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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Laryssa Zane Cristino OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO SISTEMA JURÍDICO DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Laryssa Zane Cristino

OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO SISTEMA JURÍDICO DE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

CURITIBA

2011

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OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO SISTEMA JURIDICO DE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

CURITIBA

2011

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Laryssa Zane Cristino

OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO SISTEMA JURIDICO DE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Projeto de Monografia apresentado ao curso de Direito

da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador:

Professor Vitório Sorotiuk.

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Laryssa Zane Cristino

OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO SISTEMA JURIDICO DE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Essa monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,12 de setembro de 2011.

__________________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Vitório Sorotuik Instituição e Departamento

Prof. .... Instituição e Departamento

Prof... Insituição e Departamento

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Dedico o presente trabalho de conclusão de

curso à minha família, em especial minha à mãe,

que sempre foi a razão do meu esforço e de minha

dedicação, me apoiando em todos os momentos de

minha vida e me amando incondicionalmente,

transformando-se em inspiração para todas as

minhas lutas e conquistas.

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Agradeço meu professor orientador por ter

tornado possível a apresentação desse estudo, me

auxiliando em tudo que precisei.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................9

1. NOÇÕES PRELIMINARES.......................................................................................12

2. MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO FEDERAL ........... ..................................14

3. OS RESÍDUOS SÓLIDOS E PROBLE.MÁTICA...................................................17

3.1 CLASSIFICAÇÃO..................................................................................................21

3.2 RESÍDUOS PERIGOSOS.......................................................................................23

4. A POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS........ ................................23

4.1 O ESTADO DO PARANÁ.....................................................................................32

5. PRINCIPOS APLICÁVEIS........................................................................................34

5.1 GERAIS..................................................................................................................35

5.1.1 Princípios do direito ao meio ambiente equilibrado.....................................36

5.1.2 Princípio do direito à sadia qualidade de vida..............................................37

5.1.3 A equidade no acesso aos recursos naturais e às futuras gerações...............38

5.1.4 Princípios Usuários-Pagador e Poluidor Pagador.........................................38

5.1.5 Principio da Precaução.................................................................................39

5.1.6 Princípio da Prevenção.................................................................................39

5.1.7 Reparação.....................................................................................................40

5.1.8 Informação...................................................................................................40

6.2 ESPECÍFICOS.....................................................................................................40

6.2.1 Visão Sistemica............................................................................................41

6.2.2 Desenvolimento Sustentável........................................................................41

6.2.3 Ecoeficiência................................................................................................41

6.2.4 Cooperação...................................................................................................42

6.2.5 Responsabilidade compartilhada..................................................................42

6.2.6 Reutilização e reciclagem.............................................................................43

6.2.7 Respeito à diversidades locais e regionais....................................................44

6.2.8 Razoabilidade e proporcionalidade..............................................................44

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7. PADRÕES DE QUALIDADE E BIORREMEDIAÇÃO........... ...............................44

7.1 MODOS ADEQUADOS DE TRATAMENTO DO LIXO......................................45

7.2 ZONEAMENTO, SANEAMENTO BÁSICO E LICENCIAMENTO....................47

7.3 SOLUÇÕES PRÁTICAS.........................................................................................49

7.3.1 Os “Três R’s” ..................................................................................................49

7.3.2 Catação............................................................................................................51

7.3.3 Transformação em energia..............................................................................53

7.3.4 Demais ações ..................................................................................................54

7.4 INSTRUMENTOECONÔMICOS...........................................................................56

8. SANÇÕES PUNITIVAS..............................................................................................57

8.1 RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA.........................59

8.1 Responsabilidade Civil.......................................................................................62

8.2 Responsabilidade Administrativa.......................................................................64

8.3 Responsabilidade Penal......................................................................................65

9. COMPETÊNCIAS.......................................................................................................66

9.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.........................................................................69

9.2 JUDICIÁRIO..........................................................................................................71

10. CONCLUSÃO.............................................................................................................75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................76

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RESUMO

Sabendo que a natureza e suas riquezas definem a extensão substancial do

ambiente físico do homem, este passou a se conscientizar sobre a importância da proteção

do meio ambiente, como instrumento de uma melhoria de condição social.

Os recursos naturais provêm de fatores de produção, dessa forma seu manejo de

maneira consciente deverá ser um dos principais objetivos com vistas a uma política de

qualidade ambiental e bem estar social.

A partir disso, vê-se que as ações humanas muitas vezes extrapolam o ideal de

bem estar social, a exemplo da problemática dos resíduos sólidos, onde seu depósito em

qualquer espaço traz dificuldades e problemas de ordem inimaginável e até mesmo

irremediável.

Desta feita, o Direito Ambiental Brasileiro consagrou uma de suas maiores

inovações, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, com todas as diretrizes

programáticas de destino e manuseio desses resíduos.

O que se espera é uma Política que obedeça a ordem Constitucional, com ênfase

na efetivação dos direitos humanos e sociais, buscando uma sadia qualidade de vida de

forma sustentável, protegendo nosso bem maior: a vida.

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INTRODUÇÃO

A preocupação com a qualidade de vida é algo crescente entre as sociedades. Isso

se dá ante a falta de infra-estrutura das cidades em enfrentar o grande aumento

populacional, aliado a crises culturais e crise nas questões ambientais que acabam por

refletir, diretamente, na desigualdade de renda.

Em resumo, pode-se dizer que a cidade, por desempenhar papel intermediador

entre a sociedade e o espaço (meio onde se vive), é a garantidora e possibilitadora das

condições de sustentabilidade ambiental e urbana.

Assim, abre-se vistas a uma política educacional, geradora de renda através do

emprego, de saúde, transportes e habitação com ênfase ao crescimento econômico

responsável.

O Brasil, por sua vez, trouxe em seu ordenamento a carga ambiental com

destaque em desenvolvimento sustentável somente após 1981, com a edição da Lei

6.938/81– A Política Nacional do Meio Ambiente.

Ainda que após essa data tenham sido regulamentadas outras matérias pertinentes

ao tema, como a Lei 7.347/85, que prevê, processualmente, a ação pública nos crimes

ambientais e, ainda que o país começasse a se envolver em importantíssimas conferências

mundiais protecionistas, a exemplo da Agenda 21, foi somente em 1988 com a

Constituição Federal que escancarou a proteção do meio ambiente como um direito,

admitindo o bem ambiental como comum, de uso coletivo, sem propriedade definida e de

interesse geral a todas as gerações.

Passa-se, portanto, a ir ao encontro da sadia qualidade de vida, através do meio

ambiente equilibrado, ao que se busca e se conquista um ambiente sadio, proporcionando

bem estar e sanidade, livre de doenças, por intermédio da utilização de serviços públicos

básicos como saneamento básico, diminuição de poluição do ar e água potável.

No que diz respeito à poluição mencionada, tema gênero deste trabalho, sabe-se

que “A poluição é toda alteração das propriedades naturais do meio ambiente que seja

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prejudicial à saúde, à segurança ou ao bem-estar da população sujeita aos seus efeitos,

causada por agente de qualquer espécie.” 1

Historicamente, já no início do século XXI, a sociedade se depara com problemas

causados em decorrência da poluição ambiental.

As principais causas da poluição ambiental são atribuídas ao continuo aumento da

poluição e ao vertiginoso desenvolvimento industrial. A população mundial atualmente, já

ultrapassa 6 milhões de pessoas e, esse aumento comparado ao início do século, acarreta

uma produção crescente de alimentos e poluentes: seus resíduos, esgotos, fertilizante,

agrotóxicos, sabões e detergentes.

Neste aspecto, é importante observar que, após a redução ou utilização de

qualquer material sólido (conceituado posteriormente), tanto em nível urbano quanto

industrial ou agrícola, sobram resíduos. Principalmente em se tratando de locais menos

desenvolvidos, esses resíduos são descartados aleatoriamente e são raros os casos em que

o descarte obedece a um tratamento regular, tal como nos países mais avançados.

Os resíduos sólidos, muitas vezes chamados de lixo, são considerados pelos

geradores como algo inútil, indesejável ou descartável e, não raramente, compõem os

restos das atividades humanas. São usualmente classificados quanto à origem,

composição química, presença de umidade e toxicidade.

O problema do acúmulo de lixo iniciou-se quando o homem se fixou em um

determinado local. A preocupação com a eliminação dos resíduos produzidos implicou

sua destinação para locais afastados das aglomerações humanas.

Assim, a remoção do lixo converteu-se num sério problema, devido ao grande

volume por ele ocupado.

De se ver ainda que, anteriormente o rejeito era somente orgânico, não existiam,

além dos materiais que hoje podem ser reciclados e que muitas vezes são jogados sem a

menor preocupação em qualquer local, os materiais como pilhas e outros materiais de

nenhuma ou difícil absorção pela natureza.

1 BONELLI, Cláudia M.C, Eloísa B. Mano e Élen B. A. U. Pacheco. “Meio Ambiente, Poluição e Reciclagem”. Ed. Edgard Bléiches, São Paulo-2005. Pág. 41.

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Em nosso país, somente em 1928 organizou-se o primeiro serviço municipal de

limpeza pública, na cidade do Rio de Janeiro, que era então a capital do país. Antes o

serviço era feito pelos negros e escravos, que transportavam em barricas resíduos

domésticos e dejetos para serem lançados na baía de Guanabara.

Em 1973, com a crise energética mundial, teve várias conseqüências para a

sociedade: o alerta para a necessidade de economia de energia incentivou o

aproveitamento de fontes renováveis e mostrou a importância da reciclagem de resíduos

de processamento e sucatas.2

O lixo sólido urbano apresenta uma grande variedade de componentes. O número

de habitantes, o nível educacional, o poder aquisitivo, as condições climáticas, os hábitos

e os costumes da população são fatores que influenciam diretamente na composição do

lixo municipal.

De se ver que sem o tratamento adequado do lixo, ele acarreta problemas sérios

ao meio ambiente, como por exemplo a poluição do solo, de modo a alterar suas

características físico-químicas, representando ameaça à saúde, vez que torna-se um

ambiente propício ao desenvolvimento e transmissão de doenças, além da aparência

associada ao monte de lixo.

Trazem a poluição da água, através do líquido (chorume) gerado na

decomposição da matéria orgânica do lixo, poluído os lençóis freáticos e chegando à casa

da população, sendo uma ameaça, de igual forma, à saúde pública.

Como se não bastasse, há a formação de gases tóxicos, decorrentes da

decomposição do lixo, causando perigos de explosão, migração de gás e doenças

respiratórias.

Em outro sentido, é de se ver que a manutenção de vida na terra depende da

riqueza e multiplicidade de ambientes, dos seres e de suas interações, em que todos os

organismos colaboram mutuamente para as condições de existir. O ser humano, no

2 MILARÉ, Édis. “Direito Ambiental brasileiro”. Introduz o histórico acerca de como eram tratados os resíduos sólidos no Brasil e no mundo.

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entanto, em um modelo de desenvolvimento que usa e descarta recursos ambientais em

massa, tem exaurido o planeta.

O ambiente saudável é um dos direitos inalienáveis do homem, e o empenho em

proporcionar um ambiente sadio e de penalizar os responsáveis pela violação desse direito

do cidadão, coloca-se de forma inderrogável no campo da decisão política.

Assim, para garantir as condições de existência das futuras gerações, sem deixar

de atender às necessidades atuais, deve haver um compromisso entre os setores industriais

e a sociedade, aliado aos seus representantes, em relação às práticas de produção e de

consumo. Antes do descarte do lixo, deve-se avaliar o seu potencial de redução,

reutilização e reciclagem; o meio ambiente se beneficiará em muito, caso seja seguida a

seqüência citada.

1. NOÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO AMBIENTAL

Para que se possa discutir acerca do meio ambiente, sua proteção, a utilização de

seus recursos e traçar um paralelo entre o meio ambiente e a população, se torna

necessário definir amplamente sua conceituação.

A Lei 6.938/81 torna fácil o entendimento de sua amplitude na medida em que,

em seu artigo 3º, I, delimita o alcance do que seja o meio ambiente:

“Art.3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I. Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”

Observa-se que o conceito utilizado por nosso ordenamento não limita o espaço

ambiental ao Homem, mas sim a todas as espécies de vida.

Em sua obra “Conceitos e unidades em ecologia”, Dussart ensina:

“Trata-se do homem (com seus problemas) ou de qualquer outro animal, ou vegetal; uma espécie viva insere-se em um tecido de coações entre os seres que

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ocupam o meio que os acolhe e este mesmo meio. Deverá submeter-se, portanto, às mesmas exigências, se quiser sobreviver.” 3

Sob esse prisma, criou-se uma disciplina jurídica com o fim de sistematizar e

articular a doutrina, jurisprudência e legislação que integram o meio ambiente.

Na lição de Édis Milaré, Direito Ambiental é:

"O complexo de princípios e normas reguladores das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando a sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações.”4

Importante salientar que, considerando que a disciplina ambiental regula todos os

assuntos concernentes ao meio ambiente, é ela quem vai oferecer as diretrizes para que se

alcance o equilíbrio ecológico por meio de políticas sustentáveis de desenvolvimento.

É indiscutível, nos dias de hoje, que os bens naturais são finitos, portanto o

desenvolvimento sustentável é aquele em que se utiliza dos bens disponíveis sem

comprometer as gerações futuras, atendendo cada qual com suas necessidades sem

esgotar os recursos restantes.

A idéia do desenvolvimento sustentável surgiu da preocupação da sociedade com o

futuro em um planeta onde a temperatura está cada ano mais elevada e a poluição da

atmosfera, em certos pontos, causa problemas de ordem bombástica.

A primeira conferencia das nações unidas para o meio ambiente, realizada em

Estocolmo, Suécia, em 1972 tratou da educação ambiental e das relações entre

desenvolvimento e meio ambiente.

A comissão Brundtland, em 1987, tornou pública a expressão ‘desenvolvimento

sustentável’, definindo-o como:

“Um processo de mudança em que a exploração de recurso, as opções de investimento, a orientação tecnológica e a mudança institucional ocorram em

3 DUSSART. B... “Conceitos e unidades em ecologia”. Enciclopédia de ecologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979. Pág.35. 4 MILARÉ. ÉDIS. “Direito do Ambiente”, pág, 155.

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harmonia e fortaleçam a satisfação das necessidades e aspirações humanas no presente, sem descuidar das gerações futuras.”5

A importância do conhecimento acerca da sustentabilidade ambiental e dos

padrões de desenvolvimento é tamanha que, nas grandes cidades, o desenvolvimento

econômico cego e desenfreado ocasiona somente o consumo crescente de recursos

naturais e energia sem a reposição dos bens necessários à sadia qualidade de vida.

Assim, imprescindível uma estabilização entre o meio ambiente e o crescimento

econômico e social.

Como meio de integração, há a disciplina do Direito Urbano, que auxilia tanto na

aplicação do Direito Ambiental, quanto na efetivação do desenvolvimento sustentável,

pois enquanto aquele sistematiza todo o aspecto ambiental, este regulamenta áreas de

zoneamento, licenciamento, viabiliza o saneamento básico, entre outras coisas.

Desta feita, com a união de todos esses elementos, a proteção ao meio ambiente, a

disciplina jurídica do Direito Ambiental e a disciplina jurídica de Direito Urbano,

cominada à idéia de crescimento econômico responsável, se objetiva em um padrão

jurídico-prático de qualidade ambiental.

2. O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No que se refere ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988, esta

reconhece, em seu artigo 225 o direito conferido a todos, qual seja:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Determina ainda, medidas e providências incumbidas ao Poder Público que

assegurem a efetividade do direito declarado no caput, definidos pelo parágrafo 1º como:

5 Relatório de Brundtland.

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I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico

das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para

instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do

meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V -

controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias

que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;VI - promover a

educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei,

as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de

espécies ou submetam os animais a crueldade.

Além disso, em seus parágrafos 2.º e 3.º, sujeita as pessoas físicas e jurídicas a

reparar o dano causado, adotando a responsabilidade objetiva, isto é, aquela que

independe de obrigação e culpa para a sua responsabilização.

Com isso, pode-se dizer, portanto, que o artigo 225 da Carta Magna é

preservacionista, na medida em que protege e garante a conservação do meio ambiente de

maneira ampla e concreta.

O ilustre doutrinador José Afonso da Silva, acrescenta:

“As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem é que há de orientar todas as formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Compreender que ele é um valor preponderante, que há de estar acima de quaisquer considerações como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as de iniciativa privada. Também estes são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primas sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo quando se discute a tutela

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da qualidade do meio ambiente, que é instrumental no sentido de que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a qualidade da vida humana.”6

Isso significa, que a garantia conferida por esse artigo não abrange tão-somente o

direito ao equilíbrio ambiental, garante, principalmente os demais direitos fundamentais

inerentes ao Ser Humano, o Direito à saúde, a propriedade e à melhores condições sociais

e morais.

Assim, já assevera Álvaro L. Mirra:

“É um direito fundamental da pessoa humana, como forma de preservar a ‘vida e a dignidade das pessoas’ – núcleo essencial dos direitos fundamentais, pois ninguém contesta que o quadro da destruição ambiental no mundo compromete a possibilidade de uma existência digna para a Humanidade e põe em risco a própria vida humana”7

O STF já se pronunciou acerca do tema:

“Meio ambiente – Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225) – Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade – Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade – Necessidade de impedir que a transgressão a esse direito faça irromper, no seio da coletividade, conflitos intergeneracionais – Espaços territoriais especialmente protegidos (CF, art. 225, § 1º, III) – Alteração e supressão do regime jurídico a eles pertinente – Medidas sujeitas ao princípio constitucional da reserva de lei – Supressão de vegetação em área de preservação permanente – Possibilidade de a administração pública, cumpridas as exigências legais, autorizar, licenciar ou permitir obras e/ou atividades nos espaços territoriais protegidos, desde que respeitada, quanto a estes, a integridade dos atributos justificadores do regime de proteção especial – Relações entre economia (CF, art. 3º, II, c/c o art. 170, VI) e ecologia (CF, art. 225) – Colisão de direitos fundamentais – Critérios de superação desse estado de tensão entre valores constitucionais relevantes – Os direitos básicos da pessoa humana e as sucessivas gerações (fases ou dimensões) de direitos (RTJ 164/158, 160-161) – A questão da precedência do direito à preservação do meio ambiente: uma limitação constitucional explícita à atividade econômica (CF, art. 170, VI) – Decisão não referendada – conseqüente indeferimento do pedido de medida cautelar. A preservação da integridade do meio ambiente: expressão constitucional de um direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas.”(ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-9-2005, Plenário, DJ de 3-2-2006).8

6 SILVA; José Afonso. “Curso de Direito Constitucional Positivo“, pág. 709-710. 1990. 7 MIRRA. Álvaro L. V.” Fundamentos do Direito Ambiental no Brasil”.São Paulo, RT, 1994, pág 29. 8 (ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-9-2005, Plenário, DJ de 3-2-2006).

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No que se limita ao resíduos sólidos (tema desse estudo), não é de ser diferente. É

humano e digno ter melhores condições de armazenamento e tratamento desses resíduos,

vez que por diversas ocasiões, os problemas trazidos por esses são deploráveis e trazem à

população estados de miserabilidade de habitação e saúde.

Insta observar, que o artigo em discussão, muito embora tenha aplicação direta e

imediata, necessita de regulamentações adicionais e esparsas na medida em que, por si só,

não atinge todos os efeitos desejados, vez que sua generalidade não delimita modos de

conduta, áreas de concentração, e nem métodos punitivos para quem deixar de observar o

preceito fundamental: a proteção do meio ambiente com a sadia qualidade de vida.

3. OS RESÍDUOS SÓLIDOS E PROBLEMÁTICA

Até a data de 2 de agosto de 2010, poder-se-ia afirmar não existir lei geral e

específica acerca da poluição por resíduos sólidos, se observando apenas resoluções do

CONAMA e demais regras esparsas, sendo que em cada município era possível se

visualizar diferentes condições de armazenamento, manutenção e exterminação desses

resíduos.

Com o fim de dirimir as discórdias e dúvidas sobre a necessidade de manter-se

em um sistema integrado, com o fim de proporcionar de forma igualitária a todos os

brasileiros (e estrangeiros residentes no país) o acesso aos bens referentes ao tema, e

ainda, para transformar o mau uso de um bem economicamente negativo à um positivo,

após 16 anos de análise ao Poder Legislativo, criou-se e sancionou-se uma das maiores

inovações do direito ambiental dos últimos tempos, a Política Nacional dos Resíduos

Sólidos, com conceitos de reutilização, reciclagem e a necessidade de readequação em

prazo legal para atingir os maiores níveis de sustentabilidade ambiental.

Com efeito, tanto a lei federal como a lei estadual definem juridicamente o

resíduo sólido como aquele resíduo, tanto nos estados sólidos, líquido ou gasoso, que não

podem ser lançados na natureza sem tratamento, pois poluem.

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A nova lei, de nº. 12.305/2010 claramente em seu art. 3º, XVI conceitua resíduos

sólidos como todo “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de

atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder

ou se está obrigado a proceder, nos estado sólido ou semissólido, bem como gases

contidos em recipientes e líquidos cujas particulares tornem inviável o seu lançamento na

rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”

Além disso, o ilustre doutrinador Paulo Leme Affonso de Machado já afirma que

“o termo “resíduo sólido”, como entendemos no Brasil, significa lixo, refugo, e outras

descargas de materiais sólidos, incluindo resíduos sólidos de materiais provenientes

industriais, comerciais e agrícolas e de atividades da comunidade (...).”9

A partir dessa premissa pode-se concluir que tudo aquilo que se utiliza como

meio de sustento poderá vir a ser considerado como resíduo sólido, tudo dependendo de

sua forma de uso e o meio pelo qual ele é largado no meio ambiente, devendo atentar-se

sempre às diretrizes necessárias para a conservação do status quo ante, quando não há

dano eminente ou que precise ser reparado, observada a ordem de prioridade de não

geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição

final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Observando o passado, é possível notar visivelmente os problemas causados

pelos resíduos sólidos, problema esse que poderia ser evitado, com a conscientização da

população sobre os riscos que seu mau uso pode trazer.

A exemplo, verifica-se a grande epidemia da Peste Negra (peste bubônica), em

meados do século XIV, onde a grande proliferação do lixo e ausência de saneamento

básico, aliado ao crescimento populacional provocou, através das pulgas de roedores, a

morte de quase um terço da população européia.

Ainda que medidas tenham sido tomadas na época, e que se tenha melhorado o

quadro de propagação de doenças, a poluição por resíduos sólidos continua imensa.

9 MACHADO. Paulo Affonso Leme. “Direito Ambiental brasileiro”, pág. 548. 2006.

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Recentemente, na esfera nacional e de grande notoriedade, tivemos a catástrofe

do morro do Bumba, no Rio de Janeiro. Moradores residiam em um local impróprio, em

um depósito de lixo desativado. Após o grande deslizamento provocado pelas chuvas,

subiam à superfície os gases provindos do lixo orgânico, capazes de provocar, entre

outras enfermidades, problemas respiratórios o que trouxe maior desestabilidade àqueles

que já haviam perdido suas casas e seus entes queridos.

Diariamente se vê desastres causados pelo lixo e, com breve pesquisa nos jornais

de grande circulação nacional, pode-se observar que o problema está longe de ser

solucionado.

Na data de 27 de maio de 2011, em quadro especial intitulado “Caminhos do

Iguaçu”, do jornal “Paraná TV”, da emissora RIC, foi possível notar a notícia de que o

Rio Iguaçu em determinado ponto, está totalmente poluído com objetos, resíduos sólidos,

tais como pneus, armários e demais resíduos que seguem jogados pelo rio, em razão da

falta de conscientização da população para com o meio em que se vive. Biólogos da

Universidade Federal do Paraná informam existir inclusive rede de esgoto direto no rio,

causando mau cheiro e agravando a situação de poluição. Daqui amanhã, tem-se o grande

número de pessoas desabrigadas em razão de enchentes causadas pela má ordenação do

lixo, que torna impossível a escoação de lagos e rios, bem como de esgotos, retornando à

casa daqueles que muitas vezes contribuíram àquela situação deplorável trazido pelas

enchentes no menor risco de tempestade.

Além de problemas que podem levar a má condição de saúde e até a morte,

conforme exemplos já citados, podem-se encontrar problemas sociais e morais trazidos

pelo lixo. O documentário “Lixo Extraordinário”, que concorreu ao Oscar, retrata

fielmente essa amargura de catadores de materiais recicláveis do maior aterro sanitário

carioca, Gramacho.

Nesse sensacional documentário do artista Vik Muniz, observa-se o drama da

vida daqueles que se dedicam a separar o lixo de materiais reutilizáveis e que estão lá por

falta de opção, falta de inclusão social, com péssimas condições de trabalho, esquecidos

pelo Poder Público.

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Não distante, é se verificar o aterro sanitário da Caximba, localizado entre os

municípios de Araucária e Fazenda Rio Grande, no Paraná, que enfrenta grandes desafios

no que diz respeito à sua capacidade, não dando conta da enorme quantidade de lixo

produzida diariamente. Iniciou suas atividades em 1989, com estimativa de vida útil de 11

anos e 5 meses, com área total de 410.000 m², para receber os resíduos de 14 municípios

da Região Metropolitana (Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul,

Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Contenda, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu,

Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Mandirituba, e Quatro Barras). Porém, passados

20 anos, continua em funcionamento, sendo que, de acordo com notícias encontradas no

site oficial do município de Curitiba (em anexo) no ano passado, foram colhidas cerca de

475,3 mil toneladas de resíduos.10 A boa notícia, é que o exame de requisitos e exigências,

tanto no espaço físico, quanto para o jurídico (no processo licitatório) de espaço para a

criação de novo aterro sanitário já iniciou-se, conforme se depreende da seguinte notícia:

“Lixo da Grande Curitiba tem novo endereço: Um caminhão com 25 toneladas de lixo, proveniente de Colombo, uma das 18 cidades ligadas ao Consórcio Intermunicipal do Lixo, deu início na manhã de segunda-feira (1º) às atividades do Centro de Gerenciamento de Resíduos Iguaçu, da empresa Estre Ambiental, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (PR). O centro tem capacidade de receber diariamente 2,4 mil toneladas, mas, até às 16h45 de segunda-feira, já havia recebido 1.033 toneladas. O aterro particular da Essencis Soluções Ambientais (cuja capacidade é de 100 toneladas/dia), na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), também recebe lixo das cidades do consórcio. O centro de gerenciamento da Estre Ambiental está localizado em uma área de 2,6 milhões de metros quadrados, mas apenas 382 mil metros quadrados serão utilizados para a compactação e armazenamento do lixo. O restante do terreno será utilizado como reserva ambiental. De acordo com a empresa, o lixo está sendo depositado em um espaço especialmente preparado para não prejudicar o meio ambiente. (...) Todo o lixo descarregado no local será coberto por 70 centímetros de terra diariamente, evitando assim o mau cheiro. Além disso, já foram implantados os drenos para liberação de gás. O biólogo Dirceu Pierro Junior, diretor comercial coorporativo da Estre Ambiental, explica que, em pelo menos 12 meses, será construída no local uma central de reciclagem de resíduos da construção civil e uma cooperativa de reciclagem.

10 www.curitiba.pr.gov.br

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“Precisaremos desse prazo em razão do funcionamento emergencial do centro. A partir disso, poderemos aplicar os conhecimentos e tecnologias que já existem nos nossos centros de gerenciamento de outras cidades. Sabemos que funciona, por isso utilizaremos em Fazenda Rio Grande também”, ressalta. A Estre Ambiental prevê ainda a instalação de uma Autoclave para tratamento de lixo hospitalar. Segundo Pierro Junior, a empresa está bastante preocupada com os moradores da cidade. “Vemos como um dever e obrigação contratar pessoas da região para trabalhar conosco”, afirma. A Estre Ambiental irá gerar 140 empregos diretos e 300 indiretos com o funcionamento da unidade de Fazenda Rio Grande. Além disso, a Estre Ambiental está asfaltando a Rua Mato Grosso, que liga o centro de gerenciamento à BR-116. “Outro ponto bastante importante é a questão fiscal, pois todo imposto será recolhido para Fazenda Rio Grande”, ressalta. Alívio – Na segunda-feira, moradores do Caximba, bairro que abriga o aterro que recebeu lixo por mais de 20 anos, estavam aliviados com o término do serviço no local. “É uma grande vitória, pois muitos moradores enfrentaram problemas durante anos. Nossa preocupação agora é com o passivo ambiental, uma vez que o lixo vai continuar gerando chorume e gás”, afirma Jadir Silva de Lima, presidente da Aliança para o Desenvolvimento Comunitário da Caximba (Adecom). De acordo com a prefeitura de Curitiba, mesmo desativado, as obras que atendem ao Plano de Encerramento do Aterro do Caximba, que envolvem drenagem, melhoria no sistema de tratamento de chorume e monitoramento geotécnico e ambiental, serão concluídas. A intenção é criar um parque municipal na região.” (Fonte: Paraná Online – publicado em 03/11/2010)11

Porém não se pode contar somente com esse tipo de solução para os problemas

trazidos pelo lixo. A ordem maior trata-se da educação ambiental, que é a única capaz de

reverter toda essa situação desagradável, aliada a programas como a dos “três R’s” e

outras soluções práticas explicitadas em capítulo a seguir.

3.1 CLASSIFICAÇÃO

Não basta ter-se conhecimento acerca apenas da conceituação dos resíduos

sólidos. Para que se possa definir precisamente o destino a que se dará ao lixo, tanto na

excreção quanto na sua transformação é necessário se classificá-lo, vez que o resultado

disso traz ao bom uso e ao bom aproveitamento dos materiais.

11http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/488171/?noticia=LIXO+DA+GRANDE+CURITIBA+TEM+NOVO+ENDERECO

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Nesse aspecto, fácil se torna sua categorização, pois a lei que estabelece a Política

Nacional dos Resíduos Sólidos dispõe especificamente, em seu artigo 13 o que se precisa

saber referente ao assunto:

“Art. 13. Para os efeitos desta lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação: i- Quanto a origem a) Resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas; b) Resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza; c) Resíduos sólidos urbanos: englobados na alínea a e b; d) Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os geradores nessas atividades, excetuadas os referidos nas alíneas b, e, g, h e j; e) Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os geradores nessas atividades, excetuados os referidos na alínea c; f) Resíduos industriais: os geradores nos processos produtivos e instalações industriais; g) Resíduos de serviços de saúde: os gerados no serviço de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgão do Sinama e do SNVS; h) Resíduos da construção civil: os geradores nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis; i) Resíduos agrossilvopastoris; os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades; j) Resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira k) Resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. II – Quanto sua periculosidade a) Resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou técnica. b) Resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea a. Parágrafo único. Respeitado o disposto no art. 20, os resíduos referidos na alínea “d” do inciso I do caput, se caracterizados como não perigosos, podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal. “

Como se pode notar, a maior diferença e significativa referente ao destino do

resíduo trata-se acerca do seu grau de periculosidade, sendo que em nenhuma modalidade,

incluindo-se os orgânicos, devem ser eliminados inconscientemente no meio ambiente.

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3.2 RESÍDUOS PERIGOSOS

No que tange aos resíduos perigosos do inciso II, a, explicitados no artigo 13 da

lei mencionada anteriormente, estes têm tratamento diferenciado e ganham com a nova

legislação um capítulo a parte, na medida em que o risco que decorre de sua utilização

possui caráter altamente lesivo.

Pode-se exemplificar através de pilhas e baterias em razão da existência de

materiais como o chumbo em sua composição, telhas e fibrocimento, por conter amianto,

substância altamente cancerígena, de alto grau de patogenidade, além de amortecedores

de carros, embalagens contaminadas com gás, tintas, colas, dentre outras substâncias.

Para sua operação é necessário que o agente responsável seja licenciado e

comprove capacitação técnica para manuseá-los, diferentemente dos demais resíduos.

Outra novidade trazida pela recente lei, é referente sua fiscalização, que promete

ser eficaz, através de cadastros, relatórios, gerenciamento, entre outros, conforme se

depreende dos artigos 37 a 41 da Lei 12.305/10.

4. A POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A Lei 12.305/10, que instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, tem

como campo de aproveitamento, além do seu objeto, o que dispõe as Leis nº 11.445/07,

9.974/00, 9.966/00, e as normas estabelecidas pelo Sinama (Sistema Nacional do Meio

Ambiente), SNVS (Sistema Nacional de Vigilância Sanitária), Suasa (Sistema Unificado

de Atenção à Sanidade Agropecuária) e Sinmetro (Sistema Nacional de Metrologia,

Normatização e Qualidade Industrial), que auxiliarão na aplicação de suas características.

O objeto primordial desta Lei é a instituição de diretrizes relativas à gestão

integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, (excetuando-se

os radioativos, que possuem lei específica), dispondo sobre os seus princípios, objetivos e

instrumentos, ás responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos

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econômicos aplicáveis, sendo que as pessoas sujeitas a apontadas diretrizes são as de

direito público e privado, físicas ou jurídicas geradoras da poluição causada pela

propagação de resíduos sólidos.

Sua função integra-se com a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se

com a política Nacional da Educação Ambiental, bem como à Política Federal de

Saneamento Básico, buscando a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, e a

não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, com

estímulos de adoção de padrões de sustentabilidade na produção e consumo dos bens de

serviço.

Procurar-se-á através dela a adoção e desenvolvimento de novas tecnologias

limpas, reduzindo-se os impactos ambientais, bem como com a redução do volume e

periculosidade daqueles chamados resíduos perigosos.

De outra sorte, assim como há o incentivo fiscal na proteção da flora com a

redução de impostos, a gestão integrada dos resíduos sólidos, com cooperação técnica e

financeira, conforme disposto em Lei, promoverá incentivos à indústria da reciclagem,

com vistas a fomentar o uso de matéria prima e insumos de materiais recicláveis e

reciclados.

É de se ressaltar, que a gestão universalizará a prestação dos serviços públicos de

limpeza urbana, de modo a garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, sendo

que, neste aspecto, haverá estímulos de processos produtivos de bens de consumo

sustentáveis para reaproveitamento de energia, com estímulos ao sistema de gestão

ambiental e empresarial

De se verificar ainda, que todas as medidas a serem regulamentadas são voltadas

de forma geral e abundante à proteção e desenvolvimento social.

Uma das maiores inovações trazidas pela Lei é seu grande leque de

conceituações, evitando quaisquer dúvidas que venham a surgir referente ao tema.

Como primeiro conceito disposto em lei, vislumbra-se o acordo setorial. Esse ato,

que é firmado por meio contratual entre o poder público e fabricantes, distribuidores e

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comerciantes, tem por finalidade a imputação de responsabilidade compartilhada aos

ciclos de vida do produto.

Isso significa dizer que todos da cadeia responderão, nos moldes da legislação

sancionadora (como se verá a seguir), aos danos caudados ao meio ambiente, mais

especificadamente, com a adequação dos seus produtos e serviços de maneira a minimizar

os impactos ambientais, como por exemplo, com a transformação de embalagens

reutilizáveis.

A importância disso é que nenhuma lesão ou ameaça ao meio ambiente ficará

isenta de punição, de forma que os problemas causados pelos agentes lesionadores tende a

reduzir significativamente.

Em contrapartida, há também a chamada área contaminada, ou seja, a área que já

sofre danos decorrentes da ação e/ou omissão da conduta dos agentes.

Nesse sentido, observa-se que, ainda que a atividade seja regular, quaisquer

substâncias ou resíduos sólidos são capazes de imitir e inutilizar uma área, contaminando-

a e tornando-a imprópria para diversas ou todas as suas atividades.

Quando nessa área, não puder identificar ou individualizar os responsáveis e

agentes causadores, ela será chamada de área órfã contaminada, o que em realidade,

deveria gerar investigações e/ou punições de modo generalizado, haja vista que a intenção

primordial da Lei é a de não deixar de reparar os danos causados.

Os responsáveis e geradores de resíduos sólidos, podem ser aquelas pessoas

físicas ou jurídicas de direito público e ou privado, que geram resíduos sólidos por meio

de suas atividades, ainda que especificadamente apenas para o consumo, sendo que, nos

moldes da nova política, essas atividades devem ser gerenciadas de modo a dar o

tratamento e destinação adequada aos resíduos sólidos, incluídos a reutilização, a

reciclagem, compostagem, recuperação, entre outros métodos admitidos pelo Sinama.

Haverá também a disposição final ambientalmente adequada aos rejeitos, que

segundo o artigo 3º, XV, da Lei 12.305/10 significam:

“Art.3º. Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

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XV – rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada”.

Para tanto, deve haver um acordo com um planejamento municipal ou uma gestão

integrada, através de ações diretas ou indiretas de coleta, transporte e transbordo desses

resíduos.

A coleta seletiva se encontra dentre essas ações e é essencial para que se possa

reciclar e reutilizar a poluição gerada a transformando em um fator positivo, segregando

previamente sua coleta, como se verifica através da separação em categorias do lixo

produzido (conforme se verá em capítulo específico).

De mesmo sentido, encontra-se a Logística Reversa, cuja definição é mais

específica que coleta seletiva, vez que promete reduzir ainda mais o desperdício e o

prejuízo ao meio ambiente. Seu conceito é facilmente encontrado no artigo 3º. XI da lei

em questão:

“XI - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.”

É o que promete efetivar a diminuição de geração de resíduos vez que

transformará toda a cadeia produtiva, trazendo novos índices de reciclagem e reutilização

adequada de materiais não considerados rejeitos.

Notadamente, toda tecnologia disposta a efetivar os novos preceitos legais, visa o

padrão sustentável de produção e consumo, de forma a atender as necessidades e permitir

melhor condição de vida à população, sem comprometer o meio ambiente e sua

qualidade, bem como a garantia no atendimento desses bens às gerações futuras.

Para viabilizar a aplicabilidade e efetivação da nova lei, se utilizarão de planos de

resíduos sólidos e de um sistema declaratório anual de resíduos sólidos.

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A coleta seletiva, assim como a logística reversa, de plano serão implementadas,

através de acordos setoriais, regulamentos expedidos pelo poder Público e termos de

compromisso, para o fim de responsabilizar, compartilhadamente, os usuários (ou

produtores) pelo ciclo de vida dos produtos, porém uma não está vinculada a outra para

sua concretização.

De outra sorte, através do incentivo aos catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis, também se procurará realizar os objetivos da nova política, com a cooperação

técnica e financeira entre os setores públicos e privado para desenvolver pesquisar de

novos produtos, entre outros métodos, para a disposição final ambientalmente adequada

dos rejeitos.

Outro fator importante é a educação ambiental. Esta insurgiu da Política

Nacional de Educação Ambiental, definida pela Lei 9.795/99, dando validade ao disposto

dos artigos 205 e 225 da Constituição Federal (já transcrito anteriormente).

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Sua dimensão é tamanha, vez que está diretamente relacionada com as finalidades

do Estado e representa a própria sociedade, pois cria e transforma a mente da sociedade

para entender seus anseios e carências, podendo contribuir na prevenção e proteção dos

seus direitos. E, além de enriquecer a consciência ambiental, dando novos rumos e

soluções para que se alcance a justiça social e qualidade ambiental, é a exteriorização do

exercício da cidadania.

Assim, acerca da importância da educação ambiental para o exercício da

cidadania, já se referiu José Renato Nalini:

“Se a poucos é conferido o poder e força para compelir o Estado a fazer o bem ambiental, a atuar em postura eticamente correta em relação ao ambiente, a todos se reconhece a condição de evitar práticas eticamente reprováveis. O cidadão não pode obrigar o Estado a agir bem, se o Poder Público estiver

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amparado em seu poder discricionário. Pode, no entanto, compeli-lo a deixar de fazer o mal.” 12

Desta feita, somente o cidadão pode reverter a prática reiterada de atos que

resultem na destruição do planeta.

Todavia, o Estado poderá prestar seu auxilio, como forma de contribuir e gerar a

manutenção da qualidade de vida, sendo que, neste caso, financiará e promoverá

incentivos fiscais e creditícios.

Contará, para essas práticas, com os Fundos Nacionais do Meio ambiente e

Desenvolvimento Científico, assim como demais órgão como o Sinisa (Sistema Nacional

de Informações em Saneamento Básico), órgãos de saúde e Sinir ( Sistema Nacional de

Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos), sendo que este último desempenha

função primordial para a inovação trazida pela nova norma.

Por fim, caberá de mesma forma, como instrumento desta política, aqueles

dispostos na Política Nacional do Meio Ambiente (Art. 8º, XVII, da Lei 12.305/10), quais

sejam:

“I - os planos de resíduos sólidos; II - os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; III - a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; V - o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; VI - a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos; VII - a pesquisa científica e tecnológica; VIII - a educação ambiental; IX - os incentivos fiscais, financeiros e creditícios; X - o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; XI - o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir);

4 NALINI, JOSÉ RENATO. “Ética Ambiental”. 3ªed. Editora Millenium, São Paulo, 2010, pág. XXXI (apresentação)

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XII - o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa); XIII - os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde; XIV - os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos; XV - o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos; XVI - os acordos setoriais; XVII - no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles: a) os padrões de qualidade ambiental; b) o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais; c) o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; d) a avaliação de impactos ambientais; e) o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima); f) o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; XVIII - os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta; XIX - o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à redução dos custos envolvidos.“

A crítica aqui, vem somente com o prazo legal determinado, de 4 anos, para a

implementação das medidas expostas na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Nesse

aspecto, importante verificar que 4 anos é muito tempo para permanecer com os

problemas causados por má utilização e destinação dos resíduos sólidos, porém é

pouquíssimo tempo para mudar a consciência da população e efetivar todas as alterações

trazidas pela lei, vez que a maioria das cidades ainda não praticam metade das medidas

protetivas e preservacionistas mencionadas.

Assim se observa da notícia publicada no site do jornal Estadão, de grande

veiculação no Estado de São de Paulo, na data de 1º. de fevereiro de 2011:

“ MMA admite que acabar com lixões até 2014 será difícil O secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Silvano Silvério da Costa, admitiu hoje que será difícil acabar com os lixões no País até 2014, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). "Não é muito fácil, mas está na lei, não tem o que discutir. É trabalhar para cumprir. Mas eu acho uma meta difícil", avaliou. A PNRS, sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim do ano passado, estabelece que até o dia 2 de agosto de 2014 o Brasil não tenha mais nenhum lixão, e que os aterros sanitários recebam apenas rejeitos, ou seja, aquilo que não é possível reciclar ou reutilizar. Costa participou hoje de um debate sobre resíduos sólidos na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), na

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capital paulista. Segundo ele, um dos caminhos para acabar com os lixões é incentivar a formação de consórcios intermunicipais, pois assim não é necessário ter um aterro sanitário para cada cidade. O secretário adiantou que neste ano deve ser lançada a segunda etapa do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para resíduos sólidos, com verba de R$ 1,5 bilhão. "A gestão associada pode ajudar bastante a cumprir a meta. Além disso, o aterro receberá apenas rejeitos, o que diminuirá o volume de lixo e aumentará sua vida útil." Apesar de ter sido sancionada, a implantação efetiva da política de resíduos sólidos depende ainda de dois comitês. O comitê orientador da logística reversa, que será instalado neste mês e reúne cinco ministros, terá a função de definir a estratégia de implantação, além de cronogramas e metas. Já o comitê interministerial de coordenação da PNRS, com representantes de 12 pastas do governo federal, será responsável por elaborar uma versão preliminar do plano nacional de resíduos sólidos, que tem de estar pronto até 21 de junho deste ano. Na logística reversa, todos os envolvidos na cadeia (importador, fabricante, distribuidor, comerciante e até o consumidor) são responsáveis pela restituição dos resíduos sólidos ao seu local de origem, para reaproveitamento ou destinação final adequada. Para isso, o governo fará acordos setoriais com as empresas. Primeiro é lançado um edital, construída uma proposta e realizada uma consulta pública. Depois, o governo emite um decreto regulamentado o setor, com abrangência nacional. Os seis tipos de produtos sujeitos à logística reversa são: pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; eletroeletrônicos e seus componentes; e agrotóxicos. Segundo Costa, os fabricantes de óleos lubrificantes já se dispuseram a discutir as regras para a logística reversa. "O setor de bebidas também quer elaborar a sua política de logística reversa. Agora, o governo federal vai ter de discutir o que mais impacta a saúde pública. A questão das embalagens é importante, por causa do volume, assim como eletroeletrônicos e lâmpadas fluorescentes", comentou Costa. Lista de sujões Na capital paulista, desde o dia 6 de janeiro aumentaram as punições para os grandes geradores de lixo que não cumprirem as regras de coleta. Estabelecimentos comerciais que produzem mais de 200 litros de lixo por dia, ou condomínios comerciais e de uso misto que geram mais de 1 mil litros, precisam contratar um serviço particular de coleta. O objetivo da Prefeitura de São Paulo é acabar com o acúmulo de lixo nas calçadas, que gera diversos problemas. As penalidades para os infratores vão desde multa de R$ 1 mil até a cassação da licença de funcionamento. O secretário municipal de Serviços, Dráusio Barreto, que participou do debate na Fecomercio, afirmou que até agora nenhuma empresa foi interditada por descumprir a lei de grandes geradores de lixo. Mas comentou que já há vários casos de reincidência, inclusive grandes empresas, algumas delas até com programas ambientais. Sem citar nomes hoje, o secretário adiantou que pensa em fazer uma lista com os nomes dos sujões. "A ideia está na gaveta. Vamos ver se todo mundo entra na linha. Para os recalcitrantes absolutos, até esse instrumento de pressão a gente pensa em usar." Atualmente, quase 10 mil empresas já se cadastraram na prefeitura como grandes geradoras de lixo - sendo que 4 mil estão com os cadastros vencidos. Apesar de não dar um número, Barreto estima que muitos ainda precisam se

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cadastrar. "Só para se ter uma ideia, temos quase 27 mil bares e restaurantes em São Paulo. O número possível de grandes geradores é muito alto." Segundo o secretário, o orçamento municipal para o tratamento do lixo é pequeno, mas a Prefeitura de São Paulo está atuando em diversas frentes para combater esse problema. "É uma guerra diária", comentou. De acordo com o estudo Gestão de Limpeza Urbana, da consultoria PricewaterhouseCoopers, São Paulo gasta anualmente R$ 68 por habitante com o tratamento do lixo, enquanto Tóquio aplica quase R$ 1.100. A média internacional é R$ 480,17. Cidadão Não são só as empresas que têm de cumprir obrigações na destinação dos resíduos sólidos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê que moradores de localidades que contam com serviço de coleta seletiva e que não separem seu lixo adequadamente estão sujeitos a advertência e até mesmo multa, que varia de R$ 50 a R$ 500. A coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn, lembra que o consumidor não tem só direitos, mas também responsabilidades. Mas ela aponta que é obrigação do produtor informar sobre os sistemas de logística reversa e coleta seletiva. "Mais importante que responsabilizar, é mudar a prática, os hábitos de consumo", completou o representante do Ministério do Meio Ambiente.” (ÁLVARO CAMPOS - Agência Estado)13

Benefícios fiscais poderiam ser a solução para acelerar a efetivação dessa

legislação.

Com o intuito de complementar essa lei, que entrou em vigor na data da sua

publicação, institui Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e

Comitê Orientador para a implantação dos Sistemas de Logística Reversa. Este comitê

tem como objetivo de “apoiar a estruturação e implementação da Política Nacional de

Resíduos Sólidos, por meio da articulação dos órgãos e entidades governamentais, de

modo a possibilitar o cumprimento das determinações e das metas previstas na Lei nº

12.305, de 2010, e neste Decreto, com um representante, titular e suplente”

Caberá a este comitê a instituição de procedimentos para a elaboração e a

avaliação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Além disso, definará as

informações complementares, promoverá estudos com vistas à desoneração tributária de

produtos recicláveis e reutilizáveis e estudos com o intuito de criar, modificar e extinguir

de condições para a utilização de linhas de financiamento ou creditícias de instituições

financeiras federais, bem com demais objetivos estabelecidos no art. 4º deste Decreto.

13 http://www.estadao.com.br/noticias/geral,mma-admite-que-acabar-com-lixoes-ate-2014-sera-dificil,673882,0.htm

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Como se não bastasse os consumidores também serão obrigados a fazer sua

devida parte, acondicionando adequadamente e de forma diferenciada dos resíduos

sólidos gerados, disponibilizando adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e

recicláveis para sua coleta ou devolução, não os isentando de observar regras previstas na

legislação do titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

4.1 LEGISLAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ

O Paraná, muitos anos que antecederam a criação da Lei 12.305/2010 já havia

regulamentado a poluição por resíduos sólidos por diversas formas. Sistemas pioneiros já

haviam sido desenvolvidos inclusive na capital do estado, que recebe internacionalmente

o reconhecimento de cidade ecológica, por todos os benefícios de proteção ao meio

ambiente, rechaçando a poluição de todas as suas formas.

Entre as normas estaduais podemos encontrar a lei 12.493/99, lei 13.039/01,

Decreto 6.674/02 e resoluções de órgãos de proteção ambiental.

A lei de nº 12.493/99 veio para “estabelecer princípios, procedimentos, normas e

critérios referentes a geração, acondicionamento, armazenamento coleta, transporte,

tratamento e destinação final dos resíduos sólidos no Estado do Paraná, visando controle

da poluição, da contaminação e a minimização de seus impactos ambientais e adota outras

providências”14

Nessa lei já estavam previstos os conceitos já citados e recepcionados pela

legislação Federal em vigor, trazendo ainda, a idéia de redução de resíduos, reutilização e

reciclagem.

Além disso, dispõe acerca das proibições na geração de resíduos sólidos, estando

desde seu início proibido (conforme a nova legislação também aderiu) o lançamento “in

natura” a céu aberto, queima a céu aberto, lançamento em corpos d’ água e em reder de

drenagem de águas pluviais, esgotos, eletricidade e telefone.

14 Art. 1º da Lei Estadual 12.493/99

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Como se não bastasse, há a responsabilização da atividade geradora de resíduos,

com sanções aplicáveis a ela no caso de não observância dos preceitos legais.

Para o fim de explicar a responsabilização da atividade geradora, observa-se a

decisão emanada do Órgão Especial deste Tribunal:

“Percebe-se dos autos que a matéria não foi objeto de legislação específica na esfera federal (ao menos no que toca à ideia de lei em sentido formal – artigo 59 da Constituição Federal). Todavia, não restou esquecida pelo legislador estadual, que por meio da Lei Estadual n.º 12.493/99 regulamentou a questão3 e definiu expressamente que, no Estado do Paraná: Art. 4º. As atividades geradoras de resíduos sólidos, de qualquer natureza, são responsáveis pelo seu acondicionamento, armazenamento, coleta,transporte, tratamento, disposição final, pelo passivo. Em suma, quem com sua atividade gera alguma espécie de resíduo sólido é responsável por lhe dar uma destinação compatível com um meio ambiente ecologicamente equilibrado. No caso específico dos resíduos sólidos provenientes de serviços de saúde – porque potenciais portadores de agentes patogênicos – a referida lei estadual, em seu artigo 8º, determina que haverão de ser adequadamente acondicionados, conduzidos em transporte especial, e deverão ter tratamento e destinação final adequados, atendendo as normas aplicáveis da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e as condições estabelecidas pelo Instituto Ambiental do Paraná – IAP, respeitadas as demais normas legais vigentes.(...) i) a Lei Estadual 12.493, de 22 de janeiro de 1999, que com todas as letras diz, no seu artigo 4.º, reiterado pelo Decreto Estadual 6.674, de 03 de dezembro de 2002, que a responsabilidade é dos agentes geradores dos resíduos: "Art. 4.º As atividades geradoras de resíduos sólidos, de qualquer natureza, são responsáveis pelo seu acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento, disposição final, pelo passivo ambiental oriundo da desativação de sua fonte geradora, bem como pela recuperação de áreas degradadas" (fl. 261). ii) as Resoluções n.º 5 e 283 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, que mandam que os estabelecimentos produtores de resíduos sólidos gerenciem todas as etapas do lixo por eles produzido,desde a geração até a disposição final: Resolução n.º 5... "Art. 4.º Caberá aos estabelecimentos já referidos o gerenciamento de seus resíduos sólidos, desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública". Resolução n.º 283... "Art. 4.º Caberá ao responsável legal dos estabelecimentos já referidos no art. 2.º desta Resolução, a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública, sem prejuízo da responsabilidade civil solidária, penal e administrativa de outros sujeitos envolvidos, em especial os transportadores e depositários finais". iii) a Resolução n.º 306, de 07 de dezembro de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA equaciona a questão no mesmo sentido, ao definir o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e ao atribuir ao

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gerador dos resíduos a responsabilidade pela elaboração do respectivo Plano de Gerenciamento. Os dispositivos da Lei 12.493 citados nas razões de recurso não têm a abrangência pretendida pela agravante. O seu artigo 9.º de modo algum cria para o Município o dever de gerenciamento do lixo hospitalar. Diz o artigo, e somente isto, que os resíduos deverão ser depositados em áreas municipais, mas, não, que aos Municípios incumbem a coleta, captação, transporte e disposição final, e nos autos da ação declaratória não sediscute a destinação de uma área municipal, mas questões relacionadas à coleta, transporte e destinação final, tanto assim que isso é o que foi determinado ao Município de Curitiba fazer. O artigo 18 da mesma lei, por sua vez, define a responsabilidade pela execução de medidas para "prevenir e/ou corrigir a poluição e/ou contaminação do meio ambiente decorrente de derramamento, vazamento, lançamento e/ou disposição inadequada dos resíduos sólidos", não o dever de coleta etc. do lixo hospitalar. O dispositivo é expresso ao mencionar medidas preventivas e de correção, o que não exclui o dever de acondicionamento, armazenamento, transporte e disposição final dos resíduos atribuído às atividades geradoras pelo artigo 4.º da mesma lei e deixa claro que a atuação do Município circunscreve-se às situações em que ocorram desvios ou deficiências no gerenciamento dos resíduos pelos agente produtores do lixo. Somente aí é que surge o dever da Administração. Pensar de outro modo e dizer que o Município deve atuar em todas as etapas do gerenciamento dos resíduos redundaria, primeiro, em uma contradição entre dois artigos da mesma lei, entre o artigo 4.º e o 18. Implicaria também, agora em uma interpretação literal da lei, na desconsideração dos termos prevenir e corrigir, que pressupõe uma atividade em curso e na intervenção corretiva dessa mesma atividade. Por fim, a parte final do caput do artigo 18 menciona as expressões derramamento, vazamento, lançamento e/ou disposição inadequada de resíduos sólidos, o que pressupõe antes a conduta de derramar, deixar vazar, lançar ou depositar inadequadamente, expressões que confirmam o sentido antes indicada da lei estadual, ou seja: de que o Município somente será responsável por medidas corretivas ou preventivas quando o gerenciamento dos resíduos não for adequadamente executada. Diante desse quadro normativo, percebe-se que o que o recorrente quer é atribuir prioritariamente ao Município um dever que a lei a ele impõe, a ele, recorrente, não ao Município.”15

O Paraná tem ainda, programas incentivadores na eliminação de lixões no

perímetro estatal, tal como o “Programa Desperdício Zero”, que prevê a eliminação de

100% dos lixões com a redução de 30% dos resíduos gerados, e a aplicação da logística

reversa, convocando todos os agentes da cadeia (consumidor, revenda, distribuidor e os

fabricantes entre outros) para participar dessa atividade, na mudança de atitudes, hábitos

15 (TJPR - Órgão Especial - AR 0175802-7/01 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Tadeu Marino Loyola Costa - Por maioria - J. 03.06.2005 –ressalvados os destaques).

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de consumo e combate ao desperdício, incentivando, inclusive, a reutilização, ao

reaproveitamento através da reciclagem.

6. PRINCÍPIOS

Diversos são os Princípios que regem o Direito Ambiental. Destes, é possível

selecionar alguns que têm aplicação direta ao objeto desse estudo, os resíduos sólidos que,

muito embora sejam regidos por princípios específicos, possuem princípios gerais,

imprescindíveis para sua organização de forma a melhorar qualitativamente a vida da

população, cabendo a essas bases jurídicas a implementação de diretrizes facilitadoras de

proteção ao meio ambiente.

Desta feita, sua importância é tamanha que sem essas normas-base não há como

se verificar a exata extensão do direito ambiental e seu impacto e, além de terem padrões

vinculantes, são os próprios alicerces da constituição de um direito.

Nesse sentido, preceitua José Afonso da Silva:

“Os princípios são ordenações que se irradiam e imanam os sistemas de normas, “são – como observam Gomes Canotilho e Vital Moreira – “núcleos de condensações” nos quais confluem valores e bens constitucionais”. Mas como disseram os mesmo autores, “os princípios, que começam por ser a base de normas jurídicas podem estar positivamente incorporados, transformando-se em normas-princípio e construindo preceitos básicos da organização constitucional.”16

Passa-se à enunciação desses princípios:

6.1 GERAIS

6.1.1 Princípios do Direito ao Meio Ambiente Equilibrado

Como já observado, o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, já prevê esse

princípio como fator primordial da proteção ao meio ambiente.

16 SILVA. Pág 82.

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O equilíbrio a que trata esse princípio refere-se a um estado de ordem equitativa

de saúde e bem-estar, tanto em condições naturais quanto sociais, sendo que incumbe ao

Poder Público a efetivação dessa garantia.

Para a gestão dos resíduos sólidos não é de ser diferente. Deve haver estabilidade

entre a recuperação e proteção do meio ambiente, que sofre os grandes efeitos da

produção diária de lixo, e a condição social, que necessita dos melhores métodos de

saneamento a fim de atingir o próximo direito garantido constitucionalmente, a sadia

qualidade de vida.

6.1.2 Princípio do Direito à sadia Qualidade de Vida

Para viver harmoniosamente com o meio ambiente não basta a conservação da

vida ou a sobrevivência. É preciso atingir os níveis básicos de vida saudável, com vistas à

qualidade de vida, medindo-se três fatores, conforme a classificação aplicada pela

Organização das Nações Unidas, quais sejam a educação, a saúde e o produto interno.17

De mesmo sentido, verifica-se a expressão de Fernando Lópes Ramón quando

explica que “a qualidade de vida é um elemento finalista do Poder Público, onde se unem

a felicidade do indivíduo e o bem comum, com o fim de superar a estreita visão

quantitativa, antes expressa no conceito de nível de vida”.18

Portanto, deve-se levar em consideração os elementos naturais (solo, água, flora,

entre outros) para que seu uso não ocasione quaisquer problemas à sanidade do indivíduo,

ainda que não somente à saúde, como pode servir de exemplo a problemática do lixo, que

ocasiona por vezes, problemas relacionados ao direito de propriedade, direito à saúde e

até mesmo com direitos humanos.

O protocolo de São Salvador já prevê em seu artigo 11 que “toda pessoa tem

direito e viver em meio ambiente sadio e dispor dos serviços públicos básicos. 2. Os

17 MACHADO, Paulo Afonso Leme. p 61. 18 RAMÓN. Fernando Lopes. “El Derecho Ambiental Como Derecho De La Función Pública De Protección De Los Recursos Natules, Cuadernos De Derecho Judicial” - XXVIII/125-147, 1994.

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Estados Partes promoverão a proteção, preservação e melhoramento do meio ambiente.”19

Assim, verifica-se a necessidade de um saneamento básico para por fim ao dano

causado nesta esfera, podendo-se concluir que todo atentado ao meio ambiente que

prejudicar a vida privada ou familiar do indivíduo, de forma que a o prive de um estado

de bem-estar, merece ser reparado.

6.1.3 A Equidade no Acesso aos Recursos Naturais e às Futuras Gerações

Esse princípio define, em síntese, o uso igualitário dos elementos naturais, sendo

que ao acesso à esses bens naturais se destacam pelo menos de três formas, na lição de

Paulo Affonso Leme Machado: “acesso visando ao consumo do bem (captação de água,

caça, pesca), acesso causando poluição (acesso à água ou ao ar para lançamento de

poluentes; acesso ao ar para emissão de sons) e acesso para a contemplação da

paisagem.”20

Ademais, deve existir tecnologia adequada ao uso imediato desses bens, e seu

acesso em uma ordem hierárquica implicará verificar a proximidade do indivíduo usuário

com relação ao bem, utilizando-se de sua necessidade atual e não futura para contribuir à

extinção daquele bem.

O que mais nos interessa acerca dos resíduos sólidos, seria o acesso causando

poluição, vez que a propagação do lixo é inevitável e atinge a todos, sendo que, além

disso, como bem andou o doutrinar Jorge Ulisses Jacoby Fernandes ao afirmar que, o lixo

detém valor economicamente negativo, isto é, não se paga para se tê-lo e sim para livrar-

se dele, com exceção de algumas cidades que já possuem políticas de reutilização.

6.1.4 Princípios Usuários-Pagador e Poluidor Pagador

Através da Lei 6.938/1981, se resta fácil visualizar tais princípios, vez que os

19 Decreto 3.321/1999. 20 MACHADO, p.64, 2009

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define como a “imposição, ao usuário, pela utilização de recursos ambientais com fins

econômicos” e a “imposição ao poluidor e ao predador”.

Isto significa dizer que ao usuário dos recursos naturais será lhe imputado valor

par execução daquele serviço ou utilização daquele bem. No Brasil, há a cobrança de

taxas para serviço de coleta diária do lixo, e impostos que visam contribuir com o meio

ambiente, sendo que em algumas localidades, aquele que contribui e protege o meio

ambiente obtém vantagens tributárias significativas, como com a isenção ou diminuição

no valor do IPTU.

Em contrapartida, todo aquele que não observar os preceitos e normas legais

contra-poluição, será obrigado a reparar o dano causado, podendo sofrer leves e graves

sanções nas esferas cível, administrativa e penal.

6.1.5 Principio da Precaução

O princípio da precaução é um dos principais princípios do Direito Ambiental.

Não por menos, visa a durabilidade e dá continuidade à sadia qualidade de vida do meio

ambiente.

Permite ainda, que a poluição seja combatida antes mesmo de tornar-se um

problema persistente, sem que haja iminência, somente com a consciência de que o dano

pode ocorrer.

À luz desse entendimento, a doutrina esclarece que “O princípio da precaução

consiste em dizer que não somente somos responsáveis sobre o que nós sabemos, sobre o

que nós deveríamos ter sabido, mas, também, sobre o de que nós deveríamos duvidar”.21

Há ainda, a necessidade do controle de riscos, na medida em que controlar um

risco é não aceitá-lo, dando efetividade para o disposto constitucionalmente através do

Estudo prévio de Impacto Ambiente, planejando atividades que visam reduzir quaisquer

ameaças ao meio ambiente.

21 MACHADO. Pág. 76.

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6.1.6 Prevenção

Esse princípio visa evitar a consumação dos danos ao meio ambiente. Medidas

eficazes à proteção a saúde humana e ao meio ambiente e à máxima redução de

potencialidade de riscos.

Vêm a necessidade de prever os riscos, prevenir, evitar a origem e às

transformações prejudiciais.

Evitar a propagação de lixo é imprescindível para boa condição da vida humana,

assim, esse princípio a base de todo sistema jurídico de sustentabilidade ambiental aos

resíduos sólidos.

6.1.7 Reparação

Reparar é necessário. Deixar de reparar o dano ambiental provocado é o mesmo

que permitir que uma doença se propague rapidamente ou que uma crise financeira

nacional se torne avassaladora. Não se pode deixar o meio ambiente em segundo plano,

vez que sua importância ao desenvolvimento é ainda maior pois abrange várias partes da

vida.

6.1.8 Informação

O que procura-se aqui, é a informação acerca as questões ambientais. Isso não

significa apenas a comunicação sobre os danos já ocorridos, mas sim a promoção e

conscientização ambiental, para o fim de fazer valer o direito de vida em um meio

ambiente ecologicamente equilibrado. Assemelha-se ao princípio jurídico da publicidade,

que impõe ao Poder Público a transparência nas decisões e atos ambientais, sendo que sua

omissão, tanto referente às atividades quanto à informação à população, poderão ser

responsabilizadas, devendo se valer do princípio que preceitua o agir preventivamente.

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6.2 ESPECÍFICOS

Além dos princípios já mencionados, a Política Nacional de Resíduos Sólidos

prevê, em seu artigo 6º um rol de princípios aplicáveis à matéria, sendo que, como

novidade do Direito Ambiental brasileiro, encontra-se e destaca-se os seguintes:

6.2.1 Visão sistêmica

Tal princípio inovador da Lei 12.305/2010, traz a idéia de planejamento de ações

integradas, conforme o desenvolvimento sustentável, com bom uso do tempo disponível

com os recursos disponíveis.

Deverá considerar na gestão dos resíduos sólidos as variáveis ambientais, sociais,

culturais, econômicas, tecnológicas e, principalmente de saúde.

6.2.2 Desenvolvimento sustentável

Como já conceituado, desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que

satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de futuras gerações

satisfazerem suas próprias necessidades” (Relatório de Brundtland, pg 46)22

À luz da nova legislação, torna-se princípio e não somente um parâmetro de

qualidade ambiental com vistas ao crescimento econômico e sadia qualidade de vida,

sendo a definição que mais está em voga na atualidade tendo em vista seu alcance e todos

os problemas ambientais e sociais que o mundo vem enfrentando.

Não há que se falar em evolução sem o desenvolvimento sustentável, bem como

não há que se falar em “planeta saudável” e erradicação da miséria sem a consciência

sustentável.

6.2.3 Ecoeficiência

22 Relatório de Brundtland, pág. 46.

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O princípio da ecoeficiência voltado à crise dos resíduos sólidos diz respeito à

quantidade de produção aliada à otimização dos recursos e gerando menores quantidades

de resíduos, respeitando a comunidade. Ela é efetivada através do fornecimento dos bens

e serviços que satisfaçam as necessidades da sociedade com qualidade de vida, na medida

em que reduz o impacto ambiental de forma progressiva e o consumo de demais recursos

no ciclo vital, a um nível equivalente à capacidade sustentável do planeta.

Esse princípio possui diversos subprincípios que relacionam os resíduos sólidos

em níveis de sustentabilidade ambiental, que são: a diminuição do consumo de materiais

com bens e serviços; Redução da dispersão de substâncias tóxicas; a minimização do

consumo de energia com bens e serviços; Promoção do reaproveitamento e da reciclagem

de materiais; o aumento da durabilidade dos produtos; a maximização do uso sustentável

de recursos naturais e a disseminação de ações ambientalmente corretas aos funcionários,

colaboradores e consumidores.

Com isso se têm a redução de custos devido à otimização do uso de recursos e da

adequação de processos produtivos e a melhoria nas condições de saúde e segurança

operacional, bem como a minimização dos riscos e responsabilidades derivadas relativas a

danos ambientais com o surgimento de alternativas tecnológicas inovadoras, resultando

em maior eficiência e competitividade.

6.2.4 Cooperação

À luz do Direito Internacional, os países devem buscar a cooperação ambiental

entre os povos no sentido de compartilhar do conhecimento de tecnologias limpas e

proteção ambiental, vez que as responsabilidades nas omissões e ações cometidas em

determinado território poderá afetar diretamente o território vizinho.

Nesse sentido, vê-se o disposto no Princípio 2 da Declaração do Rio, segundo o

qual afirma:

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“os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outro Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.”23

É de se ver ainda, que os países interessados na cooperação acerca do meio

ambiente têm responsabilidades ambientais comum, porém se diferem quanto a sua

responsabilidade no que se refere ao seu desenvolvimento e capacidade, vez que detêm

maior possibilidade econômica de investir e obter melhores resultados nas pesquisas e

estudos ambientais os mais avançados.

Num aspecto mais específico, na ordem nacional, seguindo a mesma linha de

raciocínio descrita acima, deve haver a cooperação entre os estados-membros na

diminuição e reparação dos danos causados por resíduos sólidos, vez que é assunto de

saúde pública e qualidade ambiental que pode modificar todo o cenário nacional.

6.2.5 Responsabilidade compartilhada

Este princípio exacerba a possibilidade de vários agentes responderem

concomitantemente e compartilhadamente por danos causados pelos mesmos.

Não há que se falar, dessa forma, em isenção ou não cumprimento do dever legal

de indenizar ou reparar o ato danoso causado, dando maior segurança jurídica ao direito

dos cidadãos e proporcionando maior eficiência à aplicabilidade da norma, qual seja da

proteção ao meio ambiente.

O Poder Público poderá ser responsabilizado diante de sua omissão na

fiscalização dos ditames legais na proteção ambiental e reparação dos danos causados.

6.2.6 Reutilização e reciclagem

23 Declaração Do Rio Sobre Meio Ambiente E Desenvolvimento, 1992.

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Com o fim de abandonar a ideologia utópica de que é possível resgatar os bens

muitas vezes ditos como descartáveis, estes métodos de reaproveitamento dos resíduos

sólidos se concretizam como princípios-base da nova legislação ambiental concernente

aos resíduos sólidos, vez que são as formas menos lesivas ao meio em que se vive, como

se vera a seguir.

6.2.7 Respeito à diversidades locais e regionais

Este princípio visa, basicamente, a manutenção e preservação das diversidades

locais e regionais.

Assim, cada local tem suas características, devendo ser tratado de maneira

correspondente ao seu grau de necessidade e sustentabilidade.

6.2.8 Razoabilidade e proporcionalidade

O princípio da razoabilidade e da proporcionalidade são importantes em todos os

ramos do direito. Aqui, sua lógica vem no sentido de criar leis razoáveis e proporcionais à

necessidade da população.

Em contrapartida servirá também para, de maneira razoável e proporcional

penalizar aqueles que ferem o preceito fundamental a que a lei determinou, utilizando-se

do bom senso na aplicação da sanção.

7. PADRÕES DE QUALIDADE E BIORREMEDIAÇÃO

Na qualidade de reparação dos danos causados, tanto por métodos de tratamento

do lixo, quanto na reparação do dano causado diretamente ao meio ambiente pelos

agentes infratores, há o instituto da biorremediação.

Biorremediar significa utilizar-se de meios biológicos, como microrganismo ou

enzimas para tratar a area contaminada ou remover ao local adequado para o tratamento.

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Podem ser através de: Célula de aterro, que é o elemento unitário ou derivada do

aterro sanitário celular, onde os resíduos são efetivamente tratados; Carga orgânica, é a

fração dos resíduos na forma sólida, líquida ou resultante do processo de decomposição

da matéria orgânica presente no lixo; Carga inorgânica, é a fração dos resíduos na forma

sólida ou líquida, resultante do processo de tratamento dos resíduos; Processos físicos, são

aqueles que não alteram a natureza da matéria do lixo e de seus contaminantes; Processos

biológicos são aqueles que alteram a natureza da matéria e de seus contaminantes, tendo

como fundamento a ação microbiana e Processos químicos são aqueles que alteram a

natureza da matéria e de seus contaminantes, tendo como fundamento a ação de

substâncias químicas.

Para maximizar o desenvolvimento sustentável em nosso planeta, várias ações

podem ser implantadas, entre elas, a limitação do crescimento populacional, a preservação

da biodiversidade e dos ecossistemas, a diminuição do consumo de energia e o

desenvolvimento de tecnologias que façam o uso de fontes energéticas renováveis.

7.1 MODOS ADEQUADOS DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS

Aqui, podemos verificar as formas de tratamento dos resíduos sólidos, sua

eficácia e o método que mais se amoldar à situação social de determinada comunidade,

pois ainda que sua matéria seja voltada à matéria sanitária, traz diversas implicações

jurídicas. As principais são: I- Depósito em céu aberto; II- Depósito em aterro sanitário;

III- Incineração; IV- Compostagem.

No que se tange ao depósito em céu aberto, esses expressamente rechaçados por

nosso ordenamento jurídico, vez que traz danos à saúde coletiva, bem como e,

principalmente, dos catadores de lixo, que recebem proteção através da Lei da Política de

Resíduos Sólidos. Esses chamados lixões são simplesmente locais inadequados que

recebem o resíduo sem o tratamento necessário, criando transtorno público diante de seu

efeito adverso e negativo sobre os valores da terra, aumenta a incidência de animais,

microrganismos e insetos, além de poluir o ar e as águas subterrâneas.

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Se analisar, é de se ver que ainda a maioria das cidades brasileiras utilizam esse

tipo de exterminação do lixo, podendo verificar que todos os efeitos causados pelo

resíduo sólido se manifestará diretamente e negativamente perante a população e ao meio

ambiente.

No depósito em aterro sanitário, medidas mais cuidadosas são tomadas para que a

poluição gerada de fato seja reduzida ou aniquilada e, é nessa fase que haverá os

programas de coleta seletiva e reciclagem, transporte e separação do lixo. Após, serão

utilizados recursos de impermeabilização do solo e compactação, com cobertura diária e

células provenientes de resíduo sólido e tratamento do odor e chorume. Assim, evita-se

uma grande contaminação tanto no solo e lençol freático, quanto a contaminação por

doenças.

Na doutrina, podemos conceituar o aterro sanitário como:

“método de disposição de refugo na terra, sem criar prejuízos ou ameaças à saúde e segurança pública, pela utilização de princípios de engenharia que confinam o refugo ao menor volume possível, cobrindo-o com uma camada de terra na conclusão de cada dia de operação, ou mais freqüente de acordo com o necessário”.24

A crítica aqui cinge-se ao grande crescimento das cidades, onde é difícil

encontrar local que possui a estrutura necessária à quantidade de lixo que é produzida

diariamente e que vêm aumentando gradativamente.

É de se analisar ainda que há a possibilidade de se poluírem o solo e a água,

precisando de supervisão constante, de modo a garantir as condições mínimas de

salubridade no meio ambiente, bem como há a geração dos gases e chorume (“é um

líquido de cor preta, com odor desagradável e elevado potencial poluidor, formado nos

lixões em decorrência da fermentação e da exposição dos refugos orgânicos”)25 a partir da

decomposição do lixo.

24 MACHADO. Pág. 552. 25 FELLEMBERG. Gunter. “Introdução aos problemas da poluição ambiental”. Editora E.P.U. São Paulo, 1980, pág. 34.

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O que pode ser muito desgastante é a resistência dos moradores próximos aos

aterros em razão da desvalorização de seus imóveis e falta de esclarecimento referente ao

projeto de aterro sanitário ali implementado.

Além disso, os aterros sanitários têm vida útil bastante limitada e deverá passar

por um procedimento de análise e aprovações do Estudo de Impactos Ambientais, muitas

vezes, em razão de sua distância provocando elevados gastos ao Poder Público.

A incineração, na lição de Werner e. Zalauf, “é a forma mais eficaz para acabar

com o lixo, se essa é a única alternativa viável, já que reduz o lixo a 5% do seu volume. A

escória constitui-se de material poroso e inerte, apropriado para aterros de um modo geral

e especialmente para cobertura de aterros”.26

Esse método, porém, ainda que seus danos à poluição de águas subterrâneas

sejam menores, produz gases poluentes através da combustão, transformando os gases

tóxicos do lixo em outros materiais também lesivos à população e ao meio ambiente.

Como se não bastasse isso, é economicamente inviável e não traduz a idéia de

sustentabilidade.

Ainda, na lição de Gunter Fellemberg, é de se analisar a improbidade da queima

do lixo, visto que “não é possível a queima do lixo sem um mínimo de comprometimento

do meio ambiente. Os gases ontem, além do pó e névoas de ácido clorídrico, também o

ácido fluorídrico e dióxido de enxofre.”27

Por fim, a Convenção de Estocolmo, de qual o Brasil assinou um tratado, traçou o

objetivo de acabar com 12 substâncias, obtidas através no meio da incineração, como a

dioxinas, por serem estas potencialmente cancerígenas.

Finalmente, quanto ao método da compostagem, tem-se que é uma forma de

tratamento do lixo orgânico, transformando-os em residuos composto, originalmente

através da adubagem, processo utilizado na agricultura.

A compostagem presta-se para eliminar, sem comprometer o meio ambiente,

dejetos animais, cascas de árvores e muitos outros detritos orgânicos inaproveitáeis e de 26 ZALAUF. Werner E. “Destino Final de resíduos sólidos”, IV Seminário Nacional de Limpeza Urbana, 1975. 27 FELLEMBERG. Gunter. “Introdução aos problemas da poluição ambiental”. Editora E.P.U. São Paulo, 1980, pág. 45.

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cheiros desagradáveis. O adubo obtido não só não tem a inconveniência do ponto de vista

higiênico, mas também pe isento de cheiro.

Seu principal problema é a contaminação de alimentos em razão de parasitas que

no adubo se fixam e a existência de metais pesados do lixo urbano.

Em assim sendo, será usado o composto de melhor impacto naquela dificuldade e

seu custo devera ser relativamente baixo se analisado o seu efeitos positivo.

7.2 ZONEAMENTO, LICENCIAMENTO E SANEAMENTO BASICO

Para a aplicação dos métodos biorremediáveis demonstrados anteriormente pode-

se contar com instrumentos como o saneamento básico, o zoneamento ambiental e o

licenciamento ambiental. Esses instrumentos atuam em conjunto para sistematizar a

exclusão dos resíduos sólidos na vida social e ambiental.

O Saneamento básico tem-se como instrumento primordial na prevenção dos

danos provocados pelos resíduos sólidos.

Pode ser conceituado como o conjunto de procedimentos a serem adotados para o

fim de proporcionar aos habitantes e determinada região, situação higiênica e saudável,

evitando a contaminação e proliferação de doenças, de forma que ainda preserve o meio

ambiente e aos recursos naturais. 28

A Lei que regula esse instrumento é a de nº 11.445/2007 e estabelece todas as

diretrizes na prestação do saneamento básico, com base na universalização do acesso;

integridade, proporcionando à população o acesso de acordo com suas necessidades; o

abastecimento de água, esgoto, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos de acordo

com as formas adequadas à saúde pública e meio ambiente; disponibilidade de drenagem

de águas e demais princípios constantes no artigo 2º da lei em questão.

Será composto pelas atividades estabelecidas em seu artigo 7º, quais sejam: de

coleta, transbordo e transporte de resíduos sólidos; triagem para fins de reuso e

reciclagem e de varrição.

28 Com base no Artigo 3º da Lei 11.445/2007.

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Cooperativamente na solução dos problemas casados pela má propagação dos

resíduos sólidos, tem-se o zoneamento ambiental, que visa auxiliar nos processos de

planejamento, de ocupação territorial e ordenação do uso do solo na utilização dos

recursos naturais.

Sempre como conseqüência do planejamento, o zoneamento ambiental consiste

em dividir o território em parcelas de modo a controlar as atividades no espaço,

delimitando geograficamente de acordo com objetivos de estabelecer regimes especiais de

uso da propriedade, baseado nas características de cada localidade e forma de mapear o

potencial de cada região. Essa restrição tem como objetivo garantir o uso do solo de

forma adequada e sustentável em longo prazo.

No que se refere aos recursos sólidos, a importância do zoneamento é

imprescindível principalmente do que diz respeito aos aterros sanitários, que precisarão de

locais adequados para sua implementação.

O licenciamento ambiental, como instrumento de métodos biorremediáveis vêm

como controlador das atividades potencialmente ofensivas de agentes causadores de

problemas daquela natureza.

É, ainda, uma obrigação legal e prévia na instalação de qualquer empreendimento

ou atividade que tenha potencial nível de causar poluição ou degradação ambiental. Suas

diretrizes se encontram na Lei. 6.938/81, que discorre acerca da competência para o

licenciamento, de acordo com a abrangência do impacto.

O documento que disponibiliza a licença contém prazo de validade determinado e

estabelece restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas pela atividade

licenciada, estando o empreendedor obrigado a assumir os compromissos pela mantenção

da qualidade ambiental daquele local.

Aqui no Estado do Paraná, a portaria nº 224/07 do IAP é a responsável por

estabelecer os critérios para autorizações ambientais para as atividades de gerenciamento

de resíduos sólidos, regulando procedimentos tais como a destinação de resíduos sólidos,

incineração, co-processamento, aterro, uso agrícola de resíduos e outros sistemas.

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Assim, tem-se que, utilizando os instrumentos acima citados, pode-se viabilizar

as leis que protegem o meio ambiente e a qualidade de vida quanto ao gerenciamento dos

resíduos sólidos.

7.3 SOLUÇÕES PRÁTICAS

7.3.1 Os “Três R’s”

Apesar de existirem várias metas de controle e vários programas de soluções

viáveis para o meio ambiente, a melhor solução prática utilizada é a teoria dos três erres

para o controle do lixo.

Esses três erres são Reduzir, Reutilizar e Reciclar, prolongando a vida útil dos

recursos naturais e proporcionando melhor qualidade de vida à população.

Quanto à reciclagem, é de se ver que se dará por intermédio da coleta seletiva que,

na lição de Cláudia M.C. Bonelli, Élen B.A.U. Pacheco e Eloisa B. Mano, significa:

“A coleta seletiva é caracterizada pela separação dos materiais na fonte, pela população, com posterior coleta e envio a usina de triagem, cooperativas , sucateiros, beneficiadores ou recicladores. A implementação da coleta seletiva constitui a principal ação para o desenvolvimento da reciclagem e da reutilização”.29

Como aspectos favoráveis de coleta coletiva, pode-se encontrar a boa qualidade

dos materiais recuperados, a possibilidade de execução em pequena escala, com posterior

ampliação, a possibilidade de formação de parcerias com catadores, empresas,

associações ecológicas, escolas e sucateiros, a redução do volume do lixo a ser descartado

e o favorecimento do estímulo à cidadania.

29 BONELLI. Cláudia M.C, Eloísa B. Mano e Élen B. A. U. Pacheco. “Meio Ambiente, Poluição e Reciclagem”. Ed. Edgard Bléiches, São Paulo-2005. Pág. 114.

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O Decreto 7.404/2010 dispõe acerca da coleta seletiva, que determina que esta

“dar-se-á mediante a segregação prévia dos resíduos sólidos, conforme sua constituição

ou composição”.30

Esta implantação é instrumento essencial para que se possa atingir o objetivo de

disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, à luz do art. 54 da Lei. 12.305/10,

e contará com outro instrumento que é o incentivo aos catadores de materiais reutilizáveis

e recicláveis na sua concretização.

O Conama, na Resolução nº 275/2001, como modo de incentivar a educação

ambiental na reciclagem padronizou as cores referentes a cada tipo de lixo, sintetizando e

facilitando a vida da população no que diz respeito a o que pode ou não ser reciclado.

Elas são: Azul: papel/papelão; Vermelho: plástico; Verde: vidro; Amarelo: metal;

Preto: madeira; Laranja: resíduos perigosos; Branco: resíduos ambulatoriais e de serviços

de saúde; Roxo: resíduos radioativos; Marrom: resíduos orgânicos; Cinza: resíduo geral

não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de separação.

A cidade de Curitiba é modelo em campanhas envolvendo a Coleta Seletiva. No

ano de 2010 foram coletados 27.940 toneladas de materiais com o programa “lixo que não

é lixo” (SE-PA-RE) onde caminhão específico passa de casa em casa recolhendo os

resíduos que não devem ser misturados aos orgânicos. Além disso, possui programas

como o Câmbio Verde, que faz a troca de lixo reciclável por hortifrutigranjeiros nas áreas

mais periféricas da cidade.

Esta prática se mostra altamente eficaz. Aqui, a reciclagem, que consiste em

processo de transformação de resíduos sólidos com alteração de suas propriedades físicas,

modifica-se em novos produtos e insumos, não causando grave impacto ambiental. Além

disso, a prefeitura implementou programas como o Câmbio Verde, onde famílias são

beneficiadas com a troca de materiais recicláveis.

Além do instituto da coleta seletiva, tem-se a logística reversa. Esse instrumento,

que visa reduzir a quantidade de resíduos sólidos trata-se do planejamento do fabricante

em fazer com que o consumidor reutilize a embalagem.

30 Art. 9º do Decreto 7.404/10

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Por isso, a última opção para a redução desses materiais é a reciclagem. Não há

razão para transformar em nova peça aquilo que se pode dar utilidade. Desta feita,

imprescindível que se observe a ordem dos três erres na recuperação dos resíduos sólidos.

7.3.2 Catação

Há, como auxílio na separação do resíduo a ser reutilizado e reciclado, a catação,

atividade em reconhecimento que está, atualmente, regulamentada pela Lei 12.305/10.

São considerados catadores, as “pessoas físicas de baixa renda que se dedicam às

atividades de coleta, triagem, beneficiamento, processamento, transformação e

comercialização de materiais reutilizáveis e recicláveis”31.

Segundo esta lei, deverá se cumprir metas de integração dos catadores

reutilizáveis e recicláveis nos sistemas de coleta seletiva e logística reversa e irá além,

incentivará a criação e ao desenvolvimento de cooperativas desses materiais, com

objetivos de eliminação e recuperação de lixões com a inclusão social e emancipação

econômica dos trabalhadores, estando vedada a catação nas áreas de disposição final dos

resíduos e/ou rejeitos não obstando a atuação das cooperativas, sendo que sua atividade

será definida pelos planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos, na

participação dos interessados, como cooperativas e formas de associação de catadores ou

pessoas de baixa renda, isso tudo sem a necessidade de licitação na contratação dessas

cooperativas e associações.

Podem ser utilizados incentivos ou convênios e outros instrumentos de

colaboração com pessoas jurídicas de direito público e/ou privado, que contribuam para o

desenvolvimento dessas cooperativas, no estímulo e capacitação, bem como ao

fortalecimento institucional e pesquisa voltada para a integração em ações que se

relacionem à responsabilidade compartilhada do ciclo de vida dos produtos.

31 Decreto 7.405/10, Par. Único Artigo 1

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Cabe, inclusive, à União a regulamentação de programa que melhore as

condições de trabalho bem como a inclusão social e econômica de catadores dos materiais

reutilizáveis.

Com base nisso, instituiu-se, em 23 de dezembro de 2010, o Programa Pró-

Catador e Comitês através do Decreto nº 7.405, que tem por finalidade integrar e articular

as ações do Governo Federal que apóiem e fomentem a organização produtiva dos

catadores à melhoria das condições de trabalho, e à ampliação das oportunidades de

inclusão econômica e social para o fim de expandir a coleta seletiva de resíduos sólidos,

da reutilização e reciclagem por intermédio dos catadores.

Cada órgão ou entidade dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, será

responsável pelo termo de adesão do Programa Pró-catador, de forma voluntária, sendo

que aos entes federados caberá a promoção e o acompanhamento do desenvolvimento de

estudos e pesquisas para subsidiar a implantação de coleta seletiva local e regional, assim

com demais ações de inclusão social dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis.

São objetivos do Programa Pró-Catador, conforme artigo 2º do Decreto 7.405/10:

“Art. 2o O Programa Pró-Catador tem por objetivo promover e integrar as seguintes ações voltadas aos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis: I - capacitação, formação e assessoria técnica; II - incubação de cooperativas e de empreendimentos sociais solidários que atuem na reciclagem; III - pesquisas e estudos para subsidiar ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; IV - aquisição de equipamentos, máquinas e veículos voltados para a coleta seletiva, reutilização, beneficiamento, tratamento e reciclagem pelas cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; V - implantação e adaptação de infraestrutura física de cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; VI - organização e apoio a redes de comercialização e cadeias produtivas integradas por cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; VII - fortalecimento da participação do catador de materiais reutilizáveis e recicláveis nas cadeias de reciclagem; VIII - desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à agregação de valor ao trabalho de coleta de materiais reutilizáveis e recicláveis; e IX - abertura e manutenção de linhas de crédito especiais para apoiar projetos voltados à institucionalização e fortalecimento de cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

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Parágrafo único. As ações do Programa Pró-Catador deverão contemplar recursos para viabilizar a participação dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas atividades desenvolvidas, inclusive para custeio de despesas com deslocamento, estadia e alimentação dos participantes, nas hipóteses autorizadas pela legislação vigente.”

Será coordenada a execução e monitoramento do Programa Pró-Catador pelo

Comitê Interministerial para a Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais

Reutilizáveis e Recicláveis em conjunto com representantes dos Ministérios do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Meio Ambiente e contarão como

convidados para integrar o Comitê, representantes da FUNASA (Fundação Nacional de

Saúde), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), BNDES (Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social) da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil

S/A, da Fundação Parque Tecnológico Itaipu, da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras e das

Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, sendo que sua participação será

considerada prestação de serviço público não remunerada.

7.3.3 Solução De Transformação De Energia

Uma solução inovadora é a transformação do lixo em energia elétrica. Estudos

revelam os benefícios dessa transformação, quais sejam o incentivo ao armazeamento

adequado dos resíduos, vez que estes passam a ser considerados matéria-prima, e o

benefício econômico, fazendo o controle completo do metano que é gerado no lixo.

O atraso tecnológico do Brasil se justifica do grande investimento na

implementação desse sistema. Ainda é mais rentável manter os programas pró reciclagem

e os aterros sanitários. Porém, alguns aterros já fazem experimentos, sendo que, em um

desses projetos, há o consumo de 30 toneladas de lixo por dia e gerando 2,6 megawatt,

ainda procurando aumentar esse potencial.

Duas novas usinas de São Paulo, São João, em São Mateus, que promete

transformar em energia elétrica a maior parte do gás produzido pela decomposição natural

das 26 milhões de toneladas de resíduos sólidos depositados no aterro São João entre

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1992 e 2007 a produção de energia limpa e barata suficiente para abastecer 800 mil

pessoas, o equivalente à população de Teresina, no Piauí. E o aterro Bandeirantes, que

possui 140 hectares de área e recebe aproximadamente 6.700 toneladas de resíduos por

dia. Por volta de 60% destes resíduos são de origem orgânica e produzem 1.500 m³ de

chorume diários, o equivalente a 50 carretas de 30 mil litros cada uma. Ali, grande parte

dos gases gerados são encaminhados para a usina termelétrica existente no local, sendo

que este aterro já deixou de lançar na atmosfera mais de 2 milhões de toneladas de

dióxido de carbono, gerando cerca de 172.800 MWh/ano.32

Desta feita, o programa busca dar destinação ambientalmente segura e sustentada

ao lixo produzido na cidade. Com a transformação do gás em energia elétrica nos dois

aterros, somente o município de São Paulo deixará de lançar até 2012 um total de 11

milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, evitando a emissão de um dos

gases responsáveis pelo efeito estufa.

7.3.4 Demais ações

Uma ação veiculada no site oficial da editora abril, informa que no Município de

Gaspar, em Santa Catarina, criaram projeto que permitem com que professores e alunos

troquem materiais recicláveis por livros e cd’s.

O projeto se chama “Troque Lixo por Livro” e incentiva a educação ambiental e a

difusão da cultura. Para tanto deverá haver a troca de um quilo de material reciclado,

sendo que este material será comercializado e parte de seu valor acrescerá à escola.

Esse projeto promete trazer efeitos positivos na conscientização ambiental, vez

que trata-se de constituir um hábito a separação dos materiais recicláveis, e o quanto mais

se expandir pelo país, maior o resultado que poderá trazer à população e ao meio

ambiente.

Outras ações que prometem contribuir para a educação ambiental e redução de

resíduos sólidos são os programas criados pelo governo do Paraná em parceria com outros

32 http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=26667&action=geral

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órgãos. Conforme já mencionado, o Estado do Paraná possui Programas que prometer

auxiliar na eliminação dos resíduos sólidos prejudiciais ao meio ambiente.

São oito os programas que compõe o “Desperdício Zero”.

O Primeiro é o G22+1, que é formado por 23 municípios do Paraná, responsáveis

por 90% dos resíduos gerados no Estado e têm como finalidade promover reuniões

mensais com o fim de discutir, junto à Secretaria do Meio Ambiente, a solução de

problemas para o destino final dos resíduos sólidos.

Logo em seguida, podemos notar o Programa “Selo Azul” referente à reciclagem

do Papel, que obriga todas as instituições do poder público estatal a substituir o papel

normal (não reciclado) ao reciclado, conforme a lei nº 15.676/07, o Decreto 3.014/08 e a

resolução do SEMA de nº 040/08.

Com o intuito de eliminar os problemas causados no descarte do óleo de fritura

nos esgotos (tendo em vista os entupimentos) ou no solo e rios (provocando prejuízo à

vida microbiana), tem-se o programa “coleta de óleo de fritura”, onde vários locais já

receberam um posto de coleta, para sua destinação adequada. A Prefeitura ainda

disponibiliza o telefone que oferece o serviço do posto de coleta, para o fim de ampliar e

dar eficácia ao programa proposto.

Há ainda, o programa “Tetra Pak em Ação”, onde as embalagens longa vida

ganham destaque em razão do escoamento sustentável das embalagens com a geração de

emprego e renda.

No programa de logística reversa “Jogue Limpo” em parceria com as empresas

que fabricam óleos lubrificantes, estas embalagens devem ter destinação ambientalmente

adequada pós-consumo, por intermédio da reciclagem. Com esse mesmo objetivo há o

programa que recolhe pneus inservíveis, aplicando a logística reversa.

Trabalha também na inclusão dos catadores de materiais recicláveis no projeto

“De mão Limpa para o Futuro” e “Multiplicação Ambiental e Inclusão social no Paraná”,

chamando ainda a população e as crianças em eventos, com a reprodução de material

didático educativo acerca da importância sobre a proteção do meio ambiente e coleta

seletiva.

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Em outro sentido, mas não menos importante, há ações generalíssimas acerca de

sugestões para conquistar bons níveis de desenvolvimento sustentável, como por

exemplo: Geração de energia através de fontes não poluentes (Solar, geotérmica ou

eólica); Utilização de sacolas plásticas pelas reutilizáveis; Uso racional da água;

Utilização do biocombustível; Técnicas agrícolas que não prejudiquem o solo;

Substituição de meio de transportes para os coletivos e/ou criação de sistemas de ciclovias

para permitir a utilização de bicicletas; Combate ao desmatamento e à ocupação irregular

em regiões mananciais; Criação de área verde e manutenção dos ecossistemas;

Valorização da produção e consumo de alimentos orgânicos, bem como, na construção

civil, a utilização da técnica do telhado verde.

Diversas, portanto, são as ações que fazem a diferença para o meio ambiente. Se

cada um fizer sua devida parte, fácil se torna a concretização da proteção ambiental com a

qualidade de vida.

7.4 INSTRUMENTOS ECONÔMICOS

De modo a viabilizar as medidas protetivas e recuperativas e, para garantir a

eficácia da Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, o Estado deverá instituir

programas de incentivos econômicos, conforme dispões o artigo 42 da lei em questão:

“Art. 42. O poder público poderá instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, às iniciativas de: I - prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo; II - desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida; III - implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda; IV - desenvolvimento de projetos de gestão dos resíduos sólidos de caráter intermunicipal ou, nos termos do inciso I do caput do art. 11, regional; V - estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa; VI - descontaminação de áreas contaminadas, incluindo as áreas órfãs; VII - desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias limpas aplicáveis aos resíduos sólidos;

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VIII - desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos.“

Além disso, instituições oficiais de crédito podem definir critérios diferenciados

para permitir o acesso aos beneficiários aos créditos do SFN (Sistema Financeiro

Nacional), bem como a competência para instituir normas relativas à concessão de

incentivos fiscais é da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, desde que

atendendo o disposto na Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de

Responsabilidade Fiscal) e lei 12.305/2010, art. 44, a: I - indústrias e entidades dedicadas

à reutilização, ao tratamento e à reciclagem de resíduos sólidos produzidos no território

nacional; II - projetos relacionados à responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos,

prioritariamente em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de

catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa

renda; III - empresas dedicadas à limpeza urbana e a atividades a ela relacionadas.

No que tange aos consórcios públicos constituídos, estes têm prioridade na

obtenção dos incentivos institucionalizados pelo Governo Federal, porém as metas e as

prioridades são fixadas pelas leis de diretrizes orçamentárias e no limite das

disponibilidades propiciadas pelas leis orçamentárias anuais.

8. SANÇÕES PUNITIVAS

Como já analisado exaustivamente, todo dano ou lesão deverá, no direito

ambiental ser punido. No sistema jurídico de Resíduos Sólidos não e de ser diferente,

porém para que possa-se punir e responsabilizar alguém por alguma grave ameaça, é

necessário discorrer sobre o que não é permitido.

Na lição da Professora Helita Barreira Custódio, em sua tese de livredocência da

USP, ela define dano como:

“Para os fins de reparação, o dano decorre de atividade poluente tem como pressuposto básico a própria gravidade do acidente, ocasionando prejuízo

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patrimonial ou não patrimonial a outrem, independente de se tratar de risco permanente, periódico, ocasional ou relativo”33

O Capítulo VI da Lei 12.305/10 traz o rol de proibições acerca da poluição por

resíduos e define, com base na lei 9.605/98 quais são as penas que incorrerá ao infrator.

“Art. 53. O § 1o do art. 56 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 56. ................................................................................. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento (...)”

Insta salientar que, as destinações e disposições finais do lixo inadequadamente

também trarão efeitos para fins de punição, ficando vedado lançamento de resíduos

sólidos em praias, mar ou quaisquer recursos hídricos. De mesma forma não é permitido o

lançamento do lixo a céu aberto, com ressalvas aos produtos provindos de mineração, e a

queima a céu aberto, exceto quando for decretado estado de emergência sanitária, de

acordo com a lei.

As áreas de disposição final de resíduos sólidos terão restrições quando ao seu

uso, sendo expressamente proibida a utilização dos rejeitos dispostos como alimentação, a

catação (observado o disposto no inciso V do art. 17), criação de animais domésticos e

fixação de habitações temporárias ou permanentes (como se vê atualmente em grandes

cidades e regiões metropolitanas).

Por fim, e não menos importante, não haverá a importação de resíduos sólidos e

rejeitos, conforme disposto do artigo 49 do mesmo códex:

“Art. 49. É proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas características causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.“

33 Profa Helita Barreira Custório Na Tese De Livredocencia da USP, 1983, Pg 307. Responsabilidade Civil Por Danos Ao Meio Ambiente. Machado 335, 2004 14 Ed.

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Recentemente, o Brasil enfrentou problemas com a chegada de navios ingleses,

que atracavam em nossos portos carregados de lixo de outros países, conforme notícia

vinculada em:

Com a fixação desse artigo, os responsáveis por esse ato de ofensa à diplomacia

internacional e ao meio ambiente, podem ser finalmente penalizados.

8.1 RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA

No Capítulo referente à Constituição Federal compreendemos que a obrigação

pelos danos causados ao meio ambiente pode ser objetiva. Nesse aspecto, o artigo 51 da

política nacional de resíduos sólidos corrobora:

“Art. 51. Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”, e em seu regulamento.”(grifado)

A nova lei vem para reiterar essa responsabilidade, vez que claramente adota a

teoria da responsabilidade objetiva para os poluidores.

Vale dizer, que o Capítulo III, da Lei 12. 305/10 prevê, também, as

responsabilidades dos geradores e do Poder Público.

A todos cabe a responsabilidade pela efetividade das ações voltadas a assegurar

as diretrizes e a observância da Políticas Nacional dos resíduos Sólidos. No que se refere

ao serviço de coleta, armazenamento, transporte, transbordo, tratamento ou destinação

final é de responsabilidade do Poder Público sua prestação de serviço, porém não isenta

os particulares dos danos causados pela sua má utilização. Essa responsabilidade cessa,

contudo, com a disponibilidade adequada para a coleta, conforme artigos 28 e 29 do

mesmo Códex, que determinam que “o gerador de resíduos sólidos domiciliares tem

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cessada sua responsabilidade pelos resíduos com a disponibilização adequada para a

coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução.“

Por fim, caberá ao poder público minimizar, subsidiariamente, a cessar o dano

causado logo que tome consciência do evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde

pública, sendo que os responsáveis deverão ressarcir o poder público pelos gastos

decorrentes de suas ações.

Ainda, sem prejuízos das sanções administrativas ou penais, o infrator deve

quando previsto em lei ou contrato reparar pecuniariamente os danos causados ao meio

ambiente, devendo apenas haver o nexo de causalidade entre o fato e a conduta.

De outra sorte, poderá haver responsabilidade compartilhada, nos moldes da

Seção II, Capítulo III, conforme se verifica do artigo 30:

“Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e procedimentos previstos nesta Seção. Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo: I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis; II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas; III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais; IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade; V - estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis; VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade; VII - incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. “

É de se responsabilizar, de mesma forma, os fabricantes, importadores e

comerciantes pelo investimento ao desenvolvimento, fabricação e na instalação no

mercado de produtos, devendo estar aptos após o uso do produto pelo consumidor à

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reutilização e demais formas de destinação ambiental, e ainda, produtos cuja fabricação e

uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível.

Deverão divulgar informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os

resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos e deverá haver o recolhimento dos

produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, conforme política de logística reversa.

Inclusive, é de verificar, que suas embalagens deverão ser fabricadas com

materiais propícios à reutilização ou a reciclagem.

O titular de serviços públicos, por sua vez manejar os resíduos sólidos e limpeza

urbana através de planos e programas municipais, adotando procedimentos de

reaproveitamento de resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis originários dos serviços

públicos de limpeza urbana e estabelecendo estabelecer sistemas de coleta seletiva, entre

outras medidas.

É com base na gravidade do fato, antecedentes do infrator e sua situação

econômica (no caso de multa) que se define a penalidade a ser aplicada, sendo que as

privativas de direitos são autônomas e possuem a característica de substituir as penas

privativas de liberdade quando tratar-se de crime culposo, com pena inferior a quatro anos

e quando a “culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a

substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime”, conforme

de depreende do artigo 7º, II da Lei nº 9.605/98.

As penas restritivas de direitos serão semelhantes as do processo penal, a

exemplo da prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária e as atenuantes e

agravantes seguem o mesmo raciocínio, como modelo a agravante do crime ser cometido

a noite e/ou com fraude ou abuso de confiança.

Vale dizer que as pessoas jurídicas também sofrerão as mesmas punições

restritivas de direitos, podendo se restar suspensas total ou temporariamente.

A quantificação do dano ambiental, no entanto, é imprescindível para alcançar a

razoabilidade das sanções ambientais. Assim explica Maria Helena Diniz:

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“É de competência jurisdicional o estabelecimento do modo como o lesante deve reparar o dano moral, baseado em critérios subjetivos (posição social ou política do ofendido, intensidade do animo de ofender: culpa e dolo) ou objetivos (situação econômica do ofensor, o risco criado, gravidade e repercussão da ofensa). Na avaliação moral, o órgão judicante deverá estabelecer uma reparação equitativa, baseada na culpa do agente, na extensão do prejuízo causado e na capacidade econômica do responsável”.34

Desta feita, a razoabilidade se alcança através da tentativa do melhor resultado ao

meio ambiente, pois o que se deseja, é a reparação do dano causado no sentido de, não

somente na aplicação de multa, engordando os cofres públicos, ou na restrição dos

direitos do ofensor, mas sim no sentido de que o meio ambiente tenha de volta sua

sanidade e autenticidade que lhe era garantida anterior a lesão.

Assim, não raras as vezes poderá haver a transação penal, nos moldes do art. 20

da lei dos crimes ambientais, para o fim de prestar a tutela adequada na proteção daquele

meio.

De qualquer forma, a razoabilidade “oferece uma alternativa ao judiciário para a

produção do melhor resultado, ainda quando não seja o único possível ou mesmo aquele

que mais obviamente resultaria da aplicação crítica da lei.”.35

8.1.1 Responsabilidade Civil

Seguindo os moldes do exposto anteriormente, a responsabilidade civil será

acertada pelo Código de Processo Civil no que se refere à jurisdição e poderá ser entre

particulares ou particular e Poder Público. Se reflete, basicamente numa reparação de

dano ambiental ou valor pecuniário com vistas a indenizar o prejudicado, observando

inclusive, a necessidade de pagamento de multa por infração ambiental.

Aqui a responsabilidade do causador do dano é objetiva, isto é, independe da

existência de culpa para que se exija sua reparação, e ao formular critérios à essa

modalidade de responsabilidade, o legislador optou “pela teoria do risco integral, segundo

34 DINIZ. Maria Helena. “Curso De Direito Civil Brasileiro”, v. 7. Saraiva, São Paulo, 1993. pag 79 35 BARROSO. LUIS ROBERTO. “Entre a lei e a justiça: o principio da razoabilidade no direito brasileiro” aperj- noticias, n 10, p3

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a qual, quem exerce uma atividade da qual venha ou pretenda fruir um benefício, tem de

suportar os riscos dos prejuízos causados pela atividade, independentemente de culpa.

Com sua atividade ele torna possível a ocorrência do dano (potencialidade danosa)”.36

Nesse sentido, afirma Gilberto Passos de Freitas que “adotada pela maioria dos

doutrinadores brasileiros, esta teoria não admite nenhuma causa excludente de

responsabilidade se constituindo na forma mais rigorosa de imputação da

responsabilidade do dano ambiental.” 37

O rompimento do poliduto OLAPA, da Petrobrás, é um exemplo de

responsabilidade civil por infração ao meio ambiente, onde teve que indenizar diversos

pescadores por interditar os mares da Bacia de Paranaguá em razão de vazamento de

poliduto com conseqüente envenenamento das águas e morte dos peixes, como se verifica

através do seguinte julgado:

“APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS ACIDENTE AMBIENTAL PETROBRÁS VAZAMENTO DO POLIDUTO ("OLAPA") E VAZAMENTO DE ÓLEO COMBUSTÍVEL.APELO DA PETROBRÁS AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO NECESSIDADE DE INTERPOSIÇÃO NA FORMA INSTRUMENTAL PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA AFASTADA - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADA MÉRITO ALEGADA AUSÊNCIA DE CULPA DA REQUERIDA IRRELEVÂNCIA RESPONSABILIDADE OBJETIVA PRETENSÃO DE MINORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS IMPOSSIBILIDADE EXCLUSÃO DA MULTA POR RECURSO PROTELATÓRIO PROCEDENTE - SUCUMBÊNCIA MANTIDA AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO E APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. APELO DO AUTOR LUCROS CESSANTES AUSÊNCIA INTERESSE RECURSAL PRETENSÃO DE MAJORAÇÃO DO MONTANTE INDENIZATÓRIO FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS IMPOSSIBILIDADE TERMO INICIAL DOS JUROS MORATÓRIOS NO TOCANTE AOS DANOS MORAIS FATO DANOSO SÚMULA 54/STJ TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA DATA DA DECISÃO QUE OS FIXOU SÚMULA 362 DO STJ - RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E,NA PARTE CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO. “ (TJPR - 8ª C.Cível - AC 0446278-2 - Paranaguá - Rel.: Juíza Subst. 2º G. Denise Kruger Pereira - Unânime - J. 05.05.2011)

36Reparação De Danos Ambientais Revista De Direito Ambiental, V 19 Pg 129-156/ Pg 63 37 FREITAS. Gilberto Passos. “Ilícito penal ambiental e reparação do dano”. RT São Paulo, 2005 – PG 64

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Diversas outras ações revelam a responsabilidade dos geradores, demonstrando a

seriedade e a efetividade do direito ao bem ambiental.

8.1.2 Responsabilidade Administrativa

De acordo com o art. 70 da Lei 9.605/98, “considera-se infração administrativa

ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,

proteção e recuperação do meio ambiente.”

Vale dizer que qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir

representação às autoridades que deverá promover sua apuração imediata, mediante

processo administrativo, sob pena de co-responsabilidade.

Terá o infrator direito ao contraditório e, nos casos de condenação terá cinco dias

para o pagamento da multa, se houver e, se cometer simultaneamente mais de uma

infração, ser-lhe-ão aplicadas cumulativamente as sanções a elas cominadas.

As punições administrativas podem ser através de advertência, multa simples,

multa diária, destruição ou inutilização do produto, suspensão de venda ou fabricação do

produto, embargo da atividade, entre outros.

A multa simples será aplicada quando, por dolo ou negligência o agente deixar

por sanar as irregularidades apontadas e se opuser embaraço à fiscalização.

Já no que diz respeito á multa diária, essa será aplicada quando o cometimento da

infração se perdurar no tempo, os valores arrecadados com essas e aquelas serão

revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.

As sanções restritivas de direitos podem ocasionar suspensão de registro,

cancelamento de registro, perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais, perda ou

suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de

crédito e/ ou proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três

anos.

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8.1.3 Responsabilidade Penal

A responsabilidade criminal emerge do cometimento de crimes ou contravenções

contra o meio ambiente, ficando o infrator sujeito a multa (pena pecuniária) ou penas

privativas de liberdade, dependendo do agente e infração (vez que pessoa jurídica não

pode ser presa).

Para constituir-se crime ecológico deve-se ater-se ao princípio constitucional da

legalidade, isto é, não existe crime sem definição legal anteriormente prevista. A lei que

regula esses crimes é a Lei a lei 9.605/98, conforme se verifica a seguir:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente. Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

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§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. § 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 3º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

E mais:

“Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas serão aumentadas: I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral; II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem; III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave. Art. 59. (VETADO) Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.”

É de se observar, ainda, que a ação penal é incondicionada e, para fins de

transformação de pena nos crimes de menor potencial ofensivo, deverá ser comprovada

prévia composição de dano ambiental.

9. COMPETÊNCIAS

A matéria da competência é importantíssima no momento de se definir regras de

gestão dos resíduos sólidos. Isso porque é a partir daí que se define a responsabilidade de

seus gestores.

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Em análise da legislação, podemos observar que o Poder Público trabalhará em

conjunto para promover a gestão integrada dos resíduos, mantendo de forma una o

Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos, conhecido como

Sinir.

Nessa gestão, que incumbe ao Distrito Federal e aos Municipios seu próprio

planejamento territorial, não haverá prejuízo de competências e controle de fiscalização

de órgãos federais e estaduais como o Sinama, Suasa e SNVS, devendo cada qual arcar

com suas responsabilidades.

Aos Estados, caberá promover a integração da organização, execução e

planejamento de funções públicas e de interesse comum, bem como deverá controlar e

fiscalizar atividades dos geradores sujeitos a licenças ambientais.

Serão elaborados, portanto, planos de resíduos sólidos, que poderão ser

Nacionais, Estaduais, intermunicipais, Municipais e planos de gerenciamento.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos será elaborado pela União, sob a

coordenação do Ministério do Meio Ambiente, sem prazo determinado para produzir seus

efeitos, com horizonte de vinte anos, a ser atualizado a cada quatro anos. Seu conteúdo

mínimo trará: ”I - diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos; II - proposição de

cenários, incluindo tendências internacionais e macroeconômicas; III - metas de redução,

reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e

rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada; IV - metas para o

aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de resíduos

sólidos; V - metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social

e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; VI -

programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas; VII - normas e

condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União, para a obtenção de seu aval ou

para o acesso a recursos administrados, direta ou indiretamente, por entidade federal,

quando destinados a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos; VIII - medidas

para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos; IX - diretrizes

para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das regiões

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integradas de desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como para as áreas

de especial interesse turístico; X - normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e,

quando couber, de resíduos; XI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização,

no âmbito nacional, de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle

social”. Além disso, contará com um processo de participação e mobilização social, com

consultas e audiências públicas.

Nos mesmos moldes, os planos estaduais de resíduos sólidos se destinarão a

empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, nos termos da lei,

parar se beneficiarem por incentivos fiscais, financiamentos e fomento da atividade. Não

se pode deixar de mencionar que os Estados, além de seus planos estaduais, poderão

elaborar planos microrregionais e aqueles direcionados às regiões metropolitanas,

estabelecendo soluções integradas de coleta seletiva, reutilização e reciclagem.

Já no que diz respeito aos planos municipais de gestão de resíduos sólidos, este é

requisito para o acesso dos recursos provindos da União, destinados a empreendimentos e

serviços referentes à limpeza,manejo e incentivos ou financiamento de entidades federais

e fomento. Esse acesso se dá conforme ordem de prioridade, ao que se verifica do

parágrafo 1º do art. 18 da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

“§ 1o Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que: I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos no § 1o do art. 16; II - implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda.“

Possuem como conteúdo mínimo o diagnóstico dos resíduos sólidos, com suas

nuances e características, bem como a identificação de áreas de disposição final,

prevenção de riscos ambientais e dos riscos gerados, sujeitos a planos de gerenciamento,

além do rol de conteúdos elencados no artigo 19 da lei em questão.

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É de se analisar, inclusive, que estarão sujeitos à elaboração plano de

gerenciamento de resíduos sólidos os geradores desses resíduos dispostos por lei, os

estabelecimentos comerciais e que prestam serviços que gerem resíduos perigosos ou

mesmo que não perigosos, não sejam comparados como domiciliares, as empresas de

construção civil, nos moldes da lei e demais sujeitos previstos no artigo 20 da mencionada

lei.

Outras características são encontradas na elaboração desse planejamento, todos

elencados no rol de competências da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Deve-se atentar, porém, na questão da competência, a questão do licenciamento,

sendo que, neste aspecto, o artigo 24, § 1o e § 2o já estabelecem:

“Art. 24. O plano de gerenciamento de resíduos sólidos é parte integrante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento ou atividade pelo órgão competente do Sisnama. § 1o Nos empreendimentos e atividades não sujeitos a licenciamento ambiental, a aprovação do plano de gerenciamento de resíduos sólidos cabe à autoridade municipal competente. § 2o No processo de licenciamento ambiental referido no § 1o a cargo de órgão federal ou estadual do Sisnama, será assegurada oitiva do órgão municipal competente, em especial quanto à disposição final ambientalmente adequada de rejeitos.”

Há de se concluir ainda, a importância em observar a ordem de legislar, vez que

isso poderá alterar todo o status na aplicação e eficácia da norma.

9.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Acerca da competência é de se analisar que nos demais aspectos, que não

referentes aos planos de gerenciamento de resíduos sólidos, valerá o rol de competências

expostos na Carta Magna.

No que se refere às competências da União, podemos verificar o artigo 20, XX da

Constituição Federal:

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“Art. 20 Compete à União: XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;”

Sobre a competência legislativa, assunto desse tópico, podemos ver que cabe

privativamente à União legislar sobre determinados temas, alguns, de matéria indireta ao

meio ambiente, mas nenhum permite que apenas a União arque com determinada

responsabilidade, vez que cabe tanto à União quanto aos Estados, Municípios e Distrito

Federal a proteção ambiental.

O artigo 23, incisos VI, VII e IX, bem como o parágrafo único do mesmo Códex

já preceitua:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.”

Assim, corrobora o artigo seguinte:

“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

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Vale ressaltar que existem diversas lei estaduais e municipais, inclusive, no que

diz respeito aos resíduos sólidos, a exemplo do Estado do Paraná 12.493/99, conforme já

visto.

Superado este tema, passa-se à competência judiciária.

9.2 JUDICIÁRIO

O dano ambiental necessariamente precisa ser reparado. Geralmente ocorre a

reparação pela via administrativa (poder de polícia e processo administrativo punitivo) ou

pela via judicial (ações).

Pela via judicial podemos visualizar as ações cíveis, Constitucionais, Penais e

também descritas em leis especiais.

As ações cíveis são cabíveis na reparação danos causados ao meio ambiente

originados da responsabilidade objetiva. O pólo ativo legítimo será daquele que sofreu

prejuízo pela ação ou omissão do infrator. Será regulado pelas normas do Código de

Processo Civil e deverá processeguir na Justiça estadual ou federal, obeservada suas

características.

Já no que tange a Ação Civil Pública, a lei 7.347/85, conhecida como a Lei da

Ação civil pública prevê a proteção do patrimônio público e social e do meio ambiente.

Configurarão no pólo ativo as pessoas jurídicas estatais, autárquicas e paraestatais,

associações civis e o Ministério Público. Vale dizer que na defesa do ambiente a Ação

Civil Pública é considerado um dos instrumentos mais adequados para reprimir danos

ambientais, inclusive, prevendo a tutela cautelar, com possibilidade de concessão de

medida liminar.

Em outro sentido, de acordo com art. 5º, LXXII, todo cidadão pode propor ação

popular visando anular ato lesivo ao patrimônio ao meio ambiente, ao patrimônio

histórico e cultural. Essa ação é regulada pela Lei 4.717/65. O pedido da ação deve conter

pagamento para reparação por perdas e danos e/ou reposição do bem ambiental lesado ao

estado que se encontrava antes da lesão, cabendo também pedido de liminar.

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Também se pode verificar o Mandado de segurança coletivo. Poderão intentar a

presente medida, os partidos políticos com representação no Congresso Nacional,

organização sindical, entidade de classe ou associado legalmente constituída e em

funcionamento a pelo menos um ano, conforme art.5º, LXX da Constituição Federal.

Assim as instituições que tenham nas suas finalidades institucionais a defesa do meio

ambiente podem impetrar mandado de segurança coletivo com determinado objeto.

Importante observar que o Judiciário está abarrotado de ações referentes a danos

ambientais, e no que diz respeito aos resíduos sólidos, pode-se despender as seguindes

jurisprudências:

9.2.1 No que se refere à matéria penal:

“APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL. POLUIÇÃO POR LANÇAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E GASOSOS, EM DESACORDO COM AS EXIGÊNCIAS DE LEI OU REGULAMENTO (ART. 54, §2º, INCISO V, DA LEI 9.605/98). ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA POR DESCONSIDERAÇÃO DA CONFISSÃO NA DOSIMETRIA DA PENA. PRELIMINAR AFASTADA. MATERIALIDADE. PRESCINDIBILIDADE DE LAUDO PERICIAL ESPECÍFICO (AUTO DE EXAME DE CORPO DE DELITO). IMPOSSIBILIDADE DE SUA PRODUÇÃO EM RAZÃO DO ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DA EMPRESA. VASTO E COERENTE CONJUNTO PROBATÓRIO A DEMONSTRAR O NÍVEL DE POLUIÇÃO E POTENCIAL DANO À SAÚDE HUMANA. CONDENAÇÃO MANTIDA. PENA. DOSIMETRIA. CONFISSÃO. REFORMA DA SENTENÇA NESTE PONTO, MEDIANTE REDUÇÃO E ADEQUAÇÃO DA PENA. DEFENSOR DATIVO. HONORÁRIOS FIXADOS PELA SENTENÇA, COM CONDENAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ AO PAGAMENTO. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO CRIMINAL. AFASTAMENTO DE OFÍCIO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Inviabilizada a produção de laudo pericial que ateste o nível de poluentes despejados pelo agente no meio ambiente, em razão da cessação da atividade poluidora, outros meios de prova podem suprir-lhe a falta (art.167 do CPP). 2. O crime de poluição, quando tem por objeto a tutela da "saúde humana", é de perigo abstrato, já que a própria redação do art. 54 da Lei 9605/98 faz menção à conduta de emitir poluentes em níveis tais "que resultem" ou "que possam resultar" em danos à saúde humana.” (TJPR - 2ª C.Criminal - AC 0307709-2 - Cornélio Procópio - Rel.: Juíza Subst. 2º G. Lilian Romero - Unânime - J. 02.03.2006)

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9.2.2 No que se refere à matéria Cível:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. DIREITO AMBIENTAL. CONSTROVERSIA ACERCA DE A QUEM S E DEVA IMPUTAR A OBRIGAÇÃO PELO GERENCIAMENTO (COLETA, TRANSPORTE E DESTINAÇÃO FINAL) DOS RESÍDUO S SÓLIDOS DECORRENTES DE ATIVIDADE DE SAÚDE. SENTENÇA RECORRIDA JULGOU IMPROCEDENTE A PRETENSÃO AUTORAL. QUESTÕES PRELIMINARES. A) INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL (CRITÉRIO PESSOAL). AFASTADA. A PROTEÇÃO A O MEIO AMBIENTE E O CONTROLE DA POLUIÇÃO SÃO MATÉRIAS QUE CONSTITUEM, A UM SÓ TEMPO, COMPETÊNCIA MATERIAL COMUM (ARTIGO 23, VI, CF/88) E COMPETÊNCIA LEGISLAT IVA CONCORRENTE (ARTIGO 24, VI, CF/88) AFETA A TODOS OS ENTES QUE COMPÕEM A FEDERAÇÃO: UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS. O MUNICÍPIO, NESTE C ASO, EXERCEU COMPETÊNCIA QUE LHE É PRÓPRIA, ATRIBUÍDA IMEDIATAMENTE PELA NORMA CONSTITUCIONAL, E A COMPETÊNCIA JURISDICIONAL PARA A CAUSA É, PORTANTO, DA JUSTIÇA ESTADUAL. B) HIPÓTESE DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INAPLICÁVEL À ESPÉCIE. NEM A LEI, NEM A NATUREZA DA RELAÇÃO JURÍDICA DEBATIDA NOS AUTOS FAZEM NECESSÁRIA A FORMAÇÃO DO LITISCONSÓRCIO (ARTIGO 47, PRIMEIRA PARTE, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). OS RESULTADOS FÁTICOS E JURÍDICOS DO PROCESSO NÃO ALTERAM O DEVER DE AJUSTAMENTO DA CONDUTA QUE FORA COMPROMISSADO NO TAC. C) IMPOSSIBILIADE JURÍDICA DO PEDIDO. AFASTADA PORQUE INTEIRAMENTE FUNDADA NA PREMISSA DE QUE A DEMANDA VISARIA DESCONSTITUIR TAL AJUSTAMENTO. INFERE-SE DO REGIME CONSTITUCIONAL REINANTE (ARTIGO 225, CF/88), QUE TANTO O PODER PÚBLICO QUANTO O PARTICULAR, EM ABSTRATO, ESTÃO VINCULADOS AOS DEVERES GENÉRICOS DE PROTEGER E PRESERVAR O MEIO AMBIENTE E, POR CONSEGUINTE, ÀS OBRIGAÇÕES QUE DELA S DECORRAM. OBRIGAÇÕES QUE NO DIREITO AMBIENTAL SÃO MAIS BEM DETALHADAS PELA LEGISLAÇÃO PROVENIENTE DE QUALQUER DOS ENTES FEDERATIVOS, ASSIM COMO PELO QUE SE CONVENCIONOU DENOMINAR DE "NORMAS E PADRÕES COMPATÍVEIS COM O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA". NO CASO EM TELA, A LEI ESTADUAL N.º 12.493/99 (ARTIGOS 4º E 8º), A RESOLUÇÃO CONJUNTA N.º 002/2005 SEMA/SESA E, NA ESFERA FEDERAL, A RESOLUÇÃO CONAMA N.º 358/2005 SÃO UNÍSSONAS EM AFIRMAR A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES SUBSTITUÍDAS PROCESSUALMENTE PELO SINDICATO APELANTE PELO ACONDICIONAMENTO, ARMAZENAMENTO, COLETA, TRANSPORTE, TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL D O

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PASSIVO AMBIENTAL QUE GERARAM E VIEREM A GERAR POR MEIO DE SUA ATIVIDADE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.“ (TJPR - 4ª C.Cível - AC 0706162-3 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Desª Maria Aparecida Blanco de Lima - Unânime - J. 19.04.2011)

E mais:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPLANTAÇÃO DE COMPOSTAGEM DE TODAS AS ESPÉCIES DE RESÍDUOS ORGÂNICOS. NOVA LEGISLAÇÃO. LEI Nº 12.305/2010. PRAZO EXÍGUO. MULTA . IMPOSSIBILIDADE. 1. Se a Lei Nacional, que aos olhos deste relator goza de natureza jurídica de "norma geral" haja vista que no âmbito da competência legislativa concorrente, como o é quando se trata de meio ambiente - fixou um prazo de até 4 anos para que os responsáveis pela gestão de resíduos sólidos dêem uma disposição final ambientalmente adequada compostagem, por exemplo é evidente que o prazo fixado pela sentença, bem como a respectiva multa para caso de descumprimento, devem ser extirpados. 2. Sentença parcialmente modificada em sede de Reexame Necessário. Maioria. “ (TJPR - 5ª C.Cível - RN 0688132-5 - Palotina - Rel.: Des. Rosene Arão de Cristo Pereira - Por maioria - J. 16.11.2010)

De uma maneira negativa, vê-se que, diante de tantas ações pode-se notar que a

consciência ambiental e a efetividade das normas ambientais não estão completamente

inseridas na vida dos cidadãos, indo ao encontro da necessidade de aplicação dos

princípios regulados pela nova lei, a exemplo da educação ambiental, como forma saída

para solução de litígios até sua completa extinção.

Em outro sentido, positivamente, observa-se que, se há tanta procura do direito de

proteção ao meio ambiente no âmbito do Judiciário, há a adequada prestação jurisdicional

com conseqüente aumento da segurança jurídica no sentido de que nenhuma lesão ou

ameaça de direito ficará isenta de reparação, afastando de modo generalíssimo a

impunidade e garantindo que a lei seja verdadeiramente aplicada.

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10. CONCLUSÃO

O homem é a forma pela qual a natureza toma consciência de si mesma, ou seja, o

homem pode verbalizar a natureza, transformá-la e destruí-la. Assim, a destruição da

natureza é ao mesmo tempo causa e conseqüência da aniquilação da consciência humana.

Assim, a crise é civilizatória e deve ser solucionada, pois não só possibilita a exclusão do

passado ou presente: Possibilita a exclusão do futuro da humanidade.

Portanto, não podemos estar imbuídos de otimismo inveterado, acreditando que a

natureza se arranjará sozinha, frente a todas as degradações que lhe impomos. De outro

lado, não podemos nos abater pelo pessimismo. É plenamente possível o combate contra a

poluição, não sendo necessário para isso atar o progresso industrial e econômico, pois a

poluição da miséria é a sua pior forma.

Pacifico então o entendimento de que a Lei 12.305/10 veio para dirimir as

controvérsias e tem grande chance de se tornar a salvação para um problema que antes se

tinha como intrínseco, sabendo hoje que, em realidade, é somente uma dificuldade

cultural e social em vias de evolução.

Somente a força da legislação e sua fiscalização podem alterar este estado de

imutabilidade, cumprindo o preceito Constitucional de “assegurar o exercício dos direitos

sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a

igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e

internacional, com a solução pacífica das controvérsias”38, visando a tão aclamada ordem

e progresso.

38 Constituição Federal. Preâmbulo. 1988.

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