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Anais do XV Encontro Estadual de História “1964-2014: Memórias, Testemunhos e Estado”, 11 a 14 de agosto de 2014, UFSC, Florianópolis V de Vingança e o thatcherismo Grégori Michel Czizeweski 1 Resumo: Este trabalho pretende perceber uma crítica sobre a forma neoliberal de governar implantada por Margareth Thatcher na Inglaterra nos anos 1980, conhecida como thatcherismo, na história em quadrinhos V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd. Margaret Thatcher foi a primeira mulher a assumir o cargo de Primeiro Ministro do Reino Unido, subindo ao poder juntamente com os conservadores em 1979. Implantou o chamado thatcherismo, uma aplicação conservadora das teorias neoliberais de Friedrich Hayek e da Escola de Chicago. A HQ V de Vingança, publicada na década de 1980, traz uma grande crítica a esse sistema, no qual um Estado de livre-economia ainda é um Estado, portanto opressor; que se esquece da população, que diz pregar um individualismo, mas que se esquece do indivíduo como tal, apenas usando-o em benefício do mercado e da economia, e consequentemente, do próprio Estado e poder político. Palavras-chave: V de Vingança, thatcherismo, história em quadrinhos. A década de 1980 foi fortemente marcada pela Guerra Fria, no auge da corrida armamentista e a contraposição dos EUA com a URSS. Houve a ascensão de políticas econômicas neoliberais em várias partes do mundo capitalista, principalmente com Ronald Reagan nos EUA e Margareth Thatcher na Inglaterra, ao mesmo tempo em que o sistema socialista da URSS enfraquecia e se abria. Segundo Roberto Elísio dos Santos, esse período ...assistiu à falência de ideologias, ao medo paranoico de uma guerra atômica, ao individualismo consumista, à mistura de conceitos nas teorias e de estilos na arte, à disseminação de doenças fatais, à queda de regimes políticos autoritários, à emergência de novas potências econômicas, à preocupação com a destruição do meio ambiente e à volta do conservadorismo político e moral. Um momento da História em que, nas palavras de Christopher Lasch, o homem se encontrava sitiado. (1995, p. 57). A Guerra fria costuma ser descrita como um conflito sem confronto militar direto (daí o termo “fria”) entre os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e os países comunistas, liderados pela União Soviética. O confronto durou desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, até o desmantelamento da União Soviética e a queda do muro de 1 Doutorando em História pelo PPGH – UFSC. E-mail: [email protected]

V de Vingança e o thatcherismo - artigo anpuh · o termo “fria”) entre os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e os países comunistas, liderados pela União

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Anais do XV Encontro Estadual de História “1964-2014: Memórias, Testemunhos e Estado”,

11 a 14 de agosto de 2014, UFSC, Florianópolis

V de Vingança e o thatcherismo

Grégori Michel Czizeweski1

Resumo: Este trabalho pretende perceber uma crítica sobre a forma neoliberal de

governar implantada por Margareth Thatcher na Inglaterra nos anos 1980, conhecida como thatcherismo, na história em quadrinhos V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd. Margaret Thatcher foi a primeira mulher a assumir o cargo de Primeiro Ministro do Reino Unido, subindo ao poder juntamente com os conservadores em 1979. Implantou o chamado thatcherismo, uma aplicação conservadora das teorias neoliberais de Friedrich Hayek e da Escola de Chicago. A HQ V de Vingança, publicada na década de 1980, traz uma grande crítica a esse sistema, no qual um Estado de livre-economia ainda é um Estado, portanto opressor; que se esquece da população, que diz pregar um individualismo, mas que se esquece do indivíduo como tal, apenas usando-o em benefício do mercado e da economia, e consequentemente, do próprio Estado e poder político.

Palavras-chave: V de Vingança, thatcherismo, história em quadrinhos.

A década de 1980 foi fortemente marcada pela Guerra Fria, no auge da corrida

armamentista e a contraposição dos EUA com a URSS. Houve a ascensão de políticas

econômicas neoliberais em várias partes do mundo capitalista, principalmente com Ronald

Reagan nos EUA e Margareth Thatcher na Inglaterra, ao mesmo tempo em que o sistema

socialista da URSS enfraquecia e se abria. Segundo Roberto Elísio dos Santos, esse período

...assistiu à falência de ideologias, ao medo paranoico de uma guerra atômica, ao individualismo consumista, à mistura de conceitos nas teorias e de estilos na arte, à disseminação de doenças fatais, à queda de regimes políticos autoritários, à emergência de novas potências econômicas, à preocupação com a destruição do meio ambiente e à volta do conservadorismo político e moral. Um momento da História em que, nas palavras de Christopher Lasch, o homem se encontrava sitiado. (1995, p. 57).

A Guerra fria costuma ser descrita como um conflito sem confronto militar direto (daí

o termo “fria”) entre os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e os países

comunistas, liderados pela União Soviética. O confronto durou desde o fim da Segunda

Guerra Mundial, em 1947, até o desmantelamento da União Soviética e a queda do muro de

1 Doutorando em História pelo PPGH – UFSC. E-mail: [email protected]

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Berlim, em 1989. O aspecto principal que caracterizou a Guerra Fria foi uma corrida

armamentista de cunho nuclear, que poderia ter levado o mundo à destruição total.

Fred Halliday (1989), em seu livro “Gênesis de la Segunda Guerra Fria”, divide a

Guerra Fria em quatro fases2. O período que estamos estudando se dá durante a quinta fase,

que aconteceu a partir de 1979, quando houve um retorno dos confrontos e teve início o que

Halliday chama de Segunda Guerra Fria, marcada por uma nova corrida armamentista e pela

invasão do Afeganistão pela URSS, em 1979. O então presidente estadunidense Ronald

Reagan acirrou o confronto, cedendo armas para guerrilheiros afegãos e também para outros

inimigos dos soviéticos, como o líder iraquiano Saddam Hussein. Nessa fase também houve

um retorno à corrida espacial, com fortes investimentos em tecnologia de ambos os lados.

Enquanto os Estados Unidos criava o Projeto Guerra nas Estrelas, a URSS investia na

ocupação do espaço, com o desenvolvimento de estações espaciais.

Aproximando-se o final da década de 1980, a União Soviética entrou em crise, após a

derrota no Afeganistão e com o acúmulo de gastos com a corrida espacial e armamentista,

além do reflexo de uma estagnação econômica de anos. Gorbatchov assumiu o poder,

iniciando um período de reformas, instaurando a Perestroika e a Glasnost, realizando assim o

começo de uma abertura econômica e política. Em 1989, o Muro de Berlim foi derrubado,

após uma série de revoltas na Alemanha Oriental, marcando assim o início do

desmantelamento da URSS, que terminou em 1991, e consequentemente, o fim da Guerra

Fria, já que uma das potências responsáveis pela bipolarização do poder mundial perdia sua

força.

V de Vingança é produzido nesse período da Segunda Guerra Fria, no qual houve,

juntamente com a grande corrida armamentista, uma paranoia nuclear, uma sensação de

insegurança nas pessoas, um medo de que a guerra ocasionasse o fim de toda humanidade em

um grande holocausto. Todo esse processo afetou demasiadamente a produção intelectual e

cultural dos anos 1980.

Segundo Eric Hobsbawm (1995), a paranoia da guerra nuclear criava uma sensação de

insegurança na maioria das pessoas, apesar de um conflito real ser bastante improvável. O

tom apocalíptico do período foi gerado, nos Estados Unidos, logo no início da Guerra Fria,

mas intensificou-se na década de 1980.

2 Essa classificação não é consensual entre os historiadores. Muitos divergem sobre tal divisão, mas optamos pela classificação de Halliday por a considerarmos adequada aos nossos objetivos.

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Quem olhava pelo lado capitalista, via uma imagem, criada pelos EUA, de que a

Guerra Fria era um conflito entre “totalitarismo” e liberdade, entre um comunismo ditatorial e

um capitalismo democrático. As vantagens econômicas e políticas conseguidas pelos países

capitalistas forneciam uma justificativa ideológica para enfrentar a URSS. Diziam lutar pelo

“mundo livre”, e a prova era que o capitalismo permitia maiores benefícios políticos e

materiais para todos.

Essa afirmação era fantasiosa, principalmente nas nações capitalistas do terceiro

mundo, onde o que reinava eram as ditaduras e a miséria, além de terem se tornado palco de

inúmeros conflitos durante todo o período da Guerra Fria. Mesmo assim, toda a história do

comunismo da URSS, da ditadura stalinista e do socialismo real ali instaurado fortalecia a

ideia, tanto da esquerda quanto da direita, de que tal tentativa socialista havia malogrado. A

imagem que restava era a de, nas palavras de Gilberto Cotrim (1999), um “socialismo

autoritário”, devido ao terror político implementado, e passou a ser associada diretamente ao

totalitarismo.

Toda a aversão gerada pelo Stalinismo no resto do mundo marcou a experiência da

URSS como um “socialismo real”, que não seguiu o projeto de sociedade pensado por Marx.

Quem assumiu a frente do partido comunista e consolidou um tipo de “capitalismo de Estado”

foram alguns setores intelectuais da velha classe czarista e também da burguesia. Isso fez ruir

todo o projeto da força que realizou a revolução:

(...) desde 1917 (...) o proletário tomou o poder num país imenso. Resistiu vitoriosamente às tentativas de uma contra-revolução burguesa. Depois, desapareceu gradualmente da cena histórica e uma nova classe social, a burocracia, estabeleceu sua dominação sobre a sociedade russa e decidiu construir o “socialismo” através dos métodos mais brutais do terror e da exploração (CASTORIADIS, 1983, p. 159).

Esse sistema, porém, vinha sofrendo duras críticas tanto da esquerda quanto da direita.

Mesmo quem estava vivenciando o socialismo real via seus problemas de dentro. Tzvetan

Todorov conta que, depois da morte de Stalin, descobriu progressivamente que o discurso

oficial com o qual se deparava cotidianamente era vazio. Assim como alguns de seus

compatriotas, decidiu não entrar em conflito com o sistema, mas se portar de maneira

submissa em público enquanto fazia o que lhe vinha à cabeça em âmbito privado (1993, p.9).

Inserido nesse contexto de crítica há também o nascimento da Nova Esquerda, que nas

palavras de Russel Jacoby

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...rompeu com a velha esquerda precisamente por causa desta questão: o stalinismo. A Nova esquerda não queria saber de líderes autoritários, funcionários burocráticos e comunismo de trincheira (...) Em praticamente todos os quadrantes, os partidos comunistas dos anos 70, denunciava a nova esquerda como um movimento de anarquistas e libertinos (...) Podemos ir ainda mais longe: a nova esquerda contribuiu para o desmoronamento do stalinismo (JACOBY, 1991, p. 27).

Por outro lado, no mundo capitalista, ascendia o Neoliberalismo, doutrina econômica

de resgate do Liberalismo Clássico que defende a não participação do Estado na economia, ou

seja, que o livre-mercado deve reger e garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento

social de um país. Popularizou-se na década de 1970, com a Escola Monetarista do

economista Milton Friedman, como uma solução para a crise econômica mundial de 1973,

provocada pelo aumento de preços excessivo do petróleo.

O primeiro governo democrático a se inspirar nos princípios neoliberais foi o de

Margaret Thatcher. Ela foi a primeira mulher a assumir o cargo de Primeiro Ministro do

Reino Unido, subindo ao poder juntamente com os conservadores em 1979. Seguindo a

ideologia econômica de Friedrich Hayek, implantou uma nova forma de governar, de acordo

com a doutrina neoliberal, que foi chamada de thatcherismo.

O thatcherismo se caracteriza pela redução da intervenção do Estado na economia, e

pela exaltação quase religiosa das virtudes dos livre-mercados, e dos méritos da "ordem

espontânea" tal como defendida por Hayek, de quem era grande admiradora, e por uma

política econômica monetarista, tal como defendida pela Escola de Chicago; pela defesa das

privatizações de empresas estatais, pela redução dos impostos diretos (ou distributivos, como

o imposto sobre a renda e os impostos sobre as propriedades) e pelo aumento dos impostos

indiretos (ou regressivos, como os impostos sobre o consumo), pelo combate aos sindicatos

de trabalhadores, pela eliminação do salário mínimo, e pela redução do Estado de bem-estar

social.

Porém, o caráter liberal no governo Thatcher mascarava outro caráter, muito mais

ideológico, chegando ao ponto de toda a política econômica poder ser considerada como

submetida a interesses de poder político. Os sucessos das políticas econômicas de Thatcher só

foram conseguidos em troca de pesados custos sociais para a maioria da população britânica.

A produção industrial caiu muito, o desemprego aumentou desenfreadamente, chegando a três

milhões de pessoas. Os impostos aumentavam para as pessoas de renda mais baixa e

diminuíam para os de renda mais alta, chegando ao ponto de 28% das crianças da Grã-

Bretanha estar abaixo da linha da pobreza ao final de seu governo. Thatcher é responsável por

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duplicar a taxa de pobreza inglesa (NELSON & WHALEN, 2007). Esse clima de descaso

com o social e de busca por um poder político através de políticas econômicas em detrimento

da população mais pobre, se espalhou em todo o mundo, com a Rogernomia, na Nova

Zelândia, o Racionalismo Econômico, na Austrália, e também com o governo de Ronald

Reagan, nos EUA.

Assim como outras formas de arte e de mídia, as Histórias em Quadrinhos também

foram influenciadas por esse clima de tensão que a guerra fria trazia consigo, ou faziam

referências diretas a ela. V de Vingança é um exemplo de como era forte a preocupação com

uma guerra nuclear, do que aconteceria com o mundo caso isso realmente ocorresse. Mas,

além de uma maneira de olhar para esse período, V propunha uma maneira de agir, uma

postura anarquista frente a um conflito que, independente de quem ganhasse, acabaria em um

mundo sem liberdade.

V de Vingança

V de Vingança (no original, V for Vendetta), foi publicada inicialmente entre 1982 e

1983 em preto e banco pela editora britânica Warrior, mas não chegou a ser finalizado.

Posteriormente, em 1988, a DC Comics incentivou Alan Moore, o roteirista, e David Lloyd,

desenhista, a reiniciar e finalizar a série, dessa vez com uma edição colorida, republicada nos

EUA pelo selo Vertigo, em 12 edições, e no Brasil em 1989, em cinco edições, pela Globo,

tornando-se uma das primeiras Graphic Novels de sucesso.

O termo Graphic Novel foi cunhado por Will Eisner porque este pensava que a

denominação comics, termo pejorativo que englobava qualquer produção de quadrinhos da

época, não dava mais conta de descrever o trabalho que ele vinha fazendo, que tratava de

temas sérios e complexos, além de nada jocosos. A tecnologia cada vez mais avançada, a

maior abrangência dos meios de comunicação, formando intrincados mosaicos de informação,

com cada vez mais fontes, mais velocidade e mais intensidade, foram absorvidas e

reproduzidas pela linguagem das Graphic Novels.

Inseridos no contexto da alta tecnologia dos videoclipes, da computação gráfica e do

controle remoto, as Graphic Novels passaram a utilizar uma multiplicidade de focos

narrativos, ampliaram a densidade psicológica dos personagens, rompendo com a linguagem

tradicional das HQs e ampliando a velocidade dos fatos e a quantidade de informações

veiculadas (SANTOS, 1995, p.54).

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Diferentemente das HQs tradicionais, que têm uma trama semelhante ao conto, com

uma narração objetiva, uma Graphic Novel apresenta muitos plots (enredos ou argumentos) e

diferentes narradores, desnudando o íntimo dos personagens, tornando claras suas

ambiguidades e atenuando a linha entre protagonistas e antagonistas.

A história de V de Vingança se passa em uma espécie de futuro distópico, em 1997,

período antecedido por um caos generalizado, no qual um governo totalitário ascende ao

poder na Inglaterra após uma guerra nuclear. A HQ mostra a destruição parcial do mundo e a

implantação de um poder totalitário como solução da crise gerada.

A história se inicia após o fim dos conflitos políticos, com o governo totalitário já

estabelecido e com a população acostumada com a situação. Há uma polícia secreta e campos

de concentração para minorias raciais e sexuais, bem próximo da ideia pensada por Hannah

Arendt em seu livro “As Origens do Totalitarismo”, de 1951. Também existe um sistema de

monitoramento parecido com o presente em “1984”, de George Orwell.

Nesse contexto surge “V”, um personagem que é um fugitivo de um campo de

concentração que usa uma máscara e elabora um intrincado plano para derrubar o estado. A

máscara é uma alusão ao mercenário Guy Fawkes, um conspirador que junto com mais dois

jovens católicos tentou explodir o parlamento inglês, de orientação protestante, em 5 de

novembro de 1605, para acabar com a opressão sobre os católicos, colocando 36 barris de

pólvora sob o parlamento para explodi-lo juntamente com o rei e os parlamentares. Porém o

plano vazou e a tarefa foi mal sucedida, e Fawkes acabou preso e torturado. Foi a chamada

Conspiração da Pólvora.

Da mesma maneira que Fawkes, “V” que explodir o parlamento inglês e colocar o

Estado abaixo, acabando com o totalitarismo que assola a sociedade. “V” acaba conhecendo

uma jovem chamada Evey, que se torna sua aprendiz e parceira ao longo da história.

A obra mostra uma forte crítica ao totalitarismo, surgindo no contexto da queda do

Stalinismo na URSS e da ascensão de Margareth Thatcher ao cargo de primeiro-ministro da

Inglaterra, com sua tentativa de implantação de um liberalismo econômico. O personagem

“V” surge então como uma oposição muito forte ao regime totalitário que ameaçou a Europa

nas décadas anteriores, mas também é abertamente uma crítica ao Thatcherismo, em uma

tentativa de mostrar que um Estado de livre-economia ainda é um Estado, portanto opressor,

que se esquece da população, que diz pregar um individualismo, mas que se esquece do

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indivíduo como tal, apenas usando-o em benefício do mercado e da economia, e

consequentemente, do próprio Estado e poder político.

A crítica ao totalitarismo que antecede seu tempo (e que assombra o futuro) vai

levando sutilmente ao contexto do Thatcherismo, que parecia estar ampliando as liberdades

individuais na década de 80, que trazia um discurso que prometia liberdade e oportunidade,

mas que deixava o indivíduo tão preso ao Estado e ao sistema quanto antes, dessa vez de uma

maneira mascarada, ao mesmo tempo em que levava a população a pagar pesados custos

sociais.

Já nas primeiras páginas do primeiro capítulo, na apresentação da obra,

explicando a finalização do trabalho iniciado em 1983, Moore diz que:

Em 1981, o termo “inverno nuclear” ainda não havia se tornado corriqueiro e, embora meu palpite sobre as catástrofes climáticas chegasse bastante perto da realidade, a trama ainda assim sugere que uma guerra nuclear poderia deixar sobreviventes. Pelo que sei hoje, não é o caso. Também se evidencia uma dose de ingenuidade na nossa suposição de que seria necessário algo tão dramático quanto um conflito nuclear para lançar a Inglaterra no fascismo. (...) Estamos em 1988 agora. Margaret Thatcher está iniciando seu terceiro mandato e fala confiante de uma liderança ininterrupta dos Conservadores no próximo século. Minha filha caçula tem sete anos, e um jornal tablóide acalenta a ideia de campos de concentração para pessoas com AIDS. Os soldados das tropas de choque usam visores negros, bem como seus cavalos; e suas unidades móveis têm câmeras de vídeo rotativas instaladas no teto. O governo expressou o desejo de erradicar a homossexualidade até mesmo como conceito abstrato. Só posso especular sobre qual minoria será o alvo dos próximos ataques. Estou pensando em deixar o país com minha família em breve. Esta terra está cada vez mais fria e hostil, e eu não gosto mais daqui! (MOORE & LLOYD, 2012, p. 9).

Figura 1 - Para sua proteção. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 11.

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Esses controles sociais crescentes citados por Moore eram o anverso das políticas de

liberação econômica do governo Thatcher. Sabe-se que a Inglaterra, até hoje, é o país com

maior número de câmeras de vigilância de todo o mundo (SLOBOGIN, 2008). Essa situação

de vigilância já aparece logo nos primeiros quadros de V de Vingança, onde vemos uma

câmera em um poste, na rua, e logo abaixo a inscrição “Para sua proteção”, discurso

recorrente de que a vigilância é uma necessária perda de privacidade em troca de proteção e

menos risco de violência (Figura 1).

Todas as mudanças sociais implantadas por Thatcher fizeram com que seu governo

não fosse bem aceito nos primeiros anos. Porém, com a Guerra das Malvinas e a disputa pelas

ilhas com a Argentina, Thatcher recuperou sua força e o apoio da maioria, e governou

ininterruptamente pela década seguinte.

Sob a alegação de que o projeto de intervenção estatal de moldes keynesianos que se

fazia presente em grande parte dos países capitalistas no pós guerra estava fundamentalmente

errado, Thatcher implantou o neoliberalismo na Inglaterra. Em sua visão, é impossível para o

governo centralizar todas as informações sobre necessidades da população, seus desejos e

qualificações disponíveis, para os indivíduos que formam uma sociedade moderna complexa.

Assim, as opções individualizadas, mediadas pelo sistema de mercado, oferta e procura,

conseguiriam um resultado mais satisfatório do que o planejamento estatal (TAYLOR-

GOOBYT, 1991).

As teorias neoliberais ganharam força com a grande crise do modelo econômico

keynesiano em 1973, quando o capitalismo mundial entrou em uma grande recessão, com

altas taxas de inflação e pequenas taxas de crescimento. Para Hayek e os teóricos neoliberais,

a crise tinha base no crescente poder dos sindicatos, que organizavam então o movimento

operário, reivindicando salários e gastos sociais cada vez maiores por parte do estado, o que

estaria prejudicando as bases de acumulação capitalista, e culminava numa crise econômica

generalizada.

Esse quadro deveria ser revertido, e toa regulação social deveria estar à mercê do

mercado. Assim, a saída seria manter um Estado forte no controle do poder social e dos

sindicatos, mas ao mesmo tempo em que não intervisse na economia e reduzisse seus gastos

sociais, tendo a estabilidade monetária como meta suprema, através de uma disciplina

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orçamentária que consistia na contenção de gastos com bem-estar e na restauração de um

exército reserva de trabalhadores, com uma taxa maior (considerada “natural”) de desemprego

(ANDERSON, 1995, p. 9). Foi o que os governos neoliberais fizeram em grande parte dos

países capitalistas na década de 1980, incluindo o governo Thatcher.

O modelo inglês foi, ao mesmo tempo, o pioneiro e o mais puro. Os governos Thatcher contraíram a emissão monetária, elevaram as taxas de juros, baixaram drasticamente os impostos sobre os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos financeiros, criaram níveis de desemprego massivos, aplastaram greves, impuseram uma nova legislação anti-sindical e cortaram gastos sociais. E, finalmente – esta foi uma medida surpreendentemente tardia –, se lançaram num amplo programa de privatização, começando por habitação pública e passando em seguida a indústrias básicas como o aço, a eletricidade, o petróleo, o gás e a água. Esse pacote de medidas é o mais sistemático e ambicioso de todas as experiências neoliberais em países de capitalismo avançado (ANDERSON, 1995, p. 13).

Com isso, uma melhora na economia inglesa foi percebida, fazendo Londres recuperar

parte de seu prestígio como centro financeiro. Apesar disso, iniciou-se uma era de grandes

conflitos cívicos e sociais, com o fechamento de minas de carvão e de manufaturas pelo

governo, eliminando amis de 220 mil postos de trabalho. Mesmo com uma forte resistência da

categoria, os mineiros terminaram o processo praticamente liquidados politica e fisicamente

(ANTUNES, 2003, p. 21).

A ampliação da desigualdade social foi um dos principais impactos das mudanças nos

gastos públicos. Houve um aumento considerável na miséria dos grupos mais pobres. Na

década de 1980, o número de famílias sem casa dobrou, chegando a mais de 200 mil,

enquanto o número de desempregados passou de 200 mil para cerca de 1 milhão (TAYLOR-

GOOBYT, 1991). Houve ainda o colapso do sistema de seguro-desemprego, devido ao

grande números de pessoas sem trabalho que recorriam, o que culminou em uso do seguro

restrito a poucas pessoas.

Essa situação precária em que a grande maioria da população inglesa estava inserida é

metaforicamente apresentada, em V de Vingança, em quadro onde Moore e Lloyd mostram o

rosto da personagem Evey, então uma menina assustada, enquanto a narração ao fundo diz

“Esse é o rosto de Londres...” (Figura 2).

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Figura 2 - Rosto de Londres. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 12.

Na obra, toda a situação que a Inglaterra estava vivendo sob o regime do

Thatcherismo, mais os medos de que tal situação ficasse ainda pior, inclusive com o perigo de

uma guerra nuclear, é representado por Moore e Lloyd através da instauração de um governo

fascista após o término da guerra.

O clima de terror da ascensão do regime totalitário é retratado principalmente pelos

relatos da personagem Evey, que têm seus pais mortos durante a guerra e por isso une-se a

“V” em sua jornada (Figura 3).

Figura 3 - Evey narra a tomada de poder fascista. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 30.

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A guerra nuclear deixou a situação caótica de tal maneira que um regime fascista e

totalitário seria encarado pelas pessoas como a melhor, senão a única, alternativa para

restabelecer a ordem e a paz. Assim o ditador Adam Susan sobe ao poder, nomeando-se Líder

e implantando os ideais fascistas (Figura 4).

O discurso do Líder sobre os apelos por liberdade e por direitos civis, tratando-os

como “luxos”, no último quadro da página, é uma alusão direta ao neoliberalismo e à redução

do Estado de bem-estar social realizada por Thatcher, bem como seu descaso com o social.

Outro aspecto importante retratado em V de Vingança é a importância dada à cultura.

Na sociedade vitimada pelo governo totalitário que é retratada na história, todos os aspectos

da vida cotidiana são censurados, inclusive os culturais, como música, livros, cinema, etc.

Moore aponta a importância da cultura para a manutenção das liberdades individuais e

alfineta a ignorância dos detentores do poder (Figura 5).

Figura 4 – O ditador Adam Susan. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 39.

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Figura 5 – A repressão da cultura. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 20.

“V” representa a ideia do autor da única solução possível frente à sociedade, a

destruição do Estado, mesmo que por via violenta, para a ascensão da liberdade real do

indivíduo, um resgate das ideias anarquistas que pareciam já não ter vez diante das promessas

do liberalismo econômico que se instalava. Ele revive o sonho do anarquismo clássico, da

destruição do Estado em busca de um mundo melhor. O Estado é considerado pelos

anarquistas clássicos como a fonte da maior parte dos nossos problemas sociais, negando a

liberdade dos indivíduos. Michail Bakunin escreveu que o Estado é

...um imenso cemitério aonde vêm sacrificar-se, morrer enterrar-se todas as manifestações da vida individual e local, todos os interesses parciais de cujo conjunto deriva a sociedade. É o altar onde a liberdade real e o bem-estar dos povos são imolados à grandeza política e quanto mais esta imolação é completa, tanto mais o Estado é perfeito. (...) O Estado foi sempre patrimônio de qualquer classe privilegiada: classe sacerdotal, nobiliárquica, classe burguesa - classe burocrática finalmente - quando todas as outras se esgotaram a si próprias como classes privilegiadas (BAKUNIN apud WOODCOCK, 1979, p. 37).

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O próprio símbolo de “V” (Figura 6) é uma referência ao símbolo clássico do

anarquismo com a letra “v”, nome do personagem principal e referência ao número “5”, dia

da Conspiração da Pólvora.

Figura 6 – O símbolo de V. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012.

As ideias veiculadas aqui por Moore e Lloyd podem facilmente ser associadas ao

pensamento anarquista do russo Michail Bakunin, anarquista russo, simpático à formação de

conspirações e sociedades secretas, e que acreditava que somente uma revolução violenta

libertaria as virtudes corrompidas dos homens. Bakunin via na destruição, assim como o

personagem “V”, a origem da criação: “Confiemos no eterno espírito que destrói e aniquila

apenas porque é a inexplorada e eternamente criativa origem de toda a vida. A ânsia de

destruir é também uma ânsia criativa” (BAKUNIN apud WOODCOCK 1975, p. 132).

Figura 7 – V explodindo as casas do parlamento. Fonte: MOORE & LLOYD, 2012, p. 16.

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Este já era o pensamento de Bakunin antes mesmo de se considerar anarquista, e se

intensificou quando ele conheceu um jovem revolucionário chamado Sergei Nechaev,

fanático niilista e sem nenhuma compaixão, adepto da prática de assassinatos, roubos e

chantagens – tudo em nome da revolução. Juntos, introduziram no anarquismo a chamada

Propaganda pela Ação, pela qual a ação violenta, pessoal e imediata (a fim de influenciar

novas ações) era fortemente estimulada.

Esse tipo de ação pregada e praticada por Bakunin, violenta, destruidora, purificadora

e transformadora é análoga às ações do personagem “V” ao longo da história, que mata e

destrói em nome da sua causa (Figura 7).

Por fim, podemos ver V de Vingança como uma obra que, ao mesmo tempo em que

estabelece uma forte crítica ao seu tempo, à maneira que a Inglaterra era conduzida, também

representa e ajuda a construir um conjunto de imaginários e medos presentes nas pessoas que

viviam em um mundo assombrada pela possibilidade de uma guerra nuclear devastadora, ou

ainda de situações políticas e sociais ainda piores. Moore fala que, ao construir a obra, ele e

Lloyd partilhavam “do mesmo pessimismo político, o futuro nos parece soturno, desolador e

solitário, o que nos garantia um conveniente antagonista político contra o qual nosso herói se

bateria” (MOORE & GIBBONS, 2012, p. 272).

Assim, através de V de Vingança tentamos perceber o pensamento de Alan Moore e

David Lloyd nos mostrando o thatcherismo como um sistema no qual um Estado de livre-

economia ainda é um Estado, portanto opressor; que se esquece da população, que diz pregar

um individualismo, mas que se esquece do indivíduo como tal, apenas usando-o em benefício

do mercado e da economia, e consequentemente, do próprio Estado e poder político, bem

como apresentando o que, para eles, naqueles tempos sombrios, consideravam como a única

saída política adequada, o anarquismo.

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