52
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ DARLENE BARBOSA DE SOUZA A ALIENAÇÃO PARENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ALIENANTE CURITIBA 2014

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

  • Upload
    dokhanh

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DARLENE BARBOSA DE SOUZA

A ALIENAÇÃO PARENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ALIENANTE

CURITIBA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

DARLENE BARBOSA DE SOUZA

A ALIENAÇÃO PARENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ALIENANTE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Profa. Doutora Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann

CURITIBA

2014

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

TERMO DE APROVAÇÃO

DARLENE BARBOSA DE SOUZA

A ALIENAÇÃO PARENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ALIENANTE

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ______ de _________________de 2014.

Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

__________________________________________________

Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

__________________________________________________

Orientadora: Profa.Doutora Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann

__________________________________________________

Prof.

__________________________________________________

Prof.

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo tratar da Alienação Parental e a responsabilidade civil do alienante. A Alienação Parental está presente nas famílias contemporâneas e comumente se instala em situações de separação conjugal e nas relações conflitantes de disputa da guarda de filhos. Manifesta-se nas ações judiciais e por vezes serve como instrumento para o alienante, no sentido de impedir visitas e provocar a destituição do poder familiar. A conduta da Alienação Parental, quando instalada, provoca a Síndrome da Alienação Parental que foi fortemente estudada pelo psiquiatra e psicanalista infantil Richard Gardner, nos ido de 1985. A característica principal da SAP é a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente promovida ou induzida por um dos genitores que incute falsas memórias ou mentiras contra o genitor alienado, causando prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos. A Lei 12318/2010 surge para tipificar a conduta do alienante, podendo este ser responsabilizado quando do cometimento da SAP e tem o papel de dar suporte legal para que o alienado possa se insurgir contra a conduta do alienante, com medidas que assegurem o convívio com a criança e o adolescente, como também a possibilidade da reparação de danos materiais e morais. Mas para que haja o dever de indenizar, faz-se necessário que estejam presentes os elementos da responsabilidade civil, sendo eles a conduta, nexo causal, o dano e culpa, sendo o último elemento prescindível para a responsabilidade objetiva e imprescindível para a responsabilidade subjetiva. A Responsabilidade Civil surge neste contexto pela violação de um dever, violação a um direito que poderá acarretar dano moral ou material, configurando-se como um ato ilícito.Essa situação pode gerar indenização material e moral, tanto à criança, quanto ao alienado, que sofreu a lesão. Ressalta-se que este trabalho não tem a intenção de questionar nenhum dos dois institutos trazidos, buscando apenas demonstrar cada um, através de seus conceitos, características e aplicação. Palavras chave: Alienação Parental, SAP (Síndrome da Alienação Parental), Responsabilidade Civil. Criança e Adolescente.

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

“Mas os que esperam no Senhor

renovarão suas forças; subirão com asas

como águias; correrão e não se cansarão;

andarão e não se fatigarão”. Isaías 40:31

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me abençoado durante toda a minha vida e até este

momento. Por me dar a oportunidade de realizar um segundo sonho e prover o

sustento espiritual, físico, emocional e financeiro durante toda esta caminhada.

A minha família, principalmente meus amados pais Juvenor e Zelia, pelo amor,

apoio, incentivo e orações.

A minha professora orientadora Doutora Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann

pelo exemplo de profissional, pelas orientações e tempo dedicado a este trabalho.

Ás minhas preciosas amigas, Caroline, Elizane e Marina que foram instrumentos de

Deus na minha vida e me ajudaram a enfrentar tantos desafios e muitas vitórias.

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7

2 A FAMÍLIA BRASILEIRA ................................................................................................ 9

2.1 FUNÇÃO ATUAL DA FAMÍLIA, SUA EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA .............................. 9

2.2 PERFIL DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA .................................................................... 10

3 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O DIREITO DE FAMÍLIA ............................................. 15

3.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO DE FAMÍLIA ................. 15

3.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ............................................................................. 16

3.3 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR ................................................................ 16

3.4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE ÀS RELAÇÕES DE FAMILIA ........................................... 17

3.5 PRINCÍPIO JURÍDICO DA AFETIVIDADE ..................................................................... 18

3.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA .................................................. 19

4 GUARDA E PROTEÇÃO DOS FILHOS ........................................................................ 21

5 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................................ 24

5.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................... 24

5.2 CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS............................................................................... 24

5.3 CONDUTAS DO GENITOR ALIENADOR ...................................................................... 26

5.4 CONSEQUENCIAS DA SAP.......................................................................................... 27

5.5 TRATAMENTO DE SAP ................................................................................................ 29

5.6 LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................................................. 30

6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................. 34

6.1 ELEMENTOS ESSENCIAIS E ELEMENTOS ACIDENTAIS .......................................... 35

6.2 O DANO E SUA REPARAÇÃO ...................................................................................... 36

6.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA ......................................................... 37

6.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ALIENANTE ........................................................ 38

6.5 DANO MORAL NA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................................ 43

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 49

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 51

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

7

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome da Alienação Parental é um fenômeno freqüente que permeia as

relações familiares e em específico, a relação entre pais e filhos.

O estudo sobre o tema tomou maior proporção através do Psicanalista

Richard Gardner, nos meados de 1985.

Mas apesar disso ainda é um tema relativamente pouco discutido e até

mesmo pouco conhecido na esfera da Psicologia e da área jurídica, sendo muito

difícil, na prática, sua identificação ou diagnóstico e conseqüentemente a escolha da

sanção no momento de decidir sobre a conduta do alienante e sobre a guarda dos

filhos.

Apesar de ter sido caracterizada como uma síndrome, ainda existe críticas

por parte de especialistas de diversas áreas, no que tange ao seu reconhecimento

científico, uma vez que não foi reconhecida por nenhuma associação profissional,

assim como no DSM-IV e no CID -10, alegando que a Síndrome não apresenta

bases empíricas.

Entretanto, nos consultórios e nas Varas de Família, pode-se evidenciar que

a SAP existe e vem tomando uma proporção enorme nas relações de separação

conjugal, em que a criança passa a rejeitar o pai ou a mãe sem motivo plausível,

sendo influenciada a crer nas distorções que o alienante faz em relação ao genitor.

Neste sentido, a importância em conhecer como a SAP ocorre nas relações

familiares, suas manifestações, consequências psicológicas e jurídicas e como lidar

com a Síndrome quando ela estiver sendo manifestada frente aos profissionais

envolvidos com a problemática, pois não se trata apenas de uma “intriga conjugal”,

mas de uma patologia que precisa ser desvendada e tratada como tal.

Neste sentido, sendo uma patologia psíquica gravíssima, que envolve os

direitos da criança e do adolescente, deve ser considerada e levada a sério no

mundo psíquico e jurídico, para assegurar a proteção integral à criança e ao

adolescente, que nem sempre conseguem conquistá-la dentro de casa.

Para melhor compreensão da SAP, se faz necessário estudar um pouco

sobre a estrutura familiar e sobre a Guarda Compartilhada, pois é neste contexto

que os sintomas da síndrome se desenvolvem.

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

8

Nos capítulos a seguir, serão tratados temas como: A função atual da

família, sua evolução e perspectiva; Princípios que norteiam o Direito de Família; Da

Síndrome da Alienação Parental, definição, características, sintomas e

consequências; Da lei da Alienação Parental e da Responsabilidade Civil do

Alienante.

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

9

2 A FAMÍLIA BRASILEIRA

2.1 FUNÇÃO ATUAL DA FAMÍLIA, SUA EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA

Ao longo dos tempos, a família sofreu profundas transformações,

principalmente após o advento do Estado social, ao longo do século XX.

O Estado que antes era ausente, passou a se interessar de maneira mais

atuante pelas relações familiares. Novos interesses passam a ser protegidos, novos

valores e tendências passam a fazer parte da tutela constitucional, devido a rapidez

da evolução social.

A família patriarcal, que a legislação civil brasileira tomou como modelo, desde a Colônia, o Império e durante boa parte do século XX, entrou em crise, culminando com sua derrocada, no plano jurídico, pelos valores introduzidos na Constituição de 1988. (LOBO, 2011, p. 17).

Assim, a família que até então era fundada em bases aparentemente frágeis,

passou a ter a proteção do Estado, atendendo a novos paradigmas.

Com a importância dessa nova concepção, a família passou a ser

considerada como célula máter da sociedade, a iniciar pela Constituição Federal

Brasileira, através do artigo 266, que diz: “A família, base da sociedade, tem

especial proteção do Estado”.

A família, ao longo da história, sempre exerceu papéis e funções variadas,

com bases históricas como a religião, a política, a economia, dentre outras. Sua

estrutura era patriarcal e com isso o exercício dos poderes masculinos sobre a

mulher e sobre os filhos. Mas esta concepção foi mudando ao longo dos anos e com

a Constituição de 1988, a ênfase passa a ser no indivíduo e suas necessidades

dentro da esfera familiar e fora dela também.

A função econômica perde o sentido, uma vez que o foco não estava mais

na procriação de um número maior de filhos para dar segurança financeira à família,

mas o Estado passa a dar subsídios quanto às necessidades futuras, como na

velhice, com a edição de novas leis e regras sobre a Previdência Social.

Outra mudança acaba ocorrendo em relação à tradição religiosa, devido à

existência de um número grande de casais sem filhos, por livre escolha, ou em

função da vida profissional, ou por problemas de infertilidade, passando então a

procriação não ser mais essencial ou imprescindível.

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

10

Os afetos passam a compor a vida familiar, onde entra em cena temas

importantes relacionados às necessidades jurídicas e emocionais da família e do

indivíduo nela inserida.

Os milhares de sugestões populares e de entidades voltadas à problemática da família, recolhidas pela Assembléia Nacional Constituinte que promulgou a Constituição de 1988, voltaram-se muito mais para os aspectos pessoais do que para os patrimoniais das relações de família, refletindo as transformações por que passam. Das 5.517 sugestões recebidas, destacam-se os temas relativos a: fortalecimento da família como união de afetos, igualdade entre homem e mulher, guarda de filhos, proteção da privacidade da família, proteção estatal das famílias carentes, aborto, controle de natalidade, paternidade responsável, liberdade quanto ao controle de natalidade, integridade física e moral dos membros da família, vida comunitária, regime legal das uniões estáveis, igualdade dos filhos de qualquer origem, responsabilidade social e moral, pelos menores abandonados, facilidade legal para adoção. (LOBO, 2011, p. 20).

Observa-se neste sentido a preocupação da Constituição Federal de 1988,

com aspectos que vão muito além de questões patrimoniais, avançando no sentido

de dar respaldo para tutela de outras demandas da sociedade e em especial, das

entidades familiares, procurando acompanhar necessidades essenciais para a vida

em comunidade, atendendo aos princípios basilares que envolve a relação familiar.

2.2 PERFIL DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Ao longo da história com um mundo mais globalizado, o comportamento

humano vem sofrendo várias alterações e com eles as proteções jurídicas familiares

brasileiras. O Direito de família é, portanto, um dos ramos do direito que mais tem

sofrido mudanças, visando acompanhar essas transformações.

Assim deve-se, considerar novas demandas e a valorização do ser humano,

sua afetividade e igualdade de forma a promover o bem-estar e a segurança jurídica

aos indivíduos.

Uma das grandes transformações ao longo da história e do contexto familiar

se deu principalmente no que tange ao novo papel da mulher. As mulheres foram

ganhando espaço na sociedade, e as mudanças foram inevitáveis. Na medida em

que as mulheres foram aumentando sua independência econômica e ganhando

espaço no mercado de trabalho, profissionalizando-se cada vez mais, apesar de

ainda manter papéis que já eram de “sua responsabilidade”, o conceito de família

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

11

patriarcal foi sendo remodelado, uma vez que esta nova mulher participa

efetivamente com a questão financeira e torna-se provedora também do lar e não

mais só o chefe de família.

A família, após a Constituição de 1988, sofre então diversas transformações

sociais. Assim, se no passado somente o casamento merecia a proteção

constitucional, com a consagração do advento do princípio da dignidade da pessoa

humana, uma nova ordem jurídica passa a ser estabelecida, com base na

afetividade. Os operadores do direito englobam em sua prática novas demandas,

promovendo a segurança jurídica a todos os indivíduos pertencentes à relação

familiar como um todo e não somente a nuclear.

Assim surge a noção de família monoparental, conforme BUOSI (2011, p.

33): “A família monoparental se tornou uma entidade familiar explícita com a

Constituição Federal de 1988, sendo aquela formada por um homem ou mulher, que

se encontra sem cônjuge ou companheiro e vive com uma ou mais crianças é

denominada família monoparental”.

Passou a existir também a família contemporânea, caracterizada pela

inversão dos papéis do homem e da mulher na estrutura familiar passando a ser a

mulher a chefe de família.

A questão religiosa, reforçada principalmente pela igreja católica e pelos

princípios bíblicos, contribuiu ao longo do tempo para a estruturação e definição dos

papéis sociais de homens e de mulheres. Assim, a mulher é quem deveria dar seu

tempo de forma integral na educação dos filhos e ao homem a responsabilidade pelo

sustento econômico do grupo familiar.

Esta conotação religiosa e cultural, não deve ser olhada de forma negativa,

uma vez que essas orientações faziam parte da realidade da época, onde os

casamentos eram para “toda vida” e que as relações eram pensadas como

saudáveis e naturais. Mas com o advento das separações e do divórcio e com a

condição desrespeitosa em que muitas mulheres passaram a viver, foram alguns

dos motivos que levaram a mudança destes papéis. Mas ainda com a separação de

papéis, é preciso entender que as responsabilidades, principalmente quanto à

educação dos filhos é, de responsabilidade de ambos os genitores, ambos devem

prover sua prole com os mais dignos sentimentos de proteção seja econômica,

psicológica, moral e educacional, mesmo não estando mais em condição de

cônjuges.

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

12

Vários estudos apontam que, apesar de mudanças ocorridas, é ainda pregnante a forma tradicional de exercício dos papéis parentais na família. Em pesquisa com homens e mulheres de classe média urbana, Rocha-Coutinho (2003b) constatou que apesar de valorizarem a divisão de responsabilidades quanto aos cuidados com os filhos, ainda persistem discursos sobre a mulher deter maior capacidade e predisposição nesse sentido. Já a participação dos homens é vista como coadjuvante, ou uma ajuda, sendo ainda marcante a idéia de sua função como provedor. De forma semelhante, Romanelli (2003), em pesquisa sobre a construção cultural da paternidade, verificou que embora muitas mulheres trabalhem fora de casa, a função de provedor da família é predominantemente do homem. (SOUSA, 2010, p. 67).

É importante salientar que portanto deve pesar sobre ambos os genitores a

responsabilidade pelas demandas advindas da relação familiar e cabe ao Estado dar

proteção a estas relações principalmente no que tange às crianças e aos

adolescentes.

É neste sentido que se evidencia a necessidade de o Estado implementar

políticas públicas que atendam às necessidades desta nova constituição familiar,

políticas de proteção à mulher, de proteção aos filhos e demais envolvidos nesta

relação.

Dando prioridade a questão da afetividade, o Direito de Família passa a

necessitar de outros ramos de estudos interdisciplinares, tais como da Psicologia, da

Psiquiatria, do Serviço Social, da Sociologia, entre outros, para auxiliar no

entendimento dessas novas uniões e de como essas relações estão sendo

estruturadas.

Daí pode-se concluir que a Constituição de 1988 opera profunda transformação no sistema jurídico no que tange à disciplina jurídica a família, uma vez que rompe com a perspectiva conceitualista que restringe a apreensão jurídica de um fenômeno concreto à sua exata subsunção a um a priori definido no texto positivado. Exime-se o direito da secular pretensão de definir família por meio de um modelo abstrato e excludente de arranjos sociais que a ele não se subsumem – e, por conseguinte, das pessoas que o compõe. (SOUSA, 2010, p. 68, apud PIANOVSKI, 2006).

Resgatando algumas considerações sobre a Constituição Federal de 1988,

que no passado considerava que somente o casamento merecia a proteção

constitucional, muitas coisas mudaram, principalmente com o foco aos princípios

constitucionais e conceitos sobre a Dignidade da Pessoa Humana.

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

13

Através dos Direitos da Pessoa Humana, além dos princípios básicos como

o da liberdade e da igualdade, ainda que levado em conta o caráter econômico e de

procriação da família, passa a ter como vínculo principal a afetividade.

É a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, o elemento finalístico da proteção estatal, para cuja realização devem convergir todas as normas de direito positivo, em particular aquelas que disciplinam o direito de família, regulando as relações mais íntimas e intensas do indivíduo social. (SOUSA, 2010, p. 68, apud TEPEDINO, 2001).

Portanto, a família deve ser regida com base no afeto, para que seja

respeitado um direito igualitário, pautados nas necessidades atuais.

Pode-se identificar a proteção do Estado no caso de mulheres que tiveram

filhos ainda solteiras, a União Estável, os filhos fora do casamento, entre outras

situações em que o Direito tem direcionado e aplicado caso a caso, a ordem jurídica,

atendendo assim às necessidades individuais.

Esta é a segurança jurídica que trata o Código Civil de 2002, com inúmeras

regulamentações que foram codificadas, mas que apesar dessas codificações, com

uma abrangência que vai muito além de um conceito fechado, devido um

emaranhado de envolvimentos e relações, demandas e necessidades atuais que

não estão descritos na Constituição e em codificações jurídicas.

Pode-se perceber, quanto a filiação, a nova temática do Código Civil de

2002, através do artigo 1596 que diz: “Os filhos, havidos ou não da relação de

casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas

quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.

Também com as dissoluções conjugais, as pessoas passaram a ter o direito

de formar novas famílias, o direito de se reconstituírem sem perder direitos

econômicos, sociais e psicológicos. É preciso compreender esta nova recomposição

oriunda de vários tipos de vínculos para poder atuar na prática com estas novas

realidades.

Entendemos por família recomposta ou família reconstituída a estrutura familiar originada do casamento ou da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem filho ou filhos de um vínculo anterior. Em uma formulação mais sintética, é a família na qual ao menos um dos adultos é padrasto ou madrasta. Nesta categoria entram tanto as novas núpcias de pais viúvos ou mães viúvas como de pais divorciados e de mães divorciadas e pais e mães solteiros. Alude, assim, não só a reconstituição como ao estabelecimento de um novo relacionamento, no qual circulam crianças de um outro precedente. (LISBOA, 2004, p. 238, apud MATOS, 2009).

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

14

É nesta nova formação familiar que pode surgir a alienação parental, pois

novos papéis passam a ser adquiridos, como por exemplo a madrasta como nova

mãe nesta relação ou novo pai, outros irmãos, outros avós e assim por diante,

fazendo com que as partes envolvidas possam acabar afastando-se do núcleo

familiar original, podendo diminuir ou anular os indivíduos que fazem parte da real

parentalidade daquele filho ou da família original.

Neste novo contexto, o Direito, a Psicologia e outros ramos precisam estar

atentos quanto aos direitos e dignidade da pessoa humana, mas sempre,

respeitando a família como célula máter da sociedade, cooperando para manter

estes vínculos de maneira justa e saudável, não só para a proteção da Criança e do

adolescente, mas também dos demais membros familiares.

O seio da família atual converteu-se em espaço de realização da afetividade

humana, marcando o deslocamento da função econômica, política, religiosa para

essa nova função. Entra em cena a valorização da pessoa humana em detrimento

somente das questões patrimoniais.

Outras ordens jurídicas passam a fazer parte destas relações que são

denominadas por alguns autores de repersonalização das relações de família.

Essas linhas de tendências enquadram-se no fenômeno jurídico-social denominado de repersonalização das relações civis, que valoriza o interesse da pessoa humana mais do que suas relações patrimoniais. É a recusa da coisificação ou reificação da pessoa, para ressaltar sua dignidade. Afamília é o espaço por excelência da repersonalização do direito. (LOBO, 2011, p. 22).

A idéia da repersonalização do Direito visa considerar a pessoa humana em

seus aspectos mais profundos e não de forma abstrata, legitimando a atuação de

um Estado Democrático de Direito, voltado a tutelar não só com bases nos

dispositivos legais do direito positivado, mas com base nas clausulas pétreas, nos

princípios e neste caso dos princípios familiares.

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

15

3 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O DIREITO DE FAMÍLIA

3.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO DE

FAMÍLIA

Um dos maiores avanços do direito brasileiro, principalmente com a

Constituição Federal de 1988, é a consagração da força normativa dos princípios

constitucionais explícitos e implícitos que antes tinha um efeito mais simbólico,

passando a ter força social, que anteriormente, sem a mediação do Poder Judiciário,

os princípios não se realizavam nem adquiriam a plenitude de sua força normativa.

Essas normas, por força normativa própria, classificam-se em princípios e

regras.

A regra indica suporte fático hipotético (ou hipótese de incidência) mais determinado e fechado, cuja concretização na realidade da vida leva à sua incidência, confirmando-a o intérprete mediante o meio tradicional da subsunção (exemplo, na CF: “Art. 226, parágrafo 4º: Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer de seus descendentes”; ou seja, toda vez que uma pessoa passar a conviver com um filho, seja ele biológico ou não biológico, ainda que sem a companhia do cônjuge ou companheiro, a rega incidirá para assegurar a constituição de uma entidade familiar; em outras palavras, a norma constitucional incidirá sobre esse suporte fático concreto e o converterá no fato jurídico por ela previsto, que passará a produzir os efeitos jurídicos por ela tutelados). O princípio, por seu turno, indica suporte fático hipotético necessariamente indeterminado e aberto, dependendo a incidência dele da mediação concretizadora do Intérprete, por sua vez orientado pela regra instrumental da equidade, entendida segundo formulação grega clássica, sempre atual, de justiça do caso concreto. Tome-se o exemplo do princípio da dignidade da pessoa humana, referido expressamente no parágrafo 7º do artigo 226 da Constituição: o casal é livre para escolher seu planejamento familiar, mas deve fazê-lo em obediência ao princípio da dignidade da pessoa humana, cuja observância confirmará o intérprete apenas em cada situação concreta, de acordo com a equidade, que leva em conta a ponderação dos interesses legítimos e valores adotados pela comunidade em geral. (LOBO, 2011, p. 57).

Assim, os princípios constitucionais expressos ou implícitos estão presentes

no direito de família, em virtude das transformações ocorridas e dando força

normativa para que estes sejam levados em conta e efetivamente possam ser

aplicados, de acordo com a situação fática.

Vejamos alguns dos principais princípios que envolvem o direito de família.

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

16

3.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da Dignidade da Pessoa humana é um princípio geral que deve

ser aplicado a todos os seres humanos, impondo dever geral de respeito.

A doutrina destaca o caráter intersubjetivo e relacional da dignidade da

pessoa humana, priorizando a existência de um dever de respeito no âmbito da

comunidade dos seres humanos. E é dentro deste contexto que se encontra a

família.

Na família patriarcal, a cidadania concentrava-as na pessoa do chefe, dotado de direitos que eram negados aos demais membros, a mulher e os filhos, cuja dignidade humana não podia ser a mesma. O espaço privado familiar estava vedado à intervenção pública, tolerando-se a subjugação e os abusos contra os mais fracos. No estágio atual, o equilíbrio do privado e do público é matrizado exatamente na garantia do pleno desenvolvimento da dignidade das pessoas humanas que integram a comunidade familiar, ainda tão duramente violada na realidade social, máxime com relação às crianças. Concretizar esse princípio é um desafio imenso, ante a cultura secular e resistente. (LOBO, 2011, p. 61).

A Constituição proclama como princípio fundamental do Estado Democrático

de Direito e da ordem jurídica, a dignidade da pessoa humana. Existe um capítulo

destinado à família. Está tutelada pela CF/88, não para um direito individual, mas

para todos os membros que pertencem à relação familiar.

Junto com a Constituição Federal, tem-se a Convenção sobre os Direitos da

Criança de 1990, onde declara que a criança deve ser preparada para uma vida

individual em sociedade, respeitada sua dignidade. O Estatuto da Criança e do

Adolescente tem por fim assegurar todos os direitos fundamentais inerentes à

pessoa humana, dessas pessoas em desenvolvimento. O Código Civil de 2002, não

faz alusão expressa ao princípio, mas, por força da primazia constitucional,

determinam o sentido fundamental das normas infraconstitucionais.

3.3 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR

O principio da solidariedade familiar vem de encontro à nova norma

Constitucional, pois leva em conta a responsabilidade não só dos poderes públicos,

mas de cada indivíduo e da sociedade como um todo.

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

17

Na evolução dos direitos humanos aos direitos individuais, entraram em

cena os direitos sociais. No mundo contemporâneo, busca-se o equilíbrio entre os

espaços privados e públicos e a interação necessária entre os sujeitos e a

solidariedade surge como elemento que liga os direitos subjetivos.

A solidariedade do núcleo familiar deve ser uma solidariedade recíproca dos

cônjuges e companheiros, principalmente quanto à assistência moral e material.

O princípio jurídico da solidariedade resulta da superação do individualismo jurídico, que por sua vez é a superação do modo de pensar e viver a sociedade a partir do predomínio dos interesses individuais, que marcou os primeiros séculos da modernidade, com reflexos até a atualidade. (LOBO, 2011, p.63)

No Código Civil, podemos destacar algumas normas que compreendem o

princípio da solidariedade familiar, como no artigo 1513, que preconiza a comunhão

de vida instituída pela família; a adoção que brota não da obrigação, mas do

sentimento de solidariedade, conforme o artigo 1630; a mútua assistência moral e

material entre eles, conforme artigo 1566, entre outros.

Com fundamento explícito ou implícito no princípio da solidariedade, os

tribunais brasileiros avançam no sentido de assegurar aos avós, aos tios, aos

padrastos e madrastas o direito de contato, ou de visita, ou de conivência com as

crianças e adolescentes, uma vez que os laços familiares não devem ser dissolvidos

ou dificultados.

3.4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE ÀS RELAÇÕES DE FAMILIA

O princípio da liberdade diz respeito ao livre poder de escolha ou autonomia

de constituição, realização e extinção da entidade familiar.

O direito de família anterior era rígido e preso a normas estáticas, não

admitindo que seus membros, mudassem os paradigmas do modelo matrimonial e

patriarcal. A mulher era totalmente dependente do marido e os filhos prestavam

obrigações ao pai. A dissolução do matrimônio era quase impossível, mesmo que as

relações estivessem insuportáveis na vida familiar. Os filhos havidos fora do

casamento não eram reconhecidos juridicamente.

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

18

Em nome da religião, da cultura, do moralismo entre outras normas rígidas,

o casamento era para “todo sempre”. Pensar numa dissolução era uma perspectiva

fora da realidade fática.

As transformações desse paradigma levaram ao exercício de liberdade,

fugindo daquele autoritarismo dando lugar a uma realidade mais democrática no

âmbito familiar.

Em 1962 o Estatuto da Mulher Casada emancipou-a quase que totalmente do poder marital. Em 1977 a Lei do Divórcio (após a respectiva emenda constitucional) emancipou os casais da indissolubilidade do casamento, permitindo-lhes constituir novas famílias. Mas somente a Constituição de 1988 retirou definitivamente das sombras da exclusão e dos impedimentos legais as entidades não matrimoniais, os filhos ilegítimos, enfim, a liberdade de escolher o projeto de vida familiar, em maior espaço para exercício das escolhas afetivas. (LOBO, 2011, p. 71).

O princípio também se concretiza em normas específicas, como a do artigo

1614 do Código Civil, que permite ao filho maior exercer a liberdade de recusar o

reconhecimento voluntário da paternidade feito por seu pai biológico, preferindo que

no seu registro de nascimento conste apenas o nome da mãe.

3.5 PRINCÍPIO JURÍDICO DA AFETIVIDADE

O princípio da afetividade expressa a passagem da afetividade

consanguínea para a afetividade fático cultural. Assim, recupera sua função de

grupo unido por desejos e laços afetivos, em comunhão de vida.

A afetividade é dever imposto aos pais em relação aos filhos e destes em

relação àqueles, ainda que haja desamor ou desafeição entre eles, deixando de

existir somente com o falecimento de um dos sujeitos ou se houver perda do poder

familiar.

Demarcando seu conceito, é o princípio que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações sócio afetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico. (LOBO, 2011, p. 70).

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

19

Este princípio também foi consagrado pela Constituição de 1988 e resultou

da evolução da família brasileira, nas últimas décadas do século XX, refletindo-se na

doutrina jurídica e na jurisprudência dos tribunais.

A afetividade até então trabalhada em outras ciências, tais como a

sociologia, pelos educadores, pela psicologia, tem lugar também no mundo jurídico

onde buscam explicar as relações familiares da atualidade.

O artigo 1593 do Código Civil contempla o princípio da afetividade, quando

diz o que parentesco é natural ou civil, seja através da consangüinidade ou outra

origem, evitando que o Poder Judiciário considere como verdade real a biológica.

Neste sentido, os laços de parentesco sejam eles, biológicos ou não, tem a mesma

dignidade e são regidos pelo principio da afetividade.

Antecipando a dimensão onicompreensiva do artigo 1593, aludiu-se:”O que merece ser ressaltado, enfim, é o afeto sincero destes homens pelos filhos de suas mulheres, independentemente de estarem eles ligados por qualquer liame de parentesco [biológico] ou de saberem que, ali, a descendência se identifica apenas pela linha feminina”, permitindo a emersão de vínculo parental próprio. (LOBO, 2011, p. 72).

O princípio da afetividade assegura a importância dos afetos na relação

familiar e interfere diretamente nas decisões jurídicas no que tange sobre a

importância da manutenção de afetos, como na situação de dissolução conjugal e na

determinação da guarda, levando em conta o melhor interesse da criança e do

adolescente.

3.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

O Estatuto da Criança e do Adolescente regula este princípio em vários de

seus artigos, dentre eles os artigos 3º, 7º e 19.

Seus interesses devem ser tratados com prioridade pelo Estado, pela

sociedade e pela família, como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade.

Em verdade ocorreu uma completa inversão de prioridades, nas relações entre pais e filhos, seja na conivência familiar, seja nos casos de situações de conflitos, como nas separações de casais. O pátrio poder existia em função do pai; já o poder familiar existe em função e no interesse do filho. Nas separações dos pais o interesse do filho era secundário ou irrelevante;

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

20

hoje qualquer decisão deve ser tomada considerando seu melhor interesse. (LOBO, 2011, p. 75).

Nesta nova realidade a criança e o adolescente são vistos como sujeitos de

direitos, em condições totalmente peculiares, onde a criança é a protagonista

principal na atualidade.

No direito brasileiro, o princípio encontra fundamento essencial nos artigos

227, da Constituição Federal de 1988, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Também a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, com força de

Lei no Brasil desde 1990, estabelece em seu artigo 3.1 que todas as ações relativas

aos menores devem considerar, primordialmente, “o interesse maior da criança”.

Por determinação da Convenção, deve ser garantida uma ampla proteção ao menor.

A criança e o adolescente que eram vistos como seres passivos nas

relações familiares e sociais, passaram a ser sujeito de direitos, titulares de direitos

juridicamente protegidos.

A situação dos filhos no pós-ruptura, questão das mais fundamentais na dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, ganha, nova codificação, reconhecimento especial e tratamento especial, até então lateral, periférico, quase acessório. Agora, na perspectiva perseguida pelo texto constitucional de 1988 e da legislação infra-constitucional que se lhe seguiu – especialmente o ECA – é guindada a um reconhecimento próprio do princípio do “melhor interesse da criança” que se afasta das normas meramente programáticas e adentra no universo da concretude legislativa. (LEITE, 2005, p. 164)

Como sujeitos de direito e plenamente amparados pela legislação, as

crianças e os adolescentes ganham uma proteção ampla e irrestrita, envolta a

cuidados essenciais, específicos e de natureza salutar. Devem preencher todas as

lacunas de desamparo e fortalecer o dever de cuidado, resguardando sempre o

melhor interesse da criança, interesse este no sentido de priorizar tudo que

signifique uma vida saudável, emocional, intelectual, física e moral.

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

21

4 GUARDA E PROTEÇÃO DOS FILHOS

Não se tem a pretensão neste capítulo de estudar todos os tipos de guarda,

nem tão pouco esgotar o assunto sobre a modalidade da guarda compartilhada, mas

sim o objetivo de demonstrar que esta tem sido recomendada a ser aplicada nas

varas de família e perante os ex-cônjuges, entendendo ser a melhor forma de

proteção aos filhos.

Neste sentido, junto com o processo de divórcio e dissolução de união

estável, vem a necessidade de tratar do assunto da guarda, de quem ficará com a

criança e qual o tipo de guarda mais aconselhável.

Quando se fala em proteção do menor, da criança, fala-se em

responsabilidade dos genitores, da família e do Estado e neste sentido é muito

importante que os genitores tenham consciência que o processo de guarda não

exime um dos cônjuges das suas responsabilidades. E ainda, que nenhum deles

deve ser impedido de exercer a paternidade, com a participação permanente na vida

do filho.

Toda desunião pode provocar graves conseqüências para as crianças. Ela altera seu quadro referencial em relação aos pais, muda seus esquemas de vida, as separa de um de seus pais, ou de uma parte de sua família, altera as relações com outros membros da família e, quase sempre, concentra a autoridade nas mãos de um só. E o que é mais grave, a separação, o divórcio, o abandono do lar, podem transformar a criança num objeto de disputa, nos quais os pais, nem sempre tentam garantir a presença e a afeição, mas a prepotência da autoridade e da imposição de suas convicções. (LEITE, 2005, p. 165).

Os ex-cônjuges que possuem maturidade emocional conseguem na maioria

das vezes promover uma convivência mais harmoniosa com os filhos, mas o

contrário também acontece e é neste contexto que muitas vezes a SAP se instala.

A guarda compartilhada é uma das modalidades tidas por alguns autores e

juízes, como a mais adequada para o bom desenvolvimento psíquico, físico e social

das crianças.

A convivência, na guarda compartilhada, baseia-se na necessidade de preservação dos vínculos da criança com ambos os pais, e estes devem acompanhar ativamente os acontecimentos do filho. Com base nisso se estabelece a intimidade entre o pai e o filho para que se crie um ambiente psicologicamente saudável. A criança, por sua vez, com essa convivência,

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

22

formará sua própria opinião a respeito do pai, de forma autêntica, e não influenciada pelos comentários e sentimentos da mãe. (SILVA, 2011, p. 9).

Na guarda compartilhada, ambos os cônjuges precisam contribuir para uma

vida de civilidade, de convivência agradável, sincera e que promova o bem estar de

toda a família.

Infelizmente, na maioria dos processos de dissolução do casamento e união

estável, os vínculos já são quebrados, os relacionamentos desgastados e por isso o

grande número de processos de forma litigiosa.

Mas na maioria das vezes os pais que optam pela guarda compartilhada é

porque desejam ter uma convivência maior com os filhos; sentem a necessidade de

dividir responsabilidades e obrigações. Assim, se há amizade entre os genitores, a

guarda compartilha fica mais fácil de ser implementada.

Existem outros tipos de guarda, tais como a Alternada, que é a modalidade

que possibilita os pais passar a maior parte do tempo possível com seus filhos. Mas

existem críticas no sentido de que seja prejudicial para a educação da criança, uma

vez que parte do tempo fica com um genitor, ora com o outro. A educação da

criança pode ficar prejudicada, pois acaba convivendo muito tempo com diferenças

de rotinas, visões contraditórias sobre valores, hábitos diferenciados, o que pode

contribuir para discussões e discordâncias na forma de educar.

Neste sentido, a guarda compartilhada tem sido a mais aplicada, sendo a

forma mais salutar e adequada para a manutenção do vínculo parental, de acordo

com o entendimento jurisprudencial moderno.

Assim, cabe ainda ressaltar que mesmo diante de uma situação de litígio, é

muito importante para o bem da criança que o Judiciário venha a optar pela guarda

compartilhada. De acordo com Silva (2011, p. 18), “O litígio em nenhuma hipótese

poderá servir de argumento para impedir a aplicação da guarda compartilhada. A

modalidade de guarda não ameaça a segurança das crianças, portanto deve ser

mantida em todos os casos”.

O entendimento jurídico deve ser o de que não está em jogo o conflito do

casal e o papel do juiz neste contexto não é de fazer com que os genitores venham

a resolver o conflito, mas seu papel é o de afastar a criança do conflito, pois se

ambos os pais reivindicam a guarda, então o convívio equilibrado da criança com

ambos deve ser preservado.

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

23

Muitos problemas culturais ainda impedem a aplicação da guarda

compartilhada, como a de que só a mãe tem condições de criar melhor o filho e a de

que o pai não sabe cuidar das crianças. Mas atualmente isso vem mudando, até

mesmo em função dos papéis diferenciados na sociedade em que os pais vêm

reivindicando a maior participação na vida dos filhos.

[...] Isso acontece porque ainda existe, em setores conservadores da sociedade e do próprio judiciário, um certo “ranço” de tradicionalismo, com base em “mitos” superados há muito tempo (mito do “instituto maternal”, mito de que “somente mãe é competente para cuidar de filho”, mito de que “pai não sabe cuidar de criança/bebê” etc. etc.etc.), e por isso alguns profissionais a serviço da Justiça psicólogos, assistentes sociais) e os operadores do Direito (promotores, juízes) se sentem incomodados e temerosos em inovar suas posturas e decisões, preferem manter-se em sua “zona de conforto” em posicionamentos conhecidos – e essa postura é extremamente perigosa, porque não permite questionamentos e reavaliações, e muito menos se abre às novas exigências de uma sociedade que não mantém mais as figuras familiares da “mãe dona de casa” e do pai “provedor”, porque ambos inverteram os papéis, a mulher reivindica novos postos nos meios acadêmico e profissional, e o pai reivindica maior participação na vida dos filhos. (SILVA, 2011, p. 30 e 31).

Mas esta realidade vem mudando, ainda que num crescimento lento, pois

com a vigência da Lei de nº 11.698/08, muitos Magistrados já estão compreendendo

esta necessidade e as mudanças sociais que vem ocorrendo num crescente.

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

24

5 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

5.1 DEFINIÇÃO

A Síndrome da Alienação Parental primeiramente foi definida pelo psiquiatra

norte-americano Richard Gardner, em 1985,

Um distúrbio que surge principalmente no contexto das disputas pela guarda e custódia das crianças. A sua primeira manifestação é uma campanha de difamação contra um dos genitores por parte da criança, campanha essa que não tem justificação. O fenômeno resulta da combinação da doutrinação sistemática (lavagem cerebral) à difamação do progenitor objetivo dessa campanha. (SILVA, 2011, p. 45).

A SAP fica demonstrada, na maioria das vezes, em situações de litígio, em

ações judiciais, principalmente no caso de composição da guarda, onde um dos

genitores, pratica atos de alienação parental para impedir que o outro genitor

conviva com a criança.

A Síndrome da Alienação Parental também pode ser definida como:

A Síndrome da Alienação Parental é uma doença devastadora, que compromete o presente e o futuro das crianças vítimas das separações litigiosas malconduzidas, onde um dos genitores deliberadamente procura afastar o filho do outro genitor deturpando a mente da criança. (SOUSA, 2010, p. 146).

A falta de maturidade nas relações conjugais, o turbilhão de emoções que

podem ocorrer no contexto de separação, acaba afetando profundamente a relação

da criança com os genitores, esquecendo estes que a criança não pode ser objeto

de transações, de acordos, depositando na criança, ainda que de maneira

inconsciente, toda a frustração da separação, a dor e o ódio que acabam por trazer

nas crianças sintomas e problemas emocionais graves.

5.2 CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS

A SAP é uma patologia psíquica gravíssima que atinge a criança que está

num contexto de separação entre os pais e que é envolvida e manipulada por um

dos genitores para atender desejos escusos do genitor alienante.

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

25

Existem algumas críticas em relação à síndrome, uma vez que esta não faz

parte no rol de patologias ou síndrome do DSMV.

A SAP recebe críticas por parte de especialistas de diversas áreas, inclusive de saúde mental e jurídicas, com a argumentação de que não foi reconhecida por nenhuma associação profissional nem científica, sendo que sua inclusão no DSM-IV (da APA – Associação de Psicólogos Americanos) e no CID-10 (da OMS – Organização Mundial de Saúde) foi rejeitada, alegando-se que a síndrome não apresenta bases empíricas. (SILVA, 2011, p. 45 e 46).

De acordo com a psiquiatria, as manobras da SAP são investidas pelo

alienante, utilizando-se do emocional da criança, através de manipulações que

culminam em distorções contra o genitor alienado. Neste contexto, o objetivo é

induzir a criança a acreditar no que o alienante está dizendo, fazendo com que a

criança acredite e se afaste do genitor alienado.

A Alienação Parental (AP) caracteriza o ato de induzir a criança a rejeitar o pai/mãe-alvo (com esquivas, mensagens difamatórias, até o ódio ou acusações de abuso sexual). A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é o conjunto de sintomas que a criança pode vir ou não a apresentar, decorrente dos atos de Alienação Parental. (SILVA, 2011, p. 47).

Assim, nas ações judiciais, quando da aplicação da guarda compartilhada,

utilizam-se de argumentos ainda que inverídicos para mobilizar autoridades para

impedir visitas, alegações muitas das vezes gravíssimas, como a molestação física e

sexual. Esses argumentos são tão fortes que acabam induzindo as autoridades

judiciais a interrupção das visitas ou até mesmo a destituição do poder familiar do

suposto agressor.

A intenção do alienante é manipular emocionalmente a criança, causando

angústia, sentimento de ansiedade, insegurança e culpa.

Além de ser um entrave à aplicabilidade da guarda compartilhada, será uma manobra sórdida para afastar o outro genitor do convívio, objetivando a destruição definitiva dos vínculos parentais-causando graves prejuízos psíquicos aos filhos e a desmoralização do outro genitor acusado e excluído. (SILVA, 2011, p. 47).

Os sintomas da SAP acabam ocorrendo muitas das vezes pelo rompimento

de uma relação, mas também pode vir embasado numa personalidade do alienante

já anteriormente ao rompimento do vínculo, não muito sadia.

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

26

Na maioria das vezes, existe um inconformismo do cônjuge com a

separação, seja por dificuldades emocionais, financeiras, adultério, ou até mesmo

por uma personalidade que quer a todo custo deter a exclusividade da posse sobre

a criança, não importando o maior interesse da criança e do genitor alienado, que

precisa manter e desenvolver cada vez mais uma relação de amor, de confiança e

de segurança para um melhor crescimento físico e emocional do filho (a).

[...] as pessoas saem das relações matrimoniais e confundem a relação do casal que acabou com a relação dos filhos. Então a forma de penalizar a pessoa que está saindo dessa relação é justamente fazer com que, aos poucos, e de forma sutil, os filhos passem a odiar esse pai[...], às vezes, a mãe, às vezes, avós. (SOUSA, 2010, p. 154 e 155).

5.3 CONDUTAS DO GENITOR ALIENADOR

Na visão do genitor alienador, sua conduta para com a criança é sempre a

de estar pensando no melhor para seu filho. Por isso a dificuldade muitas vezes de

realizar o diagnóstico ou mesmo perceber se a alienação está ou não instalada, pois

suas verbalizações focam a preocupação que tem com a criança. Mas numa

observação mais aprofundada, mais aguçada, percebe-se que se trata de mero

discurso para dar continuidade em manipulações e estar sempre tomando o controle

da criança e das situações.

O genitor alienador em muitas situações aparece com um perfil de superprotetor, que não consegue ter consciência da raiva que esta sentindo e, com intencionalidade de se vingar do outro, passa a emitir os comportamentos alienadores. Percebe-se num papel de vítima maltratado e desrespeitado pelo ex-companheiro, demonstrando aos filhos seus ressentimentos e levando-os a crer no defeitos desse. Em muitos casos tem o apoio dos familiares nessa conduta. (BUOSI, 2012, p. 83).

Esse perfil de vítima é muitas vezes identificado nas audiências judiciais,

onde muitas mães se apresentam com uma fisionomia diferente da época em que a

família ainda possuía uma convivência. É neste cenário que o alienante tem

aoportunidade de dramatizar e colocar-se na posição de vítima. Mostram-se

descuidados, perdem ou ganham peso, olhar cabisbaixo, fala inaudível aparentando

sofrimento e muita dor. Com este comportamento, buscam disfarçar sua

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

27

personalidade manipuladora, não despertando nenhuma suspeita nos indivíduos

envolvidos, incluindo o Poder Judiciário.

Nas condutas que o alienante apresenta, a mais grave de todas é aquela em

que lança alegações falsas de abuso sexual.

Silva acredita que o indivíduo que tem condições de induzir uma criança a rejeitar o outro genitor, até mesmo sob as alegações falsas de abuso sexual, está acometido de um distúrbio psicopático grave, haja vista que não sente remorso ou culpa de seu comportamento e não se preocupa com a situação do outro. Esses pais ou responsáveis não se dão conta de que , quando realizam tal ato egoísta, implantando idéias falsas e situações irreais nas mentes dos filhos, tornam de os verdadeiros agressores, deixando nas crianças um vazio imensurável para que se estabeleça o equilíbrio psíquico que está em formação. (BUOSI, 2012, p. 83 e 84).

Após muitas acusações e quando a criança já demonstra estar alienada, ela

mesma acaba pedindo para não ter convivência com o genitor alienado, ocupando

sem perceber o papel de cúmplice do alienante.

5.4 CONSEQUENCIAS DA SAP

Ainda não existe nenhum estudo científico realizado sobre o assunto, mas

alguns autores pesquisadores nacionais mencionam inúmeras consequências

quanto aos aspectos psicológicos e comportamentos futuros que possam surgir com

a SAP ou a Alienação Parental.

A criança pode vir a apresentar sintomas diversos, tais como ansiedade,

depressão, agressividade, transtornos de identidade, desorganização mental e até

mesmo o suicídio, tendência ao alcoolismo e uso de drogas.

É dever do Estado, proteger a criança e o adolescente, conforme determina

o artigo 7º do Estatuto “A criança e o adolescente tem direito a proteção à vida e á

saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o

nascimento e o desenvolvimento sadio e harmoniosos, em condições dignas de

existência.”

Neste sentido, para que a criança e o adolescente tenham uma vida

harmoniosa, digna, com afetividade e protegida pela família e pelo Estado, se faz

necessário que mesmo diante da separação conjugal de seus genitores, possa

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

28

manter o vínculo de pais e filhos, para o bem psíquico, intelectual e físico. De acordo

com Goldrajach, Maciel e Valente ( 2006, p. 9), “O afastamento da figura de um dos

genitores do seio familiar enseja uma orfandade psicológica no infante,

acompanhada de sentimentos negativos, como o ódio, desprezo e a repulsa em face

de um dos genitores, sem qualquer razão”.

Diante de tantas acusações infundadas, se sentindo extremamente

injustiçado, muitas vezes o genitor alienado, ao invés de ter a oportunidade de nas

visitas obter um encontro agradável com o filho, acaba tendo que defender-se das

acusações do alienador. E na sua tentativa de defesa, acaba utilizando palavras

depreciativas também sobre o alienante perante a criança e não percebe que caiu

na armadilha e acaba participando desse jogo.

Uma das situações mais graves, conforme citado anteriormente, são as

falsas memórias incutidas pelo alienante com relação ao abuso sexual. E seja ele

real ou imaginário, traz consequências desastrosas para a criança.

Em situações reais de abuso há indicadores físicos, tais como lesões, infecções, que não podem ser confundidos pelos avaliadores com meras irritações corriqueiras, e até transtornos de sono e alimentação, enquanto no abuso fictício não há. Porém, em ambos os abusos, real ou imaginário há atrasos escolares e consequências educacionais como notas baixas, agressividade com colegas, dificuldade de memória e concentração escolar. Outra diferença se dá na medida em que o menor que foi abusado realmente sente mais vergonha ou culpa da situação, enquanto na falsa acusação isso aparece com muito menor incidência. (BUOSI, 2012, p. 88 e 89).

Assim, nas acusações por parte do alienante de abuso sexual real ou falso,

as consequências são ainda maiores e por isso o alerta aos profissionais envolvidos

para o diagnóstico.

As consequências são tão profundas que se faz necessário submeter os

envolvidos a tratamentos.

Nos casos mais leves, a ameaça de punição de perder a guarda do filho ou

ser responsabilizado civilmente já pode levar que o alienador cesse com as idéias

alienadoras em relação ao ex-cônjuge.

Mas ainda assim, devido a tantas situações de manipulação, a criança por

vezes já está com seu desenvolvimento psicológico afetado, necessitando de

psicoterapia individual ou familiar.

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

29

5.5 TRATAMENTO DE SAP

Na maioria das vezes, o diagnóstico da Síndrome da Alienação Parental é

realizado através de perícia psicológica. Neste sentido, a importância de

profissionais da área da Psicologia, Psiquiatria, Serviço Social que através de

pareceres e laudos auxiliam o julgador.

Conforme anteriormente citado, existe por parte de alguns autores, críticas

sobre a SAP, por não estar descrita no DSM-IV. Uma das preocupações desses

autores é justamente em relação ao diagnóstico, uma vez que carece de uma

avaliação mais técnica, utilizando-se de instrumentos mais precisos.

Possivelmente, um dos motivos por que os discursos sobre as consequências da SAP, assim como toda a teoria de Gardner, obtêm fácil adesão de pais e profissionais é o fato de que há, de forma implícita, ou não, um apelo contra o sofrimento imputado a menores de idade, esvanecendo, com isso, o debate ou reflexões sobre a existência dessa síndrome. A função desses discursos não é convencer por evidências científicas, mas pela mobilização de revolta, do sentimento de indignidade diante da conduta de um responsável que, como se verificou nos textos, ora é justificada por sua solidez, ora por uma patologia estrutural. (SOUSA, 2010, p.171).

Apesar das críticas existentes, existe todo um trabalho por parte de

profissionais habilitados para a aplicação de tratamentos mais adequados, tanto a

crianças quanto ao genitor que foi alienado.

A psicoterapia pode ajudar o genitor alienado a superar os traumas vividos

pela rejeição do filho com o objetivo de aproximá-lo da criança.

Mas este trabalho muitas vezes é duradouro e até mesmo pode levar um

tempo para que seja benéfica esta reaproximação, pois ambos precisam construir

uma nova relação de confiança que foi perdida, principalmente nos casos em que as

falsas memórias instaladas foram as de abuso sexual.

As dificuldades também são inerentes aos danos psíquicos que foram

rigorosamente instalados e que serão dificilmente restaurados por completo.

Assim, muitas vezes, para que o tratamento seja um pouco mais efetivo, é

necessário que o alienador seja afastado da criança, o que pode causar uma ruptura

abrupta, tendo em vista sua dependência emocional e afetiva com o alienador.

Neste caso, punindo o alienante, poderá estar punindo a criança também e parece

não ser a atitude mais viável quando se trata do melhor interesse da criança.

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

30

Mas para evitar esta posição mais extremista é que a Lei da Alienação

Parental aparece como uma tentativa de prevenção para que a SAP não se instale,

procurando inibir esta prática que é tão grave e de difícil reparação. A Lei vem para

buscar soluções mais adequadas, dar ao alienado a possibilidade de buscar o

judiciário, antes que a Síndrome da Alienação Parental ocorra de maneira efetiva,

inibindo assim a conduta do alienante.

Por isso a importância de que a SAP e a Lei sejam disseminadas para que a

sociedade tenha ciência de que a síndrome existe, mas que a conduta do alienante

pode ser inibida através da proteção pela via jurídica.

O alienante precisa saber que sua conduta deve ser punida com base legal

e com isso inibi-la de maneira prévia, sem que tenha que aplicar a pior punição que

é o afastamento da criança seja com o alienante, seja com o alienado.

Neste sentido, é importante o envolvimento dos operadores de direito no

sentido de impedir que a SAP venha a se instalar.

É imperioso que os juízes se dêem conta dos elementos identificadores da alienação parental, determinando, nesses casos, rigorosa perícia psicossocial, para então ordenar as medidas necessárias para a proteção do infante. [...]. Uma vez apurado o intento do genitor alienante, insta ao magistrado determinar a adoção de medidas que permitam a aproximação da criança com o genitor alienado, impedindo, assim, que o progenitor alienante obtenha sucesso no procedimento já encetado. (SOUSA, 2010, p.173).

Assim antes de tudo a proteção da criança e do adolescente fica garantida,

não tendo que separá-lo de seus genitores, pois a privação da criança de um dos

genitores gera transtornos psicológicos à criança, aos genitores muitas vezes aos

demais entes familiares.

5.6 LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, dispõe sobre a alienação parental

e trata em seu artigo 2º do conceito, que diz:

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação Psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

31

dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

A Lei também elenca, em seu artigo 2º, parágrafo único, as formas

exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou

constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros.

Também ao longo de seus artigos, irá tratar da prática da Alienação Parental

em que esta fere direito fundamental da criança e do adolescente, no que tange a

uma vida saudável na convivência familiar.

Além disso, fica demonstrada na lei que identificado o indício de alienação

parental, o procedimento pode ser instaurado de ofício ou a requerimento das partes

ou do Ministério Público, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou

incidentalmente, tendo o processo tramitação prioritária, com vistas à preservação

da integridade psicológica da criança ou do adolescente, bem como para assegurar

a convivência com o genitor que está sendo alienado.

Neste sentido, o juiz poderá determinar a perícia psicológica ou

biopsicossocial, com uma equipe multidisciplinar, para investigação da ocorrência da

SAP.

O artigo 6º da mencionada Lei, garante que após caracterizada a ocorrência

da SAP, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente

responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais

aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I. Declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II. Ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III. Estipular multa ao alienador;

IV. Determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V. Determinar a alteração para guarda compartilhadaou sua inversão;

VI. Determinar a fixação do domicílio da criança ou adolescente;

VII. Declarar a suspensão da autoridade parental.

Neste artigo encontra-se a garantia da responsabilidade civil do alienante,

além de determinar algumas medidas cabíveis.

A possibilidade da aplicação da responsabilidade civil do alienante será

então baseada também na referida lei e no Código Civil Brasileiro.

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

32

Apesar do Código Civil brasileiro ainda não positivar a responsabilidade civil

voltada ao Direito de Família, a jurisprudência tem acatado esta nova vertente dando

condições na prática, a aplicação da responsabilidade civil.

É notório que as responsabilidades jurídicas estão em nosso ordenamento

jurídico voltados para a responsabilidade administrativa, criminal ou civil.

Quanto às relações conjugais não há no Brasil sanções administrativas,

restando estas somente em relação aos filhos, conforme artigos 245, do Estatuto da

Criança e do Adolescente, Lei 8069/1990.

Criminalmente o Brasil redigiu em seu Código Penal um capítulo próprio sobre os “crimes contra o casamento”, estes enumerados entre os artigos 235 e 239, salientando-se que o crime de adultério deixou de ser crime no Brasil. Ainda o Código Penal estabeleceu uma diversidade de crimes, “contra o estado de filiação”, contra a assistência familiar” e “contra o pátrio poder, tutela curatela” _artigos 244 usque 249. Contudo, não há nenhuma menção de responsabilidade civil quanto ao ofensor e ofendido dentro das relações familiares. (MANJINSKI, 2014).

A dificuldade talvez esteja no sentido de que as relações familiares não tem

natureza contratual, portanto na ocorrência de uma “quebra na relação familiar” não

caberia aplicar a responsabilidade civil, diante de um conflito desta natureza. Neste

sentido, vê-se que sua aplicação no Direito de família ainda é bastante discutida na

jurisprudência e na doutrina.

No entanto existem algumas questões tais como o rompimento de um

casamento de forma injustificada, que cause ao outro danos materiais e morais, são

passíveis de indenizar, ressalvados o princípio da boa-fé.

O artigo 1565 e 1566 do Código Civil, elenca alguns deveres e

responsabilidades do casamento enquanto condições de consortes.

É nesta seara que se admite a responsabilização, pois a falta do cumprimento dos respectivos deveres gera um ato ilícito, como bem salientou a professora Maria Berenice Dias: “Quem casa, sabe que está assumindo com o outro um pacto”. Não pode ser desleal esperando que somente o outro cumpra as promessas do casamento. A lealdade é inerente ao respeito e deve ser exercida por aqueles que se dispõe a permanecerem casados. (MANJINSKI, 2014).

Mas a conduta do cônjuge deve causar no outro alguma situação que seja

prejudicial, o descumprimento do dever legal, situações vexatórias, etc.

Assim é o que diz a Jurisprudência:

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

33

Separação judicial. Proteção da pessoa dos filhos (guarda e interesse). Danos morais (reparação). Cabimento. [...] 2.O sistema jurídico brasileiro admite, na separação e no divórcio, a indenização por dano moral. Juridicamente, portanto, tal pedido é possível: responde pela indenização o cônjuge responsável exclusivo pela separação. 3. Caso em que, diante do comportamento injurioso do cônjuge varão, a Turma conheceu do especial e deu provimento do recurso, por ofensa ao Art. 159 do Cód. Civil, para admitir a obrigação de se ressarcirem danos morais. (STJ, Resp. 37.051/SP, Ministro Nilson Naves, julgado em 25/06/2001). (MANJINSKI, 2014).

Também o Tribunal de Justiça entende que o abandono afetivo na filiação

gera o dever de indenizar, não na forma habituais da responsabilidade civil, mas

como forma de coação para que o pai venha a realizar a sua função social de cuidar

moralmente de seu filho.

Danos morais. Abandono afetivo. Dever de cuidado. O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável. Isso porque o non facere que atinge um bem juridicamente tutelado, no caso, o necessário dever de cuidado (dever de criação, educação e companhia), importa em vulneração da imposição legal, gerando a possibilidade de pleitear compensação por danos morais por abandono afetivo. Consignou-se que não há restrições legais à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e ao conseqüente dever de indenizar no Direito de Família e que o cuidado como valor jurídico objetivo está incorporando no ordenamento pátrio não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas concepções, como se vê no art. 227 da CF. O descumprimento comprovado da imposição legal de cuidar da prole acarreta o reconhecimento da ocorrência de ilicitude civil sob a forma de omissão. [...](STJ, Resp. 1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/412012). (MANJINSKI, 2014).

É então com base nas jurisprudências no Código Civil que a

responsabilidade civil no direito de família vem sendo consolidada e podendo ser

também aplicada quanto à responsabilidade civil no caso da SAP.

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

34

6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A Responsabilidade Civil passou por várias transformações ao longo dos

tempos e com ela a própria concepção de reparação do dano que se modificou ao

longo de sua evolução.

Dentre os temas da responsabilidade civil, fala-se da responsabilidade

subjetiva e objetiva, analisados sob o enfoque da culpa e também sobre a

responsabilidade direta e indireta dentre outras.

Neste capítulo trataremos do objeto da responsabilidade civil, dos elementos

essenciais e elementos acidentais, para a caracterização da conduta, dano e nexo

de causalidade.

Maria Helena Diniz afirma que o objeto da responsabilidade civil é invariavelmente uma prestação de ressarcimento por inexecução contratual (de forma mais ampla e consentânea com o código civil novo, poderíamos dizer negocial) e por lesão a direito subjetivo. Já o objeto da obrigação é, conforme a autora, uma prestação que não corre de tal situação necessariamente, pois pode advir não apenas de um ilícito por natureza (teoria da culpa, na responsabilidade subjetiva) ou por resultado (teoria do risco, na responsabilidade objetiva), mas decorre de norma jurídica ou de negócio jurídico.

(LISBOA, 2004, p. 427, apud DINIZ).

Além do objeto da responsabilidade civil é preciso conhecer a sua função.

Esta função esta intimamente relacionada no sentido de garantir o direito lesado e

servir como sanção civil.

A função de garantir o direito lesado se aplica na prevenção para que novas

violações não ocorram. Já a sanção civil, atua como uma necessidade de segurança

jurídica, aplicando ao agente causador do dano, uma obrigação em compensar a

vítima lesada.

A função da responsabilidade civil tem seu destaque no momento em que

ocorre um ato ilícito. Lisboa (2004, p. 429, apud, Diniz), “afirma que o ato ilícito é

toda conduta culposa praticada em desacordo com o ordenamento jurídico”.

E ainda, Lisboa (2004, p. 429) diz que: “a noção de ato ilícito abrange em

nosso sistema o excesso ou abuso de direito”.

Esse abuso de direito traz um prejuízo a outrem, e portanto cabível de

reparação de dano.

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

35

A conduta praticada pelo agente, não é qualquer conduta, esta deve ser uma

conduta ilícita que contrarie o ordenamento jurídico e que proporcione dano

patrimonial ou extra patrimonial em desfavor da vítima.

De acordo com Lisboa (2004, p. 431), “A conduta do autor do ilícito pode ser

omissiva ou omissiva, conforme venha a realizar alguma atividade positiva ou

negativa (um não fazer), respectivamente”.

A conduta do agente pode consistir um fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Quando o agente faz alguma coisa que estava proibido, fala-se em conduta

comissiva; quando deixa de fazer alguma coisa a que estava obrigado, temos uma

conduta omissiva.

6.1ELEMENTOS ESSENCIAIS E ELEMENTOS ACIDENTAIS

Existem elementos que são imprescindíveis para a responsabilização do

agente e, que precisam estar interligados e são os chamados elementos essenciais,

onde estão contidos também os elementos subjetivos e os objetivos.

O elemento subjetivo vai tratar do agente e da vítima e o objetivo, da

conduta, dano e nexo de causalidade.

Qualquer ausência de um desses elementos impede a responsabilização

civil do agente.

Isso só foi possível através da evolução da responsabilidade civil, que

permite tanto o reconhecimento de titularidade difusa de interesses a serem

protegidos como a detecção de danos metaindividuais e transindividuais,

viabilizando o dever de reparação do dano em quaisquer hipóteses.

Já os elementos acidentais, são aqueles que podem existir em determinadas

relações jurídicas específicas, para caracterização da responsabilidade civil, mas a

sua ausência não enseja a irresponsabilidade, mas a aplicabilidade de outro regime

jurídico de reparação do dano.

Assim, entre os pressupostos para que se possa identificar a

responsabilidade civil, devem estar presentes as partes, ou seja, o agente e a vítima,

o dano, considerado ressarcível pelo sistema jurídico e o nexo de causalidade, que

se forma com o vínculo existente entre a conduta do agente e o dano experimentado

pela vítima.

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

36

A vítima é a pessoa que sofreu o dano e, portanto, qualquer pessoa pode

ser vítima, uma vez caracterizado que sofreu um prejuízo.

Já o dano é o prejuízo sofrido por uma pessoa.

O dano pode ser: patrimonial, se a vítima deixou de ganhar ou perdeu bens por causa do dano; ou extrapatrimonial, se a vítima teve ofendidos valores não econômicos, como os direitos da personalidade. Entretanto, somente se viabiliza a obrigação de reparar o dano se o prejuízo for ressarcível. [...] O dano deve ser certo, isto é, fundado em um fato determinado. É inviável a responsabilidade civil do agente por mero dano hipotético ou eventual, pois não há como se reparar algo que pode sequer vir a acontecer. (LISBOA, 2004, p. 235).

O nexo de causalidade é a relação entre a conduta do agente e o dano

causado pela vítima.

Assim, o agente tem que ter contribuído para que o evento danoso ocorra.

Neste sentido se exige a figura do vínculo causal, a ligação da conduta do agente e

o dano sofrido pela vítima, caso contrário fica impossibilitada a aplicação da

responsabilidade civil.

A teoria da causalidade adequada é aplicável aos casos de responsabilidade civil no direito brasileiro. Com isso, estabelece-se o dever de reparação do dano patrimonial ou extrapatrimonial em desfavor do agente que de forma adequada e suficiente contribuiu para que o evento danoso viesse a ocorrer. (LISBOA, 2004, p. 236).

Neste sentido, identificado o nexo de causalidade, caberá a

responsabilidade civil, estabelecendo quem foi o agente causador do dano sofrido

pela vítima.

6.2 O DANO E SUA REPARAÇÃO

Quando se fala em reparação de dano, logo se volta para a questão

patrimonial, questão esta já ampliada com o advento da Constituição Federal de

1988.

É claro que reparar o dano patrimonial continua sendo importante, mas deixa

de ser a maior necessidade da sociedade pós-moderna.

O modernismo teve a virtude de estabelecer a regra geral da reparação dos danos: “quem causa um dano fica obrigado a reparar”. Porém, iludido pela

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

37

eternização da culpa a partir da Lex Aquili de damno, o modernismo limitou-se a prever o dever de indenizar às hipóteses em que o agente tivesse sua culpa comprovada. Sufocou quase que por completo a responsabilidade sem culpa cujas raízes são menos civilizadas do que se deseja, porém mais eficazes para promover a justiça retributiva, a orientação preponderante daquele tempo. (LISBOA, 2004, p. 445).

A responsabilidade sem culpa se fortalece no final do século XIX, onde

surge algumas normas jurídicas de ordem pública e interesse social, no que tange a

acidentes de trabalho e transportes coletivos. E, no século XX, observa-se a

consagração de normas que visam à proteção do meio ambiente e direito do

consumidor.

Neste contexto a responsabilidade civil se concretiza como uma teoria que

valoriza a pessoa coibindo o dano que possa insurgir. Ocorre um novo enfoque

centrado na pessoa, que se torna o centro das atenções de todo o ordenamento

jurídico. Uma codificação mais aberta, com base em princípios informativos.

Entra em cena a reparação dos danos extrapatrimoniais, e os danos morais

em sentido amplo.

O texto Constitucional de 1988, aplicável ao direito privado inclusive em seus quatro primeiros dispositivos, realça a importância e a obrigatoriedade de aplicação das normas da codificação civil de 2002, cujo ideário ainda se encontra um pouco mais fixado na questão patrimonial, observando-se a solidariedade social e a proteção da dignidade da pessoa, na busca constante da erradicação da pobreza e da redução de desigualdades econômicas. (LISBOA, 2004, p. 446).

Neste quadro constitucional, busca-se a partir de um Estado Democrático de

Direito, alguns fundamentos sociais que norteiam a proteção do cidadão, como ser

humano, como pessoa, com base principalmente no princípio da dignidade da

pessoa humana. Este princípio será basilar para todos os demais da ordem social.

6.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA

Para a aplicação da responsabilidade civil, se faz necessário conhecer

como se desdobra a responsabilidade subjetiva e a objetiva para apuração da culpa

do agente causador do dano.

O Código Civil de 2002, em seus artigos 186 e 187, adotam como regra a

responsabilidade subjetiva. Porém, exceção à regra, sempre haverá obrigação de

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

38

reparar o dano, independentemente de comprovação e delimitação de culpa que é

chamada de teoria objetiva da responsabilidade civil.

Neste sentido, fica mantida em regra, a necessidade de comprovação de

culpa, para que o que sofreu a lesão possa pedir a reparação de dano. De acordo

com (LISBOA, 2004, p. 463, apud, Santos, 2014), “Para a responsabilização do

devedor, em regra, deve ser comprovada a ocorrência do dano, “a culpa em sentido

amplo” e verificado o nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o evento

danoso”.

Diferente da responsabilidade subjetiva a responsabilidade objetiva,

segundo Lisboa (2004, p. 461), “é aquela que é apurada independentemente de

culpa do agente causador do dano, pela atividade perigosa por ele desempenhada”.

Além da responsabilidade subjetiva e objetiva, tem-se a

responsabilidade direta e indireta que pode ser apurada sob o aspecto da causa.

Responsabilidade direta é aquela proveniente de conduta cometida pelo próprio sujeito sobre o qual recai a imputabilidade. [...]. Na responsabilidade indireta, o ato é praticado por terceiro (pessoa com a qual o agente mantém vínculo legal de responsabilidade), ou, ainda, o acontecimento se deve ao instrumento causador do dano – o animal ou a coisa -, que se encontrava na guarda intelectual do responsável. (LISBOA, 2004, p. 461 e 462).

A responsabilidade subjetiva e objetiva e a direta e a indireta, também

precisam ser identificadas para comprovação do dano e sua responsabilização.

6.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ALIENANTE

Em face das conseqüências da alienação parental para filhos e para os

genitores, e em se tratando de menor, buscando o maior interesse da criança, se faz

necessário investigar qual a responsabilidade civil do alienante.

Para compreendermos a responsabilidade civil, precisamos verificar que ela

opera com duas espécies: a reparação por danos materiais e por danos morais.

Os danos materiais são todos os danos que atinjam o campo patrimonial de

um indivíduo, dessa forma, sua indenização visa restabelecer o “status quo ante”,

devolver ao lesado tudo o que lhe foi tirado pelo dano causado.

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

39

Os danos morais advém de uma violação de direitos que afetam a moral, a

integridade da pessoa, onde afronta o princípio da proteção da dignidade da

pessoas humana e que assim como os danos materiais, devem ser ressarcidos,

entretanto, o propósito da reparação dos danos morais é de trazer ao lesado a

alegria que lhe foi atingida, arruinada, e ainda, de punir o causador do dano, para

que este não venha mais a causar prejuízos.

Como visto anteriormente, para que haja o dever de indenizar, faz-se

necessário que estejam presentes os elementos da responsabilidade civil, sendo

eles a conduta, nexo causal, o dano e culpa, sendo o último elemento prescindível

para a responsabilidade objetiva e imprescindível para a responsabilidade subjetiva.

Trazendo estes elementos para a responsabilidade civil na Alienação

Parental, se faz necessário a presença dos quatro elementos, caracterizadores da

responsabilidade subjetiva e não objetiva.

A responsabilidade civil subjetiva tem o ato ilícito como seu fato gerador, ou seja, dependente do comportamento do agente, tal responsabilidade só será invocada quando comprovada que o causador do dano agiu com dolo ou culpa (RODRIGUES, 2003, p. 11). Quanto a responsabilidade objetiva, nas palavras de Silvio Rodrigues (2003, p. 11) “a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente”.( LISBOA, 2004, p. 239).

Na Lei 12.318/2010, somente o Artigo Art. 6º traz consigo a possibilidade da

aplicação da responsabilidade civil.

O legislador concede ferramentas ao juiz para que, na ocorrência da

Alienação Parental, este possa se utilizar de determinadas medidas, com o intuito de

punir ou inibir o problema, para proteger a criança ou adolescente da Síndrome da

Alienação Parental.

O artigo ainda menciona que o juiz pode tomar essas medidas,

“independente da responsabilidade civil”, resguardado o direito das vítimas da

Alienação Parental de serem ressarcidas pelos danos experimentados e de serem,

além disso, tomadas medidas estipuladas pelo juiz para, por exemplo, advertir o

alienador, para definir a guarda, entre outras medidas cabíveis.

A Alienação Parental é uma conduta tipificada na lei e a Síndrome é uma

conseqüência da Alienação. Assim, se a lei prevê a responsabilidade civil para uma

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

40

lesão menor, é claro que diante da lesão maior que é a Síndrome também deverá

haver a indenização.

Na conduta da Alienação Parental em que o agente alienante contribui para

a instalação da Síndrome da Alienação Parental, as conseqüências da Alienação

Parental atingem a criança ou o adolescente e o genitor alienado, que são as

verdadeiras vítimas que sofrem as conseqüências trazidas pela Síndrome.

Destaca-se ainda que quando o alienador da criança ou do adolescente for

um dos genitores, ainda se poderia falar das obrigações que esse genitor tem diante

deste filho, como já fora estudado neste trabalho. Os genitores, independentemente

de deter ou não a guarda do menor, tem a obrigação de protegê-lo, preservá-lo. E,

aliená-lo, tornando-o vitima de Síndrome da Alienação Parental, significa descumprir

com suas obrigações, exauridas no Estatuto da Criança e do Adolescente

principalmente nos artigos 3º, 4º e 5º.

Assim para aplicar a responsabilidade civil do alienante, uma vez que as

obrigações foram quebradas, é preciso visualizar a existência dos elementos da

responsabilidade civil, para que assim, possa certamente, requerer a indenização.

A conduta, um dos elementos, pode ser comissiva ou omissiva, e ainda,

direta ou indireta.

Conduta omissiva ou positiva é o comportamento consistente na realização de ato que acaba por ser danoso. Conduta comissiva ou negativa é a inatividade ou o comportamento consistente em se abster de fazer determinada coisa. A conduta comissiva é aquela que viola o dever geral de abstenção. A conduta omissiva ilícita é aquela que viola o dever jurídico de agir. Possuí relevância jurídica, por não impedir resultado danoso à vítima ou ao seu patrimônio. (LISBOA, 2004, p. 238).

Na SAP o alienador age de forma comissiva, quando implanta falsas

memórias ou mentiras na mente da criança ou adolescente, desrespeitando a

relação dela com o genitor alienado, usando de todos os meios para quebrar o

vínculo e destruir a relação, fazendo com que a criança ou adolescente, passem a

acreditar nas mentiras e permitindo que sentimentos ruins, incutidos pelo alienante,

afetem sua integridade psicológica, ao ponto de não mais querer manter contato

com o genitor alienado.

Essa conduta deve ser caracterizada como ilícita, errônea, desumana uma

vez que atinge a dignidade moral e psicológica da criança e do adolescente.

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

41

O nexo causal é a ligação que deve existir entre a conduta e o dano, o que

também é vislumbrado no caso da Síndrome da Alienação Parental, já que a

conduta do alienador é responsável pelo dano experimentado tanto pela criança ou

adolescente, quanto pelo genitor alienado. Quando o alienador, usando a criança,

acaba causando a ela, a Síndrome da Alienação Parental, estamos então, diante do

nexo causal que liga a conduta ao dano experimentado.

No caso do adolescente, mesmo que muitos entendam que o adolescente

teria capacidade para não acreditar nas mentiras contadas pelo alienador, e, que

assim, não haveria a presença do nexo causal, não podemos afastar a

responsabilidade do alienador, já que estamos tratando da responsabilidade perante

a Síndrome da Alienação, e não apenas Alienação Parental, e por ser a síndrome

conseqüência da alienação, uma vez configurada, significa que este adolescente de

fato foi alienado, havendo então o nexo causal.

Antes de analisar o dano, passemos a ver sobre a culpa. A culpa prevista

no Artigo 927, parágrafo único do Código Civil vigente, é a culpa “lato senso”, que

engloba o dolo, e a culpa “strito senso”.

No caso da Síndrome da Alienação Parental, o alienante tem a intenção de

lesionar no que tange ao genitor alienado, sendo possível dizer que aqui

encontramos a culpa “lato senso”. No que se refere à criança ou adolescente,

quando o alienante for um dos genitores, este age com a falta do dever de cuidado,

dever esse previsto por lei, já que o genitor alienante deve protegê-lo, e não usá-lo

como meio de vingança, constatando então a presença da culpa “strito senso”.

Ainda referente à criança ou adolescente, quando o alienante for apenas um ente

familiar, e não o genitor, ainda assim, existe a intenção de lesionar, de destruir a

relação, essa atitude, portanto, também é passível de configurar a culpa.

Assim os três elementos estudados até aqui, quais sejam, conduta, nexo

causal e culpa, se enquadram perfeitamente nos requisitos necessários da

responsabilidade civil. O último requisito analisado é o dano, este é imprescindível

para que exista a reparação.

O genitor alienado e a criança ou adolescente podem vir a ter que passar

por tratamento médico e psicoterapia, seja com psicólogos ou psiquiatras ou até

mesmo acompanhamentos com assistentes sociais, neste sentido poderá ter custos

também com remédios, como calmantes, antidepressivos ou outros. Neste sentido

aqui fica configurado danos materiais, danos causados ao patrimônio e que são

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

42

passíveis de valoração certa, e por isso, passíveis de indenização por danos

materiais.

Ao estudarmos as consequências da Síndrome, vimos que a maioria das

conseqüências afeta o aspecto emocional das vitimas, como, a angustia, a tristeza

profunda pela quebra da relação entre as vitimas, a depressão, a situação de

humilhação do genitor alienado quando acaba por ser investigado por crimes

inventados como no caso do abuso sexual, portanto, tudo isso configura dano moral,

e, portanto, deve ser responsabilizado o alienante causador de tantos sofrimentos,

devendo essa indenização atender aos dois critérios que a doutrina contempla para

a valoração desses danos, já que ambas as vítimas tiveram, e muitas vezes

carregarão consigo, sofrimentos, dores profundas, ao ter seu filho retirado do seu

convívio, ou por perder o pai, que é tão importante para o desenvolvimento moral,

psicológico e físico da criança ou adolescente. Além disso, a valoração desses

danos deve atender ao critério punitivo, pois assim, teremos mais uma forma de

inibir, ou até mesmo de punir, um ser humano ofensivo, insensível, calculista e frio,

que usa por interesse próprio e sem motivo justificado, de uma criança ou um

adolescente, para atingir seu ex-cônjuge, ex-convivente ou qualquer outro ente

familiar, mentindo e criando, fatos que não existem.

A despeito das discussões sobre a extensão ou não dos efeitos da

responsabilidade civil ao Direito de Família não se vislumbra a necessidade de

norma específica para punir o alienador, sendo dispensável a expressa previsão

legal de uma reparação civil para as relações de família, sendo a regra indenizatória

genérica e projetável para todo o ordenamento jurídico, já sendo um mecanismo

eficaz, bastando a boa vontade e o conhecimento por todos a quem o estado atribui

a tarefa de efetivar a justiça.

Assim, vale dizer que o Poder Judiciário não pode fechar os olhos diante das

ações de indenização no âmbito de direito de família, pois a esta se aplica, quando

omissa, a regra geral. E nesta regra, encontramos a possibilidade da indenização

material e moral. Como os danos podem ser pedidos cumulativamente, as vitimas

podem pedir os danos materiais e os danos morais.

O alienado é parte legitima para pedir indenização. Quanto à criança ou

adolescente, este também é parte legitima, no entanto, deve estar representado ou

assistido por um dos seus genitores que detenha o poder familiar. Ainda, essa

criança ou adolescente, poderá, quando atingir a maioridade, mover a ação em face

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

43

do alienante, já que o Código Civil atual, em seu artigo 198, assegura que a

prescrição não corre contra os incapazes. Desse modo, a criança ou o adolescente,

e o alienado, podem buscar no Judiciário a indenização devida pelo alienador,

podendo essa indenização abranger tanto os danos materiais quanto os morais.

6.5 DANO MORAL NA ALIENAÇÃO PARENTAL

A violação ao dever, que fere um direito e acarreta dano moral ou material,

configura ato ilícito, conforme dispõe o art. 186 do Código Civil brasileiro, segundo o

qual: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito".

Essa é a regra geral da responsabilidade civil, constante da parte geral do

referido Código e que é aplicável a todos os livros de sua parte especial, incluindo

aquele do direito de família.

Na prática, as ações de pedidos de reparação de dano acabam sendo uma

ação separada das demais ações comuns no direito de família.

A negação da competência dos Juízos de Família para julgar pedido de

reparação de danos acarretará a tramitação de duas ações em separado; a da ação

reparatória e da ação de divórcio, da guarda, etc., perante Juízos ou Varas

diferentes. Este impedimento contraria a essência do Direito de Família, bem como

os princípios da celeridade e economia processual, uma vez que os atos estão

relacionados com a matéria de Direito de Família.

Nada obstante sólidas opiniões doutrinárias e posicionamentos jurisprudenciais diversos, defende-se, na alçada deste artigo, a competência das Varas de Família para lineamento das discussões atinentes à responsabilidade civil, posto que a apuração do ato de alienação parental e o julgamento judicial acerca da sua existência gera, consequentemente, a competência para conhecer de pedido de indenização em virtude de se vincular umbilicalmente ao Direito de Família e relações paterno-filiais. (VIEIRA, p.12, 2008)

Como já visto até aqui, o Direito de Família evoluiu ao longo dos tempos e

sofreu uma atuação ampla e voltada para a dignidade da pessoa humana, da

convivência familiar e do sagrado direito ao sadio desenvolvimento dos filhos no

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

44

contexto das relações familiares. Neste sentido, é possível que a responsabilidade

civil nas relações de família seja submetida às regras gerais da ordem jurídica, não

havendo impedimento jurídico para excluir-se a competência das Varas de Família

para conhecerem, processarem e julgarem fatos intimamente relacionados com as

demandas nas ações familiares.

Em recentíssimo caso, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o REsp 1.159.242, da relatoria da Ministra Nancy Andrighi (DJE de 09.05.2012), implementou a condenação de genitor por falta de dever de cuidado, ressaltando-se, na ocasião, que amar é faculdade, mas cuidar do filho, seja biológico ou adotivo, é dever. Assim, a Turma decidiu que é possível a indenização por dano moral decorrente de abandono afetivo pelos pais. Para a ministra, porém, não há por que excluir os danos decorrentes das relações familiares dos ilícitos civis em geral. Em perfeita assimilação à nova roupagem do Direito de Família, a Ministra-Relatora sustentou: "Muitos, calcados em axiomas que se focam na existência de singularidades na relação familiar - sentimentos e emoções -, negam a possibilidade de se indenizar ou compensar os danos decorrentes do descumprimento das obrigações parentais a que estão sujeitos os genitores. Contudo, não existem restrições legais à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar, no direito de família”. (VIEIRA, p. 13, 2012)

Na realidade, conforme bem dissertou a Excelentíssima Relatora, a

interpretação técnica e sistemática do Código Civil e da Constituição Federal

apontam que o tema dos danos morais é tratado de forma ampla e irrestrita,

regulando, inclusive as situações que permeiam as relações familiares. Isso prova

que existe a possibilidade de apreciação através de previsões legais e

constitucionais para tratar das questões familiares, cabendo ao Julgador, diante dos

casos concretos, ponderar também no campo do dano moral.

É a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, o elemento finalístico da proteção estatal, para cuja realização devem convergir todas as normas de direito positivo, em particular aquelas que disciplinam o direito de família, regulando as relações mais íntimas e intensas do indivíduo no social. (BUOSI, 2012, p. 30, apud TEPEDINO, 2001).

Sendo concreta e externada pelo Estado-juiz a prática de ato de alienação

parental, com reconhecimento do fato objetivo, identificando a gravidade da

alienação parental na formação e desenvolvimento psicológico do filho, fica

declarada a violação ao direito fundamental da criança/adolescente à sadia

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

45

formação da sua personalidade e, também, o direito do próprio genitor alienado,

outra vítima da conduta do alienador.

Ocorrendo a alienação parental, através da conduta do alienante e instalado

na criança/adolescente a Síndrome da Alienação Parental e sabendo de suas

conseqüências desastrosas, fica evidente o dano moral, o abalo, a angústia,

inserindo-se o resultado danoso e provado o ato ofensivo, está demonstrado o dano

moral e a possibilidade de aplicação da responsabilidade civil e a reparação do

dano.

Certamente, em muitas das situações, a condenação pelo dano moral não

será a medida mais recomendável, posto que as outras sanções contidas no art. 6º

da Lei de Alienação Parental poderão garantir maior rapidez e efetividade, até

porque, com a possibilidade de alteração da guarda, já poderá inibir e conscientizar

o alienante que não terá mais o controle, mas que este ficará a cargo do juiz que

poderá definir o que é o melhor para a criança/adolescente.

Mas de acordo com a situação fática, o Judiciário poderá aplicar a sanção,

cumulativa ou isoladamente, de forma a reprimir a conduta gravosa, a agressão

moral que gerou dano irreparável de convivência ao filho e ao genitor alienados.

As conseqüências da alienação parental são angustiantes até para o Julgador, pois, além dos dramas decorrentes das práticas dos atos de alienação, no mais das vezes, haverá dano psicológico até por decorrência de medidas adotadas pelo juízo, quando, em casos excepcionais, mesmo por falta de oitiva da parte contrária em nível de contraditório diferido, houver, por exemplo, suspensão de visitações até conclusão da perícia multidisciplinar, ou visitas monitoradas, no fórum. (VIEIRA, 2012).

O drama psicológico muitas vezes se estende à criança e ao adolescente e

ao genitor alienado, pois até que os fatos sejam apurados, muito tempo pode se

passar e recuperar este tempo e a “moral” do genitor alienado é muito difícil e esse

trabalho poderá levar meses e até anos. Os traumas psicológicos podem ser

profundos e o resgate se faz necessário.

A tendência, de um modo geral, é imediatamente levar o fato ao Poder Judiciário, buscando a suspensão das visitas. Diante da gravidade da situação, acaba o juiz não encontrando outra saída senão a de suspender a visitação e determinar a realização de estudos sociais e psicológicos para aferir a veracidade do que lhe foi noticiado. Como esses procedimentos são demorados - aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos, durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho. Nem é preciso declinar as seqüelas que a abrupta cessação das visitas pode trazer, bem como os constrangimentos que as inúmeras entrevistas e testes

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

46

a que é submetida a vítima na busca da identificação da verdade. No máximo, são estabelecidas visitas de forma monitorada, na companhia de terceiros, ou no recinto do fórum, lugar que não pode ser mais inadequado. E tudo em nome da preservação da criança. Como a intenção da mãe é fazer cessar a convivência, os encontros são boicotados, sendo utilizado todo o tipo de artifícios para que não se concretizem as visitas. (VIEIRA, 2012, apud DIAS, 2012).

A intervenção do Estado-Juiz se faz necessário e não pode fechar os olhos

para a alienação parental, é necessário agir e procurar atenuar os efeitos maléficos

da alienação parental.

O papel do judiciário é o de investigar e aferir os fatos objetivos

demonstrados pelo estudo psicossocial e demais provas colhidas no processo,

através de demonstração por laudo multidisciplinar a apontar no sentido de

interferência na formação psicológica da criança/adolescente. Neste sentido é que

poderá concluir pelo reconhecimento da responsabilidade civil do genitor alienante,

cabendo o próprio dano moral “in reipsa”, na forma presumida, com julgamento no

próprio Juízo de Família, diante das comprovadas situações vinculadas à

perturbação psicológica, angústia, sofrimento pelo afastamento, perda de contato

irrecuperável, etc.

[...] Já o dano moral afeta a ordem psíquica, refere-se a sentimentos, o que torna sua comprovação um pouco mais difícil. Por isso, vários estudiosos do Direito defendem que em alguns casos o dano moral é presumido e não é necessário fazer prova sobre ele, o que facilita o ajuizamento da ação. A prova desse tipo de prejuízo é chamada “in reipsa”, que traduzido do latim é “pela força dos próprios fatos”. Significa dizer que o próprio fato subentende o dano. (BRITO, 2014)

De acordo com o Código Civil, art. 1638, uma vez configurado abuso de

autoridade por descumprimento de deveres que são aos pais, o poder familiar

poderá ser suspenso. Assim no contexto jurídico, configurada e percebida a

alienação parental, é necessária a responsabilização do alienador, pois esse

comportamento é forma de abuso que pode ensejar ou a reversão da guarda ou a

destituição do poder familiar, uma vez que configura abuso de autoridade por

descumprimento dos deveres que lhe são inerentes.

Além disso, é possível a reparação do dano moral sofrido pelo não guardião

de acordo com a Constituição Federal, art. 5º, inciso X: “São invioláveis a intimidade,

a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a

indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

47

Neste sentido também há entendimento através da Súmula nº 37 do STJ,

“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do

mesmo fato”.

Neste aspecto pode-se voltar a discussão quanto a ação em conjunto na

vara de família, sem necessidade de ações isoladas uma vez que tratam do mesmo

fato.

Ainda no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), que, em

seu art. 3º, preserva os direitos fundamentais da criança e do adolescente, e em seu

art. 5º, determina que a criança e o adolescente não podem ser objeto de nenhuma

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,

sendo punida qualquer atividade ilícita atentatória aos direitos fundamentais.

As varas de família são competentes para apreciação dos pedidos de dano moral decorrentes da prática de alienação parental, como decorrência da própria sistemática do Código Civil e da Constituição Federal, uma vez que o dano moral é tratado de forma ampla e irrestrita, abarcando, inclusive, os aspectos inerentes às relações familiares, não se vislumbrando qualquer restrição legal no tocante à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e o conseqüente dever de indenizar/compensar, no Direito de Família. (VIEIRA, 2012, p. 18).

A aplicação da responsabilidade civil, nas varas de família, ainda é um tema

em discussão. No entanto, já existem jurisprudências favoráveis quanto a

competência da vara de família, para julgar algumas situações de conflitos

familiares.

Vejamos algumas delas:

Apelação Civil. Ação de Indenização por Danos Morais e Psíquicos. Tramitação do feito perante Vara Cível em Comarca que possui Vara de Família. Incompetência Absoluta. Desconstituição da Sentença Prolatada por Juiz Incompetente para a matéria. O COJE/RS – Lei nº 7.356/80, art. 84, inciso IV, com as atribuições determinadas pelo art. 73, incisos III e IV, dispõe acerca da competência absoluta da Varas de Família para o exame de questões afetas à matéria de família, sucessões, união estável, ECA e registro civil. Pedido de indenização por dano moral e psíquico, em face de adultério da ex-companheira, não trata de matéria inclusa na rubrica “responsabilidade civil”, mas pertinente à união estável, sendo afeta ao direito de família, da competência absoluta da Vara de Família. Nulidade da sentença proferida por juiz incompetente em razão da matéria. Sentença desconstituída. Apelação prejudicada. Sentença desconstituída. (TJRS;AC 70025138108; Sapucaia do Sul; Sétima Câmara Cível; Rel. Des. André Luiz Planella Vilarrinho; Julg. 15.04.09; DOERS 28.04.09; p. 42). (VIEIRA, 2012 p. 11)

E ainda:

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

48

Agravo de Instrumento 146.186-4, pela 2ª. Câmara de Direito Privado do TJSP, Rel. Desembargador Cezar Peluso, agora Ministro do Supremo Tribunal Federal, que considerou o Juízo de Família como competente para julgar os pedidos de separação judicial culposa e de indenização por dano moral oriundo de adultério, admitindo a cumulação, em razão do preenchimento dos requisitos do art. 292 do Código de Processo Civil. (VIEIRA, 2012, p. 9, apud SANTOS, 2012).

Além da questão da competência quanto ao julgamento da responsabilidade

civil na Vara de Família, outras questões devem ser levantadas, tais como se a

alienação parental tem que ser objeto de ação autônoma ou pode ser incidental.

Ela tanto pode ser autônoma quanto incidental. O juiz, ao analisar o caso concreto e ao verificar que existem fatos que ensejam a suspeita de prática de atos de alienação parental, ele pode determinar cautelarmente a aplicação de uma das sanções previstas no parágrafo único do artigo 2º da Lei 12.318/10. O artigo 4º do mesmo diploma legal dispõe nesse sentido: Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. (COLVAM, 2014).

Assim, pode-se verificar que a responsabilidade civil poderá ser discutida em

ação autônoma ou no próprio processo onde se verificou a alienação. Buscando

uma urgência na solução do problema, até mesmo com uma ação cautelar, quando

identificado pelo Juiz, no caso concreto as medidas necessárias para a preservação

da integridade psicológica tanto da criança/adolescente, quanto do genitor alienado.

O tema da responsabilidade civil do alienante e a caracterização do dano é

bastante instigante, exigindo exame mais aprofundado. Portanto este estudo está

longe de esgotar o assunto, mas tem o propósito, de trazer um debate e gerar um

desejo maior no aprofundamento do assunto.

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

49

7 CONCLUSÃO

Pode-se concluir que a Alienação Parental pode tornar-se a SAP que é uma

síndrome que permeia os conflitos familiares, no que tange as dissoluções

conjugais, e ocorre com muita freqüência quando da na definição da guarda e afeta

as relações familiares, onde o alienante incute à criança ou ao adolescente falsas

memórias ou mentiras, que ofendem a dignidade moral do genitor alienado e que

ataca gravemente o aspecto psicológico e emocional da criança e do adolescente,

bem como do genitor alienado.

Em virtude da gravidade da Síndrome da Alienação Parental, a Lei

12.318/2010, vem para dispor sobre a Alienação Parental, disciplinando como esta

ocorre, suas conseqüências e a aplicação de medidas para inibir a conduta do

alienante, bem como buscar a responsabilidade civil cabível.

Diante de uma conduta gravosa como a instalação da SAP, é possível a

aplicação da responsabilidade civil, uma vez identificado, na situação fática os três

elementos caracterizadores: a conduta, nexo de causalidade, dano e culpa,existindo

a possibilidade da reparação de dano material e dano moral.

Quanto à competência para julgar a Alienação Parental, fica claro que

poderá ser processada nas Varas de Família com a possibilidade de cumulação de

pedidos, nos mesmos autos, conforme evidenciado pela jurisprudência.

É de suma importância que o judiciário se empenhe para que a Lei da

Alienação Parental seja aplicada e processada nas Varas de Família e tenha força

em sua aplicação. Para tanto, é necessário a divulgação da Lei no sentido de

informar à sociedade, ao Poder Judiciário, aos operadores do direito e

principalmente ao genitor alienado, que está protegido pela lei e que ao identificar à

ocorrência da SAP, utilizar-se desta, não para punir o alienante no que tange a

retirada da guarda ou do poder familiar, mas para inibir e se necessário aplicar a

responsabilidade civil e requerer a reparação de danos sofridos, sejam eles

materiais ou morais.

Ainda é necessário salientar que, independente das críticas quanto à

existência ou não da Síndrome da Alienação Parental no DSM-IV, seu diagnóstico e

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

50

as formas de tratamento, ignorar a ocorrência da SAP na vida das famílias e no

mundo jurídico, mas buscar maior entendimento e contribuir, em se tratando de

operadores do direito, oportunizando condições para atender às demandas

existentes na sociedade ainda que muitas destas questões estejam sendo discutidas

no ordenamento jurídico, mas em ocorrendo possam ser identificadas e inseridas,

levando em conta os princípios constitucionais, os princípios familiares que tem sob

fundamento os princípios da dignidade da pessoa humana.

O Direito não é estático, e a sociedade ao longo dos tempos tem sido a

maior responsável pela criação de normas e regras jurídicas.

Portanto, o Direito Civil e o Direito de Família, podem se utilizar de

regramentos que atendam aos contratos e às relações familiares, tomando como

base as teorias da responsabilidade civil e aplicando-as quando convergentes no

Direito de Família.

Page 52: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/A-ALIENACAO-PARENTAL-E-A... · universidade tuiuti do paranÁ darlene barbosa de souza a alienaÇÃo

51

REFERÊNCIAS

BRITO, Anne Lacerda. Dano Moral Presumido. Disponível em: <http://www.annebrito.jusbrasil.com.brqartigos&artigos. Acesso em: março 2014. BUOSI, Caroline de Cássia F. Alienação Parental – Uma Interface do Direito e da Psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. COLVAM, Priscila Novello. O Abandono Moral em face da Alienação Parental. Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigos_id=9272. Acesso em: 05 de outubro de 2014. LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil – Volume 2 - Obrigações e Responsabilidade Civil.3ª. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. LOBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011 LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado, volume 5: Direito de Família. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. MANJISNKI, Everson. A Responsabilidade Civil no Direito de Família. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br. Acesso em outubro de 2014. SILVA, Denise Maria Perissine d. Guarda Compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2ª. Ed. Campinas- SP: Armazém do Ipê, 2011. SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome da Alienação Parental: um novo tema nos juízos de família.1ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2010. VIEIRA SEGUNDO, Luiz Carlos Furquim. Síndrome da alienação parental: o bullying nas relações familiares. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=556>. Acesso em: 11 maio 2012.