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Cláudio Martins Leitura Deleite

Vaca, leitão e pata

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Page 1: Vaca, leitão e pata

Cláudio Martins

Leitura Deleite

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Era uma vez uma vaca sem nenhum leite E que tinha muita pena dela mesma.

O seu vizinho era um leitão

sem uma pata Que morria de pena dele

e de sua amiga vaca.

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Perto deles morava uma pata que não tinha pena nenhuma. Era uma pata careca. - O que será de mim? - Como é que eu vou fazer assim? - Isso será o meu fim!

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E assim vivia os três muito tristes, choramingando E reclamando o dia inteiro, achando que o mundo ia acabar só por causa disso. Que bobagem! Na verdade, o mundo ia acabar mesmo E não iria demorar muito não, porque Noé já estava acabando de construir sua grande Arca!

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É que Deus estava muito chateado com a raça humana. As pessoas não eram mais amigas, havia muitas guerras, Muita sujeira e não existia nem mais um tiquinho de esperança. A terra estava uma lambança.

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Deus então chamou Noé, que era muito legal, E mandou ele reunir toda a sua família, pegar um casal de cada tipo de bicho que existia no mundo e botar todos numa grande Arca. Aí, Deus faria chover durante quarenta dias Até inundar o planeta. Um grande dilúvio! E quando secasse, Noé e toda a turma sairiam da Arca para começar tudo outra vez e povoar novamente a terra.

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O cachorro pediu pelo amor de Deus que não levasse as pulgas. Os meninos também queriam que os piolhos, percevejos e carrapatos morressem afogados, porque eram uns assassinos, Chupadores de sangue! Mas Noé, que já sabia muito sobre o meio ambiente entendia que tudo quanto era bicho tinha um papel importante na natureza, botou todos para dentro.

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Até exagerou um pouco, embarcando vários casais daquele inseto verde chamado Esperança, porque sabia que iam precisar de muita. E fez tudo bem rápido, porque já estava pra chover. Os que não queriam entrar de jeito nenhum eram o boi, a porca e o pato. Estavam muito aflitos porque a vaca, o leitão e a pata estavam atrasadíssimos!

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Os três amigos de tanta reclamação, haviam até perdido a noção do tempo. Já estavam com água até o pescoço, metade de chuva e a outra metade de choradeira mesmo. E a água, foi subindo, subindo e foi graças a um raio de trovão, que quase assou o leitão, é que os três se lembraram dos companheiros, de Noé e da Arca, que já ia longe. Foi um corre-corre. Ou melhor, um nada-nada!

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O leitão teria dificuldade para nadar com apenas três patas, mas a sua amiga pata, sendo uma boa pata, virou, aquela que faltava no leitão. A vaca mais parecia um transatlântico, meio avacalhado, mas com uma imensa vantagem: Seu peito, vazio de leite mas cheio de ar, funcionava como uma grande bóia onde até uma preguiça pegou carona, atrasada que estava e a gente nem precisa explicar por quê. A aguaceira despencava do céu. Uma borrasca!

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O Oceano Pacífico deixou de ser Oceano Pacífico e se misturou com o Atlântico e o Índico, indicando que tudo virara uma coisa só: um mar tão perigoso que até umas sardinhas medrosas queriam subir na vaca. Graças aos milhares de relâmpagos, os nossos amigos avistaram a Arca e depois de horas e horas de medão foram recolhidos por Noé. Ainda bem, porque a tempestade só piorou.

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Quarenta dias depois, a chuva parou, a água começou a baixar e naquela manhã iluminada é que todos puderam ver uns aos outros. Não se sabe se uns e outros nasceram assim mesmo, ou se foram os terríveis solavanco da Arca que causaram alguns acidentes.

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A vaca, o leitão e a pata observaram muito admirados que em alguns bichos faltavam coisas: onça sem pinta, peixe elétrico apagado, cobra sem rabo, girafa sem pescoço, peixe-espada sem espada, pulga sem pulo, porco-espinho sem espinho, grilo sem grilo (não tinha medo de nada), tubarão sem tuba (mas era barão), arara sem grito, macaco sem banana, um tigre de bengala, uma preguiça sem preguiça, bicho de goiaba sem goiaba, centopeia sem pernas (virou minhoca!), jacaré sem jaca (só andava de ré), não-te-vi (bem-te-vi que não enxergava) e por aí vai...

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Os três amigos entenderam que ninguém é perfeito, Ninguém é inteiro. E o que faltava em um, o outro completa! Diz a história que foi uma pomba que voou e trouxe No bico um ramo de folhas para avisar que já havia terra. Mas a gente sabe que não foi não. Era uma vez 637 amigos que iam começar um mundo novo. E TODOS JUNTOS... PODIAM TUDO!

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Algumas pessoas são consideradas deficientes. Engraçado! Parece que todas as outras são muito eficientes!

Mas a maioria, infelizmente, não é. Se fossem eficientes de verdade não haveria tanto desmatamento, poluição,

guerras, violência, tanto mau-gosto e falta de imaginação. Este livro é um abraço na Úrsula, minha sobrinha que fez vários desfiles de

moda, cada um para mais de cinco mil pesoas e com a renda destinada para crianças deficientes.

Junto com os modelos, muitas crianças destas desfilaram com eficiência, bom gosto e muita imaginação.

Me ensinaram, de uma vez por todas, que aquilo que falta em um, o outro tem.

É. Somos todos, todos nós, incompletos.

Meus carinhos,

Cláudio Martins

Martins. Cláudio Vaca. Leitão e pata/cláudio Matin: Ilustrações de

Cláudio Martins – Brasília: LGB. 2004.