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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS CURSO PEDAGOGIA Aline Barbosa de Campos Moreira Cristiana Lopes Ramos Mayara Ferreira Miranda TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE: e suas manifestações no espaço escolar. Governador Valadares 2010

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS

CURSO PEDAGOGIA

Aline Barbosa de Campos Moreira

Cristiana Lopes Ramos

Mayara Ferreira Miranda

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE:

e suas manifestações no espaço escolar.

Governador Valadares

2010

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ALINE BARBOSA DE CAMPOS MOREIRA

CRISTIANA LOPES RAMOS

MAYARA FERREIRA MIRANDA

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE:

e suas manifestações no espaço escolar.

Monografia submetida à banca examinadora do

curso de Pedagogia da Universidade Vale do Rio

Doce, como requisito parcial para obtenção da

graduação em Pedagogia Licenciatura Plena.

Orientadora: Eliene Nery Santana Enes

Governador Valadares

2010

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ALINE BARBOSA CAMPOS MOREIRA

CRISTIANA LOPES RAMOS

MAYARA FERREIRA MIRANDA

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE:

e suas manifestações no espaço escolar.

Monografia apresentada como requisito para obtenção da

graduação de Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de

Ciências, Educação e Letras da Universidade Vale do Rio

Doce.

Governador Valadares, 22 de Novembro de 2010.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________

Prof.ª Eliene Nery Santana Enes - Orientadora

Universidade Vale Do Rio Doce

___________________________________________________________________

Prof.ª Ana Lídia Cristo Dias

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________________

Prof.ª Dra. Maria Celeste Fernandes Reis de Souza

Universidade Vale do Rio Doce

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus, o autor de nossos sonhos, que colocou em nossas mãos esse propósito

e com sua fidelidade nos permitiu alcançar essa vitória. Agradecemos a ele por nos dar coragem,

força, paciência e sabedoria para concretizarmos este trabalho.

Aos nossos familiares pelo apoio e carinho ao longo dessa caminhada.

A todos que de alguma forma contribuíram para que este trabalho fosse possível.

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RESUMO

A presente monografia orienta-se pelos conceitos do Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH), sua caracterização, possíveis causas, diagnóstico e modo de

manifestação no espaço escolar. O TDAH foi analisado sob o discurso médico pela via do

diagnóstico e sua influência na prática escolar que tem como consequência a patologização

dos modos diferentes de aprender. Pretendemos nesse estudo de revisão bibliográfica, abrir

um espaço para reflexão sobre o transtorno, objetivando contribuir na ressignificação de

concepções e práticas dos profissionais que atuam com crianças com tal diagnóstico.

Palavras-chaves: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), diagnóstico,

ensino- aprendizagem.

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ABSTRACT

The present monograph it is guided by the concepts of the Upset of the Attention

Deficit/Hyperacivity Disorder (ADHD), its characterization, possible causes, diagnosis and

ways of manifestation in school space. ADHD was analyzed under the medical speech by its

diagnose and its influences in school reality that has as consequence the pathologizing of the

different manners of learning. We intended in this study of bibliographical revision, to open a

space for reflection on the disorder, aiming to contribute in the reinterpretation of conceptions

and the professionals' practices that act with children with such diagnosis.

Keywords: Attention Deficit/Hyperacivity Disorder (ADHD), diagnosis, school space,

teaching learning.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CIE Classificação Estatística Internacional

CRS Conners Rating Scales (Escala de Avaliação de Conners)

DSM Manual Diagnóstico e Estatístico

TDAH Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 9

2 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE-TDAH...... 10

2.1 O QUE É O TDAH........................................................................................................ 10

2.2 AS CAUSAS DO TDAH.............................................................................................. 15

2.3 O DIAGNÓSTICO DO TDAH.................................................................................... 16

3 ESCOLA E O TDAH................................................................................................... 24

3.1 PATOLOGIZAÇÃO DO ENSINO - APRENDIZAGEM .......................................... 24

3.2 O IMPACTO NA VIDA DOS ALUNOS................................................................... 27

3.3 OS PROFESSORES PODEM AJUDAR..................................................................... 29

3.4 COMO ACOMPANHAR E APOIAR O ALUNO...................................................... 31

3.5 PROJETO PERSONAL DE ENSINO.......................................................................... 33

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 40

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso busca realizar uma revisão bibliográfica do

Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), priorizando sua manifestação no

espaço escolar. Essa temática tem sido pensada no percurso de graduação do curso de

Licenciatura em Pedagogia, quando, nas disciplinas, se apresentaram poucas discussões sobre

problemas comportamentais e de aprendizagem vividos pelos alunos, tanto da Educação

Infantil quanto do Ensino Fundamental. Porém, no Currículo do curso, não tivemos uma

disciplina específica com abordagem nas dificuldades de aprendizagens. A baixa

concentração e dificuldades de relacionamento são fontes de reclamações por parte dos

professores e da escola em geral, que, frequentemente, apontam o Transtorno do Déficit de

Atenção/Hiperatividade como a causa desses problemas.

A partir da nossa curiosidade, indagações sobre o TDAH foram se apresentando em

nossas discussões: o que é o transtorno? Como é feito o diagnóstico? Como lidar com as

dificuldades de comportamento e os conflitos que esse aluno apresenta em sala de aula?

Como trabalhar a capacidade dessa criança? Como fazer a mediação pedagógica com o aluno

que apresenta esse transtorno?

O que nos instigou a escolha desse tema foi o nosso despreparo, o pouco

conhecimento sobre o TDAH. Pretendemos compreender o que é esse transtorno, sua

caracterização e, se possível, contribuir com informações que possam ajudar professores na

prática escolar, como auxiliar uma criança com possível TDAH e encaminhá-la ao

especialista para diagnóstico, quando for o caso. No espaço escolar, podemos perceber, em

nossas observações no período de estágio, a naturalidade com que os professores rotulam as

crianças com comportamentos indicativos de TDAH. Observamos, ainda, em algumas

situações que os alunos que apresentavam comportamentos perturbadores na classe eram

encaminhados à supervisão, recebendo advertência sem haver nenhuma reflexão por parte do

professor frente à inquietação do aluno em sala de aula.

Atualmente, o TDAH tem alcançado grande difusão midiática e se manifesta como

patologia da época atual, conforme Mesquita (2009) que indica o fortalecimento do discurso

médico no espaço escolar. A autora aponta que o TDAH apresenta-se como um diagnóstico

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privilegiado para justificar e nomear problemas atuais da escola, como o “fracasso escolar” e

os “desvios de comportamento”.

O trabalho será realizado por meio de pesquisa bibliográfica, a fim de caracterizar o

transtorno e sistematizar algumas informações sobre TDAH e a Escola, visando responder as

indagações citadas anteriormente.

Buscamos aporte teórico em alguns autores, entre outros, Mesquita (2009), Mattos

(2010), Phelan (2005), Belli (2008). Também buscamos leituras de artigos científicos e sites

especializados na internet. Consideramos que o desenvolvimento deste trabalho poderá

colaborar para a discussão e produção teórica do tema na academia e na comunidade escolar,

envolvendo a educação e a medicina, tendo relevância pelas implicações que vão desde

dificuldades no desempenho escolar, até problemas psicológicos e sociais na vida das

crianças, com consequências na vida adulta.

O presente trabalho está organizado em quatro capítulos: 1º Introdução, 2º Transtorno

do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), 3º Escola e o TDAH, 4º Considerações finais.

Pretendemos com esse trabalho, dar início a um estudo sobre Transtorno do Déficit de

Atenção e Hiperatividade (TDAH), e abrir espaço para que uma pesquisa mais aprofundada

sobre o tema seja feita, na continuidade de nossa formação profissional como educadoras.

2 TRANSTORNO DO DÉFICT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE – TDAH

2.1 O QUE É O TDAH?

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios

comportamentais que tem se tornado cada vez mais frequente. O diagnóstico tem ganhado

destaque em crianças na idade escolar, mostrando algo preocupante nos dias de hoje por

justificar, muitas vezes, o fracasso escolar e distúrbios de comportamento de crianças e

adolescentes. A expressão fracasso escolar na visão de CHARLOT (2008, p. 14) “ é uma certa

maneira de verbalizar a experiência a vivência e a prática”. A reprovação em uma

determinada série ou ciclo e a não aquisição de conhecimentos e competências, se expressam

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como fracasso escolar. Segundo Mesquita (2009) o Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) é a nomenclatura médica usada a partir da década de 1990,

após outras denominações para caracterizar um quadro patológico que definia sintomas de

desatenção, hiperatividade e impulsividade como neurobiológicos, ou seja, (relativo a

neurobiologia, conjunto das disciplinas biológicas que estudam o sistema nervoso). Afirma

que sua etiologia é de origem genética, representada por alterações no funcionamento do lobo

pré-frontal do cérebro, área responsável pelo controle da atenção, da memória, do

autocontrole, pela organização e pelo planejamento. Essa área cerebral, quando afetada,

interfere na execução de tarefas e no processamento do pensamento, como consequência da

falta de regulação nos circuitos neurotransmissores.

O TDAH já foi visto como um defeito da conduta moral, sendo as crianças com esse

transtorno apontadas como de temperamento “violento”, desenfreadamente “revoltadas”,

“perversas”, “destrutivas”, que não respondem a castigos, “inquietas”, “perturbadoras”,

incapazes de manter a atenção e estudantes “problemáticos”. Essa visão era do pediatra

George Frederick Still, em uma série de conferências proferidas no Real Colégio de Medicina

de Londres em 1902, conforme Condemarín, Gorostegui e Milicic (2006). Na atualidade, os

rótulos que essas crianças recebem até confirmação do diagnóstico do transtorno são: “mal-

educados”, “preguiçosos”, “desinteressados”, “sem limites”, “capetas”, que vivem no “mundo

da lua”, “problemáticos”, “atrevidos”, “vagabundos” e outros adjetivos inadequados. Sabemos

o quanto esses rótulos podem influenciar, negativamente, a criança no comportamento, no seu

desempenho social, escolar e na sua auto-estima, tendo como consequências problemas de

ordem emocional e conduta.

A partir da década de 1960, começam a surgir outras denominações na literatura

médica sobre o TDAH. Vejamos:

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Quadro1 – Denominações médicas sobre o TDAH

Ano Fonte Denominação/características

1968 DSM-II Reação hipercinética

1978 CIE-9 Transtorno hipercinético

1980 DSM-III

Transtorno do Déficit de

Atenção com e sem

hiperatividade.

Aparece a desatenção como

característica, junto com a

hiperatividade.

1987 DSM-III-R Transtorno do Déficit de

Atenção com hiperatividade.

1992 CIE-10 Transtornos hipercinéticos

1994 DSM-IV

Transtorno por Déficit de

Atenção com hiperatividade;

tipo desatento, hiperativo,

impulsivo e combinado.

Distingue subtipos. Fonte: CONDEMARIM, GOROSTEGUI E MILICIC. (2006), p. 20.

Batista (1995), no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM –

IV, aponta como característica essencial do TDAH o padrão persistente de hiperatividade e/ou

impulsividade mais frequente e severo do que aquele habitualmente observado em indivíduos

com nível equivalente de desenvolvimento. Os sintomas que causam prejuízos às crianças às

vezes costumam estar presentes antes dos sete anos de idade, pelo menos em dois contextos

(em casa e na escola e/ou outro ambiente) e deve haver claras evidências de interferência no

funcionamento social, escolar e ocupacional.

O DSM-IV ainda destaca como características principais do transtorno: a desatenção,

hiperatividade e impulsividade, os quais conduzem a dificuldades permanentes e de início

precoce, em sua adaptação social e/ou em seu rendimento.

A desatenção pode manifestar-se em situações escolares e sociais. As crianças com

esse transtorno podem não prestar atenção a detalhes, cometer pequenos equívocos por

pequenos descuidos nas atividades escolares ou outras atividades por falta de cuidados e

atenção. Também é comum a dificuldade em manter atenção nas atividades lúdicas que requer

maior concentração.

A hiperatividade pode ser entendida como inquietação motora, às vezes agressiva,

passando a impressão de que as crianças estão “ligadas na tomada”, por estarem quase

constantemente em atividade. São comportamentos corriqueiros no universo escolar: não

ficar quieto na carteira, andar pela sala, correr, escalar e dificuldades de brincar em silêncio.

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O DSM – IV indica que a hiperatividade pode variar de acordo com a idade e nível de

desenvolvimento do indivíduo, devendo o diagnóstico ser feito com cautela em crianças

pequenas, pois crianças menores de sete anos possuem a inquietude, desatenção como um

comportamento normal para a idade. Por não serem cobrados tais esforços de concentração,

não é possível fazer um diagnóstico com precisão antes dos sete anos. As preocupações com

as crianças da educação infantil esta focada em suas características comportamentais, já com

crianças do ensino fundamental, se foca tanto no rendimento escolar quanto com seu

comportamento.

A impulsividade é um fator importante na caracterização do TDAH, pois causa quase

sempre prejuízos na interação social da criança e algumas vezes ações com risco físico real. O

DSM – IV postula que a impulsividade na criança com TDAH é caracterizada pela ação sem

controle racional. A criança age sem medir ou se preocupar com as consequências. Essa

característica repercute, negativamente, tanto no meio social como no da aprendizagem, pois

o aluno faz rapidamente a atividade proposta sem pensar no enunciado da questão, responde o

que lhe vem à cabeça e não faz a revisão necessária. Essa característica sempre causa o

insucesso nas avaliações escritas.

De acordo com Condemarím, Gorostegui e Milicic (2006), o trabalho das crianças

com TDAH é geralmente confuso, desorganizado, realizado sem a atenção necessária e com

frequência elas têm dificuldades em persistir em tarefas que necessitam um tempo mais longo

para serem executadas. As tarefas que exigem maior dedicação e esforço mental prolongado

ou maior nível de organização constante são vivenciadas como desagradáveis e

acentuadamente como aversivas. Essa evitação ocorre por dificuldades das crianças com a

atenção, e não devido a uma atitude de oposição primária ao adulto que é seu orientador. Já o

professor analisa de forma equivocada essa evitação e passa a julgar o comportamento do

aluno como oposição à sua pessoa. Frequentemente, essas crianças dão impressão de não

escutar o que foi dito, de estarem com a mente em outro lugar, são crianças barulhentas e

tendem a fazer as coisas fora da hora.

Outros profissionais clínicos, dentre eles Phelan (2005) e Mattos a(2010), confirmam

que o TDAH está calcado sobre três problemas primários: a dificuldade em manter a atenção,

o controle ou inibição de impulsos e a atividade excessiva. Esses aspectos são principalmente

apontados por professores, quando vão se referir aos seus alunos com problemas de TDAH.

Cortés, citado por Condemarín, Gorostegui e Milicic (2006), enfatiza o impacto na

aprendizagem. Para o autor, o transtorno é considerado como “alteração do desenvolvimento

caracterizado por falta de concentração, impulsividade e hiperatividade, associada a

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problemas de aprendizagem e conduta” (CORTÉS, 1998, apud CONDEMARÍN,

GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.23). Analisando a visão do autor, percebemos que em

seu ponto de vista o transtorno nem sempre está sozinho, muitas vezes é acompanhado com

outros problemas de aprendizagens e comportamentais, sendo uma das grandes dificuldades

da escola lidar com esses sintomas e suas consequências no processo ensino-aprendizagem.

Em busca de uma definição para o TDAH, encontramos Condemarín, Gorostegui e

Milicic (2006) que citam Kernberg, trazendo sua contribuição:

Padrão persistente de excessiva atividade diante de situações que requerem uma

execução motora restringida. As condutas que gera não parecem estar orientadas

para uma meta e o conjunto de ações é atípico, quanto à qualidade e à quantidade,

em relação ao esperado para idade (KERNBERG, 1980, apud CONDEMARÍN,

GOROSTEGUI, MILICIC, 2006, p. 21).

Analisando o quadro clínico de TDAH, Barkley citado por Condemarín, Gorostegui e

Milicic (2006) aponta:

Alteração do desenvolvimento da atenção, da impulsividade e da conduta regida por

regras (obediência, autocontrole e resolução de problemas) que se inicia nos

primeiros anos do desenvolvimento. É significativamente crônico e permanente e

não pode ser atribuído a retardo mental, déficit neurológico importante ou outras

alterações emocionais mais graves, como, por exemplo, a psicose ou o autismo

(BARKLEY, 1982, apud CONDEMARÍN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.

22).

Para Barkley, o TDAH é fundamentalmente um déficit na capacidade da pessoa de se

auto-regular e/ou se auto-controlar. Ele ainda afirma que as crianças com TDAH são:

Aquelas que „reagem impulsivamente e não apresentam a capacidade de se acalmar

e refletir, não usam as funções executivas que incluem a memória operacional

(manter os fatos relevantes em mente), o discurso interno (falar consigo mesma), a

regulação emocional (acalmar-se ou motivar-se) e a reconstituição (criar uma

solução ou resposta útil‟ (BARKLEY, 2002 apud BELLI, 2008, p.20).

Já Forster e Fernández (2003) definem o TDAH como:

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Um transtorno de conduta crônica com um substrato biológico muito importante,

mas não devido a uma única causa, com forte base genética, e formada por um grupo

heterogêneo de crianças. Inclui crianças com inteligência normal, ou muito próxima

do normal, que apresentam dificuldades significativas para adequar seu

comportamento e/ou aprendizagem à norma esperada para sua idade (FORSTER E

FERNÁNDEZ, 2003, apud CONDEMARÍN, GOROSTEGUI e MILICIC, 2006, p.

25).

Ao reunir essas definições, buscamos integrar várias perspectivas teóricas para

compreender o transtorno no enfoque neurológico, psicológico e escolar.

Na visão de Mattos b1 (2010) o TDAH “é uma exacerbação de características, um

exagero de algo pertencente a todo mundo como desatenção e inquietude”

Todos nós estamos sujeitos a esquecimentos, inquietudes e mesmo desatenção, porém

em eventuais situações. Já o portador de TDAH possui essas características em exagero e

constante repetição. Ainda, de acordo com o autor, acreditava-se que esse transtorno somente

atingia crianças e que os sintomas desapareceriam. Essas características não desaparecem,

pois são inerentes à criança; esses transtornos devem ser tratados para que na vida adulta

sejam amenizadas tais características, já que o transtorno não tem cura e, sim, o controle.

Ao trazer esses autores com a problematização do conceito de TDAH compreendemos

que a atenção, a inquietude é uma característica presente no modo geral no comportamento

infantil e assim devemos ser cuidadosos ao observar características em crianças, para que não

corramos o risco de fazer um pré-julgamento.

2.2 AS CAUSAS DO TDAH

Mattos a(2010) afirma que uma das causas possíveis para o surgimento do TDAH

pode ser de origem genética, sem que, necessariamente, todos os membros da mesma família

sofram do mesmo mal, havendo, contudo a possibilidade de maior índice de casos em

membros da mesma família. Existem também estudos relacionados à adoção, em que crianças

com TDAH podem ter o mesmo transtorno que seus pais biológicos, mas não os mesmos dos

1 MATTOS b (2010), em entrevista ao programa de Frente com Gabi exibido no dia:05/O9/2010)

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seus pais adotivos. Dar-se a entender que o ambiente familiar não é determinante para o

“aparecimento” do transtorno.

O TDAH pode estar ligado a riscos biológicos que podem afetar uma criança antes,

durante e depois de seu nascimento. Para Mattos a(2010), os únicos fatores não genéticos

envolvidos no aparecimento do TDAH são: problemas durante o parto, desnutrição e fumo

durante a gravidez. Já existiram outras teorias, sobre aditivos alimentares (corantes amarelos

e conservantes), excesso de açúcar na alimentação, luz fluorescente, deficiências de vitaminas

e problemas de tireóide, mas foram abandonadas por se revelarem falsas.

Nos dias de hoje, existem algumas suposições que relacionam a forma de educar as

crianças e aparecimento do TDAH. Na visão de Phelan (2005), esse distúrbio seria

basicamente hereditário, e fatores como riscos biológicos também contribuiriam para esse

surgimento, mas não a forma de educar. Sendo assim, a maneira de educar poderá acentuar os

sintomas de uma criança portadora do TDAH, e não desenvolvê-lo. Aconselha, assim, a tratar,

simultaneamente, a criança e seus pais, tendo em vista a grande quantidade de adultos com

esse distúrbio.

Segundo Vásquez, citado por Bautista et al. (1997), existe outro segmento de

investigação, em que defende as determinantes ambientais da hiperatividade: o clima familiar,

determinados parâmetros educacionais, as características maternas ou outros fatores tais como

o baixo nível socioeconômico e condições de vida precárias, que podem estar na base de um

comportamento hiperativo. Nesse caso, pensamos que muito se tem feito para descobrir quais

são as verdadeiras causas do TDAH. Várias suposições têm sido elaboradas, mas descobrir

quais são as suas causas é um processo muito amplo e requer muita pesquisa e atenção, pois,

como abordado pelos autores, problemas biológicos, psicológicos e educacionais podem

contribuir para a manifestação dos sintomas similares apresentados por pessoas portadoras de

TDAH.

2.3 O DIAGNÓSTICO DO TDAH

É importante salientar que o diagnóstico do Transtorno do Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) é quase sempre apresentado como “via ideal”, na maior

parte da literatura médica sobre o assunto, como enfatiza Mesquita (2009). Há um incentivo

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para tal diagnóstico, ao apresentá-lo como um alívio, uma solução, uma possibilidade de

sucesso ou, no mínimo, como um paliativo de um futuro desastroso. Para a autora, a aceitação

dos educadores, diante do diagnóstico, é a reação ideal apresentada nesses discursos.

Na internet2, proliferam páginas informativas e grupos de auto-ajuda envolvendo pais

de crianças diagnosticadas. Também ocorre o incentivo ao diagnóstico com uma motivação e

argumento dos pontos positivos, tendo como indicação uma lista de ilustres portadores, ainda

que os autores digam não ser possível precisar o diagnóstico dessas celebridades. São citados:

Albert Einstein, Fernando Pessoa, Henry Ford, James Dean, Leonardo da Vinci, Ludwig Van

Bethoven, Marlon Brando, Vicent Van Gogh, Wolfgang Amadeus Mozat e também o escritor

e cartunista brasileiro, Ziraldo Alves Pinto – “O menino maluquinho” – que carregam a

possibilidade desse rótulo (SILVA e REGIANI, 2002, apud MESQUITA, 2009).

De acordo com Phelan (2005) até o momento não foi desenvolvido nenhum exame

neurológico específico para detectar e diagnosticar o TDAH. O diagnóstico é feito por meio

de uma entrevista clínica, baseado na história de vida do portador e em informações sobre seu

comportamento obtidas pelos pais, professores e da própria criança, utilizando questionários,

entrevistas e escalas padronizadas. Outro recurso de apoio clínico utilizado no diagnóstico do

TDAH é o eletroencefalograma (EEG), um exame de ressonância nuclear magnética.

Conforme Vaz e Graeff (2008), a avaliação psicológica e o diagnóstico do Transtorno

de Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH) envolvem um processo delicado e complexo,

que demanda do profissional experiência clínica e conhecimento teórico. Para avaliar uma

criança com suspeita de TDAH, com cautela, é necessária a popularização de informações

nem sempre claras, principalmente no meio pedagógico. As escolas a cada dia apresentam

tendência de explicar o mau desempenho de seus alunos pela presença do TDAH. A avaliação

diagnóstica evita que crianças e adolescentes possam receber, equivocadamente o rótulo de

TDAH, e que outros indivíduos passem despercebidos e fiquem sem tratamento.

É consensual os critérios diagnósticos do Transtorno do Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

DSM-IV descritos no quadro 2.

2 www.universotdah.com.br

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Quadro 2 - Critérios Diagnósticos para TDAH

Critérios Diagnósticos para TDAH segundo o DSM-IV

A. Ou (1) ou (2)

1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses,

em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento:

Desatenção:

(a) frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em

atividades escolares, de trabalho ou outras

(b) com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas

(c) com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra

(d) com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas

domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou

incapacidade de compreender instruções)

(e) com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades

(f) com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exigem esforço

mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa)

(g) com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos,

tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais)

(h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa

(i) com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias

(2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos seis

meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento:

Hiperatividade:

(a) frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira

(b) frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se

espera que permaneça sentado

(c) frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado

(em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação)

(d) com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em

atividades de lazer

(e) está frequentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor”

(f) frequentemente fala em demasia

Impulsividade:

(g) frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas

(h) com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez

(i) frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em

conversas ou brincadeiras)

B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo

estavam presentes antes dos sete anos de idade.

C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por ex.,

na escola [ou trabalho] e em casa).

D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento

social, acadêmico ou ocupacional.

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Fonte: BATISTA, Dayse 1995 p.82.

Entre outros inventários de comportamento e escalas de avaliação do TDAH o

mais utilizado é o inventário de Conners (1969, 1970, 1973). É composto de duas escalas:

TRS, de 39 itens, dirigida ao professor e a PSQ, de 93 itens, para os pais. Vamos apresentar

uma versão abreviada do (ATRS) no quadro 2, com dez itens, que é a mais utilizada conforme

Vásquez citado por Bautista et al. (1997).

Quadro 3 - Inventário Abreviado de Conners (Atrs)

1. É desinquieto, não para de se mexer

2. É excitável, impulsivo

3. Incomoda as outras crianças

4. Tem dificuldade em terminar o que começou e custa-lhe manter a atenção

5. Enerva-se facilmente

6. Distrai-se com facilidade

7. Quer ver os seus pedidos satisfeitos imediatamente, abandona facilmente

8. Grita frequentemente

9. Tem alterações de humor rápidas e frequentes

10. Tem explosões de cólera e comportamentos agressivos e imprevisíveis.

Fonte: BAUTISTA et al. (1997), p.167.

Outra referência muito utilizada é a escala de classificação, demonstrada no

quadro 3, de Werry, Weiss e Peters também citada por Vásquez (1997).Essa escala fornece

informação sobre a atividade da criança em diferentes contextos. Uma pontuação acima de 15

pontos pode ser considerada significativa.

E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do

Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não são mais bem

explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de

Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade).

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Quadro 4 – Escala de Atividade da Criança

Em casa (durante as refeições) Nunca Algumas vezes Muito

1. Sobe e desce da cadeira

2. Interrompe a refeição sem razão

3. Mexe-se constantemente no assento

4. Brinca nervosamente com os objetos

5. Fala excessivamente

0

0

0

0

0

1

1

1

1

1

2

2

2

2

2

Em casa (enquanto vê televisão)

6. Levanta-se e senta-se

7. Balança o corpo

8. Brinca com objetos

9. Fala constantemente

10. Interrompe as outras pessoas

0

0

0

0

0

1

1

1

1

1

2

2

2

2

2

Em casa (durante as brincadeiras)

11. Mostra-se agressiva

12. Não está quieta

13. Muda constantemente de atividade

14. Procura a atenção dos pais

15. Fala excessivamente

16. Interfere nos jogos dos outros

17. Não mede o perigo

18. É impulsiva

19. É teimosa

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

1

1

1

1

1

1

1

1

2

2

2

2

2

2

2

2

2

Em casa (durante o sono)

20. Tem dificuldade em começar a dormir

21. Dorme pouco

22. Tem um sono agitado

0

0

0

1

1

1

2

2

2

Fora de casa (sem ser na escola)

23. É irrequieta nos transportes

24. Mostra- se irrequieta durante as compras

25. É irrequieta na igreja e/ou cinema

0

0

0

1

1

1

2

2

2

Hiperatividade: Avaliação e tratamento

26. É irrequieta durante as visitas

27. Desobedece constantemente

0

0

1

1

2

2

Na escola

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28. Não se concentra no trabalho

29. Aborrece os companheiros

30. Não permanece quieta no seu lugar

0

0

0

1

1

1

2

2

2

Fonte: VÁSQUEZ(1997) in BAUTISTA et al. (1997), p.168.

Uma das preocupações com o diagnóstico está ligada ao despreparo dos profissionais

que lidam com essas crianças, pois muitas vezes estão preocupados em controlar essas

características através da medicação sem se preocupar com estratégias adequadas para seu

desenvolvimento. Condemarín, Gorostegui e Milicic (2006) chamam a atenção sobre a forma

de diferenciar uma criança TDAH. É importante observar a intensidade, a frequência das

características do TDAH, a alteração da atenção, a impulsividade, a hiperatividade física e

mental. Lembramos que o principal instrumento de um médico ou pedagogo é a observação.

Essa mesma observação deve ser acrescida de relatos, entrevistas com pais, professores e

outras pessoas que convivem com a criança. Destacamos, ainda, que somente um especialista

no transtorno poderá fazê -lo.

Dentre as várias dificuldades de se realizar um diagnóstico, destacamos as

expectativas do meio social da criança, as diferenças culturais na interpretação do

comportamento da criança e o que se considera como hiperatividade.

Mesquita (2009) aponta Martins, Tramontina e Rohde (2003), que salientam:

[...] a clínica é sempre soberana para o diagnóstico do TDAH. Assim, qualquer

criança com sintoma de desatenção e/ou hiperatividade, apresentados de forma

acentuada em casa e na escola, deve receber o diagnóstico de TDAH, mesmo sem

apresentar alterações no exame neurológico, na avaliação neuropsicológica ou em

qualquer outro exame de neuroimagem (MARTINS, TRAMONTINA E ROHDE,

2003, apud MESQUITA, 2009, p.33).

Podemos questionar porque há tanta incidência de casos de TDAH hoje em dia, se

comparado a anos anteriores?

Phelan (2005) defende que o TDAH sempre esteve presente, mas nem sempre com a

mesma intensidade de hoje. Para o autor, a razão desse distúrbio estar sendo mais

diagnosticado agora, é o aumento de conscientização pública a respeito do problema. Nos

últimos 10 anos, houve um progresso na compreensão do transtorno, e mais portadores estão

sendo tratados adequadamente. Já para Mattos a(2010) o aumento do número de diagnósticos

do transtorno parece estar também associado a uma maior difusão do conhecimento, mas

reconhece que há um “modismo”. O TDAH tem sido visto como uma doença da moda, assim

como aconteceu com a depressão e com o autismo.

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Mesquita (2009) relata haver um grande número de diagnóstico, devido ao fato de que

o sistema educacional não está aberto às diversidades encontradas nesse ambiente. Citando

Falcão (2001):

Diante do modismo do TDAH, é mais fácil rotular uma criança de irriquieta de

“hiperativa” do que admitir que os recursos educacionais usados não estão sendo

adequados aquele aluno. Seguindo esse mesmo raciocínio, é dito, ainda, que a

maioria dos alunos faz parte dos “falsos hiperativos”, que são crianças que não se

adaptam ao esquema escolar e que se comportam como hiperativas sem ter

disfunção bioquímica. Ou seja, hiperativos construídos pela história educacional

(FALCÃO, 2001, apud MESQUITA, 2009, p. 16).

Em nossa reflexão sobre o destaque que vem ganhando o TDAH no espaço escolar,

concordamos com o ponto de vista de Phelan (2005), que defende que o TDAH sempre esteve

presente e tem se tornado um tema atual devido às recentes descobertas científicas em relação

ao transtorno. No ponto de vista de Mattos a(2010), o TDAH tem sido visto como

“modismo”. Concordamos com o autor, pois o TDAH é como a depressão que sempre existiu,

porém o TDAH, hoje, tem ganhado evidência , uma doença da moda.

Concordamos com Mesquita (2009), que relata o aumento do número de diagnósticos

na escola que não compreende integralmente o TDAH e, portanto, não consegue criar

possibilidades de desenvolvimento do aluno.

No processo de avaliação, Phelan (2005) orienta que a primeira entrevista deverá ser

feita com os pais, levando em conta o comportamento da criança em todo um contexto, antes

e depois de seu nascimento. Um segundo momento é com a própria criança. O especialista

deverá avaliar a visão que a criança tem sobre seu meio social, se sabe o motivo de ter sido

levada ao especialista, para verificar a consciência que ela tem do seu problema. Ainda,

segundo o autor, a escola tem fundamental importância neste processo diagnóstico, pois é no

ambiente escolar que a criança dará mais indícios de ser ou não um portador de TDAH. É

importante coletar dados anteriores como avaliações, relatórios, fichas de registro, se possível,

desde a Educação Infantil. Muitos pais guardam resultados escolares, que são úteis não apenas

pelas notas, mas também pelos comentários dos professores. No caso de crianças portadoras

de TDAH, são frequentes os comentários relacionados aos sintomas básicos, os quais se

repetem ano após anos. Essas contínuas observações podem ser do tipo “sempre andando de

lá para cá”, “atrapalha os outros”, “responde sem pensar”, “desiste muito facilmente de uma

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tarefa”, e assim por diante. Uma avaliação pedagógica sobre o desempenho escolar da criança

também deve ser considerada.

Ainda segundo Phelan (2005), um importante fato a ser observado no momento do

diagnóstico é a expressão bastante conhecida como “síndrome do tal pai, tal filho”. O pai

pode dizer, por exemplo, que quando estava no Ensino Fundamental, seu comportamento e

seu desempenho eram muitos parecidos com os de seu filho. Se uma criança tem TDAH, as

chances de o pai ou a mãe – ou de ambos – também terem TDAH é de 40% a 50%. Um irmão

com TDAH diagnosticado anteriormente é também um sinal de alerta e aumenta em cerca de

5% a 30% as chances para que a criança avaliada também seja portadora.

Mattos a(2010) aponta uma lista de problemas que acontecem com maior frequência

em crianças com TDAH, quando comparados a outras da mesma idade e classe social, porém

sem o transtorno. Crianças e adolescentes com TDAH se envolvem com maior frequência em

pequenos acidentes, problemas de aprendizagem escolar, reprovações, expulsões, abandono

escolar, maior incidência de abuso de álcool e drogas no final da adolescência, maior índice

de depressão e ansiedade.

Consideramos os problemas acima relacionados ao TDAH, como um alerta, pois nos

mostra o quanto podemos ajudar essas crianças com apoio pedagógico e familiar. O que

acontece, na maioria das vezes, é uma rotulação por parte de pais e professores, em relação ao

comportamento inadequado, prejudicando a auto-estima e desenvolvimento da criança.

O tratamento do TDAH, conforme Mesquita (2009), baseia-se numa terapêutica “para

todos”, mesmo que alguns teóricos mais cuidadosos apontem a particularidade. A orientação

médica, em geral, consiste na prescrição de estimulantes ou antidepressivos, de terapia

cognitivo-comportamental e de orientações à família e a escola. Não há um impedimento para

que a medicação seja considerada pela literatura médica, sendo a primeira intervenção.

Mattos a(2010), indica que a psicoterapia seria indicada em casos em que TDAH na

escola e em casa seja socialmente considerado de difícil solução. A psicoterapia pode auxiliar

a criança lidar melhor com seu comportamento no dia-a-dia, diminuindo o impacto no

relacionamento social. Os medicamentos mais usados são Ritalina, Ritalina LA, e Concerta.

Mesquita (2009) tem uma visão crítica do uso de medicamentos para o tratamento

TDAH, pois a literatura médica mostra que o uso do medicamento não satisfaz todas as

necessidades terapêuticas do TDAH. Porém, a medicação é concebida como essencial,

considerando a relação custo x benefício. Talvez, para os pais, possa ser mais fácil arcar com

os custos de um medicamento do que um tratamento terapêutico.

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Ainda, segundo a autora, o melhor tratamento seria intervenções terapêuticas, com a

indicação e orientação aos pais, escola e seus professores. As intervenções educacionais para

lidar com TDAH não parecem restritas somente a ele, pois são relevantes para a superação

dos impasses de qualquer processo ensino-aprendizagem.

3 ESCOLA E O TDAH

3.1 PATOLOGIZAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM

Compreendemos a escola como um lugar de maior importância para o

desenvolvimento da criança depois do ambiente familiar. É nesse espaço que a criança passa

boa parte de seu dia ou o dia inteiro. Sendo assim, a escola deverá ser um ambiente acolhedor,

preparado e estimulador, enfim, um ambiente favorável ao desenvolvimento cognitivo e social

para qualquer criança.

A escola é também o primeiro lugar fora do ambiente familiar onde se pode visualizar

as potencialidades de cada criança, e é também o lugar onde se torna mais visível suas

características e comportamentos que podem estar ligadas ou não ao transtorno.

No cenário escolar, não é difícil confirmar as observações de crianças com

manifestações do TDAH, por meio de queixas e relatos dos professores. Também é possível

observar a forte relação dos sintomas do TDAH com o fracasso escolar e com os desvios de

comportamento, ambos tão comuns no contexto escolar. Essa é a visão de Mesquita (2009),

com a qual concordamos, pois, em nossa prática de estágio, tivemos a oportunidade de

perceber que os professores muitas vezes se encontram despreparados para lidar com esse

transtorno, correndo o risco de fazer uma falsa interpretação, confundindo o mau

comportamento e inquietude com o TDAH. É preciso ter muita cautela para não correr esse

risco, pois às vezes o aluno possui alguns dos sintomas do TDAH, talvez por estar passando

por um problema, se comporta de maneira inquieta, desatentiva, comprometendo assim, seu

desempenho escolar, mas isso não quer dizer que ele tenha o Transtorno propriamente dito.

Outro aspecto apontado pela autora é sobre a crise que a escola vem enfrentando. Crise essa,

em sua condição de instituição, que se apresenta manifestada pelos

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mais variados problemas comportamentais, tais como: indisciplina, o desinteresse, o não

reconhecimento da autoridade, agressividade e violência.

Em meio a esse cenário, a escola atualmente se vê pressionada a responder sobre o

TDAH, o que exige, por parte dos profissionais inseridos nesse contexto, um posicionamento

e um conhecimento que ultrapasse o senso comum.

Para Mesquita (2009), a escola e o TDAH têm uma relação singular. Geralmente

quando a criança entra na escola, mediante às exigências desse ambiente é que os sintomas do

TDAH começam a ser descritos. Para a autora, esse transtorno é a principal causa do

encaminhamento de crianças em idade escolar para serviços especializados. Ainda segundo a

autora, pesquisas acadêmicas mostram que, em grande parte, a escola supervaloriza a

abordagem neurobiológica e farmacológica da problemática desse transtorno e subestima

evidências psicossociais e a inadequação do sistema educacional para lidar com a diferença

das crianças.

Ao longo da história, a educação mostrou-se vinculada a um discurso alheio sempre

que desejava nomear alunos que apresentavam dificuldades na escola. Talvez por tentar

responder sobre a impossibilidade de educar, a educação se deixa levar por uma repetição de

sintomas que insistem em serem nomeados, em favor de separar, diagnosticar, e, atualmente,

medicar. É o que afirma Mesquita (2009).

Segundo Cordié (1996), presente em Mesquita (2009), “cada época produz suas

patologias”, pois a evolução da sociedade favorece o nascimento de novos sintomas e o

sujeito encontra novas formas de expressar seu sofrimento, na esperança de ser bem ouvido.

Dessa forma, ainda segundo a autora, patologias no âmbito escolar, ou seja, o “fracasso

escolar” começaram a surgir com a instauração da escolaridade obrigatória no fim do século

XIX, em consequência da transformação radical da sociedade cada vez mais tecnicista,

assumindo posição considerável nas preocupações de nossos contemporâneos.

Outras pesquisadoras que examinam o tema da patologização do processo ensino-

aprendizagem são Collares e Moysés (1992), em um estudo na cidade de Campinas (SP) que

buscava avaliar a dimensão da medicalização nas escolas. A investigação qualitativa

pretendia, dentre outros objetivos, estudar as consequências psicológicas desse processo

sobre a criança, as repercussões do estigma de “doente” sobre a auto-estima e autoconceito. A

autora indaga o que faz com que uma instituição escolar não esteja interessada em saber se

um aluno seu tem algum problema, mas queira, exclusivamente, que se confirme um

diagnóstico prévio, feito na própria escola, pela professora. Segundo Mesquita (2009), nos

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momentos de grande tensão social, a resposta da sociedade sempre foi no sentido de

biologizar as questões sociais presentes no foco dos conflitos.

As pesquisadoras Collares e Moysés (1992) aponta o processo de biologização na

escola que, geralmente, se manifesta colocando como causa do fracasso- escolar a “doença”

da criança. Assim, a escola desarticula-se de uma discussão político-pedagógica a ser

realizada pretendendo compreender as causas e soluções pretensamente médicas, portanto

inacessíveis à educação. A isso ela chama de medicalização do processo ensino-

aprendizagem, ou seja, desloca-se o eixo de uma discussão político-pedagógica para causas e

soluções da medicina. A escola deixa de se responsabilizar pelo aluno e transforma as

dificuldades em patologias. Conforme a autora, outros profissionais estão envolvidos nesse

processo; agora, não só o médico, mas também, o enfermeiro, o psicólogo, o fonoaudiólogo,

o psicopedagogo, o terapeuta ocupacional. Cabe refletir se não estamos vivendo, no momento

atual, a medicalização em relação ao aluno com TDAH. Uma interessante conclusão desse

estudo é que “nenhum professor indicou uma só criança que seria ou já tinha sido reprovada,

por problema de ordem pedagógica”. As possíveis causas foram centradas na criança e na

família.

O estudo de Collares e Moysés, (1992), aponta o discurso dos diretores e professores,

demonstrando a sensação de que estamos diante de um sistema educacional perfeito, em que

as crianças vivem uma vida artificial, sem nenhum tipo de problema. Para as crianças que têm

seus problemas, suas limitações, seus conflitos pessoais, ou seja, que vivem neste mundo real,

os professores parecem considerar muito difícil, se não impossível ensinar. Há, uma busca de

um aluno “ideal”, sem conflitos ou dificuldades.

De acordo com Collares e Moysés (1992), para atender às necessidades do aluno real,

que tem problemas, erros inerentes ao processo de aprender, é necessário transformar o

cotidiano escolar em uma escola que propague os mitos de igualdade de oportunidades.

Entendemos que o projeto pedagógico da escola é muito importante para definir

estratégias e ações, no intuito de atender as necessidades de cada aluno. Para tanto, o projeto

pedagógico deve ser flexível, para contribuir e adaptar-se a essas diversas necessidades, ou

seja, fazendo acomodações e ajustes para melhor atender todos os alunos sem discriminação.

Lembrando que a Diversidade, de acordo com Mantoan (2006), é o novo paradigma da

educação seu princípio é que a escola deve acolher a todas as crianças, incluindo os com

necessidades especiais e desenvolva uma pedagogia capaz de educar com sucesso a todos,

considerando as suas diferenças.

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Na visão das pesquisadoras Collares e Moysés (1992), é fundamental investir nos

professores, na sua formação, permitindo-lhes apropriar-se de novos conhecimentos

científicos, novas teorias educacionais, sendo necessário que tenham como fator inicial a sua

interferência no cotidiano escolar para assim romper os preconceitos e promover o

aprendizado, ser capaz de transformar seu próprio cotidiano, tirar a culpa da criança por não

se alfabetizar por ser doente, ou por suas famílias não se interessarem. Somente através de

rupturas de preconceitos será possível construir uma escola politicamente comprometida com

todos os seus alunos.

Mesquita (2009) acredita que o ideal da adaptação escolar sempre fracassa e que sua

consequência é a supressão das diferenças singulares de cada aluno. Esse ideal de adaptação

escolar separa ao classificar, com um significante científico, todos os casos de alunos que têm

dificuldades. Entendemos que a autora acredita que o modo pelo qual a escola lida com os

alunos, extinguindo, não reconhecendo que cada aluno é único, com suas diferenças, faz com

que a adaptação fracasse, ou seja, ela separa os alunos, os “normais” dos com necessidades

especiais. Para a escola, basta o aluno ter dificuldade em se adaptar para que ela o rotule.

No intuito de atender as diferenças dos alunos, segundo Mesquita (2009) essas

diferenças, quando identificadas, passam a ser insuportáveis e remediadas, através de sua

normalização com base em um ideal de adaptação do aluno. A autora considera que a parceria

entre a medicina e a educação culminou na constituição do campo da psicologia do Brasil e se

tornou viável por meio do movimento de higiene mental.

3.2 O IMPACTO NA VIDA DOS ALUNOS

Condemarín, Gorostegui e Milicic (2006) descrevem que a criança com TDAH,

frequentemente, se comporta de modo desagradável para com os demais, e por isso costuma

receber recriminações verbais, quando não castigos físicos. Em casa e na escola, é

considerada como difícil de lidar, o que causa prejuízo nas relações de amizade dessa criança.

Com frequência, a criança com TDAH mostra indicadores de ansiedade e stress. Em geral,

esse estado afetivo é resultado das exigências de diversos ambientes: casa, rua, escola, estudo,

convivência com irmão, colegas, professores, etc.

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Esse estado emocional negativo nas crianças tende a produzir como consequência um

baixo nível de processamento cognitivo, na forma do processo ensino-aprendizagem

Pesquisadores como Yasutake e Bryan (1995), citado em Condemarím, Gorostegui e Milicic

(2006), descrevem que, como essas crianças estão expostas a contínuos insucessos nas

atividades escolares e sociais, tendem a sofrer influências negativas na sua aprendizagem.

Nessa perspectiva, para ajudar as crianças a enfrentarem suas dificuldades e minimizar o

impacto emocional vivenciado, sugerem a indução de estados emocionais positivos, o que

consequentemente beneficiariam a aprendizagem.

Diante desses estudos, acreditamos que o rendimento escolar de crianças que possuem

TDAH fica comprometido. O baixo rendimento costuma ser o resultado de aprendizagens

incompletas ou incorretas de habilidades básicas para um bom rendimento acadêmico, tais

como a leitura, a escrita, a expressão escrita, etc., o que, somado às características próprias do

TDAH, faz com que as dificuldades sejam potencializadas.

Não é difícil concluir que “as crianças com dificuldades para aprender constituem um

grupo com alto risco de ter autoestima negativa” devido à repetição de experiências de

fracasso e baixa expectativa. HAEUSSLER e MILICIC (1995), apud CONDEMARÍM,

GOROSTEGUI e MILICIC (2006, p. 94)

A repetição de situações de insucesso, como é o caso da grande maioria de crianças

com TDAH, geram sentimentos de incompetência, que “nunca terão sucesso”, sentimentos de

desesperança diante das aprendizagens, sintomas depressivos, podendo ocasionar outros

sintomas psicológicos. É significativo que o professor possa conhecer e considerar os pontos

“mais fortes” como suas habilidades , o desempenho dessas crianças e quais são os interesses

que as motivam, e a partir daí, planejar atividades que capitalizem suas potencialidades.

Para Céspedes, citado por Condemarim, Gorostegui e Milicic (2006), o que move o

êxito, e a motivação, é a autoestima, que caracteriza-se como “sentimento do próprio valor e

do próprio poder”. CÉSPEDES apud CONDEMARIM, GOROSTEGUI E MILICIC, (2006,

p. 93). Assim, se a criança tem confiança nos adultos, pode progredir assimilando um discurso

positivo à sua volta: “meus pais, meus professores, meus amigos me ajudam a conhecer meus

erros e a superá-los; eles acreditam em mim, me valorizam”. CÉSPEDES apud

CONDEMARIM, GOROSTEGUI E MILICIC, (2006, p. 93). Essa atitude positiva é possível

ser desenvolvida por pais e professores como uma ação de valor no apoio ao aluno.

Acreditamos que os adultos, pais e professores que convivem com a criança podem auxiliá-la

a desenvolver uma autoimagem positiva e lidar com o erro como inerente ao processo de

ensino aprendizagem.

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3.3 OS PROFESSORES PODEM AJUDAR

Segundo Mattos a(2010), é importante que o professor tenha em mente a diferença

entre “dificuldades em adaptar ao sistema educacional” e “impossibilidade de aprendizagem”.

Muitas crianças que têm TDAH são muito inteligentes, se lhes dermos uma oportunidades de

igualdade elas poderão ser bem-sucedidas. “Lembre-se de que a justiça não é dar a todo

mundo a mesma coisa, mas dar a qualquer um o que cada um precisa” (MATTOS, 2010, p.

127).

É imprescindível que o educador tenha conhecimento sobre TDAH e saiba lidar com

esse transtorno, assim como o acompanhamento da família durante o processo educativo da

criança. O professor precisa conhecer o transtorno e saber diferenciá-lo de “má educação”,

“intolerância” ou “preguiça”, além de saber equilibrar as necessidades de um portador de

TDAH com a demanda dos demais alunos, utilizando, se necessário, técnicas e materiais

“alternativos”, como: brincadeiras, jogos e aulas dinâmicas, buscando alcançar um bom

desempenho do portador do transtorno, pois este necessita de um tratamento diferenciado para

que aumente suas chances de sucesso (MATTOS,a 2010).

Cabe ao sistema educacional notar a diferença no ritmo de aprendizagem dos seus

alunos, auxiliá-los diferentemente, de acordo com suas necessidades, e desenvolver

estratégias para que consiga alcançar a todos. Sabemos que a escola do mundo

contemporâneo se apropria de um discurso de que está aberta às diversidades encontradas no

ambiente escolar, de formação de um sujeito crítico, ativo e reflexivo. Porém a realidade

encontrada é diferente, pois cada vez mais os professores se sentem perdidos, sem instrução,

sem uma estrutura adequada para lidar com essas diferenças individuais. Seria necessária uma

revolução, uma política educacional ativa, para que os projetos e os processos de ensino-

aprendizagem tenham sucesso.

Na visão de Belli (2008), os rótulos que as crianças recebem é um exagero, pois basta

a criança possuir um comportamento inadequado em sala de aula e no ambiente social,

apresentarem problemas educacionais e psicológicos para serem taxadas como portadoras de

TDAH. Concordamos com a autora quando afirma que é preciso dar atenção aos

comportamentos com o “olhar pedagógico” buscando análise e possíveis soluções com os

profissionais da educação.

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Em maior parte das vezes, as crianças chamam muito a atenção em sala de aula devido

a sua maneira impulsiva, agindo, de forma inadequada, fugindo da visão que a escola tem de

um ideal de aluno, ou seja, aquele que se comporta bem, em que o desenvolvimento da sua

aprendizagem é melhor.

Encontramos em Belli (2008), uma frase que nos fez refletir sobre o papel do educador

e seu posicionamento diante dos educandos:

Aprendemos de quem recebe o caráter de ensinante. Aprendemos quando podemos

confiar (nos outros, em nós e no espaço). Aprendemos com quem nos escuta.

Aprendemos se nos escutamos. Aprendemos quando o ensinante nos reconhece (nos

vê como pensantes) (FERNÁNDES apud BELLI, 2008, p. 49).

Para Condemarín, Gorostegui e Milicic (2006), há um consenso no grande interesse

dessas crianças pela natureza e pelo meio ambiente, o que somado ao seu temperamento

criativo e à sua sensibilidade visual, as tornam excelentes participantes em atividades ao ar

livre, em tarefas menos estruturadas do que as rotineiras dentro da sala de aula, possibilitando

situações em que seu desempenho seja bem sucedido. Algumas crianças possuem talento para

música e, ao se expressar através desta, a criança adquire uma visão mais positiva em relação

a si própria e à aprendizagem. Outra área na qual podem também se destacarem é a

computação eletrônica, aproveitando suas destrezas e habilidades (que em geral empregam

em brincadeiras); é por isso que podem ser encarregadas de projetos em que estas habilidades

sejam colocadas a serviço de objetivos pedagógicos. Manifestam, também, interesse pelas

atribuições científicas e tecnológicas, e, por isso, deve se estimular sua participação em

atividades de investigação relacionadas com essas áreas de conhecimento.

O professor pode ajudar e muito. Adaptar algumas tarefas ajuda a amenizar os efeitos

mais prejudiciais do transtorno. Evitar salas com muitos estímulos é a primeira providência,

deixar alunos com TDAH próximos a janelas pode prejudicá-los, uma vez que o movimento

da rua ou do pátio é um fator de distração. Outra dica é o trabalho em pequenos grupos, que

favorece a concentração, já que a energia típica dessa condição pode ser canalizada para

funções práticas na sala, como distribuir e organizar o material das atividades. Também é

importante reconhecer os momentos de exaustão, considerando a duração das tarefas. Propor

intervalos em leituras longas ou sugerir uma pausa para tomar água após uma sequência de

exercícios, por exemplo, é um caminho para o aluno retomar o trabalho quando estiver mais

focado. Para complementar, vale sempre avaliar se as atividades propostas são desafiadoras e

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se a rotina não está repetitiva, sendo esta uma reflexão importante para motivar não apenas os

estudantes com TDAH, mas toda a turma de acordo com Belli (2008).

Ainda de acordo com a autora, isso exigirá do educador um trabalho exaustivo, porém,

se tornando muito compensador quando se atingir os objetivos educacionais. Belli (2008,

p.51) cita alguns recursos que podem ser utilizados, dentre eles:

a)Uso de retroprojetor, com esquemas e roteiros;

b)Aulas apresentadas em PowerPoint;

c)Filmes de curta duração;

d)Desenhos: podem ser já prontos ou serem elaborados pelos alunos, incluindo a confecção de

desenhos com materiais que possam ser feitos em diferentes perspectivas;

e)Histórias, fatos históricos, contos, histórias em quadrinhos...: já redigidos para que possam

ouvir, cortar, montar, recriar ou então redigidos e inventados por eles;

f)Computadores: pesquisas na internet, jogos, programas de aulas já prontos sobre

determinados assuntos;

g) Músicas: podem somar a uma determinada aula como forma de acalmar ou criar

determinada atmosfera ou pode- se confeccionar letras, raps com o assunto desenvolvido em

sala;

h)Jogos. Aulas ao ar livre e em laboratórios, pois se estimulam com a novidade.

i)Manuseio de sucatas.

Em nossa visão, o professor deve centrar mais sua atenção nas potencialidades de seus

alunos, a fim de construir atividades, esquemas de ação que contribuam para o

desenvolvimento de suas habilidades e possibilitem a sua aprendizagem através das

características particulares de cada um. Com estratégias diferenciadas, o professor poderá

auxiliar a criança a desenvolver atitudes positivas perante a escola e a diminuir problemas de

concentração e comportamento.

3.4 COMO ACOMPANHAR E APOIAR O ALUNO

É importante que o professor conheça as dificuldades do aluno com TDAH, e procure

ter um diálogo franco sobre seus problemas, com intuito de ajudá- lo a superar o transtorno.

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Assim, o professor conseguirá junto ao aluno um desempenho significativo ao longo de seu

processo de tratamento.

Pacheco (2006), presente em Soares (2008), propõe características de um ambiente

escolar que possam ajudar alunos TDAH a superarem suas dificuldades:

a) Uma classe com tamanho razoável e com distrações limitadas. Ruídos excessivos de fundo

e/ou salas abarrotadas podem comprometer o potencial de aprendizagem de toda uma turma

especialmente dos alunos com TDAH;

b)Uma atmosfera não competitiva. Em geral, as crianças com TDAH produzem melhor

quando trabalham cooperativamente;

c) Uma abordagem organizada à aprendizagem, ou seja, uma rotina consistente, com

procedimentos claros, horários previsíveis e foco sobre habilidades básicas;

d) “Atividades de enriquecimento” como passeios, música, arte e teatro, são componentes

preciosos do currículo e, com frequência, oferecem oportunidades de destaque a esses alunos;

e) Flexibilidade. Muitas vezes a criança precisa de um tempo adicional para realizar com

sucesso as tarefas. Quando limite de tempo é imposto sobre a instrução, os estudantes

consideram difícil concluir suas tarefas;

f) Claras expectativas para a aquisição escolar. Os estudantes beneficiam-se mais quando os

objetivos da atividade são claros e estão vinculados a práticas específicas de aprendizagem;

g) Monitoramento efetivo do desempenho do aluno. Sejam quais forem os métodos de

monitoramento usados, é importante que os professores mantenham os pais informados sobre

o progresso do aluno;

h) Amplo feedback positivo. Testes e textos devolvidos prontamente, relatórios de progresso

semanais ou mensais e gráficos que ilustram o progresso em relação aos objetivos, têm efeito

comprovadamente positivo sobre a aprendizagem;

i) Um professor que oferece orientações efetivas. Os melhores professores para crianças com

TDAH são aqueles que assumem um papel ativo na Educação e passam uma boa parte de seu

tempo envolvido diretamente com os estudantes. Os professores efetivos modelam e reforçam

o respeito pelos outros e os bons modos sociais na sala de aula.

Outra sugestão às famílias é oferecida por Mattos (2005), encontrado em Soares

(2008), propõe alguns critérios que podem ser observados na hora de escolher uma escola

para a criança com TDAH:

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a)As escolas que respeitam as diferenças de aprendizagem e que apresentam alguma

possibilidade de adaptar o método de ensino às necessidades da criança;

b)As escolas que utilizam critérios diversificados ao avaliar o aluno;

c)Classes com poucos alunos;

d)A decoração não deve ser muito estimulante;

e)As mesas não devem ficar muito próximas;

Acrescentamos que além dos critérios de Mattos (2005), citados em Soares (2008), a

família poderá visitar a escola, conversar com o pedagogo para conhecer melhor a proposta

pedagógica da escola, além de se informar sobre os apoios que a escola poderá oferecer ao

aluno.

Phelan (2005) também sugere aos pais, após a confirmação do diagnóstico, que

busquem conhecimentos sobre TDAH, informando sempre a criança a respeito do transtorno

em uma linguagem apropriada a sua idade. Já a escola deverá também estar envolvida nesse

processo, devidamente orientada por um especialista, com material impresso, indicação de

livros, associações ou site da internet etc. Outra sugestão interessante é a escola promover

palestras aos professores e pais sobre o transtorno. O trabalho conjunto favorece escola e

família a tratar a criança sem estereótipos facilitando, assim, o processo de melhor adaptação

social e o processo de ensino-aprendizagem dessa criança.

3.5 PROJETO PERSONAL DE ENSINO

Diante da importância de oferecer apoio educacional ao aluno com o TDAH, Belli

(2008) estruturou por meio de pesquisa, estudo e diálogo com profissionais da área de saúde

e educação o “ Projeto Personal de Ensino” .

O projeto propõe um acompanhamento psicopedagógico e pedagógico domiciliar,

oferecendo ao aluno portador de TDAH a oportunidade de dar outro significado e transformar

a sua modalidade de aprendizagem. Nos Estados Unidos, têm-se obtido grandes resultados

com esse projeto. No Brasil, o Projeto Personal de Ensino é desenvolvido pela Clínica do

Comportamento, no Rio de Janeiro, coordenada pela Dra. Ana Beatriz B. da Silva e em São

Paulo, coordenado por Alexandra Amadio Belli.

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O projeto procura auxiliar o aluno a redescobrir o desejo de aprender, contribuindo,

assim, para uma melhora significativa de sua aprendizagem, pois sem o “desejo”, diz Belli

(2008), o aluno não busca a conquista do conhecimento. A autora esclarece

A intervenção “Personal de Ensino” apresenta ao aluno o que é estudar e como é

estudar. É com olhar psicopedagógico, de compreensão e de tratamento dos

problemas de aprendizagem, de técnicas e práticas educativas, que o profissional do

projeto Personal do Ensino atua ajudando o aluno a desenvolver sua autonomia e

incorporar hábitos de estudo saudáveis (BELLI, 2008, p. 76).

Para a intervenção do Personal de Ensino, realiza-se uma avaliação do processo de

aprendizagem do aluno, com técnicas específicas da Psicopedagogia e Pedagogia. A

intervenção poderá ocorrer em um contrato de trabalho diário, com períodos de até duas

horas. Nessa intervenção, o profissional tem como meta auxiliar a criança a adquirir hábitos e

organização no estudo. Estudar é converter as informações e conhecimentos recebidos em sala

de aula em saber, e, conforme Belli (2008), é um trabalho que requer empenho, dedicação e

perseverança, habilidades, que são normalmente difíceis para quem é portador de TDAH.

Belli (2008, p. 77) descreve a abrangência do trabalho do Personal de Ensino:

a) o espaço físico e o material: o personal de ensino preocupa-se em identificar um espaço

físico ideal para o estudo em casa e quando não existe, solicita e orienta a família sobre as

providências necessárias. Segundo Belli (2008), esse espaço precisa ser sossegado, com boa

iluminação, arejado, somente com os materiais necessários para o estudo. É importante que

não haja outros objetos como: fotos, revistas, brinquedos, objetos de estimação etc., que

provoquem a distração do aluno. Também devem ser providenciadas canetas de cor

azul/preta, lápis/lapiseiras, borrachas, apontadores, conjunto de caneta hidrográfica, diversos

lápis de cor, régua, tesoura, cola, corretivo, calculadora, muito papel para rascunho, catálogo

(com 30 sacos plásticos), ou pasta arquivo com divisórias, adesivos coloridos ou com dizeres

“atenção”, “perguntar”, “estudar”, “matéria nova”, “descobrir”, “pesquisar”, “aprender”,

“lembrar”. Esse material faz parte de um Kit para realização do trabalho.

b) placas, fotos, recursos visuais de sinalização: indica-se o uso de um mural, ou lousa (de

qualquer modelo), prancheta, de um móbile com pregador onde poderão, segundo a autora,

serem coladas orientações ou lembretes, com poucas palavras e um discurso direto. Esses

“lembretes são úteis para organizar e devem estar visíveis e em destaque. porém o educador

deve tomar cuidado para não sobrecarregar e provocar um cansaço visual.

c) O uso de um roteiro das atividades do seu dia-a-dia (providências a serem tomadas)

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d) Agenda do mês: (marcar no calendário, datas importantes como; dia de prova e entrega de

trabalhos pelo aluno).

e) Arrumação da mochila escolar: ( arrumar o estojo , olhar as aulas do dia seguinte, separar

os livros dos cadernos, verificar agenda se há alguma anotação e colocar na ordem das aulas

esse material).

f) Arquivar e guardar material da escola e estudo: Sugere-se providenciar caixas

etiquetadas com os nomes das matérias, de preferência que sejam de cores diferentes ou então

que o escrito seja diferenciado pela cor, para que o aluno consiga guardar em um único lugar

todo o material referente àquela determinada disciplina. Outras sugestões são armário com

divisórias ou gavetas etiquetadas, pasta arquivo com divisões para cada matéria ou pasta

catálogo com sacos plásticos, no qual serão arquivados os resumos, esquemas, fichamentos,

desenhos etc., realizados os momentos da revisão do conteúdo e estudo diário feito em casa.

g) Organização do espaço: uma das maneiras bem práticas para organizar o espaço é

arrumar e tirar uma foto do local. Anexar essa foto ao lado desse espaço para que sirva de

referência.

Belli (2008) ainda propõe estratégias para portadores do Transtorno, técnicas que podem

ajudar na organização de seus estudos:

→Técnicas de estudo:

Pratique a leitura. Certifique-se de que entendeu o que leu, para isso.

Consulte um dicionário sempre que encontrar palavras desconhecidas.

Verbalize com suas palavras o que leu.

Leia quantas vezes forem necessárias para conseguir uma compreensão exata do texto.

Leia em voz alta sempre que o texto lhe parecer sem sentido, pois a entonação ajuda a

compreensão.

Pratique a escrita:

Elabore pequenas histórias, pelo menos, uma vez por semana.

Escreva um diário.

Escreva e-mails para amigos e personal de ensino.

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Procure explicar e ensinar a alguém o que aprendeu. Dê aulas sobre o assunto do seu

estudo aos colegas, aos pais e ao personal de ensino. Se não tiver para quem falar, fale

para as paredes, mas fale, ensine.

Faça associações. Relacione o conteúdo de estudo com números, palavras, situações

engraçadas, acontecimentos pessoais importantes ou pessoas queridas.

Revise periodicamente a matéria, isso faz com que seu estudo seja armazenado na

memória de longo prazo.

Faça resumo da matéria, utilizando palavras-chaves, itens, assuntos em fluxogramas,

cores, formas, porque lhe ajudará na memorização e lhe facilitará nas revisões. É mais

fácil resgatar da memória a imagem do fluxograma, desenhos, palavras-chaves, do que

páginas escritas.

Faça fichamento diário do conteúdo dado em sala de aula. Assim, no final de um

bimestre terá o resumo da matéria da prova pronto para recordar.

g)Práticas Psicopedagógicas: serão utilizadas de acordo com a particularidade de cada

criança com TDAH e de seu diagnóstico. Recomendam-se o uso de jogos, contos de fadas e

histórias. Através dos jogos, os alunos experimentam o desenvolvimento das relações sociais

e emocionais, aprendem com as regras, a perder e a ganhar, acertar e errar e aprendem a

cooperar e com a competitividade. Desenvolvem o raciocínio lógico, o desenvolvimento

cognitivo através das possibilidades de visualizar o seu erro, o porquê do erro e se tem a

chance de refazer numa próxima jogada a maneira correta. Já com os contos de fadas e as

histórias, temos a oportunidade de trabalhar com a linguagem que é o modo de se expressar,

se expor no mundo. Também a leitura, a escrita e a narrativa podem ser trabalhadas, com

prazer, a partir da leitura de contos de fadas e histórias, propiciando, assim, um equilíbrio

entre a realidade e a subjetividade de cada um.

Consideramos o Personal de Ensino como uma estratégia muito interessante e de

grande relevância, pois o processo de ensino/aprendizagem não se restringe apenas no espaço

escolar. O Personal de ensino procura satisfazer as necessidades educativas especiais do

portador do TDAH não apenas na escola, mas também em sua casa, com auxílio de seus

familiares, criando uma nova modalidade de ensino, contribuindo para que esse aluno

redescubra o saber, as suas habilidades, seus potenciais, promovendo, assim, a sua

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aprendizagem. Porém, lembramos que uma criança mais velha, ou pré – adolescente se

beneficiará mais do Personal de Ensino.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização da revisão bibliográfica, podemos dizer que o tema exposto é

bastante abrangente e nos permite fazer algumas considerações sobre a criança portadora do

TDAH no espaço escolar, ao procurar esclarecer: o que é o TDAH? Como se caracteriza seu

diagnóstico? Como lidar com as dificuldades de comportamento e os conflitos que esse aluno

apresenta em sala de aula? Como trabalhar a capacidade dessa criança? Como favorecer o

processo de ensino aprendizagem?

Os estudos teóricos possibilitaram a compreensão sobre o TDAH; acreditamos ser

um transtorno de origem genética, tendo como principal característica a desatenção. Na

maioria dos casos, essas características estão associadas à hiperatividade, gerando um

comportamento perturbador do portador dificultando seu convívio social. O diagnóstico

desse transtorno poderá ser feito somente por um especialista.

A partir das leituras, constatamos que a posição do educador diante desse transtorno é,

primeiramente, conhecer o TDAH, identificando suas características e não as confundindo

com “má-educação”, “preguiça”, ou, até mesmo, uma oposição a sua pessoa, ou seja, o

educador pode ter a impressão de que o aluno não se comporta bem ou não aprende como um

modo de provocação ou “birra”.

O educador precisa ser paciente e criativo, elaborando sempre estratégias para que o

portador desse transtorno tenha um melhor desenvolvimento em suas atividades. Cabe ao

educador reconhecer, também, as diversidades encontradas em sala de aula e propor

atividades que possam atender a cada criança.

Diante das estratégias usadas, com o intuito de oferecer o apoio educacional ao aluno

com TDAH, podemos citar o Projeto Personal de Ensino, utilizado por Belli (2008), que

propõe desenvolver a autonomia desse aluno e hábitos de estudos saudáveis, resultando numa

melhora significativa de sua aprendizagem. O projeto sugere um acompanhamento

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psicopedagógico domiciliar. Esse projeto é um instrumento que todo educador deve conhecer

e utilizá-lo em sua prática, pois, através dele, é possível alcançar bons resultados.

Esse trabalho nos permitiu fazer algumas considerações sobre a criança com

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no espaço escolar, abrindo nosso

olhar diante do portador do TDAH, acrescentando em nossa formação o desejo de sermos

educadoras engajadas no objetivo de construir uma prática pedagógica capaz de possibilitar a

inclusão desse sujeito no processo de ensino aprendizagem. Compreendemos que ser

educadoras engajadas é ter um olhar sensível a cada criança, e não incluirmos no grupo de

educadoras que rotulam. Estamos sensibilizadas pela forma de como o TDAH é visto, até

então, pela sociedade que, muitas vezes, enxerga o portador como um “cérebro defeituoso”,

não levando em consideração seus sentimentos em meio aos olhares em torno dele.

Durante a construção desse trabalho, tivemos surpresas em relação ao tema. Foi

possível compreender o que realmente é “ter TDAH”, que o professor não realiza diagnóstico,

o peso que o rótulo tem na criança, os critérios utilizados para realização do diagnóstico e a

prática educacional frente ao TDAH. Foi possível perceber a necessidade de todo o contexto,

das disciplinas estudadas por nós, alunas do curso, no sistema educacional.

Refletimos sobre a prática atual do educador que, às vezes, por não ter o conhecimento

do TDAH nem ter sido orientado para lidar com o transtorno, acaba rotulando seus alunos,

sendo eles ou não portadores do TDAH.

Confirmamos que este trabalho nos serviu de base para futuros estudos de

aprofundamento sobre o TDAH, pois sabemos que, como futuras educadoras, em nossa

prática de trabalho, vamos conviver com alunos com esse transtorno, e outros com

dificuldades de aprendizagens. Temos a convicção de que seremos educadoras

comprometidas e sensíveis com um olhar atento a essas diversidades. Além de considerarmos

o aprimoramento como fundamental, pois sempre surgem novos dados e pesquisas, que nos

levam a pensar em novas práticas de ensino.

Ao Finalizarmos, recorremos a um educador que diz: “Um excelente educador não é

um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para

aprender.” CURY (2003, p.17).

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