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Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 5, n. 1 – pp. 47-70, 2010 47 Uso de mapas mentais nas representações perceptivas de alunos do ensino fundamental do município de Ilha Grande, Piauí, Brasil: o caso do jacaré (Caiman crocodilus) Roberta Rocha da Silva-Leite 1 , Zilca Campos 2 , Paulo Augusto Zaitune Pamplin 3 Resumo: O estudo da percepção pode contribuir de forma significativa para subsidiar propostas de conservação de espécies animais. Este estudo consistiu em verificar quais os tipos de relações perceptivas que os alunos do ensino fundamental do município de Ilha Grande (PI) possuem acerca do jacaré (Caiman crocodilus), visando contribuir para planos de educação ambiental. O método usado para a representação da percepção foi o emprego de mapas mentais. Os desenhos demonstraram a presença de elementos representativos da paisagem (landmarks) e a existência de ambiguidade em relação aos sentimentos dos alunos para com a figura do jacaré: sentimentos positivos (biofilia) e negativos (biofobia). Palavras-chave: Biofilia. Conservação. Caiman. 1 Bióloga, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/TROPEN). Contato: Universidade Federal do Piauí. Campus Universitário Ministro Petrônio Portella – Bairro Ininga – Teresina – PI. CEP: 64.049-550 [email protected] 2 Engenheira florestal, pesquisadora da EMBRAPA Pantanal. Contato: [email protected] 3 Biólogo, professor adjunto da Universidade Federal de Alfenas – Campus Poços de Caldas. Contato: [email protected]

Uso de mapas mentais nas representações perceptivas de alunos do ensino fundamental do município de Ilha Grande, Piauí, Brasil: o caso do jacaré (Caiman crocodilus)

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  • Pesquisa em Educao Ambiental, vol. 5, n. 1 pp. 47-70, 2010

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    Uso de mapas mentais nas representaes perceptivas de alunos do ensino fundamental do municpio de Ilha Grande, Piau, Brasil: o caso do jacar (Caiman

    crocodilus)

    Roberta Rocha da Silva-Leite1, Zilca Campos2,

    Paulo Augusto Zaitune Pamplin3

    Resumo: O estudo da percepo pode contribuir de forma significativa para

    subsidiar propostas de conservao de espcies animais. Este estudo consistiu em verificar quais os tipos de relaes perceptivas que os alunos do ensino fundamental do municpio de Ilha Grande (PI) possuem acerca do jacar (Caiman crocodilus), visando contribuir para planos de educao ambiental. O mtodo usado para a representao da percepo foi o emprego de mapas mentais. Os desenhos demonstraram a presena de elementos representativos da paisagem (landmarks) e a existncia de ambiguidade em relao aos sentimentos dos alunos para com a figura do jacar: sentimentos positivos (biofilia) e negativos (biofobia).

    Palavras-chave: Biofilia. Conservao. Caiman.

    1 Biloga, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/TROPEN). Contato: Universidade Federal do Piau. Campus Universitrio Ministro Petrnio Portella Bairro Ininga Teresina PI. CEP: 64.049-550 [email protected]

    2 Engenheira florestal, pesquisadora da EMBRAPA Pantanal. Contato: [email protected]

    3 Bilogo, professor adjunto da Universidade Federal de Alfenas Campus Poos de Caldas. Contato: [email protected]

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    Abstract: The study of perception can contribute significantly to support proposals for animal species conservation. This study sought to find out what kinds of perceptive relationship the middle school student population from the city of Ilha Grande (PI) has about the caiman, aiming to provide background information to environmental education plans. Mental maps were used to represent each perception, and the drawings showed the presence of representative elements of the landscape (landmarks) and the existence of ambiguity in relation to the students' feelings about the figure of caiman: positive feelings (biophilia) and negative feelings (biophobia).

    Keywords: Biophilia. Conservation. Caiman.

    Introduo

    A palavra "percepo" vem do latim perceptio, que se refere ao ato de perceber, ao de formar mentalmente representaes sobre objetos externos a partir dos dados sensoriais (NEIMAN, 2007). Assim, a percepo da paisagem derivada de fatores educacionais e culturais, alm de fatores emotivos, afetivos e sensitivos, sendo estes ltimos oriundos das relaes que o observador mantm com o ambiente sua volta. Ainda de acordo com o autor, a percepo, bem como a educao, deve ser utilizada para possibilitar a expanso de uma conscincia conservacionista atravs do envolvimento afetivo das pessoas com a natureza e a cultura local. Machado (1999) ressalta a percepo ambiental como fundamental para se entender a preferncia, o gosto e as ligaes cognitivas e afetivas dos seres humanos para com o meio ambiente, uma vez que se constituem na grande fora que modela a superfcie terrestre atravs de escolhas, aes e atitudes ambientais.

    O modo como os seres humanos percebem, identificam, categorizam e classificam o mundo natural influencia o modo como eles pensam, atuam e expressam emoes com relao aos animais (SILVA; COSTA NETO, 2004). Mansano et al. (2005) destacam ainda que a percepo ambiental de uma criana no a mesma de um adulto, porque cada um possui os elementos para perceber o mundo de acordo com sua experincia.

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    Nesse contexto, procurou-se investigar a percepo de alunos do ensino fundamental com relao representatividade da figura do jacar (Caiman crocodilus LINNAEUS, 1758) no municpio de Ilha Grande, Piau. Esse animal est distribudo no Brasil desde a regio amaznica (RUEDA-ALMONACID et al., 2007) at o Planalto do Ibiapaba, Cear (BORGES-NOJOSA; CASCON, 2005; LOEBMANN; HADDAD, 2010), habitando reas pantanosas (alagadios), florestas, rios e igaraps, sendo comum sua ocorrncia no municpio estudado, porm, carece de estudos locais.

    Essa espcie considerada de baixo risco de extino pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza (INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE ,2010), estando na categoria Least Concern (LC) e na lista da Conveno sobre o Comrcio Internacional de Espcies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extino CITES (Apndice II) (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME WORLD CONSERVATION MONITORING CENTRE, 2010). Villaa (2004) destaca que a IUCN indica projetos com moderada prioridade para essa espcie, entre eles a implementao de iniciativas de manejo sustentvel, a diminuio do comrcio ilegal de peles e estudos taxonmicos aprofundados para melhor definio das espcies e/ou subespcies.

    A figura do jacar comumente est associada a sentimentos de medo e pnico na humanidade. Esses sentimentos so passados de pais para filhos, o que termina por ocasionar uma repulsa a esses animais, influenciando negativamente procedimentos de conservao. Salera Jnior (2008) comenta a importncia da desmistificao de imagens errneas e negativas sobre a figura representativa dos crocodilos e jacars em todo o mundo. O autor ressalta filmes e programas de TV em que a presena de jacars associada ao medo e ao pavor (ex.: Crocodilo Dundee I e II, Pnico no Lago, As Aventuras de Peter Pan, O Stio do Pica-Pau Amarelo etc.).

    A ausncia de estudos com a espcie na regio requer ateno especial, visto que o municpio de Ilha Grande est situado numa rea de Proteo Ambiental, no possuindo plano de manejo at o presente momento, o que implica vulnerabilidade desses animais, principalmen-

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    te por sua representatividade (temor e alvo para caa) e destruio de habitats (assoreamento de rios e degradao da vegetao ripria).

    Destarte, a afetividade o impulso que direciona a percepo, ou seja, a emoo da vinculao das pessoas ao seu ambiente, ao meio que as cerca, no caso deste estudo, a figura do jacar. O indivduo processa mentalmente as informaes que o meio e a herana cultural lhe oferecem e sua conduta construda mediante o equilbrio entre os fatores internos e externos.

    No presente trabalho, a percepo sobre o jacar foi trabalhada atravs da representao denominada mapas mentais. Essa representao atua como um prolongamento da percepo, pois introduz um sistema de significao representativo, envolvendo a diferenciao entre os significantes, que podem ser as formas de linguagem ou imagens, gestos, desenhos, e os significados, que compreendem os espaos (DEL RIO; OLIVEIRA, 1997). Cada imagem e ideia sobre o mundo composta ento de experincia pessoal, aprendizado, imaginao e memria (MACHADO, 1999). De acordo com Barros (1997 apud MAROTI, 2002), o uso de mapas mentais (ou cognitivos) tem sido considerado como metodologia adequada s pesquisas socioambientais em comunidades de indivduos com pouca ou nenhuma escolaridade, especialmente pela riqueza de informaes objetivas e simblicas que pode proporcionar. Maroti (2002) complementa afirmando que esses mapas so utilizados para a representao grfica dos elementos fsicos, biolgicos e antrpicos presentes em uma determinada rea da paisagem com base na experincia do indivduo.

    As imagens (mapas mentais) contribuem de forma significativa para a representao de pontos de identificao ambiental (landmarks). De acordo com Allen et al. (1979), o termo landmark considerado como um ponto de identificao ambiental, opcionalmente definido, com implicaes perceptuais cognitivas e ambientais. Niemeyer (1994) considera o referido termo como um ponto de referncia com base no qual o espao definido pelo entrevistado est, direta ou indiretamente, associado com a relao afetiva, em geral cultural, e com as variveis mais restritivas, como profisso, especializao, experincia, idade e familiaridade, as quais atuam atravs da seleo mental das informaes

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    do ambiente. Maroti (2002) sintetiza essas ideias enquadrando a anlise de mapas mentais em momentos distintos de um processo educativo induzido, com base na identificao desses elementos simblicos (landmarks) formados nas diferentes fases de um processo.

    Este estudo consistiu em verificar quais tipos de relaes perceptivas a populao estudantil pertencente ao 6 e 9 anos do ensino fundamental do municpio de Ilha Grande, PI, possui com relao ao jacar, Caiman crocodilus, visando contribuir para futuros planos de educao ambiental voltados temtica da conservao do animal em questo.

    rea de estudo

    O municpio de Ilha Grande (025137S e 414915W) est localizado na rea de Proteo Ambiental Delta do Parnaba, estado do Piau, na microrregio do litoral piauiense, compreendendo uma rea de 134,0 km2 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2007; ILHA GRANDE, 2008). O municpio tem como limites o Oceano Atlntico a norte e a leste; o municpio de Parnaba a sul e a leste e o estado do Maranho, separado pelo Rio Parnaba, a oeste. Distante cerca de 326 km da capital Teresina, Ilha Grande est inserida na bacia hidrogrfica difusa do Baixo Parnaba. O meio biolgico florstico compreende quatro formaes vegetacionais: Manguezal, Carnaubal, Fruticeto de Restinga e Campo Herbceo. A fauna composta por vrias espcies de mamferos, aves, peixes, anfbios e rpteis, entre estes ltimos o jacar (Caiman crocodilus) (FUNDAO CENTRO DE PESQUISAS ECONMICAS E SOCIAIS DO PIAU , 1996; ILHA GRANDE, 2008).

    De acordo com Lustosa (2005), as atividades mais expressivas na regio so a pesca, carcinicultura, agricultura de subsistncia, extrativismo vegetal, pecuria extensiva, produo artesanal e turismo, esta ltima se configurando como uma das maiores potencialidades locais, graas singularidade das paisagens, diversificao da fauna e ao clima propcio durante todo o ano, necessitando, segundo a autora, de planejamento e gesto adequados.

    Com relao educao, os discentes do municpio de Ilha Grande so atendidos com os diferentes nveis de ensino: pr-escolar,

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    fundamental e mdio. Os ensinos pr-escolar e fundamental so oferecidos tanto no meio urbano quanto no rural; o ensino mdio, apenas na zona urbana (ILHA GRANDE, 2008). No h nenhuma Instituio de Ensino Superior no municpio at o momento.

    Caracterizao das escolas estudadas

    Foi realizado um censo em todas as escolas do municpio de Ilha Grande que possuam 6 e 9 anos do ensino fundamental, totalizando cinco escolas (uma estadual e quatro municipais). A primeira escola visitada foi a escola estadual Unidade Escolar Marocas Lima (UEML), localizada no centro do municpio. Essa regio pode ser caracterizada pela maior concentrao de moradias e comrcios, possuindo um pequeno porto situado s margens de um igarap utilizado por catadores de caranguejo e pescadores locais. A segunda escola visitada foi a Escola Municipal Zila Almeida (EMZA), localizada tambm na regio central e tendo as mesmas caractersticas de entorno observadas na escola UEML. A terceira foi a Escola Municipal Dom Paulo Hiplito de Souza Libori (EMDPHSL), localizada no bairro Tatus, meio urbano, nas proximidades do porto de maior importncia para o municpio, o Porto dos Tatus, que tambm fica prximo s dunas e lagoas pluviais da regio. A quarta foi a Escola Municipal Santa Joana DArc (EMSJD), localizada no bairro Barro Vermelho, zona rural, cuja regio do entorno caracterizada pela presena de carnaubais e algumas lagoas temporrias. A ltima foi a Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado (EMMLPM), situada no bairro Labino, zona rural, s margens da Rodovia Estadual PI-210, a qual divide os municpios de Ilha Grande e Parnaba. As caractersticas dessa rea so semelhantes s da EMSJD, com a presena de carnaubais e lagoas temporrias.

    Instrumento de avaliao e procedimentos

    A coleta das informaes de campo nas escolas com os alunos ocorreu entre os meses de fevereiro e abril de 2009. Para avaliar a percepo, foi entregue a cada aluno uma folha de papel tamanho A4 com o seguinte comando: Faa um desenho sobre o jacar no Delta

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    A confeco de desenhos permitiu, de forma livre, a expresso da ideia que o aluno tem do jacar no Delta do Parnaba e a insero ou no de elementos da natureza ou pontos de identificao ambiental (landmarks) associados figura do jacar.

    Amostragem

    A escolha do 6 e 9 anos escolares se deveu ao fato de serem considerados perodos de transio na vida do estudante: transio infncia-adolescncia (6 ano) e amadurecimento da adolescncia (9 ano). Acredita-se que essas etapas sejam fases diferentes de maturidade dos alunos, sendo o 6 ano uma etapa na qual os alunos j dominam razoavelmente a escrita, mas ainda esto na infncia, trazendo consigo um conhecimento mais enraizado familiarmente (BEZERRA; FELICIANO; ALVES, 2008), e o 9 ano, uma etapa mais avanada do conhecimento escolar, na qual o conhecimento de razes familiares (tradicional) tende a receber com maior frequncia influncias do meio.

    Para a aquisio dos dados de campo, participaram 186 alunos do 6 ano do ensino fundamental, sendo 29 da UEML, 82 da EMZA, 29 da EMDPHSL, 24 da EMSJD e 22 da EMMLPM; e 86 alunos do 9 ano do ensino fundamental, distribudos da seguinte forma: 29 da UEML, 31 da EMZA, 11 da EMDPHSL, 8 da EMSJD e 7 da EMMLPM, perfazendo um total de 272 alunos amostrados, ou seja, 87,2% do total de alunos regularmente matriculados nessas sries escolares (ano-base 2009) do municpio em estudo.

    Com relao faixa etria dos alunos amostrados, para o 6 ano obtiveram-se alunos com idades entre 8 e 17 anos, a maioria (26,9%) possuindo 11 anos de idade; para alunos do 9 ano a faixa etria variou entre 12 e 20, tendo a maior parte dos alunos (34,9%) 15 anos de idade.

    Anlise dos dados

    Para a anlise dos desenhos foi feita uma identificao dos temas, seguida da sua separao e agrupamento por categoria. Em

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    funo da grande diversidade de ilustraes, foi realizada uma nova triagem por subtemas, e os dados foram agrupados em categorias de acordo com cada subtema, adaptando-se a metodologia adotada por Melos (2005). A anlise dos desenhos contou ainda com a metodologia de interpretao quanto forma de representao dos elementos na imagem (KOZEL, 2001). Uma anlise descritiva atravs de elementos expressivos da paisagem, os chamados pontos de identificao ambiental (landmarks), adaptada do modelo de Maroti (2002), tambm foi utilizada.

    Aps a etapa acima, os desenhos foram agrupados por srie escolar, unidade escolar e faixa etria, esta ltima sendo dividida em trs grupos: G1, compreendendo alunos entre 8 e 11 anos de idade; G2, entre 12 e 15; G3, entre 16 e 20, independentemente da srie escolar.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Representatividade dos desenhos em categorias

    Numa primeira triagem, as ilustraes foram agrupadas em quatro categorias. A primeira, a categoria de respostas gerais (primeira triagem), separou os desenhos em outras categorias. A realizao desses agrupamentos (triagens) torna as relaes de percepo aluno-jacar mais explcitas e analisveis (Tabela 1), j que os desenhos tendem a deixar uma interpretao bem vasta para cada pessoa que os v. Foram escolhidos os desenhos mais representativos por categoria para ilustrar este trabalho.

    Nesse contexto, as quatro categorias obtidas para a primeira triagem foram: (1) Jacar apenas, em que os alunos desenharam apenas o animal sem outros elementos, ou seja, os alunos no contextualizaram o animal com seu habitat ou qualquer landmark; (2) Jacar + natureza, em que os alunos desenharam o animal com alguns elementos da natureza ao redor, ou mesmo em comportamentos reprodutivo e/ou alimentar, o que significa, de certa forma, que esses alunos conseguem contextualizar o animal no seu habitat, mesmo que este esteja representado, por exemplo, por alguns

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    riscos no papel representando a gua; (3) Jacar + homem, em que os alunos desenharam o jacar e a figura do ser humano, sem o contexto da natureza; (4) Jacar + natureza + homem, em que aparecem desenhos mais completos, ou seja, os alunos contextualizam a figura do jacar e a do homem, ambos inseridos no cenrio natureza. Dos 272 alunos pesquisados, apenas 22 (8,1%) no desenharam nada.

    Tabela 1: Categorias de respostas (desenhos) obtidas de acordo com Srie Escolar, Unidade Escolar, Faixa Etria e para Todos os Alunos (geral). Faixa etria: G1=8-11, G2=12-15; G3=16-20.

    Os maiores percentuais obtidos foram relativos aos desenhos da categoria Jacar + natureza (n=127 ou 46,7%). Isso pode ser explicado, pois no momento da amostragem o pesquisador sugeriu que se desenhasse o jacar no delta, ou seja, supondo que o aluno desenhasse a figura do jacar inserido em alguma imagem que representasse para ele a regio onde mora (contextualizao). A segunda resposta com percentual mais alto foi Jacar apenas (n=101 ou 37,2%) e provavelmente est ligada maior facilidade e praticidade em desenhar apenas o animal sozinho, sem detalhes de contextualizao. Por fim, as outras duas categorias, Jacar + natureza

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    + homem e Jacar + homem, foram as que tiveram menor representatividade, com 6,9% (n=19) e 1,1% (n=3), respectivamente.

    Na figura 1 so apresentados alguns dos desenhos inseridos na categoria jacar + natureza. Essa categoria foi subdividida, gerando quatro respostas diferentes para a interpretao dos desenhos. So elas: Jacar em comportamento alimentar, que se refere a algum animal desenhado sendo predado pelo jacar; Jacar em comportamento reprodutivo, relacionada presena de alguma figura que representa o comportamento reprodutivo do mesmo (p. ex., ninhos com ovos); Jacar em seu habitat, relacionada presena de algum elemento que representa o habitat do animal em estudo (p. ex., gua, igaraps e manguezais) e Jacar em comportamento alimentar e reprodutivo, uma juno dos dois primeiros tipos de respostas. Essas categorias de respostas so bastante importantes, levando-se em considerao que detalhes como animais sendo predados e ovos ou ninhos com ovos so considerados elementos cruciais para a sobrevivncia da espcie em estudo.

    Dessas quatro subcategorias, a que obteve maior percentual foi Jacar em seu habitat, com 80,3% (n=102) do total para a categoria. Como essa subcategoria de desenho aparentemente a mais simples entre as outras trs estabelecidas, porque no envolve pormenores, como desenhos comportamentais (Figura 1), justifica-se seu maior percentual.

    importante notar que os ninhos ilustrados apresentam grandes quantidades de ovos, corroborando os dados da literatura, que citam que o nmero de ovos de Caiman crocodilus por postura varia de 14 a 38-40 (AZEVEDO, 2003; CAMPOS et al., 2008), ressaltando assim a fiel relao da representao perceptiva das crianas com a realidade (Figuras 1B, 1D e 1E).

    Na Figura 1A, alm do comportamento alimentar, pode-se observar um indicativo de poluio na presena de uma garrafa no habitat ocupado pelo jacar. Cabe chamar a ateno aqui para a conservao, pois, segundo Rodrigues (2005), a destruio de habitats a ameaa principal aos rpteis. J na figura 1D, pode-se constatar uma maior complexidade de informaes, desde a insero do jacar em seu habitat, representado pela gua e rvores, passando pelo

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    comportamento alimentar, evidenciado no ato de se alimentar de um peixe e de uma serpente, sendo o primeiro considerado o principal item na dieta dos jacars (AZEVEDO, 2003), at o comportamento reprodutivo, representado pela postura de ovos (ninho). Vale salientar que esse desenho foi o nico dessa categoria, tendo sido feito por um aluno do 6 ano da EMDPHSL, a escola com localizao mais prxima dos corpos dgua, tanto de lagoas como de rios e igaraps.

    Figura 1: Exemplos de desenhos da categoria Jacar + natureza. A 6 ano EMMLPM (11 anos) (Jacar em comportamento alimentar); B 6 ano EMZA (13 anos) (Jacar em comportamento reprodutivo); C 9 ano EMDPHSL (16 anos) (Jacar em seu habitat); D 6 ano EMDPHSL (15 anos) (Jacar em comportamento alimentar e reprodutivo); E 6 ano EMDPHSL (12 anos) (Jacar em comportamento reprodutivo); F 6 ano EMZA (11 anos) (Jacar em seu habitat); G 9 ano UEML (13 anos) (Jacar em seu habitat).

    As Figuras 1C e 1G merecem destaque pela representatividade dos manguezais, ilustrados por rvores tpicas desse ecossistema, bem como pela grafia manguezal (Figura 1G), sendo um dos ecossistemas mais expressivos da regio do delta habitado pelo jacar.

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    No item Jacar + homem foram categorizadas duas possveis respostas para a interpretao dos desenhos: Jacar e homem sem expresso, em que apenas foram desenhados o homem e o jacar, sem nenhum tipo de interao (p. ex., Figura 2A), e Comportamento agressivo do homem para com o jacar, com desenho que configura algum tipo de comportamento agressivo do ser humano para com o animal. Na Figura 2B, pode-se notar um jacar com marcas de feridas pelo corpo e a presena de um homem (canto superior esquerdo) com uma suposta arma na mo, merecendo destaque a figura humana ilustrada em tamanho bem menor que o jacar, do que se infere que a percepo do aluno demonstra a diferena de poder entre os dois smbolos, ou seja, um (jacar) grande e supostamente perigoso e o outro (homem) pequeno, mas dominante na situao, tendo o seu poder demonstrado atravs da arma e da morte do animal para sua defesa.

    J na Figura 2C, a agressividade do homem para com o jacar representada por uma lana do homem em direo ao animal. Esse objeto pode denotar um comportamento de defesa, porm, nesse caso, o fato de o animal estar virado de costas para o homem pode indicar um comportamento de caa, levando-se em conta informaes locais sobre o uso de uma espcie de lana para o abatimento de alguns animais para o consumo.

    Figura 2: Exemplos de desenhos da categoria Jacar + homem. A 6 ano EMZA (11 anos) (Jacar e homem sem expresso); B 6 ano EMDPHSL (11 anos) (Comportamento agressivo do homem para com o jacar); C 6 ano EMMLPM (15 anos) (Comportamento agressivo do homem para com o jacar).

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    No item Jacar + natureza + homem foram categorizadas seis respostas diferentes, quais sejam: Comportamento agressivo do homem para com o jacar, que, da mesma forma que o item anterior, designa algum tipo de comportamento de agressividade do homem para com o animal; Comportamento agressivo do jacar para com o homem, sendo o inverso da resposta anterior; Disputa por alimento; gua, jacar fora ou dentro da gua com barcos e/ou casas e/ou pessoas e/ou ponte, que demonstra uma boa insero da figura do animal no seu habitat com elementos antrpicos; Jacar em comportamento alimentar no rio e homem observando-o do barco, parecida com a interpretao para a resposta anterior, porm, necessariamente com a presena humana; Convivncia harmnica homem-jacar, significando uma relao sem conflitos entre o jacar e o homem.

    A categoria que obteve maior percentual foi gua, jacar fora ou dentro da gua com barcos e/ou casas e/ou pessoas e/ou ponte, com 57,9% (n=11), destacando aqui a importncia da relao de antropizao com a natureza, neste caso o jacar; a segunda maior porcentagem foi alcanada pela categoria Convivncia harmnica homem e jacar, o que deve ser levado em conta no sentido de cooperao e diviso de habitat (animal e homem).

    Na Figura 3A, a demonstrao de agressividade do homem para com o jacar pode ter a mesma denotao da Figura 3C, possivelmente um exemplo de caa fazendo-se o uso do instrumento lana. Todavia, na Figura 3B, o comportamento de agressividade explcito, visto que a figura humana aponta uma arma em direo ao jacar, em um cenrio tpico do Manguezal (habitat do animal em estudo), caracterizado por fileira mais ou menos homognea de rvores ao fundo. J na Figura 4C, h uma relao de agressividade do jacar para com o homem, representada pelo animal em tamanho muito superior ao do homem, o que sugere a ideia de que este uma figura frgil e que corre perigo na presena daquele a ponto de ser morto.

    A Figura 3D caracteriza bem uma referncia antrpica da regio de estudo: trata-se da imagem de um jacar na gua embaixo de uma ponte, designada pelo aluno no desenho como a ponte do Rio Parnaba (na verdade um brao do Rio Parnaba, denominado

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    Igarau), que liga o centro da cidade de Parnaba unidade geogrfica Ilha Grande de Santa Isabel, na qual se insere o municpio-alvo deste estudo. No referido rio, constata-se a presena de jacars (Caiman crocodilus).

    Na Figura 3E, pode-se observar o jacar em comportamento alimentar associado fala eu sou mau, muito mau, a qual designa uma personalidade perversa do animal. Ademais, o fato de o jacar estar predando um peixe pode estar associado a uma demonstrao de poder, j que o homem que o observa do barco tambm faz uso do mesmo recurso alimentar. A Figura 3F contm um ser humano e um jacar no mesmo ambiente sem aparente interao, o que denota uma relao positiva entre ambos, ou seja, uma suposta convivncia harmnica, uma partilha de habitat. Na Figura 3G pode-se notar a presena de uma embarcao tpica da regio deltaica (canoa a vela), com dois homens observando um jacar que se encontra na gua. Nota-se tambm que ao redor do jacar aparece uma rvore de mangue (ver razes areas). Essa cena (avistagem de jacar), segundo informaes dos alunos, bem comum na regio.

    A Figura 3H um bom exemplo de convivncia harmnica homem-jacar. Alm disso, as escritas que acompanham esse desenho evidenciam a importncia da conservao desse animal: olha um jacar to bonitinho mas muita gente quer matar e vamos parar de maltratar ao jacars, eles fazem parte da natureza. um animal que Deus colocou no mundo.

    Somente a categoria Jacar apenas no foi desmembrada em outras, pois para os alunos que desenharam apenas o jacar no foi necessria a interpretao mais detalhada desses desenhos porque no houve distino de ideias entre eles (Figura 4).

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    Figura 3: Exemplos de desenhos da categoria Jacar + natureza + homem. A 6 ano EMZA (11 anos) (Comportamento agressivo do homem para com o jacar); B 9 ano UEML (14 anos) (Comportamento agressivo do homem para com o jacar); C 9 ano EMZA (13 anos) (Comportamento agressivo do jacar para com o homem); D 6 ano EMZA (10 anos) (gua, jacar dentro da gua e ponte); E 6 ano EMZA (14 anos) (Jacar em comportamento alimentar no rio e homem observando-o do barco); F 6 ano EMMLPM (11 anos) (Convivncia harmnica homem-jacar); G 9 ano EMDPHSL (17 anos) (gua, jacar dentro da gua com barco e pessoas); H 6 ano UEML (14 anos) (Convivncia harmnica homem-jacar).

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    Figura 4: Exemplos de desenhos da categoria Jacar apenas. A 6 ano EMSJD (12 anos); B 6 ano EMZA (10 anos); C 6 ano EMDPHSL (10 anos); D 9 ano EMZA (15 anos); E 6 ano EMMLPM (10 anos).

    Abordagem perceptiva de acordo com a srie escolar, escola e faixa etria

    Como mencionado, a maior parte dos desenhos se enquadra na categoria Jacar + natureza (46,7%). Os alunos do 6 ano, assim como os do 9 ano, tiveram seus desenhos representados em maior porcentagem (45,2% e 50,0%, respectivamente) nessa categoria. Representar o jacar inserido no contexto natureza no parece estar diretamente ligado ao aprendizado escolar propriamente dito, ou seja, a associao que o aluno pode fazer da percepo com o contedo disciplinar de uma ou outra srie escolar, mas sim ao senso comum.

    Pode-se seguir o mesmo raciocnio para as faixas etrias que tambm no apresentaram diferena (G1=49,3%, G2= 45,6%, G3=46,7%) quanto categoria de desenhos mais representada (jacar+natureza). Cabe aqui inferir a questo do conhecimento adquirido empiricamente, aquele repassado de gerao para gerao, que nesta situao no fez diferena do tempo de experincia (idade)

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    do indivduo. A percepo nesse caso poderia estar tambm relacionada capacidade de entender (perceber) o meio (jacar) de acordo com a maturidade (e no com a idade) de cada um, adicionando-se o componente ambientes (locais) frequentados em comum (jacars e alunos).

    Por sua vez, a maioria das escolas (UEML, EMDPHSL, EMSJD) tambm teve o maior percentual (48,3%, 75,0% e 46,9%, respectivamente) de desenhos inseridos na categoria Jacar + natureza. As escolas EMZA e EMMLPM, no entanto, tiveram a maior parte (46,0% e 65,5%, respectivamente) de seus desenhos representados na categoria Jacar apenas. Uma interpretao possvel para esse resultado o fator localizao geogrfica da escola, uma vez que escolas situadas mais prximo a habitats ocupados pelo jacar na regio, como o caso da EMDPHSL e da EMSJD, tendem a ter alunos que representam o animal mais fielmente inserido nesses habitats (natureza), pois o fato de o aluno freqentar a escola faz com que sua percepo esteja voltada para a realidade que o cerca (dia a dia). Como no h conhecimento da realidade particular de cada aluno, outras interpretaes so possveis para o resultado encontrado.

    Biofilia e biofobia no contexto alunos e jacars

    Na interpretao de alguns dos desenhos destacados neste trabalho (Figuras 2A, 3G, 3F e 3H), pode-se atribuir sentimentos de biofilia na relao aluno-jacar. Uma definio para o termo biofilia bem clara nas palavras de Wilson (1993 apud SILVA; COSTA NETO, 2004), que a descreveu como uma necessidade humana inata (portanto, gentica) para contato com uma diversidade de formas de vida. Filgueiras (2007) tambm trabalha bem a definio desse termo colocando a expresso como um sentimento de amor vida e, por extenso, a tudo o que vivo, a todas as manifestaes da vida. Ressalta ainda o apreo e o respeito a todos os organismos vivos do planeta, sejam eles diretamente ligados vida humana ou no.

    O exemplo mais explcito de biofilia homem-jacar nos desenhos expostos a Figura 3H, conforme explicado pela interpretao do desenho. A presena desse sentimento revela que os alunos provavelmente possuem uma aceitao da convivncia

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    pacfica com o animal em estudo, o que contribui para a conservao do mesmo.

    ORR (1994) considera a importncia de resgatar as experincias na infncia o despertar para o sentido do lugar, a necessria educao para a biofilia e o pacto com a natureza. O sentimento de biofilia extremamente til humanidade e contribui de forma decisiva para sua sobrevivncia porque conduz ideia de preservao dos ambientes e das espcies (FILGUEIRAS, 2007). Filgueiras (2007) tambm destaca que no extremo oposto ao sentimento de biofilia situa-se a biofobia, que, em sua forma mais radical e em diferentes matizes, consiste na hostilizao da vida de maneira frontal ou disfarada. Enquanto a biofilia conduz tolerncia, convivncia pacfica e enriquecedora, a biofobia intolerante, preconceituosa, exclusivista.

    Como exemplo de biofobia possvel citar neste trabalho as Figuras 2B, 2C, 3A, 3B, 3C e 3E, que revelam atitudes agressivas do homem para com o jacar e vice-versa, denotando sentimentos de repulsa, medo, pavor (fobia). Assim, projetos conservacionistas podem ser prejudicados pela no aceitao do animal em convvio pacfico, o que exige maior ateno de pais, educadores e outros que possam influenciar no processo de aprendizagem e mudanas de atitudes a partir da percepo desses alunos.

    Elementos expressivos da paisagem (landmarks) nos mapas mentais

    Nos desenhos selecionados das Figuras 1 (todos) e 3A, 3B, 3E, 3F, 3G pode-se observar a presena de landmarks associados paisagem na qual se insere o jacar. Observa-se a representao de uma paisagem tpica do Delta do Parnaba, composta por rvores diversas (mangue, coqueiros etc.) associadas ao Manguezal (Fig. 1A, 1C, 1D, 1F, 1G e 3B, 3E, 3F, 3G) ou restinga (Fig. 1B, 1E e 3A), dois habitats ocupados pelos jacars na regio. A representao desses landmarks deve-se principalmente presena de caminhos por terra (trilhas de acesso), gua (rios e igaraps) e moradias da maior parte da populao do municpio nas proximidades desses habitats, tornando-se uma paisagem visualizada diariamente.

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    Esses marcos da paisagem demonstram que a percepo dos alunos acerca do jacar no Delta do Parnaba capaz de situ-los em seus habitats reais, demonstrando uma aproximao com a realidade. Bezerra, Feliciano e Alves (2008), ao estudarem a percepo ambiental de alunos numa unidade de conservao na regio metropolitana de Recife, PE, constataram que vrios foram os desenhos em que as crianas representaram espcies arbreas da localidade e relacionaram esse fato faixa etria utilizada na amostra (entre nove e quinze anos), pois, de acordo com Di Leo (1985), nessa fase da infncia e adolescncia as crianas tm uma tendncia muito forte para desenhar rvores.

    Nesse contexto cabe ressaltar que o municpio de Ilha Grande uma formao encravada em manguezais razoavelmente preservados, mas que no se constitui em rea isenta da atividade antrpica, o que pode ser confirmado in situ (ILHA GRANDE, 2008). Com base no exposto, pode-se considerar a representao de elementos arbreos nesta pesquisa como senso comum dos alunos da regio.

    Consideraes Finais

    A anlise dos mapas mentais demonstrou atitudes ambguas da relao do ser humano (alunos) com o jacar, podendo variar de atitude mais positiva (conservacionista) a uma atitude negativa (destrutiva). Assim, sentimentos positivos de biofilia podem contribuir para medidas de conservao da populao de jacars da regio, mas para isso tais sentimentos precisam ser cultivados, incentivados e, principalmente, praticados, pelo fato de que sentimentos negativos de biofobia podem alimentar conceitos errados e prejudiciais nas relaes de convivncia harmnica entre alunos e jacars. Com base no exposto e visando trabalhar a percepo conservacionista dos alunos em favor das relaes bioflicas com os jacars e outros animais da regio, sugerem-se programas de educao ambiental nas escolas. Esses programas devem abarcar desde atividades ldicas em grupo, como brincadeiras, representaes teatrais e jogos educativos, at turismo pedaggico (excurses didticas de campo), passando pelo entorno das escolas, uma vez que a localizao geogrfica da escola parece influenciar a percepo dos alunos, alm de reas do municpio com

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    lagoas e outros ambientes frequentados pelos jacars. Acredita-se que atravs da sensibilizao no local (habitat do jacar), ou seja, mais prxima da realidade, possvel trabalhar de forma mais verdica os conceitos relacionados temtica conservacionista direcionada ao jacar e obter melhores resultados atravs dos estmulos ambientais, uma vez que os alunos ilustraram landmarks nos quais foi possvel reconhecer habitats reais ocupados pelos jacars na regio. Com a sensibilizao, pode-se provocar o estmulo ao questionamento sobre a conservao da espcie e seus habitats tendo-se como ponto de partida uma nica espcie-alvo, neste caso o jacar, para ento se fazer uma extrapolao para outros animais, objetivando mudanas de atitudes/comportamentos biofbicos.

    Agradecimentos

    Somos gratos a todos os alunos que participaram deste trabalho, bem como aos diretores e professores das escolas estudadas, que muito bem nos receberam. Agradecemos a Thiago S. Nascimento, Werlanne M. Santanna, Werlayne M. Santanna e Francinalda R. Rocha pela ajuda na aplicao dos mapas mentais nas escolas; a Joo Manoel A. Leite-Jnior pela reviso do texto; ao PRODEMA-UFPI; ao DAAD (Servio Alemo de Intercmbio Acadmico) pela bolsa de mestrado concedida e ao Comit de tica em Pesquisa da UFPI pela aprovao do projeto CAAE 0196.0.045.000-08.

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    Artigo: recebido em 04/07/2010 - aprovado em 17/12/2010