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1 ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO FACE À BIOÉTICA E AO BIODIREITO RAQUEL VEGGI MOREIRA 1 Resumo: Útero de substituição é uma prática que é possibilitada pelas técnicas da reprodução humana assistida, a partir da manipulação de material genético. Assim, a mulher que empresta seu útero é denominada de útero de substituição, ou popularmente como “barriga de aluguel”, como também barriga solidária, útero sub-rogado, mãe de substituição, entre outras. Por ser um tema bastante complexo e controverso, e que envolve uma diversa gama de atores sociais, surgem implicações filosóficas e ético-jurídicas. Um dos grandes desafios que envolvem a prática do útero de substituição é a necessidade de se limitar a ação do homem sobre a vida humana. Ante o exposto, o presente artigo tem como objetivo abordar a prática do útero de substituição face à Bioética e ao Biodireito, como disciplinas capazes de dialogar com diferentes áreas do conhecimento, como o Direito, a Filosofia e a Ética, para que se possa encontrar caminhos para práticas que valorizem a vida humana. Além de evidenciar a necessidade de regulamentação jurídica, diante de tantas implicações advindas desta prática, cabe também demonstrar, por meio da Bioética e do Biodireito, a relevância de ser incorporar a sociedade no debate e decisões acerca desses novos dilemas advindos dos avanços biotecnológicos. Pela ausência de legislação específica que regulamente tal prática, busca-se nessas disciplinas caminhos que possam não só limitar a ação do homem sobre a vida humana, como também, harmonizar as relações entre o homem e as biotecnologias. A metodologia utilizada foi qualitativa e exploratória, mediante pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Útero de substituição; Legislação específica; Bioética; Biodireito. INTRODUÇÃO A biotecnologia abrange as técnicas de reprodução humana assistida, e o avanço dessas, por sua vez, propiciou o surgimento da prática do útero de substituição. Popularmente denominada de “barriga de aluguel”, esta envolve duas partes: os solicitantes um casal ou uma mulher impossibilitado(a) de gerar filhos e a mulher portadora que cede o próprio útero pactuando a concretização do projeto familiar de possuir descendentes. Esta prática, ainda não regulamentada no Brasil, não possui disciplina legal que satisfaça às exigências da atualidade. Assim, o tema traz diversas consequências ainda não resolvidas pela ausência de legislação específica, e, também, por implicações filosóficas, éticas e jurídicas. Sob o ponto de vista filosófico, tal prática altera nossa concepção do que é natural e do que é socialmente construído (LATOUR, 1996), pois envolve uma redefinição do que antes era circunscrito ao domínio da natureza, sem haver intervenção do indivíduo ou da sociedade, uma vez que não havia possibilidade de intervenção na gestação. Além disso, há uma revisão na noção de maternidade, paternidade e família. Dentre as implicações jurídicas, uma delas diz respeito ao grau de parentesco que será estabelecido entre o ser que nascerá e os que cederam 1 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro UENF, Brasil. E-mail: [email protected].

ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO FACE À BIOÉTICA E AO BIODIREITO · Um dos grandes desafios ... ao utilizarem desta técnica para a realização de seus desejos de procriação, ... da

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ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO FACE À BIOÉTICA E AO BIODIREITO

RAQUEL VEGGI MOREIRA1

Resumo: Útero de substituição é uma prática que é possibilitada pelas técnicas da reprodução

humana assistida, a partir da manipulação de material genético. Assim, a mulher que empresta

seu útero é denominada de útero de substituição, ou popularmente como “barriga de aluguel”,

como também barriga solidária, útero sub-rogado, mãe de substituição, entre outras. Por ser um

tema bastante complexo e controverso, e que envolve uma diversa gama de atores sociais,

surgem implicações filosóficas e ético-jurídicas. Um dos grandes desafios que envolvem a

prática do útero de substituição é a necessidade de se limitar a ação do homem sobre a vida

humana. Ante o exposto, o presente artigo tem como objetivo abordar a prática do útero de

substituição face à Bioética e ao Biodireito, como disciplinas capazes de dialogar com

diferentes áreas do conhecimento, como o Direito, a Filosofia e a Ética, para que se possa

encontrar caminhos para práticas que valorizem a vida humana. Além de evidenciar a

necessidade de regulamentação jurídica, diante de tantas implicações advindas desta prática,

cabe também demonstrar, por meio da Bioética e do Biodireito, a relevância de ser incorporar

a sociedade no debate e decisões acerca desses novos dilemas advindos dos avanços

biotecnológicos. Pela ausência de legislação específica que regulamente tal prática, busca-se

nessas disciplinas caminhos que possam não só limitar a ação do homem sobre a vida humana,

como também, harmonizar as relações entre o homem e as biotecnologias. A metodologia

utilizada foi qualitativa e exploratória, mediante pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Útero de substituição; Legislação específica; Bioética; Biodireito.

INTRODUÇÃO

A biotecnologia abrange as técnicas de reprodução humana assistida, e o avanço dessas,

por sua vez, propiciou o surgimento da prática do útero de substituição. Popularmente

denominada de “barriga de aluguel”, esta envolve duas partes: os solicitantes – um casal ou

uma mulher impossibilitado(a) de gerar filhos – e a mulher portadora que cede o próprio útero

pactuando a concretização do projeto familiar de possuir descendentes. Esta prática, ainda não

regulamentada no Brasil, não possui disciplina legal que satisfaça às exigências da atualidade.

Assim, o tema traz diversas consequências ainda não resolvidas pela ausência de legislação

específica, e, também, por implicações filosóficas, éticas e jurídicas.

Sob o ponto de vista filosófico, tal prática altera nossa concepção do que é natural e do

que é socialmente construído (LATOUR, 1996), pois envolve uma redefinição do que antes era

circunscrito ao domínio da natureza, sem haver intervenção do indivíduo ou da sociedade, uma

vez que não havia possibilidade de intervenção na gestação. Além disso, há uma revisão na

noção de maternidade, paternidade e família. Dentre as implicações jurídicas, uma delas diz

respeito ao grau de parentesco que será estabelecido entre o ser que nascerá e os que cederam

1 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, Brasil. E-mail: [email protected].

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o material genético, os que o idealizaram, e aquela que o trará ao mundo. E, com relação às

implicações éticas, podemos mencionar a modificação de características genéticas (da criança)

para satisfazer às expectativas dos idealizadores de um projeto parental, visando o

aprimoramento ou busca de perfeição da espécie humana.

Ante o exposto, o objetivo deste artigo é o de abordar a prática do útero de substituição

face à Bioética e ao Biodireito, como disciplinas capazes de dialogar com diferentes áreas do

conhecimento, como o Direito, a Filosofia e a Ética, para que se possa encontrar caminhos para

práticas que valorizem a vida humana. Para tal, abordaremos, inicialmente (item I) algumas

consequências filosóficas, jurídicas e éticas do útero de substituição, e, posteriormente (item

II), o papel que a Bioética e o Biodireito possuem no entendimento desta prática que enseja

tantas controvérsias.

Além disso, procuraremos evidenciar a necessidade de regulamentação jurídica, diante

de tantas implicações que a prática acomete; assim como demonstrar, por meio da Bioética e

do Biodireito, a relevância de se incorporar a sociedade no debate e decisões acerca desses

novos dilemas advindos dos avanços biotecnológicos, pois percebemos que a Bioética, em

particular, pode ser uma ponte para o diálogo com a sociedade em se tratando de temas

polêmicos e controversos, como o útero de substituição.

Será utilizada metodologia qualitativa, de cunho exploratório, através de estudo

bibliográfico em obras e artigos científicos de estudiosos do assunto.

I. ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO

A prática do útero de substituição surgiu após a evolução histórica da procriação humana

assistida, ou reprodução humana assistida2, ou ainda, fecundação artificial. De acordo com

Pisetta (2014), considerando a idade do mundo, podemos dizer que as experiências e

descobertas referentes à reprodução humana natural são bastante recentes e, quanto à

reprodução assistida, essas então são essencialmente contemporâneas.

Conforme mencionado, importa dizer que o útero de substituição apresenta-se como

uma consequência dos avanços tecnológicos, e que, pela sua complexidade e abrangência,

reflete em diferentes áreas do conhecimento, como na filosófica, na jurídica e principalmente

na ética, sobre o uso que a sociedade tem feito desta prática.

2 Conceitualmente, a Reprodução Humana Assistida (RHA/RA) é “o conjunto de operações para unir,

artificialmente, os gametas feminino e masculino, dando origem a um ser humano” (SILVA, 2015:696),

permitindo que mulheres consideradas inférteis (ou não) concretizem a possibilidade de terem filhos.

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Sob o ponto de vista filosófico, antes do advento das técnicas de reprodução assistida,

basicamente existiam apenas duas formas de maternidade reconhecidas pela sociedade

ocidental: a mãe biológica, aquela que suportava a gravidez e dava à luz; e a mãe social, a que

criava. Exceto para a adoção, quando a mãe não genitora desempenhava o papel de mãe social

(educadora). No entanto, a mãe biológica também era tida como mãe social, aquela que educa,

cuida e dá carinho (WILLIAMS-JONES, 2002). A maternidade é algo complexo de se definir,

dada a sua ambiguidade e a imbricação entre natural e social, principalmente com a utilização

das técnicas conceptivas nos últimos tempos.

A ideia de maternidade por útero de substituição, ou demais denominações dadas, como

“útero sub-rogado”, “cessão temporária do útero”, entre outras, pode ser interpretada como a

manifestação mais elevada do desejo de um casal (ou de uma mulher ou homem) de ter um

filho que seja geneticamente ligado aos pais, ou a um deles (ou a nenhum deles).

Este é o desejo de ter um filho a qualquer custo, onde noções linguísticas como

“maternidade”, “paternidade” e “família” estão sendo revisadas. No caso da maternidade

substituível, não está absolutamente claro quem é a mãe da criança, como também se procriar

é um direito ou um privilégio, e se a família é uma comunidade, que consiste em homens e

mulheres que se juntaram por amor mútuo e vontade procriacional, ou uma “associação”, que

permite que terceiros venham a ter determinadas relações com a família (doador de esperma ou

de óvulos, etc)3 (BOYKO, 2011, p. 16). E, ainda segundo Boyko, pode-se levantar questão da

exploração do corpo humano e a possibilidade de seres humanos ainda não nascidos tornarem-

se objetos de manipulação. Além disso, pela maternidade/paternidade construída pelas “mãos”

da técnica, a partir dos desejos humanos, não há como se distinguir o humano do não-humano,

o natural do fabricado. É o que nos aponta para a necessidade de reformulação da noção de

maternidade e família.

Diante disso, a natureza deixa de ter papel central e passa a ser coadjuvante, nas “mãos”

dos homens, que, ao utilizarem desta técnica para a realização de seus desejos de procriação,

criam consequências sociais. Em outras palavras, o ser humano, ao se utilizar de técnicas de

reprodução assistida e da prática como a do útero de substituição, transforma algo que era

pertencente ao domínio da natureza, no caso a gestação biológica, em algo socialmente

construído, tendo em vista que este pode intervir no processo de forma direta e de acordo com

seus desejos.

3 Tradução da própria autora.

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Nesse cenário de múltiplas possibilidades, naturalmente, o conceito de família tende a

se modificar, pois o que era antes uma formação tradicional entre pai, mãe e filho(s) (LÉVI-

STRAUSS, 1972), atualmente a família pode ser constituída por diferentes atores, como casais

homoafetivos, ou por homens e mulheres que vivem sozinhos. As novas concepções de família

estão nos detalhes, ou seja, em ou de quem as constituem e como.

No âmbito dessas discussões, há que se falar nas implicações jurídicas decorrentes da

prática do útero de substituição. Uma delas diz respeito às modificações na sociedade,

notadamente na constituição de família, nos conceitos de maternidade, paternidade e família,

tendo em vista a relativização dos princípios mater semper certa est (maternidade é sempre

certa) e pater semper incertus (paternidade é sempre incerta). Neste sentido, Eduardo de

Oliveira Leite comenta que:

O questionamento sobre a filiação paterna e materna obrigou a sociedade a

exercer um controle mais efetivo sobre a nova realidade. [...]. Os laços

tradicionais que uniam o casal à criança estão completamente alterados. Assim

como a criança pode ter três pais (o doador do esperma, o pai adotivo, o marido

da mãe) pode igualmente ter três mães (a mãe biológica, a mãe portadora e a

mãe de recepção) (LEITE, 1995:201).

Além disso, a família deixou de ter um conceito unívoco, uma vez que a configuração

de família foi se modificando ao longo do tempo, e mais ainda com as possibilidades

propiciadas pela RA. Assim, a família foi assumindo novas formas e maneira de se constituir

além do convencional, não se prendendo às formalidades, antes exigidas, pois, num passado

ainda recente, a família só poderia ser constituída por homem, mulher e filhos através do

casamento civil e religioso, ou por critérios biológicos.

Mesmo com a inexistência de legislação específica que regulamente a RA e, por óbvio

a prática de útero de substituição, as novas formas de família têm amparo constitucional, ou

seja, a família, independentemente de sua formação, passou a ter proteção, por força dos

princípios (dignidade da pessoa humana, autonomia, equidade, entre outros), que regem a

Constituição Federal/1988.

Diante de um tema complexo, que envolve diferentes áreas do conhecimento, conflitos

podem surgir e, muitas vezes de difícil solução em âmbito jurídico, tendo em vista a falta de lei

específica que regulamente a matéria. No Brasil, o que tem sido utilizado como amparo nos

tribunais é a Resolução do CFM nº 2.121/2015, editada desde 1992 e tem sido modificada ao

longo dos anos. Esta resolução normatiza o aperfeiçoamento das técnicas de reprodução

assistida explicitando princípios éticos e bioéticos que deverão ser respeitados com intuito de

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trazer “maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos tornando-se o

dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos brasileiros” (BRASIL, 2015:1).

Além do exposto, cabe, ainda, destacar a questão da eugenia como uma das

consequências éticas, pois, apesar de vedada em praticamente todos os países, impulsionou o

homem a buscar a perfeição em características específicas da espécie humana. Sua utilização

seria um “controle de qualidade” da raça humana. Sob esta questão, Jürgen Habermas manifesta

seu repúdio e questiona se, nós seres humanos, “gostaríamos de viver numa sociedade que

adquire consideração narcísica pelas próprias preferências ao preço da insensibilidade em

relação aos fundamentos normativos e naturais da vida” (HABERMAS, 2010:29).

A adoção de certas práticas, como reprodução assistida, ou pesquisas com células-

tronco, assim como a escolha de características pessoais para atender um desejo são questões

que suscitam discussões em diferentes áreas (filosófica, ética, religiosa, jurídica) e, portanto,

distintos julgamentos, a partir de critérios diversos.

Neste cenário, surgem duas disciplinas, a Bioética e o Biodireito as quais desempenham

um papel de grande importância com relação às novas biotecnologias, em particular à técnica

da reprodução humana medicamente assistida e à prática do útero de substituição.

II. BIOÉTICA E O BIODIREITO NO ÂMBITO DA DISCUSSÃO DO ÚTERO DE

SUBSTITUIÇÃO

A reprodução humana assistida, um produto da evolução das biotecnologias, possibilita

pessoas inférteis/estéreis, não apenas mulheres, igualmente homens, a consagrarem o desejo de

se ter um filho. No entanto, conforme exposto, essas técnicas suscitam questionamentos e

implicações ético-jurídicas, principalmente quando se trata de útero de substituição, que de

alguma maneira desperta entre outras coisas, indagações sobre o processo natural e o processo

artificial de procriação. E pelo fato da reprodução assistida, notadamente da prática do útero de

substituição, prescindir de regulamentação legal, busca-se na Bioética e no Biodireito caminhos

para limitar a ação do homem sobre a vida do ser humano. Razão pela qual surgiram essas duas

disciplinas, “não para eliminar o acaso, a desordem, a incerteza da compreensão da realidade”,

porque tudo isso “faz parte da evolução do universo” (JUNGES, 2006:18-19), mas para dialogar

com a sociedade e impor limites às ações humanas. Por essa razão, a interação entre elas pode

ser considerada como uma possível saída para os problemas trazidos pelos avanços da

biotecnologia, sobretudo, a prática do útero de substituição.

A Bioética busca tratar das relações éticas entre as partes envolvidas. É uma nova área

do conhecimento que, aos poucos, tem se tornado uma das mais importantes ferramentas do

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Direito moderno para estudar, analisar e regular as relações trazidas pelas novas tecnologias. Já

o Biodireito, como uma nova ciência jurídica, busca tutelar as relações entre a Biotecnologia,

seus propulsores e toda a raça humana, perante a inconsistência da tutela das novas práticas

trazidas pela Revolução Biotecnológica pelas antigas áreas jurídicas (TALLARICO;

MARTINS, 2014).

A palavra Bioética foi empregada pela primeira vez na obra de Van Rensselder Potter,

Bioethics: brige to the future, em 1971, e concebida como “ciência da sobrevivência”. À época,

era uma disciplina atrelada às ciências biológicas, a qual concederia ao homem permissão para

participar na evolução do processo biológico, das populações e espécies, com a finalidade de

garantir sua qualidade de vida. Em outras palavras, através da Bioética se desenvolveria a “ética

das relações vitais dos seres humanos, entre si e deles com o ecossistema” (IDALÓ, 2011:140).

José Roque Junges afirma que a Bioética “surgiu como preocupação com as incidências

da intervenção tecnológica do ser humano no ambiente natural e como resposta aos dilemas

éticos provocados pelas novas descobertas biológicas e pelos avanços da medicina” (JUNGES,

2006:33). Não se pode negar a pluralidade de questionamentos e argumentações sobre questões

ético-jurídicas na sociedade brasileira, dentre elas, no que tange às técnicas da reprodução

assistida, e de sua prática, denominada de útero de substituição, entre outras.

Nesse cenário, merecem especial atenção, pois, a Bioética está relacionada, a um duplo

fenômeno na opinião de Christian Byk:

[...] trata-se, por um lado, do rápido desenvolvimento de novas técnicas de

reprodução, que, nomeadamente, consagram a cesura entre procriação e

sexualidade; e, por outro, dessa busca infinita da felicidade que, nas

sociedades ocidentais, reforça o desejo de pleno desenvolvimento individual,

até mesmo e inclusive na esfera familiar. A Bioética é então percebida, nas

sociedades pluralistas, como a chave que, na falta de referência, aceita a outros

valores sociais rejeitados por seu dogmatismo, oferece a possibilidade de

conjugar os interesses contrários, orientá-los por normas consensuais e

evolutivas (BYK, 2015:317-318).

.

Sendo assim, “a Bioética confere legitimidade ao que parece socialmente aceito, no

plano jurídico, o mais próximo possível de um modelo familiar” (BYK, 2015:318), numa

sociedade pluralista e em constante transformação social, cultural e política. No âmbito social,

as transformações acontecem no contexto familiar, nas relações familiares, muitas vezes

conflitantes, rompendo com modelos convencionais de família; em termos culturais, por

exemplo, a reprodução assistida desenvolve representações das mais variadas possíveis,

inclusive no mundo sagrado (religião).

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Segundo Pessini e Barchifontaine, “hoje a bioética moderna mostrou à medicina a

utilidade do pensamento filosófico a respeito de problemas éticos” (PESSINI;

BARCHIFONTAINE, 2014:34), entre eles estão os relacionados à reprodução humana

assistida. Por conta disto, a Bioética não deve nem pode ignorar o processo legislativo em curso

na área médica, mais especificamente quando se trata de reprodução conceptiva.

Mas um contexto complexo como este implicando em sexualidade,

reprodução, família, casamento, futuras gerações e o próprio conceito de vida,

traz desafios permanentes, e que se renovam, para debate sobre ética, ciência

e política, bem como para a reflexão bioética de modo geral, que deve se

manter aberta e permeável às vozes ativas no campo da reprodução assistida

(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014: 337).

No que se refere à reprodução assistida, que está inserida no contexto da

imprevisibilidade de resultados da pesquisa, novas formas de procriação com profundas

consequências nos conceitos de maternidade e paternidade mostram a urgência da necessidade

de proteger a espécie humana diante de tantos avanços (e tão rápidos), tendo como base os três

princípios éticos, pilares da Bioética: o da autonomia, o da beneficência e o da justiça; buscando

sempre os benefícios para o ser humano, e respeitando os limites da dignidade humana

(FERRAZ, 2011).

A aplicação dos três princípios da Bioética, concomitantemente, deve ser feita desde

que sejam discutidos os fundamentos éticos, pois em algum momento podem tornar-se

conflitantes, contraditórios e auto excludentes, uma vez que entre eles existem “pontos centrais,

por vezes, convergentes” (FERRAZ, 2011:27). Segundo Barbosa et al.:

A bioética, ou 'ética da vida', constitui um dos resultados mais promissores do

diálogo entre filosofia e ciência; em particular entre a filosofia prática (a ética)

e a filosofia da ciência (a epistemologia). Sendo essencialmente uma

intercrítica entre knowwhat, knowwhow e knowwhy, isto é, entre as três

dimensões do saber/fazer, o quê? como? por quê? -, a bioética não somente

renova o debate teórico, vinculando a tecnociência aos princípios ético-morais

de responsabilidade, equidade e solidariedade, como atualiza a necessidade de

se repensar radicalmente o processo civilizatório, com seus mitos, utopias e

realidades (BARBOSA et al., 1994:109).

Neste sentido, a Bioética não pode dispensar diálogos abertos entre estudiosos de áreas

como a Filosofia, a Teologia, a Sociologia, o Direito, a Medicina, a Genética, a Biologia, a

Psicologia, a Economia, a Ciência Política, a Demografia e de todas as outras áreas que

trabalham ou forneçam subsídios aos estudos diretamente relacionados com a vida humana e a

que ela se destinam. Por isso, a interdisciplinaridade é indispensável, “e pelo envolvimento da

atividade crítica costuma ser associada à ética filosófica, sem, no entanto, abandonar a conexão

com todas as outras disciplinas” (HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008:12).

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A Bioética “tem um grande significado de diálogo, de participação e comunicação

efetiva com a sociedade.” Esse diálogo pode acontecer dentro de comunidades em diversos

segmentos da sociedade, dado o seu caráter pluralista, inter, multi e transdisciplinar, que

envolvendo não apenas a comunidade científica, como também todos os cidadãos (HOSSNE;

PESSINI, 2010 apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014:461-462). Daí a sua importância,

pois poderia exercer a função de estreitar esse diálogo entre as partes, ou seja, entre a

comunidade médico-científica, a comunidade jurídica, como também seria a ponte para a

sociedade exercer a cidadania. Além disso, por ser a Bioética pluralista, “busca mais a harmonia

e o consenso do que a valorização dos contrários: ela oferece, sobretudo, procedimentos de

diálogo e não tanto a possibilidade de fixar posições definidas” (BYK, 2015:12). Implica,

portanto, em um diálogo interdisciplinar, fruto de uma crítica mútua das diferentes

racionalidades, comprometidas em situações éticas às vezes bastante complexas, mas de suma

importância (JUNGES, 2006). Podemos dizer que são temáticas interdisciplinares e

transdisciplinares, as quais a Bioética, para abordá-las com a seriedade que merece, depende do

concurso de diferentes saberes.

Essa complexidade, de questionamentos éticos, envolvendo debates interdisciplinares,

está inserida no contexto epistemológico quando do surgimento da Bioética, numa época de

grandes mudanças de paradigmas no campo das ciências, quando o modelo simplificador e

fragmentado da ciência moderna começou a entrar em crise, emergindo para o paradigma da

complexidade, numa visão trans/interdisciplinar da realidade (JUNGES, 2006).

Além disso, não se pode deixar de mencionar que a Bioética tem precedentes jurídicos,

pois, segundo Barbosa et al. (1994) teve assento o conceito de “crimes contra a humanidade”

na ordem simbólica da lei, e passou a ser incorporada a outras problemáticas de maneira

sucessiva e gradativa, como por exemplo, aos direitos-deveres de todos os seres humanos, aos

direitos dos outros seres vivos e aos direitos ambientais ou ecológicos. Dessa maneira, a

“reflexão bioética possui manifesto compromisso com a verdadeira democracia, alicerçada no

binômio liberdade e responsabilidade, que é basicamente a ideia de existência de limites: a lei

que ajuda a encontrar a identidade, o sentido e poderes” (SANTOS, 2001:317).

Diante de tanta complexidade e de tantos desafios, cabe-nos refletir sobre os avanços

existentes e sobre os que estão por vir. No entanto, parece-nos desafiador buscarmos sempre

respostas para o que está longe de ser e ter regulamentações específicas. Quanto a isto,

Habermas menciona que:

[...] importantes questões bioéticas certamente estão ligadas ao aumento da

acuidade do diagnóstico e ao domínio terapêutico da natureza humana. No

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entanto, somente a técnica genética, que tem em vista a seleção e a alteração

das características, bem como a pesquisa necessária para tanto e destinada a

terapias genéticas futuras (pesquisa essa que quase não permite uma

diferenciação entre a pesquisa fundamental e a aplicação médica) constituem

uma nova espécie de desafios (HABERMAS, 2010:38-39).

Podemos nos referir, nesses casos, às práticas eugênicas, o que é vedado em todos os

países ocidentais. E que, segundo Habermas (2010), a eugenia nasce com um viés de pesquisa

básica/fundamental e, num segundo plano, já adota uma aplicação prática, não havendo

distinção entre uma e outra, no contexto da biotecnologia.

Entretanto, é importante reconhecer que devido à gravidade das consequências do uso

que algumas pessoas fazem da evolução das técnicas médicas, assim como as implicações do

descumprimento dos deveres éticos estabelecidos aos profissionais da comunidade científica,

da área médica, o Direito não pode se manter inerte (ou omisso) diante dos fatos, manifestando

assim, a tentativa de positivar as normas bioéticas por meio do chamado Biodireito (FERRAZ,

2011).

Cumpre-nos lembrar que o Biodireito surgiu como uma maneira de avaliar melhor os

avanços biotecnológicos, humanizando seus efeitos e consequências a partir da conscientização

quanto à necessidade de controle e de imposição de limites ao processo biotecnológico,

inclusive quanto à prática do útero de substituição. No entanto, não deve ser resultado de

decisões unilaterais de determinada comunidade particular baseada nas suas ideias políticas,

econômicas, sociais e religiosas. Ele somente pode ser legitimado na sua construção com

fundamento no consenso e no estímulo das escolhas pessoais e responsáveis, no ambiente

pluralista, participativo, interdisciplinar e democrático (GAMA, 2003).

Diante disso, o Biodireito demanda normas cogentes (obrigatórias/coercitivas) que

regulamentem a relação deste ramo do Direito com os seus destinatários, isto é, com o

destinatário das normas jurídicas. Sendo assim, esta disciplina deverá receber os princípios (da

precaução, da autonomia privada, da responsabilidade e, principalmente, o da dignidade

humana) para análises das relações jurídicas que envolvem esta nova ciência (o Biodireito).

Então, a partir da expansão e evolução da Biotecnologia, o Biodireito sinaliza seu início e finca

raízes (TALLARICO; MARTINS, 2014). E um dos grandes desafios do Biodireito é

exatamente o rápido avanço biotecnológico, pois a forma hodierna do poder de legislar não o

acompanha com a mesma celeridade.

Temas relacionados, como a Biologia, a Biotecnologia e a Medicina, devem ser tratados

a partir de valores que determinada sociedade elegeu por considerá-los fundamentais para a

tutela de bens jurídicos. Por isso, num debate ético, o papel do filósofo, do teólogo é tão

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importante sobre o que significa, especificamente, a abordagem ética de uma determinada

questão, diferente de uma abordagem puramente biológica, médica ou técnica (JUNGES,

2006). É o caso do útero de substituição que, além dessas abordagens, envolve questões que

discutem principalmente a dignidade humana, princípios como a autodeterminação da pessoa,

solidariedade, gratuidade. Além disso, questões de ordem jurídica, como direito de filiação,

direito sucessório, reconhecimento da paternidade, direito da personalidade, pois envolve

essencialmente vidas humanas. Nesse sentido, o Direito não pode deixar de intervir nessas

questões que envolvem as técnicas biomédicas, seja para legitimá-las, seja para proibir ou

regulamentá-las. Trata-se de estimular o desenvolvimento da ciência dentro dos limites

humanos e, ao mesmo tempo, desestimulá-la quando ultrapassa as fronteiras desumanas e

iatrogênicas (LEITE, 2001).

Assim, também se estende aos riscos científicos, originados pelas novas tecnologias, em

que, num primeiro instante, são tratados pelas normas da Bioética, elaboradas pela comunidade

científica e médica, para depois, num segundo momento, passarem para o terreno jurídico em

normas cogentes, ou seja, normas de cumprimento obrigatório. Então, pressupõe a co-relação

existente entre a Bioética e o Biodireito.

Entendendo que a Bioética é disciplina que examina e discute os aspectos éticos que

envolvem aplicações da Biologia e da Medicina apontando caminhos e meios de se respeitar a

vida humana, o Biodireito é um processo normativo dos valores e princípios determinados pela

ética, tomando como paradigma o valor da pessoa humana. Desta forma, entendemos que a

Bioética e o Biodireito estão intrinsecamente ligados, portanto, indissociáveis, uma vez que

ambos tratam antes de tudo da conduta humana, da busca pelos limites do uso de tecnologias,

principalmente, no que diz respeito à reprodução humana assistida e à prática do útero de

substituição.

O Biodireito levanta questões sobre os limites jurídicos da licitude da intervenção do

homem sobre o homem, entre elas, as técnicas de reprodução assistida e a prática do útero de

substituição. Portanto, de acordo com Namba, o Biodireito “formalístico e legalístico pretende

garantir a autonomia da opção individual, confrontando-se com os aspectos da

incompatibilidade com a vontade oposta. A ciência e a técnica só podem intervir sobre a vida

humana desde que não afetem à dignidade e ao direito” (NAMBA, 2009:14).

Além disso, por pensar que os homens nascem livres e iguais diante a lei, “leva a pessoa

a apoiar-se não em uma realidade física ou social concreta [...], mas em uma visão política e

universal do ser humano para a qual cada indivíduo é um entre abstrato, igual a seus semelhantes

no espaço público, em razão dos direitos de que está investido” (BYK, 2015:328). Então,

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quando se fala em Biodireito, falamos em normas preventivas e de influência do compromisso

com a ética na condução da vida humana e dos avanços científicos, como a reprodução humana

assistida, sobre o nascituro, o transplante de células-tronco, entre outros temas de igual

importância e que, ao mesmo tempo, suscitam discussões e se mostram bastante controversos.

Diante do exposto, caberia somente a ambas as disciplinas trabalharem uma melhor

forma de incorporar a sociedade no debate e decisões acerca desses novos dilemas advindos

dos avanços biotecnológicos. Desta forma, a Bioética seria a ponte para a sociedade e para

cidadania. No entanto, é imprescindível que instituições legislativas produzam normas jurídicas

adequadas, e que essas normas sejam amplamente discutidas no âmbito da Bioética, como

também do Biodireito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi abordado, observamos que as técnicas de reprodução assistida,

notadamente, a prática do útero de substituição já é bastante utilizada na sociedade

contemporânea, na busca da realização de um sonho de ter filhos, na busca de um filho perfeito,

na constituição de uma família, tanto pela mulher quanto pelo homem, considerados

inférteis/estéreis.

Nesse sentido, há que se (re)pensar as implicações éticas de tal prática, pois estamos

lidando com vida(s) humana(s), além de considerar eventuais consequências e efeitos jurídicos

advindos do útero de substituição, principalmente pela inexistência de legislação específica.

Assim, o valor da vida humana, os direitos e garantias fundamentais, que lhes são inerentes,

devem ser respeitados. São questões éticas, antes de tudo, a seres levadas em conta.

Mas, como a Bioética e o Biodireito podem intervir, ou mesmo regular tal prática? A

resposta a essa indagação está nos limites (prováveis) que tanto a Bioética e o Biodireito podem

impor, como também erigir regras à ação do homem sobre a vida humana, ou ainda harmonizar

as relações do homem com as técnicas. Não esquecendo que a Bioética está intrinsecamente

relacionada com o Biodireito, e, ambas se preocupam com a formulação de regras no processo

técnico-científico, e notadamente no que diz respeito às biotecnologias – reprodução humana

assistida e útero de substituição.

Talvez um dos grandes desafios da contemporaneidade seja a ausência de legislação

específica que regulamente a matéria, e, pelo que percebemos, tantos os princípios que balizam

a Bioética, quanto os do Biodireito, sejam insuficientes para limitar condutas técnico-científicas

que eventualmente possam ser nocivas à vida humana.

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