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“FAU USP debate o Plano Diretor SP” Seminário realizado no dia 13 de Dezembro de 2001 no anfiteatro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Cidade Universitária.

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“FAU USP debate o Plano Diretor SP”Seminário realizado no dia 13 de Dezembro de 2001 no anfiteatro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Cidade Universitária.

Relatório de Seminário

Conclusões e Propostas Temas DebatidosTarefas essenciais do Plano Diretor no atual contexto da cidade; O Plano Diretor face à Política Habitacional e de Inclusão Social; O re-direcionamento do processo de produção, apropriação e uso do espaço urbano; Condições para o resgate do Plano Diretor como instrumento de transformação urbana; Plano Diretor e Operações Urbanas; Plano Diretor, descentralização e sub-prefeituras

FAU USP / LAB_HAB / LAB PLAN / GFAU

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A FAU USP debateo Plano Diretor SPSeminário dia 13 de Dezembro de 2001 5a f

programa dos debates09:00 h Abertura do Seminário Profa.Maria Ruth Sampaio Diretora FAU

09:30h Tarefas essenciais do Plano Diretor no atual contexto da cidade coord. Prof. Luiz Carlos Costa

10:30 h O Plano Diretor face à Política Habitacional e de Inclusão Social coord. Profa. Ermínia Maricato

11:30 h Plano Diretor e o redirecionamento do processo de produção, apropriação e uso do espaço urbano e de sua reestruturação coord. Prof. Candido Malta Campos Fo

14:30h Condições para o resgate do Plano Diretor como instrumento de transformação urbana.

Coord. Prof. Flávio Villaça

15:30h Plano Diretor e Operacões Urbanas

coord Prof. João Whitaker / Mariana Fix

16:30h Plano Diretor, descentralização e sub-prefeituras coord. Profa. Maria Lucia R. Martins

17:30h Conclusões e Encaminhamentosrelator e coordenador Luiz Carlos Costa

Seminário Promovido pela FAU USP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USPLAB_HAB Laboratório de Habitação e assentamentos Humanos / FAU USPLAB PLAN Laboratório de Planejamento Urbano e Regional / FAU USPGFAU Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

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Aa aa Conclu sem PD FAU

CONCLUSÕES E PROPOSTAS DO SEMINÁRIO SOBRE PLANO DIRETORFau USP 2001

Em meados de Dezembro de 2001 foi realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP um Seminário sobre o Plano Diretor de São Paulo, reunindo alunos e professores de planejamento urbano interessados em avaliar e debater os esforços da SEMPLA na formulação desse Plano e colaborar para seu sucesso.

Tendo em vista as contribuições oferecidas, por escrito e verbalmente, pelos expositores e debatedores dos seis temas constantes do Programa do Seminário apresentam-se a seguir as principais conclusões a que ele chegou, remetendo os interessados aos documentos originais juntados a seguir e disponibilizados na Internet.

A primeira conclusão é que, diante dos efeitos da crise urbana fortemente agravada nos últimos anos, um Plano Diretor hoje proposto não pode deixar de centrar-se em alguns problemas que, comprometendo as condições de vida e o funcionamento da cidade, não são passiveis de tratamento por medidas isoladas e de curto prazo, mas exigem mudanças estruturais do processo urbano, apenas realizáveis através de uma estratégia global e duradoura, com a qual todos os principais segmentos da sociedade estejam comprometidos.

Desses problemas chave os mais óbvios são: o impasse da habitação popular que condena uma parcela crescente da população a condições de vida, cujos níveis de precariedade e violência são recordes mundiais; o impasse da circulação urbana no qual a irracional predominância do automóvel é impossível de ser atendida por obras viárias e só terá solução numa ampliação radical do transporte coletivo; o impasse da proteção dos recursos hídricos abrangendo as inundações descontroladas e a perda progressiva dos mananciais.

A segunda conclusão é que o Plano Diretor, ao lado das políticas básicas de habitação e serviços de interesse social, de transportes e de saneamento, terá de conter uma política imobiliária e fundiária e um planejamento urbanístico de conjunto, comprovadamente capazes de alterar profundamente a dinâmica de produção, apropriação e uso do espaço urbano, reconhecida como determinante dos impasses urbanos mencionados.

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Trata-se, como se sabe, de fazer com que um processo, orientado apenas pela lógica do mercado e pelo interesse econômico individual e apoiado nas prerrogativas da propriedade e do capital, passe a ser fortemente condicionado a objetivos democraticamente escolhidos como prevalentes, sejam sociais, como o atendimento do direito dos cidadãos à moradia e serviços essenciais, sejam os da preservação do patrimônio coletivo, público, ambiental e cultural, sejam os relativos à redução dos custos de urbanização.

Para tanto é preciso usar plenamente as prerrogativas criadas na Constituição de 1988 e no recente Estatuto da Cidade que determina ao Plano Diretor instituir dispositivos inovadores em defesa da função social da cidade e da propriedade e da promoção do desenvolvimento urbano. Entre esses dispositivos: a concessão onerosa do direito de construir, a urbanização compulsória, as operações urbanas,…/ Isso passa também por alterações na estrutura urbana da cidade que permitam condicionar o uso do solo à capacidade de suporte da infraestrutura, à redução dos efeitos de segregação social, à preservação de terras destinadas a usos de interesse social e ambiental e ainda . a qualificação de áreas cujo potencial de urbanização deve se renovar para atender novas demandas, inclusive as geradas pela economia globalizada.

Uma terceira conclusão do Seminário é que o Plano Diretor só poderá cumprir seu papel determinante das grandes transformações a serem introduzidas no processo urbano se as principais forças sociais participantes desse processo derem apoio ao empreendimento de formulação do Plano, o que por sua vez depende da confiança que depositarem na maneira de elaboração e aprovação do Plano. Confiança tanto no aspecto objetividade no tratamento das questões críticas da cidade, como no aspecto consistência e democracia na tomada de decisões articuladas no Plano, como ainda no aspecto da operatividade das diretrizes, normas e ações instituídas direta e indiretamente pelo Plano.

Para que tal confiabilidade exista, é de especial importância, que a coordenação do Plano possa demonstrar, em especial:

- que as políticas estratégicas propostas são efetivamente complementares, coerentes e viáveis face à previsão de recursos mobilizáveis no período e às parcerias celebradas com órgãos públicos de todos os níveis, com o setor empresarial e com movimentos populares;

- que o Plano de estruturação urbana proposto é efetivamente consistente, seja na relação entre a ampliação infraestrutural e os limites de uso do solo definidos por zonas, seja na adequação de zonas especiais às políticas correlatas - habitação, preservação ambiental, política imobiliária, - seja na definição de regiões polarizadas compatíveis com subprefeituras e áreas de planejamento local.

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- que o sistema de tomada de decisões encadeadas na formulação do Plano e previsto para sua implementação, seja efetivamente democrático, notadamente quanto ao acesso didático às informações, e quanto às formas de representação da comunidade ou participação direta em debates e deliberações para o planejamento e gestão urbana.

A democracia necessária implicaria em criar condições especiais para que a população sempre excluída dos benefícios da urbanização não seja excluída também do planejamento estratégico supostamente propugnador da inclusão social. É o que ocorreria se os autores do Plano ficassem reduzidos aos representantes do Poder Executivo e seus tradicionais interlocutores da produção do espaço construído, destacadamente empreiteiros e incorporadores imobiliários

A quarta conclusão é que os sumários elementos do Plano Diretor apresentados à discussão pela SEMPLA e as condições e prazos que ela define para a conclusão do projeto de Lei do Plano não asseguram a satisfação dos requisitos para um Plano Diretor efetivamente participativo. Levanta –se assim a inaceitável hipótese de que, mais uma vez, a empreitada da elaboração do Plano Diretor possa não lograr reunir as forças sociais necessárias para alterarar o processo urbano segundo valores e objetivos democraticamente deliberados.

Na verdade avalia-se que não haveria tempo e condições suficientes para o cumprimento de diversas tarefas incomuns mas necessárias a esse Plano Diretor, tais como: a mobilização inédita de toda a Sociedade exigida por um Plano estratégico participativo; constituição imediata de um Sistema de acompanhamento da elaboração do Plano em órgãos de composição democraticamente equilibrada como seriam o Conselho de Planejamento, as Câmaras Setoriais, ou os Conselhos Regionais; elaboração conjugada e mutuamente limitante das políticas públicas, necessariamente traduzidas em estimativas de custos, e de uma política estratégica de mobilização de recursos e repartição de encargos; a programação cuidadosa da aplicação de novos instrumentos da política imobiliária, inclusive em casos piloto; o estabelecimento de negociações com os governos do Estado e municípios da região Metropolitana sobre alternativas concretas de Políticas Públicas que, embora centrais para o Plano Diretor, não podem ser exclusivamente municipais; estudos de simulação e controle conjugados de trafego e uso do solo, usando sistemas de informação e programas dependentes de diferentes agentes e aplicando-os a uma proposta unitária de transporte; formulação de uma Política integrada de uso e ocupação das áreas dos mananciais e de proteção ambiental.

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PROPOSTA

A partir das conclusões apresentadas, o Seminário propõe que o processo de elaboração do Plano Diretor seja revisto no sentido de atender aos princípios e requisitos enunciados até aqui.

Propõe-se em especial que o Plano seja elaborado em duas etapas, das quais a primeira se destine sobretudo à mobilização da Sociedade Civil e à legitimação que só ela pode fazer dos Objetivos, Princípios e Diretrizes Gerais Estratégicas determinantes do sentido, da amplitude e da orientação básica do Plano Diretor. Esse produto corresponde ao que a Constituição de 1988 designa por Política de Desenvolvimento Urbano passível de ser instituída por uma primeira lei integrante do Plano Diretor, análoga àquelas que orientam as propostas orçamentárias.

A segunda etapa se destinaria à definição das diretrizes específicas relativas aos programas, projetos e normas de valor estratégico para o Plano inclusive quanto aos meios e recursos para a implementação, o que dependerá de estudos técnicos e gestões político-administrativas demandantes de tempo e organização.

A existência dessas duas etapas é essencial para estimular a participação da coletividade pois cria a oportunidade de uma primeira definição política das transformações urbanas que a sociedade pretende obter em prioridade, evitando que essas opções essenciais sejam perturbadas pela discussão prematura de alternativas aleatórias de ação, ainda não vinculadas aos objetivos, princípios e estratégias centrais do |Plano.

Complementarmente, foi também proposto incluir na primeira etapa a formulação de um Programa de Ação Imediata destinado a implementação de programas e projetos isolados que, não comprometendo a estratégia global, permitissem antecipar, em casos piloto, experiências inovadoras que dessem maior segurança às propostas de grande escala e já viabilizassem a aplicação controlada de instrumentos de política urbana que o Estatuto da Cidade tornou dependentes do Plano Diretor.

Finalmente, o Seminário manifesta a confiança unanime de seus participantes de que suas criticas e proposições serão devidamente consideradas pela SEMPLA como sugestões construtivas para que o Plano Diretor cumpra plenamente seu papel histórico na reconstrução democrática da cidade. E que, na elaboração deste Plano, a Universidade e a FAU possam prestar, sistematicamente, sua contribuição especifica.

(Relator: Luiz Carlos Costa /jan 2002)

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aa COSTA sem PD FAU 13

Tema 1

Tarefas essenciais do Plano Diretor no atual contexto da cidade

Prof. Luiz Carlos Costa

Importância atual do Plano diretor em São Paulo

A elaboração do Plano Diretor da Capital representa para a sociedade em geral e para a Universidade em particular, uma oportunidade preciosa de se refletir sobre as reais possibilidades que existem do desastroso desenvolvimento da cidade de São Paulo passar a ser controlado, pela Sociedade democraticamente organizada de forma a se conseguir superar os grandes problemas urbanos que neste inicio de século paralisam a cidade, aprofundam suas desigualdades sociais e inibem seu enorme potencial desenvolvimento.

Por seu caráter global e estratégico e por sua inserção especial no quadro institucional do país, o Plano Diretor aparece hoje como um instrumento de excepcional utilidade para que a Sociedade possa definir democraticamente as transformações estruturais a serem prioritariamente imprimidas a cidade e instituir os instrumentos e praticas que concretizem essas transformações. Para tanto a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Cidade de 2001 atribuem ao Plano a tarefa de criar condições necessárias à preservação da função social da cidade e da propriedade. Isso se faria a medida em que se consiga transformar a dinâmica urbana liberal que, apoiada apenas na lógica do mercado e nas prerrogativas do poder econômico, gerou carências e desigualdade cada vez mais graves,. Nesse sentido o Plano Diretor seria uma oportunidade concreta de fazer com que “o novo mundo possível,” proposto pelo Fórum Social Mundial, possa ir sendo construído num contexto significativo para o país.

No entanto uma postura cautelosa sobre essas possibilidades se impõe ante a experiência histórica dos últimos 20 anos, em que fracassaram sucessivas tentativas de formulação e aprovação do Plano Diretor de São Paulo. Ela sinaliza

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que, se as forças sociais em disputa na arena urbana não forem mobilizadas e articuladas adequadamente, o plano pode, mais uma vez, esvaziar-se de seu virtual conteúdo transformador ou ser sumariamente abortado. É o que ocorreu no caso de diversos projetos do Plano Diretor produzidos de forma centralizada e acabada, não essencialmente distinta do estilo tecnocrata tradicional. Nestes casos, apenas puderam influir no projeto alguns segmentos sociais e agentes atuantes no processo urbano, enquanto a maior parte deles permanecia alheia a seu planejamento, pouco confiantes, impedidos ou incapazes de propor as inovações que lhes interessariam vitalmente e pelas quais teriam lutado para aprovar o Plano. Não é de admirar portanto que jamais se tenha conseguido aprovar, qualquer Plano Diretor que, em condições de legitimidade democrática, substituísse o de 1971.

Se o Plano Diretor de São Paulo é hoje mais do que nunca necessário, torna-se fundamental que sua elaboração seja capaz de integrar todas as forças sociais em um processo de planejamento que seja confiável para todos segmentos da coletividade, apesar das contradições que possa existir entre seus interesses e valores. Confiável em sua objetividade para a superação dos impasses urbanos cuja prioridade é unânime. Confiável em sua operacionalidade para gerar os efeitos urbanos e sociais pretendidos, apesar dos limitados recursos mobilizáveis. Confiável sobretudo em sua legitimidade democrática, indispensável à sua sustentação política no curto e no longo prazo, o que depende de não seram excluídas do processo de sua formulação e instituição quaisquer das forças sociais que tenham interesse e direito de influir sobre ele. Muito especialmente as classes populares que hoje, mais do que nunca são excluídas dos benefícios da urbanização.

O posicionamento da Universidade

Enquanto universitários e profissionais que há muitos anos acompanham e participam criticamente da trajetória do Plano Diretor gostaríamos de colocar em discussão alguns requisitos que reputamos fundamentais para que as novas potencialidades do Plano Diretor sejam plenamente preservadas e aproveitadas pela Sociedade. Entendemos essa manifestação como obrigação de cidadania cumprida em todos as propostas de Plano Diretor, pois os estudos e pesquisas que desenvolvemos na FAU, permitiram-nos detectar possibilidades e dificuldades do planejamento, cuja análise deve ser oferecida à coletividade. Além das pesquisas importantes realizadas por outros colegas, notadamente os que hoje vêm trazer seus depoimentos, lembraria a pesquisa que vimos desenvolvendo há mais de 20 anos sobre planejamento global da cidade e da metrópole, a qual foi de certa forma sintetizada em minha tese de doutorado intitulada Plano Diretor, um personagem a procura de seus autores -FAU 1995.

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Aproveitando esse material, procuraremos destacar neste Seminário algumas características do Plano Diretor que acreditamos essenciais à sua missão histórica, principalmente aquelas que não parecem ter sido suficientemente asseguradas na proposta divulgada pela SEMPLA..

Observações quanto ao processo de elaboração do Plano Diretor

Quero adiantar que a análise do sumario material divulgado pela SEMPLA sobre o Plano me fazem crer que o processo de elaboração do Plano delineado e iniciado deveria ser substancialmente revisto, basicamente no sentido de se propiciar na Sociedade um debate técnico e político suficiente sobre as decisões envolvidas no Plano, o que implicaria em consolidar as análises e proposições em curso e ajusta-las às exigências da socialização do processo.

Para termos um quadro referência onde situar algumas considerações sobre o proceso de elaboração do Plano, gostaria de propor um diagrama (anexo) intitulado Articulação das Decisões a Tomar sobre o Plano Diretor, resultante da pesquisa que, em sintonia com outros planejadores, vimos desenvolvendo sobre o tema. Ele identifica uma cadeia de decisões implícitas ao Plano Diretor que permitiriam chegar ao que a SEMPLA reconhece constituir os três principais produtos do Plano, representados pelas três faixas horizontais : as Políticas Estratégicas, o Planejamento Urbanístico ( ou Urbano Ambiental) e o Sistema de Planejamento e Gestão.

O diagrama chama a atenção para o fato de que a formulação do Plano implica numa cadeia de decisões a serem coletivamente tomadas relativas ao processo social de urbanização. Trata-se pois, em cada caso, de ato político, e não apenas etapa lógica ou técnica apenas intelectual – que só pode se configurar e efetivar num contexto democrático mediante o uso de prerrogativas públicas, envolvendo instrumentos legais e administrativos próprias do estado de direito. No entanto essas decisões supõem um processo de legitimação anterior à aprovação legislativa final, que depende da democracia de encaminhamentos anteriores, nos quais é indispensável a participação – consulta e adesão - das diferentes categorias de cidadãos e agentes envolvidos nos processos afetados.

O diagrama mostra também que se trata de um conjunto de decisões interdependentes, cujos principais vínculos são indicados, o que permite evidenciar, por exemplo, que certas decisões não podem ser tomadas antes de outras que as condicionam. Daí decorre que decisões relativas a ações e normas não podem de forma útil preceder a decisões sobre objetivos e princípios, diretrizes estratégicas ou a repartição de recursos, elementos obviamente condicionadores das intervenções finais.

No diagrama é suposto que, em benefício da socialização e da efetividade do planejamento, a elaboração do Plano Diretor se processaria em duas etapas.

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Na primeira etapa o principal desafio para quem promova a elaboração do plano seria promover uma discussão ampliada na Sociedade sobre os objetivos e princípios que ela escolheria como prioritários no período planejado, e sobre as linhas mestras da estratégia que permitiria realiza-los utilizando-se apenas os recursos mobilizáveis nesse período. Dessa discussão, que ao Executivo compete preparar, promover e fundamentar tecnicamente, resultará uma versão da chamada Política de Desenvolvimento Urbano, que a Constituição Federal determina seja integrada e operacionalizada pelo Plano Diretor.

Na segunda etapa de elaboração do Plano, dispondo-se de tempo suficiente e condições adequadas, ( não explicitamente previstos na atual proposta da SEMPLA), três tarefas essenciais se viabilizariam:

- a formulação de diferentes Políticas Publicas de caráter estratégico contendo planos específicos, projetos e programas, com a necessária demonstração de sua coerência com os objetivos e estratégias aprovados na primeira etapa, de sua viabilidade individual e de conjunto face a política de Recursos escolhida e de sua compatibilidade com o Plano Urbanístico.

- a formulação de um Plano Urbanístico consistente, ainda não oferecido a debate pela SEMPLA, devidamente fundamentado em analises territoriais que usem dados e técnicas hoje disponíveis para estabelecer vínculos indispensáveis entre os sistemas que institui em termos de infra-estrutura, uso do solo e parâmetros de preservação ambiental.

- a definição de um Sistema de Planejamento e Gestão de caráter permanente que, depois do Plano Diretor aprovado, dê continuidade ao planejamento estratégico da cidade ampliando e precisando continuamente a implementação do Plano Diretor aprovado e preparando suas próximas versões. O Sistema permitiria também organizar a gestão democrática a nível local e elaborar Planos de bairros e sub-prefeituras e desenvolver Planos setoriais a serem progressivamente detalhados e implementados.

Construir os momentos decisivos do Plano Diretor

Sobre o diagrama de referência podemos destacar, entre outros, três momentos cruciais para o Plano Diretor cumpra seu papel histórico como primeiro Plano estratégico democrático, momentos em que é preciso assegurar condições suficientes de organização e tempo, ainda não previstos inteiramente pela SEMPLA.

O primeiro desses momentos é aquele em que o órgão do Executivo Local encarregado de conduzir o processo propõe à comunidade a empreitada de formulação do Plano. Abrange no Diagrama as tarefas de Definição Inicial do Plano, Definição dos Objetivos Centrais a atingir e Implantação do sistema de

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participação da Sociedade Civil no P.D. Nesse momento é fundamental que a grande maioria de cidadãos que ainda ignoram o que é Plano Diretor forme uma idéia clara da natureza e das possibilidades do Plano e perceba a maneira prática de cidadãos e organizações se integrarem na tarefa coletiva de planejar a cidade, construindo decisões articuladas que a levarão a transformações desejadas. Ao mesmo tempo é preciso que se divulgue a visão que hoje se dispõe sobre o processo urbano, seus problemas e perspectivas. E finalmente que se divulgue o elenco já esboçado dos os objetivos centrais por cuja concretização o Plano se justificaria e uniria toda a coletividade.

Quanto aos Objetivos Centrais inicialmente propostos é fundamental que eles incluam as transformações estruturais da cidade, cuja necessidade - social, ambiental e econômica - seja tão evidente que toda a sociedade civil e agentes urbanos sejam desafiados a se comprometer com a concretização das mesmas e participar ativamente do Plano que condiciona sua implementação. É o momento a fixação de metas-compromisso assumidas não apenas pelo Executivo mas por toda a Sociedade mediante deliberação democrática

Para uma convocação poderosa da cidadania o promotor do Plano terá de criar sistemas de comunicação com a Sociedade adequados à natureza do processo de debate e decisão e ajustados à dimensão da população e dos espaços de São Paulo. As providências diversificadas que obviamente se impõe organizar abrangeriam por exemplo o uso da grande mídia –TV, radio, jornais; um uso interativo especial da Internet. Por outro lado é inevitável a criação de diferentes fóruns de representação da Sociedade Civil, inclusive dos movimento populares, organizados de forma a viabilizar a discussão do planejamento urbano e estratégico. Esses Fóruns abrangeriam além de uma Assembléia Central, um conjunto de Câmaras Temáticas para debate de questões relativas a cada política pública, um sistema de Assembléias Regionais (sub-prefeituras ?) que preparariam o debate com as comunidades de base nos bairros e regiões.

Democratizar a definição de Políticas Publicas estratégicas

Um segundo momento crucial, situado sobre o diagrama apresentado, refere-se a definições sobre as políticas públicas. Ou, mais precisamente, às condições de construção socializada de um conjunto de políticas públicas cujas diretrizes estratégicas devem ser fixadas no Plano Diretor. Elas devem propor ações e normas escolhidas não só para atingir objetivos setoriais, como para se apoiarem mutuamente e se viabilizarem em conjunto face ao mesmo volume de recursos passível de ser mobilizado no prazo de vigência do Plano. Daí ser preciso definir simultaneamente um sistema de mobilização de recursos tão grande como o necessário para o alcance das metas-compromisso, mesmo que ultrapassando algo os recursos do município e dos demais poderes públicos atuantes na cidade.

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É o momento em que cabe decidir o quanto dos custos da recuperação da cidade poderá ser repartido com os setores da economia que podem ajudar a viabiliza-los. Em particular aqueles que lucrando com o processo de produção e apropriação do espaço urbano podem se comprometer com parte dos encargos de manter a qualidade urbana e torna-la accessível a todos.

Para essas decisões se darem de forma democrática e consequente é necessário que a proposta do Executivo tenha conteúdos e forma adequado para permitir que se faça, ao nível da Sociedade Civil, uma avaliação clara dos custos e encargos públicos envolvidos em cada Política estratégica e das alternativas mais significativas para o alcance das metas-compromisso. Além disso há que se comprovar que os compromissos e entendimentos com governos e órgãos públicos não municipais atuantes na área estão suficientemente avançados para se poder confiar que as propostas do Plano Diretor deles dependentes serão tomadas a sério.

São essas algumas das informações devidas como justa satisfação aos que pagam a conta e recebem os benefícios das transformações urbanas propostas. É o exigido para transformar propostas tecnicas em decisões politicamente impositivas para os governos e para a própria sociedade. Ao que nos foi dado conhecer a SEMPLA ainda não divulgou os elementos para esse tipo de discussão e decisão.

Finalmente observa-se que pelo porte do interesses envolvidos esse é o momento de se organizar de forma confiável para todas as partes, as negociações públicas para a Política Imobiliária e Fundiária que, além de ampliar as oportunidades de produção imobiliária, deverá impor ao setor privado [proprietários e empreendedores] parte das obrigações da Sociedade no atendimento das necessidades habitacionais e de serviços básicos, da preservação da qualidade ambiental e da funcionalidade econômica da cidade Essa política visaria em especial fazer com que, sob normas e condições confiáveis, parte da valorização imobiliária socialmente gerada e parte das terras ainda não ocupadas fossem destinadas ao equipamento publico e à habitação de interesse social que são (apesar das leis do mercado …) indispensáveis a cidade.

Democratizar a definição de um Plano Urbano Ambiental

Um terceiro momento a destacar sobre o diagrama apresentado, refere-se a formulação do Plano Urbano Ambiental. È quando impõe-se socializar decisões sobre a organização e uso do solo da aglomeração paulistana, que além de ser necessariamente coerente com as políticas anteriores terá de ser mostrar compatível com critérios explícitos de planejamento que possam ser compreendidos e aprovados pelos agentes sociais.

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Essa proposta, ainda não apresentada pela SEMPLA (que se limitou a dela mostrar apenas elementos parciais e desintegrados) teria que demonstrar por análises quantitativas indispensáveis, a consistência dos elementos estruturais fixados para o conjunto da área urbana e seu entorno, tais como: o sistema principal de transportes e vias e outras redes infra-estruturais; as macrozonas caracterizadas pelo montante e limites de população, atividades e áreas ocupadas e construídas; as zonas especiais cuja utilização será limitada por seu uso preferencial para habitação de interesse social, equipamento urbano ou preservação ambiental; e as unidades territoriais hierarquizadas, referidas a pólos urbanos; nos quais teriam de se basear as sub prefeituras e os planos de bairros.

Além disso, para cumprir as tarefas específicas, que lhe foram atribuídas pelo mesmo Estatuto da Cidade, o Plano Diretor terá de definir as condições concretas para a aplicação dos novos instrumentos nele consagrados - outorga onerosa de direito de construir, operações urbanas, urbanização compulsória e outros – isso em casos e localizações que o Plano Diretor terá de estabelecer, coerentemente com o Plano de Estruturação Urbana proposto e com manifestações das comunidades locais.

Uma proposta de reprogramação para o Plano Diretor

Sintetizando nossa proposta para uma reprogramação democratizante do Plano Diretor, apresentamos em anexo um segundo Diagrama intitulado Alternativa de elaboração do Plano Diretor. Além do já proposto e comentado anteriormente, esse diagrama introduz duas alterações que procuram atender a razão evocada em defesa de uma condução mais centralizada e rápida do Plano. Diz-se que uma aprovação mais tardia do Plano iria impedir que nele fossem aprovados dispositivos que condicionam a aplicação de vários dos instrumentos de política urbana de urgente necessidade para o atendimento da população de baixa renda em luta por condições mínimas de habitação e inserção urbana.

Em atenção a essa razão, mas em defesa de uma utilização responsável desses instrumentos propomos que, já na lei que define a etapa inicial do Plano, seja aprovado um Programa de Ação Imediato com a função de adiantar experiências significativas para as estratégias propostas e para a aplicação emergencial de instrumentos de política urbana que o Estatuto da Cidade condiciona ao Plano Diretor, a serem aplicados em casos piloto cuja implementação não prejudique, mas, ao contrario, contribua para a conclusão do Plano.

Propõe-se também a aprovação nessa mesma oportunidade de diretrizes de elaboração de Planos Locais Participativos em casos piloto escolhidos no contexto da cidade a fim de ampliar a experiência de inserção das SubPrefeituras e de bairros organizados no planejamento estratégico.

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Tema 2 a b ermínia 3

Plano Diretor: habitação e outros temas de inclusão social

Profa. Ermínia MaricatoTexto produzido para o seminário sobre o Plano Diretor do município de São Paulo13/12/01 FAU USP

PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

A principal tema de inclusão social se refere à inclusão política. Em outras palavras a emergência dos setores populares como sujeitos políticos – condição que nunca se verificou na sociedade brasileira – é a única forma de reverter osd processos diversos que produzem as carências e as exclusões: saúde, lazer, cultura, educação, habitação, etc. incluindo a melhor distribuição de renda.

O processo de exclusão política é reflexo da ausiencia da participação democrática e do controle concentrado do poder político e econômico . A construção de sujeitos políticos é mais duradoura do que a aprovação de uma lei, no caso o PD, que, sem controle social corre o risco de não ser aplicada como acontece com toda lei que fere interesses dos poderosos.

Como construir sujeitos políticos na formulação do Plano Diretor? Como superar a falta de informações – o analfabetismo urbanístico da maioria da população sobre a cidade com a qual ela convive cotidianamente? Como superar as questões corporativas, pontuais e geográficas qua afetam cada comunidade para substituí-las pela demandas que tem dimensões pública e social? Como superar também o corporativismo dos urbanistas que restrigiram o acesso da maioria a um debate que se fez, históricamente, hermético e inacessível? Como fazer com que a discussão do PD extravase o circuito restrito dos urbanistas, do mercado imobiliário e dos moradores das áreas de uso exclusivamente residencial?

O debate sobre São Paulo deveria fazer parete do currículo da rede escolar municipal (em 10 anos teríamos uma geração de moradores mais informados). Deveria também ser levado a todos os bairros, sindicatos, associações. Como proposta prática, sugerimos que a prefeitura produzas um kit com um diagnóstico crítico dos problemas da cidade evidenciando o acesso desigual aos benefícios urbanos – e treine algumas dezenas de estagiários, estudantes universitários, para disseminar as informações e orientar o debate para a formulação de prioridades ou diretrizes do Plano Diretor, com ampla participação social.

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Não há condições de detalhar aqui, não á a finalidade dedtas poucas linhas, o desenvolvimento desse processo que tem tomado formas diversas em municipalidades que buscam definir o PD com participação democrática (Diadema, em 1993/96 e atualmente; Angra dos Reis 1789/92; Belém, atualmente; Porto Alegre 1993/96, entre outros).

De acordo com o Estatuto da Cidade, os orçamentos municipais anuais, deverão seguir as diretrizes do Plano Diretor . Essa proposta simples – mas difícil de implementar – anularia na prática, os poderosos lobbies que sempre atuaram sobre os orçamentos municipais.

1 - A partir dessas observações, a primeira recomendação para a inclusão social no texto do PD é:

a) Definir as diretrizes do PD por meio de um amplo processo de participação popular

b) Definir um conselho de representantes que acompanha a elaboração e a implementação do PD especialmente do orçamento annual segundo as diretrizes do PD.

TRANSPORTE PÚBLICO

Podemos adiantar algumas dessas prioridades indiscutíveis, baseadas nos gritantes problemas que afetam de forma desigual a população paulistana.

transporte público coletivo deve ter prioridade absoluta sobre o transporte individual.

A prioridade que foi dada, ao longo da história de São Paulo, ao urbanismo rodoviarista, mesmo se sua gestão tivesse tido uma condição mais contínua e racional, tem sido um grande qeívoco para o desenvolvimento de uma das maiores aglomerações do mundo.

Várias pesquisas (metrô 87/97) mostram o fenômeno do “exílio na periferia” (tese do prof. Milton Santos), isto é, a imobilidade que marca a vida dos moradores dos bairros periféricos verdadeiros depósitos de gente e também guetos de pobreza homogênea- Quero me referir especialmente aos jovens que dificilmente saem do bairro devido à deficiência dos transportes. Nesses bairros não há atividades de lazer, culturais ou esportivas. O restante da cidade é quase inacessível. É inútil lembrar do impacto desse fato na violência que aí se verifica e que se espraia para toda a cidade.

Sem detalhar mais as afirmações aqui feitas, queremos enfatizar a segunda proposta de inclusão social.

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2 - Prioridade ao transporte coletivo público, nos investimentos e na gestão urbana, buscando levar maior mobilidade aos moradores dos bairros periféricos

Planos técnicos de integração modal de transportes na região metropolitana e município de São Paulo não faltam, mas o setor sudoeste da cidade tem sido privilegiado pelos investimentos.

HABITAÇÃO

Sem ampliar a oferta de moradias populares (HIS) tanto pelo mercado privado, quanto pelo poder público não há como salvar São Paulo da predação ambiental, da deterioração urbana e da segregação territorial.

Atualmente o mercado imobiliário atinge o patamar mínimo de 12 sm deixando sem alternativa mais de 60% da população de São Paulo. Os diversos níveis de governo não tem conseguido atender nem mesmo 10% da população excluída do mercado. As consequências da falta de alternativas, salta aos olhos nas várzeas inundáveis à leste, áreas de mananciais ao sul, Serra da Cantareira ao norte, nas beiras dos córregos e nas áreas de risco em toda a cidade.

As resistiencias para democratizar o acesso à moradia e à cidade numa sociedade do passado recente escravocrata, são muitas. É preciso ampliar a produção da chamada HIS – Habitação de Interesse Social pelos governos, pelo mercado imobiliário, pelas cooperativas, pelas associações e por quantos parceiros mais se apresentarem.

E é preciso induzir e até mesmo tornar compulsória a promoção da HIS nas eareas bem servidas de infra-estrutura urbana visando impedir a expansão horizontal da cidade sobre áreas ambientalmente frágeis.

3. O PD deve fixar claramente as áreas de aplicação dos instrumentos do Estatuto da Cidade, que podem instituir a função social da propriedade:

utilização, edificação e parcelamentos compulsórios, IPTU progressivo e desapropriação com títulos da dívida pública.

direito de preempção

Nesse sentido o PD deve buscar a reversão do esvaziamento do centro histórico de São Paulo, que apresenta 20% dos imóveis vázios, desenvolvendo um plano específico que preveja um mix de moradia, atraindo classe média, mantendo os moradores de baixa renda e ampliando HIS.

Para ampliação da oferta de moradias o PD deverá remeter à medidas de racionalização dos procedimentos municipais relacionados ao HIS.

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4 - Os instrumentos do Estatuto da Cidade deverão se combinar às ZEIS para:

a) ampliar a oferta de HIS

b) recuperar e regularizar áreas que apresentam congestionamentos habitacional, deterioração urbanística e ambiental (cortiços, favelas e loteamentos ilegais)

O PD deverá remeter com prazo determinado, a um plano de urbanização e regularização de favelas e loteamentos ilegais, onde vivem mais de 4 milhões de paulistanos, comprometendo em sua execução o executivo, a câmara municipal e um GT composto por representantes do Judiciário, Ministério Público, cartório de Registro de imóveis , governo estadual e governo municipal. Desse encaminhamento resultará o entendimento para a aplicação da usucapião especial urbana, da usucapião especial urbana coletiva e a concessão de direito especial para moradia social (MP2220).

Esse plano deverá incluir projetos e despesas para a remoção dos moradores de áreas de risco as remoções determinadas por obras públicas e áreas com problemas incontornáveis de fragilidade ambiental.

Outras medidas destinada à produção de HISD:

5 - Empreendimentos que produzirem HIS poderão ficar isentos da outorga onerosa apesar de utilizar ampliação do potencial construtivo.

6 - A outorga onerosa poderá ser paga em HIS

7 - O zoneamento deverá prever a localização de ZHIS em:a) corredores de transporte coletivo, ao longo das vias férreas e ao longo das linhas de metrô;

b) nas áreas de Operação Urbana;c) nas áreas industriais (considerando as características atuais da indústria paulistana.

8 - Empreendimentos de grande porte deverão obrigatoriamente contribuir, com uma cota de HIS no próprio projeto. Essa compulsoriedade poderia se dar a partir de terrenos com 5.000 a 7.000 m2.

9 - A prefeitura poderá utilizar a figura do consórcio imobiliário (EC) para a promoção de HIS em parceria com proprietários imobiliários, em áreas de ZEIS.

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JOVENS, VIOLENCIA E TERRITóRIO

Muitos são os temas relacionados à exclusão social que merecem abordagem específica no PD. Dentre as mais relevantes, que são as que nos ocupam aqui, uma exige medidas urgentes pois está comprometendo o futuro de nossa cidade. Trata-se da relação entre jovens e violência nos bairros periféricos. Além deles, o distrito da Sé e Morumbi também estão entre os que apresentam maior número de homicídios em São Paulo. Há evidências científicas de correspondência entre espaço e violência. Em São Paulo o Pro Aim (Secretaria de Saúde da PMSP) mostrou que há uma correspondência entre os bairros onde morrem mais individuais (predominantemente homens jovens) e o nível de escolaridade, renda, porcentagem de negros na população, porcentagem de moradores de favelas… enfim, há correspondência entre a violência, a pobreza, e a ilegalidade/precariedade urbanística.

As regiões que apresentam números epidêmicos de homicídios e outras formas de violência (contra a mulher, contra a criança) exigerm Planos de Ação emergentes que integrem políticas de cultura, esportes, lazer, educação, saúde, habitação e meio-ambiente, além das políticas específicas como bolsa escola, renda mínima, qualificação profissional, etc. A recomendação para o PD é a seguinte:

10. Constituir grupos intersetoriais da administração municipal para a elaboração, no prazo de quatro meses, de Planos Emergenciais de Ação em distritos classificados pela violência epidêmica com participação de representantes dos moradores. Destacar, nos Planos de Ação as atividades voltadas para os jovens e crianças.

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Tema 3 ac candido

Plano Diretor e o redirecionamento do processo de produção, apropriação e uso do espaço urbano e de sua reestruturação

Para aprofundar o debate do Plano Diretorcom a participação organizada dos grupos-atores das cadeias produtivas de problemas e soluções.

Prof. Candido Malta Campos Fo

Sendo a única forma de obtermos um Plano Diretor representativo dos

vários interesses, muitas vezes conflitantes, presentes na comunidade paulistana, a de identificarmos os mesmos e buscarmos que seus representantes se apresentem para o debate, não basta realizarmos debates genéricos nos quais o público ao qual se dirige é indiferenciado, quando se trata, por exemplo, de debates convocados pelas administrações regionais, ou é muito específico, como por exemplo nos debates realizados no Instituto de Arquitetos, Instituto de Engenharia ou SECOVI.

Embora tais debates de assuntos genéricos sejam importantes tanto para públicos gerais como para específicos, devemos ser capazes de desenvolver debates nos quais os grupos- atores relacionados a produção de determinado problema e portanto à sua solução, sejam convidados a participar de uma sua análise e discussão, visando concretamente definir uma agenda de ações capazes de solucioná-lo. Decorre daí que o prazo definido para a abrangência do Plano Diretor deve ser variável para cada problema enfrentado, dependendo da necessidade temporal resultante de tal agenda de ações a serem implantadas

O que estamos denominando de grupos-atores são grupos sociais organizados preferencialmente em entidades que as representem, que participam de um processo social de produção e por isso de solução de determinado problema urbano.

Tratando-se de um Plano Diretor da Cidade de São Paulo do porte de 10 milhões de habitantes inserida em uma metrópole de 15 milhões de habitantes, é preciso saber destacar a solução dos problemas principais, como sendo o que constituirá o seu conteúdo próprio.

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Propomos destacar 3 (três) grandes problemas estratégicos que são importantes a tal ponto de serem capazes de, em não sendo suficientemente encaminhada sua solução, colocar em dúvida a sustentabilidade sócio- ambiental da metrópole paulistana. Esses problemas são:

1- os congestionamentos crescentes de tráfego ;

2- o crescente risco de perdermos os mananciais de água que circundam a metrópole face a ocupação acelerada das suas bacias por usos urbanos;

3- a redução crescente da qualidade ambiental da moradia refletida nos rápido aumento das favelas, cortiços e bairros de muito baixa qualidade urbanística e de serviços urbanos, enquanto extensas e crescentes áreas da cidade bem infraestruturadas apresentam uma redução de moradores.

Destacados esses três problemas como os principais a serem enfrentados, propomos seja realizado um esforço de definição dos grupos-atores que encadeiam suas ações, alguns como produtores do espaço urbano ou de seus serviços, outros como auferidores de renda fundiária e outros como consumidores do espaço urbano e de seus serviços. Constituiríamos assim camaras especiais de debate, a semelhança daquelas organizadas para definir diretrizes para determinadas cadeias produtivas de determinadas mercadorias, como por exemplo realizado para a indústria automobilística quando empresários e sindicatos sentaram a mesa conjuntamente e procuraram (e conseguiram em determinado momento) um acordo de interesses.

A maior complexidade das “cadeias produtivas” que encadeiam os grupos-atores na produção dos problemas urbanos e porisso de sua solução, do que a de um setor industrial, não deve nos desanimar . Devemos buscar encontra- los, e convida- los para uma participação organizada, pois o prêmio desse esforço será termos finalmente um Plano Diretor que alcançou uma profundidade de discussão envolvendo os legítimos interessados e isso poderemos dizer que, se aprovado, produzirá representatividade e legitimidade.

Com essas condições preenchidas o Plano Diretor terá longevidade, pois os Prefeitos e Governadores que terão a incumbência de implementá- lo se sentirão nessas circunstâncias constrangidos em não seguí- lo. É claro que em discordando do mesmo em algum ponto, ter legitimidade e representavidade para propor a Câmara Municipal a sua modificação.

Mas a comunidade paulistana, se participou anteriormente de um processo de discussão mais amplo, profundo e organizado em que seus interesses foram claramente considerados, saberá como melhor cobrar de seus Vereadores e Prefeitos assim como do Governador e Deputados Estaduais, a manutenção ou alteração do Plano Diretor da Cidade. Não teremos assim um Plano apenas “ para ingles ver “, cujo destino mais provável seria o de enfeitar uma prateleira .

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Para um resumo mínimo de como podemos definir uma cadeia produtiva dos problemas considerados principais ou estratégicos, apresentamos a seguir um breve texto em que se introduz a questão, destacando-se o problema dos congestionamentos, o da provável perda dos mananciais.

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1 Os congestionamentos crescentes são provocados pela entrada em circulação de 350 veículos a mais por dia, significando a necessidade ao longo de cada novo ano de mais 3 avenidas Faria Lima de 8km, cada. É preciso discutir e demonstrar a impossibilidade de nós paulistanos arcarmos com o custo de sua implantação. É preciso dimensionarmos o dinheiro que seria necessário para isso para mostrarmos a inviabilidade de pagarmos essa conta. Com isso, mobilizaremos a cidade em favor de um transporte coletivo de qualidade, principalmente o metrô, que, segundo os técnicos, terá um custo bem menor. E para não inviabilizarmos a indústria automobilística, teremos que adotar a solução apresentada pelas cidades européias metropolitanas. Automóvel tem que ser para passeio para a maioria dos cidadãos. Com isso, todos continuam comprando automóveis, apenas usando-os menos.

É preciso equacionar nesse quadro como o Estado e Prefeitura tem que trabalhar em conjunto, já que o metrô é estadual.

Uma malha de micro-ônibus no centro expandido como tenho defendido e já está no Plano Metropolitano de Transporte PITU- 2020 poderá ser a necessária primeira etapa de um sistema substituto do uso do automóvel enquanto se expande a malha do metrô. Poderá ser um verdadeiro pré-metrô, dando um folego para nós como transporte coletivo de qualidade, uma alternativa para os que sofrem com o rodizio.

2- O crescente risco de perdemos os mananciais das bacias da Billings, da Guarapiranga e da Cantareira ocorre pela progressiva invasão dos usos urbanos. Como é importante e já está prometido, teremos em certo prazo a instalação de um sistema de coleta de esgotos pela Sabesp, do governo Estadual. No entanto esse sistema não irá possibilitar a eliminação da poluição difusa carreada para as represas pela lavagem das superfícies especialmente das ruas sujas por exemplo por óleo “queimado”, que cae dos veículos, e do pó derivado do desgaste dos seus pneus, que contém substâncias cancerígenas e mutagênicas. Por isso há um limite para essa

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ocupação a ser definido pelo Governo Estadual, pelas Leis Específica de Proteção aos Mananciais para as sub- bacias da Billings e Guarapiranga em estudo pela Assembléia Estadual e com as quais o Plano Diretor terá que manter coerência. Não há nada a respeito por enquanto no Plano Diretor proposto pela Prefeitura. Também, se não é redirecionada a maré de usos urbanos especialmente de habitações populares que está indo em direção aos mananciais para outras regiões da metrópole ou do Estado, através de uma politica habitacional que combine ação municipal e estadual, essa ocupação não será desviada e esse processo social continuará,e o resultado será a perda dos mananciais devido a poluição difusa de origem diversa dos esgotos e por isso não controlável.

3 Em suma, com esses dois exemplos quizemos mostrar a sociedade que o Plano Diretor não pode ser um simples coleção de ações isoladas. Elas precisam estar associadas entre si e referentes as lógicas sociais em curso que tem que ser redirecionadas. Podemos falar em cadeias produtivas de problemas e soluções. Se essas lógicas não são mencionadas e discutidas, a população não é esclarecida e não saberá como apoiar as medidas necessárias para a a sua reversão. E o Plano Diretor se transformará em uma somatória de ações sem força política para a sua implementação.

4 A Lei de Responsabilidade Fiscal associada ao recém aprovado Estatuto da Cidade implica que o Plano Diretor tem que estar baseado em uma estimativa responsável de recursos necessários comparados com os potencialmente disponíveis.

Isso porque o Estatuto da Cidade obriga que os orçamentos anuais e plurianuais sejam coerentes com o Plano Diretor. Não é possível faze-lo sem discutir origens e destinações de recursos. E como a disputa de recursos se faz basicamente entre a área social (especialmente as áreas que não sejam educação e saúde, pois estas já têm reserva de recursos definidas em lei), e a área de infraestrutura urbana, essas políticas de distribuição de recursos são questões centrais do Plano Diretor.

Em sua versão divulgada até agora não é apresentada nenhuma política social e ,no que se refere a infraestrutura, o plano só lista obras a serem feitas, sem nenhuma quantificação de quanto deverão custar e por isso não podemos saber se são promessas mirabolantes ou sensatas.

5- Um plano que utilize como estratégia política para a sua aprovação apresentar apenas o lado positivo das questões urbanas, deixando de lado a discussão incômoda de o que está produzindo os problemas, arrisca-se assim a ilusoriamente parecer ser fácil de aprovar. Poderá até tal estratégia, que poderíamos chamar de “bom mocista”, facilitar tal proposta

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ser aprovada, mas não conduzirá a sociedade a solução dos problemas como os citados, pois essa passa pela contrariedade de certos interesses da sociedade, os quais tem tido força política para barrar a verdadeira solução dos problemas que enfrentamos. Sem conhece-los e sem que haja mobilização da sociedade para enfrentá-los, eles continuarão a atuar nos bastidores do poder e boicotarão os esforços que serão então desarticulados e por isso não produzirão o necessário apoio maciço da sociedade, da imensa maioria dos cidadãos que sofrem as consequências desses processos, que nada sabendo, não se organizarão para defender seus interesses.

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Tema 4 aa villaca

Condições para o resgate do Plano Diretor como instrumento de transformação urbana.

Prof. Flávio Villaça

ROTEIRO DE PALESTRA

Parte-se da idéia de que a falta de interesse que os planos diretores tem despertado nas últimas décadas decorre do fato de serem eles despolitizados. A despolitização é a fragilidade básica dos Planos Diretores.

Procura-se então investigar a causa dessa despolitização. Ela decorre do fato de que os planos diretores históricamente vem sendo utilizados para esconder e camuflar os problemas urbanos e não para resolve-los.

São colocados então alguns estratagemas que tem sido utilizados nessa camuflagem. Todos eles tem a característica central de fazerem dos planos diretores uma peça mais intelectual do que política. Assim forjou-se uma idéia de plano diretor, que vamos apresentar através de indagações. Essas indagações foram suscitadas pela análise de planos diretores elaborados nas últimas décadas e que ainda hoje suscitam dúvidas e polêmicas entre os urbanistas ( para não falar da imprensa, dos políticos, e das lideranças sociais em geral).. Elas correspondem a “concepções” de plano diretor e mostram até que ponto há profundas dúvidas e divergências quanto ao que deva ser um plano diretor.

1 – Um plano diretor deve limitar-se a um conjunto de “Princípios Gerais” ou deve conter predominantemente dispositivos auto-aplicáveis? Resposta afirmativa à primeira parte da pergunta foi dada, por exemplo, pelo Grupo dos 12 constituído por empresários que, no final do mandato da prefeita Luisa Erundina, se opôs ao Projeto de Lei do Plano Diretor então elaborado pela Secretaria Municipal do Planejamento.

2 – Deve o plano diretor limitar-se aos aspectos de organização territorial da cidade e do município, ou deve ele abordar também os aspectos não físicos ( obras) e não físicos ( formação de pessoal, filosofia de prestação dos serviços etc) de, por exemplo, a saúde? A educação? A administração pública? A assistência social? A recreação e esportes etc? Tendo em vista

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que pela constituição brasileira, o executivo ( federal, estadual ou municipal) tem autonomia para executar as obras que bem entender ( desde que siga o orçamento) , qual o sentido que tem os Planos de Obras que individualizam obras a serem executadas pelo prefeito? Como executar um plano não físico, que não seja meramente proibitivo, e que extrapole o mandato de um prefeito e que respeite a autonomia do executivo e seus auxiliares? É o “plano camisa de força” aplicado ao próprio governo?

3 – Deve o plano diretor abordar todos os problemas da cidade e do município, independentemente de serem eles ou não da competência municipal? Note-se que o Plano apresentado na FAU pelo Secretário Jorge Wilheim tinha aspectos que extrapolavam a competência municipal como, por exemplo, um trem para atender o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos.

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Ae mari fix semi FAU 2

Tema 5

Operações Urbanas no Plano Diretor proposto por Sempla

Prof . João Whitaker / Mariana Fix

1 - É grande a distância que separa discurso e prática no caso das Operações Urbana:

Seriam um instrumento capaz de captar parte dos ganhos do mercado imobiliário para financiar melhorias na própria região, sem a utilização de recursos públicos

mas em todas já realizadas em São Paulo houve gastos iniciais da Prefeitura

além dos recursos diretamente empregados, as Operações utilizam a capacidade de ação da Prefeitura e seus técnicos que é também limitada

depois de realizadas podem aumentar os gastos com custeio das regiões atendidas

nas experiências européias (costumeiramente apontadas como modelos) há uso de recursos públicos ou financiamento da comunidade européia

Poderiam ser aplicadas na cidade toda, como intervenções pontuais custeadas pela arrecadação obtida da venda de potencial construtivo ou da mudança de uso

as próprias características do instrumento fazem com que sua aplicação ocorra nas regiões mais dinâmicas do ponto de vista imobiliário, que em uma cidade dual como São Paulo, com tamanha disparidade entre setores integrados e excluídos, são aquelas que já concentram a maior parte dos investimentos, tanto públicos, quanto privados.

o fato de supostamente não utilizarem recursos públicos tem sido utilizado para justificar obras não prioritárias em São Paulo

os recursos públicos são limitados e esses investimentos ocorrem em detrimento de outros, menos concentrados

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a maior parte da cidade está fora do mercado e das leis de regulação do uso do solo

Conclusões: as Operações não devem ser a base de uma política urbana em São

Paulo não devem ser utilizadas para justificar obras não prioritárias

2. - No folheto da Sempla há uma breve justificativa sobre as Operações Urbanas:

“Destinam-se a organizar e revitalizar certas áreas da cidade, concentrando investimentos, criando espaços públicos, gerando eixos e pólos de centralidade e atração da vida urbana”. Em seguida são listadas as 3 operações em vigor, mais 13 novas.

Na apresentação da proposta, o Secretário apresentou o objetivo que orientará todas as operações: “Conjunto de intervenções inseridas em determinada área por lei específica, com objetivo de criar espaços públicos, organizar sistema viário, promover programas habitacionais, instalar itens de infraestrutura e permitir volumes construídos beneficiados por outorga onerosa, qualificando a área em questão”

Alguns questionamentos: a quantidade e a importância conferida às operações faz com que se

tornem um dos principais tópicos da política urbana do município não são capazes de enfrentar os problemas mais importantes da cidade,

pelos problemas anteriormente apontados a listagem não define prioridades entre os projetos propostos a definição é insuficiente para garantir o interesse público uma das operações listadas – a Água Espraiada – foi enviada à Câmara

em regime de urgência enquanto o Plano Diretor é ainda debatido isso compromete o debate do Plano, uma vez que na prática já consuma

uma proposta que vem sendo questionada

Críticas foram feitas dentro e fora da Prefeitura a Emurb – coordenadora da operação Espraiada – já afirmou que só

funcionam mesmo as operações de interesse do mercado imobiliário e, portanto, não acredita na viabilidade do conjunto das operações listadas

técnicos de Sempla fizeram críticas públicas às operações

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o grupo de estudos constituído para avaliar as operações fez críticas à Espraiada, Faria Lima e Centro, que não se traduziram em modificações concretas compatíveis tanto na nova operação, quanto na revisão das antigas

3. Proposições possíveis de serem encaminhadas à SEMPLA

avaliar sempre o impacto do conjunto das operações propostas, se for o caso, e não cada uma isoladamente

retirar o projeto da Operação Urbana Água Espraiada da tramitação na Câmara

utilizar a outorga onerosa como previsto no estatuto para utilizar os recursos arrecadados nas regiões mais dinâmicas do mercado imobiliário naquelas que necessitam com mais urgência, fora das centralidades atuais

reforçar as intervenções as intervenções em centros de bairro, de menor custo, mais distribuídas no território, em uma atuação integrada na cidade

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af Malu sem PD FAU

Tema 6

PLANO DIRETOR, DESCENTRALIZAÇÃO E SUBPREFEITURAS

Prof. Maria Lucia Refinetti Martins

FAUUSP, dezembro 2001

Descentralizar a gestão da cidade através de Subprefeituras significa formular / produzir políticas públicas de modo territorializado, particularizando-as para cada pedaço da cidade. Exige a articulação entre política pública e espaço e, fundamentalmente, deve, em sua formulação, contar com a participação da comunidade, cuja ampliação é um dos objetivos inquestionáveis da descentralização.

Pensar o Plano Diretor a partir dessa ótica implica comentá-lo sob alguns aspectos, que devem ser explicitados e assegurados.

1. Aspectos exigidos pelo Estatuto da Cidade

- delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;

- disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 (instrumentos negociais)

- sistema de acompanhamento e controle. (Art. 42)

- plano de transporte urbano integrado compatível com o plano diretor ou nele inserido (obrigatório para cidades com mais de 500 mil habitantes/Art 41)

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- definição de prioridades de ação, já que o Plano Diretor deve orientar a elaboração orçamentária.

Além disso, essas definições devem constar de forma clara e acessível ao entendimento de qualquer cidadão uma vez que as peças orçamentárias não podem ser aprovadas sem anterior participação da população, conforme determina o Estatuto da Cidade:

O Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas (Art.40, § 1º)

A gestão orçamentária participativa incluirá a realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal (Art. 44).

2. Aspectos que devem constar no Plano Diretor, associados a outros projetos municipais:

- Como decorrência do item anterior, algumas definições devem constar no Plano Diretor e nos Projetos de Subprefeituras e de Conselhos de Representantes, de modo compatível:

- Responsabilidades de Planejamento local / central- Explicitação das formas de participação e de seu papel no processo

decisório – o que implica inclusive redefinições na composição da CNLU

- Propostas físico-territoriais que, se forem incluídas no Plano Diretor, devem reforçar a terirtorialização definida pelas Subprefeituras:

- Centralidades- Intervenções Urbanas

3. Referências ao Plano Diretor que devem constar explícitadamente no Projeto de Subprefeituras:

- A constituição das Subprefeituras enquanto unidades territoriais, deverá ser reconhecida no Plano Diretor, devendo a localização de suas sedes ser consoante com as diretrizes urbanas por ele assumidas, seja como

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cetralidades existentes, novos centros ou centros em formação em que se promova a presença do Poder Público.

- A estrutura do sistema de Planejamento deve incorporar as Subprefeituras (enquanto unidades correspondentes ao planejamento local e orçamento participativo). Deve também definir formas de integração / articulação de Subprefeituras em unidades / instâncias maiores, para os projetos ou atividades urbanas que não sejam descentralizáveis até níveis tão pequenos e locais como uma Subprefeitura (considerado o projeto do Executivo que propõe 31 Subprefeituras).

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ANEXOContribuição do Professor Dr. Candido Malta Campos Filho / Sumário do ANEXO

Conjunto 1

Resumo de trabalhos relevantes para o Plano Diretor de sua autoria com comentário introdutório.1.1.1 Política Global de Desenvolvimento Urbano e Melhoria da Qualidade de Vida/

COGEP/ PMSP/ 1980.1.1.2 “A Grande São Paulo: trabalhos e entrevistas de 1965 a 1973”, de nossa

autoria publicado pela FAU USP.

Conjunto 2

Artigos recentes de autoria de Candido Malta Campos Filho discutindo as propostas de Plano Diretor e legislação complementar apresentadas pela Sempla gestão Jorge Wilheim, em 20012.1 Proposta de Documento a ser enviado `a CNLU pelo Movimento Defenda São Paulo onde o movimento se posiciona contra projeto de lei que regulamenta os corredores de vias especiais, anistiando usos irregulares, de autoria da direção do movimento incluindo Candido Malta Campos Filho 2.2 O Estatuto da Cidade e a Comissão de Justiça e Paz, em que Candido Malta Campos Filho como seu membro, expõe posicionamente daquela comissão a seu pedido ( 2 páginas) 2.3 Artigo/ Carta aos Vereadores de São Paulo criticando o projeto de lei de anistia a usos irregulares em corredores de tráfego.2.4 Burguesia ( classe media e alta) ambientalista x burguesia ( classe media e alta) predatória ( 8 páginas), mostrando uma das facetas do malufismo em sua atuação em São Paulo.2.5 Movimento Defenda São Paulo – Perguntas aos Candidatos a Prefeito e Vereador preparadas por Antonio Cunha, Candido Malta Campos Filho, Edson Farah, Fernando Moura Campos e Monica Joseph e respostas de referencia para o movimento preparadas por Candido Malta Campos Filho.(25 páginas )2.6 Correspondencia para a jornalista Annita Costa Malufe completando entrevista dada por Candido Malta Campos Filho, a ser publicada por revista da Escola Politécnica da USP.(3 páginas )2.7“ Como deve ser um Plano Diretor efetivo para São Paulo, (3 páginas ) a ser publicado, comentando e mostrando exemplarmente o que resulta do excesso de

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Introdução

Neste seminário realizado dia 13 de dezembro de 2001, convocado pela FAU USP para debater a proposta do Plano Diretor da SEMPLA-Secretaria Municipal de Planejamento da PMSP, gestão Marta Suplicy sendo secretário do planejamento Jorge Wilheim, quero posicionar-me inicialmente afirmando que a formulação se apresenta “esquálida” ou seja destituida do conteúdo mínimo que se espera de um planejamento de cunho estratégico, para uma cidade de porte mundial, com a complexa problemática sócio-ambiental que apresenta.

Não se pode aceitar que a versão apresentada em um pequeno panfleto de poucas páginas é apenas uma versão de ampla divulgação de um amplo trabalho de base que lhe dá suporte. Esse trabalho não é apresentado e nem a ele se faz referência. É como se não existisse. Presumimos porisso que não exista. Se o mesmo existe deve ser apresentado publicamente para o nosso conhecimento.

Com o sentido de contribuir para um amplo debate público que se espera seja realizado, que utilize o conhecimento acumulado para o qual a FAU USP através de seus pesquisadores tem contribuido, ofereço uma breve resenha dos mesmos segundo os interpreto, combinando entre si não apenas os resultados de pesquisas acadêmicas mas inclusive os trabalhos que coordenei como Secretário de Planejamento da Prefeitura de São Paulo, preparatórios para um Plano Diretor, trabalhos realizados de 1975 a 1981, idêntico em escopo ao que agora mais uma vez tenta-se obter apoio da sociedade paulistana.

Também acrescentarei as conclusões principais a que se chegou quando foi elaborado o PMDI-Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado, desenvolvido pelo Governo Estadual para a região metropolitana de São Paulo, do qual fui um dos diretores, em 1970, que nos parecem ainda inteiramente pertinentes em algumas questões básicas de estruturação do espaço urbano.

Quanto ao primeiro conjunto de trabalhos apresentados

No que se refere ao primeiro conjunto de 2 trabalhos apresentamos os seguintes comentários para ilustrar a sua relevancia para a atual discussão do Plano Diretor:

1.1 O primeiro e principal trabalho é a Política Global de Desenvolvimento Urbano e Melhoria da Qualidade de Vida/COGEP/PMSP/1980.

Esse documento antecipou em 18 anos a exigência do artigo 182 da Constituição Federal que o Plano Diretor seja precedido de uma política de desenvolvimento urbano que lhe oriente. Essa foi a orientação que traçamos na ocasião e para isso constituimos equipe de altíssimo nível técnico e com visão política, a maioria constituida por professores da questão urbana da Universidade de São Paulo: Gabriel Bolafi, Lúcio Kovarich, Luiz Carlos Costa, Flávio Vilaça, Milton Campanário, todos da USP e também Volf Steinbaum, José Olinto e João Correa.

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Por outro lado, o seu conteúdo, ao afirmar existir uma crise da cidade e ao explicitar os fatores que a causavam mostrava uma clara consciência da articulação da solução das questões físicas de ordenação do espaço-urbano aos processos sócio-ambientais mais amplos, colocando a disputa pela renda fundiária, ou seja a especulação imobiliária , como um dos focos da problemática envolvida.

Nas suas próprias palavras dizia o documento:“evitou-se metodológicamente contemplar a tradicional relação fastidiosa de carências urbanas, existentes e reais, em confronto com padrões ideais, mas apreender como de fato estas são produzidas na dinâmica sócio-econômica da cidade e suas articulações internas e externas. Ao mesmo tempo, em lugar de propor rol igualmente ideal de investimentos, obras e realizações curativas, intenta-se compreender o papel do setor público em atuação conjunta com a coletividade, nesta mesma dinâmica, com a objetivo de eliminar, deter ou restringir os principais focos geradores da patogenia urbana. Evidentemente, por este caminho se recorta e se explora a dimensão política do conjunto representado pela atividade urbana. Neste sentido, o primeiro capítulo – “A crise da Cidade e o papel da Prefeitura” procura explicitar exatamente o entendimento que se tem da denominada crise.”

Assim por exemplo em sequência afirma que “o consenso forjado na tradição liberal supõe uma percepção da sociedade eminentemente diversa e divergente. Isso significa que a regulamentação dos conflitos passa por canais de negociação e espaços onde naturalmente se confrontam. O comprometimento da qualidade de vida da cidade e os reflexos sobre a sua população estariam assim precipuamente vinculados a ausência destes canais, sustentando-se o locus urbano através de instrumentos de tutela, enquanto se reproduzem interesses privilegiados. Retomar a participação coletiva na realização de diferentes interesses sociais e econômicos numa cidade negociada é examinado e proposto como alternativa capaz de enfrentar a crise gerada pelo desenvolvimento desigual apontado, enfatizando-se o instrumental existente a ser reivindicado pelo setor público em almejado novo papel” (…)

“Os problemas urbanos passaram a estar intimamente conectados com as vicissitudes de um processo de crescimento que trouxe novas exigências para a realização da dinâmica produtiva e para a reprodução de crescente contingente humano, que necessita de serviços mais diversificados para reproduzir-se biológica e culturalmente na cidade. Ademais, o papel do Estado nos seus diversos níveis de Poder mudou radicalmente, passando a ter atuação decisiva no processo sócio-econômico: tornou- se agente fundamental para a expansão econômica e elemento vital na criação de serviços de consumo coletivo básico para a população. Em outras palavras, o Estado apresenta- se como estratégico para a reprodução do capital que se opera na escala crescentemente ampliada e para a força de trabalho, demandatária de serviços sociais e de infra- estrutura compatíveis com determinados níveis de subsistência que, historicamente, se mostram insatisfatórios nos seus aspectos essenciais.

Evidencia-se, assim, que a cidade passou a exigir complexa aparelhagem de serviços urbanos, físicos e sociais, que desse respostas efetivas `as crescentes necessidades geradas pelo desenvolvimento. Neste ponto, a questão da falta de recursos ressurge como o príncipal entrave para solucionar problemas que são constantemente adiados e agravados. Esta é uma questão real. Entretanto, por si só, a falta de recursos para melhorar e ampliar os serviços da cidade não pode ser apontada como causadora do acirramento dos problemas existentes em São Paulo. Muito menos pode-se afirmar que os problemas seriam solucionados se houvesse maior vulto de investimentos. Tal tipo de colocação prende- se a outra, igualmente falaciosa, que consiste em inverter o problema da falta de recursos: é a posição de cunho malthusiano, segundo a qual São Paulo precisa parar de crescer, pois o incremento da população torna-se cada vez mais desprorpocional em relação aos recursos disponíveis . O ponto central não parece residir na discrepância entre montantes financeiros e de população, na medida em que

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este duplo aspecto da mesma moeda exprime, apenas, as causas próximas e aparentes que geram a assim chamada “ crise da cidade “.

A questão não pode ser localizada no aumento demográfico imperante em São Paulo, que, por sinal, tem diminuído nos últimos anos. Nem pode ser reduzida a uma melhor aplicação de recursos, como se os problemas urbanos pudessem ser solucionados a partir de uma racionalidade de cunho contábil. É claro que uma eficaz aplicação dos recursos constitui meio importante para uma gestão adequada dos problemas emergentes, mas a própria eficácia das intervenções implica opções que transcedem em muito a esfera puramente técnica: ela supõe uma postura política em termos de drenar os benefícios para determinados grupos, a partir de um enfoque de compreensão e intervenção sobre a cidade que detecte e atinja os processos geradores dos problemas urbanos.

Esta postura é essencialmente política num duplo sentido. De um lado, implica jogar com pressões frequentemente divergentes e até antagônicas, o que coloca o imperativo de institucionalizar a gestão dos conflitos de interesses em novos termos; de outro, supõe o ataque `as causas que geram os problemas, o que significa não permanecer na mesma distribuição dos recursos, a partir de uma lógica que repousa na racionalidade tecnocrática, mas alocá-lo em função de um projeto social atrelado a uma concepção de participação que cada grupo deve ter em relação aos benefícios gerados pela sociedade.

A redefinição do papel do governo local, quanto `a intervenção nos processos decisórios que afetam sua população, é numa metrópole como São Paulo ponto crucial. O Poder Público local tem uma função a preencher não só no que diz respeito `a ordenação do espaço físico da cidade mas, sobretudo, no que toca `a abertura de espaços sócio-econômicos e políticos de sua população, aspectos que serão desenvolvidos nos capítulos 2 e 3 deste trabalho.

Contudo, sem minimizar seu papel de agente condicionador de processos sociais abrangentes ligados `as condições de vida da população, o ponto de intervenção do Poder Municipal parece centrar-se estrategicamente na produção e ocupação do espaço urbano, entendidos como a espacialização de agentes econômicos e da população. Neste particular, convém apontar que o setor imobiliário, frequentemente marcado por práticas eminentemente especulativas, tem acirrado o crescimento caótico da cidade. É importante ressaltar que o Poder Público também se constitui num elemento que, direta e indiretamente , vem servindo ao processo de especulação imobiliária. Para ficar nos aspectos aparentes, basta mencionar a legislação de uso e a espacialização diferenciada dos seus investimentos que agudizam a valorização imobiliária. Tal fato exacerbou a expulsão das camadas pobres das áreas que foram beneficiadas por melhorias urbanas, levando a uma “periferização” de grande contingente humano que, devido `a sua renda, só pode viver em locais distantes e desprovidos de infra-estrutura.

Aponte-se neste particular, que grande parte da população paulistana só tem possibilidades de se fixar em São Paulo em favelas, cortiços ou nas casas precárias da periferia, em terrenos, na maior parte das vezes, clandestinos. Essa forma de fixação, como é obvio, só pode agravar a depredação ecológica do tecido urbano, levar a um maior desgaste das populações que vivem em áreas caracterizadas pela precariedade ou inexistência de serviços de consumo coletivo, bem como aumentar em muito os custos de urbanização. Cria-se, assim, crescentes necessidades de injetar recursos públicos em transportes, água, esgoto, pavimentação etc. que pouco beneficiam as populações mais pobres, uma vez que são constantemente expulsas das áreas onde as benfeitorias são injetadas. Estabelece-se, dessa maneira, verdadeiro círculo vicioso, pois não são atingidos os processos geradores destes problemas, cujas dimensões tendem a se agravar. Neste ponto, a assim chamada “ crise da cidade” e a tecla da insuficiência dos recursos assumem seu pleno significado: ou se atacam

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estes processos ou sempre haverá crescentes crise e faltas de recursos”. (grifo nosso). Terminando a citação de alguns trechos do citado documento Política Global publicado em 1981, outras citações relevantes para o Plano Diretor por sua estrema oportunidade como com relação a criação de sub- prefeituras poderiam ainda ser acrecentadas mas não o fizemos por economia de espaço nesta simples introdução. No entanto nos parece importante fazer um comentário final.

Vários dos instrumentos agora previstos no Estatuto da Cidade foram pioneiramente definidos em nossa gestão. Assim é o caso do solo criado ou outorga onerosa e o IPTU progressivo no tempo penalizando a retenção de vazios urbanos. O modo de aplicá-los, através de planos diretores de desenvolvimento urbano, foi neste documento da Política Global de Desenvolvimento Urbano e Melhoria de Qualidade de Vida, estrategicamente formulado.

Acreditamos assim que esse conhecimento acumulado pela SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento da Prefeitura de São Paulo através do organismo que lhe antecedeu, a COGEP-Coordenadoria Geral do Planejamento, nas gestões dos Prefeitos Olavo Setubal e Reynaldo de Barros de 1976 a 1981, representa valioso enfoque, como podemos ver, ainda atual, com condição de poder orientar um Plano Diretor por ser capaz de encaminhar soluções mais estruturais e não meramente paliativas ou compensatórias que apenas minimizam ou mitigam eventuais efeitos perversos sócio-ambientais.

1.2 - “ A Grande São Paulo: trabalhos e entrevistas de 1965 a 1973”, de nossa autoria publicado pela FAU USP.

Este trabalho resume proposições urbanísticas que desenvolvemos naquele período que consideramos ainda atuais. Destacamos a proposição de forte adensamento ao longo da orla ferroviária levando centralidades de qualidade metropolitana ao conjunto da metropole através do que denominamos de Corredores Metropolitanos. Devem ser implantados ao longo das ferrovias que por sua vez se localizam ao longo dos 3 principais rios com suas avenidas marginais. Constituirão assim o “esqueleto”ou estrutura urbana principal a ser desenvolvido por planos diretores metropolitanos e municipais.

Hoje muitos planejadores urbanos e urbanistas defendem a mesma estratégia para a geração de centralidades de melhor qualidade nos espaços periféricos.Entendemos que sua interligação com as centralidades historicamente estabelecidas ao longo das ferrovias constituirá aos poucos esses corredores metropolitanos, tornando menos desiguais as centralidades dos centros historícos e as novas centralidades a serem implantadas.

O nosso trabalho para a Prefeitura de Santo André entre 1998- 2000 denominado por ela de Eixo Tamanduateí com seus 8 Km de extensão, corporifica e pormenoriza as diretrizes gerais que propunha em 1965- 1973 para a metrópole e que busquei justificar socialmente com argumentos inclusive de custos de urbanização, comparando estruturas e tecidos urbanos fundados no automovel, no ônibus e no metrô, em minha tese de doutoramento aprovada pela FAUUSP em 1973 “Um desenho para São Paulo: o Corredor Metropolitano como estrutura urbana aberta para a Grande São Paulo”.

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Quanto ao segundo conjunto de trabalhos apresentados

Para o segundo conjunto de 7 trabalhos, que são bem menos extensos porem escritos recentemente, apresentamos nossos comentários que mostram a sua pertinência para o debate do Plano Diretor de São Paulo.

2.1 Proposta de Documento a ser enviado `a CNLU pelo Movimento Defenda São Paulo onde o movimento se posiciona contra o projeto de lei que regulamenta os Corredores de Usos Especiais anistiando usos irregulares e recriando “operações urbanas corredores” ali propostas possibilitando a verticalização de corrredores em meio a Z1 retomando um projeto de lei da administração PITA. Significaria uma mudança estratégica na legislação de zoneamento, recriando com grande amplitude as operações interligadas que estão sub-judice em razão do pedido de declaração de incostitucionalidade feita por minha iniciativa pelo Movimento Defenda São Paulo, mais o IAB- Instituto dos Arquitetos do Brasil e mais a ANSUR- Articulação Nacional do Solo Urbano, movimento popular pela Reforma Urbana, ao Ministério Publico. ( 10 páginas)

2.2 O Estatuto da Cidade e a Comissão de Justiça e Paz. ( 2 páginas )

2.3 Artigo/ Carta aos Vereadores de São Paulo criticando o projeto de lei regulamentando, anistiando e ampliando corredores comérciais em São Paulo proposta pela SEMPLA/ gestão Jorge Wilheim. ( 4 páginas)

2.4 Burguesia ( classe média e alta) ambientalista x Burguesia ( classe média e alta) predatória ( 8 páginas) onde apresento a tese da existencia de uma buurguesia progressista ou ambientalista e outra a atrazada e predadora, e como esta ultíma desenvolve uma lógica malufista de exclusão social na cidade como um todo, a partir do uso cada vez mais intenso do automovel.

2.5 Movimento Defenda São Paulo – Perguntas aos Candidatos a Prefeito e vereador preparados por Antonio Cunha, Candido Malta Campos Filho, Edson Farah, Fernando Moura Campos e Monica Joseph, e respostas preparadas por Candido Malta Campos Filho para servirem como referência para o Movimento Defenda São Paulo, ( 25 páginas)

2.6 Correspondencia para a jornalista Annita Costa Malufe completando entrevista dada a ser publicada por revista da Escola Politécnica da USP sobre o Plano Diretor proposta pelo arquiteto Jorge Wilheim secretario do planejamento do Municipio de São Paulo, versão folder inicial, setembro de 2001. Nela abordo a questão do Zoneamento propondo metodologia para a sua análise crítica. ( 3 páginas)

2.7 “Como deve ser um Plano Diretor efetivo para São Paulo” – texto mostrando a impossibilidade de se atender a demanda por expansão do sistema viário para automoveis no municipio de São Paulo, com a apresentação de números basicos, uma questão chave para se definir realmente uma opção prioritária pelo transporte coletivo, em termos de estrutura e tecido urbanos.( 3 páginas)

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