115

v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista Intertox da Toxicologia, Risco Ambiental e Meio Ambiente: http://www.intertox.com.br

Citation preview

Page 1: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo
Page 2: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Editorial

_______________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 8-112, jun. 2016

Finalizamos o primeiro semestre do ano de 2016 com o número 2 do volume 9 da

Revinter, e assim como a mudança de estações e o passar dos meses, a Revista

Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade aparece com uma nova faceta e

gerenciamento, sempre visando à expansão das informações aqui publicadas e à

constante construção do conhecimento multidisciplinar entre nossos autores e

leitores.

A explosão informacional e o desenvolvimento da indústria moderna, iniciados ao

fim da segunda guerra mundial, definiram o novo século como uma prévia da era

das máquinas, em que os computadores, smartphones e tablets tornaram-se nossos

novos melhores amigos. Longe de ser somente uma forma de entretenimento, o

advento da internet revolucionou a forma como informamos e somos informados. O

país sem lei, que é a rede mundial de computadores, tornou o compartilhamento de

dados algo instantâneo e disponível para todos. Se o medo do roubo de informações

pessoais e a invasão de personal computers é uma ameaça que causa pesadelos em

qualquer usuário moderno, a expansão de conhecimento científico global e a troca de

informações entre pesquisadores do mundo todo é um sonho que se torna real.

Paul Otlet, um dos criadores do CDU (Sistema de Classificação Decimal Universal),

um dia sonhou com uma grande biblioteca onde pudesse reunir um exemplar de

cada obra já publicada. Otlet não viveu o suficiente para ver seu sonho nascer no

ambiente digital, solucionando o problema de espaço físico, e tendo nas bases de

dados de periódicos científicos a reunião do conhecimento universal de alta

qualidade em um único link.

A Revinter, nascida do sonho de um mundo sem risco químico, toxicológico e

ambiental, caminha com passos largos para tornar-se disponível e acessível a todos,

aderindo à plataforma OJS (Open Journal System) como mais uma ferramenta de

divulgação e disponibilidade, mas também seguindo os critérios definidos pelas

instituições de pesquisa brasileira para acender no universo dos periódicos

científicos.

Page 3: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Editorial

_______________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 8-112, jun. 2016

Nesse número publicamos: uma importante revisão de trabalhos a respeito da

toxicidade do níquel e seus compostos, interessantes e novos artigos originais que

levantam problemas de saúde coletiva e meio ambiente, além de análises

toxicológicas e caracterização de perfis em Centros de Assistência Toxicológica.

Sempre pretendendo a qualidade de seu conteúdo, e permitindo a publicação sem

custos para os autores, a Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e

Sociedade encontra-se aberta para qualquer pesquisador que esteja interessado em

tornar-se um de nossos colaboradores, como autor ou avaliador.

Encerramos esse editorial realizando o convite rotineiro, para que os interessados

entrem em contato com a bibliotecária responsável, Andrezza Camera, através do

e-mail: [email protected].

Uma boa leitura, e até outubro.

Andrezza Catharina Camera

Bibliotecária Responsável

São Paulo, 24 de Junho de 2016

Page 4: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

ISSN 1984-3577

São Paulo, v. 9, n. 2, jun. 2016

2016 Intertox

Page 5: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

_______________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-112, jun. 2016

Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado.

meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro.

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.

As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos

respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.

Seções

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS II; FARMÁCIA (ANÁLISE TOXICOLÓGICA); CIÊNCIAS

AGRÁRIAS I (AGRONOMIA); MEDICINA; SAÚDE COLETIVA; BIODIVERSIDADE;

INTERDISCIPLINAR

Idiomas de Publicação

Português e Inglês

Contribuições devem ser enviadas para <[email protected]>.

Disponível em: <http://www.revistarevinter.com.br>.

Normalização e Produção Web site

Henry Douglas

Capa

Henry Douglas

Projeto Gráfico

Henry Douglas

Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 (11) 3868-6970

http://www.intertox.com.br / [email protected]

RevInter – Revista de Toxicologia,

Risco Ambiental e Sociedade / Intertox – v. 9, n. 2, (jun. 2016).- São

Paulo: Intertox 2016.

Quadrimestral

ISSN: 1984-3577

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade

Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.

Biblioteca InterTox II. Título.

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade

Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.

Biblioteca InterTox II. Título.

Page 6: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

_______________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-112, jun. 2016

Expediente

Editor Coordenador Conselho Editorial Científico (2011-2013)

Fausto Antonio de Azevedo Alice A. da Matta Chasin

Bibliotecária Mestre em Toxicologia USP, Diretor Executivo Doutora em Toxicologia (USP)

De Expansão Internacional Intertox.

Bibliotecária Responsável

Andrezza Catharina Camera

Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da

informação pela FESPSP

Comitê Científico (2011-2013)

Irene Videira Lima

Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal

Toxicologista do IML-SP por 22 anos.

Marcus E. M. da Matta

Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina

USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP).

Engenheiro Ambiental e Turismólogo.

Moysés Chasin

Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP

especializado em Laboratório de Análises

Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública.

Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe

especial e Diretor no Serviço Técnico de

Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal

da SSP/São Paulo. Diretor executivo da

InterTox desde 1999.

Ricardo Baroud

Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor

Científico da PLURAIS Revista

Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA

Revista Baiana de Tecnologia.

Eduardo Athayde

Coordenador no Brasil do WWI - World Watch

Institute

Eustáquio Linhares Borges

Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da

Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-

Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.

Fausto Antonio de Azevedo

Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral

do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,

ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário

do Planejamento, Ciência e Tecnologia do

Estado da Bahia.

Isarita Martins

Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises

Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em

Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica-

Bioquímica Universidade Federal de Alfenas

MG.

João S. Furtado (In Memoriam)

Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado

(Universidade da Carolina do Norte, Chapel

Hill, NC, EUA).

José Armando-Jr

Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP),

Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF).

Sylvio de Queiroz Mattoso

Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do

CEPED-BA.

GGiillbbeerrttoo SSaannttooss CCeerrqquueeiirraa

Laboratório de Anatomia Universidade Federal

do Piauí, CSHNB e Professor Adjunto do curso

de Nutrição do Campus Senador Helvídio

Nunes de Barros – Universidade Federal do

Piauí. CSHNB Programa de Pós-Graduação em

Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal

do Piauí.

Page 7: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

_______________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-112, jun. 2016

Sumário

BIODIVERSIDADE

Perfil das admissões no Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba

(CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas 8

Toxicologia do Níquel 36

Quantificação de nitrato e nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa

comercializadas em Picos-PI 55

Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por cromatografia líquida de

alta eficiência 68

Características Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações

Ambientais 79

Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de Picos – Piauí 99

Page 8: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

8

Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba

(CEATOX-PB) motivada por acidentes com

aranhas

Profile of admissions to Toxicological Assistance

Center of Paraiba (PB-CEATOX) motivated by

accidents with spiders

Thiago Ferreira Sarmento

João Pessoa – PB –Brasil – CEP: 58051-900 Fone: +55 (83) 3216-7200 -

E-mail: [email protected] (participou da redação do artigo

e da sua versão final).

Gleice Rayanne da Silva

Graduanda em Farmácia, Universidade Federal da Paraíba – João

Pessoa, Paraíba. Departamento de Ciências Farmacêuticas - Centro de

Ciências da Saúde - Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Cidade

Universitária – João Pessoa – PB – Brasil – CEP: 58051-900 Fone: +55

(83) 3216-7200 - E-mail: [email protected] (participou da

redação do artigo e da sua versão final).

Aníbal de Freitas Santos Júnior

Docente do Curso de Farmácia, Universidade do Estado da Bahia –

Salvador, Bahia. Departamento de Ciências da Vida - DCV – Faculdade

de Farmácia – Universidade do Estado da Bahia – UNEB Endereço: Rua

Silveira Martins, 2555. Bairro: Cabula. Cidade: Salvador. Fone: (71)

3117-2200 – E-mail: [email protected] (participou da interpretação de

dados e revisão do trabalho).

Bruno Coelho Cavalcanti

Biólogo, Universidade Federal do Ceará – Fortaleza, Ceará.

Departamento de Fisiologia e Farmacologia - Faculdade de Medicina –

Universidade Federal do Ceará – UFC - Endereço: Rua Alexandre

Baraúna, 949 - Rodolfo Teófilo - CEP 60430-160 – E-mail:

nunim_¬[email protected] (participou da interpretação de dados e

revisão geral do trabalho).

Page 9: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

9

Hélio Vitoriano Nobre Júnior

Docente do Curso de Farmácia, Universidade Federal do Ceará –

Fortaleza, Ceará. Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas-

DACT - Universidade Federal do Ceará – UFC - Universidade Federal do

Ceará – UFC = Endereço: Rua Capitão Francisco Pedro, 1210 - Rodolfo

Teófilo - CEP 60430-370 - Fortaleza - CE - Fone: (85) 3366 8262 - E-mail:

[email protected] (participou da elaboração de figuras e tabelas

presentes no trabalho além do desenvolvimento da discussão).

Leônia Maria Batista

Docente do Curso de Farmácia, Universidade Federal da Paraíba – João

Pessoa, Paraíba. Departamento de Ciências Farmacêuticas/Pós graduação

em Produtos Naturais - Centro de Biotecnologia - Universidade Federal da

Paraíba - UFPB. Cidade Universitária - João Pessoa – PB – Brasil – CEP:

58051-900 Fone: +55 (83) 3216-7200 - E-mail: [email protected]

(trabalhou na orientação dos discentes no processo de elaboração do

estudo).

Hemerson Iury Ferreira Magalhães

Docente do Curso de Farmácia, Universidade Federal da Paraíba – João

Pessoa, Paraíba. Departamento de Ciências Farmacêuticas/Pós-graduação

em Ciências da Nutrição - Centro de Ciências da Saúde - Universidade

Federal da Paraíba - UFPB. Cidade Universitária - João Pessoa – PB –

Brasil – CEP: 58051-900 Fone: +55 (83) 3216-7200 - E-mail:

[email protected] (trabalhou em todas as etapas desde a

concepção do estudo até a revisão da versão final do artigo).

Resumo

Existem mais de 30 mil espécies de aranhas, apenas algumas não são

venenosas. Entretanto, a grande maioria não tem a capacidade de causar

danos aos seres humanos. Entre as aranhas de interesse médico destacam-se

os gêneros Phoneutria, Loxosceles, Latrocectus e Lycosa; e a subordem

Mygalomorphae. Este trabalho objetivou traçar um perfil das admissões no

CEATOX-PB motivadas por acidentes com aranhas. Trata-se de um estudo

transversal, retrospectivo e descritivo de abordagem quantitativa. Foram

averiguadas as fichas de notificação do CEATOX-PB dos anos de 2013 e 2014.

Obteve-se um total de 148 fichas, sendo 81 fichas referentes ao ano de 2013 e

67 ao ano de 2014. A distribuição dos acidentes com aranhas por meses

Page 10: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

10

destacou o mês de agosto de 2013 como o de maior incidência, não se observou

tendência sazonal. O gênero feminino foi o mais acometido pelos acidentes

aracneicos. Destacaram-se os grupos etários com idade entre 20 – 39 anos e

de 40 – 49 anos como os detentores do maior número de vítimas de araneísmo.

A maioria dos indivíduos levou mais de 24 horas para buscar atendimento. A

zona urbana ressaltou-se como a principal região de ocorrência dos acidentes.

Com relação à parte anatômica da picada, sobressaem as regiões da perna,

antebraço e mão. As manifestações clínicas locais de dor, edema, eritema e

prurido foram as que mais apareceram nas fichas analisadas. Manifestações

sistêmicas, como hipertermia e náuseas foram as mais destacadas, na

avaliação dos acidentes. Na maioria dos casos não foi possível identificar a

espécie de aranha envolvida. A soroterapia pouco foi utilizada, pois a maior

parcela dos acidentes foi enquadrada como leve. Conclui-se que o

levantamento de informações sobre araneísmo, assim como, também, o

diagnóstico e tratamento de acidentes devem ser otimizados, com o intuito de

qualificar o atendimento.

Palavras-chave: Aranhas. Acidentes. Notificação

Abstract

There are over 30,000 species of spiders, only a few are not poisonous.

However, the vast majority do not have the ability to cause harm to humans.

Among the spiders of medical interest stand out Phoneutria genera,

Loxosceles, Latrocectus and Lycosa; and suborder Mygalomorphae. This

study aimed to draw a profile of admissions in CEATOX-PB motivated by

accidents with spiders. It is a cross-sectional, retrospective, descriptive

quantitative approach. We investigated CEATOX-PB reporting forms the

years 2013 and 2014. This yields a total of 148 chips, with 81 of these for the

year 2013 and 67 the year 2014. The distribution of accidents with spiders for

months stressed the month of August 2013 as the highest incidence, there

Page 11: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

11

was no seasonal trend. Females were the most affected by aracneicos

accidents. They highlighted the age groups of individuals aged 20-39 years

and 40-49 years as the holder of the greatest number of victims of araneísmo.

A large number of individuals took more than 24 hours to seek care. The

urban area was emphasized as the primary occurrence region of accidents.

Regarding the anatomical part of the sting, excel regions leg, forearm and

hand. Local clinical manifestations of pain, swelling, erythema and pruritus

were the most appeared in the analyzed records. Systemic manifestations

such as hyperthermia and nausea were the most prominent in the evaluation

of accidents. In most cases it was not possible to identify the species of spider

involved. A little serum therapy was used, for the largest share of accidents

was framed as mild. It follows that collecting information about araneísmo,

as well as the diagnosis and treatment of accidents should be optimized, in

order to improve service.

Key words: Spiders. Accidents. Notification

Introdução

Os acidentes causados por animais peçonhentos, no Brasil, ainda são um

problema de saúde pública. Diante disso, é necessário haver um conhecimento

prévio sobre os tipos de animais venenosos e peçonhentos existentes em cada

região do país, como também, os sinais e sintomas de acidentes causados pela

maioria desses animais, pois, muitas vezes, podem levar a óbito se a vítima

não for atendida a tempo (COSTA, 2012; INSTITUTO BUTANTAN, 2007).De

acordo com o Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2005), o objetivo é

diminuir a incidência de acidentes por animais peçonhentos valendo-se da

promoção de medidas educativas, com consequente redução da gravidade dos

casos, a frequência de sequelas e a letalidade mediante o uso adequado da

soroterapia como nos acidentes com aracnídeos.

Page 12: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

12

Os aracnídeos são invertebrados que existem em grande abundância e

representatividade em todo o mundo. São, em sua maioria, sensíveis a fatores

físicos, tais como temperatura, umidade, vento e intensidade luminosa; além

de fatores biológicos, tais como, estrutura da vegetação e disponibilidade de

alimento. Dentre seus representantes mais conhecidos estão as aranhas e os

escorpiões, que além de sua importância ecológica, apresentam importância

médica, devido à ocorrência de acidentes domésticos com esses animais

(SILVA; SANTOS, 2011).

Em relação às aranhas, o Brasil possui três gêneros de importância médica e

que podem causar acidentes graves, são: Phounetria (armadeira), Loxosceles

(aranha-marrom) e Latrodectus (viúva-negra) (PARDAL; GADELHA, 2010).

Quanto ao araneísmo, o loxoscelismo é considerado a forma mais importante

e a ação de sua toxina é responsável por dermonecrose no local da picada. O

diagnóstico é fundamentalmente clínico-epidemiológico, uma vez que poucos

pacientes capturam o agente causador do acidente. Assim, o desconhecimento

da patologia por parte dos profissionais de saúde tem contribuído para um

maior retardo no diagnóstico (CRUZ, 2014; ESTRADA et al, 2007). Todavia,

os atendimentos referentes a acidentes com aranhas, mesmo sem a utilização

de soroterapia, devem ser notificados e dessa forma ter-se um melhor

dimensionamento deste tipo de agravo, nas diversas regiões do país. É

imprescindível a padronização atualizada de condutas de diagnóstico e

tratamento dos acidentados, pois os profissionais de saúde, frequentemente,

não recebem informações desta natureza durante a formação acadêmica ou no

decorrer da atividade profissional (BRASIL, 2001).

A ação antrópica nos ambientes de mata e floresta, destruindo a paisagem por

meio da extração de recursos, é um fator determinante na migração das

aranhas para os ambientes domésticos. Na busca de fatores necessários para

o seu desenvolvimento, como por exemplo, temperatura, umidade e alimento,

as aranhas fortuitamente acabam entrando em contato com o ser humano e

Page 13: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

13

provocando acidentes. Tais incidentes terminam gerando uma demanda aos

Centros de Assistência Toxicológica e hospitais (ITHO, 2001).

O objetivo deste trabalho foi traçar um perfil das admissões, no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB), motivadas por acidentes

com aranhas.

Metodologia

O trabalho consistiu num estudo transversal, retrospectivo e descritivo

exploratório de abordagem quantitativa. Foi realizado no CEATOX, localizado

em um Hospital Universitário do município de João Pessoa, no Estado da

Paraíba.

Foi realizada uma pesquisa documental, que consistiu na coleta, classificação,

seleção e utilização de toda espécie de informações em livros-texto de

referência na área, periódicos em língua inglesa e portuguesa, como SciELO

(Scientific Eletronic Library Online) e PubMed,e sites oficiais especializados

(Ministério da Saúde, Instituto Vital Brasil e Instituto Butantã). A técnica de

documentação escolhida foi a direta intensiva. Foram averiguadas as fichas

de notificação e atendimento do CEATOX dos anos de 2013 e 2014, com o

intuito de elaborar uma representação dos acidentes proporcionados por

aranhas.

A população foi constituída por fichas de notificação e atendimento de

usuários acometidos por acidentes com aracnídeos que deram entrada no

CEATOX para receber os cuidados e orientações necessários. Foram

avaliadas as fichas referentes aos anos de 2013 e 2014, obtendo-se um total

de 148 fichas, sendo 81 destas referentes ao ano de 2013 e 67 ao ano de 2014.

Para obtenção dos dados o pesquisador permaneceu ao CEATOX-PB durante

o mês de Março de 2015, período em que foram coletadas as informações

presentes nas fichas de notificação e atendimento.

Page 14: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

14

Os dados foram compilados nos programas IBM SPSS Statistics versão 20.0 e

Microsoft Office Excel versão 2007, e após análise descritiva foram obtidas as

frequências simples e percentuais, que permitiram a confecção de gráficos e

tabelas.

Para a realização da pesquisa foram levadas em consideração as observâncias

éticas preconizadas pela Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, que

dispõe as diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres

humanos (BRASIL, 2012).

Resultados e Discussão

Com relação ao tipo de animal peçonhento envolvido no acidente, nos dois

anos avaliados, 2013 e 2014, registrados pelo CEATOX-PB, destacou-se uma

maioria considerável para ataques os causados por escorpiões, constituindo

91,32% dos casos em 2013 e 93,42% dos casos em 2014 (Figura 1).

Figura 1 – Acidentes com animais peçonhentos registrados pelo CEATOX-PB nos anos de

2013 e 2014.

O presente estudo apresenta semelhança com dados do Mistério da Saúde

(BRASIL, 2009), cujas notificações dos acidentes por animais peçonhentos

chegam a quase 100 mil por ano e vem aumentando progressivamente. Em

levantamento do número de casos por tipo de acidente, foi observado: aranhas

Page 15: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

15

com 22.835 casos, escorpião 37.495 casos e serpentes com 27.069 casos

registrados.

Depois de realizada a distribuição dos casos por mês (Figura 2), pode-se

observar que agosto de 2013 foi o mês de maior incidência; não se observou

tendência sazonal na distribuição dos casos. De acordo com Campolina et al.

(2013), a mais alta incidência de acidentes provocados por aranhas ocorre

entre os meses de outubro e maio, devido a diversos fatores, como ciclo

reprodutivo, mais mobilidade com o clima mais quente, mais exposição das

vítimas e desalojamento provocado pela água das chuvas.

Figura 2. Distribuição, por mês, dos casos de acidentes com aranhas registrados pelo

CEATOX-PB nos anos de 2013 e 2014

Com a análise do número de casos por gênero (Figura 3), observou-se que o

gênero feminino se destacou com o maior número acidentes com aranhas,

atribuindo-se a este 54,30% dos casos no ano de 2013 e 52,90% dos casos em

2014. Este dado entra em consonância com um estudo realizado por Dorneles

(2009), que avaliou a frequência de acidentes por animais peçonhentos

ocorridos no Rio Grande do Sul, entre 2001 a 2006, e relatou que a maioria

Page 16: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

16

dos indivíduos vítimas de acidentes com aranhas pertenciam ao gênero

feminino (52,5%).

Este resultado pode ser explicado pelo fato de que mesmo com a modernidade

e a maior valorização do papel feminino no mercado de trabalho, muitas

mulheres ainda estão bastante ligadas ao ambiente doméstico e

consequentemente tendem a entrar em maior contato com os animais

peçonhentos que adentram os domicílios em busca de abrigo e alimento.

Figura 3 – Distribuição por gênero dos casos de acidentes com a aranhas referentes aos

anos de 2013 e 2014.

Depois de classificar os indivíduos em faixas etárias (Figuras 4 e 5), foi

observado que a faixa etária com o maior número de casos de acidentes foi a

de indivíduos com idades entre 20 – 39 anos, 48,8% em 2013 e 34,3% em 2014,

seguido pelo grupo etário com idades entre 40 - 59 anos, 23,8% em 2013 e

23,9% em 2014.

Page 17: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

17

Estes dados corroboram com o estudo epidemiológico realizado por Silva e

Cavalcante (2012) e Guerra et al. (2014), para averiguar os acidentes

causados por aranhas no município de Itapeva, em que se destacou a faixa

etária de indivíduos entre 20 e 29 anos como a que apresentou o maior número

dos casos (152), seguido de indivíduos entre 40 e 49 anos (125), 30 a 39 (114)

e 50 a 59 (100).

Figura 4. Faixa etária dos casos de acidentes com aranhas do ano de 2013

Page 18: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

18

Figura 5. Faixa etária dos casos de acidentes com aranhas do ano de 2014.

Avaliou-se também o tempo decorrido para que a vítima de acidente

aracnídico procurasse atendimento especializado no CEATOX-PB (Figura 6)

e o resultado encontrado foi que a maioria dos indivíduos, 44,20% em 2013 e

58,06 em 2014, levou dias para procurar assistência no centro. Isto se deve,

em parte, pelas picadas das aranhas serem geralmente indolores, fazendo com

que vítima não perceba o acidente, além disso, os sinais e sintomas levam

certo tempo para aparecer.

Um estudo realizado por Chagas et al. (2010), analisando os aspectos

epidemiológicos dos acidentes por aranhas no Estado do Rio Grande do Sul,

destaca que foram atendidos 30 e 24% dos pacientes no intervalo de até três

horas, entretanto 21% foram atendidos acima das 12 horas.

No estudo efetuado por Lise et al. (2006), quase 65% das vítimas levaram de

6 a 12 horas, e mais de 13% levaram mais de 12 horas para buscar

atendimento médico após a picada.

Page 19: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

19

Segundo Silva (2002), a busca precoce de atendimento primário, em

decorrência de um acidente por Loxosceles nas populações com baixa

prevalência, é prejudicada pela picada quase indolor, pelo desconhecimento

dos sintomas iniciais, pela não relação dos primeiros sintomas com a picada

de aranha.

Figura 6. Tempo decorrido para a procura de atendimento

Observou-se a zona de ocorrência do acidente (Quadros 1 e 2) e foi constatado

que o maior percentual de acidentes aconteceu na zona urbana, aparecendo

esta em 86,53% (45) dos casos em 2013 e 94,44% (34) dos casos em 2014. Este

dado apresenta semelhança com o encontrado por Haas et al. (2013) em um

estudo epidemiológico que relatou ter averiguado um número de ocorrências

na área urbana significativamente alto, em detrimento dos acidentados

oriundos da zona rural ou periurbana.

É válido salientar que o baixo percentual encontrado para a zona rural pode

estar relacionado com a subnotificação dos casos, pois tais indivíduos por

residirem próximos a regiões de mata tendem a ser mais predispostos a

acidentes com animais peçonhentos, seu trabalho e vestimentas utilizadas

Page 20: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

20

também favorecem o contato com estes animais. Porém, muitas vezes as

dificuldades de deslocamento até o serviço impossibilitam o atendimento e

com isso o registro do caso.

Quadro 1 - Zona de ocorrência do acidente, registrada no ano de 2013

Quadro 2 - Zona de ocorrência do acidente, registrada no ano de 2014

Com relação ao local da picada, (Quadros 3 e 4), foi observado que as regiões

mais acometidas do corpo foram perna, mão e antebraço. Este resultado

corrobora o encontrado por Cardoso et al. (2003), que informa que as regiões

do corpo mais atingidas nos incidentes com animais peçonhentos são os pés e

as pernas, seguido das mãos e antebraço.

Page 21: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

21

Quadro 3 – Local da picada, ano de 2013

Quadro 4 – Local da picada, ano de 2014

Page 22: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

22

Destacaram-se a dor, edema, eritema e prurido como principais

manifestações clínicas locais (Quadro 5 e 6). Como principais manifestações

clínicas sistêmicas aparecem a hipertermia e náuseas (Quadro 7 e 8).

Quadro 5 - Manifestações clínicas locais, registradas no ano de 2013

Quadro 6 - Manifestações clínicas locais, registradas no ano de 2014

Page 23: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

23

Quadro 7 – Manifestações clínicas sistêmicas, registradas no ano de 2013

Quadro 8 – Manifestações clínicas sistêmicas, registradas no ano de 2014

O Hospital Vital Brazil (2002) relata que as reações locais geram inflamação

e as sistêmicas provocam reações neurotóxicas, miotóxicas, coagulante e

parassintomimética. A princípio, apresentam edema, dor, bolha, necrose,

evoluindo com vômito, diarréia, bradicardia, hipotensão, paralisia muscular e

turvação, dores musculares e urina escura, se não se realizar atendimento

emergencial e tratamento com soroterápicos.

Page 24: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

24

Na tentativa de buscar classificar a espécie de aranha envolvida no caso

(Figura 7), constatou-se que na maioria dos casos não foi possível identificar

a espécie de aranha. Este dado diverge do apresentado por Martins et al.

(2006), em estudo sobre envenenamentos acidentais entre menores, em que

relataram que não foi possível conhecer o tipo de agente em 10,6% dos casos

de acidentes com aranhas, possivelmente pela dificuldade em apreensão ou

identificação do animal venenoso após o acidente, embora a má qualidade do

registro no atendimento também não possa ser descartada.

Figura 7. Classificação das espécies de aranhas envolvidas nos acidentes, dados de 2013 e

2014

Com relação à realização de soroterapia (Figura 8), a mesma não foi realizada

na maioria dos casos, percentual médio de 92,40%. Os casos em sua maioria

foram considerados leves, média de 76,88%, seguido de moderado com média

23,11%, nenhum caso foi considerado grave.

Page 25: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SARMENTO, Thiago Ferreira; SILVA, Gleice Rayanne da; JÚNIOR, Aníbal de Freitas

Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano Nobre; BATISTA, Leônia

Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por acidentes com aranhas.

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 08-29, jun. 2016.

25

Figura 8. Realização de Soroterapia, dados de 2013 e 2014

Silva et al. (2006) entendem que o tratamento recebido no hospital deve ser

baseado na gravidade (Figura 9) das manifestações clínicas do paciente, para

utilização ou não da soroterapia. Em casos leves (dor e formigamento local) a

soroterapia é dispensada, geralmente utilizam-se analgésicos e corticoides.

Figura 9. Classificação da gravidade do caso, dados de 2013 e 2014

Page 26: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

JÚNIOR, Aníbal de Freitas Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano

Nobre; BATISTA, Leônia Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das

admissões no Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por

acidentes com aranhas. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n.

2, p. 08-29, jun. 2016.

26

Conclusão

Este trabalho permitiu traçar um perfil das admissões no Centro de

Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivadas por acidentes

com aranhas, entre os anos de 2013 e 2014. Apesar de se verificar, no período

estudado, uma baixa notificação de casos de acidentes com aranhas, os meses

entre outubro e maio se destacaram, devido a diversos fatores, tais como ciclo

reprodutivo, clima mais quente, mais exposição das vítimas e desalojamento

provocado pela água das chuvas. A faixa etária com o maior número de casos

de acidentes foi a de indivíduos com idades entre 20 – 39 anos, principalmente

na zona urbana, nas regiões das pernas, mãos e antebraços. Verificou-se que

as vítimas de acidentes aracnéicos demoram dias para busca de atendimento

especializado no CEATOX-PB, o que pode levar a maiores complicações das

lesões. Dor, edema, eritema e prurido foram as principais manifestações

clínicas locais encontradas e hipertermia e náuseas, manifestações clínicas

sistêmicas mais pronunciadas.

O levantamento de infestações e determinação dos focos de ocorrência, bem

como treinamento e atualizações sobre o diagnóstico e tratamento, devem ser

otimizados, no intuito de qualificar o atendimento às populações atingidas e

ensejar a correta notificação dos acidentes. Neste trabalho, não foi possível

identificar espécie de aranha envolvida na maioria dos casos, principalmente

devido à dificuldades de apreensão ou identificação do animal venenoso após

o acidente, bem como a má qualidade do registro no momento do atendimento.

Neste contexto, destaca-se que atividades de prevenção devem ser difundidas

e promovidas para a população de forma constante e devem ser intensificadas

nos períodos de maior atividade das aranhas que, geralmente, implica o

aumento de acidentes, considerando-se as características da região, sendo

redirecionadas para áreas estratégicas e público específico.

Referências bibliográficas

Page 27: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

JÚNIOR, Aníbal de Freitas Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano

Nobre; BATISTA, Leônia Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das

admissões no Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por

acidentes com aranhas. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n.

2, p. 08-29, jun. 2016.

27

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Conselho Nacional de Saúde, Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução Nº 466 de 12 de dezembro de 2012:

aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo

seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde.

Manual de controle e manejo de escorpiões. Brasília, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia

de Vigilância Epidemiológica/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância

em Saúde. 6. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 816p.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).

Manual diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2.

ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001.

CAMPOLINA, D. et al. Araneísmo e acidentes com lacraias e piolhos de cobra.

In: ANDRADE FILHO, A. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte:

Folium, 2013. 700p.

CARDOSO, J. L. C. et al. Animais peçonhentos no Brasil: Biologia clínica e

terapêutica dos acidentes. São Paulo: Savier, 2003.468p.

CHAGAS, F. B.; D’AGOSTINI, F. M.; BETRAME, V. Aspectos

epidemiológicos dos acidentes por aranhas no Estado do Rio Grande do Sul,

Brasil. Evidência, v.10 n.1-2, p.121-130, 2010.

COSTA, D. B. Acidentes Ofídicos em Campina Grande: Dados

Epidemiológicos, Biológicos, Laboratoriais e Clínicos. Universidade Estadual

da Paraíba. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Farmácia

Generalista. Campina Grande - PB, 2012, 30f.

Page 28: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

JÚNIOR, Aníbal de Freitas Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano

Nobre; BATISTA, Leônia Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das

admissões no Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por

acidentes com aranhas. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n.

2, p. 08-29, jun. 2016.

28

CRUZ, B. A. R. Vivência acadêmica no atendimento de acidentes provocados

por animais peçonhentos no CEATOX-CG: Um relato de caso. Universidade

Estadual da Paraíba. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em

Enfermagem. Campina Grande - PB, 2014.

DORNELES, A. L. Frequência de acidentes por animais peçonhentos ocorridos

no Rio Grande do Sul, 2001-2006. Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. Trabalho de Conclusão de Curso. Porto Alegre – RS, 2009, 49p.

ESTRADA, G.; VILLEGAS. E.; CORZO, G. Spider venoms: a rich source of

acylpolyamines and peptides as new leads for CNS drugs. Natural Product

Reports, v. 24, n. 1, p. 145–161, 2007.

GUERRA, A. F. P.; REIS, F. C.; PESSOA, A. M.; SILVA JR, N. J. Perfil dos

acidentes com aranhas no estado de Goiás no período de 2007 a 2011. Scientia

Medica, v. 24, n. 4, p. 353-360, 2014.

HAAS, J. et al. Acidentes com aranhas do gênero Loxosceles spp. em

Larajeiras do Sul

– PR. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde - Londrina, v. 34, n. 1, p. 15-

22, 2013.

HOSPITAL VITAL BRASIL. Aranhas. Disponívelem: <http://

http://www.vitalbrazil.rj.gov.br/aranhas.html> Acesso em: 23 abr

2016.

INSTITUTO BUTANTAN. Acidentes por animais peçonhentos. São Paulo,

2007. Disponível em:

<http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/cidadao/temas-de-

saude/animais_peconhentos.pdf> Acesso em: 23 abr 2016.

ITHO, S. F. Rotina no atendimento do intoxicado. 2. ed. Vitória: TOXEN,

2001.

Page 29: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

JÚNIOR, Aníbal de Freitas Santos; CAVALCANTI, Bruno Coelho; JÚNIOR, Hélio Vitoriano

Nobre; BATISTA, Leônia Maria; MAGALHÃES, Hemerson Iury Ferreira. Perfil das

admissões no Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-PB) motivada por

acidentes com aranhas. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n.

2, p. 08-29, jun. 2016.

29

LISE, F., COUTINHO, S.E.D., GARCIA, F.R.M. Características clínicas do

araneísmo em crianças e adolescentes no município de Chapecó, Estado de

Santa Catarina, Brasil.

Acta Scientiarum Health Sciences, v. 28. n. 1. p.13-16, 2006.

MARTINS, C. B. G.; ANDRADE, S. M.; PAIVA, P. A. B. Envenenamentos

acidentais entre menores de 15 anos em município da Região Sul do Brasil.

Cadernos de Saúde Pública - Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 407-414, 2006.

PARDAL, P. P. O.; GADELHA, M. A. C. Acidentes por animais peçonhentos:

manual de rotina. Belém: SESPA, 2010.

SILVA, D.P. Análise do araneísmo e suas implicações epidemiológicas na

cidade de Anápolis-GO. IV Seminário de iniciação cientifica. Universidade

Estadual de Goiás-Unucet, Anápolis, 2006.

SILVA, E. M. Loxoscelismo no Estado do Paraná: análise epidemiológica dos

acidentes causados por Loxosceles Heinecken & Lowe, 1832 no período de 1993

a 2000. 2002, 69 f. Dissertação (Mestrado em Ciências na Área de Saúde

Pública), Escola Nacional de Saúde Pública; Fundação Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, 2002.

SILVA, I. M. B.; SANTOS, Y. G. Estudo etnoecológico: Importância médica

dos aracnídeos (Arachnida: Araneae, Scorpiones) e sua relação com a

comunidade de Caetité-BA. In: X Congresso de Ecologia do Brasil, São

Lourenço-MG, 2011.

SILVA, W. G.; CAVALCANTE, W. L. G. Epidemiologia de acidentes causados

por aranhas na região de Itapeva/SP no período de janeiro de 2007 a abril de

2012. Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva. Trabalho de

Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem. Itapeva – SP, 2012.

Page 30: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

30

Toxicologia do Níquel

Toxicology of Nickel

Karina Regina Gonzalez

Biomédica formada pela Universidade Nove de Julho e cursando pós-

graduação de Assuntos Regulatórios pelo Instituto de Pós-graduação e

Graduação. E-mail para contato: [email protected].

Resumo

Este estudo faz uma revisão de literatura sobre o níquel metálico (Ni) e sua

forma de apresentação ao trabalhador, relacionando os perigos causados por

sua suposta carcinogenicidade. O estudo tem sua relevância fundamentada

na importância de se conhecer a correta composição dos elementos e sua

classificação com preocupações sociais e ambientais, destinando-se a

conhecer e controlar os riscos que o trabalho pode oferecer ao ambiente e à

vida. Descrevem-se as principais características do níquel metálico e

informações sobre algumas normas brasileiras. Utilizaram-se dados de

bancos como o LILACS, SciELO, MEDLINE, Direct Science, assim como

livros e documentos de referência para a área. O método utilizado foi um

levantamento bibliográfico por meio de abordagem crítica, objetiva e

abrangente, considerando-se a relevância do tema. Ao final do trabalho

percebeu-se o conflito gerado por uma classificação equivocada dos

compostos e a necessidade de estudos mais aprofundados. A partir do

levantamento empreendido espera-se ter contribuído para o conhecimento

geral da população, principalmente para quem está diretamente envolvido

na exposição a compostos do níquel, possibilitando-se, desta maneira, rever

as medidas e precauções que são sugeridas na literatura quanto à

segurança no ambiente de trabalho.

Page 31: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

31

Palavras-chave: Níquel metálico. Exposição ocupacional.

Carcinogenicidade do níquel.

This study deals with a literature review on the nickel and their

presentation to the employee listing the dangers caused by his alleged

carcinogenicity. The study has its relevance based on the importance of

knowing the correct composition of elements and their classification with

social and environmental concerns that are meant to know and control the

risks that work can provide the environment and life. Throughout the

development thereof has been described the main features of metallic nickel

and information on some Brazilian standards. Database was used as the

LILACS, SciELO, MEDLINE, as well as books and reference documents for

the area. The method used was a literature by means of a critical, objective

and comprehensive approach, considering the relevance of the subject. At

the end of the work it was noticed the conflict generated by a mistaken

classification of compounds and the need for further study. From this

survey is expected to have contributed to the general knowledge of the

population, especially for those who are directly involved with nickel,

enabling this way to review the measures and precautions that are

suggested in the literature about the safety in the workplace.

Keywords: Nickel Metal. Occupational exposure. Nickel carcinogenic

potential.

Page 32: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

32

1) Introdução

O níquel (Ni) é o 24º metal em abundância na crosta terrestre, caracterizado

como metal pesado, de densidade de 8,5 g/cm³. Na forma metálica é branco

prateado, dúctil e maleável, possui grande resistência à corrosão e oxidação

pelo ar, água e agentes alcalinos. Dentre os vários compostos de níquel, os

principais são óxido de níquel (NiO), hidróxido de níquel (NiOH), sulfato de

níquel (Ni3S2) e cloreto de níquel (NiCl2). Os sais de níquel de ácidos

orgânicos fortes são solúveis em água, enquanto os sais de níquel de ácidos

inorgânicos fracos são insolúveis. (AZEVEDO, CHASIN, 2003)

A exposição ocupacional ao níquel metálico pode ocorrer através de uma

variedade de fontes, como as operações metalúrgicas, incluindo a fabricação

de aço inoxidável, a produção de liga de níquel, e as operações de metalurgia

do pó. Em quase todos os casos, as exposições ao níquel metálico incluem

exposições concomitantes a outros compostos de níquel e podem ser

confundidas com a exposição a materiais tóxicos (OLLER, 2002).

Os efeitos observados na saúde dos trabalhadores expostos ao níquel

metálico correm no sistema respiratório e podem ser benignos (incluindo

asma e fibrose) ou câncer respiratório.

Para este documento, a principal preocupação é a presença de níquel em

ambientes ocupacionais, uma vez que os processos industriais apresentam

maior exposição de trabalhadores a concentrações mais elevadas de níquel e

seus compostos do que as normalmente verificadas na natureza. Estas

exposições podem ser a refinados de níquel, ou misturados, contendo vários

compostos de níquel e contaminantes. As "exposições misturadas” dificultam

a interpretação dos efeitos sobre a saúde a partir de espécies específicas de

níquel.

Page 33: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

33

2) História

O níquel (Ni) foi isolado pela primeira vez por Cronstedt, em 1751, tendo-se

obtido uma amostra do metal bastante pura em 1804, por Ritcher, que

também fez uma descrição pormenorizada de suas propriedades. Em 1870,

Fleitman descobriu que a adição de uma pequena quantidade de magnésio

tornava o níquel maleável.

Os primeiros estudos sobre a toxicidade do Ni e seus compostos datam do ano de

1826, realizados por Gmelin (OLIVEIRA, 2010) que administrou, por via oral,

elevadas concentrações de níquel a ratos e cachorros, resultando severa gastrite e

convulsão fatal. Inúmeras descrições têm aparecido na literatura demonstrando

que trabalhadores expostos por longo prazo a fumos, poeiras e vapores do metal,

podem apresentar intoxicações, principalmente os expostos em minas de extração e

nas refinarias do metal (OLIVEIRA, 2010).

3) Identificação do Metal e Seus Campostos

3.1 Sinônimos, nomes comerciais e identificadores

Os compostos inorgânicos de interesse incluem:

Níquel metálico

Níquel elementar, Níquel 200, Nichel (italiano), Alnico, Nickel

(ingles)

Óxido de níquel

Cloreto de níquel

Subsulfeto de níquel

Hidróxido de níquel

Sulfato de níquel.

O único composto orgânico do metal é a carbonila de níquel.

Page 34: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

34

Na tabela 1 é possível verificar quais os principais compostos de níquel e

algumas de suas propriedades como fórmula molecular, química e massa de

cada composto. Nesta tabela você encontra o nº CAS de cada composto, nº

este que é utilizado para identificação mundial das substâncias químicas.

3.2 Aspecto, forma e propriedades físico-químicas.

O níquel é um metal prateado, que ocorre naturalmente na crosta terrestre

(QUINÁGUIA, 2012). É um elemento razoavelmente duro, com fraco brilho

amarelado devido, em parte, à existência de uma camada protetora de

óxido. É dúctil e maleável (QUINÁGUIA, 2012)

Os principais compostos inorgânicos de níquel podem ser divididos em: a)

solúveis, tais como os hidróxidos, sulfatos, cloretos e os nitratos; b)

insolúveis, entre eles os óxidos, os sulfetos e ainda o subsulfeto de níquel.

Outro composto de interesse toxicológico é a carbonila de níquel Ni(CO)4,

composto volátil e incolor, que possui caráter lipofílico e se decompõe ao

redor de 50C (ICZ, 2015).

Page 35: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

35

O estado de oxidação mais frequente é o Ni2+, outros estados podem ser

encontrados, como o Ni3+ e o Ni4+ (ICZ, 2015). O metal níquel pertence ao

grupo VIII da Tabela Periódica. É o terceiro dos três elementos: ferro,

cobalto e níquel, possui peso atômico de 58,71 e ponto de ebulição de

2837C. É insolúvel em água quente ou fria, sendo solúvel em ácido nítrico

diluído e ácido sulfúrico.

A Tabela 2 denota as propriedades físico-químicas de maior interesse dos

compostos de níquel.

4) Ocorrência, ciclo biogeoquímico, usos e aplicações

O níquel é um dos cinco elementos mais abundantes, vindo depois do ferro,

oxigênio, magnésio e silicone. Combinado com outros elementos ocorre

naturalmente na crosta terrestre e é encontrado em todo o solo e emitido

por vulcões. Tem sido encontrado combinado com ferro em meteoritos, em

Page 36: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

36

concentrações de 5 a 50% (AZEVEDO; CHASIN, 2003) e no fundo do oceano

em pedaços de minerais. O metal tem sido detectado em diferentes pontos

da biosfera. A concentração de níquel na crosta terrestre é de cerca de

0,008%. O núcleo da Terra é composto por 6% de níquel (MENDES, 2011).

O níquel encontra-se geralmente associado aos sulfetos de ferro e cobre,

depósitos aluviais de silicatos e óxidos/hidróxidos. O mineral de maior

importância é a pentlandita (FeNi)9S8, sendo também encontrado em

minérios como a millerita (NiS), nicolita (NiAS) entre outros

(FORTUNATO, 2009).

Principais usos e aplicações

A utilização do níquel e seus compostos na indústria é muito diversificada.

A aplicação mais importante é na fabricação do aço inoxidável, pois o níquel

é um elemento resistente à ação corrosiva de muitos ácidos, sais e álcalis

(NÍQUEL, 2015). O níquel é utilizado como uma das camadas base na

galvanoplastia do cromo (para se conseguir que o cromo adira ao ferro, este

primeiro é coberto com cobre, depois níquel e finalmente com o cromo, num

processo conhecido como deposição). Serve também como catalisador em

certas reações de hidrogenação, tais como na fabricação da margarina e

manteiga a partir de gorduras líquidas (NÍQUEL, 2015).

Os compostos inorgânicos apresentam as seguintes outras utilizações

(NÍQUEL, 2015):

Produção de ligas de níquel. As principais ligas de níquel são:

níquel-cobre, utilizada em componentes para marinha; níquel-cromo, usada

em partes de motor de avião a jato, fornos e elementos para uso em fogões.

Produção de níquel fundido com ferro.

Galvanização. O níquel metálico e os seus sulfatos e cloretos são

os principais compostos utilizados nos processos de galvanização.

Page 37: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

37

Catálise. Os óxidos de níquel são utilizados como catalisadores.

Outras reações de catálise incluem a dessulfurização de óleos; produção de

hidrocarbonetos por polimerização e produção de amônia; indústria de

alimentos e vidros; produção de utensílios domésticos.

Manufatura de baterias alcalinas (Ni-Cd).

Manufatura de moedas. O níquel e a liga de níquel-cobre são os

materiais mais utilizados.

Pigmentos inorgânicos. O Ni tem sido usado como pigmento

inorgânico para o esmalte e cerâmica devido à resistência a temperaturas

elevadas e à corrosão.

Na eletrônica. Compostos contendo níquel são usados em

eletrônica e equipamentos de computador.

Próteses clínicas e dentárias.

5) Exposição Humana

5.1 Fontes ambientais e em alimentos.

Os compostos cristalinos/particulados de níquel que são insolúveis entram

nas células através do processo de fagocitose. A carbonila de níquel entra

nas células devido à penetração nas membranas e os compostos solúveis de

níquel são transportados para as células através do processo de difusão ou

através de canais de cálcio. O níquel é um elemento estável e persistente no

ambiente, visto que não pode ser biologicamente ou quimicamente

degradado ou destruído. Pessoas que não fumam tabaco expõem-se, através

da respiração, a 0,1 a 1 μg de níquel por dia.

O ser humano também se expõe ao níquel ao tocar em objetos contendo este

metal, como por exemplo: moedas, joias e aço inoxidável. O níquel é um

agente sensibilizante comum e ocasiona alta prevalência de dermatite

alérgica de contato. (KRIEGER, 2014)

Page 38: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

38

Cerca de 170μg de níquel são ingeridos diariamente pelos seres humanos

por meio da alimentação. Alimentos ricos em níquel incluem amendoim,

nozes, soja, lentilhas, legumes, peixes, mariscos, ervilhas, cacau, aveia e

chocolate ao leite. Já através do consumo de água, os seres humanos

ingerem cerca de 2μg de níquel por dia. Entretanto, quando este metal é

ingerido em grandes quantidades, torna-se tóxico para os organismos vivos

(FELLER, 2014).

A Figura 1 apresenta a quantidade de níquel nos alimentos.

Figura 1: Concentrações de níquel nos alimentos.

Com base nas estimativas de exposição, e assumindo que um total de 12

m3 de ar é inspirado em um dia de trabalho de oito horas (o pressuposto é

que os trabalhadores da indústria têm uma taxa de inalação maior do que o

cidadão médio), o valor aproximado de níquel susceptível de ser inalado nos

segmentos de produção/uso de níquel se situaria entre 0,036-0,72 mg

Ni/dia. A quantidade média de níquel que pode ser inalada na maioria das

indústrias que usam o metal e/ou seus compostos varia entre 0-1,1 mg

Page 39: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

39

Ni/dia, dependendo da indústria. Produção de bateria com operações de

níquel metálico e metal em pó de níquel metálico são uma exceção, com

concentrações médias de níquel no ar variando de 0,3 a 0,5 mg de Ni/m 3,

respectivamente (NÍQUEL, 2015).

Na legislação brasileira, a Portaria 3214, de 1978, do Ministério do

Trabalho, na sua Norma Regulamentadora NR 15, não faz constar Limites

de Tolerância (LT) para níquel. Porém, na NR 9, 9.3.5.1, alínea “c”, é

preconizado que se utilizem valores da entidade norte-americana American

Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), ou aqueles que

venham a ser acordados em negociação coletiva de trabalho, desde que mais

rigorosos do que os critérios técnicos-legais estabelecidos. Os Thereshold

Limit Value (TLV-TWA) da ACGIH são apresentados na tabela 3. Os

compostos insolúveis e o sulfeto de níquel são classificados como

carcinogênicos pela ACGIH.

6) Estudo Toxicológico

6.1 Toxicocinética

O efeito tóxico do níquel no corpo depende de vários fatores, tais como as

espécies químicas, forma física, concentração ou fonte de exposição

(SHARMA et al., 2009; AHMAD, ASHRAF, 2011; SCHAUMLÖFFEL,

2012;). Espécies solúveis de níquel são eliminadas rapidamente pelos

tecidos, visto que a sua capacidade de penetrar em células utilizando

Page 40: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

40

transportadores de metal divalente é limitada; evidências sugerem que a

via utilizada é a entrada através dos canais de cálcio. A carbonila de Ni,

altamente tóxica, é solúvel em lípidos, o que permite a sua passagem

através da membrana celular, acarretando absorção significativa por

inalação e em contato com a pele, enquanto o sulfeto de níquel (Ni3S2) pouco

solúvel em meio aquoso, através de endocitose estão entre as formas mais

tóxicas e cancerígenas. A forma amorfa de NiS não penetra na célula e, por

isso, tal agente possui pouca ou nenhuma importância toxicológica

(MUÑOZ, COSTA, 2012).

Nos últimos anos tem-se observado a importância das nanopartículas de

níquel, que geralmente são mais tóxicas do que as formas solúveis

(MUÑOZ, COSTA, 2012). Estas nanopartículas, especificamente o hidróxido

de níquel (nano-NIH) e sulfato de níquel (nano-NIS), são cada vez mais

utilizadas na indústria de energia e alimentos e são aquelas com um maior

potencial toxicológico, este potencial não é atribuído a aumento da

solubilidade ou propriedades genéricas das nanopartículas, mas está

relacionado com níveis maiores de deposição e um potencial inflamatório

mais forte, que é independente da carga de Ni pulmonar.

Estudos de farmacocinética em humanos mostram que o níquel é absorvido

através dos pulmões, trato gastrointestinal e pele. A absorção pulmonar é a

principal forma em relação à toxicidade induzida. O grau desta absorção é

determinado pela forma química e local de acumulação (dependendo do

tamanho, forma, densidade e carga elétrica das partículas metálicas). Sabe-

se que entre 20 e 35% do níquel inalado é retido nos pulmões e absorvido

pelo sangue. Do trato respiratório, o níquel pode ser removido por

transporte mucociliar e ser liberado no trato gastrointestinal, local em que

não acontece uma boa absorção (CLANCY, COSTA, 2012).

O níquel metálico é mal absorvido por via dérmica, mas alguns dos seus

compostos, tais como cloreto de níquel ou sulfato níquel, podem penetrar

Page 41: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

41

pela pele, aproximadamente 77% em 24 h (CLANCY, COSTA, 2012; KAS et

al., 2008). A ingestão de níquel por meio de alimentos e água potável é uma

importante fonte de exposição, uma vez que também tem sido demonstrado

que indivíduos em jejum absorvem mais níquel a partir do trato

gastrointestinal. (AHMAD, ASHRAF, 2011, KAS, DAS, DHUNDASI, 2011).

O níquel, depois de absorvido, é distribuído por todo o corpo através do

sangue; no soro humano o agente se liga à albumina, e principalmente às

proteínas devido ao alto peso molecular, ou pode ligar-se também com L-

histidina e α-2 macroglobulina, de baixos pesos moleculares. (AHMAD,

ASHRAF, 2011; KAS, DAS, DHUNDASI, 2008). Em estudos de curto e

longo prazo com animais, observou-se que o níquel está concentrado

principalmente nos rins. As concentrações teciduais de Ni, em ordem

decrescente, são: rins> pulmões> fígado> coração > testículos. Foi observado

que o Ni2+ administrado por via oral acumula-se mais na medula espinal do

que no cerebelo ou córtex frontal. Em geral, um homem de 70 kg contém,

em média, 10 mg de níquel no corpo. Os valores de referência do níquel em

fluidos biológicos de adultos saudáveis são de 0,2 mg/L no soro e 1-3 g/L na

urina (CLANCY, COSTA, 2012; KAS, DAS, DHUNDASI, 2008).

Em estudos com ratos expostos à Ni(CO)4, cerca de 50% do Ni foram

detectados nas vísceras e sangue, 30% nos músculos e tecido adiposo e 15%

nos ossos e em tecidos conjuntivos. (AZEVEDO; CHASIN, 2003). O pulmão

é o órgão de acúmulo para as exposições em longo prazo e o armazenamento

se dá nas mitocôndrias.

6.2 Biotransformação e eliminação

De fato, a maior parte do níquel absorvido é excretada na urina,

independentemente a via de exposição (AHMAD, ASHRAF, 2011;

SCHAUMLÖFFEL, 2012). A eliminação do níquel do organismo humano

pode ser feita de várias maneiras, como cabelos, suor, fezes e urina, sendo

Page 42: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

42

esta considerada a principal forma. A excreção no suor aumenta em regiões

que apresentam altas temperaturas. Além disso, também pode ser

eliminado pela saliva. Sabe-se que o cabelo reflete exposição passada a

metais pesados, enquanto o sangue e a urina refletem exposição recente aos

mesmos. (PEIXE, 2010)

A meia-vida de eliminação urinária varia de 17 a 48 h, e a via preferencial

de excreção é a urinária, para os compostos solúveis e insolúveis.

Entretanto, tratando-se do níquel orgânico, a principal via de excreção é a

pulmonar (PEIXE, 2010).

7) Toxicodinâmica

O níquel, assim como outros metais pesados, interage com receptores de

íons em locais diferentes do organismo. Os mecanismos destas interações

não estão completamente elucidados, conhecendo-se, atualmente, algumas

hipóteses relativas à sua toxicodinâmica.

A administração de íons divalentes de níquel em animais induz um largo

espectro de respostas agudas, e muito desses efeitos podem ser mediados

por espécies reativas de oxigênio em órgãos-alvo. Tais espécies podem ser

produzidas nas células.

Várias hipóteses têm sido propostas para o entendimento do mecanismo da

lipoperoxidação induzida pelo níquel e seus compostos:

a) um mecanismo indireto, mediado pelo Ni2+, deslocando Fe2+ ou

Cu2+ a partir de sítios ligantes intracelulares, resultando nas reações de

lipoperoxidação de Fenton e Haber-Weiss, catalisadas por Fe2+/Fe3+ ou

Cu+/Cu2+;

b) a reação de oxirredução Ni2+/Ni3+ gera diretamente radicais livres

pela transferência de um elétron;

Page 43: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

43

c) Ni2+ acelera a degradação de hidroperóxidos lipídicos para formar

radicais lipol-O· e propagar reações peroxidativas autocatalíticas de ácidos

graxos;

d) outro mecanismo sugerido é que o níquel, ao inibir as células de defesa

contra os danos da peroxidação, depletaria a glutationa, a catalase, a superóxido

dismutase e outras enzimas que protegem da injúria provocada pelos radicais

livres (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

8) Efeitos Tóxicos do Níquel

8.1 Carcinogenicidade

A atividade carcinogênica depende da solubilidade dos compostos de níquel.

Compostos insolúveis, como sulfeto de níquel II (NiS), óxido de níquel (NiO)

e sulfeto de níquel (Ni3S2), não são facilmente removidos dos tecidos e, por

isso, são mais carcinogênicos do que compostos solúveis como acetato de

níquel (Ni(OAc)2), cloreto de níquel (NiCl2) e sulfato de níquel (NiSO4)

(DENKHAUS; SALNOKOW, 2002).

O níquel foi classificado no nível mais perigoso das substâncias

cancerígenas, no grupo 1, porém não há provas suficientes em animais ou

seres humanos sobre qual exposição que provoca o câncer. (CLANCY,

COSTA, 2012; SEO, KIM, RYU, 2005). Estudos em trabalhadores de

hidrometalúrgicas, onde ocorre elevada exposição ao níquel metálico,

confirmam o baixo risco de desenvolvimento de câncer respiratório

associado à exposição ao níquel elementar durante a refinação (EGEDAHL

et al., 2001). Há falta de evidência da carcinogenicidade através da inalação

de metal de níquel presente em poeiras (CETESB, 2001).

Para suprir a falta de dados adequados considerando-se a exposição via

inalação com pós-metálicos de níquel e pedidos de regulamentação da União

Europeia e da Alemanha, um estudo de inalação de carcinogenicidade foi

iniciado pela Nickel Producers Environmental Research Association

Page 44: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

44

(NiPERA), em 2004, os resultados definitivos do estudo de

carcinogenicidade com pó de níquel metálico inalavel (~ 1,6 μMMAD) , por

via inalatória, em ratos Wistar machos e fêmeas, utilizando-se um regime

de exposição de 2 anos a 0, 0,1, 0,4, e 1 mg/m³. Verificou-se que a dose

máxima era de 1 mg/m³, porém, por precaução, ficou estabelecida como Dose

Máxima Tolerada (MTD) para a inalação de pó de níquel metálico o valor de

0,4 mg/m³ e, portanto, válido para a determinação da carcinogenicidade.

Este estudo não mostrou uma associação entre a exposição ao pó-metálico

níquel e tumores respiratórios. (KIRKPATRICK, 2004).

Segundo a IARC (1990), existem evidências limitadas para a

carcinogenicidade da poeira (pó) do Ni em animais e, por isso, ela não

mostra qualquer classificação completa para a poeira do Ni.

Atualmente, a ACGIH (ACGIH, 2015) classifica o níquel em função da

solubilidade. Os compostos inorgânicos insolúveis são classificados como A1

– Carcinogênico humano confirmado, com base em evidências de estudos

epidemiológicos. Os compostos inorgânicos solúveis como categoria A4 – não

classificável como carcinogênico para humanos, ou seja, há a possibilidade

de existir efeito carcinogênico para humanos, contudo os dados existentes

são insuficientes para permitir afirmar o risco de carcinogenicidade.

O níquel na forma de metal elementar é classificado como A5 – Não

suspeito de carcinogênico humano, uma vez que resultados obtidos em

estudos epidemiológicos permitem concluir que a exposição ao agente não

apresenta risco significativo de câncer para humanos.

Os mecanismos de captação celular podem explicar porque as espécies

inaladas menos solúveis dos sulfetos e dos óxidos de níquel são mais

cancerígenos que as espécies solúveis. As partículas solúveis se dissolvem

na mucosa e os íons são –facilmente retirados por transporte ciliar,

enquanto nas menos solúveis ocorre a fagocitose pelas células epiteliais do

Page 45: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

45

pulmão, nas quais são lentamente dissolvidas, representando uma fonte

contínua de íons de níquel (SCHAUMLÖFFEL, 2012).

8.2 Efeitos sobre a pele

Ao entrar em contato com a pele o níquel pode ser solubilizado e formar íons

de níquel, que serão absorvidos pela pele devido ao processo da difusão

através da derme. Em experimentos com o sulfato de níquel radioativo se

observou uma absorção pela pele entre 55 – 77% em 24 horas, com

ocorrência de dermatite, sintoma que desaparecia quando se retirava o

contato com o material (SILVESTRI, BARMETTLER, 2011).

Em indivíduos mais sensíveis este contato produz dermatite com

inflamação, que pode resultar em vermelhidão, erupções cutâneas, e, nos

casos extremos, úlceras. Esta reação costuma ser observada com certa

frequência em mulheres, devido ao contato com joias, broches, zíperes, entre

outros materiais que possuem níquel em sua composição. Na Europa, de 5 a

15% das mulheres e 0.5 a 1% dos homens estão sensibilizados. Os dados

têm aumentado consideravelmente devido ao uso de piercings (GONZÁLEZ

et al., 2009; GRIECO et al., 2012).

8.3 Efeitos sobre a reprodução

Dados dos efeitos sobre a reprodução são limitados. Estudos tanto in vivo

como in vitro demonstram que o níquel altera diferentes níveis de regulação

do sistema neuroendócrino de mamíferos. O metal induz a alteração da

prolactina e dos níveis de LH (hormônio luteinizante). Os resultados

indicam que as alterações hormonais são os principais causadores da

toxicidade à reprodução, tanto no nível endócrino como nas gônadas.

Observou-se que o níquel (Ni 2+) é capaz de imitar a hipóxia, pois pode

conduzir à ativação de algumas vias de sinalização e a transcrição dos

fatores, o que, eventualmente, resultará na alteração da expressão do gene

Page 46: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

46

e do metabolismo celular. Consequentemente, eis a base da gênese da

toxicidade reprodutiva e da carcinogenicidade (FORGACSA, et al., 2012).

Num estudo com 356 mulheres que trabalhavam em uma refinaria de

níquel no Ártico russo, constatou-se que houve maior taxa de abortos

espontâneos (15,9%) em comparação com a taxa correspondente a 342

mulheres locais que não trabalhavam na planta (8,5%). Ratos expostos ao

sulfato de níquel sofreram degeneração testicular (KAS, DAS, DHUNDASI,

2008).

9) Monitorizações da Exposição

9.1 Vigilância ambiental

A vigilância da presença do níquel é de grande importância para avaliar o

risco da exposição ambiental e da ocupacional ao metal. O níquel no ar (Ni-

Ar) é o indicador mais usado para a quantificar as concentrações do agente.

No caso da vigilância da exposição ocupacional, amostras podem ser

coletadas por 8 h contínuas, constituindo uma única amostra, ou podem ser

coletadas duas amostras, de 4 horas cada. As amostras devem ser coletadas

próximas à zona respiratória dos trabalhadores. A coleta geralmente é

realizada com cassetes e filtro de membrana de éster celulose, seguindo-se o

tratamento com ácido nítrico. Dentre as técnicas mais sensíveis empregadas

na determinação analítica do níquel destaca-se a espectrometria de

absorção atômica, tanto a modalidade que utiliza como atomizador o forno

de grafite quanto a que usa a chama (AZEVEDO, CHASIN, 2003).

9.2 Vigilância biológica

A vigilância biológica de trabalhadores expostos a agentes químicos tem

relevância como medida de avaliação de risco à saúde. O níquel no sangue

(Ni-S) e na urina (Ni-U) são os bioindicadores que mais têm sido estudados

para a biomonitorização a este metal e seus compostos. Alguns autores

Page 47: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

47

consideram que os resultados provenientes do soro são preferíveis, pois são

menos dependentes da função renal e menos sujeitos ao risco de

contaminação (AZEVEDO, CHASIN, 2003).

Embora o Brasil não tenha definido valores de referência de base

populacional, alguns estudos particulares tentaram estabelecer valores de

referência regionais para metais. (AZEVEDO, CHASIN, 2003).

Os processos de urbanização e de industrialização têm levado ao

aparecimento de áreas contaminadas em diferentes regiões. No Estado de

São Paulo já foram detectadas mais de 4,5 mil áreas contaminadas

(CETESB, 2012).

Um estudo realizado por KIRA (2011), com 1324 indivíduos de ambos os

gêneros, sendo 786 adultos (14 a 70 anos) e 538 crianças (6 a 13 anos),

amostradas das zonas centro, norte, sul, leste e oeste do município de São

Paulo, analisou-se a quantidade no sangue, de acordo com alimentação,

hábitos de vida e possíveis exposição ao metal. Os resultados apontam que

para a concentração do níquel no sangue, os fatores determinantes foram

faixa etária, consumo de peixe, vísceras e miúdos e consumo de frango,

porém indicam que a população estudada não está exposta a níveis

preocupantes de exposição.

10) Documentos de Segurança

A Ficha de Informações de Segurança De Produtos Químicos (FISPQ)

fornece informações sobre vários aspectos de produtos químicos

(substâncias ou misturas) quanto à proteção, à segurança, à saúde e ao

meio ambiente. São conhecimentos básicos sobre os produtos químicos,

recomendações sobre medidas de proteção e ações em situação de

emergência. Em países que adotam a língua inglesa, tal ficha é chamada de

Safety Data Sheet (SDS).

Page 48: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

48

Seguem-se exemplos da FISPQ do níquel e de seus compostos. Enfocando

apenas as seções que retratam o objeto deste artigo, como classificação,

toxicidade e limites de exposição (NBR 14725-4).

Cloreto de níquel hexahidratado:

Page 49: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

49

Nitrato de níquel hexahidratado:

Page 50: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

50

Sulfamato de níquel

Page 51: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

51

Minério concentrado de níquel:

Page 52: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

52

Conclusão

Os estudos comprovam que qualquer esforço para avaliar os riscos à saúde

para a identificar a toxicidade dos compostos de níquel deve começar com

uma boa coleta de dados. Isso inclui monitorar alimentos, água, local de

trabalho, traçar o perfil de risco quem está mais exposto e a qual

componente, qual a forma dessa exposição. Devem se criar programas que

permitam a vigilância no local, compreendendo os limites de exposição,

legislativas aplicáveis e implementar um programa de monitoramento que

permite a comparação das exposições dos seres a esses limites.

Referências bibliográficas

ACGIH (Conferência Americana de Higienistas Industriais

Governamentais). (2014). Valores limite e índices de exposição biológica

para substâncias químicas e agentes físicos. Cincinnati, OH, p.51

Page 53: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

53

AHMAD, M. S., ASHRAF, M. (2011). Essential roles and hazardous effects

of nickel in plants. Review of Environmental Contamination and Toxicology,

214, 125–167

AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. M.. Metais Gerenciamento da toxicidade.

Belo Horizonte: Atheneu, 2003. 554 p.

CETESB. Relatório de estabelecimento de valores orientadores para solos e

águas subterrâneas no estado de São Paulo / Dorothy C. P. Casarini [et al.].

São Paulo: Série Relatórios Ambientais, 73p., 2001.

CLANCY, H., COSTA, M. (2012). Nickel: A pervasive carcinogen. Future

Oncology, 8, 1507–1509. doi:10.2217/fon.12.154

DENKHAUS, E. SALNOKOW, K. Nickel essentiality, toxicity, and

carcinogenicity. Critical Reviews in Oncology/Hematology, v.42, p35 – 56,

2002.

HUGHSON, Graeme W. An occupational hygiene assessment of dermal

nickel exposures in primary production industries. Edinburgh: Institute Of

Occupational Medicine, 2004.

IARC. International Agency for Research on Cancer. Biological Data

Relevant to the Evaluation of Carcinogenic Risk to Humans. Chromium,

Nickel and Welding. Lyon: IARC, vol 49 1990.

http://monographs.iarc.fr/ENG/Monographs/vol49/.

Hueper, W. e Payne, W. (1962). Estudos experimentais em metal de

carcinogênese. Arch. Environ. Saúde, 5, 445-462

KAS, K., DAS, S., DHUNDASI, S. (2008). Nickel, its adverse health effects

and oxidative stress. Indian Journal of Medical Research, 128, 412–425.

KIRA, C. S.. Determinação de valores de referência para chumbo, cádmio,

mercúrio e níquel em sangue de crianças e adultos da cidade de São Paulo.

2014. 176 f. Tese (Doutorado) - Curso de Medicina, Faculdade de Medicina,

São Paulo, 2014.

KIRKPATRICK, D. (2004). A 13-Week Estudo de Inalação Toxicidade (com

recuperação) de níquel metal em ratos albinos (Estudo No. WIL-437002).

WIL Research Laboratories, Inc., Ashland, Ohio.

Page 54: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

GONZALEZ, Karina Regina. Toxicologia do Níquel. Revista Intertox de Toxicologia Risco

Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 30-54, jun. 2016.

54

MOULIN, J., CLAVEL, T., ROY, D., et al. (2000). Risco de câncer de pulmão

em trabalhadores que produzem ligas de aço inoxidável e metálicos. Int

Arch Occup Environ Saúde 73 (3): 171-80.

MUÑOZ, A., COSTA, M. (2012). Elucidating the mechanisms of nickel

compound uptake: A review of particulate and nano-nickel endocytosis and

toxicity. Toxicology Applied and Pharmacology, 260, 1–16.

doi:10.1016/j.taap.2011.12.014

NIELSEN, G. D.; ANDERSEN, O. JENSEN. M. Toxicocinetics of nickel in

mice studied with the gamma-emitting isotope 57Ni. Fundam. Appl.

Toxicol., v. 21, n. 2, p. 236-243, 1993

OLIVEIRA, M. F. Efeito da exposição crônica ao níquel nos testículos de

ratos Wistar adultos. 2010. 67 f. Tese (Doutorado) - Curso de Biologia

Celular e Estrutural, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2010.

OLLER, A. R. Respiratory carcinogenicity assessement of soluble nickel

compounds. Environ. Health. Perspect, v. 110, suppl 5, p. 841-4,. 2002.

PEIXE, T. S.. Avaliação das concentrações de exposição aos metais Pb, Cd,

Mn e Ni em fundições de metais não ferrosos e correlações com marcadores

de dano oxidativo. 2010. 174 f. Tese (Doutorado) - Curso de Toxicologia e

Análises Toxicológicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

QUINÁGUIA, G. A.. Caracterização dos níveis basais de concentração de

metais. São Paulo: Biblioteca 24 Horas, 2012. 1 v.

SHARMA, S., SHARMA, S., SINGH, P. K., SWAMI, R. C., & SHARMA, K.

P. (2009). Exploring fish bioassay of textile dye wastewaters and their

selected constituents in terms of mortality and erythrocyte disorders.

Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology, 83, 29–34.

doi:10.1007/s00128-009-9711-y

SCHAUMLÖFFEL, D. (2012). Nickel species: Analysis and toxic effects.

Journal of Trace Elements in Medicine and Biology, 26, 1–6.

doi:10.1016/j.jtemb.2012.01.002

Page 55: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

55

Quantificação de nitrato e nitrito utilizados

em linguiças tipo calabresa comercializadas

em Picos-PI

Quantification of nitrate and nitrite used in

Calabrian sausage type commercialized in Picos-PI

Viviane de Sá Carvalho Sousa

Graduanda do Curso Bacharelado em Nutrição, Universidade Federal

do Piauí/ CSHNB, Picos, PI, Brasil.

Sabrina Almondes Teixeira

Graduada em Nutrição, UFPI, Picos; Especialista em Nutrição e

Controle de Qualidade de Alimentos, Instituto de Tecnologia Aplicada,

Sobral-CE. Mestranda em Alimentos e Nutrição, UFPI-PPGAN,

Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]

Bárbara Verônica Sousa Cardoso

Graduada em Nutrição, UFPI, Teresina; Especialista em Nutrição

Humana e Saúde, Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais;

Mestre em Ciências e Saúde, UFPI, Teresina. Docente da Universidade

Federal do Piauí, CSHNB, Picos, Piauí, Brasil.

Leonardo Henrique Guedes de Morais Lima

Graduado em Ciências Biológicas, UEPB, Campina Grande, Natal;

Mestre em Genética e Biologia Molecular, UFRN; Docente da

Universidade Federal do Piauí, CSHNB, Picos, Piauí, Brasil.

Page 56: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

56

Resumo

Os conservantes vêm sendo cada vez mais utilizados pela indústria de

alimentos, visto que podem impedir ou retardar alterações causadas por

microrganismos, enzimas e/ou agentes físicos. Dentre estes conservantes

está o nitrato e o nitrito, utilizados para inibir o crescimento de

microrganismos patogênicos e conferir cor e sabor aos alimentos.

Entretanto, contrapondo-se com os benefícios gerados pelo uso desses

compostos, estão os efeitos tóxicos que podem ser causados pela sua

ingestão. Um dos mais relevantes efeitos decorrentes da ingestão desses íons

é a metahemoglobina e consequente redução do transporte de oxigênio. Além

disso, a quantidade excedente destes íons pode ocasionar um aumento da

ocorrência de câncer de estômago em seres humanos, em consequência da

formação de N-nitrosaminas, caracterizadas como compostos de alto

potencial mutagênico. Com o objetivo de avaliar o teor desses aditivos em

linguiças do tipo calabresa comercializados na cidade de Picos-PI, foram

analisadas 4 amostras por meio do método de Griess Ilosvay, e todas

apresentaram resultado superior ao preconizado pela legislação, tornando-se

necessário maior fiscalização no processo produtivo para garantir a

qualidade do produto fornecido e minimizar ou anular os riscos à saúde dos

consumidores.

Palavras-chave: Conservantes alimentares. Produtos Cárneos. Toxicidade.

Saúde pública.

Abstract

Preservatives has been increasingly used by the food industry, as they may

prevent or delay changes caused by microorganisms, enzymes and / or

physical agents. Among these food additives there are nitrate and nitrite,

used to inhibit the growth of pathogenic microorganisms and impart color

and flavor to the food. However, in contrast with the benefits generated by

the use of these compounds are toxic effects that may be caused by their

ingestion. One of the most important effects of the intake of these ions is the

methemoglobinemia and consequent reduction in oxygen transport.

Furthermore, the excess amount of these ions may cause an increased

incidence of stomach cancer in human beings, due to the formation of N-

nitrosamines, which are characterized as high mutagenic compounds. In

order to assess the content of these additives in the Calabrian sausage type

sold in the city of Picos-PI, 4 samples were analyzed using the Griess

Ilosvay method, that showed better results than recommended by law,

making it necessary to pay extra attention to the production process, to

ensure the quality of the delivered product and minimize or negate the risks

to consumer health.

Keywords: Food Preservatives. Meat Product. Toxicity. Public health.

Page 57: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

57

Introdução

Atualmente, os conservantes vêm sendo cada vez mais utilizados pela

indústria de alimentos, visto que é crescente a procura por alimentos

quimicamente estáveis, seguros e de maior durabilidade, características que

só podem ser alcançadas através do uso de tais substâncias, pois tem a

função de retardar ou impedir alterações nos alimentos provocadas por

microrganismos, enzimas e/ou agentes físicos. No entanto essas substâncias

só podem ser utilizadas quando não oferecerem nenhum risco à saúde

humana, devendo estar de acordo com as normas e quantidades

estabelecidas pelos órgãos regulamentadores, sendo seu uso justificado

apenas quando servir para melhorar as condições dos alimentos (TONETTO

et al., 2008).

Recentemente, o mercado consumidor tornou-se cada vez mais cauteloso

quanto a segurança dos alimentos e dentre os vários itens relacionados com

a segurança alimentar, os aditivos estão entre os mais controversos. Diante

do ponto de vista tecnológico é inegável que os aditivos alimentares

desempenham um papel importante no desenvolvimento de alimentos.

Entretanto, seu uso é um tema que desperta preocupação (VARELA;

FISZMAN, 2013).

Diversos estudos têm mostrado que entre as muitas substâncias químicas

capazes de provocar problemas a saúde dos indivíduos estão o nitrato e o

nitrito, que são aditivos utilizados como conservantes em vários alimentos.

Em produtos cárneos tem como finalidade inibir o crescimento de

microrganismos patogênicos, como o Clostridium botulinum, conferir

aspectos sensoriais característicos às carnes curadas, além de retardar a

oxidação lipídica. Em contrapartida aos efeitos benéficos resultantes da

utilização dessas substâncias na conservação de alguns gêneros

alimentícios, encontra-se também o efeito tóxico que pode ser causado em

indivíduos expostos aos mesmos, dependendo da quantidade ingerida e da

susceptibilidade do organismo (DUARTE, 2010; FERREIRA et al., 2013)

Page 58: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

58

Guerreiro et al. (2012) afirmam que um dos efeitos tóxicos mais relevantes

decorrentes da ingestão de nitrito e nitrato é a metahemoglobinemia,

caracterizada pelo aumento da metahemoglobina no sangue e consequente

redução do transporte de oxigênio. Esta síndrome pode ocorrer por

alterações congênitas na síntese ou metabolismo da hemoglobina, como

também em situações de desequilíbrio nas reações de redução e oxidação da

mesma. Além disso, a quantidade excedente destes íons pode ocasionar um

aumento da ocorrência de câncer de estômago em seres humanos. Tal

consequência é explicada pelo fato da possível reação do nitrito com aminas

para formar N-nitrosamina, composto que apresenta potencial carcinogênico

e ação teratogênica em animais (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2011).

A fabricação de produtos cárneos embutidos possibilita o aumento da vida

útil das carnes, por meio da adição de íons como o nitrato e o nitrito, além de

diversificar a oferta de derivados. Esses produtos são elaborados com carnes

ou outros tecidos animais comestíveis, curados ou não, defumados e

dessecados ou não, tendo como envoltório natural tripas, bexigas ou outras

membranas animais ou envoltório artificial apropriado (LEITE, 1989).

A linguiça comparada com outros produtos cárneos embutidos destaca-se por

sua fácil aceitação e comercialização. São utilizados no processo de produção

carnes de animais de açougue, adicionadas ou não de tecidos adiposos, e o

processamento pode ocorrer em estabelecimentos de micro, pequeno, médio e

grande porte. Adicionam-se ao processo aditivos (nitrito, nitrato e outros)

empregados para melhorar as características sensoriais do produto

(RODRIGUES et al., 2012).

A legislação brasileira, conforme a Portaria nº. 1004/1998, estabelecida pelo

Ministério da Saúde, e por meio da Instrução Normativa n° 51/2006,

aprovada pelo Ministério da Saúde, Agropecuária e Abastecimento, atribui

um limite máximo para a quantidade desses conservantes nos produtos a

serem consumidos de 150 mg/kg (de nitrito de sódio ou potássio) e 300 mg/kg

(de nitrato de sódio ou potássio). A mesma portaria permite a combinação de

nitrito e nitrato, caso a soma das suas concentrações não seja superior a 150

mg/kg (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006).

Page 59: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

59

Avaliando a importância industrial e os aspectos toxicológicos desses

aditivos, é essencial que seja executado o monitoramento do seu teor,

evitando dessa forma riscos à saúde da população. A principal ferramenta

para assegurar que esses produtos estejam enquadrados nas determinações

legais é através de sua determinação quantitativa. Diante do exposto, o

presente trabalho verificou quantitativamente e qualitativamente a

presença de nitrato e nitrito em amostras de linguiças comercializadas na

cidade de Picos/PI.

Materiais e Métodos

Para a realização deste estudo foram utilizadas quatro marcas de linguiças

tipo calabresa industrializadas e comercializadas em diferentes

supermercados. Para definição das marcas a serem utilizadas por este

trabalho foram consideradas as de maior comercialização em diferentes

pontos de venda. Já a escolha dos locais para aquisição das amostras visou a

abranger toda a cidade de Picos, envolvendo supermercados de grande,

médio e pequeno porte.

As quatro marcas (uma amostra de cada marca) foram selecionadas e as

análises foram realizadas durante os meses compreendidos entre setembro e

outubro de 2014. Foram coletadas em sacos plásticos devidamente

esterilizados e identificados, utilizando isopores com gelo durante o

transporte. Posteriormente as amostras foram analisadas pelo método

Griess Ilosvay (metodologia desenvolvida pelo Instituto Adolfo Lutz, 2010),

em parceria com o Laboratório Pureáguas: Controle de Qualidade de Água e

Alimentos, Teresina - PI, objetivando a extração e a quantificação de

nitratos e nitritos.

O método Griess Ilosvay consiste em três etapas, como demonstrado na

Figura I: a primeira delas visa à extração dos íons da amostra, com adição

de reagentes como tetraborato de sódio, acetato de zinco, utilização da

técnica de banho-maria e posteriormente a filtração do conteúdo. A segunda

etapa se dá pela utilização da solução resultante da primeira fase e a essa

Page 60: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

60

adicionam-se reagentes como a sulfanilamida e, para finalizar, a solução é

levada para leitura de absorbância na curva analítica do espectrofotômetro.

De forma semelhante, na terceira utiliza-se a solução da primeira fase,

adicionando-se a esta, soluções como o Tampão pH 9,6-9,7. Posteriormente

passa-se o conteúdo pela coluna de cádmio, adiciona-se o reagente

sulfanilamida e, finalmente, realiza-se a leitura substanciado extrato

resultante na curva analítica do espectrofotômetro.

Figura I – Diagrama analítico da quantificação de nitrito e nitrato presentes em linguiças

do tipo calabresa comercializadas em Picos-PI, 2014.

Os resultados obtidos das análises feitas por esse trabalho foram

comparados com os padrões legais preconizados pelo Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da instrução

normativa n° 51/2006, e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA), por meio da portaria n° 1004/1998 (BRASIL, 1998; BRASIL,

2006).

Page 61: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

61

Resultados e Discussão

Nesse estudo foram analisadas as concentrações de Nitrito (NO2-) e Nitrato

(NO3-) em todas as amostras coletadas. Além de serem determinadas as

concentrações separadas de cada composto, foi considerada a soma dos

teores desses íons. A Tabela I apresenta os resultados obtidos pelas análises.

Tabela I – Resultados das análises de nitrito e nitrato em linguiças do tipo calabresa

comercializadas em Picos-PI, 2014.

Observou-se que as concentrações das amostras variaram de 105,0 mg/kg a

122,0 mg/kg e de 234,0 mg/kg a 245,0 mg/kg para NO2- e NO3

-,

respectivamente, enquanto que a soma dos dois compostos variou de 339,0

mg/kg a 367,0 mg/kg. A marca A apresentou as menores concentrações de

ambos os compostos, estando entre 105,0 mg/kg para NO2-, 234,0 mg/kg para

NO3- e totalizando 339,0 mg/kg na soma dos dois compostos. Em

contrapartida a marca C foi a que apresentou o maior teor tanto de NO2-

como de NO3-, mostrando valores de 122,0 mg/kg e 245,0 mg/kg, somando

367,0 mg/kg na junção de ambos os íons.

Analisando os teores de nitrito e nitrato separadamente, nota-se que em

todas as marcas avaliadas as quantidades obtidas obedecem aos níveis

propostos pela legislação (150mg/kg para Nitrito e 300mg/kg para o Nitrato).

Tais resultados assemelham-se aos obtidos por Baú et al. (2012), que

verificaram que as quantidades de nitrito e nitrato para todas as amostras

analisadas estavam de acordo com os parâmetros estabelecidos por lei.

Petruci (2009), ao avaliar os teores de nitrato e nitrito em amostras de

diferentes produtos cárneos comercializados em Araraquara-São Paulo,

Page 62: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

62

constatou que todos os produtos analisados atendiam aos padrões

estabelecidos pela ANVISA.

Bohrz (2013), analisando os teores de nitrato e nitrito em linguiças tipo

frescal, também evidenciou que nenhuma das amostras apresentavam

quantidades que excediam os limites máximos tolerados para carnes e

produtos cárneos, concluindo que as amostras analisadas não ofereciam

riscos à saúde humana.

De modo semelhante, Filho e Silva (2013), avaliando a composição físico-

química de carne bovina salgada, curada e dessecada para o cumprimento

legal dos parâmetros de qualidade do Jerked Beef comercializado na região

do vale do Paraíba, constataram que das 10 (dez) amostras analisadas

nenhuma apresentou quantidades de conservantes fora dos limites

estabelecidos legalmente.

Em contrapartida, Andrade e Trigueiro (2008) concluíram que metade das

amostras por eles estudadas continham teor de nitrito acima do permitido

pela legislação. Já um estudo realizado em Taquari-RS mostrou que 37,5%

das amostras de linguiças analisadas apresentavam valores superiores de

NaNO2 e NaNO3 em relação aos permitidos pela legislação (SCHEIBLER et

al., 2013).

Oliveira (2005) conclui em seu trabalho que há uma grande variação nos

teores de nitrato e nitrito entre as amostras dos produtos analisados e tais

diferenças prevalecem até entre os lotes de um mesmo produtor. O autor

destaca, ainda, que a maioria das marcas de linguiças por ele estudadas está

adequada, porém 7,1% delas ultrapassaram os padrões legais.

Analisando estudos realizados em outros países, pode-se perceber que o uso

indiscriminado de nitrito e nitrato não é restrito ao Brasil. De acordo com

estudo feito por Bernal e Mendoza (2013) na cidade de Cuenca, no Equador,

para avaliar o teor de nitrito em salsichas, ficou evidenciado que das 7

marcas analisadas, 6 apresentaram valores superiores ao estabelecido

(125,0 mg/kg) pela legislação vigente naquele país.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da

instrução Normativa n° 51/2006, e a Agência Nacional de Vigilância

Page 63: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

63

Sanitária (ANVISA), por meio da Portaria 1004/1998, além de preconizarem

limites máximos para utilização de cada um desses compostos, também

estabelecem que a mistura de aditivos com igual função pode ser feita

apenas quando a soma de todas as concentrações não for superior ao limite

máximo para cada um deles. Com base nisso, verificou-se nesse trabalho que

todas as amostras estudadas apresentaram valores acima dos preconizados

pela legislação brasileira, visto que ultrapassaram, em mais de duas vezes, o

limite estabelecido que é de 150,0 mg/kg, trazendo aos consumidores graves

riscos para sua saúde (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006).

Não se pode afirmar ao certo que os valores excedentes de tais conservantes

são em sua totalidade resultantes da utilização indevida dos fabricantes,

visto que é necessário levar em consideração a possibilidade da existência

desses íons na forma natural nos produtos animais, que ocorre através da

absorção pelo pasto ou pelas águas. Os vegetais, de modo geral, são fontes

naturais de nitrato, este utilizado como fonte de nitrogênio para o

crescimento das plantas. Assim, as concentrações naturais de nitrato e

nitrito presente nos alimentos cárneos estão diretamente relacionadas ao

uso de fertilizantes e das condições nas quais a pastagem é cultivada,

colhida e armazenada (WALKER, 1975; GUADAGNIN, 2004).

Outra questão que deve ser considerada é a redução do nitrato a nitrito por

bactérias presentes na carne. Este fato foi evidenciado no século XIX, onde

descobriu-se que o nitrato se reduzia a nitrito mediante um processo

bacteriano, envolvendo espécies tais como Micrococcus epidermidis,

Micrococcus nitrificans e Achromobacter dendriticum, estas denominadas de

bactérias redutoras de nitrato (CASSENS et al., 1979; PEGG; SHAHIDI,

2004; SEBRANEK; BACUS, 2007).

Os fatos supracitados tona difícil a discussão dos resultados finais no que se

diz respeito à origem dos íons e quanto à forma inicialmente presente no

alimento. No entanto, não se deve excluir a responsabilidade do fabricante

quanto aos cuidados e obediência às normas estabelecidas pela legislação,

pois o mesmo, deve também considerar a existência dos íons na forma

natural dos produtos, assim como ter maior rigor no seu uso, estando atento

Page 64: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

64

aos princípios para sua utilização estabelecidos pelo Ministério da Saúde,

que afirma que a segurança do emprego de aditivos é imprescindível e deve

limitar-se ao nível mínimo para obter o efeito desejado (BRASIL, 1998).

Apesar de o nitrito e nitrato serem utilizados há muito tempo, e sabendo-se

que sua utilização em altas concentrações pode resultar em prejuízos à

saúde, conforme descrito por vários estudos realizados durante as últimas

décadas, tais como a metahemoglobinemia e a formação de N-nitrosaminas,

ainda existem falhas quanto ao seu uso e á fiscalização (PAULA, 2009).

Diante disto, a verificação de valores acima do permitido para as amostras

estudadas trazem bastante preocupação quanto à fabricação dos produtos

cárneos comercializados em Picos-PI.

Conclusão

De acordo com os resultados obtidos por esse estudo, é possível afirmar que

todas as amostras de linguiças apresentaram teores superiores da soma de

nitrito e nitrato em relação aos padrões estabelecidos pela legislação

vigente, indicando que tais produtos podem causar sérios riscos toxicológicos

aos consumidores. Dessa forma, conclui-se que os produtores de tais marcas

precisam estar atentos às quantidades utilizadas desses conservantes, pois

devem considerar a possível existência dos mesmos na forma natural dos

produtos e mediante isso, garantir que o uso seja no nível mínimo para

alcançar seu objetivo, adequando-se a um sistema de produção que garanta

a segurança alimentar, assim como a existência da necessidade de haver

uma ação mais eficaz da Vigilância Sanitária para orientar o produtor e

fiscalizar o uso desses compostos, visando a evitar os danos toxicológicos e

garantir a saúde do consumidor, pois a qualidade sanitária dos alimentos

deve ser uma prioridade para a saúde pública, uma vez que o fornecimento

de alimentos seguros, além de promover a saúde da população, é um direito

básico dos cidadãos.

Page 65: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

65

Agradecimentos

Ao laboratório Pureáguas – Controle de Qualidade de Água e Alimentos,

pela parceria na realização desse estudo.

Referências bibliográficas

ANDRADE, L. L; TRIGUEIRO, I. N. S. Nitrito residual em salsichas de ave

comercializadas em Salvador-BA. Revista Higiene Alimentar, Salvador,

v. 22, p. 185-188, 2008.

BAÚ, T, R; DIAS, C, A; ALFARO, A. T. Avaliação da qualidade química e

microbiológica de salsichas tipo Viena. Revista Instituto Adolfo Lutz. São

Paulo, v. 71, n. 1, p. 207-10, 2012.

BERNAL, N. E. P; MENDOZA, V. K. V. Determinación de la

concentración de nitritos en salchicha tipo frankfurt que se

comercializa en los mercados de la ciudad de cuenca. 2013. 88f.

Tesis (mestrado em Bioquímica y Farmacia). Universidad de Cuenca,

Facultad de Ciencias Quimicas Escuela de Bioquimica y Farmacia, Ecuador,

2013.

BRASIL. Secretaria de vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Portaria

nº 1004, de 11 de dezembro de 1998, republicada no Diário oficial da

união de 22 de março de 1999. Aprova Regulamento Técnico: “Atribuição de

função de aditivos, aditivos e seus limites máximos de uso para a categoria 8

– carne e produtos cárneos”. Disponível em: http://www.anvisa.

gov.br/alimentos. Acesso em: 14 junho de 2014.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução

Normativa n° 51/2006. Adota regulamento técnico de atribuição de aditivos

e seus limites das categorias de alimentos que especifica. Diário Oficial da

União. Brasília, 04 de janeiro de 2007. Disponível em:

http://www.normasbrasil.com.br/norma/instrucao-normativa-51-

2006_76049.html. Acesso em: 02 junho de 2015.

BOHRZ, D. A. S; BRUSTOLIN, J. M; CERESER, N. D; PINTO, F. R. Teores

de nitrato e nitrito, determinação de Ph e atividade de água em linguiças do

tipo frescal oriundas do Noroeste do Rio Grande do Sul. Revista Ars

Veterinária, v. 29, n. 4, 2013.

DUARTE, M.T. Avaliação do teor de nitrito de sódio em linguiças do

tipo frescal cozida comercializadas no estado do Rio de Janeiro,

Brasil. 2010. 87f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de

Medicina Veterinária do Rio de janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

FERREIRA, H.M.F.; MOREIRA, E.A.; FREITAS, D.F. Avaliação dos níveis

de nitrato e nitrito em salsichas comercializadas na cidade de lavras – MG.

Page 66: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

66

Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 11, n. 2,

p. 218-227, 2013.

FILHO, C, C, M; SILVA, D, A. Avaliação físico-química de carne

bovina salgada, curada e dessecada: Um estudo do cumprimento

legal dos parâmetros de qualidade do jerked beef comercializado na

região do vale do Paraíba. São José dos Campos. 2013. 38f. Monografia

(Graduação em Engenharia de Alimentos) – Faculdade de Engenharias,

Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Vale do Paraíba, São José dos

Campos, 2013.

FOOD INGREDIENTES BRASIL. Dossiê conservantes. n. 18 p. 43, 2011.

GUADAGNIN, S. G. Avaliação do teor de nitrato em hortaliças

folhosas produzidas por diferentes sistemas de cultivo. 2004. 78 f.

Dissertação (Mestrado em Ciências de Alimentos) Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 2004.

GUERREIRO, R.S.; SÁ, M.T.; RODRIGUES, L.A.P. Avaliação do teor de

nitrito e nitrato em alimentos cárneos comercializados em Salvador.

Revista Internacional de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade,

v. 5, n. 1, p. 77-91, 2012.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ - IAL. Métodos físicoquímicos para

análise de alimentos. 4 ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.

LEITE, O.A. Aspectos físicoquímicos de interesse higiênicosanitário

e tecnológico de lingüiças frescais. Niterói, 1989. 67f. Dissertação

(Mestrado em Medicina veterinária) – Faculdade de veterinária,

Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 1989.

OLIVEIRA, M.J.; ARAÚJO, W.M.C.; BORGO, L.A. Quantificação de nitrato

e nitrito de linguiças do tipo frescal. Revista Ciências da Tecnologia de

Alimentos, Campinas, v. 25, n. 4, p. 736-742, 2005.

PAULA, C. D. Investigação do teor de nitrito em linguiças comercializadas

na região de Franca – SP. Revista Uniara v.12, n. 2, p. 101-118, 2009.

PETRUCI, J.F.S. Determinação de conservantes e contaminantes em

alimentos e bebidas por Eletroforese Capilar. 2009. 98f. Dissertação

(mestrado em Química) – Instituto de Química. Universidade Estadual

Paulista, Araraquara, 2009.

RODRIGUES, W; AUGUSTO, S. R; NEVES, R. C; MARTIN, O. A.

Determinação espectrofotométrica do íon nitrito em linguiça tipo frescal.

Revista Eletrônica de Educação e Ciência, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 06-

11, 2012

Page 67: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

SOUSA, Viviane de Sá Carvalho; TEIXEIRA, Sabrina Almondes; CARDOSO, Bárbara

Verônica Sousa; LIMA, Leonardo Henrique Guedes de Morais. Quantificação de nitrato e

nitrito utilizados em linguiças tipo calabresa comercializadas em Picos-PI. Revista Intertox

de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 55-67, jun. 2016.

67

SCHEIBLER, J, R; MARCHI, M, I; SOUZA, C, F, V. Análise dos teores de

nitritos e nitratos de embutidos produzidos em municípios do vale do

Taquari-Rs. Revista Destaques Acadêmicos, v. 5, n. 4, 2013.

SEBRANEK, J. G. Basic cured ingredients. In: Ingredients in meat

products – properties, functionality and applications. 1ª edition, Rodrigo

Tarté Editor, USA, p 10-19, 2009.

SEMEDO, J. Riscos associados à ingestão de produtos alimentares

com Cloreto de Sódio, Nitratos e Nitritos. 2009. 57f. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação em Química) – Universidade de Cabo

Verde, Cabo Verde, 2009.

TONETTO, A; HUANG, A; YOKO, J; GONÇALVES, R. O Uso de Aditivos

de Cor e Sabor em Produtos Alimentícios. 2008. 21f. Dissertação

(Especialização em Tecnologia de Alimentos). Faculdade de ciências

farmacêuticas, São Paulo, 2008.

VARELA, P.; FISZMAN, S.M. Exploring consumers' knowledge and

perceptions of hydrocolloids used as food additives and ingredients.

Magazine Food Hydrocolloids, Valencia, Spain, v. 30, n. 1, p. 477-484,

2013.

WALKER, R. Naturally accuring nitrate/nitrite in foods. Journal of the

Science of Food and Agriculture, London, v. 26, n. 11, p. 1735-1742,

1975.

Page 68: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

68

Determinação quantitativa de fenobarbital

em plasma por cromatografia líquida de alta

eficiência

Quantitative determination of phenobarbital in

plasma by high performance liquid

chromatography

Antonia Karine Barros Nojosa

Graduanda em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará;

E-mail: [email protected]

Janete Eliza Soares de Lima

Professora doutora da Disciplina de Toxicologia de Alimentos,

Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e

Enfermagem da Universidade Federal do Ceará;

E-mail: [email protected]

Teresa Maria de Jesus Ponte Carvalho

Professora doutora da Disciplina de Análises Toxicológicas,

Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de

Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do

Ceará. E-mail: [email protected]

Page 69: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

69

Resumo

Os medicamentos representam agentes importantes como provocadores de

intoxicações, dentre estes estão os anticonvulsivantes e o fenobarbital como

um representante desta classe. O fenobarbital é utilizado para o tratamento

de epilepsia para prevenir crises convulsivas e apresenta uma margem

terapêutica estreita. Pode ocasionar tolerância, o que resulta na ingestão de

doses muito maiores que a dose terapêutica, podendo causar toxicidade em

concentração sérica elevada. A intoxicação por fenobarbital provoca

alteração da consciência, depressão respiratória e vasomotora, podendo

resultar em coma. Logo, a determinação quantitativa do fenobarbital

juntamente com a detecção dos sintomas clínicos irá contribuir na

confirmação do diagnóstico de intoxicação. O presente trabalho teve como

objetivo a padronização e validação de método analítico para a quantificação

sérica de fenobarbital por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência – CLAE,

estabelecendo-se os parâmetros de linearidade, limite de quantificação,

curva de calibração, precisão e exatidão. O estudo realizado é do tipo

analítico, quantitativo. Foi realizado no Laboratório de Toxicologia da

Universidade Federal do Ceará. O princípio do método por CLAE se baseia

na separação por fase reversa, em modo isocrático utilizando-se uma

mistura de água ultrapura e acetonitrila e detector UV, em comprimento de

onda de 215 nm. O método foi linear de 2 a 60 µg/mL com limite de

quantificação de 2 µg/mL, mostrando-se preciso e exato e apresentando boa

recuperação. Conclui-se que o método desenvolvido demonstrou possuir

parâmetros necessários para ser utilizado na quantificação de fenobarbital

em amostras de plasma ou soro humano para análise de emergência.

Palavras-chave: Fenobarbital. Toxicologia analítica. Validação.

Page 70: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

70

Abstract

The drugs are agents provocateurs of intoxication. Among these are the

anticonvulsants and the phenobarbital is a representative of this class,

being utilized for the treatment of epilepsy to prevent seizures.

Phenobarbital has a narrow therapeutic window and may cause tolerance

resulting in ingesting much larger doses than the therapeutic dose, may

cause toxicity at high serum concentrations. Phenobarbital intoxication

causes alteration of consciousness, respiratory depression and vasomotor

and may result in coma. Therefore, the quantitative determination of

phenobarbital, along with the detection of clinical signs will help to confirm

the poisoning diagnostic. This study aimed standardization and validation

of analytical methods for the quantification of phenobarbital serum by high-

performance liquid chromatography - HPLC, establishing the parameters

linearity, quantification limit, calibration curve, precision and accuracy. The

conducted study is the analytical, quantitative type. It was held at the

Toxicology Laboratory of the Federal University of Ceará. The principle of

the method is based on HPLC separation by reverse phase in isocratic mode

using a mixture of acetonitrile and ultrapure water and UV detector at a

wavelength of 215 nm. The method was linear from 2 to 60μg / mL with

quantification limit of 2 ug/mL, being precise and accurate and showing

good recovery. It follows that the method developed has demonstrated

required parameters to be used in the quantification of phenobarbital in

plasma samples or human serum for emergency analysis.

Key words: Phenobarbital. Analytical toxicology. Validation.

Page 71: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

71

Introdução

A epilepsia é um distúrbio da função cerebral que atinge milhões de pessoas

pelo mundo. Sua principal manifestação clínica é a ocorrência de convulsões,

decorrentes da atividade neuronal excessiva ou pela falta de sincronia

durante a transmissão do impulso nervoso (RUTECKI; GIDAL, 2002). A

farmacoterapia é o tratamento mais comum da epilepsia e dispõe de vários

medicamentos para prevenir a ocorrência das crises convulsivas,

observando-se uma resposta adequada entre 60 e 70% dos pacientes

(BRUM; ELISABETSKY, 2000).

O fenobarbital (C12H12N2O3) foi o primeiro agente orgânico sintetizado a

partir do ácido barbitúrico e apresenta propriedades anticonvulsivantes,

hipnóticas e sedativas. É utilizado principalmente no controle de convulsões

dos tipos tônico-clônicas e parcial simples, em concentrações que produzem

sedação mínima. Atua como depressor não seletivo do sistema nervoso

central (SNC) (DALMORA et al., 2010). Apresenta uma margem terapêutica

estreita de 10 a 40 µg.mL-1 e o desenvolvimento de tolerância resulta na

ingestão de doses muito maiores que a dose terapêutica, e dados na

literatura mostram que há toxicidade em concentração sérica acima de 30

µg.mL-1 (PASTORE et al., 2007). Logo a monitorização terapêutica é

necessária, uma vez que a faixa terapêutica de fármacos utilizados em crises

epiléticas deve esta num intervalo seguro para sua administração e a

overdose pode levar a intoxicações severas.

Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológica

(SINITOX, 2012), os medicamentos são citados como um dos principais

agentes responsáveis por intoxicações, ocasionadas por tentativa de suicídio,

acidente individual, uso terapêutico, erros de administração e

automedicação (SOARES et al., 2014). Em estudo realizado em um centro de

assistência toxicológica no Paraná entre 2007 e 2011, com mulheres em

idade fértil, intoxicadas por medicamentos, observou-se que dentre os

medicamentos utilizados estão aqueles com atuação no Sistema Nervoso

Central, destacando-se os anticonvulsivantes e os antidepressivos

(TAKAHAMA et al., 2013).

Em um estudo realizado na cidade de São Paulo, foram avaliados 6535 casos

de intoxicação e destas 1028 foram drogas anti-epiléticas e as mais

freqüentemente observados foram fenobarbital, carbamazepina, diazepam e

clonazepam (BONILHA et al. 2005).

Page 72: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

72

Vários métodos têm sido propostos para quantificar fármacos

anticonvulsivantes. A cromatografia é um método físico-químico muito útil,

devido à simplicidade no preparo da amostra, para identificar compostos

desconhecidos, contribuindo para o diagnóstico de intoxicação por

medicamentos nos atendimentos de urgência. A cromatografia se baseia no

princípio da migração dos componentes de uma mistura, resultado das

diferentes interações entre as fases estacionária e móvel (SKOOG, 2002).

Dentre todas as técnicas analíticas de separação, a Cromatografia Líquida

de Alta Eficiência com Detector de Arranjo de Diodos (CLAE/DAD) é a mais

utilizada, fornecendo resultados em poucos minutos, além de ser uma

técnica eficiente na separação com alta resolução e sensibilidade (TORRES,

2009). O fenobarbital presente em amostras de plasma sanguíneo pode se

extraído, separado e identificado conforme as condições cromatográficas

estabelecidas (NERY, 2011).

O objetivo deste estudo foi o desenvolvimento e a validação de um método,

que possibilite identificar e quantificar o fármaco fenobarbital em amostras

de plasma sanguíneo por CLAE/DAD. A validação é uma forma de garantir

que o método analítico atende as exigências estabelecidas e assegura

confiabilidade dos resultados.

2) Materiais e Métodos

A realização da análise quantitativa de fenobarbital em plasma foi realizada

por CLAE/DAD. As análises foram realizadas no Laboratório de Toxicologia

do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade

Federal do Ceará. O método cromatográfico por CLAE se baseia na

separação utilizando-se fase reversa, em modo isocrático utilizando-se uma

mistura de água ultrapura e acetonitrila e detector UV, em comprimento de

onda de 215 nm.

2.1 Reagentes e soluções

Para o método cromatográfico: éter metil tert-butílico (VETEC®); Metanol

(VETEC®); e Acetonitrila grau HPLC (J.T.BAKER®). A fase móvel utilizada

para CLAE foi: Água ultrapura/Acetonitrila (70/30).

2.2 Equipamentos

Foram utilizados: balança analítica de precisão RK®-200, banho ultrassom

QUIMIS® modelo Q335D, Sistema MilliQ - ELGA®(resistividade 18,2

Page 73: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

73

MΩ.cm), bomba a vácuo GAST®, banho-maria Edulab®, Cromatografia

Líquida de Alta Eficiência (CLAE) Accela Thermo Scientific®com sistema de

bombeamento, detector com arranjo de diodos (DAD) e sistema de aquisição

de dados ChromQuest 5.0, coluna analítica ODS HYPERSIL C18 (250 x 4,6

mm – 10 µm) da Thermo Scientific®.

2.3 Preparo das amostras e procedimento de análise

A curva de calibração foi construída com 6 pontos em triplicatas. Preparou-

se uma solução estoque de fenobarbital com concentração de 10 mg/mL, e a

partir desta, as soluções de trabalho nas concentrações de 20, 40 80, 200,

400 e 600 µg/mL em metanol. Para o método cromatográfico, retirou-se 25

µL dessas soluções de trabalho e adicionadas a 250 µL de plasma, obtendo-

se concentrações de 2, 4, 8, 20, 40 e 60 µg/mL de plasma. Utilizou-se o

barbital como padrão interno, preparando uma solução estoque de

concentração 1 mg/mL, diluindo-a para uma concentração intermediária de

100 µg/mL em metanol, adotando esta como solução de trabalho para todas

as amostras.

O plasma foi descongelado em temperatura ambiente, em seguida, a 250 µL

de plasma foram adicionados 25 µL das soluções de trabalho do fenobarbital

(2 – 60 µg/mL), 25 µL do padrão interno de barbital (100 µg/mL), 25µL de

solução de HCl 1mol/L e 1mL de éter metil-terc-butilíco. Agita-se por 10

minutos e submetido à centrifugação por 10 minutos a 5000 rpm. Foram

retirados 500 µL do sobrenadante e evaporado em concentrador rotacional a

39º C por 25 minutos. O resíduo foi ressuspenso em 100 µL de metanol, em

seguida transferiu-se para um insert e 20 µL injetado no CLAE.

2.4 Validação

Para garantir que o método analítico forneça informações confiáveis e

interpretáveis, ele passa por processos de validação conduzida com base na

RDC n° 27 de 17 de maio de 2012, da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (BRASIL, 2012). Os principais parâmetros avaliados foram:

linearidade, limite quantificação, precisão e exatidão (LEITE, 2002).

2.4.1 Linearidade

A linearidade corresponde à capacidade do método em fornecer resultados,

que sejam diretamente proporcionais à concentração da substância

analisada numa determinada faixa de aplicação (JARDIM et al., 2004). Foi

construída uma curva de calibração para o fármaco de interesse em plasma,

onde os coeficientes da curva foram estimados por regressão linear, que

Page 74: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

74

permitem avaliar a qualidade da curva obtida. A faixa de linearidade

testada foi de 2 – 60 µg/mL para o fenobarbital.

2.4.2 Limite de quantificação

O Limite de quantificação (LQ) avalia a menor concentração do analito, que

pôde ser quantificada com precisão e exatidão aceitáveis, sob as condições

experimentais adotadas. O LQ pode ser afetado pelas condições

cromatográficas, e picos maiores aumentam a relação sinal-ruído, resultados

em valores mais baixos. O erro no cálculo do LQ pode ser evitado ao utilizar

o método baseado nos parâmetros da curva analítica, onde esta deverá

conter a concentração correspondente ao LQ (JARDIM et al., 2004).

2.4.3 Precisão

A precisão avalia a proximidade entre as várias medidas efetuadas na

mesma amostra, e o resultado foi expresso pelo coeficiente de variação (CV

%), não sendo admitidos valores de coeficiente de variação inferiores a 15 %

(BRASIL, 2012). As amostras foram analisadas no mesmo dia (intra-ensaio)

e em três dias consecutivos (inter-corrida), e em sextuplicata, utilizando as

três concentrações 4, 30 e 50 µg/mL como as concentrações baixa, média e

alta, respectivamente (RIBANI et al., 2004).

2.4.4 Exatidão

A exatidão é o grau de concordância entre o resultado de um ensaio e um

valor de referência, calculando-se o erro padrão relativo (EPR). As amostras

foram analisadas no mesmo dia (intra-corrida) e em três dias consecutivos

(inter-corrida) e em sextuplicata, utilizando as três concentrações 4, 30 e 50

µg/mL como as concentrações baixa, média e alta, respectivamente (RIBANI

et al., 2004).

3) Resultados e Discussão

O presente estudo padronizou e validou a metodologia cromatográfica por CLAE

com um tempo total de análise em torno de nove minutos, cujo tempo de retenção

para o fenobarbital foi de 7,503 e do barbital de 4,155 (Figura 1), mostrando ser

uma técnica de analise rápida. Não houve nenhuma interferência de picos de

substâncias endógenas do plasma, sugerindo seletividade excelente.

Page 75: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

75

O barbital foi utilizado como padrão interno, levando em consideração que

suas propriedades físico-químicas são semelhantes às do fenobarbital, possui

solubilidade nas soluções analíticas e não interfere na determinação do analito.

Figura 1: Cromatograma do Fenobarbital por CLAE/DAD. Fase Móvel:

Água/Acetonitrila (70/30), coluna C18, fluxo1 mL/min e 215nm.

A linearidade da curva analítica na faixa de 2 – 60 µg/mL de plasma

apresentou coeficiente de correlação (r) igual a 0,9971, coeficiente linear

igual a 0,0271 e coeficiente angular igual a 0,0289. Segundo a ANVISA,

BRASIL (2012), para a validação de métodos analíticos, o coeficiente de

correlação deve ser igual ou superior a 0,98, pois quanto mais próximo esse

valor for de 1, menor será a dispersão dos pontos experimentais e menor

será a incerteza dos coeficientes de regressão estimados. A recuperação foi

em torno de 69 %, realizada comparando-se a área do extraído com a área do

adicionado.

O Limite de Quantificação foi de 2 µg/mL com valores de precisão e exatidão

de 5,17 % e 14,6 %, respectivamente. Os métodos mostraram que o

fenobarbital pode ser quantificado adequadamente, de forma exata e

precisa, uma vez que a ANVISA preconiza os valores de precisão e exatidão

para o limite até 20 %.

Os resultados de precisão e exatidão estão representados na Tabela 1

e foram realizados de acordo com a metodologia pré-determinadas e com

Page 76: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

76

base na RDC n° 27 de 17 de maio de 2012 da ANVISA. Os métodos

analisados para a determinação quantitativa de fenobarbital apresentaram

precisão e exatidão dentro do intervalo de referência (± 15 %). Os

coeficientes de correlação obtidos foram bem próximos da unidade, logo, as

áreas geradas foram diretamente proporcionais à concentração de

fenobarbital na matriz.

Tabela 1- Análise de precisão e exatidão intra-ensaio e inter-ensaio do método quantitativo

de fenobarbital por CLAE.

Conclusão

Observou-se que a metodologia proposta tem a capacidade de quantificar o

fenobarbital a ser utilizado na monitorização terapêutica do fármaco e no

diagnóstico de intoxicações agudas.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa de Iniciação Científica.

Referências bibliográficas

BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº

27/2012, de 17 de maio de 2012 – Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 mai.

2012.

BRUM, L.F.S; ELISABETSKY, E. Antiepileptogenic properties of phenobarbital:

behavior and neurochemical analysis. Pharmacology Biochemistry and

Behavior, Porto Alegre, v. 67, n. 3, p.411-416, 2000.

Page 77: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

77

BONILHA, L.; COLLARES, C.F.; AMARAL, D.A.; BARCIA, S. D.; ALMEIDA

OLIVEIRA, A.M.A.; LI, L.M. Antiepileptic drugs: a study of 1028 cases

registered by the Sao Paulo Intoxication Control Center. Seizure. v.14, n.3, p

170-174, 2005.

DALMORA, S.L. et al. Determination of phenobarbital in human plasma by a

specific liquid chromatography method: application to a bioequivalence

study. Química Nova, Santa Maria, v. 33, n. 1, p.124-129, 2010.

JARDIM, I.C.S.F. et al. Validação em métodos cromatográficos e eletroforéticos.

Química Nova, Campinas, v. 27, n. 5, p.771-780, 2004.

NERY, A.A.P. Ensaios Cromatográficos para Identificação de Fenobarbital

em Urina, para o Diagnóstico Laboratorial de Intoxicações

Humanas. 2011. 27 f. TCC (Graduação) - Curso de Farmácia, Universidade

Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2011.

RIBANI, M. et al. Validation for chromatographic and electrophoretic methods.

Quimica Nova, v. 27, n. 5, p.771-780, 2004.

PASTORE M.E.; OFUCHI, A.S.; NISHIYAMA, P. Monitorização terapêutica de

fenobarbital. Acta Scientiarum Health Sciences, Maringá, v. 29, n. 2, p.125-

131, 2007.

RUTECKI, P.A.; GIDAL, B.E. Antiepileptic drug treatment in the developmentally

disabled: treatment considerations with the newer antiepileptic drugs. Epilepsy &

Behavior, v. 3, p. 24-31, 2002.

SINITOX/FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz/Centro de Informação Científica e

Tecnológica/Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Estatística

Anual de Casos de Intoxicação e Envenenamento. Brasil, 2015.

SKOOG, D.A.; HOLLER, F.J.; NIEMAN, T.A. Princípios de Análise

Instrumental, 5ª ed., Bookman: São Paulo, 2002.

Page 78: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

NOJOSA, Antonia Karine Barros; LIMA, Janete Eliza Soares de; CARVALHO, Teresa

Maria de Jesus Ponte. Determinação quantitativa de fenobarbital em plasma por

cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e

Sociedade, v. 9, n. 2, p. 68-78, jun. 2016.

78

SOARES, M.V.J.; CUNHA, C.R.M.; OLIVEIRA, S.A.de S. A importância do centro

de informações toxicológicas (CIT-Go) na comunidade. Revista Faculdade

Montes Belos, São Luis Montes Belos, v. 7, n. 2, p.57-70, 2014.

TAKAHAMA, C.H.; TURINI, C.A.; GIROTTO, E. Perfil das exposições a

medicamentos por mulheres em idade reprodutiva atendidas por um Centro de

Informações Toxicológicas Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n.4, p.1191-1199,

2014.

TÔRRES, A.C.B. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência: Uma Revisão de

Literatura. 2009, p. 36. Seminário (Doutorado em Ciência Animal), Universidade

Federal de Goiás, Escola de Veterinária, Goiana, 2009.

Page 79: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

79

Características Físico-Químicas e

Toxicológicas do Ciflumetofem e suas

Implicações Ambientais

Physicochemical and Toxicological Characteristics

of Cyflumetofen and its Environmental

Implications

Rafaela de Lima

Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

E-mail: [email protected].

Juliana Akemi Tamanaha

Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

E-mail: [email protected].

Ana Carla de Sousa

Graduanda em Tecnologia em Controle Ambiental, Universidade

Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

Ivna Maria Seabra Rodrigues

Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

Marcela Canal Coelho

Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

Talita Fernandes de Oliveira

Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

Page 80: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

80

Resumo

O ciflumetofem é um acaricida utilizado para o controle do Ácaro-da-leprose

(Brevipalpus phoenicis) e Ácaro-purpúreo (Panonychus citri) em culturas de

citrus. Seu uso é aprovado no Brasil, porém, ainda há poucos estudos a

respeito de seus possíveis impactos ambientais. Portanto, o objetivo deste

trabalho foi revisar na literatura dados sobre o ciflumetofem, suas

propriedades físico-químicas e seus dados toxicológicos para, a partir deles,

derivar critérios de potabilidade e de proteção da vida aquática, bem como

verificar sua ocorrência em águas superficiais para possibilitar a avaliação

dos riscos. As características físico-químicas encontradas para esse acaricida

foram: solubilidade em água, coeficiente de partição octanol/água (log Kow),

constante de Henry, Coeficiente de Adsorção normalizado pelo Carbono

Orgânico (Koc) e o tempo de meia vida (DT50). O valor derivado para o

critério de potabilidade foi de 300 μg/L e para o critério para proteção da

vida aquática foi de 0,037 μg/L. Não foram encontrados relatos da presença

do ciflumetofem em corpos hídricos no Brasil ou em outros países, logo, a

avaliação do risco não pôde ser efetuada. Com as informações encontradas

nas bases de dados e cálculos realizados ao longo do trabalho, notou-se que,

caso haja exposição, as chances de riscos para a biota aquática são maiores

do que para o ser humano. Quanto ao produto de transformação (B-3) do

ciflumetofem, não foram calculados os critérios no trabalho devido à

indisponibilidade de dados, porém, estudos apontam que existe a

possibilidade do mesmo ser carreado para o meio aquoso, diante da sua alta

mobilidade no solo. Considerando que os dados ainda são escassos,

recomenda-se o desenvolvimento de mais estudos acerca do ciflumetofem,

para posterior avaliação da necessidade de inserção do composto nas normas

brasileiras.

Palavras-chave: Acaricida. Regulamentação. Potabilidade. Vida aquática.

Toxicidade.

Page 81: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

81

Abstract

The cyflumetofen is an acaricide used to control of Mite leprosis

(Brevipalpus phoenicis) and Mite purple (Panonychus citri) at citrus crops.

It is approved in Brazil, however, there are few studies about it and its

possible environmental impacts. Therefore, the aim of this work was to

review in the literature the physicochemical properties and available

toxicological data about cyflumetofen and to derive criteria for drinking

water and protection of aquatic life. The derived criteria were compared

with the occurrence of this pesticide in water in order to assess its risk. The

physicochemical characteristics found were: water solubility, octanol-water

partition coefficient (log Kow), Henry's constant, Adsorption coefficient

normalized to the organic carbon (Koc) and the time of half-life (DT50). For

drinking water the derived criteria was of 300 μg/L and for aquatic life

protection, 0,037 μg/L. Studies about the occurrence of cyflumetofen in

water bodies were not found in Brazil or in other countries, so the risk

assessment could not be performed. If there is exposure there are more

chances of risk to aquatic biota than to humans. Regarding the

transformation product of cyflumetofen the criteria were not calculated in

this study because the data are unavailable. Studies show that there is the

possibility of this transformation product reach waters due to their high

mobilities on the soil. Considering that data on this pesticide is still scarce,

we suggest the development of more studies about the cyflumetofen for

further evaluation of the need for inclusion of the compound in Brazilian

rules.

Keywords: Acaricide. Regulation. Potability. Aquatic life. Toxicity.

Page 82: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

82

Introdução

O ciflumetofem é um ingrediente ativo da Classe dos Acaricidas, pertencente

ao grupo químico benzoilacetonitrila. Foi registrado inicialmente no Japão,

em 2007, para uso em frutíferas, hortaliças, chás e plantas ornamentais

(HAYASHI et al., 2013). No Brasil, é utilizado para o controle do Ácaro-da-

leprose (Brevipalpus phoenicis) e Ácaro-purpúreo (Panonychus citri), com

aprovação para aplicação em culturas de citrus (MAPA, 2003). Devido sua

alta seletividade é apropriado para o manejo integrado de pragas

(HAYASHI et al., 2013).

Entre os produtos agrícolas que utilizam o ciflumetofem como ingrediente

ativo, encontram-se Okay (Fabricante: Iharabras S.A. Indústria Químicas) e

Obny (Fabricante: Arysta Lifescience do Brasil Indústria Química e

Agropecuária Ltda), os quais tiveram suas características e informações

técnicas – bula, rótulo e certificado de aprovação – registradas no Ministério

da Agricultura. Ambos possuem em suas composições 200 g/L de

ciflumetofem (MAPA, 2003).

Os agrotóxicos podem atingir ambientes aquáticos através de suas

aplicações intencionais em culturas agrícolas, pois, a partir delas ocorrem os

escoamentos superficiais por meio da lixiviação, podendo atingir as águas

(MANRIQUE, 2009). A aplicação dos agrotóxicos Obny ou Okay é realizada

por via aérea ou terrestre na cultura de citrus, através de equipamentos que

possibilitem uma cobertura uniforme em toda a planta quando há infestação

nos ramos, folhas e frutos (MAPA, 2003).

De acordo com Manrique (2009), as características químicas do componente

de um agrotóxico no ambiente aquático podem demonstrar maior afinidade

em se aderir a um material particulado em suspensão, depositar-se no

sedimento ou ainda ser absorvido por organismos, o que levará a um

processo de degradação ou acumulação.

Page 83: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

83

Considerando que existem diversas interações possíveis de um composto no

ambiente e que estas podem influenciar diretamente na exposição ao

composto tóxico pelos organismos aquáticos ou até mesmo seres humanos,

optou-se por estudar as implicações causadas pelo composto tóxico

ciflumetofem, aplicado em citrus, pois, esta cultura apresentou gastos

significativos com agrotóxicos em 2010, que representam 31% do montante

gerado com vendas de defensivos para hortifrútis, com o predomínio de

acaricidas (RODRIGUES; MANARIM, 2011).

Este artigo foi desenvolvido como trabalho final da disciplina EB604 -

Toxicologia Regulatória oferecida no primeiro semestre de 2015 para os

cursos de graduação de Engenharia Ambiental e Tecnologia em Controle

Ambiental da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP).

2) Objetivos

2.1 Objetivo geral

Analisar as características físico-químicas e toxicológicas do ciflumetofem e

suas implicações ambientais.

2.2 Objetivos Específicos

Coletar em bases de dados científicas informações sobre o composto

ciflumetofem;

Verificar sua ocorrência em águas superficiais para possibilitar a

avaliação dos riscos;

Calcular o critério de potabilidade e de proteção para vida aquática do

ciflumetofem, a partir das informações toxicológicas disponíveis;

Verificar a regulamentação relacionada ao composto, analisando-se a

necessidade de inclusão nas normas brasileiras.

Page 84: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

84

3) Metodologia

Primeiramente foi realizada a busca de informações sobre o ciflumetofem na

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA,2015). Em seguida,

verificou-se as características físico-químicas nas bases de dados University

of Hertfordshire (2015) e US Environmental Protection Agency (EPA, 2015).

Com relação às informações toxicológicas do ciflumetofem, os dados

necessários para a derivação dos critérios de potabilidade foram obtidos na

European Food Safety Authority (EFSA, 2015) e EPA (2015).

Dados para os critérios para a vida aquática foram extraídos da University

of Hertfordshire e do site da BASF (2015) e derivados de acordo com os

parâmetros da SBMCTA - Sociedade Brasileira de Mutagênese

Carcinogênese Teratogênese Ambiental.

Utilizou-se a base de dados AGROFIT do MAPA - Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (2015), para verificar os produtos aprovados no

Brasil que tem em suas composições o ciflumetofem como ingrediente ativo.

Dados de comercialização desses produtos foram pesquisados no site do

IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis.

Algumas bases de dados como Science Direct, Web of Science e Compendex

(s.d.) foram utilizadas nas pesquisas sobre a ocorrência do ciflumetofem com

os seguintes descritores: Cyflumetofen in water, Cyfumetofen in

groundwater, Occurence Cyflumetofen in water, Cyflumetofen in surface

water, entre outros.

4) Resultados e Discussões

4.1 Características físico-químicas

4.1.1 Ciflumetofem

Page 85: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

85

O ciflumetofem possui fórmula molecular C24H24F3NO4 (ANVISA, 2013) e

fórmula química (RS)-2-(4-terc-butilfenil)-2-ciano-3-oxo-3-(α,α,α-trifluoro-o-

tolil) propionato de 2-metoxietila (em inglês 2-methoxyethyl (RS) – 2-(4-tert-

butylphenyl) – 2 – cyano – 3–oxo–3 - (α,α,α – trifluoro – o - tolyl) propionate).

É uma molécula quiral resultante da soma de isômeros ópticos (mistura

racêmica). Devido a essa característica e as suas possíveis transformações

no ambiente, é complexo avaliar e mensurar o risco de seus isômeros,

metabolitos e produtos de transformação em água (EFSA, 2012).

Certas características físico-químicas do ciflumetofem podem contribuir

para avaliação de seu comportamento ambiental, tais como: a solubilidade

em água, coeficiente de adsorção normalizado pelo carbono orgânico (Koc),

constante da lei de Henry (Kh), coeficiente de partição octanol-água (Kow) e

o tempo de meia vida (DT50).

O valor encontrado para a solubilidade do ciflumetofem foi de 28 µg/L a 20°C

e pH 7 (EFSA, 2012). Sendo assim, pode-se dizer que ela é relativamente

baixa e que o processo de lixiviação até a contaminação das águas tenderá a

ser mais lento (BARRIGOSSI; LANNA; FERREIRA, 2005).

Com o coeficiente de adsorção (Koc) é possível prever a tendência do

agrotóxico de permanecer retido em uma superfície sólida, especialmente às

partículas do solo (BARRIGOSSI; LANNA; FERREIRA, 2005). Foram

encontrados dois valores de Koc: 131826 mL/g (EFSA, 2012) e 173900 mL/g

(UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a). Como os dois valores são

relativamente elevados, o composto terá maior tendência a permanecer

aderido ao solo, ou seja, apresentará baixa mobilidade.

O ciflumetofem é pouco volátil, com uma pressão de vapor de < 9,4x10-2

Pa.m³.mol-1 (EFSA, 2012), logo, é possível inferir que a ocorrência da

exposição por vias inalatórias tende a ser baixa. O coeficiente de partição

octanol/água (Kow) representa o balanço entre as propriedades hidrofílicas e

lipofílicas do composto e influencia o transporte de um composto orgânico no

ambiente. Substâncias com elevado valor de log Kow, apresentam

Page 86: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

86

características lipofílicas e, portanto, possuem maior potencial para

acumulação nos organismos (BARRIGOSSI; LANNA; FERREIRA, 2005). O

log Kow obtido para o composto foi de 4,3 a 25ºC (BASF, 2013), pode-se dizer

que ele tende a se acumular em tecidos adiposos.

Por fim, o tempo de meia-vida (DT50) representa o período necessário para o

desaparecimento de 50% da concentração química do composto no meio em

que está presente (EFSA, 2012). O valor obtido para DT50 no solo (pH 7 a

20°C) é de 8,8 dias, enquanto em água é de 1,39 dias, e para sistema

água/sedimento é 1,32 dias. Esses valores permitem inferir que o composto

não é persistente em solo, sua degradação em sistemas água/sedimento é

rápida e a degradação em água é moderadamente rápida. Já o índice de

GUS (Groundwater Ubiquity Score) indica o potencial químico de lixiviação

do composto através dos valores de DT50 em solo. Para o ciflumetofem o

valor do índice de GUS é de -1.18, portanto possui baixa lixiviabilidade

(UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a).

4.1.2 Metabolitos e produto de transformação

Existem diversos metabolitos conhecidos do ciflumetofem, porém os que são

encontrados no solo com maior fração de relevância são RS-2-(4-terc-

butilfenil)-3-oxo-3-( α,α,α-trifuoro-o-tolil) propanonitrila (em inglês RS-2-(4-

tert-butylphenyl)-3-oxo-3-(α,α,α-trifluoro-o-tolyl)propriononitrile), chamado

de AB-1, e o ácido α,α,α-trifluoro-o-toluico (em inglês α,α,α-trifluoro-o-toluic

acid), conhecido como B-1. Da mesma forma, há também um produto de

transformação do ciflumetofem denominado B-3 ou 2-(trifluormetil)

benzamida (em inglês 2-(trifluoromethyl) benzamide) (EFSA, 2012;

UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a). As características físico-

químicas dos mesmos, bem como do ciflumetofem foram organizadas na

Tabela 1.

Page 87: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

87

Tabela 11: Características físico-químicas do ciflumetofem e de seus principais metabolitos.

Ciflumetofem AB-1 B-1 B-3*

Fórmula

Molecular C24H24F3NO4

(e)

C20H18F3NO (f)

C8H5F3O2 (f) C8H6F3NO (f)

Fórmula

Estrutural

(e) (f) (f)

(f)

Nº CAS 400882-07-7 (e) - 433-97-6 (c) 360-64-5 (d)

Koc

(mL/g)

131826 (f) 173900 (b) 79 (c) 13,60 (f)

173900 (a)

Log Kow

(a 25ºC) 4,3 (a) - - 0,68 (d)

Constante de

Henry

(Pa.m³.mol-

1a 25ºC)

<0,094 (a) - - -

Meia Vida

em solo

(DT50 dias)

8,8 (a) 83 (b) 11,1 (c) 9,24 (d)

1 a,b,c,d Dados obtidos através da UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE ( 2013a, 2013b, 2013c e 2013d respectivamente). e AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. C73 – Ciflumetofem (2013). f EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY. Conclusion on the peer review of the pesticide risk assessment of the active substance cyflumetofen, 2012 *Produto de Transformação.

Page 88: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

88

Solubilidade

(mg/L a 20°C

e pH 7)

0,028 (a) - - 13000 (d)

Legenda: CAS=Chemical Abstracts Service.

O ciflumetofem é transformado no organismo alvo em AB-1, o qual tem a

função de inibir o complexo II da mitocôndria dos ácaros, eliminando-os. O

AB-1 possui características físico-químicas similares às do ciflumetofem,

logo, tende a permanecer no solo (HAYASHI, 2013). Encontrou-se dois

valores para o Koc do ciflumetofem, porém ambos na mesma ordem de

grandeza, sendo um deles igual ao valor do AB-1 (Tabela 1) (EFSA, 2012;

UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a). Já em ratos, após ingestão

oral, o B-1 é o principal metabolito do ciflumetofem, com Koc menor (Tabela

1).

O ciflumetofem também se transforma abioticamente em B-3 através de

uma reação de esterificação (LI et al., 2013). Devido a seu baixo valor de Koc

é possível que o mesmo seja carreado para as águas. Porém, não foram

encontrados estudos sobre sua ocorrência nesta matriz.

4.2 Critério de Potabilidade

Para o cálculo do critério de potabilidade para o ser humano, primeiramente

é necessário que se conheça o NOAEL (Nível de Efeito Adverso Não

Observado). Esse nível representa a maior dose ou quantidade de uma

substância que não causará nenhum efeito ao organismo alvo estudado, tais

como alterações no tempo de vida, morfologia e capacidade funcional

(UMBUZEIRO, 2012).

Foram encontrados para o ciflumetofem dois valores de NOAEL. O primeiro

foi de 16,5 mg/kg/dia obtido através de um estudo de toxicidade crônica em

ratos (EFSA, 2012; EPA, 2014). Já num estudo de reprodução em ratos

considerando duas gerações, foi indicado um NOAEL de 9,2 mg/kg/dia com

Page 89: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

89

base no aumento de peso do órgão e alterações histopatológicas nas

glândulas suprarrenais (EPA, 2014).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2013) aponta como

IDA (Ingestão Diária Aceitável) - também chamada de Dose de referência

(Drf) ou ainda Ingresso Diário Tolerável (IDT) - o valor de 0,092 mg/kg/dia, o

qual possivelmente foi derivada a partir do NOAEL informado pela Agência

de Proteção Ambiental (EPA, 2014).

Como o objetivo é a proteção do ser humano, utiliza-se o menor valor de

NOAEL, ou seja, 9,2 mg/kg/dia (EPA, 2014). Através dele, é possível obter a

IDA dividindo-se o valor adotado por um fator de incerteza de 100, relativo

às diferenças inter e intraespécies (UMBUZEIRO, 2012). Desta forma

obtém-se o valor de IDA igual a 0,092 mg/kg/dia.

Por fim, para se obter o critério de potabilidade, é necessário multiplicar a

IDA pelo peso médio do brasileiro, 60 Kg, (RESENDE et al., 2013) e dividir

pela quantidade média de consumo de água, 2L, (UMBUZEIRO, 2012)

obtendo-se um valor de 2,76 mg/L. Tendo em vista a baixa solubilidade do

ciflumetofem em água, considerou-se um fator de alocação de 10% para água

e 90% para alimentação. Portanto, o valor final do critério de potabilidade

foi de 0,3 mg/L ou 300 μg/L.

4.3 Critério para proteção da vida aquática

A derivação do critério para proteção da vida aquática pode ser realizada de

duas maneiras. A primeira utiliza valores de CENO (Concentração de Efeito

Não Observado) obtidos através de testes de toxicidade crônica, já a segunda

faz uso de valores de CE50 (Concentração de Efeito agudo para 50% dos

organismos-teste) ou CL50 (Concentração Letal para 50% dos organismos-

teste) obtidos em testes de toxicidade aguda (UMBUZEIRO et al., 2011).

Dentre todos os valores obtidos em cada método, seleciona-se o menor, o

qual será chamado de PNEC (Valor de Previsão de Efeito não Observado),

Page 90: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

90

ou seja, é o valor mais sensível de todos os encontrados. Em seguida, divide-

se esse valor por um Fator de Avaliação (FA), o qual varia de acordo com os

dados disponíveis. Quanto menor o número de dados, maior é a incerteza do

critério que será calculado, portanto, maior será o fator (UMBUZEIRO et

al., 2011).

4.3.1 Derivação do critério através do CENO - Toxicidade Crônica

Primeiramente, analisou-se os valores estimados de CENO para as espécies

Daphnia magna e Cyprinuscarpio sp (Tabela 2), a fim de selecionar o PNEC.

Tabela 2: Concentração de Efeito Não Observado nos respectivos testes crônicos.

Espécie Efeito Exposição CENO (mg/L)

Daphnia magna (crustáceo)(a) Reprodução 34 dias >0,0162

Cyprinuscarpio sp (peixe)(b) - 21 dias >0,072

Fonte: (a) BASF, 2013 (b) UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a.

Na Tabela 2 nota-se que foram estimados valores de CENO para as espécies

estudadas. No entanto, com o objetivo de utilizar o menor valor para

proteger o máximo de organismos possíveis, dentre um CENO de 0,0162

mg/L para crustáceos e de 0,072mg/L para peixes, assumiu-se o valor de

PNEC de 0,0162 mg/L.

A partir desse valor calculou-se o Critério de Qualidade da Água (CQA) para

proteção da vida aquática. Segundo o Protocolo para Derivação de Critérios

de Qualidade da Água para proteção da Vida Aquática no Brasil, o fator de

avaliação é de 50 para comunidades aquáticas de água doce para os casos

em que há dois valores de CENO para espécies de diferentes níveis tróficos

(UMBUZEIRO et al., 2011).

Dividindo-se o valor do PNEC pelo fator de avaliação, obtém-se o valor de

0,324 μg/L, o qual é o valor do critério calculado por esse método.

Page 91: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

91

4.3.2 Derivação do critério através do CE50 e CL50 - Toxicidade

Aguda

O CQA para proteção da vida aquática também foi calculado utilizando-se

valores de CE50 ou CL50, obtidos em testes de toxicidade aguda, conforme a

Tabela 3.

Tabela 3: Valores de CE50 ou CL50 nos respectivos testes agudos.

Espécie Efeito Exposição C(E)L50 (mg/L)

Daphnia magna

(crustáceo) - 48 horas

> 0,063(CE50)

Oncorhynchusmykiss

(peixe) - 96 horas >0,63 (CL50)

Pseudokirchneriella

subcapitata (alga) Crescimento 72 horas

0,037 (CE50)

Fonte: (UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE, 2013a).

Novamente nota-se que para crustáceos e peixes foram estimados valores

para CE50 e CL50 respectivamente, porém, como o objetivo é utilizar o menor

valor para proteger o máximo de organismos possíveis, assumiu-se um CE50

de 0,063 mg/L para crustáceos e um CL50 de 0,63 mg/L para peixes. Como o

valor encontrado para algas continuou sendo o menor, o valor de PNEC

estabelecido foi de 0,037 mg/L.

Esse número foi então dividido pelo Fator de Avaliação igual a 1000, de

acordo com o Protocolo para Derivação de Critérios de Qualidade da Água

para proteção da Vida Aquática no Brasil (UMBUZEIRO et al., 2011) - para

proteção da comunidade pelágica de água doce - pois há pelo menos uma

CE50 ou CL50 para cada um dos três níveis tróficos (peixes, invertebrados,

algas). Com isso, o valor do critério obtido foi de 0,037 μg/L.

Page 92: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

92

4.3.3 Comparação dos critérios calculados para proteção da vida

aquática

O valor do critério utilizando-se dados de estudos de toxicidade crônica

(0,324 μg/L) foi consideravelmente maior que o valor do critério utilizando-

se dados de estudos de toxicidade aguda (0,037 μg/L). Essa diferença pode

ser explicada através dos dados referentes às algas (organismos mais

sensíveis), os quais estavam disponíveis apenas em estudos de toxicidade

aguda, resultando na diminuição do valor desse critério.

Por fim, utilizou-se o menor valor, dentre os dois métodos, como critério para

vida aquática (UMBUZEIRO et al., 2011), ou seja, 0,037 μg/L. Em outras

palavras, esta é a concentração máxima do composto que pode ser

encontrada na água, a qual não se espera que cause danos à biota aquática.

4.4 GHS

É possível classificar o perigo de uma substância, com base na sua

toxicidade, através do sistema GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de

Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos). Com uma abordagem

sistematizada e de fácil compreensão, o sistema tem como objetivo principal

a classificação de perigos dos produtos químicos em relação à vida humana e

à biota aquática, comunicada por meio de Rótulos e Fichas de Dados de

Segurança (ABIQUIM, 2005).

Para a classificação no sistema GHS em relação à toxicidade aguda para

vida aquática, ou seja, à propriedade intrínseca de um composto de causar

danos a um organismo aquático em uma exposição de curto prazo, foram

utilizados os dados da Tabela 3.

A classificação é feita observando-se os valores de CE50 ou CL50 para cada

uma das espécies de forma que, se pelo menos uma das concentrações

encontrar-se menor que 1 mg/L, a substância é classificada na categoria 1-

muito tóxica para vida aquática. Caso a substância não se enquadre na

Page 93: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

93

categoria 1 e algum dos valores se encontrar entre 1<c<10 mg/L, a categoria

da substância será 2 - tóxica à vida aquática. Por fim, se o composto não se

enquadrar em nenhuma das categorias anteriores e o valor de alguma

concentração citada estiver entre 10<c<100 mg/L, a categoria da substância

então será 3 - nociva à vida aquática (ABIQUIM, 2005).

Nota-se então, que o ciflumetofem é classificado na categoria 1, uma vez que

todos os critérios exigidos para classificação são menores que 1 mg/L. Sendo

assim, conforme o GHS, o ciflumetofem é muito tóxico para os organismos

aquáticos e deve ser rotulado de acordo com a primeira coluna da Tabela 4.

Tabela 4: Classificação no sistema GHS.

Categoria 1 2 3

Pictograma

- -

Palavra de

advertência Cuidado - -

Frase de perigo

H400

Muito tóxico para a

vida aquática

H401

Tóxico para a vida

aquática

H402

Perigoso para a vida

aquática

Fonte: Adaptado de ABNT, 2008.

4.5 Exposição ambiental e avaliação de risco

O fato de não haver estudos referentes à ocorrência do composto, pode ser

explicado pelo ciflumetofem ser uma substância relativamente nova,

desenvolvida e comercializada em 2007 no Japão pela Otsuka Agritechno

Co. Ltda (HAYASHI et al., 2013). Um estudo realizado pela Autoridade

Europeia para a Segurança dos Alimentos mostrou que existe a

possibilidade de contaminação de águas subterrâneas por seu produto de

transformação, porém são ainda escassos estudos referentes a esse composto

no ambiente (EFSA, 2012).

Page 94: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

94

No Brasil, os acaricidas que utilizam o ciflumetofem como ingrediente ativo

foram registrados em 2014 (MAPA, 2003), porém não foram encontrados

dados de comercialização nos boletins anuais realizados pelo Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),

uma vez que a última publicação é referente ao ano de 2013 e os registros

dos produtos que utilizam o ciflumetofem como ingrediente ativo foram

emitidos em fevereiro de 2014 (MAPA, 2003). Além disso, para que o órgão

inclua os dados dos ingredientes ativos nos boletins anuais são necessárias

pelo menos três empresas registradas, o que não ocorre para o composto em

questão (IBAMA, s/d).

Sendo esses os possíveis motivos pelo qual não foram encontrados estudos

sobre o ciflumetofem em águas. Apesar disso, existe um método

desenvolvido por Li (2013) capaz de detectar e quantificar concentrações

inferiores aos valores calculados para critério de potabilidade e proteção da

vida aquática. Esse método utiliza a Cromatografia à Gás acoplada à

espectrometria de massas (em inglês Gas Chromatography Mass

Spectrometry - GC MS/MS), o qual apresenta um limite de quantificação de

0,003 µg/L e limite de detecção de 0,001 µg/L.

Como não foram encontradas ocorrências do ciflumetofem em água não foi

possível realizar a avaliação de risco. Contudo, pode-se comparar os valores

dos critérios com a solubilidade em água do ciflumetofem para avaliar as

chances de risco do mesmo. O valor obtido para o critério de potabilidade foi

de 300 µg/L e do critério para vida aquática foi de 0,037 μg/L. Comparando-

se estes resultados com a solubilidade em água do ciflumetofem, 28 µg/L a

20°C e pH 7, nota-se que o valor do critério de potabilidade é maior do que a

solubilidade, logo, não se espera que o composto apresente riscos aos seres

humanos, pois há poucas chances do mesmo estar presente na água em

concentrações perigosas. Já com relação ao critério para vida aquática, há

chances de riscos, pois seu valor é menor do que a solubilidade do

ciflumetofem em água. Portanto, caso sejam encontradas concentrações do

Page 95: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

95

ciflumetofem na água e as mesmas forem acima de 0,037 μg/L, o composto

poderá prejudicar a biota aquática.

4.6 Regulamentação

No Brasil e em outros países não há regulamentação para o ciflumetofem em

águas. A Comunidade Europeia regulamenta a concentração de 0,1 µg/L de

pesticidas em água de consumo humano, contudo, esse valor é pragmático e

aplicado para qualquer agrotóxico (European Communities (Drinking

Water), 2007).

Conclusão

Considerando o critério de potabilidade derivado, é possível inferir que

existem poucas chances de risco ao ser humano via ingestão de água, pois a

solubilidade do ciflumetofem em água é menor do que seu critério (300

µg/L). Já o critério calculado para a proteção da biota aquática foi de 0,037

μg/L indicando maiores chances de riscos. No entanto, apesar de sua alta

toxicidade para a vida aquática, não foram encontrados estudos sobre a

ocorrência do ciflumetofem em água, portanto não há como realizar uma

avaliação de risco nem inferir sobre a necessidade de inclusão desse

composto nas normas brasileiras. Caso a inclusão se faça necessária no

futuro, as técnicas analíticas possuem um limite de detecção que viabilizam

a quantificação abaixo dos critérios derivados para o ciflumetofem.

Referências bibliográficas

ABIQUIM. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. O

QUE É O GHS? Sistema Harmonizado Globalmente para a

Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos. São Paulo:

ABIQUIM/DETEC, 2005. Disponível em:

http://abiquim.org.br/pdfs/manual_ghs.pdf. Acesso em: 05 mai. 2015.

Page 96: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

96

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Produtos

Químicos Perigosos. Informação de Segurança – Rotulagem: ABNT/CB-

10. 2° Projeto, 2008.

ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. C73 -

Ciflumetofem. (2013). Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/941890804137389984718fa8d08

ea2d4/C73+-+Ciflumetofem.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em: 2 abr. 2015.

BARRIGOSSI, J. A. F.; LANNA, A. C.; FERREIRA, E. Inseticidas

Registrados para a Cultura do Arroz e Análise de Parâmetros

Indicadores de seu Comportamento no Ambiente. Santo Antônio de

Goiás: EMBRAPA, 2005.

BASF. SultanTM Miticide. U.S. Technical Information Brochure.

Durham. BASF Corporation, 2013. Disponível em:

http://betterplants.basf.us/products/related-documents/sultan-miticide-

technical-information-bulletin.pdf. Acesso em: 30 mar. 2015.

EFSA. EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY. Conclusion on the

peer review of the pesticide risk assessment of the active substance

cyflumetofen. EFSA Journal, n. 1, p. 1–77, 2012.

ENGINEERING VILLAGE. Ei Compendex. Disponível em:

https://www.engineeringvillage.com/. Acesso em: 20 jun. 2016.

EPA. ENVIROMENTAL PROTECTION AGENCY. Cyflumetofen;

Pesticide Tolerances. Estados Unidos, 2014. Disponível em:

http://www.regulations.gov/#!documentDetail;D=EPA-HQ-OPP-2012-0269-

0003. Acesso em: 20 abr. 2015.

EUROPEAN COMMUNITIES (DRINKING WATER) (NO. 2)

REGULATIONS 2007. Statutory Instruments. S.I. No. 278 of 2007.

Irlanda, 2007. Disponível em:

http://www.epa.ie/pubs/legislation/water/drinking/EC%20(Drinking%20Wat

er)%20Regs%20(No%20%202)%202007%20S%20I%20%20278.pdf. Acesso

em: 15 jun. 2015.

HAYASHI, N. et al. Cyflumetofen, a novel acaricide - its mode of action and

selectivity. Pest Management Science, v. 69, n. 9, p. 1080–1084, set.

2013.

Page 97: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

97

IBAMA. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E

DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Relatórios de Agrotóxico.

s/d. Disponível em:

http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-qa/relatorios-de-comercializacao-

de agrotoxicos. Acesso em: 25 mai. 2015.

LI, M. et al. Simultaneous determination of cyflumetofen and its main

metabolite residues in samples of plant and animal origin using multi-

walled carbon nanotubes in dispersive solid-phase extraction and ultrahigh

performance liquid chromatography–tandem mass spectrom. Journal of

Chromatography A, v. 1300, p. 95–103, jul. 2013.

MANRIQUE, W.G. Toxicidade Aguda e Risco Ecotoxicológico do

Fipronil para o Guaru (Poecilia Reticulata) e Dissipação no

Ambiente Aquático. Universidade Estadual Paulista. Centro de

Aquicultura da Unesp. Campus de Jaboticabal. São Paulo, 2009. 46p.

MAPA. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO. AGROFIT: sistema de agrotóxicos fitossanitários.

2003. Disponível em:

http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso

em: 25 mai. 2015.

RESENDE, D. D. O. et al. Guia para Comprovação da Segurança de

Alimentos e Ingredientes. Brasília. ANVISA - Agência Nacional de

Vigilância Sanitária, 2013. Disponível em:

http://nutrimialimentos.com.br/guia.pdf. Acesso em: 20 abr. 2015.

RODRIGUES, A. M; MANARIM, L. K. Defensivos: Hortifrutis são o

terceiro maior. Hortifrutti Brasil, 2011. Disponível em:

http://www.cepea.esalq.usp.br/hfbrasil/edicoes/107/mat_capa.pdf. Acesso em:

10 mai. 2015.

SCIENCEDIRECT. ScienceDirect: Journals. Disponível em:

http://www.sciencedirect.com/science/journals. Acesso em: 20 jun. 2016.

THOMSON REUTERS. Web of Science. Disponível em:

https://login.webofknowledge.com/error/Error?PathInfo=/&Alias=WOK5&Do

main;=.webofknowledge.com&Src=IP&RouterURL=https://www.webofknowl

edge.com/&Error=IPError. Acesso em: 20 jun. 2016.

Page 98: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

LIMA, Rafaela de; TAMANAHA,Juliana Akemi; SOUSA, Ana Carla de; RODRIGUES, Ivna

Maria Seabra; COELHO, Marcela Canal; OLIVEIRA, Talita Fernandes de. Características

Físico-Químicas e Toxicológicas do Ciflumetofem e suas Implicações Ambientais. Revista

Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 79-98, jun. 2016.

98

UMBUZEIRO, G. A. (Coord.) et al. Protocol for Water Quality Criteria

Derivation for the protection of Aquatic Life in Brazil. Water

Quality Criteria (WQC). 2011. Disponível em:

http://mutagenbrasil.org.br/_img/_documentos/6fcdb2951819a022c6c46c51f8

9df49a.pdf. Acesso em: 20 abr. 2015.

UMBUZEIRO, G. A. (Coord.). Guia de potabilidade para substâncias

químicas. São Paulo: Limiar, 2012.

UNIVERSITY OF HERTFORDSHIRE. Cyflumetofen (Ref: OK-5101).

PPDB: Pesticide Properties DataBase. [s.l.] University of Hertfordshire,

2013a. Disponível em:

http://sitem.herts.ac.uk/aeru/footprint/es/Reports/1143.htm. Acesso em: 20

abr. 2015.

Cyflumetofen metabolite AB-1. PPDB: Pesticide Properties DataBase.

[s.l.] University of Hertfordshire, 2013b. Disponível em:

http://sitem.herts.ac.uk/aeru/footprint/es/Reports/2006.htm. Acesso em: 20

abr. 2015.

2-(trifluoromethyl)benzoic acid. PPDB: Pesticide Properties DataBase.

[s.l.] University of Hertfordshire, 2013c. Disponível em:

http://sitem.herts.ac.uk/aeru/footprint/es/Reports/2005.htm. Acesso em: 20

abr. 2015.

2-(trifluoromethyl)benzamide. PPDB: Pesticide Properties DataBase.

[s.l.] University of Hertfordshire, 2013d. Disponível em:

http://sitem.herts.ac.uk/aeru/footprint/es/Reports/2007.htm. Acesso em: 20

abr. 2015.

Page 99: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

99

Qualidade sanitária da água de poços

artesianos do município de Picos – Piauí

Sanitary quality of water wells in the municipality

of Picos - Piaui

Karollayny de Macêdo Oliveira

Graduanda do curso Bacharelado em Nutrição pela Universidade

Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Viviane Rocha Fonteneles

Graduanda do curso Bacharelado em Nutrição pela Universidade

Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Cristiane Evangelista de Lima

Graduanda do curso Bacharelado em Nutrição pela Universidade

Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Luís Evêncio da Luz

Médico Veterinário doutor em Ciências Veterinárias. Professor

vinculado ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do

Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Sabrina Almondes Teixeira

Nutricionista especialista em Nutrição e Controle de Qualidade de

Alimentos. Mestranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação em

Alimentos e Nutrição (PPGAN) da Universidade Federal do Piauí,

Campus Ministro Petrônio Portela, Teresina-PI.

E-mail: [email protected].

Danilla Michelle Costa e Silva

Nutricionista mestre em Ciências e Saúde. Professora vinculada ao

curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Page 100: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

100

Resumo

A exploração das águas subterrâneas vem se tornando uma alternativa

bastante atraente para o abastecimento, no entanto, observa-se em algumas

águas subterrâneas de diversas regiões do país contaminação por coliformes,

grupo este indicador de condições higiênico-sanitárias insatisfatórias e dessa

forma, prováveis causadores de enfermidades entéricas. Devido ao grande

número de domicílios abastecidos por água subterrânea de poços artesianos,

este trabalho tem por objetivo avaliar as características microbiológicas

dessas águas. A pesquisa foi realizada no município de Picos, através do

método tradicional de tubos múltiplos e os resultados confrontados com a

portaria nº 2914/11, do Ministério da Saúde, que estabelece o seu padrão de

potabilidade. Foram coletadas 46 amostras de águas subterrâneas,

distribuías em 12 bairros distintos do município de Picos. Obteve-se um

percentual razoável de amostras que se encontravam contaminadas com

coliformes totais e termo tolerantes, 21,7% e 8,7%respectivamente.Acredita-

se que os resultados destas análises estão relacionados com as práticas de

lançamento de dejetos animais na natureza, à localização do poço

subterrâneo aliado ao tempo de construção, à profundidade dos poços,

devendo, portanto, haver limpeza periódica dos reservatórios e tratamento

eficiente da água que utilizada para consumo humano.

Palavras-chaves: Analises microbiológica. Água subterrânea. Poços

artesianos. Portaria nº 2914/11.

Page 101: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

101

Abstract

The exploitation of groundwater has become a very attractive alternative for

water supplies, however, it is observed in some groundwater from different

regions of the country contamination causing by coliform group, this one

shows poor sanitary conditions and thereby likely it is the cause of enteric

diseases. Due to the large number of homes supplied by groundwater from

those artesian wells, this study aims to evaluate the microbiological

characteristics of these waters. The survey was conducted in Picos city,

through the traditional way of multiple tubes and the results confronted

with the decree No. 2914/11 of the Ministry of Health, which sets the

standard for drinkability. It was collected 46 groundwater samples,

distributed in 12 distinct neighborhoods in Picos-PI. It was obtained a

reasonable percentage of contaminated samples with total and fecal

coliforms, 21.7% and 8.7% respectively. It is believed that the results of

these analyzes are related to the practice of discarding trash and death

animals into the nature, the location of the underground well allied to

building time, to the depth of wells and there should be periodic cleaning of

reservoirs and efficient water treatment that is used for human

consumption.

Keywords: Microbiological Analysis. Groundwater. Artesian wells. Decree

No. 2914/11.

Page 102: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

102

Introdução

Elemento indispensável a todos os seres vivos, a água constitui o insumo

essencial à preservação da vida no planeta, pois é um recurso natural que

desempenha influência crucial na qualidade de vida da população, sobretudo

no que tange ao abastecimento, que está diretamente relacionado com a

saúde pública (NETO; FERREIRA, 2007; MELO, 2009). Existe uma

intrínseca relação entre água e saúde humana, pois a mesma é alvo de

preocupação mundial em função da atual crise qualitativa e quantitativa dos

recursos hídricos que, em sua maioria, encontram-se contaminados com

substâncias tóxicas ou agentes patogênicos causadores de enfermidades ao

homem e a outros animais (SANTOS, 2008).

Apesar de o Planeta Terra ter dois terços de sua superfície ocupados por

água, apenas 2% é doce e apta para o consumo humano (MARENGO, 2008).

A fim de atender as funções orgânicas, a água para o consumo pode ser

obtida de diversas fontes, dentre elas, estão os mananciais subterrâneos,

sendo um recurso utilizado por uma ampla parte da população brasileira.

Essas fontes podem ser de águas profundas (aquíferos) ou poços tradicionais

com profundidades menores e com maior risco de contaminação (SILVA e

ARAÚJO, 2003).

O aquífero Serra Grande localiza-se em solos piauienses e boa parte desse

potencial pertence à região de Picos-PI. Na região, este é o recurso hídrico

mais explorado por apresentar boas características de qualidade de água e

altas vazões, ocasionadas em função da formação Serra Grande ser

constituída, em sua maioria, de espessos bancos de arenitos de granulação

Page 103: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

103

média a grosseira, com boa transmissibilidade e alta capacidade de

armazenamento (CPRM, 1999).

De acordo com Athayde Júnior et al. (2009) a maior causa das

contaminações em lençóis subterrâneos é o crescimento de áreas urbanas de

maneira desordenada. Sabe-se que vários fatores podem comprometer sua

qualidade, como o destino final do esgoto doméstico e industrial, fossas e

tanques sépticos, a disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e

industriais, cemitérios, postos de combustíveis e de lavagem e a

modernização da agricultura representam fontes de contaminação das águas

subterrâneas por bactérias e vírus patogênicos, parasitas e substâncias

orgânicas e inorgânicas (COLVARA, 2009; ALMEIDA et al, 2013).

A determinação da concentração dos coliformes assume importância como

parâmetro indicativo da possibilidade da existência de microrganismos

patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação

hídrica, tais como febre tifoide, febre paratifoide, disenteria bacilar, cólera e

diarreia, decorrentes das inadequadas condições dos serviços de

abastecimento de água e de esgotamento sanitário (JUNIOR, 2005).

O padrão de potabilidade da água para o consumo humano deve ter ausência

de coliformes totais, Escherichia coli ou coliformes termo tolerantes em 100

ml da amostra. No Brasil, a portaria nº 2914/11, do Ministério da Saúde,

estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e

vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu padrão de

potabilidade, definindo os padrões microbiológicos, físico-químicos e

radioativos, de modo que não ofereçam riscos à saúde (BRASIL, 2011).

Tendo em vista o grande número de domicílios rurais e da periferia urbana

do município de Picos-PI que são abastecidos com água subterrânea de poços

artesianos, este trabalho tem o intuito de avaliar as características

Page 104: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

104

microbiológicas dessas águas, utilizando o parâmetro de potabilidade

definido pela portaria 2914/11 do Ministério da Saúde, que estabelece as

normas de qualidade da água para consumo humano e assim contribuir para

conscientização da população sobre os riscos relacionados à ingestão de água

imprópria para o consumo humano.

Metodologia

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa e

qualitativa, na qual foram coletadas amostras de águas subterrâneas de 46

poços artesianos utilizados para consumo humano em 12 bairros do

município de Picos-PI, obtendo-se 46 amostras de água, uma para cada poço.

As amostras de água foram coletadas diretamente da torneira dos poços de

captação das águas subterrâneas, antes da mesma ser direcionada a

qualquer reservatório, após assepsia solução de hipoclorito de sódio 100

mg/L, deixando-as abertas, escorrendo por cerca de três minutos. As

amostras foram acondicionadas em frascos de vidro estéreis, preenchidos

com aproximadamente 100 ml de água, sendo identificadas quanto à origem

e às condições gerais do local de captação e acondicionados dentro de caixa

isotérmica com temperatura controlada em ±7°C e conduzidos

imediatamente ao laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do

Piauí (UFPI), Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, a fim de

procederas análises laboratoriais.

A quantificação de coliformes totais e termo tolerantes nas amostras

coletadas foi realizada conforme metodologia proposta por APHA (2005), a

qual se baseia no teste com tubos múltiplos. Esta metodologia foi empregada

como padrão, por ser amplamente recomendada pela Vigilância Sanitária e

outros órgãos regulamentadores.

Page 105: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

105

Todos os resultados obtidos nas análises foram confrontados com base na

Portaria Nº 2914/11 através da classificação qualitativa dos parâmetros

(presença/ausência – P/A) dos coliformes totais e coliformes termo tolerantes

em 100 ml da amostra, devendo se enquadrar no parâmetro ausente para

ser considerado como adequada para o consumo humano e presente como

inadequada, para obter a porcentagem de amostras contaminadas e não

contaminadas, conforme descrito no Quadro 1.

Resultados e Discussão

No Brasil, pesquisas sobre mananciais subterrâneos têm recebido grande

atenção nos últimos anos, devido à sua grande viabilidade técnica e

econômica. Por essa razão, seu uso vem exigindo cada vez mais cuidados e

planejamentos especiais (MENDONÇA; SOUZA, 2011).

Page 106: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

106

Até a década de 70, acreditava-se que as águas subterrâneas estavam

naturalmente protegidas da contaminação pelas camadas de solo e rochas,

pois normalmente contêm menor número de bactérias, menos matéria

orgânica e maior quantidade de substâncias minerais do que as águas de

superfície (MELO, 2009). Entretanto, com o passar do tempo, passaram a

ser detectados traços da presença de contaminantes em águas subterrâneas

e diversos estudos têm sido conduzidos no sentido de avaliar a sua

seguridade (COLVARA, 2009). A Tabela 1 apresenta as ocorrências de

contaminação microbiológica em águas de poços subterrâneos localizados

no município de Picos-PI.

Neste estudo, 21,7% e 8,7% das amostras encontravam-se contaminadas

com coliformes totais e termo tolerantes, respectivamente, porém a

presença dos coliformes termo tolerantes indica poluição sanitária e

mostra-se mais significativo do que a presença dos coliformes totais, já que

esses são restritos ao trato intestinal de animais de sangue quente

(CAJAZEIRAS, 2007).Isso nos mostra que a maioria dos poços se

encontram em boas condições higiênico-sanitárias, visto que apenas 8,7%

destes apresentam contaminação por coliformes termo tolerantes. No

entanto, a contaminação de águas, tanto a níveis subterrâneos como

superficiais, é um problema de saúde pública e apesar de ter sido

encontrado um baixo percentual de contaminação dentre as amostras,

torna-se preocupante visto esse grupo de microrganismos contaminantes

Page 107: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

107

serem um dos principais causadores das enfermidades entéricas

(MURATORI; SOUZA, 2002; GRIZA et al., 2008).

De acordo com Rocha et al. (2010), a ingestão de alimentos contaminados

com microrganismos provenientes de água de má qualidade utilizada em

seu preparo, pode tornar-se um problema gravíssimo para aqueles que

fazem o consumo e, consequentemente, para os órgãos de saúde pública,

uma vez que os gastos com o tratamento de doenças por ingestão de

alimentos contaminados são altíssimos.

Resultado próximo ao encontrado nesta pesquisa pôde ser observado no

estudo de Sotomayor (2013), o qual, ao analisar a água de poços artesianos

pertencentes ao aquífero Patino, observou que 19,5% das amostras eram

positivas para coliformes termo tolerantes e 48,8% para coliformes totais,

refletindo o tratamento inadequado e/ou um sistema de distribuição e

armazenamento ineficiente, bem como infiltração de contaminantes que

atingem e decompõem a qualidade da água do aquífero.

Em contrapartida, um estudo realizado por Cajazeiras (2007) acerca da

qualidade e o uso das águas subterrâneas da Região de Crajubar-CE,

verificou que a maioria dos poços analisados (62%) apresentaram

contaminação por coliformes totais e termo tolerantes. Da mesma forma,

Franca (2006)analisou poços tubulares em Juazeiro do Norte-CE e mostrou

que as concentrações de coliformes totais e termo tolerantes nessas águas

apresentaram-se bastante variáveis ao longo do período de monitoramento

e dos onze poços amostrados, apenas dois não apresentaram coliformes em

nenhuma das coletas; resultados estes, superiores aos deste estudo, onde o

número de poços não contaminados foi bem maior, representando 78,2%

(36 poços) de ausência para coliformes totais e termo tolerantes,

Page 108: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

108

demonstrando que encontram-se em boas condições sanitárias e distantes

dos focos de poluição.

Níveis de contaminação mais elevados, comparados ao presente estudo,

também foram observados nas análises de Costa (2012) e de Colvara (2009),

os quais identificaram contaminação fecal em 12,2% e 70%,

respectivamente.

Apesar de alguns estudos evidenciarem contaminações superiores, os

resultados obtidos nessa pesquisa são relevantes, visto a má qualidade da

água estar diretamente associada às doenças diarreicas de veiculação

hídrica, especialmente nas periferias das cidades de países em

desenvolvimento e na zona rural. Vários fatores podem ser responsáveis por

essa contaminação, dentre eles, as práticas de lançamento de dejetos de

animais na natureza, à localização dos poços subterrâneos, assim como o

tempo de construção e à profundidade dos mesmos (FERNANDES, 2011).

Conclusão

Os resultados obtidos no presente estudo alertam quanto a preservação da

qualidade microbiológica do aquífero Serra Grande, visto observar um

discreto, porém significativo percentual de poços com foco de contaminação

fecal. Em consequência a este fato, a saúde da população que utiliza esta

água para consumo assume um estado de risco, já que frequentemente não

observa-se processos de tratamento que atinjam padrões de potabilidade e

seguridade das águas advindas de poços.

Trabalhos intensivos devem ser realizados no sentido de efetuar a vigilância

da qualidade da água utilizada nestas propriedades e subsidiar o consumo

Page 109: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

109

consciente de água de poços artesianos, bem como auxiliar os órgãos

fiscalizatórios na detecção e monitoramento de perigos relacionados à

ingestão de água não tratada no município de Picos-PI.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, N. R. de; AFFE, H. M. de J.; BARDONI, S. de A. V.; PAULO, E.

M. Parâmetros microbiológicos e condição sanitária da água de uma lagoa

urbana em Salvador, Bahia. RevInter - Revista InterTox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 6, n. 2, p. 62-74, 2013.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA).Standard methods

for the Examination of Water and Wastewater; 22th Ed. American Public

Health Association, Washington, D. C., 2005.

ATHAYDE JÚNIOR, G. B.; NÓBREGA, C. C.; GADELHA, C. L. M.;

SOUZA, I. M. F.; FAGUNDES, G. S. Efeito do antigo Lixão do Roger, João

Pessoa, Brasil, na qualidade da água subterrânea local. Ambi-Agua,

Taubaté, v. 4, n. 1, p. 142-155, 2009.

BRASIL, Portaria nº 2914 de 12 de dezembro de 2011. Brasília: Ministério

da Saúde, 2011.

CAJAZEIRAS, C. C. A. Qualidade e uso das águas subterrâneas e a

relação com doenças de veiculação hídrica, Região de Crajubar/CE.

2007. 143 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Universidade Federal Do

Ceará, Fortaleza.

Page 110: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

110

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB).

Monitoramento de Escherichia coli e coliformes termo tolerantes

em pontos da rede de avaliação da qualidade de águas interiores do

Estado de São Paulo. 2008. Disponível em:

http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/laboratorios/publicacoes/relatorios/

2008ecoli.pdf. Acesso em 13 de Set de 2014.

COSTA, C.L.; LIMA, R.F.de; PAIXÃO, G.C.; PANTOJA, L.D.M. Avaliação

da qualidade das águas subterrâneas em poços do estado do Ceará,

Brasil. Londrina, v. 33, n. 2, p. 171-180, 2012.

CPRM. Projeto hidro geológico do Piauí II - bases municipais/perfil hidro

geológico do município de Picos. Série Hidrogeologia - informações

básicas, Teresina, v. 24,p. 32, 1999.

COLVARA, J. G.; LIMA, A. S. de; SILVA, W. P. da. Avaliação da

contaminação de água subterrânea em poços artesianos no sul do Rio

Grande do Sul. Braz. Journal of Food Technology, II SSA,2009.

FERNANDES, A.M.F. Diagnóstico da qualidade da água subterrânea

em propriedade rural no município de Planalto, RS. 2012.Disponível

em: bibliodigital.unijui.edu.br

FRANCA, R. M.; FRISCHKORN, H.;SANTOS, M. R. P.;MENDONÇA, L. A.

R.;BESERRA, M. C. Contaminação de poços tubulares em Juazeiro do

Norte-CE. Engenharia sanitária e ambiental.v.11, n. 1, p.92-102, 2006.

FRANCO, B. D. G. de M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos Alimentos.

São Paulo: Editora Atheneu, 2002.

Page 111: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

111

GRIZA, F.T.; ORTIZ, K.S.; GEREMIAS, D.; THIESEN, F.V. Avaliação da

contaminação por organo fosforados em águas superficiais no município de

Rondinha - Rio Grande do Sul. Revista Química Nova, v. 31, n. 7, 1631-

1635, 2008.

JUNIOR, V. A. de S. Saneamento e Saúde: Malha Hidrográfica da

Leopoldina e Impacto das Doenças de Veiculação Hídrica no

Município do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional

de Saúde Pública Sérgio Arouca, Rio de Janeiro, 2005.

MARENGO, J. A. Água e mudanças climáticas.v.22, n. 63, p. 83-96,

2008.

MELO, J.L. de S.; DANTAS, J. de M.; CEZAR, G. M. Avaliação

preliminar da qualidade das águas dos poços artesianos do campus

universitário da UFRN / Natal – RN. Natal, 2009.

MENDONÇA, E. C. C. N.; SOUZA, P. S. Aplicação da Técnica de Análise de

Componentes Principais para Caracterização de Águas de Poços Artesianos

de Áreas Urbanas de Goiânia e Aparecida de Goiânia. Revista PLURAIS –

Virtual, v. 1, n. 1 p. 19-36-, 2011.

MURATORI, M. C. S.; SOUZA, D.C. Características microbiológicas de

132 amostras de mel de abelhas do Piauí. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE APICULTURA, 14, Anais, Campo Grande, p. 77, 2002.

NETO, M. L. F.; FERREIRA A. P. Perspectivas da sustentabilidade

ambiental diante da contaminação química da água: Desafios Normativos.

Revista Gestão Integral Saúde Trabalho Meio Ambiente, v.2, n.4, p.1-

15, 2007.

Page 112: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Karollayny de Macêdo; FONTENELES, Viviane Rocha; LIMA, Cristiane

Evangelista de; LUZ, Luís Evêncio da; TEIXEIRA, Sabrina Almondes Teixeira; SILVA,

Danilla Michelle Costa e. Qualidade sanitária da água de poços artesianos do município de

Picos – Piauí. Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 99-

112, jun. 2016.

112

ROCHA, E.S.; ROSICO, F. S.; SILVA, F. L.; LUZ, T. C. S.; FORTUNA, J. L.

Análise microbiológica da água de cozinhas e/ou cantinas das Instituições de

ensino do município de Teixeira de Freitas (BA). Revista Baiana de

Saúde Pública, v.34, n.3, p.694-705, 2010.

SANTOS, L. U.; NETO, R. C.; FRANCO, R. M. B. Protozoários patogênicos

de veiculação hídrica: as metodologias de detecção em amostras de esgoto e a

eficiência dos tratamentos de remoção e desinfecção. Revista Higiene

Alimentar - Edição Temática. n. 1 v. 22, 2008.

SILVA, R. C. A.; ARAÚJO, T. M. Qualidade da água do manancial

subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Ciência & Saúde

Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 1019-1028, 2003.

SOTOMAYOR, F. et al. Determinação da qualidade microbiológica da água

de poços artesianos nos distritos de departamentos Central e Cordilheira e a

Capital. Mem. Inst. Investig. Ciencias de la Salud, v.11, n.5, p. 05-14,

2013.

Page 113: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

OBITUÁRIO

________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 8-112, jun. 2016

Em memória do prof. Eustáquio Linhares

Borges

A Intertox lamenta a perda do prof. Eustáquio Linhares Borges, que faleceu

sexta-feira (17), no Hospital Português em Salvador-BA.

Como um grande entusiasta do ensino farmacêutico, prof. Eustáquio Borges

deixa além da imensa saudade em familiares e amigos, inúmeras

contribuições nos contextos da profissão farmacêutica, da toxicologia, da

saúde ambiental e ocupacional. Em sua página nas redes sociais foram

publicadas inúmeras homenagens e manifestações de carinho de ex-alunos,

professores, amigos e familiares.

Trajetória

Graduado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Juiz de

Fora, o Dr. EUSTÁQUIO LINHARES BORGES elegeu a Toxicologia como

área de interesse e atuação, e se tornou uma das principais autoridades

brasileiras neste ramo das Ciências Farmacêuticas. Mestre em Análises

Toxicológicas pela Universidade de São Paulo, foi professor da disciplina na

Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, desde 1973 até

aposentar-se em 2002. Ao longo desse período, ele se dividiu entre a vida

Page 114: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

OBITUÁRIO

________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 8-112, jun. 2016

acadêmica e a saúde pública, sendo responsável pela implantação do

Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas da Fundação Monte Tabor -

Hospital São Rafael, em Salvador, e a coordenação do Programa de Saúde

Ambiental do Estado da Bahia, com ações nas áreas de saneamento básico e

saúde ambiental, tendo atuado com muita proficiência como Conselheiro do

Conselho Estadual de Proteção dos Recursos Ambientais – CEPRAM como

representante da Secretaria da Saúde.

Titulado Cientista Pesquisador no Campo da Toxicologia pela Universidade

de Ghent, na Bélgica, (Research Scientist em The Field of Toxicology at The

e State University of Ghent-Belgium, em inglês), foi Presidente da

Sociedade Brasileira de Toxicologia, no período 1988/891, organizou e

presidiu o V Congresso Brasileiro de Toxicologia e o I Encontro de

Toxicologia do Mercosul. Cumpriu diversos mandatos como Vice-Presidente

eleito do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA).

Foi homenageado com muitos prêmios e condecorações pelas relevantes

contribuições prestadas à profissão farmacêutica, às associações científicas,

organizações públicas e à sociedade1,2,3.

O prof. Eustáquio Borges foi responsável pela criação do CIAVE-BA (Centro

de Informações Antiveneno) junto à Secretaria da Saúde do Estado (SESAB)

em 1980. Desempenhando um papel primordial na salvaguarda em saúde

pública no estado e região Nordeste, o CIAVE foi o segundo serviço de

Toxicologia do país a entrar em funcionamento, e é atualmente responsável

pelo diagnóstico e terapêutica de pacientes intoxicados; realização de

análises toxicológicas de urgência; identificação de animais peçonhentos e

plantas venenosas; controle e manutenção de banco de antídotos; além de

fornecimento de informações toxicológicas para a Bahia e outros estados do

Nordeste2.

Com visão diferenciada sobre a evolução e as interfaces entre o ensino e a

profissão farmacêutica no século XXI3, após aposentar-se, mantendo o

carinho que sempre teve pelo verdadeiro papel educador, foi coordenador do

curso de Farmácia do Centro Universitário da Bahia (Estácio-FIB),

instituição na qual se formaram tantos farmacêuticos com uma nova visão

do cuidado, alguns, hoje, mestres e doutores em áreas de notória

contribuição social.

No decorrer de sua atuação profissional, desenvolveu um importante papel

no contexto da saúde ocupacional e ambiental, e através de seus

conhecimentos contribuiu com diversos trabalhos envolvendo investigações

sobre contaminações ambientais e monitoramento de exposição de

trabalhadores a agentes químicos no ambiente de trabalho. Alguns dos

projetos, juntos com a Intertox.

Após lutar muito pela vida, Prof. Eustáquio deixa a esposa Sra. Nildete, e

dois filhos, Pedro e Mariana.

Apesar da imensa dor da despedida e imensurável perda, confortam-nos as

tão lindas memórias e ensinamentos do querido professor, que nos

Page 115: v. 9, n. 2 (2016): Volume 9 • Número 2 • Junho de 2016 - São Paulo

OBITUÁRIO

________________________________________________________________________________________________

Revista Intertox de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 8-112, jun. 2016

estimulam a levar adiante o fazer o bem, o acreditar nas pessoas, o agir para

melhorar o mundo, o viver contra as lógicas que nos são impostas e o

debruçar que se faz do ensino ao cuidado. É este significado que se torna

eterno em cada um de nós, farmacêuticos, amigos e aprendizes.

Obrigado, professor, mestre e amigo!

Carlos Eduardo Matos Santos e família Intertox

Referências bibliográficas

1Sociedade Brasileira de Toxicologia. Ex-

diretorias. http://www.sbtox.org.br/texto_fixo.php?id_texto=7

2CRF-BA em Revista. Ano IV - Nº 15 - Março/2011. Disponível

em http://www.crf-ba.org.br/revista/revista_15_2010.pdf

CFF - Conselho Federal de Farmácia. Dia do Farmacêutico. Homenagens:

http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/129/005a023_dia_do_farmac

Autico.pdf

CIAVE. http://ciave-ba.blogspot.com.br/2013/09/ciave-encerra-serie-de-

comemoracoes-dos.html

3Borges, E. L. Ensino farmacêutico: uma reflexão crítica e suas

possibilidades no brasil do século XXI. Revista Intertox de Toxicologia,

Risco Ambiental e Sociedade, Vol.3, N.1 NOV/FEV 2010.