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1
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
ERIKA RAVENA BATISTA GOMES
PERCEPÇÃO DE PSICÓLOGOS PICOENSES SOBRE A AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA DE CANDIDATOS À CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO
MACEIÓ – AL
2013
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ERIKA RAVENA BATISTA GOMES
PERCEPÇÃO DE PSICÓLOGOS PICOENSES SOBRE A AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA DE CANDIDATOS À CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO
Monografia apresentada à Universidade Paulista – UNIP, como parte dos requisitos necessários para conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Senso” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva
MACEIÓ - AL
2013
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ERIKA RAVENA BATISTA GOMES
PERCEPÇÃO DE PSICÓLOGOS PICOENSES SOBRE A AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA DE CANDIDATOS À CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO
Monografia apresentada à Universidade Paulista – UNIP, como parte dos requisitos necessários para conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Senso” em Psicologia do Trânsito
APROVADO EM ____/____/____
_________________________________________________
PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA
ORIENTADOR:
_________________________________________________
PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
4
DEDICATÓRIA
À minha amiga Dayse Miranda (in memorian), pelo exemplo de vida e de
profissional.
Aos que comigo foram responsáveis por este trabalho, ao me acolherem nos
momentos de euforia e angústia, e ao me motivarem quando já não havia mais
forças.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por estar sempre presente em minha vida,
iluminando o meu caminho e guiando meus passos.
À minha mãe Márcia, espelho na profissão e na vida, pelo apoio, incentivo,
amor e dedicação que pude sentir durante toda a minha caminhada. Obrigada pelo
colo sempre disponível, por ser meu porto seguro e por me confortar sempre que
preciso.
Ao meu pai Elias, exemplo de força e de vontade, pelo amor, preocupação
constante e orgulho pelas minhas conquistas.
Ao meu irmão Ítallo, por ser meu grande companheiro.
Aos meus avós. Sei que a torcida de vocês é incessante e essencial na minha
vida.
Ao Rodrigues Filho, por cada momento vivido ao seu lado, compartilhando
amor, sorrisos, alegrias, amizade, atenção, companheirismo, paciência, dificuldades,
angústias, saudade.
Agradeço também à dona Jesus e à Gisele, por sempre me acolherem com
muito carinho e atenção.
Aos meus amigos da pós, em especial Dayse, Kelly, Fernanda, Thaís,
Lawanny, Flaviane e Cleivânia, com quem compartilhei tantos momentos mágicos
na linda cidade de Maceió. Com vocês descobri que não há distância para a
amizade.
Aos professores, em especial ao meu orientador Manoel Ferreira, pelo seu
incansável alto-astral e paciência.
6
“A alegria não chega apenas no encontro do
achado, mas faz parte do processo da busca. E
ensinar e aprender não pode dar-se fora da
procura, fora da boniteza e da alegria.”
(Paulo Freire)
7
RESUMO
O automóvel é um instrumento inventado recentemente pelo homem como um meio facilitador da locomoção. Considerando a complexidade do ato de dirigir, é essencial avaliar as diversas competências e habilidades necessárias para que uma pessoa seja considerada apta a conduzir um veículo de forma eficiente e segura, o que é possível através de avaliações médica e psicológica. A avaliação psicológica faz uso de procedimentos confiáveis, de alta precisão e validade, considerando aspectos da atenção, memória, inteligência e personalidade do pretendente a condutor. Neste contexto, a presente pesquisa propôs-se a conhecer a percepção dos psicólogos picoenses que atuam na área de trânsito sobre a avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, bem como compreender as etapas da avaliação psicológica e apreciar os testes psicológicos eleitos para avaliar os candidatos na cidade de Picos-PI. É um estudo de campo de natureza qualitativa, em que participaram cinco psicólogos credenciados ao Departamento Nacional de Trânsito, atuantes nas três clínicas de trânsito da cidade. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma entrevista sem-estruturada. As etapas da avaliação psicológica para obtenção de CNH em Picos são: entrevista individual, aplicação dos testes, correção dos testes, classificação dos candidatos, entrevista devolutiva e, posteriormente, elaboração de laudo psicológico. Os testes psicológicos utilizados variam entre quatro de atenção, um de memória, dois de inteligência e três de personalidade. Estudos mais abrangentes sobre o trânsito picoense, nas mais diversas áreas, se fazem necessários para sua eficácia.
Palavras chave: Trânsito; Avaliação Psicológica; Carteira Nacional de Habilitação.
8
ABSTRACT
The car is an instrument recently invented by man as a means of locomotion facilitator. Considering the complexity of driving, it is essential to evaluate the various skills and abilities necessary for a person to be deemed fit to drive a vehicle safely and efficiently, which is possible through medical and psychological evaluations. Psychological assessment procedures makes use of reliable, high accuracy and validity, considering aspects of attention, memory, intelligence and personality wannabe driver. In this context, the present study aimed to know the perception of people from Picos psychologists working in the area of traffic on the psychological assessment of candidates for driver's license, as well as understand the stages of psychological assessment and appreciate the psychological tests chosen to assess candidates in the city of Picos-PI. It is a field study of a qualitative nature, involving five psychologists affiliated to the National Traffic Department, working in three clinics city transit. The instrument used for data collection was an interview without-structured. The stages of psychological evaluation to obtaining of CNH in Picos are individual interview, application testing, correction of the tests,classification of the candidates, feedback interview and, subsequently, psychological preparation of a report. The psychological tests used vary between four of attention, one of memory, two of intelligence and three of personality. More comprehensive studies about the traffic of Picos city, in several areas, are necessary for its effectiveness.
Keyword: Traffic; Psychological Assessment; National Traffic Department
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição de psicólogos nas clínicas e tempo de credenciamento
no DETRAN....................................................................................... 35
Tabela 2 - Testes de atenção e profissionais que os utilizam ........................... 37
Tabela 3 - Testes de inteligência e profissionais que os utilizam....................... 38
Tabela 4 - Testes de personalidade e profissionais que os utilizam.................. 38
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
URL Unifend Resource Locator
HTTP HyperText Transfer Protocol Secure
UNIP Universidade Paulista
DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito
CNH Carteira Nacional de Habilitação
CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito
CETRAN Conselho Estadual de Trânsito
CONTRANDIFE Conselho de Trânsito do Distrito Federal
JARI Juntas Administrativas de Recursos de Infrações
CFP Conselho Federal de Psicologia
PMK Psicodiagnóstico Miocinético
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 14
2.1 O Trânsito e os Condutores Brasileiros .......................................................... 14
2.2 Avaliação Psicológica na Obtenção da CNH .................................................. 17
2.3 O Psicólogo e a Avaliação Psicológica no Trânsito....................................... 21
2.4 Escolha dos Testes Psicológicos .................................................................... 23
2.5 Um Olhar Crítico sobre Avaliação Psicológica ............................................... 28
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 31
3.1 Ética .................................................................................................................... 31
3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 31
3.3 Universo ............................................................................................................. 31
3.4 Sujeitos da Amostra .......................................................................................... 33
3.5 Instrumento de Coleta de Dados ..................................................................... 33
3.6 Procedimentos de Coleta de Dados ................................................................ 33
3.7 Procedimento de Análise dos Dados .............................................................. 34
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 40
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 42
ANEXO ..................................................................................................................... 47
APÊNDICE ................................................................................................................ 49
12
1 INTRODUÇÃO
O automóvel é um instrumento inventado recentemente pelo homem como
um meio facilitador da locomoção. O primeiro fabricado no Brasil data do ano de
1908, e desde então o comércio automobilístico só enriquece. Bem mais do que a
necessidade de locomover-se, o valor simbólico atribuído a estes veículos é o que
realmente impulsiona o mercado. Na sociedade brasileira, o automóvel agrega o
poder aquisitivo, prestígio, aceitação social, desenhando-se, na visão da autora,
como um ícone do consumismo.
Dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) apontam que o
Brasil fechou 2010 com exatos 64.817.974 veículos registrados. Em dez anos, o
aumento acumulado é de 119%, o que representa mais 35 milhões de veículos
chegando às ruas no período. Na tentativa de organizar o tráfego dos automóveis
nos ambientes de uso coletivo e percebendo o trânsito como mais um importante
espaço de convivência social, surge o Código Nacional de Trânsito, que contém as
leis que orientam a conduta dos motoristas brasileiros. Uma de suas exigências
básicas é que, para a condução de um veículo automotor, o candidato deve passar
por um processo de avaliações, treinamento e capacitação para ser considerado
apto para dirigir, recebendo, então, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Conhecer as características de personalidade e habilidades do candidato a
motorista é essencial para um trânsito eficiente e seguro, o que é possível através
da avaliação psicológica.
A Avaliação Psicológica é uma função privativa do psicólogo e, como tal,
encontra-se definida na lei 4.119, de 27 de agosto de 1962 (letra "a", do parágrafo 1º
do artigo 13). Aplicada ao fenômeno trânsito, tal avaliação proporciona indicadores
das condições do sujeito para conduzir um veículo.
Considerando a complexidade do ato de dirigir e as diversas competências e
habilidades necessárias para que uma pessoa seja considerada apta a conduzir um
veículo automotor, além da obrigatoriedade da avaliação psicológica para a
obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) pelo Código de Trânsito
Brasileiro e do Conselho Nacional de Trânsito, salienta-se a relevância desta
pesquisa na cidade de Picos-PI, que apresenta um fluxo intenso de veículos de
pequeno, médio e grande porte em ruas estreitas e mal sinalizadas e que é
13
destaque nas estatísticas nacionais relacionadas a acidentes de trânsito, exigindo
dos psicólogos que atuam na área maior cautela na observação de futuros
condutores.
Neste contexto, a presente pesquisa propôs-se a conhecer a percepção dos
psicólogos picoenses que atuam na área de trânsito sobre a avaliação psicológica
de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação. Visou, também, compreender as
etapas da avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e
apreciar os testes psicológicos eleitos para avaliar os candidatos submetidos à
avaliação psicológica para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação na cidade
de Picos-PI.
Na revisão bibliográfica que embasa este estudo são abordados conteúdos
referentes ao trânsito brasileiro e os seus condutores, à obrigatoriedade e
importância da avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de
Habilitação, à formação do psicólogo que atua no trânsito, a escolha dos testes
psicológicos a serem utilizados na avaliação do futuro condutor e observações de
autores sobre a avaliação psicológica que temos hoje para o trânsito.
A metodologia apresenta a realização de uma pesquisa de campo baseada
no enfoque qualitativo, tendo como local de pesquisa as clínicas de trânsito
credenciadas ao DETRAN na cidade de Picos-PI, onde cinco psicólogos realizam a
avaliação psicológica de candidatos à CNH da microrregião. A análise dos dados foi
realizada seguindo a Análise de Conteúdo.
Após a metodologia são apresentados os resultados das entrevistas e a
discussão sobre os dados obtidos.
Por fim, são apresentadas algumas considerações finais sobre a pesquisa.
14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O Trânsito e os Condutores Brasileiros
De acordo com Ferreira (1993) trânsito é o “ato ou efeito de caminhar;
movimento, circulação, afluência de pessoas e/ou veículo; tráfego.”
Freire e Araujo (2010) identificam que a legislação de trânsito brasileira teve
início por volta de 1910. Nessa época surgiram algumas leis esparsas que visavam
regular o uso das vias terrestres para garantir que o deslocamento de pessoas
pudesse ser feito de forma harmônica. A partir de 1924 foram instituídas as
Inspetorias de Trânsito (antigas DETRANS), que eram dirigidas pela Secretaria de
Justiça e Segurança Pública ou pela Delegacia de Trânsito Público.
Em 1941, surgiu o primeiro Código Nacional de Trânsito, que foi substituído
no mesmo ano e revogado em 1966, sendo complementado em 1968 pelo
Regulamento do Código Nacional de Trânsito (RCNT). A existência de outras leis
estaduais e municipais relativas ao trânsito trouxe problemas de competência,
especialmente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual, no
artigo 22, inciso XI, afirmava que somente à União competia legislar sobre trânsito e
transportes, dizem Freire e Araujo (2010).
A Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código Nacional de
Trânsito atualmente vigente no Brasil já foi alterada por outras catorze leis federais
até o momento, na tentativa de dar suporte à maioria das interrogações impostas
pelo trânsito no país.
O referido Código define em seu artigo 1º § 1º, o trânsito como “a utilização
das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou
não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou
descarga”. Considerando esta definição, o trânsito é um complexo espaço coletivo,
onde seus envolvidos precisam conviver e se comunicar, respeitando direitos e
deveres de pedestres, motoristas, motociclistas e ciclistas.
Já o § 2º do artigo 1º ressalta que “o trânsito, em condições seguras, é um
direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional
de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as
medidas destinadas a assegurar esse direito.” Estes órgãos são discriminadas no
artigo 5º. São eles:
15
- Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN;
- Conselhos Estaduais de Trânsito – CETRAN;
- Conselho de Trânsito do Distrito Federal – CONTRANDIFE;
- Órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
- Órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
- Polícia Rodoviária Federal;
- Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal;
- Juntas Administrativas de Recursos de Infrações – JARI.
O Código de Trânsito Brasileiro (1997) orienta, também, sobre a utilização
das vias públicas pelos diferentes meios de transporte, os deveres dos condutores
de veículos de passeio, dos motoristas profissionais, dos pedestres e condutores de
veículos não motorizados, os direitos dos cidadãos, além de regulamentar diretrizes
para a educação para o trânsito, sinalização, fiscalização, segurança, identificação,
registro e licenciamento dos veículos, habilitação, infrações, penalidades e dos
crimes de trânsito.
Para a condução de veículos automotores terrestres no Brasil, é obrigatório
possuir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que é concedida àqueles que
possuem as habilidades necessárias ao ato de dirigir. Pode se candidatar à
obtenção da CNH, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (1997) qualquer
cidadão que seja penalmente imputável, saiba ler e escrever, e possuir Carteira de
Identidade ou equivalente, podendo habilitar-se na categorias de A a E, se atender
aos requisitos específicos para cada categoria e de acordo com uma gradação. No
ano de 2009, o Brasil contabilizou 51.835.182 cidadãos habilitados para a condução
de veículos.
A Resolução 012/2000 do CFP diferencia dois tipos de condutores: o que
utiliza o automóvel para sua locomoção, lazer, ou seja, como um facilitador de sua
vida, e o que sobrevive financeiramente como condutor nas categorias A, habilitado
a pilotar veículos de duas ou três rodas, B para dirigir carros, C para conduzir
veículo motorizado destinado ao transporte de cargas, D para transportar
passageiros e E correspondente a veículos articulados (caso dos taxistas,
rodoviários, etc). Reconhece, entretanto, a impossibilidade de se estabelecer um
perfil diferenciado para motoristas amadores e profissionais.
16
A resolução do Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN nº 422, de 27 de
novembro de 2012, que altera dispositivos da Resolução CONTRAN nº168, de 14 de
dezembro de 2004, estabelece que o candidato a condutor deve ser submetido a
avaliações médicas e psicológicas, a capacitação teórica para conhecimento do
trânsito e as leis que o regem, e a treinamento prático de condução do veículo ao
qual pretende estar habilitado para conduzir, dentro do território nacional. O curso
teórico técnico tem que ter duração mínima de 45 horas\aula e é necessário
desempenho satisfatório na prova teórica, e o curso prático tem que ter duração
mínima de 20 horas\aula e o candidato ser aprovado nos testes práticos de direção
veicular. Ambos os cursos devem ser realizados em um Centro de Formação de
Condutores.
Após aprovação em todas as exigências, o cidadão recebe uma permissão
para dirigir válida por 12 meses. Se durante este período o condutor não cometer
infração gravíssima ou grave, nem for recorrente em infração média, é considerado
apto a receber a CNH.
A aprendizagem veicular, na visão de Pirito (1999), exige do aprendiz a
manifestação de capacidades e a aquisição de habilidades motoras, sensoriais,
cognitivas e de informações sobre o trânsito, com suas implicações técnicas,
preventivas, defensivas e punitivas. As funções cognitivas, neste caso, incluem
“memória, atenção, avaliação sistemática do ambiente e outras habilidades
visuoespaciais, verbais e de processamento de informações, tomada de decisões e
resolução de problemas. Estas funções devem se processar de modo dinâmico”.
O ato de dirigir é complexo, envolve diversas competências, habilidades e
atitudes e requer do motorista um bom nível de maturidade emocional e capacidade
intelectual, as quais lhe permitem interpretar estímulos e reagir estrategicamente no
trânsito. Sendo assim, a CNH não pode ser considerada como um direito de todos,
mas sim como uma permissão, um privilégio que o Estado concede àquelas pessoas
que se mostram capazes e aptas para obtê-la. Portanto, a avaliação psicológica tem
por finalidade contribuir para promover a segurança dos motoristas, já que o
psicólogo é um dos responsáveis pela liberação do candidato para a direção de
veículos automotores (Conselho Regional de Psicologia do Paraná, n.d.)
Damian (2008) observa que o aumento na produção e utilização dos meios de
transporte ampliou os conflitos e as dificuldades relativas à ocupação do espaço
público, crescimento populacional e da frota e principalmente, no que tange as
17
mortes e perdas econômicas por disfunções no funcionamento do sistema de
tráfego. Cada vez mais se mostrou necessária a seleção de pessoas capacitadas
para a circulação, com intuito de evitar o acesso ao sistema, de pessoas
“problemáticas” que poderia apresentar um mau desempenho como condutor.
Mânica (2004) defende que o homem é o elemento mais complexo do sistema
trânsito e tem maior influência para desorganizá-lo. Ele além de ter que agir como
mediador do referido sistema, necessita do domínio de seu sistema interno, ou seja,
precisa responder adequadamente aos estímulos.
Cada indivíduo tem uma experiência diferente de vida, cultura, ideais e
valores, que carrega para o trânsito, e influi notoriamente na sua forma de conduzir.
O seu comportamento muda de acordo com suas necessidades, com as condições
apresentadas no dia (TEBALDI & FERREIRA, 2004).
Para Hoffmann, Cruz e Alchieri (2003), o homem ou a mulher ao volante é um
ser humano que, além de uma série de aptidões, de uma personalidade, hábitos e
atitudes definidos, possui necessidades fisiológicas (alimento, sono, descanso),
necessidades psicológicas e socioculturais (segurança, comodidade, auto-
realização, aceitação). O equilíbrio entre estas várias instâncias e necessidades e a
capacidade para supri-las, superá-las ou adaptar-se a elas permitem o
funcionamento psicofísico normal do indivíduo.
Possibilitar aos indivíduos se depararem com situações novas e desafiadoras
possibilita a criação de novos recursos e informações, processos que poderão ser
ativados quando necessário. Em relação ao trânsito, vivenciar diversas situações,
uma aprendizagem que demande mais do condutor como simulações que exijam
tomadas de decisão, podem vir a favorecer o desenvolvimento de estruturas que
auxiliem nas decisões e escolhas realizadas por condutores frente a ocorrências
reais de trânsito, explicam BALBINOT, ZARO & TIMM (2011).
2.2 Avaliação Psicológica na Obtenção da CNH
A psicologia do trânsito é uma “área da psicologia que investiga os
comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos externos e internos,
conscientes e inconscientes que os provocam e o alteram” (Conselho Federal de
Psicologia, 2000). Seu início, de acordo com Hoffman e Cruz (2003, apud SAMPAIO
E NAKATO 2011) ocorreu aproximadamente em 1920, e, em 1962, situa‑se o
18
importante marco para a área devido à criação de uma lei federal que tornou
obrigatória a realização de exame psicotécnico por todas as pessoas que
requisitassem a carteira de motorista.
Enquanto ciência, a avaliação psicológica tem como pressuposto atuar de
maneira preventiva, objetivando a diminuição da probabilidade de motoristas se
envolverem em situações de risco, seja pessoalmente ou envolvendo terceiros, de
maneira a contribuir para a mudança de comportamentos dos motoristas,
principalmente ao priorizar o desenvolvimento de estudos voltados ao conhecimento
dos fenômenos envolvidos na situação de trânsito, especialmente aqueles que
procuram caracterizar as determinações e os condicionantes da conduta humana
nesse contexto, defende Lemes (2007).
Sampaio e Nakato (2011) explicam que desde o início, o processo de
avaliação psicológica para o trânsito foi denominado “Exame psicotécnico”,
entretanto, a partir da publicação do novo Código Brasileiro de Trânsito de 1998, a
expressão foi substituída por “Avaliação psicológica pericial”.
De acordo com a Resolução do CONTRAN nº 168/2004, a avaliação
psicológica no trânsito é sempre uma exigência. Tem que ser realizada para
obtenção da CNH, na renovação da mesma (exceto para condutores que não
exercem atividade remunerada de transporte), na substituição dedo documento de
habilitação obtido em país estrangeiro, ou ainda, por solicitação do perito
examinador.
A avaliação psicológica no contexto do trânsito, especialmente a direcionada
à avaliação de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação – CNH é gerida por
Resoluções elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, direcionadas
aos psicólogos visando o desempenho preciso e válido de suas práticas. Sua
obrigatoriedade está pautada no Código de Trânsito Brasileiro (1997), tanto na
obtenção da CNH quanto na mudança de categoria de habilitação.
O artigo 5º da Resolução CONTRAN nº 425 de 27 de novembro de 2012
descreve os seguintes processos psíquicos a serem observados na avaliação
psicológica para o trânsito:
- tomada de informação;
- processamento de informação;
- tomada de decisão;
- comportamento;
19
- autoavaliação do comportamento;
- traços de personalidade.
O artigo 6º da referida Resolução acrescenta que, para avaliar os aspectos
acima citados, o psicólogo pode elencar como instrumentos: entrevistas diretas e
individuais, testes validados pelo Conselho Federal de Psicologia, dinâmicas de
grupo, e escuta e intervenções verbais.
Como resultado da avaliação psicológica, o candidato à CNH deve enquadrar-
se em uma das seguintes qualificações, segundo o artigo 9º da Resolução
CONTRAN nº 425 de 27 de novembro de 2012:
- apto, quando seu desempenho for condizente com o necessário para a condução
veicular;
- inapto temporário, quando não apresentar desempenho condizente com o
necessário para a condução veicular, porém passível de adequação;
- inapto, quando seu desempenho não for condizente com o necessário para a
condução veicular.
De acordo com a Resolução 003/2007 do CFP, o limite máximo de avaliações
psicológicas de candidatos a CNH é de dez por dia.
A Resolução nº 012 de 20 de dezembro de 2000 do CFP defende que a
avaliação psicológica faz uso de procedimentos confiáveis, de alta precisão e
validade, o que permite que profissionais diferentes cheguem a um mesmo resultado
dentro de um mesmo período. Cabe ao profissional que realizará a avaliação ter
clareza do seu objetivo para a definição dos instrumentos adequados a serem
utilizados.
Afirma esta Resolução que, dentre o variado elenco de instrumentos que
podem ser eleitos pelo profissional, os mais conhecidos são a entrevista psicológica
e os testes psicológicos.
A entrevista é definida na Resolução nº 012/2000 do CFP como:
“uma conversação dirigida a um propósito definido de avaliação. Sua função básica é prover o avaliador de subsídios técnicos acerca da conduta do candidato, completando os dados obtidos pelos demais instrumentos utilizados.”
A observação exercida pelo entrevistador participante do campo da entrevista
torna-se a principal estratégia técnica para a coleta e a organização das informações
de que ele necessita para a avaliação das funções psíquicas do entrevistado. Sem
20
esse procedimento não é possível entrar em contato com o mundo mental do
entrevistado, o que é uma das metas da entrevista de avaliação, assegura ALMEIDA
(2004).
A entrevista na avaliação psicológica deve ampliar, organizar e sistematizar
as observações colhidas pelos testes psicológicos. É um instrumento obrigatório na
avaliação para obtenção da CNH. É dever do profissional realizar, também, a
entrevista devolutiva ao final do processo de avaliação a todos os candidatos.(CFP,
2000).
Já o teste psicológico pode ser conceituado como:
“uma medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento do sujeito, tendo a função fundamental de mensurar diferenças entre indivíduos, ou entre as reações do mesmo indivíduo em diferentes momentos.” (CFP, 2000).
Para que isto ocorra, devem satisfazer as seguintes condições: possuir dados
científicos que validem o instrumento, ser realizado o fiel registro de todas as
respostas dos sujeitos, a padronização da situação de testagem e do material
utilizado e normas padronizadas para avaliação e classificação das respostas
apresentadas pelo sujeito.
Ainda que os testes psicológicos sejam indicados e reconhecidos como
instrumentos que atendem às exigências da psicometria, Andrade (2011) pondera
que o uso inadequado, com a confusão entre diagnóstico e resultados dos testes faz
da avaliação psicológica uma arma a serviço da discriminação e da confusão em
lugar de um recurso com o qual a Psicologia pode contar para promover o
desenvolvimento do sujeito e do grupo social.
Além de todo o exposto, a Resolução nº 012 de 20 de dezembro de 2000 do
CFP ainda trata das condições do aplicador da avaliação, da aplicação dos
instrumentos, do material, da mensuração e avaliação, e ao final, do laudo
psicológico, documento que deve ser elaborado pelo psicólogo após a conclusão da
avaliação para registrar as informações obtidas, nos moldes definidos pela
Resolução nº 007/2003 do CFP, que trata da elaboração dos documentos inscritos
produzidos pelo psicólogo, e arquivá-las, junto com os protocolos dos testes.
Segundo o Anexo da Resolução CFP N.º 012/2000, o laudo psicológico é o
documento de registro das informações obtidas na avaliação psicológica e deverá
ser arquivado junto aos protocolos dos testes, para em seguida, ser emitido um
21
parecer final em documento próprio. O laudo psicológico deve ser conclusivo e se
restringir às informações estritamente necessárias à solicitação, com o objetivo de
preservar a individualidade do candidato. Deve conter a identificação do candidato
(nome, sexo, idade, estado civil, local do nascimento, grau de instrução, profissão,
etc.), os instrumentos aos quais foi submetido, a conclusão e o motivo da avaliação.
A Resolução nº 016 de 19 de dezembro de 2002 do CFP também trata
especificamente do trabalho do psicólogo na avaliação psicológica de candidatos à
Carteira Nacional de Habilitação, e foi posteriormente alterada pela Resolução 006,
de 16 de março de 2010. Esta acrescenta que a avaliação psicológica tem que ser
realizada em espaço destinado para este fim, não podendo acontecer em Centros
de Formação de Condutores ou em outros espaços cujos agentes tenham interesse
no resultado destas avaliações.
2.3 O Psicólogo e a Avaliação Psicológica no Trânsito
A Resolução nº 003 de 12 de fevereiro de 2007 do CFP, em seu artigo 83,
reforça que é competência privativa dos psicólogos habilitados a realização da
avaliação psicológica no contexto do trânsito. Tal premissa é consonante com o
artigo 1º do Código de Ética do Psicólogo (2005), que coloca entre os deveres
fundamentais do psicólogo só assumir responsabilidades profissionais por atividades
para as quais esteja qualificado pessoal, teórica e tecnicamente.
Sampaio e Nakato (2011) advertem sobre as importantes mudanças em
relação à capacitação do profissional para trabalhar na área do trânsito:
primeiramente, as avaliações passaram a ser realizadas somente por psicólogos
que possuíssem curso de capacitação específico para a função de perito
examinador de trânsito com carga horária mínima de 120 horas/aula, o que
atualmente foi substituído pela exigência de título de especialista/especialização em
Psicologia do Trânsito regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia.
Cristo e Silva desenha a situação da formação para a psicologia do trânsito
no Brasil, em entrevista ao Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP no
ano de 2012. Diz que na graduação, a discussão sobre a Psicologia do trânsito
ainda é praticamente inexistente. Apenas em algumas poucas instituições existe a
disciplina psicologia do trânsito ou disciplinas que contemplam discussões sobre
22
trânsito e transporte e quanto aos estágios supervisionados, a quantidade de
estagiários é muito baixa comparada a outras áreas tradicionais da psicologia.
No caso da pós-graduação lato sensu (especialização), as oportunidades de
formação ampliaram-se nos últimos cinco anos, mas não por uma necessidade
reconhecida pelos profissionais, e sim por uma obrigatoriedade do Conselho
Nacional de Trânsito – CONTRAN, por meio da resolução n° 267/2008, afirma Cristo
e Silva. Faz ainda uma ressalva sobre os conteúdos de algumas especializações em
psicologia do trânsito, que não contemplam discussões importantes da área ou
atividades que tornam o profissional mais preparado para construir suas respostas
(políticas, teorias específicas da área, métodos de pesquisa), concentrando suas
disciplinas no processo de avaliação psicológica, especialmente na testagem.
Quanto à pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), observa que
quantidade de psicólogos interessados é muito baixa, embora o Brasil tenha boas
instituições e pesquisadores capazes de oferecer uma formação de qualidade aos
interessados.
O prazo para a obrigatoriedade do título de especialista para os psicólogos
peritos em trânsito foi ampliado de 14 de fevereiro de 2013 para 14 de fevereiro de
2015. A mudança aconteceu com a publicação da Resolução nº 425 de 27 de
novembro de 2012 pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), após solicitação
feita pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Essas mudanças têm feito com
que essa área venha se firmando, cada vez mais, como uma especialização da
Psicologia (Diário Oficial, 2008).
Tavares (2010) considera que a avaliação psicológica pode contribuir muito
com a Psicologia do Trânsito, mas saliente que isso implica indiscutivelmente a
urgente revisão do uso da avaliação psicológica para habilitação da carteira de
motorista, na medida em que tal procedimento encontra-se apoiado em modelos e
instrumentos que se repetem há muitos anos. Segundo o autor, um dos desafios é,
então, aprimorar a produção acadêmica nessa área através do incentivo e
realização de mais pesquisas que apresentem evidências de validade de novos
testes e de testes já consagrados nesse contexto, como o PMK e o Palográfico.
Para Cristo e Silva (2008), é inegável que a competência profissional do
psicólogo na aplicação, expressão e análise dos resultados permeia todo o processo
avaliativo, com implicações na análise da validade preditiva dos instrumentos. Tal
23
pensamento é compartilhado pelo Conselho Federal de Psicologia que no anexo da
Resolução 007\2009 diz que
“uma avaliação psicológica, além de fundamentada em instrumentos aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia, requer profissionais de Psicologia que sejam competentes para sua aplicação e avaliação. Isto significa que esses profissionais devem ser qualificados e treinados em teoria e prática para esse objetivo”.
De acordo com Silva (2010) o psicólogo deve enfocar as análises da
avaliação psicológica de acordo com o cargo ou função que se deseja submeter. Na
perspectiva da Psicologia do Trânsito, isso implica afirmar que mesmo levando em
consideração os aspectos da subjetividade, não se deve traçar um perfil das funções
patológicas ou os agravantes determinantes da insanidade mental, mas sim,
procurar observar os aspectos pertinentes ao trânsito.
Sampaio (2012) acresce à colocação do autor acima que deveria haver
também uma preocupação em atuar de forma preventiva e preditiva no processo de
avaliação psicológica.
2.4 Escolha dos Testes Psicológicos
A testagem psicológica, tal qual idealizada pela Ciência, possuiria um caráter
preditivo, logo, seria capaz de afirmar algo sobre o futuro do sujeito: suas reações
futuras; seu comportamento futuro; a possibilidade de vir a desenvolver algum
problema; até que ponto poderia alcançar; até onde chegariam suas habilidades, o
que poderia vir a ser; etc., sendo sobre esta possibilidade de predição que se erigiu
boa parte do “encanto” que tais técnicas provocaram por décadas. No entanto, um
olhar mais crítico logo percebe que o potencial de qualquer exame resume-se à
constatação - uma análise sobre a condição atual, senão momentânea, do indivíduo
avaliado, e não uma previsão acerca de seus estados ou eventos futuros, polemiza
Dametto (2009).
Para Andrade (2011) a investigação do comportamento através dos testes se
dá com aplicação de diversas técnicas, apoiadas no tipo de avaliação que se
pretende fazer, ou seja, no que se pretende investigar. Cada teste tem uma
descrição metodológica especifica, com a finalidade de controlar e excluir quaisquer
24
variáveis que venham a interferir no processo e nos resultados, para que se obtenha
um resultado preciso das reais condições do avaliado.
A observação do comportamento de condutores e a avaliação, frente às
inúmeras características inerentes ao ato de dirigir, demandam estratégias que
possibilitem averiguar a dinâmica desses fatores. Para Balbinot, Zaro e Timm (2011)
as situações de trânsito exigem dos condutores atitudes que demandam atenção,
percepção e habilidades motoras.
A resolução CFP Nº 007/2009 determina, em seu item 1.1, atendendo a
Resolução Contran 267/2008 que o candidato, independente da atividade, deverá
ser capaz de apresentar atenção em seus diferentes tipos, como: atenção difusa /
vigilância / atenção sustentada; atenção concentrada; atenção distribuída / dividida;
atenção alternada, conforme definidas pela literatura e pelos manuais de
instrumentos padronizados.
Balbinot, Zaro e Timm (2011) colocam que a atenção pode ser entendida
como a atitude psicológica em que há a concentração da atividade psíquica em um
estímulo específico, seja este uma sensação, uma percepção, uma representação,
um afeto ou desejo, a fim de elaborar conceitos e o raciocínio. Para eles, a
percepção é um processo relacionado à atenção, e muitas vezes estas são
confundidas. O processo de interpretar, selecionar e organizar as informações
obtidas sensorialmente refere-se à percepção.
Os estudiosos acima citados percebem a atenção como um processo
psíquico fundamental no trânsito, principalmente para o condutor ao dirigir, por este
se encontrar em um ambiente com muitos estímulos, como pedestres, ciclistas,
sinalizações, sons diversos. A discriminação de estímulos é um fator de alerta na
verificação de indícios de perigo ao se conduzir um veículo.
A Nota Técnica Nº 001/2011 do Conselho Federal de Psicologia menciona
atenção como o fenômeno pelo qual o ser humano processa uma quantidade
limitada de informações das várias informações disponíveis, ou seja, refere-se à
capacidade e esforço exercido para focalizar e selecionar um estímulo para ser
processado, levando o indivíduo a responder a determinados aspectos do ambiente,
em lugar de fazê-lo a outros, permitindo que o indivíduo utilize seus recursos
cognitivos para emitir respostas rápidas e adequadas mediante estímulos que julgue
importantes.
25
A referida Nota acrescenta que atualmente, há testes psicológicos no Brasil
que se propõem a avaliar a atenção concentrada, dividida, alternada, sustentada,
entre outras, cabendo ao psicólogo responsável pela avaliação psicológica para
motoristas a escolha por um ou outro teste. Ressalta-se a necessidade de que ao
realizar avaliação psicológica no contexto do trânsito sejam aferidos, no mínimo, três
tipos de atenção.
Dentre os testes de atenção requeridos na avaliação psicológica para o
trânsito, estão: TEADI e TEALT; TEACO-FF – Teste de atenção concentrada; AC –
Atenção concentrada; Coleção BFM-1 e BFM-4 - Bateria de Funções Mentais para
Motoristas; Bateria BFM-1 e BFM-4; BGFM-1 - Bateria Geral de Funções Mentais -
Testes de Atenção Difusa; BGFM-2 - Bateria Geral de Funções Mentais - Testes de
Atenção Concentrada; AD e AS - testes de atenção dividida e sustentada; MPM –
Medida de Prontidão Mental.
Os processos atencionais estão inter-relacionados com a memória de
trabalho e a memória de longo-prazo, sendo esta outra importante habilidade a ser
avaliada no candidato à CNH. Balbinot, Zaro e Timm (2011) explicam que a memória
de curto prazo ou de trabalho é acionada pelo tempo necessário para a informação
ser utilizada. A memória de longo prazo é aquela que permanece por mais tempo no
cérebro. Quando conservada por anos, torna-se memória remota, a consolidação
como conhecimento apreendido. Uma informação da memória de curto prazo poderá
se tornar uma memória de longo prazo se encontrar vínculo com outra informação já
armazenada ou pela repetição.
Existem distinções entre os tipos de memória. A distinção considerada
importante no processo de aprendizagem veicular é entre as memórias declarativa e
não declarativa. Segundo Bear (2002, apud BALBINOT, ZARO E TIMM 2011), a
memória declarativa, episódica ou autobiográfica guarda os fatos vividos pelo
indivíduo, no geral algo inesperado que tenha acontecido, uma situação que
despertou algum tipo de emoção, resultando de esforços conscientes, de um modo
geral disponíveis para evocação consciente. A memória não declarativa divide-se
em diversas categorias, destacando-se, para os propósitos deste estudo, a memória
de procedimentos para habilidades motoras ou sensoriais e comportamentais, como
andar de bicicleta e dirigir. Muitas vezes, pela observação e pelo treinamento, esses
conhecimentos são arquivados de maneira implícita, sem que haja consciência do
26
aprendizado. Requerem repetição e prática, com menor probabilidade de serem
esquecidas, mas de modo geral não estão disponíveis para evocação.
Durante muito tempo equiparou-se “testes de memória” com os “tipos de
memória” que supostamente seriam por eles avaliados, ressalta Rueda (2006). Ou
seja, o estudo da memória acarretaria uma série de definições que muitas vezes
estariam estreitamente relacionadas, o que poderia levar a uma certa confusão em
razão das diferentes classificações dadas ao construto.
Dentre os testes que avaliam a capacidade de memória destacam-se: TEPIC-
M Teste Pictórico de Memória; BFM-2: TEMPLAM – Teste de Memória de Placas
para Motorista; BGFM-4: Bateria geral de funções mentais; MVR – Teste de
Memória Visual de Rostos.
No que se refere à inteligência, com base na Resolução 007/2009 do
Conselho Federal de Psicologia, inteligência pode ser vista na categoria de
processamento de informação e tomada de decisão como a capacidade de resolver
problemas novos, relacionar idéias, induzir conceitos e compreender implicações,
assim como a habilidade adquirida de uma determinada cultura por meio da
experiência e aprendizagem.
O foco na avaliação da inteligência se dá especialmente porque esta tem sido
frequentemente relacionada a comportamentos socialmente valorizados, como
desempenho acadêmico, traços de personalidade, desenvolvimento profissional,
entre outros, apontam Santos, Noronha e Sisto (2006).
Segundo Silva (2009) os instrumentos relacionados a sua avaliação visam a
auxiliar a análise do funcionamento intelectual humano e apresentam-se como
recursos diagnósticos para a identificação e medida de diferentes habilidades
cognitivas. A inteligência é compreendida como um processo de apreensão da
própria experiência, edução de relações e de correlatos. Nesse sentido, existem
vários testes psicológicos que avaliam inteligência, alguns desenvolvidos para o
contexto do trânsito, como o teste R-I, por exemplo.
O R-l é um teste não-verbal de inteligência criado por Rynaldo de Oliveira em
1963 e revisado e ampliado por Alves em 2002, fundamentado no fator g de
Spearman, construído com base no teste de Raven e desenvolvido para o contexto
brasileiro na área do trânsito. Ele avalia a capacidade da pessoa de relacionar
situações em que as ligações das variáveis são óbvias entre si e a edução de
relações por meio de variáveis nas quais as relações não são tão óbvias, devendo a
27
pessoa ser capaz de apreender em meio a algo confuso, ou extrair uma
possibilidade de resolução do problema.
O teste R-1 forma B, elaborado por Rynaldo de Oliveira e adaptado por Sisto,
Santos e Noronha em 2004, avalia a inteligência, e a maioria dos seus itens
dependem da aprendizagem cultural e de peculiaridades do meio ambiente. Pode
ser interpretado como aprendizagem cultural, da educação formal e da influência do
ambiente de acordo com a teoria de Spearman (1927), pois afirmava que os itens
com essas características perceptuais mantêm relação com a capacidade de
edução. Outros itens, contudo, mais facilmente interpretáveis e mais específicos,
tratam de edução de relações e de correlatos.
Outros testes de inteligência e raciocínio podem ser citados: Matrizes
Progressivas de Raven; BPR-5 Bateria de Provas de Raciocínio; TIG-NV Teste de
Inteligência Geral não Verbal; Bateria TSP; TCR - Teste Conciso de Raciocínio;
BETA III Teste não Verbal de Inteligência Geral; WAIS III – Escala de Inteligência
Wechsler (adulto); Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST; BFM-3 -
TRAP-1 Teste de Raciocínio Lógico; G-36 - Teste Não Verbal de Inteligência; G-38 -
Teste Não Verbal de Inteligência.
Quanto à avaliação da personalidade dos futuros condutores, a Resolução nº
267 de 15 de fevereiro de 2008 do CONTRAN especifica no seu artigo 5º os traços a
serem observados:
- Equilíbrio entre os diversos aspectos emocionais da personalidade.
- Socialização: valores, crenças, opiniões, atitudes, hábitos e afetos que considerem
o ambiente de trânsito como espaço público de convívio social que requer
cooperação e solidariedade com os diferentes protagonistas da circulação.
- Ausência de traços psicopatológicos não controlados que podem gerar, com
grande probabilidade, comportamentos prejudiciais à segurança de trânsito para si e
ou para os outros.
Para Allport (1973), a personalidade se refere à consistência de
comportamentos das pessoas ao longo do tempo e situações, ao mesmo tempo que
caracteriza sua singularidade. Compreende uma integração de sistemas cognitivos,
afetivos e comportamentais que interagem com características inatas, adquiridas,
orgânicas e sociais, tendo função de síntese, controle e unificação (SISTO, BUENO
& RUEDA, 2003).
28
Bartolomeu (2008) entende que as condições e estados emocionais dos
motoristas constituem causas humanas diretas que afetam negativamente a
habilidade destes em processar as informações pertinentes para que dirijam com
segurança. Dentre as condições emocionais mais relacionadas aos acidentes pode-
se mencionar, ansiedade, agressividade, angústia, entre outros; estando muitas
destas associadas à personalidade, o que justifica a relevância de observar este
construto durante a avaliação psicológica de pretendentes da CNH.
Pode-se considerar, então, que as consistências das condutas dos sujeitos
definem as “características psicológicas” dos indivíduos, na medida em que
representam formas relativamente estáveis de pensar, sentir e atuar com as
pessoas, sintetiza Bartolomeu (2008).
Dos testes psicológicos que avaliam a personalidade validados no Brasil
estão: Inventário Fatorial de Personalidade – IFP; Teste Palográfico; Z-Teste ou
Técnica de Zulliger; HTP – House-Tree-Person; Pirâmides Coloridas de Pfister;
PMK – Psicodiagnóstico Miocinético; CPS – Escalas de Personalidade de Comrey;
BFP – Bateria Fatorial de Personalidade; Teste Rorschach.
Alguns testes de personalidade, também chamados testes projetivos, exigem
do psicólogo curso específico para o seu manuseio, como é o caso do Teste
Palográfico e do PMK – Psicodiagnóstico Miocinético, por exemplo.
2.5 Um Olhar Crítico sobre Avaliação Psicológica
O modelo de avaliação psicológica instituído hoje no Brasil vem sofrendo
severas críticas.
Andrade (2011) reconhece que implantação de processos e procedimentos
mais definidos e determinados, com objetivos claros, obtidos através de
instrumentos testados, padronizados, regulamentados e controlados, trouxe uma
maior e melhor compreensão do trabalho do psicólogo para a sociedade, além de
seu caráter cientifico mais fundamentado e elaborado.
Porém, Anna e Bastos (2011) intuem que ainda que o Conselho Federal de
Psicologia (CFP) discorra sobre “a importância de considerar condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo” (CFP, 2009), o mesmo não parece
acontecer quando nos deparamos com o perfil socioeconômico dos candidatos
inaptos temporários que são encaminhados todos os dias para as perícias dos
29
Departamentos Estaduais de Trânsito para reavaliação psicológica: moradores de
áreas mais pobres, de classe econômica médio-baixa e que possuem, quando
muito, o ensino fundamental completo. São pessoas que há tempos perderam a
intimidade com o lápis, a escrita, a leitura e a avaliação formal. Não raro, trazem
histórias de uma vida inteira de trabalho, com poucas horas de descanso, má
alimentação, desvalorização social e pouco acesso aos serviços de saúde. Os
candidatos à CNH com maior habilidade na escrita e história de vida menos
desfavorável raramente são encaminhados às perícias, concluindo o processo de
avaliação na primeira fase, com resultado apto.
Na visão das autoras, as legislações vigentes atribuem ao psicólogo a
responsabilidade de avaliar o candidato sob uma ótica individuante, priorizando os
aspectos individuais que deveriam ser considerados a partir da pluralidade do
espaço coletivo.
Defendem, ainda, que:
Precisamos refletir no quanto a desvalorização dos instrumentos está associada à desvalorização do próprio profissional, haja vista que os psicólogos do trânsito são submetidos a condições limitantes, como remuneração inadequada, impossibilidade de autonomia devido à escolha de seus instrumentos pelos Departamentos Estaduais de Trânsito, ínfimo grau de importância atribuído à avaliação psicológica no âmbito acadêmico, inadequação das instituições aos requisitos básicos para a realização da avaliação, interferência de outros setores com interesses diversos, pouquíssimas pesquisas e produções científicas na área... (ANNA & BASTOS, 2011, p. 118)
Alchieri e Stroeher (2002, apud CRISTO E SILVA E ALCHIERI 2010) ao
analisarem o desenvolvimento da psicologia do trânsito brasileira, concluíram que os
psicólogos ainda não conseguiram responder satisfatoriamente o que eles observam
nos testes que caracteriza uma indicação ou não à habilitação. Isso tem favorecido a
adoção de critérios aleatórios e particularizados de avaliação do candidato à
habilitação.
Rueda (2011) acredita que neste momento de redefinição do perfil profissional
do psicólogo que atua no trânsito, já descrito neste trabalho, faz-se necessário e
possível aprofundar o conhecimento técnico sobre avaliação psicológica de todos os
profissionais da área, além de trabalhar os conceitos da Psicologia do trânsito como
um todo, ou seja, em relação às políticas públicas de trânsito, da educação para o
trânsito, da mobilidade humana e urbana, nas interfaces com outras áreas, como a
30
medicina, a engenharia, o direito, a arquitetura, a pedagogia, entre outras. Enfim,
defende que se este momento for aproveitado com certeza trará mudanças no papel
desempenhado pelo psicólogo do trânsito, para que de uma vez por todas possa ser
chamado de Psicólogo do trânsito, podendo, por escolha própria, realizar uma
adequada e correta avaliação psicológica para CNH, e também trabalhar em outros
contextos da Psicologia do trânsito.
Sampaio e Nakato (2011) confirmam que, em cinco décadas, a pesquisa em
avaliação psicológica de trânsito não avançou o suficiente para responder aos
questionamentos e anseios básicos da sociedade sobre sua obrigatoriedade e sobre
os ganhos efetivos com a segurança no trânsito, que justifiquem o investimento
financeiro que é despendido por milhares de cidadãos anualmente no processo. O
problema situa-se principalmente na carência de estudos voltados para esse
contexto.
Concordando com as autoras referidas, Andrade (2011) enfatiza que a
carência de material sobre a psicologia do trânsito é gritante, contando apenas com
alguns autores, que já se tornaram tradicionais e atualmente se tornam repetitivos
em suas abordagens. Com a criação dos cursos de especialização e a necessidade
de apresentação de trabalhos científicos para a sua conclusão, talvez possamos ter
novas diretrizes e abordagens técnico-científicas em relação à Psicologia do
Trânsito.
31
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais
conforme determina o Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº
93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:
A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa a
Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao
responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
3.2 Tipo de Pesquisa
O presente estudo constitui uma pesquisa de campo de natureza qualitativa,
que segundo Minayo (2001), é o que se aplica no estudo da história, das relações,
das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus
artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.
Este tipo de método que tem fundamento teórico, além de permitir desvelar
processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propicia
a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e
categorias durante a investigação (MINAYO, 2001)
Silverman (2009) considera um ponto forte da pesquisa qualitativa o uso de
dados que ocorrem naturalmente para encontrar as sequências em que o significado
dos participantes é exibido e, assim, estabelecer o caráter de algum fenômeno.
3.3 Universo
A cidade de Picos está localizada na região centro-sul do estado do Piauí, a
310 km da capital Teresina. Segundo dados do Senso do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, Picos conta com uma população de 75.417
habitantes. A Microrregião de Picos contempla mais de 20 municípios, num raio de
32
menos de 80 Km e, por isso, a cidade conta com uma população flutuante que é
quase o seu dobro, diariamente.
É a cidade mais desenvolvida economicamente da região e essa
característica aliada ao seu posicionamento geográfico lhe conferem a condição de
pólo comercial efervescente no Piauí (especialmente de combustíveis e de mel,
sendo a cidade uma das maiores produtoras de mel do país). É cortada pela BR-
316 (ou Rodovia Transamazônica), BR-407, BR-230 e fica muito próxima a BR-020,
o que desenha um intenso fluxo diário de veículos de transportes de passageiros e
de cargas.
Em uma década, os acidentes de trânsito mataram 6.225 pessoas no Piauí,
segundo dados do Mapa da Violência 2011, pelo Instituto Sangari, em parceria com
o Ministério da Justiça (MJ). O número equivale a quase duas mortes por dia e
traduz a verdadeira guerra que toma conta das ruas, avenidas e rodovias que
cortam o Estado. Os números tiveram como base o período compreendido entre
1998 a 2008, e revelam que houve crescimento em nove dos dez anos analisados,
na comparação com o ano anterior. A única exceção aconteceu em 2001, quando
foram registradas 444 mortes no trânsito piauiense. Em 2000, haviam sido
verificados 449 falecimentos, ou seja, uma diminuição de cinco pessoas, menos de
1%.
A Polícia Rodoviária Federal registrou 66 mortes nas rodovias do Piauí só nos
quatro primeiros meses de 2013. De acordo com dados da PRF, fechados no dia 15
de maio, neste ano foram 898 acidentes que resultaram em 741 feridos e 66 óbitos.
Embora mais da metade dos acidentes tenha ocorrido na capital, que possui a maior
frota de veículos do estado, Picos também é destaque nas estatísticas pela
intensidade do tráfego na cidade e pelas constantes imprudências dos motoristas da
região. No ano de 2011, alcançou o 12º lugar no ranking nacional de acidentes.
A cidade conta com quatro escolas preparatórias de candidatos à Carteira
Nacional de Hablitação: Auto Escola Anchieta, Auto Escola Cazuza, Auto Escola
Picoense e Auto Escola Vinícius. Possui quatro clínicas habilitadas para avaliação
junto ao Departamento de Trânsito: Automed, Autoclin, Clinitran Sociedade Simples
LTDA e Transitar. Porém, uma dentre as referidas clínicas possui apenas médicos
credenciados, não realizando, portanto, avaliação psicológica. Vale ressaltar que
estas clínicas atendem não só a população do município, mas de toda a
microrregião que ele abrange. Entre os meses de janeiro e junho de 2013, segundo
33
as estatísticas de exames práticos apresentadas pelo Detran, foram habilitados
1.282 novos condutores em Picos.
3.4 Sujeitos da Amostra
Participaram deste estudo cinco psicólogos, de ambos o sexos, credenciados
ao Detran, que atuam nas referidas clínicas da cidade, totalizando 100% dos
profissionais que realizam avaliação psicológica para a obtenção da Carteira
Nacional de Habilitação na cidade de Picos-PI.
Os critérios para inclusão na pesquisa foram a atuação na avaliação
psicológica para o trânsito e o interesse voluntário em participar e contribuir com o
estudo.
3.5 Instrumento de Coleta de Dados
Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada. Para
Manzini (1990/1991), a entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto
sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas
por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o
autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e
as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.
O roteiro desta entrevista foi elaborado de acordo com a fundamentação
teórica sobre o tema abordado e os objetivos que norteiam a pesquisa. Além da
entrevista utilizou-se um gravador, com o consentimento dos participantes.
3.6 Procedimentos de Coleta de Dados
A princípio, foi realizado contato telefônico com as clínicas e os psicólogos
atuantes, para marcação de horário para a apresentação da proposta da pesquisa e
possível realização da entrevista.
Em seguida, as clínicas foram visitadas pela pesquisadora nos horários
agendados e, diante da disponibilidade dos sujeitos para participar do estudo, foi
realizada leitura e assinatura do TCLE. As entrevistas aconteceram orientadas pelo
34
roteiro semi-estruturado e foram gravadas, mediante autorização do participante.
Posteriormente, as falas foram transcritas para organização dos dados coletados.
3.7 Procedimento de Análise dos Dados
Os dados coletados através das entrevistas foram transcritos e organizados
através de densa leitura para a composição de categorias. O conteúdo foi analisado
com base no arcabouço teórico deste estudo, utilizando como referência a análise
de conteúdo.
Para Minayo (2001), a análise de conteúdo vai além de um conjunto de
técnicas, pois possibilita a análise de informações sobre o comportamento humano,
permitindo uma aplicação bastante variada, e tem duas funções: verificação de
hipóteses e/ou questões e descoberta do que está por trás dos conteúdos
manifestos.
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As entrevistas foram realizadas nas três clínicas de trânsito da cidade de
Picos-PI, em horários previamente agendados com os cinco profissionais
participantes. Os depoimentos foram gravados com consentimento prévio destes e
posteriormente transcritos para análise, visando a fidelidade das respostas dos
sujeitos, despido de possíveis influências da percepção da pesquisadora.
Inicialmente, faz-se necessária uma breve apresentação dos psicólogos
participantes da pesquisa.
Dos cinco psicólogos que foram entrevistados, quatro são do sexo feminino, o
que reforça os indícios do predomínio de mulheres na profissão. O profissional com
mais tempo de graduação se formou há 30 anos, enquanto o mais jovem na
profissão se formou há 2 anos, sendo a média de 15 anos.
Quanto ao tempo em que atuam como psicólogos, todos afirmaram que
começaram a trabalhar logo após conquistarem a graduação. Especificamente na
área de trânsito, a média é de 8 anos, onde o mais antigo tem 13 anos de atuação e
o mais jovem na área, apenas seis meses. Estes profissionais estão distribuídos nas
clínicas da seguinte forma:
Tabela 1: Distribuição de psicólogos nas clínicas e tempo de credenciamento no DETRAN.
Nome da clínica Quantidade de psicólogos Tempo de credenciamento
(profissional)
Automed Três 13 anos
Clinitran Sociedade
Simples Ltda
Um 5 anos
Transitar Um 6 meses
Fonte: Dados da Pesquisa. Picos-PI. 2013.
Vale ressaltar que os candidatos a obtenção de CNH ou mudanças de
categoria são distribuídos aleatoriamente nas clínicas pelo sistema operacional do
DETRAN, não sendo permitida escolha pelo avaliando, e que esse sistema
referencia os candidatos igualmente entre as clínicas, independente da quantidade
de profissionais credenciados.
36
Dos cinco profissionais, todos possuem Curso de Perito em Trânsito, estando,
portanto, habilitados a realização de avaliação psicológica no contexto do trânsito,
conforme exige a Resolução nº 003 de 12 de fevereiro de 2007 do CFP, em seu
artigo 83. Apenas um profissional encontram-se cursando Pós-graduação em
Psicologia do Trânsito. A Resolução 425 de 27 de novembro de 2012 assegura que
a partir de partir de 15 de fevereiro de 2015, solicitação para o credenciamento só
será permitida aos psicólogos portadores de Título de Especialista em Psicologia do
Trânsito reconhecido pelo CFP.
Em relação à prática profissional dos psicólogos na avaliação psicológica para
o trânsito, todos afirmam que os instrumentos por eles utilizados são as entrevistas e
os testes psicológicos. Conforme a Resolução CONTRAN nº 425 de 27 de novembro
de 2012, para avaliar os aspectos e habilidades a serem observados no candidato a
motorista, o psicólogo pode elencar como instrumentos: entrevistas diretas e
individuais, testes validados pelo Conselho Federal de Psicologia, dinâmicas de
grupo, e escuta e intervenções verbais.
A avaliação psicológica faz uso de procedimentos confiáveis, de alta precisão
e validade, o que permite que profissionais diferentes cheguem a um mesmo
resultado dentro de um mesmo período, diz a Resolução nº 012 de 20 de dezembro
de 2000 do CFP.
Os cinco profissionais descrevem as seguintes etapas em suas avaliações,
baseados nas Resoluções do CFP e CONTRAN: entrevista individual, aplicação dos
testes, correção dos testes, classificação dos candidatos de acordo com a resolução
acima citada (apto, inapto temporário, inapto) e entrevista devolutiva.
A Resolução nº 012/2000 do CFP defende que a entrevista deve prover o
avaliador de subsídios técnicos acerca da conduta do candidato, complementando
dados obtidos nos demais instrumentos. Tanto a entrevista inicial quanto a
devolutiva são obrigatórias.
Apenas dois psicólogos fizeram referência à elaboração de laudo psicológico
ao final do processo de avaliação. Porém, quando questionados pela pesquisadora,
os outros participantes confirmaram redigir o documento. Segundo o Anexo da
Resolução CFP N.º 012/2000, o laudo psicológico é o documento de registro das
informações obtidas na avaliação psicológica e deverá ser arquivado junto aos
protocolos dos testes, para em seguida, ser emitido um parecer final em documento
próprio.
37
Todos os profissionais entrevistados dizem escolher os testes a serem
utilizados na avaliação. A Resolução nº 012 de 20 de dezembro de 2000 do CFP
concede esse direito ao indicar que “cabe ao profissional que realizará a avaliação
ter clareza do seu objetivo para a definição dos instrumentos adequados a serem
utilizados”. Para Andrade (2011) a investigação do comportamento através dos
testes se dá com aplicação de diversas técnicas, apoiadas no tipo de avaliação que
se pretende fazer, ou seja, no que se pretende investigara.
Os profissionais citaram como alguns fatores que influenciam a montagem da
bateria de testes:
- objetivo da avaliação (obtenção de CNH, reteste, mudança de categoria) que para
Lemes (2007), sempre deve ter como intenção a prevenção e diminuição da
probabilidade de motoristas se envolverem em situações de risco.
- habilidade no manuseio dos testes, o que, para Cristo e Silva (2008), tem
implicações na análise da validade preditiva dos instrumentos.
- teste disponível na clínica e folhas de respostas suficientes no momento.
Salienta-se que na cidade de Picos-PI não há clínicas que comercializem
testes psicológicos, sendo necessária a aquisição destes na capital, Teresina. Vale
ressaltar que, na ausência de material de um teste, este é substituído por outro com
o mesmo objetivo.
Quanto aos testes eleitos para compor a bateria objetivando a avaliação
psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, foram citados os
seguintes instrumentos para avaliar a atenção:
Tabela 2: Testes de atenção e profissionais que os utilizam.
NOME DO TESTE PSICOLÓGICO -
ATENÇÃO
QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS
QUE O UTILIZA
TEADI – Teste de Atenção Divididida Um psicólogo
TEALT – Teste de Atenção Alternada Um psicólogo
AC – Teste de Atenção Concentrada Cinco psicólogos
TEACO - Teste de Atenção Concentrada Dois psicólogos
Fonte: Dados da Pesquisa. Picos-PI. 2013.
A Nota Técnica Nº 001/2011 do Conselho Federal de Psicologia define
atenção como o fenômeno pelo qual o ser humano processa uma quantidade
38
limitada de informações das várias informações disponíveis. Esta nota reforça que
devem ser avaliados pelos menos três tipos de atenção, e cabe ao psicólogo quais
testes utilizar para isso.
Para avaliação da memória, o único teste referido foi o TEPIC-M Teste
Pictórico de Memória.
A inteligência é avaliada pelos testes:
Tabela 3: Testes de inteligência e profissionais que os utilizam.
NOME DO TESTE PSICOLÓGICO –
INTELIGÊNCIA
QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS
QUE O UTILIZA
R1 – Teste Não Verbal de Inteligência
(Forma B)
Cinco psicólogos
G-36 – Teste Não Verbal de Inteligência Cinco psicólogos
Fonte: Dados da Pesquisa. Picos-PI. 2013
A inteligência é compreendida como um processo de apreensão da própria
experiência, edução de relações e de correlatos. Segundo Silva (2009) os
instrumentos relacionados a sua avaliação visam a auxiliar a análise do
funcionamento intelectual humano e apresentam-se como recursos diagnósticos
para a identificação e medida de diferentes habilidades cognitivas.
Para avaliação da personalidade, os psicólogos utilizam os testes:
Tabela 4: Testes de personalidade e profissionais que os utilizam.
NOME DO TESTE PSICOLÓGICO –
PERSONALIDADE
QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS
QUE O UTILIZA
Inventário Fatorial de Personalidade – IFP Dois psicólogos
Teste Palográfico Cinco psicólogos
HTP – House-Tree-Person Cinco psicólogo
Fonte: Dados da Pesquisa. Picos-PI. 2013
Para Allport (1973), a personalidade se refere à consistência de
comportamentos das pessoas ao longo do tempo e situações, ao mesmo tempo que
caracteriza sua singularidade. Bartolomeu (2008) entende que as condições e
estados emocionais dos motoristas constituem causas humanas diretas que afetam
39
negativamente a habilidade destes em processar as informações pertinentes para
que dirijam com segurança.
Questionados sobre a segurança nas técnicas de aplicação dos testes
psicológicos que utilizam, os cinco psicólogos entrevistados afirmaram que se
sentem seguros neste manuseio.
Todos os psicólogos participantes também responderam que acreditam sim
na validade da avaliação psicológica no contexto do trânsito. Como acredita Cristo e
Silva (2008), a competência profissional do psicólogo na aplicação, expressão e
análise dos resultados permeia todo o processo avaliativo, com implicações na
análise da validade preditiva dos instrumentos. Algumas das respostas a esse
questionamento foram:
“Claro que sim. Os testes não mentem! Confio muito neles. E sei que o olhar do
psicólogo é um dos responsáveis por um trânsito seguro.”
“Acredito e sempre acreditei. Mas acredito, também, que é necessário agir com
cautela nesta área. (...) Muitos querem dirigir, e até já dirigem, mas não possuem as
habilidades necessárias pra isso. Eu não aprovo este candidato.”
“Acredito. Mas confesso que às vezes me questiono quanto a validade dos testes.
Acho os resultados tão fechados, você tem que classificar o sujeito com base
somente score dele... é um pouco complicado isso. Acho que a entrevista poderia
ser mais bem feita pra enriquecer a minha percepção sobre aquela pessoa. Isso me
ajudaria muito na hora de decidir se dou a permissão a alguém para conduzir.”
É possível perceber, na última fala acima referida, a angústia do profissional
diante da obrigatoriedade de enquadrar o candidato em scores e percentis, sem
considerar o contexto maior que envolve o ato de dirigir. Tal pensamento vai de
encontro ao que defendem Anna e Bastos (2011), que observam que as legislações
vigentes atribuem ao psicólogo a responsabilidade de avaliar o candidato sob uma
ótica individuante, priorizando os aspectos individuais que deveriam ser
considerados a partir da pluralidade do espaço coletivo.
A pergunta realizada pela pesquisadora para concluir a entrevista refere-se a
uma avaliação do trânsito da cidade de Picos. Na resposta dos psicólogos, foram
atribuídos diversos adjetivos a este trânsito, como: desorganizado, bagunçado,
“louco”, mal sinalizado, perigoso, fluxo intenso, “um caos”, não fiscalizado, inseguro,
e tenso.
40
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discussões aprofundadas sobre o trânsito se fazem urgentes não só no que
se refere à Psicologia do Trânsito ou à Avaliação Psicológica, mas como de todas as
áreas envolvidas no complexo processo de mobilidade.
Especificamente falando da avaliação psicológica para o trânsito, embora se
perceba esforços nos últimos anos dos psicólogos para se qualificar e se adequar às
exigências do DETRAN e a expansão da quantidade de clínicas especializadas, os
estudos na área ainda são muito tímidos, até mesmo os que se propõem a estudar a
validade dos testes psicológicos, que são instrumentos essenciais para a coleta de
dados dos candidatos.
A área carece não só de pesquisas, mas também de definições. No estado do
Piauí, por exemplo, não há nenhuma Resolução que exija o uso de determinados
testes, como é possível observar em outros estados. Se por um lado o fato garante
autonomia dos profissionais diante da montagem da bateria a ser utilizada, por outro
gera o risco de avaliações superficiais, comprometendo o seu importante papel
preventivo. Quanto à atuação da Psicologia nesta realidade, talvez falte aos
psicólogos um envolvimento maior com o processo de construção em que a área do
Trânsito se encontra.
Embora o trânsito esteja associado à vida de todo ser humano, quer ele seja
condutor de qualquer tipo de veículo ou apenas pedestre, é possível observar uma
postura passiva da sociedade em relação ao tráfego. A quantidade de acidentes que
causam mortes e sequelas só cresce, e enquanto se utiliza um encantador discurso
sobre paz no trânsito, as pessoas continuam a cometer imprudências, justificadas
por motivos individualistas e pouco convincentes. A falta de fiscalização reforça o
comportamento dos condutores de não adotar medidas de segurança, cometer
infrações e conduzir veículos sem estarem habilitados.
Em Picos-PI, onde realizou-se este estudo, não só o preparo dos condutores
preocupa. O trânsito intenso da cidade acontece em ruas estreitas, com pouca ou
nenhuma sinalização, com tráfego de veículos de grande porte, uma enorme
quantidade de motocicletas circulando diariamente, o que se soma aos fatores de
risco acima comentados e faz com que a cidade se destaque nacionalmente na
quantidade de acidentes.
41
Considerar um candidato apto para conduzir em um trânsito como este torna-
se tarefa ainda mais delicada para os psicólogos que atuam na cidade. Mas, apesar
de todas as críticas e dificuldades que a avaliação psicológica para o trânsito vem
sofrendo, a presente pesquisa possibilitou perceber que os profissionais acreditam
no valor da sua prática, o que é essencial para que os serviços prestados sejam de
qualidade e alcancem os objetivos a que se propõem.
42
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43
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mental, a avaliação psicológica e o credenciamento das entidades públicas e
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47
ANEXO
48
49
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO
Pesquisa: PERCEPÇÃO DE PSICÓLOGOS PICOENSES SOBRE A AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA DE CANDIDATOS À CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO
Perfil Pessoal e Profissional
- Idade: ________________
- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
- Tempo de formação:_________________
- Tempo que trabalha: _________________
- Tempo que trabalha com avaliação psicológica para o trânsito: ____________
- Possui o curso de perito de trânsito? ( ) sim ( ) não
- Possui pós-graduação em Psicologia do trânsito?
( ) sim, concluída em ____ ( ) estou cursando ( ) não
Questões sobre a prática profissional
- Quais procedimentos você utiliza na avaliação psicológica para a obtenção da
Carteira Nacional de Habilitação?
a) Entrevistas b) testes psicológicos c) ambos
d) outros instrumentos _____________________________________________
- Quais as etapas da avaliação psicológica que você desenvolve?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
- Os testes utilizados na avaliação são escolhidos por você? ( ) sim ( ) não
- Quais os testes que você utiliza para avaliação de candidatos à CNH?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
- Você se sente seguro na aplicação dos testes? ( ) sim ( ) não
- Você acredita na validade da avaliação psicológica no contexto do trânsito?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
- Como você avalia o trânsito da nossa cidade?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________