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AVALIAÇÃO DAS CONDICIONANTES
NATURAIS NA OCUPAÇÃO URBANA
CIDADE DE LISBOA
PLANEAMENTO REGIONAL E URBANO
Ana Filipa Pereira
André Martins
Nuno Cruz
Francisco Cardoso
ÍNDICE
Objectivos 1
Evolução histórica da cidade de Lisboa 2
Análise actual sobre a estrutura da cidade 9
- Zonas verdes 9
- Elevadores e miradouros 12
- Malhas 15
- Qualidade das zonas urbanas 20
- Rede viária 22
- Abastecimento de água 24
Zona especifica de estudo 25
- Baixa-Chiado 26
- Bairro Alto 32
- Mouraria 40
- Alfama e Colina do Castelo 46
- Graça 52
Conclusão 56
Anexos 57
Bibliografia 63
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
OBJECTIVOS
Este trabalho realizado, no âmbito da disciplina de Planeamento Regional e Urbano, tem por
objectivo analisar a influência das características físicas do terreno na origem e crescimento da
cidade de Lisboa.
Numa primeira fase debruçamo-nos sobre a evolução da cidade no seu todo tendo em conta
aspectos fisiográficos e numa segunda fase aprofundou-se o estudo numa área mais restrita.
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
1
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE DE LISBOA
Localizada na margem direita do estuário do Tejo, virada sobre a frente atlântica da
Península Ibérica, no extremo ocidental da Europa, sensivelmente a meio da costa litoral
portuguesa, Lisboa é uma das mais antigas cidades da Europa tendo sido fundada à mais de 3
milénios.
O seu território, desenhado por colinas e vales aberto sobre o rio, não só foi foco estratégico
como, durante séculos, se tem vindo a ajustar à topografia local desenvolvendo-se em
harmonia com as condições do espaço físico e paisagem.
Segundo consta, em 1200 a.C., os fenícios fundaram a cidade de Lisboa levados pela
necessidade de se fixarem ao núcleo portuário do Tejo que não só tinha uma importância
decisiva de abastecimento como lhes permitia a circulação e a capacidade de fazerem trocas
comerciais com outras colónias marítimas.
A melhor exposição solar com encostas voltadas a Sul, as melhores condições
naturais e a existência de um solo fértil foram determinantes na fixação dos Fenícios
na margem Norte em detrimento da margem Sul.
A partir da colina do castelo, principal núcleo histórico, a urbe foi-se desenvolvendo ao longo
da margem para nascente e poente e ainda ao longo de velhos caminhos e percursos rurais
para Norte. Devido à proximidade desta colina ao rio, o posicionamento de Lisboa foi sempre
ganhando um maior peso socio-económico ao longo dos tempos.
No século II a.C. dá-se a conquista da Península Ibérica pelo Império Romano e a cidade de
Lisboa sofre algumas alterações. Entre elas está o aperfeiçoamento da rede viária e a
construção de numerosos edifícios e complexos arquitectónicos característicos da cidade e da
arte clássica, nomeadamente, templos, termas, palácios, vilas urbanas, um teatro e ainda um
significativo número de elementos decorativos e escultóricos.
Associadas às encostas de declives acentuados da região ao objectivo de dificultar o ataque
de possíveis forças inimigas e ainda facilitar o controlo de todo o tráfego e comércio marítimo
que se processava no Tejo foi construída a fortificação da colina de S. Jorge.
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
2
Figura 1 – Localização geográfica de Lisboa
Figura 2 – Rio Tejo
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
3
Figura 3 - Fortificação da colina de S. Jorge
Figura 4 – Posicionamento do Castelo de S. Jorge como ponto estratégico
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
4
É também nesta altura que a cidade se expande a partir do leste da ribeira que, actualmente,
corresponde à Baixa Pombalina até ao topo da colina, sendo esta uma zona de fortes declives e
de boas exposições solares Sul, Sudoeste e Oeste.
Na sequência de um terramoto, em 472, grande parte da urbe Romana desaparece e a cidade
é invadida por povos Bárbaros que a passam a ocupar. No entanto, após três séculos de
saques, pilhagens e perda de dinâmica comercial, Lisboa é conquistada por Muçulmanos que
criam condições que fazem com que a cidade adquira novamente a importância administrativa
e comercial que anteriormente se tinha deteriorado.
Nesta fase a cidade reorganizou-se e reajustou-se aos modelos da tradição mediterrânica. As
antigas muralhas foram consolidadas e, nalguns casos ampliadas, configurando a Cerca Velha
ou Cerca Moura, no interior da qual se destacavam a Alcáçova (zona palaciana e defensiva do
castelo) e a Almedina (vasta área residencial e comercial implantada ao longo da encosta)
A partir do século X, formaram-se dois pequenos arrabaldes, respectivamente a nascente e a
poente: o arrabalde residencial de Alfama e a extensão do arrabalde de Alfofa. De forma a
evitar os maiores pendentes da encosta, estes novos bairros cresceram de forma desordenada,
formando uma malha urbana labiríntica de ruas estreitas, que ainda hoje se pode observar em
Alfama.
Em Alfama, as casas eram essencialmente ocupadas pela aristocracia muçulmana,
dada a sua orientação privilegiada a Sul que lhe proporcionava boas exposições
solares e em contrapartida, na extensão de Alfofa, residiam as classes menos
favorecidas como consequência da menor exposição solar.
Em 1147, a cidade de Lisboa é tomada pelos Cristãos comandados pelo Rei Afonso
Henriques e os Muçulmanos vencidos são levados a habitar a encosta Norte: uma zona pobre,
altamente exposta à acção dos ventos (Nortadas) e com uma exposição solar desfavorável.
Nesta altura Lisboa é a maior e mais desenvolvida cidade de Portugal tornando-se
capital do reino em 1256.
No reinado de D. Dinis, como da antiga ribeira da Baixa não restava mais que um pântano de
águas lodosas, decide-se proceder a obras de consolidação e drenagem desta área de modo a
permitir a sua urbanização. Cria-se assim uma área plana de potencial de urbanização elevada
para onde se “desloca” o centro da cidade.
Figura 5 – Cerca Moura
Figura 6 – Zonas do bairro de Alfama
Legenda
Cerca Moura
5
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
O conjunto construído fora da Cerca Velha tinha tal dimensão que, entre 1373 e 1375, foi
erigida por D. Fernando uma nova muralha que abrangia a restante cidade. Esta muralha
passou a ser conhecida por Cerca Nova ou Fernandina.
Nesta época, Lisboa apresenta um tecido urbano denso e bem delimitado onde surgem
malhas geradas por processos empíricos e baseadas em modelos característicos da cidade
medieval. Enquanto em Alfama predominam os becos e as pequenas ruas, na Baixa, pelo
contrário, os grandes eixos naturais marcam o espaço urbanizado, surgindo inclusive, na colina
de S. Francisco, um traçado ordenado.
A dinâmica ligada aos Descobrimentos e ao papel cada vez mais importante que Lisboa
passou a ter como entreposto do comércio externo europeu, trouxe consequências decisivas à
imagem e à vida da cidade. Um importante passo no processo urbanístico de Lisboa foi a
edificação do Bairro Alto que se estendia ao longo das muralhas ocidentais possuindo uma
malha urbana ortogonal adaptada aos variados declives do terreno visando desta forma o
ordenamento e a uniformidade.
Apesar de não ter prosseguido a expansão urbanística durante o séc. XVII e a primeira
metade do séc. XVIII, Lisboa foi reorganizada e cenografada à luz do gosto barroco. Uma das
mais significativas construções na cidade barroca foi o Aqueduto das Águas Livres
que, ao levar a água à cidade, permitia o desenvolvimento e urbanização de novos
espaços.
Em 1755, Lisboa foi abalada por um terramoto o qual deixou um rasto de destruição na
baixa Lisboeta. A tarefa da reconstrução de Lisboa e das restantes regiões devastadas pelo
terramoto coube a Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) em conjunto
com o arquitecto Eugénio dos Santos: o grande planificador da cidade em toda a sua
complexidade e em termos muito avançados para a época.
O plano apresentado para a reconstrução de Lisboa introduziu um traçado extremamente
funcional que se prolonga até S. Paulo, ao convento de S. Francisco e até à igreja de S. Roque a
Norte. O traçado aprovado alinha o lado poente das duas grandes praças do Rossio e do
Terreiro do Paço, esta agora com o dobro da dimensão da primeira e totalmente regular. A uni-
las encontra-se uma malha ortogonal de quarteirões homogéneos.
Esta é uma altura em que se começa também a verificar uma expansão urbana da cidade,
nomeadamente com a criação de novos bairros, tais como o da Estrela, Rato, Alcântara,
Ajuda, Sapadores e Amoreiras.Figura 8 – Aqueduto das Águas Livres
Figura 7 – Esquema dos limites da cerca Nova ou Fernandina
Legenda
Cerca Nova ou Fernandina
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
6
Figura 11 – Eugénio dos Santos, plano de reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755
Figura 10 – Marquês de Pombal
Figura 9 – Terramoto de 1755
7
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
A estabilidade com seguida com a Regeneração implantada em 1851 trouxe à cidade uma
dinâmica própria no contexto da evolução económica, populacional e urbano o que levou à
necessidade de uma nova definição do perímetro urbano conseguida pela Estrada de
Circunvalação (1852).
A Lisboa oitocentista propagou-se para Norte com base em duas grandes avenidas: a Av. da
Liberdade e a Av. Almirante Reis que por sua vez foram construídas em duas de linhas de
água de forma a garantir a manutenção do sistema de drenagem natural.
Ao estender a Av. da Liberdade chegou-se a um local de declives acentuados, motivo pelo
qual se forma uma nova avenida com nova direcção – Av. Fontes Pereira de Melo. A fazer a
ligação entre estas duas avenidas surgiu a Praça Marquês de Pombal e na zona de declives
elevados estabeleceu-se o Parque Eduardo VII.
Em via deste desenvolvimento urbano formaram-se os bairros residenciais Barata
Salgueiro, Camões, Avenidas Novas, Alto do Pina, Anjos, Penha de França, Campo de
Ourique, Estefânia e os bairros-operários do Beato, Poço do Bispo e Braço de Prata
assentes em malhas ortogonais.
O regime do Estado Novo, instaurado em 1926, trouxe consequências decisivas na
urbanização da cidade. Construíram-se bairros para a pequena e média burguesia na coroa
envolvente da cidade como o Restelo, Alvalade, Olivais e Chelas. O Restelo viria a perder um
pouco este carácter social e assumir-se como zona de luxo devido às excelentes exposições
solares (encostas expostas a Sul) e condições físicas.
Construíram-se também grandes equipamentos dos quais destacamos o aeroporto que como
é natural foi erigido numa área plana e como medida para fomentar o equilíbrio entre zonas
verdes e urbanizadas fez-se o grande Parque Florestal de Monsanto - “pulmão da cidade de
Lisboa”, utilizando para o efeito uma área de declives fortes de difícil edificação e em parte da
qual existe fraca exposição solar.
Figura 12 – Arqt.º Silva Dias, Lisboa Cidade Abril. Processo de crescimento de Lisboa
1147 1600 1750
1800 1950 1970
Figura 13 – Aeroporto de Lisboa
8
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Figura 14 – O desenvolvimento da Cidade de Lisboa antes de 1755
Figura 15 – Esquema da Estrada de Circunvalação
Colinas
Cerca Moura (séc. XII)
Cerca de D. Fernando (1375)
A cidade em 1755
Legenda
Legenda
Estrada da Circunvalação
9
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
ANÁLISE ACTUAL SOBRE A ESTRUTURA DA CIDADE
Com este estudo pretendemos associar o desenvolvimento urbanístico de Lisboa com as
respectivas condições fisiográficas do terreno. Para tal procederemos à análise de factores
como os declives , as exposições solares, e a localização de linhas de água e cumeada.
Como Lisboa é uma cidade do hemisfério Norte, as encostas expostas a Sul são as que
apresentam uma maior incidência de radiação solar o que se traduz num maior conforto
térmico e numa maior luminosidade. Por outro lado, as encostas expostas a Norte são zonas de
sombra e a radiação solar que recebem é mínima. Encostas expostas a Este e a Oeste têm uma
taxa de incidência solar intermédia entre as incidências solares de encostas expostas a Sul e a
Norte. As zonas planas apresentam-se expostas a todos os quadrantes logo tem taxas de
incidência solar semelhantes a Sul.
Quanto aos declives, quanto mais acentuados forem maiores serão as dificuldades de
circulação e maiores serão as dificuldades de implantação de edifícios. No entanto, podem-se
enumerar algumas vantagens, relacionadas com a facilidade de defesa em caso de ataque
(atributo que perde valor na actualidade) e com as panorâmicas que surgem.
As linhas de água e cumeada definem bacias hidrográficas que convém considerar. Assim no
planeamento de infra-estruturas como sejam estradas, esgotos, reservatórios de água será
previsível que escolham traçados coincidentes com linhas de água e de cumeada.
- ZONAS VERDES
Ninguém consegue imaginar uma cidade feita exclusivamente de edifícios e ruas. Para preservar
um certo equilíbrio e harmonia entre o espaço urbano e o ambiente devem surgir zonas onde
predomine o ar puro e a flora possa desenvolver-se livremente.
Embora, por vezes, seja um factor “esquecido” por alguns planos de urbanização, a verdade é
que a construção de jardins e parques traduz-se na melhoria da qualidade de vida das
populações. Além de embelezarem a área constituem ponto de encontro onde a comunidade
pode descansar, passear ou inclusive, fazer desporto.Figura 16 - Jardim da Estrela Figura 17 – Parque Eduardo VII
10
Lisboa pode-se considerar uma cidade rica em espaços verdes. Analisando a sua distribuição
pela cidade, verifica-se que surgem maioritariamente em zonas de declives acentuados.
Deste modo procurou-se valorizar zonas de difícil urbanização beneficiando a população em
geral. São exemplos desta situação zonas verdes como o Parque Eduardo VII, o Parque da
Belavista, o Parque de Alvalade, entre outros.
No entanto, o caso que merece maior destaque é sem dúvida o Parque Florestal de
Monsanto, ocupando uma área de 900 hectares.
A florestação deu-se a partir de 1934, por ordem do Eng. Duarte Pacheco, com o intuito de
dinamizar uma área de declives acentuados (e fracas exposições solares) com pouco interesse
do ponto de vista imobiliário. O Parque encontra-se ainda preenchido com zonas de lazer e de
actividades desportivas que o tornam atractivo para um plano de fim de tarde ou de fim-de-
semana.
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Norte
Nordeste
Este
Sudeste
Sul
Sudoeste
Oeste
Noroeste
Áreas Planas
Figura 19 – Mapas das zonas verdes de Lisboa e de exposições solares
Legenda
Estrutura Verde existente
Principal
Secundária
Limites Monsanto
Limites de Monsanto
Figura 18 – Vista aérea de Monsanto
11
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 1 – Relação entre as zonas verdes e os declives
Legenda
Espaços Verdes
[0,4]
]4,12]
]12,25]
>25
12
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
- ELEVADORES E MIRADOUROS
Os acentuados declives de algumas zonas de Lisboa constituíram, desde sempre, um entrave
à circulação de pessoas e veículos. Ao longo dos séculos, foram pensadas soluções que envolviam
pequenas carruagens a percorrer os trajectos mais penosos, mas que eram inevitavelmente pouco
práticas. Com o advento da era da electricidade e seguindo o exemplo de outras cidades, surgiu
em Lisboa o primeiro ascensor eléctrico. Este unia o Largo da Anunciada à Travessa do Forno de
Tonel (Campo de Santana) pela Calçada da Lavra, ao qual se deu o nome de Elevador da Lavra
(1884).
Nos anos que se seguiram, em zonas de declives mais elevados e de maior afluência foram
surgindo novos elevadores com o intuito de facilitar a vida às populações. Destes elevadores
destaca-se o Elevador de Santa Justa (1902) que liga a Rua do Ouro ao Largo do Carmo e tem
por particularidade ser uma estrutura metálica vertical que vence uma altura de 31,92 metros.
Este projecto, à semelhança de outros ascensores verticais, foi concebido pelo famoso Eng.
Raul Mesnier de Ponsard que lhe atribuiu dois usos: por um lado uma função funcional de
transporte de passageiros e por outro uma função recreativa que compreendia um miradouro,
um restaurante e lojas na parte superior do Elevador.
Actualmente ainda se encontram em funcionamento quatro dos nove elevadores criados em
Lisboa:
- Elevador da Bica;
- Elevador da Glória;
- Elevador da Lavra;
- Elevador de Santa Justa.
Os miradouros são espaçosos terraços que tirando partido do acidentado relevo de Lisboa
oferecem panorâmicas privilegiadas. Estes locais são um património turístico e cultural que,
felizmente, Lisboa se esforça por manter.
Como é natural, os miradouros encontram-se em locais de cotas elevadas, no topo de encostas
declivosas.
(1)
Figura 20 – (1)Ascensor da Bica; (2) Ascensor da Glória; (3) Ascensor da Lavra (4) Miradouro da Senhora do Monte
(5) Elevador de Santa Justa; (6) Ascensor da Estrela
(2)
(3) (4)
(5) (6)
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
13
Cartograma 2 – Posicionamento dos elevadores e miradouros
Legenda
Ascensores
Miradouros
1 - Elevador da Lavra (1884)
2 - Elevador da Glória (1885)
3 - Elevador da Estrela (1890)
4 - Elevador do Chiado (1892)
5 - Elevador da Bica (1892)
6 - Elevador da Graça (1893)
7 - Elevador de S. Julião (1897)
8 - Elevador de São Sebastião (1899)
9 - Elevador de Santa Justa (1902)
14
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 3 – Relação entre o posicionamento dos elevadores e miradouros com os declives
Legenda
Elevadores
[0,4]
]4,12]
]12,25]
>25
Miradouros
15
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
- MALHAS
Lisboa é uma cidade com mais de três mil anos e nela coabitam diferentes tipos de
geometrias urbanas. Por um lado temos traçados desordenados, que tiveram origens mais ou
menos espontâneas, e, por outro, temos planos de urbanização que imprimiram malhas com
alguma regularidade em vastas áreas.
Uma das principais condicionantes para a existência destas malhas é a natureza dos declives
e a morfologia apresentado pelo terreno.
Assim, em áreas sensivelmente planas dá-se uma ocupação linear do solo, ou seja, forma-se
uma malha ortogonal reticulada em que o quarteirão é o elemento base. Como exemplo, citamos
a Baixa Pombalina, Campo de Ourique, Avenidas Novas e a zona ocidental do Bairro de
Alvalade.
Em áreas de declives muito acentuados onde se deu uma urbanização planeada surgiu uma
malha regular, mas não ortogonal. Estabeleceu-se uma orientação que permitisse suavizar os
declives e teve-se o cuidado de desenhar as vias paralelas às curvas de nível. Exemplos desta
ocupação orgânica do terreno são o Bairro da Encarnação, a parte oriental do Bairro de
Alvalade, o Bairro de Madredeus e o Restelo.
Em bairros mais antigos, de zonas declivosas onde o crescimento foi muito desordenado,
surgem traçados sinuosos e labirínticos sempre com o objectivo de aproveitar o menor pendor de
inclinação do terreno. Isto explica deste modo as dificuldades de circulação e a existência
de inúmeros becos. Os exemplos mais flagrantes deste tipo de malha são os bairros da Mouraria
e Alfama na encosta do Castelo.
No Bairro Alto tentou impor-se um traçado ortogonal e rectilíneo altamente inovador para a
época em que foi erigido (séc. XVI). No entanto os grandes declives que o Bairro Alto
apresenta têm como resultado a existência de ruas longas, como a Rua da Atalaia, com
elevado pendor que dificultam a sua subida.
Figura 21 – (1) Avenidas Novas; (2) Baixa Pombalina
(1) (2)
(1) (2) (3)
Figura 22 – (1) Gravura de um beco de Alfama; (2) Rua declivosa de Alfama; (3) Rua declivosa do Bairro Alto
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
16
Figura 23 – Malha rectilínea e ortogonal da Baixa e campo de Ourique respectivamente
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
17
Figura 24 – Malha de Alvalade Oriental e Madredeus respectivamente
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
18
Figura 25 – Malha da Encarnação e Restelo respectivamente
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
19
Figura 26 – Malha de Alfama e Mouraria; Malha ortogonal do Bairro Alto
20
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
- QUALIDADE DAS ZONAS URBANAS
Em relação à qualidade das zonas urbanas de Lisboa podemos resumir o seu estudo em duas
grandes áreas, ou seja, em zonas com melhores condições fisiográficas (zonas mais caras) e
nas zonas com piores condições fisiográficas (zonas mais pobres).
Em relação às zonas mais caras de Lisboa destacam-se o Restelo, a Lapa e as Avenidas
Novas.
- O Restelo encontra-se numa encosta exposta a Sul, Sudeste e Sudoeste, o que proporciona
aos residentes o melhor conforto térmico e as melhores condições de luminosidade.
Quanto a declives, estes apresentam-se nesta zona entre os 0 e os 12%. Embora não se possa
considerar o Restelo inserido numa área plana este goza duma vista sobre o Rio Tejo invejável
em todos os aspectos.
- A Lapa encontra-se numa encosta exposta a Sul, Sudeste, Sudoeste e Este apresentando
portanto altas taxas de incidência de radiação solar. Quanto às panorâmicas que se obtém do Rio
Tejo estas são inesquecíveis, tais como no Restelo, muito embora agora estejamos presentes
numa zona de declives ainda mais elevados (até aos 25%).
- As Avenidas Novas são uma zona de áreas planas, logo, extremamente confortáveis em
termos térmicos e com óptimas condições de luminosidade.
Considerando agora as zonas habitacionais ocupadas por classes economicamente mais
desfavorecidas verificamos que as condições fisiográficas se agravam. Destas zonas destacam-se
os Olivais, a Mouraria e Chelas.
- Os Olivais são uma zona onde predominam os declives superiores a 4% que apenas se
traduzem em dificuldades de circulação; em termos de exposições solares apresenta encostas
voltadas a Norte, Noroeste, Nordeste e Este, ou seja, apresenta baixas taxas de incidência de
radiação solar que provocam algum desconforto térmico.
- A Mouraria é uma zona de declives muito acentuados que associado às ruas estreitas
dificulta os deslocações a pé e em veículos. As encostas apresentam-se voltadas a Oeste,
Noroeste e Norte o que proporciona pouco conforto térmico.
- O bairro de Chelas é uma urbanização que se desenvolve nas encostas dum vale muito
declivoso (inclusive declives superiores as 25%) e com encostas maioritariamente expostas a
Norte, Nordeste e Noroeste. A conjugação destes cenários traduz-se em desconforto térmico e na
circulação.
Evidentemente, que as exposições solares e os declives não são os únicos factores que
influenciam a maior ou menor tendência duma classe rica a habitar certa zona, mas não é
arriscado afirmar que há uma correlação entre o nível económico dos habitantes com a qualidade
térmica e as zonas planas.
21
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
[0,4]
]4 – 12]
]12 – 25]
> 25
Declives (%)
Norte
Nordeste
Este
Sudeste
Sul
Sudoeste
Oeste
Noroeste
Áreas Planas
Legenda
Cartograma 4 – Declives de Lisboa com referência a alguns bairros
CHELAS
LAPA
Cartograma 5 – Declives de Lisboa com referência a alguns bairros
RESTELO RESTELO
OLIVAIS
MOURARIA
LAPA
CHELAS
AVENIDAS NOVASAVENIDAS NOVAS
OLIVAIS
MOURARIA
22
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
- REDE VIÁRIA
Os eixos viários têm um papel fundamental na vida da cidade e afectam directamente a
qualidade de vida das populações. O tempo gasto no percurso casa – trabalho e deslocações
relacionadas com o lazer são factores de peso na escolha de uma casa.
Ao longo dos séculos, a cidade desenvolveu o seu tecido urbano a partir das grandes avenidas e
elas constituíram a “bússola” desse crescimento.
Ao observar uma carta com os principais eixos viários verificamos que muitos deles
coincidem com as principais linhas de água e, a nível local, algumas ruas coincidem com
linhas de água secundárias.
Para este facto surgem várias justificações: por um lado, o terreno encontra-se regularizado
pela ocorrência de águas, tornando mais fácil a construção da via, por outro lado, convém manter
o sistema de drenagem natural pois com a urbanização desenfreada e alterações a nível geológico
o solo tende a ficar cada vez mais impermeabilizado.
Quanto a este último aspecto, há que notar que preservando os cursos naturais de drenagem de
água se acautelou problemas relacionados com inundações das partes baixas da cidade.
Cartograma 6 – Relação entre os principais eixos viários com as linhas de água
Legenda
Linhas de cumeada
Linhas de água
Av. de Ceuta
Av. Infante Santo
Av. da Liberdade
Av. Almirante Reis
Estrada de Chelas
Alameda dasLinhas de Torres
Av. Almirante GagoCoutinho
Av. de Berlim
23
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Legenda
Av. de Ceuta
Av. Infante Santo
Av. da Liberdade
Av. Almirante Reis
Estrada de Chelas
Alameda dasLinhas de Torres
Av. Almirante GagoCoutinhoAv. de Berlim
Cartograma 7 – Principais eixos viários
24
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
- ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O abastecimento de água desde os primórdios constituiu um problema para a cidade
de Lisboa. O seu relevo acidentado associado ao facto da água subterrânea ser parcialmente
salgada constituíam graves entraves ao acesso a água potável por parte dos lisboetas e
acarretava a diminuição das condições de salubridade.
Sendo assim, por ordem régia ou municipal, criavam-se fontanários a que se davam o nome
de chafarizes em pontos estratégicos da cidade (nomeadamente largos ou praças). Estes
rapidamente se tornavam pólos de convivência social e funcionavam como elemento aglutinador
da comunidade.
Para fazer face às crescentes necessidades resultantes da expansão do perímetro urbano, o Rei
D. João V mandou edificar o Aqueduto das Águas Livres que serviu para aumentar o nível de
distribuição de água e construir chafarizes em zonas até aí carentes em termos hídricos.
Fazendo uma análise da actual carta dos reservatórios de água da EPAL, verificamos que a
localização dos mesmos coincide com linhas de cumeada. Este facto não é de estranhar
visto que assim, por acção da gravidade, a água pode escoar para uma zona envolvente abrangida
por bacias hidrográficas.
Por outro lado, as estações de tratamento de águas – ETAR’s localizam-se a jusante de linhas
de água de grande importância, tratam-se assim as águas residuais que se acumulam nesses
pontos antes de serem libertadas para o Rio Tejo.
Legenda
Linhas de cumeada
Linhas de água
Reservatórios de água
ETAR’s
Cartograma 8 – Relação entre a localização dos reservatórios de água e das ETAR’s com as linhas de água e cumeada
ZONA ESPECÍFICA DE ESTUDO
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
BAIRRO ALTO
BAIXA CHIADO
ALFAMA E COLINA DO CASTELO
MOURARIA
GRAÇA
25
26
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
BAIXA-CHIADO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA CIDADE DE LISBOA
Em tempos antigos, antes da conquista cristã, todo este vale, compreendido entre o monte
de S. Francisco a Oeste e o Castelo a Este, se achava cortado de ruas estreitas e tortuosas,
através das quais corria, na linha de talvegue, um regueirão que ia desembocar ao Tejo no sopé
do morro de S. Francisco. Esse rego era o representante do antigo esteiro do rio, que teria
alagado todo o vale, antes da era cristã. Só desapareceu totalmente depois das obras que se
seguiram ao terramoto de 1755.
Até ao fim do séc. XIV o Tejo ocupava toda a área hoje abrangida pelo Terreiro do Paço com
uma pequena praia no tope. No reinado de D. Manuel, a praia foi aterrada e construído o
palácio Régio, não chegando, porém, o Terreiro além da linha média do âmbito que tem hoje.
Com o andar dos tempos tornou-se de edifícios, vindo a tornar-se a mais nobre praça de
Lisboa.
A destruição começada com o tremendo abalo sísmico de 1755 foi rematada pela
picareta e a bala da reconstrução pombalina, cuja topografia ainda hoje se conserva na
sua integridade. Foi dada forma regular ao Rossio, dilatando o Terreiro do Paço à custa de um
novo aterro e dispostos geometricamente os arruamentos entre as duas praças.
Na reconstrução da praça, esta tornou-se no elemento fundamental do plano de Pombal. No
seu centro foi construída a estátua equestre de D. José I, no lado norte o impressionante
Arco Triunfal da Rua Augusta que permitia a entrada para a Baixa e no lado a sul foram
edificadas duas torres quadradas viradas para o Tejo que na época eram a melhor entrada para
Lisboa.
Ainda é de notar que o Chiado é uma área tradicionalmente conhecida pelas suas
associações intelectuais pois podemos ver edificadas várias estátuas de figuras literárias,
nomeadamente a de Fernando Pessoa que se encontra sentado à mesa na frente do café
Brasileira.Figura 28 – Terreiro do Paço
Figura 27 – Estátua de D. José I
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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Figura 30 – O Centro de Lisboa em 1876
Figura 29 – Estátua de Fernando Pessoa em frente ao café Brasileira.
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
A Baixa assume particular importância no que diz respeito ao sistema hidrográfico da cidade
na medida em que importantes linhas de água, coincidentes com as Avenidas Almirante Reis e
Liberdade, vão convergir na zona do Rossio, estendendo-se por toda a Baixa até ao Rio.
Alheio está o facto de a Baixa se tratar de uma zona que se tem constatado ser especialmente
vulnerável a possíveis inundações.
Os problemas de escoamento de águas são diversos pois não só estarmos na presença de
uma zona de baixa altitude, que não excedem os 20 metros, como também muito próxima
do rio.
A existência de áreas de vale e de baixo declive, intercalada com o sistema de colinas,
reflecte-se na tendência de escoamento das águas para as zonas confinantes, promovendo o
seu alagamento.
O Chiado apresenta ramificações, a partir da linha água principal que irrompe através da
Baixa, paralelamente à Rua Garret sendo intercaladas pelas linhas de cumeada
correspondentes.
Relativamente às exposições solares, deparamo-nos com algumas áreas planas, das quais
são exemplos a Praça do Comércio e Praça D. Pedro V assim como todas as ruas que dai
partem prolongando-se para Norte, nomeadamente a Rua Augusta a Rua do Ouro e a Rua
da Prata.
Nas zonas laterais a esta vasta área podemos distinguir a Oeste exposições solares que vão
predominantemente desde Sudeste (junto ao rio), a Nordeste (no Rossio), passando por Este,
enquanto no lado Este da Baixa encontramos exposições solares a Sul, Sudoeste e Oeste, à
medida que progredimos para o interior, partindo da margem do rio.
Pontualmente encontramos também algumas exposições a Norte, as quais surgem
essencialmente na zona do Rossio.
Da análise das cartas de declives concluímos que toda a Praça do Comércio, assim como a
Rua Augusta e suas paralelas possuem declives que não ultrapassam os 4%. Na zona da praça
da Figueira e Rossio deparamo-nos com declives nunca superiores a 12% enquanto as zonas
laterais (área do Chiado) inclinam para o interior, o que está de acordo com a análise às
exposições solares, chegando a existir declives que atingem valores superiores a 25%.
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Figura 31– Exemplo de uma rua do Chiado declivosa
Figura 32 – Rua Garret
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
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Figura 34 – Praça D. Pedro V
Figura 33– Praça do Comércio
Avaliação das Condicionantes Naturais na Ocupação Urbana – Cidade Lisboa
Cartograma 9 – Declives dominantes da Baixa-Chiado
30
> 25%
8-25%
Legenda
[0,4]
]4,12]
]12,25]
>25