser humano. Pode-se, ao longo da história, alterar suas ênfases,

seus métodos e seus objetivos específicos, mas a razão de se criar, alimentar e

implementar a educação, é a de tornar o homem um ser integrado ao mundo

onde vive, isto é, a uma cultura. Ela forma; não informa.

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E, sendo assim, por paradoxal que seja, quando se desejar educar, e no

caso da proposta dessa pesquisa, educar ambientalmente, e se almeja alterações

individuais e sociais que remetam à percepção do meio, análise, reflexão e

ação/reação quanto ao que se percebe, é preciso refletir sobre subjetividade,

porque o surgimento (e também o desaparecimento) de uma consciência

ambiental passa pelo subjetivo.

A construção da subjetividade é social, ou seja, interage com fatores

históricos, ideológicos, econômicos, entre outros. O crescimento de uma

consciência ambiental é fruto de uma construção coletiva. Porém, a forma como

cada um expressa estes condicionantes é singular.

Subjetividade, conforme Tersariol (1993) “é relativo ao que se passa

exclusivamente no interior do sujeito”. Isso significa a singularidade do ser

humano; trata do que está em sua essência e pessoalidade. Alterações nesse

âmbito só ocorrem por conta da aquiescência do próprio sujeito e assim,

enquanto a proposta de educar é a de propor alteração nesse mundo interior, é

imprescindível que, enquanto intenção, ela vá de encontro às necessidades

existentes ali, a fim de que os efeitos sejam os desejados. É necessário que o

indivíduo construa ou até mesmo desconstrua/reconstrua seu pensar, dando

espaço a uma consciência ecológica. E porque o processo é subjetivo, importa

em não violentar a individualidade uma vez que ter consciência ecológica pode

implicar quase que em assumir uma “crença” pessoal.

Ainda que a subjetividade contemporânea enfrenta mudanças radicais e

extremamente aceleradas em outros horizontes tais como os relativos às

mudanças tecnológicas, notadamente o mundo cibernético e as redes, e aqui

entra a força da mídia, talvez no que se refere à construção dum novo contexto

socioecológico ainda valham as premissas diretamente ligadas à produção de

conhecimento na área da psicologia, que, segundo Nicolaci-Da-Costa (2002),

como alguns exemplos, são:

(a) “Mudanças internas vão ocorrendo aos poucos. Por isso, em um

primeiro momento, quando detectadas sob a forma de novos comportamentos

e/ou novos conflitos, essas mudanças parecem ser localizadas. Nesse primeiro

momento, tem-se a impressão de que apenas um ou outro aspecto da

organização subjetiva característica do individualismo está sofrendo alguma

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transformação”. Isso talvez explica porque algumas pessoas, embora não saibam

dizer o nome de sua árvore preferida, e.g., sabem descreve-la e, com certeza, ela

é uma figura plenamente percebida e interiorizada pelos tais cidadãos. Há um

movimento pessoal pró-vegetação, mas não completo.

(b) “Essas mesmas mudanças são freqüentemente analisadas a partir da

ótica das tradicionais teorias do indivíduo. Isso faz com que muitas vezes sejam

interpretadas como patologias ou desvios ou, ainda, como uma forma de

esvaziamento de algo que deveria estar lá”. Na medida em que assume um

pensar ecológico, é possível que ocorram conflitos quanto ao que aceitar ou não

como ecologicamente correto. Por exemplo: não admitir jamais o corte de uma

árvore urbana, ou promover manifestações populares quando a fiação elétrica

tem decretada sua supremacia sobre as árvores que crescem debaixo dela. É

interessante perceber que o mesmo cidadão que planta uma árvore é o que corta

outra, sem que necessariamente sua atitude seja imoral.

(c) “A produção de conhecimento sobre o novo estado de coisas, como não

poderia deixar de ser, é feita pouco a pouco. Assim sendo, nos primeiros estágios

de mudança, falta a visão de conjunto necessária para se avaliar a abrangência e

a radicalidade da transformação”. Talvez por isso que, muitas vezes, as ações no

universo da educação são tão intermitentes. Programas iniciam e param pela

metade porque existe essa dificuldade de abstrair o longo prazo. Mudam

governos, mudam gestores, mudam tendências e rumos. Uma proposta de

educação ambiental em Naviraí-MS, e em qualquer lugar, deverá contemplar uma

série de atos num período de tempo adequado, seguindo um planejamento

objetivo e realista, atrelado à comunidade e não a seus representantes de

momento.

(d) “Faltam novas leituras da subjetividade que identifiquem o novo, e não

somente a morte do velho, de modo a possibilitar a construção de novas teorias

que interpretem a nova realidade e a nova organização subjetiva por ela gerada”.

O desaparecimento do “espírito madeireiro” e a instauração de posturas de plantio

e cuidado à vegetação, no caso de Navirai-MS, podem ser tidos como o velho e o

novo, uma história ainda por escrever, certamente. Compreender que há beleza

na conservação e inglória na extração desgovernada para fins econômicos, é uma

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mudança de mentalidade que, nas atuais circunstâncias de desconhecimento da

causa ecológica, em muitos cidadãos da cidade talvez seja quase que irreal.

4.6.2 Transpondo um vácuo: da subjetividade para objetividade pró-ambiente, a

consciência ecológica em ação.

A sociedade mundial busca esforçadamente construir um novo modo de

ver a natureza (talvez se devesse pensar que busca “resgatar” alguma visão

antiga de ecologia e conservação). Esse esforço está estampado nos movimentos

ecológicos que reúnem pessoas para discutir temas ambientais (Estocolmo, 1972;

Belgrado, 1975; Tbilisi, 1977. Moscou, 1987; Quioto, Rio de Janeiro,1992;

Tessaloniki, 1997; Porto Alegre, 2000, e.g.), na formação de organizações não-

governamentais (ONG’s) ambientalistas, na formulação de leis protecionistas, na

criação de padrões de produção limpa como a ISO série 14000, ou do Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) de 1974, entre outros. Esse

esforço deve expressar o agregado das subjetividades individuais na medida que

representa um pensar coletivo. No entanto, a grande massa de pessoas não está

inclusa nesse agregado porque a maioria dos cidadãos, das cidades e do mundo,

pouco sabe sobre essas questões.

Em sua pesquisa em São Miguel Paulista-SP. Fleury (1986), concluiu que

existe um vínculo muito forte entre origem do indivíduo e a sua imagem de

vegetação. Ora, origens e locais nativos tem a ver com infância, ali onde se

cresceu – ali onde se aprendeu as primeiras impressões sobre isso ou aquilo.

Infância tem a ver com família, pais, educação (ou não) em casa. Fleury também

concluiu que as pessoas têm grande interesse sobre vegetação, mas pouco

conhecimento (científico?) sobre ela. Que os mais velhos cuidam mais e os mais

novos não se envolvem muito (talvez a experiência da vida vai mostrando o valor

e o aprendizado cotidiano vai agregando verdades às coisas da cidade e às suas

árvores). Mas que a percepção dos mais novos é mais afinada, o que pode ser

atribuído ao fato de as pessoas, quando jovens, serem “críticas” por natureza, ou

porque hoje há mais informações nas escolas, nas ruas, na Tv, na Internet, a seu

dispor. (“A gente não aprendia essas coisas na escola” disse uma cidadã de meia

idade que participou desta pesquisa). Até mesmo quando as pessoas acreditam

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estar bem informadas sobre ambiente, conforme a pesquisa de Leitão (1993),

“elas próprias atestam o contrário quando afirmam que não lêem nem livros e

nem revistas especializadas sobre o assunto”, utilizando apenas a televisão – que

ele classifica de conteúdo manipulativo e superficial – como principal veículo para

a aquisição de seus conhecimentos ambientais. A ciência não chega à mesa de

estudos do brasileiro comum.

Assim, quando autores buscam a expressão do “pensamento do brasileiro”

como por exemplo o trabalho de Crespo (1993), sobre ecologia, e se atém aos

que se considera formadores de opinião, é possível que não estão encontrando,

de fato, o pensar subjetivo da grande população. Isso é possível já que, como se

vê nessa incursão entre a população de Naviraí-MS, a grande maioria das

pessoas demonstra não ter noção de ecologia, mostram não saber sobre árvores

e parecem não perceber o real significado do elemento verde no urbano, ainda

que os formadores de opinião possivelmente o saibam. Se assim for, também se

há de imaginar que as pessoas tidas como formadores de opinião ecológica, na

verdade não a formam, seja lá porque não estendem adiante seus

conhecimentos, deixando-os na clandestinidade do subjetivo por

desconhecimento de como repassar a informação, ou então por indiferença.

Por esses motivos, a subjetividade, na medida em que exerce seu efeito no

sentido de alicerçar valores pessoais, isso é, estabelecer crenças pessoais

quanto à ecologia, deve dar espaço à objetividade e essa pode ser expressa em

leis, tratados, acordos coletivos sobre meio ambiente e o estudo continuado de

temas ambientais nas escolas, mídia e eventos comunitários.

Isso concorda com Beria Di Argentine (1986), quando discute a “síndrome

da subjetividade”: (...) Teci essas considerações porque considero oportuno falar

do sentido do sofrimento. Não em termos de sua aceitação sentimental, piegas ou

vitimista, mas em termos positivos, de contínua revisão de nossos

posicionamentos, atitudes e critérios quotidianos. Somente quando formos

capazes de suportar as tensões intermediárias em nossas vidas (no trabalho, no

casamento, nas amizades) aprenderemos o sentido da paciência, do "dar fruto"

nos pequenos e grandes sofrimentos. Uma tal afirmação poderia, para muitos,

parecer voluntarista - e, em parte sê-lo-ia - se não chegássemos a dar um passo

a mais em termos de compreensão da realidade. E o passo adiante que proponho

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é no sentido de uma redução da subjetividade, que, já há algum tempo, impera na

sociedade atual. Não aceitar as dificuldades de um casamento, de um trabalho,

de uma amizade, de uma empresa, significa não compreender que tudo na vida é

um processo objetivo e não apenas uma experiência subjetiva. O esforço (ou, se

se preferir, a paciência como sofrimento) está ao serviço do objeto que se constrói

- um negócio ou um casamento - através de um lento processo de criação,

administração, controle dos problemas e dos impulsos individuais dos que estão

envolvidos na realidade de que se trate. (...) Se ao invés de nos centrarmos no

objeto, estivermos totalmente voltados para o modo como subjetiva e

emotivamente sentimos a experiência do eu naquele objeto, então a medida do

valor e do comportamento recai na esfera subjetiva e facilmente escorrega para o

dilema do ‘tudo ou nada’ ”

O que o autor coloca, acima de tudo, é a necessidade de estabelecer

objetividade nas ações da vida. Isso inclui ambiente. Inclui os cuidados à

vegetação da cidade. A sociedade passa por sofrimento enquanto constrói os

parâmetros desses cuidados. Esse sofrimento (a transformação necessária)

produz resultado quando a subjetividade de cada um, construída a favor do

ambiente, extrapola de forma coletiva para a objetividade da ação. Temos aí o

transeunte que passa, percebe, racionaliza e age, como indivíduo e como cidadão

(o homem agregado). Isso significa transformar percepção em ação. Transcender

o subjetivo para, como diz, pelo processo objetivo construir ao serviço do objeto,

que no caso dessa proposta é a vegetação urbana. Cidadania é, acima de tudo

isso: que o ser individual se vê comprometido com o que é social, comum; age

íntegro (ele), integrado ao todo (à cidade, à sociedade). E objetividade para com a

vegetação urbana será a ação de proteção e a reação à desproteção, coisa que

faz aquele que denuncia, por exemplo. Isso é expressão de consciência

ecológica.

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4.6.3 Educação ambiental e objetividade: desfragmentar e integrar através da

transdiciplinaridade e da intradisciplinaridade.

Duas coisas são importantes pensar nesse momento: primeiro que

objetividade também é sinônimo de cientificidade e, segundo, os conhecimentos

ecológicos encontram-se fragmentados.

Rigler (1980) diz muito oportunamente que “a ecologia é uma disciplina que

está mais preocupada em desenvolver conceitos do que na produção de teorias”.

Conceito, segundo ele, se define como “uma noção geral” ou como “um objeto

concebido pela mente”. Mais, diz ele, os ecólogos usam essas duas palavras

como sinônimos, o que é um erro porque a “tarefa da ciência não é colecionar um

corpo de noções gerais, mas produzir teorias”. Continua: “Uma teoria é

contraposta a conceito porque a teoria faz predições acerca do mundo externo e

se essas predições são erradas, pode-se demonstra-lo”. E é nisso que está a

objetividade da ciência: de conceitos mentais, temos fatos e comprovações. A

pesquisa científica se faz importante para se conhecer o mundo.

Contrariando esse pensamento, surge a fragmentação das ciências.

Duramente criticada, a fragmentação do conhecimento tem levado os estudiosos

a atuarem como especialistas isolados enconchavados em suas especialidades,

ilhas técnicas, onde não há o que produza coesão. Se colocadas juntas, as

ciências, o máximo que conseguem é o paralelismo, quando uma consegue andar

ao lado da outra, mas nunca se tocando. Se de um lado, como diz Souza (2000)

está “o contexto econômico hostil” à idéia de refazer os paradigmas da relação

homem-natureza, do outro está a “educação ambiental exposta em bloco, à ação

desmoralizante do adversário unido”. Significa que, para que o discurso não seja

vazio e a ação leve ao nada, antes de todas as outras ciências, e enquanto elas

acordam, as ações de educação ambiental devem primar pela

transdisciplinaridade, idéia que, conforme Souza (ibid.) compõe a Recomendação

de Nº 1 da Conferência de Tbilisi (Geórgia,EUA, em 14 a 26 de outubro de 1977).

E mais, que se torne intradisciplinar, imiscuindo-se dentro de tantas quantas são

as ciências, tornando-se um eixo comum a todas, na mesma medida em que se

utiliza de tantas quantas lhe completem. Não se pode pensar num economista

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sem consciência ambiental e nem num geógrafo, e um médico, e um professor.

Todos atuam num mesmo ambiente e sobrevivem dele; também seus

descendentes o farão. Quem precisa ser menos ambientalista? Quem pode sê-lo?

A proposta de objetividade, na medida em que o singular se soma e produz o

social, o comunitário, perpassa também a educação ambiental. Dado que o saber

ambiental soma ciência e popular, a frente de ação da educação ambiental

começa já na família, quando os novos valores são passados às gerações

futuras, tornando-se parte da cultura do povo. E se o respeito e dedicação às

árvores da cidade originarem-se já no contexto da educação familiar,

provavelmente a tarefa escolar e técnica será bem menos difícil, completando-a.

4.7 Vegetação urbana e o urbano e a poética

Conforme Mascaró (2002) “vegetação urbana é aquela que permite que o

espaço construído se integre com o jardim e o parque”. A vegetação urbana

devolve ao homem um pouco do natural. Na medida em que não podemos mais

habitar florestas e precisamos construir cidades, trazemos as florestas para

dentro das cidades numa tentativa de retornar às origens do humano sobre a

Terra. Com a evolução dos tempos e da humanidade, talvez, se reconstruam os

ambientes de forma a fazer com que se pareçam mais como cidades dentro de

matas e não matas dentro de cidades. A vegetação integra homem, construção e

natureza. Santiago (1978, apud Cavagnari, 2004) dizia que “o homem teve como

hábitat natural e primitivo a vida livre desenvolvida nas florestas. Hoje se vê

lançado na cidade, quase hostil, sem nenhuma opção, sujeito às conseqüências

da hostilidade ambiental representada pela poluição”. Há que se convir que as

cidades não são menos hostis do que as florestas já que a hostilidade reside nas

adversidades à sobrevivência, e que o homem não foi lançado na cidade, mas ela

é construção sua, no entanto, é verdade que reflorestar as cidades é buscar o

hábitat primitivo, e subtrair dele inúmeras hostilidades urbanas, incluindo a

poluição.

A cidade é um elemento que dá suporte material à expressão máxima do

ser humano: a expressão poética – essa capaz de transformações; essa que faz

do homem, homem, isso é, humano. Heideger (1958) diz que o ser humano é, em

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sua essência, poético. Na medida em que as pessoas integram (são parte) e

interagem no urbano, elas se constroem através da forma que vão dando ao

mundo que as cerca. Enquanto anda pelas ruas, o cidadão absorve o que

sente/pressente naquilo e naqueles que o cercam, na mesma medida em que é

absorvido pelo sentir/pressentir de outrem. O urbano faz a imagem do homem e o

urbano é a imagem do homem. Concorde-se com Bosi (apud Tassara e

Rabinovich, 2001): “se a natureza remete a Deus, o urbano leva ao homem” na

medida em que é construção dele, do homem. A plenitude do viver, no urbano, é

sustentada pela poética na medida em que o homem se imprime ao meio e é

impresso por ele: o “ser” e o “vir-a-ser”, e o ser transformado pelo meio e a

capacidade de transforma-lo. A mutabilidade das cidades é escrita pelas gerações

que se sucedem, pelas pessoas cujas vidas vão escrevendo o eco-urbano,

transmutando-o, na mesma medida em que vão elas próprias adquirindo novas

feições, influenciadas por ele.

Nessas transformações, enquanto o homem constrói a sua imagem,

expressa sua poética, ele retorna a Deus na medida em que insere a natureza

nesse meio. Compreende-se que ele não pode fugir de suas próprias origens na

medida em que ele próprio é Natureza, também. E sua poética se expressa,

assim, de uma forma transcendental, porque o religa e faz o retorno a essa

origem. O verde que o homem acrescenta à sua construção – o urbano – é a

resultante dessa parte da poesia humana nesse urbano. Quem sabe sua melhor

poesia. Na mesma proporção em que as construções impressionam, excitam ou

angustiam, o verde da vegetação acalma e reduz a significância do concreto,

trazendo-o à forma que a alma humana é capaz de absorver sem se sentir

oprimida. Este estado de coisas estará sinalizando o resultado de uma

consciência adquirida. A flor terá rompido o asfalto. Pode ser que esse ponto de

encontro ‘natureza e construção’ seja um equilíbrio, quando um procura e outro se

deixa encontrar, assim como o encontro ‘Deus e homem’ o é.

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CONCLUSÃO E SUGESTÕES

El hombre debe hacer constante recapitulación de su experiencia y continuar

descubriendo, inventando, creando y progresando”. (Proclamação III da Conferência da

ONU sobre o Meio Humano – Estocolmo, Junho de 1972)

Os resultados que se obteve para essa pesquisa mostram que vegetação

não é figura no urbano para a grande maioria das pessoas e raramente o enfoque

que elas têm ao se referir a ela tem cunho ambiental ou ecológico. A percepção

destes cidadãos liga-se à beleza pura e simples, aos efeitos de sombra local (na

sua frente de residência, na sua calçada, na sua janela), à capacidade de

produção de frutos e, a característica com amplitude maior que se percebe é a

relativa a oxigênio no ar. Vegetação urbana para os cidadãos naviraienses não se

insere numa macro-visão ambiental. Não é percebida como elemento participante

de um sistema maior, com funções amplas em relação ao ecossistema.

Expressões e temas intrinsecamente científicos, como evapotranspiração e

percolação, não são conhecidos, e nem a importância desses eventos para o

ambiente.

A falta de percepção é cultural, e, o desconhecimento, resulta de falhas na

educação formal. As pessoas mostram interesse e abertura para assuntos

ambientais, sendo verdadeiro afirmar que elas, de modo geral, se preocupam e se

importam com o ambiente. Na maioria das vezes, não sabem o que fazer e

desconhecem a dimensão dos problemas ambientais. O estudo e as entrevistas

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mostram que pessoas com nível escolar menor, tem dificuldade maior com

questões ambientais. A noção de vegetação como elemento ambiental aumenta

entre pessoas com escolaridade maior, a partir de nível médio completo, mas

observou-se que uma escolaridade melhor, não implica numa atuação maior

porque, ainda que mais escolarizados, o grau de informação específico que

essas pessoas tem é falho e elas também não sabem como atuar. O que se tem é

uma problemática que envolve cidadania, quando as pessoas não possuem

padrões de ação socializados, tidos normais, aceitáveis e esperáveis: o singular

não remete ao social porque não existe um contexto cultural para isso, e nem há

na singularidade de cada um o ‘similar’ que se possa somar e fazer brotar como

ações do povo.

Conclui-se que há falta de informação ambiental e de um programa

educacional voltado tanto para crianças como para adultos, visando tornar todos

mais conscientes da existência da vegetação urbana, de seus benefícios e dos

cuidados que exige e que a educação ambiental, levando à tomada de

consciência, poderá mudar a forma de ver e sentir o elemento verde na cidade, e

que, com outra percepção, as pessoas poderão ser mais atuantes apresentando

ações mais positivas com relação à arborização, tanto nas frentes residenciais e

lugares públicos como nos quintais.

Sugestões para melhorias

Algumas atividades e canais elementares que a comunidade e o poder

público podem se utilizar e implementar numa frente de educação ambiental em

Naviraí-MS:

I. Criar e projetar um plano da arborização da cidade, com a comunidade,

buscando e utilizando pesquisadores, ou promovendo pesquisa específica para

isso, incluindo desde projetos físicos locais até a busca de tipos arbóreos

adequados na flora da região. Pode-se sugerir a utilização de espécies frutíferas

nativas para florestar a cidade de Naviraí-MS. A atual geração de crianças que

vivem no urbano terá oportunidade de gratas lembranças infantis, as mesmas que

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as crianças que vivem no campo, reminiscências dos tempos de catar frutas no

mato. E serão adultos em cuja vivência as árvores poderão ter significado. Por

outro lado a escolha por frutíferas, sejam quais forem, vem ao encontro da

tendência mostrada de respeitar e cultivar essas árvores.

II. Desenvolver e coordenar atividades e programas de envolvimento da

população, buscando, assim, ações positivas por parte do cidadão para com as

árvores, socializando a vegetação da cidade (trabalho prático nas ruas e bairros

que envolvam efetivamente a população – p.ex.: crianças da periferia e seus pais

plantam a árvore à sua frente e essa será sua mascote; será um apadrinhamento

da vegetação, podendo o Jardim Paraíso e o Jardim Ipê ser os primeiros bairros a

testar essa possibilidade;

III. Incrementar os estudos de ciências ecológicas, também as urbanas,

nas escolas: através de seu aparato, escolas são um instrumento ideal para

colocar em prática a canalização de informações e práticas ambientais.

IV. Atuar através da Gestão Municipal (da Educação e do Meio Ambiente):

implementar treinamento de professores e educadores em geral, viabilizar

financeiramente – com a aplicação do ICMS ecológico - ações que atinjam a

comunidade, organizar eventos voltados para o assunto ambiental, com enfoques

especiais na vegetação.

V. Utilizar os meios de comunicação na cidade, levando a um

compromisso obrigatório de veiculação de notas e programas sobre meio

ambiente, sugerindo às emissoras de rádio, tv, jornais e impressos em geral, a

administração das possibilidades de transformar esses momentos de “ecologia no

ar” em pontos altos de programa, inclusive com vistas econômico-financeiras, já

que no mundo em geral, “meio ambiente dá audiência” nos dias de hoje, é

assunto em voga, é tema em alta. Sendo assim, também em Naviraí-MS deve-se

aproveitar o viés lucro e utilizar-se dele para atingir objetivos educacionais e

conservacionistas, já que, em se tratando dos entes de produção e serviços, o

lucro é o fator de impulso para muitas atividades. (O “bolso” é um elemento

notadamente sensível: quando multadas, as pessoas cumprem; quando

remuneradas, elas agem).

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VI. Canalizar informações através de panfletagem e impressos: Esse meio

de comunicação é muito interessante. Candidatos a cargos públicos conhecem a

força dele e usam-na em suas campanhas. Informações em doses compactas,

apresentação relâmpago de idéias e sugestões, comunicação sucinta de fatos,

aproveitando o momento do transeunte no cotidiano, sem interromper o avanço

de seu movimento nos afazeres, seja na rua ou dentro dos recintos (públicos ou

privados, nas suas casas ou no local de trabalho), são as grandes vantagens

dessa estratégia de educação.

VII. Educar e esclarecer intensivamente as pessoas que lidam com a poda

das árvores urbanas abrindo-lhes a visão do ecológico. Envolver-se-á tanto os

podadores do órgão público que fazem a poda corretiva e de manutenção como

os da empresa terceirizada da ENERSUL (Empresa de Energia Elétrica de Mato

Grosso do Sul), que fazem a poda de proteção à fiação elétrica com vistas à

prevenção de acidentes. Essas pessoas devem desenvolver suas atividades

imbuídas de uma filosofia de proteção e respeito à arborização.

VIII. Aproximar o horto florestal municipal e os cidadãos, trazendo para o

cidadão comum a possibilidade prática de estar no horto, de ajudar o horto, de

saber o que é e para quê serve o horto e utilizar seus resultados.

IX. Considerando que as vias públicas são patrimônio da sociedade, e as

árvores também, criar um programa, e uma equipe, de cuidados e consertos para

os casos alegados como danosos para o morador, ajudando a resolver os

problemas de calçamentos quebrados, e.g, para evitar cortes de árvores.

X. Criar um programa de aproveitamento de resíduos orgânicos de quintais

e casas na formulação de húmus de jardim, e canalizar esse bem aos quintais e

residências das pessoas que cultivam algum jardim ou horta, e ao próprio horto.

Incentivar ajardinamento e hortas domésticas.

XI. Criar e incentivar um programa, por sugestão do cidadão e empresário

naviraiense, Natael da Silva (Adm.), de premiação para o melhor jardim do bairro,

a exemplo do que já fez em época natalina quando a casa mais enfeitada foi

premiada.

XII. Conforme sugestão de vários cidadãos entrevistados, a exemplo da

muda de pau-brasil na praça, plantar árvores diferentes, de espécies nativas,

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cercando-as e afixando placas com o nome para chamar à atenção, coisa que,

com certeza, as trará para o imaginário das pessoas, plenamente percebidas e

assimiladas.

XIII. Que o poder legislativo municipal de Naviraí-MS, notadamente a

Câmara de Vereadores, se debruce sobre a criação de leis municipais voltadas à

arborização e à proteção desse bem público, promovendo atividades de pesquisa

de opinião pública, plebiscito e chamada ecológica visando a participação intensa

da população na criação dessas leis.

XIV. Que entidades financiadoras do setor da construção civil, notadamente

a Caixa Econômica Federal, ou o Governo Federal através de órgãos

competentes, coíba a elaboração de bairros sem projeção da arborização,

fazendo cumprir, sob cláusula de financiamento, a estruturação da vegetação no

bairro, coibindo, assim, a construção de desertos urbanos já que, como é o

costume, bairros de loteamento ‘tipo BNH,’ sempre começam com a ‘limpeza’ total

da área e sua descaracterização natural, buscando-se, com isso, modelar aquela

paisagem naquele padrão que marca esses bairros, sem nada que fale de seus

moradores, mas tudo que identifique com precisão ser aquele um bairro ‘político’,

doado aos pobres, favor de políticos e da sociedade via prefeitura. Bairros assim

parecem prisão de espíritos, quando a singularidade do cidadão é aprisionada por

força de falta de opção econômica; eles são descaracterizados e re-

caracterizados como habitantes de ‘bairro bnh’. Em Navirai-MS, no Jardim

Paraíso, as tentativas de cidadão em remodelar sua construção, ao ter o

financiamento para seu material na Caixa, foram terminantemente proibidas pelo

setor da Prefeitura Municipal que exigia que as casas “tem que ser iguais por fora;

tem que seguir o padrão”. E ainda que assim continue, florestar essas áreas

também será importante para minimizar o efeito dessas políticas do “mesma coisa

para todos”.

XV. Elaborar e implementar projeto: “Naviraí desperta para o verde” com o

fim de levar conhecimento através dos resultados de pesquisas, não só ao setor

público municipal, mas à população em geral, para que elas tomem conhecimento

das conclusões e sugestões. Descobrir e colocar em evidência os cidadãos

naviraienses que têm desenvolvido pesquisas científicas e outros trabalhos

ambientais, e os integrantes da ONG GEBIO de Naviraí—MS, apresentando-os à

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sociedade e tornando-os públicos através dos meios de comunicação, das

escolas e de programas educativos, para que seus trabalhos alcancem a

coletividade e surtam efeitos de educação e formação de consciência ecológica.

As pessoas precisam saber. No momento em que sabem, elas se posicionam:

favorável, desfavorável ou indiferentemente. Uma cultura voltada à promoção de

eventos educacionais transforma-se em verdadeira campanha de mobilização de

longo prazo quando, ao longo do tempo, a atitude das pessoas muda ou se

reforça, na medida em que o saber vai se transformando em atitudes e em

práticas cotidianas.

XVI. Transpondo para amplitude maior, que as entidades de ensino e

pesquisa se voltem, em seus cursos de área, para a criação de tópicos

específicos aplicados à vegetação urbana a exemplo da Agrossilvicultura e

Sistemas Agroflorestais, quando se aplica no agroecossistema toda uma

tecnologia e cientificidade voltada à reflorestagem de áreas agrícolas, buscando

tornar o sistema modificado mais próximo ao natural, casando culturas agrícolas à

floresta, aliando produção com conservação ambiental. Ciência da vegetação

urbana é uma questão prioritária para devolver qualidade ao ecossistema urbano,

e deve fazer parte da consciência coletiva. E, considerando-se que Naviraí-MS é

um pólo de educação universitária, comportando uma universidade estadual

(UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), e duas particulares

(UNIDERP – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do

Pantanal, e FINAV –Faculdades Integradas de Naviraí-MS), que as mesmas

desenvolvam programas transdisciplinares voltados a assuntos e projetos

ambientais, gerais e específicos que, para o caso desse estudo, envolvam

aspectos relacionados à vegetação urbana. A participação dessas organizações

de ensino deverá levar os conceitos para as cidades circunvizinhas, pois nas

mesmas há universitários de toda a região. Assim elas serão difusoras de um

novo pensar em todo o Cone-Sul, haja vista, por exemplo, que a FINAV, em mais

de uma década de existência, teve em suas salas de aula seguramente 80% dos

professores da região, concorrendo, assim, para o atual estágio da educação no

Cone-Sul. A cobrança de uma postura ambientalista por parte dessas entidades

deverá vir tanto do Poder Público, via Promotoria e Prefeitura Municipal, como da

sociedade representada pelos cidadãos individualmente e pelas entidades de

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classe e organizações sociais. Qualquer movimento de ensino – da Administração

às Ciências Políticas, das exatas às sociais e humanas – deveria ter como

primeira preocupação a manutenção dos meios do ambiente, o Oikos, onde a arte

evolui.

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ANEXOS

MAPA DA CIDADE DE NAVIRAÍ, MS.

Mapa elementar da cidade, representando o desenho da área urbana, semnomenclaturas e indicações, as quais aparecem no mapa completo que se encontro em“Anexos”. (Fonte: Gentilmente cedida por Top-Com Engenharia Ltda, Naviraí-MS)