Upload
trinhnga
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UTILIZAÇÃO DE GEOTECNOLOGIAS NA AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE
AO RISCO SÍSMICO NO POLIDUTO URUCU-COARI-MANAUS
Paulo Antônio Viana de Souza
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Engenharia Civil, COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de
Doutor em Engenharia Civil.
Orientadores: Luiz Landau
Fernando Pellon de Miranda
Rio de Janeiro
Dezembro de 2017
UTILIZAÇÃO DE GEOTECNOLOGIAS NA AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE
AO RISCO SÍSMICO NO POLIDUTO URUCU-COARI-MANAUS
Paulo Antônio Viana de Souza
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ
COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Luiz Landau, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Fernando Pellon de Miranda, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph.D.
________________________________________________
Dr. Delano Meneccuci Ibanez, D.Sc.
________________________________________________
Prof. André de Souza Avelar, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Cláudio Limeira Mello, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Afonso César Rodrigues Nogueira, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO DE 2017
iii
Souza, Paulo Antônio Viana de
Utilização de Geotecnologias na Avaliação da
Vulnerabilidade ao Risco Sísmico no Poliduto Urucu-
Coari-Manaus/ Paulo Antônio Viana de Souza. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2017.
XX, 150 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Luiz Landau
Fernando Pellon de Miranda
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2017.
Referências Bibliográficas: p. 137-148.
1. Vulnerabilidade. 2. Risco Sísmico. 3.
Concentrações Locais de Stress. I. Landau, Luiz et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.
iv
Dedico esta tese a Deus e a meus familiares.
v
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado determinação e força de vontade,
elementos fundamentais para que eu pudesse alcançar meus objetivos.
Sou grato a todos aqueles que, de alguma forma, incentivaram, apoiaram e
contribuíram para a realização deste trabalho. A algumas pessoas dedico especial
agradecimento.
Ao professor Luiz Landau, em especial, pela confiança depositada na minha
capacidade de concluir o programa de doutorado, pelo incentivo e apoio irrestrito prestados
em toda a etapa de desenvolvimento desta pesquisa. Tudo isso foi fundamental para a
consolidação deste trabalho.
Ao professor, orientador, Fernando Pellon, por gentilmente ter aceitado me orientar
neste doutorado, pela oportunidade de crescimento, pelo aprendizado, por acreditar no meu
esforço, pelo acompanhamento e orientação prestados durante a principal etapa desta
pesquisa.
Gostaria de agradecer também a todos os membros da banca examinadora, por sua
valiosa contribuição através das correções e revisões apresentadas para elaboração do
documento final.
Aos colegas do LABSAR, que de alguma forma incentivaram e colaboraram com a
realização da tese: Patrícia Mamede da Silva, Adriano Vasconcelos, Carlos Beisl,
Humberto, Monica Caruso, Rosana Caruso e Fabio Roque.
À equipe de suporte de rede do LAMCE, pelo pronto apoio e disponibilidade para
instalação de softwares, que foi muito importante na realização da tese.
À Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), e ao Programa de
Engenharia Civil (PEC), pela oportunidade de realizar um curso de Pós-Graduação. À ANP
e ao CNPq, pelo apoio financeiro, que muito contribuiu para o desenvolvimento deste
estudo.
vi
“A educação é o ponto em que
decidimos se amamos o mundo o
bastante para assumirmos a
responsabilidade por ele”.
Hannah Arendt
vii
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
UTILIZAÇÃO DE GEOTECNOLOGIAS NA AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE
AO RISCO SÍSMICO NO POLIDUTO URUCU-COARI-MANAUS
Paulo Antônio Viana de Souza
Dezembro/2017
Orientadores: Luiz Landau
Fernando Pellon de Miranda
Programa: Engenharia Civil
A presente tese teve por objetivo aplicar, de modo pioneiro no Brasil, a metodologia
desenvolvida pela Organização Pan-Americana da Saúde para a avaliação de risco sísmico
e estimativa de vulnerabilidade de dutos a terremotos. O método foi adaptado para a região
da Amazônia na qual se instalou o poliduto Urucu-Coari-Manaus, onde em 1983, ocorreu
um terremoto na cidade de Codajás (AM).
A metodologia proposta pela citada instituição considera: (1) o fator de risco pelo
tipo de perfil de solo (FSPT), (2) o fator de risco para o potencial de liquefação do solo
(FPSL) e (3) o fator de deslocamento permanente do solo (FPDS). O fator de risco sísmico
(SHF) é calculado pelo produto FSPT x FPSL x FPDS. Foram ainda identificados Local
Stress Concentrators (LSCs) na interseção de estruturas geológicas, os quais se dispõem
em três agrupamentos na área de influência do poliduto Urucu-Coari-Manaus.
Os resultados da pesquisa foram cartografados na escala 1:750.000, com destaque
para uma Zona de Atenção Especial (ZAE). Tal área é mapeada como de alto risco sísmico
e inclui o agrupamento do LSCs do Arco de Purus.
viii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements
for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
USE OF GEOTECHOLOGIES TO EVALUATE THE VULNERABILITY TO SEISMIC
HAZARD IN THE URUCU-COARI-MANAUS POLIDUCT
Paulo Antônio Viana de Souza
December/2017
Advisors: Luiz Landau
Fernando Pellon de Miranda
Department: Civil Engineering
The present thesis aimed to apply, in a pioneering way in Brazil, the methodology
developed by the Pan American Health Organization for the evaluation of seismic hazard
and vulnerability estimation of pipelines to earthquakes. The method was adapted to the
Amazon region where the Urucu-Coari-Manaus poliduct was installed, and where, in 1983,
an earthquake occurred in the city of Codajás (AM).
The methodology proposed by this institution considers: (1) the soil hazard fator
(FSPT), (2) the hazard factor for soil liquefaction potential (FPSL) and (3) the soil
permanent displacement factor (FPDS). The seismic hazard factor (SHF) is calculated using
the product FSPT x FPSL x FPDS. Local Stress Concentrators (LSCs) were also identified
at the intersection of geological structures. They defined three clusters in the area of
influence of the Urucu-Coari-Manaus poliduct.
The results of the research were mapped on the 1: 750,000 scale, with emphasis on
a Special Attention Zone (AEZ). This area has high seismic risk and includes the LSCs
cluster of the Purus Arch.
ix
SUMÁRIO
Agradecimentos.....................................................................................................................v
Resumo.................................................................................................................................vii
Abstract...............................................................................................................................viii
Sumário.................................................................................................................................ix
Lista de Figuras...................................................................................................................xii
Lista de Tabelas...............................................................................................................xviii
Lista de Abreviações...........................................................................................................xx
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1
1.1 Motivação Científica para Realização do Trabalho ................................................... 1
1.2 Objetivo Geral..............................................................................................................4
1.3 Objetivos Específicos ..................................................................................................4
1.4 Visão Geral da Metodologia Proposta.........................................................................5
1.5 Estrutura do Trabalho ................................................................................................. 6
CAPÍTULO 2 – ÁREA DE ESTUDO ............................................................................... 7
2.1 Localização e Caracterização da Área de Estudo .......................................................... 7
2.2 Aspectos Fisiográficos ................................................................................................. 13
2.3 Geologia regional das bacias do Solimões e Amazonas.................................................15
2.3.1 Bacia Sedimentar do Solimões...................................................................................15
2.3.2 Bacia Sedimentar do Amazonas.................................................................................16
2.4 Compartimentação Estratigráfica..................................................................................18
2.5 Evidências do Controle Tectônico da Paisagem na Área de
Estudo....................................................................................................................................21
2.6 Neotectônica na Amazônia: Breve Revisão..................................................................21
2.7 Mapa Neotectônico do Brasil........................................................................................25
x
2.7.1 Base cartográfica do Mapa Neotectônico do Brasil.....................................................25
2.7.2 Depósitos sedimentares................................................................................................27
2.7.3 Falhas e dobras...........................................................................................................27
2.7.4 Lineamentos...............................................................................................................28
2.7.5 Epicentros...................................................................................................................28
2.7.6 Recorte do Mapa Neotectônico do Brasil na Área de Estudo....................................29
2.8 - Evidências de neotectonismo através da interpretação integrada da rede de drenagem
com dados aeromagnéticos...................................................................................................31
2.9 Atividade sísmica na Amazônia e o sismo de Codajás.................................................34
2.10 Unidades Geomorfológicas..........................................................................................37
2.11 Aspectos Pedológicos....................................................................................................43
CAPÍTULO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................57
3.1- Prevenção de Riscos Geológicos em Projetos de Engenharia.......................................57
3.1.1 - Os principais tipos de problemas relacionados com solos.........................................58
3.1.2 - O risco sísmico...........................................................................................................60
3.1.2.1 - Modificações da movimentação no terreno por condições locais..........................62
3.1.2.2 - Os efeitos no terreno induzidos por terremotos......................................................64
3.1.2.3 – Potencial de liquefação dos solos...........................................................................67
3.2 Terremotos intraplaca (IPEs) e os Concentradores Locais de Tensão (LSCs)...............70
3.2.1 Rotação do campo de tensões no Rift Paleozóico do Amazonas.................................74
3.3 Shuttle Radar Topography Mission (SRTM)……………………….………………….79
3.3.1 Exemplo de análise morfoestrutural avançada utilizando dados SRTM na área do
Lineamento Pirapemas (Bacia de Barreirinhas)....................................................................80
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA...................................................................................85
4.1 – Materiais.......................................................................................................................85
4.2- Métodos.........................................................................................................................87
xi
4.2.1 Cálculo da Vulnerabilidade ao Risco Sísmico.........................................................90
4.2.1.1 Avaliação do Risco Sísmico..................................................................................91
4.2.1.2 – Estimando a Vulnerabilidade.................................................................................93
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................99
5.1 – Cálculo da Vulnerabilidade ao Risco Sísmico.............................................................99
5.2 – Estimativa de Vulnerabilidade...................................................................................108
5.3 – Cenário geológico da atividade sísmica na área de estudo........................................109
5.3.1 Tratamento e manipulação digital dos produtos derivados do MDE da missão
SRTM..................................................................................................................................109
5.3.2 Integração de dados em ambiente SIG.....................................................................118
5.3.3 – Identificação de Concentradores Locais de Estresse (“Local Stress Concentrators”
– LSCs)................................................................................................................................129
5.4 Confecção do Mapa do Fator de Risco Sísmico (SHF) em Escala Regional.............132
CAPITULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...........................................135
CAPITULO 7 - BIBLIOGRAFIA...................................................................................137
ANEXO I - Mapa do fator de risco sísmico da Área de Influência do Poliduto Urucu-
Coari-Manaus com sobreposição de Local Stress Concentrators (LSCs), na escala 1:
750.000.
xii
Lista de Figuras
Figura 1.1 – Mapa de localização do epicentro do sismo de Codajás. Fonte: Assumpção et
al. (1983).................................................................................................................................3
Figura 1.2 – Fluxograma simplificado da metodologia proposta......................................... 5
Figura 2.1 – Mapa de localização do traçado do poliduto Urucu-Coari-
Manaus....................................................................................................................................8
Figura 2.2 - Imagem SPOT adquirida em junho de 2008, mostrando o Terminal de Coari
(TECO), na margem direita do Rio Solimões. Fonte: Google Earth
(2011)......................................................................................................................................9
Figura 2.3 – Mapa do trajeto da tubulação do poliduto Urucu – Coari – Manaus. Fonte:
Agência Petrobras de Notícias (2009)...................................................................................11
Figura 2.4 – Série histórica das cotas fluviométricas de Coari, destacando a cheia e a seca
máximas. Fonte: ANA (2015)...............................................................................................12
Figura 2.5 – Perspectiva aérea do terminal de Coari (TECO), situado na margem direita do
Rio Solimões. Fonte: PIATAM (2008).................................................................................12
Figura 2.6 – Perspectiva aérea da margem direita do Rio Solimões, obtida em agosto/2008
(vazante), a montante da confluência deste com o Lago Coari, em cujo interior ocorrem
florestas inundadas. Fonte: PIATAM (2008)........................................................................14
Figura 2.7 – Mapa de localização das bacias sedimentares do Solimões e Amazonas.
Fonte: Munis (2010)..............................................................................................................16
Figura 2.8 – Arcabouço estrutural da Bacia do Amazonas. (Neves, 1990).........................17
xiii
Figura 2.9 – Compartimentação estratigráfica da região que inclui o poliduto Urucu-
Coari- Manaus. Fonte: CPRM (2010)...................................................................................20
Figura 2.10 - Mapa Neotectônico do Brasil. Fonte: CENPES e CPRM (2014)..................26
Figura 2.11 – Informações do Mapa Neotectônico do Brasil sobrepostas ao arcabouço
estratigráfico da região que abrange o poliduto Urucu-Coari-Manaus.................................30
Figura 2.12 – Hidrografia, topografia e principais estruturas magnéticas reativadas
neotectonicamente na Amazônia Central. (MUNIS, 2009)..................................................33
Figura 2.13 - Mapa de epicentros da Amazônia. Fonte: BERROCAL et al. (1984)...........35
Figura 2.14 - Epicentro do sismo na cidade de Codajás e sua área de influência de acordo
com a escala de Mercalli. Fonte: Assumpção et al. (1985).................................................36
Figura 2.15 – Mapa de unidades de relevo da região que abrange o poliduto Urucu-Coari-
Manaus..................................................................................................................................42
Figura 2.16 – Mapa de tipos de solo da região que abrange o poliduto Urucu-Coari-
Manaus..................................................................................................................................54
Figura 2.17 - Perfil típico de Latossolo Amarelo (Manaus, AM). Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................45
Figura 2.18 - Perfil típico de Argissolo (Rio Preto da Eva, AM). Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazonia (CPRM, 2010).......................................................................48
Figura 2.19 - Perfil típico de Espodossolo (Rio Preto da Eva, AM). Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................50
xiv
Figura 2.20 - Perfil típico de Gleissolo (Parintins, AM). Fonte: Projeto Geodiversidade da
Amazônia (CPRM, 2010)......................................................................................................52
Figura 2.21 - Perfil típico de Plintossolo (Humaitá, AM). Fonte: Projeto Geodiversidade da
Amazônia (CPRM, 2010)......................................................................................................53
Figura 2.22 - Perfil típico de Neossolo Flúvico (Iranduba, AM). Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................55
Figura 3.1 – Diagrama de uma falha sismicamente ativa durante e após um terremoto.
Modificado de Vallejo e Ferrer (2011).................................................................................61
Figura 3.2 - Exemplo de influência das condições locais do terreno na resposta sísmica
(modificado de Vallejo e Ferrer, 2011)................................................................................63
Figura 3.3 – Representação esquemática das condições petrofísicas necessárias ao processo
de liquefação dos solos. Modificado de Seed (1987)............................................................69
Figura 3.4 – Rotação local do campo de tensões. Fonte: Talwani (2017)...........................70
Figura 3.5 – Série de terremotos intraplaca (IPEs) com magnitude (M) maior que 7,0
ocorridos entre 1966 e 1976 na North China Rift Basin. Fonte: Talwani
(2017)....................................................................................................................................72
Figura 3.6 – Zona sísmica de New Madrid situada em uma região de “stepover” entre as
falhas Blytheville e New Madrid (com direção NE). Modificado de Talwani
(2017)....................................................................................................................................73
Figura 3.7 – Sismicidade e dados de estresse na região amazônica. Modificado de
Assumpção (1992)................................................................................................................76
Figura 3.8 - Bloco diagrama ilustrando a configuração inferida da seção crustal em torno
dos três terremotos intraplaca principais da Amazonia. Fonte: Veloso (2014)....................78
xv
Figura 3.9 – O Lineamento Pirapemas no contexto tectônico da parte emersa da Bacia de
Barreirinhas. Fonte: Almeida Filho et al. (2009)..................................................................81
Figura 3.10 – Modelo digital de elevação (MDE) da SRTM na área do lineamento
Pirapemas. Fonte: Almeida Filho et al. (2009)....................................................................82
Figura 3.11 – Configuração da rede de drenagem na área estudada por Almeida Filho et al.
(2009), na qual ocorrem dois setores com distintos padrões separados pelo Lineamento
Pirapemas..............................................................................................................................83
Figura 4.1 – Fluxograma detalhado da metodologia proposta.............................................88
Figura 4.2 – Localização do poliduto Urucu-Coari-Manaus no mapa de Zonas Sísmicas do
Brasil. Modificado de Nobrega e Nobrega (2016)................................................................98
Figura 5.1 - Mapa de risco para perfil de solo (FSPT).....................................................101
Figura 5.2 - Mapa de risco para potencial de liquefação do solo (FPSL).........................103
Figura 5.3 - Mapa de risco para deslocamento permanente do solo (FPDS)....................105
Figura 5.4 - Mapa de risco sísmico (SHF)........................................................................107
Figura 5.5 - Mosaico SRTM da área de estudo.................................................................112
Figura 5.6 - Mapa de curvas de nível da área de estudo....................................................113
Figura 5.7 - Mapa hipsométrico da área de estudo..........................................................113
Figura 5.8 - Mapa de declividade da área de estudo.........................................................114
xvi
Figura 5.9 - Mapa da rede de drenagem da área de estudo...............................................117
Figura 5.10 - Mapa integrado de feições estruturais.........................................................119
Figura 5.11 – Mapa dos limites das bacias hidrográficas..................................................120
Figura 5.12 - Mapa de hipsometria e linhas de charneira das bacias do Solimões e
Amazonas, incluindo a terminação leste do Megacisalhamento do
Solimões..............................................................................................................................123
Figura 5.13 – Vista aérea com visada para sul da margem esquerda do Rio Solimões na
área de Coari, na qual as escarpas e os barrancos podem ser observados, no contexto da
captura fluvial. Fonte: (PIATAM, 2008)............................................................................124
Figura 5.13a – Escarpa na margem esquerda do Rio Solimões em detalhe da Figura 5.13.
Notar a embarcação como escala........................................................................................124
Figura 5.14 - Mapa de lineamentos magnéticos e linhas de charneira sobrepostos ao mapa
de declividade......................................................................................................................126
Figura 5.15 - Falhas do Mapa Neotectônico do Brasil e do Projeto Geodiversidade
subrepostas ao mapa de declividade...................................................................................128
Figura 5.16 - Mapa de falhas geológicas, linhas de charneiras e Local Stress Concentrators
(LSCs).................................................................................................................................130
Figura 5.17 - Mapa de declividade e Local Stress Concentrators (LSCs).......................131
Figura 5.18 - Mapa de risco sísmico e Local Stress Concentrators.................................134
xvii
Listas de Tabelas
Tabela 2.1 - Gasodutos da Malha Norte do Brasil...............................................................11
Tabela 2.2 - Descrição de um perfil de Latossolo Amarelo Distrófico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................45
Tabela 2.3 - Descrição de um perfil de Argissolo Amarelo Distrófico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................47
Tabela 2.4 - Descrição de um perfil de Espodossolo Hidromórfico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................49
Tabela 2.5 - Descrição de um perfil de Gleissolo Háplico Eutrófico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................51
Tabela 2.6 - Descrição de um perfil de Plintossolo Pétrico Concrecionário. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................53
Tabela 2.7 - Descrição de um perfil de Solo Neossolo Flúvico Eutrófico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).......................................................................55
Tabela 4.1- Bases de Dados Utilizadas na Elaboração do Trabalho....................................90
Tabela 4.2 - Fator de risco pelo tipo de perfil de solo (FSPT).............................................91
Tabela 4.3 - Fator de risco para o potencial de liquefação do solo (FPSL)........................92
Tabela 4.4 - Fator de risco para o deslocamento permanente do solo (FPDS)...................93
xviii
Tabela 4.5 – Índices básicos de dano e sua relação com o fator de risco sísmico (SHF) e os
graus de intensidade Mercalli................................................................................................94
Tabela 4.6 - Fator de correção por material do índice básico de dano................................94
Tabela 4.7 – Zonas sísmicas e variáveis associadas.............................................................96
Tabela 5.1 - Fator de risco por perfil de solos (FSPT).......................................................100
Tabela 5.2 - Fator de risco por potencial de liquefação dos solos (FPSL).........................102
Tabela 5.3 - Fator de risco por deslocamento permanente do solo (FPDS).......................104
Tabela 5.4 – Consolidação dos resultados da classificação segundo os fatores de risco
sísmico propostos pela PAHO (1998).................................................................................106
Tabela 5.5 – Principais características do MDE da SRTM utilizado na pesquisa.............109
xix
Lista de Abreviações
CENPES - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de
Mello
COPPE - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESRI - Environmental Systems Research Institute
FSPT - Fator de Risco pelo Tipo de Perfil de Solo
FPSL - Fator de Risco para o Potencial de Liquefação do Solo
FPDS - Fator de Risco para o Deslocamento Permanente do Solo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
LAMCE – Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia
LabSAR – Laboratório de Sensoriamento Remoto por Radar Aplicado à Indústria do
Petróleo da COPPE/UFRJ
LSCs - Local Stress Concentrators
NASA - National Aeronautics and Space Administration
PAHO - Pan American Health Organization
PIATAM MAR - Potenciais Impactos Ambientais do Transporte de Petróleo e
Derivados na Zona Costeira Amazônica
PIATAM – Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na
Amazônia
PETROBRAS - Petróleo Brasileiro S.A.
SHF - Fator de Risco Sísmico
SWBD - SRTM Water Body Data
SRTM - Shuttle Radar Topographic Mission
TRANSPETRO - Petrobras Transporte S.A.
USGS - United States Geological Surrey
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 – Motivação Científica para a Realização do Trabalho
A área de abrangência do poliduto Urucu-Coari-Manaus, localizado no Estado
do Amazonas, tem início na província petrolífera de Urucu, a oeste da cidade de Coari
(AM), e termina em Manaus, onde existe uma refinaria (REMAN). Esse duto transporta
óleo e gás para um terminal nas vizinhanças de Coari, na margem direita do Rio
Solimões, e integra a malha dutoviária do Norte do Brasil, em plena floresta amazônica
(TRANSPETRO, 2008). A partir do terminal aquaviário de Coari (TECO), o gás natural
é levado para Manaus através do gasoduto Coari-Manaus, enquanto o óleo é
transportado por petroleiros até a REMAN através do Rio Solimões.
A região onde foi implantado o poliduto é ocupada pela floresta amazônica, a
qual pode ser considerada um imenso domínio de terras baixas, caracterizadas
geomorfologicamente por apresentar planícies fluviais limitadas pelas terras cisandinas
e pelas bordas dos planaltos Brasileiro e Guianense (AB’SABER, 2003). Em sua porção
centro-ocidental, a Amazônia apresenta regime hídrico com pluviosidade regular e
relativamente intensa, assim como períodos de secas e cheias bem definidas. Dessa
maneira, o aporte hídrico nessa depressão topográfica de escala continental tem uma
importante contribuição das chuvas (AB’SABER, 2003). A oscilação sazonal do nível
das águas pode chegar a mais de dez metros de altura. A variabilidade do regime hídrico
da Amazônia resulta em áreas de floresta de terra firme e várzea (ou alagáveis). Essas
diferentes coberturas vegetais se distinguem nos períodos de seca e de cheia dos rios da
região e podem ser determinadas pelo relevo. Assim, a topografia da Amazônia Central
é um dos fatores que contribuem para o condicionamento da distribuição das espécies
vegetais e da estrutura de suas comunidades em escala local e regional.
Quanto ao aspecto geológico, a região apresenta diferentes unidades
estratigráficas e possui um arcabouço estrutural complexo. São encontradas ali rochas
sedimentares do Cretáceo Superior correspondentes à Formação Alter do Chão, além
dos depósitos flúvio-lacustres do Mioceno-Pleistoceno, como a Formação Solimões, e
as planícies fluviais referentes ao Quaternário (CUNHA et al., 2007). É importante
ressaltar que esta região sofre influência da Neotectônica, que produz estruturas
2
relacionadas a alívios de tensão ao longo de descontinuidades intraplaca (BERROCAL
et al.,1984).
Com efeito, o poliduto Urucu-Coari-Manaus está assentado em uma região
sismicamente ativa, como atesta a ocorrência de terremotos, segundo Assumpção et
al.(1983), a norte de Manaus (1963; magnitude 5,1), Codajás (1983; magnitude 5,5) e
no Parque Nacional do Jaú (2005; magnitude 4,4). Na Figura 1.1, pode ser observado o
epicentro do terremoto ocorrido na cidade de Codajás, em 05/08/83, de magnitude 5,5.
Assim, verifica-se a necessidade do desenvolvimento de uma metodologia para o estudo
integrado da influência neotectônica na paisagem, de modo a proceder uma estimativa
do risco sísmico da citada infraestrutura dutoviária. Uma vez que esta região é
potencialmente susceptível a possíveis impactos associados à atividade sísmica, devem
ser elencados os fatores geológicos, pedológicos e geomorfológicos que controlam a
expressão no terreno da ação dos terremotos, assim como as feições tectônicas que
possivelmente acumulam estresse.
Para caracterizar a distribuição no espaço dos aspectos e impactos relacionados
às atividade sísmica, torna-se necessário manipular, em um Sistema de Informações
Geográficas, os diversos planos de informação relativos aos componentes da paisagem
(Geologia, Geomorfologia, Pedologia e Geotecnia), visando entender sua relevância no
estudo de áreas vulneráveis a deformações por terremotos.
3
4
1.2 – Objetivo Geral
A pesquisa tem como objetivo desenvolver uma metodologia utilizando
Sistemas de Informações Geográficas (SIG), informações temáticas disponíveis na
literatura e produtos da missão Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), como
subsídio à avaliação da vulnerabilidade a eventos sísmicos da área de influência do
poliduto Urucu-Coari-Manaus. Para alcançar este objetivo principal, pretende-se atingir
os objetivos específicos abaixo listados.
1.3 - Objetivos Específicos
Adaptar para as condições amazônicas a metodologia para o cálculo do risco
sísmico proposta pela Organização Pan- Americana da Saúde (PAHO, 1998);
Elaborar mapas de hipsometria, declividade, drenagem e falhas geológicas,
tendo como o auxílio do MDE da missão SRTM (Shuttle Radar Topography
Mission) e informações pedológicas, geomorfológicas, geológicas e geofísicas
disponíveis na literatura;
Identificar agrupamentos de estruturas geológicas que atuem como
concentradores locais de estresse no contexto de terremotos intraplaca;
5
1.4 – Fluxograma Geral da Metodologia Proposta
Para atingir os objetivos previamente propostos na presente tese, seguiu-se o
fluxograma de atividades mostrado na Figura 1.2.
Revisão bibliográfica
Seleção de dados e informações (MDE da
SRTM, bases de cartografia temática,
informações da literatura).
Utilização do SIG para espacializar os
diferentes aspectos anteriormente citados na
forma de mapas, através da integração de dados
e informações.
Cálculo do risco sísmico através de álgebra de
mapas e de relacionamentos espaciais.
Definição de parâmetros para expressar os
diferentes aspectos do risco sísmico no poliduto
Urucu-Coari-Manaus.
Confecção do produto final e conclusões.
Escolha da metodologia a ser adaptada
para a Amazônia.
Definição do Problema
6
1.5 - Estrutura do Trabalho
O desenvolvimento da tese é exibido conforme a estrutura a seguir, onde, no
capítulo 1 (Introdução), é reportado um panorama geral, que inclui a motivação
científica e a justificativa para a elaboração da pesquisa, assim como seus objetivos
geral e específicos, além da visão geral da metodologia proposta.
O capítulo 2 refere-se à área de estudo, onde são apresentadas sua delimitação e
caracterização, destacando a localização geográfica e sua fisiografia, visando
contextualizá-la no cenário geológico da Amazônia.
Ainda no capítulo 2, é enfocada especificamente a região do poliduto Urucu-
Coari-Manaus, descrevendo sua compartimentação geológica, destacando os principais
tipos de solos e as unidades de relevo, os aspectos ambientais e tectono-estruturais.
No capítulo 3, é realizada uma revisão teórica sobre os principais conceitos
ligados à natureza dos eventos sísmicos e sua possível influência na integridade da
infraestrutura dutoviária. Também são destacadas informações gerais sobre a
sísmicidade na Amazônia. Por fim, encontram-se tópicos relacionados à modelagem
ambiental em sistemas de informações geográficas e alguns conceitos e aplicações
associados à missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission).
O capítulo 4 descreve em detalhe os materiais utilizados e a metodologia
desenvolvida na pesquisa para a avaliação da vulnerabilidade a eventos sísmicos na
região em estudo.
No capítulo 5, são apresentados os produtos obtidos como resultado da pesquisa,
bem como a descrição de como foi utilizada a metodologia proposta para se chegar a
tais produtos.
Por sua vez, o capítulo 6 inclui as conclusões do trabalho e as discussões
referentes à possível aplicação futura desse tema de pesquisa, com a finalidade de
aprimorar a contribuição representada pela presente tese. Finalmente, são incluídas as
referências bibliográficas utilizadas como subsídio ao estudo, além de um mapa em
anexo, na escala 1: 750.000, no qual os resultados do trabalho estão cartografados.
7
2- ÁREA DE ESTUDO.
2.1 Localização e Caracterização da Área de Estudo
A área de estudo é densamente florestada e se localiza no Estado do Amazonas,
Amazônia Central, abrangendo os municípios de Coari, Codajás, Anori, Anamã,
Caapiranga, Manacapuru, Iranduba e Manaus, por onde passa o Poliduto Urucu-Coari-
Manaus, conforme o mapa de localização da Figura 2.1. Alguns dos ambientes por ele
abrangidos podem ser impactados em caso de derrames de óleo, tais como a confluência
de lagos e rios, além de distintos tipos de vegetação inundada.
Nas áreas florestadas predominantemente emersas, existem pequenos vales por
onde passam igarapés. A presença de desmatamento é principalmente verificada nas
vizinhanças dos perímetros urbanos de Manaus e Coari, na margem norte do Lago de
Coari, bem como nos municípios de Manacapuru e Iranduba (Brandão et al., 2011). As
áreas rebaixadas próximas aos corpos de água (lagos e rios) podem incluir florestas
inundadas e, algumas vezes, bancos de vegetação flutuante (macrófitas).
8
9
O município de Coari inclui o traçado do Garsol (Tabela 2.1), que transporta gás
natural, óleo e gás liquefeito de petróleo (GLP) desde Urucu até o TECO (Figuras 2.2 e
2.5). Desse ponto em diante, um poço horizontal abaixo do Rio Solimões conecta a
tubulação do Garsol com o gasoduto Gascom, o qual atende os municípios por onde
passa até chegar a Manaus (Figura 2.3). A partir de Urucu, os municípios a serem
contemplados pelo fornecimento de gás natural são Coari, Codajás, Anori, Anamã,
Caapiranga, Manacapuru, Iranduba e Manaus. O acesso a eles se faz por meio aéreo ou
hidroviário, pois existem na região grandes cursos de água que permitem esse tipo de
transporte (os rios Solimões, Urucu, Coari, Manacapuru e Purus, dentre outros). Assim,
o óleo e o GLP, oriundos da Província Petrolífera de Urucu, são transportados por um
petroleiro, através da rota fluvial do Solimões, desde o TECO (Figura 2.5) até uma
refinaria em Manaus (REMAN). A partir do TECO, o gás natural é levado até Manaus
e, futuramente, às outras sedes municipais pelo Garsol e seus ramais.
Figura 2.2 - Imagem SPOT adquirida em junho de 2008, mostrando o Terminal de Coari (TECO), na
margem direita do Rio Solimões. Fonte: Google Earth (2011).
O poliduto Urucu-Coari-Manaus, em cujo contexto se insere o TECO, integra a
Malha Dutoviária Norte do país. Sua construção permite suprir a demanda de gás
10
natural para a geração de energia elétrica na região de Manaus e seu entorno, além de
abrir perspectivas de agregação de valor para outros usos industriais e domésticos. Tal
empreendimento é fundamental para aprimorar a matriz energética do Estado do
Amazonas, através da substituição de óleo diesel e óleo combustível pelo gás natural
(www.petrobras.com.br; acesso em 2009). A Província Petrolífera de Urucu está
localizada às margens do rio homônimo, no município de Coari. O poliduto, constituído
por aço carbono, por onde escoa a produção de óleo, gás natural e gás liquefeito de
petróleo, é composto por três trechos (A1, B1 e B2). Na Figura 2.3 e na Tabela 2.1, são
apresentados os citados trechos e sua especificação de origem e destino.
No trajeto referente aos trechos A e B1, podem ser encontradas áreas de florestas
inundáveis. O nível da água entre as estações de seca e de cheia pode aí variar até 17 m
(Figura 2.4), o que resulta em alagamentos sazonais (MIRANDA et al., 2007). Uma
parte do trecho do Gascom que se estende de Coari a Anamã é considerada crítica, pois
o solo no local não apresenta sustentabilidade, ficando submerso no período da cheia e
enlameado durante a seca, enchente e vazante. Tal fato acarreta em grande dificuldade
de acesso ao poliduto, o que torna de suma importância o planejamento de ação de
proteção ambiental. Para isso, existem iniciativas que promovem estudos e projetos na
Amazônia, cujo objetivo é avaliar e monitorar os impactos decorrentes das ações da
indústria do petróleo em tal paisagem, os quais demandam o uso integrado de
geoprocessamento, sensoriamento remoto e visualização científica (e.g., SILVA, 2012).
11
Figura 2.3 – Mapa do trajeto da tubulação do poliduto Urucu – Coari – Manaus.
Fonte: Agência Petrobras de Notícias (2009).
Tabela 2.1: Gasodutos da Malha Norte do Brasil.
Gasodutos que Entraram em
Operação
Origem Destino Diâmetro
(polegadas)
Diâmetro
(milímetros) Extensão
(km)
Garsol (Urucu-Coari) Urucu Coari 18” 457 mm 279
Gascom (Coari-Manaus) Coari Manaus 20” 508 mm 382
Total 661
Fonte: PIATAM (2008).
12
Figura 2.4 – Série histórica das cotas fluviométricas de Coari, destacando a cheia e a seca máximas.
Fonte: ANA (2015). Segundo Silva (2012), a dinâmica sazonal dos rios da Amazônia é a seguinte: cheia
(maio a julho), vazante (agosto a setembro), seca (outubro a novembro/ dezembro) e enchente
(dezembro a abril).
Figura 2.5 – Perspectiva aérea do terminal de Coari (TECO), situado na margem direita do Rio Solimões.
Fonte: PIATAM (2008).
13
2.2 - Aspectos Fisiográficos
A Amazônia destaca-se como um gigantesco domínio de terras baixas
florestadas, que se encontram enclausuradas entre a barreira cisandina e as bordas do
Planalto Central e do Planalto das Guianas (AB’SABER, 2003). Seus limites são,
portanto, definidos a oeste pela Cordilheira dos Andes (com elevação de até 6000 m), a
norte pelo Planalto das Guianas (com picos montanhosos de até 3000 m), a sul pelo
Planalto Central (com altitude média de 1200 m) e a leste pelo Oceano Atlântico, para
onde escoa toda a água captada na Bacia Amazônica (FISCH et al., s.d.).
Essa região abrange terras nos dois lados da linha do Equador. Assim, em
virtude de sua posição geográfica, a entrada de energia solar e o abastecimento da massa
de ar úmido ocorrem de maneira quase permanente, o que resulta em um clima quente e
úmido, com temperaturas altas e chuvas rápidas concentradas (AB’SABER, 2003).
O clima da Amazônia Ocidental é influenciado pela massa equatorial continental
(mEc). Todavia, na Amazônia Oriental, o clima tem a interferência da massa equatorial
marítima (mEm) e da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Também se verifica a
influência da massa polar atlântica (mPa) na porção interior da Amazônia, porém aí
predomina o clima equatorial com pluviosidade média anual de 2.500 mm e temperatura
média anual de 24 °C (FISCH et al., s.d.).
Em linhas gerais, a vegetação na Amazônia é composta pelas seguintes
unidades: (a) floresta ombrófila densa de terras baixas, que ocupa terrenos do
Quaternário, pouco acima do nível do mar; (b) floresta ombrófila densa aluvial, como a
formação ribeirinha desenvolvida ao longo dos cursos de água, que ocorre nos terraços
antigos das planícies quaternárias; (c) floresta ombrófila aberta, que apresenta quatro
faciações florísticas (palmeira, bambu, sororoca e cipó); (d) áreas de tensão ecológica
ou de vegetação de transição, que se situam entre duas ou mais regiões ecológicas ou
em zonas onde as unidades se interpenetram e constituem as transições florísticas (AB’
SABER, 2003). Na Figura 2.6, é apresentada uma perspectiva aérea, na época da
vazante, das proximidades da confluência entre o Rio Solimões e o Lago Coari, em cujo
interior ocorrem florestas inundadas.
14
Figura 2.6 – Perspectiva aérea da margem direita do Rio Solimões, obtida em agosto/2008 (vazante), a
montante da confluência deste com o Lago Coari, em cujo interior ocorrem florestas inundadas. Fonte:
PIATAM (2008).
15
2.3 - Geologia regional das bacias do Solimões e Amazonas
As bacias do Solimões e do Amazonas fazem parte da Província Estrutural do
Amazonas, de idade fanerozoica, dentro da Placa Sul-Americana, de acordo com os
conceitos emitidos por Almeida et al. (1981), seguindo a tendência de estudos
geológicos regionais em países de dimensões continentais como o Canadá e a Austrália
(Figura 2.7).
2.3.1 - Bacia Sedimentar do Solimões
Segundo o levantamento da Geodiversidade do Estado do Amazonas (CPRM,
2010), a Bacia do Solimões constitui uma pilha sedimentar intracratônica, em uma área
de aproximadamente 450.000 km2, quase toda contida na referida unidade da federação.
Encontra-se limitada a oeste pelo Arco de Iquitos, que a separa da Bacia do Acre, e a
leste pelo Arco de Purus, que a separa da Bacia do Amazonas. A norte e a sul é
bordejada, respectivamente, por rochas pré-cambrianas dos escudos das Guianas e
Brasil Central. Encontra-se compartimentada em duas sub-bacias (Jandiatuba e Juruá),
situadas, respectivamente, a oeste e a leste do Arco de Carauari. Na sub-bacia Juruá,
encontra-se a Província Petrolífera de Urucu. (Figura 2.7).
De acordo com Eiras (2005), o preenchimento da Bacia do Solimões por rochas
sedimentares fanerozoicas atinge 3.800 m e 3.100 m de espessura nas sub-bacias Juruá e
Jandiatuba, respectivamente. Tais depósitos podem ser divididos em duas
megassequências de primeira ordem: uma principal, paleozóica, secionada por diques e
soleiras de diabásio; outra mesozoico-cenozoica. A coluna paleozoica tem destaque por
conter rochas geradoras, reservatório e selante para hidrocarbonetos. Por sua vez, essas
litologias encontram-se sobrepostas por extensas sucessões cretáceas e quaternárias que
predominam em superfície. Dentre os pacotes aflorantes, destaca-se a sequência
Paleógena equivalente aos pelitos e arenitos flúviolacustres da Formação Solimões,
também depositados sob influência da Orogenia Andina. Essa unidade forma uma cunha
sedimentar desde o Arco Purus até as bacias subandinas, atingindo mais de 7.000 m de
espessura. Com efeito, a cunha argilosa associada à Formação Solimões mal ultrapassa
o Arco de Purus, estendendo-se pouco além de sua porção oriental, já na bacia do
Amazonas (CUNHA et al., 2007).
16
Figura 2.7 – Mapa de localização das bacias sedimentares do Solimões e Amazonas. Fonte:
Munis (2009). 1- Arco de Iquitos; 2- Arco de Carauari; 3- Arco de Purus; 4- Arco de Gurupá.
2.3.2 - Bacia Sedimentar do Amazonas
A Bacia do Amazonas constitui uma unidade sedimentar intracratônica limitada
a norte pelo Escudo das Guianas e a sul pelo Escudo Brasil Central (CPRM, 2010).
Ocupa uma superfície de aproximadamente 480. 000 km2, abarcando porções dos
estados do Pará, a leste, e do Amazonas, a oeste, além de uma reduzida área no estado
de Roraima. Seu limite oriental com a Fossa de Marajó é definido pelo Arco de Gurupá
(Figura 2.7). A oeste, o Arco de Purus a separa da Bacia do Solimões. As linhas
estruturais mestras da Bacia do Amazonas desenvolvem-se nas direções NW–SE, NE-
SW e E–W (Figura 2.8). Durante sua evolução, a geometria do arcabouço tectono-
estrutural foi controlada pelas rochas do embasamento, cuja reativação ocorreu durante
a movimentação do supercontinente Gondwana no Paleozoico. O arcabouço estrutural
resultante inclui sistemas de falhas normais e de transferência, assim como a geração de
arcos e discordâncias regionais. Os arcos promoveram a compartimentação da bacia,
1
2
3
4
17
que foi estabelecida em blocos estruturais distintos. Os efeitos posteriores da
fragmentação do Gondwana, com a abertura do Oceano Atlântico, também causaram
impacto no interior da bacia, com a ocorrência de magmatismo básico e de
sedimentação. Segundo Wanderley Filho (1991), a Bacia do Amazonas enfrenta ainda
movimentações transcorrentes dextrais no Neógeno.
Duas megassequências de primeira ordem são identificadas nos 5.000 metros da
pilha sedimentar da Bacia do Amazonas (CPRM, 2010). Tais depósitos são limitados
por discordâncias relacionadas a eventos orogênicos, a saber: a megassequência
paleozoica (que inclui diques e soleiras de diabásio) e a megassequência mesozoico-
cenozoica (CUNHA et al., 1994). Tais autores subdividiram a megassequência
paleozóica nas sequências ordoviciano-siluriana, devoniano-carbonífero inferior e do
carbonífero superior-permiana. Com respeito à megaseqûencia mesozoico-cenozoica,
foi reconhecida uma sequência cretáceo-paleógena (que inclui a Formação Solimões,
com ocorrência restrita a leste do Arco de Purus) e, subsidiariamente, uma sedimentação
pleistocênica no flanco leste do citado arco. Na região de Manaus, a megassequência
mesozoico- cenozoica é representada pelos depósitos da Formação Alter do Chão.
Figura 2.8 – Arcabouço estrutural da Bacia do Amazonas (NEVES, 1990).
18
2.4 – Compartimentação Estratigráfica
A região que circunda o poliduto Urucu-Coari-Manaus é constituída por rochas
sedimentares pertencentes às seguintes unidades estratigráficas: Formação Prosperança
(Neoproterozoico), Grupo Trombetas (Ordoviciano-Siluriano), Formação Alter do Chão
(Cretáceo), Formação Içá (Plioceno-Pleistoceno) e sedimentos fluviais do Quaternário
(Figura 2.9).
Formação Prosperança – As rochas da Formação Prosperança, de idade
neoproterozoica, são pobremente expostas, se comparadas com o registro fanerozoico
das bacias do Solimões e Amazonas. Consiste de conglomerados, arenitos arcosianos e
pelitos flúvio-lacustres que preenchem grábens no embasamento cristalino com
orientação NW-SE (BARBOSA, 2010). O Arco de Purus corresponde ao principal
desses grábens, cuja inversão ocorreu no Cambriano–Ordoviciano.
Grupo Trombetas – Tal unidade estratigráfica integra a sequência ordoviciano–
siluriana da Bacia do Amazonas, sendo constituída por arenitos finos a médios,
laminados, com matriz caulinítica, bem como por folhelhos e siltitos neríticos cinza-
esverdeados, laminados e micáceos, cuja espessura pode alcançar 350m. (CAPUTO et
al., 1971). Assenta-se em discordância sobre as unidades do embasamento. É truncada
no seu topo por uma discordância relacionada à Orogenia Caledoniana.
Formação Alter do Chão – Esta formação é constituída de arenitos quartzosos de
granulação grossa a média, localmente conglomeráticos, avermelhados a variegados,
caulíniticos, mal selecionados. Subordinadamente, ocorrem argilitos e siltitos
avermelhados (COSTA, 2002). Tal pacote está associado à sequência cretácea –
paleógena da Bacia do Amazonas e foi depositado em ambiente fluvial que corria de
leste para oeste desde o Arco de Gurupá até as bacias sub-andinas (MAPES, 2009).
19
Formação Içá - A Formação Içá sobrepõe discordantemente a Formação Solimões
(MAIA et al., 1977), exibe espessura de até 15 m e consiste em siltitos, arenitos finos a
médio e conglomerados intraformacionais (seixos de pelitos), brancos a rosados e raros
argilitos cinza com restos de vegetais. Exibe estratificação cruzada acanalada,
estratificação inclinada heterolítica, estratificação plano-paralela relacionadas a
depósitos fluviais meandrantes. A idade pliocena (~5-1,7 Ma) é inferida para a parte
inferior da Formação Içá, desprovida de material propício para a datação, enquanto a
parte superior da Formação Içá é pleistocena (~1,8 Ma).
Depósitos Fluviais do Quaternário – São formados por sedimentos argilosos e
arenosos, com estratificação plano-paralela e cruzada, depositados na planície de
inundação, diques marginais e em canais abandonados (Nascimento et al., 1976;
Latrubesse & Franzinelli, 2002; Silva et al., 2007).
20
21
2.5 – Evidências do Controle Tectônico da Paisagem na Área de Estudo
Evidências do controle tectônico da paisagem na área de estudo foram
verificadas na literatura a partir de investigações de campo, acompanhadas da análise
sistemática de cartas planialtimétricas e de diversos produtos de sensoriamento remoto.
Estudos anteriormente realizados apontam para a existência de falhas individuais
e de zonas de falha controlando trechos do Rio Solimões (e.g., Bezerra et al., 1999;
Silva et al., 2002; Silva et al., 2003; Rosseti et al., 2005; Silva et al., 2007). Estes
autores consideram os evidentes processos tectônicos que condicionaram a
sedimentação fluvial recente como responsáveis pela formação de bacias quaternárias
com influência direta na dinâmica de vários cursos d`água.
Imagens Landsat 7 ETM+, ASTER e orbitais de radar, além de modelos digitais
de elevação da SRTM, foram utilizados por Ribeiro et al. (2009) para fins de análise
geomorfológica, o que permitiu a observação da dinâmica fluvial do Rio Solimões na
área em estudo. A atuação da falha transcorrente de Urucu-Coari, com direção ENE-
WSW, resultou no controle tectônico de parte deste rio e no processo de avulsão. A
reconstituição paleogeográfica indica que o antigo curso do Rio Solimões se
desenvolvia na direção do Lago Acará e do Rio Badajós (Figura 2.9).
As falhas NE-SW, observadas limitando o Rio Purus, segundo Ribeiro et al.
(2009), funcionam como falhas normais ou oblíquas, as quais geraram uma bacia
quaternária estreita e alongada na direção NE-SW. Ademais, o desnivelamento de
blocos pela ação dessas falhas normais resultou em fortes anomalias na rede de
drenagem, como, por exemplo, as rias fluviais do Lago Aiapuá e a anomalia do canal do
Rio Purus, com formas retilíneas ao longo do seu curso. (Figura 2.9)
2.6 - Neotectônica na Amazônia: breve revisão
Segundo Silva (2005), um dos primeiros autores a se referir à Neotectônica na
Amazônia foi Sternberg (1950), no trabalho intitulado “Vales Tectônicos na Planície
Amazônica”. Tal autor afirmou que lineamentos estruturais NE-SW e NW-SE
controlam o sistema hidrográfico (rios e lagos) dessa região. As evidências apresentadas
foram as seguintes: padrões retilíneos de rios como, por exemplo, o Urubu e o Preto da
Eva; inflexões em ângulo reto ou em cotovelo; formação de feixes paralelos desses
22
segmentos. Foi ainda apontado como causa desse fenômeno o desequilíbrio isostático
promovido pela sedimentação e subsidência na foz do Rio Amazonas.
O controle estrutural na rede de drenagem e no relevo também foi abordado no
projeto Radambrasil, corroborando as ideias de Sternberg (1950) e Tricart (1977). Com
efeito, Nascimento et al. (1976) comentaram acerca da orientação estrutural NW-SE dos
rios da margem esquerda do Amazonas (Preto da Eva, Urubu, Anebá, Uatumã, Jatapu,
Nhamundá e Trombetas) e NE-SW da margem direita (Paraconi, Maués–Açu e
Mumuru). Esses autores apresentaram exemplos notáveis do controle estrutural na foz
desses rios, destacando os rios Urubu, Caru, Anebá e Uatumã, cuja conexão com o Rio
Amazonas é realizada por meio de “furos”. A causa dessa estruturação na drenagem e
da “foz afogada” (rias fluviais) dos rios na Amazônia, assim como referido por
Sternberg (1950), foi atribuída por tais autores ao ajuste tectônico e à reativação no
Quaternário de zonas de fraqueza do embasamento.
Assim como ao elemento morfológico “furo” foi atribuído um caráter estrutural,
o mesmo conceito foi adotado para os lagos. A estes foi dada a designação de lagos
adaptados à tectônica, quando em associação com lineamentos. Sua origem foi
relacionada à subsidência controlada em zonas estruturais Nascimento et al., (1976).
Costa et al., (1978) descreveram várias evidências neotectônicas na paisagem da
região ocidental de Manaus. Dentre as feições indicativas, destacam-se: a formação de
lagos, formas de escarpas, assimetria de tributários, capturas de drenagem, barramento
de drenagem, rios com foz afogada, processos de avulsão por basculamento, formação
de terraços assimétricos, encurvamentos anômalos e subsidência localizada.
O Rio Negro, por exemplo, está encaixado em um lineamento NW-SE, que tem
reflexo em seu curso e na forma das suas margens escarpadas, como no trecho do
Arquipélago de Anavilhanas, a noroeste da cidade de Manaus (Forsberg et al., 2000).
Mais a montante, na região de Barcelos, a ampla faixa de aluviões indica migração do
rio para sudoeste, o que é indicativo da ação de movimentos de basculamento
responsáveis pelo deslocamento do curso d`água e pelo aprofundamento de seu talvegue
(Costa et al., 1978). Vários outros trechos retilíneos dos rios nessa região foram
associados a alinhamentos estruturais, destacando-se as direções NE-SW e NW-SE, e,
menos abundantemente, nas vertentes N-S e E-W (Silva et al., 2007). Outros
pesquisadores também verificaram que o condicionamento do Rio Negro a direções
preferenciais e ao fenômeno de basculamento indicam sua reativação tectônica no
23
Holoceno (e.g., Almeida-Filho e Miranda, 2007; Almeida Filho et al., 2005; Franzinelli
e Igreja, 2002).
A partir do estudo da sedimentação na planície aluvial do Rio Amazonas,
Iriondo (1982) descreveu indícios geomorfológicos da manifestação tectônica na região.
Tais evidências são explicitadas pelo estreitamento de planícies, trechos retilíneos ou
poucos divagantes de canais e mudanças angulares de direção dos rios, assim como pela
ausência de lagos e de bancos com fraca curvatura. A reorganização da paisagem
também se constata pela presença de vales fluviais abandonados (Val et al., 2014). Um
exemplo desse fenômeno acontece a noroeste da cidade de Manaus, através da captura
pela falha de Baependi do Rio Cueiras, que assim passou a fluir para o Rio Negro.
Muitas pesquisas avançaram somente na análise descritiva de feições na
paisagem, com base principalmente na análise da rede de drenagem. Poucas são as
evidências de campo, o que acontece pela ausência de afloramentos e pela topografia
rebaixada, comumente observadas na região amazônica. No entanto, estudos
neotectônicos se beneficiaram indiretamente com a exploração de petróleo nas bacias do
Solimões, Amazonas e Marajó, onde foi possível avançar na comparação de
morfoestruturas na superfície com dados sísmicos e de métodos potenciais (Miranda e
Boa hora, 1986; Almeida-Filho et al., 2010; Ibanez et al., 2016).
Saadi et al. (2002) realizaram uma compilação de feições estruturais do
Quaternário do Brasil, como parte do mapeamento de falhas ativas proposto pelo
Serviço Geológico Americano (USGS). O mapa apresentado mostra a localização, idade
e taxa de atividade das principais feições (lineamentos, falhas e dobras), bem como a
atividade sísmica a elas associada. De acordo com o documento elaborado pelos citados
autores, o campo de tensão horizontal máxima (SHmax) tem direção NW-SE na Bacia
do Amazonas. Esses resultados são concordantes com os dados de breakouts em poços
compilados por Miranda et al. (1994), que apontaram compressão proveniente de
noroeste para tal região. O Projeto Major Active Faults of the World (Task Group II-2,
International Lithosphere Program) cadastrou 48 falhas, zonas de falhas e
descontinuidades crustais quaternárias com extensões de dezenas a centenas de
quilômetros dispersas pelo Brasil (Saadi et al., 2002). Essas feições correspondem a
lineamentos e feixes de lineamentos, requerendo ainda verificação posterior para a
qualificação estrutural como extensas falhas.
De acordo com Saadi et al. (2002), a Falha do Rio Madeira, com extensão de
855 km, é interpretada possivelmente como transcorrente destral, controlando
24
fortemente o vale do Rio Madeira e o trecho do Rio Amazonas entre as cidades de
Itacoatiara e Itapiranga. A idade estimada para essa zona de falha é de 1,6 milhão de
anos (Ma). A Falha do Rio Negro, segundo esse trabalho, estende-se por cerca de 267
km desde a região do embasamento cristalino e controla o vale do baixo curso de tal rio,
atuando como uma falha normal com mergulho para SW. A taxa de movimentação
dessa zona de falha foi estimada em 1 mm /ano, com idade de 1,6 Ma. Segundo os
autores, as características geomorfológicas, dissecação fluvial e morfologia da região de
Manaus sugerem que tal estrutura tem continuado ativa no Holoceno, inclusive com
atividade sísmica, conforme comentam Saadi et al. (2002) e Assumpção e Soares
(1988).
De acordo com o mapa de estruturas quaternárias de Saadi et al. (2002), várias
outras zonas de falha ocorrem na Amazônia, como, por exemplo, as zonas de falhas
normais de Barcelos, do Baixo Trombetas e de Tapajós, as zonas de falhas inversas
(com possível componente transcorrente) do Baixo Juruá, Codajás, do Rio Jutai, do
Baixo Coari e do Baixo Purus, além da falha transcorrente destral de Monte Alegre.
Essa tectônica quaternária é responsável pela ocorrência de alguns sismos na região, que
têm sido registrados, desde longa data, por relatos históricos de padres, missionários e
da população, como também por meio de instrumentos. Tais observações caracterizam a
Amazônia com uma zona sismotectônica em ambiente intraplaca. Esse fato levou Mioto
(1993) a definir a Zona Sismogênica de Manaus. Hasui et al. (1993) consideram as
zonas sismogênicas como sítios de fraqueza crustal, que influíram nos processos de
reativação de estruturas pretéritas e ainda hoje são palco de manifestações da tectônica
ressurgente (Hasui, 1990).
25
2.7 - Mapa Neotectônico do Brasil
O Mapa Neotectônico do Brasil, na escala 1: 5.000.000, exibe dados estruturais,
morfoestruturais, de sismicidade natural e de tensões do território brasileiro, com o
objetivo de mostrar o atual estágio de conhecimento do seu quadro tectônico desde o
tempo presente ao Mioceno Inicial, podendo abranger o Oligoceno Final na Região
Norte (Figura 2.10). Manifestações tectônicas relacionadas a movimentos horizontais/
verticais, epirogenéticos e soerguimentos/subsidências não foram contempladas, por
ainda requererem informações adicionais. A atividade vulcânica restringe-se às ilhas
oceânicas e também não está representada no restante do território nacional.
Esse produto é o resultado do “Projeto Mapa Neotectônico do Brasil:
caracterização da deformação neotectônica do território brasileiro”, elaborado na Rede
Temática de Estudos Geotectônicos do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES) da Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS), em realização no âmbito de um Termo de Cooperação PETROBRAS-
UNESP (CENPES e CPRM, 2014).
As falhas e lineamentos foram, na sua quase totalidade, compilados de artigos
publicados, teses e dissertações, relatório inéditos e mapas produzidos pela CPRM-
Serviço Geológico do Brasil. Esse material diz respeito a estudos de detalhe e regionais
de numerosas áreas reconhecidas como neotectônicas, acrescidos daqueles obtidos em
levantamentos de campo realizados especificamente neste projeto, além de análises de
mapas hipsométricos, aerofotos, imagens de satélites e modelos digitais de elevação
(MDEs).
2.7.1- Base cartográfica do Mapa Neotectônico do Brasil
A base cartográfica do Mapa Neotectônico (Figura 2.10) foi obtida por
suavização do Modelo Digital de Elevação da América do Sul. Estão ilustradas também
as curvas batimétricas, representando o fundo do oceano próximo ao continente.
26
27
2.7.2 - Depósitos sedimentares
As informações litoestratigráficas referentes às unidades do Neogeno e
Quaternário foram extraídas do Mapa Geológico do Brasil, em escala 1: 2.500.000,
editado pela CPRM - Serviço Geológico do Brasil. (http://neotec.rc.unesp.br/neotec/)
2.7.3 - Falhas e dobras
Estão representadas falhas normais, falhas reversas e falhas transcorrentes,
destrais e sinistrais, utilizando cores de padrão internacional. Para algumas feições, não
há o reconhecimento de sua movimentação, sendo identificadas como falhas de
movimento indeterminado. Todas as informações que caracterizam as falhas estão
registradas no banco de dados do projeto.
As falhas individualizadas são aquelas observadas no terreno. Como usualmente
constituem feições de porte reduzido, reconhecidas apenas em áreas restritas e com
continuidade de difícil rastreamento no campo, seus prolongamentos foram traçados
tendo como referência os lineamentos aos quais parecem estar associadas.
A quantificação da extensão e rejeito, em geral, não se encontra definida, bem
como a idade de movimentação e de reativações. Assim, não se pode caracterizar tais
estruturas como “ativas” (com movimentação uma ou mais vezes nos últimos 10.000
anos, ou com evidências de atividade sísmica nesse tempo e potencial para se deslocar
novamente no futuro) ou “capazes” (com movimentação ao menos uma vez nos últimos
35.000 anos ou desdobramentos recorrentes nos últimos 500.000 anos). O mesmo vale
para a datação como quaternária (reconhecida em superfície e com evidências de ter se
movimentado no Quaternário; 1,6-0 Ma). Dobras são raras, limitadas a pequenas áreas,
cuja representação em mapa se dá pelo traço axial, indicando a direção dos eixos
(CENPES e CPRM, 2014).
28
2.7.4 - Lineamentos
Os lineamentos cartografados correspondem a feições retilíneas (ou
aproximadamente curvilineares), que têm expressão topográfica ou tonal, podendo
corresponder em subsuperfície a zonas de fraqueza estrutural (O´Leary et al., 1976;
Sabins Jr, 1978). Essas zonas podem estar associadas a falhas (ou a sistemas de falhas)
verticais ou com altos mergulhos.
Os lineamentos extraídos correspondem a elementos geomorfológicos
indicativos de movimentação neotectônica (morfotectônica) e são numerosos os
aspectos analisados do relevo (escarpas de falhas, facetas trapezoidais e triangulares,
cristas, superfícies de aplainamento, etc.). A rede de drenagem forneceu evidências para
representar a maior parte das feições neogênico-quaternárias no Brasil (padrões de
distribuição e suas variações, assimetrias de vales, terraços assimétricos, inflexões de
rios e capturas, vales suspensos, paleoterraços, meandros, lagos, perfis de vales, etc.)
(CENPES e CPRM, 2014).
2.7.5 - Epicentros
A natureza e distribuição dos dados de sismicidade natural refletem a ocorrência
de atividade tectônica no tempo presente. Indicações de paleossismos têm sido
registradas em algumas áreas do Brasil, mas não estão incluídas no mapa em epígrafe.
Os dados utilizados são do Catálogo Sísmico Brasileiro produzido pelo Centro
de Sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e
pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).
Os sismos estão representados por seus epicentros, discriminados pelas faixas de
magnitude 2-3, 3-4, 4-5 e 5-6,2, no interior da placa sulamericana, como círculos de
raios crescentes. A magnitude 6,2 corresponde ao maior sismo ocorrido no Brasil, na
Serra do Tombador (MT), em 31/1/1955. Outros abalos de magnitude comparável, mas
de origem profunda e relacionados com a Placa de Nazca, são indicados no Estado do
Acre, incluído na Província Subandina.
Concentrações de epicentros são constatadas em algumas regiões, possivelmente
relacionadas com zonas de fraqueza crustal em atividade ressurgente. Em muitas partes
do mundo, inclusive no Brasil, observam-se epicentros isolados ou formando
agrupamentos distribuídos junto a ou ao longo de falhas, zonas de cisalhamento ou
29
lineamentos. No entanto, essa coincidência não pode ser inequivocamente considerada
como relação de causa e efeito (CENPES e CPRM, 2014).
Dados de orientação dos eixos de tensão horizontal máxima (SHmax) foram
obtidos por análise de sismos, ovalização de poços de petróleo (breakouts) e por
fraturamento hidráulico. A análise de falhas neotectônicas também permite deduzir
orientações de eixos de tensão, mas não foi considerada nesta versão do mapa. Os dados
de SHmax estão representados com os símbolos mostrados na legenda do mapa, que
consistem em um traço indicativo de sua direção em um círculo inscrito (sismos) ou
cortado (ovalização de poço), assim como por (fraturamento hidráulico).
2.7.6 - Recorte do Mapa Neotectônico do Brasil na Área de Estudo
Estão expostas na Figura 2.11 as informações do Mapa Neotectônico do Brasil
sobrepostas ao arcabouço tectono-estratigráfico da região que abrange o poliduto
Urucu-Coari-Manaus. Nessa figura, destaca-se o controle do baixo curso do Rio Negro
por feições lineares com orientação NW-SE, conforme anteriormente mencionado por
diversos autores. O terremoto ao norte de Manaus foi registrado nas proximidades da
interseção da estrutura NW-SE que delimita a margem esquerda do Rio Negro com
outra feição de direção E-W.
Vale também ressaltar o condicionamento do curso do Rio Solimões e de sua
planície aluvial, na área a montante de Coari, por feições orientadas para NW-SE. Por
sua vez, verifica-se ainda o controle das planícies aluviais dos rios Coari e Purus por
feições orientadas para NE-SW.
Tais resultados indicam que a região investigada na presente tese é de fato
afetada por atividades neotectônicas, que influenciam em grande parte o modelado do
relevo e a distribuição em superfície da rede de drenagem.
30
31
2.8 - Evidências de neotectonismo através da interpretação integrada da rede de
drenagem com dados aeromagnéticos
Como resultado da interpretação de dados aeromagnéticos em sua tese, Munis
(2009) observou uma sugestiva associação espacial entre grandes lineamentos
magnéticos e as formas de relevo atuais.
De fato, durante a pesquisa, tal autor comparou o mapa de razão das primeiras
derivadas do campo magnético (tilt derivative), que realça bem esses lineamentos, com
o modelo digital de elevação (MDE) obtido com dados planialtimétricos de domínio
públicos da SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission). Verificou-se que, em escala
regional, o leito principal do Solimões-Amazonas e de seus principais afluentes, assim
como extensas superfícies de aplainamento, são controlados por falhas preexistentes,
hoje em processo de reativação como resultado de esforços intraplaca. Este autor
ressalta que Miranda (1984) já aventava a hipótese de controle de anomalias
morfoestruturais de drenagem por irregularidades no substrato cristalino na Bacia do
Solimões, em áreas que o embasamento apresentava profundidade menor que 1600m.
Tal fato foi constatado a partir da análise conjunta de mosaicos do Projeto
RADAMBRASIL com dados sísmicos e magnéticos (Projeto Carauari).
Segundo Munis (2009), o Rio Solimões atravessa toda parte norte da área por ele
estudada. Assim, para melhor descrição do seu comportamento frente aos grandes
lineamentos magnéticos, foram definidos sete pontos (de A até G) ao longo do seu curso
(Figura 2.12). Ressalta-se que, em todo esse trecho, o rio corre sobre depósitos não
consolidados da Formação Solimões, sobrepostos àqueles da Formação Alter do Chão,
perfazendo tal pacote algumas dezenas de metros de espessura.
O trecho A-B, com direção NE, está fora da área dos quatro projetos
aerogeofísicos estudados por Munis (2009), mas seu paralelismo com a principal linha
de charneira da borda NW da Bacia do Solimões é forte indicativo de controle
tectônico. No ponto B, o rio encontra o que Munis (2009) denominou de Lineamento
Tefé, mudando então o seu curso para SE e se encaixando nessa feição linear por 250
km. Numa escala continental, o Solimões flui em meandros devido a seu baixíssimo
gradiente (2 cm por km de Benjamim Constant ao Atlântico). Entretanto, no trecho B-C,
seu curso é retilíneo. O Lineamento Tefé controlou também a sedimentação paleozoica
da Bacia do Solimões, pois coincide com a linha de charneira principal de sua borda
NE, que, inclusive, secciona o Gráben invertido do Purus, preenchido por sedimentos
neoproterozoicos. Vários outros lineamentos paralelos ao Tefé estão assinalados na
32
porção sudoeste da Figura 2.12, controlando a incisão de vales fluviais nas diferentes
superfícies de aplainamento regional.
Um pouco a jusante do ponto C, o rio atinge uma zona de dobramentos e
falhamentos escalonados ativa no Cretáceo e denominada por Munis (2009) como
Megacisalhamento do Solimões, cuja orientação é paralela ao Lago de Coari, onde
deságuam os rios Urucu e Coari. O trecho C-D tem direção W-E, mas o Solimões, a
partir do ponto C, se desenvolve para NE, paralelamente à citada zona de
megacisalhamento, até o cruzamento com o Arco de Purus, Nesse ponto, tal feição
regional lhe imprime resistência, obrigando-o a seguir para SE. Este percurso é
pequeno, pois o lineamento Baixo Purus (NE-SW) o faz voltar a correr para NE, já no
trecho assinalado como D-E.
Na região do ponto E, o Solimões, que vinha correndo no rumo NE, controlado
pelo lineamento Baixo Purus, encontra o Rio Negro, controlado, no seu baixo curso,
pelo lineamento Anavilhanas de orientação NW-SE. A resultante destas forças impõe
um fluxo para leste, até o ponto F, onde o Rio Madeira lhe confere outro
direcionamento, agora para NE. Segundo Munis (2009), o lineamento do Rio Madeira,
com direção NE-SW, tem provavelmente sua gênese relacionada à colisão entre as
placas de Nazca e da América do Sul. Por outro lado, a drenagem do baixo curso do Rio
Negro deve estar subordinada às interações entre a placa Sul-Americana e a do Caribe,
que provocaram levantamentos no escudo das Guianas.
O Arco de Purus se comporta, ainda de acordo com Munis (2009), como um
divisor entre as forças neotectônicas atuantes no vale amazônico. A oeste do mesmo,
elas são principalmente comandadas pelo encontro entre as placas de Nazca e Sul-
Americana. A leste, por sua vez, esta placa interage com a do Caribe, que exerce forte
influência.
33
Figura 2.12 – Hidrografia, topografia e principais estruturas magnéticas reativadas neotectonicamente na Amazônia Central (MUNIS, 2009).
Altimetria SRTM (m)
34
2.9 - Atividade sísmica na Amazônia Legal e o sismo de Codajás
Segundo Assumpção et al. (1985), o nível de atividades sísmicas da Amazônia
ainda é pouco conhecido devido à sua baixa densidade demográfica, que não permite
um levantamento confiável dos registros históricos sentidos na região. Ademais,
inexistiam, até há poucos anos, estações sismográficas na Amazônia. Os sismos com
epicentros na Amazônia, de acordo com o catálogo de Berrocal et al. (1984), estão
ilustrados na Figura 2.13. Apesar dos poucos dados disponíveis, existe aparentemente
uma concentração maior de epicentros na porção média do escudo das Guianas.
Assumpção et al. (1985) sugeriram que a bacia sedimentar do Amazonas, à
semelhança das sinéclises intracratônicas do Paraná e do Parnaíba, teria uma atividade
sísmica bem menor do que outras províncias geológicas do Brasil. No entanto, a
ocorrência do sismo de 05/08/1983, no centro da Amazônia, indica que ainda não
existem dados suficientes para fazer regionalizações sísmicas na Região Norte do
Brasil. Este aspecto é muito importante, pois sugere que sismos com magnitude mb >
6,0, como na porção setentrional do Mato Grosso, em 1955 ( mb > 6,2 e intensidade
epicentral da ordem de IX), podem ocorrer, com probabilidade uniforme, em qualquer
outro ponto da Amazônia.
O sismo de 05/08/1983, em Codajás, foi relativamente elevado no contexto
brasileiro, visto que apresentou magnitude mb = 5,5, que corresponde a um período de
retorno da ordem de 20 anos (ASSUMPÇÃO et al., 1985). Apenas duas pequenas
réplicas foram registradas, ambas no mesmo dia do evento principal.
O epicentro (3,59º S/ 62,17º W) e a hora do sismo principal (06:21:42 UTC)
foram determinados pelo NEIS (National Earthquake Information Service) do USGS
(United States Geological Surrey), usando dados de 126 estações da rede mundial de
sismógrafos. O evento ocorreu a 23 km de profundidade. De acordo com o NEIS, a
precisão da determinação desse epicentro é da ordem de 20 km. A primeira réplica
ocorreu às 08:24:16 (UTC – Coordinated Universal Time) e a segunda às 10:07:12
(UTC). Como já mencionado anteriormente, a solução por mecanismo focal indicou
uma falha reversa orientada para NW-SE, com direção de compressão
aproximadamente horizontal de NNE-SSW.
35
Figura 2.13 Mapa de epicentros da Amazônia. Fonte: BERROCAL et al. (1984). Círculos
cheios são epicentros com incerteza menor que 70 km, Círculos vazios, com incerteza entre 70 e
200 km. Círculos tracejados são eventos com imprecisão no epicentro maior que 200 km. As
províncias geológicas, simplificadas, foram baseadas em ALMEIDA et al. (1981). 1 = áreas
cratônicas, 2 = Faixa de Dobramentos Brasilianos, 3 = bacias intracratônicas, 4 = bacias
costeiras e outros sedimentos recentes. T = graben do Takutu.
De 07 a 23/09/1983, foi efetuado por Assumpção et al. (1985) um levantamento
dos efeitos de tal sismo. Devido à dificuldade de acesso, o trabalho teve que se restringir
a algumas localidades do Rio Solimões e das estradas Manaus-Porto Velho, Manaus–
Manacapuru, Manaus–Boa Vista e Manaus–Itacoatiara. Informações de várias outras
comunidades menos acessíveis foram obtidas por telefone. Apesar dessas limitações, foi
possível estimar aproximadamente a área total afetada (500.000 km2), assim como
posicionar as isossistas. As intensidades foram classificadas com a escala Mercalli
modificada, usando-se também, em casos de dúvida, a importância relativa de cada
elemento da escala dada por Brazee (1979).
A máxima intensidade foi observada em Codajás, cidade mais próxima do
epicentro instrumental, onde diversas casas de construção modesta e outras de boa
qualidade apresentaram trincas e rachaduras. Outros efeitos observados nessa cidade
36
foram os seguintes: praticamente toda a população acordou e foi para as ruas; objetos
caíram de prateleiras em várias casas; algumas pessoas sentiram dificuldades em
manter-se de pé; peixes saltaram para fora d’água. Esse conjunto de efeitos, levando-se
em conta principalmente as várias rachaduras nas casas causadas pelo tremor,
permitiram classificar como VI a intensidade em Codajás (Figura 2.14).
Figura 2.14: Epicentro do sismo na cidade de Codajás e sua área de influência de acordo com a
escala de Mercalli. Fonte: Assumpção et al. (1985). Isossistas do sismo de Codajás, AM. Os
números arábicos representam intensidades Mercalli Modificada. Números duplos 23, 34, 45 e
56 representam intensidades II ou III, III ou IV, IV ou V e V ou VI, respectivamente, não
havendo dados suficientes para uma definição melhor da intensidade.
37
2.10 – Unidades Geomorfológicas
Uma compilação de estudos efetuados com base na análise dos produtos de
sensoriamento remoto, perfis de campo e trabalhos geomorfológicos regionais
anteriores (IBGE, 1995; ROSS, 1985, 1997) permitiu compartimentar a região que
abrange o poliduto Urucu-Coari-Manaus em seis domínios geomorfológicos, de acordo
com o mapa de unidades de relevo da Figura 2.15, elaborado pelo Programa
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Planície Amazônica
Esse domínio é representado por planícies de inundação e terraços fluviais muito
amplos, por vezes com dezenas de quilômetros de largura, que ocorrem ao longo dos
principais cursos d’água das bacias hidrográficas Negro-Solimões-Amazonas. Tais
formas de relevo apresentam, portanto, amplo destaque ao longo dos imensos fundos de
vales dos rios Negro, Solimões, Amazonas, Madeira, Purus, Juruá, Javari, Içá e Japurá.
As planícies e os terraços fluviais consistem nas únicas zonas deposicionais ativas na
Amazônia.
As planícies aluviais, normalmente recobertas por vegetação de igapó e matas de
várzea adaptadas a ambientes inundáveis, são constituídas por distintos depósitos
sedimentares: os terraços fluviais são correlatos ao Pleistoceno Final e as planícies de
inundação ao Holoceno. As várzeas amazônicas apresentam notável diversidade
morfológica, reflexo dos distintos tipos de sedimentação aluvial desenvolvidos por uma
rede de drenagem de padrão meândrico de alta sinuosidade (tais como os rios Purus e
Juruá) ou de padrão anastomosado ou anabranching (tais como os rios Solimões e
Negro). Nesse contexto, são identificadas diversas formas deposicionais: furos, paranás,
planícies de acreção em barras de pontal, planícies de decantação, ilhas fluviais, barras
arenosas, lagos, diques marginais, dentre outras (LATRUBESSE e FRANZINELLI,
2002).
Existe um domínio de solos hidromórficos, muito mal drenados, nas planícies de
inundação (predominância de Gleissolos), bem como solos mais bem drenados nos
terraços fluviais (predominância de Neossolos Flúvicos).
38
Os rios amazônicos, tradicionalmente, representam os vetores de interiorização
da ocupação humana e suas várzeas possuem algumas das melhores terras para
agricultura. A ocupação urbana é impraticável nas planícies, porém possível nos
terraços e tabuleiros adjacentes, que consistem em superfícies acima do nível da cota
das cheias periódicas. Acima das barrancas dos cursos d’água e a salvo das inundações,
um grande número de cidades ocorre ao longo dos principais rios do Estado do
Amazonas. O principal risco geológico-geomorfológico em tais aglomerados
populacionais decorre dos severos fenômenos de erosão fluvial (desbarrancamentos),
denominados “terras caídas”, que podem promover a destruição de trechos da malha
urbana dessas cidades ribeirinhas (LATRUBESSE e FRANZINELLI, 2002).
Tabuleiros da Amazônia
Os Tabuleiros da Amazônia (anteriormente denominados como Planalto
Rebaixado da Amazônia por MAURO et al., 1978) constituem o mais amplo domínio
geomorfológico da área de estudo, ocupando mais da metade de sua superfície. ROSS
(1985) questiona a terminologia de planalto ou planície para essas vastas terras baixas,
porém acima das cotas das cheias fluviais, e introduz o termo “Depressão Amazônica”
para melhor caracterizá-las. Portanto, toda essa vasta zona de tabuleiros, que se estende
para oeste das calhas dos rios Madeira e Negro até a fronteira brasileira com a
Colômbia, na Bacia Sedimentar do Solimões, está inserida na Depressão Amazônica.
Esse domínio é representado por extensos tabuleiros de baixa amplitude de
relevo (invariavelmente inferiores a 30 m), dissecados por rios meândricos de padrão
predominantemente dendrítico e, episodicamente, treliça ou retangular, nesse caso
evidenciando o controle da tectônica neógena nas rochas sedimentares da Bacia do
Solimões. Frequentemente, são observados também cotovelos de drenagem e lagos
gerados por antigas rias barradas pela sedimentação holocênica (STERNBERG, 1950).
Esses baixos tabuleiros constituem superfícies planas assentadas sobre rochas
sedimentares pouco litificadas das formações Solimões e Içá (arenitos pleistocênicos,
pouco consolidados a inconsolidados, de origem fluvial, que não afloram na área de
estudo). Os tabuleiros embasados sobre a Formação Solimões tendem a ser mais
dissecados, devido à baixa permeabilidade dos sedimentos argilosos, com uma atuação
mais efetiva dos processos erosivos por escoamento superficial em climas pretéritos
mais secos. Sobre a Formação Içá, os tabuleiros tendem a ser muito pouco dissecados.
39
Em todos esses terrenos, ocorre o desenvolvimento da Floresta Amazônica sobre solos
profundos (Mata de Terra Firme). Entretanto, tais solos ainda apresentam, por vezes,
uma drenagem imperfeita, predominando Argissolos Plínticos, Plintossolos e
Espodossolos (MAURO et al., 1978; IBGE, 2001).
Os terrenos representados pelos tabuleiros da Amazônia Centro-Ocidental estão,
em sua maior parte, ocupados pela Floresta Amazônica preservada, devido à pouca
acessibilidade e à dificuldade de implantação de infraestrutura viária em solos
imperfeitamente drenados (MAURO et al., 1978).
Baixos Platôs da Amazônia
Os Baixos Platôs da Amazônia (anteriormente denominados “Planalto Dissecado
do Rio Trombetas” por MAURO et al., 1978), recobertos por Mata de Terra Firme,
ocupam expressivas extensões da porção oriental do Estado do Amazonas e são
caracterizados por terrenos baixos (em cotas inferiores a 200 m), com solos espessos,
pobres e bem drenados (em geral, Latossolos Amarelos). Em certas porções, os platôs
constituídos por rochas sedimentares cretácicas da Formação Alter do Chão são
dissecados em um relevo de colinas tabulares, feição que assume particular relevância
na área a norte da cidade de Manaus. Tal morfologia decorre de um longo processo de
elaboração de espessos perfis intempéricos lateríticos, com desenvolvimento de
horizontes ferruginosos concrecionários e horizontes aluminosos (COSTA, 1991;
HORBE et al., 1997).
Esse domínio geomorfológico se desenvolve em toda a área de abrangência da
Bacia Sedimentar do Amazonas, com amplo predomínio de ocorrência da Formação
Alter do Chão. Contudo, nas bordas dessa bacia, em seus limites com o embasamento
pré-cambriano, ocorrem afloramentos das formações paleozoicas basais. Nessas áreas,
os platôs são ligeiramente mais elevados e preservados. Assim, os baixos platôs não
dissecados e protegidos por crostas detrito-lateríticas representam um marco fisiográfico
de grande relevância para a compreensão da evolução geomorfológica dos terrenos
dissecados e florestados a norte de Manaus (COSTA, 1991; HORBE et al., 1997).
40
Superfícies Aplainadas
As Superfícies Aplainadas (anteriormente denominadas como “Pediplano Rio
Branco-Rio Negro” por FRANCO & MOREIRA, 1977) constituem um extenso
domínio geomorfológico no norte e noroeste do Estado do Amazonas.
Essas extensas áreas arrasadas por prolongados eventos de erosão generalizada,
conjugados com notável estabilidade tectônica em escala regional, apresentam cotas que
variam entre 100 e 250 m e notabilizam-se pela ocorrência de extensas áreas aplainadas
ou levemente entalhadas pela rede de drenagem. Nesse caso, as superfícies aplainadas
são desfeitas em um relevo colinoso de baixa amplitude altimétrica. Tendo em vista que
as fases de arrasamento do relevo correspondem a longos períodos de maior aridez ao
longo do Cenozóico, o atual clima quente e úmido da região tende a dissecar os
aplainamentos previamente elaborados (AB’SABER, 1982; BIGARELLA e
FERREIRA, 1985).
Destacadas na paisagem, ocorrem várias formas isoladas, alçadas em cotas mais
elevadas que a superfície aplainada, dando origem a inselbergs e demais feições
residuais do relevo.
Planalto Residual
O Planalto Residual (seguindo a denominação de IBGE, 1995) representa um
relevo movimentado em colinas dissecadas, morros e esparsos platôs, exibindo vertentes
declivosas e vales estreitos, com média densidade de drenagem. Esse conjunto de
formas de relevo demonstra um aspecto residual de planalto profundamente erodido em
meio às vastas superfícies aplainadas do Escudo das Guianas. As raras ocorrências de
superfícies planas e elevadas em forma de curtos platôs atestam o desenvolvimento
pretérito de uma antiga superfície que foi totalmente destruída (AB’SABER, 1982;
BIGARELLA e FERREIRA, 1985).
No Estado do Amazonas, o Planalto Residual do Norte da Amazônia restringe-se
ao setor situado a norte da Bacia Sedimentar do Amazonas e do reservatório da Usina
Hidrelétrica de Balbina até a divisa com Roraima, drenado pelas bacias dos rios Uatumã
e Jatapu.
Ressaltam-se, nesse contexto, vários conjuntos de topografia mais elevada, em
cotas que variam entre 200 e 400 m, em meio às terras baixas amazônicas, com cotas
41
inferiores a 150 m. Os terrenos mais elevados do planalto residual estão, em geral,
esculpidos em litologias mais resistentes à erosão, que se impuseram aos longos
episódios de arrasamento generalizado do relevo, os quais modelaram as vastas
superfícies de aplainamento adjacentes.
Superfícies Colinosas
As Superfícies Colinosas congregam um conjunto de formas de relevo que se
caracterizam pela intensa atividade morfodinâmica e dissecação mais expressiva.
Apresentam feições morfológicas de forte entalhamento, de vertentes curtas e
declivosas, topos arredondados e vales incisos sem sedimentação aluvial, porém
desenvolvendo uma rede de canais de alta densidade de drenagem.
42
43
2.11 – Aspectos Pedológicos
Os tipos de solos presentes na área de estudo do poliduto Urucu-Coari-Manaus
foram aqui elencados tomando por base o Projeto Geodiversidade da Amazônia
(CPRM, 2010). Tais feições podem ser visualizadas no mapa da Figura 2.16.
Latossolos
A classe dos Latossolos compreende solos minerais, não hidromórficos, que
apresentam normalmente uma sequência dos horizontes A, Bw e C. Ocorre pouca
diferenciação entre os horizontes A e Bw. Em geral, a transição entre os horizontes é
plana e difusa, como observado na Figura 2.17.
Na fração argila, ocorrem minerais em avançado estágio de intemperismo. No
Estado do Amazonas, predominam o mineral de argila denominado caulinita e os óxidos
de ferro (goethita e hematita). A fração areia é constituída por minerais altamente
resistentes ao intemperismo, principalmente o quartzo (COELHO et al., 2002). Existem
também alguns poucos fragmentos de feldspatos. Os latossolos que ocorrem no Estado
do Amazonas são profundos ou muito profundos, com espessuras quase sempre
superiores a 2 m (BOTSCHEK et al., 1996; LUCAS et al., 1984; MARQUES et al.,
2004). Apresentam, na Amazônia Central, predomínio da fração argila, sendo
classificados, em sua maioria, como argilosos ou muito argilosos (SHINZATO et al.,
2005; TEIXEIRA, 2001).
Nos horizontes subsuperficiais, as argilas se encontram, quase que em sua
totalidade, floculadas. As estruturas dominantes aparecem na forma de pequena granular
(fortemente desenvolvida) e em blocos subangulares. Quando há predomínio da
estrutura granular, o solo adquire aspecto maciço poroso (RODRIGUES, 1995), com
poros apresentando distribuição de frequência tipicamente bimodal (macro e
microporos), conforme TEIXEIRA et al. (2001). São bastante porosos (> de 50% de
poros) e muito permeáveis. A estrutura microagregada e a distribuição de frequência
bimodal dos poros dos Latossolos Amarelos fazem com que grande parte da água drene
facilmente.
Latossolos com textura argilosa e muito argilosa apresentam altas tensões e
elevada umidade (> 20% em volume). Embora a água encontrada dentro de microporos
esteja revestindo as partículas de argila, ela não é disponível para a maioria das plantas.
44
Os Latossolos se localizam predominantemente em relevo plano ou suave ondulado,
embora ocorram também em relevo movimentado (SHINZATO et al., 2005).
O horizonte superficial A é pouco ou moderadamente espesso quando há
predomínio de argila, sendo mais espesso em áreas mais arenosas. Entretanto, essa
maior espessura do horizonte A nas áreas mais arenosas não reflete, necessariamente,
maior estoque de carbono, dado que esses teores são relativamente baixos nessas
camadas. Apresenta, em sua condição original, a vegetação de floresta primária, com
boa a excelente drenagem, mesmo quando a textura for muito argilosa. Na parte da
Amazônia Central, próximo a Manaus, em condições naturais de elevada
permeabilidade e bem estruturados, são pouco suscetíveis aos processos de erosão
hídrica.
Os Latossolos no Amazonas apresentam predominantemente caráter distrófico
ou álico. Os valores predominantes de pH indicam solos extremamente a
moderadamente ácidos. Os estudos dos horizontes superficiais dos Latossolos indicam
predominância de cargas superficiais líquidas negativas e, consequentemente,
dominância de capacidade de troca de cátions sobre a troca de ânions. Nas camadas
inferiores, em algumas localidades, são encontrados valores positivos, indicando o
predomínio de cargas positivas, configurando o caráter denominado ácrico (SHINZATO
et al., 2005). No Estado do Amazonas, ocorrem predominantemente, Latossolos
Amarelos (Tabela 2.2); entretanto, são reportados, em menor escala, Latossolos
Vermelho-Amarelos e Latossolos Vermelhos.
45
Tabela 2.2 - Descrição de um perfil de Latossolo Amarelo Distrófico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Latossolo Amarelo Distrófico
Situação, declive e cobertura vegetal
sobre o perfil
Perfil de trincheira descrito sob mata natural
Litologia Sedimentos cauliníticos
Formação Geológica Formação Alter do Chão
Cronologia Cretáceo superior - Paleógeno
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não- rochoso
Relevo Local Ondulado
Relevo Regional Suavemente Ondulado e Plano
Erosão Não-aparente
Drenagem Bem drenado
Vegetação primária Floresta equatorial úmida
Figura 2.17- Perfil típico de Latossolo Amarelo (Manaus, AM).
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
46
Argissolos
Essa classe compreende solos minerais, não hidromórficos, que apresentam
horizonte B textural, com perfis bem desenvolvidos, profundos a medianamente
profundos, bem a moderadamente drenados (Figura 2.18). Distinguem-se dos
Latossolos pela acentuada diferenciação de classe de textura entre os horizontes A e B,
sendo os horizontes superficiais mais arenosos que os horizontes subsuperficiais
(EMBRAPA, 2006).
As classes de textura predominantes nos horizontes A e Bt, com referência às
ocorrências registradas no Amazonas, são média/argilosa e argilosa/muito argilosa.
Devido à existência de textura mais arenosa no horizonte superficial e, muitas vezes,
uma drenagem restrita no horizonte Bt, os Argissolos são suscetíveis aos processos de
erosão hídrica, principalmente quando se desenvolvem em relevo ondulado ou forte
ondulado (Tabela 2.3). Nas proximidades de Manaus e em sua periferia, problemas de
erosão nas áreas urbanas e destruição de ruas e estradas normalmente estão relacionados
aos Argissolos.
As características químicas dos Argissolos são muito variáveis. Na parte central
e oeste do Amazonas, são desenvolvidos a partir de rochas do período Pleistoceno,
sendo predominantemente distróficos (menos de 50% do complexo de troca e cátions
são saturados por bases trocáveis) e mesmo álicos (mais de 50% do complexo de troca
de cátions são saturados pelo íon alumínio). No Amazonas, os Argissolos, em sua
maioria, são extremamente a moderadamente ácidos. Na região oeste do referido estado,
fora dos limites da área de estudo, muitas das ocorrências de Argissolos apresentam
reduzida drenagem interna (EMBRAPA, 1982; TEIXEIRA et al., 2009). Tal
característica condiciona o aparecimento de um horizonte com caráter plíntico,
resultante de processos de oxidação e redução do ferro devido à variação da aeração
causada por encharcarmentos temporários.
47
Tabela 2.3 - Descrição de um perfil de Argissolo Amarelo Distrófico.
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Argissolo Amarelo Distrófico
Situação, declive e cobertura vegetal
sobre o perfil
Topo de encosta
Litologia Pelitos e Arenitos flúvio-lacustres
Formação Geológica Formação Içá
Cronologia Plioceno-Pleistoceno
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não-rochoso
Relevo Local Ondulado
Relevo Regional Ondulado a forte ondulado
Erosão Laminar ligeira
Drenagem Bem drenado
Vegetação primária Floresta equatorial subperenifólia
48
Figura 2.18 - Perfil típico de Argissolo.
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazonia (CPRM, 2010).
Espodossolos
Os espodossolos são predominantemente arenosos, com acúmulo de matéria
orgânica e compostos de ferro e/ou alumínio em profundidade (Figura 2.19). Segundo o
Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos (EMBRAPA, 2006), os espodossolos são
constituídos por material mineral, apresentando horizonte diagnóstico subsuperficial B
espódico (Bh).
A estrutura é fraca, pequena, granular ou com grãos simples no horizonte A e
maciça no horizonte B espódico. No Amazonas, são geralmente profundos, com
acentuado contraste de cor entre os horizontes, tornando-se, por isso, facilmente
distinguíveis no campo. Ao horizonte A, de cor cinza-escura ou preta, segue-se um
horizonte E esbranquiçado, que, por sua vez, é normalmente seguido por um horizonte
49
de coloração preto-amarronzada (horizonte Bh). Apresentam reduzida fertilidade e são
fortemente ácidos (SHINZATO et al., 2005). No Amazonas, predomina nos
Espodossolos a vegetação de campinarana (Tabela 2.4). Em várias dessas ocorrências,
devido à limitada drenagem do horizonte espódico, há um encharcamento temporário
nos períodos de maiores precipitações. Paradoxalmente, esses solos, pela textura
arenosa e estrutura em grão soltos, apresentam reduzida capacidade de armazenamento
de água; por conseguinte, a vegetação que cresce nesses locais sofre episódios de
estresse por deficiência hídrica nos períodos de estiagem.
Possuem sérias restrições ao uso agrícola, condicionadas pela textura arenosa;
quais sejam, fertilidade natural muito baixa e reduzida capacidade de reter água e
nutrientes, bem como, no caso do horizonte espódico cimentado (“orstein”), excesso de
água devido à sua drenagem deficiente.
Tabela 2.4 - Descrição de um perfil de Espodossolo Hidromórfico. Fonte: Projeto
Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Espodossolo Humilúvico
Situação, declive e cobertura
vegetal sobre o perfil
Local plano com declive inferior a 1%, sob
Campinarana.
Litologia Sedimentos arenosos
Formação Geológica Formação Içá, Terraços fluviais
Cronologia Plioceno-Pleistoceno
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não- rochoso
Relevo Local Plano
Relevo Regional Suave ondulado
Erosão Não-aparente
Drenagem Imperfeitamente drenado
Vegetação primária Campinarana
50
Figura 2.19 - Perfil típico de Espodossolo.
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Gleissolos
Compreendem solos hidromórficos, constituídos por material mineral, que
apresentam horizonte glei – horizonte mineral subsuperficial ou eventualmente
superficial caracterizado por cores neutras ou mosqueadas, que refletem a prevalência
de processos de redução, com ou sem segregação de ferro, em decorrência de saturação
por água durante algum período ou durante o ano todo. São solos mal ou muito mal
drenados em condições naturais, tendo o horizonte A cores desde cinzentas a pretas,
espessura entre 10 e 50 cm e teores variáveis de carbono orgânico (Figura 2.20).
São solos formados sob vegetação higrófila herbácea, arbustiva ou arbórea. A
maioria das ocorrências no Amazonas apresenta encharcamento durante longos períodos
do ano, o que resulta em condições anaeróbicas e na consequente redução do íon férrico
para o íon ferroso, no processo denominado gleização. Esse processo se caracteriza pela
presença de cores acinzentadas ou azuladas, consequência da solubilização do ferro, que
se transloca e reprecipita, formando, em muitas ocorrências, um mosqueado de cores.
A maioria dos Gleissolos no Estado do Amazonas desenvolveu-se a partir de
sedimentos quaternários, nas proximidades dos cursos d’água, e em materiais colúvio-
51
aluviais sujeitos a condições de hidromorfia, em depressões (Tabela 2.5). Em algumas
áreas, verifica-se a presença de Gleissolos nas posições mais elevadas da paisagem
(região do rio Urucu, município de Coari), onde, nas épocas das chuvas, ocorre um
encharcamento na superfície do solo (caráter epiáquico), que se prolonga por vários
meses.
Tabela 2.5- Descrição de um perfil de Gleissolo Háplico Eutrófico. Fonte:
Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Gleissolo Eutrófico
Situação, declive e cobertura vegetal
sobre o perfil
Área de várzea
Litologia Sedimentos aluviais
Formação Geológica Planícies aluvionares
Cronologia Quaternário
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não-rochoso
Relevo Local Plano
Relevo Regional Plano
Erosão Não-aparente
Drenagem Mal drenado
Vegetação primária Floresta equatorial higrófila de várzea
52
Figura 2.20 - Perfil típico de Gleissolo (Parintins, AM).
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Plintossolos
Segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006), os
Plintossolos apresentam horizonte plíntico, petroplíntico ou litoplíntico (Figura 2.21). A
característica mais marcante dessa classe de solos é a presença de manchas ou
mosqueados avermelhados (plintita), geralmente compondo um mosqueado de cores
bem contrastantes (tons de amarelo e vermelho) com a matriz (geralmente
esbranquiçada) (SHINZATO et al., 2005).
Quando apresentam concreções endurecidas (petroplintita), são denominados
Plintossolos Pétricos. As petroplintitas, localmente denominadas “piçarras”, são
frequentemente utilizadas para revestimento de estradas vicinais. Os Plintossolos,
normalmente, são encontrados em áreas deprimidas, planícies aluvionais e terços
inferiores de encosta, situações que implicam reduzida drenagem. São em geral
imperfeitamente drenados, à exceção dos que apresentam como petroplínticos; estes, em
sua maioria, no Estado do Amazonas, são bem drenados. Os Plintossolos Pétricos,
geralmente, são encontrados em relevo suave ondulado e ondulado (Tabela 2.6).
53
Tabela 2.6 - Descrição de um perfil de Plintossolo Pétrico Concrecionário.
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Plintossolo Pétrico Concrecionário
Situação, declive e cobertura vegetal
sobre o perfil
Perfil de trincheira em encosta próximo ao
topo, sob mata natural
Litologia Sedimentos cauliníticos
Formação Geológica Formação Içá, Terraços fluviais
Cronologia Plioceno-Pleistoceno
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não-rochoso
Relevo Local Plano
Relevo Regional Suave ondulado a ondulado
Erosão Não-aparente
Drenagem Bem drenado (petroplínticos)
Vegetação primária Floresta equatorial úmida
Figura 2.21 - Perfil típico de Plintossolo (Humaitá, AM).
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
54
Neossolos Flúvicos
Essa classe compreende solos minerais pouco desenvolvidos, apresentando
pequena expressão dos processos pedogenéticos como consequência de características
do próprio material, de sua resistência ao intemperismo, de sua composição química e
do relevo, que podem impedir ou limitar a sua evolução. Os Neossolos Flúvicos estão
associados principalmente ao dique aluvial (barrancos dos rios) e às partes mais
elevadas do interior da várzea, enquanto os Gleissolos ocorrem na parte mais interior e
mais rebaixada da várzea (Figura 2.22). Nessa classe, estão incluídos os solos que, no
antigo sistema de classificação, foram considerados, principalmente, como Solos
Aluviais. Os Neossolos Flúvicos do Estado do Amazonas ocorrem predominantemente
nas margens dos cursos d`água e lagos associados aos grandes rios (Tabela 2.7). Os que
apresentam caráter eutrófico estão associados ao processo de colmatagem rico em
sedimentos do Rio Solimões e seus afluentes de águas barrentas (Madeira, Juruá, Purus,
etc.), enquanto os distróficos, aos rios de água preta (Negro, Urubu, etc.), onde a
quantidade de sedimentos é reduzida e há teores elevados de ácidos orgânicos
dissolvidos na água (VIEIRA e SANTOS, 1987).
Em sua grande maioria, os Neossolos Flúvicos, assim como os Gleissolos, no
Estado do Amazonas, apresentam elevada fertilidade natural, desempenhando
importante papel na produção agrícola familiar da região. São intensamente utilizados
pelos agricultores ribeirinhos, durante o período de vazante, para o cultivo de hortaliças,
feijão caupi e plantas fibrosas (juta e malva). Entretanto, apresentam sérias restrições às
culturas perenes e à silvicultura, devido, principalmente, ao alagamento durante longos
períodos. Sua potencialidade agrícola também ocorre em função de sua posição nas
proximidades dos cursos d´água, o que, teoricamente, facilita o escoamento por via
fluvial. Nas áreas de ocorrência dos Neossolos Flúvicos e dos Gleissolos, acontece
frequentemente, o desbarrancamento das margens no leito dos rios, fenômeno
conhecido localmente como “terras caídas”.
55
Tabela 2.7 - Descrição de um perfil de Solo Neossolo Flúvico Eutrófico. Fonte:
Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
Classificação Solo Aluvial Eutrófico
Situação, declive e cobertura vegetal
sobre o perfil
Local plano, com declive inferior a 1%, sob
floresta aberta aluvial
Litologia Sedimentos recentes do Quaternário
Formação Geológica Planícies aluvionares
Cronologia Quaternário
Material originário Produto de alteração do material supracitado
Rochosidade Não-rochoso
Relevo Local Plano
Relevo Regional Plano
Erosão Laminar ligeira
Drenagem Imperfeitamente drenado
Vegetação primária Floresta aberta aluvial
Figura 2.22 - Perfil típico de Neossolo Flúvico (Iranduba, AM).
Fonte: Projeto Geodiversidade da Amazônia (CPRM, 2010).
56
57
CAPÍTULO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1- Prevenção de Riscos Geológicos em Projetos de Engenharia
Aspectos geológicos devem ser considerados no desenvolvimento de projetos de
engenharia por duas razões principais. Em primeiro lugar, no que diz respeito aos locais
onde são executados trabalhos de fundações, escavações, armazenamento de efluentes
ou retirada de materiais de construção. Neste caso, são incluídos os principais projetos
de infraestrutura: edifícios, obras hidráulicas ou marítimas, plantas industriais,
instalações de minas, usinas de geração de energia, etc. O papel da Engenharia
Geológica nestes projetos é fundamental para assegurar a segurança e a viabilidade
econômica dos empreendimentos. O segundo aspecto diz respeito à prevenção,
mitigação e controle de riscos geológicos, bem como à gestão do impacto ambiental de
obras públicas e industriais, atividades de mineração ou de desenvolvimento urbano
(VALLEJO e FERRER, 2011).
Tais exemplos são de grande importância para a economia de um país, visto que
se referem aos setores de infraestrutura, construção, mineração e imobiliário. Entretanto,
os impactos dos riscos geológicos na sociedade e no meio ambiente podem ser
dramáticos na ausência de medidas preventivas ou de monitoramento e controle.
Ainda segundo Vallejo e Ferrrer (2011), em projetos de engenharia, os dados
geológicos precisam ser quantificáveis, de modo a permitir a execução de modelagens
diversas. A quantificação numérica em Geologia não é sempre de fácil aplicação. Com
efeito, a simplificação de uma vasta gama de variação de propriedades na forma de
números, que se limitam a intervalos razoavelmente estreitos, pode dificultar ou, às
vezes, impossibilitar que se realizem previsões numéricas necessárias aos requisitos do
projeto.
Por outro lado, na Engenharia, o conhecimento preciso dos materiais de
construção é geralmente disponível; todavia, informações geológicas e geotécnicas são
baseadas em limitadas pesquisas de campo. Como resultado, existe um fator de
incerteza presente em estudos geotécnicos que afeta a maioria dos projetos. A
compreensão dessas diferenças e o uso apropriado de uma linguagem comum aos
objetivos do projeto é fundamental na prática da Engenharia Geológica. Tal disciplina
possui métodos à sua disposição que caracterizaram ou expressam dados geológicos de
58
um modo que permita sua integração em modelagens numéricas, as quais podem ser
usadas nos processos de tomada de decisão durante as fases de planejamento do
empreendimento. Em seu trabalho, Vallejo e Ferres (2011) destacam os fatores que
contribuem para avaliar o risco sísmico em projetos de Engenharia. Tais fatores serão a
seguir relacionados e discutidos.
3.1.1 - Os principais tipos de problemas relacionados com solos
Segundo Vallejo e Ferrer (2011), solos problemáticos geralmente pertencem a
um dos seguintes grupos: (a) aqueles que fazem parte de um ambiente natural que foi
alterado pela ação humana, como mineração a céu aberto e pedreiras, construção de
túneis ou escavação de fundações. Muitos dos problemas comuns à Engenharia
Geológica derivam do comportamento do solo nestas situações; (b) solos que provocam
problemas especiais por causa de sua própria condição particular ou pela ação da
natureza, sem nehuma intervenção humana. Como exemplos, podem ser citados o fluxo
de solos argilosos em encostas por chuva intensa, o que leva a deslizamentos de terra,
além da liquefação em solos silto-arenosos decorrente de terremotos. Sérios problemas
podem ocorrer, com efeito, se trabalhos de construção forem realizados num vale ao pé
de encostas com risco de avalanches, ou se um desenvolvimento urbano estiver
edificado sobre depósitos suscetíveis à liquefação em zonas sismogênicas.
Solos fofos sensíveis
De acordo com Vallejo e Ferrer (2011), a foz de rios, planícies de inundação e
algumas áreas costeiras com rochas menos rígidas são cobertas por finas camadas de
depósitos de silte e argilas, que são muito macias, saturadas e geralmente contendo
matéria orgânica (4-5%). Nesses materiais, o teor de água é muito alto e a estrutura é
muito frágil, o que depende do tipo de depósito, do conteúdo da matéria orgânica e da
distribuição do tamanho das partículas, entre outros fatores. Como resultado, eles são
muito deformáveis e macios, com índice de compressão variando de 0,4 a maior que
1,0.
Esse alto grau de deformabilidade também implica que a resistência a tensões de
cisalhamento não drenadas é muito baixa, de 15 a 50 kPa. Todavia, na superfície do
59
terreno, em razão de depósitos de sal ou de efeitos cíclicos do lençol freático, podem
existir crostas afetando o solo com alguns metros de profundidade, onde o esforço de
cisalhamento se torna maior.
Quando o conteúdo de água é superior ao limite líquido, ou seja, quando a
condição de fluido é atingida, a estrutura pode ser governada pela água intersticial. A
identificação de solos fofos com piezocones é um processo simples; uma avaliação de
sua deformabilidade pode ser adequadamente efetuada utilizando aterros experimentais.
Solos suscetíveis à liquefação
A perda da resistência do solo causada por cargas cíclicas decorrentes de
terremotos geralmente provoca o fenômeno da liquefação (Vallejo e Ferrer, 2011).
Solos fofos e saturados, predominantemente silto-arenosos, podem sofrer rapidamente o
aumento na pressão dos poros, em virtude da ausência de drenagem e do colapso de sua
fábrica. Nesse caso, a pressão nos poros pode atingir a tensão normal total. Quando isso
ocorre, o stress efetivo é praticamente zero, com os grãos perdendo contato friccional
uns com os outros. Assim, com o desaparecimento do stress de cisalhamento, o material
comporta-se como um líquido, permitindo movimentos verticais e horizontais no
terreno, o que pode resultar na ocorrência de deslizamentos de terra e no rápido
desenvolvimento de acomodações nos solos e sedimentos.
A presença de solos soltos síltico-arenosos com baixa permeabilidade tem sido
associada aos principais desastres causados por terremotos, visto que a rápida repetição
cíclica de forças tangenciais anula o stress efetivo durante os abalos sísmicos.
Em 1964, por ocasião do terremoto em Niigata, no Japão, dúzias de prédios
colapsaram, embora tenham sido designados como resistentes a abalos sísmicos. Na
verdade, suas fundações foram construídas em depósitos suscetíveis à liquefação. Tal
fato ocasiona acomodações de muitos metros, bem como a derrubada e rotação de
edifícios. No mesmo ano, e pelas mesmas razões, aconteceram gigantescos
deslizamentos de terra nas proximidades de Anchorage, Alaska. Os prédios afetados
foram carregados por cerca de 200 metros a partir de sua posição original.
Para ocorrer a liquefação, deve existir um limiar mínimo para a intensidade do
terremoto. Em solos susceptíveis a tal fenômeno, a intensidade mínima é VI na escala
modificada de Mercalli, ou magnitude 5,5 na escala Richter (PAHO, 1988).
60
3.1.2 - O risco sísmico
Quando um grande terremoto ocorre, o resultado de sua devastação pode ter
incalculáveis conseqüências sociais, ambientais e econômicas em toda área afetada. Até
o presente momento, a única maneira de evitar suas conseqüências é através de medidas
destinadas à prevenção dos danos ou à mitigação dos seus efeitos. A Engenharia
Geológica contribui para o estudo de muitos dos aspectos fundamentais para avaliação
do risco sísmico, dentre eles:
Avaliação das condições sísmicas e geológicas nos terrenos onde se realizam
trabalhos de engenharia;
Avaliação do risco sísmico e os efeitos induzidos por terremotos;
Cálculo das propriedades dinâmicas do terreno e sua resposta à sismicidade;
Definição de critérios geológicos e sísmicos para a elaboração de projetos que
minimizem o risco sísmicos;
Preparação de mapas de micro-zoneamento para o planejamento urbano;
Análise da vulnerabilidade de prédios e da infraestrutura;
Adoção de medidas preventivas, defesa civil e prestação de socorro na
eventualidade de um desastre natural.
A caracterização da fonte dos terremotos é um dos aspectos básicos do estudo e
avaliação do risco sísmico (VALLEJO & FERRER, 2011). A distribuição da
sismicidade em uma escala global pode ser explicada pela tectônica de placas, segundo
a qual áreas muito ativas localizadas nos limites das placas litosféricas distinguem-se de
regiões intraplaca relativamente mais estáveis. Em terrenos onde ocorre atividade
sísmica, as fontes de terremotos rasos são as falhas geológicas. Assim, a movimentação
das rochas ao longo dessas estruturas é responsável pela energia liberada durante os
terremotos.
Blocos de rocha separados por uma falha ativa tendem a sofrer deslocamento em
relação aos demais, embora a falha permaneça bloqueada até que um limiar crítico de
resistência seja excedido, resultando em deslocamento súbito ao longo do plano de
falha.
A Figura 3.1 apresenta o diagrama de uma falha transcorrente sismicamente
ativa durante e após um terremoto. Essa feição estrutural é deslocada primeiramente no
foco, a partir do qual a zona de ruptura se espalha rapidamente à velocidade u até afetar
61
uma área A, que é uma fração da superfície total do plano de falha. Define-se o
epicentro pela projeção do foco na superfície terrestre. A magnitude do terremoto é
proporcional à área de ruptura e ao deslocamento co-sísmico. Após o terremoto,
ocorrem reajustamentos por um certo tempo na área em torno da ruptura, dando origem
a réplicas com epicentros alinhados paralelamente ao traço das falhas.
Figura 3.1 – Diagrama de uma falha sismicamente ativa durante e após um terremoto.
Modificado de Vallejo e Ferrer (2011). u: velocidade de espalhamento da zona de ruptura;
A: área do plano de falha afetada pelo terremoto.
Deslocamento co-sísmico
Epicentro
de réplicas
Traço da falha
Sentido relativo de movimento
Epicentro
Réplicas
Área de ruptura co-sísmica
Plano de falha
Foco
62
3.1.2.1 - Modificações da movimentação no terreno por condições locais
O acelerograma de um terremoto é um gráfico que exibe a variação da
aceleração com o tempo em um local de interesse. Tal gráfico permite o cálculo da
aceleração máxima para um determinado período. A representação desses valores
máximos de aceleração para diferentes períodos de vibração em um oscilador com um
grau de liberdade constitui o espectro de respostas de um terremoto, o qual mostra a
amplificação do movimento no terreno com respeito à aceleração, velocidade ou
deslocamento. O espectro de resposta é utilizado em projetos estruturais sismo-
resistentes, onde é essencial que não se exceda parâmetros de construção previamente
aprovados.
Vallejo e Ferrer (2011) destacam que as características sísmicas de um
terremoto, conforme representadas por seu acelerograma, podem ser modificadas pelas
condições locais do terreno (tipos de solo, topografia, etc). Isto pode levar à
amplificação da resposta sísmica para um determinado período de retorno (100, 500, ou
1000 anos, por exemplo). Os fatores que têm maior influência na resposta sísmica em
um local de interesse são os seguintes:
Tipo e composição litológica dos materiais, especialmente depósitos superficiais
com um comportamento geotécnico correspondente àquele apresentado pelo
solo;
Espessura dos sedimentos e a profundidade do substrato;
Propriedades dinâmicas do solo;
Profundidade do lençol freático;
Morfologia da superfície e do substrato;
Presença de falhas, suas características e situação.
Os efeitos das condições locais são de grande importância, visto que elas
determinam as condições de ruptura na superfície, liquefação dos solos, deslizamentos
associados a falhas ativas, bem como a amplificação do sinal sísmico. A Figura 3.2
63
mostra exemplos da influência das condições locais do terreno na resposta sísmica, que
podem ser sumarizadas abaixo:
Quanto maior for a espessura do solo e da coluna de sedimentos, maior a
amplificação da aceleração (espessura da Bacia 1 > Bacia 2);
As propriedades do solo influenciam na amplificação: solos da Bacia 2 (N=10)
são mais fofos do que aqueles da Bacia 1 (N=20), com maior amplificação na
Bacia 2;
Quanto maior a profundidade do substrato, maior o período de vibração (Bacia 1
é mais profunda do que a Bacia 2);
Quanto maior a extenção superficial, menor o efeito de borda do subsolo no
espectro de resposta (a Bacia 1 é mais extensa que a Bacia 2);
A presença do lençol freático elevado e de solos fofos na Bacia 2 pode ser
considerada suficiente para indicar risco de liquefação;
A proximidade de falhas ativas pode amplificar a aceleração e induzir rupturas
na superfície (ponto C);
A topografia pode ampliar a aceleração (acelerações no ponto B são maiores do
que no ponto A).
Figura 3.2 Exemplo de influência das condições locais do terreno na resposta sísmica
(modificado de Vallejo e Ferrer, 2011). Consultar texto sobre A, B, C. No Teste de Penetração
Padrão, ou Standard Penetration Test (SPT), N é o número de golpes de uma amostra
padronizada conduzida a uma distância padronizada no solo.
Bacia 1 Bacia 2
Falha
Nível do lençol freático
64
3.1.2.2 - Os efeitos no terreno induzidos por terremotos
Além de um movimento vibratório característico do fenômeno, terremotos
podem também induzir uma série de efeitos que dão origem a consideráveis
deformações e ruptura no terreno, quais sejam:
Liquefação do solo;
Deslizamento de terra e queda de rochas;
Superfícies de ruptura devido a falhas tectonicamente ativas;
Tsunamis.
Com exceção dos tsunamis, tais efeitos são diretamente relacionados ao
comportamento geológico e geotécnico do terreno. Suas principais características e
métodos de análise são descritos abaixo, de acordo com Vallejo e Ferres (2011).
Potencial de liquefação
A liquefação ocorre quando certos tipos de solo afetados por terremotos sofrem
um rápido aumento de pressão nos poros, o que resulta na redução de sua resistência ao
stress de cisalhamento e tendência a comportar-se como um fluido. Este fenômeno leva
ao colapso de fundações e encostas, assim como ao deslizamento. Os tipos de solos
susceptíveis à perda de sua resistência são areias soltas e finas, além de areias e silte mal
classificados. Outra condição necessária para que ocorra a liquefação são o nível
elevado do lençol freático, bem próximo da superfície, e o baixo grau de compactação
do solo.
Em áreas afetadas por liquefação, as seguintes relações tem sido observadas:
A liquefação está associada com terremotos de magnitude 5,5 ou maior, assim
como com grau de aceleração do solo igual ou superior 0,2g;
A liquefação não ocorre em profundidade maiores de 15 m;
Em muitos casos onde a liquefação tem sido observada, o lençol freático
encontra-se a 3 m abaixo da superfície; quando ocorre abaixo de 5 m o potencial
de liquefação é muito baixo.
65
Deslizamentos induzidos por terremotos
De todas as causas de danos associados a terremotos, os deslizamentos estão
entre as mais freqüentes, embora sua intensidade tenha que ser alta para que tal evento
ocorra. De acordo com dados empíricos, nenhum deslizamento com alguma relevância
foi observado em terremotos com intensidades menores que VIII. Alguns fatores devem
ser considerados para avaliar o potencial de deslizamento induzido por terremotos,
como segue:
Presença de encostas instáveis ou de encostas em precário estado de estabilidade
anteriormente ao terremoto;
Encostas íngremes;
Solos com baixa resistência ou configurando estruturas metaestáveis (e.g., solos
colapsíveis, porosos e não saturados, que sofrem significativa redução de
volume quando inundados, com ou sem aplicação de carga adicional);
Escarpa rochosa com risco potencial de avalanches.
Ruptura de falhas
Segundo Vallejo e Ferrer (2011), um dos efeitos do terremoto é a ruptura da
superfície do terreno causada pelo deslocamento de falhas ativas. Tal movimentação ao
longo das estruturas pode manifestar-se na forma de escarpas, fraturas ou deslizamentos
na área de ruptura.
Deslocamentos na superfície do solo provocados por falhas ativas estão
associados com terremotos de magnitude 6,0 ou maiores. Seus efeitos dependem de
numerosos fatores, entre os quais:
A natureza do terreno e suas propriedades dinâmicas;
A sobrecarga de sedimentos sobre o substrato ou sobre camadas mais resistentes;
Características do terremoto, tais como magnitude, profundidade focal e
distância ao epicentro;
O tipo de falhas e estruturas associadas.
66
O efeito amplificador da aceleração ao longo das falhas pode ser verificado por
ocasião de grandes terremotos, nos quais os valores máximos da aceleração horizontal
atingem um pico de mais do dobro da aceleração registrada em áreas próximas ao
epicentro. Este efeito amplificador, juntamente com a movimentação do solo produzida
ao longo da falha, é potencialmente destrutivo. Tal fenômeno constitui um fator
determinante na análise do risco sísmico e em suas aplicações na Engenharia Geológica
(avaliação de sítios para infraestrutura, planejamento urbano e regional, etc). Portanto, é
essencial localizar as possíveis falhas sismogênicas, incluindo aquelas que não são
visíveis por estarem cobertas por sedimentos. As observações da superfície falhada, de
acordo com Wang e Law (1994), incluem:
Rupturas na superfície podem ser induzidas por movimentos lentos de
solifluxão, cuja ocorrência é menos provável se a espessura da sobrecarga for
superior a 5 m;
Deslocamentos produzidos em falhas ocultas pelo material sobrejacente podem
dar origem a falhas na superfície do terreno;
Deslocamentos tectônicos na superfície provavelmente ocorrem associados a
terremotos de magnitude M >6 e em profundidade rasa (menor que 30 km);
Quando a espessura do pacote sobrejacente é maior que 30 m, é reduzida a
possibilidade de ruptura na superfície;
A largura da zona de ruptura superficial é usualmente da ordem de vários metros
ou dezenas de metros, formando um corredor estreito, embora o comprimento
das fraturas possa se estender por centenas de metros.
A espessura da sobrecarga sedimentar tem uma influência significativa no
falhamento em superfície, em razão de sua capacidade de absorver energia. As rupturas
na superfície podem, portanto, depender dessa espessura. Todavia, o estilo estrutural é
um fator determinante nos tipos de deslocamento que ocorrem no terreno. Falhas
translacionais produzem deslocamentos na superfície independentemente da espessura
sedimentar, mas falhas normais ou reversas, necessitam de considerável sobrecarga para
absorver a deformação.
67
3.1.2.3 – Potencial de liquefação dos solos
A história registra inúmeros casos de rupturas catastróficas do terreno, com
consideráveis prejuízos econômicos, perdas de vidas humanas e danos ao meio
ambiente, causados pela liquefação dos solos (VALLEJO & FERRER, 2011). Uma
característica comum nessas situações é que os materiais nos locais dos desastres podem
ser classificados como arenosos ou arenosos com matriz siltosa de baixa ou nula
plasticidade. São ainda considerados como fofos, segundo critérios baseados no número
de golpes do teste de penetração ou SPT (Standard Penetration Test) ou do ensaio de
penetração de cone in situ ou CPT (Cone Penetration Test).
Eventos tais como colapsos de fundações de barragens, movimentos bruscos de
taludes naturais, recalques severos de edificações e pontes, bem como flutuações de
fundações, ocorrem como resultado de rupturas causadas por liquefação. Alguns desses
exemplos foram desencadeados por carregamentos cíclicos, configurando liquefação
cíclica ou dinâmica, e outros por um aumento monotônico do carregamento,
caracterizando liquefação monotônica ou estática (SEED, 1987). A liquefação dinâmica
está relacionada aos eventos sísmicos.
No entender de Casagrande (1936), a liquefação é um fenômeno associado à
diminuição da resistência efetiva e da rigidez dos solos sob ação de forças externas, que
como mencionado acima, podem ser cíclicas ou monotônicas. Tal manifestação se dá
geralmente em materiais saturados em água que, quando submetidos a tensões
cisalhantes, apresentam tendência de contração de volume. Como os poros encontram-
se totalmente preenchidos por água, e como o tempo necessário para drenagem é
comparativamente maior do que o intervalo de aplicação do carregamento, esta
tendência de contração de volume implica em um aumento do valor da pressão do fluido
nos poros do solo.
Se, durante o carregamento, a poropressão aumenta gradualmente até um valor
igual ao da tensão de confinamento, a tensão efetiva ou inter-granular que atua no
arcabouço do material se anula. Como resultado, o solo perde completamente sua
resistência ao cisalhamento, comportando-se como líquido viscoso.
Assim, em termos gerais, o processo pode ser caracterizado pelas seguintes
etapas:
68
Solo granular fofo e saturado: mudança brusca da estrutura sob carregamento
(estático ou dinâmico) muito rápida, tendendo a um arranjo mais compacto entre as
partículas;
A água intersticial, sem tempo de ser drenada, é confinada sob elevadas pressões,
não permitindo a aproximação das partículas sólidas, reduzindo as tensões de
contato e, conseqüentemente, o atrito entre as partículas e a resistência do solo;
Numa condição limite, as poropressões tornam-se tão elevadas que ocorre a perda
do contato entre as partículas do solo que, ficando com uma resistência muito baixa,
passa a se comportar como um fluido viscoso, resultando no fenômeno da
liquefação. (Figura 3.3)
Os processos geológicos nos quais se formam e são transportadas partículas
relativamente uniformes produzem depósitos altamente susceptíveis à liquefação.
Consequentemente, pacotes fluviais, coluviais e eólicos, quando saturados, podem
sofrer liquefação por carregamento estático ou dinâmico. Como a liquefação ocorre
somente em solos saturados, quanto mais profundo estiver o lençol freático, tanto menor
sua susceptibilidade à liquefação. Com efeito, o fenômeno se desenvolve em locais onde
o nível da água subterrânea encontra-se poucos metros abaixo da superfície.
69
Figura 3.3 – Representação esquemática das condições
petrofísicas necessárias ao processo de liquefação dos solos.
Modificado de Seed (1987).
70
3.2 Terremotos intraplaca (IPEs) e os Concentradores Locais de Tensão (LSCs)
As regiões continentais intraplaca são caracterizadas por tensões uniformes
distribuídas ao longo de milhares de quilômetros quadrados. As tensões locais podem se
acumular em heterogeneidades estruturais situadas no interior desses campos regionais.
Com efeito, várias feições geológicas, denominadas por Talwani (2017) como
concentradores locais de estresse (LSCs, do inglês Local Stress Concentrators), são
passíveis de atuação como inomogeneidades elásticas. O acúmulo de estresse no tempo
depende da estrutura envolvida no processo e de sua relação geométrica com o campo
de tensões regional. A interação dos campos local e regional pode resultar na rotação
deste último (Figura 3.4).
Figura 6: representação esquemática do
processo de liquefação dos solos.
Figura 3.4 – Rotação local do campo de tensões. Em um contexto intraplaca, a interação do
estresse local (SL), associado a um LSC (Local Stress Concentrator), com o campo de
tensões regional (ST) faz com que o campo de tensões final (SF) seja girado por Υ° em
relação ao campo regional. Fonte: Talwani (2017).
71
Muitas deformações acontecem nas estruturas geológicas que atuam como
concentradores locais de tensão. Tais LSCs estão situados tanto na parte superior como
inferior da crosta; os terremotos ocorrem pela liberação das tensões acumuladas nos
LSCs. Segundo Talwani (2017), um inventário de terremotos intraplaca com magnitude
superior a 4,5 mostrou que os mesmos estão preferencialmente localizados em antigos
rifts e na fronteira de crátons. Destes, a maior parte da liberação de energia sísmica está
associada a rifts com pronunciado afinamento crustal.
Desse modo, terremotos intraplaca (IPEs, do inglês Intraplate Earthquakes)
ocorrem em resposta ao acúmulo local de tensões relacionado a feições geológicas
identificadas como LSCs, conforme a conceituação de Talwani (2017). Os IPEs podem
acontecer quando a magnitude do acúmulo no tempo do estresse local (SL) se aproxima
do estresse regional (ST). O acúmulo de SL e sua interação com ST possivelmente
resultam em uma rotação deste último. Em razão da reduzida deformação tectônica em
regiões intraplaca, das reduções de estresse associadas com os IPEs e da disponibilidade
de múltiplos LSCs, os terremotos intraplaca tendem a não ocorrer novamente nos
epicentros anteriores. Com efeito, eles “vagam” para novas estruturas,
preferencialmente no interior dos rifts. Como exemplo, pode ser citada a série de
terremotos ocorridos na North China Rift Basin, entre os anos de 1966 e 1976 (Figura
3.5). O fato de que terremotos intraplaca não se repetem no tempo e no espaço tem
consequência direta para a identificação de futuras localizações de IPEs, com
implicações para a avaliação de risco sísmico.
72
Dentre as diferentes descontinuidades intraplaca, rifts associados a regiões
crustais mais afinadas têm maior susceptibilidade à inversão em resposta ao estresse
compressional oriundo das bordas das placas. A inversão acontece preferencialmente
em zonas herdadas de fraqueza crustal. Deformações compressivas são localizadas
principalmente ao longo das falhas de borda, de falhas conjugadas e no topo do manto
soerguido na crosta inferior. Tais estruturas dentro dos rifts definem locais de
pronunciada deformação e constituem sítios potênciais para futuros terremotos.
Enquanto os terremotos nas bordas das placas estão associados a falhas bem
definidas, os IPEs se relacionam a diversos tipos de LSCs (falhas com traço curvo,
interseções de falhas, corpos ígneos rasos, etc.). Na zona sísmica de New Madrid
(Figura 3.6), a atividade ocorre a dezenas de quilômetros da interseção das falhas de
Blytheville e Reelfoot (Talwani, 2017). Dentre as feições favoravelmente orientadas em
relação ao campo de tensões regional (ST), aquelas que resultam em restrições à
Figura 3.5 – Série de terremotos intraplaca (IPEs) com magnitude (M) maior que 7,0
ocorridos entre 1966 e 1976 na North China Rift Basin, uma estrutura do tipo
“releasing stepovers” que favorece a movimentação de falhas. Tais IPEs são os
seguintes: Xingtai (X, 1966, M=7,2), Bohai (B, 1969, M=7,4), Haicheng (H, 1975,
M=7,3) e Tangshan (T, 1976, M=7,8). Fonte: Talwani (2017).
73
movimentação de falhas (restraining stepovers) apresentam as condições mais
favoráveis para o acúmulo de estresse.
Assim, o modelo apresentado em Talwani (2017) pode explicar a rotação no
sentido horário na direção do campo de tensões final (SF) na zona sísmica de New
Madrid. Esta rotação foi observada numa área de aproximadamente 50x20 km² na
vizinhança da intersecção entre a zona de falha de Blytheville e a falha de Reelfoot. Esta
conexão entre as estruturas foi interpretada como um LSC. Ademais, tal feição fica
também no topo de um “buried rift pillow” (Figura 3.7).
Figura 3.6 – Zona sísmica de New Madrid situada em uma região de “stepover” entre as
falhas Blytheville e New Madrid (com direção NE), além da falha “stepover” de Reelfoot
(orientada para NNW) e de um “buried rift pillow” (corpo máfico de alta densidade
situado na crosta inferior abaixo de alguns rifts modernos e da maioria dos rifts
continentais antigos). Modificado de Talwani (2017). BF: Blytheville Fault; NMNF:
Northern New Madrid Fault; RiF: Risco Fault; RF: Reelfoot Fault; ST: campo de tensões
regional; buried rift pillow: linha tracejada.
BF
74
O acúmulo de estresse e seu alívio em diferentes LSCs resultam em uma
sequência de terremotos em diferentes locais, em vez da recorrência em uma mesma
falha. As observações hoje de terremotos não repetidos e as investigações de paleo-
sismicidade mostram que sequências de IPEs, com algum agrupamento no tempo, são
sempre separadas por longos períodos de quiescência tectônica. Ademais, a verificação
de terremotos não repetidos sugere que, após o alívio de estresse em um particular LSC,
é improvável a ocorrência no local de algum outro terremoto alguns séculos depois, em
razão das baixas taxas de deformação e dada a disponibilidade de outros LSCs, onde a
tensão pode se acumular por milhares de anos.
3.2.1 Rotação do campo de tensões no Rift Paleozoico do Amazonas
O regime compressivo E-W no interior da Placa Sul-americana ocorre como
resultado da atuação de diferentes forças. Com efeito, as tensões derivadas da acresção
crustal na cadeia meso-oceânica, o movimento absoluto da placa e os esforços
convergentes relacionados à subducção em sua margem pacífica se orientam
aproximadamente nessa direção (Assumpção, 1992).
Nesse contexto, é interessante notar a rotação em aproximadamente 90° da
orientação do campo de tensões na Amazônia Central, que foi verificada tanto pela
análise de ovalização de poços petrolíferos (breakout analysis) como pelo mecanismo
focal de terremotos. Isso ocorre na região do Rift do Amazonas, cuja formação
aconteceu entre o Ordoviciano e o Permiano (505-245 Ma; Nunn e Aires, 1988).
Abrangendo uma extensa porção do território sul-americano, esta feição tectônica
orientada para E-W constitui um dos maiores rifts continentais do mundo, tanto que sua
área de influência controla a drenagem atual da bacia do Rio Amazonas (Zoback e
Richardson, 1996).
Nessa região, as análises de breakouts e do mecanismo focal de terremotos
indicam uma consistente orientação de NNW a NNE para a tensão horizontal máxima
(SHmax), apesar de tais técnicas amostrarem intervalos de profundidade muito diferentes.
As duas soluções por mecanismo focal disponíveis estão apresentadas na Figura 2.10
(Mapa Neotectônico do Brasil). Ambas mostram uma movimentação puramente de
empurrão em planos de falha com strike aproximadamente E-W, o que implica em uma
orientação de aproximadamente N-S para SHmax. Vale lembrar que, de acordo com
75
Assumpção e Soares (1988), no sismo de magnitude 5,1 ocorrido a norte de Manaus, em
14/12/1963, o eixo de compressão P apresentou azimute/plunge da ordem de 329º
(NNW)/7º (sub-horizontal). Para o sismo com magnitude 5,5 ocorrido em Codajás, em
05/08/1983, os valores de azimute/plunge para o eixo P foram 14° (NNE)/10° (sub-
horizontal).
Ambos os terremotos ocorreram ao longo da margem norte do Rift do Amazonas
e são anomalamente profundos (45 km e 23 km, respectivamente) para a sismicidade
intraplaca. A análise de breakouts em quatro poços da Província Petrolífera de Urucu, a
oeste, perfurados em sedimentos paleozoicos (profundidade de 2,0 a 2,6 km), forneceu
como resultado uma orientação média para SHmax de N15° ± 10° E. Isto sugere que um
esforço compressional horizontal máximo com direção aproximadamente N-S ocorre
em toda a crosta rúptil (Zoback e Richardson, 1996).
Talvez a característica geofísica mais marcante do Rift do Amazonas seja uma
cadeia de altos gravimétricos Bouguer (aproximadamente +40 a +90 mGal) que
coincide, grosso modo, com o eixo de máxima espessura sedimentar (Nunn e Aires,
1988). Tais máximos gravimétricos são flanqueados por baixos gravimétricos da ordem
de -40 mGal. A modelagem desses dados demonstrou que a zona, variando de 100 a 200
km de largura, com elevados valores gravimétricos poderia ser associada a rochas mais
densas na parte baixa da crosta (Figura 3.7). Por sua vez, os baixos gravimétricos em
seus flancos foram relacionados com o preenchimento da bacia e com os efeitos do
abatimento flexural da crosta. Nunn e Aires (1988) concluíram que, nesta região, a
crosta continental inferior foi substituída por um material mais denso em mais da
metade da sua espessura original de 45-50 km.
Assim, o rift pillow formou-se como um corpo de alta densidade na crosta
inferior provavelmente durante o episódio de rifteamento do Amazonas, quando foi
equilibrado isostaticamente (pelo menos em parte) por um afinamento no manto
litosférico. Depois de terminado tal evento tectônico, a litosfera gradualmente esfriou e
se tornou mais espessa; a carga do rift pillow deve ter sido estaticamente apoiada pela
resistência à flexão da litosfera e, de fato, poderia ter contribuído para a subsidência
pós-rifte. A rotação das tensões na região do Rift do Amazonas pode ser explicada pela
superposição de uma fonte local de estresse relacionada com o rift pillow ao campo de
tensões regional (Zoback e Richardson, 1996).
76
O padrão geral de tensões calculado a partir do modelo de elementos finitos
desenvolvido pelos citados autores para esse contexto geológico prevê: compressão
máxima diretamente acima do rift pillow, tensão máxima não-litostática abaixo da
carga, plano neutro nas proximidades do meio da litosfera e tensões de polaridade
oposta nos flancos das depressões flexurais. As tensões de compressão maiores para
este modelo ocorrem perto da superfície do terreno acima do rift pillow. Estresses
tensionais não-litostáticos de magnitude comparável se desenvolvem abaixo do rift
pillow na litosfera inferior. Por fim, os esforços diminuem rapidamente para o exterior
do rift soterrado.
Essa modelagem de elementos finitos indica, portanto, que o suporte do rift
pillow gera tensões de compressão horizontais, acima do plano neutro, que são normais
ao eixo do Rift Paleozoico do Amazonas, o que é consistente com as informações
referentes aos terremotos de Manaus e Codajás.
Figura 3.7 – Sismicidade e dados de estresse na região amazônica. Setas
convergentes indicam a orientação do eixo P para os terremotos de Manaus
(M) e Codajás (C). A área rachurada no Médio Amazonas representa a cadeia
de altos gravimétricos Bouguer que corresponde, grosso modo, à localização
de material mais denso na crosta inferior, segundo a concepção de Nunn e
Aires (1988). Modificado de Assumpção (1992)
Bacia Amazonas
C
M
77
Cabe ainda mencionar o trabalho de Veloso (2014), no qual foram combinadas
informações históricas da Amazônia datadas de 300 anos com estudos sismológicos. Tal
abordagem permitiu caracterizar um terremoto ocorrido em 1690, o maior evento
sísmico que atingiu o Brasil desde sua colonização.
O provável epicentro desse tremor se localizou na margem esquerda do Rio
Amazonas, aproximadamente 45 quilômetros a jusante de Manaus. Em 1691, de
passagem pela área epicentral, um missionário encontrou testemunhas do terremoto e
observou marcantes modificações na topografia e na vegetação ao longo da margem
fluvial. Um ano depois, outro religioso confirmou a ocorrência do evento sísmico e foi
informado de que surgiram grandes ondas no rio, as quais alagaram aldeias indígenas.
A violência do terremoto espalhou ondas sísmicas pela floresta e balançou
construções silvícolas a mais de mil quilômetros de distância. Segundo Veloso (2014), o
cálculo dos parâmetros sísmicos indicou uma magnitude estimada de 7 e intensidade
sísmica de IX, bem como uma área de percepção de 2 milhões de km2. Os danos no
terreno foram observados pelos padres tanto nas margens dos rios como em terra firme;
à luz do conhecimento atual, isso poderia representar uma área de liquefação superior a
300 km2 em torno do epicentro. De acordo com o citado autor, este cenário implica que
o risco sísmico nesta região é mais significativo do que o indicado em estudos
anteriores.
O terremoto descrito por Veloso (2014) ocorreu na região dos sismos de Manaus
(1963) e Codajás (1983). Sua localização espacial pode indicar, portanto, uma
associação causal com a zona de alta densidade na crosta inferior representada pela
cadeia de altos gravimétricos (Figura 3.8). Além disso, a proximidade geográfica
relativa entre o terremoto de 1690 e os tremores de 1963 e 1983 sugere o mesmo
mecanismo de falha de empurrão para todos eles.
78
Ao comentar o diagrama acima, Veloso (2014) observou que o epicentro do
terremoto em Codajás (1983) se localiza fora da área abrangida pelo trend E-W de altos
gravimétricos. No entanto, é possível que o hipocentro de tal sismo se encontre na
periferia do largo e extenso corpo intrusivo associado a essa feição geofísica. Tal fato é
coerente com os resultados de modelagens efetuadas por Zoback e Richardson (1996),
nas quais os efeitos flexurais das cargas crustais atingem algumas centenas de
quilômetros.
Figura 3.8 – Bloco diagrama ilustrando a configuração inferida da seção crustal em torno
dos três terremotos intraplaca principais da Amazônia. A área rosa corresponde ao Escudo
das Guianas e a porção amarela à Bacia do Amazonas. A linha sólida cinza ilustra o trend
E-W de altos gravimétricos e os círculos vermelhos são os eventos sísmicos. As setas fora
do diagrama ilustram a orientação geral da tensão horizontal máxima (SHmax) dos
mecanismos de falha reversa dos terremotos de 1963 e 1983. A profundidade do pacote
sedimentar, a crosta superior e inferior, a topografia do manto e o corpo intrusivo são
inferidos de Nunn e Aires (1988). A estrela indica a profundidade focal de 23 km do tremor
de 1983. Fonte: Veloso (2014).
79
3.3 Shuttle Radar Topography Mission (SRTM)
A agência americana NASA (National Aeronautics and Space Administration),
em colaboração com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e com a Agência Espacial
Italiana (ASI), lançou, no mês de fevereiro do ano 2000, a missão STS-99, denominada
Shuttle Radar Topography Mission (SRTM).
Tal iniciativa teve 11 dias de duração e gerou como resultado um modelo digital
de elevação (MDE) global, abrangendo o planeta na faixa de latitudes entre +/- 60°
(https://www2.jpl.nasa.gov/srtm/dataprod.htm).
Durante a missão, foram adquiridos dados SAR (Synthetic Aperture Radar) nas
bandas C e X, empregando, para cada banda, dois pares de antenas instaladas a bordo do
ônibus espacial Endeavour. Em um determinado par, uma antena se localizava no
compartimento de carga útil do Endeavour, enquanto a outra ficava no final de um
mastro de 60 metros que se estendia a partir do ônibus espacial. Os dados assim
coletados foram processados com o emprego de técnicas interferométricas (Rabus et al.,
2003). O MDE de maior resolução foi confeccionado com dados na banda C e é
fornecido em coordenadas geográficas, com espaçamento horizontal de um arco
segundo (30 metros) e o valor de elevação dado em metros.
O modelo de elevação digital global de 1 arco segundo (30 metros) está
disponível no site do United States Geological Survey (USGS) e só foi liberado
inicialmente no território dos Estados Unidos. Para grande parte do resto do mundo,
apenas dados de 3 arco segundos (90 metros) podiam ser acessados. Em 2014, o
governo americano disponibilizou um MDE global de 1 arco segundo (30 metros).
Na presente pesquisa foram utilizados os dados de 3 arco segundos (90 metros),
tendo em vista que o produto final foi apresentado na escala 1:750. 000. Os dados da
missão SRTM podem ser baixados no site
(https://www2.jpl.nasa.gov/srtm/dataprod.htm).
80
3.3.1 Exemplo de análise morfoestrutural avançada utilizando dados SRTM na
área do Lineamento Pirapemas (Bacia de Barreirinhas)
Foi efetuada por Almeida Filho et al. (2009) uma avaliação de procedimentos
para análise morfoestrutural avançada utilizando dados obtidos pela Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM) na área teste do Lineamento Pirapemas, Bacia de
Barreirinhas. Nessa região, existe uma feição linear de fortíssima expressão morfológica
que se encontra expressa em terrenos pós-Barreiras, em uma área de vegetação esparsa e
relevo plano. Considerou-se no citado artigo que tal lineamento representa um análogo
geológico para análises morfoestruturais a serem realizadas em rochas pós-Alter do
Chão nas bacias do Solimões e Amazonas, visto que o mesmo poderia ser estudado em
detalhe no campo em razão da ausência no local de cobertura florestal densa.
O Lineamento Pirapemas se entende por 200 km, na direção NE-SW, desde a
localidade de mesmo nome até o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, onde
desaparece sob as dunas nas vizinhanças da cidade de Barreirinhas (Figura 3.9). Tal
feição divide a área investigada em dois segmentos com distintos padrões de drenagem,
arranjo altimétrico e cobertura sedimentar, apresentando notável expressão
geomorfológica na parte emersa da Bacia de Barreirinhas. Com efeito, os terrenos
situados a norte do citado lineamento exibem topografia suave e rebaixada, com
drenagem sub-paralela a sub-dendrítica, enquanto que a sul ocorre um platô dissecado,
que se caracteriza pela forte incisão dos vales e drenagem retangular, sugerindo o
controle por juntas e falhas.
81
Figura 3.9 – O Lineamento Pirapemas no contexto tectônico da parte emersa da Bacia de
Barreirinhas. Fonte: Almeida Filho et al. (2009).
No estudo elaborado por Almeida Filho et al. (2009), procurou-se identificar um
possível controle do Lineamento Pirapemas na evolução da paisagem atual, analisando
de forma conjunta o modelo digital de elevação (MDE) da SRTM, dados geológicos de
superfície, determinações geocronológicas (luminescência térmica e luminescência
opticamente estimulada), bem como dados geofísicos (gravimétricos e sísmicos). A
manipulação dessa base de dados demonstrou a influência de tal feição linear na
sedimentação quaternária da área de estudo, realçando a importância de reativações
neotectônicas em áreas situadas ao longo de margens continentais passivas.
O MDE da SRTM mostrou que aquela área de estudo é caracterizada por uma
topografia plana, com altitudes variando gradualmente do nível do mar até cerca de 110
metros de altitude (Figura 3.10). Em geral, a topografia decresce para norte, com o
Lineamento Pirapemas definindo dois setores com morfologias contrastantes. Terrenos
com relevo aplainado (ou seja, uma superfície menos dissecada) tipificam a porção
sedimentar a norte do lineamento. Por outro lado, um platô com altitudes acima de 80
m, marcado por vales com profunda incisão, ocorre a sul, o que sugere a atuação de
processos mais intensos de dissecação sobre uma superfície exposta à erosão por
período de tempo relativamente maior.
Plataforma de Sobradinho
Falha de Sobradinho
Depocentro Principal
Brasil
Lineamennto Pirapemas
Plataforma de Sobradinho
Oceano Atlântico
Falha de Sobradinho
Alto de Bacaba
82
Figura 3.10 – Modelo digital de elevação (MDE) da SRTM na área do Lineamento
Pirapemas (Almeida Filho et al., 2009). Como indicado no perfil A-B, as altitudes
decrescem em direção a norte. O Lineamento Pirapemas define um contato abrupto entre
dois setores com morfologias contrastantes: o setor norte é caracterizado por uma superfície
relativamente lisa e o setor sul consiste de um terreno profundamente dissecado.
Além de tais distinções morfológicas, a rede hidrográfica também difere em
ambos os lados do Lineamento Pirapemas (Figura 3.11). Com efeito, a densidade de
drenagem é consideravelmente mais baixa a norte do lineamento, constituindo canais
dispostos segundo padrões sub-paralelo a sub-dendrítico. Alternativamente, um padrão
de drenagem tipicamente retangular prevalece mais a sul, com cursos d’água
majoritariamente retilíneos e conectados em ângulos retos. Tais características sugerem
que esta área foi fortemente afetada por atividades tectônicas, com canais estabelecidos
ao longo de falhas e juntas. Deve-se notar que muitos desses canais são paralelos ao
Lineamento Pirapemas, o que indica seu comportamento como uma feição
tectonicamente ativa, com papel relevante na evolução da paisagem. Em contraste, rios
com controle estrutural são praticamente ausentes no setor norte da área de estudo.
Lineamento
Pirapemas
Oceano Atlântico
83
Embora nesse local também se encontrem cursos d’água paralelos ao Lineamento
Pirapemas, eles são raros e, em sua maioria, distribuídos em sua vizinhança a NE e SW.
Figura 3.11 – Configuração da rede de drenagem na área estudada por Almeida Filho et
al. (2009), na qual ocorrem dois setores com distintos padrões separados pelo Lineamento
Pirapemas.
Esse contexto geomorfológico é sugestivo de que depósitos sedimentares pouco
espessos, aflorando a norte do Lineamento Pirapemas, sejam mais jovens que as
camadas expostas no setor sul da região investigada. Muito provavelmente, os pacotes
se acumularam no setor norte devido à tectônica que deu origem às falhas e juntas no
setor sul. A topografia mais rebaixada do setor norte indica que o mesmo subsidiu em
relação ao setor sul. A baixa densidade de drenagem e o relevo plano do setor norte
reforçam tal hipótese. Portanto, a área localizada a sul do Lineamento Pirapemas é
aparentemente mais velha do que aquela situada a norte, tendo sido afetada pela
tectônica, que deu origem a muitas falhas e juntas que impuseram um forte controle na
drenagem moderna. O fenômeno de subsidência ocorreu no setor a norte do lineamento.
Tal processo teria criado novo espaço para acomodar uma cobertura sedimentar mais
jovem e menos espessa, ainda não dissecada, que permaneceu plana e com textura lisa.
Finalmente, segundo o estudo de Almeida Filho et al. (2009), é importante
registrar que o Lineamento Pirapemas intercepta o Arco Ferrer-Urbano Santos, que
Oceano Atlântico
84
define o limite meridional da Bacia de Barreirinhas, nas proximidades da sede do
município de Belágua, no Maranhão (Figura 3.9).
Conforme reportado pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em 03
de janeiro de 2017, por volta de 9h50min, esse estado da federação sofreu um terremoto
com magnitude de 4,7 na escala Richter (http://www.uema.br/2017/01/terremoto-no-
maranhao/). Com esta intensidade, o sismo é classificado como ligeiro, ocasionando
tremor notório de objetos no interior de habitações e ruídos de choque entre objetos,
dentre outros pequenos movimentos vibratórios. Danos importantes nestes casos são
pouco comuns. De acordo com o Centro Nacional de Sismologia da USP, o epicentro do
terremoto ocorreu justamente na cidade de Belágua.
Tal fato sugere que (1) a interseção do Lineamento Pirapemas com o Arco
Ferrer-Urbano Santos atuou como um “Local Stress Concentrator”, na conceituação de
Talwani (2017), e que (2) locais de concentração de estresse podem ser identificados em
rochas pós-Alter do Chão, nas bacias do Solimões e Amazonas, empregando a
abordagem proposta por Almeida Filho et al. (2009) para a análise de dados SRTM na
Bacia de Barreirinhas.
85
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA
4.1 – Materiais
Os materiais utilizados para o desenvolvimento da pesquisa foram os seguintes:
• Dados da missão SRTM disponíveis para serem baixados gratuitamente no site:
http://edcsns17.cr.usgs.gov/NewEarthExplorer/http://www.relevobr.cnpm.embra
pa.br/download/am/sb-20-v-b.htm;
• Máscara SWBD disponível em http://edcsns17.cr.usgs.gov/NewEarthExplorer/,
no formato vetorial shapefile;
• Bases temáticas digitais e georreferenciadas do Projeto PIATAM, Projeto
Geodiversidade da Amazônia, EMBRAPA e CPRM;
• Dados físicos, ambientais e sócio–econômicos do PIATAM, Petrobras, CPRM,
IBGE e Projeto Geodiversidade da Amazônia;
• Software Arc Gis 10.2, utilizado para manipulação, visualização e extração de
informações a partir dos dados da missão SRTM referentes à declividade,
hipsometria, drenagem e curvas de nível, assim como para a elaboração de
mapas temáticos e sua posterior documentação;
• Software PCI, empregado para classificar a superfície do terreno e filtrar alguns
pixels cujos valores se apresentavam discrepantes nos MDE da missão SRTM;
• Software Global Mapper 13, usado para visualização dos mosaicos SRTM,
facilitando a tarefa de interpretação do relevo da área de estudo;
• Base digital com a delimitação do poliduto Urucu- Coari–Manaus e sua área de
influência;
86
• Mapa Neotectônico do Brasil, cuja elaboração foi coordenada pelo Centro de
Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES)
da Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS).
87
4.2- Métodos
A metodologia adotada, em linhas gerais, abrangeu tarefas de processamento e
manipulação de dados da missão SRTM e sua integração com bases cartográficas
temáticas, desdobrando as etapas destacadas pelo fluxograma simplificado da Figura
1.2. Estas etapas compreendem os ajustes dos mosaicos SRTM, a elaboração de curvas
de nível, a confecção dos mapas hipsométrico, de declividade e drenagem, além da
adoção dos procedimentos propostos pela Associação Pan-Americana da Saúde
(PAHO) para avaliar a vulnerabilidade ao risco sísmico na Amazônia através de sua
integração com dados da literatura. A metodologia proposta para o desenvolvimento da
pesquisa, a ser explicada a seguir, está expressa no fluxograma detalhado da Figura 4.1.
88
Figura 4.1 – Fluxograma detalhado da metodologia proposta.
Aquisição dos dados e informações (MDE da SRTM, bases de cartografia temática e informações da literatura) necessários à pesquisa.
Processamento dos dados: tratamento e
manipulação digital dos produtos derivados do
MDE da missão SRTM
Integração dos produtos derivados da missão
SRTM e dos mapas temáticos em ambiente SIG
Geração de Produtos derivados da SRTM: mapa
de hipsometria, mapa de declividade, mapa de
drenagem, mapa de lineamentos e curvas de
nível
Análise quantitativa para o cálculo do
risco sísmico através de álgebra de
mapas e de relacionamentos espaciais
Definição da metodologia e dos parâmetros para expressar os diferentes aspectos do risco sísmico no Poliduto Urucu-Coari-Manaus utilizando um Sistema de Informações Geográficas (SIG)
Confecção do produto final em escala
regional (1: 750.000)
Identificação de agrupamentos de
Local Stress Concentrators (LSCs)
visando à identificação de zonas de
atenção especial
89
Cabe registrar que a metodologia empregada foi dividida em várias etapas. Na
primeira, foi efetuado o levantamento das informações na literatura pertinentes à
pesquisa; a segunda consistiu na elaboração dos produtos que auxiliaram no cálculo do
risco sísmico, tais como o mapa hipsométrico, mapa de declividade, mapa de drenagem,
de falhas geológicas, etc. A terceira etapa constou da definição da metodologia para
calcular o grau de vulnerabilidade ao risco sísmico, seguindo os conceitos colocados
pela PAHO e tendo por base os produtos que foram elaborados a partir dos dados da
missão SRTM e sua integração com as informações preexistentes. Na quarta etapa, foi
realizada a interpretação dos produtos gerados para calcular a vulnerabilidade ao risco
sísmico e também a identificação das áreas de concentradores locais de stress (LSC´s),
segundo a metodologia proposta por (TALWANI, 2017). Tal mapeamento permitiu a
identificação de uma zona de atenção especial no traçado do poliduto Urucu-Coari-
Manaus.
No levantamento bibliográfico e de bases cartográficas, foram obtidos mapas,
tabelas, cartas e imagens, além do posicionamento do poliduto e de sua área de
influência, como também informações sobre eventos sísmicos da região. Foram ainda
reconhecidos os trabalhos de maior relevância para a pesquisa, dentre os quais se
destacam: o livro que aborda a avaliação do risco sísmico na perspectiva da Engenharia
Geológica (VALLEJO & FERRER, 2011); o trabalho de Zoback e Richardson (1996)
sobre o campo de estresse no Rift do Amazonas; o documento sobre diretrizes para
análise de vulnerabilidade e mitigação de desastres naturais em sistemas dutoviários
como consequência de terremotos elaborado pela Organização Pan Americana da Saúde
(PAHO, 1998); a dissertação sobre detecção de áreas vulneráveis à erosão no trecho do
gasoduto Coari-Manaus (SILVA, 2008); a tese sobre a caracterização geomagnética do
Gráben Purus e suas implicações na evolução das bacias do Solimões e do Amazonas
(MUNIS, 2009); o artigo de Assumpção et al. (1985) sobre o sismo de Codajás; o artigo
sobre a natureza dos terremotos intraplaca e sua relação com as concentrações locais de
stresse (TALWANI, 2017); informações sobre a base de dados do projeto PIATAM,
além da utilização da base de dados do projeto Geodiversidade do Estado do Amazonas
(2010), elaborado pela CPRM em parceria com a EMBRAPA e IBGE; o Mapa
Neotectônico do Brasil, elaborado sob a coordenação da Petrobras/ CENPES.
Desse modo, os produtos cartográficos utilizados na pesquisa foram: mapa
geomorfológico (CPRM, 2010) na escala 1: 100. 000; mapa geológico (CPRM, 2010)
na escala 1: 100.000; máscara SWBD (Shuttle Water Body Data) (NASA, 2014); mapa
90
pedológico (CPRM, 2010) na escala 1: 100.000; mapa de falhas geológicas (CPRM,
2010) na escala 1: 100.000; mapa de lineamentos magnéticos (MUNIS, 2009) na escala
1: 100.000; Modelo Digital de Elevaçao (MDE) da missão SRTM com resolução de 90
m. (NASA, 2012); base cartográfica com a delimitação do traçado do poliduto Urucu-
Coari-Manaus na escala 1: 100.000 e “buffer” de sua área de influência (PIATAM,
2007); Mapa Neotectônico do Brasil (CENPES & CPRM, 2014). Tais produtos foram
reprojetados para um sistema de coordenadas geográficas, utilizando como referência o
Datum WGS 84. (Tabela 4.1)
Tabela 4.1- Bases de Dados Utilizadas na Elaboração do Trabalho (coordenadas
geográficas; Datum WGS 84).
Mapa Escala Fonte Ano
Geomorfologia 1: 100.000 CPRM 2010
Geologia 1: 100.000 CPRM 2010
Pedologia 1: 100.000 EMBRAPA 2010
Mascara SWBD 1: 100.000 NASA 2014
Mapa Neotectônico do
Brasil
1: 5.000.000 CENPES e CPRM 2014
Falhas geológicas 1: 100.000 CPRM 2010
Lineamento magnético 1: 100.000 MUNIS 2009
Poliduto com a
delimitação de sua área de
influência
1: 100.000 PIATAM 2007
MDE da missão SRTM Resolução 90 m NASA 2014
4.2.1 Cálculo da Vulnerabilidade ao Risco Sísmico
Na terceira etapa da pesquisa, foi estabelecida a metodologia para estimar a
vulnerabilidade do poliduto Urucu-Coari-Manaus a eventos sísmicos, que é expressa
através da estimativa de danos nas tubulações como consequência de terremotos
intensos. Esta metodologia tomou por base os procedimentos sugeridos pela
Organização Pan-Americana da Saúde, através do programa de mitigação de desastres
91
naturais em sistemas de água e saneamento (PAHO, 1998). A abordagem inclui a
definição de fatores de risco, os quais levam em consideração algumas variáveis, tais
como o tipo de solo, a capacidade de drenagem, a declividade e a proximidade com
falhas geológicas.
4.2.1.1 – Avaliação do Risco Sísmico
Em primeiro lugar, deve-se atribuir um fator de risco pelo tipo de perfil de solo
(FSPT), conforme mostrado na Tabela 4.2. Esses valores podem ser 1,0 para um perfil
de solo rochoso, 1,5 para solos bem consolidados e 2,0 para solos macios. A seguir,
define-se o fator de risco para o potencial de liquefação do solo (FPSL), como
ilustrado na Tabela 4.3. Os valores possíveis são 1,0 para baixo risco, 1,5 para risco
moderado e 2,0 para alto risco. Finalmente, designa-se o fator de risco para o
deslocamento permanente do solo (FPDS), o qual, como no caso anterior, varia de 1,0
para baixo risco, 1,5 para risco moderado e 2,0 para alto risco (Tabela 4.4).
De acordo com a metodologia da PAHO (1998), o fator de risco sísmico (SHF)
da região em investigação é caracterizado pelo produto SHF = FSPT x FPSL x FPDS
(Equação 4.1)
Assim, os valores de SHF inferiores a 2 são considerados de baixo risco sísmico;
entre 2 e 4, de risco sísmico moderado; iguais ou maiores que 4, de alto risco sísmico.
Tabela 4.2 - Fator de risco pelo tipo de perfil de solo (FSPT)
Perfil do solo Descrição FSPT
Rochoso Estratos rochosos ou solos
muito consolidados com
propagação de ondas acima
de 750 m/s
1,0
Duro Solos bem consolidados ou
solos macios com
profundidades inferiores a 5
metros.
1,5
Macio Camadas de solos macios
com profundidade superior a
10 metros.
2,0
Fonte: Associação Pan-Americana da Saúde (PAHO, 1998).
92
Tabela 4.3 - Fator de risco para o potencial de liquefação do solo (FPSL)
Risco de Liquefação Descrição FPSL
Baixo Solos bem consolidados e
com alta capacidade de
drenagem, cujos estratos
adjacentes não têm teor de
areia apreciável
1,0
Moderado Solos com capacidade de
drenagem moderada, cujos
estratos adjacentes
apresentam teor de areia
moderado
1,5
Alto Solos mal drenados com
lençol freático elevado, cujos
estratos adjacentes exibem
alto teor de areia; deltas de
rios e depósitos aluviais
2,0
Fonte: Associação Pan-Americana da Saúde (PAHO, 1998).
93
Tabela 4.4 - Fator de risco para a deformação permanente do solo (FPDS)
Risco Descrição FPDS
Baixo Solos bem consolidados, com
baixa declividade,
preenchimento bem
compactado e distantes do
leitos de rios ou falhas
geológicas
1,0
Moderado Solos consolidados, com
declividade menor que 25%,
preenchimento compactado e
próximos do leito de rios ou
falhas geológicas
1,5
Alto Solos mal consolidados, com
declividade acima de 25%,
com localização próxima do
leito de rios ou falhas
geológicas
2,0
Fonte: Associação Pan-Americana da Saúde (PAHO, 1998).
4.2.1.2 – Estimando a Vulnerabilidade
De acordo com a metodologia proposta pela PAHO(1998), a vulnerabilidade de
sistemas dutoviários à atividade sísmica é expressa pelo número esperado por
quilômetros de rupturas. Um exemplo de quebras causadas por um terremoto em
tubos de ferro fundido para diferentes graus de intensidade Mercalli é apresentado na
Tabela 4.5. Tais valores são atribuídos a danos oriundos da (1) propagação de ondas
sísmicas apenas e (2) propagação de ondas sísmicas e deformação permanente do
solo. Esses são chamados pela PAHO (1998) de índices básicos de dano e dependem
do fator de risco sísmico (SHF) calculado no item anterior. Na Tabela 4.5, a
intensidade Mercalli mínima considerada na determinação do índice básico de dano é
VI, que corresponde a um cenário de dano moderado.
94
Tabela 4.5 – Índices básicos de dano e sua relação com o fator de risco sísmico (SHF)
e os graus de intensidade Mercalli.
Intensidade Mercalli Índice básico de dano (rompimentos da tubulação por km)
SHF (*) <2 SHF (*)≥2
VI 0,0015 0,01
VII 0,015 0,09
VIII 0,15 0,55
IX 0,35 4,00
X 0,75 30,0
(*) Fator de Risco Sísmico
Fonte: Associação Pan-Americana da Saúde (PAHO, 1998).
Para o cálculo da vulnerabilidade sísmica, a PAHO (1998) recomenda a adoção
dos seguintes passos:
• Selecionar o índice básico de dano conforme exibido na Tabela 4.5;
• Se a tubulação não for de ferro fundido, é aconselhável usar o fator de correção
indicado na Tabela 4.6.
Tabela 4.6 - Fator de correção por material do índice básico de dano.
Material Fator de Correção
Aço 0,25
Ferro Fundido 1,00
PVC 1,50
Cimento amianto 2,60
Concreto reforçado (cimento
armado)
2,60
Fonte: Associação Pan-Americana da Saúde (PAHO, 1998).
Esses fatores podem ser afetados pelo estado geral do duto ou pelos anos de uso,
o que deve influenciar o julgamento do profissional responsável pela avaliação. Para
tubulações velhas, ou que apresentem condições precárias, os valores da Tabela 4.5
podem aumentar até 50%. Se seu status for considerado médio, essa porcentagem não
95
deve exceder 25%. Para tubos em boas condições, não é necessário modificar os valores
na Tabela 4.5.
Segundo a PAHO (1998), dados hoje disponíveis indicam que os dutos com
diâmetros menores tendem a ser mais vulneráveis. Um aumento no fator de correção de
até 50% pode ser aplicado para tubos de 75 mm de diâmetro ou menores. Por sua vez, o
fator de correção para tubos entre 75 mm e 200 mm pode aumentar até 25%. Para tubos
com diâmetros superiores a 200 mm, os valores da Tabela 4.5 não devem ser
aumentados.
Para ilustrar o cálculo do número de rompimentos em tubos por quilômetro, o
seguinte exemplo é apresentado pela PAHO (1998). O duto está localizado em uma área
onde são esperados terremotos que medem IX na intensidade Mercalli. A tubulação é de
concreto armado, relativamente nova e se encontra em boas condições. Além disso, tem
500 mm de diâmetro e 15,5 km de comprimento. Três seções dessa dutovia estão
sujeitas aos seguintes três níveis de risco sísmico (conforme apresentado na Tabela 4.5):
• Seção 1: 1,8 km de comprimento em áreas de baixo risco sísmico (SHF < 2);
• Seção 2: 12,7 km de extensão em área de risco sísmico moderado (SHF >2);
• Seção 3: 1,0 km de comprimento em áreas de alto risco sísmico (SHF >2).
O total esperado de rompimentos por quilômetro é dado por: (1,8 x 0,35 x 2,60) + (12,7
x 4,00 x 2,60) + (1,0 x 4,00 x 2,60) = 144 rompimentos / km.
Se os tubos fossem de aço flexível, o número de falhas calculadas por quilômetro seria
dez vezes menor, ou seja, 144 x (0,25/2,60) = 14 rompimentos/ km.
No entanto, verifica-se que o produto do comprimento da seção (km) pelo índice
básico de dano (rompimentos do duto/km) pelo fator de risco sísmico (adimensional)
tem seu resultado expresso em rompimentos apenas (visto que km x rompimentos/km =
rompimentos) e não rompimentos/km como expresso em PAHO (1998). Assim, tal
correção será introduzida na presente tese.
A metodologia proposta pela PAHO (1998) pode agregar valor às práticas
adotadas no Brasil, onde existe uma norma nacional para tais casos, a ABNT NBR
15421 – Projetos de Estruturas Resistentes a Sismos – Procedimento (2006). Entretanto,
esta norma não se aplica a estruturas especiais, tais como pontes, viadutos, obras
hidráulicas, tanques e instalações offshore, dentre outras. Para estas, segundo Nobrega e
Nobrega (2016), não há outro documento nacional balizador de projeto.
Nobrega e Nobrega (2016) discutiram a importância das atividades sísmicas nas
análises das estruturas civis, fazendo uma avaliação do mapa de perigo sísmico
96
apresentado pela NBR 15421. Segundo tais autores, o país é dividido pela citada norma
em cinco zonas sísmicas, as quais são apresentadas na Figura 4.2. Verifica-se que
grande parte do território brasileiro integra a zona 0, para a qual o perigo sísmico é
considerado muito baixo, embora alguns dos terremotos mais intensos do Brasil tenham
nela ocorrido. Por sua vez, a Tabela 4.7 exibe a associação das zonas sísmicas às
acelerações indicadas na NBR 15421. Os valores aí atribuídos se distribuem no
intervalo entre 2,5% e 15% de “g” (aceleração da gravidade). Tais valores referem-se a
terrenos de rocha, onde não há amplificação sísmica pelo solo.
Tabela 4.7 – Zonas sísmicas e variáveis associadas.
Fonte: Nóbrega e Nóbrega (2016)
MFHE= método das forças horizontais equivalentes; ME= método espectral;
MHAT= método do histórico de aceleração no tempo.
A NBR 15421 define ainda as “categorias sísmicas” para as estruturas, em
função da zona sísmica onde foram construídas (Tabela 4.7). Como já mencionado,
grande parte do Brasil está incluída na zona 0. De acordo com Nobrega e Nobrega
(2016), embora exista a indicação da aceleração correspondente (2,5 % g) a tal zona, a
NBR 15421 indica expressamente que “para as estruturas localizadas na Zona Sísmica
0, nenhum requisito de resistência sísmica é exigido”. Assim, apenas o projeto estrutural
convencional é suficiente, não sendo necessário qualquer procedimento especial. É
importante constatar que uma parte substancial do poliduto Urucu-Coari-Manaus situa-
se na Zona Sísmica 0 definida pela NBR 15421.
Finalmente, Nobrega e Nobrega (2016) avaliaram que, em linhas gerais, a
aceleração da Zona 0, em relação à qual nenhum requisito de resistência sísmica é
exigido, está associada ao grau V da escala Mercalli modificada. Além disso, eles
afirmam que o intervalo de intensidade de I a V dessa escala é pouco relevante em
97
termos de risco sísmico. Entretanto, o terremoto de Codajás, no qual a intensidade
Mercalli chegou a atingir o valor VI nas proximidades do epicentro, mostra que o
posicionamento do Poliduto Urucu-Coari-Manaus na Zona Sísmica 0 é uma questão a
ser rediscutida.
98
99
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os produtos e resultados obtidos
a partir da metodologia descrita no capítulo anterior, que inclui uma sequência de
procedimentos necessários à consecução do objetivo da pesquisa.
5.1 – Cálculo da Vulnerabilidade ao Risco Sísmico
A presente pesquisa teve por finalidade adaptar para a região amazônica uma
metodologia da avaliação da vulnerabilidade do poliduto Urucu-Coari-Manaus ao risco
sísmico, com base no procedimento concebido pela Organização Pan Americana da
Saúde, através do programa de mitigação de desastres naturais em sistemas de água e
saneamento (PAHO, 1998). Como relatado no capítulo anterior, tal abordagem inclui a
definição de fatores de risco, que levam em consideração algumas variáveis, tais como o
tipo de solo, a capacidade de drenagem e a proximidade com falhas geológicas.
Um dos aspectos considerados na metodologia da PAHO (1998) é o fator de
risco por tipo de solos (FSPT), que leva em consideração no seu cálculo a consolidação,
a compactação e a profundidade dos mesmos. Assim, quanto mais os perfis de solo se
apresentarem compactados, ou seja, bem consolidados, menor risco eles apresentarão
aos eventos sísmicos. Como exemplo, tem-se os solos bem formados e consolidados
como os latossolos, que apresentam um valor intermediário na escala. Na área de
estudo, não existem solos rochosos, tais como os litossolos. Em contrapartida, estão
presentes solos mal consolidados e fofos, com pouca compactação que, segundo esse
sistema de classificação, são mais vulneráveis a terremotos. Esse é o caso dos neossolos
flúvicos e dos gleissolos. A Tabela 5.1 apresenta os valores de FSPT para os solos da
região investigada, cuja distribuição no espaço geográfico é exibida na Figura 5.1
100
Tabela 5.1 - Fator de risco por perfil de solos (FSPT)
Solos da Área de
Estudo
Perfil do solo Descrição FSPT
Nenhum Solo pedregoso
rochoso
Estratos rochosos bem
consolidados, solos com
propagação de ondas
acima de 750 m/s
1,0
Latossolo
Plintossolo
Argissolos
Solos resistentes/
duros
Solos bem consolidados
ou fofos com
profundidade menor do
que 5 metros.
1,5
Neossolo flúvico
Gleissolo
Espodossolo
Solos moles ou fofos Solos moles ou fofos
com profundidade
acima de 10 metros.
2,0
Modificado de Associação Pan Americana da Saúde (PAHO, 1998).
101
102
Outro parâmetro empregado é o fator de risco por potencial de liquefação do
solo (FPSL), o qual assume o valor 1,0 para solos bem consolidados, com boa
capacidade de drenagem, sem conteúdo apreciável de areia e distantes de rios, como o
latossolo, e 1,5 para aqueles com capacidade de drenagem mediana e teor de areia
moderado a baixo. Finalmente, o valor 2,0 é atribuído a solos com alto teor de areia,
lençol freático elevado, baixa capacidade de drenagem e proximidade a cursos d´água,
deltas e depósitos aluvionais. Os resultados para FPSL encontram-se ilustrados na
Tabela 5.2 e na Figura 5.2.
Tabela 5.2 - Fator de risco por potencial de liquefação dos solos (FPSL)
Solos da Área de
Estudo
Risco de Liquefação Descrição FPSL
Latossolo
Plintossolo
Argissolo
Baixo risco Solos bem consolidados
com alta capacidade de
drenagem e estratos
pouco arenosos
1,0
Espodossolo Médio risco Solos com capacidade
de drenagem moderada,
com teor de areia
moderado
1,5
Neossolo flúvico
Gleissolo
Alto risco Solos mal drenados
com lençol freático
elevado, perfis de solo
com alto teor de areia,
localizados em deltas
de rios e depósitos
aluvionais
2,0
Modificado de Associação Pan Americana da Saúde (PAHO, 1998).
103
104
Por fim, foi considerado o fator de deslocamento permanente do solo (FPDS),
que trata das questões relacionadas à declividade do terreno, presença ou ausência de
falhas geológicas, grau de consolidação do solo e proximidade ao leito dos rios. Os
resultados referentes a FPDS são exibidos na Tabela 5.3 e na Figura 5.3.
Tabela 5.3 - Fator de risco por deformação permanente do solo (FPDS)
Solos da Área de
Estudo
Risco de Deformação
Permanente
Descrição FPDS
Latossolo
Plintossolo
Baixo risco Solos bem
consolidados, ou com
baixa declividade, bem
compactados e distantes
de rios e falhas
geológicas
1,0
Argissolo
Espodossolo
Médio risco Solos consolidados com
declividade menor do
que 25%, compactados,
próximos de rios e
falhas geológicas
1,5
Neossolo flúvico
Gleissolo
Alto risco Solos mal consolidados,
ou com declividade
acima de 25%,
localizados próximos de
rios ou falhas
geológicas
2,0
Modificado de Associação Pan Americana da Saúde (PAHO, 1998).
105
106
De acordo com o processo proposto pela PAHO (1998), o fator de risco sísmico
(SHF) da área de estudo é obtido pelo produto FSPT x FPSL x FPDS. Valores inferiores
a 2 são considerados como baixo risco sísmico, entre 2 e 4 de moderado risco sísmico;
iguais ou superiores a 4 de alto risco sísmico. A Tabela 5.4 mostra a consolidação dos
resultados da classificação segundo os três fatores acima para todos os tipos de solo
presentes na região investigada. Tal resultado está distribuído no espaço geográfico
conforme ilustrado na Figura 5.4.
Tabela 5.4 – Consolidação dos resultados da classificação segundo os fatores de risco
sísmico propostos pela PAHO (1998).
Tipo de solo FSPT FPSL FPDS SHF Risco
Sísmico
Gleissolo 2,0 2,0 2,0 8,0 Alto
Latossolo 1,5 1,0 1,0 1,5 Baixo
Neossolo
Flúvico
2,0 2,0 2,0 8,0 Alto
Plintossolo 1,5 1,0 1,0 1,5 Baixo
Argissolo 1,5 1,0 1,5 2,25 Moderado
Espodossolo 2,0 1,5 1,5 4,5 Alto
Modificado de Associação Pan Americana da Saúde (PAHO, 1998).
107
108
5.2 – Estimativa de Vulnerabilidade
Após o cálculo do fator de risco sísmico (SHF), a etapa seguinte da metodologia
empregada na presente tese consiste em estimar o índice básico de dano, que expressa o
número de rompimentos na tubulação do poliduto. Considera-se aqui que a
infraestrutura dutoviária Urucu-Coari-Manaus está totalmente situada em uma região
com potencial de atividade sísmica moderada, como será discutido no próximo item do
texto. Assim, considera-se que nela podem ser esperados terremotos que medem VI na
intensidade Mercalli.
O primeiro passo nesse procedimento é trabalhar levando em conta a intensidade
do terremoto em conformidade com a escala Mercalli, cujos valores abrangem o
intervalo de I (nenhum dano) até X (destruição total). Na abordagem proposta pela
PAHO (1998), a menor intensidade empregada é VI. A Tabela 4.5 destaca a intensidade
mínima VI e a intensidade máxima X, bem como sua relação com o fator de risco
sísmico (SHF). Por sua vez, a Tabela 4.6 destaca o fator de correção para o tipo do
material da tubulação na área de estudo. O material empregado no poliduto Urucu-
Coari-Manaus é o aço carbono, ao qual corresponde um fator de correção de 0,25.
Considera-se aqui que o duto se encontra em boas condições, não havendo, portanto,
necessidade de modificação nos valores da Tabela 4.5. Além disso, por possuir
diâmetros maiores que 200mm, não se deve alterar os fatores de correção da Tabela 4.6.
A partir das informações acima, é possível estimar o número de rompimentos da
tubulação no poliduto Urucu-Coari-Manaus. Como o fator de risco sísmico (SHF)
encontrado na maior parte da infraestrutura foi superior ou igual a 2, com um trecho
remanescente menor que 2, sendo a intensidade Mercalli VI considerada possível para
toda a área de estudo, o índice básico de dano apontado na Tabela 4.5 equivale,
respectivamente, a 0,01 e 0,0015. Desse modo, o número total de rompimentos é
expresso pelo produto “extensão da infraestrutura x índice básico de dano x fator de
correção por material”, ou seja, os citados trechos dessa dutovia estão sujeitos aos
seguintes níveis de risco sísmico (conforme apresentado na Tabela 4.5):
Trecho 1: 167 km de comprimento em áreas de baixo risco sísmico (SHF < 2);
Trecho 2: 494 km de extensão em área de risco sísmico moderado a elevado (SHF ≥2);
O total esperado de rompimentos é dado por: (167 x 0,0015 x 0,25) + (494 x 0,01 x
0,25) ≈ 1,3, que corresponde a 2 rompimentos.
109
Tal resultado contrasta com a inserção do poliduto Urucu-Coari-Manaus na zona
0 da NBR 15421, na qual nenhum requisito de resistência sísmica é exigido (Tabela
4.7). No entanto, como visto acima, os cálculos propostos pela metodologia PAHO
(1998) indicam a necessidade da definição de alguns trechos de atenção ao longo da
citada infraestrutura, o que será tratado mais adiante no texto.
5.3 – Cenário geológico da atividade sísmica na área de estudo
5.3.1 – Tratamento e manipulação digital dos produtos derivados do MDE da
missão SRTM.
Vários produtos foram confeccionados na presente tese através do tratamento
digital dos dados SRTM e de sua integração em ambiente SIG com informações
geológicas e geofísicas. O objetivo de tal procedimento foi justificar a escolha do nível
de atividade sísmica (expresso em termos de intensidade Mercalli) considerado no uso
da Tabela 4.5. A Tabela 5.5 descreve as principais características referentes ao Modelo
Digital de Elevação (MDE) da missão SRTM utilizado na pesquisa.
Tabela 5.5 – Principais características do MDE da SRTM utilizado na pesquisa.
No desenvolvimento dos procedimentos para contextualização geológica da
atividade sísmica, os dados da missão SRTM foram manipulados para formar um
grande mosaico da região onde se insere a infraestrutura investigada. Tal produto foi
empregado devido à sua resolução adequada para estudos regionais e à sua utilidade
para o mapeamento de unidades de relevo, bem como para a delimitação da rede de
110
drenagem. Assim, porções do MDE da SRTM compuseram um retângulo com várias
quadrículas, abrangendo aproximadamente as latitudes 2º a 4º S e as longitudes 60º W a
64º W.
Sobre o mosaico acima referido, foi superposta a máscara SWBD (SRTM Water
Body Data). Seus arquivos são subprodutos da edição do Modelo Digital de Elevação
(MDE) gerado pela SRTM, cuja confecção foi efetuada para a “National Geospatial
Intelligence Agency” (NGA). Essa máscara teve por objetivo retratar corpos d’água,
sendo muito útil para a delimitação de oceanos, lagos e rios. Nesta tese, a máscara
SWBD foi empregada para discriminar os lagos e rios existentes na região em estudo
(Figura 5.5).
As informações utilizadas para o georreferenciamento dessa máscara incluem:
datum horizontal do Sistema Geodésico Mundial 1984 (WGS 84); datum vertical para o
nível médio do mar determinado pelo WGS 84; Modelo Gravitacional da Terra 1996
(EGM 96 – geóide); precisão absoluta horizontal equivalente ao erro de 20 metros
circulares; precisão absoluta vertical equivalente ao erro de 16 metros lineares (SRTM
Water Body Data Product Specific Guidance, 2003). A máscara SWBD foi obtida pela
internet através do endereço http://edcsns17.cr.usgs.gov/NewEarthExplorer/, no formato
vetorial shapefile (shp).
Os dados do MDE da SRTM foram empregados para extrair informações sobre a
rede de drenagem em detalhe, curvas de nível e seu fatiamento hipsométrico, além do
mapa de declividade. Tais produtos foram inseridos em um Sistema de Informações
Geográficas (SIG) para análise conjunta com as feições estruturais mapeadas na região
de interesse que estão disponíveis em domínio público. Vale registrar que, antes de seu
uso na geração dos citados produtos, os dados SRTM foram submetidos a um
processamento preliminar, com o objetivo de eliminar pixels com valores discrepantes.
Essa tarefa foi efetuada com o software PCI Geomática através do filtro de moda.
Neste trabalho, as curvas altimétricas foram extraídas com o intuito de se
compreender qualitativamente a dinâmica do relevo, bem como de subsidiar o estudo da
declividade local. Tais curvas foram obtidas a partir do mosaico SRTM, com o emprego
do software ArcGIS, através da ferramenta Contour, considerando um espaçamento de
20 metros entre as curvas, variando de 7 a 197 metros. O mapa de curvas de nível
(Figura 5.6) destaca as principais feições de relevo na área de estudo.
A partir da extração das curvas de nível, foi gerado o mapa de elevação ou mapa
hipsométrico (Figura 5.7), com o objetivo de auxiliar no estudo e interpretação da
111
declividade, bem como de servir como base temática para a avaliação do cenário
geológico da atividade sísmica.
Os dados de declividade foram originados a partir de grades triangulares (TIN’s)
e, em seguida, fatiados para a elaboração do mapa de classes de declive (Figura 5.8).
Esse produto tem como finalidade mostrar os valores de inclinação do terreno em
relação ao plano horizontal, subsidiando a análise das formas do relevo. Assim como o
mapa de elevação, o mapa de declividade também foi gerado no ArcGIS diretamente do
MDE da SRTM referente à área investigada.
112
113
114
115
116
O mapa de drenagem também foi elaborado através da extração direta do
mosaico SRTM (Figura 5.9). Esse procedimento foi realizado com o emprego do
software ArcGIS, através do módulo Spatial Analyst, utilizando a funcionalidade
Hydrology. Tal algoritmo segue diferentes etapas para extração das drenagens
individuais. Uma delas consiste na criação dos segmentos e na determinação da direção
do fluxo dos rios (flow direction). Além disso, gera um filtro (fill) para corrigir as
discrepâncias no sistema hidrográfico. Em seguida, o programa, produz um arquivo
raster com a acumulação do fluxo (flow accumulation). Depois de criado o raster de
drenagem, deve-se transformar esse produto em arquivo do tipo shapefile, para
visualizar sua análise em conjunto com os demais planos de informação no ambiente
SIG.
117
118
5.3.2 – Integração de dados em ambiente SIG
A plataforma ArcGIS baseia-se na estrutura de três aplicativos: ArcCatalog,
ArcMap e ArcToolbox. A utilização de tais pacotes permite desempenhar qualquer
tarefa simples ou complexa, incluindo a gestão de dados georreferenciados, a confecção
de produtos cartográficos, a análise espacial, a edição avançada de dados ou a ligação a
bases externas. É um pacote de softwares da ESRI (Environmental Systems Research
Institute), que elabora e manipula informações vetoriais e matriciais para o uso e o
gerenciamento de bases temáticas. Esse programa permite o desenvolvimento de
modelagens geoespaciais e demonstra grande flexibilidade para a confecção de layouts,
além de possuir uma ótima interface de customização, o que permite a implementação
de ferramentas novas para automatizar tarefas rotineiras. Tal ambiente computacional
foi utilizado para consolidar as informações sobre geologia e geofísica na região
investigada.
As feições geológicas regionais foram adquiridas a partir de artigos científicos e
de outras publicações disponíveis na literatura. Foram consultados os mapas geológicos
das bacias sedimentares do Amazonas e Solimões. Algumas informações foram
digitalizadas e outras obtidas diretamente do Projeto Geodiversidade da CPRM (2010),
já disponível em formato digital para inserção em ambiente SIG (Figura 5.10). Esta
etapa da pesquisa permitiu a compreensão e contextualização do cenário geológico em
escala regional, contemplando notadamente a possível reativação recente de estruturas
constituintes do arcabouço tectônico.
Tal análise foi iniciada com base no mapa da rede de drenagem apresentado na
Figura 5.9. A partir desse produto, foi possível delimitar automaticamente as bacias
hidrográficas presentes na região investigada (Figura 5.11). É possível verificar que, nas
vizinhanças do Arco de Purus, onde ocorreu o terremoto de Codajás, a margem direita
do Rio Solimões é acentuadamente estreita. Pode-se notar ainda que, em tal área, a
margem esquerda do citado curso d`água também sofre redução de sua extensão em
superfície. Tais evidências sugerem que movimentações estruturais do Arco de Purus
ainda hoje condicionam o desenvolvimento da rede de drenagem. A sul do baixo curso
do Rio Negro, que sofre controle estrutural pelo Lineamento Anavilhanas, verifica-se
que a planície aluvial do Rio Solimões é drasticamente reduzida. Esse fato também
indica a existência de atividade neotectônica nessa região.
119
120
121
A Figura 5.12 mostra o mapa hipsométrico, no qual são definidas classes
altimétricas com base nas curvas de nível geradas a partir do MDE da SRTM. Esse
produto permite a observação de feições de relevo pouco salientes na paisagem, mas
que são limitadas em grande parte por trechos escarpados nas margens dos rios. Assim,
na região investigada, encontra-se platôs, que são formas residuais de aplainamentos, e
várzeas com muitas depressões. É evidente, por exemplo, que a área a oeste da linha de
charneira da Bacia Solimões se apresenta soerguida em relação às suas vizinhanças,
indicando que tal unidade tectônica do Paleozoico possui hoje uma vocação ascensional.
A mesma tendência ocorre no Paleozoico com o Graben Invertido do Purus, de idade
proterozoica, cuja borda leste definiu a posição geográfica do Arco de Purus. De modo
contrastante, grande parte da Bacia do Amazonas ocorre atualmente em uma região
deprimida, como atesta a disposição geográfica de sua linha de charneira no mapa
hiposométrico (Figura 5.12).
É importante ainda registrar que o megacisalhamento do Solimões, desenvolvido
em um evento tectônico do Cretáceo, tem como limite oriental o Arco de Purus, o qual
serviu como anteparo à propagação da deformação para leste. De certo modo, o citado
arco parece hoje se contrapor aos esforços que soerguem a Bacia do Solimões, deixando
a Bacia do Amazonas em uma posição topograficamente mais rebaixada.
Movimentações recentes na região do Arco de Purus também exercem influência
sobre o curso do Rio Solimões, que aí sofre uma pronunciada inflexão para SE. Além
disso, existe uma ampla planície aluvial abandonada imediatamente a oeste da
mencionada feição tectônica (Figura 5.12). Isso acontece porque o Rio Solimões sofre
captura nas cercanias da cidade de Coari (Figura 5.13) e passa a seguir um trecho
aproximadamente retilíneo mais a sul com orientação WSW-ENE (Figura 5.12), o qual
coincide com uma falha no mapa da Figura 5.10.
Por sua vez, o Rio Negro é circundado por áreas relativamente mais elevadas no
limite nordeste da área de estudo (Figura 5.12) e apresenta sua margem direita
totalmente retilínea e orientada na direção NW-SE, paralelamente ao Lineamento
Anavilhanas. Além disso, sofre a jusante uma pronunciada inflexão para E-W, que
deixou um trecho de planície aluvial abandonado a SE. Como discutido no Capítulo 3,
diversos autores mencionaram na literatura científica o forte controle do baixo curso do
Rio Negro exercido pela Neotectônica. Com efeito, ocorreu nessa região um terremoto
em 1963 com magnitude 5.1. Finalmente, Almeida–Filho e Miranda (2007), analisando
122
dados do MDE da SRTM, reconheceram outro paleo-curso do Rio Negro, a oeste de sua
posição atual (Figura 5.12).
123
124
Figura 5.13 – Vista aérea com visada para sul da margem esquerda do Rio Solimões na área
de Coari, na qual as escarpas e os barrancos podem ser observados, no contexto da captura
fluvial. Fonte: (PIATAM, 2008).
Figura 5.13a – Escarpa na margem esquerda do Rio Solimões em detalhe da Figura 5.13.
Notar a embarcação como escala.
125
A Figura 5.14 exibe o mapa de declividade com sobreposição das linhas de
charneira e dos lineamentos magnéticos reconhecidos por Munis (2009) utilizando
dados aerogeofísicos. Na pesquisa desse autor, tais dados foram reprocessados e
micronivelados, aos quais se aplicou a redução ao polo, a deconvulação de Euler e a
inclinação do sinal analítico. O citado trabalho contribuiu para aumentar o
conhecimento sobre o comportamento estrutural do gráben proterozoico de Purus, de
seus limites e da sua influência na propagação de esforços tectônicos intraplaca.
Segundo Munis (2009), feições magnéticas provenientes de fontes profundas, paralelas
ao atual curso do Rio Solimões/Amazonas, evidenciam claramente a ocorrência de
atividades neotectônicas nessa região. Foram por ele identificadas diversas feições
estruturais com expressão magnética, tais como os lineamentos Anavilhanas (no baixo
curso do Rio Negro) e Solimões, as linhas de charneira das bacias Solimões e
Amazonas, além das falhas que limitam o gráben de Purus,
Foram ainda incorporadas à base de dados em ambiente SIG as falhas
delimitadas no Mapa Neotectônico do Brasil elaborado sob a coordenação da Petrobras/
CENPES, bem como aquelas definidas pelo Projeto Geodiversidade. No presente
estudo, as falhas do projeto Geodiversidade foram selecionadas em áreas com
declividade superior a 20% (Figura 5.15). Tal procedimento teve por finalidade focar o
interesse da pesquisa apenas nas feições com expressão geomorfológica. O objetivo da
compilação desse conjunto de informações sobre falhas geológicas, em articulação com
dados de declividade, foi contribuir para a identificação de zonas de concentração local
de estresse (“Local Stress Concentrators” – LSCs).
126
127
128
129
5.3.3 – Identificação de Concentradores Locais de Estresse (“Local Stress
Concentrators” – LSCs)
Segundo a conceituação proposta por Talwani (2017), um Local Stress
Concentrator (LSC) ocorre na interseção de duas estruturas geológicas, ou seja, nesses
locais há um acúmulo de energia que, quando liberada, provoca terremotos em regiões
intraplacas, como o evento sísmico ocorrido em Codajás no ano de 1983.
De acordo com o mapa de estruturas geológicas, organizado na presente tese a
partir de informações de Munis (2009), do Projeto Geodiversidade (CPRM, 2010) e do
Mapa Neotectônico do Brasil coordenado pelo CENPES (CENPES e CPRM, 2014),
foram identificados três grandes agrupamentos de LSCs na área de influência do
poliduto Urucu-Coari-Manaus (Figura 5.16). Um deles está situado a nordeste da
infraestrutura dutoviária, próximo ao Lineamento Anavilhanas de Munis (2009), onde
ocorre uma área de declividade elevada, com valores predominantemente entre 25 e
35% (Figura 5.17). Outro se encontra na região do Arco de Purus, revelando uma
tendência de alta concentração local de estresse e a consequente propensão para
atividade sísmica. Neste local, se encontram tanto diversas estruturas geológicas como
áreas com alto fator de risco sísmico (SHF ≥ 4 na Figura 5.4). Finalmente, existe o
agrupamento que abrange LSCs na Bacia do Solimões, também dentro da área de
influência do poliduto, uma vez que ocorrem aí muitas interseções entre as falhas
geológicas e destas com a linha de charneira (Figura 5.16). Tal agrupamento está
localizado a sudoeste do traçado do poliduto, em uma área de relevo com declividade
entre 16 e 30%.
Na região investigada, já aconteceram os sismos a norte de Manaus (1963) e em
Codajás (1983). Entretanto, de acordo com Talwani (2017), uma característica dos
terremotos intraplacas é que os mesmos não ocorrem no mesmo local ao longo do
tempo geológico. Assim, os LSCs que integram os três agrupamentos mencionados no
parágrafo anterior constituem sítios potenciais para eventos sísmicos, no caso de alívio
da tensão neles concentrados.
Vale lembrar, nesse contexto, o terremoto sucedido em janeiro de 2017 nas
proximidades do município de Belágua (MA), na área em que o Lineamento Pirapemas,
identificado com dados SRTM por Almeida Filho et al. (2009), intercepta o Arco
Ferrer–Urbano Santos, que define o limite meridional da Bacia de Barreirinhas,
configurando, assim, um LSC.
130
131
132
5.4 – Confecção do Mapa do Fator de Risco Sísmico (SHF) em Escala Regional
Os resultados obtidos na pesquisa aqui desenvolvida foram cartografados em sua
forma final no Mapa do Fator de Risco Sísmico (SHF), na escala 1: 750.000,
abrangendo a faixa de influência do poliduto Urucu-Coari-Manaus (Anexo I). Nele,
valores de SHF inferiores a 2 são considerados como baixo risco sísmico, entre 2 e 4 de
moderado risco sísmico e superiores a 4 de alto risco sísmico. Os corpos d’água (lagos e
rios) foram retratados com o emprego da máscara SWBD (SRTM Water Body Data).
O produto inclui ainda os epicentros dos terremotos de Manaus (1963), com
magnitude 5,1, e de Codajás (1983), com magnitude 5,5. Além disso, são localizados no
mapa os agrupamentos de Local Stress Concentrators (LSCs) da Charneira da Bacia do
Solimões (A), do Arco de Purus (B) e de Anavilhanas (C).
Propõe-se no citado mapa uma Zona de Atenção Especial (ZAE) para o trecho
do poliduto localizado em terrenos rebaixados imediatamente a oeste do epicentro do
terremoto de Codajás, com extensão de 62 quilômetros (Figura 5.18). Tal área é
considerada de alto risco sísmico (SHF≥4) e inclui LSCs do agrupamento do Arco de
Purus. Como já destacado anteriormente no texto, esse arco está tectonicamente ativo,
provocando a captura do Rio Solimões a montante da cidade de Coari, desorganizando a
configuração da rede de drenagem e servindo como anteparo aos esforços que hoje
soerguem a Bacia do Solimões a oeste de sua linha de charneira. Um terremoto de
magnitude 5,5 no agrupamento de LSCs do Arco de Purus pode afetar uma porção
considerável do poliduto, como se constata na Figura 5.17, ao se observar a isossista
correspondente à Intensidade VI de Mercalli definida em Assumpção et al. (1985) para
o sismo de Codajás.
É importante ainda registrar que ocorrem na ZAE solos mal drenados e situados
em depósitos aluviais, tais como Neossolo flúvico e Gleissolo. O lençol freático é
elevado neste local, que ademais fica inundado sazonalmente na cheia do Rio Solimões.
Pelo exposto, considera-se que é recomendável a adoção na ZAE de
procedimentos e condutas visando contemplar requisitos mínimos de resistência
sísmica. Com efeito, apenas o projeto estrutural convencional pode não ser suficiente
para evitar danos à infraestrutura neste local, no caso da ocorrência de terremotos com
intensidade Mercalli VI ou maior (Figura 5.17). Vale lembrar que VI é o menor valor de
133
intensidade Mercalli incluído na Tabela 4.5, que apresenta os índices básicos de dano e
sua relação com o fator de risco sísmico.
134
135
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A presente tese teve por objetivo aplicar, de modo pioneiro no Brasil, a
metodologia de avaliação de risco sísmico e de estimativa de vulnerabilidade a
terremotos de uma infraestrutura dutoviária na Amazônia. Tal procedimento foi
desenvolvido em 1998 pela Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO, na sigla em
inglês) para analisar os danos causados nos dutos de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário provocados por tais eventos. Esta abordagem foi concebida pela
citada instituição através de um projeto de mitigação de desastres naturais em sistemas
hídricos e de saneamento básico. Neste sentido, o método foi aqui adaptado para a área
da Amazônia onde se instalou o poliduto Urucu-Coari-Manaus, a qual é suscetível à
atividade sísmica, como verificado em 1983 no terremoto de Codajás (AM), com
magnitude 5,5 na escala Richter e intensidade VI na escala de Mercalli.
Assim, seguindo a metodologia proposta pela PAHO (1998), foram
considerados: (1) o fator de risco por tipo de solos (FSPT), (2) o fator de risco por
potencial de liquefação do solo (FPSL) e (3) o fator de deformação permanente do solo
(FPDS). Por fim, o fator de risco sísmico (SHF) é calculado pelo produto FSPT x FPSL
x FPDS.
O valor de SHF obtido ao longo do poliduto e o possível grau de intensidade
Mercalli foram considerados no cálculo do índice básico de dano, expresso pelo número
de rompimentos da tubulação por quilômetro. À região investigada foi atribuído o
índice VI de intensidade Mercalli em toda sua extensão, ou seja, o mesmo do terremoto
de Codajás (1983), em razão da atividade sísmica aí presente e do controle neotectônico
da paisagem. Para o poliduto Urucu-Coari-Manaus, o resultado encontrado foi de 2
rompimentos na infraestrutura dutoviária.
Foram ainda identificadas no trabalho as feições denominadas por Talwani
(2017) como Local Stress Concentrators (LSCs), as quais ocorrem principalmente na
interseção de estruturas geológicas. Nesses locais, há um acúmulo de energia que,
quando liberada, provoca terremotos intraplaca. Os LSCs dispõem-se em três grandes
agrupamentos na área de influência do poliduto Urucu-Coari-Manaus, quais sejam: nas
proximidades do Lineamento Anavilhanas de Munis (2009), na região do Arco de Purus
e na área da linha de charneira da Bacia do Solimões.
Os resultados obtidos na pesquisa foram cartografados no Mapa de Fator de
Risco Sísmico (SHF) e Local Stress Concentrators (LSCs), na escala 1: 750.000.
136
Destaca-se no citado mapa uma Zona de Atenção Especial (ZAE) no traçado do
poliduto, a qual se localiza em terrenos rebaixados imediatamente a oeste do epicentro
do terremoto de Codajás, onde ocorrem solos mal drenados em depósitos aluviais, tais
como Neossolo flúvico e Gleissolo. Tal área é mapeada como de alto risco sísmico
(SHF ≥ 4) e inclui o agrupamento de LSCs do Arco de Purus.
Considera-se recomendável a adoção na ZAE de procedimentos e condutas que
visem contemplar requisitos mínimos de resistência sísmica. Nesse trecho do poliduto,
apenas o projeto estrutural convencional pode não ser suficiente para evitar danos no
caso da ocorrência de terremotos com intensidade Mercalli VI ou maior.
Os resultados da presente tese se somam aos esforços que diversas instituições
têm empreendido no país em busca de modelos de zoneamento ecológico-econômico e
de desenvolvimento regional sustentável. A pesquisa mostrou que, na Amazônia Legal,
é factível obter uma metodologia de avaliação de risco sísmico e de estimativa de
vulnerabilidade da infraestrutura dutoviária a terremotos utilizando um Sistema de
Informações Geográficas (SIG) para integrar bases de dados temáticos e produtos de
sensoriamento remoto orbital.
137
CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA
AB’SABER, A. N. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
AB’SABER, A. N. Paleoclimate and paleoecology of Brazilian Amazonia. In:
PRANCE, G. T. (Ed.). Biological diversification in the tropics. New York: Columbia
University Press, 1982. p. 41-59.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de
estruturas resistentes a sismos - procedimento – NBR 15421. Rio de Janeiro, 2006.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil) (ANA). HidroWeb: sistemas de
informações hidrológicas. Disponível em: <http://hidroweb.ana.gov.br/HidroWeb>.
Acesso em: 20 Abril 2015.
ALMEIDA–FILHO, R.; IBANEZ, D.M.; MIRANDA, F.P, 2010, Interpretação
morfoestrutural com dados SRTM no auxílio à exploração petrolífera: um exemplo na
bacia Sedimentar do Amazonas. Revista Brasileira de Geofísica, v. 28, n.1, p.89-98.
ALMEIDA–FILHO, R.; ROSSETTI, D. F.; MIRANDA, F. P.; FERREIRA, F. J.;
SILVA, C.L.; BEISL, C. H. 2009. Quaternary reactivation of a basement structure in
the Barreirinhas Basin, Brazilian Equatorial Margin. Quaternary Research, v. 72, p.
103-110
ALMEIDA-FILHO, F. R.; MIRANDA, F. P. 2007. Mega Capture of the Rio Negro and
Formation of the Anavilhanas Archipelago, Central Amazonia, Brazil: Evidences in an
SRTM Digital Elevation Model. Remote Sensing of Environment, Vol. 110, pp. 387
392.
ALMEIDA–FILHO, R.; MIRANDA, F. P.; BEISL, C. H., 2005. Evidência de uma
mega captura fluvial no Rio Negro (Amazônia) revelada em modelo de elevação digital
da SRTM. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 12., Anais... São José dos
Campos: INPE, p. 1701-1707.
ALMEIDA, F. F. M. de, HASUI, Y., BRITO NEVES, B. B., FUCK, R.A. 1981,
“Brazilian structural Provinces”, Earth Science Review, 17, p 1-19.
ASSUMPÇÃO, M.; SCHIMMEL, M.; ESCALANTE, C.; BARBOSA, J.; ROCHA,
M.P.; BARROS, L. 2004. Intraplate seismicity in SE Brazil: stress concentration in
lithospheric thin spots. Geophysical Journal International, 159:390-399.
138
ASSUMPÇÃO, M., SUÁREZ, G., 1988. Source mechanisms of moderate-size
earthquakes and stress orientation in mid-plate South America. Geophysical Journal
International of the Royal Astronomical Society 92 (2), 253-267.
ASSUMPÇÃO, M. 1992. The regional intraplate stress field in South America. J.
Geophys. Res., 97, 11, 889-11.904.
ASSUMPÇÃO, M. et al., 1983 - Terremotos no Brasil. Ciência Hoje. Vol. 1 nº 6.
ASSUMPÇÃO, M. & BURTON, P.N. 1983 – Seismicity and Seismic Risk in Brazil.
ASSUMPÇÃO, M.; ORTEGA, R.; BERROCAL, J.;VELOSO, J. A., 1985. O sismo de
Codajás-AM de 05.08.1983. Revista Brasileira de Geofísica 2, 39-44.
BARATA, C. F; CAPUTO, M. V. Geologia do Petróleo da Bacia do Solimões: Belém,
2007.
BARBOSA, P.R.M, 2010, Fácies sedimentares da Formação Prosperança,
Neoproterozóico do Sul do Escudo das Guianas, Estado do Amazonas. Dissertação de
Mestrado em Geologia e Geoquímica, Universidade Federal do Pará, 53p.
BARBOSA, C., 1997, Álgebra de mapas e suas aplicações em sensoriamento remoto e
geoprocessamento. Dissertação de M.Sc. INPE, São José dos Campos, SP, Brasil.
BEISL, C. H., 2009. Utilização de mosaicos JERS-1 SAR e de lógica fuzzy para
elaboração de mapas de sensibilidade ambiental temporal a derrames de óleo na
Amazônia Central. Tese de D.Sc, UFRJ/COPPE, 196p., Rio de Janeiro, RJ.
BECKER, C. R. Estratigrafia de sequências aplicada ao permocarbonífero da bacia do
Solimões, norte do Brasil. 1997. 363 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997
BERROCAL, J.; ASSUMPÇÃO, M.S.; ANTEZANA, R.; DIAS NETO, C.M.;
ORTEGA, R.; FRANCA, H.; VELOSO, J.A.V. 1984. Sismicidade do Brasil. São Paulo:
Instituto Astronômico e Geofísico e Comissão Nacional de Energia Nuclear, 320 p.
BEZERRA, P. E. L., LIMA, M. I. C., COELHO, F. A. J. F. Estruturação neotectônica
da Folha SA.20-Manaus. In: Simpósio de Geologia da Amazônia, 6, 1999, Manaus.
Anais... Manaus: SBG/NO, 1999, v. 1, p. 288-91.
BIGARELLA, J. J.; FERREIRA, A. M. M. Amazonian geology and the pleistocene and
the cenozoic environments and paleoclimates. In: PRANCE, G. T.; LOVEJOY, T. E.
(Eds). Amazonia. Oxford, UK: Pergamon Press, 1985. p. 49-71.
BOTSCHEK, J. et al. Soil chemical properties of a toposequence under primary rain
forest in the Itacoatiara vicinity (Amazonas, Brazil). Geoderma, [Amsterdam], v. 72, p.
119-132, 1996.
BRANDÃO, W. S.; BEISL, C. H.; MIRANDA, F. P. SIQUEIRA, F. C. 2011,
Monitoramento de mudanças na cobertura vegetal da área de influência do duto Urucu-
139
Coari-Manaus durante seu período de implantação usando dados do satélite
RADARSAT-1. XV SBSR (Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto). São José
dos Campos, SP: MCT/ INPE, 2011, V.1, p. 8342 – 8349.
BRAZEE, R.J. 1979. Reevaluation of Modified Mercalli Intensity Scale for earthquakes
using distance as determinant. Bull. Seism. Soc. Am., 69: 911-924.
CÂMARA, G. et al. Conceitos básicos em ciência da Geoinformação. In: Fundamentos
de Geoprocessamento. São José dos Campos: INPE, 2000.
CÂMARA, G; MONTEIRO, A. M. V. Geoprocessamento em Projetos ambientais. São
José dos Campos: INPE, 2004.
CÂMARA, G.; MONTEIRO, A.M.; FUCKS S.D.; CARVALHO, M.S., "Análise
Espacial e Geoprocessamento". In: Druck S., Carvalho M.S., Câmara G. et. al. (eds). in:
Análise Espacial de Dados Geográficos, 1ª ed., capítulo 1, Brasília, DF, Embrapa
Informação Tecnológica, 2004.
CAPUTO, M. V., SILVA, O. B., 1990, “Sedimentação e Tectônica da Bacia do
Solimões”, in Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. – Rio de Janeiro – Petrobras.
CAPUTO, M.V., 2011. Discussão sobre a Formação Alter do Chão e o Alto de Monte
Alegre. Contribuição à Geologia da Amazônia 7, 7-23.
CAPUTO, R., 1995. Evolution of orthogonal sets of coeval extension joints. Terra Nova
7 (5), 479- 490.
CAPUTO, M. V.; RODRIGUES, R.; VASCONCELOS, D. N. Litoestratigrafia da
Bacia do Amazonas. Belém: PETROBRAS/RENOR, 1971. 92 p.
CASAGRANDE, A. 1936. Characteristics of cohesionless soils affecting the stability of
slopes and earth fills, J. Boston Soc. Civil Engrs., 23, No. 1, pp. 13-32.
CENPES; CPRM – 2014. Projeto Mapa Neotectônico do Brasil. Rede Temática de
Estudos Geotectônicos Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo
Miguez de Mello (CENPES), Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS)
COELHO, M.R.; SANTOS, H.G.; SILVA, H. F; AGLIO, M. L. D. O recurso natural
solo. In: MANZATTO, C. V.; JUNIOR, E. F.; PERES, J. R. R. (Ed.). Uso agrícola dos
solos brasileiros. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2002. p. 1-11.
COSTA, M.L. 1991. Aspectos geológicos dos lateritos da Amazônia. Revista Brasileira
de Geociências. 21 (12): 146-160.
COSTA, M.L. 1984. A dinâmica de formação de lateritas: o exemplo do NE do Pará e
NW do Maranhão. In: CONGR. BRÁS. GEOL. 33., Rio de Janeiro, 1984. Anais... Rio
de Janeiro, SBG. v. 10, p. 4823-4837.
140
COSTA, J.B.S. 1996. A Neotectônica na Amazônia. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA
DA AMAZÔNIA, 5, Belém, 1996. Boletim de Resumos Expandidos... Belém: SBG, p.
35-38.
COSTA, J.B.S.; HASUI, Y. 1991. O quadro geral da evolução tectônica da Amazônia.
In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS, 3, Rio Claro, 1991.
Boletim... Rio Claro: UNESP e SBG, p. 142-145.
COSTA, A.R.A. Tectônica cenozóica e movimentação salífera na Bacia do Amazonas e
suas relações com a geodinâmica das placas da America do Sul, Caribe, Cocos e Nazca.
2002. 238p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.
COSTA, R. C. R., NATALI FILHO, T., OLIVEIRA, A. A. B. Geomorfologia da Folha
SA.20-Manaus. In: BRASIL. Departamento Nacional da Produção Mineral. Projeto
RADAMBRASIL. Folha SA.20-Manaus. Geologia, geomorfologia, pedologia,
vegetação e uso potencial da terra. Levantamento de Recursos Naturais. Rio de Janeiro:
MME/DNPM, 1978. v. 18, cap. 2, p. p. 165-244.
COBLENTZ, D.D. e RICHARDSON, R.M. 1996. Analysis of the South America
intraplate stress field. Journal of Geophysical Research, 101(B4):8643-8657.
CPRM. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil. In: BIZZI, L. A.;
SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.; GONÇALVES, J. H. (Eds.). Brasília: CPRM,
2010. 692 p. [Texto, mapas & SIG].
CPRM-SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Geodiversidade do Estado do
Amazonas. Programa Geologia do Brasil: Levantamento da Geodiversidade, 275p.
Manaus, 2010.
CHRISTOFOLETTI, A., (1999): Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo,
Edgard Blücher. 215p.
CREPANI, E., MEDEIROS, J.S., AZEVEDO, L.G., HERNANDEZ, P., FLOREZANO,
T.G., DUARTE, V., BARBOSA, C. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento
Aplicados ao Zonemamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento Territorial. São
José dos Campos. INPE. 2001.
CUNHA, P.R.C., MELO, J.H.G., SILVA, O.B, 2007. Bacia do Amazonas. Boletim de
Geociências da Petrobrás, Rio de Janeiro, v.15, n. 2, 227-251.
CUNHA, P.R.C.; GONZAGA, F.G.; COUTINHO, L.F.C. Bacia do Amazonas. Boletim
de Geociências da Petrobras. Rio de Janeiro, v.8, n.1, 1994.
141
DAVIS, C., BORGES, K., "Modelagem de Dados Geográficos". In: Gilberto Câmara et.
al. (eds). in: Introdução à Ciência de Geoinformação, 1ª ed., Capítulo 4, São José dos
Campos. DPI/INPE. 2001.
EIRAS, J. F. 2005. Cenário geológico das bacias sedimentares do Brasil. In: Projeto
Multimin Tecnologia. Apostila sobre prospecção e desenvolvimento de campos de
petróleo e gás (Schlumberger) – Segunda parte: Tectônica, sedimentação e sistemas
petrolíferos da Bacia Solimões, Estado do Amazonas. Disponível em: <http://
acd.ufrj.br/multimin/mmp/textos/index.htm>.
EIRAS, J.F.; BECKER, C.R.; SOUZA, E.M.; GONZAGA, F.G. Bacia do Solimões.
Boletim de Geociências da Petrobrás. Rio de Janeiro, v.8, n.1, 1994.
EIRAS, J. F. Geologia e sistemas petrolíferos da Bacia do Solimões. In: VI SIMPÓSIO
DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA. 1999, Manaus. Boletim de resumos expandidos.
Manaus: Sociedade Brasileira de Geologia, Núcleo Norte, 1999. p. 30-32.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação
de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 2006. 306 p.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Levantamento de reconhecimento
de baixa intensidade dos solos e avaliação da aptidão agrícola das terras de área-piloto
no município de Barreirinha, Estado do Amazonas. [Manaus:] EMBRAPA, 1982.
FELGUEIRAS, C.A., 1999 “Modelagem Ambiental com Tratamento de Incertezas em
Sistemas de Informações Geográfica: O Paradigma Geoestatístico por Indicação. Tese
de D.Sc., INPE, São José dos Campos, SP, Brasil.
FISCH, G.; MARENGO, J. A.; NOBRE, C. A. Clima da Amazônia. s.d. Disponível em:
< http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/fish.html >. Acesso em:
24/03/2013.
FORSBERG, B.R.; HASHIMOTO, Y.; ROSENQUIST, A.; MIRANDA, F.P., 2000,
Tectonic fault control of wetland distributions in the Central Amazon revealed by
JERS1-SAR imagery. Quaternary International, v.72, p.61-66.
FRANCO, E.M.S.; MOREIRA, M.M.M.A. 1977. Geomorfologia da Folha SA.19 Içá.
Rio de Janeiro: Projeto RADAMBRASIL. (Levantamento de Recursos Naturais),
14:125-180.
FRANCO, E. M. S.; DEL’ARCO, J. O.; RIVETTI, M. Geomorfologia da folha NA.20
(Boa Vista) e parte das folhas NA.21 (Tumucumaque), NB.20 (Roraima) e NB.21. In:
DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL. Projeto RadamBrasil:
levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro: DNPM, 1975. p.139-180. v. 8.
FRANZINELLI, E., IGREJA, H., 2002, Modern sedimentation in the Lower Negro
River, Amazonas State, Brazil. Geomorphology, v. 44, n.3 – 4, p. 259-271.
142
FRANZINELLI, E.; IGREJA, H.L.S. 1990. Utilização do sensoriamento remoto na
investigação da área do baixo Rio Negro e Grande Manaus. In:. SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 6. Anais... 3 :641-648.
FUCHSHUBER, E. M. Avaliação de técnicas de classificação automática de dados
multi-polarimétricos na banda-L do sensor R99B-SAR para o mapeamento de áreas
inundadas no Lago de Coari, AM. Dissertação de Mestrado: Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE,
2011.
GHOSH, A., HOLT, W.E. 2012. Plate motions and stresses from global dynamic
models. Science, 335:838-843.
Google Earth – Disponível na internet via http://www.google.com/GoogleEarthSite.
Acesso em junho de 2011.
HASUI, Y 1990. Neotectônica e aspectos fundamentais da tectônica ressurgente no
Brasil. In: Workshop sobre Neotectônica e Sedimentação Cenozoica do Sudeste do
Brasil, 1, Belo Horizonte, 1990. Anais... Belo Horizonte: SBG, Boletim, (11):1-31.
HASUI, Y. et al. 1993. Evolução geológica da Amazônia. In: SIMPÓSIO DE
GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 5, Belém, 1996. Boletim de Resumos Expandidos...
Belém: SBG, p. 31-34.
HORBE, A. M. C. et al. A laterização na gênese das superfícies de aplanamento da
região de Presidente Figueiredo – Vila Balbina, nordeste do Amazonas. In: COSTA, M.
L.; ANGÉLICA, R. S. (Orgs.). Contribuições à geologia da Amazônia. Belém: FINEP-
SBG/NO, 1997. v. 2. cap.5. p. 145-176.
IBGE. Base pedológica da Amazônia legal. Base em formato digital referente a
levantamento em escala de detalhe compatível com a escala de 1:250.000. Manaus:
IBGE/SIPAM, 2001.
IBGE. Mapa geomorfológico do Brasil: escala 1: 5.000.000. Rio de Janeiro: IBGE,
1995.
IBGE. Mapa dos municípios do Brasil: escala 1: 5.000.000. Rio de Janeiro: IBGE,
2002.
IBANEZ, D.M., ALMEIDA–FILHO, R., MIRANDA, F.P, 2016, Analysis of SRTM
data as on aid to hidrocarbon exploration in a frontier área of the Amazonas
Sedimentary Basin, Northern Brazil. Marine and Petroleum Geology, v.73, p. 528-538.
IBANEZ. D. M. Análise do Relevo da Amazônia Central com o Emprego de Modelo
Digital de Elevação e Geometria Fractal. Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e
Geotectônica USP. Tese de Doutorado. São Paulo, 2013.
143
IGREJA, H.L.S. 1992. Aspectos tectono-sedimentares do Fanerozóico do nordeste do
Estado do Pará e noroeste do Maranhão, Brasil. Belém: CG/UFPA. Tese (Doutorado).
IRIONDO, M. H., 1982. Geomorfologia da planície Amazônica. Proceedings of the
Quaternary Symposium of Brazil, 4., SBG, 323-348.
LATRUBESSE, E., FRANZINELLI, E., 2002. The Holocene alluvial plain of the
middle Amazon river, Brazil. Geomorphology 44 (3-4), 241-57.
LUCAS, Y. et al. Transição latossolos-podzóis sobre a formação Barreiras na região de
Manaus, Amazônia. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 8, n. 3, p. 325-
335, set./dez., 1984.
MAIA, R. G.; GODOY, H. K.; IAMAGUTTI, H. S.; MOURA, P. A.; COSTA, F. S. F.;
HOLANDA, M. A.; COSTA, J. A. Projeto Carvão no Alto Solimões. Manaus:
Amazonas, 1977, 137 p. Relatório Final
MAROTTA, G.S.; FRANÇA, G.S.; MONICO, J.F.G.; FUCK, R.A. 2012. Strain rate of
South American Lithospheric Plate by SIRGAS-CON GEODETIC OBSERVATIONS.
In: Reunión SIRGAS, 3, Concepción (Chile). Disponível em
http://www.sirgas.org/fileadmin/docs/Boletines/Bol17/Marotta_et_al_Strain_rate
_South_America.pdf. Acesso em 3/8/2014.
MAPES, R.W., 2009. Past and presente provenance of the Amazon River. 2009. 185 p.
Tese (Doctor of Philosophy in Geological Sciences) - Department of Geological
Sciences, University of North Carolina, Chapel Hill, USA.
MARTINELLI, M & PEDROTTI, F. (2001). A Cartografia das Unidades de Paisagem:
Questões Metodológicas. Revista do Departamento de Geografia n. 14, PP. 39-46.
MARQUES, J. D. O. et al. Estudo de parâmetros físicos, químicos e hídricos de um
latossolo amarelo na região Amazônica. Acta Amazônica, Manaus, n. 34, p. 145-154,
2004.
MAURO, C. A.; NUNES, B. T. A.; FRANCO, M. S. M. Geomorfologia da folha SB.20
(Purus). In: DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL. Projeto
RADAMBRASIL: Levantamento dos Recursos Naturais. Rio de Janeiro: DNPM, 1978.
p. 129-216.
MEIRELES, M. S, MOREIRA, F.R., e Câmara, G.,"Técnicas De Inferência Espacial".
In: Meireles M. S, Câmara G. et. al. (eds). in: Geomática: Modelos e Aplicações
Ambientais, 1ª ed., capítulo 3, Brasília, DF, Embrapa Informação Tecnológica, 2007.
MEIRELLES, M. S. Análise Integrada do Ambiente Através de Geoprocessamento –
Uma Proposta Metodológica Para Elaboração de Zoneamentos [ Rio de Janeiro] 1997.
Tese Doutorado, IGEO, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1997.
144
MIOTO, J. A. “Sismicidade e zonas sismogênicas do Brasil”. Rio Claro, Vol.1 e 2. Tese
de doutorado defendida no Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp. 1993.
MIRANDA, F. P.; BEISL, C. H.; CAMARGO, E. C. G. 2007. Textural classification of
R99SAR data as an aid to flood mapping in Coari City, Western Amazon Region,
Brazil. In: XIII SBSR - Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis,
INPE, pp. 4935-4942.
MIRANDA, F.P.; BENTZ, C.M.; FONSECA, L.E.N.; LIMA, C.C.; COSTA, A.R.A.,
NUNES, K.C.; FELGUEIRAS, C.A.; ALMEIDA - FILHO, R., 1994. Integração de
dados de sensoriamento remoto, aeromagnetometria e topografia na definição do
arcabouço estrutural da região do Rio Uatumã (Bacia do Amazonas). Petrobras, Rio de
Janeiro, Relatório Técnico Interno, 61 p.
MIRANDA, F.P.; BOA HORA, M.P.P., 1986, Morphostrutural analysis as an aid to
hidrocarbon exploration in the Amazonas Basin, Brazil. Journal of Petroleum Geology,
v.9, p.163-178.
MIRANDA, F. P., 1984, “Significado geológico das anomalias morfoestruturais da
Bacia do Alto Amazonas”, Anais do II Symposium Amazônico – Manaus.
MUNIS, M.B. Caracterização Geomagnética do Gráben Purus e suas implicações na
evolução das bacias do Solimões e do Amazonas. Rio de Janeiro, 2009. 114f. Tese
(Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.
NASA. SRTM Images; In: Suttle Radar Topography Mission – The Mission to Map the
World. NASA. Data Products... Estados Unidos da América, s.d. Disponível em:
http://dds.cr.usgs.gov/srtm/. Acesso em 15 de Junho de 2014.
NASCIMENTO, D.A., MAURO, C.A., GARCIA, M.G.L., 1976. Geomorfologia da
Folha SA.21-Santarém. In: Projeto RadamBrasil. Folha SA.22-Santarém. Geologia,
geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Levantamento de
Recursos Naturais. Rio de Janeiro: MME/DNPM 10: 131–198.
NEVES, C.A.O., 1990. Prospectos potenciais e áreas prioritárias para exploração na
Bacia do Amazonas. Boletim de Geociências da Petrobras 4 (1), 95-103.
NÓBREGA, P.G.B., NÓBREGA, S.H.S., 2016. Perigo sísmico no Brasil e a
responsabilidade da engenharia de estruturas. HOLOS, ano 32, v.4, p.162-175.
NUNN, J.A., AIRES, J.R. 1988. Gravity anomalies and flexure of the lithosphere at the
Middle Amazon Basin. J. Geophys. Res., 93, 415-428.
OBERMEIER, J.R. et al. 1993. Liquefacion Evidence for one or More Strong
Holocene Earthquakes in the Wabash Valley of Southern Indiana and Illinois, with a
Preliminary Estimate of Magnitude. Geological Survey Professional Paper, Washington,
USA.
145
OLIVEIRA, A.A.B.; PITTHAN, J.H.L.; GARCIA, M.G.L. 1977. Geomorfologia da
Folha SB.19 Juruá. Rio de Janeiro: Projeto RADAMBRASIL, (Levantamento de
Recursos Naturais), 15 : 91- 142.
O'LEARY, D.W.; FRIEDMAN, J.D.; POHN. H.A. 1976. Lineament, linear, lineation:
some proposed new standards for old terms. Bulletin of the Geological Society of
America, 87(10):1463-1469
PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION (PAHO), 1998, Natural Disaster
Mitigation in Drinking Water and Sewerage Systems: Guidelines for Vulnerability
Analysis. Annex 3: Method for Estimating Damage in Pipes as a Consequence of
Intense Earthquakes. Pan American Health Organization Emergency Preparedness and
Disaster Relief Program. Washington D.C, 1998, 86p. PEDROSA, B.M., CÂMARA, G., "Modelagem Dinâmica e Sistemas de Informações
Geográficas". In: Meireles M.S, Câmara G. et. al. (eds). in: Geomática: Modelos e
Aplicações Ambientais, 1ª ed., capítulo 5, Brasília, Brasil, Embrapa Informação
Tecnológica, 2007.
PETROBRAS. Monitoramento de desmatamento e potencial ação erosiva nas áreas de
influência dos dutos Urucu-Coari-Manaus durante o período de implantação. Relatório
do 2o Ciclo RSAT, 2007.
PETROBRAS – Agência Petrobrás de Notícias. Disponível em:
http://www.agenciapetrobrasdenoticias.com.br/upload/apresentacoes/apresentacao>
Acesso em 20 outubro de 2009.
PETROBRAS – Boletim de Geociências da Petrobras – v. 15, n.2, 2007
PETROBRAS. Gasoduto Urucu-Coari-Manaus: mais energia para o Brasil. Disponível
na internet via http://www.petrobras.com.br/pt/noticias/gasoduto-urucu-coari-manaus-
mais-energia-para-o-brasil/, Acesso em setembro de 2010.
PEREIRA, E. L. Estudo do potencial de liquefação de rejeitos de minério de ferro sob
carregamento estático. Dissertação de Mestrado: Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal de Ouro Preto – Escola de Minas, 2005.
PIATAM. Disponível na internet via http://www.piatam.org.br/PiatamSite. Acesso em
Março de 2012.
PIATAM – Disponível na internet via http://www.piatam.org.br/PiatamSite. Acesso em
setembro de 2008.
PIATAM – Disponível na internet via http://www.piatam.org.br/PiatamSite. Acesso em
setembro de 2007.
146
RABUS, B., EINEDER, M., ROTH, A., et al., 2003. The Shuttle Radar Topography
Mission - A New Class of Digital Elevation Models Acquired by Spaceborne Radar.
Journal of Photogrammetry & Remote Sensing, Vol. 57, p. 241-262.
RADAMBRASIL. Ministério das Minas e Energias. Departamento Nacional da
Produção Mineral. Projeto RADAMBRASIL - Levantamento de recursos naturais.
Folhas NB.20, NA.19-21, SA.19-21, SB.18-21, SC.19-21: geologia, geomorfologia,
pedologia, vegetação, uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Divisão de Departamento,
1977, 420 p. 13 v.
RAMIREZ, M. R. Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados Para Geoprocessamento.
Rio de Janeiro, 1994. Dissertação (mestrado) Programa de Pós-Graduação de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
RAMOS, F. L. G. Utilização de Informações de Sensoriamento Remoto por Radar
(Interferometria RADARSAT – 1 e Mosaico SRTM) para Mapeamento de Atividades
Neotectônicas na Região de Manaus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE.
Rio de Janeiro, 2009.
RIBEIRO, O. L., SILVA, C. L., MORALES, N., MIRANDA, F. P., ALMEIDA
FILHO, R., BEISL, C. H., FILIZOLLA FILHO, N. P. Controle tectônico na planície do
Rio Solimões, região de Coari (AM), a partir de análise em imagens ópticas e
dados SRTM. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, 2009,
Natal. XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR. São José dos
Campos : SBG, 2009. v. 1. p. 3301-3309.
RICCOMINI, C. 1989. O Rift Continental do Sudeste do Brasil. São Paulo, 256 p.Tese
(Doutoramento) – Instituto de Geociências, USP.
RICCOMINI, C. 2008. Rapid changes of stress-field in the passive continental margin
of Southeastern Brazil. In: International Geological Congress, 33, Oslo. MS-05 Active
tectonics in South America. CD-ROM.
ROSSETTI, D.F., 2014. The role of Tectonics in the late Quaternary evolution of
Brazil Amazonian landscape. An. Earth – Sciense Reviews 82, 362–389.
ROSSETTI, D. F., TOLEDO, M., GÓES, A. M., 2005, New geological framework for
western Amazonia (Brazil) and implications for biogeography and evolution.
Quaternary Research 63 (1), 78-89.
ROCHA, C. H. B. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar. Juiz de Fora: [s.n],
2000. 220 p.
ROZO, J.M.G.; NOGUEIRA, A.C.R.; HORBE, A.M.C.; CARVALHO, A.S. 2005.
Depósitos neógenos da Bacia do Amazonas. In: Horbe, A.M.C. & Souza, V.S., (eds.)
Contribuições a Geologia da Amazônia, 4.
147
ROSS, J. L. S. Os fundamentos da geografia da natureza. In: ROSS, J. L. S. (Org.).
Geografia do Brasil. São Paulo: EFUSP, 1997. p. 13-65.
ROSS, J. L. S. Relevo brasileiro: uma nova proposta de classificação. Revista do
Departamento de Geografia, São Paulo, n. 4, p. 25-39, 1985.
SAADI, A., MACHETTE, M. N., HALLER, K. M., DART, R. L., BRADLEY, L. A.,
SOUZA, A. M. P. D., 2002, “Map and database of Quaternary faults and lineaments in
Brazil”, USGS, Open-File Report 02-230.
SAADI, A.; BEZERRA, F.H.R.; COSTA, R.D.; FRANZINELLI, E.; IGREJA, A. 2005.
Neotectônica da Plataforma Brasileira - Capítulo 10. In: C.R.G. Souza; K. Suguio;
A.M.S. Oliveira; P.E. Oliveira. (Orgs.). O Quaternário do Brasil. 1 ed. Ribeirão Preto:
Holos, p. 211-234.
SAADI, A. 1993. Neotectônica da Plataforma Brasileira: esboço e interpretação
preliminares. Geonomos, UFMG, 1(1):1-15.
SABINS Jr., F.F. 1978. Remote sensing: principles and interpretation. San Francisco.
W.H. Freeman. 426 p.
SANTOS, J.O.S. 1984. A parte setentrional do Cráton Amazônico (Escudo das
Guianas) e a Bacia Amazônica. In: C. Schobbenhaus, D.A. Campos, G.R. Derze, H.E.
Asmus (Coordenadores), Geologia do Brasil. (Texto explicativo do Mapa Geológico do
Brasil e da área oceânica adjacente incluindo depósitos minerais, escala 1:2.500.000).
Brasília: DNPM, p. 57-92.
SALGADO, F. M. “Siting – Downtown Lisbon Metro Blue Line”. Invited Paper by the
organizing Committee of the MERCEA’08. Based on the invited Lecture (with the same
name) at the MERCEA’08, Commemorating the 1908 Messina and Reggio Calabria
Earthquake, May 2009.
SARAIVA, B.A., RIVAS, A. Estudo Prévio de Impacto Ambiental para a Construção
do Gasoduto Coarí-Manaus. Manaus, Amazonas, 2003.
SEED, H. B. (1987). The influence of SPT procedures in soil liquefaction resistance
evaluations. Earthquake Engineering Research Center, University of California,
Berkeley, Report No. UCB/EER–84/15.
SHINZATO, E. et al. Os solos do distrito agropecuário da Suframa – DAS. Manaus: [S.
n.], 2005.
SILVA, P. M. Integração de Técnicas Computacionais como Contribuição para o
Mapeamento dos Índices de Sensibilidade Fluvial a Derrames de Óleo na Região de
Coari (AM). Tese de Doutorado: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE, 2012.
148
SILVA, C. R. O. Detecção de áreas vulneráveis à erosão no trecho do gasoduto Coari-
Manaus, Estado do Amazonas. Dissertação de Mestrado: Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE, 2008.
SILVA, C.R.O.; FERNANDEZ, L. F. Avaliação da Vulnerabilidade à Erosão no Trecho
do Gasoduto Coarí-Manaus. In: I Congresso Internacional do PIATAM, 2005, Manaus.
Anais do 1 Congresso Internacional PIATAM: Homem, Gás, Petróleo e Meio
Ambiente. Manaus : Universidade Federal do Amazonas, 2005.
SILVA, C.L.; MORALES, N.; CRÓSTA, A.P.; COSTA, S.S.; JIMENEZ-RUEDA, J.
R. Analysis of tectonic-controlled fluvial morphology and sedimentary processes of the
western Amazon basin: an approach using satellite images and digital elevation model.
Anais da Academia Brasileira de Ciências, Vol.79, n.4, p.693-711. 2007.
SILVA, C.L., MORALES, N., COSTA, A.P., COSTA, S.S., JIMÉNEZ- RUEDA, J.R,
2007, Analysis of tectonic-cotrolled fluvial morphology and sedimentary processes of
the western Amazon Basin: an approacle using satellite images and digital elevation
model. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.79, p. 693-712.
SILVA, C.L. “Análise da tectônica cenozóica na região de Manaus e adjacências”. Rio
Claro. Tese de doutorado em geologia regional, defendida no Instituto de Geociências e
Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 2005.
SILVA, R. A. B. Interoperabilidade na representação de dados geográficos: GEOBR e
GML 3.0 no contexto da realidade dos dados geográficos no Brasil. 2003, 146f.
Dissertação (Mestrado em Computação Aplicada) – Curso de Pós-Graduação em
Computação Aplicada, INPE. São José dos Campos.
SILVA, C.L., HORBE, A.M.C., HORBE, M.A., MORALES, N., COSTA, S.S.,
RUEDA, J.R.J. Bacias quaternárias ao longo do Rio Solimões-Amazonas. In: Simpósio
de Geologia da Amazônia, 8. Anais,... Manaus, 2003.
SILVA, C.L., RUEDA, J.R.J., COSTA, S.S., BORGES, M.S. Tectônica cenozóica e
relações geomorfológicas da Região de Urucu-Folha Coari, Estado do Amazonas. In:
Congresso Brasileiro de Geologia, 51, SBG, João Pessoa (PB). Anais... SBG, 2002,
367p.
SILVA, S.R.P.; MACIEL, R.R.; SEVERIANO, M.C.G. 1999, Cenozoic Tectonics of
Amazon Basin. Geo- Marine Letters, v.18, p. 256-262.
SIOLI, H. Valores de pH de águas amazônicas. Boletim do Museu Paraense Emilio
Goeldi. [Belém], n. 1, p. 1-35, 1957.
SRTM – Shuttle Radar Topography Mission. Disponível na internet via http://
www.2.jpl.nasa.gov/srtm/dataprod.htm.
SRTM - Water Body Data Product Specific Guidance, 2003. SRTM Data Editing Rules.
Version. 2.0, March 12, 2003.
149
STERNBERG, H.O.R. 1950. Vales tectônicos na planície Amazônica? Revista
Brasileira de Geografia, 12 (4): 3-26.
STERNBERG, H.O.R. 1953. Sismicidade e morfologia na Amazônia brasileira. Anais
da Academia Brasileira de Ciências, 25 (4):443- 453.
SOUZA, P. A. V. A utilização de tecnologias digitais de geoprocessamento na
identificação de unidades de paisagem na bacia hidrográfica do rio Iguaçu-Sarapuí (rj).
Dissertação de mestrado em Geomática: Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
2009.
SOARES, F. M. (2001). Unidades de Relevo como proposta de classificação das
paisagens da bacia do rio Curu – Estado do Ceará. Tese de Doutorado, Departamento de
Geografia. USP/ FFLCH, 184p.
TALWANI, P., 2017. On the nature of intraplate earthquakes. Journal of Seismology.
21 (1): 47-68.
TEIXEIRA, W. G. et al., (Eds.). As terras pretas de índio da Amazônia: sua
caracterização e uso deste conhecimento na criação de novas áreas. Manaus:
EMBRAPA Amazônia Ocidental, 2009. 421 p.
TEIXEIRA, W. G. Land use effects on soil physical and hydraulic properties of a
clayey Ferralsol in the central Amazon. Bayreuther Bodenkundliche, Berichte, v. 72, n.
1, 2001.
TOCANTINS, C.A.; BOTELHA, A.A.; CAVALCANTE, C.V.; COSTA, M.G.;
MIRANDA, F.P.; MOREIRA, F.R.M.; PRADO. W.F.; ANDRÉ NETO, M.A., 2006,
Base de dados integrada PIATAM: aplicação multidisciplinar e espaço-temporal. Anais
do 1º Simpósio de Geotecnologias do Pantanal, Campo Grande, Brasil, 15-15
Novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/ INPE, p. 757 – 762.
TRANSPETRO,(s.d.).Disponívelnainternetviahttp://www.transpetro.com.br/Transpetro
Site. Acesso em janeiro de 2008.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro. IBGE-SUPREN, 1977.
WANG, J. G. Z. Q., LAW, K.T., 1994, Siting in earthquake zones. A. A. Balkema,
Rotterdam.
WANDERLEY FILHO, J.R., 1991, Evolução estrutural da Bacia do Amazonas e sua
relação com o embasamento. Dissertação de Metrado em Geociências, Univesidade
Federal do Pará, Belém, 125p.
WIDDWSON, M., 2009. Laterite. In.: Gornitz, V., (Ed.) Encyclopedia of
paleoclimatology and ancient environments. Dordrecht, Netherland: Spring, 514–516.
WOOD, H.O. & NEUMANN, F. 1931 – Modified Mercalli Intensity Scale of 1931.
Bull. Seism. Soc. Am., 21: 277-283.
150
VALERIANO, M.M., 2004. Modelos digital de elevação com dados SRTM disponíveis
para a América do Sul. INPE, São José dos Campos, SP.
VALLEJO, G. L.; FERRER, M. Geological Engineering. London: CRC, 2002.
VAL, P., SILVA, C., HARBOR, D., MORALES, N., AMARAL, F., MAIA, T., 214,
Erosion of active fault scarp leads to a drainage capture in the Amazon region, Brazil.
Earth Surface Processes and Landforms, v. 39, p. 1062 – 1074.
VELOSO, A.V. 2014. On the footprints of a major Brazilian Amazon earthquake. An.
Acad. Bras. Ciênc., 86 (3), p.1115-1129, Rio de Janeiro Sept. 2014.
VENTURI, L. A. B. (1997). Unidades de Paisagem como recurso metodológico
aplicado na geografia física. In: VII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,
7, Curitiba (PR.), Brasil, CD- ROM.
VIEIRA, L. S.; SANTOS, P. C. T. Amazônia: seus solos e outros recursos naturais. São
Paulo: Agronômica Ceres, 1987. 416 p.
ZOBACK, M.L., RICHARDSON, R.M. 1996. Stress perturbation associated with the
Amazonas and other ancient continental rifts. Journal of Geophysical Research, 101,
5459-5475.
ZOBACK, M.L. 1996. Stress perturbation associated with the Amazonas and other
ancient continental rifts. Journal of Geophysical. Vol, 10, Arizona, USA.