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1 ESTADO DE SANTA CATARINA – BANCO MUNDIAL Programa Santa Catarina Rural Componente: Gestão Ambiental Subcomponente: Gestão de Ecossistemas Usos Florestais e Regularização na Pequena Propriedade Rural Diretoria de Proteção de Ecossistemas – Gerência de Unidades de Conservação Diretoria de Licenciamento Ambiental – Gerência de Licenciamento Agrícola e Florestal Novembro de 2014

Usos Florestais e Regulariza o na Pequena Propriedade Rural · hidrográfica do rio de mesmo nome e contempla 11 municípios, a saber: Caçador, Lebon Regis, Santa Cecília, Timbó

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ESTADO DE SANTA CATARINA – BANCO MUNDIAL

Programa Santa Catarina Rural

Componente: Gestão Ambiental

Subcomponente: Gestão de Ecossistemas

Usos Florestais e Regularização na Pequena Propriedade Rural

Diretoria de Proteção de Ecossistemas – Gerência de Unidades de Conservação

Diretoria de Licenciamento Ambiental – Gerência de Licenciamento Agrícola e Florestal

Novembro de 2014

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Apresentação

O presente documento apresenta um resumo das possibilidades de uso e manejo

florestal na pequena propriedade rural de Santa Catarina e as etapas para sua adequação

frente às recentes alterações da legislação ambiental. Alguns conceitos importantes como

Reserva Legal - RL e Áreas de Preservação Permanentes - APPs são inicialmente abordados.

Na sequência, os usos florestais permitidos na legislação atual e também a importância do

Cadastro Ambiental Rural-CAR e do Programa de Regularização Ambiental-PRA, como

instrumentos para a regularização ambiental das pequenas propriedades rurais.

O documento visa valorizar e difundir as possibilidades de usos da floresta como um

bem econômico a ser conservado e manejado com sustentabilidade para manutenção deste

recurso/serviço ao longo do tempo. Os técnicos da FATMA, EPAGRI, Prefeituras

municipais e demais entidades terão neste documento uma referência de legislação e práticas

na busca da sustentabilidade da pequena propriedade rural, sintetizando e tornando mais

acessíveis os artigos, parágrafos e incisos do Código Florestal, Lei 12.651/2012 e sua

alteração Lei 12.727/2012, da Lei da Mata Atlântica, Lei 11.428/2006 e seu decreto

regulamentador, Decreto 6660/2008, Código Ambiental de Santa Catarina, Lei Estadual

14.675/2009 e sua alteração Lei Estadual 16.342/2014 e a instrução normativa do Ministério

do Meio Ambiente IN MMA 05/2009. Posteriormente, outra forma de divulgação deste

documento para sua difusão entre os agricultores não está descartada. Desta forma

esperamos contribuir para a divulgação e aplicabilidade dos usos da Mata Atlântica e

facilitar o cumprimento da legislação ambiental.

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1 CONCEITOS

1.1 Corredores Ecológicos Chapecó e Timbó

A Fundação do Meio Ambiente FATMA está implementando os Corredores

Ecológicos Chapecó e Timbó localizados na região oeste e planalto norte catarinense,

respectivamente. O Corredor Ecológico Chapecó abrange toda a sub-bacia a montante da

confluência dos rios Chapecó e Chapecozinho, com 23 municípios, a saber, Abelardo Luz,

Água Doce, Bom Jesus, Coronel Martins, Entre Rios, Faxinal dos Guedes, Galvão, Ipuaçu,

Jupiá, Lajeado Grande, Macieira, Marema, Novo Horizonte, Ouro Verde, Passos Maia,

Ponte Serrada, Quilombo, Santiago do Sul, São Domingos, São Lourenço do Oeste,

Vargeão, Vargem Bonita e Xanxerê. Já o Corredor Ecológico Timbó abrange toda a bacia

hidrográfica do rio de mesmo nome e contempla 11 municípios, a saber: Caçador, Lebon

Regis, Santa Cecília, Timbó Grande, Calmon, Matos Costa, Porto União, Irineópolis, Bela

Vista do Toldo, Canoinhas e Major Vieira. Juntos, os CEs Chapecó e Timbó representam

aproximadamente 10% da área do estado de Santa Catarina.

O conceito de Corredor Ecológico adotado para a sub-bacia do rio Chapecó e para a

bacia do rio Timbó é considerado como pioneiro no Brasil e vai além dos pressupostos

estabelecidos pela Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Os

Corredores Ecológicos Chapecó e Timbó têm como foco central compatibilizar o

desenvolvimento do meio rural com a conservação da biodiversidade, por meio de uma

proposta de desenvolvimento territorial sustentável.

A implementação dos Corredores Ecológicos é realizada no âmbito do Programa

Santa Catarina Rural - SC RURAL, dentro do subcomponente Gestão de Ecossistemas, e as

ações de campo estão sendo realizadas em parceria com EPAGRI, BPMA e outras entidades

representativas regionais, a exemplo da COOPTRASC e APREMAVI.

Para sua implementação não estão previstas novas restrições ambientais além

daquelas já estabelecidas na legislação ambiental. O que se propõe é: (i) incentivos

econômicos privados com a criação de um Sistema de Créditos de Conservação - SICC para

os proprietários rurais manterem áreas florestais conservadas, além das APPs e Reservas

Legais; (ii) a adequação das propriedades à legislação ambiental; e (iii) Sistemas de

Integração Econômico-Ecológicos - SIEEs, que preconizam o desenvolvimento econômico

aliado ao uso de práticas agrícolas conservacionistas e (iv) Pagamento por Serviços

Ambientais - PSA em experiência piloto na área dos Corredores Ecológicos com recursos do

Capital Semente.

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Junto com ações de Sistema de Integração Econômico-Ecológico - SIEE e Sistema de

Créditos de Conservação - SICC será realizada a adequação ambiental das pequenas

propriedades rurais e fornecida orientações sobre a legislação ambiental. Neste contexto, este

documento servirá de base para o manejo florestal nas pequenas propriedades rurais.

1.2 Pequena Propriedade ou Posse Familiar Rural

Aquela até 4 módulos fiscais, explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e

empreendedor rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária (inciso V do

art. 3° da Lei 12.651/2012) e que atenda os critérios abaixo (art. 3º da Lei 11.326/2006):

I- não detenha, a qualquer título, área maior que 4 módulos fiscais;

II- utilize mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento

ou empreendimento;

III- tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas

ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

IV- dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

O módulo fiscal varia de 7 a 24 hectares em Santa Catarina, dependendo do município.

1.3 Imóvel Rural

O Estatuto da Terra, Lei 4.504/1964, e a Lei da Reforma Agrária Lei 8.629/1993 (que trata

da reforma agrária), definem "imóvel rural" como sendo o prédio rústico, de área contínua

qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração

agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial, quer através de planos

públicos de valorização, quer através de iniciativa privada.

Desse conceito extrai-se que inclusive nos casos de posse com ou sem título, o imóvel rural

caracteriza-se, essencialmente, pela formação de uma unidade de exploração econômica,

quer seja representada por uma única propriedade imobiliária, quer seja pelo grupamento

dessas propriedades (§ 3º, do art. 46, da Lei 4.504, de 30/11/1964).

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1.4 Reserva Legal - RL

A Reserva Legal - RL é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,

com tamanho de 20% da propriedade, com a função de assegurar o uso econômico de modo

sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos

processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a

proteção de fauna silvestre e da flora nativa (inciso III do art. 3° da Lei 12.651/2012; inciso

XLV do art. 28° da Lei Estadual 16.342/2014; Decreto 7.830/2012, Decreto 8.235/2014 e

Decreto Estadual 2.219/2014).

Na atual legislação ambiental o proprietário rural não necessita mais averbar a Reserva Legal

em cartório, mas cadastrá-la no Cadastro Ambiental Rural-CAR. A inscrição no CAR pode

ser realizada na página eletrônica http://www.cadastroambientalrural.sc.gov.br/ .

Em apoio aos pequenos proprietários rurais, estão sendo realizadas capacitações para

técnicos de prefeituras municipais, de federações, associações e sindicatos de agricultura que

terão papel fundamental na efetiva inclusão das pequenas propriedades rurais no CAR.

1.5 Áreas de Preservação Permanente - APP

Área de Preservação Permanente - APP é uma área protegida, coberta ou não por vegetação

nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade

geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e

assegurar o bem-estar das populações humanas (inciso II do art. 3° da Lei 12.651/2012;

inciso V do art. 28° da Lei Estadual 16.342/2014).

APPs de cursos d’água:

Largura do Rio (m) Faixa de APP (m)

Até 10 30

10-50 50

50-200 100

200-600 200

Acima de 500 600

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As medições são feitas desde a borda da calha do Leito regular.

O item 3 deste documento trata da regularização ambiental da pequena propriedade rural e

das distâncias de APP que deverão ser recuperadas.

Outras APPs:

· No entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação

topográfica, no raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros.

· Lagos 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20

(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros.

· Encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem

por cento) na linha de maior declive;

· Restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

· Manguezais, em toda a sua extensão;

· Bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca

inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

· Topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)

metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de

nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em

relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou

espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais

próximo da elevação;

(art. 4° da Lei 12.651/2012; art. 120-A, B, C e D da Lei Estadual 16.342/2014).

No caso de banhados, dependendo da situação da hidrografia, se o fluxo de água for perene

pode-se considerar como nascente. Em todos os casos, se o banhado apresentar vegetação

característica, esta vegetação pode ser considerada como primária, pois constitui clímax

edáfico deste ambiente, desta forma, é conferida uma proteção especial pela Lei da Mata

Atlântica.

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1.6 Atividades Agrossilvipastoris

Aquelas relacionadas à agricultura, pecuária ou silvicultura, efetivamente realizadas ou

passíveis de serem realizadas, conjunta ou isoladamente, em áreas convertidas para uso do

solo, nelas incluídas a produção intensiva em confinamento (tais como, mas não limitadas à

suinocultura, avicultura, cunicultura, ranicultura, aquicultura) e a agroindústria (inciso IX do

art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

1.7 Áreas Rurais Consolidadas

Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com

edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a

adoção do regime de pousio (inciso VI do art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

Até que a propriedade faça a adesão ao Programa de Regularização Ambiental - PRA, é

permitida a troca de atividade na área consolidada por atividades de igual ou menor impacto

ambiental.

1.8 Documento de Origem Florestal - DOF

O Documento de Origem Florestal – DOF, instituído pela Portaria 253/2006 do Ministério

do Meio Ambiente – MMA, representa a licença obrigatória para o controle do transporte de

produto e subproduto florestal de origem nativa, inclusive o carvão vegetal nativo. O DOF

acompanhará, obrigatoriamente, o produto ou subproduto florestal nativo, da origem ao

destino nele consignado, por meio de transporte individual: rodoviário, aéreo, ferroviário,

fluvial ou marítimo.

2 Usos florestais na Pequena Propriedade ou Posse Familiar

2.1 Usos florestais sem propósito comercial

O aproveitamento de espécies florestais, sem propósito comercial, para uso na propriedade é

permitida e não necessita de autorização, até o limite de 20 metros cúbicos de tora a cada três

anos e 15 metros cúbicos de lenha por ano. (§1° do art. 2° do Decreto 6.660/2008).

Para transportar a madeira para beneficiamento fora dos limites da propriedade o interessado

deve preencher um requerimento fornecido pela FATMA, que pode autorizar o transporte

por meio de anuência no próprio requerimento com prazo de 30 dias.

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As espécies ameaçadas de extinção só poderão ser utilizadas se forem plantadas (ver item

2.2.6). Para Santa Catarina as principais espécies ameaçadas de extinção são a araucária

(Araucaria angustifolia), a imbuia (Ocotea porosa), a canela preta (Ocotea catharinensis), a

canela sassafrás (Ocotea odorifera) e o palmito jussara (Euterpe edulis), para outras espécies,

ver lista oficial de espécies da flora ameaçadas de extinção da IN MMA 06/2008 e

Resolução Consema nº 51/2014. Sendo que no caso do palmito existe a resolução CONAMA

294/2001 e a Instrução Normativa FATMA n° 35 que regulamenta sua utilização.

2.2 Usos florestais com propósito comercial

Para o transporte de madeira nativa será exigido o Documento de Origem Florestal - DOF.

2.2.1 Corte de Vegetação em Estágio Médio

Em vegetação de estágio médio de regeneração é permitido o corte de até 2 ha, uma única

vez, para conversão de uso do solo (lavoura, criação e outras atividades econômicas)

necessárias à subsistência da pequena propriedade rural. Necessita de Autorização de Corte e

Documento de Origem Florestal - DOF. (art. 23° da Lei 11.428/2006; art. 30° do Decreto

6660/2008).

Condições para a autorização do corte de 2 ha:

a) Possuir área de 20% de Reserva Legal fora da APP.

b) Não possuir sua reserva legal compensada em outro imóvel.

(inciso I do art. 15° e §9° do art. 66° da Lei 12.651/2012)

2.2.2 Corte de Vegetação em Estágio Inicial de Regeneração

O corte de vegetação em estágio inicial de regeneração é permitido mediante Autorização de

Corte (art. 5° da Lei 11.428/2006 e art. 32 do Decreto 6660/2008).

2.2.3 Corte de espécies pioneiras na vegetação em estágio médio de regeneração

É permitido quando a presença de uma espécie pioneira for maior que 60 % em relação às

outras espécies. Necessita Autorização de Corte (ex. bracatingal) (art. 28° da Lei

11.428/2006 e art. 35 do Decreto 6660/2008).

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2.2.4 Sistemas agroflorestais na APP e RL

Os Sistemas Agroflorestais - SAFs são considerados de interesse social na pequena

propriedade rural sendo permitida sua utilização para a recuperação de APPs e Reserva

Legal. É permitido o consórcio de árvores nativas e exóticas não invasoras para coletas de

produtos não madeireiros. As principais invasoras arbóreas que devem ser evitadas são os

pinheiros exóticos (Pinus sp.) e a uva-do–japão (Hovenia dulcis), para outras espécies, ver

lista oficial de espécies exóticas invasoras na resolução CONSEMA 11/2010. Na Reserva

Legal é possível ter a coleta de produtos madeireiros, mediante Autorização de Corte (art. 8°

e 9° da IN MMA 04/2009).

Para a implantação de SAFs na APP como indutora de recuperação deve ser observado:

I - controle da erosão, quando necessário;

II - recomposição e manutenção da fisionomia vegetal nativa, mantendo permanentemente a cobertura do solo;

III - estabelecimento de, no mínimo, 500 (quinhentos) indivíduos por hectare de, pelo menos, 15 espécies perenes nativas da fitofisionomia local;

IV - limitação do uso de insumos agroquímicos, priorizando-se o uso de adubação verde;

V - restrição do uso da área para pastejo de animais domésticos;

VI - na utilização de espécies agrícolas de cultivos anuais deve ser garantida a manutenção da função ambiental da APP;

VII - consorciação de espécies perenes, nativas ou exóticas não invasoras, destinadas a produção e coleta de produtos não madeireiros, como por exemplo, fibras, folhas, frutos ou sementes; e

VIII - manutenção das mudas estabelecidas, plantadas e/ou germinadas, mediante coroamento, controle de fatores de perturbação como espécies competidoras, insetos, fogo ou outros e cercamento ou isolamento da área, quando necessário e tecnicamente justificado.

(art. 9° da IN MMA 05/2009)

2.2.5 Intervenções de Baixo Impacto na APP e RL

Lista de atividades possíveis de baixo impacto ou eventuais na APP e RL:

I - abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando

necessárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de produtos oriundos das

atividades de manejo agroflorestal sustentável;

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II - implantação de trilhas para desenvolvimento de ecoturismo;

III - implantação de aceiros para prevenção e combate a incêndios florestais;

IV - implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes

tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber;

V - implantação de corredor de acesso de pessoas e animais para obtenção de água;

VI - construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;

VII - coleta de produtos não madeireiros para fins de manutenção da família e produção de

mudas, como sementes, castanhas e frutos, desde que eventual;

VIII - plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos

vegetais em áreas alteradas, plantados junto ou de modo misto;

IX - construção e manutenção de cercas ou picadas de divisa de propriedades; e

X - pastoreio extensivo tradicional em campos naturais desde que não promova a supressão

da vegetação nativa ou a introdução de espécies vegetais exóticas.

Para a realização destas intervenções na pequena propriedade rural, o imóvel deve estar

inscrito no CAR e é necessária uma declaração do proprietário para a FATMA. (inciso X do

art. 3° e art. 52° da Lei 12.651/2012)

2.2.6 Espécies Nativas Plantadas para Fins Comerciais

O plantio ou reflorestamento com espécies nativas necessita cadastro na FATMA e posterior

Autorização de Corte. Recomenda-se o plantio em linhas para facilitar a sua comprovação.

(art. 10° da Lei 11.428/2006 e Capítulo IV do Decreto 6660/2008)

Plantio na Mata (enriquecimento)

O plantio de espécies nativas na mata necessita cadastro na FATMA. Recomenda-se o

plantio em linhas, bordas da mata e em área degradadas para facilitar a sua comprovação.

É permitido o corte de 50% das árvores plantadas, com a necessidade de Autorização de

Corte.

(art. 10° da Lei 11.428/2006 e Capítulo III do Decreto 6660/2008).

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2.2.7 Aproveitamento de Produto Florestal danificado por ação da natureza

É permitido o aproveitamento de árvores derrubadas por ação da natureza como, por

exemplo, vendavais, nevascas, tempestades, raios, erosão, entre outros, bem como aquelas

mortas por idade ou doença, mediante Autorização de Corte da FATMA.

(Resolução Consema 20/2008)

2.2.8 Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS

O Plano de Manejo Florestal Sustentável é uma das possibilidades para a exploração de

florestas nativas com propósito comercial. Neste caso dependerá de licenciamento pela

FATMA, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável que

contemple técnicas de condução, exploração, recuperação florestal e manejo compatíveis

com os variados ecossistemas de cobertura arbórea.

O órgão ambiental definirá procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação

dos PMFS para a pequena propriedade ou posse rural familiar.

O PMFS atenderá os seguintes fundamentos técnicos e científicos:

I - caracterização dos meios físico e biológico;

II - determinação do estoque existente;

III - intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte ambiental da floresta;

IV - ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de produto extraído da floresta;

V - promoção da regeneração natural da floresta;

VI - adoção de sistema silvicultural adequado;

VII - adoção de sistema de exploração adequado;

VIII - monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;

IX - adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.

(Capítulo VII e art. 56° Lei 12.651/2012)

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2.2.9 Coleta de Subprodutos Florestais

É livre a coleta de subprodutos florestais, tais como frutos, folhas e sementes, devendo-se

observar:

I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver (ex.

pinhão, coleta, transporte e comercialização é permitida a partir de 1° de abril; erva mate)

II - a época de maturação dos frutos e sementes;

III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada

no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes, e

outros.

(art. 21° da Lei 12.651/2012; art. 18° da Lei 11.428/2006; e art. 28° do Decreto 6660/2008)

(Lei Estadual 15.457/2011)

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2.2.10 Resumo de usos florestais permitidos na Pequena Propriedade Rural

Usos/Área APP Reserva Legal Outras áreas com florestas nativas

Sistemas Agroflorestais com uso

madeireiro Não Sim, com

autorização Sim, com

autorização

Sistemas Agroflorestais sem uso

madeireiro Sim, somente para

recuperação Sim Sim

Manejo Florestal Sustentável Não Sim, com

autorização Sim, com

autorização** Roça de Toco/outros

Extração de 15 m3 Lenha / ano e até 20 m3

Tora / 3 anos Não Sim Sim

Coleta de Frutos, Sementes, folhas Sim Sim Sim

Corte Espécies Pioneiras com mais de

60% predominância Não Não Sim, com

autorização

Pastoreio de Gado Não Não Não

Agrotóxicos Não Não Sim (Caiva, potreiro)**

Uma única vez

Conversão de uso Estágio Médio – 2 ha * Não Não Sim, com

autorização

Conversão de uso Estágio Inicial Não Não Sim, com

autorização

Nativa plantada com uso madeireiro Não Sim, com cadastro

e autorização Sim, com cadastro

e autorização

Nativa plantada sem uso madeireiro Sim Sim Sim

- - - intensidade de u s o s +++

- APP - Prioridade para conservação, localização de matrizes, espécies ameaçadas.

- RL - Usos visando a recuperação, SAFs, usos sustentável.

- Usos visando a complementação de renda da propriedade.

* - Não pode haver a sobreposição das APPs com a Reserva Legal.

** - Este uso está vinculado a um projeto de pesquisa ou método reconhecido (FATMA, EPAGRI, Universidades).

Outros usos: pousio, nativas plantadas, compensação de áreas, créditos florestais, mel, água, turismo rural.

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3 - Regularização da Pequena Propriedade ou Posse Familiar

A pequena propriedade rural já inscrita no CAR através do endereço eletrônico

http://www.cadastroambientalrural.sc.gov.br/ que possuir alguma pendência em relação ao

registro da área de Reserva Legal e à recuperação das Áreas de Preservação Permanente

deverá regularizar-se da seguinte forma:

3.1 Regularização da Reserva Legal

Para os imóveis de até 4 módulos fiscais que não possuem 20% de vegetação nativa a

Reserva Legal será representada pelos remanescentes de vegetação existentes na propriedade

em 22 de julho de 2008. Não será permitido o corte raso de qualquer área de vegetação

natural na propriedade.

Quem desmatou depois de 2008 deve:

(i) recompor a Reserva Legal;

(ii) permitir a recomposição natural;

(iii) compensar a Reserva Legal em outra propriedade que pode ser do mesmo

proprietário ou de outro, ou

(iv) adquirir Cota de Reserva Legal - CRA.

É permitida a inclusão de Áreas de Preservação Permanentes - APPs na Reserva Legal desde

que não implique no corte de novas áreas da propriedade e que se mantenha o mesmo regime

de uso das APPs.

(Sessão III do Capítulo XIII da Lei 12.651/2012; Sessão III do Capítulo V-A do Título IV

Lei Estadual 16.342/2014).

3.2 Regularização das APPs

São consideradas áreas consolidadas aquelas com atividades agrossilvipastoris e benfeitorias

existentes até a data de 22 de julho de 2008, com a devida comprovação.

É permitida a manutenção de residências e benfeitorias em áreas consolidadas para

manutenção das atividades agrossilvipastoris.

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APPs de cursos d’água em áreas rurais consolidadas:

Em área rural consolidada com atividades agrossilvipastoris é permitida a continuidade

destas atividades, entretanto há a necessidade de recuperar uma faixa mínima da APP de

acordo com o tamanho do imóvel rural:

Outras APPs:

Em áreas consolidadas é permitida a manutenção das atividades agrossilvipastoris:

· no entorno de nascentes e olhos d`água perenes, devendo recompor no mínimo 15

metros de raio;

· no entorno de lagos, lagoas naturais, para a pequena propriedade, deve-se recompor a

mesma faixa que em cursos d’água, ver tabela acima.

Nas APPs de declive e morros é permitida a manutenção de cultivo florestal de exóticas já

consolidado.

(arts. 61-A, 61-B e 63 da Lei 12.651/2012; arts. 121A, 121B, 121C da Lei Estadual

16.342/2014).

Glossário

- área de preservação permanente (APP): área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, cuja função ambiental é preservar os recursos hídricos. a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (art. 28° da Lei Estadual 16.342/2014). - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossiIvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio (art. 28° da Lei Estadual 16.342/2014).

Tamanho do Imóvel Rural (módulos

fiscais)

Faixa de Recomposição da

APP (m)

Área Máxima de APP

Até 1 5 10% da

Propriedade

1 a 2 8 10% da

Propriedade

2 a 4 15 20% da

Propriedade

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- atividade agrossilvipastoril: aquelas relacionadas á agricultura. pecuária ou silvicultura, efetivamente realizadas ou passíveis de serem realizadas, conjunta ou isoladamente, em áreas convertidas para uso alternativo do solo, nelas incluídas a produção intensiva em confinamento (tais como, mas não limitadas á suinocultura, avicultura. cunicultura, ranicultura, aquicultura) e a agroindústria (art. 28° da Lei Estadual 16.342/2014).

- cadastro ambiental rural - CAR: registro público eletrônico, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento (art. 2° do Decreto Estadual 2219/2014)

-campos de altitude: ocorrem acima de 1500 (mil e quinhentos) metros e são constituídos por vegetação com estrutura arbustiva e/ou herbácea, predominando em clima subtropical ou temperado, definido por uma ruptura na sequência natural das espécies presentes e nas formações fisionômicas, formando comunidades floristicas próprias dessa vegetação, caracterizadas por endemismos, sendo que no Estado os campos de altitude estão associados á Floresta Ombrófila Densa ou à Floresta Ombrófila Mista (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- espécie exótica: aquela que não é nativa da região considerada (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema abjeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá inicio a um curso d'água (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- olho d'água: afloramento natural de lençol freático, mesmo que intermitente (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- pousio: prática de interrupção temporária de atividades agrossivilpastoris, por, no máximo. 5 (cinco) anos ou de acordo com recomendação técnica, para possibilitar a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

- recuperação ambiental: constitui toda e qualquer ação que vise mitigar os danos ambientais causados, que compreendam, dependendo das peculiaridades do dano e do bem atingido, as seguintes modalidades: a) recomposição ambiental, recuperação in natura, ou restauração: consiste na restituição do bem lesado ao estado em que se encontrava antes de sofrer uma agressão, por meio de adoção de procedimentos e técnicas de imitação da natureza; b) recomposição paisagística: conformação do relevo ou plantio de vegetação nativa, visando à recomposição do ambiente, especialmente com vistas à integração com a paisagem do entorno; c) reabilitação: intervenções realizadas que permitem o uso futuro do bem ou do recurso degradado ante a impossibilidade de sua restauração ou pelo seu alto custo ambiental; e d) remediação: consiste na adoção de técnica ou conjunto de técnicas e procedimentos visando à remoção ou contenção dos contaminantes presentes, de modo a assegurar uma utilização para a área, com limites aceitáveis de riscos aos bens a proteger; (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).

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- serviços ambientais: funções imprescindíveis desempenhadas pelos ecossistemas naturais e úteis ao homem, tais como a proteção de solos, regulação do regime hídrico, controle de gases poluentes e/ou de efeito estufa, conservação da biodiversidade e belezas cênica

- várzea de inundação ou planície de inundação: área marginal a cursos d’água sujeita a enchentes e inundações periódicas (art. 28 da Lei Estadual 16.342/2014).