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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Anderson de Almeida Luiz Felipe Eyrosa Rodrigo Ferreira MOTORES TURBO-JATO: CONCEPÇÃO, FUNCIONAMENTO E APLICAÇÃO NA AVIAÇÃO CURITIBA 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Anderson de Almeida

Luiz Felipe Eyrosa

Rodrigo Ferreira

MOTORES TURBO-JATO: CONCEPÇÃO, FUNCIONAMENTO E APLICAÇÃO NA AVIAÇÃO

CURITIBA

2008

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Anderson de Almeida

Luiz Felipe Eyrosa

Rodrigo Ferreira

MOTORES TURBO-JATO: CONCEPÇÃO, FUNCIONAMENTO E APLICAÇÃO NA AVIAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Tecnologia e Manutenção de Aeronaves na Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de tecnólogo em manutenção de aeronaves.

Orientador: José Marcos Pinto

CURITIBA 2008

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RESUMO

Este trabalho visa demonstrar o funcionamento básico e principais componentes dos motores turbo-jato. Mostra também o quanto foi importante para a aviação o desenvolvimento deste tipo de motor aeronáutico. Sendo de fácil construção, alcançando alta performance, operando com baixa manutenção, poucas peças móveis e baixa vibração ante os motores convencionais, ganhou destaque no processo evolutivo aeronáutico numa das principais épocas do crescimento da aviação mundial. Palavras chave: motor a reação, turbo-jato, propulsão a jato

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LISTAS DE FIGURAS

FIGURA 1 – PARTES FUNDAMENTAIS DE UM MOTOR TURBO-JATO.....................11 FIGURA 2 – COMPRESSOR ROTATIVO DE FLUXO CENTRÍFUGO...........................12 FIGURA 3 – COMPRESSOR AXIAL...............................................................................13 FIGURA 4 – COMPRESSOR CENTRÍFUGO DE SIMPLES FACE................................13 FIGURA 5 – COMPRESSOR CENTRÍFUGO DE DUPLA FACE....................................14 FIGURA 6 – ENTRADA AXIAL........................................................................................15 FIGURA 7 – ENTRADA BIFURCADA.............................................................................16 FIGURA 8 – PÁS ESTACIONÁRIAS...............................................................................17 FIGURA 9 – TURBINA....................................................................................................18 FIGURA 10 – PÁS ORIENTADORAS.............................................................................19 FIGURA 11 – DIFUSOR E COLETOR............................................................................20 FIGURA 12– CÃMARA TIPO TUBO...............................................................................21 FIGURA 13 – CÃMARA TIPO ANULAR..........................................................................22 FIGURA 14 – CÃMARA DE COMBUSTÃO....................................................................23 FIGURA 15 – CÃMARA DE FLUXO DIRETO.................................................................24 FIGURA 16 – CÃMARA DE FLUXO DE RETORNO.......................................................25 FIGURA 17 – COLETOR DE ESCAPE...........................................................................28 FIGURA 18 – AR PRIMÁRIO E AR SECUNDÁRIO........................................................42 FIGURA 19 – BICO INJETOR.........................................................................................43 FIGURA 19B – BICO PULVERIZADOR..........................................................................44 FIGURA 20 – TRAJETÓRIA DE UM BALÃO..................................................................51 FIGURA 21 – REPRESENTAÇÃO DA FORÇA PROPULSORA....................................51 FIGURA 22 – COMPARAÇÃO COM MOTOR CONVENCIONAL..................................59 FIGURA 23 – SISTEMA DE COMBUSTÍVEL.................................................................64 FIGURA 24 – BAROSTATO............................................................................................66 FIGURA 25 – VÁLVULA ACELERADORA......................................................................68 FIGURA 26 – TORNEIRA DE ALTA PRESSÃO E ACUMULADOR...............................70 FIGURA 27 – BICOS INJETORES..................................................................................71 FIGURA 28 – BOMBA DE COMBUSTÍVEL....................................................................72 FIGURA 29 – SISTEMA DE LUBRIFICAÇÃO A SECO..................................................77

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 05 2 HISTÓRICO ..............................................................................................................06 3 PARTES FUNDAMENTAIS DO MOTOR TURBO-JATO..... ....................................11 3.1 ROTOR ..................................................................................................................12 3.2 CAIXA DO DIFUSOR E COMPRESSOR................................................................20 3.3 CÂMARA DE COMBUSTÃO ................................................................................ 21 3.4 CAIXA CENTRAL ................................................................................................. 26 3.5 CAIXA DA TURBINA ............................................................................................ 26 3.6 COLETOR DE ESCAPE ........................................................................................27 3.7 ACESSÓRIOS ....................................................................................................... 28 4.0 FASES DE FUNCIONAMENTO ............................................................................ 29 4.1 ADMISSÃO ........................................................................................................... 29 4.2 COMPRESSÃO .................................................................................................... 31 4.3 COMBUSTÃO ....................................................................................................... 38 4.3.1 Teoria da combustão .........................................................................................39 4.3.2 Ar primário e ar secundário ................................................................................41 4.3.3 Fluxo direto e de retorno ....................................................................................42 4.3.4 Mistura combustível ...........................................................................................42 4.3.5 Bicos injetores ....................................................................................................43 4.3.6 Combustão .........................................................................................................45 4.4 Escape ..............................................................................................................46 4.4.1 Pás orientadoras ............................................................................................... 47 4.4.2 Atrito superficial ..................................................................................................48 4.4.3 Turbina ...............................................................................................................48 5.0 TEORIA DA FORÇA PROPULSORA ....................................................................50 5.1 EFICIÊNCIA PROPULSORA .................................................................................53 5.2 SEQUÊNCIA DO MOTOR TURBO-JATO ..............................................................58 5.3 APLICAÇÃO DA FORÇA PROPULSORA ..............................................................61 6.0 SISTEMAS ..............................................................................................................63 6.1 SISTEMA DE COMBUSTÍVEL ...............................................................................63 6.1.1 Barostato .............................................................................................................66 6.1.2 Valvula aceleradora .............................................................................................68 6.1.3 Conjunto torneira e acumulador ..........................................................................69 6.1.4 Bicos injetores ....................................................................................................70 6.1.5 Bomba de combustível .......................................................................................71 6.2 SISTEMA DE PARTIDA .........................................................................................74 6.3 SISTEMA DE LUBRIFICAÇÃO ..............................................................................75 6.4 SISTEMA ELÉTRICO E DE IGNIÇÃO ...................................................................77 6.5 SISTEMA ANTI-FOGO E ANTI-GELO ....................................................................80 6.6 INJEÇÃO DE ÁGUA/METANOL ............................................................................82 6.7 PÓS COMBUSTORES ...........................................................................................82 7.0 CONCLUSÃO ...........................................................................................................84 8.0 REFERÊNCIAS.........................................................................................................85

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INTRODUÇÃO

Com a realização deste trabalho, serão abordados os principais conhecimentos

sobre motores turbo-jato, explanando seu histórico, suas partes fundamentais, seu

funcionamento e seus sistemas sem particularizar qualquer modelo específico.

Este motor foi uma revolução para a época, pois trouxe soluções ante as baixas

performances dos motores convencionais. O motor turbo-jato iniciou uma nova era

entre os motores aeronáuticos, trazendo simplicidade na construção e elevada

eficiência. Este motor possibilita elevadas velocidades e operação em altas altitudes

devido as suas características de construção, sendo muito requerido para equipar

aeronaves militares.

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2 HISTÓRICO

A idéia dos motores a jato surgiu, como conceito, no primeiro século depois de

Cristo, quando Heron de Alexandria inventou o eolípila. Este invento usava vapor

direcionado através de dois tubos de modo a conseguir movimentar uma esfera em seu

próprio eixo. Na verdade, o invento nunca foi utilizado como fonte de energia mecânica,

e os potenciais usos práticos da invenção de Heron não foram reconhecidos.

Simplesmente foi considerado como uma curiosidade.

A propulsão a jato, literalmente e figurativamente, pode ser levada a sério com

a invenção do foguete pelos chineses no século XI. Foguetes inicialmente foram

destinados a simples fins, como no uso de fogos de artifício, mas gradualmente

passaram a serem usados para propelir armamentos de grande efeito moral. Neste

ponto, a tecnologia estagnou-se por séculos.

No século XX, persistia o problema de que os motores a foguete eram

ineficientes para serem usados na aviação. Em seu lugar, por volta da década de 1930,

o motor a combustão interna em suas diversas formas (rotativos, radiais, ar-refrigerados

e refrigerados a água em linha) eram os únicos tipos de motores viáveis para o

desenvolvimento de aviões. Esses motores eram aceitáveis em vista das baixas

necessidades de performance então exigidas, dado o menor desenvolvimento dos

meios técnicos. Entretanto, os engenheiros estavam já a prever, conceitualmente, que o

motor a pistão era autolimitado em termos de performance. O limite era e é dado

essencialmente pela baixa eficiência da hélice. Isto se dá quando as lâminas da hélice

aproximam-se da velocidade do som. Se a performance do motor, assim como a do

avião, aumentasse sempre, mesmo com essa barreira, ainda assim haveria a

necessidade de se melhorar radicalmente o desenho do motor a pistão ou um tipo

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completamente novo de motor teria que ser desenvolvido. Esta é a motivação que está

por trás do desenvolvimento da turbina a gás, comumente chamada apenas por motor a

jato, a qual poderia ser quase tão revolucionária para a aviação quanto o primeiro vôo

de Santos Dumont.

Os desenvolvimentos mais adiantados então, eram motores híbridos em que

uma força suplementar, e externa, que auxiliava na compressão. Neste sistema,

chamado termojato, desenvolvido por Secondo Campini, o ar era primeiramente

comprimido por um ventilador movido por um motor a pistão convencional, e depois

misturado com combustível e inflamado para obter o jato de empuxo. Exemplos desse

tipo de motor foram desenvolvidos por Henri Coandă no avião Coandă-1910 e, muito

mais tarde, pelo Caproni Campini e o motor japonês Tsu-11 usado para equipar o

avião Ohka, utilizado em missões de tipo kamikaze no fim da Segunda Guerra Mundial.

Nenhum desses aviões obteve muito sucesso, inclusive acabaram sendo mais lentos

que os aviões equipados com motores convencionais. A chave para motor a jato viável

foi a turbina a gás, utilizando energia oriunda de um compressor para se auto-

propulsionar. A turbina a gás não foi uma idéia desenvolvida nos anos da década de

1930, a patente para uma turbina estacionária foi registrada por John Barber na

Inglaterra em 1791. A primeira turbina a gás autopropelida, entretanto, foi construída

em 1903 pelo engenheiro norueguês Egidius Elling. As primeiras patentes para a

propulsão a jato foram encaminhadas em 1917. Limitações do desenho e dos meios

técnicos de engenharia e metalurgia aplicados na produção inviabilizaram, num

primeiro momento, tais motores. Os principais problemas eram a segurança,

confiabilidade, peso e, especialmente, a operação dos motores.

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Os motores a reação enfrentaram diversas dificuldades para serem estudados e

fabricados, tais como incerteza de segurança no funcionamento, falta de materiais

específicos, alto dispêndio econômico e estratégias político-militares.

Em 1929, um estudante de aeronáutica inglês, Frank Whittle, encaminhou suas

idéias sobre um motor turbo-jato para seus superiores. Em 16 de janeiro de 1930,

Whittle pediu sua primeira patente, concedida em 1932. A patente exibia um

compressor de dois estágios axial seguido por um compressor centrífugo simples. Mais

tarde, Wittle concentrou-se apenas em simplificar o compressor centrífugo, por conta de

uma variedade de razões práticas.

Em 1935, Hans Von Ohain iniciou um trabalho em um projeto similar na

Alemanha, aparentemente sem conhecimento do trabalho desenvolvido por Wittle.

O primeiro motor desenvolvido por Whittle funcionou em 1937. Era alimentado

com combustível líquido e possuía a bomba de combustível acoplada ao motor. O

motor de Von Ohain, desenvolvido cinco meses depois de Whittle, era abastecido por

gás, sem ter um dispositivo de abastecimento acoplado. A equipe de desenvolvimento

de Whittle passou por apuros por não conseguir parar o motor no seu teste, mesmo

depois que este teve o combustível cortado. Isto se deu porque vazou combustível para

dentro do motor, fazendo-o funcionar até queimar completamente o combustível

vazado. Whittle infelizmente não conseguiu desenvolver um revestimento selante

apropriado para o projeto, e assim que ficou para trás de Von Ohain na corrida para

colocar um motor a jato no ar. Ohain aproximou-se de Ernst Heinkel, um dos grandes

empresários da indústria aeronáutica alemã da época, que imediatamente percebeu o

potencial do projeto. Heinkel tinha recentemente adquirido a companhia Hirth de

fabricação de motores e Ohain e seu mecânico chefe, Max Hahn, foram alocados em

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uma nova divisão da empresa Hirth. Eles produziram seu primeiro motor, o HeS 1 em

setembro de 1937. Ao contrário do projeto de Whittle, Ohain utilizou hidrogênio como

combustível, abastecido por pressão. Seus desenvolvimentos posteriores culminaram

no motor HeS 3, movido a gasolina e gerando 499 Kgf de empuxo (5 kN). Este motor foi

montado na compacta e simples fuselagem do He 178, pilotado pelo alemão Erich

Warsitz no início da manhã de 27 de agosto de 1939, no aeródromo de Marienehe, em

um curtíssimo período de desenvolvimento. O He 178 foi o primeiro avião a jato do

mundo a voar. O primeiro avião turbo-jato civil a voar foi o Vickers, de fabricação

inglesa.

O primeiro motor de Whittle estava tornando-se viável, e a companhia de Whittle,

a Power Jets Ltda., começou a receber financiamento do Ministério do Ar. Em 1941,

uma versão operacional do motor, chamada de W.1, gerando 454 Kgf de empuxo (4

kN) foi montada em um Gloster E28/39, voando pela primeira vez em 15 de maio de

1941 na base aérea da RAF em Cranwell.

O motor parecia ótimo, entretanto, dadas a limitações técnicas iniciais sobre o

controle da velocidade do eixo do motor, o compressor necessitava ser muito grande

para produzir o nível de potência necessário. Uma desvantagem a mais foi o fato do

fluxo de ar ter que ser recurvado em direção à traseira do motor para a câmara de

combustão e bocal do motor.

O austríaco Anselm Franz da divisão de motores da Junkers (Junkers Motoren

ou Jumo) resolveu estes problemas com a introdução do compressor axial,

essencialmente uma turbina invertida. O ar que entra na parte dianteira do motor é

levado para a seção traseira por uma ventoinha (dutos convergentes) na qual é

comprimido contra uma seção de lâminas não rotativas chamadas estatores (dutos

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divergentes). Tal processo não é de modo algum tão potente quanto o compressor

centrífugo, de forma que um número de pares de estatores e ventoinhas são colocados

em série de modo a gerar compressão suficiente. Ainda que seja muito mais complexo,

o motor resultante tem um diâmetro significativamente menor. A Jumo atribuiu o nome

para Jumo 004. Depois de se resolverem muitas dificuldades técnicas, a produção em

massa do Jumo 004 iniciou-se em 1944, com vistas a equipar o primeiro avião de

combate à reação, o caça Messerschmitt Me 262. Por conta de Hitler desejar um novo

bombardeiro baseado no Me 262, o avião chegou muito tarde para trazer qualquer

alteração na posição alemã na Segunda Guerra Mundial. Entretanto o Me 262 seria

sempre lembrado como primeiro avião a jato operacional. Após a Guerra, os aviões Me

262 foram extensivamente estudados pelos aliados, contribuindo no desenvolvimento

dos primeiros caças a reação soviética e norte-americana.

Os motores axiais foram melhorados desde a sua introdução. Com as melhorias

na tecnologia de rolamentos, a velocidade do eixo do motor pode ser significativamente

aumentada, reduzindo drasticamente o diâmetro das ventoinhas. Seu menor

comprimento é uma característica vantajosa desse tipo de desenho. Seus componentes

são, também, atualmente mais robustos dado que esses motores são mais suscetíveis

a danos oriundos da penetração de objetos estanhos dentro do motor.

Os motores britânicos foram extensivamente licenciados pelos Estados Unidos.

Seu projeto mais famoso, o Nenê, também equipou aviões soviéticos após um acordo

de troca de tecnologia. Projetos inteiramente norte-americanos não viriam até a década

de 1960, quando começaram a surgir diversas companhias de outros países

culminando em vários tipos de motores derivados do turbo-jato.

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3 PARTES FUNDAMENTAIS DO MOTOR TURBO-JATO

Da mesma maneira que os motores a pistão, os motores turbo-jato também

apresentam partes fundamentais, bem como acessórios, entrada de ar, câmara de

combustão, difusor, conjunto da turbina, conjunto de escape.

As diferenças dos sistemas nos motores são determinadas pelas modificações

em torno de suas partes fundamentais, por isso qualquer mudança nas partes

fundamentais ou acréscimo de partes vem constituir motivo para diferenciar esse de um

outro semelhante sem novas adaptações ou mudanças. Seguem abaixo suas partes

fundamentais (figura 1):

Fig 1- Partes fundamentais de um motor turbo-jato

Fonte:Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 95

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3.1 ROTOR

É o conjunto móvel composto de três partes básicas: compressor; roda ou disco

da turbina e eixo do rotor.

O compressor tem a função de captar e comprimir o ar atmosférico para o

interior das câmaras de combustão.

Geralmente um rotor de um motor turbo-jato possui um compressor, mas

também existem motores com mais de um compressor instalado num mesmo eixo

comum ao rotor. Eles podem ser então de dois tipos básicos: compressor rotativo de

fluxo centrífugo (figura 2) ou compressor rotativo de fluxo axial (figura 3).

Figura 2 – Compressor rotativo de fluxo centrífugo

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 156

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Figura 3 - compressor rotativo do tipo axial

Fonte: Motores a Reação, Editora Asa – 1999, p. 42

O compressor centrífugo recolhe o ar de forma longitudinal e o expele de forma

perpendicular ao seu eixo. Pode apresentar mais dois tipos básicos: compressor

centrífugo de simples face (figura 4) e compressor centrífugo de dupla face (figura 5).

Figura 4: compressor centrífugo de simples face

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 235

14

Figura 5: Compressor centrífugo de dupla face

fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 97

O compressor centrífugo é construído em um simples bloco de metal especial e

as suas lâminas recurvadas são forjadas no próprio bloco metálico.

Nesses tipos de compressores o ar é admitido obliquamente ao eixo

longitudinal por entradas de ar circulares e também existem casos em que o ar é

admitido diretamente, ou seja, ao mesmo nível do eixo do próprio motor.

O compressor de dupla face apresenta lâminas recurvadas na face dianteira e

na face traseira, favorecendo a admissão de uma massa de ar maior, enquanto o

compressor de face simples apresenta lâminas recurvadas somente em uma das duas

faces, geralmente na face dianteira.

Porém alguns motores possuem dois tipos de tomada de ar, onde se fará

necessário de acordo com o tipo de aeronave que irá equipá-lo, ou seja, um tipo é o

axial (figura 6) e o outro é o axial-bifurcado (figura 7).

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Fig 6 - Entrada de ar tipo axial

Fonte: Motores a Reação, Editora Asa – 1999, p. 42

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Fig 7 - Entrada do tipo axial bifurcado

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 101

Como já visto, os compressores centrífugos podem apresentar dupla face de

lâminas recurvadas. Esses motores então possuem duas entradas de ar do tipo anelar

sendo cada qual destinada a orientar o ar para as duas faces do compressor, onde

existe geralmente uma tela para protegê-lo contra qualquer tipo de objeto estranho que

possa passar pelo compressor, prejudicando seu funcionamento ou danificando o

compressor. O alojamento que envolve o compressor centrífugo chama-se caixa do

difusor que é onde o compressor gira encaminhando o ar comprimido para as câmaras

de combustão, sendo essa uma de suas funções.

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O compressor rotativo de fluxo axial provoca o deslocamento do ar durante a

compressão no sentido longitudinal do motor, ele apresenta pás periféricas instaladas

em um tambor rotativo que representa o próprio corpo do compressor. Ele também tem

uma série de pás intermediárias que são chamadas de pás estacionárias presas nas

periferias do tambor que envolve o compressor (fig 8), as pás formam um verdadeiro

anel, e do mesmo modo as pás estacionárias formam uma espécie de coroa presa no

interior da caixa do compressor. Cada anel formado pelas pás periféricas é denominado

de estágio do compressor, e o número de estágios dos compressores de fluxo axial

varia de acordo com o tipo de motor.

Fig 8 – pás estacionárias no tambor

Fonte: Motores a Reação, Editora Asa – 1999, p. 42

A roda da turbina é mais um componente do rotor e é feita de um metal

especial, em que estão instaladas as pás periféricas (fig 9). A função da roda da turbina

juntamente com as pás periféricas é de manter girando o compressor durante o

funcionamento do motor. Esse conjunto gira pelo impacto de ar nas pás das turbinas

18

que estão presas ao eixo do rotor. As pás periféricas apresentam uma seção aerofólica

assim como as pás estacionárias e periféricas do compressor axial. A roda da turbina é

forjada em gessop-18-b e as suas pás periféricas forjadas em nimonic-80 e geralmente

estão presas por processos especiais, o mais usado é do tipo encaixe.

Um rotor pode apresentar uma ou mais rodas de turbina, mas nos motores atuais uma

única roda é empregada.

Figura 9 – turbina

Fonte: Apostila da Anac

Na frente das pás periféricas tem uma série de pás recurvadas fixadas entre

dois anéis de diâmetros diferentes para formar o conjunto de pás orientadoras (fig 10),

tendo como função principal dirigir a massa gasosa superaquecida para as pás da roda

da turbina, além desse encargo, elas tem a função de limitar a passagem de massa

gasosa. Também são conhecidas como agulhetas, que tem por finalidade converter

todo os outros tipos de energia que a massa gasosa possa possuir ao deixar as

câmaras de combustão. O anel de pás orientadoras é um conjunto indispensável para

motores turbo-jatos convencionais.

19

Figura 10 – pás orientadoras

Fonte: Apostila da Anac

O eixo do motor é formado por três partes: eixo frontal do compressor, eixo

traseiro do compressor e eixo da turbina.

O eixo frontal do compressor está apoiado em um mancal frontal no eixo do

rotor à frente do compressor. Essa porção não transpassa o corpo do compressor onde

é presa por parafusos muito resistentes. Nesse eixo estão presas também as

engrenagens dos acessórios.

O eixo traseiro do compressor também é ligado por parafusos muito resistentes

até o eixo da turbina. A turbina está fixada na parte traseira do eixo do motor, podendo

estar apoiada ou não sobre um mancal. O eixo da turbina estende-se pela face

dianteira da roda da turbina até o eixo traseiro do compressor, ele possui um mancal de

suporte especial.

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3.2 CAIXA DO DIFUSOR E DO COMPRESSOR

É equipado com compressor centrifugo onde estão alojadas as lâminas do

conjunto do difusor.

Esta caixa só é considerada nos motores que possuem compressores

centrífugos, pois envolve uma série de coletores instalados em sua periferia para

canalizar o ar para suas câmaras de combustão (fig 11). Ela envolve o compressor e

também serve para dar suporte aos difusores e coletores.

Figura 11 – difusor e coletor

Fonte: Motores a Reação, Editora Asa – 1999, p. 47

Já a caixa do compressor axial não apresenta difusores porque nos motores

axiais a orientação do ar se faz diretamente para as câmaras de combustão através das

pás estacionárias.

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3.3 CÂMARA DE COMBUSTÃO

A câmara de combustão é mais que fundamental em um motor turbo-jato, pois

é nela que acontece a queima da mistura ar combustível. Com isso tem-se o aumento

da temperatura ambiente, fazendo com que os gases da combustão se expandam e

escapem com alta velocidade através do conjunto turbina/escapamento. Elas devem

ser cuidadosamente desenhadas, pois o seu desenho interfere diretamente no

desempenho de todo o motor. Geralmente tem formato de um tubo (fig 12), o que

facilita sua identificação.

Figura 12: câmara tipo tubo

1 – Corpo da câmara 2 – Cúpula da cãmara

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 109

Em outros motores pode-se apresentar uma única câmara de combustão

fugindo do formato padronizado de tubo, esse tipo de câmara de combustão é

denominado de câmara do tipo anular (figura 13).

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Figura13: câmara tipo anular

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 113

Nestes dois tipos de câmaras existem duas partes principais na sua estrutura

que é um cilindro interno e um cilindro envolvente ou principal.

O cilindro interno nas câmaras tubulares é um tubo construído de material

especial que tem alto grau de resistência contra elevadas temperaturas e apresenta

orifícios precisamente alinhados (figura 14).

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Figura 14 - Câmara de combustão

Fonte: Apostila da Anac

O espaço interno desse cilindro é chamado de câmara primária ou de chama.

No cilindro principal ou envolvente das câmaras de combustão do tipo tubular, o cilindro

interno é envolvido completamente pelo cilindro principal. O espaço interno do cilindro

envolvente chama-se câmara secundária que é limitada pelo cilindro interno.

Nas câmaras do tipo anular o cilindro interno também é envolvido pelo cilindro

principal, em todos os casos o cilindro principal é a única parte da câmara que é visível

por fora.

Em um motor turbo-jato que tenha várias câmaras do tipo tubular, todos os

cilindros internos são ligados entre si por meio de pequenos tubos chamados

interconectores, que facilitam a combustão durante a partida, espalhando a combustão

24

entre as câmaras. Da mesma maneira os cilindros envolventes também estão ligados

entre si.

Uma câmara do tipo tubular pode ser dividida em duas partes que são cúpula e

corpo.

Cúpula: é a porção da câmara de combustão que no motor com compressor do tipo

centrifugo está presa ao cotovelo da caixa do difusor, ou em motores equipados com

compressores do tipo axial ela está presa à canalização que orienta a massa de ar do

compressor para a câmara de combustão. Mas apesar disso, a posição de uma cúpula

pode depender do tipo do modelo de câmara de combustão empregada no motor.

Corpo: é outra parte da câmara e representa quase a totalidade da câmara. Geralmente

os tubos que ligam as câmaras entre si estão alojados no corpo da câmara.

De acordo com o sentido do fluxo de ar admitido e o fluxo dos gases de

escapamento , as câmaras do tipo tubular se classificam em dois grupos: câmara de

combustão de fluxo direto (figura 15) e câmara de combustão de fluxo de retorno

(figura 16).

Figura 15: câmara de fluxo direto

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 111

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Figura 16: câmara de fluxo de retorno

Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 111

Câmara de combustão de fluxo direto: a massa de ar resultante da combustão é

expelida no mesmo sentido que entrou.

Câmara de combustão de fluxo de retorno: a massa de ar resultante da combustão é

expelida inversamente em relação ao sentido que entrou, passa por um tubo curvado e

então se dirige á turbina no sentido de saída do motor.

Existem motores turbo-jato que apresentam mais de uma câmara de

combustão, mas há vários tipos que ainda apresentam uma única câmara que quase

sempre é do tipo anular, onde o sentido do fluxo que se escapa é o mesmo do fluxo de

admissão.

O número de câmaras de combustão em um motor turbo jato pode variar de

acordo com o tipo do motor, existem motores que possuem dez câmaras, e outros com

dezesseis câmaras de combustão.

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3.4 CAIXA CENTRAL

Constitui uma parte fundamental do motor, pois em alguns motores ela liga a

caixa do difusor à caixa da turbina. Ela envolve o eixo do rotor e por isso é considerada

a espinha dorsal do motor. As maiorias dos motores atuais possuem essa caixa central,

até mesmo porque naqueles que são equipados com várias câmaras de combustão

tubulares, estas estão distribuídas em torno da caixa central.

3.5 CAIXA DA TURBINA

A caixa da turbina é dividida em:

- Conjunto do anel de pás orientadoras de fluxo para a turbina:

- Anel externo da roda da turbina.

O conjunto do anel de pás orientadoras do fluxo para a turbina tem a função de

direcionar a massa gasosa superaquecida e também converter em energia cinética.

Essas pás estão fixadas entre dois anéis de diâmetros maiores, conhecidos por anel de

conjunto externo e outro com diâmetro menor colocado no interior do de maior diâmetro

e conhecido por anel interno do conjunto. As pás orientadoras se prendem a face

externa do anel externo.

O anel externo da roda da turbina envolve completamente a roda da turbina na

altura das pontas de suas pás periféricas, tendo como única função isolar

completamente a roda da turbina do meio exterior e também continuar formando a

canalização do ar.

Ele está diretamente ligado ao anel externo do conjunto das pás orientadoras

do fluxo para a turbina e também se liga diretamente ao cone externo do coletor de

escape do motor.

27

As câmaras de combustão de um motor turbo-jato equipado com várias

câmaras de combustão tubulares se prendem ao conjunto das pás orientadoras do

fluxo para a turbina, por intermédio dos adaptadores do conjunto do coletor da turbina.

3.6 COLETOR DE ESCAPE

Assim é chamado o conjunto formado pelos cones de escape, que determina a

abertura de saída da massa gasosa resultante da queima nas câmaras de combustão,

e normalmente é representado por dois cones , o cone externo e o cone interno.

O cone externo ou coletor propriamente dito é uma seção semicônica que

representa o verdadeiro coletor de escape tendo como função orientar os gases

oriundos das câmaras de combustão para fora do motor expelindo-os pelo tubo de

escape.

O cone interno é perfeitamente cônico e fechado por completo e está no interior

do coletor do escape, tendo como função determinar o aumento gradativo do espaço

interno que é por onde os gases saem.

É fixado por montantes aerodinâmicos que se prendem à face interna do coletor.

Existem alguns tipos de motores turbo-jato que possuem bocais variáveis, que

possibilitam a variação do espaço por onde os gases são expelidos, usados para

aumentar a performance em determinadas velocidades. Estes bocais são ajustados por

meios mecânicos pelo piloto em vôo.

28

Fig 17: coletor de escape montado

1 – caixa central 2 e 3 – tubo de escape 4 – bocal de escape 5 – montantes do suporte do motor 6 – câmaras de combustão 7 – tubo de escape do ar de refrigeração

Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 248

3.7 ACESSÓRIOS

Os acessórios dos motores turbo-jato são as diversas unidades que compõem

os sistemas como, sistema de ignição, sistema de combustível, sistema hidráulico, etc.

Nos motores com compressor rotativo de fluxo centrífugo a maioria dos

acessórios está na parte frontal do motor, e naqueles com compressores rotativos de

fluxo axial os acessórios se distribuem não só na parte frontal do moto, mas também

sobre a caixa do compressor. Raramente encontrarão-se acessórios depois da caixa do

compressor, exceto algumas unidades de certos sistemas como bicos injetores de

combustível, conjunto de ignição e medidores de temperatura.

29

4 FASES DO CICLO DE FUNCIONAMENTO DO TURBO-JATO

Um motor turbo-jato possui quatro fases que definem seu funcionamento, que

são admissão, compressão, combustão e escapamento. Para este tipo de ciclo de

funcionamento damos o nome de ciclo aberto.

Isso porque toda a massa gasosa que é admitida pelo motor é inteiramente

expelida para fora após passar por diversos estágios e tratamentos dentro do reator.

Mesmo que essa massa tenha sido transformada em seu estado físico ou teve

adicionado outro componente, no caso o combustível, ainda recebe a denominação de

massa gasosa ao sair do motor.

Ainda pode-se afirmar que certas turbinas a gás funcionam em um ciclo fechado,

mas não no objeto deste estudo. Agora será definida cada uma das quatro fases

citadas anteriormente.

4.1 ADMISSÃO

Teoricamente, a admissão ou sucção do ar é produzida pelos compressores do

rotor, sejam axiais ou centrífugos. A rotação do rotor depende do tipo de conjunto

compressor/turbina utilizado, mas suas revoluções variam desde 10.000 até 18.000

rotações por minuto (rpm). Como exemplo, o motor DeHavilland Goblin desenvolve

3.000 rpm em regime de marcha lenta, 8.700 rpm em regime de cruzeiro e 10.200 rpm

em regime de decolagem. Grandes forças centrífugas operam principalmente no

compressor e na turbina através do eixo.

Estes compressores têm seu movimento rotativo impelido pelas turbinas ao

longo do final do rotor em um único eixo. Quando o avião está parado, a sucção dos

compressores é o único meio de entrada de ar no motor.

30

Quando o avião inicia se deslocamento, a massa de ar que vai de encontro ao bocal de

entrada do compressor é aumentada pela velocidade aerodinâmica do avião, fazendo

com que uma maior quantidade de ar penetre no motor. E essa massa de ar auxiliar é

aumentada proporcionalmente à velocidade do avião. Quanto maior a velocidade de

deslocamento, maior será a massa de ar que será canalizada ao interior do motor, o

que provocará aumento de rendimento.

Chamamos de massa de ar de admissão justamente essa massa que penetra

dentro do motor e se dirige às palhetas do compressor através da sucção dos

compressores, e se for o caso, a massa que entra do fruto do deslocamento.

As entradas de ar ou bocais de motor possuem diversas formas que foram

projetadas para propiciar uma quantidade otimizada de ar para dentro do motor.

Essas entradas devem canalizar o ar de uma forma eficiente, que garanta o bom

desempenho de todo o motor. Suas principais características são de promover a

entrada de ar com o mínimo de atrito em suas paredes, seu formato deve evitar que o

ar entre turbilhonado e deve ter formas que excluam o máximo a possibilidade de

ingestão de materiais estranhos.

Diversos bocais foram produzidos para diversos tipos de aviões e sempre de

acordo com o tipo de compressor usado.

Nos motores turbo-jatos equipados com compressor rotativo do tipo centrífugo

de dupla face, a massa de ar é admitida através de duas entradas circulares,

destinadas a orientá-la sobre as duas faces do compressor. Quando o motor apresenta

este tipo de entrada de ar, encontramos fixadas no compressor lâminas guias, que tem

a função de auxiliar a mudança brusca do sentido de deslocamento da massa de ar,

que é admitida perpendicularmente ao eixo longitudinal do rotor. O fluxo de massa de ar

31

admitida atinge as palhetas do compressor numa direção paralela ao eixo longitudinal

do rotor.

Geralmente, as entradas de ar circulares estão equipadas com um a tela

metálica destinada a impedir a penetração de qualquer corpo estranho no

compartimento do compressor, o que poderia causar danos nas palhetas.

Nos motores turbo-jatos equipados com compressor rotativo centrífugo de

simples face, a massa de ar é normalmente admitida através de uma entrada de ar do

tipo axial, isto é, um tipo de entrada de ar que admite o ar no sentido longitudinal do

motor.

Há também um tipo de entrada do tipo axial-bifurcado. Este tipo pode ser

adaptado para motores que possuem compressor centrífugo rotativo de fluxo centrifugo

de simples face. Essa entrada favorece o avião que possui pouca área frontal ou o

motor está numa determinada posição impossibilitando a instalação da entrada pelo

nariz do avião, fazendo com que duas entradas sejam instaladas ao lado da raiz das

asas.

4.2 COMPRESSÃO

Após a massa de ar penetrar na entrada do motor, ela passará pela segunda

fase do processo que é o de compressão. Assim que o ar toca as palhetas do

compressor, este processo se inicia. O volume de ar a ser comprimido varia com a

rotação do conjunto eixo-compressor e a velocidade do avião, que quanto maior for

esta velocidade de compressão, maior será a quantidade de ar comprimido. O término

da compressão se dá com a massa gasosa comprimida e com certa velocidade

entrando na câmara de combustão.

32

Nesta fase o principal tratamento dado à massa de ar é a compressão, que é

sempre feita por um compressor rotativo.

O compressor rotativo pode ser de dois tipos básicos:

- Compressor rotativo de fluxo centrífugo;

- Compressor rotativo de fluxo axial.

O compressor rotativo de fluxo centrífugo pode apresentar uma ou duas faces

de palhetas. Neste compressor temos duas subfases:

Subfase de compressão: quando a massa de ar sofre a ação do compressor:

Subfase de difusão: quando o ar sofre a fase de difusão.

Subfase de compressão – nesta fase, com o compressor girando, o ar é admitido

axialmente através das entradas de ar que vão a região central do compressor, e são

colhidas para as palhetas curvadas e mudam sua direção, que era axial e passa a ser

perpendicular ao eixo do motor pelo movimento do compressor. Em virtude da força

centrifuga causada, a massa de ar é impelida para a periferia da face do compressor,

ocasionando um aumento de pressão e velocidade do ar. O aumento de pressão da

massa de ar depende grandemente da velocidade registrada na ponta das palhetas do

compressor, pois quanto maior for a velocidade maior, será a pressão. O ar, deixando

os canais formados pelas palhetas do compressor, terá uma velocidade tangencial

adicionada a sua velocidade radial, e é por essa razão que podemos considerar uma

velocidade resultante.

A subfase de compressão termina no momento em que o ar deixa o compressor

em alta velocidade e penetra nos canais formados pelas palhetas fixas do difusor.

Uma observação muito importante deve ser feita em torno do ar de admissão.

Percebemos que o ar de admissão tem sua trajetória mudada de 180° para 90° e flui

33

radialmente na direção da periferia do compressor. Mas a massa de ar em seu primeiro

contato como disco do compressor, não tem uma orientação radial uniforme que seja

de maneira satisfatória, pois, quando ela entra em contato com o compressor sofre uma

ação por parte deste, que lhe transmite um movimento rotativo. Por ser o ar um fluído

viscoso, e também pela ação do atrito superficial da massa de ar no disco do

compressor, este movimento rotativo é transmitido ao ar de admissão (aquele ar que

está vindo e ainda não atingiu o compressor), com uma intensidade decrescente.

Por essa razão, o ar de admissão aproxima-se e toca o compressor com um movimento

helicoidal, não sendo assim um movimento direto e uniforme para chegar a parede do

compressor. É muito importante observar que tal movimento rotativo é transmitido

somente a uma porção da totalidade da massa de ar de admissão, porção essa situada

próxima ao compressor.

Existem alguns fatores responsáveis pelas perdas registradas durante a

subfase de compressão.

Durante a segunda fase do ciclo de funcionamento de um motor turbo-jato com

compressor de fluxo centrífugo, as perdas se registram, em maior número, no

compressor, durante a subfase de compressão. Algumas dessas perdas registradas

durante a compressão, variam consideravelmente com o tamanho e o tipo de

compressor empregado no motor. O número de palhetas empregadas em um

compressor influi muito na eficiência do mesmo. Podemos dizer que um compressor

que possui um pequeno número de palhetas produzirá uma pequena quantidade de

trabalho útil perdendo eficiência. Essa é uma das desvantagens apresentadas por um

compressor rotativo de fluxo centrífugo possuidor de um pequeno número de palhetas.

34

Por outro lado, poderá parecer que um grande número de palhetas será ideal

para obtenção de um elevado grau de eficiência no compressor. Mas na realidade isso

não se aplica.

Dessa maneira, se um grande número de palhetas for empregado, teremos um

grande aumento na área atuadora, e, por conseguinte, um aumento na resistência

produzida pela fricção da massa de ar, e tendo como resultante uma redução na

eficiência adiabática do compressor.

Em adição ao fator área, tem o fator peso, que também atua como elemento

desfavorável à eficiência de um compressor.

Assim, havendo um grande número de palhetas, o peso do compressor será

aumentado, pois se torna necessário aumentar a sua dimensão para manter sua

solidez e obter-se um espaço capaz de acomodar o volume de massa de ar, absorvido

em maior escala. Pelas razões apresentadas, um número variável, de doze a vinte e

quatro palhetas, empregado em um compressor centrífugo de um motor turbo-jato, é o

que melhores resultados oferece.

O atrito nos mancais dos compressores faz com que ocorram perdas na

eficiência do compressor de fluxo centrífugo, já que absorve uma certa quantidade de

potência transmitida pela turbina ao compressor.

Subfase de difusão - esta subfase começa no momento exato em que a massa de ar

penetra nos canais do conjunto do difusor. O difusor que envolve o compressor e tem o

formato de um anel, possui palhetas fixadas e colocadas de tal modo que as suas

extremidades livres estão alinhadas com a direção da velocidade resultante do ar

expelido do compressor. Com essa disposição, o ar será suavemente canalizado para o

interior do difusor. A massa de ar que deixa o compressor possui uma alta velocidade

35

de deslocamento, mas ao passar através do difusor, terá essa velocidade bem

reduzida. Essa é a mais importante função do difusor, e é executada graças ao fato de

os canais difusores possuírem suas áreas internas aumentadas gradativamente, à

medida que se aproximam da periferia do conjunto do difusor. Com a diminuição da

velocidade da massa de ar teremos uma conversão da energia cinética em energia de

pressão. Isso indica que a massa de ar terá a sua pressão aumentada ao passar pelos

canais difusores, e que não é somente nos compressores que se registra esse aumento

de pressão.

A subfase de difusão termina exatamente quando a massa de ar penetra nas

diversas câmaras de combustão existentes no motor turbo-jato.

Outra função do difusor, no motor equipado com compressor de fluxo centrífugo,

é a de fazer com que a massa de ar comprimido seja canalizada suavemente, de

maneira a reduzir ao mínimo a turbulência que possa surgir, momentos após a massa

de ar haver deixado o compressor. Convém frisar que a principal função do difusor é a

de converter a energia cinética da massa de ar em energia de pressão.

As perdas são registradas no funcionamento do motor turbo-jato, quando há

variação no sentido de fluxo da massa de ar que sai do compressor, em relação às

palhetas fixas do difusor.

Com o compressor girando sob condições ideais de funcionamento, a massa de

ar comprimida é suavemente recebida pelas palhetas do difusor. Estas estão colocadas

de tal maneira que o seu ângulo de entrada auxilia muito a penetração normal e suave

da massa de ar comprimida, nos canais por ela formados.

36

Na prática, as condições de operação de um motor divergem bastante das

condições ideais de funcionamento, as quais correspondem as eficiências teóricas

máximas do motor.

A variação na direção de fluxo da massa de ar, ao deixar o compressor, produz

um rápido aumento de turbulência no interior dos canais difusores, causando uma

grande redução na eficiência do compressor. Estas turbulências dão origem a um

aumento excessivo de temperatura, atingindo um valor bem superior ao normalmente

registrado durante uma compressão eficiente, o qual concorre bastante para diminuir a

eficiência da compressão, por conseguinte, a eficiência de funcionamento de todo o

motor será prejudicada.

Outra causa que é responsável pela intensidade da compressão da massa de ar

absorvida no interior do motor turbo-jato é a fricção das partículas de ar contra as

paredes da superfície do canal difusor. Essa fricção dependendo da intensidade

também diminui a eficiência do compressor.

Se o compressor rotativo for do tipo axial, a segunda fase de ciclo de

funcionamento processa-se da seguinte maneira: a compressão total da massa

absorvida é executada por uma série de compressões intermediárias, isto é, cada

estágio do compressor comprime a massa de ar à medida que ela for passando através

das diversas pás dos diversos estágios existentes no compressor. Essa compressão

tem uma direção paralela ao eixo longitudinal do motor.

Nesta segunda fase que se inicia quando a massa de ar absorvida atinge o

primeiro estágio das pás dos compressores, e termina quando passa pelo último

estágio e segue em direção a turbina, ocorre a compressão do ar, sendo que este terá

sua velocidade diminuída e sua pressão aumentada. As pás do compressor são

37

firmadas em um tambor rotativo. Este tambor tem um formato de funil, que vai

aumentando o diâmetro de seu corpo para o interior. O tambor gira dentro de uma

carenagem, que tem seu formato de uma forma que deixa uma passagem mais larga no

seu início, mais precisamente no bocal do motor, e na medida que vai se introduzindo

para dentro essa passagem vai ficando cada vez mais estreita. As pás estão fixadas

nestes espaços entre o tambor e a carenagem. Elas são instaladas em uma

determinada posição formando um ângulo. Este ângulo é calculado para que a

passagem do ar se processe de maneira suave e com o mínimo possível de resistência,

que é geralmente produzida pelo chamado choque de entrada da massa de ar no

conjunto das pás compressoras. E entre essas pás rotativas, estão fixadas na

carenagem as pás estacionárias, que como o próprio nome diz, não giram, e servem

para direcionar e ajudar a pressionar o ar que sai da pá rotativa. O ar, ao passar pelo

anel das pás compressoras, adquire certa velocidade tangencial no sentido do

movimento de rotação do compressor. Assim, a massa de ar deixa essas pás

compressoras com sua velocidade axial de origem, paralela ao eixo de rotação, mais a

velocidade tangencial componente.

A velocidade que penetra nos primeiro estágios do compressor chama-se

velocidade absoluta, e a velocidade que deixa os compressores e é maior chama-se

velocidade resultante. Mas essa velocidade resultante quando deixa o compressor não

é mais paralela ao eixo, e sim inclinada, formando um determinado ângulo.

As pás estacionárias também têm um ângulo pré-definido de instalação. Isso faz

com que o ar passe por elas com o mínimo de turbulência. Estão alinhadas de modo

que seus bordos de ataque acatem a massa de ar vindo das pás rotativas de maneira

adequada para guiá-las para o próximo estagio de pás rotativas. O principal fato é que

38

essa massa de ar advinda das pás estacionárias atinja as pás rotativas da mesma

maneira que atingiram as pás rotativas anteriores. Todas as pontas das pás têm uma

certa distância da parede externa por causa da dilatação pela velocidade e

temperatura. Dessa maneira, a massa de ar perde a força tangencial adquirida nas pás

rotativas, diminuindo as perdas e aumentando a pressão e fluxo único da massa de ar.

Convém dizer que a velocidade é sempre diminuída quando o ar passa nas pás

estacionárias. Em cada estágio nota-se que há uma porção diferente de massa de ar

que sofre modificações, isso porque cada estágio tem um grau de compressão devido

ao estreitamento do sistema. O número de estágios depende da compressão requerida

para o motor.

É importante notar que, nesta segunda fase deste ciclo de funcionamento, as

duas subfases se processam em cada estágio do compressor. Portanto podemos

concluir que a massa de ar absorvida passará tantas vezes por esta ou aquela subfase

quantos forem os estágios existentes no conjunto do compressor do motor. Essa é uma

das principais diferenças que pode apresentar o ciclo de funcionamento do motor turbo-

jato equipado como compressor axial, em relação ao ciclo de funcionamento de outro

motor turbo-jato equipado com um compressor centrífugo. Neste último tipo de motor,

temos a massa de ar considerada passando somente uma vez pela subfase de

compressão e também uma única vez pela subfase de difusão.

4.3 COMBUSTÃO

Esta é a fase em que a massa de ar com pressão e determinada velocidade sai

do compressor e é queimada dentro da câmara de combustão. Após a queima, a

massa gasosa é acelerada para fora da câmara de combustão.

39

Na câmara de combustão, temos a introdução de um componente auxiliar do

funcionamento do motor: o combustível.

Como será explanado mais adiante, o combustível é queimado na corrente de

uma massa de ar chamada de ar primário, onde a razão de combustível e ar é ótima

para o inicio da combustão. A principal função da queima de combustível é de aumentar

a temperatura da massa de ar para um valor desejado, produzindo uma aceleração no

ar introduzido no motor. Considera-se terminada a terceira fase, quando a maior

porcentagem da massa de ar, que penetrou nas câmaras de combustão se escapa em

alta velocidade pela abertura posterior da câmara de combustão e atinge o conjunto da

turbina.

O escape da maior porcentagem da massa de ar (não é a totalidade, pois uma

pequena porcentagem toma parte na combustão, transformando-se em gases) faz-se

graças a sua grande expansão, que é influenciada pela grande temperatura da chama

de combustão. Misturados com esse ar são também expelidos os gases resultantes da

combustão.

4.3.1 Teoria da câmara de combustão

As câmaras de combustão de um motor turbo-jato devem ser cuidadosamente

desenhadas, pois isso afeta diretamente o desempenho do motor.

Durante a compressão, a massa de ar absorvida pelo motor sofre uma redução

no seu volume específico e um aumento de sua pressão. Quando a massa de ar

penetra na câmara de combustão, uma energia calorífica lhe será transmitida, e por

conseqüência, haverá um aumento no seu volume especifico da massa de ar, sem se

registrar nenhuma variação de pressão, sendo que esta permanecerá constante. O

formato da câmara de combustão é divergente, isto é, é inicialmente estreito, e vai

40

alargando-se em um certo ponto variável logo após o bico injetor de combustível. Isso é

eficaz porque logo que a massa de ar entra em combustão com o líquido inflamável,

terá um espaço suficiente para expandir-se em alta velocidade para a saída da câmara.

Isso se processa de uma maneira suave e constante no funcionamento do motor. O fato

de a câmara ter um espaço convexo na sua parede, faz com que a massa de ar

expandida somente flua na direção da saída. Havendo a queima de combustível, a

expansão processar-se-á única e exclusivamente graças a energia fornecida por esta

combustão. Em outras palavras, a energia necessária para a execução da expansão

lateral da massa de ar é fornecida pela própria chama de combustão, não havendo

nenhuma alteração na velocidade e na pressão da massa de ar. Devemos notar que

com a queima de combustível, o fluxo de ar tornar-se-á compressível, pois ocorrerá

uma redução de sua densidade, o qual não afeta a pressão estática, pelo fato do

grande aumento de temperatura ocorrido. Há a possibilidade de aumentar ainda a

velocidade dos gases usando uma câmara de fluxo dividido. O jeito encontrado é de

encaixar uma tubulação em volta do bico injetor chamado cilindro interno. Esta

tubulação tem primeiramente na sua entrada a forma divergente ligando-se logo após

por uma forma convergente na saída. Isso faz com que uma parte da massa de ar

penetre neste espaço e sofra um aumento de pressão junto com o combustível

pulverizado pelo bico injetor. O resultado é uma massa gasosa com maior pressão que

se encontra com o restante da massa de ar externa, fazendo com que todo o conjunto

adquira maior velocidade na saída da câmara de combustão. Este dispositivo evita

certas inconveniências ocorridas na sua ausência, como distribuição desigual da

expansão dos gases, pelo fato do diâmetro da câmara ser grande demais e a mistura

desigual do combustível como os gases por parte do bico injetor.

41

4.3.2 Ar primário e ar secundário

O ar primário é o que entra pela entrada principal para ser introduzido aos bicos

injetores, dos quais são 25 por cento do total enviado pelos compressores. Temos

também o ar secundário (fig 18), que representa os outros 75 por cento, que são

usados para se misturarem à massa gasosa já queimada e promoverem a devida

ventilação necessária ao resfriamento das paredes da câmara de combustão, evitando

que as chamas afetem a parede interna da câmara. Esse ar secundário penetra por

orifícios localizados estrategicamente na extensão externa da câmara de combustão.

Também este ar é chamado ar de diluição. O ar primário também é dirigido à área dos

bicos injetores para formar uma pequena turbulência, a fim de melhorar a mistura do ar

com o combustível.

Fig 18: ar primário e ar secundário

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 192

42

No inicio do funcionamento do motor, a combustão da mistura ar e combustível

processa-se pela ação de faíscas produzidas por uma vela de ignição, sendo que

depois que o motor atinge determinada rotação, essa faísca cessa e a combustão

torna-se contínua.

4.3.3. Fluxo direto e de retorno

Na câmara de combustão de fluxo direto, o sentido de direção de deslocamento

da massa de ar primário, e mais o escape da massa gasosa superaquecida, através da

câmara de chama, são os mesmos que o deslocamento da massa de ar introduzida na

câmara de combustão. Neste caso o sentido de fluxo do ar primário é o mesmo do fluxo

de ar secundário.

Na câmara de combustão de fluxo de retorno, há uma estrutura interna tal que o

movimento da massa de ar primário, mais a massa de ar gasosa aquecida, será

exatamente o oposto do fluxo de ar secundário. Esse tipo de câmara foi uma das

primeiras usadas nos motores turbo-jato, sendo substituídas posteriormente pelas de

fluxo direto e logo depois de fluxo dividido.

4.3.4 Mistura combustível

A mistura combustível é de suma importância para o bom funcionamento do

motor turbo-jato

Ela é formada no interior da câmara de combustão por uma certa quantidade de

combustível e ar primário. O combustível comumente usado é o querosene. Convém

salientar que o querosene de aviação usado é diferente do querosene doméstico. O

querosene de aviação deve conter na suas propriedades dois requisitos básicos: alto

valor calorífico e capacidade de produzir o mínimo de poluição. Também se deve ter

facilidade de pulverização, ausência de matérias sólidas, capacidade de suportar baixas

43

temperaturas sem perder suas propriedades e possuir elevado ponto crítico de

volatilidade, que é a temperatura em que o combustível se torna suficientemente volátil

para formar a mistura combustível com o ar primário. Quanto mais for elevado o ponto

crítico de volatilização, menos volátil ele será, o que de fato lhe dará maior segurança

ao registrar menor perigo de explosões.

4.3.5 Bicos injetores

Os bicos injetores (fig 19) possuem uma estrutura interna que possibilita que o

combustível seja dividido em várias partículas muito pequenas para ser misturado com

o ar primário. Cada câmara de combustão possui um bico injetor, se alojando em

diferentes situações dependendo do tipo de câmara de combustão.

Fig 19 - A: bico injetor

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 260

A ação pulverizadora de um bico pulverizador precisa ter gotículas de

combustível com o diâmetro mais parecido possível para bom funcionamento da

queima. Na verdade não importa a quantidade de gotículas, e sim, a sua formação. A

variação de tamanho entre as partículas varia de 10 a 200 mícrons de diâmetro, e a

44

quantidade varia de 5 a 10 milhões de partículas por centímetro cúbico de combustível

pulverizado.

Mas a mais importante característica do bico injetor é ainda a melhor queima do

combustível. Sendo assim, existe um sistema que se chama pré-vaporização do

combustível no interior da câmara de combustão.

Figura 19 – B: dispositivo de pré-vaporização de combustível

A – bico injetor de combustível B – tubos pré-vaporizadores

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 203

Este sistema tem por finalidade básica vaporizar o combustível antes que ele

penetrar no recinto da câmara de combustão propriamente dita.

Ele é constituído em cada câmara de combustão, por um bico injetor que termina

em quatro tubos de diâmetro bastante reduzido. Através desses tubos o combustível é

introduzido no interior de cada um dos tubos pré-vaporizadores que são recurvados, e

devido a temperatura tem seu conteúdo pulverizado antes de sair para a queima.

Este sistema tem mostrado ser bastante eficiente, principalmente pelo fato de ser quase

impossível a formação de carvão.

45

4.3.6 A combustão

A combustão da mistura combustível é marcada pela presença de uma chama a

frente do bico injetor de combustível e processa-se numa região muito pequena, situada

na primeira porção da câmara.

O sistema de ignição de turbina apresenta um ignitor de chama diferente

daqueles utilizadas nos sistemas de ignição dos motores convencionais. Os ignitores

somente geram faísca no momento da partida, sendo que após o início do

funcionamento do motor, a faísca cessa e a chama torna-se constante com a adição

contínua de combustível. O seu eletrodo deve ser capaz de resistir a uma corrente de

muito maior energia, em relação ao eletrodo de velas para motores convencionais. Essa

corrente de alta energia pode rapidamente causar a erosão do eletrodo, mas os

pequenos períodos de operação minimizam manutenção da vela. O espaço do eletrodo

de uma vela de ignição típica é muito maior do que aquela das velas de centelha, uma

vez que as pressões de operação são muito menores, e as centelhas podem ser mais

facilmente conseguidas do que nas velas comuns. Finalmente, a sujeira nos eletrodos,

tão comum nas velas de motores convencionais, é minimizada pelo calor das velas de

alta intensidade.

Para a combustão ser eficiente, deve-se ter tempo, temperatura e turbulência.

Resumindo, significa tempo de queima o mínimo possível, temperatura a mais baixa

possível e o mínimo de turbulência. A temperatura aproximada na combustão chega a

2000° C, com tempo Maximo de 10 a 20 milésimos de segundo.

A chama de combustão apresenta a cor amarela quando o motor está bem

regulado. Chama a atenção uma cor vermelha pálida caso Haja desregulagem de

algum componente.

46

O comprimento da chama varia diretamente com a razão da mistura de

combustível-ar. Os bicos injetores são projetados para trabalhar com um volume

específico de ar e combustível. Existe um limite de chama para que não afete a

estrutura da câmara e os componentes do bico injetor, que se chama de razão máxima

de mistura. Um item importante da chama é manter-se acesa durante a passagem de

fortes correntes de ar. Sabe-se que o ar que entra na câmara de combustão é muito

veloz em relação ao tempo de propagação da chama. Por isso que é importante ter

uma pequena região de turbulência em volta da chama para diminuir a velocidade do

ar.

Convém salientar que a massa de ar que não tomou parte da combustão sofre

uma aceleração no seu movimento, causada pela grande quantidade de calor que lhe é

transmitida pela chama de combustão. Essa massa acelerada chega a 168 metros por

segundo de velocidade.

O final é registrado no momento exato em que a massa de ar mais os produtos

da combustão deixam as câmaras de combustão e penetram no anel de pás

orientadoras de fluxo para turbina, passando antes através de tubo orientadores que

ligam as câmaras de combustão com o conjunto da turbina.

4.4 ESCAPE

O escape se inicia quando os gases superaquecidos que saem da câmara de

combustão se encontram com os anéis das pás orientadoras de fluxo e se dirigem para

a turbina.

O final coincide com o do ciclo de funcionamento do motor, e é marcado pelo

escape da massa gasosa para a atmosfera passando pelo coletor de escape.

47

O produto da combustão no interior da câmara de combustão sai da mesma com

uma velocidade aproximada de 168 metros por segundo, uma pressão de 4,08 quilos

por centímetro quadrado e temperatura perto dos 837 °C. Nestas condições ela

encontra-se com as pás orientadoras de fluxo para a turbina.

4.4.1 Pás orientadoras

A função dessas pás orientadoras é dirigir os gases advindos da combustão para

a turbina com o mínimo de formação de turbulência. Essas pás estão instaladas

formando um ângulo chamado ângulo teórico de eficiência máxima.

Essas pás orientadoras são formadas por uma serie de pás fixadas entre dois

anéis, sendo que um anel serve de base inferior e outro de base superior que contorna

toda a extensão da pá. A fixação difere de modelo para modelo. Geralmente são

fixadas através de pinos rebitados transpassados.

Outra forma é o processo de flutuação, onde os encaixes convergem-se ao

contrário do sentido de rotação do rotor.

As extremidades da pá orientadora não são paralelas entre si nem tão pouco

com o eixo longitudinal do motor. Este fato concorre para evitar o deslocamento

longitudinal das pás, em relação ao motor.

Existe um folga entre os anéis suportes e as pás orientadoras do valor

aproximado de 0,005 de polegada, que é destinada a prevenir o rompimento das pás

quando se processar a dilatação influenciada por elevadas temperaturas.

Quando a massa gasosa proveniente da câmara de combustão atravessa as pás

orientadoras, recebe uma queda de pressão e um aumento de velocidade, ou seja,

converte-se em energia cinética. Este processo ocorre na agulheta ou embocadura, que

são os espaços existentes entre duas pás orientadoras. Em alta velocidade, os gases

48

se dirigem à turbina fazendo com que ela gire e conseqüentemente mova o

compressor.

4.4.2 Atrito superficial

Apesar de, teoricamente, não se considerar a existência de protuberâncias nas

paredes das agulhetas, na prática não é possível obter uma superfície lisa e

completamente livre de protuberâncias. As protuberâncias existentes nas superfícies

das pás orientadoras diminuem a velocidade do fluxo da massa gasosa, acarretando

desta maneira uma perda de eficiência no funcionamento do motor. As pás orientadoras

de fluxo, ao saírem da fábrica, apresentam uma superfície bem polida, mas após um

período de funcionamento do motor, sofre a ação corrosiva dos gases superaquecidos,

combinada com o atrito das partículas desses mesmos gases fluindo am alta

velocidade, vai tornando mais áspera as superfícies das pás.

Se as superfícies das pás orientadoras forem examinadas com um microscópio,

podem-se verificar inúmeras protuberâncias, que atuam como freios sobre a parte da

massa gasosa que está em contato direto com as paredes das agulhetas.

4.4.3 Turbina

A turbina tem a finalidade de extrair a energia cinética dos gases em expansão

que escoam da câmara de combustão, e transformar em energia mecânica, dando

potência ao compressor e aos acessórios. Ela é formada por um rotor preso a um eixo

ligado diretamente ao compressor, tendo palhetas fixadas ao seu redor. Pode-se ter um

ou mais estágios.

Existem dois tipos principais mais utilizados de palhetas na turbina:

Palheta de impulso;

Palheta de reação.

49

A palheta de impulso a sua forma é convergente, e sua área de entrada é maior do que

a de descarga, promovendo a aceleração dos gases acarretando diminuição de

temperatura e pressão. Os gases ao passar por essas palhetas sofrem mudança de

direção, assim sendo, surge uma força de impulso para girar o rotor.

A palheta de reação faz com que os gases não sejam acelerados, apenas tem sua

direção mudada. Isso acontece porque a primeira extremidade da palheta é

arredondada, e a outra extremidade é afinalada, diferente da palheta de impulso que

contém as duas pontas afinaladas.

50

5 TEORIA DA FORÇA PROPULSORA

Considera-se que o princípio básico dos motores a jato está no fundamento da

aceleração de uma massa gasosa, obtendo uma determinada força em um sentido e

resultando num deslocamento contrário de mesma força e intensidade, sendo chamada

de força propulsora.

Um exemplo muito simples é um balão, tendo-o bem cheio de ar. Segurando

pelo bico sem deixar escapar o ar e em seguida soltando o mesmo, de forma que o bico

fique totalmente aberto, observa-se que o balão tem um deslocamento com uma

trajetória totalmente desorientada. Isto acontece porque o ar dentro do balão tende a

escapar através do bico, produzindo uma reação contrária ao do escape. A reação que

atua no interior do balão produz um deslocamento no espaço.

A trajetória não mantém uma linha reta porque como o ar irá escapar do interior do

balão, o mesmo perderá a sua forma esférica, com essa deformação registram-se

mudanças na posição do bico em diversas direções. Por conseqüência haverá

alterações na direção do jato de ar e da força de reação relativamente ao próprio balão,

ocorrendo a sua desorientação do mesmo pelo espaço (fig 19 e 20). As mudanças de

direção acontecem rapidamente, pelo fato de esvaziar rapidamente.

51

Figura 20 – trajetória do balão

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 124

Figura 21 – representação da força de propulsão

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 125

52

Outro exemplo para entendermos melhor o funcionamento é de uma

metralhadora montada sobre uma plataforma com rodas assentadas sobre trilhos. Cada

disparo proporcionará a expulsão de um projétil, tendo uma mesma força da mesma

direção, mas em sentido contrário á trajetória no interior do cano. Esta reação também

conhecida vulgarmente como recuo. A sucessão dos recuos provoca o movimento do

conjunto montado sobre os trilhos.

Num motor a jato, cada molécula de massa de ar que se movimenta no seu

interior, pode ser comparada com os projéteis da metralhadora em disparo. Com

exceção dos foguetes que transportam elementos propelentes no seu bojo, o motor

desloca-se e suga o ar e expele-o com velocidades superiores que as de entrada,

acelerando esta mesma massa para se obter a força propulsora que chamamos de

tração. Este é o princípio básico dos motores aerotérmicos de propulsão a jato.

Variando os procedimentos de produzir a aceleração da massa de ar absorvida, temos

uma variedade de motores aerotérmicos de reação direta (propulsão a jato). Mesmo os

foguetes que funcionam segundo o mesmo princípio, a segunda lei de Newton, possui

dispositivos de funcionamento ligeiramente diferentes dos motores a reação direta.

Enquanto os turbo-jatos funcionam dependendo do meio em que se encontram,

os foguetes são completamente independentes do meio ambiente.

No caso dos foguetes, toma-se o exemplo de uma pessoa sentada em uma

cadeira de balanço, possuindo ainda uma certa quantidade de tijolos para arremessar

para frente. Cada arremesso lhe dará um impulso para trás, e quanto mais rápido e

sucessivo ela arremessar, maior será o movimento contrário do balanço. No caso dos

motores térmicos a jato que empregam o ar atmosférico para seu funcionamento,

sabemos que a força de tração cai para um valor igual à zero, quando a velocidade da

53

massa de ar expelida for igual a velocidade da massa de ar absorvida. Concluindo que

a tração será negativa se a velocidade da massa de ar expelida for menor que a

velocidade da massa de ar absorvida.

Esta conclusão não se aplica aos motores de foguetes, pois para qualquer

velocidade de ejeção da massa gasosa, teremos sempre uma tração correspondente e

proporcional à velocidade de ejeção. Por isso os motores foguetes podem alcançar

velocidades superiores às registradas no bocal de escape do próprio motor.

Simplificando, podemos dizer que a tração em libras é numericamente equivalente ao

produto da massa de ar, passando através da unidade propulsora e considerada em

cada segundo de tempo, com excesso de velocidade da corrente de ar. Este excesso é

igual a velocidade com que o ar é expelido (ou acelerado), menos a velocidade do

avião em pés por segundo.

5.1 EFICIÊNCIA PROPULSORA

Esta eficiência é definida como sendo o trabalho útil executado pela tração

dividido pela quantidade de trabalho transmitido à corrente de ar que passa pelo

atuador (hélice ou motor a jato). E representada pela letra grega η. O trabalho útil

expresso em termos correspondentes à força propulsora é igual ao produto da tração

pela velocidade do avião:

TRABALHO ÚTIL = T.V,

Onde T é expresso em lbs (libras) e V em ft./s. O trabalho útil, portanto, é

expresso em ft.lbs/s (pés libras por segundo).

Sendo o cavalo força (HP) equivalente a 550 ft.lbs de trabalho por segundo,

escreve-se assim:

THP= T.V/550

54

Onde o THP representa o cavalo de força de tração (Thrust horse Power).

Numa conclusão de dois caminhos bem diferentes:

a) Estando o observador colocado numa posição qualquer junto a massa de ar

que não participa da corrente;

b) Estando o observador colocado no próprio avião.

a) Para um observador colocado num ponto qualquer, a corrente de ar terá uma

velocidade igual a Vs-V, onde V é a velocidade do avião e Vs a velocidade da

corrente de ar considerada.

A energia cinética da corrente de um fluído é dada por:

Ee=½. massa.v²

Onde v é igual a (Vs-V); e a massa por segundo é g.AV.

Então a energia da corrente relativa à massa de ar que está servindo de base,

será igual a:

½. g AV.(Vs-V)²

A quantidade de trabalho transmitido para a corrente da massa de ar será

igual à soma do trabalho útil com a energia da corrente da massa de ar.

Como vimos anteriormente, a eficiência propulsora é representada por:

η=T.V / T.V+½. g AV (Vs-V)²

Substituindo o valor de T(tração) =g.AV.(Vs-V) teremos:

η=g AV (Vs-V) V / g AV(Vs-V) V+½ g AV(Vs-V)²

Onde, η=V(Vs-V) / V(Vs-V)+½ V(Vs-V)²

55

b) Para o observador colocado no próprio avião, que será o ponto de referência,

teremos:

A energia cinética da corrente da massa de ar na frente do avião em movimento,

igual a:

Ec=g AV.V²

A energia cinética da corrente da massa de ar em relação ao avião, igual a:

Ec=q AV.Vs²

A quantidade de energia transmitida para a corrente da massa de ar igual a

diferença entre esses dois valores:

½ g AV (Vs²-v²)

O trabalho útil já definido, igual a:

g AV (Vs-V) . V

Neste caso, a energia propulsora será igual ao quociente de trabalho útil pela

energia transmitida à corrente.

Conclue-se que a eficiência propulsora é inversamente proporcional à razão

entre a velocidade da corrente de ar e a velocidade do avião. Portanto, quanto maior for

essa razão menor será a eficiência propulsora.

Em um exemplo de que a velocidade do avião é de 400ft/s, e a velocidade da

corrente é de 440ft/s, teremos então 95,2%. A eficiência propulsora não será admissível

à idéia de obter-se um valor excessivo para Vs (velocidade corrente da massa gasosa

que se desprende do motor em relação à velocidade do avião), por isso iria resultar em

uma grande perda de energia inútil, transmitida para a corrente da massa gasosa.

56

Neste exemplo a eficiência propulsora foi de 95,2%, podemos perceber que a Vs

excedeu V em cerca de 10% (Vs=440ft/s e V=400ft/s), sendo assim a energia da massa

gasosa é aproximadamente 5% de toda a energia perdida no sistema.

Neste ponto de vista chega-se a várias conclusões:

Supondo a possibilidade de manter constante a porcentagem de excesso da Vs

sobre a V com o intuito de obter sempre um valor satisfatório para a eficiência

propulsora, logo a quantidade Vs-V tornar-se-á menor quando a velocidade do avião (V)

for baixa.

Considerando agora o avião voando a uma velocidade inferior qualquer, mas

mantendo a mesma tração para ambos os casos, faz-se o seguinte raciocínio:

A tração é determinada pela fórmula g AV (Vs-V); a densidade do ar (g) será

constante par uma determinada altitude a qual considera-se invariável; a velocidade (v)

do avião e a velocidade Vs da corrente de massa de ar em relação ao avião, são

consideradas como dadas e também invariáveis. Voltando a fórmula que determina a

tração, verifica-se que o único elemento variável será a área de secção (A).

Para manter a tração constante é evidente que quanto menor for a velocidade do

avião, maior será a área de secção do atuador (moto a jato ou hélice).

Num caso mais específico, onde o avião tem uma velocidade média, pode-se

supor o fato de ser necessário uma área com um diâmetro tão grande que seria

impossível representar a área de um atuador por intermédio de um conduto. Neste caso

deve-se utilizar outro tipo de conduto, uma hélice. Mas tudo deve ser analisado,

mantendo um mesmo valor para a tração, em diversas situações de uma velocidade

variável do avião.

Nesta idéia conclui-se que:

57

1) Um motor a jato com estrutura básica, não pode ser como uma unidade

propulsora eficiente para aviões de pequena velocidade, segundo as mesmas

considerações feitas quanto a ampliação da área da secção.

2) No caso em aviões com velocidades moderadas, a hélice aparece como sendo

única solução prática, vendo que possui possibilidades de obter uma área de

secção maior.

Não há dúvidas de que o motor a jato pode produzir tração em praticamente

qualquer velocidade, mas em um caso particular como o dos aviões de baixa

velocidade, a eficiência propulsora desses motores teria um valor tão baixo que a

instalação seria de caráter pouco econômico.

Até o momento, os motores turbo-jato possuem uma estrutura bem particular

baseada em um compressor, movimentado por uma turbina, que fornece ar para a

câmara ou câmaras de combustão de fluxo constante. Essa mesma massa de ar

movimenta a turbina, escapando em seguida pelo conjunto de escape (em forma de

tubo) com uma velocidade superior a velocidade aerodinâmica do avião. A diferença

entre essas duas velocidades registrará a o valor da tração liquida do motor.

Recordando o estudo sobre a tração e sobre eficiência propulsora, pode-se

dizer que a massa de ar é medida exatamente à frente da tomada de ar do avião no

ponto em que a velocidade do ar não seja materialmente diferente da velocidade (V)

do avião.

58

5.2 SEQUÊNCIA DO MOTOR TURBO-JATO

O motor convencional de quatros tempos, comum em carro e aviões, está

baseado num ciclo chamado de ciclo-aberto, onde as operações compõem-se de

quatro tempos:

1) Admissão

2) Compressão

3) Expansão ou potência

4) Escape

Para aqueles que não conhecem as operações, em seguida mostraremos uma

breve descrição. Todas as funções se processam numa seqüência regular em cada

cilindro.

No cilindro, quando o pistão desce, a mistura ar e combustível entram na câmara

de combustão, através de uma entrada controlada pela válvula de admissão: neste

momento a válvula se fecha e o pistão sobe para comprimir a mistura, e em seguida

será gerado uma centelha pelas velas.

Após a queima, os gases expandidos resultantes da combustão, forçam o pistão

para sua posição anterior (esse tempo é considerado como potência ou ignição);

novamente o pistão sobe, mas agora pra expulsar os gases através de outra válvula,

chamada de válvula de escape.

Para cada subida ou descida do pistão dentro do cilindro, corresponde a ½ volta

do eixo de manivelas do motor. Como um ciclo completo corresponde a quatro tempos,

59

isto é, duas subidas e duas descidas do pistão, tem-se então duas voltas do eixo de

manivelas para cada ciclo completo do cilindro.

Mas para cada duas voltas do eixo de manivelas, temos somente um tempo de

potência. Por conseguinte, a energia de trabalho é aplicada intermitentemente ao eixo

de manivelas.

Num motor turbo-jato o ar é absorvido por um compressor de palhetas rotativas e

orientado por palhetas estáticas para a câmara de combustão, onde o combustível é

constantemente pulverizado no próprio ar. A combustão é constante, não existe

combustão intermitente, como no motor convencional.

Na figura 22 percebe-se de forma bem simples a operação do motor turbo-jato.

Figura 22 – comparação das fases do motor convencional e turbo-jato

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 137

Entendendo melhor este funcionamento, considera-se uma massa de ar

passando pelas suas diversas fases durante o ciclo de funcionamento, dentro do motor.

60

A massa de ar absorvida é a fase, cada um dos tratamentos que o ar sofre no

seu percurso dentro do motor. Esse termo, fase, substitui inteiramente o termo tempo,

normalmente utilizado para explicar cada uma das etapas do ciclo de funcionamento de

um motor convencional. O termo tempo não pode ser empregado num motor turbo-jato,

pelo fato do seu funcionamento ser único e contínuo. Em resumo, o motor

convencional, em cada uma de suas quatro etapas da massa de ar absorvida é

processado separadamente no cilindro, tendo duração determinada, na qual chamamos

de tempo.

Esta regra não se aplica ao motor turbo-jato. No seu ciclo de funcionamento

temos a massa de ar passando ao mesmo tempo pelas quatro etapas, isto é, no

momento que o ar é absorvido, ele passa a ser comprimido, já tem-se a compressão,

em seguida a combustão e finalmente o escape, tudo processado simultaneamente em

todo o motor, não importando o número de câmaras existentes.

Fica mais evidente quando o motor se encontra em funcionamento, porque os

primeiros instantes da partida do motor não têm a fase de escape, sem que antes haja

a fase de compressão e a fase de combustão.

O funcionamento do motor turbo-jato pode ser explicado assim:

O ar é sugado e comprimido no compressor, na câmara de combustão o

combustível é injetado em forma de pulverização e em seguida queimado. Apenas uma

pequena parte do ar absorvido é queimada. Devido a uma temperatura muito elevada

no momento da combustão, a mistura queimada expande o ar que não tomou parte da

combustão e numa velocidade relativamente alta, os gases e a massa de ar

superaquecida abrem caminho através da única saída, a extremidade a câmara. A

passagem rápida dos gases aquecidos sobre as pás da roda da turbina, imprimindo um

61

movimento rotativo, cria uma energia mecânica no eixo comum à turbina e ao

compressor, a qual é utilizada para movimentar o compressor e os acessórios do motor.

O compressor continua girando e mantendo o suprimento de ar, fluindo através

da unidade, isto é, do motor.

Uma vez passado pelas pás da turbina, os gases e o ar superaquecido se

escapam pela extremidade traseira do motor, através do conjunto de escape, numa

forma de jato em alta velocidade.

Esta força que é gasta na eliminação dos gases produz uma reação direta no

sentido oposto aos gases de escape, que resulta na força propulsora do motor.

5.3 APLICAÇÃO DAS FORÇAS PROPULSORAS

Num motor turbo-jato de compressor centrífugo de dupla face, a massa de ar é

admitida através das duas entradas circulares, circulando em duas faces do

compressor.

As cargas impostas por essa massa de ar ao compressor são anuladas uma a

uma, isto é, a carga imposta pela massa de ar, penetra pela entrada circular frontal, é

anulada pela carga imposta pela massa de ar que penetra pela entrada de ar circular

traseira, e vice-versa.

Toda a massa de ar é comprimida pelo compressor na forma centrífuga,

orientada em seguida para a câmara de combustão.

A massa de ar para entrar nas câmaras de combustão sofre uma variação no

seu sentido de deslocamento, o que dá origem a força de reação. A soma de todas as

forças que atuam nos coletores (motores equipados com compressor de fluxo

centrífugo) produz cerca de dois terços da força propulsora total.

62

A massa de ar entrando nas câmaras de combustão sofre o efeito de elevação

de temperatura. Nesta ação, há uma expansão intensa, o que dará origem a forças pós-

anteriores, que atuam contra as paredes internas. Esta força constitui cerca de um terço

da força total de propulsão.

Esta mesma massa saindo das câmaras de combustão, passa pelo anel de pás

orientadoras de fluxo para a turbina e finalmente escapa para a atmosfera, através do

conjunto de escape. Neste caso há forças atuando no sentido ântero-posterior. A maior

força que atua neste sentido é registrada no anel de pás orientadoras de fluxo para a

turbina, constitui mais da metade da força total, tanto num motor a jato como em

motores turbo-jatos em geral.

Assim, representam-se as diversas forças ou cargas impostas pela massa de ar

circulante com valores expressos por porcentagem, tendo-se por base um valor X

desconhecido para as forças totais atuando nos dois sentidos. A diferença entre a força

total que atua no sentido pós-anterior do motor e a força total que atua no sentido

ântero-posterior, constitui a potência disponível ou a tração líquida do motor que é

100%.

Lembrando que a soma final de todas as forças que atuam no sentido pós-

anterior será sempre maior que a soma de todas as forças que atuam no sentido

antero-posterior.

63

6 SISTEMAS

6.1 SISTEMA DE COMBUSTÍVEL

Em um motor turbo-jato, o combustível é controlado e canalizado através de um

sistema próprio que apresenta diversos componentes. É de se esperar que haja um

certo número de variações de sistemas de combustível de diversos modelos de motor

turbo-jato, mas mesmo assim pode-se afirmar que determinados componentes básicos

repetir-se-ão.

Do mesmo modo que nos motores convencionais a gasolina, os motores turbo-

jato apresentam em seu sistema bombas de combustíveis, válvula aceleradora, bicos

injetores, unidades controladoras e outras.

Serão abordados aqui todos esses elementos constantes ou comuns de um

sistema de combustível do motor turbo-jato.

O sistema de combustível descrito abaixo pertence ao motor Rollys Royce

Dervent - I

Este propulsor contém um motor com compressor centrífugo de dupla face e seu

sistema de combustível apresenta as seguintes partes,

64

Figura 23 – sistema de combustível do motor Derwent v

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 250

a ) bomba de combustível de deslocamento variável ( especialmente construída para

esse motor)

b ) unidade barométrica de controle de pressão ( barostato )

c ) válvula aceleradora

d ) unidade acumuladora, possuindo uma torneira de alta pressão

e ) tubulações condutoras de combustível

f ) uma série de 10 bicos injetores

65

Analisando este sistema de combustível, notamos que apesar de simples, ele

funciona de uma maneira bastante eficaz. O combustível que advém dos tanques entra

na bomba de combustível principal de alta pressão através de uma bomba elétrica

auxiliar de sucção (de baixa pressão). A bomba de combustível principal, que é

acionada pelo próprio motor, possui deslocamento variável e opera junto com a unidade

barométrica de controle de pressão, para que não ultrapasse os máximos de pressão

permitidos. Esta bomba funciona com uma ligação com o próprio motor em

funcionamento. Depois que o combustível sai da bomba vai para a válvula aceleradora,

e trabalha sobre uma pressão que não ultrapassa 91Kg/cm² . Quando o piloto move as

manetes de potência, está atuando na válvula aceleradora, permitindo ou fechando a

passagem de combustível que vai para as câmaras de combustão, e desta maneira,

controlar a potência do motor. Esta válvula tem o mesmo principio de funcionamento da

borboleta de combustível nos motores a pistão.

Depois que o combustível passa pela válvula aceleradora, ele se dirige para a

unidade acumuladora. O acumulador serve para dar pressão nos bicos injetores

somente durante a partida do motor, pois no inicio da rotação não há força suficiente da

bomba para ocorrer pulverização de combustível nas câmaras de combustão, pois

como o sistema dispõe-se de linhas com um certo comprimento, ocorre perda de

pressão nas mesmas.

E por fim, depois que o combustível passa pelo acumulador, termina nos bicos

injetores.

A torneira de alta pressão é utilizada na partida e o corte do motor, sendo que

estando aberta libera combustível, e fechada impede-o. Existem sensores de pressão

da bomba e pressão e depressão de combustível na tubulação para a cabine.

66

6.1.1 Barostato

O barostato, ou unidade barométrica de controle de pressão, está ligado

indiretamente às tubulações do sistema de combustível. É um sistema que regula a

pressão do combustível por meios mecânicos caso haja uma sobrepressão oriunda das

bombas, ou controla a pressão em relação a altitude da aeronave, pois também possui

um diafragma de pressão diferencial.

Figura 24 - barostato

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 253

1) câmara da cápsula com óleo 2) câmara da válvula com combustível 3) placa diafragma 4) barra móvel de balanço 5) cavidade semi-esférica 6) orifício de passagem 7) filtro 8) diafragma de borracha

67

9) pistão 10) haste 11) manga excêntrica 12) cápsula barométrica emergida em óleo 13) respiro

Componentes:

Conforme figura 24, pode-se observar que o barostato é formado por um corpo

dividido em duas câmaras: câmara cápsula, que se encontra emergida em óleo; câmara

de válvula, que esta emergida em combustível. Entre essas duas câmaras há uma

placa flexível (3), que possui no seu corpo uma barra de balanço (4) que se movimenta

verticalmente. Na câmara cápsula há um diafragma apoiado em bases (pivôs) sendo

que o pivô inferior se apóia na barra de balanço e o superior em um parafuso ajustador.

Na câmara de válvula encontra-se a outra extremidade da barra móvel de

balanço, que na sua parte superior há um parafuso ajustador com uma mola e na parte

inferior uma cavidade semi-esférica por onde passa o combustível.

Como foi mencionado, o barostato regula a pressão que vem da bomba de

combustível. Este barostato trabalhará com duas hipóteses de pressão.

Primeira hipótese: na câmara de válvula, se uma pressão excessiva chegar pelo tubo

de combustível, essa pressão vencerá a mola da válvula e permitirá que uma

quantidade maior de combustível entre na válvula, aliviando a pressão no sistema. O

mesmo vai acontecer se caso a pressão baixar muito, pois a mola devidamente

calibrada vai baixar e estrangular a entrada de combustível, fazendo com que a pressão

de combustível volte ao limite estabelecido.

Segunda hipótese: na câmara da cápsula o diafragma trabalhará com a pressão

estática da atmosfera, assim a medida que o avião ganhar altitude, a cápsula irá dilatar-

68

se, e sua base inferior pressionará a barra móvel de balanço, fazendo com que abra

mais a passagem de combustível na outra câmara e este trabalhe com menos pressão.

Convém salientar que na câmara válvula haverá sempre um pequeno fluxo de

combustível para efetuar este controle, junto a bomba de combustível principal.

6.1.2 Válvula aceleradora

Ela se localiza entre a bomba de combustível e a unidade acumuladora. A

válvula aceleradora (fig 25), é controlada pelo piloto através da manete de potência.

Figura 25 - válvula aceleradora

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 255

Os componentes são: um tubo onde percorre o combustível (1), uma válvula tipo

pistão que restringe ou libera a passagem de combustível (5), um parafuso ajustador de

batente (8), um orifício calibrado de marcha lenta (7), tubo de escoamento (2), alavanca

que se liga a manete (3), corpo da válvula (4), saída do combustível (6).

O combustível percorre o tubo (1) e segue para a unidade acumuladora, caso o

pistão esteja aberto. A abertura deste pistão controla a potência do motor. Estando

fechado, somente passará combustível pelo orifício calibrado (7), mantendo o motor em

marcha lenta. O corte total é feito pela torneira de alta pressão.

69

6.1.3 Conjunto torneira de alta pressão e unidade acumuladora

Este conjunto tem a finalidade de liberar ou cortar combustível para os bicos

injetores e fornecer combustível com alta pressão na partida. Durante a partida, a

bomba não tem força suficiente para pulverizar a quantidade adequada de combustível

nos bicos injetores, então assim que o combustível começa a chegar na câmara da

unidade acumuladora, encontrará resistência devidamente calibrada com uma válvula

com mola (5), e pressionará o pistão para baixo ate encher a câmara com combustível

pressionado. Em um determinado grau de pressão, vencerá a mola (5) e irá com

pressão para os bicos. Assim que o motor pegar, a bomba terá pressão suficiente para

manter a mola aberta e o pistão ficará descarregado, fazendo que o sistema funcione

com a pressão da bomba já suficiente para dar pressão aos bicos injetores. A torneira

de alta pressão (4) já deverá estar toda aberta, e somente será fechada no corte do

motor, e o combustível será desviado novamente para a bomba, e há um dreno (6) para

eventuais sobras de combustíveis.

70

Fig 26 – Conjunto da torneira de alta pressão e unidade acumuladora

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 257 1- canalização do combustível para a bomba 2- canalização para os bicos injetores

3- válvula de alívio 4- torneira de controle de alta pressão 5- válvula apoiada sobre um diafragma 6- dreno para atmosfera

6.1.4 Bicos injetores

A quantidade de bicos injetores varia de motor para motor, distribuído um para

cada câmara de combustão tipo tubo ou ao longo da câmara tipo anular. A função do

bico é pulverizar o combustível para ser queimado na câmara. O bico do motor Derwent

71

pode ser dividido em 3 partes principais: corpo, cilindro interno e manga ou cilindro

externo. Ainda o cilindro externo tem canalização interna, filtro, mola e pulverizador.

O combustível entra na canalização interna, passa pelo filtro e chega ao

pulverizador através de uma mola que permite a passagem de combustível

estrangulada, e é finalmente expelido em camada finíssima pelo atomizador

devidamente calibrado por três orifícios. Ainda existem 8 entradas de ar que passam

pela manga externa para chegar ao atomizador e ajudar a evitar acúmulo de carvão.

Figura 27: bico injetor

1 - Pulverizador 2 - Câmara do pulverizador 3 - Orifício de descarga 4 - Entrada de ar 5 - Manga 6 - Fixador do pulverizador 7 - Corpo do bico injetor 8 - Aba da manga 9 - Filtro de arame

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 260

6.1.5 Bomba de combustível

A bomba de combustível fornece combustível sob pressão para o sistema.

72

Figura 28: Bomba de combustível

A) eixo B) mancal de esferas C) canalizações no rotor D) admissão de descarga E) saída de combustível F) câmara de descarga G) diafragma H) mola do diafragma I) barra móvel de balanço J) cavidade semi-esférica da barra móvel de balanço K) pistão de controle de pressão L) passagem orientadora M) pistão cilíndrico N) eixo-extensão controlador O) junção do eixo com anel controlador P) anel controlador Q) suporte-eixo do anel controlador

Fonte: Motores a Jacto, Editora Lep – 1954, p. 264

É acionada pelo próprio motor em funcionamento através de um rotor (A).

73

Este rotor gira uma placa giratória (P) que é curvada de uma forma onde possa

pressionar e aliviar os pistões cilíndricos (M). Estes pistões trabalham em movimento

retilíneo dentro de um canal e possuem molas em suas bases, quando o pistão sobe

pela ação da mola, recolhe combustível por rarefação da câmara de admissão, e

quando desce manda combustível sobre pressão para a câmara de descarga, tudo isso

através de uma válvula orientadora (L), que de acordo com a rotação do eixo ora libera

passagem de combustível da câmara de admissão e ora para a câmara de descarga

(F). O pistão de controle (N) está instalado paralelamente ao eixo principal da bomba.

Este pistão trabalhará com a inclinação da placa giratória (P) por meio da haste do

pistão para que esta envie mais ou menos pressão aos pistões cilíndricos. Nesta

câmara, há um pistão e uma mola que mantém a placa giratória com o máximo grau de

inclinação e maior rendimento da bomba.

Na câmara da haste (K), há passagem de combustível proveniente da câmara de

descarga por meio de um orifício, e sua saída pelo orifício (J).

Assim ocorre um equilíbrio, e a haste de pistão não se move. Mas se a bomba estiver

produzindo excesso de fluxo de combustível, essa pressão aumentará também nestas

câmaras, fazendo com que a câmara de haste se mova contra a mola, e na câmara

mola o excesso de pressão vencerá esta mola e liberará combustível para a bomba

novamente. Isto fará com que diminua a inclinação da placa giratória, e, por

conseguinte, diminuirá a pressão na bomba.

Na própria estrutura interna da bomba há uma saída de pressão de combustível

com intenção de regular a velocidade de rotação do conjunto compressor – turbina do

motor.

74

Se o motor estiver com rotação excessiva, aumentará a velocidade da bomba de

combustível também, e essas saídas de combustível são ligadas às câmaras de

admissão, e esta câmara possue um diafragma que por sua vez aumentará e

pressionará a abertura da válvula da câmara de mola, e o processo da haste se iniciará

igual a explicação interior.

6.2 SISTEMA DE PARTIDA

Para demonstrar como funciona o ciclo de partida de um motor turbo-jato, tomar-

se-á o exemplo do motor Rolls Royce “Nene”. A partida é executada por um motor

elétrico de 24 volts, ou também por fonte externa. Todas as operações necessárias

para sua execução são efetuadas num ciclo que se interrompe num determinado

tempo. Essa força, provinda de um motor elétrico instalado na caixa de acessórios,

ligado através de engrenagens acopladas no eixo principal, faz girar este eixo até uma

velocidade ideal quando se libera o combustível e inicia-se a combustão.

Quando a chave de energia principal é fechada, a corrente é suprida para a

bomba auxiliar de combustível, fazendo-a funcionar. Uma luz de indicação se mantém

ligada até atingir a pressão indicada no sistema. Com a manete de potência fechada,

aciona-se o botão de partida fazendo funcionar a bomba auxiliar elétrica durante alguns

segundos. A corrente é fornecida as bobinas, aos conjuntos de ignição e ao motor de

partida. Este motor gira o rotor do motor de baixa velocidade nos primeiros cincos

segundos, em seguida fecha um relê dando o máximo de rotação ao motor de partida.

Uma chave automática completa seu ciclo em 30 segundos, interrompendo todo

o circuito após este tempo. Liberando-se a passagem de combustível e acontecendo de

o rotor do motor atingir a velocidade requerida antes dos 30 segundos, a chave também

desligará.

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Neste momento o motor turbo-jato estará em funcionamento sem auxílio do

sistema de ignição, apenas dependerá do comando manete de potência.

O ciclo de partida deste motor é idêntico ao motor DeHavilland “Goblin”.

6.3 LUBRIFICAÇÃO

Os mancais e suportes do rotor registram o maior atrito verificado no motor

turbo-jato. O número de mancais varia com o tipo e modelo de motor. Como exemplo,

pode-se citar o sistema de lubrificação do motor “Nene”, cujo rotor possui três mancais.

O motor “Nene” apresenta um sistema de lubrificação de cárter úmido, o que

constituiu uma inovação no programa de desenvolvimento de motores turbo-jato para a

Rolls Royce na época. Os primeiros motores “Derwent” possuíam um sistema de

lubrificação de cárter seco, com um reservatório separado assim como em motores

convencionais.

Em alguns motores o cárter está posicionado na parte frontal, nele estão

instaladas umas bombas de pressão, bomba de retorno (ambas funcionam pelo próprio

rotor do motor), um filtro purificador de alta pressão e dois filtros de sucção.

O cárter logo abaixo da caixa de engrenagens dos acessórios e todos os

elementos, componentes do sistema de lubrificação.

Quando o motor inicia seu funcionamento, a bomba de pressão drena o óleo do

cárter através de um ralo especial e o envia para um filtro de alta pressão. Deste filtro o

óleo irá para cada um dos mancais (frontal, central e traseiro) por intermédio de

tubulações.

Grande parte do óleo irá para a caixa de acessórios (engrenagens). O óleo

retorna ao cárter por ação da gravidade. O retorno do óleo que lubrifica os outros

mancais é feito pela bomba de retorno. Este mesmo óleo que retorna dos mancais

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central e traseiro passa através de outro ralo e por um purificador antes de voltar para o

cárter.

No painel de instrumentos dos aviões equipados com motores a jato, há uma

lâmpada que indica ao piloto a elevação de queda ou aumento de pressão de óleo além

dos limites permitidos.

Vários motores turbo-jato possuem lubrificação com cárter do tipo seco.

Neste sistema, o óleo fica em um tanque fixo. Uma parte considerável de óleo

pode ser transportada, e a temperatura pode ser prontamente controlada através de um

radiador de óleo. Esse radiador pode usar o ar ou o próprio combustível como agente

resfriador. O sistema de cárter seco permite que motores de fluxo axial mantenham

seus diâmetros relativamente pequenos, sendo que o tanque de óleo se encaixa dentro

do projeto do motor. Há um tanque que contém a maior parte do óleo utilizado no

sistema, uma pequena quantidade é mantida dentro do motor em um pequeno

reservatório. Nele encontramos a bomba de óleo, as telas das linhas de pressão e

recuperação, as conexões de retorno, um filtro e os pontos de fixação do transmissor

de pressão de óleo e do bulbo de temperatura.

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Figura 29 - lubrificação do tipo seca

Fonte: apostila da Anac

6.4 SISTEMA ELÉTRICO E IGNIÇÃO

Os motores turbo-jato utilizam um sistema elétrico e de ignição mais simples e

são menos passíveis de defeitos. Isso porque sua maior ação é somente durante a

partida, diferente dos motores convencionais.

Em todo motor a reação há um sistema de ignição no qual a vela de ignição é a

unidade principal. É usado um sistema chamada descarga capacitiva, consistindo em

duas unidades idênticas e independentes de ignição, operando a partir de uma fonte

elétrica de corrente contínua de baixa tensão comum, que é a bateria de bordo da

aeronave ou fonte externa. Os sistemas de ignição dos motores turbo-jato podem ser

operados em condições atmosféricas ideais, sendo que muitas vezes eles operam em

condições de grandes altitudes e baixas temperaturas, e é preciso que seja capaz de

fornecer centelhas de alta intensidade de calor. Uma alta tensão é fornecida ao

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terminal da vela de ignição, fornecendo um alto grau de confiabilidade em condições

variáveis de altitude, pressão atmosférica, temperatura, vaporização de combustível e

tensão de entrada. Um sistema de ignição típico inclui duas unidades excitadoras, dois

transformadores, dois cabos de ignição intermediários e dois cabos de ignição de alta

tensão.

Há a necessidade da presença de centelha para os bicos injetores de

combustível no interior da câmara de combustão, e esta centelha é produzida pela vela

de ignição que só opera durante a partida do motor. Uma vez que se mantêm as

chamas nos bicos injetores não é mais preciso a presença de centelha, pois neste

momento o motor funcionará por combustão contínua. O sistema de ignição é desligado

por controle automático de tempo.

No sistema de ignição de motores convencionais a centelha das velas é

produzida durante todo o tempo funcionamento do motor. Neste tipo de sistema as

combustões são produzidas dentro dos cilindros, e como a potência é adquirida pelas

sucessivas centelhas, as velas de ignição não podem parar um só momento.

A ausência de centelha em qualquer um dos cilindros pode gerar perda de

potência e ou parada total do motor. A perturbação no funcionamento de um motor

convencional a gasolina provocada pelo sistema de ignição poderá surgir a qualquer

momento quando o avião estiver voando. O mesmo não acontece com o motor turbo-

jato, porque o sistema de ignição funciona somente na partida.

Nenhuma pane de motor por falha de ignição durante o vôo pode ser atribuída ao

sistema de ignição.

Um problema do sistema de ignição em motor turbo-jato é a localização da vela

em relação injeção de combustível. Para assegurar uma posição eficiente, a

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extremidade final da vela fica geralmente exposta ao elevado calor (superior a 1200ºC)

provocado pela chama do bico injetor. Este calor é prejudicial ao sistema, pois estraga

rapidamente a vela.

O diâmetro da câmara de combustão constitui muitas vezes em um dos maiores

problemas de instalação do conjunto de ignição.

Em muitos motores, o tamanho da câmara é relativamente grande em relação a

vela. Para solucionar o problema adaptou-se um novo conjunto de ignição, formado por

um bico injetor especial e uma vela de ignição. Apenas um conjunto desses é suficiente

para por em funcionamento o motor. Neste está instalado dois conjuntos, o que facilita

a partida.

No funcionamento do Conjunto de Ignição, durante o ciclo de partida, o

combustível oriundo da bomba auxiliar entra no injetor passando por um filtro de tela.

A passagem do combustível para o corpo do bico injetor é controlada por uma

válvula, um solenóide opera durante a partida e mantém a válvula aberta. Solenóide é

um dispositivo que por efeito eletromagnético atua automaticamente sobre a válvula,

abrindo a passagem do combustível para o bico injetor. Normalmente a válvula

permanece fechada comprimida por uma mola. O combustível pulverizado inflama-se

sob a ação da centelha da vela produzindo uma chama que devido a orientação e

intensidade, irá inflamar o jato de combustível pulverizado pelo bico injetor principal da

câmara de combustão.

O funcionamento dessa unidade de controle de combustível é interrompido

quando a transmissão de corrente é cortada pela bobina, cortando o campo magnético

e o núcleo retornar a posição normal, sob a influência da mola interna. Com esta volta

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do núcleo para a posição normal, a válvula vedará a passagem interrompendo o fluxo

de combustível para o bico injetor.

Como a vela e o solenóide estão incluídos no mesmo circuito elétrico, todo o

conjunto desligará por um único controle.

Uma vez que haja as chamas nos bicos injetores das câmaras, os demais bicos

(das outras câmaras de combustão existentes) serão acesos pela propagação desta

combustão através dos tubos que interligam uma câmara a outra.

No conjunto de ignição as extremidades da vela e do bico injetor são protegidos

por uma manga, reduzindo a ação direta da temperatura elevada durante o

funcionamento do motor.

6.5 SISTEMAS ANTI-FOGO E ANTI-GELO

Os motores turbo-jatos em sua maioria são equipados com um sistema de

detecção e extinção de fogo. Há um sistema fixo, dos quais suas partes são instaladas

em locais estratégicos da nacele do motor, onde há mais chance de ocorrerem

incêndios, como na seção de combustão.

No momento em que surgirem princípios de incêndio, detectores alertam a

cabine de comando, e o piloto aciona um sistema para neutralizá-lo.

Existem dois reservatórios pressurizados geralmente com um agente extintor chamado

bromotrifluorometano. Este agente pode ser dirigido de cada um dos reservatórios, em

cada uma das naceles dos motores com alta razão de descarga. As linhas de descarga

de cada reservatório se juntam em uma válvula de retenção dupla, em "T", para

seguirem daí em uma linha única de descarga. O sistema possui uma válvula

unidirecional que evita que um reservatório descarregue o seu conteúdo dentro da linha

do outro reservatório. O piloto abre o sistema usando um punho manual e mais um

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interruptor seletor elétrico. Dois discos indicadores de descarga, montados

externamente na fuselagem, indicam tanto a descarga manual do reservatório, como a

descarga automática ocasionada por condições externas. Um indicador de pressão é

montado em cada reservatório. O cartucho na válvula de descarga do extintor é

acionado por 28 volts de corrente DC, quando um punho "FIRE PULL" é puxado e o

seletor extintor de fogo é atuado para EXT nº 1 ou EXT nº 2. Uma válvula direcional

então dirige o agente extintor para o devido motor, de acordo com o punho puxado.

Quando o cartucho é detonado, o conteúdo de um reservatório é descarregado pela

pressão do nitrogênio, e forçado através de linhas de entrega e bicos de descarga,

dentro do compartimento dianteiro da nacele do motor selecionado.

É de suma importância que não se forme gelo no motor turbo-jato, pois afetaria

seu funcionamento. O local mais provável de formação de gelo é no sistema de

admissão, pois é o local de entrada de ar ainda frio, dependendo das condições

climáticas. O gelo pode restringir ou obstruir a passagem de ar no duto de entrada ou

na seção de compressor.

O sistema possui detecção e extração. A detecção é feita por sonda, sendo que

na presença de gelo um sinal de capacitância é emitida a cabine ou ao sistema

automático, se houver, para ser providenciada a extração.

A extração é feita por aquecimento da área, através de ar sangrado de um determinado

estágio do compressor, onde este ar quente aquecer o bocal de entrada de ar e evitar

que o gelo se forme. Há alguns sistemas que empregam resistências elétricas, caso

seja impossível aplicar tubulações de ar quente sangrado do compressor.

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6.6 SISTEMA DE INJEÇÃO ÁGUA/METANOL

Em se tratando do desempenho de um motor, é de grande valia a densidade ou

peso de fluxo de ar que entra no motor. Em altas altitudes onde o ar é menos denso, há

uma perda de potência no motor, como também em altas temperaturas. Por isso, há um

sistema de injeção de água/metanol, que proporciona o resfriamento e aumento de

densidade do fluxo de ar, nos momentos propícios onde é importante a potência do

motor máxima, como na decolagem. A seção do motor que recebe a mistura no turbo-

jato é a câmara de combustão. Essa adição aumenta o fluxo de ar para a câmara,

fazendo com que esta não perca sua potência com a baixa densidade do ar de

admissão. Se for injetada apenas água, ocorre uma redução muito grande na

temperatura da combustão, desfavorecendo o propósito. O metanol, sendo combustível

e solúvel em água, evita tal perda.

Neste sistema, o composto resfriador advém de um tanque próprio, por uma bomba de

turbina a ar, que conduz a mistura até uma unidade sensora de fluxo, e é vaporizado

por dois jatos para dentro da câmara de combustão.

6.7 SISTEMA DE PÓS-COMBUSTÃO

O dispositivo de pós-queimadores ou pós-combustão é um sistema formado para

aumentar a potência do motor. É um sistema que utiliza bicos injetores de combustível

pulverizadores e uma vela especial logo após a saída dos gases da turbina,

promovendo uma segunda combustão do ar que ainda não queimou. Este dispositivo

tem uma câmara especial formada junto com um bocal de geometria variável entre a

turbina e o bocal de escape do motor. O sistema funciona junto com a manete de

potência do combustível, o qual também aciona o bocal variável de descarga de acordo

com a potência exigida.

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Este sistema aumenta até 90% de empuxo adicional ao nível do mar. Isto ocorre

porque a combustão no duto de escapamento, em um bocal apropriado, promove um

acréscimo de temperatura que, por sua vez, resultará em um aumento da velocidade

dos gases de escape e na tração.

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CONCLUSÃO

O motor turbo-jato foi uma grande evolução para a aviação depois dos motores

convencionais á hélice. Demonstrou ser muito veloz e de fácil construção. Suas poucas

peças móveis e fácil manutenção proporcionam uma larga vantagem no seu uso.

Apesar de ter um elevado consumo de combustível, propicia alta velocidade,

característica bastante apreciada na época por causa da segunda guerra mundial.

Esta pesquisa não seria completa se não houvesse contribuições didáticas e

técnicas dos inventores desse tipo de motor, que além de proporcionarem a evolução

dos motores a jato, deixaram claro sua transparência na construção e experiências.

Seria de extrema importância mais pesquisas relacionadas ao tipo de material

empregado nas peças destes motores, tipo de aviões que foram usados e para quais

fins.

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REFERÊNCIAS

PALHARINI, Marcos Jesus Aparecido. Motores a Reação . 4 ed. rev. São Paulo: Asa, 1999 NOGUEIRA, Haroldo J.P.. Motores a Jacto. 2 ed. rev. São Paulo: LEP, 1954 MOTORES turbojato, disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_jacto acessado em 12/05/2008