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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DANIELLA MARQUES BOLINCENHA PRINCIPAIS DOENÇAS QUE CAUSAM ABORTO EM PEQUENOS RUMINANTES CURITIBA 2016

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/PRINCIPAIS-DOENCAS-QUE-CAUSAM... · que eu era capaz de chegar aonde cheguei, principalmente numa

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

DANIELLA MARQUES BOLINCENHA

PRINCIPAIS DOENÇAS QUE CAUSAM ABORTO EM PEQUENOS

RUMINANTES

CURITIBA

2016

DANIELLA MARQUES BOLINCENHA

PRINCIPAIS DOENÇAS QUE CAUSAM ABORTO EM PEQUENOS

RUMINANTES

CURITIBA

2016

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciências

Biológicas e da Saúde da Universidade

Tuiuti do Paraná como requisito avaliativo

parcial do 9° semestre para obtenção do

grau de Médico Veterinário.

Prof. Orientador: Msc. João Filipi Scheffer

Pereira

Reitoria

Sr. Luiz Guilherme Rangel dos Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitoria Acadêmica

Profª. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró- Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Profª. Carmen Luiza da Silva

Secretário Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Sa úde

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

CAMPUS BARIGUI

Rua Sydnei A Rangel Santos 238 - Santo Inácio

CEP 82.010-330 – Curitiba – PR

FONE: (41) 3331-7700

TERMO DE APROVAÇÃO

DANIELLA MARQUES BOLINCENHA

ABORTO EM PEQUENOS RUMINANTES – PRINCIPAIS DOENÇAS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do

título de Médico (a) Veterinário (a) pela Comissão Examinadora do Curso de

Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 30 de Junho de 2016

COMISSÃO EXAMINADORA:

______________________________________________

Orientador Prof. Msc. João Filipi Scheffer Pereira

UTP-Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Prof. Dr. Odilei Rogério Prado

UTP- Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Profª. Liedge Simoni

AGRADECIMENTOS

Primeiramente tenho que agradecer aos meus dois anjos da guarda, meus

pais (Gelson e Karine), por desde sempre me apoiarem em realizar meu sonho e

fazer com que isso se tornasse possível, mesmo com alguns obstáculos e

dificuldades, sempre estiveram ali pra me apoiar e incentivar quando necessário, dar

colo pra chorar quando tive medo e achei que não conseguiria e me dar um abraço

e um sorriso por qualquer vitória que tive nessa trajetória, obrigada por tudo, sem

vocês esse sonho não se tornaria realidade, eu amo vocês.

Agradecer a minha irmã (Érika), por também me ajudar e me apoiar dizendo

que eu era capaz de chegar aonde cheguei, principalmente numa manhã onde

passei a madrugada estudando a base de café e chocolate para a prova e matéria

que eu tive mais dificuldade e medo, ter deixado bilhetes de incentivo fazendo com

que eu me emocionasse demais, obrigada irmã, amo você.

Não poderia deixar de agradecer ao pessoal do meu estágio obrigatório

(coordenadora Dra Alda Monteiro, mestrandos, doutorandos, estagiários e

funcionários), pela melhor recepção e experiência que eu pude ter durante a

faculdade, vocês se tornaram muito importante pra mim, muito obrigada por toda a

ajuda e paciência em passar um pouco de toda a experiência de vocês em tão

pouco tempo.

A todos os meus amigos, por entenderam quando eu não pude dar a atenção

devida por ter que estudar para trabalhos, provas, TCC ou estar cansada e no

estágio. Vocês sem dúvidas são os melhores que eu poderia ter, obrigada por

caminharem comigo nessa jornada, amo vocês.

As minhas companheiras da faculdade (Le Pedrotti, Chantal, Le Smanioto,

Valquiria e Suellen), por todos os estudos juntas, as noites mal dormidas, as

madrugadas a base de café e chocolate, o frio na barriga para apresentar

seminários, os medos pré prova, e também todas as festas, baladas, churrascos, e

tudo que vivemos juntas. Sem vocês, esse sonho sem dúvidas não se tornaria real.

São amizades de faculdade, que quero levar para toda vida, amo vocês minhas

vetgatas.

E sem dúvidas, a todos os animais, pois eles são o motivo do meu sonho, o

amor sem receber nada em troca, um gesto simples de carinho, é por vocês que eu

estarei aqui, para sempre.

RESUMO

Este trabalho de conclusão do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti

do Paraná, tem por objetivo apresentar as atividades desenvolvidas durante o

estágio curricular supervisionado, realizado no setor de Laboratório de Pesquisa e

Produção de Ovinos e Caprinos (LAPOC) na Universidade Federal do Paraná

(UFPR), no período de 15 de fevereiro a 29 de abril de 2016. Neste período foram

realizadas atividades de manejo geral, nutricional, reprodutivo e acompanhamento

de casos clínicos. A segunda parte do trabalho apresenta uma revisão bibliográfica

abordando as principais doenças (toxoplasmose, brucelose, listeriose, leptospirose,

neosporose e língua azul) que causam aborto em pequenos ruminantes, revisando

a etiologia, fonte de infecção, sinais clínicos, diagnóstico e prevenção/tratamento.

Palavras chave: Aborto, caprinos, doenças infecciosas, ovinos.

ABSTRACT

This work completion of the course of Veterinary Medicine of Paraná Tuiuti

University, aims to present the activities developed during the supervised internship,

conducted at the Research Laboratory sector and Sheep Production and Goats

(LAPOC) at the Federal University of Paraná (UFPR) in the period from February 15

to April 29, 2016. In this period were held general management activities, nutritional

and reproductive, and monitoring of clinical cases. The second part presents a

literature review addressing major diseases (toxoplasmosis, brucellosis, listeriosis,

leptospirosis, neosporosis and blue tongue) that cause abortion in small ruminants,

reviewing the etiology, source of infection, clinical signs, diagnosis and

prevention/treatment.

Keryword: Abortion, goats, infectious diseases, sheep.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Acesso principal da Fazenda Experimental Canguiri. ............................ 13

Figura 2 - Centro de Manejo. ................................................................................... 15

Figura 3 - Maternidade. ........................................................................................... 15

Figura 4 - Farmácia. ................................................................................................ 16

Figura 5 - Distribuição dos piquetes do LAPOC - UFPR. ........................................ 18

Figura 6 - Graus de anemia – Método Famacha®. ................................................. 19

Figura 7 - Avaliação de escore corporal em ovinos – graus de escore corporal. .... 20

Figura 8 - Regiões avaliadas para o ECC em caprinos. .......................................... 20

Figura 9 - Esquema de protocolo utilizado para monta natural no rebanho ovino do

LAPOC - UFPR. ....................................................................................................... 21

Figura 10 – Esquema de utilização de tinta para identificar monta no rebanho. ..... 22

Figura 11 - Aparelho ultrassom Landwind C40 vet e transdutor linear na frequência

de 7.5MHz. ............................................................................................................... 22

Figura 12 - Placentoma visualizado no diagnóstico de gestação de uma ovelha

prenhe. ..................................................................................................................... 23

Figura 13 - Ovelha durante trabalho de parto no LAPOC-UFPR. ............................ 23

Figura 14 – Vasectomia em macho adulto. ............................................................. 25

Figura 15 - Córtex cerebral de feto ovino com presença de cisto de Toxoplasma

gondii (1) e taquezoítos, com marcação positiva (setas) no exame de

imunoistoquímico. .................................................................................................... 33

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de animais por categoria. ......................................................... 14

Tabela 2 - Quantidade de ração fornecida para os animais divididos por categoria. 16

Tabela 3 - Distribuição das diferentes espécies de forrageiras nos piquetes do

LAPOC - UFPR. ....................................................................................................... 17

Tabela 4 - Quantidade de casos clínicos acompanhados durante o estágio

obrigatório no LAPOC - UFPR. ................................................................................ 25

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CIDR Dispositivo Liberador de Drogas

cm centímetros

d dias

DNA Ácido Desoxirribonucléico

Dra Doutora

et al e colaboradores

eCG Gonadotrofina Coriônica Equina

ha hectares

IDGA Teste de Imunodifusão em Gel de Ágar

kg MS quilos de matéria seca

kg quilos

kg/ha quilos por hectares

km quilômetros

LAPOC Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos

m2 metros quadrados

MHz megahertz

mg miligramas

ml mililitros

mm milímetros

M.V. Médico Veterinário

OIE Organização Internacional de Epizootias

OMS Organização Mundial da Saúde

OPG Contagem de Ovos por Grama de Fezes

PCR Reação em Cadeia Polimerase

pH Potencial Hidrogiônico

PR Paraná

Prof Professor

sp espécie

spp espécies

UFPR Universidade Federal do Paraná

UTP Universidade Tuiuti do Paraná

VLA Vírus Língua Azul

µm Um micrômetro

ºC graus Celsius

% porcentagem

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

2 DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 13

2.1 Universidade Federal do Paraná (UFPR) ........................................................... 13

2.2 LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO E PESQUISA EM OVINOS E CAPRINOS

(LAPOC) ................................................................................................................... 13

2.2.1 Rebanho e Instalações .................................................................................... 14

2.2.2 Manejo Alimentar ............................................................................................ 16

2.2.3 Pastagem ........................................................................................................ 16

2.2.4 Manejo Sanitário ............................................................................................. 18

2.2.5 Manejo Reprodutivo ........................................................................................ 20

2.3 DESCRIÇÕES DOS CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS ............................ 25

2.3.1 Principais Casos Clínicos ................................................................................ 26

2.4 EXPERIMENTO DE “EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA EM

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CORDEIROS A PASTO” ..................................... 28

2.5 EXPERIMENTO DE “GRID – COMPORTAMENTO INGESTIVO E

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE OVINOS EM SISTEMA DE PRODUÇÃO A

PASTO” .................................................................................................................... 29

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ...................................................... 29

4 PRINCIPAIS DOENÇAS QUE CAUSAM ABORTO EM PEQUENOS

RUMINANTES ......................................................................................................... 30

4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 30

4.2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 32

4.2.1 TOXOPLASMOSE .......................................................................................... 32

4.2.2 BRUCELOSE .................................................................................................. 33

4.2.3 LISTERIOSE ................................................................................................... 34

4.2.4 LEPTOSPIROSE ............................................................................................. 35

4.2.5 NEOSPOROSE ............................................................................................... 37

4.2.6 LÍNGUA AZUL ................................................................................................. 38

5 CONCLUSÃO ....................................... ................................................................ 40

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 41

12

1 INTRODUÇÃO

O relatório a seguir tem como objetivo descrever as atividades realizadas

durante o estágio supervisionado obrigatório, realizado no período de 15 de

fevereiro a 29 de abril, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Setor de

Ovinocultura da Fazenda de Estação Experimental do Canguiri, localizada no

município de Pinhais, no Paraná. O estágio foi supervisionado pela Engenheira

Agrônoma, Professora Dra. Alda Lúcia Gomes Monteiro, perfazendo um total de 480

horas.

A escolha por realizar o estágio obrigatório na Fazenda Canguiri foi devido a

oportunidade de estar presente não somente na área da reprodução, como também

experiência no manejo diário e rotina dos animais, com instalações adequadas, ao

nível dos profissionais e a excelência dos mesmos, por ser um local de referência

em pesquisas em ovinos e caprinos.

13

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Universidade Federal do Paraná (UFPR)

A Universidade Federal do Paraná, centro de Ciências Agrárias, está

localizada na Rua dos Funcionários, Juvevê – 1540, CEP 80035-050,, Curitiba – PR.

Contudo, o setor de ovinos e caprinos está localizado na Fazenda Experimental do

Canguiri (Figura 1), no município de Pinhais - PR, CEP 83.326-730, à

aproximadamente 20 km de Curitiba.

Na Fazenda Experimental do Canguiri, núcleos temáticos são coordenados

por professores do Setor de Ciências Agrárias, nas áreas de Agronomia, Veterinária,

Zootecnia, Engenharia Florestal e Engenharia Industrial Madeireira.

A estrutura é composta por setores na criação de ovinos, bovinos, produção

de aves, coelhos e suínos. As áreas agrícolas incluem horta orgânica, setores de

fruticultura, floricultura e o cultivo do milho para produção de silagem, a qual é

destinada a alimentação dos animais da própria fazenda.

Figura 1 – Acesso principal da Fazenda Experimental Canguiri.

Fonte: Portal UFPR 2011

2.2 LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO E PESQUISA EM OVINOS E CAPRINOS

(LAPOC)

A equipe é coordenada pela Professora Dra Alda Lúcia Gomes Monteiro,

além de quatro doutorandos zootecnistas, dois doutorandos médicos veterinários,

quatro mestrandos zootecnistas, um mestrando médico veterinário, dois alunos de

14

voluntário acadêmico, seis alunos de iniciação científica e um aluno de estágio

obrigatório.

A área de atividade do setor de ovino e caprinocultura é composta por 18

hectares, sendo 10 hectares para pastagem de inverno e seis hectares para

pastagem de verão e 2.500m² de área construída.

2.2.1 Rebanho e Instalações

O rebanho é constituído por 172 ovinos e 18 caprinos, dividido em categorias

(Tabela 1).O rebanho está dividido em 31 ovinos da raça Suffolk, 141 ovinos da raça

White Dorper e 18 caprinos da raça Boer.

Tabela 1 – Número de animais por categoria. Categoria Nº de animais

Borregas 34

Ovelhas 93

Cabras 6

Cabritos desmamados 12

Reprodutores 3

Rufiões 2

Cordeiros 40

Total 190

Na área externa do setor, está localizado um centro de manejo (Figura 2),

utilizado para realização do repasse dos animais com objetivo de avaliar o escore

corporal, o método Famacha® e pesagem dos animais. Em sua estrutura o centro

de manejo apresenta seringa, balança eletrônica, balança manual e computador

onde as informações dos repasses são registradas em software (Multovinos® e

Multcaprinos®).

Das instalações de manejo diário de ovinos o setor apresenta três apriscos

suspensos, sendo um deles destinado a maternidade (Figura 3), com cinco

escamotiadores para aquecimento dos cordeiros, três solários com um cocho

estendido para alimentação e dois bebedouros. Para manejo dos caprinos as

instalações contam com capril com duas baias, dois cochos para sal e um cocho de

alimentação por baia. Para os tratamentos clínicos, as instalações estão equipadas

15

com enfermaria, contendo 48 baias individuais, com bebedouros e comedouros

duplos.

Destinado ao uso dos funcionários e alunos, o setor tem infraestrutura de

alojamento e vestiário masculino e feminino, com banheiros individuais, cozinha,

escritório e almoxarifado.

O laboratório de reprodução animal, é equipado com geladeira para

refrigeração de alguns medicamentos, hormônios e vacinas, botijão de sêmen e

freezers para congelamento de amostras. O laboratório experimental é destinado a

eutanásia dos animais de experimentação e é equipado com sala de preparação e

freezer para congelamento de amostras e carcaças até que cheguem ao seu destino

apropriado.

As instalações ainda contam com farmácia (Figura 4), onde ficavam

armazenados os medicamentos e materiais necessários para realização e

procedimentos clínicos nos animais.

Figura 2 - Centro de Manejo.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 3 - Maternidade.

Fonte: Acervo pessoal.

16

Figura 4 - Farmácia.

Fonte: Acervo pessoal.

2.2.2 Manejo Alimentar

A alimentação dos animais consiste no fornecimento de concentrado

(adequado a categoria) e silagem, fornecidos em quantidade calculada por categoria

(Tabela 2). Todas as categorias são mantidas com acesso livre ao sal mineral e

água ad libitum.

Tabela 2 - Quantidade de ração fornecida para os animais divididos por categoria. Categoria Concentrado Silagem

Borregas a pasto 0,5 kg/animal/dia 1,6 kg/animal/dia

Borregas confinadas 0,5 kg/animal/dia 2,0 kg/animal/dia

Ovelhas WD mestiças 0,8 kg/animal/dia 0,0 kg/animal/dia

Ovelhas Suffolk 0,3 kg/animal/dia 0,0 kg/animal/dia

Cabritos 0,3 kg/animal/dia 0,9 kg/animal/dia

Cabritas 0,3 kg/animal/dia 0,9 kg/animal/dia

Cabras - 2,5 kg/animal/dia

Carneiros 0,3 kg/animal/dia 2,5 kg/animal/dia

2.2.3 Pastagem

Dos 16 piquetes (Figura 5), dois são de área experimental, e cada piquete

prevalecia um ou mais tipos de pastagens (Tabela 3).

O principal tipo de pastagem nos piquetes é o Tifton 85, considerado uma

ótima opção em climas subtropical e tropical. Mesmo sensível a geadas, é vantajoso

por possuir uma rebrota rápida em relação a outras pastagens, alta palatabilidade e

17

digestibilidade e grande produção de massa verde. Outros tipos de pastagens como

o Paspalum (Paspalum notatum), Quicuio (Pennisetum clandestinum), Aruana

(Panicum maximum) e Amendoim Forrageiro (Arachis pintoi) também estavam

presentes.

Foi feito a sobressemeadura para pastagem de inverno no início do mês de

abril, com sementes de Aveia (Avena sativa L.) e Azevém (Lolium multiflorum). Na

área experimental do piquete 1 e 2 foram semeadas 120 kg de aveia preta e 40 kg

de azevém.

Tabela 3 - Distribuição das diferentes espécies de forrageiras nos piquetes do LAPOC - UFPR.

Piquete Forrageira

Predominante Leguminosa

Forrageira de

Inverno

Espécies não

Cultivadas

1 Tifton-85 - Azevém

Aveia Preta Quicuo

2 Tifton-85 - Azevém

Aveia Preta Paspalum

3 Tifton-85 - Azevém

Aveia Preta Paspalum

4 Tifton-85 - Azevém

Aveia Preta Paspalum

5 Tifton-85 - - Paspalum

6 Tifton-85 - - Paspalum

7 Hemarthria - - -

8 Hemarthria - - -

9 Capim Aruana - - -

10 Capim Aruana - - -

11 Tifton-85 - - -

12 Tifton-85 - - -

13 Tifton-85 Amendoim

Forrageiro - Quicuo

14 Hemarthria Amendoim

Forrageiro - -

15 Festuca Ervilhaca - -

16 Capim Aruana - - -

18

Figura 5 - Distribuição dos piquetes do LAPOC - UFPR.

Fonte: Adaptado do Google Maps (2016)

2.2.4 Manejo Sanitário

As atividades do rebanho são realizadas de acordo com um cronograma de

atividades mensal, com atividades como o repasse quinzenal de cada categoria. No

repasse é feito o método Famacha®, avaliado o escore corporal e a pesagem dos

animais.

Segundo Molento et al (2004), o método Famacha® é a correlação

entre a coloração da conjuntiva ocular, o valor do hematócrito e a incidência do

parasita hematófago, Haemonchus contortus, sendo associado os valores de

hematócrito com diferentes colorações da conjuntiva ocular. O grau pode variar de

um a cinco, sendo um o grau menos grave, com um intervalo de hematócrito maior e

conjuntiva ocular mais vermelha e a partir do grau três, graus mais graves, com um

intervalo de hematócrito menor e conjuntiva mais clara, apresentando um grau de

anemia elevado e consequente verminose (Figura 6).

19

Figura 6 - Graus de anemia – Método Famacha®.

Fonte: MINHO et al, 2014.

Nos casos de ovinos com grau de Famacha® três, quatro ou cinco, é utilizado

o anti-helmíntico Zolvix®, da classe monepantel, na dose de 1 ml para cada 10 kg

de peso corporal, e para os caprinos é utilizado o Dovenix®, nitroxinil 34%,

demonstrando mais eficiência para a espécie, na dose de 1,5 ml para cada 50 kg do

peso vivo.

O exame parasitológico de contagem de ovos por gramas de fezes (OPG) é

realizado semestralmente, para diferenciar os tipos de parasitas e avaliar o grau de

infecção dos animais do rebanho, com objetivo de ter um melhor controle e

prevenção do rebanho.

Em ovinos, a avaliação do escore corporal é feito na região lombar. O escore

varia de 1 a 5 e se baseia na sensibilidade da palpação à deposição de gordura e à

musculatura nas vértebras (Figura 7). O escore um, representa condição corporal

pobre, situação em que as apófises espinhosas e as apófises transversas são

facilmente sentidas na palpação. No escore cinco, há deposição excessiva de

gordura, que impede a palpação das apófises. Nos caprinos, os critérios de

avaliação são diferentes, pois estes, mesmo quando aparentemente magros,

apresentam grande quantidade de tecido adiposo no abdômem. Nesta espécie, as

notas são dadas aos animais de acordo com a quantidade de deposição de gordura

avaliadas por palpação da região lombar e do osso esterno (Figura 8).

20

Figura 7 - Avaliação de escore corporal em ovinos – graus de escore corporal.

Fonte: MILKPOINT, 2009.

Figura 8 - Regiões avaliadas para o ECC em caprinos.

Fonte: MILKPOINT, 2009.

O casqueamento é feito uma vez por semestre em cada categoria ou sempre

que necessário, sendo aplicado Formoped® posteriormente. O pedilúvio é realizado

como prevenção de afecções do casco, uma vez ao ano com sulfato de zinco a

20%.

O rebanho faz uso de duas vacinas específicas com revacinação anual. A

vacina polivalente Sintoxan® 9TH é feita na dose de três ml por animal, que age

contra as principais clostridioses de extrema importância, por apresentar um índice

de mortalidade importante e pela bactéria estar presente no ambiente e ser

altamente resistente. Também é utilizada a vacina atenuada viva Linfovac®, na dose

de um ml por animal, contra a linfadenite caseosa, que pode causar um grande

impacto sanitário e econômico, podendo acometer animais de todas as idades e

sexo.

2.2.5 Manejo Reprodutivo

21

2.2.5.1 Sincronização do Cio e Monta Natural

A sincronização do cio foi feita em todas as ovelhas do rebanho com o uso de

protocolo hormonal curto (Figura 9), através da implantação de dispositivos

liberadores controlados de drogas (CIDR), o qual libera o hormônio Progesterona,

durante sete dias, com aplicação hormonal de Prostaglandina (Sincrocio® ) na dose

de um ml por animal e Gonadotrofina Coriônica Equina (Novormon®) na dose de 2

ml por animal, após a retirada do CIDR.

O atual desenvolvimento e tecnificação dos sistemas produtivos em

pequenos ruminantes, caracterizado por sistemas mais intensivos, têm

incrementado o número de produtores interessados nas biotécnicas da reprodução,

como por exemplo, a sincronização do estro.

A PGF2α (Prostaglandina) atua induzindo a regressão luteal prematura, de

modo a interromper a fase progesterônica do ciclo estral, com consequente retorno

ao estro e subsequente ovulação. Baseado nisto, a utilização deste fármaco deve

restringir-se a fêmeas cíclicas (MILKPOINT, 2010).

O tratamento com eCG (Gonadotrofina Coriônica Equina) no momento da

retirada do implante de P4 (Progesterona) vem sendo utilizado para melhorar os

índices de fertilidade, por meio de mudanças no padrão de crescimento folicular e

na função do corpo lúteo. A eCG , cria condições para estimular o crescimento

folicular e a ovulação, mesmo em fêmeas que tenham comprometimento na

liberação de gonadotrofinas (MELLO et al, 2014).

Figura 9 - Esquema de protocolo utilizado para monta natural no rebanho ovino do LAPOC - UFPR.

Após a sincronização, as ovelhas foram divididas em lotes para a estação de

monta controlada, tendo uma média de 10 ovelhas por carneiro. Todas as ovelhas

permaneceram durante quatro dias com o macho, o que teve marcação do peitoral,

para que quando ocorresse a monta, as ovelhas fossem identificadas. Após o ultimo

22

lote ter passado os quatro dias com o macho, foi feito o repasse de todas as ovelhas

com os machos no pasto, durante aproximadamente 40 dias, com o objetivo de que

se alguma ovelha não manifestou cio durante o primeiro período, tivesse outra

oportunidade de manifestar e ser coberta com a monta natural.

Em estação de monta que se utiliza a monta natural controlada, o emprego

do sistema de marcação dos reprodutores permite o controle básico dos

acasalamentos, com o objetivo de obter informações como a identificação das

fêmeas mais férteis e fêmeas não prenhes, possibilitando a previsão de partos,

resultando em uma maior eficiência reprodutiva futura.

As cores utilizadas são o amarelo, verde, azul e vermelho (Figura 10), sendo

as marcadas em amarelo as que foram cobertas no início da estação de monta e

deverão parir antes das fêmeas marcadas com uma das outras cores da sequência.

Figura 10 – Esquema de utilização de tinta para identificar monta no rebanho.

2.2.5.3 Diagnóstico Gestacional

O diagnóstico gestacional é feito através do ultrassom, com o aparelho

Landwind C40 Vet, com transdutor linear na frequência de 7.5MHz (Figura 11). O

exame é realizado com a ovelha em estação, devidamente contida, com a

introdução do transdutor lubrificado com gel pelo reto. O diagnóstico é feito a partir

de 50 dias de gestação, sendo considerado positivo através da visualização do

líquido placentário, placentomas e visualização do feto (figura 12).

Figura 11 - Aparelho ultrassom Landwind C40 vet e transdutor linear na frequência de 7.5MHz.

23

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 12 - Placentoma visualizado no diagnóstico de gestação de uma ovelha prenhe.

Fonte: Acervo pessoal.

2.2.5.4 Estação de nascimento

O manejo é baseado na separação da ovelha após a observação dos sinais

de parição, em um redondel com piso coberto com maravalha, até o nascimento do

cordeiro e os primeiros cuidados com a mãe e o filhote (Figura 13). Após o parto, é

feito a cura do umbigo do cordeiro com iodo 10% e a pesagem do cordeiro e da

ovelha, que em seguida são destinados à baia de maternidade, onde permanecem

por três dias.

O cordeiro é identificado com brinco no quarto dia após o nascimento e é

separado com a mãe para uma baia conjunta com outras ovelhas que pariram

recentemente.

Figura 13 - Ovelha durante trabalho de parto no LAPOC-UFPR.

24

Fonte: Acervo pessoal.

Após o diagnostico gestacional, foi confirmado 86 ovelhas prenhas, três

ovelhas inconclusivas e três ovelhas vazias. Foi possível acompanhar 34 partos,

sendo 12 partos simples, 19 partos gemelares e três partos trigemelares, totalizando

em 57 cordeiros nascidos e 47 cordeiros vivos. Dentre esses partos, 17 precisaram

ser auxiliados, por apresentarem distocia de origem fetal, com causas como o

tamanho excessivo do feto, defeitos ou má formação fetal ou alterações por estática

e posicionamento no útero, apresentando dificuldade e impedimento no trabalho

expulsivo do cordeiro, sendo necessária a utilização de manobras obstétricas, com

ou sem retropulsão dependendo do caso.

2.2.5.5 Rufiões

Através da vasectomia, foram feitos dois rufiões como ferramenta para o

manejo reprodutivo, com o objetivo de atuar sobre as fêmeas, avaliando o retorno

do cio das ovelhas.

A vasectomia (Figura 14) foi realizada com a tricotomia e antissepsia do local

do procedimento cirúrgico com álcool, PVPI alcoólico e PVPI, em seguida feito a

sedação dos machos com Xilazina 1%® na dose de 0,1 ml por animal e anestesia

local com Lidocaína 2%® na dose de 10 ml em cada incisão de aproximadamente

cinco centímetros. Após a incisão, a pele foi divulsionada, tendo acesso a fáscia

espermática interna, fazendo a secção da túnica vaginal parietal, da túnica

albugínea e da túnica vaginal visceral para exteriorizar o testículo e ser feito a

25

ressecção bilateral de dois a três centímetros do ducto deferente, mediante ao

acesso caudal da bolsa escrotal e a rafia apenas da pele com sutura contínua

Sultan, utilizado o fio Nylon 2.0.

Figura 14 – Vasectomia em macho adulto.

Fonte: Acervo pessoal.

2.3 DESCRIÇÕES DOS CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS

Durante o período de estágio foram atendidos 47 animais, sendo 45 ovinos e

dois caprinos, dentre esses casos acompanhados três animais foram à óbito (Tabela

4).

Tabela 4 - Quantidade de casos clínicos acompanhados durante o estágio obrigatório no LAPOC - UFPR.

Doença Quantidade de animais % de casos no rebanho Miíase 8 17,02%

Claudicação 6 12,76%

Afecção respiratória 2 4,25%

Abscesso 3 6,38%

Linfadenite 2 4,25%

Diarréia 4 8,51%

Famacha 3, 4 e 5 11 23,40%

Dilatação Gástrica 1 2,12%

Aborto 6 12,76%

Vaginite 1 2,12%

Persistência de uraco 1 2,12%

Pós operatório – Rufiões 2 4,25%

Total 47 100%

26

2.3.1 Principais Casos Clínicos

• Claudicação

Nos casos de claudicação, um animal apresentou pododermatite interdigital

recorrente e os outros cinco apresentaram artrite. Ele foi isolado para avaliação do

membro afetado e tratamento adequado. O tratamento feito foi limpeza diária,

aplicação de Formoped® durante cinco dias, pé dilúvio com Sulfato de Zinco a 20%

durante 15 minutos por cinco dias, Diclofenaco® para analgesia durante três dias,

aplicado inicialmente Flunixin® durante cinco dias e não havendo melhora, passou a

ser aplicado Maxicam 0,2%® por cinco dias e aplicação de bota feita com EVA,

onde apresentou melhora no terceiro dia de tratamento.

As patologias podais afetam diretamente o bem estar animal e produzem

prejuízos econômicos importantes devido a menor locomoção, infertilidade

temporária dos reprodutores, perda de peso e condição corporal, menor produção

leiteira, desvalorização do animal e eliminação prematura do rebanho. A prevalência

da doença varia muito de um rebanho a outro por estar influenciada por muitos

fatores como o clima, alimentação, idade, intensificação da exploração e manejo

rotineiro (MILKPOINT, 2006).

O foot rot é uma doença contagiosa, crônica, necrosante, da epiderme

interdigital e matriz do casco dos ovinos, levando a claudicação, com consequente

perda de peso, queda na produção de lã e dificuldade reprodutiva em carneiros. É

causado pela associação sinérgica de, pelo menos, duas bactérias: Dichelobacter

nodosus e Fusobacterium necrophorum, o qual faz parte do trato digestivo de

ovinos. Por ser uma doença infecciosa, a sua transmissão está relacionada com três

principais variáveis epidemiológicas: o agente, o hospedeiro e o meio. Outros

fatores ambientais, como o solo e tipos de pastagens, podem influenciar a

transmissão da doença (MILKPOINT, 2013).

• Linfadenite Caseosa

A Linfadenite caseosa ocorreu em dois animais durante o período de estágio.

Assim que observado os abscessos, as ovelhas foram isoladas na enfermaria para

uma melhor observação do rompimento do mesmo. Nos dois casos, foi observado

27

diariamente até o rompimento do abscesso, sendo feito a limpeza com PVPI e

aplicação de iodo 10% para a cauterização e em seguida aplicado repelente fipronil,

conhecido como “spray prata” no local diariamente, até que o abscesso estive

completamente cauterizado.

• Aborto

Seis ovelhas apresentaram aborto e todas foram avaliadas fisicamente

(frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura, Famacha®, escore

corporal e linfonodos) e ficam em observação na enfermaria até que o tratamento

terminasse e apresentassem melhora. O tratamento feito foi a aplicação de

Sincrocio® na dose de 2 ml por animal em dose única e Enrofloxacina® na dose de

1 ml para cada 40 kg durante de sete dias, Antibiótico intra mamário por dois dias e

feito o esgotamento dos tetos a cada dois dias para evitar casos de mastite.

Houve um caso específico em que o trabalho de parto foi difícil, onde a

ovelha foi tratada também com Dipirona® na dose de 10 ml por animal durante dois

dias e Megacilin® na dose de 1 ml para cada 30kg, e o mesmo tratamento das

demais.

Foi coletado amostras de sangue de todas as ovelhas que abortaram, para

ser enviado ao laboratório, para obter o diagnóstico em relação as principais

doenças que causam aborto em pequenos ruminantes (Toxoplasmose, Brucelose,

Listeriose, Leptospirose, Neosporose e Língua Azul).

• Persistência de Uraco

Foi avaliado fisicamente o cordeiro que apresentou persistência de uraco,

avaliando a frequência cardíaca e respiratória, temperatura, avaliação das mucosas

(aplicando o método Famacha®) e linfonodos. O cordeiro apresentou todos os

parâmetros dentro do padrão, e estava mamando normalmente. O tratamento feito

foi a limpeza da ferida com PVPI e desinfecção do local duas vezes ao dia,

passando Furanil® para a cicatrização e aplicando Florfenicol® e B1® por quatro

dias.

• Óbitos – Necropsia

28

Ocorreram três óbitos no rebanho, sendo duas borregas e uma cabrita. Foi

possível realizar apenas a necropsia de uma borrega com a Famacha® ruim e da

cabrita que apresentou dilatação gástrica.

A borrega na necropsia apresentou nódulos no pulmão, sem demais

alterações.

Na necropsia da cabrita, foi observada a presença de excesso de

concentrado no rúmen e presença de sangue acumulado no abomaso. Com isso, e

com a informação de que havia sido a pouco tempo fornecido alimentação à ela,

concluiu que ela veio a óbito por dilatação gástrica.

2.4 EXPERIMENTO DE “EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA EM

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CORDEIROS A PASTO”

O objetivo do experimento é a avaliação das emissões de gases de efeito

estufa do solo e metano ruminal em dois sistemas de produção de cordeiros a

pasto, no ciclo completo.

Durante o período de estágio foram avaliados gases do solo. Para isto é

realizado utilizando um conjunto de câmara e base estática fechada. Cada câmara é

constituída de um balde de 35 cm de altura por 33 cm de diâmetro, fechado na parte

superior e assentado, somente durante as coletas, sobre uma base metálica

previamente introduzida no solo.

Cada sessão de coleta teve início às 8h30min, quando se coleta a primeira

amostra de ar (tempo 0) de uma série de três. Para isso, é utilizada uma seringa de

polipropileno de 10 ml equipada com válvula de três pontos para fechamento, no

orifício de saída. A segunda amostra (tempo 15) é coletada 15 minutos depois,

utilizando o mesmo tipo de seringa, a partir de uma válvula de três pontos situada no

topo da câmara. A terceira e última (tempo 30) amostra é coletada aos 15 minutos

depois, seguindo o mesmo procedimento para a amostra do tempo 15.

As seringas contendo as amostras de ar são acondicionadas em um

recipiente de isopor contendo uma “bolsa gel” congelada, a fim de manter a

temperatura interna abaixo de 5ºC durante o transporte até o laboratório para

análise das concentrações dos gases pelo método da cromatografia gasosa.

29

2.5 EXPERIMENTO DE “GRID – COMPORTAMENTO INGESTIVO E

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE OVINOS EM SISTEMA DE PRODUÇÃO A

PASTO”

O objetivo geral da pesquisa é caracterizar o consumo de cordeiros em

diferentes sistemas de terminação em pastagem de inverno. Os objetivos

específicos são: identificar a preferência alimentar dos cordeiros e ovelhas em dois

sistemas de terminação de cordeiros a pasto; determinar a taxa de consumo e o

volume de bocados de cordeiros e ovelhas nos dois sistemas; diferenciar as

estruturas de pastagens presentes nos dois sistemas avaliados, comparar e discutir

a preferência alimentar das duas categorias animais estudadas; acompanhar o

desempenho dos cordeiros nos dois sistemas.

Foram realizadas separações botânicas e morfológicas das amostras de

pastagem, as forragem provenientes dos cortes foram homogeneizadas e divididas

em duas sub-amostras, uma para a determinação da matéria seca (MS) da

pastagem, e a outra foi novamente dividida em duas sub-amostras, senda a primeira

para a separação botânica (azevém, aveia, tifton e outros) e a segunda para

composição morfológica (folha, colmo + bainha, inflorescência e material morto) da

pastagem, realizadas de forma manual. As amostras foram pesadas e secas em

estufa com circulação forçada de ar a 65º c durante 72 horas, e pesadas novamente

e moídas em moinho tipo willey com peneira de malha de 1 mm. Os percentuais das

frações morfológicas e botânicas da pastagem foram determinados em função de

seus pesos em relação à amostragem total.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio curricular obrigatório proporcionou o trabalho em conjunto de

diferentes áreas, como a zootecnia e agronomia, mostrando a importância da

complementação de uma profissão na outra, onde foi possível criar mais experiência

profissional nos manejos de ovinos e caprinos. E no setor do LAPOC, a necessidade

de mais profissionais médicos veterinários, ou que tivesse mais assistência se

necessário dos outros setores da Fazenda Canguiri da UFPR.

30

4 PRINCIPAIS DOENÇAS QUE CAUSAM ABORTO EM PEQUENOS

RUMINANTES

4.1 INTRODUÇÃO

O crescimento do agronegócio de caprinos e ovinos no Brasil está criando

novas possibilidades comerciais e industriais e, portanto, gerando desenvolvimento

(PINHEIRO et al. 2007). Segundo Souza et al. 2014, apesar do aumento, fatores

relacionados a nutrição, sanidade e reprodução podem influenciar na queda da

produção de propriedades, sendo esses fatores os que interferem diretamente na

saúde e desenvolvimento do animal.

Em caprinos, os casos de abortos que afetam significativamente a

produtividade são considerados um problema reprodutivo relativamente comum.

Geralmente, os agentes etiológicos que mais são diagnosticados são de origem

infecciosa (CÂMARA et al. 2012).

São inúmeras as causas de aborto em ovinos e caprinos, sendo as que

incluem agentes infecciosos, os principais como o Toxoplasma gondii,

Chlamydophila abortus, Brucella spp., Coxiella burnetii, Listeria monocytogenes,

Campylobacter spp., Salmonella sp., Leptospira sp., Neospora Caninum, entre

outros (PEREIRA et al. 2013).

O programa sanitário nos rebanhos de pequenos ruminantes deve priorizar a

promoção à saúde, a prevenção das doenças e a segurança e qualidade dos

produtos e derivados ao consumidor, ao invés das ações curativas (SÁ et al, 2007).

No Brasil, estudos têm demonstrado a presença e a importância do

Toxoplasma gondii, principalmente em pequenos ruminantes, por ser uma

importante zoonose, apesar de ainda ser escasso estudos relacionados a doença

em alguns estados do Brasil (MOTTA et al. 2008) .

A Brucelose é uma doença antropozoonótica de distribuição mundial,

responsável por causar problemas sanitários e prejuízos econômicos. O gênero

Brucella possui predileção por determinadas espécies animais, como a Brucella

abortus (B. abortus), que infecta preferencialmente bovinos, e a Brucella ovis (B.

ovis), que infecta ovinos (SALABERRY et al. 2011).

Segundo Teófilo et al. 2010, a Listeriose é uma doença infecciosa de

31

ocorrência mundial, que ocorre principalmente em países de climas temperados,

que pode afetar vários animais mas principalmente os ruminantes, tendo três formas

diferentes de manifestação clínica: aborto, doença neurológica ou septicemia com

abscessos nas vísceras.

A Leptospirose é uma doença de grande importância e distribuição

geográfica, que causa frequentemente problemas reprodutivos em pequenos

ruminantes. É causada por bactérias do gênero Leptospira sp. e é considerada uma

importante causa de problemas reprodutivos em animais de produção (SOUSA et al.

2014).

A Neosporose apesar de ser uma das principais causas de problemas

reprodutivos em bovinos, o Neospora caninum foi esporadicamente associado a

aborto em cabras e ovinos. O papel desse protozoário deve continuar a ser

investigado, pois quando inoculado experimentalmente durante a gestação, causou

uma condição semelhante à observada em bovinos. (CÂMARA et al. 2012)

A língua azul é uma doença viral, não contagiosa, que afeta animais

selvagens e ruminantes, sendo mais comum em ovinos. O vírus da língua azul

(VLA) está presente principalmente em áreas tropicais e subtropicais e sua

distribuição geográfica está relacionada ao vetor e a fatores climáticos que

favorecem a multiplicação e manutenção do mesmo. (ANTONIASSI et al. 2010)

32

4.2 REVISÃO DE LITERATURA

4.2.1 TOXOPLASMOSE

O Toxoplasma gondii é um protozoário coccídio intracelular obrigatório do Filo

Apicomplexa, família Sarcocystidae, subfamília Toxoplasmatinae. Os felídeos,

silvestres e os animais domésticos, são os hospedeiros definitivos, onde o parasita

faz multiplicação enteroepitelial que faz com que ocorra a produção e a eliminação

de oocistos pelas fezes que contaminam o meio ambiente (MOTTA et al, 2008).

A toxoplasmose foi relatada pela primeira vez, em ovinos no ano de 1942,

nos Estados Unidos. Em seguida, foi reconhecida como causa de problemas

reprodutivos em vários países, sendo mais frequente em rebanhos de baixa altitude

e úmidos, onde os oocistos são mais resistentes ao ambiente. (VASCONSELLOS et

al 2006)

Segundo Silva et al (2003), em pequenos ruminantes, a principal fonte de

infecção é a ingestão de oocistos esporulados do parasita presentes nos alimentos

e solo contaminado. É uma zoonose considerada a principal causa de problemas

reprodutivos em ovinos e apesar de pouco relatada em caprinos, os danos podem

ser maiores, acometendo também clinicamente animais adultos. As taxas de

infecção para rebanhos de pequenos ruminantes no Brasil são variáveis devido ao

teste sorológico utilizado, à região e idade dos animais estudados.

No Brasil, estudos realizados em pequenos ruminantes têm detectado

prevalências de 28,9% a 92,4% de anticorpos anti – Toxoplasma gondii nos

rebanhos. Quando ocorre a infecção do animal, a doença pode causar reabsorção

fetal, aborto, mumificação fetal, natimortalidade ou mortalidade perinatal

(PESCADOR et al, 2007).

Segundo Motta et al (2008), o diagnóstico para toxoplasmose pode ser obtido

através de testes sorológicos, necropsias de fetos abortados, exame

histopatológico, imunoistoquímico (Figura 15) e da reação em cadeia da polimerase

(PCR). Nos fetos abortados, pode ser feito exame histológico do cérebro e da

placenta associado ou não com exame imunoistoquímico de tecidos que

apresentem lesões compatíveis com a doença.

33

Figura 15 - Córtex cerebral de feto ovino com presença de cisto de Toxoplasma gondii (1) e taquezoítos, com marcação positiva (setas) no exame de

imunoistoquímico.

Fonte: MOTTA et al, 2008.

4.2.2 BRUCELOSE

A brucelose em ovinos é uma doença infecciosa crônica causada pela

bactéria Brucella ovis, que acomete o trato reprodutivo podendo causar orquite,

epididimite, placentite, aborto e morte dos cordeiros. A doença não é considerada

uma zoonose e sua principal via de transmissão é a venérea, através do sêmen

(SALABERRY et al 2011).

Os caprinos são acometidos pela Brucella melitensis, a qual está relacionada

a abortos na espécie, apesar de não existir isolamento dessa bactéria no Brasil. As

ovelhas também podem se infectar com a B. melitensis, pelo fato de normalmente

os rebanhos criarem essas duas espécies juntas. No Brasil, provavelmente o aborto

em pequenos ruminantes esteja mais relacionada a B. abortus, pelo fato dos

bovinos serem o reservatório natural, quando essas espécies são criadas no mesmo

ambiente (PINHEIRO et al, 2007).

No Brasil, o primeiro diagnóstico clínico de brucelose causada por B. ovis foi

no ano de 1966, no Rio Grande do Sul. Na fase reprodutiva é onde os ovinos estão

mais expostos a infecção, através da ingestão ou contato sexual pelas secreções

genitais, durante a estação de monta, atividade homossexual dos carneiros, do

contato com feto abortados, pastagens contaminadas e também podendo ocorrer a

contaminação de embriões através da inseminação artificial com sêmen

contaminado (RIZZO et al, 2014).

34

A taxa de abortamento pode chegar a 39% em ovelhas gestantes inoculadas

experimentalmente, ocorrendo o aborto após 30 dias da inoculação com B. ovis. E

nas infecções naturais, o aborto ocorre no terço final da gestação (CUNHA FILHO et

al, 2007).

De acordo com Rizzo et al (2014), estudos relatam as falhas de manejo nos

rebanhos como fatores de risco para a infecção da bactéria, como a falta de higiene

nas instalações, a remoção e destinação de fezes inadequadas, a introdução de

animais de rebanhos não livres da doença ou de estado sanitário desconhecido, a

participação em feiras e exposições e o contato entre diferentes rebanhos em

pastagens comuns.

Os testes de diagnóstico recomendados pela OIE (2009), para pequenos

ruminantes são o teste de Rosa de Bengala e o teste de Fixação do Complemento

(FC). Também podendo ser feito o teste de ELISA, o ensaio com fluorescência

polarizada, hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta e imunodifusão em

gel de Agar (Figura 14). A análise do leite com a Prova do Anel, muito utilizado

como teste de rastreio em bovinos, é ineficaz em pequenos ruminantes (NOZAKI et

al, 2004; OIE, 2009).

4.2.3 LISTERIOSE

É uma doença causada por bactérias do gênero Listeria, o qual compreende

a seis espécies, pode acometer vários animais, parecendo os ruminantes ser mais

susceptíveis. A espécie que mais acomete os ruminantes é a Listeria

monocytogenes em ovinos, bovinos e caprinos. A doença é mais frequente no

inverno, devido ao fato da bactéria ser psicotrófica e é transmitida através de

silagens de má qualidade, que apresentam pH acima de 5,5, assim favorecendo o

crescimento dessa bactéria. (TEÓFILO et al, 2010)

A infecção normalmente ocorre de cinco formas distintas, sendo a encefalite a

forma mais comum, seguida de abortos, septicemia, mastite e em menor ocorrência

a uveíte e ceratoconjuntivite. Alguns autores relatam que os animais podem adquirir

imunidade com a ingestão de silagem contaminada contra a septicemia e aborto,

não sendo totalmente eficaz contra a encefalite. A listeriose pode ocorrer como um

35

surto em pequenos ruminantes, tendo uma taxa de mortalidade alta, mesmo que

tratada com antibióticos (OEVERMANN et al, 2010)

O diagnóstico pode ser confirmado pela cultura, detecção do microrganismo

em colorações especiais, imunofluorescência ou imunoistoquímica, ou pela técnica

de reação em cadeia de polimerase (PCR). O diagnóstico diferencial inclui a

toxemia da gestação, intoxicação por chumbo, raiva, entre outras doenças que

causem aborto ou septicemia. (RISSI et al, 2010; TEÓFILO et al, 2010)

O tratamento intravenoso com antibióticos é pouco eficaz em ovinos,

principalmente se os animais já estiverem em uma fase adiantada da doença. Em

um estudo realizado, o tratamento em uma cabra foi feito no início da doença, onde

apresentou baixa melhora clínica, seguida da volta dos sinais clínicos e foi a óbito

30 dias após o tratamento, onde foi comprovado que mesmo o tratamento sendo

feito no início da doença, ele não é eficaz (RISSI et al, 2010).

A adoção de algumas medidas poderiam fazer um controle e prevenção da

presença de Listeria nas silagens, como a manutenção de um ambiente anaeróbio,

garantia da fermentação ter duração de duas semanas, o ambiente em torno do silo

estar limpo, a eliminação de silagem que teve contato com o oxigênio e o

desenvolvimento de uma técnica rápida e viável para a detecção de Listeria

monocytogenes nas silagens (OLIVEIRA et al, 2008).

4.2.4 LEPTOSPIROSE

O agente etiológico da leptospirose pertence à ordem Spirochaetales, família

Leptospiraceae e gênero Leptospira. As leptospiras são bactérias aeróbias restritas

espiraladas, delgadas de aproxadamente 0,1 µm de diâmetro e comprimento

variando de 6 a 20 µm, tendo uma ou duas extremidades em forma de gancho. São

bactérias sensíveis a luz solar direta, desinfectantes comuns e antissépticos. O

período de vida na água varia conforme alguns fatores como a temperatura, pH,

grau de poluição e salinidade. São viáveis em água por até três meses,

sobrevivendo bem em ambiente úmidos, pântanos, córregos, lagos e estábulos com

excesso de umidade. Se multiplicam em pH entre 7,2 e 7,4 e são muito sensíveis a

pH ácido e dessecação (HIGINO et al, 2014).

36

É uma zoonose mundialmente distribuída, tendo foco maior nas Américas e

considerada endêmica na América Latina e no Caribe. A presença da doença está

relacionada a alguns fatores ambientais, que favorecem o foco da infecção, tendo

condições favoráveis para a bactéria, das características do habitat e da presença

de animais silvestres (HIGINO et al, 2012).

Para Câmara et al (2012), os pequenos ruminantes são menos susceptíveis

que os bovinos, mas podem desenvolver a doença na forma aguda, apresentando

sinais como a febre, anorexia, inapetência, icterícia e síndrome anêmica ou

hemorrágica, podendo evoluir para a forma crônica, apresentando uma diminuição

da fertilidade, natimortos, abortos no terço final da gestação e diminuição da

produção leiteira.

Os animais podem se contaminar por contato de forma direta através do

contato com secreções genitais, urina de animais infectados e através da cópula, ou

de forma indireta por meio de aerossóis ou água contaminados. O diagnóstico é

feito através dos sinais clínicos e detecção da bactéria nos tecidos, na urina ou pela

presença de anticorpos no sangue (SOUSA et al, 2014).

Existem diferentes métodos de diagnóstico, que podem ser baseados na

detecção de anticorpos ou por testes que revelem a presença da bactéria ou do seu

ácido nucleico.. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o teste de

soroaglutinação microscópica (SAM) com antígenos vivos como o melhor teste para

o diagnóstico de leptospirose. . A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) permite

amplificar quantidades mínimas de DNA de Leptospira spp. em diversos tipos de

amostras biológicas. Alguns casos com sinais clínicos aparentes, têm sido

associados às sorovariedades Pomona, Ballum, Grippotyphosa,

Icterohaemorrhagiae, Sejroe e Hardjo. O único teste que pode ser utilizado tecidos

conservados no formol é o teste histopatológico, tendo desvantagem por ser pouco

sensível e ser incapaz de detectar sorovariedade infectante (CARNEIRO et al,

2015).

As leptospiras têm como órgão preferencial os rins, onde provocam lesões

graves e de onde são transportadas pela urina para contaminar o ambiente e serem

transmitidas para outras espécies. Lesões renais são consideradas as alterações

patológicas básicas da doença. (CARVALHO et al, 2011).

37

O controle da leptospirose é feito através da vacinação do rebanho,

tratamento de animais infectados com antibióticos, controle dos roedores nas

propriedades e eliminação de excesso de água do ambiente. O tratamento com

estreptomicina é o de escolha, por apresentar fácil penetração renal, e também

sendo considerado o tratamento com sulfato de estreptomicina que apresenta um

retorno à vida reprodutiva normal de 92% dos animais. (CASTRO et al, 2008; MELO

et al, 2010)

4.2.5 NEOSPOROSE

A neosporose é causada pelo protozoário do filo Apicomplexa Neospora

caninum, parasita intracelular obrigatório, formador de cistos, que foi caracterizado

pela primeira vez em cães nos Estados Unidos. O ciclo biológico envolve a presença

de hospedeiros definitivos (cães, lobos e coiotes) e intermediários (ruminantes,

equinos e caninos). Havendo três estágios infecciosos do protozoário: os

bradizoítos, os taquizoítos e os esporozoítos. Os taquizoítos e os bradizoítos são

estágios intracelulares encontrados no hospedeiro intermediário, enquanto os

esporozoítos se desenvolvem dentro dos oocistos no processo de esporulação

(VOGEL et al, 2006; VARASCHIN et al, 2011).

É uma doença que causa comumente abortamento esporádico, endêmico ou

epidêmico principalmente em bovinos, mas a ocorrência em pequenos ruminantes

também deve ser considerada, onde já foi descrito casos de filhotes fracos e

prematuros (MELO et al, 2006; MODOLO et al, 2008).

Devido ao fato do N. caninum e T. gondii terem o aspecto morfológico e

manifestações clinicas semelhantes, é de extrema importância o diagnóstico

sorológico diferencial. Ambos os parasitos podem causar morte embrionária fetal

com reabsorção, mumificação, abortos, natimortalidade ou nascimento de filhotes

fracos (VARASCHIN et al, 2011).

Segundo Rossi et al (2011), a transmissão vertical é uma importante rota do

N. caninum, onde ocorre a transmissão transplacentária, de mãe para filho.

Pequenos ruminantes também podem ser infectados através da ingestão de

oocistos esporulados presentes na água ou alimentos contaminados pelas fezes do

hospedeiro definitivo, chamada de transmissão horizontal.

38

Para Melo et al (2006), o diagnóstico da doença é baseado na detecção de

anticorpos específicos e visualização de lesões características no cérebro, coração

e fígado de fetos abortados, associado com exames de imunohistoquímica de

tecidos contendo lesões e sorologia fetal. A imunofluorescência indireta é

considerada a técnica de referência, sendo empregada no diagnóstico sorológico da

infecção e em estudos epidemiológicos.

4.2.6 LÍNGUA AZUL

De acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e o Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a língua azul é uma enfermidade

de notificação compulsória. É uma doença que causa grande impacto econômico, o

que resulta além das perdas diretas em rebanhos afetados, restrições ao comércio

internacional de animais e seus produtos (LOBAO et al, 2014).

O vírus da língua azul (VLA) é membro do gênero Orbivirus e da família

Reoviridae. A principal forma de transmissão é através de mosquitos do gênero

Culicoides sp, e, até hoje, 24 sorotipos foram identificados em diversos países do

mundo, localizados nas áreas tropicais e subtropicais. Condições de temperatura e

umidade na maior parte do país favorecem a multiplicação e a manutenção dos

vetores, o faz com que a doença se torne endêmica e com alta prevalência de

animais soropositivos, com sintomatologia clínica rara. Sabe-se que parte da

população de ruminantes é imune à infecção pelos sorotipos presentes na área

(COSTA et al, 2006).

Quando há manifestações clínicas, principalmente em ovinos, ocorre febre,

lesões erosivas e ulcerativas nas mucosas do trato digestivo, hemorragias focais e

necrose do músculo liso e estriado esquelético cardíaco, e também alterações

reprodutivas como morte embrionária, aborto, má formações fetais, natimortos,

infertilidade e eliminação do vírus no sêmen (ANTONIASSI et al, 2010; SOUZA et al,

2010).

Existe uma evidência de que certas cepas de língua azul ou mesmo alguns

sorotipos tem predileção para útero grávido e consequentemente infecção do feto e

embrião (MARTINS et al, 2009).

39

Segundo Souza et al (2010), para o diagnóstico da doença, os métodos

laboratoriais recomendados pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), se

baseiam no isolamento e identificação do agente em testes sorológicos, podendo

ser feitos o teste de ELISA, imunodifusão em gel de ágar (IDGA), soroneutralização

e fixação de complemento.

Segundo Lobão et al (2014), como prevenção, deve ser seguido

rigorosamente as regras de importação e quarentena dos animais, incluindo o teste

diagnóstico preconizado pela OIE. Apesar de poder ocorrer transmissão da doença

por sêmen contaminado, a probabilidade de transmissão por meio de animais

importados é bem maior. Devendo sempre ser supervisionado a compra e o

transporte dos animais.

O sacrifício de animais infectados como estratégia de controle é questionada,

uma vez que em determinadas regiões, exista altas taxas de infecção subclínica e o

inseto vetor tem importante papel na disseminação do vírus (MACLACHLAN et al,

2013).

40

5 CONCLUSÃO

A principal forma de contaminação das doenças é por erro no manejo

sanitário, onde ocorre armazenamento inadequado de alimentos, limpezas das

instalações inadequadas, presença de animais inapropriados no rebanho, por não

ser feito o isolamento e a quarentena do animal quando chega de outro rebanho e

por excesso de umidade no ambiente, sendo assim, o principal culpado os criadores

e responsáveis pelo rebanho.

Todas as pesquisas mostram que ainda faltam estudos em muitas doenças

de grandes perdas reprodutivas em ovinos e caprinos quando comparado a bovinos,

sendo necessários estudos mais aprofundados, a fim de quantificar as perdas

econômicas e assim despertar nos produtores e médicos veterinários um melhor

programa de controle e prevenção contra as doenças.

Quando ocorre aborto na propriedade, sempre devem ser realizados métodos

diagnósticos para confirmar doenças, assim tendo um melhor controle da sanidade

do rebanho, tomando as medidas necessárias e avaliando quais as causas ou erros

de manejo que estão sendo realizados, para possíveis mudanças e melhora na

saúde do rebanho.

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REFERÊNCIAS

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