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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE de ARQUITETURA e URBANISMO JACKSON DUALIBI Arquiteto Joan Villà - A Construção de cerâmica armada. São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE de ARQUITETURA e URBANISMO

JACKSON DUALIBI

Arquiteto Joan Villà - A Construção de cerâmica armada.

São Paulo 2013

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D812a Dualibi, Jackson Antonio da Silva

Arquiteto Joan Villà : a construçăo da cerâmica armada. / Jackson Antonio da Silva Dualibi – 2013.

183 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013. Bibliografia: f. 176 - 183.

1. Arquitetura. 2. Joan Villà. 3. Sistema construtivo. 4. Cerâmica armada I. Título.

CDD 724

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Figura 1 - Moradia Estudantil. Foto: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de

2012.

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Jackson Dualibi

Arquiteto Joan Villà - A Construção de cerâmica armada

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Villac

São Paulo

2013

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JACKSON DUALIBI

Arquiteto Joan Villà - A Construção de cerâmica armada

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profa. Dra. Maria Isabel Villac – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie ______________________________________________ Profa. Dra. Maria Augusta Justi Pisani Universidade Presbiteriana Mackenzie ______________________________________________ Profa. Dra. Monica Junqueira Camargo Universidade de São Paulo

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Este trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa

Cultura e Sociedade: O projeto: significado e valor,

Coordenado pela profa. Dra. Maria Isabel Villac, financiado pelo Fundo Mackenzie de pesquisa

- Mackpesquisa - do qual fui bolsista de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013.

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Dedico esta dissertação de mestrado à minha companheira Débora Sanches e aos meus filhos Pedro

e João Dualibi.

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Agradecimentos

A professora Dra. Maria Isabel Villac pelas orientações esclarecedoras.

Agradeço a todas as pessoas e instituições que colaboraram nesta dissertação de

mestrado; ao Centro Universitário Belas Artes, que me apoiou neste trabalho, em especial ao reitor

Paulo Cardim; aos coordenadores da Arquitetura Turguenev Roberto de Oliveira, Enio Moro e

Antônio Rodrigues; aos professores, em especial ao Paulo Ferrara, Wagner Amodeo e Jairo Ludmer

e aos alunos da casa; e a Leila bibliotecária.

Agradeço também à Universidade Presbiteriana Mackenzie, através de suas

coordenadoras, professora Dra. Angélica A. Tanus Benatti Alvim e Dra. Eunice Helena S. Abascal, e

a minha orientadora professora Dra. Maria Isabel Villac, aos professores da casa, em especial a

professora Dra. Maria Augusta Justi Pisani, que participou de minha banca de qualificação com

orientações importantes, aos colegas de turma, em especial ao Edison, Guilherme e Denis e a

professora Dra. Monica Junqueira Camargo pelos comentários, e participação na banca de

qualificação.

Agradeço as revisões do trabalho aos amigos Marco Aurélio Lagonegro, Luciana Lessa

Simões e Antonio Mota Filho.

Quero deixar o agradecimento especial ao arquiteto Joan Villà, que foi a fonte inspiradora

e sem o qual não haveria a presente dissertação, tendo toda a paciência de me fornecer as

entrevistas e o arquivo pessoal de fotos e reportagens.

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Resumo

Palavras chave

A presente dissertação versa sobre a constatação do oportunismo de um sistema construtivo,

pensado pelo arquiteto catalão e brasileiro Joan Villà, desenvolvido nos Laboratórios de Habitação da

Faculdade de Belas Artes de São Paulo e da Unicamp em especial na obra da Moradia Estudantil da

Unicamp, em Campinas, com a utilização da tecnologia simples e acessível, da cerâmica armada e

sua importância como experimento e inovação na arquitetura brasileira, a partir da biografia do

arquiteto.

Arquitetura, Joan Villà, Sistema Construtivo, Moradia Estudantil da Unicamp, Cerâmica armada.

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Abstrat

Keywords

This dissertation aims to assert the quality and use potentiality of a building method, designed

by the Brazilian/Catalan architect Joan Villá at the Housing Laboratory of the Faculdade de Belas

Artes de São Paulo (Fine Arts Faculty of São Paulo / Brazil) and then at the Unicamp (University of

Campinas – São Paulo/Brazil), where it was specially applied in its Student Housing Campus

(Campinas), with the use of the proposed technollogy, simple and easy workable steel framed

ceramic pattern. The study takes also in account the importance and value of that experiment and

innovation as a contribution to the the Brazilian Architecture as part of Villa´s professional life.

Architecture, Joan Villà, Building System, Student Housing Unicamp, Ceramics armed.

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Lista de figuras

Figura 1 - Moradia Estudantil p. 2.

Figura 2 - Construções em adobe na aldeia no vale do Rheris, Marrocos. p. 25.

Figura 3 - Desenho de Piranesi, ponte em tijolos. p.27.

Figura 4 - Gaudi, interior da cripta Guell, laje de tijolos. p.28.

Figura 5 - Abóbadas Núbias em construção, Arq. Hassan Fathy. p.28.

Figura 6 - Biblioteca de Exeter com fachada de Tijolos. p.29.

Figura 7 - Detalhe da verga de tijolos da biblioteca de Exeter. p.30.

Figura 8 - Robie House, projeto de F.L. Wright, com alvenarias de tijolos. p.31.

Figura 9 - Galeria de Entrada em tijolos, prefeitura de Saynatsalo. p.32.

Figura 10 - Detalhe de fachada da casa experimental de Muuratsalo. p.33.

Figura 11 - Museu de Mérida em tijolos. p.34.

Figura 12 - Interior da Casa Ana Mariani, com alvenaria em tijolos. p.35.

Figura 13 - Exterior da Casa Ana Mariani com alvenarias em tijolos. p.36.

Figura 14 - Tijolo cerâmico furado. p.39.

Figura 15 - Periferia de São Paulo, favela da Vila Prudente. p.42.

Figura 16 – Túnel sob o rio Tamisa. p.45.

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Figura 17 - Casas Jaoul, Le Corbusier. p.45.

Figura 18 - Central de abastecimento de Porto Alegre. p.46.

Figura 19 - Da Alvenaria de tijolos à fachada ventilada. p.48.

Figura 20 - Desenho de Lucio Costa para o concurso da Vila Monlevade de 1934. p.49.

Figura 21 - Taipa armada projeto de Acácio Gil Borsoi para Cajueiro seco Pernambuco 1963. p.51.

Figura 22 - Primeiras casas. p.55.

Figura 23 – Joan Villà ministrando aula de cursinho, 1970. p.56.

Figura 24 – Reunião do Sindicato dos Arquitetos com Joan Villà (em pé, à direta), 1977. p.59.

Figura 25 - Joan Villà em reunião com a comunidade do Recanto da Alegria, 1983. p.60.

Figura 26 - Professores e alunos do Laboratório da Habitação da Belas Artes de São Paulo em sua

primeira formação de 1982. p.65.

Figura 27 - Joan Villà (coordenador) com Eduardo Aquino (aluno) no LabHab, 1984. p.66.

Figura 28 - Centro comunitário em cúpula de tijolos , no Recanto da Alegria em 1983. p.69.

Figura 29 - Desenho elaborado por Joan Villà em entrevista no dia 20 de Setembro de 2012. p.72.

Figura 30 - teste do primeiro painel cerâmico no Lab/Hab da Belas Artes de São Paulo de 1982 a

1985, onde estão os professores Yopanan Rebello(a esquerda), Joan Villà (no centro) e Nabil

Bonducki, entre as lideranças comunitárias. p.73.

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Figura 31- Primeira casa experimental, utilizando o painel cerâmico na Unicamp em 1986. p.77.

Figura 32 - Segunda casa protótipo realizada na Unicamp em 1987. p.78.

Figura 33 - Jornal "Prestando Contas" de 7 de Julho de 1986. p.79.

Figura 34 - Conjunto Residencial de Socorro e Urbanização do Jacarezinho, obras de 1988. p.80.

Figura 35 - Casa em Vila Flores e Cooperativa dos jornalistas de Cotia, obras de 1989. p.81.

Figura 36 - Atelier do Laboratório de Habitação da Unicamp, obra de 1990. p.82.

Figura 37 - Centro Integrado de Educação em Campinas, obra de 1989. p.83.

Figura 38 - Museu de Ciência e Tecnologia em Bauru, obra de 1989. p.84.

Figura 39 - Casa do Lago, obra de 1994. p.85.

Figura 40 – Condomínio Residencial em Sertãozinho, e Casa de funcionários da Unicamp, obras de

1989. p.86.

Figura 41 - Moradia Estudantil da Unicamp, onde aparecem várias calhas abertas, saliências e

reentrâncias, desenho de Jackson Dualibi sobre imagem da época da construção. p.88.

Figura 42 - Forma curva feita com areia, para os painéis em catenária, na “Uzina” de pré-moldados

de Nova Iguaçu. p.90.

Figura 43 - Casa do Lago, 1984. p.91.

Figura 44 - Painéis. Disponível em: www.villachile.com.br. p.94.

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Figura 45 - Forma de madeira para painel laje – finalização painel. p.95.

Figura 46 - Montagem sobre "radier". p.97.

Figura 47 - Painel. Desenho de Abner Mesquita. p.98.

Figura 48 - Painel cobertura. p.99.

Figura 49 - Croquis dos painéis p.100.

Figura 50 - Obra de Louis Kahn, Indian Institute of Management. p.104.

Figura 51 - Favela de Salvador. . p.105.

Figura 52 - Moradia Estudantil da Unicamp. p.106.

Figura 53 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes pré-moldados

cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. p.107.

Figura 54 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes pré-moldados

cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. p.108.

Figura 55 - Plano Cerdá - Barcelona. p.111.

Figura 56 - Desenho de 1983, elaborado no Lab/Hab da Belas artes de São Paulo, para a Vila Arco

Íris no Grajaú, São Paulo. p.112.

Figura 57 - Conjunto Habitacional de Socorro, projeto de 1988. p.113.

Figura 58 – Maquete da implantação geral - moradia estudantil. p.114.

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Figura 59 – Maquete: detalhe da quadra - moradia estudantil. p.115.

Figura 60 - Relação da moradia com a Unicamp. p.117.

Figura 61 - Quadra. Desenho de Abner Mesquita. p.118.

Figura 62 - Cortes do desnível do terreno. p.119.

Figura 63 - Esquema do canteiro de obras. p.120.

Figura 64 - Pista coberta de fabricação de painéis. p.121.

Figura 65 - Desenho de Joan Villà, com esquema do "vazio" da fábrica à praça e com a circulação de

veículos e pedestres. p.122.

Figura 66 - Esquema de perspectivas. p.124.

Figura 67 - Agrupamento. p.126.

Figura 68 - Agrupamento. p.127.

Figura 69 - Unidade. p.127.

Figura 70 - Corte. p.129.

Figura 71 - Desenho de corte do bloco cerâmico, com proporção entre cheios e vazios. p.131.

Figura 72 - Desenho do vazio, da unidade habitacional. p.131.

Figura 73 - Desenho do vazio, da quadra. p.133.

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Figura 74 - Desenho do vazio. p.132.

Figura 75 - Revestimento externo p.133.

Figura 76 - Detalhe externo, alambrado e calçada p.134.

Figura 77 - Parede lateral da moradia com revestimento externo e infiltração de água. p.135.

Figura 78 - Imagem da época da construção, onde aparecem várias calhas abertas. p.136.

Figura 79 - Detalhe calha. p.137.

Figura 80 - Imagem recente com vegetação consolidada. p.139.

Figura 81 - Vegetação. p.140.

Figura 82 - Pátio interno da Unidade. p.141.

Figura 83 - Rua interna de pedestres. p.144.

Figura 84 - Pátio interna da unidade habitacional. p.145.

Figura 85 - Residência na praia do Félix. p.149.

Figura 86 - Conjunto residencial em Cotia. Disponível p.150.

Figura 87 - "Lajões" em Favelas. p.151.

Figura 88 - Casa do Homem, projeto de Le Corbusier. p.151.

Figura 89 - COPROMO. p.154.

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Figura 90 - Comuna urbana Don Helder Câmara. p.155.

Figura 91 - Conjunto Habitacional Brasilândia 13 - Vila Albertina. p.156.

Figura 92 - Edifício Pirineus. p.157.

Figura 93 - Flexbric. p.158.

Figura 94 - Aplicação Flexbric. p.160.

Figura 95 - Biblioteca pública de Villnueva. p.161.

Figura 96 - Obras realizadas no Laboratório de Habitação da Unicamp. p.167.

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Lista de Abreviaturas

COPROMO - Cooperativa Pró Moradia de Osasco.

CRUSP - Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo

FAEC - Fábrica de Equipamentos Comunitários.

Falcão Bauer - Centro Tecnológico de Controle de Qualidade.

Febasp - Faculdade de Belas Artes de São Paulo

IAB/SP - Instituto dos Arquitetos do Brasil / São Paulo.

IPT - Instituto de Pesquisa Tecnológicas.

Lab/Hab - Laboratório da Habitação.

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.

Unicamp - Universidade de Campinas.

USINA - Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado.

USP - Universidade de São Paulo.

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Sumário

Introdução 20

1 Construção em cerâmica. 23

1.1 Construção em tijolos cerâmicos furados. 38

1.2 Construção em cerâmica armada. 43

2 Arquiteto Joan Villà. 53

3 O Laboratório de Habitação da Belas Artes de São Paulo - o início da painel

cerâmico. 63

4 O Laboratório de Habitação da Unicamp e a produção do painel cerâmico. 75

5 O sistema de construção com componentes pré-fabricados cerâmicos proposto

por Joan Villà. 92

6 Moradia Estudantil da Unicamp - análise. 101

7 Depois dos Laboratórios. 147

8 A Influência nas gerações posteriores e as novas perspectivas para a utilização

da cerâmica armada. 153

Considerações Finais 162

Anexo 165

Referencias. 176

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Introdução

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A presente dissertação trata da técnica construtiva dos painéis cerâmicos pré-fabricados na

obra de Joan Villà, a partir da biografia do arquiteto, e apresenta suas influências e as perspectivas

de utilização futura, destacando suas características, como a tecnologia simples, acessível e sua

importância como experimento e inovação na arquitetura brasileira.

A Moradia Estudantil da Unicamp foi escolhida como exemplo e estudo de caso pela sua

importância na aplicação da técnica construtiva estudada - que, apesar da qualidade da obra e do

sistema construtivo consagrado, foi pouco replicada - bem como pela amplitude da experiência como

modelo de projeto de extensão universitária.

Na elaboração da dissertação, primeiramente foi feito um levantamento do material publicado

sobre o arquiteto, sobre o sistema construtivo e sobre a obra da Moradia Estudantil da Unicamp,

onde constatamos, além das revistas nacionais como a revista Projeto e a revista AU - Arquitetura e

Urbanismo, com alguns números tratando do assunto, a repercussão internacional do projeto,

principalmente na mídia hispânica: artigos nas revistas Tectônica e Arquitectura Viva, com citações

explícitas da obra de Joan Villá, e de autores como José Maria de Churchichaga e Ignacio Paricio

Ansuategui, importantes autores do tema da construção cerâmica.

Também foram levantados artigos e projetos de pesquisa, principalmente do grupo de

pesquisa "Arquitetura e Construção" da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do qual o próprio

Joan Villá faz parte.

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A própria dissertação de mestrado de Joan Villà, intitulada "A construção com componentes

pré-fabricados cerâmicos: Sistema construtivo desenvolvido em São Paulo entre 1984 e 1994"

apresentada na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no ano de 2002, foi utilizada como fonte de

pesquisa, além de teses, dissertações, artigos e livros que citam ou referenciam os temas específicos

e correlatos.

Entrevistas com o arquiteto Joan Villà e visitas ao local da Moradia Estudantil da Unicamp

também foram realizadas.

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1. Construção em cerâmica

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O ato de construir com argila se perde no tempo.

Trinta raios se unem em uma roda. Mas o funcionamento da roda depende do espaço entre os raios.

Os vasos são feitos de argila. Mas pra usá-lo é nescessário o espaço vazio dentro dele.

Fazem-se as paredes, as portas e as janelas nos edifícios. Mas o uso destes depende do espaço "vazio" nele.

Desta maneira, se vinculam o uso dos objetos com o espaço "vazio" (TSÉ, 2012, p.14).

O Homem moldava os utensílios e recipientes para a água, alimentos e bens em geral em

barro, conservando-os frescos por mais tempo, pela baixa condutividade térmica do material. As

primeiras edificações humanas tinham as mesmas características dos vasos e protegiam o ser

humano das agressividades do sol, do vento, do clima inóspito e das idiossincracias do tempo.

La arcilla, base de la cerámica, es uno de los materiales más antiguos por el hombre en sus construcciones y uno de los protagonistas de la historia de la arquitectura. Sin embargo, desde hace algún tiempo, su papel ha entrado en una etapa de redefinicíon y en muchos casos de franca retirada. Este hecho se acusa especialmente en el panorama arquiotectónico más reciente, que no parece encontrar en la cerámica un aliado de futuro y la considera para tareas secundarias sin explorar todas sus posibilidades. Pero si analizamos la actividad constructora del planeta, con cientos de millones de personas que todavia utilizan la arcilla como material base de construcción, nos encontramos con una paradoja: aunque todavia hoy se construye con tierra, la arquitectura reconocida y publicada prescinde de ella. (CHURTICHAGA, 2007, in Arquitectura viva n. 116, p. 32.).

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Figura 2 - Construções em adobe na aldeia no vale do Rheris, Marrocos.

Disponível em: http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_r

ecriar/arquitetura-de-terra-iii/. Acesso em: 17 de março de 2013.

Com o passar do tempo, o emprego de outros materiais e o domínio crescente da técnica

(como o domínio de fornos), os tijolos crus (adobe) passaram a ser cozidos, ganhando maior

resistência mecânica, impermeabilidade e, agora já como cerâmica, possibilitando construções

maiores, maior durabilidade e proteção.

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La importancia del ladrillo ha venido dada por su facilidad para conseguir-lo, para transporta-lo y para colocarlo. Es un materil elaborado pensado en la dimensión de la mano que lo ha de colocar y ajeno a los grandes esfuerzos necesarios para mover outros materiales; acompaña perfectamente en los movimientos necessarios para su colocación y no exige una habilidad especial ni tanpoco el rigor de otros sistemas constructivos. (TECTÔNICA n. 15, 1995, editorial).

Outros materiais naturais também poderiam ser utilizados com efeitos parecidos, como a

madeira e a pedra; porém, geralmente, estes materiais dependiam da disponibilidade na região. Em

geral, como o homem cuidava da agricultura para a sua sobrevivência, procurava regiões de terra de

boa qualidade, com poucas pedras, onde as arvores foram dando lugar às plantações, como foi o

caso da Mesopotâmia. Assim, a argila, como base para a confecção de utensílios e das construções,

é, ainda hoje, um dos materiais naturais mais utilizados nas construções civis dos assentamentos

humanos.

El muro macizo tradicional satisfacía las exigencias más importantes de la construcción y del confort gracias a su espesor. Una fachada de pie y meio de ladrillo no solo podía soportar importantes cargas sino que, además, era ampliamente capaz de garantizar la estanqueidad y de proporcionar un aislamiento térmico aún más eficaz gracias a su inercia

Durante el siglo XIX se gestaron las grandes transformaciones constructivas que iban a estallar en nuestros tiempos. Un economicismo radical en los planteamientos llevó al límité la delgadez de todos los elementos verticales (ANSUATEGUI, 2000, p. 6).

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Figura 3 - Desenho de Piranesi, ponte em tijolos. Foto: Jackson Dualibi, exposição

Piranesi no Caixa Forum em Madri em 20 de abril de 2012.

Resistentes à compressão e menos resistentes à tração, os tijolos cerâmicos teriam que

trabalhar exclusivamente sob compressão (para serem utilizados na horizontal ou como coberturas),

em arcos plenos, como os romanos, ou ababatidos em abobadas, como os egípcios.

As construções em tijolos tiveram seus expoentes em pesquisas formais de Antoni Gaudi na

Catalunha (1826 - 1926) e na reapropriação de técnicas antigas de Hassan Fathy no Egito (1989 -

1990).

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Figura 4 - Gaudi, interior da cripta Guell, laje de tijolos. Disponível em:

http://www.panoramio.com/photo/45233994. Acesso em: 14 de Setembro de 2012.

Figura 5 - Abóbadas Núbias em construção, Arq. Hassan Fathy.

Disponível em: http://boomer-cafe.net/version2/index.php/Architecture-des-annees-50/Hassan-Fathy-construire-

avec-le-peuple.html. Acesso em: 13 de Setembro de 2012.

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Figura 6 - Biblioteca de Exeter com fachada de Tijolos. Disponível em:

http://arquitecturamashistoria.blogspot.com.br/2009/04/louis-kahn-exeter-miguel-angel-roca-los.html. Acesso em: 20 de

outubro de 2012.

Grandes mestres da arquitetura moderna utilizaram tijolos em seus projetos. O arquiteto Louis

Khan (1901 - 1974), por exemplo, construiu com tijolos em muitos de seus projetos, utilizando-os

como muros de carga, como na biblioteca de Exeter em New Hampshire USA, em 1972, onde os

pilares de tijolos aumentam de tamanho conforme aumentava a carga - pilares inferiores maiores que

os superiores, através de uma operação de redução na geometria da verga, construída igualmente

em tijolos.

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Figura 7 - Detalhe da verga de tijolos da biblioteca de Exeter. Disponível em:

http://www.constructionphotography.com/Details.aspx?ID=1280&TypeID=1.

Acesso em: 24 de Novembro de 2012.

Frank Lloyd Wright (1867 - 1959), mestre no uso de materiais naturais, na famosa casa Robie

House em Chicago, projeto de 1908, acentua a horizontalidade da edificação através do desenho dos

muros de carga em tijolos.

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Figura 8 - Robie House, projeto de F.L. Wright, com alvenarias de tijolos.

Disponivel em : http://evilvince.com/wp-content/uploads/2008/01/Robie_House_Frank_Lloyd_Wright_2.jpg. Acesso em: 23

de outubro de 2012.

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32

Figura 9 - Galeria de Entrada em tijolos, prefeitura de Saynatsalo. Disponível em : http://www.greatbuildings.com/cgibin/gbi.cgi/Saynatsalo_Town_Hall.html/cid_1131185026_Saynatsalo_2.html. Acesso em:

22 de outubro de 2012.

Alvar Aalto (1898 - 1976), emprega o tijolo com maestria, obtendo a mesma dignidade dos

mármores palacianos, em obras com a prefeitura municipal de Saynatsalo (Finlândia) de 1950,

utilizando nas paredes e no piso os tijolos de boa qualidade, mesclados com os queimados e

retorcidos que o controle técnico queria barrar. Dentro de uma composição harmônica de um único

elemento, mantém as qualidades heterogênias do material e valoriza o trabalho dos operários,

mantendo o tijolo aparente e o ressalta por meio do "rebaixo" de 1,5 cm entre as camadas.

Simultaneamente a essa obra, Aalto estuda, em sua casa experimental (Muuratsalo), uma

cinquentena de possibilidades de utlização do mesmo material: o tijolo.

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Figura 10 - Detalhe de fachada da casa experimental de Muuratsalo, Disponível

em: http://www.galinsky.com/buildings/experimentalhouse/index.html. Acesso em: 23

de outubro de 2012.

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Figura 11 - Museu de Mérida em tijolos. Disponível em:

http://comunidad.uem.es/uemismore/category/prensa-4m. Acesso em 24 de

outubro de 2012.

No museu de arte Romana de Mérida (projeto e obra de 1980 a 1986), Rafael Moneo (1937 - )

rendeu-se aos cânones da arquitetura Romana, evocando a construção em tijolos e fazendo uso dos

resquícios do sitio arqueológico aí existente.

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Figura 12 - Interior da Casa Ana Mariani, com alvenaria em tijolos. Disponível em: http://theurbanearth.files.wordpress.com/2008/07/e4848c1.jpg. Acesso em: 30 de

Dezembro de 2012.

No Brasil, Joaquim Guedes (1932 - 2008) fez largo uso de tijolos em seus projetos

residenciais, como, por exemplo, na casa Ana Mariani construída em 1977 em Ibiúna.

Numa declarada homenagem a Alvar Aalto, Guedes explorou o tijolo em todas as suas possibilidades: vedação, piso e revestimento da estrutura de concreto, que associado à cobertura em telha de fibrocimento, ao forro e caixilhos convencionais em madeira, tendo atingido o limite da sua busca pela simplicidade formal e construtiva. Uma planta em “L”, sob um telhado numa única água, que aproveita o desnível do terreno, criando um pé direito de 4m, resolve o programa de maneira simplificada. Uma grande abertura voltada para o nascente incorpora a rica paisagem à área de estar (CAMARGO, 2008, in; www.revistaau.com.br).

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Figura 13 - Exterior da Casa Ana Mariani com alvenarias em tijolos. Disponível em: http://maragama.files.wordpress.com/2011/06/2008-07-28-morre-joaquim-guedes-em-se28886o-paulo-05.jpg. Acesso em:

23 de outubro de 2012.

Os mestres modernos monumentalizaram a construção em direções diferentes: o concreto plástico de Le Corbusier e as abstrações de Mies van der Rohe em vidro e metal, são dois extremos de um leque de propostas que tornaram a técnica uma linguagem. Posteriormente, o uso monumental da cerâmica, por Louis Kahn, mostrou a vigência contemporânea da construção atemporal. Nossa época não se edificaria só com as técnicas do século XX, mas com todas as que oferece o amplo repertório da tradição e da história: no idioma do material não há línguas mortas.(GALIANO, 1993, in: Linguagem cerâmica na arquitetura p. 3)

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A modernidade - como mudança de paradigma, e também pelas limitações técnicas

dos tijolos na verticalização e nas possibilidades de maiores aberturas horizontais para a

maior iluminação natural das construções - teve nos materiais industrializados o seu

"fetiche": o vidro, o aço e o concreto, poderiam ser produzidos em larga escala,

estandartizados, padronizados e controlados. Estes materiais deveriam substituir o material

"pobre", barato e de fácil acesso - o tijolo.

En el siglo xx se fabricaron y se utilizaron y má ladrillos que en qualquier otro siglo de la historia, por lo que resulta sorprendente que, a pesar de seguir siendo uno de los materiales de construcción más comunes, mucha gente considere que el siglo xx supuso su decadencia. Parte de la culpa se podría achacar a los historiadores de la arquitectura, en cuyas obras a menudo da la impresión de que todos os edificios modernos son de hormigón, acero y cristal. Sin embargo, con un breve repaso a la arquitectura del siglo XX se puede observar que éste no ha sido o caso, Aunque en ocasiones se haya dicho lo contrario, durante el siglo XX han proliferado las construcciones de ladrillo, y algunos de los mejores arquitectos modernos han utilizado este material en sus edificios más emblemáticos. (CAMPBELL e PRYCE, 2004, p. 244).

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1.1 - Construção em Tijolos cerâmicos furados

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Figura 14 - Tijolo cerâmico furado, Disponível em:

http://www.solradiante.com.br. Acesso em: 26 de Julho de 2012.

O tijolo cerâmico furado pesa em torno de 2,5 quilos por peça, sendo que mais de 50% do seu

volume é composto de espaço "vazio" (furos internos). Este fator possibilita o fácil manuseio, a pouca

sobrecarga na estrutura, o isolamento térmico devido a sua composição geométrica em camadas:

cerâmica, ar, cerâmica, ar e cerâmica. A passagem de tubulações elétricas nos "vazios" e,

fundamentalmente, o baixo custo pelo uso de metade do material necessário são fatores importantes

a serem considerados na utilização deste material.

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Segundo Villá e equipe:

Nas qualidades da cerâmica em suas distintas técnicas de utilização estão intrínsecas a ela qualidades, muitas percebidas desde a antiguidade. Destacam-se algumas:

• Abundância da matéria prima necessária, • Facilidade de manuseio, manejo durante a construção, manufatura e fabricação em escala, • Imensa resistência relativa à sua densidade e conseqüentemente ao seu peso próprio, • Boa impermeabilidade à umidade, • Excelente isolante térmico, • Resistente ao uso e com fácil reposição, • Baixo custo em qualquer base econômica, • Facilidade de apreensão e transmissão da técnica.

Material com alta taxa de sustentabilidade 1

Dentre as suas desvantagens se encontra uma porcentagem de quebra maior que a dos

tijolos maciços: os "vazios" internos provocam menor resistência mecânica a impactos. A amarração

vertical da alvenaria também apresenta menor área de contato, propiciando maior dificuldade na

obtenção do prumo e a possibilidade maior de irregularidades entre os tijolos, bem como a perda de

argamassa que "escorre" pelos vazios internos.

Estas desvantagens são ocasionadas no manuseio do material, seja ele no transporte dentro

do canteiro, bem como no assentamento do tijolo na alvenaria.

Estas perdas poderiam ser minimizadas com processos de pré-fabricação que, aliados à

menor duração no tempo da obra, aumentariam muito a produtividade. 1 VILLÀ, Joan; AMODEO, Wagner; PISANI, Maria Augusta Justi; CORREA, Paulo Roberto; CALDANA Jr, Valter Luis, Atemporalidade da cerâmica.

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Processos de pré-fabricação proporcionariam também a viabilização de mão-de-obra não

qualificada a ser utilizada no canteiro, principalmente em processos de ajuda mútua como o mutirão

ou autoconstrução.

Justamente por ser um material "comum", a cerâmica se mantém presente na grande maioria

das construções das habitações e construções civis: sua presença se justifica pela baixo preço, fácil

manuseio e construtibilidade simples.

(Um material) Entre a tradição artesanal e alta tecnologia, tradição histórica e utopia, tradição popular e cultura profissional. Provavelmente ao romper estas oposições enfrentadas e cristalizadas maniqueisticamente a ação projetual, vencidas certas predisposições e rotinas resistentes a mudanças, poderá levar a uma integração criteriosa que, dentro de um marco de racionalidade dialética, permita alcançar uma tecnologia apropriada às condições reais de cada contexto (SEGRE in VILLÀ, 2002, p.16).

Utilizado sem revestimento externo (aparente) nas autoconstruções das periferias brasileiras,

o tijolo cerâmico furado forma parte de um imaginário coletivo "pobre", porém sólido, pois caracteriza

uma construção de alvenaria, portanto, não temporária - como as habitações feitas em madeira, até

que a família tenha a possibilidade de consolidar sua moradia em alvenaria.

O tijolo cerâmico furado é um dos materiais de construção mais baratos que se pode comprar:

disponível no mercado, pode se manter aparente por guardar certa impermeabilidade pela têmpera

do cozimento, tornando-se a alternativa mais viável não só na execução, mas também em uma

possível comercialização do imóvel, pois uma construção em alvenaria tem maior valor no mercado

imobiliário do que a construção em madeira.

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Figura 15 - Periferia de São Paulo, favela da Vila Prudente. Disponível em:

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.126/3659. Acesso em: 14

de maio de 2012.

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1.2 - Construção em cerâmica armada

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Durante o século XX, com a verticalização das construções e as exigências de maiores vãos

estruturais em função da maior necessidade de iluminação natural, o tijolo cerâmico parecia estar

perdendo terreno para outros materias modernos como o concreto e o vidro, mas a construção com

elementos cerâmicos associado com outros materiais resistentes à tração, como o ferro, possibilitou

ao tijolo uma nova perspectiva de utilização.

Presente na maior parte das culturas e hegemônica durante séculos, a construção com tijolos começou a ser substituída, a partir de meados do século 19, por materiais e técnicas que respondiam melhor às novas exigências – era o início dos edifícios com altura elevada ou grandes vãos, que precisavam resistir aos ventos e ao aumento das sobrecargas. Mas o cenário que parecia apontar para a cerâmica mudou e conduziu ao momento atual, em que tecnologias e produtos colocam o material na ordem do dia. Uma primeira guinada começou nos anos 40, quando o arquiteto uruguaio Eladio Dieste (1917-2000) concebeu o que viria a ser conhecido como cerâmica armada: a colocação dos tijolos numa trama de barras de aço formando arcos, colunas e tetos. Uma solução desse gênero emprega fôrmas semelhantes às do concreto armado – e foi assim que o tijolo reproduziu o caminho dessa mistura plástica encontrada já na Roma antiga e reintroduzida durante o século 20, quando surgiu reforçada pela adição de barras de aço. No Brasil de 1992, a Construção com Pré-Fabricados Cerâmicos (CPC) foi aplicada nas 300 unidades residenciais da Moradia Estudantil da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp). O sistema inédito une cerâmica armada a pré-fabricação, viabilizando painéis feitos com blocos para uso em parede, laje, escada e cobertura, que podem incorporar tubulação para a rede hidráulica e elétrica – e são montados antes da obra com o auxílio de gabaritos, o que facilita a execução"(VILLÀ, 2012).

Segundo Churtichaga, a primeira utilização documentada da cerâmica armada que

conhecemos foi realizada em 1813 pelo Engenheiro Marc Esambard Brunel (1769 - 1849) em uma

chaminé de fábrica. Anos depois, ele adota a mesma solução construtiva para a construção de um

pioneiro túnel sobe o rio Tamisa em Londres.

La cerámica armada, un trínomio capaz, formado por cerámica, acero y mortero. Un novo materil a estructuralmente portante que es, simplificando, un hormigón armado casi un tercio más ligero, mejor aislante térmico y acústico, menos contaminante en su producción y reciclave y que consume una mano de obra similar pero tiene menor necessidad de medios auxiliares (CHURTICHAGA in Arquitectura viva n.116. p. 32).

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Figura 16 – Túnel sob o rio Tamisa. Disponível em:

http://www.engrailhistory.info/e027.html. Acesso em: 30 de Novembro de 2012.

Figura 17 - Casas Jaoul, Le Corbusier. Disponível em:

http://www.architectureforsale.com/property-details.php?property_ID=6. Acesso

em: 01 de Dezembro de 2012.

Le Corbusier, dispondo de mestres de obra argelinos, faz experiências construtivas utilizando

abóbodas de tijolos na cobertura das Maison Jaoul, projetadas em 1937 e executadas em 1954-1955;

igualmente, em 1955, com mestres de obra indianos, continua com o emprego das abóbadas, com

tijolos montados sem a forma de cimbramento, como nas residências Sarabhai em Ahmedabad

(Índia).

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Figura 18 - Central de abastecimento de Porto Alegre. Disponível em:

http://www.mtop.gub.uy/salasaez/dieste/brasil.jpg. Acesso em 23 de Dezembro de

2012.

Foi o Engenheiro Uruguaio Eladio Dieste (1917 - 2000) que desenvolveu um repertório de

elementos estruturais resistentes pela forma, buscando como ele mesmo diria "La forma de un

problema e y no el problema de una forma".

Dieste alia a casca de cerâmica armada e a forma móvel. Sofisticados procedimentos de cálculo estrutural e o tijolo, barato e pouco exigente quanto à especialização da mão-de-obra, lhe permite racionalizar a técnica de execução de diferentes tipos de abóbadas e lâminas curvas ou dobradas. O método e a escala são, obviamente, compatíveis com grandes vãos e adequadas ao projeto de fábricas, ginásios, torres, tanques, silos e outros tipos de estruturas utilitárias" (COMAS, 2001, in: vitruvius).

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Dieste influenciou os arquitetos das regiões Sul e Sudeste do Brasil, como Carlos Fayet e a

equipe que projetou a Central de Abastecimento de Porto Alegre utilizando o sistema em cerâmica

armada.

A Central de Abastecimento de Porto Alegre (1970), da autoria de Carlos Fayet, Cláudio Araújo, Luís Américo Gaudenzi e Carlos Eduardo Dias Comas, foi um projeto de proporções típicas do período do “milagre econômico”. Do ponto de vista conceptivo, entretanto, o conjunto divergia do curso principal da arquitetura brasileira daquele momento, ao adotar pioneiramente a tecnologia da cerâmica armada de Eladio Dieste no País: com exceção do antecedente isolado da Fábrica Olivetti em São Paulo, nos anos 50, cujo projeto e tecnologia eram italianos, experiências coetâneas como a casa Zamataro (1970), de Rodrigo Lefèvre, continham um caráter empírico e artesanal que se distinguia da abordagem tecnológica de Dieste. As abóbadas acompanhavam a arquitetura moderna brasileira desde seus primórdios; com exceção da pioneira Igreja de São Francisco da Pampulha, porém, vinham sendo utilizadas como elementos complementares das composições, quase nunca como solução global adotada. No caso da CEASA de Porto Alegre, constituíram-se em componente elementar do projeto, unificando concepção estrutural e forma com justeza.

(...). As abóbadas de Dieste e soluções assemelhadas também foram transpostas para inúmeras outras obras brasileiras, como os boxes do Autódromo de Jacarepaguá e o Centro de Controle Operacional e Manutenção do Metrô, no Rio de Janeiro, postos de gasolina e outros programas" (LLUCAS, 2007, in VITRUVIUS).

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Figura 19 - Da Alvenaria de tijolos à fachada ventilada. Disponível em:

http://www.arch.mcgill.ca/prof/mellin/arch671/winter2001/mduran3/drm/renzopiano.

htm. Acesso em: 30 de Novembro de 2012.

Renzo Piano concebeu painéis de sobreposição de fachada, utilizando suportes metálicos

para cerâmica e criando uma camada de ar entre a alvenaria propriamente dita e a pele cerâmica

externa, com evidentes ganhos de isolamento térmico e sombreamento de fachada - como nos

edifícios da ampliação do IRCAN2, na Banca Popolare de Lodi e nos edifícios para a Postdamer Platz

em Berlim.

Renzo Piano ha sido el arquitecto más fiel a este material y ha intentado toda clase de experiências para conservar una piel cerámica dentro de las técnicas construtivas más modernas.

(...) la cerámica puede conservar un importante papel en la construcción de fachadas contemporáneas. Sus ventajas de durabilidad, imagen tradicional y vibración cromática son tan sólidas que es lógico que se diseñen nuevas piezas y formas de fijación para que se convertanen uno de los materiales preferidos para a construcción de la hoja exterior de las fachadas ventiladas" (ANSUATEGUI, 2000, p. 74 e 78).

=

2 Instituto para a investigação musical Pierre Boulez, projeto para a Cité Internationale de Lyon.

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Figura 20 - Desenho de Lucio Costa para o concurso da Vila Monlevade de 1934.

Disponível em: COSTA, Lucio. Sobre arquitetura; organizado por Alberto

Xavier. 2.ed. Porto Alegre. UniRitter ed. 2007, 363p. p. 46.

Apesar da influência das abóbodas de Dieste na região Sul e Sudeste do Brasil, a cerâmica

armada é pouco utilizada para além das obras de Joan Villá.

Poderíamos destacar o precursor anteprojeto de Lucio Costa (1902 - 1998) para o concurso

da Vila Monlevade (1934), onde é proposta a utilização de materiais e técnicas vernaculares, como o

barro armado, conforme sua citação a seguir (p. 50).

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(...) aquele que todo o Brasil rural conhece: o barro armado (devidamente aperfeiçoado quanto a nitidez do acabamento, graças ao emprego de madeira aparelhada, além da indispensável caiação); uma das particularidades mais interessantes do nosso anteprojeto é, precisamente, essa de tornar possível - graças ao emprego da técnica moderna - o aproveitamento desse primitivo processo de construir, quiçá dos mais antigos, pois já era comum no baixo Egito, e que tem, ainda, a vantagem de simplificar extraordinariamente a armação da cobertura, aliviadas pelos pés-direitos da própria estrutura das paredes internas" (COSTA, 2007, p. 43)

Também se destaca a proposta do arquiteto Acácio Gil Borsoi (1924 - 2009) para um conjunto

de habitações de interesse social em Cajueiro Seco, Pernanbuco (1963) durante o governo de Miguel

Arraes, que utilizava a tradicional taipa, porém com módulos pré-moldados de armação, já com

portas e janelas (conforme imagem figura 21), onde o morador só precisaria preencher as lacunas

com barro.

Em comparação com a pouca experiência em cerâmica armada no Brasil, houve experiências

mais avançadas com a pré-fabricação em concreto armado e argamassa armada, onde se destaca a

obra de João Filgueiras Lima (Lelé): seu sistema de pré-fabricação em argamassa armada ou ferro-

cimento (nata de cimento e malha de ferro), mais leve que o sistema tradicional em concreto pré-

moldado, foi o precursor da fábrica de escolas" no Rio de Janeiro, em 1984, e da "fábrica de

equipamentos comunitários" FAEC de Salvador, em 1985. Filgueiras Lima viria a desenvolver,

posteriormente, projetos em larga escala, principalmente os da rede hospitalar Sarah Kubitschek.

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Figura 21 - Taipa armada projeto de Acácio Gil Borsoi para Cajueiro seco

Pernambuco 1963. Disponível em: Souza, Diego Beja Inglez de,

Reconstituindo Cajueiro Seco, dissertação de mestrado FAU USP,

2008, p. 267. Acesso em: 14 de Dezembro de 2012.

A construção com a cerâmica, poderia ser uma solução construtiva mais adequada para os

assentamentos habitacionais de baixo custo, impostos pela alta deficiência habitacional no mundo

em desenvolvimento, em alternativa à utilização predominante do bloco de concreto.

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Estoy convencido de que la cerámica estrutural es una técnica con posibilidades tan grandes como el hormigón armado.

A lo largo de cuarenta años hemos desarrollado varias técnicas que usan el ladrillo como material estructural, resistente. De ellas se ha derivado una familia de tipos constructivos para los problemas más variados: tanques de agua, torres (hasta de televisión); grandes espacios cubiertos para fábricas, depósitos o gimnasios; silos horizontales o verticales, iglesias. Creo que apenas hemos empezado un nuevo camino de gran fertilidad técnica e industrial pero también arquitectónica" (DIESTE in: TECTONICA n.15, 1995, p.2).

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2. - Arquiteto Joan Villá

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Joan Villà nasceu em Barcelona, em 6 de Julho de 1940, um ano após a ocupação da cidade

pelas tropas franquistas que venceram a guerra civil espanhola. Aos onze anos de idade, em 1951,

imigrou para São Paulo junto com seu pai.

Em 1961, ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Nos

anos 1964 e 1965 estagiou com o Arquiteto Sérgio Bernardes que, na época, mantinha um escritório

em São Paulo. E entre 1966 e 1967, estagiou no escritório do arquiteto Joaquim Guedes. O contexto

de sua formação é importante, pois

Joan Villà formou-se em 1968 pela FAU-Mackenzie, em um período paradoxal para os arquitetos: social e politicamente marcado por forte repressão, enquanto havia oportunidade de trabalho com o milagre econômico. Exílio de alguns, recolhimento de outros, pouco debate. O intenso intercâmbio cultural que nas décadas anteriores permeou o desenvolvimento da nossa arquitetura moderna abrandou-se. As revisões críticas do movimento moderno em pleno debate na Europa e Estados Unidos demorariam alguns anos para ecoar por aqui. Predominava o corolário moderno" (CAMARGO, 2006, in: www.revistaau.com.br).

Nos seus primeiros anos de formado, entre 1968 e 1971, Villà projetou e construiu suas

primeiras residências unifamiliares nos arredores de São Paulo. Nota-se nelas a economia de meios

e a racionalidade construtiva, procurando escapar das formas exibicionistas, visando soluções

formais a partir de problemas concretos e das necessidades reais do local e do programa, com o uso

de materiais aparentes, tanto na estrutura de concreto, quanto nas alvenarias de tijolos à vista, a

exemplo de seus mestres.

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Figura 22 - Primeiras casas. Camargo, Monica Junqueira, "Arte como

Construção". Disponível em: www.revistaau.com.br. Acesso em:10 de

Setembro 2012, artigo publicado na revista AU edição 146 de maio de 2006.

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Figura 23 – Joan Villà ministrando aula de cursinho, 1970. Foto do arquivo

pessoal de Joan Villà.

Paralelamente a estes primeiros trabalhos como arquiteto, entre os anos de 1968 e 1971,

Joan Villà teve suas primeiras experiências didáticas como professor de Linguagem Arquitetônica nos

cursinhos pré-vestibular Anglo e Universitário em São Paulo, já prenunciando as atividades docentes,

que ele retomará mais tarde nas faculdades de arquitetura.

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Em 1971, devido à sua militância política e à perseguição do regime militar, exilou-se na

Europa, a príncipio na sua Barcelona natal, ainda sob a ditadura do generalíssimo Franco, situação

da qual fugira vinte anos antes. Depois, passou seis meses numa fazenda na Bélgica, onde construiu

algumas estruturas geodésicas para diversas atividades no local.

Entre 1972 e 1973, fez mestrado na área de Urbanística Técnica e Pré-fabricação na Escola

Politécnica de Milão. Aí, estudou a pré-fabricação no leste Europeu, principalmente na Iugoslávia do

pós-guerra, onde era comum o uso de grandes painéis de concreto pré-moldado. No Brasil dessa

época, poucos se aventuravam com a pré-fabricação, como os casos emblemáticos de João

Filgueras Lima, o Lelé, com os painéis de argamassa armada, e Acácio Gil Borsoi, com os painéis

pré-fabricados em taipa.

No ano de 1974, em Palma de Maiorca na Espanha, Joan Villà incorporou-se à Cooperativa

de Arquitetos que prestava assessoria técnica ao Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Hoteleira

da região. Até então, Villá havia realizado projetos de autoria pessoal para clientes individuais,

conforme depoimento3. A experiência coletiva de projetar com outros quinze colegas de profissão,

para um cliente igualmente coletivo, marcou fortemente sua trajetória profissional, pois exigiu do

arquiteto outra postura frente à coletividade, tanto no que diz respeito à concepção compartilhada

com outros colegas de profissão, quanto com relação ao cliente, que, conforme o arquiteto,

3VILLÁ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Um cliente de muitas caras porque a gente fazia reuniões com trezentos associados desta cooperativa. E foi uma experiência muito importante, quer dizer, tanto do ponto de, digamos, existencial, quanto do ponto de vista intelectual, como aprendizado em trabalhar com números, com essas quantidades e com tantas manifestações, com tantas opiniões, às vezes divergentes, com tanta polêmica, como era o nosso próprio trabalho. Mas isso foi assim, talvez a minha primeira escola, na verdade. Foi uma atuação como arquiteto, completamente distinta daquela que eu tinha observado no Brasil" (VILLÀ IN POMPÉIA, 2006 p.10).

(...) me deparei com outro tipo de demanda. O cliente não era mais o empresário, ou um proprietário; representava o coletivo e surgia assim outro processo decisório modificando a atitude profissional que se iniciava com a discusão na obra muito antes de se concretizar na prancheta" (VILLÀ, 1989).

Ao voltar para o Brasil, em 1975, Villà retomou sua trajetória profissional em projetos de

residências para a alta classe média paulistana, como fizera antes do exílio europeu. No entanto, a

convite do arquiteto Jon Maitrejean, incorporou-se ao Sindicato dos Arquitetos que, na época, se

propunha a realizar trabalhos sociais junto à periferia de São Paulo. Villà relata4 que havia

assembléias de cem a trezentos arquitetos que trabalhavam em projetos junto à paroquia de São

Miguel Paulista, por intermédio do padre José Maria, onde realizaram projetos particulares para a

comunidade local. Foi aí que estabeleceu contato e afinidade profissional com o arquiteto Jorge

Caron, futuro coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Belas Artes de São

Paulo.

4VILLÀ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Figura 24 – Reunião do Sindicato dos Arquitetos com Joan Villà (em pé, à

direta), 1977. Foto do arquivo pessoal de Joan Villà.

Nessa experiência, Villà pode constatar a falta de preparo técnico, cultural e sociológico dos

seus colegas de profissão para lidar com as necessidades da periferia. Conta ele5 que, em um

determinado momento, um colega arquiteto projetara uma residência com 3 suítes e um solarium

numa favela. 5VILLÁ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Figura 25 - Joan Villà em reunião com a comunidade do Recanto da Alegria,

1983. Foto do arquivo pessoal de Joan Villà.

Villà assinala seu senso crítico apurado sobre como projetar para a periferia e como lidar com situações comunitárias.

Periferia que não é esteriótipo de aviltamento, da degradação, mas espaço digno, lugar qualificado para o futuro. Periferia respeitável, mas ainda região com limitaçãos materiais e humanas, à margem da cartografia regular. Limites que sugerem um desenho e uma tecnologia, uma simbiose entre o popular e o erudito, entre o desejavel e o possivel, entre o formal e o informal, como um desafio ao rompimento de dualidade aparentemente indestrutíveis.

Esta comunhão com a periferia não se limita ao desenho e a técnica, mas a um tipo de trabalho mais comunitário, nas palavras de Joan Villà, tratava-se de um trabalho "nascido da ação solidária dos técnicos com os movimentos sociais, rompendo com os limites da prancheta, integrando a pesquisa e a prática arquitetônica às nescessidades e desejo da população (BASTOS, 2007, p.170).

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Projetar nestas condições de recursos limitados requer um olhar e uma percepção

diferenciados da realidade e do canteiro de obra tradicionais, da mesma maneira como Sergio Ferro6

defende a necessidade de revalorizar e reconhecer o trabalho da mão-de-obra empregada, e não

somente reconhecer o trabalho do gênio criador do arquiteto.

Então existe escassez de recursos, a periferia para construir, a mão-de-obra constitui outro elemento: é preciso então aliar um desenho de arquitetura possivel dentro de determida tecnologia (...). Acho que é preciso compartilhar técnica e desenho porque eles de fato andam juntos: do contrário, configura-se um descompasso e frequentemente um desastre.

No desenho, sempre procurei tentar entender, apropiar, assimilar de alguma forma tipologias tradicionais. Na área específica da habitação é uma tarefa relativamente fácil. Havendo uma postura deste tipo a priori obviamente se estabelecem pontes, um dialogo muito mais fácil com qualquer grupo leigo. As pessoas tem conhecimentos muito concretos dos usos que fazem da moradia e sobretudo dos materiais com que ela é construida. À medida que de alguma forma se utilizam tipologia tradicionais e sobretudos materiais fartamente conhecidos, aquelas pontes são reforçadas. Isso constitui uma base suficientemente sólida de confiança, de reciprocidade" (BASTOS, 2007, p. 170).

Sua carreira entra, então, numa nova fase: incorpora a vida acadêmica. Villá começou a

lecionar em escolas de arquitetura, primeiriamente na Faculdade de Arquitetura de Santos, em 1976.

Depois, em 1979, ministrou a aula inaugural de projeto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Faculdade de Belas Artes de São Paulo, a convite de Jorge Caron, coordenador do curso que,

juntamente com Paulo Bastos e Geraldo Vespaziano Puntoni, haviam organizado o curso com dois

anos de antecedência.

6 Em “O Canteiro e o Desenho”, publicado em 1979.

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Na Belas Artes de São Paulo, Villà estabelece uma visão distinta da construção burguesa

convencional, adivinda das escolas de engenharia de onde são derivadas a maioria das escolas de

arquitetura existentes até então.

No primeiro semestre do curso de Arquitetura da Belas Artes de São Paulo, Villá propunha

projetos de intervenção em escala 1:1, ou seja, o aluno projetava e construia um abrigo na própria

sala de aula, estabelecendo uma relação direta entre o croquis e a obra, conforme vivência pessoal

do próprio autor da presente dissertação, que foi aluno do professor Joan Villà no ano de 1983.

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3. O Laboratório de Habitação da Belas Artes de São Paulo - o início do painel cerâmico.

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No início dos anos 80, no fórum interno de ensino do curso de Arquitetura da Belas Artes de

São Paulo, professores reconheciam as dificuldades e deficiências na formação dos futuros

arquitetos e das instituições em geral, em qualificar o profissional para atuar na realidade da grande

maioria da população brasileira que vive nas periferias das cidades, conforme relata Villá7,como já

haviam constatado Villà e Caron nas experiência do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo, em São

Miguel Paulista. Assim, surgiu o embrião do Laboratório da Habitação que, através do contacto direto

com a população de baixa renda, prestaria serviços técnicos e, ao mesmo tempo, estabeleceria uma

relação de troca, de pesquisa acadêmica e de aprendizado. Assim, em 1982, surgiu o Laboratório da

Habitação em sua primeira formação, contando com os seguintes professores: Joan Villà

(coordenador), Carlos Roberto (Mancha), Nabil Bonduki, Marcos Osello, Antonio Carlos Sant'Anna e

com os alunos monitores: Jeferson Bunder, Jerônimo Lima, Marta Menzer, Paula Samira, Carlos

Eduardo Miño, Paula Valeria e Silvana Rodrigues.

7VILLÀ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Figura 26 - Professores e alunos do Laboratório da Habitação da Belas Artes de São Paulo em sua primeira formação

de 1982. Foto do arquivo pessoal de Nabil Bonduki.

No XI Congresso Brasileiro de Arquitetos8, Joan Villá e sua equipe apresentam o Lab/Hab

(Laboratório da Habitação) ao grupo de formação profissional e de produção de arquitetura, definindo

suas atribuições da seguinte maneira:

Desenvolver a experimentação do ensino e da pesquisa aplicada à realidade brasileria, promover orientação direta sob a forma de uma assessoria técnica remunerada a projetos comunitários ou cooperativas de consumo coletivo, em conjunto com organizações populares, associações de moradores, sindicato de trabalhadores, entidades civis e democráticas, constiturem os objetivos centrais e a proposta do LAB/HAB. Atuando sobretudo nos bairros operários da periferia urbana da Grande São Paulo, o

8 Salvador, Bahia, 1982.

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Figura 27 - Joan Villà (coordenador) com Eduardo Aquino (aluno) no LabHab,

1984. Foto do arquivo pessoal de Nabil Bonduki.

LAB/HAB faz de sua intervenção prioritária uma opção consciente e possível de um trabalho dirigido e subordinado às necessidades das amplas parcelas da população excluídas do benefício social gerado pela exploração do seu trabalho... (MODULO, 1969, p. 69).

O Lab/Hab (como era chamado) ficava em uma sala, logo na entrada das instalações da

faculdade (no segundo andar do edifício da Pinacoteca do Estado, local onde funcionava à época).

Neste ponto estratégico, professores e alunos sempre passavam, tomando contato diário com o que

estava acontecendo por lá, conforme relata Villà9. Assim, com pouco tempo de funcionamento, havia

um grande interesse da comunidade acadêmica em participar do laboratório. Contudo, era preciso

efetuar um exame de admissão dos alunos que buscavam participar como monitores, tão grande era

a procura.

9VILLÀ, 2012 Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Reginaldo Ronconi10, na época aluno e monitor do Lab/Hab, conta que, ao trabalhar em um

assentamento na periferia onde se executavam as fundações em sapata corrida das alvenarias, os

trabalhadores, durante as escavações, se depararam com uma "fossa negra", no local onde deveriam

executar uma viga baldrame. Diante disso, eles perguntaram a Reginaldo sobre o dimensionamento

dessa viga baldrame. Ele, aluno do segundo semestre, correu até a faculdade para pedir ao então

professor de estruturas, Yopanan Rebello, que o acompanhasse até a obra, para efetuar o

dimensionando da fundação. Assim os alunos e professores interagiam no contato direto com a

realidade, em obras reais, com aprendizado mútuo. A história teve prolongamentos interessantes,

pois, “Rapidamente o Laboratório constitui-se num importante espaço de renovação do ensino de

Arquitetura e formou um grupo significativo de profissionais que iriam depois participar de diversas

administrações do PT e de assessorias técnicas aos movimentos de moradia" (LOPES apud

ARANTES, 2002 p. 179).

Em sua carta de despedida da coordenação do curso de Arquitetura da Belas Artes de São

Paulo, Jorge Caron enfatiza o espírito da escola: “(...) O caráter de nosso curso está estabelecido:

nossa Escola promove a aproximação entre o aprendizado, a investigação e o fazer." (CARON, 1984,

apud RUGGIERO, 2006, p. 74).

10Atual professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e coordenador do canteiro experimental da mesma instituição, em palestra no auditório da Belas Artes de São Paulo em agosto de 2012.

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Na prática, o Laboratório foi o pioneiro no que se viria a se chamar, posteriormente, de

prestação de serviços de assessoria técnica às comunidades carentes da periferia das cidades. As

primeiras indicações das lideranças destes movimentos viriam do contato com as comunidades de

base ligadas a setores progressistas da igreja católica. Nesse momento, a ditadura já estava em

refluxo e já se sentia o movimento pela abertura política; à frente do governo do Estado estava André

Franco Montoro, e na prefeitura da capital, Mario Covas.

Um dos primeiros trabalhos do Laboratório foi no Grajaú, com a construção de 82 moradias

em regime de mutirão, onde se instalou, desde o princípio, uma fábrica de blocos de concreto

produzidos pelos próprios moradores.

No Recanto da Alegria, professores tentaram utilizar técnicas alternativas de construção,

surgindo algumas contradições entre a teoria e a prática.

No Laboratório da Belas Artes, ocorreu novamente a combinação entre ida à periferia, colaboração com organizações populares e uso de tecnologia alternativas. Só que, neste caso, como as experiências foram efetivadas na prática, surgiram contradições e conflitos novos (...) Um exemplo foi a dificuldade que os arquitetos da Laboratório encontraram para introduzir tecnologias alternativas numa favela, o Recanto da Alegria. O choque cultural foi grande ao ponto de uma casa projetada para ser executada em solo-cimento não ter saído das fundações: sem estar convencida que valia a pena misturar terra e cimento, a população apenas observava incrédula os "doutores" cavando buraco e socando a terra de volta - o restante da casa teve que ser erguida com blocos de concreto como qualquer autoconstrução. Determinados a realizar alguma intervenção barata e diferente, os arquitetos numa segunda tentativa, decidiram construir um centro comunitário em cúpula de tijolos. Inicialmente a população participou, mas aos poucos apenas professores e estudantes viram-se assentando blocos. Quando a cúpula ainda estava na metade, ela começou a ser depredada pelos moradores e utilizada como banheiro público. No fim acabou sendo demolida, ao que os arquitetos não se opuseram." (LOPES IN: ARANTES, 2002 p. 179)

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Figura 28 - Centro comunitário em cúpula de tijolos , no Recanto da Alegria em

1983 - foto do arquivo pessoal de Nabil Bonducki.

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As experiências com tecnologia e materiais alternativos não tinham conexão com a população

carente, pois esta população, massacrada em suas dificuldades diárias, tinha um sonho de construir

sua casa própria e sólida, um lar de alvenaria de tijolos (representação de solidez material). Qualquer

outra alternativa pareceria algo paleativo, temporário, sem vínculo com as suas necessidades. Estas

experiências poderiam parecer aos seus olhos uma "brincadeira" teórica que não tinha nada a ver

com a sua realidade, pois a população carente queria uma propriedade. Contudo, a baixa aceitação

de construções deste tipo condenaria os moradores a terem um patrimônio desvalorizado e com

poucas possibilidades de eles efetuarem qualquer operação comercial com seus imóveis. Por que,

então, investir tempo e dinheiro em algo estranho com que a população teria que conviver pelo resto

da vida?

(...) a pouca ou nenhuma familiaridade da mão de obra disponível para a construção com novos materiais e técnicas, a dependência do transporte para abastecer com insumos básicos (é o caso da terra ou de fibras vegetais, por exemplo, escassos no meio urbano) e finalmente a cultura da construção dominante e característica das cidades, condições fortemente determinantes não só na construção, como na comercialização no mercado imobiliário" (VILLÀ, 2002, p.38).

Em 1984, juntamente com Nabil Bonduki, membro efetivo do Lab/Hab, Villà viajou para o

Uruguai para participar de um encontro de cooperativas de "vivienda por Ayuda Mutua". Lá, tiveram

contato com uma produção de efetiva participação popular na construção de moradia digna.

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Em uma obra que visitava, Villá encontrou, quase que por acaso, jogado em um canto, um

painel pré-moldado em tijolo de barro. Era um painel pequeno, para peitoril, conforme relata ele11,

mas que suscitou em sua mente uma possibilidade nova. Perguntando, curioso, aos operários do que

se tratava, estes contaram que era para o Sr. Eladio. Mais curiosamente ainda, Villà foi ao encontro

do engenheiro Eladio Dieste, que o recebeu, mantendo contato por três dias em visitas a obras suas.

A pré-fabricação em painéis de tijolos era diferente dos pesados modelos em concreto

iugoslavos que Villà conhecia bem da época do exílio, e também das primeiras experiências

brasileiras de Filgueiras Lima, com concreto aramado e argamassa armada.

De volta ao Brasil e ao Lab/Hab, Villà se perguntava como fazer um painel maior que pudesse

ser utilizado com elemento efetivo da construção, como laje e/ou parede. Foi aí, observando a

maioria das construções da periferia, principalmente as soluções correntes em laje mista (precursora

da laje nervurada), muito usadas em boa parte das edificações paulistanas da época, que Villà teve a

idéia de utilizar um material mais leve que o tijolo de barro maciço: o tijolo "baiano" (cerâmica com

furos) utilizado na laje mista. Suas vantagens em relação ao tijolo de barro, além da leveza, é que ele

poderia propiciar um painel maior do que o concebido por Dieste, pois o tijolo de barro tem cinco

centímetros de altura e o de cerâmica furada tem nove centímetros. Estes quatro centímetros “a

mais” viabilizam uma vigota central maior, dando melhor estrutura final ao sistema.

11VILLÀ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Figura 29 - Desenho elaborado por Joan Villà em entrevista no dia 20 de Setembro

de 2012.

Da idéia à prática: no Lab/Hab, Villà, com a colaboração dos demais professores e alunos,

desenvolveu e ensaiou algumas possibilidades. A figura abaixo, na qual aparecem os professores

Yopanan Rebello, Joan Villà e Nabil Bonduki, junto com as lideranças comunitárias, mostra onde, nos

porões da Belas Artes, se realizavam testes de cargas no primeiro protótipo, no qual os furos dos

tijolos ainda estavam na transversal. Depois, passaram a ser utilizados na vertical, para permitir a

passagem de tubulações e instalações prediais.

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Figura 30 - teste do primeiro painel cerâmico no Lab/Hab da Belas Artes de São Paulo de 1982 a 1985, onde estão

os professores Yopanan Rebello(a esquerda), Joan Villà (no centro) e Nabil

Bonducki, entre as lideranças comunitárias. Disponível em:

www.villachile.com.br. Acesso em: 25 de Julho de 2012.

Num dos pátios do pavimento térreo da atual Pinacoteca do Estado, edifício então ocupado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo no inverno de 1985, demos início à confecção de alguns painéis. ao todo, quatro. Na exata medida do espaço e dos recursos que dispúnhamos. Eram quatro painéis de laje, uma vez que priorizamos o ensaio dos componentes que deveriam suportar os maiores esforços. Quinze dias depois, retirados do chão, foram colocados sobre dois corpos de prova de concreto e uma semana mais tarde iniciamos de forma pouco ortodoxa, os primeiros ensaios de carga: 250 kg/m2 de carga, distribuída no vão entre apoios. (VILLÀ, 2002, p. 58).

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Em 1985, divergências político-trabalhistas entre os professores e a mantenedora da

faculdade levaram o corpo docente a deixar a instituição, acarretando o fechamento do Laboratório.

Nesta época, Joan Villá já mantinha contatos com a Unicamp, e foi para lá que ele transladou

uma concepção arquitetônica, que Ignacio Paricio Ansuategu tão bem define abaixo, fundando o

laboratório de Habitação da Unicamp.

Deve haver outras maneiras de industrializar a construção que não levem implícitas as graves seqüelas que evidenciam as tecnologias em uso. Evidentemente não podemos deixar todo o trabalho artesanal; porém a única solução não é a industrialização que hoje se oferece. Dentro dessas mesmas técnicas ou fora delas, tem que existir a possibilidade de construir de uma forma "barata", mas que consuma mão-de-obra não explorada dos recursos naturais, incapaz de ser mal usada, compatível com as culturas locais, inteligível para todos, funcional num contexto não centralizador, amplamente não conectada com as formas existentes de conhecimento e não alienante. (ANSUATEGUI in VILLÀ, 2002, p.14).

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4. O Laboratório de Habitação da Unicamp e a produção do painel cerâmico.

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Em 1986, Villá começa a trabalhar no Laboratório da Habitação da Unicamp em Campinas,

onde continua a desenvolver e colocar em prática o sistema de painéis pré-fabricados cerâmicos:

inicialmente em casas e edifícios institucionais da Unicamp, como o restaurante e a casa de

funcionários. “(...) desde então (Villà) trabalha com protótipos pré-fabricados cerâmicos para

habitação social, com a vontade de pôr a tecnologia da arquitetura a serviço da solução do problema

da habitação, mediante a industrialização e os processos participativos" (MONTANER & MUXÌ, 2011,

p. 28).

No Laboratório, Joan Villà e sua equipe tiveram a oportunidade de testar os painéis em

laboratórios de testes de carga, como a Falcão Bauer e o IPT, órgãos de reconhecida capacitação

em controle e certificação de qualidade, comprovando sua resistência. Como se trata de uma

universidade estatal, a Unicamp serviu de vitrine para as experiências lá realizadas, atraindo a

atenção de vários prefeitos, curiosos com a novidade que prometia ser mais barata e mais eficiente

que a construção convencional.

Com o conhecimento adquirido e com as experiências de assessoria técnica do Laboratório de Habitação da FEBASP, aliado à articulação política desenvolvida no meio popular e, principalmente, com as propostas de uma arquitetura de qualidade, o LabHab – Unicamp poderia deslanchar. A tecnologia de “pré-fabricados de cerâmica vermelha” e a construção dos primeiros protótipos deram, de fato, um enorme impulso ao projeto.

Nos primeiros anos de atuação, o LabHab – Unicamp obteve sustentação por meio de uma estrutura que se apoiava em três pontos fundamentais: Política, Tecnologia e Inserção Social. O apoio político se dava, de um lado, a partir da Unicamp, com toda penetração nos meios de comunicação, apoiada pela sua credibilidade e pelo seu nome de peso. De outro lado, o LabHab-Unicamp, contava com o apoio dos movimentos pela moradia de São Paulo, herdado do trabalho da equipe do Laboratório de Habitação da FEBASP.

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Figura 31 - Primeira casa experimental, utilizando o painel cerâmico na Unicamp

em 1986. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 12 de

Agosto de 2012.

(...) A tecnologia dos “pré-fabricados (...), chamava a atenção pela sua simplicidade e por suas ricas possibilidades arquitetônicas. Já a inserção social, o contato com a população organizada não só pelas associações e cooperativas como também por grupos politicamente organizados – que vinham mantendo contato com a equipe da FEBASP – possibilitou a imediata aplicação dos projetos” (POMPÉIA, 2006, p. 36 e 37).

Em 1987, Joan Villà realiza o primeiro protótipo de casa com o sistema (com 40 m2) e, no ano

seguinte, o segundo (com 60 m2), já com dois pavimentos e com os painéis de escada pré-moldada

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Figura 32 - Segunda casa protótipo realizada na Unicamp em 1987.

Disponível em: www.villachile.com.br, acesso em: 12 de Agosto de 2012.

.

Após a realização destes primeiros protótipos, o Laboratório passa a executar uma série de

obras públicas12 utilizando o sistema aí desenvolvido, pois houve muita divulgação na imprensa da

época, enaltecendo as qualidades da rapidez de execução e o baixo custo do sistema construtivo de

cerâmica armada pré-moldada, conforme recorte de jornal apresentado a seguir.

12 Conforme p. 166.

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Figura 33 - Jornal "Prestando Contas" de 7 de Julho de 1986, Fonte: arquivo

pessoal de Joan Villá.

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Figura 34 - Conjunto Residencial de Socorro e Urbanização do Jacarezinho,

obras de 1988. Disponíveis em: Villà, Joan. Construções / Joan Villà.

Entre 1988 e 1995, o Laboratório da Habitação da Unicamp, na prática, foi se transformando

aos poucos em um escritório de arquitetura de assessoria técnica, tamanha era a demanda de

projetos de que dispunha, constituído de um corpo técnico considerável. O laboratório desenvolveu

uma série de obras, entre as quais destacamos algumas principais.

1988 - Conjunto residencial de Socorro SP e urbanização de Jacarezinho Rio de Janeiro

Nestas obras pioneiras fora da Unicamp, estabeleceram-se procedimentos projetivos

que serviram de base para os projetos posteriores, como os procedimentos de implantação

do desenho urbano e do sistema construtivo em componentes pré-fabricados cerâmicos.

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Figura 35 - Casa em Vila Flores e Cooperativa dos jornalistas de Cotia, obras de 1989. Disponível em: Villà,

Joan. Construções / Joan Villà.

Em Vila Flores (1989)13, as 40 casas foram executadas com o sistema de componentes pré-

fabricados cerâmicos. O projeto para a Cooperativa dos jornalistas de Cotia também utilizou esse

sistema.

13 Veranópolis, no Rio Grande do Sul.

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Figura 36 - Atelier do Laboratório de Habitação da Unicamp, obra de 1990.

Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Em 1990, a técnica foi empregada também no Ateliê do Laboratório da Habitação da Unicamp

- protótipo 3, com 260 m2.

O Atelier, com 15 metros de vão, foi o terceiro protótipo a ser construído na Unicamp,

utilizando os painéis curvos de cerâmica armada pré-moldada. Esta obra permitiu tratar questões

inerentes aos espaços de grandes vãos, como a iluminação e a ventilação internas e as fachadas

independentes, bem como a solução dos apoios e a absorção dos esforços laterais.

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Figura 37 - Centro Integrado de Educação em Campinas, obra de 1989, Disponível em: Villà, Joan. Construções

Joan Villà.

O Centro de Integração de Educação (1992) é constituído de pórticos de 8 metros de vão, em

duas águas, com lajes inclinadas, em painéis de cerâmica armada; na cumeeira, uma viga de

concreto propicia o apoio central e contrafortes(construídos em cerâmica armada) absorvem os

esforços laterais, constituindo os apoios laterais.

.

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Figura 38 - Museu de Ciência e Tecnologia em Bauru, obra de 1989.

Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

1992 - Museu da Ciência e Tecnologia de Bauru

No Museu de ciência e tecnologia de Bauru (1989), Villà utiliza abóboda em painéis de

cerâmica armada no projeto do auditório.

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Figura 39 – Casa do Lago, obra de 1994. Disponível em: Villà, Joan. Construções

Joan Villà.

A Casa do Lago (1994), construída com painéis curvos de cerâmica armada pré-moldada, é

constituída de duas abóbodas principais, com vãos de 18 e 22 metros,. Entre as duas abóbodas, uma

abóboda menor (com 8 metros de vão) cumpre o papel de conexão. Na fachada, painéis de cerâmica

armada fazem o papel de proteger a edificação dos raios solares ao mesmo tempo que permitem a

vista para o lago.

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Figura 40 – Condomínio Residencial em Sertãozinho, e Casa de funcionários da

Unicamp, obras de 1989, Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Em Sertãozinho (1995), a idéia era transformar duas quadras convencionais em uma, com

uma praça no centro e equipamentos comunitários; uma delas, com cobertura em abóboda, para

atividades de lazer, e todas as demais edificações construídas com o sistema de pré-moldados

cerâmicos. Infelizmente, o projeto não saiu do papel.

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Nestas obras, percebe-se a efetiva mudança de paradigma: das residências individuais para a

alta classe média, produzidas no início da carreira profissional de Joan Villà, para a moradia coletiva.

Estas obras são fruto de sua reflexão sobre a vida em comunidade, com valorização do desenho

urbano, dos passeios e dos espaços públicos, privilegiando a escala do homem comum que transita

pela cidade.

As obras, sempre com a utilização dos componentes pré-fabricados cerâmicos, e a arquitetura

com elementos simples, comuns à cultura pré-existente, despertavam a empatia da população e dos

mutirantes com as edificações. Para tanto, Villà valia-se de elementos arquitetônicos comuns

encontrados na periferia das cidades, como as alvenarias de tijolos cerâmicos aparentes, coberturas

de telhas e as varandas.

Portanto, citando o mestre Le Corbusier: "O traçado regulador é uma garantia contra o

arbitrário. Proporciona a satisfação do espírito (...) enquanto que, de outro modo, seria acaso,

anomalia, arbitrário. A geometria é a linguagem do homem"14, Villà estabelecia uma composição

geométrica a partir de um módulo-base.

Assim, o painel cerâmico de 45 cm, tirando proveito dos encaixes estruturais entre os painéis

que trabalham como uma espécie de contraforte nos travamentos dos esforços laterais, desloca-se

45 cm na fachada, estabelecendo um jogo entre o primeiro plano dos paramentos de fachada

(elementos de caixilharia, descidas de água pluvial e varandas) e o segundo plano, o da alvenaria

propriamente dita. Esse deslocamento permite um tratamento de envoltória, o qual, somado à

composição dos volumes estabelecidos pela volumetria e das águas das coberturas, estabelece um

14 Le Corbusier, Por uma arquitetura, ps. 41 e 44.

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Figura 41 - Moradia Estudantil da Unicamp, onde aparecem várias

calhas abertas, saliências e reentrâncias, desenho de Jackson Dualibi sobre imagem da época da construção,

Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em:

13 de Agosto de 2012.

“jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz"15, citando novamente Le Corbusier.

"(...) algumas saliências e reentrâncias de pequenos volumes que abrigam armários, janelas, etc., pretexto para facilitar a estabilidade dos painéis na montagem e reduzi substancialmente o escoramento" (VILLÀ, 2002, p. 69).

15 Le Corbusier, Por uma arquitetura, p. 21

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Em outros projetos, face à necessidade de vãos estruturais maiores, Villà adotou a solução da

abóboda composta com painéis, com curvatura pré-estabelecida, propondo a fabricação com

tecnologia de baixo custo, simples e de fácil generalização, como as casas da "Arquitetura Nova" dos

arquitetos Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, e diferente das abóbodas utilizadas por

Oscar Niemeyer, que são todas lajes curvadas com muito aço na armadura.

Para a confecção dos painéis pré-moldados cerâmicos em abóbodas, foi utilizada uma

solução muito simples e inventiva, conforme relata Villà16. Em um tanque de areia (quase uma

piscina), obtinham a forma da catenária da abóboda, escavando o fundo com um gabarito de

madeira, produzido por um carpinteiro, retirando o excedente de areia. Esse tanque era utilizado

assim, como fundo de forma para os painéis curvos. O restante do processo de fabricação do painel

curvo é igual aos demais painéis do sistema de pré-fabricação em cerâmica armada, conforme

imagem a seguir.

16VILLÀ, 2012. Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

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Figura 42 - Forma curva feita com areia, para os painéis em catenária, na “Uzina”

de pré-moldados de Nova Iguaçu. Disponível em: POMPÉIA, 2006, p. 73.

As abóbodas utilizadas nos projetos da casa do Lago e no Ateliê do Laboratório da Habitação

fazem referência ao engenheiro uruguaio Eladio Dieste em seus projetos para silos, armazéns e

igrejas com grande vãos vencidos com tijolos.

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Figura 43- Casa do Lago, 1984. Disponível em: www.villachile.com.br.

Acesso em: 24 de Dezembro de 2012.

Para a relação completa de todas as projetos efetuados pelo Laboratório da Habitação da Unicamp ver o Anexo 1 p.165.

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5. O sistema de construção com componentes pré-fabricados cerâmicos proposto por Joan Villà∗.

∗ Para maiores detalhes consultar dissertação de mestrado de Joan Villà, " A Construção com componentes pré fabricados cerâmicos: Sistema construtivo desenvolvido em São Paulo entre 1984 e 1994", apresentada à Universidade Presbiteriana

Mackenzie, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2002.

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O sistema de conponentes pré-moldados cerâmicos, desenvolvido por Joan Villà, está

baseado em uma peça matriz , que originou todas as demais: o paniel criado no subsolo da Belas

Artes de São Paulo e, posteriormente, desenvolvido no Laboratório da Habitação da Unicamp de

Campinas.

O Painel original era composto por blocos cerâmicos (tijolos cerâmicos furados), unidos por

argamasa e ferro, em forma de madeira gabaritada. Posteriormente, evoluiu para uma família de

componetes que abrangem a totalidade da edificação.

O sistema é composto por:

• Painel de parede (vertical).

• Painel de Laje (horizontal).

• Painel de instalações elétricas e/ou hidráulicas.

• Painel cobertura

• Painel escada

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Figura 44 - Painéis. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 30 de

novembro de 2012.

A pré-fabricação em painéis de blocos cerâmicos moldados em formas gabaritadas e unidos

entre si proporcionariam um controle maior sobre a qualidade da obra e sobre o tempo de execução,

legitimando, assim, este material "comum" e "ordinário" - o "tijolo baiano"17 - como uma peça de um

sistema de construção mais eficiente.

17 Tijolo cerâmico furado.

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Figura 45 - Forma de madeira para painel laje – finalização painel. Disponível em:

www.villachile.com.br. Acesso em: 29 de Novembro de 2012.

Conforme BASTOS e ZEIN (2010, p. 316), "A solução tecnológica proposta (...) em seus projetos é

mais inventiva do que original: trata-se de um rearranjo de peças de um material bastante tradicional,

o tijolo cerâmico".

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A grande qualidade deste sistema de pré-fabricação está na sua simplicidade de execução,

não necessitando de mão-de-obra especializada em nenhuma de suas etapas, bastando uma forma

de madeira de obra feita com cortes simples e unidas entre si por encaixes tipo macho e fêmea,

facilmente montadas e desmontadas. Colocadas sobre o chão da obra (terra batida ou o contra piso)

sobre uma pequena camada de areia, os blocos são aplicados um ao lado do outro, deixando um

espaço no centro onde será colocado o ferro de obra em posição gabaritada por um furo na madeira.

Posteriormente, todas as peças são aglutinadas em um todo único, através de argamassa de cimento

e areia. O espaço central, onde se encontra a barra de ferro previamente colocada, é preenchido,

configurando assim uma vigota armada que trabalha como uma coluna vertebral do sistema,

garantindo a estabilidade e a unidade do conjunto.

O sistema é autoportante, não necessitando, portanto, de pilares e vigas. O painel pode ser

utilizado tanto na vertical - paredes, como na horizontal - lajes.

A Montagem dos painéis não necessita de mão-de-obra de transporte mecanizado, pois são

facilmente transportados por quatro pessoas. Os painéis são assentados com argamassa em

gabarito desenhado sobre o radier 18.

18 Laje de piso para fundação.

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Figura 46 - Montagem sobre "radier". Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em 30 de novembro de 2012.

O Painel parede é composto de 20 blocos cerâmicos19 unidos entre si por argamassa e ferro,

com dimensão total de 250 cm por 45 cm de largura e peso inferior a 100 kg. A altura do painel pode

variar conforme o número de peças utilizadas, ou seja, com 22 blocos cerâmicos a altura será de 270

cm; com 18 blocos, a altura será de 230 cm.

19 Cerâmica de 8 furos 19x19x 9 cm.

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Figura 47 - Painel. Desenho de Abner Mesquita.

O painel Laje tem, basicamente, a mesma composição do painel parede, diferenciando-se

apenas na ferragem que pode ser em maior número ou de bitola maior.

O Painel cobertura é composto por telhas de cerâmica tipo capa e canal, com uma vigota de

concreto no meio, dispensando a utilização de madeiramento.

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Figura 48 - Painel cobertura. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em 30

de novembro de 2012

O sistema construtivo se completa com o painel escada e os painéis com instalações

embutidas de hidráulica e de elétrica, conforme o caso, pois a colocação dos furos dos blocos

cerâmicos na vertical possibilitam a implantação das instalações na feitura do painel.

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Figura 49 - Croquis dos painéis conforme dissertação de mestrado de Joan Villà p.

61.

Um importante item do sistema é a modulação: a largura do painel é de 45 cm,

proporcionando dimensões múltiplas, 45, 90, 135, 180, 235, 270, e assim por diante, centímetros,

que é um submódulo da série M30 (30, 60, 90,120, 150, 180 – idem - centímetros), medidas

fácilmente absorvidas no projeto, como na largura de corredores e portas de 90 cm, largura de

banheiro com 135 cm, entre outras.

O maior inconveniente de todo sistema autoportante é a modificação dos espaços funcionais,

pois todo o sistema segue a lógica de distribuição das cargas verticais, dificultando a alteração da

posição dos painéis, quando do encerramento da obra.

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6. Moradia Estudantil da Unicamp - Análise

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O LabHab da Unicamp, liderado por Joan Villà, estava realizando várias obras com a

utilização do sistema construtivo de cerâmica armada, conforme descrito no capitulo 4, quando surgiu

a demanda da Moradia Estudantil da Unicamp. Alguns conceitos projetivos e construtivos já estavam

conquistados nas obras anteriores como: pátios internos, construção homogênea, modulação;

fundações em radier; participação comunitária; linha de montagem e tipologias. A Moradia Estudantil

foi, portanto, a oportunidade de consolidação dos procedimentos arquitetônicos utilizados nas obras

anteriores, consagrando em uma obra de maiores proporções todo um trabalho de experimentação

arquitetônica e construtiva.

Na moradia está presente toda uma reflexão sobre a cidade e seus espaços públicos, com

praças, caminhos, estares e encontros, referências ao urbanismo europeu de sua origem,

principalmente de Barcelona, mas também referências à cidade portuguesa, conforme lembrou a

aluna mineira, em um dos encontros de deliberação inicial do projeto. Nota-se a consolidação de um

caminho de pesquisa arquitetônica e de técnicas construtivas que Joan Villà fez durante toda a sua

vida, desde a referências mais lúdicas e remotas da Barcelona de lluís Domènech i Montaner (1950 -

1923), de Antoni Gaudi e Josep Lluís Sert (1902 - 1983), que se notam nos cuidados com os

elementos construtivos da construção homogênea concebida por Joan Villà, em conexão com a

arquitetura moderna, com referências aos mestres do quilate de Le Corbusier e Alvar Aalto aos

contemporâneos Enric Miralles (1955 - 2000) e Renzo Piano.

(...) conecta a obra de Joan Villà com a arquitetura moderna entrelaçada com a tradição construtiva popular, incluindo o realismo da arquitetura catalã: desde as obras de Antoni de Moragas e de Josep Martorell - Oriol Bohigas nos anos cinqüenta até os experimentos de Enric Miralles.

É por isso que a obra de Villà pertence aos dois mundos, América e Europa. São construções leves com forte vontade social, que exploram a fortuna do realismo mediterrâneo em terras americanas. Protótipos magníficos e experimentos úteis que haveriam de ter sido mais difundidos. (MONTANER,e MUXÌ , 2011, p. 28).

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Construção homogênea

Ao mesmo tempo que estabelece esta conexão entre tradição e modernidade, Villà busca não

só o aprendizado e o resgate da arquitetura vernacular, mas também as técnicas construtivas, como

as de Hassan Fathy e Eladio Dieste, não fugindo das necessidades contemporâneas da arquitetura

da realidade brasileira, com referências aos mestres Sérgio Bernardes e Joaquim Guedes: “Esta

posição, tão realista, realizada com uma arquitetura que recorre sempre ao tijolo industrial mais

simples, e ao mesmo tempo digno, tanto com a sua aparência exterior, como com as perfurações à

vista que funcionam como gelosia, que recria formas invariáveis de cada lugar."(MONTANER,e

MUXÌ, 2011)

Procurando estabelecer uma construção em um material homogêneo, como fizeram Acácio

Gil Borsoi com a taipa armada em Cajueiro Seco e João Filgueiras Lima (Lelé) com a argamassa

armada, Villá busca, através da cerâmica em painéis pré-fabricados, estabelecer um diálogo com a

periferia existente, porém mantendo os cânones da arquitetura erudita.

(...) há uma questão que precisa ficar clara. Sempre existiu uma arquitetura homogênea do ponto de vista da construção e dos materiais . Homogênea é a construção em pedra, em adobe, homogêneas são as pirâmides, o gótico. existe uma construção heterogênea, que é só deste século, que procura a máxima especialização dos materiais. Para isso recorre a uma série de articulações de modo que uma coisa só - a construção - seja desempenhada por diversos materiais, que cada problema seja respondido por um material específico a partir da constatação de que ele atende melhor a tal necessidade. Mas a arquitetura homogênea continua neste século. Ela não é coisa do passado: apenas há outra vertente.(VILLÀ in PROJETO, n. 162, 1993, p. 54-55).

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Figura 50 - Obra de Louis Kahn, Indian Institute of Management. Disponível em:

http://fuckyeahbrutalism.tumblr.com/post/29777488459/indian-institute-of-

management-ahmedabad-india. Acesso em: 10 de fevereiro de 2013.

Ao utilizar a cerâmica como material homogêneo, como vemos nos desenhos em perspectivas

de detalhes construtivos da Moradia Estudantil (figuras 53 e 54), Joan Villá estabelece uma

comunicação direta com a grande produção das periferias existentes no Brasil, reinterpretando-as

sem perder as qualidades da arquitetura atemporal tão presentes na obra do mestre Louis Khan.

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Figura 51 - Favela de Salvador. Disponível em:

http://fineartamerica.com/featured/favelas-de-salvador-jorge-berlato.html. Acesso

em: 03 de fevereiro de 2012.

A construção espontânea homogênea da periferia carece do traçado regulador da geometria

presente na arquitetura erudita. Na obra de Joan Villà, verificamos (conforme imagem a seguir) as

características homogêneas do material da periferia, ordenadas segundo as premissas do traçado

regulador; assim convivem estes dois mundos: o vernáculo e o erudito.

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Figura 52 - Moradia Estudantil da Unicamp. Disponível em:

http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 10 de Fevereiro de 2013.

Existe uma arquitetura tradicionalíssima de natureza homogênea, onde o elenco de materiais é extraordinariamente reduzido. Só que essa redução não surgiu ao acaso, mas por acumulo de conhecimento da humanidade: procuram-se materiais que, como os antibióticos, tenham um amplo espectro de ação. privilegia-se a cerâmica por um amplo aspecto de razões. Ela tem a virtude de ser pequena, ter uma boa qualidade térmica, não cisalhar, não romper, possuir grande capacidade de carga. Quando se chega a uma arquitetura construída homogeneamente é por depuração: eliminam-se muitas coisas e se atinge aquilo que ao longo do processo de construção de muitos séculos, que se considera o melhor. (VILLÀ in PROJETO, n. 162, 1993, p. 54-55).

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Figura 53 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes

pré-moldados cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. Desenho de Jackson

Dualibi em 29 de Janeiro de 2013.

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Figura 54 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes

pré-moldados cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. Desenho de Jackson

Dualibi em 28 de Janeiro de 2013.

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Nas perspectivas das figuras anteriores, percebem-se as características da arquitetura

homogênea cerâmica pregada por Joan Villà. Nelas, nota-se também a modulação a partir do painel

pré-moldado, que se configura nos outros elementos construtivos não homogêneos, como os

caixilhos e as vergas de concreto, que mantêm as proporções impostas pelas dimensões dos blocos

cerâmicos.

A unidade de cada elemento, deveria corresponder na expressão do conjunto, a uma redução de caráter minimalista.

Procuramos seguir o caminho por vezes presente nas manifestações da cultura popular e que nos surpreende na composição erudita, quando transforma a extraordinária economia de meios na sua maior virtude e riqueza no "Samba de uma nota só".(VILLÀ, 2002, p. 67).

Na Moradia Estudantil, Joan Villá dá o caráter digno a um material "comum", o bloco

cerâmico, a exemplo dos mestres Alvar Aalto e Louis Khan que conseguiram em suas obras dar o

mesmo caráter digno a este material "comum".

É possível que façam uma associação, diríamos, no sentido pejorativo, de que a sua tecnologia tem um compromisso com a pobreza? Usar materiais simples, recursos limitados? Alguém poderia dizer isso. Há cinco ou seis anos uma crítica da revista Cuadernos, de Barcelona, disse-me: "Esse é um trabalho minimalista". Nunca me tinham dito isso. Vendo o material que lhe levei, ela fez esse comentário; e percebi que ela estava procurando argumentos para essa primeira impressão, vasculhava para ver se era isso mesmo. Tenho pensado nisso um pouco a posteriori: no desenvolvimento dessa tecnologia com componentes cerâmicos me parece existir uma postura muito próxima, muito comum ao desenho. Comum no sentido de conseguir equacionar tecnicamente, com pouquíssimos e escassos meios, uma saída construtiva. Comum não no sentido em que uma revista como a Obra analisaria o sistema, com o epíteto de minimalista. Mas acho que poderia ser entendido assim. É algo que penso hoje, não quando estava fazendo o primeiro painel" (VILLÀ in PROJETO, n. 162, 1993, p. 54-55).

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Precedentes

Villà conta20 que, no final da década de 1980, um grupo de alunos tomou o Instituto de Física

da Universidade de Campinas, reivindicando condições de moradia, pois os alugueis da região

(Barão Geraldo, Campinas, São Paulo) estavam muito acima do valor que os estudantes podiam

arcar. O reitor solicitou à coordenação do Laboratório da Habitação da instituição que estabelecesse

um diálogo com os manifestantes e, a partir destes encontros com os estudantes, projetasse um

conjunto de moradias, em um terreno próprio da universidade, com aproximadamente 55.000 m2, a

dois quilômetros de distância do campus.

O processo de assembléias com os alunos durou cerca de seis meses, durante os quais

foram estudadas várias alternativas de projeto, analisando os prós e os contras das moradias

existentes em outras Universidades, como a moradia do CRUSP da Universidade de São Paulo; o

alojamento para estudantes da Universidade de Brasília; e a moradia para estudantes na Finlândia,

projeto do arquiteto Alvar Aalto. No entanto, as referências estudadas pareciam muito distantes da

realidade desejada pelos estudantes. Foi uma aluna mineira, segundo Villà21, que deu a pista da

solução adotada, lembrando das "repúblicas” de Ouro Preto, da escala das cidades coloniais, dos

espaços coletivos, das praças, dos pátios e, fundamentalmente, do "clima" comunitário e libertário, ali

existentes.

Mais de trinta foram os encontros, reuniões e seminários. Muito mais, os documentos, atas e gravações. O salão do Conselho Universitário e a sede do DCE, os palcos mais freqüentes. Mas o “Sancho’ – pequeno bar próximo ao campus – freqüentemente se revelou um cenário mais propício às confissões e, por vezes, às decisões. (VILLÀ, in: AU 22, 1989, p. 35)

20 VILLÀ, 2012 Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012. 21 Ibidem.

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Figura 55- Plano Cerdá - Barcelona. Disponível em: www google earth.

Acesso em: 30 de setembro de 2012.

Villà nasceu e passou sua infância em Barcelona, cidade com reconhecida qualidade

urbanística; por isso, ele não pode apagar de sua mente os desenhos das quadras, das ruas, das

praças, e do cuidado com o espaço público e, peculiarmente, a idéia do "claustro", presente nas

quadras do plano Cerdá: a quadrícula espanhola, tão característica das cidades Íbero-Americanas:

“O desenho dos quarteirões do ‘Plan Cerdá’ de Barcelona, a velha cidade de Argel, o ‘Parque Guell’

de Gaudi, a prefeitura de ‘Saynatsalo de Alvar Aalto’.” (VILLÀ, in: AU 22, 1989, p. 36).

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Figura 56 - Desenho de 1983, elaborado no Lab/Hab da Belas artes de São Paulo,

para a Vila Arco Íris no Grajaú, São Paulo. Imagem do arquivo pessoal de

Nabil Bonduki.

Além destas imagens de sua cidade natal, Villà referencia-se também nos seus projetos

anteriores, como o caso da Vila Arco Íris no Grajaú22, e um conjunto residencial em Socorro23, onde

Villà faz uma releitura do repertório urbano apreendido.

Enquanto resgata a grelha, a quadra, o pátio, inova o sistema de circulação, no tratamento do que é espaço público e do que é privado; a articulação que permitirá o uso do miolo das quadras para função coletiva; a malha cartesiana, gerando o desenho em cruz, dois eixos flexíveis permitindo a ocupação plena. Nessa malha, as residências são conectadas existindo a possibilidade física de se abrirem passagens entre elas. (VILLÀ, in AU n. 22, 1989, p. 36).

22 São Paulo, projeto de 1984. 23 São Paulo, projeto de 1988.

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Figura 57 - Conjunto Habitacional de Socorro, projeto de 1988, Disponível em:

POMPÉIA, 2006 pg. 98.

No projeto da Moradia Estudantil da Unicamp, Joan Villà utiliza elementos apreendidos da

cultura popular, como o tijolo cerâmico, reinterpretado-os com elementos da tipologia tradicional da

arquitetura, como o pátio interno, adotando uma composição de geometria clássica modular em

quadrados e triângulos, tanto no desenho urbano como na unidade residencial, ou mesmo no sistema

construtivo.

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Implantação

Figura 58 – Maquete da implantação geral - moradia estudantil. Disponível em:

http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 30 de setembro de 2012.

Em terreno com formato triangular, com declividade constante da base para o vértice,

coincidente com a vista para a Universidade, Villà decidiu dividir o terreno ao meio, implantando uma

rua de veículos paralela à base. Esta rua central "corta" o terreno longitudinalmente. No sentido

transversal, as ruas de pedestres integram e estabelecem, junto com a rua perimetral, os lados da

quadrícula virtual de 90 x 90 metros, que configuram "quadras" e ruas de uma cidade inserida no

contexto de outra cidade rarefeita e descontínua, característica das periferias das cidades brasileiras.

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Figura 59 – Maquete: detalhe da quadra - moradia estudantil. Disponível em:

http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 02 de outubro de 2012.

Respeitando sua origem, mas também a lembrança da vida na cidades coloniais brasileiras,

Villà estabelece uma quadrícula de 90 x 90 metros, configurando "quadras" formadas, no sentido

transversal, por ruas de veículos e, no sentido longitudinal, por ruas de pedestres; no meio destas

quadras, reconfigurando o traçado regulador, pátios internos estabelecem os "vazios" internos da

quadra-padrão.

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Aproveitando a pendente natural do terreno, Villà estabelece outra rua de pedestre no sentido

longitudinal, passando por sob as edificações e dividindo o "pátio interno" em duas partes,

estabelecendo já duas praças: uma superior e outra inferior, de 20 x 40 metros cada uma. Este

desnível de um pavimento propicia a construção de um salão de usos múltiplos, semienterrado, junto

com um conjunto de acesso vertical às escadas e rampas.

A residência estudantil da Unicamp, Universidade de Campinas (1992), foi construída sobre um terreno com ligeira inclinação e com grandes possibilidades ambientais. Ao mesmo tempo, se levou a termo um processo de participação com os estudantes que, em meados dos anos oitenta, haviam ocupado a universidade para reforçar suas reivindicações. Villà conseguiu unir os desejos que tinham os estudantes para as suas residências com a sua vontade como um arquiteto social de criar uma comunidade ao ar livre. Um sistema modular e escalonado permite criar residências compartilhadas para dois ou quatro estudantes, com três cômodos e um pátio de acesso ajardinado. Esta combinação permite resolver a grande parcela triangular do recinto, com trânsito perimetral de veículos e toda a sorte de espaços livres em diversas escalas no interior: grandes parques, pequenos recintos arborizados para reunir-se a comer ou estudar, ruas para pedestres e pátios comunitários, terraços em cada unidade, além de muitos metros quadrados dedicados a usos comunitários da Residência. Às qualidades dos novos sistemas construtivos modulares somem-se as qualidades ambientais do espaço aberto e as qualidades compositivas que se percebe na composição modular e escalonada, com pátios e parques que vão se abrindo em perspectiva e em diagonal, de maneira que esta arquitetura moderna, abstrata e de tecnologia de tijolo, evoca as composições clássicas e a harmonia do Renascimento. (MONTANER e MUXÍ, 2011, p.28).

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Figura 60 - Relação da moradia com a

Unicamp - Disponível em http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-PT&tab=wl, acesso em 18 de março de

2013.

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Quadra

Figura 61 - Quadra. Desenho de Abner Mesquita.

A quadra é formada por três agrupamentos, cada agrupamento de um lado. O quarto lado é

deixado propositalmente vazio, para que a pendente do terreno propicie a vista para o fundo do vale

em direção ao campus universitário, conforme figura 53, onde se vê a proximidade e possibilidade do

contato visual entre a Moradia com a Unicamp. Os agrupamentos triangulares estão dispostos com a

base para fora, onde está a rua de pedestre nas laterais; o vértice é voltado para dentro, lado da

praça, criando diagonais de aproximação e fuga. Nas pontas foi projetado um espaço em pilotis, para

a entrada e comércio local (que não foi ocupado com este fim, permanecendo vazio como espaço de

convívio). No meio da praça, há um desnível de um piso, dividindo a praça em dois ambientes: um

acima e outro abaixo.

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Figura 62 - Cortes do desnível do terreno. Disponível em: Revista AU n. 22, ps.36 e

37 de Fev./Março de 1989.

Dentro da perspectiva do projeto há a intenção clara de recuperar o traçado tradicional que tem origem na ilha grega, fazendo com que a "quadra" que dela resulta tenha no seu interior, no pátio, a configuração de um espaço semipúblico e protegido mas ao mesmo tempo simbolicamente urbano. Assim este local sintetiza dois tipos de espaço urbano tradicional: a rua e a praça entendidos como cenário e não como espaço de tráfego. (VILLÀ, 2002, p.130)

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Figura 63 - Esquema do canteiro de obras. Desenho elaborado por Joan Villà

em entrevista realizada no dia 12 de Fevereiro de 2013.

Ao mesmo tempo que o "vazio" central da quadra - um procedimento de partido arquitetônico -

remete à tradição da praça, do pátio e do claustro, há também uma razão técnica de sua existência: a

localização do canteiro para a produção dos painéis de cerâmica pré-moldada, que requer um

espaço considerável, pois é necessário disponibilizar os materiais brutos a granel como areia, ferro,

blocos cerâmicos, etc; espaço para a pista de montagem no chão das formas e dos painéis

propriamente ditos; e espaço para a armazenagem dos painéis produzidos, conforme relata Villà24, e

em seu desenho apresentado a seguir.

24 "A solução adotada para o viário, as quadras e os vazios das praças interiores, procurava responder as necessidades da produção com as futuras necessidades do dia a dia" - entrevista com Joan Villà realizada em 12 de Fevereiro de 2013.

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.

Figura 64 - Pista coberta de fabricação de painéis. Disponível em:

www.villachile.arq.br. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2013.

Estabelecendo uma ponte entre o sistema construtivo e o desenho urbano, Villá consolida o

caminho entre a produção (fábrica de montagem de páneis pré-moldados cerâmicos) e o seu uso

posterior como espaço urbano que configura a praça.

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Figura 65 - Desenho de Joan Villà, com esquema do "vazio" da fábrica à praça e

com a circulação de veículos e pedestres, realizado em entrevista no dia

12 de Fevereiro de 2013.

Adotando a praça como elemento central, Villà, com esta ação projetiva (criação do "vazio")

resolve dois procedimentos de uma só vez: um urbanístico, de retomada do traçado tradicional

atemporal (presentes em Barcelona e nas cidades gregas), e outro procedimento de razão técnica - a

disposição do canteiro de obras ocupando o centro geográfico da implantação, fundamental à

distribuição interna construtiva dos procedimentos do sistema adotado.

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Aproveitando a pendente natural do terreno, para permitir perspectivas visuais em direção ao

campus, Villà constrói a massa edificada em três dos quatro lados possíveis. Assim, a vista se abre

nesta direção, criando três eixos principais de fugantes, duas laterais e uma central. As vistas laterais

são as principais, pois as entradas ficam nas esquinas - lugar onde havia sido previsto um pequeno

centro comercial - vértice do ângulo visual que, gradativamente, vai se abrindo em direção ao

horizonte. O escalonamento das moradias edificadas cria uma difusão entre o quadrado da quadra e

o triângulo das perspectivas. Assim, a leitura do espaço semi público - quadrado da praça - é

mesclada com a da natureza - triângulo da perspectiva visual. O espectador, ao mesmo tempo que é

convidado a ir ao centro do quadrado da praça, também é convidado a olhar para fora. A

contrapartida da leitura urbana das quadras é percebida claramente nas ruas laterais, local de

circulação interna, onde a escala reduzida da largura da via permite um contato íntimo na vida

cotidiana. Entre as duas escalas de cidade, privada e pública, as moradias surgem como o elemento

definidor dos espaços.

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Figura 66 - Esquema de perspectivas. Desenho de Abner Mesquita.

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Agrupamento

Mimeticamente triangular em relação à forma do terreno e da unidade, no agrupamento com

quinze unidades, Villà manteve a implantação da moradia da seguinte maneira: quatro unidades

térreas dão frente para a base do triângulo, espaçadas entre si pelo encaixe de três unidades,

formando três pátios frontais, pátios estes que servem de local de acesso às unidades encaixadas ao

fundo e aos seus respectivos pavimentos superiores, como residências sobrepostas. Na parte

posterior, ou seja, no vértice do triângulo, uma unidade térrea da frente para este lado, encaixada

com mais duas unidades na parte posterior, formando os pátios de acesso ao andar superior destas

duas unidades:

partindo da modulação de cada casa – com uma trama modular de 45 x 45 cm, assentada em toda a área a ser ocupada -, foi possível montar um “quebra-cabeça” complexo: todos os painéis deveriam se encaixar perfeitamente da primeira à última casa de cada quadra. Ou seja, cada quadra era composta de um único edifício que continha 54 casas (sendo 21 delas no 2º pavimento), duas salas de leitura, que ficavam sobre áreas de uso comunitário e serviam de acesso entre as ruas de pedestres para o miolo das praças superiores e bem no centro do pátio (praça da quadra), o centro comunitário. Cada quadra era, ainda, interligada por salas de leitura (o que chamávamos de ponte). Tais pontes, situadas no segundo andar da quadra superior, situavam-se bem no desnível entre os patamares do terreno; cobriam uma espécie de túnel que permeava os espaços no sentido longitudinal da implantação interligando todas as praças com seus respectivos centros de vivência na mesma cota de nível. No miolo mais denso, cuja volumetria chegava a três pavimentos, havia aberturas que permitiam iluminar partes do caminho: um ritmo que salientava a cadência equilibrada entre cheios e vazios, entre claros e escuros. (POMPÉIA, 2006, p. 123).

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Figura 67 - Agrupamento. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso 02 de

outubro de 2012.

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Figura 68 - Agrupamento. Desenho de Abner Mesquita.

O desenho triangular é formado por quadrados dos três ambientes internos de cada unidade,

medindo cada um 4,05 x 4,05 metros de eixo dos painéis. Estes quadrados modulares reafirmam a

implantação triangular, na base quinze módulos quadrados (no total 60,75 m) térreos, com o seguinte

ritmo: um cheio (alvenaria), um aberto (pátio da unidade), um cheio, um pátio maior para acesso ao

pavimento superior. Na segunda fileira treze módulos, sendo os da extremidade térreos e os onze

restantes assobradados. Na terceira fileira de nove módulos, estão o encontro entre as unidades que

estão de frente para a base (dez no total, sete no térreo e três no pavimento. superior). Este encontro

se dá alternando um módulo que tem frente para a base, um pátio e um módulo das unidades que

tem frente para o vértice. O pátio faz a ligação entre as duas frentes, tendo acesso por ambos os

lados, estabelecendo a conexão entre ambas, configurando assim um jogo de cheios e vazios, com

caimentos das coberturas de uma água sempre para o lado de fora da unidade.

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Unidade Habitacional

Figura 69 - Unidade. Desenho de Abner Mesquita.

A unidade habitacional possui 64 m2. Projetada para quatro pessoas, é dividida em três

ambientes: um para o dormitório (área íntima), outro para sala (área social) e o terceiro para a

cozinha e o banheiro (área de serviços). Totalmente modulada em 45 cm pela dimensão do painel,

sua disposição triangular em torno de um pátio semiaberto permite um jogo volumétrico

independente, já que cada lado do triângulo é composto por uma cobertura de uma água com a

cumeeira voltada para o pátio.

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Figura 70 - Corte. Disponível em: Revista AU, numero 22, de 1989, p. 35.

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Desenho do vazio

Figura 71 - Desenho de corte do bloco cerâmico, com proporção entre cheios e

vazios, desenho de Jackson Dualibi.

Partindo da análise do desenho do bloco cerâmico (conforme desenho acima), podemos

constatar que o bloco cerâmico tem aproximadamente 50% de espaço vazio, esta proporção entre

cheios e vazio é percebida em todos os níveis na implantação da obra da Moradia Estudantil desde a

unidade habitacional, o agrupamento, a quadra e conjunto, conforme desenhos a seguir.

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Figura 72 - Desenho do vazio, da unidade habitacional. Desenho de

Jackson Dualibi.

Figura 73 - Desenho do vazio, da quadra. Desenho de Jackson Dualibi.

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Figura 74 - Desenho do vazio, do conjunto. Desenho de Jackson Dualibi.

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Situação atual

Figura 75 - Revestimento externo - Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de

2012.

Passados vinte anos de sua inauguração25, a Moradia Estudantil ainda mantém muitas das

suas características originais. Percebe-se que existe um cuidado com a preservação do projeto

realizado. Não há construções novas, nem houve demolições. As poucas alterações que se percebe

hoje estão ligadas, basicamente, à manutenção e à segurança. A maior mudança é o revestimento

externo dos painéis, conforme mostra a imagem a seguir.

25 Conforme visita ao local realizada no dia 24 de Agosto de 2012.

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Figura 76 - Detalhe externo, alambrado e calçada. Foto de: Jackson Dualibi em 20

de Agosto de 2012.

A implantação do conjunto, que se propunha integrada à cidade, sem barreiras, hoje

apresenta um muro de alambrado, cercando e isolando o conjunto do entorno imediato. Segundo

conversas com moradores e a administração do conjunto, existe um consenso de sua necessidade

com relação à segurança.

O alambrado de arame não chega a ser percebido pelos moradores, pois permite visuais e

está coberto de vegetação, mantendo uma calçada generosa para a cidade, mas é uma barreira na

integração do conjunto com a cidade.

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Figura 77 - Parede lateral da moradia com revestimento externo e infiltração de água. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de

Agosto de 2012.

Quanto à manutenção dos painéis, que antes eram aparentes externamente, hoje estão

revestidos com argamassa e pintados com a cor que imita a cor original do bloco - um laranja

(variação entre o amarelo e o vermelho). Aparentemente, esta solução foi adotada por questões de

permeabilidade do material, que, com o passar do tempo, devido a pequenas trincas provocadas por

impactos mecânicos ou desgastes, possibilitam a infiltração de água. O único local onde se percebe

que ainda se mantém original, ou seja, sem o revestimento, são nos tetos das unidades, pois estão

protegidos de impactos e de umidade.

Os problemas com a infiltração de água, que geralmente são ocasionados pelo escoamento

das águas da cobertura, aparecem nos painéis, mesmo com os revestimentos colocados, pois no

projeto não existem beirais que, tradicionalmente, protegeriam as alvenarias externas.

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Figura 78 - Imagem da época da construção, onde aparecem várias calhas

abertas. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em:

17 de Agosto de 2012.

As calhas abertas na fachada, que faziam o escoamento das águas pluviais recolhidas da

cobertura, com revestimento interno em cacos cerâmicos26, foram, posteriormente, substituídas por

tubos de PVC aparentes utilizados no mesmo lugar das anteriores.

26 Como os cacos utilizadas por Gaudi no Parque Guell.

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Figura 79 - Detalhe calha. Foto de: Jackson Dualibi em 20 Agosto de 2012.

Villà queria deixar que a água escorresse livremente pela fachada, pois segundo ele: “as

cargas, a luz e as águas buscam o caminho do solo”. Assim, a edificação deveria ter um caráter

didático, mostrando não só como foi feita, mas também para que serve. Percebe-se que existe um

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pré-conceito de manutenção, de como deve ser uma construção. Tudo deve ser controlado, e deixar

que a água escorra livremente pela fachada pode ser entendido como uma mazela. Assim, tudo deve

ser controlado e conduzido. Esse procedimento é inversamente proporcional ao pensamento

libertário de Joan Villà.

O fato de a manutenção ser efetuada pela administração da Unicamp, acaba impondo os

valores e os critérios próprios da universidade, que preponderam sobre os valores e critérios

individuais dos moradores, que são dependentes dessa instituição de ensino. Portanto, ao ser

monitorado pela instituição, parte dos moradores delega cuidados à universidade. Devido a isso, a

apropriação do espaço é parcial e relativa. Os moradores tendem a manter e cuidar do que está mais

próximo a eles: a unidade habitacional em que residem e o pátio entre elas: "O cuidado e a

manutenção da sala de estar e da cozinha são basicamente uma responsabilidade compartilhada por

todos os que moram na casa, que tem a chave da porta de entrada” (HERTZBERGER, 1999, pg.14).

Uma mudança positiva, que aconteceu no decorrer destes anos, foi em relação ao porte da

vegetação que, na época da implantação, era rarefeita e agora cresceu, possibilitando sombras e

locais de convívio, que, na época da inauguração, eram menos convidativos.

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Figura 80 - Imagem recente com vegetação consolidada. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em:

30 de Setembro de 2012.

A vegetação cria e delimita espaços mais íntimos, principalmente em grandes espaços como

as praças, possibilitando a apropriação parcial destas, em especial em dias de sol forte, como é

bastante comum na região de Campinas.

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Figura 81 - Vegetação. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Em cada canto das quase trezentas habitações, percebe-se que a vida em comunidade é bem

preservada, seja ela do grupo de quatro moradores de cada casa, ou do grupo da vizinhança

próxima. Os aspectos de vida cotidiana estão sempre presentes, seja nas crianças que ocupam os

pátios (filhos dos poucos casais da moradia), seja nas roupas penduradas nas janelas, ou nas

bicicletas deixadas nas entradas das casas, demonstrando a presença dos aspectos domésticos do

dia-a-dia.

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Figura 82 - Pátio interno da Unidade. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de

Agosto de 2012.

Diferente de outras moradias de estudantes, que mais parecem conjuntos habitacionais

adaptados, a moradia da Unicamp preserva este aspecto da vida em “república”, tão típica dos

estudantes, conforme queria a estudante mineira das assembléias que precederam os primeiros

estudos do projeto da Moradia.

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Uma difícil questão de arquitetura a ser definida entre o singular e o plural. Singular, pela especificidade dos moradores a gerarem no convívio cotidiano as condições de vida do gueto, reforçando suas particularidades. Plural, pelo pulsar da vida a irromper permanentemente contra o gueto, superando-o e confundindo-o com a cidade ao redor, em toda sua generalidade.

Uma situação de tensão como toda situação de limites. E limites não só do lugar. De tempo também. Um tempo de iniciação e passagem marcado não somente pela duração dos ritos e dos cursos, mas alongado pela juventude que a percepção e depois a memória registram como período de experimentação, feita de muitas vivências a construir simultaneamente "eu" e o "nós", o individuo e o coletivo. (VILLÀ, in AU 22 p.35).

O lugar do “gueto”, da vida em comunidade, do cotidiano, como descreve Joan Villà, mantém

suas características, pois a moradia pertence à Unicamp, e é habitada por seus alunos27.

A integração com a cidade só acontece de maneira parcial, pois as necessidades básicas dos

alunos que ali habitam é suprida pela universidade: eles podem fazer as refeições principais no

campus e algumas peças do mobiliário de suas habitações são fornecidas por ela, como: beliches,

colchões, mesa com quatro cadeiras, geladeira e fogão.

Existem, ainda, como projetado, núcleos de atividades com espaços definidos para cursos,

reuniões de grupos, cinema e ateliê de arte, entre outros.

27 Inclusive existe uma linha de ônibus que possibilita o acesso ao núcleo universitário para a população residente no conjunto.

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O segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que a comunidade se sinta pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da comunidade contribua à sua maneira para um ambiente com o qual possa se relacionar e se identificar.

O grande paradoxo do conceito de bem-estar coletivo, tal como se desenvolveu lado a lado como os ideais do socialismo, é que ele acaba subordinado as pessoas ao sistema que foi construído para libertá-las.

Os serviços prestados pelos departamentos de Obras Públicas Municipais são vistos, por aqueles em cujo benefício esses departamentos foram criados, como uma abstração opressiva; é como se as obras públicas fossem uma imposição vinda de cima; o homem comum sente que "não tem nada a ver com ele", e, deste modo, o sistema produz um sentimento generalizado de alienação. (HERTZBERGER, 1999, p.45).

Na Moradia Estudantil, se, por um lado, as pessoas têm necessidades de convívio e de

encontro, como quaisquer outras pessoas, em quaisquer outros lugares, por outro lado, existe um

paradoxo entre o uso privado e o uso coletivo, pois os estudantes vivem temporariamente neste local

em um período de suas vidas bem específico. Portanto, ali não aparecem alguns elementos do

cotidiano comuns a qualquer cidade, como animais, pessoas idosas, donas de casa e feiras livres de

mercadorias, por exemplo.

Os espaços coletivos menores, como as ruas internas de pedestres, têm uma escala

apropriada para a vida em comunidade. Nestes espaços menores, os vestígios da vida cotidiana são

notados na apropriação dos espaços com bicicletas, roupas e intervenções, conforme já apontado.

Segundo HERTZBERGER (1999, p.63), "Se a rua é ampla demais, pouca coisa acontece em poucos

lugares, e, apesar de todas as boas intenções em sentido contrário, o resultado são vastos espaços

transformados em “desertos" simplesmente por ficar vazios demais."

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Figura 83 - Rua interna de pedestres. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de

Agosto de 2012.

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Figura 84 - Pátio interna da unidade habitacional. Foto de: Jackson Dualibi em

20 de Agosto de 2012.

No projeto original, a utilização dos espaços maiores - como as praças, as ruas de veículos e

os lugares onde foram previstos pequenos comércios (que não foram concretizados) - é menor,

chegando até, em alguns casos, a serem subutilizados.

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A moradia é como uma pequena cidade autônoma: tem seus ritos específicos e distintos do

entorno imediato, tem suas ruas e praças, seus cantos e lugares públicos e mantém sua intimidade

nas unidades e nos pátios dos conjuntos. Conforme VAN DEICK (apud HERTZBERGER, 1999,

p.126) "Faça de cada coisa um lugar, faça de cada casa e de cada cidade uma porção de lugares,

pois uma casa é uma cidade minúscula e uma cidade é uma casa enorme”.

Criar espaços públicos para o uso coletivo, como salas de uma grande casa, ou unidades

habitacionais, como espaços íntimos da mesma casa, é uma tarefa complexa, pois aproximadamente

mais de mil pessoas moram no conjunto. HERTZBERGER (1999, p. 15) afirma que "No mundo inteiro

encontramos gradações de demarcações territoriais, acompanhados pela sensação de acesso. Às

vezes o grau de acesso é uma questão de legislação, mas, em geral é exclusivamente uma questão

de convenção, que é respeitada por todos.”

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7. Depois dos Laboratórios

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Após os quinze anos de vivência de Laboratórios28, Villà consolidou sua veia acadêmica,

quando passou a lecionar na Universidade Mackenzie e retomou as aulas no Centro Universitário

Belas Artes de São Paulo29.

No ano de 2002, defendeu mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie

com a dissertação; "A construção com componentes pré-fabricados cerâmicos: sistema construtivo

desenvolvido em São Paulo entre 1984 e 1994".

Como professor de projeto, Joan Villà estabeleceu uma trajetória de investigação por meio da

geometria construtiva, estabelecendo uma relação clara da edificação com o seu entorno imediato,

construindo o "vazio":

A força da geometria na história. Ela foi responsável pela organização dos mais variados espaços, desde a taba indígena até o tratado de tordesilhas. A sociedade sempre a usou no tratamento da propriedade, dos caminhos, da distribuição das águas. A questão importante é se preocupar com o projeto do vazio. O Aluno pensa: "se estão me pedido um programa e um objeto construído, como vou projetar o vazio?" (...) Projetar tendo o vazio como foco não é muito frequente, mas Oriol Bohigas, por exemplo, já escreveu a respeito. Em um texto publicado no livro sobre a Vila Olímpica, ele diz que “a arquitetura ratifica aquilo que o espaço público previamente estabeleceu”. Isso vem do pensamento de Aldo Rossi. Ou seja, o grande gerador dos espaços urbanos e dos edifícios é o desenho do vazio.

A arquitetura que surge a partir de uma preocupação desse tipo deixa de ser clássica, entendendo por clássica o objeto relativamente isolado e distante da cidade, ainda que dentro dela. Quando se pensa no vazio há a possibilidade de discutir questões clássicas por outro viés. O que é o construído e o que é o não-construído? A relação não-construído / construído coincide com a relação público/privado? O vazio pode ser um espaço natural? Os alunos entendem isso e passam a ter uma relação com o projeto que não se pauta somente pela singularidade do edifício. (VILLÀ, 2010, in PROJETO, n. 361).

28 Quatro anos no LAB/HAB da Belas Artes de São Paulo e onze anos no da Unicamp. 29 Em 1995.

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Atuação pós Laboratório

Figura 85 - Residência na praia do Félix, disponível em: www.villachile.arq.br, acesso em 13 de Fevereiro de 2013.

Villá defende também o ensino da construção na arquitetura.

a relação arquitetura/construção, com desenhos específicos. Não é propriamente um detalhamento, mas, por exemplo, desenhos em escala 1:20 ou 1:25. Neles começa o entendimento de que uma coisa é a estrutura e outra é a estrutura auxiliar que sustenta o caixilho, a clarabóia etc. Nas escolas da América Latina, por influência da Espanha, não existe tecnologia: existe construção arquitetônica. E a tecnologia que é dada no Brasil continua presa às questões da escola de engenharia do século 19: resistência dos materiais, conforto térmico etc. São categorias físicas em nenhum momento associadas à criação e à poética da arquitetura. E os alunos começam a descobrir que essa poética é relacionada à construção também. (VILLÀ, 2010, in PROJETO, n. 361)

Em 1997, Joan Villà associou-se a Silvia Chile, realizando obras com a tecnologia do sistema

de painéis pré-moldados cerâmicos, projetos como a casa da praia do Félix com abóbadas de tijolos

(2001), e o condomínio residencial da rua Grécia, em Cotia (2002), projeto vencedor do prêmio

Carlos Barjas Milan, conferido pelo IAB/SP.

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Figura 86 - Conjunto residencial em Cotia. Disponível em:

www.villachile.arq.br. Acesso em: 23 de novembro de 2012.

Em Cotia, Villà aprofundou seu entendimento da sabedoria popular, adquirindo uma

percepção aguçada de elementos arquitetônicos utilizados na periferia como: escadas independentes

da construção (propiciando a construção de andares superiores e a ausência de recortes nas lajes

para a passagem da escada), "lajões" cobertos (para festas e serviços em geral como secar roupas)

e cores fortes (identidade dentro da diversidade) reutilizando-os sob a ótica reguladora da geometria,

ou seja, com arquitetura, a exemplo de Le Corbusier na Casa do Homem, em Zurique.

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Figura 87 - "Lajões" em Favelas. Disponível em:

http://extra.globo.com/noticias/rio/area-de-favelas-reduzida-mas-crescimento-

vertical-nao-contido-4947404.html. Acesso em: 03 de Fevereiro de 2012.

Figura 88 - Casa do Homem, projeto de Le Corbusier. Disponível em:

https://picasaweb.google.com/morfouno012.gc/06CasaDelHombreZurich19611967#5773705234887615602. Acesso em: 23

de novembro de 2012.

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A análise destas habitações em Cotia nos permite descobrir uma quarta grande característica da obra de Joan Villà que se soma às três citadas anteriormente e as enriquecem – experimentação construtiva, desenho urbano e composição arquitetônica -. Trata-se da capacidade de aprender da arquitetura popular e auto-construída, com a qual se relaciona desde os anos oitenta e que lhe permitiu conhecer os modos de vida e o seu reflexo nos elementos arquitetônicos imprescindíveis, como a escada por fora, que não é um capricho compositivo, senão que aporta a possibilidades de crescer, subdividir ou arrendar; e a reserva de espaço nas coberturas, que corresponde à cultura popular da autoconstrução e a previsão de um espaço na parte superior para instalações, reuniões, novos dormitórios ou para estender a roupa. Com a sua obra, Joan Villà consegue uma sintonia inédita entre arquitetura culta e popular. (MONTANER,e MUXÌ , 2011, p. 29).

Em 2005, na VI Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, Joan Villà realizou

exposição em sala individual, demonstrando, com a sua trajetória, que é possível fazer boa

arquitetura com tecnologia de pré-fabricação simples, com redução de custos, elementos da

arquitetura espontânea e com o emprego de materiais como a cerâmica armada.

A razão técnica acredita que sabe como organizar do melhor modo possível pessoas e coisas, a cada um atribuindo um lugar, um papel e produtos a consumir. Mas o homem ordinário escapa silenciosamente a essa conformação. Ele "inventa o cotidiano" graças às artes do fazer, astúcias sutis, táticas de resistência pelas quais ele altera os objetos e os códigos, reapropria-se do espaço e do uso a seu jeito. Voltas e atalhos, maneiras de dar golpes, astúcias de caçadores, mobilidades, histórias e jogos de palavras, mil práticas inventivas provam, a quem tem olhos pra ver, que a multidão sem qualidades não é obediente e passiva, mas abre o próprio caminho no uso de produtos impostos, numa ampla liberdade em que cada um procura viver do melhor modo possível a ordem social e a violência das coisas. (CERTEAU, 2010, capa).

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8. A Influência nas gerações posteriores e as novas perspectivas para a utilização da cerâmica armada

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Figura 89 - COPROMO. Disponível em: https://www.dropbox.com/sh/axvnty11uy4hvmf/fexfhKtGPN/1994%20copromo/apresentacao_USINA_copromo.ppt. Acesso

em: 27 de dezembro de 2012.

A arquitetura de pré-moldados cerâmicos de Joan Villá deixou um legado para as novas gerações,

como é o caso do escritório USINA (Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado), que,

trabalhando como assessoria técnica, prestou serviços a diversas comunidades, utilizando blocos

cerâmicos pré-moldados, escadas e corredores metálicos e implantações com referências clássicas,

como o pátio interno.

No projeto de 1992 para a COPROMO, a USINA projetou edifícios de cinco pavimentos para

1.000 famílias no Jardim Piratininga. Os apartamentos foram construídos com blocos cerâmicos, ao

redor de estrutura pré-moldada de aço com escada e corredor, que estruturam o núcleo central de

distribuição de circulação interna e funcionaram como "andaimes" durante as obras.

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Figura 90 - Comuna urbana Don Helder Câmara. Disponível em:

http://www.usinactah.org.br/index.php?/s/--comuna-urbana-d-helder-camara/.

Acesso em: 27 de dezembro de 2012.

Em 2007, a USINA realizou a construção da Comuna urbana Don Helder Câmara30 para o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em Jandira-SP, usando a tipologia de casas

sobrepostas em blocos cerâmicos.

30 Com128 moradias; uma escola e oficinas de trabalho.

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Figura 91 - Conjunto Habitacional Brasilândia 13 - Vila Albertina. Disponível

em: ROSSI, 2012.

A Ambiente Arquitetura31, também fez vários trabalhos em mutirão utilizando técnicas de

alvenaria estrutural com blocos cerâmicos, como nos casos da obra do Conjunto Habitacional

Brasilândia 13 e do edifício Pirineus32.

31 Escritório que, há 20 anos, presta assessoria técnica a projetos na área de habitação social. 32 Respectivamente: projeto e obra entre 1996 e 1998 para a União de Movimentos de Moradia na Vila Albertina, Brasilândia, São Paulo e projeto de 1997 para o Fórum dos Cortiços, na Barra Funda, São Paulo, cuja a obra foi concluída em 2003.

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Figura 92 - Edifício Pirineus. Disponível em:

http://www.ambientearquitetura.com/portfolio-item/conjunto-habitacional-santa-

cecilia-a-pirineus. Acesso em: 20 de Janeiro de 2013.

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Perspectivas futuras

Figura 93 - Flexbric. Disponível em: http://www.flexbrick.es/concepto.asp.

Acesso em: 31 de Dezembro de 2012.

No começo de 2011, na Catalunha, foi lançado no mercado um produto chamado "Flexbric"

da "Cerâmica Malpesa", o qual foi desenvolvido, por quatro anos, pelo arquiteto espanhol Vicente

Sarrablo junto à Universidade Internacional da Catalunha. Este produto é formado basicamente por

dois componentes - lâminas cerâmicas flexíveis e uma malha metálica trançada - que se unem

através de orifícios em ambos os lados na cerâmica, através dos quais se introduz a malha metálica.

Apresentado em painéis pré-moldados, podem ser utilizados como revestimento de fachadas,

pavimentos e coberturas e também em estruturas laminares como abóbadas.

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As possíveis vias de impulso para as soluções cerâmicas futuras passam pela organização de

peças construtivas e com alianças com os demais métodos construtivos, segundo Churchichaga33, a

exemplo da nanotecnologia, que já está obtendo grandes avanços na indústria automobilística,

eletrônica e aeroespacial com "micro cerâmicas armadas". Neste sentido, poderíamos ver, no futuro

próximo, uma situação nova: a cerâmica em escala de peças maiores, aplicadas à arquitetura com as

mesmas qualidades que a nanotecnologia alcançou, como o isolamento térmico, resistência e não

propagação de fogo, com a eficiência que poucos materiais conquistaram.

También supone un campo fabuloso el de los llamados SM (Smart Materials): materiales inteligentes que reaccionan y pueden cambiar sus propiedades por estímulos externos inducidos. La cerámica potenciará así sus características más favorables, como son el aislamiento térmico, la durabilidad y casi nula corrosión, el trabajo a cualquier temperatura, la gran resistencia, la ligereza y el comportamiento a fuego excepcional. También inundará campos estructurales, servirá para cerramientos de durabilidad extrema, resolverá instalaciones sanitarias y de climatización, demostrará su inherente sostenibilidad, asistirá a instalaciones climáticas, eléctricas y electrónicas, y recubrirá materiales con películas inalterables ayudándoles a prolongar eficazmente su durabilidad.

La cerámica del mañana tendrá también un gigantesco campo silencioso, menos visible, pero será sin duda un material omnipresente, sosteniendo, protegiendo, mejorando o aislando las arquitecturas del futuro. (CHURTICHAGA in Arquitectura viva n.116. p. 37)

33 CHURTICHAGA in Arquitetura Viva, 116.

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Figura 94 - Aplicação Flexbric. Disponível em: http://www.flexbrick.es/index.asp.

Acesso em: 30 de Dezembro de 2012.

A biblioteca pública de Villanueva de la Canadã, em Madrid-Espanha, projeto de José Maria

de Churchichaga, utilizou paredes-vigas em cerâmica armada que suportam rampas e coberturas,

que se cruzam no espaço central em balanços inclinados sem se tocar.

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Figura 95 - Biblioteca pública de Villnueva. Disponível em:

CHURTICHAGA, José Maria de. “Estructura y textura: El futuro de

lacerámica.” Arquitetura Viva, 116, p. 32.

Segundo Churtichaga, na Espanha e no mundo existem alguns caminhos interessantes como

os tecidos cerâmicos estruturais desenvolvidos pelo arquiteto Vicente Sarrablo, que são fabricados

com elementos pré-fabricados secos, compostos de uma malha de ferro bidirecional e blocos

cerâmicos, servindo como elemento estrutural.

En Brasil existen avances cerámicos interesantes como los trabajos realizados por el arquitecto Joan Villá en la cubierta de la residencia universitaria de la Unicamp en São Paulo, para la que utilizó piezas dovela de extremada esbeltez construidas a pie de obra y que fueron colocadas con medios muy sencillos gracias a un montaje casi seco con apoyos en las uniones de las piezas, minimizando el uso de encofrados. (CHURTICHAGA in Arquitectura viva n. 116, p.34).

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Considerações Finais

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Richard Fouqué, em seu livro Building Knowledge in Architecture, defende a hipótese de que

precisamos investigar um número de aspectos que são específicos para a disciplina de arquitetura,

uma vez que estes podem fornecer os argumentos necessários para o estabelecimento de um

quadro coerente e construir uma base de conhecimento adequado para a profissão (FOUQUÉ,

2010).

Durante a maior parte de sua vida profissional, Joan Villà trabalhou em projetos habitacionais,

com ênfase na solução dos problemas sociais, aprendendo com a arquitetura espontânea das

periferias. Como arquiteto, propôs soluções construtivas que respeitassem as condições existentes

no local e, ao mesmo tempo, satisfizessem as necessidades do desenho, da modulação, da

racionalização e da qualidade dos espaços públicos, por meio de operações geométricas bem

definidas em tipologias clássicas, como o pátio interno e a simetria.

Precursor das assessorias técnicas no Brasil, Villá desempenhou um papel referencial,

deixando um importante legado de qualidade arquitetônica, construtiva e pedagógica.

A cerâmica armada mostra-se uma possibilidade de utilização interessante e pouco explorada

no Brasil, onde se percebe um certo fetiche na máxima utilização de materiais “modernos”, como o

concreto armado, o aço e o vidro.

No Brasil, foi Joan Villà, através da influência da arquitetura Íbero-americana - principalmente

através de Eladio Dieste - quem consagrou a técnica da cerâmica armada e concretizou em sua obra,

principalmente a da Moradia Estudantil da Unicamp, uma experiência de qualidade arquitetônica e

construtiva que merece ser mais estudada e replicada.

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Enquanto professor do curso de arquitetura e urbanismo, Villà utiliza, como didática, a

aplicação prática dos conhecimentos na vivência do aluno, a partir de modelos reduzidos da

realidade – por exemplo, maquetes com elementos construtivos. Desta forma, o aluno desenvolve

projetos com a visualização dos elementos necessários à composição arquitetônica, sem deixar de

perceber a interação entre a geometria projetiva e a modulação construtiva. Esse expediente

possibilita a interação entre o projeto e a obra - conforme experiência por mim compartilhada com

Villà na disciplina de projeto do Curso de Arquitetura da Belas Artes de São Paulo, no passado como

aluno e atualmente como colega.

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Anexo 1

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Figura 96 - Obras realizadas no Laboratório de Habitação da Unicamp.

Disponível em: POMPÉIA, Roberto Alfredo. "Os Laboratórios de Habitação

no ensino da arquitetura" - "Uma contribuição ao processo de formação do

arquiteto" tese apresentada no curso de Pós-Graduação da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006, ps. 107,

108 e 109.

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Anexo 2

Lista de figuras

Figura 1 - Foto: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 2 - Construções em adobe na aldeia no vale do Rheris, Marrocos. Disponível em: http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/arquitetura-de-terra-iii/. Acesso em: 17 de março de 2013.

Figura 3 - Desenho de Piranesi, ponte em tijolos. Foto: Jackson Dualibi, exposição Piranesi no Caixa Forum em Madri em 20 de abril de 2012.

Figura 4 - Gaudi, interior da cripta Guell, laje de tijolos. Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/45233994. Acesso em: 14 de Setembro de 2012.

Figura 5 - Abóbadas Núbias em construção, Arq. Hassan Fathy. Disponível em: http://boomer-cafe.net/version2/index.php/Architecture-des-annees-50/Hassan-Fathy-construire-avec-le-peuple.html. Acesso em: 13 de Setembro de 2012.

Figura 6 - Biblioteca de Exeter com fachada de Tijolos. Disponível em: http://arquitecturamashistoria.blogspot.com.br/2009/04/louis-kahn-exeter-miguel-angel-roca-los.html. Acesso em: 20 de outubro de 2012.

Figura 7 - Detalhe da verga de tijolos da biblioteca de Exeter. Disponível em: http://www.constructionphotography.com/Details.aspx?ID=1280&TypeID=1. Acesso em: 24 de Novembro de 2012.

Figura 8 - Robie House, projeto de F.L. Wright, com alvenarias de tijolos. Disponivel em : http://evilvince.com/wp-content/uploads/2008/01/Robie_House_Frank_Lloyd_Wright_2.jpg. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Figura 9 - Galeria de Entrada em tijolos, prefeitura de Saynatsalo. Disponível em : http://www.greatbuildings.com/cgibin/gbi.cgi/Saynatsalo_Town_Hall.html/cid_1131185026_Saynatsalo_2.html. Acesso em: 22 de outubro de 2012.

Figura 10 - Detalhe de fachada da casa experimental de Muuratsalo, Disponível em: http://www.galinsky.com/buildings/experimentalhouse/index.html. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

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Figura 11 - Museu de Mérida em tijolos. Disponível em: http://comunidad.uem.es/uemismore/category/prensa-4m. Acesso em 24 de outubro de 2012.

Figura 12 - Interior da Casa Ana Mariani, com alvenaria em tijolos. Disponível em: http://theurbanearth.files.wordpress.com/2008/07/e4848c1.jpg. Acesso em: 30 de Dezembro de 2012.

Figura 13 - Exterior da Casa Ana Mariani com alvenarias em tijolos. Disponível em: http://maragama.files.wordpress.com/2011/06/2008-07-28-morre-joaquim-guedes-em-se28886o-paulo-05.jpg. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Figura 14 - Tijolo cerâmico furado, Disponível em: http://www.solradiante.com.br. Acesso em: 26 de Julho de 2012.

Figura 15 - Periferia de São Paulo, favela da Vila Prudente. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.126/3659. Acesso em: 14 de maio de 2012.

Figura 16 – Túnel sob o rio Tamisa. Disponível em: http://www.engrailhistory.info/e027.html. Acesso em: 30 de Novembro de 2012.

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Figura 22 - Primeiras casas. Camargo, Monica Junqueira, "Arte como Construção". Disponível em: www.revistaau.com.br. Acesso em:10 de Setembro 2012, artigo publicado na revista AU edição 146 de maio de 2006.

Figura 23 – Joan Villà ministrando aula de cursinho, 1970. Foto do arquivo pessoal de Joan Villà.

Figura 24 – Reunião do Sindicato dos Arquitetos com Joan Villà (em pé, à direta), 1977. Foto do arquivo pessoal de Joan Villà.

Figura 25 - Joan Villà em reunião com a comunidade do Recanto da Alegria, 1983. Foto do arquivo pessoal de Joan Villà.

Figura 26- Professores e alunos do Laboratório da Habitação da Belas Artes de São Paulo em sua primeira formação de 1982. Foto do arquivo pessoal de Nabil Bonduki.

Figura 27 - Joan Villà (coordenador) com Eduardo Aquino (aluno) no LabHab, 1984. Foto do arquivo pessoal de Nabil Bonduki.

Figura 28 - Centro comunitário em cúpula de tijolos , no Recanto da Alegria em 1983. Foto do arquivo pessoal de Nabil Bonducki.

Figura 29 - Desenho elaborado por Joan Villà em entrevista no dia 20 de Setembro de 2012.

Figura 30 - teste do primeiro painel cerâmico no Lab/Hab da Belas Artes de São Paulo de 1982 a 1985, onde estão os professores Yopanan Rebello(a esquerda), Joan Villà (no centro) e Nabil Bonducki, entre as lideranças comunitárias. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 25 de Julho de 2012.

Figura 31 - Primeira casa experimental, utilizando o painel cerâmico na Unicamp em 1986. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 12 de Agosto de 2012.

Figura 32 - Segunda casa protótipo realizada na Unicamp em 1987. Disponível em: www.villachile.com.br, acesso em: 12 de Agosto de 2012.

Figura 33 - Jornal "Prestando Contas" de 7 de Julho de 1986. Fonte: arquivo pessoal de Joan Villá.

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Figura 34 - Conjunto Residencial de Socorro e Urbanização do Jacarezinho, obras de 1988. Disponíveis em: Villà, Joan. Construções / Joan Villà.

Figura 35 - Casa em Vila Flores e Cooperativa dos jornalistas de Cotia, obras de 1989. Disponível em: Villà, Joan. Construções / Joan Villà.

Figura 36 - Atelier do Laboratório de Habitação da Unicamp, obra de 1990. Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Figura 37 - Centro Integrado de Educação em Campinas, obra de 1989, Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Figura 38 - Museu de Ciência e Tecnologia em Bauru, obra de 1989. Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Figura 39 – Casa do Lago, obra de 1994. Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Figura 40 – Condomínio Residencial em Sertãozinho, e Casa de funcionários da Unicamp, obras de 1989, Disponível em: Villà, Joan. Construções Joan Villà.

Figura 41 - Moradia Estudantil da Unicamp, onde aparecem várias calhas abertas, saliências e reentrâncias, desenho de Jackson Dualibi sobre imagem da época da construção, Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 13 de Agosto de 2012.

Figura 42 - Forma curva feita com areia, para os painéis em catenária, na “Uzina” de pré-moldados de Nova Iguaçu. Disponível em: POMPÉIA, 2006, p. 73.

Figura 43 - Casa do Lago, 1984. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 24 de Dezembro de 2012.

Figura 44 - Painéis. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 30 de novembro de 2012.

Figura 45 - Forma de madeira para painel laje – finalização painel. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em: 29 de Novembro de 2012.

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Figura 46 - Montagem sobre "radier". Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em 30 de novembro de 2012.

Figura 47 - Painel. Desenho de Abner Mesquita.

Figura 48 - Painel cobertura. Disponível em: www.villachile.com.br. Acesso em 30 de novembro de 2012.

Figura 49 - Croquis dos painéis conforme dissertação de mestrado de Joan Villà p. 61.

Figura 50 - Obra de Louis Kahn, Indian Institute of Management. Disponível em: http://fuckyeahbrutalism.tumblr.com/post/29777488459/indian-institute-of-management-ahmedabad-india. Acesso em: 10 de fevereiro de 2013.

Figura 51 - Favela de Salvador. Disponível em: http://fineartamerica.com/featured/favelas-de-salvador-jorge-berlato.html. Acesso em: 03 de fevereiro de 2012.

Figura 52 - Moradia Estudantil da Unicamp. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 10 de Fevereiro de 2013.

Figura 53 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes pré-moldados cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. Desenho de Jackson Dualibi em 29 de Janeiro de 2013.

Figura 54 - Desenho de paramentos do esquema construtivo com componentes pré-moldados cerâmicos utilizados na Moradia Estudantil. Desenho de Jackson Dualibi em 28 de Janeiro de 2013.

Figura 55 - Plano Cerdá - Barcelona. Disponível em: www google earth. Acesso em: 30 de setembro de 2012.

Figura 56 - Desenho de 1983, elaborado no Lab/Hab da Belas artes de São Paulo, para a Vila Arco Íris no Grajaú, São Paulo. Imagem do arquivo pessoal de Nabil Bonduki.

Figura 57 - Conjunto Habitacional de Socorro, projeto de 1988, Disponível em: POMPÉIA, 2006 p. 98.

Figura 58 – Maquete da implantação geral - moradia estudantil. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 30 de setembro de 2012.

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Figura 59 – Maquete: detalhe da quadra - moradia estudantil. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 02 de outubro de 2012.

Figura 60 - Relação da moradia com a Unicamp - Disponível em http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-PT&tab=wl, acesso em 18 de março de 2013.

Figura 61 - Quadra. Desenho de Abner Mesquita.

Figura 62 - Cortes do desnível do terreno. Disponível em: Revista AU n. 22, ps.36 e 37 de Fev./Março de 1989.

Figura 63 - Esquema do canteiro de obras. Desenho elaborado por Joan Villà em entrevista realizada no dia 12 de Fevereiro de 2013.

Figura 64 - Pista coberta de fabricação de painéis. Disponível em: www.villachile.arq.br. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2013.

Figura 65 - Desenho de Joan Villà, com esquema do "vazio" da fábrica à praça e com a circulação de veículos e pedestres, realizado em entrevista no dia 12 de Fevereiro de 2013.

Figura 66 - Esquema de perspectivas. Desenho de Abner Mesquita.

Figura 67 - Agrupamento. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso 02 de outubro de 2012.

Figura 68 - Agrupamento. Desenho de Abner Mesquita.

Figura 69 - Unidade. Desenho de Abner Mesquita.

Figura 70 - Corte. Disponível em: Revista AU, numero 22, de 1989, p. 35.

Figura 71 - Desenho de corte do bloco cerâmico, com proporção entre cheios e vazios, desenho de

Jackson Dualibi.

Figura 72 - Desenho do vazio, da unidade habitacional. Desenho de Jackson Dualibi.

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Figura 73 - Desenho do vazio, da quadra. Desenho de Jackson Dualibi.

Figura 74 - Desenho do vazio, do conjunto. Desenho de Jackson Dualibi.

Figura 75 - Revestimento externo - Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 76 - Detalhe externo, alambrado e calçada. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 77 - Parede lateral da moradia com revestimento externo e infiltração de água. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 78 - Imagem da época da construção, onde aparecem várias calhas abertas. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 17 de Agosto de 2012.

Figura 79 - Detalhe calha. Foto de: Jackson Dualibi em 20 Agosto de 2012.

Figura 80 - Imagem recente com vegetação consolidada. Disponível em: http://www.villachile.arq.br. Acesso em: 30 de Setembro de 2012.

Figura 81 - Vegetação. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 82 - Pátio interno da Unidade. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 83 - Rua interna de pedestres. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 84 - Pátio interna da unidade habitacional. Foto de: Jackson Dualibi em 20 de Agosto de 2012.

Figura 85 - Residência na praia do Félix. Disponível em: www.villachile.arq.br, acesso em 13 de Fevereiro de 2013.

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Entrevista com Joan Villà realizada em 11 de setembro de 2012.

Entrevista com Joan Villà realizada em 12 de Fevereiro de 2013.