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1 UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU FACULDADE INTEGRADA AVM TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO PROCESSO NA PRÁTICA NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS Luiz Orlando Costa Teixeira Orientadora: Prof. (a) Mônica Melo Rio de Janeiro 2011

UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · que influenciam a ampliação do consenso quanto à importância da formação pedagógica do professor universitário e justificam

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UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

FACULDADE INTEGRADA AVM

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO PROCESSO

NA PRÁTICA NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Luiz Orlando Costa Teixeira

Orientadora: Prof. (a) Mônica Melo

Rio de Janeiro

2011

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UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

FACULDADE INTEGRADA AVM

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO PROCESSO

NA PRÁTICA NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes com requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Docência do Ensino Superior.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha familia, aos meus professores e

a todos que contribuiram para que este trabalho

fosse realizado.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha mãe Suely e a

meu pai Orlando.

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RESUMO

Este trabalho monográfico propõe-se a refletir sobre alguns aspectos

que influenciam a ampliação do consenso quanto à importância da formação

pedagógica do professor universitário e justificam a necessidade de que esta

formação seja tomada de forma mais efetiva. Serão apresentados todos os

dados apresentados no presente trabalho em conjunto com as críticas dirigidas

à falta de didática dos docentes universitários, podemos concluir que o

panorama do ensino superior hoje no Brasil aponta, cada vez mais, para a

necessidade de formação pedagógica de seus professores, podendo até vir a

se constituir numa exigência do sistema educacional. As exigências que neste

momento se colocam ante o desenvolvimento das novas titulações e a

implantação de planos de estudo modernos, flexíveis e relacionados com o

mundo do trabalho, assim como o fato de que a profissão docente se exercita

em um contexto espaço-temporal determinado, com umas pessoas

determinadas, que exigem uma adaptação particular àquelas condições e

características pelas quais é necessário preparar o docente, constituem-se em

razões mais que suficientes para considerar que a docência universitária é

importante e a formação de seus p rofissionais já não admite demora. Alterar a

prática docente e ousar tem se apresentado como tarefa inglória na escola

pública.

Palavras-Chave: Tendências Pedagógicas, Educação Física, Ensino Público.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 07

CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................... 09

CAPÍTULO II: AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA

PRÁTICA ESCOLAR BRASILEIRA E SEUS

PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM ................................. 28

CAPÍTULO III: A RENOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR –

DESAFIOS E PERSPECTIVAS ............................................... 37

CONCLUSÃO ................................................................................................. 44

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46

ÍNDICE ............................................................................................................ 51

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INTRODUÇÃO

A presente monografia faz uma análise crítica referente ao ensino

superior no Brasil, enfocando a legislação brasileira referente ao assunto

abordado, a formação dos professores universitários verificando os novos

desafios postos à educação superior brasileira.

Para a realização do referido trabalho, houve uma extensa pesquisa

bibliográfica, onde se procurou levantar dados documentais, buscando elucidar

em livros, textos doutrinários, artigos científicos e outras fontes, os mais

diversos aspectos concernentes ao tema sobre o qual foi desenvolvida esta

monografia.

Esta monografia objetiva analisar a realidade vivida pela educação

superior brasileira, especificamente no que concerne a formação dos

professores. Pretende ainda mostrar a carência de formação acadêmica

pedagógica adequada aos professores, visando identificar as razões pelas

quais esta formação pedagógica tem sido negligenciada ao longo do tempo e

os aspectos que demonstram a necessidade de se melhorar essa formação.

Os cursos de formação de professores vêm sofrendo inúmeras e severas

criticas, pois não têm atendido suficientemente às necessidades da sociedade

brasileira.

Essa verificação foi feita através de uma crítica da linha pedagógica dos

cursos que formam professores e da importância de se rever a prática

pedagógica e o sistema de avaliação, frente à evolução tecnológica.

Pretende ainda o presente trabalho, mostrar a necessidade de se

repensar a prática avaliativa; analisar os instrumentos de avaliação utilizados

na prática educativa, propondo adequação, de acordo com as necessidades

atuais.

Por fim, analisa medidas para a organização e melhoria dos cursos de

formação, levando em conta, necessariamente, o contexto da educação e suas

relações com a sociedade. Melhorar a qualidade e eficácia da formação dos

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docentes é uma medida fundamental para atendermos a construção da

profissão do professor.

Com a chegada do terceiro milênio, pensou-se em contemplar este tema

em função do grande desafio que a ação docente vem enfrentando na busca

da qualidade do ensino.

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CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Na determinação do crescimento econômico, a ênfase dada à

contribuição do capital e do trabalho é bastante significativa, uma vez que

essas variáveis afetam positiva ou negativamente o nível do produto e do

emprego. A magnitude dos impactos dessas variáveis sobre o PIB, no entanto,

depende da contribuição de fatores implícitos, como níveis educacionais e

tecnológicos (SOUZA, 2005). A educação pode ser considerada decisiva para

o uso correto de novas tecnologias e para o aumento da produtividade, sendo

inclusive apontada por autores, como Mincer (1981) e Romer (1994) como

decisivas para o crescimento econômico.

Para verificar como se encontra a produção de novos conhecimentos no

Brasil, em uma primeira aproximação, far-se-á uma análise da educação do

país, focalizando a educação básica (ensino fundamental e ensino médio) e a

educação superior. Parte-se do pressuposto que é através de todos os níveis

de ensino que se pode avaliar a qualidade do fator trabalho; que mais anos de

estudos e educação de melhor qualidade permitem à população obter maior

aptidão para interagir com as novas situações encontradas no mercado de

trabalho, que está ficando cada vez mais concorrido, tendo em vista o

surgimento de novas tecnologias em um processo de globalização crescente.

A formação da mão-de-obra no Brasil ainda é muito deficiente. A média

de estudo da população com 10 anos ou mais de idade foi de apenas 6,4 anos,

em 2002/03. Embora o ensino fundamental tenha registrado a taxa de

matrícula líquida de 99%, em 2001, a qualidade do ensino em todos os níveis

ainda deixa muito a desejar. Este artigo destacará os aspectos quantitativos e

qualitativos da educação. Em relação à qualidade, serão considerados os

resultados dos testes do desempenho dos alunos feitos pelo SAEB (Sistema de

Avaliação do Ensino Básico), pelo ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e

pelo ENC (Exame Nacional de Cursos, também conhecido como “Provão”).

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1.1 Aspectos quantitativos da educação no Brasil

Em relação ao primeiro grau, o Brasil possui uma taxa de matrícula

líquida de 100%. Isso indica que todos os jovens entre 7 e 14 anos estão na

escola. Porém, quando se observa a taxa de concluintes, os resultados são

bem menos encorajadores. Por exemplo, no ano 2000, apenas 44% dos alunos

matriculados conseguiram finalizar este grau de ensino.

A taxa de matrícula líquida no ensino fundamental brasileiro era de

apenas 68%, reduzindo-se ainda a 64% em 1980. Nos anos de 1980, essa taxa

aumentou, chegando a 86% em 1991, a 90% em 1995 e a 101% em 2003.

Uma taxa superior a 100% explica-se pelos benefícios concedidos pelo

FUNDEF. Através desse fundo, os Estados e Municípios recebem recursos da

União em proporção ao número de alunos matriculados no primeiro grau, com

idade variando de 7 a 14 anos. Segundo Schwartzman (2004):

Isso explica uma inflação de matrículas no ensino fundamental, em decorrência da admissão prematura de crianças com menos de sete anos, ou pela presença de alunos com mais de 14 anos que já deveriam estar cursando o EJA (Educação de Jovens e Adultos). (p. 487)

Entretanto, essa universalização de matrículas no ensino fundamental

não se traduz em alunos concluintes na mesma proporção, como já se

mencionou acima (44% em 2000). Entre os alunos que concluem o primeiro

grau, apenas 72,2% seguem para o ensino médio. Os demais ficam pelo

caminho, marginalizados com instrução e preparo insuficientes para

enfrentarem o mercado de trabalho.

Um dos grandes problemas associados a esse grau de ensino diz

respeito à repetência, à evasão e à distorção idade-série. A taxa de repetência

é bastante elevada no Brasil, mas está se reduzindo ao longo do tempo. Ela se

encontrava em patamares médios de 36%, na década de 1980, reduzindo-se

para 30%, em média, na década de 1990; no início do século 21 o índice de

repetência situou-se em torno de 20%.

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Quanto à evasão, não houve nenhuma alteração significativa no período,

mantendo uma média de 7% entre 1981 e 2002. Entretanto, o índice de

aprovação mantinha-se em níveis muito baixos nos anos de 1980 (57%),

elevando-se a 68% nas décadas de 1990 e 2000.

De acordo com Parente e Lüc (2004):

Esses dados indicam que, apesar dos esforços dos governantes, no período, os resultados foram modestos, constituindo para alguns autores um “fracasso escolar”. Elevados índices de repetência indicam baixa produtividade no sistema educacional. Em 1998/99, 40% dos alunos, em média, repetiram a primeira série do ensino fundamental. (p. 16)

Esses dados indicam que o problema da repetência é uma realidade que

há tempos faz parte da educação brasileira. Na década de 1970, a taxa de

repetência na primeira série era de 24%, chegando a 30% em 1980 e a 46%

em 1995.

Outra distorção da educação brasileira refere-se à intensificação da

evasão escolar de alunos com mais de 14 anos que não conseguem terminar o

ensino fundamental. Para Schwartzman (2004): Constitui-se, assim, uma geração

de jovens que não possui as condições mínimas para entrar no mercado de trabalho,

que se daria pela conclusão do primeiro grau. (p. 490)

Outro problema gerado pela evasão e a repetência é a distorção de

idade-série, pois mais de “60% dos alunos do ensino fundamental acumulam

dois ou mais anos de defasagem em relação à série que deveriam estar

cursando” (PARENTE & LÜCK, 2004, p. 18). Como conseqüência, o atraso da

conclusão do ensino fundamental compromete o ensino secundário (IOSCHPE,

2004, p. 142).

A distorção idade-série no ensino fundamental, em 1996, apresentava

uma taxa de 47%, que chegou a 44% em 1999 e a 33,9% em 2003. Como se

observa, essas taxas são decrescentes, com um sensível diminuição a partir

dos anos de 2000, mas são ainda muito elevadas.

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Para melhor elucidar este grave problema da educação brasileira,

apresenta-se, a seguir, as seguintes distorções idades-série, para o ensino

fundamental em 2003 (INEP, 2004): a) crianças com 10 anos de idade, que

deveriam estar na 4ª série, apresentam índices de distorção idade-série de

33,3% (para cada 1000 crianças freqüentando a 4ª série, 667 possuíam a

idade de 10 anos, enquanto 333 estavam com idade superior); b) crianças com

11 anos de idade (5ª série), têm um taxa de distorção idade-série de 43,4%

(566 possuíam 11 anos e 434 estavam com mais idade); e, c) crianças com 14

anos de idade (8ª série), apresentam uma distorção idade-série de 40,6% (594

possuíam 14 anos e 406 estavam com idade superior).

Estes números indicam que um dos grandes desafios da educação

fundamental é adequar as idades dos alunos às séries que estão cursando.

Segue outro importante problema da educação brasileira que é o baixo

percentual de alunos concluintes desse nível de ensino. Entre 1999 e 2002, a

relação entre os que entravam na primeira série do ensino fundamental e os

que concluíam era, em média, de 44%; ou seja, de cada 100 alunos entrantes,

somente 44 eram concluintes. Cabe destacar que essa taxa exclui os alunos

pertencentes ao EJA, composto por alunos com idade acima de 18 anos.

1.2 Analfabetismo e escolaridade adulta

Tendo em vista as distorções do ensino fundamental, as pessoas com

poucos anos de estudo passam a constituir semi-analfabetos. A realidade da

escolaridade da população adulta no Brasil é muito deprimente e peca contra a

dignidade humana. O acesso à educação é um direito de todos; porém, tendo

em vista a ignorância generalizada da população, sobretudo a mais pobre, a

importância desse direito não chega a ser percebido.

Segundo o IBGE, pessoas analfabetas são aquelas incapazes de ler e

escrever; assim, as pessoas que apenas assinam o próprio nome são também

consideradas analfabetas. Esse conceito envolve pessoas que se encontram

na faixa etária de 15 anos ou mais; essa parcela da população já deveria ter

freqüentado todo o ensino fundamental, sendo este obrigatório.

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A taxa de analfabetismo, no Brasil, que montava a 40% em 1970,

reduziu-se rapidamente a partir de 1980, chegando a 22% em 1990 e a 11,6%

em 2003. O declínio dessa taxa foi muito modesto entre 1994 e 2003, quando

se reduziu apenas 2%. Outro dado digno de nota, apontado pelo IBGE, é a

taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais de idade,

igual a 24,8%, em 2003 (IBGE, 2003).

Artigo divulgado pelo Jornal O Globo on line (edição de 09/09/2005)

destacou que 75% da população entre 15 e 64 anos lêem mal, compreendendo

parcialmente o texto; apenas 26% são capazes de dominar plenamente a

leitura e 68% dessa população são constituídos por analfabetos funcionais. A

situação da população economicamente ativa que se encontra na faixa dos 25

anos ou mais de idade não é menos precária.

Altas taxas de analfabetismo propriamente dito e a presença de

analfabetismo funcional é uma das faces do atraso educacional brasileiro; a

outra face diz respeito aos desequilíbrios educacionais do País, tendo em vista

a má qualidade do ensino e ao tempo excessivo de estudos necessários para

que os alunos concluam o ensino fundamental e o ensino médio, em função de

repetência e evasão escolar.

Diante disso, a escolaridade média do conjunto da população com mais

de 10 anos de idade é de apenas 6,4 anos de estudos. Essa média varia muito

em função da faixa de idade; entre os 15 e 19 anos, 11,3% possuem menos de

4 anos de estudos; entre os 18 e 19 anos, a média sobe para 8,2 anos de

estudos (ensino fundamental completo); entre os 20 e 24 anos, tem-se a maior

média de estudos (8,5 anos), mas 28% dessa faixa de idade tem uma média de

apenas 4 a 7 anos de estudos (IBGE/SIDRA, 2000).

1.3 Ensino médio

O ensino médio no Brasil, segundo Mello (1998, p. 2), é o “ensino de

minorias sobreviventes”. Essa observação baseia-se no fato de que, em 2000,

dos 10 milhões de jovens com 15 a 17 anos, somente 3,3 milhões estavam

matriculados no ensino médio (33%). Em 1970, essa taxa era de apenas 10%

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(Tabela 1), chegando a tão somente 21% em 1994. Observa-se que ainda

existe uma baixa relação entre demanda potencial por matrículas do 2º grau e

demanda efetivamente ocorrida.

TABELA 1: Ensino médio e as taxas de escolaridade líquida e bruta no

Brasil (1970-2000) (%):

Ano Taxa de escolaridade líquida

Taxa de escolaridade bruta

1970 10,0 30,0 1975 12,0 16,5 1980 14,0 20,0 1991 18,0 42,0 1994 21,0 1998 30,0 1999 33,0 72,0 2000 33,0 77,8

Fonte: INEP e IBGE (2003) (CD ROM-ESTATÍSTICAS DO SÉCULO XX)

O problema da distorção idade-série é salientado pela diferença das

taxas de escolaridade líquida e bruta (estas incluindo todos os alunos

matriculados no 2º grau). Esses dados indicam que, em 2000, somente 1/3 da

população em idade adequada conseguiu se matricular no ensino médio. Os

2/3 dos alunos restantes estão provavelmente matriculados no ensino

fundamental (defasagem idade-série). São alunos que, na sua maioria,

estudam à noite (Ioschpe, 2004, p. 143). Em 1999, a taxa de distorção idade-

série do 2º grau foi de 55%; em 2003, esse percentual declinou para 49%,

sendo ainda muito elevado. Constata-se que 41,8% dos jovens entre 18 e 24

anos estão em séries adequadas para outras faixas de idade; esse percentual

é muito elevado se for considerado que muitos alunos nessa faixa de idade já

se encontram no mercado de trabalho. Destaca-se que, sem a conclusão de 2o

grau, os jovens têm dificuldades de encontrar um emprego e o despreparo da

mão de obra reduz competitividade do País. Nessa faixa de idade, os jovens

apresentam uma qualificação precária, defrontando-se com um mercado de

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trabalho que necessita cada vez mais pessoas de pessoas com melhor

qualificação, conhecendo a língua inglesa e informática.

1.4 Aspectos quantitativos do ensino superior

A grande defasagem idade-série do ensino básico reflete-se

negativamente no ensino superior. Assim, quando se compara os dados

educacionais do Brasil com outros países, percebem-se os seus fracos

indicadores (Tabela 2).

TABELA 2: Taxas de matrícula bruta no ensino superior de países

selecionados (1965-1995) (%):

Países 1965 1975 1985 1995 Argetina 15 27 36 39 Brasil 2 11 11 12 Canadá 26 39 56 90 Chile 6 16 16 28

Coréia do Sul 6 10 34 52 Estados Unidos 40 57 58 81

Mèxico 4 11 16 15 Paraguai 4 7 9 11 Uruguai 8 16 24 28

Fonte: Higher Education (2000, v. 1, n. 20.182, www.wds.worldbank.org)

A taxa de matrícula bruta do ensino superior resulta da divisão do total

de matrículas existentes pela população do grupo de idade dos 21 aos 24

anos. Quanto mais próxima de 100 estiver a taxa, maior será a inserção dos

jovens no ensino superior. O Brasil apresentou nestes 30 anos baixas taxas de

matrícula no ensino superior, chegando a 12% em 1995, contra apenas 2% em

1965. Entre os países da Tabela 2, o Brasil ficou apenas na frente do Paraguai.

Estes indicadores possuem uma relação direta com a desigualdade de

renda, principalmente na América Latina; um exemplo é o Paraguai, onde os

salários pagos no ensino superior, comparado-os com os do ensino médio,

variam 300% (FINANCING EDUCATION, 2003, p. 6).

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Para Castro (2003):

O ensino superior no Brasil teve grande impulso a partir de 1970 com o aumento de recursos orçamentários para a ampliação das universidades federais. A idéia era a de que o País precisava de técnicos para impulsionar o desenvolvimento econômico. (p.18)

Isso ocorreu com a criação de novos cursos e carreiras que não

possuíam sequer regulamentação.

De acordo com Souza (2005):

Esta expansão teve reflexos mais sérios na década de 1970, quando o crescimento do ensino superior encontrava-se extremamente desordenado e não havia nenhuma subordinação frente aos órgãos governamentais. (p. 171)

Somente em 1975 o Ministério da Educação tomou providências para

revisar as normas de abertura de novas instituições privadas. Foi criado em

1980 o Conselho Federal de Educação - CFE para analisar propostas de

abertura de novas instituições privadas de ensino superior. Tal medida

bloqueou até 1999 a ampliação de novas vagas para o 3º grau nas

universidades públicas. Desse modo, o número de matrículas permaneceu

constante em relação ao crescimento populacional (IDEM, p. 172).

Na Tabela 3 percebe-se que, até 1985, cresceu o número de instituições

públicas de ensino, com redução posterior pelas restrições impostas pelo CFE.

A partir de 1999, simplificou-se a abertura de novos cursos e instituições,

cabendo às instituições privadas preencher a lacuna deixada pelas

universidades públicas. Cresceu também a oferta de novos cursos, que

duplicaram a partir de 1995.

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TABELA 3: Número de instituições e de cursos de nível superior

existentes no Brasil (1970/2004):

Ano Instituições Públicas

Instituições Privadas

Cursos

1970 184 435 2.221 1975 215 645 3.497 1980 200 682 4.394 1985 233 626 3.923 1990 222 696 4.712 1995 210 684 6.252 2000 122 1.004 10.583 2001 183 966 12.155 2002 195 1.442 14.399 2003 207 1.652 2004 219 1.801

Variação % (1770/04) 19,0 314,0 Fonte: IBGE (2003, Publicações IBGE em CD-ROM. Estatísticas do Século XX) E INEP (www.inep.gov.br)

O número das instituições públicas de ensino superior estagnou entre

1970 e 2004, enquanto o número de instituições privadas cresceu 314%

nesses 34 anos. A oferta total de cursos, no entanto, teve um crescimento de

6,5 vezes, entre 1970 e 2002. Este aumento do número de instituições privadas

e de novos cursos atendeu a demanda crescente por vagas nas universidades,

já que foi impossível de ser plenamente atendida pelas universidades públicas,

que se estruturam segundo um modelo seletivo.

Avaliando-se a relação candidato-vaga dos processos seletivos,

observa-se seu lento crescimento: 2,3 em 1970; 4,5 em 1980; 3,8 em 1990 e

3,3 em 2000 (MEC/INEP, 2004). Essa baixa relação não reflete a grande

disputa pelas vagas das universidades públicas, pois o cálculo é feito pela

soma de todos os inscritos nas instituições de ensino superior (público e

privado), dividindo o resultado pelo número das vagas existentes no conjunto.

Esses dados não mostram, portanto, que a demanda de vagas é muito mais

acirrada nas instituições públicas, onde existe a gratuidade do ensino, do que

nas instituições privadas.

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Como se observa na Tabela 3, o número de vagas nas instituições

públicas não aumentou significativamente, tendo em vista a redução do número

de instituições públicas de ensino. Desse modo, aumentou substancialmente a

concorrência para acesso ao ensino público superior. Este “gargalo” é maior

em determinados cursos, como Medicina, Direito, Administração e Informática,

onde a reduzida oferta de vagas tem como conseqüência a alta relação

candidato/vaga.

GRÁFICO 1 - Relação candidato/vaga para os cursos de maior demanda

(1998) (%):

Fonte: MEC/INEP (07/12/2004)

O Gráfico 1 mostra a relação candidato/vaga para os cursos de maior

demanda, englobando o ensino público e o ensino privado. Em 1998, os dez

cursos com maiores índices de disputa foram Direito, Administração, Medicina,

Engenharia, Pedagogia, Odontologia, Comunicação Social, Letras, Ciências

Contábeis e Psicologia. Percebe-se a maior preferência dos candidatos para os

cursos de Direito, Administração e Medicina.

Segundo Sampaio (2005):

Essa maior demanda encontra explicação tanto na possibilidade de obtenção de emprego e renda, como prestígio

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social, por tratar-se de carreiras de grande tradição e aceitação social. O acesso a esses cursos sempre foi muito disputado, resultando elevada relação candidato/vaga nos vestibulares. (p. 98 e 99)

Graduações ligadas às Ciências Sociais, Comunicação e Administração

são carreiras que não requerem alto investimento, como laboratórios,

professores de tempo integral, podendo, assim, oferecer anuidades com menor

valor. Tais cursos cumprem, dessa forma, uma função compensatória

(SAMPAIO, 2000, p.98). Alguns cursos são segmentados, com subdivisões em

outras áreas, como no caso da Administração, que se reparte em Comércio

Exterior, Administração Hospitalar, etc. A maior parte desses cursos pertencem

a instituições privadas de ensino, por se tratarem de cursos novos.

A maioria dos ingressos no ensino superior ocorre nas instituições

privadas de ensino (Tabela 4), chegando a 79% em 2002. Isso se deve à

redução da oferta de vagas nas instituições públicas a partir de 1985,

ocorrendo o oposto nas instituições privadas; em 1980, a participação destas

últimas no total de oferta de vagas foi de 67%, caindo para 64% em 1985, mas

elevando-se a seguir. Esse aumento de oferta de vagas pelas instituições

privadas se traduziu na expansão das taxas de escolaridade líquida do ensino

superior. Essa taxa aumentou de 5,4% na década de 1970, para 11,5% nos

anos de 1980 e para 15% nos anos de 1990.

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TABELA 4: Ingressantes no ensino superior no Brasil por tipo de

instituição (1980-2002) %:

Ano Federais

Estaduais Municipais Total Públicas

Privadas

1980 17,4 8,6 6,9 32,9 67,0 1985 17,4 10,8 7,5 35,7 64,0 1990 14,2 11,0 5,9 31,1 70,0 1995 14,2 11,0 5,6 30,8 69,0 2001 11,5 8,8 2,4 22,8 77,3 2002 10,0 10,0 2,6 22,7 79,0

Fonte: MEC/INEP (2004)

O aumento das taxas de escolarização líquida não teve como

contrapartida o aumento nas taxas de conclusão. Entre 1970 e 2002, a média

de alunos concluintes foi de apenas 16%, ou seja, em cada 100 alunos que

ingressam no ensino superior apenas 16 o concluem. Como foi visto, as

instituições privadas predominam no ensino superior no Brasil. Pela evolução

do número de instituições públicas de ensino, percebe-se que a oferta de

vagas não acompanhou o crescimento da demanda.

Para Corbucci (2000):

A procura de vagas nas universidades está se expandindo rapidamente, tanto pela ampliação do ensino médio, como pelo fato da classe média brasileira ter buscado nos últimos anos o ensino superior público pela perspectiva de ascensão social. (p. 29)

A análise feita até aqui mostrou que os indicadores que melhoraram

foram as taxas de matrículas do ensino fundamental, o número de entrantes no

ensino médio, a taxa de analfabetismo e o número de pessoas com 21 a 24

anos no ensino superior. Entretanto, a qualidade do ensino básico tem se

mostrado muito baixa, como indicam os dados sobre o desempenho dos

estudantes brasileiros no Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico

(SAEB).

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21

1.5 A qualidade do ensino básico

A partir de 1995 foram criados mecanismos para avaliar a qualidade de

ensino no Brasil, um desses mecanismos são os testes do SAEB, realizados a

cada dois anos. Trata-se de uma avaliação feita com aplicação de testes e

questionários a estudantes das 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª

série do ensino médio. As disciplinas avaliadas são Português e Matemática.

Em Língua Portuguesa avalia-se a proficiência em leitura e interpretação de

texto; em Matemática, verifica-se a capacidade do aluno em resolver

problemas usando aritmética, geometria, noções estatísticas, conforme o grau

de cada série.

A avaliação do ensino médio é feita também pelo desempenho dos

alunos nos quesitos redação e prova de conhecimentos gerais (objetiva),

realizado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O SAEB ocorre de

dois em dois anos, enquanto o ENEM é anual.

Em 2003, o SAEB determinou como critério de avaliação uma pontuação

máxima para o ensino básico de 375 pontos em Português e de 425 pontos em

Matemática; para a 4ª série, estabeleceu um escore mínimo de 200 pontos em

Português e de 300 para Matemática. Já para a 8ª série, a pontuação mínima

foi de 300 pontos para ambas as disciplinas. No 3º ano do ensino médio, a

pontuação mínima foi de 350 para Português e de 375 para Matemática.

Os alunos da 4ª série do ensino fundamental obtiveram em Português a

média de 165,1 pontos em 2001 e de 169,4 pontos em 2003. Nesses mesmos

anos, a média de Matemática também ficou abaixo do desempenho mínimo

exigido (176,3 e 177,1). Entretanto, houve uma ligeira melhoria nessas médias,

indicando um pequeno progresso (MEC/INEP/SAEB, 2004).

Os alunos da 8ª série do ensino fundamental também não alcançaram

os patamares mínimos adequados para o seu nível, mas para o nível da 4ª

série. Em Português, os escores médios foram 235,2 em 2001 e 232,0 em

2003. Um dos fatores desse fraco desempenho, principalmente em Português,

pode ser o fato de que 73% das escolas de ensino fundamental não possuem

bibliotecas (MEC/INEP/SAEB, 2004). Esta constatação, com certeza, tem-se

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traduzido em maior dificuldade para os alunos desenvolverem o hábito da

leitura, e, por conseqüência, de melhorarem o desempenho na interpretação de

textos e na redação. Em Matemática, as médias para a 8ª serie foram 234,4

em 2001 e 245,0 em 2003. Esses resultados indicam as deficiências dos

estudantes e suas dificuldades para enfrentar o ensino médio no futuro.

Os estudantes do 3º ano do ensino médio também não conseguiram

atingir a pontuação mínima (300 pontos); em Língua Portuguesa, os escores

médios foram 262,3 em 2001 e 266,7 em 2003. Em Matemática, o resultado

ficou também bem abaixo da pontuação mínima exigida: 276,1 em 2001 e

278,1 em 2003. Com o acúmulo das deficiências provenientes do ensino

fundamental e do ensino médio, percebe-se que os alunos terão dificuldades

para obter bom desempenho na universidade e, depois, na vida profissional. As

carências são cumulativas, prejudicando futuramente a competitividade da

economia brasileira.

Na Tabela 5 pode-se ter uma melhor visualização do desempenho dos

alunos nas cinco avaliações realizadas pelo SAEB desde 1995. Constata-se

nessa tabela que o desempenho dos alunos está em declínio, a cada avaliação

do SAEB. Os técnicos que avaliaram os dados desses testes concluíram que

74% dos estudantes agregam conhecimentos referentes ao ensino

fundamental no 3º ano do ensino médio; que 21% adquirem as habilidades da

8ª série no final do 2º grau; que os alunos adquirem conhecimentos do ensino

fundamental no ensino médio; que este grau de ensino está acrescentando

poucos conhecimentos aos estudantes; que há grande deficiência nesse nível

educacional (MEC/INEP/SAEB, 2004, p. 8).

TABELA 5: Média de desempenho dos brasileiros no SAEB (1995-2003):

Série Português Matemática 1995 1997 1999 2001 2003 1995 1997 1999 2001 2003

4ª 188 186 171 165 169 191 191 181 176 177 8ª 256 250 233 235 232 253 250 246 243 245 11ª 290 284 267 262 267 282 289 280 277 279

Fonte: MEC/INEP/SAEB (2004) e IOSCHEP (2004)

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O SAEB apresenta uma classificação onde são estabelecidos quatro

estágios de desempenho. Nos anos de 2001 e 2003, 67% dos alunos que

concluíram o ensino médio apresentaram níveis de aprendizagem, em

Matemática, aceitáveis apenas para a 4ª série do ensino fundamental

(MEC/INEP/SAEB, 2004, p. 12). Entre 2001 e 2003, o número de alunos

classificados no estágio muito crítico aumentou de 4,8% para 6,5%, enquanto o

número dos classificados como crítico manteve-se inalterado, com uma ligeira

melhora no desempenho dos alunos no nível adequado, já o número de alunos

na classificação intermediária caiu de 26,6% em 2001, para 24,3% em 2003

(Tabela 6). Percebe-se que nesse período piorou o desempenho em

Matemática dos alunos do 3º ano do ensino médio.

TABELA 6: Nível de desempenho na dsciplina de Matemática por parte

dos alunos do 3º ano do ensino médio brasileiro (2001-2003) %:

Estágios 2001 2003 Muito Crítico 4,8 6,5

Crítico 62,6 62,3 Intermediário 26,6 24,3 Adequado 6,0 6,9 Total 100,0 100,0

Fonte: MEC/INEP/SAEB (2004)

Segundo o MEC/INEP/SAEB (2004, p. 8), os principais fatores do baixo

desempenho dos alunos que concluem o ensino médio são: a) 76% dos alunos

classificados no estágio muito crítico freqüentam o ensino noturno; b) 96% são

estudantes de escolas públicas; c) 48% dos alunos conciliam trabalho com

estudos; e c) 84% dos alunos estão com idade acima da considerada

adequada. Os alunos que obtiveram uma avaliação adequada, por seu turno,

possuem outra realidade: a) 76% freqüentam escolas privadas; b) 89%

assistem às aulas no período diurno; c) 87% são estudantes de tempo integral;

e d) 84% dos estudantes não possuem distorção idadesérie.

O desempenho dos participantes em provas objetivas e de redação

realizado pelo ENEM indicou que a situação ideal de formação do aluno no

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ensino básico (fundamental e médio) não ocorre nos 11 anos de ensino, o

tempo de seqüência normal, pois o seu desempenho médio fica prejudicado

(Tabela 7). A constatação para esse fraco desempenho dos alunos, com anos

de estudo acima do tempo adequado, reside na distorção existente entre a

idade do aluno e a série escolar cursada. Entretanto, os alunos que concluíram

o ensino básico em 11 anos e o ensino fundamental em 8 anos obtiveram

rendimentos melhores (MEC/INEP/ENEM, 2002, p.147).

TABELA 7: Média das notas da prova objetiva e da prova de redação

segundo a duração do ensino fundamental e do ensino médio do Brasil

(2001):

Duração do Ensino Fundamental e do Ensino Médio

Prova Objetiva

Redação

Ensino fundamental e ensino médio em 11 anos 45,3 54,9 Ensino fundamental em 8 anos 44,8 56,4 Ensino fundamental em 11 anos 32,9 45,0

Ensino médio em 3 anos 41,7 53,9 Ensino Médio em 6 anos 35,7 46,7

Total 40,6 52,6 Fonte: MEC/INEP/ENEM (2002)

OBS.: Notas com escala de 0 a 100, sendo [0;40] insuficiente a regular; [40,70] regular a bom; e [70,100] bom a excelente (Relatório Final ENEM, 2004, p.14).

Nas informações segmentadas por tipo de dependência escolar,

observa-se que alunos que estudaram somente em escolas particulares, no

ensino médio, obtêm as melhores médias; ao passo que os alunos que

freqüentaram apenas a escola pública ficaram com médias abaixo dos alunos

provenientes de escolas particulares. Tal fato, indubitavelmente, resulta em

desvantagem para os primeiros (Tabela 8). Esses testes evidenciam que a

maioria dos alunos não desenvolveu a estrutura fundamental para interagir de

maneira autônoma na vida produtiva, pois carecem de habilidades de leitura e

de compreensão de textos (MEC/INEP/ENEM, 2002, p. 158).

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TABELA 8: Média das notas da prova objetiva e da prova de redação,

segundo o tipo de dependência no Brasil (2001) %:

Tipo de dependência Prova Objetiva

Redação

Somente em escola pública 36,6 50,1 Escolas públicas e particulares 42,7 54,1 Somente em escola particular 53,6 61,6

Fonte: MEC/INEP/ENEM (2002)

O exame do ENEM, de 2005, apresentou elevado número de

participantes, pela possibilidade dos alunos se beneficiarem do Programa

Universidade para Todos – PROUNI, que utiliza os resultados desse exame

como critério de seleção e de distribuição de bolsas de estudos, integrais ou

parciais. A média nacional do exame foi 55,96% na prova de redação e 39,41%

na prova objetiva (INEP, 2005).

O desempenho dos alunos na prova de redação foi o seguinte: a)

insuficiente a regular: 10,9%; b) regular a bom: 75,7%; c) bom a excelente:

13,3%. O desempenho regular a bom da maioria dos alunos na prova de

redação é um dado positivo. Entretanto, o mesmo não ocorreu nas questões

objetivas: a) insuficiente a regular: 60,2%; b) regular a bom: 34,9%; e c) bom a

excelente: 4,9%. Conclui-se que o ensino médio não está conseguindo

preparar os jovens para a universidade e muito menos para enfrentar o

mercado de trabalho, diante dos desafios do mundo globalizado, em que a

tecnologia torna-se ociosa em poucos anos.

1.6 A qualidade do ensino superior

A avaliação do ensino superior é feita, primeiro, com alunos concluintes

dos cursos de graduação, através de provas objetivas; segundo, abordando

aspectos como preparação das aulas, assiduidade dos professores e qualidade

da infra-estrutura, como laboratórios e bibliotecas.

Até 2004, o desempenho dos alunos concluintes do ensino superior era

avaliado pelo Ministério da Educação e Cultura, por intermédio do Exame

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Nacional de Cursos (Provão). O Exame Nacional de Cursos (Provão) teve inicio

em 1996. Os primeiros cursos submetidos à avaliação foram os de

Administração, Direito e Engenharia. Posteriormente, a escolha concentrou-se,

dentre as instituições de ensino superior, nos cursos de maior relação

candidato/vaga: Direito, Administração, Medicina, Engenharia, Pedagogia e

Odontologia. Somente 89 instituições de ensino superior possuem os seis

cursos mencionados, sendo 33 em instituições públicas e 19 em instituições

privadas (Tabela 9).

No ano de 2003, a maior incidência de conceito “A” coube ao curso de

Direito das instituições públicas, contra somente 10% das instituições privadas.

O segundo lugar no ranking com conceito “A”, com 75%, destinou-se ao curso

de Administração das instituições públicas, sendo 21% a freqüência para as

instituições privadas.

A Engenharia aparece a seguir, no conceito “A”, com 54% para as

instituições privadas, sendo que os dados, para este curso, não são

significativos para os conceitos “A” e “B” das instituições privadas. Estas

conseguiram somente 5% de conceitos “A” para os cursos de Pedagogia,

Odontologia, Medicina e Engenharia, contra percentuais relativamente

expressivos para esses cursos das instituições públicas. Estas instituições

também apresentam um percentual maior de conceito “B” para Odontologia e

Medicina, enquanto os conceitos “C”, “D” e “E” são bem mais expressivos nas

instituições privadas do que nas instituições públicas.

TABELA 9: Conceitos obtidos no Exame Nacional de Cursos nos seis

cursos de maior relação candidato/vaga, por tipo de instituição de ensino

no Brasil (2003) %:

Cursos/Insituições E Conceitos

Intituições Públicas Instituições Privadas A B C D E A B C D E

Administração 75 9 15 ... ... 21 21 42 5 10 Direito 78 3 12 ... 3 10 10 36 26 10

Engenharia 54 15 21 ... 3 ... ... 42 15 5 Pedagogia 45 9 36 ... 9 5 15 57 10 ... Odontologia 24 21 30 12 ... 5 15 31 10 15 Medicina 18 21 42 9 6 5 5 52 26 10

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Fonte: MEC/INEP (2004)

Estes dados mostram claramente que o ensino superior público

apresenta melhor qualidade do que o ensino superior privado. Isso se deve,

basicamente, pelo processo de seleção mais apurando, tendo em vista a

gratuidade do ensino e os investimentos públicos em pesquisa básica,

treinamento de professores, planos de carreira e outros, embora os salários

dos docentes e funcionários das universidades públicas estejam cada vez mais

aviltados.

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CAPÍTULO II: AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS

PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR BRASILEIRA E

SEUS PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM

2.1 Tendências pedagógicas X formação continuada para

professores

É sabido que a prática escolar está sujeita a condicionantes de ordem

sociopolítica que implicam diferentes concepções de homem e de sociedade e,

conseqüentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da

aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente estudo, tendo em vista

que o modo como os professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver

com esses pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.

Ainda que se reconheçam as dificuldades do estabelecimento de uma

síntese dessas diferentes tendências pedagógicas, cujas influências se

refletem no ecletismo do ensino atual, emprega-se, neste trabalho monográfico,

a teoria de José Carlos Libâneo, que as classifica em dois grupos: “liberais” e

“progressistas”. No primeiro grupo, estão incluídas a tendência “tradicional”, a

“renovada progressivista”, a “renovada não-diretiva” e a “tecnicista”. No

segundo, a tendência “libertadora”, a “libertária” e a “crítico-social dos

conteúdos”.

Entende-se, ainda, a necessidade de estudos sobre o assunto em

questão pelo fato de que novos avanços no campo da Psicologia da

Aprendizagem, bem como a revalorização das idéias de psicólogos

interacionistas, como Piaget, Vygotsky e Wallon, e a autonomia da escola na

construção de sua Proposta Pedagógica, a partir da LDB 9.394/96, exigem

uma atualização constante do professor. Através do conhecimento dessas

tendências pedagógicas e dos seus pressupostos de aprendizagem, o

professor terá condições de avaliar os fundamentos teóricos empregados na

sua prática em sala de aula.

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No aspecto teórico-prático, ou seja, nas manifestações na prática

escolar das diversas tendências educacionais, será dado ênfase neste capítulo,

ao ensino da Língua Portuguesa, considerando-se as diferentes concepções de

linguagem que perpassam esses períodos do pensamento pedagógico

brasileiro. Destaca-se, contudo, que o presente estudo irá focar em seu

capítulo terceiro, a influência das novas tendências no ensino de Educação

Física, considerando ser a Língua Portuguesa um alicerce para expor as

referidas tendências e suas modificações na prática escolar.

2.2 Tendências Pedagógicas Liberais

Segundo Libâneo (1990):

a pedagogia liberal sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. (p. 63)

O autor pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e

normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da

cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre

as classes sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe a

difundir a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a

desigualdade de condições.

2.2.1. Tendência Liberal Tradicional

Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tradicional se

caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. De acordo com

essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena realização

através de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de classe social

não são consideradas e toda a prática escolar não tem nenhuma relação com o

cotidiano do aluno.

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30

Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a idéia de que o ensino

consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é

acompanhada de outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é

idêntica à do adulto, sem levar em conta as características próprias de cada

idade. A criança é vista, assim, como um adulto em miniatura, apenas menos

desenvolvida.

No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção que considera a

linguagem como expressão do pensamento. Os seguidores dessa corrente

lingüística, em razão disso, preocupam-se com a organização lógica do

pensamento, o que presume a necessidade de regras do bem falar e do bem

escrever. Segundo essa concepção de linguagem, a Gramática Tradicional ou

Normativa se constitui no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê

nessa gramática uma perspectiva de normatização lingüística, tomando como

modelo de norma culta as obras dos nossos grandes escritores clássicos.

Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao

domínio da língua oral ou escrita.

Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino da gramática

pela gramática, com ênfase nos exercícios repetitivos e de recapitulação da

matéria, exigindo uma atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos

são organizados pelo professor, numa seqüência lógica, e a avaliação é

realizada através de provas escritas e exercícios de casa.

2.2.2 Tendência Liberal Renovada Progressivista

Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência liberal

renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura como desenvolvimento

das aptidões individuais.

A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assumir seu

papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao meio social,

por isso ela deve imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a atividade

pedagógica estava centrada no professor, na escola renovada progressivista,

defende-se a idéia de “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno,

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valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do

meio natural e social, etc, levando em conta os interesses do aluno.

Como pressupostos de aprendizagem:

aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma auto-aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. (LIBÂNEO, 1990, p. 67)

No ensino da língua, essas idéias escolanovistas não trouxeram maiores

conseqüências, pois esbarraram na prática da tendência liberal tradicional.

2.2.3. Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva

Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação de

atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os problemas

psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar

a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às

solicitações do ambiente.

Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se aprende o

que estiver significativamente relacionado com essas percepções. A retenção

se dá pela relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação

escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-avaliação. Trata-se de um ensino

centrado no aluno, sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da

língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as idéias da escola

renovada não-diretiva, embora muito difundidas, encontraram, também, uma

barreira na prática da tendência liberal tradicional.

2.2.4. Tendência Liberal Tecnicista

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A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem social

vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema

produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou

seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse principal é, portanto, produzir

indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando

com as mudanças sociais.

Conforme Matui (1988):

a escola tecnicista, baseada na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações. (p. 93 )

Skinner foi o expoente principal dessa corrente psicológica, também

conhecida como behaviorista. Segundo Richter (2000):

a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, para que o aluno for me “hábitos” do uso correto da linguagem. (p. 79)

A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que implantou a

escola tecnicista no Brasil, preponderaram as influências do estruturalismo

lingüístico e a concepção de linguagem como instrumento de comunicação. A

língua – como diz Travaglia (1998) – é vista como um código, ou seja, um

conjunto de signos que se combinam segundo regras e que é capaz de

transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor.

Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o código.

No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa concepção de

linguagem, o trabalho com as estruturas lingüísticas, separadas do homem no

seu contexto social, é visto como possibilidade de desenvolver a expressão

oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, uma modernização da

escola tradicional e, apesar das contribuições teóricas do estruturalismo, não

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conseguiu superar os equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado

na gramática normativa. Em parte, esses problemas ocorreram devido às

dificuldades de o professor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua

materna.

2.3. Tendências Pedagógicas Progressistas

Segundo Libâneo (1990) “a pedagogia progressista designa as

tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais,

sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação”. (p. 72)

2.3.1 Tendência Progressista Libertadora

As tendências progressistas libertadora e libertária têm, em comum, a

defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo. A escola libertadora,

também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à

luta e organização de classe do oprimido. Segundo Gadotti (1988), Paulo Freire

não considera o papel informativo, o ato de conhecimento na relação

educativa, mas insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto

deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimidos não

podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que lhes permita

reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.

Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, o saber mais

importante para o oprimido é a descoberta da sua situação de oprimido, a

condição para se libertar da exploração política e econômica, através da

elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização de

classe. De acordo com Gadotti (1988), a pedagogia libertadora ultrapassa os

limites da pedagogia, situando-se também no campo da economia, da política e

das ciências sociais.

Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora deve decorrer

da codificação de uma situação-problema que será analisada criticamente,

envolvendo o exercício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio

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de representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos. Assim,

como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade

concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se

resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento

que o educando transfere representa uma resposta à situação de opressão a

que se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica.

No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sintetiza sua idéia

de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De modo geral,

simbolicamente, eu puxo uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a

travar um diálogo comigo”.

2.3.2 Tendência Progressista Libertária

A escola progressista libertária parte do pressuposto de que somente o

vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas, por isso o

saber sistematizado só terá relevância se for possível seu uso prático. A ênfase

na aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma de repressão,

visam a favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da

língua, procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da negociação de

sentidos na leitura.

2.4 Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos

Conforme Libâneo (1990):

a tendência progressista crítico-social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. (p. 83)

A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo

adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da

aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e

ativa na democratização da sociedade.

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Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o princípio da

aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. A transferência da

aprendizagem só se realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno

supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e

unificadora.

2.5 Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96

Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n.º

9.394/96, revalorizam-se as idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon. Um dos

pontos em comum entre esses psicólogos é o fato de serem interacionistas,

porque concebem o conhecimento como resultado da ação que se passa entre

o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha (1998), “o conhecimento não

está, então, no sujeito, como queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam

os empiristas, mas resulta da interação entre ambos”.

Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa perspectiva

interacionista, a leitura como processo permite a possibilidade de negociação

de sentidos em sala de aula. O processo de leitura, portanto, não é centrado no

texto, ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no receptor,

descendente, top-down, segundo os inatistas, mas ascendente/descendente,

ou seja, a partir de uma negociação de sentido entre enunciador e receptor.

Assim, nessa abordagem interacionista, o receptor é retirado da sua condição

de mero objeto do sentido do texto, de alguém que estava ali para decifrá-lo,

decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmente, no ensino da leitura.

As idéias desses psicólogos interacionistas vêm ao encontro da

concepção que considera a linguagem como forma de atuação sobre o homem

e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos do texto, como a

Lingüística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica Argumentativa e a

Pragmática, entre outros.

De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo, deduz-se

que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a tradicional, a renovada e a

tecnicista, por se declararem neutras, nunca assumiram compromisso com as

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transformações da sociedade, embora, na prática, procurassem legitimar a

ordem econômica e social do sistema capitalista. No ensino da língua,

predominaram os métodos de base ora empirista, ora inatista, com ensino da

gramática tradicional, ou sob algumas as influências teóricas do estruturalismo

e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino.

Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às liberais,

têm em comum a análise crítica do sistema capitalista. De base empirista

(Paulo Freire se proclamava um deles) e marxista (com as idéias de Gramsci),

essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto produzido pelo aluno,

a partir do seu conhecimento de mundo, assim como a possibilidade de

negociação de sentido na leitura.

A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difusão das idéias de

Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva sócio-histórica, essas teorias

buscam uma aproximação com modernas correntes do ensino da língua que

consideram a linguagem como forma de atuação sobre o homem e o mundo,

ou seja, como processo de interação verbal, que constitui a sua realidade

fundamental.

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37

CAPÍTULO III: A RENOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA

ESCOLAR – DESAFIOS E PERSPECTIVAS

A Educação Física escolar vem a algum tempo apresentando

significantes avanços no campo teórico através de sua produção científica.

Essa área de conhecimento vem na tentativa de romper com alguns modelos

pedagógicos que nortearam essa disciplina na escola até aproximadamente

três décadas atrás.

Quando se pensa em novas abordagens e novas tendências,

naturalmente novas perspectivas surgem, como uma possibilidade de que

novos resultados possam ser obtidos devido à tentativa de renovação. Na

Educação Física escolar não é diferente, pois com o surgimento das novas

abordagens pedagógicas acredita-se que uma renovação no campo prático é

possível. Buscaremos nesse presente trabalho apontar para alguns avanços,

dificuldades e incógnitas da Educação Física na escola norteada por seu

pensamento renovador.

3.1 A história da Educação Física no Brasil

Inicialmente, ressalto que o presente trabalho não se aterá a um resgate

histórico profundo da Educação Física no Brasil, e sim, localizar os principais

fatos dessa área de conhecimento e sua relação com a escola. Para que se

compreenda o atual momento da Educação Física, seu objeto de estudo e

conhecimento, torna-se necessário considerar suas origens no contexto

brasileiro, passando pelas principais influências que marcaram e

caracterizaram essa disciplina. No pequeno resgate histórico em que

apresentaremos, buscar-se-á subsídios para entender seu contexto atual.

Delineando pela História da Educação Física, mais precisamente nos

períodos de sua entrada na escola, temos relatos de sua presença na escola

ainda no século XIX. Conforme Betti (1991, p. 91) o Projeto n° 224, recebeu um

Parecer de Rui Barbosa, que recomendou a instituição de uma seção especial

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de ginástica para ambos os sexos, e fosse oferecida pelas escolas normais. No

entanto, a implementação da Educação Física de fato, ficou restrita até os

primeiros anos da década de 1930 restrita apenas em parte no Rio de Janeiro

(até então capital da República) e nas escolas militares.

Foi no contexto de reformas educacionais iniciadas na década de 1920,

que os diversos Estados da Federação realizaram suas reformas educacionais

que a Educação Física foi incluída com o nome de ginástica (BETTI, 1991, p.

93).

Conforme Betti (1991, p. 94) a partir de meados da década de 1930, a

concepção dominante na Educação Física é baseada na perspectiva higienista,

sendo que a preocupação central é com os hábitos de higiene e saúde, com a

valorização do desenvolvimento físico e moral, tendo o médico higienista um

papel destacado. No modelo militarista, os objetivos da Educação Física na

escola eram vinculados à formação de uma geração capaz de suportar o

combate, a luta, para atuar na guerra, por isso era importante selecionar

indivíduos “perfeitos” fisicamente, excluir os incapacitados.

Soares (et. al.,1992) ao mencionar as influências que norteavam a

Educação Física nesse período,destaca que:

no desenvolvimento de seu conteúdo da Educação Física Escolar o médico, e mais especificamente o médico higienista, tem um papel destacado, sendo esse profissional um personagem quase indispensável, porque exerce uma autoridade perante o conteúdo de ordem biológica por ele dominado. Esse conhecimento vai orientar a função a ser desempenhada pela Educação Física na escola: desenvolver a aptidão física dos indivíduos. As aulas eram ministradas por instrutores do exército, que traziam para as instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia. (p.53)

De acordo com Brasil (1997, p.19) “no século passado, a Educação

Física esteve estreitamente vinculada às instruções militares e à classe

médica”, sofrendo influências nos seus modos de concepção e ensino dessas

duas vertentes. A Educação Física ministrada na escola nessa época tinha

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como objetivo a formação de indivíduos fortes e saudáveis para contribuir com

a indústria nascente e defender a pátria (SOARES, et. al. 1992, p. 55).

Diversos autores Soares (et. al., 1992); Darido (2003; 2005); Betti (1991)

e os PCNs (Brasil, 1997), destacam que em ambas as concepções (higienista e

militarista) a Educação Física era considerada como disciplina meramente

prática, não necessitando de uma fundamentação teórica que desse suporte,

por isso, não havia uma distinção evidente entre a Educação Física e a

instrução militar, não sendo necessário para ensinar Educação Física dominar

conhecimentos, e sim ter sido um ex-praticante.

No campo constitucional, apenas em 1937, pela primeira vez na história

do país, uma constituição fazia referência direta à Educação Física,

determinando a obrigatoriedade da Educação Física, ensino cívico e trabalhos

manuais na escola primária, enquanto no ensino secundário, a reforma

Capanema tornou a Educação Física obrigatória a todos os alunos até 21 anos

de idade (BETTI, 1991, p. 62).

As aulas de Educação Física eram associadas a movimentos ginásticos,

principalmente pelos interesses militares, tendo reforçado esse tipo de aula o

período da 2ª Guerra mundial, e estendendo-se até a década de 1960.

Conforme Soares (et. al., 1992, p. 49) após a 2ª Guerra Mundial surge na

Educação Física outras tendências disputando a supremacia no interior das

escolas. Darido (2005) destaca que na década de 60, quando os generais

assumiram o Poder executivo do país (1964), o governo planejou usar as

escolas públicas e particulares como fonte de propaganda do regime militar.

Nesse período, o conteúdo da Educação Física passa a ser

predominantemente o esporte, fato este destacado por Soares (et. al. 1992, p.

54) “que essa influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que

temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola”, sendo

que essa fase da Educação Física é denominada de esportivista.

Betti (1991, p. 82) ressalta que nesse período, o método de ensino era o

método esportivo, os objetivos estavam relacionados ao modelo econômico

vigente, sendo a Educação Física voltada para o esporte de rendimento com o

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intuito de formação de atletas, destacando ainda, a ascensão do esporte à

razão do Estado, e a inclusão do binômio Educação Física/Esporte na

planificação estratégica de governo.

Darido (2005, p. 112) menciona que é nessa fase da história que o

rendimento, a seleção dos mais habilidosos, o professor centralizador e a

repetição de movimentos esportivos mecânicos tornam-se evidentes, sendo

esse modelo esportivista também chamado de mecanicista, tradicional e

tecnicista.

Em oposição ao esporte de rendimento tão predominante nesse período,

a Educação Física em alguns casos voltou-se para outro extremo, passando

para um tipo de aula que os alunos decidem o que vão fazer nas aulas,

escolhendo o que vão fazer, e o professor restringi-se o papel de dar a bola e

marcar o tempo, sendo denominado esse tipo de aula de recreacionista.

Todas essas tendências nortearam em seus períodos os modos de gerir

e pensar a Educação Física. No entanto, com o advento das ciências humanas,

começou-se a pensar numa renovação, com o intuito de romper com esses

modelos e propor uma nova concepção didático-pedagógica para a Educação

Física escolar.

3.2 Os novos rumos da Educação Física Escolar

Após essa etapa acima mencionada, estudiosos da Educação Física

começam a propor os tidos como movimentos “renovadores” da Educação

Física escolar. Todos os que começam a propor as mudanças, tentam de

alguma forma romper com os antigos paradigmas até então presentes nessa

área de conhecimento. A Educação Física escolar vem desde os meados de

1980 numa constante busca de romper com os modelos tradicionais que

permearam esta área de estudo, sendo que é nesse momento que a Educação

Física passa por um período de valorização dos conhecimentos produzidos

pela ciência.

A partir desse enfoque dado à Educação Física de ciência com corpo

próprio de conhecimento, começa a surgir algumas abordagens pedagógicas

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da Educação Física escolar. Conforme Darido (2003, p. 116) todas essas

abordagens tem algumas divergências, mais possuem um ponto em comum,

todas estão em oposição à vertente tecnicista, esportivista, biologicista e

recreacionista até então predominantes na Educação Física escolar. Todos os

autores que se desdobraram na difícil tarefa de apresentar novas propostas

para a Educação Física desde meados dos anos 1980, estão sugerindo várias

transformações de ordem didático-pedagógica.

A Educação Física escolar tem atualmente baseado suas perspectivas e

propostas nas abordagens que surgiram visando uma mudança de concepção

da área. Conforme Darido (2003, p. 121) na busca de romper com os moldes

tradicionais, surgem várias abordagens, algumas com enfoque mais

Psicológico (Psicomotricista, Desenvolvimentista, Construtivista e Jogos

Cooperativos), outras com enfoque mais sociológico e político (Crítico-

superadora, Crítico-emancipatória, Cultural, Sistêmica, e baseada nos PCNs),

e também biológico, como a da Saúde Renovada.

Dentro dessas abordagens há vários discursos tentando justificar a

importância da Educação Física na escola, outros se apoiando em áreas

diversas como a Antropologia, a Psicologia, a Sociologia e também a Biologia.

Embora com embasamentos teóricos diferentes, discutam e enfatizam seu

modo de propor a Educação Física na escola um tanto quanto também

diferente, todas as abordagens apresentam significativas contribuições para a

Educação Física escolar.

3.3 A renovação da Educação Física Escolar

Com o surgimento dessas novas abordagens, o campo cientifico da

Educação Física escolar começa a tomar novos rumos. O que por hora nos

torna pertinente é refletir se as intenções de reformulação dessa área não

estão ficando restritas às argumentações teóricas, ou seja, torna-se relevante

levarmos em consideração que os avanços “teóricos” por si só não nos

garantem que os mesmos avanços possam ter chegado aos professores da

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educação básica, entendendo esses como os reais interlocutores da prática

educativa na escola.

Torna-se relevante desse ponto de vista, refletir que embora tenhamos

uma base teórica reformulada, a Educação Física na escola ainda pode sofrer

algumas influências dos modelos tradicionais. Resende (1995) ao mencionar a

questão das influências nas novas tendências da Educação Física na escola

afirma que:

existe um grupo com intenções renovadoras relacionado ao movimento de críticas às tendências pedagógicas manifestadas no ensino da Educação Física Escolar, mas cabe ressaltar que essas tendências, fundamentalmente inspiradas na aptidão física e no desporto de alto rendimento, ainda são predominantes no contexto da prática profissional em questão. (p. 72)

Com base nessa afirmação, nos torna pertinente refletir sobre: Como as

novas abordagens vêem sendo trabalhadas no cotidiano escolar, suas

influências na prática pedagógica do professor, enfim, se o professor na escola

apropriou-se das renovações realizadas no campo teórico. Autor que contribui

para esse debate, Daólio (1998) afirma que:

...a grande massa de professores de Educação Física no país está distante dessa discussão, não discernindo com precisão um discurso de outro, consumindo algumas publicações e idéias por oportunidade, sem a devida reflexão. (p. 60)

Borges (1998, p. 123) é outra autora que contribui para esse debate. Em

seu estudo, ao interrogar a respeito dos conhecimentos que os professores de

Educação Física utilizavam em suas práticas cotidianas na escola, os mesmos

desconsideravam sua formação acadêmica, alegando, sobretudo o

distanciamento entre a formação acadêmica e realidade escolar durante o

processo de formação docente.

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Embora faça aproximadamente uma década das proposições desses

autores, não devemos desconsiderar sua relevância para possíveis reflexões.

Esses autores demonstram não serem otimistas em acreditar que devido a

Educação Física escolar ter passado por uma renovação no seu campo

acadêmico, a sua prática no cotidiano escolar tenha avançado

concomitantemente. Outro fator relevante pelas quais os autores acima

mencionados são enfáticos é com relação aos conhecimentos dos professores,

deixando claro em seus entendimentos que os professores em geral não

tiveram contato com as novas tendências científicas da Educação Física

escolar.

Outro autor mais recente que reforça essa tese é Gonzalez (2006) que,

por sua vez, em suas pesquisas cotidianas com os professores de Educação

Física, apontou que na realidade escolar ainda há um hiato entre aquilo que se

propõe na universidade e o que acontece nas aulas de Educação Física.

Não mencionando a Educação Física especificamente, mas sim a

Educação em geral, Tardif (2002) destaca que numa dimensão formadora dos

saberes, educadores e pesquisadores, ou seja, o corpo docente e a

comunidade científica tornam-se dois grupos cada vez mais distintos, que por

ora são destinados a tarefas especializadas de transmissão e de produção de

saberes sem nenhuma relação entre si.

A realização do curso de Especialização em Educação Física acredita

por um lado, estar participando concretamente dos interesses peculiares da

área, articulando a licenciatura à formação de professores preparados para

agirem junto à realidade escolar no sentido de modificá-la, por outro,

respondendo efetivamente à demanda dos professores da Rede Pública que

hoje reclamam de uma oportunidade em se atualizar e aprofundar no campo

das teorias, da reflexão crítica e da construção de ações educacionais no

âmbito da Educação Física Escolar.

Desenvolvido a partir de uma metodologia de ensino centralizada numa

perspectiva epistemológica, crítica e sociocultural de currículo e no

compromisso para com uma formação que garante, aos professores, uma

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intervenção qualitativa junto à realidade no sentido de responder aos desafios

colocados pela educação e pela necessidade da formação.

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CONCLUSÃO

Apontamos como finalização do presente trabalho não respostas, mas,

sim, questionamentos e apontamentos para possíveis reflexões. O que por

hora pode ser interpretado como um avanço de âmbito acadêmico, por outro

lado, temos que ter um olhar mais preciso sobre os professores da educação

básica, uma vez que, os mesmos são os reais representantes da Educação

Física na escola.

Os apontamentos nos mostram que estamos diante de uma lacuna entre

as proposições teóricas e práticas pedagógicas na escola. Uma das possíveis

saídas são por meio dos órgãos superiores, como as secretarias municipais e

estaduais de educação por meio da formação continuada para os professores

(e nesse caso, não só os de Educação Física, mas todas as disciplinas).

Torres (1998, p. 49) alerta-nos que a capacitação em

serviço versus formação inicial estão em dois momentos distintos e

desvinculados. A referida autora aponta para a necessidade de um sistema

unificado de formação docente. No entanto, quando remetemos nosso olhar

para a lacuna entre as proposições teóricas e práticas dos docentes,

apontamos que a tal lacuna seja de alguma forma senão acabada, ao menos

diminuída, sendo assim, a capacitação em serviço torna-se relevante.

A tal formação não deve ser imposta na relação acima - abaixo, mas sim

através de um diálogo permanente com os professores sobre suas

necessidades, sem, contudo, perder de vista o conhecimento científico

“renovado” que a Educação Física escolar alcançou. Mas por outro lado

também, entendendo as experiências dos professores como uma saber. Garcia

(1999, p. 59) ao fazer referência à formação dos professores e sua prática

pedagógica, destaca que existe uma separação clara entre a teoria e a prática

do ensino, havendo na prática o elemento fundamental para adquirir o ofício de

professor.

Não se trata de separar as experiências dos professores de um lado, e a

teoria acadêmica de outro, mas sim, mediar por meio de um diálogo

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permanente essas duas categorias: o conhecimento dos professores (prática)

X conhecimento acadêmico (teoria), na busca de uma real prática pedagógica

dos professores que atinja o centro maior da educação, que é a formação do

aluno.

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52

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ......................................................................................... 02

AGRADECIMETOS ......................................................................................... 03

DEDICATÓRIA ................................................................................................ 04

RESUMO ......................................................................................................... 05

SUMÁRIO ........................................................................................................ 06

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 07

CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................... 09

1.1 Aspectos quantitativos da educação no Brasil .......................................... 10

1.2 Analfabetismo e escolaridade adulta ......................................................... 13

1.3 Ensino médio ............................................................................................. 15

1.4 Aspectos quantitativos do ensino superior ................................................ 17

1.5 A qualidade do ensino básico .................................................................... 24

1.6 A qualidade do ensino superior ................................................................. 30

CAPÍTULO II: AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA

PRÁTICA ESCOLAR BRASILEIRA E SEUS

PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM ................................. 32

2.1 Tendências pedagógicas X formação continuada para professores ........ 32

2.2 TendÊncias Pedagógicas Liberais ............................................................ 33

2.2.1 Tendência Liberal Tradicional ........................................................... 34

2.2.2 Tendência Liberal Renovada Progressista ....................................... 35

2.2.3 Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva ....................................... 36

2.2.4 Tendência Liberal Tecnicista ............................................................ 37

2.3 Tendências Pedagógicas Progressistas .................................................... 38

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2.3.1 Tendência Progressista Libertadora ................................................. 38

2.3.2 Tendência Progressista Libertária .................................................... 40

2.4 Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos ............................. 40

2.5 Tendências Pedagógicas Pós LDB 9.394/96 ............................................ 41

CAPÍTULO III: A RENOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR –

DESAFIOS E PERSPECTIVAS ............................................... 43

3.1 A História da Educação Física no Brasil ................................................... 43

3.2 Os novos rumos da Educação Física Escolar .......................................... 47

3.3 A renovação da Educação Física Escolar ................................................ 49

CONCLUSÃO ................................................................................................. 52

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 54

ÍNDICE ............................................................................................................ 58

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TEIXEIRA, Luiz Orlando Costa. Tendências Pedagógicas Frente ao Processo na Prática na Graduação em Educação Física nas Universidades Públicas. 2011. 53 fl. Monografia (Pós Graduação em Docência Superior) – Faculdade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2011.

BANCA EXAMINADORA

Orientador (a):

Examinador (a) 1:

Examinador (a) 2:

Aprovado em ___/___/2011.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO PROCESSO NA PRÁTICA NA

GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Luiz Orlando Costa Teixeira

CONCEITO: _____________________________________________________