Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

    CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

    UTILIZAÇAO DE MICROORGANISMOS EFICAZES COMO

    PROBIOTICO NO CULTIVO DA TILAPIA DO NILO

    MARIA JULIANA CAMPOS LEITE

    AREIA – PARAÍBA

    2009

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    MARIA JULIANA CAMPOS LEITE

    UTILIZAÇAO DE MICROORGANISMOS EFICAZES COMO

    PROBIOTICO NO CULTIVO DA TILAPIA DO NILO

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Pós-graduação em Zootecnia, daUniversidade Federal da Paraíba, como parte das exigências para obtenção dotítulo de Mestre em Zootecnia.

    Área de Concentração: Produção Animal

    Comitê de Orientação:

    Dra. Patrícia Emília GivisiezDr. Marcelo Luís RodriguesDr. Celso José Bruno de Oliveira

    AREIA – PARAÍBA

    2009

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    Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos daBiblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB.

    L533u Leite, Maria Juliana Campos.

      Utilização de microorganismos eficazes como probiótico no cultivo datilápia do Nilo. / Maria Juliana Campos Leite – Areia- PB: UFPB/CCA, 2009.

      51 f. il.  Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba -Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2009.

      Bibliografia

      Orientador: Patrícia Emília Naves Givibiez.

    Co-orientador: Marcelo Luís Rodrigues.

      1. Tilápia – rendimento 2. Tilápia – desempenho 3. Tilápia – limnologia. 4.Tilapicultura I. Givibiez, Patrícia Emília Naves (Orientador) II. Rodrigues,Marcelo Luís (Co-orientador) III.Título.

    CDU: 639.3

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    Aos meus pais, Mauro ( In memoriam) e Lúcia, pelo apoio, lição de vida e amor de uma

    vida inteira;

    E ao meu esposo, Eduardo, por ter me tornado uma pessoa ainda mais feliz

    Dedico.

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    Agradecimentos

    A Deus, por andar sempre ao meu lado, iluminando meu caminho e me fortalecendo

    sempre.

    Aos meus Pais, que foram e sempre serão a razão para que eu nunca desista de meus

    ideais; A minha irmã Rafaella que sempre acreditou em mim e me deu forças e ao meu

    irmão Bruno e sobrinhos Caio e Maurinho. Enfim, a toda minha família e em especial

    aos meus tios Jacinta, Dalva e Willames pelo carinho.

    Ao meu esposo, Eduardo, pela dedicação, amor e por ter sido sempre tão paciente, me

    dando forças nas horas em que mais precisei.

    Aos orientadores Marcelo Luis Rodrigues e Patrícia Emília Naves Givisiez, pela

    orientação, ensinamentos e confiança.

    Aos amigos da Piscicultura: Denise (Tuca), Kathyúcia, Valnir, Bruno, Alanna,

    Angelo, Ângela e Marcelo pela convivência e em especial, a Alda  por ter me ajudado

    na realização das análises.

    A minha grande amiga Lourdinha  por ter me ajudado sempre, pelas palavras de

    conforto e incentivo e enfim, por todos os adjetivos que existe numa verdadeira

    amizade.

    A minha tia de agregação e também de coração, Socorro, pelo acolhimento e amizade.

    Aos funcionários da UFPB/PPGZ (Graça, Dona Carmen, Jacilene e Damião) e, em

    especial, aos do Setor de Piscicultura: Seu Assis e Zezinho  pela contribuição na

    execução do trabalho.

    Aos Professores da Graduação e Pós-graduação a quem devo parte da minha formação.

    Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos e financiamento do projeto.

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    Ao Professor, Walter Esfrain, por ter me ajudado na análise estatística.

    Aos colegas de Pós-Graduação  pelos bons momentos compartilhados no curso; e as

    amigas Cicília, Lígia, Jussara e Karlinha, pela amizade e horas de distração, quando asaudade de casa apertava.

    A todas as pessoas que direta ou indiretamente auxiliaram na minha formação e

    desenvolvimento do trabalho.

    A gr a d eço .

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    SUMÁRIO

    Página

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................. viii

    LISTA DE TABELAS............................................................................................ ixRESUMO................................................................................................................. x

    ABSTRACT............................................................................................................. xi

    1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 1

    2. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................. 4

    2.1 Qualidade da água na piscicultura...................................................................... 4

      2.1.1 Parâmetros físicos..................................................................................... 5

      2.1.2 Parâmetros químicos................................................................................. 6

    2.2 Considerações sobre a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)........................ 9  2.2.1 Rendimento e composição química da tilápia............................................ 10

    2.3 Utilização de probióticos na aqüicultura............................................................. 12

    2.4 EM-4 ou Microorganismos eficazes .................................................................. 14

    3. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................ 16

    3.1 Descrição geral da área de estudo....................................................................... 16

    3.2 Instalações e período experimental..................................................................... 16

    3.3 Animais e manejo alimentar............................................................................... 17

    3.4 Manejo geral e parâmetros avaliados.................................................................. 18

      3.4.1 Desempenho dos peixes............................................................................. 19

      3.4.2 Análise bromatológica............................................................................... 21

      3.4.3 Análise sensorial........................................................................................ 22

    3.5 Delineamento experimental e análises estatísticas.............................................. 24

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 25

    4.1 Parâmetros físico-químicos da água................................................................... 25

    4.2 Desempenho e composição bromatológica da tilápia do Nilo............................ 34

    4.3 Análise sensorial................................................................................................. 40

    5. CONCLUSÕES................................................................................................... 42

    6. CONSIDERAÇÕES GERAIS.......................................................................... 43

    7. REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS.............................................................. 44

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    LISTA DE FIGURAS

    Página

    Figura 1. Município de Areia localizado no estado da

    Paraíba.......................................................................................... 16Figura 2. Vista geral dos viveiros escavados em terreno natural com

    sistema de abastecimento e escoamento individual...................... 17

    Figura 3. Filetagem (A) e filés de tilápia com pele dispostos em bandeja

    com gelo (B)................................................................................. 21

    Figura 4. Ficha de avaliação sensorial dos filés de tilápia........................... 23

    Figura 5. Filés na chapa (A) e disposição das amostras na cabine

    sensorial (B).............................................................................. 24

    Figura 6. Valores médios da temperatura da água dos viveiros tratados ounão com o probiótico EM-4......................................................... 26

    Figura 7. Valores médios do oxigênio dissolvido (A) e gás carbônico (B)

    da água dos viveiros tratados ou não com o probiótico EM-4..... 27

    Figura 8. Variação média da precipitação pluviométrica durante o

     período de cultivo no município de Areia-PB.............................. 29

    Figura 9. Valores médios do pH (A), alcalinidade total (B),

    condutividade elétrica (C) e dureza (D) da água dos viveiros

    tratados ou não com o probiótico EM-4....................................... 30

    Figura 10. Valores médios da amônia (A) e nitrito (B) da água dos

    viveiros tratados ou não com o probiótico EM-4......................... 31

    Figura 11. Valores médios da turbidez da água dos viveiros tratados ou

    não com o probiótico EM-4......................................................... 32

    Figura 12. Valores médios do peso (g) e comprimento (mm) da tilápia do

     Nilo cultivada em viveiros tratados ou não com probiótico EM-

    4.................................................................................................... 35

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    LISTA DE TABELAS

    Página

    Tabela 1. Valores de F e coeficientes de variação das variáveis

    limnológicas dos viveiros tratados ou não com o probiótico EM-4..................................................................................................... 19

    Tabela 2. Valores médios do desempenho produtivo da tilápia do Nilo

    cultivadas em viveiros tratados ou não com o probiótico EM-

    4..................................................................................................... 27

    Tabela 3. Valores médios do desempenho e rendimento de filé de tilápias

    cultivadas em viveiros tratados ou não com probiótico EM-

    4..................................................................................................... 29

    Tabela 4. Teores médios e desvios padrão da composição bromatológicados filés de tilápias cultivadas em viveiros tratados ou não com

    EM-4........................................................................................ 35

    Tabela 5. Valores médios atribuídos pelos provadores às amostras dos

    filés de tilápia cultivadas em viveiros tratados ou não com EM-

    4..................................................................................................... 37

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    RESUMO

    LEITE, M. J. C. UTILIZAÇAO DE MICROORGANISMOS EFICAZES COMO

    PROBIOTICO NO CULTIVO DA TILAPIA DO NILO. Dissertação (Mestrado em

    Produção Animal). Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. UFPB. Areia-PB.Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Emília Givisiez.

    O objetivo do trabalho foi avaliar a utilização de microorganismos eficazes ou EM-4

    como probiótico sobre os parâmetros físicos e químicos da água, desempenho,

    rendimento do filé e características organolépticas da tilápia. O experimento foi

    conduzido no Centro de Ciências Agrárias da UFPB, por 182 dias, em seis viveiros de

    260 m2, estocados com 390 tilápias nilótica (Oreochromis niloticus), alimentadas com

    ração comercial extrusada. O delineamento experimental foi inteiramente casualizadocom dois tratamentos (com ou sem EM-4) e três repetições, totalizando seis parcelas. A

    análise sensorial foi em blocos casualizados. A aplicação do probiótico EM-4 foi

    realizada duas vezes por semana numa diluição de 1litro:hectare. Semanalmente entre

    08:00 e 9:30h, variáveis físicas e químicas da água foram monitoradas próximo a

    superfície do viveiro, sendo avaliados os seguintes parâmetros: condutividade elétrica

    (mS/cm), temperatura (°C), oxigênio dissolvido (mg/L), amônia total (mg/L), pH,

    turbidez (NTU), dureza (mg/L), alcalinidade total (mg/L) e CO2 (mg/L). Mensalmente

    foi realizada a biometria nos animais para acompanhar o desempenho produtivo. Ao

    final do experimento os peixes foram abatidos para a avaliação do rendimento e

    características organolépticas do filé. De maneira geral houve piora na qualidade da

    água dos viveiros no decorrer do experimento, não havendo diferença entre a utilização

    ou não do produto. A análise sensorial revelou que os filés dos peixes controle tiveram

    melhor aceitação quanto à textura e não diferiram daqueles submetidos ao tratamento

    quanto aos demais atributos. De acordo com os dados obtidos, o uso do EM-4

     promoveu um aumento de rendimento de filé nos animais (p

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    ABSTRACT

    LEITE, M. J. C. EFFECTIVE MICROORGANISMS AS PROBIOTIC IN THE

    CULTIVATION OF THE NILE TILAPIA. Dissertação (Mestrado em Produção

    Animal). Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. UFPB. Areia-PB. Orientadora:Profa. Dra. Patrícia Emília Givisiez.

    This study evaluated the effect of of effective microorganisms or EM-4 on physico-

    chemical characteristics of water and on performance, fillet yield and sensory analysis

    of Tilapia. The experiment was carried out in 260 m2  ponds from Centro de Ciências

    Agrárias da UFPB and lasted 182 days. Three hundred and ninety Nile Tilapias

    (Oreochromis niloticus) were distributed into a completely randomized experimental

    design with two treatments (with or without EM-4) and three repetitions, with six parcels, and were fed extruded diet. Sensory analysis was carried out in randomized

     blocks. EM-4 was used twice weekly in a dilution of 1 liter : hectare. Water samples

    were collected weekly between 0800 and 0930 am close to the surface for physical and

    chemical water analyses including electric conductivity (mS/cm), temperature (°C),

    dissolved oxygen (mg/L), total ammonia (mg/L), pH and turbidity (NTU), Hardness

    (mg/L), total alkalinity (mg/L) and CO2 (mg/L). Body measurements were taken

    monthly to evaluate production performance. At the end of the trial, the fishes were

    slaughtered to assess fillet yield and sensory characteristics. In general, there was a

    decrease in water quality in the ponds during the experiment, without differences

     between treatments. Fillets from non-treated ponds had better acceptance in regard to

    texture in sensory analysis. No other differences were found between treatments for

    other sensory parameters. In conclusion, EM-4 increased fillet yield in Nile Tilapias

    (p

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    1. INTRODUÇÃO

    Dentre as espécies comumente cultivadas, a tilápia do Nilo (Oreochromis

    niloticus) é a que mais desperta interesse na piscicultura de água doce, ocupando lugar

    de destaque tanto no contexto nacional quanto mundial. Características desejáveis para

    o cultivo, como rusticidade, facilidade de produção de alevinos e a capacidade de

    adaptação a variados sistemas de cultivo, são alguns dos fatores que levam ao sucesso

    desta espécie.

    Segundo a FAO (2007) a produção de tilápias no mundo alcançou 2.025.560 Mg

    em 2005, e foi responsável por 6,7% da produção global de peixes cultivados, ficando o

    Brasil em sexto lugar na escala mundial dos maiores produtores de tilápia, responsável

     por 3,3% do total da produção.

    Por outro lado, ao mesmo tempo em que existe um incentivo para a exploração

    desta atividade, e sabendo-se que a mesma é necessária para a produção de alimentos e

    abastecimento da crescente população mundial, surge uma preocupação com a

    conservação e utilização racional dos cursos d’água. A piscicultura, como qualquer

    outra atividade agropecuária vem sendo vista como fonte poluidora, principalmente pela

    liberação de substâncias nos efluentes que muitas vezes são lançados nos mananciais

    sem nenhum tratamento prévio, o que poderá comprometer de forma negativa os

    recursos d’água.

    Como esta atividade é altamente dependente da quantidade e qualidade deste

    recurso natural, fica clara a importância da realização de pesquisas que visem

    alternativas e técnicas para o incremento da produção com base na sustentabilidade do

    meio ambiente.

    Os probióticos vêem sendo utilizados na aqüicultura para controlar doenças,

    suplementar a alimentação e em alguns casos substituir a utilização de substâncias como

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    os antibióticos. Nesta atividade, alguns produtos comerciais atribuem o nome probiótico

    a produtos para tratar o meio e não para suplementar a dieta dos animais. Esta extensão

    é pertinente visto a complexa interação dos organismos aquáticos com o meio. Por outro

    lado, os probióticos administrados recebem termos relacionados à sua função como

     biocontrole, para o tratamento contra patógenos ou biorremediação para o tratamento da

    qualidade da água (Gatesoupe, 2000).

    Estudos recentes têm demonstrado que os microorganismos eficazes ou EM-4 têm

    sido utilizados para a melhoria de diversas atividades ligadas à agricultura e pecuária,

    visando à preservação do meio ambiente (FMO, 2006). O mesmo consiste no resultado

    do cultivo composto de microorganismos anaeróbicos e aeróbicos com outras dezenas

    de microorganismos de diferentes atuações e que pode vir a ser utilizado como

     probiótico na aqüicultura. Os principais microorganismos presentes neste composto são

    as bactérias produtoras de ácido láctico, as leveduras, as bactérias fotossintéticas, fungos

    e actinomicetos (FMO, 1999).

    Segundo CPMA (2006) o EM-4 tem melhorado as propriedades físico-químicas e

     biológicas do solo, propiciando condições favoráveis para a atuação do controle

     biológico natural. Esta tecnologia vem sendo utilizada em várias empresas, instituições,

     prefeituras com resultados satisfatórios no tratamento de resíduos líquidos e sólidos

    (Pissinatto et al., 2005a) e na manutenção da qualidade do solo. Cita-se também o

    controle de odor em esterqueiras e lagoas de tratamento (Pissinatto et al., 2005b),

    compostagem e depósitos de lixo (Manoel et al, 2005). Ao mesmo tempo, há registros

    de aumento da eficiência de remoção de carga orgânica de efluentes líquidos de criação

    de suínos, bovinos, caprinos, peixes, assim como de frigoríficos, abatedouros, entre

    outros (FMO, 2006).

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    Apesar dos estudos citados, pouco se sabe sobre a atuação deste probiótico sobre

    os organismos aquáticos e o meio. Desta forma, suas propriedades merecem ser

    investigadas quanto à possibilidade de uso em sistemas de criação de peixes visando a

    melhoria da qualidade da e a possibilidade do reuso dos efluentes e, assim, proporcionar

    um incremento da atividade na região Nordeste com melhorias significativas na

     produtividade e conseqüentemente na qualidade do pescado produzido.

    Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização dos

    microorganismos eficazes como probiótico sobre as características físico-químicas da

    água de viveiros de piscicultura e o desempenho, composição bromatológica e

    características organolépticas da tilápia nilótica.

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    2. REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 Qualidade da água na piscicultura

    O sucesso dos empreendimentos aquícolas no geral depende do monitoramento,

     por parte dos produtores e técnicos, da qualidade da água nos viveiros e tanques de

    cultivo, já que em condições inadequadas a qualidade da água prejudica o crescimento,

    a reprodução, a saúde, a sobrevivência e até mesmo a qualidade dos peixes (Kubitza,

    2003). Proença & Bittencourt (1994) reportam que, previamente à implantação de

    qualquer sistema de cultivo, torna-se importante uma avaliação quanti-qualitativa dos

    recursos hídricos disponíveis.

    A utilização de rações mal elaboradas (composição dos alimentos), sobras de

    rações, fezes e excrementos dos peixes, somados ao uso de diversos produtos químicos

    utilizados na adubação e calagem dos viveiros, densidade de estocagem, aeração e taxas

    de arraçoamento podem influenciar a qualidade da água.

    Assim, um conhecimento básico dos princípios que regulam a qualidade da água

    ajudará ao produtor a determinar o potencial aquático, melhorando as condições

    ambientais dos viveiros e evitando as doenças relacionadas com o estresse e parasitas,

    contribuindo para a produção de animais aquáticos com maior eficácia (Boyd, 1997). O

    autor cita ainda que dentre as variáveis que devem ser monitoradas regularmente estão a

    temperatura, transparência, oxigênio dissolvido, gás carbônico, pH, dureza, alcalinidade

    total e condutividade elétrica, bem como os compostos nitrogenados e fosfatados.

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    2.1.1 Parâmetros físicos

    A temperatura é considerada o principal fator de controle do crescimento dos

     peixes, pois afeta diretamente as taxas metabólicas, o consumo de oxigênio, a atividade

    alimentar e a digestibilidade (Canpana et al., 1996).

    A temperatura da água influencia fortemente no consumo de oxigênio e também na

    capacidade de carregar oxigênio na água (Golombieski et al., 2003), pois a solubilidade

    do oxigênio depende do fator temperatura associado a pressão, sendo que com a

    elevação da temperatura e diminuição da pressão, ocorre redução da solubilidade do

    oxigênio (Esteves, 1998).

    Em geral, a temperatura tem um efeito pronunciado sobre os processos químicos

    e biológicos e dobra o ritmo dessas reações com cada 10°C de aumento da temperatura

    da água (Kubitza, 2003). Frascá-Scorvo et al. (2001) afirmam que o valor da

    temperatura ideal, para produção da maioria das espécies de peixes de clima tropical,

    está entre 25 e 28 ºC e que, com a variação da temperatura para valores além dos limites

    da faixa ideal, os peixes reduzem, ou até cessam, a alimentação.

    A turbidez está relacionada com a quantidade de material insolúvel e em suspensão

    existente na água e que impede a passagem de luz (Baldiserroto, 2002). De acordo com

    o autor, o material pode ser composto de material inorgânico (silte, argila e outros) e

    fitoplâncton. Quando causada pelo fitoplâncton e desejável, desde que esteja em

    equilíbrio, porém, se ocasionada pela argila vai ser prejudicial aos peixes, podendo

    dificultar a respiração pela obstrução das brânquias (Boyd, 1997).

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    2.1.2 Parâmetros químicos

    Em relação às características químicas, o oxigênio dissolvido (O2D) é a mais

    importante variável da qualidade da água na aqüicultura, exercendo uma grande

    influência sobre a atividade, o consumo de alimento, o crescimento e a conversão

    alimentar dos peixes, devendo ser mantido acima de 60% de saturação ou de 4 mg.L- 1

    (Kubitza, 2003).

    Vários fatores podem afetar a solubilidade do oxigênio, dentre eles estão à

    temperatura, salinidade e pressão atmosférica de modo que quanto maior a temperatura,

    salinidade e altitude local, menor será a dissolução de oxigênio na água (Moreira et al.,

    2001; Kubitza, 2003). Um incremento na taxa de alimentação também poderá ocasionar 

    redução dos níveis de O2D (Boyd, 1997).

    Schmittou (sd) relata que as concentrações de oxigênio dissolvido serão mais

    críticas se a turbidez for mais elevada, pois esta comprometerá a realização do processo

    de fotossíntese. Conte (2002), estudando a produtividade e economicidade da

    tilapicultura em gaiolas na região sudeste do estado de São Paulo, observou que fortes

    chuvas ocasionaram expressivas entradas de material em suspensão, como silte, argila e

    matéria orgânica na represa, baixando os níveis de oxigênio de 7 para 1,58 mg/L.

    O gás carbônico é produzido por uma série de processos químicos que acontecem

    naturalmente em viveiros, principalmente em condições de pH muito baixo (Moreira et

    al., 2001). O mesmo entra no sistema aquático principalmente como produto da

    respiração e decomposição aeróbica da matéria orgânica, podendo ser armazenado

    temporariamente na água como bicarbonato (HCO3) (Schmittou, sd).

    Em viveiros, concentrações de CO2 superiores a 10 mg/L, aliados a baixo

    oxigênio, podem estressar os peixes, reduzindo o desempenho produtivo (Kubitza,

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    2003). Ainda, segundo o autor, altas concentrações de gás carbônico ocorrem em

    viveiros, geralmente após grande mortalidade do fitoplâncton, desestratificação térmica

    em dias nublados, considerando os processos naturais no ambiente.

    O valores de pH da água indicam se esta possui reação ácida ou alcalina. Como

    regra geral, valores de pH próximos entre 6,5 e 8,0 são mais adequados à produção de

     peixes (Kubitza, 2003), valores abaixo ou acima da faixa ótima podem ter efeitos

    tóxicos sobre os peixes ou adversos sobre a produtividade natural dos viveiros (Proença

    & Bittencourt, 1994).

    Segundo Proença & Bittencourt (1994) a alcalinidade refere-se à concentração de

     bases na água e a capacidade da água em resistir às mudanças de pH (poder tampão).

    Em viveiros de piscicultura são desejáveis valores acima de 20 mg/L, sendo que valores

    entre 200-300 mg.L-1  podem proporcionar um maior sucesso no cultivo (Sipaúba-

    Tavares, 1994). Valores abaixo do indicado podem determinar altas oscilações nos

    valores do pH, o que diminui a produção dos peixes, devido à necessidade de constantes

    adaptações para as trocas osmóticas com o meio (Castagnolli, 1992). A variação diária

    do pH é maior em águas com baixa alcalinidade que em viveiros com água com maior

    alcalinidade (Boyd, 1997).

    A dureza indica o teor de íons de cálcio e magnésio que estão combinados a

    carbonato e/ou bicarbonatos ou, ainda, a sulfato e cloreto (Sipaúba-Tavares, 1994).

    Como regra geral, tanto a dureza como a alcalinidade são derivadas da dissolução do

    calcário, razão pela qual na maioria dos ambientes concentrações de dureza e

    alcalinidade são iguais (Boyd, 1997). Entretanto, apesar desta correlação, nem sempre é

    verdade dizer que águas altamente alcalinas apresentam alta dureza (Kubitza, 2003).

    Este parâmetro influencia no crescimento do fitoplâncton na água e, além disto, o

    Ca+2 é essencial pra vários processos biológicos dos peixes como construção óssea e

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    coagulação sanguínea, entre outras funções celulares, sendo a sua ingestão regulada pela

    alimentação ou pela absorção branquial (Flik & Verbost, 1995).

    A condutividade elétrica também é uma maneira indireta de se avaliar a

    quantidade de nutrientes do meio aquático de forma que quanto maior a taxa de

    decomposição na água maior será a quantidade de sais dissolvidos e, conseqüentemente,

    a sua condutividade (Moreira et al., 2001). Por outro lado, valores reduzidos indicam

    acentuada produção primária.

    A condutividade elétrica também está relacionada com a dureza e a alcalinidade,

    de forma que quanto mais elevada for a dureza maior será a condutividade (Castagnolli,

    1992).

    A amônia é derivada da digestão das proteínas e do catabolismo dos aminoácidos

    (Boyce, 1999). Em ambientes aquáticos, 80% da amônia é derivada das excretas dos

     peixes, e quando em excesso se torna tóxica para os mesmos (Westers, 2001). De

    acordo com Medeiros (2002), existem duas formas de amônia na água: ionizada (NH4+)

    e não-ionizada (NH3), que é a mais tóxica. A amônia não-ionizada acima de 0,20 mg/L

     já é suficiente para induzir uma toxidez crônica, levando a uma diminuição do

    crescimento e tolerância dos peixes as doenças (Kubitza, 2000).

    De acordo com Ostrensky e Boeger (1998) para cada unidade de aumento de pH,

    a quantidade de NH3 na água aumenta em dez vezes, de modo que águas com pH acima

    de 8,0 e com presença de amônia, há sempre grandes riscos de mortalidade dos peixes.

    O nitrito é o produto intermediário da transformação de amônia em nitrato por

    ação das bactérias do gênero Nitrossomonas (Esteves, 1998) e a sua toxidez depende em

    grande parte do pH da água, da concentração de cálcio (Schmittou, sd). Exposição

    contínua a concentrações sub-letais de nitrito (0,3 a 0,5 mg/L) podem causar redução no

    crescimento e na resistência dos peixes a doenças (Kubitza, 2003).

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    2.2 Considerações sobre a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)

    As tilápias são nativas do continente africano e se dividem em quatro grupos de

    espécies, quanto a utilização na piscicultura: Oreochromis niloticus, Oreochromis

    mossambicus, Oreochromis aureaus e um grupo não identificado (Kubitza, 2000). É o

    segundo peixe de água doce mais cultivado em todo o mundo, ficando atrás apenas da

    carpa comum.

    A tilápia é criada em diversos sistemas de cultivo, desde a cultura semi-intensiva

    em tanques que recebem dejetos animais, até os cultivos intensivos em raceways e

    tanques-rede (Lovshin, 1997).

    A tilápia do Nilo destaca-se como uma espécie de peixe com bom potencial para

     piscicultura, por sua rusticidade, crescimento rápido, fácil adaptação ao confinamento e

     boa aceitação no mercado. Tem o hábito alimentar onívoro e aceita rações com grande

    facilidade, desde o período de pós-larva até a fase de terminação (Boscolo et al., 2001).

    É uma das espécies mais resistente entre as comumente cultivadas, quanto à alta

    temperatura, baixa concentração de oxigênio dissolvido e a alta concentração de amônia

    na água (Popma & Phelps, 1998). As tilápias têm conforto térmico entre 27 a 32oC,

    sendo que, em temperaturas da água abaixo e acima desta faixa diminuem o consumo e

    também o crescimento (Kubitza, 2003). Para Proença & Bittencourt (1994) o fator mais

    limitante no cultivo de tilápias é a sua grande capacidade de se reproduzir naturalmente

    em viveiro, fato observado em peixes com peso vivo próximo a 50g. De acordo com o

    mesmo autor, esta reprodução tão fácil e precoce provoca um aumento populacional

    desordenado, o que determina uma heterogeneidade do lote de produção. Daí a

    importância do cultivo com tilápias revertidas sexualmente a machos.

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    A cadeia produtiva da tilápia do Nilo possui vários segmentos, podendo ser

    dividido em alevinocultores, criadores, frigoríficos e pesque-pagues. Os alevinocultores

    são produtores de alevinos e juvenis. Os criadores são responsáveis pela engorda dos

    alevinos até o peso de abate. Os frigoríficos compram, abatem e processam os peixes; e

     por fim o pesque-pague adquire os peixes com o peso de abate e os estocam em lagos

     para a pesca esportiva (Sonoda, 2002). A tilápia apresenta mercado promissor tanto em

     pesque-pagues quanto na indústria de filetagem (Zanoni et al., 2000). Dentre os peixes

    cultivados no Brasil, pode ser destacada como uma das espécies que dispõem de uma

    das cadeias produtivas mais bem estruturadas.

    A tilápia do Nilo é vendida entre 400 a 700g, variando em função do mercado

    consumidor. O tempo necessário para que o peixe atinja o tamanho comercial pode

    variar de cerca de quatro meses a um ano, em função de uma série de fatores, como o

    tipo de alimentação, temperatura da água, qualidade da água de cultivo, densidade de

    estocagem, entre outros.

    2.2.1 Rendimento e composição química da tilápia

     No Brasil, a tilapicultura tem sido impulsionada pela demanda de mercado devido

    sua boa aceitação pelos consumidores, quanto ao sabor, valor nutritivo e preços baixos,

    comparando-se a outras espécies. O valor nutritivo e os preços dos peixes dependerão da

    textura da carne, da composição química, do rendimento e de fatores relacionados aos

    métodos de captura e beneficiamento.

    A parte útil do pescado, também denominada corpo limpo ou carcaça corresponde

    a parte do corpo pronta para o consumo e/ou industrialização. Trata-se do tronco sem

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    vísceras, nadadeiras, porém com a coluna vertebral e a pele (sem escamas) e a partir

    desta pode-se ainda obter o filé.

    A tilápia do Nilo pode apresentar rendimentos de filé variando de 25,4% a 42%, e

    isto dependerá do peso corporal, sexo, composição corporal (gordura visceral),

    características anatômicas (relação cabeça/corpo), grau de mecanização na filetagem,

    método de filetagem e destreza do operador (Clement e Lovell, 1994).

    Souza et al.(2000) realizaram um experimento analisando o tipo de corte de

    cabeça e categoria de peso, para a tilápia do Nilo e tiveram como resultado o corte

    contornado (32,64% a 35,18%) e oblíquo (31,86% a 35,27%) como os mais indicados

     para obtenção de maiores rendimentos de filé.

    A produção de resíduos de frigoríficos na filetagem da tilápia representa entre

    62,5 e 66,5 % da matéria prima que é desperdiçada, sendo fundamental o processamento

    destes resíduos para redução do impacto ambiental. Além disto, a transformação destes

    resíduos em farinha pode ser mais uma opção de renda para as indústrias, aumentando

    sua lucratividade (Boscolo et al., 2001).

    Em relação à composição química do pescado, podemos dizer que é extremamente

    variável, dependendo de vários fatores como da época do ano, do tipo, quantidade e

    qualidade do alimento consumido, do estágio de maturação sexual, da idade e da parte

    do corpo analisada (Contreras-Guzmán, 1994).

    De modo geral, a tilápia se enquadra como um peixe magro e com alto valor

     protéico. Sales (1995) ao estudar a composição química da tilápia-do-Nilo, verificou

    variações nos teores de cinzas (0,7 – 3,1%), e nos teores de proteínas, sendo que quase

    todas as espécimes apresentaram valores diferentes (14,3 – 21,1%). De acordo com

    Fernandes (2000) o filé de tilápia possui em média 75% de água, entre 3,4 a 8,5% de

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    lipídios, 20% de proteína e 2% de minerais, possuindo ainda, os aminoácidos

    necessários a alimentação humana.

    O conhecimento da composição química dos pescados é de fundamental

    importância para a padronização dos produtos alimentares na base de critérios

    nutricionais, pois fornece subsídios para decisões de caráter dietário, acompanhamento

    de processos industriais e seleção de equipamentos para otimização econômico-

    tecnológica (Contreras-Guzmán, 1994).

    2.3 Utilização de probióticos na aqüicultura

    Os probióticos têm sido utilizados para controlar doenças, suplementar a

    alimentação e em alguns casos substituir a utilização de substâncias antimicrobianas,

     principalmente os antibióticos, já que o uso o uso indiscriminado dos mesmos para o

    controle de doenças ou como promotores de crescimento aumenta a pressão da seleção

    sobre os microrganismos, levando naturalmente ao aumento da resistência bacteriana.

    Daí a tendência em aumentar o uso de probióticos nas dietas dos animais em lugar dos

    antibióticos, já que a utilização do probiótico é mais racional, pois não deixa resíduos

    no meio ambiente, na carcaça do animal e não provoca resistência cruzada no homem

    quando comparado com o antibiótico (Verschuere et al., 2000a).

    Segundo Schrezenmeir & De Vrese (2001), probióticos são preparações ou

     produtos que contêm microrganismos viáveis definidos e em quantidade adequada que

    alteram, por colonização, a microbiota própria do intestino do hospedeiro, produzindo

    efeitos benéficos em sua saúde. De acordo com Planas & Cunha (1999), a ação benéfica

    do uso de probióticos ocorre de duas formas: uma determinando melhores índices

    zootécnicos com maior produtividade, aumento no ganho de peso e melhor conversão

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    alimentar; outra reduzindo a colonização intestinal por alguns patógenos, como, por

    exemplo, as salmonelas.

     No que diz respeito à atividade aquícola, o uso de probióticos é um tema muito

    recente, mas tem-se observado segundo Ally et al. (2008), um considerável aumento de

     pesquisas avaliando a utilização de bactérias com potencial probiótico visando o

    controle de doenças, melhoria do desempenho e ainda, da qualidade da água.

    Alguns produtos comerciais atribuem o nome probiótico a compostos para tratar o

    meio e não para suplementar a dieta dos animais. Verschuere et al. (2000a) especificam

    que na aqüicultura o uso de probióticos pode ter um efeito nos microrganismos

     presentes no ambiente aquático. O autor relata que os gêneros presentes no intestino dos

    hospedeiros parecem ser aqueles microrganismos presentes no ambiente ou no alimento

    que conseguem sobreviver e se multiplicar neste. Esta extensão é pertinente diante da

    complexa interação entre o ambiente e o hospedeiro, pois ambos dividem o mesmo

    ecossistema. Com isto, os probióticos administrados recebem termos relacionados a sua

    função como biocontrole, para o tratamento contra patógenos ou biorremediação para o

    tratamento da qualidade da água (Gatesoupe, 2000).

    Lara-Flores et al. (2003) concluíram que a utilização de Saccharomyces cerevisiae

     para alevinos de tilápia do Nilo como promotor de crescimento levou ao melhor

    desempenho e eficiência alimentar, sugerindo que a levedura é um promotor de

    crescimento adequado no cultivo da tilápia. Entretanto, Meurer et al. (2006) observaram

    que a utilização deste mesmo probiótico em rações para tilápias durante o período de

    reversão sexual promoveu a colonização no intestino, porém não teve efeito sobre o

    desempenho e a sobrevivência em um sistema de cultivo com desafio sanitário.

    Verschuere et al. (2000b) concluíram que a colonização do trato digestório de

     juvenis de  Artemia sp. por uma série de cepas de bactérias específicas preveniram a

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     proliferação de Vibrio proteolyticus e uma série de outros patógenos oportunistas.

     Nikoskelainem et al. (2001), estudando potencial de seis probióticos de uso humano e

    um de uso animal com vistas ao uso em peixes, demonstraram habilidade de adesão à

    mucosa, resistência à bile dos peixes, bem como a supressão do crescimento de

     patógenos como  Aeromonas salmonicida, Vibrio anguillarum, Flavobacterium

     psychrophilum, o que revela a possibilidade do uso destes microrganismos como

     probióticos em peixes.

    2.4 Microorganismos eficazes ou EM-4

    O composto EM-4 ou microorganismos eficazes é o resultado do cultivo de

    microorganismos anaeróbico e aeróbicos e outras dezenas de microorganismos de

    diferentes atuações (leveduras, actinomicetos, fungos, bactérias fotossintéticas e

     bactérias produtoras de ácido láctico), que em sua grande maioria já são utilizados na

    industrialização de alimentos, sendo inofensivos ao homem (FMO, 2006). Os

    microorganismos eficazes podem ser utilizados de várias formas, de acordo com o

    material e equipamento disponível para a utilização, fase da cultura ou preparo de solo.

    Segundo Pegorer et al. (1995) o EM-4 foi desenvolvido no Japão na década de 80

    com a finalidade de melhorar a utilização da matéria orgânica na produção agrícola,

     passando então, a realizar experiências com o EM em várias regiões daquele país.

    Castillo (2005) cita que estes microorganismos vêem sendo utilizado com bons

    resultados em alguns países, como no Japão e Brasil, para melhorar as condições

    químicas, físicas e biológicas do solo, constituindo assim, em um produto agrícola de

     baixo custo, sem afetar o ambiente e o consumidor. O autor cita ainda que este

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    composto pode ser utilizado também para o tratamento de águas residuárias por sua

    habilidade em reduzir compostos tóxicos.

    Silva et al. (2008) avaliaram os parâmetros físico-químicos de efluentes de

     piscicultura e concluíram que níveis de amônia foram reduzidos quando tratados com o

    EM-4, não interferindo porém, nas seguintes variáveis: temperatura, oxigênio

    dissolvido, condutividade elétrica, dureza da água, gás carbônico e alcalinidade. No

     presente estudo o mesmo produto foi utilizado no tratamento da água de viveiros de

     piscicultura com o objetivo de melhorar a qualidade da água e conseqüentemente, obter

    melhor desempenhos dos animais cultivados.

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    3. MATERIAL E MÉTODOS

    3.1 Descrição geral da área de estudo

    O experimento foi conduzido no Setor de Piscicultura, pertencente ao Centro de

    Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, localizado no município de Areia

     – Paraíba (Figura 1), que se encontra na microrregião do Brejo Paraibano. A cidade de

    Areia possui uma área territorial de 247 km² e tem uma altitude aproximada de 623

    metros, distando 92,9713 Km da capital. O clima é do tipo Tropical Chuvoso, com

    verão seco. A estação chuvosa se inicia em janeiro/fevereiro com término em setembro,

    com média pluviométrica anual de 1350 mm.

    Figura 1. Município de Areia localizado no estado da Paraíba. Fonte: wikipédia.

    3.2 Instalações e período experimental

    A pesquisa foi desenvolvida no período de dezembro 2007 a junho de 2008, totalizando

    um período de 182 dias. O trabalho foi conduzido em seis viveiros escavados em

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    terreno natural, com saída e entrada de água individual (Figura 2). Os tanques

    apresentavam profundidade média de 1,0 m e área de 260 m2.

    Figura 2. Vista geral dos viveiros escavados em terreno natural com sistema de abastecimento eescoamento individual.

    3.3 Animais e manejo alimentar

    Os viveiros foram povoados com alevinos de tilápia do Nilo (Oreochromis

    niloticus, linhagem chitralada, revertidos sexualmente a macho, com peso médio inicial

    de 0,87±0,02g e comprimento médio total de 39±2,2 mm. Os peixes foram adquiridos

    de uma fazenda comercial, localizada no município de São Bento, PB.

    Chegando ao local e após aclimatação, os peixes foram contados, pesados em

    lotes e estocados nos viveiros numa densidade de 1,5 peixes/m 2, perfazendo um total de

    390 peixes por viveiro.

    Os peixes foram alimentados com ração comercial extrusada contendo 36 (até

    100g) e 28% de proteína bruta, administrada inicialmente na forma triturada .

    Posteriormente a ração foi fornecida na forma de pelets, na taxa de 5 % da biomassa por

    dia, até que atingissem peso médio de 100g, quando passaram a receber 3% e nos

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    últimos dois meses de cultivo 1,5% do total. A ração foi fornecida três vezes ao dia

    (09:00, 12:00 e 15:00 horas) nos primeiros aos 45 dias de cultivo, passando então a duas

    vezes (09:00 e 15:00h) ou apenas em um horário quando o dia se encontrava chuvoso e

    a temperatura diminuía. Para o fornecimento da ração foi levado em consideração a

    faixa de peso dos animais e a temperatura da água, sendo feito ajustes a cada biometria

     para evitar falta ou desperdício da ração.

    3.4 Manejo geral e parâmetros avaliados

    Antes de iniciar o experimento, os viveiros foram limpos para retirada do excesso de

    sedimento depositado no fundo e, posteriormente, foram drenados e secos ao sol. Após

    a secagem, foram colhidas amostras de solo de cada viveiro para determinação do pH e,

    então, os mesmos foram submetidos à calagem com hidróxido de cálcio, conforme a

    necessidade. Após estas práticas, iniciou-se o abastecimento dos viveiros com água

     proveniente de um açude localizado no próprio Setor e mediante verificação do pH, foi

    realizada uma adubação utilizando superfosfato simples (3,72 kg) e sulfato de amônia

    (1,24 kg) em cada viveiro. O adubo foi aplicado usando-se um saco plástico com

     perfurações para que o fertilizante fosse liberado gradativamente no meio. Uma semana

    após a adubação, os viveiros foram povoados com alevinos de tilápia nilótica

    (Oreochromis niloticus), mantendo uma densidade de estocagem de 1,5 peixes/m2.

    A renovação da água dos viveiros foi realizada uma vez por semana e/ou apenas

    quando detectado níveis baixos de oxigênio dissolvido, numa taxa de 10% do volume

    total. Devido à maior ocorrência de chuvas a partir da metade do experimento, estas

    renovações foram cessadas.

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    Durante o período experimental foram realizadas aplicações do EM-4 numa

    diluição de 1litro:1hectare, duas vezes por semana, para o tratamento da água dos

    viveiros. O pool de microorganismos eficazes é compreendido de microorganismos dos

    gêneros: Saccharomyces sp, Lactobacillus spp, Mucor sp, Streptomyces sp, Rodobacter

    sp. Para a ativação do EM-4 foi necessário o preparo de uma solução mantendo a

    relação de 8:1:1 de água, melaço e EM-4, respectivamente. A ativação do EM-4 ocorre

    após cinco dias, tendo prazo de validade de 7 a 10 dias após o preparo. Após a ativação,

    foi feita a extensão do mesmo (solução de EM-4 ativado:melaço:água na proporção de

    1:1:98) e, completadas 24 horas de fermentação, cerca de 2,6L da solução era

    adicionada em cada viveiro.

    Semanalmente pela manhã (entre 08:00 e 9:30 horas) foram determinadas

    diretamente na água à cerca de 15 cm da superfície dos viveiros as seguintes variáveis:

    temperatura (°C) e oxigênio dissolvido (mg.L-1), com oxímetro digital portátil; pH

    (unidade padrão), com pHmetro digital portátil e condutividade elétrica (mS.cm-1), com

    condutivímetro digital portátil; e amostras de água foram coletadas para determinação

    da dureza (mg.L-1), alcalinidade total (mg.L-1) e gás carbônico (mg.L-1), conforme

    metodologia descrita por Golterman et al. (1978). Dentre os compostos nitrogenados

    avaliados, foram determinados a amônia total e o nitrito através de espectrofotometria

    com kit comercial. Já a turbidez foi determinada utilizando-se o turbidímetro.

    3.4.1 Desempenho dos peixes

    Para acompanhar o desempenho dos peixes, no início do cultivo e a cada 28 dias,

    uma amostra de 15% da população foi capturada com rede de arrasto, para determinação

    do peso do lote (g) em uma balança digital, e comprimento total individual (mm), com

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    ictiômetro para ajuste da taxa de alimentação. Os peixes coletados foram

    acondicionados em baldes plásticos com água e, transportados para realização das

    determinações de comprimento total em milímetros e do peso total em gramas. Após

    esta operação, os peixes foram devolvidos para os viveiros de origem. A biometria foi

    antecedida por 16 horas de jejum.

    Paralelo a esta etapa, foi estudado o desempenho zootécnico (ganho de peso (GP),

    ganho de peso/dia (GPD), ganho em comprimento (GC), sobrevivência (SOB) e fator de

    condição do animal (FC). Estes índices foram obtidos de acordo com as seguintes

    fórmulas:

    a) SOB (%) = (Número de peixes final ÷ Número de peixes inicial) x100

     b) GP (g) = (Peso final – Peso inicial)

    c) GPD (g/dia) = (Peso final – Peso inicial) ÷ Período (dias)

    d) GC (mm) = (Comprimento final – comprimento inicial)

    e) FC = (Peso/Comprimento3) x 100

    Ao final do período de cultivo, foram abatidos 20 peixes por viveiro (60 por 

    tratamento), para avaliação do rendimento de filé com pele (Figura 3). Os peixes foram

    abatidos por choque térmico (imersão em água e gelo, durante 20 minutos),

    descamados, eviscerados, decapitados e lavados, obtendo-se assim o filé. O processo de

    filetagem foi feito em série, ou seja, por mais de uma pessoa.

    A determinação de comprimento dos peixes foi realizada com o auxílio de uma régua

    milimetrada, e a altura com um paquímetro. Os dados de rendimento foram calculados

    em porcentagem, em relação ao peso total do exemplar. Para a análise do rendimento de

    filé foi utilizada a seguinte fórmula:

    Rendimento de filé = Peso do filé / Peso do Peixe Inteiro x 100

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    A BFigura 3. Filetagem (A) e filés de tilápia com pele dispostos em bandeja com gelo (B).

    3.4.2 Análise bromatológica

    Após a obtenção do filé foram utilizados 18 peixes por tratamento, sendo 6 de cada

    unidade experimental, para avaliação da composição bromatológica do filé. As análises

    foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal e Avaliação de Alimentos do

    CCA/UFPB.

    As amostras de filés foram descongeladas em temperatura ambiente, cortados em

     pequenos pedaços e então, colocados em bandejas devidamente pesadas e etiquetadas.

    Em seguida cada bandeja com a amostra úmida foi pesada e levada para estufa a 60 oC,

    durante cinco dias. Após isto, as amostras foram trituradas em moinho tipo Wiley e

    armazenadas em potes plásticos para determinação dos teores de umidade (estufa a 105

    oC, até peso constante), proteína bruta (método de Kjeldahl), gordura bruta (método de

    Soxleth) e cinzas em mufla a 550

    o

    C, até peso constante conforme metodologia descrita por Silva (2002). Os valores obtidos representam a média de duas determinações por

    amostra. Os dados foram calculados em porcentagem com base na matéria seca.

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    22

    3.4.3 Análise Sensorial

    A análise sensorial foi realizada por 50 provadores não-treinados, no Setor de

    Tecnologia Química e de Alimentos da UFPB. Foi utilizada uma ficha (Figura 4) com

    escala hedônica de 9 pontos, tendo como extremos 1 (desgostei muitíssimo) e 9 (gostei

    muitíssimo).

    A avaliação sensorial foi conduzida segundo o delineamento em blocos

    casualizados, com dois tratamentos. Cada julgador recebeu duas amostras, sendo uma

    de cada tratamento, que avaliaram os atributos odor, cor, sabor, textura e avaliação geral

    do produto. Os filés congelados foram grelhados em chapa elétrica e servidos aos

     julgadores em potes descartáveis com tampa, devidamente identificados com números

    aleatórios de três algarismos (Figura 5). Antes de cada teste, os julgadores receberam

    orientação do método e procedimento da avaliação. A análise dos dados foi efetuada

     pela comparação dos valores obtidos em cada atributo para cada amostra analisada.

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    23

    Avaliação Sensorial de Filés de Tilápia

     Nome: ____________________________________________ Data: _____/ _____/ ______ 

    Você está recebendo 02 amostras codificadas de peixe para avaliar. Antes da avaliação, você deverá fazer o uso de água e da bolacha. Prove asamostras e escreva o valor da escala que você considera correspondente à amostra (código).

    1. Observe cada amostra avaliando o seu ODOR e escreva o valor da escala correspondente à amostra.

    9- gostei muitíssimo8- gostei muito

    7- gostei moderadamente6- gostei ligeiramente5- nem gostei/nem desgostei4- desgostei ligeiramente3- desgostei moderadamente2- desgostei muito1- desgostei muitíssimo

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    2. Avalie a COR do peixe e anote o valor da escala correspondente à amostra.

    9- gostei muitíssimo8- gostei muito7- gostei moderadamente6- gostei ligeiramente5- nem gostei/nem desgostei4- desgostei ligeiramente3- desgostei moderadamente2- desgostei muito1- desgostei muitíssimo

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    3. Avalie o SABOR, degustando cada amostra, e escreva o valor da escala correspondente.

    9- gostei muitíssimo8- gostei muito7- gostei moderadamente6- gostei ligeiramente5- nem gostei/nem desgostei4- desgostei ligeiramente3- desgostei moderadamente2- desgostei muito1- desgostei muitíssimo

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    4. Agora, deguste a amostra avaliando a TEXTURA e escreva o valor da escala correspondente à amostra.

    9- gostei muitíssimo8- gostei muito7- gostei moderadamente6- gostei ligeiramente5- nem gostei/nem desgostei4- desgostei ligeiramente3- desgostei moderadamente

    2- desgostei muito1- desgostei muitíssimo

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    5. Agora, faça uma AVALIAÇÃO GLOBAL e anote o valor da escala correspondente à amostra.

    9- gostei muitíssimo8- gostei muito7- gostei moderadamente6- gostei ligeiramente5- nem gostei/nem desgostei4- desgostei ligeiramente3- desgostei moderadamente2- desgostei muito1- desgostei muitíssimo

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    6. Indique sua atitude ao encontrar este peixe no mercado.

    5- compraria4- possivelmente compraria3- talvez comprasse/talvez não comprasse2- possivelmente não compraria

    1- jamais compraria

    Código da Amostra

     ________________ 

     ________________ 

    Valor da Escala

     ______________ 

     ______________ 

    7. Escreva entre parêntese o código da amostra conforme a sua preferência.

    ( ) Primeiro ( ) Segundo

    Muito obrigado por participar de nossa pesquisa com pescado!

    Figura 4. Ficha de avaliação sensorial dos filés de tilápia.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    36/63

    24

    A BFigura 5. Filés na chapa (A) e disposição das amostras na cabine sensorial (B).

    3.5 Delineamento experimental e análises estatísticas

    O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado (DIC), num esquema

    de parcela subdividida no tempo (Split Plot in Time), onde foram testados dois

    tratamentos (com e sem EM-4), com três repetições cada, totalizando seis parcelas.

    Cada viveiro povoado constituiu em uma unidade experimental.

    Os dados referentes à qualidade da água, rendimento de filé e composição

     bromatológica foram submetidos ao teste F para análise de variância e as médias,

    quando diferentes significativamente, foram comparados pelo teste Tukey (P

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    37/63

    25

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    4.1 Parâmetros físico e químicos da água dos viveiros

    A avaliação dos níveis de qualidade da água para peixes, incluindo oxigênio

    dissolvido (O2D), temperatura, pH, amônia, gás carbônico (CO2) e dureza, entre outros

    fatores, são importantes para se prever como estão as condições ambientais para a vida

    destes. Ao longo do período de criação a qualidade da água irá depender da condição

    inicial da mesma, da quantidade de ração fornecida e do manejo geral utilizado

    (adubação, renovação, etc). Os resultados da análise de variância e coeficientes de

    variação dos parâmetros limnológicas, frente ao uso de microorganismos eficazes (EM-

    4) como probiótico, são apresentados na Tabela 1.

    A análise de variância não demonstrou efeito significativo entre os tratamentos

    (com probiótico ou sem probiótico) sobre as variáveis físico e químicas da água

    analisadas bem como para a interação entre tratamentos e semanas (p>0,05). Entretanto

    houve diferença significativa (p

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    38/63

    26

    A temperatura da água (Figura 6) dos viveiros variou entre 24,9 e 28,1°C, ficando

    durante algumas semanas abaixo dos limites adequados para o conforto térmico da

    tilápia, que pode ser alcançado dentro da faixa de temperatura entre 27 e 32°C (Kubitza,

    2003). Porém, considerando que o período de coleta era realizado pela manhã (entre

    08:00 e 9:30h), esta condição não permitia grande acúmulo de calor proveniente da

    radiação solar.

    23,0

    24,0

    25,0

    26,0

    27,0

    28,0

    29,0

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

       T   e   m

       p   e   r   a   t   u   r   a

        (                °

        C    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    Figura 6. Valores médios da temperatura da água dos viveiros tratados ou não com EM-4.

    Com relação às concentrações de oxigênio dissolvido (mg/L) foi verificada uma

    redução no decorrer do experimento (Figura 7A), chegando a atingir valores de até 2,99

    mg/L. As tilápias suportam baixas concentrações de oxigênio, adaptando-se bem à

    hipóxia (Kubitza, 2003), contudo esta prática de cultivo deve ser evitada para que a

     produção não seja prejudicada.

    A partir da 20ª semana, devido à maior ocorrência de chuvas, com conseqüente

    maior entrada de água nos viveiros, os níveis de OD permaneceram acima de 4 mg/L,

    faixa esta recomendada para um melhor desenvolvimento dos peixes.

    As concentrações de gás carbônico (Figura 7B), ao longo do período de cultivo,

    variaram entre as coletas (p

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    39/63

    27

    Apresentando perfil inverso ao oxigênio dissolvido, os níveis de CO2 decresceram nas

    últimas semanas de cultivo em ambos os tratamentos.

     No início da manhã, o nível de dióxido de carbono é normalmente mais alto e isso

    é resultado da respiração que ocorre durante a noite, porém com o aumento da

    incidência solar e, conseqüentemente, da taxa fotossintética, este quadro é invertido.

    A redução do oxigênio e o aumento do gás carbônico podem ser atribuídos a uma

    diminuição da taxa fotossintética, principalmente nos dias nublados. incremento da

     biomassa e, conseqüentemente aumento da quantidade de ração fornecida aos peixes,

    aumento da produção de dejetos e decomposição da matéria orgânica são outros fatores

    que também podem ter contribuído para a redução destas variáveis.

    0,00

    2,00

    4,00

    6,00

    8,00

    10,00

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

        O

       x    i   g    ê   n    i   o 

        d    i   s   s   o    l   v    i    d   o 

        (   m

       g    /    L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 co m EM-4

    A

    3

    6

    9

    12

    15

    18

    21

    24

    1 3 5 7 9 11 1 3 1 5 1 7 1 9 2 1 2 3 2 5

        G

        á   s

       c   a   r   b    ô   n   i   c   o 

        (   m

       g    /   L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    BFigura7. Valores médios do oxigênio dissolvido (A) e gás carbônico (B) da água dos viveiros tratados

    ou não com EM-4.

    O pH também foi decrescendo de acordo com os dias de cultivo (p

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    40/63

    28

    registrado pH abaixo desta faixa, na maior parte do período de cultivo os valores

    estiverem dentro do recomendado não comprometendo o desempenho das tilápias.

    A alcalinidade total (mg/L) da água (Figura 9B) permaneceu dentro da faixa

    recomendada para a criação de peixes de água doce, embora os valores nos viveiros sem

    EM-4 estiveram mais próximos aos valores indicados para um bom desenvolvimento

    dos animais, entre 200 e 300 mg CaCO3/L, (Sipaúba-Tavares, 1994; Moreira et

    al.,2001). Do mesmo modo que o pH da água, a alcalinidade também foi reduzida nas

    últimas semanas de cultivo, o que certamente é um reflexo da diluição das bases, pela

    entrada de água nova. Podemos dizer ainda, que as concentrações de alcalinidade

    estiveram ao longo do tempo associadas a liberação de gás carbônico pela

    decomposição da matéria orgânica.

    Durante o experimento a condutividade elétrica (mS/cm) apresentou um crescente

    aumento até a 16ª semana de cultivo (figura 9C), sendo verificado maior valor na 13ª

    semana, nos viveiros sem tratamento (403 mS/cm). Como até este período a água dos

    viveiros era renovada apenas uma vez por semana e/ou apenas quando os níveis de

    oxigênio estavam baixos, isto provavelmente contribuiu para o acúmulo de íons,

    oriundos da mineralização dos restos de ração e das excretas dos peixes na água, bem

    como da manipulação de fertilizantes químicos no viveiro, aumentando assim os

    micronutrientes em suspensão. Uma maior precipitação pluviométrica (Figura 8)

    ocorrida após este período certamente foi um dos fatores que mais contribuiu para a

    redução desta variável.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    41/63

    29

    Figura 8. Variação média da precipitação pluviométrica durante o período de cultivo no município deAreia-PB. Fonte: Estação meteorológica da UFPB, Areia.

    Pereira et al. (1999), estudando algumas variáveis limnológicas em tanques de

    cultivo de Camurim (Centropomus undecimalis) no Brejo paraibano, também

    verificaram que a precipitação pluviométrica provocou uma diminuição nos níveis de

    alcalinidade total, dureza e condutividade elétrica da água. Alguns autores também

    destacaram a influência dos índices pluviométricos sobre ambientes aquáticos na

    alteração da qualidade óptica da água (Bastos et al., 2005).

    Para a criação de peixes é desejável que a condutividade esteja entre 20 a 100

    mS/cm (Moreira et al., 2001). Todos os viveiros apresentaram valores acima do

    recomendado, indicando assim, elevado nível de decomposição de materiais em

    suspensão durante o cultivo.

      As concentrações de dureza (Figura 9D) variaram de 28 a 69 mg CaCO3/L, ficando

    acima do valor mínimo recomendado para a criação de peixes de água doce .

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    42/63

    30

    5,0

    5,5

    6,0

    6,5

    7,0

    7,5

    8,0

    8,5

    9,0

    1 3 5 7 9 11 1 3 15 1 7 1 9 2 1 23 25

       p   H

         (   u   n   i   d   a   d   e

       p   a   d   r   ã   o    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    A

    0

    40

    80

    120

    160

    200

    240

    1 3 5 7 9 11 1 3 15 17 1 9 2 1 2 3 25

       A   l   c   a

       l   i   n   i   d   a   d   e

       t   o   t   a   l    (   m

       g    /   L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    B

    0,100

    0,140

    0,180

    0,220

    0,260

    0,300

    0,340

    0,380

    0,420

    1 3 5 7 9 11 13 1 5 1 7 1 9 2 1 2 3 2 5

        C   o   n   d

       u   t   i   v   i   d   a   d   e

       e   l    é   t   r   i   c   a

        (   m

        S    /   c   m

        )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM -4 c om E M- 4

    C

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    1 3 5 7 9 11 1 3 1 5 1 7 1 9 2 1 2 3 2 5

       D   u   r   e   z   a

        (   m

       g    /   L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    DFigura 9. Valores médios do pH (A), alcalinidade total (B), condutividade elétrica (C) e dureza (D) da

    água dos viveiros tratados ou não com EM-4.

    As concentrações de amônia total (Figura 10A) até a 14ª semana de cultivo

    variaram entre valores próximos ou iguais a zero e, a partir deste período foi verificado

    um aumento em ambos os tratamentos. Os maiores picos foram detectados nos viveiros

    sem tratamento, ocorrendo na 15ª e 21ª semana de cultivo 1,059 e 1,024 mg/L,

    respectivamente.

    Zimmo et al. (2004) relatam que níveis acima de 0,5 mg/L de amônia total (NH 4 e 

     NH3) geralmente são prejudiciais a criação de peixes, podendo levar a incapacidade de

    transformar a energia alimentar em ATP. Kubitza (2000) completa que altas

    concentrações deste composto pode tanto prejudicar o desenvolvimento dos peixes,

    como aumentar a incidência de doenças e até mesmo causar a morte indireta dos

    mesmos por intoxicação.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    43/63

    31

     Neste experimento, apesar de ter ocorrido durante algumas semanas níveis de

    amônia considerados letais, não foi verificado nenhuma mortalidade. Como os valores

    de pH estavam abaixo de 8, isto provavelmente influenciou para que as proporções do

    íon amônio (forma menos tóxica) fossem maiores que os níveis de amônia tóxica (NH3).

    Os valores de nitrito (mg/L) se mantiveram abaixo do limite considerado sub-

    letal (0,30 a 0,50 mg/L) para a criação de peixes (Figura 10B). Embora tenha ocorrido

    diferenças significativas entre as coletas (p>0,01), não se observou uma clara tendência

    de aumento ou diminuição deste composto em relação a concentração inicial.

    Supõe-se que o aumento ou diminuição nos valores de nitrogênio podem estar

    relacionados a uma variação quanti-qualitativa do fitoplâncton.

    -0,100

    0,100

    0,300

    0,500

    0,700

    0,900

    1,100

    1 3 5 7 9 11 13 1 5 17 19 21 23 25

       A   m

        ô   n   i   a

        (   m

       g    /   L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    A

    0,000

    0,050

    0,100

    0,150

    0,200

    0,250

    1 3 5 7 9 11 1 3 15 17 19 21 2 3 2 5

       N   i   t   r   i   t   o     (

       m

       g    /   L    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 com EM-4

    BFigura 10. Valores médios da amônia (A) e nitrito (B) da água dos viveiros tratados ou não com EM-4

    A turbidez da água dos viveiros (Figura 11) aumentou do início ao final do

    experimento, apresentando uma variação de 18,48 a 95,35 NTU nos viveiros sem EM-4

    e 37,95 a 109,32 NTU nos viveiros com EM-4. O aumento da turbidez pode ter sido

    gerado pela concentração de materiais em suspensão originados do próprio ambiente

    (partículas do solo, plâncton e detritos) ou introduzido pela alimentação. Em certos

    casos, este aumento pode interferir na penetração da luz, provocando distúrbios ao meio

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    44/63

    32

    como a falta de oxigenação das águas pelos organismos fotossintetizantes,

     principalmente quando é causada por partículas de argilas em suspensão.

    Segundo Epa (1972) não há critérios totalmente definidos para concentrações

    limites entre o que seria prejudicial ou não à vida dos peixes, mas é possível manter de

    moderado a bom estoque de peixes em águas contendo normalmente de 25 a 80 NTU.

    0,00

    20,00

    40,00

    60,00

    80,00

    100,00

    120,00

    1 3 5 7 9 11 1 3 15 17 19 21 23 25

       T   u   r   b   i   d   e   z    (   N   T   U    )

    Período de cultivo (semanas)

    sem EM-4 c om EM-4

    Figura 11. Valores médios da turbidez da água dos viveiros tratados ou não com EM-4

    A multiplicidade de uso das águas continentais, aliada à sua escassez em algumas

    regiões, têm tornado a aqüicultura um dos alvos preferidos dos órgãos de controle

    ambiental, havendo imposição de regras quanto ao uso, reuso e eliminação das suas

    águas residuárias. Daí a necessidade de se planejar e conduzir a piscicultura com

    seriedade e competência, buscando sempre alternativas para minimizar o impacto

    gerado pela atividade.

    Os valores apresentados demonstram que algumas características devem ser

    melhoradas, a fim de se obter melhor qualidade da água, no caso de reutilização dos

    efluentes ou lançamento ao meio ambiente, com menor quantidade de contaminantes,

     principalmente ao analisarmos os valores da condutividade elétrica, que dão indícios de

    aumento da eutrofização da água.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    45/63

    33

    A falta de renovação contínua da água certamente foi um dos fatores que mais

    contribuiu para o declínio da qualidade da água, já que este tipo de manejo tem por

    finalidade carrear o excesso de matéria orgânica que fica depositada no fundo dos

    viveiros, diminuindo assim, os processos de decomposição que consomem o oxigênio.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    46/63

    34

    4.2 Desempenho e composição bromatológica da tilápia do Nilo

    Os resultados do desempenho da tilápia do Nilo, avaliado por meio da

    determinação de ganho de peso (g), ganho de peso diário (g), taxa de sobrevivência (%),

    ganho em comprimento (mm) e peso final (g) são apresentados na Tabela 2.

    Tabela 2. Valores médios e desvios padrão do desempenho produtivo da tilápia do Nilo

    cultivadas em viveiros tratados ou não com EM-4.

    Variáveis TratamentosSem EM-4 Com EM-4

    Peso médio final (g) 484,02±41,00 474,98±26,16

    Ganho de peso (g) 483,14±41,01 474,12±26,15Ganho de peso/dia (g) 2,65±0,23 2,60±0,14Ganho comprimento (mm) 249,03±7,28 244,72±8,62Sobrevivência (%) 99,88±0,82 98,63±1,04

    * Os valores médios obtidos não diferem pelo teste de Kruskal-Wallis.

    As médias observadas para o desempenho da tilápia quando cultivadas nos

    viveiros com ou sem tratamento não apresentaram diferenças significativas (P>0,05),

    sendo que numericamente, os menores valores foram observados para os peixes

    submetidos ao tratamento com EM-4, exceto aos 145 dias de cultivo, como pode ser

    observado na figura 12A. As baixas concentrações de O2D e teor de amônia alto,

    ocorridos nas semanas que antecederam esta biometria provavelmente resultaram em

    condições de estresse aos peixes, de modo que os microorganismos, neste período,

     puderam atuar de forma eficaz, melhorando o desempenho dos animais. Lima et al.

    (2003) cita que quando os animais são mantidos em boas condições de manejo

    (nutricionais e sanitárias), muitas vezes não são constatados a ação do probiótico sobre

    o desempenho destes.

  • 8/16/2019 Utilizaçao de Microorganismos Eficazes Como

    47/63

    35

    0,00

    50,00100,00

    150,00

    200,00

    250,00

    300,00

    350,00

    400,00

    450,00

    500,00

    0 14 28 42 56 84 112 145 182

        P   e   s   o    (   g    )

    Período de cultivo (dias)

    Sem EM-4 Com EM-4

    A

    0,00

    50,00

    100,00

    150,00

    200,00

    250,00

    300,00

    0 14 28 42 56 84 112 1 45 1 82

        C   o   m

       p   r    i   m

       e   n   t   o    (   m

       m

        )

    Período de cultivo (dias)

    Sem EM-4 Com EM-4

    BFigura 12. Valores médios do peso (g) e comprimento (mm) da tilápia do Nilo cultivada em viveiros

    tratados ou não com EM-4.

    Os valores de sobrevivência e desempenho estão de acordo com os apresentados

     por Meurer et al. (2006) que não encontraram efeito da inclusão de S.cerevisiae em

    rações para a tilápia do Nilo durante a fase de reversão sexual, sobre os parâmetros

    anteriormente citados. Entretanto, discordam dos valores de desempenho e

    sobrevivência apresentados por Lara-Flores et al. (2002) que verificaram que os

    animais tratados com probióticos e antibióticos apresentaram maiores taxas de

    sobrevivência comparadas aos do grupo controle, e os peixes tratados somente com

     probiótico alcançaram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar comparado

    aos demais tratamentos (controle e antibiótico). Carnevali et al. (2004) também

    encontraram um efeito positivo da adição dos probióticos L. plantarum e L. fructivorans

    sobre a sobrevivência de larvas do dourada (Sparus aurata).

    Os valores médios do peso e comprimento do peixe inteiro, peso de filé e fator de

    condição dos animais não diferiram (P>0,05), enquanto o rendimento de filé foi

    superior nos animais cultivados nos viveiros tratados, indicando que a utilização do probiótico proporcionou uma quantidade de massa muscular maior em relação ao peso

    corporal (Tabela 3). Do ponto de vista econômico o aumento substancial do rendimento

    de filé é de grande importância.

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    Um dos fatores que pode ter contribuído para um maior rendimento de filé dos

    animais mantidos nos viveiros, pode estar relacionado a um aumento nas atividades de

    enzimas específicas ao longo do trato gastrointestinal, como relatado por Suzer et al.

    (2008) quando avaliaram lactobacilos ssp. como probiótico em alevinos de dourada. Os

    autores reportam que o aumento da atividade enzimática pode está relacionado com um

    aumento da digestão e absorção do alimento.

    Mikulec et al. (1999) quando avaliaram diferentes quantidades de proteína na

    dieta de frangos de corte demonstraram a influência favorável que os probióticos têm

    sobre o crescimento da massa corporal e melhora na conversão alimentar quando o nível

    de proteína bruta da dieta é deficiente. Segundo o autor a adição de probióticos na dieta

     poderia promover redução da quebra da proteína a nitrogênio, aumentando a utilização

    de proteínas (aminoácidos), particularmente do alimento que não o contém em

    quantidades desejáveis. Portanto, uma melhor utilização desse nutriente pelos animais

    teria proporcionando melhor resultado.

     Na Tabela 3, ainda pode ser observado a existência de uma correlação linear entre

    o peso do filé e o peso do peixe, não refletindo no rendimento de filé.

    Tabela 3. Valores médios do desempenho e rendimento de filé de tilápias cultivadas em

    viveiros tratados ou não com EM-4.

    Variáveis Tratamentos CV (%)Sem EM-4 Com EM-4

    Peso do peixe inteiro (g) 594,67a 569,83a 13,93Comprimento final (cm) 31,05a 30,49a 7,68Peso Filé (g) 231,00a 228,33a 15,69

    Rendimento Filé (%) 38,93b 40,06a 5,80Fator de condição 1,98a 1,94a 8,60*Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

    Faria et al. (2003) avaliaram o rendimento do filé com pele da tilápia do Nilo e

    encontraram resultados semelhantes (39,21%) a este estudo. Conforme Contreras-

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    Gusmán (1994), os valores de rendimento de filé com pele variam de 32,8% e 59,8%,

    com uma média de 50,5%, porém os peixes compridos estão entre as espécies de

    rendimentos mais baixos, inferiores a 42%. Economicamente as tilápias são

    consideradas, quando comparadas com outros peixes cultivados, como sendo as de

    menor rendimento de filetagem, entre 30 a 33% (Clement e Lovell, 1994).

    Os resultados do fator de condição, que indica o grau de bem estar dos peixes,

    refletem boas condições de crescimento dos peixes em ambos os tratamentos. Com isto,

     podemos inferir que mesmo com um declínio da qualidade da água o crescimento dos

    animais não foi afetado, demonstrando também a capacidade da tilápia em se adaptar

    rapidamente as condições do meio. Marengoni et al. (2008) obtiveram valores do fator

    de condição semelhantes a este estudo quando avaliaram o desempenho produtivo de

    tilápia vermelha submetida à dieta contendo probiótico na fase de alevinagem.

    A falta de efeito significativo da inclusão do probiótico na água sobre o

    desempenho dos animais pode ser explicada pelo fato de que os animais, como já

    mencionado, aparentemente se apresentavam em bom estado de saúde, o que diminui o

    contato destes animais com os microorganismos potencialmente patogênicos. Porém,

     para constatação da presença ou ausência destes microorganismos seria necessária a

    realização de análises microbiológicas da água de cultivo e dos animais. A baixa

    densidade populacional é outro fator que pode ter contribuído para a ausência de efeito

    da adição do EM-4.

    Lara-Flores et al. (2003) avaliaram dois tipos de probióticos (Saccharomyces

    cerevisiae e uma mistura de Streptococcus faecium e Lactobacillus acidophilus) e

    concluíram que esta adição proporcionou um melhor desempenho de alevinos de tilápia

    quando expostos a fatores estressantes, a baixa percentagem de proteína na ração e à

    maior densidade populacional, após um período experimental de nove semanas de

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    cultivo, discordando com os dados obtidos neste trabalho. Esta situação de estresse

    imposta pelos autores, provavelmente foi o diferencial entre os resultados obtidos nos

    referidos estudos.

     Na tabela 4 é apresentada a composição bromatológica dos filés de tilápia. Os

    valores médios de matéria seca, umidade, proteína, cinza e extrato etéreo não

    apresentaram diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos.

    Tabela 4. Teores médios e desvios padrão da composição bromatológica dos filés de

    tilápias cultivadas em viveiros tratados ou não com EM-4.

    Variáveis Tratamentos CV (%)

    Sem EM-4 Com EM-4Matéria seca (%) 18,77±0,85 18,85±0,76 4,29Umidade (%) 81,23±0,85 81,15±0,76 0,99Proteína (%) 16,14±0,60 16,19±0,61 3,76Extrato etéreo (%) 1,03±0,30 1,05±0,27 25,69Cinzas (%) 1,18±0,07 1,03±0,08 7,31

    De forma geral, a composição química dos filés de tilápias apresentou teores

    dentro das faixas citadas por diversos autores (Contreras-Gúzman, 1994), em que os

    valores de umidade de tilápias variaram de 74 a 82,4%; cinzas, 0,7 a 3,1%; proteína,

    14,3 a 22,3% e gordura de 0,3 a 5,5%.

    Os teores de umidade, proteína, extrato etéreo e cinzas encontrados neste

    experimento são próximos aos encontrados nos filés de tilápias por Hisano et al. (2007)

    (81,64, 16,39, 0,98 e 1,12%, respectivamente) quando avaliaram o desempenhos de

    alevinos alimentados com levedura e derivados . Segundo Ogawa & Maia (1999) os

     peixes apresentam de 70 a 85% de umidade. Quanto ao teor de gordura conforme

    Ackman(1989) podem ser classificados em: magros (menos de 2% de gordura); de

     baixo teor (2-4% de gordura); medianamente gordos (4-8% de gordura) e altamente

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    gordos (mais de 8% de gordura). De acordo com esta classificação, as tilápias deste

    experimento foram consideradas peixes magros.

    A utilização de probióticos na aqüicultura vem sendo, na maioria das vezes,

    realizada de forma empírica (Balcázar et al., 2006), com resultados inconclusivos.

    Poucos são os trabalhos envolvendo a inclusão de probióticos no cultivo da tilápia do

     Nilo e, sobretudo quando adicionados diretamente na água. A ausência de efeitos

     benéficos pode estar relacionada com o nível de estresse do animal, a adaptação da

    microbiota aquática e animal ao composto adicionado, a espécie cultivada, entre outros.

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    4.3 Análise sensorial

    O resultado da análise do perfil sensorial hedônico encontra-se na Tabela 5.

    Tabela 5. Valores médios atribuídos pelos provadores às amostras dos filés de tilápia

    cultivadas em viveiros tratados ou não com EM-4

    Variáveis TratamentosSem EM-4 Com EM-4

    Odor 6,20 ± 1,54 a 5,88±1,90 a

    Cor 6,56± 1,70a 6,38±1,72a

    Sabor 7,18± 1,63 a 6,94 ± 1,70a

    Textura 7,56± 1,32a 7,02± 1,49Avaliação geral 7,16± 1,57a 6,78± 1,54Aceitação mercado 4,04± 1,65a 3,82±1,08a

    *Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem pelo teste de Qui-quadrado;  Média ± desvio padrão.

    De acordo com os resultados da avaliação sensorial dos filés de tilápia, observou-

    se diferença significativa entre tratamentos somente em relação aos atributos textura e

    avaliação geral do produto. As notas para o atributo textura variaram de 7,02 (com EM-

    4) a 7,56 (sem EM-4), situando-se na escala “gostei moderamente” a “gostei muito”,

    enquanto que na avaliação geral do produto variaram de 6,78 (com EM-4) a 7,16 (sem

    EM-4), situando-se na escala “gostei ligeiramente” a “gostei muito”. Porém vale

    salientar que todos os atributos analisados se enquadram em padrões aceitáveis de

    qualidade (notas maiores que 3).

    A maioria dos provadores comentou que os filés submetidos ao tratamento com

    EM-4 apresentavam textura pouco firme quando comparado aos sem tratamento, o que

    demonstra que embora o sabor seja umas das características mais importantes para a

    aceitação do consumidor, a textura é igualmente relevante, quando aliada ao sabor

    suave, considerando os consumidores que não consomem pescado com muita

    freqüência (Chambers e Robel, 1993).

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    A textura do músculo do pescado pode ser afetada por diversos fatores, como a

    espécie, composição química, idade, condições de manuseio, processamento e

    estocagem, bem como a estrutura das fibras e tecidos conectivos (Dunajski, 1979).

    Apesar de não ter ocorrido diferença estatística na aceitação do produto no

    mercado, a escala dos filés com EM-4 variou de “talvez comprasse” a “possivelmente

    compraria” enquanto que os filés sem tratamento situaram-se na escala de

    “possivelmente compraria” a “compraria”, sendo o atributo textura um dos fatores que

    mais influenciou, mediante comentários dos provadores, para este resultado.

    O consumidor, em princípio, observa a aparência, cor, aroma, ou seja, as

    características mais atrativas do produto, todavia como já mencionada o sabor e a

    textura irão determinar a avaliação geral e definir a compra ou não do produto. Vale

    salientar que as informações organolépticas do produto devem ser analisadas juntamente

    com as resultados provenientes das análises físico-químicas e microbiológicas.

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    5. CONCLUSÕES

    Diante das condições experimentais e com base nos resultados obtidos, pode-se

    concluir que:

    Ao final do período de criação quedas na qualidade da água foram

    observadas em ambos os tratamentos e medidas de manejo devem ser

    adotadas para melhoria desta qualidade.

    O uso de micr