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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ SANDRA MARA DOBINS LIMA FERREIRA A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL SOB OS ASPECTOS DA ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

SANDRA MARA DOBINS LIMA FERREIRA

A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL SOB OS ASPECTOS DA

ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

CURITIBA

2014

SANDRA MARA DOBINS LIMA FERREIRA

A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL SOB OS ASPECTOS DA

ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná Faculdade de Ciências Jurídicas, como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientadora: Profª. Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann.

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

SANDRA MARA DOBINS LIMA FERREIRA

A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL SOB OS ASPECTOS DA

ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do Título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de de 2014.

_____________________________________________

Bacharelado em Direito. Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientadora: Professora: Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann Universidade Tuiuti do Paraná

Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof. _________________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof. __________________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná Faculdade de Ciências Jurídicas

DEDICATÓRIA

Dedico a meu marido Deuclesio, meus filhos Deuclesio Jr., Antonio, Fabio e Emilie,

que souberam entender minha ausência mesmo quando eu estava presente.

Especialmente a minha mãe, Iolanda e ao meu pai José.

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Professora Geórgia, que dedicou-me tempo e instruções

para que esse trabalho se completasse.

“Justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta.”

Ruy Barbosa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................9

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO DIREITO

BRASILEIRO...........................................................................................11

3 O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE...................................................13

4 SAP - SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL.......................................16

5 ALIENAÇÃO PARENTAL.........................................................................17

5.1 DIFERENÇAS ENTRE A SAP - SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E A

ALIENAÇÃO PARENTAL..........................................................................19

5.2 ELEMENTOS IDENTIFICADORES............................................................20

5.3 MEIOS UTILIZADOS PARA SE OBTER A ALIENAÇÃO

PARENTAL..............................................................................................21

5.4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL NA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA............................................................................................23

5.5 A IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS...............................................26

5.6 FALSAS DENÚNCIAS DE ABUSO SEXUAL, INCESTO E ALIENAÇÃO

PARENTAL..............................................................................................27

5.7 TRATAMENTOS E MEIOS PUNITIVOS.....................................................32

5.7.1 A GUARDA COMPARTILHADA COMO UMA FORMA DE AMENIZAR O

PROBLEMA.............................................................................................36

5.8 A IMPORTÂNCIA DAS PROVAS PARA A COMPROVAÇÃO DA ALIENAÇÃO

E DAS ACUSAÇÕES DE ABUSO SEXUAL................................................41

5.9 A INTERDISCIPLINARIEDADE ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA NA

CONSTATAÇÃO DA SÍNDROME NO CASO CONCRETO.........................43

5.10 CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DA ALIENAÇÃO PARENTAL E DA

FALTA DOS PAIS NA VIDA DE UMA CRIANÇA..........................................44

5.11 O PAPEL DO MAGISTRADO DIANTE DAS DECISÕES A SEREM

PROFERIDAS..........................................................................................46

5.12 A MORTE INVENTADA ............................................................................49

6 CONCLUSÃO..........................................................................................51

7 REFERÊNCIAS .......................................................................................53

RESUMO

A Síndrome da Alienação Parental sempre existiu e está cada dia mais presente nos lares brasileiros, embora a lei que trata sobre o assunto tenha sido criada apenas em 2010, ainda é pouco conhecida e divulgada. Apesar de o problema ser mais comum do que imaginamos e de difícil comprovação, somado ao despreparo do judiciário em geral para o enfrentamento do tema, as decisões judiciais delongam, acarretando ao alienado sérios problemas de ordem psíquica e moral, que dependendo do grau poderão ser irreversíveis. A presente pesquisa visa analisar os avanços ocorridos no direito de família, após a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a criação da Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010 que dispõem sobre a Alienação Parental, que trouxe avanços significativos, mas por se tratar de uma lei ainda relativamente jovem carece de aprofundamento, estudo e pesquisa, para que seja devidamente aplicada e surta os efeitos desejados, assegurando, acima de tudo, celeridade nas decisões, a fim de garantir o melhor interesse da criança ou adolescente, vítimas da alienação.

Palavras-chave: SAP, Alienação Parental, Legislação, Criança, Família, Melhor Interesse.

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1 INTRODUÇÃO

Com a fragilidade das relações interpessoais, onde não se busca mais um

relacionamento, um casamento para durar a vida toda e, principalmente quando o

amor acaba e vem a separação, é que surgem os conflitos familiares advindos da

disputa pela guarda dos filhos entre os pais.

Caso não haja por parte dos pais a maturidade suficiente para resolver o que

alguns autores chamam do luto da separação, eis que surge o ambiente propício ao

desenvolvimento da SAP Síndrome da Alienação Parental.

Se as partes não estiverem emocionalmente preparadas para superar o

momento da separação onde “todos os membros da família precisarão se adaptar a

uma situação nova e inédita em suas vidas, e terão de viver dentro de um novo

formato e esquema familiar (GUAZELLI, 2010. p. 37)”, não poderão também ajudar

os filhos a encará-lo de maneira menos traumática possível.

Muito embora a Lei 12.318/2010, no seu artigo 6º, forneça instrumentos

processuais capazes de inibir ou ao menos atenuar os efeitos da alienação, como a

aplicação de multa, acompanhamento psicológico, perda da guarda da criança entre

outros, esses instrumentos mostram-se de certa forma ineficientes em seu propósito,

uma vez que ainda não são levados a sério e, principalmente pela dificuldade

encontrada pelos magistrados em ver comprovada a ocorrência da alienação no

caso concreto.

Isso se deve ao fato de que quase sempre uma das partes baseia-se em

falsas denúncias, como de abuso sexual, por exemplo, para induzir o magistrado a

decidir por afastar o genitor de vez do convívio com a criança, obtendo assim,

sucesso o seu intento.

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Dessa forma, torna-se imprescindível a interdisciplinaridade entre o direito e

a psicologia, uma vez que “essa vítima precisa ser ouvida e estudada atentamente

por equipe multidisciplinar de psicólogos, assistentes sociais e, que deverão oferecer

um parecer técnico do caso, com a maior brevidade possível (CORREA, 2011)”, já

que nos casos de alienação parental a solução do problema poderá chegar, quando

já for tarde demais.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO DIREITO

BRASILEIRO

Os temas que envolvem o Direito de família sempre foram objeto de estudo

e despertaram o interesse da coletividade, já que a família sempre foi considerada a

base, o núcleo da sociedade.

Porém, está em constante transformação, se analisarmos o atual

ordenamento jurídico brasileiro tomando por base a Constituição Federal de 1988,

verificamos que muitas foram as mudanças que ocorreram.

Aquele antigo modelo de família pautada nas uniões que pelo sacramento

do matrimônio deveriam durar a vida toda ou, até que a morte os separe, foi

relativizado, não é mais a regra, é a exceção.

O que aconteceu foi uma ampliação do antigo conceito de entidade familiar

que se conhecia, hoje as uniões são mais abertas, valorizam-se muito mais os laços

de afetividade.

Finalmente, a partir da década de 1960, impôs-se a família contemporânea ou “pós-moderna”, que, une ao longo de uma duração relativa, dois indivíduos em busca de relações íntimas ou de realização sexual. A transmissão da autoridade vem se tornando, então, cada vez mais problemática à medida que divórcios, separações e recomposições conjugais aumentam (NICOLAU JÚNIOR, 2011. p.36).

Diante dos novos modelos de família que surgem, “surgem também novas

problemáticas específicas a algumas delas. Novas remodelações familiares levam à

necessidade de novos pensamentos para a compreensão desse processo (BUOSI,

2012. p. 25)”.

A legislação brasileira como um todo sempre se preocupou com a

manutenção do melhor interesse das crianças e adolescentes, que são a parte mais

vulnerável das relações familiares e, normalmente, os mais atingidos e os que mais

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sofrem com essa forma de rompimento causado pela separação ou o

desentendimento dos pais, podendo criar para o indivíduo traumas para uma vida

toda, já que a convivência com seus genitores é um direito inerente à sua

personalidade, e garantia constitucional.

Outrora, quando não era possível, ou então, não tão comum a separação, a

Síndrome da Alienação Parental era praticamente inexistente, por mais que o

casamento não desse certo ele era mantido, por questões religiosas e culturais da

época.

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3 O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE

Com a fragilidade e o dinamismo das relações interpessoais nos dias atuais,

cada dia com mais frequência, vão-se os casamentos e ficam-se os filhos, frutos

dessas relações que acabam pelos mais variados motivos.

O fim das relações conjugais deve apenas separar marido e mulher e não os

pais dos filhos, e, é a guarda dos filhos que passa a despertar o desentendimento

dos pais ora separados.

Tanto a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do

Adolescente como a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança,

estabelecem e asseguram especial proteção, em todas as ações relativas às

crianças e adolescentes vítimas de alienação parental, toda e qualquer decisão

judicial deverá estar pautada no princípio do melhor interesse, independentemente

do interesse dos pais e dos envolvidos.

Esse também é o entendimento do insigne autor Mauro Nicolau Júnior:

Qualquer decisão a ser proferida versando sobre direito de filiação, há que ser conectada com o princípio fortemente estabelecido, de que é essencial observar-se o melhor interesse da criança, critério que se universaliza, revelado na expressão the best interest of the child, ou o kindeswohl alemão. Atende, igualmente, ao estatuído na Lei de Introdução ao Código Civil, art. 5º: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigência do bem comum” e no Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 6º, que condiciona seus dispositivos à observância da condição peculiar da criança e do adolescente, como pessoas em desenvolvimento (NICOLAU JÚNIOR, 2003).

Oportuno citar três julgados que confirmam a importância da aplicação do

referido princípio:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL. FAMÍLIA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. REGIME DE VISITAS. RESTRIÇÃO DE VISITAS DO PAI.

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QUADRO TANGÍVEL DE ALIENAÇÃO PARENTAL. PROMOÇÃO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. FAMÍLIA MOSAICO. CONVIVÊNCIA FAMILIAR. CANAIS DE DIÁLOGO. CRESCIMENTO SADIO DA CRIANÇA. POSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO DAS VISITAS DO PAI ATÉ A REALIZAÇÃO DO ESTUDO PSICOSSOCIAL. [...] 3. A preservação do melhor interesse da criança dá ensejo à restrição do direito de visitas do genitor, até que, com esteio em elementos de prova a serem produzidos na ação principal (estudo psicossocial), sejam definidas diretrizes para uma melhor convivência da criança, o que recomendará a redução do conflito entre os genitores, bem como a criação de novos canais que viabilizem o crescimento sadio da criança. (Agravo de Instrumento nº 20130020083394/DF, 1ª Turma Cível. Dje: 17/07/2013).

DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE ALIENAÇÃO PARENTAL CUMULADA COM PEDIDO DE GUARDA COMPARTILHADA E ALTERAÇÃO DO LAR DE REFERÊNCIA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. CPC, ART. 273. AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. MAIOR DILAÇÃO PROBATÓRIA. 1. Os direitos das crianças devem ser interpretados conforme o disposto na Constituição Federal, art. 227 e no Estatuto da Criança e Adolescente (Lei 8.069/90), pautados na doutrina da proteção integral da criança, que compreende o princípio do melhor interesse do menor. 1.1 É dizer ainda: nos processos a envolver menores, devem as medidas ser tomadas no interesse destes, o qual deve prevalecer diante de quaisquer outras medidas. (Agravo de Instrumento nº20130020240170/DF. Rel. João Egmont, 5ª Turma Cível. Dje. 16/12/2013).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE FAZER. IMPOSIÇÃO À MÃE/GUARDIÃ DE CONDUZIR O FILHO À VISITAÇÃO PATERNA, COMO ACORDADO, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA. INDÍCIOS DE SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL POR PARTE DA GUARDIÃ QUE RESPALDA A PENA IMPOSTA. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E DESPROVIDO. (SEGREDO DE JUSTIÇA). (Agravo de Instrumento nº 70023276330, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Rel. Ricardo Raupp Ruschel. Dje. 26/06/2008).

Conforme se observa nesse outro julgado que segue, em nome do melhor

interesse, optou-se por preservar a convivência entre o filho e o genitor alienado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE GUARDA DE MENOR. DECISÃO QUE RESTABELECEU AS VISITAS PATERNAS COM BASE EM LAUDO PSICOLÓGICO FAVORÁVEL AO PAI. PREVALÊNCIA DOS INTERESSES DO MENOR. Ação de alteração de guarda de menor em que as visitas restaram restabelecidas, considerando os termos do laudo psicológico, por perita nomeada pelo Juízo, que realizou estudo nas partes

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envolvidas. Diagnóstico psicológico constatando indícios de alienação parental no menor, em face da conduta materna. Contatos paternos filiais que devem ser estimulados no intuito de preservar a higidez física e mental da criança. Princípio da prevalência do melhor interesse do menor, que deve sobrepujar o dos pais. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento nº 70028169118. Comarca de Novo Hamburgo. Dje. 17/07/2009).

Como a criança é, sem dúvidas o membro da família “afetivamente mais

sensível, ela percebe mais facilmente os efeitos nocivos de uma desestruturação

familiar, e por esse motivo sofre os maiores prejuízos emocionais e comportamentais

(SILVA, 2003. p.112)”, ensejando assim maior atenção e cuidados.

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4 SAP - SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

O termo Síndrome da Alienação Parental apesar de não ser tão conhecido, é

cada dia mais comum em nosso vocabulário. Surgiu na América do Norte “é uma

construção do psiquiatra Norte - Americano Richard A. Gardner, Chefe do

Departamento de Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina e Cirurgia da

Universidade de Columbia, Nova York, Estados Unidos da América (PINHEIRO,

2009. p.8)”, após foi se expandindo aos demais continentes. Gartner conceituou a

Síndrome da Alienação parental como:

[...] um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a Explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável (GARDNER, 2002. p. 5).

Pode-se delimitar o fenômeno dizendo ainda que a SAP, conhecida também

como Síndrome dos Órfãos de Pais Vivos, consiste em programar uma criança para

que ela odeie um dos seus genitores sem justificativa (GUAZZELLI, 2010. p. 41)”, ou

seja, a criança na sua inocência e para não contrariar o guardião acaba fazendo as

suas vontades.

Ao contrário do que acontece com a alienação parental, que é reversível, a

Síndrome, por sua vez, “segundo estatísticas divulgadas por DARNALL, somente

sede durante a infância, em 5% (cinco por cento) dos casos (DIAS, 2011. p.53)”.

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5 ALIENAÇÃO PARENTAL

No Brasil, apesar do termo ser pouco conhecido, já existiam alguns órgãos e

pessoas que se dedicavam a estudá-lo e divulgá-lo, porém somente a partir de 2008

com promulgação do Projeto de Lei 4.053, e que ganhou notoriedade e atenção.

Maria Berenice Dias afirma que a alienação parental é:

[...] um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e estratégias de atuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras palavras consiste num processo de programar uma criança ingressa em trajetória de desmoralização desse mesmo genitor (DIAS, 2008. p. 2).

Com o advento da separação dos pais “cria a figura vulnerável da criança,

ou melhor, da criança-conflito, na medida em que este filho não mais usufruirá da

identificação benéfica do pai e da mãe juntos (LEITE, 2003. p.8-9)”, passando a

condição de ferramenta a ser utilizada pelo genitor alienante para de forma vingativa

atingir o outro, já que a criança sem justificativa, passa a odiar o pai, achar que ele

lhe faz mal e tende a afastar-se cada vez mais dele.

No entanto, muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer vingar-se, afastando este do genitor. Para isso cria uma série de situações visando a dificultar ao máximo ou a impedir a visitação. Leva o filho a rejeitar o pai, a odiá-lo. A este processo o psiquiatra americano Richard Gardner nominou de “síndrome de alienação parental”: programar uma criança para que odeie o genitor sem qualquer justificativa. Trata-se de verdadeira campanha para desmoralizar o genitor. O filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. A mãe monitora o tempo do filho com o outro genitor e também os seus sentimentos para com ele. A criança, que ama o seu genitor, é levada a afastar-se dele, que também a ama. Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre

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ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado. O detentor da guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume o controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O pai passa a ser considerado um invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a destruição do antigo parceiro (DIAS, 2009. p.45).

O alienante, além de ser uma pessoa que não aceita a separação, possui

traços e comportamentos “que são denotativos de alienação: dependência, baixa

autoestima, condutas de desrespeito a regras, sedução e manipulação, queixumes,

resistência a ser avaliado, resistência, recusa, ou falso interesse pelo tratamento, etc

(TRINDADE, 2010. p.27)”, vivendo numa busca incessante por afastar o genitor, da

convivência com a prole.

Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual. A narrativa de um episódio durante o período de visitas que possa configurar indícios de tentativa de aproximação incestuosa é o que basta. Extrai-se deste fato, verdadeiro ou não, denúncia de incesto. O filho é convencido da existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias (DIAS, 2006).

A alienação parental pode ser promovida não só pelos genitores, mas por

outras pessoas integrantes da família, que tenham algum grau de parentesco com a

criança, podendo ser inclusive, avós, tios, são pessoas que tem interesse em

desestruturar a relação entre os pais, que mesmo separados são obrigados a manter

o diálogo e a responsabilidade na guarda e a mantença da prole.

Oportuno citar o julgado proferido pela Sétima Câmara Cível do Tribunal de

Justiça do Rio Grande do Sul, em que a alienação era praticada pelos avós

maternos:

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APELAÇÃO CÍVEL. MÃE FALECIDA. GUARDA DISPUTADA PELO PAI E AVÓS MATERNOS. SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL DESENCADEADA PELOS AVÓS. DEFERIMENTO DA GUARDA AO PAI. 1. Não merece reparos a sentença que, após o falecimento da mãe, deferiu a guarda da criança ao pai, que demonstra reunir todas as condições necessárias para proporcionar a filha um ambiente familiar com amor e limites, necessários ao seu saudável crescimento. 2. A tentativa de invalidar a figura paterna, geradora da síndrome de alienação parental, só milita em desfavor da criança e pode ensejar, caso persista, suspensão das visitas aos avós, a ser postulada em processo próprio. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível nº70017390972/RS. 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Rel. Luiz Felipe Brasil Santos. Dje. 20/06/2007).

O processo de alienação pode perdurar por muitos anos, culminando em

gravíssimas “conseqüências de ordem comportamental e psíquica e geralmente só é

superado quando o filho consegue certa independência do genitor guardião (DIAS,

2011)”, passando somente a esta altura da vida a enxergar tudo de pior a que fora

submetido.

Conforme o grau de alienação, ou melhor, quando a síndrome ainda não

estiver instalada por completo é possível reestabelecer o convívio com o genitor,

após tratamentos psicológicos e acompanhamento do judiciário.

5.1 DIFERENÇAS ENTRE A SAP – SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E

A ALIENAÇÃO PARENTAL

A Síndrome da Alienação parental “diz respeito aos efeitos emocionais e as

condutas comportamentais desencadeados na criança que é ou foi vítima desse

processo. Grosso modo, são as seqüelas deixadas pela Alienação Parental (XAXÁ,

2008. p.19)”, está intimamente ligada às conseqüências decorrentes da prática a

alienação.

20

Alguns entendem a Alienação como uma Síndrome por apresentar um conjunto de sintomas a indicar uma mesma patologia, enquanto que outra corrente exclui o termo Síndrome da definição por determinar que, como não há ‘reconhecimento’ da medicina nem código internacional que a defina, não pode ser considerada uma Síndrome. Fato é que, independentemente de ser ou não uma Síndrome, assim subentendida, o fenômeno existe e cada vez mais é percebido e verificado independentemente de classe social ou situação financeira (XAXÁ, 2008. p. 19).

A Alienação parental, por sua vez, “é a desconstituição da figura parental de

um dos genitores ante a criança (XAXÁ, 2008. p.19)”, “o filho é convencido da

existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente

acontecido. Nem sempre consegue discernir que está sendo manipulado e acaba

acreditando naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida (DIAS, 2011)”.

Com o passar do tempo, fica cada vez mais difícil discernir a verdade da

mentira. Aquilo que foi dito e repetido inúmeras vezes passa a ser na cabeça do

alienado a verdade absoluta, e o mesmo vive com falsos personagens de uma falsa

existência, implantando-se, assim, falsas memórias.

5.2 ELEMENTOS IDENTIFICADORES DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A alienação parental se desenvolve principalmente no momento da

separação do casal, não sendo uma regra.

A separação em si, para muitos, é um processo doloroso e traumático

principalmente para a mãe que muitas vezes é pega de surpresa com a notícia, pois

a decisão da separação não envolve apenas problemas sentimentais, mas,

problemas de ordem financeira, emocional.

21

Normalmente quando um dos genitores mostra interesse em manter o

contato e a convivência com os filhos, o outro passa a utilizar-se dos mesmos, para

atingir o ex - companheiro de forma vingativa.

Denise Maria Perissini da Silva aponta que 91% dos casos de alienação

parental no Brasil são praticados por mulheres, segundo pesquisa realizada pelo

IBGE em 2002 (2009, p.54).

Não somente a mãe, mas o pai também podem ser atingido pela síndrome.

Maria Berenice Dias em artigo publicado a respeito do assunto esclarece quando é

que a síndrome se desenvolve, senão vejamos:

Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer vingar-se, afastando este do genitor. Para isso cria uma série de situações, visando a dificultar o máximo ou a impedir a visitação. Leva o filho a rejeitar o pai, a odiá-lo (2009).

O alienante passa a manipular as crianças denegrindo e desmoralizando a

imagem do outro genitor perante o filho “que é utilizado como instrumento da raiva e

rivalidade e agressividade contra o pai. A criança passa a odiá-lo e acreditar que ele

lhe faz mal e não o ama, querendo ao longo do tempo cada vez mais afastar-se do

genitor (DIAS, 2010. p. 16)”.

5.3 MEIOS UTILIZADOS PARA SE OBTER A ALIENAÇÃO PARENTAL

Os meios utilizados pelo alienante para conseguir seu intento são muitos, o

artigo segundo no parágrafo único e incisos da Lei 12.318/2010 nos traz um rol

exemplificativo de ações que o alienante de utiliza para obter a alienação, vejamos:

22

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Maria Berenice Dias também se manifesta a respeito do assunto e esclarece

que a alienação parental se desenvolve de tal forma que a criança imbuída de um

sentimento que na verdade foi imposto pelo alienante passa a odiar o outro “e

acreditar que ele lhe faz mal e não o ama, querendo ao longo do tempo cada vez

mais afastar-se do genitor (2010, p. 16)”.

O comportamento de um alienador pode ser muito criativo, sendo difícil oferecer uma lista fechada dessas condutas. Entretanto algumas delas são bem conhecidas: 1. apresentar o outro cônjuge como novo pai ou nova mãe; 2. interceptar cartas, e-mails, telefones, recados, pacotes destinados aos

filhos; 3. desvalorizar o outro cônjuge perante terceiros; 4. desqualificar o outro cônjuge para os filhos; 5. recusar informações em relação aos filhos (escola, passeios,

aniversários, festas etc.); 6. falar de modo descortês do novo cônjuge a outro genitor; 7. impedir a visitação; [...] (TRINDADE, 2010. p.27-28).

Trindade ainda cita outros quatro comportamentos típicos do alienador que

são critérios de Bone-Walsh, citados por Podevyn (2001), “obstrução a todo contato,

23

falsas denúncias de abusos físicos, emocional ou sexual, deterioração da relação

após a separação e reação de medo da parte dos filhos (TRINDADE, 2010. p. 29)”.

Dentre as citadas acima, podemos ainda relacionar muitas outras formas de

agir utilizadas pelo alienante, sempre pensadas de forma ardilosa com um

sentimento de vingança e com um único fim, afastar por completo o filho da

convivência com o pai, ou vice e versa, sem se dar conta do mau que está causando

ao próprio filho, uma vez que a cegueira causada pelo ódio lhe impede de ver as

conseqüências futuras e até mesmo irreversíveis decorrentes de seus atos.

5.4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Conforme o tempo foi passando e o número de separações aumentando,

surgiram vários problemas a ela relacionados.

A princípio, o problema do casal com o casamento em crise se resolvia,

porém, surgiam outros, bem mais complexos, como por exemplo com qual dos

genitores ficaria a guarda dos filhos, já esse vínculo é impossível de ser dissolvido,

seja por lei ou pelo tempo.

Como se constatou e que os casos de alienação parental só aumentavam,

vários profissionais do ramo, advogados, psicólogos, assistentes sociais, passaram

a pesquisar e estudar a respeito do assunto, e assim foram nascendo vários artigos

e obras literárias voltadas ao tema, resultando na proposta do projeto de Lei

4.053/2008, que tramitou no Congresso Nacional desde outubro de 2008, e foi

convertido na Lei 12.318/2010.

Tal proposta foi idealizada por um pai, o Juiz do Trabalho Elizio Luiz Perez, fruto de sua experiência pessoal, que percebeu a necessidade do Estado intervir nas situações de alienação parental, por faltar aos operadores do

24

Direito instrumentos que permitissem a identificação de casos dessa natureza, e ainda, a adoção de medidas protetivas às crianças e aos adolescentes (DUARTE, 2010. p.108).

O projeto de Lei, após aprovado pela Câmara dos Deputados, remetido ao

Senado e aprovado pela Comissão de Constituição Justiça e Cidadania, foi

sancionado em 26 de agosto de 2010, dando origem à Lei 12.318/2010, que trata da

alienação parental, e visa garantir o melhor interesse das crianças e adolescentes,

combatendo quaisquer atos que possam ferir a dignidade da pessoa humana e a

privação de convívio com seus genitores.

O artigo 2º da referida lei define o ato da alienação parental como:

A interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

“A lei não trata do processo de alienação parental necessariamente como

patologia, mas como conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar única

solução para o controvertido debate acerca de sua natureza (PEREZ, 2010. p.67)”.

Maria Berenice Dias, afirma que a nova lei tem caráter pedagógico, pois a

prática da alienação nunca mereceu a devida atenção. Ela ainda chama atenção

para o fato da brevidade que a prática deva ser identificada, para isso é necessária e

indispensável à participação de psicólogos e profissionais da área (2010, p. 18).

Buosi assegura que a Lei da Alienação Parental aparece como uma tentativa

de prevenção dessa Síndrome discutindo e encontrando formas de inibir essa

prática tão grave infelizmente tão comum, visando coibir situações de alienação

parental quando ainda não totalmente instaladas (2012, p. 95).

25

A Constituição Federal, no artigo 226 outorga especial proteção à família e

no artigo 227 expressa como dever do Estado a garantia à criança da convivência

familiar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente da mesma forma, no artigo 22,

reafirma o dever de ambos os pais e não apenas de um deles o dever de sustento,

guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a

obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Eduardo de Oliveira Leite, afirma que os laços que unem pais e filhos vão

muito além daqueles construídos e mantidos durante a vida conjugal, e que após o

divórcio, mesmo separados os pais continuam sendo pais, “o divórcio separa

marido e mulher, mas jamais anula os laços que vinculam os pais a seus filhos, que

persistem imutáveis, independentemente dos acontecimentos (2003, p. 194)”.

O artigo 21 do Estatuto da Criança e do Adolescente reza que o poder

familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do

que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de

discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da

divergência.

O Código Civil, no artigo 1.632, reafirma a máxima de que a separação

judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais

e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua

companhia os segundos.

“O Estatuto da Criança e do Adolescente, mediante os arts. 3º, 4º e 130,

determina que o menor não pode ser submetido a qualquer tipo de tortura, seja

física ou psicológica, por quem quer que seja, mormente por aqueles que tem o

direito de protegê-las (BUOSI, 2012. p. 58-59).”

26

5.5 A IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS

O genitor alienante utiliza-se também de chantagem emocional, implanta as

chamadas falsas memórias, distorce fatos que ocorreram entre o genitor alienado e

a criança, denigre a sua imagem até convencer a criança que aquilo realmente

aconteceu.

Carolina Buosi diferencia as falsas memórias da mentira e afirma que:

Nesse sentido, as falsas memórias podem ser entendidas como um fenômeno no qual o indivíduo se lembra de algo de forma distorcida do que houve na realidade ou, até mesmo, se lembra de um evento, situações ou lugares que nunca existiram. [...] É importante aqui esclarecer que as falsas memórias diferenciam-se da mentira, tendo em vista que quando um indivíduo mente tem uma consciência reflexiva do que está alegando algo que não se trata da verdade e tem uma intencionalidade com aquele comportamento, enquanto nas falsas memórias o indivíduo não tem condições de perceber que não vivenciou aquela situação, relatando-a como se a tivesse vivido (2012, p. 67).

Ou seja, o alienante faz uma verdadeira lavagem cerebral, a ponto da

criança não mais pensar por si só, ela passa a agir e pensar da forma que o

alienante lhe impõe.

A criança diante desse jogo de manipulações “acaba passando por uma

crise de lealdade, pois a lealdade para com um dos pais implica deslealdade para

com o outro, o que gera um sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar

que foi cúmplice de uma grande injustiça (DIAS, 2011)”.

No momento em que se dão conta de quão vítima foram de toda essa trama

armada e mantida, pelo genitor alienado, voltam-se contra ele.

Mesmo depois de adultos ainda carregam consigo o sentimento de culpa por

terem sido cúmplices de uma grande injustiça contra o genitor alienado.

27

5.6 FALSAS DENÚNCIAS DE ABUSO SEXUAL, INCESTO E ALIENAÇÃO

PARENTAL

Conforme já mencionamos anteriormente, dentre os muitos artifícios

utilizadas pelo genitor alienante para conseguir a alienação parental, a mais grave

de todas é sem dúvida a falsa acusação de abuso sexual ou de maus tratos

imputadas contra o genitor alienado, é o que autora Mônica Guazzelli, chama de o

“lado mais sórdido de uma vingança (2010, p. 43)”.

Mesmo sendo de difícil comprovação não podemos fechar os olhos para

essa realidade que insistimos em não querer ver.

O incesto, que é a prática de “relações sexuais abusivas no âmbito familiar”

está muito mais presente em nossa sociedade do que imaginamos.

E é justamente por se tratar de um assunto tão grave e polemico e que gera

enorme repulsa à sociedade, acaba muitas vezes “abafado”, ou seja, “o próprio

núcleo familiar protege o abusador (DIAS, 2010, p. 7)”, pelos mais variados motivos,

conforme a observa Maria Berenice Dias:

É difícil admitir que tal possa acontecer. Tendência é negar a sua existência. Fazer de conta que tudo não passa de fantasia de uma criança. Até porque a prova é difícil. São fatos que acontecem no âmbito doméstico, longe da presença de testemunhas. As lesões provocadas na vítima muitas vezes não deixam seqüelas físicas nem marcas visíveis. Ao depois, é a palavra de um adulto frente á envergonhada versão de uma criança, assustada que ama e teme seu genitor e tem muito medo de ser rejeitada. Isso porque reconhecer a ocorrência do incesto leva ao esfacelamento da família, que pode restar em dificuldades, pois, de um modo geral o abuso é praticado pelo provedor. É difícil para a mulher admitir que seu marido ou companheiro está abusando sexualmente de um filho ou filha. Mais fácil é se convencer de que nada existiu. Também é muito mais cômodo responsabilizar a vítima por ter seduzido o pai ou padrasto. A rejeição ao incesto é de tal ordem que a tendência da família, e também da própria Justiça, é reconhecer que o fato não existiu (2010, p.7). Grifo nosso.

28

Mais uma vez o magistrado se vê diante de uma situação difícil e é

compelido a determinar o afastamento de pai e filho até que sejam feitas

averiguações necessárias, levando a demora do curso processual.

A partir daí o genitor alienador já detém parcialmente uma vitória, pois o tempo e a limitação de contato entre o genitor alienado e o filho jogam a seu exclusivo favor. Assim, mesmo que se inicie com urgência uma perícia pelo Serviço Social Judiciário ou ainda uma perícia psiquiátrica, todo o processo, com o meio de se lograr ou esclarecer a verdade, acabará operando em favor daquele que fez a acusação – embora falsa! Ou seja o ônus da morosidade do processo recairá exclusivamente sobre o réu mesmo que ele seja inocente (GUAZZELLI, 2010. p.43). Grifo do autor.

Ou, seja a demora no andamento do processo e no curso das investigações

acaba de certa forma favorecendo o alienante, sem contar que em muitos casos de

abuso sexual nem a perícia consegue comprovar a ocorrência do ato.

Esta notícia, levada ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. De um lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio. Mas como o juiz tem a obrigação de assegurar proteção integral, reverte a guarda ou suspende as visitas e determina a realização de estudos sociais e psicológicos. Como esses procedimentos são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –, durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho (DIAS, 2010).

Nos casos de acusação de abuso sexual o alienante trabalha de tal forma

aquela verdade inventada que para a criança acaba se tornando algo real, pela

repetição.

E ainda assim “por mais preparados que estejam os operadores do direito,

todos terão muita dificuldade em declarar, ante o depoimento afirmativo de uma

criança, a absoluta inocência do genitor alienado (GUAZZELLI, 2010.p.45).”

Sem sombra de dúvidas, por mais maléfica que seja a intenção do alienador

contra o alienado, ainda assim muitas das situações que ocorrem no andamento do

29

processo vão a seu favor, deixando mais uma vez genitor alienado em visível

desvantagem, em relação aos filhos.

Cumpre-nos destacar ainda, que para a criança que é parte dessa

acusação, também ficarão seqüelas “que danificarão seu desenvolvimento não só

mutilando a relação desta com outro genitor, mas criando uma confusão psíquica

irreversível (GUAZZELLI, 2010.p.48)”.

De acordo com uma nota publicada no Jornal Extra.Globo em 27 de maio de

2012, que segue abaixo, em entrevista ao Jornal, a psicóloga do Tribunal de Justiça

do Rio de Janeiro Glícia Barbosa de Mattos Brazil afirma que falsas denúncias de

abuso sexual junto às Varas de Família da capital podem chegar a 80% dos

registros.

Enquanto muitas crianças vítimas de violência sexual sofrem sem conseguir denunciar o agressor — como aconteceu com a apresentadora Xuxa — dezenas de registros de falsos abusos chegam à Justiça anualmente. Nas 13 Varas de Família da capital, por exemplo, 80% das denúncias são falsas, afirma a psicóloga do TJ Glícia Barbosa de Mattos Brazil. — Na maioria dos casos, a mãe está recém-separada e denuncia o pai para restringir as visitas — conta Glícia, responsável por entrevistar as famílias e as crianças para tentar descobrir a verdade.

A especialista explica que a invenção muitas vezes é discreta. O adulto

denunciante vai convencendo a criança aos poucos de que a agressão

realmente aconteceu. Mas, com as técnicas adequadas, a mentira é

descoberta. O processo de entrevistas dura cerca de dois meses e envolve

de cinco a oito entrevistas.

Na Vara da Infância e Adolescência de São Gonçalo, a realidade é

parecida: cerca de 50% dos registros de abuso sexual são forjados, conta o

psicólogo Lindomar Darós.

— Quando a criança é muito pequena, tem dificuldade para diferenciar a

fantasia da realidade. Se repetem que sofreu o abuso, aquilo acaba virando

uma verdade para ela — explica Darós, que também faz parte do Conselho

Regional de Psicologia (CRP).

Essa "verdade" provoca tantos danos psicológicos à vítima quanto um

abuso sexual verdadeiro, afirmam os especialistas. A criança pode crescer

com baixa autoestima, ter dificuldades na escola e problemas de

relacionamento.

— O caluniador pode ser processado, mas o ideal é que não seja

completamente retirado do convívio da criança. Ela deve ser protegida e

não punida pelo erro do adulto — defende Patricia.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê ainda multa de três a 20

salários mínimos e obrigação de realizar tratamento psicológico para quem

faz uma falsa denúncia desse tipo (2012).

30

Maria Berenice Dias, cita em um dos seus artigos uma trágica passagem que

ocorreu com uma família de São Paulo e que, segundo ela, “representa sem dúvida

o grau máximo em que se pode verificar a consumação da alienação parental”

(2006, p. 55)”.

Uma mulher inconformada com a perda do marido decorrente da separação havida, assassinou três filhos, e em seguida, se suicidou. O homicídio e o suicídio perpetrados justificar-se-iam, consoante as palavras por ela deixadas, pelo fato de que, sem a sua presença, ninguém mais saberia cuidar e educar seus filhos. Daí por não conseguindo mais viver sem o marido de quem se separara, entendia ela que os filhos também não teriam condições de continuar vivendo. Foi por esta estapafúrdia e pífia razão, que antes de se suicidar, matara as três crianças (DIAS, 2006. p. 54-55).

Muitas famílias sofrem por anos consecutivos a dor causada pela violação,

ou o abuso sexual, quando não denunciam, levando em consideração a dor maior

que de quem foi ou está sendo abusado, que não sabe definir até onde os carinhos

do pai são de ternura ou de abuso.

A existência de um vínculo de convívio, a superioridade do homem – quer por sua maior força física, quer por sua autoridade – somados à cumplicidade da mulher e à fragilidade emocional da vítima, são os ingredientes que levam a um pacto de silêncio, difícil de romper (DIAS, 2010, p.158).

Para não ser denunciado pela vítima o abusador usa de chantagem “diz que

será preso, que a mãe jamais vai entender, a família vai se desestruturar e passar

por necessidades. Diz que a culpada foi ela, pois gostava das carícias dele (DIAS,

2010. p. 160-161),” criando na mente da criança uma percepção totalmente

distorcida dos fatos.

31

O que permanece é o silêncio e continuidade dos abusos, por normalmente

ter pouca idade e por ser dependente dos pais, raramente a criança violentada relata

os abusos sofridos, para alguém antes de entrar na adolescência.

Ainda assim, “mesmo que haja fortes indícios da pratica de abuso” Maria

Berenice Dias defende a idéia de que “simplesmente impedir a convivência pode vir

em prejuízo da criança (DIAS, 2010. p. 178)”.

Muito importante deixar claro que a maioria das denúncias de abuso sexual

feitas pelo genitor guardião são falsas e decorrem da alienação parental, como

podemos notar no trecho do julgado que segue:

DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. ABUSO SEXUAL. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL. Estando as visitas do genitor à filha sendo realizadas junto a serviço especializado, não há justificativa para que se proceda a destituição do poder familiar. A denúncia de abuso sexual levada a efeito pela genitora, não está evidenciada, havendo a possibilidade de se estar frente à hipótese da chamada síndrome da alienação parental. Negado provimento. (SEGREDO DE JUSTIÇA). (Agravo de Instrumento nº 70015224140/RS. Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Rel. Maria Berenice Dias. Dje.12/07/2006)

Muitas vezes grandes injustiças são cometidas, pais são afastados

injustamente da convivência com os filhos, a fim se resguardar o melhor interesse da

criança.

Mesmo que não fique comprovada a ocorrência do incesto, tendo em vista

“os prejuízos que o processo acarreta à criança e todos os envolvidos é

indispensável que todo o núcleo familiar seja submetido a acompanhamento (DIAS,

2010. p. 178)”.

De igual forma, não podemos “descartar a hipótese em que efetivamente o

incesto ocorreu e não foi possível detectá-lo. A simples existência do processo não

32

faz cessar a prática”, muito pelo contrário, o abusador ciente da impunidade “se vê

legitimado a investir contra outros filhos ou outras crianças (DIAS, 2010. p. 179)”.

Nesse ponto a autora cita um importante questionamento levantado por

Cláudio Cohen “o que fazer para o tabu do incesto ser respeitado, já que a

imposição de penas não impede a sua prática? (1993, p.24)”.

Vale salientar que não se pode defender os possíveis abusadores ou deixar

de acreditar em crianças que realmente tenham sido abusadas, mas pode ocorrer de

o abuso nunca ter acontecido, cabe então aos “investigadores que fazem esse papel

ficarem atentos a perceber as variáveis envolvidas nessas situações para estarem

mais aptos a analisar a probabilidade de isso realmente estar ocorrendo (BUOSI,

2012).”

5.7 TRATAMENTOS E MEIOS PUNITIVOS

Para evitar os efeitos devastadores e até irreversíveis, da alienação parental

na vida de uma criança, a psicóloga clínica e jurídica que atua na cidade de São

Paulo, Denise Maria Perissini da Silva sugere que “a família deve procurar um

profissional que conheça profundamente a síndrome, suas origens e conseqüências,

e o modo como combatê-la e intervir o mais rapidamente possível para que seus

efeitos não sejam irreversíveis (2010, p. 268)”.

Beatrice Marinho Paulo, em artigo publicado a respeito das formas de

tratamento, aponta para a importância de um tratamento específico para cada

grau de desenvolvimento da alienação, e em conjunto de todos os envolvidos,

pra um resultado mais efetivo, vejamos:

33

Entretanto, a terapia de nada adianta se a ação nefasta do alienador não for neutralizada. Se a avaliação em separado de cada membro da família demonstra que a alienação ainda se encontra no estágio mais leve e que nenhum dos genitores oferece perigo real para os filhos, pode-se tentar a mediação extrajudicial, como maneira de encontrar uma forma de entendimento, evitando a judicialização do conflito familiar, que pode deteriorar dramaticamente a relação entre os genitores. Segundo Gardner, a simples confirmação da alienação, no estágio leve, pode ser suficiente para fazer cessar a campanha de desmoralização.

Entretanto, quando a alienação já atingiu outros estágios, não se pode mais contar com a boa vontade do alienador. Por não ter consciência de seu problema e não buscar a cura, o alienador não é, a princípio, candidato à terapia. Também para os filhos, a terapia tradicional se mostra ineficaz, tendo em vista que durante todo o resto do tempo, o alienador continua a doutriná-los. Para Gardner, a mera submissão a uma terapia só dá vantagem ao alienador, que se beneficia pelo decurso do tempo. Ele postula que qualquer intervenção terapêutica, nestes estágios, precisa estar apoiada em procedimento judicial, para ser eficaz. É necessária uma atuação interdisciplinar de profissionais das áreas jurídica, psicológica e social, para que se dê conta de tal demanda.

Em verdade, a criança que vivencia o processo de Alienação Parental tem violados e desrespeitados, direta e intencionalmente, os seus direitos, garantidos pela Convenção Internacional do Direito da Criança e do Adolescente, pela Constituição Federal Brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela deixa de ser percebida como sujeito de desejo para se tornar objeto de satisfação dos desejos do alienador, que a trata como propriedade sua, não restando ao genitor alienado outra alternativa a não ser recorrer ao Judiciário para ver garantido seu lugar na vida do filho. O Judiciário torna-se, então, uma metáfora paterna, colocando limites à atuação do alienador.

A psicoterapia pode ajudar o genitor alienado a superar os traumas

causados pela rejeição do filho e também da sociedade, além de reaproximá-lo da

criança (BUOSI, 2012. p. 93).

Em casos mais graves são necessárias outras formas de intervenções como

afastamento da criança do genitor alienante, com a alteração da guarda, sempre

com acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra “competente para lidar com as

ansiedades do afastamento provisório ou das visitas assistidas da criança e seu

genitor-guardião (BUOSI, 2012. p. 93)”.

34

Há casos em que é descartada a visita assistida, como podemos observar

no julgado que segue, onde se decidiu que não havia a necessidade de visitas

assistidas, deixando o pai mais a vontade para estar com o filho, vejamos:

DIREITO CIVIL. REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. GENITOR. ALEGADA NECESSIDADE DE VISITAS ASSISTIDAS. NÃO COMPROVAÇÃO. ARTIGOS 1589, 1632 E 1634 DO CÓDIGO CIVIL. ALIENAÇÃO PARENTAL. ART. 2º DA LEI FEDERAL Nº 12.318/2010. APELAÇÃO CONHECIDA E NÃO PROVIDA. O artigo 1.589, do Código Civil vigente, preceitua ser direito do genitor, em cuja guarda não estejam os filhos, "visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação." De igual sorte, segundo o art. 1.634, do CC, compete aos pais, em conjunto, dirigir a criação e a educação dos filhos, sendo que o divórcio, a separação judicial e a dissolução da união estável não podem alterar as relações entre eles, conforme o art. 1.632 do mesmo diploma legal. Inexistindo nos autos provas de causas de impedimentos a que um dos pais veja seus filhos sem a necessidade de supervisão de outrem, não há de se falar em visitas assistidas, pois são indispensáveis os contatos de modo mais livre entre genitores e seus filhos, sendo necessária a sua implementação sem a imposição de dificuldades por parte do outro genitor. Não preservar uma imagem positiva do genitor e dificultar a realização das visitas são posturas prejudiciais do ponto de vista psicológico e que importam em alienação parental, nos termos do artigo 2º da Lei Federal nº 12.318/2010.(Apelação conhecida e não provida. Apelação Cível nº 20120110060368/DF. 6ª Turma Cível. Rel. Ana Cantarino, Dje. 10/12/2013).

A lei que trata da alienação parental não fala em sanção especificamente,

porém, apresenta um rol medidas protetivas que o magistrado pode tomar para

coibir e cessar com a prática.

A lei citada abre amplo aspecto de opções instrumentais ao juiz para inibir ou atenuar os efeitos desse desvio de conduta, conforme a gravidade e a situação concreta (art. 6º): I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental (VENOSA, 2011. p. 321).

35

O rol apresentado acima é meramente exemplificativo, caberá ao juiz a

aplicação da solução mais viável ao caso concreto, de forma que “nada impede que

algumas dessas medidas sejam aplicadas cumulativamente (VENOSA, 2011. p.

321).

Vale lembrar, que o artigo 6º da referida lei “não tipificou a prática de

alienação parental como crime, pois as medidas tomadas pelo juiz não importam em

responsabilização penal, com aplicação de sanção penal, seja ela pena (privativa,

restritiva ou prisão simples) ou medida de segurança (PAVAN, 2011)”.

Quando o quadro patológico de Síndrome é identificado no grupo familiar em litígio, os tribunais aplicam o direito levando em consideração as conseqüências negativas que ela poderá causar a esse núcleo. Determinam medidas para coibir os atos alienadores, tais como, a obrigatoriedade ou a ampliação das visitas do genitor afastado, acompanhamento terapêutico da família e, em casos extremos, a troca de guarda. Tais decisões têm sido embasadas nas ciências auxiliares, com respaldo na jurisprudência que se formou na última década. Falta regulamentação da matéria. E o Poder Legislativo foi compelido a exercer seu papel normatizador (PINHEIRO, 2009.p.9).

Na esfera do poder judiciário, diante de um processo que contenha uma

denúncia, por exemplo, de abuso sexual, mesmo que falsa, o juiz que está de certa

forma, compelido a assegurar a proteção integral da criança, “frente à gravíssima

acusação, não tem alternativa senão expedir ordem determinando, no mínimo, a

suspensão temporárias das visitas ou visitas reduzidas mediante monitoramento de

terceira pessoa (GUAZZELLI, 2010. p. 43)”.

Em face da imediata suspensão das visitas ou determinação do monitoramento dos encontros, o sentimento do guardião é de que saiu vitorioso, conseguiu o seu intento: rompeu o vínculo de convívio. Nem atenta ao mal que ocasionou ao filho, aos danos psíquicos que lhe infringiu. É preciso ter presente que esta também é uma forma de abuso que põe em risco a saúde emocional de uma criança. Ela acaba passando por uma crise de lealdade, pois a lealdade para com um dos pais implica deslealdade para com o outro, o que gera um sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar que foi cúmplice de uma grande injustiça. A estas questões devem todos estar mais atentos. Não mais cabe ficar silente diante destas

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maquiavélicas estratégias que vêm ganhando popularidade e que estão crescendo de forma alarmante (DIAS, 2010, p. 17).

No julgado que segue abaixo, observa-se um exemplo comum de genitores

em conflito, existem graves acusações que pesam sobre o pai, clássicos vestígios

de alienação parental, o julgador opta por manter a visitação monitorada em

ambiente específico, primando por preservar acima de tudo a convivência entre pai e

filho, já que as acusações não foram confirmadas.

REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL. Evidenciada o elevadíssimo grau de beligerância existente entre os pais que não conseguem superar suas dificuldades sem envolver os filhos, bem como a existência de graves acusações perpetradas contra o genitor que se encontra afastado da prole há bastante tempo, revela-se mais adequada a realização das visitas em ambiente terapêutico. Tal forma de visitação também se recomenda por haver a possibilidade de se estar diante de quadro de síndrome da alienação parental. Apelo provido em parte. (Apelação Cível nº 70016276735/RS. Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Rel. Maria Berenice Dias. Dje. 27/10/2006).

5.7.1 A GUARDA COMPARTILHADA COMO UMA FORMA DE AMENIZAR O

PROBLEMA

De acordo com o que reza o artigo 6º da Lei 12.318/2010:

Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

[...]

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão.

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É através da guarda compartilhada que se abre a possibilidade dos ex-

cônjuges “permanecerem unidos nas principais decisões da vida do filho, mantendo,

ainda, uma convivência cotidiana com a criança (VILELA, 2009)”, prevenindo o

desenvolvimento da SAP e visando sempre um ambiente saudável para o

desenvolvimento dos filhos.

No Brasil, desde Agosto de 2008 a Guarda Compartilhada é possível “com a

nova redação dada aos artigos 1.583 e 1584 do Código Civil de 2002 e a

promulgação da Lei 11.698/2008, que disciplina sobre a guarda compartilhada por

requerimento das partes ou por decreto judicial (BUOSI, 2012. p. 140).”

Na guarda compartilhada, “a criança tem o referencial de uma casa principal,

na qual vive com um dos genitores, ficando a critério dos pais planejarem a

convivência em suas rotinas quotidianas e, obviamente, facultando-se as visitas a

qualquer tempo (GONÇALVES, 2011. p. 295)”, dessa forma dá-se uma liberdade

maior à criança, que não fica adstrita à convivência com a penas um dos genitores.

A forma com que a guarda deverá ser exercida dependerá da rotina e do

cotidiano de cada família envolvida, o que é imprescindível para o bom e saudável

desenvolvimento da criança é de que esta conviva o maior tempo possível de igual

forma, com ambos os pais, mantendo e estreitando os laços parentais, através de

uma convivência saudável.

Porém, as opiniões ainda divergem a respeito da sua aplicação “os

operadores de direito afirmam que esta modalidade de guarda pode ser aplicada

somente com o consenso das partes, ou quando os pais não estão em litígio

(VILELA, 2009)”, outros, porém, afirmam que deveria ser a regra.

Euclides de Oliveira assevera que o instituto da guarda compartilhada “deve

ser acolhido pelos membros de igual acordo, pois se imposto coercitivamente pelo

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agente estatal sem a compreensão de um ou ambos os genitores, pode não obter

conseqüências adequadas ao bom andamento da guarda (2010, p .234)”.

De igual forma se manifesta Carlos Roberto Gonçalves afirmando que “trata-

se naturalmente, de um modelo de guarda que não deve ser imposto como solução

para todos os casos, sendo contraindicado para alguns (2011, p. 295).

O Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público poderá se basear em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar para estabelecer as atribuições do pai ou da mãe e os períodos de convivência sob guarda compartilhada. [...] Espera-se que desse modo sejam minimizados os efeitos conhecidos da guarda unilateral e da alienação parental, como o abuso do poder e manipulação dos filhos pelo genitor guardião e o afastamento do genitor (DUARTE, 2010, p. 119).

Contrariando o entendimento dos autores acima citados, a decisão proferida

pela 3ª Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, defende que a

guarda compartilhada deve ser a regra:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL EPROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA. CONSENSO. NECESSIDADE. ALTERNÂNCIA DE RESIDÊNCIA DO MENOR. POSSIBILIDADE. [...]

2. A guarda compartilhada busca a plena proteção do melhor interesse dos filhos, pois reflete, com muito mais acuidade, a realidade da organização social atual que caminha para o fim das rígidas divisões de papéis sociais definidas pelo gênero dos pais.

3. A guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder Familiar entre pais separados, mesmo que demandem deles reestruturações, concessões e adequações diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, do ideal psicológico de duplo referencial.

4. Apesar de a separação ou do divórcio usualmente coincidirem com o ápice do distanciamento do antigo casal e com a maior evidenciação das diferenças existentes, o melhor interesse do menor, ainda assim, dita a aplicação da guarda compartilhada como regra, mesmo na hipótese de ausência de consenso.

5. A inviabilidade da guarda compartilhada, por ausência de consenso, faria prevalecer o exercício de uma potestade inexistente por um dos pais. E diz-se inexistente, porque contrária ao escopo do Poder Familiar que existe para a proteção da prole.

6. A imposição judicial das atribuições de cada um dos pais, e o período de convivência da criança sob guarda compartilhada, quando não houver

39

consenso, é medida extrema, porém necessária à implementação dessa nova visão, para que não se faça do texto legal, letra morta.

7. A custódia física conjunta é o ideal a ser buscado na fixação da guarda compartilhada, porque sua implementação quebra a monoparentalidade na criação dos filhos, fato corriqueiro na guarda unilateral, que é substituída pela implementação de condições propícias à continuidade da existência de fontes bi frontais de exercício do Poder Familiar.

8. A fixação de um lapso temporal qualquer, em que a custódia física ficará com um dos pais, permite que a mesma rotina do filho seja vivenciada à luz do contato materno e paterno, além de habilitar acriança a ter uma visão tridimensional da realidade, apurada a partir da síntese dessas isoladas experiências interativas.

9. O estabelecimento da custódia física conjunta, sujeita-se, contudo, à possibilidade prática de sua implementação, devendo ser observada as peculiaridades fáticas que envolvem pais e filho, como a localização das residências, capacidade financeira das partes, disponibilidade de tempo e rotinas do menor, além de outras circunstâncias que devem ser observadas.

10. A guarda compartilhada deve ser tida como regra, e a custódia física conjunta - sempre que possível - como sua efetiva expressão.

11. Recurso especial não provido. (Recurso Especial nº 1251000/MG

2011/0084897-5, Rel. Min. Nancy Andryghi.Terceira Turma do STJ. Dje. 31/08/2011).

Já em recente decisão proferida pela 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça

do Rio Grande do Sul, o entendimento é de que a guarda compartilhada deverá ser

concedida apenas quando houver entendimento entre os genitores a respeito do seu

deferimento.

APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE GUARDA COMPARTILHADA. Os elementos de prova constante dos autos demonstram a inexistência de um perfeito entendimento entre os genitores, o que é de rigor para o compartilhamento de guarda postulado, de modo que seu deferimento não atenderá ao melhor interesse do menor. Manutenção da sentença que concedeu a guarda ao genitor. NEGARAM PROVIMENTO. (Grifo do autor. (Apelação Cível nº 70057520611/RS. Rel. Rui Portanova. Oitava Câmara Cível. Dje. 10/03/2014). O critério utilizado pelo juiz para determinar a atribuição da guarda a um dos genitores é o interesse do menor “o interesse dos filhos é o único critério legal que permite ao juiz confiar a guarda do filho a um dos genitores. E este poder discricionário é tão intenso que o juiz pode mesmo contrariar o acordo estabelecido entre os pais, recusando-se a homologar qualquer proposta de consenso que lhe pareça não preservar suficientemente os interesses do filho (LEITE, 200. p.195).

40

Denise Maria Perissini da Silva, assevera que, como nem sempre é possível

se chegar a um acordo entre as partes, o juiz então torna-se o intérprete da lei,

aplicando a guarda compartilhada mesmo naquelas situações de divergência entre

os pais como forma de mostrar a ambos que não pode mais haver a supremacia

tirânica de um guardião único, sendo o outro secundário (pagador de pensão “caixa

eletrônico”) e mero visitante de fins de semana alternados (SILVA, 2009. p.3-4).

A autora acredita que “é muito melhor para a criança conviver com o conflito

durante algum tempo do que perder a presença amorosa de um pai ou de uma mãe

(2009, p. 4)”.

Independentemente da modalidade de guarda que for deferida pelo juiz, os

pais sempre serão os maiores “responsáveis pela formação e emocional e intelectual

de seus filhos do momento do seu nascimento até a sua maioridade, quando, não

por vezes, durante a vida toda (FURQUIM, 2008. p. 80)”, pois será nos seus

exemplos e nos seus ensinamentos que eles se espelharão, por isso a necessidade

de manter entre ambos uma relação de amizade e carinho, tão necessária e

indispensável para o seu desenvolvimento.

Importante salientar, ainda, que a guarda compartilhada é apenas uma das

possíveis medias a serem adotadas pelo magistrado visando amenizar ou resolver o

problema da alienação parental.

Embora o artigo 6º traga apenas um rol exemplificativo de possibilidades,

outras que não estejam nele previstas, poderão ser tomadas, visando garantir

sempre o melhor interesse das crianças e adolescentes, para que estes tenham uma

convivência sadia com ambos os pais, direito fundamental previsto na Constituição

Federal de 1988.

41

5.8 A IMPORTÂNCIA DAS PROVAS PARA A COMPROVAÇÃO DA ALIENAÇÃO

E DAS ACUSAÇÕES DE ABUSO SEXUAL

Como a alienação parental e o abuso sexual são questões difíceis de serem

comprovadas, as provas são as grandes aliadas do magistrado para tentar chegar o

mais próximo possível da verdade sobre os fatos narrados no decurso do processo.

Em se tratando de processo que envolve menores, estes, devem ser

resguardados o máximo possível na sua integridade física e moral

independentemente do interesse de seus genitores.

Diante de tantas questões delicadas que surgem, precisamos levar em

consideração “que existem pais e padrastos que são capazes de molestar e abusar

sexualmente de seus filhos, estes vítimas de sujeitos irresponsáveis que tem

estrutura perversa (DUARTE, 2010. p. 145)”.

Dessa forma, surge a necessidade desenvolver um estudo detalhado e

rigoroso por uma equipe multidisciplinar visando investigar as ocorrências capazes

de causar transtornos físicos e psíquicos às crianças e adolescentes, decorrentes

dos abusos a que foram ou estão sendo submetidas.

Se necessário, o juiz o determinará realização de perícia psicológica ou

biopsicossocial, segundo determinação do artigo 5º da Lei Nº 12.318/2010.

Silvio de Salvo Venosa ressalta a escolha do profissional capacitado para

essa perícia será essencial, podendo ser realizada por equipe multidisciplinar como

“psicólogos, psiquiatras, pedagogos, assistentes sociais poderão participar do

exame. Provada a existência de desvio psicológico, essa psicopatia é sumamente

prejudicial para os filhos e o genitor inocente (VENOSA, 2011. p.320-321).”

A colheita das provas deve se dar sempre por profissionais capacitados

evitando-se o máximo a exposição da criança às repetidas indagações sobre um

42

assunto tão traumático e doloroso, segundo Edward Nichols (2008.p.54) citado por

Vanessa Delfin Canabarro (2012, p. 18).

O avaliador deve reunir experiência em avaliação e tratamento com crianças e famílias de no mínimo dois anos, sendo que essa experiência deve incluir crianças sexualmente abusadas. Ressalta ainda que se o avaliador não tiver essa experiência é necessária a presença de um supervisor. É importante que tenha treinamento na área de abuso sexual, ter familiaridade com a literatura sobre o tema e estar ciente da dinâmica emocional e as conseqüências comportamentais das experiências de abuso, experiência em conduzir perícias judiciais e dar testemunho nesses casos e fazer

avaliação somente se esta for solicitada juridicamente.

Outra forma de colheita de provas utilizada atualmente pelo Poder Judiciário,

criada em maio de 2003 pelo Juizado da Infância e da Juventude de Porto

Alegre/RS, é depoimento sem dano, que trata-se de “uma forma diferenciada de

ouvir crianças em audiências, com o condão de evitar que elas sofram danos

durante a produção de provas nos processos judiciais, nos quais sejam vítimas ou

testemunhas (CÉZAR, 2010. p. 290)”.

O Depoimento sem Dano, foi idealizado também sob o enfoque de valorizar o relato da criança, respeitando-se a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, bem como qualificar a produção da prova que é produzida em juízo. Esse modelo interdisciplinar tem uma sistemática significativa no âmbito da atuação dos variados agentes que operam na sua execução – juízes, promotores de justiça, advogados, psicólogos, assistentes sociais, servidores da justiça. As tarefas desenvolvidas por cada no trabalho em conjunto tem como conseqüência a exigência de que cada um domine alguns conhecimentos de outras áreas. (CÉZAR, 2010. P.290-291)

43

5.9 A INTERDISCIPLINARIEDADE ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA NA

CONSTATAÇÃO DA SÍNDROME NO CASO CONCRETO

“A síndrome de alienação parental exige uma abordagem terapêutica

específica para cada uma das pessoas envolvidas, havendo a necessidade de

atendimento da criança do alienador e do alienado (TRINDADE, 2010. p.26)”.

O mesmo autor ainda chama a atenção para a necessidade da agilidade no

andamento do processo “quando mais cedo ocorrer a intervenção psicológica e

jurídica, tanto menores serão os prejuízos causados e melhor o prognóstico de

tratamento para todos”.

Para buscar um entendimento mais amplo acerca da Síndrome da Alienação Parental, reitera-se a importância de se tratar desta questão com base na intersecção entre conceitos da ciência psicológica e do direito, tendo em vista que a junção de ambas pode possibilitar uma maior compreensão acerca dessa temática sendo a Psicologia Jurídica um território multidisciplinar indispensável para a compreensão dos fenômenos emocionais (BUOSI, 2012. p.46).

“O texto da lei, nesse ponto, inspira-se em elementos dados pela psicologia,

mas cria instrumentos com disciplina própria, destinado a viabilizar atuação ágil e

segura do Estado em casos de abuso assim definidos (PEREZ, 2010. p.65)”.

Como há enorme resistência em aceitar a palavra da vítima, não podem ser dispensadas as ciências comportamentais para desvendar a prática de delitos que acontecem a descoberto de testemunhas. O atendimento das situações de abuso sexual demanda diferentes abordagens, no âmbito da saúde mental e da esfera jurídica. A cada uma corresponde um tipo específico de intervenção.

Por isso, a necessidade de haver a interdisciplinaridade entre o direito e a

psicologia, para que se possa de forma rápida e segura obter um “diagnóstico mais

44

seguro por meio de um consenso entre os profissionais envolvidos (BUOSI, 2012. p.

95)”, auxiliando assim, os magistrados nas suas decisões, evitando a morosidade

processual e prolongando o sofrimento dos envolvidos.

5.10 CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DA ALIENAÇÃO PARENTAL E DA

FALTA DOS PAIS NA VIDA DE UMA CRIANÇA

Dependendo do grau de desenvolvimento da síndrome da alienação

parental, a pessoa alienada pode apresentar vários problemas, psiquiátricos,

ansiedade, pânico, medo, insegurança, dificuldades em relacionar-se com outras

pessoas, dificuldades de aprendizado, passam ser dependentes químicos de drogas

e álcool como forma de aliviar a dor e culpa da alienação, muitas chegam até a

cometer suicídio.

A convivência com os pais, além de ser um direito fundamental assegurado

pela Constituição Federal, é essencial para o desenvolvimento de qualquer ser

humano, são eles a nossa base, o alicerce da nossa evolução como pessoas

sujeitos de direito, são eles os responsáveis por incutir em nós os valores que

carregamos conosco por toda nossa vida. É neles que nos espelhamos e confiamos.

Assim como nas uniões parentais comuns um dos genitores não pode cumprir integralmente sua função, nem preencher corretamente seu papel, quando é desprezado ou humilhado pelo outro cônjuge na sua função parental, provocando sérios riscos sobre a criança, que introjetará imagens parentais irreconciliáveis, suficientes a lhe gerar impulsos confusos e contraditórios, da mesma forma, a ausência sistemática do pai produzirá os mesmos efeitos sobre a criança que, desde tenra idade, não terá condições de se identificar com a imagem paterna (e, como vimos se identificará excessivamente com a mãe) (LEITE, 2000. p. 90).

45

Eduardo de Oliveira Leite, em sua obra, Famílias Monoparentais: a situação

jurídica de pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal, cita o

psicólogo Poussin, que pontua 3 (três) funções básicas dos pais em relação aos

filhos: “1. Assegurar a satisfação de suas necessidades físicas; 2. Satisfazer as

necessidades afetivas; 3. Responder as necessidades de segurança psíquica

oferecendo à criança um “tecido psíquico grupal” no qual se enraizará o psiquismo

da criança (Poussin apud Leite 2003, p. 88).

Após muitas lutas em prol do reconhecimento da sua capacidade, a mulher

conquistou grande espaço junto ao mercado de trabalho, adquiriu independência

financeira, e pode tranquilamente criar um filho sem a ajuda do companheiro, ela

educa, cuida, promove o sustento dos filhos e resolve inúmeros problemas sozinha,

porém, isso não minimiza o valor do papel paterno na vida de uma criança.

No trecho do texto publicado pelo Jornal Enfoque Gospel, Osiel Rangel

(2008), deixa claro o quanto é importante e necessária é a presença do pai na vida

de um filho, já que nos casos de alienação parental o alienante trabalha

incessantemente com o fim de afastar o pai da prole, vejamos:

Seja em que situação for, uma criança sem a presença do pai em sua vida diária frequentemente tem sentimentos de frustração, desajuste e dúvida, que se expressam na mais simples frase: “Mãe, por que meu pai não liga pra mim ou não vem me visitar?” [...] É possível que crianças ou adolescentes se sintam rejeitados por não terem a presença física e emocional constante de um pai, o que pode afetar sua auto-estima. Se o próprio pai ou mãe não lhe dão valor, quem dará? Esta pode ser sua conclusão. E eles correm o risco de ter um desenvolvimento emocional sujeito a problemas indesejáveis, como depressão, falta de confiança, timidez, dificuldades de aprendizagem etc. A função materna diz respeito aos cuidados e à atenção acerca das necessidades físicas, morais, intelectuais e emocionais dos filhos. A função paterna refere-se à lei que traça limites para a regulação das condutas. Todavia, o fato desses papéis serem denominados materno e paterno não significa que só podem ser exercidos pela mãe e pelo pai, respectivamente. O mais importante é que ambas as funções sejam desempenhadas pelos responsáveis, pois tanto o carinho e o cuidado, como os limites, são fundamentais para que a personalidade se desenvolva de forma a constituir um sujeito ético, convicto de seus atos e cumpridor de seus deveres.

46

Hoje o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dá o direito de se pleitear em juízo a presença do pai, não só material (para o custeio de despesas), mas também afetiva (através do direito à visitação).

Dessa forma, fica evidente que a presença dos pais na vida dos seus filhos é

de fundamental importância, não só como os provedores, mas também como

limitadores, como aqueles que têm autoridade sobre seus filhos.

A verdadeira função do pai vem de dentro: vem da alma, vem do desejo de ter o filho, do calor de abraçar o filho, da possibilidade de se perpetuar no filho. A grande função do pai – como da mãe – é amar, e amar é priorizar o bem-estar do outro. No caso da função paterna, o outro é o filho, e o amor, nessa relação, é expresso por cuidados materiais, educacionais e espirituais, prestados afetivamente (FERREIRA, 2004. p. 82).

O pai e a mãe são igualmente importantes e devem desempenhar cada qual

o seu importante papel, pois os filhos precisam sentir que ambos se entendem, se

respeitam e estão verdadeiramente presentes em suas vidas, embora não

convivendo mais sob o mesmo teto.

5.11 O PAPEL DO MAGISTRADO DIANTE DAS DECISÕES A SEREM

PROFERIDAS

Sem sombra de dúvidas, cabe ao julgador a mais árdua das tarefas quando

no momento da decisão ele tem que optar por decidir em manter ou afastar o genitor

supostamente alienante do convívio com os filhos.

Dessa forma, é necessário que o juiz “se capacite para poder distinguir o

sentimento de ódio exacerbado do genitor que leva ao desejo de vingança a ponto

de programar o filho para reproduzir falsas denúncias com o só intuito de afastá-lo

do outro (DIAS, 2010. p. 19)”.

47

Pode ainda acontecer que após muito estudo investigação não fique

totalmente claro ao magistrado se houve mesmo a ocorrência da alienação, o mais

doloroso e que ocorre quase sempre, segundo MARIA BERENICE DIAS:

[...] é quando o resultado da série de avaliações, testes e entrevistas que se sucedem durante anos, não é conclusivo. Mais uma vez depara-se o juiz diante de um dilema: manter ou não as visitas, autorizar somente visitas acompanhadas ou suspender o poder familiar, enfim, manter o vínculo de filiação ou condenar o filho à condição de órfão de pai vivo cujo único crime pode ter sido amá-lo muito e querer em sua companhia (2010, p.18).

“É o Juiz, a quem compete examinar cada situação de fato, que determina, a

partir da consideração de elementos objetivos e subjetivos, qual é o interesse

daquele menor, naquela dada situação fática (LEITE, 2003. p.198)”.

Porém não se faz necessário apenas que o magistrado esteja qualificado

para que possa aferir a veracidade dos fatos e decidir da melhor forma possível,

Maria Berenice Dias sugere que é necessário também qualificar e capacitar agentes

do Ministério Público, defensores, advogados, servidores conciliadores, mediadores,

para trabalharem de forma sincronizada com equipes multidisciplinares, a fim de

possibilitar agilidade e o máximo de certeza na apuração dos fatos.

Observe-se que não se cuida de exigir do magistrado – que não tem formação em psicologia – o diagnóstico da alienação parental. Mas o que não se pode tolerar é que, diante da presença de seus elementos identificadores, não adote o julgador, com urgência máxima, as providências adequadas, dentre as quais o exame psicológico e psiquiátrico das partes envolvidas. Uma vez apurado o intento do genitor alienante, insta ao magistrado determinar a adoção de medidas que permitam a aproximação da criança com o genitor alienado, impedindo, assim, que o progenitor alienante obtenha sucesso no procedimento já encetado. As providências judiciais a serem adotadas dependerão do grau em que se encontre o estágio da alienação parental (TRILHA, 2013).

48

Sempre que for possível, cabe ao magistrado manter, acima de tudo o direito

dos filhos à convivência com seus genitores como se pode observar do julgado que

segue:

DIREITO DE FAMÍLIA. DIREITO DE VISITA. REGULAMENTAÇÃO. INACOLHIMENTO DE TUTELA ANTECIPATÓRIA COLIMANDO A SUSPENSÃO OU ALTERAÇÃO DO EXERCÍCIO DE VISITAÇÃO PELO GENITOR. [...] GENITORA, ORA AGRAVANTE, DIAGNOSTICADA COM IMPORTANTE DISTÚRBIO DE PERSONALIDADE. PROVÁVEL TENTATIVA DE ALIENAÇÃO PARENTAL. ESTUDO SOCIAL DEMONSTRANDO A BOA E SAUDÁVEL CONVIVÊNCIA ENTRE PAI E FILHA, ESSENCIAL À CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO DOS LAÇOS AFETIVOS FAMILIARES. RESPEITO AO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL AOS INTERESSES DA CRIANÇA. INTELECÇÃO DO ART. 227, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E ART. 1º DO ECA. DECISÓRIO ACERTADO. RECURSO DESPROVIDO. Revela-se sobremodo inviável a alteração do exercício do direito de visita atribuído ao pai quando evidenciado que a mãe da criança, portadora de relevante distúrbio de personalidade, e, por isso mesmo, utilizando-se reiterada e indevidamente do Judiciário, pretende impedir, por meios claramente artificiosos e por isso mesmo não passíveis de acolhimento, a salutar convivência entre o genitor e a infante. ( Agravo de Instrumento nº 2012.090567-3/SC. Rel. Des. Eládio Torret Rocha. Dje. 26/09/2013).

“Deve o juiz, destarte resguardar os filhos menores de todo abuso que possa

ser praticado contra eles pelos pais, seja de natureza sexual, seja sob a forma de

agressão, maus-tratos, sequestro e outros (GONÇALVES, 2011. p. 301)”, afastando

o ofensor porém apenas diante de situações comprovadas ou de flagrantes indícios,

pois o direito de visitas filho é respeitável e digno de proteção desde que não cause

nenhum tipo de dano ou prejuízos à criança ou adolescente.

49

5.12 A MORTE INVENTADA

Com a finalidade de divulgar esse fenômeno que sempre existiu, mas ainda

é pouco conhecido, em 2009, o Cineasta brasileiro Alan Minas, lançou um

documentário chamado “A Morte Inventada”.

Trata-se de um longa metragem elaborado sob o formato de documentário.

O roteiro do filme apresenta sete casos típicos de alienação parental, trazendo a

opinião de profissionais especializados, o depoimento de pais e filhos que

vivenciaram o gosto amargo da alienação parental em suas vidas.

Tudo retratado da forma mais realista possível, como realmente acontece,

por mais triste e cruel que seja, com a finalidade de divulgar, e tentar despertar na

sociedade a coragem de denunciar e mudar essa realidade.

Bruna Marcolongo (2011), cita o depoimento de três vítimas de alienação

parental, extraídos do filme:

O depoimento de Leme no documentário “A morte inventada” retrata de forma fidedigna essa situação:

Meu contato com meu pai era assim: ele ia buscar a gente às vezes, mas [...] se eu saísse com ele e tivesse curtindo estar com ele, era como se eu tivesse traindo a minha mãe sabe? Então estar com meu pai era mais como uma obrigação: ‘ta bom, eu tenho que estar com meu pai e não sei o que’. [...] Se eu chegasse feliz assim em casa, eu lembro que era uma coisa difícil de falar com a minha mãe que tinha sido legal, então a gente já chegava [...] com a cara fechada, achando que tinha sido um saco o dia e já falava pra minha mãe “ai que saco tá com meu pai, sabe mãe?”. Mas, no fundo, nem era isso! Mas parecia que eu tinha que ter uma certa cumplicidade com a minha mãe e se eu achasse legal sair com meu pai era como se eu tivesse traindo a minha mãe, sabe? [...] Eu só ligava pra ele pra pedir dinheiro e achava até legal que minha mãe soubesse isso sabe? ‘Olha, eu só ligo pro meu pai pra pedir dinheiro’. Sabe? Achava que ela ia ficar orgulhosa de mim, porque minha mãe era tudo pra mim, então qualquer coisa que eu fizesse pra ela ficar orgulhosa ... e negar o meu pai era uma coisa que eu achava que ia deixar ela muito orgulhosa, sabe? [...] Depois que eu cresci [...] eu fiquei muitos anos sem ver e falando esporadicamente pra pedir dinheiro mesmo. (A MORTE..., 2011).

50

Abaixo, segue a transcrição de um depoimento de um pai (retirado do documentário “A Morte Inventada”) que se afastou por entender que não adiantava tentar uma aproximação na infância das filhas:

Eu me sentia muito agredido, muito humilhado [...] eu fiz muitas tentativas e não consegui em nenhuma o meu intento de vê-las. Exceto quando a mãe teve interesse de conversar comigo. Ai chego lá, elas duas estão lá me esperando, feito bichinhas assim assustadas [...]. Aí eu tomei uma decisão na minha vida: eu não vou interferir. Vai chegar um momento onde com elas adultas eu vou procurá-las. (A MORTE..., 2011)

Paulo (em depoimento no documentário “A Morte Inventada”) expõe que se sentia um pai incompleto durante a AP:

[...] Era assim, era pai “Mc Donalds”, pai de lanchonete, pai de pracinha, não podia levá-los pra casa (pra dormir). Teve uma vez que eu [...] ia trazer eles pra cá, pra casa. E quando eles perceberam, o Vitor falou: “pai pára esse carro senão eu vou pular!” Começaram a querer abrir o carro [...] ficaram nervosos [...]. Então, já me preocupou mais esse pânico [...] e nesse meio tempo o processo tava continuando a rolar, o ano tava se passando. Passou o dia dos pais (muitos dias dos pais que eu não convivi com eles), aniversário deles (que eu não pude passar com eles) e nem ao menos falar no telefone [...]. (A MORTE..., 2011).

Como se observa no depoimento de Paulo, mais um pai vítima da SAP que

representa todos os outros pais brasileiros que enfrentam uma situação igual ou

semelhante a esta, percebe-se claramente quão difícil é para um pai ter que se

afastar dos filhos, ou vê-los se afastarem aos poucos se ao menos ter dado causa

aos sentimentos despertados, que motivaram esse cruel afastamento.

51

6 CONCLUSÃO

Após 4 (quatro) anos de vigência da Lei 12.318/2010, observa-se, que muito

se evoluiu, porém conclui-se que muito ainda há por se fazer.

Ao buscar por jurisprudências junto aos tribunais de vários estados

brasileiros, poucas foram as decisões encontradas tomando por base os quatro anos

de vigência da lei, percebe-se que ainda é tímida a abordagem e a manifestação dos

nossos tribunais frente ao assunto tão grave e polêmico.

Apesar de o problema ser recorrente, a solução mais correta ainda é a

prevenção, como se pode observar do depoimento de uma mãe que mesmo com a

separação manteve um relacionamento cortez e amigável com o ex-marido,

conseguindo desta forma, educar os filhos e mantê-los em contato com o pai,

conservando uma convivência saudável e harmoniosa entre todos.

Tive um casamento conturbado, cheio de problemas e traições, me divorciei, nunca pedi pensão para meus filhos que na época tinham 4 anos e outro de 1 ano e meio. O pai sempre esteve presente, não financeiramente - criei meus filhos somente com meu dinheiro e me orgulho disso - mas nunca quis causar traumas aos meus filhos, sem um pai. Hoje somos quatro grandes amigos, casei de novo e meus filhos têm 19 e 15 anos e sem traumas, sem rancores. Consegui criar meus filhos sempre perto do pai deles, que também é meu grande amigo. Isso é ser madura. É não pensar só em si e sim nos filhos que tivemos juntos. A criança não tem que pagar por nossos erros e fracassos. Parabéns pela lei. Meus filhos são saudáveis e amados por nós dois. Nós conseguimos ser bons pais, ainda que separados (GATTUSO, 2010).

O maior desafio do poder judiciário ainda está na dificuldade de se identificar

a síndrome, uma vez que a identificação e o tratamento demandam de uma equipe

multidisciplinar e especializada para cada comarca, e normalmente são processos

de exigem um tempo maior de investigação, tempo este, que deve ser abreviado ao

52

máximo, evitando-se a exposição desnecessária e o prolongamento o sofrimento

das vítimas da alienação parental.

Uma vez identificada à ocorrência da Alienação ou da Síndrome, e

dependendo do grau de instalação, caberá ao magistrado a grande tarefa de aplicar

a melhor solução possível ao caso, garantindo sempre em qualquer circunstância o

melhor interesse dos menores envolvidos, bem como assegurando aos pais vítimas

da SAP a garantia do seu direito de convivência com a prole, também um direito

fundamental.

53

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