Urbanizacao de Favelas Em Foco

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Aliana de Cidades n 1

Urbanizao de Favelas

em FocoExperincias de Seis Cidades

Aliana de Cidades Cities Without Slums Prefeitura da Cidade de So Paulo Urbanizao de Favelas em Foco Experincias de Seis Cidades

The Cities Alliance, 2008 1818 H Street, NW Washington, D.C. 20433, EUA http://www.citiesalliance.org/index.html Todos os direitos reservados Primeira edio, novembro de 2008 (verso original em ingls) O material contido nesta publicao protegido por direitos autorais. Pedidos de permisso para sua reproduo integral ou parcial devem ser encaminhados para o Secretariado da Aliana de Cidades no endereo acima. A Aliana de Cidades incentiva a disseminao ativa de seu conhecimento. Em geral, a permisso para disseminao de conhecimento concedida prontamente e, quando a reproduo no tiver ns comerciais, sem a cobrana de taxas. Foto da capa: So Paulo Fotgrafo: Daniel Ducci Projeto grco: Patricia Hord Graphik Design Editorao em portugus: Zoldesign Impresso: Corset

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ii n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

Aliana de Cidades n iii

Aprendendo com a Experincia de So PauloEm nome da Aliana de Cidades e da Secretaria Municipal de Habitao de So Paulo, temos o prazer de apresentar Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades. Esta publicao captura alguns dos principais conhecimentos e aprendizados compartilhados no Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas cujo tema foi Desaos da Urbanizao de Favelas: Compartilhando a Experincia de So Paulo, realizado em So Paulo de 10 a 14 de maro de 2008. Co-patrocinado pela Aliana de Cidades e pela Secretaria Municipal de Habitao , o evento que durou cinco dias facilitou um rico intercmbio de idias entre representantes de seis grandes cidades do Hemisfrio Sul Cairo (Egito), Ekurhuleni (frica do Sul), Lagos (Nigria), Manila (Filipinas), Mumbai (ndia) e So Paulo (Brasil) que discutiram as questes e os desaos da urbanizao de favelas em suas respectivas cidades. Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades se vale desse dilogo para mostrar as diferentes experincias dessas cidades, apresentando em detalhe o perl dos municpios, suas polticas fundiria e habitacional, os esforos realizados para a urbanizao de favelas, metodologias adotadas, resultados iniciais e inovaes. As mensagens mais consistentes que surgiram do evento so que as lideranas locais so indispensveis e que h que se ter viso compartilhada, liderana poltica clara, legislao exvel, compromisso de longo prazo e envolvimento signicativo das comunidades. Com o crescimento estimado de 1,8 bilho de pessoas nas reas urbanas de todo o mundo nos prximos 25 anos quase que exclusivamente no mundo em desenvolvimento a Aliana de Cidades acredita que governos municipais e nacionais necessitam de polticas e estratgias para se apropriar dos impactos positivos da urbanizao. A experincia de So Paulo mostra os benefcios de integrar cidade as favelas e seus moradores.

William Cobbett

Elisabete Frana

Diretor Geral Aliana de Cidades

Superintendente de Habitao Popular Prefeitura da Cidade de So Paulo

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AgradecimentosA Aliana de Cidades gostaria de agradecer a vrias pessoas que tornaram esta publicao e o Dilogo Internacional de So Paulo possveis. Primeiramente, gostaramos de agradecer equipe da Prefeitura de So Paulo: Orlando Almeida Filho Secretrio Municipal de Habitao; Elton Santa F Zacharias Secretrio Adjunto de Habitao; Elisabete Frana Superintendente de Habitao Popular; Alonso Lopez, Darcy Gebara, Felinto Cunha, Helen Monpean, Luiz Henrique Ramos, Mrcia Terlizzi, Maria Ceclia Nammur, Nancy Cavallete, Nelci Valrio, Carlos Pellarim Diretores da Superintendncia de Habitao Popular (Habi); Ana Paula Bruno, Luiz Fernando Fachini, Maria Teresa Diniz, Jairo Ferreira, Ricardo Sampaio Coordenadores dos Programas de Habitao; Eliene Coelho, Ricardo Shigaki, Vanessa Padi, Violta Kubrusly assessores tcnicos da Habi, Ana Lucia Sartoretto Diretora do Departamento de Regularizao de Loteamentos Irregulares (Resolo) e Maria Helena Fernandez e Luiza Harumi assessoras tcnicas do Resolo; Ademir Escribano, coordenador de desenvolvimento do HABISP Sistema de Informaes para Habitao Social em So Paulo. Esta publicao beneciou-se amplamente da equipe do escritrio da Aliana de Cidades de So Paulo: Giorgio Romano Schutte, Coordenador Geral; Mariana Kara Jos, Urbanista; Regianne Henriette Bertolassi, Assistente; Tereza Herling, Coordenadora do Projeto So Paulo da Aliana de Cidades e Alex Abiko, Consultor Snior. E tambm a Ivo Imparato Gerente do projeto pelo Banco Mundial. Todos os representantes de outras cidades que participaram do Dilogo Cairo, Ekurhuleni, Lagos, Manila e Mumbai foram fundamentais nesta publicao e no Dilogo: Khalil Shaat, Assessor sobre reas Informais da Governadoria do Cairo; Godfrey Hiliza, Diretor de Polticas Pblicas e Suporte Operacional do Municpio Metropolitano de Ekurhuleni; Bernard Williamson, Secretaria da Habitao do Municpio Metropolitano de Ekurhuleni; Abosede Francisco Bolaji, Comissrio Estadual para Planejamento Fsico e Desenvolvimento Urbano de Lagos; Suleimon Yusuf, Diretor Geral, LASURA; Sigfrido R. Tinga, Prefeito de Taguig; Florian Steinberg, Banco Asitico para o Desenvolvimento e Urvinder Madan, Gerente de Projeto para a Unidade de Suporte Transformao de Mumbai. Gostaramos de agradecer a Chii Akporji e Carollyne Hutter do Secretariado da Aliana de Cidades por gerenciarem o trabalho editorial, layout e produo desta publicao em sua verso em ingls. Billy Cobbett contribui com assistncia aos textos e edio. Tambm gostaramos de agradecer a Scholastica Nguyen e a Patricia Hord da Patricia Hord Graphik Design e equipe da grca Jarboe Printing. E por m a Christiana Laport Dannemann pela traduo do texto original para o portugus, a Tereza Herling, Mariana Kara Jos e Maria Teresa Diniz pela edio de texto em portugus e a Renato Salgado, Mariana Afonso e Renata Atilano, da Zoldesign, pela produo grca da verso em portugus desta publicao.

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Sumrio

Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas para a Urbanizao de Favelas Assentamentos Informais e Ocupaes na Grande Cairo: Desaos e Respostas das Polticas Pblicas Ekurhuleni em Perspectiva O Desao de Administrar uma Megalpole e a Resposta das Polticas Pblicas: A Experincia de Lagos A Regio Metropolitana de Manila Mumbai: Uma Cidade em Transformao A Antri: So Paulo Concluso

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5 19

27 33 41 49 57

vi n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

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Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas para Urbanizao de FavelasIntroduo Em 1999, o Programa das Naes Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-HABITAT) e o Banco Mundial lanaram conjuntamente a Aliana de Cidades em Berlim, com o objetivo de auxiliar pases em desenvolvimento a enfrentar dois desaos cada vez mais importantes o crescimento das favelas e a sustentabilidade scio-ambiental das pequenas e grandes cidades.A primeira atividade da Aliana de Cidades foi preparar o plano de ao Cities without Slums. Impulsionado pela direo do presidente sul-africano Nelson Mandela, o plano foi subseqentemente transformado na Meta 11 das Metas do Milnio, sendo a primeira vez em que o desao das favelas foi reconhecido como uma prioridade internacional para o desenvolvimento. Trabalhando atravs de seus membros, que hoje totalizam 26, a Aliana de Cidades tem fornecido suporte a centenas de cidades em todo o mundo. Com o tempo, a Aliana desenvolveu uma viso cada vez mais clara sobre as estratgias mais efetivas para se tratar do desao das favelas. O termo Cities without Slums, inspirador para muitos, criticado e por vezes at deliberadamente mal interpretado por outros, est agora intrinsecamente associado Aliana de Cidades e seus membros. De forma lenta, porm constante, governos municipais e nacionais esto deixando de lado a retrica da erradicao de favelas, ou de apenas mudar o problema de endereo atravs de despejos forados e esto percebendo que a urbanizao de favelas uma pea essencial para se construir uma cidade para todos. Com um programa de urbanizao de favelas bem sucedido, trs processos ocorrem simultaneamente ao longo do tempo:n n n

o morador da favela se torna um cidado, o barraco se torna uma casa e a favela se torna um bairro.

A urbanizao de favelas bem sucedida, abrangente e sustentvel, exige muitos requisitos nenhum deles mgico. Com freqncia, a busca por uma soluo rpida, que atenda a todos os casos, obscurece as decises prticas e pragmticas que precisam ser tomadas prover terreno, garantir a implantao de infra-estrutura, facilitar os mecanismos necessrios de apoio social, reorganizar as prioridades da administrao pblica e fazer as provises oramentrias anuais. Com uma populao de mais de 10 milhes de habitantes, a cidade de So Paulo enfrenta muitos desaos. uma cidade profundamente desigual e dividida, resultado de dcadas de excluso social, negligncia, falhas de governo, assim como de desigualdade econmica. Esta desigualdade evidente pelo espraiamento de favelas na periferia da cidade, que algumas vezes chegam a atingir reas de proteo ambiental e de proteo aos mananciais. Contudo, ao longo dos ltimos anos, a cidade de So Paulo tornou-se um dos principais proponentes de um processo amplo e sustentado de urbanizao de favelas em todo o mundo. Viso de futuro, clara liderana poltica, exibilidade na legislao, investimentos de vulto, compromisso de longo

Foto: So Paulo

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prazo e envolvimento das populaes afetadas so elementos que se combinaram para produzir resultados reais. A Aliana de Cidades aprendeu algumas de suas lies mais profundas trabalhando com a Prefeitura da Cidade de So Paulo durante cerca de sete anos. Partindo das lies aprendidas com o bem sucedido Programa Guarapiranga, realizado em parceria com o Banco Mundial, a Prefeitura de So Paulo procurou a Aliana de Cidades, em setembro de 2001, em busca de apoio para a elaborao do Programa Bairro Legal. Na proposta, a Prefeitura sinalizava sua inteno de consolidar o que havia aprendido com o Programa Guarapiranga e de superar a prtica de intervenes pontuais e isoladas para urbanizar suas favelas: O verdadeiro desao lidar com a situao de precariedade na posse da terra e da moradia daqueles que esto fsica e socialmente excludos. Para enfrentar este desao, necessria uma mudana de paradigmas. Uma abordagem orientada por projetos, focada na produo de novas moradias e na extenso de redes de infra-estrutura urbana, idealizada e implementada separadamente pelas diferentes secretarias da administrao municipal, tem que ser substituda por uma abordagem programtica e integrada. O Programa Bairro Legal foi parte essencial de uma nova poltica por parte do governo municipal de So Paulo para enfrentar os problemas urbanos de forma integrada, considerando o conjunto de necessidades de seus cidados. Por seu papel no Programa Bairro Legal, a Secretaria de Habitao e Desenvolvimento Urbano do Municpio de So Paulo (Sehab) recebeu o prmio Direito Moradia 2004 do Centro pelo Direito Moradia contra Despejos (COHRE) por ter evitado que 24 mil famlias fossem despejadas. Tambm foi reconhecido o papel do governo municipal na mediao de conitos fundirios, assim como na regularizao de loteamentos e

Cerimnia de Abertura do Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas em So Paulo.

Billy Cobbett, Diretor da Aliana de Cidades, e o Prefeito de So Paulo, Gilberto Kassab. favelas, beneciando mais de 400 mil pessoas. Em uma segunda fase, a Aliana de Cidades concedeu apoio para que a Prefeitura de So Paulo expandisse e consolidasse sua poltica habitacional, especialmente em relao urbanizao de favelas e loteamentos informais, atravs de estratgias de nanciamento sustentvel e do fortalecimento da capacidade tcnica da Sehab. No mbito deste projeto, a Prefeitura desenvolveu um sosticado sistema de informaes para o planejamento habitacional (www.habisp.inf.br) que permite ao municpio assegurar que suas intervenes sejam priorizadas de forma racional e objetiva. A parceria entre a Aliana de Cidades e a Prefeitura de So Paulo, com tarefas gerenciadas pelo Banco Mundial, no foi interrompida em funo de eleies municipais e federais, mudanas de governo e novos prefeitos. Ainda que o apoio dado

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pela Aliana de Cidades e pelo Banco Mundial tenha favorecido esta continuidade, a maior parte da energia e da inovao veio da Prefeitura e da sua equipe tcnica. Era esta experincia que a Aliana de Cidades queria compartilhar com outras grandes cidades, e que deu origem idia do Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas sobre a urbanizao de favelas na cidade de So Paulo. Organizado pela Prefeitura do Municpio e pelo Secretariado da Aliana de Cidades, o evento ofereceu uma excelente oportunidade para outras cidades aprenderem com So Paulo e para os tcnicos de So Paulo se certicarem do progresso que ajudaram a promover.

Para estudar essas questes de perto, os participantes da conferncia visitaram projetos de urbanizao de favelas nas comunidades So Francisco, Jardim Iporanga (Programa Mananciais), Vila Nilo, Paraispolis e Helipolis, em So Paulo. Passaram um dia inteiro visitando as reas, participando de ocinas com moradores e as equipes de trabalho locais da Sehab e interagindo com moradores das comunidades, que compartilharam como as atividades de urbanizao tiveram um impacto positivo em suas vidas. Dando as boas-vindas ao evento s delegaes das cidades e aos demais participantes, o Prefeito de So Paulo, Gilberto Kassab, descreveu o encontro como uma oportunidade importante para a troca de idias sobre problemas frequentemente encontrados. Alain Lesaux da Metropolis, representando o presidente da organizao, concordou com o Prefeito. Falou sobre a iniciativa Banco de Cidades da Metropolis e da UCLG e fez um agradecimento especial a Elisabete Frana, Superintendente de Habitao Popular do Municpio de So Paulo. Guang Zhe Chen, Gerente de Setor para Gesto Urbana, Hdrica e de Risco de Desastres do Banco Mundial descreveu o extenso engajamento do Banco no setor urbano do Brasil, em particular na cidade de So Paulo. Discorreu sobre a necessidade das prefeituras oferecerem servios bsicos conveis e a preos acessveis para seus cidados. Billy Cobbett, Diretor da Aliana de Cidades, destacou a importncia das cidades poderem compartilhar e comparar diretamente experincias semelhantes. Disse ainda que era a primeira vez que a Aliana de Cidades organizava um evento como esse, em que o principal ingrediente uma cidade.

O eventoRealizado entre os dias 10 e 14 de maro de 2008, o Dilogo Internacional sobre Polticas Pblicas: Desaos da Urbanizao de Favelas: Compartilhando a Experincia de So Paulo combinou o intercmbio de idias entre autoridades municipais de grandes cidades do Hemisfrio Sul com visitas de campo. No total, a conferncia de cinco dias reuniu representantes das mega-cidades Cairo, Ekurhuleni, Lagos, Manila, Mumbai e So Paulo. Coletivamente, essas cidades abrigam mais de 70 milhes de habitantes. Todas enfrentam grandes desaos na rea de urbanizao de favelas e introduziram respostas sistemticas e inovadoras para superar esses desaos. Durante a conferncia, uma categoria de participantes denominada de observadores composta por representantes de La Paz, na Bolvia, Santiago do Chile, e Sekondi-Takoradi, em Gana, partilharam suas experincias sobre o desao da urbanizao de favelas. A eles se uniram representantes de instituies para o desenvolvimento, tais como o Banco Mundial, o Banco Asitico para o Desenvolvimento (BAD) e as organizaes United Cities and Local Governments (UCLG), Metropolis e UN-HABITAT. Representantes dos municpios brasileiros de Belo Horizonte (Minas Gerais), Recife (Pernambuco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) e Salvador (Bahia) tambm participaram da conferncia.

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Assentamentos Informais e Ocupaes na Grande Cairo: Desafios e Respostas das Polticas PblicasA Regio Metropolitana da Grande Cairo (RMGC) uma megalpole vibrante com populao estimada de 17 milhes de habitantes, o que a torna a stima maior regio metropolitana do mundo e uma das mais densamente povoadas (40 mil habitantes por quilmetro quadrado). Inclui a Governadoria do Cairo, as reas urbanas das governadorias de Giz e Qalyobiya, a recm-estabelecida Helwan e as governadorias de Seis de Outubro, com suas cinco novas cidades. Nas ltimas quatro dcadas, a RMGC testemunhou um rpido crescimento urbano, em que a populao mais do que triplicou, a uma taxa de crescimento anual mdia de mais de 2,5%. Atualmente, a populao est crescendo a taxas pouco superiores s da populao do pas (2,1% versus 2,03% ao ano). A macia migrao do campo para as cidades atingiu um pico na dcada de 1970 e agora um fenmeno menos importante. A Grande Cairo quatro vezes maior do que Alexandria, a segunda maior cidade do Egito, e faz todas as demais grandes cidades da Repblica rabe do Egito parecerem pequenas.Figura 1. Rpido Crescimento Urbano na RMGC O mapa mostra o crescimento histrico de reas informais na regio da Grande Cairo, com uma cor para cada dcada de crescimento: 1970 1980 1990 2000

Foto: Cairo

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EconomiaDesde sua criao h mais de mil anos, o Cairo continua a representar o principal eixo histrico, econmico e urbano do Egito. Sendo a sede do governo, a concentrao na cidade dos principais servios e instalaes contribuiu para o crescimento exacerbado da regio. Atualmente, a RMGC a principal fora-motriz do crescimento econmico do Egito, dominando a economia, embora contenha apenas cerca de 24% da populao da nao. A RMGC abriga 55% das universidades egpcias, 46% dos leitos hospitalares do pas, 40% de suas farmcias, 40% dos empregos no setor privado, 60% dos automveis, 50% dos nibus e 33% dos caminhes. um local de signicado poltico e cultural nico no mundo rabe.

Estrutura de Governo e Estruturas de Gesto UrbanaA RMGC ainda no uma entidade legalmente constituda. uma rea metropolitana contgua que, em termos administrativos, est sob a competncia de cinco governadorias (Cairo, Giz, Qalyobiya, Helwan e Seis de Outubro), alm de uma srie de autoridades governamentais centrais por setor. Figura 2: Regio Metropolitana da Grande Cairo

Cairo a sede do governo nacional, muitos outros ministrios e autoridades do governo central exercem papel direto ou inuncia indireta nas questes relativas administrao urbana. Como conseqncia, decises quanto a investimentos pblicos e desenvolvimento que afetam a RMGC so tomadas em nveis de governo central e local. A RMGC tambm uma entidade composta de vrias instncias de administrao local que variam conforme a cidade. Por um lado, Giz e Qalyobiya seguem um sistema de administrao local composto por cinco nveis (governadoria, distrito/ Markaz, cidade, vilarejo e bairro/Hayy) por conta de uma mistura de reas rurais e urbanas, ao passo que Cairo um caso especial de governadoria apenas urbana segue um sistema de dois nveis (governadoria e bairro/Hayy). A governadoria do Cairo dividida em trs zonas: leste, oeste e norte. A zona leste tem oito bairros com um vice-governador responsvel; a zona oeste tem dez bairros com um vice-governador responsvel; e a zona norte tem nove bairros com um vice-governador responsvel. No total, existem 27 bairros na governadoria do Cairo. O desao est na coordenao entre estas entidades. A superposio de aladas entre os governos central e local diculta a administrao da cidade e a prestao de servios. A situao ainda mais exacerbada pelas entidades encarregadas do planejamento do uso da terra e da prestao de servios, que adotam diferentes limites geogrcos para a mesma rea.

Principais DesaosOs principais desaos que a RMGC enfrenta so:n n n n

a inecincia de seus sistemas, especialmente infra-estrutura, servios pblicos e transporte trfego congestionado poluio atmosfrica e sonora um conjunto complexo de arranjos institucionais que fragmentam as responsabilidades e restringem um mecanismo eciente de prestao de servios

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Devido defasagem entre a oferta e a demanda por moradias, assentamentos informais so atualmente uma das caractersticas marcantes da paisagem urbana. Abrigam a maioria das famlias de baixa renda e so a principal opo de novas moradias.

Existem dois tipos principais de assentamentos e ocupaes informais na Grande Cairo, como mostrado nas fotos abaixo.

Assentamentos precrios e FavelasOs assentamentos informais do Egito (chamados de ashwaiat ou zonas aleatrias no idioma rabe) esto em toda parte, em reas urbanas e rurais. So ilegais ou irregulares, na medida em que desrespeitam uma ou mais leis que regulam o planejamento urbano, o parcelamento do solo, a edicao, o registro de propriedades ou a preservao de terras agrcolas. Segundo o Ministrio para o Desenvolvimento Local, em 2001 havia cerca de 1.105 favelas e assentamentos informais no Egito, abrigando 15,7 milhes de habitantes (23% da populao egpcia). Desta populao, quase 30% residem na Grande Cairo, com densidades que excedem 2 mil pessoas por hectare. Segundo alguns clculos, 70% a 80% de todo o estoque de novas moradias produzidas na RMGC (sem considerar novas cidades) nas ltimas trs a quatro dcadas podem ser classicadas como informais. A origem e as caractersticas dessa informalidade urbana podem ser melhor compreendidas atravs da histria. Os setores habitacionais formais (tanto pblico quanto privado) foram incapazes de prover solues de casas populares para a maioria dos moradores nos locais onde eles desejavam. Por outro lado, nas reas informais foi produzida uma grande quantidade de pequenos apartamentos que, quando no ocupados pelo proprietrio-construtor, eram vendidos ou alugados atravs de mecanismos de um mercado (imobilirio) informal dinmico. Com boa localizao e fcil acesso aos centros das cidades, essas reas oferecem hoje toda uma gama de oportunidades de negcios e empregos.

Giz Assentamentos informais em parcelamentos originalmente destinados agricultura nos quais a construtora comprou o terreno de forma irregular. Este mecanismo se acelerou em decorrncia da presso da urbanizao e da valorizao dos terrenos

Manshiet Nasser Assentamentos informais por ocupao em terras do governo (desrticas), dos quais a construtora tem apenas uma alegao de posse (wadaa yed) ou um arrendamento (kehr).

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Figura 3: Tipo e localizao das ocupaes e assentamentos informais na Grande Cairo

Atualmente, a RMGC est elaborando um plano de desenvolvimento estratgico de longo prazo (PDE) com a participao de diversos atores. O PDE busca denir o papel futuro da metrpole, suas prioridades de desenvolvimento e uma estratgia para aumentar sua competitividade e o volume de investimentos, especialmente pelo setor privado, para implementar a viso e o plano de investimento de capital emergente. O PDE tambm contribui para a denio de um arranjo institucional e nanceiro coerente para a gesto e a prestao de servios. Com suas dimenses, vocaes e vantagens comparativas, a RMGC tem a capacidade de transformar muitos de seus desaos em oportunidades. Contudo, a viso emergente indica a necessidade da RMGC se reposicionar regional e globalmente a m de atrair investimentos para setores de alto valor agregado, tais como tecnologia da informao e da comunicao, setor biomdico e farmacutico, nichos especiais de manufatura leve e servios, especialmente turismo, negcios, nanas e logstica.

A Poltica HabitacionalA grande maioria (81%) dos assentamentos informais na Grande Cairo est em terras agrcolas de propriedade privada, e as ocupaes em terras desrticas (do estado) limitam-se a 10%. O resto est em terras agrcolas nominalmente controladas pelo estado (gura 3).

Programas e Polticas para Habitao de Interesse SocialAs polticas de habitao da RMGC no podem ser analisadas isoladamente, dissociadas do Programa Nacional de Habitao (PNH). Nos ltimos 25 anos, o setor pblico construiu 36% (1,26 milhes de unidades) de todas as unidades habitacionais formais em reas urbanas. Isto teve um signicativo custo scal de 26,4 bilhes de libras egpcias (US$4,9 bilhes), excluindo os subsdios extra-oramentrios adicionais relacionados ao custo do terreno e da infra-estrutura complementar. Alm disso, embora o Ministrio da Fazenda tenha alocado mais de LE 1 bilho (US$180 milhes) por ano para o PNH, na prtica, a soma dos subsdios oramentrios e extra-oramentrios totalizaro cerca de LE 4,4 bilhes por ano, ou em torno de

A Viso da CidadeA abordagem adotada pelo governo no Plano Diretor anterior visava a disperso do crescimento urbano o que levou a uma grande expanso espacial da regio. Atualmente, oito novas cidadessatlites rodeiam a cidade do Cairo. A partir de 2006, o Cairo comeou a se afastar dessa prtica de planejamento e contou com o apoio tcnico e nanceiro da Aliana de Cidades e vrios outros nanciadores (Banco Mundial, UN-HABITAT, GTZ Cooperao Tcnica Alem, e a JICA Cooperao Internacional do Japo).

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0,7% do PIB. Tal nvel de subsdios para a habitao reete o forte compromisso do governo de fornecer moradias populares, mas tambm representam um nus scal considervel para o governo. A taxa de crescimento anual do estoque habitacional urbano entre 1986 e 1996 superou e muito o crescimento da populao urbana no mesmo perodo. A Tabela 1 mostra as unidades habitacionais construdas no perodo de 1986 a 1996. Apenas a Governadoria do Cairo foi responsvel em 1996 por mais de um quarto (2,29 milhes de unidades) do estoque total de moradias urbanas do Egito (8,15 milhes de unidades), embora sua participao no estoque

total de moradias urbanas tenha cado de 29,5% em 1986 para 28% em 1996. A RMGC respondeu por 44,2% do estoque total de moradias urbanas em 1996, tendo aumentado 3,4% ao ano durante o perodo de 1986 a 1996. A taxa de crescimento anual mdio do estoque de moradias foi menor do que a mdia nacional para o mesmo perodo (3,6%). Isto se deveu principalmente a um crescimento mdio mais lento do que a mdia no Cairo, onde o estoque de moradias cresceu 3,1% ao ano. Em contraste, o estoque de moradias urbanas nas governadorias de Qalyubia e Giz aumentou 3,9% e 3,8%, respectivamente.

Tabela 1: Total de unidades habitacionais em reas urbanas e rurais na RMGC: 1986 e 1996 Total de Unidades Habitacionais, 1986 Total de Unidades Habitacionais, 1996

Cairo Qalyubia Giz Egito

1.692.962 262,642 639,056 5,737,967

29.5% 4.6% 11.1% 100.0%

0 510,464 326,946 5,425,994

1,692,962 773,106 966,002 11,163,961

2,287,615 386,308 927,899 8,157,135

28.0% 4.7% 11.4% 100.0%

0 762,276 559,692 7,550,531

2,287,615 1,148,584 1,487,591 15,707,666

3.1% 3.9% 3.8% 3.6%

% de Crescimento Anual do Estoque Urbano

Estoque Urbano

Estoque Urbano

Estoque Rural

Estoque Rural

% do Estoque Urbano Total

% do Estoque Urbano Total

Estoque Total

Estoque total

Localidade

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A maioria do estoque habitacional do Egito apresenta altas taxas de desocupao, controle do aluguel e informalidade. Quase 4,58 milhes de unidades habitacionais esto sem uso esto vazias ou fechadas. De acordo com o censo de 2006, o nmero total de unidades habitacionais sem uso nas reas urbanas do Egito chegava a 4,58 milhes de unidades, das quais 1,18 milhes estavam fechadas e 3,40 milhes estavam vazias. Moradias so tradicionalmente adquiridas e mantidas desocupadas para os lhos. Essa compra pode acontecer anos, e at dcadas, antes que esses lhos precisem das casas. Outra explicao que a valorizao imobiliria rpida e sustentada nos ltimos 25 anos e a falta de mecanismos alternativos de investimento at bem recentemente signicavam que os imveis serviam de forma consistente como poupana e mecanismo de investimento prova de inao, sem que fosse necessrio o rendimento dos aluguis. A idia do aluguel era ainda menos atraente por conta do controle sobre os aluguis que existia at 1996. Mesmo agora, a continuada percepo de incerteza quanto aplicabilidade das novas leis do aluguel faz com que muitos proprietrios hesitem em alugar seus imveis desocupados. Uma m destinao das unidades subsidiadas pelo governo, assim como sua localizao pouco atraente em novas cidades perifricas tambm contriburam para exacerbar o problema. Estima-se que 42% do estoque habitacional na Grande Cairo estejam congelados sob o controle dos aluguis. Desde que a Lei No. 4 foi sancionada em 1996, exibilizando o mercado de aluguis para unidades recm-construdas e naquele momento vazias, o mercado de aluguis vem demonstrando sinais de maior dinamismo. O resultado de um Levantamento da Demanda Habitacional no Cairo mostrou que 81% de todas as novas unidades produzidas no perodo de 2001 a 2006 foram alugadas, com contratos assinados nos termos da nova lei e somente 19% foram adquiridas. Porm, o levantamento tambm indica que 42% do total de unidades habitacionais urbanas na Grande Cairo

ainda esto com aluguis congelados nos termos do regime de aluguis antigo, o que no est necessariamente beneciando os pobres. Isto restringe muito a mobilidade residencial, exclui do mercado uma grande proporo de moradias, causa a falta de manuteno do estoque residencial e distorce o mercado habitacional como um todo. O setor informal produziu cerca de 45% das novas moradias urbanas. Durante o perodo intercenso (1996 2006), o estoque habitacional urbano, segundo estimativas conservadoras, cresceu a uma mdia anual de 2,8% ou 263.838 unidades (9% mais do que a mdia anual durante o perodo inter-censo anterior 1986 1996, quando a mdia foi de 241.916 unidades). Destas, 55,6% eram formais e 45,4%, informais. Limitadas por padres elevados de zoneamento e construo, assim como por um processo de concesso de alvars custoso e burocrtico, muitas famlias e pequenas incorporadoras operam no setor informal para atender as necessidades crescentes das famlias de menor renda. Boa parte das moradias est mal localizada especialmente para as famlias de baixa e mdia renda. Programas de casas populares do governo so implementados em cidadezinhas novas e distantes ou em reas desrticas remotas e pouco acessveis, tornando a luta pela sobrevivncia desses habitantes muito mais difcil, se no impossvel. O setor privado formal, priorizando suas aes para o mercado de classe alta, que possui carro prprio, tambm tende a preferir locais em reas desrticas. Com isso, as moradias em reas informais, localizadas dentro de cidades existentes ou em suas periferias imediatas, tm uma alta demanda. Segundo estimativas conservadoras, de 50% a 75% do estoque habitacional urbano do Egito sofrem com essas restries de mercado. Essas decincias do mercado combinadas afetam diretamente a capacidade da populao de pagar por moradia, o sucesso de um sistema de crdito imobilirio recm-iniciado, a mobilidade da mo-de-obra (crescimento econmico) e a capacidade do governo de responder s necessidades de abrigo das famlias pobres.

Aliana de Cidades n 11

o lanamento do PNH em 2005, com o objetivo de construir 500 mil unidades habitacionais at 2011, e com mecanismos aperfeioados de destinao, subsdios e entrega de moradias. A partir de 2007, o governo, com o apoio do Banco Mundial e da USAID, alavancou o PNH e ganhou fora para iniciar as reformas necessrias para construo de um sistema de moradias populares, baseado em cinco eixos de ao, listados a seguir. A estrutura da reforma das polticas pblicas tem como objetivos resolver as distores existentes no estoque atual de moradias (vazias ou com aluguel controlado), melhorar o uxo ou a produo de moradias (diminuindo o custo da proviso habitacional), oferecer melhor acesso das famlias moradia (melhorando o preo e a destinao das unidades) e reformar o papel do governo. Seguem mais detalhes sobre os cinco eixos. Unidades vazias. O objetivo deste eixo de ao destravar o estoque de moradias vazias promovendo reformas tributrias e instrumentos de subsdios inovadores, que forneam incentivos para que os proprietrios as coloquem no mercado e desenvolver um mercado de aluguis com liquidez. Mercado de aluguis. Este eixo pretende criar um mercado de aluguis uido, fortalecendo a legislao que rege os aluguis, tornando os procedimentos de despejo de inquilinos mais ecientes e acelerando a eliminao do controle sobre o valor dos aluguis. Preos acessveis. A inteno aqui oferecer melhores opes de moradia a preos acessveis, aumentando o acesso ao crdito habitacional atravs de incentivos s instituies que concedem crdito para que ampliem o mercado para consumidores de baixa renda e diminuindo o custo da proviso habitacional e os custos transacionais a ela associados. Esta dupla abordagem para promover preos mais acessveis vai minimizar a necessidade de subsdios pblicos.

rea de reconstruo com vista para a mesquita de Muhammad Ali.

Atendendo Demanda por Habitao e s Metas da CidadeEstima-se de forma conservadora que a demanda anual por habitaes para grupos de renda limitada em reas urbanas esteja entre 165 mil e 197 mil unidades. O Programa Nacional de Habitao (PNH), com seu compromisso de construir 85 mil unidades habitacionais ao ano, cobriria assim quase 50% da necessidade estimada. A menos que o setor informal supra os 50% que faltam, necessrio que as polticas pblicas passem por uma reforma a m de remover distores no mercado habitacional, distores essas que tm mantido um grande nmero de unidades vazias e sufocado os investimentos no mercado de aluguis. Desde a criao do PNH em 2005, o governo vem introduzindo inmeras melhorias para buscar inovaes que ajudem a atender demanda. Recentemente, o governo alcanou progressos signicativos a partir da criao de um sistema de nanciamento habitacional, reforma do sistema de registro da terra e da propriedade, reviso da legislao de imposto sobre a propriedade e elaborao de um cdigo de construo unicado, aprovao de uma nova lei para os aluguis e diversicao das tipologias de casas populares oferecidas pelos programas de habitao social. O sinal mais evidente do compromisso do governo em melhorar as condies habitacionais no pas foi

12 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

Destinao. O objetivo melhorar a destinao dos subsdios pblicos a m de garantir que sejam destinados s famlias de mais baixa renda, que deles necessitam para conseguir moradia adequada, e a segmentos especcos de mercado para ajudar na remoo de obstculos bem denidos no mercado. Uma destinao bem sucedida nesse sentido reduzir signicativamente a necessidade de subsdios futuros. Governo. O objetivo desse canal transformar o governo em um agente para a dinamizao do mercado habitacional, que possa melhor compreender os mercados, reagir a mudanas, engajar o setor privado na entrega de moradias, fornecer um marco regulatrio efetivo, formular polticas para um mercado imobilirio que funcione bem e auxiliar famlias de baixa renda a pagar pelas solues habitacionais.

Polticas Pblicas Anteriores para Urbanizao de Favelas e Lies AprendidasAs polticas urbanas at a dcada de 1990 em geral tratavam as reas informais e ocupadas como fenmenos extraordinrios, tanto ao focar bolses particulares com caractersticas de favelamento, quanto ao corrigir as lacunas em servios urbanos nas grandes aglomeraes informais. Projetos de urbanizao apoiados por doaes em Helwan, Ismaila e Nasriya permaneceram projetos-piloto isolados e ilhas de excelncia. O governo iniciou o Programa Nacional de Melhorias Urbanas em 1992, que comeou a operar em fases para fornecer infra-estrutura bsica e servios municipais em quase todos os assentamentos informais e reas ocupadas da RMGC. Embora o programa no tenha contemplado em seu estgio inicial muitas das lies aprendidas nos projetos apoiados por doaes (isto , a importncia da participao da

Tabela 2: Estrutura para Identicao de Prioridades

existente

locali zao

rea

infracondio cresc. estrutura das const. urbano

proprie dade

legali dade

segurana popu lao

densidade R$ da terra

apoio poltico

proposta

conteno

reconstruo

urbanizao

Aliana de Cidades n 13

comunidade e o desenvolvimento integrado do espao fsico e da comunidade), ele forneceu pela primeira vez de fato a segurana da posse a todos os moradores e o reconhecimento dos assentamentos informais.

n

n

Poltica Atual de Urbanizao de FavelasA urbanizao de favelas atualmente uma alta prioridade na agenda de polticas pblicas. Um programa de urbanizao de abrangncia municipal est sendo implementado e novas ferramentas esto sendo desenvolvidas para uma interveno participativa no mbito do Programa de Desenvolvimento Participativo da GTZ. A poltica de urbanizao objetiva aliviar a pobreza urbana e suas condies de vida, gerando crescimento econmico local e prevenindo o surgimento de novos assentamentos em reas invadidas. A GTZ apoiou uma Unidade de Melhoria Urbana em cada governadoria com os seguintes objetivos:n n

n

coordenar a estratgia e os esforos para urbanizar reas informais com outras questes de desenvolvimento (como, por exemplo, infraestrutura em larga escala) coordenar a disseminao das melhores prticas do trabalho em reas informais em toda a governadoria consolidar e reestruturar os bancos de dados de reas informais na governadoria

Metodologia para Lidar com reas Informais na Grande CairoForam adotados critrios especcos para a seleo da Estratgia de Interveno apropriada, de acordo com cada tipo de rea informal:n

n

n

n

n

denir a estrutura para melhorar as condies de vida nos assentamentos informais preparar um plano estratgico participativo para cada rea e estabelecer intervenes prioritrias de forma coordenada com outros rgos prover um mecanismo para gesto e monitoramento de atividades de urbanizao em cada rea, levando em considerao a participao comunitria, e contribuies locais e papis l exercidos disseminar mecanismos de desenvolvimento participativo para identicar problemas, prioridades e intervenes de urbanizao pelos atores locais envolvidos (governo, ONGs, e setor privado) coordenar a capacitao da equipe da administrao local que trabalha na governadoria e nos distritos, para que apliquem ferramentas de desenvolvimento participativo ao trabalharem com reas de informalidade facilitar atividades que construam conana entre as administraes locais e os residentes de reas informais, fortalecendo sua adeso e senso de participao no desenvolvimento enquanto parceiros-chave

n

n n n n n

critrios urbanos (dimenso, histrico, localizao, tipologia urbanstica do entorno, densidade das construes, usos, potencial de expanso horizontal, tipos de estruturas, condio das estruturas, ligao com o virio regional, acesso aos servios pblicos) critrios populacionais (densidade populacional, taxa de crescimento da populao) critrios sociais (ndice de criminalidade, instituies da sociedade civil presentes) critrios econmicos (valor econmico, propriedade) critrios ambientais (riscos ambientais e poluio) critrios polticos (apoio poltico) critrios nanceiros (cooperao estrangeira, corporaes estrangeiras, setor privado, ONGs)

Metodologia de AoUrbanizao in-situ. Cobre assentamentos que no estejam localizados em reas com restries ambientais ocupao. Sua estrutura morfolgica permite a implementao de infra-estrutura e servios bsicos. Tais reas esto includas no Programa Nacional de Melhorias Urbanas ou em quaisquer dos programas de nanciamento mencionados acima. A metodologia para tratar destas reas apresentada a seguir:

14 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

n

n n

n n

estabelecer um conselho das partes interessadas representando todos os envolvidos. A tarefa do conselho participar do projeto de urbanizao e acompanhar sua implementao elaborar planos urbanos e determinar os servios necessrios denir no projeto um nmero mnimo de estradas de acesso e determinar os servios necessrios estabelecer os termos e critrios de construo e obter aprovao pelos conselhos eleitos implementar e monitorar a implementao

Mtodo 1 Renovao e reassentamento urbanos: completa renovao urbana de algumas favelas, com a remoo dos moradores para outras reas urbanas; reutilizao dos terrenos para outros ns pblicos (escolas, clubes para a juventude, parques, etc.) com uma justa indenizao em dinheiro ou na forma de um imvel, segundo preos de mercado, para proprietrios de terrenos, imveis ou lojas. Mtodo 2 Remanejamento in situ: acomodar os moradores em residncias temporrias, replanejar e reconstruir o local, e depois remanejar os mesmos residentes de volta para os novos apartamentos. Este mtodo foi implementado nas reas de Zenhom e Duwaiqa. As unidades habitacionais foram cedidas gratuitamente, tendo o setor privado feito uma doao para cobrir os custos de transferncia.

Reassentamento. O Egito estabeleceu regulamentaes que regem o processo de reassentamento, e que incluem avaliao das propriedades, indenizao, agravos e mecanismos de reparao.

Tabela 3: Exemplos de Projetos de Urbanizao em Andamento na Grande Cairo rea Arab e Ezbet Al Walda: Melhoria urbana participativa Al Masara: Melhoria urbana participativa Al Salam e Al Nahda: Modernizao de 100 escolas Manshiet Nasser: Projeto Al Duwaiqa Distrito Helwan Parceiros do Governo ONG: Integrated Care Society (ICS) e vrios ministrios ONG: ICS ONG: Heliopolis Association for Services Fundo Abu Dhabi, Ministrio da Habitao Cooperao Alem (GTZ/ KfW) Sociedade do Crescente Vermelho, comunidade empresarial Governadoria do Cairo com os Ministrios da Cultura e do MeioAmbiente Vrios ministrios ONG: Future Foundation Data de incio 2004 Data de trmino Em andamento

Helwan Al Salam Manshiet Nasser Manshiet Nasser Sayyeda Zeinab Old Cairo

2005 2005 1998

Em andamento Em andamento Em andamento

Manshiet Nasser: Melhoria urbana participativa Zenhom: Remanejamento in-situ

2001 1990

Em andamento Em andamento

Reabilitao da rea Fustat: Reassentamento

2006

Planejamento Em andamento

Projeto ambiental em Ezbet Khair Allah El-Marg: Melhoria urbana participativa Ezzbet Hareedy: Melhoria urbana participativa

Old Cairo El Marg El Waily

2008 2004 2008 Em andamento Em andamento

Aliana de Cidades n 15

Poltica de Desenvolvimento UrbanoA inteno era transformar a RMGC em um aglomerado, com cidades-satlites. Para tanto, um grande programa virio foi elaborado, incluindo mais notadamente o rodoanel, e investimentos signicativos foram feitos em infra-estrutura, servios e uma grande proviso de moradias entregues pelo governo nas novas cidades-satlites. O movimento inicial da primeira leva de novas cidades-satlites teve origem quando Cairo foi fechada s grandes indstrias em 1983; porm estas cidades tiveram diculdade de atrair moradores. Apenas a segunda leva de cidades-satlites comeou a atrair moradores, depois que vrios assentamentos fragmentados destinados aos grupos de baixa renda foram consolidados e remodelados em assentamentos perifricos de melhor nvel com melhores servios e terrenos destinados incorporao pelo setor privado, especialmente na Nova Cairo, na rea de Sheikh Zaid, e partes de Seis de Outubro. De certa forma, a abordagem de planejamento teve sucesso em reduzir a terra cultivvel convertida em usos urbanos de 600 para 300 hectares por ano, mas as novas cidadezinhas ainda esto aqum de suas metas populacionais, ao passo que a densidade dos assentamentos informais no est dando sinais de reduo. Uma das crticas aos antigos planos-diretores para a RMGC era sua formulao de cima para baixo, com pouca participao dos interessados locais no nvel das governadorias. O enfoque no desenvolvimento de novas cidades e cidades-satlites por parte dos que realizam o planejamento urbano reduziu os investimentos que de outra forma teriam ido para reas urbanizadas existentes. As governadorias tambm tm um controle limitado sobre as terras pblicas sob sua competncia, sendo o controle limitado s terras restritas ao zimam e a um raio de dois quilmetros dele. Conseqentemente, as governadorias no tm autoridade para decidir como as terras pblicas em reas de expanso urbana deveriam ser utilizadas de forma ideal, e no conseguem gerar receitas locais provenientes da venda/aluguel de terras pblicas para nanciar a prestao de servios.

Em resposta, as governadorias do Cairo e de Giz no passado se utilizaram de uma brecha na legislao de administrao local e planejamento urbano, que lhes permitiu elaborar seus prprios planos detalhados em contraponto ao Plano Diretor, e us-los para dispor de terras pblicas e reter os proventos para nanciar a prestao local de servios. Com esta abordagem, as duas governadorias liberaram na ultima dcada cerca de 300 quilmetros quadrados de terras pblicas em rea de expanso urbana da RMGC. Paralelamente, a Nova Autoridade de Comunidades Urbanas (NUCA) liberou cerca de mil quilmetros quadrados de terras pblicas em oito novas comunidades urbanas nos ltimos 25 anos. No total, este estoque de terras pblicas recmdisponibilizado representa aproximadamente duas vezes mais do que a rea urbanizada e construda contgua das trs governadorias (estimada em 600 700 quilmetros quadrados em 2000), abrigando cerca de 13 milhes de habitantes.

Acesso ao Crdito para Moradia PopularAinda existem grandes defasagens entre a renda dos pobres e os custos das moradias construdas pelo PNH. A ampliao das opes habitacionais oferecidas a preos mais acessveis requer uma abordagem dupla: a remoo de impedimentos regulatrios, que encarecem a oferta de moradias, a expanso do acesso ao crdito imobilirio, com um foco em crdito hipotecrio para famlias de classe mdia e micro crdito e outras abordagens inovadoras para atender s necessidades da populao mais pobre. Programas habitacionais anteriores no Egito concentravam-se em entregar unidades habitacionais de padro relativamente alto em localidades remotas, o que exigia altos subsdios e oferecia pouca alternativa ou pouca adequao da moradia s necessidades dos benecirios. Em contraste, a nova poltica do governo identicar mltiplos segmentos de renda e direcionar programas de subsdios e reformas regulatrias para cada segmento. O fortalecimento do crdito hipotecrio deve atender necessidade das famlias de alta renda. Incentivos para que as

16 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

instituies nanceiras de crdito habitacional ampliem o nanciamento para o mercado intermedirio atenderiam s necessidades das famlias de renda mdia. A realizao de reformas regulatrias (isto , planejamento adaptado, uso fundirio e padres de construo), para permitir a produo de moradias alternativas de menor custo, beneciaria as famlias de classe mdia baixa. Finalmente, o governo poderia reservar subsdios para as famlias de menor renda, que no conseguiriam a casa prpria sem tal assistncia.

Combinar melhorias na infra-estrutura de reas informais nas franjas da cidade com o atendimento de reas adjacentes com um desenvolvimento guiado (tahzim1). A RMGC atualmente est seguindo rumo criao de reas tahzim. reas informais perifricas vizinhas precisam ser includas no projeto e na instalao do sistema de infra-estrutura. Isto faz sentido em termos econmicos, pois normalmente as reas informais perifricas mais novas so as mais carentes de servios de infra-estrutura, especialmente no que se refere a saneamento bsico e sistema virio. Melhorar o transporte pblico e o trnsito nas reas informais. O acesso e o trnsito para e dentro de reas informais so, com freqncia, deplorveis. As principais artrias virias esto sendo organizadas, a m de maximizar a ecincia de espaos limitados e tornar o sistema privado de mini-nibus menos catico. Melhorar os mercados de casas populares em reas informais e tornar o sistema de aluguis mais transparente e eciente. Esta iniciativa faz parte do programa nacional de reforma de casas populares. Desenvolver recursos humanos em reas informais e apoiar as pequenas e microempresas locais. Existem grandes oportunidades voltadas s reas urbanas informais atravs de programas que aumentem a qualicao e a colocao dos jovens no mercado de trabalho, e que estendam crdito de apoio atividade comercial de pequenas e microempresas existentes ou recm-formadas. Esses programas j existem. Teriam uma melhor relao custo-benefcio se fossem concentrados em grandes reas informais urbanas densamente povoadas.

Olhando para o Futuro Os Maiores DesaosOlhando para o futuro, os maiores desaos, que tambm so os princpios bsicos da poltica de melhoria urbana sustentvel da RMGC esto listados a seguir. Mudana de percepes. A distoro das informaes sobre as reas irregulares ou invadidas e a viso negativa da populao sobre o tema esto sendo tratadas por campanhas informativas e pela mdia em geral, com foco tambm nos tomadores de decises e prossionais da rea. Conferir poder poltico e scal s autoridades locais e desenvolver capacitao tcnica. Muitas responsabilidades bsicas relativas gesto fundiria e ao planejamento esto sendo transferidas para municpios e distritos onde existem assentamentos informais ou reas invadidas. Os passos seguintes so habilitar as governadorias e municpios a fornecer mecanismos de crdito sustentveis, tais como reutilizao das receitas advindas da venda de terrenos para ns de urbanizao. Outro passo desenvolver a capacitao tcnica das autoridades locais para que preparem planos de remodelagem para assentamentos informais e facilitem os processos de regularizao fundiria, melhorias habitacionais e a concesso de alvars de reconstruo.

1. Tahzim denido como orientando a expanso de reas informais. Requer layouts que permitam uma urbanizao planejada e organizada de terras vazias em torno de reas informais aashwaiat.

Aliana de Cidades n 17

Principais ObstculosUm dos principais obstculos para se tratar de todo o fenmeno da informalidade na RMGC o rpido crescimento de reas periurbanas, adjacentes aglomerao urbana da RMGC. Estima-se que, em 2008, a populao das nove reas periurbanas na Grande Cairo seja de 4,21 milhes de habitantes, o que corresponde a 24,7% dos 17 milhes de habitantes da Grande Cairo. No perodo de 1996 a 2006, a populao dessas reas cresceu rapidamente sobre reas agrcolas seguindo um padro de informalidade, a uma taxa de crescimento mdia de 3,27% ao ano. Embora as reas periurbanas da Grande Cairo sejam ocialmente classicadas como rurais, nas ltimas dcadas o papel da agricultura vem diminuindo substancialmente. Em 1996, a agricultura respondia por apenas 21% dos empregos da populao economicamente ativa na Grande Cairo (comparado a 47% no Egito rural), e o maior setor era a manufatura, com 22% dos postos de trabalho gerados (ndice mais alto at do que a mdia urbana nacional).

As Maiores InovaesUma das maiores inovaes a forma como as autoridades esto enfrentando o desao da urbanizao e do crescimento informal na RMGC de forma integrada. Esquemas de melhoria urbana em andamento do conta dos assentamentos existentes, ao passo que o programa de casas populares, a implementao de um desenvolvimento urbano guiado em torno de reas de assentamento e invaso e a mudana do marco legislativo para o desenvolvimento urbano no Egito tudo isso objetiva enfrentar o desao de uma forma sustentvel e de longo prazo.

Vista area de assentamento informal no Cairo.

18 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

Aliana de Cidades n 19

Ekurhuleni em PerspectivaEstabelecido no ano 2000, o Municpio Metropolitano de Ekurhuleni cobre um vasto territrio que se estende de Germiston, a oeste, at Springs e Nigel, ao leste. Ekurhuleni um dos seis municpios metropolitanos que resultaram da reestruturao do governo local. As antigas administraes locais de nove cidades na rea de East Rand da frica do Sul Alberton, Benoni, Boksburg, Brakpan, Edenvale/Lethabong, Germiston, Kempton Park/Tembisa, Nigel e Springs foram amalgamadas no novo municpio metropolitano.Ekurhuleni ocupa uma rea total de cerca de 2 mil quilmetros quadrados, que abriga uma populao de aproximadamente 2,5 milhes (Censo Demogrco, 2002). Isto representa 5,6% da populao nacional e corresponde a 28% da Provncia de Gauteng. A densidade populacional de aproximadamente 1.250 habitantes por quilmetro quadrado, o que faz de Ekurhuleni uma das reas mais densamente povoadas da provncia e do pas. A ttulo de comparao, a densidade populacional em Gauteng de 513 habitantes por quilmetro quadrado, enquanto a do pas de 38 habitantes por quilmetro quadrado. A economia de Ekurhuleni maior e mais diversicada do que a economia de muitos pases menores da frica, incluindo todos os pases do sul da frica. Corresponde a quase um quarto da economia de Gauteng, que, por sua vez, contribui com mais de um tero do PIB nacional. Ekurhuleni responde por cerca de 7% do poder aquisitivo do pas e cerca de 7,4% da produo da nao.Legendacidade de Johannesburg cidade de Tshware municpio do distrito de Sedibeng municpio do distrito de Metsweding municpio do distrito de West Rand principais estradas estradas existentes

ESTRATGIA DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CONTEXTO PROVINCIAL Km

Foto: Ekurhuleni

20 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

A manufatura em Ekurhuleni responde por cerca de 20% do PIB de Gauteng. Na prpria Ekurhuleni, a manufatura responde por aproximadamente 28% da produo total. Como tem a maior concentrao industrial de toda a frica do Sul (e da frica), Ekurhuleni freqentemente chamada de A Ocina da frica. O ao e os produtos fabricados com metal servem como insumos para a economia de outras reas. O crescimento econmico anual em Ekurhuleni aumentou de 1998 a 2003, e tem sido quase o dobro da taxa de crescimento da manufatura em nvel nacional. Cerca de 52% da populao economicamente ativa, comparada a 38% no mbito nacional. A renda familiar e per capita supera a mdia nacional em 10% e 33%, respectivamente. Em mbito nacional, a porcentagem de pessoas que vivem na pobreza de 49%, comparado com 29% em Ekurhuleni. Ekurhuleni tem uma rede de estradas, aeroportos, ferrovias, telefones e telecomunicaes que se equipara s que existem na Europa e nos Estados

Unidos uma infra-estrutura de primeira linha que d suporte a um importante complexo industrial e comercial. Muitos consideram Ekurhuleni o eixo central (hub) de transportes do pas. no municpio que est localizado o Aeroporto Internacional OR Tambo, ou ORTIA, o mais movimentado aeroporto da frica servindo todo o continente e com conexes para as principais cidades do mundo. O maior eixo ferrovirio da frica do Sul est em Ekurhuleni (Germiston), conectando a cidade a todos os principais centros populacionais e portos na regio do sul da frica. Um conjunto de modernas auto-estradas e vias expressas da frica do Sul conectam Ekurhuleni a outras cidades e provncias. O corredor de Maputo, a mais avanada iniciativa de desenvolvimento espacial do pas, conecta Ekurhuleni capital de Moambique. As malhas viria, frrea e area conectam Ekurhuleni diretamente a Durban, o maior e mais movimentado porto da frica do Sul. No perodo de 1995 a 2005, o governo de Gauteng fez investimentos estratgicos para melhorar algumas das malhas virias mais antigas que levam ao plo industrial, a m de promover a movimentao de bens e servios.

A Estratgia de Crescimento e Desenvolvimento 2025 (GDS 2025)Esta estratgia segue uma abordagem de cenrios de desenvolvimento, descrevendo trs cenrios de desenvolvimento amplos:n

n

n

rea informal em Ekurhuleni.

desenvolvimento fsico, que engloba aspectos tais como os padres atuais de assentamento e uso fundirio, malha de transportes e servios de infra-estrutura, assim como o meioambiente fsico; desenvolvimento econmico, que engloba a atividade economicamente produtiva e os aspectos relacionados a desenvolvimento sustentvel da rea e desenvolvimento social, que engloba o elemento humano, incluindo o perl scioeconmico da rea e a oferta de moradia, infra-estrutura bsica e outros servios comunitrios.

Aliana de Cidades n 21

Padro de Assentamento e Uso do SoloEm termos de uso do solo, Ekurhuleni abrange trs componentes principais:n

n n

um cinturo central de atividades industriais e de minerao com orientao leste-oeste, que foi o ncleo em torno do qual as nove cidades se estabeleceram incorporaes residenciais em torno do cinturo de atividades acima mencionado reas rurais e agrcolas a nordeste e, na poro central, ao sul da rea metropolitana

Na ltima dcada, vrios assentamentos informais tambm se desenvolveram no cinturo de minerao, prximos aos distritos comerciais centrais e reas industriais mais antigas. Muitos desses assentamentos no dispem sequer de servios rudimentares, e muitos deles esto situados em terras imprprias para a habitao em funo de restries decorrentes das atividades de minerao. Os padres de incorporao nas reas de townships2 antes destinadas populao desprivilegiada na periferia urbana diferem substancialmente das reas previamente destinadas aos brancos, mais prximas do ncleo urbano. Ekurhuleni nica na medida em que lhe faltam uma clara identidade e um centro principal. Todas as outras regies metropolitanas na frica do Sul desenvolveram-se em torno de um ncleo central ou de distritos comerciais centrais. Atualmente, Ekurhuleni tem uma estrutura multimodal, composta de nove distritos comerciais centrais pertencentes a distritos locais, assim como ncleos de atividade descentralizados. Com o estabelecimento do Municpio Metropolitano de Ekurhuleni, agora se faz necessrio criar uma identidade distinta para a regio metropolitana.

Existem na rea quatro grandes concentraes de comunidades historicamente desprivilegiadas. Todas essas comunidades esto situadas na periferia da principal rea urbana e nas reas mais afastadas da maioria das oportunidades de emprego. Juntas, acomodam aproximadamente 65% da populao total da rea metropolitana. O padro de assentamento existente representa a tpica estrutura de planejamento do apartheid, em que as reas residenciais esto situadas na periferia da rea urbana, que seguida de uma rea de transio vazia, seguida de um desenvolvimento industrial para prover oportunidades de emprego, conectado economia principal pelas malhas frrea e viria. O cinturo de minerao foi historicamente o ncleo em torno do qual vrias cidades e assentamentos se formaram. A rea metropolitana tem uma estrutura uniformemente distribuda e diversicada, sem que haja um nico ncleo de atividade dominante. Devido a atividades de minerao passadas, grandes pores do cinturo de minerao esto vazias. Existem nesta rea inmeras restries ao desenvolvimento que esto relacionadas minerao, tais como barragens de rejeitos e depsitos de entulho de minerao, escavaes superciais, dolomita, emisses de radnio, e assim por diante.

Assentamento informal em Ekurhuleni.

2. N.do T.: Township Na frica do Sul, o termo township usualmente se refere a reas de moradia urbana com freqncia sub-desenvolvidas que, sob o apartheid, eram reservadas para os no-brancos.

22 n Urbanizao de Favelas em Foco: Experincias de Seis Cidades

Principais Restries AmbientaisAs principais restries ambientais urbanizao em Ekurhuleni so descritas a seguir.

Ao mesmo tempo, tambm tm um alto potencial agrcola, ou so ambientalmente frgeis. Gestes administrativas desarticuladas em diferentes esferas de governo exacerbam esses conitos.

As reas DolomticasExistem reas dolomticas nos setores sul da regio metropolitana, em Katorus e sua volta, assim como nos setores norte ao longo da auto-estrada R21 e a leste dela. Alm dos riscos de formao de voorocas e buracos de escoamento de gua pluvial, que ocorrem em zonas dolomticas degradadas, tambm alto o potencial de poluio dos lenis freticos.

Desenvolvimento EconmicoA produo econmica em Ekurhuleni no ano de 2002 totalizou cerca de R (rand) 44,5 bilhes3, correspondendo a cerca de 7,4% da produo total e a cerca de 6,9% do total de postos de trabalho na frica do Sul. A produo de valor agregado bruta per capita na regio metropolitana foi de R17.783, que supera a mdia nacional de R13.140. O fator que mais contribui para a economia local a indstria de manufatura (que responde por 27,5% da produo de valor agregado). A indstria em Ekurhuleni est concentrada nos sub-setores produtivos de metais, produtos qumicos, maquinrio e equipamento e produtos plsticos, reetindo sua vocao original em East Rand como base de suporte s operaes locais de minerao. Outros setores importantes para a economia de Ekurhuleni so os setores nanceiro, de servios comerciais, comrcio e transporte.

Problemas Ambientais Relacionados MineraoAs atividades de minerao em East Rand criaram uma gama de problemas e restries ambientais em Ekurhuleni, incluindo terrenos com escavaes rasas sujeitos a afundamento, inmeros depsitos de entulho de minerao e barragens de rejeitos que causam poluio visual e atmosfrica , emisses de radnio e a no reabilitao de terras de minerao e entradas de minas, entre outros problemas.

Assentamentos InformaisNa ltima dcada, formaram-se muitos assentamentos informais em Ekurhuleni. Esses assentamentos esto sujeitos a uma gama de problemas ambientais associados falta de servios bsicos, tais como condies insalubres de moradia, riscos de incndio, poluio por fumaa e problemas de sade.

Conito entre Desenvolvimento Econmico e reas Ambientalmente FrgeisAlgumas reas enfrentam demandas de uso do solo altamente conitantes devido sua localizao ao longo das principais vias, o que ideal para a construo de corredores de circulao.

A minerao de ouro uma indstria importante em Ekurhuleni.

3. Em novembro de 2008, 1 Ramd estava cotado a US$0.90.

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Solues de moradia informais. No perodo de 1998 a 2003, a economia formal de Ekurhuleni cresceu a uma mdia estimada de 3% ao ano. Esta taxa est alinhada mdia nacional e tem conseqncias para a prosperidade da regio, apontando para um possvel aumento da pobreza e do desemprego, uma vez que o crescimento populacional supera o crescimento econmico. Ekurhuleni aumentou suas exportaes de 24% da produo de valor agregado em 1996 para 27% em 2002.

Casa construda com subsdio do governo. atendem as demandas por qualicao da economia local. A prevalente falta de capacitao e a baixa taxa de crescimento da economia local geraram um ciclo de pobreza, carncia e violncia. A desnutrio, principalmente entre as crianas, permanece um grave desao, ao mesmo tempo em que existe uma alta prevalncia de HIV/AIDS, assim como de outras doenas relacionadas pobreza, como a tuberculose, principalmente nas townships da periferia e nos assentamentos informais.

Perl SocioeconmicoQuase um tero dos cerca de 2,5 milhes de habitantes de Ekurhuleni vivem na pobreza. Atualmente, estima-se que a taxa de desemprego seja de 40%, um nmero inaceitavelmente alto. Muitos so forados a recorrer a medidas desesperadas apenas para sobreviver. A maioria das pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza moram na periferia urbana, afastadas das principais oportunidades de emprego e das convenincias e facilidades urbanas, em assentamentos informais desprovidos de servios bsicos. No total, aproximadamente 98% dos habitantes de Ekurhuleni que vivem abaixo da linha da pobreza so africanos. Embora a comunidade de Ekurhuleni tenha um ndice de alfabetizao relativamente alto (84%), os nveis de qualicao tcnica so baixos e no

Oferta de Moradias e Servios BsicosExistem aproximadamente 112 assentamentos informais em Ekurhuleni, compreendendo um total de aproximadamente 135.000 unidades habitacionais informais (barracos). O dcit atual (unidades sem acesso ao quatro servios bsicos) na regio metropolitana est estimado em 170 mil. Estes nmeros no levam em considerao o crescimento da demanda nos prximos 20 anos. O uxo de pessoas para as reas urbanas ir continuar no futuro. Embora todos os assentamentos informais disponham de gua para uso emergencial e estejam recebendo instalaes de saneamento, eles no tm acesso contnuo e adequado aos quatro servios bsicos: gua, esgoto, eletricidade e servios sociais. A maioria desses assentamentos tambm est localizada em terrenos que no se prestam construo de

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moradias e podem at apresentar algum perigo, como reas de vrzea que podem ser inundadas quando os rios transbordam, terrenos que podem desmoronar por formaes dolomticas de alto risco, reas non-aedicandi sob linhas eltricas e sobre tubulaes e reas de minerao subterrnea de baixa profundidade. A disponibilidade de terrenos adequados ao uso habitacional prximos s reas centrais urbanas limitada e exigir que se reformule as tipologias e densidades habitacionais. Embora nos ltimos dez anos tenha sido construdo em Ekurhuleni um grande nmero de abrigos (cerca de 100 mil) e casas (cerca de 85 mil), ambos subsidiados pelo governo e providos de servios, a velocidade de entrega de casas ca muito aqum da demanda. O desao no reside apenas no nmero de casas a serem construdas, mas igualmente em se criar comunidades e assentamentos humanos sustentveis. Portanto, h que se construir moradias em locais adequados, oferecer mais opes em termos de tipologia e posse, dar acesso a oportunidades econmicas, fornecer os confortos e convenincias sociais necessrios e, em ltima instncia, promover uma melhor qualidade de vida.

Conjunto habitacional.

U4G (Urbanizao para a Promoo do Crescimento)Ekurhuleni tem trabalhado em parceria com a Aliana de Cidades h 18 meses no perodo de 2007-08 para desenvolver um novo programa, Upgrading for Growth (U4G Urbanizao para a Promoo do Crescimento), para reabilitar assentamentos informais, buscando expressamente incorporar o desenvolvimento do capital scioeconmico da comunidade como parte do plano habitacional. A abordagem do U4G mais do que um reforo aos planos de projeto usuais da Secretaria Municipal de Habitao baseados em terra, infra-estrutura e abrigo. Coloca as necessidades da comunidade em termos de habitao, oportunidades de trabalho e um forte tecido social como trs componentes de igual importncia para se criar assentamentos humanos sustentveis. A palavra igual relevante todos os trs componentes esto inter-relacionados e exigiro o mesmo nvel de esforos por parte de Ekurhuleni e de seus parceiros. O U4G incorpora uma abordagem de vida. Seus principais elementos incluem:n n

De Unidades Habitacionais a Assentamentos SustentveisEmbora o municpio tenha um histrico invejvel de entrega de casas populares para os pobres, os programas passados foram impulsionados pela necessidade de se construir casas em larga escala, o que resultou em muitos bairros monofuncionais e no sustentveis.

compromisso com o desenvolvimento in situ como a mais alta prioridade pesquisas comunitrias detalhadas como uma rica fonte de informaes sobre a vida da comunidade e a subseqente adequao das intervenes indutoras de desenvolvimento

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consulta s famlias, e um maior nmero de opes de tipos de casas e nveis de servios oferecidos, a m de garantir preos acessveis fortalecimento do capital social com a promoo de clubes e associaes, como grupos de jovens e de mulheres, ou grupos sociais e recreativos acesso a programas de ensino bsico, cursos prossionalizantes, estratgias para a insero no mercado de trabalho e formas de acessar recursos para a educao uso de um projeto urbano sustentvel maximizando o uso de layouts, topograas e orientao das moradias, mix de unidades, tamanho e distribuio projeto trmico de baixo consumo energtico em unidades habitacionais individuais, assim como isolamento e telhados com forro incentivo s atividades comerciais dentro das reas residenciais e em torno delas oferta de servios nanceiros e tcnicos para os negcios em seus vrios estgios de desenvolvimento incentivo a programas de obras pblicas e o emprego da mo-de-obra local uso de tcnicos para o desenvolvimento da comunidade a m de motivar e organizar as iniciativas de desenvolvimento comunitrio e a coleta de informaes.

garantir o esforo concentrado exigido para dar a partida e sustentar o novo processo de desenvolvimento. O U4G prope um comit-diretor com a representao de vrias secretarias, que se reporte ao comit executivo poltico do municpio. Este grupo no s ir liderar o programa, mas tambm ir formalizar o compromisso e as verbas das secretarias, a m de garantir uma implementao ecaz. O sucesso futuro do U4G vai depender:n n n

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de uma vontade poltica continuada e das pessoas envolvidas abraarem esta causa de apoio nanceiro continuado e previsibilidade oramentria de parcerias e alianas vlidas com as principais partes interessadas, incluindo a cooperao entre secretarias capacidade suciente do municpio e dos prestadores de servio locais para conduzir as tarefas especializadas do programa arranjos institucionais slidos porm exveis para gerenciar uma ampla gama de projetos

Ekurhuleni j deu o primeiro passo rumo ao sucesso ao implantar o U4G, e ao substituir posturas estanques entre setores e secretarias por programas habitacionais integrados.

O U4G, um programa estruturado, tem como meta geral a urbanizao gradual de todos os assentamentos informais do municpio at 2014. Trs projetos-piloto j foram identicados para sua fase inicial.

Coordenao e ParceriaEkurhuleni vai implementar o U4G garantindo uma coordenao bem mais estreita entre governos e secretarias, facilitando uma maior cooperao entre o governo municipal, a sociedade civil organizada, organizaes comunitrias, o setor privado e as ONGs. Trata-se de um verdadeiro desao para o governo municipal. Ele ter que superar a separao institucionalizada entre as secretarias a m de Atividade de desenvolvimento da economia local.

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O Desafio de Administrar uma Megalpole e a Resposta das Polticas Pblicas: A Experincia de LagosA megalpole Lagos cobre uma rea de 3.577 quilmetros quadrados, o que representa 0,4% do espao geogrco da Nigria. A populao total estimada de 16,86 milhes de habitantes. As projees apontam para uma populao de 24,5 milhes em 2015, o que tornar Lagos a terceira maior cidade do planeta. A densidade populacional alta, com uma mdia de 4.713 pessoas por quilmetro quadrado, mas chegando a 12 mil pessoas por quilmetro quadrado na parte da cidade conhecida como regio metropolitana. A megalpole engloba 2.600 comunidades distribudas em 20 reas de governo local e 37 reas em desenvolvimento com governos locais.A taxa de crescimento populacional est entre 6% e 8%, comparada com 3,1% em Jacarta, 0,3% em Tquio, e 0,1% em Xangai. O aumento populacional anual de 600 mil habitantes que resulta principalmente de movimentos migratrios internos e no de crescimento vegetativo 10 vezes maior que o da Cidade de Nova Iorque e de Los Angeles. A populao de Lagos maior que a populao de 37 pases africanos juntos. Todas as nacionalidades tnicas da Nigria e os povos da Comunidade Econmica dos Estados da frica Ocidental, ou ECOWAS, auem para Lagos atradas pelas oportunidades que a cidade oferece. Lagos tambm uma das sete cidades que fazem parte da Nova Parceria para o Desenvolvimento da frica (NEPAD).Mapa da Nigria mostrando o Estado de Lagos

Unidade Gis Unidade Lasura

Foto: Lagos

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EconomiaLagos o centro nervoso econmico e social da Nigria e da sub-regio da frica Ocidental:n n

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abriga a sede de corporaes multinacionais e conglomerados nacionais tem a maior bolsa de valores da frica Ocidental, com mais de 200 instituies nanceiras tem 22 estados industriais (compostos de 2 mil indstrias, ou 65% do total do pas) e 60% dos manufaturados de valor agregado da nao responde por 32% do PIB nacional (2004) e arrecada 65% das taxas de valor agregado (VAT) da Nigria emprega 65% da populao economicamente ativa no setor informal um eixo nacional de operaes areas, com 83% de vos internacionais e 47% de vos domsticos tem trs terminais para navios de menor porte e trs dos oito maiores portos martimos da Nigria (gerando 50% da receita porturia do pas) o plo de telecomunicaes e mdia da Nigria oferece 75 mil nibus de baixa capacidade tem um densidade veicular de 224 veculos por quilmetro, comparada mdia nacional de 15 veculos por quilmetro gera cerca de 10 mil toneladas mtricas de lixo por dia

Interaes sociais em Lagos. O Estado dividido em reas de desenvolvimento. Cada Conselho Governamental Local (LGC) tem um presidente democraticamente eleito e vrios conselheiros que representam os departamentos polticos e eleitorais nos respectivos LGCs. As reas de desenvolvimento do LGC tm secretrios executivos e conselheiros supervisores nomeados. Uma importante caracterstica do governo de Lagos que a cidade quase uma cidade-estado devido ao seu territrio limitado e s caractersticas de urbanizao. Diferente da maioria das grandes cidades metropolitanas do mundo, Lagos no se benecia de uma administrao municipal totalmente dedicada a atender s necessidades da cidade. Em conseqncia, as reformas institucionais e de polticas pblicas necessrias para melhorar a infra-estrutura econmica e os servios sociais so implementadas no mbito do Governo do Estado, com pouca participao dos respectivos LGCs.

Estrutura de GovernoA megalpole tem duas esferas de governo: governo estadual e conselhos governamentais locais (local government councils LGCs). O governo estadual tem trs poderes: executivo, legislativo e judicirio. O brao executivo consiste de um governador e um vice-governador democraticamente eleitos, e comissrios nomeados com pastas ministeriais. O legislativo composto de 40 membros democraticamente eleitos, representando os eleitores do Estado. O judicirio composto por juzes e outras autoridades judiciais nomeados pelos altos tribunais do Estado.

Principais DesaosOs principais desaos que confrontam Lagos incluem:n

crescimento urbano desordenado e descontrolado como conseqncia de um planejamento urbano inadequado, e que resulta em usos do solo incompatveis e no econmicos, e na invaso de terras marginais e ambientes aquticos sensveis

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infra-estrutura inadequada e sobrecarregada como conseqncia do crescimento urbano descontrolado e de uma manuteno decitria, o que resulta em engarrafamentos de trnsito, gerenciamento inadequado do lixo, transporte ineciente, cortes constantes de energia, congestionamentos, poluio moradias inadequadas como conseqncia da grande defasagem entre a oferta e a demanda, o que resulta em acesso precrio casa prpria e no crescimento acelerado de favelas excluso socioeconmica como conseqncia da falta de participao de um amplo espectro de pessoas no processo decisrio, alm da falta de acesso a crditos nanceiros um grande setor informal como conseqncia de movimentos migratrios internos de mo-de-obra jovem, desqualicada e semianalfabeta, o que resulta em um comrcio de ambulantes e ocupaes de beira de estrada, como o caso do artesanato alta taxa de desemprego entre os jovens, como conseqncia da no insero no mercado de trabalho de mo-de-obra qualicada e disponvel, assim como de mo-de-obra desqualicada ou semi-qualicada, o que resulta em pobreza, frustrao, agresso, tendncia criminalidade e violncia urbana verbas inadequadas para nanciar o desenvolvimento urbano e projetos de gesto como conseqncia da uma base de arrecadao baixa, o que resulta em infraestrutura, instalaes e servios inadequados.

A Viso da CidadeLagos busca ser uma cidade organizada, habitvel, sustentvel e com vocao para negcios e turismo. Esta viso envolve:n

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elaborar planos de urbanizao dos bairros a m de promover um desenvolvimento organizado promover melhorias ambientais promover capacitao gerencial para a implementao da poltica habitacional reestruturar os marcos jurdico e institucional para a administrao da cidade, o que inclui: n um governo inclusivo n o empoderamento dos jovens atravs da capacitao n Estratgia do Estado de Lagos para o Empoderamento Econmico e o Desenvolvimento (Lagos State Economic Empowerment and Development Strategy LASEEDS) n posse da terra e reformas para garantir n propriedade fundiria

A Poltica Habitacional Programas e Polticas para Habitao de Interesse SocialA introduo do crdito imobilirio para nanciamento de moradias ainda incipiente, mas o governo est determinado a perseguir rmemente esta iniciativa, a m de torn-la disponvel para toda a populao. Os primeiros benecirios so os servidores pblicos que j esto cadastrados no banco de dados, o que facilita a administrao do processo. O governo negociou com um consrcio de bancos para oferecer crdito imobilirio a uma taxa de juros de 10%.

Assentamentos Precrios e FavelasA habitao informal de Lagos tende a ocupar terras imprprias ocupao, tais como reas sujeitas inundao ou como antigos lixes, ou ainda ao longo de linhas frreas. Estes assentamentos carecem de infra-estrutura e equipamentos e so formadas por construes improvisadas e inseguras, com superlotao. As condies de saneamento so precrias, gua potvel e instalaes sanitrias inadequadas. A situao fundiria irregular, sem ttulos de propriedade ou segurana da posse.

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Poltica Atual de Urbanizao de FavelasA nova direo da poltica pblica adota uma abordagem que abrange toda a cidade. A primeira interveno vem na forma de um crdito de $200 milhes da Associao Internacional para o Desenvolvimento (AID). Com durao prevista de sete anos, este programa de urbanizao foi iniciado em outubro de 2006, e termina em maro de 2013, englobando nove favelas prioritrias (de uma lista de 42) identicadas em 1983. Cobre 750 hectares de terreno quase que predominantemente pantanoso, 1,1 milho de habitantes e cerca de 158 mil domiclios, com uma mdia de renda familiar mensal de $170. Esses esforos esto sendo gradualmente replicados em outras favelas. Tanto quanto possvel, a abordagem evitar o deslocamento de famlias. A interveno envolve a urbanizao de ruas ou passagens de pedestres existentes porm deterioradas, construo de sanitrios ou banheiros pblicos, perfurao de poos para o fornecimento de gua, construo de novas escolas e reabilitao de escolas existentes, construo de postos de sade, autonomia dos jovens atravs de um processo de qualicao e capacitao. Por exemplo, no Distrito Comercial Central de Oluwole, 39 famlias desalojadas receberam acomodaes alternativas melhores e tambm tiveram assistncia nanceira para se mudarem. Elas tambm tm interesse na reconstruo de suas antigas moradias.

Dia de lavagem de roupa em assentamento informal em Lagos.

Polticas Pblicas Anteriores para a Urbanizao de Favelas e Lies AprendidasNo passado, Lagos implementou as seguintes aes de urbanizao de favelas:n

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O governo fez um levantamento e caracterizao das favelas. O primeiro foi realizado em 1983, quando foram identicadas 42 reas deterioradas que se estendiam por 1.622 hectares. Uma agncia chamada Conselho para Renovao Urbana do Estado de Lagos, cujo nome mudou posteriormente para Autoridade para Renovao Urbana do Estado de Lagos (Lagos State Urban Renewal Authority LASURA) foi criada especicamente para lidar com a questo da urbanizao de favelas. A agncia dedicou-se elaborao de esquemas de renovao sem uma adequada participao da comunidade o Projeto de Renovao Urbana Olaleye-Iponri (em colaborao com a UN-HABITAT); Projeto-Piloto de Badia-Olojowon. O projeto foi nanciado pelo governo e apoiado por agncias nanciadoras internacionais Os resultados foram limitados em termos de implementao, sucesso e sustentabilidade.

Poltica FundiriaA nova poltica fundiria visa a melhorar a eccia institucional para o registro de imveis e a criar um registro atualizado dos terrenos em Lagos. Os elementos essenciais so os seguintes:n n n n

Lies aprendidas as autoridades governamentais no devem assumir que conhecem as necessidades de uma comunidade e essencial realizar consultas a ela, em todas as etapas do projeto de urbanizao.

reformas para garantir a posse e propriedade da terra perodo de 30 dias para a concesso (quando o perodo anterior era de 365 dias) registro eletrnico de imveis com consultas feitas pela internet regularizao de ocupaes ilegais em terras pblicas

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concesso de ttulo de ocupao em 90 dias (quando o perodo anterior era de 365 dias) preparao dos Planos de reas de Ao criao de cidades-modelo como estratgia para revitalizar a cidade criao de rgos para o desenvolvimento regional desenvolvimento de terras devolutas reconstruo progressiva

Principais ObstculosOs principais obstculos superao dos desaos acima so os seguintes:n

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reverter os padres de comportamento negativos das pessoas, como por exemplo, a falta de interesse na manuteno do espao pblico levantar verbas para nanciar melhorias e a gesto da cidade em todos os setores convencer as instituies nanceiras a oferecer crdito imobilirio a taxas de juros de um dgito

Olhando para o Futuro Os Maiores DesaosOs maiores desaos que Lagos enfrenta para tratar da questo do setor informal incluem os seguintes itens:n

As Maiores InovaesAs maiores inovaes de Lagos incluem:n n n

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melhorar a infra-estrutura existente, estendendo-a para reas no atendidas e provendo manuteno no longo prazo garantir o fornecimento ininterrupto de energia, melhorando os sistemas de gerao, transmisso e distribuio melhorar o meio-ambiente e o saneamento bsico prover moradias populares em larga escala, especialmente para as camadas de renda menos favorecidas. Moradia a preos acessveis um fator-chave. Em sua maioria, as pessoas engajadas em atividades do setor informal no podem pagar pela casa prpria. So predominantemente locatrios. melhorar a segurana e a proteo.

introduo do sistema de nibus expressos (Bus rapid transit BRT) fortalecimento da receita gerada internamente parcerias pblico-privadas para o desenvolvimento de infra-estrutura e equipamentos pblicos

Vista da marina de Lagos.

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A Regio Metropolitana de ManilaA Regio Metropolitana de Manila, ou Regio da Capital Nacional (RCN), tornou-se recentemente uma megalpole, composta de 17 unidades de governo local (UGLs) que consistem de 16 cidades e um municpio. Em 2007, sua populao total era de 11,5 milhes de habitantes, sendo que a famlia mdia tinha 4,62 pessoas. Com um territrio de apenas 619,5 quilmetros quadrados, a RCN tem uma densidade populacional de 18.650 pessoas por quilmetro quadrado.Cerca de 90% das empresas privadas e dos estabelecimentos culturais, educacionais e mdicos do pas esto localizados na rea da Grande Manila. Em 2006, a regio metropolitana tinha uma participao de 32,5% do produto interno bruto total do pas, reportando P2.244.705 (pesos lipinos)4. A RCN tambm teve o maior produto interno bruto regional per capita em 2006, no valor de P35.742, ou quase o dobro da regio que contabiliza o segundo maior valor. Apesar disso, Manila exibia a mais alta linha de pobreza nos anos 2000, 2003 e 2006, com uma linha de pobreza anual per capita de P15.722, P16.737, e P20.566, respectivamente. O nmero de famlias pobres na cidade de Manila em 2003 e 2006 era de 110.864 e 167.316, respectivamente. Em abril de 2008, a regio metropolitana apresentou uma alta taxa de desemprego, que atingiu 13,8%. Manila. Encarrega-se das funes de planejamento, monitoramento e coordenao e exerce autoridade de regulao e superviso da prestao, em toda a regio metropolitana, de servios tais como transporte e trnsito, descarte e manejo de resduos slidos, controle de enchentes e gesto do sistema de saneamento bsico. O Conselho da Regio Metropolitana de Manila representa o corpo de governo e composto dos prefeitos das 17 cidades e municpios e algumas agncias governamentais nacionais, incluindo o Conselho de Coordenao para a Habitao e o Desenvolvimento Urbano.

Principais DesaosManila enfrenta os seguintes desaos. Rpido crescimento populacional. A taxa de crescimento populacional anual est estimada em 2,36%, ao passo que a taxa de urbanizao (isto , a proporo de reas urbanas em relao rea total) de 52%. Manila ganhou 1,62 milho de habitantes em sete anos, ou uma taxa de crescimento populacional anual mdia de 2,11% por conta de novos nascimentos assim como de migrao urbana.

Estrutura de GovernoA Administrao para o Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Manila (ADMM), uma agncia governamental sob superviso direta do presidente das Filipinas, administra as questes que dizem respeito regio metropolitana de

4. Taxa de cmbio: US$1 = 47,7 pesos lipinos, em novembro, 2008.

Foto: Manila

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Congestionamento e proliferao de assentamentos informais. Em 2006, o dcit habitacional estimado na regio metropolitana de Manila era de 824.724 unidades, das quais cerca de 36%, ou 300 mil famlias, requerem remanejamento por estarem ocupando reas de risco ou reas demarcadas para projetos de infra-estrutura do governo. O nmero total de moradias necessrias para erradicar as favelas na regio metropolitana de Manila at 2021 de cerca de 1 milho de unidades habitacionais, com um investimento projetado ao longo de 15 anos de P454.786 bilhes. Acesso precrio a servios bsicos. Alm de moradia, as famlias que vivem em assentamentos informais so confrontadas diariamente por outras dimenses da pobreza urbana, tais como falta de acesso a servios bsicos (luz, gua potvel, rede de esgoto/fossa sptica), expondo-as a doenas, criminalidade e catstrofes naturais. Outros desaos. Outros desaos enfrentados pela regio metropolitana de Manila so coleta e manejo adequados de lixo, trnsito carregado e inundaes de rios, crregos e canais entupidos de sujeira, resultado de cerca de 17 mil famlias de moradores informais que constroem seus barracos em palatas sobre os cursos dgua.

Assentamentos precrios e favelasA regio metropolitana de Manila tem bolses de assentamentos informais onde as casas so normalmente construdas com materiais de qualidade inferior. O acesso dos servios de resgate e combate a incndios limitado. Em geral, estas reas apresentam degradao ambiental. Em setembro de 2007, havia aproximadamente 545 mil famlias em reas informais por toda a Manila, com 40% (cerca de 219 mil famlias) ocupando propriedades privadas e 20% (quase 108 mil famlias) residindo em reas de risco. O espalhamento desordenado de assentamentos informais resulta de movimentos migratrios de pessoas vindas de reas rurais, da falta de moradias e do custo elevado da terra.

A Viso da CidadeA Regio Metropolitana de Manila busca tornar-se uma metrpole humanizada e de classe mundial, reconhecida por oferecer boas condies de vida, vitalidade econmica e exuberncia scio-cultural. Objetiva oferecer um ambiente fsico propcio vida e ao trabalho para todos. Em termos comerciais, Manila est empenhada em evoluir e tornar-se um grande plo de transaes de negcios para a regio da sia-Pacco. A viso coloca Manila na posio de inuenciar oportunidades socioeconmicas em reas alm de suas fronteiras poltico-administrativas.

A Poltica Habitacional Programas e Polticas para Habitao de Interesse SocialO governo das Filipinas apia o objetivo da Meta de Desenvolvimento do Milnio de melhorar signicativamente as vidas de pelo menos 100 milhes de moradores de favelas at 2020. O Conselho de Coordenao para o Desenvolvimento Urbano (CCDU), uma agncia governamental, est enfrentando o problema da habitao atravs dos seguintes programas e polticas pblicas.

Vista area de Manila.

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O programa de reforma patrimonial busca redistribuir as dotaes de recursos concedendo um instrumento que garanta aos benecirios-alvo o direito propriedade ou segurana da posse. O programa est sendo implementado atravs dos seguintes sub-programas:n

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Programa de Reassentamento. A m de garantir que os moradores de reas informais sejam remanejados de forma justa e humana e que recebam a assistncia necessria, foi adotada uma abordagem centrada no benecirio. Isto inclui implementar um remanejamento dentro da cidade para minimizar seu deslocamento, prover servios bsicos, tais como escolas, gua potvel e eletricidade, assim como oportunidades de sustento para as famlias reassentadas; e institucionalizar os Comits Interdepartamentais Locais (CILs), compostos por representantes envolvidos com a questo e vindos do poder executivo local, ONGs, organizaes populares e associaes comunitrias, para formular as regras e regulamentaes de implementao (RRI) que iro governar as atividades de remanejamento. O programa uma parceria que envolve mltiplas partes interessadas, entre elas representantes do governo nacional, governos locais que doam e rece