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O tratamento das fraturas de costelas é na grande maioria dos casos exclusivamente clínico. Esse tratamento inclui analgesia adequada, tanto endovenosa quanto peridural conforme necessidade, ventilação e oxigenação adequadas e fisioterapia respiratória. Estudos recentes demonstraram um beneficio do tratamento cirúrgico com fixação de arcos costais dos pacientes com tórax instável. E em pacientes com pseudoartroses, o uso de próteses desenvolvidas especificamente para esse procedimento também melhorou o resultado pós operatório (vide Figura 1.). Uma das dificuldades técnicas do procedimento é o planejamento pré-operatóiro, tanto do número de costelas que serão tratadas quanto do melhor local da incisão para correção de múltiplos níveis. Alguns autores sugerem o uso de reconstrução tomográfica 3d para planejamento, no entanto esse ainda é um tópico em que não há consenso na literatura. Recentemente houve um aumento do uso de biomodelos criados com impressoras 3D na medicina. Esses biomodelos já são utilizados em programação cirúrgica de tratamento de fraturas de face complexas e de reconstruções de calotas cranianas. Nós relatamos o primeiro caso do uso de um biomodelo confeccionado por uma impressora 3D para planejamento cirúrgico da fixação de múltiplos arcos costais. Neste relato, realizamos a cirurgia inicialmente no biomodelo, realizando todo o planejamento cirúrgico, desde a área de ataque da incisão até a instalação das próteses propriamente dita. Foram ajustadas as inclinações das próteses (Figura 2.) e os seus tamanhos necessários (Figura 3.) até a seleção dos parafusos de fixação mais adequados ao procedimento. Video sobre o Procedimento http://www.samaritano.org.br/ entenda-a-cirurgia-de-costelas- com-impressora-3d-trauma/ http://g1.globo.com/jornal- hoje/noticia/2015/10/ biomodelo-ajuda-medicos-nas- cirurgias-de-colocacao-de- proteses.html Paciente de 65 anos do sexo masculino foi vítima de acidente de motocicleta com trauma torácico grave com necessidade de internação hospitalar. Realizou tomografia de tórax com achado de hemotórax e fraturas de arcos costais do 4 o . ao 9 o . à esquerda . Foi submetido à drenagem de tórax e tratamento clínico das fraturas. Recebeu alta após 15 dias de internação hospitalar. Após 3 meses do trauma o paciente retornou ao consultório com queixa de dor torácica. Realizada nova tomografia que evidenciou 3 arcos costais com fraturas sem consolidação e 2 arcos costais com pseudoartrose. Foi então indicado o tratamento cirúrgico para fixação dos arcos costais. A partir das imagens da segunda tomografia computadorizada foi realizado o planejamento cirúrgico e impressão dos arcos costais em uma impressora 3D que seriam abordados em um polímero especifico que permite o uso de instrumental cirúrgicos. Na manhã do procedimento o biomodelo foi utilizado para simulação do procedimento cirúrgico (Figura 5), pré-moldagem das placas de titânio e medição do tamanho dos parafusos que seriam utilizados. Após o planejamento o material foi processado e esterilizado conforme a rotina do Hospital e implantado no paciente no mesmo dia no período da tarde. O paciente evoluiu bem após o procedimento e recebeu alta no 5 o . dia pós operatório. Garcia, Diogo de Freitas Valeiro 1 ; Troccoli, Walter Eduardo 2 ; Carrieri, Francisco C. D. 2 1 = Hospital Samaritano de São Paulo, 2 = BioArchitects Referências Autores 1. Dr. Diogo de Freitas Valeiro Garcia, MD FACS, graduou-se em medicina pela USP e fez Residência em Cirurgia Geral e Cirurgia Geral Avançada pelo Hospital das Clínicas da USP. O Dr. Garcia é Médico assistente do Departamento de Cirurgia do Trauma do HCFMUSP, Coordenador do comitê de educação da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado, Diretor do centro de trauma do Hospital Samaritano de São Paulo e Membro da American Hernia Society. 2. Walter Eduardo Troccoli é sócio e diretor comercial da BioArchitects. Biomédico com ampla atuação na área médica em cargos de direção. Especializado em Administração Hospitalar pela Faculdade Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Passou por instituições de renome na área de Saúde, como Philips Medical Systems, Varian Medical Systems, Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Sírio Libanês de São Paulo" Maiores informações F. +55 (11) 3094-2686 www.bioarchitects.com Rua Hungria 574 | cj 81 | 01455-000 São Paulo | SP | Brasil Uso de Biomodelos (impressão 3D) para o planejamento pré-operatório da fixação de arcos costais Introdução Métodologia Resultados Nos casos em que há necessidade de fixação de múltiplos arcos costais o planejamento cirúrgico e do local da incisão é um desafio para o cirurgião. Habitualmente são utilizadas as imagens da tomografia pré operatória e o uso da radioscopia intra operatória. Apesar de ser muito útil no planejamento de outros procedimentos ortopédicos, nesses casos a sobreposição de imagens dos arcos costais dificulta a localização exata das fraturas. No caso relatado, a utilização do biomodelo (Figuras 6 e 7) possibilitou uma avaliação tridimensional e a localização exata das fraturas antes do início do procedimento. Além disso a possibilidade de instrumentação do biomodelo e simulação pré operatória do procedimento reduziu o tempo cirúrgico e anestésico de forma considerável, pois não foi necessário realizar medições e modelagem das placas durante o ato operatório. Outro ponto importante relacionado ao uso do bio modelo no caso relatado foi a redução do uso da quantidade de placas de titânio utilizadas. Como o planejamento pré operatório foi realizado em ambiente não estéril e sem preocupação com tempo (já que não havia um paciente anestesiado) foi possível o uso do material implantado. Com a tomografia pré operatória foi estimado o uso de 5 placas de titânio, sendo 1 placa para cada fratura. No entanto durante a simulação foi possível cortar 2 placas em pedaços diferentes e utiliza-las para fixar 4 arcos costais. Com isso houve uma redução no custo do material implantado de 24% ou aproximadamente R$20.000,00. A simulação pré operatória no biomodelo promove uma maior segurança para a equipe cirúrgica que pode antecipar algumas dificuldades técnicas e preparar-se melhor para o próprio procedimento, aumentando também a segurança oferecida ao paciente. O uso do biomodelo de polímero impresso em 3D no caso relatado facilitou a localização das fraturas, o posicionamento da incisão, reduziu o tempo cirúrgico e reduziu os gastos com materiais implantáveis e “opme” em cerca de 40% e trouxe previsibilidade cirúrgica com mais segurança ao paciente. Discussão Conclusão Figuras Figura 1: Prótese para fixação de arcos costais. Figura 2: Ajuste da inclinação das próteses. Figura 3: Seleção e ajuste do tamanho da prótese. Figuras 6 e 7: Planejamento completo via biomodelo. Figura 5: Definindo a área de incisão no paciente. Figura 4: Processo via biomodelo.

Uso de Biomodelos (impressão 3D) para o planejamento pré ... · e oxigenação adequadas e fisioterapia respiratória. Estudos recentes demonstraram um beneficio do tratamento cirúrgico

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Page 1: Uso de Biomodelos (impressão 3D) para o planejamento pré ... · e oxigenação adequadas e fisioterapia respiratória. Estudos recentes demonstraram um beneficio do tratamento cirúrgico

O tratamento das fraturas de costelas é na grande maioria dos casos exclusivamente clínico. Esse tratamento inclui analgesia adequada, tanto endovenosa quanto peridural conforme necessidade, ventilação e oxigenação adequadas e fisioterapia respiratória. Estudos recentes demonstraram um beneficio do tratamento cirúrgico com fixação de arcos costais dos pacientes com tórax instável. E em pacientes com pseudoartroses, o uso de próteses desenvolvidas especificamente para esse procedimento também melhorou o resultado pós operatório (vide Figura 1.). Uma das dificuldades técnicas do procedimento é o planejamento pré-operatóiro, tanto do número de costelas que serão tratadas quanto do melhor local da incisão para correção de múltiplos níveis. Alguns autores sugerem o uso de reconstrução tomográfica 3d para planejamento, no entanto esse ainda é um tópico em que não há consenso na literatura. Recentemente houve um aumento do uso de biomodelos criados com impressoras 3D na medicina. Esses biomodelos já são utilizados em programação cirúrgica de tratamento de fraturas de face complexas e de reconstruções de calotas cranianas.

Nós relatamos o primeiro caso do uso de um biomodelo confeccionado por uma impressora 3D para planejamento cirúrgico da fixação de múltiplos arcos costais. Neste relato, realizamos a cirurgia inicialmente no biomodelo, realizando todo o planejamento cirúrgico, desde a área de ataque da incisão até a instalação das próteses propriamente dita. Foram ajustadas as inclinações das próteses (Figura 2.) e os seus tamanhos necessários (Figura 3.) até a seleção dos parafusos de f i x a ç ã o m a i s a d e q u a d o s a o procedimento.

Video  sobre  o  Procedimento  

http://www.samaritano.org.br/entenda-a-cirurgia-de-costelas-com-impressora-3d-trauma/

http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/10/biomodelo-ajuda-medicos-nas-cirurgias-de-colocacao-de-proteses.html

Paciente de 65 anos do sexo masculino foi vítima de acidente de motocicleta com trauma torácico grave com necessidade de internação hospitalar. Realizou tomografia de tórax com achado de hemotórax e fraturas de arcos costais do 4o. ao 9o. à esquerda . Foi submetido à drenagem de tórax e tratamento clínico das fraturas. Recebeu alta após 15 dias de internação hospitalar. Após 3 meses do trauma o paciente retornou ao consultório com queixa de dor torácica. Realizada nova tomografia que evidenciou 3 arcos costais com fraturas sem consolidação e 2 arcos costais com pseudoartrose. Foi então indicado o tratamento cirúrgico para fixação dos arcos costais. A partir das imagens da segunda tomografia computadorizada foi realizado o planejamento cirúrgico e impressão dos arcos costais em uma impressora 3D que seriam abordados em um polímero especifico que permite o uso de instrumental cirúrgicos. Na manhã do procedimento o biomodelo foi utilizado para simulação do procedimento cirúrgico (Figura 5), pré-moldagem das placas de titânio e medição do tamanho dos parafusos que seriam utilizados. Após o planejamento o material foi processado e esterilizado conforme a rotina do Hospital e implantado no paciente no mesmo dia no período da tarde. O paciente evoluiu bem após o procedimento e recebeu alta no 5o. dia pós operatório.

Garcia,  Diogo  de  Freitas  Valeiro1;  Troccoli,  Walter  Eduardo2;  Carrieri,  Francisco  C.  D.  2  1  =  Hospital  Samaritano  de  São  Paulo,  2  =  BioArchitects  

Referências  Autores  !1. Dr. Diogo de Freitas Valeiro Garcia, MD FACS, graduou-se em medicina pela USP e fez Residência em Cirurgia Geral e Cirurgia Geral Avançada pelo Hospital das Clínicas da USP. O Dr. Garcia é Médico assistente do Departamento de Cirurgia do Trauma do HCFMUSP, Coordenador do comitê de educação da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado, Diretor do centro de trauma do Hospital Samaritano de São Paulo e Membro da American Hernia Society.

2. Walter Eduardo Troccoli é sócio e diretor comercial da BioArchitects. Biomédico com ampla atuação na área m é d i c a e m c a rg o s d e d i r e ç ã o . Especia l izado em Adminis t ração Hospitalar pela Faculdade Saúde Pública d a F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d a Universidade de São Paulo (USP). Passou por instituições de renome na área de Saúde, como Philips Medical Systems, Varian Medical Systems, Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Sírio Libanês de São Paulo"

Maiores  informações   F. +55 (11) 3094-2686

www.bioarchitects.com

Rua Hungria 574 | cj 81 | 01455-000 São Paulo | SP | Brasil

Uso de Biomodelos (impressão 3D) para o planejamento pré-operatório da fixação de arcos

costais

Introdução

Métodologia

Resultados

Nos casos em que há necessidade de fixação de múltiplos arcos costais o planejamento cirúrgico e do local da incisão é um desafio para o cirurgião. Habitualmente são utilizadas as imagens da tomografia pré operatória e o uso da radioscopia intra operatória. Apesa r de se r mui to ú t i l no planejamento de outros procedimentos o r t o p é d i c o s , n e s s e s c a s o s a sobreposição de imagens dos arcos costais dificulta a localização exata das fraturas. No caso relatado, a utilização do biomodelo (Figuras 6 e 7) p o s s i b i l i t o u u m a a v a l i a ç ã o tridimensional e a localização exata das fraturas antes do início do p r o c e d i m e n t o . A l é m d i s s o a possibilidade de instrumentação do biomodelo e simulação pré operatória do procedimento reduziu o tempo cirúrgico e anestésico de forma considerável, pois não foi necessário realizar medições e modelagem das placas durante o ato operatório. Outro ponto importante relacionado ao uso do bio modelo no caso relatado foi a redução do uso da quantidade de placas de titânio utilizadas. Como o planejamento pré operatório foi realizado em ambiente não estéril e sem preocupação com tempo (já que não havia um paciente anestesiado) foi possível o uso do material implantado. Com a tomografia pré operatória foi estimado o uso de 5 placas de titânio, sendo 1 placa para cada fratura. No entanto durante a simulação foi possível cortar 2 placas em pedaços diferentes e utiliza-las para fixar 4 arcos costais. Com isso houve uma redução no custo do mater ial i m p l a n t a d o d e 2 4 % o u aproximadamente R$20.000,00. A simulação pré operatória no biomodelo promove uma maior segurança para a equipe cirúrgica que pode antecipar algumas dificuldades técnicas e preparar-se melhor para o próprio procedimento, aumentando também a segurança oferecida ao paciente.

O uso do biomodelo de polímero impresso em 3D no caso relatado facilitou a localização das fraturas, o posicionamento da incisão, reduziu o tempo cirúrgico e reduziu os gastos com materiais implantáveis e “opme” em cerca de 40% e trouxe previsibilidade cirúrgica com mais segurança ao paciente.

Discussão

Conclusão

Figuras

Figura 1: Prótese para fixação de arcos costais.

Figura 2: Ajuste da inclinação das próteses.

Figura 3: Seleção e ajuste do tamanho da prótese.

Figuras 6 e 7: Planejamento completo via biomodelo.

Figura 5: Definindo a área de incisão no paciente.

Figura 4: Processo via biomodelo.