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UNIVERSIDADE POTIGUAR UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MPA MARIA DAS GRAÇAS DE ARAÚJO VARELA SIGNIFICADO DO TRABALHO E APOSENTADORIA: um estudo entre os docentes de uma instituição federal de ensino NATAL 2013

UNIVERSIDADE POTIGUAR UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E …§ão-Mestra… · Mainha, obrigada pela educação e amor desmedido que tem me dedicado ao longo de todos esses anos. Meu

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO – MPA

MARIA DAS GRAÇAS DE ARAÚJO VARELA

SIGNIFICADO DO TRABALHO E APOSENTADORIA: um estudo entre os docentes de uma instituição federal de ensino

NATAL 2013

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MARIA DAS GRAÇAS DE ARAÚJO VARELA

SIGNIFICADO DO TRABALHO E APOSENTADORIA: um estudo entre os docentes de uma instituição federal de ensino

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre, na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas. Orientadora: Prof.ª Dra. Fernanda Fernandes Gurgel Coorientadora: Prof.ª Dra. Lydia Maria Pinto Brito

NATAL 2013

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V293s Varela, Maria das Graças de Araújo. Significado do trabalho e aposentadoria: em estudo entre os docentes de uma instituição federal de ensino / Maria das Graças de Araújo Varela. – Natal, 2013.

151f.

Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró - Reitoria Acadêmica.

Bibliografia: f.132 - 144.

1. Administração – Dissertação. 2. Aposentadoria.

3. Significado do trabalho. 4. Pós-carreira. I. Título.

RN/UnP/BSFP CDU: 658(043.3)

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MARIA DAS GRAÇAS DE ARAÚJO VARELA

SIGNIFICADO DO TRABALHO E APOSENTADORIA: um estudo entre os docentes de uma instituição federal de ensino

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, por meio do Mestrado em Administração Profissional da Universidade Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do título de mestre, na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas.

Aprovado em: 03/09/2013.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Prof.ª Dra. Fernanda Fernandes Gurgel

Orientadora Universidade Potiguar – UnP

______________________________________

Prof.ª Dra. Lydia Maria Pinto Brito Coorientadora

Universidade Potiguar – UnP

______________________________________ Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar

Examinador interno Universidade Potiguar – UnP

______________________________________

Prof.ª Dra. Juliana Vieira de Almeida Examinadora externa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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Dedico este trabalho:

A Deus, por sua misericórdia e bondade infinitas.

A minha família, minha base, razões da minha existência,

meu tudo.

Ao IFRN, casa de educação, na qual muito me orgulho de

trabalhar, por ter despertado meu interesse em retornar

aos estudos da academia.

A todos os trabalhadores desse país, pessoas que

bravamente acordam todo dia para trabalhar, enfrentando

múltiplos obstáculos para conciliar trabalho e vida pessoal

e que sonham em ter o prêmio de uma aposentadoria

digna no futuro.

Aos aposentados do IFRN, admiráveis trabalhadores, que

dedicaram anos de suas vidas laborais a esta instituição

de ensino, transformando pessoas e ajudando-as a

construir sonhos.

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AGRADECIMENTOS

Gratidão. Sentimento mais singelo e significativo de expressar meu ‘muito obrigada’

por tudo que sou, que tenho, que sonhei, que busquei e que alcancei. Quem passa

pelo desafio de um Mestrado, que envolve sonhos, sabores, dissabores, suor, risos

e lágrimas, compreende que a vitória dessa conquista é muito mais que um título, é

um capítulo da nossa história de vida chamado superação.

A DEUS,

Pela minha existência e por sempre me conceder inteligência, força, perseverança,

persistência e sabedoria, para trilhar todos os caminhos da minha vida.

A MINHA FAMÍLIA,

A toda a minha família, em especial aos meus pais, que são meu espelho, meu amor

maior, meus pilares de existência. Obrigada pelo investimento que fizeram na minha

educação e pelo sacrifício para me darem sempre o melhor que puderam.

Mainha, obrigada pela educação e amor desmedido que tem me dedicado ao longo

de todos esses anos. Meu amor e admiração pela senhora são infinitos.

Painho (in memorian), foi muito tênue o nosso tempo de convivência, mas sei o

quanto o senhor deve estar orgulhoso das minhas conquistas.

Ao meu esposo Luciano Varela, por me dar apoio incondicional a tudo que faço e

por compreender os momentos de ausência nesse período. Muito obrigada, meu

amor, eu o amo muito. Dedico-lhe essa vitória e foi por nós dois que enfrentei essa

batalha.

Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, pelo apoio, carinho e incentivo de sempre,

em especial a minha irmã que sempre investiu na minha educação. Mana, obrigada

por tudo. Muito do que sou hoje, devo a você - minha segunda mãe.

Aos meus avós (in memorian), pelos valores morais ensinados e pelo incentivo à

leitura, desde a minha tenra infância.

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As minhas tias – Rita, Salete e Lourdes - mulheres admiráveis, que sempre me

estimularam e me incentivaram a estudar, desde criança.

As minhas primas-irmãs, Surama Barreto e Rousseane Oliveira, pelo grande

incentivo que me deram, e ao primo Flávio Oliveira, pelas orientações e

aconselhamentos em trilhar o caminho da pesquisa. Primo, sempre me espelhei em

você: no gosto pela leitura, no prazer de estudar e de descobrir uma nova forma de

olhar o mundo.

A MINHA ORIENTADORA,

À amiga, psicóloga e orientadora, Prof.ª Fernanda Fernandes Gurgel, admirável

professora, sempre tão disponível a ajudar seus orientandos. Seu jeito amável e

atencioso sempre me passava serenidade, equilíbrio e calma, especialmente nos

momentos de angústia e aflição. Grande mestre, você incutiu-me o prazer de

pesquisar e de descobrir o novo. Guardarei para sempre os seus ensinamentos.

A MINHA COORIENTADORA,

À Prof.ª Lydia Maria Pinto Brito, pois foi muito mais que uma professora, foi mãe,

amiga, conselheira, mestre da vida e da arte, enriquecendo sempre as aulas com

suas experiências pessoais e práticas. Suas orientações e contribuições na pré-

qualificação e qualificação foram de grandiosa relevância para o enriquecimento

desse trabalho.

AOS DOCENTES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO,

Obrigada a todos os professores pela oportunidade de ter cursado esse Mestrado,

realização de um projeto pessoal que há anos sonhava e ainda não tinha

concretizado.

Em especial, gostaria de fazer um agradecimento aos seguintes docentes:

À Prof.ª Patrícia Whebber, pela amizade e sabedoria e pela disponibilidade em nos

ajudar sempre. Tenho grande admiração por você, professora.

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À Prof.ª Nilda Leone, pelos conhecimentos compartilhados e pela amizade

construída com a turma F.

Ao Prof. Walid Abbas El-Aouar, pelas significativas contribuições a minha

dissertação, na fase de qualificação.

À Coordenadora do Mestrado, Prof.ª Tereza de Souza, pela preciosa colaboração e

apoio nas atividades desenvolvidas no curso.

À ASSISTENTE DO MESTRADO,

À Glícia Xavier, um verdadeiro anjo em minha vida, muito obrigada pela

disponibilidade, atenção e presteza com que sempre me atendeu. Obrigada pela

força, pela torcida e por sua amizade. Obrigada por tudo, querida.

AOS COLEGAS DE TURMA,

Aos meus colegas de turma da linha de pesquisa em Estratégia e Competitividade,

especialmente a Maurílio Alves, Marcel Dantas, João Paulo, Adriano Israel, André

Magalhães e Dalila Maia, pelo apoio e cumplicidade de sempre. Dalila, amiga,

obrigada pela sua amizade, carinho e cumplicidade.

Um agradecimento mais do que especial aos colegas da minha linha de Pesquisa de

Gestão Estratégica de Pessoas, pelo aprendizado, carinho e relações construídas:

Adelmo Torquato, Alex Oliveira, Adaías Silvino, Ananery Alessandra (Aninha), Ary

Peter, Aurineide Andrade, Claúdio Florêncio, Fábio de Silva, Gleice Xavier, Mateus

Estevam, Patty Maia, Regina Maciel, Samara Aires e Vanessa Carvalho.

Samara, amiga, você foi uma grande parceira nos seminários do Mestrado. Eu, você

e Aninha formávamos um trio imbatível - “as mosqueteiras do mestrado”.

Aos meus amados colegas - Aninha e Adelmo - a amizade que construí com vocês

vai muito além do mundo acadêmico. São laços que perdurarão para sempre. Entre

risos, lágrimas, cafés filosóficos e confidências, nasceu uma grande amizade. Não

sei o que seria de mim, se não os tivesse sempre tão disponíveis para me ouvir, dar-

me forças e compartilhar os momentos difíceis vivenciados em nossas vidas

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pessoais nesses dois anos. O Mestrado terminou, mas a amizade será eterna. Eu os

amo muito, amigos.

AOS AMIGOS,

Acredito muito que amigos são anjos que Deus coloca em nossos caminhos, para

celebrar conosco a vida, mas também para nos amparar e nos ajudar nos momentos

mais árduos. Não tenho palavras para agradecer a força que meus amigos

verdadeiros me deram nessa jornada, em especial:

À Carol Rodrigues e à Siane Letieri, parceiras de estudos na seleção do Mestrado e

amigas-irmãs. Sei o quanto torceram pelo meu sucesso nessa empreitada. Siane,

obrigada por ter me ajudado na realização do pré-teste da coleta.

A Gilberto Filho, Keithlen Cruz, Mariana Barros, Joadson Martins e Ana Martins, pela

força, carinho e amizade de sempre.

A Mannuel Limeira e a Victor Varela, pela presteza e colaboração, quando eu mais

precisei. Obrigada, meninos!

À Karyna Figueiredo, amiga e colega de profissão que é um espelho para mim,

pelas orientações iniciais quando ingressei no Mestrado e a disponibilidade em

ajudar sempre.

Aos amigos Aldo Rocha, Mônica Bezerra, Aldenize Rocha e Marly Oliveira, que

acenderam em mim a paixão pela Administração, desde a experiência e desafios

vivenciados no IAP Cursos, empresa em que tive a honra de integrar a equipe

administrativa até ingressar no IFRN.

À Rosa Câmara, Rômulo Faria, Shirley Souza, Zé Luiz, Caroline Claro, Lilian Araújo,

Daniella Bianchi, Kátia Koerig, Herbert Medeiros, Carol Rocha, Adriana Castro,

Karina Cunha, Catarina Santiago, Idalina Rosa e Sílvia Barbalho, pela força,

incentivo, aconselhamentos e disponibilidade em ajudarem, sempre muito presentes,

torcendo pelo meu sucesso.

Aos “facefriends”, amizades virtuais e reais, com quem compartilhei muitos “posts”

esse ano no facebook. Obrigada por curtirem, por se identificarem e pelas palavras

afetuosas com que sempre os comentaram. Era uma espécie de terapia para mim.

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Enfim, a todos os amigos que, embora não estejam aqui citados, sabem do meu

imenso sentimento de gratidão.

AO IFRN,

Instituição onde trabalho, por ter oportunizado, através do convênio com a

Universidade Potiguar, que eu, como servidora, participasse da seleção do

Mestrado. Em especial, aos gestores que sempre incentivam a qualificação dos

servidores: ao Magnífico Reitor da Instituição, Belchior de Oliveira Rocha, ao Diretor-

Geral do Câmpus Natal-Central, prof. Arnóbio Araújo, e ao Diretor de Gestão de

Pessoas, Auridan Dantas.

Ao meu chefe imediato, Matheus Silva e a minha chefe substituta eventual, Ivanilda

Freitas, pelo incentivo, apoio incondicional e liberação nos horários de expediente,

sempre que precisei me ausentar, para frequentar as atividades do Mestrado. Não

tenho palavras para agradecer-lhes tamanha compreensão.

Aos meus colegas de trabalho: Gleison, Nalvinha, Lorena, Genilza, Isaac, André,

Cleidy, Ivana e Luciano, por sempre me ajudarem, quando precisei ficar ausente

para as atividades do Mestrado; em especial, aos meus colegas do setor de

Cadastro e Benefícios, Fernando e Cristina, que resolviam as pendências para eu

ficar mais livre, e até me ajudaram na montagem dos meus quadros de análise. A

ajuda e o apoio de vocês foram preciosos. Muito, muito obrigada.

Ao meu colega de trabalho e amigo pessoal, Brunno Alexandre, meu fiel

conselheiro, companheiro de inúmeros cafés, sempre tentando me acalmar. Meus

sinceros agradecimentos. Vou torcer para você ser o próximo aprovado na seleção

do Mestrado.

Aos amigos da instituição: Gardênia Galvão, Sérgio Ricardo, Profª Gizelda Maia,

Tânia Carvalho, Romana Alves, Andrezza Marreiros, Antônio Welhington, Deliany

Maia, Suzi Louzana, Josenilson Júnior, Cíntia Gouveia, Cynthia Mota e Raul

Aleixandre, que sempre me deram palavras de tranquilidade e equilíbrio, nos

momentos em que mais precisei.

Às coordenadoras do Programa de Preparação para Aposentadoria – Novo Tempo -

Prof.ª Thelma Rabelo e Suerda Guedes, pela disponibilização de material sobre o

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curso, compartilhamento de experiências e saberes e pelo convite para ministrar a

palestra sobre os aspectos legais da aposentadoria no referido programa. Foi uma

experiência muito rica para a minha dissertação. Obrigada, queridas.

AOS PARTICIPANTES DO PRÉ-TESTE DA PESQUISA,

Aos participantes do pré-teste da pesquisa, pela contribuição em disponibilizar um

período de tempo de suas vidas com a pesquisa científica. A ajuda de vocês foi

primordial para aperfeiçoar meu instrumento de coleta.

AOS DOCENTES ATIVOS E APOSENTADOS, PARTICIPANTES DA PESQUISA,

Não tenho palavras para agradecer a ajuda preciosa de vocês em doar uma parte do

seu precioso tempo, para enriquecerem as entrevistas com relatos pessoais de suas

vivências de trabalho e aposentadoria na instituição. Vocês fazem parte do sucesso

dessa pesquisa.

Enfim, agradeço a todos que, direta ou indiretamente, ajudaram-me a contribuir com

grande esforço e dedicação na consecução desta pesquisa.

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Um homem também chora (Guerreiro Menino)

Guerreiros são pessoas

Tão fortes, tão frágeis

Guerreiros são meninos

No fundo do peito...

Precisam de um descanso

Precisam de um remanso

Precisam de um sono

Que os tornem refeitos...

É triste ver meu homem

Guerreiro menino

Com a barra do seu tempo

Por sobre seus ombros...

...Um homem se humilha

Se castram seu sonho

Seu sonho é sua vida

E vida é trabalho...

E sem o seu trabalho

O homem não tem honra

E sem a sua honra

Se morre, se mata...

Nascimento Júnior, L. G. do

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RESUMO

A aposentadoria é uma etapa da vida que pode representar a ruptura com o mundo do trabalho, bem como uma fase de reorganização da identidade pessoal do indivíduo, a qual hoje tem significativa relação com a identidade profissional. Se, para uns, aposentadoria significa descanso, liberação de atividades rotineiras e desgastantes; para outros, pode significar a perda do próprio sentido da vida, a institucionalização da redução da capacidade produtiva, especialmente para a sociedade capitalista, que supervaloriza o trabalho e a produção. Por isso, para compreender a representação da aposentadoria para a vida de um indivíduo, faz-se necessário abranger o significado do trabalho. Diante desse contexto, o presente estudo buscou compreender o significado do trabalho e da aposentadoria, na percepção de docentes de uma instituição federal de ensino. Para isso, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, de cunho descritivo, tipo estudo de caso. Os participantes da pesquisa foram divididos em dois grupos: docentes ativos que estão em processo de transição para aposentadoria e docentes aposentados com tempos variados de aposentadoria. Foram selecionados, por acessibilidade e conveniência, vinte participantes, sendo dez docentes ativos em transição para aposentadoria e dez aposentados, tendo sido utilizado como critério a saturação das respostas. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram a entrevista individual semiestruturada, com roteiro adaptado de Deps (1994) e Basso (2001) e as Redes Semânticas Naturais. As categorias analíticas do estudo basearam-se nos atributos do significado do trabalho, centralidade do trabalho, funções e objetivos, motivação para permanência, expectativas e percepção sobre aposentadoria, bem como o significado psicológico atribuído às palavras trabalho e aposentadoria. Na análise e tratamento de dados, foi utilizada a análise de conteúdo. Os resultados assinalaram que o trabalho é um construto multifacetado e de diversos significados. As principais motivações para continuarem na ativa, mesmo já havendo completado os requisitos para a aposentadoria, foram: a sensação de utilidade e o fator financeiro. O trabalho é predominantemente central na maioria dos pesquisados, sobrepondo-se muitas vezes, em relação a outras esferas de suas vidas, exceto a esfera da família. Dentre os docentes com aposentadoria consolidada, constatou-se sentimentos como nostalgia das relações sociais rompidas com o processo de aposentadoria e medo da velhice, bem como a percepção de uma maior sensação de liberdade, maior tempo para a família e a descoberta de outros papeis sociais. Dessa forma, verificou-se a importância de uma preparação para o pós-carreira na instituição, visto que a aposentadoria tem implicações nas diversas esferas da vida de um indivíduo e que a preocupação de uma organização com o pós-carreira representa a valorização do trabalhador que dedicou seu conhecimento e competência para o crescimento e desenvolvimento da organização.

Palavras-chave: Aposentadoria. Significado do Trabalho. Pós-carreira.

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ABSTRACT

Retirement is a stage of life which may represent a disruption with the world of work, as well as a phase of reorganization of the personal identity of the individual, which today has a significant relationship with the professional identity. If, for some people, retirement means resting, releasing from stressful and daily activities, for other ones it may mean the loss of the meaning of life itself, the institutionalization of the production capacity reduction, especially for the capitalist society that overestimates the work and the production. Therefore, in order to understand the representation of retirement for the life of an individual, it is necessary to cover the meaning of the work. In that context, this study has sought to understand the meaning of work and retirement, the perception of professors of a federal educational institution. For that reason, it has been developed a qualitative and descriptive research through a case study. The participants have been divided into two groups: active working professors about to be retired, and retired professors with several lengths of retirement. Twenty participants have been selected, according to accessibility and convenience, ten active working professors in transition to retirement and ten retired ones. Hence it has been used as a criterion the saturation of responses. The used research instruments were semi-structured individual interviews with its script adapted from Deps (1994) and Basso (2001) and the Natural Semantic Networks. The analytical categories of the study have been based on the attributes of the meaning of work, work centrality, functions and goals, motivation keep working, expectations and perceptions of retirement, as well as the psychological meaning attributed to the words work and retirement. In the analysis and the data processing, the content analysis has been used. The results have indicated that the work is a multifaceted construct with various meanings. The main motivations to remain working, despite having completed the requirements for retirement, were: the sensation of feeling useful and the financial factor. The work is predominantly central for the most of the participants, often overlaying other spheres of their lives, except the family one. Among the retired professors, it was found feelings such as the nostalgia of social relations broken with the retirement process and the fear of the old age, as well as the perception of a greater sense of freedom, more time for family and the discovery of other social roles. Thus, it has been verified the importance of preparing them for the post-career at the institution, since retirement has implications in plenty of life spheres of an individual. An organization's concern about the post-career programs represents the valorization of workers who dedicated their knowledge and expertise to its growth and development.

Keywords: Retirement. Meaning of Work. Post-career.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Tripalium............................................................................................... 30

Figura 2 - Modelo de significado do trabalho para o grupo MOW

(1987)................................................................................................... 44

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - A evolução do conceito de trabalho................................................ 32

Quadro 2 - Configurações identitárias no campo profissional........................... 34

Quadro 3 - Caracterização do grupo de docentes ativos em transição para a

aposentadoria.................................................................................

71

Quadro 4 - Caracterização do grupo de docentes aposentados....................... 72

Quadro 5 - Categorias da pesquisa.................................................................. 75

Quadro 6 - Correlação entre objetivos, categorias, subcategorias e questões

de pesquisa.....................................................................................

77

Quadro 7 - Atributos descritivos do significado do trabalho – Docentes ativos

em transição....................................................................................

82

Quadro 8 - Atributos descritivos do significado do trabalho – Docentes

aposentados....................................................................................

84

Quadro 9 - Atributos descritivos da aposentadoria – Docentes ativos em

transição..........................................................................................

94

Quadro 10 - Atributos descritivos da aposentadoria – Docentes aposentados.. 102

Quadro 11 - Relação de ganhos com a aposentadoria - docentes ativos em

transição..........................................................................................

110

Quadro 12 - Relação de perdas com a aposentadoria - docentes ativos em

transição..........................................................................................

111

Quadro 13 - Relação de ganhos com a aposentadoria - docentes

aposentados....................................................................................

114

Quadro 14 - Relação de perdas com a aposentadoria - docentes

aposentados....................................................................................

115

Quadro 15 - Quadro-resumo das percepções entre os grupos pesquisados..... 120

Quadro 16 - Quadro-resumo da relação trabalho e aposentadoria.................... 127

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dimensões do Sentido do Trabalho............................................... 38

Tabela 2 - Caracterização dos docentes ativos que recebem abono de

permanência...................................................................................

69

Tabela 3 - Caracterização dos docentes aposentados.................................... 69

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPS Caixas de Aposentadorias e Pensões

COAPEQ/RE Coordenação de Assistência de Pessoal e Qualidade de

Vida/Reitoria

IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência e

Assistência Social

IAPM Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos

IAPs Institutos de Aposentadorias e Pensões

IFRN Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte

INPS Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

MPS Ministério da Previdência Social

SIAPE Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos

TICs Tecnologias de Informática e Comunicação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 19

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA................................................. 19

1.2 OBJETIVOS........................................................................................... 23

1.3 JUSTIFICATIVA..................................................................................... 23

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO........................................................ 24

2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................... 26

2.1 O TRABALHO........................................................................................ 26

2.1.1 Incursões históricas acerca do trabalho........................................... 29

2.1.2 Identidade do trabalho........................................................................ 34

2.1.3 Significados e Sentidos do trabalho.................................................. 36

2.1.3.1 Estudos sobre significado do trabalho................................................... 43

2.1.3.2 A centralidade do trabalho..................................................................... 49

2.2 APOSENTADORIA................................................................................ 54

2.2.1 Incursões históricas acerca da aposentadoria no Brasil................ 54

2.2.2 O significado da aposentadoria......................................................... 57

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................. 68

3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................. 68

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA......................................................... 69

3.2.1 Grupo I – Docentes ativos em transição para aposentadoria......... 70

3.2.2 Grupo II – Docentes aposentados...................................................... 71

3.3 COLETA DE DADOS............................................................................. 72

3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........................................... 74

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS................................................................. 75

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS................................................................ 76

3.7 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA................................ 78

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................... 81

4.1 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES SOBRE O TRABALHO.................. 81

4.1.1 Significado do trabalho ...................................................................... 81

4.1.2 Centralidade do trabalho..................................................................... 85

4.1.3 Função e objetivos do trabalho.......................................................... 88

4.2 FATORES QUE LEVAM DOCENTES ATIVOS EM TRANSIÇÃO

PARA APOSENTADORIA À PERMANÊNCIA EM ATIVIDADE............

89

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4.3 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES SOBRE APOSENTADORIA........... 94

4.3.1 Significados da aposentadoria........................................................... 94

4.3.2 Ganhos e perdas com a aposentadoria............................................. 110

4.3.3 Expectativas dos docentes ativos em transição com relação à

aposentadoria......................................................................................

117

4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DA PERCEPÇÃO DO DOCENTE ATIVO

E DO APOSENTADO SOBRE SIGNIFICADO DO TRABALHO E

APOSENTADORIA................................................................................

120

4.4.1 Relação entre trabalho e aposentadoria............................................ 121

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 128

REFERÊNCIAS..................................................................................... 132

APÊNDICES.......................................................................................... 145

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1 INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA

O trabalho é um núcleo definidor do sentido da existência humana, pois toda

nossa vida é baseada no trabalho. Todo o processo de construção do

amadurecimento humano, da infância à terceira idade, é marcado por relações de

dependência, cuja maturidade está vinculada com a inserção do ser humano no

mundo do trabalho (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010). Do ponto de vista social, o

trabalho é o principal ordenador da vida humana associada, uma vez que impõe ao

indivíduo a disposição de regras, horários, atividades e interações sociais. Tais

peculiaridades, se por um lado impõem a ordem, consistência e previsibilidade; por

outro, submetem as pessoas a um tempo físico e psíquico restrito, para que possam

pensar e aperfeiçoar suas vidas pessoais (SENGE, 1999).

Segundo Malrieu (1982), “o indivíduo se torna sujeito e pessoa, isto é, ator

(construtor responsável por seus engajamentos e empreendimentos) somente no

quadro de um sistema de representação/valor, ao qual ele se submete, e mais ou

menos se aliena, e que ao mesmo tempo, no entanto, dá um sentido a suas

condutas.” Para Chrisostomo e Macedo (2011), enquanto instituição, o trabalho

proporciona às pessoas um ambiente estruturante, um sistema de referência, pois

possibilita que as pessoas se insiram em um grupo social, e encontrem a partir dele

sua identidade social, seu status, seu papel e seu engajamento social.

Em nossa sociedade, o trabalho está associado à atividade remunerada, a

qual comumente é denominada de emprego, realizado em ambientes repletos de

normas e rotinas e geralmente incompatível com a vida familiar e social das

pessoas. Diante desse contexto, o trabalhador percebe que há perdas materiais

advindas do desligamento deste com a organização onde labora.

O investimento por cada pessoa em seu papel profissional varia muito,

segundo suas necessidades, motivações e aspirações. Para Maslow (2000), os

seres humanos são mobilizados para o trabalho, vinculados à função expressiva, ou

seja, pelas razões de autoestima e autorrealização, concomitante com a função

econômica, já que têm uma contrapartida financeira, para prover necessidades

fisiológicas e de segurança. Ao se refletir sobre a importância que tem o trabalho na

sociedade e na vida de uma pessoa, é possível compreender o que pode

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representar a perda deste papel em certos momentos da vida, como a

aposentadoria (CHRISOSTOMO; MACEDO, 2011).

A aposentadoria é a passagem da vida que pode simular uma ruptura com o

mundo do trabalho, originando uma transformação no sistema de relações sociais e

no sistema de papeis e status (SANTOS, 1990).

A transição para a aposentadoria faz aparecer as desigualdades sociais e as

contradições do sistema social ao qual o indivíduo pertence. No entanto, além desta

análise sociológica, que torna o indivíduo apenas como instrumento passivo da

transformação ativa da sociedade, torna-se necessário compreender como as

desigualdades sócio-profissionais se refletem na personalidade e na identidade, bem

como os mecanismos utilizados pelos sujeitos para se adaptar a essa nova condição

(SANTOS, 1990).

Para a sociedade capitalista que supervaloriza o trabalho e a produção, em

detrimento do homem, a aposentadoria é frequentemente a perda do próprio sentido

da vida, “uma morte social”. A aposentadoria é, por um lado, um “repouso merecido”,

um direito conquistado pelos trabalhadores; por outro, é a institucionalização da

perda da capacidade produtiva e, em consequência, a desvalorização do homem. A

verdade é que a sociedade concede a aposentadoria, mas valoriza apenas as

pessoas que produzem (CHRISOSTOMO; MACEDO, 2011).

A aposentadoria, na verdade, é o atestado oficial do envelhecimento. Ela

representa o fim de um longo período da vida produtiva do indivíduo. É uma situação

agravada pela ideia da velhice e da morte. E, como em toda situação de mudança, a

pessoa conviverá com uma perda, seja a perda de uma situação já conhecida, ou

mesmo de uma função (CHRISOSTOMO; MACEDO, 2011).

Trata-se de um estudo complexo, pois cada pessoa atribui seu significado

subjetivo ao tempo da aposentadoria, seja como um tempo de descanso, de ócio, ou

como um tempo para viajar, ou para frequentar grupos de convivência, ou como um

tempo para resgatar antigos projetos ou talentos reprimidos, ou como um tempo

para o trabalho, por prazer ou por necessidade; enfim, seja qual for o significado do

trabalho, ele é único e particular (CHRISOSTOMO; MACEDO, 2011).

Mesmo destacando o fator financeiro como relevante no processo de

aposentadoria, Guedes (2010) cita a possibilidade de reorganização da identidade

pessoal, que hoje tem significativa relação com a identidade profissional.

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De acordo com Alvarenga et al. (2009), a reestruturação da identidade de

aposentado, bem como o enfrentamento dessa nova fase da vida, podem tornar-se

mais fáceis de serem vividos, se a pessoa ao longo de sua vida construiu outras

fontes de prazer além do trabalho.

Conforme o Ministério da Previdência e Assistência Social, os servidores

públicos titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios estão vinculados a Regime Próprio de Previdência Social, conforme está

previsto no Art. 40 da Constituição Federal. Segundo dados extraídos do Anuário

Estatístico da Previdência Social, exercício 2010, a União conta com 2,06 milhões

de servidores (ativos e aposentados) e pensionistas, sendo a maioria – 91% – do

poder executivo. Os demais, 9%, são dos poderes legislativo e judiciário, o que

demonstra uma concentração significativa dos servidores federais no poder

executivo.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte (IFRN) é uma autarquia federal vinculada ao Poder Executivo, composto por

16 câmpus e, dentre eles, destaca-se o Câmpus Natal-Central, que é o mais

extenso, mais antigo e com o maior número de servidores e de alunos, tendo sido

escolhido como campo de estudo, na presente pesquisa, dado as suas

peculiaridades. Atualmente, a instituição conta com 323 aposentados, sendo 191

docentes e 132 técnico-administrativos. Apesar da descentralização administrativa,

ocorrida após a criação da Reitoria, em 2010, com aquisição de sede própria, e de

os aposentados serem vinculados a esta e não a Câmpus anteriores de lotação,

quando na situação de ativos; estes, em sua maioria, procuram o Câmpus Natal-

Central para atendimento de suas demandas, em dias úteis.

No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte – IFRN – especificamente no Câmpus Natal-Central, verificam-se duas

situações profissionais distintas no tocante à aposentadoria: a atividade docente e a

atividade técnico-administrativa.

No caso dos docentes, estes dispõem de uma regra especial de

aposentadoria, já que têm os requisitos de idade e tempo de contribuição reduzidos

em cinco anos, desde que comprovem tempo exclusivo de funções de magistério na

educação infantil e no ensino fundamental e médio. Isso faz com que, via de regra,

esta classe tenha um maior tempo disponível, em anos, após a aposentadoria, que a

maioria dos trabalhadores.

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No caso dos técnico-administrativos em educação, a regra é a do tempo

comum: 35 anos de contribuição para o regime próprio de previdência social e 60

anos de idade, se homem; 30 anos de contribuição e 55 anos de idade, se mulher.

Comparando com os docentes, essa classe tem um menor tempo disponível, em

anos, após a aposentadoria.

Além disso, verifica-se ainda um grupo de servidores ativos (docentes e

técnicos) que está no período de transição para a aposentadoria, ou seja, já

completou os requisitos exigidos para a aposentadoria voluntária integral ou

proporcional; no entanto, opta pela permanência em atividade na instituição e, como

incentivo para isso, recebe do governo o abono de permanência.

O abono de permanência é um benefício trazido pela Emenda Constitucional

nº 41, de 19 de dezembro de 2003, ao qual o servidor fará jus, quando completar as

exigências para a aposentadoria voluntária e em caso de optar pela permanência

em atividade. O valor pago a este no contracheque corresponde ao valor da sua

contribuição previdenciária e poderá se estender até o prazo máximo exigido para

aposentadoria compulsória.

A literatura sobre significado do trabalho e aposentadoria aborda

principalmente estudos sobre trabalhadores já aposentados, destacando temas

como: aposentadorias dos docentes, previdência, programas de preparação para

aposentadoria, lazer e qualidade de vida, dentre outros; porém, verificou-se uma

escassez de pesquisas comparando indivíduos ativos em processo de transição

para a aposentadoria e aposentados, o que contribuiu para despertar o interesse da

pesquisadora por esse estudo comparativo.

Diante desse contexto, surgiu uma questão problemática de pesquisa: como o

significado do trabalho e a aposentadoria são percebidos pelos docentes do IFRN?

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1.2. OBJETIVOS

Geral

Compreender o significado do trabalho e da aposentadoria, na percepção de

docentes de uma instituição federal de ensino.

Específicos

Analisar a percepção dos docentes sobre o significado do trabalho;

Identificar os fatores que levam docentes ativos em processo de transição

para aposentadoria a permanecerem em atividade;

Avaliar a percepção dos docentes sobre o significado da aposentadoria;

Examinar as expectativas dos docentes ativos em transição, com relação à

aposentadoria;

Verificar se há diferenças na percepção do docente ativo e do aposentado, no

tocante ao significado do trabalho e à aposentadoria.

1.3 JUSTIFICATIVA

A aposentadoria voluntária é um processo complexo, no qual há a conjugação

de vontades e interesses das empresas, do governo e dos trabalhadores. Esse

momento requer do trabalhador um bom planejamento, envolvendo gestão

financeira, manutenção da saúde física e mental, bem como projetos pessoais no

pós-carreira.

A escolha do tema teve origem na experiência profissional da pesquisadora

em uma instituição federal de ensino, no setor de Cadastro e Benefícios,

responsável pela concessão de abonos de permanência, aposentadorias e pensões,

onde é vivenciado o processo de transição para aposentadoria dos servidores

ativos, bem como a experiência com os já aposentados que vêm ao setor, para

atendimento.

Além disso, constata-se que o Brasil é um país, cujo número de idosos e

aposentados está crescendo vertiginosamente, em decorrência do aumento da

expectativa de vida, conforme dados extraídos do Ministério da Previdência Social

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(MPS). Assim, para se estabelecer ações direcionadas à qualidade de vida do

aposentado, é necessário compreender o impacto da aposentadoria para a vida de

um indivíduo, já que se trata de um processo de transição que pode trazer

transtornos psíquicos e ameaçar a sua identidade como pessoa e como ser social.

Uma pesquisa com essa temática pode estimular o governo e as empresas a

criarem programas de orientação para aposentadoria, os quais podem contribuir

para nortear o planejamento pós-carreira dos trabalhadores.

Tanto o processo de envelhecimento, quanto o de aposentadoria ocorrem de

maneira diferente na vida de cada pessoa, e a forma com que são vividos e sentidos

dependerá da vida social, da relação da própria pessoa com o trabalho, das relações

familiares desta pessoa, dos papéis sociais que ela desempenha, do modo de ser de

cada uma, do suporte financeiro que representa, dos seus projetos e de muitos

outros fatores que fazem parte de sua vida (CHRISOSTOMO; MACEDO, 2011).

No tocante à relevância desse estudo para a instituição, ressalta-se a

contribuição que este trará ao Programa de Preparação para a Aposentadoria,

projeto institucional que visa à preparação dos servidores em processo de transição

para a aposentadoria para o pós-carreira. Compreender o significado do trabalho

para estes colaboradores, bem como os impactos da aposentadoria na vida destas

pessoas, colaborará para melhorias nas diretrizes do curso.

Por fim, destaca-se a importância desta pesquisa para a academia, uma vez

que se observa que a maioria dos estudos envolvendo a temática significado do

trabalho e aposentadoria enfoca servidores aposentados. Assim, um estudo

comparativo acerca do significado do trabalho entre os que estão em processo de

transição para a aposentadoria e os que já se encontram na condição de

aposentados poderá servir de referência a outras instituições e organizações que se

deparam com a problemática do desligamento do trabalho por parte dos seus

colaboradores, bem como estimular novas pesquisas nessa área temática.

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O presente trabalho estrutura-se em cinco capítulos. O capítulo introdutório é

composto pela contextualização e problema, objetivo geral, objetivos específicos e

justificativa.

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O segundo capítulo trata do referencial teórico, o qual destaca duas temáticas

pertinentes à compreensão do estudo: trabalho e aposentadoria. Sobre trabalho, são

apresentadas incursões históricas acerca deste, identidade do trabalho, significados

e sentidos do trabalho, estudos sobre significado do trabalho e a centralidade do

trabalho. Em relação à aposentadoria, são abordadas as incursões históricas acerca

da aposentadoria no Brasil, bem como o significado desta.

O terceiro capítulo discorre sobre os procedimentos metodológicos

empregados neste estudo, enfatizando o tipo de pesquisa, a caracterização dos

participantes da pesquisa, o processo de coleta de dados, instrumento de coleta

utilizado, as categorias analíticas, a forma de tratamento dos dados e a

caracterização do campo de pesquisa.

O quarto capítulo é composto da análise e discussão dos resultados

encontrados, apresentados a partir da proposição dos objetivos e interpretados à luz

do referencial teórico explorado nesse estudo.

Por fim, o quinto capítulo trata das considerações finais, destacando as

limitações encontradas na consecução desta pesquisa, bem como sugestões para

estudos futuros envolvendo a temática aqui proposta.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

No presente capítulo são apresentados os fundamentos teóricos que norteiam

o presente estudo sobre significado do trabalho e aposentadoria. No decorrer deste

capítulo serão expostas algumas incursões históricas a respeito do trabalho, a

identidade do trabalho, significados e sentidos do trabalho e estudos sobre

significado do trabalho e centralidade; por fim, a última parte deste referencial

destina-se a esclarecer aspectos pontuais sobre história da aposentadoria e seu

significado para a vida dos indivíduos.

2.1 O TRABALHO

Nas últimas décadas, a sociedade contemporânea vivencia profundas

transformações. A crise experimentada pelo capitalismo, o neoliberalismo e a

reestruturação produtiva da era da acumulação flexível têm provocado profundas

mutações no interior do mundo do trabalho: o enorme desemprego estrutural,

precárias condições de trabalho, além de uma degradação que se amplia na relação

entre homem e natureza, cuja lógica da sociedade é voltada para a produção de

mercadorias e para a valorização do capital (ANTUNES, 1999).

Nos dois últimos séculos, em razão da sofisticação gradual das organizações,

das diversas formas de reações sociais à organização do trabalho e aos modelos

atuais de gestão do trabalho, tem surgido de forma mais premente a necessidade de

compreender o mundo do trabalho (ASSUNÇÃO, 2010).

Segundo Marx (1985), o trabalho é um processo entre o homem e a natureza,

no qual este media, regula e controla seu metabolismo com a natureza, através da

própria ação. Guedes (2010) ratifica que qualquer que seja o enfoque (filosófico,

histórico ou sociológico), pode-se considerar que o trabalho é sempre uma relação

do homem com a natureza, com seu semelhante e consigo mesmo.

O trabalho pode ser entendido como um processo de civilização, no qual o

homem e a humanidade são estruturados de tal forma que parece não ser possível

deixar de relacionar o trabalho ao homem (WITZAC, 2005).

Para Brito (2005, p.39), o entendimento do trabalho passa pela compreensão

do que significa o trabalho de forma mais ampla e a contextualização do trabalho

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dentro do modo de produção capitalista, que supõe a existência de duas classes

sociais complementares e com interesses antagônicos.

Segundo Morin (2001), nas sociedades ocidentais, o trabalho representa um

valor importante e exerce influência na motivação, satisfação e produtividade dos

trabalhadores. Para Medeiros (2006), o sentido para a vida do trabalhador, o resgate

do diálogo entre o que o trabalhador faz e o seu querer, é essencial para sua

satisfação no trabalho e a sua realização enquanto ser humano.

Sobre a importância da profissão docente na sociedade, Pimentel, Palazzo e

Oliveira (2009) discorrem:

A real valorização da função de professor é, muitas vezes, exaltada pelo conhecimento teórico, visto que, economicamente, esse profissional é esquecido por seus méritos. Tal valorização fica a mercê dos preconceitos de um profissional com dificuldades em consolidar-se como agente ativo na representação social da sua verdadeira função. Deve-se, pois, entender o papel do professor não só como mera profissão, e, sim, como um profissional capaz de quebrar paradigmas que prejudicam o desenvolvimento da humanidade.

Ainda para esses autores, a prática docente exige uma série de

competências, as quais resultam de saberes provenientes da teoria e prática

articuladas, em situações envolvendo o aluno como sujeito da aprendizagem e das

experiências vivenciadas, as quais representam conhecimentos adquiridos num

ambiente de trabalho docente e construídos no cotidiano profissional.

Para a maioria das pessoas, o trabalho ocupa um espaço maior da vida do

que qualquer outro tipo de atividade. Apesar de comumente o trabalho ser associado

a uma atividade maçante; nas sociedades modernas, ter um emprego é importante

para manter a autoestima e representa dessa forma um elemento estruturador na

composição psicológica das pessoas e no ciclo de suas atividades diárias

(GIDDENS, 2005).

Diversas características são relevantes para a concepção acima apresentada,

conforme Giddens (2005): dinheiro, nível de atividade, variedade, estrutura temporal,

contatos sociais, identidade pessoal.

O dinheiro é relevante porque um salário é o principal recurso do qual muitas

pessoas dependem para satisfazer suas necessidades. O nível de atividade

proporciona uma base para a aquisição e o exercício das aptidões e das

habilidades. Já a variedade, refere-se ao fato de o trabalho proporcionar um acesso

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a contextos que contrastam com o meio doméstico, os quais podem fazer com que

as pessoas acabem gostando de executar as tarefas, por serem diferentes dos

afazeres domésticos (GIDDENS, 2005).

A estrutura temporal é outra característica relevante, pois para quem tem um

emprego regular, o dia normalmente se organiza em torno do ritmo de trabalho.

Mesmo sendo às vezes um aspecto opressivo, oferece um senso de direção nas

atividades diárias. Quanto aos contatos sociais, o ambiente de trabalho proporciona

amizades e oportunidades de participação em atividades comuns com as outras

pessoas (GIDDENS, 2005). Para Chrisostomo e Macedo (2011), em nossa

sociedade, o trabalho é o lugar privilegiado das referências sociais, pois estrutura o

tempo, o espaço e as relações sociais.

Por fim, a identidade pessoal, já que, normalmente, valoriza-se o trabalho

pela sensação da identidade social estável que ele oferece. A personificação dos

operários com o trabalho, segundo Antunes (1999), reduz a identidade do sujeito

desse trabalho a suas funções produtivas fragmentárias.

O trabalho, segundo Aranha (1995, p. 9):

Estabelece a relação dialética entre a teoria e a prática, pela qual uma não pode existir sem a outra: o projeto orienta a ação e esta altera o projeto, que de novo altera a ação, fazendo com que haja mudanças dos procedimentos empregados, o que gera o processo histórico (...). O trabalho se realiza como uma atividade coletiva, e além de transformar a natureza, humanizando-a, além de proceder a união dos homens, o trabalho transforma o próprio homem.

O trabalho é definido por Giddens (2005, p. 306) como a execução de tarefas

que requerem o emprego de esforço mental e físico, visando à produção de

mercadorias e serviços que satisfaçam as necessidades humanas, em troca de um

ordenado ou salário regular. Em todas as culturas, o trabalho é a base da economia.

O reconhecimento do indivíduo no trabalho é um elemento-chave da relação

do sujeito com o trabalho e a organização, com implicações diretas na motivação e

nas percepções de valorização do trabalhador e de justiça. Neste último sentido,

agrega-se o reconhecimento às perspectivas de retribuição pela contribuição

aportada pelos indivíduos à organização (SIQUEIRA; GOMIDE, 2004).

Para Bendassoli (2012), o reconhecimento é também assinalado como

nuclear em processos de construção identitária e de saúde e prazer no trabalho. Por

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isso, verifica-se uma relação entre falta de reconhecimento e processos de

sofrimento, adoecimento e despersonalização.

Por ser uma atividade relacional, o trabalho, além de desenvolver habilidades,

permite que a convivência não só facilite a aprendizagem e o aperfeiçoamento dos

instrumentos, mas também enriqueça a afetividade resultante do relacionamento

humano: experimentando emoções de expectativa, desejo, prazer, inveja. O homem

aprende a conhecer a natureza, as pessoas e a si mesmo. É a atividade humana por

excelência, pela qual o homem intervém na natureza e em si mesmo. O trabalho é

condição de transcendência e, portanto, é a expressão da liberdade (ARANHA,

1995).

Dessa forma, o trabalho tem sofrido intensas modificações nas últimas

décadas e, por isso, necessita ser melhor compreendido nessa perspectiva atual. O

homem, como agente ativo desse processo, está intrinsecamente ligado ao mundo

do trabalho, muitas vezes sendo difícil dissociar um do outro. O trabalho organiza a

vida humana, confundindo-se muitas vezes com a própria identidade pessoal do

indivíduo, transforma a natureza, humanizando-a, bem como o próprio homem, no

qual possibilita o desenvolvimento de habilidades, além de enriquecer a afetividade,

com a experiência de múltiplas emoções, resultante dos relacionamentos

construídos ao longo do tempo (ANTUNES, 1999; ASSUNÇÃO, 2010; WITZAC,

2005; GIDDENS, 2005; ARANHA, 1995).

2.1.1 Incursões históricas acerca do trabalho

Advinda do latim tripalium, cujo significado é aparelho de três hastes ou paus,

usado para amarrar condenados e prender animais difíceis de domar, a palavra

trabalho surge, a partir desse contexto, relacionada à tortura, sofrimento e pena

(MORI, 2006).

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Figura1 - Tripalium

Fonte: http://marciomorena.wordpress.com/2012/01/ 23/visoes-ideologicas-do-trabalho-ao-longo-da-historia/

Laborare, palavra oriunda do latim, significa balançar o corpo sob uma carga

pesada, usado para designar o sofrimento e o maltrato do escravo (ALBORNOZ,

2002). Uma valoração positiva ao trabalho é destacada por Bastos, Pinho e Costa

(1995, p. 20-22), quando este afirma que “vê o trabalho como aplicação das

capacidades humanas para propiciar o domínio da natureza, sendo responsável pela

própria condição humana”.

Na Grécia antiga, o significado do trabalho era castigo, pois o trabalho braçal

não tinha valor e era executado por escravos, já que aos membros da classe alta,

cabiam as tarefas de coordenação e elaboração de projetos (MORI, 2006).

Igualmente em Roma, o trabalho manual também não tinha valor, era a ausência de

lazer e a negação ao ócio (ARANHA, 1995).

Historicamente, de acordo com Dejours (1992), o século XIX é marcado pelo

desenvolvimento do capitalismo industrial, caracterizado pelo crescimento da

produção, pelo êxodo rural e pela concentração de novas populações urbanas. Os

salários são baixos, as jornadas de trabalho chegam a 16 horas por dia. A falta de

condições higiênicas, promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de trabalho,

subalimentação potencializam os seus efeitos e criam condições de uma alta

mortalidade e de uma longevidade reduzida. No século XIX, para o operário, viver é

não morrer.

O capital degrada o trabalho, segundo Antunes (1999), à condição de uma

objetividade reificada subvertendo a relação real do sujeito/objeto. Para realizar suas

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atividades produtivas, o trabalhador deve ser obrigado a reconhecer outro sujeito

acima de si mesmo, ainda que na realidade seja um pseudo-sujeito. Assim, o

sistema de metabolismo social do capital vem assumindo uma estruturação

expansionista, mundializado, destrutivo e incontrolável.

De acordo com Dejours (1992), as lutas operárias neste período histórico têm

essencialmente dois objetivos: o direito à vida e a construção do instrumento

necessário a sua conquista: a liberdade de organização. Tudo isso pautado pela

reinvindicação da redução da jornada de trabalho.

Consoante o supracitado autor, sob o segundo império, a pressão retorna em

torno de questões como: limite de idade para trabalhar, proteção das mulheres,

trabalho noturno, trabalhos penosos e repouso semanal. No aspecto legalista, só a

partir do fim do século são obtidas leis sociais pertinentes ao processo de

aposentadoria, como 1905: aposentadoria dos mineiros e 1910: aposentadoria para

o conjunto dos trabalhadores após 65 anos.

Da Primeira Guerra Mundial a 1968, o movimento operário foi adquirindo

bases sólidas, principalmente devido ao salto qualitativo na produção industrial e ao

taylorismo com suas consequências sobre a saúde mental do trabalhador. Em

1916, a redução da jornada de trabalho para 8 horas por dia provoca aumento na

produção. Em 1944, o movimento operário continua a desenvolver sua ação para a

melhoria das condições de vida, como aposentadoria e salários (DEJOURS, 1992).

Conforme o referido autor, após 1968, o esgotamento do sistema taylorista,

marcado por greves, paralisações de produção, operações-padrão, desperdício,

absenteísmo, rotatividade e sabotagem da produção levam o sistema a procurar

soluções alternativas, como a reestruturação das tarefas, amparada por amplas

discussões acerca do objetivo do trabalho e sobre a relação homem-tarefa.

Os fenômenos do processo de trabalho capitalista, para Marx (1985), são: 1)

o trabalhador labora sob o controle do capitalista, a quem pertence o seu trabalho. A

ele cabe cuidar para que o trabalho se realize em ordem, com meios de produção

corretamente empregados, evitando o desperdício da matéria-prima; e 2) o produto

do trabalho é a propriedade do capitalista e não do trabalhador, que é o produtor

direto.

O Quadro 1, retirado de Mori (2006), apresenta a evolução do conceito de

trabalho, desde a Pré-história até sua concepção social.

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Quadro 1 - A evolução do conceito de trabalho

Pré-história Subsistência

Etimologia Trabalho ↔tripalium Trabalhar ↔ tripaliare (torturar com tripalium)

Na Bíblia “Maldita é a terra por causa de ti: com dor comerás dela todos os dias da tua vida, do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra.” (Gênesis. 3:17-19)

Gregos Trabalho-ponos ↔ penoso Trabalho-ergo ↔ criação

Adam Smith (1776) Taylor (Século XVIII)

Teorias sobre a divisão técnica do trabalho e o aparecimento da sociedade capitalista; Administração científica: divisão do trabalho e especialização do operário: análise do trabalho e estudos dos tempos e movimentos; homem econômico; padronização, entre outros aspectos.

Ombredane e Faverge (1955)

Trabalho é um comportamento e um constrangimento.

J. Leplat (1974) “O trabalho situa-se no nível da interação entre o homem e os objetos de sua atividade. Ele constitui o aspecto dinâmico do sistema homem-máquina.

Leontiev (1976) “O trabalho humano (...) é uma atividade originalmente social, fundada sobre a cooperação de indivíduos, a qual supõe uma divisão técnica (...) das funções de trabalho.”

Fonte: Mori (2006).

Segundo Giddens (2005), nas sociedades modernas, apenas uma ínfima

proporção da população trabalha na agricultura, e a própria lavoura tornou-se

industrializada – sendo administrada, em grande parte, por intermédio de máquinas,

e não por mãos humanas. Durante o século XX, temos um cenário de economia

global e avanços tecnológicos que provocaram transformações profundas no tipo de

trabalho que realizamos; dentre elas, a divisão do trabalho, na qual este passou a

ser dividido em um número enorme de ocupações diferentes nas quais as pessoas

se especializam.

As mudanças no ambiente laboral também vêm causando impactos na forma

de organizar o trabalho. O teletrabalho, viabilizado pelas Tecnologias de Informática

e Comunicação (TICs), além de permitirem a virtualização do espaço e do tempo,

transformam o trabalho de um lugar para ir em uma atividade que pode ser feita a

qualquer hora e em qualquer lugar. Isso traz impacto ao próprio significado de

organização, uma vez que os indivíduos passam a ter espaço e tempo flexibilizados,

ou seja, trabalham em qualquer lugar e a qualquer momento, sem a necessidade de

seguir os horários convencionais (BROCKLEHURST, 2001).

Segundo Costa (2007), o teletrabalho é uma ferramenta do capital, da

reestruturação global do capital, do trabalho e dos mercados que vai além da história

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da tecnologia e pode adentrar nas ideologias e estratégias gerenciais, visando o

controle e o uso eficiente do trabalho.

O regime de trabalho home-office (escritório em casa) vem sendo largamente

utilizado por organizações, em especial, por multinacionais. Uma pesquisa realizada

com empregados de 10 diferentes empresas de setores variáveis da economia

analisou que o discurso dos pesquisados contém diversos elementos condizentes

com o discurso apresentado pelas organizações contemporâneas, como: autonomia,

competência, profissionalismo, flexibilidade e individualismo, o que demonstra um

esforço de controle organizacional pela formatação das subjetividades (COSTA,

2007).

A pesquisa da referida autora elucida que as críticas enunciadas a esse tipo

de trabalho relacionam-se, basicamente, à jornada extensiva de trabalho, à

transferência de custos, ao isolamento e à questão da invasão do espaço familiar

pelo trabalho. O discurso do empreendedorismo de si é capaz de amoldar-se às

questões do excesso de trabalho e da transferência de custos. Por outro lado, o

isolamento e a família constituem dois mundos construídos sobre discursos diversos:

embora reconheçam ter mais tempo com a família, o tempo para a família realmente

não ocorre, o que demanda grande custo emocional.

O sociólogo francês e crítico social André Gorz é um analista que afirma que,

no futuro, o trabalho remunerado irá desempenhar um papel cada vez menos

importante na vida das pessoas. Gorz baseia seus pontos de vista em uma

avaliação crítica dos estudos de Marx. Marx acreditava que a classe trabalhadora, a

qual um número cada vez maior de pessoas supostamente iria pertencer, lideraria

uma revolução que levaria a um tipo mais humano de sociedade, na qual o trabalho

seria fundamental para os prazeres que a vida tem a oferecer. Mesmo escrevendo

como um esquerdista, Gorz rejeita essa visão. A classe trabalhadora em vez de

estar se tornando o maior grupo da sociedade e liderando uma revolução de

sucesso, na verdade, está encolhendo. Os operários representam agora uma

minoria da força de trabalho e uma minoria em declínio (GIDDENS, 2005).

Diante do exposto, verifica-se que, historicamente, o trabalho passou por

diversas vertentes. Oriundo do contexto de tortura, sofrimento, castigo, ausência de

lazer, negação ao ócio, até a degradação provocada pelo capitalismo. A organização

do trabalho vem evoluindo com o surgimento das lutas operárias, as quais foram

determinantes para o surgimento de leis de proteção ao trabalhador e de

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aposentadoria. O cenário da economia globalizada e os avanços tecnológicos

provocaram intensas transformações no mundo do trabalho, inclusive no ambiente

laboral, que hoje pode ser a própria casa do indivíduo, o que nem sempre é positivo,

pois pode ampliar a jornada de trabalho e invadir o espaço familiar. No futuro, o

trabalho remunerado pode ter menos relevância na vida das pessoas (DEJOURS,

1992; ARANHA, 1995; ANTUNES, 1999; BROCKLEHURST, 2001; GIDDENS, 2005;

MORI, 2006; COSTA, 2007).

2.1.2 Identidade do trabalho

Para a maioria das pessoas, a profissão é formadora de uma parte

fundamental de sua identidade. Exercer uma atividade laboral, valorizada pela

sociedade e com ela obter sucesso, eleva a autoestima, confere segurança e

estabilidade (LOBATO, 2004). Por outro lado, um trabalho mecânico, repetitivo,

exercido em condições desumanas, não reconhecido, com alta carga de pressão, é

potencial causador de sofrimento, queixas e/ou problemas somáticos (DIOGO,

2005).

Quatro formas identitárias são descritas por Dubar (1997), as quais são

fundamentadas em investigações empíricas realizadas na França, feitas nas

décadas de 60 a 80. As formas identitárias profissionais, propostas pelo autor,

exploram três dimensões de análise: o mundo vivido do trabalho; a trajetória sócio-

profissional e a formação. Cada configuração resulta de uma dupla transação. Uma

transação entre o indivíduo e a instituição (nomeadamente, no campo profissional) e,

por outro lado, entre o indivíduo e o seu passado. As formas identitárias, descritas

no Quadro 2, são produzidas pela articulação entre uma identidade virtual atribuída

pelo outro e uma identidade real para si, construída pela sua trajetória.

Quadro 2 - Configurações identitárias no campo profissional

Configurações Executante/ estável ameaçado

Identidade bloqueada

Modelo carreirista

Modelo afinitário Eixos

Identidade para o outro

Exclusão fora do modelo de competência

Operador polivalente e gestionário

Evolução na e pela empresa

Assalariados que trazem problemas

Identidade Biográfica de si

Saberes práticos e estabilidade no emprego

Diplomas técnicos e carreiras de ofício

Evolução profissional e formação interna contínua

Contra mobilidade social

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Identidade Relacional de si

Dependência do Chefe e trabalho instrumental

Reconhecimento suspenso e conflito latente

Reconhecimento Recíproco e mobilização no trabalho

Postura crítica e oportunista

Saberes Saberes práticos

Articulação entre saberes práticos e técnicos

Saberes organizacionais

Saberes teóricos

Identidades Identidade de fora-do-trabalho

Identidade de ofício

Identidade de empresa

Identidade de rede

Fonte: Dubar (1997).

Consoante o supracitado autor, essas formas identitárias são resultado da

articulação entre a transação objetiva e subjetiva, e descrevem estados de

continuidade e ruptura entre a identidade conferida pelo outro e a que é incorporada

para si, pelo indivíduo. Sua construção também está relacionada aos tipos de

relações profissionais que estruturam as variadas formas de mercado de trabalho.

Os processos identitários apresentam as seguintes características: 1) são

enraizados na esfera sócio-profissional, mas não se reduzem a identidades no

trabalho; 2) definem trajetórias diferentes, mas não reduzidas a habitus de classe; 3)

envolvem categorias oficiais, posições nos espaços escolares e sócio-profissionais,

mas não se resumem a categorias sociais; 4) são intensamente vividas pelos

indivíduos tanto em termos de definição de si como de rotulagens feitas por outros

(DUBAR, 1997).

Um aspecto que deve ser considerado é a importância que o trabalho possui

no desenvolvimento do indivíduo, pois funciona como referência, seja pessoal ou

social, na organização da vida do indivíduo (SANTOS, 1990).

O trabalho, além de atender as necessidades objetivas, tem um caráter

subjetivo, pois produz e estrutura a identidade social do indivíduo, já que a partir

deste, o indivíduo se identifica e, por conseguinte, obtém dos outros o

reconhecimento como trabalhador e participante da sociedade (LOBATO, 2004).

Sendo assim, a profissão passa a integrar a identidade social de cada

indivíduo. A sociedade passa a reconhecê-lo como o médico da clínica de estética

X, a psicóloga da universidade Y e, assim, os indivíduos são identificados, conforme

o trabalho e a função por eles desempenhada (ASSUNÇÃO, 2010).

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Carlos et al. (1999, p.86) afirmam que:

Da importância da identidade de trabalhador e sua representatividade, enquanto identidade do eu, emergem as questões da aposentadoria e suas repercussões. Identidade que se refere também à consciência de pertencer a determinado grupo social, inclusive laboral, e à carga afetiva que esta pertença implica. O espaço de trabalho e as categorias profissionais, em geral, associados a prestígio ou desprestígio social, proporcionam atributos de qualificação ou desqualificação do eu. Nos casos em que a qualificação é de tal forma representativa, o prefixo ex é evocado para dar conta da identidade quando da aposentadoria.

Em pesquisa realizada por Oliveira et al. (2004), quatro variáveis subjetivas

influenciam um trabalho com sentido: (a) o significado do trabalho, ou seja, o ponto

de vista do que é trabalho para o indivíduo; (b) o valor, isto é, a centralidade ou o

grau de importância que o sujeito atribui ao trabalho; (c) os valores éticos singulares;

e (d) o motivo pelo qual ele trabalha. Essas variáveis são bastante influenciadas pelo

meio no qual o indivíduo está inserido. Além disso, seu contexto sociocultural

influencia sua concepção a respeito do tema. Enfim, compreende-se que um

trabalho com sentido é aquele que realiza, satisfaz e estimula o sujeito para a

execução das suas tarefas (TOLFO; PICCININI, 2007).

Existe a possibilidade de a aposentadoria ser compreendida pelo indivíduo

como uma perda do seu papel profissional, conforme afirma Santos (1990). Porém,

o vínculo simbólico com o trabalho é mantido por intermédio de sua identidade de

trabalhador, em decorrência de os modelos de identificação construídos

anteriormente pelo sujeito não terem sido destruídos.

Assim, para a vida de muitas pessoas, o trabalho pode ocupar o vazio

existencial e social, constituindo-se em um modo de sublimação de necessidades

frustradas, originando-se daí a sensação de que não se pode viver sem ele (MORI,

2006).

2.1.3 Significados e sentidos do trabalho

O trabalho é um construto que transcorre por várias dimensões, dentre elas:

gerencial, ideológica, concreta, socioeconômica e simbólica (BORGES;

YAMAMOTO, 2004).

A dimensão gerencial diz respeito à forma pela qual o trabalho é conduzido. A

ideológica refere-se ao entrelaçamento das demais dimensões e das relações de

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poder na sociedade. A dimensão concreta envolve as condições materiais e

ambientais em que se realiza, incluindo segurança física e conforto. A

socioeconômica envolve a articulação entre a forma de realizar o trabalho e as

estruturas sociais, econômicas e politicas da sociedade. Já a simbólica, abrange

aspectos subjetivos da relação de cada indivíduo com o trabalho (BORGES;

YAMAMOTO, 2004).

Essas dimensões são interdependentes, mudam conforme a história da

sociedade e influem no modo do indivíduo exercer sua atividade laboral e pensar a

respeito dela. Além disso, ratificam que o trabalho é um conceito passível de

diversos significados (ROS; GRAD, 2005).

O modo como o trabalho é executado e o que provém dele interferem no

significado e na satisfação do indivíduo com o trabalho, segundo Codo, Sampaio e

Hitomi (1995). Estes também são relevantes para a construção da identidade

humana, pois de acordo com Morin (2001), têm grande impacto sobre o pensamento

do trabalhador e sobre a sua percepção em relação à liberdade e a tal

independência.

Cabe destacar que isso é influenciado pela subjetividade e pelo histórico de

cada indivíduo, pois mesmo exercendo um trabalho eficaz e produtivo, este pode

atribuir uma conotação negativa a sua atividade laboral, desencadeando, por

conseguinte, doenças físicas e mentais (ASSUNÇÃO, 2010). As funções exercidas

pelos trabalhadores, bem como o modo de relação interpessoal na instituição

exercem influência nas atribuições do significado do trabalho (BORGES et al., 2008).

O significado do trabalho tem sido um tema bastante estudado atualmente,

pois é de extrema relevância para a Psicologia Social, em especial para a Psicologia

Organizacional e do Trabalho (VARELLA, 2006).

Alguns questionamentos têm sido debatidos acerca da expressão “significado

do trabalho” e “sentidos do trabalho”, conforme Assunção (2010); por isso,

compreender do que é constituído o trabalho é fundamental. Na concepção de Marx,

o trabalho pode ser compreendido, de forma genérica, como uma capacidade de

transformar a natureza, para atender necessidades humanas (TOLFO; PICCININI,

2007).

Consoante Codo et al. (1997), o trabalho implica em uma relação de dupla

transformação entre o homem e a natureza. O homem dá significado à natureza

através do trabalho e a relação sujeito-objeto é mediada pelo significado, o qual

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perpassa esta relação, pois quanto mais completo e complexo o circuito sujeito –

trabalho – significado, maior o prazer no trabalho. Do contrário, caso haja ruptura

desse circuito, causa sofrimento, podendo comprometer a saúde mental do

indivíduo.

Os pioneiros nos estudos sobre o sentido do trabalho são Hackman e Oldhan

(1975), dois psicólogos que relacionaram a qualidade de vida no trabalho ao sentido

do trabalho. De acordo com eles, um trabalho com sentido apresenta: tarefas

variadas, em que podem ser utilizadas competências diversas; a característica de

não-alienante, onde o trabalhador consegue identificar todo o processo – desde sua

concepção até sua finalização, de modo a perceber o seu significado e o feedback

sobre seu desempenho (TOLFO; PICCININI, 2007).

Significado do trabalho é a representação social que a tarefa executada tem

para o trabalhador no nível individual, para o grupo ou social. Quanto ao sentido do

trabalho, este envolve além do significado – individual, coletivo e social do trabalho

– a utilidade da tarefa executada para a organização a que se pertence, a auto

realização e a satisfação, o sentimento de desenvolvimento e evolução pessoal e

profissional e a liberdade e autonomia para a execução das tarefas (TOLFO;

PICCININI, 2007).

A Tabela 1 representa as principais dimensões do sentido do trabalho.

Tabela 1 - Dimensões do Sentido do Trabalho

Dimensão Trabalho que faz

sentido... Trabalho que não

faz sentido...

Dimensão individual

Coerência

Permite identificação com os valores da pessoa.

Entra em choque com os valores da pessoa.

A pessoa acredita no trabalho que realiza.

A pessoa não acredita no trabalho que realiza.

Alienação É claro quanto ao seu objetivo. Sabe-se porque ele está sendo realizado.

A pessoa não sabe porque o está fazendo.

Valorização A pessoa sente-se valorizada. É reconhecida por meio do trabalho.

O indivíduo não é reconhecido nem valorizado.

Prazer Prazeroso, a pessoa gosta de fazer.

A pessoa não sente prazer no que faz.

Desenvolvimento

Possibilita desenvolvimento e crescimento.

Não possibilita desenvolvimento. Não acrescenta nada para a pessoa.

Sobrevivência e independência

Garante retorno financeiro e atende às necessidades básicas.

Não citado.

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Possibilita liberdade financeira.

Não citado.

Dimensão organizacional

Utilidade

Agrega valor e contribui com a empresa.

Não agrega para a empresa.

Satisfaz as expectativas da empresa.

Não alcança os resultados/objetivos esperados.

É improdutivo.

Organização do trabalho

Não é rotineiro. É rotineiro.

Possibilita a autonomia. É pré-estabelecido.

Permite pensar e criar. É apenas operacional.

É desafiante. Não desafia nem instiga.

Relações interpessoais

Permite o contato com pessoas.

Não há respaldo ou apoio dos colegas.

Desenvolve-se num ambiente agradável.

Realiza-se em um ambiente que não muda.

Dimensão social

Utilidade Contribui para alguém e/ou para a sociedade.

Não agrega para a outra pessoa nem para a sociedade.

Fonte: Oliveira et al. (2004).

O sentido do trabalho é conceituado por Hackman e Oldhan (1975) como uma

estrutura afetiva formada por três componentes: o significado, a orientação e a

coerência. O significado diz respeito às representações que o sujeito tem de sua

atividade, bem como do valor que lhe atribui. A orientação é o que se busca, o que

guia suas ações e a coerência é a harmonia ou o equilíbrio esperados de sua

relação com o trabalho (MORIN, 1996).

Assim, passeando pela literatura, verifica-se que há determinados autores

que privilegiam sentidos (ANTUNES, 2000; MORIN, 2001; TOLFO; PICCININI,

2007), enquanto outros consideram significado e sentido como parte do mesmo

construto (BORGES; YAMAMOTO, no prelo). No entanto, mesmo utilizando termos

diferentes, muitas vezes esses autores adotam as mesmas variáveis de pesquisa

(ASSUNÇÃO, 2010).

A perspectiva sociológica está presente na discussão de Antunes (2000),

acerca da relação entre sentido e trabalho. Segundo ele, uma vida repleta de sentido

fora do trabalho é fundamental para uma vida dotada de sentido dentro do trabalho,

de forma que uma vida carente de sentido no trabalho é incompatível com uma vida

cheia de sentido fora do trabalho.

Para que haja uma vida dotada de sentido, é necessário que o indivíduo

encontre no âmbito laboral o primeiro momento de realização. A busca de uma vida

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dotada de sentido, a partir do trabalho, possibilita a exploração das conexões

decisivas existentes entre trabalho e liberdade (ANTUNES, 2000).

Conforme MOW (1987):

O sentido do trabalho compõe a realidade social e interrelaciona-se com diferentes variáveis pessoais e sociais, influenciando as ações das pessoas e a natureza da sociedade num dado momento histórico. Os valores relacionados com o trabalho são estabelecidos através da educação recebida pelo indivíduo na infância e na adolescência e tem efeito duradouro na personalidade das pessoas, porém são modificados e adaptados ao longo das diversas fases da vida e em situações sociais distintas. O sentido do trabalho exerce influência sobre as formas de atividade laboral, a flexibilidade e a produtividade dos trabalhadores, pois afeta as crenças sobre o que é legítimo e o que se pode tolerar do trabalho.

Para Tolfo e Piccinini (2007), o trabalho é rico de sentido individual e social, é

um meio de prover subsistência, de criar sentidos existenciais ou de contribuir na

estruturação da identidade e da subjetividade. É valorizado pelo capitalismo, devido

à existência da propriedade privada e obtenção de lucros e contestado o seu valor

pela corrente marxista, devido à alienação do trabalhador. Por isso, o sentido do

trabalho é sempre um construto inacabado.

Pesquisas realizadas pelo grupo MOW (1987) e por Morin (1996, 2001)

comprovam que a maioria das pessoas, ainda que tivessem condições para viver ao

longo da vida, confortavelmente, continuariam a trabalhar, pois o trabalho, além de

ser um elemento de subsistência, é um meio de relacionamento com os outros, uma

forma de se integrar a um grupo ou à sociedade, de ter uma ocupação, de ter um

objetivo a ser atingido na vida (MORIN, 2001).

Assim, estas pesquisas assinalam que o trabalho pode ocupar uma posição

neutra ou central na identidade pessoal dos trabalhadores, bem como na

identificação com a sociedade. Os significados atribuídos ao trabalho associam-se

às concepções subjetiva, sócio-histórica e dinâmica (BORGES, 1996, 1998;

TAMAYO, 2001).

A concepção subjetiva diz respeito ao histórico pessoal de cada trabalhador,

ao modo como este interpreta e dá sentido ao seu trabalho. A percepção sócio-

histórica refere-se às condições históricas da sociedade, na qual o indivíduo está

inserido. Já a concepção dinâmica do significado do trabalho, envolve todo o

processo de desenvolvimento subjetivo e sócio-histórico, em que o trabalho está

inserido. Essa dinâmica ocorre por meio do processo de socialização, no qual o

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indivíduo confere concepções de trabalho de acordo com a sua historicidade

(ASSUNÇÃO, 2010).

A temática sobre significado do trabalho, consoante Santos (2006), é bastante

ampla, tendo sido estudada segundo vários enfoques e sobre a égide de diversas

metodologias, uma vez que engloba investigação sobre o que é valorizado no

trabalho, sobre os motivos que levam os indivíduos a trabalhar, da relevância do

trabalho na vida dessas pessoas, bem como da relação do trabalhador com a

sociedade.

A conotação da palavra “trabalho” associada a alguma forma de tortura,

sofrimento ou esforço doloroso advém da compreensão da atividade laboral como

fruto da opressão capitalista sobre a classe trabalhadora. Assim, para o capitalismo

manufatureiro, o trabalho representava o modo de produzir os bens de consumo e

os serviços necessários à sobrevivência; enquanto para o trabalhador, uma forma de

ganhar um salário e a base da construção de sua identidade (ZANELLI; SILVA;

SOARES, 2010).

Nos modelos atuais de gestão, os significados conferidos ao trabalho estão

relacionados ao desenvolvimento de competências cognitivas complexas, como a

criatividade, o raciocínio lógico, a iniciativa dos trabalhadores, o envolvimento e o

comprometimento com as tarefas e com as organizações nas quais atuam

(BORGES; YAMAMOTO, no prelo).

O processo de atribuir significado é subjetivo, envolvendo atributos como a

intencionalidade e as habilidades cognitivas do indivíduo, bem como sua forma de

inserção no mundo (FISKE; TAYLOR, 1991). Para Varella (2006), produzir sentido é

uma construção social, intencional e que envolve a cognição da pessoa, sendo um

processo dinâmico entre os fatores tempo e espaço.

A atividade profissional, conforme Melo (2002), corroborado por estudos de

Ribeiro e Leda (2004), deve agregar sentido ao contribuir para a construção de uma

nova sociabilidade, marcada por valores éticos, ou seja, precisa estar integrado à

vida, ter sentido. Dessa forma, o trabalhador precisa conjecturar a possibilidade de

realização de seus planos e projetos.

Entretanto, diante do contexto dinâmico, mutável e imprevisível do mundo

atual, o significado atribuído ao trabalho como valor essencial para a vida e como

fonte de identidade não é solidificado e, por muitas vezes, o trabalho acaba por se

tornar tão somente um meio de sobrevivência (ASSUNÇÃO, 2010).

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Corroborando com Agulló-Tomás (1997), Borges (1997, 1998, 1999), Borges

e Alves-Filho (2001) e Borges e Tamayo (2002) atribuem como características ao

significado do trabalho uma cognição subjetiva e social, uma vez que é uma

concepção particular de cada um, relacionada com aspectos socialmente

compartilhados. O significado do trabalho, para Brief e Nord (1990), tem um caráter

dinâmico, já que o trabalho é afetado por um complexo e dinâmico contexto social e,

a partir de suas relações com o mundo, o homem cria significados e os torna

públicos e partilhados na cultura.

Para Bruner (1990), os significados construídos pelos indivíduos são causas

das ações humanas. Isso se relaciona com o princípio básico do existencialismo, o

qual defende que o homem primeiro existe no mundo para somente depois se definir

(SARTRE, 1961). Isso é corroborado por Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005) que

afirmam que a aplicação desse princípio no estudo do significado do trabalho implica

a necessidade de concepção deste como uma construção que se dá na relação do

indivíduo com o mundo no qual vive.

A Psicologia tem estudado qual o papel que o trabalho exerce na vida das

pessoas e estudos demonstram que este continua sendo um elemento estruturante

na vida dos indivíduos (BORGES; YAMAMOTO, 2004).

A Administração, conforme Basso (2001), especialmente na área de gestão

de pessoas, precisa alinhar as metas dos funcionários com as da organização e

vice-versa. Especialmente, porque como preconiza Drucker (1993), capitalizar os

pontos fortes e os conhecimentos dos funcionários, ou seja, valorizar o capital

intelectual é vital para maximizar os seus desempenhos, bem como para obter

vantagens competitivas em uma organização.

Assim, entre as políticas e práticas de recursos humanos, é um desafio para a

Administração gerir a demanda de aposentadoria. Isso porque as pessoas que

completaram o critério de idade para aposentadoria foram educadas para o trabalho,

até por estarem inseridas no modelo capitalista, em que a atitude dos profissionais

em relação ao trabalho era de pontualidade, freqüência, dedicação, lealdade,

fidelidade e de aposentadoria na empresa em que atuaram por vários anos (BASSO,

2001).

Além disso, fatores como: diminuição das taxas de natalidade e o incremento

das taxas de longevidade elevaram a idade média da população economicamente

ativa, fazendo com que as pessoas, ao chegarem à idade da aposentadoria, ainda

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tenham vários anos de vida a desfrutar (BASSO, 2001). Tudo isso contribui para que

as organizações reflitam sobre o futuro dos seus colaboradores e implantem

políticas de previdência complementar ou cursos de preparação para a

aposentadoria e gestão pós-carreira.

Em suma, compreender o significado do trabalho, envolve vários aspectos: o

que é valorizado na atividade, suas funções, os motivos que levam os indivíduos a

trabalhar, a importância dessa atividade na vida destes, bem como suas relações

com a sociedade, já que o trabalho é concomitantemente físico e social (SANTOS,

2006).

2.1.3.1 Estudos sobre significado do trabalho

Na década de 80, os estudos sobre o trabalho intensificaram-se no âmbito da

Psicologia Social e do Trabalho. Nesse contexto, destaca-se um estudo transcultural

desenvolvido por uma equipe de pesquisadores MOW (Meaning of Working

International Research Team) acerca do construto significado do trabalho, utilizando

uma amostra de aproximadamente 15.000 sujeitos em 8 países diferentes

(SANTOS, 2006).

Para Varella (2006), tal estudo caracterizou-se como uma pesquisa empírica

transnacional e não transcultural, por não se ter levado em consideração as

variáveis culturais de cada um dos oito países envolvidos, apresentando uma

abordagem descritiva das dimensões, incluindo semelhanças e diferenças entre os

países, mas sem fazer referência ao porquê dessas ocorrências.

O modelo de estudo do significado do trabalho, adotado pela equipe MOW,

possui três níveis de variáveis: antecedentes, centrais e consequentes, sendo

pensado de forma causal, linear. Este modelo inclui três dimensões que relacionam

o indivíduo ao fenômeno do trabalho (varáveis centrais), conforme descrito por

Varella (2006): a centralidade do trabalho, as normas societais e os resultados

valorizados do trabalho.

As normas societais dizem respeito às obrigações com o trabalho e os direitos

recebidos em função do trabalho ou como acrescentam Bastos, Pinho e Costa

(1995), a expressão geral do que seriam trocas eqüitativas entre o que o indivíduo

recebe da situação de trabalho e as suas contribuições ao longo do processo.

Referem-se, segundo MOW, às normas derivadas de valores morais relacionados ao

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trabalho, tais como a ética. Essas normas são como padrões sociais que delimitam

as avaliações individuais sobre as recompensas obtidas pelo trabalho, não são

estáveis e dependem de variáveis sociodemográficas e pessoais, observadas em

conjuntos antagônicos: deveres e direitos. Os deveres referindo-se aos padrões

sociais considerados corretos pelos indivíduos na sua relação com a sociedade e os

direitos, às obrigações da sociedade para com o indivíduo.

Já os resultados valorizados do trabalho são os valores que os indivíduos

esperam alcançar com o trabalho e a valorização atribuída aos resultados deste

(prestígio e retorno financeiro, contatos sociais, relações interpessoais, auto-

realização). Compõe-se de valores diferentes do trabalho e de motivações do

construto do significado do trabalho (MOW, 1987). Além dessas dimensões, Tolfo e

Piccinini (2007) ainda acrescentam uma quarta dimensão: a identificação das regras

do trabalho.

Conforme Santos (2006), o modelo desenvolvido pela equipe do MOW (1987)

adota quatro dimensões do significado do trabalho: a centralidade do trabalho, os

objetivos valorizados no trabalho, relacionados aos aspectos do trabalho mais

valorizados pelos indivíduos, sendo divididos em intrínsecos (relacionados ao

conteúdo da tarefa) e extrínsecos (não relacionados ao conteúdo da tarefa); os

resultados esperados, referindo-se às funções que o trabalho exerce para os

indivíduos, seja, por exemplo, obtenção de rendimentos, manter-se em atividade ou

realização pessoal e, por fim, as normas societais.

Figura 2 - Modelo de significado do trabalho para o grupo MOW (1987)

Variáveis

condicionais ou

antecedentes

Situação Pessoal e Familiar

Características do Trabalho Atual e

Histórico de Carreira

Ambiente Socioeconômico

Variáveis centrais

Centralidade do Trabalho

Normas Sociais do Trabalho (direitos e

deveres)

Resultados Valorativos do

Trabalho / Metas do Trabalho

Fonte: adaptado de Alberton (2008).

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O estudo de MOW (1987) identificou quatro padrões de significado do

trabalho: instrumental (ênfase nos aspectos econômicos e baixo valor aos seus

aspectos intrínsecos); expressivo e de centralidade (ênfase no quão central é o

trabalho na vida dos indivíduos e minimização da relevância salarial); com

orientação para direito e contato (ênfase nas normas de direito e alta valorização da

dimensão contato social); com baixo direito (baixa percepção do trabalho como um

direito e uma percepção mediana deste como uma obrigação).

Consoante Tolfo e Piccinini (2007), MOW passou a conceituar o significado

do trabalho como um construto psicológico multidimensional e dinâmico, formado da

interação entre variáveis pessoais e ambientais e influenciado pelas mudanças no

indivíduo, ao seu redor ou no trabalho.

Na década de 1990, relevantes pesquisas deram a sua contribuição para o

progresso do conhecimento nessa área. Destacam-se, inicialmente, as pesquisas de

Soares (1992); Bastos, Pinho e Costa (1995) e Borges (1996, 1997, 1998, 1999),

entre outras (ASSUNÇÃO, 2010).

Em 1996, Borges fez um levantamento das características que eram

atribuídas ao trabalho, em um grupo laboral de operários da construção habitacional,

comerciários e costureiras. Encontrou, então, uma multiplicidade de atributos do

significado do trabalho: o trabalho como fonte de sobrevivência, realização/prazer e

exploração, em seguida o trabalho como uma obrigação, direitos, igualitário, árduo e

dignificante. Depois, surgem características como progresso, conforto, hominização,

relações interpessoais, reconhecimento, autonomia e aprendizagem, além de outros

atributos com menor destaque.

Em 1997, Borges desenvolveu o Inventário do Significado do Trabalho (IST),

com o objetivo de distinguir os atributos do significado do trabalho em valorativos e

descritivos, aplicando o inventário em amostra de trabalhadores da construção

habitacional e do comércio no Distrito Federal e em Natal.

As análises fatoriais dos referidos atributos geraram estruturas distintas. Entre

as respostas valorativas, identificaram-se quatro fatores: (1) Independência

Financeira e Prazer; (2) Justiça no Trabalho; (3) Esforço Físico; (4) Aprendizagem e

Dignidade Social. Para as respostas descritivas, encontraram-se três fatores: (1)

Expressão e Independência Financeira; (2) Respeito e (3) Execução e Função

Social.

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Os resultados, então, confirmaram a distinção dos atributos em duas facetas.

A partir do IST, Borges e Alves-Filho (2001) elaboraram o IMST (Inventário da

Motivação e do Significado do Trabalho).

Para Borges (1996), o significado do trabalho é definido como uma

compreensão subjetiva, à medida que é um processo de atribuição de significado, e

social, pois se refere ao processo no qual o indivíduo, a partir da sua socialização,

de forma criativa, apropria-se e recombina elementos das concepções do trabalho

das diversas formas de conhecimento do seu tempo histórico (BORGES; TAMAYO,

2001).

Quatro facetas do significado do trabalho são referenciadas por Borges

(1997), baseada nos estudos da equipe MOW (1987), de Martin-Baró (1990) e

outros citados dos Borges (1997) como Salmaso e Pombeni (1986) e England e

Misumi (1986): centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e

hierarquia dos atributos.

A faceta de objetivos e resultados valorados não foi incorporada por Borges

(1997) tal como apresentada no estudo da equipe MOW (1987). Neste último

estudo, objetivos e resultados valorados são duas facetas distintas. Em relação aos

resultados, a equipe MOW identificou seis funções para o trabalho: produção de

prestígio e status, produção de renda, ocupação do tempo, contatos interpessoais,

serviços societais e auto-expressão ou intrínseca.

Em relação aos objetivos, quatro fatores foram identificados: expressão,

econômico, conforto e oportunidades de aprendizagem e crescimento. Porém, há

divergência em torno desta faceta quanto a insuficiente diferenciação entre objetivos

e resultados valorados. Desta forma, Borges (1997) utiliza a nomenclatura atributos

e diferencia-os em duas facetas: descritivos e valorativos, incorporando também

nestas duas facetas as normas sociais diferenciadas no estudo da equipe MOW,

mas agora como tipos de atributos, tanto valorativos quanto descritivos.

Os atributos descritivos são a forma como o trabalho é concretamente para o

trabalhador, ou seja, a forma como ele percebe a sua realidade de (BORGES;

ALVES FILHO, 2003), e supõem o ato de julgar a própria realidade do trabalho como

mentalmente concebida ou abstraída por cada indivíduo (BORGES, 1999). Assim,

quando o indivíduo relata os desafios, a provisão do sustento e as relações

interpessoais do seu trabalho, está demonstrando as características descritivas de

seu trabalho (BORGES et al., 2008).

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Os atributos valorativos são os valores do trabalho, ou seja, como este deve

ser (BORGES, 1999) e estabelecem-se no que o indivíduo pensa que o trabalho

deveria ser. Partindo da concepção de valor formulada por Schwartz (1994), Borges

e Alves Filho (2003) descreveram os atributos valorativos como representantes do

modelo individual de trabalho, os quais trazem implícitas as noções do que é certo e

do que é errado para cada trabalhador. Nessa estrutura, foram identificados os

seguintes fatores primários: justiça no trabalho, auto-expressão e realização

pessoal, sobrevivência pessoal e familiar, desgaste e desumanização.

Em relação à estrutura dos atributos descritivos, foram identificados os

seguintes fatores primários: auto-expressão, desgaste e desumanização,

recompensa econômica, responsabilidade, condições de trabalho.

A última faceta do significado do trabalho citada por Borges (1997) é a

hierarquia dos atributos, a qual diz respeito à organização dos atributos descritivos e

valorativos por ordem de importância. A importância de fazer uma hierarquização

dos atributos está na ideia de que os indivíduos se diferenciam mais pela hierarquia

dos valores do que pelos valores em si, já que estes são em número limitado (ROS;

SCHWARTZ, 1995).

Considerando centralidade do trabalho, atributos valorativos e descritivos e a

hierarquia dos atributos como as facetas do significado do trabalho, Borges et al.

(2005), encontraram oito padrões de significado do trabalho em estudo com

profissionais de saúde, através da análise de clusters: apático, instrumentalidade

econômica-moral, centralidade valorativa, instrumentalidade econômica, auto-

expressivo responsável, valorativo-insatisfeito, instrumentalidade econômica-familiar

e expressiva e valorativo da austeridade moral.

A característica apática descreve que o trabalho é a esfera menos importante

na vida das pessoas que compõem este grupo. Apresentam os maiores escores nos

fatores valorativos Sobrevivência Pessoal e Familiar e nos fatores descritivos

Recompensas Econômicas. Além disso, ainda é o grupo que apresenta média mais

baixa no fator valorativo Justiça no Trabalho.

No grupo da instrumentalidade econômica-moral, os componentes tomam o

trabalho como a segunda esfera mais importante da vida. Nos fatores valorativos,

obtém o maior escore em Sobrevivência Pessoal e Familiar, tendendo a escores

elevados em todos os fatores valorativos e, nos descritivos, tendem a apresentar

maiores escores nos fatores Responsabilidade e Recompensa Econômica. A

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percepção das Condições de Trabalho dos participantes com esse padrão está entre

as mais positivas da amostra.

O padrão da centralidade valorativa é vivenciado por pessoas que tomam a

esfera trabalho como a mais importante de suas vidas. Entre os fatores valorativos,

os participantes tendem a apresentar escores mais elevados em Justiça no Trabalho

e em Sobrevivência Pessoal e Familiar. Tendem a apresentar escores elevados em

todos os fatores descritivos, com exceção de Desgaste e Desumanização.

Apresentam a média mais elevada no fator descritivo Condições de Trabalho

quando se compara com os demais padrões.

O grupo da instrumentalidade econômica toma a esfera trabalho como a

terceira mais importante. Entre os fatores valorativos, seus participantes apresentam

escores mais elevados em Sobrevivência Pessoal e Familiar. Entre os descritivos,

apresentam escores mais elevados em Recompensas Econômicas. Apresentam

escores baixos no fator valorativo Justiça no Trabalho, que parece acompanhar a

queda dos escores em Auto-expressão e Realização Pessoal.

Os participantes que vivenciam o padrão do grupo auto-expressivo

responsável tomam a esfera trabalho como a de menos importância. Nos fatores

valorativos, tendem a apresentar escores elevados em todos os fatores com

exceção de Desgaste e Desumanização, no qual apresentam um dos menores

escores. O escore mais elevado é o de Auto-expressão e Realização Pessoal. Nos

fatores descritivos, tendem a apresentar escores mais elevados em

Responsabilidade e Auto-expressão. São indivíduos que apresentam também os

maiores escores da amostra no fator valorativo Justiça no Trabalho. Neste padrão,

apesar de não encontrarmos a melhor avaliação das Condições de Trabalho, os

escores não estão entre os mais baixos da amostra.

Para o grupo valorativo-insatisfeito, a esfera trabalho é tida como a mais

importante para este grupo. Nos fatores valorativos, tendem a obter escores mais

elevados em Justiça no Trabalho e são os participantes que apresentam escores

mais baixos em Auto-Expressão e Realização Pessoal e em Sobrevivência Pessoal

e Familiar. Nos fatores descritivos, tendem a apresentar escores baixos em todos os

fatores, com exceção do fator Desgaste e Desumanização. São os participantes que

obtém menores escores no fator descritivo Recompensas Econômicas.

Os participantes do grupo da instrumentalidade econômica-familiar e

expressiva tomam a esfera trabalho como a segunda mais importante. Nos fatores

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valorativos, obtém escores mais elevados em Sobrevivência Pessoal e Familiar. São

os participantes que apresentam menores escores no fator Desgaste e

Desumanização. Nos fatores descritivos, apresentam escores mais elevados em

Auto-expressão e uma tendência a escores baixos em todos os demais fatores

descritivos.

Já o grupo valorativo da austeridade moral concebe a esfera trabalho como a

mais importante. Nos fatores valorativos, seus participantes apresentam escores

mais elevados em Sobrevivência Pessoal e Familiar e Desgaste e Desumanização.

É o grupo que mais valoriza o último fator citado. Nos fatores descritivos,

apresentam escores mais elevados em Responsabilidade, unindo a alta valorização

do trabalho às ideias de responsabilidade social.

O fato de que as hierarquias dos atributos valorativos e descritivos,

juntamente com o escore de centralidade do trabalho, são suficientes para

diferenciar cada padrão foram destacados por Borges et al. (2005). Esta observação

corrobora a conclusão da equipe MOW (1987) de que a centralidade do trabalho tem

um papel fundamental na compreensão do significado do trabalho.

Conforme Santos (2006), na pesquisa da equipe MOW, há diferenças entre

categorias profissionais e entre países, constatando-se o trabalho como uma

centralidade para a maioria das pessoas de todos os países, embora também tenha

sido atribuído um valor significativo à função econômica em todos os países. Essa

variabilidade de padrões de significados está relacionada a aspectos como:

características individuais, educação, cultura, características e qualidade das

experiências, ocupação e outros antecedentes, gerando um padrão complexo de

significado do trabalho.

2.1.3.2 A centralidade do trabalho

Os estudos sobre centralidade do trabalho não são unânimes entre os

autores. Alguns defendem que o trabalho continua ocupando uma posição central na

vida dos indivíduos, outros refletem sobre o impacto das mudanças no trabalho e no

emprego e outros, o fim da centralidade do trabalho (ALBERTON, 2008).

A centralidade do Trabalho é compreendida como o grau de importância do

trabalho para a vida de um indivíduo em um determinado momento. É formada por

um construto complexo, composto pela mensuração do valor atribuído ao trabalho

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na vida do sujeito e a identificação da medida em que o trabalho é central para a

auto-imagem (centralidade absoluta) e uma centralidade relativa, que é influenciada

pelos ciclos vitais do sujeito e mede a relação do trabalho com outros momentos

relevantes na vida deste (MOW, 1987).

Os autores England e Misumi pesquisaram a posição do trabalho na vida dos

indivíduos, em relação a outras esferas da vida, como: o lazer, a comunidade, a

religião e a família. Ao término da pesquisa, concluíram que: 1. O trabalho tem uma

relevância significativa na vida das pessoas pesquisadas nos dois países; 2. No

Japão, o trabalho ocupa a primeira posição na vida das pessoas, seguido da família;

já nos Estados Unidos, é o inverso, ficando a família em primeiro plano. Pesquisas

realizadas no Brasil demonstram semelhanças com a realidade americana

(BASTOS; PINHO; COSTA, 1995; BORGES, 1998; 1999; BORGES; TAMAYO,

2001).

De acordo com Ramos (1981), a propagação da política cognitiva, isto é,

política fundamentada na manipulação das pessoas, a partir da divulgação de

ideologias, normalmente através da mídia, nas sociedades capitalistas

mercadológicas, é a responsável pela elevação do trabalho ao principal fator de

realização destas. Essa realidade atual difere das sociedades pré-industriais, nas

quais a atividade remunerada apenas fazia parte da vida das pessoas e não era o

centro de existência.

Conforme estudos de Borges (1999) a respeito das concepções do trabalho,

além da concepção gerencialista predominante no Brasil, desde o surgimento do

capitalismo tradicional, há duas outras concepções: a centralidade expressiva e a

centralidade externa.

A centralidade expressiva enfatiza a riqueza de conteúdo do trabalho, o

avanço tecnológico, bem como a expressividade; resguarda a horizontalização das

estruturas organizacionais e a participação, além de conferir grande centralidade ao

trabalho. Já a centralidade externa, valoriza o prazer alcançado em atividades extra-

laborais, defendendo a instrumentalidade e a igualdade do trabalho, bem como a

jornada reduzida. Confere baixa centralidade ao trabalho (BORGES, 1999).

No mundo contemporâneo atual, a centralidade do trabalho vem sendo

questionada. Na obra de Offe (1989), o autor explana que o trabalho assumiu uma

posição estratégica na construção da sociedade burguesa, no período que vai do fim

do século XVIII ao término da primeira Grande Guerra Mundial; no entanto, na

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atualidade, isso não mais ocorre, pois, segundo ele, não existiria mais a

homogeneidade do trabalho.

Este autor argumenta que para que o trabalho exercesse um papel central na

vida do homem, este teria de proporcionar o nível de integração social como ponto

central de uma vida proba e moralmente boa e o nível de integração no sistema

como mera condição de sobrevivência. Quando um desses argumentos torna-se

inoperante, há a perda desta centralidade. Para Offe (1989), com a taylorização e a

diminuição do fator humano, a dimensão subjetiva do trabalho enfraquece e mesmo

com o incentivo de recompensas permitindo a sobrevivência, é um mecanismo

ineficaz porque não contribui para o bem-estar ou satisfação coletiva.

O fim da centralidade do trabalho em todas as nações industrializadas do

mundo vem sendo defendido por Rifkin (1995), que afirma que está sendo

construído um mundo sem trabalhadores, em virtude do incremento tecnológico que

tem excluído os trabalhadores do processo produtivo.

De acordo com Meda (1996), o trabalho para o homem é uma condição

primária e fundamental para fazer parte da sociedade, sendo central para construir a

sua identidade. É, assim, o eixo central das relações sociais como um todo, tendo

passado por três estágios até adquirir o significado que tem hoje. No século XVIII, é

um meio de aquisições materiais, como um mecanismo emancipatório do indivíduo;

no século XIX, passa a ser um agente transformador, civilizatório e humanizador do

mundo, bem como de desenvolver potenciais humanos, embora nesse período

ocorram discussões sobre as condições trabalhistas e sobre a pobreza no mundo.

No século XX, tornou-se a atividade fundamental na vida do ser humano.

Conforme concepção da autora supracitada, o desafio atual é reduzir o

espaço ocupado pelo trabalho, preenchendo-o com a atividade política, a qual pode

solidificar as conexões sociais entre os indivíduos. Isso evitaria o preenchimento

total do espaço e tempo social do indivíduo com a atividade laboral.

Já De Masi (1999) demonstra uma visão otimista, ao afirmar que já que as

máquinas irão substituir quase todo o trabalho físico, o tempo livre dos trabalhadores

poderia ser utilizado para o desenvolvimento de potencialidades, o qual denominou

de ócio criativo.

Um debate teórico sobre a centralidade do trabalho é proposto por Antunes

(1999), confrontando as ideias de Lukács e Habermas. Enquanto Lukács afirma que

o trabalho é central para o processo de humanização do homem, Habermas apregoa

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que a centralidade da esfera comunicacional ou da intersubjetividade substituiu a

centralidade do trabalho. Assim, para ele,

[...] o trabalho se apresenta como a chave analítica para a apreensão das posições teleológicas mais complexificadas, que se pautam não mais pela relação direta entre homem e natureza, mas sim por aquela que se estabelece entre os próprios seres sociais. O trabalho constitui-se numa categoria central e fundante, protoforma do ser social, porque possibilita a síntese entre teleologia e causalidade, que dá origem ao ser social (ANTUNES, 1999, p. 156).

Assim, a abordagem de Habermas é criticada por Antunes (1999), porque

para este, não é possível a dicotomia entre a esfera do trabalho e da interação, pois

estas são partes integrantes e constituem uma totalidade social, já Habermas

defende essa separação, transformando-a em uma lógica binária. Na análise do

referido autor, essa impossibilidade de divisão reforça a sua convicção sobre a

centralidade do trabalho.

Para Cattani (2000), mesmo quando o trabalho tem uma referência negativa,

as suas transformações são insuficientes para retirarem o seu caráter central,

mantendo-se como referência central na organização da sociedade atual e na

estrutura da identidade e sociabilidade dos indivíduos.

Além dos autores mencionados, dois grandes autores destacam-se na tese

do fim da centralidade do trabalho: André Gorz e Adam Schaff. Para Gorz, através

da obra intitulada Adeus ao Proletariado (1987), o trabalho é predominantemente

heterônomo e não pode representar o verdadeiro sentido da vida para os indivíduos,

nem sua principal identidade, extraindo-lhe o prazer de viver e de desenvolver suas

potencialidades, já que estes têm de dedicar grande parte do seu tempo como

assalariados do capital. Assim, defende que, mesmo com a explosão do

desemprego, a construção da sociedade do tempo livre equacionará a sua

problemática e estimulará a ascensão do trabalho autônomo (PRIEB, 2002).

O trabalho hoje é exercido em uma lógica de curto prazo e com novas formas

de exploração, enfraquecendo os laços entre o capital e o trabalho. Assim, “o capital

rompeu sua dependência em relação ao trabalho como uma nova liberdade de

movimentos, impensável no passado” (BAUMAN, 2001, p. 171).

A precarização dirigida pelo capital é reforçada pela falta de

comprometimento e pelas relações temporais e transitórias. As inovações

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tecnológicas contribuem para o desemprego e, portanto, para o desemprego

estrutural, cujo cenário é caracterizado pela flexibilidade (BAUMAN, 2001).

Outro questionamento acerca da centralidade do trabalho é feito por Harribey

(2001). Este discorre que é equivocada a discussão a respeito disso sob a

concepção antropológica e sob as formas que o trabalho assume ao longo da

história. Ainda que o homem fosse completamente excluído do processo produtivo,

em decorrência da automatização das atividades econômicas, ainda assim o

trabalho seria central para ele, pois a centralidade refere-se não à forma de vender a

força de trabalho, mas ao meio que o trabalho possibilita ao homem produzir coisas,

representar significados e manter suas relações sociais.

Assim, conforme Prieb (2002), a perda da centralidade do trabalho é um

imperativo na teoria de Gorz para que os indivíduos superem a heteronomia do

trabalho e construam uma nova sociedade, alicerçada no princípio do “tempo livre”.

Além de Gorz, Adam Shaff, filósofo polonês, através de sua teoria da

alienação, segundo a qual a sua superação só seria possível com a supressão da

divisão do trabalho, através do advento da automação, também apregoa o fim da

centralidade do trabalho, com a construção de uma sociedade mais justa, sem a

necessidade de um enfrentamento entre as classes sociais, e, por conseguinte, de

uma revolução socialista (PRIEB, 2002).

Conforme De la Garza (2006), a questão sobre o fim do trabalho relaciona-se

também ao conceito que atribuímos a ele. Sendo assim, é difícil conceber a ideia

que o fim do trabalho coopere para aumentar o tempo livre, fazendo com que a

sociedade labore menos e viva mais. Segundo ele, a realidade mostra que não

haverá trabalho para todos e, mesmo com o aumento do trabalho precário, não

haverá o fim deste, mas a sua manifestação em outras formas e modelos.

Após a análise de diversas correntes de pensamento, a posição da autora

desta pesquisa é em concordância com as afirmações que reforçam a centralidade

do trabalho, embora admita que a medida do quão central o trabalho é hoje para a

vida das pessoas tenha sofrido diversas mudanças na forma de concepção, diante

do contexto atual, extremamente dinâmico, instável e globalizado, em que a

tecnologia domina e em que os laços que prendem o trabalhador ao seu trabalho se

enfraquecem no decurso do tempo.

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2.2 APOSENTADORIA

Este capítulo aborda a temática da aposentadoria, com ênfase nos aspectos

históricos e conceituais da aposentadoria no Brasil, bem como nas considerações

sobre o significado deste processo para o indivíduo, uma vez que pode representar

desde um sentimento de perda, velhice ou morte, provocada pela ruptura com o

mundo do trabalho, até o início de uma nova fase, na qual sonhos e projetos podem

ser materializados.

Comumente, na cultura ocidental, tem-se a divisão da vida em três grandes

etapas: 1 – preparação para o trabalho; 2 – o trabalho propriamente dito e 3 – o pós-

trabalho, que se amolda na tão popularizada aposentadoria (SHIBATA, 2006).

De acordo com Shibata (2006), a aposentadoria possibilita ao trabalhador

vivenciar uma nova condição fora do espaço do trabalho:

A aposentadoria burocrática e formal configura-se como um espaço de preparação subjetiva para o afastamento futuro, com valor simbólico, pois mostra para o trabalhador a possibilidade real de um mundo fora do âmbito laboral. Essa preparação consiste em uma reorganização da vida familiar, novas relações afetivas, novos espaços de convívio e de relacionamento fora do mundo do trabalho, novas rotinas e até a diminuição gradativa da jornada laboral. Surgem os trabalhos alternativos, os hobbies, as experiências em artes e ofícios que implicam autonomia com relação à organização do trabalho. A aposentadoria ganha, concretamente, o significado de ausência do trabalho, conforme aumenta a idade cronológica e quando o fator doença apresenta-se associado (SHIBATA, 2006).

Consoante a referida autora, o processo de preparação para o pós-carreira,

objetiva provocar reflexões, bem como estimular a exploração de interesses e

atividades no contexto familiar que podem contribuir para um fortalecimento da

dinâmica de relacionamento.

2.2.1 Incursões históricas acerca da aposentadoria no Brasil

Inglaterra e França são considerados os países iniciadores da previdência

social, embora tenha sido na Alemanha, em 1883, onde se originou o sistema de

seguro social inspirado em Otto Von Bismarck com a contribuição dos trabalhadores,

empresa e Estado (SHIBATA, 2006).

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Segundo Teixeira (2008), a diminuição da mortalidade e o aumento da

longevidade denota o envelhecimento da população, que hoje já é um fenômeno

mundial. No caso do Brasil, conforme Camarano (2004), o aumento da população

maior de 60 anos foi de 4% em 1940 para 8,6% em 2000. A estimativa para 2020 é

de aproximadamente 30,9 milhões de pessoas.

No Brasil, as formas de montepio são as amostras mais antigas de

previdência social. Dessa fase simples de assistência são também as Santas Casas

e as Sociedades Beneficentes. Já no Império, no orçamento votado para o ano de

1889, foi autorizada pelo governo a criação de uma "caixa de socorro" para o

pessoal de cada uma das estradas de ferro estatais. Em 1919, implantou-se a Lei do

Acidente do Trabalho (PAIXÃO, 1993).

A evolução do sistema previdenciário no Brasil ocorreu com a promulgação,

em janeiro de 1923, da Lei Eloy Chaves que instituiu as Caixas de Aposentadorias e

Pensões (CAPs). Esta lei observava um sistema de proteções sociais para o

trabalhador, como assistência médica, aposentadoria-doença e pensões para

família, em caso de falecimento do segurado. Em 1933, foi criado o primeiro fundo

de aposentadoria por categoria profissional: o Instituto de Aposentadoria e Pensões

dos Marítimos (IAPM). Os funcionários públicos instituíram os Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAPs). Em 1966, houve a unificação dessas instituições

em um só instituto: o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Em 27 de

junho de 1990, foi criado o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), mediante

a fusão do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social

(IAPAS) com o INPS (TEIXEIRA, 2008).

Para Simões (1999), essa unificação significou a ruptura com a organização

de molde corporativista, proporcionando benefícios como privilégios a certos

segmentos, conforme o mecanismo da cidadania regulada, definida pelo sindicato

público, pela carteira profissional e pela regulamentação de profissões.

No Brasil, as aposentadorias sofreram várias reformas, especialmente no

serviço público, onde há um regime próprio de previdência, direcionado aos

servidores públicos civis e militares. Esse regime tinha como características: valor

dos benefícios não sujeito ao teto da Previdência Social, garantia de aposentadoria

integral e paridade de reajuste entre ativos e inativos, ou seja, os servidores

aposentados teriam seus proventos reajustados, conforme o estabelecido para os

servidores da ativa, dentro da mesma categoria (BRAGANÇA, 2004).

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De acordo com Oliveira (1990), a Reforma do Estado Brasileiro representou

um ajuste ao cenário global, alicerçada em diretrizes de caráter neoliberal,

caracterizado pela redução no financiamento de serviços e gastos públicos. Essa

Reforma foi materializada pela Emenda Constitucional número 20, a qual, segundo

Alves (2002) representou a desvinculação dos reajustes dos benefícios

previdenciários do salário mínimo, para o Regime Geral da Previdência e a

possibilidade da Previdência Complementar, para os servidores públicos. Foi abolido

o tempo de serviço e estipulado como critérios cumulativos o tempo de contribuição

e a idade mínima. Essa Emenda criou ainda o fator previdenciário, para os

trabalhadores da esfera privada, levando em consideração a expectativa de

sobrevida. Bragança (2004) ainda cita como alterações da Emenda: o fim da

paridade e o cálculo para a aposentadoria tendo como base a última remuneração,

sendo incorporadas aos vencimentos todas as vantagens pessoais ou de caráter

permanente do cargo exercido.

A base do processo de reforma previdenciária no Brasil foi pautada em

críticas aos sistemas previdenciários públicos tradicionais, principalmente no que se

refere às mudanças demográficas, desemprego estrutural ou tecnológico. Sendo

assim, prevaleceram as ideias de que o aumento da expectativa de vida acarreta

incremento no tempo médio de recebimento dos benefícios previdenciários e de que

a diminuição da taxa de fecundidade leva a diminuição do número de trabalhadores

em idade ativa. Isso provoca um desequilíbrio entre o número de aposentados e o

de ativos contribuintes, causando déficits previdenciários precários, exacerbados

também pelo desemprego tecnológico, o qual também reduz o número de

contribuintes (BONALDI, 2007).

O conceito de Seguridade Social foi introduzido pela Constituição Federal de

1988, a qual define esse termo como “um conjunto integrado de ações de iniciativas

dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à

saúde, à previdência e à assistência social” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, Art.

194).

A aposentadoria hoje é um direito constitucionalmente assegurado. No

serviço público federal, a aposentadoria pode ocorrer de três formas: por invalidez

permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se

decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,

contagiosa ou incurável, na forma da lei; compulsoriamente, aos setenta anos de

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idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição; voluntariamente,

desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço

público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observados

os seguintes critérios: a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se

homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; b)

sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher,

com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. Os requisitos de idade e de

tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, para o professor que

comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na

educação infantil e no ensino fundamental e médio (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,

1988).

A aposentadoria é uma cobertura social imprescindível à manutenção da

renda do indivíduo, quando este se torna inativo; no entanto, pode-se revelar como

uma situação desqualificadora. Nesse contexto, os trabalhadores podem vivenciar

uma prática de exclusão cultural e social, pois além de não serem mais integrantes

da população economicamente ativa, são vistos agora como velhos que precisam

ser subsistidos pela sociedade (BRAGANÇA, 2004).

2.2.2 O significado da aposentadoria

No passado, a aposentadoria representava o fim do trabalho remunerado,

associado à chegada da velhice, refletindo a não produtividade e a inatividade. Na

contemporaneidade, no entanto, tem-se observado o surgimento de uma nova etapa

no curso da vida, com a mudança da velhice para “terceira idade, com uma

diminuição de força na associação entre aposentadoria e velhice” (DEBERT, 2001).

Esse termo surgiu na França e revela a imagem de aposentados

considerados ativos. No entanto, conforme Debert (1999), é mais uma forma de criar

nichos de mercado e fazer movimentar a renda dos aposentados.

A origem da categoria ‘terceira idade’ é considerada, pela literatura

especializada, uma das maiores transformações por que passou a história da

velhice, segundo Silva (2008). Ocorreu uma mudança na sensibilidade investida

sobre a velhice que acabou gerando uma intensa inversão dos valores a ela

conferidos: antes compreendida como decadência física e invalidez, descanso e

tranquilidade, no qual prevaleciam a solidão e o isolamento afetivo, passa a

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significar o momento do lazer, propício à realização pessoal, à criação de novos

hábitos, hobbies e habilidades e ao cultivo de laços afetivos e amorosos alternativos

à família.

Conforme Carlos et al. (1998), o termo “aposentadoria” interliga-se a dois

conceitos: a de se retirar aos aposentos, abrigar-se ao espaço privado da ausência

de trabalho, o que contribui para a aparência depreciativa que abrange abandono e

inatividade; e a de jubilamento, ideia relacionada a prêmio, recompensa e regozijo.

Segundo Beauvoir (1990), a pior morte para um indivíduo é perder o que

forma o cerne de sua vida e que faz dele o que realmente é. Seja escolha própria ou

imposição do destino, aposentar-se é abandonar nossas ocupações que fazem de

nós o que somos; equivale a descer ao túmulo.

O afastamento do trabalho gerado pela aposentadoria suscita ambiguidade de

sentimentos: crise - pela recusa em aceitar a condição de aposentado, dada a

imagem estigmatizada da inatividade que tal condição atribui; e liberdade -

sentimento oriundo da busca pelo prazer em atividades de lazer e concretização de

planos anteriormente impossíveis de se realizarem pelo compromisso/obrigação de

trabalhar (SANTOS, 1990).

Segundo Magalhães et al. (2004), a passagem para a aposentadoria tem

etapas específicas: pré-aposentadoria, lua-de-mel, desencantamento, reorientação,

estabilidade e término. A pré-aposentadoria é a fase em que, inicialmente, é vista

como fase remota, na qual o indivíduo se orienta em relação a uma data específica

para a aposentadoria. A segunda fase é a da lua-de-mel que se inicia com a

aposentadoria propriamente dita, caracterizada pelo sentimento de euforia, em que o

indivíduo tenta realizar todas aquelas atividades que anteriormente não tinha tempo

ou disponibilidade, sendo interferida temporalmente por fatores como: a condição

financeira e os recursos internos de cada um. Em seguida, vem a fase do

desencantamento, que ocorre, após o estabelecimento de uma nova rotina, agora de

aposentado, a falência das fantasias representa o colapso de uma estrutura de

escolhas, o que pode acarretar sentimentos depressivos na medida em que o

indivíduo deve recomeçar a estruturar sua vida. Após esta fase, vem a de

reorientação, bastante variável de um indivíduo para o outro, envolve a exploração

de novas possibilidades de envolvimento em novos projetos que levem ao mínimo

de satisfação. Segue-se para a etapa de estabilidade, onde os indivíduos assumem

realmente o papel de aposentado e reconhecem suas capacidades e limitações. Por

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fim, vem a fase de término, quando o status de aposentado perde importância dentro

da realidade do sujeito.

Segundo Zanelli e Silva (1996), quando um indivíduo está prestes a se

aposentar, os sentimentos se misturam e, por vezes, se contradizem, pois a

probabilidade concreta de parar suas atividades laborais conflita-se com o medo do

tédio, da solidão, da instabilidade financeira e de doenças. Em virtude de se deparar

com esses aspectos nessa fase de transição, alguns podem enfrentar essa fase de

uma maneira saudável; porém, muitos, em decorrência de não saberem lidar com as

mudanças dessa nova etapa da vida, podem adoecer. Essa transição pode ser

facilitada, através de vivências grupais dentro do contexto organizacional, enquanto

a pessoa ainda está na ativa e executa as atividades de seu trabalho, já que o

rompimento brusco e repentino desse cotidiano parece potencializar o início dos

desajustes nas várias esferas da vida pessoal do pré-aposentado.

Na atual conjuntura, o ato de aposentar-se constitui um problema para muitos

trabalhadores. O poder aquisitivo diminui, pois os benefícios são, muitas vezes,

inferiores às remunerações recebidas na ativa. Dessa forma, a aposentadoria

representa uma ruptura das atividades laborais do indivíduo, uma descontinuidade,

uma situação que pode causar empobrecimento, desqualificação e gerar angústia e

depressão (MORI, 2006).

A situação de desligamento do trabalho ocasiona mudanças dos aspectos

psicossociais do aposentado, tais como: uma maior convivência no âmbito familiar, a

perda do papel social de trabalhador, afastamento dos colegas de trabalho,

diminuição do poder aquisitivo, além da existência de vários outros agentes

estressores, o que faz com que o aposentado se sinta inútil, podendo afetar sua

identidade, autoestima e sentido de vida (LEITE, 1993).

Em uma expectativa positiva, a maior disponibilidade de tempo físico e

psíquico na aposentadoria possibilita desfrute de lazer ou a realização de atividades

que durante longo tempo foram adiadas ou estiveram adormecidas (VERAS;

RAMOS; KALACHE, 1987).

No cotidiano do trabalho, observa-se que o sonho dos assalariados é livrar-se

da servidão ao trabalho para se tornar senhores de suas vidas, ou melhor, do seu

tempo livre. No entanto, ao alcançar esse sonho, acabam por perdê-lo, revelando-se

muitas vezes uma dependência tão ou mais insuportável do que a anterior,

constituída pelo relógio de ponto e pelas repetitivas tarefas cotidianas. Isso ocorre

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porque, apesar da nossa cultura impor que o trabalho é que dá sentido à vida, essa

dimensão é insuficiente para tal propósito. Por isso, almejam-se tanto os feriados, os

fins de semana, as férias e a aposentadoria, embora não se saiba o que fazer com o

tempo livre (LINARI, 2004).

De acordo com Shibata (2006), o trabalhador oriundo de uma cultura inserida

em um contexto socioeconômico que sempre valorizou o trabalho, não é

desenvolvida para usufruir o tempo livre, pois pertence a um emprego, cuja atividade

regular é estruturada em um tempo e conecta sujeitos a propósitos transcendentes

aos individuais. Todavia, para Rodrigues (2000), a aposentadoria pode ser um

tempo de maior liberdade e de desengajamento profissional, constituindo

oportunidades e diversas possibilidades de realização.

Para Lima (2006), a aposentadoria é um evento que pode originar impactos

positivos ou negativos. Ao passo que pode ser um momento bom, de construir

projetos novos, com mais tempo livre, pode também representar um momento de

perda da atividade laboral, da identidade profissional ou mesmo de afastamento dos

colegas de trabalho.

Consoante Folha e Novo (2011), as pessoas podem sentir medo de não ter

tempo para realizar o que desejam ou podem ter ansiedade de recuperar ou ganhar

o tempo perdido. Isso ratifica a ideia de que com o desligamento do trabalho e sem

uma preparação para administrar o tempo livre, a aposentadoria pode trazer medo

por não ser algo já pronto e sim que necessita de elaboração, de planejamento de

novas atividades que ocupem o espaço que era utilizado pela atividade profissional.

A ideia de relacionar a aposentadoria com a inatividade é contraposta por

Peixoto (2012, on line) ao afirmar que, embora muitas vezes os aposentados sejam

sinônimo de ócio, são na verdade pessoas ativas, os quais ajudam financeiramente

os filhos nas dificuldades econômicas e continuam trabalhando, quer seja sendo

reinseridos no mercado de trabalho, quer seja até nem saindo, por participarem

ativamente da renda familiar (CAMARANO, 2007).

Em relação à aposentadoria, Dal Rio (2001) salienta que o voluntariado é uma

forma de reorganização da vida pós-trabalho, pois os idosos utilizam suas

experiências profissionais e pessoais, canalizando suas potencialidades e, ao

realizar uma atividade pública, resistem à imposição da sociedade em afastá-los,

buscando formas de vivência e inserção. O voluntariado poderá ser uma maneira

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que o idoso encontra para ser produtivo, contestando a ideia que relaciona a

aposentadoria à morte social, inutilidade, velhice e doença.

Segundo Shmotkin et al., (2003) o trabalho voluntário não pode ser explicado

como um substituto da perda do trabalho ou de outras atividades, pois a motivação

para realizá-lo envolve uma multiplicidade de fatores, como: o altruísmo, a

responsabilidade social, o humanitarismo e os valores morais, além do desejo de

aumentar a longevidade e melhorar a qualidade de vida, e não somente, a

necessidade de manter-se ativo.

Os efeitos negativos mais imediatos da aposentadoria, consoante França

(1999), são a diminuição da renda familiar, em decorrência das perdas salariais, a

ansiedade diante do desconhecido e o aumento no número de consultas médicas.

As dimensões de bem-estar pessoal e social e dos fatores de risco e

sobrevivência são correlacionadas por Kim e Moen (2002), os quais apontam que os

recursos econômicos, pessoais e sociais convergem ao bem-estar psicológico do

aposentado. Em contrapartida, estudos anteriores assinalam que as rendas

inadequadas e os problemas financeiros são preditores de insatisfação na

aposentadoria.

Para Zanelli, Silva e Soares (2010), em decorrência da diminuição do

rendimento mensal advindo com a aposentadoria, a questão financeira tem grande

relevância neste momento, pois muitas vezes a pessoa retarda essa decisão por

receio e pela dificuldade de lidar com o dinheiro.

França e Carneiro (2009) reforçam a importância da educação financeira no

planejamento da aposentadoria e afirmam que deve ser prioridade a atenção das

organizações, do governo e dos próprios trabalhadores quanto à poupança

necessária nessa fase, de forma a lhes garantir um futuro digno.

Segundo Deps (1994), em estudos realizados por Beveridge (1980) e Parker

(1982), foi constatado que há mais perdas na aposentadoria com a falta do convívio

com os companheiros do trabalho, do que oriundas do aspecto financeiro. Embora

que, consoante pesquisas realizadas, em se tratando de insatisfação com a

aposentadoria, esta é maior em aposentados com baixo rendimento financeiro.

De acordo com França (2009), as instituições devem promover encontros e

seminários sobre a importância do planejamento financeiro para o futuro, para

propiciarem aos participantes reflexões sobre o estilo de vida almejado e em que e

como vão gastar os recursos disponíveis.

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Ainda vincula-se bastante a aposentadoria com a velhice, relacionando-a à

invalidez ou à incapacidade para o trabalho. De acordo com Santos (1990), isso

pode acarretar um comportamento de afastamento, isolamento ou um sentimento de

inutilidade e de desvalorização, já que eles não são mais úteis à sociedade

produtiva, nem têm o mesmo valor no grupo social.

León (2000) assegura que o comprometimento do aspecto pessoal, da saúde

e do desempenho na realização de algumas tarefas podem reforçar alguns

preconceitos em relação aos aposentados, podendo assim a aposentadoria ser vista

como um demarcador temporal do envelhecimento.

A aposentadoria, segundo Silvestre et al. (1996), pode significar uma queda

na qualidade de vida do indivíduo, pois com a valorização do papel profissional, há a

formação de um sentimento de pertencimento do indivíduo àquela função. Com a

aposentadoria, a pessoa pode vivenciar uma crise identitária, decorrente da perda

do papel profissional. A perda da função profissional legitima a cultura capitalista, ao

condenar aqueles que não desempenham uma função produtiva para o sistema.

Para França (2008), os gestores de Recursos Humanos precisam adotar

medidas direcionadas ao envelhecimento saudável dos trabalhadores. Por isso, um

dos grandes desafios é preparar seus trabalhadores para a aposentadoria, criando

condições para a transferência do conhecimento e a continuidade das atividades

(MARINHO et al., 2007).

Para Kim e Feldman (2000), na pré-aposentadoria, pode se estabelecer uma

condição em que haja modificações nas condições de trabalho oferecidas ao

trabalhador, como: jornadas reduzidas, menos estresse ou responsabilidade, maior

flexibilidade e menos demanda física.

De acordo com Guedes (2010), os Programas de Preparação para a

Aposentadoria objetivam o planejamento pessoal e profissional de vida e carreira do

servidor pré-aposentado, preparando-o para a aposentadoria. Dessa forma,

reforçam os aspectos positivos e oportunizam a reflexão sobre os aspectos

negativos da transição, além de ser um momento para reconstruir o projeto de vida,

priorizando interesses e atitudes que precisam ser tomadas para a realização dos

projetos pessoais e familiares.

Viver a aposentadoria, consoante Neri apud Simões (1999), exige um

investimento emocional elevado. Os indivíduos preocupam-se apenas com os

efeitos do processo e não se preparam para essa fase. Vislumbram-na apenas em

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termos de tempo livre, sem se darem conta que isso pode significar também tédio e

desmotivação.

Assim, analisar o processo é importante porque

o modo pelo qual o sujeito viverá sua aposentadoria será então influenciado por sua história de vida, suas relações com a sociedade, sobretudo com o papel profissional e seu modo de enfrentar as perdas e de se adaptar às novas situações (SANTOS, 1990, p.13).

De acordo com Tavares (2003), a aposentadoria pode ser um período

impactante nos domínios social, psicológico e biológico do indivíduo. Implica ganhos

e perdas, mas a maioria dos sujeitos a concebe como um momento difícil, repleto de

mitos e crenças negativas, fruto da cultura do sistema capitalista.

Consoante Bruns e Abreu (1997), o envelhecer pode relacionar-se ao

descarte do ser humano, condição na qual este possui uma duração programada e

que, após um período de uso, vai para o lixo. Destarte, parece que a sociedade

capitalista institui um tempo útil de vida para as pessoas e que a aposentadoria é o

dispositivo legal que o sistema designou para estabelecer esse limite do corpo físico

que sofre as consequências de não ser reconhecido como produtor de mais valia.

É discutido por Carlos et al. (1999) que a associação da aposentadoria à

velhice pode ser explicada pelo critério proposto pela ONU, em 1982, quando tomou

o fator idade como critério-base para o benefício da aposentadoria.

Para Rodrigues (2000), a aposentadoria representa uma contradição.

Se, de um lado, alguns a vivem como um tempo de “liberdade”, de “desengajamento profissional”, de “possibilidade de realizações”, de “fazer aquilo que não teve tempo de fazer” durante a vida ativa, de “aproveitar a vida”, de “não ter mais patrão, horários obrigatórios”, etc., de outro, outros a consideram como “tempo de nostalgia”, de enfado, etc. (RODRIGUES, 2000, p. 28).

Em épocas passadas, a aposentadoria significava o início do processo do

envelhecimento. Atualmente, com o aumento da expectativa de vida e os avanços

da ciência e da medicina, tornou-se um fator de apreensão, pela incerteza de

manutenção do padrão de vida compatível com a vida laboral ativa. Por isso, não se

desvincular do mercado de trabalho ou retornar a este, pode preservar o poder

aquisitivo, bem como ocupar o espaço ocupado pela aposentadoria (PEIXOTO,

2012, on line).

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Segundo Motta (2009), sobre as novas condições sociais que propiciaram a

longevidade e uma velhice mais saudável e socialmente participativa, tanto com

inserções, quanto com oportunidades de permanência no mercado de trabalho:

As novas condições sociais têm reforçado a manutenção da identidade de trabalhador, principalmente dos homens, e a possibilidade de continuação das trocas de auxílios entre as gerações, significando também a existência de uma nova periodização de vida, em que já não coincidem aposentadoria e entrada na velhice. Em que se pode ter uma idade que corresponda à da antiga “de pijama e chinelos”, sem rituais de passagem para os aposentos — para a casa como local de recolhimento do idoso cansado. A idade passando a significar apenas um marco da passagem do tempo de vida, na qual se pode, alternativamente, descansar, isto é, mergulhar na inatividade, mas também continuar no batente ou ainda aproveitar um longo lazer, perdendo-se nas “grandes férias da vida”, na conhecida expressão de Remi Lenoir (1979). Ou, talvez, e mais sabiamente, em um mix de tudo isto.

A maneira de vivenciar a aposentadoria não é homogênea, é particular de

cada indivíduo. O indivíduo pode viver essa experiência, desde uma forma de

castigo, por não fazer parte do ambiente de trabalho e ter de se limitar ao âmbito

doméstico, até como uma etapa prazerosa, na qual vai desempenhar novos papeis e

dedicar-se a atividades, antes impossibilitadas pela jornada de trabalho

(FIGUEIREDO, 2005).

Ainda a respeito das maneiras de vivenciar a aposentadoria, Peixoto (1998)

explana que se o trabalho for central para uma pessoa, isso pode representar a

deterioração, no entanto, pode ser um período dedicado à materialização de velhos

sonhos e novos projetos de vida. Para França (2008), os trabalhadores que têm uma

visão muito positiva do trabalho tendem a postergar a aposentadoria.

Cude e Jablin (1992) apontaram o quão ambígua é a aposentadoria, quando

se trata da relação entre o compromisso organizacional dos empregadores e

empregados e a aposentadoria. Se, por um lado, estar conectado a uma forte cultura

organizacional e apresentar altos níveis de compromisso organizacional

melhorariam a produtividade e a moral dos trabalhadores durante sua trajetória

laboral, por outro lado, estes mesmos esforços dificultariam quando tivessem de

deixar a empresa, na época da aposentadoria.

Consoante França (2008), existem trabalhos desgastantes, mas que trazem

compensações (educar uma criança), reflexo das nossas escolhas, e lidam com o

nosso poder criativo (a pintura de uma casa) ou com algo que traz uma contribuição

significativa para a sociedade. Demo (2006) ressalta que o não-trabalho também é

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uma forma de trabalho, pois o corpo trabalha para se manter e para produzir novas

energias, acumulando reservas criativas para utilizar em um próximo trabalho. Para

acumular estas reservas, o ócio, o prazer e o lazer devem ser exercitados.

Ulrich e Brott (2005) apontam que uma vida mais ativa será determinante na

decisão do indivíduo em permanecer trabalhando. Reforçam ainda que a maior

flexibilidade e o maior controle do trabalho estão correlacionados ao desejo de

permanecer ativo, seja adiando a aposentadoria, seja em outro formato de atividade

profissional no pós-aposentadoria.

Para Kunzler (2009), quando se compara a vivência da aposentadoria entre

homens e mulheres, observa-se que estas tendem a enfrentar sem grandes traumas

e/ou sofrimento esta fase, não a associando a um problema existencial, mas, à

possibilidade de reorganização da vida e definição de novos objetivos. Isso se dá,

pelo fato de estas serem desafiadas a conciliar a carreira profissional e as

prioridades familiares. Quando se aposentam, são inseridas com maior facilidade

nas atividades comunitárias, voluntárias, de lazer e ocupação do tempo livre, o que

possibilita o resgate, o fortalecimento e a renovação dos seus contatos e círculos

sociais.

Consoante Lehr (1977) e Salgado (1999), no decorrer do processo de

adaptação à aposentadoria, deve-se incluir a reestruturação da relação conjugal e

familiar. Se antes o indivíduo não tinha tanto tempo de convívio com a família, na

condição de aposentado, esse contato maior pode ocasionar conflitos ou

desentendimentos, o que requer organização de seu tempo e atividades.

Para Leite (1993), a melhor maneira de tornar tranqüila a transição para

aposentadoria é o afastamento gradual, pois este processo cria condições para uma

adaptação mental e psicológica da pessoa à nova perspectiva, formando novos

hábitos, acostumando-se à nova fase, ao mesmo tempo em que a família assimila a

presença do idoso aposentado em casa em dias e horários não habituais.

O indivíduo, ao aposentar-se, ausenta-se das lógicas por ele criadas na

condição de trabalhador. Dessa forma, um sujeito que se relaciona com o seu

trabalho apenas como um meio de subsistência pode vislumbrar na aposentadoria

uma forma de descanso ou de se dedicar a outras atividades prazerosas. Por outro

lado, uma pessoa que utiliza seu trabalho como instrumento para desenvolver suas

potencialidades, possivelmente não vai ter interesse na aposentadoria ou vai ser

mais resistente ao processo. Assim, essas possibilidades não são taxativas, são

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apenas algumas formas de vivenciar o referido processo, já que este se caracteriza

de forma bastante heterogênea (BOTH, 2004).

Segundo Veras, Ramos e Kalache (1987), quando o trabalho é central na vida

dos indivíduos, a aposentadoria evita o excesso de trabalho e a mortalidade e pode

oportunizar o desenvolvimento de novas atividades e a realização de velhos sonhos;

na condição oposta, conduz à diminuição da auto-estima e de status social e o

encerramento da participação social promovida pela aposentadoria conduz ao

isolamento, insatisfação pessoal, diminuição da felicidade e até o surgimento de

doenças e incapacidades físicas.

De acordo com França (1999), alguns indivíduos não querem se aposentar

porque gostam da sua atividade profissional e das relações sociais constituídas no

trabalho; outros planejam, mas preferem engajar-se em outra ocupação profissional.

Outros até querem aposentar-se, mas não sabem como organizar sua vida no pós-

carreira. Se para uns, significa descanso, liberação de atividades rotineiras e

desgastantes; para outros, significa uma sensação de vazio. Por isso, para

compreender a representação da aposentadoria para a vida de um indivíduo, faz-se

necessário compreender o significado do trabalho.

Consoante Deps (1994), as transformações ao longo da vida ocorrem através

de um processo de equilíbrio entre ganhos e perdas, limitados pela condição

individual de cada indivíduo. Ao lado de ganhos na infância, o indivíduo também tem

perdas ao longo do desenvolvimento e na velhice, ao lado de perdas, também se

vivencia ganhos. Sendo assim, embora haja mais ganhos na infância e mais perdas

na velhice, a relação ganhos-perdas ocorre simultaneamente em todos os níveis.

Não é possível admitir-se que as perdas permanentes e biológicas da velhice sejam

totalmente restritivas à qualidade de vida das pessoas.

Ainda conforme Deps (1994), as perdas com a aposentadoria decorrem

basicamente da perda afetiva, decorrente do afastamento dos relacionamentos

estabelecidos no local de trabalho; risco de estagnação intelectual e/ou profissional;

perda de status, de papel e/ou de identidade profissional.

Consoante França e Vaughan (2008), em se tratando de ganhos e perdas

com a aposentadoria, um dos ganhos mais recorrentes com esse processo foi, de

acordo com pesquisas realizadas por Antonovsky, Sagy, Adler e Visel (1990), a

liberdade do trabalho, representando não ter que ou não ser mais obrigado a e a

liberdade para se dedicar a outras atividades.

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Os autores Duarte e Silva (2009) afirmam que a expectativa da “liberdade

tardia”, descrita por Lehr (1977), seria como a vivência de sentimentos positivos com

relação à aposentadoria, em que o indivíduo aspira aproveitar as experiências que

não puderam alcançar devido ao envolvimento com o trabalho e à dura rotina

instituída.

Conforme os estudos acima apresentados, verifica-se que a aposentadoria é

um processo complexo, particular e heterogêneo. Pode ser um evento impactante,

relacionado à velhice ou à inatividade, reduzir a qualidade de vida do indivíduo,

provocar uma crise identitária, mas pode representar uma nova etapa em sua vida, o

que será influenciado fortemente pela sua história, por suas relações societais, bem

como pelo grau de centralidade do trabalho em sua vida (SANTOS, 1990; PEIXOTO,

1998; DEBERT, 1999, 2001; FIGUEIREDO, 2005; FRANÇA, 1999).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo demonstra os procedimentos metodológicos utilizados na

realização da pesquisa, os quais propiciaram a coleta de dados pela pesquisadora e

posterior análise e discussão dos resultados encontrados. Sendo assim, são

abordados neste tópico: o tipo de pesquisa, a caracterização dos participantes da

pesquisa, o plano de coleta de dados, o instrumento de coleta de dados, as variáveis

analíticas de estudo, o método de tratamento dos dados, bem como a

caracterização do campo de pesquisa, os quais objetivam o esclarecimento da

questão-problema deste estudo.

3.1 TIPO DE PESQUISA

A tipologia da presente pesquisa é de natureza qualitativa, a qual, segundo

Vieira (2006), possibilita a descrição detalhada dos fenômenos e dos elementos,

utilizando-se de depoimentos dos atores sociais, discursos, significados e contextos.

A pesquisa qualitativa possibilita imprimir significados aos fenômenos

humanos com o apoio de exercícios de interpretação e compreensão, pautada na

observação participante e na descrição densa (LIMA, 2004).

O estudo realizado, com relação aos objetivos, foi de caráter descritivo. Para

Gil (1999), as pesquisas deste tipo objetivam a descrição das características de

determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre

variáveis. Além disso, também teve um caráter exploratório, pois, de acordo com

este autor, esse tipo de estudo viabiliza ao pesquisador uma maior compreensão

acerca do problema, esclarecendo-o melhor.

Em relação aos procedimentos, foi feito um estudo de caso, o qual, segundo

Gil (1999), é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos

objetos, permitindo o seu conhecimento amplo e detalhado e pode ser usado tanto

em estudos exploratórios, quanto em pesquisas descritivas e explicativas.

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3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Os participantes da pesquisa foram vinte docentes do IFRN, os quais se

dividiram em dois grupos: 1) docentes ativos, lotados no Câmpus Natal-Central, em

processo de transição para aposentadoria, utilizando-se como critério de seleção o

recebimento do benefício do abono de permanência; 2) docentes aposentados da

instituição, com tempos de aposentadoria variados. Os participantes foram

escolhidos por acessibilidade e conveniência.

A Tabela 2 mostra o quantitativo de docentes ativos do Câmpus Natal-Central

que estão no processo de transição para a aposentadoria e recebem o abono de

permanência, caracterizados por gênero e faixa etária.

Tabela 2 – Caracterização dos docentes ativos que recebem abono de permanência

GÊNERO

Sexo feminino 7

Sexo masculino 24

FAIXA ETÁRIA

Até 55 anos 7

56 anos ou mais 24

TOTAL 31

Fonte: Elaborada pela pesquisadora. Dados extraídos do sistema SIAPE (2013).

Conforme a tabela acima, verifica-se que há uma predominância de docentes

do sexo masculino e com faixa etária acima de 56 anos recebendo o referido

benefício. A Tabela 3 abaixo caracteriza os docentes aposentados da instituição.

Tabela 3 – Caracterização dos docentes aposentados

GÊNERO

Sexo feminino 89

Sexo masculino 102

FAIXA ETÁRIA

Até 55 anos 9

56 anos ou mais 182

TIPO DE APOSENTADORIA

Docentes aposentados por invalidez 10

Docentes aposentados compulsoriamente 2

Docentes aposentados voluntariamente 179

TEMPO DE APOSENTADORIA

Docentes com até 1 ano de aposentadoria 12

Docentes com mais de 1 ano de aposentadoria 179

TOTAL DE DOCENTES APOSENTADOS 191

Fonte: Elaborada pela pesquisadora. Dados extraídos da COAPEQ/RE (2013).

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Conforme a tabela anterior, verifica-se que há uma predominância de

docentes aposentados do sexo masculino, na faixa etária de 56 anos ou mais,

aposentados de forma voluntária e com tempo de aposentadoria superior a um ano.

A divisão em dois grupos justificou-se pela questão problema, na qual se

pretende compreender o significado do trabalho e da aposentadoria, na percepção

de docentes de uma instituição federal de ensino.

Sendo assim, foi escolhido como critério para os docentes ativos, em

processo de transição para a aposentadoria, o recebimento do benefício do abono

de permanência, para caracterizar a condição de transição, uma vez que se espera

compreender o significado do trabalho e da aposentadoria para este grupo que já

preencheu os requisitos para a aposentadoria voluntária e, no entanto, continua na

ativa.

Foram entrevistados dez docentes ativos em processo de transição para

aposentadoria, de um total de trinta e um classificados segundo o critério de

recebimento do abono de permanência. Em relação aos docentes aposentados,

foram realizadas dez entrevistas, de um total de cento e noventa e um, nesta

condição funcional, apresentando tempos variados de aposentadoria.

3.2.1 Grupo I – Docentes ativos em transição para aposentadoria

Do grupo de dez professores ativos entrevistados, quatro são do sexo

feminino e seis do sexo masculino, com faixa etária compreendida entre 51 a 60

anos. Em relação ao estado civil, sete entrevistados são casados, um divorciado,

uma viúva e uma solteira.

Todos os entrevistados desse grupo fizeram pós-graduação: quatro possuem

especialização; três, mestrado e três, doutorado.

Em relação ao tempo de trabalho na instituição, um professor leciona há trinta

e cinco anos; três professores, há trinta e três anos; um, há vinte e nove anos; um,

há vinte e seis anos, dois há dezenove anos e duas professoras estão há 9 anos,

porque vieram redistribuídas de outros órgãos.

Todos os entrevistados desse grupo já completaram os requisitos para a

aposentadoria voluntária e optaram por permanecer em atividade, recebendo o

benefício do abono de permanência.

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A seguir, o Quadro 3 demonstra a caracterização desse grupo de estudo,

cujos participantes foram denominados pela pesquisadora de DAT(docente ativo em

transição) e numerados de 1 a 10 em algarismos indo-arábicos.

Quadro 3 - Caracterização do grupo de docentes ativos em transição para a aposentadoria

Entrevistado Sexo Idade Estado

Civil Titulação

Faixa Salarial (nº de salários-

mínimos)*

Tempo de trabalho na instituição (em anos)

DAT1 M 56 casado Doutorado 12,7 26

DAT2 M 54 casado Especialização 7,32 35

DAT3 M 58 casado Especialização 8,62 19

DAT4 M 60 casado Doutorado 17,05 33

DAT5 F 56 solteira Especialização 10,47 9

DAT6 M 56 divorciado Especialização 9,37 33

DAT7 F 51 casado Mestrado 11,86 33

DAT8 M 55 casado Mestrado 7,99 29

DAT9 F 51 casado Doutorado 13,66 19

DAT10 F 57 viúva Mestrado 13,91 9

Fonte: Elaborado pela pesquisadora, a partir de dados coletados (2013). *Considerou-se o valor do salário mínimo vigente a partir de 01/01/2013 – R$ 678,00.

Conforme o quadro acima, verifica-se que o grupo pesquisado apresenta uma

distribuição uniforme quanto ao gênero e com faixas etárias de 51 a 60 anos. A

maioria tem estado civil casado e todos apresentam a titulação de pós-graduação. A

média salarial do grupo é de 11 salários-mínimos e exibem tempos variados de

atividade laboral na instituição.

3.2.2 Grupo II – Docentes aposentados

Nas entrevistas com o grupo de dez professores aposentados, cinco são do

sexo feminino e cinco do sexo masculino, com faixa etária compreendida entre 56 a

77 anos. Em relação ao estado civil, cinco entrevistados são casados, duas

divorciadas, uma viúva e duas solteiras.

Todos os entrevistados desse grupo fizeram pós-graduação: cinco possuem

especialização; quatro, mestrado e um, doutorado.

Em relação ao tempo de aposentadoria, há três professores com vinte e dois

anos de aposentados; dois professores com dezessete anos; um, com dezesseis

anos; um, com sete anos, um com dois anos e dois com um ano de aposentadoria.

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A seguir, o Quadro 4 demonstra a caracterização desse grupo de estudo,

cujos participantes foram denominados pela pesquisadora de DAp (docente

aposentado) e numerados de 1 a 10 em algarismos indo-arábicos.

Quadro 4 – Caracterização do grupo de docentes aposentados

Entrevistado Sexo Idade Estado

Civil Titulação

Faixa Salarial (nº de

salários mínimos)*

Tempo de aposentadoria

DAp1 F 61 Divorciado

Especialização 7,44 7

DAp2 M 77 Casado Especialização 8,62 22

DAp3 M 60 Casado Especialização 5,63 2

DAp4 F 61 Divorciado

Mestrado 10,47 17

DAp5 F 70 Viúva Mestrado 10,02 16

DAp6 F 65 Solteira Mestrado 7,42 17

DAp7 M 73 Casado Especialização 9,3 22

DAp8 F 69 Solteiro Especialização 6,62 22

DAp9 M 56 Casado Doutorado 12,29 1

DAp10 M 60 casado Mestrado 10,47 1

Fonte: Elaborado pela pesquisadora, a partir de dados coletados (2013). *Considerou-se o valor do salário mínimo vigente a partir de 01/01/2013 – R$ 678,00.

De acordo com o quadro acima, constata-se que o grupo pesquisado

apresenta uma distribuição uniforme quanto ao gênero, com faixas etárias de 56 a

77 anos e estados civis variados. Todos apresentam a titulação de pós-graduação,

sendo a média salarial do grupo de 8,8 salários-mínimos, com tempos variados na

situação funcional de aposentados.

3.3 COLETA DE DADOS

A pesquisa foi realizada no IFRN, câmpus Natal Central, utilizando-se como

instrumento de coleta de dados a entrevista Semiestruturada, definida por Flick

(2004) como uma forma dos entrevistados expressarem melhor sua opinião através

de entrevistas com questões abertas do que responder um questionário ou a uma

entrevista padronizada.

Foi escolhida a classe funcional dos docentes de forma intencional, uma vez

que estes têm a prerrogativa de se aposentarem com cinco anos a menos do que os

técnico-administrativos, tanto no critério idade, quanto no de tempo de contribuição,

além de representar a categoria profissional central em uma instituição de ensino.

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Foi feito inicialmente um contato através de e-mail, por telefone ou

pessoalmente, durante o atendimento no setor de Cadastro e Benefícios do IFRN,

Câmpus Natal-Central, com os participantes da pesquisa, a fim de demonstrar o

objetivo e a importância da pesquisa para a instituição, bem como solicitar a

colaboração destes. Ao concordarem, foram agendados dia, horário e local para as

entrevistas, as quais, em sua maioria, foram realizadas no referido Câmpus, a

pedido dos próprios servidores e conduzida pessoalmente pela pesquisadora deste

estudo. Apenas uma entrevista foi realizada na residência de uma aposentada, por

conveniência desta. O período de realização da coleta de dados ocorreu entre

março e junho de 2013.

Antes de a entrevista começar, a pesquisadora explicava os objetivos da

pesquisa ao entrevistado e sua importância para a instituição, bem como solicitava a

leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido da pesquisa

(Apêndice B).

As entrevistas foram gravadas, sendo garantido aos participantes o sigilo de

suas identificações e solicitado a estes o uso do gravador. A transcrição das

entrevistas foi feita na íntegra e, logo após definidas as unidades analíticas, foi

realizada uma pré-análise com definição das categorias de análise, utilizando-se

critérios de categorização semânticos e, por fim, a técnica de análise de conteúdo.

As entrevistas com os referidos participantes da pesquisa foram sendo

realizadas em número suficiente para permitir a reincidência de informações.

Segundo Minayo (2001), alguns pesquisadores afirmam que o melhor momento de

definir o número suficiente dos sujeitos sociais é pesquisando. Isto é, o pesquisador

saberá quando suas entrevistas ainda estão acrescentando informações a seu

estudo.

Dessa forma, as entrevistas foram sendo realizadas até atingirem um

determinado ponto de saturação, pois conforme Pires (2008) e Glaser e Strauss

(1967), interrompe-se a coleta de dados quando se constata que elementos novos

para subsidiar a teorização almejada ou (possível naquelas circunstâncias) não são

mais depreendidos, a partir do campo de observação.

Para Minayo (2001), na pesquisa qualitativa, o pesquisador deve ser capaz de

identificar e analisar profundamente dados não-mensuráveis, como sentimentos,

sensações, percepções, pensamentos, intenções, comportamentos passados,

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entendimento de razões, significados e motivações de um determinado grupo de

indivíduos em relação a um problema específico.

Por isso, quanto à escolha do número de entrevistados, a referida autora

afirma que o critério de representatividade da amostragem neste tipo de pesquisa

não é numérico como na pesquisa quantitativa, embora que a quantidade de

pessoas entrevistadas deve, no entanto, permitir que haja a reincidência de

informações ou saturação dos dados, situação ocorrida quando nenhuma

informação nova é acrescentada com a continuidade do processo de pesquisa.

3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados dois tipos de roteiros

para a entrevista Semiestruturada, sendo o primeiro direcionado ao grupo dos

docentes em processo de transição para aposentadoria e o segundo, para o grupo

de docentes já aposentados (Apêndice C).

Os roteiros de entrevista propostos foram adaptados de dois modelos,

conforme necessidades da pesquisa em questão. Um roteiro utilizado por Basso

(2001) e o outro utilizado por Deps (1994), em que esta autora utilizou um

instrumento adaptado do modelo de análise de adaptação humana à transição,

elaborado por Schlossberg (1981).

Foram utilizadas ainda na categorização das variáveis de estudo algumas

categorias propostas por Borges e Alves-filho (2003), os quais classificaram o

significado do trabalho como sendo um construto composto de atributos valorativos

e descritivos.

Os roteiros foram constituídos por perguntas abertas, acerca do significado do

trabalho e aposentadoria, permitindo, assim, a comparação do objeto da pesquisa,

segundo a percepção dos docentes em processo de transição para a aposentadoria

e os já aposentados.

As questões eram praticamente as mesmas para os dois grupos, com

algumas adaptações, como variação no tempo verbal, ou específica, em virtude da

situação funcional do entrevistado, ativo ou aposentado.

Os campos dos questionários foram divididos nos seguintes blocos: dados de

identificação, para caracterizar o grupo dos docentes ativos em transição e dos

aposentados e questões relativas ao significado do trabalho e aposentadoria.

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Foi realizado um pré-teste com dez indivíduos, sendo oito aposentados e

dois, na condição de transitoriedade para aposentadoria, oriundos de diversas

instituições, como: serviço militar, bancos, serviços público e privado, buscando

identificar se todas as variáveis importantes para atender ao objetivo proposto no

estudo eram contempladas nos instrumentos. Hair et al. (2005, p. 230), ao

questionarem "que tamanho deve ter a amostra de um pré-teste, ratificaram que o

menor número pode ser de quatro ou cinco indivíduos e o maior não excederá 30".

Para qualquer instrumento de pesquisa utilizado no estudo há necessidade de

um pré-teste ou teste piloto, procurando verificar se ele apresenta os elementos:

fidedignidade; validade e operatividade (MARCONI e LAKATOS, 2003).

Essa importância de testar cada instrumento é corroborada por Gil (2002,

p.132), que destaca que esta ação tem o intuito de: “(a) desenvolver os

procedimentos de aplicação; (b) testar o vocabulário empregado nas questões; e (c)

assegurar-se de que as questões ou as observações a serem feitas possibilitem

medir as variáveis que se pretende medir”.

Após a realização dos pré-testes, foram feitos alguns ajustes no instrumento

de coleta; em seguida, foram realizadas as entrevistas com os grupos desta

pesquisa, para então se proceder com a análise de conteúdo das entrevistas e a

discussão dos resultados encontrados.

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS

Para atender ao objetivo desse estudo sobre significado do trabalho e

aposentadoria, foram elencadas categorias prévias de pesquisa, a fim de auxiliar o

entendimento da temática estudada. Para este propósito, as variáveis foram

dispostas da seguinte forma, agrupadas em subcategorias de análise, conforme

demonstra o Quadro 5.

Quadro 5 - Categorias da pesquisa

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE

Sociodemográficas Dados de identificação do entrevistado, contendo a idade, sexo, estado civil, titulação, tempo de trabalho na instituição / tempo de aposentadoria.

Trabalho significados do trabalho; centralidade do trabalho, função e objetivos do trabalho e motivação para permanência em atividade.

Aposentadoria significados da aposentadoria, percepção, ganhos e perdas, expectativas, relação entre trabalho e aposentadoria.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2013).

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As categorias da pesquisa foram elencadas previamente e as subcategorias

agrupadas conforme relação com estas, a fim de facilitar o procedimento do

tratamento dos dados encontrados.

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados coletados na pesquisa foram tratados utilizando-se a análise de

conteúdo, que é considerada, segundo Vergara (2010), uma técnica para o

tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de

determinado tema.

Para Bardin (2004), a análise de conteúdo é definida como um conjunto de

técnicas que analisa as comunicações, objetivando através de mensagens obter

indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relacionados às variáveis

destas mensagens. Apresenta 3 fases: 1) pré-análise; 2) exploração do material e 3)

tratamento dos dados, inferência e interpretação.

Além disso, foram utilizadas redes de significados, também chamadas de

redes semânticas, que são as concepções que as pessoas fazem de qualquer objeto

em seu ambiente, conforme Figueroa (1976) e que pelo nosso conhecimento torna-

se possível conhecer a gama de significados expressos, usando a linguagem

cotidiana que tem todo objeto social conhecido.

Em suma, nesta pesquisa, os procedimentos utilizados para fins de coleta e

interpretação dos dados seguiram a seguinte sequência: pré-análise, exploração do

material e análise e interpretação dos dados.

Na pré-análise, as falas dos entrevistados foram transferidas para planilhas

elaboradas no Excel, dispostas conforme os objetivos específicos da pesquisa, para

que a pesquisadora pudesse obter uma visão global das falas e identificar pontos

comuns, divergentes e relevantes para a análise.

Em seguida, foi feita a exploração do material, na qual as falas transcritas das

entrevistas foram classificadas, conforme os objetivos específicos traçados na

pesquisa e categorizadas em duas grandes variáveis analíticas: trabalho e

aposentadoria. A partir daí, subdividiram-se as categorias em sub-categorias

relativas a trabalho: significado do trabalho, centralidade do trabalho, função do

trabalho, motivação para permanência; e em subcategorias referentes à

aposentadoria: significado da aposentadoria, percepção, ganhos e perdas.

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O Quadro 6 demonstra a correlação entre os objetivos, categorias,

subcategorias e questões do instrumento de coleta utilizadas na presente pesquisa.

Quadro 6 - Correlação entre objetivos, categorias, subcategorias e questões de pesquisa

CATEGORIAS ANALÍTICAS

SUBCATEGORIAS OBJETIVOS ROTEIRO DE ENTREVISTA

TRABALHO

Significado do

trabalho

Analisar a percepção dos docentes sobre o

significado do trabalho.

Quando eu falo sobre trabalho, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

Centralidade do trabalho

- Qual a importância do trabalho em relação a outras esferas da sua vida? Por quê?

- Enumere de 1 a 5 o grau de importância que cada uma dessas esferas tem para o (a) senhor (a): ( ) Trabalho ( ) Família ( ) Lazer ( ) Comunidade ( ) Religião

Função e objetivos

do trabalho

- Qual é a importância ou contribuição do seu trabalho para o (a) senhor (a) e para a sociedade?

Motivação para permanência em

atividade

Identificar os fatores que levam docentes

que já completaram os requisitos para a aposentadoria a

permanecerem em atividade.

- O que o (a) leva a continuar trabalhando?

- Ainda está satisfeito (a) e realizado (a) trabalhando? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

APOSENTADORIA

Significados

Avaliar a percepção dos docentes sobre o

significado da aposentadoria.

- Quando eu falo sobre aposentadoria, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

- Como imagina que será a sua aposentadoria?

Percepção

- Qual a sua percepção e sentimentos em relação à aposentadoria?

- Como o (a) senhor (a) pensa que as pessoas veem a sua aposentadoria (sua família e outros)?

Ganhos e Perdas

- Admitindo-se que a vida humana, em todas as suas fases, inclui ganhos e perdas, reflita sobre a sua aposentadoria nesse contexto e relacione os possíveis ganhos e perdas advindas desse processo.

- Em se tratando de ganhos e perdas com a aposentadoria, o que tem mais realce ou importância

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para você? ( ) ganhos ( ) perdas ( ) nenhuma das anteriores. Explique.

Expectativas

Examinar as expectativas dos

docentes ativos, com relação à

aposentadoria.

- O que o (a) senhor (a) espera em relação à aposentadoria?

TRABALHO E APOSENTADORIA

Relação entre trabalho e

aposentadoria

Verificar se há diferenças na

percepção do docente ativo e do aposentado,

no tocante ao significado do trabalho

e aposentadoria.

- Para o (a) senhor (a), qual a relação entre trabalho e aposentadoria?

- Geralmente, o ciclo da vida é educação-trabalho-aposentadoria. O (a) senhor (a) acha que a aposentadoria é o fim do ciclo ou pode representar o início de uma nova etapa?

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2013).

Por fim, procedeu-se com a análise e interpretação dos dados. Nesta etapa,

foi analisado e interpretado de forma mais minuciosa como o significado do trabalho

e a aposentadoria são percebidos pelos docentes do IFRN, de acordo com as

categorias de análise e subcategorias, a partir dos dados coletados nas entrevistas.

Para Franco (2008, p. 59), a categorização é uma operação de classificação de

elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um

reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos. Este critério

pode ser semântico (categorias temáticas), sintático, léxico ou expressivo, conforme

expresso por Bardin (2004). Nesta pesquisa utilizou-se o critério semântico de

categorização.

3.7 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA

O campo empírico do presente estudo é o Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, o IFRN, instituição educacional

centenária, a qual já recebeu várias denominações, desde quando foi criado. Foi

instituído em 23/09/1909, sob a denominação de Escola de Aprendizes e Artífices, a

qual funcionava na Casa do Estudante de Natal e oferecia curso primário, de

desenho e oficinas de trabalhos manuais (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,

CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

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Em 1914, a instituição foi transferida para a Avenida Rio Branco, ocupando o

edifício número 743, durante 53 anos, o qual fora construído no início do século XX

onde anteriormente era ocupado pelo Quartel da Polícia Militar (INSTITUTO

FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO

NORTE, 2012).

A reforma instituída pela Lei n.º 378, de 13/01/1937, do Ministério da

Educação e Saúde, mudou a denominação da escola para Liceu Industrial de Natal.

Nessas mesmas instalações da Avenida Rio Branco, em 1942, o Liceu passou a se

chamar de Escola Industrial de Natal, passando a atuar, vinte anos depois, na oferta

de cursos técnicos de nível médio, e transformando-se, em 1965, em Escola

Industrial Federal (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

A ETFRN, com o decorrer do tempo, extinguiu os cursos industriais básicos e

passou a ter um enfoque voltado para o ensino profissionalizante de 2º grau. Em

1975, destacou-se a participação feminina entre os alunos dos cursos regulares da

instituição (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

Em 1994, iniciou-se o processo de expansão da rede federal de educação

tecnológica no Rio Grande do Norte com a inauguração da Unidade de Ensino

Descentralizada de Mossoró (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

Em 19/01/1999, converteu-se em Centro Federal de Educação Tecnológica

do Rio Grande do Norte - CEFET-RN, o qual passou a ofertar educação profissional

nos níveis básico, técnico e tecnológico, além do ensino médio convencional

(INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO

GRANDE DO NORTE, 2012).

Em 2006, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, a SETEC,

ampliou a rede federal do estado, implantando as Unidades de Ensino da Zona

Norte de Natal, de Ipanguaçu e de Currais Novos (INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

Em 2007, teve início a segunda etapa do Plano de Expansão da Rede, no

qual o Rio Grande do Norte passou a contar com outras seis unidades, que foram

inauguradas em 2009, nos municípios de Apodi, Pau dos Ferros, Macau, João

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Câmara, Santa Cruz e Caicó (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

Em 2008, transformou-se em Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, através da Lei nº 11.892, datada de

29/12/2008. Hoje, atua também no ensino de terceiro grau, tanto em cursos de

graduação tecnológica, quanto em licenciaturas e pós-graduações. Além disso,

também vem atuando na educação profissional vinculada ao ensino médio na

modalidade de educação de jovens e adultos e no ensino à distância (INSTITUTO

FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO

NORTE, 2012).

Hodiernamente, o IFRN contabiliza dezesseis câmpus já inaugurados e em

funcionamento e três em construção no interior do Rio Grande do Norte. O lócus de

estudo escolhido foi o Câmpus Natal-Central, em virtude de ser o mais antigo, maior

em extensão e com o maior quantitativo de servidores, inclusive com um número

expressivo destes vivenciando a transição para a aposentadoria ou já na condição

de aposentados.

Sendo assim, considerou-se este Câmpus adequado aos objetivos traçados

nesta pesquisa, uma vez que além das características acima mencionadas, este

oferece um curso de Preparação para o pós-carreira, intitulado “Novo Tempo”, que é

um programa gratuito e voluntário, com cerca de três meses e meio de duração, o

qual possibilita o planejamento pessoal e profissional de vida e carreira dos

servidores que estão a três anos ou menos da aposentadoria, o que denota a

preocupação da gestão em preparar o servidor para esta nova fase de desligamento

da instituição.

Além disso, a Coordenação de Cadastro e Benefícios da Diretoria de

Administração de Pessoal do Câmpus Natal-Central, âmbito laboral da pesquisadora

desse estudo, é o setor que promove o atendimento direto dos servidores ativos em

transição para aposentadoria, os quais comumente requerem dentre outros pleitos:

contagem de tempo de serviço, averbações de serviço, previsões de aposentadoria

e abonos de permanência, e também acolhe os aposentados da instituição, embora

estes, nessa nova situação funcional, vinculem-se à instituição IFRN e não mais ao

câmpus de origem; no entanto, por motivos de cultura institucionalizada, os

aposentados costumam procurar este local, para atendimento direto, o que permitiu

à pesquisadora um contato mais próximo e direto com este público-alvo.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No presente capítulo serão explanados os resultados da pesquisa,

considerando-se a categorização das variáveis avaliadas – trabalho e

aposentadoria, com suas respectivas subcategorias. Os dados coletados dos dois

grupos de docentes pesquisados foram analisados qualitativamente, através da

técnica de análise de conteúdo, utilizando critérios de categorização semânticos e

interpretados à luz do referencial teórico exposto neste estudo, a fim de atender aos

objetivos propostos.

4.1 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES SOBRE O TRABALHO

Considerando o contexto do trabalho como basilar na economia em todas as

culturas e um construto multifacetado, buscou-se analisar a percepção dos docentes

ativos em transição para aposentadoria e os aposentados sobre o significado do

trabalho.

4.1.1 Significado do trabalho

Docentes ativos em transição para aposentadoria

Em relação aos resultados encontrados sobre os atributos descritivos do

trabalho, entre o grupo de docentes ativos em transição para aposentadoria, os

predicados mais mencionados foram: responsabilidade (frequência de 5 vezes);

satisfação (frequência de 4 vezes); dedicação, relacionamento e compromisso

(frequência de 3 vezes); competência, desempenho e prazer (frequência de 2

vezes). Apareceu ainda um atributo de conotação negativa – medo (frequência de 2

vezes), conforme pode ser verificado no Quadro 7.

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Quadro 7 - Atributos descritivos do significado do trabalho – Docentes ativos em transição

Significado do trabalho

PARTICIPANTES – GRUPO I

Frequência

DA

T1

DA

T2

DA

T3

DA

T4

DA

T5

DA

T6

DA

T7

DA

T8

DA

T9

DA

T10

Responsabilidade 5

Satisfação 4

Dedicação 3

Relacionamento 3

Compromisso 3

Competência 2

Desempenho 2

Prazer 2

Medo 2

Nostalgia 1

Otimismo 1

Remuneração 1

Organização 1

Planejamento 1

Metodologia 1

Segurança 1

Experiência 1

Respeito 1

Cooperação 1

Qualidade 1

Desenvolvimento 1

Pontualidade 1

Assiduidade 1

Valor 1

Determinação 1

Produção 1

Realização 1

Comprometimento 1

Saúde mental 1

Vital 1

Dual 1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Isso confirma que o trabalho é um construto de diversos significados,

consoante Ros e Grad (2005), o que também é corroborado por Borges (1996), o

qual afirma que o trabalho é um construto multifacetado, composto por uma

multiplicidade de atributos. Além do mais, como o trabalho é influenciado pela

subjetividade e historicidade de cada indivíduo, ainda que seja muito produtivo, pode

ser atribuída a ele conotação negativa, de acordo com Assunção (2010).

Hodiernamente, os significados atribuídos ao trabalho estão relacionados,

segundo Borges e Yamamoto (2004), ao desenvolvimento de atividades cognitivas

complexas, como criatividade, raciocínio lógico, envolvimento e comprometimento

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com as tarefas e com a instituição, o que se identifica com a atividade docente do

grupo pesquisado.

A entrevistada DAT9 ressaltou no conteúdo da sua mensagem a importância

das relações sociais no trabalho, especialmente na afinidade entre professor e

aluno, segundo depoimento a seguir:

Para mim, tem de ter amizade, conhecer as pessoas, especialmente entre professor e aluno. Eu procuro cultivar esses laços. Entenda-me, eu sei que não vão durar para sempre, mas eu acho que alguma coisa ficará nessa relação marcada internamente, algum sentimento bom ficará. (DAT9).

Sobre a relevância das relações sociais construídas no trabalho, Giddens

(2005) destaca que o ambiente laboral oportuniza amizades e a participação em

atividades comuns com as outras pessoas. Para Oliveira et al. (2004), as relações

interpessoais fazem parte da dimensão organizacional do trabalho.

Outra entrevistada destacou a dualidade do trabalho na vida das pessoas.

“Quando falo a palavra ‘trabalho’, a primeira coisa que me vem na mente é a

questão da saúde mental, atividade, necessário à vida, tão importante quanto nós

mesmos; dignifica a pessoa e, às vezes, pode danificar. É dual.” (DAT10).

Isso pode ser ratificado por Giddens (2005), o qual afirma que o trabalho é um

elemento estruturador na composição psicológica das pessoas, embora possa estar

associado a uma atividade fastidiosa nas sociedades contemporâneas.

Docentes aposentados

Analisando-se o conteúdo das mensagens dos docentes aposentados, no que

concerne ao significado do trabalho, foram atribuídos significados, como: realização

(frequência de 4 vezes); comprometimento (frequência de 3 vezes); satisfação,

compromisso, dedicação, sobrevivência, prestar serviço à sociedade e

responsabilidade (frequência de 2 vezes). Foram mencionados atributos de

conotação negativa, como: estresse, preocupação e cansaço (frequência única),

conforme demonstra o Quadro 8.

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Quadro 8 - Atributos descritivos do significado do trabalho – Docentes aposentados

Significado do trabalho

PARTICIPANTES – GRUPO II

FREQUÊNCIA

DA

p1

DA

p2

DA

p3

DA

p4

DA

p5

DA

p6

DA

p7

DA

p8

DA

p9

DA

p10

Realização 4

Comprometimento 3

Satisfação 2

Compromisso 2

Dedicação 2

Sobrevivência 2

Prestar serviço à sociedade 2

Responsabilidade 2

Vocação 1

Desempenho 1

Produção 1

Disciplina 1

Ordem 1

Dinamismo 1

Utilidade 1

Atualização 1

Cumprimento do dever 1

Conhecimento 1

Reconhecimento 1

Lazer 1

Qualidade de Vida 1

Bem-estar 1

Voluntariado 1

Experiência 1

Desprendimento 1

Prazer 1

Segurança 1

Desafio 1

Dignidade 1

Concretização de um sonho 1

Estresse 1

Preocupação 1

Cansaço 1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Uma aposentada destacou o reconhecimento acrescido com o trabalho no

pós-aposentadoria.

Nesse patamar que eu cheguei, parece que o trabalho que eu realizei na instituição está sendo reconhecido. Chamam-me para isso, chamam-me para aquilo, chamam-me para participar do curso pós-aposentadoria. Isso mostra o reconhecimento que associo à palavra trabalho. (DAp6).

Isso é ratificado por Siqueira e Gomide (2004), os quais afirmam que, na

relação do sujeito com o trabalho e a organização, o reconhecimento do indivíduo no

âmbito laboral é um elemento-chave, implicando na motivação e nas percepções de

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valorização do trabalhador e de justiça. Para Bendassoli (2012), o reconhecimento

tem importância nuclear nos processos de construção identitária e de saúde e prazer

no trabalho.

O entrevistado DAp7 destacou o trabalho voluntário como significado do

trabalho para ele, nos dias atuais, como se observa em sua fala:

O bem-estar de outras pessoas, além do meu, o bem-estar de pessoas que estão em torno da gente. A gente olha para o mundo e a gente vê o que tem de pessoas precisando da gente... Eu aconselho todo mundo que se aposenta a fazer alguma atividade social. (DAp7).

Sobre o voluntariado, Dal Rio (2001) enfatiza que pode ser uma forma de o

aposentado contribuir com suas experiências profissionais e pessoais, de modo a

reorganizar-se e a inserir-se na sociedade, no período pós-trabalho, sentindo-se

produtivo e útil e vivenciando, dessa forma, significados diferentes daqueles

comumente idealizados com a aposentadoria, tais como: velhice, inutilidade e

inatividade.

Ao comparar-se ambos os grupos, foram verificadas semelhanças na

hierarquia dos atributos descritivos de significado do trabalho, destacando-se como

os mais relevantes: responsabilidade, satisfação, dedicação e compromisso.

4.1.2 Centralidade do trabalho

Docentes ativos em transição para aposentadoria

Apesar de os estudos sobre a centralidade do trabalho não serem unânimes

em afirmar que o trabalho ocupa uma posição central na vida dos indivíduos,

conforme Alberton (2008); verificou-se que, na maioria das falas dos docentes ativos

em transição para aposentadoria pesquisados, este ainda é predominantemente

central na vida deles.

“O trabalho é terapêutico, é o que me ajuda a sobreviver nesse país.” (DAT1).

“O trabalho é importantíssimo, é tudo para mim e eu não vou parar, nada de

aposentadoria mental.” (DAT2).

“O trabalho para mim sempre teve muito valor, um dos pilares, uma das vigas

mestres da minha vida.” (DAT7).

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“O trabalho é muito importante, eu acho que o grau de importância está no

mesmo nível ou bem próximo entre trabalho e família, estão muito bem

relacionados.” (DAT8).

Consoante Witzac (2005), o trabalho é um processo de civilização que

estrutura o homem e a humanidade de uma forma, que se torna difícil não relacionar

o trabalho ao homem. Para Ramos (1981), a ideologia apregoada nas sociedades

capitalistas e de consumo é o principal fator que torna o trabalho o centro de

existência da maioria das pessoas.

No teor das falas dos docentes ativos em transição para aposentadoria

pesquisados, observa-se a ênfase na centralidade expressiva, pois como descrita

por Borges (1999), valoriza a riqueza do conteúdo do trabalho e a expressividade e

atribui ao trabalho grande centralidade.

Uma docente em transição destacou, em seu relato, que o trabalho, apesar

de ainda ser muito importante na sua vida, já não é tão relevante quanto foi um dia.

O trabalho é importante, mas não é mais a coisa mais importante da minha vida, hoje há outras coisas mais importantes: a questão de manter uma qualidade de vida, saúde, cuidar das relações de quem está próximo, da família. Então, parece que isso que estou fazendo é para ir me desprendendo um pouco, porque eu já fui muito dedicada ao mundo do trabalho, minha ligação com ele ainda é forte, mas... (DAT9).

A fala de DAT9 ratifica o que Meda (1996) afirma. Para esta autora, o

preenchimento do espaço ocupado pelo trabalho pode ser preenchido pelas

conexões sociais entre os indivíduos, o que impediria que o trabalho ocupasse o

todo do espaço e do tempo social do indivíduo. Para Antunes (1999), a dicotomia

trabalho e interação é impossível de acontecer, pois são partes integrantes de uma

totalidade social.

Para Gorz (1987), que defende a tese do fim da centralidade do trabalho, o

trabalho, por seu caráter heterônomo, não pode representar o verdadeiro sentido

para a vida dos indivíduos.

Em relação ao grau de importância que o trabalho tem, quando comparado a

outras esferas da vida, como família, lazer, comunidade e religião, a família aparece

com frequência de 8 vezes enumerada em primeiro lugar, seguido da esfera

trabalho, comumente em segundo lugar, com a frequência de 7 vezes. As demais

esferas foram enumeradas com graus de importância variados.

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Esses dados corroboram com pesquisas brasileiras e estudos americanos,

nos quais o fator ‘família’ aparece em primeiro lugar, diferente do Japão, por

exemplo, em que o elemento ‘trabalho’ figura na primeira posição na vida das

pessoas (BASTOS; PINHO; COSTA, 1995; BORGES; TAMAYO, 2001).

Docentes aposentados

Quanto aos docentes aposentados, no que se refere ao grau de importância

que o trabalho teve para a vida deles naquela época, constatou-se que, dentro do

grupo pesquisado, todos os entrevistados consideraram o trabalho muito importante

em suas vidas. Sentimentos como gratidão à instituição e satisfação após anos de

dedicação que o trabalho lhes pôde proporcionar de conquistas pessoais e

profissionais foram mencionados nas falas.

Toda importância, porque eu tive formação, eu tive satisfação no que eu fazia, comprometimento, eu conquistei muitas coisas, amizades com o meu trabalho, tanto de colegas, quanto de alunos. Pude partilhar experiências, eu tive muitas oportunidades (...). (DAp1).

Primeiro, eu parto do princípio que o trabalho é a condição essencial para o homem se firmar no mundo; então, é através do trabalho que você se motiva a estudar mais, a pensar em coisas novas, a ter projetos de vida, a se relacionar com outras pessoas, a aprender sempre, acho que esses são os pontos principais. (DAp4).

“Eu não me imagino sem ter trabalhado. Eu não acho natural não ter

trabalhado. Para mim, trabalhar foi muito importante.” (DAp6).

“O trabalho me deu tudo que tenho hoje, além de experiência de vida,

oportunidades, ânimo para vencer as batalhas, duas formações, mestrado e

doutorado.” (DAp9).

As falas supracitadas ratificam os achados em pesquisas realizadas pelo

grupo MOW (1987) e por Morin (1996, 2001) apud Borges e Tamayo (2001), ao

mencionarem que o trabalho, além de ser um meio de sustento, é uma forma de

inserção do indivíduo em um grupo ou na própria sociedade e por isso, ainda que

dispusesse de condições para viver confortavelmente sem trabalhar, a maioria das

pessoas laborariam.

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Os resultados encontrados nos docentes aposentados entrevistados

reafirmam a centralidade expressiva descrita por Borges (1999), conferindo

igualmente ao grupo anterior estudado, grande centralidade ao trabalho.

De acordo com Harribey (2001), em decorrência da concepção histórica e

antropológica que o trabalho assume, ainda que o homem fosse completamente

excluído do processo produtivo, ainda assim o trabalho seria central para ele, pois é

o meio que possibilita ao homem produzir coisas, atribuir significados e manter as

relações sociais.

Em relação ao grau de importância que o trabalho tem, quando comparado a

outras esferas da vida, como família, lazer, comunidade e religião; no grupo dos

docentes aposentados, a família aparece com frequência de 6 vezes enumerada em

primeiro lugar, seguido da esfera trabalho, com frequência de 5 vezes, em segundo

lugar e as demais esferas com graus de importância variados. Apenas o DAp7 não

conseguiu graduar as referidas esferas, afirmando que todas eram de igual

relevância na vida dele.

“Tudo junto, não consigo enumerar o grau de importância, porque todas são

igualmente importantes para mim.” (DAp7).

Sendo assim, esses achados, em ambos os grupos pesquisados, ratificaram

a predominância do padrão de significado do trabalho descrito por Borges, Tamayo

e Alves-Filho (2005) como instrumentalidade econômica-familiar, no qual os

participantes tendem a valorar o trabalho como a segunda esfera mais importante e

obtém escores mais elevados na esfera sobrevivência pessoal e familiar.

4.1.3 Função e objetivos do trabalho

Docentes ativos em transição para aposentadoria

No que se refere à importância ou contribuição que o trabalho dos docentes

em transição teve para eles próprios e para a sociedade, verificou-se que grande

parte dos entrevistados destacou a importância da profissão como base para todas

as outras e relevante para a formação das pessoas e para a sociedade, conforme as

falas abaixo transcritas:

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“Eu quando era professor, educador, desempenhava um papel muito

importante na formação dos meus alunos, dos seus valores, do desenvolvimento da

tolerância, enfim exercia uma profissão-base para todas as outras. [...].” (DAT1).

“Nosso trabalho tem essa função de perceber o ser humano por completo,

que está no contexto, tratar esse ser humano como ele é... Então, professor tem

essa função de ensinar a ser cidadão, preparar o aluno para a vida.” (DAT8).

Penso que plantei algumas coisas, penso que dei uma contribuição para a formação de pessoas... [...] Hoje, meu papel é, através da pesquisa, poder dar uma contribuição à sociedade, tentar mudar as mentes estereotipadas, melhorar a vida de outras pessoas [...]. (DAT9).

Nos estudos de MOW (1987) foram identificadas seis funções para o trabalho:

produção de prestígio e status, produção de renda, ocupação do tempo, contatos

interpessoais, serviços societais e auto-expressão ou intrínseca. Nas falas acima

transcritas, observou-se a predominância da função serviço societal.

Já nas falas abaixo, foram destacados os contatos interpessoais descritos por

MOW (1987) como uma das funções para o trabalho.

“[...] a missão de educador não é só ministrar a aula em si, mas ver que

aquela pessoa pode fazer parte da cadeia produtiva, para gerar algo diferente e

positivo para a sociedade. A satisfação do trabalho é muito grande. [...]” (DAT3).

“Primeiro é no curso adolescente. Eu acho que esse trabalho é muito

importante para formar um cidadão mais maduro, mais respeitável, aprender a

socializar em detrimento do individual.” (DAT5).

4.2 FATORES QUE LEVAM DOCENTES ATIVOS EM TRANSIÇÃO PARA

APOSENTADORIA À PERMANÊNCIA EM ATIVIDADE

Consoante França (2002), a decisão de indivíduos que estão em processo de

transição para a aposentadoria, de se aposentarem ou de se manterem em atividade

os deixa, muitas vezes, confusos. Muitos gostam das atividades que exercem, da

instituição em que trabalham e/ou das relações sociais do ambiente do trabalho e

não desejam se aposentar. Outros aspiram se aposentar, mas querem prosseguir

com uma atividade profissional.

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Em relação aos fatores que levam docentes ativos em transição para

aposentadoria a permanecerem em atividade, mesmo já tendo completado os

requisitos para a aposentadoria, e considerando que todos os entrevistados

recebem o benefício financeiro do abono de permanência, foram mencionadas

diversas motivações, tendo sido a financeira, citada apenas por dois entrevistados.

“É o dinheiro, porque se eu me aposentar agora e vier a falecer, a pensão que

eu gerar não terá o benefício reajustado de acordo com os servidores da ativa.”

(DAT6).

A fala acima se coaduna com o que é exposto por França (1999), ao afirmar

que a diminuição da renda familiar com a aposentadoria é um dos efeitos negativos

mais imediatos e que, segundo Mori (2006), pode ser causadora de

empobrecimento, desqualificação e gerador de angústia. Esse entrevistado se

mostrou disposto a ficar mais tempo trabalhando, para atingir critérios que lhe

permitissem uma melhor regra de aposentadoria, a fim de gerar uma pensão

reajustada, conforme os servidores da ativa, o que denotou a preocupação dele com

a renda familiar, em caso de falecimento.

Esse achado ratifica o que foi encontrado anteriormente na análise desse

grupo que, embora considere o trabalho central em suas vidas, quando comparado a

outros núcleos, família e trabalho são duas esferas bem próximas em grau de

importância para a maioria dos docentes pesquisados.

“(...) É a questão financeira, pois a aposentadoria é um processo que traz

perdas financeiras.” (DAT10).

A questão financeira, de grande relevância, para Zanelli, Silva e Soares

(2010), pode adiar a decisão de aposentadoria por receio e pela dificuldade no

manejo com o dinheiro. Na fala da entrevistada DAT10 pôde-se verificar o fator

financeiro como determinante para ela ainda permanecer na ativa, bem como a

reflexão dela em relação às perdas financeiras sobrevindas com este processo.

Embora se tenha encontrado o fator financeiro como determinante para que

docentes em transição para a aposentadoria permaneçam em atividade, vale

destacar que isso foi relatado pela minoria dos entrevistados. Mesmo a literatura

enfatizando a importância da questão financeira na prorrogação da decisão de

aposentar-se; talvez neste grupo, isso não tenha tido tanta relevância porque

apresenta uma renda média de 11 salários-mínimos, o que lhes confere um poder

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aquisitivo razoável, quando se compara com a realidade da maioria dos docentes no

Brasil.

Na análise dos conteúdos dos entrevistados DAT2, DAT3, DAT7, DAT8 e

DAT9, constata-se que as principais motivações para a permanência são a missão

que o trabalho de professor propicia e os sentimentos de gratificação e produtividade

com a atividade que exercem.

“A vontade de continuar contribuindo para a sociedade e para as pessoas. É

muito gratificante.” (DAT2).

“A minha missão ainda não terminou, eu ainda me sinto produtivo.” (DAT3).

“Eu acho que é a gratificação que o trabalho me traz.” (DAT7).

A possibilidade de ensinar aos alunos novos que estão chegando, passar alguma coisa, faz com que a gente, inconscientemente, fique. [..] Estar aqui só para não estar em casa, não é bom. Eu estou aqui porque quero trabalhar, mas sei que vai chegar o dia da aposentadoria. (DAT8).

“Eu confesso que tenho uma grande paixão pela sala de aula. [...] Eu me sinto

bem, se tiver aluno para me ouvir. Eu tenho o prazer em passar algumas coisas que

eu apreendo, os textos...” (DAT9).

Isso pode ser corroborado com a análise de Borges e Yamamoto (2004), os

quais afirmam que estudos sobre o papel do trabalho demonstram que este é um

elemento estruturante na vida dos indivíduos. Além disso, ter uma profissão,

valorizada pela sociedade e com ela obter sucesso, eleva a autoestima, confere

segurança e estabilidade, conforme Lobato (2004), o que pode explicar o fato

desses docentes ainda permanecerem na ativa.

O entrevistado DAT1 destaca como motivação para permanência a

necessidade de se preparar melhor para o processo e enfatiza a importância do

curso de preparação para aposentadoria, o qual ele já participou.

A gente tem de estar mais preparado, mais convicto para sair. A gente tem de se planejar para isso, afinal 30 anos não são 30 dias. Precisamos nos preparar para sair, fazer um curso de preparação para aposentadoria; tem de se preparar emocionalmente para isso, autoconhecer-se, ver as possibilidades, as perdas. (DAT1).

Consoante Santos (1990), a aposentadoria pode representar para o indivíduo

a perda do seu papel profissional; o que demanda, segundo Neri apud Simões

(1999), um investimento emocional elevado. Por isso, a importância de se preparar

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para o processo, classificado por Tavares (2003) como impactante nos domínios

social, psicológico e biológico do indivíduo.

A instituição, que é campo desta pesquisa, oferece um curso de preparação

para aposentadoria, denominado “Novo Tempo”. Segundo pesquisa realizada por

Guedes (2010), os Programas de Preparação para Aposentadoria são relevantes

para o planejamento pessoal e profissional de vida e carreira do trabalhador,

levando-o a refletir sobre os aspectos positivos e negativos do processo.

O medo e a incerteza em relação ao momento certo para tomar a decisão da

aposentadoria foram os principais motivadores de permanência para DAT4 e DAT5,

respectivamente.

O medo de parar. Eu fui me preparando para me aposentar do primeiro vínculo. Para a minha segunda aposentadoria, não quero que haja uma ruptura, apenas uma transição, preparando o terreno para o meu pós-aposentadoria. (DAT4).

“Talvez esse não seja o momento... ainda me sinto produtiva. Quando eu

estiver perto de completar os 70, eu penso nisso.” (DAT5).

Esses sentimentos, de acordo com Debert (2001) e Peixoto (1998) são

reflexos da improdutividade e da inatividade da aposentadoria. Se o trabalho for um

elemento central para a vida do indivíduo, Peixoto (1998) explica que pode ser a

deterioração. Para Both (2004), o indivíduo que utilize seu trabalho como ferramenta

para desenvolver suas potencialidades, provavelmente vai ser mais resistente à

aposentadoria do que uma pessoa que o utiliza apenas como meio de subsistência.

Um entrevistado citou as relações sociais construídas no trabalho como um

dos motivadores para a permanência nas atividades laborais.

“[...] tenho muita amizade aqui dentro. Isso prende muito, você gostar do local

de trabalho... Às vezes, eu digo brincando em casa: - Vou ter de ter uma raiva muito

grande para sair daqui.” (DAT8).

Isso é ratificado por Chrisostomo e Macedo (2011), os quais afirmam que, em

nossa sociedade, o trabalho é o lugar privilegiado das referências sociais, pois

estrutura o tempo, o espaço e as relações sociais.

Quando indagados acerca da satisfação com o trabalho, como elemento

motivador para a permanência destes em atividade, os docentes foram unânimes

em responder que ainda estão muito satisfeitos e realizados trabalhando.

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Muito, é muito prazeroso. A coisa melhor do mundo é quando você trabalha dentro daquilo que você gosta, do que idealiza para você. Muita gente diz assim: meu trabalho é extensão da minha casa e eu lhe digo com toda sinceridade: eu convivo aqui como se estivesse na minha própria casa. (DAT3).

“A sala de aula é muito gratificante, porque você tem um feedback imediato

dos alunos e isso é muito gratificante mesmo, eu acho que isso vira vício. Não dá

vontade de parar.” (DAT7).

Sim, faço duas coisas que gosto: sala de aula e pesquisa. Se os alunos querem ou se estão representando, faz parte do show representar que estão gostando da aula, mas recebo feedback positivo. Enquanto eu estiver recebendo esse feedback, e se o povo ainda está querendo ou se for representação, é bom eu me iludir, afinal venho do teatro [risos]. A representação é sempre boa. E a pesquisa que é uma coisa que eu descobri. Venho estudando e é uma coisa que me dá prazer, eu gosto dessa coisa da inquietude. (DAT9).

Isso é observado nas sociedades ocidentais contemporâneas, onde, de

acordo com Morin (2001), o trabalho é relevante e influencia a motivação, a

satisfação e a produtividade dos trabalhadores e por Medeiros (2006), a qual registra

que um trabalhador satisfeito e realizado é aquele que consegue resgatar o diálogo

entre o que faz e que quer.

Assim, em se tratando da profissão docente e analisando-se o contexto em

uma visão macro, verifica-se que, consoante Pimentel, Palazzo e Oliveira (2009),

mesmo sendo desvalorizado economicamente, a função do professor na sociedade

dá-se de forma real pelos seus saberes adquiridos no cotidiano laboral. É como se o

prestígio da classe decorresse do conhecimento teórico e não do poder aquisitivo.

Por fim, a entrevistada DAT9 ainda acrescentou a questão familiar como

motivação para sua permanência, uma vez que não pretende se aposentar, se o

esposo dela ainda está trabalhando.

“Há também a questão pessoal. Meu marido ainda demora um pouquinho

para se aposentar, então para eu ficar em casa e ele trabalhando... vou ficando por

aqui.” (DAT9).

Para Lehr (1977) e Salgado (1999), esta preocupação de reestruturar a vida

conjugal e familiar é pertinente no processo de adaptação à fase de aposentadoria,

porque ter mais tempo livre implica uma maior convivência com a família, o que pode

causar conflitos e desentendimentos no âmbito doméstico.

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4.3 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES SOBRE APOSENTADORIA

4.3.1 Significados da aposentadoria

Neste espaço são apresentados os resultados obtidos sobre o significado da

aposentadoria. No decorrer deste capítulo serão demonstrados os significados da

aposentadoria, percepções, ganhos e perdas com o processo, bem como as

expectativas dos docentes ativos em transição.

Docentes ativos em transição para aposentadoria

Quando questionados sobre a definição de aposentadoria em cinco palavras,

foram atribuídos significados, como: tempo livre, liberdade, qualidade de vida e

sensação de dever cumprido (frequência de 3 vezes); atividade, felicidade e

voluntariado (frequência de 2 vezes), aparecendo ainda a palavra de conotação

negativa medo (frequência de 2 vezes), conforme demonstra o Quadro 9.

Quadro 9 - Atributos descritivos da aposentadoria – Docentes ativos em transição

SIGNIFICADO DA APOSENTADORIA

PARTICIPANTES DA PESQUISA – GRUPO I

FR

EQ

NC

IA

DAT 1

DAT 2

DAT 3

DAT 4

DAT 5

DAT 6

DAT 7

DAT 8

DAT 9

DAT 10

Tempo Livre 3

Liberdade 3

Qualidade de vida 3

Dever cumprido 3

Atividade 2

Felicidade 2

Voluntariado 2

Medo 2

Fase da vida 1

Recompensa 1

Justiça 1

Descanso 1

Novos Horizontes 1

Não obrigação 1

Não fazer nada 1

Viver sem horários 1

Indefinição 1

Produtividade 1

Programação 1

Bem-estar 1

Novo tempo 1

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Planejamento financeiro

1

Realização 1

Satisfação 1

Amizade 1

Inatividade 1

Improdutividade 1

Isolamento 1

Morte figurativa 1

Descarte 1

Velhice 1

Passagem do tempo

1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

As falas abaixo destacam os atributos ‘tempo livre’ e ‘liberdade’ mencionados

pelos entrevistados:

“Mais tempo livre, estudar o que eu quero, sem ter obrigação, ler, não fazer

nada, viver sem horários, enfim, liberdade.” (DAT2).

“[...] Mas ao mesmo tempo, eu penso também assim em liberdade, que para

mim é uma coisa boa, positiva.” (DAT3).

O fator tempo livre é citado por Shibata (2006), a qual afirma que o

trabalhador, inserido numa conjuntura socioeconômica que privilegia em demasia o

trabalho, não está preparado para desfrutar do tempo livre proveniente da

aposentadoria. Contudo, Rodrigues (2000) assinala que a maior liberdade e o

desengajamento profissional com a aposentadoria podem representar oportunidades

e possibilidades de realização.

Os significados de qualidade de vida, dever cumprido e felicidade também

foram citados com relevância pelo grupo pesquisado, conforme se verifica nas falas

abaixo:

“E assim, a sensação de dever cumprido, acho que eu fiz a minha parte, não

sei se é a palavra, mas é um pouco do dever cumprido.” (DAT3).

“Programação, qualidade de vida, tempo para fazer o que tem que ser feito e

o trabalho roubou esse tempo, felicidade e bem-estar com esse tempo livre que se

conquista [...]”. (DAT5).

“Novo tempo, felicidade, liberdade, atividade, qualidade de vida.” (DAT7).

“Dever cumprido, ter contribuído, realização, satisfação e amizade.” (DAT8).

Quanto à ideia de qualidade de vida na aposentadoria, apesar de esta ter sido

idealizada pelo grupo pesquisado, contrapõe-se à análise de Silvestre et al. (1996),

quando este afirma que a aposentadoria pode significar uma queda na qualidade de

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vida do indivíduo, pois pode causar uma crise identitária, decorrente da perda do

papel profissional tão valorizado na cultura capitalista. Em relação à felicidade citada

como significado da aposentadoria, Veras, Ramos e Kalache (1987) alegam que a

aposentadoria pode significar a diminuição desta, devido à ocorrência do

encerramento da participação social do indivíduo.

O docente DAT4, aposentado de outro órgão, relatou que almeja manter-se

em atividade, no pós-aposentadoria, já que ele se preocupa em manter a mente

sempre ocupada e pensa que o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo

de anos de dedicação ao trabalho não podem ficar retidos só para si.

Eu já sou aposentado de outro órgão. Quando eu me aposentei, achei que a vida ia ser uma coisa, só ficar na praia. Depois de um mês, vi que não era bem assim. A mente não pode parar. Passei um mês mais ou menos, depois procurei mais trabalho no IFRN, para preencher meu tempo. Não me considero aposentado e quando eu pedir aposentadoria aqui, já tenho outros projetos, porque não quero ficar parado [...]. Eu não vou conseguir ser um aposentado sem fazer nada. Trabalhar uma vida inteira e parar de vez é complicado. O conhecimento, que acumulei durante anos e a experiência, não vou engavetá-los no cérebro. (DAT4).

A ideia de atividade na aposentadoria é descrita por Peixoto (2012, on line) e

Camarano (2007) ao afirmarem que, embora os aposentados sejam sinônimos de

ócio, muitos são na realidade pessoas ativas que ajudam a família financeiramente,

quer seja reinserindo-se no mercado de trabalho, quer seja sequer saindo deste.

A atividade na aposentadoria também foi citada pela entrevistada DAT7, a

qual destacou o planejamento de viagens e trabalho voluntário, destacando que não

se vê na condição ociosa por falta de opção do que fazer nessa nova fase que

vivenciará.

Eu acho que minha aposentadoria vai ser com muita atividade, viajando muito. Vou poupar muito, para viajar [...] Cuidar mais de mim, da minha saúde, dedicar mais tempo a família, à casa, recebendo amigos, fazendo trabalho voluntário, em atividade. Eu não me vejo uma aposentada em frente a televisão, não me vejo com aquele ócio, no ócio pelo ócio, não. Nem no ócio por falta de opção. Talvez um pouco do ócio criativo. Se você quiser se aposentar para não fazer nada, que seja por opção, mas não por falta disso. (DAT7).

Em se tratando de conotações positivas atribuídas à aposentadoria, Veras,

Ramos e Kalache (1987) destaca a maior disponibilidade de tempo físico e psíquico

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para o lazer ou para a realização de atividades impossibilitadas pelas atividades

laborais ou ainda postergadas ou adormecidas.

A docente em transição DAT7 ainda citou a importância de se fazer um

planejamento financeiro, para vivenciar bem essa nova fase de desligamento do

trabalho.

A gente sabe que a questão financeira é uma variável muito forte, porque ela vai determinar muita coisa. Quando você vai se aposentar, tem que se planejar. Eu assisti a uma palestra de um especialista dizendo que quando a gente se aposenta, a gente gasta mais. E é verdade. A gente tem mais tempo, então, por exemplo, vai ao shopping e tende a comprar mais. (DAT7).

Mori (2006) afirma que o ato de aposentar-se pode significar um problema

para muitos trabalhadores porque traz a diminuição do poder aquisitivo, uma vez

que os benefícios recebidos são muitas vezes inferiores às remunerações recebidas

na ativa. Essas perdas salariais são destacadas por França (1999), por isso,

consoante França e Carneiro (2009), relevante se torna a educação financeira no

planejamento da aposentadoria, a qual deve ter prioridade de atenção pelas

organizações, pelo governo e pelos próprios trabalhadores que devem programar

uma poupança que lhes garanta um futuro digno.

A exploração desse novo tempo oriundo da aposentadoria e a dedicação ao

trabalho voluntário também foram aspectos citados por DAT5, quando esta afirma:

“Primeiro, eu quero explorar esse meu novo tempo. Depois quero me planejar

para fazer um trabalho voluntário. [...] Gosto de ajudar as pessoas. Acho que a gente

veio ao mundo para 3 coisas: amar, aprender e perdoar.” (DAT5).

De acordo com Shmotkin et al. (2003), a motivação para o trabalho voluntário

envolve múltiplos fatores, tais como: o altruísmo, a responsabilidade social e o

humanitarismo, como se verifica na fala acima citada, além de valores morais e do

desejo de aumentar a longevidade e de melhorar a qualidade de vida; ou seja, não

se explica somente pela necessidade de manter-se ativo.

Relevante ainda destacar a preocupação do entrevistado DAT4 na questão do

conhecimento acumulado ao longo de anos de trabalho dedicados à instituição,

fatores determinantes para ele querer se manter produtivo. Para Marinho et al.

(2007), um dos grandes desafios para as organizações é preparar seus

trabalhadores para se aposentar, criando condições para a transferência do

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conhecimento e o prosseguimento das atividades. Grande parte desse

conhecimento é tácito e pode se perdê-lo com a aposentadoria de profissionais

experientes.

Em relação a DAT3, este não consegue sequer definir aposentadoria porque

considera sua missão de educador como inacabada ainda e também não tem

vontade de ficar em casa.

[...] Eu acho que ser educador é uma missão. Então quando você me pergunta: diga 5 palavras sobre aposentadoria, talvez ainda não venha na minha mente porque eu idealizei que ainda não terminei a minha missão, eu não me vejo ainda com vontade de ir para casa [...]. (DAT3).

Conforme Ulrich e Brott (2005), uma vida mais ativa colaborará de forma

significativa para o trabalhador decidir sua permanência no âmbito laboral e, assim,

postergar a aposentadoria.

O respondente DAT8 reflete sobre a nova fase em que vai passar,

destacando que não é o marco final, mas é consciente de que vai ser bom no que

for possível, demonstrando que talvez não haja mais o sentimento de tanta cobrança

por parte de si mesmo, uma vez que, na aposentadoria, vai ter a possibilidade de se

autoavaliar e não mais ser avaliado, como quando se está na ativa, desempenhando

suas atividades laborais.

Eu estou numa idade que não vou ser mais rico, não vou ser mais bonito, não vou ser mais nada, não vou ser o melhor artista, o melhor esportista. Não é que seja o fim... Eu vou ser bom naquilo que der para eu ser. Sei lá, vou ser surfista. Isso vai ser o bom, vai ser o novo. Agora eu vou ter a possibilidade de me avaliar e ver o que eu vou ser. Não é mais uma questão de ser avaliado, como quando se está trabalhando. (DAT8).

A docente DAT9 afirmou que tem receio em se tornar inoperante, inativa e

improdutiva. Destacou ainda o receio do isolamento social. Por isso, vem se

mostrando preocupada com a manutenção das amizades construídas na instituição

e na recomposição das amizades fora do local de trabalho e citou a condição de

morte figurativa, quando se referiu à situação do aposentado.

Aposentadoria, primeiro, é uma coisa assim meio que dá certo receio. [...] Receio de me tornar inoperante, a inatividade, improdutividade. [...] Por outro lado, também tenho o receio do isolamento, [...] as pessoas ficam um tanto quanto isoladas quando se aposentam. [...] As amizades não se sustentam por muito tempo, são amizades circunstanciais. [...] Parece que

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quem está trabalhando não tem mais tempo para aquela pessoa que foi, sabe... Figurativamente, é uma morte, sabe, desaparecem um pouco. [...] Eu fico muito preocupada em recompor amizades fora do local do trabalho porque parece que essas são mais duradouras. [...] Para mim, a aposentadoria produz um isolamento em função de a gente acreditar, se doar muito para o local de trabalho, para as relações afetivas construídas nesse espaço e que a gente pensa que elas continuarão e transcenderão a esse espaço [...]. O mundo do trabalho parece ter uma temporalidade definida, diferente um pouco das outras relações que são mais atemporais. (DAT9).

Para Carlos et al. (1998), um dos conceitos de aposentadoria é a de se retirar

aos aposentos, ausência de trabalho, o que colabora para a aparência depreciativa

que abrange abandono e inatividade. A morte figurativa citada pela docente acima é

descrita por Beauvoir (1990), quando esta ratifica que a pior morte para um indivíduo

é perder o que forma o cerne de sua vida e quando se abandona as ocupações que

fazem do ser humano o que ele é, como na aposentadoria; no sentido conotativo,

aposentar-se equivale a descer ao túmulo.

Quanto ao encerramento da participação social promovida pela

aposentadoria, segundo Veras, Ramos e Kalache (1987), leva ao isolamento,

insatisfação pessoal, diminuição da felicidade e até o surgimento de doenças e

incapacidades físicas, especialmente quando há uma forte centralidade do trabalho.

Percebe-se no conteúdo da mensagem do entrevistado DAT2 um sentimento

de nostalgia em deixar a instituição, na qual se dedicou por tantos anos, bem como

medo da inatividade e necessidade de se preparar para o processo, utilizando uma

licença-prêmio a qual ainda faz jus.

[...] é a minha vida toda aqui nessa escola, sem nunca ter ido a outro lugar. Eu nunca trabalhei em outro lugar, então isso me deixa tremendo, meio nervoso em pensar na dinâmica de não vir mais à escola. [...] É uma sensação diferente, sabe, não sei explicar direito. O trabalho é muito central na vida da gente. Tanta coisa me passa pela cabeça: eu vou conseguir ficar deitado? Porque só vivo correndo...Isso já vai acontecer agora nesse mês, porque vou pedir a minha licença-prêmio, então vai ser uma preparação para mim [...]. (DAT2).

Depreende-se da fala do docente supracitado a contradição representada

pelo momento da aposentadoria descrito por Rodrigues (2000), o qual pondera que,

se de um lado, alguns vivenciam a aposentadoria como uma fase de liberdade, de

possibilidades, de usufruir a vida sem patrão, horários, etc; de outro, pode ser

considerada um tempo de nostalgia.

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A entrevista DAT9, apesar de também imaginar que a aposentadoria será

algo positivo, apesar de reafirmar que é uma ruptura importante, uma vez que a

produtividade é algo forte na vida do trabalhador e destaca suas apreensões e

angústias, especialmente com a questão do tempo na sociedade moderna.

Imagino que vai ser uma coisa boa poder dizer para mim mesma que cumpri, se é que é uma obrigação moral, minha missão. Também não tenho a ilusão de que tudo será maravilhoso, pois é um corte, uma ruptura. Parece que a questão da produtividade é muito forte na vida da gente e produzir é estar efetivamente no local de trabalho e o olhar para quem não está mais produzindo é diferenciado, você olha para ela como... acabou! Não dá para saber como será. É uma incógnita, me dá certa apreensão pensar como vai ser. Também não sou uma pessoa que me tortura tanto em ter que vir para o trabalho. O que me angustia é o tempo. Eu vivo brigando com o tempo, embora eu já me convenci de uma coisa: o que eu não resolvo hoje, não vou resolver com a aposentadoria. [...] Vivemos a angústia do tempo. [...] (DAT9).

Segundo Zanelli e Silva (1996), no prenúncio da aposentadoria, os

sentimentos se misturam e, por vezes, se contradizem, pois a possibilidade concreta

de afastar-se do trabalho conflita-se com o medo do tédio, da solidão, da

instabilidade financeira e de doenças.

A DAT10 destacou a questão do envelhecimento e sentimento de descarte,

quando se referiu à aposentadoria.

“Tempo livre, descarte, ideia de velhice, de tempo passando, a hora de ‘puxar

a rede’.” (DAT10).

A questão de a aposentadoria ser um demarcador temporal do

envelhecimento, segundo León (2000), decorre das mudanças da aparência

pessoal, do comprometimento da saúde e do desempenho que pode afetar alguns

indivíduos, reforçando alguns preconceitos em relação à aposentadoria.

Bruns e Abreu (1997) afirmam que o envelhecer pode ter o significado de

tornar-se descartável, como se fosse algo que possui uma duração programada e

que, após um tempo de uso, vai para o lixo. Isso decorre da sociedade capitalista, a

qual estabelece um tempo útil de vida para as pessoas, utilizando-se do dispositivo

legal da aposentadoria para definir o limite de um corpo que não é mais reconhecido

como produtor de mais valia.

No que concerne à percepção dos docentes em transição, acerca de como

sua família e amigos verão sua aposentadoria, verificou-se que a maioria dos

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entrevistados acredita que sua família não vai encarar com naturalidade e não

consegue vê-los ainda investidos dessa nova condição.

Não, a minha família não me vê aposentado porque ela me acompanha e sabe que fico fazendo as coisas. Meus pais foram professores daqui, ficam lamentando. Eles ficam tristes quando digo que vou me aposentar, choram, inclusive. A minha entrada aqui na escola como professor foi muito jovem, comecei a ensinar aos 18 anos. Fui ex-aluno. Não saí da escola, continuei. (DAT2).

A visão de fora é bem diferente da visão de dentro. Os meus filhos acham que ainda tenho muita energia, minha esposa já não pensa tanto assim. Alguns pensam que vou adoecer, mas eu digo que não, pois estou preparando minha mente para isso. Será possível que eu vou morrer só por causa de dez anos de aposentadoria? Vou adoecer? Acredito que tudo é questão de mente, de controle. Eu sei que vou desacelerar. Não queira comparar estar trabalhando com estar em casa. Como eu tenho consciência disso, eu tenho que me preparar mentalmente, psicologicamente e meu corpo também, fazer mais atividade física. Já que eu vou ter mais tempo, acho que é um cuidado que o aposentado deve ter, senão você vai ter aumento na incidência de doenças cardíacas, diabetes, daí começa a ir a médicos, tomar remédios, ter depressão. Com mais tempo dá para priorizar a família e a qualidade de vida. (DAT8).

Já para alguns entrevistados, as pessoas de seu convívio vão encarar o

processo com naturalidade e até incentivam a tomada da decisão de aposentar-se.

“Minha esposa conta as horas para que isso aconteça.” (DAT4).

Vão encarar com naturalidade, é um processo natural. De repente, posso até fazer o curso de preparação para o pós-carreira, mas já estou preparado para isso. Problemas como depressão, alcoolismo... Não vou ter problemas com isso. Eu acho que você tem depressão quando você sente solidão em relação a si mesmo. Quando estamos bem acompanhados de nós mesmos, isso não ocorre. (DAT6).

Leite (1993) sugere que o indivíduo afaste-se das atividades laborais, de

forma gradual, para ir se preparando psicologicamente para o processo e para que a

família também se habitue a um maior tempo de convivência com o aposentado em

casa.

Docentes aposentados

Quando indagados sobre cinco palavras que definem aposentadoria, foram

atribuídos significados, como: tempo livre (frequência de 3 vezes); oportunidade,

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liberdade, impacto e voluntariado (frequência de 2 vezes), conforme demonstra o

Quadro 10.

Quadro 10 - Atributos descritivos da aposentadoria – Docentes aposentados

SIGNIFICADO DA APOSENTADORIA

PARTICIPANTES DA PESQUISA – GRUPO II

FR

EQ

NC

IA

DAp 1

DAp 2

DAp 3

DAp 4

DAp 5

DAp 6

DAp 7

DAp 8

DAp 9

DAp 10

Tempo livre 3

Oportunidade 2

Liberdade 2

Voluntariado 2

Impacto 2

Atividade 1

Dever cumprido 1

Esforço 1

Merecimento 1

Liberdade 1

Desligamento do trabalho

1

Não compromisso com horários

1

Nova etapa 1

Maior convivência com a família

1

Viajar 1

Retomada de projetos pessoais

1

Necessidade de preparação

1

Alegria 1

Medo 1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

O aspecto ‘tempo livre’ citado pelos aposentados entrevistados foi

mencionado, principalmente para fins de dedicação à família e a si próprio, viajar e

para ter mais qualidade de vida, conforme se observa nas falas que se seguem:

Aposentadoria é resgatar do trabalho que foi feito os benefícios que ela pôde nos dar depois disso: tempo livre disponível para você viajar na hora e na época em que você puder, sem precisar de férias; ter mais tempo para a sua família, [...], desenvolver um trabalho também intelectual que você queira [...], sem aquela obrigatoriedade [...], uma coisa que lhe dá mais prazer. Outra coisa é que você tem mais tempo de rever seus amigos, sua família [...]. Eu acho que a aposentadoria resgatou muita coisa que o trabalho não propicia [...]. Eu acho muito ruim um aposentado que se enche de coisas para fazer para as outras pessoas e não pensa nele. (DAp1).

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“Dever cumprido, esforço, merecimento, mais tempo para a família e

liberdade.” (DAp2).

“Só nos primeiros anos eu senti falta do trabalho; depois, eu ocupei meu

tempo, viajei, fui fazer outras coisas.” (DAp8).

“Eu me sinto muito bem nesta condição. [...] Tenho mais tempo para viajar,

passear, conhecer o mundo, para ter mais qualidade de vida.” (DAp9).

A aposentadoria para mim trouxe algumas oportunidades que foram muito gratificantes. [...] a aposentadoria me deu essa possibilidade de viver um pouco mais, conviver mais com minha família, fazer algumas viagens, mesmo que não fossem tão longas, mas sem tanta preocupação; sair com meu esposo à noite, muito mais livre, porque como professora eu tinha uma sobrecarga de trabalho muito grande [...]. A aposentadoria para quem aprende a aproveitar a vida é uma nova etapa de vida. (DAp5).

Isso é corroborado por Lima (2006), o qual afirma que a aposentadoria pode

ser um momento bom, de construir projetos novos, com mais tempo livre. O

planejamento de viagens relatado por alguns respondentes na fase de

aposentadoria relaciona-se com o poder aquisitivo do grupo, cuja média salarial é de

8,8 salários-mínimos.

Os aposentados DAp6 e DAp10 demonstram ter percepções positivas acerca

da aposentadoria, com destaques interessantes. DAp6 enfatiza a questão do direito

conquistado e da evolução da sociedade com o surgimento do novo aposentado,

com perfil diferenciado de consumo e participante ativo na sociedade e não mais à

margem dela, como em épocas anteriores. Já DAp10, relata que seu pedido

voluntário de aposentadoria foi no momento certo, pois queria deixar uma imagem

de vitalidade para os alunos e não de velhice. Além do mais, queria ter condições

ainda de fazer outras atividades prazerosas. Criticou ainda a tecnologia que,

segundo ele, afeta os relacionamentos interpessoais na instituição e a expansão

desta, a qual para ele não é mais tão acolhedora quanto antes.

Mesmo com essa conotação negativa da inatividade, eu gosto da condição de aposentada, porque encaro como um merecimento. [...] Já me perguntaram se eu não me sentia acanhada sendo aposentada tão nova, como se eu tivesse sendo sustentada pela nação. Eu dei minha contribuição de trabalho e pecuniária, que, aliás, continua sendo descontada todo mês. Vejo progressos em relação à visão do aposentado: projetos de qualidade de vida, na moda. Não tem mais a moda do velho e a moda do novo. Coincidiu que a sociedade evoluiu, a medicina evoluiu e o pensamento masculino e feminino também evoluíram. Isso favoreceu o surgimento de um novo aposentado que é o novo velho. O aposentado hoje é um novo

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velho. Antigamente, todo aposentado era velho e se o aposentado é velho, tinha que ficar à margem da sociedade. (DAp6).

Eu me sinto bem. Eu fico vendo hoje colegas que estão saindo na compulsória [...]. Eu sempre me preocupei em estar bem, fisicamente, mentalmente, para lecionar, passar uma imagem de vitalidade para o aluno [...]. A escola era menor no passado, era mais acolhedora, [...]. A própria tecnologia afasta as pessoas. A internet hoje deixa as pessoas mais ligadas à máquina e menos às pessoas. Eu lembro que nos anos 70, 80, havia jovens e pessoas bem mais velhas trabalhando juntos, mas não existia esse preconceito, esse formalismo. [...] Hoje há uma preocupação com a titulação, mas carência com o lado humano [...]. Foi um dos fatores que me fez sair e não esperar pela compulsória e sair já no tempo previsto. (DAp10).

Segundo Silva (2008), a origem da categoria ‘terceira idade’ é uma das

maiores mudanças ao longo da história da velhice, pois inverteu o sentido dos

valores a ela atribuídos. Se, antes a velhice era compreendida como decadência

física e invalidez, momento de descanso e tranquilidade, passou a significar

momento de lazer, de realização pessoal e criação de novos hábitos, hobbies e

habilidades, bem como cultivo de relações sociais.

A entrevista DAp6 ressalta que a libertação proporcionada pela aposentadoria

advém da saturação ocorrida por muitos anos dedicados à vida laboral, os quais lhe

suprimiam tempo para cuidar da saúde e para a realização de projetos pessoais.

Na época representou uma espécie de libertação. O trabalho também tem época de saturação. Eu acho que, na época, por questões pessoais e do trabalho, eu estava fisicamente e emocionalmente sobrecarregada, eu estava cansada, desestimulada. [...] Então, para mim, representou alívio, libertação, nesse sentido de que me livrei daquela obrigação relativa ao trabalho [...]. Eu queria me voltar para os meus interesses pessoais, inclusive um projeto familiar. (DAp6).

O fator temporal, relatado por DAp6, tão ocupado pelo trabalho, durante sua

vida produtiva, estrutura, segundo Giddens (2005), a organização da vida do

indivíduo e, mesmo sendo muitas vezes opressivo, direciona as atividades diárias da

pessoa.

O DAp9 definiu de forma enfática a aposentadoria, utilizando a palavra

alegria, para dar significado a ela.

“Alegria, alegria, alegria, alegria e alegria. Só alegria, até agora.” (DAp9).

Magalhães et al. (2004) define essa fase inicial da aposentadoria,

caracterizada pelo sentimento de euforia, como uma etapa de lua-de-mel e que no

caso de DAp9 é explicada pelo fator temporal, pois o aposentado só tem 1 ano de

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desligamento do trabalho, bem como a questão da condição financeira satisfatória,

mencionada no decorrer de sua entrevista, a qual lhe permite ter uma vida

confortável e de qualidade, bem como usufruir atividades de lazer e práticas

desportivas.

Dois entrevistados aposentados utilizaram a palavra ‘impacto’, para atribuir

significado à aposentadoria, com vertentes diferenciadas. A DAp8 teve sua decisão

de aposentar-se influenciada por questões políticas, como a mudança de planos de

governo que afetou a previdência. A lacuna oriunda do rompimento com o mundo do

trabalho foi preenchida por outra atividade profissional e em seguida, pelo trabalho

voluntário, atividade que DAT5 também pretende desenvolver. Já o impacto

atribuído à aposentadoria por DAp10 foi relacionado a questões psicológicas e

familiares.

Aposentadoria foi um impacto no primeiro momento, mas eu comecei a me organizar depois. Montei uma loja de presentes, viajava muito, mas não me sentia totalmente realizada. A minha aposentadoria foi em 1991, eu não queria me aposentar, mas devido ao governo Collor, eu acabei me aposentando. [...] Em 1996, eu me engajei em um trabalho voluntário com crianças pobres, de 5 a 10 anos de idade. (DAp8).

Um impacto que, realmente, por mais que se prepare psicologicamente, é uma mudança, mudança porque pega você assim na sua vida familiar em extremos, por mais que perceba como necessárias ou naturais da vida... No início, foi a saída de casa com o casamento, depois os filhos casando, a casa ficando grande para minha esposa e eu. Junta tudo de uma tal forma... [emocionou-se]. (DAp10).

Isso coaduna com Leite (1993), o qual aponta que a aposentadoria provoca

mudanças impactantes nos aspectos psicossociais do indivíduo, tais como: maior

convivência familiar, perda do papel social de trabalhador, afastamento dos colegas

de trabalho e diminuição do poder aquisitivo, o que pode levar o indivíduo

aposentado a sentir-se inútil, podendo afetar sua identidade, autoestima e sentido de

vida.

O aposentado DAp7, assim como DAp8, entrou com o pedido de

aposentadoria voluntária, devido à mudança do plano de governo e ressalta a

importância de se preparar para o processo, reduzindo a carga horária e ocupando

gradativamente o tempo livre com atividades sociais.

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Por exemplo, quando eu me aposentei, eu não pensava em me aposentar, foi de uma hora para outra, no período de Collor, [...] Eu passei uma semana muito preocupado, quando me aposentei. [...] No início, foi difícil para assimilar, então eu oriento a todos que nunca se aposentem como eu. Não foi sem pensar, mas... a orientação que eu dou é que tem que se preparar para a aposentadoria. Primeiramente quando for se aposentar, diminua sua carga horária e use essa outra parte do tempo para fazer algumas atividades sociais, principalmente com criança, porque não tem coisa melhor, [...]. (DAp7).

A fala do entrevistado supracitado destaca a importância de se preparar para

o processo de aposentadoria, diminuindo a carga horária, para dedicar-se a outras

atividades, como as sociais, por exemplo. Isso é sugerido por Kim e Feldman (2000),

quando mencionam que na pré-aposentadoria condições de trabalho como: redução

da jornada diária, diminuição do estresse e da responsabilidade, bem como maior

flexibilidade e menos demanda física podem ser modificados, minimizando o

impacto da ruptura com o trabalho, à medida que prepara gradativamente e não

abruptamente o desligamento do mundo do trabalho.

O entrevistado DAp2 cita a importância da preparação financeira, para se

conseguir atingir uma aposentadoria tranquila e a percepção do sentimento de

indiferença por parte das outras pessoas.

[...] Eu me programei financeiramente para viver da forma que posso. Quem não sabe administrar bem o financeiro, não consegue ter uma aposentadoria tranquila. A minha única queixa é que as pessoas olham para nós e não conseguem nos ver mais como antes, quando éramos ativos. Parece que nos olham com indiferença. (DAp2).

França (2009) afirma que esse planejamento financeiro deve ser estimulado

no período pré-aposentadoria do trabalhador, para que ele possa se programar para

o estilo de vida que almeja levar na aposentadoria e programar bem o gasto dos

recursos disponíveis.

O uso do termo ‘inativo’, em referência ao aposentado, foi citado por DAp1

como algo que a incomoda, uma vez que sugere conotativamente improdutividade, o

que não se configura uma realidade explícita na vida das pessoas que se encontram

nessa condição.

“Esse termo ‘inativo’ não é apropriado para o aposentado porque você não é

um inativo, apenas não está trabalhando naquele local, mas você pode trabalhar em

outro, pode fazer outras coisas [...].” (DAp1).

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Isso é ratificado por Santos (1990), a qual cita a ambiguidade de sentimentos

gerados pela aposentadoria: crise – por não aceitar a condição de inativo ao qual

está vinculado; e liberdade ao realizar planos e atividades que antes o trabalho

impedia.

O sentimento de medo surge no relato de um aposentado, que se desligou da

instituição pesquisada, mas mantém outro vínculo empregatício. Afirma ter medo da

ociosidade e pensa que a aposentadoria deve ser uma fase de se pensar em investir

em outras formas de se ocupar o tempo.

Medo, até porque essa coisa de relacionar a aposentadoria à ociosidade... Se bem que esse não é o meu pensamento. Quando eu estiver totalmente aposentado, porque eu sou aposentado do IFRN, mas em atividade lá na universidade. Quando eu estiver projetando lá para frente estar totalmente aposentado, isso me dá um certo medo. Mas, eu estou me preparando para isso, [...] porque eu não quero ficar na ociosidade. [...]. (DAp3).

Para Folha e Novo (2011), o medo pode surgir com o advento da

aposentadoria, não apenas de não ter tempo para fazer o que desejam, mas até

pela ansiedade de recuperar ou ganhar o tempo perdido. Ele pode surgir porque não

se trata de um processo pronto, mas sim de uma etapa que requer elaboração e

planejamento.

Os respondentes DAp3, DAp4 e DAp7 percebem a aposentadoria como um

momento difícil, porque parecem ter o trabalho com um grau de centralidade muito

forte em suas vidas, conforme os relatos que se seguem:

Eu valorizo muito o trabalho, como eu já disse. Eu acho que a pessoa se sujeitar a ficar sem atividade alguma é assinar uma sentença de morte. [...] Para mim, sentir-se produtivo é muito importante. Jamais achar que a sua missão terminou, porque que você tem coisas a fazer ainda, tem coisas a aprender, tem que estar sempre aprendendo, pesquisando, inovando, buscando um sentido para a vida. [...] A pessoa tem que fazer alguma coisa que se sinta útil, para ele e para os outros, fazer alguma atividade que lhe dê prazer. Eu jamais quero me aposentar mesmo, botar um pijama e ficar em casa. [...] Eu, todos os dias, estou trabalhando e estudando. Aposentadoria mental não faz parte do meu vocabulário, sempre estarei renovando meus conhecimentos. (DAp3).

No Brasil tem muito essa questão: aposentou, parou e isso de aposentar e parar, para mim, me amedronta. Eu sempre trabalhei, comecei a trabalhar aos 17 anos de idade e até hoje não parei; então, eu temo que aquela parada, ligada ao trabalho intelectual, traga comprometimento para a minha saúde. (DAp4).

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Eu sempre aconselho que não se aposente cedo. [...] Para você ter ideia, ainda hoje eu tenho fôlego. Eu me aposentei novo ainda, em plena atividade, eu vivia a escola, eu não tirava férias, como era importante para mim estar aqui. Eu tinha um bom relacionamento com os alunos, os alunos eram a minha vida. Eu nem planejei ser professor, mas me apaixonei pela docência. (DAp7).

Segundo França (2008), os trabalhadores que têm uma visão muito positiva

do trabalho tendem a adiar a aposentadoria. Cude e Jablin (1992) ressaltam a

ambiguidade do compromisso organizacional para os empregadores e empregados.

Se, por um lado, dedicar-se com afinco à empresa e ser bastante comprometido

melhora a produtividade no decorrer do tempo laboral, por outro, estes mesmos

esforços trariam empecilhos ao trabalhador no momento da aposentadoria.

França (2008) afirma que existem trabalhos desgastantes, mas que trazem

compensações como algo que traz uma contribuição significativa para a sociedade,

caso da profissão de professor, na presente pesquisa. Para Demo (2006), o não-

trabalho também é uma forma de trabalho, pois o corpo trabalha para se manter e

para produzir novas energias, acumulando reservas criativas para utilizar em um

próximo trabalho. Para acumular estas reservas, o ócio, o prazer e o lazer devem ser

exercitados.

A entrevistada DAp4, mesmo na condição de aposentada, afirma não ter

vivenciado ainda esse processo e a define de uma forma como se ainda não

pertencesse realmente a esse grupo.

Vou falar de aposentadoria sem ter vivenciado, porque realmente eu me aposentei e não vivenciei, eu não parei, mas aposentadoria normalmente pelo que eu escuto das outras pessoas, é o desligamento do trabalho; é se dedicar mais à saúde, é o não compromisso com horário. (DAp4).

Já a entrevistada DAp8 afirma que a aposentadoria não representa velhice e

que o passar do tempo é encarado como um processo natural. Pela sua fala,

entende-se que ela relaciona velhice à inatividade e por se considerar saudável e

produtiva, não pauta velhice à aposentadoria.

Meus irmãos ficam impressionados com minha disponibilidade e vivacidade. A aposentadoria não representa velhice, até porque sou uma pessoa saudável, tenho uma coisinha ou outra, mas nada grave. É natural do avançar da idade, mas sou muito independente. Eu não me sinto uma pessoa velha, encaro com naturalidade o passar do tempo. (DAp8).

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Consoante Santos (1990), velhice e aposentadoria são dois conceitos ainda

bastante vinculados nos dias atuais, relacionando-a à invalidez e à incapacidade

laborativa. Esse preconceito, de acordo com León (2000), acentua-se quando há um

comprometimento do aspecto pessoal, da saúde e do desempenho na realização de

algumas tarefas.

Em relação aos docentes aposentados, quando questionados sobre a

percepção que sua família e amigos têm em relação a sua aposentadoria, dos dez

entrevistados, oito responderam que a família e amigos encaram a aposentadoria

com naturalidade, como um descanso merecido, uma conquista, e não há

cobranças.

Comparando-se ambos os grupos, verificou-se que há semelhanças entre os

significados atribuídos à aposentadoria, no que se refere a tempo livre, liberdade e

sentimento de dever cumprido. O sentimento de medo, principalmente da

ociosidade, também apareceu nos dois grupos, bem como o de felicidade. São as

dualidades da aposentadoria. O medo de perder as relações sociais conquistadas

no mundo do trabalho foi citado apenas por uma docente ativa em transição. A

questão da qualidade de vida foi mencionada apenas pelos docentes ativos em

transição, bem como o desejo de permanecer ainda em atividade, para manter a

mente ocupada. Houve um entrevistado em transição e outro na condição de

aposentado que não conseguiram definir a aposentadoria em cinco palavras. O

docente ativo em transição, porque acha que sua missão ainda não acabou, não

quer ficar em casa; e a docente aposentada, porque continua em atividade e diz não

ter vivenciado ainda esse processo. O significado de descarte e velhice foi atribuído

à aposentadoria apenas pelos docentes ativos em transição.

Destacou-se o conteúdo de três entrevistados aposentados que utilizaram a

palavra ‘impacto’ para definir o processo; um deles, implicitamente. Esse impacto

deveu-se a questões de planos de governo e ao impacto psicológico, especialmente

na esfera familiar. Por fim, desses três, dois aposentados supriram a lacuna causada

pela ruptura com o mundo do trabalho desenvolvendo outras atividades sociais

como o voluntariado.

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110

4.3.2 Ganhos e perdas com a aposentadoria

Assim como a vida humana em todas as fases inclui ganhos e perdas, a fase

de aposentadoria também. No decorrer da pesquisa, foi solicitado aos participantes

que estes os relacionassem, bem como enfatizassem o que tinha mais realce ou

importância para eles, tendo sido obtidos os resultados abaixo descritos.

Docentes ativos em transição para aposentadoria

Os possíveis ganhos advindos com o processo de aposentadoria, de acordo

com os participantes do grupo I, estão expostos no Quadro 11.

Quadro 11 – Relação de ganhos com a aposentadoria - docentes ativos em transição

Ganhos

Participantes da pesquisa – Grupo I

Fre

qu

ên

cia

DA

T1

DA

T2

DA

T3

DA

T4

DA

T5

DA

T6

DA

T7

DA

T8

DA

T9

DA

T10

Qualidade de vida

5

Liberdade 4

Não cumprimento de horários

1

Mais contato com a família

1

Menos preocupação

1

Prêmio 1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Em relação aos ganhos acrescidos com a aposentadoria, os de maior

destaque pelo grupo pesquisado foram: qualidade de vida (frequência 5 vezes) e

liberdade (frequência de 4 vezes).

Em relação à qualidade de vida destacada como ganho na aposentadoria,

Deps (1994) afirma que, embora haja mais ganhos na infância e mais perdas na

velhice, a relação ganhos-perdas ocorre concomitantemente em todos as fases, não

sendo possível admitir-se que as perdas permanentes e biológicas da velhice

limitem a qualidade de vida das pessoas.

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Em destaque a fala de DAT9 sobre o ganho de liberdade que esta terá ao

longo da nova fase que vivenciará:

“O ganho é que vou ter mais tempo, mais liberdade. Mais tempo para visitar

meus amigos, de ver pessoas, de conversar, não vou estar mais presa a horários.”

(DAT9).

Conforme Duarte e Silva (2009), a expectativa da “liberdade tardia”, descrita

por Lehr (1977), seria como uma forma de vivenciar sentimentos positivos nessa

nova fase que antes não puderam ser vivenciadas, devido ao envolvimento com o

trabalho e a dura rotina por ele estabelecida.

Quanto as possíveis perdas decorrentes da aposentadoria, o Quadro 12

demonstra as perdas relatadas pelos docentes ativos em transição para

aposentadoria.

Quadro 12 – Relação de perdas com a aposentadoria - docentes ativos em transição

Perdas

Participantes da pesquisa – Grupo I

Fre

qu

ên

cia

DA

T1

DA

T2

DA

T3

DA

T4

DA

T5

DA

T6

DA

T7

DA

T8

DA

T9

DA

T10

Relações interpessoais

5

Financeira 2

Diminuição do contato social

1

Contato com a academia

1

Não consegue visualizar perdas

1

Convivência social

1

Papel profissional

1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

No que se referem às perdas relacionadas pelos docentes em transição,

destacou-se a perda das relações sociais construídas no mundo do trabalho

(frequência de 5 vezes), verificadas nos conteúdos das mensagens dos

entrevistados:

“A perda é a diminuição do contato social, bem ou mal a gente se afasta dos

colegas e da convivência diária quando se aposenta.” (DAT1).

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A perda é a convivência com os colegas do trabalho e essa é uma perda que não tem como você maquiar. Quando você se aposenta, teoricamente, tem mais tempo e quando vai se comunicar com os colegas da ativa, muitas vezes eles estão ocupados. Isso faz com que as relações que estão mais próximas, vão se distanciando. [...]. Outra perda são as confraternizações, aniversários... (DAT7).

A maior perda que eu vou ter é a amizade. Não é salário, paredes, cadeiras, são as pessoas. Tem coisa melhor do que essa interação? [...] Existe uma coisa importante no ser humano: conviver com várias gerações. Aqui me relaciono com colegas mais velhos, da mesma idade, os jovens que estão entrando, a interação com os alunos [...]. Adoro meu ambiente laboral. É uma instituição que dá oportunidades e quando você sai, certamente sente saudades. (DAT8).

Por outro lado, eu acho que vou perder muita coisa. Vou perder a coisa mais importante para a vida do professor, que é o contato com o aluno. Não ter mais o feedback deles, não ser mais conhecido, o anonimato. Isso me dá um certo medo. [...] Você não está sozinho, você tem alguém, há laços de afetividade. (DAT9).

“A perda vai ser a fragilidade do elo entre as relações interpessoais. A gente

cria laços de amizade muito fortes no trabalho. Essa perda supera até a financeira.”

(DAT10).

A perda financeira, mesmo sendo considerada relevante por alguns autores

como França (1999) e Zanelli, Silva e Soares (2010), foi destacada apenas por dois

docentes em transição, DAT4 e DAT5, mostrando-se pouco expressiva nesse grupo.

De acordo com Deps (1994), os estudos realizados por Beveridge (1980) e por

Parker (1982) constataram que a perda dos companheiros do trabalho é mais

relevante do que a perda financeira, resultado igualmente verificado nesse grupo

pesquisado.

Um único respondente deste grupo, DAT6, enunciou que não consegue

visualizar perda alguma com o processo de aposentadoria e que só vislumbra

ganhos.

A ruptura do contato com o mundo acadêmico foi citada por DAT2 como a

perda de maior relevância, enquanto DAT7 destacou a perda do status da condição

de ativo numa sociedade que tanto valoriza a produtividade do mundo do trabalho,

bem como da sua referência e da sua identidade, ao aposentar-se.

“A perda é o contato com a academia, esse contato com as coisas que estão

acontecendo, com a tecnologia.” (DAT2).

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Outra perda também é a perda do status de estar na ativa. Nessa sociedade pós-moderna ocidental brasileira, valoriza-se muito quem está trabalhando. Você perde o seu papel, perde a sua referência. É fulano de onde? Faz o que? Quando se está na ativa, se é tratado como professor fulano de tal. Quando se aposenta, é tratado como aposentado. Quando se vai preencher qualquer coisa, querem que coloque aposentado. Eu não gosto disso. Mencione o que fomos, professor aposentado, por exemplo. Essa é uma perda expressiva. (DAT7).

O risco de estagnação intelectual e/ou profissional; perda de status, de papel

e/ou de identidade profissional são destacados por Deps (1994) como perdas

significativas com a aposentadoria. Isso é compreensível de ser enfatizado pelos

participantes em transição, pelo fato de a profissão docente ser de cunho intelectual,

que envolve aprimoramento e capacitação contínuos, de forma que romper com o

mundo do trabalho que, de certa forma o estimula a viver se atualizando e buscando

continuamente o conhecimento, pode representar realmente uma perda de contato

com os estudos.

Ao analisarem ganhos e perdas com a aposentadoria e responderem o que

tem mais realce ou grau de importância, entre o grupo de docentes em transição, a

metade dos respondentes consideram o ganho maior do que a perda.

A sensação de dever cumprido alivia mais essa grande perda que é a diminuição do contato com as pessoas; vou contribuir em outra instituição, de outra forma e a gente tem que trabalhar para isso; por isso, é importante fazer projetos para essa nova fase. (DAT1).

A entrevistada DAT7 destacou que essa comparação depende do momento

que está sendo vivenciado pela pessoa e ressalta a importância do servidor em

transição participar de um curso de preparação para o pós-carreira.

Eu acho que vai depender da situação que a pessoa que está se aposentado vivencia naquele momento. É uma pena que os próprios servidores da casa não estejam compreendendo a importância de participar do curso de preparação para o pós-carreira, pois não o prestigiam. (DAT7).

Tavares (2003) destaca que, embora seja um período impactante, a

aposentadoria implica ganhos e perdas, mas grande parte dos sujeitos a concebem

como um momento difícil, devido ao fato de estarem inseridos em um contexto

capitalista que supervaloriza a produtividade e o consumo.

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Docentes aposentados

Em relação aos docentes aposentados, os principais ganhos com a

aposentadoria estão relacionados abaixo no Quadro 13.

Quadro 13 – Relação de ganhos com a aposentadoria - docentes aposentados

Ganhos com a

aposentadoria

Participantes da pesquisa – Grupo II

Fre

qu

ên

cia

DA

p1

DA

p2

DA

p3

DA

p4

DA

p5

DA

p6

DA

p7

DA

p8

DA

p9

DA

p10

Liberdade 5

Direito

conquistado

1

Tranquilidade 1

Descompromisso

com horários

1

Ampliação do

campo de ação

social

1

Livrar-se do

excesso de

responsabilidades

1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Dentre os ganhos relatados adquiridos com a aposentadoria, a liberdade foi

considerada o maior deles. Em destaque, as falas de DAp5 e DAp10 sobre o

referido ganho:

Com a aposentadoria, a gente ganha mais liberdade. Liberdade para ficar em casa, liberdade para viajar, horas que a gente escolhe para ler, ver bons filmes, visitar amigos e dependendo da sua formação, visitar idosos; ir à igreja com mais frequência, participar de aniversários de pessoas amigas. (DAp5).

“O ganho é a liberdade de você fazer as coisas sem muita pressão,

automação com horários, liberdade de poder viajar quando quiser, sem estar tudo

cronometrado [...].” (DAp10).

De acordo com França e Vaughan (2008), na medição de ganhos e perdas

com a aposentadoria, um dos ganhos mais recorrentes com esse processo foi, de

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acordo com pesquisas realizadas por Antonovsky, Sagy, Adler e Visel (1990), a

liberdade do trabalho, representando não ter que ou não ser mais obrigado a e a

liberdade para fazer outras atividades.

No que se refere às perdas com a aposentadoria, o Quadro 14 demonstra os

principais resultados encontrados.

Quadro 14 – Relação de perdas com a aposentadoria - docentes aposentados

Perdas com a aposentadoria

Participantes da pesquisa – Grupo II

Fre

qu

ên

cia

DA

p1

DA

p2

DA

p3

DA

p4

DA

p5

DA

p6

DA

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DA

p8

DA

p9

DA

p10

Relações interpessoais

5

Financeira 2

Convivência social

1

Cotidiano de trabalho

1

Energia, vitalidade

1

Não ter contribuído com a geração atual

1

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Conforme demonstra o quadro acima, os docentes aposentados destacam a

perda das relações interpessoais alicerçadas ao longo das atividades laborais, tanto

com colegas, quanto com alunos, das amizades construídas, do cotidiano do

trabalho; enfim, da convivência, conforme os respondentes DAp1, DAp4, DAp6,

DAp8, DAp9 e DAp10. Observaram-se sentimentos de nostalgia e emoção virem à

tona, no decorrer da entrevista, especialmente, no que tange a essa relação de

perdas oriundas da aposentadoria.

“A perda foi de amigos do trabalho, que eu deixei. Ah, e os alunos... Depois

que passou um ano, quando retornei, eu senti muito, pois passei pelos alunos e eles

não me conheciam mais. Dá saudade.” (DAp1).

“Uma grande perda é a perda do cotidiano do trabalho, ou você se desliga da

trajetória de um trabalho, ou você é obrigada a se desligar das pessoas.” (DAp4).

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A perda foi o contato mais próximo com os colegas, boas cabeças que eu encontrei, da riqueza que o outro colega tem, no repertório profissional e também de amizades. Quando você está no trabalho, você não consegue diferenciar quem são os colegas e quem são os amigos. Parece que está tudo no mesmo nível. Quando você se aposenta, você consegue diferenciar quem é amigo e quem é colega. [...]. (DAp6).

“A perda é a falta de contato com as pessoas, com as amizades daqui. Tudo

fica diferente quando a gente se aposenta, não sei se é coisa da cabeça da gente,

mas é aposentado, pronto, indiferença.” (DAp8).

Conforme Deps (1994), uma das principais perdas com a aposentadoria é

basicamente a afetiva, decorrente do afastamento das relações sociais do trabalho.

Em se tratando do grupo pesquisado de docentes, isso se relaciona com o próprio

papel profissional do professor, ofício de grande envolvimento interpessoal.

A perda financeira também foi destacada nesse grupo, porém com pouca

relevância, à semelhança do grupo pesquisado de docentes em transição, de acordo

como que é verificado no relato de DAp1.

Por mais que a gente tenha um tempo certo para a aposentadoria, o seu salário não acompanha quem está na ativa trabalhando. Você não tem mais férias, não tem mais a função gratificada da coordenação, essas são as perdas financeiras. (DAp1).

Ratificando o que já foi discutido anteriormente, as perdas financeiras são

relevantes na aposentadoria, porém não tão enfatizadas por este grupo de

aposentados, do que se depreende que isso decorra da sua média salarial, a qual é

considerada satisfatória para a manutenção de um bom poder aquisitivo.

Por fim, a entrevista DAp5 destacou ainda a perda de energia e de vitalidade,

quando se é aposentado, o que é compensado pelo tempo a mais que se dispõe

para cuidar da saúde.

“Com a aposentadoria, você perde energia, mas tem mais tempo para cuidar

da sua saúde. Quando você está aposentado, você vai necessitar de mais cuidados.

Se você está trabalhando, fica difícil faltar ao trabalho para isso [...].” (DAp5).

Em relação à comparação de ganhos e perdas com a aposentadoria, o grupo

de aposentados foi praticamente unânime em destacar que o ganho teve maior

realce do que a perda com este processo. Apenas DAp10 destacou a perda, em

detrimento do ganho e DAp5 explicou que o ganho ou a perda são circunstanciais e

dependem da vida que a pessoa leva.

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Eu comparo, muitas vezes, a aposentadoria, fazendo um paralelo, com um jogador de futebol. Desde quando saiu Romário, perto do milésimo gol, ficava na pequena área esperando a bola chegar, com uma cara já um pouco cansada, diferente dos mais velozes, no auge. Essa imagem fica para as gerações. [...] Eu, praticamente, não é cobrando nada não, não tive uma homenagem, um reconhecimento por tudo que fiz a essa instituição. Acho que falta um trabalho mais sistemático para o docente que está se aposentando, para redução de carga horária em sala de aula, com a compensação de outras atividades. O professor passa toda sua vida, muitas vezes tem um ano e o outro tem 30 anos de serviço, com a mesma carga horária; por isso, sugiro uma redução progressiva de suas atividades de sala de aula, para que esta ruptura não seja tão abrupta [...]. Faz um ano que me aposentei e muitos colegas não sabem. A instituição não nos valoriza nesta condição. (DAp10).

Essa pergunta para você isolar uma coisa da outra, é difícil, porque você tem ganhos, pela liberdade que você passa a exercer, mas se vêm os netos e você tem que ficar com eles, por exemplo, para os filhos trabalharem e a aposentadoria não está sendo um tempo livre para si próprio, uma compensação por tantos anos de trabalho, uma tranquilidade, vejo como perda. (DAp5).

Isso se coaduna com Mori (2006), quando este afirma que a aposentadoria é

uma condição que pode gerar angústia e depressão, pois rompe com a continuidade

das atividades laborais do indivíduo.

4.3.3 Expectativas dos docentes ativos em transição com relação à

aposentadoria

Os docentes em transição entrevistados, quando indagados sobre as

expectativas em relação à aposentadoria, destacaram, em sua maioria, perspectivas

positivas. Apenas DAT9 mencionou o receio de vivenciar essa nova condição sem a

existência de um projeto pós-carreira bem definido e de ver a liberdade transformada

em rotina.

Eu espero que eu consiga, primeiro, ter mais liberdade com horários, tempo mais livre para sentar e tomar um café, jogar conversa fora com os amigos, bater um papo, um café bem demorado, sem preocupação com horários. [...] São mais de trinta anos com o tempo limitado. [...] Essa coisa que o homem vivencia de querer ter liberdade, é uma liberdade vigiada, você tem medo também. Até quando essa liberdade é uma coisa boa, até quando não vai virar rotina? Porque liberdade é bom, quando é mais circunstancial. Eu fico assim meio receosa. Eu não tenho nenhum projeto pessoal de aposentadoria. Por enquanto, é como se eu fosse viver na vagabundagem. [...] Eu gostaria de fazer alguma coisa solta, livre, mas não necessariamente voluntariado, que você tem de cumprir regras e horários, porque é complicado. Uma coisa que eu já sei mais ou menos é que quando eu me aposentar, eu quero escrever um livro, publicar. (DAT9).

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A fala de DAT9 ratifica o que foi descrito por Shibata (2006), quando esta

relata que a aposentadoria enseja um espaço de preparação para um afastamento

futuro, pois mostra ao trabalhador a possibilidade real de um mundo fora do âmbito

laboral. Essa preparação consiste em uma reorganização da vida na esfera familiar

e relacional, de onde emergirão outras atividades, hobbies, experiências em artes e

ofícios autônomos em relação à organização do trabalho, o que poderia ser o anseio

da entrevistada, quando afirma que quer fazer algo mais solto, livre, sem regras e

horários, ou seja, de forma autônoma.

As falas abaixo de DAT1, DAT2, DAT5 e DAT8 mencionam a expectativa com

o tempo livre que disporão na aposentadoria, destacando o trabalho voluntário, a

liberdade de poder fazer tudo o que tem vontade de fazer, ter mais tempo para olhar

para si e programar-se ao longo do dia.

“Tudo de bom. Espero saber utilizar bem o meu tempo disponível, me planejar

para fazer um trabalho voluntário.” (DAT1).

“A minha expectativa maior hoje é poder fazer tudo que eu tenho vontade de

fazer, sem aquela obrigação de ponto, de horários.” (DAT2).

Eu espero um tempo tão bom, às vezes não programar meu dia, até ter um tempo para ir ao hospital, fazer visita a um idoso, ir a uma creche. [...] A gente tem que se programar, programar o dia, para não ficar perdida. Ter mais tempo para ter um olhar para mim mesma, cuidar mais de mim. (DAT5).

“Não existe não se aposentar para não fazer nada, porque a gente tem de se

movimentar. A minha ideia é ter outra programação de vida, mas quero aproveitar

meu tempo livre, sem horários.” (DAT8).

Essa maior disponibilidade de tempo livre, para fins de lazer ou para a

realização de atividades adiadas ou adormecidas ao longo do tempo de uma vida

laboral, é mencionada por Veras, Ramos e Kalache (1987). Já Shibata (2006),

afirma que o trabalhador inserido dentro de uma cultura social e econômica, que

sempre valorizou o trabalho, não é educada para usufruir o tempo livre, pois o

emprego implica uma atividade regular, organizado numa dimensão temporal, cujos

sujeitos são conectados a objetivos que transcendem os individuais.

O entrevistado DAT7 destaca que o maior tempo livre será utilizado para

investir na saúde, dedicar-se mais à família e ao trabalho voluntário, o qual já fora

citado acima por DAT1.

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Minha expectativa é que eu vou me aposentar do trabalho formal, mas não de outras atividades, da vida. Vou investir na minha saúde, porque a vida toda priorizei muito o trabalho, então, estou sedentária. Dividir o tempo mais com o acompanhamento dos meus filhos e marido, lazer e trabalho voluntário. (DAT7).

Pensando a temática aposentadoria, Dal Rio (2001) salienta que o

voluntariado pode representar a reorganização da vida pós-trabalho, no qual o idoso

pode buscar formas de vivência e inserção na sociedade e de ser produtivo, embora

que, para Shmotkin et al. (2003), este tipo de trabalho não pode substituir a perda do

trabalho ou de outras atividades, pois envolve motivações diferentes.

Para outros docentes em transição, a perspectiva de descanso e

tranquilidade, bem como o incremento na qualidade de vida são as maiores

expectativas para o pós-aposentadoria, conforme constatado nas falas abaixo:

“Vem-me na mente descanso, ter a perspectiva de não ter falhado ou de ter

falhado pouco.” (DAT3).

“Eu pretendo ter uma vida tranquila, em contato com a natureza, dormir cedo,

acordar cedo [...].” (DAT6).

“Por uma parte, vou ter mais conforto, mais tranquilidade. [...] Eu acho que

agora vou ter mais qualidade de vida. [...] Vou ter mais tempo livre, poder me

programar mais.” (DAT4).

A respondente DAT10 não quer se desligar do mundo do trabalho após a

aposentadoria e demonstra a expectativa de realizar outras atividades que lhe

tragam prazer, destacando as diferenças de impacto deste processo, quando se

compara os gêneros masculino e feminino.

Eu não vou me aposentar totalmente, não pretendo me desligar do mundo do trabalho. Vou fazer outras atividades. Para o homem, o impacto com a aposentadoria é maior. Para a mulher, ela não é tão impactante, porque já temos muitas atividades. Quando eu me aposentar, quero fazer atividades que me deem mais prazer. (DAT10).

A diferença de vivenciar a fase de aposentadoria entre homens e mulheres, é

citada por Kunzler (2009), a qual explica que este processo é menos traumático e

sofrido para a mulher do que para o homem, devido ao fato de esta ter de conciliar a

carreira profissional com a família e terem mais facilidade de se inserirem nas

atividades comunitárias, voluntariado, de lazer e ocupar seu tempo livre, resgatando,

fortalecendo ou renovando seus contatos sociais.

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4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DA PERCEPÇÃO DO DOCENTE ATIVO E DO

APOSENTADO SOBRE SIGNIFICADO DO TRABALHO E APOSENTADORIA

A análise comparativa das percepções dos docentes ativos em transição para

aposentadoria e dos aposentados acerca do trabalho e aposentadoria estão

demonstradas no Quadro 15.

Quadro 15 – Quadro-resumo das percepções entre os grupos pesquisados

Percepções Docente ativo em

transição Docente aposentado

TR

AB

AL

HO

Significado do trabalho

Responsabilidade, satisfação, dedicação, relacionamento, compromisso, competência, desempenho e prazer

Realização, comprometimento, satisfação, compromisso, dedicação, sobrevivência, prestar serviço à sociedade, responsabilidade

Centralidade do trabalho Trabalho é importante, porém fica em segundo lugar, quando comparado à esfera família.

Função e objetivos do trabalho Profissão como base para todas as outras; Contatos interpessoais

-

Fatores determinantes para a permanência em atividade

Financeiro, Missão, Trabalho gratificante, Produtividade, Necessidade de mais preparação, Medo e incerteza de aposentar-se, Relações sociais, Questão familiar

-

AP

OS

EN

TA

DO

RIA

Significados da aposentadoria

Tempo livre, Liberdade, Qualidade de vida, Sensação de dever cumprido, Atividade, Felicidade, Voluntariado, Medo

Tempo livre, Oportunidade, Liberdade, Impacto, Voluntariado

Principais ganhos Qualidade de vida, Liberdade

Liberdade

Principais perdas Relações interpessoais, Financeira

Relações interpessoais

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Analisando-se o quadro acima, verificam-se semelhanças e diferenças nas

percepções de ambos os grupos sobre significado do trabalho e aposentadoria. Isso

se deve ao fato de que o significado do trabalho e a aposentadoria são construtos

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subjetivos, os quais dependem da singularidade e historicidade de cada indivíduo,

denotando significados diversos.

4.4.1 Relação entre trabalho e aposentadoria

Docentes ativos em transição para aposentadoria

Quando indagados sobre a relação entre trabalho e aposentadoria, no grupo

de docentes em transição, foram obtidos diferentes relatos.

Para DAT1 e DAT3, o trabalho é a ação, enquanto a aposentadoria é o fim de

um ciclo natural da vida.

“A aposentadoria é o fim de um trabalho realizado, o trabalho é o fazer, é

deixar a nossa marca, a nossa contribuição. A aposentadoria é como se fosse um

troféu pelo trabalho que foi realizado.” (DAT1).

“Uma coisa leva a outra, nessa linha de trabalho à aposentadoria. Eu não vejo

dissociado. Eu vou me aposentar porque estou no fim, eu trabalhei.” (DAT3).

Para DAT2 e DAT4, o trabalho é um meio econômico de garantir a

aposentadoria e permitir o usufruto deste benefício.

“O trabalho representa um meio para você juntar economias, e quando se

aposentar, usufruir mais, porque na época em que a gente está trabalhando, não dá

para fazer muita coisa.” (DAT2).

“O trabalho é o tempo para se dedicar a algo e a aposentadoria é o tempo de

colher os louros do que se plantou.” (DAT4).

A respondente DAT5 destaca ainda a fase de aposentadoria como uma

conquista do trabalhador, a qual deve ser encarada como merecimento.

A aposentadoria é uma conquista do trabalhador. Quando a gente vai se aposentar, vem aquela sensação: eu trabalhei, eu colaborei, eu tentei dar o melhor de mim, agora eu mereço isso. Mereço estar na condição de aposentado. Eu acho que a gente tem de esperar isso e não ter ansiedade. Eu acho que, quando chegar o dia de me aposentar, vou encarar como merecimento. É uma justiça você chegar lá. Essa coisa de você não faltar ao trabalho, de ter responsabilidade, de gostar do que faz, faz com que você chegue lá sem culpa. (DAT5).

O respondente DAT7 afirma que a questão primordial para encarar a fase de

aposentadoria é a preparação e perpetra uma analogia do trabalho e aposentadoria,

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assemelhando-os à relação vida e morte, destacando ainda que chega um momento

na vida em que não se quer mais trabalhar.

Eu diria que a palavra-chave aí é preparação, porque se você vem se preparando para se aposentar, o processo fica natural. A aposentadoria faz parte do trabalho como a morte faz parte da vida. A relação que faço é essa. Para se ter uma aposentadoria de qualidade, precisa se preparar, refletir sobre sua missão. Porque por mais que você se sinta gratificada com o trabalho, vai chegar o momento em que você não quer mais fazer aquilo, quer fazer outra coisa. Ao longo do tempo, os valores vão mudando. (DAT7).

O entrevistado DAT8 enfatiza que o trabalho é a parte legal, formalizada por

direitos trabalhistas e a aposentadoria também é, no entanto, com mais tempo livre.

Fez uma analogia com esporte, no qual o trabalho seria a fase de atleta e a

aposentadoria, a de pós-atleta.

Trabalho tem toda uma regra, toda uma regulamentação. Você tem horário, compromisso, parte jurídica, ética. Na aposentadoria, você também vai ter isso, a diferença é que vai ter mais tempo livre. É como no esporte, você tem uma fase de atleta e uma fase de pós-atleta. É como se o trabalho fosse a fase de atleta e a aposentadoria, a de pós-atleta. (DAT8).

Por fim, para DAT9, a relação entre trabalho e aposentadoria é que trabalho é

parte integrante do processo e aposentadoria é uma passagem difícil. Enfatiza que a

felicidade não pode ser deixada para essa nova fase.

O trabalho faz parte do processo. [...] Aposentar-se eu acho que é você também poder usufruir de um direito, daquela vida toda que você se doou. [...]. Mas não tenho a ilusão de que a vida de aposentada vai ser uma maravilha. Em questões salariais, a vida do aposentado é muito pior, porque os gastos são maiores. [...] Mas é uma passagem, é uma passagem difícil, e eu lamento que a legislação seja tão intransigente. Eu queria mais mordomia. [...] Merecíamos uma diminuição na carga horária, pela diminuição de energia (...). O trabalho nos consome demais, eu acho que essa sociedade tem de avançar mais, pois acho que a gente está criando uma sociedade muito infeliz, muito angustiada, preocupada demais com o tempo, tentando buscar uma felicidade que, como diz Bauman, está sempre na nossa frente, sempre correndo e ela nunca chega. (DAT9).

O ciclo da vida envolve educação, trabalho e aposentadoria. Quando

questionados se a aposentadoria representa o fim desse ciclo ou pode representar o

início de uma nova etapa, os docentes ativos em transição, em sua maioria,

consideraram a aposentadoria como o início de uma nova fase e não o fim de um

ciclo. Essa nova fase pode representar uma retomada profissional em outro local, o

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início de um novo curso de educação formal ou de interesse particular que nunca

pôde ser feito porque o tempo dedicado ao trabalho não permitiu.

“É o início de uma nova etapa, sem dúvida. Vou me dedicar a aprender mais,

para melhorar meu trabalho. Capacitar-me mais, atualizar-me. [...] Quero trabalhar,

viajar, me cuidar mais, aproveitar a vida.” (DAT4).

“A aposentadoria não é o fim do ciclo, é uma nova fase e o ciclo não precisa

ser nessa ordem, ou seja, você pode se aposentar e retomar aos estudos, ou

descobrir outra atividade profissional que lhe dê prazer.” (DAT7).

Pode representar um começo, mas eu não tenho a pretensão de ter um novo emprego, com horário marcado. Eu não quero isso, por isso eu não me aposentei ainda. [...] Eu ainda estou trabalhando, porque se eu quero trabalhar, eu fico aqui, que já estou adaptada. Quando eu me aposentar, vou usufruir meu tempo. Está fora do meu script voltar ao trabalho e eu sei que vou administrar esse tempo livre. Eu posso até dar um curso, mas sem pretensão para voltar ao mercado de trabalho. Eu quero fazer alguma coisa que eu ainda não fiz. Vou fazer, sei lá, um curso de culinária, fotografia, tem muita coisa para se fazer. Então, caminhar na praia, livre, sem horários determinados pelo trabalho, aproveitar a vida... (DAT9).

Alguns docentes em transição citaram que a aposentadoria é o início de uma

nova etapa em que se deve administrar bem o tempo livre conquistado,

preenchendo-o com atividades que tragam prazer em sua realização, conforme

mencionado por DAT5:

Eu acho que você vai estar disponível para fazer o que mais gosta. Eu acho que a vida não para. Eu concluí uma etapa e vou começar outra. Hoje eu vou dormir o dia inteiro e se eu quiser não vou sair da cama. Se eu quiser passar o dia na rua, vou passar o dia na rua, enfim, vou procurar o que me faz feliz no dia e ter mais tempo para mim. (DAT5).

Já DAT10 destaca que as condições físicas e mentais são determinantes para

que a aposentadoria possibilite o começo de uma nova atividade.

“Depende das condições físicas e mentais de quem está se aposentando.

Pode representar o começo de uma nova atividade, se a pessoa estiver bem para

continuar. [...].” (DAT10).

As possibilidades no pós-carreira são diversificadas e dependem de

planejamento pessoal e financeiro do aposentado; no entanto, um dos fatores

determinantes, sem dúvida, é a condição física e mental do indivíduo nessa nova

etapa da vida.

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Docentes aposentados

Para alguns docentes aposentados, a relação entre trabalho e aposentadoria

é uma relação sine qua non, ou seja, o trabalho é essencial para se chegar à fase da

aposentadoria, um caminho a ser percorrido, uma etapa finita.

“[...] O trabalho é essencial, porque sem ele você não tem direito à

aposentadoria. Eu diria que o trabalho faz parte da minha identidade. [...].” (DAp1).

[...] O trabalho é o tempo que você realmente dispõe para contribuir com a sociedade, [...] em qualquer forma de trabalho, [...] e a aposentadoria chega em um momento em que você está esgotando suas forças com o trabalho, para você ainda ter um tempo livre, para chegar o dia de usufruir mais um pouco. (DAp5).

“A aposentadoria é o caminho natural de quem se preparou para o trabalho.

[...] Eu me preparei para o mundo do trabalho e na ordem natural, me aposentei.”

(DAp6).

“Trabalho foi tudo na minha vida. Só se aposenta quem trabalhou. É uma

condição para se atingir a aposentadoria.” (DAp9).

O entrevistado DAp3 não vê o trabalho como um caminho para se chegar à

aposentadoria, nem que o trabalho deve ser realizado para esse fim. Para ele, a

aposentadoria é uma consequência natural e que deveria ser revista, com ampliação

de tempo de serviço, porém com redução de carga horária. Apesar de defini-la como

consequência natural, acabou se contradizendo quando afirmou que não queria que

chegasse o dia da aposentadoria e que evitava falar sobre ela.

Eu não vejo como um caminho para chegar à aposentadoria, tipo eu estou trabalhando para me aposentar. Eu trabalho porque é prazeroso, criou-se uma rotina. Não estou trabalhando para a aposentadoria. É uma consequência natural de anos de trabalho. Inclusive, as pessoas estão trabalhando e quando chegam ao final, ficam contando os dias para a aposentadoria. Eu jamais passei por isso, eu queria é que nunca chegasse o dia. [...]. (DAp3).

A respondente DAp4 afirma que a aposentadoria é um momento de

transformação, de se garantir algum direito, mas que não significa necessariamente

a ruptura com o trabalho, já que considera essencial a prática de alguma atividade

que mantenha a mente ativa, já que afirma que a aposentadoria mental é péssima

para o ser humano.

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Eu acho que a aposentadoria é um momento de transformação, de você garantir algum direito, mas isso não significa que você tenha que romper com o trabalho, ou seja você pode ter um momento de trabalho e ter um momento de aposentadoria. Eu acho que as duas coisas podem ser gradativas. Você pode fazer alguma atividade para que sua cabeça se mantenha funcionando. A aposentadoria mental é péssima para a pessoa. A mente não pode parar. Você precisa estar com ela ativa. [...]. (DAp4).

Por fim, DAp4 relacionou a aposentadoria ao trabalho, utilizando o termo

‘diáspora’, reforçando seu sentido de impacto na vida do trabalhador e sugerindo a

instituição um olhar diferenciado para o aposentado, através da promoção de

congressos e fóruns, para trocas de experiências. Demonstrou tristeza, quando

traduziu seu sentimento de isolamento provocado pelos ativos, os quais, segundo

ele, preferem se conectar às novas tecnologias a ter contato com pessoas.

É uma diáspora, é uma comparação profunda, é um impacto, é muito forte, é uma redução de atividades de uma forma sinistra. Acho que a instituição deveria promover um congresso, reunir um fórum de aposentados, para que eles pudessem trocar experiências. Muitas vezes, você encontra aposentados de muitos anos que têm muita mágoa da instituição. A gente tem a instituição como uma família. [...] É preciso ter um apoio maior, envolvê-los. Eles foram tão importantes para a instituição. Parece que tem aquele pensamento: você vale quanto produz. Os próprios colegas mais velhos se sentem isolados, muitas vezes. Hoje, você entra na sala dos professores e mal os colegas olham para você, principalmente os mais jovens. Todos ligados em seus telefones, não interagem, não tem afetividade, não olham para o outro colega de maneira afetuosa. (DAp10).

No grupo dos aposentados entrevistados, o questionamento a respeito de a

aposentadoria ser o fim do ciclo educação-trabalho-aposentadoria ou representar

um reinício obteve respostas variadas, desde fase de transição, a fase de recomeço

ou o fim de um ciclo pequeno da vida.

Eu entendo que a aposentadoria é uma fase de transição. Pode ser o início de uma nova fase. Eu acho o termo inativo depreciativo com o aposentado. Eu sou aposentado, mas sou ativo ainda, é como se você fosse uma pessoa que não tem mais utilidade. No meu caso, eu já dei minha contribuição para o mundo do trabalho e agora é um momento de descanso, de fazer as coisas que quero fazer, sem a obrigatoriedade imposta pelo trabalho. (DAp2).

A aposentadoria não é o fim desse ciclo. É uma nova fase, em que você pode desenvolver projetos que, na época em que trabalhava, não tinha como fazê-los. É um período que podemos utilizar bem o nosso tempo, para fazer trabalhos voluntários e obtermos outro tipo de recompensa, que não a financeira, mas um fazer social. (DAp7).

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“A vida é dividida em muitos ciclos. [...] Aposentadoria não é o fim da vida. É o

fim de um ciclo, um ciclo pequeno de trabalho e início de uma nova fase, para

começarmos outros projetos de vida. [...].” (DAp9).

A entrevistada DAp4 reflete sobre este ciclo e afirma que a aposentadoria

precisa acontecer para garantir alguns direitos; no entanto, as fases de estudar,

trabalhar e se aposentar não se concretizam, mas se integram. Uma não precisa ser

concluída para que a outra aconteça.

Aposentadoria precisa acontecer para garantir alguns direitos diante de uma sociedade, em um mundo tão instável. Pode ser uma nova fase. [...] Quero fazer algo que eu goste, como estudar e pesquisar. Eu acho que esses três momentos hoje não se concretizam mais, eles até acontecem: estudar, trabalhar, aposentar-se, mas diria que hoje esses três se integram. Você tanto continua trabalhando, quanto estudando. Você se aposenta para garantir esses direitos, mas você retorna a outro tipo de atividade da maneira que lhe convém. [...]. (DAp4).

A docente aposentada DAp5 relatou que esse ciclo depende da condição

pessoal de cada pessoa e dos seus projetos de vida. Para alguns, pode representar

o início de uma nova atividade; para outros, um maior tempo de dedicação à família.

Sobre isso também interferem vários fatores, como: condição física e psicológica e

oportunidades.

Depende muito de cada pessoa, dos projetos de vida de cada um. Há pessoas que não querem ficar sem fazer nada, na aposentadoria; outras preferem conviver mais com a família, viajar, ter essa liberdade que eu falei. Eu acho que o ser humano tem o tempo para o trabalho, que pode se prolongar mais, dependendo da condição física, psicológica e das oportunidades de trabalho e a aposentadoria vem para você desfrutar ainda alguns momentos bons da sua vida. Dias, meses, anos que lhes restam. Essa é uma questão muito particular de cada pessoa. No meu caso, [...] eu gosto de aproveitar minha liberdade para ter mais tempo para viajar, ler, visitar amigos, cuidar melhor da minha casa, atividades não faltam. (DAp5).

A entrevistada DAp6 também acredita que a retomada no pós-aposentadoria

é uma decisão pessoal e que no caso particular dela, no momento está voltada para

outras atividades, mas por uma necessidade econômica, intelectual ou pessoal pode

retornar à ativa.

Pode retomar, mas é uma decisão pessoal. Eu realmente resolvi me despedir do mundo do trabalho e me dedicar a outras coisas. [...] Talvez no futuro, não sei, pode ser que por necessidade econômica, intelectual ou pessoal, eu volte. No momento, não. (DAp6).

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O Quadro 16 demonstra de forma resumida a relação entre trabalho e

aposentadoria descrita pelos pesquisados.

Quadro 16 - Quadro-resumo da relação trabalho e aposentadoria

Rela

ção

en

tre t

rab

alh

o e

ap

osen

tad

ori

a Docentes ativos em transição para aposentadoria Docentes aposentados

O trabalho é a ação, enquanto a aposentadoria é o fim de um ciclo natural da vida.

O trabalho é essencial para se chegar à fase da aposentadoria, um caminho a ser percorrido, uma etapa finita.

O trabalho é um meio econômico de garantir a aposentadoria e permitir o usufruto deste benefício.

Aposentadoria é uma consequência natural.

O trabalho é a parte legal, formalizada por direitos trabalhistas e a aposentadoria também é, no entanto, com mais tempo livre.

A aposentadoria é um momento de transformação, de se garantir algum direito, mas que não significa necessariamente a ruptura com o trabalho.

Trabalho é parte integrante do processo e aposentadoria é uma passagem difícil.

Aposentadoria é um impacto na vida do trabalhador.

Aposentadoria é uma conquista do trabalhador.

Trabalho e aposentadoria assemelham-se à relação vida e morte.

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Após a análise do quadro, verificou-se que há diversas relações entre

trabalho e aposentadoria, representadas nas percepções de ambos os grupos

pesquisados. Para eles, o trabalho representa simbolicamente uma ação, um

dispositivo econômico e legal, análogo à vida, uma etapa finita; já a aposentadoria,

significa desde o fim de um ciclo, um benefício, uma passagem difícil, uma

conquista, uma consequência natural, um momento de transformação e de impacto,

até algo comparável à morte.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo compreender o significado do

trabalho e da aposentadoria, na percepção de docentes de uma instituição federal

de ensino, através da categorização do estudo em duas grandes variáveis – trabalho

e aposentadoria – uma vez que estão intrinsecamente relacionadas, particularmente

na atual sociedade capitalista, que valoriza em demasia o trabalho e na qual a

aposentadoria pode representar a institucionalização da perda da capacidade

produtiva do trabalhador ou até a sua “morte” social.

Ao analisar-se a percepção dos docentes sobre o significado do trabalho, os

principais atributos descritivos, citados pelo grupo de docentes ativos em transição

foram: responsabilidade, satisfação, dedicação, satisfação, relacionamento,

compromisso, competência, desempenho, prazer; e de conotação negativa, medo, o

que demonstra que o trabalho é um construto multifacetado e de diversos

significados. Para o grupo dos aposentados, os atributos descritos foram

semelhantes, tendo surgido ainda significados, como: realização, comprometimento,

sobrevivência e prestar serviço à sociedade e de cunho negativo, estresse,

preocupação e cansaço.

Ainda em relação ao objetivo supracitado, no que concerne à centralidade do

trabalho, a maioria dos achados, em ambos os grupos pesquisados, aponta para a

predominância da centralidade do trabalho na vida destes, embora que, quando

comparado a outras esferas da vida, como família, lazer, comunidade e religião, o

trabalho fica em segunda colocação no grau de importância, enquanto a família

aparece em primeiro lugar. Já no que tange a função e aos objetivos do trabalho, os

docentes em transição destacaram a importância da sua profissão como

embasamento para todas as outras e relevante para a formação das pessoas.

Na identificação dos fatores que levam docentes ativos em processo de

transição para a aposentadoria, a permanecerem em atividade, os resultados

encontrados assinalaram que as principais motivações foram: a missão que o

trabalho de professor propicia e os sentimentos de gratificação e produtividade com

a atividade que exercem; a necessidade de se preparar melhor para o processo,

questões familiares, o medo e a incerteza em relação ao momento certo para tomar

a decisão de aposentar-se, bem como a questão financeira. Acerca da satisfação

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com o trabalho na presente situação, todos foram unânimes ao afirmarem que ainda

estão muito satisfeitos e realizados trabalhando.

Na avaliação da percepção dos docentes sobre o significado da

aposentadoria, os resultados demonstraram que, comparando-se ambos os grupos,

há semelhanças entre os atributos encontrados, no que se refere a tempo livre e

liberdade. O sentimento de medo, principalmente da ociosidade, também apareceu

nos dois grupos, bem como o de felicidade, constituindo as dualidades da

aposentadoria. O medo de perder as relações sociais conquistadas no mundo do

trabalho e os significados de inatividade, improdutividade, isolamento, morte

figurativa, descarte, velhice e passagem do tempo foram atribuídos apenas pelos

docentes ativos em transição.

Em referência ao objetivo acima, no que se aludem à percepção da

aposentadoria, os docentes em transição imaginam que será uma fase de

tranquilidade; de muita atividade, tanto profissional, quanto voluntária; de viagens e

dedicação de mais tempo a outras esferas da vida. Os resultados também mostram

que há um sentimento de nostalgia em deixar a instituição, medo da inatividade e

necessidade de se preparar para o processo, bem como apreensões e angústias na

utilização do tempo livre. Quanto aos aposentados, estes já percebem o processo

como uma decorrência natural, um direito conquistado, em que o tempo livre deve

ser bem aproveitado para fazer atividades prazerosas e para se ter mais qualidade

de vida. Foi destacado ainda o surgimento do novo aposentado, na sociedade

moderna, como um participante ativo na sociedade, inclusive com perfil diferenciado

de consumo, embora que, para alguns, o processo de desligamento também foi

percebido como um momento difícil. Ambos os grupos pesquisados enfatizaram

ainda a importância do planejamento financeiro na vivência dessa nova fase.

Em se tratando de ganhos e perdas originados na fase de aposentadoria, os

principais ganhos relatados pelos docentes ativos em transição foram: a qualidade

de vida e a liberdade e quanto às perdas, as relações interpessoais e as perdas

financeiras. Já para os aposentados, o maior ganho foi a liberdade e as maiores

perdas foram idênticas ao grupo dos ativos em transição. Apesar da perda financeira

ter sido mencionada, não parece ter sido tão relevante para o grupo pesquisado,

possivelmente em decorrência de a média salarial do grupo ser satisfatória para a

manutenção de um poder aquisitivo razoável. Por fim, ambos os grupos destacaram

que o ganho terá ou teve maior realce do que a perda, na fase da aposentadoria.

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Ao se examinarem as expectativas dos docentes em transição, com relação à

aposentadoria, as perspectivas foram positivas, especialmente com o tempo livre,

para poder fazer tudo o que têm vontade, ter mais tempo para olhar para si e

programar-se ao longo do dia, além do incremento na qualidade de vida e a

expectativa de realizar outras atividades que lhe tragam prazer, como o trabalho

voluntário.

Em relação ao objetivo final, que foi verificar as diferenças na percepção do

docente ativo e do aposentado, no tocante ao significado do trabalho e

aposentadoria, foram obtidos diversos encadeamentos. Para alguns docentes em

transição, o trabalho é um caminho para se chegar à aposentadoria, enquanto que

para alguns docentes aposentados, a aposentadoria é o momento de se garantir

algum direito, não necessariamente a ruptura com o trabalho. No ciclo da vida que

envolve educação, trabalho e aposentadoria, a maioria dos respondentes em

transição e aposentados afirmou que a aposentadoria não é o fim do ciclo e pode

representar o início de uma nova fase em que pode se retomar à educação ou a

uma nova atividade profissional; no entanto, no grupo de aposentados foi enfatizado

que isso dependerá da condição pessoal de cada pessoa, de seus projetos de vida e

até de uma necessidade econômica.

Dessa forma, após a análise dos resultados da pesquisa, ratificou-se que

trabalho e aposentadoria são dois constructos inter-relacionados; sendo, o trabalho,

na percepção de grande parte do grupo estudado, ainda muito central na vida das

pessoas, o que é fruto da cultura presente em nossa sociedade capitalista que tanto

valoriza a produção e que quanto mais importante ele for para a vida do indivíduo,

mais sofrida será a ruptura com a aposentadoria. Já o estudo da aposentadoria

também demonstrou suas dualidades e contradições, pois é composto de diversas

fases, em que o trabalhador experimenta desde o prazer do tempo livre, do

descanso, do aumento na qualidade de vida e da liberdade, até sentimentos de

inutilidade, isolamento social e medo da velhice.

Algumas limitações podem ser apontadas nessa pesquisa qualitativa, como: a

falta de tempo para um maior aprofundamento do estudo, especificamente no grupo

de docentes ativos, os quais dispunham de tempo limitado, para retornarem às

atividades de sala de aula; além disso, as limitações de tempo e de condição física

de alguns entrevistados aposentados, para concederem a entrevista.

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Sugerem-se, a partir desse estudo, pesquisas futuras envolvendo um estudo

comparativo de gênero, acerca da percepção do significado do trabalho e

aposentadoria, pois a literatura destaca que há diferenças importantes na maneira

como homens e mulheres vivenciam a aposentadoria. Além disso, também seria

pertinente um estudo sobre formas de reter o conhecimento tácito com a

aposentadoria, uma vez que, quando se aposenta, o colaborador leva consigo

importantes conhecimentos, os quais se constituem em uma grande perda para a

instituição.

Diante do exposto, é importante ressaltar que compreender o significado do

trabalho atribuído pelo colaborador e a forma como é percebida a aposentadoria é

de grande importância para a Administração e para a Psicologia Organizacional, em

decorrência do impacto que representa a ruptura das atividades laborais para o

trabalhador. Além disso, a preparação para o pós-carreira demonstra ser um

investimento imprescindível na instituição, já que a aposentadoria tem implicações

nas diversas esferas da vida de um indivíduo e que ao se preocupar com a

passagem para o pós-carreira, a instituição demonstra a valorização do seu maior

bem, que é o capital intelectual.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO E AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA

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APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Universidade Potiguar Pró-Reitoria de Pesquisa e Graduação

Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA Mestrado Profissional em Administração

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar dessa pesquisa, que tem como objetivo geral compreender o significado do trabalho e da aposentadoria, na percepção de docentes de uma instituição federal de ensino.

A escolha pelo tema teve origem na experiência profissional da pesquisadora em uma instituição federal de ensino, no setor de Cadastro e Benefícios, responsável pela concessão de abonos de permanência, aposentadorias e pensões, onde é vivenciado o processo de transição para aposentadoria dos servidores ativos, bem como a experiência com os já aposentados que vêm ao setor, para atendimento. Além disso, ressalta-se a contribuição que esta pesquisa trará ao Programa de Preparação para a Aposentadoria, projeto institucional que visa à preparação dos servidores em processo de transição para a aposentadoria para o pós-carreira. Compreender o significado do trabalho para estes colaboradores, bem como os impactos da aposentadoria na vida destas pessoas, colaborará para melhorias nas diretrizes do curso.

A pesquisa será realizada utilizando-se como instrumento de coleta de dados a entrevista Semiestruturada, a qual será gravada pela pesquisadora com o uso de um gravador. A transcrição das entrevistas será feita na íntegra e, logo após definidas as unidades analíticas, realizada uma pré-análise, com definição das categorias de análise e por fim, a análise de conteúdo.

Todas as informações coletadas na entrevista serão utilizadas somente pela pesquisadora a fim de atender os objetivos da pesquisa e mantidas em absoluto sigilo, assegurando assim sua confidencialidade e privacidade dos que tomarem parte na pesquisa. Os dados poderão ser utilizados durante encontros e debates científicos e publicados, preservando o anonimato dos participantes.

Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício direto. Entretanto, espera-se que desta pesquisa surjam reflexões importantes a respeito do significado do trabalho e aposentadoria.

Os riscos e danos com a pesquisa são quase inexistentes, pois nela você não será submetido a nenhum procedimento que exija contato físico. Apenas o seu discurso sobre o tema será investigado.

Esta pesquisa não trará nenhum custo financeiro, e nem remuneração com a sua participação, visto que esta será realizada na sua própria residência ou na instituição e durante seu tempo livre.

Você poderá deixar de participar da pesquisa em qualquer fase, sem nenhuma penalização e sem prejuízo ao sigilo quanto às informações já fornecidas, cabendo a você apenas comunicar sua decisão à pesquisadora.

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Sempre que quiser, você poderá pedir mais informações sobre a pesquisa, entrando em contato com a pesquisadora responsável. Eu, _____________________________________________________ declaro que conheço os objetivos e procedimentos da pesquisa e, de forma livre e esclarecida, manifesto meu interesse em participar da pesquisa.

Assinatura do sujeito participante

Assinatura da pesquisadora responsável

Natal,______ de _______________ de ________.

Pesquisadora: Maria das Graças de Araújo Varela (mestranda) Dra. Fernanda Fernandes Gurgel (orientadora) – (84) 3215-1137

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APÊNDICE C – ROTEIROS DE ENTREVISTA

ROTEIRO PARA ENTREVISTA 1 – DOCENTES EM TRANSIÇÃO PARA APOSENTADORIA

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS:

Nome: ________________________________________________________ Idade: ___________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Estado Civil: ___________________Titulação: _________________________ Tempo de trabalho na instituição: _________

TRABALHO

Significado do trabalho – atributos descritivos

1.Quando eu falo sobre trabalho, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

Centralidade do trabalho

2. Qual a importância do trabalho em relação a outras esferas da sua vida? Por quê?

3. Enumere de 1 a 5 o grau de importância que cada uma dessas esferas tem para o (a) senhor (a): ( ) Trabalho ( ) Família ( ) Lazer ( ) Comunidade ( ) Religião

Função e objetivos do trabalho

4. Qual é a importância ou contribuição do seu trabalho para o (a) senhor (a) e para a sociedade?

Motivação para permanência em atividade

5. O que o (a) leva a continuar trabalhando? 6. Ainda está satisfeito (a) e realizado (a) trabalhando? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

APOSENTADORIA

Significados

7. Quando eu falo sobre aposentadoria, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

Expectativas

8. O que o (a) senhor (a) espera em relação à aposentadoria?

Percepção

9. Como imagina que será a sua aposentadoria? 10. Como o (a) senhor (a) pensa que as pessoas verão a sua aposentadoria (sua família e outros)?

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Ganhos e Perdas

11. Admitindo-se que a vida humana, em todas as suas fases, inclui ganhos e perdas, reflita sobre a sua aposentadoria nesse contexto e relacione os possíveis ganhos e perdas advindas desse processo. 12. Em se tratando de ganhos e perdas com a aposentadoria, o que tem mais realce ou importância para você? ( ) ganhos ( ) perdas ( ) nenhuma das anteriores. Explique.

Relação entre trabalho e aposentadoria

13. Para o (a) senhor (a), qual a relação entre trabalho e aposentadoria? 14. Geralmente, o ciclo da vida é educação-trabalho-aposentadoria. O (a) senhor (a) acha que a aposentadoria é o fim do ciclo ou pode representar o início de uma nova etapa?

ROTEIRO PARA ENTREVISTA 2 – DOCENTES APOSENTADOS

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS:

Nome: ________________________________________________________ Idade: ___________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Estado Civil: ___________________Titulação: _________________________ Tempo de aposentadoria: _________

TRABALHO

Significado do trabalho – atributos descritivos

1.Quando eu falo sobre trabalho, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

Centralidade do trabalho

2. Qual a importância do trabalho em relação a outras esferas da sua vida? Por quê? 3. Enumere de 1 a 5 o grau de importância que cada uma dessas esferas tem para o (a) senhor (a): ( ) Trabalho ( ) Família ( ) Lazer ( ) Comunidade ( ) Religião

APOSENTADORIA

Significado da aposentadoria

4. Quando eu falo sobre aposentadoria, quais são as 5 primeiras palavras que lhe vêm na mente?

Percepção

5. Qual a sua percepção e sentimentos em relação à aposentadoria? 6. Como o (a) senhor (a) pensa que as pessoas veem a sua aposentadoria (sua família e outros)?

Ganhos e Perdas

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7. Admitindo-se que a vida humana, em todas as suas fases, inclui ganhos e perdas, reflita sobre a sua atual condição de aposentado e relacione os possíveis ganhos e perdas advindas desse processo. 8. Em se tratando de ganhos e perdas com a aposentadoria, o que tem mais realce ou importância para você? ( ) ganhos ( ) perdas ( ) nenhuma das anteriores. Explique.

Relação entre trabalho e aposentadoria

9. Para o (a) senhor (a), qual a relação entre trabalho e aposentadoria? 10. Geralmente, o ciclo da vida é educação-trabalho-aposentadoria. O (a) senhor (a) acha que a aposentadoria é o fim do ciclo ou pode representar o início de uma nova etapa?