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Universo Visual (Edição 79)

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Emergências oftalmológicas: os desafios e a importância do primeiro atendimento.

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J U L H O / A G O S T O 2 0 1 4 | N º 1 7

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIASInterpretando o OCT

ARTIGOCampo visual simples e prático

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52 J U L H O / A G O S T O 2 0 1 4 | GLAUCOMA

SUMÁRIOGlaucoma Edição 17 - Julho/Agosto 2014

55 Artigo

Campo visual simples e prático

60 Medicina Baseada em Evidências

Interpretando OCT

PUBLISHER & EDITOR Flavio Mendes Bitelman

EDITORA EXECUTIVA Christye Cantero

EDITOR CLÍNICO Paulo Augusto de Arruda Mello

DIRETORIA SBG 2013-2015

PRESIDENTE

Francisco Eduardo Lopes de Lima (Goiânia, GO)

VICE-PRESIDENTE

Marcelo Palis Ventura (Rio de Janeiro, RJ)

SECRETÁRIO GERAL

Leopoldo Magacho (Goiânia, GO)

SECRETÁRIO ADJUNTO

Roberto Pedrosa Galvão Filho (Recife, PE)

TESOUREIRO

Cristiano Caixeta Umbelino (São Paulo, SP)

TESOUREIRO ADJUNTO

Ivan Maynart Tavares (São Paulo, SP)

A Revista Glaucoma é uma publicação da Jobson Brasil.

JOBSON BRASIL

PUBLISHER E EDITOR Flavio Mendes Bitelman

EDITORA Christye Cantero

EDITOR CLÍNICO Paulo Augusto de Arruda Mello

DIREÇÃO DE ARTE Ana Luiza Vilela

GERENTES COMERCIAIS E DE MARKETING

Fernanda Ferret e Nara Monteiro

GERENTE ADMINISTRATIVA Juliana Vasconcelos

Os artigos são de responsabilidade dos autores e não expressam necessariamente a opinião da Sociedade Brasileira de Glaucoma ou da Jobson Brasil.

REDAÇÃO, PUBLICIDADE E CORRESPONDÊNCIA

Rua Cônego Eugênio Leite, 920, PinheirosSão Paulo - SP - Brasil - CEP 05414-001Tel. (11) 3061-9025 | Fax (11) 3898-1503E-mail: [email protected]

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EDITORIAIS

A pesar do advento da internet, as revistas na modali-dade impressa continuam tendo a sua relevância no cenário geral da comunicação, mas a manutenção

de publicações médicas, de boa qualidade, enfrenta muitos desafios. Elas devem gerar importantes informações, alcançar grande visibilidade atingindo o seu público-alvo, de forma didática, com ótima qualidade de impressão, fotografia, dia-gramação, estruturação das matérias e sua distribuição por páginas, bem como a delimitação de qual o espaço adequado para ações de mídia e patrocínios.

A qualidade do conteúdo da Revista Glaucoma é gerada pela fantástica colaboração de colegas, que voluntariamen-te redigem artigos excelentes, direcionados a médicos que exercem a oftalmologia em todas as regiões do nosso País.

A Jobson Brasil tem garantido não só a periodicidade das publicações, mas também o alto padrão gráfico da revista da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Os objetivos têm sido atingidos. Colegas de todo o Bra-sil têm enviado mensagens positivas, que nos estimulam a prosseguir na nossa caminhada.

Resta a dificuldade financeira para a viabilidade dos nos-sos periódicos. Dependemos do alto espírito de colaboração da indústria interessada na educação do médico em prol da saúde ocular da nossa população.

A diretoria da Sociedade Brasileira de Glaucoma não tem poupado esforços, com árduo trabalho competente, para que a Revista Glaucoma atinja seus objetivos. Parabéns!

Um forte abraço e boa leitura.

Prof. Dr. Paulo Augusto de Arruda Mello Diretor de Publicações da SBG

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Francisco Lima

Qualidade de informação

E is a segunda edição do ano da Revista Glaucoma, das quatro programadas para 2014. Após um período fora de circulação, a Revista Glaucoma retoma sua missão

de atualizar o conhecimento básico sobre o glaucoma para o oftalmologista não subespecialista.

O Dr. Paulo Augusto de Arruda Melo, diretor de publi-cações da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), tem se empenhado continuamente para garantir a abordagem de te-mas do cotidiano através de uma linguagem acadêmica, porém simples e direta.

Nesta segunda edição, o Dr. Fabio N. Kanadani, mestre pela Santa Casa de Belo Horizonte e doutor pela Universida-de Federal de São Paulo (UNIFESP), escreve sobre “Campo visual simples e prático”. Ele descreve uma sequência de lei-tura do exame que pode facilitar sua interpretação e mostra, ainda, algumas particularidades dos campímetros Humphrey e Octopus. Dr. Fábio salienta a importância de identificar corre-tamente a progressão da perda de campo visual, um dos nossos principais objetivos e, talvez, o nosso maior desafio.

Temos, também, nesta segunda edição, o Dr. Daniel Justa, preceptor de glaucoma da Universidade Federal do Ceará (UFC), diretor clínico do Centro Visual Valter Justa e ex-fellow do Glaucoma Wills Eye Hospital, abordando o tema “Interpretando OCT”. Em referido artigo, são descritos qua-tro passos como metodologia básica para a análise do resul-tado do exame com o aparelho STRATUS OCT (Carl Zeiss Meditec Inc., Dublin, CA).

A exposição, em uma mesma edição, de assuntos sobre a perda funcional e anatômica no glaucoma, pode ser muito útil no dia a dia de quem trata a doença.

A SBG continuará apoiando a publicação trimestral da nossa Revista Glaucoma, sempre contando com a determi-nação e compromisso pró-ensino do Dr. Paulo Augusto de Arruda Melo.

Atenciosamente,

Prof. Dr. Francisco Eduardo Lopes de Lima

Presidente da SBG

Segunda edição

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ARTIGO

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A interpretação do campo visual e a identifica-ção de defeitos verdadeiros sempre foram um imenso desafio aos oftalmologistas. Desde Sócrates, Ptolomeu e von Graefe, modelos para a medida do campo de visão, identifica-

ção da mancha cega e ponto de fixação foram sendo aprimo-rados e a somatória destas descobertas ao longo de centenas de anos nos faz entender melhor o funcionamento do olho.

Hoje, não há dúvida da importância clínica da avaliação do campo visual em diversas patologias oculares e neurológicas. Mesmo amplamente utilizado, a interpretação de um exame de campo visual permanece sendo um desafio, tanto para o oftalmologista generalista, quanto para o especialista em glaucoma. Desde o exame de campo visual computadorizado inicial até os dias de hoje, muitos conceitos foram testados e pacotes estatísticos foram aprimorados. Até a chegada da Tomografia de Coerência Óptica e a sua rápida evolução, aju-dou a compreensão mais precisa da relação estrutura/função, da correlação entre a espessura da camada de fibras nervosas da retina e a localização dos defeitos campimétricos.

Apesar de Harwerth e colaboradores (IOVS 1999) de-monstrarem que somente após uma perda de 30 a 50% das células ganglionares é que a perda de sensibilidade

se torna mais evidente, uma vez identificado o defeito funcional, a progressão da doença se torna clinicamen-te perceptível pelo paciente e a doença assume um outro perfil de progressão. É nesse momento que a doença, de caráter assintomático inicial, se torna sintomática e começa a comprometer a qualidade de vida do paciente. Ou seja, uma vez presente o defeito de campo visual, mudanças no acompanhamento e uma maior rigidez com o perfil pressórico ocular do paciente são fundamentais.

Uma dificuldade que enfrentamos no dia a dia do con-sultório é na confirmação de defeitos glaucomatosos reais e a sua progressão. O campo visual é um exame subjetivo, que depende de diversos fatores externos, desde a cola-boração do paciente e da iluminação do ambiente até da experiência de quem o executa.

Apesar da interpretação do campo visual ser complexa, pretendemos descrever uma sequência de leitura do exame que pode facilitar a sua interpretação.

Antes de iniciarmos, vale uma descrição sucinta sobre o que seria limiar de sensibilidade. Cada ponto do campo visual apresenta um limiar de sensibilidade. Este ponto corresponde ao estímulo de menor intensidade visto 50% das vezes em que for apresentado. Na prática, pode ser considerado como

Campo visual simples e prático

Fabio N. Kanadani

Mestre pela Santa Casa de Belo Horizonte

Doutor pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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ARTIGO

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Figura 1: Impresso do campo visual.

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o ponto onde a menor intensidade luminosa é identificada pelo paciente. Ele ainda pode variar de acordo com o tama-nho e duração do estímulo, além de fatores externos como ambiente, erro de refração ou idade do paciente.

Devemos iniciar a interpretação do campo visual pela identificação do paciente e avaliação dos seus dados demo-gráficos (figura 1A).

Nessa região temos uma ideia geral do teste, com o nome do paciente, data de nascimento, olho examinado e o tipo de estratégia utilizada. É sempre importante considerar a idade do paciente na interpretação do exame. Em pacientes mais jovens, podemos correlacionar os defeitos a traumas oculares, defeitos refracionais, medicamentos, etc. Enquanto em pacientes mais idosos, devemos considerar a presença de catarata, degenerações maculares, diabetes, doenças neurode-generativas e dificuldade na realização do exame.

Já na região marcada na figura 1B, temos uma visão geral da técnica utilizada no exame, com data e tempo gasto no exame, além da acuidade visual, tamanho da pupila e o olho examinado. Além disso, há o tipo de teste realizado, a estra-tégia, o tamanho do estímulo e a iluminação do ambiente. Nessa região é importante levar em consideração os índices de confiabilidade (perdas de fixação [PF], falsos-negativos [FN] e falsos-positivos [FP]). Geralmente, os valores acima de 33% são considerados um exame não confiável. Acredi-tamos que esses valores são muito elevados e que a maioria desses pacientes, quando bem orientados a manter a sua fixa-ção durante o exame, apresenta uma redução nesses valores. Pacientes com baixa concentração, ansiosos, ou com baixa acuidade visual central, podem apresentar um alto índice de PF, enquanto aqueles desatentos, ou que se cansam fa-cilmente, um alto índice de FN e aqueles apressados, com personalidade tipo I, um alto índice de FP.

Em relação à duração do exame, ela depende da estratégia utilizada e da velocidade de resposta do paciente. Quanto maior a duração, maior a chance de o paciente se cansar e os resultados FN se tornam mais presentes. Um outro ponto importante é o tamanho da pupila, pois ela influencia dire-tamente na área do campo visual. Devemos repetir o teste se ela for menor do que 2 mm de diâmetro.

Na figura 1C temos os dados individualizados de cada ponto testado, na escala de decibéis (dB) e a escala de cin-za. Aqui podemos fazer uma avaliação global, identificar a presença de perdas absolutas de sensibilidade (0dB), além de obtermos alguma outra informação pontual. A escala de

cinza nos ajuda a identificar o defeito de modo mais grosseiro e é muito útil para demonstrar ao paciente o seu defeito e sua provável progressão.

O próximo passo seria a avaliação dos gráficos compara-tivos, total deviation (figura 1D) e pattern deviation (figura 1E). O total deviation evidencia áreas com redução da sen-sibilidade e as compara com indivíduos normais da mesma idade. Esse gráfico é muito importante na identificação de defeitos campimétricos, sejam eles relacionados ao glaucoma ou não. Esta medida é representada em porcentagem de in-divíduos normais que poderiam apresentar tal sensibilidade em determinado ponto. Um p < 2%, por exemplo, indica que menos de 2% dos indivíduos normais teriam a sensi-bilidade reduzida em tal ponto do campo visual. Por outro lado, o pattern deviation evidencia defeitos localizados, que são mais frequentes no glaucoma, atenuando os defeitos ge-neralizados. Seria uma nova análise dos dados, tendo uma nova altura da ilha de visão como referência. Aqui, defeitos como catarata, hemorragias vítreas leves ou pupilas pequenas poderiam “desaparecer”, fazendo-se evidenciar os defeitos mais localizados.

No campímetro Humphrey, há uma análise denominada “glaucoma hemifield test”, ou GHT (figura 1F). Esta aná-lise resulta da comparação de defeitos localizados nos he-micampos superior e inferior, em imagem espelhada. Pelo glaucoma acometer, geralmente, os hemicampos de modo assimétrico, esta análise nos ajuda a identificar estas diferen-

“Hoje, não há dúvida da importância clínica da avaliação

do campo visual em diversas patologias oculares

e neurológicas”

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ARTIGO

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Figura 3: Artefatos do exame de campo visual.

Figura 2: A: normal; B: instabilidade; C: piscar, influência palpebral ou olho seco; D: perdas de fixação aumentando com o tempo do exame; E: perdas ocasionais de fixação e F: fixação não confiável.

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ças numericamente. Ainda nesta região do impresso há os índices globais: “mean deviation” (MD) e o “pattern standard deviation” (PSD). Estes índices não devem ser utilizados para diagnóstico isoladamente, mas podem ser muito úteis para o acompanhamento e análise de progressão.

O campímetro Octopus traz informações muito seme-lhantes às descritas acima, mas ao invés do GHT, ele tem a curva de Bebie. Nesta curva, a sensibilidade de cada ponto é alocada em uma curva. Isto facilita uma visão global do campo visual, diferenciando facilmente a presença de defeitos generalizados de perdas localizadas.

Por último, há uma linha no canto inferior do impresso (figuras 1G e 2), que representa a movimentação ocular do paciente ao longo do exame. Muitas vezes podemos consi-derar ou desconsiderar um defeito de campo visual, seja ele novo ou uma possível progressão, de acordo com a leitura de sua movimentação ocular.

No glaucoma, há alguns defeitos funcionais típicos, como a exclusão da mancha cega, depressão generalizada do campo visual, escotomas paracentrais, degrau nasal, escotomas arqueados e ilhas residuais de visão.

Alguns defeitos não glaucomatosos devem ser excluí-dos, tais como: borda da lente corretiva (figura 3A), erros refracionais (figura 3B), queda palpebral (figura 3C), ta-manho pupilar (figura 3D) e luz fraca do aparelho.

Após uma visão geral do impresso e da importância de cada um dos gráficos, temos que considerar alguns pontos importantes.

Efeito aprendizado: Seria perfeito se o primeiro campo visual retratasse a realidade da sensibilidade da retina. Infe-lizmente, seja pela dificuldade de compreensão do exame, da coordenação motora, fatores emocionais ou dificuldades individuais, precisamos de uma sequência de exames (ao re-dor de três), demonstrando características semelhantes, para considerar um campo visual normal ou alterado. Devemos suspeitar de uma influência do efeito aprendizado quando es-tamos diante de resultados não correlacionados com o exame clínico do paciente, índices de confiabilidade fora dos padrões normais, ou quando o exame do olho esquerdo é nitidamente melhor do que o do olho direito (geralmente iniciamos o exame pelo olho direito e, quando o paciente faz o exame no outro olho, ele já tem uma melhor percepção do teste).

Progressão: Identificar uma progressão da perda de cam-

po visual é um dos nossos principais objetivos e, talvez, o nosso maior desafio. É importante não caracterizar uma al-teração de campo visual como um evento único. Muitas vezes nos deparamos com exames que sugerem um aumento de um escotoma ou o aparecimento de um novo defeito. Nestes casos é fundamental confirmar a presença de tais defeitos em outro exame antes de mudar o tratamento do paciente, seja trocando sua medicação, seja indicando procedimentos cirúrgicos. Atualmente, alguns campímetros possuem um sofisticado pacote estatístico para avaliar a progressão do campo. Os mais atuais chegam a comparar estas alterações campimétricas com espessura da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica, trazendo re-sultados surpreendentes. Apesar disso, uma das melhores maneiras de identificar uma progressão do campo visual é a análise seriada de exames, sempre comparando os seus acha-dos com a avaliação clínica do paciente.

CONCLUSÃOEnfim, a interpretação do campo visual é um processo

dinâmico, simples e objetivo, que deve ser praticado no dia a dia do consultório. Sempre questione o aparecimento de novos defeitos ou o aumento de algum já existente, considere as dificuldades do paciente, seus fatores emocionais no dia do exame, assim como as condições do ambiente, da pessoa que realiza o exame e não deixe de correlacionar os dados clínicos do paciente com os achados de seu campo visual. ■

“A interpretação do campo visual é um processo dinâmico,

simples e objetivo, que deve ser praticado no

dia a dia do consultório”

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MBE MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Há alguns anos, o diagnóstico de glauco-ma era baseado num tripé: medida da PIO, avaliação do nervo óptico e análise do campo visual. Essa tríade ainda é o nosso balizador no diagnóstico e acom-

panhamento dos pacientes com glaucoma. Porém, tanto para o especialista, como para o oftalmologista geral, ainda há certa dificuldade no diagnóstico de alguns pacientes suspeitos de serem portadores da doença. Sabemos que o dano estrutural (morte da camada de fibras nervosas - CFN) precede o dano funcional (perda do campo visual)1-3 e portanto aparelhos como o OCT, o GDx e o HRT tor-naram mais fácil a análise desse dano. Além disso, a análise do dano estrutural se faz de maneira objetiva, diferente dos testes funcionais (subjetivos, demorados). Neste artigo iremos ajudar o oftalmologista geral a interpretar o OCT. Não temos como objetivo entrar em detalhes técnicos dos diversos aparelhos de OCT disponíveis no mercado, sejam eles Time-Domain (TD) ou Spectral-Domain (SD) e sim traçar uma metodologia básica para análise do resultado do exame. Tomaremos como padrão o aparelho STRATUS OCT (Carl Zeiss Meditec Inc, Dublin, CA).

PRIMEIRO PASSOIdentificando o protocolo de aquisição da imagem. No

Stratus OCT há quatro tipos de protocolo para mensurar a camada de fibras nervosas. São eles: Fast RNFL Thick-ness (3.4), RNFL Thickness (3.4), RNFL Thickness (2.27 x disk) e RNFL map. Geralmente, os protocolos mais usados

são Fast RNFL Thickness e RNFL Thickness (3.4). Nos dois protocolos, são realizados três círculos de scan com um diâmetro de 3,4 mm ao redor do disco óptico. Uma média da medida da camada de fibras nervosas desses três círculos é então calculada. As medidas da camada de fibras nervosas medidas pelo OCT são confiáveis e reprodutíveis, tanto em pacientes normais como em glaucomatosos4-6. Importante salientar que o OCT não é um bom exame para medida da escavação do disco óptico através do seu módulo Optic Ner-ve Head Analysis.

SEGUNDO PASSOChecando a qualidade da imagem adquirida e a força

do sinal. É impossível interpretar corretamente um exame de OCT se a qualidade da imagem for ruim ou o sinal estiver muito baixo. Falsas impressões de perda da CFN podem aparecer se o sinal for muito baixo. A força do sinal da imagem pode variar de 1 a 10, onde 1 representa o pior sinal e 10 o melhor sinal de imagem. Sinais baixos geralmente são encontrados quando o ajuste de foco não foi realizado de maneira correta ou em pacientes porta-dores de opacidades de meios (catarata, opacidades de córnea, etc.). Portanto, é fundamental o ajuste do foco. O fabricante recomenda que uma boa imagem deve ter um sinal mínimo de 57. É importante salientar que a força do sinal é diretamente relacionada com a espessura da CFN (figura 1)8-9; portanto, imagens com sinais maiores que 7 são desejáveis para uma análise mais confiável da camada de fibras nervosas.

Interpretando OCTDaniel Justa

Preceptor de Glaucoma da UFC - Universidade Federal do CearáDiretor Clínico do Centro Visual Valter Justa

Ex-fellow Glaucoma Wills Eye Hospital

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Figura 1. A força do sinal é diretamente relacionada à espessura da CFN

Figura 2. Perfil da CFN normal: gráfico de dupla corcova Figura 3. Análise setorial da espessura da camada de fibras nervosas

Paciente 4. Análise de regressão linear da espessura da camada de fibras nervosas ao longo dos anos

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MBE MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

TERCEIRO PASSOChecando a posição (alinhamento) da imagem. É funda-

mental centrar o círculo de aquisição da imagem no centro do disco óptico. Os erros de medida da CFN variam com a direção e a distância do descentramento do círculo de aqui-sição da imagem10. As medidas inferiores e superiores da camada de fibras nervosas são mais vulneráveis aos erros de alinhamento da imagem.

QUARTO PASSOAvaliando a camada de fibras nervosas (CFN). O perfil

da CFN normal se apresenta como um gráfico de dupla corcova (figura 2). Em pacientes com glaucoma, há perda da CFN que geralmente se inicia nos polos superior ou inferior do disco óptico, resultando em “achatamento” da dupla corcova (figura 2). A análise setorial da espessura da camada de fibras nervosas é disposta como um gráfico circular dividido em quadrantes, onde cada setor pode ter uma cor verde, amarela ou vermelha (figura 3). Verde significa normal (onde se encontram 5-95% da distribui-ção normal), amarelo significa linha de fronteira (onde se encontram 1-5% da distribuição normal) e vermelho (onde se encontram 0-1% da distribuição normal). O gráfico da média da CFN nos dá informações valiosas, tais como: Smax (espessura máxima no polo superior), Imax (espessu-ra máxima no polo inferior) e Avg Thick (espessura média da CFN). São considerados valores normais para Smax e Imax, espessuras acima de 125 micra. O valor normal da espessura média da CFN é entre 100-120 micra. Pacientes com glaucoma inicial geralmente têm uma espessura da camada de fibras nervosas inferior a 80 micra, enquanto pacientes com glaucoma mais avançado têm uma espessura da CFN inferior a 40 micra.

Ainda é possível avaliar também a progressão do dano glaucomatoso com o OCT, através do seu protocolo GPA (Glaucoma Progression Analysis). São necessários pelo menos três exames para que o aparelho possa efetuar a análise de progressão. O gráfico do GPA é mostrado como uma análise de regressão linear da espessura da camada de fibras nervosas (coordenada Y), ao longo dos anos (coor-denada X) (figura 4). É importante que o oftalmologista nunca analise um exame isoladamente, pois em muitos casos só conseguimos chegar a um diagnóstico preciso com a análise de vários exames (estruturais e funcionais) juntamente com o exame detalhado do disco óptico. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Kerrigan-Baumrind LA. Quigley HA and Pese ME et al.

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tomography retinal nerve fiber layer thickness measurement:

A RNFL modelling study. Eye 2008.

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