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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MÁRCIA REGINA DE AZEVEDO FALKENBACH TENIUS ABANDONO AFETIVO: Responsabilidade Civil pelo Desamor CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MÁRCIA REGINA DE AZEVEDO FALKENBACH TENIUS

ABANDONO AFETIVO: Responsabilidade Civil pelo Desamor

CURITIBA

2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

MÁRCIA REGINA DE AZEVEDO FALKENBACH TENIUS

ABANDONO AFETIVO: Responsabilidade Civil pelo Desamor

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no

Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ______ de _______________________ de 2014.

_______________________________________

Prof. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenação do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ____________________________________________________

Prof. Msc. Geraldo Doni Júnior

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Supervisor: ____________________________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Supervisor: ____________________________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado às pessoas que em minha vida tiveram

significado, presença, entrega e representam tudo aquilo que neste texto é discutido.

Dedico a minha mãe Shirley de Azevedo Falkenbach, meu pai Ataíde

Falkenbach (in memorium) e ao grande amigo Luiz Goldman.

Estamos num mundo onde precisamos de mais afeto, amizade e gentileza

e estes são princípios fundamentais da família.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu professor e orientador Geraldo Doni Júnior pelos

conhecimentos transmitidos e pelo apoio em todo o trajeto percorrido.

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“O leite alimenta o corpo; o afeto alimenta a alma”

(Içami Tiba)

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RESUMO

O presente estudo analisa a evolução ocorrida tanto na família quanto no Direito de

Família, onde é possível perceber a diminuição das influências externas e o

aumento da valorização da afetividade entre seus integrantes. E os conseqüentes

desafios impostos ao Direito de Família no sentido de adequar-se e aproximar-se da

realidade familiar atual, deixando assim o formalismo percebido nas famílias

tradicionais. No segundo capítulo, estudar-se-á o Poder Familiar, com o objetivo de

mostrar ao leitor como eram as famílias antigamente, como eram formadas, quais os

valores primordiais para sua existência com o intuito de comparar como está a

família hoje, o que mudou e a grande importância que tem a afetividade na família

contemporânea. No capítulo terceiro, estuda-se a afetividade propriamente dita, o

posicionamento da doutrina e da jurisprudência atualmente, exemplificando os

posicionamentos com a jurisprudência do STJ, explicando-se ainda o que é o

abando afetivo do filho, buscando demonstrar as conseqüências deste abandono

para sua vida adulta. E finalmente, no capítulo quarto, abordar-se-á o tema

específico do presente estudo, a responsabilidade civil dos pais. Até que ponto ela

existe, fazendo a análise de indenização em caso de comprovado abandono e

estuda-se ainda, de que forma é arbitrado o valor desta indenização.

PALAVRAS-CHAVE: Abandono afetivo. Família. Responsabilidade civil. Danos

psicológicos. Indenização.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................08

2 O PODER FAMILIAR..............................................................................................10

2.1 APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITOS..............................................10

2.2 DO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR..............................................................14

2.3 DA PERDA DO PODER FAMILIAR.....................................................................16

3 A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES................................................18

3.1 A AFETIVIDADE NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA...............................19

3.2 ABANDONO AFETIVO DO FILHO.......................................................................22

4 RESPONSABILIDADE CIVIL E A INDENIZAÇÃO................................................24

4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL...............................................................................24

4.2 ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕE A RESPONSABILIDADE CIVIL E

SUA ADEQUAÇÃO AOS CASOS DE ABANDONO FILIAL-AFETIVO......................24

4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS.......................................................27

4.4 DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS AO DEVER DE INDENIZAR...................27

4.5 O VALOR DA INDENIZAÇÃO..............................................................................30

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................34

ANEXO I.....................................................................................................................38

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1 INTRODUÇÃO

A família contemporânea passa por profundas transformações e é

possível perceber a diminuição de influências externas (religião, Estado e interesses

do grupo social) e conseqüentemente a valorização à realização existencial e afetiva

de seus integrantes.

A família atual busca sua identificação na solidariedade (art. 3º, I da

Constituição) como um dos fundamentos da afetividade. O afeto é um fato social e

psicológico, talvez por esta razão, e pela formação normativista dos profissionais do

direito no Brasil, houvesse tanta resistência em considerá-lo a partir da perspectiva

jurídica. Mas não é o afeto, enquanto fato anímico ou social, que interessa ao direito,

o que notadamente interessa como seu objetivo próprio de conhecimento, são as

relações sociais de natureza afetiva que engendram condutas suscetíveis de

merecer a incidência de normas jurídicas.

A norma é o princípio jurídico da afetividade. As relações familiares e de

parentesco são sócio-afetivas, porque congrega o fato social e a incidência do

princípio normativo (afetividade).

Em função das novas tendências sociais, bem como, dos princípios

consagrados na Constituição Federal que ao refletirem-se na dignidade da pessoa

humana trouxe uma série de mudanças no Direito de Família, dentre estas

mudanças está à teoria da desbiologização da paternidade, desta forma, além do

vínculo biológico, passou-se a buscar o vínculo afetivo entre pais e filhos.

E a questão do abandono afetivo na filiação trás a discussão acerca da

possibilidade da reparação do dano moral causado ao filho menor em razão da

atitude omissiva do pai (ou mãe) no cumprimento dos encargos decorrentes do

poder familiar.

O tema referente ao abandono afetivo na filiação e o conseqüente dever

de reparação é novo no ordenamento átrio, não havendo legislação específica

tratando da matéria.

Neste sentido, entende Maria Berenice Dias (2009, p. 416) que: “[...]

comprovado que a falta de convívio pode gerar danos, a ponto de comprometer o

desenvolvimento pleno e saudável do filho, a omissão do pai gera dano afetivo

susceptível de ser indenizado.”

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No mesmo sentido, tem-se o ensinamento de Rui Stocco¹:

“[...] o que se põe em relevo e exsurge como causa de responsabilização por dano moral é abandono afetivo, decorrente do distanciamento físico e da omissão sentimental, ou seja, a negação de carinho, de atenção, de amor e de consideração, através do afastamento, do desinteresse, do desprezo e falta de apoio e, às vezes, da completa ausência de relacionamento entre pai (ou mãe) e filho.”

Objetivando-se analisar a atual realidade no Direito de Família e seus

conseqüentes reflexos no Direito Civil, percebeu-se a relevância do tema e

vislumbrou-se a possibilidade de fazer um estudo mais profundo sobre a

responsabilidade civil dos pais no abandono afetivo, uma vez que este pode trazer

feridas incicatrizáveis para a vida dessas crianças que não serão cidadãos com uma

personalidade formada e psicologicamente equilibrados em razão da não

convivência salutar com o pai ou a mãe durante seu desenvolvimento.

Entendendo a afetividade como vetor dos relacionamentos familiares

atuais, pergunta-se:

Como o Direito interpreta o abando afetivo e de que forma se dá a

indenização (responsabilização)? Qual seria a proporção entre a gravidade da culpa

e o dano? Qual seria o critério para fixação da indenização?

_______________________

¹ STOCCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 946

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2 PODER FAMILIAR

2.1 APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITOS

O poder familiar existe para o homem desde que ele é homem. Trata-se

de um instituto de muita relevância para o homem civilizado e sua existência

transcenda a própria existência humana. É um instituto cuja principal finalidade era

delimitar a hierarquia no seio familiar.

Segundo Waldir Grisard Filho2:

“O poder familiar é um dos institutos do direito com marcante presença na

história do homem civilizado. Suas origens são tão remotas que

transcendem as fronteiras das culturas mais conhecidas e se encontram na

aurora da humanidade mesma.”

No Direito Romano, poder familiar era um direito exercido exclusivamente

pelo pai, chamado pater famílias, poder este que era exercido sobre todos os

membros da família, independentemente da idade dos filhos, era o pai que exercia o

poder sobre este, e quando o pai viesse a falecer o filho então tomava o seu lugar.

A etimologia da palavra pater, significa Deus, dizendo que o homem que

constituísse sua família poderia exercer todos os poderes sobre esta, como se fosse

um Deus. Era tido como um ser supremo dentro da família, a quem todos deviam

respeito e obediência.

Entre os romanos, o denominado pátrio poder, em nada tinha haver com a

dignidade da pessoa humana ou no melhor interesse da criança ou adolescente,

mas sim, tinha conotação de direito de propriedade, direito esse que poderia ser

renunciado a qualquer tempo, e assim, o pai daria os seus filhos a quem quer que

fosse enjeitando-os.

Neste sentido, ensina Paulo Lôbo3:

“A patria potestas dos romanos era dura criação de direito despótico, e não tinha correlação com deveres do pai para com o filho. É certo que existiam deveres, porém estes quase só eram provindos da moral. Juridicamente, a

2 GRISARD FILHO, Waldir. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade paternal. 5 ed. Ver. E atual. São Paulo Editora: Revista dos Tribunais, 2010 p.37 3 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2ed. São Paulo: Saraiva, 2012

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pátria potestas constituía espécie do direito de propriedade. O pater famílias podia renunciar a esse direito, dando a terceiros os filhos in mancipio, ou enjeitando-os.”

E conforme Waldir Grisard Filho4:

“Nesse regime primitivo, em algumas circunstâncias, o pater familias – que só podia ser exercido pelo varão – tinha o direito de expor ou matar o filho (ilus vitae ET necis). O de vendê-lo (ius vendidis), o de abandoná-lo (ius exponenedi) e o de entregá-lo a vítima de dano causado por seu dependente (ius noxae dedítio).”

Com o advento da Lei das XII Tábuas o amplo poder que o varão tinha

sobre os filhos foi gradativamente diminuindo, onde o pai passou a ter o direito de

vender o filho por até três vezes (tábua quarta), mais tarde, sobre Justiniano, os

poderes do pai sobre os filhos diminuíram ainda mais, onde o pai tinha o direito

apenas de correção sobre este.

Na idade média ocorreu um choque de interesses entre os pilares

organizadores do sistema familiar, onde, prevaleceu nos países de direito escrito o

Direito Romano, na forma da legislação justiniana e nos países de direito costumeiro

o Germânico, em cujo direito prevalecia os direitos dos filhos sobre a vontade do pai.

Os países de direito escrito mantiveram a tradição romana, onde o

interesse do pai se sobrepunha aos direitos do filho, e o poder que o pai tinha sobre

o filho se dava de forma perpétua.

Em contrapartida nos países de direito costumeiro prevaleceu o direito

Germânico, onde o papel do pai era mais um dever do que um exercício de um

poder e cujo exercício se dava de forma temporária.

No cristianismo houve prevalência das duas posições, ou seja, adotou-se

a tradição romana bem como a tradição germânica.

Antes do advento do code civil a França não tinha entendimento definido a

cerca do tema, onde, ao sul adotava-se a feição romana e ao norte a feição

germânica. O poder familiar com feição predominante romana encontrou assentos

nas ordenações do reino e mais tarde foi transportada para o Brasil em 20 de

outubro em 1.823.

4 GRISARD FILHO, Waldir. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade paternal. 5 ed. Ver. E atual. São Paulo Editora: Revista dos Tribunais, 2010 p.37

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O Código Civil de 1.916 continuou adotando a posição romana, onde era o

homem que detinha o poder familiar, tal qual a denominação utilizada “pátrio poder”.

Mas com o advento da Constituição Federal de 1.988, em seu artigo 5º, onde trata

que homens e mulheres serão iguais, houve a necessidade de mudança na

interpretação do Código Civil de 1.916, no que diz respeito ao poder familiar.

Os tempos passaram e tal interpretação com o tempo foi ganhando forma,

sempre visando o melhor interesse da criança e tratando homens e mulheres de

maneira igualitária perante a lei. Contudo, só foi co o advento do Código Civil

Brasileiro de 2.002 que a nomenclatura “pátrio poder” foi oficialmente alterada para

“poder familiar” consagrando de vez que o poder familiar não é somente do homem,

mas em igualdade, do homem e da mulher.

Contudo ainda que com a mudança na nomenclatura, alguns

doutrinadores acreditam que ainda não é a mais adequada, porque mantêm a

palavra poder com grande ênfase em sua denominação. É o que diz Paulo Lôbo5:

“A denominação ainda não é a mais adequada, porque mantém a ênfase no poder. Todavia, é melhor que a resistente expressão “átrio poder”, mantida, inexplicavelmente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), somente derrogada com o Código Civil.”

Dada toda evolução histórica acerca do “pátrio poder”, atualmente é assim

definido os limites do poder familiar que será exercido sobre a criança. Lembrando

que o poder familiar será exercido de forma discricionária pelos pais, contrariamente

a isso, esse poder será exercido com um condão de dever propriamente dito e não

como um poder de domínio sobre o outro. É o que diz o art. 1.634 do Código Civil de

2.002:

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I - dirigir-lhes a criação e educação; II - tê-los em sua companhia e guarda; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

5 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2ed. São Paulo: Saraiva, 2012 p. 295

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O inciso VII do artigo supracitado foi criado em uma determinada época

visando proteger a criança e o adolescente. Porém a sociedade mudou e com ela os

conceitos também mudaram. Na atualidade o referido inciso é considerado

incompatível com a Constituição Federal, pois fere o princípio da dignidade da

pessoa humana, protegida no art. 1º, III e art. 227, ambos da Constituição Federal.

Segundo Paulo Lôbo7:

“Temos por incompatível com a Constituição, principalmente em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana (arts. 1º, III e 227), a permissão contida no inciso VII, do art. 1.634 do Código Civil de exploração da vulnerabilidade dos filhos menores para submetê-los a “serviços próprios de sua idade e condição”, além de consistir em abuso(art.227§4º).”

A regra do inciso VII foi criada em um momento em que a família era

considerada como unidade produtiva, onde todos os entes da família participavam

para manutenção e era tido como natural que as crianças trabalhassem sem

remuneração, ainda que em atividades com fins econômicos.

Com relação ao conceito de poder familiar, Silvio Rodrigues (2008, p.358),

define como sendo um “Conjunto de direito e deveres atribuídos aos pais, em

relação à pessoa e aos bens dos filhos não emancipados, tendo em vista a proteção

destes”.

Ainda nesse sentido, trazem Washington de Barros Monteiro e Regina

Beatriz Tavares da Silva (2011, p.502), “[...] o poder familiar é instituído no interesse

dos filhos e da família, e não em proveito dos genitores”.

Pode concluir que o poder familiar contemporâneo, visa o interesse dos

filhos bem como da família e não o interesse dos pais, havendo a necessidade de

respeito mútuo e ainda a observância do princípio da paternidade responsável,

constante no art. 226 §7º da atual Constituição Federal.

O poder familiar é a soma do exercício da autoridade do pai e da mãe

sobre o filho menor até atingir maioridade. Conforme se observou, ao longo da

evolução histórica mudou-se radicalmente a interpretação do que venha a ser poder

familiar.

Antes poder familiar significava dizer que um ser humano era subjugado a

outro. Na atualidade, quer dizer exatamente o oposto. Se antes era o poder do pai

7 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2ed. São Paulo: Saraiva, 2012 p. 305

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que devia ser reconhecido e obedecido, hoje significa dizer que são os direitos da

criança e do adolescente que devem ser observados e, sobretudo, respeitados.

Nas palavras de Waldir Grisard Filho8:

“Pode-se dizer que poder familiar é um conjunto de faculdades encomendada aos pais, como instituição protetora da menoridade, com o fim de lograr o pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos, física, mental, moral, espiritual e social. Para alcançar tal desiderato, impõe-se ainda aos pais satisfazerem outras necessidades dos filhos, notadamente de índole afetiva, pois o conjunto de condutas pautadas no art. 1.634 CC o é em caráter mínimo, sem excluir outros que evidenciem aquela finalidade.”

Na atual legislação, a criança será protegida em casos de separação dos

seus pais. Protegida no sentido de que esta terá direito de conviver com ambos,

ainda que estes estejam separados. De acordo com o art. 226 §5º da Constituição

federal, haverá igualdade plena entre homens e mulheres e também enquantos pais,

separados ou não, onde ambos exercerão o poder familiar sobre os filhos enquanto

menores.

Nos termos do artigo 226, §5º da Constituição Federal combinado com o

artigo 1.630 do Código Civil de 2.002:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.

2.2 DO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR

Fato é que com a evolução histórica, a criança vem sendo protegida não

somente pelos pais, mas também por toda a sociedade e pelo Estado. E na

decorrência de tal evolução, não foram definidos limites como os pais exercerão a

poder familiar, apenas há a definição de que o poder familiar será exercido de

maneira conjunta, sejam eles cônjuges ou ex-cônjuges. É o que dispõe o art. 227 da

Constituição federal de 1.988.

8 GRISARD FILHO, Waldir. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade paternal. 5 ed. Ver. E atual. São Paulo Editora: Revista dos Tribunais, 2010 p. 35

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Com a devida proteção ao menor, o poder familiar é irrenunciável,

imprescritível, inalienável e indisponível, ou seja, ainda que o pai ou mãe queiram

deixar de exercer o poder familiar sob qualquer pretexto, a lei assegura à criança e

ao adolescente o direito de ter seus pais sempre ao seu lado, exercendo seu papel

de protetor, ainda que de maneira compulsória.

Em determinadas situações o exercício do poder familiar também poderá

se dar por pessoas diversas que não sejam pai ou mãe da criança ou do

adolescente.

Quando o Código Civil se refere ao poder familiar, este deve ser entendido

de maneira ampla, ainda que este se refira apenas ao pai e a mãe. Bem como o

Estatuto da Criança e do Adolescente também diz que o poder familiar será exercido

pelo pai e pela mãe da criança na forma que dispuser a lei. Porém o Código Civil faz

referência apenas ao poder familiar a ser exercido em conjunto pelo pai e pela mãe

na constância do casamento ou da união estável.

Aduz Paulo Lôbo9:

“Ante o princípio da interpretação em conformidade com a constituição, a norma deve ser entendida como abrangente de todas as entidades familiares, onde houver quem exerça o múnus, de fato ou de direito, na ausência de tutela regular, como se dá com irmãos mais velhos que sustenta os demais irmãos, na ausência dos pais, ou de tios em relação a sobrinhos que com ele vivem.”

A lei civil diz que o poder familiar será exercido pelo pai e pela mãe

durante o casamento e a união estável, contudo, a convivência sob o mesmo teto

não é requisito necessário para exercê-lo, uma vez que o poder familiar só se

suspende ou se extingue por meio de decisão judicial por motivos elencados

taxativamente na lei. O que pode ocorrer em casos de separação é a variação de

grau que o poder familiar será exercido, mas isso está relacionado com o exercício

do mesmo e não sobre a titularidade deste.

O exercício do poder familiar em conjunto pressupõe harmonia nas

decisões dos titulares, onde a vontade de um não pode sobrepor-se à do outro, mas

sim deve-se levar em consideração o melhor interesse da criança ou adolescente.

9 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2ed. São Paulo: Saraiva, 2012 p. 299

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2.3 DA PERDA DO PODER FAMILIAR

A perda do poder familiar será aplicada somente quando sua suspensão

ou outras medidas que coloquem a salvo a dignidade e melhor interesse da criança

não puderem ser aplicadas. Pois sempre que houver a possibilidade de

recomposição dos laços entre pais, outras medidas devem ser tomadas que não a

perda do poder familiar.

Conforme Paulo Lôbo10, sobre a privação do exercício do poder familiar:

“A privação do exercício do poder familiar deve ser encarada de modo excepcional, quando não houver qualquer possibilidade de recomposição da unidade familiar, o que recomenda estudo psicossocial.”

Contudo a lei tem o intuito de proteger da melhor forma a criança e o

adolescente, fazendo com que a perda do poder familiar seja utilizada como última

opção. Assim como a fez irrenunciável, imprescritível, inalienável e indisponível.

Diz o art. 1.638 do Código Civil:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

O abando que trata o inciso II do artigo 1.638 do CC/2.002 se dá por

diversos motivos, de forma intencional ou por motivo de força maior. O abando do

filho por motivos justificáveis como problemas financeiros ou de saúde, devem ser

analisados de forma diferente de quando o pai abandona intencionalmente.

Conforme Paulo Lobo (2012, p. 309): “Tem sido entendido que o

abandono do filho não é mais causa automática de perda do poder familiar,

redundando em mais problemas que soluções para aquele”.

Com relação à menção de abandono do filho, que faz o inciso III do artigo

1.638 do Código Civil, a análise não pode ser feita de acordo com os valores

subjetivos do juiz, pois correria o risco de constituir abuso de autoridade.

10 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2ed. São Paulo: Saraiva, 2012 p. 309

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As decisões de procedência e improcedência da reparação civil por

abandono afetivo estão paralelamente associadas ao conteúdo pessoal do poder

familiar.

Em se tratando de poder familiar e sua e sua destituição, salienta-se que o

direito civil familiar moderno encontrou uma nova faceta do Estado, o qual respeita

os limites legais da família , sua comunhão plena, confere autonomia privada ao

cidadão, mas ao mesmo tempo está presente intervindo judicialmente quando

necessário de forma repressiva ou curativa.

Neste sentido, Orlando Gomes11 classifica essa “nova” intervenção estatal

sob dois aspectos:

“Abrindo uma brecha na intimidade doméstica parece ser, no entanto, uma prática necessária no processo de politização da família, especialmente em relação ao seu governo, que, de monocrático, passou a diárquico. Outra alternativa não se tem para a solução dos conflitos de interesses quando a família deixou de ser uma unidade para se tornar uma pluralidade de convivência.”

Desta forma, percebe-se que a Constituição Federal traçou as diretrizes

gerais da proteção integral da criança e do adolescente, o Estatuto da Criança e do

Adolescente, acrescentou detalhes a estas diretrizes e, o Código Civil ratificou estes

deveres pessoais e patrimoniais dos genitores ou de quem possui a guarda do

menor.

11 GOMES, Orlando. O Novo Direito de Família. Porto Alegre: Fabris, 1.984 p. 84

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3 A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES

As diversas concepções históricas de família, nem sempre adotaram a

afetividade como elemento constituinte do elo entre seus integrantes, uma vez que o

objeto da afetividade envolve o foco na pessoa e na subjetividade, que

historicamente nem sempre foi uma prerrogativa da família.

Conforme mencionado no capítulo 2 do presente estudo, foi no século XX

que se alargou o espaço individual no Brasil, trazendo como conseqüência maior

subjetividade pessoal, cedendo assim maior espaço ao sentimento e afetividade

Conforme observa Eduardo de Oliveira Leite12:

“Esquematizava-se com traços marcantes a nova família, a família nuclear, que tende a se manter invulnerável até o final do século. Perdia a grande família, deslocava-se para a sociedade conjugal, a primazia exercida pelo parentesco. Ganhava o casal, perdia definitivamente a família tronco. Perdia-se em quantidade de membros, ganhava-se na qualidade do afeto entre reduzido círculo da família conjugal”.

Sendo assim, observa-se que tanto a casta, como o próprio Direito de

Família, de uma forma natural e espontânea, chegou a conclusão de que a família

não é apenas formada por seus vínculos sanguíneos, mas também por laços de

afeto, segundo Silvana Maria Carbonera apud Denise Damo Comel (2003, p. 90: “Os

operadores do direito concluem que existem outros elementos que são agregados à

noção clássica de família, sendo insuficiente a formalidade do vínculo jurídico,

reconhecendo ao afeto um papel jurídico fundamental ao novo contexto familiar”.

Na seqüência, constatou-se uma outra forma de convivência familiar

ocorrida a partir do final do século XX, onde predomina a afeição, a liberdade, a

igualdade e o respeito aos relacionamentos, originando assim uma nova família a

partir de então, retratando essa modernidade que acabou de se apresentar.

Neste sentido Eduardo de Oliveira Leite13 aduz que:

“A nova família, estruturada nas relações de autenticidade, afeto, amor, diálogo e igualdade, em nada se confunde com o modelo tradicional, quase

12 LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. A situação jurídica de pais e mães solteiros, pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003 p. 337 13 LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. A situação jurídica de pais e mães solteiros,

pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003 p. 367

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sempre próximo da hipocrisia, da falsidade institucionalizada, do fingimento. A noção de vida em comum atual repousa soberana sobre sua solidariedade constantemente provocada pela intensidade afetiva. [...] Uma tal família, convivendo no afeto, na liberdade, na responsabilidade mútua, desempenha um papel decisivo no rumo dos fatos sociais, determinando as verdadeiras valorações que orientam o convívio social”.

E ainda neste sentido, destaca Giselda Hitonaka14:

“O afeto, reafirme-se está na base da constituição da relação familiar, seja ela uma relação de conjugalidade, seja de parentalidade. O afeto está também, certamente, na origem e na causa dos descaminhos desses relacionamentos. Bem por isso, o afeto deve permanecer presente, no trato dos conflitos, dos dos desenlaces, dos desamores. Por que o afeto tem um que de respeito ancestral, tem um que de pacificador temporal, tem um que de dignidades essencial. Esse é o afeto de que se fala. O afeto-ternura; o afeto-dignidade. Positivo ou negativo. O imorredouro do afeto”.

Desta forma, percebe-se que a sociedade passou a adotar gradativamente

o aspecto afetivo como suficiente e relevante nessas escolhas pessoais. Com

paralelo decréscimo da importância que era conferida a outros vínculos (biológico,

material, registral), restou possível perceber a centralidade que a afetividade

assumiu em grande parte dos relacionamentos. Foi de tal ordem a alteração que

resta possível afirmar que houve uma verdadeira transição paradigmática na família

brasileira contemporânea, pela qual a afetividade assumiu o marco destas relações.

3.1 A AFETIVIDADE NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA

A jurisprudência desempenhou um papel de grande importância na

consolidação da afetividade no sistema brasileiro, vez que, conforme já demonstrado

no presente estudo, muito antes de qualquer dispositivo legislativo expresso, já

reconhecia a afetividade em diversos casos. São inúmeras decisões que, mais

incisivamente a partir da última década, concederam efeitos jurídicos à afetividade

em diversas situações concretas.

Ainda nesse sentido, a introdução da afetividade nos textos de lei conferiu

maior relevância ao seu reconhecimento jurisprudencial, eis que, muito antes da

14 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Os Contornos Jurídicos da Responsabilidade Afetiva entre Pais e Filhos – além da obrigação legal de caráter material. http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=289

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adoção expressa pelo legislador, a jurisprudência já se dedicava ao tema. Conforme

ensina Álvaro de Azevedo15:

“O reconhecimento jurisprudencial gradativo conferido às uniões estáveis de 1988 pode ser considerado uma das formas de reconhecimento jurídico de uma relação precipuamente afetiva, mesmo sem legislação expressa que a agasalhasse. Em que pese a timidez do trato e as críticas que atualmente podem ser expostas, é possível perceber que a jurisprudência passou a reconhecer de algum modo aquelas relações antes tidas como “invisíveis” ao direito.”

Interessante salientar o caso que foi julgado pelo Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná, no ano de 2001, onde discutiu-se uma relação paterno-filial

consolidada faticamente, mas que, no decorrer do litígio, se comprovou ausente o

vínculo genético, o tribunal, ao deliberar sobre o caso, decidiu pela manutenção do

vínculo parental mesmo sem o vínculo biológico, declarando que reconhecia in

causu uma paternidade socioafetiva.

NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. “ADOÇÃO À BRASILEIRA”. CONFRONTO ENTRE A VERDADE BIOLÓGICA E A SÓCIO-AFETIVA. TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PROCEDÊNCIA. DECISÃO REFORMADA. A ação negatória de paternidade é imprescritível, na esteira do entendimento consagrado na Súmula 149/STF, já que a demanda versa sobre o estado da pessoa, que é emanação do direito da personalidade. 2. No confronto entre a verdade biológica, atestada em exame de DNA, e a verdade sócio-afetiva, decorrente da denominada “adoção à brasileira” (isto é, da situação de um casal ter registrado, com outro nome, menor, como se deles filho fosse) e que perdura por quase quarenta anos, há de prevalecer a solução que melhor tutele a dignidade da pessoa humana. 3. A paternidade sócio-afetiva, estando baseada na tendência de personificação do direito civil, vê a família como instrumento de realização do ser humano; aniquilar a pessoa apelante, apagando-lhe todo histórico de vida e condição social, em razão de aspectos formais inerentes a irregular “adoção à brasileira”, não tutelaria a dignidade humana, nem faria justiça ao caso concreto, mas, ao contrário, por critérios meramente formais, proteger-se-iam as artimanhas, os ilícitos e as negligências utilizadas em benefício próprio do apelado. (TJ/PR Apelação Cível 108.417-9, 2ª Vara de Família, Curitiba. Apelante G.S / Apelado A.F.S / Relator: Desembargador Acássio Cambi, julgado em 12.12.2001)

É interessante esta decisão, vez que distingue expressamente as figuras

do ascendente genético e do pai, reconhecendo no caso concreto o vínculo paterno-

filial, advindo de uma relação sócio-afetiva, mesmo o filho advindo de uma “adoção à

brasileira”, ou seja, uma adoção informal.

15 AZEVEDO, Álvaro Villaça de. Estatuto da Família de Fato. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2.011 p. 83

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Com base nesta decisão, muitas outras foram proferidas no mesmo

sentido, note-se que esta decisão foi proferida antes do Código Civil de 2002, ou

seja, a decisão do magistrado baseou-se no Código Civil de 1916, que trazia uma

racionalidade mais rígida para o acolhimento de situações subjetivas afetivas.

Sob esta égide, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) assumiu papel

relevante ao legitimar tais decisões. Na função de unificador das decisões

jurisprudenciais, e como guardião das leis infraconstitucionais, o STJ foi firme em

respaldar mais julgados reconhecedores da afetividade nas relações familiares.

Este entendimento do STJ foi de suma importância para a solidificação do

reconhecimento da afetividade no direito brasileiro.

Em consonância com o citado entendimento, muitas decisões passaram a

reconhecer vínculos parentais sócio-afetivos.

“RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO SANGÜÍNEA ENTRE AS PARTES. IRRELEVÂNCIA DIANTE DO VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. - Merece reforma o acórdão que, ao julgar embargos de declaração, impõe multa com amparo no art. 538, §Ú, CPC se o recurso não apresenta caráter modificativo e se foi interposto com expressa finalidade de prequestionar. Inteligência da Súmula 98, do STJ. - O reconhecimento de paternidade é válido de reflete a existência duradoura do vínculo sócio-afetivo entre pais e filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que não pode ser, e não é desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro civil. - O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para reconhecimento da filiação naquelas circuntâncias qm que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu. Não se podem impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não sendo pai biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario sensu, se o afeto persiste Ed forma que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e aparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sangüíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica. I Recurso reconhecido e provido. (STJ. Recurso Especial 878.941/DF (2006/0086284-0), Min. Nancy Andrighi, julgamento m 21.08.2007.

Esta sólida construção jurisprudencial foi edificada durante vários anos,

com contribuições de diversos juízes e tribunais, a ponto de ser possível afirmar que

há jurisprudência consolidada, inclusive no âmbito do STJ, que respalda o

reconhecimento jurídico da afetividade.

Sem adentrar nos pormenores da discussão, resta possível concluir que o

reconhecimento jurídico da afetividade pelo direito de família possui amplo respaldo

jurisprudencial e doutrinário, o que permite sua assimilação e valoração pelo sistema

jurídico.

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3.2 ABANDONO AFETIVO DO FILHO

Com a supracitada evolução ocorrida na sociedade desde o século XX,

tanto a doutrina quanto a jurisprudência brasileira, atentaram-se para o fato de que

há casos em que o pai que não convive com a mãe, muitas vezes contenta-se em

pagar alimentos ao filho e acha que desta maneira cumpre seu “papel de pai” e priva

o menor de sua companhia, tornando-se, para o menor, um “perfeito desconhecido”,

esse abandono afetivo sentido pela criança trás um sentimento de rejeição e

provavelmente ocasionará um déficit emocional, alterando assim seu estado

psicológico, o que provocará conseqüências graves para o adulto que esta criança

se tornará.

A questão é relevante, levando-se em conta a natureza dos deveres

jurídicos do pai para com o filho, o alcance do princípio jurídico da afetividade e a

natureza laica do Estado de Direito, que não pode obrigar o amor ou afeto às

pessoas.

Pertinente citar o caso paradigma do presente estudo, foi o primeiro caso

que chegou ao Superior Tribunal de Justiça, oriundo do Tribunal de Justiça de Mina

s Gerais, que trata da matéria de reparação civil por abandono afetivo.

Ocorreu em Minas Gerais, onde o autor, até seis (6) anos de idade

manteve contato regular com seu genitor.

Após divórcio de seus pais e, com o nascimento de sua irmã, fruto de novo

relacionamento de eu pai, este afastou-se definitivamente de seu filho e embora

continuasse contribuindo com valor de 20% de seus rendimentos líquidos, passou a

ignorar o filho de seu primeiro relacionamento, tratando-o com frieza e rejeição,

inclusive em datas comemorativas, tais como aniversário, natal, formatura.

O filho, diante do sentimento de rejeição e abandono, com fulcro no art.

227 da Constituição Federal de 1988, propôs ação por danos morais16, que em

primeira instância foi julgada improcedente.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

16 http://www.stj.jus.br – Recurso Especial 747511

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§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Diante da improcedência do pedido, o autor apelou17 e o Tribunal de

Justiça de origem acolheu a apelação do filho, decidindo que “a dor sofrida pelo

filho, em virtude do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao

amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da

dignidade da pessoa humana, fixando a indenização em 200 (duzentos) salários

mínimos, entendendo restar configurado nos autos o dano sofrido na sua dignidade.

O pai recorreu ao STJ (REsp 757.411) que reformando a decisão recorrida

por maioria, entendeu que a indenização por dano moral pressupõe a prática de ato

ilícito, não rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de

1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária. Argumentou o relator

que o descumprimento injustificado do dever de guarda, sustento e educação dos

filhos leva à perda do poder familiar, como a mais grave pena civil a ser imputada a

um pai; o voto vencido considerou que a perda do poder familiar não interfere na

indenização por dano moral.

O acórdão foi assim emendado:

“Responsabilidade civil. Abandono moral. Reparação. Danos morais. Impossibilidade. 1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à aplicação da norma do art. 159 do CC de 1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária. Recurso Especial conhecido e provido. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Relatório do Min. Fernando Gonçalves, no Recurso Especial 747511 oriundo de Minas Gerais, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça).

Comenta Aline Karow (2012, p. 148) que: “o Referido Recurso Especial

trouxe decepção para a comunidade jurídica”.

Esta foi a primeira vez que o Superior Tribunal de Justiça enfrentou a

matéria.

17 http://www.apase.org.br/83007-danomoral.htm

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4 RESPONSABILIDADE CIVIL E A INDENIZAÇÃO

4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

Nesse momento faz-se necessário comentar os elementos da

responsabilidade civil para melhor compreensão do tema.

De forma clássica e tradicional, a responsabilidade civil extracontratual, é

analisada através de três prismas bem definidos e assim denominados:

a) o ato ilícito;

b) o dano e

c) o nexo cusal.

José de Aguiar Dias18 diz que todos os casos obedecem a quatro séries

de exigências comuns, e as cita:

“a) Dano que deve ser certo, podendo, entretanto, ser material ou moral; b) A relação de causalidade, a causal connexion, laço ou relação direta de causa e efeito entre fato gerador da responsabilidade e o dano são seus pressupostos indispensáveis; c)A força maior e a exclusiva culpa da vítima têm, sobre a ação de responsabilidade civil, precisamente porque suprimem esse laço de causa e efeito, o mesmo efeito preclusivo; d)As autorizações judiciárias e administrativas não constituem motivo de exoneração de responsabilidade.

Atualmente, na responsabilidade civil, verifica-se que nem todo ato ilícito

causará danos, daí a importância do comentário de Fernando Noronha (2003, p.

467), “É necessário para que surja a obrigação de indenizar, [...] que o dano esteja

contido no âmbito da função de proteção assinada, ou seja, exige-se que o dano

verificado seja reultado da violação de um bem protegido”.

4.2 ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕE A RESPONSABILIDADE CIVIL E

A SUA ADEQUAÇÃO AOS CASOS DE ABANDONO

Conforme mencionado acima, através de adoção dos elementos

classificados por Fernando Noronha (2003), inicialmente é necessário constar que:

18 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 11 ed. Atualizada de acordo com o Código Civil de 2002 e aumentada pos Rui Belford Dias. Rio de Janeiro: Renovar, 2006 p. 131

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a) haja um fato: a conduta omissiva de um dos genitores, a ponto de privar

o filho da convivência, alijando-se voluntariamente de forma física e emocional, ou

ainda, a conduta comissiva através de reiteradas atitudes de desprezo, rejeição,

indiferença e humilhação, em ambas, gerando desamparo afetivo, moral e psíquico.

E aindo que esse fato seja antijurídico: nasça da não observância dos dispositivos

do ordenamento jurídico brasileiro que evidenciam a existência do direito-dever

paterno ou materno de cuidar e proteger o filho, não apenas em seu aspecto físico,

mas também psíquico e afetivo este fato gerador pode na lei, ou decorrer de

cláusula geral de responsabilização do ato ilícito extracontratual, independente de

prévia definição legal que a tipifique.

b) posteriormente, que possa ser imputado a alguém: este fato em regra

somente pode ser imputado a um dos genitores, não excluindo nem mesmo os

genitores por adoção (vide supracitada jurisprudência). Entretanto, numa situação

em que o genitor se desincumbiu da sua função, e face de transferência a terceiro

deste direito-dever, entende-se que somente haverá responsabilização se a guarda

tiver sido formalizada. Isto porque aquele que a formalizou judicialmente não apenas

aceita a situação como busca criar e educar aquele menor, atribuindo a si função de

genitor. Estes casos, também podem ser vistos quando um parente ou terceiro

requer a guarda judicial daquele menor, entretanto, negligencia nos seus cuidados a

ponto de realmente abandoná-lo e não obtém a revogação da guarda. Ainda que

haja situação de guarda de fato, por parte de terceiros, esta não foi juridicamente

retirada dos genitores, e nem chancelada pelo poder judiciário, não podendo assim

gerar obrigações a terceiros. Isto porque quem assume a guarda formal de uma

criança está atribuindo a si as funções inerentes à educação, criação,

desenvolvimento físico e emocional da criança, assumindo a figura do genitor ou

genitora; portanto, trás para si todas as incumbências daqueles, inclusive a

obrigação afetiva.

c) necessário ainda que tenha sido produzidos danos: diante da conduta

que se apresenta é preciso que a criança tenha sofrido anos em sua personalidade,

na raiz de sua dignidade. Este dano torn-se mais gravoso no momento em que se dá

na fase de desenvolvimento da personalidade, ocasião em que necessita de

modelos de comportamento e ainda impressões de afeto que lhe transmitam direção

e segurança para que venha a se desenvolver plenamente. Já que na ausência a

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maioria dos casos manifesta psicopatias diagnosticadas clinicamente. Nesse sentido

Carlos Fernandez Sessarego19 define como:

“[...] dano ao projeto de vida aquele que transcende o que conhecemos e designamos como a integridade psicossomática do sujeito, é um dano radical e profundo que compromete em alguma medida o ser do homem. Prossegue afirmando que é um dano que afeta a liberdade da pessoa e acaba por frustrar o projeto de vida que livremente cada pessoa formula e através do qual se “realiza” como ser humano. [...] e é um dano que impede que a pessoa desenvolva livremente a sua personalidade”.

d) outro elemento requerido é que esses danos possam ser juridicamente

considerados como causados pelo ato ou fato praticado: impõe obviamente aqui o

nexo causal, que da conduta do genitor tenha causado ao menor os danos

alegados, as máculas na personalidade e ou psicopatias. Necessário que estas

estejam estritamente ligadas à conduta omissiva ou comissiva dos genitores,

excluindo-se que o dano advenha de outras situações que possam ser pulverizadas.

Registre-se que os danos sofridos em tenra idade são irreparáveis, uma vez que

geram seqüelas na personalidade, não raras vezes acompanhadas de distúrbios

emocionais.

e) e, finalmente, que o dano esteja contido no âmbito da função de

proteção assinada, aqui se vislumbra que o dano sofrido pelo menor deve ser o

objeto jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Os fundamentos que criam uma

proteção em torno do objeto jurídico tutelado são compostos de várias legislações,

desde a Convenção dos Direito da Criança, o Estatuto da Criança e do Adolescente

e o próprio Código Civil, tanto no que verse aos deveres do poder familiar, ainda

quanto às garantias de desenvolvimento da personalidade sem lesão ou ameaça à

mesma. Igualmente a Constituição Federal, quando estabelece como um dos

fundamentos do Estado Democrático de Direito o princípio da dignidade da pessoa

humana, este inevitavelmente abrange não apenas regras ordinárias de proteção ao

menor e garantias de pleno desenvolvimento da criança, mas também, atribuição de

cuidados e deveres aos que detêm o poder familiar. Tem-se regra constitucional,

quando estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do

Estado Democrático de Direito. Assim, o mínimo de dignidade que é exigido para

que uma criança possa crescer e se desenvolver plenamente em sua personalidade

19 SESSAREGO, Carlos Fernandes. Proteccion a La persona humana. Revista Ajuris, Porto Alegre XIX, n. 56 Nov 1992. p. 118

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é que confira ao menor não apenas uma parcela da paternidade e/ou maternidade,

como sustento, senão que também a educação, nela compreendida o apoio moral e

afetivo, caminhando para o desenvolvimento de um cidadão completo.

4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS

S pais respondem pelos danos causados por seus filhos menores, que

estejam submetidos seu poder familiar. Trata-se de responsabilidade civil

transubjetiva, pois a responsabilidade pela reparação é imputável a quem não deu

causa diretamente ao dano.

Estabelece o art. 932 do Código Civil que os pais são responsáveis pelos

filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Autoridade,

nessa norma, está no sentido de quem é titular do poder familiar, ainda que não

detenha a guarda do filho menor, o caso de pais separados. Exige-se o requisito de

o menor estar em companhia do pai ou mãe, que é suposta sempre que estes sejam

casados ou vivam em união estável. Para pais separados, o requisito da companhia

depende de prova, para verificar se o menor causou o dano quando estava com o

guardião ou com o outro no exercício do direito de visita.

Art. 932 Código Civil - São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Para o STJ a responsabilidade civil dos pais se assenta na presunção

relativa de culpa, culpa esta pela vigilância, que pode ser afastada se ficar

demonstrado que os pais não agiram de forma negligente no dever da guarda.

4.4 DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS AO DEVER DE INDENIZAR

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Conforme já analisado no presente estudo, a família teve sua função

precípua alterada, instrumentalizando-se a favor de seus integrantes, transitando

entre afetividade, solidariedade e certa autonomia da vontade, juntamente com

valores que recheiam o ordenamento, fazendo alusão aos direito fundamentais e

dignificação da pessoa.

A indenização por danos extrapatrimoniais é nova na doutrina e

jurisprudência se considerando que a promulgação da Constituição de 1988 não

prosperava a discussão do debate.

Os danos extrapatrimoniais construíram uma escala no direito brasileirp,

num primeiro momento a doutrina lecionava a matéria e se posicionava favorável a

sua concessão; no entanto, a jurisprudência entendia por negar, sob o fundamento

do menor ser inestimável.

Após o advento da Constituição de 1988, estabeleceu-se a possibilidade

de danos extrapatrimoniais, expressamente, através do dano moral, no art, 5º, V e X,

e a jurisprudência passou a rever sua posição.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Posteriormente, e após breve análise constitucional, o dano

extrapatrimonial passou a fazer parte do cotidiano forense, sendo requerido cada

vez em que situações adversas e inusitadas chegavam aos tribunais.

No ano de 2003, uma sentença20 foi publicada em caráter pioneiro e

chegou à mídia repercutindo no país inteiro. O juiz da comarca de Capão da Canoa,

Rio Grande do Sul, em 15.09.2003, condenou um pai a indenizar sua filha com

pagamento de R$48.000,00 (quarenta e oito mil reais) corrigidos e acrescidos de

juros moratórios em face do abandono afetivo. O pai foi revel, a demanda transitou

em julgado. (Anexo I)

20 http://jus.com.br/artigos/23666/analise-doutrinaria-e-jurisprudencial-acerca-do-abandono-afetivo-na-filiacao-e-sua-reparacao/3#ixzz2tsltvw9P

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Em 05.06.2004, o juiz da comarca de São Paulo capital, julgou

parcialmente procedente21 a demanda para condenar o réu, um pai, a pagar a

quantia de R$50.000,00 (Cinqüenta mil reais( com atualização monetária a partir da

data da sentença para reparação de dano moral e o custeio de tratamento

psicológico da autora a ser apurado em liquidação.

No que tange à indenização, observa-se que, não basta apenas a

circunstância fática do abandono afetivo, senão que a mesma deve ser possível de

comprovação e os atos contumazes devem ser aptos a gerarem seqüelas psíquicas

ao infante, causando danos imensuráveis a sua pessoa (Karow, 2012).

Interessante ressaltar que, a propositura da demanda judicial somente

será possível para aqueles cônjuges que se separam ou divorciam e não mais

residem sob o mesmo teto. Não é possível requerer a ação indenizatória em

desfavor daquele genitor que, todavia reside com a família. Isto por haver imensa

dificuldade de demonstrar a omissão (Karow, 2012).

Para que a ausência da figura materna ou paterna venha a ser

indenizável, é necessário que não haja na vida da criança outra pessoa que assuma

a função da figura paterna ou materna. Justamente o dano se configura em função

da ausência do paradigma, da direção, do acompanhamento do desenvolvimento da

personalidade, psíquico e emocional. Portanto é necessário que o encargo não seja

assumido por outra pessoa, podendo ser causa de exclusão da responsabilidade

civil. Pois se, a carência afetiva do menor é suprida em face de uma terceira pessoa,

evitando-se os danos, não há sentido de ingressar com a demanda. O intuito da

responsabilidade civil atual pende de forma precípua para a reparação do dano

injusto, não havendo dano, não há que se falar em reparação (Karow, 2012).

Entretanto, este novo companheiro, alheio ao menor e que agora passa a

ser parte da família, não possui a função e nem o encargo de maximizar ou

preencher as lacunas de abandono deixadas por quem deveria cuidá-las. Desta

forma constata-se em alguns casos que a figura deste novo ente, até então

estranho, somente reflete a ausência do genitor. É por este motivo que se faz de

suma importância o laudo psicológico do filho, como forma de avalizar a situação

emocional do menor. Assim, se não demonstrado dano, em face do excelente

trabalho realizado por aquela figura substituta, não há que se falar em reparação

21 http://jus.com.br/artigos/23666/analise-doutrinaria-e-jurisprudencial-acerca-do-abandono-afetivo-na-filiacao-e-sua-reparacao/3#ixzz2tsnf5TT

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civil; porém, se estes se mostram majorados em face desta figura, o caminho é a

busca da reparação (Karow, 2012).

Os atos tendentes a gerar o dever de indenizar, são aqueles praticados

por um dos genitores, tal como não cumprimento das visitas, ausência de

comunicação, seja escrita ou por telefonema com a criança, não telefonar em datas

marcantes, aniversários, frustrar eventos previamente agendados com o menos sem

justificativa plausível, deixar o menor a à espera e não comparecer, não comparecer

ao aniversário do menor, nunca presenteá-lo, não lembrar de datas festivas, não

ficar com a criança nas férias, não tratá-la com igualdade aos demais irmãos de

outros relacionamentos, não comparecer a apresentações escolares, não lembrar da

existência do menor, ficar anos sem vê-lo. De forma comissiva a conduta, quando

está presente agride o menor verbalmente, humilha-o na frente dos demais, denigre

a sua imagem e conseqüentemente sua autoestima; enfim, atos aptos a não criar

um elo de comprometimento emocional com o menor. (CALDERÓN, 2012)

Embora a reparação civil por abandono afetivo de forma geral trate de

danos extrapatrimoniais, poderá englobar os danos com conseqüências

patrimoniais. Em algumas circunstâncias pode haver a condenação a custeio de

medicamentos antidepressivos, ansiolíticos, bem como tratamento psicológico e

terapêutico da criança e/ou adolescente, em razão do abandono afetivo.

No caso da reparação civil por abandono afetivo, entende-se que há na

verdade muito mais do que dano moral e sim dano ao projeto de vida. A vítima, a

criança ou adolescente, por maior que seja a excelência dos tratamentos

psicológicos e terapêuticos e ainda que lhe seja ministrada medicações, no caso de

patologias, jamais poderá suprir completamente as lacunas emocionais em face da

omissão de seu genitor. Realmente é um sentimento que lhe acompanhará pelo

resto de seus dias, muitas vezes frustrando em parte seu projeto de vida.

(SESSAREGO, 1992)

4.5 O VALOR DA INDENIZAÇÃO

O direito brasileiro conhece o princípio da reparação integral, no qual a

vítima que sofre o dano deve ser ressarcida em sua totalidade pelo dano. A

indenização específica (ou in natura) só não ocorre quando:

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a) for impossível a reposição ou reparação do bem;

b) não for suficiente para reparação integral dos danos; ou

c) for excessivamente onerosa para o devedor.

Logo, o caput do art. 944 reproduz que já pairava no atual ordenamento

jurídico, isto é, o dever de indenizar deve abranger a totalidade do dano sofrido,

traduzindo o consagrado princípio da reparação integral.

Nesse sentido, declara Augustinho Alvim22:

“É certo que a maior ou menor gravidade da falta não influi sobre a indenização, a qual só se medirá pela extensão do dano causado. A lei não olha para o causador do prejuízo a fim de medir-lhe o grau de culpa e, sim, para o dano, a fim de avaliar-lhe a extensão.”

Insta salientar que, o princípio da reparação integral do art. 944 veio

mitigado pela novidade inserida em seu parágrafo único, onde há possibilidade de

reduzir o montante quando houver desproporção excessiva entre o dano e o grau de

culpa do agente.

Assim a regra é da reparação integral com base na extensão do dano,

porém em situações excepcionais, franqueia-se ao juiz a faculdade, a ser utilizada

com parcimônia, de ponderar também o grau de culpa.

Observa-se ao mitigar o citado artigo, o legislador procurou fazer cm que

viesse a cobrir o dano sofrido; entretanto, apesar de esta indenização dar a

reparação integral a vítima, não poderá punir o agente de forma excessiva, e isto

ocorre quando há desproporção entre a gravidade da culpa e o dano.

Demonstrando assim que o Brasil não adotou a teoria de indenização

punitiva da pena privada, resta claro que o fim é indenizar a vítima de acordo com

seu dano, porém, proporcionalmente também, com o grau de culpa do agente. Não

buscando imprimir uma quantia elevada na indenização que extrapole o dano sofrido

a fim de punir o agente.

Para determinar o valor da indenização no caso de abandono afetivo, o

STJ não explicitou detalhadamente quais critérios utilizados para justificar a fixação

da indenização, mas Maria Celina de Bodin Moraes23 declarou:

22 ALVIM, Augustinho. Da inexecução das obrigações e suas conseqüências. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 1972 p. 1999

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“Enfim, o magistrado deve justificar detalhadamente a sua decisão, especificamente no que diz respeito à determinação da verba indenizatória. A decisão precisa será adequadamente motivada, para que, tanto quanto possível, se reduza o alto nível de subjetivismo constante das decisões judiciais que hoje se vem proferindo em matéria de dano moral. Motivação, sublinhe-se, especificamente, do quantum debeatur. Só a sua fundamentação lógico-racional permitirá que se construa um sistema de indenização justo, do ponto de vista da cultura do nosso país e do nosso tempo.”

Desta forma observa-se então que o magistrado adequará o valor da

indenização ao caso concreto, de forma motivada utilizando-se de analogia e de

fundamentação lógico-racional, adequando o dano sofrido pelo filho com o grau de

culpa do agente.

23 MORAES, Maria Celina Bodin de. A família democrática. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Anais. V Congresso Brasileiro de Direito de Família. São Paulo: IOB Thompson, 2006 p. 334

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pesquisa para desenvolver o presente trabalho, observa-se que a

responsabilidade civil no Direito de Família é um tema recente e Polêmico, distante

de um consenso tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

A evolução da família trouxe alterações em seus conceitos, deixando de

ser patriarcal para tornar-se prioritariamente voltada para a realização social e o

afeto passou a ser elemento jurídico.

O princípio da afetividade passou a representar um elo que une as

pessoas, podendo criar uma espécie de parentesco entre as mesmas, constituindo-

se até mesmo rejeição de seu rebento, é perfeitamente viável no atual ordenamento

jurídico, conforme visto em jurisprudência citada no decorrer do presente estudo.

Atualmente, não existe uma legislação específica sobre o abandono

afetivo, e é por este motivo que o estudo deste instituto, pauta-se em jurisprudências

do STJ.

O Direito interpreta o abandono afetivo como um instituto passível de

indenização, pois se o afeto, entendido este como um dos elementos integrantes

dignidade humana, sendo este um bem juridicamente protegido e o desrespeito a

este bem jurídico deve ser entendido como um ato ilícito e assim plenamente

indenizável em seu aspecto moral; o valor desta indenização fica a critério do juiz

que, de acordo com a analogia e utilizando-se de seu bom senso, utilizará de

critérios subjetivos arbitrando assim o valor da indenização no caso concreto.

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