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1 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO BRUNA LIMA RODRIGUES AS LENTES DE EVANDRO TEIXEIRA SOB A DITADURA MILITAR DE 1964 RIO DE JANEIRO RJ 2016

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

BRUNA LIMA RODRIGUES

AS LENTES DE EVANDRO TEIXEIRA

SOB A DITADURA MILITAR DE 1964

RIO DE JANEIRO – RJ

2016

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BRUNA LIMA RODRIGUES

AS LENTES DE EVANDRO TEIXEIRA

SOB A DITADURA MILITAR DE 1964

Projeto de monografia apresentado como

requisito parcial para obtenção do título de

Graduado em jornalismo, pelo Curso de

Comunicação Social – Jornalismo da

Universidade Veiga de Almeida, sob

orientação do Prof. Me. Luiz Gustavo

Lacerda.

RIO DE JANEIRO – RJ

2016

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AGRADECIMENTOS

Mas tenho contado com a ajuda de Deus até o dia de hoje, e, por

este motivo, estou aqui e dou testemunho tanto aos simples

quanto aos importantes (...). (ATOS, cap. 26, vers. 22)

À Deus, seja dada, primeiramente, toda a gratidão. Ele me sustentou durante toda essa

caminhada. Desde da época da escola, quando fui desacreditada por professores e colegas, Ele

se manteve ao meu lado, justo e fiel, como diz em Sua palavra.

Agradeço aos meus pais, Lino Rodrigues, por ter me dado a fotografia como herança

genética, Ana Claudia, pelos incansáveis incentivos e palavras de amor, e Marco Antonio, que

me mostrou que eu posso conquistar o que eu quiser com esforço e perseverança. Agradeço a

minha avó, Orminda, que além do sangue e da cultura paraense que me permitiu ter, sempre

me apoiou com cada mínimo gesto de carinho e confiabilidade nos meus estudos.

Aos amigos de longuíssima data. Aos amigos que a universidade me trouxe. Duas, em

especial, se mantiveram desde o primeiro dia, em que éramos apenas calouras, Marcia Silva e

Jamile Bittencourt. Obrigada por serem parceiras de projetos, trabalhos, sonhos e conquistas.

Vocês tornaram essa jornada alegre e sempre acreditaram no meu potencial.

Agradeço ao amigo que ganhei, Evandro Teixeira. No início apenas admirava os

belíssimos trabalhos que este profissional realizou ao longo de mais de 50 anos de profissão,

após conhece-lo e conviver com ele, passei a ver que o menino do interior da Bahia

permanece ali, humilde e simples. Quem conhece Teixeira, conhece o Brasil pelo seu olhar.

Aos mestres, Luiz Gustavo Lacerda (Guto), por ter me orientado até aqui e,

principalmente, por confiar nesse trabalho e me manter firme nesse projeto, e a Diana

Damasceno, que no início me impulsionou a criar o documentário e mesmo depois disso, se

manteve andando paralelamente comigo, sempre com bons conselhos e ótimas dicas.

Muitíssimo obrigada, família, amigos e mestres. A vocês, todo o mérito que esse

projeto venha a receber.

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RESUMO

O presente artigo relata os acontecimentos da Ditadura Militar, sob o ângulo do

premiado fotojornalista Evandro Teixeira. Para isso foi preciso contextualizar e apresentar

uma breve história da fotografia no mundo e o desenvolvimento do fotojornalismo no Brasil.

A importante dos registros de Teixeira são de grande valor, pois eles não ilustram

apenas o período críticos e delicado da nação, mas revelam o quão importante é, para a

história, que jornalistas e fotógrafos mantenham-se firmes as suas profissões e a sua ética –

mesmo sob ameaças.

Palavras-chave: fotojornalismo; Ditadura Militar; Evandro Teixeira.

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ABSTRACT

This present article reports the events of the Military Dictatorship, from the point of

view of the winning photojournalist Evandro Teixeira. For this, it was necessary to

contextualize and introduce a brief history of photography in the world and the evolution of

photojournalism in Brazil.

The importance of Teixeira's records are really valuable, for they do not only illustrate

the critical and delicate period of the nation, but reveal how important in history it is for

journalists and photographers to stay strong in their professions and their ethics - even under

threat.

Key-words: photojournalism; Military Dictatorship; Evandro Teixeira

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................7

2. BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA................................................................9

2.1 FOTOJORNALISMO NO BRASIL........................................................................11

3. A DITADURA MILITAR NO BRASIL.................................................................14

4. EVANDRO TEIXEIRA............................................................................................21

5. O PROCESSO DE GRAVAÇÃO.............................................................................22

6. CONCLUSÃO............................................................................................................23

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................25

8. ANEXOS....................................................................................................................26

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1. INTRODUÇÃO

A realidade da sociedade sempre foi reinterpretada por meio das informações

fornecidas através de imagens – embora não apenas através delas. Ao falarmos de fotografia,

veremos que seu início foi voltado para registros básicos do cotidiano. Fotos pessoais, em

família, de objetos, paisagens e animais. Fotografias sem nenhuma movimentação: imagem

estática. Controversamente, porém, a fotografia era vista como uma espécie de concorrente da

pintura, em tempos mais remotos.

Nosso sentimento irreprimível de que o processo fotográfico é algo

mágico tem base genuína. Ninguém supõe que uma pintura de

cavalete seja, em nenhum sentido, consubstancial a seu objeto; ela

somente representa ou alude. Mas uma foto não é apenas semelhante a

seu tema, uma homenagem a seu tema. Ela é uma parte e uma

extensão daquele tema; e um meio poderoso de adquiri-lo, de ganhar

controle sobre ele. (SONTAG, 1977, p. 87)

Essa ideia de substituição da pintura pela fotografia só foi quebrada quando as grandes

guerras começaram e, neste contexto, as informações sobre ela passaram a ser disseminadas.

Os jornais e revistas noticiavam o que ocorria durante o conflito, a fotografia, então, tornou-se

forte aliada do jornalismo e ajudou a dar credibilidade aos textos. O fotojornalismo se tornava

uma prática nas redações.

Segundo o dicionário Aurélio, o termo fotojornalismo é descrito como o jornalismo

em que a fotografia é primordial na veiculação da notícia. Aos poucos, esta prática jornalística

ganhou espaço nos veículos de comunicação de massa, ilustrou páginas de grandes revistas e

jornais, emocionou e contou diversas histórias de forma que qualquer pessoa –

independentemente da idade, do nível de escolaridade e do idioma de origem – pudesse

compreender.

A imagem não deixou de exibir o narcisismo, mas esta passou a ser levada com tanta

seriedade a ponto de ganhar categorias em grandes prêmios nacionais e mundiais. Exemplo

disso é o Prêmio Esso, que possui uma categoria específica para o fotojornalismo, todos os

anos.

Dentro do território brasileiro, o fotojornalismo foi fundamental por denunciar

inúmeros contextos. Secas no Nordeste, desastres naturais, escândalos da política, dentre

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outros acontecimentos. O foco desta pesquisa, neste aspecto mais amplo, busca se fixar no

período histórico conhecido como Ditadura Militar, deflagrada no ano de 1964 e que teve seu

encerramento em 1985. Durante este período, fazer jornalismo se tornou um desafio diário. A

censura dominava o país, e os jornais eram proibidos de repercutir fatos que se desenrolavam

pelo Brasil. Esse divisor de águas da história brasileira, no entanto, foi desafiado e registrado

por diversos profissionais da comunicação, entre eles, o fotojornalista Evandro Teixeira.

As fotografias de Teixeira não ilustraram apenas o cenário político de mais de 20 anos

da Ditadura Militar: elas repercutiram por anos e, até hoje, são referência no debate sobre a

este período de suspensão do exercício da democracia nacional.

A câmera fotográfica foi a arma que escolhi para lutar contra a

ditadura militar. Desde o primeiro momento, quando flagrei a tomada

do Forte de Copacabana, na madrugada de 1º de abril de 1964, assumi

o compromisso de registrar imagens que revelassem às arbitrariedades

e as injustiças dos governos militares que tomaram de assalto a

democracia de nosso País. (TEIXEIRA, 2007, p. 117)

Os livros didáticos de história incorporaram as fotos do fotógrafo. O resultado do

produto de suas ideias, articulados com o domínio técnico da câmera fotográfica, geraram

outros livros e mais histórias vieram à tona. Uma de suas fotos, feita durante a Passeata dos

Cem Mil, é um dos registros mais representativos da época: ele foi motivo para a publicação

de um livro que buscou a história de algumas pessoas que foram reconhecidas na fotografia.

Apesar da asfixiante censura, da perseguição direta aos jornalistas e de um contexto de

medo nacional, porém, a população não se inquietou e foi para as ruas diversas vezes.

Evandro fez o mesmo e registrou muitos destes momentos. Entre eles, a fotografia de um

jovem sendo espancado até a morte por policiais militares.

Este trabalho de conclusão de curso pretende voltar à história e trazer à luz da

memória os acontecimentos eternizados nas lentes de Teixeira. Para complementar o trabalho,

produzimos um documentário jornalístico que deve melhor ilustrar o ponto de vista do

fotojornalista Evandro Teixeira, antes, durante e depois do período ditatorial.

O filme, que possui influência direta das técnicas do cinema, não se apresenta

ficcional, embora autoral, e deve narrar o cotidiano da vida e trabalho do fotojornalista em

questão, a fim de melhor informar sobre a relação entre fotografia e política.

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2. BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA

A câmera obscura foi a primeira grande técnica usada para que uma imagem fosse

captada, registrada e, em seguida, reexibida. Ela consistia em “um cômodo fechado, de

qualquer dimensão, dotado de um orifício, uma pequena abertura que permite a entrada de

luz” (OLIVEIRA, 2009, p.1). Este objeto, a princípio, era utilizado para auxiliar os artistas

enquanto desenhavam.

Ilustração de uma câmera escura (www. lavfeunb.files.wordpress.com)

Os primeiros passos da fotografia, tal como conhecemos hoje, no entanto, foram dados

em 1827, através de inúmeras tentativas de fixar uma determinada projeção em um suporte.

Joseph Nicéphore Niépce é descrito como um dos pioneiros na descoberta. Após inúmeros

testes, Niépce conseguiu, finalmente, gravar uma figura sobre uma chapa de metal, ganhando

o título de inventor da heliografia – que, do grego, significa “gravar com o sol”.

Os principais resultados obtidos por Niépce por meio da câmera

obscura estão em A Vista da Janela, que mostra os telhados do

vilarejo visto de sua casa de campo de Le Gras, na vila de Saint Loup

de Varenne, perto de Chálon-sur-Saóne, sua cidade natal. Essa

heliografia é espelhada com uma imagem latente, somente visível com

angulação de luz. (OLIVEIRA, 2009, p. 6)

A imagem, porém, causou discórdia, pois a figura gravada teria sido intensamente

modificada devido à longa exposição na luz. Para que o método de Niépce obtivesse o

resultado desejado, era preciso expô-lo por 8 horas. Esse fator, de longa exposição, levou os

estudiosos a questionarem a veracidade da imagem e se perguntarem sobre o impacto do sol

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na figura, já que o astro, ao mudar de posição, teria criado sombras no registro ao longo do

dia.

Francis Bauer deixou anotada, no verso da heliografia de A Vista da

Janela, a frase que cria discórdia entre vários pesquisadores: “Esta é a

primeira experiência bem-sucedida do Senhor Niépce para fixar

permanentemente a imagem da natureza, 1827” (OLIVEIRA, 2009, p.

6)

O francês Louis-Jacques-Mandé Daguerre, também pesquisador, entrou em contato

com Niépce a fim de saber mais sobre seus estudos. Após passarem algum tempo trabalhando

juntos, Daguerre resolveu seguir suas pesquisas sozinho.

Conta-se que, em uma noite de 1835, Daguerre guardou uma placa

subexposta dentro de um armário, onde havia adquirido uma imagem

de densidade bastante satisfatória, tornando visível a imagem em todas

as áreas atingidas pela luz (OLIVEIRA, 2009, p. 7)

Dessa forma, Daguerre torna-se o inventor do recurso que permitiu o pimeiro registro

da imagem estática e começa, assim, a comercializar o daguerriótipo. Enquanto isso, no

Brasil, o francês Hércules Florence, que residia no país desde 1824, já havia lido algumas

notícias a respeito dos estudos de Niépce e de Daguerre no Jornal do Comércio. Até que,

então, decide usar a poligrafia – o papel inimitável, cujo o objetivo era evitar a falsificação de

títulos de valor – junto à experiência da câmera obscura.

Após o endurecimento da cola, com uma agulha desenhava ou

escrevia nessa superfície, retirando a cola endurecida do fundo do

vidro para poder imprimir na prancha, utilizando-se da luz do Sol, do

cloreto de prata ou ouro, como se fossem tinta de impressão, chegando

naturamente a um processo que se aproxima muito ao da fotografia,

principalmente quando se fez uso da câmera obscura. A matriz era

colocada sobre um papel sensibilizado por cloreto de prata ou ouro, o

qual era prensado à luz do Sol, resultando em uma imagem.

(OLIVEIRA, 2009, p. 13)

O Brasil poderia ter sido o berço onde ocorreu a descoberta da fotografia, mas

Hércules Florence não publicou suas pesquisas e nem suas realizações a nenhum veículo de

imprensa da época. Aquelas que sabiam de suas descobertas, segunda a historiografia, eram

pessoas de seu círculo familiar e amigos mais próximos. Os únicos vestígios sobre suas

descobertas, atualmente, estão em manuscritos pessoais. Em 1839, no entanto, chega ao

conhecimento do mundo que Louis-Jacques-Mandé Daguerre havia fixado as imagens da

câmera obscura em uma chapa de prata.

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A partir desse momento, Florence abandonou suas pesquisas com a

câmera obscura e sais de prata e escreveu, em uma cópia de um

diploma maçônico, conseguido por meio do processo da câmera

obscura sensibilizada com nitrato de prata, que outros tiveram mais

sorte. Divulgou suas pesquisas no jornal O Pharol Paulistano e no

Jornal do Commércio do Rio de Janeiro, sem obter êxito e

reconhecimento esperado. (OLIVEIRA, 2009, p. 19)

A partir do ano de 1839, a Academia de Ciências de Paris tornou o daguerreótipo

acessível ao público. No entanto, o primeiro equipamento só chegaria ao Brasil alguns meses

depois do anúncio de Daguerre, em 1840, trazido pelo imperador D. Pedro II – considerado o

primeiro fotógrafo da história do Brasil.

Assim, a fotografia, no seu início, era um privilégio dos mais abastados. Para estes,

registrar a própria imagem era um hábito de imenso valor em termos de status social. É

comum encontrar retratos e paisagens marcados como os primeiros registros da fotografia.

Com sua popularidade e tecnologia sendo desenvolvidas ano após ano, ainda existiam aqueles

que dissessem que a fotografia substituiria a pintura, mas as imagens obtidas pelas máquinas

fotográficas viriam a ser de interesse e de utilidade pública em breve e se destacaria como

uma técnica diferente daquela proposta pelas artes visuais.

Tais imagens são de fato capazes de usurpar a realidade porque, antes

de tudo, uma foto não é apenas uma imagem (como uma pintura é

uma imagem), uma interpretação do real; é também um vestígio, algo

diretamente decalcado do real, como uma pegada ou uma máscara

mortuária. (SONTAG, 1977, p. 86)

2.1 FOTOJORNALISMO NO BRASIL

A fotografia, desde seu desenvolvimento, foi encarada como a possibilidade do

registro visual da verdade. Desde 1880, a imagem já era utilizada em revistas, mas esta só

chegou aos jornais diários em 1904, após publicação do tabloide inglês Daily Mirror. A partir

desse momento, a fotografia se torna instrumento essencial para o jornalismo.

Para Susan Sontag1 (1977), a fotografia é um método de realçar o real, e o

fotojornalismo surge com esse propósito, isto é, de dar ênfase aos acontecimentos

__________

1 SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Companhia das Letras, reedição, 1977, p.94.

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registrados. Mas existe, na terminologia, diferenças entre o profissional fotógrafo e o que

reconhecemos como repórter fotográfico. As funções e manipulações com o equipamento se

mantém iguais, mas a característica predominante no fotojornalismo é a de informar. Com os

rumores de guerras em determinadas partes do mundo, os jornais sentiram a necessidade de

mandarem repórteres e fotógrafos para registrarem os conflitos.

O fotojornalismo desenvolve, através de tempo, a reflexão do

fotógrafo em face do mundo que o cerca. Ele passa de retratista a

repórter e substitui a encomenda pela espontaneidade, a obrigação

pela liberdade, a rotina pela criatividade, a contemplação pela

acuidade psicológica. (BAHIA, 2009, p. 147)

No Brasil, a fotografia se voltava para um caráter documental. Militão Augusto de

Azevedo e Marc Ferrez foram os pioneiros na técnica, no país. São encontrados registros de

cenas urbanas de São Paulo e o início da ferrovia no Brasil. Muitos jornais e revistas da época

já adotavam as fotografias em seus exemplares, porém, as imagens ainda não eram

caracterizadas como fotojornalismo, pois elas apenas ilustravam a moda e o dia a dia das

pessoas, rechaçando um registro de episódios corriqueiros.

Em 1940, chega à revista O Cruzeiro 2 o francês Jean Manzon3, que criou um novo

formato em termos de registros fotográficos, transformando a ideia de fotojornalismo no país.

A fotografia humanista, na época, torna-se um produto nas redações. Com a entrada de novos

nomes para a Revista, entre eles José Medeiros, o ano de 1947 se torna, em termos históricos,

um divisor de águas para o fotojornalismo do país. Segundo os autores Helouise Costa e

Sergio Burgi, a revista incorporou “no início da década de 1940, o modelo da fotorreportagem,

tornando-se pioneira na implementação do fotojornalismo no Brasil”.4

__________

2 A revista O Cruzeiro foi criada por Assis Chateaubriand, em 1928. Até então ela trouxe consigo características

das revistas ilustradas estrangeiras.

3 Jean Manzon trabalhou em diversas revistas francesas. Embora ele tenha desempenhado um papel fundamental

para o fotojornalismo no Brasil, algumas de suas práticas foram consideras como espetáculo e sensacionalismo

jornalístico.

4 COSTA Helouise, BURGI Sergio, As Origens do Fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro, São

Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012, p. 7

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Essa nova geração de fotógrafos, ao contrário, se inspirava na nova

linguagem visual surgida no cenário internacional do pós-guerra,

como o neoliberalismo italiano no cinema e a fotografia humanista

francesa. (BURGI, 2012, p. 33)

No mesmo ano, seria fundada a agência Magnum pelos fotógrafos Robert Capa e

Cartier-Bresson. A união dos dois profissionais traria grande impacto ao fotojornalismo

mundial. Capa e Bresson implementaram a ética e a qualidade da fotografia no trabalho,

prática que foi reproduzida em todas as redações do mundo – principalmente nas futuras

agências que surgiriam no Brasil.

Em 1947, é fundada a Magnum, agência de fotografia que possibilitou

a seus fundadores (Bresson, Capa, David Seymor e George Rodger)

afirmarem-se como defensores de uma fotojornalismo livre da

estrutura que submetia a imprensa aos interesses do poder, um

jornalismo humanista e de qualidade, adotando como prática a

proibição do uso de suas fotos fora do contexto em que foram

concebidas. (OLIVEIRA, 2009, p. 31)

Desde então, o fotojornalismo ganhou importância e passou a dar mais credibilidade

ao texto que o acompanhava. Antes, grandes parágrafos ocupavam as primeiras capas dos

jornais, agora, os impressos começaram a incorporar títulos, imagens e texto legenda em suas

capas, sendo, portanto, mais visuais que textuais. Jorge Pedro Sousa (2002) afirma que, “de

qualquer modo, como nos restantes tipos de jornalismo, a finalidade primeira do fotojornalismo,

entendido de uma forma lata, é informar”.5

Entendia-se, agora, que a imagem representava mais que um mero registro. Ela trazia

consigo uma representação da verdade, o sentimento e o impacto sobre aquele acontecimento.

Em função deste fotojornalismo, a sociedade formaria opiniões sobre diversos momentos da

época.

Uma sociedade se torna “moderna” quando uma de suas atividades

principais consiste em produzir e consumir imagens, quando imagens

que têm poderes excepcionais para determinar nossas necessidades em

relação à realidade e são, elas mesmas, cobiçados substitutos da

experiência em primeira mão se tornam indispensáveis para a saúde da

economia, para a estabilidade do corpo social e para a busca da

felicidade privada. (SONTAG, 1977, p. 86)

__________

5 SOUSA, Jorge Pedro Fotojornalismo, uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na

imprensa, Porto, 2002, p.8

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A partir da década de 1960, revistas como Manchete, Realidade, e jornais como o

Jornal da Tarde, Folha de São Paulo, Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, passam a dar

mais espaço em suas páginas para a fotografia documental. Em paralelo a essa valorização da

imagem, a história do Brasil ia sendo construída. A imagem passou a ser um meio

comunicacional de fácil compreensão. Se, antes, o rádio foi instrumento para a formação de

uma ideia de nação brasileira e de sua identidade, agora, a fotografia traria o conhecimento

das terras e cultura nacionais.

Nomes como Walter Firmo, Luís Humberto, Sebastião Salgado, Cássio Vasconcelos,

Marlene Bergamo, Cristiano Mascro e Evandro Teixeira, dentre outros, ganhariam

reconhecimento dentro e fora do país. Alguns possuem suas fotografias expostas em museus

dos Estados Unidos, Alemanha e França. Mesmo com uma crise simbólica enfrentada ao

longo dos anos de 1990, em que o fotojornalismo foi apontado como óbvio, repetitivo e clichê

– por causa da repetição de imagens –, ele se manteve fiel à sua função: informar. E este

caráter foi fundamental para a compreensão de um dos períodos mais controversos da história

brasileira: a Ditadura Militar de 1964.

3. A DITADURA MILITAR NO BRASIL

Por mais de cinquenta anos, a história do Brasil foi contata – nas escolas, nos livros

didáticos e científicos – como sendo dividida entre o antes e o depois do Golpe de 1964. Boris

Fausto foi um destes pesquisadores que se debruçou sobre o tema e relata que:

O movimento de 31 de março de 1964 tinha sido lançado,

aparentemente, para livrar o país da corrupção e do comunismo e para

restaurar a democracia. O novo regime começou a mudar as

instituições do país através dos chamados Atos Institucionais (AI) [...].

(FAUSTO, 2012, p. 257)

Os anos de 1960 mudaram o curso da história, para a nação brasileira. O então

Governo de João Goulart, o Jango, começaria um processo que culminaria com a renúncia de

Jânio Quadros. Jango já havia sofrido com as pressões dos militares no passado e, naquele

momento, vivia sob a suspeita de liderar uma luta armada. O país, economicamente,

encontrava-se em crise: a inflação chegava a 75%, em 1963, e, no ano seguinte, poderia

atingir 140%. As greves eram cada vez mais frequentes. O governo arrecadava menos que

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valor total de seus gastos. Além disso, Jango possuía ideias e aliados considerados

comunistas, algo que não agradava uma elite empresarial e os militares da época.

Na chuvosa noite de 31 de março de 1964, enquanto o Forte de Copacabana, no Rio

de Janeiro, era invadido por um grupo militar comandado pelo coronel Cézar Montagna de

Souza, foi registrada a chegada do general Humberto de Alencar Castelo Branco, que viria a

ser o primeiro presidente do Regime Militar brasileiro.

Com o tempo, cristalizou-se em torno de 48 horas de 1964 um acordo

historiográfico entre vencedores e vencidos. A apologia dos

vencedores, procurando abrir a porteira das adesões, estabeleceu que

Jango foi derrubado pela vontade geral do povo e das Forças

Armadas. A necrologia dos vencidos, procurando fechar o diafragma

das responsabilidades, atribuiu à inércia de Jango a causa do

desmoronamento do “dispositivo” militar e político sobre o qual se

abrigava o radicalismo. Sem dúvida a inércia de Goulart foi um

detergente para as forças que o apoiavam. No entanto, ninguém

apoiava Jango supondo-o um resoluto. Além disso, nenhuma força à

esquerda do presidente tomou iniciativa militar relevante durante o dia

31. (GASPARI, 2014, p. 86-87)

A partir do dia 1º de Abril daquele ano, Jango deixaria o Rio de Janeiro com destino a

Brasília, buscando evitar qualquer tipo de conflito e derramamento de sangue diante da tensa

situação política.6 Após se exilar no Uruguai, o então presidente do senado declararia vago o

cargo de presidente da república brasileira.

Assumiu o cargo, na linha constitucional, o presidente da Câmara dos

Deputados, Ranieri Mazzilli. Mas o poder já não estava nas mãos dos

civis e sim dos comandantes militares. (FAUSTO, 2012, p. 255)

As Forças Armadas assumiram o poder do Brasil com a missão de restabelecer a

ordem política “limpando” o país do comunismo e propondo soluções econômicas. Os

políticos que apoiaram o “movimento” acreditavam que, após se cumprir esta tomada de

poder, os militares devolveriam o cargo a eles – o que não aconteceu de imediato.

O mês de Abril ficou marcado, assim, por atividades políticas de militares. Eles

afastaram e cassaram os mandatos de diversos políticos e instauraram o AI-1, o 1º Ato

__________

6 FAUSTO, Boris, História Concisa do Brasil, São Paulo: Editora Universidade de S. Paulo, 2012, p. 255

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Institucional em 9 de Abril de 1964.7 Este manteria a Constituição de 1946, porém, com

alterações. O Ato determinou a eleição, indireta, do novo presidente da República pelo

Congresso. Também viabilizou a cassação de direitos políticos, demissões de funcionários

públicos e um regime que abafava as manifestações contra a tomada de poder. Neste contexto,

no dia 11 de Abril, o general Castelo Branco seria eleito presidente do Brasil.

A partir desses poderes excepcionais, desencadearam-se perseguições

aos adversários do regime, envolvendo prisões e torturas. Mas o

sistema ainda não era inteiramente fechado. Existia a possibilidade de

se utilizar do recurso do habeas corpus perante os tribunais e a

imprensa se mantinha relativamente livre. (FAUSTO, 2012, p.258)

O Serviço Nacional de Informação (SNI), criado na época pelo general Golbery do

Couto e Silva, que logo ficaria conhecido como uma rede de espionagem e repressão, tinha

como principal objetivo coletar e analisar informações que pudessem interferir na Segurança

Nacional.

O SNI nasceu fazendo segredo de tudo aquilo que a Presidência

precisava que fosse bem-feito. (...) O SNI foi desastroso para o país

que o cevou. Transformou-se em tribunal de instância superior para

questões políticas (...). (GASPARI, 2014, p. 170-171)

Em outubro de 1965, Castelo Branco assinaria o 2º Ato Institucional (AI-2), que

reforçava os poderes do presidente da República – podendo baixar decretos e leis – e instituiu

que a eleição para presidente e vice-presidente seria feita por maioria do congresso. Partidos

políticos já existentes, como o PSD, PTB e UND, seriam extintos e autorizada a criação de

apenas dois grupos ideológicos: foram eles a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e, o

segundo, de oposição consentida, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB)8. Em menos

de um ano no poder, o 3º Ato Institucional (AI-3) seria instaurando. Esse momento apontava

para um progresso que culminaria em um fechamento do regime: e a cada novo passo do

presidente, a linha dura9 se fortaleceria. Em Outubro de 1966, o general Arthur da Costa e

__________

7 KOSHIBA, Luiz, História Geral do Brasil: trabalho, cultura, poder, São Paulo: Atual, 2004, p. 394

8 FAUSTO, Boris, História Concisa do Brasil, São Paulo: Editora Universidade de S. Paulo, 2012, p. 262

9 As Forças Armadas dividiam-se em duas tendências: a dos liberais conservadores e a chamada linha dura. Os

primeiros defendiam a necessidade de passar o comando do governo para a classe política, logo após a ordem se

reestabelecesse. A linha dura era formada pelos militares extremistas, convictos de que só eles podiam assegurar

o fim da ameaça comunista.

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Silva seria eleito, pelo Congresso, o novo presidente da República.

No mesmo ano, Castelo Branco assinou o AI-4, que convocava o

Congresso em caráter extraordinário para discutir e aprovar uma nova

Constituição. Elaborado por uma equipe de quatro juristas, o

anteprojeto constitucional foi aprovado pela maioria arenista (partido

governamental) no Congresso em 24 de janeiro de 1967, sem

nenhuma modificação. A Constituição de 1967 foi à quinta do Brasil e

a quarta da República. (KOSHIBA, 2004, p. 396)

Com a posse de Costa e Silva em março de 1967, a tensão entre as duas frentes

militares se intensificou. A linha dura se mostrava mais forte e poderosa sobre os outros

setores militares. Na mesma medida, os grupos contrários ao governo ditatorial se

amplificaram, ainda que clandestinamente. A União Nacional dos Estudantes (UNE), que já

havia tido a sua sede incendiada em 1964, começou a se mobilizar com mais força nesse

contexto.

Foi a partir do ano de 1968, porém, que a luta armada ganhou forma e saiu às ruas.

Embora a Ditadura Militar estivesse longe de acabar, foram as ações tomadas neste ano que

subverteram os rumos da história. A morte de um estudante durante um protesto no Rio de

Janeiro, provocada pela Polícia Militar, comoveria o país e levaria às ruas da cidade milhares

de cariocas durante o funeral.

O ponto alto da convergência dessas forças que se empenhavam na

luta pela democratização foi à chamada passeata dos 100 mil,

realizada em junho de 1968. (FAUSTO, 2012, p.264)

Com as mobilizações ganhando cada vez mais espaço nas ruas e tomando força para

combater o regime ditatorial, os militares se reuniram e tomaram como pretexto todos esses

movimentos antes de baixar o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. Este

ato romperia com a Constituição de 1967 e, diferente dos outros, não tinha prazo de vigência.

A capa do Jornal do Brasil do dia seguinte à promulgação estampava a manchete: “Governo

baixa Ato Institucional e coloca Congresso em recesso por tempo ilimitado”10

O Ato era uma reedição dos conceitos trazidos para o léxico político

em 1964. Restabeleciam-se as demissões sumárias, cassações de

mandatos, suspensões de direitos políticos. Além disso, suspendiam-se

as franquias constitucionais de liberdade de expressão e de reunião.

(GASPARI, 2014, p. 342)

__________

10 Jornal do Brasil (JB), 14 de dezembro de 1968, nº213.

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O AI-5 deu ao presidente da República poderes ditatoriais. Ele podia baixar leis em

todas as esferas – federal, estadual e municipal –, tornando, inclusive, o exercício do

jornalismo como ato de risco. A censura nos veículos de comunicação aumentou, foi preciso

“reinventar” o modo de se fazer notícia. Com o Ato em vigor, muitos professores

universitários perderam o emprego, a tortura passou a ser integrante dos métodos de controle

usados pelo governo e todos aqueles que se pronunciavam contra o regime era perseguidos.

Associado a um forte esquema de repressão e à montagem de sistema

de inteligência, o AI-5 instaurou um regime de terror no país, com

prisões, torturas e desaparecimentos de várias pessoas. Muitos viram

no exílio a única saída para continuar vivos. (KOSHIBA, 2004, p.

396)

Em 1969, o presidente Costa e Silva foi afastado de seus poderes devido a um

derrame. A Junta Militar colocaria o general Emílio Médici como seu sucessor. A partir de

outubro, com o novo presidente, os Atos Institucionais foram incorporados à Constituição,

fazendo nascer, assim, a 1ª Emenda Constitucional brasileira. Nela, ficou instituída a pena de

morte para “crimes” contra a segurança nacional. Todos os meios de comunicação, que

incluíam estações de rádio, canais de televisão e as redações dos jornais, foram submetidas a

passar pelo crivo dos militares que, agora, estavam pessoalmente nas redações. Integrantes do

meio artístico também precisaram se submeter à censura. As letras das canções eram checadas

previamente e, se necessário, tinham trechos limados. Por conta desse período que mais

representou um retrocesso que um progresso nacional, a oposição se mobilizaria e buscaria o

confronto armado. Uma militância, formada principalmente por estudantes do Rio de Janeiro,

São Paulo e Belo Horizonte, tomavam as ruas.

O dilema de um grupo revolucionário não está no que acontece ao seu

adversário, mas no que acontece a ele mesmo, na sua capacidade de

sobreviver. Uma organização vence enquanto existe e perde quando se

desintegra. Seu objetivo pode ser a derrubada do governo, mas sua

luta cotidiana é pela existência. (GASPARI, 2014, p. 355)

Com o passar dos anos, a repressão, porém, não cessaria. Sindicatos viveram

episódios sob constante ameaça, reuniões e encontros em locais públicos eram vistos como

ações suspeitas, as greves foram proibidas, correspondências privadas eram violadas e

inúmeros casos de desaparecimentos vieram à tona.

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Os DOI-CODI11 se tornaram símbolos de terror e medo, e caracterizariam o governo de

Médici. O fato da censura ter se fortalecido, a liberdade de expressão ter sido suprimida e os

inúmeros casos de tortura e mortes suspeitas resultaram em um esvaziamento da resistência.

No entanto,

Os militares sabiam bem que não seria possível sustentar um regime

apenas pela força da repressão. Era preciso legitimá-lo minimamente,

por meio da opinião publica. Em clima de ufanismo, campanhas

publicitárias – do tipo “Brasil: ame-o ou deixe-o” – foram amplamente

usadas, mas a base da legitimação foi fornecida pelo programa de

intensificação do crescimento econômico. (KOSHIBA, 2004, p. 398)

O período, por outro lado, é costumeiramente evocado como “milagre econômico” e

teria durado entre os anos de 1969 a 1973. Este período viria a ser um momento de grande

incitação ao consumo. O então ministro da fazendo, Delfin Netto, colocaria em prática o

programa de crescimento acelerado. Com uma inflação baixa e um PIB (Produto Interno

Bruto) em ascensão, permitiram que uma classe média brasileira pudesse comprar produtos

que, antes, eram exclusivos da elite.

Em 1974, o general Ernesto Geisel assumiria a presidência do país. Seu governo seria

conhecido pelo início do processo de abertura política, ainda que de forma lenta e gradual.

Nesse momento, as Forças Armadas já sentiam um desgaste e o plano econômico de Delfim

Netto apresentava sinais de esgotamento. Embora a ideia do general-presidente fosse de

desmoralizar as Forças Armadas, era preciso manter para uma linha dura que instigasse poder

e ordem. A censura à imprensa declinava e, em novembro, eleições parlamentares seriam

organizadas. Mas um episódio envolvendo o jornalista Vladimir Herzog seria o propulsor de

mudanças políticas.

Em outubro de 1975, no curso de uma onda repressiva, o jornalista

Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo,

foi intimado a comparecer ao DOI-CODI, por suspeita de ter ligação

com o PCB. Herzog apresentou-se ao DOI-CODI e dali não saiu vivo.

Sua morte foi apresentada como suicídio por enforcamento, uma

forma grosseira de encobrir a realidade: tortura seguida de morte.

(FAUSTO, 2012, p.271-272)

Em 1978, o general-presidente Geisel escolheria o general João Baptista Figueiredo

_________

11 DOI-CODI: Destacamento de Operações de Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna.

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como seu sucessor e, em dezembro do mesmo ano, o AI-5 seria revogado. Quando Figueiredo

assumiu o poder, em 1979, a linha dura andava constantemente insatisfeita com o fato do

MDB – partido da oposição – estar avançando dentro do Congresso. Em virtude disso, entre

1980 e 1981, uma onde de atentados marcariam época.

Bancas de jornais sofreram atentados bomba, cartas-bomba foram

enviadas à ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, por fim, em

1981, num fracasso ato terrorista no Riocentro, os militares foram

desmascarados. Um show de música era realizado no local, quando

uma bomba foi detonada, por acidente, no colo de um sargento, que

morreu no ato, e feriu gravemente um capitão. O Exército tomou pra

si a investigação e abafou o caso. (KOSHIBA, 2004, p. 398)

A partir de 1979, com a criação da lei da Anistia, que permitia que exilados políticos

retornassem ao país, viu-se, após muito tempo, uma ampliação das liberdades públicas. Neste

mesmo ano, foi aprovada a lei que acabava com o bipartidarismo, permitindo o

pluripartidarismo e, consequentemente, o surgimento de novos partidos que atuariam como

importantes forças ideológicas.

No entanto, mesmo que o pluripartidarismo tenha dividido a oposição – como era

previsto pelos militares –, a população se unificaria em prol de eleições diretas. Em 1982,

milhões de brasileiros foram às urnas votar em vereadores e governadores – algo que não

acontecia desde que a Ditadura fora instaurada. Em 1984, o movimento das Diretas Já

mobilizaria, enfim, mais de 1 milhão de pessoas em São Paulo e mais de 500 mil no Rio de

Janeiro. Os manifestantes clamavam por Democracia!

Apesar da dimensão atingida pelo movimento, o regime conseguiu

impedir a vitória da emenda constitucional no Congresso, e a eleição

presidencial de 1985 deu-se pela via indireta do colégio eleitoral.

Enfrentaram-se Paulo Maluf, um nome do governo com sérias

restrições de boa parte da ala situacionista, e Tancredo Neves, apoiado

por um grande arco de forças políticas, a Aliança Democrática,

envolvendo inclusive vários participantes da ditadura. Tancredo

venceu a última eleição indireta. Com sua vitória, terminava

formalmente a ditadura militar. (KOSHIBA, 2004, p. 400)

Apesar de Tancredo Neves ter vencido as eleições presidenciais – sendo o primeiro

civil a alcançar o cargo após décadas – e toda uma atmosfera ditatorial se mostrar flexível, ele

nunca assumiria o poder. Em abril de 1985 Tancredo Neves viria a falecer e seu vice-

presidente, José Sarney – membro da ex- Arena –, subiria a rampa do Planalto. Em maio do

mesmo ano, porém, a legislação restabelecia as eleições diretas para a Presidência da

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República, que só ocorreram, de fato, em 1989, elegendo pela primeira vez, de forma direta,

Fernando Collor para a Presidência da República do Brasil.

Em meio a este contexto de profundas mudanças, uma parte da imprensa, que não se

resignou, manteve seus blocos, canetas e máquinas de datilografia em pleno vapor. Por trás

das câmeras, diversos fotojornalistas registraram, em imagens, os acontecimentos do período.

Entre eles está Evandro Teixeira, objeto de estudo desta pesquisa.

4. EVANDRO TEIXEIRA

Uma pequena caixa de madeira feita para projetar filmes 4 por 4, sem continuidade,

em uma parede branca: foi desta forma que Evandro Teixeira fez seu primeiro contato com

imagens. Nascido na cidade de Irajuba, interior da Bahia, o primeiro meio de comunicação

com o qual Teixeira teve contato foi o rádio. Descobriu a fotografia através da revista O

Cruzeiro e logo buscou um método de conhecer essa arte mais a fundo.

A carreira do fotojornalista possui muita relevância para a história do Brasil. Falar

sobre ela é falar, ao mesmo tempo, sobre a Ditadura Militar. Diversos intelectuais, artistas e

escritores se emocionam quando estão de frente para os registros de Teixeira.

Das lutas de rua do Rio em 68, que nos resta, mais positivo, mais

queimante do que as fotos acusadoras, tão vivas hoje como então, a

lembrar como exorcizar? (DRUMMOND, 1983).

Como dito, esse momento histórico gerou uma grande mudança política e social de

cidadãos e profissionais brasileiros. Mais de cinquenta anos após o golpe, Evandro Teixeira

ainda tem seu nome diretamente relacionado ao momento.

Em 1963, quando Evandro Teixeira passou a integrar a equipe do Jornal do Brasil, o

jornalismo fotográfico do conhecido JB era composto por uma elite da época. Um ano após a

sua efetivação no jornal, o Brasil passaria por um dos momentos mais delicados de sua

história. Teixeira foi o único fotógrafo a registrar a chegada do general Humberto Castelo

Branco, pelo lado de dentro do Forte de Copacabana/RJ. Esse momento marcou o início de

uma responsabilidade social, e, como relata, também pessoal, que o fotógrafo teria para com

toda a nação.

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Desde então, ele foi às ruas em busca da realidade, mesmo sendo, como se esperava,

também alvo da censura. Apesar do medo cotidiano e das inúmeras ameaças, Teixeira não

baixou a objetiva. Registrou as passeatas, conflitos, desfiles militares, faixas e cartazes que

denunciavam as atrocidades do então governo ditatorial. Suas imagens percorreram as

galerias de artes de diversos países e, hoje, elas também podem ser encontradas nos livros

didáticos brasileiros.

A Sexta-feira Sangrenta, episódio ocorrido na Cinelândia, a Cavalaria em Ação na

Igreja da Candelária e a Passeata dos Cem Mil foram alguns dos títulos dados às suas

fotografias. Teixeira buscava driblar a censura através de novos ângulos e mostrar situações

adversas que não podiam ser abordadas em textos jornalísticos. Devido a isso, suas imagens

incorporaram um discurso próprio e autônomo.

Passados os anos da Ditadura, o nome de Evandro Teixeira se destaca ainda mais no

mercado internacional. O fato de ter registrado esse período peculiar do Brasil fez com que

seu nome fosse projetado internacionalmente, levando-o a receber importantes prêmios dentro

na fotografia, como o Prêmio Esso, o Prêmio Brasil Fotografia, o Concurso Internacional da

Nikon, um prêmio da UNESCO, entre outros.

Evandro não só tem importância histórica nas suas imagens como

também uma forma diferenciada de olhar os personagens e ambientes,

tanto no enquadramento como na luz e na composição. É uma forma

única, que só ele tem – conclui Olavo12 (MOREIRA, 2014, p. 251)

5. O PROCESSO DE GRAVAÇÃO

A ideia de produzir um documentário registrando o ponto de vista de Evandro

Teixeira, sobre a Ditadura Militar, surgiu após uma exposição realizada pelo Centro Cultural

Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. “Resistir é Preciso” reuniu registros em imagem

de diversos momentos dos anos de 1964 até 1985.

Após mais de 50 anos depois do início do período político protagonizado pelo corpo

militar nacional, foi possível observar que as maiorias das imagens que ilustram esses anos

_________

12 Antonio Olavo é fotografo e autor do livro Memórias Fotográficas de Canudos. Este livro auxiliou Evandro a

montar o livro 100 anos de Canudos.

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são as do fotógrafo Evandro Teixeira. Dentro ou fora da exposição, suas imagens circulam

por todos os livros históricos do país.

Iniciou-se, então, as pesquisas sobre a vida e obra de Evandro Teixeira, sua trajetória

profissional e pessoal através da fotografia. Por isso, optar por um documentário que fala de

forma direta, apenas com foco no único personagem e sem efeitos visuais, seria a melhor

alternativa a fim de ilustrar sua carreira. A escolha do local foi pensada para que todo o

cenário em volta do foco principal apenas agregasse a importância de sua profissão.

Exibir as fotografias, equipamentos, arquivos e todo o espaço de trabalho do fotógrafo

foi feita de forma intencional. Evandro possui história em cada canto de sua casa e de seu

escritório. Cada objeto faz parte de suas lembranças, por isso, mostrar um pouco desse lado

foi intencionalmente pensado, a fim de levar o espectador a conhecer mais histórias de

Evandro Teixeira.

5. CONCLUSÃO

O objetivo geral desse trabalho foi desenvolver um documentário que representasse

um dos momentos que marcaram a vida do Evandro Teixeira e, consequentemente, a história

do Brasil. Por isso, ilustrar de forma direta e sem a interferência da equipe de produção foi um

dos critérios a serem seguidos.

Em tempos que o digital tem ocupado a rotina de todos e o fluxo intenso de

informações tem sobrecarregado o sistema, relembrar – e para alguns reviver – um dos

períodos tão delicados do nosso país, através de lentes que possuem registros únicos, possui

valor primário, algo de que todos precisamos para compreendermos o presente em que

vivemos e construirmos o futuro que almejamos.

Evandro Teixeira tem exercido a profissão de fotojornalista a mais de 50 anos. Seu

nome é reconhecido mundialmente, e seu trabalho é usado como referência para os fotógrafos

iniciantes. Todos aqueles que possuem interesse de entrar nesse meio, deve passar pelas fotos

de Evandro. Seu olhar cuidadoso e apurado são temas de estudos dentro das universidades.

Em épocas em que a fotografia era apenas analógica, capturar o momento era privilégio de

poucos, e ser capturado pelas lentes de Evandro Teixeira, foi uma honra para poucos.

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Portanto, apresentados as histórias da fotografia, do fotojornalismo no Brasil, do

período da Ditadura Militar e ter discorrido sobre a vida de Evandro Teixeira, apresento-lhes

o Trabalho de Conclusão de Curso para graduação em Comunicação Social com habilitação

em Jornalismo, de forma documental para registral perpetuamente as palavras do fotógrafo

Evandro Teixeira.

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o livro Fotojornalismo, Evandro Teixeira, Rio de Janeiro, 1983.

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ANEXOS

Tomada do Forte de Copacabana/ RJ, 1964

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Passeata dos 100 mil/ Cinelândia, RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Passeata dos 100 mil/ Cinelândia, RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Passeata dos 100 mil/ Cinelândia, RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Passeata dos 100 mil/ Cinelândia, RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Cavalaria em ação na Igreja da Candelária/ Sexta-feira Sangrenta/ RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Sexta-feira Sangrenta/ Rio, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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33

Sexta-feira Sangrenta/ Rio, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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34

Sexta-feira Sangrenta/ RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Sexta-feira Sangrenta/ RJ, 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Capa do Jornal do Brasil em 2 de abril de 1964

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Capa do Jornal do Brasil em 27 de junho de 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)

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Capa do Jornal do Brasil em 30 de junho de 1968

(Arquivo pessoal: Evandro Teixeira)