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V ENCONTRO ANUAL DA ANDHEP
DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E DIVERSIDADE
17 A 19 DE SETEMBRO DE 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA
BELÉM (PA)
GT 2 – EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
ESTUDO DAS REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS PRÁTICAS DE EGRESSOS
DE CURSOS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
(UFPI) – AUTORA: MARIA DE LOURDES ROCHA LIMA NUNES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
2
ESTUDO DAS REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS PRÁTICAS DE EGRESSOS DE CURSOS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
1. Introdução
A formação em educação em direitos humanos torna possível aos gestores
públicos, profissionais e especialistas em direitos humanos, nos mais diferentes campos do
saber, incorporar em seus programas e projetos o entendimento sobre o desenvolvimento
com o enfoque nos direitos humanos. Esse entendimento comum obriga a todos os titulares
de direitos e a todos os titulares de deveres a comprometerem-se com a realização dos
direitos humanos; o uso das suas normas e princípios; na orientação e na cooperação para
a programação de ações que objetivem o desenvolvimento; e no fomento da capacitação
tanto dos titulares de deveres, para cumprir suas obrigações, como os titulares de direitos,
para reclamar seus direitos.
A educação em direitos humanos concebe a formação dos defensores de
direitos humanos como processo de empoderamento de seus egressos, que pode ser
concretizado na gestão de ações preventivas de violações aos direitos humanos em
diferentes espaços; de articulação política exercida, principalmente, pelos grupos
vulneráveis; de difusão de conhecimentos que possibilitem o exercício da cidadania e da
democracia; e, na vivência cotidiana de uma postura solidária com os outros.
É nesse amplo contexto que colocamos o nosso propósito de averiguar as
repercussões sociais do curso de especialização em educação em direitos humanos da
UFPI, através do estudo das transformações que ocorreram na vida das pessoas, nas redes
de direitos humanos, resultantes das práticas dos seus egressos, objeto de nossa
investigação.
Diante dessa problemática, apresentamos a preocupação central da nossa
investigação: Até que ponto as práticas dos egressos refletem a formação que receberam
no curso de especialização em educação em direitos humanos da UFPI?
A pesquisa em pauta teve os seguintes objetivos: avaliar o Curso de educação
em direitos humanos, promovido pela UFPI nos anos 1999-2001; descrever as repercussões
sociais de ações desenvolvidas por egressos que reflitam o empoderamento deles próprios
ou das pessoas ou comunidades alvo de suas ações.
Optamos como metodologia mais adequada para avaliar as repercussões sociais
das práticas dos egressos do Curso a pesquisa qualitativa configurada no estudo de caso
aplicado à avaliação. O estudo de caso que orientou esta investigação avaliativa combinou
várias técnicas para captação dos dados como: pesquisa documental, observação não
participante, observação participante, entrevista semi-estruturada e audiências públicas.
3
Cada uma dessas técnicas foi utilizada procurando responder as questões de pesquisa e
conciliar a pertinência do tipo de instrumento ao espaço/local de realização da pesquisa.
O design deste trabalho de investigação avaliativa teve por eixo básico o próprio
sentido da educação em direitos humanos que é a formação de um sujeito de direitos, isto é:
uma pessoa que tenha autonomia política, senso crítico, coragem de dizer não a situações
ou demandas arbitrárias que violem seus direitos e dos outros; e, que se insira e participe
dos processos políticos no lugar onde vive. Esse sujeito deve ter a capacidade de conhecer
e identificar situações em que haja violações aos direitos humanos e estar preparado para
impedir que tais situações aconteçam, além de prevenir e buscar a reparação.
Para a construção do estudo de caso, primeiro realizamos estudos acerca do
curso de educação em direitos humanos, como o contexto histórico e político da época em
que se realizou o curso, o perfil de seus egressos, os programas das disciplinas, a matriz
curricular, as monografias elaboradas, além de outras informações. Em seguida,
procuramos identificar situações e processos que tornassem possível avaliar as
repercussões sociais de ações e trabalhos desenvolvidos pelos egressos do Curso.
Após a conclusão dos estudos exploratórios, foram identificadas redes enquanto
espaços políticos, produtos e experiências significativas de educação em direitos humanos
que foram escolhidas para realização da pesquisa.
Inicialmente, os critérios para a escolha de redes, OGs e ONGs onde, nos
espaços políticos construídos a partir de ações programáticas, aconteceram processos e
experiências significativas e obtidos produtos tangíveis no campo da educação em direitos
humanos foram: a) a EDH seja uma pauta obrigatória no desenvolvimento dos trabalhos ou
em sua ação programática; b) promova uma educação transformadora e com enfoque
baseado nos direitos humanos; c) os processos educativos e participativos busquem a
construção e a promoção de valores como a paz, a justiça, a tolerância e a solidariedade; d)
as pautas e discussões, presentes nas ações observadas, tratem da interrelação entre
direitos e do fortalecimento de capacidades de modo a oferecer ao público-alvo informações
e condições para identificar, exigir e solicitar seus direitos; e, e) tenha a presença de pelo
menos três egressos do Curso de Especialização em EDH; 1
Atendendo a essas condições, as experiências significativas, selecionadas foram
as gestões: da comissão de direitos humanos da OAB – Secção do Piauí; do Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Piauí; e da articulação estadual do Movimento
Nacional dos Direitos Humanos.
1 O curso de EDH da UFPI tinha como um dos objetivos “Promover uma prática educativa comprometida com a Cidadania”, portanto esses espaços seriam o lócus onde se concretizaria esse objetivo.
4
2. Educação em Direitos Humanos
A educação se revela como um elemento essencial para a formação do cidadão
enquanto sujeito de direitos, isto é, aquela pessoa que se sente responsável pelo projeto de
sociedade a qual pertence. Corroborando com essa idéia Jares (1999) comenta a relação
que existe entre educação e direitos humanos ao afirmar que:
A íntima conexão que se estabelece entre educação e direitos humanos vêm dada porque a educação, em seu sentido mais nobre, tem como missão central de fazer crescer as pessoas, expressão que para nós faz menção essencial ao crescimento em dignidade, em liberdade, em direitos e deveres (Jares 1999, p. 7).
A educação é atributo que torna possível ao homem ter acesso aos outros
direitos fundamentais, como a igualdade de direitos, na forma de uma condição mínima que
pode materializar a dignidade. Esses novos exercícios e novas formas de cidadania,
voltadas para a transformação da realidade social existente, devem configurar prática de
libertação humana que permita ao ser humano reconhecer-se como sujeito de direitos,
participante da sociedade. Apesar da emergência, essa transformação requer tempo para
educação, capacitação, informação e para o diálogo, a fim de que a solidariedade e o
respeito aos direitos humanos caminhem juntos.
A educação em direitos humanos deve ser orientada para o respeito às
diferenças e ao compromisso com a transformação da realidade. Deve sensibilizar o
indivíduo a participar de um processo ativo na resolução dos problemas em um contexto de
realidades específicas e orientar a iniciativa, o sentido de responsabilidade e o empenho de
edificar um amanhã melhor.
As referências ao conceito de educação em e para os direitos humanos podem
ser verificados em vários documentos e instrumentos internacionais sobre direitos humanos,
a saber: na Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 26); na Convenção
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 13); na Convenção dos
Direitos da Criança (art. 28); na Declaração e Programa de Ação de Viena (seção D,
parágrafos 78-82). Esses textos foram elaborados para reconhecer, proteger e promover o
respeito e o cumprimento do que foi promulgado na declaração universal dos direitos
humanos. Esses instrumentos fornecem a definição clara do conceito de educação em
direitos humanos aprovado pela comunidade internacional.
Urgate e Naval (2003) asseveram que um dos componentes do direito à
educação é o direito à educação em direitos humanos e esta, por sua vez, consolida seu
sentido pleno ao afirmar a dignidade da pessoa humana.
Esta é uma educação em sentido pleno, já que ajuda a alcançar o desenvolvimento pessoal na sua plenitude, que é o fim primeiro para o qual se orienta a educação. Nesse sentido, a educação em direitos humanos
5
vem destacar o núcleo da autêntica educação e através dela tomar parte do direito à educação. De uma reflexão sobre a Educação em Direitos Humanos se pode afirmar que esta educação é um meio idôneo para afirmar a dignidade humana, contribuir para o desenvolvimento pleno, fomentar o respeito aos demais direitos humanos, estimular a participação social e favorecer o respeito a um mesmo e a todos os demais (Urgate e Naval 2002, p. 2).
Tibbitts (2002) relaciona a educação em direitos humanos às lutas para
encontrar uma melhor maneira de concretizar os princípios dos direitos humanos. A
educação nesse processo favorece a promoção desses direitos e catalisa as
transformações sociais necessárias para o respeito à dignidade da pessoa humana.
Poma (2002) enfatiza a importância da educação em direitos humanos e chama
atenção para o primeiro artigo da declaração universal dos direitos humanos que coloca a
dignidade da pessoa humana em primeiro plano. Esse artigo afirma: “Todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e
devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
Uma significação fundamental nesta nova consciência do ser humano repousa na noção de dignidade. A dignidade da pessoa é aquela condição em virtude da qual cada ser humano pode exigir ser tratado como semelhante a todos os demais, seja qual for seu sexo, cor da pele, idéias, etc. A dignidade que tem cada ser humano é justamente o que nos serve para reconhecer a cada um como um ser único e irrepetível. Diferentemente das coisas, que podem ser substituídas, ou compradas, o ser humano não tem preço, tem dignidade (Poma, 2002, p. 22).
A dignidade da pessoa humana confere valor imensurável à vida humana.
Flowers (1998) assevera que a educação tem papel essencial nesse contexto na medida em
que estimula o desenvolvimento humano e dá suporte à sociedade para: compreender o
contexto social e político que a envolve; reconhecer os próprios prejuízos; assumir a
responsabilidade de defender seus direitos e os direitos dos outros; e, preparar para a
mediação e solução de conflitos.
Nesse embate, a luta pela defesa, proteção e cumprimento dos direitos
humanos, é importante conhecer os caminhos que tornam possível a efetivação de tais
direitos. Daí a importância de encontrar pessoas que possam influenciar quem tem poder
para transformar realidades e situações de violações dos direitos humanos. É importante,
também, que se saiba avaliar o grau de cumprimento das metas estabelecidas em relação
às políticas públicas que garantam o bem-estar social e a efetivação dos direitos humanos.
Portanto, é imprescindível saber: quem é responsável pela solução do problema;
qual apoio é necessário para realização dos direitos requeridos; as iniciativas propostas
pelos principais interessados; quem são os líderes internos que poderão influenciar; e, quem
poderá exercer pressão externa e que tenha identidade com o grupo vulnerável.
6
Os direitos humanos são reconhecidos como conjunto de direitos individuais e
coletivos, que devem ser respeitados, promovidos, protegidos e garantidos. Existem leis
internacionais e nacionais que, desde a promulgação da declaração universal dos direitos
humanos em 1948, garantem a efetivação dos direitos humanos em vários países. Nesse
sentido, procurando atender os objetivos da pesquisa, os dados serão agrupados em
categorias, pelo critério de proximidade conceitual respeitando as dimensões dos direitos
humanos de respeito, proteção e cumprimento2.
A educação em direitos humanos abarca práticas pedagógicas, políticas e de
militância na defesa dos direitos humanos. Portanto, existe na vida cotidiana a necessidade
de criar espaços discursivos e práticos sobre a participação de todos em ação recíproca de
responsabilidade na defesa dos direitos humanos. O respeito aos direitos humanos implica
reconhecer os deveres humanos e estes últimos, por sua vez, implicam um agir consciente
e coerente com o discurso e ser responsável pelo outro. O sentido último da educação em
direitos humanos é a formação do sujeito de direito que tem como aspiração acabar com as
estruturas de injustiças e de discriminação social.
A educação em direitos humanos concebe possibilidade de interação entre as
diferentes áreas do conhecimento podendo, preparar as pessoas para compreender e
intervir na realidade. Ela deve ser crítica, problematizadora, geradora de conhecimento e
conteúdos de acordo com as pautas e demandas da sociedade.
3. A avaliação com enfoque em direitos humanos
Avaliar um projeto, um programa e/ou um processo que envolve a dimensão dos
direitos humanos implica reconhecer alguns princípios que só são visualizados nas atitudes
de quem participa do processo. Nesse contexto consolida-se uma proposta de avaliação
como novo caminho metodológico para subsidiar as investigações avaliativas sobre
questões que tratam dos modos de ação dos gestores públicos, por exemplo, após
intervenção realizada. (BOUCHARD E FONTAN, 1998)
Nessa nova proposta de avaliação é possível delinear os contornos das
inovações sociais que têm o enfoque baseado nos direitos humanos. Esse novo paradigma
tem características que são essenciais. Segundo Bouchard e Fontan, (1998) a avaliação
deverá: estar integrada desde a concepção de um projeto, a gestão, sua ação corrente e
finalização; ser utilizada com fins estratégicos; levar em conta que o objeto em estudo faz
parte de um sistema social; ser de natureza participativa, política e ética.
As avaliações dos progressos ou retrocessos acerca dos direitos humanos são
dificultadas pelo desconhecimento das pessoas sobre as normas, a legislação e os
2 Orientação adotada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD.
7
mecanismos existentes que garantam o respeito, a proteção e o cumprimento de tais
direitos. Como, quem tem seus direitos violados, sendo analfabeto (no Piauí é comum,
infelizmente), pode entender a diferença entre o caráter abstrato das leis e as práticas
sociais que conhece?
Demonstrando preocupação com essa realidade e colocando a educação como
peça essencial para a positivação dos direitos humanos, Tomasevski (2006) enfatiza a
importância da educação e declara:
Há um grande número de problemas relacionados com os direitos humanos que não poderão ser resolvidos enquanto o direito a educação não seja a chave que destrave os outros direitos. A educação opera como multiplicadora, incrementando o desfrute dos direitos individuais, as liberdades onde se garanta efetivamente o direito a educação, uma vez que privando as pessoas do desfrute de muitos direitos e liberdades ali onde lhes é negado ou é violado o direito a educação (Tomsevski 2006, p. 127).
A educação representa a principal esperança de se modificar o atual curso da
humanidade. É um direito de todas as pessoas que torna possível o desenvolvimento de seu
potencial. Às transformações necessárias têm que atrelar-se o reconhecimento do Estado
de que os excluídos são titulares de direitos. A adoção dessa condição certamente mudará
a lógica dos processos de elaboração das políticas públicas.
Porém, a adoção de leis ou a adesão a tratados não serão suficientes se não
houver compromisso individual e coletivo de mudar os interesses antropocêntricos,
tornando-os mais universais, com maior empatia por todas as formas de vida e, em relação
aos homens, tornar a sociedade mais igualitária. A mudança no jogo de interesses terá
reflexos positivos na sociedade. Nesse contexto a educação em direitos humanos adota um
[...] enfoque que supõe, necessariamente, um processo de construção de cidadania ativa,
que implica a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. (SACAVINO,
2007: p. 465)
A conferência mundial dos direitos humanos realizada em 1993 em Viena, em
seu informe final afirmou que a existência da pobreza inibia o desfrute pleno e efetivo dos
direitos humanos e constituía violação da dignidade da pessoa humana3.
A Organização das Nações Unidas em 2000 passa a recomendar a adoção do
enfoque dos direitos humanos nos projetos de desenvolvimento. Na prática significa dizer
que as atividades de cooperação entre os países membros e a ONU deverão priorizar a
defesa dos direitos humanos. Nesse sentido, um dos principias mecanismos é colocar como
marco conceitual e nas estratégias de desenvolvimento a garantia: de mecanismos de igual
3 Assumimos o conceito de dignidade da pessoa humana por ser tradição das declarações de direitos humanos, por ter sido reiterado na Conferência Mundial dos Direitos Humanos que aconteceu em Viena em 1993 e por constar na nossa Constituição Federal.
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tratamento a toda população; a igualdade e a não discriminação; a participação e a outorga
do poder a todos os setores e principalmente aos grupos vulneráveis.
Esse marco conceitual poderá contribuir para atingir os objetivos do milênio ao
definir com maior precisão as obrigações do estado frente aos princípios dos direitos
humanos nas estratégias de programas e projetos de desenvolvimento. Abramovich (2006)
explica as implicações desse enfoque para os grupos mais vulneráveis, ao comentar que:
Em linhas gerais, o enfoque baseado em direitos humanos considera que o primeiro passo para outorgar poder aos setores excluídos é reconhecer que eles são titulares de direitos que obrigam ao Estado. Ao introduzir este conceito se procura mudar a lógica dos processos de elaboração de políticas, para que o ponto de partida não seja a existência de pessoas com necessidades que devam ser assistidas, sim sujeitos com direitos a demandar determinadas prestações e condutas. (Abramovich 2006, p. 16).
Para entender o que significa o enfoque dos direitos humanos nos projetos de
desenvolvimento faz-se necessário compreender a diferença entre direitos e necessidades.
Um direito é algo que é inerente à pessoa e que lhe permite viver com dignidade. Uma
necessidade é uma aspiração que pode ou não ser reconhecida pelo Estado, por mais
legítima que seja. Um direito pode ser reclamado perante a lei, pois é uma obrigação do
estado de prover esse direito. Uma necessidade não tem respaldo jurídico, portanto não
existem mecanismos legais que garantam a sua satisfação. Os direitos estão associados ao
“ser”, enquanto as necessidades estão associadas ao “ter”.
Na prática o enfoque dos direitos humanos nas políticas e estratégia de
desenvolvimento é garantir que o Estado-Parte ou Nação adote políticas sociais e que
destine recursos que garantam a realização dos direitos humanos. Os critérios básicos para
o desenvolvimento dessa estratégia são: os mecanismos de responsabilidade; a igualdade e
a não discriminação; a participação e a outorga do poder aos setores marginalizados e
excluídos.
O primeiro passo para a outorga do poder aos setores excluídos é reconhecer
que os mesmos são titulares de direitos. Esse conceito muda a lógica na proposição de
políticas públicas tanto por parte do Estado quanto dos movimentos sociais. Na verdade não
se buscará mais recursos para pessoas necessitadas, mas sim sujeitos portadores de
direitos. Esse novo encaminhamento demandará em obrigações e determinadas condutas
no sentido de responder a essas demandas. Abramovich (2004) explica.
As ações que se empregam nesse campo não são consideradas somente como o cumprimento de mandatos morais ou políticos, e sim como a via escolhida para dar cumprimento às obrigações jurídicas, imperativas e exigíveis, impostas pelos tratados de direitos humanos. Os direitos demandam obrigações e as obrigações requerem mecanismos de exigibilidade e cumprimento (Abramovich 2004, p. 5).
9
O princípio da interdependência entre os direitos civis, políticos e os direitos
econômicos, sociais e culturais parte da compreensão de que existem três formas de
considerar os direitos humanos pertinentes: pertinência constitutiva, pertinência instrumental
e a pertinência restritiva em relação ao âmbito da estratégia. Esses direitos estão
entrelaçados, o direito à saúde demanda a certeza de moradia digna, saneamento,
alimentação adequada e educação.
Outros direitos como o direito à participação, o direito à informação e o direito de
associação ou reunião facilitam os processos de avaliação e consulta indispensáveis para a
determinação e escolha de políticas públicas com vistas à redução de pobreza. O trabalho
do defensor de direitos humanos se insere nesse contexto na medida em que procura
influenciar os titulares de deveres a garantir políticas públicas que melhorem a qualidade de
vida dos grupos vulneráveis.
A avaliação de situações de violações dos direitos humanos requer
conhecimento dos Principais Tratados Internacionais sobre os Direitos Humanos e quais
foram ratificados pelo Brasil, a Constituição Federal e as leis que garantam o direito a não
sofrer violações. Os documentos legais tratam dos direitos humanos como princípios e as
leis garantem a realização dos direitos humanos enquanto prática.
4. O Curso de EDH da UFPI
No início de 1998, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) passou a compor o
Fórum Estadual de Direitos Humanos4, iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da
Arquidiocese de Teresina. O Fórum era formado por mais de trinta entidades
governamentais e não governamentais atuantes na área de direitos humanos em suas
várias dimensões, a saber: moradia, saúde, raça e discriminação, educação, criança e
adolescente, gênero.
O Fórum promovia reuniões periódicas nas quais eram discutidos pontos de luta
comuns. Nessas ocasiões, observamos que os membros do Fórum tinham consciência
política da necessidade de lutar pela garantia dos direitos humanos, em todos os seus
aspectos. No entanto, percebíamos que a maioria não sabia realmente o que eram os
4 As instituições que compunham o Fórum Estadual de Direitos Humanos eram: Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de Teresina, Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Teresina, Comissão de Direitos Humanos da UFPI, Centro de Apoio às Promotorias da Infância e da Juventude do Piauí, Comissão Pastoral da Terra, Conselho Penitenciário do Estado do Piauí, Associação dos Cegos do Piauí, Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes, Escola de Magistratura do Estado do Piauí, Sindicato dos Jornalistas, Sindicato dos Radialistas, Polícia Militar do Piauí, CNBB, MNDH - Articulação Estadual, FAMCC, CEPAC, FAMEPI, e outras entidades da sociedade civil.
10
direitos humanos. Concepções equivocadas, conceitos fragmentados e visões unilaterais
balizavam as discussões sem uma compreensão da integralidade, interdependência e
indivisibilidade desses direitos, por exemplo.
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) assumiu o compromisso, junto às
entidades do Fórum Estadual de Direitos Humanos, de tornar concreto um programa de
capacitação em educação em direitos humanos. A proposta aprovada pelo conjunto das
entidades que compunham o Fórum foi possibilitar a realização de um Curso de Pós-
Graduação Lato sensu, modalidade especialização em educação em direitos humanos.
Como o objetivo maior de todos era lutar por uma transformação social para a
conquista de uma sociedade mais justa e igualitária, o enfoque da educação foi escolhido
como estratégia para tornar possível este projeto de sociedade. Cidadania e dignidade
fundamentariam as discussões com o intuito de fortalecer a função transformadora dos
defensores dos direitos humanos, materializadas nas lutas, reivindicações e denúncias.
Neste sentido, o Curso tinha como propósito preencher uma lacuna na
capacitação de militantes e defensores dos direitos humanos, considerando a relevância
social e a crescente demanda posta pela sociedade, por organizações governamentais –
OGs e não governamentais – ONGs, como entidades de defesa da cidadania.
A proposta do Curso de Pós-Graduação Lato sensu - especialização em
educação em direitos humanos, implementada pela UFPI, teve como referência o Curso de
especialização em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba, realizado em
1995. A UFPI iniciou a primeira turma em maio de 1999. Em novembro de 1999, procurando
atender às demandas da comunidade, a UFPI ofereceu mais duas turmas5.
Educar para os direitos humanos significa estabelecer um compromisso afetivo,
cívico, ético, intelectual e de paixão pela vida humana onde a luta pela exibilidade dos
direitos humanos é uma constante diante da situação em que se encontra a humanidade.
Dessa forma, o processo formativo do defensor dos direitos humanos implicou
em estabelecer objetivos que atendessem as necessidades dos formandos conforme
proposta do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a saber: a)
receber informação e adquirir conhecimentos; b) adquirir ou desenvolver competências; e c)
ser sensibilizado, ou seja, experimentar uma mudança de atitudes negativas ou reforçar
atitudes e condutas positivas. (ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000, p. 5)
5 O curso de educação em direitos humanos teve a seleção da primeira turma em março de 1999.
Foram inscritas 306 (trezentas e seis) pessoas para 44 (quarenta e quatro) vagas. Essa turma disponibilizou 10 (dez) vagas para Comissão de Direitos Humanos da OAB; 10 (dez) vagas para a Arquidiocese de Teresina e 04 (quatro) vagas para professores e/ou servidores da UFPI. Nas outras duas turmas foram disponibilizadas vagas para a Secretaria de Segurança Pública 10 (dez); Delegacia Regional do Trabalho e Emprego 04 (quatro); e, 06 (seis) para a Arquidiocese de Teresina.
11
Embora o conjunto de disciplinas da proposta curricular da UFPI fosse o mesmo
da UFPB, no decorrer do curso procurou-se atender ao que foi proposto por Rodino (1999,
p. 113) com os critérios para consolidar-se o marco metodológico de cursos para formação
de defensores de direitos humanos, a saber: orientar todas as ações educativas na
perspectiva dos e fundamentada nos valores dos direitos humanos; promover a participação
ativa dos destinatários nos seus processos de aprendizagem; considerar o educando como
um ser integral, ou seja, uma pessoa com percepções, idéias, desejos, vontades e
emoções; vincular os conteúdos educativos ao contexto e a realidade vivenciada pelo
educando; estimular a reflexão e a ação consciente; problematizar o conhecimento; assumir
os conflitos como possibilidades de aprendizagem e ensinar a resolvê-los construtivamente;
potencializar o grupo como um espaço de aprendizagem cooperação; promover o diálogo; e,
propiciar a motivação e o envolvimento emocional dos educandos.
5. As Repercussões Sociais das Ações dos Egressos do Curso
5.1. Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos6 - CEDDH do Piauí foi
criado através da Lei Nº. 5.089 de 18 de outubro de 1999, sendo integrado à estrutura da
Secretaria de Justiça e Cidadania e Direitos Humanos, para fins de suporte administrativo,
operacional e financeiro.
A criação do CEDDH foi justificada pela necessidade de atender o que propunha
a Conferência de Viena de 1993, que pretendia que os conceitos de direitos humanos
passassem do rol das intenções para uma prática cada vez mais incorporada ao cotidiano
das populações. Uma dessas ações seria a criação dos conselhos de direitos.
O CEDDH7 tem por finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos,
mediante ações preventivas, corretivas e reparadoras de situação que violem e atentem
contra a dignidade da pessoa humana.
As constantes violações dos direitos humanos são destaques na rotina brasileira, 6 As instituições que fazem parte do CEDDH são: Arquidiocese de Teresina-PI; Assembléia Legislativa do Estado do Piauí; Coletivo de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Piauí; Defensoria Pública; Ministério Público Estadual; Ministério Público Federal; GEMDAC – Gênero, Mulher, Desenvolvimento e Ação para Cidadania; Ordem dos Advogados do Brasil Secção – Piauí; Universidade Federal do Piauí; Universidade Estadual do Piauí; Polícia Militar do Piauí; Tribunal de Justiça do Estado do Piauí; Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica do Piauí – SINTE; Fundação Padre Ermínio Pegorari; Sínodo do Piauí; Secretaria Estadual da Justiça e Direitos Humanos; Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania; MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; MORHAN - Movimento para Reintegração das Pessoas Atingidas por Hanseníase; e Grupo Matizes. 7 A importância do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos reside na sua condição de órgão ou instituição estatal e não somente mecanismo de participação governamental, que de alguma maneira poderia ser extinto a qualquer momento. Trata-se de um organismo de Estado, previsto na Constituição Federal de 1998 e regulamentado pelo governo
12
notadamente no Piauí. A criação desse conselho veio atender um anseio da sociedade civil
que reconhece sua importância como espaço de participação popular na gestão pública.
Levando em consideração as suas características, competências e prerrogativas, o CEDDH
tem uma composição formada por representantes do poder executivo, legislativo, judiciário
além de representantes da sociedade civil.
No âmbito preventivo cabe ao conselho propor diretrizes para o poder público
atuar nas questões de direitos humanos; propor mecanismos legais que permitam a
institucionalização da promoção dos direitos humanos como missão do poder público
estadual; estimular e promover programas educativos para conscientização sobre os direitos
humanos; estimular e promover a realização de estudos e ventos que incentivem o debate
sobre os direitos humanos.
Compete, também, ao CEDDH denunciar e investigar violações aos direitos
humanos. Para isso, este conselho estará à disposição da população piauiense para o
recebimento de denúncias de violação aos direitos humanos e auxílio na localização das
autoridades competentes a requerer a tomada de providências corretivas.
O CEDDH tem o livre exercício de seus poderes de fiscalização, pois tem o
acesso a qualquer lugar onde ocorrerem violações, para o cumprimento de diligências.
Portanto, receber e encaminhar para as autoridades competentes petições, representações,
denúncias ou queixas de quaisquer pessoas ou entidades por desrespeito aos direitos
individuais e coletivos assegurados na legislação em vigor é uma das missões desse
conselho.
No período em que foi criado o CEDDH o Brasil sofreu denúncia na Comissão
dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, em Genebra, sobre as graves
violações aos direitos da população brasileira. O Piauí figurou como o estado da Nação
brasileira onde mais violações acontecem. As principais causas alegadas para essas
violações foram a corrupção, a impunidade e a omissão do estado no que se refere a
oferecer políticas públicas que atendam, pelo menos, as necessidades de sua população.
Isso é reflexo da histórica concentração de poder econômico e político nas mãos de famílias
que se revezam no poder, governando e legislando em causa própria.
A luta pela criação do CEDDH aconteceu durante a realização do curso de
educação em direitos humanos. Nesse período as discussões ocorriam no sentido de
conseguir sensibilizar os deputados para votarem o Projeto de Lei de Criação do Conselho.
Portanto, todos os alunos, naquele período, se envolveram no processo; e em muitos dos
temas debatidos nas diversas disciplinas constatava-se a necessidade de criar um conselho
de defesa dos direitos humanos.
Durante as aulas da disciplina Movimentos Sociais e Direitos Humanos foram
realizados seminários com a participação de representantes de OGs e ONGs onde se
13
discutiu a necessidade de se criar um conselho de defesa dos direitos humanos.
O Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de Justiça e Cidadania
convocou as organizações governamentais e não governamentais que atuam na área de
direitos humanos para indicarem seus representantes a fim de compor o referido conselho.
A indicação dos futuros conselheiros ocorreu no período de março a setembro de 2003 e a
posse dos primeiros conselheiros aconteceu em novembro do mesmo ano. No início da
pesquisa, recebemos a convocação para compor o CEDDH, como conselheiros e
representando a Universidade Federal do Piauí.
O CEDDH em seu Regimento Interno prevê a criação de Comissões, como
órgãos deliberativos quem tem a missão de tornar real o que está proposto no artigo 8º do
referido documento. Uma das comissões permanentes previstas no Regimento Interno é a
comissão de educação em direitos humanos que tem por missão a promoção e realização
de estudos e eventos que incentivem o debate sobre os direitos humanos; a elaboração e
publicação de trabalhos, a emissão de pareceres, organização de campanhas pelos
diversos meios de comunicação social, de forma a difundir o conhecimento e a
conscientização acerca dos direitos humanos, dos instrumentos legais e serviços existentes
para a sua proteção; e a promoção de programas educativos para a conscientização sobre
os direitos humanos.
O CEDDH tem reuniões ordinárias mensais onde são discutidas as demandas
que partem da sociedade. As Comissões Permanentes tem suas reuniões estabelecidas a
partir dos projetos que estão desenvolvendo.
As razões para a escolha do CEDDH como uma rede para realizar a pesquisa
foram: a) havia mais dois membros titulares que também eram egressos do curso; b) a
educação em direitos humanos compunha suas metas e missão de trabalho; e, c) o CEDDH
era o resultado de um luta conjunta não só de pessoas – os alunos do curso de educação
em direitos humanos – mas de uma articulação política institucional que envolveu a UFPI, a
Arquidiocese de Teresina, a Secretaria de Segurança Pública e a Delegacia Regional do
Trabalho e Emprego. Coincidentemente todas essas instituições formaram parceria no
intuito de realizar o curso de especialização em educação em direitos humanos, objeto de
investigação desta pesquisa.
O trabalho desenvolvido pelos egressos do curso de EDH nesse conselho era
mais no âmbito administrativo, como organização de reuniões, assembléias e seminários.
Ocasionalmente eram feitas averiguações das denúncias e as justificativas para ausências
transitavam entre a falta de tempo e não poder fazer muito porque não era sua área.
Os trabalhos desenvolvidos pelos conselheiros egressos se inseriram na
perspectiva da educação em direitos humanos voltada para a o modelo de valores e
conscientização onde o foco principal é a transmissão de informações. Tibbitts (2002)
14
5.2. Movimento Nacional dos Direitos Humanos
O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) é um movimento
organizado da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundado em 1982, constituindo-se hoje a
principal articulação nacional de luta e promoção dos direitos humanos.
A área de abrangência do MNDH é todo o território brasileiro em forma de rede
com mais de 400 entidades filiadas. É uma rede formada por instituições da sociedade civil
que defendem seu caráter democrático, ecumênico e suprapartidário. Sua missão é lutar
pela vida contra a violência e atuar na promoção dos direitos humanos em sua
universalidade, interdependência e indivisibilidade, fundada nos princípios estabelecidos
pela Carta de Princípios de 1986 – a Carta de Olinda.
O público-alvo do MNDH é a sociedade civil organizada, organismos públicos
nacionais e internacionais, mídia e sociedade em geral, que se afinam na missão de
promover os direitos humanos. Em sua estrutura organizacional é formada por um Conselho
Nacional, uma Coordenação Nacional e as Articulações Regionais.
Segundo o Documento Institucional do MNDH “as Articulações Estaduais
constituem-se em instâncias de articulação das entidades filiadas ao MNDH no âmbito de
cada Unidade da Federação para a ação e interlocução social e política na área de sua
abrangência”. Seu formato organizativo se constitui em instância essencialmente de
articulação para a ação conjunta de todas as organizações que são filiadas ao MNDH. Essa
instância tem capacidade deliberativa sobre a sua ação política, no entanto deverá estar em
harmonia e em consonância com todo o MNDH.
A composição da Articulação do MNDH no Piauí é feita pelas ONGs: Fundação
Rio Parnaíba - FURPA8; Grupo Matizes9; Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese
de Teresina; Comissão de Direitos Humanos da OAB - Secção Piauí; e, Comissão de
Direitos Humanos da Universidade Federal do Piauí.
O MNDH – Articulação Piauí durante a realização desta pesquisa abrigava em
seu quadro de militantes, pessoas ligadas diretamente as duas ONGs, assessores (pessoas
vinculadas aos projetos que o MNDH participava) e público alvo contanto ao todo com 16
(dezesseis) egressos.
8 A Fundação Rio Parnaíba - FURPA é uma Organização Não Governamental (ONG), de caráter filantrópico, cultural, educacional, de proteção ambiental, de defesa da saúde e de promoção do desenvolvimento sustentável. Criada em 1988, a FURPA vem desenvolvendo ações que contribuem diretamente para a preservação do meio ambiente, com representatividade em diferentes conselhos em nível estadual e nacional, possuindo jurisdição nos Estados do Piauí, Ceará, Maranhão e Tocantins. 9 O Grupo Matizes é uma organização não governamental criada em 2002 em Teresina, Piauí, que atua na defesa dos direitos humanos visando à implementação de políticas públicas de suporte e proteção das minorias, com foco na diversidade sexual.
15
O Estatuto do MNDH – NE explicita como seus objetivos a promoção da
democracia, a justiça social, a ética e a democracia. Assim como torna claro a proposição
de políticas públicas de interesse local, regional e nacional; a realização de estudos,
pesquisas, desenvolvimento e divulgação de assuntos vinculados ao aprimoramento dos
direitos humanos; a promoção da educação de agentes sociais para a organização,
fortalecimento e articulação das organizações da sociedade civil em direitos humanos; o
desenvolvimento de ações que visem à proteção dos direitos humanos de grupos
vulneráveis; a realização do monitoramento de políticas públicas que assegure o efetivo
exercício do DHESC (direitos humanos econômicos, sociais e culturais); entre outros.
A Articulação do Piauí foi responsável pela elaboração do Informe Alternativo da
Sociedade Civil Brasileira sobre o cumprimento da PIDESC pelo Brasil. O processo de
elaboração desse informe também foi objeto de investigação desta pesquisa.
O MNDH – Articulação Piauí enquanto rede de direitos humanos desenvolvia
ações que podem ser identificadas enquanto trabalho de advogacy realizadas pelos
integrantes das entidades que participam dessa rede.
O Grupo Matizes, ONG que integra o MNDH-PI, trabalha para a promoção dos
direitos humanos, na perspectiva da indivisibilidade, interdependência e da universalidade.
Algumas ações políticas mediadas pelo Matizes podem ser exemplificadas enquanto um
trabalho desenvolvido contando com o apoio dos egressos do Curso de EDH.
O desenvolvimento das atividades do MNDH-PI é tímido, haja vista o pequeno
número de entidades que fazem parte da Articulação do Piauí em relação às demandas que
se apresentam. As ações desenvolvidas ao longo dos últimos oito anos10 indicam, porém,
uma robustez na medida em que a articulação assume várias empreitadas: Elaboração do
Contra Informe; Avaliação do Plano Nacional de Direitos Humanos I em 2000; a Avaliação
do Plano Nacional de Direitos Humanos II11; Denúncia à Comissão Nacional dos Direitos
Humanos sobre as Unidades de Internação de adolescentes em conflito com a lei;
Elaboração da primeira versão do Plano Estadual em Educação em Direitos Humanos.
5.3. Comissão de Direitos Humanos da OAB-PI.
A Ordem dos Advogados do Brasil é uma Entidade Autárquica de forma
federativa que tem por missão zelar pelo estado democrático de direito e pela defesa da
10 A pesquisa realizada no âmbito do MNDH-NE-PI recorreu à observação não participante e documental onde foi feito um levantamento de todas as atividades como: audiências públicas, seminários, cursos e projetos de intervenção. 11 A Avaliação do PNDH II encontra-se em processo (realização de audiências públicas) em todos os Estados da Federação e teve sua aprovação final em dezembro de 2008 por ocasião da Conferência Nacional dos Direitos Humanos.Informações disponíveis no sítio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos ou na DHNET, http://www.dhnet.org.br/inedex.htm.
16
cidadania. A Seccional do Piauí é formada por uma diretoria e por várias comissões que
tratam de assuntos pertinentes à carreira de Advogado, como o Conselho de Ética, ou como
a Comissão de Direitos Humanos, que tem uma abrangência maior ao se colocar como
defensora dos direitos humanos.
As atribuições da Comissão de Direitos Humanos estão previstas no art. 44 do
Regimento Interno da Secção do Piauí da Ordem dos Advogados do Brasil12.
Durante a realização do Fórum Estadual de Direitos Humanos do Piauí, em 1998
a Comissão de Direitos Humanos da OAB - Secção Piauí – gestão 1998-2000 – participou
como representante da OAB e desenvolveu, juntamente com outros membros do Fórum,
articulações políticas que possibilitaram a realização do curso especialização em EDH e a
criação do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos.
Todos os dez conselheiros da gestão 1998-2000 foram alunos da primeira turma
do curso de EDH. Os temas de seus trabalhos monográficos contemplaram a criança e o
adolescente (30%); o trabalho escravo (10%); a cidadania (10%); os conceitos gerais sobre
direitos humanos (20%); o sistema prisional (10%); a mídia e os direitos humanos (10%); e,
a educação em direitos humanos no ensino fundamental (10%). O tema, criança e o
adolescente envolveu pesquisas sobre o trabalho infantil, a violência sexual e as medidas
sócio-educativas. Estas temáticas estavam diretamente relacionadas aos acontecimentos
em discussão na sociedade piauiense no período da realização do curso.
A segunda e a terceira turmas contaram com a participação de um conselheiro
em cada turma. Os temas apresentados nas monografias foram: literatura e direitos
humanos e violência doméstica. É importante registrar que dos 102 alunos que concluíram o
curso de EDH, doze eram da Comissão de Direitos Humanos da OABPI.
A gestão 2004-2006 da CDH-OABPI, que contava com dezesseis membros, sete
(44%) eram egressos do Curso de EDH. Outros egressos, em número de três, faziam parte
da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da OABPI. Após o Curso de EDH,
esses profissionais assumiram o compromisso de trabalharem em conjunto na defesa dos
DH. 12 Art. 44. Compete à Comissão de Direitos Humanos: I - receber notícias e queixas de violações de direitos humanos, procedendo a sumária sindicância, entrevistas com interessados, entendimentos com as autoridades públicas e qualquer outro procedimento adequado, visando à elucidação das denúncias apresentadas; II - provocar a iniciativa do Ministério Público ou de outros órgãos ou entidades de defesa dos direitos humanos; III- elaborar trabalhos escritos, emitir parecer, promover seminários, palestras, pesquisas e outras atividades que estimulem o estudo, a divulgação a respeito dos direitos humanos; IV - manter permanente contato com a Comissão de Direitos Humanos das outras Seccionais e do Conselho Federal, para fim de enviar e receber informações e subsídios à sua atividade; V - cooperar e promover intercâmbio com outras organizações em cujos objetivos se inclua a defesa dos direitos humanos; VI - criar e manter atualizado um centro de documentação onde sejam sistematizados dados sobre as denúncias e as queixas de violações de direitos humanos.
17
Na sua linha de atuação, a CDH-OABPI tem pautado pela defesa dos DH por
meio de ações como: a) recebimento, encaminhamento e acompanhamento aos órgãos
competentes de denúncias de violações de direitos humanos; b) intercâmbio permanente
com entes públicos e entidades da sociedade civil; c) formação contínua dos advogados; e,
c) promoção da educação em direitos humanos. Para realização dessas atividades foram
realizadas parcerias com várias instituições13.
As atividades de que a CDH-OABPI participou nessa gestão ora coordenando,
ora intermediando uma ação política, outras vezes como membros. A Assessoria Jurídica
acontece no acompanhamento de casos de inquéritos policiais e pacientes necessitados de
medicamentos excepcionais.
O trabalho de advogacy realizado pelos egressos do CEEDH tem por base o
“modelo de responsabilidade” proposto por Tibbitts (2002) na perspectiva da educação em
direitos humanos. Segundo Tibbitts (2002) o envolvimento dos defensores dos direitos
humanos se dá através de seus papéis profissionais. Ou seja, os conselheiros se
envolveram no monitoramento das violações de direitos humanos defendendo,
especialmente as populações mais vulneráveis junto às autoridades competentes, ações
sobre as quais possuem responsabilidades.
A representação da CDH-OABPI dá-se em âmbito municipal (Conselho
Municipal da Criança e Adolescente de Teresina e o Comitê Municipal de Combate a Tortura
em Picos). Em âmbito nacional onde um dos conselheiros assumiu a Coordenação
Colegiada do MNDH Nacional (Gestão 2004- 2006) e o Conselho Regional do MHDH – NE
também na mesma gestão. No âmbito estadual essa representação sempre é resultado de
uma articulação que acontece no sentido de criar, consolidar ou implementar ações desses
conselhos.
A CDH-OABPI foi a instituição âncora que coordenou os trabalhos do Comitê
Estadual de Combate a Tortura no Piauí, fazendo parte de ação em âmbito nacional
coordenado pelo Movimento Nacional dos Direitos Humanos14. A participação e os números
da Campanha no Piauí estão registrados no “Relatório Final da Campanha Nacional
13 Secretaria de Saúde; Coordenadoria de Saúde do Ministério Público Estadual; Coordenadoria do Centro de Apóio Operacional de Defesa da Cidadania do Ministério Público Estadual; Secretaria de Segurança (Secretário, Corregedoria, Delegacia Geral, Delegacias Distritais); Polícia Militar (Comando Geral, Corregedoria, Ministério Público, Coordenadoria de Gerenciamento de Crises e Direitos Humanos); Secretária de Justiça e Direitos Humanos; Secretaria de Assistência Social e Cidadania; Secretaria Especial de Direitos Humanos; Movimento Nacional de Direitos Humanos, Departamento Penitenciário Nacional, Conselho Tutelar, entre outros; 14 Fizeram parte do Comitê outras comissões da Ordem dos Advogados do Brasil- Secção Piauí; Fundação Rio Parnaíba; Policia Militar; Procuradoria Geral de Justiça; Sindicato dos Policiais Civis e Agentes Penitenciários; Procuradoria da República no Piauí; Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Piauí; Arquidiocese de Teresina; Defensoria Pública; Universidade Federal do Piauí; Secretaria de Segurança; Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal do Piauí; Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Teresina e o Conselho Regional de Psicologia.
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Permanente de Combate à Tortura e à Impunidade” que foi publicado pelo Movimento
Nacional dos Direitos Humanos – Conselho Nacional.
A participação da Comissão acontece conforme estabelecido a seguir: a)
Conselhos de Direitos15; b) Fóruns16; e, c) Comitês17. Nesse trabalho podemos perceber a
articulação política no sentido de fortalecer a ação dos titulares de direitos e dos titulares de
deveres como medida à proteção dos direitos humanos, notadamente a prevenção contra a
tortura.
6. Considerações Finais
A experiência demonstrou que o Curso de educação em direitos humanos
realizado pela UFPI possibilitou a construção de um saber acadêmico e científico, sem
perder de vista o conhecimento construído na sociedade civil, avançando na formação de
quadros nessa área. Além disso, provocou a discussão sobre currículos formativos, em nível
de graduação e pós-graduação, firmando-se, sobretudo na Região Nordeste, no Meio
Norte18.
Todo processo que esse estudo de caso apresenta, têm características
semelhantes às que direcionaram nossas preocupações no decorrer da pesquisa em pauta,
como: se havia coerência entre os objetivos explicitados na proposta curricular e a ações
desenvolvidas nos processos educativos que permeavam o desenvolvimento do currículo.
A ênfase da pesquisa foi verificar quais atividades eram fundamentadas na
perspectiva de Paulo Freire (1991) da práxis crítica e reflexiva. As principais conseqüências
dessa proposta foram: desenvolvimento e uma identidade coletiva onde o sentimento de
pertencimento ao grupo permite convivência democrática e crítica onde todos se respeitam;
melhoria na auto-estima dos alunos e maior confiança nos relacionamentos e na tomada de
decisões; desenvolvimento de habilidades na solução de conflitos; e, aumento da
capacidade de argumentar apresentando pensamento lógico fundamentado em
conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso.
A solidariedade, o respeito, a partilha de idéias e projetos, saber argumentar na
luta por direitos significa estar de acordo com a recomendação da UNESCO sobre a
Educação para a Compreensão, a Cooperação, e a Paz Internacional e a Educação Relativa
aos Direitos Humanos e as Liberdades Fundamentais (1974). Essas características 15 Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Piauí; Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Negra do Estado do Piauí; e, Conselho Estadual de Defesa da Mulher do Estado do Piauí; 16 Fórum de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; Fórum de Defesa da Criança e do Adolescente; Fórum de Erradicação do Trabalho Infantil; e, Fórum de Erradicação do Trabalho Escravo. 17 Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí e Comitê Estadual de Combate a Tortura do Piauí; 18 O Meio Norte é formado pelos Estados do Piauí e Maranhão.
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possibilitam ao defensor, operador, militante e gestor dos direitos humanos a compreender
os contextos sociais que se configuram em um País, Brasil, e um Estado, Piauí onde a
realização dos direitos sociais existe como possibilidade remota é desafiador.
Nesse contexto, o exercício da solidariedade - onde há o reconhecimento do
outro como alguém que tem dignidade - e a ação de quem se reconhece como sujeito de
direitos deve acontecer simultaneamente. Quando acontecem processos dessa natureza
pode-se perceber que o compromisso apenas individual não existe e o bem coletivo passa a
ser vivenciado. Esse é o objetivo da educação em direitos humanos e, portanto, é o que se
espera na atitude do egresso de um curso de especialização em EDH.
A eficácia e a efetividade do curso podem ser observadas nas ações
desenvolvidas por seus egressos. Não mudou muita coisa no Piauí desde a conclusão do
curso, mas algumas “coisas” demonstraram estar enraizadas no “modo de fazer política” no
“jeito de lutar por direitos” e “na graça de construir” um mundo melhor. Existe uma
necessidade e um desejo de se viver uma nova cidadania.
A materialização dessa cidadania poderá ser exemplificada nas duas
experiências a seguir:
1. A criação da Delegacia Especializada de Combate às Condutas
Discriminatórias Lei nº. 5511/2005 (primeira e única até agora no Brasil). Esse trabalho foi
uma ação conjunta das entidades de direitos humanos que iniciou em janeiro de 2005 com
uma proposição apresentada à Secretaria Estadual de Segurança; realização de um
processo de articulação política com os movimentos sociais; ações junto ao Executivo e ao
Legislativo para aprovação da Lei. Essa delegacia foi criada para atender negros e negras,
pessoas vivendo com HIV/AIDS, homossexuais e pessoas com deficiência.
2. A Ação Civil Pública nº. 2006.40.00.001761-6 (Requer a cessação do caráter
discriminatório da Resolução da ANVISA que proíbe homossexuais de doarem sangue) -
Representação junto ao Ministério Público Federal, em novembro de 2005. O Ministério
Público Federal entrou com a ação após a representação do Grupo Matizes. Houve um
acompanhamento processual, uma Liminar foi deferida favorável ao pedido em abril de
2006. A instrução processual já foi concluída e o processo foi encaminhado ao Juiz para a
sentença de mérito.
Essa duas ações demonstram a eficácia e a efetividade do curso onde podemos
perceber movimentações no sentido de unir pessoas na defesa dos grupos mais
vulneráveis. Outro aspecto que não podemos deixar de mencionar foi o empoderamento dos
movimentos sociais no Piauí. Ao longo desses anos aconteceram eventos que terminaram
por interiorizar a discussão.
Procuramos nessa pesquisa dar uma grande dimensão à prática da educação
em direitos humanos tentando identificar às seguintes orientações: (1) resolução de
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problemas concretos relacionados aos direitos humanos; (2) abordagem com enfoque nos
direitos humanos, e (3) participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.
Com base nos pressupostos da educação em direitos humanos e da avaliação
com enfoque em direitos humanos, podemos tecer algumas considerações e apresentar
algumas respostas mesmo incompletas ou provisórias, mas que indicam a existência de
uma gama de possibilidades para a transformação dessas duas práticas educativas e
políticas: o ensino da educação em direitos humanos torna possível o desenvolvimento do
potencial criador de quem participa, sobretudo no embate pela defesa dos direitos humanos;
e, a avaliação é um caminho para realização dos direitos, pois por meio da análise das
situações os titulares de direitos poderão identificar demandas e exigir que o Estado cumpra
suas obrigações;
A avaliação deve ser sempre participativa e processual, detendo-se tanto sobre
o processo investigativo quanto sobre as soluções encontradas. Deve levar em
consideração as atitudes dos envolvidos, seu comprometimento com a investigação, a
coerência lógica de seus raciocínios, o rigor de suas observações, a maneira como são
programadas e desenvolvidas suas experiências, levantamento, registro e análise de dados.
Procura avaliar sua capacidade e reflexão crítica e a sensibilidade demonstrada para
encontrar soluções ou propor novos problemas a partir dos resultados obtidos.
Podemos perceber que ao longo da experiência que os egressos do curso
traziam em si um desejo de mudar, transmitiam para os novos militantes “o acreditar” na
possibilidade de transformação e prazer de ensinar e aprender a superar as dificuldades por
mais complicadas que parecessem. Eles demonstraram coragem ao aceitar os riscos de
uma nova experiência ao tempo que intuitivamente respondiam ao senso de missão que os
empurravam para vencer os desafios mesmo quando as chances demonstravam o contrário.
Ao final desse trabalho, a lição que ficou para nós foi de que em qualquer lugar
do mundo os valores humanos mais fundamentais como: a liberdade, a verdade, a
responsabilidade, o respeito e o amor à vida são necessários, pois alimentam os ideais de
todos e todas por um mundo melhor.
Consideramos que nosso trabalho não esgota a questão da educação, mas que
poderá dar subsídios a novas pautas de pesquisa sobre o tema. Esses novos exercícios e
novas formas de cidadania, voltadas para a transformação da realidade social existente,
devem configurar uma prática de libertação humana que permita ao ser humano
reconhecerem-se como sujeitos de direitos.
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