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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ISABELA KUSS DA SILVA RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM CÃO CURITIBA JUNHO 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ISABELA KUSS DA SILVA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM CÃO

CURITIBA

JUNHO 2016

ISABELA KUSS DA SILVA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM CÃO

CURITIBA

JUNHO 2016

Relatório de estágio curricular

supervisionado, realizado na área de

clínica médica e cirúrgica na Clínica

Veterinária SAVE - Curitiba, como

requisito parcial da Universidade

Tuiuti do Paraná para obtenção do

título de Médica Veterinária.

Profº Orientador: MV, MSc Rogério

Luizari Guedes

Orientadora Profissional: Adriana

Pavone Galeb

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, primeiramente pela vida, pela minha família e pelo dom a mim

confiado.

Aos meus pais que com esforço me proporcionaram o estudo, realizando meu sonho

de ser Médica Veterinária. Agradeço por todo amor e ajuda em todos esses anos.

Ao meu irmão, meu amigo, agradeço pelo apoio e incentivo nesses longos anos.

Ao meu noivo, Marcos, que em todos os momentos esteve ao meu lado, por toda

cumplicidade, amor e carinho a mim dedicado.

A minha prima e madrinha Poliana, que é muito importante em minha vida.

Obrigada por toda ajuda e incentivo, não só durante a faculdade, mas também em

todos os momentos.

As amigas que fiz na graduação, pela amizade e companheirismo nesses quatro

anos e meio de faculdade. Principalmente a Jéssica que se tornou uma grande

amiga em todas as horas.

Aos professores da Faculdade Evangélica do Paraná e da Universidade Tuiuti do

Paraná, que foram fundamentais para minha formação acadêmica e profissional.

Sendo exemplos de profissionais a serem seguidos.

Ao meu orientador, Prof º Rogério Guedes, que em todos os momentos me ajudou

não só com o relatório de estágio, mas também em outros trabalhos publicados.

Sempre atencioso e pronto para esclarecer todas as dúvidas. Também agradeço

pelos ensinamentos repassados durante os semestres de monitoria.

Agradeço em especial a todos os animais que passaram em minha vida,

principalmente aos meus por todo ensinamento de amor e gratidão. Por vocês

prometo dar o meu melhor e sempre trata-los com amor e respeito como merecem.

Agradeço também a Draª Adriana e ao Dr. Eduardo Galeb pela oportunidade de

estágio e emprego. E a todos os veterinários da SAVE pela ajuda e ensinamentos

neste período, principalmente a Drª Adrieli que se tornou além de tudo uma grande

amiga.

“Jamais creia que os animais sofrem menos do que os humanos. A dor é a

mesma para eles e para nós. Talvez pior, pois eles não podem ajudar a si

mesmos.”

Dr. Louis J. Camuti

RESUMO

Este relatório tem como objetivo descrever as atividades acompanhadas

durante o estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária, realizado na

Clínica Veterinária SAVE - Serviço de Atendimento Veterinário Especializado,

localizada na Rua Dr. Lauro Wolff Valente, 176, Bairro Portão - Curitiba/PR, durante

o período de 14 de março a 03 de junho de 2016, totalizando 480 horas. As

atividades realizadas incluíram atendimentos clínicos de pequenos animais, auxilio

em cirurgias, cuidados com os animais internados, entre outras atividades. Esse

relatório também descreve o local de estágio, a casuística acompanhada, revisão de

literatura sobre linfangiectasia intestinal e o relato de caso acompanhado neste

período.

Palavras-chave: Linfangiectasia, endoscopia, gastrointestinal.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de pacientes atendidos por espécie durante o estágio .............. 21

Tabela 2 - Relação entre fêmeas e machos de cães e gatos atendidos durante o

estágio ....................................................................................................................... 21

Tabela 3 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados na SAVE durante o estágio ... 22

Tabela 4 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos no dia do primeiro

atendimento na Clínica Veterinária SAVE ......................................................... 24 e 25

Tabela 5 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos após 48 horas de

internamento ............................................................................................................. 29

Tabela 6 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 72 horas após o

internamento ............................................................................................................. 29

Tabela 7 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 15 dias após o

último exame realizado na Clínica Veterinária SAVE ................................................ 30

Tabela 8 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 48 horas após o

procedimento de endoscopia .................................................................................... 33

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número de casos atendidos na SAVE por especialidade durante o

período de estágio ..................................................................................................... 22

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fachada e entrada da Clínica Veterinária SAVE ..................................... 13

Figura 2 - Recepção da Clínica Veterinária SAVE ................................................... 13

Figura 3 - Consultórios da Clínica Veterinária SAVE ................................................ 14

Figura 4 - Sala de Emergência da Clínica Veterinária SAVE ................................... 14

Figura 5 - Internamento para cães de grande porte da Clínica Veterinária SAVE.... 15

Figura 6 - Internamento para cães de pequeno e médio porte da Clínica Veterinária

SAVE ......................................................................................................................... 15

Figura 7- Berço para animais debilitados e para filhotes da Clínica Veterinária SAVE

.................................................................................................................................. 16

Figura 8 - Internamento para gatos e portadores de doenças infectocontagiosas da

Clínica Veterinária SAVE........................................................................................... 16

Figura 9 - Unidade de Terapia Intensiva da Clínica Veterinária SAVE ..................... 17

Figura 10 - Sala para procedimentos de exames de imagem e procedimentos

odontológicos da Clínica Veterinária SAVE .............................................................. 17

Figura 11- Centro Cirúrgico da Clínica Veterinária SAVE ........................................ 18

Figura 12 - Sala dos plantonistas e cozinha da Clínica Veterinária SAVE ............... 18

Figura 13 - Sala de Esterilização de Materiais da Clínica Veterinária SAVE ............ 19

Figura 14 - Área de recreação para os animais da Clínica Veterinária SAVE .......... 19

Figura 15 - Imagem ultrassonográfica com espessamento de alças intestinais

sugerindo enterite . ................................................................................................... 25

Figura 16 - Imagem ultrassonográfica do estômago, com espessamento de mucosa,

indicando gastrite . .................................................................................................... 26

Figura 17 - Imagem ultrassonográfica com fígado com aumento de ecogenicidade

sugerindo hepatopatia ............................................................................................... 26

Figura 18 - Imagem ultrassonográfica da vesícula biliar com parede espessa e

hiperecóica sugerindo colecistite .............................................................................. 27

Figura 19 - Imagem ultrassonográfica com líquido livre abdominal . ........................ 27

Figura 20 - Imagem endoscópica da válvula íleo cólica com edema e dilatação de

vasos linfáticos . ........................................................................................................ 31

Figura 21 - Imagem endoscópica do cólon, mucosa com edema e hiperemia leve.. 31

Figura 22- Imagem endoscópica do íleo com edema e dilatação de vasos linfáticos

.................................................................................................................................. 32

Figura 23 - Imagem endoscópica do reto com edema e vasos linfáticos evidentes .

.................................................................................................................................. 32

Figura 24 - Imagem endoscópica da mucosa do duodeno de um cão com

linfangiectasia.. .......................................................................................................... 39

Figura 25 - Fotomicrografia da mucosa ileal de um Yorkshire Terrier com

linfangiectasia.. .......................................................................................................... 40

LISTA DE SIGLAS

FIV = Vírus da imunodeficiência felina

FeLV = Vírus da leucemia felina

HSA = Albumina sérica humana

LI = Linfangiectasia intestinal

LL = Linfangite lipogranulomatosa

OSH = Ovariosalpingohisterectomia

PIF = Peritonite infecciosa felina

SRD = Sem raça definida

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ...................................................................... 12

3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................. 20

4. CASUÍSTICA ................................................................................................................ 20

5. DESCRIÇÃO DO RELATO DE CASO DE LINFANGIECTASIA INTESTINAL ............. 23

5.1 Resenha ................................................................................................................. 23

5.2 Histórico e anamnese ............................................................................................. 23

5.3 Exame físico ........................................................................................................... 23

5.4 Exames complementares ....................................................................................... 24

5.5 Resultado do exame endoscópico e histopatológico .............................................. 30

5.6 Tratamento ............................................................................................................. 33

6. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 34

6.1 Diarreias crônicas ................................................................................................... 34

6.2 Diarreia de intestino delgado .................................................................................. 35

6.3 Linfangiectasia intestinal ........................................................................................ 35

6.4 Raças predisponentes ............................................................................................ 38

6.5 Diagnóstico ............................................................................................................ 38

6.5 Tratamento ............................................................................................................. 40

7. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 42

8. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 46

9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 47

11

1. INTRODUÇÃO

O estágio curricular é uma disciplina obrigatória do curso de Medicina

Veterinária, assim como de outros cursos de graduação, e tem como objetivo

complementar os anos de estudos teóricos, proporcionando a vivência prática na

área de atuação escolhida. É a oportunidade de perder a insegurança nos desafios

do dia a dia e ganhar confiança para exercer a profissão com ética, competência e

responsabilidade. O estágio obrigatório também abre portas para um futuro emprego

na área escolhida, sendo para isto fundamental o bom desempenho e

comprometimento do acadêmico durante o estágio.

Este trabalho de Conclusão de Curso é apresentado ao curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciência Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti

do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária.

Inclui o relatório de estágio, no qual estão descritas as atividades acompanhadas e

realizadas na Clínica Veterinária SAVE - Serviço de Atendimento Veterinário

Especializado durante o período de 14 de março a 03 de junho de 2016, no qual

foram totalizadas 480 horas de estágio. Assim como estão descritos o local de

realização do estágio, as atividades desenvolvidas nesse período, a casuística da

clínica, o relato de caso acompanhado e a revisão de literatura sobre linfangiectasia

intestinal.

12

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A Clínica SAVE está localizada na Rua Dr. Lauro Wolff Valente, 176, no

Bairro Portão, na cidade de Curitiba, estado do Paraná (Figura 1). A clínica funciona

24 horas todos os dias da semana e possui um corpo clínico formado por doze

médicos veterinários. Os atendimentos gerais são realizados pelos clínicos gerais,

enquanto os procedimentos específicos são realizados pelos especialistas na área.

A clínica ainda conta com atendimentos emergenciais e internamento de cães e

gatos.

A estrutura da clínica é composta primeiramente por uma sala de recepção,

na qual é realizado o cadastro dos pacientes e espera para atendimento (Figura 2);

dois consultórios para realização dos atendimentos clínicos (Figura 3), sendo que as

consultas são realizadas de acordo com a queixa principal do paciente, e em casos

específicos como dermatologia, oftalmologia e clínica cirúrgica a consulta é realizada

pelo especialista na área. Há também uma sala de emergência preparada para

estabilização do paciente que chega em situação emergencial (Figura 4).

O internamento é composto por leitos para cães de pequeno, médio e grande

porte (Figura 5 e 6), além de berço para animais debilitados e filhotes (FIGURA 7) e

internamento próprio para gatos e doenças infectocontagiosas (Figura 8). Todos os

leitos são revestidos com piso em cerâmica, porta de vidro e ralos separados para

lavagem e limpeza.

A clínica possui uma unidade de terapia intensiva com monitoração cardíaca

e aparelho de ventilação mecânica para pacientes críticos (Figura 9). Sala de

estoque de medicações e materiais, dois banheiros, cozinha conjugada à sala dos

plantonistas, sala de procedimentos odontológicos e exames de imagem, sala de

preparação de pacientes que irão passar por procedimento cirúrgico e um centro

cirúrgico, que é equipado com aparelho de anestesia inalatória, monitor parâmetrico,

aparelho de oximetria, bomba de infusão e medicações necessárias para os

procedimentos (Figura 10, 11 e 12). Em anexo ao centro cirúrgico encontra-se a

sala de esterilização dos materiais (Figura 13). Externamente a clínica, há uma área

de recreação cercada, onde alguns animais são soltos em determinadas horas do

dia para fazer suas necessidades e também para melhor comodidade dos

13

proprietários com seu animal no horário de visitas, que é realizado todos os dias das

16h00min ás 19h00min (Figura 14).

Figura 1 - Fachada e entrada da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 2 - Recepção da Clínica Veterinária SAVE.

14

Figura 3 - Consultórios da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 4 - Sala de Emergência da Clínica Veterinária SAVE.

15

Figura 5 - Internamento para cães de grande porte da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 6 - Internamento para cães de pequeno e médio porte da Clínica Veterinária SAVE.

16

Figura 7- Berço para animais debilitados e para filhotes da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 8 - Internamento para gatos e portadores de doenças infectocontagiosas da Clínica Veterinária SAVE.

17

Figura 9 - Unidade de Terapia Intensiva da Clínica Veterinária SAVE.

Fonte: Antunes, 2015

Figura 10 - Sala para procedimentos de exames de imagem e procedimentos odontológicos da Clínica Veterinária SAVE.

18

Figura 11 - Centro Cirúrgico da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 12 - Sala dos plantonistas e cozinha da Clínica Veterinária SAVE.

19

Figura 13 - Sala de Esterilização de Materiais da Clínica Veterinária SAVE.

Figura 14 - Área de recreação para os animais da Clínica Veterinária SAVE.

20

3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades realizadas na Clínica Veterinária SAVE incluíram o

acompanhamento de consultas, realização de anamnese, exame físico, realização

de acessos venosos, retirada de pontos, contenção e acompanhamento de

pacientes em exames de imagem, coleta de sangue e preenchimento de requisições

para os laboratórios, confecção de receitas, reposição de materiais no internamento,

medicação e aferição de parâmetros a cada duas horas nos animais internados,

além de alimentação e passeio para os mesmos.

Também foi possível auxiliar na preparação dos pacientes cirúrgicos com a

realização da tricotomia, venóclises, preparação e aplicação de medicação pré-

anestésica, acompanhamento e auxilio nos procedimentos cirúrgicos, cuidados no

pós-operatório, com controle da dor, aferição de todos os parâmetros e

acompanhamento dos pacientes até sua completa recuperação. As abordagens

emergenciais foram acompanhadas em pacientes que apresentaram estado crítico,

como por exemplo, em situações de traumas, atropelamentos, descompensação

hemodinâmica por piometra, brigas, entre outras causas que necessitaram de

tratamento suporte de emergência.

4. CASUÍSTICA

Durante o estágio curricular foram acompanhados 177 atendimentos de cães

e gatos. A maioria dos animais atendidos foram cães (Tabela 1), sendo em sua

maioria fêmeas (58,7%), em contrapartida a maior parte dos felinos atendidos eram

machos (55%). Totalizando 101 atendimentos de fêmeas, de ambas as espécies, e

76 de machos (Tabela 2).

21

Tabela 1 - Número de pacientes atendidos por espécie durante o estágio.

ESPÉCIE QUANTIDADE PERCENTAGEM

Canino 155 87,50%

Felino 22 12,50%

TOTAL 177 100%

Tabela 2 - Relação entre fêmeas e machos de cães e gatos atendidos durante o estágio.

GÊNERO QUANTIDADE PERCENTAGEM

Fêmeas 101 57%

Machos 76 43%

Total 177 100%

O gráfico 1 mostra a quantidade de animais atendidos por área de

especialidade. Em geral a principal queixa dos animais atendidos foi dermatológica

por otites, doenças de pele e alguns casos de feridas por mordeduras. Em segundo

lugar causas gastrointestinais, como gastrite, enterite e pancreatite. Essas foram

diagnosticadas, principalmente em cães, e na maioria dos casos o internamento foi

necessário para a completa recuperação destes pacientes. As doenças infecciosas

também tiveram uma alta incidência nos atendimentos, sendo os cães acometidos

principalmente pelos vírus da cinomose e parvovirose e os gatos, por FIV, Felv e

PIF. Assim como as doenças virais a obstrução por cálculos uretrais e doença renal

foram condições comumente observadas nos felinos machos durante o estágio.

Dentre os procedimentos cirúrgicos a ovariosalpingohisterectomia (OSH) foi a

cirurgia mais realizada, principalmente de forma eletiva, e, em outros casos como

parte do tratamento de piometra. Seguida de uma porcentagem um pouco menor de

orquiectomia e outros procedimentos como cesarena, osteossíntese e uretrostomia.

Além desses procedimentos foi possível acompanhar outros como mastectomia,

enucleação, nodulectomia, colocefalectomia, cistotomia, artrotomia, enxerto

oftálmico, hepatectomia, enterotomia e dois procedimentos endoscópicos (Tabela 3).

22

Gráfico 1 - Número de casos atendidos na SAVE por especialidade durante o período de estágio.

Tabela 3 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados na SAVE durante o estágio.

PROCEDIMENTO CIRÚRGICO QUANTIDADE PERCENTAGEM

OSH 11 27%

Orquiectomia 5 12,1%

Uretrostomia 3 7,3%

Cesareana 3 7,3%

Osteossíntese 3 7,3%

Mastectomia 2 4,9%

Enucleação 2 4,9%

Nodulectomia 2 4,9%

Endoscopia 2 4,9%

Colocefalectomia 2 4,9%

Cistotomia 2 4,9%

Artrotomia 1 2,4%

Enxerto oftálmico 1 2,4%

Hepatectomia 1 2,4%

Enterotomia 1 2,4%

TOTAL 41 100%

01020

30

40

50

NÚMERO DE CASOS ATENDIDOS POR ESPECIALIDADES

N= 177

23

5. RELATO DE CASO: LINFANGIECTASIA INTESTINAL EM CÃO

5.1 RESENHA

Canino, fêmea, SRD, dois anos aproximadamente, 18,5 kg.

5.2 HISTÓRICO E ANAMNESE

Foi encaminhada até a Clínica Veterinária SAVE, uma canina SRD

aproximadamente dois anos, com histórico de ter sido resgatada da rua há seis

meses. A tutora relatou que o animal estava normal até dois meses antes do

primeiro atendimento que ocorreu em Guaratuba, localidade onde reside. O animal

estava apresentando quadros diários de diarreia e aumento de volume abdominal.

Segundo a tutora, a veterinária instituiu um tratamento para gastroenterite, após ter

realizado uma ultrassonografia abdominal que indicou haver inflamação das alças

intestinais e líquido livre abdominal, porém esta não soube detalhar sobre o

tratamento prescrito. Como não houve melhora do caso após quase um mês de

tratamento, a veterinária responsável pelo caso encaminhou a paciente até a clínica

veterinária SAVE para realizar uma colonoscopia, visto que em Guaratuba este

exame não é realizado por falta de profissional que o faça.

5.3 EXAME FÍSICO

No exame físico a paciente estava com os parâmetros normais: mucosas

normocoradas, tempo de preenchimento capilar de dois segundos, linfonodos sem

alterações de tamanho, frequência cardíaca (120bpm) e frequência respiratória

(28mpm). A ausculta cardiopulmonar não apresentou alterações e a temperatura

retal era de 38,5ºC. Durante a palpação abdominal o animal apresentou desconforto

e distensão, percussão maciça, sem estruturas firmes.

24

5.4 EXAMES COMPLEMENTARES

No dia da consulta foi realizada a coleta de sangue para realizar exames

complementares (Tabela 4), ultrassonografia abdominal (Figura 15, 16, 17, 18 e 19),

urinálise e relação proteína creatina urinária para descartar síndrome nefrótica.

No exame de sangue as alterações foram hipoalbuminemia, hipoproteinemia,

linfopenia e um aumento discreto da ALT. Na ultrassonografia havia grande

quantidade de líquido livre abdominal, gastrite, enterite sem sinais de obstrução,

fígado com hepatopatia e colecistite, vesícula urinária normal e rins normais. Os

exames de urinálise e de relação proteína creatinina urinária estavam normais,

descartando síndrome nefrótica. Devido às alterações nos outros exames foi

solicitado o internamento da paciente para estabilização e posteriormente realizar o

procedimento de endoscopia. A terapia instituída foi de ranitidina 1mg/kg SC, duas

vezes ao dia, metronidazol 15mg/kg EV, duas vezes ao dia, dipirona 25mg/kg EV,

três vezes ao dia, escopolamina 0,05/ml por animal EV, três vezes ao dia e

suplementação com 30 gramas de albumina em pó humana junto com as

alimentações. Como o animal não apresentava dificuldade respiratória optou-se em

não drenar a ascite.

Tabela 4 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos no dia do primeiro atendimento na Clínica Veterinária SAVE.

HEMOGRAMA Resultados Valores de referência

Eritrócitos 6,13 5.5 a 8.5 milhões/ul

Hematócrito 43 37.0 a 55.0%

Hemoglobina 14 12.0 a 18.0 g/dl

VCM 70,1 60.0 a 77.0 fl

C.H.C.M 32,6 30.0 a 36.0%

PTT 3.4 5.5 a 8 g/dl

Leucócitos 12.200 6.000 a 17.000 mil/mm³

Metamielócitos 0 0%

N. Bastonetes 0 0 a 300%

N. Segmentados 10.126 3.000 a 11.500%

Linfócitos 732 1.000 a 4.800%

Monócitos 854 150 a 1.350%

Eosinófilos 488 0 a 1.250%

Basófilos 0 0 a 200%

Plaquetas 376.000 200.000 a 500.000/mm

25

BIOQUÍMICA Resultados Valores de referência

Albumina 1,48 2.3-3.8 g/dL

ALT 144 10.0-88.0 UI/L

Creatinina 1,00 0,5-1,5 mg/dL

Uréia 26,00 10.0-40.0 mg/dL

Fosfatase alcalina 33,00 20.0-150.0 ui/L

Bilirrubina total 0,29 0.10-0.60 mg/dL

Bilirrubina direta 0,13 0.10-0.30 mg/dL

Bilirrubina indireta 0,16 0.00-0.30 g/dL

Fonte: Resultados e valores de referência fornecidos pelo laboratório de patologia clínica – Lab pet Análises Clínicas Veterinária, 2016.

Figura 15 - Imagem ultrassonográfica com espessamento de alças intestinais (seta), sugerindo enterite.

Fonte: Barreto, 2016

26

Figura 16 - Imagem ultrassonográfica do estômago, com espessamento de mucosa, indicando gastrite (**).

Fonte: Barreto, 2016

Figura 17 - Imagem ultrassonográfica com fígado com aumento de ecogenicidade sugerindo hepatopatia (seta).

Fonte: Barreto, 2016

27

Figura 18 - Imagem ultrassonográfica da vesícula biliar com parede espessa e hiperecóica sugerindo colecistite (seta).

Fonte: Barreto, 2016

Figura 19 - Imagem ultrassonográfica com líquido livre abdominal (seta).

Fonte: Barreto, 2016

28

Após 48 horas do início do tratamento o hemograma e a albumina foram

repetidos e as alterações de hipoproteinemia e hipoalbuminemia persistiam (Tabela

5), o que impossibilitou o procedimento de endoscopia devido ao risco anestésico.

Com base no histórico, nos exames e na evolução do caso a suspeita inicial foi de

doença inflamatória intestinal ou linfangiectasia intestinal, por este motivo instituiu-se

no tratamento durante o internamento a prednisolona 20mg, VO, BID, e novamente

após 72 horas repetiu-se o hemograma, albumina e foi solicitado à dosagem do

colesterol, como um diferencial das doenças, visto que animais com linfangiectasia

intestinal apresentam, além de outras alterações, hipocolesterolemia, a qual foi

confirmada no exame de dosagem do colesterol. Além disso, foi constatado um

quadro inicial de anemia normocítica normocrômica e persistência da

hipoalbuminenia e hipoproeinemia, achados estes comum nesta doença devido a

perda proteica entérica (Tabela 6).

Embora os resultados dos exames indicassem que poderia ser um caso de

linfangiectasia intestinal, a endoscopia era necessária para confirmar o diagnóstico,

no entanto, devido à hipoalbuminemia persistente, o procedimento não pode ser

realizado, visto que o impedimento inicial persistia. Por restrição de custos a

proprietária optou em cessar o tratamento em internamento e levar a paciente

embora com receita de suplementação de 30 gramas de albumina em pó humana,

prednisolona 20mg VO, BID e omeprazol 1mg/kg VO, SID e após 15 dias retornar

para repetir os exames e se fosse possível realizar o procedimento. Em seu retorno,

os exames mantiveram a anemia, porém normocrômica macrocítica, além de

linfopenia, neutrofilia, hipoproteinemia, hipoalbuminemia, azotemia e ALT

aumentada (Tabela 7). Como a paciente não estava evoluindo de forma positiva

optou-se em fazer o procedimento de endoscopia mesmo com o risco da anestesia,

devido à hipoalbuminemia que poderia alterar a distribuição do anestésico durante o

procedimento.

29

Tabela 5 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos após 48 horas de internamento.

HEMOGRAMA Resultados Valores de referência

Eritrócitos 5.98 5.5 a 8.5 milhões/ul Hematócrito 41 37.0 a 55.0% Hemoglobina 13,5 12.0 a 18.0 g/dl VCM 68.6 60.0 a 77.0 fl C.H.C.M 32,9 30.0 a 36.0% PTT 3.0 5.5 a 8 g/dl Leucócitos 9.400 6.000 a 17.000 mil/mm³

Mielócitos 0 0% Metamielócitos 0 0% N. Bastonetes 0 0 a 300% N. Segmentados 6.486 3.000 a 11.500% Linfócitos 1.786 1.000 a 4.800% Monócitos 470 150 a 1.350% Eosinófilos 658 0 a 1.250% Basófilos 0 0 a 200% Plaquetas 452.000 200.000 a 500.000 mm

BIOQUÍMICA Resultados Valores de referência

Albumina 1.32 2.3-3.8 g/dL

Fonte: Resultados e valores de referência fornecidos pelo laboratório de patologia clínica – Lab pet Análises Clínica Veterinária, 2016.

Tabela 6 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 72 horas após o internamento.

HEMOGRAMA Resultados Valores de referência

Eritrócitos 5.27 5.5 a 8.5 milhões/ul

Hematócrito 33 37.0 a 55.0% Hemoglobina 12.3 12.0 a 18.0 g/dl VCM 62.6 60.0 a 77.0 fl C.H.C.M 37.3 30.0 a 36.0% PTT 4.6 5.5 a 8 g/dl Leucócitos 9.900 6.000 a 17.000 mil/mm³ Mielócitos 0 0% Metamielócitos 0 0% N. Bastonetes 0 0 a 300% N. Segmentados 6.138 3.000 a 11.500% Linfócitos 1.683 1.000 a 4.800% Monócitos 891 150 a 1.350% Eosinófilos 1.188 0 a 1.250% Basófilos 0 0 a 200% Plaquetas 292.000 200.000 a 500.000 mm

BIOQUÍMICA Resultados Valores de referência

Albumina 1.61 2.3-3.8 g/dL Colesterol 63.00 125.0 a 270.0 mg/dL

Fonte: Resultados e valores de referência fornecidos pelo laboratório de patologia clínica – Lab pet Análises Clínicas Veterinária, 2016.

30

Tabela 7 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 15 dias após o último exame realizado na Clínica Veterinária SAVE.

HEMOGRAMA Resultados Valores de referência

Eritrócitos 3.87 5.5 a 8.5 milhões/ul

Hematócrito 30 37.0 a 55.0%

Hemoglobina 9,4 12.0 a 18.0 g/dl

VCM 77.5 60.0 a 77.0 fl

C.H.C.M 31,3 30.0 a 36.0%

PTT 4,2 5.5 a 8 g/dl

Leucócitos 16.800 6.000 a 17.000 mil/mm³

Mielócitos 0 0%

Metamielócitos 0 0%

N. Bastonetes 0 0 a 300%

N. Segmentados 15.624 3.000 a 11.500%

Linfócitos 336 1.000 a 4.800%

Monócitos 840 150 a 1.350%

Eosinófilos 0 0 a 1.250%

Basófilos 0 0 a 200%

Plaquetas 504.000 200.000 a 500.000 mm

BIOQUÍMICA Resultados Valores de referência

Albumina 1.82 2.3-3.8 g/dL

ALT 375 10.0-88.0 UI/L

Creatinina 0.70 0,5-1,5 mg/dL

Uréia 71 10.0-40.0 mg/dL

Fosfatase alcalina 96.00 20.0-150.0 ui/L

Bilirrubina total 0.57 0.10-0.60 mg/dL

Bilirrubina direta 0.22 0.10-0.30 mg/dL

Bilirrubina indireta 0.30 0.00-0.30 mg/dL

Fonte: Resultados e valores de referência fornecidos pelo laboratório de patologia clínica – Lab pet Análises Clínicas Veterinária, 2016.

5.5 RESULTADO DO EXAME ENDOSCÓPICO E HISTOPATOLÓGICO

No exame endoscópico a região perianal estava preservada, havia edema na

mucosa do reto com folículos linfoides bem visíveis. O cólon estava com pequena

quantidade de conteúdo fecal pastoso e toda a mucosa com edema e hiperemia

leve. A mucosa do íleo e a válvula íleo cólica apresentava edema, a coloração da

mucosa era esbranquiçada com dilatação de vasos linfáticos. Não foi possível

avaliar a mucosa do ceco porque o óstio fecal estava fechado impossibilitando a

31

avaliação de mucosa (Figura 20, 21, 22, 23). A conclusão do laudo foi de inflamação

moderada de íleo e colite leve, possível linfangiectasia. Os fragmentos retirados

foram encaminhados para o exame histopatológico, o qual confirmou a

linfangiectasia intestinal. Após 48 horas da realização do exame endoscópico foram

repetido os exames para avaliar o estado geral do animal e dar alta para que ela

continuasse o tratamento em Guaratuba com a veterinária responsável pelo caso.

Nos exames houve melhora do hematrócrito, embora ainda tivesse uma anemia

macrocítica nomocrômica, a hipoproteinemia e a hipoalbuminemia se mantiveram,

sendo esperadas como consequência da doença (Tabela 8).

Figura 20 - Imagem endoscópica da válvula íleo cólica com edema e dilatação de

vasos linfáticos (seta).

Fonte: Benvenho, 2016.

Figura 21 - Imagem endoscópica do cólon, mucosa com edema e hiperemia leve. 16A cólon transverso, 16B cólon descendente, 16C cólon descendente.

Fonte: Benvenho, 2016.

32

Figura 22 - Imagem endoscópica do íleo com edema e dilatação de vasos linfáticos.

Fonte: Benvenho, 2016.

Figura 23 - Imagem endoscópica do reto com edema e vasos linfáticos evidentes (setas).

Fonte: Benvenho, 2016

33

Tabela 8 - Resultados dos valores de hemograma e bioquímicos 48 horas após o procedimento de endoscopia.

HEMOGRAMA Resultados Valores de referência

Eritrócitos 3.94 5.5 a 8.5 milhões/ul

Hematócrito 34 37.0 a 55.0%

Hemoglobina 10.2 12.0 a 18.0 g/dl

VCM 81,2 60.0 a 77.0 fl

C.H.C.M 31,9 30.0 a 36.0%

PTT 3.6 5.5 a 8 g/dl

Leucócitos 10.300 6.000 a 17.000 mil/mm³

Mielócitos 0 0%

Metamielócitos 0 0%

N. Bastonetes 0 0 a 300%

N. Segmentados 7.828 3.000 a 11.500%

Linfócitos 1.648 1.000 a 4.800%

Monócitos 824 150 a 1.350%

Eosinófilos 0 0 a 1.250%

Basófilos 0 0 a 200%

Plaquetas 532.000 200.000 a 500.000 mm

BIOQUÍMICA Resultados Valores de referência

Albumina 1.58 2.3-3.8 g/dL

Fonte: Resultados e valores de referência fornecidos pelo laboratório de patologia clínica – Lab pet

Análises Clínicas Especialidades Veterinária, 2016.

5.6 TRATAMENTO

A paciente recebeu alta após 48 horas do procedimento de endoscopia para

que continuasse o tratamento em Guaratuba. O tratamento prescrito primeiramente

foi com base no laudo da endoscopia, o qual foi sugestivo de linfangiectasia

intestinal, visto que neste momento ainda não se tinha o resultado do

histopatológico, ficando a critério da veterinária responsável por ela mudar

posteriormente o tratamento ou não.

O protocolo terapêutico prescrito foi de: exclusão total de gordura na dieta,

proteína de alto valor biológico, preferencialmente peixe, suplementação com 30

gramas de albumina em pó humana junto com as refeições, metronidazol 25mg/kg

VO, duas vezes ao dia durante sete dias, prednisona 20mg nas seguintes

recomendações: um comprimido e meio a cada 12 horas durante 30 dias. Após os

30 dias um comprimido a cada 12 horas por sete dias, após meio comprimido a cada

34

12 horas em dias alternados por sete dias e após dar meio comprimido a cada 12

horas dois dias na semana, após suspender e realizar acompanhamento semanal

dos exames de sangue. Segundo a tutora um mês após o início do tratamento a

paciente está evoluindo bem, tendo raros episódios de diarreia, porém a mesma não

há levou para repetir os exames de sangue.

6. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

6.1 DIARREIAS CRÔNICAS

Na rotina clínica veterinária os distúrbios gastrointestinais são uma ocorrência

comum, sendo que os cães são mais afetados que os gatos. Os sinais clínicos

podem se manifestar de forma aguda ou crônica, sendo a manifestação crônica

difícil de ser tratada devido ao difícil diagnóstico definitivo (FIGUEIREDO, 2013). O

levantamento do histórico clínico e uma anamnese detalhada são importantes para

um diagnóstico presuntivo. Embora o diagnóstico de distúrbios gastrointestinais

crônicos seja feito principalmente com base em exames laboratoriais e exames de

imagem e/ou endoscópios (SIMPSON & JERGENS, 2011).

Muitas vezes o diagnóstico e o tratamento da diarreia crônica, demandam

dedicação de tempo e recursos financeiros. Parte dessa complexidade ocorre

porque as causas são inúmeras e incluem doenças parasitárias, inflamatórias,

hipersensibilidade alimentar, intolerância alimentar e neoplasias (NETO, et al.,

2015).

A diarreia é considerada crônica quando cursa por mais de 3 semanas, e o

primeiro passo a se fazer é definir se a diarreia é de intestino delgado ou grosso com

base no histórico e observação da diarreia. Cães com diarreia de intestino delgado

geralmente apresentam diarreia pastosa a aquosa. A coloração varia de marron-

escura a amarelada. Cães com diarreia de intestino grosso podem ter episódios

mais diários, que com o passar do tempo vão se tornando mais frequentes, além de

tenesmo, disquezia, fezes com muco e urgência para defecar. A maior parte deles

não perde peso, porque toda absorção e digestão já ocorreram no intestino delgado

(NETO, et al., 2015).

A diarreia intensa com perdas proteicas ocorre em qualquer doença intestinal

com inflamação, infiltração, congestão ou sangramentos significativo. O linfoma

35

alimentar parece ser a causa mais comum em cães adultos, enquanto

ancilostomídeos e intussuscepção crônica são as causas mais comuns em cães

jovens (NELSON & COUTO, 2015).

6.2 DIARREIAS DE INTESTINO DELGADO

Podem ser classificadas em doenças de má digestão (ou doenças

intraluminais) e má absorção (ou doenças de mucosa intestinal). O acometimento da

drenagem linfática intestinal ou linfangiectasia é classificado como um distúrbio

‘’pós-mucosa’’ devido a sua localização (submucosa). Nas doenças com distúrbios

intraluminais (má digestão) estão o parasitismo, insuficiência pancreática exócrina e

supercrescimento bacteriano intestinal. Nos distúrbios da mucosa intestinal (má

absorção) estão a síndrome do intestino curto, hipersensibilidade alimentar, doença

inflamatória intestinal, linfoma intestinal ou outras neoplasias. E nos distúrbios ‘’pós-

mucosa’’ esta a linfangiectasia (congênita, adquirida ou idiopática) (NETO, et al.,

2015).

Para animais com diarreia crônica a abordagem inicial baseia-se em exames

laboratoriais de rotina: hemograma, bioquímica sérica, incluindo dosagem de

proteínas totais, albumina, triglicerídeos, colesterol e exame de urina. A

ultrassonografia ajuda no planejamento diagnóstico. A perda de estratificação

normal das camadas intestinais e a linfadenopatia (linfonodos dos mesentéricos

aumentados e hipoecoicos) são sugestivas de doença mais grave. Lesões focais

também podem sugerir que a laparatomia seja o melhor método de biopsia.

Entretanto a ausência de alterações na ultrassonografia não elimina a possibilidade

de doença intestinal, não existindo alterações ultrasonográficas patognomônicas de

algum tipo particular de doença inflamatória intestinal ou infiltrativa (NELSON &

COUTO, 2015).

6.3 LINFANGIECTASIA INTESTINAL

Dentre os distúrbios intestinais crônicos a linfangiectasia intestinal (LI) é uma

síndrome heterogênea, caracterizada pela drenagem ineficaz da rede linfática

intestinal, o que leva a perda e má absorção de proteínas em caninos

(BEHEREGARAY et al., 2008). A alteração morfológica mais significativa é a

dilatação e ruptura dos vasos linfáticos intestinais, causando perda entérica de

componentes importantes para a homeostase do organismo. (POZZAN, et al., 2013).

36

Tal dilatação pode ter origem primária ou secundária. Quando a origem é primária

ocorre uma malformação congênita que promove a diminuição do número de vasos

linfáticos funcionais, sendo essa a forma por causas não obstrutivas. As de origem

secundárias resultam em alterações na arquitetura da mucosa e submucosa do

intestino causando congestão ou obstrução dos vasos linfáticos (CALDA &

SOIBELMAN, 2013). Os mecanismos mais comuns incluem o aumento da pressão

linfática causada por doença inflamatória do intestino, doença infiltrativa de linfonodo

mesentérico, doença infiltrativa do intestino, linfoma, neoplasias, obstrução dos

vasos linfáticos por lipogranulomas e aumento da pressão venosa no nível do ducto

torácico atribuível a uma falha do lado direito do coração, pericardite ou derrame

pericárdico (OKANISKI, et al., 2014).

Essa obstrução aumenta a pressão linfática gerando uma dilatação,

aumentando a fragilidade e ocasionando a ruptura desses vasos linfáticos (CALDA &

SOIBELMAN, 2013). Porém na maioria dos casos sintomáticos a causa é idiopática

e sua etiologia é desconhecida (NELSON & COUTO, 2015). Cães com

hipoproteinemia grave, hipocolesterolemia e linfopenia são suspeitos de

linfangiectasia. (NETO, et al., 2015). Achados que associados ao exame

histopatológico podem confirmar o diagnóstico (POZZAN, et al., 2013).

A obstrução do fluxo linfático causa perda de linfa para o lúmen intestinal, que

contém proteínas plasmáticas, linfócitos, lipídeos e vitaminas lipossolúveis, daí as

alterações hematológicas características. Os pacientes podem ter lesões

generalizadas em todo o intestino ou apenas em uma parte como jejuno ou apenas

íleo (CALDA & SOIBELMAN, 2013).

A linfangite lipogranulomatosa (LL) é uma inflamação dos tecidos

circundantes aos vasos linfáticos, que pode acompanhar a LI e ocorre devido à

ruptura dos vasos linfáticos na parede intestinal, o que induz a formação de

lipogranulomas, podendo exacerbar a obstrução linfática. Os lipogranulomas são

ricos em macrófagos contendo lipídios localizados na luz dos vasos linfáticos da

mucosa, muscular, subserosa e mesentério e correspondem à intensa reação

granulomatosa frente ao vazamento de material saponificado proveniente de vasos

linfáticos sobrecarregados de quilo que se romperam (BARROS, 2004). Esses cães

podem ter hipercoagulabilidade, desta maneira o tromboemboismo pulmonar ocorre

ocasionalmente (NELSON & COUTO, 2015).

37

Os lipogranulomas normalmente aparecem como discretos nódulos de 5-10

mm ao longo da serosa. Os nódulos são compostos predominantemente de

macrófagos epitelióides e células gigantes multinucleadas com lipídios e colesterol

fagocitados. A lesão pode estar na forma intestinal disseminada, ou apenas em um

ponto focal (WATSON, et al., 2014). Uma alteração histológica também

frequentemente encontrada na LI e em outras doenças inflamatórias intestinais é a

enterite linfoplasmocitica. (GIACOMO, et al., 2015).

Clinicamente, os animais afetados apresentam diarreia precoce ou tardia no

curso da doença, com fezes semi-sólidas ou aquosas, amareladas ou

sanguinolentas, além de esteatorréia e flatulência. Vômitos esporádicos,

emagrecimento progressivo, letargia, anorexia e intolerância ao exercício também

são observados (BARROS, et al., 2004).

Os animais podem apresentar ainda como primeiro sinal ascite em

decorrência da diminuição da pressão oncótica do plasma, edema do tecido

subcutâneo afetando as porções ventrais do corpo e extremidades dos membros

(edema de declive), dificuldade respiratória e tosse. A doença é usualmente

insidiosa e o curso clínico varia de semanas a meses (NELSON & COUTO, 2015).

Esses pacientes podem ter perda de peso, decorrente da diarreia. Neste caso

a realização de exame de urina para a detecção de proteinúria é importante para

descartar síndrome nefrótica, outra causa de hipoproteinemia marcante. Cães com

síndrome nefrótica, em contraste com aqueles com linfangiectasia, apresentam

hipercolesterolemia. Acredita-se que animais com hipoalbuminenia marcante tenham

produção exagerada de lipoproteínas pelo fígado (NETO, et, al., 2015).

As alterações laboratoriais descritas para essa síndrome incluem

hipoproteinemia, hipoglobulinemia, linfopenia, hipocolesterolemia e hipocalcemia

que provavelmente é decorrente da má absorção de vitamina D (NETO, et al.,

2015). A linfopenia é um achado hematológico que distingue a LI das demais

enteropatias associadas à perda protéica em cães (BARROS, et al., 2004). Os

exames laboratoriais juntamente com o exame histopatológico, confirmam o

diagnóstico (POZZAN, et al., 2013).

38

6.4 RAÇAS PREDISPONENTES

O Yorkshire Terrier parece ser a raça mais comumente acometida pela

linfangiectasia intestinal. Cães da raça Soft-coated Wheaton terriers têm forma

hereditária de linfangiectasia. A doença acomete mais comumente fêmeas de meia

idade e estima-se que cerca de 10 a 15% dos cães da raça sejam afetados. As

alterações anatomopatológicas características são inflamação, linfangiectasia e

linfangite granulomatosa. Outras raças frequentemente afetadas são aquelas com

maior predisposição á doença inflamatória intestinal, como Shar-pei e Rottweilers.

Nesses animais, a linfangiectasia pode ser consequência da doença inflamatória

intestinal grave (NETO, et al., 2015). Há também relatos em cães das raças

Labrador, Cocker, Husky Siberiano, Pastor Alemão e Basenjii (LARSON et al.,

2012).

6.5 DIAGNÓSTICO

Os exames de patologia clínica não são diagnósticos, mas a hipoalbuminemia

e hipocolesterolemia são alterações esperadas (COUTO & NELSON, 2015).

O diagnóstico definitivo é feito somente com a análise histopatológica de

biópsia intestinal podendo ser obtida através de laparotomia, endoscopia ou

necropsia. A endoscopia era considerada como um exame complementar aos

métodos diagnósticos; hoje em dia, entretanto, é provável que ela seja a ferramenta

mais importante disponível para avaliação de doenças do estômago e intestino

(LORENZI et al, 2011). Alimentar os animais com gordura na noite anterior à

endoscopia parece tornar as lesões mais óbvias no momento do exame. Esta

técnica também é usada na medicina (COUTO & NELSON, 2015).

As vantagens da amostra colhidas através da endoscopia incluem o fato de

ser um método não invasivo e também a possibilidade de documentação fotográfica,

avaliação citológica e coleta de fluídos para avaliação laboratorial (CALDA &

SOIBELMAN, 2013). A principal desvantagem dessa técnica está na necessidade de

anestesia geral (LORENZI et al., 2011).

É importante ressaltar que a não observação de vasos quilíferos dilatados não

diminui a chance de o diagnóstico ser linfangiectasia, pois a doença pode estar

confinada a um fragmento do intestino não examinado pelo endoscópio. Amostras

teciduais de alta qualidade são fundamentais para o diagnostico correto. Submeter

39

fragmentos de mucosa distorcidos, mal orientados ou vilosidades desfiadas torna

difícil ou até impossível o diagnostico, portanto as biopsias cirúrgicas são algumas

vezes necessárias (COUTO & NELSON, 2015).

Macroscopicamente, as lesões duodenais típicas de linfangiectasia são os

pequenos pontos brancos na mucosa intestinal, também descrito como flocos de

neve, esse efeito ocorre devido à dilatação dos vasos linfáticos das vilosidades

(vasos lactíferos ou dilatação láctea). Microscopicamente os vasos linfáticos

intestinais estão acentuadamente dilatados, podendo ou não haver aumento na

população de células linfoplasmocitárias da mucosa caracterizando uma enterite

linfocíticaplasmocitária (NETO, et, al., 2015).

Na necropsia, a mucosa intestinal apresenta as vilosidades brancas e

proeminentes. Pequenos nódulos brancos, semelhantes a sabão, irregulares ou

redondos, de 1mm a 1cm de diâmetro, são encontrados na serosa do intestino

delgado, principalmente na sua inserção com o mesentério, afetando em especial o

jejuno. Há também dilatação dos vasos linfáticos da serosa e mesentério associado.

Histologicamente, há marcada ectasia dos vasos quilíferos das vilosidades e dos

linfáticos da submucosa, muscular e subserosa intestinal (BARROS, 2004).

Figura 24 - Imagem endoscópica da mucosa do duodeno de um cão com linfangiectasia. Os pontos brancos representam a dilatação dos vasos linfáticos.

Fonte: Peterson & Willard, 2003.

40

Figura 25 - Fotomicrografia da mucosa ileal de um Yorkshire Terrier com linfangiectasia. A dilatação dos vasos é evidenciada nas setas.

Fonte: Peterson & Willard, 2003.

6.5 TRATAMENTO

Após realizar o diagnóstico por meio de avaliação de biopsias intestinais o

tratamento deve ser realizado a fim de corrigir causa de base da doença quando

existir (NETO et al., 2015). Em casos onde a causa não é identificada, ou seja,

primária ou idiopática o tratamento tem como objetivo a redução da perda entérica

de proteína plasmática, redução da inflamação intestinal ou linfática associada ao

controle da efusão ou edema. A dieta com baixo teor de gordura reduz a absorção

da mesma, e por consequência diminui a produção de quilo e a dilatação de vasos

linfáticos levando a diminuição da efusão (BEHEREGARAY et al., 2008).

Cães que desenvolveram linfangiectasia intestinal juntamente com doença

inflamatória do intestino devem ser tratados com ração hipoalergênica e com uma

fonte de proteína de alto valor biológico, preferencialmente uma que o animal nunca

tenha sido exposto e com baixo nível lipídico, como por exemplo, peixe ou peito de

frango. Essa dieta tem como objetivo diminuir o vazamento de proteína e lipídios no

lúmen intestinal, diminuindo a pressão linfática. O uso de rações específicas para

distúrbios gastroentestinais como a Royal Canin Gastro Intestinal Low Fat Canine,

41

Hills Canine Prescription Diet I/D Low Fat têm uma resposta positiva no tratamento

de linfangiectasia em alguns cães (OKANISHI et al., 2014).

Ácidos graxos, como ômega 3, podem ser usados na dose de 1.000mg/10kg,

VO, BID como anti-inflamatório intestinal. Antibióticos como o metronidazol por três

semanas e anti-inflamatório como prednisona e predinisolona podem ser usados na

dose inicial de 2mg/kg, VO, duas vezes ao dia, sendo reduzida á menor dose

possível de controlar os sinais ou sua completa suspensão, outra opção é a

dexametasona 0,2mg/kg, SC, uma vez ao dia. O tratamento suporte também deve

ser instituído no tratamento com hidratação, antiemético, protetor gástrico,

suplementação de cálcio e vitamina D se necessário (CRIVELLENTI &

CRIVELLENTI, 2015). Os animais que desenvolveram em decorrência de

lipogranulomas, sem inflamação concomitante, devem receber apenas dieta restrita

em gordura (NETO et al., 2015).

O uso de famotidina, sucralfato, aspirina em baixas doses, amoxicilina,

vitamina B-12, ciclosporina, suplementação nutricional de vitaminas e minerais, além

de drenagem da ascite em casos de desconforto respiratório podem ser utilizados

em alguns casos de acordo com a escolha do profissional (SIMMERSON, et al.,

2014).

Embora a prednisolona seja a principal terapia utilizada, ela tem efeitos

catabólicos que podem ser prejudiciais em cães, como a indução de leucocitose no

sangue e também pode exacerbar um estado de hipercoagulabilidade, por este

motivo o tratamento suporte e a diminuição na dose utilizada são fundamentais

(OKANISHI, et al., 2014).

Para corrigir a hipoalbuminemia o uso de colóides é usado na veterinária,

porem sua duração e formulação variam muito de animal para animal. As

desvantagens é as possíveis reações alérgicas, dano renal, interferência na

coagulação e custo elevado. O plasma fresco congelado é o mais utilizado na clínica

de pequenos animais e as doses de utilização são diferente para pacientes

normovolêmicos e em crise hipovolêmica (FOSSUM, 2014).

O uso de albumina sérica humana (HSA) também é descrito em cães, porém

uma série de testes de triagem devem ser realizados nos doadores humanos e

também nos receptores antes de utilizá-la. Embora esta seja uma alternativa existem

poucos estudos no Brasil, o que impossibilita o uso em todos os pacientes. Sabe-se

que este tipo de solução é contra indicada em pacientes com anemia, desidratação

42

e doenças cardíacas. Reações antigênicas são comuns em cães sadios e doentes

quando usada mais de uma vez. A albumina sérica humana é indicada em pacientes

com hipovolemia, edema pulmonar, ascite, perda proteica por enteropatias e

nefropatias (FOSSUM, 2014; CALL, 2012).

A albumina canina já é comercialmente disponível fora do Brasil, e em cães

pode ser mais segura do que a HSA, mas é contraindicada em cães com anemia e

desidratação a menos que produtos com hemácias ou terapia com fluido adequada

sejam administrado primeiramente (FOSSUM, 2014).

7. DISCUSSÃO

Segundo Simmerson e colaboladores (2014), a síndrome de linfangiectasia

intestinal acomete mais a raça Yorkshire Terrier, sendo que tremores musculares e

dificuldades de apreensão devido a hipocalcemia e baixa concentração sérica de

vitamina D são alterações comuns nesta enfermidade. Porém no presente relato o

animal não tinha raça definida e não apresentou tais alterações. Sendo que as

principais alterações foram a diarreia, ascite e alterações laboratorias

principalmente a hipoalbuminemia que persistiu em todos os exames, sinas estes,

também descritos na maioria das literaturas. Embora o uso de infusão de albumina

ou colóide seja indicado no caso de hipoalbuminemia causada por doença intestinal

(FOSSUM, 2014), optou-se em não realizar nenhum tipo de infusão de albumina

devido ao risco de reação e ao fato de ser contraindicada em animais anêmicos, que

era o caso.

Cães de qualquer idade podem ser afetados, embora a incidência maior seja

em fêmeas de meia idade (LARSON et al., 2012). Neste caso a idade certa do

animal não era esclarecida, mas se tratava de uma fêmea o que pode evidenciar

que há uma predisposição relacionada ao sexo.

Segundo Oliveira et al., 2014 um achado ultrassonográfico comum em casos

de linfangiectasia é a presença de regiões hiperecogênicas lineares, dispostas

perpendiculares ao lúmen intestinal, no interior da camada mucosa (estriações),

visto que essas imagens possivelmente representam os vasos linfáticos dilatados

(WATSON, et al., 2014). Entretanto esta alteração nem sempre é observada na

43

ultrassonografia, sedo esta uma alteração não patognomônica da doença (FOSSUM,

2014). Na paciente deste relato, não foram observadas estriações na mucosa das

alças intestinais, mas sim outras alterações ultrassonográficas como espessamento

e inflamação da parede gástrica e intestinal e efusão peritoneal, alterações estas

comumente encontradas em casos de linfangiectasia intestinal.

Além das imagens ultrassonográficas o exame endoscópico é extremamente

importante como parte do diagnóstico, sendo com ele possível localizar as lesões e

biopsá-Ias (ROCHA et al., 2010). As amostras obtidas devem ser obrigatoriamente

enviadas para o exame histopatológico, visto que somente o exame endoscópio não

confirma o diagnóstico, apenas sugere a doença (LARSON et al., 2012). Entretanto

a maioria dos casos de linfangiectasia intestinal não é diagnosticado o que leva a

maioria dos animais a óbito por falta de tratamento adequado.

Após o diagnóstico da doença o objetivo do tratamento é compensar a perda

entérica de proteínas, com uma dieta de elevado teor proteico e com menos gordura

na dieta, reduzindo assim o fluxo nos vasos linfáticos. Pode ser necessária à

administração de vitaminas lipossolúveis e suplementos de cálcio em animais com

hipocalcemia. Habitualmente obtêm-se melhores resultados quando a lesão está

limitada em uma única porção, sendo o tratamento cirúrgico indicado quando as

lesões são restritas em pequenas lesões intestinais localizadas (WATSON, et al.,

2014). De forma geral, os corticosteróides diminuem a exsudação que resulta em

perda de proteínas para o lúmen intestinal e melhoram a circulação e absorção nos

enterócitos, reduzindo essas perdas. Os corticosteróides devem sempre ser usados

com cautela, buscando-se a menor dose eficaz e a associação com outros fármacos

que permitam o controle dos sinais clínicos por longos períodos com menor risco ao

paciente (NELSON & COUTO, 2015).

Para a doença inflamatória intestinal é descrito o uso de budesonida, a qual é

um corticosteróide administrado por via oral e fracamente absorvido sistemicamente,

o que pode diminuir as complicações sistêmicas, quando comparado com a

predinisolona, porém existem apenas relatos informais sobre a eficácia deste em

pacientes, sendo necessários estudos adicionais para determinar a eficácia do

tratamento (NELSON & COUTO, 2015).

Okanishi et al (2014), realizaram um estudo com 24 cães com linfangiectasia

intestinal para determinar a eficácia do tratamento com uma dieta com baixo teor de

gordura associado a metronidazol 10mg/kg, duas vezes ao dia durante pelo menos

44

duas semanas. Para alguns cães a alimentação foi realizada em partes iguais de

ração seca e de peito de frango e batata para que não houvesse desequilíbrios

nutricionais de minerais e vitaminas. A ração seca utilizada foi a Royal Canin

Canine Gastro Intestinal Low Fat Canine, Ração Hills Canine Prescription Diet I/D e

Prescription Diet W/D Low Fat. No entanto outros cães foram alimentados apenas

com a dieta caseira considerando que desta forma poderia diminuir o

extravasamento de proteínas e lipídios para o lúmen intestinal devido à diminuição

da pressão linfática. Somente com este tratamento os cães não demonstraram

melhora na concentração de albumina e sinais clínicos, por este motivo a

prednisolona foi instituída no tratamento. A dosagem inicial foi de 1-2mg/kg sendo

diminuída a cada duas a quatro semanas de acordo com a melhora nos sinais

clínicos e aumento da concentração de albumina. Dezenove dos 24 cães

responderam satisfatoriamente ao tratamento dois meses após a restrição de

gordura na dieta e a prednisolona pôde ser retirada ou diminuída a dose até

0,25mg/kg a cada 48 horas. Para os cinco animais restantes foi necessário o

aumento da dosagem de prednisolona por causa da ausência de resposta à

restrição de gordura na dieta. E em dois cães que estavam relutantes em comer a

dieta a dosagem de prednisolona teve que ser aumentada e ciclosporina foi

adicionada ao tratamento.

Existem vários fatores que interferem no sucesso do tratamento, um deles é a

aceitação da dieta pelo o animal e o comprometimento do proprietário em tomar os

cuidados necessários para que o animal não tenha acesso a outros alimentos que

prejudique o tratamento, fato este que pode ter influenciado no estudo de Okanishi

et al (2014).

No caso descrito no presente trabalho o objetivo do tratamento escolhido foi o

mesmo: associar uma dieta com restrição de gordura e alto valor protéico,

juntamente com a prednisolona até chegar a uma dosagem mínima e se possível

retirá-la do tratamento. Como a paciente não retornou para ser avaliada nem foram

repetido os exames não foi possível saber se o tratamento está sendo de fato

adequado.

Embora já saiba que a restrição de gordura na dieta pode permitir reduções

na dosagem de prednisolona (Okaniski, et al., 2014) são necessários mais estudos

com maior tempo de acompanhamento dos animais para avaliar se somente a dieta

45

com restrição de gordura e proteínas de alto valor biológica seriam capazES de

controlar a doença.

O prognóstico desta doença é muito variável dependendo da resposta à

terapêutica e da extensão de intestino afetado. Varia desde a remissão, quando

encontrada e tratada a causa de base ou boa tolerância a dieta, até casos de

esgotamento protéico-calórico severo, derrames cavitários ou diarreias

incontroláveis evoluindo o óbito (NAKASHIMA et al., 2015). No caso relatado não foi

possível determinar o prognóstico da paciente, visto que a tutora não esta fazendo o

acompanhamento adequado, embora a mesma tenha dito que os episódios de

diarreia diminuíram e o animal estava estável até o presente momento (um mês

após o diagnóstico), mesmo assim não é possível determinar a real evolução do

caso sem avaliar clinicamente o animal e sem repetir os exames.

No Brasil os estudos e relatos sobre esta condição são escassos,

desconhece-se a prevalência desta condição nas populações caninas atendidas nos

diversos estabelecimentos veterinários do país (BEHEREGARAY et al., 2008). A

vigilância clínica destes pacientes é muito importante não só para acompanhar o

estado nutricional do paciente, mas também para acompanhamento da evolução da

doença e análise do tratamento, o que proporcionaria um aumento na sobrevida

destes pacientes, visto que essa enteropatia leva a morte se não for tratada e

diagnosticada corretamente (ROCHA et al., 2010).

46

8. CONCLUSÃO

O estágio supervisionado obrigatório é uma ferramenta fundamental para a

completa formação do acadêmico. Sendo neste momento possível desenvolver

senso crítico com base nas avaliações de outros profissionais, bem como tomada de

decisão nas oportunidades confiadas.

No estágio foi possível acompanhar casos clínicos, diagnósticos corretos,

interpretações de exames e indicação de protocolos terapêuticos de sucesso,

segundo uma conduta ética e profissional. Permitindo assim aprimorar os

conhecimentos.

É importante ressaltar que a busca constante pelo conhecimento é um fator

crucial para fechar diagnósticos simples e fora do comum, como é o caso da

linfangiectasia intestinal, a qual é uma enfermidade comum, porém com pouca

literatura no Brasil e pouco relatada devido á falha no diagnóstico da doença, fator

este que leva na maioria dos casos o animal a óbito por falta de tratamento correto.

47

9. REFERÊNCIAS

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