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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES Edilene Maria Leite dos Santos A VIDA SOCIAL E CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES EM CURITIBA E A POLÍTICA DO ESTADO NOVO (1937-1945) CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

Edilene Maria Leite dos Santos

A VIDA SOCIAL E CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES EM

CURITIBA E A POLÍTICA DO ESTADO NOVO (1937-1945)

CURITIBA

2010

A VIDA SOCIAL E CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES EM

CURITIBA E A POLÍTICA DO ESTADO NOVO (1937-1945)

CURITIBA

2010

Edilene Maria Leite dos Santos

A VIDA SOCIAL E CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES EM

CURITIBA E A POLÍTICA DO ESTADO NOVO (1937-1945)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Pós Graduação em História Cultural da Faculdade de Ciências, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista. Orientadora: Sidinalva Wawzyniak

CURITIBA

2010

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe Lealdina Leite dos Santos por sempre me apoiar e

acreditar no meu esforço acadêmico.

A professora Sidinalva Wawzyniak pela orientação e críticas, que

proporcionaram um maior aprofundamento nas questões desta pesquisa.

Aos professores do curso que, com suas aulas, aperfeiçoaram meu

conhecimento teórico.

Aos colegas de pós-graduação Allan, Thaís, Milena, Aline e Daniele pelo

companheirismo e colaboração durante o curso.

A professora e amiga Luciana Aparecida Rodrigues por ter feito a revisão

final dos capítulos.

Ao meu companheiro e amigo Ronaldo Collatusso pelo auxílio, apoio e

compreensão, fundamentais para a conclusão deste trabalho.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 06

2 A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL

2.1 A POLÍTICA IMIGRATÓRIA NO BRASIL DO SÉCULO XX...............................08 2.2 A INSERÇÃO DOS IMIGRANTES ALEMÃES NO SUL DO BRASIL.................15 2.3 OS IMIGRANTES ALEMÃES EM CURITIBA.................................................... 20

3 OS IMIGRANTES ALEMÃES E A CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO DO ESTADO NOVO (1937-1945) 3.1 – O ESTADO NOVO E A POLÍTICA DE VARGAS............................................22 3.2 A POLÍTICA MIGRATÓRIA NO ESTADO NOVO..............................................33 3.3 O “ESPÍRITO NACIONAL” E O “ESPÍRITO ESTRANGEIRO”...........................37 3.4 O REFLEXO DO ESTADO NOVO EM CURITIBA.............................................43

4 A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE A PARTIR DOS VALORES CULTURAIS ALEMÃES 4.1 FAMÍLIA.............................................................................................................48 4. 2 TRABALHO.......................................................................................................52 4.3 EDUCAÇÃO.......................................................................................................57 4.4 RELIGIÃO...........................................................................................................65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................70

6 REFERÊNCIAS.....................................................................................................72

RESUMO

O presente trabalho intitulado “A Vida Social e Cultural dos Imigrantes Alemães em Curitiba e a Política do Estado Novo (1937-1945)” tem como objetivo questionar o conflito étnico na construção de identidade envolvendo brasileiros, alemães e teuto-brasileiros, além de estudar as estratégias acionadas pelos imigrantes alemães na manutenção da identidade étnica durante o Estado Novo. Através da pesquisa bibliográfica referente a estudos de História Cultural, Antropologia e Sociologia, foi possível conhecer sobre a vinda dos imigrantes alemães ao Brasil, sua organização social, cultural e heranças trazidas do país de origem. As fontes revelaram que esses imigrantes mantiveram a identidade étnica através do trabalho, da igreja, da família, da escola e da língua alemã. E, embora tenham sido alvo das imposições e restrições da campanha nacionalista do Estado Novo, preservaram a identidade do grupo ao passo que, mantiveram alguns identificadores culturais e descartaram outros.

Palavras-chave: imigração alemã; Estado Novo; identidade étnica.

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho, intitulado “A Vida Social e Cultural dos Imigrantes

Alemães em Curitiba e a Política do Estado Novo (1937-1945)” tem como principal

objetivo analisar as estratégias acionadas pelos imigrantes alemães em Curitiba, na

manutenção da identidade étnica, durante o Estado Novo.

Para tanto, fez-se necessário a utilização de uma bibliografia referente a

estudos da História Cultural que propõe uma nova forma de interrogar a realidade,

além de incorporar metodologia e conceitos.

Na pesquisa sobre identidade, há uma variedade de possibilidades, porém,

a questão da identidade étnica aqui pensada toma como base as ideias de Friderich

Barth e Stuart Hall.

Considera-se imigrantes alemães, todos aqueles que se reconhecem e são

reconhecidos como imigrantes ou descendentes germânico, apontado por Barth

como um grupo que

“[...] se perpetua por meios biológicos, que compartilha de valores culturais fundamentais, postos em práticas em formas culturais em todo explícito, que compõem um campo de comunicação e interação, tem um grupo de membros que se identifica e é identificado por outros como constituinte de uma categoria distinguível de outras categorias da mesma ordem.” (BARTH, apud RENK, 2004, p. 17)

Embora os imigrantes alemães tenham sofrido com as imposições e

restrições intensificadas durante a campanha de nacionalização do Estado Novo

(1937-1945), conseguiram preservar a identidade étnica do grupo, fazendo com que

suas práticas culturais e sociais persistissem até o presente, mantendo, assim,

algum grau de distintividade proporcionado por valores étnicos associados à

germanidade.

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Neste sentido, Stuart Hall infere que

“ao invés de tomar a identidade por um fato que, uma vez consumado [...] deveríamos pensá-la, talvez, como uma ‘produção’ que nunca se completa, que está sempre em processo e é sempre constituída [...] (HALL, 1996, p. 68)

Desse modo, pode-se afirmar que os limites étnicos são flexíveis e

manipuláveis de acordo com a situação e por isso, favorecem a constante e

ininterrupta construção da identidade.

As interpretações das relações interétnicas neste trabalho foram norteadas

pelo conceito de cultura proposto por Clifford Geertz, que afirma:

“assumo a cultura como sendo [...] teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície.” (GEERTZ, 1989, p. 15)

Neste trabalho também, a sociedade é pensada através de representações

que, conforme Roger Chartier (1988) são inventadas e modeladas pelos grupos.

Assim, as práticas utilizadas por estes, reconhecem uma identidade social que

aponta para uma maneira própria de “ler” o mundo. Ou seja, através de discursos

com significados simbólicos dos sentidos e das práticas cotidianas, os indivíduos

têm sua própria maneira de representar o mundo.

O primeiro capítulo deste trabalho apresenta um histórico sobre a entrada

dos alemães no Brasil. São apresentados os motivos que impulsionaram a política

imigratória e os motivos que causaram a vinda destes imigrantes, em especial, a

Curitiba.

O segundo capítulo relata as restrições políticas impostas pela campanha

de nacionalização do Estado Novo (1937-1945) às práticas culturais e sociais dos

alemães e seus descendentes estabelecidos em Curitiba.

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No terceiro capítulo será analisada a construção e manutenção da

identidade através de valores culturais alemães, principalmente, por meio da

família, do trabalho, da escola e da igreja. E o advento – pós Estado Novo - de um

novo contexto social em que a identidade desse grupo étnico passa por um

processo de atualização, mantendo alguns identificadores culturais e descartando

outros.

2 A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL

2.1 A POLÍTICA IMIGRATÓRIA NO BRASIL DO SÉCULO XX

Durante o século XIX, as políticas públicas para a implementação da

imigração europeia no Brasil foram norteadas pela pretensão de povoar os “vazios

populacionais” do território brasileiro (principalmente o Sul do Brasil, devido aos

problemas fronteiriços) com trabalhadores europeus responsáveis pela produção de

alimentos e abastecimento do mercado interno, além de substituir a mão de obra

escrava. Tais políticas basearam-se na ideia de “branqueamento” da população

brasileira. Havia a crença de que “para o progresso, [era necessário] a introdução do

imigrante branco, livre, pacífico e trabalhador, capaz de ajudar a apurar e ‘tonificar’ –

leia-se branquear – tanto a ‘raça’ brasileira como o trabalho.” (NADALIN, 2001, p.

74).

A política imigratória começou a ser discutida no Brasil quando a Corte

portuguesa instalou-se no País. A partir de 1808 os não-portugueses receberam a

permissão de emigrar ao Brasil, além de adquirir terras brasileiras. Sobre isso,

Corrêa infere que:

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“O quadro encontrado pela Corte Portuguesa, não condizia com o novo papel da colônia no cenário internacional. O isolamento a que fora submetida permitiu a instalação de um quadro de pobreza e ignorância, sem indústrias, comércio escasso, costumes relaxados, administração corrupta, com uma população predominantemente negra ou mestiça. A conjugação destes fatores fez com que a ideia de estabelecer imigrantes estrangeiros tomasse corpo e passasse a ser admitida pelo governo metropolitano, e dando início a imigração estrangeira de europeus não-portugueses para o Brasil.” (CORRÊA, 2005, p. 01)

Como a imigração destinava-se à projetos agrícolas como a abertura de

novas áreas para a lavoura e a expansão e diversificação dos produtos, a

preferência era para os agricultores e artesãos. Conforme observou Nadalin (2001),

esperava-se que os imigrantes europeus introduzissem no país novas e produtivas

técnicas agrícolas, ensinando-as aos habitantes da terra, junto com as virtudes do

trabalho.

É importante ressaltar que embora a preferência fosse por agricultores e

artesãos, imigrantes com diferente função profissional integraram o projeto de

colonização.

“[...] As listas de imigrantes, respectivamente procedências e ocupações no lugar de origem, disponíveis na documentação, mostram a origem rural de grande parte dos colonos que integrou projetos de colonização antes da Primeira Guerra Mundial. [...] Havia entre eles artesãos, técnicos especializados, refugiados políticos, ex-militares, pequenos empresários, intelectuais, etc., que tiveram papel importante na formulação da ideologia étnica teuto-brasileira.” (SEYFERTH, 1994, p. 12)

Durante o Período Regencial (1831-1840), a implantação de colônias de

imigrantes diminuiu em virtude do corte de verbas destinadas ao projeto migratório.

“Entre 1829 e 1835, não foi registrada nenhuma entrada de estrangeiros no país.

Nos anos seguintes, com exceção do ano de 1836, a entrada se registrou em ritmo

de conta-gotas, até 1846.” (NADALIN, 2001, p. 66).

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Essa diminuição do fluxo de imigrantes deve-se em parte aos insucessos

oficiais neste empreendimento, uma vez que, muitos núcleos de estrangeiros da

primeira metade do século XIX não prosperaram.

Porém, desde 1834, políticos favoráveis à manutenção da imigração,

propuseram que as autoridades provinciais repartissem com o Governo Central, a

responsabilidade pelo assentamento dos imigrantes. Assim, “[...] para a continuidade

do sistema de colonização por estrangeiros, foi importante o interesse das

Províncias e, naturalmente, suas condições financeiras.” (NADALIN, 2001, p. 67).

Os defensores das colônias imigrantes de povoamento – norteados pela

ideia de preenchimento dos “vazios demográficos” - que objetivavam implantar

colônias baseadas no trabalho livre e familiar passaram a sofrer a oposição dos

cafeicultores paulistas que “[...] detinham boa parte da representação política no

Império e durante a Primeira República. [O que] facilitava a obtenção de auxílio

governamental para a manutenção do fluxo de imigrantes que trabalhassem na

lavoura cafeeira.” (NADALIN, 2001, p. 69)

A partir do século XIX, o Brasil voltou-se para a cafeicultura. Nesta época o

café passou por uma grande valorização comercial e, a intensificação desta lavoura

demandava significativa mão de obra.

Nesse período em que a produção cafeeira exigia um número cada vez

maior de trabalhadores, foram iniciadas as campanhas para abolir a escravidão,

além da promulgação de leis que impunham restrições à adoção da mão de obra

escrava, haja vista, a Lei Eusébio de Queiroz (1850) que proibia o tráfico de negros

e, portanto, gerou carestia no preço referente à compra de escravos efetuada dentro

do próprio território nacional.

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Na segunda metade do século XIX, a solução encontrada para o problema

da mão de obra foi incentivar ainda mais a vinda de imigrantes europeus para o

Brasil.

Após o término do tráfico de escravos e a abolição da escravidão, os

fazendeiros temiam que seus investimentos fossem comprometidos, por conta disso,

não esperaram uma “solução oficial”, resolveram promover uma imigração particular,

mesmo sem o apoio do governo.

A relação de trabalho entre fazendeiro e os imigrantes europeus baseou-se

em um “sistema de parceria” – um contrato que firmava a divisão do lucro da colheita

entre ambas as partes. Era responsabilidade do fazendeiro fornecer a terra e os

cafezais, já os trabalhadores europeus ficavam responsáveis pelo cultivo e colheita

do café.

Enquanto imigrantes trabalhavam nas fazendas de café, a escravidão ainda

prevalecia. Esse fato refletiu na relação entre fazendeiros e imigrantes, já que o

tratamento que os primeiros davam aos últimos inseria-se nos moldes escravistas.

Por este motivo, o contrato de parceria fracassou, sendo abandonado na década de

1860.

O declínio do sistema de parceria fez ressurgir o tráfico interno como

solução à falta de mão de obra para a região do café. Porém, o número de escravos

já não era suficiente para suprir essa falta na nova e extensa região cafeeira que

surgia no Oeste Paulista. Além disso, a maior parte dos escravos existentes no país

já estava na área produtora de café.

Nesse contexto, a Europa apresentava problemas ocasionados pelo

crescimento populacional. A economia de alguns países foi modernizada em virtude

do desenvolvimento do capitalismo e, muitas pessoas não foram absorvidas pelo

12

mercado de trabalho. Por conta disso, a emigração tornava-se atraente solução para

o problema. Sobre isso Nadalin escreve que:

“A articulação entre os efeitos da Revolução Industrial e a existência de uma população redundante levou à grande emigração da segunda metade do século XIX, primeira metade do século XX. Nada menos do que sessenta milhões de europeus atravessaram os mares, num momento em que ocorria de modo igual profunda transformações culturais promovidas pelo desenvolvimento de uma mentalidade individualista.” (NADALIN, 2001, p. 62)

Enquanto o governo imperial viabilizava um novo esforço para resolver o

problema da mão de obra necessária à vinda de imigrantes europeus para trabalhar

nas lavouras de café, na Europa, os aliciadores de imigrantes se encarregavam da

propaganda e do recrutamento em diversos países.

Com o passar do tempo, os cafeicultores demonstravam insatisfação pela

responsabilidade de subsidiar a viagem dos imigrantes e gastar com a demarcação

dos lotes e manutenção dos colonos até que a primeira colheita fosse realizada.

Também, reclamavam o preço dos lotes subvencionados pelo governo. Diante disso,

explica-se porque a Lei 601 de 1850 - a Lei das Terras - aliviou os latifundiários.

A referida Lei, determinava que a aquisição das terras devolutas só pudesse

ocorrer mediante compra, dificultando as pretensões dos imigrantes que não

possuíam recursos para a compra das terras e, por isso, acabavam tendo que

trabalhar nas lavouras de café.

Enquanto o recrutamento de imigrantes para trabalhar nos latifúndios de

café era o objetivo dos fazendeiros paulistas, o recrutamento de imigrantes para a

pequena propriedade (cujo intuito era incentivar a agricultura) foi mantido pelas

Províncias. Para atender aos interesses provinciais, foram promovidas campanhas

de emigração responsáveis pela entrada ao País, de alemães, italianos, espanhois,

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poloneses e ucranianos, sobretudo, para ocupar pequenas propriedades do Sul do

Brasil.

Embora a imigração objetivada para a produção de gêneros agrícolas em

pequenas propriedades tomasse rumo diferente em relação à imigração provocada

pelos cafeicultores, a premissa utilizada para nortear as políticas imigratórias

fundamentava-se na ideia de “branqueamento” da população brasileira. “[...] Até a

Primeira Guerra Mundial, estavam em evidência as teses darwinistas sociais e o

mito ariano (principalmente na forma inventada por Gobineau, Chamberlain e

Lapouge), e a mestiçagem aparece como elemento negativo em todas elas.

(SEYFERTH, 2006, p. 48)

No final do século XIX e durante o século XX, o fato das colônias

concentrarem muitos “estrangeiros” passou a ser visto com preocupação pelo

nacionalismo republicano. Desse modo, o sistema de colonização efetuado pelo

Império foi severamente criticado por ter permitido a concentração de estrangeiros

no Sul do País em “colônias homogêneas”. Aos poucos, “o imigrante privilegiado no

regime anterior [...] se transformou em perigo potencial para a nacionalidade, tendo

em vista sua ‘consciência nacional’ pautada por valores estranhos à brasilidade.”

(SEYFERTH, 2006, p. 49)

Os imigrantes, portanto, além de contribuírem para o “branqueamento” da

população deveriam, ao mesmo tempo, absorver a cultura brasileira através de um

processo de integração.

Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a entrada de

imigrantes em território nacional passou a sofrer restrições. Para Klein,

“a Primeira Guerra Mundial foi um momento decisivo [na] longa história da migração internacional. A deflagração do conflito, em 1914, deteve

14

temporariamente grande parte da migração para a América. A partir de então, a migração nunca mais atingiu altos índices. “(KLEIN, 2000, p. 26)

Tempos depois, o abalo sofrido pela cafeicultura brasileira, ocasionado pela

Grande Depressão (1929), limitou os mercados de trabalho nacional e promoveu um

sentimento antiestrangeiros que, encontrou apoio nas políticas imigratórias cada vez

mais restritas.

Durante a crise mundial da década de 30, a imigração foi pequena e a

“Segunda Guerra mundial isolou de fato, mais uma vez, a América da Europa. Entre

1929 e 1945.” (KLEIN, 2000, p. 26)

A perseguição aos imigrantes foi intensificada durante o Estado Novo (1937-

1945) – com a campanha de nacionalização - e radicalizada com o envolvimento do

Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Antes do estabelecimento do Estado Novo, uma série de iniciativas já havia

sido tomada para restringir a imigração. Entre elas destacam-se a Lei dos 2/3

(Decreto nº 19.482 de 1931), a qual determinava que a mão de obra industrial nessa

proporção deveria ser composta por trabalhadores nacionais e a instituição de um

regime de cotas para a entrada de estrangeiros no país (art. 121, parágrafo 6º da

Constituição de 1934).

Durante o Estado Novo, especificamente em 1938, foram promulgados

quatro importantes decretos a respeito dos estrangeiros no Brasil:

O Decreto-lei nº 383 (18 de abril) proibia os estrangeiros de exercerem

atividades políticas no Brasil; o Decreto-lei nº 406 (4 de maio), regulamentava o

ingresso e a permanência de estrangeiros em território nacional; o Decreto nº 868,

(18 de novembro) estabelecia a nacionalização do ensino nos núcleos estrangeiros,

e o de Decreto-lei nº 948 (13 de dezembro) previa a integração dos colonos de

origem estrangeira e a nacionalização dos filhos de estrangeiros.

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O governo de Vargas tinha a intenção de transformar o Brasil numa nação

homogênea. Com o objetivo de construir o nacionalismo, era preciso acabar com

qualquer cultura alheia à brasilidade. Ou seja, os imigrantes privilegiados no regime

anterior (principalmente os alemães) se tornaram um perigo em potencial para a

nacionalidade durante o período republicando e principalmente durante o Estado

Novo (1937-1945), que tinha em vista uma identidade nacional pautada em valores

essencialmente nacionais.

2.2 A INSERÇÃO DOS IMIGRANTES ALEMÃES NO SUL DO BRASIL

Até o século XIX, a Alemanha era essencialmente rural. Porém, com o

desenvolvimento da industrialização e, consequentemente, a revolução agrícola,

houve a abolição da estrutura feudal.

Além disso, até 1860 as indústrias alemãs - voltadas para o regime de

artesanato doméstico - demonstravam atraso com relação aos outros países

europeus industrializados. Desse modo, Lando e Barros assinalam que, em função

da não absorvição dos trabalhadores pelo sistema produtivo, a emigração passou a

ser vista como única saída para a situação.

“Há uma estreita vinculação entre [a] história econômica e a unificação que será realizada sob o impulso da Prússia. Embora a unificação dos 39 estados alemães só se realize em 1871, já em 1834 uma união aduaneira, Zolverein, permitirá a livre circulação de homens e capitais entre as unidades independentes. A unidade econômica, realizada em parte por este “mercado comum”, antes da unidade política, foi fator favorável à industrialização. [...] Esta, ao mesmo tempo em que absorve um grande contingente de mão de obra, ocasiona a ruína de artesãos e trabalhadores da indústria doméstica, que não tem condições de resistir à concorrência das grandes empresas [...] Irão juntar-se às fileiras dos que deixam o país buscando no Novo Mundo melhores condições de vida. (LANDO; BARROS, apud SCHREIBER, 2006, p. 38)

16

Paralelamente, no Brasil, a política imigratória (já abordada anteriormente)

estava sendo pensada sob duas premissas:

Primeira - havia a necessidade de povoar, ocupar o território nacional,

principalmente o Sul que, além dos problemas de fronteiras “persistentes desde a

Independência, possuía grande extensões de terras devolutas que, apesar da

existência de população indígena e de posseiros caboclos, eram consideradas

‘vazios demográficos’ à espera de um povoamento ‘racional’.” (SEYFERTH, 1994, p.

12)

Essa preocupação originou “o estabelecimento de alemães, no Rio Grande

do Sul, nas colônias de São Leopoldo, em 1824, e Três Forquilhas, Torres, São

João das Missões, em 1829. Neste ano também, foram fixadas em Santa Catarina e

no Paraná, respectivamente, as colônias de São Pedro de Alcântara e Rio Negro.

Segunda - o governo brasileiro via no imigrante europeu a possibilidade do

“branqueamento” da população, além de sua capacidade de trabalho que, diferente

da mão de obra escrava, era compatível com o desenvolvimento econômico. Os

negros e mestiços eram considerados “[...] criaturas propensas à vadiagem e sem

habilidade para o trabalho livre.” (RENK, 2004, p. 35-36)

A política imigratória brasileira se fundamentava nas teses elaboradas

principalmente na segunda metade do século XIX e, posteriormente, rotuladas de

“racistas”. Essas teses tinham em comum a elaboração de hierarquias raciais que,

conforme Seyferth,

“[...] invariavelmente localizavam os europeus civilizados no topo, os negros ‘bárbaros’ e os índios ‘selvagens’ se revezando na base, e todos os demais ocupando as posições intermediárias. Os exercícios tipológicos de classificação racial variavam conforme a seleção de características – cor da pele, capacidade craniana, índice cefálico, etc.” (SEYFERTH, 2006, p. 43)

17

Em meados do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, as

autoridades pretendiam fazer com que o Brasil transparecesse uma imagem

positiva, principalmente para a Europa, pois havia a intenção de trazer trabalhadores

mais aptos que o trabalhador nacional ao regime livre que se consolidaria com o fim

da escravidão.

Em missão especial do governo brasileiro em Berlim, Visconde de Abrantes

afirmou que “os alemães, por sua índole e sua capacidade como agricultores e

artífices, eram os mais recomendados para colonizar o país”. (SEYFERTH, 1996

apud RENK, 2004, p. 26)

A preferência por alemães se justificaria, num primeiro momento da

imigração, pelo estado de guerra em que se encontrava Portugal em relação a

outros países europeus. Além disso, o casamento da princesa Leopoldina, de

origem germânica, com o Imperador D. Pedro I iria intensificar a corrente migratória

para o país, pois despertaria na Europa o interesse pelo Brasil.

A primeira colônia de alemães foi estabelecida na Bahia, antes da

emancipação política do Brasil. Porém, esse empreendimento não prosperou, sendo

seu insucesso justificado pelo clima tropical. “[...] a maioria dos autores e a própria

população teuto-brasileira passaram a utilizar como marco inicial a data da fundação

de São Leopoldo (RS) – 25 de julho de 1824 -, a primeira colônia alemã”.

(SEYFERTH, 1994, p. 12).

Em 1834, o Ato Constitucional amparou a necessidade de atrair imigrantes,

principalmente alemães, uma vez que concedia a:

“(...) permissão da prática de outros credos que não fosse a religião católica, desde que fossem realizados em residências e não apresentasse o aspecto externo de igreja (Art. 5). Os estrangeiros seriam naturalizados, independente de sua profissão de fé (Art. 6). O Art. 179 assegurava aos cidadãos o direito de expressão, não restringia o uso da língua materna e

18

proibia a perseguição religiosa, desde que a religião oficial fosse respeitada. Isto, de uma certa forma, facilitava a entrada de imigrantes alemães luteranos, que puderam manter sua fé. (RENK, 2004, p. 34)

A imigração alemã no Sul do Brasil esteve estreitamente vinculada ao

processo de colonização baseado na pequena propriedade. Os governos

provinciais, através da propaganda feita pelos aliciadores na Europa, previam

vantagens àqueles que viessem residir no Sul do país.

Contudo, a pequena propriedade imigrante fixou-se em zonas

redescobertas por florestas, em torno de cidades do litoral e do primeiro planalto.

“Com isso, houve uma proliferação de estabelecimentos coloniais na Serra Gaúcha,

no Rio Grande do Sul, no vale do rio do Itajaí, em Santa Catarina e no vale do Rio

Iguaçu, no Paraná”. (NADALIN, 2001, p. 71)

Entre 1850 e 1909, entraram no Brasil, em média, 15 mil alemães em cada

década. No período anterior (1818-1849) foram registrados apenas 6.983 imigrantes

encaminhados para as colônias de São Leopoldo (RS), São Pedro de Alcântara (SC)

e Mafra (SC) e Rio Negro (PR). O momento de maior afluxo ocorreu após a Primeira

Guerra Mundial: na década de 1920, o Brasil recebeu pouco mais de 75 mil

alemães, o que representava quase 30% do total. Os números são inexpressivos a

partir de 1938 (CARNEIRO, apud SEYFERTH, 1994, p. 13).

A colonização do Sul do Brasil, ao longo de todo o fluxo imigratório, foi feita

majoritariamente por imigrantes alemães, não necessariamente na condição de

colonos. “Muitos se estabeleceram em cidades emergentes, nas áreas de

colonização como Blumenau, Joinville, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Ijuí ou nas

capitais – Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba [...].” (SEYFERTH, 1994, p. 13)

Portanto, nem todos os imigrantes que vieram ao Brasil no século XIX eram

agricultores. Havia também

19

“[...] artesãos, técnicos especializados, refugiados pooperários, carpinteiros, costureiras, técnicos industriais, refugiados políticos, ex-militares, pequenos empresários, intelectuais, etc., que tiveram papel importante na formulação da ideologia étnica teuto-brasileira.” (SEYFERTH, 1994, p. 13)

Para Seyferth (1994), uma característica marcante dos imigrantes alemães

no Sul foi a presença significativa, concentrando-se em poucas regiões e, em alguns

casos, formando colônias etnicamente homogêneas, que depois seriam vistas pelos

brasileiros como suspeitas.

As mudanças provocadas pela inserção dos imigrantes alemães no Sul do

Brasil puderam ser observadas na arquitetura urbana, na dinamização do comércio,

na estrutura populacional e também no número de escolas e pessoas alfabetizadas.

A elevação das virtudes da germanidade e, por extensão, da nacionalidade

alemã alimentaram nos meios brasileiros as especulações em torno do “perigo

alemão”. Assim, durante o século XX, as “colônias alemãs” passaram a preocupar o

nacionalismo republicano, tornando-se “o alvo mais sistemático do discurso

xenófobo. Neste caso, o imigrante privilegiado no regime anterior [...] se transformou

em perigo potencial para a nacionalidade, tendo em vista sua ‘consciência nacional’

pautada por valores estranhos à brasilidade.“ (SEYFERTH, 2006, p. 49)

Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914), os brasileiros tiveram

argumentos para considerar perigosos os imigrantes alemães que, segundo eles,

queriam realizar uma política separatista.

“A projeção da Alemanha como potência imperialista nessas décadas que antecederam a guerra ajudou a reforçar a boataria em torno de uma possível anexação do Sul do Brasil ao Império Alemão, ou da criação de um estado independente com o apoio da população teuto-brasileira.” (SEYFERTH, 1994, p. 20)

20

A partir da declaração de guerra à Alemanha, em 1917, ocorreram

manifestações de hostilidade contra a população de origem alemã. “Sociedades

recreativas, hoteis, lojas, redações de jornais, estabelecimentos fabris pertencentes

a teuto-brasileiros sofreram depredações.” (SEYFERTH, 2000, p. 305)

Essa perseguição intensificou-se ainda mais durante a campanha de

nacionalização do Estado Novo (1937-1945) e no contexto da Segunda Guerra

Mundial (1939-1945). O governo de Vargas tinha a intenção de construir uma

identidade coletiva, capaz de garantir a integração nacional. Para isso, era preciso

acabar como os imigrantes alheios à brasilidade e “inimigos” que representavam

uma ameaça à nação brasileira. Nesse contexto, Seyferth (1994) afirma que a

campanha de nacionalização do Estado Novo foi mais evidente no Sul do país e

contra os alemães, justamente porque estes eram vistos como “quistos étnicos” e

não estavam assimilados à cultura brasileira.

2.3 OS IMIGRANTES ALEMÃES EM CURITIBA

A espacialidade urbana de Curitiba foi (e ainda é) bastante marcada pela

presença de imigrantes que contribuíram para a transformação da paisagem e

costumes.

Embora já na primeira metade do século XIX, reimigrantes alemães da

Província de Santa Catarina estabelecessem-se, espontaneamente, nos arredores

da cidade, a implementação de uma política imigratória efetiva só ocorreu com a

criação da Província do Paraná (1853).

Diante do fracasso dos projetos de colonização decorrente do isolamento

dos colonos e pelas dificuldades em escoar a produção (as estradas da Província

apresentavam condições precárias), “o governo provincial procurou implementar um

21

projeto agrícola, que ficou conhecido como ‘cinturão verde’, cujo objetivo era

estimular a produção agrícola em locais mais próximos aos centros urbanos.”

(BOSCHILIA, 2008). Assim, a política implementada após a criação da Província

pretendia “solucionar o problema de abastecimento interno, incrementando a

agricultura de subsistência e a produção de hortigranjeiros.” (BOSCHILIA, 2008)

Além disso, a erva-mate - base da economia paranaense na época, produzida e

direcionada ao mercado externo – necessitava de uma expressiva mão de obra.

Nesse contexto, entraram na Província do Paraná, imigrantes poloneses,

italianos e ucranianos. Além de alguns grupos minoritários, como suíços, franceses,

austríacos, holandeses e russos.

“No período de 1860 e 1870, o Governo da Província do Paraná incentivou a entrada de grupos de imigrantes, que ocuparam as áreas ao redor das cidades, numa distância entre 2 a 20 quilômetros. Como fator de atração, esses grupos receberam meia légua de terra para desenvolver atividades agrícolas, recebendo cada família aproximadamente, 10 hectares” (MARTINS, 1955 apud RENK, 2004, p. 57)

Com relação aos alemães, estes formaram um grupo predominantemente

urbano, pois fizeram parte da história de uma Curitiba já urbanizada. “Muitos [...] já

desenvolviam técnicas relacionadas com o comércio ou a indústria, na Alemanha.

Ao chegar ao Brasil, especialmente em Curitiba, também passaram a desenvolver

estas atividades urbanas.” (RANZI, 1996 apud RENK, 2004, p. 59-60)

Os incentivos vindos do Governo aos imigrantes causaram controvérsia na

sociedade curitibana, pois os trabalhadores nacionais consideraram a postura do

governo uma ingratidão.

A hostilidade da população de Curitiba evidenciou-se mais para com

comunidades alemãs, principalmente pelo fato destas terem enviado ajuda aos

alemães na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

22

“Foram registrados inúmeros protestos de empregados e empresários, pois

alegavam que apesar de todo o desemprego no Paraná, os [alemães] estavam

enviando dinheiro ao seu país de origem. (RENK, 2004, p. 60).

Porém, a crise mais intensa pela qual se depararam os imigrantes alemães,

no tocante às hostilidades da sociedade curitibana, aconteceu durante a campanha

de nacionalização do Estado Novo (1937-1945) e a Segunda Guerra Mundial (1939-

1945).

Nesse período, os imigrantes alemães estabelecidos em Curitiba sofreram

uma série de imposições e restrições que procuravam desmantelar um conjunto de

valores construídos e representados pelas suas associações culturais, religiosas e

escolares, que constituíam e favoreciam a manutenção da identidade étnica deles.

3 OS IMIGRANTES ALEMÃES E A CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO DO

ESTADO NOVO (1937-1945)

3.1 – O ESTADO NOVO E A POLÍTICA DE VARGAS

Durante o Estado Novo – regime autoritário implantado como o golpe de

novembro de 1937 - Getúlio Vargas consolidou suas pretensões políticas existentes

desde outubro de 1930, quando, pela luta armada, assumiu a presidência da

República.

Da Revolução de 30, participaram distintas forças políticas com relação à

condução do processo revolucionário. Havia quem defendesse medidas autoritárias

e outros, que defendiam medidas liberais.

Em 1932, São Paulo exigiu o fim do regime centralizador e, por isso,

rebelou-se contra o governo central. Os paulistas foram derrotados, mas obtiveram

23

ganhos políticos. Em 1934, parlamentares eleitos por voto direto promulgaram uma

nova Constituição e elegeram Getúlio Vargas como chefe provisório da República.

Durante o Governo Constitucional, dois movimentos com conotações

ideológicas distintas mobilizaram a população. De um lado havia a Ação Integralista

Brasileira (AIB), e de outro, a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Em 30 de março, mesmo antes que a Aliança Nacional Libertadora fosse

inteiramente organizada, o Congresso, cada vez mais conservador, criou a Lei de

Segurança Nacional, dando ao governo poder para reprimir a ameaça dos

“subversivos”.

Sobre isso, Skidmore escreve:

“Luís Carlos Prestes, demasiado e confiante, em breve daria a Vargas a oportunidade de usar a nova Lei de Segurança. A 5 de julho, aniversário da primeira revolta tenentista no Forte de Copacabana (1822), pronunciou violento discurso, atacando o fracasso de Vargas ante os ideais de 1922; o de que o Brasil precisava era de um ‘governo popular’, que fosse realmente ‘revolucionário e antiimperialista’. Superestimando gravemente as perspectiva de uma revolução de massas da esquerda, terminou com o grito: ‘Abaixo o governo odioso de Vargas! Abaixo o fascismo! Por um governo popular nacional revolucionário! Todo poder à Aliança Nacional Libertadora!’”. (SKIDMORE, 1982, p. 42)

Em 13 de julho de 1935 o governo solicitou o fechamento da Aliança

Nacional Libertadora. O Congresso dominado por pessoas que temiam o “perigo

comunista” deu a Vargas os poderes especiais que ele desejava utilizar em seu

próprio benefício.

Em fins de novembro de 1935, levantes comunistas ocorridos em Natal, Rio

de Janeiro e Recife, rapidamente sufocados pelas forças do governo, foram

utilizados como justificativa para Vargas controlar a sociedade e intensificar a

repressão. Ou seja, tais acontecimentos elevaram ainda mais os poderes do

governo federal.

24

“A 25 de novembro, Vargas pediu ao Congresso o estado de sítio. Foi aprovado. Em dezembro, a Câmara dos Deputados concordou em arrochar a Lei de Segurança Nacional, aprovando igualmente três emendas constitucionais. Uma autorizava o presidente a demitir sumariamente qualquer funcionário público, enquanto fortalecia o controle de Vargas sobre os militares, dando-lhes poderes sobre a promoção de todos os oficiais e onde deveriam servir. A terceira dava ao Presidente poderes temporários de emergência ainda maiores”. (SKIDMORE, 1982. p. 43-44).

Eleito primeiro presidente do Brasil sob a Constituição de 1934, Vargas não

poderia ser reeleito. Em meados de 1937 apareceram três candidatos ao posto de

Presidente: Armando de Sales Oliveira (a favor do liberalismo constitucional); José

Américo de Almeida (defendia medidas nacionalistas autoritárias) e Plínio Salgado

(líder dos integralistas).

Desde a revolta comunista de 1935, Vargas pensava na possibilidade de um

Golpe, e, sabendo que o apoio do Exército seria fundamental para a concretização

deste, conseguiu que em 1936, o General Eurico Dutra, favorável aos desígnios

totalitários, se tornasse Ministro da Guerra. E que, um ano depois, o General Góes

Monteiro, defensor de um regime centralizado e autoritário, fosse nomeando Chefe

do Estado-Maior do Exército.

Para Skidmore (1999), o objetivo de Dutra e Monteiro era um “Exército forte

dentro de um Estado forte”. O esforço de ambos para dar ao Exército nacional

monopólio da força militar coincidiam com a pretensão de Vargas em instituir uma

ditadura pessoal.

A “descoberta” realizada pelo Estado-Maior do Exército, de um documento

que comprovava o plano de uma revolução comunista, culminou no golpe de 10 de

novembro 1937.

“Apresentaram uma falsificação grosseira conhecida como Plano Cohen, fabricada, como sugeria o título, pelos integralistas e entregue a Góes Monteiro por um oficial integralista, o Capitão Olímpio Mourão Filho. Foi levada a Dutra e Getúlio, que a aprovaram como pretexto para o seu golpe.

25

A 30 de setembro, Dutra denunciou a trama comunista revelada pelo Plano Cohen e, no dia seguinte, 1° de outubro, o Congress o concedeu a suspensão dos direitos constitucionais [...]” (SKIDMORE, 1982, p. 48).

No mesmo dia, apontando para o fato de que a Constituição de 1934 estava

“’antedatada em relação ao espírito do tempo’” (PANDOLFI, 1999, p. 10), fora

anunciada uma nova Constituição que, inspirada no Estado corporativo do regime

fascista italiano, se caracterizava pela centralização política, intervencionismo estatal

e antiliberalismo.

A Constituição outorgada por Getúlio Vargas serviu para “legalizar” o novo

regime que lhe daria poderes excepcionais.

“Na sua transmissão radiofônica de 10 de novembro, Vargas explicou que o Brasil devia deixar de lado a ‘democracia dos partidos’ que ‘ameaça a unidade pátria’. Descreveu o Congresso como sendo um ‘aparelho inadequado e dispendioso’, cuja continuação era ‘desaconselhável’. O Brasil não tinha outra alternativa senão instituir um ‘regime forte, de paz, justiça e de trabalho’, concluiu o novo ditador, ‘para reajustar o organismo político às necessidades econômicas do país’. Para sublinhar o seu ponto-de-vista, Vargas anunciava, ao mesmo discurso, a decisão do Brasil de suspender todos os pagamentos de juros e amortizações da sua dívida externa. Todos os partidos políticos foram abolidos a 2 de dezembro e começou a nova consolidação do poder federal.” (SKIDMORE, 1982, p. 50)

Durante o Estado Novo, houve o predomínio absoluto do Poder Executivo,

os partidos políticos foram extintos, as liberdades civis e o Parlamento foram

suspensos, a repressão policial instalou-se por toda parte e o comunismo

transformou-se em inimigo público número um do regime.

É importante ressaltar que desde o final da Primeira Guerra Mundial, o

modelo liberal para a organização da sociedade começou a ser questionado,

enquanto as concepções totalitárias, autoritárias, nacionalistas, estatizantes e

corporativistas ganhavam espaço; tanto que, paralelamente à implantação do

Estado Novo no Brasil, a Itália e a Alemanha já estavam sob regimes totalitários -

fascismo e nazismo respectivamente.

26

Segundo Capelato (1999), o Estado Novo não se define como fenômeno

fascista, mas é preciso levar em conta a importância da inspiração das experiências

nazi-fascistas nesse regime, especialmente no que se refere à propaganda política.

Embora tal propaganda seja estratégia fundamental para qualquer regime político,

ela adquire maior força quando usada a favor de um Estado totalitário, uma vez que

este possui o monopólio dos meios de comunicação, exercendo censura sobre os

mesmos. “Os organizadores da propaganda varguista, atentos observadores da

política de propaganda nazi-fascista, procuraram adotar os métodos de controle dos

meios de comunicação e persuasão usados na Alemanha e na Itália, adaptando-os

à realidade brasileira”. (CAPELATO, 1999, p. 169)

Com a legalização à censura aos meios de comunicação prevista na

Constituição de 1937, a imprensa tornou-se instrumento do Estado e transmissora

da ideologia varguista.

“O art. 1.222 exterminava a liberdade de imprensa e admitia a censura a todos os veículos de comunicação. A lei prescrevia:‘Com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação’”. (CAPELATO, 1999, p. 171 - 172)

Para garantir o funcionamento do novo regime, foram criados mecanismos

de dominação e controle ideológico como o Departamento de Ordem Política e Social

(DOPS) responsável por reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime

estado-novista e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), encarregado do

controle ideológico, censura aos meios de comunicação - imprensa, rádio e cinema -,

e propaganda do presidente, mostrando dele uma imagem sempre favorável.

27

As empresas jornalísticas e seus profissionais foram submetidos ao controle

do DIP, desempenhando tarefas que lhes eram atribuídas pelo governo. Sobre isso,

Capelato afirma que:

[...] havia uma série de assuntos e notícias proibidos pelo DIP — por exemplo, notícias que mostrassem ou sugerissem descontentamento ou oposição ao regime; temas ou notícias relativos a problemas econômicos (transporte, abastecimento, escassez e alta de preços dos produtos); divulgação de acidentes, desastres, catástrofes, naufrágios, queda de avião; incidentes como brigas, agressões, crimes, corrupção, suborno, processos, inquéritos, sindicâncias, etc. (CAPELATO, 1999, p. 175)

Outro importante instrumento para a propagação dos feitos de Vargas fora o

rádio, seu uso esteve voltado para a reprodução de notícias oficiais e discursos que

podiam ser ouvidos durante o programa “Hora do Brasil”, criado em 1931 e

reestruturado em 1939 pelo DIP.

“O programa tinha três finalidades: informativa, cultural e cívica. Divulgava discursos oficiais e atos do governo, procurava estimular o gosto pelas artes populares e exaltava o patriotismo, rememorando os feitos gloriosos do passado. Nas cidades do interior, era reproduzido por alto-falantes instalados nas praças.” (CAPELATO, 1999, p. 176)

Em suma, Vargas pretendia usar os meios de comunicação para conquistar

o apoio dos trabalhadores e legitimar o regime estado-novista. Os meios de

comunicação mais utilizados para a divulgação da propaganda política foram a

imprensa e o rádio.

Simultaneamente à repressão e censura do Estado Novo, Vargas

transformou o Brasil em um país urbano e industrial. Sobre isso, Pandolfi infere:

“Promotor da industrialização e interventor nas diversas esferas da vida social, o Estado voltou-se para a consolidação de uma indústria de base e passou a ser o agente fundamental da modernização econômica. O investimento em atividades estratégicas, percebido como forma de garantir a soberania do país, tornou-se questão de segurança nacional. Fiadoras do regime ditatorial, as Forças Armadas se fortaleceram, pois, além de

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guardiãs da ordem interna, passaram a ser um dos principais suportes do processo de industrialização.” (PANDOLFI, 1999, p. 10)

Getúlio Vargas desenvolveu uma política econômica baseada no

nacionalismo e intervencionismo estatal, cujo objetivo era integrar o Brasil ao

capitalismo industrial. Para tanto, diversificou a economia e incentivou a substituição

das importações. Nesse passo, a Segunda Guerra Mundial foi fundamental, uma vez

que causou a redução da oferta de artigos industrializados, a diversificação agrícola

e o crescimento do mercado interno.

Outro aspecto importante da política varguista pode ser notado na relação

entre o governo e os trabalhadores. O governo preocupava-se em obter o apoio dos

trabalhadores por meio de concessões e leis de amparo ao trabalhador. Porém, ao

mesmo tempo em que era criada uma legislação para garantir os direitos dos

trabalhadores, as organizações trabalhistas eram atreladas ao governo para que

este pudesse controlá-las. Além disso, o trabalho serviu como estratégia político-

ideológica de combate à “pobreza”, que estaria centrada justamente na promoção do

valor do trabalho. Segundo Gomes,

“no Estado Novo, uma política de valorização do trabalho era, sobretudo, uma política de valorização do esforço humano, considerado a base e o fundamento de toda a riqueza social. Uma política de valorização do trabalho estaria, portanto, centrada na ideia de que a pobreza era um mal a ser evitado e que a riqueza era um bem comum, isto é, a riqueza devia ter uma função social à qual se subordinariam os interesses particulares dos indivíduos e dos grupos.” (GOMES, 1999, p. 66)

A política varguista voltou-se para a nacionalização do trabalho e, portanto,

o fornecimento de um número significativo de empregos para o trabalhador nacional.

Porém, a concretização de tal objetivo enfrentava problemas como o abastecimento

da mão de obra, atrelada à imigração estrangeira e ao êxodo rural. “[...] A não-

aplicação da legislação social ao campo era identificada como uma das principais

29

causas do êxodo rural, uma vez que o trabalhador do campo via-se ignorado e

desamparado, posto à margem das preocupações dos dirigentes do país”. (GOMES,

1999, p. 70).

Assim, para que o trabalhador nacional fosse valorizado, “o Estado

precisava estabelecer políticas que controlassem a entrada de estrangeiros e que

também orientassem sua localização, assim como racionalizassem o fenômeno das

migrações internas.” (GOMES, 1999, p. 68)

Diante disso, “o problema começava a ser atacado pelo governo de forma

imediata pela concessão de terras nas fronteiras (Decretos-leis nº 1.968 e nº 2.610,

de 17-1-1940 e 20-9-1940, respectivamente) e pela organização de colônias

agrícolas (Decreto-lei nº 3.059, de 14-2-1941).” (GOMES, 1999, p. 70) Os núcleos

agrícolas ou agroindustriais selecionavam lavradores para certas regiões, como o

vale do Amazonas, os vales do Tocantins e Araguaia e o sertão do Nordeste.

O ideal de justiça social durante o regime estado-novista norteou uma

política de amparo ao homem brasileiro ao mesmo tempo em que reconhecia que o

progresso da nação era produto do trabalho. Portanto, “o trabalho passaria a ser um

direito e um dever [...] uma obrigação para com a sociedade e o Estado, mas

também uma necessidade para o próprio indivíduo encarado como cidadão.”

(GOMES, 1999, p. 55)

O Governo de Vargas preocupou-se em promover uma série de medidas

para favorecer o trabalhador. Entre elas destacam-se: o Ministério do Trabalho, a

Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a jornada de trabalho máxima fixada em

lei, o salário mínimo e a criação da Previdência Social; que estabelece a seguridade

previdenciária aos trabalhadores brasileiros.

30

“[No] Dia do Trabalho (1º de maio) [...] Vargas, ritualmente, encontrava-se com o povo para anunciar mais uma espetacular medida no campo do direito social: o presente da festa. [...] É interessante registrar o “Concurso de literatura proletária” (1942) e os concursos para a escolha da “Canção do Trabalhador” e da “Cartilha de alfabetização do operário adulto” (1944). Todos esses exemplos demonstravam o esforço conjunto desenvolvido pelos trabalhadores e pelo presidente, traduzindo a harmonia social alcançada, bem conforme, aliás, à índole cordial do homem brasileiro. Era essa perfeita sintonia — entre a clarividência de Vargas e as qualidades reconhecidas do povo — que o Estado Novo objetivava e considerava estar realizando.” (GOMES, 1999, p. 66)

Porém, ao mesmo tempo em que o trabalhador era beneficiado pela política

varguista, causava preocupação ao regime. A forma encontrada pelo governo para

anular a influência política da classe operária foi elaborar leis específicas e submeter

os sindicatos ao poder estatal. Dessa forma, Vargas “aboliu a pluralidade sindical e

criou o imposto sindical, contribuição anual obrigatória, paga por todo empregado,

sindicalizado ou não.” (PANDOLFI, 1999. p. 11)

Através das iniciativas no campo trabalhista, o Estado promovia a satisfação

das necessidades básicas do homem e mantinha o seu objetivo: progredir através

do trabalho. No entanto, se o Estado voltava-se para o homem, deveria voltar-se

também para a família. “A preocupação com a família era, portanto, uma questão

central à proteção do homem brasileiro e ao próprio progresso material e moral do

país” (GOMES, 1999, p. 63).

Uma política de proteção à família e ao trabalho (qualificação da mão de

obra) deveria começar pela educação, já que “só pelo ensino se poderia construir

um povo integral, adaptado à realidade social de seu país e preparado para servi-lo.”

(GOMES, 1999, p. 63)

Desde o curso primário, o sistema educacional do período getulista estava

voltado para nacionalismo totalitário. Tanto que não era admitida uma educação que

desenvolvesse a criticidade ou reflexão dos educandos, mas a visão de uma

sociedade como uma corporação na qual todos tinham uma função derminada para

31

o bem-estar comum. Assim, a educação do Estado Novo ia além do ensino formal,

uma vez que engajava-se em uma dimensão cultural onde havia a preocupação com

a valorização da ciência e arte nacional. Sobre isso, Gomes assinala que:

“A atuação do Estado com a arte destacava-se, por exemplo, pelo reconhecimento do valor e do ‘poder de sugestão’ da música, sendo os efeitos [...] sentidos em um grande número de composições. Até então, como se observava, os sambas tinham como temática recorrente o elogio à malandragem, caracterizando o trabalho como um longo e penoso sofrimento. O malandro do morro — ‘o enquistamento urbano do êxodo das senzalas’ — que repudiava o trabalho era o herói do cancioneiro popular. Mas tal panorama vinha-se modificando pela presença das leis que reconheciam os direitos dos trabalhadores e pela política de derrubada das favelas e dos mocambos. Surgiam dessa nova perspectiva personagens que se empregavam em fábricas e outros afazeres. Assim, o primado do trabalho, reconhecido pelo Estado, chegava também à voz dos compositores populares sob o estímulo e censura do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O contato entre o DIP e os compositores era realizado por Heitor Villa-Lobos, e o próprio Getúlio instituíra a prática de convidar cantores e músicos para as recepções que oferecia no Palácio do Catete [...]” (GOMES, 1999, p. 64)

No tocante ao ensino secundário, através de vários Decretos-Leis, foi

desenvolvida a Reforma Capanema (referência a Gustavo Capanema, então

Ministro da Educação). Essa Reforma apresentou um sistema educacional dualista:

a organização de um ensino secundário público para as classes médias e altas e um

ensino secundário de caráter profissionalizante para as classes populares.

Se por um lado o Estado organizou as relações de trabalho através da CLT,

por outro, impôs ao sistema público de ensino uma legislação que procurou separar

aqueles que poderiam estudar daqueles que deveriam estudar menos e ganhar o

mercado de trabalho rapidamente. Portanto, a profissionalização precoce da massa

trabalhadora no ensino sendundário era de suma importância para o contexto

sócioeconômico do país naquele momento.

O grande projeto político do Estado Novo visava a construção da

nacionalidade e a afirmação da identidade nacional. Era preciso “formar um ‘homem

32

novo’ para um Estado Novo, criar o sentimento de brasilidade, fortalecer a

identidade do trabalhador, ou [...] forjar uma identidade positiva no trabalhador

brasileiro [e para isso] contava-se estrategicamente com a educação.” (BOMENY,

1999, p. 139)

Para tanto, devia-se padronizar o ensino e intervir nos núcleos estrangeiros

das zonas de colonização, para afastar o risco de impedimento da nacionalização do

ensino, além de forçar as comunidades de imigrantes à integração nacional.

A partir de 1938, a nacionalização do ensino previa obrigatoriamente que as

aulas fossem ministradas em português; que as escolas brasileiras tivessem nomes

brasileiros; que os diretores e professores fossem brasileiros natos. Também, houve

a proibição da língua estrangeira para menores de 14 anos e a obrigatoriedade das

disciplinas: educação moral e cívica e educação física (ministrada por instrutores

militares). O resultado dessa campanha de nacionalização foi a extinção de escolas

étnicas.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Getúlio Vargas

preferiu a neutralidade “até que os Estados Unidos estivessem preparados para

pagar um preço justo pelo apoio brasileiro”. (SKIDMORE, 1998, p.170)

O acordo econômico entre Brasil e E.U.A. consistia no fato de que o

primeiro cederia seu extenso litoral aos norte-americanos, favorecendo uma posição

estratégica no Oceano Atlântico, além de matéria-prima às indústrias

estadosunidenses. Já os norte-americanos, deveriam ceder ao Brasil equipamentos

militares, assistência técnica e financiamento para a usina siderúrgica de Volta

Redonda.

Em 1942, o Brasil declarou guerra ao Eixo (Itália, Alemanha e Japão),

apoiando os Aliados. O envolvimento do Brasil na Guerra deu início à desarticulação

33

do Estado Novo, já que a ditadura getulista não podia ser mantida enquanto

soldados brasileiros lutavam na Europa a favor da democracia. Em novembro de

1945, Getúlio Vargas foi deposto e seu regime ditatorial, extinto.

O Estado Novo procurou neutralizar as forças das classes trabalhadoras

seduzindo-as pela intensa propaganda de caráter nacionalista. A aproximação das

massas não colocava Vargas como instrumento delas, mas como meio de usá-las a

favor de seus próprios objetivos.

“Sem muita opção, Getúlio Vargas pactuou com as massas trabalhadoras barganhando a legitimação do seu governo através da outorga de uma avançada legislação trabalhista e previdenciária. Da mesma forma, o projeto educacional e cultural estado-novista vinha atrelado às questões de segurança nacional, tendo por meta a mobilização controlada das massas.” (CARNEIRO, 1999, p. 334)

A ideia de um Estado forte, a personificação do poder central, a crítica à

democracia e as ideias consideradas “subversivas”, a censura e a repressão servem

como evidências de que Vargas considerava o fascismo um modelo a ser imitado.

3.2 A POLÍTICA MIGRATÓRIA NO ESTADO NOVO

Desde o século XIX, a política migratória brasileira foi fundamentada pela

ideia de “branqueamento” da população brasileira, servindo como justificativa para a

vinda dos imigrantes brancos. Essa ideia de raça serviu de base para a construção

de um mito de “homogeneidade” que se contrapunha à nação brasileira

heterogênea.

Essa forma racista de pensar a nação brasileira dominou o pensamento

social brasileiro até a década de 30 e, de modo subjetivo prevaleceu durante o

34

Estado Novo, influenciando a política migratória do mesmo. Sobre isso, Seyferth

infere que:

“A partir da década de 30, diversos recursos de retórica são utilizados para diluir o discurso racial, mas as práticas voltadas para a imigração e os imigrantes mostram a persistência do mito e a preocupação com a homogeneidade nacional — cultural e racial. Daí a ênfase na necessidade de assimilação e caldeamento que redundou na campanha de nacionalização implantada após 1937.” (SEYFERTH, 1999. p, 212.)

Durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1933, a ideia de

"branqueamento" da população brasileira foi defendida pelos médicos e deputados

Miguel Couto (do Rio de Janeiro), Artur Neiva (da Bahia) e Antonio Xavier de

Oliveira (do Ceará). Pediam o fim da imigração dos “degenerados” japoneses. O

resultado foi a implantação, em 1934, do sistema de cotas para a entrada de

populações estrangeiras no país que tinha como objetivo reduzir a entrada de não-

brancos. Esse sistema de cotas, estabelecia que somente pudesse entrar no país o

correspondente a 2% do número de imigrantes de cada nacionalidade que havia

chegado nos últimos 50 anos.

Mesmo antes da implantação do sistema de cotas para a entrada de

imigrantes no Brasil, Vargas já se preocupava com a presença de estrangeiros em

território nacional. Em 1931, o decreto n°19.482 (G OMES, 1999, p. 68-69) previa

que 2/3 da mão de obra industrial deveria ser composta por trabalhadores nacionais.

Ou seja, o objetivo era substituir a mão de obra imigrante pela nacional.

A política varguista estava voltada para a nacionalização do trabalho e,

portanto, era de suma importância o fornecimento de um número significativo de

empregos para o trabalhador brasileiro. No entanto, a concretização desse objetivo

esbarrava no problema de abastecimento da mão de obra e, portanto, no êxodo rural

e na imigração estrangeira. Sobre isso, Gomes escreve:

35

“Desde o início de seu governo, Vargas teria previsto as implicações de um não-controle da imigração, relacionando-o com a necessidade de ‘valorização do capital humano’ nacional, e com a própria estabilidade política do país. O problema imigratório apresentava, sem dúvida, uma face econômico-social que só se agravara com a crise internacional de 1929 e todos os seus conhecidos desdobramentos. O número de desempregados era grande, como era grande o movimento interno que trazia mais mão de obra do campo para a cidade. Tudo isso redimensionava o problema político da presença maciça de estrangeiros no país.” (GOMES, 1999, p. 67-68)

Segundo o major Euclides Sarmento (Bomeny, 1994), os quatro mais

importantes decretos promulgados em 1938 a respeito dos estrangeiros no Brasil

foram: O Decreto-lei nº 383, de 18 de abril, que proibia aos estrangeiros “organizar,

criar ou manter sociedades, fundações, companhias, clubes e quaisquer

estabelecimentos de caráter político - ainda que tivessem por fim exclusivo a

propaganda em difusão, entre os seus compatriotas, de ideias, programas ou

normas de ação de partidos políticos do país de origem” (PEREIRA; FILHO, p. 199);

o Decreto-lei nº 406, de 4 de maio do mesmo ano, regulamentando o ingresso e a

permanência de estrangeiros, determinando providências para a integração dos

mesmos e criando o Conselho de Imigração e Colonização como órgão executivo

das suas disposições; o Decreto nº 868, de 18 de novembro de 1938, criando a

Comissão Nacional de Ensino Primário, estabelecendo entre as suas atribuições a

de nacionalização do ensino nos núcleos estrangeiros e finalmente, o Decreto nº

948, de 13 de dezembro de 1938 que, sob a consideração de serem complexas as

medidas capazes de promover a integração dos colonos de origem estrangeira e a

completa nacionalização dos filhos de estrangeiros, determinava que as medidas

com esse fim fossem dirigidas e centralizadas pelo Conselho de Imigração e

Colonização. (BOMENY, 1999. p. 157- 58)

36

A campanha de nacionalização implantada após 1937 visava à construção

de uma identidade nacional coletiva. E, portanto, os imigrantes viraram alvos dessa

campanha que exigia o “abrasileiramento” e integração dos mesmos.

Nesse contexto, o idioma era apontado como um dos responsáveis pela

unificação nacional. Em decorrência disto, houve o estabelecimento de leis que

atingiram principalmente a imprensa e a escola de imigrantes.

A Lei da Nacionalização do Ensino - embasada no Decreto Federal n°406

de 04 de maio de 1938 - exigia que os professores fossem naturais do Brasil e que

lecionassem em língua portuguesa. Além disso, proibia a circulação “e a publicação

de revistas estrangeiras no meio rural, como uma forma e obrigar os colonos e seus

filhos a falar, ler e escrever em português e os livros didáticos deveriam ser escritos

na língua nacional.” (RENK, 2004, p. 115)

A política de nacionalização aplicava multa às instituições educacionais que

mantivessem professores estrangeiros. Além disso, “previa a interdição do

estabelecimento para que não ensinasse os Hinos [Nacional e da Bandeira], não

tivesse a escrituração em português e não adotasse os programas e livros didáticos

oficiais” (RENK, 2004, p. 118)

Em suma, a política migratória durante o Estado Novo pretendia incorporar

os imigrantes e seus descendentes à sociedade nacional, quando a formação racial

brasileira (pensada desde meados do século XIX), torna-se uma questão de

segurança nacional durante o Estado Novo. Em decorrência disto, medidas

coercitivas foram tomadas para atingir as comunidades étnicas de imigrantes

existentes no Brasil.

37

3.3 O “ESPÍRITO NACIONAL” E O “ESPÍRITO ESTRANGEIRO”

Durante o Estado Novo (1937-1945) grande parte dos imigrantes que

moravam no Brasil viu sua vida cotidiana sofrer intervenções provenientes da

campanha de nacionalização, por portarem práticas culturais incompatíveis com os

princípios de brasilidade pregada pelo regime vigente.

A ligação dos imigrantes alemães com a pátria-mãe acontecia através dos

elementos culturais preservados pelas associações, família, escola, igreja. Nesse

sentido, a cultura aparece, como uma construção humana, uma teia de significados

que o homem teceu e que podem ser entendidos no tempo (Geertez, 1989).

A manutenção dos valores germânicos promovia a coesão do grupo que se

identificava e diferenciava dos brasileiros. Desse contraste interétnico emerge a

identidade étnica, sendo esta, uma “construção que se elabora em uma relação que

opõe um grupo aos outros grupos com os quais está em contato.” (CUCHE, 2002, p.

182).

Essas relações interétnicas implicam no estabelecimento daquilo que Barth

(1969) chama de limite étnico. Segundo o autor, o principal no processo de

identificação é a vontade de marcar os limites entre “eles” e “nós”, estabelecendo

uma fronteira social simbólica. Tal fronteira é criada pela vontade de se diferenciar e

o uso de certos traços culturais como marcadores de identidade específica.

Preocupado em garantir a integração nacional, a campanha nacionalista foi

instituída durante o Estado Novo, para impor o “espírito nacional” aos “estrangeiros”.

Para Seyferth, “[essa campanha] foi [...] a maior de uma história de confrontos com a

sociedade brasileira, no sentido de manter as diferenças étnicas e identidades

38

próprias, construídas etnocentricamente como quase todas as identidades étnicas.”

(SEYFERTH, 1994, p. 22)

As medidas contra “estrangeiros” praticadas durante o Estado Novo (1937-

1945) vinham sendo preconizadas desde o século XIX, porém, só um Estado

autoritário conseguiria criar uma legislação para erradicar as diferenças étnicas que

faziam dos imigrantes incompatíveis com a nação.

A campanha de nacionalização atingiu todos os grupos descendentes de

imigrantes, começando pelas escolas étnicas - extintas em 1938 - por meio do

Decreto Federal N° 406 (de 4 de maio) o qual exigia que,

[...] todo o ensino fosse em língua portuguesa, que todos os professores e diretores fossem brasileiros natos, que nenhum livro de texto, revista ou jornal circulasse em língua estrangeira nos distritos rurais e que o currículo escolar deveria ter instrução adequada em História e Geografia do Brasil. Proibia o ensino de língua estrangeira a menores de 14 anos e ordenava que se desse lugar de destaque à bandeira nacional em dias festivos, rendendo-se homenagem à mesma. (KREUTZ, 1991 apud RENK, 2004, p. 115)

A política de nacionalização tinha como objetivo criar uma identidade

nacional através da escola brasileira, que segundo as autoridades do Estado Novo,

era a instituição capaz de formar o cidadão nacional, com um corpo saudável para o

trabalho, disciplinado e com um sentimento de patriotismo. Além disso, a língua

nacional escrita e falada passa a ser a verdadeira fronteira da nação. Dentro dessa

lógica de pensamento, as escolas étnicas não contribuíam para a construção da

nação brasileira, forjada pela língua portuguesa. Sobre isso Seyferth escreve:

“A existência de uma língua e de uma cultura unívocas, por sua vez, também faz parte da imagem demarcadora da nação e embasam a identidade nacional [...] Conforme Weber (1992), a crença na existência de uma vida comum nacional se baseia na comunidade de língua, de cultura, num passado histórico e até na raça. São os mesmos elementos formadores da comunidade étnica, embora a conformação dos grupos étnicos (e mesmo suas ideologias) dentro dos estados nacionais tome

39

caminhos diversos, sobretudo porque não constituem unidades políticas. Sua existência como unidades culturais e linguísticas separadas — portanto, não assimiladas — se choca com o desejo de unidade expressado pelo nacionalismo.” (SEYFERTH, 1999, p. 225)

A partir de 1939 a campanha nacionalista radicalizou-se. Todas as

publicações em língua estrangeiras foram proibidas; reprimiram o uso cotidiano da

língua alemã em público e durante as cerimônias religiosas. A censura à língua

estrangeira atingiu também os nomes das ruas, o nome de letreiros e cartazes das

lojas e fábricas, além dos nomes dos clubes e associações.

Além disso, os programas de rádio realizados em língua estrangeira e a

imprensa estrangeira foram censurados e as instituições e associações

comunitárias, recreativas e culturais, foram fechadas.

“Inicialmente, os jornais tiveram de aceitar um redator brasileiro (incumbido da censura) e publicar edições bilíngües e artigos patrióticos de autores brasileiros. Depois veio a proibição definitiva e, em consequência, o desaparecimento da maioria dos jornais e revistas.” (SEYFERTH, 1994, p. 221)

Conforme Rambo (1994), a raiz do conflito entre os imigrantes alemães e

brasileiros encontrava-se nas concepções desencontrada dos conceitos de

nacionalidade e de cidadania.

“Na tradição história alemã e também de outras tradições européias, a nacionalidade configura uma condição humana desvinculada da condição de cidadania. Esse fato deve-se [...] à conceituação de nacionalidade a partir de uma série de fatores que independe da vinculação com algum estado [...] Entre os determinantes da nacionalidade enumera-se a raça, etnia, a cultura com seus valores, a história, a tradição [...] e principalmente a língua.” (RAMBO, 1994, p. 43-44)

Na tradição alemã, considera-se alemão todo aquele que possui “sangue

alemão” (jus sanguinis), independente do solo em que nascera. E a nacionalidade

alemã resulta da fidelidade à tradição alemã e do uso da língua alemã. Ou seja, o

nacionalismo alemão concebe a nacionalidade desvinculada da cidadania. Já, na

40

tradição brasileira, a cidadania é pensada como uma questão ligada ao território.

Sendo assim, é brasileiro todo aquele que nasce em território brasileiro (jus soli).

Isso nos leva a crer que para os brasileiros a pátria é o Brasil, no qual nasceu e no

qual vive como cidadão. Além disso, o nacionalismo brasileiro se fundamentava na

integração e miscigenação, que contrariava a proposta teuto-brasileira da pureza

endogâmica.

Considerando a concepção alemã de cidadania, “admite-se que uma

pessoa pode, juridicamente, ser cidadão de outro Estado que não a Alemanha, mas

continue pertencendo ao ‘povo alemão’” (GERTZ, 1994, p. 30)

Assim como Rambo, Seyferth assinala que o conflito dessas diferentes

concepções “chegaria ao clímax durante a campanha de nacionalização do Estado

Novo, e que pode ser resumido na pela expressão ‘quem nasce no Brasil é brasileiro

ou traidor’, afixada nas repartições e lugares públicos nas regiões de colonização.”

(SEYFERTH, 1994, p. 18)

Era difícil para o luso-brasileiro, partindo do princípio de jus soli,

compreender que alguém possa possuir nacionalidade alemã e, ao mesmo tempo

ser cidadão brasileiro.

“Se o nacionalismo alemão considera obrigação étnico-cultural-linguística, nacionalismo para o luso-brasileiro supõe, em primeiro lugar, compromisso político com o Estado brasileiro. Nacionalidade, brasilidade, Estado e cidadania confundem-se num conceito híbrido em que um determinado substrato étnico-cultural entre em associação u em parceria indissolúvel com a cidadania, da qual resulta, como produto final, o nacionalismo brasileiro.” (RAMBO, 1994, p. 48-49)

Com relação ao nacionalismo brasileiro vigente durante o Estado Novo,

deve ser salientado que o modelo étnico-cultural-lusitano foi imposto e o único

reconhecido como cidadão brasileiro. Essa concepção que rejeitava os alemães

agravou-se ainda mais durante a Segunda Guerra. Sobre isso, Rambo infere que:

41

“Ao tentarem impor o paradigma étnico-cultural-lusitano como o único e exclusivo referencial para aferir a brasilidade, as vertentes não lusas foram colocadas à margem do ideal nacional oficialmente intencionado. Legalmente, não era possível negar o teuto-brasileiro ou a nipo-brasileiros a condição de cidadãos brasileiros. Porém, punha-se em dúvida e ate negava-se a cidadania de fato. Embora reconhecesse a sua cidadania, embora tinham direito pelo fato e gozarem do direito do jus soli, de terem nascido em território brasileiro e como brasileiros term sido registrados, eram tratados como cidadãos de segunda categoria [...] Práticas discriminatórias entre os alemães e outras procedências não-lusas tornaram-se rotina entre 1938-1945. Essas práticas alimentava-se de uma série de estereótipos com que principalmente os alemães foram estigmatizados: ‘alemão batata’, ‘quinta-coluna’, ‘nazista’ e outros mais”. (RAMBO, 1994, p. 48-49)

A infiltração nazista no Sul do país, que atuava por meio dos grupos locais

do NSDAP (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães) era visto com

preocupação pela imprensa brasileira. A propaganda nazista foi proibida em 1938.

Contudo, supostos ou não simpatizantes do nazismo foram presos e torturados. Em

nome da “nacionalização”, “[...] efetuaram-se prisões, expulsões, torturas e

apreensões, a fim de descobrir indícios de vinculação [...] com a Alemanha” (EIDT,

1998, apud RENK, 2004, p. 116). Para Seyferth (1997), a presença nazista era o

argumento mais frequente para o desencadeamento de uma campanha coerciva de

‘abrasileiramento’, sendo esta nem a única, nem a principal razão da intervenção

militar nas colônias do Sul.

O Exército brasileiro foi o responsável pela prática da campanha

nacionalista. “Na visão militar, estava sendo travada uma guerra contra ‘quistos

étnicos’ que ameaçavam a soberania nacional.” (SEYFERTH, 1999, p. 221)

Era o Exército quem efetivamente repreendia as manifestações de

etnicidade, impunha o civismo e controlava o uso das línguas estrangeiras,

principalmente na região Sul.

42

O Estado Novo precisava da “homogeneidade” nacional, buscada, em

primeiro lugar, na escola (com a imposição do “espírito nacional” através do idioma e

ensino do civismo) e em segundo lugar, pela ação do Exército e da polícia.

É certo que as autoridades do Estado Novo pretendiam a integração

compulsória dos imigrantes alemães e seus descendentes por meio de uma

legislação, que deixou de lado as instituições consideradas estrangeiras, como as

escolas, as igrejas e a imprensa. Em longo prazo, a campanha obteve resultado

significativo ao conseguir a eliminação das associações culturais alemãs, como as

escolas e as publicações em língua alemã.

Após o Estado Novo e o advento de um novo contexto social, a identidade

teuto-brasileira passou por um processo de atualização, mantendo alguns

identificadores culturais e descartando outros.

Sobre isso Hall escreve que as pessoas que foram dispersas para sempre

de sua terra natal desenvolvem “fortes vínculos com seus lugares de origem e suas

tradições, mas sem a ilusão de um retorno ao passado. Elas são obrigadas a

negociar com as novas culturas em que vivem, sem simplesmente serem

assimiladas por elas e sem perder completamente suas identidades. Elas carregam

os traços das culturas, das tradições, das linguagens e das histórias particulares

pelas quais foram marcadas.” (HALL, 2006, p. 88-89)

Desse modo compreende-se que não há exclusão de identidade, e que sua

manutenção ocorre através da diferenciação que, por sua vez, determinará quem é

membro de um grupo ou não. Mesmo com o passar do tempo, os teuto-brasileiros

preservam certo grau de distintividade em relação à sociedade brasileira, através de

valores culturais associados à germanidade.

43

3.4 O REFLEXO DO ESTADO NOVO EM CURITIBA

Desde a chegada das primeiras famílias de imigrantes alemães em Curitiba,

preocuparam-se em manter a identidade étnica, organizando-se em torno de

práticas culturais e sociais como as associações, a família, a escola, a igreja. Nesse

sentido a cultura surge como “[...] um padrão de significados transmitido

historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas

expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam,

perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida

[...]”. (GEERTZ, 1989, p. 103-104)

A cultura preservada pelos imigrantes alemães em Curitiba era contrastiva

com a cultura brasileira. E, portanto, dessa interação entre os grupos e os

procedimentos de diferenciação que eles utilizavam em suas relações, resultou a

formação da identidade étnica. (CUCHE, 2002, p. 182)

Segundo Cuche (2002) não se pode confundir as noções de cultura e

identidade, embora estejam ligadas. A cultura permite ao homem não só adaptar-se

ao meio, mas também adaptar este a si próprio. Ela pode existir sem consciência da

identidade. Já as estratégias de identidade podem manipular e até modificar uma

cultura que não terá então quase nada em comum com que ela era anteriormente.

Além disso, a identidade cultural de um dado grupo não pode compreender-se a não

ser pelo estudo das suas relações com os grupos vizinhos. “A cultura depende em

44

grande parte de processos inconscientes. A identidade remete a uma norma de

vinculação, necessariamente consciente [...].” (CUCHE, 2002, p. 176)

Durante o Estado Novo, os estrangeiros deveriam ser “incorporados” à

identidade nacional. Para tanto, fez-se necessário o estabelecimento da campanha

de nacionalização que, exigiu o "abrasileiramento" dos imigrantes através da

integração. Assim, progressivamente, desapareceram as publicações em língua

estrangeira (principalmente a imprensa étnica) e algumas sociedades recreativas,

esportivas e culturais. Também, foi proibido o uso de línguas estrangeiras em

público, inclusive nas atividades religiosas. Além disso, a ação direta do Exército

impôs normas de civismo e o uso da língua portuguesa.

“[Em Curitiba], os nomes de origem dos clubes dos imigrantes foram mantidos até 1938, quando a legislação do Estado Novo passou a exigir a nacionalização de clubes e entidades sociais, obrigando as sociedades estrangeiras a adotarem nomes brasileiros.” (BOSCHILIA, 1995, p. 11)

A Campanha Nacional pela Nacionalização do Ensino desenvolvida pelo

Estado Novo causou danos às instituições educacionais de origem germânica

estabelecidas em Curitiba. Sobre isso, Renk infere que:

“Alguns professores [do Colégio Bom Jesus] se aposentaram, outros se naturalizaram e também houve a demissão de professores alemães, apesar de considerados, pela escola, como muito competentes no seu ofício. No Paraná, como o novo ‘Decreto Escolar’ [que determinava, entre outras coisas, que as aulas para o ensino primário e o jardim de infância, fossem ministrado em língua portuguesa] do Interventor Manoel Ribas, houve a proibição do uso da língua alemã; [o Colégio Bom Jesus] deixou de ser bilíngue [...]” (RENK, 2004, p. 118)

O Colégio Progresso, que pertencia à Comunidade Evangélica Luterana, foi

fortemente perseguido, até ter suas atividades interrompidas em 1938. Mais tarde,

no contexto da Segunda Guerra, quando a campanha de nacionalização se

45

radicalizou, o terreno do Colégio foi desapropriado pelo governo e repassado à

Faculdade de Medicina da UFPR, resultando na extinção dessa instituição de

ensino.

O envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial alterou de forma

expressiva o cotidiano dos habitantes de Curitiba. Imigrantes alemães, italianos e

japoneses passaram a ser hostilizados e considerados “inimigos da Pátria”.

“No dia 19 de março de 1942, segundo o jornal Gazeta do Povo, dez mil pessoas se reuniram na Praça Osório para ‘verberarem os golpes do nazismo contra a integridade nacional’, e em seguida saíram pelas ruas invadindo e depredando estabelecimentos comerciais, bancos, indústrias e clubes pertencentes a imigrantes alemães, italianos e japoneses“ (BOSCHILIA, 1995, p. 6)

Além disso, “os imigrantes dos países do Eixo [tiveram] seus

estabelecimentos fiscalizados diretamente pelo governo, foram proibidos de ouvir

rádio e obrigados a fazer um registro especial dos seus veículos automotores [...]”

(BOSCHILIA, 1995, p. 8-9) Também, só podiam sair da cidade com salvo-conduto e

não podiam viajar para o litoral paranaense. Tanto que, “algumas casas de verão

foram confiscadas, transformaram-se em postos do exército, e só foram devolvidas

muito tempo após o término da guerra.” (BOSCHILIA, 1995, p. 8-9)

A responsabilidade pela repressão aos descendentes dos países do Eixo foi

delegada à Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), que trabalhava

intensamente fazendo buscas e apreensões de tudo que fosse considerado um

perigo à nação. Sobre isso, Boschilia observa que:

“Na ânsia de realizar um bom trabalho, muitas vezes a polícia cometida excessos, como a apreensão de almofadas, pelo simples fato de terem sido bordadas com as cores da bandeira alemã, ou a invasão e casas comerciais cujo os proprietários nada tinham a ver com os países do Eixo.” (BOSCHILIA, 1995, p. 10)

46

A população curitibana, acostumada a conviver com inúmeros estrangeiros,

cometia muitos enganos, por nem sempre conseguir distinguir uma nacionalidade da

outra e, portanto, muitas denúncias eram ilógicas.

“Alguns desses enganos tornaram-se folclóricos, como a mudança do nome

da Loja Mousseline, que, pela semelhança com o nome do ditador italiano Mussolini,

foi substituído por Etam”. (BOSCHILIA, 1995, p. 11)

As sociedades de imigrantes alemães e italianos também ficaram sob a mira

do DOPS, que consideravam as atividades nelas desenvolvidas contrárias aos

interesses da nação. Sobre isso, Boschilia assinala que:

“As diretorias dos clubes foram proibidas de praticar quaisquer atos de gestão, relativos às sociedades, seus edifícios e bens móveis. Foram mantidos somente o serviço de guarda do arquivo de livros e papéis referentes ao quadro de sócios, bem como a seção de beneficência [...]” (BOSCHILIA, 1995, p. 13)

Em Curitiba, as comemorações das datas cívicas como o Dia da

Independência, da Bandeira, da Raça ou do Soldado reuniam milhares de pessoas

nas praças, onde autoridades civis e militares faziam discursos sobre a defesa da

Pátria e do civismo e enalteciam Vargas.

“Por ocasião do primeiro aniversário da entrada do Brasil na Guerra, a

comemoração mereceu o fechamento do comércio, com concentração na Praça

Osório e o habitual desfile até a Santos Andrade.” (BOSCHILIA, 1995, p. 23)

Em julho de 1942, o Paraná passou a participar das ”Obrigações de

Guerra”. Os cidadãos colaboravam para o pagamento das despesas com a

Segurança Nacional. Os valores nominais variavam entre 100 e 5.000 cruzeiros e o

resgate seria realizado após a assinatura da Paz entre os Aliados e o Eixo.

47

“[...] A campanha contou com o apoio irrestrito de estudante universitários, que saíram às ruas, em passeata, recomendando a aquisição do bônus de guerra. De igual modo, a Companhia Força e Luz do Paraná, responsável pelo servido de transporte coletivo, pintou a frase ‘Compre Bônus de Guerra' em toda a sua frota de bondes.” (BOSCHILIA, 1995, p. 24)

Paralelamente à participação do Brasil na Guerra, o País passava por

inúmeras mudanças como: a implantação do salário mínimo, a entrada de produtos

norte-americanos no mercado nacional e a Consolidação das Leis Trabalhistas.

Contudo, os noticiários chamavam a atenção para a alta do custo de vida,

enfatizando os preços dos alugueis, medicamentos e alimentos.

A partir de 1943, produtos como o açúcar, o trigo, o sal, a carne e a

manteiga começaram a faltar.

“O racionamento da farinha de trigo e do açúcar forçou uma mudança brusca nos hábitos alimentícios da população. A falta de pão era compensada por broa de milho, batata assada ou polenta frita. O açúcar era substituído por mel, leite condensado (raro e caro na época) e até mesmo balas caramelizadas, como Aymoré.” (BOSCHILIA, 1995, p. 35)

O racionamento de combustíveis também se fez necessário. O governo

obrigou os motoristas a converterem seus carros para funcionar com gasogênio (gás

obtido por meio da queima de carvão). Boschila (1995) afirma que, em Curitiba

houve a substituição de algumas linhas (como a Juvevê e a Marechal Floriano

Peixoto) por bondes elétricos e o aumento das passagens, para desestimular a

utilização do transporte coletivo. Neste contexto, a bicicleta tornou-se um meio de

transporte bastante utilizado pela população curitibana.

Embora a campanha de nacionalização, intensificada durante a Segunda

Guerra, e suas medidas tenham sido irreversíveis a uma parte das comunidades de

imigrantes, não conseguiram acabar com as identidades étnicas e as diferenças

culturais, pois, como observou Barth (1969) “a identidade se constrói, se desconstrói

48

e se reconstrói segundo as situações. Ela esta sem cessar em movimento; cada

mudança social leva-a a se reformular de modo diferente”. (BARTH, 1969 apud

CUCHE, 2002, p. 182)

Apesar das diferenças étnicas e ideológicas, a população procurou adaptar-

se às condições impostas pelo governo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial,

Curitiba e seus habitantes não eram mais os mesmos. Porém, este conflito mostrou

que não era coerente festejar a derrota do autoritarismo e continuar sob um regime

ditatorial. Nesse sentido, as manifestações populares culminaram na

redemocratização do país assinalada pela deposição de Vargas e o fim do Estado

Novo.

4 A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE A PARTIR DOS VALORES CULTURAIS

ALEMÃES

4.1 FAMÍLIA

Dentre os grupos estrangeiros presentes nas zonas de colonização, os

alemães foram os que mais despertaram atenção e preocupação nas autoridades

governamentais. Reconhecidos como o núcleo estrangeiro mais fechado em torno

de sua própria cultura, eram acusados de impedir um processo de nacionalização

pela insistência com que mantinham suas próprias características étnicas. As

colônias alemãs - que nesse contexto adquirem um significado sociológico –

consistiam na organização comunitária dos imigrantes em torno de sua própria

cultura, de sua própria língua e de sua própria nacionalidade, num sentido de

pertencimento étnico.

Os imigrantes alemães procuraram por meio da família, da escola e da

igreja, preservar os elementos culturais que os identificavam com a Pátria de origem.

49

Neste sentido, a cultura aparece como um “sistema simbólico”, feita de valores e

crenças, de códigos morais e hábitos socialmente construídos, transmitidos,

aprendidos por meio de signos e símbolos que regulam e padronizam atitudes e

emoções. (Geertz, 1989)

A partir de um estudo realizado por Nadalin (2000), com registros paroquiais

luteranos, verificou-se que a formação familiar constituída por casais alemães e seus

filhos em Curitiba, indicam a valorização do elo constituído pelo Deutschtum, pela

“germanidade”.

“Cabe observar que manter-se imigrante por mais de uma geração, dependendo das circunstancias em jogo, significava que os filhos dos estrangeiros, enquanto membros do grupo, também eram considerados ou se consideravam “imigrantes”. Era desta forma que se mantinham acesos, vivos e idealizados os laços com uma mãe-pátria igualmente (re) construída” (NADALIN, 2000, p. 178)

Sobre isso Seyferth afirma que “a família completa a ‘fronteira’ étnica como

principal socializadora dos membros da comunidade. Nesse contexto, a endogamia

étnica aparece como valor fundamental de preservação da própria comunidade.”

(SEYFERTH, 1994, p. 17). Considera-se, então, que em virtude da consolidação da

identidade, os alemães mantiveram um comportamento endogâmico.

Nadalin (2000) aponta para o fato de que a manutenção desta endogamia

só foi possível graças ao crescimento natural da própria comunidade e à

manutenção da imigração alemã. Através da coleta de dados nas fichas das famílias

alemãs, o autor realizou algumas constatações a respeito da fecundidade do referido

grupo étnico. Concluiu que os casais não utilizavam métodos contraceptivos durante

o período reprodutivo e que o número de crianças nascidas durante a segunda

metade do século XIX contribuiu, especialmente, para o crescimento da

comunidade.

50

“Os casais que iniciaram a vida matrimonial na comunidade luterana foram agrupadas em três [...] subgrupos de histórias de famílias, distanciados entre si por mais ou menos uma geração. Para cada uma destas unidades foram obtidas as descendências finais ou completas, calculadas a partir das taxas de fecundidade. Àquelas famílias cujos ciclos nupciais iniciaram-se entre 1866 [...] e 1884 foram contabilizados de seis a sete filhos em média [...] O grupo subsequente, cujas famílias foram constituídas entre 1895 e 1919, [...] gerou [...] quatro ou cinco por casal [...] O último subgrupo – casais formados entre 1920 e 1939 – foi observado um número médio em torno de dois a três filhos [...]” (NADALIN, 2000, p. 182)

Os homens e mulheres alemães que aqui residiam casavam-se mais cedo

em relação aos que não emigravam. “Aqui, em torno de 21 anos; lá, entre os 26 e

27, se pudermos [...] generalizar algumas estatísticas alemãs do período.”

(NADALIN, 2000, p. 187) É provável que a antecipação da idade para se casar

esteja vinculada à concessão gratuita de terras na periferia de Curitiba, quando os

imigrantes viam nestas “o sonho da casa própria”.

A natalidade relativamente alta da comunidade alemã aponta para a

constituição de famílias grandes. Os filhos eram bem vindos, já que “o tamanho da

prole era fundamental para a sobrevivência do colono.” (NADALIN, 2000, p. 190)

Portanto, os imigrantes alemães não pensavam em controlar a natalidade, pois os

filhos significavam vantagens econômicas e, dependendo da relação que se

estabelecia entre pais e filhos, amparo na velhice.

A valorização de uma família grande por parte dos imigrantes alemãs punha

em cheque a capacidade de procriação dos jovens. Tanto que casais eram

submetidos às “noites de provas” as quais duravam o suficiente para que “ambas as

partes tivessem se convencido da recíproca aptidão física para o matrimônio, o que

muitas vezes resultava na gravidez da moça [...] Só depois o camponês a [pedia] em

casamento, e o noivado e o casamento seguiam rapidamente.” (NADALIN, 2000, p.

193)

51

Raramente as moças que engravidavam eram abandonadas, porém, era

comum “ambos desistirem das suas relações depois da primeira ou segunda noite

de prova. A moça não [corria] o risco de adquirir má reputação, pois dentro em breve

aparece outro rapaz disposto a reatar o romance.” (NADALIN, 2000, p. 193)

Dessa forma, o valor que se dava à prática do costume ultrapassava o valor

que se dava à preservação da virgindade, já que “o apreço do camponês [...] à moça

grávida era [maior] do que àquela que tinha ainda de provar a sua capacidade de

procriar”. (NADALIN, 2000, p. 194)

Nadalin (2000) observa que, o adiantamento da idade para se casar e a

manutenção da fecundidade relativamente alta dos imigrantes alemães pioneiros de

Curitiba poderiam responder aos traumas e medos da migração e, principalmente,

ao choque cultural característico da fase marginal. “O objetivo seria a sobrevivência,

traduzida na sua própria reprodução, função da família. Dessa forma a sexualidade

não era reprimida, e sim canalizada para a procriação.” (NADALIN, 2000, p. 195)

Sendo assim, podemos considerar que a identidade está sempre em movimento e

que cada mudança social leva-a a uma reformulação.

Em função das transformações sociais impostas pela urbanização, a partir

da segunda geração (famílias constituídas entre 1895 e 1919) e ainda mais evidente

na terceira (famílias constituídas entre 1920 e 1939), os novos imigrantes e

descendentes dos pioneiros passaram a enfatizar que o elevado número de filhos

traduzia-se em despesas. Além disso, métodos contraceptivos passaram a ser

valorizados. Essa alteração cultural deu um novo rumo ao casamento.

“No centro urbano, a família não se constituía mais como unidade de produção; na perspectiva masculina, por exemplo, ficaram alterados os critérios para a escolha da noiva. Em outros termos, substituíram-se as considerações materiais, incluída a ideia de uma esposa robusta e fértil,

52

por valores cada vez mais ligado ao ‘amor romântico’.”(NADALIN, 2000, p. 198)

Considerando que a identidade étnica emerge nos contatos interétnicos, “a

família completa a fronteira étnica como principal socializadora dos membros da

comunidade.” (SEYFERTH, 1994, p. 17). As práticas culturais vinculados à “família”

de origem alemã serviram de alicerce para a construção de uma identidade e de

integração do grupo na sociedade curitibana.

Porém, com as mudanças sociais, decorrente de um processo de

urbanização e da modernidade, houve uma alteração cultural e o abandono de

alguns comportamentos mantidos pelo grupo. Esta redefinição das estruturas

familiares em função da situação em que o grupo se encontrava, leva a crer que a

identidade é produzida e reproduzida no decorrer do processo das interações

sociais.

4. 2 TRABALHO

Após a criação da Província do Paraná e, mais enfaticamente, durante a

década de 1870, fez-se necessário a implantação de uma política imigratória para

estimular a produção agrícola em locais próximos aos centros urbanos.

Nessa época, a economia paranaense voltava-se para a produção de erva-

mate, destinada ao mercado externo e, portanto, a demanda de expressiva mão de

obra era de suma importância.

O governo precisa encontrar soluções para a carência de mão de obra.

Além disso, para que a Província não dependesse mais da importação de produtos

de outras províncias, era necessário promover o abastecimento de gêneros

agrícolas, face ao aumento dos consumidores.

53

Nesse contexto, a inserção de colonos europeus começou a ser vista como

solução para o problema. Também, esperava-se que o imigrante europeu

promovesse o “branqueamento” da população e ensinasse à mesma, a virtude do

trabalho que há muito fora contagiada pela escravidão.

Segundo Boschilia,

“[...] Essa expectativa pode ser percebida nos discursos governamentais ao enfatizarem a necessidade do contato que deveria existir entre o imigrante europeu e o nacional, para que este como aprendiz do ‘colono laborioso’ e da cultura européia pudesse melhor desenvolver sua própria lavoura.” (BOSCHILIA, 2008)

O desenvolvimento da industrialização e, consequentemente, a revolução

agrícola, ocorridos na Alemanha a partir do século XIX, culminou na substituição da

mão de obra do campo, gerando muitos desempregados que, por sua vez, viam na

emigração saída para a situação. Os alemães que emigraram para Curitiba vinham

de diferentes regiões da Alemanha. As sociedades germânicas apresentavam

diferenças regionais, resultado de contatos culturais diferenciados. Além disso,

traziam consigo maiores ou menores heranças camponesas e práticas medievais.

Alguns imigrantes alemães e seus filhos que se estabeleceram em Curitiba

voltaram-se ao trabalho agrícola. Preocupavam-se em produzir e encaminhar

excedentes para o mercado.

“Independentemente das expectativas do governo, essas famílias de

camponeses transportaram para a nova terra o sistema de trabalho adotado na

Europa, no qual a casa funcionava como uma unidade de produção doméstica”

(BOSCHILIA, 2008)

No sistema doméstico de produção, um elevado número de filhos traduzia-

se em investimentos necessário e lucrativo uma vez que, havia a pretensão da

54

produção não para a própria subsistência, mas para o mercado urbano. “Além disso,

no período de entressafra, os colonos costumavam [instalar] no próprio domicílio

pequenas indústrias caseiras, como moinhos de farinha, fabricação de móveis [...]”

(BOSCHILIA, 2008)

O rápido crescimento urbano e a grande quantidade de mão de obra

imigrante estimulavam a atividade industrial, que começou a se tornar expressiva

por meio do capital do próprio imigrante.

“Aproveitando as inúmeras matérias-primas regionais, estes imigrantes

conseguiram, com a ajuda da comunidade local e por intermédio de sócios com

capitais que reconheciam as suas capacidades, fundar suas pequenas indústrias”

(BOSCHILIA, 2008)

Conforme Nadalin (2000), em pouco tempo os alemães e descendentes

dominaram o comércio de frutas, hortaliças, madeira, subprodutos da criação de

animais e o mercado de secos e molhados de Curitiba. Muitas vezes foram

acusados de praticarem preços de monopólio no comércio de pão e cerveja.

“Essas indicações autorizam a interpretação de que, de fato, os imigrantes, transplantados ao novo mundo [...] traziam consigo práticas medievais fundadas nas corporações de ofícios. Mas não só: muitos igualmente traziam consigo antigas práticas de origem camponesa, relacionadas ao casamento, ao amor e à procriação.” (NADALIN, 2000, p. 209)

Na passagem para o século XX, a presença dos alemães e seus

descendentes era significativa em vários tipos de atividades comerciais e industriais,

“[...] seja como proprietário ou [nas] atividades relacionadas ao engenho e

exportação do mate, seja no setor de serviços, artesanato e como mão de obra

operária, sentia-se sempre a presença do ‘imigrante’ [alemão]” (NADALIN, 2000, p.

217)

55

As transformações ocorridas no campo econômico e o crescimento

populacional (o êxito das colônias alemãs atraiu novos grupos de imigrantes)

favoreceram a inserção dos imigrantes alemães na cidade, alterando sua estrutura

familiar. “Na medida em que os homens tornaram-se trabalhadores assalariados, as

mulheres ficaram mais restritas ao âmbito doméstico” (BOSCHILIA, 2008)

Em função destas transformações, também surgiram novas necessidades

de consumo, uma vez que as famílias continuaram numerosas e os salários dos

imigrantes alemães de gênero masculino não eram suficientes para suprir as

necessidades da família. Por conta disso, fez-se necessária a incursão das filhas

adolescentes no mercado de trabalho.

Sobre isso, Boschilia assinala que:

“Como resultado desse processo, no início do século XX, as imigrantes representavam número expressivo na força de trabalho industrial [...] Durante as décadas seguintes, as mulheres imigrantes ou descendentes - principalmente as menores de idade - podiam ser encontradas em número considerável nas fábricas de fiação e tecelagem, fitas e fitilhos; massas alimentícias; biscoitos, balas e bolachas; erva-mate; fósforos; metros; velas; caixas e cabos de vassouras; escovas, brochas e pincéis.” (BOSCHILIA, 2008)

Diante dessas mudanças impostas pela transformação econômica e pelo

crescimento urbano, os imigrantes buscaram estratégias para promover a

manutenção de suas tradições familiares, religiosas e sociais. “O que se percebe é

que houve, por parte desses grupos, uma adaptação, na tentativa de buscar certo

nível de estabilidade de vida, possibilitando, ao mesmo tempo, a manutenção da

tradição“ (BOSCHILIA, 2008)

Com o passar do tempo, o apoio governamental dado aos imigrantes fez

com que os trabalhadores brasileiros desenvolvessem um sentimento de exclusão,

considerando a postura do governo uma ingratidão. Os conflitos também aconteciam

56

devido às diferentes posturas com relação ao trabalho, expressadas pelos luso-

brasileiros e imigrantes alemães. Segundo Martinn Dreher, “o fato de imigrantes

brancos cultivarem, eles mesmos, suas propriedades e terras, algo até então feito

exclusivamente por escravos, era inconciliável com a mentalidade brasileira”.

(DREHER, 1984 apud, GONÇALVES, 2008, p. 57)

Essa mentalidade de que o trabalho braçal era atividade a ser

desempenhada apenas pelos “não-brancos” aparecia nos discursos da população

de origem lusa e entre católicos. Isso pode ter contribuído para agravar os conflitos,

pois muitos imigrantes, influenciados pela “ética protestante”, valorizavam e

exaltavam o trabalho, a escola e a religião.

Durante o governo de Vargas houve a intenção de transformar o Brasil

numa nação “homogênea”, acabando com qualquer ameaça estrangeira, isto é,

qualquer cultura que não se integrasse ao que o governo dizia ser a cultura

brasileira.

O torpedeamento de navios brasileiros pelo governo alemão durante a

Segundo Guerra, desencadeou a revolta dos habitantes de Curitiba contra

imigrantes originários dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Esses

imigrantes tiveram seus estabelecimentos comerciais - bancos, indústrias e clubes –

invadidos e depredados. Além disso, os tais estabelecimentos passaram a ser

fiscalizados diretamente pelo governo.

Em depoimento à Boschilia, Olga Gioppo contou lembrar-se das condições

do armazém onde sua família fazia compras. “Fiquei muito triste quando papai

passou comigo ali e o prédio estava todo depredado [...]” (BOSCHILIA, 1995, p. 7)

Embora durante o Estado Novo e, principalmente, no contexto da Segunda

Guerra, a repressão contra os alemães e seus descendentes tenha sido intensa, a

57

identidade étnica teuto-brasileira persistiu até o presente, buscando estratégias para

sobrevivência, bem como sua identificação.

Pode-se considerar que a identidade emerge dos contrastes étnicos e,

portanto, vive em constante construção. Essa construção da identidade aponta para

o fato de que quanto mais globalizado o mundo se torna, mais identidades regionais

e locais são fortalecidas.

Sobre isso, Stuart Hall escreve:

“Em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas, mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são produto desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns num mundo globalizado.” (HALL, 2006, p. 88)

Mesmo “reformulada”, a população teuto-brasileira mantém uma

distintividade marcada pela preservação de algumas características culturais e

sociais associadas à “origem alemã”.

4.3 EDUCAÇÃO

No Brasil, os imigrantes alemães procuram preservar as características de

identificação com o país de origem. Nesse caso, a língua alemã, a escola e a igreja

foram imprescindíveis para a manutenção da identidade étnica. Quando chegaram a

Curitiba, sentiram necessidade de terem a igreja e a escola, mantendo-se assim a

união do grupo e a preservação da língua e costumes.

“Frente ao quadro de precariedade das escolas públicas, os grupos de

imigrantes não esperavam a ação do governo para as instalações escolares.”

(RENK, 2004, p. 15) e, portanto, as escolas alemãs foram construídas com o esforço

dos imigrantes que mantinham o professor e também a escola.

58

“Desta forma, se vê como os imigrantes alemães davam importância para a escolaridade dos filhos, no entanto não tinham apoio do governo brasileiro. Portanto, a solução encontrada era eles mesmos acharem um professor na comunidade. Muitas vezes o professor era um imigrante que tinha estudado na Alemanha, ou era reconhecido pelo grupo como alguém capaz de instruir seus filhos, o mesmo às vezes acontecia com o pastor. Como existia dificuldade de encontrar pastores formados, a comunidade contratava o membro mais ‘letrado’.” (GONÇALVES, 2008, p. 60)

Sobre as escolas étnicas de Curitiba, Renk afirma que “não era a falta de

escola públicas, no Paraná, que levava o imigrante a não enviar seus filhos à essas

escolas, mas, sim, o interesse e a necessidade de uma escola diferenciada” (RENK,

2004, p. 18) que cultuasse os valores étnicos. Isto é, os imigrantes alemães

procuravam todas as formas para manter a identidade de grupo étnico e as

diferenças bem distintas, valendo-se da escola para isto.

A escola étnica possuía um currículo que privilegiava o ensino da língua

alemã. “Isto reafirma que a língua foi um elemento de identificação, de coesão e

também de limite étnico, porque comunicava um universo de valores culturais

significativos.” (RENK, 2004, p. 18)

Sabe-se que a identidade é construída a partir do contraste, da diferença.

Portanto, a utilização e a manipulação das categorias étnicas irão determinar a

emergência da identidade étnica que só se faz em situações de contato com outros

grupos étnicos. A educação em língua alemã promovia a preservação da

germanidade por tornar-se símbolo da diferença e limite étnico.

Conforme Barth (1969), o contato cultural problematiza a emergência e a

persistência dos grupos étnicos os quais se identificam pela manutenção de suas

fronteiras. É a etnicidade que mantém a unidade do grupo. Daí o empenho da

comunidade alemã em criar escolas para a preservação dos valores da etnicidade, o

Deutschtum (valores de germanidade).

59

Até o ano de 1896, os imigrantes alemães de Curitiba mantiveram seus

filhos na Escola Alemã (Deutsche Schule), pertencente à Comunidade Evangélica

de Confissão Luterana. Trinta anos antes, fora oficialmente fundada em Curitiba – no

bairro São Francisco - a primeira Comunidade Evangélica, tendo como pároco

Johann Friedrich Gärtner. Conforme a tradição nas comunidades evangélicas

alemãs, desde a Reforma realiza por Martinho Lutero, comunidade e escola

deveriam estar lado a lado e, por conta disso, logo após a fundação da Comunidade,

as atividades educacionais foram iniciadas.

“[...] O pastor Gärtner era, na verdade, um educador, que assumia também o papel de pregador e pastor [...] Para se ter uma ideia da importância da questão educacional, o P. Kröhne, que sucedeu ao primeiro, não querendo assumir a tarefa e educador, ao lado do seu ofício de pastor, foi logo forçado a renunciar a seu cargo. (CELC, 2000, p. 8)

Uma vez que aumentava o número de alunos filhos de imigrantes católicos,

optaram-se pela formação de uma sociedade escolar, ligada à comunidade e

desvinculada da questão religiosa. Porém, os pastores continuavam ministrando

aulas de Ensino Religioso durante o exercício do sacerdócio. Todavia, a ausência do

ensino religioso estimulou a fundação (em 1896) da escola “’Erste Katholische

Volksschule’, que com o passar do tempo transformou-se em Colégio Bom Jesus

(para rapazes) e Colégio da Divina Providência (para as moças).” (CELC, 2000, p.

12)

“Desde a fundação dessa escola [Colégio Bom Jesus] até 1917, a ligação com a Alemanha era uma atividade cotidiana, nas atividades curriculares e extracurriculares. O aniversário do Imperador da Alemanha era comemorado na escola, com missa e festa para marcar a data [...] Cita-se, por exemplo, a festa comemorativa do Jubileu de Prata do Imperador Guilherme II (14-06-1913), [...] com a presença do Cônsul da Alemanha. Os alunos apresentaram muitos números comemorativos, como “Alemanha e seu Kaiser”, desejando vida longa à Sua Majestade.” (RENK, 2004, p. 65)

60

A partir de 1900, a obrigatoriedade do ensino da língua nacional foi

enfatizada pela Lei nº 365 de 11 de abril de 1900. Mais tarde, em 1907, o ensino da

língua portuguesa foi novamente apontado como obrigatória nas escolas - como

complementação ao Decreto n 93 de 11 de março de 1901 e à Lei n 365 de 11 de

abril de 1900. (RENK, 2004, p. 82).

A necessidade do ensino em língua nacional nas escolas de imigrantes

passou a ser o alvo da legislação educacional. Apesar disso, a língua alemã,

empregada diariamente na escola, na Igreja e na comunidade, foi mantida.

Segundo Seyferth (1994), a linguagem consistia em um dos símbolos

práticos de etnicidade, sendo que sua manutenção reforçava a identidade étnica.

“O uso cotidiano da língua alemã, a intensidade da vida associativa, a rede escolar particular, a imprensa e outras publicações periódicas, inclusive a produção literária, pelas apregoadas vinculações com ideais de germanidade, ajudaram a construir uma etnicidade teuto-brasileira e serviram como limites inclusivos do grupo étnico.” (SEYFERTH, 2000, p. 295)

Para o Estado Brasileiro, o uso da língua alemã significava resistência. Além

disso, era impossível pensar na formação da nação brasileira sem o ensino da

língua nacional. Portanto, o ensino da língua portuguesa, presente na legislação, era

pertinente com o sentimento de formação da nação.

Durante o período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as hostilidades

entre imigrantes alemães e brasileiros se intensificaram. “Um dos motivos era o

envio de ajuda financeira à Alemanha. As escolas alemãs em Curitiba arrecadavam

donativos para as vítimas da guerra, em benefício da Cruz Vermelha da Alemanha e

Áustria.” (RENK, 2004, p. 94)

61

O patriotismo e a língua portuguesa passaram a ser exaltados pela

imprensa brasileira. A imprensa de Curitiba registrou os apelos em prol da

nacionalização das escolas e das colônias étnicas. Sobre isso, Renk escreve:

“O jornal Diário da Tarde registrou inúmeras manifestações patrióticas da sociedade brasileira em Curitiba, com recomendações dos oradores de “morras à Alemanha”. Os jovens empunhavam a Bandeira Nacional e as dos países aliados, acompanhados de bandas de música que entoavam o Hino Nacional, demonstrando, com entusiasmo, o seu patriotismo. Essas manifestações eram, algumas vezes, seguidas por atos de desordem, contra propriedades da comunidade alemã. A escola da comunidade alemã luterana foi apedrejada, pela população, em uma dessas manifestações, presente na Praça Tiradentes.” (RENK, 2004, p. 95)

Nesse contexto, a Deutsche Schule (Escola Alemã) foi, por duas vezes,

saqueada, com prejuízos vultosos. Além disso, teve o nome mudado para Colégio

Progresso e as atividades paralisadas em 1918 (CELC, 2000, p. 12). Porém, com o

término da Guerra, pôde reiniciar as atividades “e teve que fazê-lo com redobrado

esforço para cobrir os seus prejuízos financeiros e a lógica diminuição do número de

alunos”. (CELC, 2000, p. 13)

A necessidade de construir a nação brasileira por meio de uma escola

passou a ser constante nas políticas educacionais. Além disso, as escolas

particulares foram obrigadas a ter seus programas aprovados pelas autoridades,

assim como, o ensino da História, Geografia e Língua Portuguesa. As disciplinas

História e Geografia deveriam estar direcionadas para a questão do pertencimento à

nação, símbolos e feriados nacionais, contribuindo assim para a formação do

sentimento de patriotismo. Dessa forma, o Estado Brasileiro garantia os ideais de

formação da nação por meio da cultura nacional. Segundo Renk,

“a política de nacionalização das escolas estrangeiras surtiu efeito. Após ter fechado em 1917, o Bom Jesus reabriu em março de 1918, mas com uma condição: as aulas não podiam ser ministradas em alemão e os

62

professores alemaes foram proibidos de lecionar. A Escola Alemã foi então agregada à Escola Brasileira, então denominada de Escola Senhor Bom Jesus.” (RENK, 2004, p. 99)

Os colonos alemães consideravam essa política educacional repressiva.

“Argumentavam que foram obrigados a vencer o descaso histórico do governo com

relação ao atendimento à população, e em resposta ao abandono tomaram a

liderança no processo de construção social dos bens elementares à socialização.”

(BOMENY, 1999, p. 159).

Com o término da Guerra, a comunidade alemã manteve a sua coesão e,

passada a crise, a cultura adquiriu uma “nova função”. O bilinguismo foi a estratégia

utilizada pelos imigrantes alemães e seus descendentes para manter a identidade.

Com o advento da Era Vargas (1930-1945), a concepção de segurança

nacional contra “inimigos” externos e internos foi legitimada pela intervenção das

Forças Armadas no campo político, econômico, social e cultural do País.

As escolas de imigrantes estavam inseridas no projeto de segurança

nacional. E, portanto, deveria trabalhar os símbolos e valores nacionais.

“Neste contexto, a Educação Moral e Cívica teve especial relevância nos currículos escolares [...] em 1931, Vargas, no Manifesto à Nação, relacionou a educação do povo com a glorificação nacional [...] Havia, também, a obrigatoriedade do Canto Orfeônico, entendida como fator educativo, e da Educação Física, justificada como a necessidade da preparação moral, física e intelectual no que tange ao da raça. “(RENK, 2004, p. 108-109)

A política de Vargas voltava-se para a construção de um governo central e

forte que só seria possível com investimentos em educação e desenvolvimento

econômico.

Com o golpe de Estado de 1937 e o início do Estado Novo, as políticas

educacionais foram moldadas sob a premissa de “erradicar as influências

63

estrangeiras atuantes, principalmente nos três Estados do Sul, e incutir na

população de origem europeia o sentimento de brasilidade” (SEYFERTH, 1982, p.

175).

Sobre isso, Bomeny (1999) chama atenção para a afirmação de Cordeiro

Faria:

“Pela primeira vez, na história do país, o poder público vem tomando a peito o problema da nacionalização dos imigrantes e seus descendentes. Antes de 1937 isso não teria sido possível alguns estados porque as instituições vigentes erigiam em forças eleitorais os núcleos de origem estrangeira, dando-lhes influência bastante para contrariar os intentos do governo central” (BOMENY, 1999, p.158)

Para a construção de uma identidade nacional era preciso que as escolas

de imigrantes tivessem uma formação educacional voltada para o Brasil e não para

outras nações. Por meio de uma legislação, as autoridades pretendiam a integração

compulsória das instituições consideradas estrangeiras, como as escolas, a

imprensa e as associações.

A política de Vargas, preocupada com a formação da identidade nacional, estabelecia por meio da Constituição de 1937 as competências da União: traçar as diretrizes a que se deve obedecer na formação cívica, moral e intelectual da infância e da juventude, além de promover a sua disciplina moral, visando ao cumprimento de suas obrigações para com a economia e a defesa da Nação.” (RENK, 2004, p. 113-114)

O ano de 1938 marca a extinção das escolas estrangeiras por meio do

Decreto Federal nº 406 (de 4 de maio) conhecido como “Lei da Nacionalização”.

Essa Lei proibiu a publicação de revistas estrangeiras no meio rural e obrigou que

todos os livros didáticos fossem escritos em português. Além disso, determinou que

professores e diretores fossem brasileiros natos, proibiu o ensino de língua

estrangeira aos menores de 14 anos e ordenou que se desse destaque à bandeira

nacional e dias festivos que remetessem à Nação.

64

A língua portuguesa, durante a campanha de nacionalização, tinha o sentido

de unificação nacional e a não permissão da manutenção de comunidades étnicas.

“Portanto, o estabelecimento de leis severas atingindo, principalmente, a imprensa e

as escolas, foi uma experiência traumática para as comunidades de imigrantes

alemães no Brasil” (RENK, 2004, p.115).

Com o advento da Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos, o

Colégio Progresso (pertencente à Comunidade Luterana) foi fortemente perseguido

e extinto. Seus bens foram confiscados, e “seu patrimônio foi assumido por órgãos

governamentais e pela Escola Superior de Medicina (Hospital das Clínicas - UFPR).

Jamais houve nenhum tipo de ressarcimento à comunidade germânica por atos

políticos de tal natureza.” (CELC, 2000, p. 13)

Em 1940, foi possível a abertura de um Jardim de Infância e, em 2 de

fevereiro de 1948, após a Segunda Guerra, uma nova escola que ofertava o curso

primário foi fundada pelo pastor Heinz Soboll. Esta foi chamada de Escola

Evangélica de Curitiba, mais tarde Ginásio Martinus e, ainda, posteriormente, em

homenagem ao reformador Martinho Lutero, passou a ser denominado Colégio

Martinus.

Para os imigrantes alemães e seus descendentes, o idioma alemão

representava um elemento marcante da identidade étnica. Ele expressava a

nacionalidade que, para este grupo, se define pela identificação com a cultura e a

língua. Ou seja, pode-se ser alemão em qualquer lugar do mundo, pois a identidade

cultural alemã vai além da nacionalidade, das fronteiras territoriais, ela implica em

pertencimento étnico.

Com a proibição do idioma alemão, durante o Estado Novo, procurou-se

desarticular o universo de valores sociais, culturais e morais, transmitidos de

65

geração a geração. Porém, por meio da língua alemã, usada cotidianamente na

família, o sentido de pertencimento étnico resistiu à campanha nacionalizadora.

Após o Estado Novo, a população teuto-brasileira, mesmo “assimilada”,

manteve – ainda que sutilmente - elementos de distinção com relação à sociedade

brasileira. Nesse sentido, e a título de exemplificação, podemos apontar o Colégio

Martinus, que ao demonstrar uma preocupação com a preservação de um valor

cultural remetido à origem germânica, inseriu na grade curricular do Ensino

Fundamental I, aulas de alemão, mantendo com isso, um grau de diferenciação no

tocante às outras escolas de Curitiba.

É importante considerar que “ao invés de tomar a identidade por um fato

que, uma vez consumado, passa, em seguida, a ser representado pelas novas

práticas culturais, deveríamos pensá-la, talvez, como uma ‘produção’ que nunca se

completa, que está sempre em processo e é sempre constituída [...]” (HALL, 1996, p.

68) Portanto, vale dizer que os limites étnicos são flexíveis e manipuláveis de acordo

com a situação e por isso, favorecem a constante e ininterrupta construção da

identidade.

4.4 RELIGIÃO

Além da língua, a religião também se constitui num traço cultural marcante

para os imigrantes alemães e teuto-brasileiros. Além disso, se pensarmos a cultura

como uma “teia de significados” (Geertz, 1989), a religião pode ser vista como

sistema cultural.

A imigração de origem germânica no Brasil foi acompanhada pelo

desenvolvimento do luteranismo no momento em que os imigrantes alemães

iniciaram o processo de constituição da identidade.

66

Sendo assim,

“a atividade religiosa também serviu aos propósitos de distinção étnica [...] principalmente quando articulada com a escola alemã, sendo destacado, no caso da Igreja Católica, o grande número de vocações e a atuação das ordens religiosas com vinculações alemãs; a Igreja Evangélica Luterana é em si mesma, uma característica étnica para os brasileiros. No discurso étnico aparece uma relação causal entre a igreja, escola e lar e a preservação da língua alemã – portanto, com a germanidade no seu aspecto mais comunitário.” (SEYFERTH, 2000, p. 297)

O primeiro problema concreto que se colocava aos alemães luteranos que,

de forma gradativa, instalaram-se em Curitiba, segundo Nadalin, “era a necessidade

de enterrarem os seus mortos” (NADALIN, 2001, p. 23) já que os não-católicos não

tinham o direito à sepultura em cemitérios públicos, vinculados à Igreja Católica.

Porém, num contexto onde o fluxo imigratório é valorizado e especialmente

a imigração alemã, a Câmara Municipal de Curitiba, em 30 de setembro de 1857,

concedeu aos alemães evangélicos um terreno onde pudessem edificar o seu

cemitério. Originou-se assim o atual Cemitério Evangélico, conhecido pela

população curitibana como “Cemitério Protestante”.

Por estarem inseridos em uma sociedade majoritariamente católica, os

imigrantes luteranos foram submetidos a uma legislação que limitava sua prática

religiosa. “Como, por exemplo, as dificuldades para o reconhecimento do casamento

luterano, os problemas ligados aos matrimônios interconfessionais, e a própria

desconfiança católica em relações aos protestantes – afinal, é preciso lembrar que o

excomungado Lutero ainda era visto com um herege.” (NADALIN, 2001, p. 25) Tanto

que, a primeira Igreja luterana só foi construída dez anos após a fundação da

Comunidade da Igreja Evangélica Alemã.

Até 1872, a Comunidade não tinha contato oficial com a sede da Igreja

Evangélica em Berlim. Mas com o crescimento da Comunidade, a sede decidiu

67

enviar a Curitiba o pastor Augusto Boecker. A importância deste vínculo está na

manutenção da identificação dos imigrantes e descendentes em relação à nação de

origem e em face aos “outros” – luso-brasileiros e católicos.

A identificação do luteranismo com o germanismo ocorre por meio da língua

materna. Se para os católicos a língua era a responsável em perpetuar o credo, para

os protestantes a língua não era só um meio para transmissão, mas simbolizava os

Evangelhos. Os imigrantes alemães protestantes entendiam que a perda da língua

representava a perda da cultura germânica. Isto é, para os luteranos, a religião e o

grupo étnico se confundem, enquanto que para os católicos, a religião é mais

importante do que os valores étnicos.

Sobre isso Renk recorre a Heine (1991) para explicar que:

“Nos povos de fala alemã há uma tradição histórica de utilização da escrita e da leitura, desde a Reforma de Lutero, para a leitura da Bíblia e, indiretamente, relacionada com a promoção da escolarização desta população. Heine (1991) analisa a importância de Lutero e da tradução da Bíblia para a língua alemã. Assim, “estava dada à razão o direito de todos os litígios religiosos” (Heine, 1991, p.43-47). Isso significava a liberdade de pensamento e de interpretação da palavra escrita por quem a lesse e não necessitando de ‘intérpretes’. Quando o latim era utilizado nos auditório das universidades, o povo pouco ou nada compreendia, portanto, o acesso ao texto sagrado, incentivando o domínio da língua alemã, fato este de magnitude maior, pois difundia e dava unidade à língua. Este autor ainda afirma que os príncipes que adotaram a Reforma legitimaram essa liberdade de pensamento. Para os luteranos, a leitura e a escrita foram importantes para a interpretação dos Evangelhos. Para os católicos, a mediação entre a consciência da pessoa e Deus é intermediada pelo sacerdote, que faz a leitura dos Evangelhos.” (RENK, 2004, p. 31)

A religião protestante e a manutenção da identidade étnica se relacionam a

partir da língua alemã, sendo esta, um valor sagrado - ao passo que foi o idioma

usado por Martinho Lutero para tornar acessível ao povo alemão a leitura e

interpretação da Bíblia.

Antes mesmo da oficialização da Comunidade da Igreja Evangélica Alemã,

o Pastor e professor Johann Friedrich Gäertner organizou uma escola, incorporada à

68

Igreja, em 1869. Nesta escola, os pastores desempenhavam a função de professor e

diretor, pelo menos até 1883, quando a direção foi assumida pelo Conselho Escolar

da Comunidade.

“O ensino escolar, que havia começado sob o patrocínio do P. Gärtner, e passado por pequena turbulência após seu falecimento, não mais deixou de crescer após ser assumido pelo dinâmico pastor Böcker, em 1872. Com a conclusão do primeiro templo [estilo enxaimel] em 1876, este passou a servir de palco para as atividades escolares, durante a semana, quando era dividido em quatro salas, para abrigar as classes existente” (CELC, 2000, p. 10)

O crescimento da “escola alemã” levou a Comunidade Evangélica solicitar

junto à Câmara Municipal, a adoção de um terreno para a construção de um

estabelecimento educacional mais amplo.

“O terreno se localizava onde hoje encontramos a Praça 19 de dezembro. Neste local, pelo grande empenho dos então Presidente e Tesoureiro da Comunidade Evangélica , respectivamente Srs. August Gärtner e Bernardo Anhof, logo se fez erguer um imponente edifício escolar. Iniciada sua construção em 21/02/1891, e terminada em julho de 1892, a Escola iniciou com seis classes, contando com quatro professores e duas professoras.” (CELC, 2000, p. 11)

Este fato somado ao crescimento da população de imigrantes e

descendentes luteranos fez com que fosse construído um novo templo, em estilo

gótico, “inaugurado em 14/05/1894. Este edifício, hoje conhecido com Igreja do

Redentor, ainda é o templo principal dos evangélicos-luteranos em Curitiba, situado

na Rua Trajano Reis, 199.” (CELC, 2000, p. 10)

Segundo Nadalin, a construção do novo templo “assinala também a

passagem para uma nova fase da história da Comunidade Evangélica Luterana de

Curitiba. Neste momento, já republicano, instalava-se no país o Estado laico,

desaparecendo, portanto, as restrições do Império às religiões não-católicas”.

(NADALIN, 2001, p. 26)

69

Na medida em que o número de alunos não-católicos crescia, decidiu-se

abolir o ensino religioso do currículo escolar. Inconformado com essa decisão, o

Pastor Siegfriend Schulz fundou uma escola confessional ligada à igreja, chamada

Christuskirche, Igreja de Cristo. “A ’Pequena igreja’, como ficou conhecida, reunia os

mais simples e pobres, construiu um templo anos mais tarde (1913), na Rua do

Lavapés, atual Inácio Lustosa, onde se encontra até hoje. Tal cisão perdurou até

1947, quando as duas comunidades voltaram a se unir” (CELC, 2000, p. 12)

O período do Estado Novo, no contexto da Segunda Guerra Mundial, é

considerado a mais grave crise pela qual passara os imigrantes alemães e seus

descendentes. Sobre isso, Nadalin infere que:

“As duas comunidades religiosas – a ‘evangélica’ e a ‘luterana’ -, a ‘escola alemão’, bom como outras associações de caráter germânico, sofreram bastante em função das radicalizações do período, sobretudo após 1937, com o Estado Novo. Trata-se de uma história que desemboca, finalmente, na participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.” (NADALIN, 2001, p. 31)

Durante esse período, ficou proibido que os cultos fossem realizados em

alemão. Essa atitude causou forte impacto à manutenção da identidade étnica

alemã, pois, como sabe, parte importante da liturgia luterana é representada pelo

canto de hinos que, até então não tinham sido traduzidos.

A partir deste momento, a história da Igreja Evangélica Luterana no Brasil

iniciou uma nova fase. Se no início ela possuía caráter “imigratório” fazendo “parte

do complexo cultural trazido pelos imigrantes alemães, hoje em dia ela é uma Igreja

que poderíamos caracterizar como preponderantemente ‘missionária’” (NADALIN,

2001, p. 33). Isso nos remete novamente à concepção da identidade flexível que

nunca se completa, mas se transforma conforme o contexto.

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Ao se estabelecerem em Curitiba, os imigrantes buscaram amenizar “o corte

materializando, de várias formas, a lembrança da terra que deixou” (FAUSTO, 1998,

p. 18). Assim, em contraste com a sociedade e cultura luso-brasileira, buscaram

manter sua identidade através da família, da Igreja, da Escola e da Língua.

A etnicidade oferece identificadores culturais baseada na descendência

comum para relacionar pessoas de um determinado grupo através de critérios que

determinaram a inclusão ou exclusão de seus membros. Esses critérios podem não

ser os mesmos ao longo do tempo, já que os limites étnicos são instáveis e a

etnicidade é situacional, portanto, o que determinará a inclusão e exclusão dos

membros do grupo é a interação entre os grupos. Conforme Barth (1969)

“uma cultura particular não produz por si só uma identidade diferenciada: esta identidade resulta unicamente das interações entre os grupos e os procedimentos de diferenciações que eles utilizam em suas relações”. (BARTH, 1969 apud CUCHE, 2002, p. 182)

Considerando que as identidades são produções incompletas que estão

sempre em andamento (HALL, 1996), embora os imigrantes alemães e teuto-

brasileiros tenham sido submetidos à forte repressão durante o período do Estado

Novo (1937-1945), suas práticas culturais e sociais persistiram até o presente,

mantendo algum grau de distintividade proporcionado por valores étnicos

associados à germanidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste trabalho viabilizou conhecer parte da história do

Brasil e, em especial, da imigração alemã no Brasil.

71

No decorrer da pesquisa, as fontes possibilitaram questionar o conflito

étnico na construção de identidade envolvendo brasileiros e alemães,

especificamente, as estratégias acionadas pelos teuto-brasileiros para a

manutenção da identidade no contexto do Estado Novo.

Num primeiro momento, foi possível conhecer sobre a vinda dos imigrantes

alemães ao Brasil, sua organização social e as heranças trazidas da Pátria mãe.

As fontes revelaram que por meio da escola, da igreja, da família e do

trabalho, os imigrantes alemães lutaram pela manutenção da identidade étnica.

Nesse contexto, o elemento mais significativo de distintividade foi a língua alemã,

considerada como um grande limite étnico.

A política nacionalista de Vargas tinha a intenção de transformar o Brasil

numa nação homogênea. Para construir o nacionalismo, era preciso acabar com

qualquer cultura alheia à brasilidade. Embora os imigrantes alemães tenham sofrido

com as imposições e restrições intensificadas durante a campanha de

nacionalização do Estado Novo (1937-1945), com o término deste período houve o

advento de um novo contexto social, e, portanto, a identidade teuto-brasileira passou

por um processo de atualização, mantendo alguns identificadores culturais e

descartando outros.

Desse modo, percebe-se que as identidades são construídas a partir da

contrastividade. Ou seja, as identidades dos grupos vão sendo construídas a partir

das relações com outros grupos, consistindo, em alguns momentos, em

afastamentos ou aproximações. Essa construção da identidade aponta para o fato

de que quanto mais globalizado o mundo se torna, mais identidades regionais e

locais são fortalecidas.

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