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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR
UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN
CAMPUS DE CURITIBA
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PS-GRADUAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA
E DE MATERIAIS PPGEM
LEANDRO LOURENO VIEIRA DA ROCHA
MODELAGEM DO REINCIO DO ESCOAMENTO DE
UM FLUIDO DE PERFURAO TIXOTRPICO
CURITIBA
AGOSTO 2010
LEANDRO LOURENO VIEIRA DA ROCHA
MODELAGEM DO REINCIO DO ESCOAMENTO DE
UM FLUIDO DE PERFURAO TIXOTRPICO
Dissertao apresentada como requisito parcial
obteno do ttulo de Mestre em Engenharia,
do Programa de Ps-Graduao em
Engenharia Mecnica e de Materiais, rea de
Concentrao em Engenharia Trmica, do
Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao,
do Campus de Curitiba, da UTFPR.
Orientador: Prof. Cezar O. R. Negro, PhD.
Co-orientador: Prof. Admilson T. Franco, Dr.
CURITIBA
AGOSTO 2010
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao R672 Rocha, Leandro Loureno Vieira da
Modelagem do reincio do escoamento de um fluido de perfurao tixotrpico / Leandro Loureno Vieira da Rocha. 2010.
176 f. : il. ; 30 cm
Orientador: Cezar Otaviano Ribeiro Negro Co-orientador: Admilson Teixeira Franco Dissertao (Mestrado) Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Programa de
Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais, Curitiba, 2010. Bibliografia: f. 157-163
1. Poos de petrleo Fluidos de perfurao. 2. Poos de petrleo Perfurao. 3.
Poos de petrleo Modelos matemticos. 4. Engenharia do petrleo. 5. Engenharia mecnica Dissertaes. I. Negro, Cezar Otaviano Ribeiro, orient. II. Franco, Admilson Teixeira, co-orient. III. Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais. III. Ttulo.
CDD (22. ed.) 620.1
Biblioteca Central da UTFPR, Campus Curitiba
TERMO DE APROVAO
LEANDRO LOURENO VIEIRA DA ROCHA
MODELAGEM DO REINCIO DO ESCOAMENTO DE
UM FLUIDO DE PERFURAO TIXOTRPICO
Esta Dissertao foi julgada para a obteno do ttulo de mestre em engenharia,
rea de concentrao em engenharia de cincias trmicas, e aprovada em sua
forma final pelo Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de
Materiais.
_________________________________
Prof. Giuseppe Pintade, D.Sc.
Coordenador de Curso
Banca Examinadora
______________________________ ______________________________
Cezar Otaviano Ribeiro Negro, PhD. Francisco Ricardo Cunha, PhD.
UTFPR UnB
______________________________ ______________________________
Andr Leibsohn Martins, Dr. Rigoberto Eleazar M. Morales, Dr.
CENPES/PETROBRAS UTFPR
Curitiba, 26 de Agosto de 2010
Aos meus pais, Jazomar e Lucia Helena, que priorizam a
competncia profissional e a sabedoria de seus filhos.
Estas duas pessoas, com muita cautela, discernimento,
bom senso e dedicao estiveram ao meu lado, me
encorajando nas horas difceis e me aplaudindo nos
momentos de glria. Obrigado por serem meus pais,
profissionais corretos e competentes, fonte de inspirao,
de apoio e de ensino dirio.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Cezar Otaviano Ribeiro Negro, Ph.D., orientador deste trabalho, pelo
permanente acompanhamento, pelo apoio e pela amizade. Ao Prof. Admilson Teixeira
Franco, D.Sc., co-orientador desta dissertao, pelas sugestes e crticas sempre construtivas.
Aos colegas de mestrado pela valiosa participao que tiveram no desenvolvimento
deste trabalho, fornecendo informaes e sugestes. A eles, que sempre me ajudaram na
busca de uma melhor dissertao, meus sinceros agradecimentos. Em especial ao colega
Gabriel Merhy de Oliveira que dedicou parte do seu tempo para me ajudar quando acessava
seu computador remotamente para executar as simulaes.
Aos membros do Laboratrio de Cincias Trmicas, comandados pelos orientadores
e pelos Professores Luciano Fernando dos Santos Rossi, D.Sc., Raul Henrique Erthal, M.Sc.,
Rigoberto Eleazar Melgarejo Morales, D.Sc., e Silvio Luiz de Mello Junqueira, D.Sc.
A todas as pessoas da UTFPR que me apoiaram, sejam eles funcionrios, professores
ou alunos, de graduao ou de mestrado. Agradeo pela amizade, suporte e constante
incentivo.
Ao Programa de Recursos Humanos PRH-10 da Agncia Nacional do Petrleo e
PETROBRAS, que disponibilizaram os recursos financeiros e tcnicos.
Ao Grupo de Reologia da PUC-RJ, o qual me acolheu por um ms e proporcionou a
realizao dos testes experimentais, primordiais para a realizao do projeto. Ao coordenador
Paulo Roberto de Souza Mendes, Ph.D. e ao membro do grupo Flvio Henrique Marchesini,
M.Sc., meus sinceros agradecimentos.
Aos membros do Centro de Pesquisas da PETROBRAS (CENPES), o Qumico de
Petrleo Roni Abensur Gandelman, Eng., e o Consultor Snior Andr Leibsohn Martins,
D.Sc., que ajudaram fornecendo relevantes informaes e amostras de fluido de perfurao
para os testes experimentais.
banca examinadora desta dissertao, disponibilizando seu precioso tempo na
anlise prvia deste texto e na presena na defesa do presente trabalho.
A todos os meus familiares, agradeo por todo o apoio e encorajamento, decisivos
principalmente para a superao dos momentos mais difceis. Em especial minha nova
famlia, composta pela minha querida esposa Alina e meu doce filho Daniel, os quais, mais do
que ningum, tiveram que conviver com um mestrando por vezes ausente e cheio de
problemas a resolver. No poderia deixar de citar meu pai e professor Jazomar Vieira da
Rocha que me auxiliou na elaborao deste trabalho.
Por fim, agradeo a Deus, por todos os caminhos que pelas suas sbias mos foram
abertos neste importante perodo de minha vida, assim como pela sua constante beno e
proteo.
Vrios so aqueles que colaboraram de algum modo, seja de forma direta ou indireta,
para o desenvolvimento deste trabalho e que, acima no so nominalmente citados. A todos,
meus sinceros agradecimentos.
Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de
pensar, mergulho em profundo silncio, e eis que a
verdade se revela.
(Albert Einstein)
VIEIRA DA ROCHA, Leandro Loureno, MODELAGEM DO REINCIO DO
ESCOAMENTO DE UM FLUIDO DE PERFURAO TIXOTRPICO, 2010
Dissertao (Mestrado em Engenharia) - Programa de Ps-graduao em
Engenharia Mecnica e de Materiais, Universidade Tecnolgica Federal do Paran,
Curitiba, 154p.
RESUMO
O fluido de perfurao utilizado pela indstria petrolfera um fluido altamente complexo e
desenvolvido para suprir determinadas caractersticas necessrias para que se tenha o controle na
perfurao de um poo. Dentre essas caractersticas esto carrear os cascalhos provenientes da
perfurao de formaes rochosas e sustent-los no momento de uma parada na perfurao. Para isto,
o fluido de perfurao projetado para gelificar gradativamente quando no h cisalhamento aplicado
sobre ele. A esta propriedade d-se o nome de tixotropia, a qual definida como um decrscimo
contnuo da viscosidade com o tempo quando um escoamento aplicado a uma amostra que tenha
estado previamente em repouso e a subseqente recuperao da viscosidade no tempo quando o
escoamento descontinuado. Quando o escoamento ento reiniciado, o gel quebrado e picos de
presso so observados, os quais podem ser suficientes para comprometer a estabilidade do poo ou
at fraturar a formao nas imediaes do poo. Neste trabalho realizada uma reviso bibliogrfica
sobre o fenmeno da tixotropia e sobre os modelos utilizados para prever o comportamento destes
tipos de materiais. A partir deste estudo bibliogrfico, encontram-se possveis modelos candidatos para
ajustar reologia de um fluido de perfurao sinttico fabricado pela PETROBRAS e, aps escolhido
o modelo, modela-se os testes realizados com este fluido atravs de mtodos de ajuste. Em seguida,
proposto um modelo matemtico do escoamento plenamente desenvolvido de um material tixotrpico
com o intuito de analisar o comportamento deste fluido em um escoamento simplificado e realizar
uma anlise de sensibilidade do problema para os casos em que se impe uma presso constante ou
uma vazo constante na entrada de uma seo de tubulao preenchida totalmente com o fluido
gelificado e em repouso. Aps isso, outro modelo mais complexo proposto, o qual engloba o reincio
do escoamento do fluido de perfurao gelificado em um tubo e do qual so obtidos resultados e estes
so analisados. Nestes resultados esto anlises de estabilidade numrica, comparaes com o
escoamento de fluido newtoniano e de Bingham e, por ltimo, estudos de caso adicionais so
estudados.
Palavras-chave: Tixotropia, Fluido de Perfurao, Modelagem Matemtica
VIEIRA DA ROCHA, Leandro Loureno, MODELAGEM DO REINCIO DO
ESCOAMENTO DE UM FLUIDO DE PERFURAO TIXOTRPICO, 2010
Dissertao (Mestrado em Engenharia) - Programa de Ps-graduao em
Engenharia Mecnica e de Materiais, Universidade Tecnolgica Federal do Paran,
Curitiba, 154p.
ABSTRACT
The drilling fluid used by the oil industry is a highly complex fluid, developed to provide
some characteristics necessary to control the well drilling. Carrying rock fragments originated from
the drilled formation and supporting them during an operational break are two of many functions from
these fluids. To accomplish these features, the drilling fluid is developed to gradually gelify when it is
not subjected to shear stress. This property is named thixotropy, which is defined as a continuous
decrease of viscosity with time when flow is applied to a sample that has been previously at rest and
the subsequent recovery of viscosity in time when the flow is discontinued (Mewis & Wagner, 2009).
When the flow is restarted, the gel is broken and a high pressure peak is observed, which may
compromise the well stability and even fracture the rock formation around the well. In this sense, in
this work it is carried out a bibliographical review concerning the thixotropy phenomenon and the
models used to predict the behavior of this sort of materials. Subsequently, some models are chosen as
candidates to adjust the rheology of a sintetic drilling fluid manufactured by PETROBRAS and, after
judging the best model for this task, the tests performed with this fluid are modeled through adjust
methods. Then, a mathematical model for the fully developed flow of a thixotropic fluid is proposed in
order to analyze the behavior of this kind of fluid on a simplified flow and to perform sensibility
analysis for two different cases: a suddenly step change in pressure at pipe inlet and a suddenly step
change in velocity at the same position. On both cases the pipe is totally filled with gelified thixotropic
fluid at rest. Finally, another more complex model is proposed to represent the gelified fluid flow
restart in a pipe. Using this model, an analysis of numerical stability, a comparison with the flow of a
Newtonian fluid and a Bingham fluid and additional cases are investigated.
Keywords: Thixotropy, Drilling Fluid, Mathematical Modeling
SUMRIO
Lista de Figuras ..................................................................................................................................................... 11
Lista de Tabelas..................................................................................................................................................... 15
Lista de Abrevisturas e Siglas ............................................................................................................................... 16
Lista de Smbolos .................................................................................................................................................. 17
1 Introduo.......................................................................................................................................... 22 1.1 A Perfurao de Poos de Petrleo.................................................................................................... 22
1.1.1 O Fluido de Perfurao...................................................................................................................... 25 1.2 Tixotropia .......................................................................................................................................... 27 1.3 Problema............................................................................................................................................ 28 1.4 Objetivos............................................................................................................................................ 28 1.5 Estrutura do Trabalho ........................................................................................................................ 29
2 Reviso Bibliogrfica ........................................................................................................................ 30 2.1 Reologia............................................................................................................................................. 30 2.2 Tixotropia .......................................................................................................................................... 34
2.2.1 Evoluo do Conceito........................................................................................................................ 34
2.2.2 Quantificao da Tixotropia .............................................................................................................. 36
2.2.3 Modelagem ........................................................................................................................................ 40 2.3 Modelagem Numrica do Escoamento de Material Tixotrpico ....................................................... 51
3 Resultados Experimentais: Escolha e Ajuste do Modelo de Tixotropia ............................................ 54 3.1 Resultados Experimentais.................................................................................................................. 54
3.1.1 Especificao da Amostra.................................................................................................................. 56
3.1.2 Influncia da Temperatura ................................................................................................................. 58
3.1.3 Influncia do Tempo de Repouso ...................................................................................................... 60
3.1.4 Influncia da Taxa de Cisalhamento.................................................................................................. 62 3.2 Escolha do Modelo de Tixotropia...................................................................................................... 64
3.2.1 Modelo de Toorman (1997)............................................................................................................... 65
3.2.2 Modelo de Houska (1980) apud Mewis & Wagner (2009) ............................................................... 66
3.2.3 Modelo de Dullaert & Mewis (2006)................................................................................................. 68 3.3 Ajuste do Modelo de Tixotropia de Dullaert & Mewis (2006).......................................................... 70
4 Escoamento Plenamente Desenvolvido de um Material Tixotrpico ................................................ 77 4.1 Formulao do Problema................................................................................................................... 77 4.2 Discretizao ..................................................................................................................................... 80 4.3 Anlise de Sensibilidade da Malha .................................................................................................... 83
4.4 Anlise de Sensibilidade para o Gradiente de Presso Imposto na Tubulao .................................. 90 4.5 Anlise de Sensibilidade para a Vazo Imposta na Entrada da Tubulao........................................ 98 4.6 Consideraes Finais ....................................................................................................................... 101
5 Modelagem Matemtica do Escoamento do Fluido Gelificado....................................................... 102 5.1 Modelo Matemtico......................................................................................................................... 102
5.1.1 Condies Iniciais............................................................................................................................ 106
5.1.2 Condies de Contorno.................................................................................................................... 108 5.2 Metodologia de Soluo .................................................................................................................. 109
5.2.1 Discretizao das Equaes Governantes ........................................................................................ 109
5.2.2 Fluxograma da Soluo Iterativa ..................................................................................................... 115
6 Resultados........................................................................................................................................ 117 6.1 Formato de Apresentao dos Resultados ....................................................................................... 117 6.2 Escolha da Malha Espacial .............................................................................................................. 118 6.3 Comparao com o Escoamento de Fluido Newtoniano e de Bingham .......................................... 128 6.4 Estudos de Casos Adicionais ........................................................................................................... 139 6.5 Consideraes Finais ....................................................................................................................... 147
7 Concluses e Sugestes para Trabalhos Futuros ............................................................................. 149
Produo Cientfica no Perodo 2008 2010 ...................................................................................................... 153 Referncias ......................................................................................................................................................... 157
Apndice A Anlise de Sensibilidade de Malha do Modelo de Dullaert & Mewis (2006) Discretizado ......... 164 Apndice B Cdigo em Fortran do Modelo Resolvido no Captulo 4.............................................................. 166 Apndice C Cdigo em Fortran do Modelo Proposto no Captulo 5................................................................ 168 Apndice D Soluo Analtica do Modelo Simplificado da Seo 6.3 ............................................................ 174
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Esquema simplificado do sistema de circulao durante a perfurao de um poo terrestre. ........... 24
Figura 2.1 Diferentes comportamentos de materiais no-newtonianos independentes do tempo sob
cisalhamento. ............................................................................................................................................... 32
Figura 2.2 Exemplo de loops de um teste de histerese feito em um material tixotrpico................................... 38
Figura 2.3 Exemplo de resposta de um fluido tixotrpico gelificado em um experimento de inicializao. ..... 39
Figura 3.1 Esquema dos testes de inicializao realizados................................................................................. 55
Figura 3.2 Tenso de cisalhamento e viscosidade aparente do fluido de perfurao 25C, obtidos dos testes de
equilbrio...................................................................................................................................................... 58
Figura 3.3 Influncia da temperatura do material nas evolues temporais (a) da tenso de cisalhamento e (b)
da viscosidade aparente para um tempo de repouso de 600s e uma taxa final de cisalhamento de 10s1. ... 59
Figura 3.4 Relao entre os picos de tenso (adimensionalizados em funo do valor 25C) e a temperatura
da amostra. ................................................................................................................................................... 60
Figura 3.5 Influncia do tempo de repouso do material nas evolues temporais (a) da tenso de cisalhamento e
(b) da viscosidade aparente para uma temperatura de 25C e uma taxa final de cisalhamento de 10s1. ..... 61
Figura 3.6 Picos de tenso em funo do tempo de repouso da amostra. ........................................................... 62
Figura 3.7 Influncia da taxa de cisalhamento imposta ao material nas evolues temporais (a) da tenso de
cisalhamento e (b) da viscosidade aparente para uma temperatura de 25C e um tempo de repouso de 600s.
..................................................................................................................................................................... 63
Figura 3.8 Relao (a) entre os picos de tenso (adimensionalizados em funo do valor a 10s1) e a taxa de
cisalhamento, (b) entre os tempos de ocorrncia dos picos e a taxa de cisalhamento.................................. 64
Figura 3.9 Influncia do parmetro a na evoluo temporal da tenso de cisalhamento a partir do modelo de
Toorman (1997). y, = 1 = 10Pa, B = 0,1Pa.s, c = 0,1Pa.s e b/a = 0,1s. .................................................... 66
Figura 3.10 Influncia do parmetro a na evoluo temporal da tenso de cisalhamento a partir do modelo de
Houska (1980) apud Mewis & Wagner (2009). y,o = 1Pa, y,1 = 1Pa, = 1Pa.sn, = 10Pa.sn, n = 0,5 e
b/a = 0,1s. .................................................................................................................................................... 68
Figura 3.11 Influncia dos parmetros (a) (k4 = 1) e (a) k4 ( = 1) na evoluo temporal da tenso a partir do
modelo de Dullaert & Mewis (2006). k1 = 0,1s, k2 = 0,1s
0,5, k3 = 1,0s 1, st,0 = 0,5Pa.s, = 0,01Pa.s,
e = 0,001 e Go = 3GPa. .............................................................................................................................. 70
Figura 3.12 Exemplo de ajuste do modelo com o mtodo dos mnimos quadrados. .......................................... 74
Figura 3.13 Ajustes do modelo para os experimentos (a) a 5s1, (b) a 10s1, (c) a 15s1, (d) a 20s1, (e) a 30s1 e
(f) a 40s1. .................................................................................................................................................... 75
Figura 3.14 Valores do parmetro em funo da taxa de cisalhamento. ......................................................... 76
12
Figura 4.1 Tubo horizontal completamente preenchido com material tixotrpico em repouso.......................... 78
Figura 4.2 Gradiente de presso constante em um tubo preenchido com material tixotrpico e o perfil de
velocidade com regio no-cisalhada........................................................................................................... 79
Figura 4.3 Domnio discretizado em N volumes finitos igualmente espaados. ................................................ 81
Figura 4.4 Evoluo temporal da tenso de cisalhamento na parede para diferentes critrios de convergncia.85
Figura 4.5 Evoluo temporal da velocidade mdia para diferentes critrios de convergncia. ........................ 86
Figura 4.6 Evoluo temporal da taxa de cisalhamento na parede para diferentes malhas espaciais. ................ 87
Figura 4.7 Evoluo temporal da velocidade mdia do escoamento para diferentes malhas espaciais. ............. 87
Figura 4.8 Perfis de velocidade em t = 1s para diferentes malhas espaciais na direo radial........................... 88
Figura 4.9 Evoluo temporal da taxa de cisalhamento na parede para diferentes malhas temporais................ 89
Figura 4.10 Evoluo temporal da velocidade mdia do escoamento na parede para diferentes malhas
temporais...................................................................................................................................................... 89
Figura 4.11 Evoluo temporal da taxa de cisalhamento na parede para diferentes tenses de cisalhamento
impostas na parede do tubo.......................................................................................................................... 91
Figura 4.12 Evoluo temporal da velocidade mdia para diferentes tenses de cisalhamento impostas na
parede do tubo.............................................................................................................................................. 91
Figura 4.13 Perfil de velocidade adimensional no regime permanente para diferentes tenses de cisalhamento
impostas na parede do tubo.......................................................................................................................... 92
Figura 4.14 Evoluo temporal do parmetro estrutural na parede para diferentes tenses de cisalhamento
impostas na parede do tubo.......................................................................................................................... 93
Figura 4.15 Evoluo temporal do parmetro estrutural na parede para diferentes valores de k1 e k2 = 0,16083:
(a) valor absoluto; (b) valor adimensionalizado [Eq. (4.26)]. ...................................................................... 95
Figura 4.16 Evoluo temporal do parmetro estrutural na parede para diferentes valores de k2 e k1 = 0,08279:
(a) valor absoluto; (b) valor adimensionalizado [Eq. (4.26)]. ...................................................................... 95
Figura 4.17 Evoluo temporal da velocidade mdia do escoamento para diferentes valores de k1 e k2 =
0,16083. ....................................................................................................................................................... 96
Figura 4.18 Evoluo temporal da taxa de cisalhamento na parede para diferentes valores de k1 e k2 = 0,16083.
..................................................................................................................................................................... 97
Figura 4.19 Evoluo temporal da velocidade mdia do escoamento para diferentes valores de k2 e k1 =
0,08279. ....................................................................................................................................................... 97
Figura 4.20 Evoluo temporal da taxa de cisalhamento na parede para diferentes valores de k2 e k1 = 0,08279.
..................................................................................................................................................................... 98
Figura 4.21 Perfis de velocidade no incio do escoamento (linha tracejada) e no regime permanente (linha
cheia): (a) Qo = 0,001m3/s, (b) Qo = 0,005m
3/s, (c) Qo = 0,01m3/s, (d) Qo = 0,05m
3/s. ........................... 100
Figura 4.22 Evoluo temporal da tenso adimensionalizada na parede em relao ao seu valor de regime
permanente para as diversas vazes impostas na entrada do tubo. ............................................................ 101
13
Figura 5.1 Representao simplificada do fluxo de massa em um tubo inclinado a um ngulo em relao
horizontal e completamente preenchido com fluido de perfurao............................................................ 103
Figura 5.2 Representao simplificada do balano de foras na direo z de um tubo disposto a um ngulo
em relao horizontal e completamente preenchido com fluido de perfurao. ..................................... 104
Figura 5.3 Funo passo-unitrio. .................................................................................................................... 109
Figura 5.4 Discretizao do domnio: malhas de massa especficas e presso deslocadas em relao malha de
velocidade. ................................................................................................................................................. 110
Figura 5.5 Fluxograma simplificado do algoritmo. .......................................................................................... 116
Figura 6.1 Evoluo temporal da velocidade de entrada da tubulao para diferentes valores de CFL. .......... 121
Figura 6.2 Evoluo temporal da velocidade no meio do tubo (z* = 0,5) para diferentes valores de CFL. ...... 122
Figura 6.3 Evoluo temporal da velocidade na sada da tubulao para diferentes valores de CFL............... 122
Figura 6.4 Evoluo temporal da presso em z* = 0,1 para diferentes valores de CFL. ................................... 123
Figura 6.5 Evoluo temporal da presso em z* = 0,5 para diferentes valores de CFL. ................................... 124
Figura 6.6 Evoluo temporal da presso em z* = 0,9 para diferentes valores de CFL. ................................... 124
Figura 6.7 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,1 para diferentes valores de CFL................ 125
Figura 6.8 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,5 para diferentes valores de CFL................ 126
Figura 6.9 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,9 para diferentes valores de CFL................ 126
Figura 6.10 Tempo computacional requerido para cada valor de CFL............................................................. 127
Figura 6.11 Evoluo temporal da velocidade na entrada do tubo para os trs fluidos em anlise (Caso 1).... 129
Figura 6.12 Evoluo temporal da velocidade no meio da tubulao para os trs fluidos em anlise (Caso 1).
................................................................................................................................................................... 130
Figura 6.13 Evoluo temporal da velocidade na sada do tubo para os trs fluidos em anlise (Caso 1). ...... 131
Figura 6.14 Evoluo temporal da presso em z* = 0,1 para os trs fluidos em anlise (Caso 1). ................... 132
Figura 6.15 Evoluo temporal da presso em z* = 0,5 para os trs fluidos em anlise (Caso 1). ................... 132
Figura 6.16 Evoluo temporal da presso em z* = 0,9 para os trs fluidos em anlise (Caso 1). ................... 133
Figura 6.17 Evoluo temporal do parmetro estrutural do fluido tixotrpico em trs posies diferentes no
tubo (Caso 1).............................................................................................................................................. 134
Figura 6.18 Evoluo temporal da velocidade na entrada do tubo (Caso 2)..................................................... 135
Figura 6.19 Evoluo temporal da velocidade no meio do tubo para os trs fluidos em anlise (Caso 2). ...... 136
Figura 6.20 Evoluo temporal da velocidade no final do tubo para os trs fluidos em anlise (Caso 2)........ 136
Figura 6.21 Evoluo temporal da presso em z* = 0,1 para os trs fluidos em anlise (Caso 2). ................... 137
Figura 6.22 Evoluo temporal da presso em z* = 0,5 para os trs fluidos em anlise (Caso 2). ................... 138
Figura 6.23 Evoluo temporal da presso em z* = 0,9 para os trs fluidos em anlise (Caso 2). ................... 138
Figura 6.24 Evoluo temporal do parmetro estrutural do fluido tixotrpico em trs posies diferentes no
tubo (Caso 2).............................................................................................................................................. 139
Figura 6.25 Evoluo temporal da velocidade adimensional na entrada da tubulao para todos os casos
analisados................................................................................................................................................... 141
14
Figura 6.26 Evoluo temporal da velocidade adimensional no meio da tubulao para todos os casos
analisados................................................................................................................................................... 142
Figura 6.27 Evoluo temporal da velocidade adimensional na sada da tubulao para todos os casos
analisados................................................................................................................................................... 142
Figura 6.28 Evoluo temporal da presso adimensional em z* = 0,1 para todos os casos analisados. ........... 144
Figura 6.29 Evoluo temporal da presso adimensional em z* = 0,5 para todos os casos analisados ............ 144
Figura 6.30 Evoluo temporal da presso adimensional em z* = 0,9 para todos os casos analisados ............ 145
Figura 6.31 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,1 para todos os casos analisados. ............. 146
Figura 6.32 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,5 para todos os casos analisados. ............. 146
Figura 6.33 Evoluo temporal do parmetro estrutural em z* = 0,9 para todos os casos analisados. ............. 147
Figura A1 Tipo de teste utilizado nas simulaes ............................................................................................ 143
Figura A2 Evoluo temporal da tenso de cisalhamento para as diversas simulaes realizadas a
diferentes malhas temporais....................................................................................................................... 143
15
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Evoluo cronolgica do conceito de tixotropia............................................................................... 36
Tabela 3.1 Classes de testes de inicializao realizados com o fluido de perfurao......................................... 56
Tabela 3.2 Formulao do fluido de perfurao analisado ................................................................................. 57
Tabela 3.3 Valores das constantes e coeficiente de correlao da Eq. (3.2)....................................................... 62
Tabela 3.4 Parmetros ajustados a partir dos valores de tenso finais ............................................................... 71
Tabela 3.5 Divergncias entre os valores medidos e calculados dos picos de tenso e de equilbrio para cada
taxa de cisalhamento analisada .................................................................................................................... 76
Tabela 4.1 Dados utilizados na soluo do problema de escoamento plenamente desenvolvido de um material
tixotrpico.................................................................................................................................................... 84
Tabela 4.2 Anlise de sensibilidade em relao ao gradiente de presso para os dados da Tabela 4.1 .............. 90
Tabela 4.3 Anlise de sensibilidade em relao aos parmetros k1 e k2 ............................................................. 94
Tabela 4.4 Anlise de Sensibilidade em relao vazo volumtrica imposta na entrada do tubo (Qo)............ 99
Tabela 6.1 Parmetros fixos na anlise de sensibilidade do critrio de estabilidade CFL e da malha espacial 120
Tabela 6.2 Parmetros utilizados para a comparao entre os escoamentos de um fluido tixotrpico, um fluido
de Bingham e um fluido Newtoniano 1o Caso ........................................................................................ 128
Tabela 6.3 Parmetros utilizados para a comparao entre os escoamentos de um fluido tixotrpico, um fluido
de Bingham e um fluido Newtoniano 2o Caso ........................................................................................ 134
Tabela 6.4 Parmetros utilizados para a anlise de sensibilidade do problema................................................ 140
Tabela 6.5 Valores notveis de todos os casos analisados................................................................................ 143
Tabela 6.6 Primeiros picos de presso em diferentes pontos da tubulao* ..................................................... 143
Tabela 6.7 Comparao entre os parmetros estruturais no regime permanente para os casos i e ii ................ 147
Tabela A1 Parmetros utilizados na anlise de sensibilidade de malha ........................................................... 142
16
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CENPES Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Amrico Miguez de Mello
FNG Fluido Newtoniano Generalizado
HB Herschel-Bulkley
LACIT Laboratrio de Cincias Trmicas
NR Newton-Raphson
NaCl Cloreto de Sdio
PETROBRAS Petrleo Brasileiro S.A.
PUC-RJ Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro
RP Regime Permanente
UFCG Universidade Federal de Campina Grande
UTFPR Universidade Tecnolgica Federal do Paran
17
LISTA DE SMBOLOS
Smbolos Romanos
a , b , c , d Expoentes da Eq. (2.14) [adim]
lA rea de seo lateral do tubo [m]
sA rea de seo transversal do tubo [m]
e , f , g , h Expoentes da Eq. (2.19) [adim]
c Velocidade de propagao da onda de presso [m/s]
1C , 2C Constantes dos termos da Eq. (2.14) [adim]
3C , 4C Constantes dos termos da Eq. (2.19) [adim]
D Dimetro do tubo [m]
G Mdulo de elasticidade [Pa]
'G Parte elstica do mdulo de armazenamento [Pa]
K ndice de consistncia do material [Pa.sn]
L Comprimento da tubulao [m]
m Massa [kg]
M Nmero de dados experimentais coletados por teste [N/A]
n ndice comportamental do material [adim]
N Nmero de volumes de controle [N/A]
P Presso [Pa]
hidP Presso hidrosttica [Pa]
oP Presso atmosfrica [Pa]
Q Vazo volumtrica [m3/s]
r Posio radial [m]
pr Raio do plug no-cisalhvel [m]
t Tempo [s]
ost tempo de ocorrncia do pico de tenso em um teste de inicializao [s]
Rt Tempo de repouso [s]
R Resduo absoluto das equaes de conservao da massa [kg/m]
*R Resduo relativo das equaes de conservao da massa [adim]
S Funo-Soma do Mtodo dos Mnimos Quadrados [Pa]
18
T Temperatura [C]
( )us t Funo passo-unitrio [adim]
V Velocidade [m/s]
z Posio axial [m]
Smbolos Gregos
Compressibilidade [Pa-1]
, ei i i
Coeficientes da Eq. (5.30) [adim]
, eI I I
Coeficientes da Eq. (5.34) [adim]
e Deformao elstica [adim]
c Deformao crtica [adim]
Taxa de cisalhamento [s-1]
o Taxa de cisalhamento final e constante em um teste de inicializao [s-1]
P L Gradiente constante de presso [Pa/m]
t Incremento de tempo [s]
r Incremento de espao na direo radial [m]
z Incremento de espao na direo axial [m]
c Critrio de convergncia [adim]
ngulo de disposio do tubo em relao horizontal [o]
Viscosidade [Pa.s]
Parmetro estrutural [adim]
RP Parmetro estrutural de equilbrio [adim]
w Parmetro estrutural na parede do tubo [adim]
,0w Parmetro estrutural inicial na parede do tubo [adim]
,w RP Parmetro estrutural de regime permanente na parede do tubo [adim]
B Viscosidade de Bingham [Pa.s]
Nmero de pontos estruturais [N/A]
o Nmero de pontos estruturais na estrutura virgem ou gelificada [N/A]
Massa especfica [kg/m]
o Massa especfica presso atmosfrica [kg/m]
Tenso de cisalhamento [Pa]
w Tenso de cisalhamento na parede do tubo [Pa]
19
y Tenso limite de escoamento [Pa]
,y el Tenso limite de escoamento dependente da deformao elstica [Pa]
,y RP Tenso limite de escoamento no equilbrio [Pa]
Tenso de cisalhamento adimensionalizada em relao ao seu valor em regime permanente
[Pa]
os Pico de tenso ou tenso overshoot em um teste de inicializao [Pa]
RP Tenso de equilbrio ou de regime permanente em um teste de inicializao [Pa]
zF Resultante das foras atuantes em um volume de controle [N]
Varivel qualquer [N/A]
Smbolos Especficos dos Modelos Revisados:
H Constante da Lei de Hooke
''k , c
f , z Constantes arbitrrias Goodeve (1939)
a , b Parmetros ajustados experimentalmente Moore (1959)
,y r Tenso limite de escoamento em repouso
,y s Tenso limite de escoamento dinmica
Slibar & Paslay (1959)
Constante obtida experimentalmente Worrall & Tuliani
(1964)
o Viscosidade a uma taxa de cisalhamento nula
Viscosidade a uma taxa de cisalhamento infinita
Parmetro de ajuste experimental
Cross (1965)
,y o Tenso de escoamento independente da tixotropia
,1y Tenso de escoamento dependente da tixotropia
K Consistncia do material dependente da tixotropia
Houska (1980)
apud Mewis &
Wagner (2009)
C Constante arbitrria
0t = Viscosidade aparente inicial
De Kee et al.
(1983)
, , Parmetros de ajuste do modelo
,y o Tenso limite de escoamento esttica inicial
Suetsugu & White (1984)
p Pontos estruturais inicial
c Pontos estruturais mximos sem que haja escoamento
1 2eC C Constantes arbitrrias
yb Parmetro obtido por ajuste do experimento
De Kee & Chan Man Fong (1994)
20
Viscosidade do material extrapolada para taxa de cisalhamento infinita
a , b Parmetros obtidos numericamente
Baravian & Quemada (1996)
( )f , j ,
j ,
EG
Parmetros do modelo Phan-Thien et al.
(1997)
, 1y = Tenso limite de escoamento para 1 =
a , b , c Parmetros obtidos numericamente Toorman (1997)
constante relativa reologia do material gelificado
est tenso limite esttica
din tenso limite esttica dinmica
Chang et al. (1999)
,0st Viscosidade hidrodinmica inicial
oG Mdulo de elasticidade inicial
Viscosidade a uma taxa de cisalhamento infinita
c Deformao elstica crtica
1k , 2k , 3k ,
4k , Outros parmetros do modelo
Dullaert & Mewis (2006)
s d , a , b ,
c , m , c
t Parmetros do modelo Mendes (2009)
Subscritos:
1 e 2 ndices relativos ao intervalo de busca do Mtodo de Fibonacci
b Bomba
din Dinmico
el Elstico
ent Entrada da tubulao
est Esttico
exp Experimento
i Denota a posio das fronteiras do volume de controle
I Denota a posio do volume de controle
j Denota o dado experimental
max Mximo
me Meio
21
mod Modelo
o Grandeza em um estado de referncia
os Pico (do ingls overshoot)
p Plug
RP Regime permanente ou equilbrio
sai Sada da tubulao
w Parede (do ingls wall)
z Relativo direo axial
Sobrescritos:
' Valor de uma propriedade na iterao anterior * Propriedade na forma adimensionalizada
o Instante de tempo anterior
Captulo 1 Introduo 22
1 INTRODUO
A demanda contnua e crescente de energia de baixo custo e a disponibilidade ainda
maior de recursos de hidrocarbonetos com a descoberta do pr-sal no litoral brasileiro mantm
o petrleo como uma importante fonte no-renovvel de energia para as prximas dcadas do
sculo XXI.
Para atender o suprimento dessa fonte energtica para a sociedade, as empresas se
dedicam explorao (descoberta de novos reservatrios) e explotao (produo do
reservatrio descoberto da forma mais rpida e econmica possvel). O ambiente de guas
profundas uma tendncia que se manifesta no somente no Brasil, mas em diversas zonas
produtoras, principalmente nas regies fora do Golfo Prsico e, para produzir hidrocarbonetos
dessas e das demais regies produtoras, a inovao tecnolgica de suma importncia na
reduo das incertezas tanto na fase de explorao como na fase de produo de petrleo.
Neste trabalho, ser dedicada ateno perfurao de poos de petrleo e, mais
especificadamente, ao papel do fluido de perfurao nesta operao. A seguir so mostrados
sucintamente como se desenvolve o processo de perfurao de poos de petrleo, a
importncia do fluido de perfurao e de suas funes durante a perfurao.
1.1 A Perfurao de Poos de Petrleo
Sonda de perfurao a denominao da locao onde se localizam um conjunto de
sistemas utilizados para a perfurao de poos de petrleo. Sabe-se que o petrleo acumula-se
em bacias sedimentares que so localizadas em terra (onshore) ou no fundo do oceano
(offshore). O papel da sonda basicamente construir um poo capaz de comunicar o petrleo
acumulado nestas bacias com a superfcie.
Quando as rochas da formao so perfuradas pela ao da rotao e peso aplicados
a uma broca disposta na extremidade da coluna de perfurao, a sonda denominada sonda
rotativa. O outro tipo de sonda a chamada sonda de percusso, com a qual se perfura um
poo pela ao de golpes sucessivos da ferramenta percussora e a qual s foi utilizada no
incio da perfurao de poos de petrleo (Thomas, 2001). Os sistemas existentes na sonda de
perfurao so subdivididos em sistemas de superfcie e de subsuperfcie. Este ltimo a
Captulo 1 Introduo 23
prpria coluna de perfurao, a qual composta, basicamente de comandos (elementos
tubulares espiralados ou lisos que fornecem peso sobre a broca e promovem rigidez coluna)
e de tubos de perfurao (tubos de ao de paredes finas tratados internamente com resinas
contra desgaste e corroso).
Podem ser citados como sistemas de superfcie o sistema de elevao de cargas, o
sistema de rotao e o sistema de circulao. No sistema de circulao, o fluido de perfurao
tem a funo bsica de transportar para a superfcie os cascalhos gerados pela perfurao. Este
sistema composto por bombas, tanques, pelo prprio poo e pelos equipamentos de
tratamento. As bombas so responsveis pelo fornecimento de energia ao fluido para sua
circulao; os tanques armazenam o fluido na superfcie; o poo onde est inserida a coluna
de perfurao; e o sistema de tratamento engloba uma peneira vibratria, desareiadores,
dessiltadores* e centrfugas (Machado, 2002).
A Figura 1.1 ilustra o sistema de circulao na perfurao terrestre (onshore). Este
tipo de perfurao foi a primeira a ser desenvolvida, menos custosa e necessita de
engenharia menos complexa em relao perfurao martima (tambm denominada
submarina ou offshore).
O sistema de circulao pode ser esquematizado da seguinte maneira: o fluido de
perfurao que se encontra no tanque (denotado pela letra B na Figura 1.1) impulsionado
pela bomba (A) para dentro do poo atravs da tubulao (C). O fluido ento conduzido
para a coluna de perfurao (D) com uma broca (E) em sua extremidade. O fluido circula
primeiramente pelo interior da coluna, passando pela broca e retornando pela regio anular
entre a coluna e o poo (F). Os cascalhos originados na perfurao so ento transportados
pelo fluido, atravs da regio anular, at a linha de retorno (G). Os cascalhos so na seqncia
separados do fluido nos equipamentos de tratamento (H), e, em seguida, armazenados para
descarte (I). O fluido tratado (com baixa concentrao de slidos) retorna ao tanque e o ciclo
recomea com a suco do fluido pela bomba.
A perfurao do poo ocorre em diversas fases, caracterizadas por diferentes
dimetros perfurados. Aps a concluso de cada fase, esta revestida e cimentada. O
revestimento uma srie de tubos de ao de alta resistncia que permanecem no poo durante
toda sua vida til. A posterior cimentao feita com as funes de isolar as formaes j
Captulo 1 Introduo 24
perfuradas do fluido de perfurao utilizado para a perfurao da prxima fase e de garantir a
estabilidade mecnica do poo.
A
C
DGH
I
Figura 1.1 Esquema simplificado do sistema de circulao durante a perfurao de
um poo terrestre.
Geralmente, cada nova fase possui um dimetro inferior fase anterior. A seqncia
de dimetros de revestimento dependente das dimenses padronizadas disponveis no
mercado. Os dimetros nominais de revestimento mais comumente utilizados na indstria so
30" , 20" , 3813 " , 589 " e 7" . Um dos motivos de se utilizar diferentes fases e revesti-las
garantir que a presso exercida pelo fluido de perfurao esteja entre a presso de poros e a
presso de fratura da formao. Permanecer acima da presso de poros (presso que se
encontra o fluido no interior dos poros da formao que se est perfurando) garantir que no
haver influxo indesejado no poo durante a perfurao. A presso de fratura, por sua vez, a
presso acima da qual a formao pode falhar por trao e deve-se garantir que o fluido no
* Desareiadores e Dessiltadores so equipamentos que retiram as partes slidas, denominadas de finos, do fluido de perfurao que sai do poo. A diferena entre a areia e o silte o tamanho da partcula slida que cada um caracteriza, sendo que o ltimo corresponde a partculas menores que o primeiro.
Captulo 1 Introduo 25
frature a formao para que a estabilidade do poo seja mantida. A partir da estimativa dos
valores de presso de poros e de fratura, projeta-se o fluido de perfurao de tal forma que sua
presso transmitida fique, portanto, entre estes valores em todas as profundidades de poo
aberto, ou seja, parte do poo no revestida.
Usualmente, na indstria do petrleo, identifica-se um valor de presso em uma
determinada profundidade pela massa especfica de um fluido hipottico, como esta
profundidade fosse a altura de uma coluna deste fluido. Por exemplo, uma presso de 10 MPa
a uma profundidade de 1000m corresponde presso hidrosttica de um fluido de massa
especfica 1000kg/m (admitindo a acelerao gravitacional de 10m/s). Desta forma, fica
mais simples identificar qual deve ser a massa especfica do fluido de perfurao que fornea
uma presso entre a presso de poros e a presso de fratura da formao, garantindo que no
haver influxo de fluidos da formao rochosa permevel para o poo nem a fratura da
formao perfurada. Esta notao, entretanto, no ser abordada neste trabalho, pois no ser
feita nenhuma anlise de fratura nem de influxo de fluidos, sendo a informao relevante para
trabalhos futuros.
1.1.1 O Fluido de Perfurao
Fluido de perfurao uma mistura de base lquida (gua, leo ou sinttica) ou
gasosa utilizada para auxiliar a produo e a remoo de cascalhos gerados durante a
perfurao de poos. Eles so especificados de forma a garantir principalmente uma
perfurao segura. Lista-se a seguir as suas funes (Caenn & Chillingar, 1996):
limpar os cascalhos presentes na base da broca e conduzi-los at a superfcie: os
cascalhos so transportados por meio do fluido em circulao e este transporte
depende da vazo e da viscosidade do fluido de perfurao;
exercer presso hidrosttica sobre a formao maior que sua presso de poros: evitar
o influxo de fluidos indesejveis (fenmeno denominado kick ou blowout quando o
fluxo descontrolado) e estabilizar as paredes do poo;
manter o poo aberto at que o revestimento possa ser descido e cimentado;
formar um filme de baixa permeabilidade de fina espessura nas paredes do poo: este
filme, denominado de reboco, previne o influxo do prprio fluido de perfurao na
Captulo 1 Introduo 26
formao e impede o fenmeno indesejado do inchamento de argilas hidratveis da
formao;
resfriar e lubrificar a coluna de perfurao e a broca;
reduzir o atrito entre a coluna de perfurao e o poo aberto ou revestido.
Essas funes fazem com que os fluidos de perfurao sejam indispensveis
indstria de petrleo, sendo um elemento muito importante na operao de perfurao (Darley
& Gray, 1988). Alm disso, o fluido de perfurao no deve: reagir nocivamente formao
perfurada; causar corroso do equipamento de perfurao e das tubulaes de sub-superfcie;
e nem proporcionar danos ao meio ambiente e aos seres humanos. Para tal, os fluidos de
perfurao so projetados como complexas disperses de slidos, lquidos e gases,
usualmente constitudas de duas fases: uma dispersante (aquosa, orgnica ou sinttica) e outra
dispersa, cuja complexidade depende da natureza dos produtos dispersos e das funes acima
citadas.
O fluido de perfurao projetado ainda para formar gel quando no submetido tenso
de cisalhamento, ou seja, quando sua circulao interrompida por um motivo qualquer. Este
motivo pode ser tanto a retirada da coluna do poo como a manuteno de qualquer
equipamento do sistema de circulao. O objetivo dessa gelificao prevenir que os
cascalhos precipitem durante esses perodos de parada de circulao do fluido, obstruindo a
broca e podendo levar o sistema a um colapso. Devido aos efeitos tixotrpicos de muitos gis,
a sua viscosidade se mantm elevada mesmo depois que a circulao se reinicia, sendo
necessrias presses de partida muito elevadas (o conceito de tixotropia abordado na seo a
seguir e no Captulo 2). Por isso, considera-se importante o conhecimento das presses
geradas no gel, no reincio da circulao, para evitar fraturas nas paredes do poo.
Outras caractersticas interessantes do fluido de perfurao so sua baixa viscosidade
em altas vazes, o que reduz ao mximo as perdas de carga, e sua alta viscosidade em baixas
vazes, para no prejudicar a capacidade de carregar os cascalhos nestas condies. Alm
disso, o fluido classificado como tixotrpico. Este fenmeno ainda no plenamente
compreendido pela comunidade cientfica, devido a sua alta complexidade. Deste modo,
ateno especial ser dada ao assunto: a seguir o fenmeno definido na seo 1.2 e uma
extensa reviso bibliogrfica ser realizada no Captulo 2.
Captulo 1 Introduo 27
1.2 Tixotropia
Mesmo a tixotropia sendo um dos fenmenos mais antigos dentro da cincia de
colides*, a rea de pesquisas continua sendo atrativa, j que um problema desafiador no
completamente compreendido pela comunidade cientfica. Devido a isso, diversos autores
estudam o fenmeno e alguns at o definem de maneira errnea.
O termo tixotropia foi introduzido por Freundlich (1923) apud Barnes (1997). O
nome deriva da combinao das palavras gregas (thixis: agitao) e (trepo: desvio
ou mudana) e originalmente se referia transio sol-gel induzida mecanicamente. Baseado
em seu estudo sobre tintas, Pryce-Jones (1941) props, por sua vez, que tixotropia um
aumento na viscosidade do material em repouso e uma diminuio da viscosidade do material
submetido a uma tenso de cisalhamento constante. Esta definio especifica a viscosidade
como parmetro caracterstico, mas, como na definio anterior, a dependncia temporal do
fenmeno no mencionada.
Em algumas literaturas tcnicas, equvocos so observados ao se definir tixotropia, a
qual acaba sendo confundida com o fenmeno do shear-thinning. Um modelo reolgico geral
que descreva completamente as diferentes caractersticas da tixotropia ainda no foi
desenvolvido.
Mewis & Wagner (2009) tiveram a preocupao em apresentar uma definio geral
de tixotropia, a qual se baseia no decrscimo da viscosidade com o tempo, induzida pelo
escoamento, e em sua reversibilidade. Tixotropia, segundo esta ltima reviso, um
decrscimo contnuo da viscosidade com o tempo quando uma amostra que tenha estado
previamente em repouso submetida ao escoamento e a subseqente recuperao da
viscosidade no tempo quando o escoamento descontinuado. Deve-se salientar que esta
definio no menciona a viscoelasticidade do material, podendo o material tixotrpico ser ou
no viscoelstico. De fato, h materiais tixotrpicos que podem ser modelados como
puramente dissipativos e h aqueles cujo modelo deve conter o termo elstico. Por isso, a
ocultao da viscoelasticidade na definio.
* Colides (ou tambm chamados de sistemas coloidais ou de disperses coloidais) so sistemas nos quais um ou mais componentes apresentam pelo menos uma de suas dimenses dentro do intervalo de 1 nm a 1 m. Os colides so classificados de acordo com a fase contnua e a fase dispersa: um aerosol consiste em um slido ou um lquido dissolvido em um gs; uma espuma consiste em um gs disperso em slido ou lquido; uma emulso so colides formados por lquido disperso em outro lquido ou slido; sol um tipo de colide formado pela disperso de um slido em um lquido; gel um material em que o meio disperso apresenta-se no estado lquido e a fase contnua, no estado slido. Fase na qual a estrutura se encontra completamente quebrada, ou seja, o oposto fase gel.
Captulo 1 Introduo 28
1.3 Problema
Mencionou-se anteriormente que os fluidos de perfurao so projetados para
possurem a caracterstica tixotrpica, j que devem gelificar quando h uma parada em seu
escoamento ou circulao. Isto porque os cascalhos provenientes da perfurao devem ser
impedidos de precipitar durante tais paradas, o que levaria a uma obstruo da broca e o
sistema a um colapso.
Porm, quando o escoamento reiniciado, sua viscosidade decresce, induzida pelo
escoamento, devido quebra de sua microestrutura ou de seu gel. Isto faz com que o atrito
entre as camadas de fluido seja diminudo e uma menor potncia seja requerida pela bomba
que movimenta a mistura do fluido de perfurao e com os cascalhos por ele suspensos.
Como j salientado, a viscosidade dos fluidos de perfurao leva certo tempo para diminuir,
sendo necessrias presses iniciais muito elevadas. Por isso, considera-se importante o
conhecimento das presses geradas no gel, no reincio da circulao, para evitar fraturas nas
paredes do poo.
1.4 Objetivos
O objetivo principal deste trabalho o desenvolvimento de um modelo matemtico
para o estudo do reincio do escoamento de fluidos gelificados, considerando suas
caractersticas tixotrpicas. Ateno maior dada previso dos picos de presso gerados
durante a reinicializao. No modelo, o material escoa em um tubo de seo uniforme e de
comprimento determinados e o escoamento considerado unidimensional, compressvel e
transiente.
Como objetivos especficos podem ser citados o entendimento do fenmeno da
tixotropia a partir de extensa reviso bibliogrfica sobre o tema e o ajuste do comportamento
do fluido de perfurao a um modelo de tixotropia existente na literatura.
So utilizadas as equaes de conservao da massa e da quantidade de movimento
na direo axial da tubulao, uma equao de estado para a massa especfica do material e
uma equao constitutiva para a caracterstica tixotrpica do fluido como equaes
governantes. Esta ltima escolhida dentre alguns modelos de tixotropia existentes na
literatura. O modelo matemtico resolvido numericamente devido s equaes governantes
serem no-lineares e no possurem soluo analtica.
Captulo 1 Introduo 29
1.5 Estrutura do Trabalho
No Captulo 1 (Introduo), o problema tratado e contextualizado e os objetivos so
definidos;
No Captulo 2 (Reviso Bibliogrfica), estuda-se o fenmeno da tixotropia a partir da
reviso de livros sobre o tema e de artigos cientficos, revisam-se os estudos sobre a
introduo de modelos matemticos para a anlise qualitativa e quantitativa dos efeitos
tixotrpicos em escoamentos e so abordadas as modelagens de escoamento transiente
de fluidos no-newtonianos;
O Captulo 3 (Resultados Experimentais: Escolha e Ajuste do Modelo de Tixotropia)
dedica-se busca do modelo tixotrpico que melhor se encaixa nos experimentos
realizados com um dos fluidos sintticos atualmente utilizados pela PETROBRAS;
No Captulo 4 (Escoamento Plenamente Desenvolvido de um Material Tixotrpico),
analisada a evoluo temporal do perfil de velocidade de um material tixotrpico
inicialmente em repouso em um tubo horizontal para os casos em que imposto um
gradiente de presso constante e o caso em que se impe uma vazo constante na
tubulao;
O Captulo 5 (Modelagem Matemtica do Escoamento do Fluido Gelificado) se refere
modelagem do reincio de escoamento do fluido de perfurao gelificado em uma
tubulao de seo transversal constante;
O Captulo 6 (Resultados) engloba a anlise de estabilidade numrica da soluo do
modelo descrito no Captulo 5, a comparao do modelo matemtico desenvolvido no
captulo anterior com os modelos de fluido newtoniano e de Bingham (este ltimo
usualmente utilizado para prever o comportamento dos fluidos de perfurao) e a
anlise de estudos de caso adicionais;
No Captulo 7 (Concluses e Sugestes para Trabalhos Futuros), faz-se um apanhado
geral do trabalho, discutem-se os resultados obtidos, avaliado se os objetivos iniciais
foram alcanados e so sugeridas ideias para trabalhos futuros.
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
30
2 REVISO BIBLIOGRFICA
Neste captulo, apresentado o conceito de Reologia e aprofundado o conceito de
tixotropia introduzido no captulo anterior. So mostrados e analisados os diversos modelos
matemticos desenvolvidos para os diferentes materiais tixotrpicos e, para alguns deles, so
apresentados os principais resultados obtidos por seus autores. Ao final do captulo, feita
uma reviso sobre a modelagem do escoamento de materiais tixotrpicos.
2.1 Reologia
A cincia que investiga as propriedades mecnicas e o comportamento de materiais
que sofrem deformaes denominada Reologia (Tanner & Walters, 1998). H dois
comportamentos reolgicos extremos: o comportamento puramente elstico, referente
habilidade de um material retornar sua forma original quando a fora externa deixa de atuar;
e o comportamento puramente viscoso, cuja deformao cessa quando a fora externa
removida (Akcelrud, 2007).
Os materiais que apresentam comportamento intermedirio a esses dois extremos so
chamados de viscoelsticos. razovel assumir que todos os materiais existentes sejam
viscoelsticos, pois a resposta de uma amostra em um experimento depende da relao entre a
escala de tempo do experimento e a escala de tempo natural do material. Em outras palavras,
se o experimento relativamente lento, a amostra pode parecer viscosa e, caso contrrio, a
amostra pode parecer elstica. Em escalas de tempo intermedirias, em geral o
comportamento viscoelstico observado (Barnes et al., 1989).
A viscosidade de um material ( ) representa a resistncia ao movimento relativo
entre duas camadas de material adjacentes (Lee et al., 2009). Para os fluidos newtonianos, a
tenso de cisalhamento ( ) e a taxa de cisalhamento ( ) so linearmente relacionadas, como
indica a Eq. (2.1). A viscosidade pode variar principalmente com a temperatura (T ) e com a
presso ( P ), mas no com o tempo nem com a taxa de cisalhamento.
( ),T P = (2.1)
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
31
Os materiais no-newtonianos possuem respostas mais complexas ao cisalhamento.
Como o prprio nome indica, h um desvio na relao linear (newtoniana) entre a tenso e a
taxa de cisalhamento. A viscosidade dos materiais no-newtonianos varia de diferentes
formas. Por isso, possvel dividir os materiais no-newtonianos em dois grandes grupos:
materiais cujas propriedades so independentes do tempo e aqueles cujas propriedades so
dependentes do tempo. No primeiro grupo, so encontrados os materiais puramente plsticos,
os pseudoplsticos, os dilatantes e os materiais viscoelsticos. Subdivide-se o segundo grupo,
por sua vez, nos materiais tixotrpicos e nos reopticos (ou antitixotrpicos).
Os materiais no-newtonianos plsticos no escoam at que a tenso de cisalhamento
alcance uma tenso limite de escoamento (y
). Estes materiais eram antigamente
denominados de fluidos de Bingham (Lee et al., 2009). Entretanto, outros ajustes matemticos
do comportamento da viscosidade foram desenvolvidos. Os mais comuns so o prprio
ajustes de Bingham:
se
se0
yy B
y
>= +
=
(2.2)
o de Herschel-Bulkley:
se
se0
nyy
y
K
>= +
=
(2.3)
e o de Casson:
se
se0
yy
y
>= +
=
(2.4)
Nas equaes acima, B a viscosidade de Bingham, obtida pela inclinao
constante da curva de equilbrio* ajustada pelo modelo de Bingham, K a consistncia do
material e n o ndice comportamental do material. Todos esses ajustes so casos especficos
do modelo denominado Fluido Newtoniano Generalizado (FNG Bird et al., 1987) definido
por:
* Curva de equilbrio o grfico tenso de cisalhamento versus taxa de cisalhamento de um fluido em equilbrio, ou seja, sem suas propriedades mais variarem com o tempo.
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32
( ) = (2.5)
Outro tipo de modelo de FNG o da Lei de Potncia. Os materiais no-newtonianos
pseudo-plsticos e dilatantes so modelados a partir desta lei que tambm comumente
chamada de sua traduo para o ingls Power Law. Este ajuste descrito por:
nK = (2.6)
Tanto para o modelo HB quanto para o Power Law, para o ndice de comportamento
( n ) menor que a unidade, os modelos prevem a caracterstica pseudo-plstica (diminuio
reversvel e isotrmica da viscosidade com o aumento da taxa de cisalhamento). Estes tipos de
materiais apresentam suas molculas desordenadas quando em repouso e, a partir da aplicao
de uma tenso de cisalhamento, essas molculas tendem a se orientar na direo da tenso,
diminuindo assim a viscosidade aparente. Para 1n > , a caracterstica dilatante, ou seja, a
viscosidade aumenta reversvel e isotermicamente com o aumento da taxa de cisalhamento
aplicada. Neste tipo de material, medida que a tenso de cisalhamento aplicada aumenta, h
um maior contato entre as molculas, aumentando o atrito e fazendo a viscosidade aparente
aumentar. Os termos pseudo-plstico e dilatante se referem, respectivamente, aos termos
em ingls shear-thinning e shear-thickening (Barnes et al., 1989).
dilatante (n > 1)
newtoniano
pseudoplstico
(n = 1)
(n < 1)
H-B (n > 1)
Bingham
H-B (n < 1)
Figura 2.1 Diferentes comportamentos de materiais no-newtonianos independentes
do tempo sob cisalhamento.
A Figura 2.1 mostra o aspecto de cada curva de equilbrio dos diferentes tipos de
materiais no newtonianos independentes do tempo. Observa-se que o fluido de Bingham
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
33
prev um comportamento linear entre a tenso e a taxa de cisalhamento a partir do momento
em que a tenso aplicada excede a tenso limite de escoamento. O modelo de Casson prev
uma diminuio da viscosidade aparente com o aumento da taxa de cisalhamento e o modelo
HB, dependendo do valor de n na Eq. (2.3), prev tanto a diminuio quanto o aumento da
viscosidade com a taxa de cisalhamento. O comportamento do fluido newtoniano tambm
mostrado na Figura 2.1 a ttulo de comparao.
Sabe-se que o material que apresenta comportamento intermedirio ao puramente
viscoso e ao puramente elstico denominado viscoelstico. H diversos modelos na
literatura com o objetivo de representar o comportamento viscoelstico. O modelo de
Maxwell prope uma soma de ambos os comportamentos elstico e viscoso.
G t
+ =
(2.7)
sendo G o mdulo de elasticidade do material. Observa-se neste modelo que, no regime
permanente, a equao se simplifica equao de um fluido newtoniano (Eq. (2.1)).
O modelo de Maxwell prev a Lei de Hooke (Eq. (2.7) com 0 = ) para pequenas
deformaes. Entretanto, os materiais viscoelsticos so amplamente estudados e diversos
outros modelos so propostos, inclusive os que consideram a viscoelasticidade no-linear.
Se o comportamento reolgico das mudanas estruturais de um material reversvel
e dependente do tempo, o material pode ser modelado tanto como tixotrpico (quando sua
viscosidade diminui com o tempo a uma taxa de cisalhamento constante) quanto como
reoptico (quando sua viscosidade aumenta com o tempo a uma taxa de cisalhamento
constante).
O entendimento do comportamento da estrutura e do escoamento dos materiais
tixotrpicos representa significativa importncia em diversas aplicaes industriais. Exemplos
de materiais tixotrpicos incluem suspenses concentradas (Courtland & Weeks, 2003),
emulses (Hebraud et al.,1997), espumas (Cantat & Pitois, 2005), tintas (Buron et al. apud
Joshi, 2009), derivados de petrleo ricos em parafina (Petersson et al., 2008), cimentos
(Cristiani et al., 2005) e fluidos de perfurao (Lahalih & Dairanieh, 1989). Os materiais
reopticos so mais raros e dificilmente encontrados em aplicaes industriais.
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2.2 Tixotropia
2.2.1 Evoluo do Conceito
As revises publicadas sobre tixotropia (Bauer & Collings, 1967; Mewis, 1979;
Barnes, 1997 e Mewis & Wagner, 2009) consideram que Schalek & Szegvari (1923)
iniciaram o estudo do fenmeno, quando reportaram a observao de que alguns gis,
consistindo de disperses aquosas de xido de ferro, poderiam se transformar, atravs da
agitao, em lquido. O gel era novamente obtido quando as amostras eram deixadas em
repouso, e a transformao lquido-gel poderia se repetir por diversas vezes, consistindo em
um processo reversvel. Desta forma, eles demonstraram que a transio "lquido-gel" poderia
no apenas ser induzida por mudanas na temperatura, como j era conhecido na poca, mas
tambm por meio de agitao mecnica a uma temperatura constante.
O termo tixotropia foi introduzido por Freundlich (1929) apud Barnes (1997)
baseado em uma sugesto de Peterfi (1927) apud Barnes (1997), o qual constatou que o
protoplasma (complexo colide organizado de matria orgnica e inorgnica que serve de
matriz para todos os compartimentos de uma clula) se liquefaz por ao mecnica.
Originalmente, o termo tixotropia se referia transio "lquido-gel" induzida
mecanicamente, sem mencionar a dependncia do tempo.
Freundlich (1935) continuou o estudo do fenmeno. Ele e sua equipe realizaram
importantes contribuies, culminando no documento intitulado Tixotropia, o qual, embora
enfatizasse a transio "lquido-gel", o tempo requerido para a gelificao era utilizado para
quantificar o efeito. A seguir, foi descoberto que outros materiais apresentavam
comportamento similar ao da disperso aquosa do xido de ferro. Tais materiais incluam os
gis de hidrxido de alumnio e pentxido de vandio, bem como sistemas contendo gelatina
ou amido (Scott-Blair, 1940). Mais tarde, produtos como ltex e tintas-leo foram adicionados
lista (Green, 1949).
Baseado em seu trabalho sobre tintas, Pryce-Jones (1934) apud Mewis & Wagner
(2009) props a seguinte definio de tixotropia: um aumento na viscosidade do material em
repouso e uma diminuio da viscosidade do material submetido a uma tenso de
cisalhamento constante. Esta definio especificou a viscosidade como um parmetro
caracterstico, mas a dependncia do fator tempo no foi mencionada. A proposta pode ter
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resultado em uma confuso entre a dependncia temporal e a dependncia da taxa de
cisalhamento, como ilustrado pela definio de Goodeve (1939) para a tixotropia: uma
diminuio reversvel e isotrmica da viscosidade com o aumento da taxa de cisalhamento.
Isto se refere claramente ao que hoje se conhece por shear-thinning. O argumento por trs da
definio de Goodeve (1939) que a mudana na viscosidade com a taxa de cisalhamento
reflete uma mudana na estrutura que, ao menos a princpio, requereria um tempo finito para
ocorrer. Mewis & Wagner (2009) afirmaram que, na realidade, as escalas de tempo do
fenmeno shear-thinning so muito pequenas para serem significativas ou at mesmo
mensurveis, e justamente isto que o diferencia do fenmeno da tixotropia.
Em sua reviso, Bauer & Collings (1967), baseados em trabalhos anteriores,
definiram tixotropia da seguinte maneira: O sistema considerado tixotrpico quando h
uma reduo reversiva, isotrmica e dependente do tempo na magnitude de suas propriedades
reolgicas (seu mdulo de elasticidade, sua tenso limite de escoamento e sua viscosidade) a
partir da aplicao de um cisalhamento constante. Eles consideram arcaicos os termos
utilizados por Freundlich (1929) apud Barnes (1997), tais como liquefao e re-solidificao.
Tais termos foram substitudos pelo conceito de mudana na magnitude de propriedades
reolgicas. Observa-se que os autores por eles revisados naquela poca no utilizaram
apenas a variao da viscosidade para quantificar a tixotropia. Sabe-se, entretanto, que, por
ser facilmente mensurvel, a viscosidade a propriedade mais utilizada para quantificar o
fenmeno.
Sendo assim, Barnes et al. (1989) definiram tixotropia como a diminuio temporal
da viscosidade sob taxa ou tenso de cisalhamento constante, seguida por uma recuperao
gradual quando o escoamento interrompido. Barnes (1997) afirmou, porm, que esta
definio no abrange as mudanas reolgicas dependentes do tempo na microestrutura do
material sob cisalhamento, concluindo que necessria uma definio mais completa e
extensiva de tixotropia.
Mewis & Wagner (2009) expem em sua reviso um acordo geral da comunidade
cientfica que tixotropia pode ser definida como um decrscimo contnuo da viscosidade com
o tempo quando uma amostra que tenha estado previamente em repouso submetida ao
escoamento e a subseqente recuperao da viscosidade no tempo quando o escoamento
descontinuado. Vrios dicionrios cientficos e enciclopdias ainda apresentam definies
diferentes (Barnes, 1997; Mewis & Wagner, 2009). Entretanto, os elementos essenciais das
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36
definies empregadas hoje em dia so a utilizao da viscosidade como grandeza de medida,
na qual h um decrscimo dependente do tempo induzido pelo cisalhamento e o efeito reverso
quando o cisalhamento reduzido ou completamente interrompido.
A Tabela 2.1 a seguir resume a evoluo cronolgica do conceito de tixotropia.
Tabela 2.1 Evoluo cronolgica do conceito de tixotropia
Ano Autor(es) Breve descrio
1923 Schalek & Szegvari Observaram que alguns gis se transformam em lquido a partir da agitao. Antes s havia o conhecimento desta mudana a partir da variao da temperatura.
1929 Freundlich Constatou que o protoplasma se liquefaz por ao mecnica.
1934 Pryce-Jones apud Mewis & Wagner (2009)
Define tixotropia como um aumento na viscosidade em um estado de repouso e uma diminuio da viscosidade quando submetido a uma tenso de cisalhamento constante.
1935 Freundlich Indica a influncia do tempo de gelificao, utilizando-o para quantificar o fenmeno.
1939 Goodeve
Define tixotropia como uma diminuio reversvel e isotrmica da viscosidade com o aumento da taxa de cisalhamento (caracterstica de material pseudo-plstico).
1967 Bauer & Collings
Definem: O sistema considerado tixotrpico quando h uma reduo reversiva, isotrmica e dependente do tempo na magnitude de suas propriedades reolgicas (seu mdulo de elasticidade, sua tenso limite de escoamento e sua viscosidade) a partir da aplicao de um cisalhamento constante.
1989 Barnes et al.
Definem tixotropia como a diminuio temporal da viscosidade sob taxa ou tenso de cisalhamento constante, seguida por uma recuperao gradual quando o escoamento interrompido.
2009 Mewis & Wagner
Definem tixotropia como um decrscimo contnuo da viscosidade com o tempo quando uma amostra que tenha estado previamente em repouso submetida ao escoamento e a subseqente recuperao da viscosidade no tempo quando o escoamento descontinuado.
2.2.2 Quantificao da Tixotropia
Aps a interrupo do escoamento de um material tixotrpico ou quando se aplicam
nveis de tenso abaixo da tenso limite de escoamento, sua estrutura tende vagarosamente a
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37
se reestruturar ou a envelhecer (do termo ingls aging). Tais mudanas so atribudas
reorganizao estrutural que envolve a ruptura e a subseqente reformao das ligaes fracas
(Cloitre et al., 2000). O envelhecimento pode envolver o movimento browniano (movimento
aparentemente aleatrio de partculas suspensas em um fluido; Macosko, 1994) e as
reorganizaes ativadas por tenses ou deformaes locais. Sabe-se que a resposta do material
quando submetido a um posterior escoamento ir depender do tempo e do nvel de tenso
previamente aplicado a ele.
Pensando nisso, Freundlich (1929) apud Barnes (1997) utilizou o tempo requerido
para a gelificao (total reestruturao) do material para quantificar seu grau de tixotropia.
McMillen (1932) salienta a inadequao deste mtodo pelo tempo de gelificao ser arbitrrio
e depender das dimenses do volume de material utilizado. Assim, fica impossvel definir o
grau de tixotropia em dimenses absolutas.
McMillen (1932) sugeriu, ento, que a medio da tixotropia seja dada atravs da
medio de propriedades do sistema em vrios estgios e em funo de unidades
fundamentais. Ele prope a fluidez do material, grandeza recproca da viscosidade, como
parmetro de indicao da quebra completa do gel. Na condio de gel, a tenso limite de
escoamento e o mdulo de elasticidade descreveriam, por sua vez, o grau de tixotropia do
sistema. Outra propriedade necessria para quantificar a tixotropia, segundo o autor, a taxa
de variao da elasticidade medida que o sistema se solidifica.
Assim, ao invs de quantificar o grau de tixotropia com o tempo de gelificao,
proposta a quantificao do fenmeno por trs parmetros:
a mnima viscosidade (ou mxima fluidez) obtida por uma violenta agitao;
a variao temporal da viscosidade (ou fluidez) aps a cesso da agitao (a partir de
uma tenso de cisalhamento pequena e conhecida);
taxa em que a solidez (tenso limite de escoamento) aumenta aps a cesso da
agitao.
Goodeve (1938) afirmou que as principais objees dos mtodos de quantificao da
tixotropia da poca so que as grandezas a serem medidas dependem da experincia do
observador e da preciso do instrumento utilizado. Ele d o exemplo do viscosmetro de
cilndros concntricos, cujo movimento do cilindro em rotao depende de sua inrcia e do
intervalo de tempo ps-cisalhamento. Aparentemente, na poca, os pesquisadores no davam
a devida ateno ao tempo de repouso e sua influncia no grau de tixotropia. O autor sugere
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
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que uma taxa uniforme essencial pela viscosidade depender da taxa de cisalhamento. Esta
condio, porm, no era estabelecida com o viscosmetro capilar. Goodeve (1938)
desenvolveu, desta forma, um instrumento que proporciona taxa constante para medir a
evoluo temporal da viscosidade em unidades absolutas.
Ao observar outros artigos ao longo dos anos (Pryce-Jones, 1941; Cheng & Evans,
1965; Greener & Connelly, 1986; Abu-Jdayil & Mohameed, 2002), nota-se que a observao
da variao da viscosidade do repouso ao escoamento, a uma taxa de cisalhamento constante,
so as medidas do grau de tixotropia mais utilizadas. Porm, outras formas de quantificar a
tixotropia so utilizadas por outros autores. Uma delas atravs do teste de loop de histerese.
Neste experimento, sugerido por Green & Weltmann (1943), varia-se a taxa de cisalhamento
alternadamente entre dois valores predeterminados, medindo-se a tenso.
1 loop
1 2
2 loop
loop (equilbrio)
Figura 2.2 Exemplo de loops de um teste de histerese feito em um material
tixotrpico.
Se o material tixotrpico, loops semelhantes aos da Figura 2.2 so observados.
medida que o experimento evolui, as curvas de histerese tendem a um loop de equilbrio (na
Figura 2.2 representado por loop RP, sigla que denota o regime permanente), cuja rea foi
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considerada como grau de tixotropia. Chega-se a um loop de equilbrio, pois a histerese
depende da histria de cisalhamento do material, da taxa de variao do cisalhamento e de seu
valor mximo.
Quando o material viscoelstico, um loop de histerese pode tambm ser observado,
mesmo que no haja tixotropia. Dependendo do grau de tixotropia e do tempo de resposta do
instrumento em que se est medindo o loop, pode no ser possvel diferenciar um material
tixotrpico de um viscoelstico. Desta forma, recomenda-se utilizar outras formas de medir a
tixotropia e, se possvel, juntamente com este mtodo.
Atualmente, as formas mais comuns de se mensurar a tixotropia so os testes de
inicializao (do termo em ingls start-up tests), no qual a amostra, a partir do repouso,
abruptamente submetida a uma taxa de cisalhamento (ou tenso de cisalhamento) constante. A
aplicao de uma taxa de cisalhamento constante, o , resulta em um pico de tenso, os
(autores utilizam com freqncia o termo em ingls overshoot), como esquematizado na
Figura 2.3, seguido pelo gradual decaimento at um valor em regime permanente, RP .
t
t
os
RP
o
Figura 2.3 Exemplo de resposta de um fluido tixotrpico gelificado em um
experimento de inicializao.
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Usualmente, uma alta taxa de cisalhamento aplicada inicialmente para eliminar os
efeitos de cisalhamento anteriores. Aps este pr-cisalhamento, a amostra posta em repouso
por um tempo estipulado e em seguida o teste executado. A tenso de pico ( os ) pode ento
ser estudada como uma funo do tempo que a amostra permaneceu em repouso. A
intensidade do pico de tenso em funo do tempo prvio de repouso fornece uma indicao
da recuperao tixotrpica aps o cisalhamento (Mewis & Wagner, 2009). Uma desvantagem
deste teste o fato de ele ser destrutivo, j que a estrutura recuperada destruda durante o
incio do escoamento. Desta forma, todo o procedimento de pr-cisalhamento e repouso deve
ser repetido para cada novo experimento.
2.2.3 Modelagem
H diversos modelos tixotrpicos, os quais so ajustes para o comportamento de
diferentes tipos de materiais. Diferentes abordagens foram propostas para a incorporao da
tixotropia nos modelos reolgicos. A abordagem fenomenolgica, por exemplo, utiliza-se
basicamente da anlise do fenmeno e do ajuste direto da resposta do material ao
cisalhamento. Uma classe de modelos fenomenolgicos baseada nos princpios gerais da
mecnica do contnuo e os efeitos do tempo so descritos por meio de funes-memria.
Uma segunda abordagem utiliza um parmetro interno ou estrutural para expressar
o nvel estrutural do material. Esta abordagem denominada microestrutural indireta. Estes
modelos associam uma resposta reolgica a um parmetro que representa quantitativamente a
estrutura molecular e a dependncia temporal expressa por uma equao cintica deste
parmetro, normalmente denominado de parmetro estrutural. Esta dependncia tambm pode
ser escrita atravs de uma equao algbrica de evoluo do parmetro estrutural.
Um terceiro grupo de modelos utiliza uma abordagem microestrutural direta, na qual
associado o nmero de ligaes entre as partculas da estrutura do material com seu nvel
estrutural. Considerando as complexas variaes estruturais envolvidas nos escoamentos dos
materiais tixotrpicos, no surpreendente que hipteses simplificadoras significativas sejam
necessrias e devam ser cautelosamente justificadas.
Como discutido por Mewis (1979) em sua reviso, o objetivo de ambas as
abordagens microestruturais juntar a cintica estrutural com a dinmica do fluido. Isto pode
ser feito relacionando o parmetro estrutural (ou o nmero de ligaes ativas entre as
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partculas) com uma propriedade mensurvel do escoamento. A viscosidade tem sido a
varivel escolhida por muitos autores j que ela pode ser facilmente medida. Entretanto,
Mewis & de Bleyser (1975) afirmam que a utilizao de testes de inicializao destrem a
estrutura do material tixotrpico e a sua reestruturao pode ser muito lenta. Devido a isto, os
autores propem relacionar o parmetro estrutural com a parte elstica do mdulo de
armazenamento ( 'G ), obtido por um teste no-destrutivo de escoamento oscilatrio. Tiu &
Boger (1974) o relacionaram, por sua vez, com a tenso de cisalhamento e Nguyen & Boger
(1985), com a tenso limite de escoamento. Todas as abordagens podem gerar tanto equaes
constitutivas puramente viscosas (inelsticas) quanto equaes viscoelsticas. Cada
abordagem e alguns modelos propostos para os mais diversos materiais tixotrpicos so
descritos a seguir.
A seleo dos modelos a seguir revisados levou em considerao a evoluo do
conceito de tixotropia em cada abordagem e, em alguns casos, a sua possvel aplicao na
modelagem do escoamento de um fluido de perfurao.
Abordagem Fenomenolgica
Slibar & Paslay (195