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UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
MESTRADO
PSN – A PAIXÃO NO ESPORTE:
a falência de um canal internacional de televisão
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Mestre em Comunicação.
VAGNER ANSELMO MATRONE
SÃO PAULO
2018
UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
MESTRADO
PSN – A PAIXÃO NO ESPORTE:
a falência de um canal internacional de televisão
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Mestre em Comunicação.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Adami
VAGNER ANSELMO MATRONE
SÃO PAULO
2018
Matrone, Vagner Anselmo. PSN – a paixão no esporte : a falência de um canal internacional
de televisão / Vagner Anselmo Matrone. - 2018. 80 f. : il. color.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2018.
Área de concentração: Comunicação e Cultura Midiática. Orientador: Prof. Dr. Antônio Adami.
1. Televisão. 2. Esporte. 3. Comunicação. I. Adami, Antônio
(orientador). II. Título.
Ficha elaborada pelo Bibliotecário Rodney Eloy CRB8-6450
VAGNER ANSELMO MATRONE
PSN – A PAIXÃO NO ESPORTE:
a falência de um canal internacional de televisão
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Mestre em Comunicação.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
________________________________________/___/______
Prof.a Dr.a Carla Montuori
Universidade Paulista - UNIP
________________________________________/___/______
Prof. Dr. Antônio Adami
Universidade Paulista - UNIP
________________________________________/___/______
Prof.a Dr.a Maria Isabel Galvão de França
Universidade UNIMONTE
Dedico este trabalho à minha esposa Marcia Dutra Lopes Matrone, que sempre me incentivou nas horas mais difíceis. Se não fosse por ela, eu não teria obtido as vitórias da minha vida. Obrigado pela paciência!
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Antônio Adami, por me mostrar que sempre é possível. Nunca faltou por parte dele uma palavra de incentivo e positividade, mesmo nas críticas construtivas que fez ao meu trabalho. Ao Prof. Dr. Rubens Fernandes Junior, por me apresentar os caminhos da Academia e me incentivar a seguir por um deles, sem nunca ter duvidado da minha capacidade. Ao meu amigo Prof. Dr. Martin Cesar Feijó, pelas inúmeras conversas durante a fase de maturação deste trabalho. Aos professores da UNIP, pelas contribuições valiosas, e aos funcionários da Universidade, pela atenção e disponibilidade em responder às minhas inúmeras perguntas. Aos meus colegas da PSN que tornaram essa experiência única e inesquecível.
“Ao contrário de muitos amigos, eu nunca tomei LSD, mescalina, coca ou coisa parecida, enquanto eles subiam pelas paredes, eu assistia TV.”
Steven Spielberg
RESUMO
Neste trabalho dissertou-se sobre o processo de falência de um dos maiores canais
segmentados de esportes da TV a cabo e por satélite da América Latina, a Pan
American Sports Network. Buscou-se analisar os motivos que levaram a emissora a
encerrar suas operações, o porquê de ter saído do ar mesmo sendo líder de audiência
no segmento esportivo, com o objetivo de entender o processo de edificação de um
canal internacional de televisão e identificar o que leva ao fracasso um projeto tido
como promissor, com um potente plano de negócios e uma infraestrutura física e
tecnológica de ponta. Não são vistas emissoras de TV fechando ou abrindo atividades
a toda hora, seja no Brasil ou no exterior, por isso, considerou-se importante esta
pesquisa, justificada pela carência de material na área de comunicação. Trata-se de
uma pesquisa de cunho memorialista, qualitativa, com estudo de caso, que se apoiou
na vivência de seu autor dentro da emissora e em pesquisas bibliográficas. A coleta
de dados apontou que jamais foram esclarecidos os motivos que levaram a empresa
estudada ao fechamento, o que se tem até então são hipóteses lançadas pela mídia,
sobre má administração, falta de conhecimento de broadcast, crise econômica
mundial e consequente inadimplência no mercado argentino em 2000, levando a
empresa a perder clientes e milhões de dólares em assinaturas do canal, inclusive
que foi construída para deixar de existir em curso espaço de tempo para obter
benesses fiscais. Considerou-se que esta situação não anula a importância de se
divulgar o quão importante foi este canal para a cobertura esportiva de televisão.
Palavras-chave: Rede PSN. Esporte. TV a cabo. Canal internacional.
ABSTRACT
In this paper, we discussed the bankruptcy process of one of the largest segmented
sport channels on cable and satellite TV in Latin America - Pan American Sports
Network, seeking to analyze the reasons that led the broadcaster to shut down its
operations, the reasons for having gone off the air, even it being the audience leader
in the sports segment. The main objective is to understand the process of building an
international television channel and to identify what leads to failure a winning project
with a powerful business plan and a state-of-the-art physical and technological
infrastructure. We do not see TV stations closing or opening activities all the time,
whether in Brazil or abroad, so this paper is considered important and it is justified by
the lack of material in the area of communication. This is a qualitative, memorialist
research, with a case study, which was based on the experience of its author within
the broadcaster and on bibliographic researches. The data collection pointed out that
the reasons that led the studied company to closure have never been clarified. What
we know until then are the hypotheses launched by the media, about mismanagement,
lack of broadcast knowledge, global economic crisis and consequent delinquency in
the Argentine market in 2000. All this led the company to lose clients and millions of
dollars in channel subscriptions, including the fact that it was built to cease to exist in
a short period of time in order to obtain tax benefits. We considered that this situation
does not negate the importance of disclosing how important this channel was for
television sports coverage.
Keywords: PSN Network. Sports. Cable TV. International channel.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sede da PSN na cidade de Hollywood – Florida – EUA (2000) ............... 23 Figura 2 – Dupla de narradores hispanos da emissora (2000).................................. 24 Figura 3 – Estudo de cenário .................................................................................... 25 Figura 4 – Cenário Show do Pelé .............................................................................. 26
Figura 5 – Cenário para a abertura do Show do Pelé ............................................... 27 Figura 6 – Storyboard da vinheta do programa Cara a Cara .................................... 28 Figura 7 – Storyboard da vinheta do Campeonato Argentino ................................... 29 Figura 8 – Storyboard da vinheta de Dicas de Golfe ................................................. 30 Figura 9 – Gráfico de posição de largada na Fórmula 1 ........................................... 31
Figura 10 – Estudo/Conceito para PSN - Mulheres no Esporte ................................ 32
Figura 11 – Logotipos de programas ......................................................................... 33 Figura 12 – Logotipo PSN ......................................................................................... 34
Figura 13 – Elementos gráficos do PSN News .......................................................... 35 Figura 14 – Estudo de cenário do PSN USA ............................................................. 36 Figura 15 – Storyboard da vinheta das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002 ........................................................................ 37 Figura 16 – Storyboard vinheta do Campeonato Italiano .......................................... 38 Figura 17 – Crachá funcional .................................................................................... 43
Figura 18 – Cartão pessoal ....................................................................................... 44 Figura 19 – Equipe da PSN. ...................................................................................... 47
Figura 20 – Festa de inauguração da PSN em Miami (2000) ................................... 48 Figura 21 – Bastidores da cobertura do Campeonato Sub-20, no Equador (2001)... 49 Figura 22 – Banner promocional ............................................................................... 51
Figura 23 – Frame de uma vinheta ........................................................................... 52 Figura 24 – Frame de uma vinheta de abertura ........................................................ 52
Figura 25 – Banner Promocional com slogan em português ..................................... 52 Figura 26 – Material promocional da PSN ................................................................. 53
Figura 27 – Tabela de escalação .............................................................................. 57
Figura 28 – Logo da PSN.Com ................................................................................. 58 Figura 29 – Imagem do carro da equipe Prost (2001) ............................................... 58
Figura 30 – Bastidores do programa Show do Pelé em Nova Iorque (2002) ............ 67
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATP Association of Tennis Professional
AVID Plataforma de Edição Não Linear
BBC British Broadcasting Corporation
CNN Cable News Network
CONCACAF Confederation of North, Central American and
Caribbean Association Football
CONMEBOL Confederación Sudamericana de Fútbol
CEO Chief Executive Officer
FCC Federal Communications Commission
FIFA Federation Internationale de Football Association
HMTF Hicks, Muse, Tate & Furst,
MTV Music Television
NBA National Basketball Association
NHK Nippon Hōsō Kyōkai - Japan Broadcasting Corporation
PSN Panamerican Sports Network
TOEFL Test of English as a Foreign Language
UEFA Union of European Football
WNBA Women's National Basketball Association
WTA Women's Tennis Association
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2 PRINCIPAIS FALÊNCIAS DA TV BRASILEIRA .............................................. 15 2.1 TV Tupi ........................................................................................................... 15 2.2 TV Excelsior ................................................................................................... 17
2.3 O fechamento das emissoras ......................................................................... 18
3 A HISTÓRIA DA PSN ....................................................................................... 22 3.1 A montagem do canal..................................................................................... 22 3.1.1 Comunicação visual .................................................................................... 24 3.2 O sonho acabou ............................................................................................. 40
3.3 Minha história com a PSN .............................................................................. 42
4 LANÇAMENTO DO CANAL PSN ..................................................................... 51 4.1 Estratégia de marketing.................................................................................. 51
4.2 Compra de direitos com exclusividade ........................................................... 54 4.3 Contratação de pessoal.................................................................................. 55 4.4 Linguagem inovadora das coberturas ............................................................ 56
4.5 Programação .................................................................................................. 59 4.5.1 Um pouco da história do futebol .................................................................. 61 4.5.2 Movimentação financeira do futebol no Brasil ............................................. 61
5 O FECHAMENTO DO CANAL ......................................................................... 66 5.1 Operação silenciosa ....................................................................................... 66
5.2 Funcionários desempregados ........................................................................ 69
5.3 O impacto da falência da PSN no mercado de Broadcast ............................. 73
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 75
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 79
1 INTRODUÇÃO
O telespectador brasileiro está, de certa forma, familiarizado com a falência e o
desaparecimento de canais de televisão na breve história dessa mídia no país,
considerando-se como referências os Estados Unidos e a Europa.
Não foram poucas as redes de TV que fecharam as suas portas ao passar por
problemas financeiros e até mesmo crises políticas. Está ainda na memória de boa
parte do público da TV aberta brasileira a falência de alguns canais de TV – Excelsior,
TV Tupi e Rede Manchete, citando-se apenas as emissoras paulistas, bem como as
aquisições de várias emissoras pela Rede Globo na formação de sua rede e o
fechamento da antiga Music Television, a MTV.
A televisão surgiu no Brasil na década de 1950, e muito rapidamente se
transformou em um importante objeto de desejo das famílias brasileiras. Ter um
aparelho de televisão era símbolo de status social. Muitas vezes, em uma rua existia
uma única residência com um televisor, o que criou a expressão televizinho, ou seja,
os vizinhos assistiam televisão através de janelas abertas.
A TV no Brasil se tornou a principal forma de informação e entretenimento das
famílias, disputando espaço com o rádio e com o cinema. Os primeiros televisores
eram importados e, portanto, inacessíveis ao público de baixa renda. Com o tempo,
surgiram no Brasil as fábricas de televisores, que popularizaram esse importante
eletrodoméstico. Os primeiros aparelhos custavam em torno de 59 mil cruzeiros
antigos, quando o salário mínimo era de 1.200 cruzeiros antigos. (MOREIRA, 2016)
No que diz respeito à cobertura esportiva no Brasil e no mundo, este é um
negócio altamente rentável, muitas organizações estão envolvidas nessa área do
entretenimento. Muitas emissoras de TV pertencem a grandes grupos latifundiários da
mídia, e a Pan American Sports Network (PSN) – um dos maiores canais
segmentados de esportes da TV a cabo e por satélite da América Latina –, objeto de
estudo nesta dissertação, foi mais uma das emissoras que abriram as suas portas na
busca do poder, do prestígio, do patrocínio e do lucro. Porém, nem sempre é possível
perseverar nos negócios da comunicação, e a PSN foi um exemplo dessa máxima.
13
Esta pesquisa se justifica pela carência de material na área de comunicação
sobre os processos que influenciam o fechamento de uma emissora internacional de
televisão. Tal afirmativa advém de uma pesquisa introdutória realizada nos bancos de
dados do Centro Cultural São Paulo e da Capes, bem como na plataforma EBSCO
Host, não sendo encontradas referências ao fechamento de uma emissora nos moldes
da PSN. Também se justifica pela importância de um canal de televisão de
abrangência internacional e como milhões de assinantes deixaram de receber o sinal
da emissora sem nenhuma informação prévia ou justificativa, no sentido de respeitar
a voz do consumidor.
Levando-se em consideração que a televisão, principalmente quando é
segmentada na área de esportes, é uma importante fonte de entretenimento, isso
arrazoa para o público consumidor de esportes pela televisão a criação de uma
potência como a PSN. Segundo Llosa (2013, p. 312), “Só um puritano fanático poderia
reprovar os membros de uma sociedade que quisessem dar descontração,
relaxamento, humor e diversão a vidas geralmente enquadradas em rotinas
deprimentes e às vezes imbecilizantes”.
Nesse sentido, observa-se a relevância social e científica deste estudo, valendo
ressaltar, novamente, que não existe nenhum trabalho acadêmico sobre o tema,
portanto, caso não fosse aqui contado e analisado, possivelmente se perderia nos
anais da história. Acredita-se que a pesquisa realmente só pode ser fidedigna, quando
trabalhada por alguém que passou por essa experiência dentro da emissora, como no
caso do seu autor, daí o cunho memorialista desta dissertação.
Considerando todo o contexto exposto, procura-se responder às seguintes
questões centrais: O que levou o canal a encerrar as suas operações? Por que a PSN
saiu do ar sendo líder de audiência no segmento esportivo de televisão a cabo?
O objetivo geral é entender quais são os processos de edificação de um canal
internacional de televisão e identificar o que leva a fracassar um projeto vitorioso, com
um plano de negócios de 600 milhões de dólares, com direitos exclusivos de
transmissão das maiores competições esportivas do mundo.
14
Quanto aos objetivos específicos, foram traçados cinco passos: a) entender o
processo de falência do canal, levando-se em conta os aspectos financeiros,
audiência e prestígios das transmissões; b) comparar a falência do canal com outros
processos semelhantes de fechamento de emissoras no Brasil; c) verificar se os
mantenedores do canal tiveram outros casos semelhantes de fechamento de
empresas pertencentes ao grupo econômico; d) pesquisar a influência do fechamento
do canal no cenário das coberturas esportivas pela televisão; e) comparar os índices
de audiência e comerciais entre o canal e outras emissoras de esportes a cabo.
Metodologicamente, este trabalho foi desenvolvido sob o cunho memorialista,
método qualitativo, com estratégia narrativa e estudo de caso, a respeito da trajetória
e fechamento do canal de televisão a cabo PSN, levando-se em conta os aspectos de
tecnologia, audiência, faturamento e programação. Em relação aos procedimentos
técnicos, apoiou-se em pesquisa documental e bibliográfica, em materiais impressos
e publicados na internet, bem como na vivência do autor dentro da emissora, daí o
aspecto memorialista.
Após a coleta de dados, esta dissertação foi desenvolvida em seis capítulos, a
iniciar pela contextualização da falência de duas grandes emissoras de TV brasileiras
– TV Tupi e da TV Excelsior. Na sequência, apresenta-se a História da Pan American
Sports Network – PSN, discorre-se sobre a montagem do canal, sua comunicação
visual, e o sonho que acabou, ou seja, a falência da emissora, que ocorreu em março
de 2002; e a história do autor desta dissertação com a PSN e sua vivência profissional.
Fala-se sobre o lançamento do canal PSN, sua estratégia de marketing, questões de
direitos, pessoal, programação e a linguagem inovadora em suas coberturas. Também
traz um pouco da história do futebol e a respectiva movimentação financeira no Brasil.
E, contemplando o foco deste trabalho, expõe-se a respeito do fechamento do canal,
e o impacto da falência da PSN no mercado de Broadcast, que deixou muitos
funcionários desempregados com essa operação silenciosa.
Independentemente das causas de sua falência, a PSN formou um conceito de
linguagem de transmissão de vários gêneros esportivos. Nenhuma emissora de TV
teve a exclusividade de tantos eventos esportivos simultâneos.
15
2 PRINCIPAIS FALÊNCIAS DA TV BRASILEIRA
As duas principais falências da TV brasileira foram a da TV Tupi e da TV
Excelsior.
2.1 TV Tupi
A TV Tupi foi fundada em 18 de setembro de 1950, sendo a primeira emissora
de TV brasileira e da América do Sul. Fundada pelo jornalista e radialista paraibano
Assis Chateaubriand, pertencia a um latifúndio de comunicação formado pelos jornais
Diários Associados e pelas rádios Tupi e Difusora. A TV Tupi, foi chamada de TV
Tupã, PRF3TV, recebeu a benção do Frei Mexicano José Mojica, que também cantou
na cerimônia de inauguração. O folclore sobre a data é muito rico, e três casos ficaram
famosos.
O primeiro deles diz que Chateaubriand, excitado com o evento, quebrou uma
garrafa de champanhe sobre uma das três câmeras do programa, nos moldes dos
batizados de navios. Com isso, cerimônia acabou sendo transmitida por duas câmeras
apenas, ou seja, a TV brasileira já teve a sua estreia com improvisação.
O segundo caso é sobre o Hino da TV Brasileira, composto por Guilherme de
Almeida para a ocasião, que seria cantado por Hebe Camargo, mas conta-se que
naquele momento ela havia saído com o seu namorado e a tarefa ficou a cargo de
Lolita Rodrigues, a única, além da Hebe Camargo, que conhecia a letra da música.
Até hoje Lolita comenta o fato.
E, finalmente, o terceiro caso – após o programa de abertura da emissora, a
equipe se deu conta de que não havia preparado nada para o dia seguinte. Mais
improvisação. Do primeiro casting da emissora participavam os apresentadores,
cantores e rádio atores da Rádio Tupi de São Paulo, entre eles, o ator Lima Duarte.
A Tupi foi a primeira emissora a criar uma rede nacional numa época em que
não havia transmissão via satélite e as imagens eram transmitidas de São Paulo ao
Rio, por exemplo, através de enlaces de micro-ondas (pequenas parabólicas
colocadas a uma distância de 50 quilômetros uma das outras).
16
Para a inauguração da TV Tupi, Assis Chateaubriand importou dos Estados
Unidos 200 televisores e os distribuiu entre pessoas formadoras de opinião e lugares
da cidade de São Paulo, como o Viaduto do Chá.
Como pioneira, a TV Tupi foi responsável pela criação da linguagem da TV
brasileira. Muitos profissionais foram enviados para os Estados Unidos para
aprenderem a fazer televisão, mas o modelo americano, com normas muitos rígidas,
não se adequava à realidade brasileira. Da sua programação faziam parte grandes
espetáculos de teatro, telenovelas, musicais, filmes estrangeiros com legenda e
programas de auditório, tudo isso ao vivo, dado que o videoteipe só chegaria ao Brasil
em 1961.
Também na Tupi nasceram as famosas garotas propaganda, que anunciavam
e demonstravam os produtos ao vivo, o que muitas vezes provocava falhas no
funcionamento, fazendo parte do anedotário da TV Brasileira. Entre as famosas
garotas propagandas da época estavam Idalina de Oliveira, Rosa Maria e Neyde
Aparecida e a atriz Neusa Amaral. Muitas vezes, elas tinham que experimentar
remédios, xaropes e outros produtos e deixavam claro pelo aspecto de suas faces que
os produtos não eram saborosos.
E falando das primeiras garotas, a que inaugurou o estilo foi Rosa Maria, da TV Tupi em 1951. A ideia de trazer mulheres bonitas para apresentar os comerciais era já pensando na fascinação crescente que a televisão poderia ter e que no rádio já existia. Na época os garotos já cobiçavam as garotas propaganda, enquanto as moças queriam ficar parecidas com estas para fazerem ‘sucesso’ entre os rapazes. Talvez tenham sido as garotas propaganda as primeiras a dar à televisão o caráter fascinante e o conceito de ‘estrelas’ para os profissionais do meio. As brigas pelo estrelato das rainhas do rádio agora eram substituídas pela concorrência entre as garotas propagandas, que se tornaram matérias frequentes das primeiras revistas televisivas. Sobre Rosa Maria, pegamos uma citação da escritora Maria Elisa Vercesi de Albuquerque, de seu texto ‘Garotas Propaganda’, do ‘Centro Cultural São Paulo’, que fala sobre o início do gênero: ‘A primeira experiência foi em 1951, com Rosa Maria, uma jovem morena, muito graciosa, que entrou no ar às 8 horas da noite para apresentação de uma oferta de Marcel Modas, loja de artigos femininos.’ E a famosa frase: ‘Não é mesmo uma tentação?’ era falada por Rosa Maria, que apresentava a cada dia um único patrocinador, sendo que todas as vezes que ela aparecia, o quadro era chamado de ‘Tentação do Dia’.
17
Na Tupi do Rio de Janeiro, Canal 6, a primeira garota propaganda foi Neide Aparecida, que ficou famosa ao estalar aos dedos depois de falar ‘Toneluuuxx...’, a marca de lavadeira que patrocinava a Tupi na época. (ANKERKRONE, 2001, online)
A TV Tupi de São Paulo, devido à má administração, encerrou as suas
atividades no dia 16 de julho de 1980 e a esse fechamento se seguiu o desligamento
das outras emissoras da rede. Foi um final traumático. Até hoje a emissora é
responsável por um enorme débito trabalhista que não foi assumido pela TVS e o
SBT, pertencentes ao Grupo Silvio Santos, sucessoras da concessão.
2.2 TV Excelsior
A TV Excelsior, fundada em 9 de julho de 1960, pertencia a João de
Scatimburgo, José Luiz Moura Mario, Ortiz Monteiro e Wallace Simonsen, que
também era sócio da Panair do Brasil. Estreou em São Paulo, e em 1963 abriu a
segunda emissora da rede no Rio de Janeiro. A programação da emissora era
concentrada principalmente no jornalismo, exibição de filmes estrangeiros e
dramaturgia.
A emissora alugou o Teatro Cultura Artística na Rua Nestor Pestana, em São
Paulo e de lá colocou uma programação variada de shows e programas de auditório,
entre eles o Brasil 60 apresentado por Bibi Ferreira. Começou a partir de 1964 a
passar por vários problemas relativos à pressão realizada pela intervenção militar no
Brasil, em razão do apoio de Simonsen ao presidente eleito João Goulart.
A TV Excelsior saiu do ar em 30 de setembro de 1970. Foi responsável por um
grande avanço da TV brasileira, tendo, entre outras coisas, implantado a programação
vertical (a sucessão de programas um após o outro no mesmo dia da semana) e a
programação horizontal (a sucessão de programas no mesmo horário durantes nos
diferentes dias da semana). A emissora colocou no ar novelas e programas em
diversos gêneros, que lançaram vários artistas, entre eles Renato Aragão, Dedé
Santana, Moacyr Franco e Luiz Vieira. Foi a primeira emissora a transmitir a cores em
1962, o programa Moacyr Franco Show, no padrão NTSC.
18
2.3 O fechamento das emissoras
Assim como um produto de consumo que desaparece da prateleira dos
supermercados sem aviso prévio, as reais causas do fechamento dos canais passam
despercebidas do grande público.
O que estaria por trás dos negócios dos impérios latifundiários da mídia. Por
que alguns grupos financiam poderosas realizadoras de conteúdo televisivo para,
depois, abandonarem as suas operações, deixando funcionários e telespectadores
frustrados em suas expectativas?
Pode-se dizer que essa prática não é exclusividade do Brasil. Em outros países,
culturalmente e economicamente desenvolvidos, essa prática também é muito
comum. É certo que em outros países os grupos financeiros precisam dar satisfações
das suas decisões para órgãos reguladores, que também existem no Brasil, mas sem
a eficiência de outras sociedades. Considerando-se as razões do fechamento de
emissoras no Brasil, pode-se encontrar quase sempre a resposta de que se tornaram
maus negócios em função da má administração, da queda de audiência e da
consequente perda de faturamento publicitário.
A TV no Brasil, assim como nos Estados Unidos, nasceu com uma proposta
puramente comercial. Em alguns países da Europa, como a Inglaterra por exemplo, e
no Japão as TVs surgiram com uma proposta educativa e cultural e sempre foram
públicas, ou seja, não dependem do Estado ou de investimentos particulares para
sobreviver. Elas são financiadas pelo próprio telespectador que paga uma taxa mensal
para poder assisti-las. Essa taxa não é obrigatória, porém todos pagam. Essa prática
remete a questionamentos – se através de taxas mensais pagas por telespectadores,
a BBC e a NHK podem oferecer um excelente conteúdo para o público telespectador,
por que as emissoras ditas comerciais, que recebem verbas publicitárias gigantescas
não o fazem também? O negócio da mídia é poderoso, e hoje, com a multiplicidade
de telas e a possiblidade de a pessoa poder consumir o conteúdo audiovisual quando
e onde estiver, imprime ainda mais poder para os latifúndios da comunicação.
19
No Brasil e em alguns países da América Latina, as concessões dos canais de
televisão durante muito tempo foram distribuídas como moedas políticas. Os grupos
econômicos ou de mídia que possuíam ligações ou influência nos governos desses
países recebiam a concessão para explorar canais de TV e emissoras de rádio, em
troca de apoio financeiro para as campanhas políticas ou de matérias favoráveis nas
coberturas dos telejornais e radiojornais. Sendo este o cenário de fundo, sobre o qual
foram escritas as histórias de muitas emissoras de rádio e TV do Brasil.
A TV, quando chegou ao Brasil, se aproximou primeiramente da elite cultural,
exibindo programas jornalísticos, grandes espetáculos de teatro, programas de
música clássica e outros conteúdos que interessavam à população que possuía
acesso a uma educação mais sofisticada e uma condição econômico-financeira
diferenciada. A exemplo dessa alusão, até a metade dos anos 1980, a Rede Globo
exibia nas manhãs de domingo um programa de música erudita chamado “Concertos
Para a Juventude”.
Educar, não entreter, esse permanecia o objetivo prioritário para alguns dos primeiros defensores da televisão contra as acusações de que ela exercia uma influência inevitavelmente corruptora da sociedade e da cultura, e de que levava os espectadores a gastar mais tempo com ela do que em outras atividades. (BRIGGS; BURKE, 2009, p. 291)
Com o tempo, por força da exploração dos espaços comerciais e a busca pela
audiência, a programação da TV passou a ter uma identidade puramente brasileira,
com programas mais descontraídos e uma linguagem menos formal, com
improvisação nas apresentações, falta de scripts e roteiros rígidos entre outras
diferenças em relação à TV norte-americana.
O programa é o produto que a TV vende ao espectador e o espectador é o
produto que a TV vende para o patrocinador.
Com o advento da TV a cabo nos primórdios dos anos 1990, a elite econômica,
por uma questão de status, já que necessariamente não pertencia à elite cultural,
migrou para os canais segmentados e abandonou a TV aberta, fazendo com que a
audiência caísse e, naturalmente, o faturamento comercial diminuísse.
20
Para sobreviver a essa crise de audiência, a TV aberta baixou o nível de
qualidade da programação para procurar atender os anseios das classes C e D, que
não possuíam condições financeiras para assinar pacotes a cabo, oferecendo o que
acreditava ser do gosto dessas camadas sociais. Humor fácil, programas sobre
violência, sexo e drogas passaram a fazer parte do cotidiano da programação de TV.
Todas as propostas de programação mais rebuscadas passaram a compor as grades
dos canais a cabo. Um dos diferenciais dos canais a cabo é a segmentação.
Existem canais de esporte, viagem, filmes, patchwork, infantil, programas sobre
animais, exclusivos para adultos etc. Comparando-se a outros países, hoje, o Brasil
possui uma TV aberta com alta qualidade técnica e baixo valor de conteúdo.
Entretanto, não se pode deixar de considerar algumas exceções a essa regra, como
as TVs Educativas e algumas propostas pontuais da TV comercial que exibem
conteúdos interessantes e educativos.
Com a televisão, estamos diante de um instrumento que, teoricamente, possibilita atingir todo mundo. Daí certo número de questões prévias: o que tenho a dizer está destinado a atingir todo mundo? Estou disposto a fazer de modo que meu discurso, por sua forma, possa ser entendido por todo mundo? Será que ele merece ser entendido por todo mundo? Pode-se mesmo ir mais longe: ele deve ser entendido por todo mundo? (BOURDIEU, 1997, p. 18) A cultura sempre estabeleceu categorias sociais entre as pessoas que a cultivavam, a enriqueciam com contribuições diversas e faziam-na progredir e pessoas que não queriam saber dela, que a desprezavam ou ignoravam, ou então eram dela excluídas por razões sociais e econômicas. (LLOSA, 2017, p. 59)
É importante falar também sobre a programação infantil da TV. A TV aberta
realizava a programação de conteúdo infantil explorando os espaços comerciais com
propagandas destinadas ao público consumidor.
Na realidade os programas infantis, no início da TV, eram apenas exibidores
de desenhos animados entre uma brincadeira e outra realizada num estúdio com
crianças. Nos Estados Unidos, o Federal Communications Commission – FCC
regulamentava o conteúdo dos desenhos animados, mas nem lá nem aqui, no Brasil,
havia proteção às crianças quanto à comercialização exacerbada dos intervalos
comerciais. Na realidade, os intervalos comerciais visavam atingir os pais das crianças
que possuíam o poder de compra.
21
O desenvolvimento do cabo levantou importantes aspectos políticos para a FCC que, sem a orientação do Congresso, não quis enfrentar diretamente as TVs a cabo. Em 1959, a FCC decidiu que como o cabo não fazia parte da radiodifusão, nem da comunicação habitual por ondas, não tinha jurisdição sobre o assunto. (BRIGGS; BURKE, 2009, p. 329)
A partir de determinações de órgãos reguladores que coibiam a exploração por
parte da publicidade para esse público, os programas infantis deixaram de ser um bom
negócio e desapareceram das grades de programação dos canais abertos. Migraram
para o cabo, em canais segmentados, como o Discovery Kids, Disney Channel,
Cartonn Network, Gloob etc.
22
3 A HISTÓRIA DA PSN
3.1 A montagem do canal
No ano de 1999, um dos sócios fundadores da ESPN, Jacques Kremer deixou
a emissora e levou o projeto, em parceria com o uruguaio Roberto Muller, de um novo
canal de esportes para o grupo texano de fundos de investimentos, Hicks, Muse, Tate
& Furst (HMTF), que também tinha o controle no Brasil de times como o Corinthians
e o Cruzeiro.
O projeto era ambicioso – montar um canal de TV a cabo para a América Latina
e Brasil com o melhor do esporte mundial. Como se tratava de um projeto pan-
americano, havia a separação na empresa sobre o que era para a América Latina e o
que era para o Brasil.
A TV a cabo não se tornou exatamente o que os seus visionários imaginavam. Em vez de promover interesses em comum e uma visão compartilhada do bem, o sistema a cabo evoluiu e acomodou um universo de gostos específicos divergentes. Abastecia grupos de interesses e populações de todos os tipos, bem ou mal atendidos. (WU, 2010, p. 257)
Pelo projeto, a emissora teria direitos exclusivos para a América Latina de todos
os campeonatos de futebol europeu, copa da UEFA, ATP, WTA, Fórmula 1 (somente
para a América Latina e não para o Brasil), Copa Libertadores, Copa Mercosul, Copa
Merconorte, golfe, vôlei, boxe, NBA, WNBA, as eliminatórias da FIFA para a copa do
mundo de 2002 e os campeonatos de futebol da CONCACAF e CONMEBOL.
Essas transmissões seriam feitas através de um canal de TV por assinatura
modelo à la carte, ou seja, o assinante pagaria uma taxa extra mensal para receber
os sinais, distribuídos em espanhol para a América latina e em português para o Brasil.
No caso da PSN seriam 5 dólares por mês.
A sede da PSN foi montada no condomínio Presidential Circle, na cidade de
Hollywood, no Estado da Flórida, Estados Unidos. O projeto técnico era ousado e
utilizaria o que havia de mais moderno na época.
23
A emissora possuía duas salas de controle (switcher), uma para o feed (canal)
em espanhol e outra para o feed em português. Os equipamentos, já no ano de 1999,
eram todos digitais, além disso, a emissora tinha o seu próprio transponder (canal) de
satélite, diferentemente da maioria das emissoras de TV que geralmente alugam um
pequeno segmento de um dos vários transponders de um satélite.
Figura 1 – Sede da PSN na cidade de Hollywood – Florida – EUA (2000)
Fonte: Google Images.
Para dar os devidos créditos, o emprego de satélites para a transmissão televisiva não foi uma ideia original de Ted Turner. A Home Box Office Network (HBO) sob a direção de Gerald Levine e outros, já fazia isso para oferecer a chamada ‘TV paga’, que adquiria conteúdo especial como brinde, como lutas de boxe entre Joe Frazier e Muhammad Ali e filmes de longa-metragem para os assinantes. Porém, por mais que fosse uma inovação importante, a TV paga era mais um complemento que uma ameaça às grandes redes. (WU, 2011, p. 254)
Para o corpo de talentos, a PSN importou excelentes profissionais da América
Latina e do Brasil para trabalharem como repórteres, narradores, comentaristas,
locutores, diretores, produtores, editores, sonoplastas, iluminadores, operadores de
câmera, operadores de gerador de caracteres, diretores de TV, figurinistas,
maquiadores e outras funções executivas. Entre os seus talentos brasileiros estavam
Téo José, Pelé, Mauro Betting, Rogério Correa, Marcos Cesar, Marco Tulio Reis, Lano
Brito, João Bosco Turetta, Milene Domingues, Osmar de Oliveira, Antônio Petriccione,
Paulo Echebarria, Juarez Araujo e Darcio Arruda. (PSN, 2001)
24
Figura 2 – Dupla de narradores hispanos da emissora (2000) (da esquerda para a direita: Jorge Ottati e Professor Ottati)
Fonte: Acervo pessoal.
Do final de 1999 até a inauguração das transmissões em 15 de fevereiro de
2000, com a cobertura da partida entre Palmeiras e The Strongest pela Copa
Libertadores de 2000, uma grande equipe de engenheiros e técnicos trabalhou na
construção do canal, em tempo recorde, que era composto por seis ilhas de edição
AVID Media Composer, um Pro Tools, três estúdios de áudio, dois estúdios de TV,
uma sala de computação gráfica, central técnica e controle de satélite. (DIGITAL
BROADCASTING, 2000; EXTINTO HÁ 14 ANOS..., 2016)
Devido a um ousado budget, os equipamentos solicitados pelos engenheiros
eram comprados e entregues com muita velocidade. A cada dia novas caixas
chegavam aos estúdios trazendo equipamentos.
A PSN foi montada com o que havia de mais avançado em tecnologia da época.
A sua grade de programação era de 24 horas de cobertura esportiva e sua
comunicação visual pioneira tornou-se responsável por muito do que se faz na
cobertura esportiva até hoje.
3.1.1 Comunicação visual
Sob o comando do designer e artista videográfico norte-americano Albert
Jolguera, a PSN veio ao ar com um dos mais revolucionários pacotes gráficos da
televisão da época. Ela inovou nos conceitos, tendo já no ano 2000 uma linguagem
visual inovadora que até hoje é copiada pelas emissoras de TV. Suas aberturas, logos
e vinhetas utilizavam uma paleta de cores agressiva e forte, que tinha total relação
com a vibração do esporte.
25
O material gráfico era editado e sonorizado com trilhas especiais, muitas vezes
originais, que davam um diferencial na comunicação da emissora.
A seguir, da figura 3 até a 16, alguns dos estudos gráficos da PSN.
Figura 3 – Estudo de cenário
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
26
Figura 4 – Cenário Show do Pelé
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
27
Figura 5 – Cenário para a abertura do Show do Pelé
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
28
Figura 6 – Storyboard da vinheta do programa Cara a Cara
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
29
Figura 7 – Storyboard da vinheta do Campeonato Argentino
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
30
Figura 8 – Storyboard da vinheta de Dicas de Golfe
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
31
Figura 9 – Gráfico de posição de largada na Fórmula 1
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
32
Figura 10 – Estudo/Conceito para PSN - Mulheres no Esporte
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
33
Figura 11 – Logotipos de programas
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
34
Figura 12 – Logotipo PSN
Fonte: Acervo do autor.
35
Figura 13 – Elementos gráficos do PSN News
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
36
Figura 14 – Estudo de cenário do PSN USA
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
37
Figura 15 – Storyboard da vinheta das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
38
Figura 16 – Storyboard vinheta do Campeonato Italiano
Fonte: Concedido pelo designer e artista videográfico Albert Jolguera, de seu acervo pessoal.
39
A PSN criou uma linguagem de transmissão e edição. Seus programas nos
intervalos dos jogos de futebol e outras competições foram copiados pelas redes de
TV brasileiras e internacionais. Nesses espaços eram realizados o Half Time Show,
popularmente conhecido como Show do Intervalo. Durante as partidas de diversos
gêneros de esporte, as gravações dos melhores lances da competição eram feitas em
um equipamento chamado Dixon. Esse equipamento era uma espécie de editor não
linear. No Brasil, na época, os melhores momentos das partidas eram editados em
tape.
No momento do intervalo, a equipe assistia aos melhores momentos da partida
com comentários e estatísticas. Essas práticas, realizadas no ano 2000, foram
copiadas pelas emissoras de TV, como se vê atualmente. As transmissões eram
dinâmicas, utilizava-se uma linguagem moderna com um grande apoio gráfico e de
ilustrações. A equipe era formada por narradores e comentaristas especializados em
todas as modalidades esportivas. A PSN foi pioneira na inserção de estatísticas das
partidas de futebol durante as transmissões.
Entre os esportes, nenhum sobressai tanto quanto o futebol, fenômeno de
massas que, tal qual como os shows de música moderna, reúne multidões e as excita
mais que qualquer outra mobilização de cidadãos, como procissões religiosas,
comícios políticos ou convenções cívicas. Certamente para os aficionados, um jogo
de futebol pode ser um espetáculo estupendo, de destreza e harmonia de conjunto e
desempenho individual, que entusiasma o espectador. (LLOSSA, 2017, p. 35)
Embora seja verdade que as massas são obcecadas pelo desejo de fugirem da
realidade, porque, privadas de um lugar no mundo, já não podem suportar os aspectos
acidentais e incompreensíveis dessa situação, também é verdade que a sua ânsia
pela ficção tem algo a ver com aquelas faculdades do espírito humano, cuja coerência
estrutural transcende a mera ocorrência. (ARENDT, 2018, p. 486)
Cada cobertura esportiva era aberta por um teaser (matéria promocional)1 da
partida explicando as técnicas de cada time, os jogadores-chave e a retrospectiva de
cada equipe.
1 Cf. Teaser promocional da PSN em: <https://youtu.be/RJy-7OLP7Fo>.
40
O primeiro corpo de executivos do canal tinha o chileno Sebastian Dominguez
como Chief Executive Officer (CEO), o apresentador norte-americano Alexander
Johnson como vice-presidente de Produção, o argentino Patrício Montalbetti como
diretor de Produção e a brasileira Wilma Maciel como vice-presidente de
Programação.
Durante os seus dois anos de vida, o canal foi líder de audiência no segmento
esportivo em todos os países para onde foi transmitido. No Brasil, chegou a ter 850
mil assinantes, número expressivo para a época. Sua programação era muito variada
e pouco repetitiva, o que é fato comum nos canais a cabo. Pela quantidade de eventos
exclusivos do canal, era possível transmitir material inédito durante praticamente todo
o dia, e muitas vezes, essas transmissões invadiam a madrugada devido à diferença
de fuso horário dos países onde aconteciam os eventos esportivos.
O índice de audiência é a sanção do mercado, da economia, isto é, de uma
legalidade externa e puramente comercial, e a submissão às exigências desse
instrumento de marketing é a demagogia orientada pelas pesquisas de opinião em
matéria de política. A televisão regida pelo índice de audiência contribui para exercer
sobre o consumidor supostamente livre e esclarecido as pressões do mercado, que
não têm nada de expressão democrática de uma opinião coletiva esclarecida,
racional, de uma razão pública, como querem fazer crer os demagogos cínicos, como
diz Bordieu (1997, p. 96-97).
3.2 O sonho acabou
A falência da emissora ocorreu em março de 2002, sem que a empresa tenha
passado por uma crise financeira aparente. Não houve atrasos nos pagamentos de
salários ou de royalties. Nada indicava que a emissora fecharia as suas portas
repentinamente, deixando de atender a mais de 10 milhões de assinantes distribuídos
entre Brasil, México, Argentina, Venezuela, Peru, Colômbia, Equador, Chile, Bolívia,
Uruguai, Paraguai e demais países da América Central e Caribe.
Em uma tarde normal de trabalho, a falência foi notificada aos funcionários nos
estúdios da nova sede provisória da PSN em Hialeah, no condado de Miami. Naquele
mesmo momento, a emissora havia alugado três andares de um condomínio de
41
escritórios na Lincoln Road, em Miami Beach, e já estava se preparando para mudar.
O projeto desses novos escritórios foi feito por arquitetos especializados e reunia o
que havia de mais moderno na ocasião.
Ao chegarem para o expediente normal de trabalho, os funcionários
encontraram o seguinte comunicado: “Todos os funcionários devem se dirigir ao
estúdio principal às 13 horas para um importante aviso”. Pensaram que se tratava de
mais uma mudança de comando na emissora, já que a posição de CEO havia sido
preenchida há poucos meses pelo mexicano José Baraldi. A PSN tinha no México e
na Argentina as suas principais plataformas de assinantes.
Chegando ao estúdio, às 13 horas, os funcionários se depararam com um
jovem de terno preto prostrado sobre um tablado e com um microfone à sua
disposição, aguardando a chegada de todos (em torno de 200). E ali, reunidos,
ouviram: Meu nome é “fulano de tal” e sou advogado do escritório “X” de Nova Iorque.
E esse advogado, olhando no relógio, anunciou: “Nesse exato momento, estamos
solicitando a falência da PSN. Vocês devem se dirigir ao primeiro andar para
receberem as suas diferenças salariais”. Incrédulos, cada funcionário atendeu ao
solicitado, e no primeiro andar já havia uma equipe, do que seria o RH no Brasil, com
os cheques da diferença salarial, porque o pagamento mensal tinha sido efetuado há
menos de uma semana daquele dia.
Eu era Sport Producer na emissora, o advogado interno, Dr. Fernando Medin,
me disse: “Vagner, vá imediatamente ao banco descontar o seu cheque porque as
contas serão congeladas”. Acreditei nele e tentei levar alguns colegas comigo, mas a
maioria dizia que estávamos nos Estados Unidos e não no Brasil, que eu não
precisava me preocupar. Então, dirigi-me ao banco com alguns poucos colegas e
descontamos nossos cheques. Foi interessante observar a preocupação dos
funcionários do Banco First Union pela quantidade de cheques da PSN apresentados
no caixa. Naquela mesma tarde, as contas foram congeladas e a maioria dos
funcionários que acreditaram na idoneidade da companhia, não recebeu o
pagamento.
42
Dificilmente se pode compreender como a concorrência entre empresas
comerciais, vistas como impérios, “armadas até os dentes” terminasse de outro modo
que não a vitória para uma e morte para as outras. Em outras palavras, a concorrência
– como a expansão – não é um princípio político: ambas se baseiam em força política.
(ARENDT, 2018, p. 193)
A falência de um canal de TV ou uma empresa qualquer é um fato importante
porque envolve a perda de emprego de dezenas de pessoas, mas quando se trata de
uma empresa com funcionários de outros países e, especificamente de Comunicação,
que envolve milhões de espectadores, a responsabilidade de uma emissora desse
porte se amplia, principalmente em relação aos seus funcionários, pois nesse caso,
muitos deles foram contratados internacionalmente (overseas) e não receberam
nenhum tipo de indenização. Ainda teria sido necessário providenciar o repatriamento
dos funcionários estrangeiros e suas famílias, o que não ocorreu.
Muitos dos funcionários estrangeiros, como era o meu caso, tiveram que arcar
com os custos do retorno aos países de origem. Alguns, principalmente os de origem
latino-americana, conseguiram trabalho em canais de língua espanhola como a
Telemundo e a Univision, mas os brasileiros tiveram dificuldade em serem absorvidos
pelo mercado norte-americano. Após três meses do fechamento do canal, voltei ao
Brasil.
3.3 Minha história com a PSN
Eu e minha esposa nos mudamos para os Estados Unidos com a intenção de
realizar um mestrado na Universidade de Miami. Ao chegarmos lá, nos matriculamos
em um curso de inglês para a realização do Toefl. Com nossas economias, alugamos
um apartamento em South Beach e vivíamos apenas para o nosso projeto, sem
nenhuma atividade profissional.
Em uma sexta-feira à noite, recebi uma ligação de um colega brasileiro – Fabio
Rolfo – que trabalhava na CBS Telenotícias em Miami, dizendo que um grupo estava
montando um canal de esportes também em Miami, com um serviço em português.
43
Ele havia marcado uma entrevista de trabalho para o dia seguinte, um sábado,
e perguntou se eu não gostaria de acompanhá-lo e realizar uma entrevista também,
já que eu havia militado na área de esportes em TV por mais de 10 anos. Aceitei e
fomos para a sede da PSN no Presidential Circle, na cidade de Hollywood, próximo a
Miami.
Fomos, então, entrevistados por um Diretor de Produção Argentino, Patrício
Montalbetti e contratados imediatamente. Começamos a trabalhar na construção do
canal na segunda-feira seguinte. No início, dividíamos os espaços com o pessoal de
engenharia que estava literalmente montando a parte técnica da emissora.
Figura 17 – Crachá funcional
Fonte: Acervo pessoal
44
Figura 18 – Cartão pessoal
Fonte: Acervo pessoal
A central técnica e de produção da emissora ocupava o térreo de uma das
quatro alas do edifício, disponibilizando dois estúdios de áudio para narração em off
tube, uma sala de produção, uma sala de reuniões, uma pequena copa para refeições,
duas salas de controle, um controle mestre, sala de maquiagem, salas de edição, pós-
produção de áudio e um pequeno estúdio de TV.
A equipe de produção foi ganhando a cada dia um novo membro. A área
artística foi composta por representantes de todos os países sul-americanos e da
América Central. Éramos treze brasileiros na parte de produção. Com esse pequeno
exército de produtores, narradores e comentaristas brasileiros, era preciso dar conta
de todas as transmissões esportivas dos mais diversos gêneros: basquete, vôlei,
golfe, futebol, futebol americano, esportes olímpicos, ginástica olímpica etc.
Dentre os talentos ali reunidos estavam alguns nomes conhecidos do público
brasileiro, tais como: Téo José, Rogério Correa e Osmar de Oliveira. A maioria era de
nomes desconhecidos, mas que já trabalhava no mercado norte-americano, por
exemplo, Alex de Souza, que era a voz institucional da TNT.
Durante os preparativos do canal, foram realizadas várias reuniões para a
definição de linguagem, linha editorial e padrão de transmissão. O maestro dessa área
era o presidente do canal, Sebastian Domingues, que redigiu o manual que servia de
referência para os trabalhos. Nele estavam contidos: definição de público-alvo, código
de ética, padrões de narração, normativas para os gráficos e instruções que serviam
de base para as edições das matérias jornalísticas.
45
A missão PSN era a de ser, em pouco tempo, o maior canal a cabo de esportes
do mundo, e para isso não foram poupados esforços e recursos financeiros.
Os talentos, a produção e os demais funcionários do canal eram pagos com
salários acima do mercado norte-americano. Todas as despesas relativas à mudança
para os Estados Unidos, dos contratados fora do continente norte-americano, também
foram pagas. O corpo jurídico da PSN cuidava dos vistos de trabalho dos contratados
e de suas famílias.
A meta da equipe era criar um grande canal de esportes, e para isso se
preparou realizando pilotos de transmissão, de edição jornalística e cobertura
esportiva. A estreia seria com a transmissão da partida entre Palmeiras e The
Strongest, no Parque Antártica, em São Paulo, marcando o início da Copa
Libertadores de 2000.
O departamento de Marketing já atuava em todos os países que faziam parte
da cobertura, trabalhando com as operadoras que ofereciam o sinal da emissora. A
PSN, embora ainda não estivesse com transmissões regulares, gerava pacotes
promocionais em espanhol e português, que eram exibidos nos canais que ocuparia
nas distribuidoras.
Em todos os países latino-americanos, o assunto no meio esportivo era a
estreia do maior canal de esportes do mundo. Havia um representante em cada país
para a realização das coberturas das partidas de futebol e demais eventos. No Brasil,
a PSN era representada pela empresa Traffic, do empresário J. Ávilla, que contratava
a produtora Casablanca para servir de geradora dos sinais.
No dia da estreia estavam todos nervosos e ao mesmo tempo confiantes no
trabalho realizado até então. A partida foi transmitida em espanhol e português,
utilizando as duas salas de controle, tudo funcionou perfeitamente. A PSN, finalmente,
entrou no ar no dia 15 de fevereiro de 2000 com a vitória de 4 x 0 do Palmeiras sobre
o The Strongest.
46
Depois do impacto da estreia, a equipe e a transmissão virou assunto na mídia
esportiva. E para comemorar a sua estreia, a PSN ofereceu uma festa em Miami sem
precedentes, com a presença da Banda Gipsy Kings, do cantor Henrique Iglesias, e
os convidados sendo recebidos por uma ala show de uma escola de samba do Brasil.
47
Figura 19 – Equipe da PSN.
Fonte: Floridian. Brazilian Magazine. Flórida-EUA. jan./fev./mar.2000.
48
Figura 20 – Festa de inauguração da PSN em Miami (2000) (da esquerda para a direita Marcia Matrone, Vagner Matrone, Téo José e Telma Cristina)
Fonte: Acervo pessoal.
Os sinais eram gerados 24 horas por dia, sete dias por semana. Durante as
madrugadas ocorriam reapresentações das principais coberturas do dia, porém
muitas transmissões ao vivo adentravam a madrugada devido ao fuso horário dos
jogos e demais eventos esportivos. Tínhamos equipes separadas para os canais em
espanhol e português, mas trabalhávamos juntos nos preparativos das coberturas. As
reuniões diárias de pauta ocorriam com a duas equipes, porque todos fariam as
mesmas coberturas. Entretanto, os aprofundamentos eram diferentes. Nas partidas e
eventos em que as equipes ou atletas brasileiros enfrentavam os sul-americanos,
eram realizados pacotes jornalísticos diferentes, cada um enaltecendo o seu país.
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Figura 21 – Bastidores da cobertura do Campeonato Sub-20, no Equador (2001). (o primeiro à direita, Mauro Betting)
Fonte: Acervo pessoal.
Havia uma rivalidade sadia entre os diversos times de produção e, muitas
vezes, por razões diversas, trabalhávamos nos canais trocados, porém nem todos os
produtores brasileiros se sentiam confortáveis em trabalhar no idioma espanhol.
A linguagem oficial de trabalho era o Inglês. Não podíamos nos comunicar
profissionalmente em espanhol ou português. Como tínhamos uma equipe técnica
norte-americana, a comunicação com eles era em inglês, apesar de grande parte
deles dominar o espanhol devido à colonização daquela região dos Estados Unidos.
Essa Torre de Babel, muitas vezes, provocava situações delicadas quando, por
exemplo, um operador de gerador de caracteres que não falava nenhuma das duas
línguas era escalado e precisava colocar gráficos no ar, ao vivo. Quando isso
acontecia, o gráfico era impresso ou escrito manualmente para que o operador
copiasse.
As inovações da PSN não aconteciam apenas no vídeo. As nossas condições
de trabalho também eram inovadoras. Possuíamos uma rede interna de
computadores e cada um dos produtores podia acessar todas as informações das
partidas e campeonatos. Um setor de pesquisa alimentava as produções com
informações, estatísticas e imagens, para que pudéssemos escrever os roteiros e os
teasers das partidas. Diariamente tínhamos uma reunião de pauta, pela manhã, e
50
discutíamos as coberturas e transmissões do dia, numa grande mesa de trabalho.
Dessas reuniões, por vezes, participavam os narradores e comentaristas.
O ambiente de trabalho era confortável. Não havia disputas por posições ou
méritos. Todos estavam concentrados numa só missão: Transformar a PSN no maior
canal de esportes do mundo.
Havia uma rivalidade sadia entre os times hispanos e brasileiros. Éramos
chamados por eles de “os melhores do mundo” em relação ao ufanismo brasileiro
sobre os nossos ídolos do esporte mundial, Guga, Cafu, Ronaldo, Rivaldo, entre
outros. Porém, não havia uma disputa, era de certa forma transportada para a nossa
relação a antiga rixa entre brasileiros e sul-americanos no que diz respeito às
diferenças de nossa colonização. Porém, isso acontecia de forma amigável em
excelente ambiente de trabalho.
51
4 LANÇAMENTO DO CANAL PSN
4.1 Estratégia de Marketing
O projeto de marketing para o lançamento da PSN foi bastante agressivo. Os
escritórios regionais do canal em todos os países da América Latina e do Brasil
prepararam uma estratégia bastante interessante. Primeiro, começaram a colocar
outdoors com o logo e nome PSN nas principais cidades. Depois, entregaram releases
sobre o lançamento do canal para os principais órgãos de imprensa. Numa terceira
etapa, inseriram teasers promocionais nos canais das distribuidoras a cabo que
seriam destinados aos sinais da PSN, e a algumas semanas da estreia, transmitiram
pacotes sobre o lançamento.
A PSN estava sendo mais do que aguardada. Havia uma ansiedade por parte
do público em conhecer o que se propagava como sendo o maior canal de esportes
do mundo.
As figuras 22 a 26 apresentam algumas das peças criadas para o projeto de
marketing da emissora.
Figura 22 – Banner promocional
Fonte: Acervo pessoal.
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Figura 23 – Frame de uma vinheta
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 24 – Frame de uma vinheta de abertura
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 25 – Banner Promocional com slogan em português
Fonte: Acervo pessoal.
53
Figura 26 – Material promocional da PSN
Fonte: Acervo pessoal.
A estreia não poderia ser mais emblemática. A PSN estreou em 15 de fevereiro
de 2000 com a transmissão exclusiva para cabo, da abertura da Copa Libertadores
da América, com a partida entre os times Palmeiras e The Strongest. A partida ocorreu
no Parque Antártica, então o campo do Palmeiras, em São Paulo. O Palmeiras havia
sido vencedor da competição no ano anterior. Os direitos desta competição foram
comprados pela emissora com exclusividade para a TV aberta e fechada. Negociamos
com a Globo a transmissão do sinal para a TV aberta, mas nenhuma emissora a cabo
podia transmitir a competição.
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Nas primeiras semanas da emissora, as imagens dos narradores e
comentaristas on camera, ou seja, ao vivo, não eram mostradas. Realizávamos o que
se chama de off tube, que é a narração e comentários sobre as imagens do evento.
Os sinais dos jogos eram gerados via satélite para a nossa emissora em
Hollywood e distribuídos nos dois switchers, um do Brasil e outro da América Latina.
Cada um dos switchers possuía a sua equipe técnica com gráficos e legendas nos
idiomas espanhol e português. Tínhamos uma vantagem sobre as transmissões
hispânicas, os nossos narradores e comentaristas falavam português, alguns de
nossos talentos apresentavam apenas seus acentos locais – carioca, gaúcho,
nordestino, mineiro e paulista, enquanto do lado hispânico, cada profissional tinha um
sotaque, e isso provocava rejeição em alguns países da América do Sul e Central,
que não queriam ouvir um jogo narrado por um argentino, por exemplo.
A PSN, a mais nova rede latino-americana de TV paga voltada exclusivamente para o esporte, entra no ar no próximo dia 15, no Brasil e em outros países da América Latina, 45 minutos antes da exibição da partida entre o Palmeiras e a equipe boliviana do Strongest, pela Taça Libertadores da América. Mas, por enquanto, ainda não se sabe se, no Brasil, a PSN constará do line-up da Net e da Sky ou da TVA e da DirecTV. As negociações atualmente em curso pendem mais para Net e Sky. O futebol ocupará 60% da programação da rede, que transmitirá durante 24 horas. A PSN é baseada em Miami, EUA, de onde será feita a maior parte de suas transmissões. Téo José, recém-contratado pela PSN, narrará jogos da Libertadores, do Campeonato Italiano e corridas da Fórmula 3000 e do Mundial de Motocross. Todas as transmissões serão em português, pois a PSN terá um segmento brasileiro e outro, só para os países hispânicos. Algumas partidas de futebol realizadas no Brasil serão narradas por Téo José, dos estúdios da PSN, em Miami. Segundo o narrador, tal prática não esfriará as transmissões. ‘Vou compensar a distância oferecendo o máximo de informações sobre a partida’, afirma. Em dois meses, a PSN passará a exibir um jornalístico comando por Paulo Echebarria (ex- CBS Telenotícias) (BG). (MATOS, 2002, online)
4.2 Compra de direitos com exclusividade
Como mencionado, a PSN comprou com exclusividade e sobrepreço os direitos
das principais competições esportivas do mundo, pagando por elas muito mais do que
as negociações nas temporadas anteriores. A Copa Libertadores da América, por
exemplo, havia sido negociada com a ESPN na temporada anterior por 3 milhões de
dólares. Estima-se que a PSN tenha investido, pela exclusividade do torneio, algo em
55
torno de 30 milhões de dólares, já que essa competição não poderia ser negociada
regionalmente, cada país. Outros eventos também foram negociados com
exclusividade, dando ao canal a importância de ser o único a transmitir as principais
competições esportivas de futebol, basquete, vôlei, golfe, tênis, automobilismo, futebol
americano e outras modalidades que fazem parte do gosto dos aficionados pelo
esporte.
O Business Plan da PSN previa um orçamento de 600 milhões de dólares para
serem gastos em cinco anos, a emissora gastou no primeiro ano uma considerável
parte desse budget na sua edificação, contratação de pessoal e compra de direitos
com exclusividade. Algumas aquisições foram mais onerosas que outras por não
poderem ser negociadas com outros canais de TV da América Latina e Brasil.
Pode-se pensar também nas censuras econômicas. É verdade que, em última instância, pode-se dizer que o que se exerce sobre a televisão é a pressão econômica. Dito isto, não podemos nos contentar em dizer que o que se passa na televisão é determinado pelas pessoas que a possuem, pelos anunciantes que pagam a publicidade, pelo Estado que dá subvenções , e se soubéssemos sobre uma emissora de televisão, apenas o nome do proprietário, a parcela dos diferentes anunciantes no orçamento e o montante das subvenções, não compreenderíamos grande coisa. (BORDIEU, 1997, p. 19-20)
4.3 Contratação de pessoal
Por intermédio dos escritórios dos representantes regionais, foram levantados
os nomes mais representativos do jornalismo esportivo da televisão. Narradores,
comentaristas, produtores e diretores foram selecionados em cada país e os
representantes locais fizeram reuniões de trabalho com estes profissionais. Alguns
deles foram indicados como sendo as melhores opções e convidados para visitarem
as nossas instalações nos EUA, onde receberiam uma oferta definitiva de trabalho.
Participei de algumas dessas reuniões e tive o prazer de ajudar muitos desses
profissionais nas suas adaptações ao novo país.
A PSN contava um advogado externo que cuidava dos vistos de trabalho dos
profissionais e suas famílias. Quando chegavam novos colegas, provenientes do
Brasil ou de outros países, formávamos uma corrente colaborativa para ajudá-los a
alugar ou mesmo comprar uma casa, um automóvel, colocar os filhos numa escola
etc.
56
Lembro-me que alguns deles sofreram dificuldades em se adaptar ao ritmo de
trabalho frenético da emissora, mas com o tempo foram se habituando. Na semana
da estreia do canal trabalhamos dia e noite. Ficamos uma semana sem voltar para
casa, tomávamos banho e descansávamos em um hotel em frente à emissora, em
alguns apartamentos reservados para nós. Fazíamos isso com prazer, inclusive os
chefes, gerentes, o vice-presidente e o CEO estavam lá. O Trabalho era hercúleo.
Dormíamos apenas algumas horas e voltávamos paras as edições e
transmissões dos eventos para toda a América Latina e para o Brasil. Na sala de
reuniões muita pizza, donuts, refrigerantes, doces e café. Sentia-me como em um
filme policial de Hollywood. Eram dezenas de competições simultâneas acontecendo
ao redor do mundo e frequentemente no mesmo horário. Quando isso acontecia,
priorizávamos uma delas para transmissão ao vivo e as outras eram transmitidas em
tape delay (gravadas). Muitas vezes transmitíamos um evento no feed espanhol e
outro evento no feed em português, isso acontecia por causa da reserva de direitos,
como o da Fórmula 1. A Rede Globo havia comprado a exclusividade do evento para
o Brasil em um contrato de longo prazo. Portanto, não podíamos transmitir essa
competição para o Brasil.
4.4 Linguagem inovadora das coberturas
Sob a batuta do CEO, Sebastian Domingues, um comentarista chileno de tênis,
a PSN implantou uma linguagem inovadora nas coberturas esportivas. Seguíamos um
manual de ética e uma cartilha de procedimentos. Nossos talentos e produtores
participaram de cursos e seminários preparatórios de postura, narração, colocação de
voz, redação de textos, comunicação, realização de matérias jornalísticas e presença
em cena.
Foram definidos os padrões dos gráficos, o conteúdo dos geradores de
caracteres, o tempo de inserção de cada gráfico, paleta de cores, design dos cenários,
figurino dos talentos, e tempo de break.
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Fomos o primeiro canal a inserir estatísticas nas transmissões esportivas.
Tínhamos uma equipe de apoio que nos fornecia chutes a gol, tempo de domínio de
bola, velocidade média dos jogadores, distância e velocidade da bola no golfe entre
outros dados estatísticos.
A PSN possuía um estilo único de transmissão que criava no espectador uma
relação de entretenimento, lazer e confiança nas informações.
Figura 27 – Tabela de escalação
Fonte: Acervo pessoal.
Os apresentadores de programas esportivos passaram a contar com a música, da mesma forma que com palavras e imagens. Os patrocinadores influenciavam a programação e a agenda dos calendários esportivos, assim como as fortunas ligadas a economia do esporte. As estatísticas eram meticulosamente compiladas, e o adjetivo ‘histórico’ foi acrescentado a eventos esportivos particularmente importantes, por exemplo, o dia do Derby, as finais da Copa ou o Superbowl, que passaram a integrar o próprio calendário da mídia. (BRIGGS; BURKE, 2009, p. 233)
Nos países que faziam parte da nossa cobertura, havia escritórios regionais
que cuidavam da parte comercial do canal e dos nossos sites. Tínhamos um site em
português e outro em espanhol, e já naquela época, realizávamos acompanhamento
simultâneo de competições ao vivo, fornecíamos as estatísticas dos jogos, o release
(material informativo) das competições, atualização de chaves, campeonatos e
entrevistas com atletas.
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Figura 28 – Logo da PSN.Com
Fonte: Acervo pessoal.
Nossos funcionários tinham orgulho de trabalhar no canal, muitos deles
migraram de canais importantes no Brasil e na América do Sul e Central.
No campo da Fórmula 1, a PSN chegou a patrocinar um carro pilotado por
Heinz-Harald Frentzen da equipe Prost.
Figura 29 – Imagem do carro da equipe Prost (2001)
Fonte: Google Images.
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4.5 Programação
A programação da PSN era bem variada e com poucos programas fixos.
Dávamos mais importância às coberturas dos eventos que se sucediam do que à
realização de programas de grade.
Nossa cobertura priorizava o futebol, que é o principal esporte nas grades dos
canais esportivos até hoje. Não é novidade a paixão do espectador latino-americano
pelo futebol. Por essa razão, a PSN teve grande penetração em países amantes desse
esporte, como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, México e demais países da América
Latina. Como já mencionado, o grupo Hicks, Mute, Tate & Furst – HMTF assumiu a
gerência de futebol do Sport Club Corinthians em São Paulo e do Cruzeiro Esporte
Clube em Minas Gerais.
O Corinthians decidiu abrir mão do controle de seu departamento de futebol, transferindo-o para a empresa norte-americana Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated. A direção do clube paulista e a ‘Hicks Muse’, como é chamada a empresa especialista em investimentos diretos de capital privado, anunciaram [...] que estão formando a Corinthians Licenciamento Ltda., que gerenciará o atual campeão brasileiro. Na constituição da Corinthians Licenciamento, a Hicks Muse fica com 85% das cotas, enquanto o clube detém os 15% restantes. A empresa de investimentos, com sede em Dallas, nos Estados Unidos, e escritórios em Nova York, Londres, Cidade do México e Buenos Aires, será a responsável pela administração de todas as receitas e despesas do departamento. No primeiro ano, investirá R$ 28 milhões para que o Corinthians quite suas dívidas, além de aproximadamente R$ 25 milhões destinados à folha de pagamentos. As compras de jogadores também ficarão por conta dos norte-americanos. Nas vendas dos atletas, a Hicks Muse ficará com 85% do lucro, o Corinthians, com 15%. As demais receitas, como bilheterias, cotas por jogos amistosos, publicidade na camisa e contratos de TV, também são da empresa. Para o presidente Alberto Dualib, do Corinthians, embora todas as operações comerciais fiquem por conta da Hicks Muse, ‘a autonomia do departamento de futebol está mantida’. Mas Cesar Baez, um dos sócios da empresa norte-americana, deixou claro que nomeará um diretor de operações esportivas para participar do dia-a-dia do clube e que só serão contratados jogadores que forem considerados de interesse para a Hicks Muse.
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‘Eles serão consultados (na hora de contratar jogadores), mas a palavra final é de quem estará fazendo o investimento’, disse Baez. O empresário J. Hawilla, que intermediou a negociação, chegou a dizer que Dualib agora pode descansar, ficando em casa de segunda a sexta, saindo apenas aos domingos, como torcedor, para ver os jogos do Corinthians. Na administração do futebol, a Hicks Muse contará com a estrutura da Muller Sports Group, subsidiária da empresa, especializada em gestão de negócios esportivos. ‘Na Corinthians Licenciamento, haverá um diretor de marketing subordinado à empresa do Roberto Muller, um financeiro, um de operações esportivas, enfim, toda uma estrutura para administrar o futebol’, disse Hawilla, dono da Traffic, agência de marketing esportivo que, apesar de ter sido responsável pela aproximação entre as partes, não terá participação na nova empresa. Segundo Roberto Muller, dono da Muller Sports Group, a Corinthians Licenciamento começará funcionando no Parque São Jorge, mas, dentro de dois meses, já terá montado escritório em São Paulo, fora do clube. ‘Apesar de estarmos assumindo o futebol, a torcida pode ficar tranquila, porque todos temos o mesmo objetivo: fazer do Corinthians um time de primeira.’ (ASSUMPÇÃO; DIAS, 1999, online)
Sobre a formalização do acordo com o Cruzeiro, a Folha de S.Paulo publicou
em 1999, a seguinte notícia:
A diretoria do Cruzeiro assinou no final da tarde de ontem, em Belo Horizonte (MG), o contrato de parceria com o fundo de investimentos HMTF (Hicks, Muse, Tate & Furst Inc.). Pelo acordo, a empresa norte-americana terá um diretor nos departamentos financeiro e de futebol do clube mineiro, entre outras coisas. A empresa controla desde abril o departamento de futebol do Corinthians. A assinatura foi feita na sede do clube entre os representantes do fundo norte-americano e o presidente do Cruzeiro e deputado federal, Zezé Perrella (PFL), sem a presença da imprensa. O assessor de imprensa do clube, Valdir Barbosa, disse ontem que será organizada uma solenidade para marcar a parceria entre o fundo e o clube. Os diretores do fundo só começarão a trabalhar no clube a partir de janeiro de 2000. O Cruzeiro vai receber imediatamente, como adiantamento, R$ 20 milhões - R$ 10 milhões serão usados para contratação de jogadores e R$ 2 milhões para o término de um centro de treinamento do clube. Os R$ 8 milhões restantes serão usados, em parte, na construção da nova sede social do clube. Passe A partir de agora, 75% do passe dos jogadores contratados vão pertencer ao Cruzeiro e 25% ao HMTF. A proporção será inversa a partir de janeiro, quando o fundo vai assumir a folha de pagamento do clube. Também a partir de janeiro, os jogadores das divisões de base que assinarem contrato com o time profissional terão seus passes divididos entre o clube e o fundo norte-americano.
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O contrato entre o clube e o HMTF terá duração de dez anos, podendo ser automaticamente prorrogado por mais dez anos a partir de 2006, que é o prazo que a Hicks tem para construir um estádio para o Cruzeiro com capacidade para 40 mil torcedores. O HMTF também está tentando um acordo com o Grêmio. (BRAGON, 1999, online, grifos do autor)
4.5.1 Um pouco da história do futebol
Na Inglaterra, no ano de 1175 começou a ser praticado um esporte que utilizava
uma bola de couro, em datas festivas e comemorava-se a expulsão dos
dinamarqueses do país. No início, na cidade de Chester, dois times tentavam fazer
uma bola ultrapassar os portões da cidade. Após algum tempo, foram criadas regras
para esse esporte e fundada a The Foot Ball Association que, com a Universidade de
Cambridge, criou nove regras para o esporte. Em 1868, foi instituída a presença do
juiz, do apito e a colocação de travessões de madeira como balizas. (HISTÓRIA DO
FUTEBOL, s.d.)
De maneira bem sucinta, essa é a origem do esporte que movimenta milhões
de dólares anualmente em patrocínios e contratações de jogadores – o futebol.
4.5.2 Movimentação financeira do futebol no Brasil
O futebol é um dos esportes que mais movimenta capital no mundo. No Brasil
não poderia ser diferente. Estima-se que durante a Copa do Mundo de 2018, mais de
60 milhões de consumidores brasileiros tenham movimentado cerca de 20.3 bilhões
de reais em setores de comércio e serviço, segundo projeção da pesquisa feita pelo
Serviço de Proteção ao Crédito e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
Fora isso, o esporte movimenta muito capital em vendas e contratações milionárias
de jogadores. No Brasil, há um ditado que diz que os ingleses inventaram o futebol e
nós o aperfeiçoamos. A negociação dos direitos de televisão rende aos clubes cifras
milionárias e, consequentemente, são a maior fonte de rendimento das equipes.
(COPA DO MUNDO, 2018)
O futebol é um caso à parte. Enquanto o Brasil registrou a maior recessão de sua história em 2016, com queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), fora outros dados negativos pelos lados do desemprego e da inflação, a elite do futebol brasileiro cresceu. Muito. Os 24 maiores clubes do país – os 20 que jogaram a primeira divisão, mais os quatro que foram promovidos e a disputarão em 2017 – arrecadaram R$ 5 bilhões na temporada, um aumento de 41% sobre 2015 que deixa os indicadores de outros setores no chinelo.
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Mas não comemore ainda. O recorde foi alcançado graças a uma razão só: televisão. Os números de patrocínios, bilheterias e sócios-torcedores, estagnados ou em queda, mostram que os clubes evoluíram pouco. Para entender o que aconteceu fora de campo, primeiro precisamos quebrar aquele numerão. Os R$ 5 bilhões se dividem em diferentes fontes de receitas, e nem todas cresceram do mesmo jeito. O ano de 2016 foi peculiar – e aí está a maior explicação para a enxurrada de dinheiro – porque nele quase todos os clubes da elite venderam antecipadamente seus direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2019 a 2024. As assinaturas desses contratos renderam luvas, ou seja, prêmios que as emissoras pagaram para que os times optassem a fechar negócio com elas. A concorrência entre TV Globo e Esporte Interativo pelos direitos da TV fechada também ajudou a elevar os valores. Ao todo, foram pagos R$ 890 milhões em luvas. Entre as receitas ordinárias, que se repetem todos os anos, os direitos de transmissão ganharam um reajuste generoso. Os clubes, que em 2015 tinham obtido em torno de R$ 1 bilhão, receberam R$ 1,8 bilhão das emissoras em 2016. Os valores de televisão, na soma dos repasses regulares com as extraordinárias luvas, são a explicação para um futebol que cresce apesar de uma economia que padece. As áreas comercial e de marketing, cujas vendas vão desde patrocínio na camisa até produtos licenciados comercializados em lojas, não subiram nem desceram. Foram R$ 660 milhões arrecadados em 2016 em comparação com os R$ 650 milhões em 2015. Há motivos internos e externos para a patinada. Ao mesmo tempo que a crise faz empresas investir menos em publicidade, o futebol ainda não aprendeu a vender patrocínios consistentes a ponto de atrair as grandes companhias do mercado. O futebol hoje depende majoritariamente dos patrocínios estatais da Caixa e de patrocinadores-torcedores como a Crefisa no Palmeiras. As torcidas, que financiam seus clubes quando compram ingressos ou pagam mensalidades como sócios-torcedores, passaram a contribuir menos. Os R$ 770 milhões arrecadados com bilheterias e programas de associação em 2016 são menores do que os R$ 830 milhões registrados em 2015. As justificativas são similares às anteriores. Se o país está em crise, o cidadão tem menos dinheiro para gastar com fins supérfluos, como o futebol. Mas também é fato que os estádios ainda têm problemas com segurança, que o preço dos ingressos afasta torcedores de baixa renda, que boa parte das partidas não tem qualidade suficiente para empolgar a massa. São todos problemas nos quais os clubes têm responsabilidade. Os clubes brasileiros são exportadores de ‘pé de obra’, e isso impacta nas contas dos clubes, porém muito menos do que as demais fontes de receitas. As transferências de atletas somaram R$ 550 milhões em 2016, enquanto em 2015 tinham rendido R$ 430 milhões. O problema aqui é que apenas alguns clubes ganham muito com a venda de jogadores. O Palmeiras embolsou R$ 51 milhões ao mandar Gabriel Jesus para o Manchester City. O Corinthians recebeu R$ 74 milhões depois que vendeu quase um time inteiro para estrangeiros, a maioria deles chinesa. E a grana varia muito de uma temporada para outra. O Flamengo, que em 2017 tem proposta superior a R$ 150 milhões para vender Vinicius Junior ao Real Madrid, arrecadou só R$ 12 milhões com todos os atletas que transferiu em 2016. O resumo da ópera é que, ao mesmo tempo que o faturamento explodiu por causa dos novos contratos de televisão, as receitas com patrocínios, bilheterias e sócios-torcedores estagnaram. Além disso, não dá para contar mais com as luvas. Alguns times ainda têm direitos de TV aberta para negociar, como Palmeiras e São Paulo. Outros têm valores a receber em
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2017 do acordo que firmaram em 2016, como o Flamengo. Mas o grosso já foi. Tampouco dá para contar com as transferências de atletas, que podem bombar numa temporada e sumir na outra. No fim das contas, o recorde histórico, se não for detalhado, passa uma impressão parcialmente equivocada ao torcedor: de que as coisas vão muito bem. Não vão. Ainda não. Disclaimer Os números expostos aqui vêm de balanços financeiros publicados pelos próprios clubes. ÉPOCA compilou, padronizou e analisou os dados com o apoio técnico de Cesar Grafietti, analista financeiro do Itaú BBA que há anos se debruça sobre as finanças. O problema, especialmente no que toca os faturamentos, é que os balanços não seguem os mesmos padrões contábeis para lançar as receitas – um problema que a Autoridade Pública de Governança do Futebol (Apfut), recém-constituída, tenta resolver neste momento. Enquanto isso não acontece, a reportagem fez ajustes para que as comparações entre os números, e, portanto, toda a análise, estejam corretas. Tratemos de exemplos reais. O Corinthians vendeu em 2016 a maior parte do time que foi campeão nacional em 2015. Ao todo, as vendas somaram R$ 144 milhões. Esse é o valor, enorme, que o time lança em suas demonstrações financeiras. Mas nem todo o dinheiro foi parar no caixa corintiano. Como empresários detinham fatias dos direitos econômicos de vários atletas, o Corinthians recebeu de fato apenas R$ 74,5 milhões. Outros clubes, como o Palmeiras, que lançou apenas R$ 51 milhões recebidos pelo Manchester City por Gabriel Jesus, sem a parte do empresário, seguem outro padrão. A fim de igualar os denominadores, ÉPOCA considerou somente os valores líquidos, depois de descontados os percentuais alheios. O mesmo desarranjo aparece nos lançamentos das luvas. O Flamengo contabilizou R$ 100 milhões pela assinatura de um novo contrato de TV, mas recebeu R$ 70 milhões em 2016. O restante vai entrar no caixa no futuro. Já Palmeiras e São Paulo não apresentaram as luvas que receberam em 2016, respectivamente R$ 38 milhões e R$ 60 milhões, como receitas. Não há nada errado com os balanços financeiros. As regras estão contabilmente corretas se cada documento for avaliado individualmente. Na comparação entre um clube e outro, no entanto, a comparação crua dos valores apresentados sem ajustes para que sigam o mesmo critério estaria equivocada. Neste caso, ÉPOCA levou em conta todas as receitas com luvas que entraram em caixa no decorrer de 2016, com a ressalva de que essa fonte não é recorrente, ou seja, não se repetirá tão logo. (CAPELO, 2017, online, grifos do autor)
A Rede Globo, proprietária dos canais SporTV, tem no futebol um dos seus
maiores investimentos. Para as emissoras de TV, a transmissão de esportes,
sobretudo de jogos de futebol, é um importante input financeiro. A PSN também tinha
no seu business um faturamento importante formado por assinantes e patrocinadores.
Para dar uma dimensão do negócio do esporte, segue uma matéria que trata do
quanto a TV Globo faturará na transmissão a cabo ao longo do Campeonato Brasileiro
até 2019.
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A disputa entre a Globo e o Esporte Interativo pelos direitos do Brasileiro 2019 gerou uma questão: qual o valor de mercado da competição? Para responder essa pergunta, é necessário entender quanto de dinheiro o campeonato gera para a emissora. Por isso, o blog fez uma apuração e levantamento de como a Globo ganha com o Nacional. Primeiro, não é possível chegar a um número absoluto de faturamento com futebol. A Globo se recusa a abrir dados de seus negócios, procedimento padrão em outras emissoras. Mas é viável determinar a ordem de grandeza dos ganhos globais com dados revelados a clubes ou ao mercado. O modelo de negócios de futebol da Globo implica em um pacote entre 95 e 100 datas de futebol em TV Aberta por ano – são 280 jogos transmitidos para diferentes praças. Outros 76 jogos do Nacional passam no SporTv, dois por rodada. E todas as 380 partidas da competição são incluídas no pay-per-view. Para isso, em 2015, a Globo investiu um total de R$ 1,3 bilhão em direitos de transmissão do futebol consideradas todas as competições e para todas as mídias. Houve reajuste considerável para 2016 e esse deve ser o valor total aproximado pago apenas pelo Brasileiro. Com exceção do Paulista, com valor acima de R$ 70 milhões, nenhuma outra competição gera custa alto para a emissora, mesmo Libertadores e Copa do Brasil. Há ainda custos de operação: uma transmissão de jogos custa um máximo de R$ 50 mil com a contratação de uma produtora, a Casablanca atende a maioria das emissoras. A emissora informou ter transmitido 1.700 jogos ao vivo em todo o grupo, sendo que boa parte deles é de campeonatos do exterior. Mesmo incluída a produção para todos, o custo máximo seria de R$ 85 milhões para todas as transmissões. Há ainda gastos menores para comercializar o pay-per-view. Somado tudo, o custo da emissora com direitos do futebol, mais a operação, não chegará nem perto de R$ 2 bilhões neste ano. E os ganhos são muito maiores como se vê a seguir: TV Aberta São seis as cotas de publicidade do futebol da Globo. Cada uma foi negociada por R$ 245,7 milhões, o que leva o ganho anual a R$ 1,474 bilhão. Esse valor cresceu 83% em cinco anos, muito acima da inflação. Há outras 11 cotas participação vendidas a patrocinadores grandes como a Nissan, cujos valores não são revelados. Ou seja, só com o montante obtido com TV Aberta a emissora praticamente iguala o valor investido anualmente no futebol. Fora isso, com os direitos sobre os jogos, a Globo alavanca a audiência de outros programas exibidos antes ou depois do futebol. Mais do que isso, ao marcar as partidas para as 22 horas, horário que não agrada torcedores, ela evita concorrência a seus programas mais nobres como novelas ou Jornal Nacional. TV Fechada O Sportv é o canal esportivo de maior audiência na TV Fechada, sendo o terceiro mais assistido no geral, atrás apenas de dois infantis. A maior renda que gera é a taxa paga por operadoras como Net e Sky. Esse valor não é revelado. Mas, em um processo no Cade, a Rede TV, SBT e Record apontaram que cada assinante paga R$ 20,00 por mês pelo pacote de canais Globosat. O colunista Ricardo Feltrin, do UOL, apontou que esse valor seria de R$ 12,50. De qualquer maneira, considerado o valor menor, a Globo ganhou em torno de R$ 3 bilhões de taxas por seus canais, já que são 20 milhões de assinantes de TV a cabo. Outros R$ 3 bilhões são gerados em anunciantes, elevando a renda da emissora a R$ 6 bilhões em TV fechada. O SporTv é uma peça-chave nesta equação visto que é o de maior audiência. E o Brasileiro é a competição mais importante da grade da emissora.
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Pay-per-view O pacote de jogos pagos da Globo tornou-se um negócio muito lucrativo desde 2008. Sua divisão de receitas, no entanto, continua igual com a maior fatia indo para a emissora. São cerca de 2 milhões de assinantes. Cada um deles paga em média em torno de R$ 600,00 por ano. Isso eleva os ganhos do PPV a R$ 1,2 bilhão com os pacotes. Pelos contratos com os clubes, a emissora fica com 62% do total, enquanto as agremiações dividem 38%. Há uma cota mínima de R$ 500 milhões para os times, isto é, 41% do total estimado arrecadado. Ou seja, um percentual muito próximo do que efetivamente os times têm direito. Com a cota mínima, sobra para a Globo R$ 700 milhões do ppv. Outros direitos A Globo tem outros contratos com os clubes para cessão de direitos internacionais, placas de publicidade, direitos de internet. São valores menores se comparados às três mídias acima, mas, neste modelo, a emissora atua como intermediadora em todos os negócios em vez deles serem feitos diretamente pelos clubes. No caso dos direitos internacionais, por exemplo, o Brasileiro é pouco vendido no exterior, o que gera reclamação dos clubes. Faturamento total No ano de 2014, a Globo declarou receitas líquidas de R$ 16 bilhões em todas as suas operações. Consideradas as três principais mídias, TV Fechada, Pay-Per-view e Aberta, a emissora consegue um valor certamente superior a R$ 3 bilhões com o futebol. Ou seja, o futebol representa pelo menos 20% do faturamento da Globo em uma estimativa conservadora. (MATTOS, 2016, online, grifos do autor)
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5 O FECHAMENTO DO CANAL
5.1 Operação silenciosa
Estávamos no início do ano de 2002. Nessa época, eu acumulava às minhas
funções de senior producer (uma espécie de coordenador do serviço em português) a
direção do programa “O Show de Pelé”, apresentado pelo rei do futebol. O programa
era gravado em espanhol e português. Nele, Pelé entrevistava figuras ilustres do
esporte mundial.
Uma das histórias mais marcantes do programa ocorreu na gravação de um
especial dentro do torneio de tênis U.S. Open, em 2001. Estavam agendadas as
entrevistas com os tenistas Guga, Martina Hingis, John McEnroe e as irmãs Willians.
Além do português, Pelé se comunicava muito bem em inglês, espanhol, francês e
arranhava o italiano e o alemão. O fato marcante dessa aventura foi quando eu e o
então diretor de produção, Rodolfo Martinez, chegamos ao U.S. Open para
verificarmos a locação e definirmos o local das gravações. Decidimos conversar com
o chefe da segurança do evento para informá-lo sobre o que costumava ocorrer com
a presença de Pelé em eventos dessa natureza, ou seja, os tumultos de fãs. Na sala
da chefia de segurança, fomos recebidos por um tipo arredio, desconfiado e de pouca
conversa. Rodolfo explicou a ele que em dois dias Pelé chegaria e seria interessante
dispor de um esquema forte de segurança.
Ouvimos do chefe de Segurança que não nos preocupássemos, porque um dia
antes, Robert De Niro havia comparecido e andado livremente pelo local o menor
problema. Rodolfo insistiu que a nossa experiência mostrava que poderia haver
tumulto. O chefe então disse: “Ok! Vamos colocar um segurança para acompanhá-lo.
Como ele se parece?”. Ou seja, ele não conhecia o Pelé. Incrédulos, olhamos um para
o outro, e Rodolfo disse em tom de brincadeira: “Ele é alto, cabelos loiros e olhos
azuis”. O homem começou a anotar a descrição feita por Rodolfo, quando dissemos:
“Meu amigo, isso é uma brincadeira. Pelé é negro, forte e possui estatura mediana”.
O homem, furioso, exclamou: “Eu não estou brincando. Podem deixar que haverá um
segurança na chegada do Mister Pelé!”. E se retirou.
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No dia da chegada do rei do futebol, atleta do século, algumas pessoas já
faziam fila no portão 2. Olhamos para o lado e lá estava o nosso segurança.
Em poucos minutos, uma centena de pessoas se aglomeravam à espera de
Pelé. Quando ele chegou, havia uma multidão, perto de 1.000 pessoas. Todas se
empurravam e esticavam seus braços com bolinhas de tênis para Pelé autografar.
Entre estas pessoas estavam as irmãs Willians e o tenista André Agassi. Não podendo
conter o tumulto, o único segurança escalado para a chegada de Pelé chamou reforço
pelo rádio. Logo, uma força tarefa de seguranças fez um cordão de isolamento para
que Pelé conseguisse entrar no prédio. O chefe da segurança, totalmente
surpreendido, disse um simples: “I am sorry...”.
Figura 30 – Bastidores do programa Show do Pelé em Nova Iorque (2002)
Fonte: Acervo pessoal.
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Nessa aventura, ainda registramos outro fato interessante, a gravação de uma
entrevista realizada em uma das torres gêmeas dois dias antes do atentado de 11 de
setembro de 2001.
Entre as histórias que valem a pena contar, a do jogo de despedida de
Maradona em Buenos Aires também foi marcante. Ao contrário do que muita gente
pensa e a imprensa notícia, Pelé e Maradona são muito amigos. Pelé foi o convidado
de honra daquele evento. Maradona isolou o sexto andar do Hilton Hotel de Buenos
Aires para receber seus convidados. Pelé insistiu que a sua equipe da PSN o
acompanhasse, e assim foi feito. Aproveitamos o momento para gravar entrevistas
com todas as personalidades presentes ao evento.
No dia do jogo de despedida de Maradona, que aconteceu no Estádio de La
Bombonera, no bairro da Boca, Maradona providenciou uma van com os vidros
escuros e quatro batedores da polícia local para acompanharem Pelé até o estádio.
Nesta van estavam Pelé, o então CEO da PSN, o tenista mexicano Jose
Baraldi, o empresário de Pelé na Argentina e eu. A van se dirigiu à Bombonera com
os batedores e as sirenes ligadas. Ao entrarmos no bairro da Boca, as pessoas,
pensando que a van levasse Maradona, gritavam o seu nome e acenavam.
Chegamos ao estádio e a van estacionou na entrada de imprensa. Ali estavam
os componentes da torcida Barra 12 do Boca Juniors – sem camisa, com os cabelos
longos e tatuagens com a expressão: “Maradona é Deus”. Quando as portas da van
se abriram e viram Pelé e não Maradona, passaram a ofendê-lo. Paralelamente, com
pedaços de caibros nas mãos, tentavam atingi-lo e à equipe que o acompanhou. A
polícia utilizou cassetetes de choque para afastá-los e pediu que entrássemos no
elevador reservado à imprensa. Como o elevador era muito pequeno, comportou
apenas Pelé e seu empresário e os demais fugiram pela escadaria até os camarotes.
Lembrei-me dessa história porque dois dias antes do fechamento da PSN, eu
e Pelé havíamos chegado do México. Lá, fomos entrevistar o técnico de futebol
mexicano Javier Aguirre. Nesta gravação ficamos hospedados no Hotel Four
Seasons, na cidade do México. Conforme política da empresa, precisávamos sempre
ficar hospedados nos melhores hotéis. Não houve nenhuma preocupação com o
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pagamento de verbas dessa viagem, alimentação ou aluguel de veículo. Ou seja, nada
indicava que tínhamos uma crise financeira.
Na volta à emissora eu e minha equipe fomos recebidos normalmente. Fizemos
a agenda de trabalho para a semana e começamos a trabalhar na edição do material
gravado no México. Lembro-me que o então vice-presidente de Produção Patricio
Montalbetti, que havia sido elevado ao cargo após a demissão de Alexander Jonhson,
quis saber como foram os trabalhos no México e fez elogios ao programa. Enfim, era
o cenário de uma empresa normal.
5.2 Funcionários desempregados
Na mesma tarde do fechamento da PSN, fizemos uma reunião com todos os
brasileiros do canal, na casa do narrador Téo José. Estávamos atônitos. Ninguém
podia acreditar que a emissora fechara as suas portas. Também não acreditávamos
na maneira como fomos tratados pelos seguranças contratados para esse momento.
Eles nos acompanharam até as nossas mesas e só pudemos pegar os objetos
pessoais. Sequer tivemos acesso aos nossos computadores para resgatar nossos
arquivos. Foi lamentável ver uma fila de colegas deixando as dependências da
emissora, carregando caixas, plantas, casacos e demais objetos pessoais. Fomos
tratados com o padrão americano de desligamento de funcionários.
Na saída, recolheram os nossos crachás e as nossas identificações de
estacionamento. Eu não entreguei o meu crachá. A essa reunião na casa de Téo José,
outras se seguiram, pois queríamos entender o que havia acontecido.
A explicação oficial era de que a crise econômica da Argentina e a consequente
inadimplência de 3 milhões de assinantes argentinos, que pagavam 5 dólares por mês
cada um para ter o canal no seu pacote, havia sido fulminante para a saúde financeira
da empresa. Afinal, 15 milhões de dólares por mês devem fazer diferença em qualquer
orçamento.
70
Hicks, Muse, Tate & Furst Inc. provavelmente perderão cerca de US$ 45 milhões em seu canal a cabo Pan American Sports Network, que entrou com pedido de falência no início deste mês, disse um advogado que representa a rede em seu processo de falência. A PSN, que transmite esportes na América Latina, entrou com uma petição voluntária no Tribunal de Falências dos Estados Unidos em Miami em 1º de março, listando US$ 25 milhões em ativos e US$ 42 milhões em passivos. Ele provavelmente venderá seus ativos em vez de se reorganizar, disse Michael Seese, advogado da Bilzin, Sumberg, Dunn, Baena, Price e Axelrod LLP. Uma decisão final será tomada dentro das próximas semanas, disse ele. A Hicks Muse destinou US $ 500 milhões para investimentos em futebol, como a compra de direitos de marketing para equipes, a reforma de estádios antigos e a construção de novos e gastou mais de US $ 230 milhões para a PSN, que começou a transmitir há dois anos. Seese disse que a rede falhou porque gastou muito para os direitos de transmissão. ‘O serviço da dívida para cobrir as taxas de direitos foi demais’, disse Seese em uma entrevista. ‘Isso, juntamente com a crise financeira na Argentina, foi demais’. A PSN esperava também transmitir os esportes latino-americanos nos Estados Unidos, em um esforço para atrair alguns dos 36 milhões de hispânicos do país como telespectadores. (WESTHEAD, 2002, online)
Os funcionários voltaram para suas casas naquele dia com a promessa de que
a empresa honraria com seus compromissos, mas naquela época, nos EUA, quando
uma empresa decretava bankruptcy chapter 11, que equivale à nossa falência, a
massa dos bens era destinada primeiramente ao pagamento dos bancos e dos
credores. O saldo restante liquidava os débitos trabalhistas. Parece que não houve
saldo para a liquidação dos débitos trabalhistas.
O único grupo que deve acreditar na palavra do Líder são os simpatizantes, cuja confiança envolve o movimento numa atmosfera de honestidade e ingenuidade, e que ajudam o Líder a cumprir a metade da sua tarefa, isto é, inspirar confiança no movimento. (ARENDT, 2018, p. 520)
A maioria do time hispânico conseguiu um novo trabalho nos canais em língua
espanhola, como a Telemundo e a Univision. Outros foram para os serviços em
espanhol da ESPN e da FOX. Os brasileiros, por sua vez, tiveram dificuldades de
serem absorvidos nesses canais. Primeiro porque a maioria dos colegas não
dominava a escrita em espanhol, e segundo porque os vistos de trabalho precisavam
estar atrelados a um sponsor (responsável), e com o fechamento do canal todos
poderiam ficar apenas três meses nos EUA. Para driblar essa regra, muitos dos
colegas entraram com o pedido de green card (autorização de trabalho e residência).
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Durante o trâmite do processo é concedida uma autorização provisória de
residência. Eu optei por retornar ao Brasil e voltar ao mercado da televisão e à
academia.
Quando a emissora encerrou as suas transmissões, foram mantidos no ar os
pacotes promocionais e o logotipo padrão do canal durante alguns dias. Além disso,
por normas contratuais com as operadoras, a programação continuou no ar com
reapresentações até a saída definitiva do sinal. Nesse momento, começaram as
notícias do fechamento do canal na imprensa brasileira.
A propaganda de massa descobriu que o seu público estava sempre disposto a acreditar no pior, por mais absurdo que fosse, sem objetar contra o fato de ser enganado, uma vez que achava que toda afirmação, afinal de contas, não passava de mentiras. (ARENDT, 2018, p. 519)
A Folha de S.Paulo também deu destaque à saída da PSN do ar, no Brasil:
A rede de esportes PSN (TVA, Net e Sky) deve sair do ar no Brasil. Nos próximos dias, deve ser anunciado um acordo com a transferência dos direitos de campeonatos comprados pela emissora para o Fox Sports, que não está disponível na TV brasileira. A mais imediata consequência para o telespectador brasileiro é a perda da transmissão de jogos da Libertadores que começou ontem e não foi exibida no país, exclusivos da PSN na TV paga. A única opção será o calendário definido pela Globo, que tem a exclusividade do campeonato na televisão aberta. A negociação começou na última semana, em Dallas, nos EUA, onde fica a sede do fundo de investimentos norte-americano HMTF (Hicks, Muse, Tate & Furst), proprietário da PSN. Ontem, ainda havia alguns detalhes sendo acertados entre as empresas envolvidas, que não quiseram se pronunciar oficialmente. Trata-se de um acordo que envolveria o HMTF, a Fox (dona do canal Fox Sports na América Latina) e a Liberty Media (sócia do HMTF na empresa de eventos esportivos argentina TyC). A Fox deve entrar com participação minoritária na PSN e poderia usar sua estrutura para trazer ao Brasil o Fox Sports, canal forte na América Latina. Mas essa hipótese emperra em um outro acordo, que envolve a Fox, a Globosat e a ESPN. As empresas formaram uma joint venture para criar um canal de esportes no país, o ESPN Fox, que entraria no lugar da ESPN International. Com isso, a vinda do Fox Sports ao Brasil dependeria de uma autorização da Globosat e da ESPN. Fontes envolvidas com a negociação não acreditam nessa possibilidade, mesmo porque a Fox não teria interesse em concorrer com o SporTv, da Globosat.
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A PSN (Panamerican Sports Network) estreou no Brasil em fevereiro de 2000. É um canal à la carte (paga-se além da assinatura da TV paga para recebê-lo), com cerca de 850 mil assinantes no país. Calcula-se que tenha recebido nesses dois anos investimento de cerca de US$ 500 milhões. Tinha como proposta ter 60% de sua programação voltada para o futebol, com transmissão para Brasil e todos os outros países das Américas do Sul, Central e Caribe. A sede da PSN fica em Miami, onde é produzido o conteúdo em português e espanhol. Para lá, foram levados alguns profissionais brasileiros, que estão apreensivos quanto ao futuro da emissora. No lançamento, o HMTF prometia que em três anos transformaria a PSN no maior canal esportivo de TV paga do continente. (MATTOS, 2002, online)
Agência Estado também publicou o encerramento da produção da PSN em
Miami:
Os funcionários brasileiros da PSN norte-americana, com sede em Miami, estão indignados. Mais que isso, estão horrizados com o que aconteceu a emissora, que encerrou sua produção, demitindo 139 de seus 148 funcionários e colaboradores. Como acontece com sua filial no Brasil, por motivos legais a PSN ainda se mantém no ar à base de videoteipes e reprises de programas, mas sua programação já não existe. Ativos como direitos de transmissão da Libertadores da América e Mundial de Fórmula 1 foram repassados para uma nova empresa, em parceria com a Fox. As dívidas trabalhistas e as referentes aos direitos de transmissão do campeonato italiano (US$ 40 milhões), Copa da Uefa (US$ 2,5 milhões) e Liga Sul-americana de basquete (US$ 13 milhões) ficaram com a PSN. No Brasil, o plano da Hicks seria abrir uma nova emissora de TV paga, em parceria com a Fox. Para isso, a Fox precisaria de autorização das Organizações Globo e da ESPN Internacional, com as quais mantém acordo. Profissionais como o narrador Teo José, os comentaristas Cadum e Juarez Araújo e o locutor Dárcio Arruda - além de funcionários chilenos, argentinos e colombianos que trabalhavam nos Estados Unidos - vão cobrar o que julgam ter direito na Justiça americana. Eles calculam o débito em US$ 1 milhão, mas já receberam de seus advogados a informação que a tarefa será difícil. ‘A falência, ou concordata da emissora (a forma ainda não está definida) foi tão bem-feita que sabemos que será difícil receber o que temos direito, mas vou até o fim nessa briga’, diz Teo José, de malas prontas para voltar ao Brasil. Ele vai além: ‘Acho que o Corinthians será a próxima vítima’. Os procedimentos da Hicks são coincidentes nos dois casos. Por meio de sua assessoria de imprensa, a PSN no Brasil informou não poder comentar acontecimentos relacionados aos Estados Unidos. Enquanto não se define se haverá um novo canal no Brasil, a PSN continuará no ar com reprises. (PSN JÁ ENCERROU..., 2002, online)
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5.3 O impacto da falência da PSN no mercado de Broadcast
Com a falência da PSN, o mercado de Broadcast na América Latina e no Brasil
sofreu um abalo considerável. Do lado positivo para as emissoras, deixou de existir
uma poderosa concorrente que chegou cerceando as possibilidades de negociação
com as ligas esportivas. Desapareceu o fenômeno PSN que fazia sombra nas
coberturas de outros canais com a sua linguagem moderna e uma oferta incomparável
de eventos esportivos. Do lado negativo, quem assumiria as coberturas simultâneas,
com partidas back-to-back (umas coladas nas outras) provenientes de vários países?
Quem teria essa expertise? A resposta não poderia ser outra. O espólio de
programação da PSN foi assumido por vários canais de TV a cabo, entre eles a Fox
Sports, que não entrava no Brasil, e a ESPN International.
O público telespectador da PSN ficou perdido por algum tempo. As emissoras
que assumiram os eventos não conseguiram captar audiência num primeiro instante,
mas após um curto espaço de tempo, os amantes do esporte passaram a seguir as
suas ligas preferidas nesses canais. Também houve ressonância no mercado
publicitário, já que a emissora havia se transformado numa importante opção de mídia
para importantes anunciantes. Com o consequente aumento nos índices de audiência
dos canais brasileiros como Globo, SporTV e ESPN, que assumiram as ligas da PSN,
aconteceu também um aumento no faturamento dessas emissoras.
No mercado profissional também houve uma movimentação. A equipe da PSN,
quase que na sua totalidade, retornou ao Brasil. Esse time estava muito bem
preparado e havia passado por uma escola altamente inovadora.
Os ex-profissionais da PSN foram muito bem recebidos no Brasil, sendo
absorvidos pela Globo, Band, SporTV e ESPN. Eu mesmo fui contratado pelo canal
em espanhol da ESPN International, com sede em Bristol, no Estado de Connecticut
nos EUA, para dirigir, no Brasil, um programa chamado “Perfiles”, que de certa forma
era muito parecido com o “Show de Pelé”, porém, sem o Pelé.
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Entrevistávamos personalidades do cenário esportivo brasileiro que falavam
sobre um homenageado, mas as perguntas eram feitas em off, ou seja, fora do ar,
sem serem ouvidas pelo público. Apenas as respostas dos convidados eram editadas.
No meio das perguntas inseríamos depoimentos de amigos, treinadores, técnicos e
colegas do homenageado. Esse programa era gravado em português com subtítulos
em espanhol e inglês, pois era exibido no canal da ESPN no Brasil e no canal
internacional da emissora.
Dirigi esse programa por quatro anos até a sua saída do ar. Hoje, os nossos
colegas estão espalhados pelo mundo da televisão. Alguns voltaram aos Estados
Unidos e outros permaneceram no Brasil.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo, de cunho memorialista e método qualitativo, visou resgatar a
história de um dos maiores canais de televisão de esportes do mundo, a Pan American
Sports Network – PSN, levando-se em conta os aspectos de tecnologia, audiência,
faturamento e programação, contando com pesquisas documentais, bibliográficas e a
vivência do autor dentro da emissora.
As novas gerações não conhecem a experiência ímpar da PSN, um canal de
TV a cabo que revolucionou a linguagem de cobertura esportiva na televisão. O
jornalismo esportivo da TV da América Latina e Brasil pode ser dividido entre antes e
após a PSN. Nenhuma emissora de TV teve a exclusividade de tantos eventos
esportivos simultâneos. A PSN foi um divisor de águas no que diz respeito à linguagem
da narração e cobertura esportiva da televisão, graças ao talento dos profissionais
que aplicaram as suas experiências na construção do canal. Da planta técnica ao
manual de procedimentos éticos e artísticos, tudo era tratado com o mais refinado
cuidado.
A PSN cometeu erros? Sim. Não há como ficar no ar 24 por dia durante sete
dias por semana, com mais de 70% de programação ao vivo, sem cometer um
engano, um deslize ao fornecer uma informação, mas quando isso acontecia tínhamos
a obrigação de colocar no ar um disclaimer (retratação), o mais breve possível,
pedindo desculpas pelo erro e divulgando a informação correta.
O manual de conduta, não permitia que houvesse preferência por alguma
equipe esportiva, país ou atleta. Nossos narradores gritavam gol com a mesma
intensidade para as duas equipes que estavam competindo. O que importava para o
canal era a imparcialidade.
Podia-se ouvir narradores colombianos, argentinos, chilenos e uruguaios
vibrando com os gols do Ronaldo ou de uma jogada maravilhosa do Cafu da mesma
maneira como os narradores brasileiros vibravam com as jogadas esplendidas do
Batistuta ou Zamorano.
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Nossos produtores e jornalistas procuravam estar atualizados através de
reuniões diárias de equipe, conferece calls com representantes nos diversos países,
leitura de revistas e jornais de vários países que chegavam à nossa emissora
diariamente, acompanhamento de sites e páginas de revistas e jornais especializados
etc.
A PSN tinha por norma o pagamento de cachês para os colaboradores e
convidados dos programas. Isto nos tornava isentos de pressões e manobras para a
condução de matérias jornalísticas.
Parte da imprensa especializada no Brasil fazia críticas à PSN. Diziam que as
nossas narrações eram frias e distanciadas dos eventos, já que transmitíamos de
Miami, o que não procedia. A transmissão off tube sempre foi uma prática comum na
televisão, sendo exercida até hoje pelas maiores redes de TV. As críticas eram na
verdade uma forma de resistência da concorrência à nossa capacidade de gerar
eventos simultâneos e inéditos numa proporção até hoje sem comparações. Muitos
dos nossos críticos gostariam de ter feito parte do nosso time.
Nos planos da emissora estava, a emissão também por emissoras de rádio, um
plano que não chegou a ser concretizado.
No momento do fechamento do canal, estávamos nos preparando para a
emissão ao mercado norte-americano em inglês e espanhol, já que nos Estados
Unidos, naquela época, havia 33 milhões de pessoas oriundas de países de língua
espanhola. Seria a PSN USA.
A PSN era mais do que uma TV. Era um conceito de linguagem de transmissão
de vários gêneros esportivos.
Posso afirmar em nome de todos os funcionários da PSN que tínhamos orgulho
de trabalhar numa proposta de televisão que inovava em linguagem. Quem sabe um
dia, esse trabalho possa inspirar profissionais e estudantes a viverem uma experiência
semelhante.
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Tive a sorte de iniciar a minha vida profissional no final da era de ouro da
televisão na TV Cultura de São Paulo, onde aprendi, entre outras coisas, que é
impossível fazer televisão sem educar e informar. Esses conceitos foram por mim
praticados na PSN. O canal não era apenas um transmissor de programas esportivos
contava-se também com um jornalismo forte, evidentemente na área esportiva, e uma
área de documentários bem avançada.
Ousadia, determinação, ética e profissionalismo, estes são os valores que
adquiri na minha passagem pela PSN, o melhor canal de esportes do mundo.
No tocante às questões centrais que balizaram esta dissertação – O que levou
o canal a encerrar as suas operações? Por que a PSN saiu do ar sendo líder de
audiência no segmento esportivo de televisão a cabo? –, tendo-se como objetivo geral
entender quais são os processos de edificação de um canal internacional de televisão
e identificar o que leva a fracassar um projeto vitorioso, com um plano de negócios de
600 milhões de dólares, com direitos exclusivos de transmissão das maiores
competições esportivas do mundo, pode-se dizer que, mediante o levantamento de
dados para o desenvolvimento desta dissertação, as razões que levaram ao
fechamento da PSN nunca foram esclarecidas oficialmente, pois o que se tem, até
hoje, são hipóteses.
A imprensa especializada afirma que foi má administração da HMTF. Dizem
que o grupo não conhecia o negócio de broadcast e por essa razão fracassou no seu
empreendimento. Existe também a hipótese de que a crise econômica mundial do
início dos anos 2000 provocou uma enorme inadimplência no mercado argentino,
fazendo que a PSN perdesse mais de 15 milhões de dólares por mês de assinaturas
do canal. Supõe-se, também, que a PSN foi construída para deixar de existir em um
curto espaço de tempo e dessa forma obter benesses fiscais para o grupo HMTF do
governo norte-americano.
Como frisa Arendt (2018, p. 552), “Mentir ao mundo inteiro de modo sistemático
e seguro só é possível sob um regime totalitário, no qual a qualidade fictícia da
realidade de cada dia dispensa a propaganda”.
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Diante deste cenário, é possível que nunca saibamos as reais causas que
levaram a PSN à falência, contudo, considerou-se a importância em divulgar ao
público o quão significativo foi esse canal para a cobertura esportiva da televisão,
servindo, também, como uma contribuição para os estudiosos no campo da Televisão
e alunos de Comunicação.
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REFERÊNCIAS
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