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CONTROLADOR FUZZY PARA UM ELETROÍMÃ DE APOIO À ADESÃO MAGNÉTICA DE UM ROBÔ ESCALADOR RICARDO S. VEIGA, MYRIAM R. DELGADO L.V.R. ARRUDA, FLÁVIO NEVES-JR, ANDRÉ S. DE OLIVEIRA, Universidade Tecnologica Federal do Paraná Av. 7 de setembro, 3165 Curitiba PR Brasil E-mails: {ricardolasca, myriamdelg}@gmail.com , {lvarruda, neves,andreoliveira}@utfpr.edu.br Abstract This paper presents the design of an electromagnet fuzzy controller to a climbing robot to prevent robot fall down. This robot has magnetic wheels designed to move over big industrial ferromagnetic surfaces, such us oil and gas storage tanks. The adhesion controller of magnetic wheels allows supporting robot weight, inspection equipment and an umbilical cord. How- ever if one or more wheels pass over a non-magnetic surface, the adhesion can be lost increasing the risk of a robot fall down. In this context this paper proposes a safe controller that adds an extra force to the robot’s body, preventing its fall. This controller is based on the electromagnet activation when an adhesion loss is detected. A fuzzy system keeps track of two variables, namely speed and degree of detachment of a robot and computes the force to be provided by the electromagnet. The controller develop- ment is presented and preliminary simulation results are included validating the fuzzy controller. Keywords Fuzzy Controller. Electromagnets. Climbing Robot. Adhesion Control Resumo Este artigo apresenta o projeto de um controlador fuzzy baseado em eletroímãs para evitar quedas em um robô escalador. O robô tem rodas magnéticas projetadas para se movimentar sobre grandes superfícies metálicas, como por exemplo esferas de armazenamento de gases. O controle de adesão das rodas permite que o robô suporte seu peso acrescido ao do equipamento a ser transportado e de um cordão umbilical. Entretanto se uma ou mais rodas passam sobre regiões não magnéticas, o robô pode perder aderência, aumentando o risco de queda. Neste contexto, o controlador fuzzy desenvolvido funciona como um controlador de segurança, baseado na ativação de um eletroimã quando se detecta uma perda de adesão, o que impede a queda do robô. O sistema fuzzy tem duas variáveis de entrada, a velocidade do robô e o grau de descolamento da superfície, e calcula como saída, a tensão necessária para o eletroímã gerar a força para compensar a perda de aderência e evitar a queda do robô. O projeto de controlador é detalhado bem como resultados preliminares de simulação são incluídos para validar o controlador proposto. . Palavras-chave Controlador fuzzy, eletroimã, robô escalador, controle de adesão 1 Introdução Nos últimos anos, as atividades de pesquisas e desenvolvimento na área de robótica móvel têm crescido significativamente a fim de desenvolver sistemas autônomos para aplicações em ambientes hostis aos seres humanos e para serviços de longa duração, tais como inspeção de instalações industriais, pulverização de agrotóxicos, pinturas e outras tarefas que demandem grande esforço físico (Mendonça et al, 2011). No caso de inspeção de grandes instalações industriais, como esferas e tanques de armazenamento de petróleo, gás e derivados, as atividades relacionadas além de insalubres, são demoradas, lentas, e requerem a utilização de equipamentos sofisticados tais que tomógrafos, medidores de ultrassom entre outros equipamentos para ensaios não destrutivos (END) (Bonacin et al, 2008). A completa automação dessas tarefas determina o uso de robôs ou veículos autônomos capazes de transportar com segurança e estabilidade todo o equipamento de END, bem como um sistema computacional embarcado capaz de processar a grande massa de dados resultantes do ensaio, selecionando as informações úteis que devem ser transmitidas aos responsáveis pela certificação da manutenção (Oliveira et al, 2012). Esses sistemas autônomos devem operar com baixa taxa de erro, boa precisão e com uma ampla gama de velocidades, sendo capazes de explorar grandes áreas, como por exemplo, o interior de uma esfera de GLP como a mostrada na figura 1. Figura 1. Esfera de armazenamento de GLP Neste contexto, o Laboratório de Automação e Sistemas de Controle Avançado (LASCA) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) tem desenvolvido protótipos de robôs autônomos para realizar a inspeção de cordões de solda em dutos e tanques de combustíveis (Luguesi et al, 2006), (Bonacin et al, 2008), (Oliveira et al, 2012), (Rovani, 2013), (Espinoza et al, 2013a e 2013b). Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 2999

Universidade Tecnologica Federal do Paraná E-mails ...que acionam as rodas. Quanto maior for a força no eletroímã, maior o arrasto causado no robô, exigindo mais força dos motores

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CONTROLADOR FUZZY PARA UM ELETROÍMÃ DE APOIO À ADESÃO MAGNÉTICA DE UM ROBÔ ESCALADOR

RICARDO S. VEIGA, MYRIAM R. DELGADO L.V.R. ARRUDA, FLÁVIO NEVES-JR, ANDRÉ S. DE OLIVEIRA,

Universidade Tecnologica Federal do Paraná

Av. 7 de setembro, 3165 Curitiba – PR Brasil

E-mails: {ricardolasca, myriamdelg}@gmail.com , {lvarruda, neves,andreoliveira}@utfpr.edu.br

Abstract This paper presents the design of an electromagnet fuzzy controller to a climbing robot to prevent robot fall down.

This robot has magnetic wheels designed to move over big industrial ferromagnetic surfaces, such us oil and gas storage tanks.

The adhesion controller of magnetic wheels allows supporting robot weight, inspection equipment and an umbilical cord. How-ever if one or more wheels pass over a non-magnetic surface, the adhesion can be lost increasing the risk of a robot fall down. In

this context this paper proposes a safe controller that adds an extra force to the robot’s body, preventing its fall. This controller is

based on the electromagnet activation when an adhesion loss is detected. A fuzzy system keeps track of two variables, namely speed and degree of detachment of a robot and computes the force to be provided by the electromagnet. The controller develop-

ment is presented and preliminary simulation results are included validating the fuzzy controller.

Keywords Fuzzy Controller. Electromagnets. Climbing Robot. Adhesion Control

Resumo Este artigo apresenta o projeto de um controlador fuzzy baseado em eletroímãs para evitar quedas em um robô

escalador. O robô tem rodas magnéticas projetadas para se movimentar sobre grandes superfícies metálicas, como por exemplo

esferas de armazenamento de gases. O controle de adesão das rodas permite que o robô suporte seu peso acrescido ao do equipamento a ser transportado e de um cordão umbilical. Entretanto se uma ou mais rodas passam sobre regiões não magnéticas,

o robô pode perder aderência, aumentando o risco de queda. Neste contexto, o controlador fuzzy desenvolvido funciona como

um controlador de segurança, baseado na ativação de um eletroimã quando se detecta uma perda de adesão, o que impede a queda do robô. O sistema fuzzy tem duas variáveis de entrada, a velocidade do robô e o grau de descolamento da superfície, e

calcula como saída, a tensão necessária para o eletroímã gerar a força para compensar a perda de aderência e evitar a queda do

robô. O projeto de controlador é detalhado bem como resultados preliminares de simulação são incluídos para validar o controlador proposto. .

Palavras-chave Controlador fuzzy, eletroimã, robô escalador, controle de adesão

1 Introdução

Nos últimos anos, as atividades de pesquisas e

desenvolvimento na área de robótica móvel têm

crescido significativamente a fim de desenvolver

sistemas autônomos para aplicações em ambientes

hostis aos seres humanos e para serviços de longa

duração, tais como inspeção de instalações

industriais, pulverização de agrotóxicos, pinturas e

outras tarefas que demandem grande esforço físico

(Mendonça et al, 2011).

No caso de inspeção de grandes instalações

industriais, como esferas e tanques de

armazenamento de petróleo, gás e derivados, as

atividades relacionadas além de insalubres, são

demoradas, lentas, e requerem a utilização de

equipamentos sofisticados tais que tomógrafos,

medidores de ultrassom entre outros equipamentos

para ensaios não destrutivos (END) (Bonacin et al,

2008).

A completa automação dessas tarefas determina

o uso de robôs ou veículos autônomos capazes de

transportar com segurança e estabilidade todo o

equipamento de END, bem como um sistema

computacional embarcado capaz de processar a

grande massa de dados resultantes do ensaio,

selecionando as informações úteis que devem ser

transmitidas aos responsáveis pela certificação da

manutenção (Oliveira et al, 2012). Esses sistemas

autônomos devem operar com baixa taxa de erro, boa

precisão e com uma ampla gama de velocidades,

sendo capazes de explorar grandes áreas, como por

exemplo, o interior de uma esfera de GLP como a

mostrada na figura 1.

Figura 1. Esfera de armazenamento de GLP

Neste contexto, o Laboratório de Automação e

Sistemas de Controle Avançado (LASCA) da

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

(UTFPR) tem desenvolvido protótipos de robôs

autônomos para realizar a inspeção de cordões de

solda em dutos e tanques de combustíveis (Luguesi

et al, 2006), (Bonacin et al, 2008), (Oliveira et al,

2012), (Rovani, 2013), (Espinoza et al, 2013a e

2013b).

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No desenvolvimento de robôs autônomos para a

inspeção de grandes estruturas (robôs escaladores)

um dos principais tópicos de interesse diz respeito

aos sistemas de adesão desses robôs. No atual

protótipo da UTFPR (Rovani, 2013), um sistema de

adesão baseado em rodas magnéticas com controle

ativo de tração foi desenvolvido o qual permite o

robô se locomover no interior de uma esfera levando

cargas que podem chegar até duas vezes o seu peso

como mostrado na figura 2.

Figura 2. Protótipo do robô LASCA/UTFPR

De acordo com Oliveira et al. (2012), a força

conjunta das rodas do atual protótipo supera

largamente o peso do robô e do equipamento que

venha a ser transportado. No entanto, não é possível

descartar a possibilidade de o robô perder adesão ao

atravessar regiões de instabilidade de força

magnética, por exemplo, áreas cobertas com uma

camada muito espessa de tinta ou cobertura plástica,

ou ainda a eventual presença de cabos, fios, chapas

de alumínio, e toda sorte de materiais onde a força

das rodas magnéticas não faria qualquer efeito sobre

a adesão do robô a superfície.

Para contornar esse problema, é desenvolvido

neste artigo um sistema de segurança baseado em um

eletroímã, que é acionado dinamicamente quando é

detectada uma redução na força de atração –

denominada descolamento – para evitar que o robô

venha a sofrer uma perda de adesão suficiente para

causar a sua queda. A técnica de acionamento do

eletroimã atualmente adotada leva em consideração

apenas o grau de descolamento, medido entre 0 e

100% por uma rede neural, cuja descrição é

apresentada em (Espinoza et al, 2013b). De acordo

com o valor do grau de deslocamento um valor de

tensão em volts é aplicado gerando uma força no

eletroimã.

Além do grau de descolamento inferido pelo

modelo neural ser impreciso, devido aos erros

inerentes ao sistema de medição e aos dados

utilizados para treinamento e validação dos modelos

neurais, também a velocidade do robô influi na perda

de adesão do robô. Esta perda de adesão por

velocidade não é computada no controlador de tração

apresentado em (Oliveira et al, 2012). Ensaios reais e

simulados (Espinoza et al, 2013b) têm mostrado que

a velocidade exerce uma influência não linear na

perda de adesão do sistema, além de também

apresentar imprecisões devido ao sistema de

medição.

O sistema de segurança apresentado neste artigo

pretende assim refinar o sistema de controle do

eletroímã em (Oliveira et al, 2012), propondo a

utilização e implementação de uma técnica de

controle nebuloso – controle fuzzy. Usando técnicas

de controle fuzzy, uma segunda entrada é incorporada

ao sistema de acionamento do eletroimã, levando em

consideração além do grau de descolamento, também

a velocidade em que o robô se encontra.

O artigo é organizado como segue: na seção 2 é

descrito brevemente o controle do eletroimã proposto

em (Oliveira et al, 2012) e é feito um pequeno

levantamento bibliográfico dos sistemas de controle

de eletroimã existentes na literatura. O controlador

fuzzy desenvolvido é apresentado na seção 3. Os

resultados de simulação são apresentados e

discutidos na seção 4. Finalmente a seção 5 conclui o

artigo e endereça os trabalhos futuros.

2 Controle de adesão do robô LASCA/UTFPR

A aderência do robô durante um deslocamento dentro

da esfera de gás depende da relação entre a força

gravitacional (Gz) e a força normal (FN) causada pela

superfície de contato. Como usualmente os robôs

móveis têm graus de liberdade paralelos à superfície

de contato, a força normal pode diminuir a adesão.

Para evitar este efeito, imãs permanentes podem ser

utilizados para cancelar a força gravitacional. No

entanto como discutido anteriormente, distúrbios

durante a navegação podem temporariamente reduzir

a força magnética de adesão e causar a queda do

robô. No controle de adesão do robô

LASCA/UTFPR, além da inclusão de uma força

passiva causada por imãs permanentes para garantir a

adesão em situações normais (FP), uma força

adicional é obtida através de eletroímãs que são

acionados em situações de descolamento (distúrbios)

(Oliveira et al, 2012). O equilíbrio de forças é

mostrado na figura 3 e dado pela equação (1):

)()()()()1( tFtFtFFtF DAPNAd (1)

onde FAd(t) é a força de adesão, FN(t) é a força

normal, que depende da posição atual (t) do robô na

esfera, Fp(t) é a força dos imã permanentes FA(t) é a

força fornecida pelo eletroímã e FD(t) é a perda de

força representada pelo distúrbio.

Em (Espinoza et al, 2013b), a força calculada

pelo eletroímã deve garantir uma força de adesão

mínima a partir da estimação do grau de

descolamento (relacionado com FD) calculado por

um modelo neural. Esta força mínima deve ser tal

que impeça a queda do robô, no entanto ela interfere

no controle de tração do robô, forçando os motores

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que acionam as rodas. Quanto maior for a força no

eletroímã, maior o arrasto causado no robô, exigindo

mais força dos motores (Oliveira et al, 2012). Assim,

o controlador fuzzy desenvolvido neste artigo, deve

calcular o valor da força fornecida pelo eletroímã a

partir da estimação de descolamento e do valor de

velocidade do robô, garantido que essa força seja o

suficiente para evitar a queda do robô.

Figura 3. Balanço de força para o controle ativo de adesão

A principal aplicação de controladores para

eletroimãs, incluindo controladores fuzzy, existente

na literatura diz respeito a sistemas de levitação

magnética (Golob e Tovornik, 2003), (Matos et al,

2008) e (Rech e Campo, 2011). Nesses trabalhos, os

eletroímãs são posicionados acima de um corpo de

metal ferromagnético, normalmente uma pequena

esfera, e têm como missão controlar e manter a altura

da esfera estável, mesmo que este corpo metálico

sofra interferências de vento, toques, etc.

O controlador de um sistema de levitação

magnética e o controlador proposto neste artigo

buscam o mesmo objetivo, a saber, o controle de

tensão em um eletroímã a fim de manter uma força

magnética estável. No entanto, as caracteristicas

dinâmicas não lineares de ambas as aplicações são

diferentes, resultando em abordagens diferentes para

tratar a variável velocidade.

Por exemplo, em alguns controladores para

levitação, a variável de velocidade usada é aquela de

aproximação ou afastamento entre o corpo metálico e

o eletroímã, como mostrado em (Matos et al, 2008) e

na 4(a). No caso do sistema de controle aqui

proposto, a velocidade considerada é a do

deslocamento do robô em uma superfície metálica,

mostrado na 4(b), tendo, portanto uma aplicação

diferente nos cálculos desse projeto.

(a) (b)

Figura 4. Indicação de velocidade em a) artigos referenciados e b) no robô LASCA/UTFPR

3 Controle fuzzy do eletroimã

O controlador fuzzy aqui desenvolvido tem

como variáveis de entrada a velocidade do robô e o

percentual de descolamento a cada instante de tempo,

e como variável de saída a tensão em Volts a ser

aplicada no eletroímã a qual gerará uma força FA(t)

que compensará a perda de adesão conforme equação

(1). Espera-se que o controlador proposto seja mais

robusto e confiável do que a compensação estática

atualmente executada, já que o controlador fuzzy

leva em conta a velocidade do robô.

3.1 Modelo do eletroimã

É interessante notar que a força no eletroímã

FA(t) nem sempre é linearmente proporcional à

tensão a ele aplicada. Isto é dado pela curva de

resposta do eletroímã fornecida pelo fabricante.

Neste artigo, esta curva foi aproximada pelo modelo

de quarta ordem dado na equação (2):

(2)

Este modelo foi obtido por extrapolação usando

os pontos no início da curva, entre 0 e 4v, e o ponto

final, de 12V, através de um modelo de força para

eletroímãs que funcionam como travas de portas e

são aplicados na indústria de segurança.

Para ilustrar a acurácia do modelo polinomial

na equação (2), a figura 5 mostra o gráfico de

resposta de um eletroímã real, ou seja, um gráfico da

força (kgf) gerada pelo eletroimã em função da

tensão aplicada (V). Nesta figura, a linha fina

corresponde ao modelo polinomial (eq. 2) usado

neste trabalho como aproximação do comportamento

do eletroimã.

Figura 5 – Modelo não-linear de funcionamento do Eletroímã

3.2 Estratégia de controle

A estratégia para acionamento do sistema de

segurança através de eletroímã é simples e obedece

ao seguinte procedimento, a ser realizado para uma

trajetória de inspeção a qual é composta por uma lista

de setpoints de velocidades:

1. Ler o próximo setpoint da velocidade

2. Enquanto não atingir o setpoint desejado,

verificar a existência de descolamento no trajeto.

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3. Se for detectado um descolamento, acionar o

controlador fuzzy, que calcula a tensão no

eletroímã, correspondente a um nível de força a

ser aplicado no robô.

4. Executar os testes de segurança. Caso seja

positivo, continuar a trajetória (volta ao passo 2).

Em caso negativo “travar” o robô.

5. Quando o set point de velocidade for alcançado,

retornar ao passo 1, e considerar o próximo

setpoint. Caso seja o último, encerra-se a tarefa

de inspeção.

O teste de segurança realizado no passo 4 acima

é baseado no balanço de forças da equação (1): em

cada instante, a força total (somatório das forças de

atração de cada roda, e do eletroímã, subtraídos do

descolamento calculado) é comparada ao peso total

do robô incluindo a carga. Se a força calculada é

superior ou igual ao peso, o sistema é considerado

válido. Se, em qualquer momento, a força total é

inferior ao peso do robô, o robô é travado e um

procedimento de emergência é ativado.

3.3 Controlador Fuzzy

O controlador fuzzy foi implementado em

MATLAB®, utilizando o modelo Mamdani e um

mecanismo de inferência baseado nos seguintes

operadores:

Agregação dos Antecedentes: mínimo (and)

Implicação: mínimo

Agregação das Regras: máximo

Método de defuzificação: centroide

3.3.1 Base de dados

As funções de pertinência apresentadas nas

figuras 6 e 7 foram adotadas para as entradas, a partir

de vários experimentos realizados.

Na variável velocidade, é possível perceber

claramente na figura 7 dois conjuntos fuzzy mais

específicos (com suportes mais estreitos) associados

aos termos linguísticos Velocidade de Manobra e

Velocidade de Leitura. Esses valores estão

relacionados às restrições de projeto mecânico do

robô o qual não permite que ele faça curvas muito

fechadas. Assim uma Velocidade de Manobra é

necessária para que o robô consiga abranger toda a

área a percorrer. Por outro lado, a Velocidade de

Leitura corresponde ao período de operação dos

equipamentos de inspeção. Esse período demanda

uma maior precisão dos controladores de velocidade,

uma vez que os sistemas de inspeção END devem

operar em velocidades pré-determinadas, precisas e

quase sempre, baixas.

Para a saída, são especificadas seis funções de

pertinência conforme ilustra a figura 8. A partição

mostrada na figura 8 foi adotada devido ao

comportamento da resposta eletromagnética do

eletroímã, representado pelo modelo da equação (2) e

ilustrado na figura 5. Para tensões menores que 1

volt, a força apresentada é desprezível, então para

esses valores de tensão, o eletroimã é considerado

não ativado de onde a função ‘desativado’. Para

tensões no intervalo entre 1V e 8V, o dispositivo

apresenta a maior variação na força, então nesse

intervalo foram dispostas a maioria das funções de

pertinência. Para tensões acima de 8V, a variação de

força do eletroímã não acompanha mais a variação na

tensão, mantendo-se estável em seu máximo. Assim,

para valores de tensões entre 8 e 12V, a função de

pertinência ‘pleno’ representa a força magnética

máxima do eletroímã.

Figura 6 – Funções de pertinência da variável deslocamento (%)

Figura 7 – Funções de pertinência da variável velocidade

(rpm/100)

Figura 8 - Tensão no eletroímã (V)

3.3.2 Base de regras

A base de regras do controlador fuzzy proposto

neste trabalho está na tabela 1 a seguir.

A superfície não-linear gerada pelo controlador

fuzzy proposto é mostrada na figura 9, a qual reflete

bem a influência da velocidade, e não apenas o grau

de descolamento do robô, no valor da tensão e por

extensão da força que deve ser gerada pelo eletroimã

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a fim de evitar a queda do robô. O sistema de

controle proposto resulta em uma estratégia de

controle mais suave e eficiente do que aquela

apresentada em trabalhos anteriores (Espinoza,

2013b) e (Oliveira, 2012).

Tabela 1- Base de Regras

Figura 9 - Superfície de saída do sistema

4 Resultados de simulação

A fim de validar o sistema de segurança

proposto, um conjunto de simulações com

combinações aleatórias de valores de velocidades e

deslocamento foi realizado. O sistema simulado foi

montado de acordo com a topologia mostrada na

figura 10.

Figura 10 - Topologia do sistema de ensaios

De acordo com a estratégia de acionamento do

eletroímã discutida na seção 3, o gerador de

trajetórias lê o conjunto de velocidades desejadas de

um arquivo predefinido, e gera aleatoriamente um

sinal aleatório do tipo PRBS (Pseudo Random Binary

Sequence), representando as áreas onde ocorrem os

descolamentos, com intensidade, variando de 0 a

100%. Esses distúrbios também podem ser fixados

em um valor escolhido, de acordo com a situação que

se quer simular, ou ainda podem ser lidos

diretamente do estimador neural implementado em

(Espinoza, 2013b).

Os resultados das diversas simulações são

apresentados e comentados a seguir. Para cada

simulação, os gráficos das forças envolvidas seguem

a legenda de cores dada na figura 11.

Figura 11 - Legenda de cores para os gráficos

Convém notar que em todos os gráficos de

força obtidos para os diversos deslocamentos fixos,

existe uma linha preta correspondente a uma força de

1200N. Este limiar representa o peso máximo do

robô+carga, sendo o limitante inferior para a força

resultante total calculada na equação (1). Caso a

força resultante ultrapasse o limiar inferior, o sistema

será invalidado. Este limiar corresponde ao passo 4

do teste de segurança discutido na seção 3 para a

estratégia de acionamento do eletroimã.

Para manter os testes coerentes, a mesma

trajetória do robô foi mantida em todas as

simulações. O gráfico mostrando a evolução (lista de

set-points) da velocidade ao longo do tempo é dado

na figura 12.

Figura 12 – set-points de velocidade ao longo da trajetória.

Nesta figura, o trajeto escolhido para os testes

consiste de uma etapa em que a velocidade inicial é

seguida por um período de aceleração até atingir a

velocidade máxima, quando então o robô desacelera

para uma velocidade de leitura (durante a qual seriam

realizadas as inspeções) até parar. Em seguida, o

robô retoma a curva inicial de velocidade, acelerando

até a velocidade máxima, voltando para a velocidade

de leitura, reacelerando para atingir a máxima

velocidade novamente e finalmente de volta à

velocidade inicial e então se encerra o teste.

Entre os trechos de velocidade definida estão as

curvas de aceleração e frenagem do robô. Durante

essas curvas, a velocidade instantânea é modelada

pelas funções de pertinência da figura 7 que

correspondem aos predicados ‘Aceleração Baixa’ e

‘Aceleração Alta’.

O desempenho do controlador fuzzy depende

do quanto ele pode predizer corretamente o valor de

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tensão para induzir a força necessária (equação 2)

para suportar o peso do robô a partir do grau do

descolamento e da velocidade do robô. Vale salientar

que o controlador deve sempre manter a força

mínima necessária no eletroímã, visando não

somente impedir a queda do robô – objetivo principal

- mas também não interferir em demasia na força dos

motores das rodas. Isto porque quanto maior a força

no eletroímã, mais o arrasto que ele causa no robô,

exigindo mais força dos motores. Além disso,

situações de arrasto podem danificar a proteção da

superfície metálica da esfera de GLP.

4.1 Cenário com descolamento fixo

A primeira simulação foi realizada para um

descolamento fixo de 30% da força de atração total

das rodas. Este deslocamento indica que uma roda se

encontra totalmente descolada da superfície (perda de

25% da adesão) e que outra roda qualquer perdeu 5%

de adesão. Os resultados obtidos para as forças são

mostrados na figura 13. O controlador é capaz de

manter o robo aderido à superfície mesmo em

momentos críticos da trajetória, como por exemplo

nos instantes acima de 150s, quando o robô se

encontra na parte superior do duto e a força

gravitacional atua no sentido de descolá-lo.

Figura 13 - Descolamento fixo em 30%

4.2 Cenários com descolamentos variáveis

Na sequência, as simulações foram geradas

considerando-se o descolamento variável. As figuras

14, 15 e 16, ilustram o descolamento, em verde,

gerado aleatoriamente, a partir de uma PRBS.

Figura 14 - Descolamento aleatório I

Figura 14 - Descolamento aleatório II

Figura 16 - Descolamento aleatório III

Como é possível notar, em nenhum dos casos

testados (figuras 14 a 16), o robô perdeu força de

adesão abaixo do nível crítico (linha pontilhada

preta). Cabe aqui também ressaltar que o controlador

manteve a força mínima necessária no eletroímã,

garantindo como especificado um menor arrasto do

robô, exigindo menor força dos motores.

A fim de ilustrar o comportamento completo do

robô durante um experimento (ensaio III), a figura 17

mostra os gráficos de Velocidade (em rpm do

motor/100) durante a trajetória desenvolvida pelo

robô, o descolamento em % no trajeto, a tensão do

eletroímã (em V), gerada pelo controlador fuzzy, e a

força correspondente (em N) gerada pelo eletroímã.

Figura 1 – Ensaio III: (a) Velocidade, (b) Descolamento, (c)

Tensão no eletroimã, (d) Força do eletroimã

5 Conclusão

O sistema de segurança baseado em eletroimã

proposto mostrou-se satisfatório para os casos

ensaiados. A grande dificuldade no projeto desse

controlador fuzzy foi definir uma base de

conhecimento (dados e regras) consistente com o

problema tratado, o qual só foi conseguido através de

(a)

(b)

(c)

(d)

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extensas simulações das quais os 4 ensaios

apresentados neste artigo, são ilustrativos.

A curva de resposta do eletroímã usada neste

trabalho foi levantada a partir de modelos existentes

para travas de segurança baseadas em eletroimãs.

Esses modelos apesar de realizarem uma boa

aproximação do comportamento do eletroímã real,

são modelos estáticos e a aplicação aqui discutida é

dinâmica, o que pode levar a imprecisões e ou

inconsistência no modelo utilizado. Assim levantar a

curva completa do eletroímã atualmente em uso é

necessário para o correto dimensionamento das

funções de pertinência de saída.

No futuro, o sistema como um todo deverá ser

submetido a novos testes, incluindo situações reais

usando o robô e sistemas eletrônicos para controle de

tensão, a fim de comprovar o bom desempenho do

controlador fuzzy apontado pelas simulações. Esse

mecanismo de controle pode vir a ser usado no robô

real, tanto como apoio ao sistema já existente quanto

como substituto completo daquele.

Outros pontos que também deverão ser

investigados na continuidade deste trabalho

envolvem a adição de outras entradas com o objetivo

de prover um controle mais robusto, ou ainda o

ajuste da base de regras para incluir descolamentos

muito grandes em velocidades mais baixas.

Agradecimentos

Este trabalho recebeu o apoio financeiro da Agência

Nacional do Petróleo (ANP) e do CTPetro /

Financiadora de Estudos e Projetos através do

programa de recursos humanos para o setor de

petróleo e gás natural - UTFPR/PRH10.

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