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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Curso de Ciências Biológicas
MARIANA PARANHOS DE ALMEIDA
DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DE PESCADORES
ARTESANAIS E A PESCA E CAPTURA DE TUBARÕES, EM
UBATUBA E BOIÇUCANGA, LITORAL NORTE DO ESTADO DE
SÃO PAULO.
São Paulo
2015
MARIANA PARANHOS DE ALMEIDA
DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DE PESCADORES
ARTESANAIS E A PESCA E CAPTURA DE TUBARÕES, EM
UBATUBA E BOIÇUCANGA, LITORAL NORTE DO ESTADO DE
SÃO PAULO.
Monografia apresentada ao Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde,
da Universidade Presbiteriana
Mackenzie como parte dos requisitos
exigidos para a conclusão do Curso
de Bacharel em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Magno Botelho Castelo Branco
São Paulo
2015
Na cultura havaiana os tubarões são “AUMAKUA” o
espírito guardião da família.
“O que faço é uma gota no meio de um oceano, mas
sem ela o oceano seria menor.”
(Madre Teresa de Calcutá)
AGRADECIMENTOS
Ao Universo, meu Deus, que me impulsiona e abre caminhos na minha
vida. Sou muito grata.
Meus pais, Cyro e Carla, pela dedicação, apoio e todo o esforço
concedido para que eu pudesse me formar no estudo da vida. Ao meu irmão
Marcelo, por sempre estar disposto a me ajudar e por editar o mapa.
A todos os pescadores que entrevistei muito obrigada, vocês foram
incríveis comigo, esclareceram todas minhas dúvidas, me acolheram da melhor
forma possível, abriram minha mente fazendo eu me sentir parte desse
trabalho, espero de coração poder ajudá-los.
Ao meu namorado, Victor, sem ele não teria a experiência de sair
embarcada com os pescadores, esteve sempre comigo, acordou 5 da
manhã, tomou picada de borrachudo e chuva em mar aberto. Ouvindo todos os
pescadores do meu lado, conversando com eles junto comigo. Agora sempre
que visitamos praias com canoas e rancho de pesca, vem o comentário:
Vamos entrevistar os pescadores? Quando estive nervosa ele que estava lá
para me acalmar e disposto a me ajudar. Obrigada pela digitalização do logo
do projeto, eu amei!
Às minhas amigas que sempre estão do meu lado e dispostas a me
ajudar com a apresentação ou com o abstract e correções, em especial minha
companheira na defesa dos tubarões Laís e colega de profissão! Ao
meu primeiro amigo da faculdade e o que quero levar para toda a vida, Marllos.
Amigo, obrigada por revisar meu abstract, me acalmar, me fazer rir. E a todos
que me auxiliaram de alguma forma.
Ao meu orientador/professor Magno por toda ajuda. Professora Paola,
por também sempre estar disposta a esclarecer dúvidas e me ajudou com a
correção das referências. À minha orientadora de estágio da SVMA, Ruth, pela
compreensão e paciência nessa etapa da minha vida. Obrigada a todos por
estarem compondo minha banca de formação e também, a todos os
professores da graduação do Bacharelado da Biologia.
Enfim,
Família, amigos, este trabalho, vida.
Muito amor por vocês.
RESUMO
O declínio das espécies de tubarões e outros peixes têm como principal motivo
a sobre-exploração pesqueira. A forte demanda por recursos provenientes da
pesca faz como que essa atividade alcance proporções insustentáveis que
ameaçam populações capturadas em maior quantidade. A prática do finning,
com a retirada das nadadeiras dos tubarões para o comércio da “sopa de
barbatana”, comum no continente asiático, foi responsável pela grande captura
de tubarões que atualmente encontram-se ameaçados de extinção. Essa
atividade é exercida principalmente pela pesca industrial, responsável por
números elevados de capturas de pescado e descarte de outros peixes já
mortos no oceano por possuírem menor valor comercial. Com isso, o presente
estudo buscou compreender o trabalho de pescadores artesanais, que
capturam peixes em menores quantidades e caracterizam uma pescaria
tradicional e cultural dentro de suas comunidades. A falta de fiscalização, a
forte demanda de pescados por barcos industriais que descartam grandes
quantidades de peixes importantes comercialmente para os artesanais, os
resíduos de pesca sem destinação adequada e a ausência de um órgão que
trabalhe pelos pescadores artesanais foram dificuldades relatadas que irão
subsidiar atividades para melhoria do ordenamento pesqueiro e preservação
das espécies e a formação de pescadores que aprendam a importância da
conservação favorecendo o próprio trabalho. Desta forma, a constituição de um
projeto a partir deste diagnóstico, para a sensibilização ambiental dos
pescadores e da população, aliado à restrição das pescarias da frota industrial
ou redução da quantidade de pescado por esses pescadores, conectando
essas duas atividades através do estabelecimento de acordos entre artesanais
e industriais a fim de minimizar o descarte de peixes capturados com a ajuda
de uma fiscalização efetiva, poderia restabelecer as populações de espécies
em risco, o que possibilitaria a redução do tempo das redes de pesca dispostas
no mar por causa do aumento da oferta de pescados, sem prejudicar
os pescadores, regulamentando leis de parceria entre as duas modalidades de
pesca e a distinção das regiões específicas para a prática da atividade, com
uma região exclusiva para pesca artesanal. Os questionários aplicados no
presente estudo e o diálogo com os pescadores artesanais
entrevistados possibilitaram o levantamento de assuntos importantes para
ações futuras de Educação Ambiental, utilizando os dados obtidos para propor
a preservação dos tubarões e do ecossistema marinho como um todo.
Palavras - chave: pescadores artesanais, questionário, tubarão, preservação.
ABSTRACT
The main reason for reduction of sharks and other fish is the fishing
overexploitation. The fishing activities reached unsustainable proportions that
threaten stocks caught in larger quantities causing a fast decline of these
populations. The practice of “finning”, with the removal of shark fins to trade the
"shark fin soup", common in Asia, was responsible for the great catch
of endangered species. The industrial fishing activity
is the major responsible for large number of fish caught and discarded in
the ocean because they have less commercial value. Thus, this study aimed to
understand the work of artisanal fishermen using traditional fishing
techniques in small quantities in their communities. The supervision of industrial
fishermen, which discards a great number of species that are very important for
the artisanal fishermen, the fish waste discarded out of right place and the lack
of authorities that regulate it. With environmental education programs we
can support the artisanal fishermen improving fishery management and species
conservations, it ensures the formation of fishermen besides
their fishing experiences during the years, they can learn the importance of
mitigating actions conservation favoring their own work.
The project establishment from this diagnosis, the training of artisanal
fisheries with environmental awareness, with the restriction of fishery industrial
fleet or reducing the amount of fish for these fishermen, we can connect these
two activities through the establishment of agreements between artisanal and
industrial fishermen in order to minimize the fish discards caught with the help
of effective supervision. It would restore populations of species at risk what
would make it possible to reduce the time of fishing nets in the sea because of
the increase in fish populations without harming the fishermen, it
would regulate partnership laws between two fishing methods and the
distinction of the regions for the activity practice specifying each one with a
unique region of artisanal fisheries. The questionnaires given in this article and
dialogue with artisanal fisherman interviews allowed important issues, through
the difficulties encountered, in order to support future actions of environmental
education and use the data to propose shark conservation and ecosystem
marine as a whole.
Keywords: artisanal fisheries, questionnaire, shark, preservation.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Espécies de tubarões que ocorrem no Estado de São Paulo
(GONZALEZ, 2015) ..........................................................................................12
Quadro 2 – Espécies de elasmobrânquios listados para medição dos tamanhos
mínimos de captura (IBAMA, 2003) ................................................................. 44
Quadro 3 – Anexo l da Lista Nacional de espécies de invertebrados aquáticos
e peixes ameaçados de extinção no Estado de São Paulo (MMA, 2004; 2005b)
.......................................................................................................................... 51
Quadro 4 – Anexo ll da Lista Nacional das espécies de invertebrados aquáticos
e peixes sobre-explotados ou ameaçados de sobre-explotação (MMA, 2004;
2005b) .............................................................................................................. 51
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa demonstrando a região de Ubatuba, litoral norte do Estado de
São Paulo (GOOGLE MAPS, 2015a) .............................................................. 16
Figura 2 – Mapa demonstrando a região de Boiçucanga, litoral norte do Estado
de São Paulo (GOOGLE MAPS, 2015b) ......................................................... 17
Figura 3 – Local onde ficam as embarcações dos pescadores artesanais no
Rio Boiçucanga (SP) ....................................................................................... 17
Figura 4 - Gráfico quantitativo caracterizando os pescadores entrevistados com
relação ao tempo de trabalho na pesca ........................................................... 20
Figura 5 - Gráfico mostrando a presença ou ausência de pescadores na família
dos entrevistados ............................................................................................. 20
Figura 6 - Gráfico sobre quais os instrumentos de pesca são utilizados pelos
pescadores ...................................................................................................... 22
Figura 7 - Esquema de uma rede de arrasto simples (CEPSUL, 2015a) ....... 23
Figura 8 - Esquema da disposição da rede de emalhe de superfície (CEPSUL,
2015c) .............................................................................................................. 23
Figura 9 - Esquema da disposição da rede de emalhe de fundo (CEPSUL,
2015b) .............................................................................................................. 24
Figura 10 - Saída para retirada de 20 malhas de rede, em Boiçucanga (SP)
.......................................................................................................................... 25
Figura 11 - O clásper (órgão sexual) evidência a captura do exemplar juvenil
.......................................................................................................................... 25
Figura 12 - Captura de tubarão juvenil pela rede de emalhe de fundo,
em Boiçucanga (SP) ........................................................................................ 26
Figura 13 - Pescados são limpos com água doce e as vísceras jogadas no mar
.......................................................................................................................... 27
Figura 14 - Caixa usada como referência de captura por dia, com alguns dos
pescados capturados pelas 20 malhas de emalhe de fundo ........................... 28
Figura 15 - Gráfico dos tamanhos das malhas de redes utilizadas pelos
pescadores na pesca de emalhe ..................................................................... 30
Figura 16 - Rede “coxada”, devido ação das correntes marinhas .................. 31
Figura 17 - Carne de filhote (neonato) de cação, em Ubatuba (SP) ............... 34
Figura 18 - Redes descartadas na beira do rio em Boiçucanga (SP) ............. 38
Figura 19 - Boias feitas com isopor, utilizadas para marcação das redes de
emalhe de fundo .............................................................................................. 39
Figura 20 - Medição dos tamanhos mínimos de captura de
elasmobrânquios. D1-D2: é a medida usada para tubarões, estabelecida
pela distância entre a extremidade anterior da base da primeira nadadeira
dorsal e a extremidade posterior da base da segunda nadadeira dorsal (IBAMA,
2003) ................................................................................................................ 43
Figura 21 - Gráfico quantitativo dos entrevistados que trabalham somente com
a pesca e os que praticam outras atividades ................................................... 48
Figura 22 - Gráfico da diferenciação entre machos e fêmeas a partir do
conhecimento dos pescadores ........................................................................ 50
Figura 23 - Gráfico com as espécies de tubarão conhecidas pelos pescadores
......................................................................................................................... 52
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11
2. MÉTODO ........................................................................................................................... 15
2.2 Áreas de estudo ............................................................................................................. 15
2.3 O diagnóstico socioambiental ...................................................................................... 18
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 19
3.1 Caracterização dos pescadores .................................................................................. 19
3.2 Instrumentos de pesca utilizados e a saída embarcada ......................................... 21
3.3 Dificuldades relatadas pelos pescadores artesanais .......................................... 30
3.3.1 Condições Ambientais ..................................................................................... 30
3.3.2 Pesca Industrial ................................................................................................ 31
3.3.3 Redução dos estoques pesqueiros ............................................................... 33
3.3.4 Poluição marinha .................................................................................................... 35
3.3.5 Fiscalização ............................................................................................................. 39
3.3.6 Defeso ...................................................................................................................... 46
3.3.7 Atividades além da pesca ..................................................................................... 47
3.4 Caracterização da pesca e captura do tubarão ................................................... 48
3.5 Educação Ambiental ................................................................................................ 53
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 55
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 57
APÊNDICE A- Questionários 1) e 2). ................................................................................... 64
ANEXO A- Carta de Consentimento e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para aplicação da pesquisa. ................................................................................................... 65
11
1. INTRODUÇÃO
Com 9 ordens e cerca de 815 espécies a subclasse Elasmobranchii
compreende os tubarões e raias, que juntamente com as quimeras formam a
Classe Chondrichthyes, com registros fósseis que datam aproximadamente
400 milhões de anos (HICKMAN et al., 2004). Os tubarões, animais marinhos,
costeiros e pelágicos em maioria, habitam águas costeiras e oceânicas, da
superfície ao fundo e ocupam praticamente todos os mares e oceanos, dos
tropicais ao Ártico e Antártico, com cerca de 450 espécies conhecidas. Esses
animais apresentam uma estrutura corporal fusiforme e hidrodinâmica,
composta por uma excelente musculatura, que os tornam nadadores
excepcionais. Associado a isso, possuem órgãos sensitivos bem afinados com
grande sensibilidade às vibrações a partir do olfato, ouvido interno, linhas
laterais e ampolas de Lorenzini (SZPILMAN, 2004).
Com a evolução da fecundação interna, os elasmobrânquios produzem um
pequeno número de descendentes que permanecem dentro do corpo da fêmea
por períodos variáveis. Este modo de reprodução requer alto gasto de energia
pela fêmea que não se reproduz durante todo o ano, e é bem sucedido quando
os adultos apresentam longas expectativas de vida e os juvenis altas taxas de
sobrevivência (POUGH et al., 2003). Assim, a maioria das espécies leva de 10
a 15 anos para atingirem sua maturidade sexual, se reproduzem uma vez a
cada dois anos, com longo período de gestação e a taxa de mortalidade dos
jovens chega a ultrapassar 50 % (SZPILMAN, 2004). Desta forma, por
apresentarem crescimento lento, maturidade sexual tardia e baixa fecundidade
relativa, esses animais do topo de cadeia alimentar são particularmente
sensíveis à exploração excessiva (CHAPMAN et al., 2009).
Nas águas costeiras do Brasil foram registradas 6 ordens, 20 famílias, 42
gêneros e 88 espécies de tubarões (SZPILMAN, 2004). Destas, há o registro
de ocorrência de 3 ordens, 6 famílias e 12 espécies (Quadro 1) no litoral de
São Paulo (GONZALEZ, 2005). De acordo com a Lista Vermelha de Espécies
Ameaçadas de Extinção da União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN), dentre essas espécies os tubarões mangona, branco e
martelo estão em situação vulnerável. Já o cação anjo encontra-se em perigo,
enquanto os demais apresentam baixo risco à extinção. Já na lista oficial das
12
espécies de invertebrados aquáticos e peixes ameaçados de extinção (MMA,
2004), o tubarão mangona e o tubarão martelo se encontram criticamente
ameaçados no Brasil, sendo que o gênero Sphyrna teve o maior declínio de
populações, atingindo 89% nos últimos 15 anos (IUCN, 2015; SZPILMAN,
2004; MMA, 2004). Contudo, muitas espécies são migratórias com maior
ocorrência da ordem Carcharhiniformes (HICKMAN et al., 2004) na qual, a
família Carcharhinidae é a que possuí mais espécies de tubarões em risco
(MMA, 2004).
Quadro 1: Espécies de tubarões que ocorrem no litoral do Estado de São Paulo. Ordem Família Espécie
Squaliformes SQUALIDAE Cação Anjo (Squatina sp.)
Carcharhiniformes
CARCHARHINIDAE
Galhudo (Carcharhinus plumbeus)
Tubarão Tigre (Galeocerdo cuvier)
Cação Frango (Rhizoprionodon sp.)
Tubarão Cabeça Chata (Carcharhinus leucas)
Tubarão Fidalgo (Carcharhinus obscurus)
Tubarão Azul (Prionace glauca)
SPHYRNIDAE Tubarão Martelo (Sphyrna sp.)
Lamniformes
ODONTASPIDIDAE Tubarão Mangona (Carcharias taurus)
ALOPIIDAE Tubarão Raposa (Alopias vulpinus)
LAMNDAE
Tubarão Branco (Carcharodon carcharias)
Anequim ou Mako (Isurus oxyrinchus)
Fonte: Gonzalez (2005).
Há um acentuado e rápido declínio das populações costeiras de tubarões
em todo o planeta, principalmente devido à captura para coleta de suas
nadadeiras e devolução do animal ainda vivo no oceano, prática denominada
finning, que está exercendo uma pressão predatória sem precedentes, com
relatos desta atividade no Sul do Brasil através da captura de nadadeiras de
diversas espécies oriundas da pesca com espinhel de superfície (KOTAS et al.,
2006) e da pesca de emalhe direcionada para a captura de tubarões-martelo
(HAIMOVICI et al., 2006). O lucro das vendas das nadadeiras é de
aproximadamente 50 dólares por quilograma, devido a forte demanda do
mercado asiático, indiscutivelmente o maior responsável pela mortalidade de
tubarões no mundo (HICKMAN et al., 2004), com uma estimativa de 78 milhões
de tubarões mortos anualmente (CLARKE et al., 2006).
Além do mercado de nadadeiras, há o consumo da carne de tubarão
comercializada como carne de cação que representa uma das dificuldades
13
envolvidas no controle e manejo da pesca, pois a maior parte das pescarias
não registra os desembarques por espécie, mas agrega-os como grupo
genérico “cação”, dificultando um ordenamento pesqueiro correto, pois cada
espécie responde de maneira diferente à pressão da pesca (STEVENS, 2005).
Desta forma, o declínio das populações de tubarões pode acarretar no
desequilíbrio populacional de suas presas habituais e influenciar a seleção
natural, ao predar os mais lentos e mais fracos, pois ao comerem os animais e
peixes doentes, feridos ou mortos exercem função importante na manutenção
da saúde dos oceanos. Esse declínio já vem ocorrendo nos últimos 15 anos em
que mais de 50% das populações de oito espécies de tubarões que habitam a
região noroeste do Oceano Atlântico apresenta redução significativa e não
apenas reduziram em número, mas também em tamanho, devido à pesca
intensiva, essas populações não têm tempo para crescer (SZPILMAN, 2004) e
quando não pescados intencionalmente, são capturados nas pescarias
multiespecíficas como fauna acompanhante (MUSICK, 1999, 2005; SZPILMAN,
2000).
Um dos problemas da exploração e ameaça as espécies de tubarões, é a
falta de fiscalização, recursos e infraestrutura no monitoramento da pesca local
e do comércio do pescado (CHAPMAN et al., 2009). Como forma de inibir a
prática do finning, a instrução normativa MPA/MMA Nº12 determinou que nas
regiões Sudeste e Sul no Brasil, o desembarque pela pesca de emalhe, de
elasmobrânquios que não constarem nas listas oficiais de espécies ameaçadas
de extinção, deve ser realizado com as nadadeiras aderidas ao corpo, podendo
ser cortadas parcialmente de forma a possibilitar seu dobramento (MPA/MMA,
2012a).
Outra iniciativa para reduzir as consequências negativas da pesca de
tubarão é a regulamentação dos tamanhos mínimos, áreas e reprodução das
espécies envolvidas a partir dos conhecimentos sobre a distribuição da pesca e
sobre o ciclo de vida e parâmetros populacionais, como período e locais de
reprodução e berçários, idade e tamanho de primeira maturação sexual. Assim,
a análise da composição dos desembarques fornece informação sobre a
mortalidade que a pesca exerce sobre as espécies de valor comercial, mas não
sobre os exemplares sem valor comercial. Desta forma, a avaliação da
14
composição dos descartes é necessária para mensurar o impacto da pesca
sobre os estoques pesqueiros (HAIMOVICI; KRUG, 1996), tendo como objetivo
o gerenciamento da pesca e da conservação para monitorar os recursos em
um estoque básico específico para preservar a diversidade e o potencial
evolutivo das espécies como um todo (DIZON et al., 1992).
Para que a exploração pesqueira minimize os danos em populações
ameaçadas é necessário que os pescadores tenham conhecimento de leis e
práticas envolvidas no manejo do pescado, assim como a situação de risco
desses animais. Pescadores artesanais desenvolvem seus instrumentos de
pesca, capturando os peixes principalmente com rede de arrasto e rede de
emalhe de fundo e de superfície, auxiliados ou não por pequenas embarcações
na prática da pesca litorânea ou costeira. Esta pesca pode ser colonizada
quando realizada por pescadores organizados em colônias ou cooperativas de
pesca ou não colonizada quando realizada por pescadores autônomos em
regime de economia familiar ou individual, ou seja, contempla a obtenção de
alimento para as famílias dos pescadores ou para fins exclusivamente
comerciais (SZPILMAN, 2000; MPA, 2014).
Destaca-se, dentre as artes de pesca utilizadas tanto por pescadores
artesanais quanto pela pesca industrial a captura de elasmobrânquios através
de rede de emalhe (de fundo e de superfície) e arrasto de fundo que são os
principais instrumentos utilizados (LESSA et al., 1999). A rede de emalhe de
fundo, opera sobre a plataforma continental em áreas próximas à costa e a
rede de emalhe de superfície atua em áreas mais distantes da plataforma
continental sobre o talude, e revelam-se responsáveis pela captura e
mortalidade de neonatos e juvenis, ameaçando a sobrevivência das espécies,
pela diminuição de indivíduos adultos e capazes de se reproduzir (KOTAS,
2004; 2009), comprovando a influência da pesca artesanal sobre áreas de
berçário. Contudo, os elasmobrânquios geralmente não são alvo das pescarias,
tendo como espécies-alvo peixes de maior valor comercial (LESSA, et al.,
1999), são capturados em sua maioria, incidentalmente (by catch), afetando a
biodiversidade por meio do impacto sobre estes predadores (HALL et al.,
2000).
15
Assim, o presente estudo foi elaborado com o intuito de pesquisar o
conhecimento da comunidade pesqueira do litoral paulista das praias de
Ubatuba e Boiçucanga, sobre a importância dos tubarões no ecossistema
marinho e sua vulnerabilidade com relação à exploração da pesca bem como,
as dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores, dando subsídios para a
elaboração de programas de educação ambiental com o objetivo de minimizar
as problemáticas envolvendo fiscalização e ordenamento pesqueiro, a partir do
melhor conhecimento das espécies pelos pescadores, proteção de juvenis e
fêmeas, assim como, o alerta sobre a prática do finning.
2. MÉTODO
2.2 Áreas de estudo
O litoral brasileiro possuí cerca de 8,5 mil quilômetros de extensão e 4,3
milhões de quilômetros de Zona Econômica Exclusiva (ZEE), abrigando grande
diversidade de ecossistemas costeiros (CASTELLO, 2010). O Estado de São
Paulo possui profundidades com cerca de 100 metros em áreas mais
profundas. A proximidade da Serra do Mar em relação ao oceano e a presença
de uma linha de costa recortada que formam baías e enseadas caracterizam o
litoral do Estado de São Paulo como uma região que oferece condições para o
estabelecimento e desenvolvimento de grande diversidade biológica.
A região de Ubatuba (23° 26’ 02’’S e 45° 04’ 16’’W), localizada no litoral
norte do Estado de São Paulo (Figura 1), a 234 quilômetros da capital, inicia-se
na Enseada de Ubatuba, com uma abertura voltada para o leste e um
estrangulamento que forma projeções do embasamento cristalino dividindo em
duas regiões, uma externa e uma interna mais rasa (MAHIQUES, 1995). O
Estado de São Paulo e o centro de Ubatuba são de grande importância para o
potencial pesqueiro deste litoral visando sua preservação (MANTELATTO et
al., 1995; MANTELATTO et al., 1999). Com relação à pesca, a região tem
como principais modalidades o emalhe de fundo (ancorado), que opera mais
intensamente nos meses de outono-inverno e o de superfície (deriva ou
caceio), mais presente nos meses de primavera-verão. As frotas pesqueiras
operam em uma profundidade de 20 e 160 metros de profundidade (KOTAS,
2004).
16
As praias visitadas para a realização do estudo, em Ubatuba, foram
preservadas com relação à especificidade do local de trabalho dos pescadores,
por pedido de alguns dos entrevistados dessa região.
Figura 1: Região de Ubatuba, litoral norte do Estado de São Paulo. Fonte: Adaptado Google Maps (2015a).
O território de São Sebastião (23° 45’ 36’’S 45° 24’ 36’’O), também
localizado no litoral norte do Estado de São Paulo, situa-se a 197 quilômetros
da capital e contém grande porção da Serra do Mar coberta por Mata Atlântica,
sendo cerca de 70% parte do Parque Estadual da Serra do Mar possuindo alto
grau de endemismo de espécies. Há presença de avanços dos morros junto ao
mar, formando as praias e a planície costeira. A costa possui quase 100
quilômetros, a partir de Bertioga no sentido aproximado oeste-leste, até a altura
do início do canal de São Sebastião que possui um porto natural profundo entre
o continente e a ilha de São Sebastião, pertencente ao município de Ilha Bela.
Dentro do município de São Sebastião, encontra-se a praia, bairro de
Boiçucanga (Figura 2), que no período de colonização pelos europeus era
fronteira de domínios tupinambás e tupiniquins, origem do nome tupi-guarani
que significa “cobra de cabeça grande”, devido às formações montanhosas.
Situa-se entre as praias de Maresias e Camburi, a 35 quilômetros do centro de
São Sebastião (SILVA 1975; FRANÇA 1954 apud ABRAMOVAY, 2002). No
canto norte da praia deságua o rio Boiçucanga, onde os pescadores artesanais
17
ancoram suas embarcações (Figura 3) e essa região abriga uma profundidade
de até 20 metros.
Figura 2: Região de Boiçucanga, litoral norte do Estado de São Paulo. Fonte: Adaptado Google Maps (2015b).
Figura 3: Local onde ficam as embarcações dos pescadores artesanais no Rio Boiçucanga (SP).
18
2.3 O diagnóstico socioambiental
O diagnóstico socioambiental permite a identificação de problemas
prioritários que irão constituir oportunidades de desenvolvimento como a
primeira fase de ação para programas de Educação Ambiental. Foi realizado
com 10 pescadores artesanais de Ubatuba e 10 pescadores artesanais de
Boiçucanga no município de São Sebastião, no litoral norte do estado de São
Paulo. Esse estudo foi realizado durante os meses de agosto, setembro e
outubro de 2015 em dias alternados, e os locais específicos de trabalho dos
pescadores foram preservados.
Para isso, foi aplicado o método de entrevista semi-estruturada,
combinando perguntas abertas e fechadas, com questões previamente
estabelecidas a partir de um questionário fechado (Apêndice A), dividido em: 1)
Caracterização do pescador e 2) Pesca e captura do tubarão. O contexto dessa
entrevista é muito semelhante a uma conversa informal, o questionário foi
aplicado durante a conversa, dirigindo no momento oportuno, a discussão para
o tema de estudo e fazendo perguntas adicionais para elucidar o que não ficou
claro ou para ajudar a recompor o contexto da entrevista, delimitando o volume
das informações e produzindo uma melhor amostra e cobertura mais profunda
sobre o tema. Desse modo, a entrevista permitiu maior interação do
entrevistador com o entrevistado, favorecendo respostas espontâneas,
deixando o entrevistado mais livre e a vontade para responder as questões,
surgindo questões inesperadas ao entrevistador que se tornaram úteis na
pesquisa (SELLTIZ, 1987).
Assim, a abordagem inicial do pesquisador com o pescador entrevistado foi
feita a partir da primeira parte do questionário fechado, com a caracterização
do pescador. As demais questões, bem como a segunda parte do questionário,
sobre pesca e captura do tubarão, foram abordadas pelo entrevistador durante
a conversa, de forma informal. As respostas foram gravadas em áudio para
posterior análise de conteúdo. Esta análise consistiu em três fases principais:
Estabelecimento da unidade de análise, que no presente estudo refere-se aos
aspectos sociais e ambientais apresentados pelos pescadores. Determinação
das categorias dentro dos aspectos abordados, esses aspectos foram divididos
em: caracterização dos pescadores, dificuldades da pesca artesanal e
19
conhecimento do pescado (cação). E por fim, a seleção da amostra do material
de análise, a partir das gravações em áudio das entrevistas, que foram
posteriormente redigidas (EGG, 1978).
Os termos presentes nesse questionário fechado como captura incidental e
demais conteúdos de difícil interpretação por alguns pescadores, foram
explicados pelo pesquisador durante a entrevista. O questionário foi aprovado
pela Comissão de ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e para sua
aplicação foi concedida aos entrevistados uma autorização por meio de uma
Carta de Consentimento e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo
A), com a impressão de duas vias (uma para o entrevistado e outra para o
pesquisador) em que os pescadores assinaram e tiveram livre escolha em
responder ou não às perguntas e em participar da pesquisa e poder parar de
responder quando achassem necessário. Com isso, a identidade dos
pescadores foi totalmente preservada, assim como, seus hábitos de trabalho e
práticas de pesca observadas e relatadas. Foram fornecidas todas as
informações necessárias para a compreensão do projeto, certificando que
todas as informações foram dadas e as perguntas esclarecidas pelo
pesquisador.
Durante entrevista com dois dos pescadores de Boiçucanga, surgiu o
convite de embarcar na manhã seguinte para acompanhar a retirada de 20
malhas de emalhe de fundo na região de São Sebastião. Os registros dessa
saída foram através de fotos e filmagens, posteriormente mostradas para os
pescadores para que concordassem com a utilização do material para o
presente estudo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização dos pescadores
A média das idades dos pescadores é de 44 anos. O entrevistado mais
novo tem 30 anos e reside em Boiçucanga e o mais velho 68 anos e é
pescador em Ubatuba, 100% dos entrevistados são do sexo masculino. Para
dar início à caracterização dos pescadores, a primeira pergunta feita foi há
quanto tempo eles trabalham com a pesca (Figura 4), 15% do total dos
entrevistados trabalham entre 1 a 10 anos, o menor tempo de trabalho foi de
20
quase 3 anos de pesca, 35% são pescadores entre 10 a 20 anos, 25% entre 20
a 30 anos, caracterizando o equivalente à quantidade de pescadores que
trabalham entre 30 a 40 anos com a pesca, o que possui mais tempo nessa
profissão trabalha há aproximadamente 40 anos. Esses dados são
aproximados, muitos pescadores não souberam dizer quantos anos exatos eles
trabalham com essa atividade.
Figura 4: Caracterização dos pescadores entrevistados com relação ao tempo de trabalho na pesca.
A segunda pergunta do questionário fechado foi com relação à influência ou
não de pescadores na família (Figura 5), pois se acredita que o conhecimento é
transmitido de geração a geração o que irá caracterizar a forma como manejam
o ambiente em que vivem (DE SOUZA; BARELLA, 2001).
Figura 5: A presença ou ausência de pescadores na família dos entrevistados.
Os entrevistados que vieram de famílias que possuem ou possuíram
parentes que trabalhavam com a pesca, representam 55% do total. A
justificativa que surgiu foi que na época em que começaram a pescar só havia
esse tipo de trabalho no litoral paulista desse modo, a maioria desses
15%
35% 25%
25%
Há quanto tempo trabalha como pescador?
1-10 anos 10-20 anos 20-30 anos 30-40 anos
Família de pescadores
55%
Único pescador na
família 45%
Possui pescadores na família?
21
pescadores se encontram entre a faixa de trabalho de 20 a 40 anos. Os 45%
que representam os pescadores que não possuem membros da família que
trabalham ou já trabalharam com a pesca, caracterizam-se pelos mais novos e
com menos tempo de trabalho, entre 1 a 20 anos.
Durante as entrevistas, houve comentários sobre a importância da cultura
tradicional para a atividade da pesca artesanal. Os pescadores mais velhos
detêm técnicas de confecção de redes, captura do pescado, previsão das
condições ambientais, que são utilizadas e aprendidas ao longo dos anos de
trabalho, caracterizando essas comunidades. O que mostra a importância do
incentivo para que essa cultura seja preservada. A influência de pescadores
mais velhos nas comunidades garante a perpetuação de atividades manuais,
como as redes feitas à mão, que serão discutidas adiante. Os pescadores mais
novos compram rede de menor durabilidade e mostram-se mais seguros com o
trabalho, já os mais velhos não veem futuro na pesca, pois relembram os anos
que havia mais peixes e condições melhores de trabalho e preferem que seus
filhos escolham outras profissões.
Os pescadores mais novos, apesar de em maioria não terem parentes na
pesca, são auxiliados por pescadores mais velhos dentro das comunidades ou
são parceiros de pesca dos mais experientes, o que mostra a importância da
influência de pescadores com mais anos de trabalho sendo ou não membros
da mesma família.
3.2 Instrumentos de pesca utilizados e a saída embarcada
Com relação aos instrumentos de pesca (Figura 6), em geral, os
pescadores trabalham com mais de uma rede. Os instrumentos mais utilizados
são a rede de emalhe de fundo e emalhe de superfície e rede de arrasto. O
cerco flutuante foi citado somente por um pescador de Ubatuba que só relatou
ser um instrumento cedido por um empresário que fica com parte do lucro das
capturas.
22
Figura 6: Gráfico sobre quais os instrumentos de pesca são utilizados pelos pescadores.
A rede de arrasto simples (Figura 7) é utilizada em uma porcentagem de
27% do total de entrevistados. Segundo a definição da CEPSUL (Centro
Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e
Sul), essa rede tem formato cônico de tamanho menor que a rede de parelha
de embarcações industriais, pois o arrasto é realizado por somente uma
embarcação. A abertura horizontal da boca da rede é mantida por um par de
hidroportas, que são pranchas de aço de acordo com as dimensões da rede.
Para ajustar o ângulo na captura do pescado, há uma estrutura denominada
“pé de galinha” que é fixado um cabo de reboque, sendo utilizada em
profundidades a partir de 40 metros. Em geral, são direcionadas para captura
de cardumes (CEPSUL, 2015a), mas há captura incidental da fauna
acompanhante, como os tubarões, principalmente, de menor porte.
O arrasto (Figura 7) entre todos os pescadores entrevistados é utilizado
para a pesca do camarão, mas afirmam que há captura de tubarão de forma
incidental. Ocorre principalmente, a captura de juvenis e neonatos, como fauna
acompanhante (KOTAS et al., 1998). Em seguida, foi perguntado se os
tubarões capturados chegavam vivos ou mortos. A maioria dos pescadores
respondeu que chegam vivos e que quando pequenos eles os devolvem para o
mar, porém não há conhecimento sobre os tamanhos mínimos permitidos para
captura, estabelecidos pela Portaria n° 73/03-N, 24 de novembro de 2003
(IBAMA, 2003).
21%
26% 50%
3%
Quais instrumentos de pesca são utilizados?
Rede de arrasto Emalhe de superfície Emalhe de fundo Cerco
23
Figura 7: Esquema de uma rede de arrasto simples. Fonte: CEPSUL (2015a).
Já, a pesca através do emalhe de superfície (Figura 8), utilizada por 26%
dos pescadores, fica disposta verticalmente na coluna d’água à deriva, presa
ou não à embarcação, onde são estendidas no mar e assim, capturam os
peixes que ficam presos na malha, por esse motivo os pescadores utilizam o
termo rede de espera ou caceio (CEPSUL, 2015c). Assim, além da captura de
neonatos e juvenis, de acordo com o tamanho da malha, também captura
indivíduos adultos em áreas mais afastadas da plataforma continental como
fauna acompanhante (KOTAS et al., 1998).
Figura 8: Esquema da disposição da rede de emalhe de superfície. Fonte: CEPSUL (2015c).
De acordo com estudo feito no estado de Santa Catarina no ano de 2002, o
emalhe de superfície captura maior porcentagem (53%) de tubarões do gênero
Sphyrna, com relação ao emalhe de fundo (43%) (VOOREN; KLIPPEL, 2005) e
dentre os pescadores entrevistados, há uma porcentagem maior (Figura 6) de
uso da rede de emalhe de fundo (50%) com relação à rede de emalhe de
superfície (26%). Porém, esse dado não é suficiente para estimar as
porcentagens de captura de tubarões nessas comunidades.
24
Quando questionados sobre a frequência de captura de tubarões os
pescadores de Boiçucanga responderam que todos os dias há presença de
tubarões nas redes de emalhe sendo que em ambas as regiões, saem todos os
dias da semana para pescar quando as condições ambientais estão favoráveis.
A pesca de emalhe de fundo (Figura 9) é a mais frequente entre os
entrevistados (50%), também é disposta verticalmente, mas fica ao fundo, por
meio de âncoras (poitas) e sinalizadas por boias na superfície. A captura ocorre
igual à de superfície e o pescado também depende do tamanho da malha
(CEPSUL, 2015b). Já a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA N°12,
de 22 de agosto de 2012, define por redes de emalhe os petrechos constituídos
por panos, panagem ou conjunto de panos, com tralha superior para flutuação
e tralha inferior para imersão (MPA/MMA, 2012a). Essa rede incide sobre
várias espécies de teleósteos e elasmobrânquios, sendo responsável também
pela captura incidental de outros organismos da fauna marinha como
mamíferos aquáticos e tartarugas, promove elevado impacto ambiental e
demonstra urgência para medidas efetivas de controle do esforço de pesca,
com objetivo de mitigar a gravidade do quadro atual do declínio das
populações, principalmente de elasmobrânquios (OCCHIALINI et al., 2012).
Figura 9: Esquema da disposição da rede de emalhe de fundo. Fonte: CEPSUL (2015b).
Em ambas as redes de emalhe, tanto de superfície quanto de fundo, os
tubarões morrem “sufocados”, pois necessitam se locomover para que ocorra a
circulação de água através das brânquias o que possibilita a respiração
(CASTRO, 2011). As respostas mostram que os pescadores têm consciência
que deixando a rede de emalhe durante muito tempo no oceano, as chances
do tubarão morrer aumentam. Um deles relatou: “Cação vem morto porque
25
quando bate na rede e não consegue sair, fica asfixiado. Se puxar a rede
rápido vem vivo, mas se deixa de noite e só for colher de manhã, ele morre”.
Esse fato pode ser ilustrado através da saída embarcada com dois
pescadores de Boiçucanga para a retirada de 20 malhas de rede de emalhe de
fundo, deixadas às 16 horas de uma sexta feira do mês de setembro e
retiradas às 9 horas do dia seguinte (Figura 10). Essa saída possibilitou o
acompanhamento do trabalho dos pescadores artesanais e a captura de um
exemplar macho juvenil de tubarão da ordem Carcharhiniformes família
Carcharhinidae, (Figura 11) que possui diversas espécies comuns em nosso
litoral e muito semelhantes entre si (SZPILMAN, 2004), medindo proximamente
90 centímetros (Figura 12). O animal chegou ferido, com cortes nas barbatanas
dorsais e caudal, provavelmente adquiridos em redes de pesca.
Figura 10: Saída para retirada de 20 malhas de rede, em Boiçucanga (SP).
Figura 11: O clásper (órgão sexual) evidência a captura do exemplar macho juvenil.
26
Figura 12: Captura de tubarão juvenil pela rede de emalhe de fundo, em Boiçucanga (SP).
Nessa saída, pode-se observar que após a retirada das redes, os peixes
são devidamente limpos com água doce e cortados para o comércio,
descartando as vísceras e cabeças no mar bem como, os peixes que já vieram
estragados (Figura 13). Esse fato ocorre devido ao tempo que ficaram mortos e
presos na rede e a fatores mais específicos como o tamanho do peixe, espécie,
morfologia, teor de gordura, habitat e alimentação. Peixes com maior teor de
gordura e recém-alimentados, com o trato digestivo repleto de alimento,
deterioram mais rapidamente e entre peixes de uma mesma espécie, o peixe
de menor tamanho também irá estragar mais rápido com relação ao peixe
maior (DOS SANTOS; JESUS, 2013). Portanto, o tempo que a rede deve ficar
no mar até sua retirada pelos pescadores para que os peixes não estraguem,
vai depender dos aspectos fisiológicos e morfológicos desses peixes e
influencia diretamente as espécies de fauna acompanhante como as
tartarugas, que necessitam respirar e acabam morrendo asfixiadas nas redes,
por ficarem presas durante muito tempo assim como, os tubarões. Desse
modo, o tubarão pescado na saída, chegou morto na rede que foi deixada
durante 19 horas no mar. Os pescadores afirmaram que eles visitam a rede em
média de 8 em 8 horas e quando não tem peixe deixam a rede mais de 24
horas sem visitar.
27
Figura 13: Pescados são limpos com água doce e as vísceras jogadas no mar.
Nessa observação a bordo, 20 malhas capturaram apenas quatro corvinas
sendo que, uma corvina foi descartada porque já estava estragada, dois
bagres, um robalo e o cação (Figura 14). A estimativa de lucro por dia é de no
máximo cem reais, um dos pescadores afirmou que 20 quilos de peixe quando
a pescaria é boa, vendendo aproximadamente R$12,00 cada e gastando
R$50,00 com despesas (óleo, gelo etc) sobram aproximadamente R$190,00 e
como geralmente são dois pescadores por embarcação dividem o pouco lucro.
Com isso, na pescaria observada, os pescadores de Boiçucanga pescaram
apenas uma caixa de peixes, contendo 80 centímetros de altura, 50
centímetros de largura e 25 de altura, que comparado aos relatos dos
pescadores de Ubatuba, a situação está semelhante. Um dos pescadores de
Ubatuba afirma que jogando 20 panos de rede, na maioria das vezes, não
enche nem uma “caixinha”.
28
Figura 14: Caixa usada como referência de captura por dia, com alguns dos pescados
capturados pelas 20 malhas de emalhe de fundo.
Os pescadores que foram acompanhados afirmaram que dentre os
pescados, o cação e o robalo são mais procurados e melhores para a venda. O
cação é vendido por R$15,00 o quilo, há alguns anos o quilo do cação era de
R$5,00 aproximadamente e aumentou devido à falta de peixes de maior valor
comercial e maior procura do consumidor, como o vermelho, ameaçado de
extinção e também citado pelos pescadores de Ubatuba, que relataram que
não se pesca mais vermelho no litoral como há alguns anos atrás. Desta forma,
o tubarão não pode ser considerado fauna acompanhante e sim, espécie-alvo
já que muitos dos entrevistados usam redes destinadas para sua captura e seu
valor e de outros peixes vem aumentando devido à redução das espécies de
pescado.
As 20 malhas de emalhe utilizadas na pescaria acompanhada tinham os
tamanhos 12, 10 e 14. No exemplo de plano técnico e armamento das redes de
emalhar da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a
escolha das malhagens é dada de acordo com o tamanho das espécies alvo
(FAO, 1990).
Em geral, as respostas das entrevistas apresentaram esse conhecimento
vindo dos pescadores referente ao tamanho da rede e à captura do pescado.
Disseram que redes de malha de maior número são responsáveis pela captura
de peixes maiores e redes de menor número de malha capturam peixes
menores, logo os tamanhos das malhagens das redes fazem com que o
29
resultado da pesca seja mais seletivo quanto ao tamanho dos peixes para
comercialização (RAMIRES; BARRELLA, 2003).
Portanto, os tamanhos 12 e 14 são destinados para a captura de cação e
peixes maiores, como robalo, corvinas maiores e o bagre que não possuí alto
valor comercial. Os dois exemplares de bagre capturados na saída chegaram
vivos, diferente do cação, esses bagres não foram soltos na tentativa de vendê-
los ou então para consumo próprio dos pescadores.
Já as leis sobre a pesca de emalhe e o tamanho das malhas são
específicas para cada região e para cada pescado tendo em vista que,
segundo a Portaria n° 121, de agosto de 1998, proíbe que a utilização e/ou
transporte de redes de emalhar de superfície e de fundo, cujo comprimento
seja superior a 2.500 metros e sob o processo IBAMA/Sede n°
02001.003024/2007-11 a altura máxima da rede de emalhe de superfície em 15
metros e de emalhe de fundo em 20 metros, proibindo o uso em profundidade
menor que o dobro da altura do pano, nas águas sob jurisdição nacional.
Segundo esse processo, as embarcações com permissão para a pesca de
emalhar não poderão levar panos reservas e os panos danificados não podem
ser descartados ao mar (IBAMA, 2007). Essas redes danificadas foram
observadas nos locais visitados, vistas jogadas na praia e próximas às
embarcações e serão comentadas mais adiante.
Dentre os entrevistados, a maioria pesca com tamanhos de malhas (Figura
15) entre 11 (19%) e 14 (23%). Houve relatos de pescadores que afirmaram
que utilizam as malhas 12 (26%) e 14 (23%) para a captura específica do
cação, que fica preso a essas malhas com grande frequência. Porém, quando
perguntados segundo o questionário 1 (Apêndice A) quais os tipos de pescado
que eles comercializam daqueles que foram capturados, todos os pescadores
responderam que todo peixe que vem nas redes é destinado para a venda e o
que sobra e que não conseguem vender, serve de alimento para os próprios
pescadores. Portanto, o tamanho das malhas direciona a pesca para
determinada espécie-alvo, mas todo animal que passa pela rede é atingido
pela pesca, mesmo se não ficar preso, pode se machucar. A maioria dos
pescadores utiliza malhas capazes de capturar tubarões.
30
Figura 15: Gráfico dos tamanhos das malhas de redes utilizadas pelos pescadores na pesca de emalhe.
3.3 Dificuldades relatadas pelos pescadores artesanais
3.3.1 Condições Ambientais
Dois pescadores em Boiçucanga e três em Ubatuba responderam, com
relação à pergunta sobre quais são as dificuldades enfrentadas na pesca,
como sendo principalmente as condições ambientais, como tempo, vento,
corrente, variações de marés. Desse modo, a chuva e o vento propiciam más
condições para o trabalho, por tornar o tráfego de embarcações perigoso,
deixando as barras dos rios e o mar agitados (RAMIRES; BARRELLA, 2003).
Por causa das correntes marinhas, um dos pescadores de Boiçucanga
mostrou a rede que encontrou “coxada”, ou seja, ficou enroscada virando um
cabo (Figura 16), que fez com que ele perdesse a rede e os possíveis
pescados que poderiam vir para serem comercializados. No caso, dessa rede
observada no dia da entrevista era uma malha 14, destinada para a captura do
cação.
2% 4%
9%
19%
9% 26%
23%
8%
Tamanho das Malhas
Malha 7 Malha 8 Malha 10 Malha 11
Malha 10 Malha 12 Malha 14 Malha 20
31
Figura 16: Rede “coxada”, devido ação das correntes marinhas.
3.3.2 Pesca Industrial
Todos os pescadores artesanais que participaram das entrevistas citaram a
pesca industrial como uma das dificuldades enfrentadas pela pesca de
pequeno porte.
A pesca industrial abrange, além das regiões costeiras, as regiões
oceânicas com maior profundidade, praticada por embarcações de porte maior,
com tecnologias e autonomia de navegação. Só no Estado de Santa Catarina,
representa 94% da produção de pescado, superando muito a pescaria
artesanal (ANDRADE, 2010). Com a atuação em áreas costeiras também são
responsáveis por influenciar regiões de berçários de tubarões.
Desta forma, os entrevistados de ambas as localidades afirmaram que os
barcos industriais têm mecanismos que possibilitam que eles achem os
cardumes a longas distâncias. Observam esses barcos muito próximos da
costa, em regiões que também operam suas atividades e isso dificulta o
trabalho deles pelo fato do barco industrial ter mais equipamentos possuindo
vantagens em comparação ao pescador artesanal. A produção da frota
industrial precisa ser muito grande, porque o custo do trabalho é alto e faz com
que só transportem peixes de alto valor comercial, o restante não armazenam
porque ocuparia o lugar de peixes melhores para venda.
32
Contudo, um pescador em Ubatuba afirmou que os artesanais não precisam
de aparelhos, aprendem a se localizar através do tempo, da corrente e pela
variação de marés. Falou também, que atualmente está crescendo o número
de pescadores que precisam de radares e de sonar porque sem esses
equipamentos não conseguem trabalhar e essa tecnologia está acarretando
maior destruição do ambiente marinho.
Desta forma, essas frotas industriais jogam os pescados de menor valor de
volta no mar, em maioria todos já mortos ou asfixiados pelo contato com o ar
na superfície ou também, pela compactação na hora de subir a rede, pois
possuem mecanismos que em aproximadamente 40 minutos conseguem puxar
a rede, dependendo do tamanho. Já os pescadores artesanais, fazem isso
manualmente, o que levaria cerca de duas horas.
Foi acompanhada a retirada da rede a partir da saída com os pescadores
de Boiçucanga, que demoraram cerca de 2 horas para retirar manualmente 20
panos. Um dos pescadores dessa região, falou que se os barcos industriais
dessem os peixes de menor valor para alguma instituição ou para os artesanais
venderem, não haveria desperdício do pescado e ajudaria não só o meio
ambiente como também, a produção. Este mesmo pescador também afirmou
que quando a frota industrial joga muita quantidade de peixes mortos no
oceano, isso espanta os outros peixes e prejudica a pesca. Explicou sua
percepção através da tainha, os pescadores industriais a jogam no mar porque
só aproveitam as ovas, que para os artesanais o peixe tem grande interesse e
valor comercial, a gordura vai sendo levada pela água e os outros peixes
sentem e fogem dessa região. Isso fez com que as populações de tainha da
região diminuíssem com relação aos anos anteriores, prejudicando o trabalho
dos pescadores de pequeno porte.
Um dos entrevistados de Boiçucanga relatou: “Enquanto nós matamos mil
peixes, um barco industrial mata umas 100 toneladas. Para eu pegar 100
toneladas são mais de 30 anos!”. Outro pescador em Ubatuba, afirmou: “A
pesca industrial pega em menos de uma semana o que pegamos o mês
inteiro”. Com isso, a região Sudeste foi responsável por 25,5% da produção
marinha nacional em 2007 e 22,3% em valor econômico, a pesca é mais
industrializa com 62% dessa produção. Em contrapartida, a pesca artesanal
33
possui uma produção de 38% e menos importante comparada às outras
regiões brasileiras (CASTELLO, 2010).
3.3.3 Redução dos estoques pesqueiros
Quando questionados sobre as mudanças nos estoques pesqueiros desde
quando começaram a trabalhar com a pesca, todos os pescadores artesanais,
especialmente os que possuem mais tempo na profissão, perceberam drástica
diminuição da quantidade de peixes existentes atualmente. Um dos pescadores
de Boiçucanga, com mais de 20 anos de trabalho, alegou que antigamente dois
panos de rede capturavam de 20 a 30 caixas de peixe (Figura 14) e agora 20 a
30 redes pegam apenas uma caixa: “Dá vontade de vender o barco e fazer
outra coisa, não dá mais para sobreviver só com a pesca, não quero que meu
filho trabalhe com isso”.
Como já mencionado, eles atribuem a diminuição dos estoques às grandes
frotas da pesca industrial e a utilização de muitos panos de redes de tamanhos
maiores e instrumentos que possibilitam a captura de uma quantidade elevada
de peixes que podem não conseguir reestabelecer suas populações. Portanto,
o emalhe de fundo costeiro é uma das principais modalidades de pesca
industrial do Sudeste, operando em diversas áreas, capturando inúmeras
espécies, sustentando muito usuários dos recursos pesqueiros. Por sua vez,
são as principais fontes causadoras de mortalidades desses recursos, na
plataforma continental e no talude (OCCHIALINI et al., 2012).
Já quanto aos estoques de tubarões, as respostas apresentaram diferenças
entre os pescadores de Boiçucanga e os de Ubatuba. Em Boiçucanga,
apresentaram em maioria, que há tubarões na região, são frequentemente
pescados quando as redes são colocadas mais distantes da costa. Esse fato
foi evidenciado na quantidade de peixarias que vendem a carne de cação e
todos os dias na visita à comunidade haviam postas à venda. Um dos
pescadores relatou: “Percebi mudança, dizem que está acabando tudo, mas
tem cação! Está morrendo, mas está nascendo”. Em Ubatuba, em geral, os
pescadores disseram que o cação está escasso, mas durante as visitas no
mesmo local, duas vezes havia tubarão (cação) filhote (Figura 17) e juvenil à
venda. O pescador não vendeu o cação, falou que quando vem assim muito
34
pequeno, já vem morto e ele come, esse neonato foi capturado através da
pesca de arrasto que tem como espécie-alvo o camarão.
Figura 17: Carne de filhote (neonato) de cação, em Ubatuba (SP).
Logo, um dos pescadores de Ubatuba, com mais de 30 anos na pesca,
relatou: “Antes você via na costa, muita espécies de crustáceos, todos os tipos
de peixes, muito camarão. Hoje não tem mais nada, não tem mais o que
proteger”. Essa visão, apesar de pessimista no sentido que não há mais o que
proteger, engaja uma verdade decorrente da forte diminuição dos estoques
naturais de muitas espécies de maneira bem perceptível. Com base em todas
as grandes indústrias pesqueiras do mundo, nas duas últimas décadas as
populações de espécies pescadas em todos os oceanos já foram reduzidas em
até 89%, beirando o colapso. Os grandes peixes predadores como o atum,
espadarte e os tubarões, tiveram 90% de suas populações desaparecidas dos
mares nos últimos 50 anos, não tendo reduzido somente em número, mas
também, em tamanho. Ou seja, o tamanho médio desses peixes é atualmente
menos da metade do que era na década de 1950.
O declínio populacional das espécies em 80% ocorre rapidamente nos
primeiros 15 anos de atividade pesqueira e depois se estabiliza em torno de
10%. Desta forma, as explorações dos recursos da fauna marinha estão
colocando no limite ou ultrapassando a capacidade de renovação ou
recuperação das espécies, ameaçando a sobrevivência das populações, como
as dos tubarões (SZPILMAN, 2004).
35
Assim, a primeira ameaça na diminuição dos estoques pesqueiros é a
sobrepesca. Os equipamentos utilizados pelas frotas industriais não dão
chances dos peixes escaparem, há um excesso de barcos pesqueiros em
relação ao potencial de captura disponível. Existem os “navios-fábricas” que
pescam e armazenam milhares de toneladas de pescado e antes de voltar ao
porto já são devidamente transformados em produto final para a
comercialização. Apesar de representarem 1% da frota de pesca mundial,
essas indústrias são responsáveis por 60% de todo o pescado do mundo.
Talvez, com a redução de 50% dos esforços de pesca, essa situação
poderia ser revertida minimizando os riscos de extinções e de ameaça das
espécies. Assim, com os estoques recuperados, haveria a possibilidade de
pescar a mesma quantidade com a metade do esforço atual (SZPILMAN,
2004).
3.3.4 Poluição marinha
Apesar de ter sido comentado por outros entrevistados a poluição por parte
das plataformas de petróleo na região, um dos pescadores de Ubatuba que
possui mais de 30 anos de trabalho na pesca, aprofundou mais sobre a
influência da poluição do oceano durante sua entrevista. Relatou que o governo
instala porto, com navios que derramam óleo, prejudicando o meio ambiente,
tudo gira em torno do dinheiro e ninguém pode fazer nada com relação a isso,
porque o dinheiro fala mais alto. “Não querem mais saber de futuro, estão
fazendo a gente acreditar que não tem mais salvação”.
Contou também na entrevista, que os navios de petróleo descarregam o
combustível antes de entrar no porto e fazem a lavagem dos tanques no mar,
enchendo a costa de óleo. Os navios de apoio fornecem o que os navios de
petróleo precisam, ficam ancorados e a equipe que fiscaliza só vai a bordo do
navio quando faltam 12 horas para o navio entrar na barra, ou seja, esses
navios ficam horas no mar jogando sujeira.
O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do município
de Ubatuba (PMGIRS), afirma que todo o lixo e efluentes despejados de forma
incorreta pode se tornar uma fonte potencial de poluição marinha, como
efluentes de embarcações, óleos provenientes da navegação e de acidentes da
36
indústria de petróleo e gás ou água de lastro e petrechos de pesca perdidos. A
presença desses resíduos impacta diretamente a biodiversidade, a economia e
a cultura da região.
Estão como as principais fontes de poluição marinha os vazamentos,
ruptura e transbordamento ou derramamento de óleo das embarcações e os
esgotos sanitários. Os principais problemas das atividades náuticas são os
resíduos gerados durante a manutenção das embarcações como a limpeza dos
porões e a impossibilidade de esgotar os tanques de despejos nas marinas.
Esse mesmo plano informa que o litoral norte de São Paulo é um dos
maiores corretores de atividade portuária do Brasil. E a região de Ubatuba, é
uma área de influência dos principais empreendimentos de petróleo e gás
estando susceptível aos impactos causados por essas atividades, como
execução de obras de abrigo e novas frentes de atracação, dragagens e canais
de acesso, derrocamentos, aterros, enrocamentos, infra-estrutura de
armazenagem, edificações em geral, acessos terrestres e outros. Com relação
ao petróleo, todos os anos, são derramados ou descarregados ilegalmente,
600.000 toneladas de petróleo bruto, que representa 10% de toda a poluição
marinha global. Destruindo a flora e a fauna, provocando enormes prejuízos a
atividade pesqueira e turística que impede por muito tempo a utilização das
praias logo que, os resíduos petrolíferos são de difícil remoção (PMGIRS,
2014).
O pescador entrevistado relatou que há 30 anos não havia tantos carros,
nem tantas construções como atualmente e todo o esgoto dessas construções
vão para o mar, para o rio, há descarte de móveis que jogam na beira dos rios
e com isso, o peixe não consegue procriar, porque tudo está poluído. Em
quase todas as praias da região, a costa tem casas e construções e além dos
despejos humanos há também o de animais domésticos, todo esse esgoto não
tem tratamento adequado e acaba no mar. “Cada carreta que sai daqui com
cerca de uma tonelada custa muito dinheiro, dinheiro público, quatro anos
pagando carretas de uma tonelada em uma temporada de 90 dias quanto gera
de lixo? De quem é a empresa que faz o transporte?”. Esse pescador mostrou
sua indignação com a falta de incentivo político com o seu trabalho e com o
meio ambiente.
37
Com isso, o entrevistado atribui a diminuição da oferta de peixes em locais
que sofrem influência dos esgotos sem tratamento adequado à impossibilidade
de reprodução desses organismos. Porém, a descarga de nutrientes como
nitrogênio e fósforo, oriundo dos esgotos domésticos e industriais sem
tratamento, causam a eutrofização artificial dos corpos d’água devido ao
aumento desses nutrientes, resultando na proliferação de microalgas,
principalmente cianobactérias, diminuindo a disponibilidade de oxigênio o que
leva a morte extensiva de peixes (BRANDÃO; DOMINGOS, 2006).
Esses relatos afirmam a influência da crescente industrialização que tem
causado o constante aumento de poluentes, principalmente nos ambientes
aquáticos que recebem de forma direta substâncias químicas de despejos
industriais e domésticos e as regiões costeiras são as mais sujeitas a essas
atividades (SILVA, 2004). Os esgotos em geral, possuem altos teores de
carbono orgânico total, série nitrogenados, fósforo orgânico e inorgânico,
sulfetos, cloretos, metais, hidrocarbonetos e pesticidas o que caracterizam o
potencial tóxico desses emissários marinhos (ABESSA et al., 2012). Em
Ubatuba, na praia da Enseada, há um único emissário submarino. A ocupação
desordenada da costa, além de trazer mais demanda e gerar mais dejetos e
resíduos, acarreta problemas como falta de saneamento básico, disposição
inadequada do lixo e outros problemas de saúde pública.
A região de Ubatuba não possui um sistema de coleta específico para a
destinação final dos resíduos pesqueiros, ficando a responsabilidade para os
pescadores e comerciantes. Esses resíduos oriundos da pesca são
acondicionados em caçambas estacionárias, tabuleiros, às vezes
acondicionados em tambores dentro dos refrigeradores antes de serem
destinados, quando não são lançados diretamente no mar, nos rios ou nas
praias ficando expostos às aves e animais que se alimentam destes detritos.
Há uma estimativa que na baixa temporada são gerados uma média de 15
tabuleiros de aproximadamente 30 kg por dia (450 kg/dia) e na alta temporada,
esse número chega a mais de 100 tabuleiros (aprox. 3.000kg/dia) (PMGIRS,
2014).
Há projetos na região que visam a reestruturação e melhorias na
infraestrutura do Mercado do Peixe, com o uso mais eficiente dos recursos
38
naturais, o reaproveitamento de águas pluviais e implantação de um sistema de
tratamento de efluentes antes do lançamento no corpo d’água receptor e de
manejo adequado dos resíduos. Também existe outro projeto que desenvolve
pesquisas utilizando detritos da pesca misturados com resíduos de poda e lixo
verde para compostagem (PMGIRS, 2014).
A coleta no município atende 98% da população, o resíduo sólido domiciliar,
segundo dados de composição gravimétrica em 2011, são 58% de material
orgânico, 35% reciclável e 12% são rejeitos, sendo que a coleta seletiva atende
ao máximo 1% de todo o resíduo gerado na região e essa coleta atinge cerca
de 30% da população (PMGIRS, 2014). Já em Boiçucanga, nenhum pescador
comentou sobre poluição durante as entrevistas.
Contudo, o próprio pescador falou sobre as redes jogadas na praia que em
todas as regiões entrevistadas haviam redes descartadas na areia ou próximas
das embarcações (Figura 18). Mencionou que antigamente só tinham emalhe e
seda que duravam mais de 100 anos e com a pesca do salmão quanto mais
fina fossem as redes mais matavam. Então, começaram a fabricar em outros
países, como a China, redes de menor durabilidade e agora todas as redes
duram cerca de seis a sete meses, sem manutenção, ou seja, quando estraga
precisa comprar outra. Esse pescador mais velho faz rede artesanalmente que
aprendeu com os pescadores de sua família, indicando nesse caso, a
importância da cultura de pesca familiar.
Figura 18: Redes descartadas na beira do rio em Boiçucanga.
39
Esse descarte de redes é uma preocupação sobre a pesca fantasma, que
resulta na captura de animais por petrechos extraviados pela perda ou
abandono, podendo gerar a captura de peixes e invertebrados, cada exemplar
vira uma isca para o próximo que pode ser capturado. Também atingem aves,
tartarugas e mamíferos, vítimas dessas redes flutuantes e boias de plástico ou
isopor (CHARLES; ROBERT, 2009). As boias para marcação das redes na
superfície do emalhe de fundo foram vistas sendo utilizadas no
acompanhamento da pescaria em Boiçucanga (Figura 19). São feitas a partir
de uma base de isopor, o que gera preocupação caso elas se desprendam da
haste e se percam no mar. Porém, outros materiais podem ser mais caros para
esses pescadores que obtém pouco lucro em seu trabalho. Com isso, propor
materiais de baixo custo e que não acometam possíveis prejuízos ao meio
ambiente, como a criação de flutuadores para marcação das redes que não
corram o risco de serem perdidos no mar, é uma alternativa de melhoria dada a
partir da aplicação de estudos e testes para que possam ser utilizados por
esses pescadores.
Figura 19: Boias feitas com isopor, utilizadas para marcação das redes de emalhe de fundo.
3.3.5 Fiscalização
Os entrevistados de Ubatuba possuem um perfil com maior
conhecimento sobre leis e direitos, talvez pelo fato de terem passado por
outros tipos de trabalhos além da pesca. Um deles afirmou que a fiscalização
atualmente existe, mas não sabe se está totalmente ativa, percebe que houve
40
inibição, como por exemplo, não vê mais a pesca de parelha na costa. Disse
que cada pescador tem uma documentação que dá legalidade de captura,
especificando qual o tipo de pescado e as espécies que pode capturar.
A fiscalização tem por competência diversos órgãos federais, como o
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e
o IBAMA que são responsáveis pelo uso sustentável dos recursos provenientes
da perante a Lei Federal nº 11.958/2009 estabelecendo também, a Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca no
Estado de São Paulo. O Decreto Federal nº 1.694/1995 ressalta o
levantamento de dados na região que são de responsabilidade do Instituto de
Pesca e da Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Mas, os dados sobre a
pesca continental é falho necessitando aprimoramento, ou seja, há falta de
informação. A Lei Estadual nº 11.165/2002 institui o Código da Pesca e
Aquicultura e as diretrizes da Política Estadual da Pesca e cita a inexistência
de um órgão responsável pela gestão dos recursos pesqueiros para o Estado
de São Paulo. Com isso, não se pode afirmar que a fiscalização é efetiva em
todas as regiões do Estado.
Com relação à pesca de parelha em Boiçucanga, os pescadores alertaram
sobre a presença dessas embarcações próximas a costa principalmente de
origem estrangeira, como vindas do Japão, Chile e outras regiões, exercendo a
pesca no litoral brasileiro sem fiscalização. A Lei Estadual nº 10.019/1998,
indica que a pesca de arrasto com utilização de parelhas está proibida na zona
costeira (até a isobata 23,6m) em São Paulo, independente da arqueação bruta
da embarcação. E a Resolução SMA nº 69/2009, também define os parâmetros
técnicos que estabelecem a proibição dessa pesca através de parelhas em
barcos de grande porte sendo responsabilidade da Secretaria de Estado do
Meio Ambiente com a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do
Estado de São Paulo e a Policia Militar do Estado de São Paulo, a fiscalização
dessas medidas (SMA, 2012).
As embarcações estrangeiras podem exercer as atividades pesqueiras em
áreas sobre jurisdição brasileira se estiverem cobertas por acordos ou tratados
internacionais firmados pelo Brasil ou arrendadas por empresas, armadores e
cooperativas brasileiras de produção de pesca, consideram-se equiparadas às
41
embarcações brasileiras, por condições estabelecidas e legislação específica
(PNDSAP, 2009). Desta forma, em território brasileiro, essas embarcações
devem responder às leis do país e deve haver registro e fiscalizações
legítimas.
Já as licenças dos pescadores, são obtidas através do Registro Geral da
Atividade Pesqueira (RGP), pela Lei nº 11.959, de 26 de junho de 2009,
estipulando a legalidade dos usuários para as atividades de pesca e
aquicultura em toda a cadeia produtiva, pelo poder executivo, credenciando
pessoas físicas ou jurídicas e as embarcações para exercer essas atividades
(PNDSAP, 2009). A autorização da pesca, segundo a Instrução Normativa nº
10 de 2010, permite a permissão prévia de pesca dentro do prazo de validade,
com embarcação devidamente identificada, determinando as espécies alvo
definidas pelo permissionamento que caracteriza as respectivas espécies a
serem capturadas, podendo ser uma ou mais, incluindo a fauna acompanhante
previsível, as espécies de captura incidental e as áreas de operação (MPA,
2015c).
Outro pescador da região declarou que para os pescadores artesanais só
há proibição e não há ajuda. Na região de Ubatuba, em geral, a fiscalização
mostrou-se sem muita eficiência e de forma generalizada, da mesma forma que
foi relatado pelos pescadores de Boiçucanga. Os pescadores de ambas as
regiões, concordam que deveriam ser implantadas leis que fossem federais e
específicas para pescadores artesanais e industriais.
Atualmente, as leis são estabelecidas de acordo com a Arqueação Bruta
(AB) das embarcações, de pequeno porte com AB igual ou menor que 20
(vinte), de médio porte com AB maior que 20 (vinte) e menor que 100 (cem) e
de grande porte com AB igual ou maior que cem. As pescarias artesanais
utilizam embarcações de pequeno porte e as industriais de pequeno, médio e
grande porte (PNDSAP, 2009). Há também a especificação dos limites a partir
da linha da costa até determinada distancia em milhas náuticas que são
estabelecidas de acordo com leis e decretos federais e estaduais, de acordo
com as necessidades previstas pelos órgãos responsáveis, mas não se pode
afirmar que uma lei estadual para determinada região, não seja necessária
para outra região que não há as mesmas leis. Com isso, a aplicação de leis ou
42
decretos estaduais deve ser resultante de estudos em todas as áreas de
exercício da atividade pesqueira.
Os entrevistados afirmaram que nos barcos industriais, há um numero
máximo de armazenagem, com a ajuda de tecnologias como GPS e sonar,
capturando altas quantidades de pescados, o descarte do que for de baixo
valor comercial, como já mencionado, é resultado da possível fiscalização no
porto quando forem descarregar. Não há respeito com a legalidade de
pescados da licença, como no caso da tainha, que muitas vezes eles não têm
licença para a pesca da tainha, então descartam o peixe e ficam somente com
as ovas que possuem maior valor comercial e não há fiscalização eficiente, o
mesmo acontece com a prática do finning. Dessa forma, a pesca industrial
realiza suas atividades próximas às regiões costeiras, afetando os estoques
pesqueiros pelo descarte principalmente, da fauna acompanhante gerando
consequências para a pesca artesanal e prejudicando a sustentabilidade da
pesca (VASCONCELLOS et al., 2007).
É atribuída ao poder público, a competência de regulamentar a Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Atividade Pesqueira, visando o
equilíbrio e a sustentabilidade dos recursos, através de itens que possibilitem
essa demanda, como a captura total permissível. Não foi possível achar
normativas que regulamentassem de forma clara e distinta a pesca artesanal
da pesca industrial com relação aos limites de pescado. Há o limite de cota de
captura e transporte federal de pescado por pescador na pesca amadora, 10
quilogramas mais um exemplar em águas continentais e estuarinas e 15
quilogramas mais um exemplar em águas marinhas (MPA, 2015c). Talvez o
descarte seja facilitado devido ao tamanho da embarcação e ao espaço de
armazenagem, ou por não possuírem a licença para determinados pescados,
como citado pelos entrevistados, ou pelo pescado não estar dentro dos limites
de tamanho mínimo de captura das regiões Sudeste e Sul (Figura 20), que
proíbe a pesca, o armazenamento a bordo e o desembarque cujos
comprimentos totais sejam inferiores aos estabelecidos (IBAMA, 2003).
43
Figura 20: Medição dos tamanhos mínimos de captura de elasmobrânquios. D1-D2: é a medida usada para tubarões, estabelecida pela distância entre a extremidade anterior da base da primeira nadadeira dorsal e a extremidade posterior da base da segunda nadadeira dorsal. Fonte: IBAMA (2003).
Dentre as espécies listadas nessa Portaria nº 73/03-N (IBAMA, 2003)
encontram-se nove espécies de elasmobrânquios (Quadro 2), todos
ameaçados de extinção. Há também, duas espécies de tainha: Mugil platanus
e Mugil Liza. Com isso, pode-se estabelecer a relação entre o comércio de
barbatanas pela prática do finning, em que as nadadeiras das espécies do
gênero Sphyrna são as mais valiosas do mercado podendo atingir acima de
U$100,00/kg (KOTAS, 2004), e as ovas de tainha, como dito pelo pescador,
devido ao tamanho mínimo ser uma exigência da fiscalização.
Quadro 2: Espécies de elasmobrânquios listados para a medição dos tamanhos mínimos de captura.
Nome Vulgar Nome Ciêntífico
Cação anjo espinhoso (Squatina guggenheim)
Cação anjo asa curta (Squatina oculta)
Cação anjo asa longa (Squatina argentina)
Viola (Rhinobatos horkelii)
Cação listrado/Malhado (Mustelus fasciatus)
Caçonete (Mustelus schmitii)
Cação bico doce (Galeorhinus galeus)
Tubarão Martelo recortado (Sphyrna lewini)
Tubarão Martelo liso (Sphyrna zygaena)
Fonte: IBAMA (2003).
44
Há o relato da maioria dos pescadores, que antigamente vendiam a tainha e
hoje não conseguem mais capturar. Atribuem também à falta de fiscalização e
aos barcos industriais. Afirmam que as embarcações industriais, além de
capturar altas quantidades de pescado por rastrearem os cardumes,
conseguem fugir da fiscalização (relatado por um pescador que já trabalhou
com a pesca industrial). O mesmo entrevistado falou: “Abriram umas 30
licenças para a tainha, ela sai do sul e navega muito rápido chegava aqui em
Ubatuba em grande quantidade, o pescador só tem licença para sardinha, por
exemplo, mas não tem fiscalização, então ele mata a tainha”.
No caso tanto da tainha quanto dos elasmobrânquios, mudanças
importantes ocorreram nos desembarques da região Sudeste por pescadores
artesanais, destacando a diminuição expressiva desses pescados. Isso faz
com que a pesca artesanal seja sustentada por um número reduzido de
espécies influenciando de forma negativa e constituindo vulnerabilidade às
comunidades de pescadores que perdem sua importância ao longo do tempo
(VASCONCELLOS et al., 2007). Há normativas que estabelecem critérios e
procedimentos para a concessão de Autorização da Pesca para a captura da
tainha (Mugil liza), como número máximo de embarcações autorizadas com
Arqueação Bruta (AB) menor ou igual a 10, segundo a Instrução Normativa nº
5, de 15 de maio de 2015 (MPA, 2015c). Portando, embarcações que não
forem autorizadas podem ser atuadas se houver fiscalização.
Em Boiçucanga um dos pescadores foi multado por estar pescando em
área proibida: “Me levaram tudo que havia pescado e uma multa de mais de
cinco mil reais e eu nem sabia que estava em área proibida, não dão um mapa
pra gente, nosso barquinho não tem GPS, não tem marcação nem nada”.
Nessa região os pescadores falaram que não há informação necessária na
colônia de pescadores e ninguém garante que eles sabem quais são as áreas
proibidas, entregando mapas e informativos sobre essas áreas. O mesmo
pescador, relata: “Quando proíbem a gente nem sabe o porque”, “A fiscalização
aborda a gente com arma e tudo, parece que somos marginais, somos
trabalhadores, não somos assaltantes”. Esse pescador tem 64 anos e trabalha
há mais de 20 anos com a pesca, já trabalhou na pesca industrial e afirma a
necessidade de estipular leis que determinem a área costeira como atividade
exclusiva da pesca artesanal.
45
O Mapa de Bordo possibilita a partir da Instrução Normativa
Interministerial Nº 26, de 19 de Julho de 2005 da Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR) e do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), a formulação específica de dados registrados e
informações sobre as operações de pesca de determinadas embarcações,
obrigatório para obtenção e renovação das licenças e/ou permissões de pesca.
Com isso, esse mapa garante maior conhecimento sobre os esforços de pesca
para possível ordenamento pelas entidades competentes (MMA, 2005a). Mas,
o mapa de bordo não tem relação com a garantia de informações atualizadas
sobre áreas proibidas para o pescador.
Esse mesmo pescador de Boiçucanga descreveu que as colônias também
não entregam mapas e não informam sobre as áreas proibidas, porém outros
pescadores da região e pescadores de Ubatuba afirmaram que é necessário ir
atrás dessas informações, há cartazes informativos e eles precisam se manter
cientes das novas legislações para se adequarem a elas. Pela Lei nº 11.699,
de 13 de junho de 2008, Art. 1, as colônias de pescadores, as Federações
Estaduais e a Conferência Nacional dos Pescadores são órgãos que trabalham
pelos pescadores do setor artesanal, defendendo direitos e interesses da
categoria dentro de sua jurisdição, representando ações de pesca predatória e
degradação do meio ambiente, de forma autônoma, sendo livre a associação
dos trabalhadores. Em geral, a associação é mediante pagamento (MPA,
2015c). Um pescador em Ubatuba relatou na entrevista: “A colônia deixa a
desejar, devia ter uma participação mais ativa”.
Outro entrevistado de Ubatuba expôs que o trabalhador analfabeto, sabe
trabalhar na prática, prevê condições ambientais e sabe se localizar, mas não
consegue tirar a documentação e se regulamentar, com as licenças
necessárias e até mesmo, não consegue tirar habilitação para conduzir a
embarcação. Desta forma, apesar de haver projetos como o Pescando Letras,
por parte do Ministério da Pesca e Aquicultura que visa alfabetizar pescadores
profissionais que não tiveram acesso à educação (MPA, 2015c), é necessária a
facilidade de acesso à informação, bem como o conhecimento de programas
como este, e direitos que regulamentem o trabalho dessa classe, para que
exerçam sua profissão sem serem prejudicados pela fiscalização. Logo, as
informações estão disponíveis na internet ou nas colônias de pescadores para
46
associados, mas podem ser limitantes para trabalhadores que vivem da
conversação com os colegas de trabalho, como dito pelo entrevistado.
3.3.6 Defeso
Segundo o Ministério de Pesca e Aquicultura (MPA), o defeso é a
paralização das atividades de pesca que constitui uma política estratégica, de
caráter ambiental, para a proteção das espécies durante o período de
reprodução, garantindo a manutenção de forma sustentável dos estoques
pesqueiros e mantendo a atividade e renda dos pescadores. É destinada para
os pescadores que exercem a pesca de forma individual ou em regime de
economia familiar, ficando impedido de pescar durante a época de reprodução
das espécies-alvo de suas pescarias. No período de reprodução, definido por
uma legislação específica, os pescadores profissionais recebem o Seguro-
Desemprego ou Seguro-Defeso em parcelas mensais, na quantia de um
salário-mínimo, em número equivalente ao período de paralisação.
Para os pescadores regulamentados receberem o benefício, é preciso
cumprir exigências contidas na Instrução Normativa MPA nº 06, de 29 de junho
de 2012, com os documentos e procedimentos definidos pelo Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) que é responsável pelo pagamento. Porém
atualmente, o Ministério da Pesca e Aquicultura está reavaliando e adequando
os defesos para o real cumprimento do objeto e do ato normativo, com a
criação de um Grupo de Trabalho Interministerial junto com o Ministério do
Meio Ambiente (MPA, 2015a; 2015b).
Durante as entrevistas, alguns pescadores citaram o defeso com relação
às dificuldades da pesca, mas não há uma pergunta direcionada para esse
assunto no questionário aplicado. Em Boiçucanga, três dos entrevistados
falaram que se o benefício for cortado não teria jeito, eles teriam que fugir da
fiscalização se continuasse a proibição nos períodos de reprodução. Já em
Ubatuba, pescadores alegaram que mesmo com o benefício, há pescadores
que pescam escondido, indo trabalhar durante a noite. Atribuíram isso ao valor
estabelecido de um salário mínimo, ou seja, quem toma essa atitude talvez não
esteja regularizado e não recebe o defeso ou além de receber o benefício
47
infringe a lei para ganhar também com o pescado comercializado devido à falta
de fiscalização.
As entrevistas em Ubatuba declaram através dos pescadores, que há
donos de barcos, de quiosque, possuidores de propriedades e pessoas em
geral, que não exercem a atividade pesqueira, mas que obtém a permissão de
pesca profissional e recebem o defeso. Em contrapartida, há pescadores que
realmente trabalham e não se beneficiam porque não possuem a
documentação necessária. Dessa maneira, espera-se que o Grupo de Trabalho
Interministerial investigue casos como estes possibilitando a adequação na
distribuição do seguro (MPA, 2015b).
Todos os pescadores entrevistados que recebiam o seguro-defeso,
trabalham com a pesca do camarão. Porém, no Estado de São Paulo, só há o
seguro-defeso específico para espécies de caranguejo, lagosta, mexilhão,
ostra, sardinha e bagres, que serão revisados. Em geral, a duração do defeso
varia conforme a espécie podendo ser de um a seis meses (MPA, 2015b). Em
Ubatuba, pescadores disseram que o defeso do camarão deve ter duração de
mais de três meses, porque apesar de se reproduzir não dura o suficiente para
que as populações cresçam. Afirmam: “Em 10 kg de camarão pescado se
aproveita menos 1 kg porque a maioria é tudo larva”, “A abertura do defeso
está errada, com dez dias de arrasto todo mundo já está reclamando que não
tem mais camarão”.
3.3.7 Atividades além da pesca
A ultima pergunta feita no questionário 1 (Apêndice A), caracteriza a
necessidade ou não de exercerem outras funções (Figura 21). A maioria dos
entrevistados das duas regiões (55%) vive somente da pesca sendo a única
fonte de renda. São 45%, os pescadores que exercem outras atividades para
complementarem sua renda. Dentre as atividades estão em geral, a utilização
do barco para o turismo. Mas, houve entrevistados que também trabalham em
quiosques, obras e como eletricista.
48
Figura 21: Gráfico quantitativo dos entrevistados que trabalham somente com a pesca e os que praticam outras atividades.
Apesar de todas as dificuldades apresentadas há pescadores que
gostam do que fazem e que se dedicam exclusivamente a essa atividade. A
classe está sofrendo, de acordo com um dos entrevistados: “O mundo evoluiu e
o pescador parou no tempo. Nossa pesca é pela sobrevivência”. Os que
exercem outras atividades, dizem que a pesca artesanal está se tornando
insustentável e principalmente os mais velhos, se preocupam com as próximas
gerações.
3.4 Caracterização da pesca e captura do tubarão
O Questionário 2 (Apêndice A), que trata a pesca e captura do tubarão na
entrevista, contém questões que já foram discutidas em outros tópicos. A
primeira pergunta sobre a importância do tubarão apresentou um padrão geral
de respostas que se basearam na predação, ou seja, só sabem que esse
animal se alimenta dos outros peixes, muitos deles que eles comercializam.
Também responderam que “atacam” os seres humanos, um deles disse:
“Cação é quando a gente come e tubarão é quando ele come a gente”. Com
isso, há uma visão deturpada e antiga dos tubarões como predadores de
homens, quando na verdade são os tubarões que estão sofrendo
principalmente pela indústria pesqueira. Há uma grande dificuldade para
convencer a opinião pública da importância desses animais que são essenciais
na manutenção do ecossistema marinho (SZPILMAN, 2004).
Vive da pesca 55%
Outras atividades
45%
Possui outro trabalho fora a pesca?
49
Com relação à pesca, dois pescadores em Boiçucanga têm o cação como
espécies-alvo, utilizando malhas para sua captura. Os outros entrevistados,
incluindo os pescadores de Ubatuba afirmaram capturar de forma incidental.
Disseram que quando os tubarões são filhotes ou juvenis e chegam vivos, eles
soltam, mas não é possível comprovar essa afirmação. Contudo, disseram que
a maioria dos exemplares chegam mortos nas redes, representando que as
redes demoram a serem recolhidas.
Os pescadores não sabem distinguir o tamanho mínimo de captura (IBAMA,
2003), a partir da medição exata das carcaças de elasmobrânquios. Relataram
que sabem quando é jovem ou adulto pelo tamanho e peso. Porém, o
conhecimento da medição de tamanhos mínimos, garante a captura de
exemplares que estão de acordo com as normas estabelecidas para
preservação das espécies.
A maioria (70% dos pescadores) soube determinar o órgão sexual que
distingue machos de fêmeas (Figura 22), porém houve influência de
pescadores que ouviram a respostas dos outros que já haviam sido
entrevistados. Um dos pescadores que não soube responder a essa pergunta,
comentou que os tubarões são hermafroditas, uma vez que a reprodução dos
tubarões ocorre por fecundação interna. O macho durante a cópula enrola seu
corpo ao redor do corpo da fêmea, mantendo essa posição, mordendo-a no
dorso ou na nadadeira peitoral. Em seguida, introduz o órgão sexual,
denominado clásper, no oviduto da fêmea através da cloaca. A identificação do
macho é a presença do clásper, um par de apêndices localizados na margem
interna das nadadeiras pélvicas. Essa informação é importante para a
conservação das espécies, normalmente as fêmeas atingem a maturidade
sexual com maior porte do que os machos (SZPILMAN, 2004). Portanto, a
captura de fêmeas adultas, pode indicar indivíduos que ainda não se
reproduziram apesar do tamanho, ameaçando a resiliência das espécies.
50
Figura 22: Gráfico da diferenciação entre machos e fêmeas a partir do conhecimento dos pescadores.
As espécies que surgiram como ameaçadas de extinção por todos os
pescadores foram: Viola (Rhinobatos horkelii), que na verdade é uma raia mais
a maioria dos pescadores identificam como cação e o Cação Anjo (Squatina
sp.). Dois pescadores falaram que o Anequim (Isurus oxyrinchus ou
Carcharodon carcharias) está proibido e somente um entrevistado citou a
proibição do Tubarão Martelo (Sphyrna sp.).
A Instrução Normativa n°5, de maio de 2004 do Ministério do Meio
Ambiente, institui uma lista de espécies ameaçadas de extinção que estão
proibidas de serem capturadas, exceto para fins científicos mediante
autorização do IBAMA. As espécies proibidas de captura de elasmobrânquios
no Estado de São Paulo estão em Anexo I: Lista Nacional das espécies de
invertebrados aquáticos e peixes ameaçados de extinção (proibidos) e em
Anexo ll: Lista Nacional das espécies de invertebrados aquáticos e peixes
sobre-explotadas ou ameaçadas de sobre-explotação estão as sobre plano de
gestão e coordenação do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis), para a recuperação dos estoques e da
sustentabilidade da pesca.
De acordo com o Quadro 3, os pescadores souberam identificar três das
treze espécies de elasmobrânquios proibidas de serem capturadas em São
Paulo, dentre elas dois tubarões e uma raia identificada pelos pescadores
como cação. Já o Quadro 4, o tubarão martelo foi o único citado pelos
Sim 70%
Não 30%
Você sabe quando o tubarão é macho ou fêmea?
51
pescadores como ameaçado de extinção e dado por um pescador como
proibido. Após reunião da Câmara Técnica Permanente de Espécies
Ameaçadas de Extinção e de Espécies Sobre-Explotadas ou Ameaçadas de
Sobre-Explotação, as listas das espécies dessa Instrução Normativa n°5/2004
foram revisadas sofrendo alterações (MMA, 2004). As mudanças foram
publicadas na Instrução Normativa do MMA, n°52, de 8 de novembro de 2005
(MMA, 2005b), para as espécies listadas no Quadro 4, foi criada uma proposta
de plano de gestão para o uso sustentável de elasmobrânquios sobre-
explotados ou ameaçados de sobre-explotação no Brasil (NETO, 2011).
Quadro 3: Anexo l da Lista Nacional de espécies de invertebrados aquáticos e peixes ameaçados de extinção no Estado de São Paulo.
Nome Vulgar Nome cientifico
Cação bico doce Galeorhinus galeus
Caçonete Mustelus schmitti
Tubarão peregrino Cetorhinus maximus
Cação lixa Ginglymostoma cirratum
Tubarão baleia Rhincodon typus
Cação anjo espinhoso Squatina guggenheim
Cação anjo liso Squatina occulta
Raia Viola Rhinobatus horkelii
Peixe Serra Pristis perotteti/Pristis pectinata
Fonte: MMA (2004; 2005b).
Quadro 4: Anexo ll da Lista Nacional das espécies de invertebrados aquáticos e peixes sobre-explotados ou ameaçados de sobre-explotação.
Nome Vulgar Nome científico
Tubarão Azul Prionace glauca
Tubarão Martelo Sphyna lewini
Cação Martelo Sphyrna tiburo
Tubarão Martelo liso Sphyrna zygaena
Mangona Carcharias taurus
Tubarão azeiteiro Carcharhinus porosus
Tubarão toninha/Cação noturno Carcharhinus signatus
Tubarão Galha Branca Oceânico Carcharhinus longimanus
Fonte: MMA (2004; 2005b).
Quando questionados sobre quais tubarões eles conhecem, citaram:
Titureira (Galeocerdo cuvier), Lambaru (Ginglymostoma cirratum), Cabeça
52
Chata (Carcharhinus leucas), Viola (Rhinobatos horkelii), Machote ou Galha
Preta (Carcharhinus brevipinna), Caçoa ou Mangona (Carcharias taurus),
Cação Anjo (Squatina sp.), Azul (Prionace glauca), Martelo (Sphyrna sp.),
Limão (Negaprion brevirostris), Tubarão Branco (Carcharodon carcharias) ou
Anequim, porém Anequim também pode ser o tubarão Mako (Isurus
oxyrinchus) (SZPILMAN, 2004). Os pescadores denominam as espécies de
acordo com os nomes vulgares conhecidos nas comunidades em que
trabalham. Em Ubatuba surgiram Galha Preta e Mangona, já em Boiçucanga
denominaram essas espécies como Machote e Caçoa. Também em
Boiçucanga, dois pescadores citaram o nome vulgar de um tubarão conhecido
como Olho de vidro, não foi possível sua identificação, assim como, não se
pode ter certeza se os pescadores denominam de forma correta os tubarões
conhecidos.
Os tubarões mais conhecidos (Figura 23) são: Cação Anjo (13%), Cabeça
Chata (11%), Martelo (10%), Tubarão Branco (12%) e Anequim (10%). A
maioria dos entrevistados de Ubatuba sabiam que o Viola mesmo sendo
vendido como cação e comercializado até mesmo para casquinha de siri por
possuir um gosto semelhante, é uma espécie de raia, mas foi citada por 13%
do total dos entrevistados das duas regiões. Esses dados remetem a apenas
15 pescadores que responderam a essa questão, os demais mencionaram
apenas os tubarões que estariam proibidos para captura.
Figura 23: Gráfico com as espécies de tubarão conhecidas pelos pescadores.
3% 4%
11%
13%
4%
4% 3%
5% 13%
8%
10%
12% 10%
Quais tubarões você conhece?
Tintureira Lambaru Cabeça Chata Viola Machote
Galha Preta Caçoa Mangona Cação Anjo Azul
Martelo Branco Anequim
53
Com relação à prática do finning a maioria dos pescadores de Ubatuba
conhece essa atividade. Um deles já trabalhou com a prática na pesca
industrial e afirmou: “Pescávamos a 70, 80 quilômetros da costa, em uns 50
metros de profundidade, havia abundância de cação. A gente pegava até 100
peças de barbatana por noite e jogava o bicho dentro d’água porque a carne,
há uns 20 anos atrás custava 20 centavos o quilo, trazíamos só Meca, Atum,
Robalo, Cavala, a carne do tubarão era dispensada, dava dó de ver. Em quinze
dias matávamos mais de mil tubarões”. Percebe-se que o finning já era
praticado há anos atrás resultando na grande redução dos estoques de várias
espécies de tubarões atualmente ameaçadas.
Já em Boiçucanga, os entrevistados em maioria, alegaram não conhecer a
prática do finning. Porém, um deles relatou: “Ah, já ouvi falar disso! Queria
conhecer quem compra as barbatanas, porque tudo se aproveita e a gente
acaba jogando fora enquanto os industriais capturam o cação para isso”. Na
visão desse pescador, a venda das nadadeiras seria um lucro adicional na
venda do pescado, já que acaba capturando tubarões em pequenas
quantidades, que ficam presos na rede de emalhe de fundo, diferentemente da
pesca em escala industrial, capturando em grandes quantidades.
A partir disso, a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA n° 14, de
26 de novembro de 2012, estabelece normas e procedimentos para o
desembarque, transporte, armazenamento e comercialização de tubarões e
raias capturados em águas brasileiras. Caracteriza o finning, como a captura
de tubarões e raias para proveito apenas das barbatanas, que são removidas,
descartando o restando do animal no mar. Estabelece a proibição da prática do
finning no Brasil, tubarões e raias desembarcados no litoral brasileiro devem
estar com todas as barbatanas naturalmente aderidas ao corpo do animal. Para
isso, é necessária uma fiscalização efetiva dos desembarques, sendo uma
normativa recente, do ano de 2012, mas a prática já ocorre há anos, como
relatado pelo pescador entrevistado (MPA/MMA, 2012b).
3.5 Educação Ambiental
Sobre a última pergunta do questionário relacionada à participação em um
trabalho de Educação Ambiental para pescadores artesanais, todos afirmaram
54
que gostariam de participar e julgaram ser importante a aplicação dessa
educação e de órgãos que realmente instruíssem as comunidades de pesca.
Não há projetos de educação ambiental efetivos para pescadores. Porém, ela
deve estar disponível a todos, com objetivo que reconheçam os tamanhos
mínimos de captura, identifiquem corretamente as espécies e saibam suas
importâncias, períodos de reprodução e ameaçadas de extinção sendo
orientados e atualizados regularmente.
Devido ao declínio de muitos peixes além dos tubarões, estes que eram
anteriormente vistos como fauna acompanhante se tornam espécies-alvo por
causa do consumo da carne do cação, que acaba por incentivar a prática do
finning no Brasil. A Educação Ambiental, deve também estar disponível à
população, alertando sobre o consumo da carne do cação que possui
contaminação excessiva de mercúrio e é imprópria para o consumo, com
evidências de carne contaminada no comércio do Estado de São Paulo
(MORALES-AIZPURÚA et al., 1999). Essa medida ajudaria a recuperar as
espécies ameaçadas e desta forma, propor ações a partir de estudos que
diminuíssem o tempo de disposição da rede de pesca no oceano, garantindo
também a preservação de outros animais oriundos da fauna acompanhante,
melhorando os estoques pesqueiros para os pescadores obterem melhores
condições de trabalho.
Outras propostas seriam a criação de instrumentos de pesca alternativos
que diminuíssem a captura principalmente de indivíduos juvenis e o
desenvolvimento das bóias já citadas, com flutuadores de baixo custo
reduzindo a poluição nos oceanos. Assim como, ações para o descarte correto
dos resíduos de pesca e coleta das redes. As redes de pesca coletadas devem
ser recicladas, com ideias de confecções artesanais, como o artesanato, que
pudessem incluir a família dos pescadores, principalmente as mulheres,
podendo gerar retorno financeiro.
A distribuição de folhetos informativos físicos ou eletrônicos (para reduzir
emissão de resíduos) sobre leis, decretos, normativas, especificando as áreas
proibidas e as razões e importância dessas condições, aliados a todo o
trabalho de Educação Ambiental, incentivariam ações corretas por parte dos
55
pescadores, sem depender da efetividade da fiscalização. Porém, a prática da
fiscalização é essencial.
O estabelecimento de parcerias entre pesca artesanal e industrial com
relação aos pescados capturados e descartados pela pesca industrial que são
espécies-alvo da venda de pescadores artesanais, auxiliaria a preservação e o
comércio pesqueiro. Bem como, a regulamentação da área costeira exclusiva
da pesca artesanal, reduzindo as capturas nessas regiões que são berçários
de tubarões e onde muitas outras espécies ameaçadas se alimentam. A
revisão do Anexo ll com o aumento das espécies proibidas de serem
capturadas que estão ameaçadas, com a possibilidade de serem realocadas
para o Anexo l (MMA, 2004; 2005b), subsidiaria as ações de educação dos
pescadores e auxiliaria a conservação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que não há diferenças significativas com relação aos
pescadores das duas regiões estudadas. Todos os entrevistados apresentaram
as mesmas dificuldades e conceitos semelhantes de acordo com as perguntas
do questionário e o diálogo aberto, diferindo apenas sobre as experiências de
vida de cada um. Eles possuem suas percepções a partir de vivências e
relações sociais com colegas de trabalho. Apesar de obterem conceitos
corretos, muitos sabem, mas sem uma justificativa concreta como, por
exemplo, que uma espécie ou região está proibida, mas não sabem qual
motivo levou a esta proibição. Aquele que possui mais recursos e uma base de
estudos durante a vida, consegue se informar e se atualizar, pois é necessário
que busquem informações.
Esses pescadores artesanais constituem uma classe de trabalhadores que
atualmente lutam para não perderem espaço no mercado de trabalho. Esse
estudo foi satisfatório, à medida que a Educação Ambiental diante de todos os
assuntos abordados é essencial para criação de projetos que objetivem a
preservação de tubarões com o restabelecimento de populações em risco,
resultando em melhores condições de trabalho para os pescadores. As
sugestões propostas auxiliam a obtenção de resultados que necessitam de
ações. Com isso, para dar continuidade a este estudo com o objetivo de
56
concretizar as ações propostas criei o órgão Seamade, cuja finalidade é a
aplicação da Educação Ambiental de pescadores artesanais e da população,
com foco na educação de crianças e de comunidades que possuem difícil
acesso à informação, constituindo um possível órgão de auxilio aos pescadores
artesanais que envolva todas as problemáticas apresentadas, a vulnerabilidade
das espécies e medidas de preservação, não só para pescadores, mas
também para as comunidades litorâneas e para as crianças dos grandes
centros urbanos visando à preservação dos oceanos como um todo.
É necessário compreender todos os pilares que constituem a problemática
para que ela possa ser mitigada ou resolvida, o apoio aos pescadores, a
sensibilização ambiental e redução do consumo para atingir a finalidade do
projeto, dependem de determinação e incentivo.
57
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64
APÊNDICE A- Questionários 1) e 2).
QUESTIONÁRIO 1: Caracterização do pescador 1. Qual a sua idade? 2. Há quanto tempo trabalha com isso? Possui pescadores em sua família? 3. Quais locais você pesca? 4. Quais os tipos de pescado que você captura?
5. Desses tipos, quais você comercializa?
6. Você utiliza quais instrumentos de pesca?
7. Quantas vezes você pesca por semana? 8. Quais as dificuldades que você enfrenta? Sugere algo que possa melhorar o seu trabalho?
9. Possui outro trabalho fora a pesca? 10. Percebeu mudança nos estoques pesqueiros? Atualmente há mais ou menos peixes?
QUESTIONÁRIO 2: Pesca e captura do tubarão
1. O que você sabe sobre a importância do tubarão no oceano? 2. Você pesca cação para venda, consumo próprio ou somente ocorre captura incidental? Se há ocorrência de captura incidental, você os devolve ou comercializa? 3. Quantas vezes na semana ocorrem a pesca e/ou captura incidental de tubarões? 4. Quais as espécies que são mais capturadas? Chegam vivas ou já mortas? 5. Como você sabe quando é filhote, jovem ou adulto? E macho ou fêmea? 6. Você também aproveita fêmeas com filhotes ou tubarões jovens ou os devolve? 7. Você acha que existem espécies de tubarão ameaçadas de desaparecer? 8. Quantos tipos de tubarões você conhece? 9. Se ocorrer a captura, você também aproveita as barbatanas do tubarão? 10. Você gostaria de participar de um trabalho de educação ambiental que possibilitaria maior conhecimento sobre o meio ambiente para ajudar na pesca?
65
ANEXO A- Carta de Consentimento e Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para aplicação da pesquisa.
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO
O presente trabalho se propõe a estabelecer um diagnóstico sócioambiental do conhecimento de pescadores com relação às atividades de pesca e vulnerabilidade do tubarão no litoral do estado de São Paulo. Os dados para o estudo serão coletados através de aplicação de um questionário com questões abertas que será posteriormente analisado, garantindo-se sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do local de coleta de dados por meio de gravação de voz. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum. Uma cópia deste documento ficará com o sujeito e outra com os pesquisadores.
____________________________ __________________________
Nome e assinatura do pesquisador Nome e assinatura do orientador
Instituição
Telefone para contato
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta.
Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.
São Paulo_____ de____________________ de _________
________________________________________
Assinatura do sujeito ou seu representante legal