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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ DOUGLAS FERREIRA DE LIMA DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE HOMICÍDIO NO TRÂNSITO CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DOUGLAS FERREIRA DE LIMA

DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE

HOMICÍDIO NO TRÂNSITO

CURITIBA

2015

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DOUGLAS FERREIRA DE LIMA

DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE

HOMICÍDIO NO TRÂNSITO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Murilo Henrique Pereira Jorge.

CURITIBA

2015

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TERMO DE APROVAÇÃO

DOUGLAS FERREIRA DE LIMA

DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE

HOMICÍDIO NO TRÂNSITO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba, de de 2015

____________________________

Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite Universidade TUIUTI do Paraná

Curso de Direito

Orientador: Prof. Murilo Henrique Pereira Jorge Universidade TUIUTI do Paraná Curso de Direito Professor:

Universidade TUIUTI do Paraná Curso de Direito

Professor: Universidade TUIUTI do Paraná

Curso de Direito

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia primeiramente a Deus,

minha mãe, meu filho e amigos do coração.

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RESUMO

Trata-se o presente estudo acerca da problemática do dolo eventual e a culpa

consciente nos casos de homicídio no trânsito. Assim, em um primeiro momento

será feita uma análise acerca da teoria do delito, o qual apontar-se-á aspectos sobre

a conduta, tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Neste mesmo momento serão

abrangidas as principais teorias que tratam da questão da conduta, quais sejam: a

teoria causalista, teoria finalista e teoria social. Ato contínuo, será abordada a

questão do dolo, oportunidade que restará demonstrado seus elementos e principais

espécies. Após, será feito um estudo sobre a culpa, seus elementos, principais

espécies e modalidades. Adentrando ao tema, será demonstrado de que forma a

doutrina e jurisprudência está se posicionando quanto à aplicabilidade do dolo

eventual e culpa consciente nos homicídios decorrentes de acidente de trânsito,

momento em que será trazida a tona aspectos quanto ao excesso de velocidade,

racha e velocidade excessiva. Ademais, será feita uma análise sobre o princípio da

confiança. Por fim, serão analisados dois princípios que norteiam tal questão. A

saber: princípio do in dúbio pro reo e in dúbio pro societate, de modo a demonstrar

qual se mostra mais razoável a se aplicar ao caso concreto.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 7

2 TEORIA DO DELITO............................................................................. 8

2.1 ASPECTOS GERAIS............................................................................. 8

2.2 CONDUTA.............................................................................................. 9

2.2.1 Teoria causalista..................................................................................... 10

2.2.1 Teoria finalista........................................................................................ 11

2.2.3 Teoria social........................................................................................... 12

2.3 TIPICIDADE........................................................................................... 12

2.4 ANTIJURIDICIDADE.............................................................................. 13

2.5 CULPABILIDADE................................................................................... 17

3 DO DOLO............................................................................................... 20

3.1 ELEMENTOS DO DOLO........................................................................ 20

3.2 ESPÉCIES DO DOLO............................................................................ 21

3.2.1 Dolo direto.............................................................................................. 22

3.2.2 Dolo eventual......................................................................................... 22

4 DA CULPA............................................................................................. 24

4.1 ELEMENTOS DA CULPA....................................................................... 24

4.2 ESPÉCIES DE CULPA........................................................................... 26

4.2.1 Culpa inconsciente................................................................................. 26

4.2.2 Culpa consciente.................................................................................... 26

4.3 MODALIDADES DE CULPA.................................................................. 27

4.3.1 Negligência............................................................................................. 27

4.3.2 Imprudência............................................................................................ 27

4.3.3 Imperícia................................................................................................. 28

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5 DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE

HOMICÍDIO NO TRÂNSITO..................................................................

29

6 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA................................................................ 37

7 INDUBIO PRO REO OU IN DUBIO PRO SOCIETATE......................... 39

8 CONCLUSÃO........................................................................................ 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 44

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1 INTRODUÇÃO

Vale ressaltar que o Brasil é um dos países com o maior índice de acidentes de

trânsito, o que acaba ensejando, na maioria das vezes, diversas violações à bem

jurídicos tutelados, como dano material, lesões corporais e, inclusive, a morte de

pessoas.

Atualmente, existem diversas divergências doutrinárias e jurisprudenciais quanto

à configuração de dolo eventual ou culpa consciente nos casos de homicídios

decorrentes de acidentes de trânsito.

Nesse passo, cabe ao jurista fazer uma análise minuciosa em cada caso

concreto, interpretando-o de acordo com as suas circunstâncias, eis que do

resultado obtido poderá haver uma pena de maior ou menor gravidade aplicada ao

agente infrator.

Assim, diante do grande número de acidentes ocasionados diariamente, atrelado

ao fato de que a sociedade clama cada vez mais por uma legislação que imponha

maior rigor a esses fatos, no presente trabalho será demonstrado quais os

posicionamentos adotados recentemente pela doutrina brasileira, bem como se que

forma os Tribunais Pátrios está empregando tais entendimentos em suas decisões.

Evidentemente, para que não haja qualquer injustiça quanto à imposição da

pena, cabe ao magistrado identificar, no caso concreto, a aplicabilidade do dolo

eventual ou culpa consciente nos homicídios decorrentes de acidentes de trânsito,

aplicando-se a pena de modo proporcional ao ilícito cometido.

Diante disso, o presente estudo irá trazer as principais questões que ensejam

dúvidas quanto à aplicação do dolo eventual ou da culpa consciente nos casos de

homicídios ocasionados na direção de veículo automotor, as quais se embasarão na

Constituição Federal, na legislação brasileira vigente, doutrina e jurisprudência.

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2 TEORIA DO DELITO

2.1 ASPECTOS GERAIS

Ao analisar a teoria do delito, também conhecida como teoria do crime, deve-

se ter em mente de que apesar de o mesmo (crime/delito) ser um instituto único, é

imprescindível destrinchar todas as suas características e princípios fundamentais,

com o escopo de entendê-lo, de maneira completa e de forma clara, vindo a aplicar

a teoria, nos mais diversos casos concreto.

Nesse diapasão, pode-se enxergar tal visão na doutrina:

A parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem ter qualquer delito. Esta explicação não é um mero discorrer sobre o delito com interesse puramente especulativo, senão que atende à função essencialmente prática, consistente na facilitação da averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso concreto. GRECO (2015, p. 189 apud ZAFFARONI 1996, p. 137)

Assim ao estudar a teoria do delito, constata-se que o mesmo pode ser

conceituado da seguinte maneira: conduta típica, antijurídica e culpável. Tais

elementos completam, então, a chamada teoria do delito. Como já estudado antes,

para analisar tal teoria, devemos estudar a fundo tais conceitos, já que os mesmos

tende a completar um ao outro, conforme entendimento doutrinário:

A tipicidade, a antijuricidade e a culpabilidade são três elementos que convertem a uma ação em um delito. A culpabilidade – a responsabilidade pessoal por um fato antijurídico – pressupõe a antijuridicidade do fato, do mesmo modo que a antijuridicidade, por sua vez, tem de estar concretizada em tipos legais. A tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade estão relacionadas logicamente de tal modo que cada elemento posterior do delito pressupõe o anterior. GRECO (2015, p.189 apud WELZEL, 1987, p. 57)

Ao estudar tais conceitos percebe-se que o delito é uma soma de seus

elementos, eis que na ausência de um deles, não existirá crime. Frise-se que tal

análise deve ser de maneira ordenada e progressiva, razão pela qual não estando

presente o primeiro elemento, não haverá necessidade de verificar os próximos.

Sobre o tema:

Somente quando o fato é típico, isto é, quando comprovado que o agente atuou dolosa ou culposamente, que em virtude de sua conduta adveio o resultado e, por fim, que seu comportamento se adapta perfeitamente ao

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modelo abstrato previsto na lei penal, é que se poderemos passar ao estudo da antijuridicidade. Da mesma forma, somente iniciaremos a análise da culpabilidade se já tivermos esgotado o estudo do fato típico e da antijuridicidade. (GRECO, 2015, p.190)

Apresentados os aspectos gerais, resta claro a importância do estudo

aprofundado dos elementos da teoria do delito, visando o seu aprofundamento para

futuras análises nos casos concretos, bem como, facilitando o entendimento do

presente trabalho.

2.2 CONDUTA

Conforme estudado no tópico 2.1, o delito é uma conduta típica, antijurídica e

culpável, antes de estudar os elementos específicos da teoria do delito, analisar-se-

á, em um primeiro momento, a conduta.

Seguindo a mesma linha de raciocínio do tópico anterior, analisando os

elementos de maneira ordenada, já que a conduta está presente em cada um dos

elementos, qualquer espécie de ausência da mesma nos requisitos do crime, exclui

o delito, visto que não há crime sem conduta (nullum crimen sine conducta). Para

compreendermos melhor tal conceito:

A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ser ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia). (GRECO, 2015, p.204)

Nesse passo, nota-se que a conduta pode ser entendida como sendo a ação

ou omissão humana, consciente, dirigida a determinada finalidade.

Ademais, não se deve olvidar que a conduta possui diversas características,

quais sejam: 1) a conduta se refere a um comportamento humano; 2) somente as

condutas corporais externas podem ser tidas como ações; 3) somente será

importante para o direito penal quando a conduta for voluntária; 4) o comportamento

humano diz respeito a um movimento ou abstenção de movimento do corpo.

Corroborando tal entendimento, Damásio de Jesus ensina que:

Conduta é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade. Características:

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a) A conduta se refere ao comportamento do homem, não dos animais irracionais. O ato do homem, por sua vez, só constitui conduta como expressão individual de sua personalidade. Como vimos, sujeito ativo do delito só pode ser uma pessoa física. A pessoa jurídica não é capaz de delinquir. b) Cogitations poenam nemo patitur. Só as condutas corporais externas constituem ações. O Direito Penal não se ocupa da atividade puramente psíquica. c) A conduta humana só tem importância para o Direito Penal quando voluntária. d) O comportamento consiste num movimento ou abstenção de movimento corporal. (JESUS, 1998, p. 225)

Assim, verifica-se a presença de dois elementos que envolvem a conduta, o

primeiro sendo um ato de vontade dirigido a uma finalidade, enquanto o segundo

está atrelado a uma atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior.

Após a conceituação de conduta, será estudado algumas das teorias que

norteiam tal definição, verificando-se que a teoria mais aceita em nosso

ordenamento jurídico, é a teoria finalista, porém, enxergamos alguns elementos de

outras teorias dentro da mesma, por isso a importância de conceituarmos as

principais teorias existentes em nossa doutrina: teoria causalista, teoria finalista e a

teoria social da ação.

2.2.1 Teoria causalista

A teoria causal da ação defende que o resultado não tem relevância para a

análise da ação, bastando apenas o indivíduo atuar voluntariamente, de modo que

ali seja verificada uma conduta. A doutrina conceitua tal teoria:

Para a teoria causalista (naturalista, tradicional, clássica, causal-naturalista), a conduta é um comportamento humano voluntário no mundo exterior, que consiste em fazer ou não fazer. É um processo mecânico, muscular e voluntário (porque não é um ato reflexo), em que se prescinde do fim a que essa vontade se dirige. Basta que se tenha a certeza de que o agente atuou voluntariamente, sendo irrelevante o que queria, para se afirmar que praticou ação típica. (MIRABETTE, 2009, P. 88)

Analisando a teoria, resta claro que não passa de um idealismo, pois existe

um descompasso com a verdade, já que, considerava-se apenas a vontade do

sujeito e não a finalidade, o conteúdo da ação. A teoria causalista encontrava

divergência nos casos de omissão, já que não havia uma atividade corpórea, na

omissão vemos que um “não fazer” do agente, que acarreta numa consequência ao

mundo externo, conforme citado acima..

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A teoria causalista apresenta-se polêmica, já que desconsidera o resultado,

não interligando a conduta com o que efetivamente ela causou.

Após analisar a doutrina existente sobre a teoria causalista, percebe-se que

tal teoria, ignora o fato de que toda ação do ser humano tem um objetivo, mesmo

que lícito, trazendo diversas dificuldades na implicação na teoria do delito, por este

motivo não é aplicada em nosso ordenamento jurídico.

2.2.2 Teoria finalista

Contrariando a teoria causalista, temos a teoria finalista, que defende a ideia

de que toda ação humana visa uma finalidade. Nesse passo, leciona sobre o tema

Julio Fabbrini Mirabete:

A conduta realiza-se mediante a manifestação da vontade dirigida a um fim. O conteúdo da vontade está na ação, é a vontade dirigida a um fim, e integra a própria conduta e assim deve ser apreciada juridicamente. (MIRABETE, 2009, p. 88)

Analisando tal conceito, percebe-se que a vontade do sujeito torna-se

essencial à prática de qualquer crime, não adentrando na esfera da culpabilidade,

que será explicada posteriormente neste estudo.

Corroborando tal entendimento, Cezar Roberto Bitencourt ensina que:

Segundo a concepção finalista, somente são produzidas finalisticamente aquelas conseqüências a cuja realização se estende a direção final. Em outros termos, a finalidade – vontade de realização – compreende, segundo Welzel, o fim, as conseqüências que o autor considera necessariamente unidas à obtenção do fim, e aquelas previstas por ele como possíveis e com cuja produção contava. Ficam fora da vontade da realização, por conseguinte, aquelas conseqüências que o autor prevê como possíveis, mas confia sinceramente que não se produzam. (BITENCOURT, 2015, p. 189)

Num primeiro momento, a teoria parece estar totalmente de acordo com as

ações típicas, e que não existe dificuldade em sua aplicação na prática, entretanto, a

dificuldade de aplicação na teoria finalista encontra-se nas condutas culposas e nos

crimes omissivos, especialmente nos casos de omissão culposa e culpa

inconsciente, já que nessas hipóteses a conduta do sujeito não visa à finalidade,

acontecem por acaso. Nesse ponto encontra-se a crítica a teoria ora apresentada.

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2.2.3 Teoria social

A teoria social da ação defende que somente considera-se fato típico a ação

que possui relevância social, somente aquelas condutas em que o indivíduo afeta o

todo, outrossim, tal ação deve ser inadequada perante a sociedade, a qual deve ser

considerada fora da normalidade. A doutrina esclarece tal teoria da seguinte forma:

Como o direito penal só comina pena às condutas socialmente danosas e como socialmente relevante é toda conduta que afeta a relação do indivíduo para com seu meio, sem relevância social não há relevância jurídico-penal. Só haverá fato típico, portanto, segundo a relevância social da ação. (MIRABETTE, 2009, p. 89)

Sendo assim, para a teoria social a ação é um comportamento praticado

perante a coletividade, o qual deve ser valorizado pelos padrões sociais, ou seja, a

ação é a realização de um resultado que, perante a sociedade, mostra-se relevante.

Frise-se que o resultado será questionado pelos requisitos do direito como um todo,

e não pelas leis da natureza.

2.3 TIPICIDADE

Neste particular, cumpre mencionar que existem diversos fatos praticados

perante a sociedade que podem colocar em risco interesses jurídicos relevantes, os

quais devem ser sancionados pelo direito penal.

Nesse passo, preocupou-se o legislador em descrever condutas que se

mostram nocivas para a sociedade e, consequentemente, para o ordenamento

jurídico.

Assim, a definição legal das condutas proibidas dentro do nosso ordenamento

jurídico vigente recebe o nome de tipicidade, sendo o tipo legal a descrição abstrata

que contém os elementos da conduta lesiva.

Diante disso, dentro da análise da teoria do delito temos a tipicidade, que

nada mais é do que a conduta tipificada, ou seja, uma ação do sujeito, que está

prevista na lei. O princípio do nullum crime sine lege que rege a tipicidade, significa

que o legislador visa proibir alguma ação, de modo a sancionar seu agente (sujeito

ativo do tipo penal) que pratique alguma conduta prevista na lei penal incriminadora.

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Nesse passo, defini-se a tipicidade da seguinte forma:

É a adequação de um fato cometido à descrição que dele se faz na lei penal. Por imperativo do princípio da legalidade, em sua vertente do nullum crimen sine lege, só os fatos tipificados na lei penal como delitos podem ser considerados como tal. (GRECO 2015, p. 212)

Frise-se que o fato típico é composto por diversos elementos. A saber:

conduta humana dolosa ou culposa, resultado, nexo de causalidade entre a conduta

praticada e o resultado, bem como o enquadramento do fato material a uma norma

penal incriminadora.

Nesse sentido, oportuno colacionar o entendimento de Damásio de Jesus.

Vemos que o fato típico é composto dos seguintes elementos: 1.º) conduta humana dolosa ou culposa; 2.º) resultado (salvo nos crimes de mera conduta); 3.º) nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera conduta e formais); 4.º) enquadramento do fato material (conduta, resultado e nexo) a uma norma penal incriminadora. (JESUS, 1998, p. 153)

Assim, tem-se que a tipicidade corresponde a um fato praticado pelo sujeito

ativo, o qual está descrito como crime na lei penal vigente.

2.4 ANTIJURIDICIDADE

Neste particular, cumpre mencionar que a antijuridicidade é a relação de

contrariedade entre o fato praticado e o ordenamento jurídico vigente. Assim, a

conduta será antijurídica quando não for declarada, de forma expressa, lícita.

O autor Luiz Régis Prado define antijuridicidade da seguinte forma:

O elemento conceitual do delito, ilicitude ou antijuridicidade – expressões consideradas aqui como sinônimas -, exprime a relação de contrariedade objetiva de um fato com toda a ordem jurídica, com o Direito positivo em seu conjunto. Com precisão, salienta-se que a antijuridicidade é dada pela relação objetiva de contradição da vontade do sujeito com o mandato ou a proibição. Apresenta-se como infração a uma norma imperativa ou de determinação (mandato/proibição), e é única (=geral) para todo o Direito. (PRADO, 2008, p. 341)

Ainda, vale esclarecer que a antijuridicidade pode ser dividida em formal e

material.

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A antijuridicidade formal é vista como uma violação de um comportamento do

dever de atuar ou de se omitir, cuja conduta estará estabelecida no ordenamento

jurídico, ao passo que a antijuridicidade material se origina da lesão produzida pelo

comportamento humana, que causa dano ao interesse tutelado pela norma penal.

Nesse diapasão, oportuno trazer a tona o entendimento de Cezar Roberto

Bitencourt, senão vejamos:

A essência da antijuridicidade deve ser vista, segundo uma corrente minoritária, na violação de um comportamento do dever de atuar ou de omitir estabelecido por uma norma jurídica. Essa contradição da ação com o mandamento da norma é qualificada, segundo essa concepção, como antijuridicidade formal. A antijuridicidade material, por sua vez, se constitui da lesão produzida pelo comportamento humano que fere o interesse jurídico protegido, isto é, além da contradição da conduta praticada com a previsão da norma, é necessário que o bem jurídico protegido sofra a ofensa ou a ameaça potencializada pelo comportamento desajustado. (BITENCOURT, 2004, p. 290).

Aliado a isso, não se deve olvidar que o Código Penal Brasileiro traz uma

série de dispositivos que excluem a antijuridicidade, a saber:

O artigo 23, do Código Penal, estabelece que não há crime quando o agente

praticar o fato em estado de necessidade, legítima defesa e em estrito cumprimento

do dever legal ou no exercício regular de um direito:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

No tocante ao estado de necessidade, o mesmo diz respeito à colisão de

interesses jurídicos juridicamente tutelados, o qual um deles será sacrificado em prol

do interesse da sociedade.

Nesse passo, oportuno mencionar que o estado de necessidade encontra-se

previsto no artigo 24, do Código Penal Brasileiro. Veja-se:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

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Veja-se que, conforme estabelece o parágrafo 1.º, do artigo acima

colacionado, não poderá alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de

enfrentar o perigo.

Já a legítima defesa consiste na defesa de quem, utilizando de modo

moderado os meios necessários, repele injusta agressão, a qual poderá ser atual ou

iminente, a direito próprio ou de terceiro, conforme estabelece o artigo 25, do Código

Penal:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Extrai-se do artigo supracitado que a legítima defesa exige a presença de

diversos requisitos, quais sejam: agressão injusta, atual ou iminente, direito próprio

ou de terceiro, meios de repulsa utilizados moderadamente e, por fim, o animus

defendendi, único elemento subjetivo dentre os requisitos, visto que os demais se

tratam de elementos objetivos.

De acordo com Guilherme de Souza Nucci, a legítima defesa:

(...) é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios necessários. Valendo-se da legítima defesa, o indivíduo consegue repelir as agressões a direito seu ou de outrem, substituindo a atuação da sociedade ou do Estado, que não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, através dos seus agentes. A ordem jurídica precisa ser mantida, cabendo ao particular assegurá-la de modo eficiente e dinâmico. (NUCCI, 2005, p. 222)

Por sua vez, o estrito cumprimento do dever legal estabelece que, muita

embora a conduta praticada pelo agente seja tida como típica, não será ilícita, ainda

que cause lesão ao bem jurídico penalmente tutelado, posto que aquele que pratica

uma ação em cumprimento a um dever imposto pela legislação, não cometerá crime

algum.

Nesse diapasão, Cezar Roberto Bitencourt ensina que:

Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever imposto por lei não comete crime. Ocorrem situações em que a lei impõe determinada conduta e, em face da qual, embora típica, não será ilícita, ainda que cause lesão a um bem juridicamente tutelado. Nessas circunstâncias, isto é, no estrito

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cumprimento de dever legal, não constituem crimes a ação do carrasco que executa a sentença de morte, do carcereiro que encarcera o criminoso, do policial que prende o infrator em fragrante delito etc. (BITENCOURT, 2004, p. 324)

Frise-se que, para restar configurada a excludente no estrito cumprimento do

dever legal, faz-se necessário a presença de dois elementos: o estrito cumprimento,

aliado ao dever legal.

Já o exercício regular de um direito jamais poderá ser proibido pelo

ordenamento jurídico pátrio, desde que esteja nos limites impostos pelo direito.

Corroborando tal entendimento, Luiz Régis Prado explica que:

Aquele que age no exercício regular de direito (Qui iure suo utitur neminem laedit), quer dizer, que exercita uma faculdade de acordo com o direito, está atuando licitamente, de forma autorizada (art. 5.º, II, CF). não se pode considerar ilícita a prática de ato justificado ou permitido pela lei, que se consubstancie em exercício de direito dentro do marco legal, isto é, conforme os limites nele inseridos, de modo regular e não abusivo. Essa conclusão é decorrência lógica do princípio da não contradição: um objeto não pode ser e não ser ao mesmo tempo. (PRADO, 2008, p. 355)

Isso porque, não se pode considerar ilícita uma conduta que seja permitida

pela legislação vigente, a qual se fundamenta em um exercício de direito conforme

os limites nela inseridos.

Entretanto, para que tal excludente seja aplicável ao caso concreto, é

imprescindível que estejam presentes dois requisitos, quais sejam, a atuação efetiva

no exercício regular de direito (objetivo) e o conhecimento do direito, aliado a

vontade de exercitá-lo (subjetivo).

2.5 CULPABILIDADE

No que tange a culpabilidade, a mesma está atrelada a reprovação pela

ordem jurídica de uma conduta praticada pelo homem, tido como um fato típico e

antijurídico.

Nesse passo, Luiz Regis Prado conceitua culpabilidade da seguinte forma:

A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita inculpável. Devem ser levados em consideração, além de todos os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica e ilícita realizada, também, suas circunstâncias

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e aspectos relativos à autoria. (PRADO, 2007, p. 306)

Vale esclarecer que a culpabilidade possui diversos elementos. A saber:

imputabilidade, possibilidade de conhecimento da ilicitude do fato e exigibilidade de

conduta conforme o direito.

A imputabilidade pode ser entendida como sendo a capacidade de entender e

querer do agente, ou seja, perfaz um conjunto da maturidade e sanidade mental, de

modo que o sujeito possa conhecer o caráter ilícito do ato e, assim, determinar-se de

acordo com esse entendimento.

Por sua vez, a possibilidade de conhecimento da ilicitude do fato dispõe

acerca da necessidade do agente conhecer ou, ao menos possa conhecer as

circunstâncias pertencentes ao tipo e à ilicitude.

A exigibilidade de conduta conforme o direito pode ser definido como sendo

aquela possibilidade, por parte do autor, de agir conforme o estabelecido pelo

ordenamento jurídico.

Em contrapartida, o Código Penal Brasileiro traz em seu bojo uma série de

dispositivos que tratam das excludentes de culpabilidade, as quais serão tratadas

abaixo.

O artigo 26, do Código Penal Brasileiro trata de um das causas da

inimputabilidade penal, qual seja: a doença mental ou desenvolvimento mental

incompleto ou retardado.

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Assim, nesses casos o sujeito ativo possui o senso valorativo de sua conduta,

mas, entretanto, não consegue evitar a sua prática, eis que ausente a capacidade de

autodeterminação, em virtude do distúrbio causado por tal enfermidade.

Nesse passo, o agente se torna inimputável, uma vez que não apresenta

condições psíquicas normais. Corroborando tal entendimento, Cezar Roberto

Bitencourt ensina que:

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Pode-se afirmar, de uma forma genérica, que estará presente a imputabilidade, pelo Direito Penal brasileiro, toda vez que o agente apresentar condições de normalidade psíquica e maturidade psíquica. (...) Existem determinadas condições psíquicas, como, por exemplo, certas espécies de neuroses, notadamente as neuroses obsessivo-compulsivas, que são consideradas para o Direito, doença mental. Nessas neuroses o sujeito tem claramente o senso valorativo de sua conduta, mas não consegue evitar sua prática, faltando-lhe capacidade de autodeterminação, em razão desse distúrbio, dessa enfermidade. Se não tiver essa capacidade, se ela lhe falta inteiramente, no momento da ação, no momento do fato, ele é absolutamente incapaz. (BITENCOURT, 2004, p. 360/363)

Ainda, o artigo 22, do Código Penal dispõe que se o fato for cometido sob

coação irresistível, bem como em estrita obediência de ordem legal, somente será

punível o autor da coação ou da ordem:

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

A coação irresistível é aquela que impõe determinado comportamento a

outrem, de modo que o seu poder de escolha seja eliminado ou reduzido. Por sua

vez, a obediência hierárquica está atrelada a uma relação de direito público e,

quando se tratar de ordem legal, o sujeito estará no exercício de estrito cumprimento

de dever legal, o que não pode ser repudiado pelo ordenamento jurídico vigente.

Além do mais, não se deve olvidar que os menores de dezoito anos são

penalmente inimputáveis, consoante dispõe o artigo 27, do Código Penal Brasileiro,

senão vejamos:

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

Isso porque, de acordo com a legislação vigente, a imputabilidade penal

inicia-se aos dezoito anos.

Nesse sentido, Luiz Régis Prado ensina que:

De seu turno, a imputabilidade pode ser excluída em determinadas hipóteses – causas excludentes de imputabilidade ou causas de inimputabilidade: (...) c) menoridade – menores de dezoito anos – consagra-se aqui o princípio da inimputabilidade absoluta por presunção (at. 27, CP), com fulcro no critério

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biológico da idade do agente, e que, a partir da Carta de 1988, tem assento constitucional (art. 228, CF). Porém, ficam os menores de 18 anos sujeitos às disposições específicas do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 104, Lei 8.069/1990).

Superado este ponto, faz-se necessário trazer a tona os elementos do dolo e

da culpa, bem como as sua modalidades, consoante mostrar-se-á no capítulo

seguinte.

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3 DO DOLO

O dolo pode ser definido como sendo à vontade mais consciência na

realização de uma conduta prevista na lei penal incriminadora.

Nesse passo, preocupou-se o legislador em estabelecer a definição de crime

doloso, o qual se verifica “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de

produzi-lo”. Tudo conforme dispõe o artigo 18, inciso I, do Código Penal.

Cumpre mencionar que o dolo possui um tipo objetivo, que é um conjunto de

caracteres materiais do tipo legal do delito, ao passo que o seu tipo subjetivo está

atrelado ao conjunto de características anímicas do tipo legal do delito.

Assim, o tipo objetivo determina os comportamentos atrelados à produção de

resultado, bem como fornece o embasamento para a atuação do tipo subjetivo. Por

sua vez, o tipo subjetivo diz respeito às representações anímicas, psicológicas ou

psíquicas do agente presente no momento em que for realizada a conduta prevista

na lei penal incriminadora.

Nesse sentido, Cezar Roberto Bitencourt explica que:

O tipo objetivo representa a exteriorização da vontade (aspecto externo-objetivo) que concretiza o tipo subjetivo. O fundamento material de todo o crime é a concretização da vontade num fato externo, pois crime não é somente a vontade má, mas a vontade má concretizada num fato. (...) O tipo subjetivo abrange todos os aspectos subjetivos do tipo de conduta proibida que, concretamente, produzem o tipo objetivo. O tipo subjetivo é constituído de um elemento geral - dolo -, que, por vezes, é acompanhada de elementos especiais - intenções e tendências -, que são elementos acidentais. (BITENCOURT, 2004, p. 252/255)

Ademais, de acordo com a teoria finalista, o dolo é elemento subjetivo do tipo,

integrando a conduta. Sendo assim, a ação ou omissão não constituem apenas

formas naturalísticas de comportamento, mas sim ações ou omissões dolosas.

3.1 ELEMENTOS DO DOLO

O dolo possui como elementos a consciência da conduta e do resultado, a

consciência da relação causal objetiva entre a conduta e o resultado, bem como a

vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.

Assim, para que o dolo reste configurado, faz-se necessário que o agente

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tenha consciência do que quer praticar, devendo tal consciência ser atual, ou seja,

deve estar presente no momento em que a ação for praticada.

Ademais, a vontade deve englobar a conduta humana, o resultado, assim

como o nexo causal. Frise-se que o elemento volitivo do dolo deve exprimir uma

vontade humana, a qual deve apresentar duas características para constituir seu

elemento, quais sejam: a primeira é que a vontade deve ser incondicionada,

enquanto que a segunda está atrelado ao fato da vontade ser capaz de influenciar o

acontecimento real.

Nesse sentido, Juarez Cirino dos Santos ensina que tal elemento:

(...) consiste na vontade de realizar o tipo objetivo de um delito, o verbo querer, empregado para exprimir a vontade humana, é um verbo auxiliar que necessita, sempre, de um verbo principal para explicitar seu conteúdo; neste caso, o verbo querer deve ser completado com o verbo realizar, porque o direito penal proíbe realizar crimes e, portanto, o componente volitivo do dolo define-se como querer realizar o tipo objetivo de um crime. A vontade, definida como querer realizar o tipo objetivo de um crime, deve apresentar duas características para constituir elemento do dolo: primeiro, a vontade deve ser incondicionada, no sentido de constituir uma decisão de ação já definida; segundo, a vontade deve ser capaz de influenciar o acontecimento real, de modo que o resultado típico possa ser definido como obra do autor, e não mera esperança ou simples desejo deste. (SANTOS, 2004, p. 63)

No mesmo sentido, Damásio de Jesus explica que:

É necessário que o agente tenha consciência do comportamento positivo ou negativo que está realizando e do resultado típico. Em segundo lugar, é preciso que sua mente perceba que da conduta pode derivar o resultado, que há ligação de causa e efeito entre eles. Por último, o dolo requer vontade de concretizar o comportamento e causar o resultado. (JESUS, 1998, p. 283)

Nesse passo, tem-se que os elementos do dolo (consciência e vontade) se

mostram imprescindíveis para a sua configuração.

3.2 ESPÉCIES DO DOLO

Neste particular, cumpre mencionar que grande parte dos doutrinadores traz

a tona inúmeras espécies de dolo, como, por exemplo, dolo natural, normativo,

genérico, perigo, dano, geral, direto e indireto (alternativo e eventual).

Entretanto, no presente estudo serão abordados apenas o dolo direto e o

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dolo eventual.

3.2.1 Dolo direto

No dolo direto o sujeito quer o resultado, posto que sua vontade é dirigida à

realização do fato descrito na lei penal incriminadora. Sobre o tema, Damásio de

Jesus explica que:

No dolo direto, o sujeito visa a certo e determinado resultado. Ex.: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se projeta de forma direta no resultado morte.

Ademais, não se deve olvidar que o dolo pode se dividir em imediato e

mediato. Assim, o dolo imediato diz respeito ao fato do agente buscar diretamente a

realização do tipo legal, sendo o resultado delitivo o seu fim primordial. Por sua vez,

no dolo mediato o sujeito considera que a produção do resultado está atrelada à

execução da finalidade almejada.

No Brasil, adotou-se a teoria da vontade para a modalidade de dolo direto, a

qual estabelece que o dolo é a vontade dirigida a um determinado resultado.

3.2.2 Dolo eventual

No dolo eventual, o sujeito não quer a realização do tipo penal, mas assume o

risco de produzir o resultado.

Nesse passo, Cezar Roberto Bitencourt ensina que:

(...) haverá dolo eventual quando o agente não quiser diretamente a realização do tipo, mas a aceitar como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado. (BITENCOURT, 1997, p. 237)

Assim, haverá o dolo eventual quando o agente prevê o resultado como

provável, ou ao menos possível. Entretanto, apesar de prevê-lo, o sujeito age

aceitando o risco de produzi-lo.

Registre-se, ainda, que a consciência e a vontade deve estar presente no

dolo eventual, eis que se mostra indispensável uma determinada relação de vontade

entre o resultado e a conduta praticada pelo agente.

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No Brasil, restou adotada a teoria do consentimento ou da assunção para o

dolo eventual, a qual exige que o sujeito consinta em ocasionar o resultado, além de

considerá-lo como possível.

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4 DA CULPA

Por sua vez, na culpa é punido um comportamento mal dirigido pelo sujeito

ativo, empregado a determinado fim relevante.

Nesse passo, a culpa pode ser definida como sendo a inobservância do dever

objetivo de cuidado, a qual se manifesta em uma ação ou omissão produtora de um

resultado não querido, embora previsível.

Diante disso, Juarez Tavares define a culpa como sendo uma:

(...) forma de conduta humana que se caracteriza pela realização do tipo de uma lei penal, através da lesão a um dever de cuidado, objetivamente necessário para proteger o bem jurídico e onde a culpabilidade do agente se assenta no fato de não haver ele evitado a realização do tipo, apesar de capaz e em condição de fazê-lo. (TAVARES, 2003, p. 124/125)

O artigo 18, inciso II, do Código Penal, dispõe que o crime será culposo

quando “o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou

imperícia”.

Diante disso, a censura penal está ligada a infração ao dever objetivo de

cuidado, posto que o agente não observa o cuidado devido ou exigível para a prática

de tal ato, o que acaba ocasionando um resultado material externo.

Assim, na culpa o sujeito pratica um fato típico não querido por ele, mas pela

inobservância do dever de cuidado imprescindível para a convivência em sociedade.

Diante disso, ainda que a sua vontade não esteja voltada a realização do ilícito,

restará configurada sua responsabilização criminal, ante a sua inobservância no

dever de cuidado.

4.1 ELEMENTOS DA CULPA

Neste particular, cumpre mencionar que o crime culposo possui diversos

elementos. A saber: violação de um dever objetivo de cuidado, produção de um

resultado e nexo causal, e, ainda, a conexão interna entre o desvalor da ação e o

desvalor do resultado.

No que tange a violação do dever objetivo de cuidado, o mesmo diz respeito

ao fato do sujeito atuar em desacordo do que é esperado pela legislação vigente,

bem como pela sociedade.

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Nesse passo, vale mencionar que a vida em sociedade rege-se pelo princípio

da confiança nas relações sociais, visto que há uma presunção de que todos os

indivíduos cumprirão com suas obrigações.

Sobre o princípio da confiança, Zaffaroni e Pierangeli ensinam que o mesmo:

(...) desenvolve-se de acordo com o dever de cuidado a conduta daquele que, em qualquer atividade compartilhada, mantém a confiança em que o outro se comportará conforme ao dever de cuidado, enquanto não tenha razão suficiente para duvidar ou acreditar no contrário. (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2006, p. 439)

Assim, a inobservância do dever objetivo de cuidado configura-se ante a falta

de diligência do sujeito no momento em que for realizar uma conduta que, mediante

um comportamento negligente, imprudente ou imperito concorra para o resultado

previsto na lei penal incriminadora.

Ademais, não se deve olvidar que o quebra do dever objetivo de cuidado não

constitui, isoladamente, a conduta típica, eis que se faz necessária a presença de

outro elemento, qual seja: o resultado típico. Nesse sentido, Diaz Pita explica que:

(...) o crime culposo não tem existência real sem o resultado. Há crime culposo quando o agente não quer e nem assume o risco da produção de um resultado, previsível, mas que mesmo assim ocorre. Se houver inobservância de um dever de cuidado, mas se o resultado não sobrevier, não haverá crime. Assim a norma de cuidado pode ter sido violada, a conduta pode ter sido temerária, por felicidade, pode não se configurar um delito culposo, por faltar-lhe o resultado, que o tipificaria. (PITA, 2008, p. 29)

Além do mais, é necessário que haja um vínculo entre a violação do dever

objetivo de cuidado e a produção do resultado, posto que nos casos em que haja a

observância dos cuidados necessários pelo sujeito, o evento que possa vir a ocorrer

não poderá ser considerado criminoso, eis que a inevitabilidade do resultado acaba

por excluir a tipicidade.

Aliado a isso, para se configurar o crime culposo é imprescindível que haja a

previsibilidade objetiva do resultado, visto que não sendo o resultado previsível, não

há o que se falar em delito.

Para Cezar Roberto Bitencourt, a ideia de previsibilidade está ligada ao

modelo de homem médio, uma vez que:

(...) colocando-se o observador (por exemplo, o juiz) na posição do autor no momento do começo da ação, elevando em considerações as

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circunstâncias do caso concreto cognoscíveis por uma pessoa inteligente, mais as conhecidas pelo autor e a experiência comum da época sobre cursos causais. (BITENCOURT, 2004, p. 248)

Por fim, o desvalor da ação está atrelado ao fato do ato se relacionar com

uma conduta contrária a norma, ao passo que o desvalor do resultado diz respeito

ao atingimento do objetivo, ora visado pela conduta e vedado pela norma.

4.2 ESPÉCIES DE CULPA

4.2.1 Culpa inconsciente

A culpa inconsciente, também denominada culpa comum, ocorre quando o

agente não prevê o resultado, o qual era possível prever. Assim, a lesão ao dever

objetivo de cuidado é desconhecida por parte do sujeito, muito embora possa ser

conhecível.

Frise-se que na culpa inconsciente, apesar de estar presente a previsibilidade

do agente, tal previsão não está atrelada ao descuido, desatenção ou falta de

interesse, mas sim pela ausência de nexo psicológico entre o sujeito e o resultado

de sua ação.

Sobre o tema, Juarez Cirino dos Santos ensina que:

(...) a imprudência inconsciente se define pela ausência de representação da lesão do dever de cuidado ou do risco permitido – constitui modalidade menos grave de imprudência: a lesão do risco permitido ou do dever de cuidado é objetivamente idêntica, mas a representação da possível lesão do risco permitido ou do dever de cuidado na imprudência consciente, pode determinar outra atitude do autor, o que não ocorre na imprudência inconsciente. (SANTOS, 2004, p. 120)

Assim, na culpa inconsciente o sujeito não prevê o resultado, muito embora

seja previsível, a qual pode se manifestar pela imprudência, negligência ou

imperícia.

4.2.2 Culpa consciente

Restará configurada a culpa consciente quando o sujeito, deixando de

observar a diligência necessária a que estava obrigado, prevê a produção do

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resultado, entretanto, confia de forma convicta que o mesmo não ocorrerá.

Cumpre mencionar que na culpa consciente, a censurabilidade da conduta é

mais elevada do que na culpa inconsciente, posto que esta é produto da mera

desatenção do agente.

Nesse passo, Juarez Cirino dos Santos explica que:

(...) a imprudência consciente se configura pela representação da possibilidade de lesão do risco permitido ou do cuidado objetivo e pela confiança na evitação do resultado: o autor representa a possibilidade de realização do tipo, mas confia na ausência do resultado lesivo, ou porque subestima o perigo, ou porque superestima a capacidade pessoal, ou porque acredita na sorte. (SANTOS, 2004, p. 118/119)

Assim, tem-se que na culpa consciente o resultado é previsível por parte do

agente, o qual espera que não ocorra, ou que ao menos possa evitá-lo.

4.3 MODALIDADES DE CULPA

4.3.1 Negligência

A negligência consiste na inércia do sujeito que, devendo agir para não

causar ou evitar o resultado lesivo, não o fazer por preguiça, desleixo ou

desatenção.

De acordo com Cezar Roberto Bitencourt:

(...) a negligência é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É a imprevisão passiva, o desleixo, a inação (culpa in ommittendo). É não fazer o que deveria ser feito. Negligente será, por exemplo, o motorista de ônibus que trafegar com as portas do coletivo abertas, causando a queda e morte de um passageiro.

Diante disso, a negligência está atrelada a falta de precaução do sujeito que,

podendo adotar as cautelas necessárias, se omite.

4.3.2 Imprudência

A imprudência consiste na prática de uma conduta arriscada, perigosa, a qual

possui caráter comissivo. Assim, nesta modalidade de culpa o sujeito age de forma

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precipitada, deixando de utilizar as precauções imprescindíveis na realização de

determinadas ações e, consequetemente, acaba ocasionando o evento danoso.

Nesse diapasão, Cezar Roberto Bitencourt ensina que:

(...) conduta imprudente é aquela que se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação. Imprudente será, por exemplo, o motorista, que embriagado, viaja dirigindo seu veículo automotor, com visível diminuição de seus reflexos e acentuada liberação de seus freios inibitórios. (BITENCOURT, 1997, p. 249)

Nesse passo, a imprudência está atrelada a uma conduta positiva, a qual

consiste em uma ação sem a devida atenção que se mostra necessária.

4.3.3 Imperícia

A imperícia consiste na falta de conhecimento técnico para o exercício de

determinada profissão, arte ou ofício, ou seja, é a ausência de habilidade para o

exercício de qualquer atividade profissional.

Frise-se que a imperícia não pode ser confundida com o erro profissional, eis

que aquela diz respeito à falta de capacidade, de conhecimentos técnicos para o

exercício de arte, profissão ou ofício, ao passo que no erro profissional existe:

(...) um acidente escusável, justificável e, de regra, imprevisível, que não depende do uso correto e oportuno dos conhecimentos e regras da ciência. Este tipo de acidente não decorre de regras e princípios recomendados pela ciência. Deve-se à imperfeição e precariedade dos conhecimentos humanos, operando, portanto, no campo do imprevisto e transpondo os limites da prudência e da atenção humanas. (BITENCOURT, 1997, p. 250)

Assim, tem-se que a imperícia consiste na falta de habilitação ou de

experiência para desempenhar determinada atividade.

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5 DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE NOS CASOS DE HOMICÍDIO NO

TRÂNSITO

Inicialmente, cumpre mencionar que nesta parte do presente estudo abordar-se-

á a questão da culpa consciente e do dolo eventual nos casos em que envolvam

homicídio no trânsito, assunto muito polêmico no direito, o que acaba acarretando

diversas divergências doutrinárias sobre o tema em questão.

Nos dias atuais, nota-se um aumento muito grande nos casos de homicídio

decorrentes de acidentes de trânsito, o qual enseja uma quantidade de mortos,

feridos e danos materiais, que acabam resultando em dados alarmantes quando a

sociedade toma conhecimento da quantidade de acidentes ocorridos em virtude da

violência automobilística. Nesse passo, Edmundo José de Bastos Dias explica que é

necessária a promulgação de leis mais rigorosas que abranjam os delitos

automobilísticos, senão vejamos:

(...) o trânsito vem assumindo características de verdadeira calamidade pública, pela quantidade de mortos e feridos e de danos materiais que provoca. Há, por isso, movimento em favor da elaboração de leis especiais e mais rigorosas para tratar dos denominados delitos do automóvel. (DIAS, 2003, p. 66/67)

Conforme já pontuado em capítulos anteriores, as diferenças entre dolo eventual

e culpa inconsciente é muito delicado, o que acaba ocasionando diversas

discussões por parte da doutrina e jurisprudência, quanto à incidência de tais

espécies ao caso concreto, notadamente quando se trata nos crimes praticados à

direção de veículos automotores.

Diante disso, Luiz Flávio Gomes diferencia o dolo eventual da culpa consciente:

(...) o dolo eventual deve apresentar, na verdade, três componentes: o agente representa o resultado como possível (previsão do resultado), assume o risco de produzi-lo (anuência à sua ocorrência) e ainda atua com total indiferença frente ao bem jurídico. (...) Na culpa consciente o agente representa o resultado como possível, mas confia que não vai acontecer (confia em sua habilidade para evitá-lo). Não o aceita. Não atua com indiferença frente ao bem jurídico. (GOMES, 2007, p 379)

Sendo assim, nota-se que para caracterizar o dolo eventual faz-se necessário a

presença de três componentes, quais sejam: o agente representa o resultado como

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possível, assume o risco de produzi-lo, atuando com indiferença sobre o bem

jurídico, enquanto que na culpa consciente mostra-se imprescindível que o sujeito

preveja o resultado como possível, mas acredita fielmente que não irá ocasionar

qualquer evento danoso.

Nesse diapasão, importante ressaltar que não se pode confundir a

previsibilidade com a aceitação do resultado, posto que o cuidado objetivo faz parte

do elemento do tipo culposo e, portanto, muito embora o agente prevendo o

resultado, não o aceita, não há o que se falar em dolo.

Isso porque, para que reste configurado o dolo, é necessário que o agente,

prevendo o resultado, assuma os riscos de produzi-lo, tornando-o indiferente quanto

à produção do mesmo.

Corroborando tal entendimento, Cleber Masson ensina que:

Na culpa consciente, o sujeito não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Apesar de sabê-lo possível, acredita sinceramente ser capaz de evitá-lo, o que apenas não acontece por erro de cálculo ou por erro na execução. No dolo eventual o agente não somente prevê o resultado naturalístico, como também, apesar de tudo, o aceita como uma das alternativas possíveis. (MASSON, 2010, p. 268)

Entretanto, a grande problemática acerca destes institutos é identificá-los em um

caso prático, eis que sua prova reside na mente do sujeito ativo. Assim, devem os

julgadores se atentar as circunstâncias demonstradas no caso concreto, de modo a

analisar o comportamento do agente e, consequentemente, suas reais intenções.

Nesse sentido, Damásio de Jesus aponta a presença de quatro elementos que

devem ser apreciados no caso concreto, de modo a vislumbrar-se o dolo eventual, a

saber:

1.º) risco de perigo para o bem jurídico implícito na conduta (ex: a vida); 2.º) poder de evitação de eventual resultado pela abstenção da ação; 3.º) meios de execução empregados; e 4.º) desconsideração, falta de respeito ou indiferença para com o bem jurídico.

O artigo 302, do Código de Trânsito Brasileiro estabelece que aquele que

praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor, será apenado de dois a

quatro anos, sem prejuízo da suspensão ou proibição de se obter a permissão ou

habilitação para conduzir veículo automotor:

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Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Frise-que que, de acordo com Renato Marcão1, a legislação regente se aplica

independentemente de qualquer acontecimento, não sendo necessário que o agente

pratique uma conduta anormal, manobras perigosas que acarretem dano ou gere

perigo a integridade física de terceiros, tendo em vista que:

(...) a conduta, por si, independentemente de qualquer outro acontecimento, gera perigo suficiente ao bem jurídico tutelado, de molde a justificar a imposição de pena criminal. Não se exige mais um conduzir anormal, manobras perigosas que exponham a dano efetivo a incolumidade de outrem. O crime, agora, é de perigo abstrato; presumido.

Por sua vez, o parágrafo 1.º do precitado artigo dispõe que a pena será

aumentada de 1/3 até a metade, quando o agente não possuir permissão para dirigir

ou carteira de habilitação, bem como praticar o crime na faixa de pedestre ou

calçada, deixar de prestar socorro ou, no exercício de sua profissão, estiver

conduzindo veículo de transporte de passageiros:

§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a

pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.

Além do mais o parágrafo 2.º estabelece que a pena será de dois a quatro anos,

mais suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir, se

o agente conduzir o veículo sob a influência de álcool ou de outra substância

psicoativa que determine dependência, ou participar de corrida, disputa ou

competição, não autorizada.

§ 2o Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora

alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de

1 Embriaguez ao volante; exames de alcoolemia e teste do bafômetro. Uma análise do novo art. 306,

caput, da Lei n. 9.503, de 23.9.1997 - Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: <www.apmp.com.br>. Acesso em: 03 de set. de 2015.

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perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente: Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Assim, Renato Marcão ensina que há duas possibilidades para a produção de

prova, quando o agente conduzir o veículo de modo alcoolizado, ou sobre o efeito de

outra substância análoga:

Na primeira hipótese, para que se tenha por autorizada a persecução criminal será imprescindível produzir provas técnica indicado que o agente, na ocasião, se colocou a conduzir veículo na via pública estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas. O dispositivo penal aqui é taxativo no que tange à quantificação de álcool por litro de sangue para que se tenha por configurar a infração penal, e tal apuração só poderá ser feita tecnicamente, de maneira que a prova respectiva não poderá ser suprimida por outros meios, tais como exames clínicos ou prova oral. Na segunda hipótese estará configurando o crime quando o agente se colocar a conduzir o veículo na via pública sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Sob tais condições, para a persecução penal não é imprescindível prova pericial, sendo suficiente a produção de prova oral. (MARCÃO, 2009, p. 160)

Assim, adentrando-se ao tema, cumpre mencionar que, muito embora haja no

ordenamento jurídico brasileiro legislações que regem as normas de trânsito (Lei n.º

9.503/1997 – Código Brasileiro de Trânsito e Lei n.º 11.705/2005 – Lei Seca), o

Brasil é um dos países que possui um dos índices mais elevados de mortes no

trânsito por ano.

Em 2014, de acordo com os dados apresentados pelo Instituto Avante Brasil2, o

número de mortes no trânsito foi de aproximadamente 48.349 mil pessoas.

Nesse passo, vale trazer a tona os principais casos de homicídios praticados no

trânsito, os quais provocam uma série de discussões doutrinárias e jurisprudenciais

acerca do tema.

No que tange a embriaguez ao volante, oportuno esclarecer que os

entendimentos doutrinários, bem como jurisprudenciais, se mostram pacificados

quando se trata de tal questão, esclarecendo que tal conduta não pode ser punida a

título de dolo eventual.

Isso porque, de acordo com Rogério Greco (2008, p. 208), “não se pode partir

2 Disponível em: <http://institutoavantebrasil.com.br/topicos/mapa-da-violencia-no-transito/>. Acesso

em: 01 set. 2015.

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do princípio de que todos aqueles que dirigem embriagados e com velocidade

excessiva não se importam em causar a morte de outras pessoas”.

Aliado a isso, cumpre colacionar o exemplo citado por Rogério Greco, o qual

serve em embasamento para seu entendimento:

Determinado sujeito, durante a comemoração de suas bodas de prata, bebe excessivamente e, com isso, se embriaga. Encerrada a festividade, o agente, juntamente com sua esposa e três filhos, resolve voltar rapidamente para sua residência, pois que queria assistir a uma partida de futebol que seria transmitida na televisão. Completamente embriagado, dirige em velocidade excessiva, a fim de chegar a tempo para assistir o início do jogo. Em razão do seu estado de embriaguez, conjugado com a velocidade excessiva que imprima ao seu veículo, colide o seu automóvel com outro, causando a morte de toda a família. (GRECO, 2008, p. 209)

Diante disso, o Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná entendeu que a

embriaguez, por si só, não se mostra hábil a ponto de configurar o dolo eventual,

razão pela qual não se pode presumir que o agente assumiu o risco de produzir o

resultado morte, restando caracterizada a culpa consciente:

EMENTA: RECORRENTE: ERON CARLOS PADILHA MOREIRA.RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ RELATOR: DES. MIGUEL KFOURI NETORECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIMES DE HOMICÍDIO E TENTATIVA DE HOMICÍDIO COMETIDOS COM DOLO EVENTUAL NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PLEITO DEFENSIVO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA, SOB ARGUMENTO DE INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS APTOS A CONFIGURAR O DOLO EVENTUAL.ACOLHIMENTO. EMBRIAGUEZ, POR SI SÓ, NÃO PODE CONDUZIR À PRESUNÇÃO DE QUE O AGENTE ASSUMIU O RISCO DE PRODUZIR O RESULTADO MORTE. CARACTERIZAÇÃO DE CULPA CONSCIENTE.DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA QUE SE IMPÕE. RECURSO PROVIDO. (TJ/PR – 1.ª Câmara Criminal – Relator: Miguel Kfouri Neto – RSE n.º 13423968 – J. em 14/05/2015)

Entretanto, em sentido oposto, Renato Marcão (2011, p. 165) entende que a

embriaguez ao volante se trata de um “crime doloso; comum; vago; formal e de

perigo abstrato”.

Ainda, assevera que “para a conformação típica é suficiente que o agente

pratique a conduta regulada, independentemente de qualquer finalidade específica”.

(MARCÃO, 2011, p. 166)

Por sua vez, o racha, o qual pode ser definido como sendo uma competição

automobilística em via pública, vem sendo intitulada pela jurisprudência como um

crime doloso:

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EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL. CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. HOMICÍDIO. “PEGA” OU “RACHA” EM VIA MOVIMENTADA. DOLO EVENTUAL. PRONÚNCIA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO DE DESEMBARGADORA NO SEGUNDO JULGAMENTO DO MESMO RECURSO, ANTE A ANULAÇÃO DO PRIMEIRO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. EXCESSO DE LINGUAGEM NO ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA PRONÚNCIA NÃO CONFIGURADO. DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE. PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÃO NÃO AUTORIZADA EM VIA PÚBLICA MOVIMENTADA. FATOS ASSENTADOS NA ORIGEM. ASSENTIMENTO QUE SE DESSUME DAS CIRCUNSTÂNCIAS. DOLO EVENTUAL CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. REVALORAÇÃO DOS FATOS. ORDEM DENEGADA. 1. O habeas corpus impetrado como substitutivo de recurso ordinário revela sua utilização promíscua e deve ser combatido, sob pena de banalização da garantia constitucional, tanto mais quando não há teratologia a eliminar, como no caso sub judice. (STF – Primeira Turma – Relator: Min. Luiz Fux – HC n.º 101698 – J. em 18/10/2011)

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a participação em

competição não autorizada, em via pública movimentada, caracteriza a presença do

dolo eventual.

Isso porque, de acordo com Cleber Masson, a severidade por parte dos tribunais

pátrios acerca do racha se dá visto que:

Fundamenta-se essa escolha nas diversas campanhas educativas realizadas nas últimas décadas, demonstrando os inúmeros riscos da direção ousada e perigosa, como se dá no racha, na embriaguez ao volante e no excesso de velocidade em via pública. (MASSON, 2010, p. 251)

Já na velocidade excessiva, para que reste configurado o dolo eventual, grande

parte da doutrina e jurisprudência entende que tal conduta deve se somar a outros

fatores, como, por exemplo, nos casos em que haja manobras perigosas e

arriscadas, como, por exemplo, no racha.

Diante disso, Rogério Greco explica que não se deve afastar de forma crucial a

possibilidade de atribuir o dolo eventual aos delitos cometidos na direção de

veículos, visto que determinadas circunstâncias, dada a sua intensidade, admitem

tal possibilidade. Veja-se:

Não se pode excluir a possibilidade do dolo eventual nos delitos cometidos na direção de veículos automotores em vias públicas, quando, circunstâncias excepcionais de violação das regras de trânsito pela intensidade possibilitam que se admita. (GRECO, 2010, p. 55)

Diante disso, restou interposto recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça

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do Rio de Janeiro, posto que o apelante foi condenado pelo Tribunal de Júri pela

prática do crime de homicídio doloso e, assim, objetivou a desclassificação para o

crime culposo.

Entretanto, o recurso não foi provido, eis que o apelante, de acordo com a

fundamentação apresentada pela 4.ª Câmara Criminal, demonstra risco concreto à

paz social, bem como à incolumidade de todos aqueles que possam transitar nos

mesmos lugares em que o réu trafegar. Veja-se:

HOMICIDIO CULPOSO. Apelante que, condenado pelo Tribunal do Júri por homicídio doloso, obteve via Recurso Especial a desclassificação da conduta para aquela do homicídio culposo. Condenado por esse crime a 03 anos de detenção; suspensão para dirigir veículo por igual período, regime aberto. Ministério Público busca: aumento da pena-base e aumento do prazo de suspensão do direito de conduzir veículos. Thiago, por sua vez, requer a redução da pena-base imposta na sentença recorrida e extinção da pena de suspensão do direito de dirigir, porque já a teria cumprido. Conduta que, por decisão em REsp, fora desclassificada para culposa. Recurso do MP PROVIDO: a prova coligida evidencia o comportamento criminoso adotado pelo ora apelante/apelado Thiago que assim veio a ceifar a vida de uma jovem de apenas 17 anos de idade. Culpabilidade acentuada. Personalidade distorcida do apelante que adota como norma de conduta a violação reiterada às determinações legais, colocando em risco um sem número de vidas, culminando por ceifar a vida de uma inocente. Por demais beneficiado com o entendimento de que, sendo o corréu condenado na forma culposa do homicídio, igual benefício fazia jus o aqui apelante/apelado. A prova dos autos demonstra à saciedade a posição de liderança ocupada por Thiago no sinistro episódio noticiado nos autos. Após inferir bebida alcóolica, assumiu a direção de veículo automotor e passou a disputar um ¿pega¿ com o corréu. Dirigindo perigosamente (desenvolvendo excessiva velocidade ao veículo; dando fechada nos demais veículos; forçando ultrapassagens frente aos demais veículos), acabou por colidir com a motoneta conduzida pela vítima fatal Tatiana, lesionando, ainda, a carona, Taíssa. Presença de garrafas de cerveja no banco dianteiro do carro; hálito de bebida constatado por testemunhas presenciais, fazem certo o consumo anterior de bebida alcóolica. Comportamento nefasto. RECURSO DEFENSIVO DESPROVIDO: As alegações defensivas hão de ser rechaçadas. Dissociadas das provas robustas e convincentes reunidas nos autos. Dosimetria da pena correta: culpabilidade acentuada; comportamento nefasto; reiteração de condutas que evidenciam risco concreto representado pela presença do apelante na condução de veículo automotor. Anterior apreensão da CNH: no ano de 2010, tendo ultrapassado a pontuação legal por infrações graves na condução de veículo, foi instado pelo DETRAN/RJ a entregar a CNH. Fato diverso do aqui tratado. A anterior apreensão da CNH decorreu de ilícito administrativo, sem pertinência com o trágico fato tratado nesses autos. Daí não há falar em anterior cumprimento da penalidade de suspensão da autorização para conduzir veículos automotores. Motivos diversos. Fica o apelado THIAGO condenado à pena corporal de 04 anos de detenção, regime prisional aberto (por inércia do MP) e penalidade de suspensão do direito de dirigir veículos pelo prazo de 05 (cinco) anos, independentemente do trânsito em julgado desse acórdão. Representando a liberdade do apelante inegável risco concreto à paz social e à incolumidade de todos aqueles que, por infelicidade, transitem nos locais em que o apelante esteja a conduzir veículo automotor; considerando o longo tempo decorrido desde o trágico fato aqui tratado, sem que o

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apelante suporte qualquer penalidade, sendo sim sua liberdade fator de risco sério, grave e iminente à coletividade, expeça-se Mandado de Prisão. (TJ/RJ – 4.ª Câmara Criminal – Relator: João Ziraldo Maia – APL n.º 0000257152003819002 – J. em: 27/01/2015)

De acordo com Julio Fabbrini Mirabete, nestes casos a vontade do agente não

está atrelada a obtenção de resultado, entretanto, muito embora saiba que o evento

possa ocorrer, mesmo assim assume os riscos em sua produção:

Nesta hipótese, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo. Essa possibilidade de ocorrência do resultado não o detém e ele pratica a conduta, consentindo no resultado. Há o dolo eventual, portanto, quando o autor tem seriamente como possível a realização do tipo legal se praticar a conduta e se conforma com isso. Exemplos de dolo eventual são o do motorista que avança o automóvel contra uma multidão porque está com pressa de chegar a seu destino, por exemplo, aceitando o risco da morte de um ou mais pedestres. (MIRABETE, 2010, p. 127/128)

Corroborando o mesmo entendimento, Nogueira explica que não se pode deixar

de perceber a presença do dolo eventual na ação daquele agente que, ao conduzir

com excesso de velocidade veículo automotor, assume o risco de produzir um

resultado que cause lesão ao bem jurídico penalmente tutelado:

Sabendo que o dolo eventual, conforme já exposto anteriormente, é quando o agente assume e aceita a produção do resultado, não se pode deixar de observar a presença do dolo eventual na condução de veículo automotor em via pública, estando o condutor embriagado, praticando racha ou pega, ou quando conduz seu veículo em excesso de velocidade, incompatível com a segurança do trânsito, pois é fato que todo condutor sabe que essas condutas no trânsito, além de proibidas, poderão ocasionar dano ou uma lesão ao bem jurídico tutelado, porém não deixa de agir, assumindo o risco de produzir um resultado lesivo. (NOGUEIRA, 1978, p. 13/14)

Diante de todo o exposto, nota-se que muito embora o artigo 302, do Código de

Trânsito Brasileiro, determinar que seja crime culposo aquele cometido na direção

de veículo automotor, existem diversos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais

a favor do dolo eventual, os quais vêm sendo admitidas, dado o caso concreto.

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6 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA

Cuida-se o princípio da confiança do fato de que todos os indivíduos esperam

que terceiros sejam responsáveis, atuando de acordo com as normas estabelecidas

pela sociedade e, consequentemente, não causem lesões a terceiros. Nesse

sentido, oportuno colacionar o entendimento de Fernando Capez, senão vejamos:

O princípio da confiança funda-se na premissa de que todos devem esperar que as outras pessoas sejam responsáveis e atuem de acordo com as normas da sociedade, visando evitar danos a terceiros. (CAPEZ, 2012, p. 651)

Diverso não é o entendimento de Zaffaroni e Pierangeli:

(...) desenvolve-se de acordo com o dever de cuidado a conduta daquele que, em qualquer atividade compartilhada, mantém a confiança em que o outro se comportará conforme ao dever de cuidado, enquanto não tenha razão suficiente para duvidar ou acreditar no contrário. (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2006, p. 440)

Sendo assim, oportuno colacionar o entendimento do Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado do Paraná, o qual aplicou aos casos de homicídio no trânsito o

princípio em questão, mencionando que em prol de tal instituto o agente agirá de

acordo com as normas de trânsito, bem como espera que terceiros também irão

cumpri-las:

APELAÇÃO CRIME - HOMICÍDIO CULPOSO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO - OCORRÊNCIA - ALEGAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA - PEDESTRE QUE ATRAVESSA A VIA FORA DA FAIXA E COM O SINAL ABERTO PARA OS VEÍCULOS - PREVALECÊNCIA DO PRINCÍPIO DA CONFIANÇA - CONJUNTO PROBATÓRIO CARENTE DE CERTEZA QUANTO À CULPA DA RÉU - MULTAS POSTERIORES POR EXCESSO DE VELOCIDADE - FATOS QUE NÃO DEVEM SER LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO PARA PRESUMIR QUE O AGENTE ESTAVA EM EXCESSO DE VELOCIDADE NO MOMENTO DO ACIDENTE - RECURSO PROVIDO No trânsito, deve-se imperar o princípio da confiança, no qual o agente motorista agirá seguindo as regras do respectivo código, esperando que terceiros vão, também, cumpri-las. Se o conjunto probatório não aponta para o excesso de velocidade do motorista, assim como exprime um comportamento temerário do pedestre, que atravessa fora da faixa de segurança e com o sinal aberto para os veículos, não há como se falar em culpa do réu, prevalecendo a dúvida razoável em seu benefício. (TJ/PR – 1.ª Câmara Criminal – Apelação Crime n.º 4794536 - Relator: Luiz Osorio Moraes Panza – J. em 21/08/2005)

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Nesse mesmo sentido, Wladimir Valler traz a tona seu entendimento acerca da

aplicabilidade do princípio da confiança nos casos em que envolvam a matéria de

trânsito:

Em matéria de trânsito deve vigorar sempre o princípio da confiança. O condutor de um veículo tem o direito de esperar que os outros condutores e os pedestres se atenham às regras do trânsito e às cautelas que de todos são exigidas no convívio social.

Diante de todo o exposto, nota-se que o princípio da confiança está atrelado a

realização de uma conduta esperada por toda a sociedade, ou seja, uma conduta

normal que não causará danos a outrem.

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7 INDUBIO PRO REO OU IN DUBIO PRO SOCIETATE

O princípio do in dúbio pro reo, expressão latina que significa, na dúvida, a

favor do réu, dispõe que, caso haja dúvida por parte do magistrado, o mesmo deverá

favorecer o réu e, consequentemente, deixar de aplicar a pena. Corroborando tal

entendimento Agnaldo Viana explica que:

(...) o julgador, diante do caso concreto, encontrando-se na dúvida no que diz respeito ao tipo penal, ás circunstâncias que o envolvem e á autoria, ou, em outros termos, quando estiverem em dúvida sobre a culpabilidade do agente, deve declarar sua inocência ou absolvê-lo, aplicando-se à hipótese o princípio in dubio pro reo, que é adotado por quase todas as legislações do mundo, evitando, assim, possível erro judiciário. (2007, p. 296)

Frise-se que o princípio do in dúbio pro réo está intimamente ligado ao

princípio da presunção da inocência, ora previsto em nosso diploma constitucional,

senão vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Ademais, o princípio em comento encontra-se disposto na Declaração

Universal dos Direitos Humanos de 1948, veja-se:

(...) todo homem acusado de um fato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com as leis, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa.

No que tange os casos atinentes ao homicídio causado por acidentes de

trânsito, oportuno colacionar o entendimento do Tribunal de Justiça do Acre, o qual

absolveu o acusado pela prática do crime de homicídio culposo, eis que os

elementos probatórios constantes nos autos não se mostraram capaz de demonstrar

a culpabilidade do agente:

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EMENTA: AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. HOMICÍDIO CULPOSO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPABILIDADE. PROVA. INSUFICIÊNCIA. ABSOLVIÇÃO. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. É de ser absolvido aquele que é acusado do crime de homicídio culposo decorrente de acidente de trânsito, se, não obstante o agente tenha ingressado em via preferencial, os elementos de prova existentes nos autos são incapazes de incutir no julgador certeza quanto à sua culpabilidade e, além disso, o laudo técnico conclui que a vítima trafegava em sua motocicleta com excesso de velocidade e, ademais, que o acidente seria evitado caso o motociclista estivesse a imprimir a velocidade máxima permitida para o trecho em que ocorreu a colisão fatal. (TJ/AC – Tribunal Pleno – Relator: Adair Longuini – Apelação Criminal n.º 20090044559 – J. em 30/06/2010)

Por sua vez, o princípio do in dúbio pro societate (na dúvida, a favor da

sociedade), estabelece que caso haja dúvidas quanto à autoria, a denúncia deverá

ser oferecida.

Diante disso, Cristina Líbano Monteiró tece suas considerações acerca do

princípio do in dúbio pro societate:

(...) outra solução valorativa, teoricamente possível, traduz-se em resolver a dúvida insanável sobre os fatos num sentido contra reum ou pro societate: na incerteza sobre a culpa real do arguido, dever-se-iam privilegiar os interesses da defesa social, sacrificando ao bem coletivo a eventual inocência de um singular. O in dubio pro reo enfermaria de individualismo á outrance, com o qual não pactuam doutrinas como a nacional-socialista, sistemas de corte soviético ou, antes de qualquer deles, escolas como a positivista italiana. (1997, p. 47)

Nesse passo, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em observância ao

princípio do in dúbio pro societate, deu provimento ao recurso interposto pelo

Ministério Público, posto que havendo fundada dúvida no tocante ao elemento

subjetivo do homicídio causado pelo acidente de trânsito, tal questão deve ser

resolvida pelo Conselho de Sentença:

PROCESSUAL E PENAL - JÚRI - HOMICÍDIO DOLOSO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - MAGISTRADO QUE NA PRONÚNCIA DESCLASSIFICA PARA A MODALIDADE CULPOSA DO HOMICÍDIO - EXCESSO DE VELOCIDADE E ULTRAPASSAGENS FORÇADAS EM LOCAL PROIBIDO - DOLO EVENTUAL EM TESE CONFIGURADO - MATÉRIA DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE - RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. Havendo fundada dúvida a respeito do elemento subjetivo do homicídio, a perplexidade deve ser dirimida pelo Conselho de Sentença em observância ao princípio in dubio pro societate. (TJ/SC – 1.ª Câmara Criminal – Relator: Amaral e Silva – RC n.º 391943 – J. em: 22/05/2009)

Diante de todo o exposto, nota-se certa divergência jurisprudencial quanto à

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aplicabilidade dos princípios in dúbio pro reo e in dúbio pro societate, no que tange

os homicídios decorrentes de acidentes de trânsito.

Entretanto, em que pese o in dúbio pro societate ser uma grande conquista

por parte da sociedade, o mesmo não deve prevalecer nos casos em que surgir

dúvidas quanto à culpabilidade do agente.

Assim, se as provas juntadas nos autos não forem suficientes para

demonstrar a culpa do sujeito ativo, o magistrado deverá aplicar ao caso concreto o

princípio do in dúbio pro reo.

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8 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a problemática da

aplicabilidade do dolo eventual e culpa consciente nos casos de homicídios

decorrentes de acidente de trânsito.

Assim, foi analisado que o dolo eventual se trata do fato do sujeito não querer a

realização do resultado, mas assume os riscos de produzir, enquanto que a culpa

consciente o resultado é previsível por parte do agente, mas o mesmo espera

fielmente que não ocorra, ou que possa ao menos evitá-lo.

Abarcando a problemática do presente estudo, foi trazida a tona o fato de que

atualmente o Brasil possui um número muito elevado de homicídio ocasionado por

acidentes de trânsito que, segundo o Instituto Avante Brasil, em 2014 o número de

mortes perfez o montante de 48.349 mil vítimas.

Diante de tais dados é de se notar a grande preocupação da doutrina e

jurisprudência quanto à configuração do dolo eventual e culpa consciente nos casos

em que o homicídio se originar de acidentes de trânsito.

Diante dos casos elencados no decorrer deste trabalho, a doutrina majoritária,

aliada as decisões de nossos tribunais, entende que a embriaguez, por si só, não

está apta a configurar o dolo eventual.

Já o racha abrange uma questão mais polêmica, eis que se trata se uma

competição automobilística não autorizada em via pública, entendendo o Supremo

Tribunal Federal que, nestes casos, resta presente o dolo eventual Isso porque, o

racha se constitui de manobras arriscadas que colocam em risco a vida de outras

pessoas, sem necessidade.

Por sua vez, nos homicídios cometidos ante a velocidade excessiva, o dolo

eventual pode ser vislumbrado no caso concreto facilmente, quando aliado a outras

condutas, como a embriaguez e o racha. Assim, de acordo com os entendimentos

presentes no ordenamento jurídico brasileiro, não se pode elidir a presença do dolo

eventual na ação daquele que conduz um veículo em excesso de velocidade e,

consequentemente, assuma os riscos de produzir um resultado que ocasione lesão

a determinado bem jurídico.

Além do mais, existem dois princípios que tratam da matéria em questão, quais

sejam: in dúbio pro reo e in dúbio pro societate.

Entretanto, em que pese o princípio do in dúbio pro societate estabelecer que

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caso haja dúvidas, a denúncia deve ser ofertada, tal entendimento não deve

prevalecer, posto que o bem maior em questão é a integridade moral do agente e,

portanto, caso o magistrado não se convença de sua culpabilidade ante o elemento

probatório precário juntado aos autos, o sujeito ativo deverá ser absolvido, eis que

prevalecem os princípios do in dúbio pro reo e da dignidade da pessoa humana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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geral. 4. ed., revista e atualizada. Florianópolis – SC, OAB/SC, 2003.

BITENCOURT, Cezar Roberto Bitencourt. Manual de direito penal: parte geral. São

Paulo: Saraiva: 1997.

___________. Tratado de direito penal: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal I. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso

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